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8 SÉRIE 9 ANO
ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS
Caderno do Professor
Volume 1

ARTE
Linguagens
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

MATERIAL DE APOIO AO
CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CADERNO DO PROFESSOR

ARTE
ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS
8a SÉRIE/9o ANO
VOLUME 1

Nova edição

2014 - 2017

São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
Vice-Governador
Guilherme Afif Domingos
Secretário da Educação
Herman Voorwald
Secretário-Adjunto
João Cardoso Palma Filho
Chefe de Gabinete
Fernando Padula Novaes
Subsecretária de Articulação Regional
Rosania Morales Morroni
Coordenadora da Escola de Formação e
Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP
Silvia Andrade da Cunha Galletta
Coordenadora de Gestão da
Educação Básica
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão de
Recursos Humanos
Cleide Bauab Eid Bochixio
Coordenadora de Informação,
Monitoramento e Avaliação
Educacional
Ione Cristina Ribeiro de Assunção
Coordenadora de Infraestrutura e
Serviços Escolares
Ana Leonor Sala Alonso
Coordenadora de Orçamento e
Finanças
Claudia Chiaroni Afuso
Presidente da Fundação para o
Desenvolvimento da Educação – FDE
Barjas Negri
Senhoras e senhores docentes,

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo-
radores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que
permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula
de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com
os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor-
dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação
— Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste
programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização
dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações
de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca
por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso
do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb.

Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien-
tações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São
Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades
ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias,
dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade
da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas
aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam
a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avalia-
ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a
diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico.

Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu


trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar
e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história.

Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo.

Bom trabalho!

Herman Voorwald
Secretário da Educação do Estado de São Paulo
SUMÁRIO
Encontros escritos com professores de Arte 5
Processos de criação nas linguagens artísticas 10
Proposição para sondagem – Uma conversa sobre processos de criação 11
Situação de Aprendizagem 1 – Dança 14
Situação de Aprendizagem 2 – Teatro 21
Situação de Aprendizagem 3 – Música 27
Situação de Aprendizagem 4 – Artes visuais 33
Situação de Aprendizagem 5 – Conexões com o território da materialidade 39
Síntese e avaliação 40
Diálogos com a materialidade na criação da forma artística 42

Proposição para sondagem – Uma conversa sobre a materialidade nas linguagens


artísticas 43
Situação de Aprendizagem 6 – Dança 47
Situação de Aprendizagem 7 – Música 50
Situação de Aprendizagem 8 – Teatro 56
Situação de Aprendizagem 9 – Artes visuais 60
Situação de Aprendizagem 10 – A gramática das linguagens artísticas 70
Síntese e avaliação 74
Nutrição estética 75

Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão


dos temas 76
Glossário 78
Artistas e obras 80
Quadro de conteúdos do Ensino Fundamental – Anos Finais 86
Gabarito 88
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

ENCONTROS ESCRITOS COM PROFESSORES DE ARTE


São muitos os encontros que ajudam a ma- De posse do entendimento de que esse con-
terializar os escritos deste Caderno do Profes- ceito de rizoma pertence à Filosofia, importa
sor de Arte. São encontros de várias naturezas: compreender quais são as relações possíveis
o encontro entre nós, professores autores, gerou entre um conceito filosófico e a Educação. Para
conversas que cultivam a necessária abertura tanto, é preciso ter ciência sobre o que é a Fi-
para pensar possíveis processos educativos em losofia e o que é a Educação. Então, para sim-
arte; o encontro com a arte e suas linguagens; plificar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão,
o encontro com as linguagens da arte e suas pode-se considerar que a Filosofia é a busca do
paisagens distintas com olhos que observam saber sobre a essência das coisas e a Educação,
as artes visuais, a dança, a música e o teatro; o a vida em desenvolvimento.
encontro com o texto de Gilles Deleuze sobre
o rizoma, que inspira a concepção do pensa- São afirmações aparentemente simples, po-
mento curricular em Arte imaginado para o rém trata-se de um sistema rizomático de en-
andamento da composição deste Caderno. tendimento de movimento em multiplicidade.

Gilles Deleuze e Félix Guattaria desenvol- Nesse movimento, é possível trazer para a
veram o conceito teórico de rizoma como um Educação uma transposição do pensamento
sistema aberto de relações semióticas, intrín- filosófico, aproveitando, assim, uma parte do
secas, cujos princípios de conexão, heteroge- seu todo, no intuito de provocar reflexão sobre
neidade, multiplicidade, ruptura, cartografia questões da contemporaneidade, que permeiam
e decalcomania estabelecem uma antigenealo- os processos de ensino e aprendizagem da arte.
gia, rompendo com a estrutura de procedên-
cia, com a cadência hierárquica e com todas A arte e a educação têm por natureza a
as ordenações tradicionais da relação sujeito/ condição de serem agentes promotores de
objeto, inclusive o conhecimento. processos exploratórios do saber. Tal condi-
ção torna possível a relação entre o rizoma e o
O nome rizoma, emprestado da Botânica ensino da Arte na Educação Básica, que cul-
por se referir a ramificações que ocorrem, por mina em um pensamento curricular irradiado
exemplo, no processo de desenvolvimento das no mapa dos territórios artísticos, compreen-
gramíneas, aplica-se à construção do conhe- dendo esses territórios como mobilidades de
cimento, enquanto conceito filosófico, quan- construção dos saberes sobre a produção do
do tal construção é compreendida como um conhecimento humano em arte.
processo em que não há início preestabelecido
tampouco fim, em um constante sistema de Um mapa posiciona a localização no es-
relações que permeia o sensível e o cognitivo paço e no tempo, tornando-se um instru-
do sujeito cognoscente. Assim, em um rizoma, mento imprescindível para traçar rotas que
o conhecimento se expande em rede de liga- levem ao destino desejado. No caso do Mapa
ções contínuas entre “mil platôs”b, entendidos dos “Territórios da Arte”, é possível utilizá-
como territórios elevados. -lo para traçar caminhos que permitam co-

a
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia. v. 1. São Paulo: Editora 34,
1995. p. 10-37.
b
Ibidem, p. 10-37.

5
nhecer outros territórios antes mesmo de se f materialidade;
alcançar o destino a que se objetiva, pois ele
também possibilita a mudança de rota, por f forma-conteúdo;
outros interesses despertados, para ampliar
conhecimentos de novos destinos que se jul- f mediação cultural;
gar importantes.
f patrimônio cultural;
A cada exploração nos territórios haverá
novas descobertas imbuídas de implicações se- f saberes estéticos e culturais.
mióticas, estimulando o sujeito que vivencia o
processo de conhecer e reconhecer os saberes Nesse movimento de dimensão cartográ-
estéticos e sensíveis da prática artística na Edu- fica, como seria possível desenhar um mapa,
cação. Assim, em um rizoma, sua condição criando um espaço para esses territórios?
antigenealógica propicia liberdade para partir Como tornar mais visível o entendimento
e chegar de quaisquer territórios mapeados, desse novo pensamento curricular? Como tra-
como também para agregar descobertas de ou- çar um desenho sem núcleo central, capaz de
tros territórios (platôs). mostrar que o mapa dos territórios oferece
múltiplas entradas e direções móveis, com li-
Esse conceito se faz presente no Caderno nhas variadas que podem se encontrar com
do Professor, não para definir ou delimitar outras linhas, fazendo conexões múltiplas e
ideias, mas para provocar o professor de Arte arranjos heterogêneos?
a encontrar os próprios percursos, que o con-
duzirão na ampliação e no aprofundamento Do encontro com a obra Estudo para su-
dos seus saberes estéticos e sensíveis. perfície e linha, da artista Iole de Freitas,
avistamos uma forma. Na obra, superfícies
Como pensamento curricular em Arte, ima- de policarbonato e linhas tubulares se re-
ginamos a possibilidade de pensar as lingua- tesam ou se descomprimem em generosos
gens (artes visuais, dança, música e teatro) por arqueamentos que nos levam a experiên-
meio da composição de um mapa que possuísse cias sensoriais de interior e exterior, leve e
a capacidade de criar um encontro entre elas pesado, contínuo e descontínuo. Essas cons-
por diferentes ângulos de visão. tantes mutações sensoriais provocadas pela
obra nos dão a sensação de uma arquitetura
Em um exercício de pensar sobre a arte mole, na qual o curso da linha nos põe em
na cultura e pinçar do próprio sistema de movimento, a bailar no espaço em superfí-
arte diferentes ângulos de visão sobre ela, cies múltiplas.
é que avistamos e delineamos o mapeamen-
to que chamamos de “Territórios da Arte”, A obra nos faz imaginar. E, por proxi-
como sendo: midade, o curso da linha nos faz pensar em
caminhos, em veredas, em uma imaginação
f linguagens artísticas; fluida que abre passagem ao exercício de in-
venção de outra configuração para o curso
f processo de criação; dessa linha.

6
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Sérgio Araújo

© Sérgio Araújo
Figura 1 – Iole de Freitas. Estudo para superfície e linha, 2005. Figura 2 – Linhas para a configuração do Mapa dos
Instalação. Policarbonato e aço inox, 4,2 × 30,0 × 10,6 m. ‘‘Territórios da Arte’’ a partir da obra de Iole de Freitas.
Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (RJ).

Dessa outra configuração é que se tornou Na composição do Caderno do Professor de


visível a imagem do Mapa dos “Territórios da Arte, cada volume tem como ênfase de estudo
Arte”c para esta proposta de pensamento cur- conceitos e conteúdos da Arte que são vistos em
ricular em Arte. conexão com diferentes territórios. Os caminhos
investigativos em sala de aula são lançados por:

f Proposição para sondagem – traz imagens


de obras ou ações expressivas relaciona-
das ao tema e às linguagens da arte. A
sondagem possibilita que os aprendizes
conversem, a partir de seu repertório
pessoal, sobre os conceitos que serão
estudados no volume. Ao professor, a es-
cuta da conversa dos alunos possibilita
planejar o encaminhamento das Situa-
ções de Aprendizagem sugeridas;

f Situações de Aprendizagem – problematizam


Mapa dos ‘‘Territórios da Arte’’.
o conceito e o conteúdo da Arte do ponto de
vista dos territórios abordados e no contex-
to particular de cada uma das linguagens ar-
O mapa ajuda a visualizar os “Territórios da tísticas: artes visuais, dança, música e teatro;
Arte” como formas móveis de construção e orga-
nização de outro modo de estudo dessa disciplina f Nutrição estética – diante do tempo das
no contexto escolar. O mapa, assim, é utilizado aulas, da realidade de sua escola, dos in-
como um desenho, entre muitos outros possíveis, teresses de seus alunos, uma ou mais lin-
ligado ao conceito de rede, mostrando uma for- guagens poderão ser retomadas com o
ma no tempo e no espaço de conduzir o estudo objetivo de ampliar o repertório artísti-
das artes visuais, da dança, da música e do teatro. co e estético dos educandos. Nesse caso,

c
Imagem criada por Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque que apresenta a criação e composição do pensamento
curricular em Arte para mapeamento de conceitos e conteúdos direcionados aos segmentos da 5a série/6o ano do
Ensino Fundamental à 2a série do Ensino Médio, para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em 2007.

7
propomos a Nutrição estética para explo- f investir na formação cultural dos alunos,
rar, com mais profundidade, as imagens e potencializando o repertório dos aprendi-
ideias contidas nas proposições apresen- zes, seja por meio da sondagem que o in-
tadas, retomando os conceitos enfocados vestiga, seja pela Nutrição estética que o
nas linguagens artísticas. expande.

Que o caminhar pelos “Territórios da Arte”


aqui indicados encontre paisagens ainda não Avaliação
vistas, envolvendo professores e aprendizes em
processos educativos com desdobramentos ins- Portfólio dos estudantes
tigantes sobre arte, tal qual o artista quando
mergulhado em sua criação. O conhecido portfólio, prática comum en-
tre artistas, parece ser ainda uma forma inte-
Boa caminhada! ressante de os aprendizes recontextualizarem
para si e para o outro (professor e grupo-clas-
se) a investigação dos conteúdos estudados. O
Notas para processos educativos em portfólio pode vir a ser um modo de o apren-
Arte: metodologia e estratégias diz pensar e apresentar seu trajeto de estudo
por meio da construção de uma forma visual,
como um “livro de artista”, por exemplo.
f Manejar as Situações de Aprendizagem
oferecidas como modos de provocar em Nesse sentido, o Caderno do Aluno é um
sala de aula a experiência com e sobre a suporte para registros que compõem o portfó-
arte, entendendo que “é experiência aqui- lio. Nele, há espaços para o estudante registrar
lo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou suas respostas às proposições que são ofere-
que nos acontece, e ao passar-nos nos cidas no Caderno do Professor, apresentadas
forma e nos transforma”, como diz Jor- nas seguintes seções:
ge Bondíad. Isso implica, em sala de aula,
deslocar o foco da informação para a
problematização, isto é, antes de dar res- f O que penso sobre arte? – ações sobre o re-
postas prontas, é melhor compartilhar pertório cultural dos alunos;
experiências de problematização com os
aprendizes; f Ação expressiva – ações que desencadeiam
o fazer artístico nas diferentes linguagens
f privilegiar a construção de conceitos por de acordo com as proposições do Caderno
meio de conexões entre os “Territórios da do Professor;
Arte”, praticando um modo de fazer pe-
dagógico que mova os aprendizes à maior f Apreciação – ações de leitura de obras de
proximidade com o pensamento da/sobre arte nas diferentes linguagens artísticas;
arte em suas diferentes linguagens;
f Pesquisa de campo – ações que orientam o
f valorizar a percepção estética e a imaginação aluno no planejamento, na realização e na
criadora dos aprendizes. Isso significa obser- discussão de pesquisa proposta no Cader-
var e escutar o que eles fazem, falam, comen- no do Professor;
tam, tanto no fazer artístico como na leitura
de seus códigos, cuidando para não silenciar f Pesquisa individual e/ou em grupo – ações
sua poética pessoal; que orientam o aluno para aprofundar seu

d
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Disponível em: <http://www.miniweb.
com.br/Atualidade/INFO/textos/saber.htm>. Acesso em: 9 ago. 2013.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

nível de conhecimento sobre um ou mais expressão à sua aprendizagem, criando for-


assuntos, realizadas individualmente ou mas para mostrar suas produções artísticas,
em grupo, e relacionadas às proposições textos escritos, fotografias de momentos das
do Caderno do Professor; aulas e pesquisas realizadas.

f Lição de casa – ações que sistematizam


o estudo, impulsionando a produção do Diário de bordo do professor
portfólio do aluno para além do Caderno;
O registro do percurso vivido nos Cader-
f Você aprendeu? – questões objetivas e/ou nos também tem se mostrado uma ferramen-
abertas para reflexão sobre os conteúdos ta importante para o professor avaliar seu
trabalhados nas Situações de Aprendiza- próprio processo de trabalho e buscar no-
gem de cada Caderno; vos caminhos para desenvolvê-lo. Por isso,
sugerimos a elaboração permanente de um
f Aprendendo a aprender – algumas dicas diário de bordo como um espaço reflexivo
para o aluno, ampliando possibilidades de para tratar da abordagem das Situações de
aproximação com a Arte; Aprendizagem, das dificuldades encontra-
das, das adequações necessárias, das obser-
f Para saber mais – indicações de livros, sites, vações realizadas no desenvolvimento das
filmes, vídeos e CDs. diferentes proposições.

O Caderno do Aluno, como parte do port- Além disso, avaliar seu diário de bordo
fólio passível de ser complementado por ou- pode ser um momento importante de reflexão
tros modos de registro que podem gerar uma sobre todo o caminho trilhado e de aqueci-
elaboração criativa, permite que o aprendiz dê mento e planejamento.

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PROCESSOS DE CRIAÇÃO NAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
Criação, repertório pessoal e cultural e Conhecimentos priorizados
procedimentos criativos constroem poéticas
pessoais em todas as linguagens.

A investigação desses processos, tanto


no próprio fazer dos estudantes como na
aproximação de processos de artistas, pode
superar certos conceitos arraigados, como o
de inspiração e de dons especiais, por exem-
plo, como se os processos de criação não
envolvessem muita pesquisa, experimenta-
ção e disponibilidade de mergulhos no caos
criador que “suporta o estado de dúvida”,
como nos fala Deweya. Pesquisas e experi-
mentações geradas em diálogos com a maté-
ria que se torna obra.
Temas e conteúdos
Para pensar sobre esses aspectos e para que Poéticas e processo de criação
os estudantes possam perceber em si mesmos
o fazer criador, focalizamos neste Caderno as processo
poéticas pessoais, a invenção e o repertório cul- de criação
tural nos territórios de processos de criação e
materialidade.

Processo de criação. O estudo da criação e


invenção em arte como um processo oferece a
oportunidade de compreensão do que vem a ser
o percurso criador nas práticas artísticas. Per-
curso de uma poética pessoal ou de processos
colaborativos que envolvem projetos, esboços,
estudos, protótipos, diálogos com a matéria,
tempo de devaneio, de vigília criativa, do fazer
sem parar, de ficar em silêncio e distante, de vi-
ver o caos criador. Focalizando os procedimen-
tos criativos na construção de obras visuais,
sonoras e cênicas, propomos investigar:

ª DEWEY, John. Como pensamos. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1959. p. 25.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

f ação inventiva, corpo perceptivo, imagi- Caderno, no território da materialidade, a


nação criadora, coleta sensorial, percurso escolha de matérias, ferramentas, suportes e
de experimentação, ideias, esboços, séries, procedimentos técnicos em diálogo com pro-
cadernos de anotações, estudo e pesquisa, cessos de criação.
apropriações, combinações, processo cola-
borativo, repertório pessoal e cultural;
Competências e habilidades
f poética pessoal;

f pensamento visual, corporal, sinestésico e f Investigar processos de criação pessoais e


musical. de artistas, ampliando o conceito de poéti-
cas e de processo de criação;
Procedimentos da criação em diálogo com
a materialidade f ampliar repertórios pessoais e culturais,
percebendo sua importância em processos
de criação nas várias áreas do conhecimen-
materialidade
to humano;

f pesquisar o diálogo entre a materialidade e


os processos de criação, percebendo a esco-
Materialidade. Matérias são pele sobre a lha da matéria, das ferramentas, dos supor-
carne da obra. No diálogo com a matéria, tes e dos procedimentos técnicos;
o artista busca a poética dos materiais, dos
suportes, das ferramentas e dos procedimen- f operar com imagens, ideias e sentimentos
tos. Todos envolvidos intrinsecamente. Fo- por meio da especificidade dos processos
calizando os próprios processos vividos por de criação em arte, gerando sua expressão
artistas e estudantes, será conteúdo deste em artes visuais, dança, música e teatro.

PROPOSIÇÃO PARA SONDAGEM


UMA CONVERSA SOBRE PROCESSOS DE CRIAÇÃO

No primeiro contato do ano com a tur- Aluno sobre o que já estudaram, pesquisaram,
ma, propomos um levantamento para saber conheceram sobre processos de criação, sobre
o que os alunos pensam sobre os processos o que lembraram da criação de algo e de como
de criação por meio da ação a ser desenvol- viveram esse processo e sobre como imaginam
vida no Caderno do Aluno: “O que penso que os artistas vivem esse processo.
sobre arte?”.
Nessa conversa, é importante que os alunos
Essa primeira conversa ajudará você, pro- sejam estimulados a falar à vontade de suas ex-
fessor, a conhecer um pouco mais seus alunos periências escolares com a arte, sem medo ou
e, assim, a desencadear processos educativos vergonha de ser corrigidos ou ridicularizados.
por meio das várias Situações de Aprendiza-
gem aqui propostas. Esse primeiro levantamento pode oferecer
subsídios para você compreender se os mitos
Para iniciar esse levantamento do repertório da criação como inspiração divina ou como
dos estudantes, sugerimos uma conversa coleti- dom marcam a compreensão de seus alunos a
va a partir do que escreveram no Caderno do respeito desse processo.

11
© Raimundo Pacco/Folhapress

Figura 3 – Cildo Meireles. Marulho, 1997-2006. Instalação. Montagem da instalação para a 6a Bienal do Mercosul, 2007.
© Tato Guion

Cada artista tem seu tempo de


criação. É difícil saber quando co-
meça a gravidez e quando se dá o
parto. Há pintores que são perma-
nentemente prenhes, parindo ninha-
das, como era o caso de Picasso. Eu,
antes de iniciar a viagem – o quadro –,
consulto minha bússola interior e
traço um rumo. Mas quando estou
no mar grosso, sempre sopra um
vento forte que me desvia da rota
preestabelecida e me leva a desco-
brir o novo quadro. Todo criador é
um Pedro Álvares Cabral.

© IBERÊ CAMARGO - FUNDAÇÃO


IBERÊ CAMARGO. CAMARGO, Iberê.
A gaveta dos guardados. São Paulo: Edusp,
1998. p. 32.
Figura 4 – Cia. Caixa de Fuxico. A batalha dos encantados, 2007. Atriz
Andrea Cavinato.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

A ação pedagógica na sondagem não uma preocupação em obedecer às regras im-


deve fornecer respostas às questões co- postas por um outro, como se isso já fosse dado
locadas, mas instigar os alunos para o a priori, o que não é o caso nessa encomenda.
estudo que ora se inicia. Para isso, é importante
registrar no Caderno do Aluno uma síntese da Na aula seguinte, o professor pode sociali-
conversa coletiva. Essa conversa prepara para zar as ideias que os alunos tiveram. Sugerimos
uma primeira apreciação, que também tem o ob- começar sem mostrar o que trouxeram, mas
jetivo de levantar hipóteses e despertar a curiosi- pensando com eles o que significou ter uma
dade dos alunos sobre processos de criação. encomenda para fazer. Eles imaginam que os
artistas trabalham também com encomendas?
f Nas imagens e no texto, o elemento água Esse fato delimita a criação?
está presente. Como a materialidade da
água aparece em cada um deles? Pode ser que alguns alunos não tenham fei-
to o que foi pedido. Quais motivos os levaram
f Como você imagina que seja o processo de a não fazer a encomenda? As respostas a essas
criação dessas obras? No texto, o que o ar- perguntas já são elementos para a composição
tista Iberê Camargo diz sobre isso? de um mapeamento sobre os conceitos que
aparecem sobre processos de criação.
A água aparece como tecido com ilumina-
ção especial na cena de teatro. Está também No mundo da arte, tanto no passado mais
nas fotografias de mar em centenas de livros distante como na contemporaneidade, é co-
abertos que cobrem o chão, sob um deque mum e frequente o artista trabalhar com en-
de madeira (um píer), na instalação de Cildo comendas – uma ou várias obras para um
Meireles, que se complementa com reprodu- determinado museu ou espetáculo. Você, pro-
ção da gravação em áudio da palavra “água” fessor, pode retomar com os alunos a citação
enunciada por crianças e adultos em 80 línguas da estudiosa de processos de criação, Cecilia
diferentes. O artista Iberê Camargo também Almeida Salles:
fala de mar ao se referir a processos de criação.

As leituras dessas imagens e do tex- Limites internos ou externos à obra oferecem


to fazem surgir um novo olhar sobre resistência à liberdade do artista. No entanto,
processos de criação. Para ampliar essas limitações revelam-se, muitas vezes, como
esse olhar, propomos continuar a sondagem propulsoras da criação. O artista é incitado a
com uma lição de casa apresentada como vencer os limites estabelecidos por ele mesmo ou
“Ação expressiva” no Caderno do Aluno: por fatores externos, como datas de entrega, or-
çamento ou delimitação de espaço.
f Você vai receber uma encomenda: uma
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado:
ideia para fazer uma produção artística. processo de criação artística. 5. ed. São Paulo:
Você conhece alguma obra de artista que Intermeios, 2011. p. 69.
foi feita sob encomenda? Você acha que
isso dificulta ou facilita a criação?
Quais foram os caminhos que o pensamen-
É interessante investigar com os alunos as to percorreu até trazer uma ideia para a sala de
preocupações deles diante de uma encomenda aula? Que referências foram buscadas? Houve
artística. O que perguntam sobre a ideia de en- momentos de caos? Ou simplesmente pensa-
comenda? Que conceitos preestabelecidos eles ram um pouco antes do início da aula? Como
revelam em suas perguntas? É comum ouvir registraram o percurso do pensamento no Ca-
questões como “Posso fazer tal coisa?” ou “Pos- derno do Aluno? Usaram palavras, desenhos
so usar determinado suporte?”, que indicam ou gráficos?

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Nem sempre é percebido, no processo de O momento da sondagem, entretanto,
criação, o que antecede o nascimento da ideia. não é para fecharmos as problematizações,
Às vezes, as ideias nascem límpidas, e é na sua pois são oferecidas outras Situações de
construção que nascem as dificuldades. Corre- Aprendizagem para aprofundamento do es-
-se o risco de pensar uma ideia tão brilhan- tudo. Vale lembrar que não basta ter uma
te que percebemos que será difícil executá-la tarefa a realizar para que haja processos de
e desistimos dela. O importante é recriá-la a criação por parte de nossos alunos. O per-
partir das possibilidades, das novas ideias que curso no território de processos de criação
nascem ao longo do processo, pois criar não é refletir sobre os processos vividos e co-
é executar algo pronto. Para outros, as ideias nhecer como outros artistas o viveram; é
nascem durante o próprio fazer. O que se está também perceber e desenvolver as poéticas
buscando com os alunos é que percebam o pessoais de nossos alunos. Processo este que
percurso de uma ideia. percorrerá todo o ano letivo.

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1
DANÇA

A dança contemporânea acontece em um f Algumas imagens deste Caderno têm como


grande território, com muitas possibilidades elemento a água. Como você imagina que
e recursos. Os criadores transitam por diver- surgiram as ideias para a criação dessas co-
sos espaços, valendo-se de linguagens e reali- reografias?
zando tramas entre elas para a concretização
de suas obras coreográficas. f Será que o coreógrafo cria sozinho?

Após a escuta da exposição dos alunos so-


Proposição I – Movendo a apreciação bre essas questões, algumas informações sobre
o processo de criação, por exemplo, de Baile
Proponha uma conversa sobre pro- na roça: coreografias para Portinari, podem
cesso de criação na dança a partir ajudar a alimentar a conversa. O quadro Baile
das imagens apresentadas. A ima- na roça (1923-1924) dá nome ao espetáculo,
gem da coreografia do Terpsí Teatro de Dan- que tem a obra de Candido Portinari como fio
ça mostra como objeto cênico uma bacia de condutor e expressa a diversidade estética da
lavar roupa. Na imagem de uma das coreo- dança brasileira contemporânea. Na criação
grafias que compõem Baile na roça: coreo- desse espetáculo, o diretor José Possi Neto se-
grafias para Portinari (1998), a dançarina guiu uma tendência da dança contemporânea,
apresenta-se dentro de um grande aquário. na qual os próprios dançarinos são criadores
No Caderno do Aluno, questiona-se: e intérpretes das coreografias, uma vez que se
procura ressaltar a individualidade de cada
um dos participantes da obra. Ao aceitar o de-
f O que chama a atenção nessas imagens? safio do diretor e criarem a coreografia desse
espetáculo, os dançarinos do Balé da Cidade
f O que causa estranhamento? de São Paulo assumiram a real autonomia.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Claudio Etges
Figura 5 – Terpsí Teatro de Dança. E la nave no va II, 2003. Coreografia: Carlota Albuquerque.

15
© João Mussolin

Figura 6 – Balé da Cidade de São Paulo. Baile na roça: coreografias para Portinari, 1998. Direção: José
Possi Neto. Dançarina: Cláudia Palma.

