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ESAMC
2
JONNATHAN FELIPE LIMA FERNANDES
Data de aprovação:
3
Ao Criador do universo, que se encarrega de
colocar cada um no lugar que lhe é de direito.
AGRADECIMENTOS
Aos colegas de classe, bem como a todos os professores que, com muita
paciência e dedicação, clarearam os horizontes que a princípio, pareciam tão
nebulosos.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
The present work deals with the penal guarantee, indicating its principles,
characteristics and uses, with its intrinsic relationship with the Democratic State of Law.
We will analyze the institute of democracy, approaching social justice as the
responsibility of the State and the history of disobedience to guarantees in Brazil,
ending with the need for a guarantee system, which materializes as the essence of a
democratic State.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 8
1. O INSTITUTO DA DEMOCRACIA ............................................................ 9
1.1 Histórico brasileiro de violações as garantias ..................................... 10
1.2 Democracia, miséria e a justiça social na Constituição ....................... 11
2. DA APLICAÇÃO DA DEMOCRACIA ...................................................... 12
3. OS ELEMENTOS DA TEORIA CRÍTICA DO GARANTISMO PENAL .... 13
3.1 Os axiomas fundamentais ................................................................... 16
3.2 A prisão processual e o princípio da jurisdicionalidade ....................... 19
3.3 A estrutura jurídica .............................................................................. 20
3.4 Da necessidade do garantismo como teoria crítica ............................. 20
4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS EM UM ESTADO DE DIREITO............ 21
4.1 Princípio da ampla defesa e do contraditório ...................................... 22
4.2 Princípio da culpabilidade ................................................................... 23
4.3 Princípio do duplo grau de jurisdição .................................................. 24
4.4 Princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas ................................. 24
4.5 Princípio da intervenção mínima, fragmentariedade e
subsidiariedade ............................................................................................ 25
4.6 Princípio da insignificância .................................................................. 26
4.7 Princípio da isonomia e da igualdade.................................................. 27
4.8 Princípio da humanidade das penas ................................................... 28
4.9 Princípio da legalidade ........................................................................ 29
4.10 Princípio da pessoalidade e individualização da pena ..................... 31
4.11 Princípio da presunção de inocência ............................................... 31
4.12 Princípio da proporcionalidade......................................................... 33
4.13 Princípio da proteção exclusiva dos bens jurídicos .......................... 34
4.14 Princípio da taxatividade .................................................................. 35
4.15 Princípio da vedação ao bis in idem ................................................ 35
5. DA EFETIVAÇÃO DA JUSTIÇA ............................................................. 36
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 40
7
INTRODUÇÃO
O garantismo é uma doutrina criada por Luigi Ferrajoli, o qual possui uma
visão garantista, transmitindo a ideia de que os direitos fundamentais devem ser
preservados em um Estado Democrático de Direito e no sistema penal. Tal
doutrina tem como finalidade a democracia e justiça social somada a aplicação
conscientizada do direito penal, como instituto de controle do poder estatal de
punir o particular que se apresenta em uma condição de hipossuficiência nesta
relação, dependendo exclusivamente de uma defesa técnica, exercida em sua
totalidade para proteger seu direito fundamental de liberdade.
8
1. O INSTITUTO DA DEMOCRACIA
Contudo, por mais que a democracia não exerça sua finalidade plena na
prática, ela continua tendo um valor fundamental. O de assegurar direitos. A
9
democracia esta em constante mutação, assim como o seu povo que a exerce,
elegendo um governo do povo, feito pelo povo e para o povo.3
3 Idem
4 STRECK E MORAIS, 2003, Ciência Política E Teoria Geral Do Estado, pgs. 52, 53 E 54
10
de rádio e tv, bem como os artistas, atingindo fortemente a cultura nacional. Uma
das decisões mais absurdas do regime militar foi a suspensão instituto do
Habeas Corpus, quando o “crime” fosse de natureza política.
A violação das garantias fundamentais só desacelerou no
governo de João Figueiredo, em meados da década de 80, quando surgiram
novas leis, com menor autoritarismo, como o restabelecimento do
pluripartidarismo político, possibilitando uma atuação política contra o governo
dos militares.
