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Curso Medidas Socioeducativas em Meio Aberto

Orientações gerais para o atendimento do Serviço de Medidas


Socioeducativas em Meio Aberto

1- ACOLHIDA

A acolhida é uma das seguranças estabelecidas pela Tipificaçã o Nacional de


Serviços Socioassistenciais, e o Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS) é a unidade pú blica do SUAS em que ela ocorre. A acolhida pode
fazer a diferença no atendimento socioeducativo em meio aberto, pois os
adolescentes já chegam ao CREAS marcados pelo estigma de terem passado pelo
Sistema de Justiça, o que implica em rotulaçã o e discriminaçã o. Muitas vezes, a
família também carrega esse peso com o adolescente, principalmente na
comunidade em que vivem. Existem também os adolescentes que vêm das
unidades de internaçã o por meio de progressã o de medida para o meio aberto.
Esses trazem consigo um longo histó rico de violaçõ es sofridas nesses espaços. A
medida socioeducativa, para eles, pode ser sinô nimo de puniçã o e de tortura.

A acolhida deve ser realizada sem preconceito: O preconceito por parte da


equipe técnica pode se revelar por meio de diversas atitudes, tais como:

 Atender os adolescentes em cumprimento de medidas em meio aberto em


dias diferenciados dos demais usuá rios do CREAS.

 Reservar espaços específicos no CREAS ao pú blico do atendimento


socioeducativo.

 Realizar atendimentos com a porta da sala aberta.

 Exigir seguranças para a realizaçã o de atividades com os adolescentes.

Essas prá ticas afrontam diretamente os princípios constitucionais, do ECA e


da Lei do SINASE. Se os adolescentes forem acolhidos com atençã o e respeito, o
vínculo entre o técnico e o adolescente e sua família tende a ser mais produtivo, o
que pode ajudar inclusive no cumprimento da medida socioeducativa. Evitar o
preconceito na acolhida pode aumentar as chances de sucesso de recuperaçã o do
jovem. Assim, é importante termos sempre lembrar que:

O adolescente, mesmo que esteja cumprindo medida socioeducativa em


meio aberto, deve ser acolhido como qualquer outro usuá rio do CREAS.
 O adolescente nã o está demandando espontaneamente um dos serviços do
SUAS, pois o encaminhamento dele ao CREAS é compulsó rio em razã o de
determinaçã o judicial.

 A execuçã o do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto


compreende parte do aparelho regulador do Estado.

 Os profissionais dos CREAS têm a incumbência de esclarecer a todos os


usuá rios sobre os serviços ofertados e sobre a funçã o do CREAS,
principalmente quando houver incô modo e resistência de certos usuá rios
em relaçã o à presença de adolescentes em atendimento socioeducativo em
meio aberto no espaço.

Fluxos de trabalho: É fundamental estabelecer um fluxo bem ajustado entre o


gestor municipal de Assistência Social e o Judiciá rio para o encaminhamento desse
adolescente ao CREAS. A ausência de fluxos ou procedimentos mal estabelecidos
resultam em processos de trabalho desorganizados, sobrecarga e desgaste para a
equipe técnica do CREAS e, principalmente, desrespeito ao adolescente e sua
família.

Em que momento começa a acolhida?

A acolhida é um processo permanente, uma postura profissional baseada na


empatia, no respeito e no afeto. Ainda assim, o primeiro momento de acolhida com
o usuá rio é crucial, pois pode definir sua vinculaçã o ou nã o com a unidade.

PRECONCEITO INSTITUCIONAL

O preconceito institucional é uma questã o que nunca é demais problematizar


quando o assunto é atendimento socioeducativo, pois ainda é um obstá culo
frequente para se realizar uma boa acolhida no CREAS. É indispensá vel que o(a)
coordenador(a) do CREAS e a gestã o municipal promovam discussõ es e reflexõ es
sobre questõ es relacionadas à diversidade e aos direitos humanos na organizaçã o
dos processos de trabalho e na capacitaçã o dos funcioná rios do CREAS.

O preconceito institucional pode se manifestar por meio de um juízo de valor do


técnico em relaçã o à s diferenças de origem, cor, raça, religiã o, gênero, orientaçã o
sexual, casos de saú de mental, uso abusivo de á lcool e outras drogas, estilo de cada
adolescente (visual, linguagem, gestual e adereços), entre outros aspectos.

Essas situaçõ es devem ser enfrentadas diariamente nos equipamentos e serviços


das políticas sociais. A melhor maneira de combatê-la é por meio de sensibilizaçã o
e capacitaçã o dos técnicos que lidam com esses adolescentes. Compete ao pró prio
técnico evitar que juízos de valor interfiram no atendimento, devendo, para isso,
adotar postura ética, crítica e distanciada em relaçã o a comportamentos, opiniõ es,
linguagem e estilo de vida observada e expressados durante o atendimento que
nã o correspondam aos seus valores e à sua visã o de mundo.
O julgamento de valor no atendimento socioeducativo em meio aberto pode
comprometer o estabelecimento do vínculo com o adolescente e sua família.

A invisibilidade dos adolescentes

A maioria dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa pertence


à s camadas empobrecidas da populaçã o. Ao longo de suas vidas, a marca dessa
segregaçã o se faz presente por meio de olhares, de portas que se fecham, da
discriminaçã o e da inacessibilidade a determinados locais, entre outras situaçõ es.
Para muitas pessoas, esses adolescentes sã o invisíveis. Essa invisibilidade social
pode afetar a construçã o da identidade desses jovens, influenciando a forma como
eles se percebem e se relacionam com os outros.

As prá ticas institucionais discriminató rias violam direitos previstos na


Constituiçã o Federal e precisam ser enfrentadas nã o só pelos gestores, mas
também pelos conselhos tutelares, pelos conselhos de direitos da criança e do
adolescente e pelos conselhos setoriais, que têm como atribuiçã o legal fiscalizar e
controlar a oferta de serviços pelas políticas sociais, inclusive com poder de cobrar
da administraçã o municipal ajustes e melhorias nos serviços prestados.

