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Asis Paulo Pequenino

Augusto Moisés Jantar


Dufina Salvador Fabião
Edmundo Agostinho Jasse
Felizardo Felisberto Vunza
Milto Almeida

Preconceito e pessoas com necessidades especiais

Licenciatura em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário

Universidade Pungue
Tete
2022
Asis Paulo Pequenino
Augusto Moisés Jantar
Dufina Salvador Fabião
Edmundo Agostinho Jasse
Felizardo Felisberto Vunza
Milto Almeida

Preconceito e pessoas com necessidades especiais

Trabalho de pesquisa da cadeira de Tema


Transversal IV a ser entregue ao
Departamento de Geociências, curso de
Gestão ambiental e desenvolvimento
comunitário como requisito de avaliação,
sob orientação do docente:
dr. Marques Manhicana

Universidade Pungue
Tete
2022
Índice
Introdução ............................................................................................................................................... 4
1.1. Objectivos do trabalho ............................................................................................................ 4
1.1.1. Objectivo geral ................................................................................................................ 4
1.1.2. Objectivos específicos ..................................................................................................... 4
1.2. Metodologias de pesquisa ....................................................................................................... 4
2. Preconceito ...................................................................................................................................... 5
2.1. Conceito .................................................................................................................................. 5
2.2. Tipos de preconceitos .............................................................................................................. 5
2.2.1. Preconceito racial ............................................................................................................ 6
2.2.2. Preconceito social ............................................................................................................ 6
2.2.3. Preconceito religioso (intolerância religiosa) .................................................................. 8
2.2.4. Preconceito cultural ............................................................................................................... 8
2.2.5. Preconceito pela orientação sexual.................................................................................. 9
2.2.6. Preconceito linguístico .................................................................................................... 9
2.2.7. Preconceito de género ................................................................................................... 10
2.3. Porque combater o preconceito ............................................................................................. 11
3. Pessoas com necessidades especiais.............................................................................................. 13
Conclusão .............................................................................................................................................. 15
Referência bibliográfica ........................................................................................................................ 16
4

Introdução
O preconceito está presente em diversas práticas de discriminação contra formas de vida e
modos de comportamento que não são aceitos em suas diferenças e particularidades. Mas os
diferentes preconceitos – contra mulheres, negros/as, homossexuais, imigrantes, idosos/as,
pessoas com deficiência, entre outros/as – comungam de uma mesma atitude, de um mesmo
comportamento e forma de pensar. O preconceito é expressão das relações conservadoras da
sociabilidade burguesa e de seu individualismo, que, por sua vez, remete à exploração, cada
vez mais bárbara, do trabalho pelo capital. A banalização destes fundamentos representa um
desvalor, que emerge nas mais diferentes formas da vida cotidiana, e o desafio do seu
enfrentamento deve provocar, na categoria de assistentes sociais, processos de auto-reflexão,
com vistas a uma intervenção profissional marcada por acções emancipatórias, na perspectiva
de outra ordem societária. Em tempos de fortalecimento do conservadorismo, de violação dos
direitos e de criminalização da pobreza, a série Assistente Social no combate ao preconceito
fortalece a dimensão política da profissão, respaldada pelos princípios éticos de um Serviço
Social que não discrimina “por questões de inserção de classe social, género, etnia, religião,
nacionalidade, orientação sexual, identidade de Género, idade e condição física”, como aponta
nosso Código de Ética Profissional.

1.1. Objectivos do trabalho


1.1.1. Objectivo geral
 Estudar o preconceito em todos os contextos.

1.1.2. Objectivos específicos


 Definir o preconceito;
 Identificar os tipos de preconceitos;
 Descrever os tipos de preconceitos.

