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Curso: Direito

6º Período
Disciplina Direito Civil V- Família
Professora: Emmanuelli Karina de Brito Gondim Moura Soares
Semestre: 2021.2

Módulo IX- Direito de Família. Da União Estável:

1.1. Comentários Iniciais sobre a União Estável:

Segundo Tartuce, a união estável ou união livre sempre foi reconhecida


como fato jurídico, p. 281. Hoje a União estável assumiu um papel importante,
é reconhecida constitucionalmente como entidade familiar, merecendo
proteção legal.

No Brasil a primeira norma a tratar sobre a União Estável foi o decreto


Lei nº 7.036/1944, lei que reconheceu à companheira o direito a ser
beneficiária da indenização em caso de acidente de trabalho, que vitimasse o
companheiro, lei ainda em vigor.

A jurisprudência também beneficiava companheiros, reconhecendo


direitos, antes da constituição de 1988, na década de 1960, quando o instituto
era tratado sob a denominação de concubinato.

A súmula 380 do STF de 03 de abril de 1964, dispunha: “Comprovada a


existência de sociedade de fato entre concubinos, é cabível sua
dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço
comum”.

Logo em seguida a Lei de Registros Públicos nº 6.015/1973 passou a


dispor sobre a possibilidade da companheira poder a usar o sobrenome do
companheiro, art. 57, § 2º.

Então veio a nossa CF/1988 que reconheceu a união estável entre


homem e mulher como entidade familiar, em seu art. 226, § 3º: “Para efeito de
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher
como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em
casamento”.

Segundo Tartuce, essa disposição constitucional trata que a união


estável não é igual ao casamento, uma vez que coisas iguais não se
convertem uma na outra, p. 282. Assim, existe um tratamento diferenciado
para os dois institutos, no que tange ao regime de bens e ao direito sucessório.
No entanto, tanto a união estável como o casamento, constituem entidade
familiar e base da sociedade brasileira.

Existem análises na doutrina sobre a existência de uma hierarquia entre


o instituto do casamento e da união estável, prevalecendo a segunda
orientação, que afirma não existir hierarquia entre os institutos, pois a
constituição dispõe sobre a possibilidade de transformação da união estável
em casamento, inclusive já estão sendo convertidas em casamento as uniões
estáveis estabelecidas entre homoafetivos.

Nesse sentido, as regras que existem para o casamento, mesmo


mais severas, não irão afetar a união estável, como exemplo trazido por
Tartuce, os maiores de 70 (setenta) anos que iniciarem união estável terão
como regime de bens o de comunhão parcial e não separação obrigatória
como exigido para o casamento, podendo o casal por contrato escrito,
escolher outro regime, p. 282. Tal análise está relacionada à autonomia privada
presente no Direito Civil.

Após a CF/1988, veio a lei nº 8971/1994, para dispor sobre a união


estável, segundo a Constituição Federal, senão vejamos:

- Como requisito indispensável para o reconhecimento da União estável,


a Lei exigia um prazo de convivência ou coabitação de 05 (cinco) anos ou
existência de prole comum. A coabitação não significa vida em comum sob o
mesmo teto, tanto cônjuges como companheiros podem residir em casas
distintas, inclusive a Súmula 382 do STF, dispensou como requisito de
convivência, more uxório sob o mesmo teto. Nesse sentido, basta a
comprovação dos companheiros de uma convivência como se casados fossem,
nesse sentido jurisprudência sobre o assunto (STJ, Resp 275.839/SP, Rel.
Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, j.
02.10.2008, DJe 23.10.2008).

- Aos companheiros era garantido o direito a alimentos, Lei nº


5.478/1968;

- Havia o reconhecimento legal sucessório do companheiro com relação


ao usufruto da ¼ parte dos bens do de cujus, enquanto não constituísse
nova união estável, se houvesse filhos comuns; O companheiro
sobrevivente teria direito, enquanto não constituísse nova união, ao usufruto
de ½ metade dos bens se não houvesse filhos, existindo ascendentes; Na
falta de descendentes e de ascendentes o companheiro sobrevivente teria
direito a totalidade dos bens de herança, segundo o art. 2º da Lei nº
8.917/1994.

- Segundo o art. 3º da lei nº 8.917/1994 o companheiro teria direito a


meação dos bens adquiridos pelo casal através da colaboração comum.

