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John Walker

NOVE DIVISÕES
DA BÍBLIA
1ª edição

Americana/SP
Impacto Publicações
2014
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Categoria: Panorama Bíblico/Antigo Testamento/Novo Testamento


Copyright © 2014 Impacto Publicações

1ª edição: 2014

Revisão: Christopher Walker


Capa e Diagramação: Lilian Walker

________________________________________________________________

W1772n Walker, John


Nove Divisões da Bíblia / John Walker. _ Americana: Impacto,
2014
188 p. 14x21cm

ISBN 978-85-65419-08-6

1. Antigo Testamento 2. Novo Testamento 3. Panorama Bíblico


I. Título
CDU 27-246
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mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.
SUMÁRIO

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1. Primeira Divisão
Gênesis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2. Segunda Divisão
Moisés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3. Terceira Divisão
Juízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4. Quarta Divisão
Reino Unido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

5. Quinta Divisão
Reino Dividido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

6. Sexta Divisão
Restauração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

7. Sétima Divisão
Jesus e os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

8. Oitava Divisão
Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

9. Nona Divisão
Apocalipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
PREFÁCIO

N
ove Divisões da Bíblia é um estudo que mostra
uma visão geral da Bíblia toda. Foi apresentado
pela primeira vez na apostila Visão Panorâmica
da Bíblia como um esboço muito resumido. Posteriormente,
foi dado de forma mais completa numa igreja em Rubiataba,
GO, de agosto a dezembro de 1983. Foi publicado numa
série de cinco livretos entre março de 1986 e janeiro de 1987
e distribuído neste formato até 2013.
O propósito do método panorâmico de estudo da Bíblia
é proporcionar uma visão geral do plano de Deus do princí-
pio ao fim. Somente com essa base, o estudante dedicado da
Palavra será protegido de extremos, ênfases desequilibradas e
interpretações errôneas. Se tivermos um mapa da floresta toda,
poderemos nos deter no caminho e apreciar os detalhes sem
medo de nos perder. Usando os dois métodos, o panorâmico e
o microscópico, você terá instrumentos valiosos para desvendar
os imensos tesouros da Palavra de Deus.
Queremos alertar o leitor de antemão que, apesar de a maior
parte do estudo seguir o método panorâmico, houve duas exce-
ções. Na terceira divisão, JUÍZES, e na nona, APOCALIPSE,
5
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

a águia resolveu descer das alturas e dar uma olhada melhor nas
redondezas! Inesperadamente, o Espírito abriu o tempo dos
juízes durante o estudo de uma forma muito viva e prática,
ensinando lições importantíssimas sobre o governo plural na
igreja hoje.
A segunda exceção foi durante o estudo das sete chaves do
livro do Apocalipse, em que houve um entendimento mais
claro dos princípios de revelação e interpretação daquela visão
tão importante.
Finalmente, gostaríamos de sugerir o uso deste livro em
grupos de estudo e escolas dominicais. Cremos que Nove
Divisões da Bíblia continuará servindo como um curso básico
para dar uma visão mais ampla àqueles que querem ouvir de
Deus nestes dias, por meio de sua Palavra.

Os editores
Agosto de 2014

6
INTRODUÇÃO

N
osso propósito neste estudo é ganhar uma visão
de águia – ver o plano de Deus do início ao fim.
Precisamos entender o pensamento de Deus,
harmonizar os nossos pensamentos com o dele. Ao estudar a
vida de homens e mulheres de Deus, devemos buscar uma só
coisa: o plano eterno de Deus.
Podemos estudar esse plano de forma microscópica ou
telescópica, mas devemos fazê-lo primeiro com o método
telescópico, pois sem uma visão panorâmica não vamos en-
tender os detalhes. É como olhar um mapa de todo um país
ou continente e, depois, examinar as minúcias.
O mais importante é saber que Deus tem um plano. A
Bíblia é diferente de qualquer outro livro no mundo, porque
seu autor foi Deus (usando instrumentos humanos). Deus se
revelou por meio desta palavra. É o maior tesouro do mun-
do, e homens têm dado a vida para preservá-lo, traduzi-lo e
transmiti-lo a nós.
Esse livro fala sobre a criação do universo, mas não trata
especificamente de estrelas, galáxias ou outros planetas. Seu

7
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

foco é somente a terra e o plano que Deus tem para realizar


por meio do homem que pôs nela. Portanto, esse também será
o nosso assunto.

NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA


1. GÊNESIS
2. MOISÉS - Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio
3. JUÍZES - Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel
4. REINO UNIDO - 2 Samuel, 1 Reis 1-10,
1 Crônicas, 2 Crônicas 1-9, Salmos,
Provérbios, Cantares, Eclesiastes, Jó
5. REINO DIVIDIDO - 1 Reis 11-22,
2 Reis, 2 Crônicas 10-36, Isaías, Jeremias,
Lamentações, todos os profetas menores
de Oseias a Sofonias
6. RESTAURAÇÃO - Esdras, Neemias, Ester,
Daniel, Ageu, Zacarias, Malaquias
7. JESUS E OS DOZE APÓSTOLOS - Mateus,
Marcos, Lucas, João, Atos 1-12, Tiago, 1
e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas
8. PAULO - Atos 13-28, Romanos, Hebreus
9. APOCALIPSE

Antes de examinar cada divisão separadamente, vamos


fazer uma análise geral das nove divisões em grupos de três:

1. GÊNESIS – princípio, sementeira


2. MOISÉS – teocracia
3. JUÍZES – controvérsia
8
4. REINO UNIDO­– glória
5. REINO DIVIDIDO – declínio e queda
6. RESTAURAÇÃO – figura e promessa

7. JESUS E OS DOZE APÓSTOLOS ­– um novo Israel


8. PAULO – o mistério revelado
9. APOCALIPSE – consumação, colheita

Gênesis é o livro que contém todos os princípios, todas as


sementes da Bíblia inteira. O Apocalipse fala da consumação e
da colheita dessas sementes. Deus tem perseverança e paciência.
Ele nunca desanima. Por intermédio de aproximadamente
quarenta autores judaicos, no decorrer de mil e quinhentos
anos, Deus escreveu a Bíblia, o maior tesouro material da raça
humana. Em si mesma, a Bíblia é uma prova da existência de
Deus – é o maior milagre que a raça humana já viu. Foram
muitos autores, mas somente uma revelação contínua e con-
secutiva.
Moisés foi um dos homens mais importantes da história. Ele
estabeleceu a teocracia, o governo de Deus. Achamos que a
democracia, governo do povo, é a melhor forma de governo que
existe, mas a teocracia supera todas as demais. Não se trata de
uma teocracia nominal em que, na verdade, os homens gover-
nam. A teocracia é o nosso destino e alvo. Sua existência exige
uma casa (o tabernáculo) e uma lei. Deus não pode ter uma
lei sem uma casa. O pai só governa a família quando tem casa
e quando a família está dentro dela, não lá fora na rua. Deus
precisa de uma casa para que possa ter um governo e uma lei.
O tempo dos Juízes foi de controvérsia e anarquia. Con-
trovérsia, porque havia conflito entre o governo de Deus e o
9
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

do homem. O povo desobedecia a Deus, e ele mandava juízo.


Depois da morte de Moisés, o governo foi dado a homens
(sábios, anciãos do povo) chamados juízes. Porém, não tinham
a palavra de Deus como Moisés e, por isso, o povo não perma-
necia em união. Havia períodos de anarquia e, depois, tempos
de paz, quando surgia um homem forte, um juiz libertador.
No segundo grupo de livros (Reino Unido, Reino Di-
vidido e Restauração), o governo foi exercido por reis. A
controvérsia do tempo dos juízes teve fim quando o povo
rejeitou o governo de Deus e quis ter um rei “como as ou-
tras nações”. Depois de receber o tipo de rei que pediram
(Saul) e de sofrer as consequências dessa escolha, Deus achou
um homem segundo o seu coração (Davi) e o colocou no
trono. Dessa forma, ainda que o povo tivesse rejeitado o
seu governo, Deus obteve a vitória e, novamente, pôde go-
vernar através de Davi. Isto introduziu o tempo de glória,
O Reino Unido.
Já no tempo de Salomão, o rei introduziu a idolatria,
causando a divisão do reino. Começou então, o tempo do
Reino Dividido. Nesse período, ainda que houvesse alguns
reis bons que serviram ao Senhor, a maioria levou o povo
à idolatria. Por causa disso, Deus levantou muitos profetas
para alertar o povo e os reis acerca do perigo que estavam
correndo e exortá-los a voltar à sua lei. Como não deram
ouvidos, foram levados cativos à Assíria e à Babilônia.
Depois de setenta anos, Deus cumpriu a promessa dada
pela boca do profeta Jeremias e trouxe um remanescente
do povo de volta para Israel. Esse evento deu início à
Restauração, porém, ela não foi muito satisfatória. Real-
mente reedificaram os muros de Jerusalém e o templo,
mas estavam ainda sob o jugo do império persa e viviam
“tempos angustiosos”. O valor dessa restauração foi servir
10
de figura e promessa da verdadeira restauração que Deus
ainda fará. Naquela época, envolveu poucas pessoas, por
pouco tempo num pequeno território, mas foi figura da
plena restauração futura.
No terceiro grupo de livros (Jesus e os Doze Apóstolos,
Paulo e Apocalipse), temos o surgimento de um novo Israel
(uma nação espiritual), através de Jesus e dos Doze Apóstolos,
da mesma forma que Jacó e as doze tribos começaram Israel
natural. A Igreja e Israel não são duas nações ou dois propósitos
separados. A Igreja é o Israel de Deus. (Se quiser estudar mais
sobre judeus e gentios, peça as apostilas Um Estudo Microscópico
de Efésios e A Restauração da Palavra).
Foi por meio de Jesus que Deus manifestou a substân-
cia ou realidade espiritual da figura (Israel Natural), que
começou em Gênesis, através do relacionamento dele com
Abraão. O novo Israel inclui o mesmo propósito do velho,
mas é muito mais abrangente em relação ao plano eterno
de Deus.
Os doze apóstolos, no início, não entendiam a grande-
za desse plano e, por isso, estavam sempre perguntando a
Jesus quando estabeleceria o reino de Israel. Somente após
receberem o Espírito Santo é que puderam perceber a nova
dimensão do “Israel de Deus”.
O apóstolo Paulo recebeu uma dispensação especial: a re-
velação da graça de Deus e da formação do novo Israel como
ninguém antes havia percebido. Por isso, verdadeiramente,
ele pode ser considerado o Moisés do Novo Testamento, pois
o que aquele percebeu em figuras, Paulo viu em realidade.
Paulo descobriu dentro das figuras da lei de Moisés a graça
de Deus que cumpre a lei. Sem Paulo, o evangelho poderia
ter-se tornado apenas uma outra interpretação da lei judaica

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NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

e os cristãos, uma outra seita do judaísmo. Jesus era o evan-


gelho em ação, mas foi Paulo quem recebeu a revelação para
explicá-lo melhor que qualquer outro.
Finalmente, para completar tudo o que começou, Deus deu
um livro de consumação ou colheita, o Apocalipse. Ele proveu
um fim adequado para tudo o que havia iniciado em Gênesis e
o revelou em uma visão ao seu servo João. É impressionante ver
que, sem nenhum planejamento humano e apesar de intervalos
de séculos entre os autores, Deus providenciou um livro para
começar tudo (Gênesis) e um para terminar tudo (Apocalipse).

PERGUNTAS PARA REVISÃO


1. Qual o propósito de um estudo telescópico da
Bíblia?
2. Por que é bom usar esse método antes de aplicar o
método microscópico?
3. Por que a Bíblia é diferente de todos os outros
livros?
4. Qual é o assunto principal da Bíblia?
5. Quais são as nove divisões da Bíblia e que livros
fazem parte de cada uma?
6. Como as nove divisões podem ser separadas em
grupos de três?
7. Qual a característica principal do livro de
Gênesis?
8. O que é teocracia e por que ela exige uma casa e
uma lei para funcionar direito?
9. Qual foi a característica principal do tempo dos
juízes?
10. Como foi resolvida a controvérsia do tempo dos
juízes?

12
11. Como Deus transformou uma aparente derrota
em vitória?
12. Quais eram as características marcantes do tempo
do Reino Dividido?
13. Por que a restauração que houve nos dias de
Zorobabel não foi muito satisfatória?
14. Por que, apesar disto, foi um passo muito importante
no plano de Deus?
15. Qual o significado de Jesus ter doze discípulos e não
onze ou treze?
16. Por que os apóstolos sempre perguntavam a Jesus
quando ele restauraria o reino a Israel?
17. Por que Paulo pode ser chamado de o “Moisés do
Novo Testamento”?
18. Por que o fato de o livro de Apocalipse terminar tudo o
que foi começado em Gênesis deve nos impressionar?

13
14
1
PRIMEIRA DIVISÃO - Gênesis
LIVRO: Gênesis

A
primeira divisão é constituída somente por esse
livro de cinquenta capítulos. Algumas das nove
divisões são maiores, outras menores, porém todas
são igualmente importantes como partes do projeto completo
da Palavra de Deus.
“Gênesis” significa origem, começo, princípio. Todo o plano
de Deus começa em Gênesis, e não podemos compreendê-lo
sem estudar esse livro. Todas as sementes estão lá; por isso, é
o livro da sementeira.
A seguir, uma lista de alguns começos que encontramos no
livro de Gênesis:

OS COMEÇOS: BONS E MAUS

1. UNIVERSO 6. CIDADE, SOCIEDADE


2. RAÇA HUMANA 7. ARTES
3. PECADO 8. CORRUPÇÃO DA SOCIEDADE
4. REDENÇÃO 9. NAÇÕES
5. FAMÍLIA 10. NAÇÃO ESCOLHIDA - ISRAEL

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NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Das sete alianças que Deus fez com seu povo ao longo da
história, quatro são encontradas no livro de Gênesis.
Ao comparar o primeiro e o último versículos de Gênesis,
temos um contraste interessante entre a vida e a morte, o po-
sitivo e o negativo. Em Gênesis 1.1, lemos: “No princípio criou
Deus os céus e a terra”. Vemos um início glorioso aqui, cheio de
potencial e esperança. Mas, em Gênesis 50.26, vemos: “Morreu
José da idade de cento e dez anos; embalsamaram-no, e o puseram
num caixão no Egito”. O quadro começa com esperança e vida
e termina com um homem morto num caixão no Egito.
Encontramos sete homens importantes no livro de Gênesis:

ADÃO (o primeiro homem)


ENOQUE (o sétimo após Adão – andou com Deus e sumiu!)
NOÉ (o décimo homem – andou com Deus e fez uma arca,
recomeçando a raça humana)
ABRAÃO (descendente de Sem, o filho de Noé; de Sem até
Abraão, passaram-se dez gerações)
ISAQUE
JACÓ
JOSÉ (foi usado para levar o povo de Israel ao Egito)

Os primeiros cinco livros da Bíblia foram escritos por


Moisés; porém só encontramos o seu nascimento no segundo,
em Êxodo. Conforme os estudiosos, Moisés escreveu Gênesis
a partir de onze documentos antigos. O primeiro contém o
hino da criação, que constitui o primeiro capítulo de Gênesis
(os sete dias da criação) até o terceiro versículo do segundo
capítulo. Provavelmente, este hino era transmitido oralmente
ao redor de uma fogueira, em forma de canção, gravado pela
16
1 - PRIMEIRA DIVISÃO: GÊNESIS

nova geração que depois transmitia da mesma maneira, suces-


sivamente, a cada geração seguinte. Foi assim que se preservou
até o tempo de Moisés.
Moisés ajuntou esse documento a mais dez vindos de dife-
rentes gerações. Você pode notar quantas vezes encontramos
um capítulo em Gênesis começando assim: “As gerações de
Noé” ou “As gerações de Jacó”, etc. Não creio que Moisés
tenha orado assim: “Ó Deus, inspira-me para escrever o livro
de Gênesis”. Ele não o escreveu por meio de uma inspiração
direta, mas ajuntou os documentos e tradições e, inspirado por
Deus, compilou o livro de Gênesis com base nesse material.
A Bíblia toda é inspirada, mas Deus usa documentos, ins-
trumentos e tradições também, porém organizados e escritos
segundo a direção do Espírito Santo. A Bíblia foi escrita de uma
maneira muito humana, mas ao mesmo tempo muito divina.
Deus usou homens cultos, como Moisés e Paulo, para escre-
ver sua Palavra. Moisés foi criado no palácio de Faraó, tendo
todos os livros e a cultura do Egito à sua disposição. Paulo
era fariseu, filho de fariseus, doutrinado em toda a cultura
judaica, aos pés do mestre Gamaliel. Mas Deus também usou
pescadores e pastores, homens simples e rudes. Ele usa toda
espécie de pessoas para declarar a sua palavra.
Além de entender como Deus usou os homens para escrever
Gênesis e outros livros da Bíblia, é importante observar sob qual
ponto de vista os inspirou. Muitos têm dificuldade de aceitar o
relato da criação, por exemplo, por não entenderem que não foi
escrito do ponto de vista científico. É fundamental reconhecer
que há dois tipos de ciência: a moderna e a sobrenatural. Se
julgarmos o livro de Gênesis pelas regras da ciência moderna,
ficaremos completamente frustrados. A famosa expressão “...
e fez também as estrelas” (Gn 1.16) mostra o abismo infinito

17
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

que há entre o que Deus considera importante revelar e o que


o cientista moderno quer descobrir. Deus achou muito mais
importante discorrer sobre seus encontros com Abraão ou
seu propósito na vida de José do que nos revelar os detalhes
científicos da criação em toda a sua complexidade e vastidão.
No livro de Gênesis e, na verdade, pela Bíblia toda, podemos
ver que Deus não se importa tanto com multidões ou com fatos
científicos, mas com indivíduos. Ele age através de encontros
pessoais e não de leis impessoais. A ciência moderna, por outro
lado, ignora completamente os princípios de Deus e considera
apenas os elementos naturais. Consequentemente, o homem
vem se distanciando mais e mais do plano de Deus.

UM PARALELO ENTRE AS DUAS CIÊNCIAS

CIÊNCIA MODERNA CIÊNCIA SOBRENATURAL


1. Leis impessoais 1. Encontros pessoais
2. Universalidade 2. Particularidade
3. Baseada nas percep- 3. Baseada nas percepções
ções dos cinco sentidos espirituais: intuições e reve-
em conjunto com o ra- lações em conjunto com o
ciocínio natural. raciocínio iluminado.

A Bíblia como um todo e a história da criação em particular


foram escritas do ponto de vista do homem na terra. Não é um
tratado científico nem filosófico, mas uma revelação espiritual para
o benefício do homem em relação à sua salvação e para a glória de
Deus na terra. É ciência espiritual. Não é um mito ou alegoria; é
verdadeira e baseada em fatos, mas inclui uma outra dimensão de
observação – o espírito – que difere completamente dos resultados
baseados nas percepções dos sentidos e do raciocínio natural.
18
1 - PRIMEIRA DIVISÃO: GÊNESIS

Um livro científico é fundamentado no conhecimento natu-


ral do homem, mas a Bíblia é baseada na ciência sobrenatural.
Homens que naturalmente não teriam capacidade de produzir
o que escreveram foram iluminados pelo Espírito e receberam
ciência sobrenatural. O assunto tratado por essa ciência não
é o conhecimento do princípio e extensão do universo (ainda
que Deus o saiba a fundo e pudesse transmiti-lo caso consi-
derasse que seria bom para nós), mas é o homem em si – de
onde veio e para onde vai. O propósito de Deus na Bíblia não
é transmitir-nos o conhecimento do universo e, sim, revelar-se
a nós, capacitar-nos a glorificá-lo para que, em sujeição a ele,
dominemos toda a criação.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. O significa a palavra “gênesis”?


2. Por que não se pode compreender o plano de Deus
sem estudar o livro de Gênesis?
3. Cite cinco coisas que começaram em Gênesis.
4. Qual a diferença entre o primeiro e o último
versículo de Gênesis?
5. Quais são os sete homens principais de Gênesis?
6. Como Moisés escreveu Gênesis?
7. Como a Bíblia toda foi escrita?
8. Quais são os dois tipos de ciência?
9. Por que muitos têm dificuldade para aceitar o
relato da criação em Gênesis?
10. Em quais aspectos o ponto de vista de Deus é
diferente da ciência moderna?
11. Qual a diferença entre as bases das duas ciências?
19
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

12. Sob qual ponto de vista a Bíblia toda e a história


da criação em particular foram escritas?
13. Qual o assunto da ciência sobrenatural?
14. Qual o propósito de Deus através da Bíblia?

20
2
SEGUNDA DIVISÃO - Moisés
LIVROS: Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio

A
propriadamente, no início desta seção (nos primeiros
capítulos de Êxodo), encontramos o nascimento de
Moisés e no fim (no último capítulo de Deuteronô-
mio) encontramos a sua morte. Ele é o personagem principal
de todos esses livros. Além disto, é um dos homens mais im-
portantes da Bíblia inteira. Podemos dividir a Bíblia em Moisés
(Velho Testamento) e Jesus (Novo Testamento): “Porque a lei
foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram
por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17).
Moisés viveu cento e vinte anos. Este é o esboço de sua vida:

40 ANOS NO EGITO: criado e formado em toda a sabedo-


ria do Egito - At 7.22,23

40 ANOS NO DESERTO: desiludido com a vida, pastorean-


do ovelhas, foragido por ter matado o egípcio

40 ANOS NO DESERTO COM O POVO DE DEUS: levando-o


para a terra prometida, suportando suas murmurações,
encontrando-se com Deus

21
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Ainda que um dos seus maiores desejos fosse introduzir o


povo em Canaã, isto não lhe foi permitido porque desobedeceu
a Deus nas águas de Meribá. Esse fato nos mostra que pela
lei nunca entraremos no descanso de Deus. Só Josué (Jesus)
pode fazê-lo.
Podemos sintetizar o ministério de Moisés e essa porção da
Bíblia em quatro pontos principais:

1. Saída do Egito com sinais e maravilhas. Às vezes, temos


a tendência de pensar que sempre houve sinais e milagres, pelo
menos durante a história bíblica, mas isto não é verdade. Po-
demos notar que durante toda a história houve apenas quatro
épocas quando sinais e milagres eram notáveis:
• no tempo de Moisés e Josué
• nos dias de Elias e Eliseu
• no tempo de Jesus e dos apóstolos
• agora, nos últimos dias, no século 20.
Quando Deus manda milagres, significa que está liber-
tando o seu povo do império das trevas e levando-o ao seu
próprio reino. Na saída do Egito, foi a primeira vez que Deus
se manifestou assim em favor de um povo (Dt 4.32-34). Por
intermédio de Moisés, Deus mostrou a Faraó que Israel era
o seu povo e que deveria deixá-lo sair do seu domínio. Deus
endureceu o coração de Faraó propositalmente para que pu-
desse revelar seu poder e majestade tanto aos olhos de Israel
quanto aos do Egito. O êxodo (a saída de Israel da escravidão
rumo à terra que Deus jurara a Abraão, Isaque e Jacó) é um
dos assuntos principais do resto do Velho Testamento. Deus
realmente ganhou um nome para si diante de todas as gerações
posteriores.
Elias era figura de todos os profetas e da restauração que
22
2 - SEGUNDA DIVISÃO: MOISÉS

Deus estava operando através deles. O seu ministério representa


a restauração da lei de Deus. Quando Deus deu a sua palavra
pela primeira vez, operou milagres. Ao restaurá-la por Elias,
também o fez com milagres. Por meio dos sinais sobrenaturais
realizados por Elias e Eliseu, Deus estava novamente procu-
rando libertar o seu povo da escravidão (desta vez a Baal e aos
outros ídolos) a fim de levá-los ao seu reino.
Com Jesus, Deus estava formando um novo Israel, liberto
da escravidão do pecado e, estabelecendo o seu reino – não só
em figura e exteriormente, mas em realidade, interiormente.
O estabelecimento do reino de Deus era o tema do ministério
de Jesus.
Agora, no século 20, após centenas de anos de apostasia,
Deus está restaurando o seu reino e, novamente, sinais e
milagres apareceram. Por estar libertando seu povo da longa
noite de escravidão às superstições e filosofias humanas, Deus
restaurou sinais e milagres para anunciar e executar essa obra.
Principalmente na década de 50, houve ministérios de sinais
e milagres numa escala nunca vista até então. Nações foram
sacudidas pelo poder de Deus, e todos os milagres relatados
na Bíblia aconteceram.
É interessante notar a relação entre palavra e prodígios. No
tempo de Moisés, houve palavra (a lei) e prodígios. No tempo
de Elias houve grandes sinais e milagres, mas não houve uma
palavra específica ou nova – Elias não escreveu nenhum livro
da Bíblia. No tempo de Jesus e dos apóstolos, houve palavra
e prodígios. No nosso século [o século 20], há prodígios, mas
não há profetas, nem uma palavra clara. Existe confusão. É
necessário que haja uma união dos dois fatores – milagres e pa-
lavra. Tivemos milagres, mas precisamos da palavra restaurada.

23
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

2. Jornada no deserto com provas. O povo saiu do Egito


com o desejo de ir imediatamente para a terra que “mana leite
e mel”. Eles não sabiam que, muito mais do que levá-los à
terra, Deus queria atraí-los para si mesmo (Êx 19.3-4). Não
era suficiente saírem do Egito – o Egito tinha que sair deles!
As provas no deserto tinham o objetivo de levá-los a um rela-
cionamento com Deus (Dt 8.2,3). A terra prometida de nada
lhes aproveitaria se não aprendessem a amar e a depender,
momento por momento, do Senhor. Sem essa dependência,
eles logo transformariam a terra prometida num lugar tão
abominável quanto o Egito ou as outras nações que antes
moravam ali. E, infelizmente, foi o que de fato aconteceu.
Por não aproveitarem as experiências do deserto, a primeira
geração morreu lá, e a segunda, que entrou na terra, logo a
contaminou ficando sob uma outra escravidão (às nações da
terra). Não devemos estranhar as provas da nossa vida, que
vêm para revelar se queremos servir a Deus de coração ou se
apenas buscamos benefícios próprios.

3. Promulgação da lei e revelação do modelo do taber-


náculo (Casa de Deus). A passagem pelo deserto não era só
para provar o povo e levá-lo a uma dependência de Deus, mas
para permitir um contexto em que Deus pudesse revelar a sua
lei – as condições pelas quais consentiria em habitar no meio
do povo, a velha aliança. Numa manifestação visível do seu
poder e presença, que nunca antes e nem depois foi igualada,
Deus desceu sobre o monte Sinai à vista do povo e declarou os
dez mandamentos. Também escreveu essas palavras em duas
tábuas de pedra e deu muitas outras ordenanças, preceitos e
estatutos a Moisés. Mostrou-lhe ainda o modelo do taberná-
culo que deveriam fazer para que ele pudesse andar e habitar
no meio dos filhos de Israel.

24
2 - SEGUNDA DIVISÃO: MOISÉS

Como vimos, Moisés não foi enviado apenas para libertar o


povo do Egito e levá-lo para Canaã. Além disso, foi o mediador
de uma aliança entre o povo e Deus. Por intermédio dele, Deus
queria estabelecer uma teocracia – o reino de Deus sobre o povo
na terra prometida – conforme prometera a Abraão: de fazer
dele um povo, dar-lhe uma terra, e torná-lo uma bênção para
todas as nações (Gn 12.1-3). O povo foi formado nos quatro-
centos anos de escravidão no Egito. Moisés deveria levá-los à
terra prometida, mas, antes de chegar lá, Deus queria que rece-
bessem a lei e lhe fizessem um lugar de morada no meio deles.
Assim, ao chegarem na terra, se tornariam uma bênção para
todas as nações. Deus no meio do seu povo – esta é a bênção.
Para que isso fosse possível, era necessário o cumprimento da
lei e a construção do tabernáculo. As duas coisas foram dadas a
Moisés no Monte Sinai no deserto – no intervalo entre a saída
de uma terra de escravidão e a entrada na terra do governo de
Deus sobre o seu povo.

4. Preparação do povo para entrar na terra prometida.


Esta foi a última parte do ministério de Moisés. Ele passou
quarenta anos penosos com o povo. Logo após o recebimento
da lei, Moisés desceu do monte e viu o povo quebrar o pri-
meiro mandamento ao adorar um bezerro de ouro. Deus os
perdoou por causa da intercessão de Moisés, mas continuaram
murmurando e se rebelando obstinadamente, até que um dia a
ira de Deus explodiu e não houve mais recurso. Chegaram bem
perto da terra prometida, enviaram doze espias, dos quais dez
infamaram a terra, levando o povo a revoltar-se contra Deus
e Moisés. Deus, então, jurou em sua ira que nenhum daquela
geração, exceto Calebe e Josué, entraria na terra, condenando-
-os a morrer no deserto. Moisés tinha sido fiel a Deus em todas
as murmurações e rebeldias do povo, mas um dia perdeu a
paciência e falou precipitadamente. Por causa disso, Deus não
25
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

permitiu que introduzisse o povo na terra prometida, apesar


de ter-lhe implorado várias vezes para deixá-lo entrar.
No livro de Deuteronômio, então, vemos Moisés cumprin-
do a última etapa do seu ministério: a preparação do povo para
entrar na terra, repetindo toda a lei e exortando-os a cumpri-
-la. “Deuteronômio” significa segunda leitura da lei. O tema
do livro é o cumprimento da lei como condição para entrar e
permanecer na terra com a bênção de Deus. Sem guardar a lei,
o povo seria expulso da terra e levado para o cativeiro.
Precisamos desses princípios hoje. Nossa herança é estar na
casa de Deus, em comunhão com ele, mas se não ouvirmos
a sua voz, ficaremos fora dela, em opressão e escravidão. Essa
repetição da lei era necessária para que a segunda geração (que
era criança ou nem tinha nascido ainda quando a lei foi pro-
mulgada no Sinai) pudesse aprendê-la antes de entrar na terra.
Depois de exortar com muita insistência e eloquência, Moisés
recebeu um cântico profético como testemunho de que os filhos
de Israel não guardariam a lei e, por isso, seriam castigados;
porém, no final, Deus os restauraria com seu próprio braço e
por sua vontade e misericórdia.
Vemos assim que, além de ser libertador, administrador,
intercessor e legislador, Moisés foi um profeta. Na própria
dispensação da lei, anunciou o fracasso dela e profetizou a
vinda do evangelho, a operação da graça de Deus. Como ele
pôde fazer isso? Por causa da comunhão inigualável com Deus,
superada somente por Jesus. Ele falava com Deus face a face
como qualquer um fala com seu amigo (Dt 34.10-12). Antes de
morrer, pediu que Deus levantasse um sucessor, o que veremos
mais adiante no nosso estudo sobre os juízes.

26
2 - SEGUNDA DIVISÃO: MOISÉS

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Dê o esboço da vida de Moisés.


2. Quais são os quatro pontos principais desta
divisão?
3. Quais são as quatro épocas da história quando
sinais e prodígios eram notáveis?
4. Qual foi o propósito de Deus em endurecer o
coração de Faraó?
5. Por que houve tantos sinais e milagres nos dias de
Elias e Eliseu?
6. Por que sinais e milagres eram tão importantes
nos dias de Jesus?
7. O que podemos entender sobre a restauração de
sinais e milagres no século 20?
8. Qual a relação entre palavra e prodígios nestas
quatro épocas principais de milagres?
9. O que está faltando em nossos dias?
10. Por que Deus fez Israel passar pelo deserto antes de
levá-lo à terra que mana leite e mel?
11. Por que podemos afirmar que o povo não
aproveitou as provas e experiências que passou no
deserto?
12. O que era a velha aliança?
13. Quais eram as duas coisas principais que Deus deu
para Israel no Monte Sinai?
14. O que isto tem a ver com a promessa de Deus a
Abraão em Gênesis 12.1-3?
15. Por que Deus não permitiu a Moisés introduzir o
povo na terra prometida?

27
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

16. Como Moisés preparou o povo para entrar na


terra?
17. Qual o tema de Deuteronômio?
18. Por que foi necessário repetir a lei?
19. O que Moisés profetizou antes da sua morte?
20. Que tipo de comunhão ele gozava com Deus?

28
3
TERCEIRA DIVISÃO - Juízes
LIVROS: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel

O
tempo dos juízes começa com Josué e termina
com Samuel – o primeiro e o último juiz. Deus
queria ser o chefe, o rei do seu povo, governando
sobre ele. Isto é o reino de Deus. Ele criou o homem para ter
comunhão e tornar-se parte da sua família. Como pai, ele
deseja ser o chefe dela também. Sua intenção ao dar a Moisés
uma lei era implantar seu governo e fazer do povo uma casa
para sua habitação, unindo-o em comunhão consigo mesmo.
No entanto, Deus teve muitos problemas com essa família, ao
longo dos séculos.
Em Gênesis 12, Deus prometeu três coisas a Abraão:
UM povo
UMA terra
UMA bênção
Mas nem Abraão nem seus filhos Isaque e Jacó puderam
ver o cumprimento dessa promessa, pois Deus chamou Moisés
mais de quatrocentos anos depois, a fim de cumpri-la. Nessa
época, o povo já tinha sido formado, mas estava no Egito
sob a escravidão de Faraó. O objetivo de Deus com a vida de
29
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Moisés era tirá-los do Egito, transmitir-lhes a sua lei no deserto


e introduzi-los na terra que prometera a Abraão.
Moisés, porém, não pôde realizar a última etapa desse
plano. Deus não lhe permitiu introduzir o povo na terra, mas
foi o seu sucessor, Josué, discípulo treinado por ele, quem o fez.
Moisés não pôde entrar na terra porque não honrou a Deus nas
águas de Meribá. Ele viu a terra prometida (precisamos também
ter essa visão) e depois morreu, ainda em pleno vigor e força
(Dt 34.7); seu corpo foi enterrado pelos anjos (Dt 34.5,6; Jd
9). Tornou a aparecer, novamente, no monte da transfiguração
com Jesus (Mt 17.3). Tudo, o mesmo Moisés!
A velha aliança (Moisés) não pode entrar na terra prome-
tida. Josué significa “Jeová Salva”, que é o mesmo significado
do nome “Jesus” em grego. Josué representa Jesus, a salvação
de Deus, a nova aliança, que nos introduz na terra prometida
onde há trigo, azeite e vinho – fartura. Nós podemos entrar
nela hoje através da nova aliança.
Moisés errou porque falou ao povo algo que Deus não man-
dou. Ele bateu na rocha duas vezes, ao invés de falar a ela (Êx
17.5-7; Nm 20.7-13). Crucificou Jesus de novo (em figura).
Esse fato ilustra bem o que ocorre na velha aliança, que bate,
condena e torna a repetir os mesmos sacrifícios e, por isso, não
pode entrar na terra prometida (Hb 10.11,12).
Portanto, o tempo dos juízes começa com a entrada na
terra, cumprindo a promessa de Deus feita a Abraão. Moisés
deu início ao processo, mas Josué, o primeiro juiz, o finalizou.
A história dos juízes, porém, não continuou tão bem como
começou. O livro de Josué é maravilhoso, pois conta como
Deus deu a vitória sobre todos os inimigos e como cumpriu
plenamente as suas promessas (Js 21.43-45). O livro de Juízes,
entretanto, descreve o que talvez seja o período mais baixo da

30
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

história de Israel no Velho Testamento. O povo estava na terra,


mas não se tornou uma bênção, pois não guardou a lei do Se-
nhor. Foi um tempo de anarquia – Deus querendo governar,
porém a confusão dominava por causa da rebeldia do homem.

