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FACULDADE SUDOESTE – UNIGRAD

PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA

ISAMAR MARQUES CÂNDIDO PALES

RELATÓRIO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO CLÍNICO

VITÓRIA DA CONQUISTA - BA
2019
ISAMAR MARQUES CÂNDIDO PALES

RELATÓRIO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO CLÍNICO

Relatório de Estágio Supervisionado


Clínico apresentado ao Curso de Pós-
Graduação em Psicopedagogia
Institucional e Clínica da Faculdade
Sudoeste - UNIGRAD, como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista em Psicopedagogia.

Disciplina:
Diagnóstico e Intervenção em
Psicopedagogia Clínica/Estágio
Supervisionado Clínico

Supervisão:
Taneá Cristina Santos Freire

VITÓRIA DA CONQUISTA - BA
2019
INTRODUÇÃO

O presente estudo tende a compreender a práxis da Psicopedagogia Clínica que


considera as dificuldades apresentadas de um aluno, mediante a uma problemática no
decorrer do processo do desenvolvimento escolar apontado pelos pais e/ou profissionais
da escola. O diagnóstico psicopedagógico é trabalhado através das relações
estabelecidas entre os sujeitos envolvidos no processo de investigação no
desenvolvimento pedagógico.
Propõe ainda, relatar uma experiência psicopedagógica clínica que tem seu
início através de uma queixa levantada inicialmente pela escola, de uma criança com 07
anos que apresenta dificuldades de leitura e escrita. Deste primeiro contato, surgiu à
necessidade de diagnóstico com a criança e posteriormente, um atendimento
psicopedagógico.
O estudo de caso apresentado é resultado de um trabalho de dois meses
realizado por mim, como pós-graduanda em Psicopedagogia Institucional e Clínica em
nível Lato-Sensu na Instituição de Ensino Faculdade Sudoeste - UNIGRAD, na
condição de estagiária e observadora, para conclusão da disciplina “Estágio Clínico
Supervisionado”.
A atuação na qualidade de estagiário em Psicopedagogia Clínica teve como
desígnio proporcionar condições aderentes ao desenvolvimento de relações
interpessoais e o estabelecimento de vínculos, procurando inserir os sujeitos envolvidos
no processo de ensino-aprendizagem, bem como contar com a colaboração da equipe
escolar (professora, coordenadora, diretora), auxiliando-nos a ampliar o olhar em torno
dos aspectos abordados e trabalhados durante o processo de investigação
psicopedagógica.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

Ao escolher cursar Psicopedagogia sabemos que estamos adentrando no mundo


educativo como também institucional. É uma via de mão dupla que envolve os
indivíduos e o psicopedagogo, enquanto este busca estudar o processo de aprendizagem,
os recursos diagnósticos, bem como, os processos corretores e preventivos. A
psicopedagogia surgiu no século XX na França e esteve atrelada com outras áreas do
conhecimento, tais como: psicologia, psicanálise, medicina e pedagogia (CASTRO;
AMORIM, 2001).
Segundo os referidos autores, no Brasil, a psicopedagogia surge por volta dos
anos 70, sob forte influência da Argentina pela proximidade geográfica trazendo como
referência autores quais sejam: Sara Pain, Jorge Visca e Alicia Fernández. Castro e
Amorim (2011) complementam que um novo olhar surgiu sobre a educação brasileira
propondo um atendimento holístico às especificidades do educando e à realidade do país
com vistas ao desenvolvimento do processo educacional. Assim, os ideais objetivam
dispositivos psicopedagógicos a fim de promover o desenvolvimento pleno do
educando e considerar suas necessidades e o contexto no qual se insere.
Nesse período, os altos índices de evasão e fracasso escolar impulsionaram o
fortalecimento dos estudos e profissionais se dedicaram ao diagnóstico e intervenção
dirigidos aos problemas de aprendizagem, tomando como base os referenciais
desenvolvidos na França e Argentina. Os autores reforçam que “a principal atuação dos
especialistas na área era a intervenção nos problemas de aprendizagem associados às
disfunções neurológicas, ou seja, ainda mantendo a visão medicalizante de suas
origens” (CASTRO; AMORIM, 2011, p. 33)
Por volta de 1980 até os dias atuais, o conceito de psicopedagogia passa por
uma evolução avançando para um campo de conhecimento multidisciplinar ao
considerar seu objeto de estudo o processo de aprendizagem com todas as variáveis que
nele interferem. O objetivo passou a ser a investigação da origem da dificuldade, seu
significado para a criança e sua família, a sua modalidade de aprendizagem e as reais
possibilidades para aprender. Portanto, de acordo com os autores,

A Psicopedagogia é uma área de conhecimento transdisciplinar, cujo


objeto de estudo é o ser cognoscente e que tem como objetivo facilitar
a construção da aprendizagem e da autonomia desse ser identificando
e clarificando os obstáculos que possam impedir que esta construção
se faça (CASTRO, AMORIM, 2011, p. 34).

No Brasil a psicopedagogia recebeu algumas definições de profissionais e


estudiosos da área. Nesse contexto o objeto central de estudo envolve a aprendizagem
humana com seus padrões evolutivos normais e patológicos, aliados aos aspectos
influenciados pela sociedade, família e escola. É necessário o estudo detalhado referente
à dificuldade de aprendizagem.
2. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

A área da psicopedagogia clínica tem o trabalho direcionado ao sujeito que


apresenta dificuldade de aprendizagem. Cabe pensarmos que tal processo faz surgir o
fracasso escolar, compreendido como “uma resposta insuficiente do aluno a uma
exigência ou demanda da escola” (WEISS, 1997, p. 15). A autora complementa que a
questão abre estudos frente a três vertentes: a da sociedade, a da escola e a do aluno. É
imprescindível analisar as perspectivas observando as particularidades dos sujeitos
envolvidos, não culpabilizando somente a criança porque não aprende. Frente ao
exposto, a psicopedagogia clínica vem contribuir com sessões de investigação, análise,
diagnóstico e intervenção, buscando considerar as relações significativas entre o que a
criança produz e as oportunidades oferecidas pela família, escola e sociedade para
promover o desenvolvimento da aprendizagem.
Compreendemos que a psicopedagogia clínica tem como premissa, aliviar ou
retirar a condição inadequada de aprendizagem, promovendo sentimentos positivos e
elevando a autoestima. Assim, ressurge a percepção de suas potencialidades,
recuperando os processos internos de apreensão da realidade e da aprendizagem.
Segundo Visca (1987, p. 7) a psicopedagogia perfilou-se como um “conhecimento
independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo – o processo de
aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios”. Assim, o
profissional da psicopedagogia busca não somente compreender o porquê da não
aprendizagem do sujeito, mas também o que ele pode aprender e o caminho para essa
ação. A autora Weiss (2009, p. 27) destaca que:

A ideia básica de aprendizagem é um processo de construção que se


dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Meio
esse expresso inicialmente pela família, depois pelo acréscimo da
escola, ambos permeados pela sociedade em que estão inseridos.

No Brasil temos alguns nomes que trouxeram importantes contribuições para a


continuidade da área da psicopedagogia. Podemos destacar: Simaia Sampaio, Vitor da
Fonseca, Nadia Bossa, Maria Lúcia Weiss e ainda os profissionais argentinos, tais
como: Fermino Sisto, Jorge Visca, Alicia Fernández, dentre outros. Apesar de ser
argentino, Jorge Visca foi um dos maiores contribuintes para a expansão da
psicopedagogia no Brasil.
O trabalho psicopedagógico clínico por meio da epistemologia convergente
propõe um caminho de interlocução com três linhas da psicologia: a Escola de Genebra
(a psicogenética de Piaget), a Escola Psicanalítica (Freud) e a Psicologia Social
(Enrique Rivière). Tais abordagens buscam investigar e compreender as causas das
dificuldades de aprendizagem das crianças.

2.1 O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO

O diagnóstico psicopedagógico é um processo que tem como objetivo buscar


identificar as causas dos bloqueios apresentados nos sujeitos com dificuldades de
aprendizagem. Tais bloqueios aparecem por meio de sintomas demonstrados de diversas
maneiras, tais como, baixo rendimento escolar, agressividade, falta de concentração,
agitação, baixa autoestima, etc. (SAMPAIO, 2009). Esses sintomas quando recorrentes
exigem do professor um olhar mais sensível, buscando entender que a grande maioria
são consequências de causas que envolvem questões familiares ou mesmo de
metodologias não eficazes no processo de aprendizagem. De acordo com a referida
autora,

Realizar um diagnóstico é como montar um grande quebra-cabeça,


pois, à medida que se encaixam as peças, vai se descobrindo o que
está por trás destes sintomas. As peças são oferecidas pela família,
pela escola e pelo próprio sujeito. Entretanto, a maneira de montá-las
só depende do psicopedagogo e, para que este tenha um bom
resultado, precisa levar em conta todos os aspectos objetivos e
subjetivos observados nos diversos âmbitos: cognitivo, familiar,
pedagógico e social (SAMPAIO, ANO, p. 17).

Para a autora Weiss (2009, p. 33), “o objetivo principal do diagnóstico


psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no modelo de
aprendizagem do sujeito, que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do
esperado pelo meio social”. Frente ao contexto, a referida autora compreende a
existência do fracasso escolar como uma resposta insuficiente do aluno às demandas
exigidas pela escola. Tal aspecto requer uma análise e estudo por meio de três vertentes:
a da sociedade, a da escola e a do aluno. A autora complementa que é salutar a
interligação dos três aspectos mencionados. Assim, “irá auxiliar a construção de uma
visão gestáltica da pluricausalidade do fracasso escolar, oportunizando uma abordagem
global do sujeito frente às diversas facetas” (WEISS, 1994, p. 8). Portanto, é de suma
importância o papel do psicopedagogo frente ao processo de investigação e diagnóstico,
oportunizando contribuir com a qualidade da aprendizagem dos sujeitos.
Podemos também realizar diagnóstico psicopedagógico, não necessariamente
para pessoas que tem dificuldade de aprendizagem, mas também para pessoas que
querem saber como utilizar melhor seus recursos cognitivos. Sem dúvida, conhecer os
diversos caminhos e possibilidades de exploração em busca do desenvolvimento da
aprendizagem trará diversos benefícios para todos os sujeitos envolvidos no processo
educativo, sejam estes atípicos ou não.
Ao analisar os aspectos a serem investigados no processo de avaliação
psicopedagógica, é imprescindível conhecer a realidade e o contexto do sujeito em
questão. Tal processo envolve uma investigação global de pontos essenciais que
conduzem a formação dos indivíduos. A finalidade principal do diagnóstico
psicopedagógico é tentar encontrar possíveis caminhos de intervenção auxiliando o
aluno em suas dificuldades de aprendizagem. Conforme Bosse (1995), todo o processo
diagnóstico é organizado envolvendo a dinâmica de interação entre os aspectos, quais
sejam: cognitivo, afetivo e social de onde resulta o funcionamento do sujeito. Nesse
sentido, Scoz (1994, p. 22) diz que:

Os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas


físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É
preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que
amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e
pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais.

Podemos ainda mencionar que o diagnóstico é de suma importância para o


tratamento de intervenção do sujeito. Envolve e afeta de tal forma o paciente e sua
família que, muitas vezes acreditam em mudanças durante o trabalho diagnóstico. A
autora Sampaio (2009) destaca a importância do cuidado durante o processo, atentando-
se sempre para o comportamento e as mudanças que poderão ocorrer.
Assim, passaremos a apresentação do caso que acompanhamos no período de
estágio clínico. Utilizamos o esquema sequencial diagnóstico flexível, fundamentado na
Epistemologia Convergente e organizado da seguinte forma: Entrevista Operativa
Centrada na Aprendizagem (EOCA), levantamento do primeiro sistema de hipóteses
com definição de linhas de investigação e escolha de instrumentos, anamnese, testes,
elaboração do informe psicopedagógico e devolução da informação aos pais e/ou
paciente.

