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Política Pública de Assistência Social

Conceito de Política Pública de Assistência Social:

Esta diz respeito ao conjunto de ofertas continuadas (benefícios, serviços,


programas, projetos) para a garantia do direito à assistência social para pessoas
em situação de risco e vulnerabilidade visando a proteção social.

Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) está estruturado com a finalidade


de buscar soluções para os problemas relacionados aos riscos e
vulnerabilidades sociais.

Sobre Riscos e Vulnerabilidades

Risco remete a possibilidade de que exista uma circunstância, mais ou menos


provável, susceptível de irromper a nossa vida pessoal ou social e de
transformar seu curso. Diz respeito ao avesso da segurança e tem relação com a
incerteza.

Vulnerabilidade está relacionada à redução da capacidade de resposta para o


enfrentamento do risco. Ou seja, diz respeito às condições que famílias e
indivíduos possuem para enfrentar riscos e sofrer menos danos.
A vulnerabilidade é fenômeno complexo e multifacetado, que reflete tanto as
condições materiais quanto as relacionais, referentes às características
identitárias dos sujeitos, tais como raça/cor/etnia, gênero, deficiência,
orientação sexual etc. Portanto, ao analisar as vulnerabilidades deve-se atentar
para a dimensão material e a dimensão relacional.

Pobreza e Desigualdade

Dentre os fatores de inseguridade e agravamentos de riscos para populações


vulneráveis destacamos as desigualdades, a pobreza e a exclusão.

Desigualdade refere-se a padrões de vida de toda a sociedade, sendo


determinada a partir dos padrões de relações sociais que geram os lugares dos
“desiguais”, seja por questões econômicas, de raça, gênero, orientação sexual
etc.

Pobreza é um conceito que possui vários significados e entendimentos. Para


alguns está apenas atrelada a ter ou não renda, variando em medidas e escalas,
como a definição do Banco Mundial que aponta que esse fenômeno ocorre
com quem vive com menos de um dólar por dia. Para outros, além dessa
dimensão monetária, diz respeito a falta de garantia de acesso a bens e serviços
públicos essenciais (saúde, educação, assistência social, habitação, segurança
etc.)

Assim, mesmo em países onde não exista pobreza, pode haver desigualdades
sociais, raciais, de gênero etc.

E a exclusão?

A exclusão está associada a valores culturais discriminatórios e não pode ser


definida apenas pelo poder aquisitivo, variando de sociedade para sociedade.
Destacamos ainda que a exclusão pode ser analisada sob três dimensões:

• Dimensão material e objetiva da desigualdade social e econômica;


• Dimensão da ética da injustiça social e dos preconceitos;
• Dimensão subjetiva, de sofrimentos impostos a milhões de seres
humanos.

Sobre preconceito e discriminação

Veja, falamos sobre risco, vulnerabilidades, desigualdades, pobreza e exclusão e


agora vamos tratar do preconceito e da discriminação.

Preconceito diz respeito a ideias ou atitudes antecipadamente formadas sobre


qualquer compreensão das diversidades, sem que haja qualquer fundamento
razoável e racional; ou mesmo quando há um juízo desfavorável em relação a
vários objetos sociais, que podem ser pessoas ou culturas. Esse inclusive pode
ser alicerçado em estereótipos.

Discriminação é o preconceito posto em prática e gerando violação de direitos.


É um crime tipificado no Código Penal Brasileiro, havendo punição para seus
diferentes tipos. Além disso, existem leis específicas como o Estatuto da
Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010, que criminalizam tais condutas antiéticas.

São vários os tipos de preconceitos que levam a atitudes discriminatórias.

A respeito da Violência

Violência é definida pela Organização Mundial da Saúde (2002, p. 5) como o


“uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente,
contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem
grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do
desenvolvimento ou privações”. É um fenômeno de causas multifacetadas,
enraizadas em questões socioculturais e um dos principais causadores e efeitos
da violação de direitos.

ATENÇÃO. As violências são sem dúvidas, uma das principais formas de violação
de direitos que devem ser prevenidas e mitigadas por meio das ofertas da
Política de Assistência Social.

