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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

II-CAPÍTULO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓERICA

Neste capítulo, o enfoque será direcionado ao conceito de discriminação social, sua


tipologia, formas de manifestação e suas implicações psicossociais. Além dos pontos
mencionados também será feita uma abordagem minuciosa ao fenómeno social do
desvio e controlo social, ou seja, o comportamento desviante e a consequente reacção
social. Procurar-se-á também correlacionar a discriminação social e reincidência. Da
reincidência, além do conceito será enfatizado os seus pressupostos legais. A
abordagem será extensível ao sistema prisional angolano, destacar-se-á do mesmo os
aspectos pró e contra. Cada tema destacado configurará os pontos e os respectivos
subpontos constituintes deste mesmo capítulo.

2.1 ASPECTOS CONCEPTUAIS: DICRIMINAÇÃO SOCIAL

A discriminação social é uma temática abrangente que engloba inúmeras situações de


discriminação que ocorrem em vários contextos sociais, envolvendo indivíduos
singulares ou grupos, muitas vezes distintos entre si. Das várias obras literárias, por
mim, consultadas em que se aborda esta temática o sentido é sempre o mesmo, ou seja,
o de referência a um conjunto de situações sociais onde se verifica a incidência de
discriminação. Esta pode ser motivada por factores de natureza diversas, tais como:
social, étnico, cultural, religioso, político, condição existencial, entre outros. Podemos
constatar este postulado nas afirmações de Junqueira:

“O conceito de discriminação social diz respeito a relações sociais


caracterizadas por uma representação estigmatizadora do
outro e de si mesmo que constrói identidades polarizadas com
valores positivos e negativos, justificando no nível simbólico os
preconceitos sociais de género, raça, classe social ou outros”
(Junqueira, 2003: 247).

Por tanto, para que possamos compreender na íntegra o conceito de “discriminação


social” temos de saber, imprescindivelmente, o que é a “discriminação”, tal como
veremos a seguir.

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2.1.1 Discriminação

Literalmente, discriminação significa “tratar alguém de uma forma diferente”, no seu


sentido mais explícito, pode ser definido como “um comportamento manifesto,
geralmente apresentado por uma pessoa preconceituosa, que se exprime através de
adopção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo e/ou de
rejeições em relação aos membros dos grupos externos” (Pereira, 2002: 77). Nesta
definição é notável a restrição que o autor faz quanto a pessoa ou grupo alvo da
discriminação, mas importa salientar que a discriminação pode também ocorrer entre
pessoas que pertençam ao mesmo grupo ou status social. A discriminação evidencia-se
no campo da acção concreta, em que necessidades e especificidades de determinados
sujeitos são ignoradas ou desrespeitadas. Ela pertence ao campo da desigualdade e
opõe-se, obviamente, à igualdade de direito. Ao discriminar alguém, condena-se essa
pessoa a um lugar de inferioridade e se lhe veda o acesso a facilidades e direitos que
deveriam ser comuns a todos. Um exemplo é a privação do acesso a benefícios, como
resultado de desigualdade econômica, consolidando um círculo vicioso de exclusão
social (Fiorelli e Mangini, 2012: 364).

Embora não seja o prisma da discriminação em análise, importa aqui referir que existe
também a discriminação positiva ou acção afirmativa que, diferentemente da
discriminação negativa (ou discriminação), visa empreender políticas públicas ou
privadas que darão a um determinado grupo social, étnico, minoria ou vítima de
injustiças sociais, o tratamento preferencial no acesso ou distribuição de certos recursos
ou serviços, bem como o acesso a determinados bens, a fim de melhorar a qualidade de
vida dos grupos desfavorecidos, e para compensar o prejuízo ou discriminação de que
foram vítimas (Gomes, 2001, in: Cecchin, 2006: 331).

2.1.2 Tipos de discriminação social

Tal como se frisou anteriormente, a discriminação social se refere a várias situações


sociais onde há ocorrência de discriminação, no entanto, é a partir destas mesmas

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situações que podemos identificar os vários tipos de discriminação social, tendo como
factor determinante a pessoa ou grupo alvo da discriminação. Dentre os tipos de
discriminação social podemos destacar, por exemplo, a discriminação contra os
seropositivos, deficientes físicos, doentes mentais, presos, ex-presidiários, entre
outros. Sendo os dois últimos o foco das atenções neste trabalho, pois a reincidência
(criminal), uma das problemáticas que encabeça o tema em tese, pressupõe a existência
de um crime perpetrado e punido por lei, este assunto será abordado com maior
profundidade mais adiante (ver ponto 2.5).

2.1.3 Formas de discriminação


As várias formas de discriminação podem ser classificadas em um contínuo, marcado
por graus de intensidade crescente. A forma menos insidiosa, mas nem por isso menos
negativa no plano axiológico, é a rejeição verbal, que se manifesta por meio de
comentários ácidos, anedotas ou mesmo de insultos verbais. Uma forma um pouco mais
grave é a evitação, que se manifesta quando a pessoa que elicia o comportamento
discriminatório adopta estratégias cuja finalidade se resume a impedir o acesso ou o
contacto com a pessoa ou grupo alvo da discriminação. Uma forma mais intensa impõe
não apenas actos que se manifestam em uma dimensão verbal, uma vez que envolve um
julgamento explícito em que o membro do grupo alvo da discriminação é implícita ou
explicitamente desvalorizado. Uma quarta forma de discriminação se manifesta através
de actos de exclusão ou de desigualdade, quando os membros do grupo alvo têm o
acesso negado a bens, objectos ou eventos. Finalmente, a forma mais insidiosa de
discriminação é aquela que se manifesta através de ameaças ou mesmo de ataques
reais aos membros do grupo alvo (Pereira, 2002: 88-89). É importante realçar que estas
formas de discriminação podem ocorrer em vários contextos sociais.

2.1.4 Discriminação social como expressão de violência

Jurandir F. Costa (In: Bock, Furtado e Teixeira, 2008: 331) define violência como toda
aquela “situação em que o indivíduo foi submetido a uma coerção e a um desprazer
absolutamente desnecessário ao crescimento, desenvolvimento e manutenção do seu
bem-estar físico, psíquico e social”. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), é
comum associarmos violência exclusivamente ao crime, à criminalidade, por isso,

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muitas vezes, é mais difícil ver e reconhecer outras de suas expressões, como por
exemplo, a guerra, o preconceito, a destruição do meio ambiente, a corrupção, a fome,
ausência de vagas nas escolas, atendimento precário de saúde, condições de habitação
desumanas, entre outras. Essas múltiplas e variadas expressões da violência compõem o
quotidiano de todos os cidadãos e criam um ambiente social em que ela vai se tornando
invisível para os que ali nascem, crescem e se desenvolvem – é o fenómeno da
naturalização ou banalização da violência. Tendo em conta os pressupostos acima
focados podemos, assim, considerar a discriminação social como sendo uma das formas
de expressão de violência (Op. cit. 335)

2.2 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS INERENTES À DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

Neste ponto abordar-se-á alguns conceitos fundamentais e indispensáveis no que


concerne à compreensão e ao estudo da discriminação social, mormente, na vertente
psicossocial.

Nosso processo de socialização constitui um incessante intercâmbio com pessoas e


estímulos sociais (família, escolas, demais instituições, classes, grupos étnicos, entre
outros) e, neste intenso intercâmbio, colectamos informações, processamos esta
informação e chegamos a julgamentos. Segundo Fiske e Taylor (In: Rodriguez, Assmar
e Jablonskim, 2005: 67), o “estudo de como as pessoas fazem inferências a partir de
informações obtidas no ambiente social “é denominado cognição social. Cognição
social diz respeito a este processo cognitivo, no qual somos influenciados por
tendenciosidades, esquemas sociais, heurísticas1* e onde tem lugar uma forte tendência
de descobrir as causas do comportamento, tanto o nosso como o de outrem. Neste
contacto com o ambiente social que nos circunda, formamos uma ideia de nós mesmos
(autoconceito) e tendemos a categorizar o nosso meio ambiente. Assim rotulamos
pessoas e grupos, discriminamos com base em idade, género e outras características
mais. Com base nas primeiras impressões que obtemos acerca de uma pessoa,
apressamo-nos por formar “uma teoria acerca de sua personalidade”, teoria esta que fará
com que aceitemos com facilidade tudo aquilo que a confirme e rejeitemos

1*
Heurística: atalhos ou métodos rápidos de chegar a conclusões, utilizados com intuito de conhecer o
ambiente social (Rodriguez, Assmar e Jablonskim, 2005: 84).

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sumariamente qualquer informação que a possa contrariar. Em consequências da


cognição social (percepção social) surge a atitude social que é definida como sendo
“uma organização duradoura de crenças e cognições em geral, dotadas de carga
afectiva pró ou contra um objecto social definido, que predispõem a uma acção
coerente com as cognições e afectos relativos a este objecto” (Rodriguez, Assmar e
Jablonskim, 2005: 98).