1.2. Metodologias de pesquisa


Para ao alcance dos objectivos propostos no presente trabalho de pesquisa, foram recorridas
as metodologias do tipo bibliográficos, através desta metodologia o grupo recorreu a
conteúdos bibliográficos em formatos físicos e electrónico disponível na biblioteca e na
internet que trata sobre a temática em estudo (LAKATOS, 1991). No que concerne a
estruturação do trabalho, está organizado em quatro capítulos: introdução, desenvolvimento,
conclusão e a sua respectiva referência bibliográfica.
5

2. Preconceito
2.1. Conceito
O preconceito é a valoração negativa que se atribui às características da alteridade. Implica a
negação do outro diferente e, no mesmo movimento, a afirmação da própria identidade como
superior/dominante. Mas isso indica que o preconceito é possível onde existe uma relação
social hierárquica, onde existem comando e subordinação e racionalização do outro. Quem
manda atribui valores à sociedade, define o que é bom e o que é ruim (ROSE, 1972). Aqueles
que 'obedecem' são alvo de atribuições identitárias que os desvalorizam, especialmente, a seus
próprios olhos. Para os que obedecem trata-se de lutar contra uma auto-identificação negativa,
mudando os valores, transmudando as características ditas vergonhosas em características que
orgulham (VELHO, 1996). Isso aparentemente permite quebrar a dialéctica do amo e do
escravo, ao transformar o escravo em senhor, isto é, em alguém que define valores na
sociedade.

2.2. Tipos de preconceitos


Preconceito é uma opinião formada de maneira antecipada, sem o devido conhecimento ou
reflexão sobre um determinado assunto. A pessoa preconceituosa é aquela que emite um
julgamento antes de conhecer algo ou alguém. Por causa disso, esse julgamento tende a ser
desprovido de fundamento, critério ou racionalidade (HELLER, 2000). Geralmente, o
preconceito está associado à discriminação e à intolerância em relação às diferenças que
existem no mundo.

Para Velho (1996), existem diversos tipos de preconceito que acabam gerando discriminação
e intolerância, dentre os quais podemos destacar os seguintes:

 Preconceito contra género (machismo, misoginia ou sexismo);


 Preconceito social (classismo);
 Preconceito racial (racismo);
 Preconceito contra homossexuais (homofobia);
 Preconceito contra judeus (anti-semitismo);
 Preconceito religioso;
 Preconceito contra deficientes físicos (capacitismo);
 Preconceito contra estrangeiros (xenofobia) etc.
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Note que a atitude preconceituosa costuma estar associada a rótulos ou estereótipos que se
desenvolveram na sociedade. Esses estereótipos promovem uma visão distorcida sobre um
determinado grupo social, podendo motivar actos discriminatórios.

O bullying, por exemplo, é o nome que se dá uma série de agressões geralmente motivada por
visões preconceituosas. Essas agressões, que podem ser físicas ou psicológicas, ocorrem com
frequência no ambiente escolar. Sua versão virtual é chamada de cyberbullying.
Vale ressaltar que todos os tipos de preconceito podem gerar hostilidade e estão intimamente
relacionados à irracionalidade e à ignorância. Por exemplo: adeptos da chamada supremacia
branca justificam seu discurso de ódio com base numa ideologia racista que se fundamenta na
falsa ideia de superioridade do homem branco.

2.2.1. Preconceito racial

O preconceito racial é a ideia de que pessoas de uma determinada raça ou etnia são superiores
a outras. Neste tipo de preconceito se configura principalmente o racismo (CROCHÍK, 1997).
Uma das formas mais comuns de manifestação deste preconceito é em relação a pessoas
negras, que historicamente são marginalizadas e estereotipadas por brancos. Em diversos
países a nível mundial, este tipo de preconceito já é considerado crime.

Por outro ponto de vista, Preconceito contra pessoas que possuem características físicas
associadas a um determinado grupo racial. Essas características físicas incluem cor da pele,
formato do nariz ou textura dos cabelos. Um tipo de preconceito racial bastante comum é
aquele que ocorre contra populações negras. Ibid

Do ponto de vista estritamente científico, raças não existem. É incorrecto, de uma perspectiva
biológica, falar em raça para classificar seres humanos, já que não há raças humanas puras ou
geneticamente homogéneas. Aspectos físicos aparentes, como cor da pele e textura dos
cabelos, são determinados por um número irrelevante de genes. Mais uma prova de que o
preconceito racial não faz o menor sentido.

