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Acórdãos TRC Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

Processo: 1014/08.8TMCBR-P.C1
Nº Convencional: JTRC
Relator: VÍTOR AMARAL
Descritores: RESPONSABILIDADES PARENTAIS
INCIDENTE DE INCUMPRIMENTO
REGIME DE VISITAS

Data do Acordão: 22-10-2019


Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso:
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE COIMBRA - COIMBRA -
JUÍZO FAM. MENORES - JUIZ 2
Texto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃO


Decisão: CONFIRMADA
Legislação Nacional: ART 41 RGPTC ( LEI Nº 41/2015 DE 8/9)

Sumário: 1. - O processo de incumprimento de regulação do


exercício de responsabilidades parentais constitui uma
instância incidental, relativamente ao processo
principal (de regulação dessas responsabilidades),
destinada à verificação quanto a uma situação de
incumprimento culposo/censurável de obrigações
decorrentes de regime parental estabelecido, bem
como à realização de diligências tendentes,
designadamente, ao cumprimento coercivo.
2. - Havendo recusa de menor em se sujeitar às visitas
ao seu progenitor, haverão de ser apuradas as razões
desse comportamento de rejeição da figura paterna,
para o que é adequada prova técnica/psicológica que
capte os aspetos psicológicos/emocionais da menor,
bem como a sua dinâmica familiar e eventuais
constrangimentos aí existentes.

3. - Apurado que a recusa da menor assenta numa


visão da figura paterna como violenta, em
consequência de diversas agressões à mãe da menor,
presenciadas por esta, o que a levou a perder a
confiança no pai e a ter medo dele, perceção que o
acompanhamento especializado da menor não logrou
alterar, não é exigível à mãe que obrigue a filha ao
contacto que ela perentoriamente rejeita, não podendo
a menor ser violentada na sua vontade, a tal se opondo
o critério do superior interesse da criança ou do
jovem.

4. - Nesse caso não encontra fundamento a conclusão


de direito no sentido de o incumprimento do regime de
visitas ser imputável à mãe, não se mostrando que esta
tenha meios para poder persuadir a menor e vencer a
sua resistência, pois que esta última, atenta a sua
idade, tem a sua personalidade e vontade própria.

5. - Ainda que se conclua por uma situação de


incumprimento imputável, numa ocasião, à mãe da
menor, não deve esta, apurada aquela rejeição da filha
face à figura paterna, ser condenada a assegurar o
cumprimento do direito de visita do pai, o que só se
conseguiria violentando o querer da menor, forçando-
a ao arrepio do seu superior interesse, sendo este que
cabe garantir.
Decisão Texto Integral:

Acordam na 2.ª Secção do Tribunal da Relação de


Coimbra:

***

I – RELATÓRIO

A (...) , com os sinais dos autos,

pai da menor B (...) ,

veio suscitar, quanto a esta sua filha, o incidente de


incumprimento das responsabilidades parentais contra a
mãe,
C (...) , também com os sinais dos autos,

pedindo a condenação da Requerida a assegurar o


cumprimento do direito de visita ao Requerente, se
necessário coercivamente, a facultar-lhe toda a
informação mensal relativa à atividade de ginástica e a
não marcar férias que possam implicar um período de um
mês de ausência de convívio entre o Requerente e a
menor.

Para tanto, invocou ([1]) que:

- nos dias 15/02/2014 (sábado) e 25/04 (sábado) se


deslocou a casa da Requerida para ir buscar a filha B
(...) , a fim de passar com ela o fim de semana, mas
ninguém atendeu;

- em quartas-feiras em que a B (...) deveria estar com o


pai também não esteve;

- os seus planos de fim de semana com a filha são


gorados por a menor ter aulas ou torneios de ginástica,
visto a Requerida não o informar de tais atividades;

- acresce que a Requerida, na marcação das suas férias


com a menor B (...) , provoca, intencionalmente, que o
Requerente não veja a filha durante mais de um mês.

Notificada, a Requerida, impugnando o alegado pela


contraparte, invocou, por sua vez, que:

- na véspera do dia 25/04/2014 foi agredida pelo


Requerente, encontrando-se então a Requerida em
convalescença, na sequência de uma cirurgia a que havia
sido submetida;

- as visitas às quartas-feiras têm sido um suplício para a


menor, sendo que o Requerente só ocasionalmente exerce
este seu direito, fazendo-o de forma perturbadora para a
rotina e bem-estar da filha;

- no dia 06/05/2015 foi a direção da escola que


determinou a não entrega da B (...) ao pai, depois de esta
ter relatado uma agressão do progenitor à progenitora à
sua frente;

- comunica via correio eletrónico as informações da


ginástica da filha e que as mesmas estão disponíveis no
sítio da internet do “A(…)”, pelo que o Requerente tem
acesso à informação adequada.

Pugnou, assim, pela inexistência dos incumprimentos


alegados.

Em conferência de pais, não se alcançou acordo, tendo as


partes sido notificadas para alegarem.

A requerida alegou, defendendo a total improcedência do


incidente de incumprimento.

O Requerente não apresentou alegação.

O Ministério Público (M.º P.º) pronunciou-se pela


improcedência do incidente.

Não se alcançando acordo entre os pais, foi solicitada a


avaliação da menor, com vista a apurar o seu real sentir
quando verbaliza não pretender estar com o pai e, em
especial, se tal vontade é genuína ou, pelo contrário, é
influenciada pela progenitora.

Foi depois proferida sentença – datada de 30/05/2019 –,


com o seguinte dispositivo:

«Pelo exposto, declarando o incumprimento do regime de


convívio no dia 15/2/2014, absolvo a requerida C (...)
pedido formulado por A (...) de condenação daquela a
assegurar o cumprimento do direito de visita.».

Desta sentença veio o Requerente, inconformado, interpor


o presente recurso, apresentando alegação e as seguintes

Conclusões

(…)

A Requerida não apresentou contra-alegação de recurso.


Também o M.º P.º não contra-alegou.

***

O recurso foi admitido como de apelação, a subir


imediatamente, nos próprios autos incidentais e com
efeito meramente devolutivo, tendo sido ordenada a
extração da certidão requerida e a remessa dos autos a
este Tribunal ad quem, onde foi mantido o regime e efeito
assim fixados.

Nada obstando, na legal tramitação, ao conhecimento do


mérito do recurso, cumpre apreciar e decidir.

***

II – ÂMBITO DO RECURSO

Perante o teor das conclusões formuladas pela parte


recorrente – as quais definem o objeto e delimitam o
âmbito do recurso ([2]), nos termos do disposto nos art.ºs
608.º, n.º 2, 609.º, 620.º, 635.º, n.ºs 2 a 4, 639.º, n.º 1,
todos do Código de Processo Civil em vigor e aqui
aplicável (doravante NCPCiv.), o aprovado pela Lei n.º
41/2013, de 26-06 ([3]) –, importa saber ([4]):

a) Se a sentença padece nulidade por omissão de


pronúncia (cfr. conclusões XXXII a XXXVI, reportadas à
não apreciação de factos alegados);

b) Se ficou o Recorrente impedido de produzir prova, que


fosse relevante para formação da convicção quanto a
factos por si impugnados no recurso;

c) Se deve proceder a impugnação da decisão da matéria


de facto;

d) Se ocorre incumprimento do regime de visitas


imputável à Recorrida mãe, devendo proceder a pretensão
incidental, com a inerente condenação daquela.

***
III – FUNDAMENTAÇÃO

          A) Nulidade da sentença por omissão de


pronúncia

Sob as conclusões XXXII a XXXVI do Apelante, este


argui a nulidade da sentença a que alude o art.º 615.º, n.º
1, al.ª d), do NCPCiv., isto é o vício de omissão de
pronúncia, com reporte à não apreciação de factos
alegados.

Resulta daquele art.º 615.º, n.º 1, al.ª d), que a sentença é


nula quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões
que devesse apreciar ou, inversamente, conheça de
questões de que não podia tomar conhecimento.

Vêm entendendo, de forma pacífica, a doutrina e a


jurisprudência que somente as questões em sentido
técnico, ou seja, os assuntos que integram o thema
decidendum, ou que dele se afastam, constituem
verdadeiras questões de que o tribunal tem o dever de
conhecer para decisão da causa ou o dever de não
conhecer, sob pena de incorrer na nulidade prevista nesse
preceito legal.

De acordo com Amâncio Ferreira ([5]), “trata-se de


nulidade mais invocada nos tribunais, originada na
confusão que se estabelece com frequência entre questões
a apreciar e razões ou argumentos aduzidos no decurso da
demanda”.

E, segundo Alberto dos Reis ([6]), “são na verdade coisas


diferentes: deixar de conhecer de questão de que devia
conhecer-se e deixar de apreciar qualquer consideração,
argumento ou razão produzida pela parte. Quando as
partes põem ao tribunal determinada questão, socorrem-se
a cada passo, de várias razões ou fundamentos para fazer
valer o seu ponto de vista; o que importa é que o tribunal
decida a questão posta; não lhe incumbe apreciar todos os
fundamentos ou razões em que elas se apoiam para
sustentar a sua pretensão”.