2.2.1 Atitude e seus componentes

Rodriguez, Assmar e Jablonskim (2005) afirmam que as definições de atitude, embora


divirjam nas palavras utilizadas, tendem a caracterizar as atitudes sociais como sendo
variáveis intervenientes (não observáveis, porém inferíveis) e como sendo integradas
por três componentes claramente discerníveis: cognitivo, afectivo e comportamental.

ɑ) Componente cognitivoPara que se tenha uma atitude em relação a um objecto é


necessário que se tenha alguma representação cognitiva deste objecto. As crenças e
demais componentes cognitivos (conhecimento, maneira de encarar um objecto, entre
outros) relativos ao objecto de uma atitude constituem o componente cognitivo da
atitude. Pessoas que exibem atitudes preconceituosas, têm uma série de cognições
acerca do grupo que é objecto de sua discriminação. Muitas vezes, a representação
cognitiva que a pessoa tem de um objecto social é vaga ou errônea. Quando vaga, seu
afecto em relação ao objecto tenderá a ser menos intenso; quando errônea, isto em nada
influirá na intensidade do afecto, seja ela correspondente à realidade ou não. Esta última
alternativa pode ser claramente percebida no caso do preconceito. A noção de
preconceito refere-se a uma atitude injusta e negativa em relação a um grupo ou a uma
pessoa que se supõe ser membro do grupo. A posição hegemônica entre os psicólogos
sociais parece considerar o preconceito como uma atitude negativa, sugerindo-se que,
como em toda atitude, destacam-se nos preconceitos componentes cognitivos
(geralmente crenças de natureza estereotipada sobre o grupo alvo do preconceito),
afectivo (sentimentos e emoções eliciada pela presença ou mera lembrança de indivíduo

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do grupo alvo) e comportamentais (geralmente predisposições para se comportar de


uma maneira discriminatória quando se é obrigado a estabelecer contacto com membros
do grupo objecto do preconceito), podendo-se imaginar, portanto, que se alguém possuir
preconceitos em relação aos frequentadores de bailes funk, está pessoa não apenas
apresentará uma série de crenças a respeito das pessoas desse grupo, considerando-as,
por exemplo, agressivas e violentas, como também sentirá receio e até mesmo medo
destas pessoas, assim como evitará, sempre que possível, frequentar ou mesmo transitar
pelos locais onde estes bailes se realizam. Outro exemplo similar e mais adequado a
realidade angolana é o que ocorre, com os fazedores do estilo de música kuduro, estes
são considerados por muitos como marginais ou delinquentes, este preconceito ante aos
kuduristas os torna, muitas vezes, alvo de discriminação (Pereira, 2002: 77). Este
comportamento discriminatório também pode ocorrer diante de indivíduos que são
rotulados como desviantes, tal como veremos mais adiante (ver ponto 2.3.2).

Uma primeira tarefa a ser considerada quando se procura determinar as fontes dos
preconceitos é a de identificar o maior número possível de factores, classificando-os de
acordo com algum critério aceitável. Com base neste postulado, faz-se referência a três
grupos de factores capazes de alimentar os preconceitos: sociais, afectivos e cognitivos.
Entre os factores sociais se pode destacar as injustiças sociais, o senso de identidade
social, conformidade e suporte institucional. No caso dos factores emocionais, pode se
fazer referência à frustração-agressão e à personalidade autoritária, enquanto no caso
dos factores cognitivos podemos identificar a categorização, os estímulos que capturam
a atenção e a atribuição de causalidade (Pereira, 2002: 80).

b) Componente afectivo

O componente afectivo é definido como o sentimento pró ou contra um determinado


objecto social. É considerado como o componente mais, nitidamente, característico das
atitudes. Nisto as atitudes diferem, por exemplo, das crenças e das opiniões que, embora
muitas vezes se integrem numa atitude suscitando um afecto negativo ou positivo em
relação a um objecto e predispondo à acção, não são necessariamente impregnados de
conotação afectiva. Uma pessoa pode crer na existência de vidas em outros planetas ou
ser de opinião que a lua foi, outrora, uma parte da terra, porém, pode manter essa crença

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e essa opinião num nível cognitivo sem unir a isto qualquer traço afectivo. Não se
poderia dizer então que tal pessoa tem uma atitude em relação à existência de vidas em
outros planetas ou em relação à origem da lua. Os mesmos objectos, porém poderão ser
alvos de atitudes por parte de outras pessoas. Estas acrescentariam uma conotação
afectiva às suas cognições acerca da existência de vida em outros planetas e acerca da
origem da lua, e demonstrariam isso ao engajar-se em discussões acaloradas sobre estes
tópicos.

c) Componente comportamental

As atitudes possuem um componente activo, instigador de comportamentos coerentes


com as cognições e os afectos relativos aos objectos atitudinais. Devido a este carácter
instigador à acção quando a situação o propicia, as atitudes podem ser consideradas
como bons preditores de comportamento manifesto. Bock, Furtado e Teixeira (2008)
afirmam que não é com tanta facilidade que conseguimos prever o comportamento de
alguém a partir do conhecimento de sua atitude, pois, o nosso comportamento é
resultante da situação dada e de várias atitudes mobilizadas em determinada situação.
Dir-se-á, porém, que nem sempre se verifica absoluta coerência entre o componente
cognitivo, afectivo e comportamental das atitudes.

Por exemplo, um dos vários comportamentos que pode ser desencadeado pelas atitudes
negativas ante a um preso ou ex-presidiário é a estigmatização, caracterizada como uma
resposta colectiva. Segundo Goffman (In: Bock, Furtado e Teixeira, 2008) o estigma
refere-se às marcas ou atributos sociais que um indivíduo, grupo ou povo carrega e cujo
valor pode ser negativo ou pejorativo. Estigmas sociais frequentemente levam à
marginalização. O estigma pode se apresentar em três formas, segundo Erving Goffman:
as deformações físicas (deficiências visuais, motoras, auditivas, desfiguração de rostos,
entre outros); características e alguns desvios de comportamento (distúrbios mentais,
vícios, toxidependência, sexualidade, reclusão prisional, entre outros); e estigmas tribais
(relacionados com a pertença a uma raça, nação ou religião). Embora as características
sociais que se tornaram estigmatizadas possam variar através do tempo e espaço, as três
formas básicas de estigma (deformidade física, características pessoais e status tribal
desviantes) são encontradas na maioria das culturas e épocas, levando alguns psicólogos

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a teorizar que a tendência para estigmatizar possa ter raízes evolucionárias. Um aspecto
bastante importante deste processo, que pode envolver um indivíduo, um grupo ou povo
e acompanhar o indivíduo desde o seu nascimento ou ser adquirido ao longo da vida, é o
atributo negativo que pode ser internalizado pelo indivíduo e influenciar
decisivamente sua auto-imagem e auto-estima (Op. cit. 214).

2.2.2 Formação das atitudes

Adquirimos uma atitude por meio de condicionamento instrumental, ou seja,


aprendemos com base na experiência directa com o objecto. Se a sua experiência em
relação a um objecto for compensadora, sua atitude será favorável. Assim, se o emprego
for bem renumerado, promover a realização e proporcionar elogios por parte dos
colegas, sua atitude em relação a ele será bastante positiva. Por outro lado, se você
associar emoções negativas ou resultados frustrantes a algum objecto, não gostará desse
objecto. Por exemplo, aqueles que já foram vítimas de um assalto tendem a apresentar
uma atitude bem negativa em relação aos ladrões. Entretanto, apenas uma pequena parte
das nossas atitudes é baseada no contacto directo com o objecto. Temos atitudes em
relação a muitas figuras públicas que sequer conhecemos. Temos atitudes a respeito de
integrantes de determinados grupos étnicos ou religiosos, embora nunca tenhamos
sequer estado frente a frente com alguns deles. Atitudes desse tipo são aprendidas por
meio de interações com terceiros (Rodriguez, Assmar e Jablonskim, 2005: 173).

Também podemos adquirir atitudes por meio de condicionamento clássico, isto


acontece quando um estímulo neutro gradualmente adquire a capacidade de provocar
uma reacção, por meio de associação repetida com outros estímulos que provoquem tal
resposta. As crianças aprendem na mais tenra idade que a “preguiça”, “sujeira”,
“burrice” e muitas outras características são indesejáveis. As próprias crianças muitas
vezes são punidas por se sujarem ou ouvem os adultos dizerem “Não seja burro!”. Se
elas ouvem os pais (ou outras pessoas) se referirem a integrantes de determinado grupo
como sendo preguiçosos ou burros, associam cada vez mais o nome do grupo com as
reacções negativas inicialmente provocadas por esses termos (Op.cit. 174).

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Outra fonte de origem das atitudes é a mídia, principalmente a televisão e os filmes.


Neste caso, o mecanismo pode ser a aprendizagem pela observação. A mídia oferece
pacotes ou fórmulas de interpretação de um objecto que podem influenciar as atitudes
dos espectadores e dos leitores (Ibidem).