3. O PRIMEIRO CONTATO

A primeira aproximação acontece com os pais ou responsáveis pela criança. É


o momento inicial do contato entre estagiário e responsáveis e tal aspecto é muito
importante para o desenrolar do processo de investigação e diagnóstico. Geralmente é
por meio digital que se dá o contato inicial, que pode ser por ligação telefônica ou por
meio do aplicativo whatsApp.
O papel do psicopedagogo é fundamental para estabelecer a relação inicial,
oportunizando o transcorrer dos encontros de forma tranquila e acolhedora. Esse é o
momento de receber, atender e ser cordial colhendo as primeiras informações sobre a
criança. Assim, é fundamental saber o nome, idade, escolaridade, escola que frequenta,
quem fez a solicitação da avaliação e a razão da queixa. Dessa forma, via whatsApp
marcamos o primeiro encontro pessoal para conhecer os pais ouvir a queixa referente à
criança.

3.1 APRESENTAÇÃO DO CASO

DADOS PESSOAIS
V. S. A. L. Idade: 07 anos
Escola: Centro Municipal de Educação Prof. Paulo Freire – CAIC

O presente estudo de caso traz o relato de experiência de uma criança que veio
ao contexto da Psicopedagogia Clínica, com indicação da escola em que o aprendente
estuda. Foi encaminhado para avaliação psicopedagógica pelos pais, em abril de 2019.
Conforme o relato dos responsáveis, o encaminhamento psicopedagógico partiu da
queixa de que o educando em questão apresenta dificuldade de aprendizagem em leitura
e retenção de conteúdo, principalmente no que se refere ao domínio da escrita e da
leitura. A queixa foi trazida pela mãe, tendo como base a sinalização da professora da
série anterior, que esteve com a criança no ano de 2018 e percebeu que o educando
apresentou dificuldades atencionais, prejudicando o acompanhamento das atividades
escolares.
V. S. (nome fictício), 07 anos, ao início do processo de diagnóstico
psicopedagógico cursava o 2° ano do Ensino Fundamental em escola da rede pública de
Vitória da Conquista, BA. O primeiro contato foi feito pela UNIGRAD que informou
aos pais a aprovação do acompanhamento psicopedagógico. Após a informação dos
dados telefônicos dos responsáveis pela criança em questão, entramos em contato e
agendamos o primeiro encontro com os pais.

3.2 ANAMNESE

O primeiro contato presencial é sempre cheio de questionamentos e ansiedade


por parte tanto do paciente quanto do estagiário. Predomina o desafio de aprender frente
ao desconhecido e a sensação de que: será que sou/somos capaz(es) de diagnosticar esse
problema? Durante a avaliação psicopedagógica, inicialmente realizamos uma
entrevista com os pais da criança, visando conhecer e analisar os aspectos sócio-afetivos
associados à aprendizagem (interesses, autoestima, desejos, desenvolvimento social).
Esse contato inicial é realizado com os pais e/ou responsáveis pelo educando a ser
atendido. Consiste numa sessão em que é realizada uma entrevista com a finalidade de
colher dados pessoais, ouvir as queixas referentes ao problema que a criança vem
apresentando, bem como, o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico
Nesse primeiro contato o estagiário tem a oportunidade de expor os objetivos e a
intenção da anamnese, como também organizar horários e quantidade de sessões.
Neste encontro reúnem-se os pais e/ou responsáveis pela criança a ser atendida
pelo estagiário. São levantados dados das primeiras aprendizagens, evolução geral do
sujeito, história clínica, história da família nuclear, história das famílias materna e
paterna e história escolar. A autora Weiss reforça:

É fundamental, durante a explanação da queixa, iniciar a reflexão


sobre as duas vertentes de problemas escolares: o sujeito e sua família
e a própria escola em suas múltiplas facetas, para definir a sequencia
diagnóstica, bem como as técnicas a serem utilizadas (WEISS, 2009,
p. 49).
A visão que a anamnese traz do paciente vem permeada por preconceitos,
normas, expectativas da circulação dos vínculos afetivos e do conhecimento, dos mitos,
dos medos, além do peso das gerações anteriores que é depositado sobre o sujeito a ser
investigado. De acordo com Paín, a história vital nos permitirá “detectar o grau de sua
individualização que a criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história
nela” (1992, p.42).
Essa entrevista possibilitou-nos colher dados significativos sobre a história de
vida do paciente. A autora Weiss define a entrevista, como primeiro contato que,

Visa compreender a queixa nas dimensões da escola e da família, a


captação das relações e expectativas familiares centradas na
aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do
estagiário, a aceitação e o engajamento do paciente e de seus pais no
processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o
esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico (WEIS,
1997, p.50).

Segundo a referida autora (1997, p.41), durante este tipo de sessão, “é


importante observar a relação entre a temática abordada, a dinâmica imposta ao
encontro e o produto de uma atividade que venha a ser realizada por qual membro do
grupo”. Fernandéz (1990, p. 131) também desenvolveu um guia de atitudes a serem
observadas pelo psicopedagogo neste tipo de sessão, tais como: escutar e olhar, deter-se
nas fraturas do discurso, observar e relacionar com que aconteceu previamente à fratura;
descobrir o esquema de ação subjacente; buscar a repetição dos esquemas de ação; e
interpretar a operação, mais do que os conteúdos. Neste tipo de entrevista, é importante
colher dados relevantes para a organização de um sistema consistente de hipóteses que
servirá de guia para a investigação na próxima sessão.

3. 2. 1. RELATO DA ANAMNESE

A sessão foi realizada com os pais e teve a duração de 1h20min. Os pais


responderam todas as perguntas com clareza trazendo as devidas informações sobre o
educando. Ambos apresentaram-se bem comunicativos durante o processo e as
respostas foram dadas de forma conjunta, não demarcando a participação mais
acentuada de um dos responsáveis. Durante o período se mantiveram envolvidos de
forma igualitária.
Os pais são casados e relataram que a chegada de V. S. foi planejada, trazendo
muita alegria para o casal. A mãe fez acompanhamento pré-natal e informou que no 4º
mês de gestação teve sintomas de hipertensão sendo medicada no até o final da
gravidez. Teve o cuidado de tomar as vacinas e as vitaminas prescritas pelo médico.
Após o período de 09 meses a mãe deu à luz por meio de uma cesariana,
devido ao problema de hipertensão. Ao nascer, a criança estava com a aparência roxa,
por causa do cordão umbilical que tinha dado uma volta no pescoço. Contudo, externou
o choro dentro dos padrões de normalidade, conforme relato da mãe. Foi alimentado no
início com leite materno e artificial. Apresentou desenvolvimento psicomotor esperado
ao sustentar a cabeça, sentar, andar e controlar os esfíncteres.
Quanto à linguagem, segundo o relato da mãe, V. teve dificuldades para falar.
Com 01 ano balbuciava poucas palavras e aos 04 anos apresentou gagueira sendo
encaminhado para a fonoaudióloga para acompanhamento. A mãe informou que a
criança dorme com a boca aberta por consequência da rinite, tem o sono agitado,
apresenta sudorese e às vezes, sonambulismo que teve início aos 05 anos. Outro aspecto
no relato da genitora, é que V. começa a dormir no seu quarto, porém, depois de um
tempo, acorda e vai dormir na cama com os pais, isso é recorrente, ou seja, todas as
noites ele vai para o quarto dos pais.
Ao relatar sobre a saúde do filho, os pais trouxeram informações de uma
criança saudável, que possui atendimento médico regularmente e sem registros de
doenças graves ou complexas. Aos 04 anos fez a cirurgia de fimose e ficou internado
somente uma vez por suspeita de meningite, que logo foi investigada descartando o
diagnóstico. A mãe informou que ao ingressar na escola V. começou a sentir dores de
cabeça, sendo recorrente quando retorna do período escolar. Segundo ela o caso está
sendo investigado e a criança faz uso do medicamento ibuprofeno.
Com referência aos hábitos, a criança usou chupeta até os 03 anos e 06 meses e
começou a roer as unhas aos 06 anos. A genitora relatou que a criança não demonstra
outros hábitos ou tiques. Frente ao relato da mãe, no quesito sociabilidade, V.
demonstra ser uma criança tímida que prefere brincar com a irmã. Tem preferência por
celular, videogame e brincadeiras na frente da casa com alguns colegas. Não faz
amizade facilmente, escolhe ter um ou dois amigos de mais idade que a dele, segundo a
mãe, V. demonstra certo medo ou receio.
Ao tecer o relato sobre antecedentes familiares, a genitora externou casos de
epilepsia. Também declarou a sua própria dificuldade de leitura, pontuando que ficou
retida por 03 anos na antiga 3ª série, hoje 4º ano, e veio aprender a ler com 09 anos de
idade. Relatou ainda que sofreu bulling e só conseguiu ler com desenvoltura aos 13
anos, dado que se configura como muito importante frente ao quadro de dificuldade da
criança.
O relacionamento familiar demonstra ser harmonioso, conforme o relato dos
responsáveis. Vivem juntos na mesma casa os pais, a criança e uma irmã de 03 anos de
idade. A mãe externou que V. é protegido pelo pai, porém sua fala traz informações de
que não gosta de deixar a criança com outras pessoas, evitando ao máximo sair sem os
filhos, deixando transparecer sua superproteção. V. brinca bastante com o pai, com a
irmã e demonstra um convívio feliz com a família.
Ao relatar sobre a escolaridade, a mãe de V. externou que ele é inteligente e
sempre gostou de desenhos. Aos 05 anos desenvolveu o reconhecimento das vogais,
com exceção da vogal U, e mantinha um bom relacionamento com os colegas. A mãe
declarou que em 2018, com 06 anos e 07 meses, ao ingressar em outra escola o seu
aprendizado não apresentou uma evolução. Segundo ela, a criança não reconhecia as
vogais e os números, como também não conseguia dizer sua idade sem contar os dedos.
A mãe declarou que o educando não lê, não escreve, apresenta dificuldades
nessa área e não retém o conteúdo. Fez a observação de que tem receio do contato do
filho com crianças mais agitadas. Acrescentou que não gosta da escola, mas não quer
fazer a mudança porque sente medo do que o filho pode vivenciar em outro ambiente
escolar. Relataram um nível de culpa da escola em não ajudar o filho em suas
dificuldades.
Colhidas as informações necessárias, procedemos com o enquadramento e
orientações sobre o decorrer do processo de acompanhamento do educando. Os pais
demonstraram concordância durante a anamnese ao trazer as informações, como
também, foram compreensivos e solícitos a todas as etapas de explicação das sessões.
Afirmaram o comprometimento de não faltar ou avisar quando isso for extremamente
necessário. Não houve resistência ou discordância em nenhum momento dos elementos
de enquadramento do acompanhamento psicopedagógico.
Assim, finalizamos o encontro confirmando a próxima sessão com o educando
com a aprovação e entendimento dos pais.

Hipóteses:
 Reclusa social da criança perante outros, por se sentir inferior no quesito aprendizagem;
 Superproteção da mãe (genitora protetora, por traumas de infância);
 Fracasso escolar relacionado ao processo afetivo e emocional;
 Dificuldade na escrita e leitura.

