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Curso Básico IAA

Junho 2021

Apostila
Índice

O INATAA 03

Introdução a E/A/TAA 06

Histórico da TAA 08

Interação Homem Animal 11

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA 14

Bases da Psicologia para a A/E/TAA e Benefícios Psicológicos da Interação H-A 19

Legislação e Responsabilidade na Guarda, Transporte e Utilização de Animais 23

Metodologia da Pesquisa Científica na TAA 29

Equoterapia 36

Controle de Saúde Animal 39

O Papel do Médico Veterinário na A/E/TAA 47

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA 56

Educação Assistida por Animais - EAA 64

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta 69

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal 79

Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais 87

Tradução do Artigo 91

Índice
2
O INATAA
Cristiane Blanco
Presidente do INATAA
presidencia@inataa.org.br

O INATAA é uma ONG, Organização Não Governamental, fundada em 2008 que atua nas áreas de Terapias
Assistidas por Animais - AAA/EAA/TAA.
É constituída de voluntários e profissionais com experiência de mais de dez anos em atendimentos terapêuticos e
ações voluntárias envolvendo a interação homem-animal.
A sua missão é proporcionar os benefícios dos efeitos terapêuticos dos animais, por meio da interação Homem-
Animal na Educação, Atividade e Terapia Assistidas por Animais E/A/TAA, para a melhoria da saúde física, emocional e
mental dos pacientes/assistidos.
Tem como visão ser uma Organização de classe mundial, que busca constantemente realizar a Educação ,Atividade
e Terapia Assistidas por Animais – E/A/TAA, com qualidade e eficiência, desenvolvendo, aperfeiçoando e aplicando ações
para proporcionar resultados positivos, que melhorem a qualidade de vida dos pacientes/assistidos e colaboradores.

Os seus valores são:


• Trabalhar com conceitos éticos;
• Corresponder às necessidades dos pacientes e colaboradores com ajuda especializada e profissional;
• Valorizar o ser humano e o animal em suas necessidades, respeitando-os sempre, em qualquer situação;
• Proporcionar:
1- O bem estar de indivíduos e animais na Interação Homem-Animal;
2- O aprofundamento de conhecimentos de seus colaboradores na área de Interação Homem-Animal;
• Manter a privacidade/ confidencialidade de informações e assuntos relativos à vida pessoal dos pacientes e colabora-
dores, bem como o do próprio Instituto.

Cujos Objetivos Sociais são:


• Desenvolver sempre a prática com suporte de profissionais das áreas correlatas – médicos, veterinários, psicólogos,
assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, adestradores e outras especialidades;
• Em hospitais, clínicas, instituições, entidades assistenciais, casas de repouso, abrigos, escolas e centros de recuperação
ou em qualquer outro local que possibilite e permita a aplicação destas;
• Promover a avaliação da saúde dos pacientes das instituições, a serem assistidos por meio de profissionais ligados `a
Organização e/ou das próprias instituições, bem como da saúde e do comportamento dos animais que serão utilizados;
• Fornecer e esclarecer os resultados e seus efeitos para a sociedade e para toda e qualquer classe de pacientes que
serão assistidos por estas atividades;
• Buscar constantemente o aperfeiçoamento de nosso trabalho por meio do desenvolvimento e aplicação de novos
métodos e técnicas;
• Atender a comunidade por meio de programas previamente estabelecidos para cada entidade;
• Incentivar a ação do voluntariado em todos os programas a serem desenvolvidos;

O INATAA
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• Estabelecer parcerias com entidades de ensino, escolas, faculdades e universidades, empresas privadas e com o go-
verno, como estabelecer convênios, intercâmbios e outras formas de junção e união com grupos e outras associações e
organizações brasileiras e internacionais;
• Cooperar com profissionais da saúde para identificar necessidades fundamentais dos pacientes e, assim, estabelecer
pesquisas/estudos na área para ampliar os benefícios dos nossos programas.
• Divulgar conhecimentos técnicos e correlatos: Bancos de dados por meio de revistas, boletins ou outras formas de divulgação;
• Incentivar e promover estudos, trabalhos e pesquisas no âmbito da aplicação do benefício terapêutico dos animais
em tratamentos de saúde diversos;
• Organizar e realizar visitas, seminários, palestras, cursos, apresentações e outros eventos que envolvam as nossas
áreas e outros do interesse dos participantes;
• Treinar novos colaboradores e introduzir novos profissionais nos conceitos da E/A/TAA;
• Núcleo de incentivo a Ética e Pesquisa.
Atualmente atende mais de 400 pessoas por mês, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos, em São Paulo, com
a colaboração de 85 Voluntários com cão e sem cão e 75 cães.
As Atividades Assistidas por Animais – AAA são realizadas em quatro instituições asilares, somando mais de
200 idosos, /mês; Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, nas enfermarias pediátrica e de adultos e Hospital Cruz Azul
na oncologia e pediatria.
As Terapias Assistidas por Animais – TAA são realizadas no Hospital das Clínicas – Instituto de Psiquiatria no
Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e Desfechos Negativos da Sexualidade com vítimas de violência sexual; na
instituição asilar Padre Vicente Mellilo, com a Fisioterapia Assistida por Cães e na Instituição asilar Recanto da Vovó
com Psicologia Assistida por Cães.
O INATAA realiza também o seu Curso de A/E/TAA semestralmente, além de cursos avançados na área de psicologia,
fisioterapia, fonoaudiologia, medicina veterinária e adestramento em TAA.
Efetua palestras, participa de simpósios, seminários e eventos nacionais e internacionais.

Para ser voluntário da ONG é necessário passar pelas seguintes etapas:

Etapa 1 – Participar da palestra gratuita “Voluntariado e Transformação Social”


do Centro de Voluntariado de São Paulo, do qual somos conveniados. Agendamento pelo telefone 3284-7171.

Etapa 2 – Enviar uma cópia do certificado para o email voluntarios@inataa.org.br.

Etapa 3 - Treinamento para novos voluntários no

Etapa 4 - Três Visitas aos Asilos sem o cão (previamente agendadas e monitoradas pelos nossos profissionais)

Etapa 5 – Avaliação do voluntário (prova escrita + avaliação durante as visitas)

Etapa 6 - Avaliação de Saúde do Cão


Serão aceitos somente cães castrados, entre 1 e 7 anos de idade e saudáveis. Filhotes podem participar como

O INATAA
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“estagiários”, sem visitar as instituições, participando de alguns eventos/treinamentos sob orientação da equipe de
Comportamento Animal.

Etapa 7 – Avaliação Comportamental do Cão

Avaliação de Obediência, Temperamento, Comportamento e Aptidões

Os voluntários sem cão também são de extrema importância e têm papel fundamental no relacionamento com
os assistidos, já que alguns idosos e crianças se sentem receosos ao chegar perto dos animais ou, simplesmente,
só querem alguém que converse e dê atenção a eles. Além disso, outras funções podem ser desempenhadas em
diversos departamentos, que também são dirigidos por voluntários. Alguns exemplos são a área de parcerias,
comunicação, coordenação de projetos e financeira.

Todos podem colaborar adquirindo produtos em nossa loja virtual: www.bichoeterapia.com.br.

Seja um Voluntário do INATAA

O INATAA
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Introdução à A/E/TAA
Laís Milani Cristiane Blanco
Psicóloga Psicóloga
Voluntária do INATAA Presidente do INATAA
Contato@inataa.org.br / taa@inataa.org.br presidencia@inataa.org.br

DEFINIÇÕES - segundo diretrizes da IAHAIO, estabelecida em Março de 2013.

Intervenções Assistidas por Animais (IAA) - Uma Intervenção Assistida por Animais é uma intervenção que
busca um objetivo que intencionalmente inclui ou incorpora animais nas áreas de saúde, educação e social para propósito
de ganhos terapêuticos em humanos. As Intervenções Assistidas por Animias incorporam equipes de duplas homem-
-animal em trabalhos formais como os de Terapia Assistida por Animais (TAA) e Educação Assistida por Animais (EAA).

• Terapia Assistida por Animais (TAA) - Uma intervenção terapêutica planejada e estruturada que busca obje-
tivos específicos, direcionada e/ou executada por um profissional da área da saúde, educação ou social. O progresso da
intervenção é mensurado e inclui documentação profissional. A TAA é direcionada e/ou executada por um profissional
formalmente capacitado com expeririência profissional na área de atuação. A TAA tem como foco a melhora física,
cognitiva, comportamental e/ou o funcionamento socio-emocional de um paciente humano.

• Educação Assistida por Animais (EAA): Intervenção planejada e estruturada, com objetivos específicos,
direcionada ou executada por profissionais da educação ou similares. A EAA é conduzida por professores qualificados
em educação geral ou especial. Professores regulares que conduzem a EAA devem possuir conhecimento sobre os
animais envolvidos. Um exemple de EAA realizada por um professor convencional é uma visita educacional que promove
a posse responsável. A EAA quando realizada na educação especial também é considerada uma intervenção terapeutica
e com objetivos específicos. Os focos de atividade são em objetivos acadêmicos, habilidades sociais e funcionamento
cognitivo. O progresso do aluno é mensurado e documentado. Um exemplo de EAA em educação especial é um
programa de leitura facilitada por cães.

Atividade Assistida por Animais (AAA) - Interação e visitação informal, geralmente conduzidas tendo
o voluntariado como base, com equipes compostas por duplas homem-animal e com propósitos motivacionais,
educacionais e recreacionais. Não há objetivo de tratamento nas interações. As AAAs geralmente são facilitadas por
indivíduos sem formação nas áreas de saúde, educação ou social.As duplas homem-animal recebem treinamento, prepara-
ção e assistência para participar das visitas. As duplas homem-animal que trabalham com AAA podem também trabalhar
formalmente e diretamente com um prestador de serviço da área da saúde, educação ou social, para a obtenção
de objetivos específicos e documentáveis, neste caso eles estarão participando de programas de TAA ou EAA que
são conduzidos por profissionais especializados. Exemplos de AAA incluem assistência animal á crises, que foca em
proporcionar conforto e suporte á sobreviventes de traumas, crises ou desastres, e visitas de animais de companhia á
lares de idosos.

Introdução à A/E/TAA
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Em qualquer tipo de intervenção ou atividade realizada é fundamental que existam garantias e preocupações
referentes á saúde e bem estar do animal e do paciente envolvidos.

Bibliografia eletrônica de apoio

§ http://petpartners.org/
§ http://www.iahaio.org/
§ http://www.terapiaconanimales.org/
§ http://www.censhare.umn.edu
§ http://www.tdi-dog.org/
§ http://www.bocalan.es/

Apostila
Cristiane Blanco
Laís Milani

Introdução à A/E/TAA
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Histórico da TAA
Laís Milani Cristiane Blanco
Psicóloga Psicóloga
Voluntária do INATAA Presidente do INATAA
Contato@inataa.org.br / taa@inataa.org.br presidencia@inataa.org.br

“A riqueza de símbolos animais em todas as manifestações culturais da história da evolução humana, seja na religião, lendas,
crenças, fantasias, contos de fadas, mitos, sonhos, na alquimia, nas artes e demais produções do imaginário, reflete a importância
do símbolo animal na vida humana...”
Cristiane E. Fridlund

O caminho da evolução vem sendo percorrido conjuntamente por homens e animais.


Segundo resultados de testes de carbono feitos em fósseis, o cão foi o primeiro animal a ser domesticado, ainda no
período Mesolítico da pré-historia (12.000 anos), período coincidente com maior abundância de alimentos.
Um estudo de Robert Wayne e colaboradores, baseado em pesquisas de comparação entre DNA mitocondrial de
diversas raças de cães com lobos, coiotes e chacais demonstram incrível semelhança entre o cão doméstico (canis
familiaris) e o lobo (canis lupus). Com base no tempo de acúmulo dessas mutações mitocondriais, concluiu-se que
a domesticação iniciou-se há 140.000 anos. Achados arqueológicos que continham fósseis do canis lupus, como
Zhoukoudian, China (entre 200.000 e 500.000 anos atrás); Kent, Inglaterra (400.000 anos); Nice, França (125.000).
Na caverna Palegawra, Iraque (entre 10.000 e 12000 anos) já foram encontrados fósseis de canis lúpus familiaris
Remontam à mitologia grega as atribuições de cura e diagnóstico dadas aos animais. Apolo, deus do sol e supremo
atribuía aos cães poderes curativos, considerando-os sagrados. Esculápio (Asklepios, em grego), filho de Apolo e Côronis
teria desenvolvido templos de cura por onde circulavam cães e cobras, que seriam responsáveis por algumas ações de cura.
Já no cristianismo, Lázaro, repudiado por todos antes de sua morte era acompanhado por cães, que além de segui-lo,
lambiam suas feridas. Provavelmente daí nasce o provérbio francês: “Langue de chien, sert de medicine”.
Animais como cães, vacas, cavalos e pássaros foram colocados aos cuidados de pacientes com diferentes deficiências
com o objetivo de melhorar suas condições, no século IX em Gheel, Bélgica,
Em 1790, o retiro York, fundado pela sociedade dos amigos de Yorkshire e conduzido por Willian Tuke, introduz animais
diversos – coelhos, aves domésticas aos seus pacientes psiquiátricos, indo contra tratamentos brutais da época.
Florence Nightingale relata em 1860 a importância da presença de um animal no ambiente de enfermagem e instituição:
“Um pequeno animal é sempre uma excelente companhia para os doentes, principalmente nos casos crônicos...às vezes o
único prazer de um inválido confinado por anos no mesmo quarto”.
Logo em seguida, em 1867, na Alemanha, em Bielefeld, é fundado Bethel, uma modesta instituição para epilépticos,
hoje um grande centro de tratamentos, utilizando-se de pássaros, cães, gatos e cavalos desde a fundação.
Os pós-guerra já contaram com animais no atendimento aos feridos. Após a I e sobretudo após a II Guerra Mundial,
hospitais de veteranos de guerra dos EUA começaram a receber a visita de animais, principalmente para os pacientes
que possuíam trauma pós-guerra. Outros foram incentivados a manter uma atividade cognitiva durante sua reabilitação,
cuidando de diversos tipos de animais, desde cães, serpentes, sapos e cavalos (Susanne Pettit-Crossman, Anita C. All,).
O psicólogo infantil Boris Levinson iniciou os registros sobre o tema. Ele psiquiatra descreveu o uso e os benefícios

Histórico da TAA
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que a presença de um animal promovia nas sessões terapêuticas, ao observar a reação de um paciente com grande difi-
culdade de interação após ser recebido acidentalmente por seu cão no consultório.

Relatou ele:
“Enquanto eu recebia a mãe, Jingles correu em direção à criança e começou a lambê-lo. Para minha surpresa, o menino não se
assustou senão que abraçou o cachorro e começou a acariciá-lo. (...) Durante várias sessões brincou com Jingles, aparentemente
alheio à minha presença. De qualquer maneira, mantivemos muitas conversações durante as quais estava tão absorto com o
cachorro que parecia não escutar-me, ainda que desse respostas coerentes. Finalmente parte do afeto que sentia pelo cachorro
recaiu sobre mim e fui conscientemente incluído nos jogos. Lentamente atingimos uma forte compenetração que possibilitou meu
trabalho para resolver os problemas da criança”.

No Brasil, a Dra. Nise da Silveira, médica psiquiatra, psicanalista e terapeuta ocupacional do Centro Psiquiátrico D.
Pedro II, no Rio de Janeiro, é responsável pelo primeiro relato dos benefícios dos animais em instituições psiquiátricas, em
1955.. Em seu trabalho com pacientes esquizofrênicos, após a adoção de uma cadela Caralampia por um dos doentes,

Nise da Silveira relata:


“Verifiquei as vantagens da presença de animais no hospital psiquiátrico. Sobretudo o cão reúne qualidades que o fazem muito
apto a tornar-se um ponto de referência estável no mundo externo. Nunca provoca frustrações, dá incondicional afeto sem nada
pedir em troca, traz calor e alegria ao frio ambiente hospitalar. Os gatos têm um modo de amar diferente. Discretos, esquivos,
talvez sejam muito afins com os esquizofrênicos na sua maneira peculiar de querer bem”.

A partir destas constatações, diversos pacientes foram incentivados a terem animais como companhia dentro do
centro de reabilitação. Infelizmente, a partir de 1960, diversos “atentados” foram feitos contra seus animais. Em janeiro de
1960, um dos administradores do centro ordenou que os cães fossem levados para o serviço de captura de animais do
Estado onde seriam eletrocutados. Em setembro de 1961, mais nove cães foram mortos por envenenamento dentro do
local onde dormiam. Mesmo assim, Nise da Silveira conseguiu manter por mais alguns anos seu trabalho com os animais,
a exemplo de citações como a do relacionamento entre Carlos e Sertanejo. Carlos já havia tido uma ótima evolução
com outro cão, Sultão, um dos cães mortos em setembro de 1961. Só depois de dois anos Carlos volta a ter um
relacionamento efetivo com outro ser, agora o cão Sertanejo.
Desde 1966 até hoje, o centro Beitostolen, Noruega, criado por Erling Stordahl (músico cego) e sua esposa, Anna,
desenvolve a Terapia Assistida por Animais com pacientes de diversas deficiências, tendo como base principalmente o uso
de cães e cavalos na reabilitação física.
Em 1976 foi inaugurada, nos Estados Unidos a Therapy Dog International (TDI), que formava cães e condutores
para Terapia Assistida.
E em 1990, também nos Estados Unidos, a Delta Society, inaugura seu programa “Pet Partners”, formando animais
como cães, gatos, animais de fazenda, para trabalhos em diversas terapias. Além disto, a Delta Society, cria uma
denominação única para a TAA, facilitando a comunicação e produção cientifica de pesquisa e divulgação dentro da área.
No Brasil o primeiro projeto relatado foi o Pet Smile, que contava com a direção da médica veterinária e psicóloga

Histórico da TAA
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Hannelore Fucks. Eram realizadas visitas á instituições de saúde, na cidade de São Paulo, e participavam das visitas cachorro,
gato, peixe, coelho, tartaruga e chinchila. Em 1998, foi fundado o projeto Cão Terapeuta, que realizava atendimentos de AAA
na cidade de São Paulo. Em 2000, também na cidade de São Paulo, Jerson Dotti fundou a OBIHACC, que realizava trabalhos
de AAA e TAA e cursos de capacitação na área, e deste projeto surgiu o INATAA.

Bibliografia
BECKER, B. “O Poder Curativo dos Bichos”. Ed. Bertrand Brasil, 1ºedição. Rio de Janeiro, 2003.

Bussotti, E. A.; Leão, E. R.; Chimentão, D. M. N.; Silva, C. P. R.: “Assistência individualizada: posso trazer meu cachorro?”.
Rev Escola Enfermagem USP, 2005; 39(2):195-201.

Hooker S.D., Freeman LH, Stewart P. “Pet therapy research: a historical review”. Holist Nurs Pract 2002; 16(5):17-23.

Ribeiro, V.F. “Fisioterapia Assistida por Animais em idosos institucionalizados”. Trabalho de conclusão de curso, Universidade
de Santo Amaro, São Paulo, 2003.

Revista Mente & Cérebro: “Afeto que cura”. Edição 169, Fevereiro 2007. Disponível em http://www.psiquiatriageral.com.br/
terapia/afeto_cura.htm. Acesso em 01/03/2009.

A simbologia dos animais- Os animais na história do Homem, http://knol.google.com/k/a-simbologia-dos-animais#, acesso em


19/03/2010

Apostila
Cristiane Blanco
Laís Milani

Histórico da TAA
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Interação Homem Animal
Cristiane Blanco Laís Milani
Psicóloga Psicóloga
Presidente do INATAA Voluntária do INATAA
presidencia@inataa.org.br Contato@inataa.org.br / taa@inataa.org.br

A relação homem-animal desenvolveu-se juntamente com a história da humanidade. As inscrições rupestres


demonstram o convívio entre homens e animais desde então.
Assim sendo, demonstraram-se essenciais à nossa sobrevivência, à nossa história e até à nossa identidade.
Aparentemente foi natural o desejo de incorporar e incluir animais em nossas vidas, tanto pela alimentação, companhia,
vestimentas, leite e outros itens obtidos através deles.
A domesticação humana, mudança de caçadores-coletores (que já utilizavam cães domesticados) para fazendeiros
está parcialmente ligada à domesticação de animais, pois os fazendeiros viram benefícios em manter seu próprio gado.
Civilizações de todo o mundo antigo domesticaram animais por vários motivos, dependendo de quais animais viviam
em suas regiões e do que os animais poderiam fornecer. Certos animais até alcançaram importância religiosa em várias
civilizações, como no Antigo Egito e em Roma. Diamond aponta que as civilizações que domesticaram animais (e plantas)
conseqüentemente tiveram mais poder em mãos e foram capazes de espalhar suas culturas e linguagens.
Historiadores concordam que os humanos domesticaram os cães antes de qualquer outro animal, o que torna o cão
o mais antigo amigo do homem. A domesticação do gato, segundo a conclusão da maioria dos historiadores deu-se por
conta das habilidades deste em caçar, ou ao menos amedrontar ratos, o que fez com que os humanos se interessassem
em ter gatos por perto.
O processo histórico da interação homem-animal é composto de 3 principais fases: arcaica, econômico-funcional e
concepção ética.
Dentro da atual fase de concepção ética do animal, considerando-se os mais recentes avanços em termos de legisla-
ção tutelar destinada aos animais, podemos considerar a existência de várias formas de Interação Homem-Animal.

• Animais de Criação – produção e abate


Animais são produtos, não há ligaçao afetiva. Ainda muito próxima da concepção econômico-funcional, porém respei-
tando-se os tratados de Abate e Manejo Humanitários.
“É dever moral do homem, o respeito a todos os animais e evitar os sofrimentos inúteis àqueles destinados ao abate.
Cada país deve estabelecer regulamentos em frigoríficos, com o objetivo de garantir condições para a proteção humani-
tária às diferentes espécies” (Roça, R.O., 2001).

• Animais de Trabalho
Alguma interação no momento do trabalho e dos cuidados básicos (alimentação, limpeza, cuidados médicos) há pouca
ligação afetiva. Deixam o status de “produto” e passam a integrar o patrimônio do proprietário, são um “bem”.
• Tração, carga e transporte à auxiliam os proprietários em suas atividades cotidianas.
• Cães de guarda – Responsáveis pela segurança, na maioria das vezes das propriedades. Além dos cuidados básicos, os
proprietários investem recursos nesse patrimônio, como por exemplo, treinamento. Não raro na mesma propriedade há

Interação Homem Animal


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também cães de companhia, com condições diferenciadas dos cães de guarda.
• Cães policiais à são patrimônio público, zelam pela segurança pública. Em geral têm apenas um condutor, desenvolvendo
com este um trabalho de parceria. Atualmente as guardas vêm sendo instruídas a utilizarem formas de treinamento mais
positivas.
• Cães de pastoreio
• Cães de caça

• Membro da Família – Paralelamente à concepção ética do animal, temos os animais domésticos, de diversas
espécies, com destaque a cães e gatos, com status de membro da família.

Dentro desse conceitual, observamos que quanto maior a interação nesse grupo social, maior a quantidade de carac-
terísticas humanas (físicas, psíquicas, sociais) atribuídas aos animais, suscitando as mais diversas interpretações a respeito
dos “sentimentos” destes.
A atribuição de características humanas aos animais remonta ao século VI a.C. com Esopo, a quem se credita a autoria,
com transmissão oral, de mais de 300 fábulas (A galinha dos Ovos de Ouro,A Lebre e a Tartaruga), escritas e enriquecidas
por Fedro (30/15 a.C.); várias delas atualizadas posteriormente por La Fontaine, que também criou suas próprias fábulas
(A Cigarra e a Formiga), e recontadas especialmente no Brasil por Monteiro Lobato.
A proposta principal da fábula é a fusão dos elementos lúdico e Pedagógico, para que ao mesmo tempo que distraem
o leitor, apresentem as virtudes e os defeitos humanos através de animais. Nas fábulas, além das características humanas
dos animais, há sempre uma frase a ensinar-nos alguma coisa para nós não cometermos erros, para que respeitemos as
regras sociais.
Na atualidade, as características humanas dos animais não mais objetivam a transmissão de conceitos morais, mas
sim a humanização dos mesmos, para que efetivamente sejam membros da família, o mais próximo possível dos demais
membros. Isso alcança os mais diversos níveis, onde comercialmente utilizam-se similares a quase todas as práticas des-
tinadas aos humanos, tais como ofurô, botox, butiques especializadas, etc.
O exagero pode confundir a identidade social e limitar a sinalização instintiva do animal.
Por outro lado, essa facilidade humana em identificar o animal como um ser próximo é o que possibilita a utilização
dos animais com finalidades terapêuticas, recreacionais e educativas.

• Animais de Assistência / Terapia às jornadas de trabalho e descanso, tendo comportamento usual nos momen-
tos de descanso. Um misto entre patrimônio e animal de estimação. Exigem seleção e treinamento específico de acordo
com a necessidade que irão suprir ou o procedimento terapêutico que irão auxiliar.
• Cães Guia – Deficientes visuais e auditivos – animais treinados para a possibilidade de tomar decisões, tais como
andar ou parar num cruzamento, levar seu dono a atender à campainha ou ao telefone, sendo assim os olhos ou os
ouvidos de seu condutor.
• Cães de Assistência a outras deficiências físicas – animais treinados especificamente para auxiliar o condutor de
acordo com suas necessidades, sejam elas a execução de tarefas dificultadas pela deficiência, tais como abrir portas,
pegar objetos; apoio e contrapeso para equilíbrio; alertas de saúde, como baixa glicemia, ataques cardíacos;
acompanhamento de autista
• Animais de Terapia – geralmente utilizados como instrumentos terapêuticos, através de motivação afetiva, visando

Interação Homem Animal


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auxiliar o desenvolvimento e progresso do processo terapêutico adequado ao paciente, como por exemplo, fisioterapia,
fonoaudiologia, procedimentos médicos, psicoterapia, terapia ocupacional, entre outros.

Obs: Principalmente cães-guia e cães de alertas não têm tempo de descanso desligados de seus assistidos.

No Brasil, há legislação permitindo livre circulação apenas para cães guia para deficientes visuais. Cães guia para
deficientes auditivos, cães de assistência ou de terapia não estão incluídos na legislação vigente.

Bibliografia
Roça, R.O. - Abate humanitário: manejo ante-mortem - Revista TeC Carnes -Campinas, SP, v.3, n.1, p.7-12, 2001
Diario Oficial Do Estado - Seção I - 26.08.2005 - Pág. 3, Lei Nº 11.977, De 25 De Agosto De 2005
La Fontaine, Jean – 100 Fábulas de La Fontaine – Campo das Letras, 2005
Lobato, José B. M., Fábulas. São Paulo, Brasiliense, 1991.
Projeto Carroceiro – UFRA
http://www.vidadecao.com.br
http://www.assistancedogsinternational.org/
http://www.deltasociety.org/Page.aspx?pid=183

Cristiane Blanco
Psicóloga
Graduada na Universidade Paulista em 1999
Psicóloga com especialização em Neuropsicologia pelo Inesp.
Psicóloga colaboradora no ambulatório de Transtornos do Impulso no IPQ/HC da FMUSP.
Voluntária do INATAA desde 2009.
Presidente do INATAA.

Laís Milani
Formação em Psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Especialização em Psicologia Hospitalar na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
Voluntária do INATAA desde 2009
Membro da diretoria de TAA do INATAA no interior de São Paulo (Mirassol).

Interação Homem Animal


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Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em AAA/EAA/TAA
Laís Milani Cristiane Blanco
Psicóloga Psicóloga
Voluntária do INATAA Presidente do INATAA
Contato@inataa.org.br presidencia@inataa.org.br

“Um plano sem ação é um sonho. A ação sem um plano é um pesadelo”


Jorge Paulo Lehmann

Planejando um projeto
Defini-se projeto como um trabalho que pode ser científico ou não e no qual as diversas etapas de uma proposta
teórica a ser formulada a respeito de um determinado assunto são organizadas.
Ele carrega o sentido de organizar idéias, pesquisar, analisar a realidade e desenhar uma proposta articulada com intencionalidade.
São construções feitas por um grupo de pessoas que deseja transformar boas idéias em boas práticas. Assim, o projeto
pode se transformar em ação exemplar que modificará a realidade local.
É preciso que todas as pessoas envolvidas participem diretamente na fase de elaboração, buscando criar uma visão
ampla do problema a ser enfrentado e soluções criativas para a sua viabilidade.
Para a realização de um projeto é necessário construir um caminho que: se baseie em resultados ou metas; organize
o tempo de planejamento, execução e monitoramento e principalmente que possa satisfazer as necessidades do idea-
lizador e/ou do grupo que inicialmente o pensou. Para tanto, faz-se necessário que o projeto siga as seguintes etapas:

1ª. Etapa:
QUESTIONAMENTO
O que queremos fazer? O que podemos fazer?
Nesta etapa é importante a realização de questionamentos que possam levar o indivíduo ou grupo idealizador do
projeto a vislumbrar alguns pontos-chaves, tais como: idéia inicial, o plano para sua execução e viabilidade do projeto.
Para tanto apresentamos algumas questões norteadoras:
• Por que quero trabalhar com AAA/EAA/TAA? Possuo as técnicas que serão utilizadas?
• Por que quero trabalhar com esta determinada população? Aqui é importante analisar se a população e/ou instituição
envolvida terá seus interesses afetadas positiva ou negativamente pelo projeto;
• Quais meus elementos motivadores? Partimos do princípio que se não houver identificação com o projeto não
conseguiremos dedicação e emprenho necessário.
Estes questionamentos são importantes, pois é a partir deles que o projeto será direcionado.