O racismo

Uma das formas de preconceito mais observadas no Brasil se dá no racismo sofrido


por diversas minorias, em especial pelas populaçõ es negras e indígenas. O vídeo a
seguir explica como o racismo é reproduzido na sociedade e utiliza como base legal
o Estatuto da Igualdade Racial . Fique atento aos seguintes pontos:

 Qual o papel das políticas pú blicas em meio à s desigualdades observadas?

 De que forma os agentes pú blicos reproduzem o racismo?

 Como essa forma de preconceito deve ser evitada no atendimento ao


pú blico?

 Qual a importâ ncia de se buscar fazer o jovem em atendimento


socioeducativo compreender a origem histó rica do racismo?

A LGBTFOBIA

Uma outra face do flagrante do preconceito ainda presente dentro do atendimento


socioeducativo é a LGBTfobia. Trata-se da rejeiçã o, medo, preconceito,
discriminaçã o, aversã o, ó dio ou violência contra lésbicas, gays, bissexuais,
mulheres transexuais/travestis e homens trans. A designaçã o da sigla LGBT pode
causar confusã o em quem nã o está pró ximo desse debate, assim sendo é
importante conhecer seu significado para que possamos defender os direitos dessa
populaçã o.

 Lésbicas: denominaçã o específica para mulheres que se relacionam afetiva


e sexualmente com outras mulheres;

 Gays: denominaçã o específica para homens que se relacionam afetiva e


sexualmente com outros homens;

 Bissexuais: pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com ambos os


gêneros;

 Travestis: pessoas que possuem elementos do sexo masculino na dimensã o


fisioló gica, mas que socialmente se apresentam no gênero feminino, sem
rejeitar o sexo bioló gico; e

 Transexuais: pessoas que sã o psicologicamente de um gênero e


anatomicamente de outro.

Além da sigla LGBT ainda existem termos que precisam ser esclarecidos:

 Intersexo: termo comumente usado para designar uma variedade de


condiçõ es em que uma pessoa nasce com uma anatomia reprodutiva ou
sexual que nã o se encaixa na definiçã o típica de sexo feminino ou
masculino.

 Pessoas não-binárias : sã o aquelas que nã o se percebem como


pertencentes exclusivamente a um gênero (feminino ou masculino) ou
como unicamente homens ou mulheres, podem também ser conhecidas
como gênero fluido. Em resumo, sã o aquelas que nã o se identificam com as
nomenclaturas tradicionais de gênero baseadas na ideia da oposiçã o
“natural” entre masculino e feminino.

 Pessoas cisgêneras: Sã o aquelas que se identificam com o sexo que lhes foi
atribuído no nascimento.

No vídeo a seguir, o assistente social Kayode Silva explica as principais


características da LGBTfobia e como ela está presente no atendimento
socioeducativo.

As equipes: conscientizar as equipes dos CRAS e CREAS sobre a importância de se


respeitar a diversidade de gêneros durante os atendimentos é fundamental para
garantir que os profissionais prestem um serviço que vá fazer com que o adolescente
LGBT se sinta acolhido dentro desses equipamentos. Esse assunto é abordado no
vídeo a seguir, onde o assistente social Kayode Silva trata ainda do papel da família
no trabalho social junto a esse público em particular.

Recomendamos a leitura de materiais produzidos pelo Conselho Federal de Serviço


Social sobre as diversas formas de preconceito, entre eles a transfobia, você pode ter
acesso à leitura pelo seguinte endereço: http://www.cfess.org.br/visualizar/livros.

Como diminuir os preconceitos institucionais, principalmente contra esses


adolescentes?

Reveja as prá ticas correntes da instituiçã o, como atendimento com a porta aberta
por medo do adolescente, separaçã o desses adolescentes dos demais usuá rios,
atendimentos em dias separados, etc.

Como enfrentar o preconceito entre os próprios usuários?

Por meio de capacitações continuadas e diálogos francos e abertos. Envolva a


comunidade e chame representantes de movimento sociais (negros, mulheres,
LGBTs, indígenas) para facilitar a sensibilização no seu espaço de trabalho.

A Escuta Qualificada

A escuta qualificada pressupõ e empatia com o usuá rio, respeito aos seus direitos,
aos seus limites e à sua visã o de mundo. Para realizar a escuta é necessá rio
disposiçã o para ouvir o adolescente, sua trajetó ria e experiências. À medida que o
técnico se coloca como um ouvinte dedicado, abre-se a possibilidade de o jovem
refletir sobre o ato cometido. Ao se sentir respeitado, o adolescente poderá
estabelecer um vínculo de confiança com o técnico. Verbalizando sua histó ria de
vida, ele tem a chance de perceber que muitas vezes suas açõ es têm origem em
comportamentos mecâ nicos, sobre os quais nunca parou para pensar. Nesse
processo é possível trazer os fragmentos de sua vida e atribuir novo sentido para o
ato cometido. A escuta qualificada consiste ainda em:

 Vislumbrar as oportunidades que a rede local pode ofertar à s suas


demandas.

 Realizar intervençõ es seguras e precisas durante o acompanhamento.

 Fornecer informaçõ es consistentes de forma clara e objetiva sobre o


atendimento socioeducativo.
À medida que o técnico apresenta ao adolescente uma questã o sobre o ato
infracional cometido, leva-o a refletir sobre sua atuaçã o, realizada muitas vezes
sem crítica e sem percepçã o das pró prias escolhas. A conduta técnica se orienta
pela aposta de que esse processo leve o adolescente a se perceber como sujeito de
suas escolhas e de sua histó ria.

 Qual a diferença entre escutar e ouvir?

Ouvir está relacionado com a capacidade auditiva do agente.

Escutar é entender o que está sendo captado pela audiçã o, mas além disso,
colocar-se junto daquele que fala, acolhê-lo por meio de suas palavras.

O vínculo na acolhida

Estabelecer vínculo de confiança com o adolescente é fundamental para que o


diá logo seja aberto e propicie ao jovem segurança para refletir e falar sobre sua
trajetó ria e suas escolhas. Muitos dos adolescentes em cumprimento de medida
tendem a ficar em silêncio por inú meros motivos.