Baile na roça é composto por coreografias de em dezenas de quadros, brilhantemente inter-


vários autores: Ana Teixeira, Cláudia Palma e pretado por Gustavo Lopes. A cena/coreo-
Armando Aurich, Jorge Garcia, Roberto Silva grafia tem como referência a parte aérea das
e Willy Helm, Lilia Shaw e Robson Lourenço, obras de Portinari, as figuras que pairam no
e Raymundo Costa. A gaúcha Ana Teixeira é a ar. Para isso, Costa utilizou técnicas circenses,
autora das sequências que abrem e encerram o como colocar o dançarino preso em cordas
espetáculo e que ligam as coreografias de seus elásticas. Costa representou, ainda, as perso-
colegas. Da obra de Portinari, Ana pinçou o des- nagens que comparecem nas áridas paisagens
taque que o pintor dá aos pés e mãos das figuras de Portinari, como crianças-passarinhos que
que povoam suas telas, como também à presen- brincam em torno do solista.
ça da mulher. A partir dessas observações, Ana
coreografa para um grupo de seis mulheres, que As coreografias de Armando Aurich e
no espetáculo têm o corpo coberto por tecidos, Cláudia Palma, que incluem a imagem mag-
deixando em evidência só os pés. Para salientar nética da dançarina submersa na água, pro-
ainda mais o enfoque nos pés, esse grupo de dan- põem para a obra de Portinari – sempre afeita
çarinas dança num trecho do palco que, com a a um universo mais rural – um contexto mais
ajuda de elevadores, é alçado a 4 metros de al- urbano, como se as personagens vivessem em
tura. Em certo momento, o público vê só os pés São Paulo. A coreografia se refere à tela De-
das dançarinas, que, segundo Ana, representam pósito de óleo (1933), em que três tanques se
um fragmento ampliado dos corpos do povo que instauram como “invasores” em uma paisa-
habita o plano inferior do ambiente. São pés que gem bucólica.
caminham, correm, sofrem, choram, simboli-
zando um conjunto de emoções. Por conta de Possi Neto ficam a ambienta-
ção cênica e o desenho de luz, em parceria com
Raymundo Costa é criador de um solo ins- Renato Salgado e Wagner Freire; a direção mu-
pirado nos espantalhos pintados por Portinari sical é do maestro Jacques Morelenbaum, que

16
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

também é um dos autores da trilha sonora, ao formarão, de uma certa forma, na espinha
lado de Caetano Veloso, Egberto Gismonti, dorsal da coreografia.
Hermeto Pascoal e Sérgio Assad.
Para viver uma experiência de criação, pro-
A confecção dos figurinos fica sob os cuida- pomos a “Ação expressiva” a seguir.
dos do estilista Lino Villaventura, que privile-
gia tons terrosos pontuados de cores primárias, Para iniciar, peça aos alunos que dispo-
como o azul, e tecidos muito leves, principal- nham suas cadeiras pela sala de aula for-
mente malhas, desenvolvidas especialmente mando um círculo, onde eles permanecerão
para o espetáculo, com desenhos e grafismos. inicialmente sentados.
Desse modo, o movimento não fica por trás do
tecido, mas é acentuado por ele. Experimente fazer a proposição mediante
provocações, que poderão ser respondidas por
Para amparar essas informações, é inte- palavras, movimentos ou ambos. Além das
ressante mostrar aos alunos as pinturas que três sugestões a seguir, você pode criar outras
inspiraram o espetáculo e outras que tenham propostas com os alunos:
a presença da figura humana. Essas obras po-
dem ser encontradas no site do Projeto Porti- f lembranças de um banho de mar, lagoa ou
nari <http://www.portinari.org.br>. cachoeira;

Todas essas informações sobre o espetáculo f frio que se sente depois da chuva;
Baile na roça podem ter provocado nos alunos
outra percepção sobre o processo de criação f pular em uma poça d’água.
coreográfica. Para prepará-los para o que vem
a seguir, finalize perguntando: Espere alguns alunos se candidatarem para
responder a cada proposição ou escolha você
f Será que o cotidiano pode ser uma fonte de mesmo três ou quatro alunos para realizarem
temas para as criações coreográficas? cada proposição individualmente. Se os alu-
nos responderem à provocação por movimen-
Proposição II – Ação expressiva tos, cronometre a ação para que ela tenha no
máximo dois minutos.
Alguns coreógrafos criam movimentos
inspirados em textos, músicas, ideias, ima- Muito importante é salientar, para os alu-
gens etc., experimentam com o seu corpo e nos, que, atualmente, a maioria dos coreógra-
mostram aos dançarinos, que absorvem a in- fos de dança contemporânea, para realizar
formação e interpretam o movimento criado suas coreografias, usa o vocabulário de mo-
pelo coreógrafo. Outros fazem perguntas aos vimentos proveniente da movimentação, das
dançarinos que estão tomando parte no pro- habilidades individuais e das histórias de vida
cesso da obra que está sendo criada, e estes que os dançarinos trazem para os laboratórios
podem responder às questões com palavras, de criação, o que muito enriquece as obras.
movimentos ou das duas maneiras. Outros Traçando um paralelo dançarinos-alunos, po-
coreógrafos levam textos literários para ser demos afirmar que quanto mais ideias poéticas
discutidos com os dançarinos. Outros ini- pessoais os alunos trouxerem para a realização
ciam lançando uma música ou uma lem- das proposições na sala de aula, mais singular
brança para que os dançarinos improvisem toda a “Ação expressiva” vai se tornar.
com suas próprias movimentações. Ou seja,
é um campo muito aberto, de forma que a No Caderno do Aluno, peça para os
memória e a coleta sensorial de cada um dos estudantes fazerem seus registros so-
envolvidos vai criando tramas que se trans- bre a experiência, problematizando:

17
f Onde o coreógrafo busca os movimentos f Que movimentos são encontrados no jogo
para sua criação? Seu Mestre Mandou?

Por fim, questione se os alunos percebem Para que eles façam o registro, instigue-os
que vivem aqui um momento de memória cor- por meio das questões: Como poderia ser a
poral e coleta sensorial para a criação de uma notação gráfica desses movimentos? Em dan-
possível coreografia. ça, há repetição de movimento? De que modo?

Para introduzir o tema da nova proposição, Para alguns coreógrafos da dança contem-
inicie a conversa dizendo que os movimentos porânea, “a repetição é uma característica que
que os dançarinos realizam corporalmente acompanha as obras. A mesma ação é repetida
são ações cênicas que, somadas, vão gerar a muitas vezes, inicialmente dissociada de emo-
coreografia. E, junto com suas ações, os senti- ções, mas com a construção da repetição propria-
mentos e emoções que viabilizam a comunica- mente dita, que chega muitas vezes à exaustão,
ção entre as personagens na cena e o público. cria no intérprete e, consequentemente, na pla-
teia, significados e experiências diversificadas”b.
O filósofo francês Gilles Deleuzea pode nos
ajudar a pensar sobre o diálogo corporal na Que tal juntar toda a classe e escolher
dança, que se impõe como suficiente para pro- um líder para criar um movimento poético,
cessar e fazer transitar as informações nos cor- ou seja, que tenha uma intenção artística, e
pos dos dançarinos. Ao analisar os musicais, repassar para os colegas, que experimenta-
Deleuze diz que a dança é de natureza onírica, rão corporalmente o movimento? De onde
ou seja, ela tem a propriedade de transportar virão os movimentos? Que tal manter como
o espectador do mundo da realidade para o temática a água? O gestual dos movimentos
mundo dos sonhos. poderá ser tematizado em cima de:

Para provocar a criação de movimentos do f banho de chuva;


cotidiano, proponha aos alunos a brincadeira
chamada no Sudeste do Brasil de Seu Mestre f pular na água;
Mandou, na qual uma pessoa vai até a frente
do grupo e cria um movimento e o ensina para f jogar água em outra pessoa.
o restante do grupo, que o repete. Depois que
todos do grupo já sabem fazer o movimento, Após a experimentação das coreografias
troca o mestre (no sentido de líder), que faz criadas, amplie a problematização das ques-
outro movimento. Na sequência, ensina para tões presentes no Caderno do Aluno com ou-
o grupo que o repete algumas vezes. A brinca- tras indagações:
deira pode ser repetida inúmeras vezes, sem-
pre trocando o mestre. f Que movimentos poéticos são encontrados
ao longo das coreografias criadas?
É interessante que os alunos possam jogar
diversas vezes o jogo Seu Mestre Mandou. Como poderia ser a notação gráfica desses
Após esse fazer lúdico, conduza uma conversa movimentos? Pensando sobre o gestual que foi
sobre a experiência da repetição no jogo, que sendo criado ao longo de todas as proposições,
pode ser registrada no Caderno do Aluno: é um gestual do cotidiano? Por quê? Uma coreo-

a
DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. São Paulo: Editora 34, 2006.
b
PEREIRA, Sayonara. Rastros do Tanztheater no processo criativo de es-boço. Tese (Doutorado) – Instituto de
Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. p. 66.

18
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

grafia pode ser criada a partir de gestos do coti- Na continuidade, os alunos podem pes-
diano ou de repertórios culturais de brincadeiras quisar músicas para compor uma trilha
infantis? Qual a semelhança e a diferença entre a sonora. Ela pode enfatizar, ampliar ou con-
ação repetida muitas vezes no processo da coreo- tradizer os movimentos corporais que estão
grafia e a repetição de uma ação no cotidiano? sendo criados, trazendo novos repertórios
para o grupo.
Nessas proposições, a ênfase está num pro-
cesso de criação que envolve gestos do cotidia- Na leitura da produção dos alunos, nessa
no e a repetição dos gestos numa frase, numa junção entre movimento e música, é importan-
célula coreográfica, por serem elementos que te conversar com eles – tanto com aqueles que
fazem parte do vocabulário que encontramos fazem a coreografia como com aqueles que a
na dança contemporânea. assistem – a respeito de como percebem o pa-
pel da trilha sonora para enfatizar, ampliar ou,
ainda, contradizer os movimentos corporais.
f Qual o papel da música na dança?
A relação da dança com a música nos dá
A música sempre esteve presente no tea- algumas pistas dos caminhos escolhidos pelo
tro e na dança. Por se desenvolver no tempo, coreógrafo para criar sua obra. Alguns au-
a música é o elemento que mais comumente tores escolhem primeiro a música e, inspira-
serve de partner ao texto dançado. Dialoga dos nela, compõem suas coreografias; outros
com os movimentos do intérprete, explicita usam a música como um fundo sobre o qual
seu estado interior, contracena com a luz e eles criam; outros ainda só escolhem a mú-
com o espaço em todos os seus aspectos. sica após a obra estar pronta, e ao colocar
essas duas artes lado a lado criam novos sig-
Partindo do princípio de que os alunos já as- nificados para ambas.
sistiram a alguma coreografia ao vivo, em vídeo,
na televisão ou pela internet, pergunte de qual co- Vale a pena conhecer um pouco mais so-
reografia eles lembram e que tipo de música ou- bre o coreógrafo contemporâneo americano
viram durante a coreografia. Entre as lembranças Merce Cunningham (1919-2009). Sua traje-
trazidas pelos alunos para a sala de aula, pergun- tória é marcada por transformações radicais
te: Movimento corporal e música dialogam entre na maneira de trabalhar com o movimen-
si? Seria possível “desenhar” as músicas ouvidas? to. Por exemplo, nos anos 1950, influencia-
Que cores a música nos traz à lembrança? Que do pelo músico John Cage (1908-1992), ele
tipos de música conhecem? Quais outros tipos de começa a usar estruturas aleatórias para
música gostariam de conhecer? determinar os elementos e a organização de
suas coreografias (qual parte do corpo estará
Na lousa, as respostas podem ser listadas para em movimento, em que direção, com que tipo
que sejam visualizadas ao final. Visualizando as de deslocamento, tendo qual continuidade e
respostas: Qual a síntese que os alunos fazem sobre duração?). Para ele, música e dança são artes
o papel da música na dança? “A música, acrescen- independentes, ou seja, na sua composição
tada a outros princípios de uma obra, tem o pa- coreográfica música e dança simplesmente
pel de enfatizar, de ampliar, de desenvolver e até coincidem no tempo e no espaço, sem relação
de contradizer ou substituir os signos dos outros de determinação; e são raros os casos em que
sistemas”c. Os alunos têm essa percepção? a música preexiste à dança. Desde os anos

c
Ibidem, p. 125.

19
1970, Cunningham abraça o vídeo e o cine- nos (aqueles que tocam algum instrumento,
ma como novos parceiros. Nos anos 1990, cantam, dançam etc.).
diante de dificuldades físicas de seu próprio
corpo, começa a usar o computador como No Caderno do Aluno, está dada a
aliado, o que vai lhe permitir encontrar movi- questão:
mentos e deslocamentos antes inconcebíveis.
Multiplicidade de pontos de vista, rejeição f Como foi seu processo de criação na cons-
dos ditames da frontalidade, justaposição trução de uma ideia coreográfica?
de elementos na cena são outros fatores que
marcam sua maneira contemporânea de en- Os alunos poderão registrar, com palavras
tender a composição da dança. Para saber ou desenhos, os “passos” que foram sendo da-
mais, visite: <http://www.mercecunningham. dos para a construção da ideia coreográfica
org/> (acesso em: 27 ago. 2013). que realizaram. Em seguida, proponha a se-
guinte questão: Para você, na composição des-
Sugerimos a você, professor, que visite o sa ideia coreográfica, o processo de criação foi
site do compositor Fabio Cardia, que com- individual ou colaborativo?
põe de diferentes modos trilhas sonoras para
companhias de dança brasileiras, como Má- É importante enfatizar que o processo
rio Nascimento, Raça Companhia de Dança, colaborativo é comum na criação contempo-
Cisne Negro, Balé da Cidade de São Paulo, rânea. Nele, busca-se a horizontalidade nas
entre outros. No site também é possível ouvir relações da criação teatral/coreográfica, es-
alguns diferentes trechos de obras: <http:// tando todos os envolvidos concentrados na
www.fabiocardia.com.br> (acesso em: 27 relação espetáculo-público. Todo artista en-
ago. 2013). volvido no processo é um colaborador e refle-
te sobre o trabalho que está sendo realizado.
Para estimular outra pesquisa e, assim, A habilidade, o repertório cultural, a pesquisa
problematizar o papel da música na dança, de movimentos e as escolhas de cada um de-
você pode oferecer a música Os tambores de vem ser trazidos à tona para, então, como em
Minas, de Milton Nascimento (faixa 16 do uma “colcha de retalhos”, a obra ser criada.
CD Tambores de Minas, 1998). O que se mo-
difica nos movimentos já criados tendo essa Para finalizar, a partir do que os alunos
música como trilha sonora? Essa música en- mostram de seus registros, como eles percebem
fatiza, amplia ou contradiz os movimentos já o processo de criação em dança? Viver esse pro-
criados? cesso na dança instigou os alunos a conhecer
processos de criação de outros artistas? Quais?
No Caderno do Aluno, os alunos realizam
suas anotações sobre a experiência, registran- poéticas em dança
do o processo vivido. no territyrio de
processo de criação
f Quais momentos foram compondo o pro-
cesso de criação de uma ideia coreográfica?

A continuidade desse processo de criação


depende das possibilidades de seu grupo-clas-
se e de sua formação específica. As pesquisas, procedimentos criativos na construção de
os apontamentos, as notações dos movimen- ideias coreoJri¿cas
tos e as escolhas da trilha sonora podem gerar coOeta sensoriaO memyria
seOeção repetição
novas problematizações e criações, somadas processo colaborativo.
às habilidades e repertórios pessoais dos alu-

20
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2
TEATRO

Para desenvolver a linguagem teatral com f Como você imagina que acontece um pro-
os alunos é interessante saber a respeito de cesso de criação teatral?
suas experiências anteriores com a linguagem
do teatro. A partir das respostas dos alunos, a clas-
se pode conversar sobre suas experiências
como fazedores de teatro, organizando uma
Proposição I – O que penso sobre síntese no Caderno do Aluno sobre:
teatro?
f O que nós pensamos sobre o processo de
A conversa com eles pode começar movida criação em teatro?
por questões como: Quais espetáculos teatrais
eles já assistiram durante a vida escolar? Foram
muitos ou poucos espetáculos? Os espetáculos Proposição II – Movendo a
foram apresentados na escola ou os alunos as- apreciação
sistiram em espaços teatrais da cidade? Do que
eles lembram da experiência como espectadores As respostas dos alunos oferecem à es-
de teatro? Lembram de personagens de alguma cuta do professor um mapeamento de suas
peça? Dos atores e sua presença cênica? Do ce- experiências teatrais, o que lhe permite ter
nário? Da trilha sonora? Das cenas vistas, o que referências para pensar por quais caminhos
lembram? é interessante abordar processos de criação e
a prática da dramaturgia e da encenação em
Sejam quais forem as respostas dos sala de aula, sem perder o aspecto lúdico do
alunos, o importante é que eles pos- processo.
sam expressar suas experiências
como espectadores de teatro – o que provoca Em continuidade, a ação será uma “Apre-
uma aproximação com a linguagem teatral ciação”. A curadoria educativa, isto é, a se-
por meio das experiências vividas –, moven- leção das imagens que compõem este grupo,
do-os, assim, para a ação reflexiva “O que tem como pano de fundo também o elemento
penso sobre arte?”, no Caderno do Aluno, por água. As águas de um rio inventado em panos
meio das perguntas: nas mãos da atriz Andrea Cavinato, no espetá-
culo A batalha dos encantados (2007). A água
f Você já teve, na escola, alguma experiên- do “pote até aqui de mágoa”a da personagem
cia de prática teatral? Já fez alguma mon- Joana, vivida por Georgette Fadel (2006), no
tagem teatral ou apresentou pequenos espetáculo Gota d’água, que foi pela primei-
espetáculos? ra vez encenado por Bibi Ferreira (1975). Ou
ainda podemos lembrar também da persona-
f Como se desenvolveu o processo de cria- gem Medeia, de Eurípedes, personificada por
ção dessas apresentações? Juliana Galdino (2001).

a
“Pote até aqui de mágoa” é um dos versos da canção Gota d’água, composição de Chico Buarque e Paulo Pontes,
para a peça homônima.

21
© Tato Guion

© Tato Guion

Figuras 7 e 8 – Cia. Caixa de Fuxico. A batalha dos encantados, 2007.


© Iugo Koyama/Agência Estado
© Chico Nelson/Editora Abril S/A.

Figuras 9 e 10 – Bibi Ferreira. Gota d’água, 1975. Atriz como Joana/Medeia.

22
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Heron Coelho
© Heron Coelho

Figuras 11 e 12 – Georgette Fadel. Gota d’água – Breviário, 2006. Atriz como Joana/Medeia.

23
Para mover a apreciação, algumas Os alunos já tiveram alguma experiência cê-
questões, como pauta para o olhar, es- nica com a presença de um texto? Da fala da
tão presentes no Caderno do Aluno: atriz, como eles interpretam que “o texto não
veio pronto, foi sendo construído em ensaios e
f O que chama sua atenção nessas imagens? apresentações”?

f Como você imagina o processo de criação Como professor, qual texto é interessante
que levou à montagem desses espetáculos? oferecer aos alunos para materializar expe-
riências cênicas? Textos narrativos, como ro-
f Para você, quem pode ser o autor das cenas mances, contos, literatura de cordel? Textos da
durante o processo de criação teatral? Os literatura oral, como romances cantados, músi-
atores e as atrizes? Os diretores ou encena- cas, provérbios? Ou textos dramáticos de auto-
dores? res como Shakespeare, Bertolt Brecht, Ariano
Suassuna, Maria Clara Machado, entre ou-
f Para você, o que seria uma criação teatral tros? Segundo Andrea:
de forma coletiva ou de processo colabo-
rativo?
O espetáculo foi criado a partir da pesquisa
Para aproximar o pensamento dos alunos de sobre os orixás, da pesquisa com objetos, das
alguns procedimentos utilizados na criação tea- imagens que esses orixás trazem em suas nar-
tral, algumas informações podem ser oferecidas rativas e da música sempre pesquisada ao vivo
por músicos experientes. Por exemplo: Euá é
a eles sobre o processo de criação que orientou
uma orixá que se transforma em rio, então
a montagem do espetáculo A batalha dos encan- pesquisamos suas características: é a bruma,
tados (criação da Cia. Caixa de Fuxico). a névoa, a transformação da água, a poesia,
entre outras imagens. A criação da cena surgiu
Para isso, apresentamos um pequenino de- através do repertório comum que tínhamos
poimento da atriz Andrea Cavinato sobre essa eu [Andrea Cavinato] e a musicista [Márcia
peça infantil (a partir de 6 anos)b. O espetáculo Fernandes], dos nossos tempos de vivência
conta a história do adivinho africano Ifá, mui- no Teatro Ventoforte: dar forma às imagens
to querido pelo povoado em que vive e que ten- com panos, com cor, com movimento e com
ta fugir da sua maior inimiga, a Morte, uma música. Essa cena da foto [a mesma explora-
senhora muito poderosa que vem trazendo da na sondagem] é, especificamente, quando
Euá “nasce” como orixá, ou seja, deixa de ser
muitos problemas para as pessoas. Para esca-
humana e passa a ser uma força da natureza,
par da danada Morte, ele conta com a ajuda da uma fonte que jorra e se transforma em rio.
bela e misteriosa lavadeira Euá. A lavadeira é
protegida por Olorum e, quando seus filhos, os
gêmeos Ibejis, têm sede, ela se transforma em Nesse trecho da fala da atriz, é interessan-
fonte para lhes dar de beber. Os meninos são te conversar com os alunos sobre a pesquisa
corajosos e também enfrentam e enganam a tal para criação da personagem Euá, uma ori-
senhora Morte. Conta a atriz Andrea Cavinato: xá. Todo artista, quando sente necessidade,
sai em busca de informações. Nesse caso, a
[...] [O texto] foi criado a partir de contos necessidade está relacionada com a busca
dos mitos africanos e brasileiros sobre os ori- por caracterizar as qualidades do elemento
xás. O principal material utilizado foi o livro água, de modo a dar forma ao rio no qual a
Ifá, o adivinho, de Reginaldo Prandi. O texto, personagem se transforma. É, portanto, uma
portanto, não veio pronto, foi sendo construí- pesquisa que busca a percepção da qualida-
do em ensaios e apresentações. de das formas. O que é muito diferente, por

b
Depoimento coletado por Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque, em 3 dez. 2007.

24
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

exemplo, de uma pesquisa conceitual sobre


os orixás na religiosidade afro-brasileira. Ou A criação é, então, coletiva. Vamos traba-
seja, uma pesquisa de qualidade das formas lhando a partir das pesquisas e do que é pro-
é uma pesquisa para gerar um jogo imagina- posto pelo conto no momento do fazer, que
tivo em cena, no caso desse espetáculo, para não é combinado e nem racional. Experimen-
contar uma história com panos, objetos e mo- tamos para valer e deixamos a imagem vir. A
vimento. Em continuidade, Andrea nos fala: ideia da boneca azul com os panos azuis den-
tro veio “inteira” numa improvisação com o
objeto – panos que fazem a boneca.
Márcia Fernandes, musicista, trouxe en-
tão o canto de Euá africano, de sua pesquisa
pessoal, da vivência que tinha em terreiros de Na criação cênica, como em todo processo
candomblé. Tocava tambor e cantava e isso me de criação, há um percurso de experimentação
inspirou no movimento com os panos, a trans- em que se pode experimentar livremente, co-
formação da personagem em rio. Aos poucos, meter erros, fazer “bobagens”, com a certeza
fui incorporando também movimentos típi- de que toda experimentação é um espaço de
cos de danças de orixás. Agia intuitivamente, possibilidades que se abre para a escolha de
também por conta de outras danças que tinha alguns caminhos em detrimento de outros.
visto no Ventoforte e de um livro de aquarelas
do Carybé. Como os alunos interpretam essa ideia de
experimentação? Para eles, é compreensível a
ideia de cometer erros, fazer bobagens, incorpo-
rada à experimentação criativa?
Os procedimentos criativos também estão
ligados ao repertório pessoal do artista, a seu E quem aponta os caminhos ao longo do pro-
acervo pessoal, que vai sendo construído mui- cesso? A quem cabe a montagem final do espetá-
tas vezes longe do teatro, como exemplifica culo? Diz Andrea:
Andrea, contando sobre a incorporação, no es-
petáculo, do canto africano de Euá, aprendido
pela musicista em terreiros de candomblé. No nosso grupo, nesse espetáculo, o di-
retor fez a organização das imagens em cena:
Como em qualquer processo criativo, o por exemplo, “arrumou” os tempos, o ritmo
ator também age intuitivamente, indo do ma- da narrativa com a imagem, ajudou a dar vida
terial informe até o material objetivo e comu- (animar o objeto) como se fosse mesmo um
nicável em cena, como fez Andrea na criação boneco e dar a impressão de ter vida própria.
dos movimentos de Euá, a orixá. Ao mesmo No espaço escolar, ao contrário da ideia de os
tempo, a intuição não emerge do nada. No próprios alunos serem incentivados a se organi-
caso de Andrea, emerge mesclada com as zar em um grupo coordenado por eles mesmos,
referências visuais do livro de aquarelas de o papel de diretor cabe ao professor, que move
Carybé, que mostram diferentes orixás em os alunos para um processo de criação que seja
posição de dança. gerador de uma prática da dramaturgia e do
acontecimento cênico em sala de aula, sem per-
Nesse processo, tanto o repertório pes- der o aspecto lúdico do processo.
soal do artista, sua intuição ou as referências
de outras linguagens, da arte ou não, são re-
cursos criativos, são modos de materializar a Que os percursos construídos e percorridos
ação cênica. Daí serem experimentados, não sobre processo de criação cênica a partir do
fazendo com a razão, mas fazendo com o cor- depoimento da atriz Andrea Cavinato sejam
po, vivenciando com o corpo, fazendo no mo- recontados na alegria da criação a partir da
mento do fazer. Explica Andrea: proposição a seguir.

25
Proposição III – Ação expressiva: f dizendo o texto para diferentes quantida-
experimentação cênica com texto des de pessoas, em diferentes tipos de espa-
ço: íntimo ou público; fechado ou aberto;
A intenção aqui é propor a leitura de um tex- concentrado ou disperso;
to teatral de forma lúdica, para que os alunos
tenham uma aproximação gradual com a ma- f andando, cochichando o texto no ouvido
terialidade do texto por meio de procedimentos de parceiros sentados de olhos fechados;
teatrais que possam provocar a desconstrução
da ideia de que o trabalho com o texto envolve f em círculo, voltados para o exterior, cada
apenas decorar, ensaiar e apresentar. um experimenta um fragmento com varia-
ções de entonação, ritmo (contínuo/descon-
Qual texto escolher para a leitura dos alu- tínuo, crescente/decrescente), timbre (rouco,
nos? É importante que tenha algo relevante aveludado, cortante, sufocado), intensidade,
para o grupo, como o tema ou o estudo de altura, velocidade, duração (sílabas prolon-
uma particularidade da escritura teatral. gadas/encurtadas), fraseado, sucessivamen-
te, alternando-se os jogadores;
O procedimento é começar o trabalho com
fragmentos do texto, selecionados pelo pro- f idem, voltados para dentro do círculo.
fessor, tendo como critério uma parte que Olhando-se, lançando o texto como uma
exemplifique um recurso dramatúrgico, como bola;
a presença do narrador ou do coro.
f emitir o texto andando na ponta dos pés,
Para esse primeiro contato sensorial com o em câmera lenta, em desequilíbrio, acele-
texto, por meio da leitura de seus fragmentos radamente, correndo, nadando, se esguei-
– matéria teatral escrita –, destacamos alguns rando etc.;
jogos de apropriação lúdica do texto apre-
sentado por Maria Lúcia Pupoc, no relato de f emitir o texto como se fosse comestível.
uma experiência teatral conduzida no Norte Mordê-lo, mastigá-lo etc.
do Marrocos.
O texto, assim, gradativamente, é desvelado,
Conforme a possibilidade de sua classe, sempre em ação e de modo lúdico. Após os jogos
recrie, faça adaptações, invente. de apropriação, pode-se seguir uma primeira lei-
tura coletiva, abrindo pistas para a passagem do
f Todos andando. Um diz o texto em voz texto ao jogo teatral, na construção de pequenas
alta, quando interrompe, outro encadeia; encenações com fragmentos do texto.

f todos andando e lendo silenciosamente. A Para provocar uma reflexão sobre


um sinal, olhar a pessoa mais próxima e lhe essa experimentação com o texto,
dizer a frase em que parou. O outro res- o Caderno do Aluno traz as se-
ponde dizendo sua passagem; guintes questões:

f idem, para a pessoa mais distante; f O que foi diferente nessa experiência tea-
tral de outras já praticadas por você?
f todos andando e dizendo o texto. Um ces-
sa a leitura e o andar. Todos cessam. Um f O que você achou difícil ou interessante
retoma, todos retomam; nessa experiência?

c
PUPO, Maria Lúcia S. B. Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: uma aventura teatral. São Paulo: Perspectiva/
Capes/Fapesp, 2005. p. 69-70.

26
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

f Para você, essa experiência faz parte de um poéticas em teatro


processo de criação teatral? Por quê? no territyrio de
processo de criação
f Essa experiência provoca uma criação tea-
tral de forma coletiva ou de processo cola-
borativo?

A leitura das respostas pode ser feita e dis- procedimentos criativos na


cutida em uma aula, de modo a proporcionar construção de obras crnicas
recursos criativos repertyrio pessoal do
a troca de experiência e favorecer a compreen- artista, intuição, referências de outras
são sobre o processo de criação teatral. linJuaJens da arte ou não 
pesTuisa e e[perimentação
jogos de apropriação de texto.