O CICLO DE JUÍZES

O capítulo 2 de Juízes é uma chave para entender o livro


todo, porque descreve o que sucederá no restante dele. Nos
versículos 6 a 19, descreve o que chamamos de “O Ciclo de
Juízes” – uma sequência repetitiva de acontecimentos que
marcaram aquela época:
1. APOSTASIA. Apostasia significa abandonar ao Senhor.
Ocorre com pessoas que uma vez conheceram a Deus e depois
o abandonaram. Essa situação é encontrada nos versículos 11 e
12, quando os filhos de Israel “deixaram ao Senhor Deus de seus
pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses”.
2. AFLIÇÃO. “... e estavam em grande aperto” (v.15). Depois da
apostasia, apesar de já estarem na terra prometida, sobrevinha-
-lhes situações semelhantes às que seus pais enfrentaram no
Egito. Eram afligidos porque o Senhor os entregava nas mãos
de outros povos para serem subjugados e oprimidos.
3. CLAMOR. No capítulo 2, os versos 16 e 17 fogem um pouco
da sequência, mas o próximo passo está no versículo 18: “...
porquanto, o Senhor se compadecia deles pelo seu gemido, por
causa dos que os oprimiam e afligiam”. Isso pode ser visto mais
claramente em Juízes 3.7-9: “Clamaram ao Senhor os filhos de
Israel, e o Senhor lhes suscitou libertador, que os libertou”.
4. JUÍZ-LIBERTADOR. Qual era a resposta de Deus ao clamor
dos filhos de Israel? Ele levantava um juiz, um libertador.
Quando abandonavam a Deus, ele os entregava ao domínio
dos povos ao redor. Mesmo assim, não se esquecia deles e,
31
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

quando clamavam, atendia e enviava um libertador, que era


chamado de juiz.
“Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se torna-
vam piores do que seus pais...” (Jz 2.19). Esse versículo mostra
como ocorria o retrocesso deles ao primeiro passo, fechando
o ciclo e reiniciando tudo novamente.
É interessante notar que Juízes é um dos livros do Velho
Testamento que mais fala sobre o Espírito Santo. Deus sempre
atendia o clamor do povo e enviava homens cheios do Espírito
para libertá-lo. Contudo, o povo nunca mudava o coração.
Assim que o juiz falecia, apostatavam novamente e, mais uma
vez, o ciclo se repetia. Diante da aflição, tornavam a clamar a
Deus, que, apesar de estar cansado desse ciclo recorrente, não
deixava de atender o seu gemido e, mais uma vez, levantava
outro juiz. Porém, logo retornavam à situação de apostasia
porque não havia mudança no coração deles.
A igreja hoje reflete a mesma situação do tempo dos juízes.
O fato triste é que o povo daquela época não tinha uma con-
vicção no coração. Só serviam a Deus quando havia alguém
governando sobre eles, fiscalizando-os e vigiando-os. Isso nos
serve de lição – sem uma experiência viva da nova aliança que
produz em nós a vontade de servir a Deus de coração, podemos
até servi-lo por algum tempo; mais cedo ou mais tarde, porém,
o abandonaremos.
Outro fato lamentável é a motivação do povo de Israel
quando pedia libertação. Sempre que clamavam, Deus os ouvia,
pois faz parte de sua natureza. Ainda que sejamos rebeldes e
inconstantes, ele nos ouvirá quando clamarmos. Porém, a única
coisa que o povo queria nesse clamor era ser liberto da aflição.
Naquele tempo, Deus afligia os israelitas subjugando-os a
outros povos. E quanto a nós? Como somos afligidos hoje?

32
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Há vários tipos de angústia que enfrentamos, mas as que mais


nos atingem são: dificuldade financeira, problemas familiares,
enfermidades e falta de vitória em nossa vida cristã. Sempre
que nos afastamos de Deus, enfrentamos algumas dessas crises.
O problema hoje é o mesmo: só queremos servir a Deus
quando tudo vai bem, pois nossa motivação é viver para nós
mesmos. Por isso, Deus envia aflição, e, ao invés de entender-
mos que seu propósito com isso é mudar o coração, suplicamos:
“Deus, tira este problema da minha vida”. E ele realmente ouve
e responde. Porém, precisamos entender que esse ciclo não é
o seu plano para nossa vida. Deus está querendo um clamor
que vai além da libertação de um problema específico – que
deseja resolver a causa da aflição.
Esse ciclo é o tema dos capítulos 3-16, mas há outro
aspecto importante do livro de Juízes nos capítulos 17-21.
Neles encontramos duas histórias nada inspiradoras nem
animadoras. Poderíamos até achar que esses capítulos nem
deveriam estar na Bíblia. Porém, são importantes porque
descrevem a vida do povo no tempo dos juízes – numa con-
dição terrível para a nação conhecida como “do Senhor”.
Alguns versículos mostram o refrão desses capítulos e o modo
de viver do povo daquela época, conforme descrito a seguir.

A VIDA DO POVO NO TEMPO DOS JUÍZES

1. VIVER PARA SI:


“Naquele tempo não havia rei em Israel: cada qual fazia o
que achava mais reto” (Jz 17.6).
Aqui não diz que eles faziam coisas erradas, mas que cada
um fazia o que era certo aos seus próprios olhos, que é o mesmo
que viver para si mesmo.

33
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Nesse mesmo capítulo, encontramos o exemplo de um levita


que fez exatamente isso (Jz 17.7-9). Ele saiu de Belém para
achar um lugar que melhor lhe parecesse. Não se importou de
misturar o culto a Deus com idolatria.
Outros textos também ilustram a situação:
“Naqueles dias não havia rei em Israel, e a tribo dos danitas
buscava para si herança em que habitar” (Jz 18.1).
“Naqueles dias, em que não havia rei em Israel...” (Jz 19.1).
Esse capítulo descreve outra história triste.
“Naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que
achava mais reto” (Jz 21.25). Viver para si é fazer o que você
mesmo acha certo.

2. MISTURA:
A segunda característica é que eles misturavam o culto a
Deus com adoração a outros ídolos.
Em Juízes 17.1-4, há o relato da mulher que dedicou uma
quantia em dinheiro ao Senhor para fazer uma imagem de
escultura e uma de fundição (v.3).

3. CONSULTAR SEM OBEDECER:


Os homens de Dã saíram para buscar herança para si e,
passando na casa de Mica, disseram-lhe: “Consulta a Deus, para
que saibamos se prosperará o caminho que levamos” (Jz 18.5). Eles
queriam saber a vontade de Deus, mas não desejavam servi-lo.
“Assim se ajuntaram contra esta cidade todos os homens de
Israel, unidos como um só homem” (Jz 20.11). Que união
maravilhosa! Não seria bom que isso acontecesse na Igreja?
Porém, o resultado dessa união não foi muito positivo – eles
praticamente destruíram uma tribo de Israel (Jz 20 e 21).
Deus respondia à consulta deles como se dissesse: “Podem ir,
34
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

o projeto é exclusivamente de vocês”. Isso nos dá uma chave –


quando a condição do coração não está correta diante de Deus,
não há garantia alguma de que a resposta dele dará certo. Deus
não estava satisfeito com aquele tipo de consulta nem com a
união que eles tinham.

4. UNIÃO POR MÁGOA:


A união daqueles homens de Israel foi produzida pela
mágoa que sentiam contra a tribo de Benjamim. Há fa-
mílias que nunca se unem para fazer algo positivo; po-
rém, quando um membro é magoado todos se unem em
seu favor. Esse tipo de união não traz bons resultados.

RUTE E ANA – OUTRO ESPÍRITO

O próximo livro, depois de Juízes, é o de Rute. Geralmente,


o consideramos apenas como um pequeno livro que conta a
história de Rute; porém, como foi escrito na mesma época do
livro de Juízes, é interessante notar nele o contraste em relação
ao modo de vida daquele tempo. Rute, uma moabita que nem
pertencia ao povo de Deus, foi uma luz nesse período tão escuro
da história de Israel – destacou-se por ter um espírito diferente
e ser um exemplo para toda uma nação.
O capítulo 1, versos 15 a 17, mostra o espírito de Rute.
Noemi perdera o marido e os filhos na terra de Moabe. Resol-
veu, então, retornar para Belém e suas duas noras decidiram
acompanhá-la, movidas por uma espécie de obrigação. Noemi
insistiu para que voltassem à casa de seus pais, pois não tinha
nada a oferecer-lhes. Uma nora voltou, mas Rute, depois de
dizer as palavras que representam uma das expressões de le-
aldade mais lindas da Bíblia, foi com sua sogra para Belém.
Rute negou a si mesma para ajudá-la em sua aflição. Ela

35
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

deixou seu povo e qualquer possibilidade de casamento e, che-


gando à terra, foi trabalhar para que não passassem fome. Não
vivia para si nem fazia o que era reto aos seus próprios olhos.
Se Deus não operar no coração do seu povo hoje, o resul-
tado será o mesmo do tempo dos Juízes. Há muitas coisas
que não são erradas em si, mas têm sua prática centralizada
no homem que faz o que bem lhe parece e, quando corrigido,
reage fortemente: “Ah, por que fulano tem que se intrometer
em minha vida? Ele faz isto também, por que eu não posso?”.
É muito importante ter convicção pessoal. Se numa de-
terminada família o pai viesse a falecer, será que os filhos
continuariam servindo ao Senhor? A falta de convicção leva à
mesma atitude do povo de Israel – “morreu o juiz, façamos o
que bem nos parece”.
Rute, porém, possuía outro espírito. Por ter negado a si mes-
ma, Deus lhe providenciou um marido sem que ela precisasse
procurá-lo. Que difícil deveria ser, naquela época, encontrar
um homem como Boaz! Foi por causa dessa união que ela se
tornou ascendente do rei Davi (Rt 4.18-22). E, por meio de
sua linhagem, Deus preparou a vinda do rei Davi – um homem
segundo o seu coração, figura de Jesus, o verdadeiro Rei.
Deus quer governar sobre nós. Ele está preparando o verda-
deiro espírito em pessoas como Rute, que se doam e negam a
si mesmas. Aqueles que corresponderem serão os veículos para
reunir todo o povo nessa visão, isto é, de ter a vida governada
por esse princípio.
No livro de Samuel, encontramos o mesmo princípio na
vida de Ana. Ela pediu um filho e prometeu devolvê-lo para
estar sempre na casa do Senhor. Toda mãe sabe que não é fácil
separar-se de um filho, mas a sua entrega produziu o profeta
Samuel, cujo ministério trouxe a palavra de Deus. Todo Israel

36
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

ficou sabendo que o Senhor falava novamente com seu povo.


Antes de Deus começar a falar com Samuel, sua palavra
era muito rara. Porém, agora, ninguém podia mais viver
para si porque Deus estava reinando novamente. Hoje, ele
quer estabelecer seu governo sobre nós. Assim como nos
dias de Samuel, sua palavra precisa ser restaurada e, quando
isto acontecer, todos saberão que Deus está falando. Rute
e Ana, por agirem em outro espírito, foram instrumentos
de Deus para trazer o seu governo sobre Israel. Ana deu
à luz o sacerdote, juiz e profeta Samuel, que ungiu Davi
rei sobre o povo – o homem segundo o coração de Deus.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Como Deus queria usar Moisés para cumprir sua


promessa a Abraão?
2. Por que Moisés não pôde realizar a última etapa
deste plano?
3. O que isto significa para nós?
4. Como começa o tempo dos juízes?
5. Por que a história dos juízes não continuou tão
bem como começou?
6. O que era “O Ciclo dos Juízes”? (Descreva os
quatro passos)
7. O que acontecia quando o juiz falecia?
8. Qual o motivo básico que levava o povo a repetir
sempre esse ciclo?
9. O que o povo daquela época não tinha, e qual a
lição que podemos tirar disto?
10. Com que objetivo o povo de Israel clamava por
libertação?

37
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

11. Qual é o problema do povo de Deus hoje?


12. Qual deve ser a nossa reação diante das aflições
que Deus envia para nós?
13. O que encontramos descrito nos capítulos 17-21?
14. Qual é o refrão desses capítulos?
15. O que é viver para si?
16. Fale sobre a segunda característica da vida do
povo no tempo dos juízes.
17. O que é consultar sem obedecer?
18. Qual foi o resultado da união de Israel “como um
só homem”?
19. O que acontece se consultamos a Deus sem estar
com o coração reto diante dele?
20. Qual foi a base da união dos homens de Israel
contra a tribo de Benjamim?
21. Qual é a importância de Rute diante do tipo de
vida do povo daquela época?
22. O que Rute teve que fazer para ajudar sua sogra?
23. Que tipo de vida Rute levava em total contraste
com o modo de viver da época dos juízes?
24. O que Deus precisa fazer em nós para não
vivermos da mesma forma que o povo no tempo
dos juízes?
25. O que a falta de convicção produz?
26. O que Deus fez através de Rute?
27. Que tipo de pessoas Deus está preparando para se
submeterem ao seu governo?
28. Qual foi a atitude de Ana ao pedir um filho e o que
isto produziu?
29. Que ato de Samuel implantou um novo tipo de
governo em Israel?
38
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

O PLANO DE DEUS PARA O GOVERNO DE ISRAEL


APÓS MOISÉS

Acabamos de ter uma visão panorâmica do tempo dos juízes.


Começou gloriosamente (no livro de Josué) com a entrada do
povo na terra prometida a Abraão, Isaque e Jacó sob a lide-
rança de Josué, o primeiro juiz. Porém, o povo logo caiu num
ciclo vicioso e deprimente, resultando em uma vida confusa
e atrapalhada (no livro de Juízes). Foi um período intercalado
de paz e juízo.
Havia confusão entre o reino de Deus e o do homem. Is-
rael não estava manifestando a glória de Deus como seu povo
peculiar e nem era como as outras nações. Não tinha Moisés
para governá-los e nem um rei natural. Havia anarquia. Não
era o reino de Deus nem o do homem – cada um fazia o que
era reto aos seus próprios olhos.
Entretanto, nos últimos livros dessa divisão (Rute e 1 Sa-
muel), Deus encontrou duas pessoas (Rute e Ana) que, apesar
de viver nesse tempo confuso, não compartilhavam desse es-
pírito. Por intermédio delas, vieram Samuel e Davi, homens
que Deus usou para trazer o Reino Unido, que foi uma etapa
gloriosa do seu plano e uma figura do reinado eterno de Jesus.
Antes de prosseguir no estudo desta etapa, porém, é impor-
tante examinar com maior profundidade o plano de Deus para
esse tempo dos juízes. Será que era necessário que houvesse
confusão e anarquia? A apostasia após a morte de Josué estava
no plano de Deus? Se ao final do tempo de juízes (1 Sm 8.7,8),
Deus reprovou o desejo do povo por um rei, que tipo de go-
verno ele queria que tivessem? Se Deus adiantou tanto os seus
propósitos no reinado de Davi, por que não orientou Moisés
para implantar uma linhagem de reis, desde o princípio, em
vez de permitir esse tempo tão confuso e prolongado como
foi o dos juízes?
39
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Obviamente não há respostas finais para essas perguntas,


mas é importante meditar sobre isso enquanto estudamos a
Bíblia com visão de águia. No decorrer deste estudo das nove
divisões da Bíblia, podemos acompanhar o desenvolvimento
do plano eterno de Deus durante a história, e entender os mo-
tivos de cada etapa. Se Deus faz as coisas de uma determinada
forma e não de outra, isso nos dá a chance de conhecer sua
natureza e maneira de agir. Então, devemos aproveitar essas
oportunidades o máximo possível.
Até pouco tempo, mesmo tendo lido a Bíblia várias vezes ao
longo dos anos, não havia percebido que Moisés delineou uma
forma clara de governo para o povo de Israel após sua morte.
Deus não deixou o povo desamparado, mas lhe deu uma forma
segura de governo. Seu desejo era governá-los pessoalmente,
conforme revelou no livro de Deuteronômio.
O texto de Êxodo 18.13-27 descreve o conselho do sogro
de Moisés que trata desse assunto. Os primeiros juízes não
surgiram no livro de Juízes! Foi nessa ocasião, quando Moi-
sés recebeu um conselho sábio e escolheu homens capazes e
tementes a Deus para colocar sobre o povo, como chefes de
mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles julgavam as causas
do povo em todo tempo e só traziam as mais graves e difíceis
para Moisés.
Em Deuteronômio 1.13-18, Moisés chama esses oficiais
de “juízes” (v.16). Eles eram os anciãos de Israel, por serem os
homens mais maduros, sábios e experimentados.
Durante o ministério de Moisés e depois dele, o governo de
Deus deveria ser exercido por meio desse sistema de juízes (Dt
16.18). Toda cidade (igreja local) precisa de juízes (presbíteros),
que são cabeças, pais do povo, homens sábios que governam
com justiça, de acordo com a Palavra de Deus.

40
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Deus também quer um lugar: “... ao lugar que o Senhor teu


Deus escolher” (Dt 17.8). Mais adiante descobrimos que o lugar
que ele escolheu foi Jerusalém, a cidade de Davi. Deus não só
escolheu uma terra e um povo, mas uma cidade, e nela, uma
casa. Não era permitido oferecer sacrifícios em qualquer lugar,
mas somente onde Deus escolhesse (Dt 12.4-7).
O Senhor também não quer união em qualquer base nem
que cada um aja segundo seu próprio gosto ou parecer. A
união deve ser baseada num centro – a cidade (capital) que
ele escolheu. A igreja hoje não tem nenhuma sede geográfica,
mas existe uma posição espiritual que deve ser seu ponto de
união. Precisamos redescobrir a capital, o lugar que o Senhor
escolheu como base do seu governo, lugar da sua morada, elo
de união para a nação.
“Virás aos levitas sacerdotes, e ao juiz que houver nesses
dias...” (Dt 17.9). “O homem, pois, que se houver soberbamente,
não dando ouvidos ao sacerdote... nem ao juiz, esse morrerá...”
(v.12).
Portanto, esse era o plano de Deus para o seu governo sobre
Israel, após a morte de Moisés: que houvesse juízes em todas
as cidades (como houve durante a sua vida – chefes de mil,
de cem, de cinquenta e de dez), e que a autoridade máxima
se dividisse em duas linhas, sacerdotes e juízes, que deveriam
residir numa cidade que Deus escolheria.
Os sacerdotes representavam a autoridade espiritual e os
juízes, a temporal ou civil. O sacerdote dava o parecer de Deus,
e o juiz, que era um homem carismático, administrador e sábio,
mostrava como aplicar essa palavra na vida prática do povo.
Todos os problemas menores eram resolvidos nas próprias
cidades, porém, qualquer causa mais grave devia ser levada às
autoridades máximas, em Jerusalém.

41
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Desta forma, Deus seria, de fato, o rei do seu povo, pois


seus representantes, os sacerdotes, transmitiriam o seu parecer,
e o juiz cuidaria de colocá-lo em prática. É interessante notar
que Moisés não diz nada sobre como este juiz seria escolhido.
Apenas diz: “... ao juiz que houver nesses dias...” (v.9). Certa-
mente, se o povo obedecesse às leis de Deus, ouvisse sua voz
e andasse nos seus caminhos, ele levantaria em cada geração o
homem certo para exercer essa função.
É importante destacar como Deus sempre separa os dois
tipos de autoridade, espiritual e temporal. A razão para isso é
que o acúmulo dessas funções num só homem é muito peri-
goso. Se a mesma pessoa detém a autoridade sobre os espíritos
e também sobre os corpos das pessoas, ela poderá exaltar-se e
tornar-se um ditador, um anticristo, isto é, alguém que toma
o lugar que só pertence a Deus.
Quando o rei Uzias se exaltou e quis exercer a função sacer-
dotal oferecendo incenso, Deus o feriu com lepra (2 Cr 26.16-
21). Saul foi rejeitado como rei porque não esperou Samuel e
ofereceu sacrifícios (1 Sm 13.11-14). Durante toda a história,
a união dos dois ofícios foi alvo de sistemas totalitários. No
império romano, o imperador, máxima autoridade civil, ocu-
pou também a mais alta posição religiosa e obrigava as pessoas
a queimar-lhe incenso. Durante a Idade Média, o papa podia
excomungar, mandar para o inferno, tomar todos os bens,
torturar e matar pessoas. Portanto, Deus tomou providências
para separar essas duas funções no seu modelo de governo.

A TRANSIÇÃO DE MOISÉS PARA O TEMPO DOS JUÍZES

Vamos observar agora como foi feita a transição de Moi-


sés para o tempo dos Juízes, conforme o texto de Números
27.12-23.

42
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Deus falou com Moisés para subir o monte e morrer! Desta


vez, ele não reclamou, mas se preocupou com quem haveria
de dirigir a congregação do Senhor. Ele comparou o povo do
Senhor a ovelhas que precisam de pastor. Muitas passagens da
Bíblia usam essa comparação. Ovelhas são bem diferentes de
cabritos, que são espertos e independentes. Ovelhas, ao contrá-
rio, são dóceis e sempre andam em rebanhos. Se alguém as leva
para um precipício, obedecem mansamente e caem. Quando
são conduzidas para o matadouro, não oferecem resistência.
Precisam de liderança sábia e amorosa. Moisés guiou o povo
do Senhor por muitos anos e agora sua preocupação não era
consigo mesmo, mas com o futuro daquele povo que amava.
Em resposta, Deus indicou Josué, o discípulo de Moisés,
“homem em quem há o Espirito”, e mandou apresentá-lo “perante
Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregaçao” e impor as
mãos sobre ele (vv.18,19). Depois disse: “Põe sobre ele da tua
autoridade, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de
Israel” (v.20). Em Josué não seria colocada toda a autoridade de
Moisés, mas uma parte somente – “da tua autoridade”. Portan-
to, não se tornaria outro Moisés, mas seria menor do que ele.
Para que Josué recebesse as ordens de Deus para o povo,
o sacerdote teria que ser o mediador – aquele que buscaria a
Deus e lhe transmitiria (v.21). Moisés não precisava disso. Ele
mesmo era o mediador entre o povo e Deus. Havia outros
líderes para ajudá-lo, mas não para ouvir de Deus. Ele mesmo
era o sacerdote, que levava as causas a Deus; o profeta, que
recebia diretamente a palavra; e o juiz ou rei, que a implantava
na prática e julgava as causas do povo.
Em Êxodo 4.10-16, vemos como Moisés deu desculpas a
Deus para não obedecer ao seu chamado de tirar o povo do
Egito. Ele queria um ajudante, e Deus lhe deu Arão. Porém,
pode-se perceber pelos acontecimentos que Arão não era
43
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

muito necessário e, às vezes, até atrapalhou (por exemplo, no


caso do bezerro de ouro). Moisés ouvia diretamente de Deus,
e Arão era seu porta-voz ao povo (Êx 7.1). Arão foi escolhido
para ser o sumo sacerdote (Êx 28.1,2) e Moisés, o profeta que
ouvia de Deus.
Deus queria e quer até hoje dirigir o seu povo diretamente
(Êx 19.1-6). Entretanto, muitos obstáculos impedem que
isso aconteça. Ele tirou Israel do Egito, em primeiro lugar,
para achegá-los a si mesmo (v.4). Evidentemente, também
queria levá-los à terra prometida, porém seu maior propósito
era atraí-los para perto dele. Quando duas pessoas se casam,
é imprescindível ter uma casa, filhos, etc. O essencial, porém,
é estar juntos. Isto é o mais importante para Deus e deve ser
para nós também.
Deus quer ter um povo especial, um reino sacerdotal, um
reino de reis e sacerdotes em que todos possam entrar na sua
presença e ouvir a sua voz. Só que até hoje ele ainda não o
conseguiu. Até mesmo Josué precisava de Eleazar para ouvir
de Deus. Mas o objetivo final de Deus é que todos sejam
sacerdotes – ouvindo-o diretamente – e reis – fazendo a sua
vontade na terra.
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as vir-
tudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (1 Pe 2.9).
Pedro está falando com a igreja, o povo de Israel espiritual.
O propósito de Deus ainda é o mesmo no Novo Testamento:
todo o povo chegando a ele, ouvindo a sua voz e fazendo a sua
vontade e obra na terra. O texto de Jeremias 31.31-34 também
confirma esse propósito da nova aliança – ouvir a voz de Deus
diretamente. Mas, como isso não pode acontecer com todos

44
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

ao mesmo tempo, Deus ainda precisa usar indivíduos que o


conhecem para transmitir sua vontade ao povo. Portanto, para
que todos possam ouvir de Deus diretamente, é necessário antes
começar a ouvi-lo por meio do sacerdote. (Esse assunto sobre
reis e sacerdotes pode ser estudado em maior profundidade no
livreto: Procuram-se Sacerdotes).
Moisés era sacerdote, profeta e rei; unia todas as funções
em um só homem. Arão representava a separação entre rei e
sacerdote, entre o poder espiritual e temporal. Na verdade,
ele era apenas um porta-voz de Moisés. Sua importância era
mais como figura, pois ele mesmo não tinha muita atuação.
Por exemplo, como sacerdote, Arão só podia entrar no santís-
simo lugar uma vez por ano, ao passo que Moisés, que não era
sacerdote oficialmente, entrava lá constantemente (Lv 16.1,2;
Hb 9.7; Nm 7.89).
Depois de Moisés, porém, Josué era rei ou juiz, e Eleazar
era sacerdote. As funções eram separadas, e o rei dependia do
sacerdote. Na verdade, o governo sobre o povo deveria ser
exercido pelo próprio Deus e, depois, pelo sacerdote e juiz,
nesta ordem.
Moisés foi um caso excepcional – ele não era modelo para
o governo que viria depois. Não houve perigo no fato de ele
acumular as duas funções porque Deus o quebrantou durante
os quarenta anos que passou sozinho no deserto, tirando-
-lhe toda ambição ou exaltação pessoal. Sua fama era de ser
o homem mais manso da terra (Nm 12.3). Quando Deus o
chamou para tirar o povo do Egito, ele deu cinco desculpas
para não ir (Êx 3 e 4). Toda sua confiança e autossuficiência
tinham acabado. De certa forma, ele foi uma figura de Jesus,
em quem essas funções serão acumuladas eternamente num
governo que nunca terá fim.

45
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Josué, porém, representava o início de uma nova fase, a dos


juízes. Não era mais o governo de Deus através de um homem,
como acontecia com Moisés, mas o governo civil separado do
espiritual.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Descreva em poucas palavras como o tempo dos


juízes começou, quais seus aspectos principais e
como terminou.
2. Por que é importante analisar a razão da
existência de cada etapa do plano de Deus?
3. Quais são as dúvidas que surgem em relação à
necessidade de o povo passar pelo período dos
juízes?
4. Quando surgiram os primeiros juízes, quem eram
e o que faziam?
5. Qual era o plano de Deus para o governo de Israel
após a morte de Moisés?
6. Que tipo de pessoa seria escolhida como juiz para
morar na capital junto com os sacerdotes?
7. Como ele seria escolhido?
8. Por que este sistema de governo permitia que Deus
fosse de fato o rei do seu povo?
9. Por que Deus sempre procura separar a autoridade
espiritual da temporal?
10. Por que a Palavra sempre compara o povo de Deus
com ovelhas?
11. Qual é a principal diferença entre a autoridade de
Moisés e a de Josué?
12. Qual o objetivo final de Deus para o seu povo?
13. Como Deus quer alcançar este objetivo?

46
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

14. Por que, apesar de Arão ser o sacerdote oficial,


podemos dizer que Moisés na realidade exerceu
mais o sacerdócio do que ele?
15. Mostre como, além de ser sacerdote, Moisés era
profeta e rei.
16. Qual era, então, a importância ou função de Arão?
17. Por que não houve problemas no fato de Moisés
acumular essas duas funções?
18. Por que ele é figura de Jesus?

POR QUE O GOVERNO DE DEUS NÃO FUNCIONOU NO


TEMPO DOS JUÍZES?

“Naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que


achava mais reto” (Jz 21.25).
Esse é o refrão que descreve o tempo dos juízes: Cada um
fazia o que achava mais reto aos seus próprios olhos. Isto não é
o governo de Deus, e nem o do homem; é anarquia, ausência
de governo. Mas, por que o governo de Deus não funcionou?
Em Juízes 2.6-13, temos uma descrição do que acontecia
com o povo em função da liderança exercida sobre eles ou da
ausência dela:
“Serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos
anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué, e
que viram todas as grandes obras, feitas pelo Senhor a Israel” (v.7);
“Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e
outra geração após eles se levantou, que não conhecia ao Senhor,
nem tampouco as obras que fizera a Israel” (v.10);
“Então fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Se-
nhor; pois serviram aos baalins. Deixaram ao Senhor Deus de seus

47
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses,


dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram,
e provocaram o Senhor à ira” (vv.11-12).
Por que o povo da segunda geração não conhecia ao Senhor?
Porque não havia mais porta-voz, nem pastor ou alguém que
pudesse ouvir e transmitir a palavra do Senhor.
Deus queria governar o povo. Ele os governou por meio
de Moisés, de Josué e dos anciãos que vieram depois dele.
A partir de então, não havia ninguém para ouvir de Deus e
governar em seu lugar e, consequentemente, o povo ficou em
confusão. Não havia uma provisão na lei para determinar a
sucessão dos juízes. Por isso, Moisés sentiu encargo pelo povo
e orou a Deus pedindo um sucessor. Por outro lado, Josué não
procedeu assim, e depois dele o povo apostatou.
Uma das características desse período é que os juízes não
tinham ligação com a casa de Deus, os sacerdotes ou a lei.
Tinham unção para o propósito especial de libertar o povo
dos opressores, mas não preparavam um sucessor nem uma
estrutura de governo para o povo. Foi o que aconteceu na
igreja primitiva também. Os apóstolos sustentavam a igreja
com a sua doutrina e revelação do evangelho e, quando
morriam, seus discípulos se tornavam os líderes. Como
aconteceu depois de Josué, apesar de não terem a mesma
unção dos apóstolos, esses discípulos transmitiram pelo
menos uma certa segurança, por manter a visão e os prin-
cípios apostólicos. Porém, depois deles a igreja rapidamente
entrou em declínio, pois, assim como Josué, não deixaram
sucessores.
O governo de Deus, nos moldes delineados em Deutero-
nômio, só funcionaria se o povo ouvisse sua voz e tivesse um
relacionamento com ele. Se assim o fizessem, Deus poderia

48
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

levantar homens para liderá-los. O problema sempre foi que


o povo preferia depender do relacionamento do seu líder com
Deus e, por isso, apostatava quando o líder morria.
Deus nunca teve uma oportunidade para levantar juízes do
tipo descrito em Deuteronômio 17.9 (que julgavam as causas
do povo), pois, assim que Josué e os outros anciãos morreram,
o povo se desviou atrás dos ídolos e foi subjugado por inimigos.
Diante da opressão e do clamor por libertação, Deus levantava
outro tipo de juiz – o juiz-1ibertador. Este não era necessaria-
mente um chefe de sua tribo, amadurecido e sábio, mas um
homem que apesar de ter muitos defeitos de caráter (exemplos:
Sansão, Gideão, Jefté), era sobrenaturalmente dotado por Deus
de coragem e força para vencer os inimigos de Israel.
Entretanto, ainda permanecem outras perguntas: Por que o
povo nunca tinha um coração para ouvir a Deus, amá-lo e segui-
-lo? Por que só eram fiéis a Deus se o líder o servisse e nunca
buscavam um relacionamento direto com ele? Essa tendência
durou até o tempo do cativeiro: se o rei era bom, todo o povo
servia ao Senhor, mas se era mau, servia aos ídolos. Se nem
Moisés, que reunia as duas funções e conversava com o Senhor
face a face, pôde transformar o coração do povo, quanto menos
seriam capazes de servir a Deus na ausência de um líder forte que
lhes trouxesse a palavra de Deus! Foi isso que de fato aconteceu
depois de Josué. Por que, então, Deus permitiu essa situação?
Deus já sabia que isso aconteceria, porém o permitiu pela
mesma razão que o levou a dar os dez mandamentos apesar de
saber que nenhum homem conseguiria cumpri-los. Assim como
desejava que o homem reconhecesse sua incapacidade de cumprir a
lei, também queria que ele visse sua necessidade diária da palavra
que procede da boca de Deus. O período dos juízes foi a prova
de que o governo de Deus não funciona sem uma palavra atual
e contínua – sem alguém que ouça a sua voz.
49
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Se tivessem um rei e um sistema claro de escolha do líder


desde o princípio, nunca descobririam a necessidade de ouvir
a voz de Deus. Quando o Senhor levou o povo pelo deserto,
desejava ensiná-los a depender totalmente dele em todas as
suas necessidades: água, pão, vitória sobre inimigos, vestuário,
etc. Também permitiu que passassem pelo tempo dos juízes
para que sentissem dependência total dele quanto ao governo,
à direção e até para seguir a lei.
Sob a liderança de Moisés o povo nunca reconheceria essa
necessidade, já que ele lhes dava direção e governo, por meio
de seu relacionamento íntimo com Deus. Porém, não apro-
veitaram a “tutela” de Moisés, nem a de Josué, ou dos outros
anciãos e não entraram num relacionamento direto com Deus.
Por isso, não houve outro líder, e o resultado foi anarquia e
confusão.
O texto de Deuteronômio 17 prova que Deus já sabia que
esse sistema não funcionaria. Logo depois de falar em levar as
causas graves aos sacerdotes e ao juiz em Jerusalém, Moisés
profetiza que a estrutura dos juízes não satisfaria o povo e que
pediriam um rei como as outras nações (Dt 17.14-20). Ele sabia
que a autoridade dos juízes e dos sacerdotes não seria suficiente,
pois nenhum dos dois teria o contato necessário com Deus para
receber a palavra profética e dar direção ao povo. Desta forma,
prevendo que pediriam um rei para resolver o problema, ele
passou a exortá-los sobre o tipo de rei que deveriam escolher e
a qualidade essencial de que precisaria para reinar: ler e seguir
constantemente a lei do Senhor.
Porém, a monarquia também não seria a solução para o
governo de Deus. Por isso, no capítulo seguinte (Dt 18.15-
19), Moisés profetizou que Deus levantaria outro profeta
semelhante a ele e que, por meio dele, o governo de Deus
funcionaria.
50
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Portanto, o profeta é um dos ofícios do governo de Deus


sobre seu povo. Sem a palavra profética, nenhum dos outros
ofícios funciona adequadamente. O maior problema do tem-
po dos juízes era este: “... a palavra do Senhor era mui rara; as
visões não eram frequentes” (1 Sm 3.1). O profeta é um líder,
pois é o mensageiro da palavra de Deus, e é esta palavra que
dirige o povo.
Cabe ressaltar que o ministério profético não está incluído
no quadro do governo de Deus descrito por Moisés em Deu-
teronômio, porque no plano ideal essa função seria desempe-
nhada pelo sacerdote. Se os sacerdotes cumprissem plenamente
seu ministério, Deus não precisaria levantar profetas. Porém,
os profetas foram levantados do meio de qualquer tribo e
profissão como ministérios de emergência para preencher a
falha dos sacerdotes.
Deus queria que os sacerdotes tivessem o encargo de inter-
ceder pelo povo diante dele. Depois, deveriam comunicar-lhes
a sua palavra. Tinham ainda a função de oferecer-lhe sacrifícios
e também ouvir e expressar a sua vontade e desejos ao povo. Se
agissem assim, nunca faltaria a palavra do Senhor a Israel, pois
Deus havia ordenado uma sucessão hereditária de sacerdotes.
É interessante notar que ele não providenciou uma sucessão
de juízes, nem de profetas, mas somente de sacerdotes. Seu
alvo era manter o governo por meio dos sacerdotes, o que não
foi possível pela incapacidade deles em ouvir a voz de Deus.
Logo na inauguração do tabernáculo e do exercício do
sacerdócio, ficou evidente que este desejo de Deus não seria
realizado. Nadabe e Abiú, filhos de Arão e os próximos can-
didatos ao sumo-sacerdócio, entraram no Santo dos Santos
sem a ordem de Deus e morreram (Lv 10.1-3). Em Levítico
16.1,2, Deus limita a entrada do sumo-sacerdote no Santíssimo
lugar a uma vez por ano, no Dia da Expiação; mesmo assim, a
51
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

finalidade não era ouvir a voz de Deus, mas fazer expiação pelo
povo. Por essa razão, Paulo diz em Hebreus 9.6-8 que “ainda o
caminho do Santo Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro
tabernáculo continua erguido”.
O sistema do tabernáculo e do sacerdócio foi realmente ape-
nas uma figura. Deus determinou que o sacerdote entrasse uma
única vez no ano, justamente porque sabia que um encontro
diário para exprimir sua vontade ao povo não funcionaria. O
tabernáculo, então, expressava duas mensagens:
• era uma figura do encontro de Deus com seu povo;
• mostrava que o caminho para o Santo dos Santos estava
fechado.
Por um lado, falava da realidade da comunhão com Deus
que viria com Jesus na nova aliança e, por outro, se revelava
como uma figura apenas, cuja realidade ainda não havia che-
gado.
Por falta de um verdadeiro sacerdócio, então, a palavra do
Senhor não chegou ao povo; nem tampouco o governo fun-
cionou através dos juízes e sacerdotes. Deus já sabia disto, mas
o povo não. Ele queria dar-lhes essa experiência na história, a
fim de servir de testemunho a todas as futuras gerações quan-
to à necessidade de termos um sacerdote verdadeiro – Jesus.
Qualquer sistema de governo que não se baseie em ouvir a voz
de Deus está destinado ao fracasso. Esta é a lição que Deus
quer ensinar-nos por meio do povo de Israel.
Mas, Deus não deixou seu povo sem esperança. Prometeu le-
vantar outro profeta como Moisés. Ainda que o tempo presente
fosse cheio de anarquia e confusão, os fiéis podiam apegar-se
à promessa do Senhor de que, um dia, um profeta levantado
dentre seus irmãos traria o governo de Deus e realmente faria
deles uma bênção a todas as nações.
52
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Até o tempo de Jesus, o povo de Israel manifestava duas


grandes verdades através de sua história e experiências com
Deus:
• em primeiro lugar, o terrível fracasso do homem, tanto
no governo quanto no cumprimento da lei;
• e, em segundo lugar, a tremenda esperança na promessa
infalível de Deus de levantar um sacerdote, profeta e
rei para resolver definitivamente esta triste situação do
homem caído.
Por que a solução de Deus era um profeta “semelhante” a
Moisés? (Dt 18.15,18). Porque não era qualquer tipo de pro-
feta que resolveria o problema. Durante a história de Israel,
por causa do fracasso dos sacerdotes, Deus levantou profetas
ou porta-vozes que funcionavam em conjunto com os reis ou
juízes. Estes profetas, porém, não puderam alcançar o alvo
de Deus, que era levar o povo a ser um reino de sacerdotes e
capacitá-los a cumprir a sua lei.
Em que sentido Moisés e Jesus eram diferentes dos outros
profetas? Primeiramente, havia diferença no nível de comu-
nhão e intimidade com Deus (Nm 12.6-8; Dt 34.10); o outro
aspecto (e isto se refere mais diretamente ao nosso assunto no
momento) é que os dois acumularam as funções de sacerdote
e rei. Dessa forma, não só traziam a palavra de Deus para ser
executada pelo povo, mas também a implantavam na prática
deles. Exigiam obediência do povo a Deus, porém eles mesmos
encarnavam, em sua própria vida, a mensagem que pregavam.
A prova máxima da sua lealdade era o fato de que preferiam
ter seus nomes riscados do livro da vida a ver o propósito de
Deus com seu povo frustrado. Eles não só profetizavam acerca
do amor de Deus pelo povo, mas manifestavam em si mes-
mos esse amor. É neste espírito de intercessor que se baseia o

