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Uma Leltura Obrigatórla
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www.etnolinguistica.org
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Gurudev Singh Khalsa, médico naturalista Oferecimento
ANTIOCH COLLEGE, YELLOK SPRINGS - Ohio, USA
r- -
Henyo Trindade Barretto Filho, mestrando em Antropologia Social
MUSEU NACIONAL, UFRJ
.-----
PARTIDO VERDE, Ceará
'
A memória de:
Máe Preta, Júlia A/ves
Francisca Araújo Nascimento (Chiquinha)
Associa9áo Comunitária das Mulheres do Coité- Caucaia-Ce.
Sumário
Há 400 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Sem classes sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . 17
"Coíonizar aterra ou perd6-la" (D. Joáo 111) • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 21
O projeto colonizador. • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 27
Candidatos a latifondiários • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • 31
O gado é o marco de posse da terra • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •. • • • • • • • • 35
Sem autoritarismo náo haveria coloniza~o • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 39
.. A na~o Paiakú reage • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 43
Oobjetivo principal do colonizador: destruir o modelo social indígena • • • • • • 47
Os bandeirantes paulistas sáo peritos em massacre de fndios • • • • • • • • • • • • 51
Questáo de vida ou de morte • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 55
Oreinado autOnomo dos janduin era o reconhecimento da
ilegalidade portuguesa • • • • • • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • . . • • • • 59
Um massacre ainda vivo na memória • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 63
Os índios se confederam • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 67
A grande guerra de 171"3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 71
Com reza e pólvora nasce Fortaleza • • • • • • • • • • • • • • • . • . • • • • . • • • • . 75
A confederacáo indígena recupera a província • • • • • . • • • • . • . • • . • . • • • • 79
... As margens do rio Choró . • • • • • • • • • • • • • . • • . • • . ••.••• ·•.•• ·• • 83
Recompensa da classe dominante • • • • • • • • • • • • • • • . . • • • • . • . • . • . • 87
O modelo opressor • • • • • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • • • • . • . • • • 91
A tala desesperada do colonizador • • • • • • • • • • . • • • • . • • • . • • • • • • • • . 95
Vence o modelo capitalista após urna guerra que durou 30 anos • • • • • • • . • . 99
Urna forma de matar os fndios é tirar-lhes aterra • • • • • • • • • . • • • • . • • • 103
A história é outra • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . • • • . . . • . 107
Os fndios aldeados sofrem os efeitos da "derrota" imposta A
oonfedera~o .,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .................. . 111
Os fazendeiros tinham suas próprias organizacóes ••• : •.•••••••••••. 115
1nd.1os " se1vagens" . . . . .- ~. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
A grande mentira política. Por "decreto", os índios do Ceará sáo extintos .•• 123
Os índios desmentem sempre •••••••••••...••.••••••••••••• "L27
Indígenas sobrevivem com dificuldade .•••...••••••...••••••••• 131
7
OpreconeeitQ destrói a cultura. A luta contra o preconceito. • • • • . • • . • • • 137
Apr~senta~io
Todo preconceito tem urna lógica. Ena lógica do preconceito reside a ideologia
das raca,s . • • • • • . . • • • . . • . • . • . . • . . • ~ . • • • • • • • • • . .. • . • . . • • 141
Opreconceito contra os fndios nao tem limite . • • • • • • • • • • • • • • • • • • . 145
ANEXOS
A história é a ciéncia que nos f~ reviver no presente o nosso
Da questáo Tapeba e Tremembé-Alguns registros passado, projet~ndo-nos mais bem orient~dos para o fl!lturo. A histéfia
Saber e interesse de Classe • • • • • • • • . • • . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 151 dos Povos Indígenas que povoaram o nosso solo pátrio contém as mais
A fOrma da Classe dominante • • • . • • • • • • • • • • • . • . • . . • . • • • • • • • • 155 preciosas li9óes. O Índio náo é um "selvagem"; ele náo é um ser inferior;
Apelar para o preconceito • ~ . • • . • • • • . • • • • • • . • . • . • • • • • • • . • • • 159 é, antes, uma criatura humana de riquezas espiritµais e cultt;1rais a nós
Náo aos fndios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 desconhecidas, porque, no decurso dos , séculos, náo soubemos olhá-lo a
Mais que dfvida histórir.a • • . • • • • . • . . • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • 189 náo ser com olhos de adversário. O Indio náo é aquele que deve morrer;
Os Índios Tapeba • • • • • • • • • • • • • • . . • • • • • • . • • • • . • • • • • • • • • • 191 é aquele que deve viver. :Há toda uma dívida a ser resgat~da por nós cris-
Os fndios Tremembé . • • • • • • • . • • • • • • . • • • • • . • • • . • • • • . • • • • • 197 tQos no século XX. :
Heróis Indígenas do Ceará .•••••..•.••••.••••••••••..• _• • • • 203 A epopéia, descrit~ neste livro da aut9ria do Sr. José Cordeiro de
Mapas e Fotografías (documenta~o) • • . • . • • . • . • • . • . • . . • . • • • • . • 211 Oliveira, leva-nos a descobrir as nossas próprias orig~ns, além de abrir-
nos os olhos para a compreensáo de sit1;Ja9óes muitas vezes inexplicá-
veis. lnfelizment~ a ganáncia da posse da terra t~m produzido entf!J nós
muitas mortes. A nossa histpria est~ por demais manchada com o san-
gue dos Índios. Nunca deveria t~r sido assim! O pior, porém, é que esta
ment~lidade perdura at~ os nossos días. Náo se respeita a pessoa do fn-
dio, náo se respeita a sua cultura, náo se respeit~ o seu habiféflf, náo se
respeita a sua identipade. .·Como estamos longe do que Jesus diz no
Evangelho no Sermáo da Mont~nha: "O que quereis que os outros vos
fa9am, fazei-o vós também a. eles" (Mt 7, 12). :Se fóssemos traté;ldos por
outrps mais fertes que nós como os traté{lmos, qua/ ·seria a nossa rea9áo?
Fica um questionamento: por que est~ morticfnio, est(J genocidio.
dos nosso indfgenas? Terá influído té{lmbém o seu sistema de vida, con-
dena9áo do nosso, que só produz desigualdade, violencia, mort.e ?!
"Os índios no Siará - Massacre e Resist~ncia" é um livro que faz
pensar. .. e será que nos converteremos?
..
9
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11
Há 400 anos ...
~
No antigo território cearense, viviam cerca de(vinte e dois Povos
lndfgenas1 (Séc. XVI), cada um com idioma próprio. ' - - - - -
az1am}?!rte des~po~ -
Tarariú (Kanindé, Paiakú, Genipapo, Jenipabugú, Arariú, .Anacé,
Karatiú...).
Karirf (Kaririagú, Kariú ..•).
~~M.
Guanacé (Guanacésguakú e Guanacé-mirim).
®-_
Jaguaruana, Jagoarigoara, Assanasseses-agú, Kataguá, Aimoré,
Aperikú, Aperuf, Aeriú, Kixerariú, lrapuá, Acimi, Vidaé, Xibata, Akarisú,
Tokaiú, Akoki, Tukurijú, Okingá, Karku-a9ú, Guaiú, Jurupary-a9ú. K_ama-
mú, Pamamirim, Xixiró, Xokó, Kipapá, Kikipaú, Humor, Kabinda, Genipa-
po-a9ú, Jurema, Jururu, lrapuá de Granja, Kandadú, Kereréu, Kandandú,
Akigiró, Kipipau, Akanhamakú, Anaperú, Kixariú, Guarium, Kixará, Pana-
ticnarema, Javó, Apujaré.
Koansú, lnhamún (lnámún), KixelO, Akriú, Juká, Perga, Juguarua-
na, Jaguambara, Palié, Panatí, Pianí, Kanén, Kalabac;a, Baturité, Kamo-
cim, lkó, lkozinho, Kariré, Akongua9ú, Pitaguary..•
Todos esses povos eram denominados como nome de Tapuya.
Para os indios Tupy, Tapuya*era qualquer Índio que náo fosse Tupi - o
outro, o diferente, o que náo se expressa na lfngua geraJ ou qualquer dos
seus dialetos, mas tala na língua travada Significa até mesmo o inimi-
go. Depois o colonizador empregou o termo para se referir a gente infe-
rior, espécie de bárbaro americano. De qualquer modo, T &puya é urna
denomina9áo política, em certo sentido entendida e aceita como resis-
' téncia.
Também , havia os Tabajara e os Potyguara do grupo Tupi.
Já os Indios Tapeba sáo o resultado do encontro, da convivencia,
num mesmo aldeamento (o de N. Sra dos Prazeres de Caucaia), de tres
l\
Povos distintos: Potyguara, Tremembé, Karirf.2
(1)
(*)
STUDART FILHO, 1, 96.
1
vos sobre urna grafia que registra diversas formas dialetais, em situa~Oes
13
onde o compromisso com urna visáo particular do fndio tem pesado subs-
tancialmente sobre o sentidQ das traduc;óes para o portugués. Para tornar
claro, tem-se como exemplo a interpretac;áo de Batista Gaetano que, da gra-
fia primitiva, compreendeu o sentido "turba dos apanhados", de Stradelle,
"fruto da origem da taba",, e de Burton, "os que fogem das aldeias" (Nas-
centes, 1955, 291; Cascudo, 1972:838). Estas interpretac;óes acabam por
derivar em equivalencias que no portugu'3s se traduzem por selvagem, bár-
baro, escravo ou prisioneiro de guerra; com fortes conotac;óes injuriosas que
contribuem para o sentido estigmatizante do emprego do termo em algumas
regióes" (ALMEIDA: 1985,8).
(2) ALMEIDA, 1986.
OBSERVA<;ÓES
a) De acordo coma C9nvenc;áo para a Grafia de Normas Tribais, assinada
ª
na 1 Reuniáo B;asileira de Antropologia (Río de Janeiro, 14.11.53), .náo
haverá plural para nomes de Nac;óes Indígenas, dar escrever-se os Ta-
bajara e náo, os Tabajaras, por exemplo. Procurou-se considerar, igual-
mente, as normas dessa Convenc;áo quanto a acentuac;áo gráfica.
b) A bibliografia consultada e disponfvel náo consegue agrupar todas as tri-
bos nos seus respectivos povos ou nac;óes. Apenas os Tarairiú; Kariñ,
Tremembé e Guanacé estáo agrupados, mas possivelmente náo abrange
todas as tribos.
c) Valemo-nos do que diz Studart Filho (1965,97): "A duplicidade e até a tri-
plicidade de nome era, alit~s, bastante comum a grande número de agre-
gados nativos de todo o território brasileiro".
14
.. .Sem· classes ·sociais
17
"'
Colonizar a terra ou perde~a''
11
(0. Joio HU
21
I
- (•••) Ne5te contexto, o Estado e a lgreja formavam um sistema dual solidá- ** Sobre o empreendimento, assim se expressa Taunay, 1975: "Pensamos
rio, em que a espada e a cruz caminhavam juntos, sob o comando do primei- com ~asOio de Magalháes que a conquista do Nordeste náo se deveu An- a
a
ro, mas tendo o segundo frente, ambos contemplados no empreendime[lto sia do ouro ou da preia dos Índios e sim, acfalargamento da zona de cria-
da colonizac;áo novos e promissores domínios, e atuando de maneira coor- c;áo". ·
denada e complemeQtar. *** PERO COELHO DE SOUZA - Ac;oriano, nobre, antigo capitáo de urna
- É importante observar, de partida, que durante mais de 2/3 da ldade Média galé do Rei. Recebeu de Diogo Botelho que sucedeu, em 1601, ao Govema-
(definida como século V a XV) o europeu sustentou suas guerras usando dor Geral D. Francisco de Sousa, a patente de CapitAo-mor pelas conquis-
como equipamento básico de arremesso o arco e flexa, coexistindo com tas que fize~a. Chega ao Ceará em 1603, com rumo ao Maranháo, com mis-
a lan~a. (grifo nosso) e como arma de luta corporal a espada, o martelo e sáo na lbiat)aba. Após intensos combates comos Índios Tabajara e comos
a faca. franceses, o bandeirante nordestino, desiludido de realizar o projeto de con-
...:. Durante toda essa época, é presumfvel que os povos indígenas america- quista, retira-se do Ceará em 1605." Do Ceará, volta para a Paraíba e, de lá,
nos em geral, e os brasileiros em particular, usavam o arco e flexa como para Lisboa, onde morreu depois de passar longos anos a requerer, inutil-
arma convencional de arremesso, e a borduna e a faca como armas de luta mente, a paga dos seus servic;;os, recebando assim "o castigo que merecía"
a
corporál, pois que chegada dos europeus ao continente americano, em to.r- (et CATUNDA, 191; ALVES, 1953; REVISTA DO INSTITUTO DO CEAAÁ,
1923). Lé-se, também, em Araripe: "Crescido foi o número de cativos (indí-
oo de 1500, o uso dessas armas era ~bsolutamente generalizado e consoli-
dado•. genas) que fez Pero Coelho" (1958, 107) e em Studart Filho: "(•••)A chega-
- Durante a fase crucial da conquista territorial no Brasil, nos séculos XVI e a
da ·de Pero Coelho Serra (lbiapaba) tomou-se para eles (os Tabajara) o
XVII, enquanto os povos nativos do Brasil continuavam de ordinário usando marco que assinala o início da derrocada material" (1965,121).
setas com ponta de madeira ou osso, bordunas ou tacapes totalmente de Ainda: "O seu procedimento cruel e desumano, perpetuado na memória dos
madeira, e facas e machados de madeira ou pedra, o lusitano há havia incor- aborígines, foi um grande obstáculo para as futuras expedic;;óes. Pero Coelho
porado em caráter definitivo ao seu arsenal o canhAo e o arcabuz (grifo foi preso por o~dem do governo portugués e remetido para Lisboa. Ali faleceu
nosso), coexistindo coma besta, coma lanc;a e a espada. nos cárceres do Limoeiro" (ARARIPE, 1958).