Como iniciar o vínculo? Recomendamos aos técnicos do Serviço de Medidas


Socioeducativas em Meio Aberto/CREAS que tentem evitar a ansiedade nas
primeiras conversas com o adolescente, pois o estabelecimento do vínculo
pressupõ e a construçã o da confiança, e isso exige tempo. O esforço inicial deve ser
no sentido de se criar um ambiente capaz de superar o percurso anterior do
adolescente até aquele momento, desde a apreensã o até a determinaçã o judicial.
Lembre-se que instituiçõ es da Segurança Pú blica e do Sistema de Justiça costumam
se caracterizar pela repressã o e, em muitos casos, pela truculência.

O adolescente nã o pode confundir o técnico do Serviço de Medidas Socioeducativas


em Meio Aberto/CREAS com operadores da Segurança Pú blica ou do Sistema de
Justiça. Compete ao técnico deixar claro ao adolescente qual é o seu papel. A
postura profissional é extremamente importante para a criaçã o de vínculo:

 Olhar nos olhos.

 Respeitar o tempo de fala do outro.

 Evitar correçõ es de linguagem.

 Tratar a pessoa com o nome ou o apelido com a qual prefere ser chamada.
O adolescente nã o pode confundir o técnico do Serviço de Medidas Socioeducativas
em Meio Aberto/CREAS com operadores da Segurança Pú blica ou do Sistema de
Justiça.

Alguns CREAS utilizam dinâ micas de grupo para tornar os primeiros contatos
menos institucionais. Atividades mais informais também podem ser realizadas fora
dos CREAS, caso se perceba que outros espaços possam facilitar a aproximaçã o
(praças, escolas, bibliotecas e outros). Isso nã o exime a equipe do Serviço de
Medidas Socioeducativas em Meio Aberto de criar uma familiaridade do
adolescente com os CREAS.

A acolhida deve ser avaliada. A gestã o municipal de Assistência Social e os


coordenadores sã o responsá veis pelo monitoramento da qualidade e pelos ajustes
necessá rios aos atendimentos realizados pelos serviços ofertados no CREAS. O
ideal é que sejam instituídos processos de avaliaçã o dos serviços com a
participaçã o dos usuá rios. A acolhida, com certeza, é um dos principais pontos a
serem avaliados e a criaçã o de um vínculo com o adolescente pode contribuir para
tornar esse julgamento positivo. Claro que essa avaliaçã o nã o dispensa a atuaçã o
legalmente estabelecida do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do
Adolescente e dos demais conselhos setoriais (assistência social, saú de, educaçã o).

Como tornar o CREAS um espaço que vincule o adolescente ao serviço?

Você já pensou se o equipamento em que você trabalha é atrativo? A decoração, os


murais, os panfletos, as cores da unidade conversam com o universo adolescente?
Que tal os adolescentes participarem da pintura das paredes com grafite ou ajudarem
na escolha dos lanches? Construa o CREAS junto com seus usuários!

O Plano Individual de Atendimento (PIA)

O Plano Individual de Atendimento (PIA), é um instrumento com as funçõ es de


planejar e registrar o cumprimento da medida socioeducativa. Nesta aula iremos
detalhar suas principais características e etapas. Assista o vídeo a seguir e fique
atento aos seguintes pontos:

 Qual a previsã o legal do PIA?

 Quem deve realizar o PIA?

 O que deve constar no Plano?

 Podemos resumir o PIA a um simples questioná rio?


O PIA pode ser construído em quatro momentos principais que nó s iremos
detalhar nos itens a seguir. Sã o eles:

 Acolhida

 Aná lise situacional

 Planejamento

 Avaliaçã o

A acolhida

Você já estudou nesse curso o papel da acolhida e a sua importâ ncia para o
atendimento socioeducativo. Assista o vídeo a seguir buscando responder à s
perguntas:

 Quem deve estar envolvido na acolhida?

 Qual a importâ ncia da comunicaçã o nessa fase?

 Qual o papel do lanche na acolhida?

 Como o espaço pode influenciar a vinculaçã o do adolescente?

A análise situacional

É nessa fase que ocorre a coleta de dados que irã o embasar a aná lise técnica sobre
o caso do adolescente. Lembre-se que o PIA é um documento sigiloso, sendo o seu
acesso restrito apenas a:

 Gestores e equipe técnica do Serviço de MSE em Meio Aberto/CREAS

 Adolescente e sua família

 Ministério Pú blico

Para realizar um diagnó stico preciso da situaçã o do adolescente, deve-se analisar


tanto da vida pregressa como da vida atual do adolescente, devendo incluir:

 Histó rico e trajetó ria educacional.

 Informaçõ es sobre estado geral de saú de.

 Histó rico no sistema socioeducativo.

 Informaçõ es sobre a situaçã o judicial.

 Informaçõ es sobre contexto social em que reside.

 Documentaçã o, além de outros dados.


Planejamento

Apó s o levantamento realizado na aná lise situacional, é possível construir,


junto com o adolescente e sua família, um planejamento que busque atender cada
caso de forma personalizada. Como você verá no vídeo a seguir, esse planejamento
deve conter objetivos e metas bem definidos.

Avaliação:

A ú ltima fase da construçã o do PIA, é a avaliaçã o dos objetivos e metas pactuados


no planejamento. Assista ao vídeo a seguir refletindo sobre os seguintes pontos:

 O cumprimento das metas depende unicamente do adolescente?

 Quais fatores podem interferir no alcance dos objetivos?

 A avaliaçã o ocorre apenas no final do processo do PIA?

 O PIA é um documento dinâ mico ou está tico?

Atenção!

PIA não deve ser utilizado como ameaça! É importante que você perceba que o
PIA nã o deve servir como um instrumento de ameaça ou puniçã o pelo
descumprimento de alguma atividade ou objetivo pactuado entre técnico e
adolescente. Frases como: “Eu vou anotar isso no seu PIA” ou “Eu vou comunicar ao
juiz o que você está fazendo” sã o graves desvios da natureza do PIA e do pró prio
atendimento socioeducativo.