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3
MÚSICA

As proposições para estudar o processo nário onde apareceram as ideias da letra e da


de criação em música estão apresentadas em música que será estudada.
um jogo de seis movimentos. Para começar, o
professor pode perguntar aos alunos: Como Proposição I – Um jogo de escuta
os compositores criam suas músicas? Alguém em seis movimentos
já ouviu ou leu um músico compositor contar
como é que elabora uma música? Ou criar uma 1o movimento – Qual é o cenário?
letra? Uma poesia?
Vamos executar a faixa 18, Cenário das águas
Claro que nem sempre o compositor conse- (CD Educação em Arte: música, v. 1), para os
gue explicar exatamente como foi que fez uma alunos escutarem e desafiá-los a identificar
ou algumas de suas canções. Muitas vezes, re- todos os sons que estão na gravação, incenti-
ferindo-se a uma mesma música, ele conta de vando-os a anotar todos os detalhes. Que sons
forma diferente em cada entrevista dada para escutaram? Lembraram algum lugar? Imagina-
um canal de televisão, um jornal ou uma revis- ram algum cenário? Há alguns trechos rítmicos
ta. Outras vezes, os biógrafos interpretam de que se repetem? Quais sensações despertaram?
forma diferente os depoimentos dos autores.
Depois desse primeiro levantamento de
Você verá com seus alunos um caso em sonoridades e sensações que são registradas
que o autor contou, num programa de tele- no Caderno do Aluno, você pode pedir que
visão, como criou uma de suas músicas. Mas imaginem que esses sons poderiam ser o início
antes de a classe saber quem é o compositor de uma música. Qual seria o tema da música
ou a música, escutará uma gravação que foi que os alunos pensariam em compor, motiva-
criada exclusivamente para esse desafio. Nela da pelos sons que acabaram de ouvir? Voltare-
podem-se identificar vários elementos do ce- mos a esta ação depois da “Apreciação”.

27
2o movimento – Quais sons de O metrônomo foi criado no início do sé-
instrumentos podemos ouvir na gravação? culo XIX para determinar o andamento da
música. Despertou o interesse de composi-
Em seguida, proponha que ouçam a faixa tores como Antonio Salieri e Ludwig Van
19, Cenário das águas (CD Educação em Arte: Beethoven porque, tendo uma medida pa-
música, v. 1), um trecho da música, com um drão para determinar o andamento de suas
grupo musical criando um cenário musical, composições – batimentos por minuto (bpm)
em que aparece uma marcação rítmica com –, o instrumento garantiria que o intérprete
metrônomo, depois entram instrumentos fa- executasse as músicas na velocidade mais pró-
zendo a base rítmica e harmônica. xima possível da imaginada pelo compositor.

Os alunos reconhecem os instrumentos O surgimento desse aparelho foi tão im-


musicais? Depois do registro no Caderno portante e polêmico na música que ele vi-
do Aluno, faça um levantamento de todos rou instrumento de concerto em peças como
os instrumentos musicais lembrados. Algum Poema sinfônico para 100 metrônomos, de
aluno percebeu o som do metrônomo? Sabe o György Ligeti (1962), e Choro para metrôno-
que é? mo, de Baden Powell (1966). Foi citado no fil-
me Ensaio de orquestra (direção de Federico
Fellini, 1978), e, ainda, utilizado pelo fotógra-
© PhotoObjects.net/Hemera Technologies/Thinkstock/Getty Images

fo e artista plástico Man Ray para criar, em


1965, a obra Metrônomo. Na haste, o artista
colocou a fotografia de um olho, criando no-
vas camadas de sentido para ele.

O metrônomo é muito controverso porque,


assim como o relógio, é um instrumento que
pode ser visto como um “ditador do tempo”,
um regulador, padronizador. A medida exata
vai possibilitar que músicos virtuosos desen-
volvam suas habilidades técnicas, tocando
cada vez mais rápido de modo claro e preciso,
provocando discussões sobre a necessidade de
se desenvolver uma técnica sobre-humana em
detrimento da musicalidade. Contudo, ainda
é um instrumento útil e necessário para estu-
dantes e músicos profissionais.

Na gravação da faixa 19, escutamos um


belo trabalho de Fernando Mota e Gê Suzigan,
que fazem uma delicada transição entre os
sons da natureza e os produzidos pelo ser hu-
mano, utilizando o metrônomo. Será um modo
de mostrar como o ser humano cria a partir do
que a natureza oferece? De mostrar que há co-
nexões entre o que o ser humano produz e a
natureza? Ou um meio de mostrar que o arti-
ficial (a música) não está tão longe do natural?
Ou que a natureza permanece na criação do ser
Figura 13 – Metrônomo.
humano? Ou...

28
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Os músicos chamam de “cozinha” o que como foi contada pelo próprio compositor.
ouvimos nessa faixa 19, pois é a base da me- Durante a construção de sua casa em Poço
lodia. Muitas vezes, é na exploração dessa Fundob, Tom Jobim quis alterar o projeto,
cozinha que nascem músicas. É como a pre- para que o pé-direito do piso térreo pudesse
paração do suporte para um artista plásti- ser mais alto. Isso gerou um problema, pois
co, ou da preparação corporal para atores e o arquiteto e projetistac teve de refazer os cál-
dançarinos. culos e o projeto. Com isso, a obra atrasou e
a casa não ficou pronta no mês de fevereiro,
Uma nova escuta pode ser oferecida para antes do início das chuvas de março. Jobim
que os alunos percebam todos os instrumentos acompanhava no local, quase todos os dias,
musicais, assim como o metrônomo, comple- o passo a passo da construção, muitas vezes
tando a resposta deles no Caderno do Aluno. interrompida pelas chuvas de março. Foi nes-
se cenário do som das águas, dos problemas,
3o movimento – Qual é a música? da espera, da angústia repetitiva, que Tom, se-
gundo ele próprio, foi anotando em um “papel
Nesse momento, pode-se indagar: Os alu- de pão” (um papel comum que embrulhava os
nos já sabem com que música estão trabalhan- pães comprados nas padarias antes dos atuais
do? Ela já vem nos acompanhando desde o saquinhos), rabiscando, reescrevendo, procu-
início das proposições: Águas de março, com- rando sons, ritmo, harmonia e palavras. Nesse
posta por Tom Jobim (1972). Eles conhecem manuscrito, é possível perceber os versos es-
essa música? E a letra? critos, com adendos, substituições, palavras
ou frases inteiras desprezadas, superpostas...
No site oficial de Tom Jobim <http:// Assim nasceu Águas de março.
www2.uol.com.br/tomjobim/index.htm>,
você encontra a letra da músicaa. Você pode Segundo Tom Jobim, essa é uma obra
lê-la para os alunos ou pedir que um deles a singela e simples. Mas é muito complexa
leia para o resto da turma. A leitura em voz pela variação harmônica para poucas no-
alta pela classe pode evidenciar a cadência do tas, pelo ritmo contínuo da chuva, pela letra
texto? O que os alunos percebem ouvindo a le- que descreve o movimento das águas morro
tra da música? Que conexões fazem com as fai- abaixo. A solidão da espera de que a chuva
xas que já ouviram? A sonoridade já aparece na diminua para continuar a obra. A enxurra-
própria leitura? Que palavras ou imagens apa- da que desce morro abaixo, levando pau e
recem na letra? Por que elas aparecem? Como pedra. O pouco sol que brilha no vidro mo-
terá sido composta? lhado, a noite que chega sem a chuva ir em-
bora. A conversa à beira do rio, a pescaria,
Depois de recolher as hipóteses dos alu- a espera, em meio às imagens das árvores,
nos, você pode contar a história dessa música, do toco, do nó da madeira. O canto do pás-

a
Se os alunos tiverem acesso à internet, você pode planejar uma exploração dos manuscritos de Águas
de março – também disponíveis no site, na seção textos, links <http://www2.uol.com.br/tomjobim/fotos
manuscritos_dentro.htm?imagem=57&total=100> e <http://www2.uol.com.br/tomjobim/fotosmanuscritos_dentro.
htm?imagem=58&total=100> (acessos em: 28 out. 2013). A partir da exploração, você pode conversar sobre essas
anotações do compositor, percebendo o processo de criação visível, de certo modo, na escrita.
b
Poço Fundo – Sítio da família de Tom Jobim, a duas horas do Rio de Janeiro, entre as cidades de Petrópolis e
Teresópolis. O sítio fica no meio do mato, num vale fechado, por onde passa um vento forte que Tom apelidou
de “vento redondo”. Suas terras pertenciam ao seu tio Marcello e ao dr. Celso Frota Pessoa, padrasto de Jobim.
c
Wilfred Cordeiro, amigo de infância do Jobim. Tom deu as seguintes recomendações para a construção da
casa: o sol da manhã devia bater nas janelas dos quartos; a parede sul devia ser cega, por causa do vento e das
chuvas de verão; os quartos isolados do chão, para evitar umidade; telhas coloniais grandes em teto sem forro;
pé-direito de sete metros de altura e degraus nas portas de entrada, para evitar cobras.

29
saro matita-perê, do vento, do tamanho da O caçador de esmeraldas
ribanceira. As vigas da casa, a imagem do Olavo Bilac
vão, a espera da festa da cumeeira (quando
se termina o telhado, se festeja com um bar- Foi em março, ao findar das chuvas, quase à
ril de chope). Tudo pelo projeto da casa, da [entrada
promessa da vida no coração. Do outono, quando a terra, em sede
[requeimada,
Vale analisar os significados de cada ter- Bebera longamente as águas da estação,
mo da letra, ouvindo a música e imaginando Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
o que Jobim assistia, sofria e devolvia em arte À frente dos peões filhos da rude mata,
no momento da construção da casa, da músi-
ca, da poesia. Fernão Dias Pais Leme entrou pelo sertão.
Ah! quem te vira assim, no alvorecer da vida,
Os alunos sabem o que é um matita-perê? Bruta Pátria, no berço, entre as selvas dormida.
Vale a pena discutir por que o compositor trou-
xe essa imagem tipicamente brasileira para sua Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.
música. Ele é considerado um pássaro agouren- Acesso em: 28 out. 2013.
to e é relacionado com a lenda do saci-pererê.
© Haroldo Palo Jr./Kino

Quais são as conexões textuais existentes


entre a música de Tom e o poema de Olavo?
Há semelhança de ritmo? Há semelhança de
imagens? Há semelhanças entre as paisagens
sonoras de Águas de março e O caçador de es-
meraldas? Um trabalho interdisciplinar com
Língua Portuguesa, Geografia e História pode
ser adequado neste momento, para ampliar a
potencialidade da leitura verbald.

No Caderno do Aluno, eles podem escre-


ver o nome da música e registrar o que perce-
beram sobre seu processo de criação.

4o movimento – Como o autor executa e


interpreta sua criação?
Na coleção Tom Jobim: maestro soberano,
Figura 14 – O pássaro matita-perê. o capítulo 14 do DVD Águas de março apre-
senta uma versão da música homônima com
Uma sugestão para que conheçam melhor o compositor, músico, arranjador e maestro
a letra é compreender cada objeto e imagem Tom Jobim e a cantora Elis Regina interpre-
descritos pelo autor. Como estudioso da lite- tando a canção, durante as gravações do disco
ratura brasileira e universal, Tom foi buscar o Tom e Elis, em um estúdio em Los Angeles
título Águas de março no poema O caçador de (1974). Essa é uma boa versão que você pode
esmeraldas, de Olavo Bilac. propor que seus alunos escutem.

d
O livro Abrindo caminho, de Ana Maria Machado (2003, publicado pela Editora Ática, de São Paulo), pode ser
outra boa referência para um trabalho interdisciplinar, pois também estabelece uma relação intertextual com
Águas de março.

30
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Durante a escuta da música, você pode su- playback. Outras explorações podem ser feitas,
gerir aos alunos que observem a desconstrução instigando processos de criação dos próprios
da letra que Tom e Elis fazem na parte final do alunos. No Caderno do Aluno, algumas ques-
vídeo, quando cantam somente o final das pa- tões podem ampliar a percepção do que viveram:
lavras: au / edra / im / inho / esto / oco / ouco /
inho / aco / idro / ida / ol / oite / orte / aço / zol. f Você já cantou com playback? Há diferen-
ça em cantar sem o apoio da gravação em
Você pode, ainda, mencionar que essa des- playback? Quais são suas observações so-
construção é feita num tom de brincadeira. É bre o cantar em grupo?
visível para o espectador o quanto os intérpre-
tes se divertem nesse momento. As impressões 6o movimento – Investigar processos de
pessoais sobre a interpretação de Tom Jobim criação
e Elis Regina podem ser escritas no Caderno
do Aluno. São muitos os aspectos aqui abordados que
ampliam a compreensão de processos de cria-
5o movimento – Ouvir, aprender e cantar ção e do pensamento musical de Tom Jobim.
Revendo todos esses movimentos: O que os alu-
Com a letra em mãos, você pode propor que nos percebem como aspectos do processo de cria-
os alunos escutem a faixa 20 (CD Educação ção vivido por Tom Jobim que podem conectar a
em Arte: música, v. 1), que é o arranjo comple- seus próprios processos de criação?
to da música, com a melodia tocada na flauta
transversal. Depois, acompanhados do play- Pode-se aqui levantar:
back especialmente gravado, faixa 21 (CD
Educação em Arte: música, v. 1), proponha f Coleta sensorial. O que Tom Jobim coletou
que os alunos cantem a melodia. Além dos sensorialmente no acompanhamento da
instrumentos que fazem o playback (a base), construção de sua casa?
na faixa 21 o som da flauta transversal fica em
segundo plano (bem fraco), apenas para ser- Os sentidos capturam sensações e alimen-
vir de guia, para ajudar na afinação do canto. tam a criação quando estamos abertos ao
É importante lembrar que, quanto melhor a que está ao nosso redor, capazes de aprovei-
qualidade da reprodução do som do playback, tar acasos, em vigília criativa constante. Diz
melhor será a construção da memória musical Cecilia Almeida Sallese, uma estudiosa de
dos alunos. O desenvolvimento da acuidade processos de criação: “Aquele que está en-
auditiva necessita de cuidados sonoros. Seria volvido em um processo criador está de tal
bom ter um aparelho de boa qualidade, em modo comprometido com as obras em cons-
que os sons graves, médios e agudos sejam trução que se coloca em condições propícias
bem equilibrados. O volume, tanto do apare- para encontros dessa natureza”. A resposta
lho como das vozes dos alunos, também deve sobre a coleta sensorial realizada por Tom
ser adequado à sala. Sempre vale lembrar que Jobim, escrita no Caderno do Aluno, pode
cantar não é gritar. apurar a compreensão de sua importância
para a criação, em qualquer linguagem artís-
Se seus conhecimentos em música per- tica. Pode-se também problematizar: Como
mitirem, transforme o canto em unísso- os alunos vivem essa coleta sensorial em seu
no em coral harmonizado, abrindo a cotidiano? Algum aluno pode dar um exem-
melodia em vozes, com muitos ensaios e sem o plo disso em sua vida.

e
SALLES, Cecilia Almeida. Redes de criação: construção da obra de arte. São Paulo: Horizonte, 2006. p.
147-148.

31
f Anotações. No “papel de pão”, em cader- Proposição II – Ação expressiva
nos estruturados ou em suportes digitais
de escrita, os artistas fazem anotações que Podemos voltar às faixas 18 e 19 (CD Educa-
guardam ideias que poderão ser recriadas. ção em Arte: música, v. 1). Os sons que escutaram
Por que essas anotações são importantes? fizeram os alunos imaginarem um cenário? Quais
temas de música eles poderiam compor motivados
Para o poeta Mário Quintana, um poema pelos sons que ouviram? O que perceberam do que
só termina quando é editado, isto é, sempre é os músicos chamam de “cozinha”?
possível mexer enquanto se está em processo
de criação. Além disso, os cadernos de artistas Existe a possibilidade de trabalhar melhor
constituem um ótimo campo de investigação de com os alunos a criação de algum texto rít-
seus processos. Quais são as hipóteses dos alunos mico com base na gravação, ou mesmo ins-
sobre a importância das anotações dos artistas? tigá-los a compor uma música a partir dela.
Elas são importantes tanto para os criadores, Um “mapa de ideias para uma composição”
pois são a memória de processos e sementeira poderia ser elaborado com tudo o que eles
para novas produções, como para os pesquisa- apresentaram como títulos, assuntos, sen-
dores, que, assim, podem compreender melhor sações, notação rítmica, melodias, imagens,
os processos de criação dos artistas. desenhos etc. A desconstrução da letra que
Tom e Elis fazem na parte final do vídeo exi-
bido, quando cantam somente o final das
f Repertórios pessoal e cultural. O que se pode palavras, pode também oferecer ideias para
perceber como repertórios pessoal e cultural as composições dos alunos, como criar ou-
de Tom Jobim? O que, na letra da música tras palavras com as mesmas terminações, ou
estudada, não estava em seus repertórios não, para contar a mesma história. Ou quem
pessoal e cultural? quiser, que conte outra.

A referência ao poeta Bilac no título Águas No Caderno do Aluno, os alunos podem


de março revela a riqueza cultural de Tom fazer notações para a criação musical, como,
Jobim. É possível perceber que os repertórios por exemplo, partituras não convencionais.
pessoal e cultural estão sempre presentes em
qualquer criação de qualquer artista. Fun-
dado na experiência individual e nascido no
convívio com a cultura de seu entorno, os poéticas em música
no territyrio de
repertórios pessoal e cultural de cada um de
processos de criação
nós deixam marcas no modo de ler, produzir
e conhecer arte, levando a fabricar sentidos –
significações que atribuímos ao que estamos
observando. Desse modo, a riqueza de refe-
rências culturais abre perspectivas diversas
para análises e interpretações. procedimentos criativos na
construção de obras musicais
coleta sensorial anotaç}es
Depois das respostas dos alunos, é importante repertyrio pessoal e cultural
conversar sobre elas. A questão não é o certo ou pensamento musical.
errado, mas as possibilidades de resposta, am-
pliando a compreensão dos processos de criação.

32
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4
ARTES VISUAIS

Muitos mitos cercam a criação do artista Proposição II – Movendo a apreciação


como inspiração divina ou como fruto de ta-
lentos especiais. A criação é pouco percebida A artista brasileira Regina Silveiraa
como um processo que inclui momentos de recebeu a encomenda proposta aos
caos, de certa tensão e um longo processo de alunos. Ela foi chamada pelo então
experimentação perseguindo uma ideia. curador do Museu de Arte Contemporânea
de San Diego, na Califórnia, que convidou
três artistas para dialogar com o novo design
Proposição I – Ação expressiva do museu, que passara por uma grande
reforma. Como mulher e brasileira, Regina
Para melhor perceber o processo de Silveira conta todo o processo de criação
criação que será aqui narrado, peça dessa obra. Os alunos podem acompanhar a
para que os estudantes imaginem a narrativa pelo Caderno do Aluno, mas, caso
seguinte situação: seja necessário, você pode fazer algumas
interrupções para abrir um espaço de
f Você é um artista brasileiro que recebeu conversa com eles, para manter a atenção da
uma encomenda: produzir uma instalação turma e para apontar alguns aspectos que
em um lugar específico (site specific), o hall podem ser problematizados.
de entrada de um grande museu que será
inaugurado nos Estados Unidos da Amé-
rica. Como você se sentiria? O que você fa- [...] Realmente eu me senti bastante pressio-
ria em primeiro lugar? E depois? nada a responder àquela solicitação. Quando
eu cheguei ao museu a reforma não estava con-
Cada aluno deve responder a essas ques- cluída. O que eu pude fazer foi fotografar o hall
tões no Caderno do Aluno. Eles têm dúvidas de entrada de longe. [...] Eu pude fotografar os
sobre o que é instalação, site specific? Essa é operários fazendo aquilo que entraria em vi-
uma boa oportunidade para conhecer o re- gor, que era um chão onde havia um padrão
pertório cultural dos alunos. Depois das res- de granito claro-escuro com as manchas de um
postas individuais, eles podem, em duplas, cachorro dálmata. Eu pude estudar bastante a
trocar ideias sobre possíveis respostas que, obra de Venturi quando me convidaram para
socializadas com todos os alunos, podem ser fazer esta colaboração, este diálogo, essa inter-
analisadas para verificar se fizeram referências pretação, que eu acho muito honrosa, porque
a alguns dos mitos da criação, como se o ar- admiro particularmente este arquiteto. Então,
tista não sentisse nenhum tipo de pressão em fui chamada porque o curador viu a afinidade
sua criação ou se a ideia viesse pronta em uma entre a minha poética e a poética do arquiteto.
inspiração. Também é interessante investigar De fato, tem muitas pontes possíveis. Mas eu
o que fariam em primeiro lugar. O contexto fiquei muito atraída pelo padrão, que é uma repe-
do lugar seria um aspecto a ser avaliado por tição das manchas de cachorro dálmata. De al-
eles ou já iniciaram pensando a produção? guma maneira estavam repetidas nos tapumes
que tampavam a obra do edifício e estavam no
Esta análise prepara para a “Apreciação”, hall fazendo essa incrustação no chão. [...]
com o relato da criação de uma obra.
a
O relato de Regina Silveira foi colhido em vídeo e está integralmente transcrito em: MARTINS, Mirian Celeste. Arte
– o seu encantamento e o seu trabalho na educação de educadores: a celebração de metamorfoses da cigarra e da
formiga. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. p. 274-279.

33
O que os alunos percebem desse primei- viajar para conhecer o museu? O que a atraiu
ro momento da narrativa? Percebem que ela nessa primeira visita?
havia estudado a obra do arquiteto antes de

Eu comecei a olhar as minhas próprias foto- vagem terminou sendo um coiote, porque um coiote
grafias, que eu revelara, para ver que ideia eu po- tem toda uma importância e uma presença no len-
dia ter. E, finalmente, a ideia brotou assim, num dário americano, e no lendário indígena também.
momento. [...] De noite, eu não sabia se eu estava Ele é o enganador, ele é o mágico, o coiote. Ele ao
ainda acordada ou já estava dormindo porque mesmo tempo impregna toda uma literatura. O
tem essa diferença de horário muito grande com coiote também, naquela área da fronteira onde
a Califórnia. E o que me veio foi assim, um mo- está San Diego, é a pessoa que faz os papéis para
mento de clareza [...] Veio com palavras, veio com os mexicanos cruzarem ilegalmente a fronteira.
palavras em inglês, animals crossing, os animais Achei que isso era bastante provocativo pelo fato
cruzando o espaço; porque esse chão tinha uma de ser uma entrada de museu, ser uma passagem.
qualidade animal, é muito orgânico, pareciam pe- Esse museu está localizado naquela área ali, tam-
gadas, além disso, era uma entrada do museu e bém em frente ao mar. Tudo levava àquela ideia
essa ideia da passagem, do fluxo, era forte. Então, que eu pude depois explorar, onde apareceram es-
sempre que eu olhava aquilo pareciam que eram ses dados assim de tempo. Esta é a minha primeira
gigantescos animais passando pelo hall. [...] instalação que o tempo, os rastros, os índices com
os quais eu sempre trabalho são índices de algo que
Então, o que eu quis fazer foi, em primeiro lugar, já passou, algo que passou por ali e deixou aquela
criar uma situação de passagem, na entrada do mu- marca. Então tudo isso agiu na minha imaginação
seu. Criar nas paredes, refigurar o animal do chão. para eu poder começar os desenhos preparatórios,
Primeiro eu pensei que ele devia se tornar mais sel- que fiz às montanhas!
vagem, eu queria um animal selvagem que caçasse o
cachorro. Em seguida pensei patas de novo, porque Ao voltar para o Brasil, eu elaborei todos esses
pareciam marcas de patas descendo as paredes. Pen- pensamentos. Eu disse que já tinha tido a ideia, que
sei em leão, pensei em tigre, pensei em algo caçando eu estava contente, que eu chequei, fotografei, olhei
aquele cachorro dálmata. Finalmente essa ideia foi e dava certo, eu pude visualizar isto, mas eu precisava
depois se refinando e eu, mais tarde, pude entender afinar tudo. E esse afinar foi longo, demorou um mês
que eu queria marcas de um animal mais selvagem, e tanto ou mais, dois meses, de muitos desenhos. [...]
mais feroz e, para tanto, tinha que ter unhas. Depois desses desenhos, eu planejei, eu fiz si-
mulações já em cima de fotografias. [...] Não sabia
O meu estudo, depois, me levou a entender
como produzir isto, que era uma coisa que tinha que
que alguns felinos não marcam as unhas e que
ter uma regularidade que o meu desenho, sozinho,
na verdade eu tinha que procurar a versão sel-
não ia conseguir. Os dados que eu tive para traba-
vagem do próprio dálmata, e aí surgiu o lobo,
lhar – e que para mim são importantes porque não
surgiu o coiote. Toda essa elaboração foi muito
são limitantes, mas são provocativos, dão parâmetros
rápida, como um filme que passa rápido, então
– são as plantas.
eu já sabia, quando eu pude ter as fotografias, eu
já pude desenhar sobre as fotografias aquilo que [...] estava testando tipos de patas, inclinações,
eu queria que esta instalação fosse. E ficou bem compressão, enfim, uma porção de coisas... Cada
parecida com aquilo do primeiro momento. Eu desenho desses levava dias fazendo. Havia um mo-
entendi que eu queria usar a ideia da passagem e mento em que eu passava para um ajudante con-
daí o processo começou a ser elaborado. Eu com- tinuar, era penoso. Finalmente eu pude regularizar
prei livrinhos para caça: como os animais andam, todos através de um programa de computador, e
como deixam vestígios, enfim, as diferentes marcas chegar à malha final onde eu coloquei, na mes-
das patas. [...] Todas essas coisas eu fui olhando para ma inclinação, a sequência de patas [...]. Eu tive
nutrir o meu projeto e cada uma despertava outras que fazer isso no tamanho do espaço, ou seja, com
ideias. Eu vi também que existem diferenças entre quatro metros e meio por vinte metros. Eu fiz isso
o trote e o galope. Finalmente, eu estabeleci que eu num estúdio, com tiras de papel, como se fosse pa-
queria fazer um animal selvagem. Esse animal sel- pel de parede. Foi o que eu levei para lá. [...]

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© João Musa
15 16

17 18

19 20

Figuras 15 a 20 – Regina Silveira. Gone wild, 1997. Site specific. Látex sobre parede, 140 m2. Museu de Arte Contemporânea, San
Diego, Califórnia, EUA. 15) Foto do hall do museu em reforma. 16) Desenhos sobre fotografia do hall, como esboço da obra. 17 e
18) Estudos. 19) Maquete de madeira, 20 × 71 × 83 cm. 20) Fotografia da instalação.