53
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

verdadeiro ministério de sacerdote, profeta e rei. E, quando


esse espírito está presente num homem, o governo de Deus
começa a funcionar. As pessoas que mais o revelaram foram
Moisés, Jesus e Paulo; porém, Jesus foi o único que realmente
o expressou na prática – não só se ofereceu para morrer pelo
povo, mas de fato morreu! Por isso o governo de Deus só pode
ser estabelecido por meio dele.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Qual era a situação do governo de Israel durante


o tempo dos juízes?
2. Por que o povo da segunda geração não conhecia
ao Senhor?
3. Qual a semelhança entre o tempo dos juízes e o
declínio da Igreja primitiva?
4. Qual era a condição básica para o governo de
Deus delineado em Deuteronômio funcionar?
5. Por que Deus nunca teve uma oportunidade
para levantar juízes do tipo descrito em Dt
17.9?
6. Em que sentido os juízes-libertadores eram
diferentes deste tipo de juiz?
7. Como era o relacionamento do povo de Israel
com Deus até os dias do cativeiro?
8. Se o povo já não servia a Deus de coração no
governo de Moisés, por que Deus o deixou sem
um líder forte depois de Josué?
9. Em que sentido o período dos juízes é semelhante
à caminhada pelo deserto?
10. Como sabemos que Deus sabia de antemão que o
governo dos juízes e sacerdotes não funcionaria?
54
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

11. Que tipo de rei Moisés disse que o povo deveria ter?
12. O que Moisés profetizou que seria a solução para o
governo de Deus funcionar?
13. Por que o profeta é um dos ofícios mais importantes
do governo de Deus sobre seu povo?
14. Por que o ministério profético não é incluído
no quadro do governo de Deus descrito em
Deuteronômio?
15. Por que Deus tinha ordenado apenas uma sucessão
de sacerdotes e não planejou nada sobre os juízes e
profetas?
16. Quando ficou claro que o sacerdócio não
funcionaria como elemento-chave para o governo
de Deus?
17. Para que servia, então, o tabernáculo e o
sacerdócio?
18. Quais as duas mensagens expressas pelo
tabernáculo?
19. Que lição Deus quer nos ensinar através da
anarquia e confusão do período dos juízes?
20. Quais as duas verdades que o povo de Israel
manifestava através da sua história até o tempo
de Jesus?
21. Por que a solução de Deus era um profeta
“semelhante” a Moisés?
22. Em que sentido Moisés e Jesus eram diferentes dos
outros profetas?
23. Em que base os ministérios de sacerdote, profeta e
rei podem ser reunidos em um homem só?
24. Por que Jesus foi o único que realmente tinha essa
base?

55
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

25. Que outros homens na Bíblia revelaram este espírito?


26. Por que o governo de Deus só pode ser estabelecido
através de Jesus?

UM REI NO TEMPO DOS JUÍZES

Um fato interessante, ocorrido naquela época, é que houve


uma tentativa frustrada de instituir um rei durante o período
dos juízes. O povo, cansado da anarquia e confusão, tentou
transformar um juiz-1ibertador, que os libertara dos midianitas,
em um rei e, assim, obter segurança e estabilidade.
Em Juízes 8.22-27, vemos como o povo pediu para que
Gideão se tornasse rei sobre eles e começasse uma dinastia real.
Inicialmente, a resposta de Gideão foi correta (v.23), mas
depois, usando argolas de ouro do despojo, fez um objeto idóla-
tra, contradizendo assim sua declaração anterior de que só Deus
haveria de reinar sobre eles. Não quis ser rei, mas levou o povo
à idolatria, misturando o culto a Deus com adoração a ídolos.
Esse é o resultado da ausência da palavra de Deus.
A estola sacerdotal simboliza o orgulho de Gideão, que queria
um memorial de sua vitória na guerra – e isso se lhe tornou em
laço.
Abimeleque, filho de Gideão, reinou três anos sobre Israel. Ele
matou seus setenta irmãos, porém, no fim, Deus o julgou (Jz 9.1-
6,22). Foi outra tentativa frustrada de formar um reinado neste
período. O povo já desejava ter um rei como as outras nações.
Vários textos mostram o que acontece quando não se tem um
rei: cada um faz o que acha certo aos seus próprios olhos (Jz 17.6;
18.1; 19.1; 21.25). Isto chama-se anarquia. Se não houver um
rei sobre nós, faremos a nossa própria vontade e haverá anarquia.
Porém, precisamos saber que tipo de rei queremos.

56
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

DOIS TIPOS DE REI

Samuel foi o último juiz (1 Sm 8.1-9). Era também profeta


e sacerdote, e ungiu o primeiro e o segundo rei de Israel. Deus
o usou para iniciar o reino. Na época de Gideão, o Senhor não
permitiu a realização do desejo do povo de Israel por um rei;
agora, porém, por intermédio de Samuel, um homem que
ouvia a voz de Deus, resolveu atendê-los.
Apesar de ser fiel a Deus, Samuel não conseguiu criar seus
filhos nos caminhos do Senhor. Foram instituídos como juízes
em seu lugar, porém, como eram corruptos, o povo pediu um
rei.
Deus não se aborreceu com o povo somente porque
queriam um rei, mas porque pediram com a motivação
errada – ser como as outras nações (vv.6-8). Continu-
avam agindo do mesmo modo, desde a saída do Egito.
Não queriam ser o povo especial de Deus, diferente das
outras nações, nem desejavam ter compromisso ou aliança
com Deus. Só queriam ser abençoados por ele e seguir o
mesmo caminho das outras nações. O povo precisa ouvir
a voz de Deus para viver e fazer sua vontade na terra. As
nações ouvem seus reis e lhes obedecem. Não dependem
de Deus, mas do homem. Por isso, Deus disse que o povo
o rejeitou como rei ao preferir que um homem reinasse
no lugar dele.
Deus resolveu satisfazer o desejo do coração deles, mas
pediu que Samuel os alertasse acerca das consequências
que viriam (1 Sm 8.9-22), explicando como o rei humano
os exploraria e se aproveitaria deles. Mesmo assim, conti-
nuaram firmes no seu propósito.
Então, Deus lhes deu o tipo de rei que desejavam – Saul.
Porém, os planos de Deus nunca podem ser frustrados.

57
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Apesar de o povo pedir com a motivação errada, ele usou


esse acontecimento para levantar Davi, que é ascendente
de Jesus, a verdadeira solução para o governo de Deus na
terra. O povo rejeitou a Deus como rei; no entanto, ele
usou o reinado humano para trazer o seu reino.
Antes, porém, de levantar um governante segundo o seu
coração, concedeu-lhes um rei do jeito que pediram a fim de
que vissem a diferença. Como diz o profeta Oseias: “Dei-te
um rei na minha ira, e tirei-o no meu furor” (Os 13.10,11;
At 13.21-23).
Saul era um rei humano, carnal, natural. Era alto, for-
moso e forte. Foi ungido por Deus, exerceu os dons, mas
não fez a vontade do Senhor nem se interessou pelos seus
propósitos – só queria aparecer diante dos homens e pro-
curar seus próprios interesses. Assim, Deus o rejeitou, pois
em duas ocasiões ele desobedeceu a Samuel. Não desejava
ouvir a voz de Deus.
Por essa razão, Deus escolheu um homem segundo o seu
coração que tinha interesse em ouvir e obedecê-lo. Deus
quer governar o seu povo; para isso, o rei deve ouvir a sua
voz. Através da descendência desse rei, levantou-se uma
linhagem real, e o filho de Davi – Jesus – iniciou o reino
de Deus.
Esse reino vai cumprir o propósito original de Deus que é
ter um povo que ouça a sua voz e obedeça à sua vontade. O
povo pediu um rei com a motivação de não depender mais
de Deus, porém ele tornou o plano para o bem e implantou
seu reino através de Davi.
No decorrer desse estudo do tempo dos juízes, vimos
quatro ofícios do governo de Deus: sacerdote, juiz, profeta
e rei. Suas funções são as seguintes:

58
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

SACERDOTE: intercedia a Deus pelo povo. Pertencia à


tribo de Levi, oferecia sacrifícios e era auxiliado pelos levitas.

JUIZ: chefe das tribos. Homem de sabedoria para decidir


questões. Devia governar de acordo com a palavra de Deus.

PROFETA: homem levantado por Deus de qualquer tribo


ou profissão para ouvir e transmitir a palavra do Senhor ao
povo. Porta-voz, mensageiro de Deus que ajudava o povo
a servi-lo.

REI: homem que governava o povo segundo o poder, a


força e a vontade humana. Não dependia de ninguém – era
dono de si mesmo. Tinha força e riqueza, vivia para seu
próprio prazer. Mesmo que fosse um explorador, o povo
desejava seu governo, pois mantinha a ordem e proporcio-
nava-lhes o orgulho de ser como as outras nações. Ainda
que ele os empobrecesse, queriam a glória de ter um rei
rico, vitorioso e pomposo. Isso lhes dava status e descanso
de suas responsabilidades.

Com os três ministérios (sacerdote, juiz e profeta) fun-


cionando em união e equilíbrio, não haveria necessidade de
um rei. Esse era o plano inicial de Deus. Ele queria reinar
pessoalmente e administrar sua teocracia através desses mi-
nistérios. Porém, esse sistema não funcionou porque nem
os sacerdotes nem os juízes mantinham contato com Deus;
consequentemente, também não mantinham contato uns
com os outros, e o resultado foi anarquia.
Deus, entretanto, nunca perde. Apesar da motivação
carnal do povo em pedir um rei para a sua própria conve-
niência e independência, ele usou o contexto para levantar
a linhagem que traria seu próprio Filho como verdadeiro
59
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

rei. Assim se cumpriria sua intenção original de estabelecer


a teocracia desejada. Se ele não pôde reinar por meio dos
sacerdotes, juízes e profetas, ele o faria por Jesus, que reúne
todas essas funções em si mesmo e é, ao mesmo tempo, o
próprio Deus!
Podemos notar na história de Israel que o governo de Deus
se tornava mais evidente quando as três funções – sacerdote,
juiz e profeta – eram exercidas por uma só pessoa. O maior
exemplo disso é o ministério de Moisés. Deus dirigia seu povo
através de Moisés porque ele tinha as três funções. Samuel
também reunia os três ministérios e trouxe uma restauração
do governo de Deus na sua época: levava as cargas do povo a
Deus em intercessão e oferecia sacrifícios (sacerdote); ouvia
e transmitia a palavra de Deus ao povo (profeta); e julgava
as causas (juiz). Outro exemplo foi Davi, que promoveu um
período de glória a Israel exercendo as três funções: profetizava
nos salmos, vestia uma estola sacerdotal e julgava o povo.
Todos eles foram apenas figuras de Jesus, o único que re-
almente cumpriu em plenitude esses ministérios. Ele é Filho
de Deus e Rei de Israel (Jo 1.49; Lc 1.32,33). Só ele suporta
o peso (e a glória) de ser um rei absoluto. Deus separou as
funções porque os homens se tornam ditadores, mas em Jesus,
encontrou a solução. Quando as funções são separadas, o
problema é a falta de contato com Deus e de reconhecimento
entre si; quando são unidas, há o perigo de se tornar um rei
carnal e absoluto.
Em Jesus, porém, os dois problemas são resolvidos, pois
as funções são unidas e não há exaltação ou desunião com
Deus, pois ele é Deus! Ele é um com o Pai e não tem jeito
de separá-los. Ele nunca se exaltará sobre Deus, pois é eter-
namente seu Filho e tem todo o respeito e submissão que tal
relacionamento implica.
60
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

Podemos fazer, então, um esquema dos dois tipos de rei:

REI ESPIRITUAL REI CARNAL


Profeta - proclama a lei de Deus,
a vontade de Deus para o povo
Sacerdote - leva as cargas do EXPLORA O POVO

povo a Deus
Juiz - julga e liberta o povo
Rei - administra e governa o povo.

O rei carnal explora o povo, ajunta riquezas para si e visa


apenas seus próprios interesses. Mas, pelo menos, implanta
ordem. No Brasil, e em cada país do mundo hoje, existem
autoridades deste tipo.
Em contraste, o rei espiritual precisa ser profeta, sacer-
dote, juiz e rei. Como profeta, ele proclama a lei de Deus.
Como sacerdote, leva as cargas do povo, assim como Arão
levava os nomes das doze tribos sobre os ombros e coração.
Já que sempre havia desvios da lei, era necessário carregar
a responsabilidade e interceder pelo povo (o rei carnal não
fazia isso). Como juiz, julga as causas e liberta o povo dos
inimigos, assim como os juízes faziam naquele tempo. O
rei reúne todos esses elementos em si mesmo ou nas pessoas
ao seu redor, e torna-se um administrador, um executivo.
O profeta corresponde ao poder legislativo; o juiz ao
judiciário e o rei ao executivo. O sacerdote representa o
aspecto religioso do governo, a ligação entre o povo e Deus.
Como funciona o governo de Deus na igreja hoje? Jesus
é o rei, o pastor das ovelhas; portanto, nenhum homem
deve ocupar essas posições ou tomar esses títulos para si.
61
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

O ministério humano deve ser plural. Porém, há vários


princípios de funcionamento desta pluralidade:
• o juiz e o sacerdote representam os ministérios prático
e místico trabalhando em conjunto na igreja;
• entre os juízes (presbíteros), um deve ter a palavra final –
como foi no caso de Josué. Na pluralidade, é necessário
o reconhecimento de que há um com autoridade para
decidir as questões;
• se o líder for uma pessoa prática, necessitará de outros
para equilibrá-lo no lado místico e vice-versa. Porém,
o mais importante é ouvir de Deus: se o líder não for
capaz de ouvi-lo, não trará o governo de Deus à igreja;
• a pessoa com a palavra final não deve ter um ofício ou
título especial. Isso também é contrário ao princípio
do governo de Deus, pois sua autoridade precisa ser
reconhecida, não imposta. A autoridade de título ou
ofício é como o rei; traz união, porém na base errada.
Para haver governo plural, é necessário reconhecimento mú-
tuo entre os diversos ministérios. Quem não reconhece outros
também não será reconhecido. Quando os juízes e sacerdotes
não se reconheciam mutuamente, o povo ficava confuso e pedia
um rei para resolver o dilema. Hoje, o governo de Deus pode
funcionar, pois Jesus já veio. Ele é o rei absoluto, aquele que
acumula todas as funções. Se recebermos e andarmos no seu
Espírito, teremos perfeita unidade uns com os outros, e seu
governo será implantado.
À medida que o homem natural diminui e desaparece, o
Espírito de Jesus cresce e recebe seu devido lugar de honra e
autoridade e, assim, o reino de Deus aparecerá em nosso meio.
Se, porém, nos apegarmos a um sistema humano ou a um rei
carnal (um pastor, um papa, etc.) seremos exatamente como
62
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

as outras nações (organizações, clubes humanos) e nunca ex-


perimentaremos o governo de Deus.
Por outro lado, se tivermos pluralidade de liderança sem
contato com Deus e sem reconhecimento dos ministérios, uns
pelos outros, viveremos em anarquia como o povo de Israel no
tempo dos juízes. Que Deus nos abra os olhos para ver Jesus
– o Filho de Deus e o Rei de Israel! (Para entender mais sobre
as medidas práticas necessárias para sair do governo humano
e voltar ao governo de Deus, por meio da palavra profética e
o equilíbrio entre os quatro ofícios do governo de Deus, leia
as mensagens Uma nova ordem para a Igreja hoje e O que é a
Igreja?, e o livreto Governo na igreja local.)

PERGUNTAS PARA REVISÃO


1. Quem era o juiz que o povo queria tornar rei no
meio do tempo dos juízes?
2. Por que eles queriam fazer isso?
3. Como ele reagiu?
4. Qual o significado da estola sacerdotal de ouro que
ele fez?
5. O que aconteceu com Abimeleque, filho de Gideão,
que se fez rei?
6. Qual o resultado de não haver rei em Israel?
7. Por que Deus não permitiu o levantamento de
um rei no tempo de Gideão e Abimeleque, mas o
permitiu nos dias de Samuel?
8. O que mais desagradou ao Senhor quando o povo
pediu um rei a Samuel?
9. Qual a diferença principal entre o povo de Deus e
os outros povos?
10. Como Deus reagiu ao pedido deles?

63
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

11. Como ele conseguiu avançar com seus próprios


propósitos, mesmo com essa atitude errada do
povo?
12. Qual a diferença principal entre Saul e Davi?
13. Por que Deus levantou Saul antes de Davi?
14. Como Deus conseguirá cumprir seu propósito
original através de Davi?
15. Quais são os quatro ofícios do governo de Deus e
qual a função de cada um?
16. Por que o povo quer um rei apesar de saber que
ele governará segundo a sua vontade e para seus
próprios fins egoístas?
17. Qual o plano inicial de Deus para sua teocracia
funcionar?
18. Por que este sistema não funcionou?
19. Como Deus propõe agora conseguir sua teocracia?
20. Em que condições o governo de Deus se tornava
mais evidente durante a história de Israel? (Dê
exemplos)
21. Por que o governo de Deus não funciona quando
a função espiritual é separada da temporal?
22. Que problema surge quando são unidas em uma
mesma pessoa?
23. Por que, em Jesus, ambos os problemas são
resolvidos?
24. Compare os dois tipos de rei: o carnal e o
espiritual.
25. Mostre como o rei espiritual exerce as quatro
funções do governo de Deus.
26. Como deve funcionar o governo de Deus na
igreja hoje (baseado nestes princípios que temos
observado)?
64
3 - TERCEIRA DIVISÃO: JUÍZES

27. Por que o governo de Deus na igreja nunca deve


ser baseado em ofício ou título?
28. Qual o requisito principal para um governo plural
funcionar?
29. Qual a única maneira de o governo de Deus
aparecer mais e mais em nosso meio?
30. Sem o governo de Deus, quais são os dois extremos
em que poderemos cair?

65
66
4
QUARTA DIVISÃO - Reino Unido
LIVROS: 2 Samuel, 1 Reis 1-10, 1 Crônicas, 2 Crônicas 1-9,
Salmos, Provérbios, Cantares, Eclesiastes, Jó

O
tempo dos juízes foi um período de controvérsia
entre o governo de Deus e o governo do homem.
Foi uma época de anarquia e oscilação, mas termi-
nou com a decisão do povo em favor do governo do homem.
Durante todo aquele tempo, o povo se inclinava nessa direção,
mas Deus não atendeu o seu desejo até os dias de Samuel. Ele
não queria instituir um rei antes que tivesse um homem capaz
de ouvir sua voz e de estabelecer a pessoa ordenada por ele.
Escolheu primeiramente Saul, o tipo de rei que o povo queria,
porém o rejeitou após Saul tê-lo desobedecido por duas vezes.
Depois, escolheu Davi, um homem segundo o seu coração.
Portanto, ainda que o povo tivesse decidido pelo governo hu-
mano, um reino como as outras nações, Deus obteve a vitória,
pois esse rei o reconhecia como o verdadeiro rei!
O Reino Unido começa com Davi, pois Saul reinou par-
cialmente sobre Israel. Seu governo só serviu para provar que
o reinado do homem sobre o povo de Deus não funciona. Saul
não foi muito diferente dos outros juízes instituídos para lutar
contra os inimigos de Israel. Foi Davi quem uniu o povo de
Israel num só reino e subjugou todos os povos e nações ao redor.
67
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

O segundo livro de Samuel poderia muito bem ser chamado


de livro de Davi. 1 Samuel trata do nascimento e morte de
Samuel (o último juiz), do reinado de Saul e do seu grande
conflito com Davi; mas, todo o livro de 2 Samuel trata de um
assunto só: o reino de Davi. 1 Reis 1-10 fala do reino de gló-
ria de Salomão, o filho de Davi. 1 Crônicas e 2 Crônicas 1-9
repetem a história de Davi e do tempo de glória de Salomão.
Então, essa parte da Bíblia trata do reinado de Davi e o de
seu filho Salomão. O Reino Unido representa a idade áurea
do povo de Israel, assim como todos os povos que já tiveram
o seu tempo de glória: gregos, romanos, nações da Europa ou
qualquer outra que tenha se sobressaído cultural ou economi-
camente. Sempre que há uma época de auge de um povo, logo
depois vem o declínio. Então, o ápice da nação de Israel foi
o reino unido de Davi e Salomão. Tinham riquezas e honra;
dominavam do Egito ao rio Eufrates, e do mar Mediterrâneo
até além do rio Jordão. Todas as promessas de Deus a Abraão fo-
ram geograficamente cumpridas no tempo de Davi e Salomão.
O reinado de Salomão é uma figura do milênio. Tem signi-
ficado e importância; porém não é propósito aqui aprofundar
nesse assunto, pois o presente estudo é apenas uma síntese
esquemática.
Outra característica da idade áurea de Israel é a sua riqueza
literária. Os livros de Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares
foram escritos nessa época e contêm canções de amor, louvor,
orações, doutrinas filosóficas, provérbios, parábolas, etc. Mais
da metade dos Salmos é da autoria de Davi. Os outros três
livros foram escritos por Salomão, um homem realmente
culto e sábio.
Incluímos também como literatura característica dessa
época o livro de Jó, que possivelmente foi escrito no mesmo

68
4 - QUARTA DIVISÃO: REINO UNIDO

período dos livros de Moisés, ou seja, uns 500 anos antes.


Porém, não é considerado juntamente com os livros de Moi-
sés porque seu assunto é mais semelhante ao da literatura do
Reino Unido. Jó trata do mesmo tema da origem do homem
e do sentido da vida. É um livro de filosofia, sabedoria e po-
esia. Embora tenha sido provavelmente um contemporâneo
de Moisés, Jó vivia num outro lugar, na terra de Uz, além
do Jordão, ao leste do mar da Galileia. Os detalhes sobre ele
são incertos, mas talvez tenha sido um descendente de Esaú.

O ESPÍRITO DE DAVI

A seguir, vejamos algumas passagens que mostram o espírito


de Davi, o homem segundo o coração de Deus.
Em 2 Samuel 7.1-29, vemos como Davi teve desejo de fazer
uma casa para Deus; o Senhor, porém, resolveu fazer uma casa
para Davi (v.11), que seria sua descendência, um reinado, uma
dinastia eterna.
“Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre
diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (v.16).
Deus prometeu a Davi uma casa firme e eterna porque não
se tratava de uma casa material, mas de uma família. Dessa
família veio Jesus, o Filho de Deus. Tornou-se uma casa e uma
família eternas.
Será que cremos que Jesus realmente voltará e reinará na
terra, cumprindo esta profecia?
Deus fez de Davi uma casa real para sempre porque Davi
entronizou a Deus. Por essa razão a sua escolha foi correta – ins-
tituiu como rei um homem que o reconhecia como verdadeira
autoridade. O rei espiritual é aquele que vê a Deus como rei
e o engrandece.

69
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Em 1 Crônicas 28.1-10, Davi dá um encargo ao povo e ao


seu filho Salomão.
Em 2 Crônicas 6.1-11, Salomão obedeceu a seu pai e edi-
ficou uma casa para Deus.
“Porém o Senhor disse a Davi, meu pai: Já que desejaste edificar
uma casa ao meu nome, bem fizeste em o resolver em teu coração”
(v.8). Deus gostou da intenção do coração de Davi, ainda que
não lhe permitisse fazer a casa; além disso, foi por causa dessa
intenção que Deus o escolheu e lhe fez uma casa. Se colocarmos
os interesses de Deus em primeiro lugar, sacrificando nossos
próprios desejos, ele fará uma casa para nós, ou seja, fará da
nossa vida uma parte integral do seu propósito na terra, da
sua habitação. Ao buscar uma casa para Deus, Davi achou a
verdadeira casa para si mesmo.
Saul era o inverso – importava-se com a opinião do povo
mais do que com a de Deus. Davi não se importou com a opi-
nião do povo e dançou diante da arca para glorificar a Deus.
O Salmo 132 mostra esse espírito de Davi de desejar uma casa
para Deus mais que tudo.
Precisamos saber se queremos Deus como rei em nossa vida
ou se preferimos reinar sobre nós mesmos. Davi reconheceu a
Deus como rei, mas Saul só queria receber honra e glória dos
homens. Saul tinha humildade falsa – quando se escondeu
no meio das bagagens durante a cerimônia da coroação (1
Sm 10.22), parecia muito modesto, porém mais tarde revelou
quanto valor dava à própria reputação. Davi não tinha medo,
não se acanhou de dançar diante da arca, não se acovardou
na hora de enfrentar Golias, porque não estava preocupado
consigo mesmo, mas com a glória de Deus.
Salomão, o filho de Davi, foi figura de Jesus e do reinado
glorioso; começou na posição certa, edificou a casa e fez a

70
4 - QUARTA DIVISÃO: REINO UNIDO

oração maravilhosa de 2 Crônicas 6. Mas, como tem aconte-


cido com muitos homens e movimentos do passado, apesar
de começar no temor e na bênção do Senhor, Salomão caiu
depois por causa da influência de mulheres e idolatria. Assim
também hoje, a igreja tem sucumbido diante da influência
deste mundo.
Toda a honra e a fama de Salomão lhe foram dadas por cau-
sa da aliança entre Deus e Davi. Tudo o que recebeu foi uma
espécie de herança, assim como Isaque herdou as promessas
de Abraão. O plano do templo foi feito por Davi. Também a
escolha do lugar, a aquisição de materiais, a organização, enfim,
todos os detalhes foram preparados por Davi. Salomão, por
outro lado, foi escolhido para reinar e concretizar o projeto
porque era um homem de paz (o próprio nome Salomão signi-
fica “paz”), em contraste com Davi, que era homem de guerra.
As guerras de Davi eram necessárias para trazer o reino de paz
no tempo de Salomão.
A vida de Salomão nos revela que, mesmo no tempo
de glória, as sementes de corrupção já podem estar pre-
sentes. Logo no inicio, a primeira coisa que ele fez foi
casar-se com uma princesa do Egito. No final, a semente
cresceu e ele teve mil mulheres! Foi uma espécie de ido-
latria que abriu a porta a outros espíritos e outros deuses.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Como foi concluída a controvérsia sobre governo


no tempo dos juízes?
2. Como Deus conseguiu seus objetivos apesar de ter
sido rejeitado pelo povo como rei?
3. Por que o Reino Unido começa com Davi e não
com Saul?

71
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

4. Qual o assunto de 1 Samuel? E o de 2 Samuel?


5. Quais foram os reis que governaram no tempo do
Reino Unido?
6. Por que o tempo do Reino Unido pode ser chamado
de ”idade áurea da nação de Israel”?
7. O que pode ser dito sobre a literatura desta época?
8. Por que incluímos o livro de Jó na literatura desta
época?
9. Por que Deus prometeu fazer uma casa para
Davi? O que é esta casa?
10. Por que é necessária a segunda vinda de Cristo
para a promessa de Deus a Davi ser cumprida?
11. Por que podemos afirmar que Deus fez uma
escolha certa quando colocou Davi como rei?
12. Se quisermos ser uma parte integral do propósito
de Deus, o que precisamos fazer?
13. Qual foi a principal diferença entre Saul e Davi?
14. Por que Salomão é figura de Jesus?
15. Por que Deus abençoou tanto Salomão e o seu
reino?
16. O que Davi fez para a edificação do templo?
17. Por que Salomão foi escolhido para edificar o
templo ao invés de Davi?
18. O que foi a causa do desvio e declínio de Salomão?

72
5
QUINTA DIVISÃO - Reino Dividido
LIVROS: 1 Reis 11-22, 2 Reis, 2 Crônicas 10-36, Isaías, Jeremias,
Lamentações, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,
Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias

N
o tempo de maior glória, o fermento já estava ope-
rando, assim como aconteceu na igreja primitiva
com Ananias e Safira. O reinado de Salomão foi
o período mais alto da história de Israel, pois havia paz em
toda parte, vitória sobre os inimigos, riqueza e glória. Mas as
sementes de corrupção, plantadas desde o inicio, deram seus
frutos no final da vida de Salomão.
Logo no começo, Salomão desobedeceu as três coisas que
Moisés ordenara em Deuteronômio 17.16,17: não multiplicar
ouro e prata, não possuir muitas mulheres e não trazer cavalos
do Egito. Encontramos em 1 Reis 10.14,26,28,29 e 11.1-3 a
descrição explícita de como ele fez todas essas coisas. Na sua
velhice, as mulheres de Salomão o levaram a idolatria e, assim,
a quebrar a aliança que Deus fizera com ele. Mesmo com toda
sua sabedoria e justiça, não conseguiu resistir e permanecer
firme. Foi por esse motivo que Moisés ordenara que o rei não
tomasse para si muitas mulheres.
Porém, Deus não quis tirar o reino de Salomão durante sua
vida por amor a Davi e pela aliança que fizera com ele (1 Rs
11.11-13). Entretanto, nos dias do filho de Salomão (Roboão),
73
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Deus deu dez tribos para Jeroboão (servo de Salomão), ini-


ciando o reino do norte. Judá permaneceu com a linhagem de
Davi em Jerusalém e formou o reino do sul.
O reino do norte se entregou inteiramente à idolatria.
Desde o início, Jeroboão fez dois bezerros de ouro e or-
ganizou um sacerdócio falso a fim de impedir o povo de
cultuar a Deus em Jerusalém, pois temia que voltasse à casa
de Davi. Judá, apesar de ter o templo do Deus verdadeiro
e o sacerdócio levítico, também apostatou durante grandes
períodos desta época. Porém, nos períodos de avivamento
sempre voltava para o culto verdadeiro. A paz, que Davi
lutou tanto para conquistar e que reinou durante os dias
de Salomão, deu lugar a guerras contra os povos ao redor
e entre o próprio povo de Deus – o reino do norte contra
o reino do sul e vice-versa.
O problema principal desse período foi a idolatria. A
idolatria de Salomão foi a causa da divisão do Reino Unido;
os dois reinos resultantes da divisão também a praticaram
durante a maior parte do tempo até o cativeiro. O povo vivia
como queria, pois, ao invés de submeter-se a Deus, tinha
deuses inferiores, criados por suas próprias mãos. Mas, ao
deixarem de servir a Deus e adorarem criaturas ou formas de
criaturas, abriram brechas para a ação de espíritos estranhos
(que estão por trás dos ídolos).
Rebelião é como feitiçaria (1Sm 15.22,23). Portanto, há
ligação entre rebelião e idolatria, e entre idolatria e feitiçaria.
Saul foi exemplo bem claro disto: rebelou-se contra Deus,
consultou uma médium e morreu. O resultado da rebeldia
de Israel para com Deus foi idolatria. Quando as pessoas
não querem se submeter a Deus (rebelião), procuram outros
deuses que as deixem fazer o que quiserem (idolatria); no
fim, porém, tornam-se escravas de espíritos falsos (feitiçaria).
74
5 - QUINTA DIVISÃO: REINO DIVIDIDO

Com o desvio do povo após outros deuses, Deus ficou


com ciúmes e começou a chamar seus profetas – homens
enviados com uma mensagem divina. No tempo de gló-
ria, a literatura se constituía de poesia, cânticos, filosofia
e sabedoria; porém, neste tempo de confusão e apostasia,
a mensagem era: Perigo! Os profetas, muitas vezes, eram
homens barbudos, vestidos rudemente, sem muita for-
mação intelectual, que tinham uma mensagem forte de
advertência.
Antes de analisar a mensagem dos profetas, veremos
um esboço do Velho Testamento em quatro divisões que
nos auxilia a contextualizá-los melhor. Há várias manei-
ras de dividir a Bíblia, porém o objetivo é ver o plano
da Palavra e o pensamento de Deus como um todo. Não
basta abrir a Bíblia e achar um versículo interessante.
Precisamos entendê-lo dentro do contexto do pensamento
e do propósito da Bíblia em sua totalidade.