- Nada mais adulterante e determinante para a história e a cultura brasileira
do que o fato de somente o colonizador haver registrado a sua versáo e os
seus dados sobre os eventos históricos e culturais, ocorridos em séculos de
destruic;áo e opressáo••• A cultura e sobretudo a história do Brasil acham-se
soterradas•••
- O arcabuz consumia mais tempo para um tiro do que levava um indígena
para disparar várias flechadas. Nos anos. 1557/58, esta relac;áo era da or-
dem de 1:6 (LERY: 1960, 168) e 67 anos mais tarde: 1:2 (VIEIRA: 1970, 1,
38).
- A recente invasáo norte-americana no território do Vietnam {1965-71),
usando um numeroso exército e o mais sofisticado complexo tecnológico-mi-
litar de que se tem notfcia, foi literalmente dominada pela ac;áo coordenada do
povo vietnamita, operando com extrema inferioridade tecnológica e dispondo
de um contingente entre quatro e dez vezes menor de guerreiros nativos por
invasor que no caso brasileiro (por todo o século XVI). Este tato contribuí pa-
ra ilustrar, analogicamente, que na campanha da conquista territorialmente
do Brasil a superioridade tecnológica e militar do lusitano, conquanto impor-
tante, náo deve ter sido o fato decisivo". (HOORNAERT: 1977, BRITÁNICA:
1966, LEONARDOS: 1938, TAVARES: 1979, LÉRY: 1960, VIEIRA: 1970
apud DIAS, 72 a 77).
22 23
'·
a·· projeto colónizador
27
"
dos indios do chefe Cobra Azul, veio até o fortim do Ceará, rio Ceará. onde
ft:tndou um Aldeamento de Índios. Deixou o Aldeamento do Ceará a 19 de
agosto de 1608 e partiu para o Río Grande do Norte. No caminho, pelo mar,
foi morto pelos Tapuya (Obra citada,.1923).
(5) -BRf~IDOt 1900. .
**** JOAO FERNANDES VIEIRA- Paulista radicado na Paralba, do qual se
fez o seguinte registro: "Convinha recordar quando andavam exa~perados
(os indígenas Tapuya) pela lembran9a das extraordinárias violéncias sobre
eles exercidas por Joáo Femandes Vieira durante o seu governo na Paralba
(1655-1657) (TAUNAY, 1875).
NOTA: Para suprir de alimentos os exércitos paulistas, durante a Guerra
dos Bárbaros (1696•••), Matias Cardoso manda que Morais Navarro condu-
za trés mil bois do sertáo cearense a Pernambuco, onde havia enorme falta
de carne. "Trés encontros renhidos (durante o percurso) sustentara comos
bárbaros que pretendiam tresme.lhar aquele gado". (TAU NAY: 1975, 164).
28
Candidatos a latifundiários
31
SOLAR - Apesar de a palavra significar, no caso, antiga morada (cf FER-
REIRA, s/d), refere-se menos aos ambientes suntuosos que reuniam as fa-
mRias aristocratas dó que ~ ociosidade própria das classes dominantes da
época.
DAS HONRAS - lsto é, do que é aparente, fantasioso; dos títulos, das
homenagens, as festas palacianas de conotac;:áo classista dominante.
32
O gado é o marco de posse da terra
35
Sem autoritarismo
nao haveria · coloniza~ao
39
}
40
A
43
46-47). Cardoso se refere A fazenda, tirada de urna defini~áo hispano-ame-
ricana, como urna grande propriedade rural possuída por um proprietário au-
toritário, explorada mediante o emprego de máo-de-obra dependente, exigin-
do pouco capital para o funcionamento .e produzindo para l:lm mercado res-
trito (local, regional) entre zona de urna mesma colOnia, ou quando muito in-
tercolonial. Já para Nascimento, é simplesmente o centro de atividade e de
•
poder no período colonial (1986, 193).
44
O objetivo principal do colonizador:
o
Destruir - modelo social Indígena
47
/
oo
51
\
\ \
'
•
Questao de vida ou de morte
55
O reinado autonomo ·dos Janduin
era o reconhecimento da
ilegalidade portuguesa
,
Os Indios continuam lan9ando-se a luta. Os comandantes portu-
gueses sáo mortos ou substituidos. Novos refor~s sáo solicitados. Novas
for9as sáo agregadas. Acordos sáo assinados e desfeitos. Sobre este
ponto, vale ressaltar: a proeza militar dos Janduin e a sua destreza políti-
• ca obtiveram para eles algo único na história brasileira - o reconhecimen-
to dum reinado autónomo e um tratado de paz com Portugal12.
59
/
Um massacre ainda vivo na memória
63
,.
/
1
1
\
\
Os índios se confederam *
67
A grande guerra de 1713
71
\
7J
Com reza e pólvora nas.e~ Fort¡1lez~
75
A c9nfederac;io indígena
, .
recupera a prov1nc1a
79
...As margens do rio Choró ... *
* O río Choró nasce nas eleva90es que limitam ao norte a bacía do rio Quixe-
ramobim, denominadas Serrada Lagoa dos Sois, Trés lrmAos ••• e lan~a
se no oceano por duas bocas, depois de um curso de 175km. Recebe pela
margem esquerda os rios Cangati, que é bastante caudaloso e nasce na
vertente meridional na serra do Machado; o Aracoiaba, que recolhe grande
por9áo dágua da vertente oriental da serra de Baturité e, nos anos de inver-
nos regulares, é perene até a vila do mesmo nome (hoje município de Cho-
rozinho), porque sua alimenta9Ao é, em grande parte, feíta ~ custa das fon-
tes diaclasianas da Serra de Baturité; finalmente, o RiachAo da Lagoa Nova,
que recolhe as águas da vertente meridional da serra de Baturité. A bacía do
Choró mede 5.1 OOkm2 ; é estreita, mas bastante longa e possui excelentes
terras agrícolas (cf. SOBRINHO, Th. Pompeu. Esbo~o FisiogrAfico do
Ceará, 3~ ed., Fortaleza, lmprensa Universitária do Ceará, 1962, pp. 76-77). '
83
..
,.
Recompensas da classe dominante
¡
t
87
O modelo opressor
,
A guerra ao Indio foi um estado "normal, a suprema razáo para a
peti9áo da terra". A conquista do território foi urna sucessáo·de guerrilhas.
A capital ainda recorda, com o nome sonoro e bélico, o aparato militar
que firrnava a posse, a cidade de Fortaleza, enfatiza Cascudo (1983,9). E
a estrutura social foi-se tomando urna expressáo maior da fazenda, no
que tange as rela9óes sociais fundamentais. Refere-se Diégues (1972) ao
fato de que se generalizou, como um todo, o que era apenas parte deste
todo. lsto é, a maneira como os empregados, moradores, agregados tra-
balhavam e se relacionavam com o patráo ficou sendo a maneira de toda
a sociedade. Era como se a sociedade fosse urna grande fazenda: de um
lado, os que nada tem, a náo ser sua for9a de trabalho; de outro, os que
tem tudo: poder, capital, meios de producáo.
91
"'
A fala desesperada do colonizador
95
Vence o modelo capitalista
após uma guerra que durou 30 anos
,
* .Justifica Araripe a náo-assimilaqáo do espírito capitalista pelo Indio cearen-
se: "nos aldeamentos nunca se conseguiu mudar a índole do selvagem cea-
rense, dando-lhe estímulos de propriedade. (A incapacidade para tornar-se
proprietArio de te.rra náo era urna característica do selvagem cearense, mas
do indígena brasileiro em geral... a refractariedade do índio a ser proprietArio
rural torna-o absolutamente inferior...). Ele conservou sempre a sua prístima
inclinaqáo A vida simples e singela dos campos, sem o pensamento, que dáo
os cuidados de adquirir, e conservar os bens da fortuna". E concluí jocosa-
mente: "A propriedade é a idéia que fixa e desenvolve o homem social: tirado
esse ligAmen, náo hA sociedade possível:: (ARARIPE: 1958. 108).
99
- O Pe. Manuel da Nóbrega, Primeiro Provincial dos Jesuitas no
Brasil, foi conselheiro político e militar do Primeiro e do Terceiro Gover-
nador-Geral. Como ideólogo pragmático e articulador do mereé!tilis-
mo portugués, assim orientava: "(. . .) Se o gentil (Indio) fosse senhoriado
ou despejado, ·como poderia ser com pouco trabalho e gosto, e teria vida
espiritval, conhecendo o seu Criador, a vassalaria a Sua Alteza, e obe-
diencia aos cristáos, e tQdos viveriam melhot e abastados e Sua Alteza
teria grossas rendas nestas teffas". "Sujeitando-se o gf?ntil (o Indio), ces-
sarao muitas maneiras de haver escravos mal havidos. .. porque terao os
homens escravos legítimos. .. a teffa se povoará e Nosso Senhor ganha-
rá muitas almas e Sua Alteza muit~ renda. . . '.~ "Se Sua Alteza quer ver
todos (os Indios) convertidos, mande-os sujeitar (subjµgar)".
- No modelo social indígena, de propriedade coletiva, o valoriza-
do é a amizade e náo o dinheiro, a mercadoria. "(...) Percebendo o
aspecto fundamental da amizade... na organiza9áo da sociedade indí-
gena, os jesuitas foram penetranqo no amago dessa estrutura, ganhando
as crian9as primeiro para alcan9ar os mais velhos depois...".
- "Nóbrega conseguiu dividir os Tamoios".
- "Para colocar em prática esse plano, Nóbrega e Anchieta ex-
ploraram ao extremo a sua condi9áo de missionários religiosos, manipu-
lando o misticismo dos· indígenas, no quanto conheciam ser fundamental
na sua estrutura social. Anchieta fez-se passar, inclusive, por grande-pa-
jé".
Concordando com o autor em referencia, que afirma ser a supe-
rioridade tecnológica do invasor europeu um fator apenas complementar
da a9áo colonizadora, transcrevemos o trecho de urna carta escrita por
Pe. António Vieira, no século XVII, ao Pe. André Fernandes, bispo do Ja-
páo: "Que quem for senhor dos índios o será do Estado.. (Apud: Fr.
Sáo José, 1847, 104).
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Urna forma de matar os índios
é tirar-lhes a terra
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A história é outra
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q,
,.
Os índios aldeados sofrem os efeitos
da derrota'' imposta a confedera~ao
11
NOTA: Na verdade, foi salva da investida paulista apenas urna parte dos indios
aldeados (e aqueles ainda considerados selvagens). lsto porque na
Grande Guerra de 1713, a Confedera9áo Indígena contou, para a surpre-
sa do colonizador, corn a irrestrita adesáo da grande rnaioria dos indios
aIdeados.
11 1
(}
Os fazendeiros tinham suas
próprias organiza~oes
115
Decorridos trinta e cinco anos após o massacre, a 16 de dezem-
bro de 1748, a Cámara de Aracati "requer" a El-Rei medidas no sentido
de ~e pór cobro a fuga dos ESCRAVOS ÍNDIOS .. . e a protec;áo que lhés
, d~o os padres missionários". Os fazendeiros pressionam o Rei diante da
falta de Índios para os servic;os, de que sofrem os moradores, e da Pro-
te~áo lndevida, que aos ditos Índios estáo a dispensar os missionários.
Em 1773, Breve* do papa Clemente XIV encerra as atividades da Com-
panhia de Jesus (dos padres jesuítas). No mesmo ano, o Padre Francisco
Xavier Marreiros da Silva, Cura da Vila de Fortaleza e Vigário Geral da
Comarca do Ceará Grande, de acordo com as ordens recebidas do Dio-
cesano, celebra um solene "Te Deum" em ac;áo de grac;as pela extinc;áo
dos Padres Jesuítas e a Cámara de Soure (Caucaia) abre urna carta do
Governador Borges da Fonseca** ordenando-lhe que fac;a os habitantes
iluminarem as casas por tres noites consecutivas em regozijo pelo ato de
Sua Santidade extinguindo a Companhia de Jesus20.
116
Indios
11
selvagens'' *
12.I
A grande mentira PQlítica:
por decreto'! o~ Índios
11
,
E criada a famosa Lei de Terras, n2 601, de 1850. Trata essa Lei
de medidas relativas a.adequa9áo da estrutura fundiária do Brasil Impe-
rial as novas exigencias económicas do modelo social concentrador. On-
de houvesse Índios, as terras náo poderiam ,
ser alteradas
. ·- -- -
em sua. desti-
na9áo. Assim, era preciso "extinguir" os Indios do Ceará por "decreto.. e
caracterizar
, suas terras como devolutas. A afirmativa da , falsa
.
extin9áo to-
tal dos Indios s~ originava no argumento de que os Indios do Ceará ha-
viam se dispersado ou se misturado a popula9áo. Sobre este argumento
utilizado no Ceará, estudo do MIRAD é enfático ao afirmar: "(...) Se fize-
ram avalia9óes equivocadas... Acrescenta-se a possibilidade de se en-
contrar registros com interpreta9óes ambiguas ou deliberadamente ten-
dentes a escamotear fatos que contraditavam interesses políticos e eco-
nómicos sobre terras ocupadas por Índios... Náo se pode considerar ex-
tinta urna popula9áo indígena como resultado da disp~rsáo QU da misci-
gena9áo, em um perfodo que coincide com a Lei de Terras22•
Ora, a Lei de Terras é criada em 1850. Logo, em 1863, José Ben-
to da Cunha Figueiredo Júnior, Presidente da Provincia do Ceará; no rela-
tório que apresentou a Assembléia Legislativa Provincial, em 9 de outu-
bro, dá por extinta a popula9áo indígena do Ceará, na sua visáo antiindí-
gena. Náo se lembrava, no entanto, de que um pouco antes, em 1846,
havia no Ceará Índios até "selvagens".