2a Etapa:
Qual é a finalidade?
Nesta etapa a principal tarefa será determinar o foco do projeto.
Mais uma pergunta: O alvo do projeto será AAA, TAA ou EAA?
Por que esta escolha é muito importante, será a destinação da elaboração e do desenvolvimento do tema, pois cada

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA


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atividade terá um enfoque diferente:
AAA – Atividade Assistida por Animais visa à recreação, a distração, o entretenimento, os relacionamentos, a
motivação, podendo ser realizada por proprietários ou condutores de cães e/ou profissionais formados, com duração
aproximada de uma hora e a freqüência semanal ou esporádica.
TAA/EAA – Terapia Assistida por Animais e Educação Assistida por Animais são processos terapêuticos formais,
com procedimentos, metodologias dirigidos a saúde física, emocional e/ou funções cognitivas, por profissionais da área
de saúde humana ou equipe multidisciplinar, com duração e freqüência pré determinados, podendo ser individual ou grupal.

3ª. Etapa:
Nesta etapa será delineado o OBJETIVO do projeto.
É ele que determinará os critérios para que o mesmo possa ser executado.
Aqui mais alguns pontos importantes devem ser analisados:
• Qual é o tempo que tenho para que possa ser implantado e para seu cumprimento? É necessário pensar tam-
bém nos profissionais envolvidos, assim como nos voluntários, parceiros, assistidos e na instituição.
• Qual a população que quero atingir? Faz-se necessário analisar o padrão cultural, seja ele nas relações étnico-
-raciais ou culturais, ou em relação à faixa etária - crianças e/ou adolescentes e/ou adultos e/ou idosos.
• Quais são os pontos facilitadores para a implantação/execução do projeto? São os pontos e/ou fatores que
facilitarão o êxito do projeto, por exemplo, a população é conhecida, é perto da minha casa, tenho muito conhe-
cimento sobre o tema e etc. E os pontos dificultores? Estes serão definidos como possíveis obstáculos com os
quais o grupo deverá conviver sejam eles políticos - um grupo poderoso pode estar contra o projeto; culturais
- desperdício de recursos, preconceitos etc.; ou mesmo profissionais que são de outra área e etc., que fogem ao
controle do grupo, mas podem dificultar a realização do projeto.
• Que tipo de animal? Qual ou quais os animais participarão do projeto, seus proprietários e/ou condutores; saúde
dos animais, vacinas, exames, etc.; e comportamento/adestramento dos mesmos.
• Será um projeto informal ou formal?
Uma determinada pessoa ou um grupo de pessoas podem se organizar inclusive sem nome, sem passar pelo processo
de formalização para organizar um projeto. Entretanto, se este grupo não estiver constituído juridicamente, não será
reconhecido legalmente e terão vários limites em sua atuação, ou seja, o inviabilizará de estabelecer parcerias com o
poder público.
Se ele for informal, realizado apenas por uma pessoa ou um grupo de pessoas, em uma determinada instituição, não terá
vinculo com outros parceiros e organizações, será um acordo entre estas pessoas e a instituição em que for realizar o
trabalho.
Se for formal será regularizada como organização que possibilitará o estabelecimento de parcerias com o Poder Público
e iniciativa privada a fim de desenvolver ações, serviços, e projetos que completem as diversas demandas da população.
Deverá ser uma pessoa jurídica de origem privada, sem fins lucrativos, com a missão de um objetivo social com fim
publico e que atenda a coletividade.

Pesquisa do LOCAL APROPRIADO (Instituição)


É necessário que se faça o Diagnóstico Institucional, ou seja, o levantamento de todos os dados disponíveis sobre a
instituição, a análise da viabilidade do projeto: sua localização; os horários de funcionamento; a descrição da população

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA


15
atendida/beneficiada; os profissionais que atuam suas funções e atividades; as rotinas estabelecidas na instituição: horário
de visitas, de refeições, de medicações, de visitas médicas, de banho dos pacientes, de banho de sol, de realização de
exames, etc.; o levantamento de recursos: materiais, salas e profissionais; segurança; e principalmente a possibilidade de
atuação: algo novo dentro desta instituição ou fará parte de um projeto já existente.
A finalidade deste diagnóstico é somar junto aos profissionais aspectos positivos para o bem estar, qualidade de vida
visando os pacientes/assistidos.

4ª. Etapa
METODOLOGIA:
Deve descrever as formas e técnicas que serão utilizadas para executar as atividades previstas, devendo explicar
passo a passo a realização de cada atividade e não apenas repetí-las. Leva-se em conta que elas têm início, meio e fim.

5ª. Etapa
SUSTENTABILIDADE DO PROJETO
Alguns projetos têm previsão de se perpetuarem, como projetos de desenvolvimento institucional e financeiro, como
por exemplo, de ONGs. Nestes casos faz-se necessária a adoção de estratégias para geração de recursos, não somente
financeiros, mas também humanos, uma vez que os financiadores nem sempre terão disposição de apoiá-lo indefinidamente.
Todo projeto precisa ter como objetivo a previsão de atingir a sua auto sustentabilidade econômica, durante e após o
término do repasse dos recursos. Neste sentido, deve-se descrever com que meios e de que forma os envolvidos plane-
jarão continuar as atividades após o término dos recursos. Outros projetos se darão por meio de geração de renda por
meio da comercialização de produtos ou serviços produzidos.
Seja como for, todo projeto deve demonstrar qual é o seu potencial de sustentabilidade.

1) Viabilidade Econômica e Financeira:


Relação Custo X Benefício.Antes ou após a implantação de um projeto, há sempre uma necessidade de informações e
pareceres precisos a respeito da viabilidade econômica e suas tendências, que são estudos feitos através de levantamento
criteriosos cujos resultados demonstram , claramente, a economicidade do trabalho.

2) Captação de Recursos:
Cotas de Patrocínio, parceiros e apoiadores. A estruturação de um plano estratégico para captação de recursos é,
atualmente, um dos maiores desafios das organizações sem fins lucrativos brasileiras. Por isso, a forma mais segura de
tornar a captação de recursos uma atividade simples é fazer um planejamento estratégico do projeto. Basicamente é
um levantamento organizado de informações que ajudará a definir os caminhos a serem seguidos, que deve ser feito
anualmente e faz muita diferença, pois além de facilitar muito a captação de recursos e a manutenção de parceiros
estratégicos, também trará a equipe uma satisfação maior no trabalho na contribuição para a obtenção das metas
estipuladas.

3) Divulgação: será uma ferramenta a mais e poderosa, influenciando diretamente os resultados do projeto. Pode
ser realizada pelos seguintes meios: Site, Mídia, Apresentações/ Palestras/Simpósios/Congressos, Marketing e outros.

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA


16
A divulgação é de fundamental importância, tanto para a continuidade do projeto, quanto para o impacto positivo que
o projeto pretende deixar na instituição e/ou comunidade.
As propostas de divulgação poderão ser planejadas baseados nas seguintes definições: objeto de divulgação: meto-
dologias, técnicas, experiências; dos produtos por meio dos quais será feita a divulgação por meio de livros, artigos para
revistas/ jornais, vídeos, seminários e etc.; das atividades de divulgação: palestras, reuniões, seminários e etc.; do alcance
da divulgação: local, nacional ou internacional; do público que se pretende atingir, ou seja, outras populações com carac-
terísticas semelhantes às dos beneficiários do projeto, órgãos público, setores acadêmicos, etc.

O PROJETO NO PAPEL
1-Titulo do projeto: expressa a idéia central, deve escolher um nome do qual os interessados gostem, motivador,
pois o trabalho é árduo e, às vezes, cansativo. É importante que seja um título objetivo, mas que traga de forma clara o
que será realizado.
2- Resumo: É opcional. Traduz de forma sintetizada os pontos mais importantes do projeto, é a oportunidade para
captar a atenção do leitor para o projeto.
3-Responsável pelo projeto: será o profissional responsável/líder por todas as ações e procedimentos do projeto
dentro da instituição, com os profissionais, parceiros, enfim, todos os envolvidos.
4-Quadro de profissionais, voluntários e animais: definirá o grupo que atuará e/ou na elaboração e/ou execu-
ção do projeto. A capacidade técnica é fator fundamental para se obter resultados positivos, não adianta ter excelentes
idéias se não há competência para desenvolver um projeto. Após a determinação do grupo, se verificará com quantas
pessoas e animais será possível contar efetivamente para realizá-lo.
5-Justificativa: É parte importante dentro de um projeto, deve responder o porquê de sua execução, assim como o
porquê de sua aprovação e implementação.
Leva-se em conta o objetivo do projeto (3ª. Etapa) quanto aos questionamentos a respeito da sua importância para a
comunidade, a existência de projetos semelhantes sendo desenvolvidos na mesma região e/ou instituição, os benefícios
sócio-econômicos a serem alcançados e os resultados.
6- Cronograma - Tempo de duração do projeto: É o resultado da organização das atividades com relação ao
tempo. Deverá conter um planejamento com data de início e término de projeto. Definir os meses em que acontecerão
as atividades preparatórias, de execução, de monitoramento e de avaliação, por meio do diagnóstico institucional; com o
conhecimento da população a ser trabalhada; levantamento das necessidades; estimativas das dificuldades que ocorrerão
ao longo do projeto, calculando o tempo de duração do projeto e as possíveis intercorrências que resultarão na amplia-
ção do tempo estimado para o término; e o cronograma Técnico X Financeiro, ou seja, o calculo do custo da equipe de
trabalho, a infra-estrutura e o material necessário, não se esquecendo de reservar recursos para gastos com despesas
imprevistas. O cronograma é a disposição gráfica das épocas em que as atividades ocorrem e permite uma rápida visua-
lização da seqüência em que devem acontecer.
7-Execução do projeto: são as metas e os resultados. São tangíveis e correspondem ao produto finail de um con-
junto de atividades em certo período. Quantificam as atividades que serão desenvolvidas, bem como sua intensidade.
Qualificam o modo pelo qual o projeto será realizado, os valores que o grupo quer imprimir.
Esta execução será alcançada com os seguintes passos: definição do papel de cada profissional, parceiro, voluntário
pertencente ao grupo de executores; o número de beneficiados; o número de animais; carga horária; desenvolvimento
e descrição das atividades; cronograma destas atividades discriminadas; avaliações; reavaliações; adaptações; resultados

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA


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esperados e/ou atingidos, bibliografias e anexos.
Em relação aos anexos, muitas informações que não são possíveis de inserção nas etapas anteriores podem ser, desde
que imprescindíveis, transformadas em anexos.
8-Levantamento de custos: O orçamento é um resumo ou cronograma financeiro do projeto, no qual se indica
com o que e quando serão gastos os recursos e de que fontes virão os recursos.
Considerar o custo total do projeto, verificando a soma dos recursos de que dispõe mais o que poderá captar cobre
os custos do projeto, que são:
• Recursos Humanos remunerados – Profissionais;
• Recursos Humanos não remunerados – voluntários, parceiros;
• Recursos Animais;
• Recursos da própria instituição: materiais, profissionais, voluntários;
• Recursos de materiais: dependerá do tipo de categoria / atividade:
Duráveis: carro, móveis, fichários, caixas de PVC e etc.
Consumo: papel, canetas, petisco dos animais e etc.
• Manutenção dos animais: banhos, petiscos, vacinas, etc.
• Transportes: pessoas e animais
• Cronograma Técnico/ Financeiro - o calculo do custo da equipe de trabalho, a infra-estrutura e o material ne-
cessário, por meio da elaboração de planilhas.
Se todas as etapas anteriores forem realizadas com detalhamento, lógica e clareza nas estimativas e bases de cálculo,
devem resultar um orçamento objetivo e necessário para a execução e viabilidade do projeto.

Bibliografias
1.TORNAGHI, Newton. Planejamento. 3 ed. Rio de Janeiro: Edições Newton Torghi, 1968. 40p.
2. BARROS, Aidil de Jesus Paes de e LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas.
8.ed. Petrópolis:Vozes, 1999.
3. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 24.ed. Petrópolis:Vozes, 1999.
4. SMPP/ CONPARES, Manual Pratico - ONG Passo a Passo. Secretaria de Participação e Parceira, Prefeitura da Cidade
de São Paulo.
5. USFM – Pró-Reitoria de Planejamento
6. KISIL, Rosana - Manual de Elaboração de Projetos e Propostas - Universidade de São Paulo, l995.

Elaboração e Desenvolvimento de Projetos em A/E/TAA


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Bases da Psicologia para a A/E/TAA e
Benefícios Psicológicos da Interação Homem-Animal
Cristiane Blanco Laís Milani
Psicóloga Psicóloga
Presidente do INATAA Voluntária do INATAA
presidencia@inataa.org.br contato@inataa.org.br

Independente da área de atuação do profissional que está conduzindo o trabalho de A/E/Terapia Assistida por Animais,
é o vínculo que faz com que a esta apresente resultados efetivos. Os seres humanos sentem-se confortados e acolhidos
na relação homem-animal, já que o animal não julga e comunica-se simples e diretamente, favorecendo o estabelecimen-
to de relações de confiança. Os benefícios desta relação são fisiológicos e psicológicos, a seguir apresentaremos alguns
aspectos psicológicos desta interação e como estes favorecem a TAA.

Os benefícios resultantes da presença do animal na estrutura terapêutica alcançam a maioria dos envolvidos na
dinâmica, mesmo que indiretamente.

As crianças em geral colocam o animal num limiar intermediário entre objetos inanimados e seres humanos. No seu
mundo imaginativo, esse ser tanto pode ser o amigo como o brinquedo, ou ambos, simultaneamente, o que facilita o
desenvolvimento das relações afetivas, estabelecendo assim o vínculo.

Animais são inestimáveis fontes de estímulos sensoriais: táteis, olfativos, auditivos e visuais. Utilizando-se animais,
atividades terapêuticas e educacionais transformam-se em brincadeiras e entretenimentos, em função de sua ludicidade.

A urbanização distancia o ser humano de sua história evolutiva, pois esta teve seu maior período decorrido em
contato com a natureza. Para Boris Lewinson, a alienação por ter deixado de lado o contato com a natureza e seu lado
instintivo seriam fatores relacionados ao adoecimento mental e o contato com o cachorro resgataria esses aspectos
esquecidos (FINE, 2000).

Entendendo o processo de vinculação…


O vínculo acontece a partir de relações de objetos, relações essas que se expressam no campo interno e externo.
A relação externa com um objeto é derivada de uma relação interna previamente estabelecida com esse objeto em um
movimento contínuo com idas e vindas, em uma espiral dialética, já que o vínculo se constrói transitando pelo interno
e pelo externo.

As relações de objeto incluem um sujeito e um objeto estabelecendo uma relação particular, a isso denominamos
vínculo. A relação interna como objeto é motivada por fatores instintivos, psicológicos e históricos. O vínculo pode
ser formado com qualquer objeto, seja ele animado ou inanimado, porque a formação do vínculo está relacionada com
experiências pessoais e com a representação interna que a pessoa tem de determinado objeto, não dependendo neces-
sariamente de uma resposta desse objeto. No caso do vínculo com animais, estes respondem de maneira positiva, o que
favorece o estabelecimento do vínculo.

Bases da Psicologia para a A/E/TAA e Benefícios Psicológicos da Interação Homem-Animal


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Como já foi apresentado anteriormente, o vínculo é processo dialético, com idas e vindas, construções e desconstru-
ções, que se forma a partir de experiências nos campos interno e externo do paciente. Nesse sentido, podemos pensar
que o vínculo com o cão, fundamental para o sucesso de um trabalho de TAA, é muito anterior às sessões de psicoterapia
com o animal. Se a pessoa aceita que um cachorro faça parte de seu tratamento é porque já tem um vínculo positivo
formado com esse tipo de animal ou, então, ainda não tem esse vínculo mas faz um movimento no sentido de construir
esse vínculo, o que já poderia indicar um início de vinculação. A experiência positiva com outros cães e os laços afetivos
com seus próprios cães são alguns dos principais motivadores da vinculação entre o paciente e o cão.

A experiência positiva anterior é resgatada e correspondida pelo cão co-terapeuta. Mas o que permeia esse vínculo
anterior positivo? Cada um teria uma experiência particular na vinculação com cães durante sua vida, mas alguns aspec-
tos são frequentemente responsáveis pela aproximação dos homens aos cães, aspectos esses que não estão presentes
somente no contexto terapêutico, mas que permeiam a aproximação homem/animal.

A afetividade e o companheirismo inatos nos cães, por serem uma espécie que depende da matilha e da relação com
o outro para a sobrevivência, atraem os humanos, que se sentem acolhidos e confortados nessa relação. Como o cão
não julga, pode ser um continente ideal para os conteúdos que a pessoa queira nele depositar. Além disso, o cão tem uma
forma de comunicação muito simples e direta, o que favorece o estabelecimento de uma relação de confiança.

As pessoas atribuem aos cães muitos significados, no campo interno de cada um existe uma simbologia única para o
cão e isso, construído a partir e em conjunto com os aspectos apresentados, favorece o vínculo do paciente com o cão
co-terapeuta em questão.

Existe ainda um diferencial de cães treinados para esse fim que acelera a vinculação.

Um mecanismo comumente utilizado pelos pacientes nos atendimentos de TAA é a projeção: depositar no
outro aspectos que não conseguimos reconhecer em nós mesmos, estando relacionada à recusa em reconhecer certos
sentimentos e desejos que possuímos. Ou seja, o animal aceita qualquer conteúdo nele depositado ou projetado, ele
corresponde a essa expectativa, incentivando com que o paciente projete cada vez mais. Projeções essas que podem ser
trabalhadas ou interpretadas pelo terapeuta durante o processo psicoterápico.

Através da transferência que acontece na psicoterapia é possível reviver o vínculo primitivo que o paciente tem
desde as primeiras épocas de sua vida. “Recebendo” o vínculo, por meio da situação transferencial, o terapeuta poderá
interferir no tipo de relação de objeto e a natureza dos processos internos que funcionam no paciente. Nesse sentido, o
cachorro pode ser percebido como um depositário ideal, que permitiria diferentes projeções ou funções a ele atribuídas,
oferecendo, além disso, muita atenção e afeição. O cachorro se colocaria, então, como uma ponte entre o paciente e seu
terapeuta, proporcionando uma ligação mais rápida deste com aquele.

Bases da Psicologia para a A/E/TAA e Benefícios Psicológicos da Interação Homem-Animal


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Durante o atendimento o animal assume uma função de objeto transicional, propiciando a segurança e o acolhi-
mento necessários pelo paciente naquele momento para lidar com seus conteúdos internos. O objeto transicional é algo
que não está definitivamente nem dentro nem fora da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas
situações, e para ir demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno. O cachorro durante
uma sessão psicoterápica pode ser percebido como um fenômeno associado à transicionalidade, uma vez que carrega/
transporta as representações nele depositadas pelo paciente, intermediando as relações deste com a realidade externa
(e também com seu mundo interno). Neste momento, o cão também pode ser considerado um “brinquedo vivo”.

Conhecer profundamente o público a ser atendido é de fundamental importância para o sucesso da A/E/TAA, pois é
a partir deste que se definirá o perfil de co-terapeuta mais adequado ao trabalho. Como em todo processo terapêutico,
a identificação é um dos processos mais importantes da A/E/TAA, é através da identificação que ocorre a aceitação do
animal como co-terapeuta, se estabelecendo assim a aliança terapêutica.

Este ou Aquele? O que leva as pessoas a escolherem este ou aquele animal, ou ainda, esta ou aquela raça?

A imagem social, pode ser o fator determinante na escolha do animal, ocasionando uma escolha (in)consciente, que
considerará principalmente:
• Complementaridade – busca no animal aspectos seus (físicos, sociais, psicológicos) que considere falhos.
• Identificação – quando na seleção do animal, a pessoa encontra neste, aspectos similares aos seus.

Os aspectos que definem as escolhas, tanto complementaridade como identificação levam em conta características
culturais e/ou religiosos, mesmo que inconscientemente. Nessas considerações estão implícitas todas as condições
simbológicas (fábulas, por exemplo) recebidas no decorrer da vida, bem como conceitos culturais/religiosos e hábitos
domésticos.

A diversidade cultural mundial é muito grande, e pesquisadas as principais culturas, não encontrou-se unanimidade
para animais repelidos nem para animais aceitos.

Quando o profissional opta por utilizar animais como instrumento terapêutico tem de considerar todos esses aspec-
tos culturais, religiosos, de complementaridade ou identificação, ao se escolher entre esse ou aquele animal de forma a
favorecer ao máximo a aceitação por parte do paciente.

Além disso, deve-se considerar a adequação do mesmo ao processo terapêutico que se pretende. Nisso, inclui-se
tipo e qualidade de interação do animal com o ser humano; porte do animal compatível à limitação física e psicosocial do
paciente; nível de treinamento de aptidões para os exercícios de interatividade e conhecimento por parte do terapeuta
das características e comportamentos do animal a ser utilizado.

Deve-se levar em conta que um pequeno gesto de rivalidade ou competição, um movimento inesperado ou brusco
ou até uma desatenção por parte dos animais que estiverem sendo utilizados, podem comprometer a confiança neces-
sária ao processo em andamento.

Bases da Psicologia para a A/E/TAA e Benefícios Psicológicos da Interação Homem-Animal


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Essas considerações farão com que tanto a introdução do animal no processo terapêutico como o sucesso do pró-
prio processo sejam facilitados.

É é também através da identificação com o mesmo objeto (neste caso, o cão co-terapeuta), que ocorre o processo
de socialização: um dos benefícios mais citados da A/E/TAA atualmente. Ele estabelece um assunto/interesse em comum
dentre as pessoas envolvidas, facilitando a aproximação e interação do grupo ou até mesmo com estranhos.

Para que o sucesso da TAA seja garantido o planejamento é fundamental, de forma a garantir que a interação seja
positiva e benéfica, colaborando efetivamente no tratamento. O processo de introdução do animal em qualquer tipo de
atendimento deve seguir protocolos básicos do trabalho do profissional, sendo que a presença do animal precisa ser
muito bem pensada e planejada.
É importante lembrar que a TAA não depende só do vínculo com o cachorro, sendo essencial a presença do tera-
peuta, responsável por todo o processo. O cão, por mais importante que seja em todas as etapas do processo, é um
co-terapeuta (RIBEIRO, 1995) porque participa efetivamente do processo, auxiliando a díade terapeuta-paciente a per-
correr diferentes objetivos ou perspectivas.

Biografia
FINE, A. H. (org.).Handbook on Animal-assisted Therapy:theoretical foundations and
guidelines for practice.2a.ed. Nova York: Academic Press, 2000.
RIBEIRO, J.P. Psicoterapia grupoanalítica: teoria e técnica.2ª. ed.São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1995.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Laís Milani
Formação em Psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Especialização em Psicologia Hospitalar na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
Voluntária do INATAA desde 2009
Membro da diretoria de TAA do INATAA no interior de São Paulo (Mirassol).

Cristiane Blanco
Psicóloga
Graduada na Universidade Paulista em 1999
Psicóloga com especialização em Neuropsicologia pelo Inesp.
Psicóloga colaboradora no ambulatório de Transtornos do Impulso no IPQ/HC da FMUSP.
Voluntária do INATAA desde 2009.
Presidente do INATAA.

Bases da Psicologia para a A/E/TAA e Benefícios Psicológicos da Interação Homem-Animal


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Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais
Tamara Leite Cortez
Médico Veterinário
tmcortez@prefeitura.sp.gov.br

Resumo
Diferentes regulamentações versam sobre a guarda e posse responsáveis de animais, seu bem-estar, transporte entre
outras questões, nos âmbitos federal, estadual e municipal. O presente texto visa introduzir o leitor no tema, com ênfase
em cães e gatos, sugerindo o aprofundamento através da leitura dos próprios diplomas legais e de sua discussão analítica.

INTRODUÇÃO
A simbiose entre o Homem e os animais retroage aos primórdios da civilização humana. Os primeiros Codex
legais já previam diversos diplomas versando sobre essa relação; o Código de Hammurabi, por exemplo, já dispunha de
regulamentos versando desde a posse de animais, sua locação, danos causados pelos e aos animais, a atividade médica e
veterinária (http://www.infoescola.com/historia/codigo-de-hamurabi/).
Hoje, no Estado Democrático de Direito no qual se insere o Brasil, temos versando sobre o tema diferentes
diplomas legais e sub-legais; entre eles Leis Federais, Estaduais e Municipais com seus respectivos Decretos regulamenta-
dores, resoluções do Executivo ou de entidades de classe com regulamentação legal, etc. O presente texto versa sobre
a inserção do município de São Paulo neste contexto.
Paralelamente, as diferentes legislações do tema são inseridas em diferentes contextos do Direito, entre eles:
Penal, Civil e Administrativo. Aqui abordaremos os temas abaixo, no que tangem e interferem com a Terapia Assistida por
Animais (TAA):
• Posse responsável
• Guarda de animal
• Condução
• Transporte
• Presença de animais em estabelecimentos

LEGISLAÇÃO FEDERAL
Lei Federal Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 - Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
• Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem
a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida
• Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autori-
dade competente:
• Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,
nativos ou exóticos:

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


23
Lei Federal nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002 - Institui o Código Civil.
• Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior.

Decreto Federal 3.688 de 03 de outubro de 1944 - Lei das Contravenções Penais


• Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida cautela
animal perigoso:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa inexperiente;
b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;
c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997 - Institui o Código de Trânsito Brasileiro.


Capítulo XV - DAS INFRAÇÕES
Art. 169: Dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança:
Infração - leve;
Art. 235: Conduzir pessoas, animais ou carga nas partes externas do veículo, salvo nos casos devidamente autorizados:
Art. 252 Dirigir o veículo:
I - com o braço do lado de fora;
II - transportando pessoas, animais ou volume à sua esquerda ou entre os braços e pernas;

LEGISLAÇÃO ESTADUAL – SÃO PAULO

LEI Nº 11.977, DE 25 DE AGOSTO DE 2005 - Institui o Código de Proteção aos Animais do Estado
e dá outras providências.

Artigo 2º- É vedado:


I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência, prática ou atividade capaz de
causar-lhes sofrimento ou dano, bem como as que provoquem condições inaceitáveis de existência;
II - manter animais em local desprovido de asseio ou que lhes impeça a movimentação, o descanso ou os privem de ar
e luminosidade;
III - obrigar os animais a trabalhos excessivos ou superiores às suas forças e a todo ato que resulte em sofrimento, para
deles obter esforços que não se alcançariam senão com castigo;
IV - não propiciar morte rápida e indolor a todo animal cujo abate seja necessário para consumo;
V - não propiciar morte rápida e indolor a todo animal cuja eutanásia seja recomendada;
VI - vender ou expor à venda animais em áreas públicas sem a devida licença de autoridade competente;
VII - enclausurar animais conjuntamente com outros que os molestem;

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


24
VIII - exercitar cães conduzindo-os presos a veículo motorizado em movimento;
IX - qualquer forma de divulgação e propaganda que estimule ou sugira qualquer prática de maus-tratos ou crueldade
contra os animais.

Artigo 3º- Os animais silvestres deverão, prioritariamente, permanecer em seu habitat natural.
Artigo 4º- As pessoas físicas ou jurídicas mantenedoras de animais silvestres exóticos, mantidos em cativeiro, residentes
ou em trânsito, nos Municípios do Estado, que coloquem em risco a segurança da população, deverão obter a competen-
te autorização junto ao Poder Público Municipal, sem prejuízo das demais exigências legais.
Artigo 5º- Fica proibida a introdução de animais pertencentes à fauna silvestre exótica dentro do território do Estado.
Artigo 16 - É vedado:
I - fazer viajar um animal a pé, mais de 10 (dez) quilômetros sem lhe dar descanso, água e alimento;
II - conservar animais embarcados por mais de 6 (seis) horas sem água e alimento, devendo as empresas de transporte
providenciar as necessárias modificações em seu material, veículos e equipamentos, adequando-as às espécies animais
transportadas, dentro de 6 (seis) meses a partir da publicação desta lei;
IV - transportar animais em cestos, gaiolas ou veículos sem as proporções necessárias ao seu tamanho e números de
cabeças, e sem que o meio de condução em que estão encerrados esteja protegido por rede metálica ou similar, que
impeça a saída de qualquer parte do corpo do animal;
V - transportar animal sem a documentação exigida por lei;
VI - transportar animal fraco, doente, ferido ou que esteja com mais da metade do período gestacional, exceto para
atendimento de urgência;
VII - transportar animais de qualquer espécie sem condições de segurança para quem os transporta.

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL – SÃO PAULO

Lei Municipal N° 10.309, 22/04/1987 - Dispõe sobre controle de população e controle de zoonoses no
Município de São Paulo, e dá outras providências.