Logo em seguida veio a Lei nº 9.278/1996 que dispunha, senão


vejamos:

- Era reconhecida a entidade familiar através da convivência pública,


duradoura e contínua, de um homem e de uma mulher, estabelecida com o
objetivo de constituição de família, segundo o art. 1º da Lei. A lei dispensou
o requisito temporal de 05 anos.

- O art. 2º da Lei tratava dos direitos e deveres iguais dos conviventes:


respeito e consideração mútuos; assistência moral e material recíproca; guarda
sustento e educação dos filhos comuns.

- O art. 5º da Lei previa que os bens móveis ou imóveis adquiridos


onerosamente em conjunto pelo casal pertenceriam a ambos em condomínio
e não em comunhão, pois a comunhão estava relacionada a regime de bens
matéria do casamento.

- Segundo o art. 7º da lei os conviventes teriam direito a alimentos em


casos de rescisão de união estável e seu parágrafo único, estabelece o direito
real de habitação, com relação ao imóvel destinado à residência da
família, enquanto o companheiro viver ou não constituir nova união ou
casamento, segundo o art. 7º da Lei.

- Segundo o art. 8º da referida Lei os conviventes poderiam de comum


acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união estável em
casamento, através de requerimento ao Oficial de Registro Civil na
circunscrição do domicílio do casal.

Hoje em dia a matéria da União Estável é tratada pelo CC/2002 em seus


arts. 1723 a 1727, devendo ser aplicado o art. 1694 às regras relacionadas à
assistência material.

1.2. Conceito de União Estável:


O conceito de União estável está presente no art. 1723 do CC/2002 que
assim dispõe, senão vejamos: “É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua
e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. O
dispositivo do presente artigo vem regulamentar o art. 226, § 3º da CF/88.

Segundo Tartuce, p. 287, os requisitos para restar configurada a união


estável são a publicidade, no sentido de notoriedade, não pode ser
clandestina, oculta, deve ter continuidade, sem que haja interrupções,
sem o famoso “dar um tempo” que é comum no namoro e duradoura,
além do objetivo dos companheiros ou conviventes estabelecerem uma
verdadeira família, ou seja, são critérios subjetivos, pois a lei também não
exige que os companheiros vivam sob o mesmo teto, segundo a súmula 382 do
STF.

Para restar configurada a união estável deve existir a constituição de


família com ou sem filhos, esse objetivo é o mais importante para diferenciar a
união estável do namoro longo, em que não há o objetivo de constituição de
família como na união estável.

Nesse sentido, importante trazer jurisprudência sobre o reconhecimento


ou desconfiguração da união estável, do Tribunal de Justiça de São Paulo,
senão vejamos:

“Reconhecimento e dissolução de união estável.


Improcedência. Adequação. Relacionamento amoroso que
constituiu namoro, com mera projeção para a vida em comum.
Recurso Improvido. Embora a apelante tenha contraído
empréstimos, ao que tudo indica, para auxiliar o apelado,
dando-se a aquisição e venda do imóvel por eles adquirido, o
relacionamento constituiu mero namoro, sem configurar união
estável, uma vez que, apesar do longo tempo em que
estiveram juntos, não se aperfeiçoou o requisito da
configuração de família, nem tampouco os de mútua
assistência e lealdade. A autora não participava do cotidiano do
outro, a afastar, pois, o reconhecimento de sua tese, não
havendo nos autos nenhuma foto do relacionamento do casal,
nenhum dado objetivo a permitir o reconhecimento de União
Estável” (TJSP, Apelação com revisão 591.772.4/3, Acórdão
3696215, São Paulo, 3ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Jesus Lofrano, j. 23.06.2009, DJESP 17.07.2009).”
No art. 1723 do CC/2202, o § 1º dispõe que “ A união estável não se
constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1521; não se aplicando
a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada
de fato ou judicialmente”.

Os impedimentos para o casamento serão observados para o


impedimento do reconhecimento da união estável, entretanto, o CC/2002,
reconhece a possibilidade da constituição da União Estável para o separado de
fato ou judicialmente.

Entretanto, após a Emenda Constitucional nº 66/2010 que retirou do


ordenamento jurídico a separação judicial, o reconhecimento da união estável
poderá se dar a partir de agora, para as pessoas apenas separadas de fato.