Com os dados colhidos e analisados, levantou-se a hipótese de que, V.S. trazia


indícios que poderiam ser associados aos traços de fracasso escolar provocado por
lacunas durante seu primeiro processo de aprendizagem nas séries iniciais. A criança
demonstrou dificuldades na aprendizagem sendo encaminhado pela professora para
serviços de psicologia. Revelou ser uma criança tímida, com sentimento de baixa
autoestima.
Ao mesmo tempo, demonstra ser uma criança muito inteligente, amorosa,
carinhosa, e que precisa de mais atenção em seu dia-a-dia, principalmente com relação
aos estudos e aspectos afetivo-emocionais, ou seja, necessitava de alguém que o
ajudasse em seus deveres, mas também com certa cobrança. Alguém que fosse seu
parceiro, organizador e também líder.

3.3. DADOS DA ENTREVISTA ESCOLAR

Após agendamento prévio com a direção me dirigi até à instituição para um


encontro com a professora da criança V. Na tarde do dia 23 de maio, às 16h cheguei ao
CAIC e fui recebida por uma funcionária que me conduziu à sala dos professores. Ao
chegar ao local fui informada da ausência da diretora, mas fui recebida pela professora e
iniciamos nossa conversa.
A referida professora relatou que V. apresenta dificuldade de memória e
percebe que a criança esquece tudo muito rápido. Nesse momento ela menciona um
bilhete que recebeu da mãe da criança há alguns meses atrás, informando a necessidade
de uma conversa para compartilhar sobre a dificuldade do seu filho. No entanto, a
professora declara que até o momento o encontro não aconteceu.
Na sua fala diz que V. é um aluno exemplar, dedicado, com atenção centrada e
força de vontade. Menciona a dificuldade de memorização da criança, no entanto
declara que esse aspecto não se configura como impedimento para a aprendizagem.
Afirma que a criança reconhece letras e palavras, e ainda, domina a escrita sugerindo
estar no nível pré-silábico.
Com relação ao aspecto social e afetivo, a professora externou que V. é um
menino um pouco tímido que não apresenta a prática de conversa paralela na sala de
aula. Complementou que o aluno demonstra ser seletivo, interagindo com poucos
colegas nos momentos de brincadeira.
A professora esclareceu que tenta auxiliar a criança fazendo reafirmações
constantes dos temas e conteúdos propostos para ativar sua memória. Em contrapartida
diz que V. reconhece o que escreve e apresenta compreensão de frases e textos.
Mencionou que faz ditado e a criança escreve com consciência fonológica. Assim,
declara que acredita que V. tem domínio de leitura e escrita.
Na sua fala, a professora relatou que percebe a dificuldade do aluno com
memorização quando ele tenta ler uma palavra. Declara que na segunda sílaba ele já
esqueceu a anterior não conseguindo concluir a leitura.
Frente aos dados, compreendemos que o discurso da professora não apresenta
sintonia com o que a mãe trouxe na anamnese, ou seja, para a docente, a criança tem o
domínio da escrita e leitura. No entanto, diante do relato da mãe, essa é a queixa, a
criança tem dificuldades não conseguindo fazer leitura e identificar códigos alfabéticos.

3.4. ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA APRENDIZAGEM -


E.O.C.A.

É uma proposta idealizada pelo Jorge Visca (1987) e deve ser a primeira
atividade realizada pelo psicopedagogo com a criança, na sessão inicial do processo
diagnóstico. A sigla E.O.C.A. significa Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem
e deve ser realizada no início do diagnóstico, antes da aplicação das provas. Consiste em
solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram
a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após
a seguinte observação do entrevistador: “Este material é para que você o use se precisar
para mostrar-me o que te falei que queria saber de você” (VISCA, 1987, p. 72).
Vários materiais são deixados à disposição do entrevistado, e esse material
pode variar de acordo com a idade e a escolaridade da criança. O material comumente
usado tem itens como: folhas de ofício tamanho, papel pautado, folhas coloridas,
borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de
modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar
necessários. De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA é “(...) seus
conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de
expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc.
(1987, p. 73)”.
Assim, poderá observar três aspectos: a temática, a dinâmica e o produto feito
pela criança. Frente ao processo é possível traçar o caminho para análise do diagnóstico,
pois, é por meio da EOCA que o psicopedagogo extrairá o segundo Sistema de
hipóteses e definirá sua linha de pesquisa.
3.4.1. EOCA DATA: 09/04/2019
ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA APRENDIZAGEM - EOCA
CONSIGNA: Eu gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe
ensinaram e o que você aprendeu. Esse material é para que você use como quiser.
Material: Caixa contendo folhas brancas de papel ofício, papel pautado, folhas
coloridas, lápis preto novo e sem ponta, apontador, borracha, régua, caneta hidrográfica,
e esferográfica, livros, gibis, lápis de cor e tesoura.

ANÁLISE

A criança chegou acompanhada pelo pai no horário marcado.


Cumprimentamos o pai e também a criança, que respondeu com um sorriso tímido.
Após beber água V. se despediu do pai e indicamos a sala que iremos ocupar.
Ao entrar, sentou em uma das cadeiras e depois de bem acomodado,
apresentamos a consigna e a caixa. Utilizamos folhas brancas de ofício, lápis de cor,
canetas hidrográficas, borracha, régua, tesoura e cola para que pudesse ser feita uma
investigação detalhada. Apesar de não demonstrar resistência, o processo de descoberta
tem início de forma bem lenta. Os itens da caixa foram explorados um a um com calma
e silêncio. A criança não fez comentários, seguiu explorando muito lentamente os
elementos à sua disposição. Não demonstrou curiosidade em saber o porquê dele está
sendo entrevistado. Por alguns minutos, ficou reflexivo e desviou a atenção olhando em
outras direções.
Algumas vezes foi necessária a intervenção alentadora de forma verbal, visto
que a criança ficou parada olhando para outros espaços da sala. Apesar da timidez foi
possível estabelecer uma boa relação com V. dentro de um clima de tranquilidade, o que
favoreceu a sua colaboração. Frente aos dados coletados com a E.O.C.A, ficou bastante
claro para nós que V.S. não possui ligação alguma com a leitura e a escrita e seu nível
pedagógico é abaixo da sua escolaridade. Pudemos observar também que antes de
começar uma tarefa, a criança externava que não sabia e que ia fazer uma tentativa. Foi
recorrente o discurso do não saber. V. demonstrou ser muito retraído, emitindo poucas
palavras, e com o olhar sempre para baixo. Não mostrou indícios de domínio da leitura,
não emitiu opinião ou comentários ao observar as figuras e ao folhear os livros e gibis.
Apresentou desenhos com estruturas semelhantes, formas parecidas com peixes, outros
sem aparência definida. Não fez comentários acerca dos desenhos, além de dizer que
não sabe desenhar.
Ao colorir um desenho no interior do gibi demonstrou insegurança ao pegar as
canetas, revelando dificuldade no traçado. Não teve iniciativa em apontar o lápis e não
retirou todos os itens da caixa. Mostrou-se tão tímido que não fez comentários sobre
suas produções de desenho. Mostrou-se organizado e centrado na atividade de colorir o
que tinha desenhado. Por várias dirigiu o olhar para a estagiária buscando apoio, ajuda e
um olhar de aprovação. Em alguns momentos demonstrou frustração e incerteza
tamborilando os dedos na mesa, pensativo. Revelou ser educado, calmo e agradecido ao
dar um dos desenhos para a estagiária.

4. O LÚDICO NO PROCESSO INVESTIGATIVO DE APRENDIZAGEM

Na história da humanidade desde os primórdios, o homem estabelece relações


lúdicas consigo mesmo e com os outros. As batalhas, as conquistas, as olimpíadas
gregas, as músicas, as festas, os cerimoniais, nos mostram um cenário de arte e beleza.
No jogo lúdico, o que é válido é o prazer de vivenciar, de participar. As sessões lúdicas
centradas na aprendizagem são fundamentais para a compreensão dos processos
cognitivos, afetivos e sociais. As investigativas utilizando o lúdico podem ser usadas, se
necessário, para especificar o nível pedagógico, estrutura cognitiva e/ou emocional do
sujeito. Podemos lançar mão de provas específicas que irão fornecer um parâmetro bem
evidente a partir das respostas. O uso da atividade lúdica, utilizando o “brincar” não é
indispensável em um diagnóstico psicopedagógico, representa um recurso a mais a ser
utilizado quando avaliado necessário, devendo ser escolhido de acordo com cada caso.
Friedmann traz algumas definições, de brincadeira, jogo, brinquedo e atividade
lúdica:

A brincadeira refere-se, basicamente, à ação de brincar, ao


comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não
estruturada; jogo é compreendido como uma brincadeira que envolve
regras; brinquedo é utilizado para designar o sentido de objeto de
brincar; atividade lúdica abrange, de forma mais ampla, os conceitos
anteriores. (1998, p.12).

É importante frisar que ao brincar o aluno alimenta sua vida interior, liberando
assim sua capacidade de criar e reinventar o mundo, proporcionando a aquisição de
novos conhecimentos, desenvolvendo habilidades de forma natural e agradável. É uma
das necessidades básicas da criança, é essencial para o desenvolvimento motor, social,
emocional e cognitivo. Na apresentação do lúdico dentro do processo de diagnóstico
psicopedagógico, usamos os materiais (lápis de cor, canetas hidrocor, lápis, papel em
branco, borracha, régua e apontador) os quais permitem que se observe a construção do
pensamento e da sociabilidade, o que nos possibilita ter alguns parâmetros para a
construção de outras hipóteses. Ao brincar a criança desenvolve o pensamento lógico
matemático, verbaliza suas ações através da emoção de viver e a representação de sua
brincadeira. O brincar é experimentar, é ensaiar para a vida real, a criança constrói o seu
próprio conhecimento.
Foi aplicado com o avaliando o procedimento de diagnóstico a hora
“psicopedagógica” do jogo com a utilização da caixa lúdica. As técnicas desenvolvidas
por Pain (1985) têm como objetivos verificar na criança a inter-relação que estabelece
com o desconhecido e o tipo de obstáculo que emerge dessa relação, possibilitar uma
leitura dos aspectos relacionados à função semiótica da criança por meio dos símbolos e
verificar o nível dos processos acomodativos e assimilativos, fazer uma leitura dos
conteúdos manifestos pela criança em relação aos aspectos afetivo-emocionais
relacionando-os com a aprendizagem.
V.S. ao ver a caixa lúdica não perguntou para que servia ou o que tinha dentro.
Mostramos a caixa com a informação de que continha vários objetos e que poderia
utilizar da forma que ele quisesse e que poderia manusear tudo o que tinha dentro dela.
A criança abriu a caixa e foi retirando os itens com muita calma e um olhar
demonstrando curiosidade. Quando pegou o cubo mágico demonstrou satisfação e disse
que já teve um brinquedo igual. O maior prazer referente ao brincar foi perceptível
quando viu a mola mágica, esboçando um sorriso no rosto. Esse foi o primeiro
momento que ele se deixou transparecer, apesar da timidez.
Por fim, podemos concluir que V. demonstrou ser uma criança muito tímida,
com pouco senso de criatividade e autonomia. Não mostrou interesse em explorar todos
os itens da caixa, visto que, alguns não foram retirados ou usados. Percebemos que a
criança sugere ser passivo, apático, com pouco estímulo e criatividade.

5. PROVAS PROJETIVAS

As provas Projetivas tem como objetivo investigar os vínculos que o sujeito


pode estabelecer em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo,
pelos quais é possível reconhecer três níveis de relação ao grau de consciência dos
distintos aspectos que constituem o vínculo de aprendizagem.
Com esses testes, podemos avaliar por meio do desenho ou do relato, a
capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e
elaborar a emoção, além de permitir avaliar também, a deteriorização que se produz no
próprio pensamento que fala por meio do desenho e onde se diz mal ou não se diz nada,
o que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora.