Você já observou que a cada ano, a violência abrevia a vida de milhares de


pessoas em todo mundo e prejudica a vida de muitas outras? Esta não conhece
fronteiras geográficas, raça, idade ou renda. Atinge crianças, jovens, mulheres,
idosos, pessoas com deficiência, negros, pessoas em situação de rua, LGBTQI+
entre outras populações em situação de vulnerabilidade.

São vários os tipos de violência e suas vítimas devem ter acesso as medidas
preventivas, de acolhida e de proteção nas ofertas da Proteção Social Básica
(PSB) e na Proteção Social Especial (PSE).
Sobre interseccionalidade

Diz respeito a análise do entrecruzamento de opressões estruturais de raça/cor,


gênero e classe social; da percepção das interações entre as diversas estruturas
de poder e subordinação nas vidas das minorias. Porém, não se trata de um
somatório matemático de marcadores sociais de vulnerabilidade (mulher +
negra + pobre + lésbica + gorda etc.), mas de uma análise das condições
estruturais que atravessam os corpos, das posições que ocupam na sociedade e
como orientam subjetividades.”

A violência estrutural, que extrapola o plano individual e relaciona-se com o


contexto social mais amplo. Pode parecer estranho e improvável haver violência
doméstica numa relação entre duas mulheres, mas algumas mulheres reproduzem
comportamentos abusivos em uma relação. É complexo mesmo de entender, mas
somos socializados (as) em uma cultura marcada pelo machismo, então as
mulheres não estão ilesas de terem atitudes assim

Encaminhamento 1 - Reflexões e possibilidades de atuação:


Não cabe à política de Assistência Social assumir a atribuição de investigação
sobre o caso de violência, cabe a essa o papel de proteção aos indivíduos e
famílias, respeitando a heterogeneidade, potencialidades, valores, crenças e
identidades das famílias. Não há a necessidade de uma denúncia formal para
o CREAS atuar e é importante ressaltar que a adesão das famílias e indivíduos
ao PAEFI é voluntária.

Assim, a postura preconceituosa da coordenadora do CREAS não condiz com a


postura ética, de respeito à dignidade e à diversidade, e de não-discriminação a
ser compartilhada por toda a equipe da unidade, especialmente pela líder da
equipe. Partindo dessa compreensão, Márcio decide enfrentar a chefe e relata
toda a situação durante a reunião. Suas colegas de equipe também partilham
do entendimento que o caso relatado indica a ocorrência de diferentes
violações de direitos, tanto em relação à Larissa quanto aos seus filhos,
indicando a necessária intervenção da equipe do CREAS. Com Felipa
pressionada pela equipe, decidem tomar as providências necessárias para a
inclusão da família e seus membros no acompanhamento do PAEFI e demais
serviços socioassistenciais, proporcionando a acolhida à família e visando
contribuir para romper com o ciclo de violência e aumentar a proteção social da
família de Larissa. Também é realizado o acesso de Larissa aos benefícios sociais
a que tem direito, com vistas a apoiar na sua segurança de renda. A equipe do
CREAS, tendo por base uma análise interseccional sobre o caso e considerando
os sujeitos e suas demandas de maneira integral, além de pensar estratégias de
intervenção adequadas às particularidades de Larissa e de seus filhos, também
os encaminha para acesso a outras políticas públicas, acionando o Conselho
Tutelar para garantir a proteção das crianças e apoiando Larissa na decisão
sobre realizar denúncia na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, a
partir da qual ela poderá ter acesso à assistência e às medidas protetivas de
urgência cabíveis, previstas na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).

Encaminhamento 2 - Reflexões e possibilidades de atuação:

