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O estudo de Etnobotânica através das PANC e ilustração científica

Carmélia C. Ferreira¹; Mileni G. Vieira²; Giovanna B. Leonel³

Resumo

Introdução

O ensino de ciências é desenvolver junto ao estudante situações de aprendizagem nas quais poderão a
partir de fenômenos naturais, construir conhecimento, relacionando o mesmo com a compreensão de
conhecimento científico e tecnológico (GUIMARÃES, 2009).
Segundo Delizoicov (2009), a educação baseada no conhecimento científico, permite o estudante
apropriar-se do seu potencial explicativo e transformador, abrindo um leque de situações, sobretudo no
que se vincula ao entendimento do papel social da ciência, conforme salienta Delizoicov (2009):
Pretende-se, pois, que a ciência e seus conhecimentos sejam incorporados enquanto cultura.
Sem dúvida, a educação escolar tem um papel a desempenhar e uma parcela de contribuição a
dar no processo de formação cultural de nossos jovens (DELIZOICOV, 2009, p. 70).

Para isso, é necessário que se realizem diferentes atividades no ensino de Ciências, acompanhadas de
questões problematizadoras, que orientem o estudante à investigação e a contextualização dos saberes
científicos em seu cotidiano. Para que ocorra uma investigação, o estudante precisa agir nela, para que
possibilite a reflexão, discussão, explicação e não apenas a observação de fatos e fenômenos. As
atividades experimentais caracterizam-se como uma importante ferramenta no processo ensino-
aprendizagem de Ciências, uma vez que podem despertar o interesse nos estudantes e oportunizar a
vivência com situações de observação e indagação científicas (CAVALHEIRO, 2008; RODRIGUES,
2007).
A etnobotânica pode ser considerada como uma disciplina de caráter interdisciplinar na qual os
conhecimentos dialogam em diferentes áreas, conhecimentos esses que são elaborados e
sistematizados, ainda que pela tradição, pelas denominadas populações tradicionais. A etnobotânica
efetiva um esforço no sentido de aproximar os conhecimentos formais dos conhecimentos tradicionais
uma vez que cada grupo atribui ao mundo natural diferentes significados, tomando como referência sua
própria cultura (GUARIM, 2000).
A importância dos conhecimento das comunidades tradicionais deve estar alinhado ao conhecimento
científico. Desta forma, abre-se espaço para aprender sobre conhecimentos tradicionais –
simbolicamente codificados em mitos, lendas e ritos de passagem – e conteúdos conceituais já
presentes nas aulas de Ciências. Propiciar o respeito entre as dimensões “científica” e “cultural” de
nossa herança cultural requer que sejam apresentadas e discutidas, nas aulas de Ciências, diferenças e
semelhanças entre as mesmas. Aprender sobre o conhecimento tradicional pode ajudar a aprender sobre
o sentido, objetivos e práticas das Ciências. Nesse sentido, analisar o uso da palavra “ciência” no
contexto de práticas tradicionais pode esclarecer seu sentido também no âmbito científico
(VERRANGIA, 2010).
A escolha da ilustração botânica de Plantas Alimentícias não convencionais (PANC) partiu da proposta
de segurança alimentar, que é a garantia de todas as dimensões que inibem a ocorrência da fome, que
garante alimentos de forma sustentável para comunidade. Partindo deste princípio é que surge a
proposta de realizar um estudo sobre essas plantas, que fazem parte do contexto etnocutural da
comunidade e que é negligenciado no meio acadêmico, desse modo a ilustração científica é a arte da
representação que alia conhecimentos das ciências e das artes (SANTOS; RIGOLIN,2012).
De acordo com Rapatão e Peiró (2016), para um ilustrador científico do mundo natural, é necessário o
conhecimento relacionado às técnicas de ilustração, como o relacionado às ciências biológicas. É
preciso pesquisar, conhecer o nome científico e popular, características e classificação sistemática dos
seres vivos. É um trabalho que consiste na representação fiel de um material biológico determinado,
respeitando-se todas as medidas, dimensões e contraste de cores, mesmo que retratado em preto e
branco (ARAÚJO, 2009).
Portanto, o objetivo deste projeto é resgatar o conehcimento sobre Etnobotânica aplicado ao Ensino de
Ciências do 9º Ano do Ensino Fundamental verificando o conhecimento sobre as Plantas Alimentícias
Não Convencionais que os estudantes aprenderam com seus pais e avós, ao mesmo tempo identificar
por meio de atividades aplicadas, as possibilidades para o melhor entendimento da linguagem técnica
presente no ensino de ciências formal.