2.3 DESVIO E CONTROLO SOCIAL

Neste ponto, tal como nos anteriores, serão elencados determinados conceitos em torno
do desvio e controlo social que, de certa forma, nos ajudarão a melhor compreender
ambas realidades.

2.3.1 Resenha histórica

Embora o desvio e controlo social sejam fenómenos universais, eles assumiram novas
feições motivadas por alguns fenómenos modernos que marcaram o seu estudo,
nomeadamente os processos de industrialização e urbanização das sociedades. Esses
processos históricos assumiram uma importância capital a partir dos finais do século
XIX (Bairoch, 1985, in: Ferreira e outros, 1995). Nunca até então a pressão
demográfica, a migração, a mobilidade social, a produção e o consumo, os transportes,
as comunicações, a ciência e a técnica, tinham atingido semelhante dimensão. A par
deste quadro de mudanças, encontramos ainda um conjunto importante de
transformações estruturais e institucionais, que marcarão directamente a face do desvio
e do controlo social nas sociedades modernas, a citar: a) a progressiva transformação e
perda de influência dos grupos sociais primários tradicionais (e o correspondente
aumento da esfera de acção dos grupos secundários); b) a difusão de uma racionalidade
instrumental (ligada à crença do progresso, na ciência e na técnica); c) a adopção de
novos valores, normas e ideologias (Op. cit. 430).

O controlo social deixou de ser exercido nos limites estritos dos grupos primários, da
tradição e do costume. A transformação progressiva dos grupos sociais primários
destruiu as formas de controlo social assentes no parentesco, na tradição, nas
comunidades locais e nos grupos de vizinhança. Essa função passou a ser exercida
prioritariamente pelos grupos secundários (Foulcault, 1975, in: Ferreira e outros, 1995).

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Assim, hoje, em vez da família alargada, da corporação e da comunidade aldeã, são o


Estado e as múltiplas instituições e organizações da sociedade civil que desempenham
esse papel. O controlo social passou, então, a ter uma dimensão abstrata e universal,
centralizada e formal, subtraindo aos grupos primários o seu anterior monopólio.

A difusão da racionalidade instrumental reflectiu-se no aumento da capacidade


produtiva das sociedades que passou a ser pautada pela lógica do lucro, da acumulação
e do investimento. Essa difusão reflectiu-se ainda na sistemática criação de novas
necessidades sociais e, portanto, na criação de um novo tipo de agente social: o
“consumidor-padrão”. A ideia de progresso científico e técnico revelou-se, assim, o
meio e o fim das sociedades industriais (Mumford, 1950, in: Ferreira e outros, 1995).
Tanto a natureza e o homem se tornaram objecto de transformação sistemática.
Diversidade e fragmentação parecem ser as palavras que melhor descrevem o quadro
ideológico e normativo que acompanhou o advento da sociedade moderna. Aos
membros das sociedades modernas foi oferecido, sem distinção, o sonho do acesso à
riqueza, ao prestígio social e ao exercício do poder. Mas além desta ideologia mínima, a
modernidade trouxe consigo uma maior tolerância, assim como colocou a ênfase na
liberdade e na criatividade individual.

Todas estas transformações afectaram o modo como o desvio e o controlo social


passaram a ser vistos. Se bem que estes fenómenos possam sempre ter constituído fonte
de preocupação ou curiosidade, acontece que só com a modernidade e, as profundas
modificações sociais que caracterizaram o seu advento despertou o interesse pelo seu
estudo. A ideia de um “mal-estar da civilização” caracteriza o pensamento de grande
número de autores, em particular da segunda metade do século XIX. Deste sentimento
nasceram vários estudos, sendo que os primeiros se encontraram dominados por uma
concepção do desvio que podemos designar por clínica. Numa primeira fase, os
comportamentos desviantes foram classificados como casos de patologia individual, e
considerados essencialmente como o resultado de desordem mentais ou físicas, muitas
vezes de origem hereditária. Desta visão clínica do desvio participaram autores como o
psiquiatra e criminologista italiano Cesare Lombroso. Lombroso, à semelhança de
outros estudiosos do desvio (ou, se preferir, do crime, designação que imperava à

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época), acreditava que o delinquente ou criminoso constituía um tipo antropológico à


parte.

Uma segunda fase de estudos que podemos designar por socioestatística, é dominada
por trabalhos como os de Émile Durkheim. Só com ela o desvio conquista, de facto, o
estatuto de tema sociológico. Agora, o desvio, nas variantes do crime e do suicídio, é
visto como um fenómeno social que se reflecte nas estatísticas sociais. As supostas
regularidades que o traduzem apontam para a ideia de que a sua explicação deve ser
essencialmente de natureza social. Só mais tarde, em pleno século XX, se forjará uma
nova visão do desvio designada de construtivista. Com ela, o desvio deixará de ser
visto como um fenómeno que emerge da estrutura das sociedades, para passar a ser
concebido como resultado de um processo de definição social. Só então o controlo
social assumirá o papel de variável explicativa e conquistará o lugar central na análise.
Será a chamada Teoria da Rotulagem ou da Reacção Social a principal responsável por
esta concepção. Por último, surgirão várias análises que, não recusando esta visão,
colocarão o acento nos aspectos racionais e estratégicos do desvio.

Messa (2010) também aponta a evolução que houve no âmbito do pensamento


criminológico, evolução esta que percorre uma concepção causalista e multifactorial
chegando a uma concepção crítica. Cada concepção envolve uma forma de entender e
conceituar a Criminologia Clínica.

Concepção Causalista (conceito tradicional em Criminologia Clínica): a concepção


causalista entende que há uma relação de causa e efeito entre a conduta criminosa e o
que o originou. Entende que a causa tem uma relação directa, de natureza quase física e
predeterminista, de tal forma que, constando-se sua presença, pode-se ter quase como
certa a ocorrência do referido efeito. Sendo assim, o crime seria uma decorrência natural
ou quase necessária frente a determinadas condições, imanentes daquele que o praticou.
A causa nos possibilita uma explicação dos factos, ainda que de forma enganosa, além
de nos dar uma noção do conceito de periculosidade do criminoso. A periculosidade é
uma condição imanente do indivíduo, por força da qual sua conduta estaria
predeterminada à prática do crime (Messa, 2010: 63).

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Concepção multifactorial (conceito moderno em Criminologia Clínica): entende


que a conduta criminosa se origina de uma série de circunstâncias entrelaçadas sem uma
relação predeterminista com o crime, e não de uma relação física, orgânica, directa com
determinada causa. Assim, a periculosidade passou a ser reconhecida nos indivíduos
inimputáveis e semi-imputáveis, já que o criminoso é entendido como não portador de
nenhuma condição que o diferencia das demais pessoas. Não se pressupõe nenhuma
condição interna de predisposição ao crime. Passou-se a se falar unicamente em
prognóstico de reincidência, e não mais em periculosidade. Houve uma evolução da
concepção causalista para multifactorial, o que influenciou a Legislação pela
preocupação por uma individualização da execução da pena, respeito ao preso como
pessoa e cidadão, e não somente como criminoso (Ibidem).

Concepção Criminológica Crítica: opõe-se as outras duas concepções e aos seus


questionamentos. Centraliza seus questionamentos acerca das razões pelas quais
determinadas condutas são consideradas criminosas, enquanto outras, mais prejudiciais,
não o são. Em vez de se voltar para os motivos da conduta criminosa, essa concepção
volta a sua crítica para os fundamentos e princípios norteadores do Sistema de Justiça.
O crime, nessa concepção, seria o resultado de um estado de vulnerabilidade do
indivíduo (proveniente da marginalização económica, social e cultural, acarretando
inclusive vulnerabilildade psíquica) perante a selectividade do sistema penal (Op. cit.
64).

2.3.2 Desvio

O conceito de desvio aplica-se às condutas individuais ou colectivas que transgridem as


normas de uma dada sociedade, ou de um grupo. Refere-se a ausência ou falta de
conformidade face às normas sociais (Ferreira e outros, 1995: 429). Segundo Michener,
Delamater e Mayers (2005), todos os comportamentos que contrariam as normas sociais
são classificados como comportamentos desviantes. Para Ferreira e outros (1995), um
comportamento só pode ser qualificado de desviante por referência à sociedade em que
surge e às suas normas; é dizer que cada sociedade, ao definir a esfera dos
comportamentos socialmente aceitáveis, define ao mesmo tempo uma esfera de

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condutas desviantes. Muitos são os comportamentos desviantes, a exemplo do crime e o


vício das drogas, que são percebidos como sérias ameaças à sociedade, despoletando,
assim, uma reacção por parte da sociedade. Em qualquer situação, o nosso
comportamento é governado por normas provenientes de várias fontes (Suttles,1968, in:
Michener, Delamater e Mayers, 2005). Em primeiro lugar, há normas puramente locais
e grupais, tal como aquelas estabelecidas pelos colegas e as famílias. Em segundo lugar,
há normas subculturais que se aplicam a grandes números de pessoas que compartilham
algumas características, por exemplo às dos grupos raciais ou étnicos. Em terceiro lugar,
há normas sociais, como aqueles que requerem certos tipos de vestimenta ou que
limitam as actividades sexuais a certos relacionamentos e a certas situações. Assim
sendo, as normas que governam o nosso comportamento diário têm várias origens, que
incluem família e os amigos, as subculturas socioeconómicas, religiosas ou étnicas e a
sociedade em geral (Op. cit. 555).