Ao não levar a questão para a discussão da equipe do CREAS, tendo em vista o


poder exercido por Felipa, Márcio decide fazer uma denúncia anônima aos
órgãos competentes. Nesse caso, ele não estaria assumindo a questão de modo
institucional e nem enfrentando o preconceito imposto por sua chefe. Nessa
situação, o caso pode chegar para atendimento e acompanhamento do CREAS
por encaminhamentos dos órgãos de justiça, porém, isso pode demorar mais
tempo, e nesse intervalo é possível que o processo de desproteção da Larissa e
de seus filhos se perpetue, algo que deve ser evitado. No entanto, é sabido que
podem ter situações nas quais as(os) profissionais não terão nenhum apoio da
coordenação do serviço ou unidade (como vemos nesse caso) e nem das(dos)
demais colegas da equipe, visto que estes reproduzem discriminações e
preconceitos. Então, podem ter situações em que o enfrentamento direto não
seja algo possível e não contribua para assegurar a inclusão da família nos
serviços socioassistenciais. Nesses casos, a opção de buscar encaminhar por
outros meios que não pela institucionalidade do CREAS, ainda que não seja a
ideal, pode ser a única possível em algumas situações. Diante desse cenário,
além de buscar outros meios de encaminhar o caso de Larissa, Márcio poderia
propor à equipe do CREAS a elaboração de uma agenda de grupos de estudos,
rodas de conversa, cine debate, entre outros meios para conseguir inserir
algumas reflexões e discussões cruciais para a atuação na perspectiva ética, de
respeito às diversidades e comprometida com os direitos humanos. Além disso,
poderia ainda buscar apoio junto à equipe do órgão gestor da Assistência
Social, sinalizando sobre a necessidade de promover ou fomentar a participação
em oficinas, capacitações, cursos, dentre outras ações de educação permanente,
com temas sobre direitos humanos, ética profissional, diversidades, entre
outros.

Estas são apenas algumas possibilidades diante da situação apresentada. Mas é


fundamental ter em mente que, em todo caso, a atuação profissional deve ser
orientada pelo compromisso com a garantia da proteção social pautada nos
princípios e diretrizes da política de Assistência Social e na perspectiva dos
direitos humanos.

A violência é um fenômeno multifacetado que possui, sem dúvidas, inúmeras causas,


mas dessas causas mais estruturais né, mais estruturantes, relacionadas a diferentes
opressões, devido a classe social, devido a questões de Gênero, a questão Racial, mas
também outros tipos de opressão que são muito relacionadas eu diria, principalmente, e
que elencaria como causas principais, a processos de preconceito, que são muitas vezes
materializados em torno de questões discriminatórias. Dentro dos sistemas de proteção
social, de maneira geral, especialmente no Sistema Único de Assistência Social,
entender como se dão essas relações de poder e opressão que envolvem as pessoas em
situação de vulnerabilidade e risco social e entender, principalmente, como se
materializa e como se criam esses imaginários em torno de determinados preconceitos.
Preconceitos das mais variadas ordens como o próprio Racismo, o machismo, a lógica
do capacitismo, ou seja, preconceito contra as pessoas com deficiência, a própria lógica
da aporofobia né, do preconceito e as fobias com relação as pessoas pobres, entre outros
tipos de preconceito. Assim, eu acho que é muito importante que cada trabalhadora e
cada trabalhador do SUAS pare e reflita um pouco, principalmente compreenda que nós
vivemos nessa sociedade que, culturalmente, nos impõem alguns preconceitos, entender
por exemplo, fazendo uma primeira pergunta em que eu sou preconceituoso ou
preconceituosa?

Entender as diversidades perpassa anteriormente por uma outra coisa que é desenvolver
um olhar e uma escuta atenta, de fato, para diferentes visões do mundo, diferentes
formas de enxergar o mundo e passa não só por compreender ou entender, mas
principalmente por desenvolver sensibilidades, desenvolver empatia. Temos que pensar
nas causas estruturantes colocadas pelo próprio sistema capitalista em que nós vivemos,
que é promotor sim das desigualdades sociais, do não respeito às diversidades e
consequentemente das múltiplas formas de violência, mas pensarmos, principalmente,
em como nós conseguimos mudar culturalmente as lógicas que existem com relação a
esses preconceitos, com relação ao não respeito às diferenças, que não é simplesmente
uma questão de tolerar, não é simplesmente uma questão de aceitar, mas é uma questão
de ter sensibilidades e acima de tudo entender que todos e todas, dentro das suas
diversidades, são cidadãos e cidadãs sujeitos de direitos.

Quais os principais desafios para a proteção social nesse sentido?