Já Luís Correia de Mendonça e Henrique Antunes ( [7]),


por sua vez, referem que “a observação da realidade
judiciária mostra que é vulgar a arguição da nulidade da
decisão”, sendo que “por vezes se torna difícil distinguir
o error in judicando – o erro na apreciação da matéria de
facto ou na determinação e interpretação da norma
jurídica aplicável – e o error in procedendo, como é
aquele que está na origem da decisão”.

Por seu turno, Antunes Varela ([8]) esclarece,


em termos de delimitação do conceito de nulidade da
sentença, face à previsão do art.º 668.º do CPCiv., que
“não se inclui entre as nulidades da sentença o chamado
erro de julgamento, a injustiça da decisão, a não
conformidade dela com o direito substantivo aplicável, o
erro na construção do silogismo judiciário (…) e apenas
se curou das causas de nulidade da sentença, deixando de
lado os casos a que a doutrina tem chamado de
inexistência da sentença”.

Na nulidade aludida está em causa o uso ilegítimo do


poder jurisdicional em virtude de se pretender conhecer
de questões de que não podia conhecer (excesso de
pronúncia) ou não se tratar de questões de que deveria
conhecer-se (omissão de pronúncia). São, sempre, vícios
que encerram um desvalor que excede o erro de
julgamento e que, por isso, inutilizam o julgado na parte
afetada.

Como já se mencionou, para apuramento quanto ao vício


de omissão (ou excesso) de pronúncia cabe perspetivar as
questões em sentido técnico, só o sendo os assuntos que
integram o thema decidendum, ou que dele se afastam, só
esses constituindo verdadeiras questões de que o tribunal
tem o dever de conhecer.

Assim, não são, obviamente, questões para este efeito os


factos (alegados ou provados), nem os argumentos
apresentados pelas partes, nem as razões em que
sustentam a sua pretensão ou defesa, nem as provas
produzidas, nem a apreciação que delas se faça em termos
de formação da convicção do Tribunal.

Ora, dito isto, o Apelante retira – se bem se interpreta o


seu acervo conclusivo, sendo que a sua alegação nada
mais clarifica – a nulidade que invoca da circunstância de
a decisão recorrida não ter emitido pronúncia (de
“provado” ou de “não provado”) sobre determinados
factos por si alegados.

Assim, o vício assacado é o de se ter desconsiderado, no


plano probatório, o dito material fáctico alegado,
entendido como relevante para demonstração de situações
de incumprimento.

Porém, como já referido – e se reitera –, não são questões


para este efeito os factos alegados, nem os argumentos
apresentados pelas partes, nem as razões em que
sustentam a sua pretensão ou defesa, nem as provas
produzidas.

A omissão de factos, em vez de configurar causa de


nulidade da sentença (vício formal desta), poderá, caso se
trate de factualidade relevante, desencadear – isso, sim –
o mecanismo processual previsto no art.º 662.º, n.º 2, al.ª
a), do NCPCiv., traduzido na ampliação da matéria de
facto, com anulação da decisão, no âmbito da
modificabilidade da decisão de facto.

Em suma, improcede a invocada causa de nulidade da


sentença.

B) Matéria de facto

1. - Da impugnação da decisão da matéria de facto

Da leitura das conclusões do Apelante verifica-se que este


pretende impugnar a decisão da matéria de facto, por via
de erro de julgamento de facto, convocando, para tanto,
prova documental.

Começa por invocar que, contrariamente ao decidido,


deveria ter sido dado como provado “o incumprimento
datado de 25/04/2015, pois o mesmo encontra-se
devidamente documentado nos autos”, com reporte ao
“auto de notícia” do “Apenso N- datado de 11.05.2015”
(conclusões VIII e IX), pedindo, a final, a emissão de
certidão desse documento.

E, efetivamente, da certidão junta ao processo eletrónico


(certidão datada de 27/09/2019 e incorporada nessa
mesma data), consta “auto de notícia” da PSP
“(NPP180853/2015) constante do apenso N, sob Ref.ª
1033760, de 11-05-2015”, o qual se refere a factos
ocorridos em “2015-04-25”, no período entre as “10:00h”
e as “10:24h”, tendo, no local ali identificado ((…) a
residência da Requerida mãe), sido prestada informação
pelo Requerente pai – àquela entidade policial – que
deveria ter recebido a menor B (...) pelas 10,00 horas, não
tendo, porém, obtido qualquer tipo de resposta.

Assim, ante tal prova documental, o facto da al.ª a) do


factualismo não provado, deve ser suprimido e transposto
para a factualidade provada, com o seguinte teor:

«27. Em 25/04/2015, pelas 10 horas, o Requerente


dirigiu-se a casa da requerida para ir buscar a filha, mas
não o conseguiu.».

Obviamente, não poderá dar-se como provado “o


incumprimento” alegado (cfr. conclusão IX), pois este
traduz matéria conclusiva/valorativa, que não pode ter
assento na parte fáctica da sentença (vide art.º 607.º, n.ºs
3 a 5, do NCPCiv.), apenas podendo ser indagado em
sede de fundamentação de direito.

Procede, pois, parcialmente esta parcela impugnatória do


Apelante.

Este pretende ainda que deveria a 1.ª instância ter-se


pronunciado sobre os factos referentes ao
“incumprimento” ocorridos em 27/08/2014 e 10/09/2014,
convocando, como prova, autos policiais “que se
encontram no Apenso L” (cfr. conclusões X a XII),
afirmando o Recorrente que se trata de “factos alegados
em sede de petição de incumprimento”, clarificando que
se encontram “referidos na petição sob o n.º 10” (cfr.
conclusão X).

Ora, no convocado art.º 10.º da petição do Requerente (a


petição destes autos) não são, salvo o devido respeito,
alegados quaisquer factos, e muito menos factos
ocorridos em 27/08/2014 e 10/09/2014, posto ali apenas
vir alegado, na sequência do exposto no antecedente art.º
9.º (onde se alude ao clausulado sob a “cláusula n.º 2.2,
da Regulação das Responsabilidades Parentais”, quanto
ao “Direito de convívio regular / organização dos tempos
da criança”, podendo o pai, “de forma quinzenal”, “ir
buscar a filha – a partir das 17 horas – às 4.ªs feiras ao
estabelecimento de ensino que ela frequenta”), o seguinte:

«Nestes sentido, veja-se os NPP da PSP n.º 375864/2014


e 397455/2014, fls 183, 184, 186, Apenso M, fls 183,
184, 186.».

Assim, não alegada a factualidade que o Recorrente agora


invoca ([9]), tem de improceder, nesta parte, a
empreendida impugnação da decisão da matéria de facto.

Pugna também o Recorrente pela inversão do juízo de


“não provado” para “provado” quanto à al.ª c) do
factualismo dado como não provado.

É o seguinte o teor dessa al.ª, que obteve resposta


negativa:

«c- que a requerida marque 16 dias de férias com a filha


no verão, privando o requerente de estar com ela durante
mais de um mês.».

Como refere o impugnante, está provado, sem


controvérsia, que:

«12. Por despacho de 11/7/2014 foi determinado que o


período de férias da B (...) com o pai decorreria até
22/7/2014 inclusive e que o período de férias com a mãe
decorreria de 2 a 17/8/2014 inclusive.».

Assim, é inequívoco que, em 2014, o período de férias


com a mãe decorreria de 2 a 17/8/2014 inclusive.

Neste plano, refere o impugnante que no dia 27/08/2014


“foi a casa da mãe para ir buscar a menor, Quarta Feira, e
não teve sucesso” (cfr. conclusão XXIII), período que
extravasa o aludido clausulado quanto a férias.

E é com base no ocorrido nesse dia (27/08/2014) que, se


bem se entende, pretende a dita alteração do juízo
probatório.

Ora, na petição o Requerente referiu que “a Requerida


marcou as suas férias desde o dia 2 ao dia 17 de Agosto”
(cfr. art.º 46.º), o que está em sintonia com o clausulado
mencionado, não fazendo, porém, qualquer menção a um
eventual incumprimento no dia 27/08/2014 (cfr. art.ºs 47.º
a 60.º), que está fora do período de férias estipulado.

Defendendo, neste horizonte, que ocorre “incumprimento


por parte da Requerida no que toca à marcação do direito
de férias, procedendo à marcação de 16 dias e não de 15
conforme o acordado” (art.º 59.º), acarretando “um lapso
de 1 mês e 6 dias que este Pai está sem ver a sua filha”
(art.º 60.º), não se vê onde esteja o abuso
(incumprimento) no que tange ao direito a férias da
Requerida, se o próprio Requerente defende que aquela,
como determinado, tinha o período de férias com a filha
de 2 a 17/8/2014, o que aquela observou (dito art.º 46.º da
petição), sendo que, por outro lado, o aludido dia
27/08/2014, que não é mencionado na petição, se situa
fora do período de férias.

Em suma, não se vê como tenha ocorrido, quanto ao ano


de 2014,  erro do Tribunal a quo ao dar como não
provado que a Requerida, marcando 16 dias de férias com
a filha no verão, tenha privado o Requerente de estar com
ela durante mais de um mês.