• Art. 16º O proprietário fica obrigado a permitir o acesso do Agente Sanitário, quando no exercício de suas
funções, ás dependências de alojamento do animal, sempre que necessário, bem como a acatar as determinações dele
emanadas.
• Art. 17º A manutenção de animais em edifícios condominais será regulamentada pelas respectivas convenções.
• Art. 18º Os animais da espécie canina deverão ser anualmente registrados, conforme o disposto no Decreto nº
19.483, de 17 de Fevereiro de 1984, ou em disposições posteriores.
– Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se também aos equídeos.
• Art. 19º Todo proprietário de animal é obrigado a manter seu cão ou gato permanentemente imunizado contra
a raiva.
• Art. 20º Em caso de falecimento do animal, cabe ao proprietário a disposição adequada do cadáver, ou seu en-
caminhamento ao serviço municipal competente
• Art. 25º É proibida a criação e a manutenção de animais de espécie suína, em zona urbana.
• Art. 30º É proibida a permanência de animais nos recintos e locais públicos ou privados, de uso coletivo, tais

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


25
como: cinemas, teatros, clubes esportivos e recreativos, estabelecimentos comerciais, industriais e de saúde, escolas,
piscinas, feiras.
• Parágrafo único : Excetuam-se da proibição deste artigo, os locais, recintos e estabelecimentos legal e adequa-
damente instalados, destinados a criação, venda, treinamento, competição, alojamento, tratamento e abate de animais

Lei Municipal Nº 13.725, 09/01/2004 - Institui o Código Sanitário do Município de São Paulo.
• Art. 23º - Toda e qualquer instalação destinada à criação, à manutenção e à reprodução de animais, em zona
urbana ou rural, deve ser construída, mantida e operada em condições sanitárias adequadas e sem causar incômodo à
população e transtornos ao entorno.
– § 1º - Os proprietários de imóveis residenciais ou legalmente estabelecidos, onde existam criações de animais,
são responsáveis pela manutenção das instalações destinadas a esse fim.
– § 2º - As instalações devem obedecer aos princípios de bem-estar animal e adequar-se às exigências da espécie
abrigada no local.
– § 3º - A criação de outros animais em área urbana do Município estará sujeita às normas emanadas da autori-
dade sanitária municipal.
– § 5º - A vacinação anti-rábica e o registro de cães e gatos são obrigatórios, cabendo a sua regulamentação ao
órgão coordenador do Sistema Municipal de Vigilância em Saúde.
• Art. 153 - O descumprimento das normas constantes da Lei nº 10.309, de 22 de abril de 1987, caracteriza infra-
ção ao Código Sanitário ora instituído, aplicando-se as penalidades e os procedimentos administrativos nele previstos.

Lei Municipal Nº 13.131, 18/05/2001 - Lei da posse responsável de animais


• Art. 1º É livre a criação, propriedade, posse, guarda, uso e transporte de cães e gatos de qualquer raça ou sem
raça definida no Município de São Paulo, desde que obedecida a legislação municipal, estadual e federal vigente.
• Art. 2º Todos os cães e gatos residentes no Município de São Paulo deverão, obrigatoriamente, ser registrados
no órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses ou em estabelecimentos veterinários devidamente creden-
ciados por esse mesmo órgão.
– § 1º Os proprietários de animais residentes no Município de São Paulo deverão, obrigatoriamente, providenciar
o registro dos mesmos no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias a partir da data de publicação da presente lei.
– § 2º Após o nascimento, os cães e gatos deverão ser registrados entre o terceiro e sexto mês de idade, rece-
bendo, no ato do registro, a aplicação da vacina contra raiva.
• Art. 6º Para proceder ao registro, o proprietário deverá levar seu animal ao órgão municipal responsável pelo
controle de zoonoses ou a um estabelecimento veterinário credenciado, apresentando a carteira ou o comprovante de
vacinação devidamente atualizado.
– Parágrafo único. Se o proprietário não possui comprovante de vacinação contra raiva do animal, a vacina deve
ser providenciada no ato do registro.
• Art. 8º Quando houver transferência de propriedade de um animal, o novo proprietário deverá comparecer ao
órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses ou a um estabelecimento veterinário credenciado para proceder
a atualização de todos os dados cadastrais.

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


26
– Parágrafo único. Enquanto não for realizada a atualização do cadastro a que se refere o caput deste artigo, o
proprietário anterior permanecerá como responsável pelo animal.
• Art. 11º Em caso de óbito de animal registrado, cabe ao proprietário ou ao veterinário responsável comunicar
o ocorrido ao órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses.
• Art. 13º Todo proprietário de animal é obrigado a vacinar seu cão ou gato contra a raiva, observando para a
revacinação o período recomendado pelo laboratório responsável pela vacina utilizada.
– Parágrafo único. A vacinação de que trata o caput deste artigo poderá ser feita gratuitamente nas campanhas
anuais promovidas pelo órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses ou nesse órgão durante todo o ano.
• Art. 15º Todo animal, ao ser conduzido em vias e logradouros públicos, deve obrigatoriamente usar coleira e
guia, adequadas ao seu tamanho e porte, ser conduzido por pessoas com idade e força suficiente para controlar os mo-
vimentos do animal, e também portar plaqueta de identificação devidamente posicionada na coleira.
• Art. 16º O condutor de um animal fica obrigado a recolher os dejetos fecais eliminados pelo mesmo em vias e
logradouros públicos.
• Art. 17º É de responsabilidade dos proprietários a manutenção de cães e gatos em condições adequadas de
alojamento, alimentação, saúde, higiene e bem-estar, bem como a destinação adequada dos dejetos.
– § 1º Os animais devem ser alojados em locais onde fiquem impedidos de fugirem e agredirem terceiros ou
outros animais.
– § 2º Os proprietários de animais deverão mantê-los afastados de portões, campainhas, medidores de luz e água
e caixas de correspondência, a fim de que funcionários das respectivas empresas prestadoras desses serviços possam ter
acesso sem sofrer ameaça ou agressão real por parte dos animais, protegendo ainda os transeuntes.
– § 3º Em qualquer imóvel onde permanecer animal bravio, deverá ser afixada placa comunicando o fato, com
tamanho compatível à leitura a distância, e em local visível ao público.
• Art. 18º Não serão permitidos, em residência particular, a criação, o alojamento e a manutenção de mais de 10
(dez) cães ou gatos, no total, com idade superior a 90 (noventa) dias.
– § 1º De acordo com a avaliação do agente sanitário do órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses,
que verificará a quantidade e porte dos animais, tratamento, espaço e condições higiênico-sanitárias onde os mesmos
ficam alojados, este número poderá ser reduzido, a partir de laudo técnico e intimação do agente.
– § 3º Excepcionalmente, será permitida, em residência particular o alojamento e a manutenção de cães ou gatos
em número superior a 10 (dez), não ultrapassando o limite de 15 (quinze), no total, desde que o proprietário solicite, ao
órgão municipal responsável pelo controle de zoonoses uma licença especial e excepcional.
– § 4º Para solicitar a licença de que trata o artigo anterior, os proprietários de animais deverão fornecer ao órgão
municipal pelo controle de zoonoses os números de RGA de todos os animais, comprovantes de vacinação contra a raiva
(VETADO), e descrição das condições de alojamento e manutenção dos mesmos, ficando a critério do agente sanitário
responsável pelo processo a concessão ou não da licença.
• Art. 21º É proibida a permanência de animais soltos, bem como toda e qualquer prática de adestramento em
vias e logradouros públicos ou locais de livre acesso ao público.
– § 1º O adestramento de cães deve ser realizado com a devida contenção em locais particulares e somente por
adestradores devidamente cadastrados por um dos clubes cinófilos oficiais do Município de São Paulo.
• Art. 22º Em estabelecimentos comerciais de quaisquer natureza, a proibição ou liberação da entrada de animais
fica a critério dos proprietários ou gerentes dos locais, obedecidas as leis e normas de higiene e saúde.

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


27
– § 1º Os cães guias para deficientes visuais devem ter livre acesso a qualquer estabelecimento, bem como aos
meios de transporte público coletivo.
• Art. 23º É proibido soltar ou abandonar animais em vias e logradouros públicos e privados, sob pena de multa
de R$ 100,00 (cem reais).
– Parágrafo único. Os proprietários só poderão encaminhar seus animais ao órgão municipal responsável pelo
controle de zoonoses para destinação em casos de enfermidades ou agressões comprovadas.
• Art. 30º São considerados maus-tratos contra cães e/ou gatos:
– a) submetê-Ios a qualquer prática que cause ferimentos, golpes (VETADO) ou morte;
– b) mantê-los sem abrigo, em lugares impróprios ou que Ihes impeçam movimentação e/ou descanso, ou ainda
onde fiquem privados de ar ou luz solar, bem como alimentação adequada e água (VETADO);
– c) obrigá-los a trabalhos excessivos ou superiores às suas forças, ou castigálos, ainda que para aprendizagem e/
ou adestramento;
– d) (VETADO) transportá-los em veículos ou gaiolas inadequados ao seu bem-estar;

Decreto Municipal nº 48.914, DE 08/11/2007 - altera o decreto nº 41.685, de 13 de fevereiro de 2002, que
regulamenta a lei nº 13.131, de 18 de maio de 2001, modificada pela lei nº 14.498, de 13 de setembro de 2007.
“Art. 21 Em estabelecimentos comerciais, excetuados aqueles que fabriquem, manipulem, beneficiem, preparem ou ven-
dam produtos alimentícios, a proibição ou liberação da entrada de animais fica a critério dos proprietários ou gerentes
dos locais, obedecidas as leis e normas de higiene e saúde.
§ 3º A entrada ou permanência de animais em locais ou estabelecimentos comerciais varejistas que fabriquem, manipu-
lem, beneficiem, preparem ou vendam produtos alimentícios será permitida somente na área de consumação, desde que
os estabelecimentos possuam espaço reservado, exclusivo e adequado para recebê-los, obedecidas as leis e normas de
higiene e saúde.
§ 4º Entende-se como espaço reservado, a área de consumação destinada para os consumidores e seus animais, revestido
de material sanitário, protegido contra sol e chuva, provido de ponto de água para higienização freqüente. Este espaço
deve ser isolado das áreas de recepção de matéria prima, armazenamento, preparo, venda e consumação, para evitar
contaminação cruzada de alimentos e incômodo aos demais consumidores.
§ 5º Na hipótese do § 3º deste artigo, o estabelecimento deverá manter funcionário, paramentado para efetuar a higie-
nização do ambiente, sendo que este em hipótese alguma poderá manipular alimento ou prestar serviços como garçom.
§ 6º Não será permitida a entrada de animais em estabelecimentos comerciais varejistas de pequena permanência sem
consumação no local, tais como supermercados, mercearias, padarias e similares.”(NR)

Tamara Leite Cortez


Formada em medicina veterinária (2001) pela FMVZ/UNESP.
Residência e mestrado (2003 e 2006 respectivamente), na área de planejamento em saúde animal e saúde pública na FM VZ/
UNESP. Especialização em saúde ambiental pela FSP/USP (2008).
Participou da equipe de saúde ambiental da prefeitura de Botucatu (2003-2004)
Foi consultora da UNESCO - atuando em São Paulo (2004-2007); foi docente da FMU, nos cursos de graduação em biologia
(2009) e medicina veterinária (2009-2012 e 2014-2015)
Atua na Divisão de Vigilância de Zoonoses da Prefeitura de São Paulo de 2008 até hoje

Legislação e Responsabilidade na Guarda,Transporte e Utilização de Animais


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Metodologia de Pesquisa Científica em TAA
Carolina Faria Pires Gama Rocha Marie Odile Monier Chelini
Veterinária e Psicóloga Médica Veterinária
Universidade de São Paulo - USP Universidade de São Paulo - USP
carolina.faria.rocha@gmail.com

PORQUE REALIZAR PESQUISA EM TAA?


A primeira comunicação relativa aos benefícios da interação prazerosa de pacientes psiquiátricos com cães foi feita em
1961 numa reunião da American Psychological Association pelo psiquiatra Boris Levinson da Yeshiva University Medical
School. Passados 50 anos, muitos relatos vieram confirmar o interesse de tais intervenções. A maioria da informação
disponível, porém, é qualitativa ou anedótica e ainda falta uma clara demonstração por estudos científicos criteriosos
dos benefícios da TAA. Não obstante o volume relativamente grande de evidências qualitativas, a escassez de estudos
científicos quantitativos atestando os benefícios da TAA impede o seu custeio pelos serviços públicos de saúde ou pelas
operadoras de planos de saúde (comunicação pessoal de Carla V.M. Rodrigues, pesquisadora da Agência Nacional de Saúde
Suplementar). Os dados gerados pelo Projeto de Pesquisa que apresentamos deverão representar uma contribuição
importante para a democratização desta técnica terapêutica tão promissora. A necessidade de fundamentação científica
rigorosa do uso da TAA é grande e urgente, desafiando os profissionais e pesquisadores; a demonstração rigorosa dos
seus bons resultados é condição sine qua non de uma ampla utilização.

DEFINIÇÃO
Uma pesquisa é um processo sistemático de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar
novos conhecimentos e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. É basicamente um processo de
aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. (Kourganoff 1990)

TIPOS DE PESQUISA:
Quanto à finalidade:
Pesquisa pura (básica): satisfação do desejo de adquirir conhecimentos, sem que haja uma aplicação prática prevista.
Pesquisa aplicada: os conhecimentos adquiridos são utilizados para aplicação prática voltados para a solução de
problemas concretos específicos.

Quanto à modalidade:
• Pesquisa de campo: É a observação dos fatos tal como ocorrem. Não permite isolar e controlar as variáveis, mas
perceber e estudar as relações estabelecidas.
• Experimental: Objetiva criar condições para interferir no aparecimento ou na modificação dos fatos, para poder
explicar o que ocorre com fenômenos correlacionados.
• Bibliográfica: Recupera o conhecimento científico acumulado sobre um problema.

Quanto aos objetivos:


• Pesquisa exploratória:

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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Primeira aproximação com o tema, ela visa conhecer os fatos e fenômenos relacionados ao tema, recuperar as informações
disponíveis, descobrir os pesquisadores da área.
É feita através de levantamentos bibliográficos, entrevistas com profissionais da área, visitas à instituições,
empresas, web sites e outros.

• Pesquisa descritiva:
Na pesquisa descritiva os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem interferência
do pesquisador, usando-se técnicas padronizadas de coleta de dados (questionário e observação sistemática).

• Pesquisa explicativa:
Visa explicar e criar uma teoria a respeito de um fato/fenômeno/processo, identificando fatores determinantes para
sua ocorrência. Pode ser realizada através de experimentos ou observações.

Quanto aos procedimentos:


• Pesquisa documental: ela se baseia no levantamento e no estudo de documentos, ou seja:
“Qualquer suporte que contenha informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou
prova. Inclui impressos, manuscritos, registros audiovisuais e sonoros, imagens, sem modificações, independentemente do período
decorrido desde a primeira publicação. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023, 2000)
Ênfase deve ser dada para fontes de informações ainda não publicadas, que não receberam tratamento analítico ou
não foram organizadas tais como relatórios de empresas, correspondência pessoal ou comercial, registros em igrejas,
hospitais, fotografias, obras originais de qualquer natureza.

• Pesquisa bibliográfica:
Imprescindível para qualquer pesquisa científica, ela consiste em recuperar o conhecimento científico acumulado
sobre um problema.

• Pesquisa experimental:
Consiste em experimentar, fazer experiência reproduzindo de forma controlada um fato/fenômeno/processo da
realidade com o objetivo de descobrir os fatores que o produzem ou que acompanham a sua ocorrência.

Quanto à forma de abordagem:


• Pesquisa qualitativa:
A pesquisa qualitativa tem como objetivo principal interpretar o fenômeno que observa. Seus objetivos são: a obser-
vação, a descrição, a compreensão e o significado. Não se apóia (geralmente) em hipóteses preconcebidas; suas hipóteses
podem ser construídas após a observação (ou seja, dá ênfase à indução).

• Pesquisa quantitativa:
As variáveis observadas numa pesquisa quantitativa são relativamente poucas, objetivas - isto é, diferentes obser-
vadores obterão os mesmos resultados em observações - e medidas em escalas numéricas. Os dados coletados são
analisados por meio de técnicas estatísticas.

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


30
Quanto ao local de realização:
• Pesquisa de campo:
Na pesquisa de campo, os fatos são observados tal como ocorrem. Não permite isolar e controlar as variáveis, mas
perceber e estudar as relações estabelecidas.

• Pesquisa de laboratório:
Não deve ser confundida com pesquisa experimental mesmo se a maioria das pesquisas de laboratório é experimental.
O que caracteriza a pesquisa de laboratório é o fato de que ela ocorre em situações controladas, valendo-se de
instrumental específico e preciso. Tais pesquisas, quer se realizem em recintos fechados ou ao ar livre, em ambientes
artificiais ou reais, em todos os casos, requerem um ambiente adequado, previamente estabelecido e de acordo com o
estudo a ser realizado.

Rodrigues W. C. 2007

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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ETAPAS DA PESQUISA CIENTÍFICA
1. Escolha do tema
2. Revisão de literatura
3. Justificativa
4. Formulação do problema
5. Determinação de objetivos
6. Metodologia
7. Coleta de dados
8. Tabulação dos dados
9. Análise e discussão dos resultados
10.Conclusão da análise dos resultados
11.Redação e apresentação do trabalho científico

1. Escolha do tema
– O que vou pesquisar?
– Um aspecto ou uma área de interesse de um assunto que se deseja provar ou desenvolver
– Assunto interessante para o pesquisador
– Originalidade não é pré-requisito
– Fontes de assuntos: vivência diária, questões polêmicas, reflexão, leituras, conversações, debates, discussões

2. Revisão de literatura
– Quem já pesquisou algo semelhante?
– Busca de trabalhos semelhantes ou idênticos
– Pesquisas e publicações na área

3. Justificativa
– Por que estudar esse tema?
– Vantagens e benefícios que a pesquisa irá proporcionar
– Importância pessoal ou cultural
– Deve ser convincente

4. Formulação do problema
– Quais as perguntas às quais estou disposto a responder?
– Definir claramente o problema
– Delimitá-lo em termos de tempo e espaço

5. Determinação de objetivos
– O que pretendo alcançar com a pesquisa?
– Objetivo geral – qual o propósito da pesquisa?
– Objetivos específicos – abertura do objetivo geral em outros menores (possíveis capítulos)

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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6. Metodologia
– Como se procederá a pesquisa?
– Caminhos para se chegar aos objetivos propostos
– Qual o tipo de pesquisa?
– Qual o universo da pesquisa?
– Será utilizada a amostragem?
– Quais os instrumentos de coleta de dados?
– Como foram construídos os instrumentos de pesquisa?
– Qual a forma que será usada para a tabulação de dados?
– Como interpretará e analisará os dados e informações?
– Explicitar a metodologia de pesquisas de campo ou de laboratório é bastante importante
– Pesquisa bibliográfica – leitura como material primordial
– Indicar como pretende acessar suas fontes de consulta, fichá-las, lê-las e resumi-las, construir seu texto, etc.
– Universo da Pesquisa – total de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado
estudo
– Amostra – parte do universo
– Instrumentos de Pesquisa – instrumentos de medidas ou instrumentos de coleta de dados. Uso de bibliografia que
oriente as escolhas.
– Instrumentos de pesquisa mais utilizados:
• Observação
• Entrevista
• Questionário – perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha
• Formulários

7. Coleta de dados
– Como será o processo de coleta de dados?
– Como? Através de que meios? Por quem? Quando? Onde?
– Paciência

8. Tabulação dos dados


– Como organizar os dados obtidos?
– Recursos: índices, cálculos estatísticos, tabelas, quadros e gráficos

9. Análise e discussão dos resultados


– Como os dados coletados serão analisados?
– Confirmar ou refutar hipótese anunciada

10. Conclusão da análise dos resultados


– Sintetizar os resultados obtidos
– Evidenciar as conquistas alcançadas com o estudo

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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– Indicar as limitações e as reconsiderações
– Apontar a relação entre fatos verificados e teoria
– Contribuição da pesquisa para o meio acadêmico, empresarial ou desenvolvimento da ciência e tecnologia

11. Redação e apresentação do trabalho científico


– Redigir relatório de pesquisa: monografia, dissertação ou tese
– Segundo normas pré-estabelecidas
– Redigir e submeter artigo para periódicos da área

PARTICULARIDADES E DESAFIOS ESPECÍFICOS DA PESQUISA EM TAA


O que avaliar e como?
A dupla cão-condutor como variável
Número amostral
Local adequado e vigilância sanitária
Resistência dos profissionais de saúde e autoridades administrativas
Bem estar animal (físico e mental)
Segurança dos participantes

ALGUNS TRABALHOS DE INTERESSE


Hatch, A. (2007).The view from all fours: A look at an animal-assisted activity program from the animals’ perspective.
Anthrozoös, 20(1), 37–50.
Hooker, S, Holbrook Freeman, L., Stewart, P. (2002). Pet therapy research: A historical review. Holistic Nursing
Practice, 17, 17-23.
LaFrance, C, Garcia, LJ, Labrecehe, J. (2077) The effect of a therapy dog on the communication skills of an adult with
aphasia. Journal of Communication Disorders 40, 215–224.
Martin, F., & Farnum, J. (2002). Animal-assisted therapy for children with pervasive developmental disorders. Western
Journal of Nursing Research, 24(6), 657-670.
Nimer, J, Lundahl, B. (2007) Animal-assisted therapy: a meta-analysis. Anthrozoös, 20 (3), 225-238.
Odendaal JSJ, Meintjes RA (2003) Neurophysiological correlates of affiliative behaviour between humans and dogs.
The Veterinary Journal 165:296 –301.
Palley, LS, O’Rourke, PP, and Niemi, SM. (2010) Mainstreaming Animal-Assisted Therapy. ILAR journal, 51 (3), 199-207.
Solomon, O. (2010).What a dog can do: Children with autism and therapy dogs in social interaction, ETHOS, 38(1), 143–166.

ALGUNS TRABALHOS BRASILEIROS


Faraco CB, Pizzinato A, Csordas MC, Moreira MC, Zavaschi MLS, Santos T, Oliveira VLS, Boschetti FL, Menti LM.
(2009).Terapia mediada por animais e saúde mental: um programa no Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Ado-
lescência em Porto Alegre – TAA Parte II. Saúde Coletiva; 06 (34):231-236
Fosco MM, Ribeiro PR, Ferraz FHA, Junior Freitas R, Martin DW, Raymundo CS, Pereira CAD. (2009). Aplicação da

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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terapia assistida (TAA) por animais no tratamento de crianças portadoras de paralisia cerebral – TAA - Parte I. Saúde
Coletiva;06 (32):174-180
Kobayashi CT, UshiyamaI ST, Fakih FT, Robles RAM, Carneiro IA, Carmagnani MAS. (2009) Desenvolvimento e
implantação de Terapia Assistida por Animais em hospital universitário. Rev Bras Enferm, 62(4): 632-6.
Oliva et al, (2010) Idosos institucionalizados e as atividades assistidas por animais (AAA). Revista Ciência em
Extensão, 6 (2), 15-31.
Silveira IR, Santos NC, Linhares DR. (2011) Protocolo do Programa de Assistência Auxiliada por Animais no Hospital
Universitário. Rev Esc Enferm USP; 45(1):283-8
Toigo T, Leal Jr ECP, Ávila SN. (2008). O uso da equoterapia como recurso terapêutico para melhora do equilíbrio
estático em indivíduos da terceira idade REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL.,; 11(3):391-403
Vaccari AMH, Almeida FA. (2007) A importância da visita de animais de estimação na recuperação de crianças
hospitalizadas. Einstein; 5(2):111-116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CITADAS


(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023, 2000)

KOURGANOFF,Wladimir. A face oculta da universidade.Tradução Cláudia Schilling; Fátima Murad. São Paulo : Editora
da Universidade Estadual Paulista, 1990.
Tognetti M.A.R. em http://lob.incubadora.fapesp.br/portal/t/metodologia/pesquisa.pdf em acesso em 08/04/2011

Carolina Faria Pires Gama Rocha


Graduação em Veterinária pela Universidade de São Paulo.
Mestre em comportamento animal pelo Instituto de Psicologia da USP. Investigou a seleção, estresse e temperamento de cães
em interações assistidas por animais. - Universidade de São Paulo.
É fundadora da empresa Pet Anjo, que oferece serviços de Dog Walker, Pet Sitter e Hospedagem Familiar.
Acompanhou cursos com importantes profissionais da área de comportamento animal como Debra Horwitz, Karen Overall,
Kim Moeller, Lore Haug, Susan Friedman, Bob Bailey, Chirag Patel, Ian Dumbar e Parvene Farhoody e é a única brasileira certi-
ficada internacionalmente como Dog Walker e Pet Sitter.
É membro regular da American Veterinary Society of Animal Behavior, da Association of Pet Dog Trainers e do núcleo de saúde,
comportamento e bem estar animal da Rede Nacional de Atividades, Terapia e Educação Assistida por Animais (REATAA). Para
saber mais visite os sites: www.carolinarocha.com.br e www.petanjo.com

Metodologia de Pesquisa Científica em TAA


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Equoterapia
Eliane Cristina Baatsch
Psicopedagoga e Pedagoga
elianeequitacao@hotmail.com

EQUOTERAPIA E SUAS ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

A equoterapia vem evoluindo no Brasil, embora não na aplicabilidade de pesquisas científicas que ainda se en-
contram em desenvolvimento, e muito menos em questões anteriores iniciais contidas em como aspectos singulares na
aquisição dos centros de equoterapia para o seu funcionamento.
As demandas, as perspectivas, as metodologias, as concepções, as adaptações do trabalho da equoterapia como
um todo, um processo, vem se construindo e evoluindo frente as organizações dos centros terapêuticos em todo o
Brasil.
Nessa situação, de como um melhor funcionamento dos centros de equoterapia na sua conduta terapêutica de
habilitação e reabilitação e como sucesso de inclusão e inserção seja social, educacional, ou talvez biopsicossocial, visto
a necessidade de expansão dos serviços múltiplos de intervenções na equoterapia ao qual somos sabedores da impor-
tância relevante da interdisiciplinariedade, transdisciplinariedade, e da multidisciplinariedade, entre outros fatores para a
efetivação do foco terapêutico na equoterapia.
O que de fato é o praticante de equoterapia dentro dos direcionamentos terapêuticos e nas suas evoluções nos
atendimentos graduais, de triagem e prognósticos. Aqui não falamos distintamente no praticante como ser separado nas
suas totalidades físicas ou motoras sejam estas cognitivas, emocionais, psicológicas, neurocognitivas, entre outros focos.
O enfoque não pode ser unicamente e exclusivo em sinapses, estímulos e respostas, o paciente em respostas unilaterais
de membros, tronco, cervical, memória, agressividade, ansiedade, ou até mesmo se dirigir a um centro de equoterapia
para passeio a cavalo.
E como os centros de equoterapia nas suas articulações e demandas podem se estruturar com o cunho de
acessibilizar a equoterapia para todos de forma que o paciente não esteja só inserido nos atendimentos, entretanto seja
incluso nas suas potencialidades e totalidades, participe do processo de equoterapia de acordo com as suas limitações.
Hoje os centros de equoterapia em todo Brasil tem uma demanda ampla e variada da sua clientela nos aten-
dimentos equoterápicos, sejam eles particulares, voluntários, gratuitos, de parceria com instituições, de parceria com
prefeituras, contudo cada um na sua especificidade de clientela, demanda, características arquitetônicas, financeiras, fun-
cionais, estruturais e organizacionais.
Público que têm indicações, direcionamentos, parcerias, e a questão está em como acessibilizar a equoterapia
para a inclusão de todas as pessoas com deficiência que procuram e como lidar com os casos de contraindicações nesses
encaminhamentos dos parceiros no processo de seleção da demanda dos atendimentos.
A demanda e direcionamentos dos centros de equoterapia estão ocorrendo, as dificuldades no processo de
indicação e contraindicação para o tratamento equoterápico estão corriqueiros. E existem muitas perspectivas mediante
ao avanço do praticante durante as sessões, o que conseguimos ou não conseguimos evoluir no prognóstico do diagnós-
tico apresentado.

Equoterapia
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Além de todas as tangentes que norteiam o nosso trabalho com o praticante na equoterapia, precisamos re-
pensar a nossa prática mediante a equipe multidisciplinar de forma da inclusão da mesma nesse âmbito de intervenção
terapêutica, como além de acessibilizar o praticante para o atendimento na equoterapia, acessibilizar o conhecimento da
equipe multidisciplinar no atendimento do praticante.