Justificativa

As Plantas alimentícias não convencionais, são plantas muitas vezes consideradas daninhas por serem
planta espontâneas e competirem com no plantio convencional, porém, algumas destas plantas,
possuem alto valor nutricional e podem complementar não só a alimentação humana como animal, e
também serem uma fonte de renda para os produtores familiares nos sistemas agroecológicos. O termo
PANC foi criado em 2008 pelo Biólogo e Professor Valdely Ferreira Kinupp e refere-se a todas as
plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou
exóticas que não são inclusas na alimentação cotidiana.
Com o processo de industrialização, a diversidade de alimentos vegetais consumidos pela população
diminuiu, além disso, o êxodo rural fez com que a população perdesse o conhecimento que no passado,
era transferido de geração para geração. Voltar a consumir essas plantas esquecidas é uma forma de não
perder essa cultura, e buscar a valorização do conhecimento dos produtores que ainda permanecem na
“roça” (RANIERI et al., 2017).
No que se refere a segurança alimentar, as PANC podem promover o aproveitamento de áreas
consideradas improdutivas, uma vez que, estas possuem exigências distintas em determinadas épocas
do ano. O optar por espécies mais resistentes oferta de alimentos seja menos afetada por excesso de
chuvas, por ondas de calor ou frio, além de protegerem o solo contra erosões (KINUPP, LORENZI,
2014).
Devido ao desconhecimento de suas propriedades e formas de uso, esses vegetais, acabam não sendo
aproveitados. Sabe-se que a PANC podem ser uma forma de diversificar e enriquecer a alimentação e,
assim, é de grande importância averiguar e difundir informações, pois elas poderão tornar-se uma nova
alternativa de produção e consumo de alimentos de qualidade, colaborando no combate à fome e na
promoção da saúde.
Trazer as PANC para o contexto escolar, propicia o aprendizado de forma significativa, resgatando a
identidade cultural e ancestralidade de cada estudante. Além disso, ativa o seu protagonismo como ator
do seu próprio saber, tendo o professor como o mediador do conhecimento. Buscar essa consonância
entre o conhecimento tradicional e o conhecimento científico pode proporcionar diversas experiências
positivas junto a escola e a comunidade ao entorno.
Diversas técnicas da ilustração podem ser usadas, tais como o grafite, o nanquim (pontilhismo), o lápis
de cor, a aquarela, além da técnica da ilustração científica digital em que programas de computador
permitem ilustrar para a ciência.
Quando se trabalha com o estudo de seres vivos, as ilustrações tornam-se ainda mais utilizadas, com o
intuito de aumentar o interesse dos alunos pelos organismos ou fenômenos biológicos.
Mas, como coloca Olson (1997, p. 242), as diversas técnicas utilizadas nessas representações podem
evidenciar diferentemente as características estruturais do que se quer representar: Uma figura em um
livro didático das partes de uma flor não se parece em nada com nenhuma flor real. Contudo, essa flor
pintada, uma representação, se torna a entidade conceitual, em termos, da qual nós percebemos e
classificamos as flores reais. Os desenhos botânicos, como os mapas, passam a ser os modelos
conceituais nos termos dos quais se dá nossa experiência do mundo. Assim, estas representações podem
ser responsáveis por uma construção distorcida de conhecimentos por parte dos alunos que, quando têm
oportunidade de contato com o material vivo, podem desencadear reações de frustração, inclusive
quando se trabalha com vegetais. É importante salientar, ainda, a necessidade de se trabalhar a biologia
vegetal, uma vez que alunos vêem mostrando uma pequena atração pela mesma, preferindo o estudo
dos animais. Experiências em programas de formação continuada de professores de ciências e biologia
revelam, também, uma preferência por parte dos professores em priorizar certos temas em sala de aula,
deixando aqueles referentes à biologia vegetal para etapas finais (MARTINS; BRAGA, 1999), sendo
abordados de forma superficial, rápida e através da memorização de termos específicos.