Donde que, não podendo alterar-se o juízo probatório,


haja a impugnação de improceder também nesta parte.

Resta a “censura” a que se reportam as conclusões XXV a


XXVII, com relação ao ocorrido em 06/05/2015, que “na
óptica do Tribunal não pode ser imputado à recorrida
porque foi uma decisão do estabelecimento de ensino”
(conclusão XXV), mas que, para o Apelante, só pode
dever-se “a uma orientação manifestada pela mãe da
menor” (conclusão XXVI).

Nesta parte, vem provado que:

«17. No dia 6/5/2015 o requerente dirigiu-se à escola


frequentada pela filha para a ir buscar, o que lhe foi
negado por ordens da Direcção da escola.».

O Apelante não esclarece qual a alteração pretendida a


este concreto ponto fáctico, antes parecendo insurgir-se já
contra a fundamentação de direito, onde o Tribunal a quo
refere:

«Neste quadro, não correspondia minimamente ao


interesse da B (...) o restabelecimento do convívio com o
requerente, o qual lhe seria absolutamente imposto, pelo
que importa retirar o juízo de censura, de culpa, em
relação à requerida, que o requerente pretende ver
declarado no que troca aos dias 6/5/2015, 3/6/2015 e
6/6/2015.

Mais, a ausência de convívio no dia 6/5/2015 até terá


sido uma decisão de terceiros – a Direcção da escola -,
que não da requerida !».

Assim, parece, salvo o devido respeito, que, nesta parte, o


Recorrente entra já na sua censura à decisão de direito,
matéria que oportunamente se apreciará.

De qualquer modo, não esclarece qual a concreta


alteração que pretendesse ao dito ponto 17 dos factos
provados, não apresentando redação alternativa e não
observando, assim, o ónus legal a que alude o art.º 640.º,
n.º 1, al.ª c), do NCPCiv., o que determina a
improcedência desta parcela impugnatória ([10]).

2. - Quadro fáctico da causa 

2.1. - Factos provados

Decidida a impugnação da decisão da matéria de facto,


com a decorrente alteração operada pela Relação, é a
seguinte a factualidade provada:

“1. B (...) nasceu em 16/9/2003, em (...) , (...) , e é filha da


requerente e do requerido.

2. Os pais da B (...) casaram um com o outro em


27/1/2001, tendo sido decretado o divórcio por sentença
de 15/10/2009.

3. Por decisão de 14/7/2009 foi regulado o exercício do


poder paternal relativamente à B (...) nos seguintes
termos:

- As responsabilidades parentais serão exercidas pela mãe


da menor, a ela se entregando a guarda da filha.

- O pai terá consigo a menor, quinzenalmente, aos fins-


de-semana (desde Sábado a 2ª feira), indo buscar e levar a
menor, respectivamente, ao sábado e segunda-feira, a
casa da mãe (pelas 10 horas de sábado) e ao
estabelecimento de ensino frequentado pela criança (até
às 9h30m de 2ª feira);

- Também de forma quinzenal, o pai poderá ir buscar a


filha - a partir das 17 horas - às 4ªs feiras ao
estabelecimento de ensino que ela frequenta, fazendo-a
regressar a casa da mãe até às 21 horas e 30 minutos, em
época de férias, e até às 20h45m, na época escolar.

- No Natal, a menor passará a véspera de Natal


(entendendo-se como tal o período que medeia entre as
12.00 horas do dia 24 de Dezembro e as 12.00 horas do
dia 25 de Dezembro), e o dia de Natal (entendendo-se
como tal o período que medeia entre as 12.00 horas do
dia 25 de Dezembro e as 12.00 horas do dia 26 de
Dezembro), alternadamente com a mãe e com o pai.

- No Fim de Ano, a menor passará o dia da passagem de


ano (entendendo-se como tal o período que medeia desde
as 12.00 horas do dia 31 de Dezembro até às 12.00 horas
de dia 1 de Janeiro), e o dia de Ano Novo (entendendo-se
como tal desde as 12.00 horas de dia 1 de Janeiro até às
12.00horas do dia 2 de Janeiro), alternadamente com a
mãe e com o pai.

- Quanto à Páscoa, a menor passará a Sexta Feira Santa


(entendendo-se como tal o período que medeia entre as
12.00 horas da referida sexta feira e as 12.00 horas de
sábado), e o dia de Páscoa (entendendo-se como tal o
período que medeia entre as 12.00 horas de sábado e as
12.00 horas de Domingo de Páscoa), alternadamente com
a mãe e com o pai, sendo que no ano de 2010, a Sexta
Feira Santa será passada com o pai e consequentemente o
dia de Páscoa com a mãe.
- No período de férias de Verão, a menor passará15 dias
com cada progenitor, em período a ajustar entre ambos
até ao dia 15 de Abril de cada ano civil, data até à qual a
mãe comunicará ao pai o seu período pretendido.

- A menor passará o respectivo dia de aniversário (16/9)


com ambos os progenitores, partilhando cada uma das
refeições principais (almoço e jantar) com cada um deles,
começando este ano a almoçar com a mãe e a jantar com
o pai, alternando nos anos seguintes.

- A menor jantará no dia de aniversário de cada um dos


progenitores como respectivo aniversariante.

- Nos períodos de épocas festivas, de férias escolares e


outros períodos festivos compete ao progenitor que goze
da companhia da menor ir buscá-la elevá-la à residência
do outro progenitor, devendo, sempre que possível, ser o
irmão D (...) o intermediário da entrega da menina ao pai
(em início de espaço de convívio) e à mãe (em regresso
de espaço de convívio).

- O pai pagará, a título de pensão de alimentos, a quantia


mensal de €200 (duzentos euros), sujeita a actualização
anual resultante da aplicação da taxa de inflação
publicada pelo INE e referente ao ano civil anterior.

- O pagamento será efectuado por transferência bancária,


para a conta bancária da Mãe (NIB (…)), até ao dia 20 do
mês a que disser respeito.

- As despesas escolares, as despesas extraordinárias de


saúde e as despesas relacionadas com as actividades
extracurriculares que a menor frequente ou venha a
frequentar serão suportadas em partes iguais por ambos
os progenitores, pagando o pai a sua comparticipação, por
transferência bancária, dez dias após a apresentação pela
mãe dos respectivos comprovativos de despesas.

4. Na altura ficou determinado que o regime de convívio


estipulado fosse reavaliado de dois em dois meses,
devendo a EMAT- (...) supervisionar este convívio,
remetendo a este foro relatórios bimestrais para efeitos
dessa avaliação contínua e superveniente. Para esse fim,
devia a EMAT- (...) escolher dois técnicos com formação
em Psicologia.

5. A fundar o decidido foram apurados os seguintes factos


(além de outros, sem relevo para o que ora se decide):

- Os pais da B (...) encontram-se separados de facto desde


16 de Setembro de 2006, altura em que a requerente saiu
de casa acompanhada de sua filha, tendo logo intentado a
presente acção, a qual dá entrada em juízo, no dia
18/9/2006.

- Antes da separação de facto entre requerente e


requerido, foram muitas as discussões e agressões deste à
primeira presenciadas pela B (...) .

- Na altura da separação, a B (...) frequentava o Colégio


de (...) .

- Receando que o marido raptasse a filha, a requerente,


nessa altura, suspendeu temporariamente a frequência da
filha no Colégio referido, deixando a filha ao cuidado da
avó materna, ficando ambas fechadas em casa durante
quase 3 meses.

- No dia da 1ª conferência marcada nos autos


(29/11/2006), a menor foi confiada à guarda e cuidados
de sua mãe, a quem foi provisoriamente atribuído o
exercício do poder paternal.

- Nova conferência veio a realizar-se em 9/3/2007, tendo


aí sido fixado o seguinte regime provisório, assente a
inexistência de acordo entre as partes quanto ao fundo da
causa:

a. a menor fica confiada à guarda e cuidados da mãe, que


sobre ela exercerá o poder paternal;

b. o pai poderá estar com a menor todos os domingos, das


11horas às 19 horas, indo buscá-la a casa da mãe, sendo
que a menor será entregue ao irmão D (...)

c. o pai contribuirá com a quantia de € 200 mensais, a


título de pensão de alimentos.
- Ao longo do processo, foram ensaiadas formas de
reaproximação da B (...) a seu pai, estando hoje a menor a
pernoitar em casa deste de domingo para segunda-feira.

- O requerido foi condenado, por decisão agora transitada


em julgado, porque confirmada pelo Tribunal da Relação
de Coimbra, na pena de um ano e cinco meses de prisão,
suspensa na sua execução por 3 anos, pela prática, na
pessoa de sua mulher C (...) , de um crime de maus tratos
a cônjuge.

- Existe um péssimo relacionamento entre o requerido e a


requerente, alargada às respectivas famílias.

- A requerente tem uma ligação afectiva muito forte à


filha, em função de quem vive, tendo sido sempre ela que
exerceu os cuidados básicos para com a menor,
comparecendo sozinha às consultas médicas, organizando
as festas de aniversário da mesma e indo sozinha às festas
do Colégio da menina.