2.2.2. Preconceito social


Em uma das definições observadas, nas ciências sociais e na psicologia social, o preconceito é
definido como “(...) um conjunto de atitudes que provocam, favorecem ou justificam medidas
de discriminação.” (ROSE, 1972:162). O preconceito seria um conjunto de atitudes que
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configuram um comportamento de discriminação. Para o autor em questão, ele decorreria do


estado de espírito da pessoa que discrimina.
Somente o que é observável, isto é, empírico, do ponto de vista das atitudes, poderia ser
reconhecido como preconceito. Rose considera que o preconceito se forma pelo estado de
espírito, o que podemos dizer que trata-se da condição psicológica, mas que para ele não vai
interessar, e por atitudes, que por serem observáveis possibilitariam “determinar as causas do
preconceito”.
Assim, o que é empírico interessa para esse autor. O preconceito é tratado como “objecto
real”4, desconsiderando-se o processo histórico e social de sua constituição simbolizada pela
linguagem.
A partir da psicologia social, Crochík (1997) não apresenta uma definição, mas caracteriza o
preconceito como algo individual, psicológico e também como algo que se desenvolve no
processo de socialização pela cultura. Ele acrescenta o factor cultural e a socialização
individual como possibilidades para a constituição dos preconceitos.

Nesse ponto de vista, mesmo considerando o processo de socialização, ainda assim a história
não é levada em consideração. O preconceito é individualizado, mesmo considerando que o
processo de socialização determina o modo como ele se dá no indivíduo. Em ambos os casos,
o processo histórico é excluído, de forma que o preconceito é tratado como objecto real inato
ao indivíduo. A análise fica restrita às evidências produzidas pelas ciências lógicas.

A análise dos sentidos da palavra preconceito contrapõe-se a isso, por ser realizada levando-
se em consideração o processo histórico social da constituição dos sentidos dessa palavra. Isso
possibilitou compreender seu funcionamento nas relações sociais distinguindo-se os sentidos
que circulam e os sentidos que são apagados, censurados.

Também chamado de preconceito de classe social, é relacionado ao mau tratamento ou


estereótipo negativo dado a uma pessoa quanto ao seu status social. É um preconceito que
normalmente aparece devido às diferenças de vida e privilégios sociais entre ricos e pobres.
Entretanto, também pode ocorrer entre pessoas que pertencem a mesma classe social.
O preconceito social pode estar relacionado a diversos aspectos, como: Nível de escolaridade;
Padrão social de vida; Renda salarial; Quantidade de bens; Cargos profissionais; Acesso à
cultura e Local de moradia, entre outros aspectos ligados a uma posição social.
Assim como outras manifestações preconceituosas, o preconceito social é normalmente
motivado por um sentimento de superioridade de uma pessoa em relação a outra. Este tipo de
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preconceito, como os demais, pode se manifestar através de intolerância e de dificuldade de


convivência com indivíduos que não possuem a mesma posição social e privilégios
financeiros (GUIMARÃES, 1996).

2.2.3. Preconceito religioso (intolerância religiosa)


O preconceito quanto às diversas religiões acontece quando existe um sentimento de
desprezo, desvalorização ou sentimento de superioridade de uma pessoa em relação à outra
que possui uma religião, fé ou conjunto de crenças diferente.
O preconceito religioso também se manifesta através de atitudes de intolerância e tentativa de
invalidação da crença, religião e rituais religiosos de outras pessoas. É comumente conhecido
como intolerância religiosa (ELIAS, 1997). O preconceito religioso é uma atitude de
desrespeito e intolerância em relação aos adeptos de uma religião. Esse tipo de preconceito
geralmente tem origem no desconhecimento ou em visões estereotipadas sobre um
determinado sistema de crenças. A história está repleta de casos de violência decorrentes do
preconceito religioso.