5.1. PROVAS APLICADAS

5.1.1. PAR EDUCATIVO DATA: 12/04/2019


CONSIGNA: Desenhe duas pessoas: uma que ensina e outra que aprende.
OBJETIVO: Pesquisar vínculo do indivíduo com a aprendizagem.
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO DA PROVA

A técnica diagnóstica do Par Educativo que tem como objetivos: verificar o


vínculo que a criança estabelece com a aprendizagem por meio da leitura da relação
vincular do ser que ensina com o ser que aprende; analisar a produção gráfica e o relato
nos seus aspectos afetivos, cognitivos e motores; efetuar uma análise do relato verbal e
do grafismo do sujeito, buscando estabelecer uma correlação entre os mesmos,
verificando se há um vínculo parcial, ausente ou afetivo.
Colocamos a folha de papel ofício branca na posição enviesada em frente à
criança, juntamente com lápis preto e borracha. Após ouvir a consigna V. diz que
precisa pensar, pois acha difícil. Com a folha na posição paisagem a criança iniciou o
desenho após alguns minutos de reflexão.
Fez uma linha reta no final da folha e explicou que é para o boneco não ficar
solto. Logo após perguntou se pode desenhar algo semelhante a uma casa ou escola.
Esclarecemos que ele pode produzir o desenho da forma livre. Frente ao exposto, fez a
estrutura da sala de aula, juntamente com cadeira, armário, e consecutivamente quem
ensina e quem aprende. Fez o desenho de quem ensina do lado direito e de quem
aprende do lado esquerdo.
Conforme foi construindo seu desenho, V. explicou o que estava fazendo. Após
desenhar a sala, fez uma estrutura e disse que é o refeitório, com um armário, mesa e
alguns rabiscos representando a comida, conforme explicação própria. Depois de
desenhar a sala e o refeitório fez nuvens, sol e justificou tal ação como um aspecto
preenchedor da folha, para não ficar vazia.
Logo depois de alguns segundos de reflexão, declarou estar procurando um
local para desenhar a sala do diretor. Após decidir o local, faz a sala do lado direito, e
declarou que é só isso. Por um momento refletiu e externou que não fez um local de
saída. Assim, explicou que a porta de saída fica na sala dos professores, fez o desenho e
disse também da existência de uma janela. Colocou o desenho à frente da estagiária e
informou que finalizou.
Solicitamos para escrever o seu nome e um título para o desenho. Logo, V.
declarou que não sabe escrever muito bem, que vai fazer só o nome com letra cursiva.
Explicou ainda que aprendeu o nome por meio da ficha dada pela professora. Porém
completou que precisa treinar e estudar em casa.

ANÁLISE

O desenho total apresentou um tamanho grande em relação à folha sugerindo


um vínculo negativo com a aprendizagem. Os personagens mostram-se diminuídos,
porém, do mesmo tamanho trazendo a hipótese de desvalorização e de falta de
discriminação com relação àquele que ensina. O desenho apresentado é sem
perspectiva, trazendo a hipótese de vínculo imaturo na área cognitiva, afetiva e social. A
criança não colocou título justificando que não sabe escrever.
A criança V. fez o desenho abaixo do ponto médio da folha e mais para a
esquerda do centro horizontal, sugerindo ser inseguro e inadequado, bem como ter um
comportamento impulsivo, caracterizado em procurar satisfação imediata de suas
necessidades e impulsos. A pressão do desenho é forte caracterizando a possibilidade
de ser uma pessoa tensa. O traço também apresentou-se de maneira forte sugerindo
insegurança e medo. O desenho demonstrou a ausência de detalhes adequados trazendo
o significado de um sentimento de vazio e energia reduzida.
Mais um ponto observado é o tamanho da figura. Mostrou-se de forma
diminutiva sugerindo inibição da personalidade, desajuste ao meio, timidez e
sentimento de inferioridade.
5.1.2. EU COM MEUS AMIGOS DATA: 24/04/2019
CONSIGNA: Desenhe você com seus colegas da classe
OBJETIVO: Vínculo com os colegas de classe
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO

Inicialmente, colocamos em frente à criança V., a folha de papel ofício branca


na posição enviesada, lápis preto e borracha. Apresentamos a consigna fazendo a
solicitação de um desenho dele com seus colegas de classe. A criança começou a
desenhar a estruturada escola, fez a sala do diretor, a escada, o 1º andar, a sala desse
local, para depois desenhar os colegas.
No decorrer do processo, foi explicando os elementos desenhados. Fez os
colegas G., L., que informou não ser da sua sala e justificou que o contato com eles
acontece no momento do recreio. Depois fez A. e por fim, ele próprio. Ao desenhar A.,
externou que tal colega sabe ler e escrever e que ele não sabe. Disse ainda que quase
sempre A. faz a tarefa sozinha. Perguntamos onde estavam, ele disse que o local
desenhado era o refeitório. Lá eles comiam, brincavam um pouco e depois retornavam
para a sala. Esse relato traduziu a exploração da produção do desenho da criança.

ANÁLISE

O tamanho total do desenho é grande, sugerindo um bom vínculo com os


colegas e a aprendizagem. O personagem principal V. mostrou-se igual, propondo uma
relação de igualdade entre ele e os colegas, onde aceita o grupo e é aceito por ele. Os
demais foram desenhados lado a lado, deixando transparecer uma comunicação
superficial. Não houve a inclusão do docente no desenho, sugerindo não nutrir grande
afeto pelo professor.
No relato dos comentários sobre os colegas demonstrou inferioridade frente à
colega A., que informou saber ler e escrever, revelando sentimento de frustração pelo
não saber. Com relação aos demais, trouxe a informação de que são alunos de outra
turma, sugerindo que não está inserido no grupo dos colegas de classe.
Quanto à colocação do desenho com relação aos quadrantes da folha
observamos que se encontra fora do centro da folha, mais para a esquerda, na linha
vertical e acima do ponto médio da folha. Tais indicadores sugerem que a criança pode
ter um comportamento impulsivo buscando satisfação imediata de suas necessidades.
Pode apresentar tendência pela fantasia, mantendo-se alheio e inacessível e sugere ser
uma pessoa descontrolada e dependente.
O desenho apresenta muita pressão, principalmente nos traços da figura
humana, denotando a característica de pessoa tensa, e ainda, a sensação de medo e
insegurança. O desenho da figura humana mostra-se diminutivo e com ausência de
detalhes adequados, sugerindo inibição da personalidade, desajuste ao meio, timidez e
sentimento de inferioridade.

5.1.3. OS QUATRO MOMENTOS DE UM DIA DATA: 26/04/2019


CONSIGNA: Desenhe quatro momentos de seu dia desde que acorda até a hora em que
vai dormir.
OBJETIVO: Os vínculos ao longo do dia
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO

O início desenho foi marcado por uma linha na parte de baixo de cada parte da
folha e logo explicou que é o chão onde o boneco vai ficar apoiado. No primeiro quadro
V. desenhou o momento em que acorda, com dois elementos – ele e a cama.
A criança desenhou no segundo quadro o momento do café. Fez a mesa, as
cadeiras, ele e a mãe. Justificou que sempre toma café com sua mãe, porque o pai
acorda tarde. O terceiro quadro foi preenchido com o momento que vai para a escola,
sem riqueza de detalhes. Observamos apenas o desenho da criança e a estrutura da
escola com uma porta e uma janela. No quarto momento ele retratou a volta da escola.
Logo explicou que o trajeto é feito em companhia frequente da irmã e alternado pela
presença do pai ou da mãe. Fez o desenho da casa bem próximo das figuras humanas e
explicou que está chegando. Nos desenhos de ida e volta da escola V. desenhou o sol
acima do ponto médio da folha e do lado esquerdo.
Durante o processo de produção do desenho a criança sempre justificou que
não sabe desenhar direito. Por vezes fez uso da borracha apagando detalhes que diz não
ter feito corretamente ou pensa estar feio.
ANÁLISE

Iniciando o processo de análise percebemos que o desenho mostrou-se


adequado a consigna demonstrando capacidade de adaptação às exigências externas e
tolerância à frustração. Frente aos momentos escolhidos foi possível notar uma eleição
automática, sugerindo uma vida monótona e sem criatividade.
As atividades descritas indicam imposições externas representando aspirações
ou frustrações. Quanto ao campo geográfico, a criança só fez menção de dois espaços –
a casa e a escola, contando com a presença dos pais e da irmã sugerindo um modelo de
aprendizagem compacto. Percebemos que os objetos do ambiente que indicam como
está povoado o mundo interno do sujeito revelando a realidade física, foram desenhados
de forma desprovida. Em cada quadro a criança desenhou 02 ou 03 elementos
denotando ausência de detalhes.
Houve sequência espacial e temporal com lógica sugerindo princípio de
realidade e da capacidade de acomodação, aprendizagem realista, como também, uso
ordenado do tempo. O desenho apresentou sequência de relato tanto espacial quanto
temporal, reforçando aspectos assinalados em ambos os contextos.
Partindo para a análise dos quadrantes da folha relacionados ao desenho,
observamos que cada momento foi localizado mais para a esquerda do centro
horizontal, sugerindo inibição, introversão e que a criança está fugindo ao meio. O traço
é forte apresentando muita pressão, sugerindo o significado de uma pessoa muito tensa.
Não são desenhados detalhes adequados denotando o sentimento de vazio e energia
reduzida. O tamanho da figura humana é diminutivo indicando inibição da
personalidade, desajuste ao meio, timidez e sentimento de inferioridade.
5.1.4. FAMÍLIA EDUCATIVA DATA: 30/04/2019
CONSIGNA: Desenhe sua família fazendo o que cada um sabe fazer
OBJETIVO: Vínculo da aprendizagem com o grupo familiar e com cada um dos
integrantes da mesma
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO

Após a consigna e a entrega do material, a criança apresentou explicações de


forma verbal sobre as preferências dos membros da família. Sem iniciar o desenho disse
que o pai sabe jogar videogame e escutar músicas evangélicas; a mãe está sempre em
movimento com os afazeres domésticos. Assim, declarou que vai tentar desenhar a mãe
na cozinha.
Com a folha na posição horizontal desenhou primeiramente as linhas verticais
e horizontais que formam a estrutura do local mencionado. Durante o processo foi
justificando não saber desenhar direito. Mesmo com o sentimento de não saber fez o
traço da mãe na cozinha sem detalhes – somente o fogão e a mãe. Posteriormente,
desenhou o pai em outro local, que explicou ser o quarto. No desenho retratou o pai
deitado na cama ouvindo suas músicas prediletas.
Por alguns segundos fez uma reflexão indagando onde irá desenhar J. – sua
irmã pequena, e logo justificou que a mãe fica sempre de olho na irmãzinha. Assim,
desenhou ele com a sua irmã brincando. Colocou brinquedos na mão da irmã e tentou
desenhar um boneco na figura que o representa. Porém, frustrado, disse que não sabe,
que não consegue e apagou o que tinha produzido como brinquedo.
Quanto à idade dos personagens, declarou não saber quantos anos os pais tem,
mas explicou que vai buscar tal informação. Referente à sua idade, primeiramente
informou ter 08 anos, porém, depois da contagem recitativa fazendo uso dos dedos,
afirmou ter 07 anos. Com relação à idade da irmã J. disse ter 03 anos.