- Ainda hoje a menor dorme na cama da mãe, embora


adormeça em regra na sua cama, dormindo hoje também
muitas vezes na cama do pai, adormecida pelo irmão D
(...)

- A requerente tem sido sempre muito apoiada pela sua


mãe na tarefa de cuidar da filha.

- O requerido é uma pessoa instável e conflituosa e que


bebe em demasia em algumas ocasiões.

- O requerido fala por vezes de forma muita agressiva


para com o filho D (...)

- Durante muito tempo, a B (...) mostrou renitência em


conviver como pai, sobretudo, na fase da entrega ao
progenitor, dizendo que não queria ir com ele, o que se
foi esbatendo com o tempo, sobretudo a partir da altura
em que houve a mediação da EMAT- (...) na entrega da
menina ao pai (mediação essa que durou de Maio a
Novembro de 2008), acabando a menina por ir com o pai
de forma alegre e descontraída.

- Consta o relatório da avaliação psicológica feita pelo


INML aos progenitores da B (...) , nele se tendo escrito
que:

a. Os dados da avaliação não revelam nos examinados a


presença de psicopatologia relevante nem padrões de
comportamento indicadores de disfuncionalidade a nível
psicológico;

b. Estivemos perante um casal em que cada um dos


elementos possui características pessoais que lhes
permitem assegurar o exercício da parentalidade, pelo que
o que estará em causa neste processo será apenas a
capacidade de comunicação interpessoal e na gestão de
conflitos (…).

- O Departamento de Pedopsiquiatria e Saúde Mental


Infantil e Juvenil de (...) acompanhou a progenitora da B
(...) , continuando a requerente a manter o
acompanhamento por tal instituição.

- A EMAT- (...) , em 19 de Julho de 2008, opinou que


nada obstava a que a B (...) pudesse ser autorizada a
pernoitar em casa do pai.

- A EMAT- (...) ouviu em declarações a Directora do


Colégio da B (...) no dia 17/7/2008, a qual referiu que
“tinha muita pena da B (...) , pois é uma menor de muito
difícil comunicação, pouco acessível, mas que a B (...)
desde que voltou a estar com o pai, tem estado muito
mais comunicativa, aberta e extrovertida”.

- A EMAT- (...) opina em 24/7/2008 que “apesar de uma


manifesta rejeição inicial às visitas, que se prolongou por
algum tempo, a B (...) tem, no curto espaço que nos é
percebido nas entregas às quartas-feiras, evidenciado uma
crescente proximidade afectiva ao pai e ao irmão”.

- Em 21/10/2008, foi fixado pelo tribunal um período


experimental relativamente ao convívio da menor com o
pai, a decorrer até 31/12/2008, a saber:

a. A menor B (...) passará a pernoitar em casa do pai aos


domingos, iniciando-se tal período em 2/11/2008. Para
tanto, o pai irá buscá-la às 11 horas da manhã a casa da
mãe, levando-a na segunda-feira de manhã ao colégio;

b. às quartas-feiras à tarde, o pai passará a ir buscar a


menor ao colégio, respeitando os horários das actividades
curriculares da menor, devendo entregá-la em casa da
mãe nos horários já estabelecidos.

- O Serviços de Violência Familiar do CHP de (...)


acompanhou a requerente, tendo concluído que “a C (...)
tem dificuldade em separar a relação conjugal da relação
parental e dificuldade em descentrar-se do processo de
regulação do poder paternal, opinando-se que ela
“beneficiaria de um acompanhamento individual/grupal,
de modo a ter um espaço onde possa reflectir sobre toda a
sua história de vida e acerca de todos os aspectos com os
quais ainda tem dificuldade em lidar e lhe causam
sofrimento”.

- O Serviços de Violência Familiar do CHP de (...)


acompanhou o requerido, tendo concluído que o A (...) :

a. “tem uma enorme necessidade de controlo, dos outros e


das situações, sendo muito inflexível na leitura que faz do
mundo e das pessoas que o rodeiam;

b. sente-se mais confortável quando as coisas são como


ele as lê e as vê”, apresentando dificuldades em admitir
leituras e opiniões diferentes da sua;

c. apresenta dificuldades em colocar-se no lugar do outro


e em perceber outras perspectivas que não as dele;

d. demonstra arrogância e atitudes altivas;

e. pontua, em situações de crise, a incompetência do


outro;

f. é impulsivo, embora por vezes aparente alguma


teatralidade e exagero na expressão emocional;

g. assume, por vezes, uma imagem social de “l’enfant


terrible” que gosta de manter associada a uma crença de
que é único e especial;
h. revela ter relações interpessoais intensas e instáveis”.

- Nesse relatório, tal Serviço propõe a participação do


requerido em “intervenção individual? Grupal?
(psicoeducativa?; psicoterapêutica?”), devendo adquirir
uma maior flexibilidade no relacionamento com o outro.

- No relatório, o Serviço referido deixa escrito o seguinte:


“parece que ambos se alimentam deste processo e usam
os serviços para perpetuar esta dinâmica entre ambos
(metáfora dos matraquilhos)”.

- A B (...) ultimamente, tem sido vista em casa do pai


contente e sem sinais de tristeza.

- A requerente tem um apego considerado exagerado à B


(...) , estando a ser acompanhada no sentido da libertação
emocional entre ambas.

6. Em Setembro de 2009 a EMAT informa que o regime


de convívio era cumprido pelos progenitores, embora
ambos lhe apontassem diferentes desvantagens para a
filha; em Novembro de 2009 a EMAT informa que o
regime de convívio entre pai e filha era cumprido por
ambos os progenitores; e em Março de 2010 informa que
a B (...) havia normalizado os convívios com o pai no
regime fixado, que era cumprido.

7. A condenação do requerido pelo crime de maus tratos a


cônjuge, referida no ponto 5, fundou-se nos seguintes
factos provados (entre outros):

- No dia 11/3/99 foi a ora requerente assistida no serviço


de urgência dos HUC em consequência de uma agressão
física a nível da cervical de que foi vítima por parte do
ora requerido, ocorrida havia 2 meses ;

- Em 5/2/2000 foi a ora requerente assistida no serviço de


urgência dos HUC em consequência de agressões do ora
requerido, praticadas nesse dia e havia uma semana,
tendo apresentado escoriação na região geniana esquerda,
equimoses nas vertentes esquerda e direita da pirâmide
nasal, dificuldades em deglutir, dor à palpação no
pescoço, e lesões de arranhadela, cotovelo direito com
cicatriz de lesão com crosta, equimoses em ambos os
antebraços e escoriação ligeira no antebraço esquerdo,
pequenas escoriações nos pulsos e mãos, algumas em fase
de cicatrização, escoriação no joelho direito e equimose
no joelho esquerdo, cabelos sobre a roupa (aparentando
terem sido arrancados à própria) e marcas sugestivas de
contacto com o solo, no tórax dor à palpação na grelha
costal esquerda;

- em 28/12/2004, o ora requerido, na residência do casal,


situada no 6º andar, tentou atirá-la pela janela da sala,
tendo a ora requerente conseguido segurar-se, pelas mão e
pelos pés, e evitando a consumação daquele propósito,
sendo assistida nos HUC, apresentando escoriações nos
membros inferiores, hematoma craniano e escoriações na
face;

- No dia 29/7/2006 cerca das 2 horas, o ora requerido, na


residência de ambos, na sequência de mais uma
discussão, agrediu a ora requerente atirando-a contra uma
parede, desferindo-lhe bofetadas e apertando-lhe o
pescoço, num cenário de enorme violência, estando
presentes e envolvidos ambos os filhos do requerido – o
requerido tirou à força a B (...) dos braços da ora
requerente quando esta disse que se ia embora;

- na sequência desta agressão foi a ora requerente


assistida nos HUC;

- No dia 15/9/2006, cerca das 17:30 hora, depois de a ora


requerente ter comparecido na esquadra da PSP para
prestar declarações, na residência de ambos, o ora
requerido, aparentando encontrar-se já embriagado e
quando a ora requerente tinha a filha B (...) ao colo,
desferiu-lhe duas bofetadas ao mesmo tempo que dizia
«estás fodida, nem sabes no que te meteste, mato-te a ti e
à puta da tua filha»;

- porque no dia seguinte voltou a ser ameaçada, decidiu


sair de casa com a filha B (...) para a de seus pais, que a
acolheram;

- por diversas vezes se viu a ora requerente obrigada a


fugir de casa com a sua filha, durante a noite, para a de
seus pais, para se pôr a salvo da fúria do ora requerido, da
sua violência e dos destemperos verbais;

- no dia 24/12/2006, o ora requerido, quando a ora


requerente se dirigia de carro a (...) , na companhia da sua
mãe e da filha B (...) , para passarem a consoada, foi
abordada pelo ora requerido que lhe barrou o carro, tendo
de imediato começado a proferir ameaças e insultos,
vociferando «puta de merda , eu mato-te a ti e à puta da
tua filha, pego nela e levo-a para o estrangeiro», ao
mesmo tempo que dava murros no carro cujas portas a
ora requerente trancara ao vê-lo e onde se encontrava a
menor que gritava e chorava, apavorada.