UM ESBOÇO DO VELHO TESTAMENTO

1. LEI – Formação da Nação de Israel


Deus começou a nação de Israel por meio de um
homem idoso e uma esposa estéril. Não foi um começo
muito promissor, mas Deus gosta de situações impossí-
veis. E, assim, formou um povo numeroso como as es-
trelas do céu e a areia do mar. Os cinco livros de Moisés,
o Pentateuco, falam sobre essa fase do plano de Deus.
Contam sobre o início com os patriarcas, o tempo da
multiplicação no Egito, a libertação do Egito, o tempo no
deserto, o recebimento da lei e a preparação para entrar
na terra prometida.

75
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

2. HISTÓRIA – Ascensão e Queda de Israel


Esta parte conta como Israel chegou ao período de maior
glória com Davi e Salomão, após a entrada na terra sob a lide-
rança de Josué e a controvérsia do tempo dos juízes. Também
conta sobre o declínio após o ápice de Salomão até o cativeiro
e, depois, a restauração com Zorobabel.

3. POESIA – Glória da Nação


Com exceção de Jó, esses livros foram escritos no período
de glória de Israel.

4. PROFETAS – Declínio e Queda


Os profetas apareceram no período de declínio e queda de
Israel.

Deus levantou profetas nesta última etapa do Velho Tes-


tamento para avisar seu povo acerca do juízo que lhes sobre-
viria, caso continuassem no caminho que estavam seguindo.
Também exortavam e imploravam ao povo para voltar à lei
de Deus. O primeiro profeta de destaque foi Elias e depois
seu sucessor, Eliseu. Não escreveram nenhum livro, mas há
aproximadamente 14 capítulos em 1 e 2 Reis dedicados a eles.
Os outros profetas são classificados como Profetas Maiores e
Menores; não porque uns fossem mais importantes que os
outros, mas por causa do tamanho dos livros que escreveram.
Há quatro Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Da-
niel; e doze Profetas Menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias,
e Malaquias. Os livros dos doze Profetas Menores juntos se
igualam em tamanho a um dos Profetas Maiores como Isaías
ou Jeremias.

76
5 - QUINTA DIVISÃO: REINO DIVIDIDO

ESQUEMA CRONOLÓGICO DOS PROFETAS

1000 a.C. - Davi


950 a.C. - Salomão
875 – 800 a.C. - Elias e Eliseu
800 – 400 a.C. - Os demais profetas

ESQUEMA CRONOLÓGICO DO CATIVEIRO

800 - Início dos profetas (com exceção de Elias e Eliseu).


700 - Cativeiro das dez tribos do norte na Assíria. Dispersão
– nunca mais voltaram.
600 - Cativeiro de Judá na Babilônia.
500 - Restauração sob o governo da Pérsia (em várias etapas,
sempre com o levantamento de profetas).
400 - Fim dos profetas. O último foi Malaquias, e as últimas
palavras das suas profecias foram sobre a restauração do
ministério profético de Elias (o primeiro profeta), antes do
grande e terrível dia do Senhor.
400 – 0 - Período de silêncio. Não houve mais profetas até
o tempo de João Batista. João Batista foi um cumprimento
parcial da profecia de Malaquias sobre a vinda de Elias.

Houve uma sucessão de impérios: primeiro a Assíria, depois


a Babilônia e finalmente a Pérsia. Quando Ciro, rei da Pérsia,
venceu a Babilônia, deixou os judeus voltarem a Israel. Isaías
profetizou o nome de Ciro 200 anos antes do seu nascimen-
to. Depois da Pérsia, vieram os gregos (durante o período de
silêncio profético) e, em seguida, os romanos (que eram os
donos do mundo ocidental na época de João Batista e Jesus).

77
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

SÍNTESE DA MENSAGEM DE TODOS OS PROFETAS

1. ARREPENDIMENTO. Os profetas mostravam que o povo


desobedeceu os dez mandamentos e que se não se arrepen-
dessem haveria juízo de Deus. Exortavam-nos a deixar sua
idolatria e voltar para Deus. Avisavam que se não o fizessem
haveria destruição, cativeiro e morte. Esta parte da mensagem
profética revela a grande misericórdia de Deus. Ele queria que
o povo se despertasse para sua situação perigosa e retornasse a
ele, a fim de obter perdão e salvação.

2. DESTRUIÇÃO. Já que o povo não atendia essa primeira


mensagem, Deus mandava os profetas anunciar sua iminente
destruição. Essa foi a mensagem do profeta Jeremias, por
exemplo.

3. REMANESCENTE. Independente da reação do povo, depois


do anúncio de destruição certa e irremediável, os profetas decla-
ravam que Deus preservaria um remanescente. Apesar do pecado
e da falta de arrependimento do povo, Deus não permitiria que
seu plano fosse frustrado. Este é um tema muito frequente na
mensagem dos profetas. Haveria destruição, mas haveria também
um remanescente. Um dos profetas comparou esta situação a
uma árvore que foi sacudida, deixando apenas alguns frutos ainda
nos galhos. Foi este remanescente que voltou a Israel para edificar
o templo e os muros. Nunca houve outra nação na história do
mundo que tenha sido destruída e depois reconstituída.

4. SALVAÇÃO DAS NAÇÕES. Deus prometera a Abraão uma


semente que abençoaria as nações, que somos nós. O rema-
nescente que Deus salvaria seria o seu instrumento, não só
para restaurar Israel, mas também para trazer salvação a todas
as nações.

78
5 - QUINTA DIVISÃO: REINO DIVIDIDO

5. UM HOMEM MISTERIOSO — O RENOVO. A árvore é a casa


de Davi, prometida por Deus. A casa caiu, a árvore foi cortada.
Entretanto, ela brotou e produziu um renovo – Jesus Cristo,
filho de Davi. Deus usou o remanescente para produzir o ho-
mem misterioso, que por sua vez produziu um novo Israel, um
novo povo, a igreja, para salvar as nações. O propósito final da
mensagem dos profetas era anunciar este “homem misterioso”
como o veículo a ser usado por Deus para a salvação de todas
as nações.
Algumas passagens sobre o “Renovo”: Jeremias 23.5,6;
33.15; Zacarias 3.8; 6.12. Há outros nomes: “Messias” ou
“Ungido”: Daniel 9.25,26; “a Raiz de Jessé”: Isaías 11.10; “Meu
Servo Davi”: Ezequiel 37.24.
Apesar de resumirmos a mensagem da maioria dos profetas
desta época nesses cinco pontos, precisamos ainda destacar
que Isaías e alguns outros também profetizaram muito sobre
a restauração nos tempos do fim e sobre o milênio.

ELIAS – O REPRESENTANTE DE TODOS OS PROFETAS

Antes dos profetas que escreveram livros, encontramos Elias,


o primeiro deste período, e que representa todos os profetas.
Os últimos versículos do Velho Testamento mencionam
Moisés e Elias: “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo... Eis
que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e
terrível Dia do Senhor” (Ml 4.4-6).
Em Mateus 17.1-3, vemos a importância deles – os últimos
dois mencionados no Velho Testamento são os dois que apa-
receram com Jesus no monte da transfiguração. Os discípulos
viram o reino de Deus – Jesus, o evangelho, e Moisés e Elias,
a lei e os profetas (o Velho Testamento).

79
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

De acordo com a visão de João em Apocalipse 11, os minis-


térios de Moisés e Elias aparecerão mais uma vez no fim dos
tempos. “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por
mil duzentos e sessenta dias... Elas têm autoridade para fechar o
céu para que não chova [Elias]... Têm autoridade também sobre
as águas para convertê-las em sangue [Moisés]...” (Ap 11.3-6).
Por que Elias é o representante de todos os profetas? Por
que ele representa a restauração, se ela só começou em 500
a.C. e ele veio muito antes, em 850 a.C.? Por que ele foi es-
colhido para prefigurar o ministério profético que antecedeu
a primeira vinda e também aquele que antecederá a segunda
vinda? Embora não possamos abordar o tema em detalhes aqui,
destacamos alguns fatores importantes.
• Seu ministério, autoridade e ações expressam o espírito
dos profetas melhor que qualquer outro, apesar de ele
não ter escrito nenhum livro e, por isso, não se enqua-
drar nos cincos pontos da mensagem profética acima.
• Os profetas, basicamente, representavam uma coisa
só – a restauração da lei de Deus. E é justamente isso
que Elias representa. Ele restaurou o altar do Senhor e
destruiu os profetas de Baal.
• Também restaurou o ministério de sinais e milagres
numa escala nunca vista desde os dias de Moisés. (A
sua época foi uma das quatro na história em que sinais
e milagres apareceram nesta escala – veja págs. 22-23.)
• Seu ministério foi como uma trombeta preparando o
caminho para todos os profetas que o sucederam. Os
outros tinham uma mensagem específica (os cinco pon-
tos citados) limitada a uma época da história (o tempo
de preparação para a vinda do Messias). Elias, porém,
não se restringe apenas à sua época. Por isso, a Palavra

80
5 - QUINTA DIVISÃO: REINO DIVIDIDO

se refere à sua volta antes da primeira e da segunda


vinda. Ele representa o arrependimento, a conversão a
Deus e o retorno à sua lei. Essas coisas não são apenas
para uma época – são necessárias em todos os tempos e,
principalmente, para preparar o caminho para a vinda
do Senhor.
Isso nos mostra que os profetas tinham dois aspectos de
ministério:
1. UMA MENSAGEM PROFÉTICA;
2. UM ESPÍRITO PROFÉTICO.
A mensagem foi apropriada para a época em que profetiza-
ram em preparação à primeira vinda do Messias, mas o espírito
é necessário em todas as épocas. Portanto, mesmo que Elias
não represente a mensagem dos profetas (por não ter escrito
nenhuma profecia específica), foi escolhido para representar
todos os profetas.
Malaquias afirma que o ministério de Elias vai restaurar a
família: vai converter os corações dos pais aos filhos e dos filhos
aos pais (Ml 4.5,6). A restauração da família é a chave ou início
para a restauração de todas as coisas. Deus começou tudo com
a família – seu próprio Filho e a primeira família humana. Ele
vai terminar tudo com a família também – o casamento de
Jesus com sua Igreja.
A profecia de que Elias é necessário para essa restauração
mostra o quanto a manifestação atual de Deus é de igual ou
até maior importância do que suas palavras passadas. Elias não
acrescentou nada à lei de Moisés, mas através da sua palavra
viva e atual levou o povo a arrepender-se e voltar a ela. A lei foi
dada inicialmente como palavra profética com sinais e maravi-
lhas no Monte Sinai, e Elias fez o povo lembrar-se dela através
dos mesmos métodos. O que é necessário hoje para restaurar
81
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

a família, a sociedade e o mundo em geral não é só conhecer


mais a Palavra escrita, mas que haja uma restauração da mesma
palavra profética que produziu a lei no princípio. Não temos a
promessa de que Isaías, Ezequiel ou Daniel virão novamente,
pois a mensagem deles já está registrada na Palavra escrita. O
que precisamos mesmo é de profetas que virão no “espírito e
poder de Elias” (Lc 1.16,17).
Quando Deus mandou sua palavra profética pela primei-
ra vez (no monte Sinai), foi acompanhada por milagres. Ao
restaurá-la com Elias, houve milagres novamente. Será que
os sinais e milagres do século 20 significam que ele está para
restaurar sua palavra outra vez?

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Quais foram as três ordens de Moisés que


Salomão desobedeceu?
2. Por que Moisés tinha proibido o rei de
multiplicar mulheres para si?
3. Por que Deus não tirou o reino de Salomão?
4. Quando e como foi dividido o reino?
5. Qual era a posição dos dois reinos em relação ao
seu culto a Deus?
6. Qual era o maior problema do tempo do reino
dividido?
7. Por que o homem prefere servir aos ídolos a
adorar a Deus?
8. Qual a ligação entre rebelião e idolatria e entre
idolatria e feitiçaria?
9. Por que houve tantos profetas durante esta
época?

82
5 - QUINTA DIVISÃO: REINO DIVIDIDO

10. Qual o propósito em estudar várias maneiras de


subdividir a Bíblia?
11. Como podemos dividir o Velho Testamento em
quatro partes relacionadas com o povo de Israel?
12. Quem foi o primeiro profeta de destaque?
13. Por que alguns profetas são denominados
“Maiores” e outros “Menores”?
14. Há quantos Profetas Maiores e quantos Menores?
15. Dê as datas do primeiro e do último profeta.
16. Por que podemos afirmar que os profetas são muito
relacionados com o cativeiro?
17. Quais foram as últimas palavras do último
profeta?
18. Quando se cumpriram estas palavras?
19. Cite a sucessão de impérios que houve entre o
cativeiro do reino do norte e o tempo de Jesus.
20. Por aproximadamente quantos anos houve
profetas e quantos anos passaram entre a
profecia de Malaquias e o ministério de João
Batista?
21. Quais são os cinco pontos que resumem a
mensagem dos profetas?
22. Mostre como cada ponto leva ao próximo, e como
todos preparam a cena para o Novo Testamento.
23. Que parte da mensagem profética dependia da
reação do povo? Que parte dependia unicamente
da soberania de Deus?
24. Que aspectos da mensagem profética não foram
incluídos nestes cinco pontos?
25. Por que podemos dizer que Moisés e Elias
representam todo o Velho Testamento?
83
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

26. Por que Elias foi escolhido pelo Espírito para ser o
representante de todos os profetas e para prefigurar
o ministério profético que viria antes da primeira
e segunda vinda de Cristo?
27. Quais os dois aspectos do ministério dos profetas?
Qual dos dois Elias representa? Por que?
28. Por que é significativo ter havido tantos sinais e
milagres no tempo de Elias?
29. Por que a restauração da família é descrita por
Malaquias como uma das funções principais de
Elias?
30. Por que a Bíblia e boas pregações e ensinos são
insuficientes para restaurar a família?
31. Por que podemos ter fé que Deus está para
restaurar a palavra profética nestes dias?

84
6
SEXTA DIVISÃO - Restauração
LIVROS: Esdras, Neemias, Ester, Daniel, Ageu, Zacarias,
Malaquias

O
tempo de restauração foi a época em que um re-
manescente voltou da Babilônia para reconstruir
o templo e os muros de Jerusalém. Isso aconteceu
durante um período de aproximadamente 100 anos. Foi uma
restauração simbólica e parcial, pois o templo era muito inferior
ao primeiro e o reino não foi restaurado. Israel permaneceu sob
o domínio de outros impérios e nunca mais obteve a glória que
tivera no tempo de Salomão. Mesmo assim, essa restauração
parcial foi importante, pois representava uma promessa de
algo perfeito e total que Deus ainda realizará na Igreja, que é
Israel espiritual.
Além dos livros de Esdras e Neemias, que relatam a restaura-
ção daquela época, temos os livros de Daniel, Ageu, Zacarias e
Malaquias que foram os profetas da restauração. Não incluímos
Daniel entre os profetas do período anterior porque ele recebeu
uma visão mais ampla e detalhada dos séculos vindouros e da
restauração futura.
Ao ler os escritos do profeta Jeremias, Daniel entendeu que
Deus havia prometido restaurar seu povo após setenta anos de
cativeiro e começou a interceder por esse fim. Sua preocupação
85
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

era a restauração daquela época, mas Deus respondeu muito


além do seu pedido: deu-lhe uma visão da restauração final, da
salvação das nações e do reino de Deus nos séculos vindouros
(Dn 9). Muitas vezes pedimos algo a Deus, e ele nos responde
muito além daquilo que esperávamos. Daniel recebeu a reve-
lação que estava buscando sobre a restauração imediata, mas
também sobre o plano global de Deus para a consumação do
seu propósito eterno.
Ester é um livro interessante. Mostra um plano diabólico de
aniquilar o povo judeu e acabar com a linhagem messiânica,
os ascendentes de Jesus. Deus, porém, mesmo na hora mais
escura do seu povo, providenciou o livramento colocando
uma judia, a rainha Ester, numa posição de honra justamente
para impedir esse propósito. Apesar do pecado do povo e do
cativeiro resultante, Deus estava zelando por seu propósito e
preparando o cumprimento de suas promessas a Abraão e a
Davi no tempo certo.
Dos personagens importantes da época de restauraçao, po-
demos destacar o sacerdote e escriba Esdras. Ele foi um novo
Moisés, responsável por copiar, ajuntar e preservar diversos
documentos da Palavra escrita de Deus. Ao que parece, foi ele
quem escreveu os livros de 1 e 2 Crônicas. Esses livros contêm
muita riqueza e foram escritos de uma perspectiva espiritual,
focalizando o templo, os sacerdotes e os avivamentos. Os livros
de Reis relatam a mesma época, mas seus registros são mais
seculares e históricos. Alguns pensam que foi Esdras quem
organizou o livro de Salmos também.
Os livros de Esdras e Neemias mostram como Esdras reuniu
o povo para ler as Escrituras desde a manhã até a tarde. No
meio de toda a confusão da volta do cativeiro, ele preservou
as Escrituras. É muito comovente ler a descrição daquela cena
em que todo o povo se voltou para a Palavra de Deus (Ne
8.1-3, 13-18).
86
6 - SEXTA DIVISÃO: RESTAURAÇÃO

O livro de Neemias é uma sequência ao livro de Esdras,


mas é um pouco diferente, pois Neemias era um homem de
ação. Ele também teve um papel importante na restauração,
e seu encargo principal foi a reconstrução dos muros de Jeru-
salém. Também, procurou restaurar o sistema de sustento dos
sacerdotes, cantores e porteiros da casa de Deus. Juntamente
com Esdras, participou na separação dos judeus de suas mu-
lheres estrangeiras, o que foi muito importante para evitar
que a idolatria se infiltrasse novamente. E, porque foram fiéis
a Deus, o mal foi cortado pela raiz, e nunca mais os judeus
caíram em idolatria.

TRÊS TEMPLOS NA HISTÓRIA DE ISRAEL

I. TEMPLO DE SALOMÃO
Tudo o que Deus fez com Israel é uma figura, uma maquete
em pequena escala daquilo que pretende fazer a nível mundial
agora. Por isso, a história de Israel é uma chave para entender
o plano de Deus para toda a humanidade.
Deus começou a relacionar-se com o homem na base do
altar, como podemos ver na vida de Abraão, o pai da nação
de Israel. Seu plano cresceu com Moisés, o grande legislador
de Israel, que, ao invés de apenas levantar um altar, construiu
um tabernáculo, uma tenda para Deus morar e viajar com seu
povo. Davi, então, pensou na próxima ampliação do plano de
Deus quando desejou edificar uma casa permanente ao Senhor.
Ele mesmo não pôde construí-la porque era homem de guerra;
Deus, porém, prometeu, que seu filho Salomão, um homem
de paz, realizaria seu sonho.
Davi fez todos os preparativos para a construção do templo:
marcou o local, recebeu o modelo de Deus, ajuntou os materiais
87
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

e entregou o projeto para Salomão, que gastou sete anos na sua


edificação. No dia da inauguração, a glória do Senhor encheu
o templo, e foi um momento glorioso para Israel.
O templo de Salomão durou aproximadamente 400 anos:
de 1000 a.C. (o tempo de Salomão) até 600 a.C., quando foi
destruído pelo exército da Babilônia. Isso aconteceu por causa
da idolatria do povo que começou com o próprio Salomão!
Deus havia prometido que preservaria a casa para sempre se o
povo andasse nos estatutos e na lei do Senhor. Mas também lhe
avisou que se fizesse o contrário e seguisse aos ídolos, destruiria
a casa e a tornaria em objeto de vergonha e opróbrio (2 Cr 7.12-
22). Durante esse período de 400 anos, Deus enviava profetas e
alertava o povo, chamando-os ao arrependimento, porém não
adiantou. Por isso, no fim, ele usou Babilônia para cumprir sua
palavra de juízo.
O templo ficou em ruínas por 70 anos conforme a profecia de
Jeremias. Daniel orou com base nessa profecia e foi usado para
trazer a resposta de Deus: a restauração do povo e do templo.
Muitos acham que o próprio Daniel falou com o rei Ciro e que,
por causa disto, ele fez o decreto convocando o povo de Israel a
voltar a Jerusalém e reconstruir o templo (Ed 1.1-4).

II. SEGUNDO TEMPLO


A) Templo de Zorobabel
Zorobabel significa “disperso em Babilônia”. Ele era da li-
nhagem de Davi e liderou o povo que voltou da Babilónia para
Jerusalém. Se Israel fosse uma nação independente, ele seria o
rei; mas como não era, foi apenas o governador.
No primeiro ano, fizeram o altar e os alicerces do templo.
Mas, depois, os inimigos conseguiram interromper a edificação

88
6 - SEXTA DIVISÃO: RESTAURAÇÃO

por 16 anos. Isso mostra que para restaurar a casa de Deus há


muitos obstáculos. Entretanto, quanto mais obstáculos houver,
mais graça haverá para vencê-los. Contando os 16 anos em que
ficaram parados, passaram-se 20 anos para completar a cons-
trução deste templo. Mas, na verdade, foram gastos somente
quatro anos em sua edificação. As exortações proféticas de Ageu
e Zacarias animaram o povo a começar a construção novamente.
O primeiro templo foi muito mais esplêndido que o segundo.
Quem o conheceu, chorou ao ver o segundo. Mas Ageu profeti-
zou que a glória da segunda casa seria maior que a da primeira.
Esse templo durou 500 anos aproximadamente (500 a.C.
a 30).

B) Templo de Herodes
Herodes era descendente de Esaú, “rei” sobre Israel,
sob o governo romano. Por motivos políticos, engrande-
ceu e embelezou o templo. Foi uma obra humana, uma
ampliação fora do padrão ou propósito de Deus. Era esse
o templo que Jesus conhecia.
Ele foi edificado em 46 anos (Jo 2.20) e durou de 30
a.C. a 70 A.D. (100 anos), quando foi destruído pelos
romanos. Teve, portanto, a menor duração; foi uma obra
feita na base errada, mas mesmo assim era considerado a
casa de Deus.

III. TEMPLO DE JESUS (seu corpo – Jo 2.19-21)


Na época em que o templo material foi mais glorioso e
luxuoso, o verdadeiro templo apareceu. O templo de Herodes
gastou 46 anos para ser feito, mas Jesus levantou um outro
muito mais glorioso em 3 dias.
89
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Os templos materiais duraram mil anos (400+500+100);


Jesus lançou os alicerces do templo espiritual em 3 dias, mas
está gastando 2 mil anos para completá-lo. Poderíamos esque-
matizar sua história da seguinte forma:

• Início da construção - 29 A.D: data da morte e res-


surreição de Jesus
• Fundamento - lançado em 3 dias: a morte e ressurreição
de Jesus é o fundamento da casa (1 Co 3.10,11; 15.1-4)
• Construção - o edifício, a casa toda, está sendo cons-
truído há 1957 anos (29 A.D. – 1986 A.D.)1
• Duração - a eternidade

Assim como houve obstáculos no tempo de Zorobabel, e


a construção ficou parada por 16 anos, na história da igreja
a edificação ficou interrompida por mil anos. Ninguém sabe
quando ela terminará, porém desde 1500 A.D. ou até antes,
o processo de restauração tem-se acelerado. Portanto, sabemos
que o término não pode estar muito longe. No final, a casa
será terminada, e Jesus voltará para se casar e morar nela com
seu povo.
O templo representa o lugar onde Deus habita com seu
povo. Agora não é um lugar físico, mas um edifício espiritual:
Apocalipse 21.22,23 mostra que não haverá um templo na
Nova Jerusalém, pois Jesus é o templo e nós fazemos parte do
seu corpo (1 Co 3.16,17; Ef 1.22,23).

1. Data da 1ª edição desse estudo - 1986


90
6 - SEXTA DIVISÃO: RESTAURAÇÃO

AS DATAS DA HISTÓRIA DE ISRAEL


E DA CIDADE DE JERUSALÉM

1400 a.C. - JOSUÉ - ISRAEL NA TERRA


Início da nação de Israel na terra prometida sob a liderança
de Josué. Setenta almas haviam descido para o Egito – os
descendentes de Abraão. Depois, saíram do Egito como um
povo numeroso 400 anos mais tarde. Só se tornaram nação,
porém, quando entraram na terra.
1000 a.C. - DAVI - JERUSALÉM COMO CAPITAL
930 a.C. - REINO DIVIDIDO
720 a.C. - CATIVEIRO DO REINO DO NORTE NA ASSÍRIA
586 a.C. – CATIVEIRO DO REINO DO SUL NA BABILÔNIA
539 – 425 a.C.
- RESTAURAÇÃO DE JUDÁ, JERUSALÉM E DO TEMPLO
- Tempo da Pérsia
330 – 167 a.C. - DOMÍNIO DOS GREGOS SOBRE JERUSALÉM
Oscilação de poder entre gregos do Egito e da Síria.
167 – 63 a.C. - INDEPENDÊNCIA COM OS MACABEUS
Começou com uma reação contra Antíoco da Síria, que
sacrificou um porco no templo como ato de blasfêmia. Foi
o único período de independência de domínio estrangeiro,
desde o cativeiro na Babilônia até o século 20.
63 a.C. - 324 A.D. - DOMÍNIO DOS ROMANOS
Destruição de Jerusalém e do templo; primeira grande
dispersão romana. (70 A.D.)
Segunda destruição de Jerusalém (135 A.D.) e dispersão
romana.

91
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

No ano 300, houve casamento do império romano


com a igreja. Jerusalém tornou-se um lugar santo para
peregrinações.
324 – 638 A.D. - IMPERADORES CRISTÃOS (PERÍODO BIZANTINO)
Surgimento do islamismo (600 A.D.) com Maomé, um profeta
árabe.
638 – 1099 A.D. - PERÍODO ÁRABE/MUÇULMANO
Conquistaram grande parte do mundo conhecido,
incluindo Jerusalém; permitiram por algum tempo
peregrinações.
1099 - 1244 A.D. - CRUZADAS
Organizadas por papas e nobres europeus para reconquistar
à força a terra de Israel, a fim de proteger os lugares
sagrados e permitir peregrinações dos cristãos. Torturavam
e matavam os judeus nas cidades e aldeias por onde
passavam. Ocuparam Jerusalém por cerca de 90 anos.
1244 - 1517 A.D. - PERÍODO DOS MAMELUCOS
Tempo conturbado de invasões, pragas e destruições
sucessivas.
1517 - 1917 A.D. - DOMÍNIO DOS TURCOS OTOMANOS
1917 - 1948 A.D. - MANDATO BRITÂNICO DA PALESTINA
Jerusalém e Israel foram libertados definitivamente do
domínio islâmico.
1948 A.D. - NAÇÃO DE ISRAEL RESTAURADA
Israel deixou de ser uma nação independente no cativeiro
babilônico; 2500 anos depois, ganhou sua independência
novamente. Nunca aconteceu isso com outra nação.
92
6 - SEXTA DIVISÃO: RESTAURAÇÃO

1967 A.D. - JERUSALÉM RESTAURADA PARA OS JUDEUS - Guerra


dos Seis Dias

O QUE VIRÁ AGORA?

Todas as nações se reunirão em Israel. Conversão dos judeus.


Jesus voltará. O reino de Deus virá (Zc 14.1-21; Is 2.1-3; Zc
12.1-3; Rm 11; Zc 12.10-14; 13.1,2).

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que a restauração do tempo de Esdras e


Neemias não foi muito satisfatória?
2. Por que foi importante no plano de Deus?
3. Por que Deus revelou a Daniel o seu plano para a
restauração final de todas as coisas?
4. O que o livro de Ester nos ensina sobre a natureza
de Deus e o seu método de agir?
5. Qual foi a contribuição mais importante de
Esdras?
6. Por que Neemias foi um personagem importante
desta época de restauração?
7. Quanto tempo durou o templo de Salomão?
8. Quando foi construído e quando foi destruído?
9. Por que Deus permitiu que fosse destruído?
10. Por quanto tempo o templo ficou em ruínas?
11. Quem foi usado para iniciar o processo de
restauração?
12. Quem foi Zorobabel?
13. Quanto tempo foi gasto na construção do templo
de Salomão?

93
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

14. O que levou Zorobabel a recomeçar a construção


do templo depois de ficar parado durante 16 anos
por causa da oposição?
15. Quanto tempo durou o templo de Zorobabel?
16. Que templo Jesus conheceu?
17. Quanto tempo foi gasto na construção do templo de
Herodes e quanto tempo durou?
18. Qual o verdadeiro templo e quando foram lançados
seus alicerces?
19. Como podemos esquematizar a história deste
templo?
20. Como sabemos que não estamos muito longe do
término da construção deste templo?
21. O que o templo representa? Por que Apocalipse
21.22-23 afirma que não haverá templo na Nova
Jerusalém?
22. Quantos povos ou impérios já dominaram
Jerusalém?
23. Por que os acontecimentos em Israel e Jerusalém no
século 20 indicam que o fim está próximo?
24. Quais são os próximos ítens no programa profético
de Deus para Israel e Jerusalém?

94
7
SÉTIMA DIVISÃO - Jesus e os Doze
LIVROS: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos 1-12, Tiago, 1 e 2
Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas

O
s livros do Novo Testamento que não estão inclu-
ídos na lista acima, com exceção do Apocalipse,
representam o ministério de Paulo. É importante
entender a distinção entre os doze apóstolos e Paulo. Na metade
do livro de Atos (que de acordo com o número de páginas é
também o meio do Novo Testamento), há uma separação: do
capítulo 1 a 12, temos o relato sobre os doze apóstolos, prin-
cipalmente sobre Pedro; e do Capítulo 13 em diante, sobre
Paulo. A primeira parte descreve a conversão de Paulo (capítulo
9), mas o ministério dele começa no capítulo 13 e vai até o
final do livro. Paulo é uma das figuras mais importantes da
Bíblia. Assim como Moisés é o principal personagem do Velho
Testamento, Paulo pode ser considerado o mais importante do
Novo Testamento, com exceção de Jesus.
Observe que todo o Novo Testamento é ligado ao ministério
de apóstolos. Há três comissões apostólicas:
1) Jesus foi o primeiro apóstolo enviado pelo Pai. Ele é o
assunto principal dos quatro evangelhos.
2) Quando Jesus estava na terra, uma parte essencial de
sua obra foi comissionar doze apóstolos para continuar o seu
95
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

ministério. Esse ministério dos apóstolos pode ser visto na


primeira metade de Atos, nas epístolas e até no Apocalipse,
que foi escrito por um deles.
3) Paulo recebeu a sua comissão apostólica diretamente do
Espírito Santo, e o resto do Novo Testamento foi escrito por
ele. Vemos assim que toda a Trindade se envolve no apostolado:
o Pai enviou Jesus, Jesus enviou os doze e o Espírito enviou
Paulo e outros.
Apóstolo é uma palavra grega que significa enviado. A
palavra latina missionário significa a mesma coisa. (Se quiser
estudar mais sobre este assunto, peça o livro Primeiramente
Apóstolos).

OS EVANGELHOS

Evangelho significa “boas novas”. As boas novas do evange-


lho são a morte e ressurreição de Jesus. É disso que tratam os
quatro evangelhos.
Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, surgiram dezenas
de relatos sobre sua vida que circulavam entre seus discípulos e
seguidores; esses relatos, muitas vezes, eram o assunto principal
tratado nas reuniões da igreja, antes de o Novo Testamento ser
organizado. O Espírito Santo escolheu quatro dentre eles para
fazer parte deste livro sobrenatural que é a Bíblia. Nenhum
outro homem na Bíblia tem quatro versões da sua vida regis-
tradas nela. Isso em si já mostra a importância de Jesus. (Davi,
por exemplo, tem duas versões de sua vida registradas – em 1
e 2 Samuel e 1 Crônicas).
Às vezes, é difícil coordenar ou harmonizar os quatro relatos
sobre um mesmo fato, como o da ressurreição, por exemplo,
e assim descobrir detalhadamente o que realmente aconteceu.

96
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

O Espírito Santo, porém, não se interessa tanto em detalhes


quanto em nos dar um quadro completo da pessoa de Jesus,
usando quatro perspectivas ou ângulos diferentes. Essas dife-
renças de um relato para outro nos revelam uma nova luz sobre
a personalidade de Jesus e da sua vida aqui na terra.
Há uma citação sobre os evangelhos no Manual de Halley
muito relevante: “Os quatro evangelhos são, por todos os cri-
térios, a parte central da Bíblia. São mais importantes do que
o resto da Bíblia e mais importantes do que a soma de todos
os outros livros do mundo inteiro. Melhor seria ficar sem o
conhecimento de tudo o mais, do que ficar sem o conheci-
mento de Jesus Cristo. Os livros da Bíblia que precedem os
evangelhos estão antecipando, anunciando e contemplando
o herói dos quatro evangelhos; e os livros posteriores estão
procurando explicá-lo melhor”.
Na minha opinião, a ordem dos evangelhos segue a mesma
ordem cronológica em que foram escritos. Alguns acham que
Marcos foi escrito primeiro, outros que foi Mateus. Todos
concordam que João foi o último. Não sabemos se Mateus foi
tirado de Marcos ou vice-versa, mas são os dois mais seme-
lhantes. João é o mais diferente de todos.

MATEUS
Foi escrito principalmente para os judeus. Mateus cita mui-
tas passagens do Velho Testamento porque era uma referência
importante para os judeus. Seu evangelho enfatiza que Jesus
é o Messias, o Rei de Israel. Mateus era publicano, odiado
pelos judeus por ser coletor de impostos do governo romano.
Os publicanos normalmente cobravam pelos impostos muito
mais do que o valor devido. Era um dos doze, por isso pôde
relatar os fatos, e foi inspirado pelo Espírito para lembrar e
escrever tudo.
97
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Mateus não escreveu seu evangelho em ordem cronológica,


mas organizou o conteúdo por tópicos. O Sermão do Mon-
te, por exemplo, é uma coletânea dos ensinos de Jesus, que
se encontram distribuídos em vários capítulos diferentes no
evangelho de Lucas, e que, certamente, foram proferidos por
Jesus em diversas ocasiões. As parábolas sobre o reino também
foram reunidas, e as curas são relatadas uma após outra.
A Palavra de Deus não foi ditada por uma voz do céu, mas
cada autor escreveu de acordo com seu próprio estilo. A Bíblia
é um livro divinamente humano, sobrenaturalmente natural.
Cada escritor tinha liberdade para escrever espontaneamente e
não como uma máquina ou robô. Cada um era fiel à verdade
revelada e aos fatos ocorridos, mas escrevia segundo sua per-
sonalidade particular. Deus gosta de variedade – seu objetivo
nunca foi formar um grupo de pessoas uniformes. Somos cha-
mados para ser epístolas vivas, expressando a voz e a natureza
de Deus fielmente, porém de formas diferentes.

