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Santa Maria, RS
2023
Minha observação foi durante o estágio realizado no CREAS, na área de
medidas socioeducativas. O grupo a ser observado é o do setor composto por, uma
psicóloga, e três assistentes sociais – existem outros profissionais que compõem o
trabalho como a recepção, o motorista entre outros, mas a dialética de trabalho
perpassa, dentro do setor que observei, entre esses 4 profissionais.
Conceitualizando o CREAS
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O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), sistema descentralizado e
participativo, que regula e organiza a oferta de programas, projetos, serviços e
benefícios socioassistenciais em todo o território nacional, respeitando as
particularidades e diversidades das regiões, bem como a realidade das cidades e do
meio rural. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011 (Lei do SUAS), baseado em
categorias de território, vulnerabilidade social e risco social, que são fundamentais
para compreender os elementos relacionados às competências da assistência social
e a organização do SUAS.
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legal – e mesmo constitucional – uma autêntica instrumentação
do território que a todos atribua, como direito indiscutível, todas
aquelas prestações sociais indispensáveis a uma vida decente
[...] constituem um dever impostergável da sociedade como um
todo e, neste caso, do Estado (apud 2007: 141).
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de pessoas que vivem em domicílios com renda per capita inferior a meio salário
mínimo somente 20,5% (vinte e meio por cento) representam os brancos, contra
44,1% (quarenta e quatro vírgula um por cento) dos negros (IPEA, 2005). Há maior
pobreza nas famílias dos adolescentes não brancos do que nas famílias em que
vivem adolescentes brancos, ou seja, cerca de 20% (vinte por cento) dos
adolescentes brancos vivem em famílias cujo rendimento mensal é de até dois
salários mínimos, enquanto que a proporção correspondente de adolescentes não
brancos é de 39,8% (trinta e nove vírgula oito por cento). A taxa de analfabetismo
entre os negros é de 12,9% (doze vírgula nove por cento) nas áreas urbanas, contra
5,7% (cinco vírgula sete por cento) entre os brancos (IPEA, 2005). Ao analisar as
razões de eqüidade no Brasil verifica-se que os adolescentes entre 12 e 17 anos da
raça/etnia negra possuem 3,23 vezes mais possibilidades de não serem
alfabetizados do que os brancos (UNICEF, 2004). E mais: segundo o IBGE (2003),
60% (sessenta por cento) dos adolescentes brasileiros da raça/etnia branca já
haviam concluído o ensino médio, contra apenas 36,3% (trinta e seis vírgula três por
cento) de afrodescendentes (negros e pardos). Há também diferenças superiores
entre a raça/etnia branca e a raça/etnia negra quando se verifica a relação entre a
média de anos de estudo e o rendimento mensal em salário mínimo. A raça/etnia
branca possui média de estudo de oito anos e o rendimento médio em salário
mínimo de 4,50, contra a média de 5,7 anos de estudo com rendimento médio em
salário mínimo de 2,20 da raça/etnia negra (IPEA, 2002. SINASE, 2010. SUAS).
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demanda. Sempre trabalhando em rede com o conselho tutelar e com o
CAPS.”
3) Características do grupo que atende:
“Público alvo específico do setor são adolescentes e jovens de 12 a 18 anos,
podendo se estender até 21 anos, meninos e meninas, por que também
temos mulheres que cometem atos infracionais. Na maioria são meninos de
16 a 18 por aí, mas temos um menino de 13 e um de 20 anos, por exemplo.
E a características deles, na maioria né, na questão social, no perfil, são
meninos e meninas que não tem uma escolarização alta, maioria na
concluíram o ensino fundamental ainda. Estão sem trabalho ou trabalhando
de forma informal, poucos têm carteira assinada, ou já concluíram o ensino
médio ou fizeram cursos técnicos, e tem a questão de serem baixa renda,
esse seria o perfil.