8. Em 17/12/2007 foi homologado o acordo dos pais da B


(...) no sentido de o pai, juntamente com o irmão, poder ir
buscar a menor ao infantário, todas as quartas-feiras,
pelas 17 horas, entregando-a à mãe antes do jantar, pelas
19.30 horas.

9. No dia 6/1/2011 foi homologado o seguinte acordo dos


progenitores da B (...) :

- Alteraram uma cláusula do regime de regulação das


responsabilidades parentais da filha, acrescentando o
seguinte:

No dia de aniversário do pai, este irá buscar a menor à


escola às 17,30horas, entregando-a em cada da mãe pelas
21,00 horas, caso a menor tenha aulas no dia seguinte, ou
as 21,30 horas, caso não tenha aulas no dia seguinte.

Caso a menor não tenha aulas no dia do aniversário do


pai, este irá buscá-la a casa da mãe nos mesmos horários.

- Acrescentaram um ponto a outra cláusula com o


seguinte teor:

A menor passará o dia de aniversário do menor D (...) na


companhia deste nos seguintes moldes:

- caso se trate de um dia de aulas, entre as 17,30, altura


em que o pai a irá buscar ao estabelecimento de ensino,
até às 21,00 horas(caso haja aulas no dia seguinte), ou até
as 21,30 horas (caso não haja aulas no dia
seguinte),entregando-a em casa da mãe;

- caso se trate de um dia sem actividades lectivas, entre as


12 ,00 e as19,00 horas, sendo recolhida e entregue em
casa da mãe.

- Acrescentaram a uma Cláusula o seguinte:

O irmão D (...) poderá participar na festa de aniversário


da B (...) geralmente organizada no fim se semana
subsequente.

- Alteraram outra cláusula no seguinte sentido:

Quando o progenitor for buscar ou entregar a menor, terá


que respeitar os horários das actividades lectivas, nestas
incluindo as actividades de enriquecimento curricular.

- Acrescentaram a outra cláusula o seguinte:

Nos períodos de férias escolares em que a menor se


encontra a frequentar o ATL na escola, caso estas
actividades, nas quartas-feiras em que deva estar com o
pai, a impeçam de o fazer a partir das 17, 00 horas, tal
convívio ocorrerá, não à quarta-feira, mas à terça ou
quinta-feira, sendo esse dia escolhido pelo progenitor,
avisando a mãe do mencionado impedimento.

- Acrescentaram o seguinte a outra cláusula:

Quando a segunda-feira seguinte ao fim de semana do pai


coincidir comum feriado, o pai entregará a menor em casa
da mãe até às 12,00 horas.

10. Em 10/9/2012 foi homologado o acordo dos pais da B


(...) relativamente à seguinte cláusula : As recolhas e
entregas da criança junto da mãe poderão ser efectuadas
pelo irmão D (...) , já maior de idade, quer na escola quer
em casa da mãe.

11. No dia 15/2/2014, pelas 10.15 horas, o requerente


dirigiu-se a casa da requerida para ir buscar a filha, mas
não o conseguiu.

12. Por despacho de 11/7/2014 foi determinado que o


período de férias da B (...) com o pai decorreria até
22/7/2014 inclusive e que o período de férias com a mãe
decorreria de 2 a 17/8/2014 inclusive.

13. No dia 22/4/2015, pelas 10:150 horas, o ora requerido


deslocou-se à residência da ora requerente, sita na (…)
(...) , a fim de ali entregar a filha menor de ambos, depois
de a ter ido buscar à Escola (...) e de a ter levado para sua
casa, local onde a filha B (...) lhe disse que não queria
mais sair com ele.

14. Após o ora requerido ter tocado à campainha, a ora


requerente desceu até à entrada do prédio, tendo então
aberto a porta para a filha entrar. Nesse momento, o ora
requerido entrou também para o hall do prédio e, de
seguida, desferiu várias bofetadas na face da ora
requerente e apertou-lhe o pescoço, tendo-lhe, depois,
dado vários empurrões, fazendo-a embater nas paredes e
cair ao chão. Ao mesmo tempo, o ora requerido dizia para
a ex-mulher “posso não ficar com a tua filha, mas tu
também não vais ficar!”

15. Em seguida, o ora requerido dirigiu-se à filha B (...) e,


segurando-lhe no queixo, disse-lhe “tens a certeza do que
me disseste? pensa bem, que nunca mais te venho buscar,
nunca mais me vês e ao teu irmão!...”

16. Em consequência da conduta descrita do ora


requerido, a ora requerente sentiu dores e sofreu:

- No pescoço: na face anterior, à esquerda da linha média,


equimose avermelhada, medindo 1,5 cm x 1 cm;

- No membro superior direito: no terço médio da face


posterior do braço, equimose arroxeada, medindo 1,5 cm
de diâmetro;

- No membro inferior direito: na face dorsal do pé,


equimose arroxeada, medindo 5 cm x 4 cm, sobre o qual
assentou uma escoriação, medindo 1 cm x 0,5 cm,

lesões que lhe determinaram 5 dias de doença, todos com


afectação da capacidade de trabalho geral e profissional e
sem quaisquer consequências permanentes.
17. No dia 6/5/2015 o requerente dirigiu-se à escola
frequentada pela filha para a ir buscar, o que lhe foi
negado por ordens da Direcção da escola.

18. No dia 3/6/2015, pelas 17 horas, o requerente dirigiu-


se a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu.

19. No dia 6/6/2015, pelas 11 horas, o requerente dirigiu-


se a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu.

20. Em 17/6/2015 a B (...) foi ouvida em declarações,


tendo afirmado (além do mais):

« (…) Sabia que vinha tribunal para contar o que


aconteceu quando disse ao pai que já não queria ir mais
com ele. Foi numa quarta-feira em Maio.

O pai foi buscá-la à escola e foram ao supermercado (...) ,


mas não estava muito bem e o pai perguntou várias vezes
se queria ficar com ele, ou se queria que a levasse a casa,
pelo que acabou por dizer que sim e ele foi levá-la a casa
da mãe. A mãe veio à porta do prédio e o pai bateu na
mãe no hall de entrada do prédio.

A mãe mora no 2º andar e vai buscá-la à entrada, mas


nesse dia o pai entrou no átrio do prédio e bateu à mãe, ou
seja, empurrou-a e começou a apertar o pescoço e dizia
que ele não ficava com ela, mas a mãe também não.

O pai perguntou se não queria ir mais com ele e ela disse


que não.

(…)

O pai é sempre muito bruto e tem um bocado de medo


dele e está sempre a dizer asneiras, quando fica muito
irritado, mas não as pode dizer, só se as escrever (nesta
altura foi-lhe dado uma folha e a B (..), no cimo da folha,
escreveu os nomes que o pai lhe chama).

Entre o supermercado (...) e a casa da mãe ainda foram a


casa do pai para ela dizer ao D (...) que não queria ver e
estar com o pai.

Desde essa altura, não voltou a ver o D (..) só tem visto o


F (...) , o outro filho do pai.

O pai e o D (...) vivem em frete à (...) . Vivem sozinhos.


O pai tem uma namorada mas não vive com ele.

Quando estava com o pai passava algum tempo com a E


(...) , que é a namorada do pai, em casa dela, onde às
vezes dormia. Não sabe onde é a casa, só sabe que é perto
de uma Igreja. Dá-se bem com a E (...) , ela é simpática.

Já se lembrou de falar com o D (...) pelo Facebook, mas


ele pode contar ao pai.

O pai também se zanga com o D (...) , sem razão nas


maioria das vezes, por ele cozinhar mal. Também chama
nomes feios ao D (...) (escreveu-os na parte de baixo da
mesma folha) e também lhe diz outras coisas, gritando

. Uma vez, porque pensava que o irmão tinha levado o


carro, o pai empurrou-o e disse para o irmão ir viver com
os cães e que andava a fumar droga, mas não é verdade, é
só tabaco. O pai tem vários carros, não sabe qual era.

(…)

Não gosta de estar com o pai porque acha que ele é muito
bruto.

(…)

O pai não tem ligado desde que disse que não queria ir
com ele e não fala com ele pelo telefone.

O pai foi à escola, mas não estava lá porque o tio G (...)


foi buscá-la para não ir com o pai e era quarta-feira, não
tinha aulas.

O pai já foi várias vezes à escola e vai a casa da mãe


várias vezes para a ir buscar, toca à campainha da mãe e
depois chama a polícia.

Foi à Policia na quarta-feira que referiu atrás, onde


estavam umas amigas da mãe enquanto ela foi ouvida.
Depois foram para o centro comercial (...) comer, onde
estava o tio G (...) e o avô.

O pai também a obriga a escrever cartas para a Sr.º Juiz a


dizer que gosta de estar com ele. Um dia estava tentar
adormecer e ele obrigou-a e escrever uma carta. Terá
escrito umas três cartas que o pai ditava…».