Crítica se faz ao art. 1723, §1º no que tange aos bens patrimoniais,
adquiridos durante o casamento anterior e os adquiridos após a constituição da
União Estável, para se evitar a confusão patrimonial, se comunicam apenas os
bens adquiridos durante a união estável. Entretanto, superada está ante o seu
alcance social.

Nesse sentido, importante trazer comentário de Tartuce e jurisprudência


sobre o assunto:

“....pode-se dizer que a separação de fato é uma realidade que


não pode ser ignorada pela lei. Em um país marcado pela
pobreza e pela desinformação, impedir que a união estável se
caracterize entre os separados de fato é exigir muito daqueles
que nada podem dar e ignorar a sociedade em que
vivemos...”(TARTUCE, 2011, p. 290).

“Ação de Reconhecimento e dissolução de união estável.


Companheiro separado de fato de sua esposa. Sentença que
reconheceu a união estável do casal, a partir do nascimento do
primeiro dos três filhos do casal, determinou a partilha de bens,
cabendo à companheira 20% do imóvel. Recurso desprovido,
com observação” (TJSP, Apelação cível 616.066.4/1, Acórdão
3576447, São José dos Campos, 4ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Teixeira Leite, J. 02.04.2009, DJESP 03.06.2009)”

1.3. Diferenças existentes entre União Estável e Concubinato.


Uniões Plúrimas ou Paralelas.

Os conceitos de União Estável e Concubinato se distinguem hoje em


dia, principalmente após a CF/88, mas antes a expressão concubinato e união
estável eram sinônimas, a companheira era a concubina.
Entretanto, hoje em dia é importante uma conceituação distinta, já que
existem reflexos legais diferenciados nessas situações, por esse motivo segue
a distinção das denominações, trazida por Tartuce, p.292:

- Concubinato puro: O concubinato puro é o mesmo que a própria


união estável, os companheiros nesse caso, são solteiros, viúvos,
divorciados, separados de fato judicial ou extrajudicialmente, desde que
preenchidos os requisitos que caracterizem a união estável. As questões
referentes a reconhecimento e dissolução de união estável serão de
competência das varas de Família, através da Ação de Reconhecimento e
Dissolução de União Estável, seguindo o rito ordinário, que pode ser litigiosa,
bem como consensual.

- Concubinato Impuro: O concubinato impuro se dá entre uma pessoa


ou pessoas que são impedidas de casar e não podem ter entre si uma
união estável, como por exemplo, com uma pessoa casada e não
separada de fato, extrajudicialmente ou judicialmente que convive com
outra, se configura um concubinato adulterino, o concubinato entre pessoas
impedidas de casar em função do parentesco se configura concubinato
incestuoso e ainda se houver uma união de fato, o concubinato com outra
pessoa se configura como concubinato desleal.

O concubinato está previsto no art. 1727 do CC/2002, bem como os


impedimentos decorrentes de lei que configuram o concubinato impuro estão
previstos no art. 1521 do CC/2002.

O apenas concubinato hoje, antes denominado impuro, não é


considerado entidade familiar, mas apenas mera sociedade de fato, aplicando
para esses casos a Súmula 380 do STF, ou seja, o concubino tem direito a
participação dos bens adquiridos pelo esforço comum, não tendo direito
a alimentos, sucessão hereditária ou direito à meação, pois não é
entidade familiar.

A ação pertinente para resolver essas questões é Ação de


Reconhecimento de Sociedade de Fato, que segue o rito ordinário e é da
competência das Varas Cíveis.

Segue jurisprudência sobre o assunto:

“Direito Civil. Recurso Especial. Reconhecimento e dissolução


de sociedade de fato c/c partilha de bens e indenizatória. Arts.
513, 524, 1.177 e 1572 do CC/1916. Ausência de
prequestionamento. Súmula 356/STF. Prescrição vintenária.
Art. 177, 1ª parte, do CC/1916. Ação de natureza Pessoal.
Sociedade de Fato. Companheiro casado. Possibilidade.
Súmula 83/STJ. Dissídio pretoriano não comprovado. 2-
Encontrando-se o v. acórdão impugnado em consonância com
a jurisprudência desta Corte, no sentido da possibilidade do
reconhecimento e dissolução de sociedade de fato quando se
tratar de pessoa casada, aplica-se a sumula 83/STJ (cf. Resp
362.743/PB, 257.115/RJ, 195.157/ES). (...) 4- Possuindo a
Ação de Reconhecimento e dissolução de Sociedade de Fato
c/c partilha de bens e Indenizatória de natureza pessoal, o
prazo prescricional é de 20 anos, a contar da ruptura da vida
em comum, de acordo com o art. 177, 1ª parte, do Código Civil
de 1916. 5- Precedente (Resp 79.818/SP). 6- Recurso não
conhecido” (STJ, Resp 418.910/DF, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, 4ª Turma, j. 09.11.2004, DJ 06.12.2004, p. 317).”