MARCOS
Este evangelho foi escrito para os romanos; por isso, é o mais
curto e cheio de ação. Os romanos eram um povo prático e
sem tempo para “teorias e longas discussões teológicas”. Gos-
tavam de ação e coisas práticas. Por isso, Marcos não incluiu
muitos ensinos como o Sermão do Monte, mas relatou mais
detalhes sobre incidentes e acontecimentos. Ele gosta de usar
palavras enfáticas como “imediatamente” e “logo”. Mateus é
mais geral e teórico. Enquanto Mateus descreve Jesus como
o Rei de Israel, Marcos o retrata como servo e mostra o seu
poder para libertar.
Marcos não era um dos doze e nem sabemos sua profissão.
Era um discípulo do apóstolo Pedro. Foi assim que aprendeu
tanto sobre o que aconteceu com Jesus. Pedro não escreveu
um evangelho, mas Marcos o fez em seu lugar. É um fato
98
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

interessante que, além de ter sido discípulo de Pedro, Marcos


foi também companheiro de viagem de Paulo.

LUCAS
Foi escrito para os gregos. Ele enfatiza a humanidade de
Jesus – suas atitudes e reações como homem. Tem mais pará-
bolas que os outros evangelhos.
Parece que Lucas era gentio convertido ao judaísmo. Pode
ter sido um escravo grego emancipado, pois os escravos gregos
eram cultos – médicos e professores (Cl 4.14). Os romanos
consideravam a profissão de médico como inferior a outras.
Possivelmente, foi o único autor da Bíblia não judeu.
Lucas era companheiro de Paulo e, como ele, sabia de mui-
tos fatos e acontecimentos da vida de Jesus, mesmo sem tê-lo
conhecido pessoalmente. É provável que tenha sido o próprio
Paulo que transmitiu esse conhecimento a ele. Possivelmente,
Lucas escreveu seu evangelho enquanto Paulo estava preso em
Cesareia, um porto perto de Jerusalém. Por ter sido uma espé-
cie de jornalista ou historiador, ele entrevistou muitas pessoas,
inclusive Maria, mãe de Jesus. Nessa época, teria sido mais fácil
falar com ela, pois Jerusalém ficava perto de Cesareia. Há certos
detalhes no seu evangelho que ele só poderia ter descoberto
dessa forma: as palavras do anjo a Maria, a profecia de Isabel
durante a visita de Maria, o episódio dos dois discípulos no
caminho de Emaús, etc. Lucas se preocupou mais com os
acontecimentos históricos do que os outros autores.
Obs. Lucas e Marcos estavam juntos em Roma quando
Paulo era prisioneiro Iá.

JOÃO
Foi escrito num nível tão alto que parece ter vindo de outra
dimensão. Ele mantém esse nível do princípio ao fim. João

99
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

escreveu num estilo totalmente diferente e relata acontecimen-


tos e palavras que não são encontrados nos outros evangelhos.
Não escreveu para nenhum povo especial. Ao contrário de
Lucas, que enfatiza a humanidade de Jesus, João enfatiza a
sua divindade. O seu objetivo, do princípio ao fim do livro, é:
“ ...para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).
De todos os discípulos de Jesus, havia um grupo de doze
que eram mais próximos a ele que os outros. Dos doze, Pedro,
Tiago e João faziam parte de um círculo ainda mais íntimo. Em
várias ocasiões, eles foram escolhidos para estarem presentes
num momento especial com Jesus: no Monte da Transfiguração
e no Getsêmani, por exemplo, (Mt 17.1; 26.37). Dentre esses
três, porém, podemos dizer que João tinha um relacionamento
mais próximo que todos (Jo 13.23-25; 19.26; 21.20-24). Não
é de se admirar, portanto, que o seu evangelho tivesse um nível
tão alto de revelação e que fosse tão diferente dos demais.
João viveu mais que qualquer outro apóstolo e foi o único
a ter uma morte natural, apesar de estar exilado na ilha de
Patmos. Foi lá que recebeu a grande revelação de Jesus – o
Apocalipse. Era pescador, mas escreveu uma obra-prima da
literatura. Ele e seu irmão Tiago eram chamados por Jesus de
“filhos do trovão” (Mc 3.17); Tiago foi o primeiro apóstolo a
morrer (At 12.1,2), e João o último.
Os evangelhos mostram que Jesus nasceu de uma virgem
(era o Filho de Deus), viveu na terra, ensinou e curou as mul-
tidões; mas dão atenção especial à sua morte e ressurreição.
Um terço dos livros de Mateus e Marcos, um quarto do livro
de Lucas e metade do livro de João falam da última semana
da vida de Jesus. Portanto, para todos eles essa foi a parte mais
importante de sua história na terra. Apenas dois evangelhos
falam sobre o nascimento dele (Mateus e Lucas); não sabemos
100
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

quase nada sobre sua biografia até os trinta anos de idade.


Se apurarmos todos os acontecimentos relatados nos quatro
evangelhos, só chegaremos à história de uns quarenta dias da
vida de Jesus.

UM PEQUENO ESTUDO SOBRE NUMEROLOGIA:


O SIGNIFICADO DO NÚMERO 4

Por que temos quatro evangelhos? Uma razão é para mostrar


a importância de Jesus, pois vimos que nenhuma pessoa na
Bíblia tem quatro relatos sobre sua vida. Se entendermos um
pouco mais sobre o valor que Deus dá aos números, talvez
descubramos outras razões por que ele escolheu justamente
esse número de relatos da vida do seu Filho.
O número 3 é o número da divindade – Pai, Filho e Espí-
rito Santo. O homem foi feito na imagem de Deus e, por isto,
também é constituído de três partes: corpo, alma e espírito.
O número 4 é o número da criação – Deus (3) mais sua
criação.
O número 7 é 3 + 4 – é o número mais significativo e mais
mencionado na Bíblia. É o número de Deus (3) mais o número
da criação (4). Significa perfeição, totalidade.
O número 12 é 3 x 4 – o número do governo divino. O
número 7 é Deus e sua criação em união, mas 12 é Deus go-
vernando sua criação.
O número 10 é ligado à provação e ao governo humano.
O número 40 também é relacionado à provação.
O número 666 é o número do homem, do anticristo – é
uma dízima periódica que nunca chega a 7.
Deus dá muita importância aos números porque são

101
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

infalíveis, confiáveis e imutáveis. Todo o universo, as estrelas,


a música – tudo depende de números e de suas leis.
A seguir mais alguns textos sobre o número 4:
Gênesis 2.10: O rio do jardim se dividia em quatro braços
para alcançar toda a terra.
Daniel 7.2,3: Quatro ventos. A terra é redonda, mas tem
quatro cantos: Norte, Sul, Leste e Oeste.
Daniel 7.3: Quatro animais, quatro impérios que se levan-
tariam sobre a terra.
Zacarias 2.6; 6.5: Quatro ventos do céu.
Mateus 24.31: Reunir os eleitos dos quatro ventos. Em cada
caso, o número quatro representa a totalidade da criação – de
uma extremidade a outra dos céus e da terra.
Apocalipse 4.5-8: Quatro seres viventes ao redor do trono de
Deus. Estes são representantes de toda a criação: o leão é o rei
dos animais selváticos, o boi dos animais domésticos, a águia
das aves e o homem de toda a criação. Podemos comparar cada
um destes seres viventes com um dos evangelhos:
Mateus: mostra Jesus como Rei – o leão.
Marcos: mostra Jesus como Servo – o boi.
Lucas: mostra Jesus como Filho do homem, a sua huma-
nidade – o homem.
João: mostra Jesus como Filho de Deus, uma visão celestial
de Jesus – a águia.
Assim como os quatro seres viventes estão ao redor do trono
de Deus, os quatro evangelhos nos dão um quadro perfeito de
Jesus, pois o descrevem de todos os quatro ângulos. Não é por
acaso que temos quatro evangelhos ao invés de três ou cinco.
Outro número interessante é 24, que é 12 + 12. Os 24
102
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

anciãos representam as 12 tribos de Israel e os 12 apóstolos, o


governo de Deus no Velho Testamento e no Novo, unidos e
adorando ao que está assentado no trono.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que não incluímos o livro inteiro de Atos nesta


divisão?
2. Mostre como todo o Novo Testamento é relacionado
ao ministério de apóstolos.
3. Por que podemos dizer que toda a Trindade está
envolvida com o apostolado?
4. Que é o Evangelho?
5. Como surgiram os quatro evangelhos?
6. Por que é significativo ter quatro relatos diferentes
da mesma história?
7. Por que o Espírito Santo não fez com que os
escritores dos evangelhos concordassem em todos os
detalhes da história de Jesus?
8. Por que os quatro evangelhos podem ser
considerados como a parte mais importante da
Bíblia?
9. Quem era Mateus?
10. Para quem ele escreveu seu evangelho?
11. Quais eram suas qualificações para escrever um
evangelho?
12. Qual era seu estilo de escrever?
13. Como a Palavra de Deus foi escrita?
14. Por que o Evangelho de Marcos é tão curto e cheio
de ação?

103
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

15. Como Marcos pôde escrever um evangelho mesmo


não sendo um dos doze?
16. Que aspecto da vida de Jesus foi enfatizado por
Marcos que é diferente do foco de Mateus?
17. Quem era Lucas?
18. Que aspecto de Jesus é enfatizado por Lucas e para
que povo foi escrito?
19. Como ele colheu os fatos para o seu evangelho?
20. Em que sentidos o evangelho de João é diferente
dos outros?
21. Qual foi seu objetivo em escrever seu evangelho?
22. Quem era João? (Dê um quadro completo
mostrando sua profissão, seu relacionamento com
Jesus, suas obras literárias, onde morreu, etc.).
23. Qual aspecto da obra de Jesus é mais enfatizado
por todos os evangelhos?
24. Por que não podemos considerar os evangelhos
uma biografia de Jesus?
25. Dê o significado dos seguintes números:
3,4,7,12,40.
26. Cite três razões ou exemplos que provam que o
número 4 representa a totalidade da criação.
27. Faça um paralelo entre os quatro seres viventes
que estão ao redor do trono de Deus e os quatro
evangelhos.
28. Por que temos quatro evangelhos e não três ou
cinco?
29. Qual o significado dos 24 anciãos?

104
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

OS DOZE APÓSTOLOS

“Quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar


no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos
para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). Vemos aqui
uma relação entre os 12 apóstolos e as 12 tribos de Israel.
Não há divisão entre Israel e a Igreja – o destino final é o
mesmo: uma só nação, um só povo de Deus. Jesus fez questão
de mostrar a unidade da Palavra de Deus e de ligar a Igreja
com o povo de Deus do Velho Testamento. Os 12 apóstolos,
que seriam o fundamento da Igreja, governariam sobre as 12
tribos de Israel.
Em Lucas 22.28-30, novamente Jesus liga o povo de Deus
do Velho Testamento com seu povo no Novo Testamento.
Não sabemos se isto terá um cumprimento literal ou apenas
figurativo, mas o ponto importante é que o povo de Deus
é um só.
Apocalipse 21.9-14 descreve a cidade com 12 portas para as
12 tribos; e 12 fundamentos com os nomes dos 12 apóstolos.
Então, no fim, a cidade celestial tem todo o povo de Deus
unido numa só comunidade – tanto o do Velho Testamento
como o do Novo.
Por que Jesus escolheu 12 apóstolos? (Mc 3.13-19). Porque
12 é o número do governo de Deus, e ele queria implantar
esse governo na terra. Também queria mostrar a continuidade
do povo de Deus do Velho Testamento com a nova nação
que estava formando.
Primeiro, ele chamou os doze. Segundo, viveu junto com
eles por algum tempo. Terceiro, enviou-os. Quarto, saíram
para pregar e curar.
Em Lucas 6.12, vemos como Jesus os escolheu: não

105
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

procurou um texto na Bíblia nem teve uma revelação instan-


tânea, mas precisou passar a noite toda em oração – mesmo
sendo Filho de Deus. Escolheu 12 pessoas entre seus discípu-
los para serem apóstolos ou enviados. Dentre esses, chamou
um que se tornou traidor – e não foi por engano!
Jesus enviou os apóstolos para pregar e curar, dando-lhes
poder e autoridade (Lc 9.1-3). Essas duas comissões geral-
mente são separadas hoje: uns só curam e outros só pregam,
mas Deus quer uni-las novamente num ministério apostó-
lico atual. Três evangelhos falam sobre não levar nada para
o caminho e não cobrar nada de ninguém, mas depender
totalmente de Deus.
Em Lucas 24.44-49, há uma sequência de quatro passos:
1. Jesus abriu o entendimento deles para compreenderem
as Escrituras (v.46);
2. Deu a comissão para serem enviados a pregar o evange-
lho, que é a morte e a ressurreição de Jesus (vv.46,47);
3. Eles seriam testemunhas desses fatos (v.48);
4. Sobre eles viria o poder do Espírito Santo (v.49).
O Espírito Santo foi enviado para fazê-los lembrar das
palavras de Jesus, ou seja, para abrir-lhes o entendimento
a fim de que compreendessem as Escrituras (Jo 14.25,26).
O Espírito Santo testificaria de Jesus, e os apóstolos também
(Jo 15.26,27). O Espírito testifica de Jesus até hoje. Ele pode
falar conosco e por meio de nós, assim como falava com eles e
por meio deles. Porém, os apóstolos possuíam um testemunho
único, que não podemos ter hoje, pois estiveram presentes com
Jesus e viram tudo o que aconteceu.
O Evangelho de Lucas foi escrito baseado nas informações
dadas pelas testemunhas oculares, ou seja, os apóstolos (Lc 1.1,2).
106
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

Os doze apóstolos eram testemunhas oculares (2 Pe 1.16-


18).
Os apóstolos viram, ouviram e apalparam o Verbo da vida
(1 Jo 1.1-3).
Os doze seriam testemunhas oculares do que viram na
carne e também do que veriam de Jesus no Espírito, pois ele
seria derramado sobre eles (At 1.1-8).
A função principal dos apóstolos era testemunhar da res-
surreição de Jesus (At 1.21,22). Para pregar um evangelho
genuíno, precisamos dessa revelação da ressurreição hoje
também. O requisito para ser apóstolo (um dos doze) era ter
sido uma testemunha da vida de Jesus desde o seu batismo
até a ascensão – mas especialmente da ressurreição.
Pedro e os onze eram testemunhas da ressurreição (At
2.32).
Os doze podiam testemunhar de duas maneiras: por terem
visto de fato e por terem recebido o Espírito (At 3.14,15).
Sem o Espírito Santo, não teriam conseguido testificar das
coisas que haviam visto. Da mesma forma, temos que estudar
a Palavra e receber o Espírito Santo. A mistura e união dos
dois fatores é explosiva!
Os apóstolos e o Espírito Santo eram testemunhas da
morte e ressurreição de Jesus (At 5.32).
Os apóstolos foram escolhidos para ser testemunhas de
Jesus – para comer e beber com ele depois de ressurreto (At
10.39-41).
Em Atos 13.30,31, Paulo se referiu aos doze que davam
testemunho da ressurreição de Jesus.

107
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

DEZ PONTOS SOBRE OS DOZE APÓSTOLOS

1. CHAMADOS. O que acontece quando alguém é chamado? A


pessoa não tem alegria nem sossego, enquanto não cumpre a sua
missão. Não suporta fugir daquele impulso.
2. ESTAR COM ELE. Eles foram chamados para conhecer Jesus
e para viver com ele. Sem viver com a pessoa, não a conhecemos.
3. TESTEMUNHAS OCULARES DA RESSURREIÇÃO. Essa era a
característica especial dos doze.
4. BATIZADOS NO ESPÍRITO SANTO. Sem isso, não seria possível
ser testemunha da ressurreição.
5. ENTENDIMENTO ABERTO PARA COMPREENDER AS ESCRI-
TURAS. Há uma enorme diferença entre o nosso entendimento e
a revelação do Espírito! Só assim puderam compreender o que
haviam visto e ouvido.
6. PREGAR O EVANGELHO A TODA CRIATURA. O alvo era
alcançar o mundo inteiro, embora cada um tivesse uma esfera
específica de ação.
7. AUTORIDADE PARA CURAR OS ENFERMOS, EXPULSAR OS
DEMÔNIOS. Além de pregar, os apóstolos curavam e expulsavam
demônios. O ponto 6 e 7 devem vir juntos.
8. NÃO LEVAR NADA. É um principio básico – talvez não literal,
mas mostra o contraste com aqueles que vivem no luxo à custa
do ministério.
9. TÊM AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS. Mateus 16.19 e
18.18 falam sobre estas chaves – poder para abrir e fechar o reino
de Deus ao povo. A chave é a revelação de Jesus. Em Atos 2, Pedro
abriu o reino para os judeus. Em Atos 10, abriu para os gentios.
10. FUNDAMENTO DA CASA DE DEUS. Toda a Igreja está baseada
em apóstolos (Ef 2.20; Ap 21.14).

108
7- SÉTIMA DIVISÃO: JESUS E OS DOZE

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que Jesus escolheu doze apóstolos?


2. Como sabemos que a Nova Jerusalém inclui tanto
o povo de Deus do Velho Testamento quanto o do
Novo?
3. Como Jesus escolheu os apóstolos?
4. Jesus chamou os apóstolos para fazer o quê?
5. Quais os dois tipos de testemunho de Jesus que os
apóstolos podiam dar?
6. Que tipo de testemunho nós podemos dar hoje?
7. Qual era a função principal dos apóstolos?
8. De que precisamos para pregar um evangelho
genuíno hoje?
9. Por que os doze apóstolos tiveram que receber
o Espírito antes de começar a testemunhar da
ressurreição de Jesus?
10. Quais são os dez pontos sobre os doze apóstolos?
11. Qual a primeira coisa que o apóstolo precisa fazer
depois que é chamado?
12. Por que a Palavra escrita de nada nos aproveita se
não recebermos o Espírito?
13. Qual o princípio financeiro básico do ministério
apostólico?
14. Como os apóstolos podem abrir ou fechar o Reino
de Deus para o povo?
15. Qual o alvo final do apostolado?
16. O que lhes é dado a fim de alcançar esse objetivo? (o
que deve acompanhar a pregação do evangelho?)

109
110
8
OITAVA DIVISÃO - Paulo
LIVROS: Atos 13-28, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2
Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus

P
aulo sempre se apresentou em suas epístolas como
apóstolo, chamado por Deus. Jesus foi o primeiro
apóstolo enviado pelo Pai; depois os doze foram
enviados com uma missão especial pelo Filho; e Paulo foi o
principal apóstolo da igreja primitiva enviado pelo Espírito
Santo.
Paulo considerava-se o menor dos apóstolos, o mínimo dos
santos e o principal dos pecadores (1 Co 15.9; Ef 3.8; 1 Tm
1.15). Ao mesmo tempo, em 2 Coríntios 11.5, ele diz que não
foi em nada inferior aos mais excelentes apóstolos.
Essa divisão da Bíblia começa no capítulo 13 de Atos. Na
verdade, a conversão de Paulo foi narrada em Atos 9. Foi uma
das conversões mais espetaculares da Bíblia e de toda a história
do homem. Porém, seu ministério começa, de fato, no capítulo
13. Dos dezesseis capítulos restantes do livro de Atos, oito falam
sobre suas viagens e oito sobre sua prisão e testemunho diante das
autoridades. Depois, temos catorze epístolas – começando com
Romanos (aos gentios) e terminando com Hebreus1 (aos judeus).
1. Era convicção do autor que a carta aos Hebreus foi escrita pelo
apóstolo Paulo.
111
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Paulo se converteu aproximadamente dois anos após a


ressurreição de Jesus. Depois, passou por um período de
mais ou menos dez anos de preparação até ser enviado como
apóstolo (Atos 13) para levar a palavra aos gentios, fundando
igrejas na Ásia Menor e na Europa. Esse período de aposto-
lado durou cerca de quinze anos. E, finalmente, passaram-se
aproximadamente dez anos entre a sua prisão em Jerusalém e
a sua morte (apesar de ter sido preso em Jerusalém, só ficou lá
alguns dias, tendo sido transferido para Cesareia e depois para
Roma). No meio desse período, foi solto por algum tempo
e depois preso novamente. Foi morto pelo Imperador Nero
no ano de 68 A.D. (data aproximada). Sua morte ocorreu
mais ou menos na mesma época da destruição de Jerusalém
(70 A.D.).
O apóstolo João escreveu suas cartas e o Apocalipse depois
da morte de Paulo. Então, Pedro, Paulo e João tiveram seus
períodos de maior atividade no ministério nesta ordem. De-
pois da morte de João não houve mais apóstolos.

ORDEM CRONOLÓGICA DAS EPÍSTOLAS PAULINAS

NAS VIAGENS
• 1 e 2 Tessalonicenses – escritas na segunda viagem,
em Corinto.
• 1 Coríntios – escrita na terceira viagem, em Éfeso.
• 2 Coríntios – escrita na terceira viagem, em Mace-
dônia.
• Gálatas – escrita na terceira viagem, em Macedônia
ou Corinto.
• Romanos – escrita na terceira viagem, em Corinto.

112
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

NA PRISÃO EM ROMA
• Efésios, Colossenses, Filemom e Filipenses – Enquanto
Paulo estava na cadeia, ele produziu as epístolas com
as maiores revelações. Seu ministério alcançou novas
alturas nesta época.

SOLTO DA PRISÃO, VIAJANDO


• Hebreus (talvez na Itália), 1 Timóteo e Tito.

PRESO OUTRA VEZ


• 2 Timóteo – sua última carta.

Os escritos de Paulo são quase equivalentes em tamanho


aos escritos de Lucas (Evangelho de Lucas e Atos), ou também
aos três evangelhos de Mateus, Marcos e João.

COMPARAÇÃO ENTRE MOISÉS E PAULO

Moisés pode ser considerado o homem mais importante do Velho


Testamento. Se houvesse apóstolos no Velho Testamento, Moisés seria
um deles. Jesus foi o primeiro apóstolo, mas Moisés ainda era visto como
profeta. Paulo foi uma figura predominante no Novo Testamento, como
Moisés foi no Velho.
Tanto Moisés como Paulo receberam revelações fundamentais para o
povo de Deus. Moisés deu a lei e Paulo, a revelação da graça. Jesus é a graça,
mas foi Paulo quem teve a revelação dela. Jesus não ensinou sobre a graça,
no entanto a graça vem por meio dele. Necessitamos alimentar-nos de
Jesus – pois a vida está nele, não em conhecimento a respeito dele. Paulo
recebeu a revelação dessa verdade e mostrou como foi suprimida a lacuna
que separa Deus e sua lei santa do homem com seus pecados e rebeldias.
Será que Paulo teve a maior revelação que um homem mortal já
recebeu? É difícil comparar a revelação da lei com a da graça. Moisés viu
113
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

coisas no Monte Sinai que homem nenhum jamais viu antes ou depois
(Êx 33.17-23). Voltou de lá com o rosto brilhando (Êx 34.29-35). A
revelação de Paulo foi maior no sentido de que era mais avançada no
plano de Deus, pois a graça tem maior glória do que a lei (2 Co 3.7-11).
Ele foi arrebatado para o terceiro céu e viu coisas que não pôde relatar (2
Co 12.1-4). Contudo, a graça depende da lei, e a lei é incompleta sem a
graça. Deus quer revelar ambas, lei e graça, para nós hoje.
Moisés recebeu a revelação do modelo do tabernáculo,
que era figura da casa de Deus. Paulo recebeu a revelação do
Corpo de Cristo que é a verdadeira casa de Deus. Então, eles
se destacam no Velho Testamento e no Novo como os homens
que receberam as principais revelações da Bíblia.
Moisés instituiu o sacerdócio e os juízes como o governo
de Deus para o seu povo. Paulo revelou o governo de Deus
para a Igreja — os cinco ministérios (Ef 4.11). A Igreja é Israel
espiritual e precisa de um governo, assim como Israel natural
precisava.
Ambos tiveram um encargo incomparável de responsabili-
dade para com o povo de Deus. Moisés intercedeu em favor
deles, a ponto de pedir que Deus apagasse seu nome do livro
da vida para salvar Israel e o nome de Deus (Êx 32.31-33).
Paulo também, em Romanos 9.1-3, desejou ser separado de
Cristo para salvar os judeus. São os dois principais intercessores
da Bíblia, se dispondo a dar a vida por seus irmãos. Tinham o
mesmo Espírito de Jesus, que não só ofereceu, mas realmente
deu a sua vida. Paulo queria completar os sofrimentos de Cristo
(Cl 1.24; Fp 3.10).
Outro ponto de comparação é que ambos foram escritores
de alto nível, produzindo obras-primas da literatura humana;
ao mesmo tempo, foram homens de ação – ou seja, eram
cultos e práticos. Moisés levou o povo do Egito para a terra

114
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

prometida. Paulo levou o evangelho para os gentios, viajando


por quase todo o mundo conhecido, chegando até Roma. Por
sua obediência à ordem do Espírito para ir à Europa e não à
Ásia foi que tanto a Europa quanto as Américas foram evan-
gelizadas (At 16.6-10).

MOISÉS ELIAS
VELHO TESTAMENTO
A LEI OS PROFETAS

JESUS PAULO
NOVO TESTAMENTO
O EVANGELHO O APOSTOLADO
Revelação do Mistério

A lei, por essência, deve ser escrita. É isso que lhe confere
valor, pois, do contrário, poderia ser alterada ou distorcida.
Os profetas, porém, mesmo quando escrevem suas profecias,
representam essencialmente a palavra falada. Alguns profetas
não escreveram nada, como o próprio Elias. Portanto, Deus
deu uma lei escrita permanente e imutável, mas também a
palavra falada (profética), que vivifica a lei. Hoje, da mesma
maneira, temos a palavra escrita na Bíblia e a palavra vivificada
nas reuniões ou em outras oportunidades. Sem uma, a outra
fica incompleta.
Jesus é mais importante pelo que fez do que pelo que falou.
Ele é o evangelho. Não foram registrados nos evangelhos todos
os fatos nem a ênfase daquilo que colocaríamos na biografia de
alguém. Quase a metade dos evangelhos trata da última semana
que antecedeu a sua morte. O importante na vida dele foi sua
morte e ressurreição. Isso é o que ele fez. Jesus não explicou o
evangelho – ele viveu o evangelho.
115
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

A contribuição de Paulo teve grande importância porque


revelou o mistério do evangelho, que estava oculto. Ele explicou
o evangelho vivido por Jesus. Seu ministério foi essencial por-
que trouxe a revelação da Palavra de Deus, que é o evangelho.
Este mistério ainda é oculto para nós também e só pode ser
conhecido por meio de revelação.
Os profetas chamavam o povo de volta para a lei (palavra
escrita, morta, em pedras); os apóstolos chamam o povo para
o evangelho, a palavra viva. Os profetas explicavam a lei; os
apóstolos revelam o mistério, que é o evangelho.
Há uma lei universal que exige a presença de dois princí-
pios opostos para o perfeito funcionamento na criação – por
exemplo, o positivo e o negativo na eletricidade e a disciplina
e o amor, na criação dos filhos, etc. – pois decorre da própria
natureza de Deus. Assim, também, temos a palavra escrita dura
e negativa, de um lado, e a palavra que vivifica e dá graça para
obedecer à lei, de outro.
Moisés escreveu livros, e Paulo também. Elias e Jesus eram
homens de ação, mas não escreveram nada.

A TRÍPLICE COMISSÃO APOSTÓLICA

PAI FILHO ESPÍRITO SANTO

FILHO 12 APÓSTOLOS PAULO E OS DEMAIS


O Pai enviou Jesus como o Logos, a própria Palavra – a
mensagem e o mensageiro ao mesmo tempo.
Os doze apóstolos foram um grupo especial – enviado por
Jesus para mostrar que a Igreja é o novo Israel, formando um
paralelo com as doze tribos de Israel natural. Jesus fundou uma
116
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

nova nação peculiar, assim como Abraão foi o patriarca de Israel


natural. Porém, esse grupo especial de apóstolos enviado para
Israel, os judeus, é um apostolado que não existe mais. Teve um
propósito específico: formar uma nova nação a partir da velha,
em continuidade ao propósito de Deus, desde Israel natural
até Israel espiritual, demonstrando que é o mesmo povo e o
mesmo propósito.
Paulo foi enviado pelo Espírito Santo e não pela pessoa de
Jesus durante seu ministério terreno. Ele foi enviado aos gentios
para alcançar todas as nações. Por isso, ele é um modelo para
o ministério apostólico atual. Porém, os mesmos princípios de
apostolado encontrados nos doze são válidos para nós também
e nos ajudam a entender o ministério, chamamento e funcio-
namento de apóstolos.
Há três partes na promessa de Deus a Abraão: uma terra
por herança, uma nação na terra e o ser uma bênção na terra,
por intermédio desse povo, para todas as nações.
Jesus como a palavra viva, o mistério em pessoa, encarnado,
é a herança: a terra. Os doze apóstolos representam o funda-
mento da nação, da nova cidade, do povo. E Paulo representa
a bênção a todas as nações, a revelação de Jesus vivo para todos
os povos. Portanto, Paulo estava cumprindo a promessa de
Deus a Abraão.
É importante entender, porém, que ainda não houve um
cumprimento completo dessa promessa. Somente quando
temos a revelação da nossa herança, que é Jesus, é que nos
tornamos o povo que levará a bênção, a revelação do mistério, a
todas as nações, em preparação para a segunda vinda de Cristo.

117
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Que tipo de apóstolo era Paulo?


2. Por que essa divisão da Bíblia começa em Atos 13?
3. Quantos anos se passaram entre a conversão de
Paulo e o início do seu ministério?
4. Por quantos anos ele viajou livremente,
estabelecendo igrejas?
5. Quantos anos se passaram entre sua prisão em
Jerusalém e sua morte?
6. Em que ordem Paulo, João e Pedro tiveram seus
períodos de maior atuação no ministério?
7. Quantas epístolas foram escritas por Paulo nas
suas viagens?
8. Quantas ele escreveu na prisão em Roma?
9. Quantas epístolas ao todo ele escreveu (que estão
na Bíblia)?
10. Compare a revelação da lei dada a Moisés com a
revelação da graça dada a Paulo.
11. Por que Paulo explicou a graça muito mais do que
o próprio Jesus?
12. Mostre o paralelo que há entre Moisés e Paulo
enumerando suas principais revelações e ações.
13. Quais as duas formas que Deus usou para dar
sua palavra aos homens no tempo do Velho
Testamento?
14. Qual a diferença básica entre os ministérios de
Jesus e Paulo?
15. Por que o ministério de Paulo foi essencial?
16. Por que um ministério semelhante ao dele precisa
ser restaurado hoje?

118
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

17. Qual a diferença principal entre os profetas do


Velho Testamento e os apóstolos do Novo?
18. Como o negativo e o positivo estão presentes na
Palavra de Deus?
19. Que semelhança há entre Moisés e Paulo, e entre
Jesus e Elias?
20. Quais são as diferenças principais entre o
apostolado dos doze e o de Paulo?
21. Por que os princípios que encontramos nos doze
apóstolos são importantes para nós hoje?
22. Mostre o paralelo entre a tríplice comissão
apostólica e a promessa de Deus a Abraão.
23. O que precisa acontecer em nossos dias para haver
um pleno cumprimento dessa promessa? Por quê?

O MINISTÉRIO DE PAULO: REVELAR O MISTÉRIO

A igreja no tempo de Atos tinha glória por causa da revela-


ção do mistério (Ef 3.2-11). Eles podiam falar que o mistério
estava descoberto “agora”, referindo-se àquele tempo presente.
A Igreja tem um grande propósito, mas só poderá cumpri-lo se
tiver a revelação do mistério e o “agora” voltar a ser realidade
outra vez – ou seja, se não se contentar apenas com a palavra
escrita e sem vida.
O mistério é a Palavra viva, é Cristo em nós – e ele precisa
ser revelado a nós (Cl 1.25-27). O Evangelho é a pregação
desse mistério, que é Jesus Cristo (Rm 16.25-26).

119
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

DIAGRAMA DO “AGORA”

2a REFORMA
1a REFORMA
ADÃO ABRAÃO 1a VINDA 2a VINDA ?
APÓSTOLOS
4000 2000 0 1500 2000 ?
AGORA AGORA
Mistério Oculto Apostasia

Ninguém entendia o mistério nos séculos anteriores a


Cristo, no tempo dos profetas. Era uma palavra oculta. Mas,
Jesus veio, enviou os apóstolos e Paulo declarou que “agora” o
mistério havia sido revelado. Depois, a Igreja entrou em de-
clínio e o mistério ficou encoberto outra vez. Em nossos dias,
porém, a Igreja deve ser preparada para a vinda de Cristo e, para
isto, o mistério precisa ser revelado novamente. Os apóstolos
vão dizer “agora” outra vez e anunciarão a palavra revelada à
Igreja e ao mundo.
Deveríamos ter fome e desejo ardente em nossos corações
pela revelação da palavra e pela restauração da Igreja. Preci-
samos sentir a real condição da igreja atual para poder gemer
pela sua restauração à condição em que estava no livro de Atos.
Entre Abraão e Jesus, vieram Moisés e a lei (Gl 3.19).
Abraão recebeu a graça, pela promessa, sem nenhuma exigência
para merecer a herança, exceto crer na promessa. Mas, depois
de Abraão veio Moisés com a lei. E, finalmente, em Jesus temos
o cumprimento da promessa a Abraão.
A lei foi promulgada por meio de anjos (embora esse fato
não se encontre registrado em Êxodo) e pela mão de um

120
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

mediador (Moisés). Deus deu a lei aos homens por meio de


anjos e por um homem.
Não existe um mediador para uma só pessoa. Ele representa
ou interage entre pelo menos duas pessoas; do contrário não
há necessidade de mediador (Gl 3.20).

A LACUNA ENTRE DEUS E O HOMEM

DEUS HOMEM DEUS HOMEM


lacuna Cristo
(Deus-homem)
Anjos
Profetas
Lei
Bíblia
Pastor
Igreja

Não conseguimos ultrapassar esta barreira por meio destes


instrumentos: anjos, profetas, Bíblia, etc. Nenhum desses meios
resolverá o nosso problema.
Cristo é o mistério que transpõe a barreira e preenche a
lacuna. Ele é Deus e homem em uma só pessoa. Por essa ra-
zão, Paulo diz que Deus é um só; e, se estamos em Jesus, não
necessitamos mais de mediador entre dois partidos – porque
Deus se tornou homem e não está mais distante de nós.
Deus clama pelo homem, chama-o, como chamou Adão.
O homem clama por Deus, mas nenhum dos dois consegue
che­gar ao outro. Cristo veio e aproximou um do outro porque

121
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

era Deus e homem em uma só pessoa. Filipenses 2.12 diz que


temos o querer e o poder por meio de Cristo em nós – não
há mais lacuna entre a nossa nature­za e a de Deus. Ainda que
nos falte a revelação disso, temos a promessa e a esperança de
recebê-la. Há união real entre Deus e o homem – algo práti­co
para nós hoje – agora!
Paulo recebeu uma dispensação especial para entender e
transmitir a revelação oculta por séculos – a graça de Deus.
Não é só saber que Cristo morreu, mas há tesouros ilimitados
nele que continuaremos desco­brindo e desvendando por todos
os séculos. Paulo começou a entender esses tesouros.