As políticas setoriais devem ser levadas em conta. Esse aspecto a ser


considerado no PIA se refere à s ofertas de cultura, esporte, educaçã o, saú de, entre
outras políticas setoriais. Se nã o há diversidade de ofertas ou se essas sã o
inadequadas ao perfil do adolescente, fica inviá vel cumprir parte dos objetivos
estabelecidos no PIA, por falta de alternativas.

Cuidado com as expectativas no uso do PIA: É preciso cautela em relaçã o ao


entendimento sobre o Plano, uma vez que se trata de instrumento dinâ mico,
flexível, devendo ser revisto e ajustado ao longo do cumprimento da medida. O PIA
nã o pode se transformar em um “planejamento empresarial”, no sentido de que o
adolescente deva obrigatoriamente atingir as metas estabelecidas e que, em caso
contrá rio, nã o concluirá a medida socioeducativa. Muitas vezes, há uma
expectativa do técnico e do pró prio Sistema de Justiça de que o cumprimento da
medida acompanhe exatamente o estabelecido no PIA. Nã o podemos trabalhar com
esse nível de ideal. Toda mudança que seja fruto desse processo de reflexã o tem
que ser considerada na avaliaçã o técnica sobre o cumprimento da medida. Muitas
vezes, romper com a trajetó ria infracional e produzir respostas orientadas por
novas escolhas já sã o suficientes para solicitar a conclusã o da medida
socioeducativa.
Por fim, você deve ter em mente que o PIA é um instrumento utilizado para
transformar a vida do adolescente. Ele é um meio e nã o um fim. Ele deve
potencializar as capacidades do adolescente.

Quais os maus usos que podem ser feitos do PIA?

Reveja as prá ticas correntes da instituiçã o, como atendimento com a porta aberta
por medo do adolescente, separaçã o desses adolescentes dos demais usuá rios,
atendimentos em dias separados, etc.

Mas afinal de contas para que serve o PIA?

Menos do que uma obrigaçã o ao judiciá rio, o PIA é a sistematizaçã o técnica do


nosso processo de trabalho. Um PIA qualificado supera as açõ es espontaneístas e
voluntá rias marcantes do atendimento de crianças e adolescentes no Brasil.

O Acompanhamento Individual

O acompanhamento individual é fundamental para o estabelecer o vínculo entre o


técnico e o adolescente. Essa é uma atribuiçã o exclusiva do técnico do Serviço de
Medidas Socioeducativas em Meio Aberto/CREAS e deve facilitar a narrativa e a
reflexã o do jovem sobre sua trajetó ria, projetos, dificuldades, o que o levou ao ato
infracional e as consequências enfrentadas.

Qual deve ser a periodicidade do Acompanhamento Individual?

O acompanhamento social ao adolescente deve ser realizado de forma sistemá tica,


com frequência mínima semanal que possibilite o desenvolvimento do PIA. Cada
adolescente é singular em sua histó ria e em seus desejos. É essa particularidade
ú nica o foco do Acompanhamento Individual.

Esse acompanhamento exige que o técnico exerça sua capacidade de escuta e de


intervençã o no que foi expresso, omitido, questionado, ou silenciado pelo
adolescente. A partir daí, é possível ao jovem ampliar a percepçã o sobre o contexto
em que vive e os fatores que têm incidido sobre a sua vida e suas escolhas.

O acompanhamento deve incluir a família do adolescente que, além de participar


da elaboraçã o do PIA, terá sua realidade avaliada pelo técnico para, se necessá rio,
ser inserida também no acompanhamento familiar do PAEFI (se houver violaçã o
de direito) ou do PAIF (se houver vulnerabilidade socioeconô mica e conflitos
familiares).

Como o acompanhamento individual deve acontecer?


O acompanhamento individual nã o deve ser “individualizante”, cuja aná lise isole o
adolescente de seu contexto social, cultural e político. Mesmo que seja particular,
devemos entender esse adolescente em relaçã o a seu universo pessoal e familiar.

Visitas Domiciliares (VD)

Visitas domiciliares (VD) muitas vezes sã o necessá rias para a verificar e


complementar de informaçõ es sobre as condiçõ es em que vivem o adolescente e
sua família. Essa açã o permite ao técnico a percepçã o mais precisa do contexto
familiar e comunitá rio no qual está inserido o adolescente. O ideal é que a
necessidade de realizaçã o de visita domiciliar seja avaliada inicialmente pelo
técnico do Serviço/CREAS em diá logo com a equipe e, se necessá rio, com o
coordenador ou com operadores das outras políticas setoriais que também
atendem o adolescente.

As visitas domiciliares nã o podem ser feitas sem prévio aviso aos usuá rios, salvo
quando outras tentativas de contato falharem. Essas visitas também nã o podem
ser vistas como um fim em si mesmo. Elas têm sentido pró prio e nã o sã o “metas”
quantitativas a serem batidas pelos técnicos.

Planejando a VD: a visita deve ter objetivos claros e ser planejada com
antecedência, de preferência com o um roteiro com perguntas e pontos a serem
observados. É recomendado que façamos três perguntas ao planejarmos uma
visita:

Por que visitar?

Com quem Visitar?

Quando visitar?

O respeito à privacidade da família e do indivíduo sã o indispensá veis durante a


conduçã o da VD. Apesar de esse diá logo pressupor profissionalismo, deve-se ter
cuidado para nã o deixar a conversa se transformar em uma enquete fria e
protocolar. O exercício da empatia e a disponibilidade para ouvir o outro sem
julgamentos de valor sã o fundamentais para o estabelecimento de uma relaçã o
horizontal e produtiva na visita domiciliar.

“Ao passo que a visita vai se desenrolando, seu conteúdo vai ganhando detalhamento
e profundidade.