Segundo trazido por Tartuce, p. 295, existe um projeto de Lei PL


276/2007 que para elucidar dúvidas sobre direitos e configuração de União
Estável pretende alterar o art. 1727 do CC/2002, para introduzir outras
previsões legais que ficariam com a redação seguinte: “

“Art. 1272. As relações não eventuais entre homem e mulher,


impedidos de casar e que não estejam separados de fato,
constituem concubinato, aplicando-se a este, mediante
comprovação da existência de sociedade de fato, as regras do
contrato de sociedade.

Parágrafo único. As relações meramente afetivas e sexuais,


entre homem e a mulher, não geram efeitos patrimoniais, nem
existenciais.

Art. 1272-A. As disposições contidas nos artigos anteriores,


1723 a 1727, aplicam-se, no que couber, as uniões fáticas, de
pessoas capazes, que vivam em economia comum, de forma
pública e notória, desde que não contrariem as normas de
ordem pública e os bons costumes”.

A jurisprudência dominante não admite o reconhecimento de direitos a


relações concomitantes de casamento e união estável, nesse sentido,
jurisprudência do STF:

“É certo que o atual código civil, versa ao contrário do anterior,


de 1916, sobre a união estável, realidade a consubstanciar o
núcleo familiar. Entretanto, na previsão, está excepcionada a
proteção do Estado quando existente impedimento para o
casamento relativamente aos integrantes da união, sendo que
se um deles é casado, o estado civil deixa de ser óbice quando
verificada a separação de fato. A regra é fruto do texto
constitucional e, portanto, não se pode olvidar que, ao falecer,
o varão encontrava-se na chefia da família oficial, vivendo com
a esposa. O que se percebe é que houve envolvimento
forte(....) projetado no tempo- 37 anos- dele surgindo prole
numerosa- 9 filhos- mas que não surte efeitos jurídicos ante a
ilegitimidade, ante o fato de o companheiro ter mantido
casamento, com quem contraíra núpcias e tivera 11 filhos.
Abandone-se a tentação de implementar o que poderia ser tido
como uma justiça salomônica, porquanto a segurança jurídica
pressupõe respeito às balizas legais, à obediência irrestrita às
balizas constitucionais. No caso, vislumbrou-se união estável,
quando na verdade, verificado simples concubinato, conforme
pedagicamente previsto no art. 1727 do CC. (STF, RE 397.762-
8/BA, j. 03.06.2008) Relator Ministro Marco Aurélio Mello.”

Tal entendimento foi acompanhado pelos ministros Carlos Alberto


Menezes Direito, Carmem Lúcia Antunes Rocha e Ricardo Lewandowski.
Entendimento semelhante sobre o tema foi decidido pelo Superior Tribunal de
Justiça seguindo orientação da Ministra Nancy Andrighi (STJ, Resp
931.155/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 07.08.2007, DJ,
20.08.2007, P. 281).

Existem situações em que um indivíduo pode ter mais de uma união


estável simultânea, consoante dispõe Tartuce, p. 298, união estável plúrima ou
múltipla, uniões paralelas, é a situação em que a pessoa, mantém relações
amorosas enquadradas no art. 1723 do CC, nesse sentido, como ficariam os
direitos das partes envolvidas nessas situações, ante a denominação de
concubinato desleal.

Nesses casos o STF, em fevereiro de 2006 decidiu no sentido de


repudiar as uniões plúrimas ou paralelas, pois admitir tais situações seria o
mesmo que admitir pluralidade de casamentos, ou seja, a bigamia:

“União Estável. Reconhecimento de duas uniões


concomitantes. Equiparação ao casamento putativo. Lei
9.728/1996. 1. Mantendo o autor da herança união estável com
uma mulher, o posterior relacionamento com outra, sem que se
haja desvinculado da primeira, com quem continuou a viver
como se fossem marido e mulher, não há como figurar união
estável concomitante, incabível a equiparação ao casamento
putativo. 2. Recurso especial conhecido e provido” (STJ, Res
789.293/RJ, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, 3ª
Turma, j. 16.02.2006, DJ 20.03.2006, p. 271)”.