21. Pela prática dos factos descritos nos pontos 13 a 16, o


ora requerido foi condenado, em 16/2/2017, pela prática
de um crime de violência doméstica agravada, na pena de
3 anos de prisão, suspensa na sua execução por igual
período com regime de prova, que incluiu obrigação de
frequência de programa específico de prevenção da
violência doméstica e prestação de 200 horas de serviço a
favor de entidade pública ou privada e solidariedade
social.

22. Na sequência dos factos descritos nos pontos 13 a 16


foi instaurado processo de promoção e protecção a favor
da B (...) , no âmbito do qual, em 6/7/2015, foi proferido
o seguinte despacho:

«Sendo inviável a celebração de acordo de promoção e


protecção impõe-se então aplicar uma medida, a título
provisório, nos termos do artigo 37º da LPCJP . Na
verdade, verifica-se a situação de perigo prevista no artº
3º, nº 2, alínea e) da LPCJP pois, sem prejuízo do
apuramento dos factos levado a cabo em sede criminal, a
entrega da B (…) pelo pai à mãe no passado dia 22-4-
2015 foi de tal modo traumatizante para a criança, que ela
mantém a recusa em estar com o pai.-

A medida que se impõe aplicar no caso concreto é a


prevista na alínea a) do nº 1 do artº 35º daquele diploma
legal, ou seja, a medida de apoio junto da mãe, dado que
esta é uma figura securizante para a filha.

De forma a reforçar a protecção da B (...) , tendo em vista


o seu desenvolvimento emocional – cfr. a alínea b) do artº
34º da LPCJP - determino que a B (...) tenha apoio
psicoterapêutico no Hospital Pediátrico desta cidade e,
tendo em vista afastar a causa de perigo concreta,
determino que, doravante, o pai não insista em ir buscar a
filha para com ele conviver, nomeadamente nos dias e
locais fixados no apenso A e K.----

Assim, nos termos dos artigos 37º, 35º, nº 1, al. a) e 3º, nº


2, al. e) da LPCJP, aplico à B (...) a título provisório, a
medida de promoção e protecção de apoio junto da mãe .

A mãe deve assegurar a comparência da filha nas


consultas de psicologia que lhe sejam marcadas e seguir
as prescrições dadas.

O pai deve abster-se de insistir em ir buscar a filha para


conviver, nomeadamente nos dias e locais fixados nos
apensos A e K.»

23. Em Fevereiro de 2017 o serviço de psiquiatria da


infância e da adolescência informa o seguinte:

24. Em 25/5/2017 a B (...) foi ouvida em declarações,


tendo afirmado (além do mais):

«Veio a Tribunal por causa do pai, quem lhe disse foi a


mãe.---

Já tinha vindo a este tribunal falar com uma senhora e há


uns meses atrás foi a outro tribunal, na (...) .---

Reencontrou o irmão (…) no dia de julgamento e foi


bom.---

Nos aniversários costuma mandar mensagem ao irmão no


Messenger.---

Gostava de estar mais vezes com o irmão (…).----

O irmão (…) vai lá a casa.---

Não estava com o (…) há dois anos, o mesmo tempo que


não está com o pai.---

Se pudesse estava com o (…) mas sem o pai.---

Não sabe se o (…) acabou o curso, sabe que ele esteve em


Lisboa.---

Agora está bem, melhor do que antes, está com a mãe.---

Em relação ao pai não sente saudades.---

Não viu o pai na altura do julgamento.---

Nestes dois anos não houve entre o pai e ela uma carta ou
uma conversa.-

Não tem curiosidade em saber como está o pai.---

Não quer rever o pai, está bem assim, não quer ver o pai
mesmo na presença de outra pessoa, porque o pai é
bruto.---

Se não está com o pai em outros sítios também não vai


estar aqui.-

Quanto às saudades sentidas pelo pai, não pode fazer


nada quanto a isso.-

Acha que o pai é bruto e não acredita que tenha


mudado.---

Já falou da situação do pai com a psicóloga, mas não


falou muito.-

Tem consultas no hospital – pedopsiquiatria, com a dra


(…), tendo em 2017 ido a uma consulta, mas não sabe
quando é a próxima, é a mãe que lhe diz as datas das
consultas.---

Não tem saudades do pai.---

Tem receio que a obriguem a ir para o pai, não quer que a


obriguem, fica nervosa só de pensar nisso.---»

25. Em Abril de 2018 a B (...) foi avaliada, tendo em vista


apurar o seu real sentir quando verbaliza não pretender
estar com o pai e, em especial, se tal vontade é genuína
ou, pelo contrário, é influenciada pela progenitora. Em tal
avaliação não foram encontrados indícios de utilização da
mentira, e a B (...) não revelou propensão para
confabular, não se mostrou demasiado imaginativa, não
recorreu a fantasias e não se mostrou sugestionável, pelo
que se concluiu que o seu real sentir quando verbaliza não
pretender estar com o pai é, efectivamente, a sua
intenção.

26. De forma a averiguar se tal intenção é genuína ou se é


influência da mãe, foram pai e filha remetidos para o
Gabinete de Intervenção Sistémica do Instituto Superior
(...) , a fim de ser observada a interacção do pai com a B
(...) . Porém, não foi possível levar a cabo uma
intervenção familiar sistémica, pelo facto de nenhum dos
dois estar motivado para a mudança, sendo que a B (...)
verbalizou «é a décima vez que falo no mesmo assunto,
quantas vezes vou ter de repetir o mesmo para que me
ouçam ?».”.

27. Em 25/04/2015, pelas 10 horas, o Requerente dirigiu-


se a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu [ADITADO].

2.2. - Factos não provados:

“a- [SUPRIMIDO]

b- que a requerida não comunique ao requerente as


actividades da ginástica da filha;

c- que a requerida marque 16 dias de férias com a filha no


verão, privando o requerente de estar com ela durante
mais de um mês.”.

C) Matéria de direito

Dos pressupostos de procedência da pretensão incidental

A questão essencial a decidir em substância é a de saber


se estamos in casu perante situações de incumprimento
do regime de convívio/visitas imputável à Recorrida mãe
ou se, diversamente, sobre esta não pode recair um juízo
de censura.

Vejamos.
Vem provado que:

- no dia 15/2/2014, pelas 10.15 horas, o Requerente


dirigiu-se a casa da Requerida para ir buscar a filha, mas
não o conseguiu (facto 11);

- no dia 6/5/2015 o requerente dirigiu-se à escola


frequentada pela filha para a ir buscar, o que lhe foi
negado por ordens da Direção da escola (facto 17);

- no dia 3/6/2015, pelas 17 horas, o requerente dirigiu-se


a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu (facto 18);

- no dia 6/6/2015, pelas 11 horas, o requerente dirigiu-se


a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu (facto 19);

- em 25/04/2015, pelas 10 horas, o Requerente dirigiu-se


a casa da requerida para ir buscar a filha, mas não o
conseguiu (facto 27).

Ora, à exceção do ocorrido no dia 15/2/2014, todos os


factos que acabam de ser enunciados, tiveram lugar após
o dia 22/04/2015, dia este em que o Requerente pai,
deslocando-se junto da residência da Requerida mãe, para
entregar a menor B (...) , aproveitou a abertura da porta
pela Requerida para também entrar para o hall do prédio,
local onde espancou a mãe da menor, à vista da filha,
como vem descrito em 13 a 16 dos factos provados.

Sobre este âmbito fáctico cabe, desde logo, reiterar o que


se disse já no acórdão proferido, nesta mesma data, no
apenso S (Apelação 1014/08.8TMCBR-S.C1), onde pode
ler-se:

«A menor, nascida em 16/09/2003, tem agora 16 anos de


idade.

Ao tempo da agressão aludida em 11 a 14 ([11]) dos


factos provados (22/04/2015), a menor B (...) tinha 11
anos de idade, tendo vivenciado essa situação de
violência do seu pai sobre a sua mãe.

Se por esses factos o pai veio a ser condenado (em


16/02/2017), como autor material de um crime de
violência doméstica agravada, numa pena de três anos de
prisão, cuja execução ficou suspensa com regime de
prova (facto 16), também é certo que foram muitas as
agressões e/ou ameaças anteriores do
Requerente/Apelante sobre a mãe da menor, como
retratado nos factos provados dos pontos 5 e 7, com as
agressões a ocorrerem, mesmo antes do nascimento da
filha e a continuarem depois, contando-se já nos anos de
1999, 2000, 2004 (altura em que o Requerente/Apelante,
na residência do casal, situada num 6.º andar, tentou atirar
a mãe da menor, esta então já nascida, pela janela da
sala), em julho e setembro de 2006 (na presença da
menor), em 24/12/2006 (na presença da menor), o que
motivou uma anterior condenação, por crime de maus
tratos a cônjuge, na pena um ano e cinco meses de prisão,
suspensa na sua execução.

Quer dizer, os factos provados patenteiam um historial de


violência, com agressões e ameaças do pai da menor
sobre a mãe dela, com situações muito graves
presenciadas pela menor B (...) .