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© João Musa

© João Musa

Figuras 21 e 22 – Regina Silveira. Intro (re: fresh widow, r. s.), 1997. Instalação. Pintura sobre teto e paredes, 3 × 4 × 3 m. Galeria Casa
Triângulo, São Paulo (SP). Wild book, 1997. Livro de artista. Pelo de animal e serigrafia sobre feltro, 5 × 30 × 30 cm.
© João Musa
© João Musa

Figuras 23 e 24 – Regina Silveira. Tropel, 1998. Site specific. Vinil adesivo recortado por plotter, 50 × 13 m. Fachada do
edifício da 24a Bienal Internacional de São Paulo. Projeto. Fotografia da instalação.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Num primeiro momento, pode-se imagi- Nesse momento, as imagens podem ser
nar que a ideia de uma inspiração mágica esclarecedoras: O que os alunos podem ler
tenha de fato acontecido. Mas é preciso ver das reproduções de obras de Regina Silveira
todo o processo, desde o momento em que a partir da narrativa que ouviram? Percebem
Regina começa a estudar a obra do arqui- o desenvolvimento da poética da artista per-
teto e é capturada pela “qualidade animal” seguindo ideias? Reconhecem os momentos
presente no projeto e fotografada por ela. do processo de criação da artista?
Em vigília criativa, persegue o vislumbre de
uma ideia que deverá ser muito trabalhada. É muito interessante perceber como a
Animais cruzando o grande hall a condu- obra ressoa em outras. As marcas das patas
zem a muitas pesquisas sobre o caminhar se transformam em instalação na janela de
dos animais até levá-la à escolha do coio- uma galeria (fazendo referência a uma ja-
te, que vem carregado também de muitos nela de Marcel Duchamp) e na fachada do
outros significados vindos dos repertórios prédio da Fundação Bienal, no Ibirapuera.
pessoal e cultural da artista, ampliado pelas Nelas, não há um único animal cruzando a
pesquisas e estudos. Tudo nutria seu projeto entrada do museu, mas marcas das patas de
e despertava novas ideias, como um pensa- muitos animais como a penetrar no espaço
mento visual sempre alimentado e recriado. da galeria ou para fugir para o parque. No
livro da artista, as imagens das patas sobre
feltro, a capa de pelo, nos aproximam da qua-
[...] Eu quis, de alguma maneira, apre- lidade animal que Regina buscava no início
sentar verbalmente aquilo que estava sendo de seu projeto?
visto, já nos elementos visuais que estava
apresentando, que eram as fotocópias dos Maquetes, desenhos, fotografias, com-
desenhos preparatórios, a maquete. Poderia putador, pesquisas em livros são alguns
não escrever nada, mas eu precisava dar o dos procedimentos que a artista utiliza em
nome, era importante. Tudo foi importante, seu processo de criação. Vendo sua obra,
eu precisava dar minhas fontes, de modo a percebemos também que há uma poética
calçar o projeto. Isso procuro sempre fazer, singular própria da artista (marcada mui-
porque eu acho que é importante para mim tas vezes por séries), construída ao longo
também entender como todo o processo se de sua vida. Nelas, Regina Silveira, assim
realiza. [...] como muitos outros artistas, constrói vá-
rios trabalhos desenvolvendo uma mesma
ideia matriz.
Muitos desenhos foram feitos, penosa-
mente, como diz ela, até chegar à malha fi-
nal, feita do tamanho do espaço, como tiras Proposição III – Ação expressiva
de papel de parede. Foram 700 patas, todas
numeradas, sequenciais. Um texto foi escri- Proponha que os alunos voltem às ideias
to também pela artista para apresentar e ex- iniciais da primeira “Ação expressiva” des-
por suas escolhas e o que havia provocado ta Situação de Aprendizagem e façam três
sua imaginação. trabalhos a partir de uma mesma ideia. Ou
peça esboços desses três trabalhos. Por que
O que os alunos retiram de toda essa nar- três? Em muitos salões de arte, o regulamen-
rativa da artista? Como veem esse processo to pede duas ou três obras, de modo a se
de criação? Percebem a imaginação criadora, verificar se há uma poética comum aos três
estudo e pesquisa, as séries, a vigília criativa, trabalhos, indicando uma busca pessoal.
o pensamento visual, o percurso das ideias? Temas, formas, cores, composição, mate-
Eles imaginam que o projeto acabou aí? rialidades, linguagens marcam as poéticas

37
pessoais. Para isso, se faz necessário explo- Caderno, que é considerado um portfólio
rar a ideia inicial de muitos modos. do aluno. Será que alimenta também o port-
fólio dos alunos saber que Regina Silveira
Dependendo do tempo possível e do in- também o fez?
teresse dos alunos, esses três esboços po-
dem ser multiplicados, pois uma produção
alimenta outra. Isso é um ponto importante [...] Às vezes, tem tantos projetos ao mes-
porque, muitas vezes, a escola tem trabalha- mo tempo em que tem que se dar em diferentes
do com produtos finais que se encerram em épocas, que eu crio um arquivo, uma mala para
si mesmos. É importante acompanhar essas cada um. Tudo que eu junto daquilo vai sendo
ideias para oferecer uma “Nutrição estéti- guardado, estão lá nessa mala. Eu até desenhei
ca” que possa ampliar o que os estudantes uma pata em cima, até tem as cartas, jornais
estão buscando, recomendações de aperfei- que ele mandava para que não se espalhassem
çoamento ou aprofundamento, instigar no- pelo ateliê. É uma caixa de referência. [...]
vas produções a partir da mesma ideia.

Muitas vezes, somos nós, professores,


que podemos identificar o que é a marca poéticas em artes visuais
pessoal de um aluno, pois nem sempre ela no territyrio de
é clara para ele mesmo. Se uma ideia nutre processo de criação
outras, como subsidiar os estudantes para
que vivam a construção de um projeto que
pode continuar por todo o semestre?
ação inventiva imaginação criadora
vigtlia criativa estudo e pesTuisa
Esses esboços podem ser feitos fora do percurso de experimentação
Caderno do Aluno, dependendo do mate- perseguir ideias esboços spries anotaç}es
rial e da modalidade que vão desenvolver repertyrios pessoal e cultural
(por exemplo: pintura, escultura, fotogra- poptica pessoal pensamento visual.
fia), mas devem ser registrados também no

38
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5
CONEXÕES COM O TERRITÓRIO DA MATERIALIDADE

Neste Caderno, aspectos do processo de No Caderno do Aluno, a conversa


criação em arte são tecidos e entrelaçados pela inicial a partir das questões acima
fala de artistas em caminhadas criativas para amplia a possibilidade de respostas
a construção de suas obras. Nessa tessitura, os a ser escritas para:
alunos puderam ficar próximos do percurso
de criação de uma obra, seja a canção Águas
de março, de Tom Jobim, o espetáculo A ba- f Quais materiais, ferramentas e suportes fo-
talha dos encantados, de Andrea Cavinato, a ram utilizados pelos artistas estudados?
coreografia do Balé da Cidade de São Paulo
ou as “patas-formas” do projeto poético de f E por você, em suas produções?
Regina Silveira. Ao mesmo tempo, os alunos
foram sendo instigados, em diferentes propo- f No caso de sua produção artística, como
sições nas linguagens artísticas, a se mover em foi seu próprio diálogo com a materialida-
percursos de criação como modos de experi- de em seu processo de criação?
mentação da especificidade da criação em arte.
Como preparação para os próximos estudos, Depois de levantar as várias respostas
podemos provocar o olhar dos alunos para o dos alunos e ampliá-las, você pode pergun-
trabalho de criação sob outro ponto de vista: tar: O que os alunos desejam saber mais no
o da criação em diálogo com a materialidade. próximo estudo sobre a relação entre criação
A escolha de materiais, ferramentas, suportes e matéria?
e procedimentos técnicos estão em permanen-
te diálogo nos processos de criação.

O que os alunos percebem sobre isso quando


voltam a olhar essas imagens e sonoridades?
Qual é a matéria que dá suporte aos textos Conexões com
coreográficos apresentados? Qual é a matéria o territyrio da
teatral que impulsiona o acontecimento cênico
do espetáculo A batalha dos encantados?
O corpo é suporte físico para a dança e para
o teatro? Quais instrumentos musicais são
ferramentas para a música? O som é a matéria a escolKa de matprias, ferramentas,
da arte? As patas-formas do projeto poético de suportes e procedimentos tpcnicos
Regina Silveira andam por quais suportes, com em diálogo com processos de criação.

quais matérias e ferramentas?

39
SÍNTESE E AVALIAÇÃO
A formação cultural dos alunos envol- possibilidades deste Caderno em relação ao
ve diferentes aspectos, entre os quais a am- processo de criação em artes visuais, dança,
pliação de conceitos, percepção e expressão música e teatro, assim como apontam o ca-
sobre/na arte. Os mapas a seguir mostram minho para o território de materialidade nos
os conteúdos potenciais apresentados nas próximos estudos.

Poéticas no territyrio de
processo de criação

procedimentos criativos na construção de obras


cênicas, visuais, musicais, coreográ¿cas.

coleta sensorial
repertyrios pessoal e cultural coleta sensorial memyria
pensamento musical. seleção repetição
processo colaborativo.

ação inventiva
imaginação criadora
vigtlia criativa
intuição, referência de outras
estudo e pesTuisa
linguagens da arte ou não
percurso de experimentação
pesTuisa e experimentação
perseguir ideias esboços
jogos de apropriação de textos.
spries anotaç}es
poptica pessoal
pensamento visual.

Conexões com
o territyrio da

a escolKa de matprias, ferramentas,


suportes e procedimentos tpcnicos
em diálogo com processos de criação.

40
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Avaliando os portfólios f Investigaram processos de criação pessoais e


de artistas, ampliando o conceito de poéticas e
Partindo desses mapas e das experiências de processo de criação?
estéticas e artísticas realizadas em sala de aula
e registradas pelo aluno em seu portfólio, Ca- f Ampliaram repertórios pessoal e cultural, per-
derno do Aluno e em outros modos de regis- cebendo sua importância em processos de cria-
tro realizados, você pode avaliar o percurso ção nas várias áreas de conhecimento humano?
realizado com a turma.
f Operaram com imagens, ideias e sentimentos,
Para isso, no Caderno do Aluno, por meio da especificidade dos processos de
em “Você aprendeu?”, são também criação em arte, gerando sua expressão em
propostas as seguintes ações: artes visuais, dança, música ou teatro?

f cite três verbos que signifiquem para f Perceberam seus próprios processos de cria-
você o que é processo de criação e expli- ção?
que por que você os escolheu.
f Pesquisaram o diálogo entre a materialidade e
f pensando nas encomendas recebidas até os processos de criação, percebendo a escolha
aqui, você percebe que elas facilitam, da matéria, ferramentas, suportes e os proce-
desafiam ou atrapalham a criação? Jus- dimentos técnicos?
tifique.

f a Arte é o espaço da imaginação. No es- Refletindo sobre seu diário de bordo


paço a seguir, convidamos você a fazer
um autorretrato vivendo um processo de Pensando sobre o percurso trilhado pelos alu-
criação. nos, como você percebe suas ações pedagógicas?
O modo como você escolheu e reinventou as pos-
A partir das respostas dos alunos e da sibilidades sugeridas foi adequado? O que você
leitura do portfólio, composto do Caderno faria de modo diferente? Quais outras conexões
do Aluno e de outros modos de registro, poderiam ter sido feitas? Para onde você pode ca-
você percebeu como os alunos: minhar com seus alunos a partir de agora?

41
DIÁLOGOS COM A MATERIALIDADE NA CRIAÇÃO DA
FORMA ARTÍSTICA

Processos de criação vividos pelos estu- Temas e conteúdos


dantes e pelos artistas das várias linguagens
artísticas foram focalizados na primeira parte Diálogos com a materialidade na criação
deste Caderno. Continuaremos, agora, a nos da forma artística
aproximar de processos de criação trilhando
tanto a escolha de matérias, suportes e proce-
dimentos no território da materialidade quan- materialidade
to a conexão com os elementos que compõem
a gramática de cada linguagem artística no
território de forma-conteúdo. Materialidade. O diálogo com a materia-
lidade aquece o artista e o impulsiona a tri-
lhar outros caminhos. Significados presentes
na matéria, no suporte, nas ferramentas, no
procedimento do fazer provocam descobertas
para corpos perceptivos em estados de inven-
ção e se conectam com muitos outros territó-
rios. Focalizar o território da materialidade
amplia a pesquisa, o estudo e o fazer para:

f matéria e significação;

f o corpo como suporte físico na dança e no


teatro;

f cenário, adereços, objetos cênicos, texto;


Conhecimentos priorizados
f suportes, ferramentas e procedimentos téc-
nicos.

A gramática das linguagens artísticas

forma-conteúdo

Forma-conteúdo. Conectados, imanta-


dos, inseparáveis. Na obra, o invisível do

42
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

conteúdo se revela pela forma, isto é, pelos contraste, tensão, bidimensionalidade, tri-
próprios elementos que compõem as artes dimensionalidade etc.);
visuais, a dança, a música e o teatro. Entre
esses elementos, propomos neste Caderno f elementos básicos da linguagem do teatro:
um recorte com o estudo, a pesquisa e o fa- corpo, voz, gesto, texto, ação, adereços de
zer sobre: cena, cenário, figurino, música, luz;

f temáticas que impulsionam a criação.


f elementos básicos da linguagem da dança:
o corpo como suporte físico, espaço, mo-
vimento, tempo, música, cenário, figurino, Competências e habilidades
coreografia, dinâmica;

f elementos básicos da linguagem da música: f Investigar a potência da matéria, dos su-


som, silêncio, melodia, harmonia, ritmo, portes e procedimentos técnicos nas lin-
altura, duração, intensidade, timbre, anda- guagens da arte;
mento, dinâmica, percepção, afinação, tex-
tura, arranjo, orquestração, improvisação, f pesquisar o diálogo entre a intenção cria-
forma; tiva, a materialidade e as conexões entre
forma-conteúdo;
f elementos básicos da linguagem das artes
visuais: cor, luz, valor, linha, superfície, f operar com os elementos da forma em arte,
ponto, textura, volume, espaço, relações com temáticas e com a materialidade, ge-
entre esses elementos (composição, ritmo, rando sua expressão em artes visuais, dan-
movimento, simetria, assimetria, escala, ça, música e teatro.

PROPOSIÇÃO PARA SONDAGEM


UMA CONVERSA SOBRE A MATERIALIDADE NAS
LINGUAGENS ARTÍSTICAS

Proposição I – Ação expressiva: o Certamente, as sensações, sentimentos,


esboço de uma ideia lembranças e pensamentos são diferentes
em cada dia ou noite de chuva. Como disse
f Quais são suas sensações ao Leonardo Boffa: “Cada um lê com os olhos
acordar logo de manhã e ouvir o que tem. E interpreta a partir de onde os pés
som da chuva? pisam. Todo ponto de vista é a vista de um
ponto”.
f Abrimos a janela e nosso olhar repousa
amorosamente sobre o que vemos? Ou a Qual é a perspectiva da chuva que os estu-
chuva desperta outros sentimentos? dantes avistam com os olhos que têm e a partir
de onde pisam? Que sensações, sentimentos,
f Que lembranças a chuva nos traz? Em que lembranças e pensamentos a chuva provoca
nos faz pensar? neles?

a
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 9. Disponível em: <http://www.leonardoboff.
com>. Acesso em: 12 ago. 2013.

43
Uma conversa sobre essas questões pode le- para que se faça viver a arte dentro de cada um
vantar muitas histórias e despertar a criação. Em dos alunos. Para que isso aconteça, ela deve ser
continuidade aos processos vividos consciente- provocada e provocadora, exigindo dos profes-
mente até o momento – como a coleta sensorial, sores uma escuta atenta que instigue os alunos a
o percurso de experimentação e pesquisa, os re- viver uma experiência de fruição, para investigar
pertórios pessoal e cultural, entre outros aspec- de que ponto de vista eles olham para a arte e
tos da ação inventiva em arte –, peça aos alunos pensar o que poderia detonar neles processos de
que façam, no Caderno do Aluno, o esboço de criação e de aproximação com a arte.
uma ideia a partir dessa conversa; o esboço de
um projeto que pode ser em qualquer uma das Como os alunos leem esses textos verbais e vi-
linguagens artísticas. Nesse exercício, os alunos suais? O que chama a atenção deles? Que compa-
não precisam se preocupar com os limites para rações podem fazer entre os vários textos criados
a sua execução. Eles podem projetar pequenas pelos artistas nas várias linguagens da arte? O que
coreografias, a exploração de sonoridades, diálo- esboçaram no primeiro momento?
gos em cenas imaginárias ou do cotidiano, um
ensaio fotográfico, uma instalação, séries de de- A chuva escorre para Drummond. O tempo
senhos, pinturas etc. escorre nela para além das condições meteoro-
lógicas. Marca o poema, assim como marca a
Esses esboços ampliam a leitura das obras instalação de Nuno Ramos no grande hall do
apresentadas na “Apreciação” a seguir. Centro Cultural do Banco do Brasil/SP, em 2004.
No espaço da galeria, a chuva intensa, sem ces-
sar, exerce forte presença a convocar os passan-
Proposição II – Movendo a apreciação tes. O som da chuva se mistura com o coro que
declama um trecho do poema de Drummond.
O primeiro momento da “Apreciação” é
composto da leitura das obras de arte A chuva é matéria da arte do mago Próspero,
visuais e verbais reproduzidas no Cader- personagem da peça de Shakespeare, que produz
no do Aluno, e que podem ser alimentadas por e controla as águas selvagens da tempestade que
questões como as seguintes: Que ideias são apre- faz ruído estrondoso com seus trovões e relâmpa-
sentadas? Em quais linguagens artísticas? São gos em nossa imaginação. Reflita: A chuva é ma-
colocadas as seguintes questões aos alunos: téria da natureza ou natureza da matéria na arte?

Nas obras desses artistas, a chuva parece ser


f Um fenômeno da natureza pode se trans- matéria a nos dizer coisas. Nelas, pode-se perce-
formar em temática da arte? Pode ser apro- ber que o significado da chuva não é inerente à
priado como matéria da arte? Justifique sua realidade, mas é a arte que confere significado à
resposta. realidade, provocando novas e abertas sensações,
significações, pensamentos.
Você pode acrescentar a essa “Apreciação”
outras obras visuais, verbais, corporais, musi- E por ser a chuva, nessas obras, a própria
cais que também remetam à temática da chuva matéria da arte, muitos recursos, procedimentos,
– como, por exemplo, a canção Que maravilha, ferramentas e suportes hão de ser usados.
de Jorge Ben e Toquinho, cuja letra é apresenta-
da somente neste Caderno do Professor, e a cena É por outra trilha que Magritte e Jorge Ben
clássica de Gene Kelly no filme Cantando na chu- e Toquinho nos movem. O óleo sobre tela é ma-
vab. Uma curadoria educativa, como a que pro- téria para a linguagem da pintura de Magritte.
pomos, ativa culturalmente determinadas obras O modo de usar os pincéis como ferramentas

b
Cantando na chuva (Singin’ in the rain). Direção: Gene Kelly e Stanley Donen. EUA, 1952. 103 min. Livre.

44
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça


que escondem texturas, o suporte da tela nos
faz olhar o mundo urbano, a cidade, a multidão
com os olhos da imaginação. Diz o pintor que
acha uma maravilha poder caminhar pelo céu
na terra. Para ele, o homem de chapéu-coco é
o Sr. Normal, no seu anonimato. Ele também
usava um chapéu desses, pois não gostava de se
destacar nas massas.

Também na multidão, mas atento ao seu


amor, os poetas-músicos veem a amada, “Mei-
ga, pura, linda e muito tímida / Com a chuva
molhando / Seu corpo lindo que eu vou abra-
çar”. Fala-nos, pelas palavras, da mesma alegria
amorosa que faz a personagem do dançarino-
-cantor Gene Kelly sair dançando e cantando
feliz na chuva, no filme Cantando na chuva? Os
passos de sua dança confirmam essa sensação?
Quais outras obras podem ser aqui lembradas?

Uma longa conversa com os alunos pode abrir


espaço para pensar a natureza de cada matéria
empregada pelos artistas. Suportes, ferramentas,
procedimentos em diálogo com o processo de
Figura 25 – Nuno Ramos. Morte das casas, 2004. Instalação.
criação vão construindo as obras e dotando-as Bomba d’água, água, alto-falantes, coro declamando trecho
de força expressiva para que cheguem até nós. A de Morte das casas de Ouro Preto, de Carlos Drummond de
materialidade produz também significações, e é Andrade. Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (SP).
preciso lê-las. Como leitores, atribuímos signifi-
cação às obras que têm sido cada vez mais valo-
rizadas pelos teóricos. Morte das casas de Ouro Preto

Bronowskic aponta que acordamos os sig- Carlos Drummond de Andrade


nificados que fizeram nascer a obra, seja poe-
ma, música, pintura, escultura... Não apenas Sobre o tempo, sobre a taipa,
nos debruçamos sobre a obra, mas ativamos a chuva escorre. As paredes
o ato criador e recriamos a experiência do ar- que viram morrer os homens,
tista em nós. que viram fugir o ouro,
que viram finar-se o reino,
O esboço inicial produzido e a leitura das que viram, reviram, viram,
imagens podem aproximar os estudantes do con- já não veem. Também morrem.
teúdo que será estudado, além de dar elementos [...]
para notar o que eles percebem sobre os supor-
tes, as ferramentas, as matérias e os procedimen- ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma.
Rio de Janeiro: Record, 2001.
tos utilizados pelos artistas para materializar as Carlos Drummond de Andrade
suas ideias, preparando-os para o mergulho no © Graña Drummond.
tema. Professor, deixe os conceitos para os próxi- <http://www.carlosdrummond.com.br>
mos encontros.
c
BRONOWSKI, Jacob. Ciência e valores humanos. São Paulo: Edusp, 1979. p. 26. (Coleção O Homem e a Ciência, v. 6.)

45
© Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone
© Photothèque R. Magritte, Magritte, René/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

Figura 26 – René Magritte. Golconda, 1953. Óleo sobre tela, 100 × 81 cm. Fundação Menil, Houston, Texas, EUA.

Somos feitos da mesma matéria que os sonhos.

William Shakespeare [Palavras de Próspero, no quarto ato, cena I].


SHAKESPEARE, William. The tempest (A tempestade), 1611. Ato IV, Cena I. Tradução Eloisa Pires.
Londres: MacMillan & Co, 1864.

Que maravilha Jorge Ben/Toquinho

E ela vem chegando de branco


Lá fora está chovendo Meiga, pura, linda e muito tímida
Mas assim mesmo Com a chuva molhando
Eu vou correndo Seu corpo lindo que eu vou abraçar
Só pra ver o meu amor E a gente no meio da rua
[...] Do mundo, no meio da chuva
Por entre bancários, A girar, que maravilha
Jatos, móveis, ruas e avenidas A girar
Milhões de buzinas [...]
Tocando minha harmonia sem cessar
Copyright © 1969 by Musibrás Editora Musical Ltda.

46
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6
DANÇA
Proposição I – Movendo a apreciação pos de música e de instrumentos musicais você
consegue identificar nas distintas partes da co-
Sugerimos que você inicie a atividade reografia apresentada no vídeo? E o cenário?
com a apreciação das imagens do espetáculo Mostra um lugar ou diferentes lugares? Real
Samwaad – Rua do encontro, com os dança- ou imaginário? Presente ou passado? Vocês
rinos da Companhia TeatroDança Ivaldo já estiveram em um lugar similar ao cenário?
Bertazzo, de São Paulo. Que associações podem ser feitas nesses luga-
res cênicos? Que sensações, sentimentos, lem-
Após a classe ter observado as ima- branças e pensamentos podem ser associados?
gens e falar sobre suas impressões,
faça um mapeamento da percepção Além dessas questões, é possível também
dos alunos, a partir das questões apresentadas focalizar o olhar para que os alunos percebam
no Caderno do Aluno: que a dança indiana traz elementos de uma
espécie de sapateado. É dança e também per-
cussão. Os alunos podem tentar acompanhar
f Como são os movimentos da dança nas o som dos pés dos dançarinos no “sapateado
duas imagens? Os movimentos são de tor- indiano”. Será que, batendo com as mãos nas
ção, de dobrar ou de esticar? pernas, conseguem reproduzir o que os dançari-
nos fazem com os pés?
f De que forma o corpo se movimenta nas
imagens? Como um todo ou há partes que Os alunos conseguem identificar os instru-
são mais usadas? mentos musicais utilizados nas diferentes partes
da coreografia? Conseguem descobrir a conta-
f Como são as ações que compõem um pas- gem (1, 2, 3, 4) em que se desenvolve o ritmo
so de dança? São ações mais próximas do da melodia?
chão ou se desenvolvem mais nos níveis
médio e alto? As formas dos movimentos O corpo é o suporte físico da dança, como,
são mais retas ou mais sinuosas no espaço? por exemplo, o papel para o desenhista e o
piano para o pianista. O corpo, além de ser
f Há materiais cênicos nas imagens? Justifi- suporte e matéria, é também um elemento bá-
que sua resposta. sico da linguagem da dança, assim como os
movimentos que faz, o modo como atua no
f Se for possível assistir ao vídeo do espetá- espaço, a conexão com a música (enfatizando,
culo, quais outros aspectos podem ser dis- desenvolvendo ou contradizendo ideias), a co-
cutidos? reografia e a dinâmica.

Em seguida, caso tenha sido possível as- O cenário, como parte importante do es-
sistir ao vídeo, aprofunde a discussão com as petáculo, nos dá a ver a época e o local em
seguintes perguntas: Quais linguagens da dan- que se passa a ação ou a história. Pelo ce-
ça (dança clássica, dança contemporânea, nário, podemos identificar as características
dança indiana, samba, sapateado) são identi- dos personagens. É importante que o cenário
ficadas? O lugar é um palco, uma sala, uma transmita, por meio da plasticidade, uma at-
praça? Os personagens podem ser reconheci- mosfera propícia para que, dessa maneira, o
dos como pessoas contemporâneas a nós? É público mergulhe no espetáculo. Mas a falta
possível identificar alguns gestos do cotidia- de um cenário é também um cenário, assim
no? Quais gestos são esses? Que diferentes ti- como uma obra de artes visuais “sem título”

47
© Iara Venanzi
© Gal Oppido

Figuras 27 e 28 – Companhia TeatroDança Ivaldo Bertazzo. Samwaad – Rua do encontro, 2003.

48
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

também indica uma escolha. O despojamento Há, assim, uma estreita ligação entre o
cenográfico permite apenas o uso de uma cor- território da materialidade e o território de
tina de fundo preta. É também matéria que forma-conteúdo.
produz significações.
Os alunos podem perceber essas relações?
A cenografia é, portanto, tudo o que é re- Que outras questões podem ser sugeridas
gistrado plasticamente em cena. Não pode ser para que continuem pensando sobre a cons-
separada do figurino, dos adereços, da ilumi- trução das linguagens da arte? Os alunos po-
nação ou até mesmo da marcação de cena, dem registrar “O que ficou da conversa?” no
isto é, da movimentação dos intérpretes, por- Caderno do Aluno.
que também estes estabelecem fluxos, massas,
volumes em determinado espaço. Da leitura do espetáculo Samwaad – Rua
do encontro, que interesses e pensamen-
Em Samwaad (cujo significado é “har- tos sobre a dança surgem entre os alunos
monia”), o cenário é do carnavalesco Chico depois das problematizações? O que você
Spinosa, todo centrado numa rua comprida, pode registrar sobre isso em seu diário de
com escadarias, onde acontece a reunião do bordo?
diferente no comum. No espetáculo, podemos
ver surgir nessa rua uma serpente formada
por corpos que se movimentam com delica- Proposição II – Ação expressiva
deza. Segundo a filosofia oriental, a serpente
significa a energia que está adormecida dentro A proposta aqui é de investigação de lu-
de nós e, se despertada, anima-nos a viver. gares onde a dança pode ser materializada.
Seja o lugar feito cenário, seja o lugar feito
Outro elemento que aparece na coreo- espaço cênico. Para isso, sugira aos alunos
grafia de Samwaad é a voz. Podemos per- que se dividam em grupos de quatro ou cinco
guntar aos alunos: A voz também pode ser e realizem um pequeno estudo coreográfico
considerada um elemento da dança? que poderá ser iniciado em espaços diferen-
ciados, por exemplo: um espaço que tenha
Como coloca Sayonara Pereiraa, “O uso da cadeiras; um espaço que tenha diferentes ní-
voz é uma característica que foi acrescentada à veis inferiores (como um porão) ou superio-
dança contemporânea ao longo dos anos 1980, res (como uma escada ou arquibancada); um
através de textos escritos ou não. A voz atua espaço onde se possa fazer um fundo preto;
como uma linha que oferece outra ferramen- um corredor, uma passarela... Que outros ce-
ta ao intérprete-dançarino; oferece liberdade nários ou espaços cênicos podem ser criados?
para que o intérprete possa explorar diferentes Ou, ainda, que outros elementos cênicos po-
entonações, ritmos, velocidades e intensidade dem ser realizados?
com as quais ele pronuncia as palavras”.
Você pode também pedir aos alunos que
A exibição do vídeo Samwaad – Rua do tragam materiais que, combinados, possam
encontro pode possibilitar aos alunos uma formar ou compor elementos cênicos.
aproximação com os elementos que formam a
materialidade da dança. Materialidade que, em Após a apresentação de cada gru-
uma primeira análise, envolve a capacidade ex- po, uma conversa com o grupo que
pressiva do movimento corporal, mas também assistiu e com o grupo que se apre-
a linguagem das cores, formas e sons, por meio sentou pode impulsionar a “Ação expressiva”,
de iluminação, vestuário, cenário e música. com perguntas como:

a
PEREIRA, Sayonara. Rastros do Tanztheater no processo criativo de es-boço. Tese (Doutorado) – Instituto de
Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. p. 124.
49
f Como foi explorar um espaço diferente E você, como professor: Qual será o seu regis-
para dançar? tro no diário de bordo sobre o modo como os alu-
nos investigaram o conteúdo até aqui estudado?
f Que significados emergiram desse estudo
coreográfico a partir do espaço escolhido?

f Como foi fazer essa “Ação expressiva”?


Diálogos sobre a dança
no território da
Na seção “Você aprendeu?”, é pos-
sível continuar a conversa: materialidade

f No que sua experimentação na “Ação ex- o corpo como suporte ftsico da dança
pressiva” foi diferente de outras que você objetos cênicos cenário.
já fez? O que você não sabia e aprendeu
com essa experimentação?