SETE ASPECTOS DO MISTÉRIO QUE É CRISTO

1. A TRINDADE. Ninguém pode explicar esse mistério, mas


o Espírito Santo o revela a nós na medida em que pre­cisamos
dessa verdade para caminhar.
Este termo, Trindade, não é encontrado na Bíblia; o que
se pode ver nela são menções do Pai, Filho e Espírito Santo
numa mesma passagem. Ex: batizar em nome do Pai, Fi­lho
e Espírito Santo (Mt 28.19).
Este mistério é a base de todos os demais. Não há três
deuses – apenas um, em três pessoas. Deus tem ciúme de
qualquer ideia de outro deus além dele.
Por que há três pessoas? Quando há um só, ninguém pode
compreendê-lo, não há existência perceptível por outros, não
há nome ou atributos. É preciso outro ser para contemplar,
conhecer, revelar. Não há valor em um só sem ter outro para
apreciá-lo ou compreendê-lo. O terceiro elemento é neces-
sário para criar um elo de ligação entre os primeiros dois.
Sem esse terceiro, não há relacionamento, e os dois ficariam

122
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

isolados, infrutíferos, sem multiplicação ou intercâmbio.


Esse é o papel do Espírito Santo. Portanto, é preciso ter no
mínimo três pessoas para que haja realmente um Deus vivo.

2. A ENCARNAÇÃO ou DEUS-HOMEM (1 Tm 3.16). Isso


também não pode ser explicado, mas é a única forma de
preencher a lacuna entre Deus e o homem. De outra forma,
o homem nunca poderia chegar a Deus. Nenhum anjo, ne-
nhuma obra ou religião pode ser o meio para isso. Orações
e sacrifícios não resolvem. O homem sempre quis chegar a
Deus, ter comunhão com ele, mas foi preciso Deus chegar ao
homem para que este pudesse aproximar-se dele. Sem crer na
encarnação, não há vida eterna, nem o Espírito Santo pode
habitar em nós.

3. CRISTO É O ESPÍRITO (Cl 1.27). Essa afirmação é


verdadeira; não é heresia, porque é a Bíblia que a afirma em
2 Coríntios 3.17: “Ora o Senhor é o Espírito”. Esse mistério
fala da habitação de Cristo em nós. Como Cristo pode estar
à destra de Deus e no nosso coração ao mesmo tempo? Por-
que ele é o Espírito – é o mesmo Deus (Pai, Filho e Espírito
Santo). É o mistério de Cristo estar em nós.
Em João 14, vemos a Trindade: Jesus roga ao Pai para enviar
o Consolador, o Espírito Santo (v.16). Depois, Jesus ainda
diz: “... porque ele habita convosco e estará em vós” (v.17). A
quem se refere este “ele”? A Jesus. E quem estará em vós? O
Espírito Santo.
É o mistério de Jesus ser um com o Espírito. O mesmo
Jesus que andava com os discípulos passaria a habitar neles
pelo Espírito derramado. Nós não acreditamos que o Espírito
é uma pessoa; pensamos que é uma influência ou experiência.
Não se trata de receber mais amor, mas de ter Cristo em nós.

123
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Se recebemos o Espírito, temos Cristo e não há nada a temer.


Ele não está longe, mas em nós.
É porque o Espírito habita em cada um de nós que forma-
mos um só corpo e fazemos parte da divindade. (Estude mais
sobre a pessoa do Espírito lendo o livreto O Espírito Santo é
uma pessoa!)

4. CRISTO-CORPO ou O CORPO DE CRISTO (Ef 3.4-6). O


Corpo é Cristo, a Igreja é a plenitude de Cristo. Cristo não é
só a Cabeça, mas o Corpo todo. Se o Espírito habita em todos,
então formamos um Corpo que é Cristo. Isso é um mistério.

5. ISRAEL-IGREJA – UM SÓ CORPO, O NOVO HOMEM (Rm


11.25,26). No fim da história, o povo de Israel, os descendentes
de Abraão, são o mesmo povo da Igreja, pois Jesus é o verda-
deiro Isaque, o filho da promessa. É ele que abençoa todas as
famílias da terra. Então, é o mesmo povo que Deus iniciou em
Gênesis que participa do final do plano de Deus. Esse ponto
é essencial para entender a Bíblia. É claro que Israel e a Igreja
ainda não são o mesmo povo de Deus, mas o plano caminha
para esse fim, e, quando realmente acontecer, Jesus voltará e
consumará todo o propósito divino.

6. A IGREJA – NOIVA DE CRISTO (Ef 5.28-32). Antes de


ser o Corpo de Cristo, a Igreja deve ser sua noiva. É no casa-
mento que dois corpos se unem e formam um só corpo. Agora
é o tempo de namoro, quando se fala sobre o Corpo de Cris-
to, porém, ainda como um vislumbre da realidade espiritual
invisível, que só se concretizará no casamento. Por enquanto,
há divisão, problemas e ciúmes, mas a união virá somente no
final. Há separação entre homem e mulher, judeu e gentio (e
muitas outras), mas o processo terminará com união perfeita
com Cristo e uns com os outros.
124
8- OITAVA DIVISÃO: PAULO

7. GLORIFICAÇÃO DO CORPO (1 Co 15.50-52). É a con-


sumação de tudo: Deus unindo-se com seu povo, o fim do
processo, a introdução do homem na divindade. O corpo
natural torna-se corpo espiritual, não um fantasma, mas uma
habitação permanente de Deus, em conjunto com todos os
outros redimidos.
(Se quiser estudar mais sobre o diagrama do mistério, a lacu-
na e os sete aspectos do mistério, leia as apostilas A restauração
da Palavra e Um estudo microscópico de Efésios).

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Quais foram as duas épocas da história em que o


mistério de Deus esteve oculto aos homens?
2. Quando o mistério foi revelado pela primeira vez?
3. Por que ele precisa ser revelado novamente nestes
dias?
4. Por que a lei não preenche a lacuna que há entre
Deus e o homem?
5. Por que Cristo preenche essa lacuna?
6. Por que, apesar dessa lacuna ser preenchida em
Cristo, ela ainda existe em nossa experiência?
7. Qual era a dispensação especial de Paulo?
8. Quais seriam, na sua opinião, os resultados de a
lacuna ser preenchida na experiência dos cristãos
hoje?
9. Enumere os sete aspectos do mistério que é Cristo.
10. Por que sabemos que a Trindade é uma realidade
apesar de não encontrarmos esse termo na Bíblia?
11. Por que é necessário haver três pessoas para que
haja realmente um Deus vivo?
125
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

12. Por que a encarnação é essencial para a nossa


salvação?
13. Como Cristo pode estar à destra de Deus e em nosso
coração ao mesmo tempo?
14. Por que o nosso conceito sobre o Espírito geralmente
está errado?
15. Em que sentido a Igreja é Cristo?
16. Por que não podemos entender a Bíblia sem
entendermos que no fim Israel e a Igreja são um só
povo e fazem parte de um só plano de Deus? (Dê
sua opinião)
17. Qual verdade a figura da Igreja como noiva de
Cristo expressa? (Por que nosso entendimento
do relacionamento da Igreja com Cristo seria
incompleto sem essa figura?)
18. Por que a glorificação do corpo é o fim do processo?
(Como Deus conseguirá cumprir seu plano eterno
na história com a glorificação dos nossos corpos?)

126
9
NONA DIVISÃO - Apocalipse
LIVRO: Apocalipse

G
ênesis é o primeiro livro da Bíblia, e Apocalipse,
o último. Cada um merece um lugar separado
para si. Um mostra o início do plano de Deus e o
outro, o fim. As­sim como Gênesis começa tudo, o Apocalipse
termina tu­do. Gênesis é a sementeira de todos os projetos que
Deus queria desenvolver na terra; já o Apocalipse é a colhei-
ta, o fim, o término de tudo o que foi plantado em Gênesis
e desenvolvido através de toda a Bíblia. Gênesis é o livro do
passado, e o Apocalipse, o do futu­ro.
É uma das maravilhas da Bíblia e uma grande prova de
sua autoria e inspiração divinas o fato de João ter recebido e
escrito essa visão sem a mínima in­tenção ou imaginação de que
viesse a ser o último livro da Bíblia. Sem coordenação humana,
Deus conseguiu um livro de começos e um de consumações.
O Apocalipse trata do fim dos séculos e dá um vislumbre da
era vin­doura. É um livro entretecido de muitas outras partes
da Bíblia. Podemos notar muitas citações de Daniel, Isaías,
Ezequiel e outros profetas nesta visão de João. O Apocalipse é a
síntese e a consumação de toda a Palavra de Deus e está repleto
do número sete, que representa a união de Deus com a criação.

127
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

A palavra “apocalipse” significa revelação. Essa visão foi rece-


bida por João na sua velhice, quando estava exilado na ilha de
Patmos. Ele foi o único apóstolo que não morreu martirizado.
Lá no exílio, recebeu essa revelação que previu os tempos pós-
-apostólicos e prepara­tórios para a vinda de Cristo.

TRÊS MÉTODOS

Há três maneiras de estudar o livro do Apocalipse: divi-


dindo-o em três partes; dividindo-o em duas, exatamente no
meio e analisando sete chaves que ajudam a compreender seus
mistérios.

I. DIVISÃO EM TRÊS PARTES


1. Os primeiros três capítulos – passado e presente
3 da Igreja.
+16 2. Dezesseis capítulos no meio – Futuro da Igreja,
3 últimos dias antes da vinda de Jesus.
22 3. Os últimos três capítulos – era vindoura, após
a vinda de Cristo.

A. Os primeiros três capítulos


Estes capítulos mostram uma visão de Jesus e as sete igrejas,
repre­sentando a igreja completa, do passado e do presente.
O capítulo 1 descreve a revelação de Jesus.
Os capítulos 2 e 3 contêm as cartas às sete igrejas, que mos-
tram como eram no tempo dos apóstolos. Muitos acham que
são também uma profecia sobre a história da igreja.
Por que o número sete? Porque sete representa perfeição
ou totalidade. Por isso, podemos entender que essas cartas

128
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

contêm uma mensagem de Deus para toda a Igreja, podendo


ser aplicada tanto no presente quanto na história passada.
Portanto, vemos nesses três capítulos um quadro do passado
e do presente da Igreja.

B. Capítulos 4-19 (16 capítulos)


Os capítulos centrais tratam do futuro da Igreja, principal­
mente dos últimos dias antes da vinda de Jesus. É a parte mais
importante do tempo que Deus quis revelar a João, ocupando
16 capítulos do livro. O enfoque principal é a necessidade
de pre­paração para a vinda de Cristo, pois não podemos ser
enganados com os falsos profetas nem com o sistema deste
mundo. Para estarmos preparados naquela hora, precisamos
de revelação.
Os capítulos 4 e 5 descrevem uma cena de adoração di­ante
do trono de Deus com música, anjos, seres vivos, anciãos e
tudo o mais. O assunto é o livro selado que ninguém podia
abrir e, por isso, João chorava. Nós também deveríamos
chorar porque as pessoas carregam e leem a Bíblia, mas não
a entendem. Só Jesus pode abrir esse livro e dar-nos o en-
tendimento.
Não há na Bíblia outra cena de adoração comparável a
essa. Antes de vir tribulação à terra, sempre há uma cena de
adoração no céu. Encontramos esse princípio várias vezes no
livro do Apocalipse: antes de mostrar juízo na terra, vemos
adoração diante do trono de Deus.
A santidade de Deus exige juízo onde há maldade. É como
uma moeda – de um lado há santidade e do outro há juízo,
tribulação e sofrimento. Se não existe inferno, não existe céu.
A existência de amor perfeito exige a existência de sofrimento
para quem re­jeita esse amor. A medida do amor é a mesma

129
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

medida do infer­no. Para quem rejeita o amor de Deus, só há


escuridão e ranger de dentes.
O capítulo 6 é o início da tribulação: relata a abertura de
seis dos sete selos.
O capítulo 7 é a preparação para o sétimo selo com ou­tra
cena no céu. O sétimo selo, na verdade, traz a abertura das
sete trombetas. Este é outro princípio, que veremos depois.
O livro do Apocalipse não é linear – é um desdobramento
ou desvendamento progressivo. Do sétimo selo saem sete
trombetas.
Os capítulos 8 e 9 descrevem seis das sete trombetas. Mos-
tram um juízo parcial (assim como ocorre com os selos) – terça
parte da terra, das árvo­res, do mar, dos rios, etc. O mundo
não será destruí­do de uma vez. É um processo.
No capítulo 10, entre a sexta trombeta e a sétima, há sete
trovões – mais um exemplo do princípio de desdo­bramento.
O capítulo 11 é o término da primeira metade do Apoca­
lipse. Trata das duas testemunhas e do tempo do seu mi­nistério
– três anos e meio. São os ministérios de Moi­sés e Elias, a
Palavra e o Espírito, restaurados antes da vinda de Cristo. O
fim do capítulo fala que os reinos deste mundo passaram a
ser do Senhor e do seu Cristo, e que ele reinará pelos séculos
dos séculos, ou seja, é o fim desta era. Antes dessa declaração,
a sétima trombeta é tocada (v.15).
O capítulo 12 é muito significativo. Se tivesse que escolher
o capítulo mais importante do Apocalipse, eu escolheria este.
É como se fosse um novo começo do livro, num outro nível,
trazendo a revelação de Jesus e da Igreja em mais detalhes.
O capítulo 13 fala da revelação de Satanás e das duas bestas.
Há uma trindade santa e divina e outra diabólica.
130
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Algumas passagens sobre a trindade satânica:

Ap 16.13 DRAGÃO BESTA FALSO PROFETA

SATANÁS BABILÔNIA ESPÍRITO RELIGIOSO


antítipo do
sistema sistema Espírito Santo
civil religioso

A besta, o falso profeta e o dia­bo – todos são lançados no


lago de fogo. A besta e o falso profeta são lançados antes do
milênio e o diabo no fim (Ap 19.20; 20.10).
Assim como a trindade divina é a revelação de um só Deus,
a trindade diabólica é a manifestação de um só diabo.
O capítulo 14 volta para o trono de Deus. Isso é maravilho-
so. Mesmo depois de revelar as profundezas de Satanás, somos
levados novamente ao trono de Deus para mostrar que ele reina
e está no controle de tudo. A cena é o Cordeiro e os 144 mil
que não se contaminaram e que têm a marca de Jesus nas suas
frontes. A marca da besta é muito discutida, mas por que não
en­fatizamos a marca de Jesus? Ela significa uma mente total­
mente transformada e em harmonia com a Palavra de Deus. O
capítulo 14, então, é a revelação do Cordeiro e dos vencedores.
O capítulo 15 é outra cena diante do trono, seguida pela
descrição, no ca­pítulo 16, das sete taças da ira de Deus, con-
sumando o seu juízo.
Os capítulos 17 e 18 falam da destruição do reino das bestas
– a grande Babilônia.
O capítulo 19 inclui a vinda de Cristo e também o louvor
sobre a destruição de Babilônia.

131
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

C. Os últimos três capítulos


Estes capítulos são dedicados aos eventos posteriores à
vinda de Cristo. Falam dos séculos vindouros após o retorno
de Cristo.
O capítulo 20 trata do milênio. No final do milênio, há o
juízo final.
Os capítulos 21 e 22 descrevem a Nova Jerusalém que desce
dos céus para a terra. É a consumação de tudo o que começou
nos primeiros capítulos de Gênesis. Há somente a árvore da
vida, pois a árvore do conhe­cimento do bem e do mal não
existe mais.

II. DIVISÃO DO LIVRO EXATA­MENTE NO MEIO


Neste método, o livro do Apocalipse é dividido em duas
partes, cada uma com onze capítulos:
1 - 11
12 - 22
O Apocalipse não segue uma linha reta, organizada
cronologicamen­te. No final do capítulo 11, temos o fim da
primeira metade em grande estilo – o sétimo anjo toca a trom-
beta, e grandes vozes no céu anunciam a queda do reino deste
mundo, que passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo pelos
séculos dos séculos. Os vinte e quatro anciãos saem dos seus
tronos para se prostrarem diante de Deus e adorá-lo.
O capítulo 12 inicia a segunda metade, repetindo a men-
sagem do livro num nível diferente, com mais de­talhes e sob
outros aspectos. É como a música que tem oitavas que iniciam
as mesmas notas em tons diferentes – uma escala de sete notas
e depois outra com as mesmas sete num tom mais alto.

132
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

III. SETE CHAVES DO LIVRO DO APOCALIPSE


1. O Espírito de Revelação
2. O Intercâmbio Entre o Céu e a Terra
3. Abertura Progressiva — Desdobramento
4. Adoração e Juízo
5. Os Vencedores e a Multidão
6. O Conflito Entre o Bem e o Mal
7. A Consumação

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que a primeira e a última divisão da Bíblia só


têm um livro cada?
2. Qual a relação entre Gênesis e Apocalipse?
3. Por que o livro do Apocalipse é uma grande prova
da inspiração divina da Bíblia?
4. Qual é o assunto do Apocalipse (em relação ao
tempo)?
5. Por que não podemos dizer que o Apocalipse é um
livro totalmente “original”?
6. O que significa a palavra “apocalipse”?
7. Descreva três maneiras de estudar o livro do
Apocalipse.
8. Como são as três divisões do Apocalipse?
9. Qual o assunto principal de cada uma delas?
10. O que representam as cartas às sete igrejas?
11. Que parte do tempo Deus mais enfatizou no
Apocalipse? Por quê?

133
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

12. Por que a existência do céu implica na existência


do inferno?
13. Onde termina a primeira metade do Apocalipse?
14. Por que o capítulo 12 é tão importante?
15. Como a trindade satânica se manifesta no capítulo
13 e o que representa para nós hoje?
16. O que significa ter a marca de Jesus na fronte?
17. Qual o assunto dos três últimos capítulos?
18. Quais as duas metades do Apocalipse?
19. Por que João começa tudo de novo no capítulo 12?
20. Quais são as sete chaves do livro do Apocalipse?

PRIMEIRA CHAVE: O ESPÍRITO DE REVELAÇÃO

Sem o espírito de revelação estamos perdidos, não só neste


livro, mas em toda a Bíblia; ela se torna uma caixa trancada,
sem chave. O último livro da Bíblia enfatiza tanto essa chave
que seu próprio nome “apocalipse” significa revelação.
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar
aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer, e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João”.
(Ap 1.1)
“João, às sete igrejas que se encontram na Ásia: Graça e paz
a vós outros da parte daquele que é, que era e que há de vir, da
parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono”. (Ap 1.4)
Os dois textos acima relatam o caminho ou processo neces-
sário para que as revelações deste livro chegassem até nós. Como
sempre, Deus é a fonte, a origem de tudo. Se houvesse alguma
coisa que não se originasse nele, ele não seria Deus. Quem está
além das estrelas? Quem existia antes do tempo? Quem é o

134
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

motivo de tudo e a resposta final de todas as perguntas? Se não


crermos num Deus real, não teremos respostas fi­nais.
Jesus é a revelação de Deus. Ele é o Filho, a ex­pressão do
Pai. Deus deu a Jesus a revelação a ser transmitida a João para
mostrar aos seus servos (nós) as coisas que aconteceriam bre-
vemente (se há dois mil anos era “brevemente”, quanto mais
agora!) Jesus trans­mitiu essa revelação a João por meio de um
anjo.
“Anjo” significa mensageiro. É um tipo de fio telefônico
que liga Deus conosco; nunca transmite nada de si mes­mo,
mas traz um recado de Deus para nós. São mensagei­ros bons e
fiéis, ao contrário dos anjos de Satanás, que são maus e trazem
outro tipo de recado.
João era um apóstolo, um homem que recebeu, por meio de
um anjo, uma revelação de Jesus Cristo, vinda da parte de Deus.
Em Apocalipse 1.4,5, vemos toda a Trindade: Pai, Filho e
os sete Espíritos. Deus Pai é aquele que é (presente), que era
(passado) e que há de vir (futuro). Os sete Espíritos represen-
tam os sete aspectos, ou seja, a plenitude do mesmo Espírito,
assim como as sete cores formam juntamente um só arco-íris.
O fato de ser representado aqui por sete mostra que podemos
ter uma revelação parcial ou incompleta, que não vem de todos
os sete. A mensagem que foi revelada a João veio não só da
parte de Deus Pai e de Jesus, o Filho, mas também de todos
os sete Espíritos que estão diante do trono (v.4). Esperamos
ansiosamente o dia quando teremos a plenitude do Espírito
habitando e operando na Igreja.
O processo de transmissão da revelação, que se pode
ver nos primeiros versículos do Apocalipse, é: Deus – Jesus –
anjo – João – sete igrejas. João transmitiria uma mensagem
pa­ra as sete igrejas da Ásia, que era uma província romana.

135
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

O número sete é simbólico, indicando a totalidade das igrejas


que existem em todas as partes do mundo e, também, as que já
existiram no passado. O livro do Apocalipse como um todo é
uma revelação de Jesus Cristo que foi endereçada às igrejas do
presente (na época de João até hoje), do futuro próximo (antes
da vinda de Cristo) e do futuro mais distante (depois da vinda
de Cristo). É esse fato que nos dá a certeza de que os recados
de Deus para elas são dirigidos a nós também (Ap 1.19).
As estrelas na mão direita de Jesus são os anjos das
igrejas, e os candeeiros são as igrejas (vv.16,20). Além
de haver sete igrejas, cada uma é um candeeiro com sete
lâmpadas. Isso sig­n ifica que em cada igreja deve haver
uma luz completa – não só um único ministério ou ênfase,
mas todas as funções e dons em operação. E as sete juntas
representam a Igreja de Jesus em sua totalidade.
O maior problema da Igreja hoje é saber como rece­
ber a palavra viva de Deus, a revelação especial de Je­s us
para uma congregação específica. Os anjos são a chave.
O pensamen­t o tradicional é que os anjos são os pastores.
Hoje, te­m os pastores formados em seminários famosos
com as ferramentas administrativas e os recursos intelectu-
ais para preparar sermões e dirigir uma igreja. No entanto,
não é assim que vem a palavra de revelação. Apesar de
tudo que temos – pastores, Bíblias e técnicas modernas
de comunicação e organização –, não temos uma igreja
como a de Atos.
Precisamos saber como entrar em contato com a estre-
la da nossa igreja, o anjo ou espírito de revelação, a fim
de receber vida. A igreja pode ter um excelente pastor,
grande conhecimento bíblico, muitos membros e cultos
ma­r avilhosos, mas se não tiver uma palavra viva, de nada

136
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

adiantará. A única coisa que traz vida para a igreja é a


revelação de Jesus, e só podemos recebê-la por meio de
recursos espirituais.
Há sete Espíritos, sete anjos e sete igrejas. Podemos concluir
que há uma correspondência entre eles – do Espírito para o
anjo e do anjo para a igreja. Os anjos ou espíritos ministradores
(Hb 1.14) fazem a ligação entre o Espírito Santo e a igreja.
Para cada igreja, há um Espírito (diante do trono de Deus)
e um anjo (uma es­trela). Os anjos representam o espírito de
revelação necessário para transmitir a mensagem viva de Jesus
a cada igreja.
Para Deus falar dos mistérios de Cristo com seu povo, ele
precisa usar mensageiros espirituais. Deus esconde seus planos
e propósitos em mistérios, pois não quer que homens ímpios
os descubram e os usem para seus próprios planos. Por isso, só
um recurso sobrenatural poderá deci­frar seu “código” celestial.
Os anjos falam com as igrejas por meio dos ministé­rios de
revelação e não necessariamente pelos pastores. Para haver uma
palavra viva na igreja, esses ministérios devem estar em contato
com o espírito de revelação. No caso do Apocalipse, o instru-
mento foi o apóstolo João. Ele se achou no Espírito, no dia do
Senhor, e assim recebeu essa visão (v.10). Geral­mente, os minis-
térios proféticos são os instrumentos que trazem a pala­vra viva.
Cada igreja deve ser fiel à palavra que Deus envia especifi-
camente para ela. Precisamos da restaura­ção desse espírito de
revelação no nosso meio; não apenas de mais conhecimento
teórico e intelectual. Somente a revelação de Jesus nos tornará
candeeiros, luzeiros no mundo. Cada igreja precisa valorizar
o espírito de revelação e os mi­nistérios usados por Deus para
transmitir a palavra viva. Deveríamos estar mais atentos e buscá-
-la com mais intensidade.
137
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Há uma ligação entre os anjos e o Espírito de Deus, embora


não entendamos exatamente como ela funciona. Os anjos estão
presentes na reunião e trazem a presença de Deus. São sensíveis
a Deus e, também, ao ambiente que nós produzimos. Uma
pessoa rebelde pode ser um veículo para trazer a presença de
demônios, enquanto uma que esteja em harmonia com Deus
é canal para o Espírito Santo. Quando há opres­são, os demô-
nios estão no controle, e os anjos ficam tristes e incapazes de
agir. Porém, quando as barreiras são quebradas no nível do
Espírito, os anjos participam da adoração e até tocam instru-
mentos celestiais, produ­zindo louvor e estimulando os dons do
Espírito. Em tudo isso, entretanto, há muita coisa que ainda
não entendemos.
Uma coisa é certa: o ministério de anjos no Apocalipse é
muito marcante. João recebeu a revelação por intermédio de
um anjo e dirigiu suas cartas aos anjos das igrejas. Estes, por
sua vez, tinham a responsabilidade de transmitir a mensagem
para a igreja respectiva. Mas, o que ele escrevia ao final de
cada carta? “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas.” Portanto, João escreve ao anjo, mas é o Espírito que
está enviando a mensagem à igreja.
O anjo não é o pastor; é o espírito de revelação que se ma-
nifesta através de diversos tipos de ministérios, principalmente
o profético. Os ministérios de revelação recebem a mensagem
por meio de anjos, e a igreja também só consegue ouvi-la com
a ajuda deles. Por isso, João recebeu a revelação de um anjo e
a escreveu aos anjos.
Hoje, não temos clareza sobre uma palavra específica de
Deus para o Brasil ou para nossa geração porque faltam mi-
nistérios proféticos na igreja. O espírito de revelação vem do
trono de Deus. Quando há contato com ele, vem uma palavra

138
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

que produz água viva para toda a nação. A fal­ta dessa palavra
implica em não ver a glória de Deus sobre nós. Apesar de
todos os nossos movimentos, encontros, programas e igrejas
animadas, não temos visto a glória da presença de Deus.
Não basta entender o conteúdo do livro do Apoca­lipse; é
necessário também conhecer o processo pelo qual esse li­vro foi
dado, pois Deus quer revelar-nos outras verdades da mesma
maneira. Precisamos saber como receber a revelação hoje.
Em Apocalipse 2.1, vemos que Jesus anda no meio das sete
igrejas e tem as sete estrelas na mão. As estrelas são os mensa-
geiros enviados para falar com as igrejas no meio das quais ele
anda. Se entendermos a diferença entre uma pala­vra morta e
uma viva, passaremos a procurar a revelação constantemente.
Todos podem ter revelação; não é privilégio de al­gum
ministério especial. Cada um que possui o testemunho de
Jesus tem o espírito de profecia (Ap 19.10). O que torna uma
pessoa testemunha é ela mesma ver e ouvir Jesus; como re-
sultado, começará a profetizar, ou seja, a testificar do que viu
ou experimentou. Nesse sentido, cada pessoa pode ser uma
testemunha viva de Jesus.
O propósito principal dos ministérios concedidos por Cristo
à igreja é levar todos os santos a participar do privilégio de rece-
ber revelação e ser testemunhas vivas (Ef 4.11-13). Nas reuniões
da igreja primitiva, todos podiam profetizar (1 Co 14.24,31).
Os ministérios de revelação devem atuar de tal forma que toda
a igreja entre no espírito de revelação e seja testemunha viva
de Jesus. Só dessa forma, as expressões “reino de sacerdotes” e
“povo profético” se tornarão realidades práticas.

139
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

O diagrama abaixo expressa o conteúdo desta primei­ra


chave.

DEUS
JESUS CRISTO

ANJO
JOÃO

Ap 1.12-13, 16, 19, 20; 2.1; 3.1; 4.5

A anatomia da revelação começa com Deus porque tudo


começa, obrigatoriamente, com ele. De Deus, a revelação vai
para Jesus que é a perfeita expressão da divindade; Jesus, depois,
a transmi­te para o anjo, que, por sua vez, a entrega para João
e, finalmente, dele para as sete igrejas. Porém, para transmiti-la
às igrejas, João escreve aos anjos delas, e só quem tem ouvidos
espirituais consegue receber a men­sagem do Espírito.
Eu creio que os anjos das igrejas são anjos mesmo, que,
embora não apareçam ou se identifiquem visivelmente como
anjos, trazem recados divinos para as congregações específicas
por meio de ministérios de revelação. Os anjos têm uma função
muito importante, porém não querem atrair atenção para si
mesmos. Ao contrário de Satanás, um anjo caído cujo objetivo
principal é exaltar a si mesmo, os anjos de Deus só querem
glorificar a Jesus e transmitir a revelação dele para nós. Por isso,
140
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

a Bíblia não nos dá mui­ta informação sobre eles – para não


desviar nossa atenção de Jesus. Devemos, portanto, ter a mesma
atitude e não ir atrás de visões e manifestações angelicais, mas
colocar nosso foco no contato vivo com Jesus. Nosso inte­resse
não deve estar no instrumento que ele usa para falar, mas em
quem está falando.
Cada pessoa e cada igreja têm um anjo (Mt 18.10). Precisa-
mos dar ouvidos àquilo que Deus quer nos falar por meio deles.
As batalhas espirituais são travadas por anjos, que recebem
força para agir quando oferecemos nossos louvores a Deus.
Por outro lado, quando há carnalidade, são os demônios que
ganham força e liberdade na batalha.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Qual foi o processo que Deus usou para transmitir


as revelações do Apocalipse a João?
2. Por que é significativo o fato de haver sete Espíritos
diante do trono de Deus?
3. Qual a relação entre Deus e o tempo?
4. Qual o significado das sete igrejas na Ásia?
5. Que períodos do tempo são tratados no livro do
Apocalipse?
6. Qual o significado de cada igreja ser um candeeiro
com sete lâmpadas?
7. Qual o maior problema da igreja hoje?
8. Quais os três grupos de sete que fazem parte deste
processo de revelação e qual a ligação entre eles?
9. Por que Deus esconde seus planos e intenções em
mistérios?

141
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

10. Qual a única maneira de decifrar o “código”


celestial?
11. Como os anjos falam com as igrejas?
12. Como os ministérios proféticos trazem a palavra
viva à Igreja?
13. Qual deve ser a reação de cada igreja à palavra
revelada através dos ministérios de revelação?
14. Qual a ligação entre os anjos e o Espírito de Deus?
15. De quem João recebeu revelação e para quem a
transmitiu?
16. Quem são os anjos das igrejas e como a mensagem
deles é assimilada pelas igrejas?
17. Por que não conseguimos identificar uma palavra
específica de Deus para nosso país ou geração?
18. Por que precisamos entender o processo pelo qual o
livro do Apocalipse foi dado?
19. Qual o incentivo para procurar a revelação da
palavra?
20. Quem tem o espírito de profecia? E como uma
pessoa se torna testemunha de Jesus?
21. O que é profecia nesse contexto?
22. Qual o propósito principal dos ministérios de
revelação?
23. O que traz vida para a Igreja e como obter essa
fonte?
24. Por que é perigoso centralizar a atenção nos anjos
em si? Qual deve ser, então, a nossa atitude?

142
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

SEGUNDA CHAVE: O INTERCÂMBIO ENTRE O CÉU E A


TERRA – UMA PORTA ABERTA NO CÉU

As primeiras duas chaves são muito interligadas. O espírito


de revelação é uma porta que abre o caminho para contato
entre o céu e a terra. Assim como os fios telefônicos e toda a
estrutura da rede de comunicações possibilitam a comunica-
ção entre diferentes lugares aqui na terra, da mesma forma o
espírito de re­velação (por intermédio dos anjos) é o mecanis-
mo de conexão entre o céu e a terra. Intercâmbio é o contato
vivo e a comunicação que re­sultam da estrutura que vimos na
primeira chave (os sete espíritos, os anjos e os ministérios de
revelação na igreja).
No capítulo 1 de Apocalipse, temos a revelação de Jesus
no meio da sua igreja; os capítulos 2 e 3 trazem as cartas às
sete igrejas, transmitidas por intermédio dos sete anjos. No
capítulo 4, temos outro assunto. Enquanto as men­sagens às
igrejas referiam-se a uma realidade vivida por elas naquela
época, e que também podem ser aplicadas nos dias de hoje, o
capítulo 4 começa a falar sobre os últimos acontecimentos logo
antes da vinda de Cristo. Note o que diz o final do versículo 1:
“... te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas”. Porém,
para que haja revelação de coisas futuras, é neces­sária uma porta
aberta no céu. Será que sabemos na prática o que é uma porta
aberta? Com certeza, sabemos muito bem o que é uma porta
fechada! (Ap 4.1,2)
“Imediatamente eu me achei em espírito, e eis armado
no céu um trono, e no trono alguém sentado” (Ap 4.2). Algumas
traduções dizem: “fui arre­batado em espírito”, porém isso não
está de acordo com o original. A porta aberta é maravilhosa,
mas é preciso subir e entrar por ela; temos de ir da terra para
o céu. João achou-se no espírito. Se entrarmos no espírito, não

143
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

teremos problema de espaço ou de transporte. Num instante,


podemos ir da terra para o céu – basta achar a porta para a
outra dimensão por meio das nossas faculdades espirituais.
Ezequiel teve uma experiência assim: “... se abriram os céus,
e eu tive visões de Deus” (Ez 1.1). Para mostrar como isso foi
importante e o que realmente aconteceu, ele deu a data e o lugar
exatos, pois um céu aberto é um acontecimento tremendo. A
igreja hoje precisa deste céu aberto.
Devemos meditar neste versículo: será que somos candidatos
para algo semelhante? Toda a visão de Ezequiel no restante do
livro é o re­sultado deste céu aberto. Ele teve a mesma visão que
João recebeu no Apocalipse sobre os que­rubins, pois, apesar de
viver em épocas diferentes, entraram no mesmo céu e viram
a mesma coisa.
Se a porta foi aberta, ela pode ser fechada tam­bém. Sem
essa abertura no céu, nenhuma atividade da igreja será eficaz.
Todos podem e devem experimentar essa porta aberta para
receber revelação na palavra, músicas ungidas e poder para
revolucionar vidas ao redor.
Em Mateus 3.16,17, Deus falou do céu abençoando seu
Filho e enviando seu Espírito sobre ele; toda a Trindade es­tava
presente naquele momento. Se o céu não estivesse aberto, o
Espírito não poderia ser enviado e nem a voz ser ouvida. Por-
tanto, Deus se co­munica na terra por meio dessa porta aberta.
Outro exemplo se encontra em Atos 7.54-60. Estêvão olhou
e viu os céus abertos; viu Jesus levantar-se e fi­car de pé, à direita
de Deus, para recebê-lo. Ele pôde ver essa cena por causa do
céu aberto. Nós também desejamos olhar para o céu e ter a
mesma experiência; assim, poderemos ouvir a voz de Deus e
obede­cê-la. Sem contato com o céu, não ouviremos a voz de
Deus e estaremos perdidos.

