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UNIDADE III

Estrutura cristalina e geometria dos cristais


Estrutura dos Materiais

1- ESTRUTURA DOS MATERIAIS

Os materiais são substâncias que possuem certas propriedades que sendo exploradas torna-
os utilizáveis em aplicações gerais de engenharia, porém as propriedades dos materiais
dependem do arranjo de seus átomos (estrutura dos materiais).
Atualmente, realizam-se diversas pesquisas relacionando estrutura dos materiais e suas
propriedades com o objetivo de caracterização dos materiais, para que este seja empregado com
suas características especificadas, de acordo com as necessidades atuais.
O arranjo dos átomos pode classificar a estrutura dos materiais em: estrutura molecular:
agrupamento de átomos fortemente ligados entre si (ligações intramoleculares), em geral
resultantes de ligações covalentes, mas a força de atração entre as moléculas (ligações
intermoleculares) são relativamente fracas e originadas por forças de Van der Waals, como
exemplos de estruturas moleculares podemos citar : H2O, O2, N2, CCL4, NH3.
Estrutura cristalina: arranjos repetitivos, ordenados e tridimensionais de átomos no espaço
e como exemplo de materiais com essa estrutura: metais, grafita, diamante. Estrutura amorfa
(ou estrutura não cristalina): estrutura sem nenhuma regularidade interna dos cristais, como
exemplo: gases, vidro e maioria dos polímeros.
Nesta disciplina daremos ênfase às estruturas de materiais de construção: as cristalinas e
amorfas. A estrutura do material deve ser bem entendida, uma vez que envolve conceitos que as
vezes torna algo abstrato em função de que não é possível uma visualização, mas temos que
utilizar equipamentos que na maioria das vezes traz informações sobre a estrutura de uma forma
indireta e para isso alguns aspectos da ciência dos materiais são fundamentais para um melhor
entendimento.
Classificaremos a estrutura do material em diferentes níveis: a nível atômico, envolvendo o
conceito de núcleo e os elétrons em uma orbita em torno caroço iônico, denominado como
estrutura atômica. O arranjo de átomos, envolvendo o conceito de empilhamento atômico leva
a geração d o conceito de estruturas cristalinas.
Grãos. envolve o conceito de cristais com diferentes orientações de onde surge o termo
contornos de grãos; a estrutura neste nível é conhecida como microestrutura.

Ciência e Tecnologia dos Materiais – Profa. Neide Mariano – UNIFAL-MG


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Fases, envolve o conceito de que os materiais não são formados por um único tipo de cristal
(uma fase), mas há formação de outras fases, uma vez que temos nas ligas metálicas pelo menos
dois elementos e assim na maioria dos casos a solubilidade de um elemento no outro não é total
e portanto a precipitação de uma segunda fase, após o limite de solubilidade, a estrutura a este
nível é conhecido normalmente como microestrutura.
Alguns materiais exibem a sua estrutura visível a olho nu ou com auxílio de um
estereomicroscópio, sendo conhecido normalmente como macroestrutura.
Recentemente uma nova terminologia tem sido utilizada para definir materiais cuja a
microestrutura é formado por 50% dos átomos compondo o cristal e 50% dos átomos localizados
nos contornos de grãos os quais são denominadas estruturas nanocristalinas.

2. Estrutura Cristalina

Cristal é um arranjo tridimensional de átomos com ordem a longo alcance, ou seja, a


organização atômica que se observa num ponto do cristal é a mesma em qualquer outro ponto,
conforme mostra a Figura 1.

Na
Cl

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(a) (b)
Figura 1- (a) Estrutura do cristal de NaCl (b) Estrutura do Diamante (todos os átomos são de
carbono)
Observa-se uma organização dos átomos e como essa organização se repete em todas
as direções. Note que os átomos são representados como esferas e as ligações entre eles como
traços. Na verdade, a proximidade entre eles é maior do que a mostrada nas figuras. Os traços
servem apenas para facilitar a visualização.
A Célula Unitária, é um conjunto de átomos da estrutura cristalina que se transladado de
maneira múltipla na direção dos seus vetores, reproduz TODO o cristal, conforme mostra a Figura
2, e suponha um cristal bidimensional, ou seja, apenas no plano do papel.

Célula Unitária

Figura 2- Célula unitária típica

Foi definida uma célula unitária ao acaso, marcada em cinza. Note que se você transladar
de maneira múltipla essa célula unitária ao longo das direções dos seus vetores é possível
construir TODO o cristal.