Diante deste contexto, desenvolveu-se o processo da constituinte,
dando causa a Constituição Federal de 1988 da República Federativa do Brasil,
restaurando os direitos fundamentais ilegalmente retirados da sociedade e
instituindo os direitos e garantias fundamentais a fim de se evitar os abusos do
poder estatal, como prisões arbitrárias e penas cruéis, como vivenciado no
período da ditadura.5
11
O modo de apresentação do populismo é a demagogia; quanto
ao conteúdo, ele se fixa em torno de algumas constantes. Antes
de mais nada, o populista se recusa a afastar-se do aqui e agora,
assim como dos indivíduos específicos; foge das abstrações,
das distâncias, da duração, e privilegia o concreto, o próximo, ou
mesmo o imediato. Enquanto o democrata ideal tenta encontrar
sua inspiração no que Rousseau denominava a vontade geral –
uma construção hipotética daquilo que, em qualquer momento,
seria mais conveniente a todo o povo -, o populista se dirige à
multidão com a qual está em contato: aquela de um comício em
praça pública, aquela constituída pelos ouvintes de um programa
de televisão ou de rádio. O democrata se vê levado a defender
valores impopulares, a preconizar sacrifícios, pois também se
preocupa com as gerações vindouras; o populista joga com a
emoção do momento, forçosamente efêmera. Em nome do
interesse geral, o democrata está pronto a intervir em favor das
minorias do país; o populista prefere limitar-se às certezas da
maioria.8
Podemos destacar o artigo terceiro da Constituição Federal, onde foi
estabelecida a finalidade da república, qual seja, a efetivação da justiça social,
que é atingida pelas políticas governamentais permitindo o exercício da
cidadania e o desenvolvimento da dignidade da pessoa humana. Na construção
constitucionalista, o Estado é portador de duas obrigações fundamentais,
obrigando-se a defender os direitos fundamentais no aspecto de ações na forma
negativa, e a proteção máxima, na sua atuação em forma positiva. Disto, os
direitos fundamentais detém um caráter multiforme, pois, dependendo da
situação podem ser opostos ao Estado, e em outro momento em face deles, o
Estado também pode vir a ser demandado.9
Após esta análise, podemos definir, ainda que de forma breve que os
apontamentos aos bens jurídicos relevantes para o direito penal, com o
respectivo conceito e disposição no ordenamento pátrio nacional, vez que, a
prática de um fato tido como típico, antijurídico e culpável, é uma lesão direta a
missão fundamental do direito penal, que se destina a proteção dos bens
jurídicos tutelados e a dignidade da pessoa humana, valor protegido pela
Constituição Federal. Conforme se revela a importância do bem jurídico, para
que o mesmo seja atingido há a necessidade da realização de juízo de valor
sobre a extensão do dano ao objeto ou situação social que possa justificar o
mesmo.10
2. DA APLICAÇÃO DA DEMOCRACIA
12
Partindo da premissa de o que o Brasil é um Estado Democrático de
Direito, não podemos admitir qualquer tipo de manifestação de cunho ilegal para
a definição de tipos legais, majoritariamente, os tipos penais. Mesmo na fase
procedimental, onde os juristas procuram definir determinada conduta a algum
fato típico. Os interesses ventilados através do processo da constituinte impediu
a chance de que o legislador use seu livre arbítrio para criar novos tipos penais,
mesmo que pelas melhores razões expostas. O rigor do processo legislativo é
importantíssimo para impedir eventuais inconstitucionalidades e atentados em
forma lei contra a boa técnica jurídica.11
Verificando os requisitos materiais e formais do processo legislativo para
a criação de uma norma democrática, respeitando o princípio da dignidade da
pessoa humana, toda norma que se desenvolva está subordinada a adequação
social, pois deve estar em concordância com os interesses da sociedade que a
conferiu a autoridade. Deve de imediato ser descartado o tipo penal incriminador
que represente a tutela de um bem jurídico, cuja suposta violação seria um
notório interesse público. Como exemplos a título de hipótese: a criminalização
da reunião de pessoas, para fins de debates de qualquer assunto variado, ou,
aglomerações públicas em locais aberto, supostamente, para evitar o famigerado
crime de arrastão, que a depender da técnica jurídica, poderia também
criminalizar manifestações públicas.12
Dada exposição, conclui-se que o Estado Democrático de Direito torna
impossível à criação de uma norma em sentido contrário, como os exemplos
apresentados.
Há que se destacar, caso não se respeite o texto constitucional durante
a incumbência legal que o agente restará praticando um ato flagrantemente
inconstitucional.