A EQUOTERAPIA COMO INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE

O propósito dessa reflexão é que a Equoterapia quanto método terapêutico, pode proporcionar a oportunidade
de incluir praticantes antes considerados contraindicados em suas atividades desde que as mesmas sejam adaptadas as
suas capacidades e necessidades. Temos que pensar nas oportunidades de nosso ambiente de trabalho que nos oferece
multiplicidade em sua riqueza de possibilidades.
A Equoterapia nesta proposta deve ser vista além de sua possibilidade e capacidade de (re) habilitar seus praticantes
em suas dificuldades motoras. A palavra (re) habilitar é proporcionar qualidade de vida seja ela realmente proporcionada
para o ser humano em sua integridade, seja, saúde física, mental/emocional, familiar, social... Pensarmos em nossos prati-
cantes como seres além da patologia se faz preciso.A complexidade de uma patologia adquirida após acidente ou durante
qualquer estágio de desenvolvimento nos faz resumir as capacidades e funcionalidades ainda existentes e preservadas,
trabalhar as forças para (re) habilitar as fraquezas.
Acho que já perceberam a maneira como escrevo aqui a palavra (re) habilitar, usamos dela para todos os nossos
praticantes e esquecemos que muitos deles nunca viveram ou experimentaram algumas de suas funções e possibilidades.
Quero dizer que muitas crianças ou até adolescentes e adultos adquiriram suas patologias no início de suas vidas sendo
assim não podemos falar em reabilitar, por exemplo a função motora e sim habilitar, pois como é o movimento como
reconhecer o que meu corpo deve fazer e como é o correto. Habilidades motoras não são apenas mecânicas, mas nestes
casos devem ser conscientes para poderem existir, ter forma e espaço.
Na (re) habilitação de praticantes temos que ter como foco principal a qualidade de vida dos mesmos e experimen-
tar é manter-se vivo. E se falando em (re) habilitação temos um universo vasto, onde podemos desenvolver atividades
motoras.
Termos em mãos um método como o da equoterapia é favorável, pois em simples atividades desenvolvidas
como a de apenas ter ao lado um animal tão carinhoso e adorável, talvez com experiências sensoriais, emocionais, ami-
zade, reciprocidade, é um simples fato de se manter vivo, de buscar forças, de existir.
A montaria pode ser uma consequência natural de todo um processo. Este por sua vez deverá ser planejado de ma-
neira específica para cada praticante, respeitando suas limitações e etapas de desenvolvimento.
A partir daí podemos oferecer uma diversidade de propostas de trabalho, mesmo de maneira simples a riqueza que
nos é oferecida até em um momento de observação do cavalo é imensa.
Segundo a ANDE-BRASIL – Associação Nacional de Equoterapia (2011, p.7):

Equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo numa abordagem interdisciplinar nas áreas da educação,
saúde e equitação, para pessoas com deficiência, buscando melhorias significativas no aspecto físico, psicológico, emocio-
nal, cognitivo, biopsicossocial, entre outros. Obtendo resultados benéficos de até 80% no convívio social.

Equoterapia
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Na equoterapia o praticante (nome designado ao aluno ou paciente que pratica a equoterapia) participa da sua
própria reabilitação, e obtém como amigo o cavalo que possui uma grande sensibilidade de carinho com a pessoa com
deficiência, deixando-o manusear e montar, e também possui uma andadura tridimensional que emite para o cérebro do
praticante de 120 a 180 estímulos, que facilitam a melhora em menor tempo. O cavalo atua na equoterapia como agente
facilitador da aprendizagem, de inserção, de reinserção social, e cinésioterapêutico.
Neste método conseguimos atingir vários objetivos, entre:
• segurança;
• autoestima;
• afeto;
• ensino aprendizagem;
•
desenvolvimento biopsicossocial;
• equilíbrio;
• psicomotricidade;
• coordenação motora;
• sensibilidade;
• AVD (ativida-
de de vida diária);
• autoconfiança;
• reedução postural;
• regularização do tônus muscular;
• estimulação propioceptiva;
•
interação;
• socialização;
• interesse;
• fala;
• cognitivo;
• ritmo;
• comunicação global, entre outros.
Em intervenções na equoterapia às vezes atingimos objetivos aos quais não havíamos direcionados nas terapias, por-
tanto estavam vinculadas a outros objetivos.
É importante ressaltar, que o cavalo não é um brinquedo que aceita tudo, mas este têm as suas vontades, limites de
aceitação e tolerância, precisando ser respeitado.
Fases da equoterapia: hipoterapia, educação-reeducação, pré esportivo e esportivo.

Eliane Cristina Baatsch


Coordenadora da Hípica Santa Terezinha
Coordenadora do Centro Municipal de Equoterapia de Barueri
Presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência de Carapicuíba
Coordenadora do Paraequestre da NBHA Brazil
Colunista do Portal Acesse
Profissional da Prefeitura Municipal de São Paulo
Instrutora de Equitação Clássica
Instrutora de Equitação Terapêutica
Instrutora de Equitação Adaptada dos 3Tambores
Instrutora de Volteio Terapêutico
Pedagoga
Psicopedagoga
Especialista em Deficiência Múltipla
Especialista em Equoterapia
Palestrante do Instituto Saber em pós graduação de Neuroaprendizagem, cognição e psicomotricidade

Equoterapia
38
Controle de Saúde Animal
Prof. Dr. César Augusto Dinóla Pereira
Médico Veterinário
Professor nas Universidades: Anhembi Morumbi, UNISA e UnG.
dinolaca@anhembi.br
DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS COM POTENCIAL ZOONÓTICO NA PRÁTICA DA
ATIVIDADE E TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (A/TAA)
Os benefícios dependem da saúde dos animais terapeutas, pois existem diversas doenças de animais que podem ser
transmitidas ao homem, doenças estas definidas como zoonoses.
Nos parágrafos abaixo temos uma breve descrição dos principais agentes etiológicos, organismos responsáveis por
doenças infecciosas e parasitárias de animais que possuem caráter zoonótico, características da doença e medidas gerais
a serem tomadas para evitar-se a transmissão das mesmas para os pacientes atendidos (profilaxia).

Zoonoses de Etiologia Viral:


• Raiva
É uma zoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico contido na saliva do ani­mal infectado através
da mordida ou lambedura da pele e mucosas. Após a penetração do vírus ocorre a infecção do Sistema Nervoso Central
que leva a uma encefomielite aguda e mortal.
Nas grandes cidades (meio urbano), cães, gatos e morcegos são os principais reservatórios e transmissores do vírus
rábico. Felizmente, devido ao intensivo uso de vacinas contra a raiva, realizadas em clínicas veterinárias particulares e em
campanhas públicas, foi possível obter o controle desta doença na população canina e felina.
Contudo, cuidados maiores devem ser tomados caso ocorra o contato direto com qualquer tipo de morcego, o que
por si é indicativo de observação e tratamento.Vale destacar que não apenas os morcegos hematófagos (que se alimen-
tam de sangue) são potenciais transmissores do vírus. O serviço de vigilância epidemiológico realizado no Centro de
Controle de Zoonoses do Município de São Paulo tem revelado um aumento na freqüência de positividade para a raiva
em morcegos frugívoros e insetívoros.

Zoonoses de Etiologia Bacteriana:


• Leptospirose
É uma doença infecciosa aguda causada por bactérias do gênero Leptospira, espécie interrogans presentes na urina
de ratos e cães infectados. Existem diversos sorotipos, entre eles, de importância em cães, temos o canicola, icterohae-
morragiae e mais recentemente pomona e grippotyphosa.
Os roedores são os principais reservatórios da leptospira, eliminando-a viva pela urina no ambiente e consequente-
mente contaminando águas, solo e alimentos.
A Leptospirose é um sério problema em Saúde Pública e a casuística é utilizada como um importante marcador da
precariedade das condi­ções sanitárias do país. De maneira geral esta doença tem afetado de forma crescente as popula-
ções urbanas concentradas nas principais regiões metropolitanas
As pessoas geralmente se infectam através do contato da pele e mucosas, principalmente, com água contaminada com

Controle de Saúde Animal


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a urina de roedores infectados, o que justifica a alta ocorrência desta doença após períodos de enchentes. Por outro lado,
os cães também podem se infectar pela ingestão de alimentos contamina­dos pela urina de roedores.
Importantes medidas de prevenção envolvem a vacinação anual ou semestral de cães, além da prevenção da instalação
e permanên­cia de roedores no ambiente domiciliar. De maneira geral deve-se evitar condições que propiciem a disponi-
bilização de abrigo e alimento aos roedores, entre elas o acúmulo de entulho e lixo, e particularmente aos cães, deve-se
retirar os comedores destes e descartar apropriadamente restos de ração ao entardecer.

• Salmonelose
Trata-se de doença infecciosa causada por bactérias do Gênero Salmonella.
Animais infectados e o próprio homem podem apresentar diarréia e eventualmente infecção generalizada (septice-
mia) e urinária. É uma zoonose particularmente importante em pacientes imunos­suprimidos, como Aidéticos, transplan-
tados, ou submetidos à quimio/radioterapia.
Através das fezes ocorre a contaminação ambiental e de alimentos ocasionando acidentalmente a infecção no homem.
Além de cães, animais de sangue frio, entre eles, tartarugas, lagartos e cobras, são fontes de infecção para seres
humanos. Atualmente são conhecidas mais de 2400 sorotipos, dentre estes: thiphimuriun, dublin, enteritidis /gallinarium,
infectando respectivamente o homem, cães/eqüinos e aves.
Preventivamente podem ser realizados exames coprológicos para o isolamento do agente.

• Campilobacteriose
A Campilobacteriose é uma das principais infecções in­testinais de causa bacteriana, sobretudo em países em desenvol-
vimento. De maneira semelhante à Salmonelose, adquire uma maior relevância em pacientes jovens e principalmente em
imunossu­primidos, uma vez que a septicemia ocorre mais frequentemente nestes indivíduos do que na população em geral.
Os animais domésticos são reservatórios da bactéria do gênero Campylobacter espécie jejuni. Entre eles bovinos me-
recem destaque devido à possibilidade de transmissão pelo leite não pasteurizado por vacas com mastite. Por outro lado,
a freqüência de isolamento do agente em cães e gatos com quadro diarréico pode chegar a 20 e 13%. Aves e animais
silvestres também podem se infectar.
A transmissão ocorre por contaminação acidental de água e alimentos, em particular leite não pasteurizado. Portanto,
animais com diarréia devem ser levados ao veterinário para a identificação do possível agente, bem como medidas gerais
de higiene pessoal devem ser adotadas.

• Tuberculose
A tuberculose é uma infecção crônica de maior índice de mortalidade entre os seres humanos, sobretudo em pessoas
acometidas por processos imunossupressores como AIDS, alcoolismo e desnutrição. A doença é causada pela bactéria
do gênero Mycobacterium das espécies tuberculosis, bovis e avium, e a susceptibilidade de cães e gatos e animais silvestres
são variáveis para cada uma destas espécies.
Apesar da susceptibilidade dos animais de companhia, a literatura relata que a transmissão destes ao homem nunca
foi relatada ou que seria extremamente rara. A doença pode ser considerada uma zooantroponose, ou seja, a ocorrência
da doença em humanos acompanha a casuística em animais.
A transmissão está associada à ingestão de água e alimentos de origem animal contaminados, especialmente carne
crua e leite não pasteurizado, onde reside a forma de controle e prevenção da transmissão. Alternativamente o agente
pode ser transmitido por meio de aerossóis o que é favorecido em ambientes confinados.

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• Bordeteliose
A Bordeteliose canina, mais conhecida como tosse dos canis, é uma doença que acomete o trato respiratório de cães
causando febre, tosse e corrimento nasal. É uma infecção desencadeada pela bactéria Bordetella bronchiseptica, e animais
infectados eliminam o agente por aerossóis. Ambientes fechados com grande concentração de indivíduos favorecem
a disseminação do agente. Em função do caráter oportunista do agente que se manifesta devido à imunossupressão, a
doença adquire maior importância em indivíduos HIV positivos, transplantados ou submetidos a quimio e radioterapia.
A prevenção se dá pela utilização anual de vacina atenuada intranasal em cães.

• Psitacose
Também conhecida como Clamidiose aviária, ornitose, febre dos papagaios, é uma doença causada pela bactéria
Chlamydophila psittaci.
Inicialmente foi identificada em psitacídeos (papagaios, araras e periquitos) e posteriormente verificou-se a infecção tam-
bém em outras espécies de aves (pombos, galinhas, canários, etc.), répteis e mamíferos, incluindo o homem. Na espécie humana
acomete, principalmente, indivíduos que mantêm contato direto com aves, a exemplo de trabalhadores em abatedouros de
aves, lojas de animais ou proprietários de pássaros e outros animais domésticos, o que lhe dá um caráter de doença ocupacio-
nal. A infecção confunde-se com gripe, contudo a forma grave da doença pode ser observada em pessoas idosas.
Em função da ausência de vacinas, os cuidados com aves envolvem a manutenção de ambientes livres do agente, a
adequada higiene dos recintos, boa alimentação e quarentena de indivíduos novos.

• Doença da Arranhadura do Gato


Trata-se de uma doença de ocorrência mundial esporádica, aparecendo mais frequentemente em crianças. Foi pro-
posto que gatos domésticos desempenham o papel de reservatórios e vetores das espécies de bactérias do grupo das
Rickéttsias chamadas Bartonella henselae e clarridgeiae. A transmissão a humanos se deve a mordidas e arranhadura
de gatos infectados ou indiretamente por intermédio da pulga dos gatos (Ctenocephalide felis). De acordo com estudos
de soroprevelência e bacterimia em gatos na ordem de 50 e 39% respectivamente, a doença se manifesta em 7, 20 ou
até mais dias após o traumatismo e caracteriza-se por ulcerações, pústulas ou vesículas no local da lesão seguido por
enfartamento dos linfonodos regionais (linfadenomegalia) e manifestações sistêmicas como febre, perda de apetite, dores
generalizadas. Geralmente a cura é espontânea podendo raramente ocorrer complicações neurológicas. A bactéria está
presente nas fezes de pulgas, além da saliva, unhas e pêlos de gatos infectados.
A prevenção envolve o controle da infestação por pulgas, a aplicação de anti-sépticos em locais lesados por mordidas
e arranhões de felinos e o uso de protetores ou cortar/lixar as unhas dos gatos.

• Febre Maculosa
A febre maculosa é uma doença infecciosa causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. Em São Paulo, já foram descritos
casos de febre maculosa nos municípios de Mogi das Cruzes, Diadema, Santo André, Pedreira, Jaguariúna e Campinas.
A transmissão se dá por intermédio do carrapato Amblyomma cajenene (“carrapato estrela”, “carrapato de cavalo”,
as larvas são conhecidas por “carrapatinhos” ou “micuins” e as ninfas por “vermelhinhos”). Os carrapatos Amblyomma
cajenense são responsáveis pela manutenção da R. rickettsii na natureza e o homem é intensamente atacado nas fases
de larvas e ninfas, portanto na primavera e verão. No homem a doença se caracteriza por início súbito com febre de
moderada a alta que dura geralmente de 2 a 3 semanas e é acompanhada de cefaléia, calafrios, congestão das conjuntivas.

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Ao terceiro ou quarto dia pode se apresentar exantema maculopapular, róseo, nas extremidades, em torno do punho e
tornozelo, de onde se irradia para o tronco, face, pescoço, palmas e solas. Em cães se caracteriza por deficiência de sinais
neurológicos (nistagmo/incoordenação motora), febre, anorexia e letargia.
Preventivamente deve-se aplicar repelentes e produtos carrapaticidas em cães se visitarem áreas rurais endêmicas para
esta doença. Não se deve esmagar os carrapatos com as unhas, pois isso pode liberar as bactérias, que têm capacidade de
penetrar através de micro lesões na pele. Alternativamente, devemos retirá-los com calma, torcendo-os levemente.

Zoonoses de Etiologia Fúngica:


• Dermatofitoses
Dermatofitoses são infecções que acometem tecidos queratinizados da pele e anexos cutâneos como unhas, garras,
pêlos e cabelo, as quais são conhecidas vulgarmente como “micoses“. Os microrganismos responsáveis são fungos dos gêne-
ros Microsporum e Trichophyton, e um importante reservatório de dermatófitos são felinos assintomáticos transmissores do
Microsporum canis. Hamsters, cobaias e ratos têm se tornado animais de estimação e são igualmente fontes de infecção.
A transmissão ocorre por contato direto com a pele e pelame do animal infectado com a pele do proprietário. Outra
forma de transmissão importante para os animais é a indireta através de máquina de tosar, escovas e toalha.
Diante da evidência de perda de pêlos (alopecia) e descamação cutânea, o cão deve ser levado a um veterinário para
pesquisa do agente etiológico e estabelecimento de um protocolo adequado de tratamento.
Caso o proprietário apresente lesões na pele, normalmente avermelhadas e arredondadas, localizadas nas regiões
de maior contato com os animais como os antebraços, o mesmo deve consultar um dermatologista e comunicá-lo o
diagnóstico feito pelo veterinário.

• Criptococose
A criptococose é uma infecção micótica sistêmica causada pela levedura chamada Cryptococcus neoformans que aco-
mete diversos mamíferos domésticos (cães, gatos, bovinos, ovinos e eqüinos), silvestres (raposas, furões, macacos, etc.) e
o homem. São conhecidas duas variantes: a neoformans, encontrada em solo rico em excretas de aves (em particular de
pombos), e a gatti (isolada de folhas e cascas de eucaliptos); ambas transmitidas por aerossóis.
O quadro clínico é caracterizado por rinite, sinusite e pneumonia, podendo o microrganismo se disseminar pela
corrente circulatória e provocar meningite. A gravidade da infecção também está relacionada ao status imunológico do
paciente, e esta doença ganha relevância em indivíduos imunossuprimidos (aidéticos, transplantados, etc.).
Felinos doentes apresentam sinais respiratórios como espirro, corrimento nasal, muco purulento e em função de
formações firmes no tecido subcutâneo dos ossos do nariz pode ocorre um aumento de volume na região, lesão esta
conhecida como “nariz de palhaço”.
Como prevenção, principalmente em áreas urbanas, deve-se evitar a exposição a ambientes com grande acúmulo de
fezes de pombos.A remoção/limpeza de fezes e o controle da população de pombos devem ser mantidos pelos órgãos públicos.

• Esporotricose
A esporotricose é uma micose subcutânea que pode acometer diversas espécies animais, incluindo o homem.Trata-se
de uma doença crônica causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii, cujo hábitat é o solo e locais com matéria
orgânica vegetal em decomposição.
A transmissão costuma ocorrer acidentalmente através de inoculação cutânea traumática, de solo, vegetais e matéria

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orgânica contaminada (conhecida como “doença do jardineiro”).Alternativamente pode ser transmitida pela arranhadura
de gatos com unhas contaminadas ou pelo contato da pele ou mucosa com o exsudato de lesões.
No Brasil, a incidência da esporotricose adquirida pelo contato com gatos infectados vem aumentando e, no Rio de
Janeiro, essa moléstia é atualmente considerada de notificação obrigatória.
A prevenção envolve a anti-sepsia imediata de lesões cutâneas. A castração dos machos pode contribuir, uma vez que
gatos inteiros, em função de disputas territoriais, estão freqüentemente envolvidos em brigas.

Zoonoses de Etiologia Parasitaria:


• Complexa larva migrans visceral/toxocaríase
O agente etiológico é um parasita intestinal de cães e gatos do gênero Toxocara.
O complexo larva migrans/toxocaríase atinge o ser humano devido à eliminação dos ovos larvados destes vermes nas
fezes de filhotes em areias e locais de terra, como praças e jardins, seguida da ingestão acidental desta com terra conta­
minada (principalmente em crianças), ou alternativamente, pela ingestão de verduras cruas ou mal lavadas contaminadas.
Após a ingestão de ovos de Toxocara sp, segue-se a migração das larvas destes vermes para órgãos e tecidos atingindo
preferencialmente pulmões e olhos e ocasionalmente outros órgãos.
A prevenção se dá pela realização de exames parasitológicos regulares, seguidos ou não da administração de vermí-
fugos aos cães, além da prática de procedimentos de higiene pessoal e de educação e posse responsável de proprietários
visando o controle da contaminação ambiental.

• Larva Migrans Cutânea


É uma doença também conhecida como “bicho geográfico”, que acomete principalmente crianças e banhis­tas que te-
nham contato com solo arenoso infectado. Cães e gatos são os reservatórios do parasita pertencente ao gênero Ancylos-
toma. Nos animais se desenvolve uma parasitose intestinal que resulta na eliminação de ovos com as fezes. Caso ocorra
a contaminação de solos arenosos com as fezes contaminadas, na presença de condições de umidade e temperatura
favoráveis, haverá a evolução do parasita para uma fase larval que tem a capacidade de penetrar ativamente pela pele.
Uma pesquisa realizada pelo CCZ do Município de São Paulo revelou que em 115 amostras de solo colhidas em 23
parques públicos da cidade no ano de 1999, houve positividade de 17,4% para ovos e larvas de Ancylostoma spp e 8,7%
para ovos de Toxocara spp, reforçando a necessidade de políticas voltadas para a educação da população para os concei-
tos de posse responsável dos animais.
As medidas de prevenção são semelhantes às descritas para a Toxocaríase.

• Toxoplasmose
Trata-se de uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. A doença ganha destaque entre os felinos (do-
mésticos e silvestres), pois são os únicos hospedeiros definitivos deste agente. Os gatos apresentam no trato gastrintes-
tinal os estágios sexuais do parasito e pelas fezes são eliminados os oocistos (formas infectantes) para o meio ambiente
e para os chamados hospedeiros intermediários que incluem diferentes vertebrados, inclusive o ser humano.
Contudo, é importante ressaltar que o período de eliminação dos oocistos pelas fezes dos felinos é muito curto (uma
a duas semanas), o que conseqüentemente dificulta a transmissão direta ao homem. Estudos epidemiológicos relatam que
a taxa de pessoas soropositivas é variável em função da idade. Em parques com areia contaminada a positividade é maior
em crianças que a ingerem acidentalmente. Por outro lado, de maneira, a principal forma de transmissão para os seres

Controle de Saúde Animal


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humanos se dá através da ingestão de água, frutas, verduras, além de carne de hospedeiros intermediários (suínos, ovinos
e bovinos), cruas ou não cozidas adequadamente, o que permite a sobrevivência das formas infectantes do parasito.
Entre 50 e 80% dos latino-americanos são soropositivos para a toxoplasmose, a maioria apresentou infecções ina-
parentes ou com sintomas semelhantes aos de uma gripe. Contudo a infecção se torna relevante em gestantes com
infecção aguda em função da transmissão congênita para o feto, com possibilidade de abortamento ou seqüelas neuroló-
gicas no recém-nascido. Além da gestante, os Aidéticos merecem destaque, pois podem apresentar quadros neurológicos
associados à encefalite. Vale destacar que gatos soropositivos não eliminam oocistos, o que os torna mais seguros ao
convívio com indivíduos imunossuprimidos.

• Giardíase
A giardíase é uma infecção observada com mais freqüência em indivíduos jovens do que em adultos em diversos
hospedeiros, com prevalência de 15% em crianças de países em desenvolvimento, de 20% a 35% em cães e de 10% a 15%
em gatos. Atualmente são conhecidas três formas morfológicas do protozoário flagelado Giárdia,entre elas a intestinalis
que acomete o homem e outros animais domésticos, muris das aves, roedores e répteis e agilis dos anfíbios.
A infecção por esse protozoário pode ser adquirida através da ingestão de alimentos e principalmente de água
contaminada por oocistos deste parasito. Os indivíduos infectados desenvolvem quadros diarréicos e a contaminação
ambiental pelas fezes de animais infectados pode resultar na transmissão acidental direta ao homem.
O tratamento é longo e reinfecções são freqüentes.Vale ressaltar que o homem é o principal reservatório da giardíase.
Para prevenir e minimizar os casos de infecção por Giardia por pets, os proprietários devem manter boas práticas de higiene
pessoal e de alimentação, além de realizar exames parasitológicos regulares nos animais e por fim proceder á vacinação.

• Leishmaniose
É uma doença causada pelo protozoário do gênero Leshimania, cuja infecção resulta em duas formas clínicas de mani-
festação: cutânea-mucosa e a visceral, também chamada de Leishmaniose Visceral Americana (LVA) e Calazar.A LVA no Brasil
é causada pela espécie chagasi. Comumente cães infectados apresentam dermatopatias cujas lesões se assemelham à de
outros agentes etiológicos como dermatófitos, bactérias e ácaros, o que indica a necessidade de diagnóstico diferencial.
A transmissão da doença ocorre pela picada de mosquitos infectados conhecidos por “mosquito palha”, “birigui” ou
“tatuquira”, comuns em regiões de matas e em jardins de áreas rurais ou urbanas.
A importância dos cães no ciclo da LVA ocorre quando um animal sadio é infectado pelo mosquito contaminado.
A partir deste momento o cão infectado torna-se o principal reservató­rio do parasito em áreas urbanas e, através
da picada do mosqui­to vetor, o protozoário pode ser transmitido para o proprietário, além de outros animais que
convivam na proximidade.
A doença adquiriu importância devido à ocorrência de casos em cães no Município de Araçatuba, a partir de 1998,
e principalmente pelo registro de um caso na espécie humana em 1999. Desde então se observou o alastramento desta
zoonose em cães de outros municípi­os da região oeste do Estado, com relatos da positividade em cães no município de
Embu em 2002. Felizmente não foram detectados cães positivos no município de São Paulo até o presente momento.
Uma vez que uma das medidas de controle da doença envolve a eutanásia dos ani­mais positivos, além do controle
do mosquito vetor, esforços da indústria veterinária resultaram no desenvolvimento e avaliação de formas alternativas,
entre elas: coleira repelente de mosquitos e vacina contra o protozoário.

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• Criptosporidiose:
A Criptosporidiose ganhou relevância como agente causador de diarréias em humanos somente após o início da
epidemia de HIV, em função da imunossupressão decorrente, sendo reconhecida mundialmente como uma zoonose
emergente. Resultados de exames sorológicos revelam que até 65% das pessoas em países em desenvolvimento são
positivas para este patógeno.
Trata-se de uma infecção intestinal causada pelo protozoário Cryptosporidium parvum, incriminado como agente
causal de diarréia autolimitada e aguda, em crianças e adultos imunocompetentes, evoluindo para a cura espontânea.
Contudo, comporta-se como um parasito oportunista de séria gravidade, causando diarréia grave acompanhada de des-
nutrição, desidratação e enfermidade fatal em pacientes imunologicamente comprometidos ou imunossuprimidos, como
portadores de HIV, pois nessa situação podem ser atingidos os pulmões, trato biliar ou surgir infecção disseminada.
O parasita é encontrado nas fezes de seres humanos e de animais domésticos (especialmente bovinos e silvestres).
A transmissão oral fecal pose ocorrer de pessoa a pessoa, animal a animal e animal pessoa, associada à não higieni-
zação das mãos, hábitos precários de higiene pessoal, além de água e alimentos contaminados. Não existem evidências
sólidas de que, além de bovinos, felinos e cães sejam importante fonte de infecção ao homem.

• Sarna Sarcoptica
Também conhecida como escabiose, é uma enfermidade causada por um ácaro do Gênero Sarcoptes scabiei (varieda-
de canis). O parasito cava verdadeiras galerias na pele dos animais e, devido à reação inflamatória, o cão desenvolve um
quadro alérgico caracterizado por prurido (coceiras). Consequentemente o animal apresenta escoriações na pele, perda
de pêlos e formação de crostas.
De maneira semelhante ao que foi exposto para as dermatofitoses, a transmissão pode ser direta ou indireta entre animais
e o homem. Uma observação interessante que diferencia dermatofitoses da escabiose é que nas dermatofitoses normalmente
não existe prurido nos animais, apenas nos homens, ao passo que na escabiose ambos apresentam prurido intenso.
Os cuidados na prevenção e tratamento são semelhantes aos expostos para a dermatofitose.

ORIENTAÇÕES GERAIS:
Exames clínicos:
Rotina: Os animais devem passar por uma avaliação clínica periódica. Nestas oportunidades serão realizados exames
clínicos, e eventualmente outros exames auxiliares para a avaliação do estado geral do animal e a detecção de possíveis
doenças assintomáticas no mesmo. Nestas visitas geralmente são realizados a vacinação, exames coproparasitológicos e
eventualmente a prescrição de medicamentos para o combate de endo e ectoparasitas.

Sinais e sintomas: Na evidência de sinais de vômito, diarréia, tosse, espirro, corrimentos, lesões cutâneas e alterações
de comportamento dos animais, estes devem ser levados prontamente para uma avaliação clínica veterinária. O proprie-
tário deve questionar se a doença tem caráter zoonótico e se necessário deve consultar um médico alertando-o de que o
agente etiológico foi identificado ou que existe a suspeita do animal estar infectado pelo agente infeccioso.

Alimentação:
Preferencialmente os animais devem ser alimentados com rações comerciais de boa qualidade, que, além de for-
necer os nutrientes de forma balanceada, evitam a transmissão de patógenos. Deve-se evitar alimentos crus (carnes,

Controle de Saúde Animal


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peixes e ovos) e leite não pasteurizado.

Boas práticas de higiene:


O ambiente em que o animal vive deve ser lavado e desinfetado regularmente e o proprietário deve utilizar luvas e
higienizar rigorosamente as mãos após a limpeza de dejetos (fezes, urina ou vômito).
Os proprietários devem se habituar a higienizar as mãos sempre após a manipulação dos animais e aplicar anti-
sépticos após ferimentos como mordidas e arranhões, cuidado que deve ser enfatizado especialmente para as crianças.
Os animais para a terapia devem ser banhados (mínimo de 48 horas) e escovados antes das atividades.
A higienização também envolve a limpeza dos condutos auditivos, escovação dos dentes, além de cortar/lixar as unhas
(podem ser utilizadas unhas postiças em felinos).