123
Os índios desmentem sempre
,
De acordo com o juiz, os Indios aldeados em Baturité* estavam
"mortos", em 1826, pelo "mau de bexigas". Sabe--se que os Índios Manoel
Xavier e outros, mesmo estando "mortos", apelam na Justi9a, em 1869 -
a
quarenta e tres anos depois - pelo direito terra.
" BATURITÉ era habitada por Índios Genipapo. Estes se somaram aos in-
dios Kanindé trazidos do Banabuiú e do Quixeramobim para o aldeamento.
(23) Cf ALMEIDA, 1986.
"* Com a expulsáo dos jesuítas, o Diretório pombalino de 1757 (Leí em forma
de Alvará) eria, conforme se lé · em Beozzo, um novo orden amento para_a
127
l
128
Indígenas sobrevivem com dificuldade
. , ,
(24) - Cf SITUANDO A QUESTAO INDIGENA NO CEARA, s/d.
* lnforma<;áo .oral de autoridades denuncia o fato de proprietários da, serra de
Baturité, por exemplo, terem já, no século passado, enchido com Indios vá-
rias embarca<;óes que os levavam, a forc;a, ao Estado do Pará, onde foram
"despejados" na mata. Denúncia, com igual teor, também incrimina proprietá-
rios da lbiapaba que, com apoio de órgáos governamentais, quiseram varrer
a serra da presenc;a de Índios Tabajara, abrigando-os a lotarem caminháo
que os conduziu para o Estado do Maranháo.-Mas, de lá, OS· indios voltaram
e se sujeitaram a viver no anonimato.
131
. ,
alto valor !'comparado comos dos Indios, que eram avaliados a 30$000 e Palma (Quixadá - Ribeira do Quixeré - 1740)
55$000***. De todos os estados da Uniáo é o Ceará aquele em quemé- Índios Kanindé e Genipapo
nos negros existem25. . (cf STUDART FILHO, 1965)
c) Se os aldeamentos significavam para os indígenas cearenses Monte-mor "O Velho" (Pacajus)
o come~ do fim, ·a cria9áo de vilas em detrimentos dos aldeamentos Índios Paiakú (talvez exce9áo)
significou o evaporar das últimas esperan9as. Com as vilas, os Índios Aracati (Areré, 1696)
eram obrigados a viver segundo as leis dos "brancas", tratados como os Índios Paiakú (talvez exc~áo)
demais vassalos da Coroa Sem raízes, entravam os indígenas em dese- (cf GIRÁO, 1939)
quilibrio profundo, sornando-se a tudo isto os males causados pelas inú- Uruburetama
meras doen9as infecciosas que os brancas lhes transmitiram. Índios Anacé e Jaguaruana.
· d) Sob o pretexto de "civilizar" os indígenas, havia incentivos fis-
cais a quem promovesse o casamento dos brancos comos Índios. Os in- Por outro lado, os aldeamentos eram quase que totalmente che-
divfduos de ra9a branca que casassem com as Índias eram premiados fiados por Índios Tupi, vindo.c; de fora, da confian9a dos colonizadores. Fo-
com a "isen9áo de todos os servi9os públicos por certo número de anos, ram poucos os grupos indígenas que, resistindo a descaracteriza9áo tri-
e aos próximos parentes, a fim de que assim melhormente pudessem fa- bal*, buscaram na natureza um outro nome específico que lhes assegu-
zer os seus estabelecimentos". rasse a unidade étnico-cultural, como ocorreu com os Índios T apeba, em
e) Os aldeamentos eliminaram a identidade tribal dos indígenas, Caucaia.
já que reuniam tribos de Na9óes diferentes, tais como: f) Semi-remunerados, posteriormente, os indígenas foram for9a-
dos a adatar padróes de consumo impostos pelos colonizadores. Tres
Cuacaia bens de consumo eram colocados a"disposi9áo" dos indígenas como
Índios Karirí, Potyguara, Tremembé únicas alternativas para gastar o dinheiro recebido na constru9áo das po-
(cf ALMEIDA, 1986) voa9óes: aguardente, farinha e tabaco de fumo. No ano de 1800, o Go-
lbiapaba ou Vi~osa Real vernador da Capitania do Ceará comunica a Sua Alteza Real, em carta
Índios Tabajara, Anacé, Arariú, Kamakú, Akoan9ú
(cf STUDART FILHO, 1964)
º
datada de 1 de abril desse mesmo ano, náo haver sacrificio maior que ti-
rar os indígenas de seus bosques e arrancá-los ao ócio. Queixava-se o
Telha (lguatu) Govemador do. modo como era· empregado o dinheiro que os indígenas
Índios Kixeló (1791 ), Javó, Kixariú, Akarisú, Kariú, Juká recebiam em pagamento do trabalho.
(cf STUDART FILHO, 1965)
Miranda (Grato)
lkozinho, Javó, Kixariú, Akarisú, Kariuane, Kariú, Juká
(cf STUDART FILHO, 1965)
Monte-mor "O Novo d'América" (Baturité)
Índios Kanindé, Genipapo, Paiakú, Kixeló * "Os indígenas nas aldeias ( aldeamentos) cearenses mostraram, em princí-
(et STUDART FILHO, 1965) ..
pio, repugnancia pelo uso dos nomes de batismo; recebendo-os na sagrada
pia, nem por isso os aceitavam no trato comum. Ao nome cristáo, que o pa-
dre lhes . impunha com a água da reden9áo, preferiam o nome gentílico dos
seus usos. Assim, embora tivessem ao assento batismal os nomes do ca-
*** Encontramos essa informa9áo do início do século XVIII, que de certa forma lendário romano como José, Joáo ou Francisco, eles falavar'n-se com os
é conflitante: "Nesses tempos um escravo indígena valía regularmente o nomes de Boipuru, lbiara, Ciriola, Andagua9ú, Patiúba, lguarahiba e outros
pre90 de 4:000$000" (ARARIPE, 1958). Na mesma época o ordenado de um semelhantes da sua linguagem nativa". (ARARIPE; 1958). De acordo como
•
padre era de 40$000 réis (cf. THEBERG, 1973). fato exposto, o indígena reagia a descaracteriza9áo imposta e criava os
seus próprios mecanismos de resistencia e de defesa. Talvez por isso é q4e
(25) - Cf REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, 1924. ainda hoje alguns qruoos sobrevivem.
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
132 www.etnolinguistica.org 133
O preconceito destrói a .cultura
A luta contra e;> preconceito.
137
Todo preconceito tem uma lógica.
E na lógica desse preconceito,
reside a ideologia das ra~as
,
Os Indios sáo incapazes de produzir uma grande civiliza9áo,
"nem de aliunde recebe-ta". .Náo tem culto religioso, nem no9áo
de Deus, Nunca seu espfrito se ilumina com a idéia do divino,
nem se inebria com os gozos inefáveis do ideal.
141
•
O preconceito contra os Índios
nao tem limite
145
Da Questao Tapeba e Tremembé
Alguns Registros
,.
Saber e interesse de classe
151
\ \
"
A forma da classe dominante
155
Apelar para o precon~eit~
a
Também náo foi toa que um parente da deputada, suplente de
senador pelo mesmo partido e co-proprietário da Fazenda Soledade, em
a
questao, tenha reagido em frente FUNAI (3.7.87) contra a inclusáo da
propriedade de sua famllia na área indfgena Tapeba, de que trata a Por-
taría PO 2384/87 da FUNAI. Afirma ele que tudo isso "náo pa,ssa de uma
fantasia, alimentada pelo Cardeal-Arcebispo de Fortaleza, D. Aloísio
Lorscheider, que pretende criar com sua fértil imagina9áo, nos mangues
de Caucaia, um Brasil pré-Cabralino, habitado por silvícolas"31
159
Jornal O POVO, Fortaleza, 25 de maio de 1988
Questionado exame de
sangue para definir indios
161
duas vezes, a área é identificada como um antigo aldeamento a imprensa leve o acesso barrado pelo proprietário, · é um indicío,
1
dos índios. segundo ele, "da intenr;áo de criar uma clima desfavorável para a
Ao rejeitar o requerimento do político, q antropólogo Artur No- decisáo a ser tomada sobre o assunto".
bres Mendes teria perdido o pasto na Funai, segundo argumenta- Tem cerca de tres anos a disputa pela terra entre os danos da
9áo de Sérgio Leitáo. Para justificar o fato da decisáo, nesse sen- fazenda Soledade, que formam um condomínio, e a comunidade
tido, ter sido tomada oito meses após o episódio acontecer, o ad- dos Tapebas. Conforme Sergio Leitáo, "a maior barreira parte do
vogado ..diz "ser conseqüencia do afunilamento do processo, com senhor José Geraldo, cujo filho é candidato a Prefeito em Cau-
o final estando próximo. Além do ..mais, o posicionamento dele, caia, com o apoio da deputada Maria Lúcia Correia, sua sogra";
contrário a vinda da comissáo a Fortaleza, para avaliar a situa- Por canta dessa situa9áo; os índios vivem impossibilatados até
r;áo, deve fer sido 'a gota d'água". Artur Nobres considerava sufi- de explorar uma terra que /hes pertence. A atitude dos·proprietá-
ciente, para se definir pela demarcar;áo da área, a tarta documen- rios, informando sobre a realizar;áo de exames de sangue, é (Jefi-
táo existente na Funai. nida pelo advogado como absurda.
O_próprio governador Tasso Jereissati, durante audiencia con- Para saber quantos índios existem no trecho, resistindo a to-
cedida a comissáo de representantes dos Tapebas. mostrou-se das as tentativas de expulsáo, segundo Sérgio Leitáo, "é suficien-
simpático a !uta desenvolvida pela comunidade. Determinou apu- te que se consulte o trabalho da Arquidiocese". Mostrando-se um
rar;ág par~ -~~ denúncias de violencia contra os índios, praticada número de brancas superior aos indígenas, entre as famílias que
pelo policiamento de ..Caucaia, como cónsequencia da implicar;áo ocupam a margem do río Ceará, o proprietário da Fazenda teria
política, e adiantou apoio a criar;áo da área indígena. O seu re- condir;óes de "apresentar uma situar;áo diferente da encontrada
o
presentante no grupo de trabalho que discute assunto, Marcos na realidade. A comunidade dos Tapebas é que aceitou a entra-
Antonio Vieira de Castro, defendeu essa proposta na reuniáo do da dos brancas, com os quais convivem, hoje, sem qualquer tipo
último dia 20 de abril, em Brasília quando a decisáo foi transferi- de conflito" - adianta ele.
da para depois da visita que a comissáo fez ao local na próxima O encontro ·de ontem, com a participar;áo de uma maiorias das
quinta- feira. famílias, "mostra:se como uma tentativa de passar uma idéia di-
Na manhá de ontem, os índios Tapebas que moram as mar- ferente, de que a área é motivo de tensáo, entre os moradores da
gens do río Ceará, na rodovia BR-222, receberam convite para comunidade': conforme o advogado da Arquidiocese. q quadro
, irem a fazenda Soledade, manter uma reuniáo com o proprietário, deve ser encontrado pela comissáo que chega quarta-feira, lide-
José Geraldo, e representantes da Funai. Na oportunidade, con- rado pelo Presidente da Funai, Romero Jucá Filho, para vistoriar
forme foi explicado, haveria exames de sangue para definir, na "in loco" a área e tomar uma decisáo final sobre a demarca9áo
realidade quem é efetivamente indígena dentro da comunidade. da área para os índios tapebas.
Nenhum dos 914 Tapebas, cadastrados pela Arquidiocese de ,
Fortaleza, em trabalho realizado no ano de 1986, se incluía entre- VINDA INEXPLICAVEL
tanto, no grupo que esteve no refeitório da fazenda.
Ao saber da reuniáo, o advogado da Arquidiocese, Sergio Lei- A forma como o problema da terra dos Tapebas vem senda
táo, foi até a comunidade dos Tapebas, denunciando o encontro .tratado, segundo avalia9áo de Sérgio Leitáo, mostra implicancias
como "Uma tentativa de reverter a expectativa sobre a demarca- políticas, com sérios prejuízos para a comunidade indígena. Con-
r;áo das terras da área, incluindo alguns hectares da fazenda forme dispóe o decreto número 95.945, assinado em novembro
Soledade, em favor dos índios". A presen9a da Funai, confirma- de 1987, a devolu9áo de área indígena deve acontecerpor deci-
da somente através de um participante da reuniáo, tem vista que sáo de um grupo de traba/ha, sempre atendendo proposta apre-
sentada pela Funai. "Com relar;áo aos Tapebas já. existe esse
•, .