As repercussões do comportamento desviante dependem do tipo de norma que o


indivíduo rompe; as violações das normas locais podem ser apenas da alçada de
determinado grupo e não de outro. As normas subculturais geralmente são mantidas
pela maioria das pessoas com as quais interagimos, sejam amigos, família ou colega de
trabalho. As violações dessas normas podem afectar a maior parte das interações diárias
de uma pessoa e podem submeter uma pessoa à acção de agência de controlo como a
polícia ou os tribunais (Ibidem).

2.3.2.1 Teoria da anomia

A anomia é uma palavra de origem grega que significa “ausência de regras” (Born,
2005: 51). O conceito foi utilizado por Durkheim para descrever “sentimentos de
ausência de objectivos e desespero provocados por processos de mudança no mundo
moderno que levam a que certas normas sociais percam o seu poder de controlo sobre o
comportamento” (Giddens, 2013: 1220). Para Michener, Delamater e Mayers (2005),
toda sociedade fornece, aos seus integrantes, objectivos a que aspirar. Se os integrantes
de uma determinada sociedade valorizam a religião, é provável que eles socializem seus
jovens e adultos para que aspirem à salvação; se eles valorizam o poder, ensinarão as
pessoas a buscar posições em que podem dominar as outras. Em toda sociedade,

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também há normas que definem maneiras aceitáveis de lutar pelos objectivos, chamados
meios legítimos. Uma pessoa que luta para atingir um objectivo legítimo, mas vê
negado o seu acesso ao meio legítimo vivenciará a anomia (estado que reduz o
compromisso com as normas ou a busca dos objectivos). Há quatro maneiras de alguém
reagir à anomia, cada uma delas é um tipo distinto de desvio. Em primeiro lugar, o
indivíduo pode rejeitar o objectivo e abrir mão de tentar atingir o sucesso, mas
continuando conformando-se às normas sociais. Essa adaptação é denominada
ritualismo. Em segundo lugar, o indivíduo pode rejeitar tanto o objectivo como os
meios, retirando-se da participação activa na sociedade por meio do afastamento. Isso
pode assumir forma de alcoolismo, uso de drogas, mergulho na doença mental ou outro
tipo de escapismo. Em terceiro lugar, a pessoa pode continuar comprometida com os
objectivos, mas voltar-se para modos desaprovados ou ilegais de atingir o sucesso. Essa
adaptação é chama-se inovação. Finalmente, a pessoa pode tentar subverter o sistema
existente e criar objectivos e meios diferentes por meio da rebelião (Michener,
Delamater e Mayers, 2005: 556).

Um indicador clássico da anomia a nível individual é a alienação do homem. Assim,


dentre outros autores, Seeman (In: Born, 2005: 53) propõe quatro indicadores da
alienação: ausência ou perda de valores; perda de sentido dado à existência; ausência de
ajuda que conduz ao isolamento social e, por fim, a falta de objectivos.

2.3.3 Controlo social

O conceito de controlo social pode ser utilizado em dois sentidos distintos: um restrito e
outro alargado. No primeiro sentido, o controlo social corresponde a duas tarefas
clássicas: vigiar e punir (ou recompensar). Segundo Guy Rocher (In: Lakatos e
Marconi, 2006: 236), controlo social consiste num conjunto de sanções positivas e
negativas a que uma sociedade recorre para assegurar a conformidade das condutas aos
modelos estabelecidos. Neste sentido, o controlo liga-se directamente ao desvio e tem
por relação ao indivíduo, uma intervenção estritamente externa e a posteriori. Um outro
sentido possível e mais amplo daquele conceito consiste na consideração não só dos
elementos que constituem o seu anterior significado, mas ainda na ideia de que o
controlo social tem igualmente uma dimensão interna e antecipadora. Para Boudon e

14
DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

Bourricaud (In: Ferreira e outros, 1995: 429), a socialização e a internalização de


normas e valores culturais garantem, parcialmente, o controlo da sociedade sobre o
indivíduo. Então, nesta acepção alargada, o controlo social consiste na reunião dos
mecanismos de socialização, de monitoragem e sanção do comportamento (Op. cit.
430). Segundo a teoria do controlo, os vínculos sociais influenciam nossa tendência a
adoptar o comportamento desviante. Frequentemente, nós nos conformamos às normas
sociais porque somos sensíveis aos desejos e expectativas alheias. Essa sensibilidade
cria laços entre o indivíduo e os outros. Quanto mais forte é o laço, é menos provável
que o indivíduo adopte o comportamento desviante (Michener, Delamater e Mayers,
2005: 559). Para Hirschi (In: Op. cit. 559), há quatro componentes do vínculo social. O
primeiro é o apego, ou seja, os laços de afecto e respeito pelos outros. O apego aos pais
é especialmente importante porque eles são os agentes primário da socialização de uma
criança; um forte apego a eles leva a criança a internalizar as normas sociais. O segundo
componente é o compromisso com objectivos educacionais e profissionais de longo
prazo; alguém que aspira fazer a faculdade de direito provavelmente não cometerá um
crime, pois um registo criminal seria obstáculo à sua carreira nessa área. O terceiro
componente é o envolvimento, as pessoas que estão envolvidas com o exporte, o
escotismo, os grupos religiosos e outras actividades convencionais simplesmente têm
menos tempo para adoptar o desvio. O quarto componente é a crença, o respeito pela lei
e pelas pessoas que ocupam posições de autoridade.

2.3.3.1 Classificação do controlo social

De acordo com Fitchter (In: Lakatos e Marconi, 2006: 237), o controlo social pode ser
classificado da seguinte maneira: controlo positivo e negativo; controlo formal e
informal.

a) Controlo positivo e negativo

O controlo positivo é empregado para orientar o comportamento do indivíduo, levando


os mesmos a procederem de acordo com as normas e valores imperantes na sociedade.
São seus mecanismos a instrução, a sugestão, a persuasão, o exemplo, os prémios e as
recompensas. O controlo negativo actua de outra maneira, levando os indivíduos a se

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

afastarem de determinadas formas de comportamento considerados anti-sociais, este


controlo baseia-se em mecanismos como a proibição, tabus, repreensões e punições.

b) Controlo formal e informal

Os controlos formais são elaborados com a intenção de produzir a conformidade social,


sendo obrigatório a todos os indivíduos que participam do grupo onde são introduzidos.
As leis, os decretos e actos promulgados pelo Estado, os estatutos e regulamento de um
sindicato, empresa, universidade, os preceitos da Igreja, são exemplos de mecanismos
de controlo formal. Um dos sistemas mais importante de controlo social formal é o
sistema de justiça criminal, que inclui a polícia, os tribunais e as prisões. São
organismos que têm a responsabilidade de lidar com violações das regras ou das leis
(Michener, Delamater e Mayers, 2005: 576-577). Os controlos informais são atitudes
espontâneas que visam aprovar ou desaprovar determinados comportamentos, conforme
sejam ou não compatíveis com as normas da sociedade. São deste tipo a fofoca, o
ridículo, o riso, a vaia, o aplauso, o apoio e o sorriso de aprovação (Lakatos e Marconi,
2006: 238).

2.3.3.2 Tipo de sanções

O não cumprimento das normas sociais pressupõe a aplicação de sanções a quem assim
procede. Dentre os tipos de sanções mencionados por Lakatos e Marconi (2006)
destacam-se: sanções especificamente sociais; constrangimento físico.

a) Sanções especificamente sociais

Sanções especificamente sociais são as mais diversas e numeradas. O grupo de amigos,


a família, a pequena comunidade empregam principalmente as sanções sociais. Estas
variam em conformidade com a gravidade da falta. Para os casos piores, o grupo lança
mão de sanções como a rejeição, o afastamento e a expulsão do grupo; a pessoa cujo
comportamento se reprova pode encontrar-se isolada, vendo os seus amigos dela se
afastarem e, às vezes, até a sua família, quanto menor a comunidade, mais agudamente
este isolamento é sentido. Quando tal sanção é aplicada pela própria família, torna-se
mais efectiva se ocorrer numa comunidade pequena, unida, dominada por relações

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

estreitas entre seus membros, essa censura ou rejeição pode prejudicar a posição do
indivíduo. O falatório, o diz-que-diz, a fofoca, a bisbilhotice, são sanções poderosas e
temidas, tanto mais eficazes quanto menor a comunidade; seu poder baseia-se
principalmente nas possíveis deformações e amplificações da realidade. A reprovação
da conduta pode manifestar-se também através do silêncio e do olhar de censura (Op.
cit. 236).

b) Constrangimento físico

Constrangimento físico implica a violência ou a ameaça de violência física. Entre todos


os grupos, é ao Estado que cabe o emprego legal das sanções físicas, através do sistema
jurídico e das organizações que têm por função vigiar o cumprimento das leis (exército,
polícia, tribunais, penitenciárias). O emprego da força tem por finalidade a proteção da
sociedade, manutenção do governo e do status quo2∗, castigo dos criminosos, agitadores
políticos, desejos de correcção ou de reabilitação de elementos ou grupos em desvio.
São diversas as sanções físicas empregadas pelo Estado; prisão, residência vigiada,
tortura (ilegal), trabalhos forçados e até mesmo execução (pena de morte), cassação de
direitos ou privilégios legais, decretos de extradição, banimento ou exílio (Ibidem). De
realçar que, dentre as diversas sanções físicas mencionadas, é a prisão que mais nos
interessa analisar devido a sua, intrínseca, relação com o tema em estudo.

