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Tecnopolítica e
contracultura – a
estreia de um
curso
Posted on 17 de janeiro de 2019

Se nos anos 1990, com o


casamento do digital com a
internet, enxergávamos enormes
possibilidades de libertação (da
informação de grandes grupos
midiáticos, de liberdade de falar o
que bem quiser, de criar
tecnologias e mundos novos),
hoje parece que estamos a lidar
com consequências nefastas,
representadas em uma palavra na
moda nestes tempos: distopia.

Nos descuidamos – ou não


conseguimos? – prestar atenção
na ascensão de plataformas
globais de tecnologia, que por sua
vez construíram bolhas de
informação que confirmam pontos
de vista, espalham mentiras e
criam realidades alternativas que
em muitos casos não há
informação comprovada que
consiga mudar. Como podemos
compreender o contexto
tecnopolítico hoje? Que caminhos
podemos apontar para
discutirmos e transformarmos a
política que sempre está junto na
construção de tecnologias?

Para tentar fazer melhores


perguntas e aproximarmos de
respostas que nos convoquem pra
ação, propomos esse curso:
“Tecnopolítica e Contracultura“,
que vai estrear no Centro de
Pesquisa e Formação do SESC, em
São Paulo, nos dias 11, 12 e 13 de
fevereiro, das 14h às 18h,
conduzido por o editor desta
página, Leonardo Foletto, e
Leonardo Palma, pesquisador
independente, agitador cultural
radicado em Santa Maria-RS,
ativista da Rede Universidade
Nômade e um profundo
conhecedor da obra dos
autonomistas italianos a partir da
década de 1970. O curso busca
resgatar um pensamento
tecnopolítico em quatro
momentos: 1) os autonomistas
italianos da década de 1970;  2)
pós-operaísmo, altermundistas,
Fórum Social Mundial e mídia
tática dos 1990; 3) hackers:
paranóicos visionários, dos 1980,
1990 e 2000; e o 4) hoje, com a
ascensão das redes sociais como
principais espaços de discussão
pública nas redes digitais e o fim
da internet como a conhecemos
nos 1990 e 2000.

Começamos nosso percurso pelos


autonomistas surgidos no maio de
68′ italiano que durou mais de
uma década. Falaremos do
contexto de surgimento desse,
digamos, movimento, sua
construção no final dos 1960 com
o importante papel das revistas
(em especial, Quaderni Rossi,
Clase Operaia, Primo Maggio) em
tornar palpável a produção de
subjetividade, por em circulação e
entendimento certos conceitos e
ideias; da articulação com a
universidade (estudantes e
professores) e com os operários
das fábricas italianas; da
construção de alguns aparatos
sociotécnicos baseados nas ideias
em circulação, como a Rádio Alice;
e de como todo o fértil cenário
contracultural estabelecido na
Itália dessa época foi dissolvido,
com a criminalização e o exílio de
muitos de seus participantes.
Trabalharemos nessa parte com
autores e histórias de Antonio
Negri, Franco “Bifo” Berardi, Paolo
Virno, Maurizio Lazaratto, Mário
Tronti, Giorgio Agamben, Silvia
Federici, entre outrxs.
Passamos então para um segundo
momento, final dos 1980 e início
dos 1990, trazendo histórias,
textos & aparatos do pós-
operaísmo, altermundistas, net-art
e mídia tática. A partir da saída de
Negri da prisão (1983) e seu exílio
na França, sua obra começa a ser
redescoberta por uma esquerda
ligada mais a Foucault, Deleuze e
Guatarri do que aos “partidos”
institucionalizados. Os Zapatistas
de Chiapas, no México, recuperam
os autonomistas italianos e
praticamente inauguram um
ciberativismo/hackativismo na
então novata internet dos 1990,
com ações na rede e fora dela que
vão influenciar a potencialização
do movimento altermundista e na
Ação Global dos Povos, que
explode a partir de 1999, em
Seattle, e segue pelo menos até
2003. Essa rede pós-operaísmo
está articulada com o nascimento
do Fórum Social Mundial, em
Porto Alegre, 2001; com um
movimento potente de cultura
digital (“networked cultures”) que
propagou o conceito de mídia
tática, muito propagado e
trabalho no brasil dos 2000;  com
coletivos como Luther Blisset, Wu
Ming, Critical Art Ensemble; e com
muitxs pesquisadores em torno
da Nettime, lista de e-mails, até
hoje ativa, que reúne alguns
teóricos-práticos europeus da
área, como Geert Lovink, Felix
Stalder, John Holloway, Trebor
Scholz, Bruce Sterling, entre
outrxs.

Na terceira parte, miramos um


grupo de fazedores e pensadores
que atua em paralelo aos
autonomistas e altermundistas, às
vezes se relacionando com estes e
em outras não: os hackers.
Surgidos enquanto grupo de
pessoas e uma (contra) cultura no
final dos 1960, os hackers se
propagam pelos 1970, com a
criação da internet e o começo da
popularização dos computadores
pessoais, pelos 1980, com o
movimento do software livre, do
copyleft e via hackerspaces,
laboratórios de garagem que
serão a base de um movimento,
em especial em sua versão
européia e latino-americana, que
pratica a (contra) cultura
tecnológica a partir dos princípios
da autonomia digital, da
segurança da informação e das
táticas antivigilências. Aqui,
destacamos alguns textos, ideias
e projetos de Richard Stallman,
criador do movimento do software
livre e ainda hoje preside de Free
Software Foundation, Gabriela
Coleman, Tatiana Bazzichelli, Eric
Raymond, Richard Barbrook,
Pekka Himanen, Chaos Computer
Club, Julian Assange, Linus
Torvalds, entre outrxs também
brasileirxs ligados aos grupos da
MetaReciclagem, Transparência
Hacker, BaixoCentro, Casa da
Cultura Digital.

No desfecho, falamos do espírito


da “Ressaca da Internet” já
comentado em texto por aqui,
mas que aprofundaremos no
curso. e dos tempos de
“decomposição” que vivemos,
onde cada vez mais o “autômato”
está tomando toda nossa força de
imaginação, como fala Bifo em
recente palestra na Argentina, em
Novembro de 2018. Bifo, aliás,
é  um dos elos entre todos s
momentos do curso; está presente
da Itália dos 1970 aos
altermundistas dos 1990, ainda
hoje ativo pensando, escrevendo e
propagando a ideia de que não
devemos nos acomodar com a
ascenção fascista que nos cerca,
em especial no Brasil e na América
Latina, e que a força de nosso
pensamento e do conhecimento é
demasiadamente mais rica do que
a que apresentada neste cenário
brutal em que vivemos neste
2019.

Como aperitivo do curso, o vídeo


de Bifo acima comentado está
aqui abaixo e sintetiza algumas
questões a serem abordadas entre
11 e 13 de fevereiro. Aos que não
forem de SP, aguardem,
montamos esse curso com muito
estudo e gosto para circular em
outras cidades também. Inscrições
e mais informações no site do
Sesc.
Bifo en Argentina: sensibilidad, ir

Créditos imagens: divulgação do


curso; autonomismo italiano;
altermundismo; hackers;

Posted in DocumentaçãoTagged Agamben, altermundismo,


Anticopyright, Antonio Negri, autonomia, autonomismo, Critical Art
Ensemble, cultura hacker, Cultura Livre, Franco Berardi, Itália, Maurizio
Lazzarato, Mídia Tática, Paolo Virno, tecnopolítica, Wu Ming

Retrospectiva 2018 Encontro de Cultura Livre do Sul no


Mozilla Open Leaders

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