162
163
apoio da Funda9áo e do próprio Governo do Estado, tornando po no !ocal, cerca de dois anos, Joaquim Rodrigues .de Oliveira
sem sentido a verifica9áo "in loco" da área"- argumenta. · afirmava náo ter o que dizer contra os Tapebas. O direito, aqui, é
a
-Por ser 90!Jfrário vinda da Comissáo, integrada por represen- igual para todos".
tantes dos Ministérios do Interior e da Reforma Agrária, do Con-· C01'1forme explica9áo do advogado Sérgio Leitáo, "desde
se/ho de Seguran9a Nacional e pelo próprio Presidente da Funai1 quando a Arquidiocese iniciou o trabalho junto a comunidad._e,
o Oi~eto~ d~ Divisáo de ldentifica9áo e Delimita9áo da Superin- sempre fez questáo de (}vitar qualquer prioridade para os índios,
tendencia de Assuntos Fundiários, Artu.r Nobre Mendes, "tería si- em rela9áo as famllias de brancos que habitam no trecho". Dessa
do. ~emitido do carfJO na última -segunda-feira': conforme Sérgio forma é que já se conseguiu desapropiar 3.200 hectares de terras
Le1tao. Em outro momento, Artur Nobre Mendes negou provi- para os brancas, "como forma de afastar conflito entre os mora-
mento a requerimento enviado a Funda9áo Nacional do Índio, dores, tratados sob uma .mesma visáo':
pelo suplente de senador Esmerino Arruda, um dos pretensos A tensáo pode ser criada, a partir inclusive dessa reuniáo de
donos da fazenda Soledade, considerando ilegítima a portaría ontem, dentro da inten9áo geral de inviabilizar a caracteriza9áo
~384187, que · instituiu grupo de trabalho para proceder levanta- do local como área indígena. O município de Caucaia, de acordo
mento fundiário e. plotagem de ocupa9óes incidentes na área in- . com levantamento fundíario, conta com mais de 66 mil hectares
dígenas Tapeba, em Caucaia. próprios para desapropria9áo, tornan.do injustificável qualquer !uta ·
riesse sentido.
BARRADO ACESSO DURANTE REUNIAO
164 165
Jornal O POVO, Fórtaleza, 7 de outubro de 1988 cutivo. .Alé,m diS$O, muitas das decisóes da Constituinte carecem
de legislar;áo complementar para valerem de fato.
Com o seminário sobre terras indfgenas no Nordeste, pro-
mor;ao dos Departamentos de Ciencias Sociais da UFC e de An-
Cientista diz que irreconhecimento tropología da UFRJ, o PETI procura passar sua experiencia para
as pessoas e grupos que trabalham com a questáo indígena no
dos Tapebas é represália do CSN Ceará.
O objetivo do Projeto, em nivel nacional, é levantar dados e
A decisáo do grupo interministerial de deixar de reconhecer informa9óes sobre as 509 áreas _indfgenas do Brasil. Hoje há um
os Tapebas como indígenas e, portanto, desautorizar a demarca- banco de dados computadori.zado com informar;óes sobre a si-
9ao de suas terras é urna espécie de represália do Conselho de tuar;ao jurldica de cada urna delas, sua extensáo, popular;áo, indf-
Seguran9a Nacional ao movimento de apoio de setores organi- cios da presenr;a de invasores, existencia de projetos de minera-
zados da sociedade civil aos Indios cearenses, entre os quais se r;ao e outras atividades que impliquem an1ea9as de extin9áo das
incluí a Arquidiocese de Fortaleza. comunidades indígenas.
•
A opiniáo é do antropólogo carioca Joáo Pacheco de O/ivei- Com o seminário, que conta com a participar;ao de mais
ra, coordenador do Projeto Estudo sobre Terras Indígenas no tres antropólogos do Museu Nacional, os profissionais resolveram
Brasil (PETI), do Departamento de Antropología do Museu Na- · passar subsfdios teóricos e metodológicos para que os grupos in-
cional, que está- em Fortaleza participando de um seminário so- teressados possam levar adiante e com mais profundidade esse
bre terras indígenas no Nordeste. mesmo trabalho no Ceará. ;.Além dos Tapebas, objeto da tese qe·
mestrado do antropólogo Enio Ban-eto, que já esteve tres vezes
AMEA{:A em Caucaia, já foram estudados os remanescentes da tribo Tre-
membés, em A/mofa/a. Joáo Pacheco de ·Oliveira reforr;a a teo-
Para ele, a preocupa9áo dos militares no Brasil coma ques- ría de que outras comunidades indfgenas se abfigam no Ceará,
táo indfgena tem dois fundamentos. Primeiro, eles acreditam que ainda desconhecidas dos estudiosos.
os Indios ocupam grandes espa9os de terra, prejudicando o de-
senvolvimento regional. Segundo, veem a organiza9áo das co-
munidades indígenas e a !uta pela demarcar;áo de suas ten-as
como os demais movimentos sociais no País - urna amea9a a
seguranr;a nacional, diante da qua/ náo se pode demonstrar fra-
queza.
Pacheco de Oliveira criticou a polftica indigenista da Nova
República, que tem seu suporte na filosofía do Conselho de Se-
guran9a Nacional, a mesma que permite o desmatamento e a
explora9áo económica da Floresta Amazónica - para citar um
exemplo de depredar;áo ambiental - em nome do desenvolvi-
mento.
O antropólogo considera importantes os avanr;os obtidos na
nova Constituir;áo com retar;ao a questáo indfgena, mas acha
que náo haverá mudanr;as significativas a curto prazo, na atual
polftica indigenista. lsso acontecerá quando mudar o Poder Exe-
166 167
Jornal O POYO, Fortaleza, 26 de julho de 1988 Diário do Nordeste, Fortaleza, 27 de julho de 1988
168 169
Jornal O POVO, Fortaleza, 26 de maio de 1988 Jornal O POVO, Fortaleza, 26 de julho de 1988
170 171
Jornal O POVO, Fortaleza, 26 de julho de 1988
tegendo-os muitas vezes da ganancia do colonizador. A Arquidio-
cese dispóe de tarta documenta9áo que vai desde ao levanta-
mento dos caracteres físicos dos Tapeba : até o rastreamento
dos seus valores culturais. A memória histórica está senda recu- Os índios Tapebas e o CSN (1)
perada, mesmo fragmentariamente, dada. a tradi9ao oral q~e
guarda episódios bastante indicativos de suas origens ancestra1s.
Nao se concebe, pois, que nada disso tenha sido levado em can- Sérgio Leitáo (,.)
ta pelos órgaos responsáveis por tal decisao.
Se outra coisa nao houvesse, bastaría um levantamento No día 20 do corrente, o Grupo de Traba/ha lnterministerial,
a
junto popula9ao "civilizada" da área para se sentir o preconcei- o chamado Grupao, reuniu-se em Brasília para apreciar~ Proces-
so Administrativo n(I 005186 da Funda9ao Nacional do Indio, so-
to enraizado contra os Tapeba:, justamente porque eles se dífe-
bre a demarca9ao administrativa da Área lndfgena . Tapeba, no
renciavam culturalmente. Sua forma de organiza9ao social des-
toa da circundante por canta de seus costumes "mais selvagens". municipio de Caucaia, Estado do Ceará. Até que a reuniao de
Nem sua estrutura familiar e seu relacionamento intracomunida- Brasília se realizasse, houve uma trajetória rica em dados e fatos
de guardam a rigidez da forma9ao judaico-crista. Por isso fo~am que, se explicitada, em muito irá ajudar na compreensao do des-
muitas vezes considerados moralmente degenerados pelos d1tos a
fecho formal transitório dado causa.
"civilizados". E ainda o sao. Há, no Nordeste, vinte e sete Povos lndfgenas emergentes,
que nos últimos dez anos tém questionado a hist'5ria oficial e re-
Num momento de recupera9ao dos valores democrátieos,
o
como que est~mos vivendo, seria extremamente frustrante que'
a
velado opiniao pública a ileg(timidade de certas riquezas, acu-
muladas gra9as á espolia9ao dO património indfgena por familias
a sociedade cearense rejeitasse a sua solidariedade a uma mino-
poderosas, oligárquicas no seu alinhamento polftico. _
ría étnica e cultural esmagada por séculas de opressao.
Desses vinte e sete povos, a causa-carro-chefe é, sem dúvi-
da, a Tapeba, nao somente por for9a da vasta documenta9áo que
prova a existencia da presen9a indígena em Caucaia, mas, e
principalmente, devido ao apoio amplo que tem recebido da so-
ciedade c.:vil tanto em ámbito local como nacional, o que !he con-
fere um peso polftico incomum.
Os Tapebas teriam recebido os 4.675 hectares dos 30.000
hectares a que teriam direito, se aceitassem trair os demais pa-
vos indfgenas, irmaos seus.
Apesar das investidas contra a sua !uta, oriundas de políti-
cos de Caucaia, de um senador e de dois constituintes pelo Cea-
rá, sornadas ao "lobby" formado por 55 presumfveis proprietários
liderados pela UDR - que reclamavam por ditas terras urna inde-
nizac;áo nunca inferior a 253.959,80 OTNs de setembro/87, os fn-
172 173
dios Tapebas seriam atendidos, desde que resolvessem vestir a Jomal O POVO, Fortaleza, 27 de julho de 1988
camisa da trai9áo. Mas que tipo de trai9áo?
Ora, náo interessa ao bloco das classes dominantes, no
Brasil, hegemónicas que sáo do poder estatal, orientar uma polf.+
tica indigenista capaz de assegurar aos fndios sua preserva9áo, Os índios Tapabas é o CSN (11)
enquanto o~o de modelo social alternativo, -a partir do- re-
conhecimento de direitos originários. .·Pelo contrário. A través do
Conselho de Seguran9a Nacional, órgáo que tem determinado, Sérgio Leitáo (•)
de fato, as diretrizes da polftica indigenista governamental, é da-
Quais os fundamentos antropológicos e jurfdicos evocados
da a mesma ordem de t.rezentos anos atrás: exterminar todas as
na reuniáo de Brasflia que determinaram o náo~reconhecimento
na9óes indfgenas restantes. o mecanismo atual, moderno, en-
contrado para isso é a tal Colónia Agrfcola, figura jurfdica que o dos fndios Tapeba?
Inicialmente gostarfarnos de_ deixar aquí registrados os no-
CSN quería impor ao texto da nova Constitui9áo para substituir
mes dos presentes a reuniáo do Grupo de Trabalho lnterministe-
.as reservas indfg([Jnas. Os fndios Tapebas teriam que aceitar a
rial, ocorrido no· día 20 de julho último: 1) Romero Jucá Filho,
rnodalidade imposta se ''preferissem" continuar índios. Eis al o
maior resultado da reuniáo do grupáo que estava previsto acon- . presidente da Funai; 2) Daniel Marques de Sousa, superintenden-
tecer em Fortaleza a 25 de maio último, conforme esperava o te de assuntos fundiários da Funai; 3) Sónia Demarquet; ·secretá-
Conselho de Seguran9a Nacional. ria do Grupo de Trabalho lnterministerial e integrante dos qua-
A tgreja seria instrE:Jmentalizada para -sacramentar a·Colónia dros da Funai como antropóloga; 4) Válter Mendes, assessor da
superintendencia de assuntos fundiários da Funai; 5) Ronaldo
Agrrcx:ia por intermédio do cardeal A lofsio Lorscheider. Este apa-
Montenegro, integrante da Procuradoria Jurfdica da Funai; 6) Ma·
recena na televisáo, em circuito nacional, desejando exito ao
ria Eugenia, assessora do Ministro da Reforma e do Desenvolvi-
empreendimento que os Indios Tapebas, no Ceará, abra9ariam
em primeira máo. E a Colónia Agrfcola certamente desceria mento Agrário e representante do Ministério no Grupo de Traba-
goela-abaixo nos constituintes. Mas o Cardeal e os fndios do lho lnterministerial; 7) ltagibe Cristiano Campos Filho, coordena-
Nordeste, com total apoio das entidades civis e culturais de For- dor de terras indfgenas do Mirad e assessor da representante do
taleza, reagiram a manobra e derrubaram a idéia da Colónia de Mirad no Grupo de trabalho lnterministerial; 8) Marcos António
. . ' Vieira Castro, diretor-técnico do Instituto de Desenvolvimento
1nsplfa9áo pombalino-pentagonal, para irrita9áo do coronel Antó-
nio Carlos Carneiro da Silva, representante do Conselho de Se- Agrário do Estado do Ceará e representante do Govemo do Es-
guran9a Nacional. tado do Ceará no Grupo de Trabalho lnterministerial; 9) naimun-
do Sérgio Barros Leitáo, assessor do representante do Estado do
Ceará no Grupo de Trabalho lnterministerial; 1O) Renato b~l
meida Leoni, consultor jurfdico do Ministério do Interior; e, final-
mente, 11) coronel António Carlos Carneiro da Silva, representan-
te do Conselho de Seguran9a Nacional.