As famílias simultâneas ou paralelas, são as famílias formadas por meio de


uniões simultâneas ou paralelas, ou seja, parte da existência de duas ou mais uniões
estáveis concomitantes, seja a união estável concorrendo com o casamento. Art. 1727
do CC/02. (Tartuce, p. 334)

Entretanto, decisões judiciais mais recentes, tem analisado casos concretos e


entendendo, quanto à possibilidade do reconhecimento das uniões simultâneas ou
paralelas, senão vejamos:

Em relação paralela reconhecida como união estável


mulher tem direito a 25 por cento do patrimônio
04/09/2019Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM.

Uma relação simultânea ao casamento foi reconhecida,


recentemente, como união estável paralela pela 2ª Vara Cível
da Comarca de Teixeira de Freitas, na Bahia. A sentença, do
juiz Humberto José Marçal, considerou os 30 anos de
relacionamento, mantido entre 1981 e 2011, com início anterior
ao matrimônio do homem com outra mulher. (...)

Foi atribuído à requerente 25% do patrimônio adquirido ao


longo do período em que estiveram juntos. Além disso, ela
receberá uma pensão alimentícia de 25 salários mínimos,
superior aos 10 salários que já recebia desde 2013 - arbitrados
em agravo de instrumento interposto perante o Tribunal de
Justiça da Bahia. (...)
http://www.ibdfam.org.br/noticias/7044/Em+rela
%C3%A7%C3%A3o+paralela+reconhecida+como+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel
%2C+mulher+tem+direito+a+25+por+cento+do+patrim%C3%B4nio

Diante dessas demandas subjetivas nos direitos das famílias, importante


pontuar a matéria, que está aguardando julgamento no Supremo Tribunal Federal-
STF:

STF começa a julgar recurso sobre reconhecimento de


duas uniões estáveis para rateio de pensão.

Quarta-feira, 25 de setembro de 2019.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal começou a julgar o


Recurso Extraordinário (RE) 1045273, com repercussão geral
reconhecida, em que se discute a possibilidade de
reconhecimento de união estável e de relação homoafetiva
concomitantes para fins de rateio de pensão por morte. O
julgamento, iniciado na sessão extraordinária realizada na
manhã desta quarta-feira (25), foi suspenso por pedido de vista
do ministro Dias Toffoli, presidente do STF. (...)
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?
idConteudo=424625&caixaBusca=N.
Quanto às uniões do poliamorismo, famílias advindas das uniões entre
duas mulheres e um homem, três pessoas, formando uma união poliafetiva, relação
múltipla, poliamor. Em 2012, um cartório no Rio de Janeiro tentou lavrar escritura de
uma relação poliafetiva, entretanto, os tribunais superiores já se manifestaram pela
impossibilidade do reconhecimento das uniões Poliafetivas, se não vejamos:

CNJ PUBLICA ACÓRDÃO SOBRE IMPOSSIBILDADE DE


RECONHECIMENTO DE POLIAFETIVIDADE COMO
ENTIDADE FAMILIAR.

Decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) referente ao


pedido de providências da ADFAS (n. 0001459-
08.2016.2.00.0000, julgado dia 26/06/2018), determinando a
proibição de lavratura de escrituras de uniões poliafetivas
por Tabelionatos de Notas.

EMENTA: PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS. UNIÃO ESTÁVEL


POLIAFETIVA. ENTIDADE FAMILIAR. RECONHECIMENTO.
IMPOSSIBILDADE. FAMÍLIA. CATEGORIA
SOCIOCULTURAL. IMATURIDADE SOCIAL DA UNIÃO
POLIAFETIVA COMO FAMÍLIA. DECLARAÇÃO DE
VONTADE. INAPTIDÃO PARA CRIAR ENTE SOCIAL.
MONOGAMIA. ELEMENTO ESTRUTURAL DA SOCIEDADE.
ESCRITURA PÚBLICA DECLARATÓRIA DE UNIÃO
POLIAFETIVA. LAVRATURA. VEDAÇÃO.
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI218321,41046Uniao+poliafetiva+ficcao+ou+r
ealidade.<Acesso em 10/04/2017.>

O Direito deve se manifestar quanto à essas questões, que estão sendo


postuladas, na seara do dos direitos das famílias, mediante o acesso a jurisdição que
é preceito constitucional, com fins de resguardar a segurança jurídica, posto que tais
decisões vão repercutir na seara pessoal e patrimonial dos sujeitos envolvidos.