144
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Em Gênesis 28.10-13, lemos a respeito da visão de Jacó, em


que viu a escada que começava na terra e alcançava o céu. Anjos
subiam e desciam, e o próprio Deus estava na extremidade
superior. Como resultado dessa abertura, o Senhor se colocou
perto de Jacó (v.13). Em seguida, transmitiu-lhe um recado. O
importante não era observar a escada em si, mas notar como
serviu de ponte para aproximar Deus do homem.
A porta aberta é a casa de Deus (Gn 28.16,17). Essa li­nha
de comunicação entre o céu e a terra (pela escada com os
anjos) é a própria casa de Deus, a Igreja. Deus demonstrou a
sua presença naquele lugar por meio da escada, dos anjos e do
céu aberto. A casa de Deus, a Igreja, é o lugar onde Deus fala
e tem comunhão com seu povo.
“Em verdade, em verdade, vos digo que vereis o céu aberto e
os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (Jo
1.51). Jesus estava se referindo ao sonho de Jacó, mos­trando
que ele mesmo é a escada entre o céu e a terra. Ele faz a ligação
entre os dois porque é Deus e homem ao mesmo tempo. Ele
é a única ponte en­tre a divindade e a humanidade. O meio de
comunicação são os anjos, espíritos ministradores que tra­zem
recados de Deus a nós. Jesus está no céu e voltará um dia, mas
também está em nosso coração. Os anjos ficam liberados, por
causa da obra de Jesus na cruz, para ir e vir entre o céu e a
terra, concretizando assim a ligação prática entre Jesus e nós.
Jacó falou que a escada é a Igreja – a casa de Deus. Jesus
disse que ele é a escada. E Paulo disse que a Igreja é a coluna
(1 Tm 3.14-16), alicerçada no chão para sustentar o teto – ou
seja, a ponte entre o céu e a terra outra vez. Jesus é a ponte, mas
a Igreja também o é, pois é o seu Corpo. Sem Jesus, a Igreja
não pode fazer nada, mas sem a Igreja, Jesus também não tem
instrumentos para fazer sua vontade na terra. Portanto, um
precisa do outro.
145
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Para poderem agir juntos, porém, precisam de uma escada,


uma ligação ou meio de comunica­ção. A própria Igreja repre-
senta essa conexão, pois nela Jesus fala na terra, enviando seu
Espírito, por meio dos anjos. Ali acontece a comunicação da
palavra viva – a verdade. A Igreja é coluna e baluarte da ver-
dade porque Deus não poderia falar (revelar a verdade) sem
uma casa. A Igre­ja não tem função ou propósito sem a palavra
de Deus, mas, por outro lado, Deus não teria onde se revelar
sem a Igreja.
No fim, quando a Nova Jerusalém descer para a ter­ra, não
haverá mais necessidade de escada. Mas, até lá, esse meio de
comunicação entre o céu e a terra (o espírito de revelação) será
necessário. A escada é a Igreja em comunhão com Jesus Cristo,
em ligação viva com ele; é Jesus na terra se revelando em sua
casa. Por isso, tanto Jesus quanto a Igreja são a escada.
A visão do Apocalipse mostra a consumação do propósito de
Deus, alcançada por meio do céu aberto, da plena comunicação
entre o céu e a terra (a escada), da Igreja em perfeita ligação
com Jesus. Essa ligação é com o Corpo todo e não com um
indivíduo sozinho. Deus fala com indivíduos, mas sua revelação
completa é dada para a Igreja. Por isso, não pode­mos ser a casa
de Deus, a escada, sem estar na Igreja.
O espírito de revelação é a estrutura espiritual que traz a
mensagem do céu – Deus, Jesus, o anjo que a transmitiu a
João, os sete espíritos, os sete anjos e as sete igrejas. Por outro
lado, o intercâmbio é o acontecimento, a própria transmissão
da mensagem em si.
Podemos comparar as duas chaves (espírito de revelação e
intercâmbio) a uma rede elétrica. A estrutura da rede é o espí-
rito de revelação com todas as peças e etapas para transmitir a
palavra de Deus; é uma parte essencial do processo, pois sem

146
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

ela só teríamos tentativas humanas e frustradas para ter contato


vivo e constante com Deus. Já o intercâmbio é como a chave
geral da rede; enquanto alguém não a ligar, a estrutura toda é
inútil e nada acontece. Quando a chave é ligada, porém, toda
a rede elétrica transmite energia para o funcionamento dos
aparelhos domésticos e industriais da cidade; da mesma ma-
neira, o intercâmbio entre o céu e a terra é o acontecimento,
é a comunicação divina fluindo e trazendo vida para a casa de
Deus e as pessoas no mundo.
Esse intercâmbio entre o céu e a terra é como o namoro
entre duas pessoas; é uma etapa cheia de encontros rápidos, de
recados para lá e recados para cá, que serve como preparação
para o casamen­to entre os dois (céu e terra). Estamos nesta fase
ainda e precisamos intensificar o relacionamento e estreitar
nossa ligação.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que as primeiras duas chaves estão muito


interligadas?
2. Qual o assunto do capítulo 4 e o que é necessário
para ter revelação dessas coisas hoje?
3. O que devemos fazer quando a porta do céu se
abre?
4. Qual a necessidade da igreja hoje?
5. Qual a importância de meditar naquilo que
aconteceu com Ezequiel?
6. Por que João teve uma visão tão semelhante à
de Ezequiel apesar de viver numa época bem
diferente?
7. O que a porta aberta pode produzir?

147
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

8. Como Deus se comunica com a terra?


9. Por que Estêvão pôde ver o Filho do Homem em
pé, à direita de Deus?
10. O que é a porta aberta, de acordo com Gênesis
28.17?
11. O que é a casa de Deus?
12. O que a escada do sonho de Jacó representa? Por
quê?
13. Por que tanto Jesus como a Igreja podem ser
consideradas a escada?
14. Onde Deus fala?
15. Quando a escada se tornará desnecessária? Por
quê?
16. Quando a Igreja está realmente sendo uma escada?
17. Qual o requisito para sermos a casa ou a escada de
Deus?
18. Como podemos diferenciar as duas primeiras
chaves (espírito de revelação e intercâmbio entre
o céu e a terra)?
19. Qual o resultado final deste intercâmbio?

TERCEIRA CHAVE: DESDOBRAMENTO –


ABERTURA PROGRESSIVA

A primeira chave, O espírito de revelação, mostra a estrutura


para a revelação sair de Deus e chegar a nós.
A segunda chave, O intercâmbio entre o céu e a terra, mostra
o acontecimento dessa revelação che­gando a nós, a energia
realmente passando pelos fios.
Nesta terceira chave, Desdobramento – Abertura Pro­gressiva,
veremos a maneira como esse intercâm­bio (a transmissão
148
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

constante de revelação) é desenvol­vido: não de uma forma


cronológica ou linear, acres­centando item após item, e nem
mesmo de uma maneira repetiti­va; pelo contrário, acontece
dentro de um caminho de desdobramento ou abertura pro-
gressiva. A primeira revelação já contém embrionariamente
tudo o que vi­rá nas outras, sem que se perca a expectativa
pela revelação seguinte, porque cada uma sempre traz um
novo desen­volvimento, uma nova luz sobre aquilo que já foi
recebido.
O princípio de desdobramento é exemplificado na nature­za
de muitas maneiras – em uma rosa, por exemplo. O botão se
abre mais e mais até formar uma flor perfeita. No início, já é
potencialmente uma rosa, pois contém todas as pétalas fecha-
dinhas em miniatura; a cada dia que passa, porém, desabrocha
um pouco mais até alcançar sua abertura e glória total. Depois,
a rosa envelhece, produz sementes e o processo se repete, for-
mando outra planta, outro botão e outra flor.
Esse princípio é encontrado no Apocalipse de várias ma-
neiras. Por exemplo, dá para observá-lo nas duas metades do
livro – a primei­ra do capítulo 1 a11, e a segunda de 12 a 22.
A segunda parte não é uma sequência cronológica da primeira,
pois o fim da história já é narrado no final do capítulo 11: “Os
reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e
ele reinará para todo o sempre” (v.15, versão Almeida, edição
contemporânea). Por outro lado, apesar de repetir muitos
princípios e fatos da primeira metade, não é monótono ler a
segunda porque tudo é desenvolvido de ângulos diferentes e
em maiores detalhes.
A existência temporal do homem pode ser representada por
uma reta em progressão linear – passado, presente e futuro.
Entretanto, Deus não se limita a essa lei, pois não tem prin-
cípio nem fim; sua vida está sempre em de­senvolvimento e
149
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

crescimento dinâmico. Sua natureza se assemelha mais a uma


es­piral do que a um círculo monótono. A música também revela
esse princípio, pois contém temas centrais que são desenvol­
vidos em ciclos que crescem progressivamente.
Nossa tendência natural é pensar como o homem caí­do, que
se baseia apenas em progressão linear – nascer, cres­cer, casar,
envelhecer e morrer. Para Deus não é as­sim; no seu plano, há
desenvolvimento constante, uma eterna juventude.
Sem compreender esse princípio, é impossível enten­der a
Bíblia, especialmente o Apocalipse, pois a Palavra de Deus se
baseia em princípios e pontos de vista de Deus, bem diferentes
daqueles que fundamentam o pensamento humano.
Portanto, ao ler o Apocalipse, precisamos entender que
há esse desenvolvimento da primeira metade do livro para a
segunda; não é uma sequência linear, em que os fatos seguem
cronologicamente, mas a segunda parte relata os mesmos
acontecimentos com mais detalhes e abertura de revelação.
Outro exemplo des­se princípio são as séries de sete descritas
no Apocalipse: sete selos, sete trombetas, sete trovões e sete
taças. Essas séries também não formam uma progressão line-
ar – 7 + 7 + 7 + 7 – mas sim um desdo­bramento da mesma
revelação. Como já observamos, a música funciona exatamente
assim: ao final de cada ciclo de sete notas, inicia-se novo ciclo
com as mesmas notas num tom mais alto.
O fato de uma série estar contida na anterior fica muito claro
quando chegamos ao sétimo selo. Quando esse selo é aberto,
nada acontece naquele momento (Ap 8.1); logo em seguida,
porém, aparecem os anjos que vão tocar as sete trombetas. Em
outras palavras, as sete trombetas estão contidas no sétimo selo.
O princípio aparece novamente com os sete trovões, que
ocorrem entre a sexta e a sétima trombetas. E, finalmente, as
150
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

sete taças são basicamente uma destruição mais ampla das


mesmas coisas que já haviam sido destruídas parcialmente
durante os selos e as trombetas.
Jesus ensina esse princípio na parábola da semente (Mc
4.26-29), que compara o reino de Deus ao crescimento e
desenvolvimento da vida. A Palavra de Deus é uma semente
incorruptível que nasce, cresce e produz fruto (1 Pe 1.23). É
algo que acontece progressivamente; é um processo de vida e
não apenas uma sequência monótona e linear de eventos.
A vida com Deus deve ser assim. Quando alguém recebe a
pala­vra viva, ela cresce sem que ele saiba como, sem sua ajuda;
simplesmente age e se desenvolve cada vez mais. “A palavra do
Senhor crescia e se multiplicava” (At 12. 24). É dessa forma que
deve funcionar o processo vivo do cresci­mento da Palavra, sem
se basear em técnicas e métodos humanos. Só assim haverá
fruto bom e permanente.
O fruto do Espírito (Gl 5.22, 23) aparece quando se come
da árvore da vida: Jesus. Tomar a ceia, na Nova Aliança, é co-
mer da árvore da vida. Não é adquirir conhecimento, aprender
a dizer sim e não (saber o que é certo e o que é errado), mas
dizer “amém”, ter uma revelação de quem você é em Cristo
Jesus (2 Co 1.17-20). Não há condenação em Cristo Jesus; é
a lei do Espírito da vida que vem por meio dele. Só vivendo
de acordo com esse princípio é que cresceremos, deixando sua
natureza desabrochar em nós até produzir frutos autênticos.
Deus é Espírito (Jo 4.21-14), e para conhecê-lo é necessário
entrar na mesma dimensão em que ele está – totalmente dife-
rente daquela que nossa mentali­dade terrena conhece.
Mais de uma vez, Jesus usou uma expressão que mostra a
dimensão espiritual em que ele vivia: “Vem a hora, e já chegou”
(Jo 5.25; compare com Jo 4.23). De certa for­ma, estava dizendo

151
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

que para ele o futuro e o presente são iguais, pois não tinha
dificuldade em trazer acontecimentos do tempo vindouro para
o dia de hoje. Seu conceito de tempo é bem diferente do nosso.
No mundo físico há apenas três dimensões: largura, compri-
mento e altura. Não existe nada tão minúsculo que não tenha
todas as três. Porém, há várias outras dimensões que, apesar de
entendermos pouco sobre elas, não são menos reais. Uma que
todos conhecem é a dimensão do tempo: tudo o que existe
no mundo físico está também no tempo e sujeito ao pro­cesso
de envelhecimento. O tempo é subdividido em três partes, e
sempre vem passando do futuro para o presente, e do presente
para o passado.
Para entender as implicações dessa di­mensão do tempo sobre
nós, pense na seguinte questão: Que fase ou época de sua vida
repre­senta sua verdadeira identidade? Qual delas é realmente
você? Na vida eterna, seremos semelhantes a crianças, jovens
ou velhos? Só acharemos a resposta se admitirmos que nenhu-
ma fase em si pode representar-nos por completo; para isso,
precisaremos de todas elas, de toda a quarta dimensão, ou seja
da extensão total do tempo da nossa vida.
Portanto, tudo o que está no mundo sofre a ação desta quar-
ta dimen­são. O tempo consiste em uma reta cronológica de
momentos su­cessivos e lineares. Jesus não era limitado por essa
sucessão rígida de eventos, e Deus não quer que nós o sejamos
tampouco. Por isso Jesus disse: “Vem a hora, e já chegou”. Mas
como é possível escapar da escravidão dessa dimensão?
O mundo espiritual não está sujeito às limitações do mun-
do físico – nem à distância, nem ao tempo. Jesus explicou à
mulher samaritana que o encontro com Deus não dependia
mais de um deslocamento geográfico para Jerusalém ou Sama-
ria. Nem tampouco ela teria de esperar por um dia futuro de

152
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

cumprimento escatológico. “Vem a hora, e já chegou” (Jo 4.23).


Em qualquer momento do tempo (naquela reta cronológica),
existe o potencial para levantar uma perpendicular (buscar a
Deus, fazer contato com ele no espírito) e entrar na quinta
dimensão que é a eternidade, o mundo espiritual, onde Jesus
está agora. Cada momento do tempo nos reserva possibilidades
infinitas, pois po­de ser um ponto de partida para entrar na
quinta dimensão.

5 DIMENSÃO
(eternidade)
“e agora é”

“a hora vem”
a

4a DIMENSÃO
(tempo)

Por isso, também, Jesus pôde dizer ao ladrão na cruz:


“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). Para Marta, ele
disse que não precisava esperar o dia final, mas naquele mo-
mento ele era a ressurreição e a vida (Jo 11.25,26). Enoque
andou com Deus e foi trasladado: no caso dele, a perpendi-
cular que levantou para fazer contato com Deus no mundo
espiritual acabou transformando-se num transporte sobre-
natural que o levou embora definitivamente! Não precisou
esperar o arrebatamento dos santos no encontro com Jesus
nos ares que acontecerá nos úl­timos dias.
Podemos encontrar-nos com Deus agora e participar da
experiência de vida eterna. Há um potencial infinito em
qualquer momento da nossa vida. O nome de Deus é EU
SOU. Ele é sempre presente, pois para ele é sempre agora.
O con­ceito de Deus sobre o tempo é diferente do nosso. Se

153
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

enten­dermos este princípio, não teremos dificuldade para


com­preender a Bíblia e a maneira como Deus opera.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. O que a terceira chave nos mostra? E como isto


ocorre?
2. Descreva um exemplo do princípio de
desdobramento na natureza.
3. Descreva um exemplo do princípio de
desdobramento no Apocalipse.
4. Qual a diferença entre a natureza da existência
do homem e a natureza de Deus?
5. O que é necessário para entender a Palavra de
Deus e o Apocalipse?
6. Descreva outro exemplo desse princípio no livro
do Apocalipse.
7. Como a semente da parábola de Jesus ilustra esse
princípio?
8. Como podemos produzir fruto bom e permanente?
9. O que precisamos fazer para conhecer a Deus?
10. O que é a quarta dimensão que afeta tudo o que
está no mundo?
11. Dê uma característica básica do tempo.
12. O que Jesus nos ensina com esta expressão: “Vem a
hora, e já chegou”?
13. O que é a quinta dimensão, e quem encontramos
nela?
14. Quando podemos entrar nesta dimensão?
15. Qual o significado de Deus se chamar “Eu Sou”?

154
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

QUARTA CHAVE: ADORAÇÃO E JUÍZO

Enquanto a terceira chave representa o crescimento e o de-


senvolvimento do intercâmbio entre o céu e a ter­ra, a quarta é o
resultado desse contato vivo entre as duas dimensões. À medida
que entramos no Espírito e a comunicação entre o céu e a terra
se intensi­fica, duas coisas acontecem: o povo de Deus começa
a adorá-lo de maneira cada vez mais pura e intensa; e os anjos
de Deus são enviados para derrotar e aniquilar o mal e julgar os
pecadores na terra. O nível de adoração no Espírito determina o
nível de batalha e guerra espiritual contra as potestades e forças
espirituais. É impressionante notar como este tema é enfatizado
em todo o livro do Apocalipse.
“Exultem de glória os santos, no seu leito cantem de júbilo. Nos
seus lábios estejam os altos louvores de Deus, nas suas mãos, espada
de dois gumes...” (Sl 149.5-9). Cantar ou louvar nos leitos de-
monstra a total ausência de es­forço humano para adorar a Deus.
Ao mesmo tempo em que eles estão envolvidos nessa adoração
no Espírito, o poder do louvor está destruindo os inimigos de
Deus – pois é uma espada de dois gumes. Os demônios não
suportam os altos louvores de Deus. O louvor pode até expulsar
demônios, sem necessidade de oração ou ordenação específica
para sair. Deus usa aquilo que lhe é oferecido para seu prazer e en-
grandecimento como instrumento para destruir seus adversários.

SETE CENAS DE ADORAÇAO NO APOCALIPSE

Encontramos sete cenas de adoração no Apocalipse, e em


cada uma podemos constatar sua ligação com o juízo.
1ª CENA (Ap 4.8-11) e 2ª CENA (Ap 5.8-14)
As primei­ras duas cenas são interligadas. A maior diferen-
ça entre elas é que na primeira Jesus não está presente. Ele
155
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

só aparece na segunda cena e, a partir deste momento, passa


a haver outro nível de intensi­dade e majestade na adoração.
Talvez esta seja a maior cena de adoração em toda a Bíblia.
A primeira coisa que João viu quando abriu-se a
porta no céu (4.1) foram essas duas tremendas cenas de
adoração. E o que vem logo depois? A abertura dos selos
que representam uma síntese de todos os juízos de Deus.
Podemos notar muitas semelhanças entre os sete selos e
as profecias de Mateus 24.
Do sétimo selo saem as sete trombetas que trazem mais
detalhes dos juízos; de­p ois, vêm os sete trovões e as sete
taças que finalizam o processo do derramamento da ira
de Deus sobre a terra. Portanto, antes do início do juízo
divino no capítulo 6, temos dois capítulos inteiros com
as cenas mais completas e mais elevadas de adoração na
Bíblia. É a adoração que prepara a Igreja para exercer
esse juízo.
Deus vai encher seu povo de louvor para que entre na
dimensão do Espírito antes de julgar a terra; só assim
estarão aptos para exercer juízo sobre os inimigos. Deus
vai julgar Satanás e todo seu reino por meio dos louvores
do seu povo. Precisamos aprender a usar as armas da nos-
sa milícia que não são carnais, mas poderosas em Deus
para derrubar as forta­l ezas das trevas (2 Co 10.4,5). Por
intermédio da ação do espírito de revelação e da porta
aberta no céu, podemos contemplar e também entrar e
participar da adoração que acontece lá. O povo de Deus
é chamado para governar a terra pelo poder do Espírito;
isto não é só para o futuro, mas começa agora – ligando,
desligando, perdoando, curando e julgando (Mt 18.18;
Jo 20.23). Tudo isso, porém, só é possível pelo Espírito.

156
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

No versículo 8 do capítulo 5, as orações dos santos


são acumuladas em taças e apresentadas dian­t e de Deus
no trono. São elas que liberam os anjos para trazer juízo
sobre a terra. Precisamos de muito mais intensidade para
encher as taças diante de Deus e abrir o caminho para o
ministério dos anjos nestes últimos dias.

3ª CENA (Ap 7.9-12)


É outra cena de adoração que vem logo antes do juízo das
sete trombetas (8.1-6). Note novamente a im­portância das
orações dos santos que são oferecidas como incenso antes
do início do julgamento de Deus.

4ª CENA (Ap 11.15-19)


Esta cena é o clímax da pri­meira metade do Apocalipse –
e, num certo sentido, de toda a história. O reino de Deus vai
dominar sobre todas as coisas e vencer o reinado de Satanás
culminando no juízo final. Portanto, mais uma vez, vemos
essa alternância: uma cena de adoração diante do trono e
outra de juízo na terra; primeiro, uma porta aberta no céu
com anjos saindo e entrando, descendo e subindo, seguida
pela vinda de pragas e destruição sobre a terra. Depois, sur-
ge ainda outra cena de adoração, trazendo mais abertura e
desdobramento a todo o processo, até torná-lo pleno e final.
Os anjos atuam sobre a terra e diante do trono. A dis­
tância entre o céu e a terra não é tão grande como pen­samos!
É plenamente superada pela outra dimensão, a di­mensão
do Espírito. Fomos destinados a julgar os anjos e o mundo,
mas para isso precisamos ter pleno acesso a essa dimensão,
o que é possível se nos unirmos com Deus em adoração em
Espírito e em verdade. A chave do governo de Deus sobre
a terra é o nosso ministério diante do trono.

157
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

5ª CENA (Ap 14.1-3)


Você pode imaginar 144 mil vo­zes afinadas cantando um
novo cântico acompanhado por harpas? E o que vem logo de-
pois? Vários anúncios dos anjos sobre juízo na terra. Primeiro,
um “evangelho eterno” é anunciado a todas as nações (vv.6,7).
E qual o conteúdo deste evangelho? “... é chegada a hora do seu
juízo... adorai aquele que fez o céu...” Logo a seguir, vem o
anúncio do juízo de Deus sobre o sistema do mun­do, Babi-
lônia, e um aviso sobre o que acontecerá com aqueles que se
envolverem com o sistema, adorando a besta e recebendo o
seu sinal (vv.8-11).
Por que adoração é sempre seguida de juízo? Você acha que
os santos se alegram com o juízo? Não! Não querem julgar
ninguém, mas enquanto cumprem seu ministério de adoração,
Deus envia anjos para cumprir sua justiça sobre a terra. Nos­so
encargo é adorar a Deus, e o dos anjos é executar as ordens
dele. Não louvamos pensando em trazer juízo, mas na expec-
tativa de Deus realizar sua vontade na terra. E, à medida que
ele é exaltado como rei na terra, os juízos são necessários para
que seja entronizado e comece a reinar de fato. Os juízos são
consequência de Deus assumir o governo sobre a terra. Se ele é
rei, logo precisa julgar aqueles que estão usurpando seu lugar.
A nós, porém, cabe ministrar a Deus. A oração que Jesus
nos ensinou demonstra isto: “Venha o teu reino, faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Os anjos já
estão fazendo a vontade de Deus no céu; o problema é aqui
na terra. É necessária uma troca de funções: nós precisamos
parar de tentar trazer o reino de Deus para a terra por meio
de esforços humanos e entrar nos lugares ce­lestiais para ado-
rar a Deus como os anjos fazem. Dessa forma, os anjos serão
liberados para estabelecer a von­tade de Deus na terra como
ela é feita nos céus!
158
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Por essa razão, o intercâmbio entre os céus e a terra é tão


fundamental para aquilo que Deus quer fazer nos últimos
dias. Quando o povo de Deus cessa suas infindáveis ati­vidades,
tanto materiais como espirituais, e cultiva um ambiente de
adoração agradável a Deus, os anjos entram em ação e coisas
consideradas im­possíveis começam a acontecer. Pessoas são
libertas de problemas invencíveis, de doenças, de demônios;
há direção clara, li­beração e chamado para a obra e verdadeiras
conversões; até acontecimentos mundiais podem ser mudados.
Mas por que isto não está acontecendo agora? Porque é di­
fícil separar tempo para Deus! Não é fácil deixar nossas muitas
atividades diárias para simplesmente ministrar a Deus. Sabe
por quê? Porque fomos ensinados durante toda a nossa vida
que precisamos fazer algo para Deus – sempre temos tarefas,
obras, serviços para realizar. Por isso, Deus não encontra espaço
em nossa vida e ficamos amarrados – presos a tanta atividade
e não realizando o que é realmente importante. Quanto mais
ganhamos, mais gastamos; quanto mais corremos, me­nos
alcançamos; ganhamos muito dinheiro, mas o bolso parece
estar furado.
O motivo principal de Deus ter criado o homem é para
que este pudesse conhecê-lo, adorá-lo e caminhar com ele.
Isso implica em deci­sões radicais e dolorosas, muita oposição
e per­seguição por parte de nossos amigos e parentes e até mes-
mo de irmãos em Cristo. Por outro lado, coisas im­portantes
começarão a acontecer – sem qualquer ação da nossa parte.
Por quê? Porque quando deixamos de agir, Deus opera; porém,
enquanto tentamos fazer tudo, Deus tira férias e fica esperando.
Quando paramos e perguntamos a Deus: “O que o Senhor quer
de mim? O que quer falar comigo?”, inicia-se um proces­so vivo
de cooperação com Deus, possibilitando o seu agir.

159
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

6ª CENA (Ap 15.2-4)


O capítulo 16 fala das sete taças e das se­te últimas pragas
que trazem a consumação da ira de Deus (15.1). Mas o que
vem antes? Um capí­tulo todo de adoração. Assim como Deus
usou as cenas dos capítulos 4 e 5 para preparar a abertura dos
sete selos, a do capítulo 15 prepara para o derramamento das
sete taças no capítulo 16.

7ª CENA (Ap 19.1-7)


Esta é a cena dos quatro ale­luias. É o único lugar no Novo
Testamento em que a pa­lavra “aleluia” aparece (vv. 1,3,4,6).
“Aleluia. E a fumaça dela [Babilônia] sobe pe­los séculos dos
séculos” (v.3).
Depois dos quatro aleluias, a porta do céu se abre, não só
para per­mitir revelação, mas para o exército de Deus montado
em cavalos brancos sair e executar os juízos finais (v.11).
Os quatro aleluias abrem a porta para esta cena de juízo –
Jesus, à frente dos exércitos de Deus, ferindo as nações com a
espada que sai de sua bo­ca; no final, o anjo chama as aves do
céu para se ban­quetearem da carne daqueles que morreram na
grande batalha e no juízo de Cristo (vv.12-21).
No Velho Testamento, há um exemplo clássico de lou­vor e
juízo em 2 Crônicas 20.13-24: Jeosafá colo­cou os levitas para
entoar cânticos de louvor na frente do exér­cito equipado com
armas de guerra.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Quais os dois resultados do crescente intercâmbio


entre o céu e a terra?

160
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

2. Por que esta quarta chave é uma espada de dois


gumes?
3. Onde estão localizadas as sete cenas de adoração
no Apocalipse?
4. Qual a diferença entre as duas primeiras cenas?
5. O que vem logo depois destas duas cenas? O que
isto representa?
6. Por que antes do juízo Deus leva seu povo a um
nível mais alto de louvor e adoração?
7. Qual o chamado do povo de Deus? Quando e como
isto acontece?
8. Como os anjos são liberados para julgar a terra?
9. A terceira cena precede qual acontecimento no
Apocalipse?
10. Qual a importância da quarta cena?
11. Quais as duas cenas que aparecem várias vezes,
alternadamente, no livro do Apocalipse?
12. Que papel fomos destinados a cumprir e como isto
acontecerá?
13. Qual o conteúdo do “evangelho eterno” anunciado
na quinta cena?
14. O que vem depois disto?
15. Por que adoração é sempre seguida de juízo?
16. O juízo é uma consequência de quê?
17. Por que o intercâmbio entre o céu e a terra é tão
fundamental para a obra que Deus quer fazer
nestes dias?
18. O que nos impede de cultivar esse ambiente de
adoração?

161
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

19. Qual o propósito principal para o qual Deus nos


criou?
20. Quais serão as consequências de se praticar esse
propósito?
21. Que prática precisamos aprender para que essas
coisas comecem a acontecer?
22. O que vem depois da sexta cena de adoração?
23. Que nome podemos dar à sétima cena? Por quê?
24. Por que o segundo aleluia foi proferido? (v.3)
25. Explique como a porta aberta de Ap 19.11 é
diferente da porta aberta do capítulo 4.
26. O que os quatro aleluias produziram conforme
Ap 19 12-21?
27. Cite um exemplo de louvor e juízo no Velho
Testamento.

QUINTA CHAVE: OS VENCEDORES E A MULTIDÃO

As chaves ou princípios estudados aqui não são encontrados


apenas no livro do Apocalipse, mas em toda a Bíblia. Nada
mais apropriado, portanto, do que encontrá-los no li­vro da
consumação de toda a Palavra de Deus.
No fim de cada uma das sete cartas, há uma adver­tência para
ouvir o que o Espírito diz às igrejas e uma bem-aventurança
para o vencedor. Ligando esses dois fatores, podemos dizer
que vencedor não é aquele que tem muita força de vontade,
coragem ou es­forço natural; é aquele que ouve a voz do Espírito.
É por isso que é tão importante atentarmos ao que Deus está
falando com a igreja hoje, pois só assim seremos vencedores.
Vejamos, a seguir, as promessas que foram dadas aos ven-
cedores em cada uma das sete igrejas:
162
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

“Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que


se encontra no paraíso de Deus” (Ap 2.7). É a bem-aventurança
mais simples e mais clara: Jesus é a árvore da vida; essa árvore
e o paraí­so ainda existem, e participaremos deles se vencermos.
“O vencedor, de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte”
(Ap 2.11). O vencedor tem garantia absoluta. Quem nasce
uma vez, morre duas (morte natural e espiritual); mas quem
nasce duas vezes, morre só uma (morte natural).
“Ao vencedor, dar-lhe-ei... uma pedrinha branca e sobre essa
pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto
aquele que o recebe” (Ap 2.17). O nome especial fala de um
relacionamento pessoal e íntimo com nosso Deus. O fato de
ter um nome secreto expressa nossa identidade eterna, tendo
como ba­se a medida da transformação à imagem de Cris­to. Por
isso, não devemos perder as oportunidades que temos a cada
dia de ser transformados e ga­nhar esse novo nome, enquanto
ainda é possível.
“Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe
darei autoridade sobre as nações” (Ap 2.26-29). Quem é vence-
dor? Aquele que guarda as obras de Jesus até o fim. O prêmio
é reinar com Jesus, participando do governo de Deus.
“O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de
modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida” (Ap 3.5,6).
O vencedor não terá seu nome riscado do livro da vida – está
totalmente fora de perigo.
“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí
jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o
nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém..., e o meu novo
nome” (Ap 3.12,13). O vencedor será uma coluna na casa de
Deus e terá vários nomes escritos nele: o nome de Deus, da
cidade de Deus e de Jesus.

163
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

“Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim


como também eu venci, e me sentei com meu Pai no seu trono”
(Ap 3.21,22). O fim é reinar com Jesus. O caminho para o
trono é vencer, e a chave para vencer é ouvir o que o Espírito
está dizendo às igrejas.
O nome vencedor pode implicar que há outros no meio
da Igreja que não ven­cem. Entretanto, as mensagens às sete
igrejas dão a ideia de que os vencedores são, de fato, os únicos
verdadeiros discípulos de Jesus. Os prêmios destinados a eles
são para todos os salvos: árvore da vida, vida eterna, garantia
de não sofrer o dano da segunda morte e assim por diante. Se
perseverar e conservar o que tem torna a pessoa vencedora, o
que acontece com quem não persevera? Veja as palavras de Jesus
em Mateus 24.13: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse
será salvo”, e em Apocalipse 21.6-8: “O vencedor herdará estas
coisas” (o direito de beber de graça da água da vida). A impli-
cação é que quem não perseverar e não vencer não será salvo,
não comerá da árvore da vida, sofrerá o dano da segunda morte
e estará entre os covardes, incrédulos, impuros e mentirosos
citados em Apocalipse 21.8.
Algumas das sete igrejas tinham problemas muito sérios no
meio delas: doutrinas erradas, práticas abomináveis, misturas
impuras. Os vencedores são aqueles que não se contaminam,
mas perseveram e mantêm a fé e a fidelidade. O que acontece
com os demais? A Bíblia não diz. Nos evangelhos e nas epísto-
las, há sempre um chamado para seguir Jesus até o final, cem
por cento. Não encontramos uma provisão divina para quem
quer fazer parte da Igreja e herdar a vida eterna – mas sem
pagar o preço ou ser um verdadeiro discípulo.
Assim como aquelas igrejas da Ásia, hoje temos muitos
problemas de contaminação, heresias e misturas. Qual é a
solução? Ouvir a voz do Espírito e vencer essas coisas, para
164
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

estar preparados para os grandes desafios do fim. Em outras


palavras, embora as igrejas do Apocalipse incluíssem – e as
de hoje ainda tenham – uma mistura de vencedores, cristãos
mornos e pessoas que nem são convertidas, nos dias finais só
vão permanecer na fé aqueles que realmente são vencedores!
Embora todos tenham de ser vencedores, vemos no Apoca-
lipse dois grupos distintos, apresentados inicialmente no capí-
tulo 7, e que aparecem várias vezes depois. O primeiro grupo
é relativamente pequeno e tem um número definido. São 144
mil pessoas, sendo 12 mil de cada tribo de Israel (Ap 7.4-8).
Alguns pensam que esse número é literal e que se refere a um
grupo composto realmente de judeus, cumprindo a profecia
de Paulo em Romanos 11 de que Israel natural voltará a fazer
parte do plano de Deus no final dos tempos. Entretanto, pode-
mos também entender que se trata de um número simbólico,
representando um grupo específico e limitado de pessoas que
vieram de todas as tribos, correntes, ênfases e movimentos da
Igreja em toda parte.
Esse grupo de 144 mil tinha de ser selado nas frontes antes
que o juízo das sete trombetas pudesse ser liberado sobre a
terra: “Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores
até selarmos em suas frontes os servos do nosso Deus” (Ap 7.1-3).
A fronte representa a mente. Ter o selo de Deus é ser transfor-
mado pelo Espírito de Cristo na mente, a fim de poder passar
pela tribula­ção sem ser danificado, ou seja, sem ser enganado
pelo anticristo ou morto antes de cumprir sua missão. Os anjos
não permitem que destruição e juízo venham sobre a terra até
que os servos de Deus sejam selados.
O mesmo grupo aparece novamente no capítulo 14: “En-
toavam um novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres
viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão
os 144 mil que foram comprados da terra. São estes os que não se
165
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores


do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos
dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; e não
se achou mentira na sua boca; não têm mácula” (Ap 14.1-5).
Eles cantam um cântico que ninguém mais sabe cantar nem
consegue aprender. Há experiências com Deus no Espírito
que são impossíveis de serem compartilhadas com quem não
as experimentou. Quem não passou pelos mesmos desafios e
os venceu não poderá cantar junto com eles.
O fato de não se macularem com mulheres não significa que
nunca se casaram (muito menos que são apenas homens!). A
contaminação com mulheres refere-se aqui a sistemas religiosos,
a organizações ou instituições que impeçam as pessoas de ter
uma lealdade pura a Jesus. São pessoas castas no sentido espi-
ritual; querem se casar somente com Cristo. Estão dispostas a
seguir o Cordeiro por onde quer que vá, não importa o custo.
Nem sempre estamos dispostos a fazer isso, porque às vezes ele
vai a lugares difíceis que implicam em renúncia e perseguição.
Essa passagem traz outra característica deste grupo: são os
que foram redimidos como primícias, os primeiros frutos da
terra para Deus e para o Cordeiro. Não se acomodaram em
ser meramente cristãos; quiseram ir atrás do alvo (Fp 3.12-
14), a suprema vocação, a transformação total à imagem de
Cristo, à plena conformidade com ele em sua morte. Porém,
não alcançaram isso por esforço ou capacidade humana, mas
por ouvir a voz do Espírito.
O segundo grupo é bem diferente: “Depois destas coisas vi,
e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e do Cor-
deiro... São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas
vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.9-17).