ANÁLISE

Conforme os indicadores de avaliação, percebemos que a posição dos


personagens encontra-se em meio ao processo sugerindo que o grupo familiar serve de
referência para desenvolver e integrar modelos de aprendizagem. As atividades retratam
o que cada personagem sabe fazer dentro do lar, denotando um aspecto mais intimista,
característica da idade de V.
Na apresentação do desenho os objetos retratados foram o fogão, o celular e os
brinquedos, indicando o caráter do grau de conhecimento e flexibilidade que a criança
V. possui da atividade. Com relação às idades, V. informou somente a sua idade e da
irmã J.. As idades do pai e da mãe não foram reveladas, com a justificativa de não saber.
Analisando a colocação do desenho em relação aos quadrantes da folha,
percebemos que foi localizado no meio da folha, sugerindo que a criança apresenta ser
ajustada, autodirigida e autocentrada. A estrutura representando a casa foi desenhada de
forma grande estendendo-se até a parte acima do ponto médio da folha. Porém, os
personagens foram retratados em tamanhos pequenos diferentes. À mãe sugere mais ter
importância para a criança, haja visto, foi desenhada em tamanho maior com relação aos
demais. O pai foi retratado na posição horizontal, deitado e com ausência de detalhes
adequados. A pressão mostra-se acentuada nos traços das figuras humanas

5.1.5. O DIA DO MEU ANIVERSÁRIO DATA: 10/05/2019


CONSIGNA: Desenhe o dia do aniversário de um menino (a)
OBJETIVO: A representação que se tem de si e do contexto físico sócio-dinâmico em
um momento de transição de uma idade para outra.
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO

Após a enunciação da consigna e a apresentação do material, a criança V.


colocou a folha na posição paisagem e iniciou o desenho. Fez uma linha bem abaixo do
ponto médio da folha e explicou que é para o personagem não ficar voando. Por alguns
minutos ficou refletindo e questionando o que desenhar e comentou que não sabe o que
fazer. Coçou a cabeça, pensou e declarou mais uma vez não ter ideia de como fazer a
atividade. Explicamos novamente a consigna e ele começou a desenhar.
A criança fez o menino aniversariante e mais 03 personagens e disse que são os
parentes. Quando perguntamos a idade da criança que faz aniversário ele informou que
está completando 10 anos. As outras figuras humanas representam crianças e as idades
são 08, 10 e 08 anos, conforme informação de V. O desenho apresentou poucos
elementos e a criança externou que não sabe o que e como fazer. Assim, anunciou que
finalizou e colocou a folha em frente da estagiária.

ANÁLISE

Iniciando a análise percebemos que o tamanho total do desenho é grande


sugerindo um vínculo negativo com a aprendizagem. Os personagens mostram-se
pequenos, lado a lado indicando uma desvalorização. O aniversariante foi desenhado em
frente à mesa do bolo e tem um tamanho normal equiparado com os outros personagens.
O único elemento desenhado foi o bolo em cima da mesa sem maiores
detalhes. O espaço geográfico utilizado é a própria casa sugerindo uma atitude realista.
A idade do aniversariante é maior que a do cliente, visto que, V. tem 07 anos. Tal
contexto denota alto nível de aspiração.
Os demais personagens foram desenhados com ausência de detalhes adequados
e também não apresentou presentes, objetos de decoração e outros vinculados á situação
em questão. O aniversariante foi desenhado do outro lado da mesa e sozinho sugerindo
uma aprendizagem com característica predominantemente assimiladora, com
dificuldade na descentração do ponto de vista do outro.
Partindo para a análise da colocação do desenho com relação aos quadrantes da
folha, observamos que foi posicionado no meio da folha, sugerindo ser uma pessoa
ajustada, autodirigida e autocentrada. A pressão é leve, denotando baixo nível de
energia, repressão e restrições. O traço é forte indicando medo e insegurança. Não são
registrados detalhes adequados no desenho. Observamos a ausência de olhos, boca,
nariz, pés e outros elementos vinculados à situação de aniversário.
5.1.6. O PLANO DA SALA DE AULA DATA: 14/05/2019
CONSIGNA: Desenhe o plano da sala de aula, como se você estivesse vendo sua sala
de cima.
OBJETIVO: A representação do campo geográfico da sala de aula e a desejada.
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO

Após a apresentação da consigna a criança iniciou a atividade. Colocou o papel


na posição paisagem e fez a linha de apoio bem abaixo do ponto médio da folha.
Começou desenhando as cadeiras e conforme foi desenhando fez a contagem recitativa,
pois informou que são 22 colegas. Logo após fez o quadro no canto direito da folha.
Durante o processo V. explicou o que está produzindo, mostrando uma
comunicação com o outro. Assim, começou a desenhar os colegas nas cadeiras.
Posteriormente, desenhou um cartaz com sol e nuvens e explicou que tem relação com o
tempo e outro que tem a função de indicar a quantidade de meninos e meninas na sala.
Acrescentou uma linha acima das cadeiras e disse que é o teto. Acima dessa linha fez o
sol e nuvens.
V. sempre informa tudo que está desenhando e quando questionamos sobre a
escolha do local, ele declarou que foi decisão dos pais e que ele gostaria de estar em
outra escola. Porém externou que, mesmo assim, aceita o lugar que escolheram. Trouxe
a informação de que sua posição é na primeira cadeira, mas quando está ocupada ele
fica na segunda.
A produção do desenho despertou em V. a vontade expor alguns aspectos.
Assim, ele foi deixando externar algumas impressões. Expressou não gostar de sentar
nas últimas cadeiras porque os colegas ficam com a cabeça na sua frente. Declarou que
a escola é agradável e ele gosta, no entanto, demonstrou insatisfação com o lixo que os
colegas deixam no chão. V. informou que quando isso acontece, ele recolhe até ao balde
promovendo a limpeza do local.
Na sua fala declarou que os meninos não são organizados. Correm, pulam,
levantam constantemente da cadeira causando reprovação da professora, que adverte
uma suspensão como consequência. V. informou que é uma criança que não corre, nem
pula e mencionou uma colega com o mesmo perfil. Conforme relato, ele e A. são mais
tranquilos, retornam à sala sem correr. Por esse motivo, muitas vezes V. perde sua
posição na primeira cadeira. Porém, conforme relatou mostra-se conformado sentando
mais atrás.

ANÁLISE

O tamanho total do desenho é pequeno e com disposição tradicional. As


cadeiras foram desenhadas com os respectivos colegas, uma atrás da outra em
sequência. A criança senta na frente por escolha própria, mas não menciona vínculo
com a professora. Com relação ao tamanho da sala o desenho indica que é pequeno.
Demonstrou perspectiva inconstante quanto ao que foi desenhado, denotando uma
tendência à automatização de conhecimentos e quadros de ansiedade frente às novas
aprendizagens. Observamos a simplificação dos personagens, pois não apresentam
detalhes adequados como olhos, boca, nariz. A professora não está inclusa na produção,
sugerindo que o vínculo ainda não foi estabelecido.
Quanto à colocação da folha relacionada aos quadrantes observamos a
localização do desenho abaixo do ponto médio da folha sugerindo o sentimento de
insegurança e inadequação ao ambiente. A pressão é forte levantando a hipótese de
medo e insegurança.
Há ausência de detalhes adequados sugerindo sentimento de vazio e energia
reduzida. As figuras humanas, em forma palito são apresentadas em tamanho
diminutivo indicando inibição da personalidade, desajuste ao meio, timidez e
sentimento de inferioridade.

5.1.7. DESENHO EM EPISÓDIOS DATA: 20/05/2019


CONSIGNA: Você vai desenhar uma história. Um(a) menino(a) tem o dia todo livre.
Desenhe o que ele(a) vai fazer desde que acorda e sai de sua casa, até o momento em
que volta à sua casa.
OBJETIVO: A delimitação da permanência da identidade psíquica em função dos
afetos.
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO
Inicialmente dobramos a folha em partes iguais. Apresentamos a consigna e
entregamos o material. A criança colocou a folha na posição paisagem e começou o
desenho pela primeira linha de apoio localizada muito abaixo do ponto médio da folha.
Fez a segunda linha e pequenos traços simbolizando a divisão de cada quadro.
Logo depois desenhou a casa e um menino no quadro 01. Explicou que esse é o
momento que o garoto acorda e sai de casa para escola. No quadro 02, localizado
abaixo do primeiro, desenhou um momento de brincadeira no campo. O quadro 03 é
ocupado com dois elementos, uma criança e um objeto representado o jogo. Assim, V.
diz que o menino está brincando de Star Wars.
Nesse momento, a criança parou, ficou refletindo sobre o que desenhar e
externou que não quer deixar quadro sem desenho. Retomou a produção, inserindo as
letras TNT no desenho do quadro 03 e esclareceu que significa uma explosão.
Posteriormente, numerou cada quadro não de forma sequencial, mas em cima e
embaixo. Justificou que é para ordenar os desenhos.
Chegou ao quadro 04 e declarou que vai desenhar o menino dançando. Assim,
traçou duas caixas de som e relatou que o personagem está numa casa de dança. O
quadro 05 foi preenchido pelo momento de luta de saco. Desenhou a criança com luvas
de boxe. Por fim, chegou ao quadro 06 e relatou que esse é o momento que o menino
retornou para casa. Fez o desenho do personagem e da casa.

ANÁLISE

Analisando o desenho observamos que V. trouxe um personagem apenas, o


menino. Não houve elementos característicos de estados de tempo, como sol, chuva,
nuvem ou das estações. Não desenhou objetos animados como árvores, e flores. O tema
abordado mostrou-se único, referindo-se aos momentos de brincadeira do personagem,
adotando o critério de satisfação, visto que, todas as atividades são lúdicas e prazerosas.
Não apresentou elementos relacionais sociais, visto que o menino brincou
sozinho. A localização do desenho manteve-se abaixo do ponto médio da folha. A
pressão mostrou-se leve, porém com traço forte, sugerindo medo e insegurança. O
desenho apresenta falta de detalhes adequados e a simplificação dos personagens,
denotando inibição da personalidade, timidez e sentimento de inferioridade.
5.1.8. FAZENDO O QUE MAIS GOSTA DATA: 27/05/2019
CONSIGNA: Desenhe o que você mais gosta de fazer.
OBJETIVO: Pesquisar as atividades favoritas do indivíduo.
Material utilizado: Folhas de papel branco, lápis preto e borracha.

DESCRIÇÃO DA PROVA

Após a consigna e distribuição do material, a criança iniciou o desenho


traçando uma linha muito abaixo do ponto médio horizontal da folha, declarando que é
o chão. V. disse que gosta de pedalar. Assim, desenhou ele e a bicicleta. Após fez
árvores, uma loja que fica situada na rua, uma rampa, e foi traçando e relatando o que
estava produzindo. Desenhou também uma barraquinha de frutas. Posteriormente, fez o
desenho do pai e da irmã, declarando que ela sempre o acompanha nos passeios de
bicicleta e também no ônibus para a escola.
Prosseguiu traçando árvores, o sol e algumas nuvens. Pedimos para dar um
título, mas ele declarou não saber ler e escrever. Não externou verbalmente o título, mas
disse que ia tentar escrever alguma coisa. Assim, fez algumas letras, mas informou que
pensa estar errado, que escreveu uma coisa qualquer.

ANÁLISE

Frente ao tema a criança hesitou um pouco, mas fez o desenho relacionado ao


que gosta, que é andar de bicicleta. Observamos que escolheu o tema e o manteve
durante o processo sugerindo decisão e interesses adequadamente hierarquizados. O
relato apresentou coerência com a produção. O contexto espacial e temporal revelou que
o brincar acontece na rua de sua residência apresentando dimensões associadas
denotando uma realização possível. A localização do desenho frente aos quadrantes da
folha mostra a produção abaixo do ponto médio e do lado esquerdo da folha. Tais
características sugerem insegurança, inadequação, inibição e introversão.
A produção apresenta muita pressão denotando um nível de tensão. O traço é
forte sugerindo medo e insegurança. Há ausência de detalhes adequados e os
personagens foram desenhados em tamanho diminuto indicando timidez e sentimento
de inferioridade. O desenho mostra muito retoque, simplificação dos personagens e
certa dificuldade motora. Frente à solicitação do título, a criança relutou em escrever.
Porém, após justificativas do não saber escreveu pseudopalavras.
6. PROVAS OPERATÓRIAS PIAGETIANAS

A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de


pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa, e reconhecer as diferenças
funcionais por meio de um estudo predominantemente qualitativo, ou seja, sua
aplicação nos permite investigar o nível cognitivo em que a criança se encontra e se há
defasagem em relação à sua idade cronológica. Segundo Weiss, “as provas operatórias
têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções chave
do desenvolvimento cognitivo, detectado o nível de pensamento alcançado pela criança,
ou seja, o nível de estrutura cognitiva que opera” (2003, p.106).