É certo que houve, a certa altura, um trabalho técnico


junto da menor, com acompanhamento especializado, que
permitiu o convívio, obviamente desejável entre pai e
filha – sobretudo, na perspetiva do desenvolvimento sadio
e integral da criança, carecida de uma figura paterna que
lhe transmitisse, por palavras e atos, um exemplo positivo
de vida, assumindo-se como referência e modelo –, mas
todo esse trabalho veio a ruir, ao que não será,
obviamente, estranho o episódio de violência por último
ocorrido, com a menor a tudo presenciar, ela que esteve,
involuntariamente, no centro da contenda (...).

Bem se compreende, assim, que, em 17/06/2015, a


menor, já com consciência e espírito crítico, ouvida em
declarações, tenha transmitido o seu “medo” perante o pai
(“sempre muito bruto” e “a dizer asneiras, quando fica
muito irritado”), não gostando ela “de estar com o pai
porque acha que ele é muito bruto” (facto 15).

Em fevereiro de 2017, no âmbito de consulta em serviço


de psiquiatria da infância e da adolescência, a menor
continuava a “afirma[r] repetidamente que não quer estar
com o pai” (…).

Posição que manteve em 25/05/2017 quando voltou a ser


ouvida em declarações, altura em que sinalizou que, “se
pudesse estava com o D (...) [irmão], mas sem o pai”,
“em relação ao pai não sente saudades”, “não tem
curiosidade em saber como está o pai”, “não quer rever o
pai (…), não quer ver o pai mesmo na presença de outra
pessoa, porque o pai é bruto”, “não acredita que [ele]
tenha mudado”. E, novamente, manifestou o seu receio:
“Tem receio que a obriguem a ir para o pai, não quer que
a obriguem, fica nervosa só de pensar nisso.” (…).

Mais tarde, já em 2018, a menor, possivelmente


desgastada, deixou a pergunta já mencionada: «é a
décima vez que falo no mesmo assunto, quantas vezes
vou ter de repetir o mesmo para que me ouçam?» (…).

Assim, não nos restam dúvidas – salvo sempre o devido


respeito por diverso entendimento – de ser de sufragar a
conclusão da avaliação à menor levada a efeito em abril
de 2018, quando se concluiu pela
autenticidade/genuinidade da sua reiterada afirmação de
não querer estar com o seu pai.

É que esta vontade e intenção da menor, para além de


sistemática/reiterada/coerente, assenta em fundamento
bem compreensível, ante o dito historial de violência (da
figura paterna sobre a figura materna), por aquela
presenciado, o que a leva a ver o seu pai como uma
pessoa que recorre à violência, gerando-lhe medo e não
acreditando na sua mudança.

Em suma, a vontade da menor afigura-se consistente e


perentória, encontrando justificação na violência reiterada
que imputa à figura paterna.

Posto isto, cabe perguntar: deve a menor ser obrigada a


submeter-se ao regime de visitas com o seu progenitor?
Deve a mãe, num tal contexto, obrigar a filha, sob pena
de incorrer em incumprimento e ser sancionada?
Mais uma vez, com todo o respeito, parece-nos que não.

Transparece, de forma suficientemente elucidativa, que a


menor não pretende tais convívios – recusando a presença
do progenitor, de nada parecendo servir a atual boa
vontade e os esforços deste –, sendo que é uma pessoa já
com 16 anos de idade, com inevitável vontade e
personalidade próprias, o que levou mesmo o M.º P.º, em
parecer anterior à sentença recorrida, a tomar posição no
sentido de, perante a recusa perentório da filha quanto à
reaproximação ao pai, não ser viável a execução do
regime de visitas fixado, considerando apenas dever
improceder o incidente de incumprimento (…).

A questão que perpassa ao longo dos autos é, pois, a de


saber se poderá impor-se, à força, a uma menor agora
com 16 anos de idade, que recusa os contactos com o
progenitor, a sua comparência às visitas/convívios com o
seu pai, obrigando-se a mãe, por seu lado, a obrigar a
filha a observar o regime de visitas que a menor recusa.

É claro que o Apelante imputa o incumprimento à mãe e


não à filha, que é menor, não devendo esquecer-se,
todavia, que aos 16 anos de idade já se tem maturidade
para efeitos de responsabilidade penal (art.º 19.º do
CPen.) e, em certas condições, para contrair casamento
(cfr. art.ºs 1601.º, al.ª a), e 1604.º, al.ª a), ambos do
CCiv.).

Para tanto, poderia desvalorizar-se a recusa da menor,


concluindo-se estar esta a ser manipulada pela mãe ou
não ser tal recusa genuína ou ter sido ultrapassada através
de estratégias para aproximação de pai e filha.

Porém, não é essa, como visto, a conclusão que pode


retirar-se dos factos provados, os únicos a que se pode
atender para decisão da causa.

É bem sabido que as separações ou divórcios dos


progenitores deixam muitas vezes marcas
psicológicas/afetivas/emocionais profundas nos filhos,
mormente se acompanhados de situações de violência
conjugal/familiar, como as presenciadas pela jovem B (...)
.

Perante isto, salvo o devido respeito, não se vê como


concluir, sem sombra de erro, que a responsabilidade pelo
incumprimento é (exclusiva) da mãe, com consequente
juízo de censura ([12]), ao ponto de a sancionar,
parecendo que esta teria de obrigar/violentar a menor para
se eximir às possíveis sanções.

Assim, parece de subscrever a conclusão da 1.ª instância,


visto o desenvolvimento dos autos, quanto à não
responsabilidade da Requerida mãe pelo inadimplemento.

Sendo genuína/autêntica – e não


induzida/sugestionada/provocada – a vontade/intenção da
jovem B (...) , não seria exigível à sua mãe obrigá-la
([13]), à força, a submeter-se ao contacto com o seu pai.

Note-se que o apoio especializado não conseguiu obter a


adesão da menor à aceitação dos contactos com a figura
paterna.

E, não o tendo conseguido, com que custos para a filha


iria a mãe obrigá-la a tais contactos?

Neste contexto, não seria exigível, nem proporcional,


nem sequer adequado para o desenvolvimento da menor,
obrigar a mãe a forçar a filha aos contactos que esta
fundada e perentoriamente recusa.

Assim, afigura-se-nos que o critério do superior interesse


da ainda menor (…) milita no sentido de a não expor a
uma situação em que a sua vontade seja violentada.

Em suma, não é possível formular um juízo de censura à


mãe, sem o que não podemos concluir pela culpa desta –
e decorrente incumprimento sancionável – na
inobservância ocorrida do regime de visitas.».

O que fica exposto vale de pleno para as situações


ocorridas em 25/04/2015, pelas 10 horas, quando o
Requerente se dirigiu a casa da requerida para ir buscar a
filha, não o conseguindo – note-se que apenas tinham
passado três dias sobre os violentos acontecimentos
ocorridos no mesmo local e à vista da menor –,
06/05/2015, quando o Requerente se dirigiu à escola
frequentada pela filha para a ir buscar, o que lhe foi
negado por ordens da Direção da escola – certamente, os
responsáveis da escola já tinham também conhecimento
dos acontecimentos de 22 do mês anterior e queriam,
como seria normal, proteger a criança da exposição a
outras eventuais situações de violência do seu pai contra a
sua mãe –, 03/06/2015 e 06/06/2015, quando o
Requerente se voltou a dirigir a casa da Requerida para ir
buscar a filha, sem o conseguir.

Fica-nos até a seguinte perplexidade (com todo o devido


respeito): será que o Requerente pai esperava, três dias
volvidos, apenas, sobre os violentos acontecimentos
ocorridos à vista da filha, que esta tivesse condições
psicológicas para o acompanhar, como se fosse possível
passar uma esponja sobre a memória, que apagasse a
situação traumática vivida pela criança? E que a
Requerida mãe, ainda dentro dos cinco dias de doença
que as lesões sofridas lhe causaram (com afetação de
capacidade), tivesse condições psicológicas para lhe
entregar a filha menor?

Ora, independentemente da expetativa (subjetiva) do


Requerente, depois da violenta agressão à Requerida mãe,
na presença da filha, qualquer pai medianamente
cuidadoso e previdente, em termos objetivos (os do pai
normal ou comum), compreenderia que não era o tempo
adequado para se dirigir a casa da requerida para ir buscar
a menor, como se a situação fosse de normalidade de
relacionamento ([14]).

Ao invés, qualquer pai prudente teria de colocar a


hipótese – logicamente, muito provável – de a filha estar
com medo de novos atos violentos por parte da figura
paterna e de não querer acompanhar o progenitor, pois
que tinha motivo forte para isso.

Ou será que o Apelante achava que a sua violência contra


a mãe da menor, à frente desta, não teria nenhum efeito
sobre a criança?

Em suma, quanto às invocadas ocorrências posteriores à


agressão de 22/04/2015, em clima de medo da menor – e
de rejeição – face à figura paterna, não era exigível à mãe
que a obrigasse a ir com o pai, o que não concorreria para
o seu bem-estar emocional e psicológico.