A Secretária do Grupo de Trabalho lnterministerial, Sónia
Demarquet, atendendo a solicita9áo de Romero Jucá, presidente,
174 175
"
expós o histórico da área identificada e delimitada pela Fúnai Feíto lagartixa, o presidente da Funai concorda com o re-
como imemorialmente ocupada pela comunidade dos fndios Ta- presentante do Conselho de Seguran9a Nacional, e final/za: "A
peba. Colocou ser tarta a documenta9áo acerca da prese119a in- Funai náo poderia demarcar a área dos índios Tapeba, sem a
dfgena no Município de Caucaia; que o municipio é originário de existencia de teffa para reassentamento dos náo-fndios (a propósi-
a/de.amento indfgena, sendo os Indios denominados eje Tapeba, to' o. lncra do Ceará traiu os Indios Tapeba e os enganou)"; "Sou
possuidores do direito a área identificada e delimitada pela Fu- favorável que se destinem a popula9áo Tapeba programas de
na1. assistencia, mas sem demarcar as teffas, posto as rea9óes que
Sem que houvesse. contesta9áo dos presentes, em tace da iriam acontecer... ·: "Certas situayóes sáo iffeversfveis, ·dada a
¡Jxposi9áo de Sónia Demarquet, com excec;áo de Romero Jucá, complexa superioridac/e da popula9áo branca sobre as comuni-
da Funai, já pressionado pelo Conselho de Seguran9a Nacional, dades indígenas, que náo teriam como fazer valer os seus direi-
o coronel António Carlos Carneiro da Silva, do CSN, assume po- tos, que os Indios náo poderiam reivindicar para si todo o teffitó-
si9áo decisória com os seguintes argumentos: "Vive a comunida- rio nacional.... "Que o processo Tapeba seja imediatamente reti-
de Tapeba de modo miserável, na mais absoluta pobreza"; "No rado de pauta e arquivado". •
processo da Funai náo há nenhuma comprova9áo da existencia Romero Jucá toma emprestado as últimas palavras do re-
atual de Indios no municipio de Caucaia"; "A última vez que se
teve noticia sobre a presen9a indígena no municipio de Caucaia
a
presentante do CSN e enceffa o assunto em meio indigna9áo
dos presentes.
foi no ano de 1862, permanecendo desde esta data até o ano de Assim parece repetir-se o ocoffido em Caucaia a 18 d(J fe-
1986, o mais completo desconhecimento sobre o grupo..."; "Con- vereiro de 1773, quando os jesuitas ainda insistiam em proteoer
versei com quatro pessoas durante a visita a Caucaia. Nenhurna os índios da Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Cau<;aia:
defas afirmou existirerri Indios no municipio de Caucaia"; ''Asco- . -
·~ Comarca de Soure (Caucaia) abre uma carta do governa~.r
munidades habitadas pelos Indios Tapeba situam-se no períme- Borges da Fonseca ordenando-lhe que fa9a os habitantes ilómi-
tro urbano do municfpio...". narem as casas por tres noites consecutivas em regozijo pelo ato
O representante do Conselho de Seguran9a Nacional, de Sua Santidade, Clemente XIV, extinguindo a Companhia de
quando da visita do grupáo ao Ceará, em maio do coffente, cHe- Jesus". Ouem registra o fato é Guilherme Studart, em'"Datas e
gou a Fortaleza tres días antes da reuniáo que decidiría os crité- Fatos·para a História d0Ceárá;:·1e96, pp. 335a 337. ·
rios de demarca9áo da área Tapeba. Sua hospedagem durante E como ficam os Indios Tapeba? Até quando nós todos,
esse tempo ficou por conta de fazendeiros de Caucaia. Também unidos a eles, iremos agüentar ta manha opressáo? Mais uma vez
o "Grupáo" fez visita ao fazendeiro da Soledade, o mesmo que, o povo cearense é esmagado ao ver esmagada uma parte impor-
no día 20, intimou os Indios a se submeterem a exame de san- tante da sua identidade que tem nos Indios, exemplares vivos, os
gue, para provar que realmente eram Indios, sob pena de perde- fundamentos da história e da cultura, enfim, da própria vida.
rem o direito a suas teffas. Aliá$, vale citar que em 1964 os In-
dios Tapeba desistiram, na ocasiáo, de reivindicar a posse de
suas feffas para náo verem divulgados pela familia do mesmo
fazendeiro os resultados do "exame~ de sangue feíto a for9a em
tres Tapebas e que davam Tapebas como nao sendo fndios . .O
"laboratório" que coletou e examinou o sangue dos índios se lo-
calizava na própria fazenda. Os Tapeba permaneceram em silen-
cio durante décadas, com medo do resultado do tal exame, que
afirmava serem eles o contrário daquilo que pensavam ser.
.
176
177
. .
Jornal O POVO, Fortaleza, 27 de julho de 1988 tom de brincadeira - "a decisáo do Grupo lnterministerial é um
. vestibular fraudado, no qua! foi reprovada a na9áo Tapeba ". Na
sua ·argumenta9áo o roteirista José Cordeiro apresenta a rela<;áo
de publica<;óes onde podem ser encontradas pravas, concretas,
Filme e livrQs afi~mam que T_~pebas da existencia da aldeia. indfgena em Caucaia.
A justificativa que o roteirista encontra para o desfecho final
devem ser considerados indígenas. .
do episódio "é a total submissáo da Funai as normas ditadas
pelo Conselho de Seguran9a Nacional. Disse o seu representante
O documentário filmado ."Tapeba: Heran9a e Resgate de no Grupo de Traba/ha lnterministerial, coronel Antonio Carlos
uma Tribo" foi produzido em 1986, com dire9áo do cineasta. Eu- Cordeiro da Silva, que quatro pessoas ouvidas na área urbana de
sélio Oliveira, roteiro de José Cordeiro e apoio da Arquidiocese Caucaia afirmaram desconhecer a existencia de fndios no Muni-
/ ' cfpio". Para José Cordeiro, os ouvidos devem ter sido "fazendei:
de Fortaleza. _Ainda hoje, o trabalho é lembrado pelos idealizado-
res, com uma grande emogáo, sentimento que se ampliou desde ros': pois o Coronel chegou tres días antes da última visita do
a decisáo do Grupo de Trabalho lnterministerial, a semana pas- Grupo a área, ficando hospedado na casa de um deles". ·
sada em Brasflia aos Tapebas a condi9áo de comunidade indíge- Cordeiro lembra a história da comunidade indígena de Cau-
na. caia desde quando chegavam os primeiros colonizadores, acom-
Ainda hoje, José Cordeiro mantém, em sua biblioteca parti- panhados de padres jesuitas, no día 20 de janeiro de 1607. A par-
cular, um variado acervo bibliográfico, no qua! se baseou para a tir de entáo, houve uma série de acontecimentos na regiáo, nar-
-- ,
produ9áo do roteiro. E dele, ainda, que se vale para con_tra-argu- rados · através dos historiadores ao longo dos anos e marcados
mentar essa decisáo inaceitável desse Grupo lnterministerial". por contesta9óes freqüentes da existencia da aldeia. "No entan-
Desde livros históricos antigos a recentes, até documentos da to" - esclarece ele - que o Capitáo-Mor da Capitanía ·concedeu, ·
própria Funda9áo Nacional do Índio (Funai), Cordeiro utiliza fon- no día 30 de mar<;O de 1723, ªº principal da aldeia de Caucaia e·
tes diversas para essa defesa dos Tapebas. seus o;;ciais e indios, para os indígenas e herdeiros, tres levas de
'
terra com uma légua de largura e meia légua para cada lado, fa-
zendo peáo no olho d'água chamado Taboca".
Nos cálculos de José Cordeiro, essa medi<;áo representaría,
AUTODESMORALIZACÁO depois de feíta a atualiza9áo para os critérios atuais, "o direito a
uma área co..m pelo menos 30 mil hectares para os Tapeba. . No
entanto, eles estáo reivindicando apenas 4.675 hectares, as mar-
gens do tri/ha e do río Ceará, onde atualmente permanecem os
Para o diretor do documentário, Eusélio Oliveira, a decisáo
remanescentes vivendo da pesca, pequenas vendas e biscates".
do chamado "Grupáo" traz no seu bojo "uma desmoraliza9áo pa-
Conforme acrescenta, há depoimentos do documentário, até
ra o próprio Governo, que se alía a interesses políticos e de es-
mesmo de herdeiros da fazenda Soledade, reconhecendo a exis-
pecula<;áo imobiliária . . O parecer é leviano, principalmente por
tencia dos fndios T~peba. ·
náo lfJvar em conta qualquer consulta a historiadores do Ceará" -
afirma. Ele próprio lembra, quando crian9a, "dos Tapeba venden- Na rela<;áo de livros e outras publica9óes consultadas pelo ro-
do can<;óes e outras coisas na década de 50". teirista, todos trazendo passagens, antigas e recentes, da verda-
Vários dos depoimentos existentes no documentário, já exi-· deira saga dos Tapeba, constam: "Revista Trimestral do Instituto
bidos em outros.países com grande aceita<;áo, ..conforme Eusélio, do Ceará': primeiro e segundo semestres, 1900, por Joáo Brígido:
"apresentam alto grau de emotividade. Para mim'' - finaliza erfl.· "Os aborígenes do Ceará': 1965, por Carlos Studart Filho; "Dicio-
178 179
Jornal O POVO, Fortaleza, 28 de julho de 1988
nário Geográfico e Histórico do Ceará': por Renato Braga; "Notas
para a História do Ceará': 1862, "Datas e Fatos para a História
( do Ceará" 1896,· ambos por Guilherme Studart; "Gaminhos Anti-
gos e Povoamento do Brasil': 1960, por Capistrano de Abreu; e
"Datas e Sesmariasn, editado pelo Estado do Ceará, em 1925.
Questio indígena
Representantes da Igreja cearense, identificados com a defesa dos
direitos indígenas, elogiam atitudes de Tasso Jere'isSa.ti.
Em telex enviado ao presidente da Funai, Romero Juc.á, o
Governador diz reconhecer, ao lado de outras personalidades do
Estado, os Tapebas como indios.
Solicita ainda que o processo administrativo da demarcac;ao da
área Tabeba em Caucaia nao seja arquivado.
resta saber se o Conselho de Seguran~ Nacional acata o pedido.
180 181
.
Nao aos indios
185
~lo~tem parecer contra Romero Jucá
O mais cotado candi~to para o govemo de Roraima, cujo
nome terá que ser encaminhado ao Senado até o día 20 de
novembro, é o ex-presidente da Funai Romero Jucá, que já
ocupa intminamente o cargo. Contra ele, no entanto, pesa um
parecer secreto do consultor-
geral Saulo Ramos. O advoga-
do náo só concluiu que a Fu-
nai vendeu madeira de áreas
indígenas ilegalmente como
afinnou que as transa\:óes
eram passíveis de anula~áo. O
parecer de Saulo Ramos, po-
rém, foi prontamente abafado
quando se constatou que a ex-
plora\:áO de madeiras naquelas
áreas foi coordenada pela se-
cretaria-geral do Conselho de
Seguran~a Nacional .
186
Mais que dívida histórica
.. . que a História
É a carro9a abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa esta9áo inglória.
"A verdade histórica é, porém, muito outra e bem diversa. As tribos que
aqui viveram eram extremas e fortes.
Nenhum estado nortista talvez foi, como o Ceará, cenário de lutas vio-
lentas, de combates os mais desesperados entre aborígines e lusitanos.
189
Os Índios Tapeba*
191
'
As pressóes que se desenvolveram no processo de regula- mente ocupada pelo grupo no passado: em torno de 60.000 hec-
riza9áo do mercado de terras local, principalmente quanto a utili- tares, área essa integrante do aldeamento de Nossa Senhora dos
za9áo e apropria9áo por latifundiários e grandes empresas dos Prazeres de Caucaia, já extinto.
territórios· tradicionalmente habitados pelos Tapeba se, por um Tendo sido reconhecido o direito dos Tapeba a área e en-
lado, foi responsável pelo desmembramento do grupo em várias caminhado um Relatório de ldentifica9áo por técnicos da FUNAI
unidades, por outro, aparece hoje como um dos fatores respon- o processo de cria9áo da área indígena Tapeba sofreu urna revi-
sáveis por essf{ processo de revivescencia étnica dos Tapeba. A ravolta radical em nível do Grupo de Trabalho lntermini$t~rial -
retomada da consciencia de seus direitos as terras que, de fato, "Grupáo': que delibera· sobre as demarca9óes - em fun9áo das
sáo suas e a reversáo das expectativas estigmatizantes que a pressóes e da intransigencia do Conselho de Seguran9a Nacionar
popula9áo local, ainda hoje, guarda face aos Tapeba se dáo a em reconhecer a identidade e o direito do grupo indígena Tape-
partir da atua9áo de urna equipe da Arquidiocese de Fortaleza na ba. Em 20 de julho de 1988, por intermédio da Resolu9áo n'J°01, o
área de Caucaia, desenvolvendo um trabalho de organiza9áo "Grupáo", decidt.~ pelo arquivamento do processo, e até hoje ne-
comunitária, que tem como termo inicial o ano de 1982. nnuma nova delibera9áo foi tomada, gerando uma situa9áo de
Os membros do grupo étnico Tapeba habitam hoje em instabilidade e expectativa quanto ao destino deste grupo indíge-
áreas (povoados, lugarejos e vi/as) geográfica e ecologicamente na. ·
distintos do distrito sede do município de Caucaia a 16 km de
Fortaleza. As áreas diferentes em que habitam constituem aglo-
merados populacionais de densidade e composi9áo populacional,
bem como disposi9áo espacial, bastante contrastantes. Há desde
áreas habitadas exclusiva ou majoritariamente por / Tapeba - ,.