Mas também tivemos estudantes de medicina, de contabilidade e até um
menino que foi aprovado em um concurso militar muito concorrido fora do
estado, mas esse são exceções, que têm família estruturada e uma renda de
20 a 30 mil mensais, são exceções.
Mas geralmente o perfil é esse que te falei, baixa renda a família também com
questão de vulnerabilidade social, alimentar né. O CREAS não fornece cesta
básica, não tem essa obrigatoriedade, mas em alguns casos a gente acaba
fornecendo, porque você vai fazer uma visita e percebe que o que está
latente ali é a fome. E a fome não vai esperar a pessoa ir até o CRAS se
cadastrar, esperar pra daqui um mês receber uma cesta básica. Então a
gente lida muito com essas situações, às vezes você vai na casa das pessoas
e não tem nem onde tu sentar, é um cômodo só pra 10 pessoas.”
4) Quais as maiores satisfações resultantes do trabalho com grupos e com
este público?
“Eu acredito muito, Estevão, não só aqui mas já passei por outros setores da
assistência social e da saúde, mas acho que é quando a gente consegue ter
um retorno positivo do trabalho, sabe. Quando vem um pai e uma mãe e
agradecem assim, de uma forma que não tem salário que pague, não tem
dinheiro que pague. Você vê no olhar da pessoa a gratidão, “bah se não fosse
por ti eu não teria conseguido tal coisa”. Quando a gente vê um menino que
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realmente se ressignificou né, arrumou emprego, tá trabalhando, está indo
bem. Está sendo o melhor que ele consegue dentro das possibilidades dele.
5) Dificuldades enfrentadas na realização do trabalho com este
público/grupo (e como maneja as dificuldades):
“Aqui a gente tem uma infraestrutura boa. De salas, para grupos,
acolhimentos, nós estamos em um lugar bom né. É um prédio novo, então
não tem dificuldade de estrutura.
Mas a questão da dificuldade séria com alguns usuários que são mais difíceis
de lidar assim. Então a gente também se coloca, a psicologia no SUAS é um
não lugar né. O SUAS foi criado para o assistente social e se você perguntar
pro assistente social na saúde ele vai dizer a mesma coisa, um não lugar.
Isso às vezes gera um conflito, porque eu tive uma formação bastante clínica,
saí da graduação achando que eu iria clinicar em todos os lugares, então foi
uma dificuldade que eu tive de adaptação ao SUAS, CRAS e CREAS, sobre o
que eu posso fazer? Qual minha atuação como psicóloga aqui? O que faz um
psicólogo dentro da assistência social? Daí fui estudar e conversar com
colegas que tinham mais experiência para aprender.
Então a maior dificuldade é o início e as pessoas entenderem que é o nosso
papel, que é importante sim que as pessoas precisam desse acolhimento,
desse acompanhamento que é dado, muitas vezes, somente pelo profissional
da psicologia. A gente tem o ouvido treinado, uma escuta especializada né,
por isso que a gente está aqui.”
6) Quais os maiores benefícios no trabalho com grupos?
A pergunta 04 já integra a 06.
7) Outras informações que considere importantes, dicas para profissionais
em formação.
“Minha dica pra ti, é o que eu já havia dito. Te experimenta em vários locais
diferentes, para aos poucos você ir se conhecendo como profissional. Mesmo
com medo, mesmo com receio, te aventura! É o momento de tu errar também.
Dentro da graduação é o momento onde os erros são aceitáveis, depois tu vai
ser responsável por cada passo que tu der. Então é agora o momento de tu ir
te conhecendo e tu ir te formando como profissional.
Tu vai sair da faculdade, parece que não vai saber nada hahaha, tá mas o
que eu estudei todo esse tempo, mas tem momentos que você tem o insight,
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algo que vai fazer tudo valer a pena, seja um agradecimento, seja num
acompanhante, seja num olhar do usuário, você vai pensar: bah isso aí me
traz assim… me aquece o coração né.”
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REFERÊNCIAS
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