Esse tipo de preconceito, dependendo da intensidade que acontece, pode gerar manifestações
violentas, perseguições e guerras. Situações de conflitos ocorridas em períodos antigos, como
na Idade Média, e até mesmo casos mais atuais, como o Holocausto dos judeus na Alemanha
(1933 - 1945), são exemplos de preconceito religiosos. Em diversos países, incluindo o
Moçambique, a intolerância religiosa é crime. Ibid

2.2.4. Preconceito cultural


O preconceito cultural ocorre com a discriminação da origem cultural de uma pessoa, onde a
cultura de um indivíduo é considerada melhor que a outra.
O preconceito sofrido por estrangeiros que residem em um país diferente do seu local de
nascimento (os imigrantes), é considerado um tipo de preconceito cultural, denominado
de xenofobia. Neste caso, o preconceito cultural se baseia em discriminar pessoas ou até
mesmo países que possuem uma cultura, vivência e costumes diferentes.
A antropologia dá o nome de etnocentrismo à atitude de considerar a sua própria cultura
superior à de outra pessoa. Historicamente, o etnocentrismo pode ser visto na postura das
nações colonialistas, que se julgavam "civilizadas", em relação às nações colonizadas, ditas
"primitivas" ou "selvagens".
Uma prática discriminatória associada ao preconceito cultural é a xenofobia, a aversão ao
estrangeiro (xenos, em grego, significa "estranho"). Indivíduos que praticam actos de
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intolerância contra pessoas que não pertencem à sua comunidade, sejam elas estrangeiras ou
de outra região do mesmo país, são considerados xenófobos.

2.2.5. Preconceito pela orientação sexual


O preconceito em relação à orientação sexual é o julgamento e intolerância em relação às
pessoas que pertencem à comunidade. Nesse grupo são incluídas pessoas: Lésbicas; Gays;
Bissexuais; Queers e Assexuais, entre outros.
O preconceito em relação à orientação sexual, também chamado de homofobia, ou
LGBTQIA+ fobia, é o sentimento de repulsa, aversão ou ódio às pessoas de diferentes
identidades de género e sexualidades.
Muitas vezes podem ter motivações religiosas ou culturais e têm como consequência, actos de
intolerância e de violência contra pessoas com diferentes identidades de género.
Há também a transfobia, o preconceito destinado e direccionado às pessoas transexuais\
transgénicos, ou seja, pessoas que não se identificam com o seu género biológico, como
transexuais, travestir e intersexuais. Os crimes motivados por preconceito de identidade de
género ou orientação sexual são considerados uma violação (desrespeito) aos direitos
humanos outros (HIRIGOYEN, 2000). Para ajudar a combater esse preconceito, a
Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional contra a Homofobia,
marcado no dia 17 de maio.

2.2.6. Preconceito linguístico


O preconceito linguístico é definido como o preconceito contra determinadas formas de
utilização um mesmo idioma. Assim, um grupo é compreendido como o detentor das regras e
do modo padrão da língua, enquanto as outras maneiras passam a ser desqualificadas.

Na área da Linguística, Fiorin (2000), tratando do preconceito linguístico, considera que a


concepção de língua que trata como sendo homogénea, una e estática produz, muitas vezes,
uma desvalorização das variantes da língua portuguesa. Esse conceito de língua que a maioria
das pessoas tem sobre a língua portuguesa acaba gerando o preconceito linguístico. Segundo
ele, a rejeição das variantes e da mudança linguística é uma forma de preconceito linguístico.
A partir dessa consideração sobre os preconceitos, o preconceito linguístico caracterizar-se-ia,
a partir desse ponto de vista, como a rejeição do que é diferente da norma padrão defendida
por alguns gramáticos, e, nesse caso, as diferenças são tratadas como erro. Para o autor, os
gramáticos corroboram o preconceito linguístico ao criticarem usos gramaticais que
discordam do que é prescrito pela gramática da norma culta (GUIMARÃES, 1996).
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Fiorin considera que há variação e mudança linguísticas de acordo com as relações sociais.
Segundo ele, não é que “vale tudo” para a língua, pois as variantes não são caóticas, elas
funcionam segundo conjuntos de regras próprias. O uso de certas formas linguísticas vai
depender da situação de comunicação. Assim, para Fiorin, é parte da língua a variação, e a
mudança. A língua se modifica porque a própria sociedade está dividida em grupos sociais
distintos que têm uma maneira de falar que os identifica.