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7
MÚSICA

A percepção humana de um fato, de um ce- por uma flauta ou outro instrumento de so-
nário, de um objeto, de um som, de um chei- pro, por exemplo.
ro, de uma palavra, de uma lembrança produz
reflexos da realidade, pensamentos, sensações, Para estudarmos os diálogos com a ma-
sentimentos que podem se canalizar para as terialidade na criação da forma artística
linguagens da arte, para a pesquisa científica, em música, propomos o estudo de algumas
para a Filosofia. São estes os modos diversos composições musicais e algumas explora-
de se colocar diante da realidade e recriá-la. ções sonoras.

Quando o músico quer comunicar o pen-


samento de uma manhã de chuva forte no Proposição I – Movendo a apreciação
meio do mato, não cria necessariamente
uma melodia ou um som de instrumentos Compositores e orquestradores sele-
que representem o som da chuva, os pingos, cionam os mais diversos instrumentos da
a lama, cada objeto, cada movimento, cada orquestra, podendo optar, também, por
ação. Concebe isso em um pensamento musi- utilizar instrumentos musicais elétricos e
cal, expresso em células melódicas, rítmicas, eletrônicos para criar suas obras. Essa esco-
gestos sonoros, ruídos e sonoridades indefi- lha é sempre cuidadosa, pois é um embate
nidas, e na escolha dos timbres, articulando concreto, um diálogo constante com a maté-
som e silêncio. Nada necessita ser sempre tão ria que vão usar na construção de seus tra-
explícito. As escolhas das notas e células rít- balhos, uma vez que cada instrumento, ou
micas para comunicar o pensamento musical grupo de instrumentos, produz sensações
não seguem, necessariamente, uma lógica auditivas muito diferentes.
que faça a representação direta do objeto
concreto a ser comunicado. A representação Quando ouvimos uma obra musical com
de um pássaro não é necessariamente feita atenção, podemos escutar pássaros, florestas,

50
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

índios, pessoas em procissão, vento bravo, registrem essas movimentações no Caderno


brisa, ondas do mar, sem que isso seja lite- do Aluno.
ral, isto é, sem a necessidade de uma imita-
ção explícita do som desses elementos que O compositor que domina o conhecimento
impulsionaram a criação dos artistas. Para e a linguagem musical, somados à estética da
que os alunos vivam uma experiência auditi- sensibilidadea (delicadeza, leveza e sutileza)
va compartilhada, propomos apreciações de tem habilidades e competências para escolher
obras de dois Antonios, Vivaldi e Jobim, e de os instrumentos para orquestrar suas obras
Hermeto Pascoal. (grandes e pequenas orquestras e pequenos
grupos instrumentais). Pode utilizar desde ins-
Que sensações, lembranças, sentimentos, trumentos tradicionais (acústicos e elétricos)
pensamentos nos capturam ao ouvirmos o pri- até inusitados instrumentos eletroeletrônicos
meiro movimento da obra As quatro estações, (há mais informações sobre instrumentos no
de Vivaldi? O que podemos ouvir de sua cria- Caderno da 7a série/8o ano – volume 1, no qual
ção Primavera? Para isso, sugerimos a audição foi tratada a questão dos suportes dentro do
da faixa 1, Primavera, do CD As quatro estações território da materialidade).
(Le quattro stagioni).
Além de escolher os instrumentos, usa-os
Depois de uma primeira escuta, pro- expressivamente para conseguir comunicar seu
ponha uma conversa a partir das ques- pensamento musical. Algumas vezes, de forma
tões colocadas no Caderno do Aluno: bem descritiva, outras, causando impressões e
sempre provocando sensações. Não só o cria-
dor deve dominar a linguagem musical, mas,
f Já havia escutado essa música antes? Onde? para ser compreendido, o público fruidor de
Ao vivo ou em gravações? obras musicais também deve compreendê-la.
Isso não significa, necessariamente, que o pú-
f Que sensações, lembranças, sentimentos e blico deve dominar a leitura e a escrita musicais
pensamentos vieram à tona? ou saber regras de harmonia, mas é fundamen-
tal que tenha desenvolvido competências e
f Você percebe as partes que compõem esse habilidades auditivas, além da disciplina para
concerto criado por Vivaldi? Na próxima escutar em silêncio, hábitos que também são
página, represente-as por meio de desenhos. necessários para ler um livro, ouvir um poema,
enfim, para entrar em [con]tato com a Arte.
Aproveite para observar quais movimenta-
ções ficaram visíveis no desenho dos alunos. Peça que complementem os seus desenhos
incluindo novos e diferentes elementos perce-
Essa conversa pode prepará-los para uma bidos auditivamente (usando outra cor de lápis
escuta orientada para a leitura do primei- ou caneta) e, depois, escrevam seus comentá-
ro movimento desse concerto, que integra a rios, fazendo comparações entre o primeiro
obra As quatro estações, de Vivaldi. Peça que registro e a complementação que fizeram.

a
BRASIL. Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica; Diretoria de Currículos e Educação Inte-
gral. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, Dicei, 2013. p. 154.

51
As quatro estações, Vivaldi – Primavera – 1o movimento
Violino solista: Anne Sophie Mutter
Orquestra Filarmônica de Berlim sob a regência de Herbert von Karajan

Ouvindo a faixa Primavera e lendo os versos da primeira coluna, vamos experimentar fazer
a relação entre o que é tocado pelo violino solista e pelas cordas da orquestra (violinos, violas,
violoncelos e contrabaixos).

VERSOS ORQUESTRA

I. Chegada é a Primavera... (início) − Todas as cordas


Chegada é a Primavera e festejando da orquestra tocam de forma alegre e vigorosa.
saúdam as aves com alegre canto. II. As aves saúdam... − Tocam: violino solista em
diálogo com outros dois violinos da orquestra.

III. Volta o tema do início com as cordas da orquestra


para preparar o próximo tema.

E as fontes, ao expirar do Zéfirob, IV. As fontes correm com doce murmúrio − Todas as
correm com doce murmúrio. cordas tocam um novo tema.

V. Volta o tema do início preparando o tema da tem-


pestade.

Uma tempestade cobre o ar com


VI. Uma tempestade cobre o ar com negro manto – Tocam
negro manto.
todas as cordas da orquestra com predominância dos
graves dos contrabaixos e dos violoncelos, criando o
Relâmpagos e trovões são eleitos a
clima de relâmpagos e trovões, e o violino solista.
anunciá-la.

VII. Volta o tema do início.

VIII. ...as avezinhas tornam de novo... cantando suave e


Logo que ela se cala, as avezinhas harmoniosamente (canoro) com o violino solista
tornam de novo ao canoro encanto. correspondido pela resposta de dois violinos da
orquestra.

IX. Volta o tema do início para encerrar com violino


solista e as cordas da orquestra.
Quadro 1 – As quatro estações.

b
Zéfiro, na mitologia grega, é o vento do oeste, considerado o “mensageiro da primavera” por ser o mais suave
de todos os ventos. (N.R.T.)

52
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Uma nova apreciação pode ser feita: as- compreender o cenário-base que estimulou Tom
sistir com seus alunos ao vídeo de abertu- a compor suas obras – apresentado em texto
ra (Capítulo 1 – Pindorama), do DVD Tom do próprio Tom, na voz de Chico Buarque –, e,
Jobim: maestro soberano, v. 2 (Águas de mar- também, para ouvir o som de uma de suas músi-
ço), para ver imagens da paisagem atlântica, cas: Lenda. Diz ele:

A minha música deve muito às árvores, às nhos, mas pelo nome popular; só alguns pelo
montanhas, ao mar, à costa, aos pássaros e, na- nome científico. Esse negócio de entender de
turalmente, não podemos esquecer, à mulher uma coisa, tem que amar! Villa-Lobos também
brasileira, que também faz parte da ecologia: é conhecia muito bem os passarinhos, inclusive
um animal natural, como o homem. Tudo isso ouvindo as obras dele, polissinfônicas, sou ca-
me deu um grande estímulo para escrever músi- paz de dizer que passarinho ele está imitando
ca. Para sentar de manhã, ver o sol e achar que com a orquestra. Ele, como eu, usava muito o
a vida é bonita, [...] que vale a pena ser vivida. matita-perê [...]. Na Mata Atlântica, a vida é
[...] Essas músicas que eu fiz – Dindi, Borzeguim, em profusão. Aqui é o Pindorama: a Terra das
Águas de março e tantas outras – são todas ins- Palmeiras.
piradas na floresta Atlântica. O visual é bonito,
me inspira para fazer música. Se bem que eu Tom Jobim. Depoimento extraído do DVD Águas de março.
In: JOBIM, Tom. Tom Jobim: maestro soberano. Rio de
acho que, na hora mesmo, você não olha para a
Janeiro: Biscoito Fino Produções Artísticas, 2006. 3 DVDs.
paisagem. Na hora “H”, você está concentrado. v. 2. © Jobim Music Ltda. Cortesia.
Fiz o Sabiá, também. Conheço muitos passari-

Tom Jobim foi um compositor que mui- Os alunos conhecem alguns instrumentos não
to influenciou os compositores e intérpretes convencionais? Já ouviram alguém tocar no
da música brasileira. No texto, ele se refere a pente? Ou no serrote? Ou em vasilhames com
Villa-Lobos, que o valorizava também. água?

O que chama a atenção dos estudantes ven- Hermeto Pascoal é virtuose em vários ins-
do a paisagem e ouvindo o texto e a música do trumentos: piano, saxofones (soprano, alto, te-
DVD de Tom Jobim? Percebem o que alimenta nor e baixo), flautas transversais (flauta dó e
os processos de criação do artista? A conversa flauta sol), um excelente arranjador, que domi-
sobre as respostas no Caderno do Aluno pode na as técnicas mais complexas da orquestração
ampliar o modo como eles percebem que a in- com instrumentos tradicionais. É um desses
quietude dos criadores faz que sejam atentos músicos que também usam tudo o que têm a
observadores dos seus universos sonoros, ou sua volta para produzir música, pois a procura
seja, de tudo o que está à sua volta e em sua inquietante de sons impulsiona Hermeto, um
memória afetiva. eterno menino sapeca, a conseguir resultados
incríveis nos instrumentos musicais, tradicio-
Outra apreciação abre espaço para outra nais ou não, trabalhando a forma de tocar com
percepção, pois alguns compositores usam surpreendentes re-harmonizações.
os instrumentos convencionais para compor
suas obras, enquanto outros buscam tudo Podemos pesquisar o modo de ser
que produza som sobre a face da Terra. Isso musical desse artista comparando
não significa que sejam mais ou menos ou- duas de suas composições, presentes
sados, mas que fazem escolhas diferentes. no CD Hermeto Pascoal – ao vivo em Mon-

53
treux Jazz Festival (1979): Bem-vinda (faixa 4) é produzido assoprando-se no gargalo das
e Lagoa da canoa (faixa 6), mas o exercício de garrafas. Para afinar cada uma delas com
escuta pode ser feito com outras músicas. No uma nota musical, coloca-se água dentro.
Caderno do Aluno, os alunos podem responder Quanto mais água, mais o som ficará agudo,
às seguintes questões: pois diminui o espaço interno da garrafa. É
importante que se consiga uma variedade de
garrafas para que se tenha uma série de sons,
f Como você descreveria o modo de tocar de do grave ao agudo. Quais serão as diferenças
Hermeto e de seu grupo? provocadas por garrafas PET e por uma de vi-
dro? E por diferentes tamanhos de garrafas e
f Quais instrumentos musicais você identi- de garrafões?
fica nas duas músicas? Haveria algum ins-
trumento criado por Hermeto? Como é o Seria importante conseguir um diapasão
diálogo entre os instrumentos? de sopro − aparelho usado para afinar as seis
cordas do violão (mi, lá, ré, sol, si e mi). Se for
Se for possível, você pode fazer uma tabela possível afinar seis garrafas, deixando o som
na lousa para apontar as diferenças entre as parecido com as cordas do violão, pode ser
duas faixas ouvidas, ressaltando as conexões formado um grupo de seis alunos para criar
entre elas, as diferenças e semelhanças. Con- músicas assoprando as garrafas.
seguem perceber a melodia principal da música
de cada faixa? Você pode pedir que cada aluno
© G4 Editora

cantarole para o colega mais próximo a melo-


dia de uma das músicas.

A exigência de Hermeto com a precisão


rítmica, a afinação e a técnica artística cria
a necessidade de um enorme tempo de en-
saio com seus músicos. Para trabalhar no
seu grupo, os músicos passam a viver junto
dele grande parte do tempo (dias, semanas, Figura 29 – “Orquestra” com garrafas PET.
meses), para ficar à disposição do mestre o
tempo todo. É importante cuidar para que somente um
aluno assopre a mesma garrafa, evitando que
Essa “Apreciação” prepara para a próxima vários alunos coloquem a boca no mesmo gar-
proposição. galo, para que não haja contaminações por
doenças transmissíveis pela saliva.

Proposição II – Ação expressiva: Outro instrumento a ser preparado é uma


explorações sonoras flauta, que pode ser feita com um tubo de PVC
de 2 cm de diâmetro e 66 cm de comprimento.
Para que os alunos experimentem a cria- Tampe um dos lados do tubo e faça oito furos:
ção musical a partir de instrumentos cons- um próximo ao lado tampado do tubo e outros
truídos por eles com material encontrado à sete, conforme o desenho a seguir. Para tocar,
sua volta, como se fossem construtores de deve-se assoprar pelo furo maior da mesma for-
instrumentos musicais, proponha várias ex- ma que nas garrafas. O sopro não deve ser muito
plorações sonoras. forte e pode variar usando-se a colocação da lín-
gua como se fosse para falar tu, tu, ru, ru, tu... O
Professor, sugira que façam uma “orques- movimento da língua é importante para garantir
tra” com garrafas afinadas com água. O som uma boa articulação do som.

54
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© G4 Editora
Amplie também oferecendo alguns exem-
plos:

f Walter Smetak, que buscou “uma nova


escuta e sonoridade a partir da criação de
novos instrumentos musicais, termina por
expandir o próprio conceito de música,
ultrapassando os limites tradicionais da
linguagem musical ao aproximá-la da di-
mensão plástica e espacial”, como aponta
Marco Scarassatic;

Figura 30 – Flauta. a) Instrumento feito com tubo de PVC. b)


f grupo Uakti, com seus instrumentos fei-
Embocadura: como soprar a flauta. tos de materiais como tubos de PVC, sinos
de madeira, caldeirões, marimba de vidro,
aqualung (que utiliza o som da água como
Você, professor, poderá buscar as técnicas matéria sonora);
de construção de flauta com cano de PVC jun-
to com os alunos na sala de informática, usan- f Orquestra Mágica do Parque Lúdico, no
do a internet. Outros instrumentos podem ser Sesc Itaquera, em São Paulo, um pro-
construídos pelos alunos com a sua ajuda, a jeto de Cristina Mello e Rita Vaz, com
dos pais e a de outros professores. Se houver brinquedos que se assemelham a instru-
instrumentos musicais disponíveis, use-os. Até mentos musicais, baseados em princípios
canos de metal, em diversos tamanhos, se tive- acústicos;
rem como conseguir, vale arriscar.
f músicos que tiram a sonoridade do pró-
É possível também criar efeitos sonoros de prio corpo, como o Barbatuques, ou com
chuva, de trovão etc., com muitos materiais, objetos, como o grupo Stomp, que foram
tais como: agitando no ar placas bem finas de apresentados no Caderno do Volume 1 da
metal; produzindo sons com a boca junto a 7a série/8o ano.
um microfone; ou mesmo gravando sons da
natureza (trovão, som da chuva, vento...). Po- Há no Caderno do Aluno um es-
dem ainda gravar som de água da torneira ou paço para que ele possa registrar
mexer na água de um balde, por exemplo. seus processos de criação para seu
acompanhamento, socialização e avaliação:
Provoque os alunos para que pensem
projetos de construção de instrumentos, na
exploração de sonoridades, para gerar pe- f Como um construtor de instrumentos musi-
quenas composições sonoras que devem ser cais, registre aqui o seu processo de criação.
gravadas e, assim, analisadas para a conti- Faça os desenhos de seu projeto e cole, se for
nuidade de processos de criação. Duran- possível, a fotografia de seu instrumento.
te o processo, incentive que observem, nos
trabalhos dos colegas, as soluções que eles f Como um compositor, registre os comen-
encontraram para a construção de seus ins- tários ou a partitura de sua composição so-
trumentos. nora. Se possível, ela deve ser gravada para

c
SCARASSATTI, Marco. Mediando [con]tatos com arte e cultura, v. 1, no 1. São Paulo: Universidade Esta-
dual Paulista, Instituto de Artes, Pós-graduação, nov. 2007. p. 85. Leia mais em: <http://terramagazine.terra.
com.br/jequietcong/blog/2007/08/29/smetak-imprevisto-na-bahia/>. Acesso em: 18 out. 2013.

55
permitir melhor percepção. Registre aqui
também o caminho percorrido para chegar
até a sua música. Diálogos sobre a música
no território da
Em seguida, na seção “Você apren-
deu?”, há a continuação da atividade: materialidade

f Como um crítico musical, escreva um breve matpria sonora e signi¿cação


artigo para um jornal. O objetivo é propor instrumentos tradicionais e não tradicionais
instrumentos elptricos e eletr{nicos sons corporais
um diálogo com a materialidade da criação criação de novos instrumentos procedimentos tpcnicos.
da forma artística musical.

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8
TEATRO

Mantendo o foco das proposições ante- f O texto não é teatro. O texto se torna teatro
riormente oferecidas sobre os temas Poéticas somente quando é falado pelo ator na en-
e Processos de criação: O que foi desenvolvi- cenação. Você concorda com essa afirma-
do com os alunos de experiência cênica com ção? Por quê?
texto? Qual fragmento de texto foi proposto
para os percursos de leitura? Nesses percur- f Como você imagina que seja a preparação
sos, os alunos mostraram soltura, amplitu- do ator para falar um texto?
de vocal, foco no texto? Dessa experiência
física, vocal e sensorial de apropriação do O que revelam as respostas dos alunos?
texto, o que permanece nos alunos? Essas Como eles percebem a relação entre texto,
questões ajudam você a inaugurar, em seu ator e a palavra falada no contexto do fazer
diário de bordo, o registro para esses próxi- cênico? Será que ainda prevalece entre eles a
mos estudos. falsa ideia de que o texto é apenas decorado
para falar no palco? Essas são questões que
podem dar a você o caminho do que é inte-
Proposição I – O que penso sobre o ressante desconstruir no modo de pensar do
texto teatral? aluno em relação ao texto de teatro.

A proposta é a continuidade de es- Para começar a investigação da matéria


tudo do texto de teatro, olhando, textual no fazer cênico, continue a conversa,
agora, a matéria textual e a palavra cercando e comentando alguns aspectos.
como materialidade sonora no fazer cênico.
Para começar, provoque uma conversa para A leitura de um texto teatral nos revela que
cercar o que os alunos pensam sobre o texto o dramaturgo é um pensador do teatro. É ele
teatral, perguntando no Caderno do Aluno: quem primeiro organiza a cena. O texto tea-
tral é, nesse sentido, um projeto de cena. Seria
a encenação um ato de tradução ou ilustra-
f Para dizer um texto no palco, é preciso só ção da matéria textual no espaço cênico? Para
memorizá-lo, decorando-o? Justifique sua pensar a revelação da teatralidade do texto
resposta. no palco, é interessante pensar sobre algumas

56
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

montagens de textos do dramaturgo William trar imagens desses atores e espetáculos em sites
Shakespeare. pode ajudá-los a ver a encenação como um ato
que não é nem tradução, nem ilustração do texto,
A encenação, por exemplo, do texto A tem- mas uma realização, aquecendo-os para o estudo
pestade, de Shakespeare, já foi realizada com da matéria textual no teatro, que vem a seguir.
os atores Paulo Autran e Sérgio Mamberti
como o personagem Próspero. Para os alunos,
um personagem é modificado quando encenado Proposição II – Movendo a
por diferentes atores? apreciação: a matéria textual
presente na dramaturgia
O diretor Peter Brook, em sua montagem de
A tempestade, escolhe para protagonizar o má- Após a discussão sobre as indagações pro-
gico Próspero o ator africano Sotigui Kouyaté postas para o registro das montagens, a suges-
e, para o papel de Caliban, um jovem ator ale- tão é mostrar um texto de Shakespeare. Por que
mãoa. Essa escolha do diretor seria para ilumi- Shakespeare? Shakespeare continua sendo um
nar alguma ambiguidade presente no texto de modelo de texto insuperável, e sua obra é sempre
Shakespeare? relevante e contemporânea.

O texto Romeu e Julieta é, talvez, o mais A disponibilidade de textos de teatro na


conhecido de Shakespeare. O Grupo Galpão, internet oferece aos professores um dispositivo
um dos mais importantes grupos de teatro do de organização de um banco de textos teatrais
Brasil, realizou a montagem desse texto dirigida modelares para experimentos cênicos na escola.
por Gabriel Villela. A concepção de Gabriel Tal banco pode ser organizado com textos de
Villela para o Galpão transpôs a tragédia dos autores como Shakespeare, Ésquilo, Sófocles,
dois jovens apaixonados para o contexto da Molière, Koltés, Novarina, A. Jarry, Beckett,
cultura popular brasileira. Encenado na rua, Ionesco, Arrabal, Brecht, Heiner Müller,
inspirado na linguagem poética de Guimarães Vinaver, Pinter, Büchner e Pirandello, entre
Rosa e de Minas Gerais, utilizando elementos outros. Para modelos dramatúrgicos brasileiros,
da cultura popular nos figurinos, músicas autores como Maria Clara Machado, Oswald
e cenário (os atores representam em cima de Andrade, Ariano Suassuna, Nelson
de pernas-de-pau em um carro Veraneio), Rodrigues, Jorge Andrade, Oduvaldo Viana
o espetáculo é um momento mágico da Filho, Plínio Marcos, Alcione Araújo, Luis
criação artística. Em julho de 2000, o Grupo Alberto de Abreu, Fernando Bonassi e Newton
Galpão coroou sua trajetória com uma série Moreno, entre tantos outros.
de apresentações da montagem em Londres,
no palco do Shakespeare’s Globe Theatre, Para essa proposição de apreciação, que
onde recebeu uma consagradora acolhida trata da matéria textual, é interessante es-
do público inglês. O que os alunos pensam colher dois ou três textos de Shakespeare. A
dessa linguagem particular de encenação do partir deles, a ideia é estimular nos alunos a
texto Romeu e Julieta, de Shakespeare? O que percepção da forma como o escritor pensa a
diferencia e o que aproxima o escritor de teatro concretização de seu texto em cena. Para isso,
do encenador do texto teatral? diferentes fragmentos podem ser selecionados
para realizar um processo de leitura detida, ou
Oferecer essas informações comentadas aos seja, uma leitura que vai se ater a analisar as
alunos e, se possível, na sala de informática, mos- cenas escolhidas, mesmo não se conhecendo a

a
Para aprofundar mais, consulte: BROOK, Peter. A porta aberta: reflexões sobre a interpretação e o teatro. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. p. 85-102.

57
obra por inteiro. Por isso mesmo, é importante que os alunos possam fazer comparações en-
que o fragmento, o recorte do texto, contenha tre os textos, a partir de diferentes focos de
recursos dramatúrgicos, como a mudança de análise das cenas. Para isso, sugerimos algu-
interlocutores no diálogo, a mudança de tom mas explorações, tais como:
ou de intensidade e indicações cênicas que
apontam a “espetacularidade” pretendida
pelo escritor. O estudo, assim, será da ma- f sobre o tempo e o espaço: Qual é o espaço
téria textual, olhando as especificidades do onde se dá a ação? Em que tempo? Quem
texto de teatrob e a dimensão cênica presente está na cena? Existe um único espaço ou
em sua escritura. diversos espaços superpostos?

O texto de teatro, por natureza, é uma f sobre os personagens: Quem fala com
potencialidade cênica à espera de sua ence- quem? Por quê? Os personagens se conhe-
nação. É como se as palavras do dramaturgo cem? Qual é o sexo, a idade, a classe social
dormissem deitadas ao longo das páginas es- de cada um, o sistema de relações? Qual é
critas, esperando ser acordadas para ficar em o tratamento utilizado entre eles − formal
pé no palco pelo processo de criação na ence- ou informal? O que cada um quer? O que
nação. Encenação que é materializada no es- arriscam? O que têm a ganhar e a perder?
paço teatral ou na virtualidade da encenação Há cooperação ou conflito? Os persona-
imaginária que fabrica um leitor-espectador gens falam a verdade? Suas alegações são
que está diante do texto dramático. informações críveis ou há enganação, ma-
nipulação? Em que ritmo começa a cena?
Fazendo uma leitura detida dos Quem está aí? Quem entra? O que fazem?
fragmentos escolhidos, no Caderno O espaço é familiar ou estranho aos per-
do Aluno, pode ser registrado: sonagens?

f sobre a ação e a relação da palavra com


f Há diferença entre a estrutura do texto de a ação: A palavra serve para transmitir
teatro e a de outro texto? Justifique sua informações ou ela muda a situação? Há
resposta. um conflito? Quais os obstáculos aos dese-
jos dos personagens? Do seu ponto de vis-
f O que você percebe na estrutura em forma ta, alguém ganha nesse conflito? Quais as
de diálogos entre os personagens? ações físicas descritas pelo autor? Qual é
a ação da fala, o que ela provoca? Quais
f Para você, qual é a função das rubricas (in- são os assuntos que podemos destacar da
dicações cênicas, direção de cena ou didas- conversação, da narração, da ação ou das
cálias que conduzem o movimento de cenas, imagens em cena? Como circula a palavra?
tempos, climas, movimento dos persona- Quem fala mais, quem toma a iniciativa da
gens, cenário, ritmo e, algumas vezes, ação palavra? Como se faz a troca de falas? Há
física dos atores) que aparecem geralmente continuidade, bifurcações, rupturas, silên-
entre parênteses ou em itálico no texto? cio? Os personagens se escutam?

A proposta de leitura detida vai aconte- A leitura detida, desse modo, é um exer-
cendo diversas vezes, ocorrendo em várias cício para mover os alunos ao encontro de
aulas, com os diferentes fragmentos, para um texto de teatro na íntegra. Da leitura dos

b
Sobre a especificidade do texto teatral e sua relação com a representação, consulte: UBERSFELD, Anne. Para
ler o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2005. p. 1-28.

58
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

fragmentos, de qual dos textos os alunos gos- A ideia é realizar uma divisão no texto,
tariam de fazer uma leitura na íntegra? O que fazendo um mapeamento das pausas/respira-
a leitura revela? Os alunos gostariam de ence- ção nas falas do personagem, marcadas por
nar o texto? meio dos seguintes sinais:

Proposição III – Ação expressiva:


uma partitura vocal
V I II III
Pensemos sobre a palavra como mate- f o sinal V é usado para marcar pequenas
rialidade sonora no fazer cênico. Oralidade tomadas de ar feitas, geralmente, antes de
cotidiana. Oralidade teatral. Como os alunos vogais iniciais, e que permitem chegar ao
percebem o uso da voz fora e dentro do contex- final da ideia em exposição. Por exemplo:
to cênico? Como os alunos percebem a ação de “Personagem – Antes V querido amigo V
falar e ouvir um texto de teatro? quero te lembrar que nossos vizinhos V te-
rão que ser agraciados V pelos excelentes
As proposições de experiências cênicas de serviços V prestados à comunidade”;
apropriação do texto oferecidas na primeira
parte do Caderno abrem o processo de inves- f o sinal I indica que existe um pequeno
tigação da vocalidade para a cena, engen- momento para buscar o ar, uma pequena
drando uma experiência de oralidade teatral, pausa, onde houve um fechamento par-
da voz como ação vocal. cial de um pensamento, mas há uma reto-
mada imediata para complementação do
Agora, partindo da investigação da maté- mesmo;
ria textual realizada na proposição anterior
com diferentes fragmentos de texto, a ideia é f o sinal II indica que o pensamento efetiva-
colocar os alunos em estudo sobre a palavra mente chegou ao seu final. A pausa para
como materialidade sonora, num trabalho de a tomada de ar é bem maior, indicando a
notação e anotação no texto chamado parti- conclusão de uma ideia;
tura vocal.
f o sinal III é usado para indicar uma pausa
Nessa proposta de composição de uma bem mais ampla.
partitura vocal, por ter o ato respiratório
uma função primordial no ato de dizer, o Cada aluno poderá fazer a sua divisão do
exercício terá como foco a respiraçãoc. Nes- texto, marcando os períodos respiratórios a
se sentido, a partitura vocal se faz tal qual a lápis, partindo da leitura das falas e buscan-
música: som e pausa. do usar a respiração para evidenciar emoção,
intenção e demais necessidades para a inter-
Partindo dos fragmentos de textos tra- pretação do texto.
balhados na proposição anterior, os alunos
escolhem um texto e o personagem com o Finalizada a marcação, os alunos falam
qual desejam trabalhar a partitura vocal. o texto obedecendo às marcas de respira-
Não há empecilho caso mais de um aluno ção. Se, no exercício, o texto de um mesmo
escolha trabalhar a fala de um mesmo per- personagem recebeu marcações diferentes, é
sonagem. uma boa oportunidade para conversar sobre

c
Para aprofundar, consulte: QUINTEIRO, Eudosia Acuña. Estética da voz: uma voz para o ator. São Paulo:
Summus, 1989. p. 93-95.

