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Resumo
Este trabalho, parte do projeto de pesquisa intitulado “Percepções de Licenciandos sobre
avaliação de aprendizagens nos anos iniciais do Ensino Fundamental", objetivou identificar
concepções e instrumentos de avaliação que permeiam a pr|tica de uma professora do 4˚
ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Belém-PA. Para tanto, fundamenta-se
em Fernandes (2009), Luckesi (2012), Hoffman (2010) e outros que discutem sobre
concepções de avaliação e instrumentos utilizados para avaliar. Metodologicamente, a
pesquisa foi desenvolvida em: estudo teóricos, observações, grupo de discussões, aplicação
de questionário e análises. As análises permitem indicar que a professora apresenta discurso
compatível com aspectos presentes na concepção de avaliação formativa. No entanto, ao
observar sua prática, identificou-se presença de iniciativas compatíveis com a concepção de
avaliação como medição e quantificação.
Palavras-chave: Avaliação das aprendizagens. Discurso. Prática.
Abstract
This work, part of the research project entitled “Perceptions of undergraduates on
assessment of learning in the early years of elementary school”, aimed to identify
conceptions and assessment instruments that permeate the practice of a 4th grade teacher
of a public school To this end, it is based on Fernandes (2009), Luckesi (2012), Hoffman (2010)
and others who discuss about conceptions of evaluation and instruments used to evaluate.
Methodologically, the research was developed in: theoretical studies, observations,
discussion group, questionnaire application and analysis. The analyzes indicate that the
teacher presents discourse compatible with aspects present in the conception of formative
assessment. However, observing its practice, it was identified the presence of initiatives
compatible with the conception of evaluation as measurement and quantification.
Keywords: Evaluation of learning. Discourse. Practice.
Avaliação das aprendizagens: entre o dito e o praticado
Introdução
A avaliação da aprendizagem dos alunos durante o ensino é um tema bastante
complexo e que influencia diretamente o processo pedagógico em suas
contextualizações relativas ao universo da sala de aula. Muito se tem discutido e
produzido sobre o tema (FERNANDES, 2009; LUCKESI, 2012; HOFFMAN, 2010; SILVA,
2005). No entanto, ao vivenciarmos o contexto de sala de aula no âmbito do Projeto de
Pesquisa "Percepções de Licenciandos sobre avaliação de aprendizagens nos anos iniciais
do Ensino Fundamental", notamos a necessidade de se ampliarem estudos que deem
conta de favorecer a compreensão sobre as concepções de avaliação, bem como suas
características.
A prática da avaliação é intrínseca ao ser humano. Avaliamos o tipo de roupa e
acessórios adequados para sair, por exemplo, em um dia de chuva. Avaliamos os
programas de governo dos candidatos, para decidirmos qual trará benefícios à
população. No âmbito escolar, avaliamos os comportamentos das crianças, as estratégias
que utilizam para solucionar problemas, o envolvimento nas distintas tarefas do
cotidiano escolar, a iniciativa de auxiliar os colegas no desenvolvimento de atividades,
dentre outros.
Destinando o olhar à escola, notamos recente preocupação com as avaliações
externas, em que as crianças precisam enquadrar-se em padrões estabelecidos para
determinados níveis de ensino. Diante desta necessidade, observa-se nas escolas um
movimento de favorecer aos alunos práticas que se aproximem destas avaliações.
Realizam simulados, orientam atividades que, em muitos casos, parecem "treinamentos"
para que consigam obter melhores índices nessas avaliações.
Neste contexto, há excessiva preocupação com as avaliações externas, que têm
sua importância. No entanto, as práticas avaliativas no interior das escolas têm-se
restringido à uma concepção de avaliação classificatória, com ênfase em resultados.
Segundo Esteban (2001, apud FURLAN, 2007, p. 31), devemos ter como necessidade de
implantação de novas culturas de avaliação que incorporem à sua dinâmica a dimensão
ética, transformando-a em um processo de reflexão e investigação sobre e para a ação.
Neste sentido, o desafio é o de construir uma avaliação que dialogue com o real,
trazendo novos laços entre o saber e os fazeres e saberes.
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através da quantificação (GUBA; LINCOLN, 1989 apud FERNANDES, 2009, p. 44). Sendo
assim esse modelo avaliativo aproxima-se a aspectos da concepção de pedagogia
tradicional, do certo e do errado, do que estava dentro do padrão e fora do padrão,
buscava apenas a aprovação ou reprovação; modelo burguês, centralizador, autocrata e
eliminatório. Há busca excessiva pelo padrão, pela quantificação. O aluno é representado
por um número que diz, a partir de um padrão, aquilo que esse aluno conseguiu
"aprender".
A segunda perspectiva pode ser denominada de avaliação descritiva e tem como
base os estudos do americano Ralph Tyler, o qual preceituava que os resultados obtidos
diante do processo avaliativo deveriam ser comparados uns aos outros para que pudesse
ocorrer uma mudança comportamental do aluno. Os testes aplicados visavam verificar se
os alunos aprenderam o que os professores ensinavam. Eram destacados os pontos
fortes e fracos de cada aluno, utilizando as mesmas técnicas do modelo anterior
(HOFFMANN, 2010).