O SUAS tem um papel fundamental considerando a sua característica de um sistema


que materializa uma política pública de maneira Universal, ou seja, sem fazer acepção
de quem deve ou não deve ser atendido, logo, ele é, digamos, talvez, uma das, não
apenas a única, grandes portas de entrada para esses casos em que há um agravamento
da situação de violação de direitos por violências. Assim, o SUAS tem um papel
fundamental no âmbito preventivo, como também no âmbito protetivo. Então a gente
tem que entender que todas as pessoas que passam por situações de vulnerabilidade e
risco social têm cor, essas pessoas têm sexo, essas pessoas têm gêneros, essas pessoas
têm orientação sexual, têm ou não uma deficiência, ela é idosa, ela tem uma faixa etária,
tem um território onde essa pessoa vive, então é muito importante que no âmbito do
SUAS se exerça um papel protetivo entendendo as vulnerabilidades que são mais
preponderantes e estão presentes nos territórios, sem também estigmatizar os territórios
como: esse território é violento, esse território não é violento, que é papel do SUAS
compreender os diferentes tipos de violências. Muitas vezes é dado a maior visibilidade
a violência quando essa envolve agressão, quando é uma violência física, porém nós
sabemos que existem outros tipos de violência que não necessariamente envolvem
agressão. Violências que estão, inclusive, silenciadas ou mais silenciosas e violências
psicológicas, que existem violências morais, financeiras, violência do próprio Estado.

Isso nos remete a levantamentos e pesquisas nacionais e internacionais que mostram a


incidência dessas violências e públicos específicos de crianças e adolescentes, mulheres,
pessoas idosas, pessoa com deficiência que tem aumentado cada vez mais. Como você
analisa, então, a incidência de violação de direitos agravadas por violência para esses
públicos?

Um primeiro desafio que nós temos de fato, diz respeito a termos de modo mais
consolidado e disseminado esses dados. Muitas vezes a gente sabe da incidência por
dados pontuais de algumas bases como do próprio SUS, do SUAS também, dos
registros mensais de atendimento do SUAS, mas existe ainda pouca coisa consolidada
com relação a incidência de alguns tipos de violência e, talvez essas violências que eu
citei, que considero violências silenciosas e silenciadas, quando a gente pega por
exemplo o caso da pessoa com deficiência, muitas vezes, esses casos sequer chegam a
ser contabilizados porque sequer eles são identificados e são denunciados, então a gente
tem um problema muito grande ainda que, apesar da existência desses dados, que são
dados extremamente relevantes os dados do Disque 100, os dados do Atlas da violência
e outros dados sobre violência de maneira geral, mas ainda existe uma certa
subnotificação. O SUAS precisa investir em estudos e pesquisas mais aprofundados,
estudos e pesquisas talvez até mais censitários com relação a isso e estudos que
fomentem o caráter mais preventivo da violência né, porque, muitas vezes, se há
subnotificação, isso acontece por uma série de questões inclusive os medos, temores que
as pessoas que são violentadas sofrem, precisamos, cada vez mais, integrar as nossas
bases de dados. Elas são muito desintegradas. Precisamos investir em processos de meta
avaliação desses dados, ou seja, pensar na avaliação das avaliações e discutir esses
dados de maneira intersetorial. Queria aqui destacar que existem duas questões
fundamentais para a gente avançar no tratamento dos dados sobre violência: tratar esses
dados de modo interseccional, ou seja, verificando os fatores causadores de
determinadas opressões devido a características identitárias de raça, de gênero, de classe
social, e aí a gente pode ir colocando outras questões também, mas principalmente a
questão racial e a questão de gênero, devem ser pontudas e analisadas no
intercruzamento dessas bases de dados e, além da questão interseccional, nós devemos
pensar na análise desses dados com base na lógica intersetorial, ou seja, não é
simplesmente o SUAS, não é simplesmente o SUS, o sistema de Justiça, mas nós
precisamos integrar tudo isso para, inclusive, fomentar o planejamento de algumas
estratégias que gerem serviços, ações, programas, projetos e benefícios, no sentido do
enfrentamento às situações de violência. É importante a gente entender também o
processo de disseminação desses dados. Esses dados ainda são muito restritos aos
próprios serviços públicos que são prestados ou ao âmbito acadêmico. Nós precisamos
fazer com que esses dados cheguem a ponta, com que esses dados cheguem às
populações dos territórios para que as pessoas consigam entender a gravidade que é o
problema público da violência.

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