A referida autora ainda nos alerta que não se devem aplicar várias provas de
conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta.
Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos procedimentos da
criança, observando e anotando suas falas, atitude, solução que dá às questões, seus
argumentos e juízos, bem como a forma de arrumação do material. Isto será
fundamental para a interpretação das condutas.
Compreendemos que as dificuldades escolares englobam fatores que envolvem
não somente a criança em si, mas também o meio e os estímulos que lhe são oferecidos
para o desenvolvimento e a aprendizagem. Tais dificuldades podem ter ligação com a
ausência de uma estrutura cognoscitiva que permita que a criança obtenha a aquisição
dos conteúdos aplicados na sala de aula. Nesse sentido, a autora Weiss (1997, p. 104)
reforça a importância da visão piagetiana, visto que, “o conhecimento se constroi pela
interação entre o sujeito e o meio, de modo que, do ponto de vista do sujeito, ele não
pode aprender algo que esteja acima de seu nível de competência cognitiva, ou seja, seu
nível de estrutura cognoscitiva”.
O percurso diagnóstico por meio das provas piagetianas exige do
psicopedagogo um olhar atento frente às condições cognitivas de compreensão imediata
de exercícios envolvendo raciocínio, intersecção de classe, bem como conservação de
conjuntos. O autor Visca (1987, p. 58), mostra o “obstáculo epistêmico à aprendizagem
como derivado do nível de operatividade da estrutura cognoscitiva alcançada, estando,
portanto, associado à ideia de estágio”. Nesse momento, as provas operatórias são
importantes para obtermos uma visão genética global, no funcionamento das estruturas
do pensamento.
Faz-se necessário que, antes de iniciar as provas, a criança tenha a
oportunidade explorar o material a ser utilizado, assim, oportunizará a discriminação
dos elementos que irá manusear sem causar um nível de ansiedade muito elevado frente
ao novo.

6.1. PROVAS APLICADAS

6.1.1. CONSERVAÇÃO DE PEQUENOS CONJUNTOS DATA: 12/04/2019


Material: 08 a 10 fichas de cor azul e o mesmo número de fichas de cor vermelha.

Após a apresentação do material solicitamos à criança para escolher uma cor.


V. decidiu pela cor azul e conforme o modelo organizou as fichas em sua frente. Ao
observar a 1ª transformação a criança afirmou ter o mesmo número de fichas,
argumentando que alongamos as outras. Para compreender o processo a criança fez a
contagem recitativa. Feitas todas as transformações e contra argumentações, a resposta
de V. enquadrou-se no nível III de conservação constante. A criança foi capaz de
identificar as peças quanto à forma e à cor.

6.1.2. CONSERVAÇÃO DE QUANTIDADE DE MATÉRIA DATA: 24/04/2019


Material: 02 massas de modelar de cores diferentes

Ao iniciar a prova, apresentamos o material à criança composto por duas bolas


de massinha, nas cores vermelha e azul. Com as bolas já prontas, perguntamos se tinha
a mesma quantidade de massa em cada bola, mais ou menos. A criança parou e
observou, aproximou bem as bolas e com o olhar bastante atento disse que tinham a
mesma quantidade. Solicitamos que fizesse duas bolas com a mesma quantidade de
massa, como o modelo. A criança fez as bolas e novamente, com bastante atenção,
aproximou para certificar se estavam do mesmo tamanho.
Com a primeira deformação, no primeiro momento, a criança disse que o
formato de bola apresentava maior quantidade do que o da salsicha. Porém, instantes
depois, ficou observando e alterou a resposta, dizendo que as duas formas tinha a
mesma quantidade de massa, só mudou o formato, uma era bola e a outra salsicha. Sua
resposta apresentou justificativa de identidade.
Após a volta empírica, foram realizadas todas as deformações, e a criança
prosseguiu afirmando que as formas diferentes tinham a mesma quantidade de massa.
Ao realizar a terceira deformação, de partição, a criança respondeu que agora tinha mais
bolas vermelhas, a cor que havia sido repartida em 04 bolinhas. Porém, instantes depois,
observou e disse que a quantidade era a mesma, argumentando que havíamos feito a
separação, a divisão de mais bolinhas.
Assim, levantamos a hipótese de que a criança V. manteve o pensamento
conservativo, referente ao Nível III, pois foi capaz de emitir respostas conservativas
diante de todas as transformações e contra-argumentações, formulando o estágio de
pensamento registrado no sub-estágio do operatório concreto. Apesar de sempre fazer
uso da mesma argumentação, pensamos que a criança V. se enquadra no nível III, nessa
prova piagetiana.

6.1.3. CONSERVAÇÃO DO COMPRIMENTO DATA: 26/04/2019


Material: 02 correntes de 10 e 15cm, um carrinho de corrida.

Após expor o material a ser utilizado, oportunizamos a criança o manuseio dos


itens. Ele pegou as correntes olhou o material e assim, informamos que íamos explorar
o tamanho delas. Formulamos a primeira pergunta sobre o comprimento das correntes, a
criança respondeu que uma era maior que a outra. Quando colocamos as correntes de
uma forma que as duas terminem juntas, V. olhou com atenção e disse que uma
continuava maior, a mudança estava na forma como arrumamos, com mais voltas.
Prosseguimos com o processo inversão de situações, e a criança emitiu
respostas conservativas, referente ao Nível III. Estabeleceu a identidade inicial e
mostrou compreensão frente às transformações, apesar de não apresentar amplitude de
argumentação.

6.1.4. SERIAÇÃO DATA: 30/04/2019


Material: 10 palitos com 6mm de diferença entre eles, 1 palito número 11 e 1 anteparo.

A criança manuseou os palitos, olhou a forma e o tamanho e ouviu com


atenção a proposta da atividade. Pedimos que organizasse os palitos em uma ordem que
poderia ser do maior para o menor ou vice-versa. Assim, V. foi raciocinando, medindo
junto ao que já estava posto e foi colocando um a um. Ao terminar declarou que parecia
uma escada.
O segundo foi momento foi para colocar o palito da inclusão. Inicialmente ele
não compreendeu, então repetimos a explicação e ele foi aproximando o palito de cada
um da sequencia organizada, até que encontrou o local adequado para o novo palito. No
momento da seriação com anteparo, a criança não foi capaz de ordenar os palitos
conforme o tamanho. Frente ao exposto verbalizou que é difícil e que pensa ser um ato
impossível para as pessoas.
Avaliando a prova, sugerimos que V. encontra-se no nível II intermediário,
haja visto que, apesar de conseguir com êxito colocar em ordem crescente e decrescente
os itens e inserir corretamente o palito de inclusão, não teve sucesso ao organizar os
palitos atrás do anteparo.

6.1.5. CONSERVAÇÃO DE SUPERFÍCIE DATA: 10/05/2019


Material: 08 cartõezinhos quadrados iguais com 5cm, 02 cartolinas verdes e 02
herbívoros.

A prova foi conduzida após a identificação inicial dos elementos. Os dois


campinhos foram representados pelas cartolinas verdes, os cartões quadrados são as
casas do proprietário dos campos. Assim, ao fazermos a pergunta inicial sobre que
animal iria comer mais capim, ao introduzir um quadrado referindo-se à casinha a
criança olhou e disse que seria o outro animal do campo que não tinha casa.
Ao continuar as adições e transformações de distribuição de casinhas, V. foi
capaz de responder com êxito a todas. Para justificar as respostas, ele fez a contagem
recitativa dos quadrados associando quando tinha a mesma quantidade. Assim,
sugerimos que a criança se encontra no nível III com respostas conservativas, fazendo
uso de argumentos.

6.1.6. CONSERVAÇÃO DE LÍQUIDOS DATA: 14/05/2019


Material: 02 copos iguais, 01 copo cujo diâmetro seja mais ou menos a metade dos
dois copos, porém, mais alto que o copo testemunho, 01 copo mais largo e baixo que o
copo testemunho, 04 copinhos com ¼ da capacidade do copo testemunho, 02 garrafas
com líquido de cores, 01 toalhinha.
O momento inicial da prova foi mostrar os elementos que iríamos utilizar.
Expomos os copos na mesa e separamos os dois copos iguais. Pedimos a criança que
fizesse uma comparação dos tamanhos. V. fez a identificação inicial com êxito. Com a
continuação do processo, fizemos o transvazamento buscando verificar a compreensão
de alongamento. Logo a criança externou que o líquido continuou com a mesma
quantidade, o que mudou foi o copo. Quando fizemos o achatamento utilizando o copo
mais largo, V. argumentou que havia colocado a mesma quantidade de líquido, a
mudança estava no tamanho do copo.
A continuidade do processo se deu com o próximo transvazamento, por meio
da partição utilizando os quatro copos pequenos. A criança foi decisiva e disse que o
líquido continuava com a mesma quantidade, argumentado que ele havia colocado a
mesma porção líquida, nós que dividimos nos quatros copinhos.
Nessa prova ficou perceptível o nível conservativo da criança. Ele foi capaz de
das respostas de conservação e ainda apresentou argumentos de identidade e
compensação, justificando o nível III com o pensamento no sub-estágio do operatório
concreto.

6.1.7. INTERSECÇÃO DE CLASSES DATA: 20/05/2019


Material: 05 fichas redondas azuis, 05 fichas redondas vermelhas, 05 fichas quadradas
vermelhas, 01 cartolina de forma retangular contendo 02 círculos de cores diferentes e
também diferente das fichas.

Para dar início à prova, organizamos as fichas azuis no círculo esquerdo verde,
as redondas vermelhas no meio e os quadrados vermelhos no círculo à direita preto. Ao
perguntar se tinha mais fichas vermelhas ou azuis, a criança respondeu que eram as
vermelhas. A indagação sobre ter mais fichas redondas ou quadradas foi respondida
com sucesso, após um momento de reflexão e contagem silenciosa com os olhos.
Quanto à questão da intersecção, com a pergunta sobre as fichas colocadas no
meio, V. respondeu que era para separar. Com relação às perguntas sobre inclusão e
intersecção não obteve sucesso, respondendo que não sabia. Frente ao exposto,
compreende-se que a criança demonstra estar no nível II intermediário com o estágio de
pensamento intuitivo articulado. Foi possível perceber que respondeu corretamente as
perguntas de comparação de elementos da mesma classe, cor e forma. Porém, não errou
as indagações referentes aos itens que não são da mesma classe, como inclusão e
intersecção.

6.1.8. QUANTIFICAÇÃO DE INCLUSÃO DE CLASSES DATA: 27/05/2019


Material: 10 margaridas e 03 rosas.

Para a realização dessa prova é importante que a criança tenha o conhecimento


do que é uma flor. Assim, foi possível utilizar os elementos, pois, em outro momento,
V. teve a oportunidade de brincar com um quebra-cabeça cujas peças eram figuras de
flores. Antes de iniciar, perguntamos se ele sabia dizer quais eram as margaridas e quais
eram as rosas. Inicialmente, não lembrou o nome da margarida, mas explicou era uma
flor diferente da rosa, depois lembrou o nome e a resposta foi dada com sucesso.
Todas as interrogativas da prova foram aplicadas e a criança respondeu com
sucesso, resolvendo corretamente questões de subtração e comparação sobre mais e
menos. Nesse sentido, sugerimos que V. encontra-se no nível III, obtendo êxito em
todas as respostas.