como é o caso da Lagoa dos Tapeba, do Trilho, da Barra Nova e,
até das Capoeiras - até outras onde sua presen9a é residual e
pulberizada - como Vi/a Sáo José, A9ude, Vi/a Nova, frutos de
ocüpa9áci posterior por parte de popula9áo migrante em busca de
melhores oportunidades de vida em Fortaleza. A popula9áo Ta-
peba, segundo dados do "Cadastramento dos índios Tapeba,
realizado entre os meses de mar90 e setembro de 1986, pela
Equipe de Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Fortaleza, é
de 914 pessoas, sendo que dados recentes estimam um número
de 1.000 indivíduos. Os Tapeba vivem em intenso contato com
elementos náo-índios, principalmente no desenvolvimento de ati-
vidades produtivas, mas, conforme indicado, se reconhecem e
sáo reconhecidos pela popula9áo local como um grupo com urna 1
192 193
Correio Brasiliense, BrasOia, 19 de abril de 1989
conhecimento oficial e dessa forma recuperar o acesso aterra. A
área "identificada" em 1986 pela FUNAI, corresponde a 4,675
hectares, extensáo mínima se comparada com a área efetiva-
mente ocupada pelo grupo no passado: em torno de 60.000 hec-
Os índios no Ceará tares, área essa integrante do aldeamento de Nossa Senhora dos
Prazeres de Caucaia, já extinto.
injusti9ados pelo governo Tendo sido reconhecido o direito dos Tapeba a área e enca-
minhado um Relatófio de ldentifica9áo por técnicos da FUNAI o
No Ceará, a presen9a indígena deixou de ser ignorada a partir processo de cria9áo da área indígena Tapeba sofreu uma revira-
do ano de 1982, quando o Grupo Indígena Tapeba, situado no volta radical a nível do Grupo de Traba/ha lnterministerial - "Gru-
Município de Caucaia, regiáo metropolitana de Fortaleza, saindo páo': que delibera sobre as demarca9óes - em fun9áo das pres-
da sua condi9áo de grupo estigmatizado, passa a reivindicar o di- sóes e da intransigencia do Conselho de Seguran9a Nacional em
reito a demarca9áo de suas terras por parte do Estado. Esse pro- reconhecer a identidade e o direito do grupo indígena Tapeba.
cesso de revivescencia étnica dos Tapeba, desmascara a farsa Em 20 de julho de 1988, por intermédio da resolu9áo nº 01, o
da decreta9áo da extin9áo dos índios no Estado, em 1863, reve- "Grupáo decide pelo arquivamento do processo, e até hoje ne-
lando o processo de expropria9áo e extermínio ao qua/ estiveram nhuma nova delibera9áo foi tomada, gerando uma situa9áo de
submetidos os diferentes Grupos Indígenas do Ceará, desde o instabilidade e expectativa quanto ao destino deste grupo indíge-
periodo colonial até os _días de hoje. na.
Os membros do grupo étnico Tapeba habitam em áreas (po- Assim, é necessário o apoio a reivindica9áo feíta pelos Tape-
voados, lugarejos e vi/as) geográfica e ecologicamente distintos ba, de demarca9áo do seu território tribal. E é isso, que eles efe:.
do distrito sede do Municipio de Caucaia - que se originou do tivamente pedem a todas as consciencias deste país.
antigo aldeamento jesuítico do mesmo nome, inagurado oficial-
mente em 20 de dezembro de 1741 -, a 16 km de Fortaleza. A Brasília, DF, 19 de abril de 1989
popula9áo Tapeba segundo dados do "Cadastramento dos Índios
Tapeba': realizado entre os meses de mar90 e setembro de • Df!putada Moema Sáo Thiago - PSDB-CE.
198~, pela Equipe da Arquidiocese, é de 914 pessoas, mas da- • Projeto Estudo Sobre Terras Indígenas no Brasil PETl/PP-
dos recentes estimam que o nt.imero é superior .a 1.000 indiví- GAS/Museu .Nacional - Río de Janeiro/RJ.
duos. Os Tapeba vivem em intenso contato com elementos náo- • HOJE - Assessoria em Educa9áo - Fortaleza/Ceará.
índios, principalmente no desenvolvimento de variadas atividades • Associa9áo dos Geógrafos do Brasil - Sec9áo Fortale-
produtivas, mas se reconhecem e sáo reconhecidos pela popula- za/Ceará
9áo local como um grupo com uma tradi9áo histórica e cultural • INESC - Instituto Nacional de Estudos Sócio-Econqmicos -
distinta. Brasília/DF.
O refor90 da identidade étnica Tapeba, paralelamente a orga- •Partido Verde
niza9áo deste Grupo, está ligado as pressóes que se estáo de- • Associa9áo dos Agrónomos do Estado do Ceará - Fortale-
senvolvendo no processo de regularizar;áo do mercado de terras za/Ceará
quanto a utiliza9áo e apropria9áo por latifundiários e grandes • Associa9áo Profissional dos Biólogos do Ceará - Fortale-
empresas, dos territórios tradicionalmente habitados pelos Tape- za/Ceará
ba. Os esfor9os do Grupo tem-se dado no sentido de obter o re- ~ FASE - Federatáo de Órgáos para Assisténcia Social e
Educacional - Equipe/Fortaleza
194
195
• CETRA - Centro de Estudo do Trabalho e de Assessoria ao
Trabalhador - Fortaleza/Ceará
• A TUAR - Assessoria aos Trabalhadores Urbanos e Rurais - Os Índios Tremenbé *
Fortaleza/Geará
• ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria ~ Fortale-
za/Ceará Ao averiguar algumas fontes de dados etno-históricos·(por
• Equipe Arquidiocesana de Apoio a Ouestáo Indígena - For- exemplo IBGE. 1972. Metraux, 1946; Nimuendaju, 1981; Pompeu
taleza/Ceará Sobrinho, 1951; Seraine, 1955) descobriremos que os primeiros
• Caritas Arquidiocesana de Fortaleza - Fortaleza/Ceará. contatos entre os índios Tremembé e portugueses ou franceses,
• Centro de Defesa e Promo9áo dos Direitos Humanos - For- sejam missionários, colonos ou comerciantes, ocorreram desde o
taleza/Ceará princípio da coloniza9áo portuguesa no Brasil. As referencias sáo
• Associa9áo das Comunidades do Río Ceará - Caucaia/Cea- mais precisas no que tange aos séculas XVII e XVIII, mais espe-
rá a
cíficamente constitui9áo de aldeamentos missionários.
• Associa9áo Popular do Cristo Redentor - Fortaleza/Ceará Os Tremembé ocupavam a faixa litoránea que vem desde o
• Uniáo de Moradores da Rua Sáo Cura D'Ars - Fortale- Maranháo até o litoral norte da antiga provincia do Ceará, onde
za/Ceará hoje se localizam os municípios de Acaraú e ltarema.
• Grupo de Teatro Cancela - Fortaleza/Ceará A prática do aldeamento indígena estabeleceu algumas
• Movimento de Cultura Popular do Pirambu - MOCUPP - missóes que serviam ao "recrutamento" e conversáo dos Tre-
Fortaleza/Ceará membé, como é o caso do aldeamento missionário de Nossa
• Conselho Indigenista Missionário - CIMl!Nordeste Senhora da Concei9áo de A/mofa/a, constituído no princípio do
• AGIR-CE, Associa9áo dos Grupos lntercomunitários do Meio século XVIII, pelo que se sabe na ordem do Padre José Borges
Rural Cearense - Fortaleza/CE de Novais, no ano de 1702. Esse aldeamento tomou-se núcleo
de destaque na atua9áo religiosa e política dos portugueses
quanto aos Tremembé, no que pode ser confirmado pela constru-
9áo da lgreja de Nossa Senhora da Concei9áo, que foi tombada
pelo SPHAN - Pró-Memória em 1984. Essa igreja é um dos mo-
numentos de referencia para os índios Tremembé que vivem hoje
no município de ltarema, pois serve como símbolo da rela9áo
com esse passado e com o que ele representa nos días atuais.
Os aldeamentos missionários eram formados a partir da
concessáo de sesmarias aos grupos étnicos que visavam a cate-
quizar. Foi o que aconteceu com os Tremembé e o aldeamento
de Nossa Senhora da Concei9áo, por isso, hoje em día, eles se
dizem filhos legítimos da "Terra da Santa'~ da "Terra do Al-
deamento'~ que é a maneira característica de se remeterem a
196
197
a
uma origem comum e mostrarem o seu direito ten-a onde nas- Río Aracati-Mirim. Inclusive, essas expu/sóes vero. ocorrendo
ceram e se criaram. através de ostensivo e progressivo cercamento das ten-as, impe-
Apesar dos Tremembé náo terem conseguido manter sua dindo qualquer controle por parte dos próprios Tremembé que ali
língua de origem, ainda hoje encontramos um vasto universo sim- viviam.
bólico e cultural que os relaciona com seus antepassados. É o Os Tremembé vem senda até amea9ados.de marte, como é
caso do torém, que é uma dan9a mimética a .respeito de animais o caso do atual Cacique Tremembé, que recebeu uma carta que
e frutos nativos encontrados pelos índios, por exemplo o caju, a colocava em perigo sua própria vida, se ele organizasse outra vez
taínha, o guaxinim, e que possui uma série de versos e refróes a cerimónia do Torém; que é "um dos símbolos característicos da
musicais que apresentam vocábulos de origem indígena, sobre- tradi9áo cultural Tremembé.
tudo particularizando cada ser encontrado ou visto pelos Tre- A custa disso, os Tremembé vem tentando salvaguardar
membé. Além disso, existem diversas histórias como a da "La- seus direitos a terra, como foi o caso da comunida<J.~- da Varjota
goa da Criminosa" ou da "Santa de Oiro" que sáo contadas que entrou na justi9a alegando o direito ao usucapiáo coletivo de
nas comunidades, entre os amigos e parentes. Percebe-se cla- 387 ha, onde podem podem pescar, cu/tillar e criar para seu pró-
ramente a for9a que tem a tradi9ao oral entre eles e que sáo si- prio consumo. O processo jurídico da comunidade visava a con-
nais diacríticos inconfundíveis para aqueles que os conhecem. testar os direitos atribuídos pela empresa agro-industrial Ducóco
Essas histórias sáo de grande importancia na compreensáo da si- que se implantou na regiáo no início da década de 80 equis ex-
tua9áo étnica dos Tremembé. pulsá-los de suas terras.
No ano de 1986, uma equipe da FUNAI - Funda9áo Nacio- Essa a9áo judicial e a atividade política mais recente dos
nal do Índio - visitou a regiáo de A/mofa/a e escreveu relatório de Tremembé da Varjota contribuíram para a forma9áo até do Sindi-
atividades, onde contabiliza 3061 Tremembé (FUNAI: 86, TIB, cato dos Traba/hadares Rurais de ltarema, que possui grande
1987). Mas o fotógrafo Marcos Guilherme, que realiza pesquisa e número de filiados dft origem étnica Tremembé, os quais perce-
atividade fotográfica entre os Tremembé, há mais de 1O anos, beram o sindicato como um dos lugares por onde poderiam de-
procedeu a um levantamento populacional em 1984 e considerou fender o direito a ten-a que herdaram de seus antepassados. Es-
a presen9a de 4441 Tremembé, porém náo chegando a recen- se direito é reconhecido também pelas comunidades campone-
sear todas as áreas de distribui9áo da popula9áo indígena. Desse sas que vivem no município de ltarema, próximas das localidades
modo, pode-se ver a amplitude populacional das pessoas que se onde residem os Trememb?. Inclusive, o atu§I presidente do
auto-atribuem como Tremembé, residindo pela regiáo. Sindicato dos Traba/hadares Rurais de ltarema e um de seus di-
Eles ocupam a faixa litoranea do distrito de A/mofa/a e ou- retores sáo reconhecidos e se atribuem Tremembé.
tras localidades para o interior, mas sabe-se que existem comu- A participa9áo política se vem fazendo também nos encon-
nidades Tremembé também noutras áreas do município do Ita- tros regiorJais entre diversas _etnias do Nordeste, que vem senda
rema, que náo foram levantadas no período de visita da equipe promovido pelo CIMl-NE - Conselho Indigenista Missionário, re-
do órgáo indigenista do Estado. Esses fatos chocam-se com o giáo Nordeste - de grande valor para a comunica9áo e a traca de
próprio Plano de Metas da FUNAI (1987) que incluía o prosse- experiencias entre os grupos étnicos e da situa9áo que cada co-
guimento do "caso Tremembé" como um de seus objetivos para munidade partícularmente passa.
aquele ano. O CIMI - na pessoa de seus missionários - atua com bas-
Sobretudo, vale advertir que eles vem senda expulsos de tante vigor e decisivamente a favor da resistencia cultural e so-
suas terras já há muito tempo, como é o caso de inúmeras famí- cial dos Tremembé, incentivando a auto-afirma9áo étnica que é
lias que moravam nas localidades da Lagoa Seca, Passagem muito estigmatizada por aqueles que náo reconhecem os direitos
Rasa, Batedeira e Taperinha, estas duas na margem direita do
198 199
A
200
Heróis Indígenas do Ceará •
203
ARAPÁ - Rrincipal r'"~·:ilú da Serra de CANINDÉ (Arara Azul) - Poderoso ca- CHUBEBA - Principal do CearA. Por como Catunda o descreve: "Era a
lbiapaba, CearA (Século XVII). cique tarairiú, filho do "rei" Janduf, a se rebelar contra os padres da personificac;áo dos vícios e qualida-
quem sucedeu. Foi grande inimigo Companhia de Jesus, foi por estes des da rac;a: bravura ruidosa e tea-
dos portugueses. Com o pretexto de hostilizado. A provisáo de 17 de abril tral, retórica facial
•
e obséena1 dissi-
ARARE -_ Personagem de José de negociar a paz, Joáo Fernandes de 1662, do governador da Bahia, mula9áo, perffdia., incapacidade do
Alencar, que funciona como sendo o Vieira chamou-o a Pernambuco. desterrou-o juntamente com outros bem, inteligéncia pronta do mal, ins-
pai do índio Peri, no romance O Mas o branco, descumprindo a pala- principais. tintos rapaces. Entrenebecia-lhe a
Guarani. vra dada, prendeu-o junto com mais fronte melancólica e feroz, como se
nove principais, somente o soltando , a voz interior lhe segredasse o mar-
depois que seu pai mandou ses- COBRA AZUL - Indio tabajara, do tirológio de sua posteridade através
BÁRBARA - india da aldeia de Paran- senta negros em troca do filho. Ao CearA. Era filho de Amaniú. Rebe- da história, em cuja esfera ia apare-.