Escolha do animal:
Filhotes de animais oriundos de centros de controle de zoonoses, de abrigos e de rua possuem alta probabilidade
de transmissão de doenças e, portanto devem ser submetidos a um período de quarentena (6 a 12 meses) e a exames
clínicos/laboratoriais.
A castração não é obrigatória, apesar de ser sugerida.

Prof. Dr. César Augusto Dinóla


Assessor Acadêmico & Responsável Técnico pelo Canil
Escola de Medicina Veterinária
Universidade Anhembi Morumbi
Laureate International Universities
Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (1991).
Mestrado em Ciências Biológicas (Microbiologia) pela Universidade de São Paulo (1997).
Doutorado em Ciências Biológicas (Microbiologia) pela Universidade de São Paulo (2002).
Atualmente é professor titular e assessor acadêmico da Universidade Anhembi Morumbi, professor titular da Universidade de Santo
Amaro e professor assistente da Universidade de Guarulhos.
Desenvolve pesquisas na área de Microbiologia, com ênfase em Microbiologia Médica, Biotecnologia (diversidade genética e evolu-
ção microbiana), Biosseguridade, Atividade e terapia assistida com animais (ATAA) e Bem estar animal .

Controle de Saúde Animal


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O Papel do Médico Veterinário na A/E/TAA
Maria Del Rocio Nadal
Médica Veterinária INATAA
Diretoria de Saúde Animal INATAA
saude_animal@inataa.org.br

INTRODUÇÂO
Quando um animal é selecionado para ser terapeuta, a pessoa que cuida e tem a posse deste animal tem que saber
que os cuidados requeridos para este animal são bem mais exigentes. Esta apostila tem como por objetivo orientar
proprietários, instituições e os próprios veterinários que lidam com seus animais, quais são os cuidados necessários,
lembrando que os de pequeno porte, como cães e gatos, frequentam ambiente (hospitais, asilos entre outros) que
necessitam extrema higiene por parte dos nossos animais. Por isso temos que estabelecer certos protocolos para que o
relacionamento entre o homem e o animal seja da forma mais harmoniosa e saudável possível.

ANAMNESE
É muito importante fazer uma boa anamnese do animal terapeuta para termos um bom histórico do animal.
Os dados consistem na identificação do animal (idade, espécie, raça); ambiente em que vive; dieta e história médica
(enfermidades e/ou cirurgias). O local de origem e há quanto tempo se tem o animal são outros dados a se coletar.
Os gatos terapeutas devem ainda ser negativos ao teste de VLFe (vírus da leucemia felina) e VIF (vírus da
imunodeficiência felina). Além de estritamente indoor, ou seja, não deve ser permitido o acesso a rua, pois pode adquirir
doenças no ambiente fora de casa.

EXAME FÍSICO
O veterinário deve realizar um exame completo e registrar o peso corpóreo, este último se faz necessário porque
se torna um indicador do estado nutricional do animal. Além de anotar no prontuário a temperatura, a frequência
respiratória e cardíaca, bem como o tempo de preenchimento capilar (TPC), o examinador deve auscultar o tórax e
palpar o abdome totalmente para evidências de anormalidades físicas.
A cavidade bucal e os dentes devem ser examinados regularmente. A enfermidade periodontal em geral se inicia
quando aparecem os primeiros dentes na boca e prossegue em graus variados por toda vida do animal.
Sempre avalie cuidadosamente a coloração das mucosas, pois podem fornecer informações muito importantes
sobre a saúde do animal
A pele, a pelagem e os condutos auditivos externos devem ser examinados para evidências de infecção bacteriana,
parasitas externos (i.é, ácaros do ouvido, pulgas, carrapatos) ou dermatofitose.
Qualquer patologia que limite o animal terapeuta ou que possa ser prejudicial a outros animais e/ou ao ser humano
deve-se afastá-lo temporariamente até que se recupere e retorne suas atividades.

MANEJO SANITÁRIO PARA ANIMAIS DESTINADOS A E/A/TAA

CÃES
Um cão terapeuta precisa sempre vacinar com vacina CA2PL-PC (popularmente chamada de V8 ou V10), Raiva,Tosse

O Papel do Médico Veterinário na A/E/TAA


47
dos Canis e Giardia e devem ser reaplicadas anualmente.

• Vacinação anual com as vacinas polivalentes V8 e ou V10:


A vacina V8 protege contra Parvovirose, Cinomose, Leptospirose (sorotipos L.canicola e L. icterohaemorrhagiae),
Hepatite, Adenovirose tipo 2, Parainfluenza e Coronavirose. A vacina V10 protege contra todas estas enfermidades mais
dois sorovares de Leptospira: L . pomona e L. grippotyphos. Devem-se vacinar os filhotes com três doses da CA2PL-PC
para uma imunização primária.

Parvovirose: causada pelo parvovírus canino é uma doença altamente contagiosa que causa gastroenterite
hemorrágica aguda. A incubação dura de três a quatros dias. Os principais sintomas são a falta de apetite, apatia,
vômito, diarréia hemorrágica e desidratação. A evolução é muito rápida e freqüentemente fatal se o animal não receber
imediatamente terapia intensiva apropriada.

Cinomose: é uma doença viral multissistêmica, altamente contagiosa do cão e de alguns outros carnívoros. É
freqüente nos filhotes, mas também atinge os adultos. A contaminação ocorre pelo contato com um animal doente. O
tempo de incubação é de três a sete dias. A doença pode se apresentar de três formas: pulmonar, intestinal e neurológica.
Os sintomas incluem febre persistente, olhos vermelhos e secreção nasal. Pode ocorrer tosse seca, sinal de traqueite,
podendo evoluir em bronquite ou broncopneumonia, além dos sintomas gastrointestinais como vômito e diarréia.
Quando os sinais neurológicos se apresentam, o caso costuma ser mais grave, e o cão pode apresentar convulsões,
contrações musculares permanentes, torpor e coma. O tratamento deve ser imediato e intensivo.

Leptospirose: A leptospirose é causada por sorovares da bactéria Leptospira interrogans , que infecta a maioria dos
animais silvestres, domésticos e o homem. A contaminação ocorre através do contato com a urina de animais infectados.
Os principais sinais clínicos incluem: febre, depressão, anorexia, vômito, relutância em se mover devido à dor muscular,
hemorragias, desidratação e outros sintomas que podem levar tanto o animal quanto o homem á morte. A prevenção
se dá principalmente pela vacinação anual ou semestral (em áreas endêmicas) e pelo controle de roedores. Recomenda-
se uma revacinação a cada 6 meses para leptospirose, isso porque a duração da imunidade produzida pela vacina é em
média de 6 a 8 meses. A leptospirose é zoonótica; consequentemente, recomendam-se precauções e higiene apropriada,
especialmente com relação à urina contaminada.

Coronavirose: é uma doença contagiosa aguda dos cães causada por um vírus que invade principalmente as células
do trato gastrointestinal causando diarréia. Os sintomas normalmente apresentam início agudo de anorexia e depressão,
seguidos por vômito e diarréia.

Hepatite infecciosa canina: é causada pelo adenovírus do tipo 1. É adquirido através da exposição oronasal e
eliminado em todas as secreções durante a infecção aguda e pode ser eliminado por pelo menos mais 6 a 9 meses pela
urina após a recuperação. Dentre os sintomas estão febre, vômito, diarréia, dor abdominal e faringite. Podem ocorrer
também sintomas neurológicos.

Adenovirus tipo 2 e Parainfluenza: tratam-se de doenças que acometem as vias respiratórias. Elas possuem um

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início agudo, como tosses curtas e repetidas, de som seco, devida a traqueobronquite. Geralmente o cão continua de
alimentando, com estado alerta e ativo, não fica febril, mas podem existir casos mais graves desta doença evoluindo para
uma broncopneumonia.

• Vacinação anual contra Gripe dos cães


A “Tosse dos Canis” ou Gripe canina é causada principalmente pelo Adenovírus Tipo 2, o Parainfluenzavírus e pela
bactéria Bordetella Bronchiséptica. O animal apresenta uma tosse muito forte, seca, como se estivesse engasgado. A pre-
venção é a vacinação anual, principalmente quando há o convívio de vários animais no mesmo local. A vacina para tosse
dos canis pode ser um meio eficiente para prevenir, ou pelo menos reduzir, a incidência de traqueobronquite infecciosa em cães.

• Vacinação anual contra Giárdia


A Giardia sp é um protozoário flagelado que infecta o intestino delgado, interfere na absorção da mucosa e algumas
de suas espécies produzem diarréia. A principal fonte de infecção é a ingestão de alimento ou água contaminada com
oocistos. Prevenção: lavar sempre bem as mãos, os alimentos, cuidado com a procedência da água que se consome e para
os animais existe a vacina que evita que este protozoário se fixe na parede do intestino, evitando assim que o animal
não apresente os sintomas clínicos ou que estes sejam bem brandos.

Importante: A leishmaniose é uma infecção séria causada por protozoário a Leishmania spp. A doença é mais co-
mum em humanos e cães, mas pode ser vista em gatos e outros animais domésticos. A doença é distribuição mundial e o
Brasil possui algumas regiões endêmicas. Portanto regiões endêmicas devem vacinar seus cães contra esta doença também.

GATOS
• Vacinação anual com a vacina Quádrupla ou Quíntupla felina
A vacina quádrupla protege contra Rinotraqueíte, Calicivirose, Panleucopenia Felina e Clamidiose e a vacina
quíntupla protege contra todas as enfermidades anteriores além da Leucemia Felina.

Rinotraqueite: Herpesvírus Felino tipo1, anteriormente conhecido como Vírus da Rinotraqueíte, pode causar
uma variedade de sintomas. Ele afeta o trato respiratório superior, causando secreção nasal e espirros por causa da rinite,
conjuntivite, úlceras de córnea e orais, diarréia e febre. Pode causar ainda, na fêmea, aborto e morte neonatal. É a causa
mais comum de conjuntivite crônica e que não responde a tratamento por antibióticos.

Calicivirose: causada pelo calicivírus felino leva a sintomas respiratórios como rinite, espirros, conjuntivite,
pneumonia, além dos sintomas gerais como anorexia, depressão, febre e descarga nasoocular. Em alguns gatos a ponta
do nariz pode se encontrar ulcerada e com crostas. Trata-se de um vírus muito resistente, a sobrevivência média fora do
gato é de 8 a 10 dias e a contaminação se dá através das secreções.

Panleucopenia Felina: esta infecção parvoviral além de severa é altamente contagiosa nos gatos. O vírus é
eliminado em todas as secreções corporais por até 6 semanas. A incidência e a taxa de mortalidade são mais altos nos
gatos jovens. Os sinais clínicos mais típicos são anorexia, depressão, febre alta, vômito persistente, diarréia e desidratação.
A vacinação é altamente efetiva na prevenção da panleucopenia felina.

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Clamidiose: causada pela Clamidia psittaci acomete o sistema respiratório superior dos gatos, caracterizada por
conjuntivite e rinite.Além dos felinos pode acometer aves e outros mamíferos, como o ser humano causando conjuntivite.
A prevenção consiste na vacinação anual dos animais e hábitos de higiene, como lavar as mãos depois de entrar em
contato com gatos e outros animais, evitar o contato com animais suspeitos, até que seja consultado um médico veterinário.

Leucemia Felina: o vírus da leucemia felina é um retrovírus que constitui uma causa importante de mortalidade
nos gatos domésticos. Este vírus ataca tecidos e órgãos do sistema imune deixando o animal suscetível a uma variedade
de doenças infecciosas. Outra variante da doença leva a formação de tumores.

• Vacinação anual contra raiva em cães e gatos


O vírus da raiva é um rabdovírus que pode infectar todos os animais de sangue quente. A raiva é transmitida pela
saliva a partir da mordedura por um animal infectado.
Vacinar contra o vírus da raiva aos 3 meses de vida e depois repetir anualmente. Este vírus ataca primeiramente
o sistema nervoso e é eliminado na saliva. Os sinais clínicos se iniciam com sutis alterações de comportamento, febre
(fase prodômica que dura de 2 a 3 dias) depois passa para a fase furiosa (2 a 4 dias), aonde percebemos sinais de
comportamento errático, passando então para a fase paralítica (2 a 4 dias). Esses sinais são acompanhados por depressão,
coma e morte a partir da paralisia respiratória.
A raiva é quase sempre fatal nos animais domésticos. Devido ao risco de saúde pública extremo, deve-se fazer
quarentena dos animais suspeitos ou realizar a eutanásia além de se obrigatória a notificação as autoridades
sanitárias locais.

Vermifugação dos cães e gatos e apresentação do exame parasitológico

A prevenção é um bom método de evitar as infecções parasitárias, portanto o controle parasitário é auxiliado por
uma boa higiene; além de vários produtos comerciais existentes para combater estes parasitas (sempre sob a orientação
de uma médico veterinário). Além disso, exame coproparasitológico periódico (a cada 4 meses para o cão terapeuta) é
um bom instrumento para termos um maior controle e nos certificarmos que nosso cão está livre de endoparasitoses.
A maioria das infecções parasitárias intestinais é assintomática; quando os sinais clínicos ocorrem, a diarréia e a perda
de peso são os mais comuns.
Outro endoparasita que possui importância clínica é a Giardia sp, como foi dito anteriormente, trata-se de um
protozoário flagelado, que infecta o intestino delgado, interferindo na absorção. Os sinais clínicos mais frequentes são
uma diarréia aquosa de cor clara (“semelhante à água de arroz”) e de odor fétido, esteatorréia e perda de peso.

PULGAS
Infestações de pulgas em animais domésticos e em ambientes domiciliares são uma ocorrência comum. Pulgas são
responsáveis pela produção e transmissão de várias doenças em humanos e seus animais domésticos.
Os ovos das pulgas podem eclodir de 1 a 10 dias. As larvas recém-eclodidas movimentam-se para áreas protegidas
da luz, onde se alimentam de debris orgânicos e mais importantes, de fezes de pulgas adultas. A fase larvária completa-se
em 5 a 11 dias se alimento suficiente estiver disponível e o clima for ideal. Dessecamento, calor elevado, frio extremo
são deletérios para as larvas.

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No fim da fase larvária, o terceiro estágio produz um casulo sedoso, o qual ocorre a pupação.As pulgas adultas podem
começar a emergir a partir do quinto dia. Sem estímulo adequado, as pulgas adultas podem permanecer no casulo por
até 140 dias. Os adultos recém-emergidos necessitam de um hospedeiro para sobreviverem, e podem sobreviver em
média 100 dias. A fêmea da pulga começa a produção de ovos, três a quatro dias após seu primeiro repasto sanguíneo. A
produção varia, com picos 40 a 50 ovos por dia registrados.
Em condições ambientais uma fêmea fértil que ponha 20 ovos por dia, 50% dos quais deem origem a fêmeas, pode ser
responsável por uma infestação de mais de 20.000 adultos e mais de 160.000 formas pré-adultas em 60 dias.
A saliva da pulga contém uma variedade de substâncias que podem ser irritantes ou alergênicas. Os sinais associados
ao repasto da pulga são variáveis e dependem do número de pulgas presentes, da tolerância do hospedeiro à irritação
cutânea e, de forma mais importante, da presença ou ausência de hipersensibilidade à saliva da pulga. Há estudos que
relatam que 72 fêmeas de pulgas podem consumir 1 ml de sangue por dia de seu hospedeiro, podendo levar a quadros de
anemia. Além da perda sanguínea e a lesão de pele que as pulgas provocam, ela são hospedeiros intermediários da tênia
Dipylidium caninum e podem ser vetores de vários agentes infecciosos.
Para obter o controle de pulgas, necessita de tratamento regular rotineiro de todos os animais na casa, da casa e do jardim.
O tratamento deficiente em qualquer uma destas área especialmente na casa, pode tornar todo o programa insatisfatório.
Devido à facilidade da pulga de proliferar e transmitir doenças, assim como os carrapatos (será descrito mais abaixo)
deve-se mensalmente utilizar produtos comerciais contra esses parasitas. Com isso também evitamos que os lugares
visitados pelos cães terapeutas fiquem livres deste parasitas.

CARRAPATOS
Os carrapatos lesam os animais causando irritação por suas mordidas; e alguns animais podem produzir reações
de hipersensibilidade; além de servirem como vetores de doenças bacterianas, riquetsias (erliquiose), virais e por
protozoários (babesiose).
A babesiose é uma doença protozoária originária dos carrapatos, que afetam as hemácias predominantemente
dos cães. Os sinais clínicos da doença incluem esplenomegalia, icterícia, anemia, trombocitopenia, hemoglobinúria e
febre. Além de hemorragias orais ou cutâneas petequiais e equimóticas associadas à trombocitopenia ou coagulação
intravascular disseminada.
A erliquiose canina é uma doença relativamente comum nos cães, seu período de incubação é de 7 a 21 dias e leva
as seguintes alterações: perda de peso, sangramento espontâneo, palidez devido à anemia, linfadenopatia generalizada,
hepato e esplenomegalia, uveíte anterior e/ou posterior, sinais neurológicos causados por meningoencefalomielite e
edema de membro intermitente.

CAVIDADE ORAL
Os tratamentos domésticos regulares dos dentes são importantes para a prevenção da enfermidade periodontal. É
interessante orientar o proprietário a importância de fornecer o tipo certo de alimento para a prevenção de enfermidade
periodontal e além da escovação diária dos dentes.
O cuidado doméstico adequado seria três vezes por semana, entretanto, recomenda-se cuidado diário, associado à
outra atividade diária, a fim de que possa tornar-se um procedimento usual e menos provável de ser esquecido. Outras
maneiras de se prevenir a doença periodontal é fazer uso de biscoitos próprios, brinquedos para mastigar e alimento
seco. Cuidado com objetos muito duros, pois podem resultar em fratura de dente ou trauma de tecido mole.

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É muito importante que os animais que participam de atividade ou terapias tenham uma boa higiene bucal. Limpezas
de tártaro podem ser recomendadas para alguns animais. Seu veterinário saberá indicar o melhor momento.
Gengivite e estomatite: são afecções inflamatórias da cavidade bucal comprometendo respectivamente as gengivas
e a mucosa bucal. Quando a inflamação é leve e pouco extensa, os sintomas são discretos. Mas quando a dor aumenta
o animal pode ficar incomodado ao comer, salivar abundantemente ou mesmo deixar de se alimentar. Se notar algum
destes sintomas, leve seu animal ao veterinário.

OS OUVIDOS
Otite é a inflamação do conduto auditivo. Pode ser consequência de infecção bacteriana, infestação parasitária (sarna
auricular) ou fúngica ou ainda pela presença de corpo estranho.
Os achados físicos associados à otite externa são prurido, dor, corrimentos aumentados e um odor fétido no ouvido.
O prurido é evidenciado como coceira no ouvido, balanço da cabeça ou esfregação do(s) ouvido(s) no chão ou na
parede. Pode-se observar também alopecia, escoriações e áreas localizadas de dermatite piotraumáticas nos pavilhões
auriculares ou periaurais. Ambos os condutos auditivos externos devem ser examinados, pois apesar dos problemas de
ouvido ser com maior frequência bilateral pode ocorrer de acometer somente um ouvido.
Os proprietários devem ficar atentos aos ouvidos de seu animal podendo assim identificar um corrimento do(s)
ouvido(s) e/ou observar que o animal coça a(s) orelha(s), esfrega-a(s) no chão e/ou grita quando o ouvido é manipulado.
Estes sintomas são típicos de otite externa e otite média.
Além desses problemas acima citados, observa-se também que os animais sofrem alterações comportamentais,
podendo ficar irritáveis e agressivos com os membros da família como resultado da dor no ouvido. Por este motivo que
orientamos os proprietários de cães terapeutas evitarem levar seus animais a assistência, retornado apenas após a cura
total; pois o assistido pode manipular o ouvido deste animal e por estar sensível, este pode agredi-lo.

A PELE
Ao examinar o animal o veterinário deve ficar atento às alterações no pelame, observar se existem locais sem pêlo
ou se há feridas na pele deste animal. A inspeção cuidadosa da pele doente em geral revela uma série de alterações.
O odor proveniente do animal deve ser levado em consideração, porque ninguém quer um animal sujo e fétido ao seu
lado. Os odores na pelagem geralmente se originam de lugares como a boca, orelhas, pés e períneo. Essas áreas devem
ser checadas e lavadas cuidadosamente. A maioria dos xampus removem os odores típicos que os cães adquirem. Em
muitos casos, o odor é uma indicação de doença de pele.
As unhas dos cães e principalmente dos gatos crescem rapidamente e ficam afiadas. Portanto devem sempre ser
cortadas e se possível lixadas para evitar arranhões durante as assistências.
A escabiose canina (sarna sarcóptica) é uma infestação intensamente pruriginosa, transmissível de pele de cães,
causada pelo ácaro Sarcopetes scabiei, e é transferível a outras espécies (zoonose). Observam-se alopecia, crostas
amarelas espessas e escoriações secundárias ao intenso prurido. Os ácaros preferem a pele com pouco pelo, de forma
que são mais comuns nas orelhas, cotovelos, abdome e jarretes. A medida que a doença se dissemina e o pelo cai, podem
eventualmente colonizar áreas maiores do corpo do hospedeiro.
As dermatofitoses são infecções fúngicas que envolvem as camadas superficiais da pele, pêlo e unhas. Pentes, escovas,
cortadores, camas, caixas de transporte e toda a parafernália associada à tosa, movimentação e manutenção do animal
em casa são fontes potenciais de infecção e reinfecção. Considerando que a infecção é quase sempre folicular em cães

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e gatos, o sinal clínico mais consistente é uma ou mais manchas circulares de alopecia com formação variável de caspa.
Entretanto, os sinais e sintomas são altamente variáveis e dependem da interação hospedeiro-fungo e, portanto, do grau
da inflamação.
A Malassezia pachydermatis quando este microrganismo (levedura), normalmente comensal tornar-se um patógeno,
observamos que o prurido é o principal sinal e que a pele torna-se eritematosa, oleosa, com caspa (amarelada ou cinza
escuro) e crostosa. Quase sempre possuem odor desagradável, rançoso e seborréico.
Após a detecção de alguma alteração no pêlo ou na pele do animal, deve-se afastá-lo do convívio de outros animais
terapeutas e do contato com os pacientes que estão sendo assistidos por esse animal até que se identifique a doença
e o risco que esta pode significar. Deve-se atentar também que além do risco de se transmitir a doença existe o fator
estético, pois há pacientes que se recusarão a manipular estes animais por nojo e/ou medo de ficar doente.
Portanto ao menor sinal de alteração deve-se encaminhar o animal ao veterinário, que realizará testes de pesquisa e
métodos laboratoriais caso um diagnóstico definitivo não puder ser feito apenas a partir da história do caso e do exame
clínico, fornecendo assim uma base lógica para o tratamento terapêutico bem sucedido.

HIGIENE DO ANIMAL
Orientar o proprietário a manter as unhas sempre cortadas e lixadas; manter o cão limpo e bem tratado, para isto
seria indicado banho semanal e de preferência próximo à data da visita.
O proprietário ou pessoa que acompanha o animal durante a assistência deve ser orientado a levar lenços umedecidos
para realizar a limpeza das patas de seu animal ao entrar e sair do local visitado.
Deve-se também de levar o seu animal para urinar e defecar antes de entrar no prédio aonde será realizado a
assistência e caso ocorra por acidente, este é responsável pela limpeza imediata do local. Para isso, o acompanhante tem
que carregar consigo sacos para coleta das fezes e papel absorvível e desinfetante para limpeza da urina.
Manter o cão limpo e bem tratado é um conceito de higiene fundamental para um animal terapeuta, para isto seria
indicado banho semanal e de preferência próximo à data da visita.
Manter as unhas curtas, a pele dos idosos costuma ser muito mais fina e delicada, por isso é muito importante que
as unhas dos animais estejam sempre cortadas ou lixadas para evitar que possam causar danos.

VANTAGENS DA CASTRAÇÃO
A castração é recomendada, uma fêmea no cio não deve participar das atividades por uma questão de higiene e para
evitar que cause brigas ou distração entre os machos não castrados presentes.
Muitas são as vantagens conseguidas na castração precoce. Os animais submetidos à castração precoce parecem
tornar-se mais obedientes, mais tranquilos, dóceis, menos propensos a perambular; parecem também manter o
comportamento juvenil (que é muito desejável). São citadas também vantagens relativas à saúde, como, por exemplo, a
diminuição do risco de tumores de mama em caninos.

OUTRAS ESPÉCIES UTILIZADAS EM E/A/TAA


Existem várias outras espécies animais que participam de terapias assistidas por animais, assim como cavalos, coelhos,
chinchilas, jabutis, entre outros. Para cada espécie animal há um protocolo para o manejo sanitário adequado que deve
ser igualmente seguido. Caso tenha interesse em utilizar um animal “diferente” entre em contato com um médico

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veterinário que atenda estas espécies antes de começar a terapia.
PROSTRAÇÃO DECORRENTE DO CALOR
As causas mais comuns são o confinamento em ambientes fechados e superaquecidos e a permanência em ambientes
úmidos e muito quentes. Cães da raça braquicefálica mostram predisposição para a hipertermia em virtude de possuírem
narinas estenosadas e vias respiratórias superiores estreitas, fatores que interferem na eliminação de calor pelo
mecanismo de respiração ofegante.
A gravidade dos sinais é proporcional à intensidade e duração da exposição ao calor. Os sintomas a seguir (relacionados
em ordem crescente de gravidade) são observados na hipertermia: respiração ofegante, mucosas secas e de coloração
vermelho-tijolo, taquicardia, dificuldade respiratória, cianose, hemoconcentração com perfusão periférica deficiente,
convulsão, choque, vômito e diarreia hemorrágicos, petéquias difusas, oligúria/anúria, coma e parada respiratória.
Por isso ao menor sinal de estresse térmico o animal terapeuta deve parar a sua atividade e ser levado a um lugar
aberto e bem ventilado. Estar sempre com água disponível.

ACIDENTES POSSÍVEIS DE OCORRER DURANTE A E/A/TAA


Em qualquer situação sempre manter a calma e encaminhar o animal para o hospital/médico veterinário mais
próximo. Nunca tentar tratar o animal no local.

1. Choque
É o estado clínico que resulta de suprimento inadequado de oxigênio para os tecidos ou de incapacidade dos tecidos
de utilizar apropriadamente o oxigênio. Algumas situações que podem levar ao choque: hemorragia grave, atropelamento,
envenenamento, queimaduras graves, insuficiência cardíaca, infecções graves.
Os sinais clínicos podem ser os mais variados dependendo da causa. Pode-se citar alguns como: depressão do estado
geral; diminuição da pressão do pulso arterial; a coloração da mucosa pode ficar pálida, cianóticas ou muito avermelhadas
dependendo da causa; o animal fica normalmente hipotérmico e com as extremidades frias; o tempo de preenchimento
capilar acima de 2 segundos e as freqüências cardíaca e respiratória ficam elevadas.
Como agir: manter o animal deitado de lado, com a cabeça e tronco abaixo do resto do corpo, a fim de garantir
irrigação para o cérebro e coração; aquecer o animal; desobstruir vias aéreas; estancar hemorragias quando houver e o
mais importante de todos, levar ao médico veterinário mais próximo, o mais rápido possível.

2. Parada cardíaca e/ou respiratória


Situações em que podem ocorrer: atropelamento, choque elétrico, afogamento, traumatismos graves, animais cardiopatas.
Como agir: realizar massagem cardíaca e respiratória pulmonar dentro de no máximo 5 minutos. Levar o mais rápido
possível ao médico veterinário.

3. Queimaduras
1°Grau: superficial, envolvendo apenas a epiderme. Geralmente cicatriza dentro de 3 a 6 dias.
2°Grau: mais profunda, atingindo epiderme e derme. Ocorre edema subcutâneo e reação inflamatória extensas (com
formação de bolhas). Geralmente cicatriza dentro de 3 semanas.
3°Grau: lesão grave, atingindo todas as camadas da pele. Ocorre edema subcutâneo severo e a pele fica insensível.
Cicatrização lenta.

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Como agir: aplicações frias por pelo menos 30 minutos dentro de 2 horas após a queimadura (compressas ou toalhas
úmidas). Levar ao médico veterinário.

4. Brigas, cortes e machucados


Limpar o local e comprimir para estancar o sangramento. Levar ao veterinário ser necessário.

5. Reações alérgicas
Situações em que podem ocorrer: Picadas de insetos (edema, lesões na pele, prurido, entre outros) inalação de
agentes tóxicos (tosse, espirros, ou reações dermatológicas)
Como agir: retirar o animal imediatamente do contato com o alérgeno e consultar um médico veterinário para
tratamento.

6. Convulsões
São distúrbios transitórios da função cerebral que tem um início súbito, termina espontaneamente e tem uma
tendência a recidivar (Kirk et Bistner). Manifesta-se por tremores, salivação excessiva, incoordenação, e excreções
involuntárias. Geralmente são crises de curta duração.
Como agir: no momento tentar evitar que o animal se machuque. Jamais tente segurar a língua do animal. Depois
consulte seu médico veterinário para que ele possa diagnosticar a causa e iniciar o tratamento se necessário.