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Você mesmo poderia definir sua própria célula unitária como nos exemplos abaixo, porém
existe uma célula, que é a menor possível, chamada de célula unitária primitiva e também capaz
de reproduzir todo o cristal.
O estudo de estrutura cristalina envolve cálculos de diversa natureza envolvendo átomos,
espaços não ocupados, distância entre átomos, etc, assim, todo o estudo é baseado em
geometria e os átomos considerados como esferas rígidas e este modelo é totalmente compatível
e assim sendo possível de obter boas estimativas sobre vários aspectos estruturais do material.
A estrutura cristalina é baseada na forma tridimensional de como os átomos podem ser
agrupadas dentro de 14 possíveis geometrias, as chamadas Redes Espaciais ou Redes de
Bravais. Rede de Bravais é definida como uma representação de pontos repetitivos no espaço,
todos com vizinhanças idênticas, conforme Figura 3.
Nos metais e nas ligas metálicas, os arranjos de átomos podem ser descritos tomando como
base átomos colocados nos pontos de intercessão de uma rede tridimensional. Esta rede é
conhecida como a rede espacial e pode ser definido simplesmente como um arranjo de pontos
que se estende infinitamente tridimensionalmente. Cada ponto da rede espacial tem vizinhanças
idênticas. A rede espacial é descrita especificando as posições atômicas numa célula unitária que
se repete indefinidamente nas três direções.
A célula unitária é a figura mínima de pontos para que seja possível sua visualização,
caracterizada pelos parâmetros de rede que são as dimensões das arestas, os ângulos entre os
eixos das coordenadas. As estruturas cristalinas mais comuns dos metais no estado sólido são
as cúbicas, na qual temos somente um único parâmetro de rede, que é a aresta do cubo.
As principais estruturas cristalinas que os metais e as fases de ligas metálicas apresentam.
Inicialmente poderíamos citar que cerca de 85% a 90% se cristalizam ao se solidificar, sendo que
as estruturas mais comumente encontradas são: cúbico de corpo centrado (CCC); cúbica de face
centrada (CFC), hexagonal compacta ( HCP) e tetragonal simples (TS) e ortorrômbico.

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Figura 3- Representação das 14 geometrias espaciais, conhecida como rede de Bravais.

Na célula unitária da estrutura cristalina CS as posições atômicas estão localizadas nos


vértices do cubo num total de oito sendo que cada uma dessas posições atômicas contribui com
1/8 para o cálculo de átomos contidos na célula unitária. Portanto temos 1 átomos por célula

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unitária. Exemplo de materiais de possuem este tipo de estrutura: cloreto de césio (CsCl) e fluorita
(CaF2).
Na célula unitária da estrutura cristalina CCC as posições atômicas estão localizadas nos
vértices do cubo num total de oito sendo que cada uma dessas posições atômicas contribui com
1/8 para o cálculo de átomos contidos na célula unitária. Também existe uma posição atômica no
centro do cubo e, portanto, temos 2 átomos por célula unitária, ou seja, 2 átomos estão totalmente
contidos no interior da célula unitária. Exemplo de materiais de possuem este tipo de estrutura:
ferro, tungstênio e cromo. Para a estrutura CCC os átomos ao longo da diagonal se tocam e,
portanto, uma relação entre o raio do átomo (R) e o parâmetro de rede (a) é expressa:

Parâmetro de rede = a = 4R 3
Fator de empacotamento = FE = 0,68

O volume ocupado pelos átomos dentro da célula unitária é chamado fator de


empacotamento atômico e este valor é de 68 % para a estrutura cristalina CCC. A Figura 4,
mostra alguns detalhes esquemáticos da estrutura CCC.
Na célula unitária da estrutura cristalina CFC as posições atômicas estão localizadas no
vértice do cubo num total de oito, sendo que cada uma dessas posições contribui com 1/8 para o
cálculo de átomos contidos na célula unitária. Também existem 1/2 átomos contidos no meio de
cada face do cubo o qual contribuem com 3 átomos, e assim o cálculo total de átomos contidos
no interior da célula unitária e assim para a estrutura cristalina CFC temos 4 átomos totalmente
contidos no interior da célula unitária.
Exemplo de materiais de possuem este tipo de estrutura: alumínio, cobre, chumbo, prata e
níquel. A Figura 5, mostra alguns detalhes esquemáticos da estrutura CFC.
Na estrutura CFC os átomos da face se tocam, e assim a relação entre o raio atômico (R) e
o parâmetro de rede (a) é expressa por:

Parâmetro de rede = a = 4R 2

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Fator de empacotamento = FE = 0,74

Lembrando que as considerações feitas para o cálculo do FE (espaço ocupado pelos átomos
dentro da célula unitária), foram supondo o átomo como modelo de esfera rígida e que o raio
atômico, R, não se altera. O FE pode ser calculado pela expressão:

FE = volume do átomo/volume da célula unitária =


 n
4 3 R 3 o
átomo por célula unitária
a3
onde: a= parâmetro de rede; R= raio atômico

Figura 4- Desenho esquemático da estrutura CCC. Representação da célula unitária em corte


(a). Representação da célula unitária com esferas reduzidas (b). Representação da estrutura CFC
em um agregado de átomos (c).

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Figura 5- Desenho esquemáticos da estrutura CFC. Representação da célula unitária em corte


(a). Representação da célula unitária com esferas reduzidas (b). Representação da estrutura CFC
em um agregado de átomos (c).

3. Transformação Polimórfica ou Alotrópica

Alotropia é o fenômeno de transformação do sistema cristalino em função da temperatura,


ou seja, é o fenômeno que ocorre quando dois cristais com estruturas cristalinas diferentes
apresentam a mesma composição. Exemplo: Fe, SiC.

910C 1400C 1540C


Fe-(CCC)  Fe-(CFC)  Fe-(CCC)  Fe (líquido)
(magnético) (Não magnético)

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Bibliografia:

1-Callister Jr., W. D. Ciência e engenharia de materiais. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2008.

2- Shackelford, J. F. Ciências dos Materiais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

3- Askeland, D. R.; Phulé, P. P. Ciência e Engenharia dos Materiais. Cengage Learning, 2008.

4-VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. Rio de Janeiro: Edgard
Blucher, 2003.

5-SMITH, W.F. Princípios de Ciência dos Materiais. Lisboa: McGraw-Hill, 1998.

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