1.4. Efeitos Pessoais e Patrimoniais da União Estável :

A União estável, constitucionalmente entendida como entidade familiar,


traz consigo efeitos patrimoniais e pessoais para os conviventes.

Segundo o art. 1724 do CC/2002 são efeitos pessoais da União Estável:

- Dever de lealdade, que está relacionada a fidelidade;

- Dever de respeito ao outro companheiro;

- Dever de mútua assistência, moral, afetiva, patrimonial e espiritual;


- Dever de guarda, sustento e educação dos filhos.

Os deveres referentes aos conviventes são semelhantes aos deveres do


casamento consoante dispõe o art. 1566, não fazendo referência ao dever de
convivência sobre o mesmo teto, sendo dispensável.

Os direitos patrimoniais estão dispostos no art. 1725, que prevê salvo


contrato escrito, contrato de convivência, estabelecido anteriormente entre
os companheiros, aplica-se a união estável, no que couber, o regime de
comunhão parcial de bens.

A doutrina faz críticas ao contrato de namoro, utilizado como forma de


desconfigurar a união estável suprimindo todos os direitos inerentes à pessoa.
Tal contrato é considerado nulo de pleno direito.

Com relação ao patrimônio, a necessidade da outorga uxória ou marital


é discutida nas uniões estáveis. De acordo a prevalência da autonomia privada
existente no CC/2002, a exigência só seria necessária, aos cônjuges, de
acordo com o regime de bens adotado, e não aos companheiros, consoante
disposições legais do CC/2002.

Assim importante trazer jurisprudência sobre o assunto:

“Ação declaratória de nulidade. Escritura pública de compra e


venda. Imóvel. Sentença de Improcedência. Negócio Jurídico
celebrado pelo companheiro sem a anuência da companheira.
Possibilidade. Outorga Uxória. Desnecessidade. Exigência
legal que não se aplica à hipótese de união estável. (...) (TJSP,
Apelação com revisão 396.100.4/6, Acórdão 2567068, Itararé,
2ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Ariovaldo Santini
Teodoro, j. 15.04.2008, DJESP 16.05.2008)”.

Segundo Tartuce, p. 307, a outorga, ou vênia marital ou uxória, não se


confunde com a meação, pois a exigência da outorga existe quando o cônjuge
pretende dar em garantia ou alienar um bem particular seu, que não pertence
ao outro cônjuge, consoante dispõe o art. 1647 do CC, pois no tocante aos
bens comuns, ambos os cônjuges devem dispor dos mesmos conjuntamente,
pois ambos são proprietários.

No que tange aos alimentos, os companheiros podem pleiteá-los do


outro consoante os arts. 1694 a 1710 do CC/2002, bem como há regra
específica em matéria sucessória no art. 1790 do CC/2002.

1.5. Uniões Homoafetivas e União Estável


Recente julgamento da ADI nº 4277 e ADPF 132 no STF, entendeu
que o art. 1723 do Código Civil deve ter interpretação conforme a Constituição,
reconhecendo a união homoafetiva como entidade familiar, sendo agora
matéria a ser discutida nas varas de família, bem como entendendo a
possibilidade do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo
sexo, dispondo por analogia sobre todos os direitos patrimoniais e assistenciais
dispostos no CC/2002 para esse tipo de união.

Nesse sentido, importante colacionar jurisprudência sobre o assunto:

Nesse Terça Feira, 25 de Outubro de 2011 por 4 votos a 1, STJ


reconhece casamento civil homoafetivo, decisão que envolveu duas mulheres.

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento


ao recurso especial no qual duas mulheres pediam para serem habilitadas ao
casamento civil.

No início do julgamento, na última quinta-feira, quatro ministros


votaram a favor do pedido. O ministro Marco Buzzi, último a votar, pediu
vista. Ao apresentar seu voto na sessão desta terça-feira (25/10/2011),
Buzzi levantou uma questão de ordem, recomendando que o caso fosse levado
a julgamento na Segunda Seção, que reúne os ministros das duas Turmas
especializadas em direito privado.