Podemos observar na perspectiva de Fiorin, que as diferenças na idade, regionais, de


profissão, de classes sociais, determinam grupos sociais distintos e as variações da Língua
Portuguesa. Esses grupos falam variedades linguísticas diferentes que os identificam de
acordo com o grupo ao qual pertencem, então as diferenças que são inerentes à língua
ocorrem devido a essas diferenças sociais. A diferença social é que determina a variedade
linguística.
O preconceito linguístico pode se manifestar como um desrespeito ao sotaque, à forma de
articulação da linguagem, aos erros gramaticais ou ao uso de expressões regionais. O
Moçambique, por exemplo, em razão da extensão territorial, possui inúmeros sotaques e
modos de falar, devido às diferentes regionalidades. Ibid

Entretanto, não se pode dizer que o português falado em uma região é mais correto do que
outro. São considerados apenas diferenças regionais. É importante saber que todos os idiomas
possuem variações entre as pessoas que o falam, seja em razão da região, do grupo social, do
tipo de educação escolar ou da idade.
2.2.7. Preconceito de género
Já o preconceito de género é a ideia de que uma pessoa, por pertencer a um determinado
género, possui menos valores ou capacidades do que outras. Esse tipo de preconceito é muito
comum em relação às mulheres, sendo especificamente chamado de misoginia. A misoginia é
o sentimento de ódio ou de desprezo em relação às mulheres, fundamentada na ideia de que
mulheres possuem capacidades inferiores às capacidades dos homens, seja no trabalho ou
qualquer outro aspecto da vida cotidiana. Ibid
A misoginia é responsável por grande parte dos crimes de feminicídio, que é a nomenclatura
criminal dada aos homicídios em que as vítimas são mulheres (GUIMARÃES, 1996). O
feminicídio é qualificado desta forma quando existe a comprovação de que as causas que
motivaram o crime são relacionadas à condição de mulher ou outras questões relacionadas ao
género.
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2.3. Porque combater o preconceito


Para ressaltar a relevância de romper com os preconceituosos, é importante situar as suas
implicações:
a) Impedimento da liberdade e da autonomia
Todas as acções e actividades humanas exigem escolhas entre alternativas. Na vida cotidiana,
nossas escolhas tendem a se orientar para as nossas necessidades singulares imediatas,
limitando a liberdade e a autonomia. Por que limitam? Porque uma escolha mais livre e
autónoma supõe o conhecimento das alternativas possíveis, a consciência do seu significado e
de suas implicações sociais e uma decisão legitimada por motivações e exigências éticas,
políticas, teóricas e práticas voltadas à totalidade social (HELLER, 2000).

b) Negação do conhecimento crítico


Na medida em que se apoia, de forma dogmática, em “verdades” inquestionáveis, obtidas
através da aparência da realidade, da generalização de fatos conhecidos, de crenças
conservadas pela tradição cultural, pela ideologia dominante e pelo senso comum, o
preconceito impede o conhecimento crítico e abrangente das determinações da realidade, de
suas conexões e contradições. Ibid

c) Dominação de classe e violação de direitos


O sistema de preconceitos tem origem de classe e se reproduz através de mitos que expressam
os valores e a visão de mundo das classes dominantes sobre classes, extractos, grupos e
indivíduos que se encontram despossuídos da riqueza socialmente produzida e do poder
dominante (CROCHÍK, 1997). Exemplo disso são os mitos que concebem os “pobres’ como
naturalmente violentos e as classes trabalhadoras como “classes perigosas”, ou os que
afirmam a supremacia da raça branca e a inteligência superior dos homens.