2.3.3.2.1 O encarceramento como medida óbvia

Michael Foucalt (In: Bock, Furtado e Teixeira, 2008: 336) afirma que é difícil imaginar
outra forma punitiva para os cidadãos que transgridem a lei que não a prisão. Sua
obviedade e universalidade devem-se ao facto de incidir sobre um valor básico da
humanidade: a liberdade. Por tanto, a prisão caracteriza-se, principalmente, por cercear
o direito à liberdade humana.

Ao longo dos séculos, a prisão foi adquirindo outras características: de hospital, de


fábrica, de escola. Foi configurando-se como uma instituição total cuja principal função

2∗
Status Quo: Status quo é uma expressão abreviada de "in statu quo ante", que significa "no estado em
que as coisas estavam anteriormente". Status quo é uma expressão que remete para o estado das coisas e
situações, e por isso vem geralmente acompanhada de palavras como manter, defender e mudar
(http://www.significados.com.br /status/).

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

é reformular os indivíduos a partir do controlo sobre seu corpo e sua vontade, isto é, a
partir de práticas disciplinares. Ao mesmo tempo que é óbvia a existência da prisão,
muitos estudiosos no mundo todo afirmam sua inoperância. Ou seja, ela não cumpre a
função de preparar o indivíduo que cometeu um crime para o retorno ao convívio social.
Pelo contrário, o ambiente de socialização instituído na prisão é marcado também pela
violência e por práticas institucionais que acabam por produzir indivíduos mais
violentos e, portanto, não revertem os indicadores de reincidência. Em muitos lugares
no mundo há denúncias sobre torturas e métodos indignos de tratamento dos presos. Isto
é particularmente sério quando se trata de adolescente cuja vivência de terror nessas
circunstâncias podem produzir graves danos psicológicos e marcas identitárias que
definem um destino de morte, como agente ou vítima de violência (Bock, Furtado e
Teixeira, 2008: 337-338).

2.3.3.2.2 A sociedade punitiva na vertente psicanalítica

Dias e Andrade (1997), na obra “Criminologia”, fazem menção a psicanálise da


sociedade punitiva que visa descobrir as motivações e os mecanismos da “alma
colectiva” que levam uma sociedade a punir os seus delinquentes. Entende a
criminologia psicanalítica que a pena é anterior ao crime. Os temas centrais defendidos
pela abordagem psicanalítica sintetizam-se nos seguintes pontos:

ɑ) A pena tem a função primacial de legitimação da ordem vigente e de manutenção da


estabilidade e da paz jurídica. Com a punição pretende a sociedade apoiar e reforçar o
Ego social, auxiliando-o no domínio dos seus instintos. O que se pode conseguir por via
directa, castigando o delinquente, ou por via indirecta, castigando os outros. O castigo
dos membros a-sociais reconfortará os membros das maiorias obedientes à lei,
sancionando as suas posições de seres «normais» e «morais». A pena tem, assim, uma
função de evitar o contágio do crime (Dias e Andrade, 1997: 203).

b) Na pena exprimem-se, por outro lado, os sentimentos de ambivalência da sociedade


face ao crime. Umas vezes, com efeito, a sociedade identifica-se com a vítima; outras,
inversamente, com o delinquente. No primeiro caso, a punição do delinquente permite à

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

sociedade a livre expressão dos próprios instintos de agressão. A pena não é mais do
que a violência legitimada. Segundo Freud (In: Dias e Andrade, 1997), oferece aos que
a aplicam a oportunidade de, a coberto da justificação da expiação, praticar os mesmos
actos criminosos. No segundo caso, a punição do delinquente dá à sociedade a
oportunidade de autopunição e expiação dos sentimentos colectivos de culpa. À
semelhança do que acontece no plano individual, o sentimento de culpa – e a
necessidade da sua expiação por meio do crime e do castigo – é também um dado de
experiência colectiva. Ora, através do mecanismo da projecção, a colectividade
transfere a sua culpa para o delinquente e se pune, punindo-o. É a teoria do pode
expiatório, com tradições na criminologia psicanalítica (Op. cit. 204).

2.4 ROTULAÇÃO COMO PRODUTO DA REACÇÃO SOCIAL

Segundo Michener, Delamater e Mayers (2005), a rotulação é entendida como um


processo de redefinição da pessoa. Rotular ou classificar alguém como um tipo
específico de desviante, em função da violação das normas ou da prática de determinado
comportamento desviante, nós (famíliares, amigos, vizinhança, etc.) o colocamos em
um status social estigmatizado. Por status se compreende o lugar ou posição que a
pessoa ocupa na estrutura social, de acordo com o julgamento colectivo ou consenso de
opinião do grupo, sendo este atribuído ou adquirido (Lakatos e Marconi, 2006: 94). O
desviante (por exemplo, o ladrão) é definido como indesejável – não aceitável na
sociedade convencional – e frequentemente é tratado como inferior. Há duas
importantes consequências do estigma: a perda do status e a discriminação social
(Link e Phelan, 2001, in: Michener, Delamater e Mayers, 2005). A perda do status causa
a perda gradual na autoconcepção. A pessoa rotulada como desviante chega a perceber o
eu como um tipo de desvio e frequentemente incorpora o rótulo à sua identidade, essa
redefinição de si deve-se parcialmente ao feedback3∗ dos outros que tratam essa pessoa
como desviante. O comportamento discriminatório alheio não apenas afecta o
autoconceito da pessoa, mas restringe o seu comportamento e as suas oportunidades
(Op. cit. 574).

3∗
Feedback: é uma expressão de origem inglesa que significa “reacção” (UNIVERSITY OXFORD
2006: 369).

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

2.4.1 A rotulação formal

Segundo Michener, Delamater e Mayers (2005) é comum pensarmos nos organismos


formais apenas como reativos, ou seja, como mecanismos que servem simplesmente
para processar os indivíduos que já cometeram crimes. Mas esses organismos fazem
muito mais do que cuidar das pessoas já tidas como desviantes; pode-se argumentar que
a função dos organismos de controlo social formal é selecionar integrantes da sociedade
e identifica-los ou certifica-los como desviantes (Erikson, 1964, in: Michener,
Delamater e Mayers, 2005: 578). A punição é um estigma poderoso, pois desonra a sua
vítima. Não há forma de punir que não marque ou estigmatize os que são punidos, isto é
tão verdadeiro para as punições utilitárias como para as retributivas. Qualquer que seja o
objectivo da punição e tenha a justificação que tiver, o efeito distributivo é o mesmo. Se
o objectivo da punição é dissuadir outras pessoas de cometerem crimes, não se pode
fazer sem selecionar determinado criminoso; a dissuasão exige um exemplo e os
exemplos devem ser específicos. Se o objectivo é o de condenar certas formas de
acções, não podemos fazê-lo sem condenar um agente. A indicação tem de ser concreta
para ser entendida. Se o objectivo é o de regenerar o homem ou a mulher que infringiu a
lei, não o podemos fazer sem nomear esse homem ou essa mulher em especial como
alguém que precisa de ser regenerado (Walzer, 1999: 257-258).