7. AVALIAÇÃO DO NÍVEL PEDAGÓGICO

A avaliação pedagógica pretende investigar o que o indivíduo já aprendeu e


como articula os conteúdos assimilados. Investigar o nível pedagógico em que a criança
enquadra-se é bastante importante para verificar a adequação à série em que cursa. Na
avaliação pedagógica que fizemos de V.S., propomos que este nos mostrasse o que já
havia aprendido em relação às letras e números, uma vez que a criança está no segundo
ano e não apresenta desenvolvimento na leitura e na escrita.
Mostrou-nos que, por meio da ficha de identificação, decorou as letras do seu
nome, mas não consegue escrever seu nome completo, e, visualmente reconhece apenas
algumas letras do alfabeto.
Em outro momento, levamos um texto, em caixa alta, com estrutura pequena e
de fácil compreensão. Perguntamos à criança se conseguia ler o título do texto e
recebemos a resposta negativa. V. relatou que não sabe ler, que esquece tudo que a
professora ensina e que ainda vai tentar aprender, que vai estudar quando chegar em
casa. Colocamos o texto em sua frente e pedimos para tentar identificar alguma letra. A
criança coçou a cabeça e disse que o esquecimento é frequente, precisa estudar mais
para lembrar-se das coisas.
Diante de tal reação, explicamos que íamos ler o texto. Após esse momento,
fizemos algumas perguntas sobre a história e a criança respondeu todas as indagações
de forma correta. Lembrou-se do personagem e de todos os elementos principais da
história, sugerindo desenvolvimento de raciocínio e memória de acordo com a idade.
Posteriormente pensamos na tentativa do reconhecimento de algumas letras.
Apresentamos as fichas com algumas letras e espalhamos sobre a mesa. Explicamos que
tais letras formam a escrita do nome dele e solicitamos que organize as fichas formando
o nome. Ele realizou a atividade com sucesso e diz que ficou igual a ficha que
professora tem com o nome dele, complementou que está decorando as letras.
Após esse momento, fizemos outra sondagem. Separamos letras que oferecem
a possibilidade de formar palavras simples como SAPO, GATO, BANANA e pedimos
que as observe. Fizemos a pergunta: Você acha que pode formar alguma palavra com
essas letras? Você consegue? A reação de V. foi coçar a cabeça, ficou agoniado dizendo
que ia se atrasar para a escola, que ele tem que estudar para saber. Assim, com a
mediação ele conseguiu formar as palavras. Porém não fez associação de letra e som,
sugerindo a ausência de consciência fonológica. Como levantamento de hipótese,
pensamos que V. está no Nível Pré-silábico sem reconhecimento do valor sonoro, visto
que compreende que as letras servem para escrever, mas não sabe como registrar os
códigos e não reconhece os sons. Assim, não faz relação entre fonema e grafema e
coloca qualquer letra em qualquer ordem.

8. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS

No aspecto psicopedagógico, V.S. foi avaliado por apresentar “dificuldades


relacionadas à leitura e a escrita”, porque não possui nenhum vínculo com a leitura e o
não reconhecimento de letras. No decorrer do processo avaliativo, mostrou-se
colaborador em realizar todos os testes e logo estabeleceu vínculo com a estagiária. O
mesmo pode dizer em relação à mãe que se manifestou acessível a responder e
contribuir com esse procedimento investigativo.
A criança mostra-se tímido e inseguro, não realizando investimentos pessoais
nas situações de desafio e por, provavelmente, desconhecer as suas potencialidades. Não
possui articulação em seus relacionamentos, principalmente com os seus colegas de
escola, como uma forma autodefesa. Faz-se necessário também uma estimulação com
relação a sua autoestima, pois este aspecto está bem evidenciado na fala de todos os
personagens que compõe o seu ambiente social.
Diante das provas projetivas realizadas a criança não se entregou de forma
confiante e confortável frente aos desenhos. Sempre externava não saber como fazer,
que era difícil e por tais motivos, ficava por alguns segundos refletindo e questionando
como iniciar. Frente ao exposto, percebemos uma baixa autoestima, um
descontentamento com suas produções, pois sempre expressava de forma verbal sua
falta de habilidade e a frustração pelo não saber.
Na sessão que realizamos a EOCA levamos folhas coloridas e brancas em
tamanhos diferentes. A criança escolheu inicialmente a folha de tamanho menor
indicando certa capacidade de introversão e concentração. Levantamos a hipótese da
ausência em ocupar todo o lugar disponível, sugerindo uma falta de confiança em si
mesmo ou porque suas necessidades são limitadas e de fácil satisfação. Os desenhos
apresentados por V. apresentam sempre o mesmo início – uma linha no final da folha na
posição paisagem, sugerindo a necessidade de apoio ou ajuda.
Relatando sobre o tamanho do desenho e o espaço disponível na folha de papel,
consideramos a necessidade da relação dinâmica entre a criança e o seu ambiente ou
figuras parentais. V. fez seus desenhos no tamanho pequeno sugerindo uma necessidade
maior de afirmação própria, ou ainda uma criança conformada com pouco espaço. A
criança sempre inicia os desenhos da figura humana pelos pés, depois tronco, braços,
mãos e por fim a cabeça. Na maioria das vezes com ausência de detalhes, como dedos,
olhos, boca, nariz, orelha, etc. Outro ponto observado é que as figuras humanas foram
desenhadas na forma palito.
No aspecto cognitivo, podemos concluir que a criança está no estágio de
transição entre o Pré-Operatório e o Operatório Concreto, baseando-se na aplicação das
provas piagetianas, isso não impede que ele aprenda e se desenvolva suas atividades no
campo educacional, contudo, sugere um déficit em leitura e escrita.
Do ponto de vista afetivo, demonstrou alguns aspectos que sugerem
introversão e baixa autoestima. Reage sempre com timidez na presença de outras
pessoas. Demonstra grande necessidade de aceitação/aprovação, buscando sempre
corresponder às expectativas. Tal comportamento provoca em V.S. um alto grau de
ansiedade frente às exigências as quais é submetido. Observou-se um vínculo negativo
com o processo de aprendizagem, o que interfere no seu desempenho escolar.
Sua motricidade global é boa, movimenta-se bem, apresenta bom equilíbrio,
tem predominância de lateralidade esquerda, apresenta boa motricidade fina. Quanto à
orientação espacial, o paciente apresentou um desempenho abaixo do esperado. Tal
dificuldade possivelmente ocorreu devido a não exploração do ambiente pela criança
que apresenta características de personalidade introvertida. A orientação espacial foi à
área em que ele apresentou maior dificuldade. Possui noção de velocidade (lento/rápido)
e de distância (perto/longe). Demonstrou preservada capacidade autopsíquica,
informando dados de sua identificação pessoal, revelando saber quem é, como se
chama, que idade tem qual sua nacionalidade.
Nessa perspectiva investigativa, pudemos perceber que a criança possui
excelente desenvolvimento motor com boa coordenação global. Sua orientação espacial
é prejudicada por sua timidez, porem não o impede de olhar, observar, investigar o que
está ao seu redor. Sente-se inseguro em ambientes novos.
Tendo em vista todos os dados mencionados e investigados no decorrer das
sessões psicopedagógicas, podemos obter uma margem significativa relacionada aos
problemas emocionais que essa criança enfrenta e enfrentou que contribuíram
significativamente para desenvolver esse fracasso apresentado no âmbito escolar. No
aspecto psicopedagógico, V.S. prende-se muito às questões afetivas. É sabido que o
paciente tem uma grande proteção familiar, conforme relato da mãe, somado a isso
existe o fato de todas as noites ir dormir na cama dos pais. Percebemos que em nenhum
momento do processo a mãe demonstrou insatisfação ou desejo de mudar esse quadro,
ou seja, mostrou conformidade com a situação.
Apesar dos fatores citados acima durante a investigativa, podemos dizer que
V.S. mostrou-se interessado em aprender, mas existe o sofrimento. Percebemos que
falta uma orientação mais direcionada, tanto no ambiente escolar, quanto no ambiente
familiar, que trabalhe gradativamente e sem interrupções a questão da leitura e da
escrita, para que haja sucesso e progresso no processo de alfabetização dessa criança.

9. DISCUSSÃO DO DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é uma investigação do que não vai naturalmente bem com o


sujeito em relação a uma conduta agradada. Dentro desse diagnóstico, podemos buscar
parâmetros associados a uma problemática relacionada ao fato de não aprender a ler e
escrever manifestado pelo indivíduo.
Podemos aceitar a ideia de que essa criança apresenta uma dificuldade e que
precisa ser trabalhada para que haja um desenvolvimento da sua escolaridade. V.S.
expõe uma dificuldade no eixo sistemático relacionado ao aspecto educacional que é
vivenciada por ele e implica na sua dificuldade escolar. Tal problemática está ligada aos
fatores que envolvem o ambiente escolar e o familiar, interferindo do seu
desenvolvimento individual.
Compreendemos que as causas englobam aspectos de ordem ambiental,
oriundas da família, da escola e da sociedade, como um todo. São fatores intervenientes
do próprio modelo de funcionamento da família, da escola e as relações aí estabelecidas.
Torna-se necessário lembrarmos que esses fatores não são estanques, nem aparecem
isoladamente. Eles têm uma circularidade causal, como diz Fernández (1990, p. 35), “a
origem do problema de aprendizagem não se encontra na estrutura individual. O
sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares que se entrecruzam
com uma também particular estrutura individual”.
Modificações na estrutura e funcionamento da rede de relações poderiam trazer
melhorias para o educando, desmistificando a sua culpa na dificuldade de aprendizagem
permitindo assim avaliar os envolvidos nos transtornos e consequentemente abrir
possibilidades de intervenção para, a partir daí iniciar o processo de superação das
dificuldades. V. apresenta uma dificuldade significativa que sugere um déficit
específico em leitura e escrita. Por esse motivo é necessário uma avaliação com
neuropediatra e fonoaudiólogo para verificar um possível distúrbio de linguagem.

10. DEVOLUTIVA

A devolutiva é um componente de um processo de investigação contínua. O


seu início não acontece na última sessão, mas desde o momento do primeiro contato
com a família e com as informações sobre o motivo do encaminhamento ao
psicopedagogo. É sucinto levar em consideração todo o contexto referente à queixa,
visto que, a criança e a família trazem fantasias ou preconceitos da possível causa do
problema que devem ser levados em consideração, embora não possam se tornar
motivos de atrito entre paciente e psicopedagogo, ou família e psicopedagogo. Frente ao
exposto, o profissional deve agir com sensibilidade e sabedoria, com muito afeto para
que todos possam expor suas dúvidas, sentimentos de confusão ou de culpas. O
psicopedagogo deve claramente apontar o caminho para a solução do problema
apresentando de acordo com o diagnóstico e prognóstico do paciente. Alícia Fernandez
(1991, p.233) ao citar Sara Paín diz:

A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o


nível da realidade, pois a realidade é a prova; sem levar em conta a
leitura inteligente dessa realidade que lha dá a sua coerência; sem
levar em conta a dimensão do desejo, que é sua aposta; sem levar em
conta sua modalidade simbólica, que lhe dará sua paixão.

