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FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS


Curso de Bacharelado em Letras: Ênfase em Tradução – Inglês
Disciplina: Teoria da Tradução II – 2.º Semestre de 2010
Profa. Pós-Dra. Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
Data da aula: 06/10/2010

REESCRITURA E PATRONAGEM

LEFEVERE, A. Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária. Trad. de Cláudia Matos Seligmann.
Bauru: EDUSC, 2007 [1992].

Capítulo 1 – Pré-escrever

 André Lefevere (2007 [1992]), pesquisador belga vinculado aos estudos descritivos de
tradução, se ateve mais às forças que atuam nos sistemas e às estruturas de poder que os
caracterizam. Procurou compreender e explicitar as relações de poder e influência entre os
integrantes do polissistema literário, atendo-se particularmente à tradução literária e a
outras formas de reescrita.

 “Este livro é uma tentativa de enfatizar tanto a importância da reescritura, como força motriz
por trás da evolução literária, quanto a necessidade de mais estudos aprofundados sobre o
fenômeno”. P. 14

 “O leitor não-profissional mais frequentemente deixa de ler a literatura tal como ela foi
escrita pelos seus autores, mas a lê reescrita por seus reescritores”. P. 18

 “No passado, assim como no presente, reescritores criaram imagens de um escritor, de


uma obra, de um período, de um gênero e, ás vezes, de toda a literatura. Essas imagens
existiam ao lado das originais com a quais elas competiam, mas as imagens sempre
tenderam a alcançar mais pessoas do que o original correspondente e, assim, certamente o
fazem hoje”. P. 19

 “Porém, o fato torna-se bem menos estranho se refletirmos por um momento que as
reescrituras são produzidas a serviço, ou sob as restrições, de certas correntes ideológicas
e/ou poetológicas, e que tais correntes não consideram vantajoso chamar a atenção para si
mesmas como se fossem apenas ‘uma corrente entre outras’”. P. 19

 “Produzindo traduções, histórias da literatura ou suas próprias compilações mais


compactas, obras de referência, antologias, críticas ou edições, reescritores adaptam,
manipulam até um certo ponto os originais com os quais eles trabalham, normalmente para
adequá-los à corrente, ou a uma das correntes ideológica ou poetológica dominante de sua
época. Novamente, isso pode ser mais óbvio em sociedades totalitárias (...)”. P. 23

Capítulo 2 – O sistema: mecenato

 A distinção entre dominadores e dominados ilustra a construção do sistema cultural


ancorado nas práticas da patronagem. O termo utilizado por Lefevere (1995, p. 468) pode
ser entendido como o poder exercido por pessoas e instituições (partidos políticos, editores,
jornais, revistas, etc.), que determinam o que será permitido ou não ser lido, escrito ou
reescrito em termos de literatura. Os chamados patronos regulam a relação entre o sistema
literário e os outros sistemas que, juntos, formam a sociedade e a cultura. Logo, o sistema
cultural que está inserido dentro de múltiplos sistemas, é formado por uma estrutura
hierárquica que permite que o capital cultural concentre-se nas mãos dos agentes do poder.

 Lefevere (2007 [1992]) classifica os mecanismos de controle em dois tipos que se


relacionam: um interno e outro externo ao polissistema literário. Internamente, os
profissionais da área literária – como críticos, revisores, professores e tradutores – são
considerados responsáveis por selecionar os produtos literários segundo o repertório
canônico e a ideologia dominante no sistema. O mecanismo de controle externo é o que
Lefevere denomina mecenato, que, segundo o autor são as pessoas e instituições que
impõem coerções sobre a literatura de uma cultura.

 “Tradutores, de uma vez por todas, têm de ser traidores, mas eles não sabem na maior
parte do tempo e quase sempre não têm nenhuma outra escolha (...)” P. 31-32

 “A Literatura, para retornar à descrição dos teóricos Formalistas Russos, é um sistema que
constitui o ‘complexo sistema de sistemas’ conhecido como cultura. Dito de outra forma,
uma cultura, uma sociedade é o ambiente do sistema literário. Este e os outros sistemas,
pertencendo ao sistema social, são abertos uns aos outros: eles se influenciam
mutuamente”. P. 33

 “O primeiro fator tenta controlar o sistema literário de dentro por meio de parâmetros
estabelecidos pelo segundo fator. Em termos concretos, o primeiro fator é representado
pelo ‘profissional’, que é ‘capacitado para oferecer um serviço em vez de produzir um bem
de consumo, é um serviço que somente ele, como profissional, pode fornecer (WEBER,
1987)’”. P. 33

 “O segundo fator de controle, que opera na maior parte das vezes fora do sistema literário,
será chamado aqui de ‘mecenato’, devendo ser entendido como algo próximo dos poderes
(pessoas, instituições) que podem fomentar ou impedir a leitura, escritura e reescritura de
literatura”. P. 34

 “O mecenato pode ser exercido por pessoas, como foram os Médici, Maecenas, ou Luís
XIV, mas também por grupos de pessoas, uma organização religiosa, um partido político,
uma classe social, uma corte real, editores e, por último, não menos importante, pela mídia,
tanto jornais e revistas quanto grandes corporações de televisão”. P. 35

 “Os mecenas tentam regular a relação entre o sistema literário e outros sistemas que,
juntos, constituem uma sociedade, uma cultura. Como regra, operam por meio de
instituições montadas para regular, senão a escritura de literatura, pelo menos sua
distribuição: academias, departamentos de censura, jornais de crítica e, de longe o mais
importante, o estabelecimento de ensino”. P. 35

 “O mecenato é constituído por três elementos que podem ser vistos interagindo de formas
diferentes. Há um componente ideológico que age restringindo a escolha e o
desenvolvimento tanto da forma quanto do conteúdo. (...) Há também um componente
econômico: o mecenas garante que escritores e reescritores sejam capazes de ganhar a
vida, dando-lhes uma pensão ou indicando-os para algum cargo. (...) Finalmente. Há
também um elemento de status envolvido”. P. 35-36

 “O mecenato pode ser diferenciado ou indiferenciado, ou melhor, os sistemas literários por


um tipo de mecenato diferenciado ou indiferenciado por natureza. O mecenato é
indiferenciado quando os seus três componentes, o ideológico, o econômico e o
componente de status, são todos fornecidos pelo mesmo mecenas, como era o caso da
maioria dos sistemas literários no passado, no qual um governo absolutista, por exemplo,
ligava um escritor à sua corte. (...) O mecenato é, por outro lado diferenciado quando o
sucesso econômico é relativamente independente de fatores ideológicos e não traz
necessariamente status, ao menos não aos olhos da elite literária que preserva seu próprio
estilo. A maioria dos autores contemporâneos de best-sellers ilustram bem esse ponto”. P.
37

 “A aceitação do mecenato implica, portanto, que escritores ou reescritores trabalhem dentro


dos parâmetros estabelecidos por seus mecenas e que eles estejam dispostos a autenticar
e sejam capazes de legitimar tanto o status quanto o poder de seus mecenas.” P. 39

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