2.4.2 Efeitos de longo prazo da rotulação

Com o propósito de apontar os efeitos de longo prazo da rotulação, algumas pessoas


argumentam que ex-condenados e outros que foram rotulados como desviantes
enfrentam contínuas pressões da família e dos amigos, pressões estas que os impedem
de se reajustar à vida normal, uma vez que as mesmas constituem uma lembrança do
status desviante anterior. Outra área em que ex-prisioneiros podem enfrentar
discriminação é no emprego, pois os outros continuam a percebê-los como desviantes e
esperam que se comportem de modo coerente com esse rótulo (Michener, Delamater e
Mayers, 2005: 584). Miraglia (2010) defende que o trabalho é o meio de garantir ao
homem acesso a recursos para usufruir de uma vida digna. Assim, o trabalho torna-se o

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

meio de valorar sua condição humana, ou até mesmo resgatar a cidadania, na medida
em que possibilita a sua integração na sociedade, o recebimento de remuneração,
permite-lhe realizar a aquisição de bens, implicando na melhoria de vida da população
como um todo. Portanto, uma das maneiras de se devolver a dignidade aos detentos é
através da sua ressocialização ao mercado de trabalho. A inclusão social dos mesmos
nesse mercado é capaz de lhes devolver a dignidade, assim como, a possibilidade de
criar novas expectativas acerca de um futuro perdido que vislumbrava entre as paredes
de uma penitenciária (Miraglia, 2010, in: Brandão e Farias, 2013: 6).

2.4.3 A rotulação e o desvio secundário

Tal como já se frisou, o conceito de desvio aplica-se às condutas individuais ou


colectivas que transgridem as normas de uma dada sociedade, ou de um grupo. No
entanto, estas transgressões despoletam várias reacções por parte da sociedade, uma
delas é a rotulação. Rotular uma pessoa como desviante pode pôr em movimento um
processo que tem efeitos significativos na vida do indivíduo. O processo de reacção da
sociedade produz mudanças no comportamento dos outros para com o indivíduo
rotulado e pode levar a mudanças correspondentes na sua auto-imagem. Uma
consequência frequente desse processo de reação da sociedade é o envolvimento no
desvio secundário, no qual uma pessoa adopta um comportamento cada vez mais
desviante para se ajustar às reações dos outros, e a participação em uma subcultura
desviante – grupo de pessoas cujas normas encorajam a participação no desvio e que
encaram positivamente quem o adopta (Lemert, 1951, in: Michener, Delamater e
Mayers, 2005).

À medida que um indivíduo envolve-se aberta e regularmente com o desvio, ele pode
associar-se cada vez mais com os outros que adoptam rotineiramente essa actividade ou
outra com ela relacionada. As subculturas fornecem não apenas a aceitação, mas
também a oportunidade para representar papéis desviantes. Os grupos subculturais são
alternativa atraente para as pessoas desviantes por duas razões: em primeiro lugar, essas
pessoas são frequentemente forçadas a sair dos relacionamentos e dos grupos não
desviantes pelas reações dos outros, à medida que a família e os amigos rompem
progressivamente as relações com elas, vêem-se obrigados a buscar aceitação em outra

21
DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

parte; em segundo lugar, a afiliação aos grupos subculturais pode resultar do desejo da
pessoa desviante associar-se com pessoas que sejam semelhantes e que lhes possam
fornecer sensações de aceitação social e de autovalorização (Cohen, 1966, in: Michener,
Delamater e Mayers, 2005). As pessoas desviantes não são diferentes das outras nas
suas necessidades de aprovação positiva, as subculturas desviantes ajudam as mesmas a
lidar com o estigma associado ao seu status desviante (Op. cit. 573-577).

2.5 REINCIDÊNCIA: PRESSUPOSTOS LEGAIS E FACTORES


DESENCANDEADORES

Tal como o título de per si elucida, neste ponto será abordado questões referentes ao
conceito de reincidência criminal e os seus pressupostos legais, isto a luz do Código
Penal Angolano e de algumas doutrinas no âmbito do Direito Penal. Também será feita
uma análise acerca dos factores desencandeadores da reincidência. Porém, para que se
perceba o tema em destaque é necessário que tenhamos patente o conceito de crime e
suas modalidades, pois, reincidência e crime são fenómenos indissociáveis.

2.5.1 Crime e suas modalidades

A conduta humana é tipificada como crime a partir da sua ilicitude e materialidade do


facto. Segundo o Código Penal Angolano no seu art. 1º, crime ou delito é o facto
voluntário declarado punível pela lei penal (Marques, 2007: 15). Antes da realização do
delito, esta acção percorre um caminho subjectivo que vai da leve sugestão interna ou
desejo à intenção, decisão e o efectivo cometimento, o qual, não encontrando
resistências internas e/ou externas, eclode para o social. Tem especial interesse para o
Direito a intenção que cerca o acto criminoso, por parte de quem o comete (Fiorelli e
Mangini, 2012: 336). Sob essa óptica, os delitos dividem-se em dois grupos: delito
doloso; delito culposo.

a) Delito doloso

Delito doloso é o tipo de situação em que ocorre acto voluntário com resultado
esperado. Há evidências da vontade consciente; contudo, a análise, em profundidade,
das motivações que levam a pessoa à prática do delito agregará elementos para melhor

22
DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

ilustrar a maneira como essa vontade se expressa. Em um enfoque psicológico, é de


considerar, a priori, que a consciência estabeleça um diálogo com o inconsciente, na
avaliação da vantagem de perpetrar o acto. Desse diálogo (desconhecido, obviamente,
pelo indivíduo) resultará o mecanismo de defesa que o próprio inconsciente utiliza para
justificar-se pelo comportamento. Entre esses mecanismos, destacam-se: a projecção
(atribui-se a alguém a culpa pelo próprio insucesso ou infortúnio) e racionalização
(inventa-se uma razão para justificar o acto censurável). O delito doloso encontra fácil
justificativa no desequilíbrio emocional, ele se apresenta como a solução que o
psiquismo dispõe para dar fim à evolução de um conflito em que o estresse se acumula
e precisa de uma válvula de escape (Fiorelli e Mangini, 2012: 337).

b) Delito culposo

Delito culposo consiste na prática de acto voluntário, porém, com resultado


involuntário. Fiorelli e Mangini (2012) fazem menção ao Código Penal Brasileiro ao
indicarem as três situações nas quais se aplicam a classificação de delito culposo, a
citar: imprudência, negligência e imperícia. Importa aqui salientar que o Código Penal
Angolano também considera as três situações mencionadas como determinantes na
classificação de delito culposo. Sob a óptica da psicologia, todas essas situações
apresentam interpretações que roubam a responsabilidade das mãos do caso, para
transferi-la, em variados graus, para as mãos do autor – ainda que se reconheça o
carácter inconsciente do comportamento delituoso (Fiorelli e Mangini, 2012: 338).

2.5.2 Pressupostos legais da reincidência

De cordo com o Código Penal Angolano nos termos do art. 35º, dá-se a reincidência
quando o agente, tendo sido condenado por algum crime, comete outro crime da mesma
natureza, antes de terem passado oito anos desde a dita condenação, ainda que a pena do
primeiro crime tenha sido prescrita ou perdoada (Marques, 2007: 23-24).

§ 1º – Quando a pena do primeiro crime tenha sido amnistiada, não se verifica a


reincidência.

§ 2º - Se um dos crimes for intencional (doloso) e o outro culposo, não há reincidência.

23
DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

§ 3º - Os crimes podem ser da mesma natureza, ainda que não tenha sido consumado
ambos, ou algum deles.

§ 4º - Não são computados para a reincidência, por crimes previstos e punidos no


Código Penal, as condenações proferidas pelos tribunais militares por crimes militares
não previstos no mesmo Código, nem as proferidas por tribunais estrangeiros.

§ 5º - Não exclui a reincidência a circunstância de ter sido o agente autor de um dos


crimes e cúmplice do outro.

A) Pressupostos formais

Com o propósito de espelhar os pressupostos formais da reincidência, bem como os


materiais, recorrerei à análise feita por Dias (2005), embora no contexto de Portugal,
aquando do conceito de reincidência do Código Penal Português que em muito se
assemelha ao Código Penal Angolano, por isso, a abordagem será comparativa. Dias
afirma que os pressupostos formais da reincidência se encontram consubstanciados em
seus postulados, a citar:

§ 368 Segundo o disposto no art. 76.º-1, 1ª parte, «Será punido como reincidente aquele
que por si só ou sob qualquer outra forma de comparticipação, cometer um crime doloso
a que corresponda pena de prisão, depois de ter sido condenado por sentença transitada
em julgado em pena de prisão total ou parcialmente cumprida, por outro crime
doloso...» E acrescenta, por seu turno o art. 76.º-2, 1ª parte, que «o crime anterior por
que o agente tenha sido condenado não conta para a reincidência se entre a sua prática e
a do crime seguinte tiveram decorrido mais de anos 5 anos» (Dias, 2005:263).

aa) Crimes dolosos (Voluntários)

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

§ 369 Verifica-se, desde logo, que a reincidência só opera entre crimes dolosos. Crimes
dolosos aqueles que como tal devam ser considerado não apenas segundo o seu
tipo-de-ilicitude subjectivo, mas também segundo o seu tipo-de-culpa.

*Comparação com o Código Penal Angolano: este pressuposto equipara-se ao do CPA


(Código Penal Angolano) no seu art. 35º § 2º.

bb) Penas de prisão

§ 371 A reincidência só entre crimes que sejam e tenham sido punidos com penas de
prisão, de prisão efectiva. Não serve seguramente para fundar a reincidência a
condenação em pena de multa ou em uma qualquer pena de substituição em sentido
próprio.