59
a relação existente entre a matéria textual,
a vocalidade na cena e a encenação. Como
os alunos percebem a diferença a partir dessa
relação?
Diálogos sobre o teatro
no território da
É importante lembrar aos alunos que os
sinais de pontuação do texto escrito devem materialidade
ser ignorados, pois a marcação da respiração
é um trabalho de estudo da ação vocal, do
modo de dizer o texto. matpria textual
palavra como materialidade sonora no fa]er cênico
No exercício da partitura, no falar-ouvir, partitura vocal como matpria da vocalidade em cena
vo] matpria da ação vocal.
que os alunos encontrem os sons e os silêncios
das palavras que agem na voz!

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 9
ARTES VISUAIS

Como diz Pareysona: “sem o olhar fecunda- f Hoje eu me sinto como água, ar, terra ou
dor do artista, a matéria é inerte e muda: ape- fogo?
nas o olhar formativo desperta-a para a vida da
arte”. Matérias, suportes, ferramentas e proce- f Sou um papel de seda, papel vegetal, pa-
dimentos são fecundados pelos que trabalham pel espelho, papel laminado, papel sulfite,
com a arte. Assim, a chuva como matéria da papel manufaturado, papel-carbono, papel
natureza se transforma em matéria na arte, que amassado...?
carrega em si múltiplas significações, como já
foi visto. Proposições diversas podem ajudar a f Meus pensamentos são como concreto, vi-
aprofundar a questão da materialidade em ar- dro, tela, argila, ferro, pedra, tecido, cristal,
tes visuais. madeira, sucata, couro, arame...?

Em um primeiro momento, para permitir


Proposição I – Ação expressiva maior troca entre os alunos, agrupe-os (grupos
de quatro ou cinco elementos) de modo que não
Qualquer matéria já traz em si uma fiquem com quem já estão habituados a traba-
constituição, um uso e uma destina- lhar. Eles vão mostrar suas respostas e deixar
ção que lhe são próprias. Cada ma- que os outros descubram o porquê de sua esco-
téria vem carregada de sua natureza, de uma lha. Após a leitura das matérias escolhidas por
memória, de significações culturais. Para que cada um para falar de si, o grupo dá a cada in-
os estudantes possam melhor perceber a força tegrante uma cor e o modo como ela seria feita:
expressiva de uma matéria, peça que respon- com tinta guache, tinta aquarela, tinta acrílica,
dam a perguntas, com desenhos ou palavras, lápis de cera, lápis de cor, lápis preto, carvão, ca-
no Caderno do Aluno: neta hidrográfica, caneta esferográfica etc.

a
PAREYSON, Luigi. Problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984. p. 124.

60
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Com todas as matérias que foram levanta- A “Ação expressiva” pode ser ampliada com
das, cada aluno deve criar o seu autorretrato outra composição que crie um diálogo entre
matérico com colagem, desenho ou pintura opostos. Para isso, o aluno deve escolher uma
– ou, ainda, criar um autorretrato tridimen- única matéria, que considere como síntese de
sional e registrá-lo depois, com fotografia ou si mesmo. A partir da escolha, deve selecio-
desenho, no Caderno do Aluno. Dependendo nar outra matéria muito diversa e oposta, por
das possibilidades, esses retratos podem ser exemplo, óleo e areia, algodão e madeira, papel
feitos com as palavras que nomeiam as ma- e pedra etc. O que podem fazer com esses mate-
térias, com a colagem dessas matérias ou com riais? Como despertar essas matérias para uma
desenhos que as representem. produção artística? O que terão de pesquisar? Que
ferramentas utilizar? Que procedimentos técnicos
Em um segundo momento, no grande gru- serão necessários para criar os trabalhos?
po, esses retratos serão mostrados oferecendo
outra oportunidade de leitura, um aprofunda- O diálogo com a matéria – tenso, inquieto e/ou
mento. A exposição dessas matérias, as pro- prazeroso – pode evidenciar os percursos de cria-
blematizações, as classificações possíveis, as ção e convidar os estudantes a novas experiências
relações provocadas podem ampliar o olhar estéticas por caminhos ainda não trilhados. Por
sobre a natureza de cada matéria e a sua po- mais insólitas e diferentes que possam ser as du-
tencialidade poética. Percebem que a matéria plas de matérias, as soluções podem desvelar as
já traz em si significação? escolhas, as decisões, as ousadias estéticas.

© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça

Figura 31 – Nuno Ramos. Casco, 2004. Instalação. Barcos, areia queimada e prensada, breu.

61
© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça

Figura 32 – Nuno Ramos. Morte das casas, 2004. Instalação. Bomba d’água, água, alto-falantes, coro
declamando trecho de Morte das casas de Ouro Preto, de Carlos Drummond de Andrade. Centro Cultural
Banco do Brasil, São Paulo (SP).

62
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça


Figura 33 – Nuno Ramos. Sem título, 2005. Técnica mista, 280 × 780 × 250 cm.

© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça

Figura 34 – Nuno Ramos. 111, 1992-1993. Instalação. Pedaços de jornal e folhas da Bíblia colados com asfalto e breu sobre
paralelepípedos, impressão em chumbo e escrita em vaselina.

63
© Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013
© Muniz, Vik/Licenciado por
AUTVIS, Brasil, 2013

Figura 35 – Vik Muniz. Medusa marinara (baseado Figura 36 – Vik Muniz. Valentina, a mais rápida,
em Caravaggio), 1998. Fotografia. 1996. Fotografia. (Série Crianças feitas com
açúcar.)
© Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

© Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

Figura 37 – Vik Muniz. Action photo (baseado em Figura 38 – Vik Muniz. Manhattan I, 2001.
Hans Namuth), 1997. Fotografia. (Série Figuras de Fotografia. (Série Nuvens.)
chocolate.)

64
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça

Figura 39 – Leda Catunda. Adão e Eva, 2002. Acrílica sobre tela, veludo e voile, 195 × 140 × 35 cm.

65
© João Musa

Figura 40 – Leda Catunda. Xica, a gata – Jonas, o gato, 1984. Acrílica, pelo artificial e luz, 140 cm de diâmetro cada.

66
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

© Edu Brandão

Figura 41 – Leda Catunda. Onça pintada no 1, 1984. Acrílica sobre cobertor, 157,5 × 192,5 cm.

67
© Eduardo Ortega/Galeria Fortes Vilaça

Figura 42 – Leda Catunda. Vida animal, 2004. Técnica mista sobre tela e voile, 197 × 194 cm.

68
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Proposição II – Movendo a mentas convencionais e não convencio-


apreciação nais, furadeira, carpintaria, serra, pincéis,
câmera de vídeo, molde de madeira, com-
Uma curadoria educativa a partir da putador, digitalização de imagens e sons
obra de três artistas contemporâneos pode etc.;
ampliar a compreensão da materialidade
em diálogo com a poética de cada um. f procedimentos: técnica mista, junção de
materiais, fotografia a partir de com-
A leitura comparativa das imagens – posição com determinadas matérias,
além de outras que você pode complemen- processos técnicos tradicionais, procedi-
tar, como as esculturas de Franz Kracjberg mentos técnicos inventivos, processos ar-
com matéria retirada das queimadas – pode tesanais, subversão de usos, transgressão
problematizar a questão da materialidade, da matéria, acúmulo, procedimentos de
pois os artistas selecionados trabalham com computação.
uma grande diversidade de matérias e mo-
dalidades. O que chamou mais a atenção dos alunos?
Que outras matérias, suportes, ferramentas e
Muitas vezes, na legenda de uma reprodu- procedimentos já viram em artes visuais?
ção de uma obra ou na plaqueta ao lado dela
na exposição, é usado o termo “técnica mis-
ta” para se referir a muitas matérias, como Proposição III – A materialidade
vemos, por exemplo, na obra Sem título, de em jogo
Nuno Ramos, de 2005. Investigue com os
alunos a materialidade das obras apresen- Depois da ampliação de conceitos e
tadas. O que os alunos conseguem distinguir experiências sobre a questão da materia-
lendo as imagens? O que as legendas apontam? lidade, proponha uma lição de casa que
Na lousa, você pode ir mapeando com os será feita individualmente ou em grupo e,
alunos as matérias utilizadas, os suportes, as depois, registrada no Caderno do Aluno:
ferramentas e os procedimentos. um jogob para instigar o uso de matérias
não convencionais. Para isso, amplie a lis-
ta que foi feita na “Apreciação” com vários
f matérias: água, areia queimada e prensa- tipos de matérias, suportes, ferramentas e
da, breu, mármore, macarrão e molho de procedimentos. Depois de numerá-los por
tomate, açúcar, chocolate, nuvens, papel, categoria, pode-se proceder a um sorteio.
acetato, fotomontagens, vidro soprado, Além dos quatro elementos sorteados (uma
espumante, ostras, rocha, barco; matéria, um suporte, uma ferramenta e um
procedimento), os alunos podem escolher
f suportes: chão, parede, prato, papel, ví- mais um elemento. A encomenda é reali-
deo, plotagem; zar, então, uma produção com esses cinco
elementos. Um esboço do projeto deve ser
f ferramentas: fio de náilon, alto-falantes, registrado no Caderno do Aluno e pode
gravação de coro declamando poema, acompanhar a obra que será apresentada
bomba d’água, resistência elétrica, ferra- à classe.

b
Esse jogo é uma recriação do que foi criado pelo professor da rede estadual Pio Santana, e que é foco de sua dissertação
de mestrado, Território contemporâneo em jogo: uma proposta lúdica para o ensino de Arte, no Instituto de Arte da Uni-
versidade Estadual Paulista.

69
Cada aluno, antes de mostrar o trabalho, matprias, suportes, ferramentas e procedimentos
pode falar do processo de criação e do diá- tradicionais e inusitados
subversão de uso junção de matprias
logo entre ideia e materialidade. Depois, a ac~mulo apoio tecnolygico.
leitura das produções dos alunos e dos pro-
jetos pode levar a ampliar ainda mais a lis-
tagem de matérias, procedimentos, suportes
e ferramentas, instigando os alunos para Diálogos sobre as artes visuais
outras ideias estéticas. no território da
materialidade

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 10
A GRAMÁTICA DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS

No processo de criação em arte, há uma formas visuais se separem daquilo que elas
estreita ligação entre a materialidade e a cons- nos dizem”.
trução da forma por meio dos elementos bási-
cos de cada linguagem. As formas falam. Onde se vê a forma, lá
está o conteúdo. Para Pareysonb, “o conteúdo
Os alunos, estando na 8a série/9o ano, já es- nasce como tal no próprio ato em que nasce a
tudaram esses elementos? Podem reconhecê-los forma, e a forma não é mais que a expressão
em todas as obras lidas e produzidas nas quatro acabada do conteúdo”.
Situações de Aprendizagem anteriores? Como
lidam com as questões formais? Com quais te- Quais são os elementos básicos das lingua-
máticas têm trabalhado? Percebem a relação gens artísticas? Para responder a essa questão,
entre forma e significado? que envolve os elementos formais da gramática
das linguagens artísticas, proponha um jogo no
Muitas vezes, as questões formais são Caderno do Aluno: ligar alguns dos elementos
estudadas desvinculadas das significações formais (listados ao centro) a cada linguagem
possíveis de uma obra. Isto é perigoso, con- artística. Inicialmente, instigue os alunos a ligar
forme Arnheima: “Desde que consideraram os elementos às linguagens. O mesmo elemento
formas e cores num vácuo, esta atitude não pode estar presente em várias linguagens. A partir
foi nada mais do que uma maneira de evi- das perguntas dos alunos, que certamente virão,
tar a Arte. [...] não há razão para que as você pode ampliar a compreensão dos conceitos.

a
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Thomson Learning,
2002. s/n (sétima página da Introdução).
b
PAREYSON, Luigi. Problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984. p. 55.

70
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Figura 43 – Elementos das linguagens da arte.

71
Em artes visuais, muitos estudiosos se de- peça. Ao longo dos séculos XVI e XVII, o
dicaram aos estudos desses elementos, mas pensamento harmônico – a escuta de blocos
não há uma única interpretação sobre eles. de notas soando simultaneamente – foi se tor-
Para Dondisc, os elementos visuais consti- nando mais consciente e, a partir do século
tuem a substância básica do que vemos e seu XVIII, tornou-se mais importante que o con-
número é reduzido: ponto, linha, contorno, traponto (linhas melódicas autônomas sobre-
direção, tom, cor, textura, dimensão, escala e postas). Uma mesma melodia pode adquirir
movimento. diferentes “roupagens” por meio de diferen-
tes harmonizações, sendo esse, muitas vezes,
Ferraz e Fusarid chamam atenção para as um objetivo de arranjadores, improvisadores
relações entre a superfície, o espaço, o volume, e compositores, especialmente quando citam
as linhas, as texturas, as cores, a luz. Para elas, melodias de outros autores ou canções po-
os elementos da visualidade têm suas próprias pulares. As recomendações (regras) para que
potencialidades expressivas e são geradores de essas combinações de notas fossem conside-
múltiplos significados. Estes, intermediados radas “harmônicas” variaram de acordo com
tanto pelos autores como pelos espectadores, os períodos históricos e, hoje, é possível estru-
são gerados e articulados expressivamente por turar harmonicamente uma música usando e
procedimentos artísticos na criação e na per- mesclando as diversas formas de agenciamen-
cepção das obras. to sonoro já existentes, incluindo os sons mi-
crotonais e eletroacústicos.
No material educativo para professor pro-
positor que acompanha os DVDs da DVDte- A dança tem sua gramática centrada no
ca Arte na Escola, do Instituto Arte na Escola, corpo, a partir do vocabulário estudado e
há uma cartografia que aponta para o territó- apreendido por seus praticantes, nas dife-
rio de forma-conteúdo: os elementos da visua- rentes linguagens existentes dentro da lin-
lidade (cor, luz, valor, linha, superfície, ponto, guagem da dança. Do vocabulário estudado
textura, volume, espaço etc.), relações entre surgem os movimentos que sofrem variações a
os elementos da visualidade em artes visuais partir da intensidade, da força ou de dinâmi-
(ritmo, movimento, sobreposição, composi- cas que são empregadas nos diferentes níveis
ção, tempo e espaço, harmonia, proporção, espaciais onde acontecem. Movimentos so-
equilíbrio, simetria, assimetria, escala, con- mados, acrescidos de uma temática, poderão
traste, tensão, bidimensionalidade, tridimen- vir a ser elementos integrantes de uma coreo-
sionalidade, relação figura/fundo, cheio/vazio, grafia, onde seus praticantes dançarão sob o
dentro/fora, aberto/fechado, interior/exterior, ritmo de determinada música, de efeitos sono-
convexidade/concavidade, frontalidade, acú- ros ou do silêncio.
mulo) e as várias possibilidades temáticas.
Corpo, voz, gesto, texto, ação, cenário, fi-
Na música, uma das maneiras de estrutu- gurino, música, luz são elementos que fazem a
rar a combinação simultânea das notas é por linguagem teatral, seja na rua ou no palco. É
meio da harmonia. Acordes, tríades, tétrades, a comunhão desses elementos que celebramos
funções harmônicas, conceito de consonância como fazedores da cena. É o espetáculo visto
e dissonância, condução da escuta, criação de que continua a ressoar em nós, espectadores,
expectativa e de conclusão, dinamização do quando a cena final se desmancha, se vai. Em
discurso sonoro, entre outros, são itens com nossa imaginação permanecem dizeres e que-
os quais lida a técnica de harmonizar uma reres das personagens. Na memória, o cenário

c
DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
d
FUSARI, Maria F. R.; FERRAZ, Maria Heloisa. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.

72
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

se refaz iluminado pela luz que marcou um mundo animal, religiosa, paisagens fantásticas
gesto ou o figurino do corpo do ator que nos e oníricas, vida cotidiana, composições híbri-
contou uma história. das etc.). Tudo pode ser tematizado.

Podemos perceber que não é possível esta- A análise de todas as obras utilizadas neste
belecer um único modo de classificar os ele- Caderno pode aprofundar o estudo aqui pro-
mentos básicos de cada linguagem. O mais posto, lançando focos para que você perceba
importante é que as leituras desses elementos o que precisará ser retrabalhado no Volume 2.
possam oferecer novas pistas para as múl-
tiplas possibilidades interpretativas de cada
obra, sejam feitas por um conceituado artista elementos básicos da
elementos da linguagem da música som
ou por nossos estudantes. silêncio melodia Karmonia ritmo linguagem da dança: corpo
altura duração intensidade timbre espaço movimento tempo
andamento dinkmica percepção a¿nação coreogra¿a dinkmica m~sica
Além dos elementos básicos, também com- textura, arranjo, orTuestração cenário ¿gurino.
põem o território de forma-conteúdo as temá- improvisação forma.
elementos básicos da linguagem do
ticas potenciais. Elas são visíveis justamente teatro: corpo, vo], gesto, texto, ação
elementos básicos da visualidade: elementos cenário ¿gurino.
pelos elementos formais que as sustentam, cor lu] valor linKa, superftcie,
temáticas que impulsionam a criação
pois onde está a forma, vê-se o conteúdo. ponto, textura, volume, espaço
nas linguagens artísticas.
relaç}es entre esses elementos
(composição, ritmo, movimento,
Há temáticas não figurativas (abstrata, simetria, assimetria, escala,
contraste, tensão,
abstração informal, abstração geométrica, abs- bidimensionalidade,
A gramática das
tração expressionista, orgânica, geométrica etc.) tridimensionalidade etc.). linguagens da arte
no território de
e temáticas figurativas (retrato, autorretrato, forma-conteúdo
natureza-morta, paisagem, histórica, costumes,

73
SÍNTESE E AVALIAÇÃO
A formação cultural dos alunos envolve mostram os conteúdos potenciais apresen-
diferentes aspectos, entre os quais a am- tados nas possibilidades deste Caderno, fo-
pliação de conceitos, da percepção e da ex- calizando tanto o território de materialidade
pressão sobre/na arte. Os mapas a seguir como o de forma-conteúdo.

matpria sonora e signi¿cação


instrumentos tradicionais e
não tradicionais instrumentos matprias, suportes, ferramentas e
elptricos e eletr{nicos sons corporais procedimentos tradicionais e
criação de novos instrumentos precisão inusitados tpcnica mista subversão
rítmica a¿nação procedimentos tpcnicos. de uso junção de matprias
ac~mulo apoio tecnolygico.

o corpo como suporte físico da dança


objetos cênicos cenário.

Diálogos das
matpria textual
palavra como materialidade linguagens da arte
sonora no fa]er cênico
partitura vocal como matpria da no território da
vocalidade em cena
vo] matpria da ação vocal.
materialidade

elementos da linguagem da música: som elementos básicos da


silêncio melodia Karmonia ritmo linguagem da dança: corpo
altura duração intensidade timbre espaço movimento tempo
andamento dinkmica percepção a¿nação coreogra¿a dinkmica m~sica
textura, arranjo, orquestração cenário ¿gurino.
improvisação forma.

elementos básicos da linguagem do teatro:


corpo, vo], gesto, texto, ação elementos
cenário ¿gurino.
elementos básicos da visualidade:
cor lu] valor linKa, superfície, temáticas que impulsionam a criação
ponto, textura, volume, nas linguagens artísticas.
espaço relaç}es entre esses
elementos (composição,
ritmo, movimento, simetria,
assimetria, escala, contraste,
tensão, bidimensionalidade, A gramática das
tridimensionalidade etc.). linguagens da arte
no território de
forma-conteúdo

74
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Avaliando os portfólios
Partindo desses mapas e das experiências f Investigaram a potência da matéria, dos
estéticas e artísticas realizadas em sala de aula suportes, das ferramentas e dos procedi-
e registradas pelo aluno em seu portfólio – mentos nas linguagens da arte?
Caderno do Aluno e outros modos de registro
realizados –, você, professor, pode avaliar o f Pesquisaram o diálogo entre a intenção
percurso trilhado com a turma. criativa, a materialidade e as conexões en-
tre forma-conteúdo?
Além disso, no Caderno do Aluno, em “Você
aprendeu?”, é proposto um jogo de mímica, que f Operaram com os elementos da forma em
deve ser feito do seguinte modo: cada aluno, num Arte, com temáticas e com a materialida-
pequeno espaço de papel, escreve uma palavra de, gerando sua expressão em artes visuais,
que representa um conceito, um conteúdo ou dança, música ou teatro?
uma experiência que viveu durante os estudos e
que tenha modificado o modo de ele compreen-
der a materialidade na Arte. Cada papelzinho Refletindo sobre o seu diário de bordo
é dobrado para ser sorteado. Cada aluno sorteia
uma palavra e a partir daí tem um tempo deter- Pensando sobre o percurso dos alunos,
minado para fazer a mímica, o gesto represen- como você percebe suas ações pedagógicas?
tativo que envolva a palavra que ele recebeu. Os O modo como você escolheu e reinventou as
outros alunos fazem a leitura do gesto. possibilidades sugeridas foi adequado? O que
você faria de modo diferente? Quais outras
A partir da socialização das respostas dos conexões poderiam ter sido feitas? Para onde
alunos e da leitura dos portfólios, você perce- você pode caminhar com seus alunos a partir
beu como os alunos: de agora?

NUTRIÇÃO ESTÉTICA

Temas: Materialidade e Poéticas e processos sobre uma sensação ou um sentimento.


de criação.
No Caderno do Aluno, a ideia é criar uma
Retome com os alunos uma questão da colagem/desenho de vários elementos que
sondagem proposta para o tema Poéticas e podem expressá-los: uma onomatopeia, um
processos de criação: Como você imagina que som, um movimento corporal, uma expressão
o artista vive um processo de criação? facial, um animal, um vegetal, um mineral,
uma cor, uma forma, uma linha, um instru-
Após os alunos terem lido suas respostas, mento musical, um tipo de voz etc.
proponha que observem todas as imagens
presentes no Caderno do Aluno referentes ao A leitura da produção pode indicar quanto
tema, inclusive os trabalhos realizados até o os alunos perceberam como a materialidade pro-
momento. Durante a observação das imagens, duz significação. Nossos olhos, ouvidos e tato
inclua na discussão o tema Materialidade e, estão atentos a esta significação nas linguagens
depois, para ampliá-lo, convide-os a pensar da arte? Peça que justifiquem suas respostas.

75
RECURSOS PARA AMPLIAR A PERSPECTIVA DO PROFESSOR
E DO ALUNO PARA A COMPREENSÃO DOS TEMAS

Livros GAYOTTO, Lucia Helena. Voz: partitura da


ação. 2. ed. São Paulo: Plexus, 2002.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual:
uma psicologia da visão criadora. São Paulo: GIL, José. Os gestos de pensamento: Pina
Thomson Learning, 2002. Bausch. In: ________. Movimento total: o cor-
po e a dança. Lisboa: Relógio d’Água Edito-
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. res, 2001.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
GODOY, Amilton; SUZIGAN, Geraldo;
BOGÉA, Inês. O livro da dança. São Paulo: CRUZ, Sylvio Benedicto. Método: princípios
Companhia das Letrinhas, 2002. (Coleção da harmonia moderna. São Paulo: Edições
Profissões.) Musicais Zimbo, 1984. 5 v.

BROOK, Peter. A porta aberta: reflexões so- HELIODORA, Bárbara. Falando de Shakespeare.
bre a interpretação e o teatro. Rio de Janeiro: São Paulo: Perspectiva, 1998.
Civilização Brasileira, 1999.
JOBIM, Antonio Carlos. Cancioneiro Jobim:
BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota obras escolhidas. Rio de Janeiro: Jobim
d’água: uma tragédia brasileira. Rio de Janei- Music, 2000. 2 v.
ro: Civilização Brasileira, 2002.
LEAL, Patrícia. Respiração e expressividade:
CAMARGO, Iberê. A gaveta dos guardados. práticas corporais fundamentadas em Graham
São Paulo: Edusp, 1998. e Laban. São Paulo: Fapesp/Annablume,
2006.
CHIARELLI, Tadeu. Leda Catunda. São
Paulo: Cosac Naify, 1998. LOBO, Lenora; NAVAS, Cássia. Teatro do
movimento: um método para o intérprete cria-
CYPRIANO, Fábio; ABEELE, Maarten V. dor. Brasília: LGE Editora, 2003.
Pina Bausch. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
MAGALDI, Sábato. Moderna dramaturgia
DEWEY, John. Como pensamos. 3. ed. São brasileira. São Paulo: Perspectiva, 2006.
Paulo: Editora Nacional, 1959.
________. O texto no teatro. São Paulo: Pers-
DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem pectiva, 1999.
visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em
EURÍPEDES. Medeia. Tradução Millôr Fernan- jogo: experimento de aprendizagem e criação
des. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. do teatro. São Paulo: Hucitec, 2004.

FORTUNA, Marlene. A performance da ora- MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE,


lidade teatral. São Paulo: Annablume, 2000. Gisa; TELLES, M. Terezinha. A língua do
mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São
FUSARI, Maria F. R.; FERRAZ, Maria He- Paulo: FTD, 1998. (Coleção Didática do
loisa. Arte na educação escolar. São Paulo: Ensino.)
Cortez, 1993.

76
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

MUNIZ, Vik. Reflex: Vik Muniz de A a Z. de Educação – Coleção Ensinando Aprenden-


São Paulo: Cosac Naify, 2007. do/Aprendendo Ensinando.)

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos UBERSFELD, Anne. Para ler o teatro. São
de criação. Rio de Janeiro: Vozes, 1977. Paulo: Perspectiva, 2005.

________.Universos da arte. Rio de Janeiro:


Campus, 2004. CDs e DVDs
PAREYSON, Luigi. Problemas da estética. JOBIM, Tom. Tom Jobim: maestro soberano.
São Paulo: Martins Fontes, 1984. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2006. 3 DVDs.

PEREIRA, Sayonara. Rastros do Tanztheater NASCIMENTO, Milton. Tambores de Minas


no processo criativo de es-boço. Tese (Doutora- – ao vivo. Rio de Janeiro: Warner, 1998. 1 CD.
do) – Instituto de Artes, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, 2007. PASCOAL, Hermeto. Hermeto Pascoal – ao
vivo em Montreux Jazz Festival (1979). Rio de
PRANDI, Reginaldo. Ifá, o adivinho. São Janeiro: Warner, 2002. 1 CD.
Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.
SUZIGAN, Geraldo (Org.). Educação em
PUPO, Maria Lúcia S. B. Entre o Mediterrâ- Arte: música. São Paulo: G4, 2007. v. 1. 1 CD.
neo e o Atlântico: uma aventura teatral. São
Paulo: Perspectiva/Capes/Fapesp, 2005. VIVALDI, Antonio. The four seasons. São
Paulo: Movieplay, 2002. 1 CD.
QUINTEIRO, Eudosia Acuña. Estética da voz:
uma voz para o ator. São Paulo: Summus, 1989.
Sites de artistas e sobre arte
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado:
processo de criação artística. São Paulo: Anna- ANTONIO VIVALDI. Disponível em: <http://
blume/Fapesp, 2002. www.lastfm.com.br/music/Antonio+Vivaldi>
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DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS. PROJETO PORTINARI. Disponível em:
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REGINA SILVEIRA. Disponível em:
HERMETO PASCOAL. Disponível em: <http://www.reginasilveira.com/>. Acesso
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TEATRO VENTOFORTE. Disponível em:
HISTÓRIA DA MÚSICA. Disponível em: <http://teatroventoforte.blogspot.com.br/>.
<http://www.cic.unb.br/docentes/fatima/imi/ Acesso em: 11 jul. 2013.
imi200/s/Historia/IMI-histmus-contemp.html>.
Acesso em: 11 jul. 2013. TERPSÍ TEATRO DE DANÇA. Disponível
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IMPROVISAÇÃO. Disponível em: <http:// com>. Acesso em: 2 jul. 2013.
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INSTITUTO ARTE NA ESCOLA. DVDteca. tomjobim/index.htm>. Acesso em: 11 jul. 2013.
Disponível em: <http://www.artenaescola.org.
br/dvdteca/>. Acesso em: 9 ago. 2013. UAKTI. Disponível em: <http://www.uakti.
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LEDA CATUNDA. Disponível em: <http://
www.ledacatunda.com.br/>. Acesso em: 11 VIK MUNIZ. Disponível em: <http://www.
jul. 2013. vikmuniz.net>. Acesso em: 11 jul. 2013.