13
os direitos dos cidadãos, devendo observar os níveis da efetividade do
garantismo normatizado na Constituição do respectivo Estado, nas atuações do
Estado-Juiz e a concretização da Justiça, neste Estado.14
Em sua teoria jurídica da validade e da efetividade do Direito, que se
norteia na dicotomia material entre o que é a normatividade e a realidade fática,
sendo isso, o Direito válido, que é o escopo de um Estado Democrático de Direito
e o Direito prático ou efetivo, que é a sua materialização, a expressão do direito
como instituto no tecido da sociedade, estando ambos vigentes. Nessa sua
segunda característica, torna-se possível identificar antinomias do Direito, que
devem ser fustigadas, conforme sua teoria crítica.15
Como teoria política, ela brinda a necessidade do Estado-Juiz, que
esteja incumbido constitucionalmente do seu papel de justificar de forma
éticopolítica, também entendida como externa, ao Estado e ao Direito, não sendo
suficiente à mera justificação jurídica, ou também entendida como interna.
Passando assim, a ser possível distinguir o que é o Direito e o que é moral.16
Em sua obra Direito e Razão, o jurista Luigi Ferrajoli, inspirada em um
período de lesão aos direitos fundamentais, quando a Itália se encontrava em
um período de Estado totalitário, ele em síntese expõe:
14 IDEM.
15 “IBIDEM p. 12”
16 “IBIDEM p. 12”
17 FERRAJOLI, 2014, Garantismo A Brasileira, P. 787.
18 IDEM.
14
A intenção final do garantismo, não se resume a resguardar os direitos
do acusado, mas sim, garantir todos os direitos que se fundam na essência de
um Estado Democrático de Direito, sendo que todo o sistema da Justiça criminal
deve estar protegido com os direitos constitucionais de forma integral.19
19 IDEM.
15
3.1 Os axiomas fundamentais
20 “IBIDEM, p. 14”
21 FERRAJOLI, 2007, O Estado De Direito E Legitimidade.
22 IDEM.
16
de punibilidade e de procedibilidade, por fim, de todo o resto de
garantias penais e processuais que condicionam a validade da
definição legal e a comprovação judicial do delito.23
17
Como objetivo implícito, que pode ser definido como prevenção, além
dos crimes, mas de outro tipo de conduta maléfica, antiética ao delito, que por
ventura é ignorada pelas doutrinas acerca desta temática, que é a reação da
sociedade, perante a lesão do ofendido, que muitas vezes poderia desencadear
atos de selvageria, para fins de justiçamento. Que poderia ser tanto por do
ofendido ou parcela da sociedade que se solidarizam com ele. Estando o
acusado, se encontrando assim já e em um estado de condenado, mesmo sem
qualquer movimentação da máquina pública, pois, para evitar essas condutas
maléficas, se vitima o acusado. Aqui lançasse que o Direito Penal, tem como
objetivo não apenas a prevenção de delitos, mas de igual modo prevenir as
injustas punições.38
Continuando no leque das garantias associadas ao crime, o Princípio da
Lesividade, tem sua expressão através do condicionamento punitivo, somente,
quando se tratar de danos reais aos bens jurídicos materiais, o mestre Ferrajoli
expõe que o ato tem que ter resultado lesivo, e esta é uma circunstância
elementar para a configuração do crime. Esse incondicionamento vem em favor
da humanidade das penas, em razão de que a pena qualitativa e quantitativa,
que ultrapassarem o necessário para reprimir as reações informais que é o réu
se encontra como vítima, podendo ser assim uma violação a dignidade da
pessoa humana. Verificando assim, que se impõe um limite máximo não
superável, para evitar que o réu seja reduzido para a condição de coisa, em um
sacrifício em favor das finalidades alheias ao Direito Penal.26
Em continuidade ao princípio supracitado, encontra-se o Princípio da
Materialidade que em sua definição, demanda que para a configuração de um
delito, a ação seja vindoura de uma ação humana, para que seja penalmente
relevante, ou seja, aquilo internalizado no homem, dentro de seu âmago, não
encontro respaldo jurídico para ser punido, desde que não tenha sido
externalizado e efetivamente lesionado um bem jurídico relevante. E por mais
extenso que um dano seja não será penalmente estimado, senão se apresentar
como um efeito de ação. Preservando assim, a liberdade de consciência na força
de que extingue a punição aos aspectos morais, religiosos e sentimentais.27
Em conjunto, há o Princípio da Culpabilidade, decorrente desses
supracitados, sua intenção é a inexistam punições, em virtude de
responsabilidade meramente pelo resultado, atentando-se para que não exista a