Exatamente por isso, a visita, gradualmente, passa a exigir maior habilidade e


atenção do profissional que a realiza. Afinal, tudo na visita fala. A mobília da casa,
assim como as falas e emoções manifestas ou veladas dizem mensagens que devem
ser observadas e consideradas na interpretação e análise que se desenvolverá a
partir da visita. Nesse sentido requer que o visitador oriente seus sentidos para ouvir
não apenas as palavras ditas, como as não-ditas. Ver no movimento dos corpos, nos
gestos realizados ou bloqueados, na tonalização ou silenciamento da voz, na queda
das lágrimas, nas relações físicas de afago e repulsa, o que esses atos-mensagens
contam de medos, ciúmes, afetos, proteções e maus-tratos”. (AMARO, 2003, p.38)
Os resultados obtidos em uma visita domiciliar vã o depender muito da postura do
técnico que a realizar, como afirma Bourdieu (2006), em texto sobre postura
metodoló gica:

“[...] certos pesquisados, sobretudo os mais carentes, parecem aproveitar essa


situação como uma ocasião excepcional que lhes é oferecida para testemunhar, se
fazer ouvir, levar sua experiência privada para a esfera pública; uma ocasião
também de se explicar, no sentido mais completo do termo, isto é, de construir seu
próprio ponto de vista sobre eles mesmos e sobre o mundo, e se tornam
compreensíveis, justificados, e para eles mesmos em primeiro lugar.”

Visitas Institucionais

As visitas institucionais sã o realizadas para o acompanhamento dos


encaminhamentos de acordo com objetivos acordados com o adolescente no PIA.
Essas visitas fazem parte da articulaçã o intersetorial e, no acompanhamento
individual e têm como objetivo específico discutir o atendimento a determinado
adolescente.

As visitas podem ser realizadas em:

 Unidades bá sicas de saú de

 Escolas

 Centros profissionalizantes

 Unidades parceiras com vistas ao acompanhamento do cumprimento da


medida socioeducativa de prestaçã o de serviços à comunidade (PSC).

 Outros serviços e unidades das políticas setoriais e demais instituiçõ es da


rede de atendimento.

A visita institucional é um mecanismo para o estabelecer ou fortalecer açõ es


conjuntas entre a equipe do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio
Aberto/CREAS e as equipes das outras políticas setoriais e com as entidades
parcerias que ofertam vagas para o cumprimento da medida de PSC.

Sempre é necessá rio acompanhar o usuá rio quando este for a outra instituiçã o?

Nã o necessariamente. Você deve avaliar tecnicamente se aquele usuá rio tem


condiçõ es de ir à outra instituiçã o, se ele tem vergonha, dú vidas ou medo. O ideal é
fortalecer sua autonomia e autocuidado, mas isso também é um processo.
Estudos de Casos

O estudo de caso é ferramenta indispensá vel para o acompanhamento individual.


No estudo de caso, o técnico do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio
Aberto do CREAS reú ne todas as informaçõ es sobre a histó ria de vida do
adolescente, levando em conta:

 Situaçã o judicial

 Contexto social em que vive

 A dinâ mica familiar

 Trajetó ria institucional, entre outras informaçõ es

Onde o técnico encontra essas informações?

É possível recorrer a diversas fontes, tais como:

 Guia de execuçã o de medidas em meio aberto

 Relató rios existentes de centros socioeducativos de internaçã o

 Relató rios de outras políticas sociais

 Prontuá rio SUAS ou cadastro específico do CREAS

 Plano Individual de Atendimento (PIA)

 Cadastro Ú nico

 Relató rios encaminhados ao Sistema de Justiça

 Relató rios de visitas domiciliares ou institucionais

 Registros do atendimento individual ao adolescente, entre outras fontes de


informaçõ es

O estudo de caso nã o se restringe à compilaçã o de informaçõ es. Essa ferramenta


busca produzir certa forma de conhecimento sobre o adolescente, estabelecendo
suas relaçõ es sociais e como ele se posiciona diante das instituiçõ es e dos fatos que
afetam sua vida.

Primeiro deve-se ganhar a confiança! É indicado que o estudo de caso nã o seja


realizado imediatamente apó s o início do acompanhamento, pois o
estabelecimento de uma relaçã o de confiança com o adolescente exige tempo. O
adolescente apenas se posicionará com mais desenvoltura quando estiver seguro a
respeito da pessoa com quem conversa.

Nexos de causalidade. É importante que o estudo de caso nã o seja apenas


descritivo, mas analítico também. Cabe ao técnico correlacionar as evidências
coletadas sobre o adolescente e o seu contexto de vida. O ato de redigir o conteú do
desse instrumento será fundamental para a comunicaçã o do estudo e permitirá a
articulaçã o das evidências coletadas com a legislaçã o, normativas e protocolos.

O estudo de caso e a intersetorialidade. O estudo de caso deve ser discutido com


a equipe do PAEFI, PAIF, com equipes de outros serviços do SUAS e também com
as equipes técnicas das outras políticas setoriais, abordando temas como:

 Como o adolescente está respondendo ao cumprimento da medida?

 Que tipo de relaçã o ele estabelece com as equipes e com os serviços?

 Qual é a avaliaçã o que ele faz dos atendimentos e das instituiçõ es, ó rgã os,
serviços, etc?

Não é só o cumprimento da medida que deve ser avaliado. O estudo de caso


tem que possibilitar a avaliaçã o tanto do cumprimento da medida socioeducativa
pelo adolescente como dos serviços e açõ es da rede de atendimento com os quais
ele teve contato ou foi inserido.

Qual o prazo para a conclusão? O estudo de caso geralmente encerra-se apenas


com o desligamento do adolescente do Serviço. Até que isso aconteça, o estudo
continua agregando os apontamentos feitos nas discussõ es técnicas e os novos
fatos e relatos que surgem ao longo do acompanhamento ao adolescente.

O que a coordenaçã o do CREAS pode fazer para fortalecer os estudos de caso?

Uma boa opçã o é institucionalizar os processos de supervisã o, seja ela


intersetorial, com os Nú cleos de Apoio à Saú de da Família (NASF), Centros de
Atençã o Psicossocial (CAPS) ou orientadores pedagó gicos das escolas, seja por
profissionais do pró prio SUAS designados especialmente para isso.