7. Vômitos e diarréia
Podem ser causadas por situações de estresse, ingestão de corpos estranhos, de plantas ou de substâncias tóxicas,
hipertermia, entre muitos outros fatores. Quando ocorrer deve-se suspender as atividade com este animal e consular
o veterinário.

Para concluir tenha sempre em mãos o número de um hospital veterinário ou de um veterinário de sua confiança,
para que em uma situação de emergência você telefone imediatamente para um deles e o profissional irá orientá-lo
desde o momento do acidente até o deslocamento do animal ao local a ser tratado.

Maria Del Rocio Nadal


Veterinária graduada em 1994 pela Faculdade de Medicina Veternária e Zootecnia da USP FMVZ/USP
.
Vencedora do Prêmio Purina 93 em nutrição.

Árbitra Internacional de todas as Raças pela Confederação Brasileira de Cinofilia desde 1994.

Responsável pelo registro genealógico da Federação Paulista de Cinofilia junto ao ministério da Agricultura de 2005 a 2010.

Exerce cargos técnicos em diversos clubes de raça do estado de São Paulo (Chow, Poodle e Collie atualmente).
Trabalha como clinica/cirurgiã em cães e atendimento reprodutivo/manejo em canis, escreve artigos para revistas cinófilas e
ministra palestras de cinofilia para veterinários.

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A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA
Gustavo Bauer
Médico Veterinário, docente da FAJ
gbauer@usp.br

Utilização de animais não convencionais na A/E/TAA


 
A Atividade, Educação e Terapia Assistida por Animais é, como o próprio nome diz, uma atividade terapêutica com-
prometida com o desenvolvimento humano a partir da interação de pessoas – com deficiência ou não – que conta com
a participação de aliados poderosos – os animais, e envolvem diversas classes profissionais, como adestradores, veterinários,
pedagogos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, biólogos entre outros.
No Brasil quando se fala em A/E/TAA, o que logo imaginamos é o uso de cavalos e cães interagindo com pessoas,
porém, outros animais podem ser utilizados para esse fim.  De fato, pode ser um tanto difícil de se imaginar como
roedores, aves, répteis e até mesmo escorpiões e aranhas poderiam ajudar pessoas nas mais diversas situações, que iam
da simples superação de um medo de infância a melhoria na qualidade de suas vidas.

Para que este trabalho seja viabilizado, grandes barreiras que devem ser transpostas. O preconceito é uma delas, pois,
culturalmente esses animais sempre estiveram ligados a lendas e contos de conotação pejorativa.
Todos os animais utilizados no trabalho devem, obrigatóriamente, possuir origem legal, afim de contemplar a 
Lei n.º 9.605, Capítulo V, Dos crimes contra o Meio Ambiente, seção I, dos crimes contra a fauna, Art. 29,
§ 1 °, III. Publicada no D.O.U. 13, de fevereiro de 1998 - Atos do Poder Legislativo, onde se lê o seguinte:
            “_Quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta
ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos,
provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida licença ou autorização da autoridade competente”.
O profissional que quiser trabalhar com esses animais deverá ser profundo conhecedor da biologia dos mesmos, ou
estar sempre acompanhado de quem o seja. O especialista, geralmente veterinário ou biólogo tem o entendimento do
limite do animal, e intervirá no momento onde a terapia não será mais segura para alguma das partes, seja do animal ou
do assistido.
Em pessoas que apresentam estado de saúde onde seu sistema imunológico está debilitado deve se tomar cuidados
ainda maiores, pois os répteis podem ser portadores assintomáticos de Salmonelose. Todas as Caranguejeiras
são peçonhentas e possuem pelos que podem causar alergias, as aves podem disseminar psitacose e, desta forma,
comprometer a terapia.
Detalhe primordial é que todos os animais a serem utilizados devem ser alvo de um rigoroso critério quanto ao seu
manejo, principalmente o sanitário. Assim evitaremos problemas com agentes patogênicos. 
É função do médico veterinário estipular um protocolo sanitário em que os animais devam ser submetidos que deve
ser seguido rigorosamente pela equipe. Este protocolo envolve exame coproparasitológico, exame físico, hemograma
completo, raspados de pêlos superficiais e profundos, exame direto do pêlo, além de serem negativados para psitacose
e salmonelose, entre outros.

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


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As espécies a serem escolhidas devem ser necessariamente  as que  apresentam maior docilidade para com o
ser humano ao serem submetidas ao contato direto com o mesmo. Devemos selecionar ainda, os indivíduos  que
apresentam essa característica mais acentuada.
Temos que nos cercar de todas as precauções para que não haja nenhum acidente. Pois isso poria todo um trabalho
de confiança mútua, conquistado ao longo de um determinado tempo, a perder.
Um conceito muito importante que vamos passar a seguir é qual a definição de animal silvestre, animal exótico, animal
domestico e animal selvagem. Para que desta forma não venham ocorrer erros de interpretações.
Para nós, Brasileiros, animal silvestre é todo aquele que ocorre ou possui um ciclo de sua vida em nosso território,
ou ainda em nossas fronteiras. Exemplos: Jibóia, Sucuri, Onça, Anta, Mico Leão Dourado, etc.
Animal exótico é todo aquele que não ocorre em território nacional, ou seja, são de fauna estrangeira. Exemplos:
Píton, Escorpião Rei, Crocodilo, Leão, Tigre, Gorila, etc.
Já o animal selvagem é todo aquele de vida livre na natureza. Exemplo: Todos os animais mencionados acima como
silvestres e exóticos.
Em contra partida animal domestico é todo aquele cuja criação em cativeiro, pelo ser humano, fixou um ou vários
caracteres,  através de um processo de seleção artificial deseja. Desta forma diferenciando-o geneticamente da espécie
selvagem que se iniciou o processo. Exemplo: Cavalo, Cão, Gato, Galinha, etc.
É muito importante que conheçamos muito bem o comportamento e a índole do animal com o qual iremos
desenvolvermos todas as atividades. Desta forma ao menor sinal de estresse, agressividade ou qualquer outro
atitude que venha comprometer ou até mesmo resultar em um acidente, nós poderemos antecipadamente evitar
que aconteça.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS, METODOLÓGICOS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:


O USO DE ANIMAIS SILVESTRES NO ÂMBITO EDUCACIONAL.

BRITO, Fernando Roberto da Silva.


Aluno do curso de Licenciatura em Biologia da Faculdade UNICID.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo entender os diferentes apontamentos teóricos, metodológicos e
legais sobre o uso de animais silvestres na educação. Para isso, discorremos um pouco sobre o conceito de edu-
cação, que há muito vem sendo discutido no campo teórico, haja vista as diferentes faces desse fenômeno. Em
seguida, delimitamos as reflexões ao campo da Educação Ambiental, trazendo o conceito e a legislação que rege
essa modalidade educacional. Aqui também é aludido à importância e a origem dessa modalidade. Depois, busca-se
esclarecer os dispositivos legais e pedagógicos do trabalho com animais na educação. Por fim, levamos a discussão
para o âmbito dos animais silvestres, trazendo a legislação sobre a prática e manuseio desses animais, sua im-
portância para a Educação Ambiental e a eficácia desse trabalho quando atrelada ao fazer pedagógico. Conclui-se
que existem muitos pontos a se aprofundar sobre a questão, mas ratifica-se a importância desse trabalho para
preservação do meio ambiente.

Da Educação
Quando pensamos numa educação para o século XXI encontramos inúmeros desafios. O primeiro deles

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


57
encontra-se no próprio termo “educação”. Não se discute muito a etiologia do termo, pois essa questão é clara,
o que difere na maioria das vezes, pelos próprios teóricos da educação, é epistemologia do conceito. Alguns
perdem-se dentro da grandeza do fenômeno educacional, outros se detêm a dizer que este só acontece dentro
da escola, outros atrelam somente educação moral recebida em casa, outros como bons hábitos. Definir educação
não é tarefa fácil, porque ela é um fenômeno sociocultural multifacetado que ocorre em diferentes âmbitos. Ade-
mais, surgem outras questões como recursos, didática, cultura, currículo entre outras.
A educação ocorre em todos os espaços sociais e se classifica em educação formal, informal e educação não
formal. A educação formal esta associada à sistematização objetiva de conteúdos e é ministrada em instituições
oficiais de educação, ou seja, em escolas. A educação informal se da no seio social, família, igreja, a amigos, comuni-
dade, aqui a educação esta envolta á valores e culturas historicamente criadas e que caracterizam um grupo. Já a
educação não formal se da no convívio social, em espaços comuns, onde a experiência permite uma aprendizagem
coletiva sistematizada.
Essas modalidades da educação estão garantidas em nossa Carta Magna que reza:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.” (CF. Art. 205, 1988).

Ainda para doutrinar esse fenômeno social em instituições formais contamos com outro dispositivo legal, a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), na qual “prevê que na formação básica do cidadão seja asse-
gurada a compreensão do ambiente natural e social; que os currículos do Ensino Fundamental e do Médio devem
abranger o conhecimento do mundo físico e natural”.
Atualmente, movimentos nacionais e internacionais em favor do meio ambiente têm despertado a consciência
coletiva pública para trabalhar a preservação ambiental. A Educação Ambiental tem sido modalidade educativa
com maior ênfase a ser trabalhada nas instituições formais. No estado de São Paulo, por exemplo, um programa
do grupo CCR AutoBan desenvolve nas escolas públicas um trabalho visando a preservação ambiental com aos
alunos dos 4º e 5º anos.

Da Educação Ambiental

Em virtude de uma percepção global da degradação do meio ambiente e a necessidade de proteção do mesmo
bem como do uso sustentável de seus recursos é que, em uma serie de eventos desde 1951, prevalece às ques-
tões voltadas à conscientização para o desenvolvimento sustentável e proteção da natureza através da Educação
Ambiental.
O Brasil possui diplomas legais que comportam as questões relacionadas ao meio ambiente que regem a Edu-
cação Ambiental. A Constituição Federal destaca em seu Art. 225 que todos têm direito ao Meio Ambiente ecolo-
gicamente equilibrado e o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, destacando que
para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público “promover a educação ambiental em todos
os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
A Lei no 9.795/99 regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002, dispõe sobre a educação
ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Cumprindo seu propósito, essa lei define a EA, dá

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


58
atribuições, enuncia princípios básicos e indica objetivos fundamentais da educação ambiental, conceituando-a na
educação escolar em forma de currículo, abrangendo todas as instituições de ensino públicas e privadas.
Além disso, em seu corpo deixa claro que, além de essencial e permanente, a educação ambiental deve estar pre-
sente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal (escolar) ou não.
O Ministério da Educação através do Conselho Nacional de Educação, instituído pela lei 9.131, de 24 de no-
vembro de 1995, no cumprimento de suas atribuições elaborou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), nas
quais são majoritárias para todos os sistemas de ensino e instituições educacionais. Essa por sua vez, estabeleceu
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA), à serem observadas pelos sistemas de
ensino e suas instituições de Educação Básica e de Educação Superior, orientando a implementação da Educação
Ambiental (EA), tendo como referência as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e as Diretri-
zes Curriculares Nacionais para as Graduações. Tal diretriz destaca em seu Art. 2° e 3° o seguinte:

Art. 2º A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir
ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando
potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental.
Art. 3º A Educação Ambiental visa à construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valo-
res sociais, ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do meio ambiente
natural e construído.

O Uso de Animais na Educação Ambiental

Através do contato com os animais, o respeito e amor pela natureza por parte das pessoas são aflorados,
tornando-as mais receptivas a adquirir uma consciência que visa à preservação do meio ambiente e o uso susten-
tável de seus recursos.
O Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Fundamental recomenda e ampara o uso de ani-
mais na Educação, através do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI, v. 3), com o titulo
“conhecimento de mundo”. Tal método atende o princípio de “forma articulada” de ensinar mencionado na Polí-
tica Nacional de Educação.
Recomenda-se que nos trabalhos que tratam sobre Ciências Naturais às instituições devem ir além da trans-
missão de noções relacionadas aos seres vivos, devem considerar os conhecimentos já existentes por parte do
aprendiz e proporcionar a possibilidade de exporem suas próprias formulações e percepções, para posteriormen-
te poderem compará-los com o que já é revelado pela ciência. O RCN ainda salienta que, em algumas práticas de
ciências, as experiências de observação de animais ou mesmo de plantas são superficiais ênfase recai apenas sobre
características explicitas do ser vivo em questão, por vezes atribuindo adjetivos simplórios como legal e bonito.
Neste sentido, há um prejuízo nas outras características do animal, que só podem ser experimentadas por meio
de uma atividade interativa, permitindo uma aproximação entre o educando e o meio ambiente, fazendo com que
ele descubra as riquezas da diversidade da fauna e da flora. Sobre isso:
“É importante que as crianças tenham contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo,
sejam instigadas por questões significativas para observá-lo se explicá-los e tenham acesso a modos variados de compre-
endê-los e representá-los.” (RCN, p166. 1998)

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Nos primeiros anos de vida as crianças tendem a desenvolver, de forma mais eficiente o conhecimento empí-
rico, principalmente no que tange a natureza e sociedade:
“Quanto menores forem as crianças, mais suas representações e noções sobre o mundo estão associadas diretamente
aos objetos concretos da realidade conhecida, observada, sentida e vivenciada. O crescente domínio e uso da linguagem,
assim como a capacidade de interação, possibilitam, todavia, que seu contato com o mundo se amplie, sendo cada vez
mais mediado por representações e por significados construídos culturalmente [...] Nesse processo, as crianças vão gra-
dativamente percebendo relações, desenvolvendo capacidades ligadas à identificação de atributos dos objetos e seres, à
percepção de processos de transformação, como nas experiências com plantas, animais ou materiais.” (RCN, p169. 1998).

A exploração e interação da criança com o meio ambiente e seus elementos constitui-se num fator imprescin-
dível para a aprendizagem. Desde a educação infantil, isto é, a primeira fase da criança, entende-se que ela já tenha
desenvolvido capacidade cognitiva suficiente para explorar o ambiente e pode ser encorajada a estabelecer o con-
tato seguro entre animais e plantas bem como outros objetos do meio. Até os 6 anos de idade, já é esperado que
a criança, além de estabelecer contato, compreenda as relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali
se encontram, “valorizando sua importância para a preservação das espécies e para a qualidade da vida humana”.
O contato com animais é recomendado na educação de varias formas, desde a indicação de criar alguns pe-
quenos animais na própria instituição de ensino, até a promoção de excursões para ambientes externos para que
possa observar a diversidade. Essas ações são necessárias para levar os educandos a uma:
“experiência direta — os passeios com as crianças nos arredores da instituição de educação infantil ou em locais mais
distantes, a ida a museus, centros culturais, granjas, feiras, teatros, zoológicos, jardins botânicos, parques, exposições, per-
cursos de rios, matas preservadas ou transformadas pela ação do homem etc. permitem a observação direta da paisagem,
a exploração ativa do meio natural e social, ampliando a possibilidade de observação da criança.” (RCN, p196. 1998).
O RCN recomenda experiências diretas com animais, bem como demais práticas que envolvam seus
cuidados e manejo de forma que as crianças estabeleçam relações com os mesmos, pois considera fundamental a
ampliação do repertório dos alunos.
“[...]Por meio desse contato, as crianças poderão aprender algumas noções básicas necessárias ao trato com os ani-
mais, como a necessidade de lavar as mãos antes e depois do contato com eles, a possibilidade ou não de segurar cada
animal e as formas mais adequadas para fazê-lo, a identificação dos perigos que cada um oferece, como mordidas, bicadas
etc.” (p179. 1998)

É importante ter em mente que qualquer atividade que envolve outro ser vivo deve ser desenvolvida com o
máximo de cuidado, pois tratar os animais com ética e respeito é um dever previsto na constituição brasileira no
Art. 225, inciso VII: “Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.
A lei 9605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente e, no Art. 32, prevê pena de detenção e multa para quem praticar ato de abuso ou maus tratos a qualquer
animal. Cumpre ressaltar, que também são considerados contravenção penal, pelo decreto lei 3688/41 em seu Art. 64,
ações como tratar animal com crueldade ou submete-lo a trabalho excessivo, com pena de prisão simples ou multa.

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


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O uso de Animais Silvestres na Educação Ambiental

Com o objetivo de ampliar o aprendizado, no que tange a educação ambiental, e inserir os conhecimentos
recomendados pelo Ministério da Educação é que são utilizados como recurso paradidático alguns animais con-
siderados silvestres e exóticos, visto que dessa forma possibilitamos um conhecimento empírico acerca da diver-
sidade, riqueza e o modo de lidar com diferentes seres e aspectos da natureza. Nesse sentido o DCNEA destaca:
Art. 23. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração, devem criar políticas de produção e de aquisição de ma-
teriais didáticos e paradidáticos, com engajamento da comunidade educativa, orientados pela dimensão socioambiental.

Contudo para que seja viável o uso desse recurso é necessário atentar para a legislação vigente, pois são
previsto sanções penais para o descumprimento da mesma.
A lei 6938/81, dispõe sobre a politica nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, que visa o estabelecimento de critérios e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais. Em
seu Art.10, ela prevê que atividades que usam recursos ambientais necessitam de prévio licenciamento. O enten-
dimento de recursos ambientais se dá através da lei 7804/89, no Art. 3, inciso V: “recursos ambientais: a atmosfera,
as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora”.
Compreendendo que os animais silvestres são caracterizados como recursos naturais e que seu uso para a
educação é viável, deve-se atentar para a forma de legalizar o estabelecimento ou atividade, visto que a forma de
aquisição desses animais é determinante para caracterizar o tipo de empreendimento.
Tendo em vista a complexidade que envolve o trabalho com animais silvestres, seja no aspecto legal ou mesmo
no que diz respeito aos cuidados e manejo, é que instituições de ensino buscam apoio e parcerias com outras
instituições, públicas ou privadas, para desenvolver a aprendizagem através desse recurso. Dessa forma os pro-
fessores e educadores ficam responsáveis apenas pela parte pedagógica quando necessário, já os cuidados com a
segurança e bem estar dos animais e demais envolvidos durante as atividades, ficam sob a responsabilidade dos
profissionais qualificados das instituições ou empresas especializadas, como por exemplo, a empresa “Interação
Animal”, que desenvolve e realiza trabalhos e projetos voltados à educação ambiental tendo como foco a cons-
cientização para preservação da natureza e uso sustentável de seus recursos.
Esse tipo de parceria está amparado no Art. 17 do DCNEA:
Art. 17. Considerando os saberes e os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios
e os objetivos estabelecidos, o planejamento curricular e a gestão da instituição de ensino devem:
I – estimular: d) vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a responsabilidade e o convívio cuidadoso com
os seres vivos e seu habitat[...].

Atualmente a “experiência direta” citada no RCN é possível, não apenas em ambientes externos como zo-
ológicos e aquários, mas também dentro do próprio ambiente escolar, tornando-o ainda mais atrativo para os
educandos. Isso é possível mediante o fato de que empresas como a mencionada, possibilita que animais sejam
deslocados, temporariamente, para a escola ou local desejado.
O órgão responsável por cadastrar as atividades que utilizam recursos ambientais é o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, instituído pela Lei nº 7. 804, de 1989. Que dispõe em
seu Art. 17, incisos I e II:

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


61
I - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas
físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio
de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
II - Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, para
registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração,
produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos
e subprodutos da fauna e flora.

Desde que foi sancionada em 2011, a Lei Complementar n° 140 – que fixa normas para a cooperação entre
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da
competência comum relativas à preservação das florestas, da fauna e da flora – é que o órgão responsável por
orientar com relação atividades, que utilizam animais silvestres, no estado de São Paulo, passou a ser a Secretaria
do Meio Ambiente.
É indispensável a aprovação do órgão ambiental para qualquer empreendimento utilizador de recursos am-
bientais para evitar que, em alguma parte do processo, ocorra qualquer tipo de crime ambiental, listados na Lei
9.605/98 e citado na Lei 5.197/67- que dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências.

Considerações Finais

Tendo em vista o acima exposto, no que se refere tanto aos aspectos metodológicos e conceituais quanto aos
legais, considera-se de extrema relevância para a educação a vivência dos educandos com e no meio ambiente. Há
de se considerar, também, que a parceria com instituições legalizadas para ofertar esse tipo de conhecimento ao
educando é um caminho acertado para a eficácia do trabalho pedagógico.
No que se refere à saúde, muitos estudos apontam que a relação direta com o meio exerce uma relação tera-
pêutica. Em detrimento disso, algumas clinicas e organizações não governamentais têm aderido parceria com esse
tipo de empreendedorismo.
Finalizamos as breves considerações desse tema tão amplo apontando duas vertentes a serem estudadas
e aprofundadas. A primeira está no âmbito do valor moral e leigo de algumas pessoas, que consideram as práticas
empresarias com animais silvestres uma ofensa ao meio ambiente ou uma aparente contradição ao que se propõe
com esse tipo de trabalho. Neste ponto é necessário conscientizar a sociedade, desde indivíduos de muito tenra
idade até os mais avançados nela, de que trata-se de uma atividade legal e importante para aprendizagem humana,
haja vista que crianças de classe baixa de grandes centros urbanos, por exemplo, jamais teriam acesso à esse tipo
de experiência, senão por meio deste tipo de trabalho.
A última questão a ser pontuada é por que, mesmo diante de tantas diretrizes norteadoras, as instituições
formais e não formais não buscam com frequência esse tipo de parceria. Quais os caminhos para o avanço desse
tipo de trabalho que une e nutre esforços pedagógicos e ambientais?

Referencias Bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:Senado, 1988.
BRASIL. Lei nº 9.394/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

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BRASIL. Lei nº 9.795, de 27.4.1999. Dispõe sobre Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação
Ambiental, e dá outras providências. DOU 28.4.1999.
BRASIL. Lei nº 9.131, de 24.09.1995. Altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e dá ou-
tras providências. DOU 25.11.1995.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31.08.198. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos
de formulação e aplicação, e dá outras providências. DOU 2.9.1981.
BRASIL. Lei n° 5.197, de 03.01.1967. Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências. DOU 5.1.1967.
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12.02.1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. DOU 13.2.1998, retificado em 17.2.1998.
BRASIL. Lei Complementar nº 140, DE 08.12. 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput
e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de
suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.
DOU 9.12.2011, retificado em 12.12.2011.
BRASIL. Lei nº 7.804, de 18.07.1989. Altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro
de 1989, a Lei nº 6.803, de 2 de julho de 1980, e dá outras providências. D.O.U de 20.7.1989 e Retificado no D.O.U
4.1.1990.
BRASIL. Decreto nº 3.688, de 03.10.1941. Lei das Contravenções Penais. DOU 3.10.1941
BRASIL. Decreto nº 4.281/2002. Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. DOU 26.6.2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Resolução
CNE/CEB nº 4/2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Resolução
CNE/CEB nº 2/2012. DOU 18.6.2012.
BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília,
DF: MEC, 1998.
IBAMA. Descentralização da Gestão Florestal. Competências do Ibama e dos Órgãos Estaduais de Meio Am-
biente. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/flora-e-madeira/descentralizacao-da-gestao-florestal/competen-
cias-do-ibama-e-dos-orgaos-estaduais-de-meio-ambiente. Acesso em 31.07.2017.

Gustavo Bauer
Médico Veterinário - CRMV 20991
Trabalhou como Médico Veterinário, docente da Faculdade da FAJ
Trabalhou como Membro diretor da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens ABRAVAS
Trabalhou como Médico Veterinário, docente da Faculdade da FAJ

A Utilização de Animais não Convencionais na A/E/TAA


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Educação Assistida por Animais - EAA
Andrea Lorenzon Petenucci,
Pedagoga do Projeto Afeto- com letras e pelos
educacaoassistida@gmail.com

“Convencionalmente em nossa sociedade, o lugar do professor esteve voltado para a escola formal. Em tempos
modernos, esses lugares estão sendo cada vez mais polarizados. Não existe mais fronteira para a ação do professor”.
(PAULA,2003,p.18)

EDUCAÇÃO ASSISTIDA POR CÃES - EAC


Atualmente os desafios ligados à pedagogia percorrem muitas questões, como: incorporar o uso de
tecnologia na aprendizagem, compreender através do auxilio da neurociência os processos de aprendizagem,
buscar novos caminhos que refaçam os vínculos com o prazer de aprender, entre outros, que formam um leque
imenso chamado educação.
Frente a esse cenário o caminho que lhe será mostrado a seguir, prima pelo fortalecimento do vínculo e do
gosto de aprender. Aprender de forma prazerosa e por toda vida, utilizando o cão como ferramenta pedagógica
por todos os benefícios comprovados pela ciência.
As portas da saúde foram as primeiras que se abriram para o uso de cães, portanto o roteiro será
este: EAC e Pedagogia Hospitalar; Jogo e Leitura, pilares que sustentam o prazer de aprender e EAC na
gerontologia - Andragogia.

EDUCAÇÃO ASSISTIDA POR CÃES E PEDAGOGIA HOSPITALAR


Na última década, a humanização hospitalar tornou-se o carro chefe da saúde, com o objetivo de promover
uma nova cultura no atendimento baseada, principalmente, em um melhor relacionamento dentro dos hospitais.
A pedagogia hospitalar surge nesse panorama como um viés da humanização para promover uma melhora
na qualidade de atendimento aos pacientes em idade escolar. Através das intervenções pedagógicas os alunos/
pacientes não interrompem sua rotina escolar.
Outro benefício trazido pela atividade escolar dentro do hospital é o deslocamento do foco da doença
para a aprendizagem, que trabalha a parte saudável do aluno/paciente de forma lúdica, trazendo um pouco de
prazer para a internação hospitalar.
É imperativo na pedagogia hospitalar o caráter lúdico das atividades e, dentro dessa proposta lúdica,
aparece o cão como mediador por sua fácil aceitação, além dos benefícios já comprovados pelas pesquisas
realizadas sobre a interação homem-animal.
A utilização de cães na pedagogia hospitalar promove a comunicação entre as áreas da Saúde e da Educação,
pois segundo FONTES, 2004, p. 69 “O direito a um trabalho pedagógico de boa qualidade em hospital nasce
atrelado ao movimento de humanização que objetiva um atendimento mais igualitário e menos excludente em
hospitais, capaz de enxergar o paciente como sujeito integral e não como conjunto de peças anatômicas”
As atividades pedagógicas que se beneficiam do lúdico, da leitura, dos jogos, e dos cães trazem para o
interior do hospital a vida com seus sonhos e fantasias o que auxilia a adesão ao tratamento.
Entende-se, conforme Fontes (2005), Matos e Mugiatti (2006), que o envolvimento da criança e adolescente
com atividades escolares no ambiente hospitalar funciona como instrumento redutor dos efeitos traumáticos

Educação Assistida por Animais - EAA


64
da internação e do impacto causado pelo distanciamento de sua rotina, principalmente em relação ao
afastamento escolar.
Umas das características da pedagogia hospitalar é a diversidade do público atendido - com diferentes
níveis de escolaridade, com diferentes comprometimentos físicos ou intelectuais – que torna a prática hospitalar
um grande desafio.
O tripé cão, leitura e jogo funciona de forma eficaz para o desenvolvimento das atividades da
pedagogia hospitalar.

JOGO
É incontestável a importância social e pedagógica da utilização do jogo para o desenvolvimento de
crianças e jovens.
O jogo é uma atividade que envolve prazer, é cultural e tem função social. Todos os tipos de jogos
desempenham importante papel no desenvolvimento físico e mental do indivíduo. É um processo fundamental na
socialização do indivíduo e na formação da personalidade, além de favorecer a aprendizagem.
O jogo é um poderoso instrumento pedagógico, pois mobiliza esquemas mentais: estimula o pensamento,
a ordenação de tempo e espaço. Integra várias dimensões da personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva
e favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades como coordenação, destreza,
rapidez, força e concentração.
O aspecto emocional e social trabalhado pelo jogo é de grande importância como apoio aos grupos das
áreas de aprendizagem e saúde mental, pois abrange aspectos ligados ao emocional, como a autoestima.
Segundo Elvira Souza Lima, a “autoestima” do aluno se modifica quando ele sente que aprendeu. Todo ser
humano sabe quando está aprendendo algo ou não. Ter consciência de que aprendeu algo é o que muda a baixa
autoestima de qualquer pessoa. Não é algo que se realiza no discurso, mas sim na ação concreta.
As oficinas de jogos facilitam a aprendizagem e possibilitam que os participantes mensurem suas conquistas,
melhorando sua autoestima.
Elvira Souza Lima (2001) afirma que a memória é modulada pelas emoções. Isso quer dizer que os estados
emocionais podem “interferir”, facilitando ou reforçando a formação de novas memórias, assim como podem,
também, enfraquecer ou dificultar a formação de uma nova memória.
O caráter lúdico dos jogos aliados aos cães despertam emoções positivamente significativas.
Trabalhar cognição na presença dos cães promove múltiplos benefícios como aumento da autoestima e
maior nível de atividade, entre outros, pois estudos sobre a interação homem-animal constataram as alterações
no quadro fisiológico após o contato com animais, principalmente com o cão, tais como a diminuição da pressão
arterial, do nível de estresse, depressão, aumento da autoestima e outros. Esses benefícios ocorrem por ação
fisiológica ligada aos efeitos emocionais levando a liberação de B-endorfina, prolactina, oxicitocina, dopamina,
feniletalamina e a redução do hormônio cortisol. Esta ação fisiológica leva a redução da pressão sanguínea e
frequência cardíaca (Odendal, 2000).
Como as emoções interferem nos processos de aquisição de aprendizagem e as pesquisas científicas
comprovam uma ação fisiológica positiva no contato com os animais, a utilização de cães terapeutas nas oficinas
lúdicas garante uma aprendizagem “positivamente” significativa.