Ao invés, o interesse da menor concorria no sentido de,


naquela altura, ela não ser forçada a acompanhar o seu
pai, de quem tinha receio, não estando reunidas as
condições de confiança que permitissem à criança um
contacto gratificante com o progenitor.

Termos em que não era exigível à Requerida que adotasse


conduta diversa, não se lhe podendo assacar, neste
contexto, um desvalor de conduta, uma atuação culposa,
que pudesse fundar o juízo de censura que é pressuposto
do incumprimento ([15]).

Resta a situação – anterior – do dia 15/2/2014, quando o


Requerente se dirigiu a casa da Requerida para ir buscar a
filha, mas não o conseguiu.

Nesta parte, na decisão recorrida considerou-se haver


incumprimento imputável à Requerida mãe, todavia sem
condenação desta a assegurar o cumprimento do direito
de visita.

O Requerente havia pedido que, reconhecendo-se o


incumprimento, fosse a mãe da menor condenada a
assegurar o cumprimento desse direito, se necessário
coercivamente.

Assim sendo, o que está agora em causa é a dita


condenação da Requerida a assegurar o cumprimento
daquele direito, se necessário coercivamente.

Ora, é manifesto que, depois dos descritos factos


ocorridos em 22/04/2015, a menor passou a sentir receio
do pai, recusando, de forma perentória, reiterada,
motivada e compreensível, o contacto com este, atitude
que, por genuína, se tem por justificada, não havendo
condições, nem o seu superior interesse o permitindo,
para a obrigar, à força, e sem mais, ao contacto com a
figura paterna, o que seria contraproducente para o seu
desenvolvimento integral e sendo este que cabe, antes de
tudo, proteger e garantir.

Por isso, não faria sentido, neste estado de coisas, a


pretendida condenação da mãe, a qual teria de violentar o
sentir e a vontade da filha, por forma forçá-la ao contacto,
que a menor rejeita – e ao arrepio do superior interesse
desta (que, por ora, demanda contenção e proteção) –,
com o Requerente pai.

Em suma, improcedendo as conclusões do Recorrente em


contrário, deve manter-se a sentença recorrida, não sendo
caso de condenação da mãe da menor nos moldes
pretendidos.

***

IV – SUMÁRIO (art.º 663.º, n.º 7, do NCPCiv.):


1. - O processo de incumprimento de regulação do
exercício de responsabilidades parentais constitui uma
instância incidental, relativamente ao processo principal
(de regulação dessas responsabilidades), destinada à
verificação quanto a uma situação de incumprimento
culposo/censurável de obrigações decorrentes de regime
parental estabelecido, bem como à realização de
diligências tendentes, designadamente, ao cumprimento
coercivo.
2. - Havendo recusa de menor em se sujeitar às visitas ao
seu progenitor, haverão de ser apuradas as razões desse
comportamento de rejeição da figura paterna, para o que é
adequada prova técnica/psicológica que capte os aspetos
psicológicos/emocionais da menor, bem como a sua
dinâmica familiar e eventuais constrangimentos aí
existentes.
3. - Apurado que a recusa da menor assenta numa visão
da figura paterna como violenta, em consequência de
diversas agressões à mãe da menor, presenciadas por esta,
o que a levou a perder a confiança no pai e a ter medo
dele, perceção que o acompanhamento especializado da
menor não logrou alterar, não é exigível à mãe que
obrigue a filha ao contacto que ela perentoriamente
rejeita, não podendo a menor ser violentada na sua
vontade, a tal se opondo o critério do superior interesse da
criança ou do jovem.
4. - Nesse caso não encontra fundamento a conclusão de
direito no sentido de o incumprimento do regime de
visitas ser imputável à mãe, não se mostrando que esta
tenha meios para poder persuadir a menor e vencer a sua
resistência, pois que esta última, atenta a sua idade, tem a
sua personalidade e vontade própria.
5. - Ainda que se conclua por uma situação de
incumprimento imputável, numa ocasião, à mãe da
menor, não deve esta, apurada aquela rejeição da filha
face à figura paterna, ser condenada a assegurar o
cumprimento do direito de visita do pai, o que só se
conseguiria violentando o querer da menor, forçando-a ao
arrepio do seu superior interesse, sendo este que cabe
garantir.
***
V – DECISÃO

Pelo exposto, acordam os juízes deste Tribunal da


Relação, na improcedência do recurso, em manter a
decisão apelada.

Custas da apelação pelo Recorrente.

Coimbra, 22/10/2019

Escrito e revisto pelo Relator – texto redigido com


aplicação da grafia do (novo) Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa (ressalvadas citações de textos
redigidos segundo a grafia anterior).
Assinaturas eletrónicas.

Vítor Amaral (Relator)

          Luís Cravo

Fernando Monteiro

([1]) Segue-se, por economia de meios, o relatório da


decisão recorrida.
([2]) Excetuando, logicamente, questões de conhecimento
oficioso, não obviado por ocorrido trânsito em julgado.
([3]) Processo base – aquele de que decorrem os presentes
autos incidentais – instaurado antes de 01/09/2013 e
decisão recorrida posterior a esta data (cfr. sentença de
fls. 123 a 142 dos autos em suporte de papel, datada de
30/05/2019, bem como art.ºs 5.º, n.º 1, 7.º, n.º 1, e 8.º,
todos da Lei n.º 41/2013, de 26-06, e Abrantes Geraldes,
Recursos no Novo Código de Processo Civil, Almedina,
Coimbra, 2013, p. 15,). De notar, neste âmbito, que a
jurisprudência vem distinguindo entre o processo
incidental de incumprimento (antes previsto no art.º 181.º
da OTM) e processo de alteração de regime da
responsabilidade parental (anteriormente previsto no art.º
182.º da OTM), por este último, ao contrário daqueloutro,
traduzir um processo autónomo (novo) – assim o Ac. Rel.
Coimbra, de 23-04-2013, Proc. 1211/08.6TBAND-A.C1
(Rel. Teles Pereira), disponível em www.dgsi.pt. É certo
que, entretanto, entrou em vigor o Regime Geral do
Processo Tutelar Cível (RGPTC), aprovado pela Lei
141/2015, de 08-09, com o art.º 5.º desta Lei (sob a
epígrafe “Aplicação no tempo”) a dispor que o RGPTC se
aplica aos processos em curso à data da sua entrada em
vigor, sem prejuízo da validade dos atos praticados na
vigência da lei anterior, sendo inquestionável a sua
aplicação aos presentes autos, iniciados em 14/09/2017
(cfr. fls. 10), e sendo certo, por outro lado, que tal novo
regime jurídico não comporta alteração àquela perspetiva
da presente instância de incumprimento como incidental
(cfr. art.ºs 41.º e 42.º do RGPTC). E o art.º 32.º do dito
RGPTC dispõe, no seu n.º 3, que os recursos são
processados e julgados como em matéria cível, sendo o
prazo de alegações e de resposta de 15 dias.
([4]) Caso nenhuma das questões resulte prejudicada pela
decisão das precedentes.
([5]) Cfr. “Manual dos Recursos em Processo Civil”, 9.ª
ed., p. 57.
([6]) Vide “Código de Processo Civil, Anotado”, vol. V,
p. 143.
([7]) In “Dos Recursos”, Quid Júris, p. 117.

([8]) Cfr. “Manual de Processo Civil”, p. 686.


([9]) Aquele art.º 10.º da petição contém uma mera
remissão para documentos de outro apenso, sem ser
portador, pois, de quaisquer factos alegados, em nada se
reportando ao que possa ter acontecido em 27/08/2014 e
10/09/2014, simplesmente se ligando, como dito, ao
antecedente art.º 9.º, o qual, por sua vez, alude a uma
cláusula da mencionada “Regulação das
Responsabilidades Parentais”.
([10]) O Recorrente alude ainda à não realização da
audiência final (e não produção de prova testemunhal),
fazendo-o, porém, de forma inconsequente, ao não extrair
daí consequências relevantes, seja em sede de
impugnação da decisão de facto, seja de vícios na
tramitação processual, posto não invocar qualquer
nulidade do processado (que não se confunde com as
nulidades da sentença), mormente do anterior à decisão
impugnada, não se tratando, por outro lado, de matéria de
conhecimento oficioso do Tribunal de recurso (cfr. art.ºs
195.º, n.º 1, e 196.º, ambos do NCPCiv.).
([11]) Aqui 13 a 16 do factualismo provado.
([12]) O art.º 41.º, n.º 1, do RGPTC, que o Recorrente
invoca, exige a verificação de uma situação de
incumprimento, com o inerente juízo de censura, por os
factos denotarem a existência de culpa do
agente/inadimplente.
([13]) Poderia até perguntar-se: por que forma e com que
meios?
([14]) Com todo o devido respeito, fica até a dúvida sobre
se era o interesse da filha – ou, ao invés, a lógica do
conflito – que por então movia o Requerente/Apelante.
([15]) É sabido que o art.º 41.º, n.º 1, do RGPTC, que o
Recorrente invoca, exige a verificação de uma situação de
incumprimento, com o inerente juízo de censura, por os
factos denotarem a existência de culpa do
agente/inadimplente.

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