gaba, CearA. Sobre ela hA urna len- suceder o pai, intitulou-se "rei dos lou-se contra o padre Luís Figueira e cer, porém transfigurado pela infusáo
da: depois de morta, no terceiro dia, Janduís". Comandava quinze mil in- acabou migrando para o Maranháo. de sangue mais nobre". Seu nome
teria aparecido a Susana da Silva, dígenas, dos quais havia cinco mil (Século XVII). era Juriparia9Ú, que na língua indíge-
índia, mulher de Manuel de Almeida, em armas. Combateu enquanto pOde na significa Diabo Grande.
também índio, pedindo que o padre o sanguinArio Matias Cardoso de
Rogério Canísio rezasse urna missa Almeida. Através de um interessan- COIÓ - Principal da Serra de lbiapaba.
para sua alma; atendido o pedido, a tfssimo documento, que é o único do Contemporfuleo de ArapA e Guara- FELIPE DE SOUSA CASTRO - indio
fndia apareceu novamente, desta género no Brasil, fez um tratado de ná (Século XVII). da Serra de lbiapaba, filho de Jacobo
feíta vestida de branco, indicando paz com o Rei de Portugal, em 1O de de Sousa. Foi cavaleiro da Ordem
que sua alma tora salva. abril de 1692. O descumprimento do de Santiago. Comandou várias ex-
tratado, por parte dos portugueses, COMATI - Chefe Kariri. Era sobrinho pedic;oes para combater os "bArba-
irritou o valente cacique que, afinal, do "rei" Janduf. Do seu nome veio ros". Como recompensa aos "Servi-
BASÍLIA TAVARES - india jaguariba- foi preso por Afonso de Albuquerque Cubati, pequena cidade do Interior c;os prestados" recebeu aqueta co-
ra. Ficou conhecida por ter matado Maranháo. Recebeu em doac;áo as da Paralba. (Século XVII). menda e o tratamento de Dom, em
urna onc;a a pauladas, depois de ser terras onde hoje se situa o municfpio 1721.
atacada pelo felino (Século XVIII). de Goianinha, Río Grande do Norte.
Posteriormente foi aldeado no Ac;u~ DIABO GRANDE - Morubixaba tabaja- GON<;ALO - Fiel fndio que guiou Pero
onde morreu de maleita em 1699. ra da Serra de lbiapaba. lnimigo dos Coelho de Sousa na segunda e tam-
BATATÁ (Coqueiro) - Cacique tabaja- invasores, recusou-se a fazer alian- bém desastrosa entrada que este
ra. Juntamente com outros princi- 9a com Jerónimo de Albuquerque.
fez A Serra de lbiapaba. As tropas
pais, participou da entrada de Pero CAPIRANHA - Principal do CearA. Ao Resistiu A entrada de Pero Coelho de Pero Coelho debandaram perma-
Coelho de Sousa ~ Serra de lbiapa- rebelar-se contra os portugueses, de Sousa1 em 1604. Aliou-se aos
necendo ao seu lado apenas dezes-
ba, entre 1603 e 1604, inclusive estes obtiveram do governador franceses, fazendo que os por-
sete homens, entre os quais o fiel
combatendo os franceses. Tomou Francisco Barreto urna provisáo tugueses batessem em retirada.
Gonc;alo, que conseguiu levar o
parte também na expedi9áo de JerO- datada de 17 de abril de 1662 para Prometeu a paz desde que lhe en-
resto da malograda expedic;áo até
nimo de Albuquerque ao Maranháo, desterré-lo juntamente com outros tregassem os inimigos Manuel de
Natal, numa penosa viagem de qua-
em 1614. principais. Miranda e Pedro Cangatá. Seu pedi-
se duzentas léguas (Século XVII).
do náo foi aceito e com a ajuda do
maioral Mel Redondo partiu para en-
CARAPOTO - Cacique Kariri. (Século frentar os lusitanos. Ao cabo de tres
BATURITÉ (Montanha) - Principal po-
XVII). dias de luta fez as pazes, influencia- GUARARÁ - Principal reriiú da Serra
tiguara. Era pai de JatobA e avO de
Jacaúna. Conta urna lenda que vo- do por Ubaúna, outro principal da- de lbiapaba. Para agradar aos pa-
luntariamente exilou-se na serra ·que CAUBI - LendArio irmáo de lracema, quelas paragens. Participou da ex- dres tinha somente urna mulher, que
leva seu nome, onde morreu. (Sé- no célebre romance de José de pedi9áo enviada ao Maranháo pelo logo repudiava por outra. Consta que
culo XV). Alencar. governador Gaspar de Sousa. Eis era bastante rixento, (Século XVII).
204 205
IACORUMA,MIRIM - Principal do Cea- LAGARTIXA ESPALMADA-Principal quando chegaram os que vinham forte do Rio Ceará, entregando-a
rá. Em 1644, juntamente com Tapa- tabajara, do Ceará. Foi contempora- com ele, assim portugueses oomo aos portugueses. Para isto, aliou-se
ratim da' Serra e Orubu Acanga apo- neo de Diabo Grande e Cobrq Azul. fndios, já tinha rendido a canoa e com Lacoruma e Taparatim da Ser-
derou-se do forte do Rio Ceará que Perseguiu bastante o padre LL;is Fi- preso o capitáo dela, e sua mulher e ra.
estava em poder dos holandeses. gueira. o filho livres". Antes desse episódio,
Ele e seus companheiros, depois de que ocorreu em 1614, o bq1vo caci-
trucidarem a guarni9áo, entregaram que havia participado de outras ex- PENATY - Cacique tapuia. Em 1666 foi
o forte aos portugueses. LUÍSA - Índia de Caucaia, Ceará. pedi9óes, inclusive a de Pero Coe- perseguido pelo capitáo-mor do Cea-
Convertida ao cristianismo, resolveu lho de Sousa, que malogrou. Man- rá, Joáo Tavares de Almeida, e pe-
permanecer virgem para melhor ser- diocapuba mereceu honras e mer- los índios lcó. O cacique e um filho
IRAPUÁ (Mel Redondo) - Cacique ta- vir a Deus. Porém, instigada pelos ces do Reí de Portugal por seu de- morreram em combate. Em 1679 a
bajará da Serra de lbiapaba. Aliou-se país e pelo padre Rogério Canísio, sempenho em favor dos invasores. viúva do entáo falecido capitáo-mor
a Diabo Grande contra Pero Coelho casou-se em 1744 com um índio da pediu ao Rei urna recompensa por
de Sousa, contando para isso com o mesma aldeia, sendo contaminada mais este "servi90" prestado por
apoio de alguns franceses sob as com doen9as venéreas. Definhando MANDU LADINO - Principal tapuia. seu defunto marido.
•
ordens do senhor de Mambille. E ci- a
e beira da morte, passou a ter vi- Comandou a última resistencia de
tado por José de Alencar em lrace- sóes celestiais que aliviavam suas vulto contra o invasof' luso no Nor-
ma. dores. Morreu um ano depois. deste. Entre 1712 e 1717 arrasou sf- SAf - Índia potiguara. Mulher de Jatobá
tios e fazendas no Piaur, Ceará e e máe de Jacaúna e de Potigua9ij.
Maranháo. Foi derrotado pelos ta- (Século XVI).
JACAÚNA - Chefe potiguara, irmáo de MANDIOCAPUBA - Cacique tabajara. bajaras da Serra de lbiapaba. Mor-
Poti-Gua9u. Deu ines~imável ajuda a Antes do combate de Guaxenduba, reu lutando próximo ao delta do Par-
nalba. TAGAIBUNA - Principal da Serra de
Martín Soares Moreno, a quem tinha que culminou com a expulsáo dos lbiapaba, contemporAneo de Algo-
como um · filho. Tomou parte na jor- franceses do Maranháo, que aí ha- dáo. Tornou-se amigo dos portugue-
nada do Maranháo. Sua amizade viam se estabelecido sob o coman- ses, recebendo cartas e presentes
com Soares Moreno come9ou em ~~ do senhor da La Ravardiere, PERNA DE PAU - Cacique tapeba do do Reí. Os padres censuraram-no
1611 e só terminou com a morte. Foi Urnas mo9as tabajara procedentes município de Caucaia, Cear~. De- por mancebía provocando a rebeldía
o único potiguara que transigiu com da Paralba saíram para mariscar na pois da sua morte, ocorrida há pou-
• do índio, em 1661. Em 17 de abril de
os portugueses. E citado no roman- praia. De repente os índios aliados co mais de vinte anos, os tapebas 1662, o governador da Bahia, Fran-
ce lracema. dos franceses atacaram-nas, ma- ficaram sem liderarn;a, perdendo cisco Barreto, expediu urna provisáo
tando urnas e levando outras prisio- gradativamente suas terras, com para os padres do Ceará determi-
JACOBO DE SOUSA - Principal ta- neiras. A mulher de Mandiocapuba a
grave amea9a sua precária sobre- nando sua puni9áo. Em 18 de mar90
bajara da Serra de lbiapaba. Amigo e estava entre o grupo assaltado. So- vivencia. de 1663, o mesmo governador fez_
defensor dos portugueses, foi agra- bre o episódio assim se refere Diogo urna carta ao capitáo-mor do Ceará
ciado com o título de Cavaleiro da de Campos: ºTocou-se arma, e acu- recomendando que o índio fosse
Ordem de Cristo. Morreu em Lisboa, diu a gente com prestreza, que náo NHONGUGE (Abelha Parda) - Princi- castigado, se possfvel com a morte,
quanto lá estava fazendo algumas somente lhes tiraram o que tomado pal tapuia, cunhado do "rei" Canindé. por haver destrufd_o ~ missáo de Sáo
reivindica9óes ao Reí. (Século XVII). tinham, mas pelo valor de um princi- Tinha urna filha casada com o portu- Francisco Xavier. O padre Vieira,
pal da na9áo tabajara, chamado gues Joáo Paes Floriáo. (Século que o censurara drasticamente por
Mandiocapuba, o qual sentindo que XVII). ter várias mulheres, tentou aliciá-lo
JENIPAPOACU - Cacique Paiakú, lhe levavam sua mulher e um filho com urna moeda de ouro. Entretanto,
notável pela astúcia. Foi vrtima de cativos, correu com tal ligeireza, que , o famoso padre também náo resistiu
urna armadilha preparada por Morais foi for9oso arremeter só a todos os ORUBU ACANGA - Cacique tapuia. aos encantos femininos e acabou
Navarro, em 1699, que quase liquida contrários, dos quais matou dois e Em 1644 revoltou-se contra os ho- deflorando urna jovem índia da aldeia
com todos os índios dessa na9áo. pOs os demais em tal desordem, que landeses. Trucidou a guarni9áo do de Gurupi, no Pará.
206 207
TAPARATIM - t>rincipal da Serra de rioridade no número. Foi um grande
lbiapaba. Em 1644 abandonou os aliado dos portuguses contra os po-
holandeses. Juntou-se a Orubú tiguaras, principalmente durante a
Acanga e lacoruma-Mirim para inva- conquista do Rio Grande do Nort~.
dir o forte do Rio Ceará. Depois de (Século XVI e XVll)r
trucidarem a guarni9áo batava en-
tregaram o forte aos portugueses. TIARARA - fndio tabajara da Serra de
lbiapaba. Em 1691 foi preso pelo
TAMINHOBA - Principal da Serra de simples fato de negociar com gado,
lbiapaba. Iludido pelas falsas pro- que mandava para Pernambuco.
messas de Joáo Velho do Vale mi- Atendendo urna peti9áo do sargento-
grou para o Maranháo. Dois anos mor Esteváo Velho de Moura, o
depois voltou sendo aldeado no marqués de Montebelo mandou sol-
mesmo local onde foram também os tá-lo.
principais Jacobo de Sousa e Salva- TOMÉ DIAS - Principal do Ceará (Pa-
dor Saraiva (Século XVU). rangaba). Em 25 de fevereiro de
L 1707 recebeu urna sesmaria na área
TATUGUACU (Tatu Grande) - Princi- compreendida entre a Lagoa Caracu
pal tremembé, lnimigo dos portugue- e as Serras de Maranguape e Sapu-
ses. Certa feíta teotou dizimar urna para.
éxpedi9áo portuguesa e. depqis de
muito perigo logrou fugir durante a
noite ,(Século XVI). "
UBAUNA - Principal do Ceará. Foi o Mapas e Fotografias
TATUPEBA (Tatu Chato) - Cacique de
intermediário na paz que Pero Coe-
lho de Sousa logrou fazer com Diabo
(Documenta~ao)
Camocim, Ceará. Grande e Mel Redondo, no início do
Século XVII. Era bastante estimado
TAVIRA - Guereirro tabajara. Dotado pelo seu povo.
de invulgar for9a física e coragem
pessoal, era o flagelo dos seus lni- UIRA·ECA·ACU (Pássaro de Olho
migos. Pessoalmente infiltrava-se Grande) - Oriundo da Serra de lbia-
entre os contrários para espionar paba, foi um dos principais da aldeia
seus acampamentos e escutar seus de Poieupe, Maranháo. T omou parte
planos. Preparava emboscadas e nas solenidades de funda9áo de Sáo
promovia assaltos notumos, man- Luís, em 1612. Foi o pai de ltapucú e
tendo seus lnimigos em contínuo so- era amigo de Japia9u.
bressalto. Um dia foi cercado; na iu-
ta urna seta vazou-lhe um olho. Ar-
rancou-a juntamente com o globo UIRÁ-UERÁ (Pássaro Preso) - Mulher
ocular, dizendo: "Para bater meus de Uirá-E9á-A96 e máe de ltapucú.