Ao realizar a devolutiva com a mãe, explicamos para ela que o trabalho


desenvolvido diante da queixa apresentada pela escola, o informe psicopedagógico com
todos os passos que foram realizados durante esta investigação diagnóstica, as
recomendações e indicações para favorecer o desempenho escolar do aluno. Assim,
informamos à mãe que V.S. é uma criança que possui todas as potencialidades para
desenvolver-se, basta somente trabalhar os pontos afetados no seu desenvolvimento,
necessitando basicamente de apoio escolar e acompanhamento familiar.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os aspectos mencionados, conclui-se que a psicopedagogia


busca as razões das dificuldades do ato de aprender, considerando o ser humano em
suas múltiplas dimensões. Perante a elaboração deste trabalho de estágio clínico, foi
possível evidenciar a realidade de um estudo de caso, que teve como objetivo avaliar e
conhecer os problemas de aprendizagem, proporcionando a nós pós-graduandos, uma
visão aprofundada sobre o que é o trabalho psicopedagógico clínico. Portanto, o
propósito desse trabalho teórico e prático foi de avaliação, para que pudéssemos analisar
a capacidade de aprendizagem da criança.
Os principais aspectos trabalhados com a criança foram: área emocional, área
cognitiva e área percepto-motora, sendo que na área emocional foram trabalhadas várias
técnicas como: observação do comportamento da criança através de desenhos e
enfrentamento a situações novas. Na área cognitiva, a criança demonstrou através da
avaliação das provas Piagetianas que seu desenvolvimento se encontra dentro do
esperado de acordo com sua idade cronológica, porém em alguns momentos apresenta
oscilações.
Buscamos investigar nível de leitura e escrita por meio de testes
complementares e de sondagem. Assim, foi possível perceber que V.S. apresenta uma
dificuldade de forma geral, demonstrando estar abaixo do que se espera para a série,
porém, quando mediado apresentou indícios que podem melhorar o quadro atual.
Revelou uma escrita com pseudopalavras e ausência de códigos alfabéticos, sugerindo
uma defasagem de aprendizagem e disfunções atencionais que requerem uma
investigação e intervenção. Quanto à área percepto-motora foram desenvolvidas várias
técnicas: investigação da leitura e da escrita, (EOCA), porém, diante das técnicas
aplicadas a criança apresentou déficit significativo de competência de leitura e escrita,
reconhecimento de letras e números, sendo necessárias mais intervenções.
Desta forma, foram realizadas nove sessões psicopedagógicas com a criança.
É perceptível que o paciente necessita de suporte pedagógico, psicológico e
acompanhamento psicopedagógico para o próximo ano, a fim de que possa progredir.
Diante dos aspectos relevantes nesse caso, podemos dizer que buscamos investigar e
tentar encontrar as causas da queixa inicial. Porém, o diagnóstico não pode ser dado e
tão pouco fechado.
Essas experiências vivenciadas e trabalhadas com V.S foram bastante
significantes e nos proporcionaram ampliar ricamente nosso leque de conhecimento na
área psicopedagógica, tanto no âmbito pessoal, como no profissional, mostrando-nos
assim que “Psicopedagogia” não é parar no tempo e sim acreditar que o aprendizado
está em constante mudança.
9. REFERÊNCIAS

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Porto Alegre: Artes Médicas:1996.

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Alegre: Artes médicas, 1994.

BRAUER, Jussara F.; BRUDER, Maria Cristina R. A constituição do sujeito


na psicanálise lacaniana: Impasses na separação. Psicologia em Estudo, Maringá,
v.12, n.3, p. 513-521, set/dez. 2007.

CASTRO, Emerson L.; AMORIM, Elaine S. Psicopedagogia na Educação Superior:


possibilidade ou necessidade? Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva,
2011.

CHAMAT, Leila Sara J. Técnicas de Diagnóstico psicopedagógico: O diagnóstico


Clínico na abordagem interacionista. 1ª edição, Vetor, São Paulo, 2004.

FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São


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PAIN,S. Diagnóstco e Tratamento e os Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre:


Artmed, 1985.reimp.2008

SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. Rio de


Janeiro: Wak Ed. 2009.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar. Petrópolis: Vozes, 2001.
SISTO, Fermino. et al (Org.). Dificuldades de aprendizagem no contexto
psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 2001.

SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clinica: como e o que


planejar. In Sisto, F. (Org.). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Rio
de Janeiro: Vozes, 1996.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagogia: epistemologia convergente. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1987.
WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas
de aprendizagem escolar. 4ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
ANEXOS
PROTOCOLO – REGISTRO DA E.O.C.A.
NOME: V. S. A. L. IDADE: 7a e 7m SÉRIE: 2° ano
ESTAGIÁRIA: Isamar Marques Cândido Pales

Temática Dinâmica Produto


(O que diz) (O que faz) (Impressão/Hipótese)
A criança chega acompanhada pelo pai no horário Responsabilidade
marcado

O pai se despede do filho, beija a cabeça e pergunta à E. Bom relacionamento com o pai
se pode oferecer água, pois a criança havia solicitado no
caminho para o encontro. Logo, dou o consentimento e
mostro o local. O pai coloca água no copo e dá para a
criança, que toma por completo.

E: Bom dia! Você é o V? Balança a cabeça confirmando.

E: Certo. Estava esperando você. Vamos entrar? (Aponto Timidez


para a porta da sala de atendimento)
E: Pode sentar nessa cadeira. Olha para mim e senta na cadeira
E: Tudo bem com você? Insegurança
V: Sim Emite o som de forma muito baixa

E: Então V. hoje é nosso primeiro encontro. E, para Timidez


começar, quero dizer que sempre que você vier aqui, eu
vou fazer anotações sobre o que falarmos e fazermos.
Tenho que fazer isso no momento para eu não esquecer,
certo?

Balança a cabeça em confirmação


E: Falo a CONSIGNA
Olha para a caixa, tira a tampa devagar e coloca ao lado
Timidez
Pega um livro e começa a folhear calmamente página por
página Atenção

Pega a caneta que está com a tampa. Olha para mim e


pergunta: Interesse por histórias e figuras
Não lê

V: Isso é uma caneta?


E: Sim, eu respondo. Insegurança
V: Ah... É que tem coisas que as vezes parece uma
caneta, mas não é. Coloca a caneta ao lado e continua tirando os itens da
caixa.
A medida que vai tirando, organiza todos, um ao lado do
outro, em cima da mesa Atenção e organização
Algumas canetas hidrográficas rolam, a criança organiza Centrado na atividade que faz
de modo que fiquem paradas

Pega outro livro e folheia por completo

Pega o lápis e olha as duas extremidades. (Um lado sem


ponta e outro borracha) Não lê
Olha para mim e diz

V: Só dá para apagar Coloca o lápis ao lado dos outros itens já retirados da Falta de iniciativa
caixa. Falta de autonomia

Pega outro livro e folheia até o final das páginas Senso de organização

Fica olhando por alguns segundos para os demais itens


dentro da caixa Sem iniciativa, persiste no ato de folhear livros

Olha para mim e volta a retirar mais elementos da caixa


Olha para a porta

Pega um gibi e começa a folhear com muita calma cada


página
Fica por alguns segundos atento a cada detalhe das
figuras Medo do desconhecido
Chega à página Para Colorir. Detém a atenção
observando o desenho em branco, pega uma caneta Interesse pelos desenhos
hidrográfica verde e começa a pintar as folhagens Não emite nenhum comentário, não lê
Escolhe a cor vermelha do mesmo tipo de caneta e pinta
o balanço do desenho
Olha para mim Interesse
Prossegue escolhendo as canetas e pinta os sapatos de
um dos personagens Usa a mão direita
Depois, segue pintando as cordas do balanço, os sapatos
do outro personagem, as flores, as mãos dos
personagens, o tronco da árvore e o rosto dos
personagens, Insegurança
Termina de colorir o desenho

Volta a folhear o gibi

Termina de folhear o gibi e o coloca junto com os outros


itens já vistos

Pega outro gibi e começa a folhear pausadamente


Olha atentamente as figuras pausando em cada balão por
alguns segundos
Olha os detalhes de cada página demorando alguns
segundos
Permanece folheando o gibi com bastante calam por
mais de 10min

Detém a atenção por alguns segundos, em uma atividade


com o título Os iguais
Franze a testa
Interesse por desenhos
Faz cara de dúvida Não lê

Termina de folhear e olha atento a capa final


Coloca o gibi junto dos outros livros

Incerteza, dúvida

Pega o gibi anterior e volta a folhear as páginas

E: O que mais você pode me mostrar sobre o que Detem a atenção na página que fez a pintura Senso de organização
aprendeu?
V: Estou procurando coisas que eu sei fazer Olha por alguns segundos para a página ao lado (Tem
um caça-palavras)

Coça a cabeça

Olha para dentro da caixa onde ainda tem alguns itens

Tamborila os dedos na mesa


Pensativo
Olha o caça palavras mais uma vez por alguns segundos

Volta a folhear Incerteza


Retorna ao caça-palavras
Sem atitude
Coça a cabeça

Olha novamente para dentro da caixa Dúvida

Tamborila os dedos na mesa Frustração por não conseguir ler

Olha para as canetas hidrográficas organizadas em cima


da mesa
Curiosidade
Detem a atenção na página Os 7 erros
Fica olhando por alguns segundos Incerteza

Franze a testa

Olha para mim e volta a folhear o gibi Dúvida

Abandona o gibi e o coloca junto com os livros

Pega um livro já visto e começa a folhear

Olha para as folhas de papel (tinha folhas de ofício


coloridas e brancas, papel com pauta e papel colorido em Dúvida
tamanho menor, na forma de quadrado)

Pega um desses e pergunta


E: Olha os materiais que você tem aqui. Pode me mostrar
mais alguma coisa que aprendeu e sabe fazer?
Escolhe uma folha com pauta

Tamborila os dedos na mesa

Pega um dos pedaços de papel colorido e fica olhando


por alguns segundos
V: Pra que?
E: Para você usar como quiser Devolve ao local que estava
Curiosidade
Suspira

Volta a tamborilar os dedos na mesa

Pega um pedaço de papel branco, pega a caneta e Incerteza, falta de iniciativa


começa a desenhar
Volta a olhar para os papéis coloridos

Tenta desenhar uma estrela, fica frustrado e diz

Fica por alguns segundos fazendo o desenho


Dúvida
Olha para mim algumas vezes

Termina o desenho e coloca em minha frente

V: Ahh... Errei, não sei fazer estrela não.

Pega outro papel colorido, uma caneta hidrográfica e Frustração


começa a desenhar
Usa o mesmo tipo de caneta para colorir

Olha para mim e continua o desenho

E: Tem mais alguma coisa que você quer me mostrar? Termina e diz Medo do desconhecido
V: Só mais uma coisa. Busca um olhar de aprovação
Entrega o desenho para mim

Gagueja

Pega um lápis de cor verde, a folha com pauta e começa


V: Pronto a desenhar
Cola o lápis de volta na caixa, escolhe uma caneta
E: Gostaria de me mostrar mais alguma coisa que esferográfica e faz desenhos
aprendeu? Escolhe uma caneta hidrográfica e faz círculos em volta
V: Só a última coisa do que desenhou com a outra caneta
Gratidão
Termina e diz
Gagueja e fala rápido Insegurança

Escreve o nome
Desenho abstrato
V: Esse é seu Balança a cabeça afirmando Formas geométricas
E: Ah, obrigada. Você sabe fazer seu nome?
V: Sei, cursiva. Mas não sei todo, todo assim não. Começa a guardar todo o material que foi retirado da
caixa

E: Olha S. nosso horário está acabando. Mas na sexta-


feira vamos nos encontrar novamente e iremos fazer Tenta organizar da forma que estava, do jeito que Frustração
outras coisas usando outros materiais. encontrou ao abrir a caixa Sentimento de inferioridade

Comenta
V: Espera que vou guardar aqui, só guardar aqui.

Termina de colocar todos os itens na caixa da forma que


encontrou Senso de organização
V: A régua estava aqui, né? Coloca a tampa e fica por alguns segundos tentando
E: Sim, mas você pode guardar como quiser. Não precisa encaixá-la adequadamente
ser na mesma ordem.
Consegue fechar corretamente

Levanta da cadeira

Sai da sala acompanhado pela E. Resgate de memória

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