*Comparação com o Código Penal Angolano: este pressuposto encontra-se sublinhado


no conceito de reincidência do CPA no seu art. 35º.

cc) Trânsito em julgado

§ 373 É necessário, em terceiro lugar, que a condenação pelo crime anterior tenha já
transitado em julgado quando o novo crime é cometido. Esta exigência é compreensível,
pois que de outro modo a hipótese reconduzir-se-ia ao concurso de crimes.

*Comparação com o Código Penal Angolano: este pressuposto encontra-se igualmente


sublinhado no conceito de reincidência do CPA no seu art. 35º.

dd) Prescrição de reincidência

§ 374 Dispõe a lei que o crime anterior não conta para efeito de reincidência se entre a
sua prática e a prática do novo crime tiverem decorrido mais de 5 anos.

*Comparação com o Código Penal Angolano: este pressuposto também se encontra


sublinhado no conceito de reincidência do CPA no seu art. 35º, mas com a nuance de
que tenha de se passar pelo menos 8 anos entre a última condenação e a seguinte.

25
DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

ee) Cumprimento, total ou parcial, da pena de prisão

§ 376 Exige o art. 76.º-1 que a pena de prisão a que o agente tenha sido condenado
anteriormente haja sido total ou parcialmente cumprida; e acrescenta o art. 76º-4 que a
prescrição, a amnistia e o indulto se equiparam, para este efeito, ao cumprimento da
prisão.

*Comparação com o Código Penal Angolano: este pressuposto encontra-se de igual


modo sublinhado no conceito de reincidência do CPA no seu art. 35º.

B) Pressupostos materiais

§ 377 Nos termos da 2ª parte do art. 76.º-1, é pressuposto material da reincidência que
se mostre, segundo as circunstâncias do caso, que a condenação ou as condenações
anteriores não serviram ao agente de suficiente advertência contra o crime.

*Comparação com o Código Angolano: o pressuposto acima mencionado constitui uma


circunstância agravante tal como é frisado no art. 34º ponto nº 33 do CPA.

2.5.4 Factores desencadeadores da reincidência

Com o propósito de compreender o que está na base do fenómeno da reincidência


criminal e, por conseguinte, arranjar formas de a prevenir, vários factores são apontados
como sendo instigadores da mesma, por sua vez, estes são de natureza diversas. Na
maioria das vezes, os factores que levam os indivíduos a incidir são os mesmos que os
levam a reincidir, a destacar: factor político-social e económico; factores psicológicos.

ɑ) Factor político-social e económico

Podemos aqui destacar a desigualdade social, injustiça social e exclusão social.


Vários são os autores que têm estudado estes fenómenos sociais e indicando metas no
sentido de os debelar ou minimizar, pois os mesmos tendem a degradar ou desestruturar
a sociedade em geral. Nesta empreitado, é ao Estado que se exige a grande
responsabilidade de elaborar políticas públicas efectivas que visem solucionar os
referidos fenómenos sociais, dispondo de meios suficientes para atender as necessidades

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DRISCRIMINAÇÃO SOCIAL E REINCIDÊNCIA (CRIMINAL)⎪ BRANCELL FERREIRA

humanas em seus diferentes aspectos: físicos, moral, espiritual, psicológico e cultural.


Ainda sobre o Estado recai o papel de conservação e desenvolvimento dos recursos
pessoais da comunidade, incluindo a regulamentação geral da educação, saúde pública,
habitação e assistência social. Estas acções têm como fim único a promoção da inclusão
social e, consequentemente, do bem-estar social (Lakato e Marconi, 2006: 190-191).

De acordo com Augusto (In: Brandão e Farias, 2013: 3), políticas públicas são acções
que exercem um impacto directo no bem-estar dos cidadãos. Para Filho (In: Silva,
2012), estas têm, necessariamente, de indicar caminhos objetivos para a minimização de
pequenos problemas quotidianos, mas que assumem um carácter grandioso quando
afligem pessoas fragilizadas pela vivência do encarceramento e principalmente pela
estigmatização. Segundo Silva (2012), quando as estratégias propostas pelo Estado não
qualificam os sujeitos antes do cárcere nem depois dificulta a sua inserção ou reinserção
na sociedade, esta situação não propicia alterações nas condições de vida dos sujeitos
envolvidos neste processo de fragilização. Neste sentido, deve-se questionar sobre o
papel do Estado no que se refere às políticas públicas, principalmente, as de segurança
pública. No entender do referido autor, o que antecede a violência é o desrespeito, que é
consequências das injustiças e afrontamentos, sejam sociais ou económicas, esse
desrespeito produz desejos de vingança que se transformam em actos de violência. De
acordo com Foleiros (In: Silva, 2012), a trajectória dos dominados tem a marca da
exclusão social, os sujeitos que deixam o sistema prisional passam por um processo de
fragilização com perdas de patrimónios e referências, esses sujeitos que nunca tiveram
acesso às políticas sociais, encontram-se a mercê da criminalidade, além de serem
expostos as diversas formas de discriminação ao saírem da prisão, pela condição
estigmatizante de “ex-presidiário” favorecendo assim a reincidência criminal. Santos e
Rodrigues (In: Brandão e Faria, 2013: 6) corroboram com a ideia anterior realçando que
em consequência da discriminação a que são sujeitos, os encarcerados perdem a sua
identidade, privacidade e consequentemente a auto-estima, são isolados da sociedade,
tornando-se improdutivos, contribuindo assim, para que continuem na criminalidade.
No caso da segurança pública, Justilex (2006) alega que as políticas públicas têm de
acontecer antes da prisão dos infractores, com o Estado se fazendo presente através da
educação, emprego e moradia. Além disso, a presença do Estado deve acontecer dentro

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das penitenciárias e quando os detentos saírem devem ser devolvidos a sociedade com a
assistência social, mínima, garantindo a sua aceitação (Justilex, 2006. In: Brandão e
Farias, 2013: 5).

b) Factores psicológicos

No que concerne aos factores psicológicos importa aqui salientar que os mesmos,
muitas vezes, surgem também como consequência directa dos fenómenos sociais acima
frisados, e não só. Dentre os factores psicológicos temos a destacar: a frustração,
disrupção do autoconceito e perturbação da personalidade.

A frustração é um estado psicológico predominado por um sentimento ou uma emoção,


geralmente, de desgosto que ocorre como consequência da privação do desfrute de
algum desejo (aspiração) ou condição existencial almejável, por um obstáculo externo
ou interno (Enciclopédia da Conscienciologia, 2012: 3405). A frustração estimula uma
série de diferentes tipos de respostas, sendo uma delas algumas formas de agressão
(Miler, 1941, in: Moura, 2008: 7).Tendo em conta estes pressupostos e aquilo que foi
dito acerca das dificuldades que os ex-presidiários enfrentam, fruto da discriminação
que são sujeitos, constituindo esta um obstáculo para os mesmos, podemos depreender
que ante a essas situações frustrantes o egresso pode recorrer novamente a práticas
ilícitas como forma de sobreviver ou atingir os seus objectivos, pois muitos deles
dispõem de poucos recursos de sustentabilidade, considerando a situação
sócio-económica dos mesmos.

A disrupção do autoconceito refere-se a imagem negativa que temos de nós mesmos


ou a sua degradação, tal facto se verifica nas declarações de Born (2005) que
apegando-se aos dados da prática clínica afirma que não é raro encontrar nos jovens
delinquentes – bem como nos adultos encarcerados – indivíduos que se consideram
maus, falhados ou que falharam em todos os domínios da sua vida. Para Serra (1988), é
na interação social onde se dá a formação do autoconceito, aceita-se que há quatro tipos
de influências que ajudam a construir o autoconceito: uma delas, o modo como as outras
pessoas observam um indivíduo. Neste aspecto admite-se que o ser humano é levado a

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desenvolver uma espécie de fenómeno de espelho, em que tende a se observar da


maneira como os outros o consideram (Shrauger e Shoeneman, 1979. In: Serra, 1988:
101). Outra variável, diz respeito a noção que o indivíduo guarda do seu desempenho
em situações específicas. Pode julgar que se sai bem ou mal ou que é competente ou
incompetente. Uma terceira influência corresponde ao confronto da conduta da pessoa
com a dos pares sociais com quem se encontra identificada. Finalmente, uma outra
variável deriva da avaliação de um comportamento específico em função de valores
veiculados por grupos normativos. Todos estes factores ajudam a constituir o
autoconceito, que pode adquirir características positivas ou negativas (Ibidem).