responsabilidade objetiva no Direito Penal, devendo ser inexoravelmente
observa a princípio de culpa a subjetividade. Não sendo possível, a punição pela
lesão ao bem jurídico, mas também observando a indispensável culpabilidade
do agente.28
18
Em relação à acusação, o Princípio Acusatório, apresenta como
proposta, que o acusado é um sujeito de direito, não sendo mero objeto de
investigação, estando a ele garantida a igualdade de condição com o órgão
acusador. Entendendo como acusatório, todo o sistema processual em que há
separação de partes e julgamento como debate paritário, no qual deslinda pela
acusação, cuja esta incumbida da prova, que deve estar em respeito ao
contraditório público e oral, definido pelo Estado-Juiz em sua livre convicção.29
Em derivação do princípio acima, também derivado do sistema
acusatório, o Princípio do Contraditório ou da Defesa, que garante o direito de
se contestar o que pretende a acusação. Em sua essência tem como
pressuposto, a igualdade entre o órgão acusador e a defesa. Faz que a presença
da defesa, através de um defensor tecnicamente capacitado para litigar no caso
seja fundamental para a existência do processo e respeito ao princípio
abordado.30
19
julgado. A prisão jamais deve ser vista como forma de garantia, para preservação
dos meios de prova, garantia de realização do interrogatório do réu ou a
confissão do delito.46
Uma condução coercitiva somente se justificaria em caso de ser levado
o acusado, à presença do Estado-Juiz para que de imediato fosse interrogado.
Em vista de que qualquer período restringido do direito fundamental a liberdade,
é um prejuízo para a defesa, em vista de a situação ser menos prejudicial à
acusação. A detenção não pode ter outro fim, a não ser que a de colocar de
forma submissa o acusado no processo, impondo obstáculos a defesa, forçando
uma confissão ilegal e até que possibilitar que por parte da acusação, as provas
sejam deturpadas, pois, não há que se falar em cautela ao processo, somente
por parte de quem acusa.47
20
assemelha a uma masmorra do período medieval, percebemos que existe um
abismo entre o formal e o material, entre o estudo e a realidade, entre o
conhecimento e o convívio.
No âmbito processual, existem muitos condenados que permanecem
cumprindo pena mesmo já tendo a remido em sua totalidade e continuam no
sistema prisional por carecer de defesa técnica para socorrê-los. Existem ainda
uma quantidade enorme de presos provisórios que superlotam o sistema
prisional carecendo de defesa técnica, onde grande parte delas serão
inocentadas no final do processo por essa “pseudo-justiça”, mas que ficarão
marcadas pelo resto de suas vidas com a má fama de ter integrado tal sistema,
diminuindo suas possibilidades de ressocialização.34
Em regra, a condição média dos estabelecimentos está muito além do
insalubre, onde ocorrem diversas violações a direitos e garantias fundamentais,
tanto que foram reconhecidas através da Ação de Descumprimento de Preceito
Fundamental 347, instaurando-se na República Federativa do Brasil, o Estado
de Coisas Inconstitucionais.35
O Supremo Tribunal Federal ao julgar, estabeleceu que o Poder
Executivo estava proibido de contingenciar valores disponíveis no Fundo
Penitenciário Nacional e determinou que Juízes e tribunais de justiça
começassem a realizar audiências de custódia com a finalidade de viabilizar o
comparecimento do custodiado perante a autoridade judicial, no prazo máximo
de 24 horas, desde o momento da prisão.
Na Audiência de Custódia encontramos a lide de maior importância para
o advogado criminal. Nela, o operador do direito busca fazer justiça, evitando o
aprisionamento do acusado, pois, muitas vezes, sua prisão ocorreu sem
fundamento legal ou em contraposição ao ordenamento jurídico. A audiência de
custódia é importante pois é nela que se avalia previamente a presunção de
inocência e possíveis abusos praticados pela autoridade policial. É importante
observar que a mera custódia do acusado não é irrelevante pois pode significar
o fim de sua integridade física, a violação de seus direitos e até mesmo o
cometimento de crimes contra o acusado, dentro de um estabelecimento
prisional.22
21
ao agir do agente público, limitando também o mister da atuação do defensor
dos direitos possivelmente violados pelo Estado-juiz, listando-os e apontando
para suas aplicabilidades e funções no direito de defesa e até para a função de
acusação.
22
O princípio do contraditório é elemento essencial ao processo.