GLOSSÁRIO

Cenografia – Processo de criação e construção vidual, tanto no cotidiano como na produção


do acontecimento teatral no seu aspecto espa- artística. As referências físicas, sensoriais, re-
cial e da imagem cênica. Em sua linguagem ar- gistradas na memória (individual e coletiva)
tístico-estética, utiliza-se de elementos como cor, movem o pensamento, ativam sensações e en-
luz, forma, linha e volume para solucionar este- riquecem nossa bagagem cultural, consistin-
ticamente as necessidades poéticas apresentadas do em um novo olhar apreciativo sobre o já
pelo espetáculo. Hoje, projetos cenográficos são conhecido.
expandidos para além da cena teatral, podendo
ser encontrados em exposições, ambientes, luga- Coreografia (do grego coreo, dança, e grafia,
res para as mídias e eventos artístico-estéticos. escrita) – Roteiro de movimentos e suas se-
quências que definem a execução de uma dan-
Coleta sensorial – Ação investigativa que, por ça. Existe em todas as formas de dança, desde
meio dos sentidos, alimenta o repertório indi- as mais padronizadas, como a dança clássica,

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

passando pela dança moderna, até as mais Laboratórios de criação – Encontros ou en-
livres, como a dança contemporânea, que saios em que um diretor, um professor, ou
pode recorrer à improvisação. ainda um coreógrafo, assume a função de
líder do grupo e os participantes são incen-
Crítica genética – É o acompanhamento tivados a criar situações ou sequências de
dos documentos que registram o processo movimentos. Eles podem ser estimulados de
de criação de uma obra, como anotações, diversas maneiras, no sentido de apresenta-
diários, esboços, maquetes, vídeos, conta- rem proposições corporais, textos e ideias em
tos, projetos, roteiros etc. Surgiu no con- geral. Desses laboratórios geralmente surge
texto literário. Os originais de uma obra material para a peça teatral ou coreográfica.
permitiam o conhecimento do seu pro-
cesso de criação. Atualmente, estende-se a Poética – Marca a singularidade da obra de
contextos artísticos e a processos comuni- um artista, amalgamada a suas crenças, gos-
cativos mais amplos, como artes plásticas, tos e repertório, localizada em um tempo e
dança, teatro, fotografia, música, arquite- em um espaço que inevitavelmente o afetam.
tura, jornalismo, publicidade etc. O projeto poético de um artista, embora de-
tenha sua marca singular, está em permanen-
Curador – Responsável pela seleção de te processo de invenção.
obras a ser apresentadas em uma exposi-
ção, levando em consideração a natureza Sapateado – Modalidade de dança, original-
do tema, o espaço físico etc., criando um mente irlandesa, que teve suas primeiras ma-
fio condutor. nifestações no início da primeira Revolução
Industrial. Os operários costumavam usar
Dança contemporânea – É um conjunto de tamancos (clogs) para isolar a umidade que
princípios e procedimentos desenvolvidos subia do solo e, nos períodos livres, reuniam-
partindo da dança moderna e pós-moder- -se nas ruas para competir: quem fizesse o
na. Enquanto a dança moderna modificou maior e mais variado número de sons com
drasticamente as “posições-básicas” dos os pés, de forma mais original, seria o ven-
pés, das pernas e dos braços (oriundas da cedor. Essa tradição ficou conhecida como
dança clássica) e tirou as sapatilhas das Lancashire Clog. Por volta de 1800, sapatos
dançarinas, a dança contemporânea busca foram adaptados especialmente para essa
uma ruptura total com a dança clássica. dança. Os calçados eram mais flexíveis, feitos
de couro, e moedas eram fixadas à sola para
Figurino – Vestimenta utilizada pelos atores que o som fosse mais limpo. Mais tarde, finas
para a caracterização de seus personagens, placas de metal (taps) passaram a ser fixadas
de acordo com sua natureza, e que identi- no lugar das moedas, o que aumentou ainda
fica, geralmente, a época e o local da ação. mais a qualidade do som. O sapateado tam-
Assim como na vida real, o vestuário, no bém é muito popular nos Estados Unidos da
teatro, tem a função de reproduzir várias América e foi introduzido no país por volta
normas de diferentes culturas. Ao identi- de 1840, quando escravos, que já possuíam
ficar seu procedimento, identificam-se o um estilo de dança próprio baseado nos sons
sexo, a idade, a classe social, a profissão, corporais, tiveram contato com imigrantes ir-
a nacionalidade ou a religião do persona- landeses. Em 1930, o sapateado ganhou força
gem. Ao mesmo tempo, o figurino é um com os grandes musicais, que contavam com
símbolo que representa atmosfera, época a participação de nomes como Fred Astaire,
histórica, região, estação do ano, hora do Gene Kelly, Ginger Rogers e Eleonor Powell.
dia, entre outras situações. Igualmente, o Por não ser apenas uma forma de dança, mas
figurino associa, identifica e equipara ou- também de percussão, o sapateado se dife-
tros sistemas culturais. rencia entre o meio artístico.

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Site specific ou sítio específico – Obras fruto de convites, para um certo local, em
criadas de acordo com o ambiente e com que os elementos esculturais dialogam com
um espaço determinado. Trata-se, em ge- o meio circundante, para o qual a obra é
ral, de trabalhos planejados, muitas vezes elaborada.

ARTISTAS E OBRAS

Andrea Cavinato – Atriz, contadora de histó- perfil de dança contemporânea que mantém
rias e arte-educadora. Mestre em Arte. Em sua até hoje, destacando-se no cenário da dança
atuação teatral, destacam-se os espetáculos De sul-americana. Baile na roça: coreografias para
profundis, Histórias que o eco canta, Uma rosa Portinari, espetáculo de 1998, mostra os avanços
para Bel e A grande praga. A atriz é integrante da do elenco na proposta do diretor José Possi Neto
Cia. Caixa de Fuxico, da Cooperativa Paulista de estimular um laboratório de criação junto
de Teatro, desde 1999. Sua formação em arte cê- aos dançarinos. Assinado por nove integrantes
nica é composta pelo curso de teatro do Teatro do elenco e ao som de compositores brasileiros,
da Imaginação e da formação de atores da Casa como Egberto Gismonti, Caetano Veloso,
do Teatro Ventoforte. Sérgio Assad e Hermeto Pascoal, o espetáculo
retira significados da obra de Candido Portinari
Antonio Vivaldi (Itália, 1678 – Áustria, 1741) – para compor um mosaico de soluções cênicas e
Compositor italiano do período barroco, foi um coreográficas.
dos maiores violinistas de sua época. Reconhe-
cido como incomparável virtuose do violino, foi Bibi Ferreira (Rio de Janeiro/RJ, 1922) – Dire-
responsável por avanços técnicos e expressivos tora e atriz. Abigail Izquierdo Ferreira é filha
dos instrumentos de cordas em geral. Foi tam- do ator Procópio Ferreira, tendo sido criada
bém o principal compositor a estabelecer as ba- nos palcos desde cedo. De família circense, dos
ses do concerto para solista (orquestra e solista). Queirolo, é sobrinha do famoso palhaço Chi-
Compôs mais de 500 concertos, sendo mais da -Charrão (José Carlos Queirolo). Bibi Ferreira
metade deles para violino (grupo ou solo) ou desenvolveu ao longo de sua carreira um reco-
violoncelo, além de inúmeras peças sacras, músi- nhecido talento como atriz e diretora de musi-
ca lírica (óperas e cantatas) e música de câmara. cais de todos os tipos. Sua pequena estatura se
O valor e a extensão de sua produção só foram transforma na interpretação de personagens
reconhecidos a partir do início de século XX e como Joana, de Gota d´água, ou Piaf, homena-
dentre suas composições mais apreciadas estão gem à cantora francesa Edith Piaf.
As quatro estações. Acredita-se que a autoria
dos quatro sonetos correspondentes aos quatro Carlos Drummond de Andrade (Itabira/MG,
concertos seja do próprio Vivaldi. Na partitura, 1902 – Rio de Janeiro/RJ, 1987) – Escritor. Fun-
o compositor indica as correspondências com as dou A revista para divulgar o modernismo no
imagens dos poemas, detalhando algumas cenas Brasil. Funcionário público, começou a escre-
e sons: tempestade, ventos, canto do cuco, entre ver muito cedo, com extensa produção: poesia,
outros. livros infantis, contos e crônicas. Por seus versos
livres, liberdade linguística e temáticas cotidia-
Balé da Cidade de São Paulo – Companhia de nas, é considerado um dos mais importantes
dança clássica fundada em 1968 com o nome de poetas brasileiros.
Corpo de Baile Municipal tendo como objetivo
acompanhar as óperas do Teatro Municipal Cia. Caixa de Fuxico – Companhia de teatro
e se apresentar com as obras do repertório formada em 1999 a partir da experiência ad-
clássico. Em 1974, a companhia assumiu o quirida junto ao grupo Ventoforte (importante

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

referência no panorama do teatro brasileiro flexões. Entre suas obras destacam-se Inserções
desde os anos 1970) e da prática no ensino de e Desvio para o vermelho (1967), reinstalada na
Arte para crianças e jovens, do interesse e pes- 24a Bienal de São Paulo.
quisa dos profissionais que formam o grupo
pela cultura brasileira nas suas manifestações Chico Buarque (Rio de Janeiro/RJ, 1944) –
musicais dramáticas, folguedos e festas popu- Compositor, intérprete, poeta e escritor. Filho
lares. A Cia. vem se apresentando em escolas, do historiador Sérgio Buarque de Holanda,
unidades do Sesc, centros culturais, bibliotecas, desde a infância teve contato com grandes
casas de cultura, praças, feiras de teatro e ou- personalidades da cultura brasileira, como
tros espaços que privilegiam a narrativa com o Vinicius de Moraes, Baden Powell e Oscar
objetivo de nutrir o imaginário de crianças e jo- Castro Neves, amigos de seus pais ou da irmã
vens, contando histórias em clima de espetáculo mais velha, Miúcha, também cantora e violo-
folclórico e pesquisando seus aspectos simbóli- nista. Foi parceiro de Vinicius de Moraes, Edu
cos em busca de contos que apresentem temas Lobo, Tom Jobim, Augusto Boal, Caetano
universais. Encenou, entre outros espetáculos, Veloso e Carlos Lyra, entre outros. Além de
A dança das cores, Um mar de outras histórias, músicas que criticavam a ditadura militar, sob a
A odisseia, A fada Oriana e O mahabharata – o qual o Brasil esteve submetido entre 1964 e 1985,
grande teatro de olhar o tempo. Seus espetácu- compôs várias canções fazendo uso de um “eu”
los têm características específicas do grupo, o feminino, retratando temas a partir do ponto de
qual procura manter viva a figura do contador vista das mulheres, com notória poesia e beleza.
de histórias e inclui como recursos da narrativa A peça Gota d’água, de 1975, foi escrita em parce-
a música, o teatro de animação (bonecos, ob- ria com Paulo Pontes. Inspirada na tragédia gre-
jetos, instrumentos musicais, as mãos da atriz ga Medeia, de Eurípedes, a peça, uma tragédia
que se transformam em personagens) e a festa urbana em forma de poema com mais de quatro
folclórica. mil versos, tem como pano de fundo as agruras
sofridas pelos moradores de um conjunto ha-
Cildo Meireles (Rio de Janeiro/RJ, 1948) – Ar- bitacional num morro carioca, a Vila do Meio-
tista multimídia que encara a arte como uma -dia, e o centro da trama é a relação entre Joana
forma de pensar, transformando objetos mun- e Jasão, um compositor popular cooptado pelo
danos em reflexão. Residiu em Goiânia, Belém poderoso empresário Creonte. Jasão termina
do Pará e Brasília, onde se dedicou ao desenho. por largar Joana e os dois filhos para casar-se
Quatro anos depois, em 1967, cursou a Escola com Alma, a filha do empresário.
Nacional de Belas Artes e frequentou o ateliê de
gravura do Museu de Arte Moderna, ambos no Elis Regina (Porto Alegre/RS, 1945 – São Paulo/
Rio de Janeiro. Do desenho passa a uma pro- SP, 1982) – Uma das maiores intérpretes da mú-
dução conceitual voltada à crítica aos meios e sica popular brasileira, dona de uma voz ímpar
suportes das linguagens artísticas tradicionais. e de uma expressividade intensa e personalíssi-
Residiu em Nova Iorque entre 1971 e 1973. No ma. Surgiu nos festivais de música das televisões
Brasil dos anos 1970-1980, Cildo arquitetou na década de 1960 e em sua carreira interpre-
uma série de trabalhos (Inserções) que faziam tou vários gêneros – bossa nova, samba-can-
uma severa crítica à ditadura militar, tocando ção, entre outros. Suas gravações retratam os
em questões sociopolíticas de maneira potente; diferentes momentos pelos quais o país passou
ao mesmo tempo, trabalhou engenhosamente e durante sua vida, cantando desde a alegria e a
de maneira inédita com materiais, recriando as esperança até a crítica melancólica pelas perdas
relações tempo/espaço. Herdeiro da atitude de que a ditadura militar impôs ao povo. Ivan Lins,
experimentação, do interesse pela investigação Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc,
sensorial do corpo e da preocupação com a in- Tom Jobim e Chico Buarque estão entre os com-
teração entre obra e espectador presentes em positores cujas obras, na voz de Elis, se torna-
Hélio Oiticica e Lygia Clark, Cildo provoca re- ram referência para a cultura brasileira.

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Eurípedes (c. 480 a.C.-406 a.C.) – Poeta mais Hermeto Pascoal (Olho d’Água/AL, 1936) –
jovem dentre os grandes expoentes da tragédia Músico multi-instrumentista, compositor,
grega clássica. Com ele, esse gênero ganhou improvisador, arranjador e construtor de ins-
novos elementos. Suas peças não são acerca trumentos musicais inusitados. Considerado
dos deuses ou da realeza, mas sobre pessoas um dos maiores gênios da música, é reconhe-
reais. Colocou em cena camponeses ao lado de cido por sua habilidade de extrair sonoridades
príncipes e deu igual peso a seus sentimentos. de qualquer coisa, de objetos do cotidiano à
Mostrou-nos a realidade da guerra, criticou a fala das pessoas, e transformá-las em música.
religião, falou dos excluídos da sociedade: as Desde muito pequeno, Hermeto já tocava em
mulheres, os escravos, os velhos. Eurípedes sou- público, apresentando-se em forrós e feiras.
be pintar as paixões humanas como nenhum A partir da década de 1950, no Recife, pas-
dos dramaturgos gregos anteriores, influen- sou também a tocar nas emissoras de rádio.
ciando, posteriormente, os escritores clássicos. Ao longo de sua carreira, formou vários gru-
O enredo de suas tragédias foi muitas vezes pos – como o Som Quatro, Sambrasa Trio e
aproveitado por dramaturgos modernos, como Quarteto Novo – e lançou mais de 30 discos.
Racine, Goethe e Eugene O’Neil. Medeia, um Participou do Festival de Jazz de Montreux,
dos clássicos de Eurípedes, foi representada na Suíça, e excursiona com frequência aos
pela primeira vez nas Dionísias urbanas de 431 Estados Unidos da América e à Europa.
a.C. O texto apresenta o retrato psicológico de
uma mulher carregada de amor e ódio a um só Leda Catunda (São Paulo/SP, 1961) – Artista
tempo. Medeia representa um novo tipo de per- plástica. Durante o curso de Artes Plásticas,
sonagem na tragédia grega: esposa repudiada conviveu com mestres como Walter Zanini,
e estrangeira perseguida, ela se rebela contra o Nelson Leirner, Regina Silveira e Júlio Plaza.
mundo que a rodeia, rejeitando o conformis- Realizou sua primeira exposição, Pintura como
mo tradicional. Tomada de fúria terrível, mata meio, em 1983, no Museu de Arte Contempo-
os filhos que teve com o marido para vingar-se rânea da USP. A artista se interessa pela banali-
dele e automortifica-se. É uma das figuras fe- zação das imagens, muitas vezes estereotipadas,
mininas mais impressionantes da dramaturgia sem autoria identificada, como também por sua
universal. desconstrução, usando vedações para encobrir
parte das imagens, criando um novo diálogo com
Gene Kelly (Estados Unidos da América, 1912- formas e matérias. As relações puramente narra-
1996) – Dançarino, ator, diretor, produtor e coreó- tivas dos primeiros trabalhos vão sendo altera-
grafo. Eugene Curran Kelly foi um dos expoentes das. As figuras passam a ser destacadas com a
da época áurea dos musicais. Trabalhou em vá- pintura do fundo, na constante discussão figura-
rias peças e filmes, com passagem pela televisão -fundo. A busca incessante por novos suportes e
norte-americana. Seu trabalho mais conhecido, materiais não convencionais faz com que objetos
verdadeiro clássico dos musicais, é Cantando na caseiros ganhem nova dimensão. Nas assembla-
chuva (Singin’ in the rain, 1952), do qual também ges, lida com o óbvio, com imagens previsíveis,
foi diretor. A música-título deste filme, Singin’ in porém de forma inusitada, como, por exemplo,
the rain (1929), com letra de Arthur Freed e mú- ao sobrepor vestidos, camisetas e meias. Em seu
sica de Nacio Herb Brown, ficou mundialmente percurso de experimentação, Catunda se atém às
conhecida, assim como a cena em que Gene Kelly formas construídas com tecidos, colchas, edre-
dança e canta debaixo da chuva. dons e similares, encontrando a “espessura” e
a “densidade” entre os limites da pintura e do
Georgette Fadel (Laranjal Paulista/SP) – Atriz e objeto, do bi e do tridimensional, pela força da
diretora. Atualmente faz parte da Cia. São Jorge materialidade dos suportes utilizados.
de Variedades e é professora de Interpretação na
Escola Livre de Teatro (ELT) de Santo André e Man Ray (Estados Unidos da América, 1890 –
do Estúdio Nova Dança, em São Paulo. França, 1976) – Fotógrafo, pintor, cineasta.

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Considerado um anarquista, Emanuel Rudzitsky dando o Centro Internacional de Pesquisa


inovou na linguagem da fotografia, participan- Teatral. Foca seu trabalho na valorização do
do de importantes movimentos na década de ator. Trabalha com grupos de diversas nacio-
1920. Funda com Marcel Duchamp o movi- nalidades para que as diferenças culturais e
mento dadá e participa do movimento surrea- físicas enriqueçam o resultado final. Uma de
lista produzindo filmes como L’étoile de mer, suas montagens mais conhecidas – mais tar-
de 1928. de transformada em filme –, Mahabharata, é
adaptada de um clássico indiano.
Nuno Ramos (São Paulo/SP, 1960) – Escultor,
pintor, desenhista, gravador e ilustrador. Nuno Regina Silveira (Porto Alegre/RS, 1939) – Pintora,
Álvares Pessoa de Almeida Ramos começou com gravadora, desenhista, artista multimídia, curado-
a pintura, influenciado pelo neoexpressionismo. ra, professora e estudiosa da linguagem da arte.
Em 1983, fundou o grupo Casa 7, com Paulo O conceito é o germe da criação desta artista. É
Monteiro, Rodrigo Andrade, Carlito Carvalhosa ele que move a procura por determinada maté-
e Fábio Miguez, que atuou até 1985. Poemas, ria ou técnica. O desenho se torna a linguagem
letras de música, matérias de jornais e trechos para visualizar ideias como um pensamento vi-
de livros foram incorporados à sua produção sual que intermedeia diálogos com outros supor-
plástica, apresentada em importantes exposições tes e alimenta a concretude do conceito que faz
nacionais e internacionais. Tem também uma nascer as obras. Sua história artística é pródiga
produção literária: Cujo (1993), com fragmentos na subversão dos códigos de representação, na
de poema; O pão do corvo (2002); Balada (1995), perversão da aparência, na crítica política e na
um livro-obra com 900 páginas em branco per- distorção da perspectiva, esta última tema de
furadas por uma bala, que se encontra no seu diversas séries de trabalhos. Gone wild, de 1997,
interior. Quando começa a dominar demais um é uma instalação (site specific) realizada para o
mesmo material, ele parte para outro, descobrin- Museu de Arte Contemporânea de San Diego
do as potencialidades da natureza de cada um. que gerou outras obras, ainda no mesmo ano,
como a instalação Intro (re: fresh widow, 1997),
Olavo Bilac (Rio de Janeiro/RJ, 1865-1918) – Ola- na Galeria Triângulo, e o livro de artista Wild
vo Brás Martins dos Guimarães Bilac foi poeta book, e, em 1998, Tropel, instalação na fachada
e jornalista político, perseguido por Floriano da 24a Bienal de São Paulo.
Peixoto no começo da República. Posteriormen-
te, ocupou diversos cargos públicos, alguns deles Sotigui Kouyaté (Mali, 1936 – Paris, 2010) – De
ligados à Educação. Sua obra poética enquadra- origem guineana, Kouyaté era griot – que, no
-se no Parnasianismo (movimento essencialmen- oeste africano, é o responsável por zelar pela
te poético, surgido na França, que valorizava o memória coletiva e pela conciliação do grupo
belo e o refinamento e abordava temáticas uni- ao qual pertence e, assim, preservar, por meio
versais), que teve na década de 1880 a fase mais da oralidade, a história do continente e o equi-
fecunda. Embora não tenha sido o pioneiro no líbrio da sociedade. Ator de teatro e de cinema,
movimento parnasiano, pois só em 1888 publi- Kouyaté foi diretor artístico e dançarino, joga-
cou Poesias, Olavo Bilac tornou-se o mais típico dor de futebol (capitão da equipe nacional do
dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto Burkina Faso), boxeador e caçador. Cantor e
de Oliveira e Raimundo Correia. Como membro violonista clássico, assinou também muitas en-
fundador da Academia Brasileira de Letras, criou cenações teatrais na Europa e na África. Criou
a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. em Bamako, com Jean-Louis Sagot-Duvau-
roux e Habib Dembélé (ator de Sizwe Banzi est
Peter Brook (Inglaterra, 1925) – Diretor tea- mort, apresentada no Teatro Sesc Anchieta),
tral. Nos anos 1960, inovou em montagens de a companhia Mandéka Théâtre, tendo dirigi-
Shakespeare, como em Rei Lear e em Marat/ do Antígona e Édipo. Desde 1986, dirigia sua
Sade. Em 1970, transferiu-se para Paris, fun- própria companhia, La voix du griot, em Paris,

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que já se apresentou em diversos países. Com- sob sua direção, a colaboração dos intérpretes
panheiro de estrada de Peter Brook por 22 é fundamental. O espetáculo E la nave no va II,
anos, participou dos espetáculos Tierno Bokar, que enfoca as relações entre espaço, movimento
Le costume, Mahabharata, Hamlet, A tempes- e intérprete com inspiração nos filmes de Fellini,
tade, O homem que e diversas outras criações. teve sua primeira montagem em 2001, concebi-
Dirigiu Le costume, que estreou em outubro de do como uma intervenção urbana apresentada
2006, em Atenas (Grécia). Atuou em mais de dentro de um trem aéreo. Em 2003, uma versão
60 filmes, na África, na Europa e nos Estados para palco acabou recebendo inúmeros prêmios.
Unidos da América, entre eles O céu que nos
protege, Golem, Coisas belas e sujas, Little Sene- Tom Jobim (Rio de Janeiro/RJ, 1927 – Nova
gal, Génésis, Sia-Le revê du python e Ip 5. Iorque, 1994) – Antônio Carlos Brasileiro de
Almeida Jobim foi compositor, maestro, pia-
Teatro Ventoforte – Surge em 1974, na cidade do nista, cantor, arranjador e violonista. É consi-
Rio de Janeiro, com o espetáculo História de len- derado um dos maiores expoentes da música
ços e ventos, de Ilo Krugli, considerado pela crí- brasileira e um dos criadores do movimento da
tica um marco do teatro para crianças no Brasil. Bossa Nova. Aprendeu a tocar violão e piano
Em sua trajetória, já apresentou mais de 30 espe- tendo aulas, entre outros, com o professor ale-
táculos que somam mais de 50 prêmios. Atual- mão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da
mente com sede na cidade de São Paulo, o grupo técnica dodecafônica no Brasil. Tom Jobim é
Ventoforte desenvolve atividades artísticas, edu- um dos nomes que melhor representa a música
cativas e sociais desde a sua criação, e se destaca brasileira na segunda metade do século XX e é
principalmente pela criação de espetáculos para praticamente uma unanimidade entre críticos e
crianças e jovens, caracterizados pela inovação e público em termos de qualidade e sofisticação
pela qualidade estética, por um repertório de es- musical. Águas de março, composta em 1972,
petáculos adultos que caminharam por textos da foi considerada pelo crítico de jazz Leonard
dramaturgia universal e por criações do próprio Feather como uma das dez músicas mais boni-
grupo. O Ventoforte se destaca também por suas tas do século XX. A maioria dos temas de suas
oficinas de construção artesanal de cenários, ob- composições realça a beleza do povo e da natu-
jetos cênicos, bonecos, pela formação de atores reza do Brasil, sua fonte de inspiração. Uma das
e músicos, por seus trabalhos em arte-educação características mais marcantes de sua música é o
e desenvolvimento de projetos que procuram a contraste entre a fluência e a leveza da melodia e
democratização da cultura no Brasil, atingindo a sofisticada e elaborada harmonia.
diversos espaços sociais. Uma marca presente
no trabalho do grupo é a valorização da cultura Uakti – Grupo formado em 1978, sob liderança
popular e a leitura de conteúdos expressivos das de Marco Antônio Guimarães, discípulo do
mais diversas realidades sociais e humanas, obje- suíço Walter Smetak. O nome do grupo deve-
tivando sempre uma democratização dos temas se a uma lenda indígena dos índios tucanos,
e da forma de apresentar os espetáculos. do Alto Rio Negro. Os músicos – Marco
Antônio Guimarães, cordas; Paulo Sérgio
Terpsí Teatro de Dança – Criado em Porto dos Santos, percussão; Artur Andrés Ribeiro,
Alegre, em 1987, o Terpsí desenvolve a dança- sopro; Décio de Souza Ramos, percussão – são
-teatral como linguagem cênica, investigando o os construtores/adaptadores de instrumentos,
espetáculo como processo sempre em mutação, feitos de materiais como tubos de PVC, sinos
que pode ser alterado até mesmo em função de madeira, caldeirões etc. Também utilizam
do espaço físico da apresentação. A coreógrafa instrumentos “convencionais”, como violões
Carlota Albuquerque procura, com seus traba- e violoncelos. O grupo participou de discos de
lhos, fazer uma escuta, um resgate das experiên- Milton Nascimento e produziu seu primeiro
cias humanas, rompendo barreiras que possam trabalho, Uakti − Oficina instrumental, em
separar os intérpretes da obra. Nos trabalhos 1981, continuando sua trajetória singular. Tem

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Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

importante trabalho com a dança brasileira, em grupo com seus instrumentos. Deixou uma
em especial com o Grupo Corpo, de Minas série de gravações dessas sessões de improviso.
Gerais, e tem feito parcerias com Milton
Nascimento, Ivaldo Bertazzo, Ney Matogrosso William Shakespeare (Inglaterra, 1564-1616)
e Marlui Miranda, entre outros. Um de seus – Dramaturgo. Reconhecidamente o maior
CDs, Oiapok XUI (2005), traz temas e danças nome do teatro inglês. Antes de tornar-se cé-
populares brasileiras, além de quatro recriações lebre como dramaturgo, trabalhou nos palcos
(variações) de Águas de março, de Tom Jobim. londrinos durante 20 anos. Deixou 37 peças,
além de sonetos. Seus versos e citações são
Vik Muniz (São Paulo/SP, 1961) – Vicente conhecidos em todo o mundo pela variedade
José Muniz cursou Publicidade, mas seu in- e riqueza literárias e, acima de tudo, pela extra-
teresse inicial na área das artes o dirigiu para ordinária galeria de retratos humanos presentes
o teatro. Em 1983, mudou-se para Nova Ior- em seus textos. Romeu e Julieta (c. 1591-1595)
que, onde desistiu da carreira de publicidade é mundialmente aclamada como a mais bela e
e tornou-se escultor. Quando viu as reprodu- trágica história de amor de todos os tempos.
ções em preto-e-branco das esculturas, per- Conta a história de dois jovens apaixonados,
cebeu que a fotografia carrega o código da Romeu Montéquio e Julieta Capuleto. Filhos
tridimensionalidade dos objetos, mesmo sem de famílias rivais, acabam por não conseguir re-
volume, assim como informa sobre o mate- sistir ao ódio que os separa, mas seu amor per-
rial. Isso gerou novas ideias para produzir durará para além da morte. A tempestade é a
as ilusões que cria por meio da fotografia. última peça publicada por Shakespeare (1611).
Geralmente apresentadas como séries, as fo- A ação é situada no Novo Mundo e a persona-
tografias registram as imagens de aparência gem central chama-se Próspero. A peça come-
realista produzidas com materiais inusitados, ça com o naufrágio de um barco onde estão os
como macarrão, fios de arame, pó, chocola- personagens Gonzalo, Alonso (rei de Nápoles),
te, açúcar etc. Com eles, compõe desenhos, Antônio (irmão de Próspero), Sebastião (irmão
pinturas ou esculturas que, após ser fotogra- do rei), Ferdinando (filho do rei), Trínculo e
fados, são destruídos. As edições limitadas Estéfano (bêbados) e o contramestre. Estes são
dessas fotografias são expostas como produ- separados por grupos na ilha, de acordo com a
to final. vontade de Próspero, mago governante da ilha,
que vive com a filha Miranda e o monstro Ca-
Walter Smetak (Suíça, 1913 – Salvador/BA, liban. Próspero revela que o naufrágio foi um
1984) – Músico, violoncelista, compositor, plano contra seus traidores. Havia anos seu
escritor, escultor e construtor de instrumen- irmão se juntara ao rei de Nápoles para rou-
tos musicais. Anton Walter Smetak veio para bar seu cargo de duque de Milão, mandando-o
o Brasil em 1937, influenciando uma geração para essa ilha misteriosa – habitada pelo mons-
de músicos brasileiros. Em sua oficina, criava tro Caliban e por espíritos como Ariel – jun-
instrumentos musicais com tubos de PVC, ca- tamente com a filha ainda criança, num barco
baças, isopor e outros materiais pouco usuais. velho, e Gonzalo os teria ajudado, colocando
Alguns dos instrumentos não têm utilidade no barco seus livros de magia, água e comida. É
puramente musical: são esculturas influen- uma peça sobre a libertação após inúmeras pro-
ciadas por sua percepção mística de encarar vações – incluindo a do próprio Próspero, que
a música e as formas. Nos últimos dez anos pede que a plateia o liberte através dos aplau-
de sua vida, deixou de escrever partituras de sos. Todas as coisas tomam seu lugar natural
suas composições, preferindo a improvisação numa espécie de retorno à natureza.