LEITURA
O papel da leitura no processo de aprendizagem é indiscutível em nossa sociedade.
A leitura frequente ajuda a criar familiaridade com o mundo da escrita. A proximidade com o mundo
da escrita, por sua vez, facilita a alfabetização e ajuda em todas as disciplinas, já que o principal suporte para
o aprendizado na escola é o livro didático e mais recentemente os tablets, em alguns locais. Ler também é

Educação Assistida por Animais - EAA


65
importante porque ajuda a fixar a grafia correta das palavras.
Quem é acostumado à leitura desde cedo se torna muito mais preparado para os estudos, para o trabalho
e para a vida. Isso quer dizer que o contato com as letras muda o futuro das crianças.
Buscando caminhos que incentivem o gosto pela leitura de forma lúdica, nos embasamos em projetos
internacionais onde os cães são levados às escolas e bibliotecas públicas para sessões de leitura com as crianças.
É o caso do Reading Education Assistance Dogs R.E.A.D, Programa Reading with Rover e Change.org nos Estados
Unidos e do German Schools use Dogd to Boost Pupils’Grades na Alemanha, que atende 120 escolas e existe
desde os anos 90.
Um estudo da Universidade da Califórnia-Davis mostrou que crianças que lêem em voz alta para cães
melhoram suas habilidades de leitura. As crianças participaram de um programa de 10 semanas onde liam em
voz alta para os cães. Essas crianças melhoraram suas habilidades de leitura em 12% em comparação com as que
não utilizaram os cães.
Nos Estados Unidos são frequentes os programas que utilizam cães no auxilio e incentivo à leitura. O
programa Bideawee de Leitura para Cães atualmente é parceiro de 9 escolas e 17 bibliotecas em Long Island,
atendendo cerca de 500 crianças. Os professores das crianças atendidas pelo programa relatam que os alunos
participantes do projeto de leitura para os cães demonstram melhora na sua habilidade leitora, além de diminuir
a ausência escolar, do aumento da entrega de tarefas de casa e melhora da auto-confiança.
A EAC aparece como um estímulo que torna o processo de leitura mais prazeroso, optando pela utilização
dos cães como facilitadores, pois a interação com o cão cria um vínculo afetivo que torna a sessão de leitura
mais gostosa.
As relações permeadas pelo vínculo afetivo contribuem para reparar possíveis fraturas no processo de
aquisição do conhecimento de cada um e dá espaço para que haja um aprendizado que transforma interiormente.
Como as crianças gostam do contato com animais, a presença do cão remete a essa memória afetiva e facilita o
processo de leitura.

EAC na GERONTOLOGIA – ANDRAGOGIA


Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segundo a definição creditada a Malcolm
Knowles, na década de 1970. O termo remete a um conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição
à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança).
Para educadores como Pierre Furter (1973), a andragogia é um conceito amplo de educação do ser
humano, em qualquer idade, inclusive durante o envelhecimento.
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e uma das principais consequências do crescimento
desta parcela da população é o declínio da capacidade cognitiva, que pode decorrer de processos fisiológicos do
envelhecimento normal, ou de um estágio de transição para as demências, especialmente da doença de Alzheimer
(DA) (FICHMAN et al., 2005).
A perda da capacidade cognitiva, muito comum em idosos, acarreta no aceleramento de problemas de
memória e inércia cognitiva, que é sem dúvida o maior motivo de desapego à vida. A memória está muito ligada
à afetividade, e um idoso - especialmente institucionalizado- geralmente, tem dificuldade em estabelecer novos
vínculos afetivos, seja pela sua historia pessoal, pela falta de interesse pela “nova” vida, pelo medo de perder estes
novos amigos, etc... (Dotti, 2005).
Memória, cognição e motivação formam a base do trabalho com cães na gerontologia.

Cognição
• Embora seja um fenômeno bastante complexo, a cognição pode ser caracterizada como um conjunto de

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processos que servem para transformar, organizar, selecionar, reter e interpretar informações. Sendo assim, tal
processo envolve diversos aspectos como atenção, percepção, inteligência, memória e motivação.

Memória
• É a faculdade que nos permite desde executar tarefas básicas do dia a dia até aprender conceitos,
procedimentos ou teorias complexas.
• AQUISIÇÃO w RETENÇÃO w RECUPERAÇÃO

Motivação
• O potencial de aprendizado depende não somente das funções cognitivas mas também da motivação que
pode ser influenciada por impulsos psicológicos ou por estímulos externos.
• A motivação é o traço mais notável da experiência que a pessoa tem de seu “eu”, já que todo ser
humano age reagindo às motivações que sente, esforçando-se para atingir objetivos, e percebendo deficiências
com relação a si mesmo e ao ambiente.

É importante buscar nas atividades andragógicas temas que sejam significativos e pertençam ao universo
dos idosos atendidos, elaborar atividades que priorizem a linguagem, a atenção, a memória e outros aspectos
do processo intelectual que sofrem prejuízo ao envelhecer. O contato com o cão propulsiona as atividades que
podem e (devem!) envolver música, poesia, elaboração de textos, leitura de diversos gêneros textuais, jogos e
outros.

REFERÊNCIAS
ABREU, C. E.; MELLO, W. Memória, Inteligência, Aprendizagem e Motivação.
BECKER, B.: O poder curativo dos bichos. 1ºedição. Rio de Janeiro: editora Bertrand Brasil, 2003.
CHANDLER, C.K. Animal Assisted Teraphy in Counseling.New York, 2005.
Descritores em Ciências da Saúde – DeCS [online]. Disponível em: < http://decs.bvs.br/>. Acesso em: 18
Abr. 2011.
DOTTI, Jerson. Terapia & animais: Atividade e Terapia Assistida por Animais – A/TAA. Práticas para
Organizações, Profissionais e Voluntários.São Paulo: Noética Editora, 2005.
FERNANDÉZ, A. (1991) A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas.
FONTES, Rejane de Souza. A reinvenção da escola a partir de uma experiência instituinte em hospital.
Educação e Pesquisa, São Paulo, 2004
_______________ O desafio da educação no hospital. Presença Pedagógica,
Belo Horizonte, 2005.
KRECH, D; CRUTCHFIELD, R.S. Elementos de Psicologia. vol. 1. 5. ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1976.
LIMA, E.S.: Memória e Imaginação. São Paulo: editora InterAlia,2001.
LIMA, E.S.: Neurociência e Aprendizagem. São Paulo: editora InterAlia,2007.

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LOURENÇO, F.C.; CAZELOTO, M.A.R. MARIA, V.L.R.: Terapias com cães: um relato de experiência com
crianças cardiopatas. In: Anais do I Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Cardiologia
(SOBENC); 2003 junh.; São Paulo: SOBENC; 2003.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de Freitas Pedagogia Hospitalar: a
humanização integrando educação e saúde. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (on-line). Política Nacional de Humanização Hospitalar. Brasília, Ministério da
Saúde; 2003. Disponível em: www.saúde.gov.br/
ODENDAAL, J.S.J. Animal-assisted therapy – magic or medicine? Journal of Psychosomatic Research, n°
48, julho, 2000.
RIVERA, M.A. Canines in the classroom – Raising Humane Children through Interactions with Animails,
New York, NY: Lantern Book, 2004.
SANTOS, C. C.; ROSSETTI, B. C.; ORTEGA, C. A. O funcionamento cognitivo de idosos e de adolescentes
num contexto de jogo de regras. Estud. interdiscip. envelhec., vol. 9, pp. 53-74, Porto Alegre. 2006.

Profa. Andrea Lorenzon Petenucci


Pedagoga formada pela Universidade Anhembi-Morumbi, extensão em Pedagogia Hospitalar pela PUC-SP e A.C.Camargo;
Mestranda em fonoaudiologia pela PUC-SP. Atua na área de Educação Assistida por Animais, unindo três paixões: pessoas,
cães e livros.
É proprietária da marca Afeto- com letras e pelos, especializada em educação assistida por cães.
Atua, desde 2009, profissionalmente utilizando os benefícios da interação homem-animal em diversos cenários como
hospitais, livrarias, escolas e empresas e desde 2014 dedica-se a um projeto social que promove leitura e valores
humanos em uma escola municipal de SP.

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Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta
Leonardo Ogata e Sara Favinha
Adestrador e cofundador da Tudo de Cão
Responsável pelo Comportamento animal do INATAA
leo@tudodecao.com.br

Por que treinar cães coterapeutas?

Muito se fala em treinamento de cães. Mas, por que treiná-los? Quais os objetivos por trás disso? Isso pode prejudicá-los?

O treinamento serve, acima de tudo, para melhorar a qualidade de vida do cão.

É através do treinamento que você irá oferecer as ferramentas necessárias ao cão para que ele possa se comunicar
adequadamente com as pessoas ao redor e ensinar um repertório comportamental para que ele utilize durante as
sessões de intervenção.

Por exemplo, imagine um cão que chega pulando nos assistidos. Por mais simpático que ele seja, não irá cumprir com a
função da intervenção e poderá, inclusive, colocar as pessoas em risco.

Por outro lado, imagine o mesmo cão chegando de forma calma, sentando-se à frente do assistido e depois interagindo
tranquilamente. O simples fato dele ter aprendido a interagir pode ser determinante para o sucesso da intervenção.

Treinamento é comunicação - entender e ser entendido

Quanto mais clara a nossa comunicação com os nossos cães, mais seguros e confiantes eles ficam. Eles passam a entender
o que, de fato, esperamos deles.

E como a comunicação é sempre uma via de mão dupla, com o treinamento passamos a entender melhor os nossos cães
e identificamos quando eles precisam de suporte e quando estão à vontade e confiantes para desenvolverem o trabalho.

Além disso, é através do treinamento que realizamos dessensibilizações a barulhos e objetos para que os cães possam
ficar cada vez mais seguros durante as interações.

Consequentemente, melhorando a sua qualidade de vida.

O perfil do cão coterapeuta

Conhecer o perfil do cão coterapeuta é, sem dúvida, a parte mais importante do trabalho de IAA.

Assim como algumas pessoas não têm vocação para lidar com pessoas, o mesmo acontece com nossos amigos peludos.

Imagine um cão medroso, que não gosta de interagir com pessoas. Agora, imagine esse mesmo cão em uma sessão
com crianças que correm, brincam e gritam.

Ao invés de trazer bem-estar ao cão, estamos colocando-o em uma sessão de tortura.

O objetivo da sessão é levar bem-estar ao assistido e também ao cão.

A maneira que garantimos isso é através de uma análise criteriosa do perfil do cão e do trabalho que ele exercerá.

A análise desse perfil é realizada através de uma avaliação que será apresentada logo abaixo.

O importante a ser entendido nesse momento é que através dessa avaliação que garantimos:

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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1. A segurança do atendimento
Descobrimos antecipadamente como os cães reagem quando sentem medo. E, para serem aprovados, eles não
podem demonstrar em hipótese alguma qualquer tipo de agressividade.

2. Bem-estar do cão
A sessão precisa ser extremamente prazerosa para o cão. Jamais podemos melhorar a qualidade de vida do
assistido em detrimento da qualidade de vida do cão.

Durante a avaliação, o cão precisa provar que ele quer trabalhar e que isso vai levar a uma melhora na qualidade
de vida dele.

O cão precisa mostrar que gosta de interagir com pessoas desconhecidas, receber carinho e sabe superar os
possíveis imprevistos. Exemplo: cai a bengala no chão fazendo barulho.

Um outro ponto importante também é em relação ao cuidado do condutor com o cão. É através da avaliação que
isso é analisado.

O condutor se preocupa com o bem-estar dele? Ou colocará o cão em situações que ele seja obrigado a
demonstrar agressividade para sair da situação?

Resumindo, a avaliação é uma maneira de perguntarmos ao cão se ele também é voluntário no trabalho de IAA ou
se é uma vontade apenas do condutor.

Etapas da Avaliação de cães para Intervenções Assistidas por


Teste de Obediência, Temperamento, Comportamento e Aptidões

Etapa 1 – Ambiente e pessoas desconhecidas

Colocar o cão em um ambiente que ele nunca tenha ido antes. Essa etapa é a base de toda a avaliação e serve
para entender como o cão se comporta em locais e com estímulos que desconhece, sem ter tido oportunidade
prévia para se adaptar.

Comportamentos esperados

1. O cão deve se movimentar com tranquilidade pelo ambiente e se mostrar relaxado tanto em suas atitudes como
sua linguagem corporal.
2. O cão precisa se aproximar voluntariamente das pessoas e se mostrar bastante receptivo e aberto à pessoas
desconhecidas e ao carinho delas.
3. O cão pode explorar o ambiente mas precisa se mostrar mais ligado às pessoas do que ao ambiente.

Comportamentos desclassificatórios

1. O cão não pode mostrar receio do ambiente ou das pessoas, ficar em um canto ou não se aproximar das pessoas.
2. O cão não pode ter qualquer reatividade, seja latindo, indo pra cima das pessoas ou se afastando delas.

Etapa 2 – Dessensibilização corporal

O cão é tocado em todas as partes do corpo de forma delicada e conforme for aceitando esse toque e mostrando
isso através de sua linguagem corporal, os toques vão ser intensificados para avaliar o nível de tolerância do cão.
O cão é abraçado de forma intensa.

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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Comportamentos esperados

1. O cão se permite tocar e mostra sinais de prazer e colaboração.


2. O cão pode mostrar sinais de apaziguamento desde que consiga resolver a situação sem gerar conflito.
3. O cão precisa se mostrar relaxado quando tocado, de preferência que o toque seja o estímulo relaxante.

Comportamentos desclassificatórios

1. O cão não deve permanecer tenso ao ser tocado em qualquer parte do corpo. Mesmo que ele mostre sinais de
apaziguamento, precisa conseguir relaxar e resolver a situação sem conflito.

2. O cão não pode ter qualquer reatividade, seja latindo, indo pra cima das pessoas, rosnando ou apresentando
o “olhar duro”.

Etapa 3 – Estímulos

São apresentados ao cão objetos que se movem e que produzem barulho agudo.

São apresentados também estímulos vindo de pessoas que se movimentem de forma diferente ou gritem no ambiente.

Comportamentos esperados

1. O cão pode mostrar atenção aos objetos e pessoas mas em seguida deve apresentar curiosidade e investigar
os objetos e pessoas, mostrando adaptabilidade, dessensibilização e confiança diante das repetições dos estímulos
de cada objeto.

Comportamentos desclassificatórios

1. O cão precisa se adaptar aos estímulos conforme eles forem sendo repetidos e mostrar confiança na presença
deles. Caso isso não aconteça, o cão é desclassificado.

Etapa 4 – Brinquedos e Comida

São apresentados brinquedos e comida e é altamente desejado que o cão brinque e coma.

Comportamentos esperados
1. É esperado que o cão interaja com os brinquedos oferecidos e aceite as brincadeiras.
2. É esperado que o cão aceite os petiscos oferecidos e mostre vontade de comer mais.

Comportamentos desclassificatórios

1. O cão não deve roubar os brinquedos ou a comida das mãos das pessoas.
2. O cão não pode ter qualquer posse dos brinquedos ou da comida.
3. O cão não deve mostrar comportamentos insistentes para ganhar os brinquedos ou a comida quando estes
estiverem fora do alcance.

Etapa 5 – Comandos de Obediência

É esperado que o cão faça os comandos de obediência juntamente com seu proprietário. O uso de petiscos e
brinquedos é permitido.

Comportamentos esperados

1. Senta
2. Deita
3. Vem
4. Fica

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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Comportamentos desclassificatórios

1. O cão é desclassificado caso não faça os comandos de forma adequada.

Etapa 6 – Comportamentos e/ou temperamentos desclassificatórios

Alguns comportamentos apresentados pelo cão são desclassificatórios pois podem apresentar riscos aos assistidos.
São eles:

1. Cães que são medrosos


2. Cães que mostram qualquer tipo ou intensidade de reatividade e/ou posse
3. Pular em pessoas
4. Morder as mãos, os pés ou a barra das calças
5. Latir insistentemente para pedir coisas
6. Roubar coisas da mão das pessoas
7. Agitação extrema, o cão não conseguir ficar parado ou acalmar
8. Apatia extrema, o cão não se interessar por nenhuma pessoa ou estímulos

O que um condutor deve saber sobre treinamento de cães?

1.Criar, manter e modificar comportamentos


Durante as sessões de IAA, frequentemente precisamos ensinar novos comportamentos rapidamente para
melhorar a interação com o assistido.

Também é necessário corrigirmos possíveis problemas de comportamento que estejam conduzindo as sessões
para longe do objetivo.

Apenas entendendo profundamente os Fundamentos do Treinamento Animal que o condutor será capaz de
direcionar o comportamento do cão para a melhora do bem-estar do assistido e do cão.

2.- Entender a linguagem corporal dos cães


A linguagem corporal dos cães é a maneira que eles nos comunicam como estão encarando a sessão.

É de fundamental importância que o condutor saiba ler essa linguagem corporal para poder dar suporte nos
momentos necessários e, talvez, até retirar o cão da sessão caso não esteja fazendo bem à ele.

Um dos sinais mais importantes a serem estudados são os Calming Signals (sinais de apaziguamento).

Os Calming Signals (sinais de apaziguamento) foram estudados principalmente pela norueguesa Turid Rugaas e
são um conjunto de sinais (mais de 30) que os cães emitem quando estão em situações estressantes ou quando
precisam evitar conflitos sem utilizar a agressividade.

Esses sinais são os mais estudados porque eles antecedem sinais de agressividade, medo e muitos outros que
podem, de fato, trazer problemas.

Em situações normais, um cão só mostra um sinal de agressividade quando ele já tentou diversos sinais de
apaziguamento e não surtiu efeito.

Um condutor preparado para identificar esses sinais garante a segurança do assistido e o bem-estar do cão.

3.- Entender e aplicar as reais necessidades básicas dos cães


Os cães coterapeutas precisam de uma rotina muito especial e dedicamos um tópico só para isso.

O dia-a-dia de um cão coterapeuta

Nas páginas anteriores vimos a importância do perfil do cão coterapeuta. Podemos encarar o perfil como um
potencial a ser desenvolvido.

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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Nessa sessão conversaremos sobre como desenvolver esse potencial.

Ter o perfil adequado é necessário, mas não é suficiente. A única maneira de um cão coterapeuta se desenvolver
e exercer o seu trabalho com excelência é se permitirmos que ele se desenvolva.

A Tudo de Cão criou uma série de atividades que chamamos de “As necessidades básicas dos cães”. O objetivo
dessas atividades é tornar os cães calmos, equilibrados, sociáveis e, principalmente, promover o bem-estar.

Essas atividades devem ser realizadas diariamente a fim de promover um bom desenvolvimento do cão coterapeuta.

As necessidades básicas são: atividade física, mental, social e alimentação.

Atividade física:
Os cães, assim como nós, precisam praticar atividade física diariamente. E isso é tão importante pra eles quanto pra nós.

Eu sei que nem todo mundo pratica, mas todo mundo sabe que deveria praticar.

Fazer atividade física reequilibra o organismo.

Faz com que as pessoas fiquem mais calmas, menos ansiosas, e em forma. Além de melhorar a saúde.

E tudo isso também vale para os nossos cães.

O corpo do cão, assim como o nosso, não foi feito para o sedentarismo. Eles precisam estar com o corpo em
movimento todos os dias.

Mas, quanto de atividade física que meu cão precisa?

É claro que depende muito de cada cão. Mas, seguem algumas orientações para servir de guia.

Se estivermos falando em cães com baixa energia como boa parte dos Shih tzus, Malteses e Lhasa apsos, até uma
hora de atividade leve pra moderada por dia costuma ser suficiente.

Uma hora de caminhada leve ou de brincadeiras normalmente é suficiente.

Se você tem um cão com o nível de energia um pouco mais alto como Retriever do Labrador ou Golden Retriever,
você vai precisar intensificar um pouco essa atividade incluindo bolinhas, frisbees ou uma corrida leve.

Mas, se você tem um cão com um nível de atividade muito alto como um Border Collie ou um Jack Russell, o ideal
é que seja um gasto de energia realmente intenso.

Se você quiser gastar essa energia andando, precisaria de pelo menos 8 a 9 horas por dia de caminhadas. Ou seja,
caminhar não é a solução.

Insira na rotina do seu cão atividades vigorosas, pratique esportes como agility, frisbee, freestyle, brincadeiras
intensas de bolinha, andar de bicicleta ou, se você for um atleta e estiver se preparando pra uma meia maratona,
inserir o seu cão nos treinos pode ser uma ótima opção.

O ideal é que seu cão volte exausto pra casa pelo menos uma vez por dia.

E, a melhor maneira de fazer isso, é sem dúvida alguma inserindo-o na sua rotina de atividade física. Vá pro parque,
pra uma praça e comece a fazer isso junto com o seu cão. Vai ser muito mais divertido pra você e pra ele.

Se você ainda não pratica, aproveite que o seu cão precisa e comecem a fazer juntos. Pode começar devagar, sem
problemas. O importante é começar ainda hoje.

Isso vai trazer um enorme benefício pra ele.

Mas aqui cabe um alerta. Se você tem um cão braquicefálico, ou seja, um cão que tem o focinho curto como Pug,
Boston Terrier ou Bulldogue, também é importante que você pratique atividades física com ele. Mas, é preciso ter

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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um cuidado extra. Esses cães tem uma dificuldade natural de se resfriar.

Então, fazer atividade muito intensa no calor pode fazer com que ele superaqueça e pode, inclusive, levá-lo a óbito.

Por isso, antes de sair fazendo atividade física, converse com o veterinário do seu cão.

Atividade mental:
Imagine duas pessoas com 60 anos. Uma estudou a vida inteira, fez cursos, pós graduação e dedicou a sua vida a
estudar e aplicar os seus conhecimentos. E a outra pessoa não teve a oportunidade de ter sido alfabetizada e nem
se desenvolveu mentalmente.

Qual a diferença cognitiva entre elas? A comparação é meramente cognitiva. Não estamos falando em valores ou ética.

Qual vai aprender mais rápido? Qual vai estar melhor psicologicamente, mais segura e mais confiante?

Qual das duas pessoas você acha que vai ter mais facilidade em aprender uma habilidade nova? Qual das duas vai
conseguir se adaptar mais rápido a uma mudança de ambiente?

Provavelmente vai ser a pessoa que se desenvolveu mais mentalmente.

Com os nossos cães acontece exatamente a mesma coisa. E lembra que uma das habilidades mais importantes de
um cão coterapeuta é saber lidar com as mudanças de ambiente?

Se a gente comparar um cão que foi treinado e orientado desde filhote com um que não teve orientação, a
discrepância quando eles chegam aos 6 ou 7 anos é imensa.

De um lado teremos um cão que entende tudo o que acontece ao redor, que sabe se comunicar com as pessoas,
que sabe o que as pessoas esperam dele e do outro um cão que ainda não está nem adequado ao convívio social.

Quando se fala em ensinar truques e novos comportamentos, é comum associar a cão de circo fazendo gracinhas.

Mas, desenvolver o cão mentalmente é MUITO mais do que isso. Vai muito além de fazer gracinhas para se exibir.

Estimular mentalmente é uma questão de bem-estar. É preparar o cão para aprender coisas novas rapidamente, é
ensiná-lo a utilizar o corpo, ter consciência corporal, desenvolver a comunicação com o dono e com outras pessoas.

Se você ainda não está convencido, pense também no tédio.


Imagine ficar em casa sem televisão, sem computador, iPad, celular, revistas, jornais. Sem nada que possa te estimular
mentalmente. Imagine ficar um mês nessa situação!

Você ia pirar! Você ia começar a caçar coisas pra fazer.

Quando alguém chegasse pra conversar, você estaria ansioso, meio desesperado, querendo fazer qualquer coisa
que nem você sabe o que é. E dificilmente conseguiria estabelecer uma comunicação clara e agradável.

E isso também acontece com nossos cães. Faz sentido querer que ele aprenda alguma coisa nessa situação?

Não! Dificilmente ele vai aprender algo produtivo. A prioridade dele é sair daquela situação.

Por isso é tão importante estimularmos mentalmente os nossos cães. E como que a gente faz isso?

Podemos começar com os comandos de obediência: senta, deita, fica, vir quando chamado e andar na guia.

Assim que ele entender, insira esses comandos no dia-a-dia. Ou seja, pense nas situações do dia-a-dia que você
acredita que seja importante que ele realize esse comportamento.

Por exemplo, o comando senta a gente pode inserir nas seguintes situações:
1. Sentar ao ver a guia (ao invés de pular e morder a guia)

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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2. Sentar quando abrimos a porta de casa (ao invés de sair correndo)
3. Sentar para receber carinho (ao invés de pular na pessoa)
4. Sentar para cumprimentar pessoas
5. Sentar antes de interagir com outros cães
6. ...

Lembre-se que um comando de obediência só faz sentido quando ele está inserido no dia-a-dia e é realmente utilizado.

Quando ele estiver dominando os comandos de obediência, podemos começar com os truques: dar a pata, toca
aqui, tchau, oito entre as pernas, … As possibilidades são ilimitadas!

E, após ele ter entendido, peça para seus amigos pedirem esses comandos. Isso será muito importante durante as
sessões de atendimento.

Muitas pessoas têm restrições quanto a ensinar truques e, muitas vezes, isso está associado à cães de circo e maus tratos.

No entanto, quando a gente treina através de reforço positivo, treinar truques não passa de uma brincadeira. O
cão não é, em momento algum, forçado a fazer algo que não queira.
A base do reforço positivo é trabalhar com recompensas que o cão goste! Ou seja, o treinamento é uma grande
brincadeira.

Se, em algum momento, você achar que ele não está se divertindo, para tudo! O objetivo do treinamento é
melhorar a qualidade de vida dele, lembra?

Quanto mais truques você ensinar, mais fácil fica pra ensinar o próximo. Não é incomum termos cães que saibam
mais de 100 truques.

Isso acaba virando um verdadeiro vício tanto pro dono quanto pro cão. É uma forma muito saudável de brincar e interagir.

Imagine a melhora na qualidade de vida do seu cão se você se dedicar mais 10 minutinhos por dia a aprender algo
novo juntos. Uma atenção exclusiva à ele.

Treinar comandos de obediência e truques melhora muito a comunicação e gasta a energia do seu cão.

Outra maneira de estimulá-lo mentalmente é através do enriquecimento ambiental.

A Sara Favinha escreveu três artigos explicando detalhadamente o que é e como utilizar. Esses artigos estão no
site da Tudo de Cão.

Atividade social:
Quando falamos em socialização é muito comum as pessoas falarem:

- Eu socializo muito o meu cão. Levo ele no parque e ele brinca com um monte de cachorro.
Colocar com cães é extremamente importante, mas não é suficiente.

O seu cão precisa ter contato com outros cães, com outras pessoas e com outros animais. A vida social dele
precisa ser tão rica quanto a sua.

Tente contar por quantas pessoas você passa todos os dias. Com quantas pessoas você conversa?

E, exatamente por você fazer isso todos os dias, que você consegue lidar com elas naturalmente, sem stress, sem
medo e sem euforia.

A mesma coisa deveria acontecer com os nossos cães.

Se ele está acostumado a lidar com várias pessoas e vários cães, ele vai passar a lidar de forma natural, sem
excitação, sem medo e sem afobação.

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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Leve-o na praça, no parque, no shopping, onde você puder. Aproveite os almoços de domingo com a família. A sua
família vai adorar a visita.

Então, como regra geral, sempre verifique se é possível levar o seu cão nos seus compromissos sociais.

Se for possível, leve. Mesmo que você esteja com receio no início, leve! Vai fazer um bem enorme tanto pra ele
quanto pra você.

Fazendo isso de forma consistente, você vai criar uma imensa quantidade de situações para expor o seu cão.

Alimentação:

O primeiro ponto importante sobre a alimentação é a frequência e vamos oferecer duas a três vezes por dia.

Essa alimentação precisa ser de excelente qualidade. A saúde dos nossos cães é um reflexo do que eles comem. Se
eles comem uma alimentação de baixa qualidade, é óbvio que a saúde vai começar a se deteriorar.

Pense na nossa alimentação, não é exatamente assim que acontece? A diferença é que os reflexos de uma
alimentação ruim é muito mais rápido com os nossos cães. Ofereça pra ele o que há de melhor em termos de
qualidade. Se possível, ofereça alimentação natural.
Se não for possível, seja por questões de praticidade, tempo ou qualquer outro motivo, ofereça uma ração super
premium, a melhor ração que você encontrar no mercado.