Mais do que isto, pode-se dizer que é inerente ao próprio
entendimento do que seja processo democrático, pois está
implícita a participação do indivíduo na preparação do ato de
poder. A importância do contraditório irradia-se para todos os
termos do processo. Tanto assim que conceitos como ação,
parte e devido processo legal são integrados pela
bilateralidade.52
23
4.3 Princípio do duplo grau de jurisdição
24
remédios eficazes para se contrapor aos excessos e abusos dos
órgãos oficiais.43
25
forma de intervenção deverá ser maximamente lastreada no texto constitucional,
para a proteção dos bens jurídicos imprescindíveis e mais valorizados pela
sociedade.45
De tal forma que a atuação estatal, só terá lugar após a impossibilidade
da realização do controle social com os institutos despenalizantes, para assim
evitar encarceramentos desnecessários. Assim sendo um dos mandamentos
para a existência de um Estado Democrático de Direito, como forma de se
manifestar perante a sociedade, o agir estatal deve ser mínimo e estritamente
necessário, em vista da soberania do povo.46 Vale expor tais visões doutrinárias:
26
como as singularidades do fato, para que seja possível fixar, ainda que de forma
indireta, se há gravidade na lesão ou não.51
Conforme expõe Cezar Roberto Bitencourt:
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos
bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a
esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto
típico. Segundo esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou
de princípio da bagatela, é imperativa uma efetiva
proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende
punir e a drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas
que se amoldam a determinado tipo penal, sob o ponto de vista
formal, não apresentam nenhuma relevância material. Nessas
circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a tipicidade penal
porque em verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado.71
27
conduta dos cidadãos e o critério de igualdade (isonomia) não
para todos, senão para os iguais, já que a desigualdade parece
justa, e é, com efeito, não para todos, senão para os
desiguais.”.73
28
O Pacto de Nova Iorque de 1966 determina que "Toda pessoa privada
de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade
inerente à pessoa humana". A privação de liberdade implica, necessariamente,
um processo. Resulta, portanto, clara a obrigação dos órgãos de persecução e
julgamento de respeitar os direitos personalíssimos do acusado no processo e
durante sua tramitação.58
Segundo Duque Estrada Rodrigo Roig que:
58 IDEM.
59 ROIG, 2014, Execução Penal, P.31.
60 SEMER, 2014, Princípios Penais no Estado Democrático.
61 IDEM.
29
convenções e tratados internacionais, desde os primórdios do iluminismo, é de
importância ímpar para a limitação do poder estatal.62
Esse princípio se orienta através das suas quatro funções primordiais,
que é a proibição de retroatividade da lei penal, exceto em casos para beneficiar
o réu, vide a expressão nullun crimen nulla poena sine lege praevia. A proibição
de crimes e penas em virtude de costumes, devendo haver respeito à reserva
legal, toda lei pena que visa impor pena, tem de estar escrita. A impossibilidade
de analogia para imputar crimes, fundamentar ou agravar penas, estando ai
presente à proibição da analogia in mallam partem e por fim a proibição de
incriminações vagas e indeterminadas, devendo o fato imputado deve ser
narrado de forma clara e inequívoca, representando assim o princípio da
taxatividade.63
A título de reflexão compartilho o pensamento de José Henrique
Pierangelli, que expõe:
30
Observando os dois fundamentos do princípio da legalidade, um que
dispõe de natureza jurídica e outro de natureza política.67
Conforme expõe Cleber Masson:
A taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte
do legislador, a determinação precisa, ainda que mínima, do
conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, bem
como, da parte do juiz, na máxima vinculação ao mandamento
legal, inclusive na apreciação de benefícios legais.68
67 IDEM.
68 MASSON, 2010, Manual de Direito Penal, P. 23 90 IDEM.
31
permanência do acusado em um estado de inocência até o respectivo trânsito
em julgado de uma sentença condenatória irrecorrível. Para o deslinde de uma
condenação penal, o encargo probatório se encontra com o órgão estatal
acusador, ou seja, o Ministério Público, que tem a obrigação legal de reunir
provas lícitas e robustas, para influenciar na cognição do magistrado,
transformando os fatos alegados, em uma possível verdade real, através do
contexto probatório, com sua solidez, transformando evidências e suspeitas em
uma sentença com a devida fundamentação.69
Conforme Aury Lopes Júnior, o princípio é um dever para o Estado-Juiz,
assim sendo, a presunção de inocência impõe uma visão inequívoca, de que o
acusado seja tratado como inocente ao expor:
69 CORREIA JUNIOR, 2016, Audiência de Custódia mo Processo Penal Brasileiro: Uma Análise À Luz Da
Convenção Americana De Direitos Humanos.