Por maioria de votos, a questão de ordem foi rejeitada. Prosseguindo no


julgamento do mérito, o ministro Buzzi acompanhou o voto do relator,
ministro Luis Felipe Salomão, dando provimento ao recurso.

O ministro Raul Araújo, que já havia acompanhado o voto do relator,


mudou de posição. Ele ponderou que o caso envolve interpretação da
Constituição Federal e, portanto, seria de competência do Supremo
Tribunal Federal (STF). Por essa razão, ele não conheceu do recurso e
ficou vencido. REsp 1183378.

Acontece neste sábado, 18, no bairro de Itaquera, zona leste de São


Paulo, o primeiro casamento civil gay da capital paulista. Os noivos são Mário
Domingos Grego, de 46 anos e Gledson Perrone Cordeiro, de 32 anos, que
estão juntos desde 2002. O pedido de casamento, protocolado há menos de
um mês, foi aceito pelo cartório de Itaquera com base em um acórdão
publicado no dia 6 de julho de 2012 no Diário da Justiça, que autoriza o
casamento civil de pessoas do mesmo sexo na Cidade de São Paulo.
Depois do julgamento da ADIn reconhecendo a união homoafetiva como
entidade familiar, os casamentos civis homoafetivos, são uma realidade
brasileira.

Nesse sentido, segue reportagem do Jornal Diário de Natal/RN:

“...Juntos há 10 anos e com dois filhos adotivos, um casal


homoafetivo do Rio Grande do Norte conseguiu uma
vitória inédita na justiça potiguar: a união estável entre
duas pessoas do mesmo sexo convertida em casamento.
Os dois homens, agora oficialmente casados, tiveram o
pedido negado na primeira instância, mas, por
unanimidade de votos, conquistaram a conversão na
segunda instância..”. Casamento Homoafetivo é
reconhecido no RN. Diário de Natal, Edição sexta-feira. 24
de agosto de 2012.

O reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo como


entidade familiar, primeiramente através do julgamento da ADI 4277 e ADPF
132 no STF, gerou direitos para que essas pessoas possam casar no civil.
Nesse sentido, importante apresentar matéria disciplinando o assunto, se não
vejamos:

Resolução sobre casamento civil entre pessoas do mesmo sexo


é aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça

A partir desta quinta-feira (16/5) cartórios de todo o Brasil não


poderão recusar a celebração de casamentos civis de casais do
mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável
homoafetiva, como estabelece a Resolução n. 175, de 14 de maio
de 2013, aprovada durante a 169ª Sessão Plenária do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).

A Resolução foi divulgada nesta quarta-feira (15/5) no Diário da


Justiça Eletrônico (DJ-e) e entra em vigor nesta quinta-feira (16/5).
Nos termos da Lei n. 11.419/2006, § 3º e 4º do art. 4º, considera-se
como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação, iniciando-se a contagem dos prazos
processuais no primeiro dia útil ao considerado como data de
publicação.
O texto aprovado pelo CNJ proíbe as autoridades competentes
de se recusarem a habilitar ou  celebrar casamento civil ou, até
mesmo, de converter união estável em casamento entre pessoas
de mesmo sexo.

“A Resolução veio em uma hora importante. Não havia ainda no


âmbito das corregedorias dos tribunais de Justiça uniformidade de
interpretação e de entendimento sobre a possibilidade do casamento
entre pessoas do mesmo sexo e da conversão da união estável entre
casais homoafetivos em casamento”, disse o conselheiro Guilherme
Calmon. “Alguns estados reconheciam, outros não. Como explicar
essa disparidade de tratamento? A Resolução consolida e unifica
essa interpretação de forma nacional e sem possibilidade de
recursos”, ressaltou.

Caso algum cartório não cumpra a Resolução do CNJ, o casal


interessado poderá levar o caso ao conhecimento do juiz
corregedor competente para que ele determine o cumprimento da
medida. Além disso, poderá ser aberto processo administrativo contra
a autoridade que se negar a celebrar ou converter a união estável
homoafetiva em casamento.

http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?
sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=238<Acesso em: 29.10.14.

REFERÊNCIAS:

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 5: Direito de


Família. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil: 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de


Família. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

TARTUCE, Flávio, José Fernando Simão. Direito Civil. v.5: Direito de Família.
11. ed. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2016.

http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?
sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=238<Acesso em:
29.10.14.

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