d) Conservadorismo e irracionalismo
Por sua natureza de conhecimento apriorístico baseado no senso comum, em estereótipos e
generalizações, em julgamentos provisórios que recusam o questionamento crítico, o
preconceito nega a razão e tende a reproduzir as tendências de pensamento e de
comportamento que se tornaram “verdades” e mitos, devido à sua conservação, pela tradição e
pelos costumes de determinada sociedade e cultura (HIRATA, 1997). Por essas
características, o preconceito é irracionalista e conservador, especialmente em sociedades
como a brasileira, cuja cultura é historicamente conservadora.
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e) Discriminação e intolerância
O preconceito se objectiva através da negação do outro, da discriminação, da intolerância, do
desrespeito ao outro, da violência contra o outro por questões de inserção de classe social,
identidade de género, etnia, idade, condição física, orientação sexual, religião – todas elas
inscritas em nosso código de ética (GORZ, 1980). A atitude de fé sustenta a base emocional
dos preconceitos, produzindo intolerâncias que, movidas pelo par amor/ ódio, exclui os outros
de modo autoritário e intolerante.

f) Moralismo
Ao julgar qualquer situação partindo dos pares de valor bom/mau, certo/ errado, e segundo
modelos pré-concebidos de comportamento, a atitude preconceituosa enquadra moralmente os
comportamentos políticos, estéticos, científicos, deixando de avaliar sua natureza e
reproduzindo o moralismo: uma forma de alienação moral.

g) Conformismo
A vida cotidiana coloca a necessidade de responder a múltiplas tarefas e actividades
heterogéneas e que tendemos a realizá-las de modo pragmático e generalizador, com base em
experiências conhecidas. Nessa dinâmica, incorporamos e reproduzimos normas e valores que
servem de orientação para nossas decisões. Na quotidianidade, essa assimilação tende a ser
pragmática e generalizante, propiciando a produção do conformismo, que impede ou limita as
nossas decisões e escolhas (GOFFMAN, 1988).

h) Retrocesso de conquistas sociais e lutas históricas


Objectivando-se através de discriminações, intolerâncias, contribuindo para a negação e
violação de direitos, para a disseminação de mitos irracionalistas, de ideias e valores
favorecedores de várias dimensões de dominação, o preconceito também viola princípios
éticos e políticos valorosos para assistentes sociais e o conjunto das forças sociais
emancipatórias e democráticas, pois são princípios construídos nas lutas históricas contra a
opressão, na direcção da liberdade (CROCHÍK, 1997).

i) Humilhação e sofrimento
Os indivíduos vitimizados pelo preconceito são atingidos em diferentes níveis de humilhação
e sofrimento, que interferem na totalidade de suas vidas, em sua subjectividade e
sociabilidade, acarretando prejuízos físicos, emocionais, psicológicos, que podem se
objectivar de forma mais ou menos violenta. Entre outros elementos, isso se explica
13

especialmente porque o preconceito se traduz pela negação daquilo que constitui centralmente
sua identidade como sujeito. É sua condição de existência que passa a ser rechaçada e tomada
como objecto que supostamente justificaria sua negação: a mulher por ser mulher, o negro por
ser negro, o índio por índio, o homossexual por ser homossexual, entre outros (HIRIGOYEN,
2000). Assim, a produção das múltiplas formas de preconceito carrega consigo
potencialmente múltiplas formas de violência, cujas consequências revelam- se por meio da
humilhação e do sofrimento.

j) Implicações profissionais
As implicações aqui assinaladas não esgotam as inúmeras consequências que podem se
reproduzir a partir de práticas preconceituosas. E quando ocorrem no espaço da intervenção
profissional, negam os princípios e valores que regem a ética profissional, contribuem para o
retrocesso das conquistas objectivadas no projecto ético-político do Serviço Social e atingem,
directamente, os/as usuários/as, restringindo as suas escolhas, negando os seus direitos,
promovendo sua exposição a situações de humilhação e desrespeito, limitando seus direitos e
contribuindo para a (re)produção da subalternidade (HELLER, 1998).