De acordo com o DSM-IV-TR, a perturbação da personalidade é definida como um


padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do
esperado para o indivíduo numa dada cultura, é global e inflexível, tem início na
adolescência ou início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina sofrimento
ou incapacidade. No entanto, dentre as 10 perturbações da personalidade classificadas
no referido livro é a Perturbação Anti-Social da Personalidade que ganha destaque
por estar várias vezes associada à problemática da reincidência criminal. Esta
perturbação é caracterizada, essencialmente, por um padrão global de menosprezo e
violações dos direitos dos outros, com início na infância ou adolescência precoce e
continuidade na idade adulta. Este padrão tem sido também designado como psicopatia,
sociopatia ou perturbação dissocial da personalidade. Para se estabelecer o diagnóstico a
pessoa tem de ter pelo menos 18 anos (Critério B) e ao mesmo tempo uma história de
alguns problemas de comportamento antes dos 15 anos (Critério C). A perturbação do
comportamento inclui um padrão persistente e repetitivo de comportamento no qual os
direitos básicos dos outros ou as mais importantes normas sociais adequadas à idade são
violadas. As pessoas com Perturbação Anti-Social da Personalidade não se conformam
com as normas sociais no que diz respeito ao comportamento legal (A1), podem ter
comportamentos repetidos que fundamentem a prisão (quer ela ocorra ou não), como
destruição de bens, incomodar os outros, roubo ou prossecução de actividades ilegais.
São com frequência fraudulentas e manipuladoras com vista a obterem lucro pessoal ou
prazer (Critério A2). Manifestam um padrão de impulsividade por falta de planeamento
antecipado (Critério A3). Tendem a ser irritáveis e agressivas podendo envolver-se

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repetidamente em confrontos físicos ou cometer actos de violência física (Critério A4).


Demonstram um desprezo irreflectido pela sua segurança pessoal ou dos outros
(Critério A5), também tem a ser extrema e consistentemente irresponsáveis (Critério
A6). Aquando da análise dos traços de personalidade, recomenda-se ao clínico a ter em
conta o contexto social e económico no qual os comportamentos ocorrem, isto para se
evitar o risco de se aplicar erradamente o diagnóstico em circunstâncias nas quais o
comportamento anti-social pode, aparentemente, fazer parte da estratégia adaptativa de
sobrevivência (American Psychiatric Association, 2011: 685-703).

2.6 SISTEMA PRISIONAL ANGOLANO: ASPECTOS A FAVOR E CONTRA

Neste ponto destacar-se-á determinados aspectos relacionados com o sistema prisional


angolano cuja funcionalidade e aplicabilidade, bem como a sua inoperância,
determinarão o seu carácter positivo ou negativo, ou seja, os seus aspectos a favor e/ou
contra.

a) Aspetos a favor

Os aspectos a favor do Sistema Penitenciário de Angola são descritos nos dados


resultantes das observações do Comité Dos Direitos Humanos feitas pelo Comité do
PIDCP (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos) em defesa do primeiro
relatório periódico de Angola sobre os Direitos Humanos (2012). De acordo com as
referidas observações, o Estado angolano tem vindo a implementar um conjunto de
acções que visam modernizar e desenvolver o sistema penitenciário, nomeadamente
através de um plano de imergência e de um plano de expansão das infra-estruturas
prisionais, cuja primeira fase resultou na reabilitação dos estabelecimentos prisionais e
na construção de (6) seis novos estabelecimentos de raiz e um (1) Hospital Prisão. A
segunda fase, actualmente concluída, resultou na edificação de oito (8) estabelecimentos
prisionais e um (1) Hospital Psiquiátrico Prisional, foram também de forma paralela
instalados quatro (4) pólos agro-pecuários e industrial em quatro estabelecimentos
prisionais, no âmbito da melhoria das condições de habitabilidade, alimentação,
assistência medica e medicamentosa, psicossocial, ocupação da mão-de-obra e
formação profissional dos reclusos. Periodicamente e de forma sistemática, são

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implementadas acções de formação e capacitação dos agentes, técnicos e responsáveis


dos estabelecimentos prisionais. Em relação a responsabilização dos agentes, técnicos e
responsáveis dos estabelecimentos prisionais implicados em suposta violação de
normas, incluindo actos que violem os direitos dos reclusos, esclareceu-se que, sempre
que haja comprovação os mesmos são sujeitos a responsabilidade disciplinar e penal,
dependendo da gravidade da infracção
(www.ccprcentre.org/doc/2013/12/CCPR_C_AGO_CO_1_Add-1.doc).

b) Aspectos contra

Com base no défice funcional e operacional verificados no nosso Sistema Prisional


surgem, então, os aspectos contra. Os aspectos contra o Sistema Prisional Angolano são
apontados por Manuel Martins4∗ em seu artigo, “A Vivência e Sobrevivência dos
Reclusos nas Cadeias Angolanas”, publicado em 2012. Segundo o autor citado, o
Sistema Prisional Angolano vem sofrendo um profundo distanciamento da sua principal
função, que é de ressocializar pessoas que foram condenadas pelos mais diversos tipos
de delitos. Tanto são os problemas do referido sistema que frequentemente a sociedade
vem acompanhando, cada vez mais, através da mídia, e não só, casos chocantes de
motins e rebeliões nos estabelecimentos prisionais, onde a tónica predominante é a
violência, quer dos amotinados ou rebelados quer, em algumas ocasiões, por parte dos
organismos estatais destinados a debelar tais situações. Quando tratamos de rebeliões,
devemos ter em conta que as prisões são cenários constantes de violações dos direitos
humanos e, consequentemente, direitos dos presos. As rebeliões podem acorrer a
qualquer tempo, bem como em qualquer sistema penitenciário. É o que evidenciamos,
ocasionalmente, na Comarca de Viana em Luanda e em outros estabelecimentos
prisionais do país que, em vez de reeducar os infractores, acabam por ensinar-lhes
tácticas para aperfeiçoarem suas técnicas de desvio de conduta socialmente responsável.

Martins (2012) afirma ainda que, dentro da prisão, dentre várias outras garantias que são
desrespeitadas, o preso sofre principalmente com a prática de torturas e de agressões
físicas. Essas agressões geralmente partem dos outros presos como dos próprios agentes
da administração prisional. Os abusos e as agressões cometidos por agentes

4∗
Advogado e professor na Faculdade de Direito na Universidade José Eduardo dos Santos e no ISPSN.

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penitenciários e por policiais ocorrem de forma mais acentuada, principalmente, após a


ocorrência de rebeliões ou tentativa de fuga. Após serem dominados, os amotinados
sofrem a chamada “correcção”, que nada mais é do que o espancamento que acontece
após a contenção dessas insurreições, o qual tem a natureza de castigo. Muitas vezes
esse espancamento extrapola e termina em execução. O despreparo e a desqualificação
desses agentes fazem com que eles consigam conter os motins e rebeliões carcerárias
somente por meio da violência, cometendo vários abusos e impondo aos presos uma
espécie de “disciplina carcerária” que não está prevista em lei, sendo que na maioria
das vezes esses agentes acabam não sendo responsabilizados por seus actos e
permanecem impunes.

O referido autor afirma ainda que, o que tem ocorrido na prática é a constante violação
dos direitos e a total inobservância das garantias legais previstas na execução das penas
privativas de liberdade. A partir do momento em que o preso passa à tutela do Estado
perde não somente o seu direito de liberdade, mas também todos os outros direitos
fundamentais que não foram atingidos pela sentença, passando a ter um tratamento
execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos que acarretam a degradação de
sua personalidade e a perda de sua dignidade, num processo que não oferece quaisquer
condições de preparar o seu retorno à sociedade. É imperioso e urgente a introdução, no
nosso sistema prisional, de um conjunto de doutrinas e princípios jurídicos universais e
modernos, contidos nos instrumentos jurídicos internacionais ratificados por Angola,
sobretudo as constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos para que não
haja qualquer tipo de discriminação ou distinção de ordem religiosa, ideológica ou de
outra natureza, que venha prejudicar a situação prisional do recluso. Devemos combater
a prática de transformar o castigo penal num aparato de terror, como se fosse o único
fim proclamado a ser cumprido, ou seja:

“O que se pretende com a efectivação e aplicação das garantias legais e


constitucionais na execução da pena, assim como o respeito aos
direitos do preso, é que seja respeitado e cumprido o princípio
da legalidade, corolário do nosso Estado Democrático de
Direito, tendo como objectivo maior o de se instrumentalizar a
função ressocializadora da pena privativa de liberdade, no

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intuito de reintegrar o recluso ao meio social, visando assim


obter a pacificação social, premissa maior do Direito Penal”
(Martins, 2012: 7).

Em suma, dentre as várias recomendações Martins destaca o respeito escrupuloso do


preceituado na Lei 8/08 (Lei Penitenciária), que acredita ser uma Lei completa e
moderna, faltando apenas o seu cumprimento rigoroso, principalmente no que concerne
aos seus direitos e interesses não afectados pela condenação. E que haja maior apoio por
parte das autoridades governamentais nos problemas mais candentes dos reclusos, tais
como melhor assistência médica e medicamentosa, melhor acomodação, tratamento
psicológico permanente e melhor formação académica e profissional.

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