70 LOPES JÚNIOR, 2008, processo penal no limite, p. 188
71 MOSSIN, 2005, garantias fundamentais na área criminal.
72 OLIVEIRA, 2005, curso de processo penal, p. 31.
73 IDEM.
32
princípios processuais, como o de que o encargo de provar, pertence a quem
alega. O silêncio jamais importará confissão de fato. Não há que se obrigar a
realização de exames periciais, muito menos tomar parte da reconstituição do
fato.74
De acordo com a inteligência de Guilherme de Souza Nucci:
74 IDEM.
75 NUCCI, 2012, Código Penal Comentando, P. 91
76 BOSCHI, 2006, Das Penas E Seus Critérios De Aplicação.
33
uma relação inextrincável, e que não pode ser dissolvida,
justificando, assim, a intercambialidade dos termos
proporcionalidade e razoabilidade no ordenamento brasileiro.79
34
ética ou o credo religioso, direcionando o direito penal exclusivamente aos bens
jurídicos de maior relevância para a sociedade.83
Conclui-se assim, a ideia de que existe uma relação intrínseca entre tal
princípio e um Estado Democrático de Direito conforme os ensinamentos do
mestre Ferrajoli, sendo fundamental que as inovações legislativas, passem pelo
processo legislativo, em que é garantida sua autoridade através da soberania do
povo, que a deposita nos representantes através do voto popular.
83 IDEM.
84 PEREIRA E SILVA, 2012, PRINCÍPIOS PENAIS.
85 FERRAJOLI, 2017, DIREITO E RAZÃO DA TEORIA DO GARANTISMO PENAL, P. 345
35
vedação da dupla instauração de processo em razão de um mesmo fato tido
como crime.86
Materializa-se uma verdadeira barreira aos abusos do poder estatal,
através deste princípio o poder punitivo do Estado, se encontra limitado a uma
única punição, diante um fato único. A punição logo deve ser individual,
englobando tanto a pena como o fato agravante. Sendo fundamental, no caso
de concursos de crimes, para que não se afaste a pena base do mínimo legal
sem o respaldo jurídico que a fundamenta e possibilita.111
5. DA EFETIVAÇÃO DA JUSTIÇA
86
MASCARENHAS, 2009, O Princípio "Ne Bis In Idem" Nos Âmbitos Material e
Processual Sob O Ponto De Vista Do Direito Penal Interno.
36
população e o desejo de violar normas constitucionais assombram o garantismo
que hoje protege o cidadão. Frases como “bandido bom é bandido morto “e
“direitos humanos para humanos direitos” nos remete ao terror vivenciado
durante a terrível ditadura militar. Graças ao Estado Democrático de Direito e a
separação dos poderes, que possuí o sistema de pesos e contrapesos, cabe ao
judiciário garantir que nossa Carta Magna seja protegida. Diversos projetos de
lei inconstitucionais que pretendem extinguir tais direitos são apresentados ao
congresso, alguns sendo até mesmo aprovados e, posteriormente, considerados
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Cabe ao judiciário, que até os
dias de hoje tem cumprido sua missão com louvor, impedir tais abusos e
imposições de outros poderes, efetivando assim, a aplicação de nossa gloriosa
constituição cidadã.
37
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
38
abstração que se entende como se Justiça fosse, em razão dos parvos meios
conferidos ao sistema penal em virtude do desinteresse político, para buscar a
efetivação da tutela jurisdicional relativizada. Os recursos materiais,
historicamente ao desbravar do tempo se tornam mais abundantes, em
contraste, da ruína às garantias fundamentais, que se projetam ao longo da
eternidade.
Logo, conclui-se que se retirarmos os pilares que sustentam o direito de
defesa, tolerando que se atropele o Código de Processo Penal, o Código Penal
e a Constituição Federal, como se nada fosse, estaremos próximos do abismo
da barbárie, não havendo espaço para processos kafkianos no século atual.
Como pressuposto elementar do devido processo legal, há o equilíbrio ficto e
jurídico, entre a acusação e a defesa. Em caso de tolerância com a atuação em
desconformidade com a lei, por parte do Ministério Público e ou Estado-Juiz, a
última coisa que de fato se alcançará por esta forma de jurisdicionalidade é a tão
venerada Justiça.
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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42