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REESCRITURA E PATRONAGEM
LEFEVERE, A. Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária. Trad. de Cláudia Matos Seligmann.
Bauru: EDUSC, 2007 [1992].
Capítulo 1 – Pré-escrever
André Lefevere (2007 [1992]), pesquisador belga vinculado aos estudos descritivos de
tradução, se ateve mais às forças que atuam nos sistemas e às estruturas de poder que os
caracterizam. Procurou compreender e explicitar as relações de poder e influência entre os
integrantes do polissistema literário, atendo-se particularmente à tradução literária e a
outras formas de reescrita.
“Este livro é uma tentativa de enfatizar tanto a importância da reescritura, como força motriz
por trás da evolução literária, quanto a necessidade de mais estudos aprofundados sobre o
fenômeno”. P. 14
“O leitor não-profissional mais frequentemente deixa de ler a literatura tal como ela foi
escrita pelos seus autores, mas a lê reescrita por seus reescritores”. P. 18
“Porém, o fato torna-se bem menos estranho se refletirmos por um momento que as
reescrituras são produzidas a serviço, ou sob as restrições, de certas correntes ideológicas
e/ou poetológicas, e que tais correntes não consideram vantajoso chamar a atenção para si
mesmas como se fossem apenas ‘uma corrente entre outras’”. P. 19
“Tradutores, de uma vez por todas, têm de ser traidores, mas eles não sabem na maior
parte do tempo e quase sempre não têm nenhuma outra escolha (...)” P. 31-32
“A Literatura, para retornar à descrição dos teóricos Formalistas Russos, é um sistema que
constitui o ‘complexo sistema de sistemas’ conhecido como cultura. Dito de outra forma,
uma cultura, uma sociedade é o ambiente do sistema literário. Este e os outros sistemas,
pertencendo ao sistema social, são abertos uns aos outros: eles se influenciam
mutuamente”. P. 33
“O primeiro fator tenta controlar o sistema literário de dentro por meio de parâmetros
estabelecidos pelo segundo fator. Em termos concretos, o primeiro fator é representado
pelo ‘profissional’, que é ‘capacitado para oferecer um serviço em vez de produzir um bem
de consumo, é um serviço que somente ele, como profissional, pode fornecer (WEBER,
1987)’”. P. 33
“O segundo fator de controle, que opera na maior parte das vezes fora do sistema literário,
será chamado aqui de ‘mecenato’, devendo ser entendido como algo próximo dos poderes
(pessoas, instituições) que podem fomentar ou impedir a leitura, escritura e reescritura de
literatura”. P. 34
“O mecenato pode ser exercido por pessoas, como foram os Médici, Maecenas, ou Luís
XIV, mas também por grupos de pessoas, uma organização religiosa, um partido político,
uma classe social, uma corte real, editores e, por último, não menos importante, pela mídia,
tanto jornais e revistas quanto grandes corporações de televisão”. P. 35
“Os mecenas tentam regular a relação entre o sistema literário e outros sistemas que,
juntos, constituem uma sociedade, uma cultura. Como regra, operam por meio de
instituições montadas para regular, senão a escritura de literatura, pelo menos sua
distribuição: academias, departamentos de censura, jornais de crítica e, de longe o mais
importante, o estabelecimento de ensino”. P. 35
“O mecenato é constituído por três elementos que podem ser vistos interagindo de formas
diferentes. Há um componente ideológico que age restringindo a escolha e o
desenvolvimento tanto da forma quanto do conteúdo. (...) Há também um componente
econômico: o mecenas garante que escritores e reescritores sejam capazes de ganhar a
vida, dando-lhes uma pensão ou indicando-os para algum cargo. (...) Finalmente. Há
também um elemento de status envolvido”. P. 35-36