Questão Problema

Como trazer o protagonismo do educando, alcançando as habilidades, construindo o protagonismo


estudantil com suas percepções culturais e o conhecimento científico, junto a escola, por meio a
etnobotânica e ilustração botânica de Plantas alimentícias não convencionais.

Metodologia

O projeto está em desenvolvimento na Escola Estadual Professor José Leite Pinheiro, no município de
Cerqueira César, interior de São Paulo, com educandos do 9° ano A e B do Ensino Fundamental. Para
dar início as atividades, foi realizado um dialogo com os estudantes, observando as suas habilidades
com ilustrações de maneira geral, foi possível propor um trabalho pouco difundido nas escola, como a
Etnobotânica com ilustrações científicas de PANC.
A escolha das espécies se deu pela sua diversidade biológica de PANC no munícipio, podendo assim,
serem encontradas com facilidade, além disso, foi possível resgatar conhecimento tradicionais dos
familiares dos alunos participantes. As primeiras espécies apresentadas no projeto são descritas a seguir
como o nome popular regional, seguido do nome científico: Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata),
Serralha (Sonchus oleraceus), Caruru (Amaranthus viridis), Almeirão roxo (Lactuca canadensis) e
Beldroega (Portulaca oleracea). A ilustração foi realizada com o a visualização presencial do material
biológico observando as características morfológicas dos vegetais estudados (forma, tamanho, textura e
cor), e também sendo colocado sob uma folha sulfite A4 e, em seguida, decalcada com lápis de desenho
tipo B e HB, além de giz de cera de diferentes cores. Após a ilustração, os estudantes realizaram uma
pesquisa para cada uma das espécies, destacando suas características biológicas, componentes
nutricionais e receitas.

Resultados
Considerações finais

Referências Bibliograficas
CAVALHEIRO, P. S. Monitoria como estratégia pedagógica para o ensino de ciências no ensino
fundamental. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências) - Instituto de Ciências Básicas e
da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2008.

DELIZOICOV, D. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2009.

GUIMARÃES, L. R. Atividades para aulas de ciências: ensino fundamental 6° ao 9° ano. São Paulo:
Nova Espiral, 2009. (Série Professor em Ação). 262 Estudos IAT, Salvador, v.5, n.3, p. 250-262, out.,
2020.

GUARIM, V. L. M. S. Educação e sustentabilidade ambiental em comunidades ribeirinhas tradicionais.


Cuiabá, 2000. 214 p. (Tese de Doutorado) IE/UFMT, 2000.

KINUPP, V.F; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de
identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da
Flora, 2014.

PASCHOAL, V.; GOUVEIA, I.; SOUZA, N.S. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs): o
potencial da biodiversidade brasileira. Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Ed. 68, 2016.

RANIERI, G.R.; REITER, A.S.; BORGES, F.; NASCIMENTO, F.; GONÇALVES, J. R. Guia pratico
sobre PANC: Plantas Alimentícias não convencionais. 1 ed. São Paulo: Institituto Kaíros, 2017.

RAPATÃO, V. S.; PEIRÓ, D. F. Ilustração científica na biologia: aplicação das técnicas de lápis de cor,
nanquim (pontilhismo) e grafite. Revista da Biologia, v. 16, n. 1, p. 7-14. 2016.
RODRIGUES, M. L. B. A pratica pedagógica em ciências fundamental e a mobilização dos saberes
docente. Dissertação, PPGE/UFPI, 2007.

SANTOS, R. R.; RIGOLIN, C. C. D. Interação entre ciência e arte na divulgação científica: proposta
de uma agenda de pesquisa. Revista do EDICC (Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura), v. 1,
2012.

VERRANGIA, D. Conhecimentos Tradicionais de Matriz Africana e Afro-Brasileira no Ensino de


Ciências: Um Grande Desafio. Revista África e Africanidades - Ano 2 - n. 8, fev. 2010.

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