3. Pessoas com necessidades especiais


NEE quer dizer Necessidades Educativas Especiais e é um conceito actual em Educação. O
conceito de NEE passou a ser conhecido em 1978 a partir da sua formulação no "Relatório
Warnock", apresentado ao parlamento do Reino Unido, pela Secretaria de Estado para a
Educação e Ciência, Secretaria do Estado para a Escócia e a Secretaria do Estado para o País
de Gales. Este relatório foi o resultado do 1º comité britânico constituído para reavaliar o
atendimento aos deficientes, presidido por Mary Warnock. As suas conclusões demostraram
que vinte por cento das crianças apresenta NEE em algum período da sua vida escolar. A
partir destes dados, o relatório propôs o conceito de NEE.

Este conceito pode abranger tanto, crianças com dificuldades na aprendizagem como crianças
sobredotadas e crianças com problemas de conduta ou emocionais. Sendo um problema é
necessário arranjar uma forma de solucionar (CROCHÍK, 1997). É necessário criar métodos
alternativos tendo em conta as capacidades destas crianças.

Os problemas que podem ser inseridos neste termo são o autismo, a surdo-cegueira, a
deficiência auditiva, a deficiência visual, os problemas intelectuais, os problemas motores
graves, as perturbações emocionais, as dificuldades de aprendizagem específicas, os
14

problemas de comunicação, o traumatismo craniano, a multideficiência e os problemas de


saúde (HIRATA, 1997).

Para conseguir superar a discriminação e se incluir na sociedade como uma pessoa “normal”
não foi nada fácil, mais para muitos já foi alcançado, um exemplo dessa superação, que
fizeram muitos compreender que existem diversidades, mas não diferenças, tudo isso passou a
ser alcançado dia-a-dia, fazendo nosso olhar convergir para o enriquecimento da construção
de um meio igualitário. A deficiência passou fazer parte de suas vidas de forma positiva,
superando e compreender a real dificuldade que era estabelecer igualdade de oportunidades.
Pois, estamos integrados a uma sociedade em que a palavra inclusão faz parte da vida das
pessoas. Não podemos ignorar muito menos fugir desse mundo de diversidades, pois elas
estão presentes em todas as partes. Ibid
15

Conclusão
Apos a realização do presente trabalho, chega se a concluir que preconceito é a valoração
negativa que se atribui às características da alteridade. Implica a negação do outro diferente e,
no mesmo movimento, a afirmação da própria identidade como superior/dominante. Existem
vários tipos de preconceitos, a saber, preconceito contra género (machismo, misoginia ou
sexismo); preconceito social (classismo); preconceito racial (racismo); preconceito contra
homossexuais (homofobia); preconceito contra judeus (anti-semitismo); preconceito religioso;
preconceito contra deficientes físicos (capacitismo) e preconceito contra estrangeiros
(xenofobia).
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Referência bibliográfica

BURKE, Peter. "A violência das mínimas diferenças". Folha de S. Paulo, 21 maio 2000.
Caderno Mais, p. 25.
CROCHÍK, José L. Preconceito, Indivíduo e Cultura. São Paulo: Robe Editorial,
ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e
XX Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
FIORIN, José L. Os aldrovandos Cantagalos e o preconceito linguístico. In: O direito à fala.
Florianópolis: Insular, 2000.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada Rio de
Janeiro: Guanabara, 1988.
GORZ, André. Crítica da divisão do trabalho São Paulo: Martins Fontes, 1980.
GUIMARÃES, E. R. J. , ORLANDI, E. P. (Orgs.) Língua e cidadania: o Português no
Brasil. Campinas: Pontes, 1996.
HELLER, A. Sociologia de la vida cotidiana. 5ª ed. Barcelona: Ediciones Península (Historia,
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HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. La división sexual del trabajo. Permanencia y
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HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano Rio de
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LAKATOS, Maria Eva, Fundamentos de Metodologia Científica, 3ª Edição, São Paulo,
Editora Atlas, 1991
LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade Petrópolis: Vozes, 1997.
LIMA, Roberto Kant de. "A administração de conflitos no Brasil: a lógica da punição". In:
VELHO, Gilberto; ALVITO, Marcos (Orgs.). Cidadania e violência Rio de Janeiro: FGV,
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