O contexto político e social, no caso do Brasil, favoreceu o modelo descrito
anteriormente, considerando-se o paradigma industrial brasileiro a partir de 1930, além
da falência do antigo modelo agroexportador que durou mais de 400 anos. Neste
sentido, nasceu a necessidade de se formar mão de obra especializada para atender esta
nova demanda industrial e esta forma de avaliar, surgia como uma das poucas
alternativas para que o país pudesse alcançar o tão desejado crescimento econômico e a
saída da grave crise financeira que estava passando.
A partir deste contexto, a educação passou a ser vista como um assunto de
interesse nacional capaz de levar o nosso país ao crescimento econômico. Houve uma
mudança do padrão capitalista liberal para um capitalismo de Estado, com o poder
público ditando as regras educacionais através de leis e normas (SANDER, 2007).
Foram destinados à educação valores como produtividade, racionalização,
eficiência, foco em resultados e objetivos, tudo pensado na melhoria da economia
nacional. Estes parâmetros começaram a mudar somente com as pesquisas de Anísio
Teixeira que era defensor de que a escola jamais poderia ser comparada a uma empresa,
mas que deveria formar seus próprios valores baseando-se em suas peculiaridades.
Outros autores como Manoel Lourenço Filho, Antônio Arruda Carneiro Leão e José
Quirino Ribeiro apresentam as bases teóricas iniciais da administração escolar brasileira.
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trabalho do professor, suas metodologias além das atividades realizadas pela escola de
caráter político educativo adotados pelos sistemas de ensino.
Baseando-se nas analise anteriores, com foco na visão dos autores citados,
podemos inferir que o ato de avaliar não é uma tarefa simples, que consiste apenas em
medir conhecimentos, mas envolve conflitos de interesse e disputas de poder. Portanto,
avaliar é uma tarefa afetada por forças políticas e que possui efeitos políticos (HOUSE,
1992), cumprindo finalidades distintas e interesses diversos.
Após a análise dos pressupostos elencados anteriormente, interessa neste
momento fazermos um esforço no tocante à aplicação destes processos avaliativos em
três passos. Cada uma dessas práticas deve nortear o professor no exercício docente,
com a análise detalhada de cada passo dado dentro de uma proposta avaliativa
formativa, ato subsidiário a prática pedagógica com o intuito de se obter melhores
resultados por um caminho que leve o aluno a construir o conhecimento repassado de
forma autônoma com o professor a orientar e conduzir todo este processo.
Avaliação diagnóstica
Esta ação deve ocorrer preferencialmente no início do ano letivo, e tem como
objetivo levantar os conhecimentos prévios do aluno. E não é quaisquer informações que
são relevantes, apenas aquelas que conduzam o professor a melhor aplicação do que
deve ser ensinado. Este tipo de diagnóstico deve ser honesto, verdadeiro e sem
escamoteamento (DEMO, 2010). Desta forma, torna-se possível saber onde o aluno está
e para onde deve ser guiado em questões de conhecimento.
O docente deve ter disposição para acolher o aluno em seus variados níveis de
aprendizagem, satisfatório ou não sem críticas e julgamentos prévios para que haja,
desta forma, uma relação de confiança entre o estudante e o professor.
Esta diagnose deve ser efetuada com o rigor metodológico e científico para a
obtenção das informações mais precisas, considerando-se que apenas a observação
direta do aluno não é suficiente, tendo o avaliador que dispor de instrumentos de
avaliação que, conforme Luckesi (2012), são lentes que ampliam o campo de observação.
Não deve haver distorção nestes instrumentos avaliativos, pois, corre-se o risco de se
obter resultados errôneos no diagnóstico de cada aluno. Estes instrumentos devem ser
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Decidir significa que o professor deve intervir na realidade a ser avaliada para
que possa promover sua melhora. As informações obtidas inicialmente servirão como
ponto de partida para que o professor, de preferência com seus alunos, organize os
conteúdos, métodos e atividades para seu planejamento em favor sempre do ensino
aprendizagem considerando a realidade de cada aluno. Deve-se sempre tentar manter os
parâmetros ideais para se avaliar, relacionados com a proposta de ensino. Isso é o que se
pode chamar de pedagogia diferenciada e que valoriza as práticas de avaliação formativa
defendidas por Hoffmann (2012) e que veementemente se contrapõe as práticas
avaliativas tradicionais.
Com a participação do aluno neste processo, lhe é permitido que possa projetar
o que virá pela frente, possibilitando o exercício de sua autonomia, em um processo de
autoconsciência, a partir do feedback constante do professor e de suas próprias
conclusões, será capaz de regular sua própria aprendizagem, fazendo com que o
professor faça o possível para que o aluno aprenda e desenvolva o máximo de seus
potenciais.
