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O caso concreto consistiu no fato do consumidor ter ajuizado ação indenizatória contra a
Camil Alimentos S.A em razão ele ter adquirido quatro pacotes de arroz da empresa e, ao abri-
los, perceber que tinha fungos, insetos e ácaros. Mesmo que o produto não tenha chegado a ser
consumido, o STJ entendeu viável o consumidor ser indenizado em R$ 23,50 em razão de danos
materiais, porque esse é o valor gasto para aquisição dos produtos, e R$5.000 por danos morais.
Sob ótica legalista, nota-se que o fundamento para sustentar a decisão advém do art. 8º
do CDC, onde é dito que os produtos postos no mercado de consumo não podem acarretar riscos
à saúde ou segurança dos consumidores, bem como o art. 12, §1º, CDC, onde é estabelecido
que é considerado como produto defeituoso aquele que não fornece segurança que se pretende
esperar. Destarte, ocorre fato do produto, só pelo fato de o produto acarretar risco. Não existe
a necessidade de o dano efetivamente ser desencadeado, pois o mero risco de dano já permite
gerar responsabilidade perante o fornecedor.
Entende o STJ que saber se um produto fornece segurança do que se pretende esperar vai
depender do senso comum sobre tal produto. Quando o nível de segurança é abaixo ao que é
socialmente tolerável, então é possível constatar que o produto viola a expectativa de segurança
esperada desse produto. No presente caso, é logicamente inadmissível esperar fungos, insetos
e ácaros em um pacote que contém gênero alimentício destinado ao consumo. Portanto, é válido
a indenização por danos decorrentes pelo risco que o consumidor ficou exposto, cabendo ao
fornecedor responder objetivamente (ou seja, não há necessidade de comprovar dolo ou
culpa), nos termos do art. 12, caput, CDC.
Em relação ao dano moral (prevista no art. 5º, V e X, CF, no art. 6º, VI, CDC, bem como
no art. 186 do CC), essa existente não só quando os direitos de personalidade da pessoa humana
são lesionados, mas também pelo simples fato de estarem ameaçados, o STJ entende a adoção
para o caso em estudo a tese de que não há a necessidade de comprovação de abalo psicológico
sofrido, pois o próprio fato, por si só, já acarreta prejuízo aos direitos de personalidade. Ou seja,
adota-se os danos morais in re ipsa quando alguém acha corpo estranho em alimento que possa
resultar abalo a dignidade do ser humano.
O assunto ganhou meu interesse porque há conflito no próprio STJ sobre ele. Se para a 3ª
Turma do STJ a simples presença de corpo que, por questões sanitárias, não deveria possuir no
alimento industrializado, configura danos morais in re ipsa, quando esse mesmo caso chega na
4ª Turma, eles não consideram danos morais, pois só aconteceria danos morais caso o alimento
estragado fosse ingerido, seja de forma total ou parcial. É interessante perceber nas divergências
os antagonismos de ideias existentes sobre o conceito de dano moral, bem como, a depender da
sorte, é possível que o consumidor perca ou não, garantindo alta insegurança jurídica. Algum
embargos de divergência sobre esse assunto deve ser resolvido urgentemente para garantir a
uniformização jurisprudencial!
NOTÍCIA: https://www.conjur.com.br/2021-ago-26/dano-moral-corpo-estranho-
alimento-nao-depende-ingestao