Atividades em grupo

A equipe técnica do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto tem a


atribuiçã o de inserir o adolescente em atividades coletivas oferecidas por outros
serviços do SUAS e pelas outras políticas setoriais (cultura, esporte, lazer, saú de,
inclusã o digital, outras). As atividades coletivas podem representar espaços para
debate e reflexã o de questõ es que interessam aos adolescentes.
Atividades pontuais. É recomendá vel que as atividades sejam pontuais e
organizadas a partir de demanda e interesse comum dos adolescentes em
atendimento socioeducativo. Essas iniciativas nã o devem se transformar na
atividade principal do Serviço. Da mesma forma, o cumprimento da medida
socioeducativa em meio aberto nã o pode se resumir à participaçã o em atividades
coletivas.

Apesar de a inserçã o e participaçã o desse adolescente no Serviço de Convivência e


Fortalecimento de Vínculos (SCFV), da Proteçã o Social Bá sica, nã o serem
consideradas como cumprimento da medida socioeducativa, essa açã o pode
indicar a adesã o ao cumprimento da medida e do interesse do adolescente por
novos caminhos.

Como viabilizar essas atividades? Existe a possibilidade de estabelecimento de


convênios e de acordos de cooperaçã o técnica entre a gestã o municipal de
Assistência Social e Institutos de Ensino. As entidades da rede socioassistencial
também podem ser parceiras na oferta de atividades coletivas para os
adolescentes.

 Questão

As atividades de hip hop, rap, teatro, judô ou outras que ocorrem no CREAS
descaracterizam o serviço de medidas?

Nã o necessariamente. O objetivo da atividade é que deve estar muito claro para a


equipe. Nã o é fazer o judô pelo judô , mas pensar como isso impacta no processo
socioeducativo. Recomenda-se que as atividades culturais, esportivas e de lazer
sejam feitas nos equipamentos dessas políticas, para que o adolescente amplie
suas relaçõ es. Também nã o é indicado que essas atividades sejam executas por
profissionais sem a devida capacitaçã o para isso.

Relatórios de Acompanhamento

Nã o há uma denominaçã o específica para os relató rios utilizados no atendimento


socioeducativo. Os nomes mais comuns que encontramos em guias e manuais
sobre medidas socioeducativas sã o:

 Relató rio Avaliativo

 Relató rio Circunstanciado

 Relató rio de Desligamento

 Relató rio Informativo


O texto do relató rio tem que ser contínuo, de forma a abranger todos os avanços e
retrocessos no processo do cumprimento da medida, inclusive as limitaçõ es do
adolescente e das instituiçõ es da rede de atendimento socioeducativo.

O Relató rio de Acompanhamento deve conter informaçõ es sobre os serviços


ofertados aos adolescentes e, se possível, relatos dos operadores das outras
políticas setoriais sobre o atendimento ao adolescente. As falas e críticas do
adolescente devem ser registradas de forma a lhe dar voz ante ao Sistema de
Justiça, favorecendo seu posicionamento em relaçã o ao cumprimento da medida
socioeducativa.

Forma dos relatórios. Os relató rios precisam ser escritos em papel timbrado
(oficial), pois representam a formalizaçã o da interlocuçã o entre o CREAS e o
Sistema de Justiça no que se refere ao acompanhamento do cumprimento da
medida socioeducativa pelo adolescente.

A linguagem utilizada. Os relató rios devem buscar clareza, objetividade, coesã o e


concisã o. Deve-se evitar a linguagem coloquial, o excesso de jargã o profissional e o
uso de gírias, a nã o ser que devidamente citadas como fala do adolescente.

Modelos de formulários e relatórios. O gestor municipal de Assistência Social


tem autonomia para definir com o Sistema de Justiça os modelos dos formulá rios e
a periodicidade do envio dos relató rios, sempre observando os prazos legais do
ECA.

Quais os prazos previstos para a entrega dos relatórios?

 Nã o excedente a 6 meses para a PSC.

 No mínimo, 6 meses para a liberdade assistida.

Informações necessárias. Os relató rios elaborados pelos técnicos do Serviço de


Medidas Socioeducativas em Meio Aberto têm que informar ao Judiciá rio, no
mínimo:

 O início do cumprimento da medida.

 O acompanhamento e a periodicidade que será acordada entre o gestor


municipal de Assistência Social e o Sistema de Justiça.

 Intercorrências e urgências (mudança de município, internaçã o para


tratamento de saú de, ameaça, outros).

 Avaliaçã o final do cumprimento da medida socioeducativa.


Para que serve, entã o, um relató rio institucional?

Para garantir e defender direitos. Os relató rios sã o os discursos institucionais que


podem definir a vida dos usuá rios. Eles sã o a forma oficial de comunicaçã o entre
você e qualquer instituiçã o (judiciá rio, saú de, educaçã o etc.). Portanto, eles devem
ser muito bem fundamentados, com redaçã o cuidadosa e objetividade.

Avaliação do Atendimento Socioeducativo em Meio Aberto nos CREAS

Avaliar os resultados do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto é


tarefa complexa, pois os objetivos das medidas a serem mensurados incluem:

 Responsabilizaçã o

 Integraçã o social

 Desaprovaçã o da conduta infracional

Perceba que sã o dimensõ es subjetivas e que, por isso, exigem o desenvolvimento


de metodologias sofisticadas e integradas para a sua mensuraçã o. Assim, os
resultados esperados das medidas dependem de uma série de fatores, e nã o
apenas do acompanhamento realizado pelo Serviço. É importante ressaltar essa
questã o porque geralmente há uma cobrança muito grande do Sistema de Justiça
em relaçã o ao gestor municipal de Assistência Social, que é o profissional que
realiza a avaliaçã o dos resultados da oferta do Serviço de Medidas Socioeducativa
em Meio Aberto nos CREAS.

O papel da Vigilância Socioassistencial na avaliação do atendimento


socioeducativo. A Vigilâ ncia Socioassistencial desempenha papel essencial nas
avaliaçõ es, pois possui a funçã o de organizar e sistematizar as informaçõ es
registradas pelos técnicos durante o acompanhamento ao adolescente. É a
Vigilâ ncia Socioassistencial no município que realiza o lançamento das
informaçõ es requisitadas pelos sistemas do SUAS. Mas atençã o! Nã o se trata de
apenas alimentar sistemas. As informaçõ es devem ser analisadas e utilizadas para
discussã o da gestã o municipal com coordenadores de CREAS, equipe técnica e
demais profissionais do SUAS.