O aluno faz os testes e trabalhos e o entrega dentro do prazo. Após isto ele será
avaliado por seus professores que o guiarão na melhoria de seus pontos fracos
através de feedback constante. Nesse sentido, avaliação formativa permite a
melhoria do ensino e do professor (2005, p. 298).
seu percurso da vida escolar. Nesse sentido, vamos exemplificar avaliação formativa
como uma evolução do processo de ensino-aprendizagem.
Metodologia
Esta pesquisa, de natureza qualitativa e interpretativa, foi desenvolvida no âmbito
de minha participação no projeto de pesquisa intitulado "Percepções de licenciando
sobre avaliação de aprendizagens nos anos iniciais do Ensino Fundamental". Esse projeto
tem com objetivo analisar a percepção dos graduandos, do curso de Licenciatura
Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens, em situação de Estágio
de Docência I ou II, sobre práticas avaliativas e instrumentos utilizados para avaliar os
alunos em aulas de matemática, em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para minha pesquisa, elegi como objetivo identificar concepções e instrumentos
de avaliação que permeiam a pr|tica da professora do 4˚ ano do Ensino Fundamental de
uma escola pública de Belém-PA. Para tanto, selecionamos como etapas: estudos de
texto, observações de uma turma do 4˚ ano do Ensino Fundamental, tendo a matriz de
referência do projeto “Avaliação e Ensino na Educação B|sica em Portugal e no Brasil:
relações com as aprendizagens” (AERA) (Quadro 1) de Borralho e Lucena (2015), grupo
de discussão, elaboração e aplicação de um questionário junto à professora regente e
análise da informações constituídas a partir das observações e respostas dadas ao
mencionado questionário.
Para as observações, foram realizados 17 encontros na escola. Os registros foram
feitos tomando como referência os objetos contidos na matriz e respectivas dimensões.
Para a análise, recorremos aos registros feitos durante o período de observação, que
foram apresentados no grupo de discussão do projeto ao qual este se encontra atrelado,
e transcritos.
Para complementar as observações optamos pela elaboração e aplicação de um
questionário aberto contendo 8 questões que fora entregue para a professora da turma
em questão. O mencionado questionário solicitava que a docente escrevesse sobre: 1.
Qual sua formação? 2. Há quanto tempo atua nos anos iniciais? 3. Para você o que é
avaliar? 4. Qual sua concepção sobre o processo de avaliação em escolas? 5. Quais
estratégias utiliza para o ensino de matemática? 6. Como você avalia seus alunos em
relação aos conhecimentos matemáticos que precisam aprender? 7. Que instrumentos de
avaliação utiliza para fazer a verificação quanto à consecução dos objetivos pretendidos?
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8. Caso utilize a prova como um dos instrumentos de avaliação, como você encaminha o
processo de desenvolvimento da mesma? 9. O que costuma fazer com os resultados
dessas provas?
Papel do professor
Práticas de Ensino
Papel dos alunos
Estrutura da sala
Papel do professor
questão... “ah, aquele aluno é ruim!”. Por mais que ele apresentasse uma
evolução, muito provavelmente, eu acredito que ela não consideraria isso e
levaria mais a questão da prova pra fazer esse tipo de articulação (Excerto
de registros de observação - Fábio).
Considerações finais
As observações realizadas na turma do 4˚ ano do Ensino Fundamental
evidenciaram que a professora demonstra uma prática próxima de uma concepção de
avaliação como medição, quantificação, em que os alunos precisam adequar-se aos
padrões estabelecidos pelos currículos escolares, pelas escolas.
No momento de responder ao questionário a professora traz no discurso uma
concepção que reconhece a necessidade de se colocar em prática uma avaliação que se
preocupa com o processo e não com o produto, que diz utilizar de observações a partir
do envolvimento das crianças em diferentes propostas de atividades.
Os aspectos observados e as respostas dadas pela professora ao questionário,
permitem inferir que os professores reconhecem que é necessário se optar por uma
concepção de avaliação formativa, que se utiliza de diferentes e variados instrumentos
para avaliar, em que o aluno é ativo e corresponsável e capaz de autorregular este
processo, em que o feedback é intrínseco ao processo e fornece pistas para que os
alunos revejam e reelaborem estratégias para a resolução de desafios que se colocam.
No entanto, percebemos que é necessário aprofundamento teórico para que esses
professores compreendam melhor os aspectos da avaliação formativa para que tenham
segurança e possam efetivamente colocar em prática uma concepção que apareceu mais
no discurso do que na prática.
Referências
AFONSO, A. J. Avaliação educacional: regulação e emancipação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
FERNANDES, D. Avaliar para aprender: fundamentos, práticas e políticas. São Paulo: UNESP,
2009.
HOFFMANN, J. M. Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliação. 12. ed. Porto Alegre:
Mediação, 2012.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. ed. São Paulo:
Cortez, 2012.
SANT'ANNA, I. M. Por que avaliar?, como avaliar?: critérios e instrumentos. Petrópolis, RJ: Vozes,
2017.
SAVIANI, D. Educação brasileira: estrutura e sistema. 10. ed. Campinas, SP: Autores Associados,
2008.
SILVA, M. A. Avaliação da aprendizagem em educação on line. 1. ed. São Paulo: Loyola, 2005.