85
QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO FUNDAMENTAL –
ANOS FINAIS
5a série/6o ano 6a série/7o ano 7a série/8o ano 8a série/9o ano
A tridimensionalidade O desenho e a O suporte na materialidade da Processos de criação
como elemento estético potencialidade do arte nas linguagens artísticas
r%JGFSFODJBÉÈP registro no território das r%JGFSFODJBÉÈP OBNÙTJDB  r1SPDFEJNFOUPT
FOUSFPFTQBÉPCJFP linguagens artísticas FOUSFJOTUSVNFOUPTUSBEJDJPOBJT DSJBUJWPTOBDPOTUSVÉÈP
USJEJNFOTJPOBM r%FTFOIPEF FJOTUSVNFOUPTFMÊUSJDPTF EFPCSBTWJTVBJT 
r0TPNOPFTQBÉP PCTFSWBÉÈP EFNFNÓSJB  FMFUSÔOJDPTsamplers NÙTJDB TPOPSBTFDËOJDBT
NFMPEJBSJUNP EFJNBHJOBÉÈPP OPDPNQVUBEPSTJOUFUJ[BEPSFT r"ÉÈPJOWFOUJWB
r'PSNBTEPFTQBÉP EFTFOIPDPNPFTCPÉP P r0DPSQPDPNPTVQPSUFGÎTJDP DPSQPQFSDFQUJWP
UFBUSBMFTVBSFMBÉÈP EFTFOIPDPNPPCSB EBEBOÉBMFWF[BQFTPáFY×FT JNBHJOBÉÈPDSJBEPSB
DPNPDPSQPEPT r%FTFOIPEFDFOÃSJP SJUNPTPCKFUPTDËOJDPT DPMFUBTFOTPSJBMWJHÎMJB
BUPSFT QMBOUBCBJYBDPNP r0DPSQPDPNPTVQPSUFGÎTJDP DSJBUJWBQFSDVSTP
r'PSNBUSJEJNFOTJPOBM EFTFOIPEPFTQBÉP EPUFBUSPBBÉÈPGÎTJDBDPNP EFFYQFSJNFOUBÉÈP
EPDPSQPFN DËOJDPEFTFOIPDPNP FMFNFOUPEBFYQSFTTJWJEBEFOP FTCPÉPTTÊSJFT
NPWJNFOUP DPN DSPRVJEFàHVSJOP QBMDP DBEFSOPTEFBOPUBÉ×FT
ËOGBTFOPTFJYPT r%FTFOIPDPSFPHSÃàDP r%JGFSFODJBÉÈPFOUSF BQSPQSJBÉ×FT
WFSUJDBM BMUVSB
RVFPPMIPWË TVQPSUFTDPOWFODJPOBJT OÈP QSPDFTTPDPMBCPSBUJWP
IPSJ[POUBM MBSHVSB
F r1BSUJUVSBTOÈP DPOWFODJPOBJT JNBUFSJBJT QFOTBNFOUPTWJTVBM 
TBHJUBM QSPGVOEJEBEF
DPOWFODJPOBJT TVQPSUFáFYÎWFMPVSÎHJEP DPSQPSBM NVTJDBM
r"MJOIBFBGPSNBDPNP YFSPYDPNQVUBEPSHSBOEFT r3FQFSUÓSJPTQFTTPBM
O espaço: O
FMFNFOUPFSFHJTUSPOBT GPSNBUPTDPSQP FDVMUVSBMQPÊUJDB
aprofundamento de um
MJOHVBHFOTBSUÎTUJDBT QFTTPBM
conceito A ruptura do suporte nas
r0EJÃMPHPDPNB
r&TDVMUVSB assemblage  A forma como elemento e linguagens artísticas
NBUÊSJBWJTVBM TPOPSB
Volume 1

ready-made QBSBOHPMÊ registro na Arte r"MJOHVBHFNEBNÙTJDB 


FDËOJDBFNQSPDFTTPT
PCKFUP JOTUBMBÉÈP  r"MJOIBDPNPVNEPT QBJTBHFNTPOPSBPSÃEJP
EFDSJBÉÈP
JOUFSWFOÉ×FTVSCBOBT FMFNFOUPTGPSNBJTEB DPNPNÎEJBTPOPSBNÙTJDB
site specific land art  WJTVBMJEBEF QSPEV[JEBQPS%+T Diálogos com a
web artFUD r0EFTFOIPFB r"MJOHVBHFNEPhappeningF materialidade na
r$FOPHSBàBFBDFOB NBOJQVMBÉÈPEF EBperformanceBMJOHVBHFN criação da forma
DPOUFNQPSÄOFB NBSJPOFUFT UFBUSPEF EPUFBUSPDPNBUFDOPMPHJBB artística
UPQPMPHJBEFDFOB BOJNBÉÈP UFBUSPEF MJOHVBHFNEPUFBUSPEBOÉB r.BUÊSJBFTJHOJàDBÉÈP
r%BOÉBDMÃTTJDB  CPOFDPT NBNVMFOHPB r"MJOHVBHFNEBDBQPFJSB  r0DPSQPDPNP
NPEFSOBF GPSNBUPSOBOEPWJTÎWFM EPbreakdance,EBTEBOÉBT TVQPSUFGÎTJDPOBEBOÉB
DPOUFNQPSÄOFB BTJOHVMBSJEBEFEB DMÃTTJDB NPEFSOBF FOPUFBUSP
r"NFTNBNFMPEJB QFSTPOBHFN DPOUFNQPSÄOFB r$FOÃSJPBEFSFÉPT
FNEJGFSFOUFT r"GPSNBDPNPSFHJTUSP r%PDIBTTJQBSBPQBQFM B PCKFUPTDËOJDPTUFYUP
IBSNPOJ[BÉ×FT OPUBÉ×FTFNEBOÉBFFN UFMBPVBPCSBEJSFUBNFOUF r4VQPSUFT GFSSBNFOUBT
EFOTJEBEFF NÙTJDB TPCSFBQBSFEFEPQFEFTUBM FQSPDFEJNFOUPT
JOUFOTJEBEF r"EJNFOTÈPBSUÎTUJDBEB QBSBPPCKFUP BJOTUBMBÉÈPFP UÊDOJDPT
r"EJNFOTÈPBSUÎTUJDB GPSNBOPEFDPSSFSEPT site specificPMJWSPEFBSUJTUB r&MFNFOUPTCÃTJDPT
EPFTQBÉPOPEFDPSSFS UFNQPT BTperformancesBTPCSBT EBMJOHVBHFNEBTBSUFT
EPTUFNQPTQFSDVSTPT JOUFSBUJWBT WJTVBJT EBEBOÉB EB
EFQFTRVJTBOB r1SPDFTTPTEFDSJBÉÈP NÙTJDBFEPUFBUSP
)JTUÓSJBEB"SUF JOUFOÉÈPDSJBUJWB FTDPMIB r5FNÃUJDBTRVF
FEJÃMPHPDPNBNBUÊSJB  JNQVMTJPOBNBDSJBÉÈP
SFQFSUÓSJPQFTTPBMFDVMUVSBM 
JNBHJOBÉÈPDSJBEPSB QPÊUJDB
QFTTPBM

86
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Luz: suporte, O “trans-formar” matérico Reflexos e reflexões da vida na Fusão, mistura,


ferramenta e matéria em materialidade na Arte Arte: As temáticas no território contaminação de
pulsante na Arte r"BQSPQSJBÉÈPEF de forma-conteúdo linguagens
r0DMBSPFPFTDVSP B NBUÊSJBFGFSSBNFOUBTOP r5FNÃUJDBTRVFTFSFWFMBN rDesign NPEB 
TPNCSBFBMV[ PGPDP  GB[FSBSUF QFMBTGPSNBT NPCJMJÃSJP EFTFOIP
BBUNPTGFSBFBMV[OB r"QSPEVÉÈPEF r5FNBTRVFTFGB[FNGPSNB JOEVTUSJBM
DPOTUSVÉÈPEFTFOUJEP JOTUSVNFOUPTFB QFMBPCTFSWBÉÈPFJNJUBÉÈPEF r'VTÈPFOUSFBT
r"MV[FBDPOUSBMV[ NBUFSJBMJEBEFEPUJNCSF DPSQPSFJEBEFT MJOHVBHFOTUFBUSBMF
OBTBSUFTWJTVBJT OB r"RVBMJEBEFEP r3FMBÉ×FTFOUSFJNBHFNGPSNB DJOFNBUPHSÃàDB
EBOÉBFOPUFBUSP NPWJNFOUPEPDPSQPRVF FDPOUFÙEPEFàHVSBTDËOJDBT r#BMÊEFSFQFSUÓSJP
r"MV[FBTPNCSBOP EBOÉBFTQBÉP UFNQP  r3FMBÉ×FTQPUFODJBJTFOUSF EBOÉBNPEFSOBEP
UFBUSPEFTPNCSBT GPSÉB SJUNP UFNÃUJDBT ÊQPDBTFDVMUVSBT JOÎDJPEPTÊDVMP99
r0TPNFNEJGFSFOUFT r0TPCKFUPTEPDPUJEJBOP r5FNÃUJDBTJEFBMJ[BEBT  EBOÉBUFBUSBM
FTQBÉPT FTUFSFPGPOJBF BTSFMBÉ×FTFOUSFNBUÊSJB  SFBMJTUBT FYQSFTTJPOJTUBT  r.ÙTJDBEFDJOFNB
HSBWBÉÈPCJOÃVSFB GPSNBTJNCÓMJDBF TVSSFBJT BCTUSBUBTUFNBT TPNTJODSPOJ[BEPTPN
r"TSFMBÉ×FTFOUSF JNBHJOÃSJPQPÊUJDPOP IJTUÓSJDPT RVFTU×FTQPMÎUJDBT  GBCSJDBEP
MV[FDPSBEJNFOTÈP UFBUSPEFPCKFUPT SFMJHJPTBT EFOBUVSF[BPTFS r)JCSJEJTNPEBT
TJNCÓMJDBEBMV[FEB r0QBQFMDPNPNBUÊSJB IVNBOP TVBJEFOUJEBEF TFV SFMBÉ×FTFOUSF
DPS DPMBHFN QBQFMBHFN  BOPOJNBUPBWJTÈPGFNJOJOB GPSNBDPOUFÙEPOBT
r"NBUFSJBMJEBEFEB QBQFMNBDIË PDPSQPBDPNQMFYJEBEF WÃSJBTMJOHVBHFOT
MV[OBTMJOHVBHFOT r"TMJOHVBHFOTEBBSUF GPSNBMFUD FMFNFOUPTCÃTJDPT
BSUÎTUJDBT BNQMJBÉ×FTEFSFGFSËODJBT r5FNÃUJDBTDPOUFNQPSÄOFBT EBWJTVBMJEBEFFTVBT
BQBSUJSEPEJÃMPHPDPNB BSUFFWJEBIJTUÓSJBTEFWJEB BNQMJBÉ×FTOPdesign
Olhares sobre a
NBUFSJBMJEBEF DFOBTEFSVB FMFNFOUPTCÃTJDPTEB
matéria da Arte
MJOHVBHFNIÎCSJEBEP
r4VQPSUFT  Experimentação: Uma “Misturança” étnica: Marcas
DJOFNBFFMFNFOUPT
GFSSBNFOUBT NBUÊSJBT fresta para respirar o no patrimônio cultural, rastros
Volume 2

CÃTJDPTEBTMJOHVBHFOT
r$PSQPTQFSDFQUJWPT poético na cultura popular
EBEBOÉB EBNÙTJDBF
JNQSPWJTBÉÈP JOUVJÉÈP  r*NQSPWJTBÉÈP BDBTP  r)FSBOÉBTDVMUVSBJT
EPUFBUSP
JNBHJOBÉÈPDSJBEPSB  MVEJDJEBEF FTQPOUBOFJEBEF QBUSJNÔOJPTDVMUVSBJTJNBUFSJBM
DPMFUBTFOTPSJBM r$PSQPTQFSDFQUJWPT  FNBUFSJBM Travessia poética: Do
WJHÎMJBDSJBUJWB JOUVJÉÈP BDBTP  r"SUFJOEÎHFOB fazer artístico ao ritual
SFQFSUÓSJPQFTTPBM JNBHJOBÉÈPDSJBEPSB  r"SUFBGSPCSBTJMFJSB de passagem
FDVMUVSBMQPÊUJDB DPMFUBTFOTPSJBM WJHÎMJB r1PÊUJDBTDPOUFNQPSÄOFBT r"SUFFEPDVNFOUBÉÈP
QFTTPBMQFOTBNFOUP DSJBUJWB SFQFSUÓSJPQFTTPBM r$PODFJUPT QSPDFEJNFOUPT r&YQPTJÉÈPPV
WJTVBMQFOTBNFOUP FDVMUVSBM QPÊUJDBQFTTPBM  FDPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPT BQSFTFOUBÉÈPBSUÎTUJDB
DPSQPSBMFTJOFTUÊTJDP QFOTBNFOUPTWJTVBM  EVSBOUFPBOPMFUJWP FPSFHJTUSPDPNP
QFOTBNFOUPNVTJDBM NVTJDBM DPSQPSBM EPDVNFOUBÉÈP
r1FSDVSTPEF FTJOFTUÊTJDP r.PEPTEF
FYQFSJNFOUBÉÈP r1FSDVSTPEF EPDVNFOUBSBBSUF
QFSTFHVJÉÈPEFJEFJBT FYQFSJNFOUBÉÈP  r$PODFJUPT 
FTCPÉPTTÊSJFT QFSTFHVJÉÈPEFJEFJBT  QSPDFEJNFOUPTF
DBEFSOPTEFBOPUBÉ×FT FTCPÉPT TÊSJFT DBEFSOPT DPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPT
FTUVEPFQFTRVJTB EFBOPUBÉ×FT EVSBOUFPBOPMFUJWP
BQSPQSJBÉ×FT FTUVEPFQFTRVJTB 
DPNCJOBÉ×FTQSPDFTTP BQSPQSJBÉ×FT 
DPMBCPSBUJWP DPNCJOBÉ×FT QSPDFTTP
r0DPSQPFBWP[ DPMFUJWPFDPMBCPSBUJWP
DPNPTVQPSUFF r-JOHVBHFOTEBBSUFF
NBUÊSJBEB"SUF QSPDFEJNFOUPTDSJBUJWPTEF
r$PODFJUPT  FYQFSJNFOUBÉÈP
QSPDFEJNFOUPTF r$PODFJUPT 
DPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPT QSPDFEJNFOUPTF
EVSBOUFPBOPMFUJWP DPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPT
EVSBOUFPBOPMFUJWP

87
GABARITO
0$"%&3/0%0"-6/0&""¬«0%0 t 0RVFQFOTPTPCSFBSUF as respostas às questões espe-
130'&4403 cíficas deste item instigam os alunos a se posicionar sobre o
assunto, cercando, de certo modo, seu repertório cultural. O
Caderno do Professor. Caderno do Aluno. São Cadernos importante é socializar as respostas, mapeá-las na lousa, analisá-
que, tal qual a rosa dos ventos, mostram um rumo, uma dire- -las com eles para ver o que pensam sobre o tema, tendo como
ção a seguir para viajar nos “Territórios da Arte”. Esses Cader- meta a ampliação de seus conhecimentos;
nos são, assim, como coordenadas, movimentos. “Cadernos
rosa dos ventos” que articulam mapas de diferentes linguagens t "ÎÍP FYQSFTTJWB as ações propostas, muitas vezes deno-
da arte, oferecendo proposições-ações que, antes de serem minadas encomendas, para dar mais abertura ao professor,
apenas capazes de referendar um mundo da arte já sabido, po- têm por objetivo desencadear o fazer artístico nas diferentes
dem ser um movimento potente para a criação de diferentes linguagens, sem perder de vista os conteúdos e as compe-
mundos da arte. tências a serem trabalhados;

Em especial, o Caderno do Aluno se faz registro de viagem, t "QSFDJBÎÍPas perguntas colocadas na Apreciação, que se
como parte de um portfólio, como lugar específico para pen- ampliam no Caderno do Professor, são apenas impulsos para
sar e escrever sobre arte, fazer reflexões e produções pensadas e estimular a conversa dos alunos sobre as obras. As ampliações
emocionadas a partir das provocações geradas pelas proposições propostas pelo professor e por suas boas e instigantes per-
oferecidas no Caderno do Professor. Em especial, o Caderno do guntas comporão o texto que será registrado pelo aluno no
Aluno se faz lugar para olhar imagens das linguagens artísticas, Caderno, apontando o que ficou de mais significativo para
que nos incitam a pensar e conversar sobre arte. ele a partir da Apreciação oferecida;

Mais do que respostas acertadas ou adequadas, já que em t 7PDÐ BQSFOEFV  questões objetivas e/ou abertas para
arte as respostas, por muitas vezes, são expressões de pontos de reflexão sobre os conteúdos trabalhados nas Situações de
vista singulares, as questões do Caderno do Aluno pretendem Aprendizagem de cada Caderno, reveladoras do que foi pos-
ser uma provocação para que o aluno pense e expresse seus sível ativar como conteúdo ou competência. As respostas in-
conhecimentos e suas opiniões sobre arte. Em muitos casos, dividuais tornam-se material de reflexão para os professores,
as respostas devem ser pessoais e também referendadas pelo indicando o que ficou além ou aquém em sua ação docente,
contexto cultural de cada grupo, de modo a mover diálogos, no contexto da escola e na própria proposta;
instigar reflexões pessoais e fornecer material para que o pro-
fessor possa promover trocas entre os alunos , ampliando seus t 1FTRVJTBJOEJWJEVBMFPVFNHSVQP 1FTRVJTBEFDBN-
repertórios culturais sobre as linguagens artísticas. QPF-JÎÍPEFDBTBas ações que orientam o aluno no pla-
nejamento, na realização e na discussão da pesquisa ou da ação
Por ser esse o contorno do Caderno do Aluno, é impos- proposta no Caderno do Aluno tampouco têm resposta única,
sível a construção de um gabarito que dê conta de prever pois dependem das escolhas e do que foi possível pesquisar de
as muitas respostas possíveis, determinando o que é certo acordo com a realidade e com o contexto das diferentes escolas.
ou errado. Em contrapartida, o Caderno do Professor con- Consideramos importante a valorização do que foi pesquisado
tém potenciais encaminhamentos e ampliações, ao mesmo e, especialmente, o modo como a pesquisa foi apresentada. Há
tempo que insere o professor no conteúdo que está sendo várias sugestões no Caderno do Professor em relação a isso.
proposto, oferecendo informações que enriquecem suas re-
ferências culturais e ajudam-no a ampliar as possíveis respos- Consideramos que o Caderno do Aluno, como parte do
tas dos alunos. portfólio, é complementado por outros modos de registro,
que podem gerar uma elaboração criativa que permita ao
Para o Caderno do Aluno, foram pensadas propostas específi- aprendiz dar expressão à sua aprendizagem, inventando for-
cas que abarcam produção, análise, leitura, pesquisa etc., reapre- mas para mostrar suas produções artísticas, seus textos escritos,
sentadas a seguir: fotografias de momentos das aulas e pesquisas realizadas.

88
Arte – 8a série/9o ano – Volume 1

Como processos, esses “Cadernos rosa dos ventos” são tros com a arte, à busca da experiência estética no pensar, no
potências nas mãos de alunos, alunas, professoras e professo- fazer, no escrever, no apreciar, no navegar pelos “Territórios
res atentos à qualidade do trajeto, à ousadia de novos encon- da Arte”.

89
CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL Química: Ana Joaquina Simões S. de Matos Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares
NOVA EDIÇÃO 2014-2017 Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda
Batista Santos Junior e Natalina de Fátima Mateus. Meira de Aguiar Gomes.
COORDENADORIA DE GESTÃO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Área de Ciências Humanas Área de Ciências da Natureza
Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro
Coordenadora
Teônia de Abreu Ferreira.
Maria Elizabete da Costa Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende
Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara
Diretor do Departamento de Desenvolvimento Santana da Silva Alves.
Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati.
Curricular de Gestão da Educação Básica
João Freitas da Silva História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio
Margarete dos Santos e Walter Nicolas Otheguy de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline
Diretora do Centro de Ensino Fundamental Fernandez. de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto
dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação
Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson
Profissional – CEFAF Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de
Luís Prati.
Valéria Tarantello de Georgel Almeida e Tony Shigueki Nakatani.

Coordenadora Geral do Programa São Paulo PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula
faz escola PEDAGÓGICO Vieira Costa, André Henrique GhelÅ RuÅno,
Valéria Tarantello de Georgel Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes
Área de Linguagens
M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio
Coordenação Técnica Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine
Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael
Roberto Canossa Budisk de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel
Plana Simões e Rui Buosi.
Roberto Liberato Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes
Smelq Cristina de 9lbmimerime :oeÅe e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali
Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila
Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da
EQUIPES CURRICULARES Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S.
Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes,
Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura
Área de Linguagens Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves
C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko
Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz.
S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M.
Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus.
Ventrela. Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva,
Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Área de Ciências Humanas
Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria
Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson
Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt,
dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio
Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto
Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal.
Silveira.
dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos,
Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio
Espanhol): Ana Paula de Oliveira Lopes, Jucimeire BomÅm, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza,
de Souza Bispo, Marina Tsunokawa Shimabukuro, Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez,
Neide Ferreira Gaspar e Sílvia Cristina Gomes Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos,
Nogueira. Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de
José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório,
Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria
Campos e Silmara Santade Masiero. Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato
Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos
e Sonia Maria M. Romano.
Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene
Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves
Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. História: Aparecida de Fátima dos Santos
Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves.
de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete
Área de Matemática Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina
Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso
Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana
Yamanaka, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de
Monteiro, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo,
Aparecido Cornatione. Sílvia Regina Peres. Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria
Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas.
Área de Ciências da Natureza Área de Matemática
Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves,
Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e
Rodrigo Ponce. Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Tânia Fetchir.
Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima,
Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Apoio:
Maria da Graça de Jesus Mendes. Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Fundação para o Desenvolvimento da Educação
Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, - FDE
Física: Carolina dos Santos Batista, Fábio Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina
Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, CTP, Impressão e acabamento
Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte. Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Esdeva Indústria GráÅca Ltda.
GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO CONCEPÇÃO DO PROGRAMA E ELABORAÇÃO DOS Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís
EDITORIAL 2014-2017 CONTEÚDOS ORIGINAIS Martins e Renê José Trentin Silveira.

COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu


FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e
CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS Sérgio Adas.
Presidente da Diretoria Executiva CADERNOS DOS ALUNOS
Antonio Rafael Namur Muscat Ghisleine Trigo Silveira História: Paulo Miceli, Diego López Silva,
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e
CONCEPÇÃO
Vice-presidente da Diretoria Executiva Raquel dos Santos Funari.
Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo,
Alberto Wunderler Ramos Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza
coordenadora! e Ruy Berger em memória!.
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe,
GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS
Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina
À EDUCAÇÃO AUTORES
Schrijnemaekers.

Direção da Área Linguagens


Coordenador de área: Alice Vieira. Ciências da Natureza
Guilherme Ary Plonski
Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes.
Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo
Coordenação Executiva do Projeto
Makino e Sayonara Pereira. Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta
Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana,
Gestão Editorial
Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso
Denise Blanes
Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo.
Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira.
Equipe de Produção
Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite,
LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto,
Editorial: Amarilis L. Maciel, Angélica dos Santos
Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida
Angelo, Bóris Fatigati da Silva, Bruno Reis, Carina
Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria
Carvalho, Carla Fernanda Nascimento, Carolina Fidalgo. Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo
H. Mestriner, Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão,
Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro,
Eloiza Lopes, Érika Domingues do Nascimento, LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel
Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Flávia Medeiros, Gisele Manoel, Jean Xavier, Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume.
Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Leandro Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia
Calbente Câmara, Leslie Sandes, Mainã Greeb González.
Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol,
Vicente, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo
Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Paula de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti,
Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,
Felix Palma, Priscila Risso, Regiane Monteiro Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell
José Luís Marques López Landeira e João
Pimentel Barboza, Rodolfo Marinho, Stella Roger da PuriÅcação Siqueira, Sonia Salem e
Henrique Nogueira Mateos.
Assumpção Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Yassuko Hosoume.
Tiago Jonas de Almeida. Matemática
Coordenador de área: Nílson José Machado. Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse
Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Matemática: Nílson José Machado, Carlos Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe
Micsik, Érica Marques, José Carlos Augusto, Juliana Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa
Prado da Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda
Acunzo Forli, Maria Magalhães de Alencastro e Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião.
Vanessa Leite Rios. Walter Spinelli.
Caderno do Gestor
Edição e Produção editorial: Jairo Souza Design Ciências Humanas Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de
GráÅco e Occy Design projeto gráÅco!. Coordenador de área: Paulo Miceli. Felice Murrie.

Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

* Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são S239m São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
indicados sites para o aprofundamento de conhecimen-
tos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; arte, ensino
e como referências bibliográficas. Todos esses endereços fundamental – anos finais, 8ª série / 9º ano / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês
eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é Fini; equipe, Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque, Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins,
um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Sayonara Pereira. - São Paulo : SE, 2014.
Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites
v. 1, 96 p.
indicados permaneçam acessíveis ou inalterados.
Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino
* Os mapas reproduzidos no material são de autoria de Médio e Educação Profissional – CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica - CGEB.
terceiros e mantêm as características dos originais, no que
diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos ISBN 978-85-7849-573-2
elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos).
1. Ensino fundamental anos finais 2. Arte 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Suzigan,
* Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no Geraldo de Oliveira. III. Picosque, Gisa. IV. Makino, Jéssica Mami. V. Martins, Mirian Celeste. VI. Pereira,
Caderno do Professor para apoiar na identificação das Sayonara. VII. Título.
atividades. CDU: 371.3:806.90
Validade: 2014 – 2017

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