A Vigilâ ncia Socioassistencial nã o deve se limitar aos dados exigidos pelos sistemas
do SUAS. Informaçõ es locais sã o cruciais para a realizaçã o da avaliaçã o da oferta
do Serviço de Medidas Socioeducativas. Cabe ao gestor municipal de Assistência
Social promover a interlocuçã o com:

 Conselho Tutelar

 Polícias (militar e civil)

 Sistema de Justiça
 Unidades de internaçã o (se houver no Município)

Dessa forma, espera-se uma troca de informaçõ es e dados relativos a apreensõ es,
atos infracionais, violaçã o de direitos, determinaçõ es judiciais, etc. As informaçõ es
locais, nã o temos dú vidas, incrementam as aná lises e ampliam o escopo da
avaliaçã o.

O papel dos conselhos: Os conselhos de direitos e setoriais permitem a


participaçã o da sociedade civil na fiscalizaçã o e avaliaçã o da qualidade do
atendimento socioeducativo em meio aberto nos CREAS. Podemos citar como
exemplos de conselhos:

 Conselhos tutelares

 Conselhos municipais de direitos da criança e do adolescente (CMDCAs)

 Conselhos municipais de Assistência Social

Vale lembrar também que é papel da Comissã o Intersetorial Municipal do SINASE


avaliar o atendimento socioeducativo, incluindo as ofertas das outras políticas
setoriais.

Adolescentes e suas famílias também devem avaliar.

É Importante que os adolescentes e suas famílias sejam motivados a participar de


instâ ncias de controle e avaliaçã o de políticas pú blicas, como é o caso das
conferências, audiências pú blicas e plená rias dos conselhos setoriais e de direitos.
Promover o acesso a direitos também pressupõ e despertar para o interesse das
questõ es coletivas, das questõ es comunitá rias, de interesses em comum para a
organizaçã o coletiva.

Quando é feita a avaliação? De acordo com a Lei do SINASE, os planos de


atendimento socioeducativo devem ser avaliados a cada três anos com o objetivo
de realizar ajustes e recomendaçõ es aos gestores e operadores do sistema
socioeducativo.

Qual a melhor forma de avaliar o serviço de medidas socioeducativas?

Investindo em aná lises externas, seja da vigilâ ncia socioassistencial ou de outros


ó rgã os que nã o a pró pria equipe (como um consultor ou o CMDCA). Isso permite
visualizar aspectos naturalizados ou nã o percebidos pelos envolvidos diretamente
na execuçã o.
Plano Municipal de Atendimento (PMA)

O Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo é um instrumento de


planejamento, gestã o e interlocuçã o setorial nos municípios. Sabemos que as
diversas políticas setoriais possuem seus planos de açã o específicos. No entanto, é
imprescindível que estas estejam contempladas nos planos municipais de
atendimento socioeducativo. A apresentaçã o das ofertas de açõ es e serviços e o
estabelecimento de metas no Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo
formalizam o compromisso de cada política setorial local com o atendimento
socioeducativo em meio aberto.

Importante lembrar que a Comissã o Intersetorial Local do SINASE é a instâ ncia


indicada para a elaboraçã o, monitoramento e ajustes dos planos municipais, além
de ser o espaço adequado ao debate, planejamento e gestã o do atendimento
socioeducativo em meio aberto no Município.

Por fim, cabe evidenciar a relevâ ncia da atuaçã o dos Conselhos Municipais de
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCAs) no controle social do atendimento
socioeducativo em meio aberto nos municípios, sem isentar os demais conselhos
setoriais locais da responsabilidade de fazer o controle social de suas respectivas
políticas.

Quem elabora o PMA?

De preferência uma comissã o intersetorial do SINASE, na ausência desta o CMDCA


pode designar uma subcomissã o ou a prefeitura de maneira excepcional. Nã o se
esqueçam de que o PMA deve prever as açõ es de atendimento a famílias de
adolescentes internados e aos egressos.

Sistemas de Informação do SUAS

Informaçõ es sistematizadas sã o cada vez mais vitais para a gestã o de políticas


pú blicas, especialmente nas políticas sociais. Os dados produzidos e registrados
sobre o acompanhamento de adolescentes em cumprimento de medidas
socioeducativas nos CREAS sã o de grande relevâ ncia para o diagnó stico do
atendimento desses jovens.

É por meio dessas informaçõ es que podemos aprimorar os serviços, estabelecer


políticas setoriais e criar medidas de prevençã o à conduta infracional. Além disso,
as informaçõ es produzidas e sistematizadas pelos CREAS ajudam na elaboraçã o e
monitoramento do Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo e nos
trabalhos da Comissã o Intersetorial de Acompanhamento do SINASE no Município.
No vídeo a seguir, o Coordenador-Geral de Planejamento e Vigilâ ncia
Socioassistencial do Ministério da Cidadania, Marcos Maia, enumera os principais
sistemas que envolvem as medidas socioeducativas de meio aberto.
Como as informações devem ser registradas?

A NOB-SUAS dedica um capítulo inteiro (Cap. VII) à importâ ncia da Vigilâ ncia
Socioassistencial para a estruturaçã o e aprimoramento dos serviços e da gestã o do
SUAS, estabelecendo parâ metros para o registro, sistematizaçã o, organizaçã o,
compartilhamento e transparência das informaçõ es. A normativa também dispõ e
sobre as competências da Uniã o, Estados, Distrito Federal e Municípios em relaçã o
à disponibilizaçã o de tecnologias, sistemas e apoio técnico para a organizaçã o e
implementaçã o da Vigilâ ncia Socioassistencial em todas nas instâ ncias da
federaçã o.

Se eu nã o preencher os sistemas, o que isso acarreta?

A queda da qualidade do atendimento a médio e longo prazo. As informaçõ es sã o


vitais para estabelecermos as melhorias no serviço, as avaliaçõ es e a superaçã o dos
desafios encontrados. O registro deve ser uma cultura, caso contrá rio o
adolescente ficará invisível para a Política Pú blica.