166
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Ao contrário do primeiro grupo, essa é uma multidão que


ninguém pode contar. Passaram pela tribulação (v.14), aparen-
temente não foram selados antes, e vieram de toda tribo, língua,
povo e nação – não só de Israel. São um grupo bem especial
também, porque estão com vestiduras brancas e se encontram
diante do próprio trono de Deus, servindo de dia e de noite no
seu santuário. O próprio Cordeiro faz questão de apascentá-los
e de enxugar todas as suas lágrimas. São aqueles que deram a
própria vida para não serem infiéis a Jesus durante a tribulação.
Esse grupo é mencionado várias vezes no restante do livro
do Apocalipse: os santos que são atacados pela besta (13.7,8);
aqueles que perseveram e são fiéis durante os acontecimentos
finais, e que fazem parte de uma grande colheita final (14.12-
16); aqueles que venceram a besta e sua imagem, cantando o
cântico de Moisés e do Cordeiro (15.2-4); a grande multidão
em adoração nas bodas do Cordeiro (19.1-9); e aqueles que
vão reinar como sacerdotes durante os mil anos por terem sido
fiéis testemunhas durante a tribulação (20.4-6).
Qual seria, então, a diferença entre os dois grupos? Por que
existe um grupo menor, mais restrito, das doze tribos, selado
antes da tribulação, que tem um cântico que ninguém mais
consegue aprender e outro incontável, de todas as nações, que
canta uma letra que todos podem aprender, que sofre martírio
durante a tribulação, e se apresenta diante do trono em vesti-
duras brancas com palmas nas mãos?
Mais uma vez, queremos reconhecer que há várias inter-
pretações possíveis. Uma é que o primeiro grupo representa o
remanescente redimido de Israel natural, enquanto o segundo
é formado daqueles que saíram de todas as raças, tribos, povos
e nações, ou seja, a igreja internacional. Não representam dois
povos, dois planos distintos de Deus. As revelações de Paulo
sobre o mistério de gentios e judeus formarem juntos um novo
167
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

homem, o mesmo corpo (Ef 2.15; 3.4-6) não combinam com


a perspectiva dispensacionalista (que separa Israel da Igreja,
afirmando que os judeus ficarão na Terra para estabelecer o
Reino aqui enquanto os redimidos das nações são arrebatados
para o céu). De acordo com Romanos 11, os gentios foram
enxertados na mesma oliveira e agora têm a mesma raiz que o
povo de Israel: Abraão. Continuam tendo papéis diferentes,
mas contribuem para o mesmo propósito divino e, no final,
se unirão para formar um só Reino.
Uma segunda possibilidade é que o primeiro grupo repre-
senta os vencedores que são selados e protegidos aqui na terra
durante a tribulação, ao passo que o segundo são aqueles que
não se prepararam antes, não passaram pelo fogo interior do
Espírito e precisam, por isso, enfrentar a perseguição durante
a tribulação. Podem vencer também se não negarem a fé e
forem martirizados.
A terceira forma de ver os dois grupos é que Deus usa o
primeiro como uma espécie de vanguarda para abrir o cami-
nho em favor da Igreja toda (o segundo grupo). Existem várias
sombras ou figuras desse princípio no Antigo Testamento: Josué
e Calebe que espiaram a terra e se mantiveram firmes para que
toda a nação pudesse entrar posteriormente (Nm 13-14); os
sacerdotes que ficaram em pé no leito do Jordão, segurando a
arca, para que toda a nação de Israel pudesse passar (Js 3.11-17);
os 300 de Gideão que enfrentaram o exército dos midianitas
para alcançar uma vitória em favor de todo o Israel (Jz 7-8).
No livro do Apocalipse vemos esse princípio também nos
seguintes contextos:
As duas testemunhas do capítulo 11. Essas duas testemu-
nhas representam uma companhia que profetizará a muitos
povos, nações, línguas e reis no final dos tempos (Ap 10.11).

168
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

São como as duas oliveiras de Zacarias 4, que fornecem azeite


para o candelabro, a igreja. Neste sentido, elas sustentam e
dão vida e unção para o restante da igreja. Ninguém conse-
gue colocar a mão nelas antes da hora (o que pode explicar o
sentido dos 144 mil serem selados antes da tribulação), para
que consigam terminar sua missão (Ap 11.5). No final do tes-
temunho, porém, são mortas pela besta (v.7). Assim, passam
pelo martírio da mesma forma que os demais.
O filho varão do capítulo 12. Nessa visão, a mulher vestida
do sol, representando a Igreja gloriosa, dá à luz um filho varão,
que é arrebatado ao céu, luta contra Satanás e suas forças, e
alcança uma vitória em favor de toda a Igreja. O filho varão,
mais uma vez, representaria o mesmo grupo de primícias que
trava uma terrível guerra espiritual (arrebatamento no Espírito,
não no corpo físico) e libera toda a Igreja para vencer o inimigo
(Ap 12.10-12). Como consequência, toda a grande multidão
vence o inimigo, usando o sangue do Cordeiro, a palavra do
testemunho e o fato de não amarem suas vidas até a morte. No
entanto, provavelmente não teriam essa força se não fosse pela
ação e pelo testemunho do filho varão ou das duas testemunhas.
Os 144 mil do capítulo 14. Depois de descrever esse grupo
que canta um novo cântico, que não se macula com mulhe-
res e que segue o Cordeiro por onde quer que vá, o capítulo
conta como Babilônia caiu, como houve uma grande colheita
ao ser anunciado o evangelho eterno e como o lagar da ira
de Deus foi pisado na terra. Subentende-se que tudo isso é
consequência da posição celestial alcançada pelos 144 mil.
Em outras palavras, a grande multidão da segunda metade de
Apocalipse 7 pode ser fruto, pelo menos em parte, da grande
colheita trazida pelos 144 mil.
No final, em Apocalipse 19 e 20, não se vê mais distinção
entre os dois grupos; formam uma só Noiva, uma grande
169
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

multidão, participando das bodas do Cordeiro e reinando com


ele como sacerdotes durante o milênio.
Durante o ministério de Jesus na terra, também podemos
observar dois grupos distintos: os discípulos e as multidões.
Vejamos alguns exemplos, a seguir.
“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assen-
tasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-
-los, dizendo: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque
deles é o reino dos céus” (Mt 5.1-3). Jesus curava as multidões,
mas não tinha condições de discipular a todos que faziam
parte delas. Em parte, pelo número de pessoas e, em parte,
porque nem todas haviam tomado uma decisão nesse sen-
tido. Ele investiu grande parte do seu tempo com o grupo
menor de doze discípulos, treinando-os e capacitando-os
para servir às multidões depois que ele partisse. Jesus tinha
compaixão pelas multidões e queria alcançá-las, mas sabia
que a melhor forma de fazer isso era investindo sua vida
num pequeno grupo que seria o instrumento para alcançar
a grande multidão depois.
Inicialmente, o objetivo da multidão é receber bênçãos,
curas, provisão sobrenatural; o dis­cípulo, porém, deseja se
aproximar, compreender, ser participante. Se entendermos
essa visão, nossa vida pode ser transformada. O discípulo é
aquele que segue Jesus, que deseja ser instruído e discipli-
nado na prática diária, para ser participante dos propósitos
de Deus e pertencer ao seu exército.
Jesus falava com as multidões em parábolas, que eram
histórias para ilustrar verdades escondidas; aos discípulos,
entretanto, ele falava claramente para que en­tendessem
os mistérios de Deus. A multidão não entendia, pois seu
coração não estava aberto ainda para ouvir. Se tivessem

170
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

acesso aos mistérios de Deus, eles os usariam mal, visando


seu próprio proveito (Mt 13.1-3, 9-12).
Deus quer discípulos em primeiro lugar. Ele não quer pes-
soas que apenas acompanhem a massa e sejam mais uma na
multidão. O que ele quer são pessoas que saibam o que estão
fazendo e para onde vão e que o sigam com firmeza, sem serem
influenciadas pelos outros. Esse é o tipo de pessoas que ele
procura para serem instrumentos em favor de muitos outros.
“Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes
disse: Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e
mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida,
não pode ser meu discípulo. Assim, pois, todo aquele que dentre
vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”
(Lc 14.25,26,33). É possível participar da multidão e crer em
Jesus sem experimentar renúncia; porém, tal pes­soa não é um
discípulo. Não é uma questão de ser dife­rente para sobressair,
mas de seguir a Jesus e fazer sua vontade, custe o que custar. No
entanto, só pela graça de Jesus em nós é que podemos deixar
tudo, pois não temos tal espírito de renúncia em nós mesmos;
é somente pela fé nele que venceremos (1 Jo 5.4,5).
A multidão diz “Senhor, Senhor!”; o discí­pulo, porém, faz a
vontade de Deus (Mt 7.21). É como na parábola dos dois filhos
em Mateus 21.28-31: um falou que ia e não foi; o outro disse
que não ia, mas depois se arrependeu e, pela graça de Deus,
foi. Deus se agrada de sinceridade e ar­rependimento, e daquele
que realmente faz a sua vontade.
Na parábola das dez virgens, cinco eram vencedoras, en-
quanto as outras cinco faziam parte da multidão – apesar de
um dia terem crido, não continuaram andando com Deus e
nem se prepararam (Mt 25.1-13). O azeite representa o Espírito
Santo que todas tinham recebido; de nada adianta, porém, ser

171
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

batizado no Espírito e falar em línguas se não fizer a vontade de


Deus. No fim, ele afirmou que nem conhecia as virgens néscias,
cujo azeite acabou (v.12). Não é suficiente simplesmente ter
uma experiência inicial e passar a fazer parte de uma igreja.
A parábola das bodas em Mateus 22.1-14 também mostra
o mesmo perigo. Pelo costume da época, havia um guarda-
-roupa cheio de vestes nupciais para serem emprestadas aos
convidados à medida que chegavam à festa. Porém, uma pessoa
entrou, desprezou a veste que lhe ofereceram e chegou à festa
sem preparação, sem se importar com a vontade de Deus. Essa
pessoa repre­senta o crente que tem toda a graça de Deus à sua
dis­posição para se tornar um vencedor, mas está acomodado
e passivo e não se interessa em estar preparado para as bodas
de Jesus. No fim, ele foi lançado fora da festa.
Que conclusões podemos tirar desses dois grupos nos
evangelhos? Em primeiro lugar, que Deus ama as multidões e
deseja alcançá-las. Ele enviou Jesus ao mundo por causa delas!
Em segundo lugar, que os discípulos, como grupo menor
e mais restrito, existem para serem treinados e preparados
como instrumento de Deus para alcançar as multidões. Eles
não existem como grupo elite ou superior, cujo desejo é apenas
servir a si mesmos.
Em terceiro lugar, que há um chamado em todas as épocas
e gerações para nos tornarmos discípulos. Esse é um grupo
que é inicialmente menor, mas apenas para que se torne um
fator de multiplicação. Jesus investia seu tempo de qualidade
e intensidade com os discípulos, mas estava sempre se dirigin-
do às multidões. Mesmo em Lucas 14.25, quando proferiu o
chamado para deixar tudo e segui-lo, o convite foi feito para
as multidões. No final, o grupo de discípulos se transformará
numa multidão incontável. Como Paulo expressou em sua

172
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

carta aos coríntios: “Não sabeis vós que os que correm no estádio,
todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de
tal maneira que o alcanceis” (1 Co 9.24). Todos podem correr,
mas devem correr para ganhar o prêmio, para alcançar o alvo.
Na prática, durante quase toda a História e até hoje, sabemos
que o grupo de discípulos não tem se multiplicado dessa forma.
O que Jesus queria é que o pequeno núcleo de seguidores con-
tagiasse muitos no meio da multidão a se tornarem discípulos
radicais também. Entretanto, o que temos visto, quase sempre,
é um pequeno grupo de pessoas fiéis e dedicadas, por um lado,
e uma multidão (dentro da própria igreja), por outro, que se
posiciona ao lado de Jesus, porém sem segui-lo inteiramente.
Isso pode acontecer por vários motivos: por não terem ouvido
uma palavra completa ou genuína, por não terem correspon-
dido devidamente, por influência de prazeres e enganos do
mundo e outros. Não podemos dizer que não são pessoas
convertidas, nascidas de novo; ao mesmo tempo, não podem
ser consideradas discípulas, vencedoras. São a semente que
caiu entre os espinhos (Mt 13.22), em perigo de ser sufocada,
ou a construção de madeira, feno e palha que será totalmente
queimada no dia do juízo, permanecendo apenas o fundamento
que é Jesus – salvos “através do fogo” (1 Co 3.12-15). Embora
o objetivo de Deus é que todos sejam vencedores, isso ainda
não está acontecendo. O grupo que “segue o Cordeiro por
onde quer que vá” ainda é pequeno e muito restrito.
Em quarto lugar, que essa posição intermediária de ser um
crente, porém não um verdadeiro discípulo, é uma posição
perigosa, sem qualquer fundamento bíblico. Embora existam
muitas pessoas que caberiam nessa classificação hoje, o cha-
mado de Deus é para ser quente ou frio, para buscar azeite
enquanto se pode achar, para se vestir com a veste nupcial
que Jesus nos oferece, a fim de estarmos preparados para os
173
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

grandes desafios dos últimos dias. Diante da grande oposição


e perseguição nesse período, não será possível manter uma
posição de crente “morno”.
Em último lugar, que Deus vai usar os discípulos no tempo
do fim para testemunhar igualmente aos crentes mornos e não
convertidos, e chamá-los para uma verdadeira decisão ao lado
de Jesus. Assim, haverá uma grande colheita e uma grande
multidão de vencedores que passará pela tribulação e honrará
o nome de Jesus diante da besta e de toda a oposição satânica.
Todos lavarão as vestes juntos e formarão a imensa multidão
vitoriosa diante do trono de Deus.
“Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele
os mil anos” (Ap 20.6). Esse versículo nos mostra que haverá
duas ressurreições: uma no início do milênio e outra no fim
(Ap 20.11-15). Todos aqueles que venceram (dos dois grupos
de Apocalipse 7) participarão da primeira, enquanto todo o
restante da humanidade ficará para a segunda. Muitos salvos
também ficarão para a segunda ressurreição, pois o livro da vida
é aberto (v.12), mas só quem participar da primei­ra ressurrei-
ção terá o privilégio de reinar com Cristo durante o milênio.
Se Paulo se esforçava ao máximo para alcançar a ressurreição
dentre os mortos (Fp 3.11), podemos concluir que esse prêmio
não é para todos. A grande multidão de pessoas salvas durante
toda a História que nem ouviu falar do caminho mais elevado
ou que não correspondeu inteiramente ao chamado de Deus
neste sentido provavelmente ficará para a segunda ressurreição.
(Se quiser estudar mais sobre as duas ressurreições e o milênio,
leia a apostila Visão Profé­tica.)
É possível alguém conscientemente se contentar em fazer
parte dos remidos, em receber o perdão dos pecados, e não se
174
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

importar em estar preparado para a festa das bodas do Cordei-


ro? É possível não fazer parte da primeira ressurreição e “deixar”
para a segunda? Não temos nenhuma base bíblica para fazer
tal escolha. Tudo o que temos são advertências e avisos sérios.
Quem deixar para comprar azeite depois pode não encontrar.
O morno será vomitado da boca de Deus. Quem aparecer na
festa sem veste nupcial pode ter uma surpresa desagradável.
Hoje, ainda há muita mistura na igreja. A mensagem para
nós é a mesma que João recebeu há tanto tempo: “Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Podemos
aprender a colocar o reino de Deus em primeiro lugar em
nossa vida e a buscar um coração reto e totalmente dedicado.
Podemos atender ao chamado agora, enquanto há tempo, e
permitir que o fogo do Espírito nos purifique, selando nossas
frontes e preparando-nos para o fogo exterior que todos terão
de enfrentar no tempo do fim. Isso poderá ser importante, não
só para nós mesmos, mas para muitos outros que receberão
vida e graça por nosso intermédio!

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Por que é apropriado encontrar essas chaves ou


princípios no livro do Apocalipse?
2. O que encontramos no final de cada uma das cartas
às sete igrejas?
3. O que é um vencedor e como se pode tornar um?
4. Quais são algumas das bem-aventuranças dadas
aos vencedores?
5. Quais são os dois tipos de morte e a qual delas
Apocalipse 2.10 está se referindo?

175
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

6. O que significa o “novo nome” e como podemos


obtê-lo?
7. Qual o prêmio prometido ao vencedor de
Apocalipse 2.26-29?
8. Se existem vencedores nas igrejas, o que acontece
com aqueles que não vencem?
9. O que acontecerá com toda a mistura que ainda
tem na Igreja hoje?
10. O que significa ter o selo de Deus na fronte?
11. Quais são os dois grupos de Apocalipse 7?
12. Quais são as duas interpretações possíveis a
respeito de quem são os 144 mil?
13. O que significa o novo cântico dos 144 mil?
14. O que significa não se macular com mulheres?
15. O que significa a característica de serem primícias
para Deus?
16. Que contraste vemos em Apocalipse 7?
17. De onde procede essa multidão?
18. Por que não podemos dizer que essa multidão é um
grupo de segunda classe no plano de Deus?
19. Onde mais no livro do Apocalipse podemos
identificar essa mesma multidão?
20. Quais são as três formas de interpretar a diferença
entre os dois grupos de Apocalipse 7?
21. Dê alguns exemplos no Velho Testamento da
relação entre o grupo menor de primícias e o grupo
maior de toda a Igreja?
22. Como os judeus e gentios se relacionam no final do
plano de Deus?
23. Quais são os três contextos no livro do Apocalipse

176
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

em que um grupo menor abre o caminho para o


grupo maior?
24. Qual é a diferença entre a proteção dos dois grupos
durante a tribulação? E no final?
25. Qual a relação entre o filho varão e a vitória que a
Igreja alcança durante a tribulação?
26. Qual a chave para a grande colheita que haverá
no fim dos tempos?
27. O que acontece com os dois grupos no final?
28. Por que Jesus não dedicava mais tempo às
multidões?
29. Qual é a diferença de interesse do discípulo e da
multidão?
30. Por que Jesus falava às multidões por parábolas?
31. Que tipo de pessoa Deus quer usar na sua obra?
32. Como podemos ser discípulos que renunciam tudo
para seguir a Jesus?
33. De acordo com Mateus 7.21 qual é a diferença
entre o discípulo e a multidão?
34. Por que cinco das dez virgens não tinham azeite?
Que perigo isso representa para nós?
35. Que tipo de pessoa o homem que entrou na festa
das bodas sem veste nupcial representa?
36. A multidão durante o ministério de Jesus é a
mesma multidão de Apocalipse 7? Explique.
37. Quais são as cinco conclusões que podemos tirar do
contraste entre discípulos e multidão?
38. Para qual propósito os discípulos são chamados?
39. Existe alguma base bíblica para a posição
intermediária ou morna de um crente que não é
discípulo?
177
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

40. Quantas ressurreições haverá? Quem ressuscitará


em cada uma?
41. Quem vai reinar com Cristo no milênio?
42. Como você aconselharia alguém que se contenta
em ser um crente morno e não se prepara para a
primeira ressurreição?
43. Você tem alguma ideia sobre o que o Espírito pode
querer dizer às igrejas hoje sobre essa questão de
mistura?

SEXTA CHAVE: O CONFLITO ENTRE O BEM E O MAL

Este é um dos grandes temas de toda a Bíblia. Há dois rei-


nos que estão em constante guerra desde o início – o reino das
trevas e o reino da luz. O clímax deste conflito é en­contrado
no Apocalipse.
“... e também a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore
do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2.9). As duas árvores
representam os dois reinos. Estão presentes desde o início, e o
homem precisa esco­lher entre elas.
“... De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em
que comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17). Morte e vida – o
homem tem que optar por uma ou outra. A escolha não é entre
o bem e o mal em si, mas entre a morte e a vida, pois somente
através da vida de Deus é que podemos alcançar o bem. Se ten­
tarmos fazer o bem com nossas forças, terminaremos com morte.
A solução para o conflito entre o bem e o mal é vida e não tentar
vencer o pecado com a capacidade humana de praticar o bem.
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos
que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus
178
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1). Agora,


outra personagem entra na cena do conflito. Desde o início da
História, a serpente tenta lan­çar dúvida no coração da mulher e
contestar a palavra de Deus. A guerra é entre Deus e Satanás, e
o campo de batalha é o homem. Deus apresenta vida, e Satanás,
conhe­cimento. Deus ordena claramente para não comer da
árvore do conhecimento e promete morte como consequên­
cia da desobediência; Satanás, porém, vem com raciocínios e
in­sinuações, e desenvolve cobiça e concupiscência na mu­lher.
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendên-
cia e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar” (Gn 3.15-16). Deus disse que haveria guerra
entre o descendente da mulher (Jesus) e a serpente; esta
feriria seu calcanhar (a morte de Cristo), mas ele lhe feriria
a cabeça (a morte e ressurreição de Cristo, que derrotaram
para sempre o poder de Satanás). Bem no iní­cio do conflito,
Deus já predisse o resultado. Deus que­ria que o homem
cumprisse seu plano, mas Satanás queria que o homem
se rebelasse contra Deus, assim como ele já fizera. Satanás
ganhou a primeira jogada, porém Deus vai ganhar a última!
Assim como o pecado entrou no mundo por meio de
uma mulher, a vitória também virá através de uma mu-
lher! Ela é a Igreja gloriosa dos últimos dias, vestida do sol
(Jesus), e tendo a lua (luz refletida de conhecimento sem
vida) debaixo dos pés (Ap 12). Ela dará à luz os profetas, o
filho varão. Em seguida, se travará a última batalha entre o
bem e o mal, entre Satanás e essa companhia guerreira. A
vitória será alcançada nos lugares celestiais, mas continuará
na terra durante a tribulação. Essa guerra começou no jar-
dim do Éden (note que o dragão do versículo 3 é a “antiga
serpente” do versículo 9), e será consumada nesta última
batalha (vv.10-12).
179
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

O filho varão será arrebatado para uma posição es­piritual,


no céu, onde se desencadeará esta guerra entre Miguel e seus
anjos contra Satanás e seus anjos. Os vencedores, os discípu-
los de Jesus, não guerrearão contra Satanás com suas próprias
forças, mas vencerão pela fé em Jesus, e porque colocaram o
reino de Deus acima de suas próprias vidas (v.11). Por causa
desta posição e da palavra do seu testemunho, os anjos serão
libera­dos para guerrear e vencer Satanás. Ele será atirado para
a terra, e sua queda produzirá grande tri­bulação.
Apesar de não estudar o assunto em detalhes aqui, devemos
ressaltar que essa passagem descreve três com­panhias distintas:
1) a Igreja apostólica, aperfeiçoada e gloriosa (Ap 12.1-2);
2) uma companhia menor de vanguarda que obtém a po-
sição de vitó­ria e autoridade nos lugares celestiais, o filho
varão (vv.4-9);
3) e os outros descendentes da mulher (v.17) que têm o tes-
temunho de Jesus, mas se encontram ao alcance do dragão,
talvez por ainda estarem no sistema econômico ou religioso
e não terem saído para o deserto.
Precisamos buscar nestes dias a restauração da pa­lavra de
Deus para que uma Igreja gloriosa seja levan­tada a fim de dar
à luz o filho varão. É esse grupo de “filhos amadurecidos”,
semelhantes a Jesus, que alimentará a Igreja no deserto, pro-
fetizará juízo sobre o mundo e vencerá as forças espirituais do
mal nos lugares celestiais.
Guerra não é um assunto agradável, porém precisamos
enfrentá-la na prática. Nossos inimigos são reais. Davi fa-
lava muito sobre isso. Há mais de cem menções da palavra
“inimigo” ou “inimigos” nos Salmos. É necessário entender
esta chave para compreender a Bíblia, a História e também a
nossa pró­pria vida. O reino de Deus não virá gradativamente
180
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

sobre a terra por meio de avivamentos e do crescimento


progressivo da Igreja. Ao pensarmos que a vida cristã con-
siste em prosperidade, conforto, fartura e popularidade,
demonstramos que não es­tamos entendendo nem o beabá
da Bíblia (Lc 6.20-26).
Existem dois sistemas que desde o início travam uma luta
tremen­da, cujo clímax ocorrerá no tempo do fim. A situação
no mun­do não vai melhorar. O ódio entre os dois partidos
aumentará cada vez mais e, se quisermos vencer, devemos
es­perar, desde já, perseguição, tribulação e forte oposi­ção.
Podemos, entretanto, ter em mente a forte consola­ção de já
conhecer o resultado deste conflito – Jesus já conquistou a
vitória e ela será manifesta na terra.
Em toda a Bíblia e no final do Apocalipse, há duas cidades
que representam esse conflito – “Babilônia”, a cidade do
homem, e Jerusalém, a cidade de Deus.
Em Apocalipse 17, João vê uma mulher, bem diferente
daquela que representa a Igreja gloriosa no capítulo 12: é uma
meretriz sentada sobre muitas águas (muitos povos), em cuja
fronte estava escrito “Babilônia”. A mulher representa a igreja,
só que nesse caso é a igreja falsa, que se alia, de forma promís-
cua, com o governo secular e o sistema do mundo, a fim de
ganhar lucro ou vantagens. Ela foi responsável pelo martírio
de muitos milhares de verdadeiros cristãos (Ap 17.1-6).
O capítulo 18 mostra o juízo de Deus so­bre a Babilônia,
que inclui não apenas o sistema religioso, mas o político e o
econômico também. O capítulo 19 descreve a reação do povo
de Deus diante da queda desse império falso, completamente
diferente da reação dos que depositavam toda sua esperança
no sistema (Ap 18.9-11,15-20). Uns dirão “Ai!”, e outros,
“Aleluia!” (Ap 19.1-3).

181
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

Em Apocalipse 21.1-8, vemos o fim da História: Babilônia


foi jul­gada, e a Nova Jerusalém desceu dos lugares celestiais
para governar a terra para Deus. Essa é a consumação do
gran­de conflito entre o bem e o mal.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Qual é um dos grandes temas da Bíblia, cujo


clímax se encontra no Apocalipse?
2. Quais são os dois reinos representados pelas duas
árvores de Gênesis?
3. Qual é a verdadeira escolha colocada diante do
homem desde o princípio e como podemos vencer o
conflito que ela representa?
4. Descreva a guerra entre Deus e Satanás no campo
de batalha do coração do homem.
5. Em que sentido podemos dizer que o pecado veio
por uma mulher e a vitória virá por outra?
6. Quem são os dois filhos que nascem de mulheres e
que são a chave da vitória sobre Satanás?
7. O que acontecerá com o filho varão depois que
nasce?
8. Como os anjos serão liberados para guerrear contra
Satanás?
9. O que acontece quando Satanás é lançado fora do
céu?
10. Quais as três companhias distintas descritas em
Apocalipse 12.1-17?
11. Por que precisa haver uma Igreja gloriosa? E o
que precisa acontecer para restaurá-la?
12. Por que podemos dizer que o reino de Deus não

182
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

virá sem guerra?


13. Qual é a nossa consolação diante da guerra que
virá?
14. Quais as duas cidades que representam o conflito
entre o bem e o mal?
15. O que a prostituta de Apocalipse 17.1 representa?
E as muitas águas?
16. Sobre qual cidade virá o juízo de Deus no capítulo
18, e quais os sistemas incluídos nela?
17. Quais as duas reações diante da queda de
Babilônia?
18. Como será o final da história do conflito entre o
bem e o mal?

SÉTIMA CHAVE: A CONSUMAÇÃO

A consumação de todo o plano de Deus é encontrada no


Apocalipse, assim como o princípio de tudo está no livro de
Gênesis.
Tudo o que foi semeado em Gênesis e desenvolvido através
de todas as Escrituras é colhido no Apocalipse. Este sétimo
princípio é muito importante porque mostra a unidade da
Palavra de Deus. A Bíblia não é apenas uma biblioteca inte-
ressante ou uma coleção de histórias ou ideias diferentes, mas
é acima de tudo uma expressão do Verbo único de Deus.
Deus tem um pensamento, uma palavra; mas assim como
a luz branca é refratada formando o arco-íris de muitas cores,
o logos de Deus também se revela de muitas maneiras. Só re-
cebemos vida quando entramos em contato com essa essência
do verbo que está presente em todos os livros da Bíblia.

183
NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

GÊNESIS APOCALIPSE
CRIAÇÃO - GN 1.1 NOVA CRIAÇÃO - NOVOS CÉUS
E NOVA TERRA - AP 21.1
LUZ E TREVAS - GN 1.3-5 A CIDADE TEM LUZ, MAS NÃO
TEM TREVAS - AP 21.23-25
O MAR - GN 1.10 O FIM DO MAR - AP 21.1
JARDIM COM ÁRVORE DA VIDA REAPARECIMENTO DA ÁRVO-
E ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO RE DA VIDA, MAS JÁ NÃO HÁ A
BEM E DO MAL - GN 2.9 ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO
BEM E DO MAL. NÃO HÁ MAIS
CONFLITO. A LEI DO ESPÍRITO
VENCEU - AP 22.2
MORTE - GN 2.17; 3.19 DESTRUIÇÃO DA MORTE
AP 20.14; 21.4
A SERPENTE - GN 3.1,4 A SERPENTE LANÇADA NO
LAGO DE FOGO - AP 20.2,10
O CORDEIRO DE ABEL - GN 4.4 O CORDEIRO DE DEUS ESTÁ
NO APOCALIPSE TAMBÉM
AP 5.6, 22.1,3
COMEÇO DAS 12 TRIBOS AS 12 TRIBOS NO FIM TAMBÉM
GN 29 E 30 AP 7.1-8; 21.12
CONSTRUÇÃO DE BABILÔNIA DESTRUIÇÃO DE BABILÔNIA -
GN 11.1-9 AP 17 E 18
MOISÉS (AUTOR) O CÂNTICO DE MOISÉS
AP 15.3
SEMENTEIRA COLHEITA (TUDO COM
CONSUMAÇÃO)

184
9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Por ser o último livro, o Apocalipse reúne todos os temas di-


ferentes que foram iniciados em Gênesis e desenvolvidos através
da Bíblia, levando-os a um grande clímax. É como uma obra
musical em que o último movimento traz elementos de todos
os temas elaborados até aquele momento e produz um grande
e impactante final.
O pensamento de Deus sobre o homem e sobre toda a criação,
revelado por Moisés no primeiro livro, é confirmado por João no
fim. A Palavra de Deus tem sequência – o que Deus planejou,
ele vai finalizar com sucesso!. Sem entender esse princípio, o
Apocalipse será um livro fechado para nós. Só entenderemos os
grandes acontecimentos reservados para o fim se os enxergarmos
dentro do contexto da Bíblia toda, vendo como começaram e
como foram desenvolvidos durante a História.

SÍNTESE DAS SETE CHAVES DO LIVRO DO


APOCALIPSE

A primeira chave é o Espírito de revelação. Por Deus estar


infinitamente longe do homem, é importante saber como os
dois podem se comunicar. Baseado em quê, João podia afirmar
que suas revelações no Apocalipse vinham de Deus? É por esse
motivo que ele começa o livro mostrando a estrutura, ou seja, o
sistema que Deus usa para comunicar-se com o homem.
A segunda chave é o Intercâmbio entre o céu e a terra – uma
porta aberta no céu. A primeira chave mostra a estrutura e a
segunda, o acontecimento, a utilização da estrutura. A primeira
chave mostra como o intercâmbio acontece, e a segunda mostra
o intercâmbio acontecendo.
A terceira chave é Desdobramento – abertura progressiva.
Vemos aqui como o intercâmbio está se desenvolvendo,

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NOVE DIVISÕES DA BÍBLIA

progredindo e desabrochando, até finalmente se consumar no


perpétuo casamento entre o céu e a terra. Por meio desta chave,
descobrimos a natureza do intercâmbio.
A quarta chave é Adoração e juízo. Isso mostra o resultado
do intercâmbio entre Deus e o homem, obtido pela partici-
pação do homem junto com a atuação de Deus: à medida
que o homem (como noiva de Jesus) entra pela porta aberta,
contempla a beleza de Deus e o adora, nessa mesma proporção,
Deus julga os ímpios e apressa seu casamento. É um processo
que se acelera e se desenvolve num constante desabrochar.
Quanto mais adoração, mais juízo haverá, até que os salvos se
unam com Deus em perfeita intimidade, e os perdidos sofram
o juízo final.
A quinta chave é Os vencedores e a multidão. Há diferenças
entre os adoradores. Todos adoram, mas nem todos participam
no mesmo grau de intensidade e dedicação. Além de adorar,
os vencedores participam ativamente da implantação do reino
de Deus na terra. É o intercâmbio progressivo que os capacita
a julgar e reinar sobre a terra com Jesus. Porém, nem todo o
povo de Deus está disposto a se doar o suficiente para que o
intercâmbio aconteça.
A sexta chave é o Conflito entre o bem e o mal. Esse é o
assunto do intercâmbio: a vitória de Deus em união com o
homem sobre o mal. Satanás tem um conflito com Deus, e
este quer usar sua comunhão com o homem para vencê-lo. Por
meio desse conflito, Deus está treinando filhos amadurecidos,
capazes de compreendê-lo e amá-lo. A sexta chave é a razão de
ser do intercâmbio.
A sétima chave é a Consumação. É o cumprimento de tudo
e o fim desse tipo de intercâmbio. Deus se unirá ao homem
e manterá comunhão com ele de forma plena e constante.

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9- NONA DIVISÃO: APOCALIPSE

Embora o intercâmbio não seja mais necessário, podemos


ter certeza de que novas experiências e novos conhecimentos
desabrocharão dessa comunhão face a face.

PERGUNTAS PARA REVISÃO

1. Qual é a sétima chave para entender o Apocalipse?


2. Relacione os pontos correspondentes de semente
e consumação que podemos ver em Gênesis e
Apocalipse.
3. Por que o sétimo princípio é importante?
4. Como podemos receber vida, lendo a Palavra?
5. Faça um paralelo entre o Apocalipse e o último
movimento de uma obra musical.
6. Qual a condição para entendermos os grandes
acontecimentos reservados para o fim?
7. Como João prova que suas revelações são de Deus?
8. O que a primeira e a segunda chaves mostram?
9. O que descobrimos através da terceira chave?
10. Quais os resultados do intercâmbio entre Deus e
o homem?
11. Que diferença há entre os adoradores?
12. Por que a multidão não é capaz de julgar e reinar
sobre a terra com Jesus?
13. O que a sexta chave mostra?
14. Como Deus vencerá seu conflito com Satanás?
15. Como Deus conseguirá filhos amadurecidos?
16. Qual a razão de ser do intercâmbio entre o céu e
a terra?
17. Fale sobre a sétima chave.

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