Ínimigos basta-me um só olho!". E Migrou com o marido da Serra de
de fato os derrotou apesar da supe- lbiapaba para o Maranháo.
208
INDÍGENA DO CEARÁ
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Uma fu'**la lndfgena - Procedéncia: Parangaba, Fortaleza-ce. C~o Tho-
maz Pompeu Sobrinho - Museu Histórico e Antropológico do Estado do Ceará.
Data da fotografia: marco de 1989.
216 217
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Machados de Pedra dos Indios do Ceará - Da esquerda para a direita (parte de ~ de Pedra dos Índlos do Ceará. - Da esquerda para a direita (parte de
cima): Vi9osa - Curu - Curu - Momba9a - Curu (parte do meio): Mundaú - Mun- cima): Maranguape - Sobral - Maranguape - Fortaleza - Aracati (parte do meio):
daú - Sobral - Quixeramobim - Canindé - (parte de baixo): Mondubim - Curu - M~ranguape - Caucaia - Coité - Caucaia - Campos Sales (parte de baixo): S~o
Trairl - Caucaia - Trairt. Museu Histórico e Antropológico do Estado do Ceará. Luis do Curu - ltapipoca - Messejana - Maranguape - Aracati. Museu Histórico e
Data da fotografia: mar90 de 1989. Antropológico do Estado do Ceará.• Data da fotografia: mar90 de 1989.
218 219
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Machados de Pedra dos fndlos do Ceará. - Da esquerda para a direita (parte de ~chados de Pedra dos fndlos do Ceani. - Da esquerda para a direita (parte de
cima).: Sáo Luís do Curu - Fortaleza - Beberibe - Canindé {parte de baixo): Sáo cima): Acarape - Fo·rtaleza - Mundaú - {parte de baixo): Maranguape - Ceará -
Luís do Curu - Sáo Lu(s do Curu - Ceará - lpu. Museu Histórico e Antropológico Pacatuba. Museu Histórico e Antropológico do Estado do Ceará Data da fotogra-
do Estado do Ceará Data da fotografia: mar90 de 1989. fia: mar90 de 1989.
220 221
India Potygl88 (Potyguara é urna das orfgens dos fndios Tapeba). Reserva lrd-
gena da FUNAI. Estado da Paraba. Data da fotografia: ano de 1987.
222 223
Monumento da P~ José de Alencar. Fortaleza-Ce. Guaranl - Monumento
11orunento da P~ José de Alencar. Fortaleza Ce. Guaranl - Monumento
erigido por iniciativa do jornalista Gilberto CAmara - Presidente da Associa9Ao
Cearense de lmprensa. Por ocasiáo do primeiro centenário do nascimento de José erigido por iniciativa do jornalista Gilberto CAmara - Presidente da Associa9Ao
de Alencar (1 º de mar90 de 1829 a 1º de mar90 de 1929). Data da fotografia: mar- Cearense de lmprensa. Por ocasiáo do primeiro centenário do nascimento de José
co de Alencar (1 º de mar90 de 1829 a 1º de mar90 de 1929). Data da fotografia: mar-
, de 1989.
90 de 1989.
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HMCI~ de Ponte do rlo COCO (prOxina ao ateno do mangue e saina, onde fol conatrufCIO o Shopplng
Center lguatemi). Data do día 13 de maio de 1791 a re~ifica9Ao da ponte sobre o río Cocó. Fortaleza-Ce. Em
,....,, 6 de junho do mesmo ano, a CAmara de Fortaleza paga 5$480 que sustentaram os fndios na reedifica9ao da
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citada ponte (STUDARt, Guilher. Datas e Fatos para a História do Ceará - tP Volume)•
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FORTE SCHOONENBORCH
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Forte Schoonenborch, atual 10' Regllo Miiitar. Fortaleza-Ce. Data da fotografta: malo de 1989. (GlrAo, Ral-
mundo. Matias Beek - Fundador de Fortaleza. lmprensa Oficial do Ceará, 1961 ). Data da reproducAo: abril de
1989.
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Forte Schoonenborch, atuaJ 10' Regllo Mllltar. Fortaleza-Ce. Data da fotografla: malo de 1989. (Glrlo, Rai-
mundo. Mafias Beek - Fundador de Fortaleza. lmprensa Oficial do Ceará, 1961 ). Data da reproducAo: abril de
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10' Regiio Mlltar, antlgo Forte Shoonenborch. Fortaleza-Ce. Data da fotografia:
maio de 1989.
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Machados de Pedla lndfgenas. - Da esquerda para a direita: Machado Indígena
do CearA. Retangular. Pedra polida. Proveniente das tribos da Serra da lbiapaba.
Machado Indígena do Ceará. Tronco-cOnico. Pedra polida (sem localizar a regi~o).
Instituto do Museu Jaguaribano, Aracati-Ce. Data da fotografia: maio de 1989.
Índlos Tapebe. Da esquerda para a direita: o Tapeba Victor, último Chefe Indígena
Tapeba, falecido a 3 de outubro de 1984, cuja data é comemorada anualmente como
o Día do indio Tapeba. Foto by Copyrith José Cordeiro de Oliveira.
234 235
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c.tmlca lndfgana do Can. Arglla. Proveniente das tribos da Serrada lbiapa- Machado de pedra dos Indios do Cearé (sem especifica~ de detalhes). Insti-
ba. Instituto do Museu Jaguaribano, Aracati-Ce. Data da fotografia: maio de 1989. tuto do Museu Jaguaribano, Aracati-Ce. Data da fotografia; maio de 1989.
236 237
Cerlmlca lncHgena do Celri. Arglla (sem locaizar a regiAo) Museu Diocesano Certmica lndrgena do Ceará. Arglla (sem locafizar a regiAo). Museu Diocesano
Dom José TupinambA da Frota, Sobral-Ce. Data de fotografía: maio de 1989. Dom José TupinambA da Frota, Sobral-Ce. Data da fotografia: maio de 1989.
238 239
C-*nlal lndfgena do Can. Arglla (sem locaHzar a regiAo). Museu Diocesano Cerlmlca lndfgena do Caanl. Arglla (sem localzar a regiAo). Museu Diocesano
Dom José TupinambA da Frota, Sobral-Ce. Data da fotografia: maio de 1989. Dom José Tupinambá da Frota, Sobrai.-Ce. Data da fotografia: maio de 1989.
240 241
Cachimbos Indígenas do Cearé. Da esquerda para a direita: cachimbo tipo Aste- lga~be Kartrt, tamanho grande, onde os Indios mortos eram enterrados. Encon-
ca e cachimbo Kariri, encontrados juntos, dentro de urna lga9aba. Data da fotogra- trada no centro da cidade do Grato, na Pra9a da Sé. Museu Histórico José de Fi-
fia: mar90 de 1989. guerédo Filho, Grato-Ce. Data da fotografia: mar90 de 1989.
242 243
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Machados de pedra dos lndlos Karlrl (sem especifica~ de detalhes). Museu Machados de pedla dos lndlos Kartrt (sern especifica~ de detalhes). Museu
Histórico José de Figuerédo ·Filho, Grato-Ce. Data da fotografia: mar90 de 1989. Histórico José de Figuerédo Filho, Grato-Ce. Data da fotógrafía: mar90 de 1989.
244 245
,.
246 247
Rebato a Óleo do Padre Francisco Pinto e do Padnt Lulz Flguelra. Jesuitas,
•
Coordenadores da Missáo Catequética dos Indios do Ceará. Fundadores dos Al-
deamentos de Caucaia, Parangaba e Messejana-Ce. Fonte: Cole<;áo História e
Cultura nº 8. Tres Documentos do Ceará Colonial. Fortaleza, lmprensa Oficial,
1967.
248 249
Retrato a Óleo do Padre Francisco Pinto e do Padre Lulz Flguelra. Jesuftas,
Coordenadores da Missao Catequética dos Indios do CearA. Fundadores dos Al-
deamentos de Caucaia, Parangaba e Messejana-Ce. Fonte: Cole9áo História e
Cultura nº 8. Tres Documentos do Ceará Colonial. Fortaleza, lmprensa Oficial,
1967.
250 251
Doltco - fndio C?abefudo ~ - 1agoa da Encantada -Aqunz, Ce. JoM De Siiva - Indio cabeludo Genipapo-Kanindé - Lagoa da Encantada - Aqui-
raz, Ce - Data da fotografia: agosto de 1989 - Copyrith by Marcos Filho.
Data da fotograf1a: agosto de 1989 - Copyrith by Marcos Filho.
252 253
Piiio de pedla encontrado no munidpio de Ouixeramobin onde habitavam os li-
dios Kanindé. Pertencente ao acervo particular do colecionador Sr. Jorge SimAo.
Quixeramobim, Ce. Data da fotografia; julho 89. Plláo de pedra encontrado no municfpio de Quixeramobim onde habitavam ~s rn-
dios Kanindé. Pertencente ao acervo particular do colecionador Sr. Jorge S1máo.
Quixeramobim. Ce. Data da fotografia: julho 89.
254 255
Piiio de pedla enoontrado no município de Ouixeramobim onde habitavam os ro- Piiio de pedra encontrado no município de Quixeramobim onde habitavam ~s ro-
dios Kanindé. Pertencente ao acervo particular do colecionador Sr. Jorge Simáo. dios Kanindé. Pertencente ao acervo particular do colecionador Sr. Jorge S1máo.
Quixeramobim, Ce. Data da fotografía: julho 89. Quixeramobim, Ce. Data da fotografía: julho 89.
256 257
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P~ de arteunato de Cldmica (hleo), possivemente usada petos fndios para Utenslllos fettos pelos Indios pera fuer fogo. Encontrados no municipio de
tear algodoo. Encontrada no municfpio de Ouixeramobim. Pertentence ao acervo Quixeramoblm. Pertencentes ao acervo particular do colecionador Sr. Jorge Si-
particular do colecionador Sr. Jorge SimAo. Ouixeramobim, Ce. Data da totografia: máo. Quixeramobim, CE. Data da Fotografia: julho de 1-989.
julho de 1989.
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,.
262
263
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Placas de rua com nomes de Na~óes lndlgenas do Ceará. Praia de lracema, Placas de rua com nomes de Na~óes Indígenas do Ceará. Praia de lracema,
mar90 de 1989. Fortaleza-Ce. mar90 de 1989. Fortaleza-Ce.
264 265
Placas de rua com nomes de Na~6es Indígenas do Ceará. Praja de lracema, Placas de rua com nomes de Na~óes lndfgenas do Ceará. Praia de lracema,
maryo de 1989. Fortaleza-Ce. mar90 de 1989. Fortaleza-Ce.
266 267
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www.etnolinguistica.org
REQUERIMENTO DO SR. ESMERINO OLIVEIRA ARRUDA COELHO A FUNAI,
em 3.7.87.
2 71f
Resistir é Preciso!
O símbolo da resisténcia indígena no Ceará se nos
coloca em consonAncia com o eco mais profundo da nossa
identidade como povo no resgate de sua história. É dessa
forma que o escritor José Cordeiro de Oliveira, sem paradig·
mas, artificios ou sofismas, restituí num pnsma totalmente
novo, mediante provas e documentes, a real dimensoo dos
fatos que envolvem a forma9áo da cultura indígena em nosso
Estado.
"OS INDIOS NO SIARÁ - MASSACRE E RESIS-
TENCIA" é um trabalho, antes de tudo, comprometido com a
clareza, a justh;a e a dignidade humana. Sem deixar de ser
um patamar demolidor de dúvidas e mentiras abafadas pelo
mofo da parcialidade e da omissáo histórica, introduzindo
urna ironía feroz contra os escritores da classe clomihante
pelo obscurantismo com que sempre trataram essa questao.
Este é um livro que tem duas vertentes básicas para
·sua compreensao. A primeira é a den(mcia contundente e
evidenciadora do esmagamento e da crueldade sofrida pelos
nossos silvfcolas sob o tacoo do colonizador até nossos
dias. Em seguida, ternos a análise dialética numa abordagem
mais ampla que vai ao vértice central do questionamento le-
vantado: a nossa estrutura fundiária conservadora e feudal, a
nos impor a polariza9áo da ordem atual do sistema capitalista
·- opressores versus oprimidos. Os fndios foram alvo e vfti-
mas da sangría desatada e da ambi9áo dos conquistadores.
Para o fndio o ciclo da vida se reconduz pelo equilrbrio com
os ecossistemas que emanam da terra. Ouanclo isso foi que-
brado, esmagado pelo branco, eles come9aram
, a resistir.
Mas qual o significado de tudo isso? E o que o autor nos
aponta, como num alerta: "Aju9á, aju9á! (morte, morte!). O
maior inimigo do nosso fndio é, foi e sempre será a proprie-
dade privada. Náo tem sarda. A sociedade precisa retomar
a luta e a esperan9a - é essa a perspectiva para que áponta
este livro. A busca imperecrvel do destino coletivo e da líber·
dade do Homem.
GUARACY RODRIGUES
Escritor