Mas, só uma alimentação de excelente qualidade não adianta.

Aqui no Brasil ainda é muito comum as pessoas irem completando o pote de ração. Ou seja, enchem o pote de
manhã e, ao longo do dia, vão completando.

Vamos tentar visualizar o que acontece ali.

Seu cão vai de manhã cedo, come, baba em cima, depois de umas 3 horas vai lá, baba de novo e assim o dia inteiro.
Quando chegar no final do dia, ele vai estar comendo uma ração de excelente qualidade ou uma ração estragada?
Provavelmente vai ser uma ração estragada.

Imagine se você experimenta o caldinho da feijoada e coloca lá a colher toda babada. O que acontece? Azeda tudo.

Com a ração acontece exatamente a mesma coisa.

Tem ainda as baratas, formigas, ratos e pombas. Se a ração fica à vontade, ela fica à vontade para o seu cão e para
todos esses bichos também. Lembrando que eles transmitem várias doenças.

Então, do ponto de vista de saúde, deixar comida à vontade é muito prejudicial.

Vamos pensar agora do ponto de vista de comportamento.

Eu gostaria que você pensasse em um único animal na natureza que não precise se esforçar para comer.

Não existe!

Boa parte da energia dos animais é direcionada pra conseguir comida. Isso deixa-os equilibrados e calmos.

O organismo do seu cão foi desenvolvido pra isso, pra gastar energia em busca de comida.

Por isso que a gente incentiva tanto o enriquecimento ambiental.

Imagine um pai que fala pro filho:

- Filho, eu te amo muito e, só por você existir, você vai ganhar R$ 30.000,00 todo mês pra gastar como quiser.

Ele vai fazer bem para a criança? Ele vai ajudá-la a se desenvolver? A criança vai crescer preparada para os desafios
da vida?

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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Provavelmente não.

Com os nossos cães acontece exatamente a mesma coisa. Deixar comida à vontade seria o equivalente a oferecer
uma mesada de R$ 30.000,00 pra uma criança. Psicologicamente, faz muito mal!

Então, como devemos oferecer a ração?

Para cães adultos, o ideal seriam duas ou três vezes por dia, em horários determinados. Por exemplo, 7 da manhã
e 6 da tarde.

No caso de filhotes, é importante que eles comam pelo menos 4 vezes por dia. Converse com o seu veterinário sobre isso.

Vamos oferecer a refeição durante 3 minutinhos. Se durante esse tempo ele não quiser comer, a gente vai respeitar,
retirar a comida e oferecer novamente só no horário da próxima refeição.

Mas, meu cão vai passar fome?!?

Não, a ideia não é essa. O objetivo é exatamente o oposto, é que ele passe a comer melhor e valorizar mais a comida.

O que estamos fazendo não é privá-lo de comer. Não é uma privação. Nós estamos dando a oportunidade e ele
está escolhendo não comer.

Se ele não quiser, nós vamos respeitar, e oferecemos novamente à noite. É possível que no início ele pule uma,
duas talvez até três refeições.

Mas, ele não vai ficar fraco?!?

E a resposta é não. O organismo do seu cão foi preparado para ficar dias sem comer. Por isso ele não está comendo.

Como seria a rotina de um cão na natureza?

Ele mataria uma presa, comeria o máximo possível e ficaria lá… jiboiando…

Depois de 12 horas, um dia, ele iria se recuperar e estaria pronto para caçar novamente. Significa que ele caçaria
de primeira? De jeito nenhum. Na natureza nada é fácil. Ele tentaria várias vezes antes de conseguir. E isso pode
representar dias!
Ou seja, pular uma ou duas refeições, não é nenhum problema pra eles. Se fosse, ele simplesmente não pularia.
Lembre-se que a escolha foi dele.

Quando você implementa esse tipo de rotina, em dois ou três dias ele já vai estar comendo tudo direitinho na
hora que você colocar. E a partir daí, você pode utilizar a própria ração e o horário das refeições pra praticar os
exercícios de Atividade Mental treinando truques e comandos de obediência.

Ao invés do seu cão comer no pote de comida do jeito mais monótono do mundo, você cria um momento
especial, onde ele vai aprender coisas novas, se divertir e brincar com você.

Resumo das necessidades básicas:

O cão coterapeuta, para desenvolver todo o seu potencial, precisa de atividades física, mental, social e uma
alimentação de excelente qualidade.

Para proporcionar essas atividades, a melhor maneira é inserindo-o na sua rotina, no seu dia-a-dia. Aproveite todos
os momentos que você pode sair com ele e aproveite.

Leve-o pra caminhar ou correr, pra passear no parque, pra almoçar na casa da mãe, no shopping, onde você puder, leve!

Fazendo isso diariamente, de forma consistente, você vai ver o comportamento do seu cão se transformar e a sua
relação com ele vai ficar cada vez melhor.

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


77

Leonardo Ogata
Adestrador e cofundador da Tudo de Cão e da Cão Inclusão.
Ministra Cursos de Adestramento e Comportamento Animal e palestras para adestradores, veterinários, biólogos e estudantes da
área desde 2004.
Após mais de 8 anos de experiência na área, criou juntamente com Sara Favinha, em 2009, uma metodologia exclusiva de treina-
mento, tendo como alicerces o respeito pelo cães e a eficiência nos resultados.
Trabalhou durante 3 anos com cães coterapeutas em Terapia Assistida por Cães na Clínica de Psiquiatria Greenwood onde através
da laborterapia os dependentes químicos da clínica cuidavam do manejo diário dos cães, além de receberem aulas de Agility. O
resultado com os pacientes foi surpreendente e muito elogiado pelos mais de quarenta psicólogos atuantes na clínica.
Em 2013 Leonardo e Sara também fundaram a Cão Inclusão, projeto social destinado ao treinamento de Cães de Serviço para
cadeirantes e responsável pelo treinamento do primeiro Cão de Serviço do Brasil, o Toddy. Na Cão Inclusão, Leonardo e Sara estão
realizando seu sonho de usar seu conhecimento sobre cães para ajudar pessoas com deficiência. Para criar a Cão Inclusão foi
necessário desenvolver uma metodologia de treinamento especialmente para os Cães de Serviço.
A Tudo de Cão é responsável pela área de Comportamento animal do INATAA.

Bases do Comportamento e Perfil do cão Terapeuta


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A Fisiologia da Interação Homem-Animal
Marco Scanavino Apostila - Profa. Ms. Fernanda Yakel Stefani
Mestre e Doutor em Ciências da Saúde Farmaceutica
scanavino@gmail.com fystefani@ig.com.br

BENEFÍCIOS DA INTERAÇÃO HOMEM-ANIMAL

• Melhora do comportamento social e das relações interpessoais isolamento


social e a solidão.
• Melhora do humor (estados depressivos)
• Redução da ansiedade
• Redução da frequência cardíaca e da pressão arterial morbimortalidade
relacionada às doenças cardiovasculares.
• Alívio dos estados dolorosos
• Melhora da imunidade,

QUAIS OS MECANISMOS FISIOLÓGICOS ENVOLVIDOS NOS BENEFÍCIOS DA


INTERAÇÃO HOMEM ANIMAL????

BASES BIOLÓGICAS DA RESPOSTA NEUROENDÓCRINAAO ESTRESSE E À


ANSIEDADE

w Amígdala: localizada no sistema límbico.


• Responsável pela avaliação do grau de ameaça de um determinado estímulo
• Diante de um estímulo real ou potencialmente ameaçador (estímulo estressor), desencadeia uma

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


79
resposta neuroendócrina resposta tipo “luta ou fuga”

w Mediadores químicos envolvidos na resposta neuroendócrina ao estresse:

• Noradrenalina
• Adrenalina
• Cortisol

LIBERAÇÃO DE NORADRENALINA E ADRENALINA EM RESPOSTA AO ESTRESSE

w A amígdala mantém conexões recíprocas com o hipotálamo.


w Ao reconhecer um estímulo como estressor, a amígdala envia sinais excitatórios para o hipotálamo

w RESULTADO: LIBERAÇÃO DE NORADRENALINA E ADRENALINA na


corrente sanguínea.
w EFEITOS: Aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, dilatação da pupila, tremores,
mãos frias, sudorese. Isso tudo deixa o indivíduo em estado de alerta cognitivo e comportamental.

w ESTRESSE CRÔNICO: fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares


(hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, infaro agudo do miocárdio).

LIBERAÇÃO DE CORTISOL EM RESPOSTA AO ESTRESSE

w Ao reconhecer um estímulo como estressor, a amígdala envia sinais excitatórios para o hipotálamo
com consequente ativação do eixo HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL (HHA).
w RESULTADO: LIBERAÇÃO DE CORTISOL
w EFEITOS: RESISTÊNCIA AO ESTÍMULO ESTRESSOR estado de alerta,
liberação de glicose no sangue.

w NIVEIS CRONICAMENTE ELEVADOS DE CORTISOL: triglicérides, risco de


doença coronariana, hipertensão arterial, diabetes tipo 2.

O PAPEL DA OCITOCINA NO CONTROLE CENTRAL DA RESPOSTA


NEUROENDÓCRINA AO ESTRESSE

w OCITOCINA: hormônio produzido pelos núcleos paraventriculares do hipotálamo e armazenado na


hipófise posterior

O PAPEL DA OCITOCINA NO CONTROLE CENTRAL DA RESPOSTA


NEUROENDÓCRINA AO ESTRESSE

w A amígdala possui receptores para ocitocina.

w A AÇÃO DA OCITOCINA SOBRE A AMÍGDALA É INIBITÓRIA.

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


80
A OCITOCINA INIBE a amígdala REDUZINDO os estímulos enviados ao hipotálamo.

w RESULTADOS:

• liberação de adrenalina e noradrenalina

• ATIVAÇÃO do eixo HHA: LIBERAÇÃO DE CORTISOL

PORTANTO..... OCITOCINA REDUZ a frequência cardíaca, a pressão arterial e o estado de alerta,


promovendo calma.

EFEITOS DA OCITOCINA

w NA INTERAÇÃO SOCIAL
• Aumenta o contato visual, empatia, confiança e as habilidades sociais melhora o
comportamento social.
• Promove o comportamento maternal e o vínculo com a prole.
• Promove a formação de vínculo com o parceiro afetivo.

w EFEITO ANSIOLÍTICO E ANTI-ESTRESSE


• Modula a atividade da amígdala ansiedade
• Reduz os níveis plasmáticos de cortisol, particularmente em resposta a estressores sociais
estresse

w MODULAÇAO DA DOR
• Aumenta o limiar para dor

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


81
• OBJETIVO: verificar se as alterações neuroquímicas resultantes da interação entre homem e animal estão
presentes em ambas as espécies

• METODOLOGIA:

w 18 adultos (idade media: 30 anos) e 18 cães adultos.

w Os participantes foram colocados numa sala com luz natural e sentaram-se em cadeiras ou no chão. Tiveram 10
minutos para de adaptarem ao ambiente e, em seguida, foram coletadas as amostras de sangue e feitas 5
aferições da pressão arterial em um período de 2 minutos, de ambos, voluntários e cães.

w Período de interação com os cães: 5 a 24minutos. Durante este período, que consistiu em afagos e
carinhos no corpo e orelhas do cão, a atenção do voluntário foi totalmente focada no animal.

w Foram coletadas amostras de sangue para dosagem de cortisol, beta-endorfina, dopamina,


prolactina, ocitocina e acido fenilacético, em ambos, voluntários e cães.

w Cada um serviu como seu próprio controle, ou seja, o valor pós-interação de um parâmetro foi comparado ao valor
pré-interação no mesmo indivíduo. O controle externo foi feito por meio da leitura de um livro, no mesmo ambiente.

TEMPO DE INTERAÇÃO : 5 A 24 MINUTOS

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


82
• OBJETIVO: avaliar se crianças inseguras, apegadas e esquivas se beneficiam mais com um suporte social por um
cão em relação a um adulto amigável, durante uma tarefa estressante.

• METODOLOGIA:
w 47 meninos, com idades entre 7 e 11 anos, claramente identificados com ansiedade de separação.

wTSS (teste de estresse social): Em uma sala desconhecida, os meninos tiveram 5 min para interagirem com
seus respectivos suportes sociais (cães, cachorros de brinquedo e voluntários adultos). Transcorrido este tempo as
crianças foram colocadas em frente a uma banca, formada por um homem e uma mulher, que explicaram a elas o teste
consistia em terminar uma história que lhes seria contada. A banca deixou a sala e as crianças tiveram 5 min para
terminar a história. Depois, tiveram 3 min para apresentarem para a banca, em pé e sendo filmadas. Então a criança
teve de realizar um teste de matemática durante 2 min. A banca deu a eles uma devolutiva e as crianças foram
deixadas para interagir com seu suporte social, por 30 minutos.

wMEDIDA DO CORTISOL SALIVAR: foram colhidas 5 amostras durante todo o experimento, desde a
chegada da criança, passando pelo TSS até o momento de relaxamento com o suporte social.

RESULTADOS

TSS
Interação com
o suporte
social

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


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• OBJETIVO: avaliar se a concentração urinária de ocitocina nos proprietários foram aumentadas pelo olhar de
seus cães, como medida da formação de vínculo entre as espécies.

• METODOLOGIA
w 55 voluntários, com seus cães, divididos em dois grupos.
• Primeiro grupo (experimento de interação): voluntários podiam interagir normalmente com seus cães, por 30
minutos
• Segundo grupo (controle): voluntários foram proibidos de olhar diretamente e por longos períodos para o cão.
w Os comportamentos de cães e donos foram observados durante o período de interação social.
w Terminado o tempo de interação e passados 20 minutos, foram coletadas amostras de urina dos proprietários,
para a dosagem de ocitocina por radioimunoensaio. Amostras de urina também foram coletadas antes da interação.
w Dadas as observações e análises, os voluntários do GRUPO 1 foram divididos em dois subgrupos:

• LG: proprietários receberam olhar de maior duração de seus cães, relatando um grau mais elevado de
relacionamento com os seus cães
• SG: proprietários receberam olhar de curta duração de seus cães, relatando um menor grau de relacionamento
com os cães.

RESULTADOS:

w O nível de ocitocina urinária foi significativamente maior no grupo LG, do que SG, mas não no controle (ausência
do olhar mútuo entre cão e proprietário)
w No experimento de interação, no grupo LG, foi encontrada uma alta correlação entre a frequência de interações
iniciadas pelo olhar do cão e o aumento da ocitocina urinária do proprietário

CONCLUSÃO

w As interações com os cães, especialmente aquelas iniciadas pelo olhar do cão para o seu dono, podem aumentar
as concentrações urinárias de ocitocina de seus proprietários como uma manifestação do comportamento afiliação

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


84
Science. 2015 Apr 17;348(6232):333-6. doi: 10.1126/science.1261022. Epub 2015 Apr 16.
Social evolution. Oxytocin-gaze positive loop and the coevolution of human-dog bonds.
Nagasawa M1, Mitsui S2, En S2, Ohtani N2, Ohta M2, Sakuma Y3, Onaka T4, Mogi K2, Kikusui T5

As formas de comunicação dos humanos, incluindo a troca de olhares, pode ter sido adquirida pelos cães durante
o processo de domesticação. Nós demonstramos que o comportamento dos cães de contemplar, mas não dos
lobos, aumentou a concentração urinária de ocitocina (OT) de seus donos, facilitando o comportamento de afiliação,
resultando em aumento da concentração de OT nos cães. Além disso, a administração nasal de OT nos cães, aumentou
o comportamento contemplativo para os seus donos, resultando em aumento da concentração urinária de OT nestes
proprietários. Estes resultados suportam a existência de uma relação positiva interespécies mediada pela OT, facilitada
e modulada pelo olhar, o que pode ter apoiado a co-evolução do vínculo homem-cão, envolvendo formas comuns de
comunicação social

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


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Marco Scanavino
Mestre e Doutor em Ciências da Saúde pela FMUSP – Área da Psiquiatria.
Pós-Doutorado pela FMUSP – Área da Infectologia.
Responsável pelo Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos associados ao Comporta-
mento Sexual (AISEP) do IPq-HCFMUSP.
Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.
Orientador de Mestrado e Doutorado da FMUSP. Membro da Comissão de Pesquisa da FMUSP.

Benefícios Fisológicos da Interação homem/animal


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Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais
Laís Milani Cristiane Blanco
Psicóloga Psicóloga
Voluntária do INATAA Diretora de TAA do INATAA
Contato@inataa.org.br / taa@inataa.org.br taa@inataa.org.br

Passos pré-sessão
1. Objetivos
2. Profissionais envolvidos:
- Profissional da Intervenção - profissional da área de saúde ou educação com formação em IAA, responsável
técnico; planejamento e condução das sessões;
- Técnico em IAA - profissional responsável pelo bem estar físico e mental do animal dentro e fora das sessões.
Seu objetivo é favorecer uma interação positiva e produtiva entre o paciente e o animal;
- Condutores - voluntário ou profissional treinado para conduzir o cão durante a interação.
- Responsável técnico da Instituição - profissional responsável pelo acompanhamento do paciente.
3. Avaliação do público a ser atendido:
- avaliação (específica de cada área) para definir os objetivos da Intervenção;
- avaliar a relação do paciente com o animal a ser utilizado nas sessões (escalas, questionário, entrevista dirigida,
história pregressa, etc...)
4. Planejamento das sessões:
- objetivos específicos;
- tempo de duração do tratamento;
- atividades a serem realizadas;
- inserindo o cão nas atividades - (protocolos, papel do cão, perfil do cão, habilidades, etc..).
7. Preparação do material
8. Treinamento dos cães:
- quanto mais familiarizado com o local, maior o foco na atividade;
- domínio das habilidades necessárias para realizar os exercícios;
- familiaridade com os materiais que serão utilizados;
9. Preparação do local
- higiene;
- piso;
- temperatura;
- móveis de apoio;
- objetos que podem causar distração;
- área de escape/descanso.
10. Treinamento, inserção dos profissionais da casa
11. Simulando a sessão:
- tempo de duração;
- condução, posicionamento: paciente, condutor, cão, profissionais;
- tempo que o cão permanece focado/motivado na atividade;
- motivadores (paciente e cão);
- estrutura necessária para realizar a atividade garantindo o bem estar físico e mental (paciente e cão).
12. Preparando o paciente para a intervenção:

Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais


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- educar o paciente sobre a forma adequada de interagir, linguagem corporal, etc...
- contrato: o cão terá uma área de descanso e não será incomodado em hipótese alguma; pode ter alguma
indisposição ou problema de saúde o que inviabilizará sua participação na sessão.
13. Estabelecendo o vínculo entre o animal e paciente

Na sessão
1. Apresentação do cão
2. Apresentação dos profissionais
3. Apresentação/Convite á(s) atividade(s)
4. Realização da(s) atividade(s)
5. Encerramento

Pós-sessão
1. Descrição e análise da atividade - efetividade, resultados;
2. Revisão de todas as etapas atividade para futuras sessões.

Outros pontos importantes de serem discutidos


- Modelos de sessões
- Váriáveis de abordagens profissionais que influenciam a estrutura da sessão
- Adequação das atividades de acordo com o vínculo e confiança que existe entre o cão e o paciente
- Imprevistos

Referências:
1.http://hai.tufts.edu/paws/download-the-manual/

2.https://www.cambridge.org/core/journals/infection-control-and-hospital-epidemiology/article/animals-in-
healthcare-facilities-recommendations-to-minimize-potential-risks/7086725BAB2AAA4C1949DA5B90F06F
3B/core-reader#

Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais


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3. http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/40.pdf

LIVROS

Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais


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Estruturando uma sessão de Terapia Assistida por Animais
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Tradução do Artigo

https://www.washingtonpost.com/news/animalia/wp/2017/07/02/therapy-animals-are-
everywhere-proof-that-they-help-is-not/?utm_term=.43c86b5cd009

ANIMAIS DE TERAPIA ESTÃO EM TODOS OS LUGARES. A PROVA DE QUE ELES


AJUDAM NÃO.

Por Karin Brulliard, 2 de julho de 2017. Washington Post

Uma tendência de terapia com animais está se firmando nos Estados Unidos. O aeroporto de São Francisco agora
implantou um porco para acalmar viajantes desgastados. Universidades em todo o mundo trazem cães (e um burro)
dentro do campus para acalmar estudantes em época de provas finais. Lhamas confortam pacientes em hospitais, vira-
latas fornecem suporte em locais de desastres e cavalos são usados para tratar adição em sexo.

E aquele pato no avião? Deve ser uma animal de suporte emocional prescrito por um professional de saúde mental.

A tendência, que cresceu aceleradamente desde seu surgimento inicial há algumas décadas atrás, é sustentada por uma
crença generalizada de que a interação com animais pode reduzir o distresse – quer isso aconteça sobre carícias breves
no aeroporto ou em uma relação duradoura em casa. Certamente, os grupos que oferecem esses pets pensam assim,
bem como alguns profissionais de saúde mental. Mas a abrangência popular de pets como terapeutas peludos está
causando um crescente desconforto entre alguns pesquisadores da área, que dizem que isso está correndo muito á
frente de evidências científicas.

No início deste ano no Journal of Applied Developmental Science, uma introdução á uma série de artigos sobre
“Intervenções Assistidas por Animais” disse que a pesquisa sobre sua eficiência “continua em sua infância”. Uma revisão
recente de literatura, por Molly Crossman, uma candidata a doutorado da Universidade de Yale que recentemente
envolveu-se em um estudo envolvendo um cão de 8 anos chamado Pardner, citou um “corpo escuro de evidências”
que ás vezes mostrou efeitos positivos á curto prazo, com frequência não encontrou nenhum efeito e ocasionalmente
identificou altas taxas de distresse.

No geral, Crossman escreveu, os animais parecem ser úteis de uma forma pequena á media, mas não está claro quando
estes critérios merecem o crédito ou quando há outras coisas sendo responsáveis.
“É um campo que vem sendo levado em frente pelas convicções de seus praticantes” que viram a saúde mental de seus
pacientes melhorarem depois de trabalhar com ou adotarem animais, disse James Serpell, diretor do Centro para Interação
de Animais e Sociedade na Universidade de Medicina Veterinária da Pensilvânia. “Esse tipo de coisa tem praticamente
dirigido campo, e a pesquisa está brincando de pega-pega. Em outras palavras, as pessoas estão reconhecendo que
anedotas não são suficientes.”

Usar animais no cenário da saúde mental não é novidade. No século 17, um retiro na Inglaterra encorajou pacientes
doentes mentais a interagir com animais em sua propriedade. Sigmund Freud com frequência incluía um de seus cães nas
sessões de psicanálise. Mas o assunto não se tornou alvo de pesquisa até que o Psicólogo infantil Boris Levinson começou
a escrever, nos anos 60, sobre o efeito positivo que seu cão Jingles teve em pacientes.

Tradução do Artigo
91
Mas as evidências até hoje são problemáticas, de acordo com a revisão de Crossman e outras antes dela. A maioria
dos estudos tem amostras pequenas, ela escreveu, e um “número alarmante” não há um controle para outros possíveis
motivos por uma alteração no nível de estresse, como a interação com o condutor humano. Estudos também tendem
a generalizar os animais, ela notou: Se o participante foi mensuravelmente acalmado por um Golden Retriever, isso não
significa que outro cão – ou outra espécie – evocará a mesma resposta.

Mesmo assim, as manchetes da mídia são frequentes em ressaltar a felicidade. Hal Herzog, um psicólogo da Universidade
da Carolina do Oeste que há tempos estuda as interações homem-animal, recorda um estudo de 2015 sobre os benefícios
de ter um cão de companhia para a saúde de crianças. “Aqui está uma razão para ter um cão” a NBC anunciou. “Crianças
com pets tem menos ansiedade”.
Na realidade isso não foi o que o estudo concluiu. Os autores descobriram que crianças com cães tinham menos
ansiedade baseado em comparação aos escores de crianças sem cães. Eles ainda advertiram que “este estudo não
responde se os cães de estimação tem efeito direto na saúde mental da criança ou se há outros fatores associados com
a aquisição de um cão de companhia que beneficiam a saúde mental”.

Foi um caso clássico de confusão entre correlação e causa, o qual Herzog diz ser comum. Resultados positivos de seleção
discriminatória também são um problema, como ele diz que acontecem em materiais promocionais da Human-Animal
Bond Research Initiative (HABRI). A industria animal financia pesquisas sobre o tema. “O número de artigos que vejo que
começam com ‘Hoje já é bem sabido que ter um animal de estimação traz benefícios á saúde’ – isso me deixa louco”,
disse Herzog.
“Sim, tem literatura que sustenta isso. Mas também existe literatura que não chega nesse resultado”.

O diretor executivo da HABRI Steven Feldman tem uma visão mais positiva da ciência enquanto reconhece que mais
pesquisas precisam ser feitas. “Assim como comer vegetais e fazer exercícios, eu diria que ter animais em nossas vidas
também é um elemento essencial para o bem-estar humano”, ele disse.

Para muitos amantes e donos de animais, o vai e vem soa horrivelmente instável. Há algo intuitivo sobre as boas
sensações que os animais nos proporcionam. Porque super analizar isso?

Alan Beck não discorda. Beck, que dirige o Centro de Vínculo Homem-Animal na Universidade de Purdue, cita uma teoria
comum do porque animais podem ser terapêuticos. É chamada a hipótese da biofilia, e ela argumenta que humanos
desenvolveram uma necessidade interna de afiliação com outros seres vivos.

“Através da história, os animais nos deram algum conforto. Então se funciona pra você e pra mim em um ambiente
relativamente normal, talvez tenha um papel especial para alguém que tem depressão ou distúrbio de estresse – isso faz
sentido,” ele diz. “A literatura mostra que não é ruim. E isto é tão importante quanto.”

Focar demais no suporte científico ás vezes dá a impressão de uma forma de “inveja da física”, Beck acrescentou, “onde
você está tentando quantificar tudo sem aprecia-lo.”
Mas existem boas razões para pesquisas rigorosas sobre animais e a saúde mental. E, 2012, o Departamento de Assuntos
Veteranos disse que não cobriria os custos de cães de serviço para veteranos com estresse pós traumático, citando “a
falta de evidência que embasasse a eficiência do serviço do cão para a saúde mental.” O departamento está agora no
meio de um estudo de muitos anos sobre o tema, o que pode levar ao financiamento desses cães pelo governo.
Outra razão, dizem os cientistas, é pelo amor dos animais. Crossman apontou um incidente que ocorreu em 2014 na
Universidade de Washington, em Saint Louis como um exemplo de uma terapia com animais que deu errado. Um filhote

Tradução do Artigo
92
de urso levado á faculdade durante a semana de provas finais cortou alguns estudantes, causando um medo de contração
de raiva que quase acabou com o animal sendo eutanasiado. No geral, Serpell disse, a ideia popular de que pets te fazem
felizes “não é uma distorção inofensiva. ..Se o público acredita que ter um animal será bom para eles, muitas vezes uma
pessoa inapropriada pega um animal inapropriado, e não funciona bem para ambos.”
A pesquisa está ficando mais forte, em parte porque o financiamento está crescendo – para a HABRI assim como
para parceria publico-privada entre os institutos nacionais de saúde e o centro de nutrição animal Waltham. O estudo
recente de Crossman no Laboratório de Interações Inovativas de Yale está entre os trabalhos apoiados. Ele conta não só
com o Labrador Pardner, mas outros sete cães terapeutas certificados. Muitas vezes ao mês durante o ultimo ano, eles
iam á universidade para sessões de 15 minutos com crianças que haviam acabado de terminar duas tarefas estressantes:
criar histórias espontaneamente e conta-las á estranhos, seguido de resolver problemas matemáticos.
Os estranhos era pesquisadores, e sua missão era avaliar se as crianças, de idade entre 10 e 13 anos, acharam que
o tempo que passaram com os cães foi terapêutico. O estudo foi planejado para evitar algumas das armadilhas que
Crossman observou em outros estudos, é por isso que alguns dos 78 jovens participantes vão brincar somente com um
cobertor felpudo – porque a estimulação tátil é conhecida por reduzir o estresse – e porque outros só esperam nesses
15 minutos.

“Sem os controles, as mudanças podem se dar por diversos motivos, como o fato de muito tempo ter passado,” disse
Crossman. “Crianças são muito boas em lidar com situações.”

As crianças completaram questionários para avaliar seu humor e ansiedade antes e depois; amostras de saliva, para medir
o cortisol, o “hormônio do stress”, foram colhidas em 3 momentos. No final, todas as crianças ganham um certificado
de “cientista júnior”, muitos elogios e uma sessão de brincadeira livre com os cães.

Crossman, que enfatiza ser uma amante de animais, se recusou a revelar os resultados antes de eles serem publicados.
Mas há esperança que mostremos que os cães podem afetar o estresse em crianças, ela disse – antes de rapidamente
oferecer um esclarecimento de pesquisadora.

“Eu digo que há esperança não só porque eu acho que funciona ou espero que funcione, mas porque estes programas
são usados muito amplamente” ela explicou. “Crianças estão já participando em uma escala enorme. Idealmente, a ordem
é inversa: Testamos uma ideia, depois implementamos.”

Tradução do Artigo
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