Registro Mensal de Atendimento – RMA

O Registro Mensal de Atendimento (RMA) é um sistema de registro sistemá tico dos


atendimentos e acompanhamentos realizados nos CRAS, CREAS e Centros de
Referência Especializado para Pessoas em Situaçã o de Rua (Centros POP).
Instituído pela Resoluçã o nº 04 /2011 da Comissã o Intergestores Tripartite (CIT),
que foi posteriormente alterada pela Resoluçã o CIT nº 20/2013, o RMA é um
instrumento de informaçã o que deve refletir a demanda local do Sistema de Justiça
em relaçã o ao encaminhamento de adolescentes para o cumprimento de medidas
socioeducativas.

Os registros dos atendimentos devem fazer parte da rotina e dos processos de


trabalho no CREAS. As informaçõ es colhidas sã o lançadas mensalmente no RMA
pela Vigilâ ncia Socioassistencial ou pelo Gestor Municipal de Assistência Social, a
quem compete o cuidado com a precisã o das informaçõ es. Quanto mais exatos
forem os dados, maior será a credibilidade dos diagnó sticos e das avaliaçõ es
realizadas a partir do Sistema Nacional de Informaçã o do SUAS (Rede SUAS). O
sistema permite o levantamento sobre o nú mero de adolescentes atendidos nos
CREAS por tipo de medida socioeducativa em meio aberto e por gênero.

O vídeo a seguir aborda mais detalhes do RMA. Procure identificar as respostas


para as questõ es abaixo:

 O que é um "perfil rá pido"?

 Qual o formulá rio que devemos utilizar ao tratarmos de medidas


socioeducativas?

 Em qual bloco é informado o quantitativo de adolescentes em PSC e LA?


 Quem concede a senha de acesso ao RMA?

 Quais perfis permitem acesso ao sistema?

 Quais as possíveis consequências do nã o preenchimento do RMA?

Atenção! O quantitativo de adolescentes em cumprimento de medidas de LA ou de


PSC atendidos nos CREAS foi um dos critérios para a elegibilidade de municípios
para a expansã o do cofinanciamento do Serviço de Medidas Socioeducativas em
Meio Aberto (Resoluçã o nº18/2014 do Conselho Nacional de Assistência Social).
Ou seja, o registro, ou sua falta, podem impactar diretamente na possibilidade de o
município ser elegível para novos cofinanciamentos.

PRONTUÁRIO SUAS E PRONTUÁRIO ELETRÔNICO DO SUAS

O Prontuá rio SUAS é um instrumento físico cujo objetivo é contribuir para a


qualificaçã o do trabalho social com famílias realizado nos CRAS e CREAS. Busca-se,
assim, oferecer à s equipes um instrumento de padronizaçã o de registros de forma
a uniformizar as informaçõ es relativas ao trabalho social com famílias.

Já o Prontuá rio Eletrô nico do SUAS é um sistema informacional que visa melhorar
a qualidade dos serviços ofertados por meio da padronizaçã o e sistematizaçã o dos
dados sobre os serviços ofertados pelo SUAS. O sistema permite o registro
histó rico do atendimento a famílias e a indivíduos. O Prontuá rio Eletrô nico registra
também o tipo de medida socioeducativa que o adolescente está cumprindo, datas
de início e fim do cumprimento da medida e a unidade CREAS em que está sendo
acompanhado.

Para entender as características do Prontuá rio SUAS e o sistema do Prontuá rio


Eletrô nico, assista ao vídeo a seguir. Fique atento aos seguintes pontos:

 É possível baixar uma versã o para impressã o do Prontuá rio SUAS?

 O registro de medidas socioeducativas no Prontuá rio SUAS é feito de forma


coletiva ou individual para cada adolescente?

 Quais perfis acessam o Prontuá rio Eletrô nico do SUAS?

 É possível realizar uma busca por meio do Nú mero de Identificaçã o Social


(NIS) do adolescente?

 No registro de um adolescente em medida socioeducativa, qual a ú nica


opçã o permitida na aba "Forma de acesso"?

 O sistema do Prontuá rio Eletrô nico do SUAS permite o encaminhamento do


adolescente ou de sua família para outros serviços?
Atençã o! O Prontuá rio SUAS nã o substitui os outros registros inerentes ao Serviço
de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto como o Plano Individual de
Atendimento (PIA) e os relató rios que sã o destinados ao Judiciá rio.

As informaçõ es do Prontuá rio Eletrô nico do Suas terã o o acesso restrito,


independentemente de classificaçã o de sigilo. Priorize o uso do prontuá rio
eletrô nico desde já , pois ele será fundamental no futuro e permitirá o
acompanhamento nacional de todos os usuá rios e suas famílias que estejam em
acompanhamento pelo SUAS.

CENSO SUAS

O Censo SUAS é um dos principais e o mais abrangente instrumento de registro e


produçã o de informaçõ es para o monitoramento da oferta dos serviços pelos
equipamentos pú blicos do SUAS e pela rede socioassistencial privada. As
informaçõ es registradas permitem aná lise sobre a relaçã o do Serviço de Medidas
Socioeducativas de Meio Aberto com os outros serviços do SUAS e com as demais
políticas setoriais. As informaçõ es do Censo SUAS também sã o utilizadas para
publicaçõ es perió dicas do SINASE.

O vídeo a seguir explora as opçõ es de preenchimento do Censo SUAS em relaçã o à s


medidas socioeducativas. Fique atento à s questõ es abaixo:

 Quais as possíveis consequências do nã o preenchimento do Censo SUAS?

 Qual o perfil utilizado para acessar o sistema?

 Em qual parte do Censo SUAS se encontram as informaçõ es sobre Medidas


Socioeducativas?

 Quais informaçõ es sobre medidas socioeducativas sã o requisitadas para


preenchimento no bloco que trata desse assunto no Censo SUAS?

Como melhor preencher o Censo SUAS?

Registrando os atendimentos e acompanhamentos em tempo real. Nã o deixe para


o final do ano sob prejuízo de perdermos a qualidade das informaçõ es.

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