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12-Santos Populares

Em todas as civilizações encontramos culturas assentes em crenças, superstições ou religiões populares, se assim as
quisermos designar. A cultura ocidental não é excepção. Desde todos os tempos o povo sempre cultivou os seus
medos e as suas devoções por coisas e lugares que a lógica e a ciência facilmente rebatem mas que, mesmo assim,
vão passando de geração em geração. As religiões oficiais assentam, em muitos casos sobre elas, mas também se
pode acontecer o contrário. S. Gregória Magno, nos finais do século VI, recomendava aos seus missionários que
acabassem com todas as práticas pagãs; caso o não conseguissem, que as cristianizassem.

Por exemplo, José Leite de Vasconcelos, um etnógrafo português dos finais do século XIX e metade do século XX, que
correu o país a recolher estas preciosidades populares, escreve que nalgumas partes das Beiras, ao Sol, chamam
Manel. Se compararmos com a fé cristã, ao Messias, profetizaram-lhe o nome Emanuel, embora no final o tivessem
baptizado de Jesus. Ora Cristo, para os cristãos, é como o Sol que veio iluminar e salvar o mundo. Claro que o povo
não faz estas associações, mas as aprendizagens por ouvido, seja dos padres seja dos mais velhos, arrasta estas
designações pelos tempos e que, ao fim e ao resto, contêm uma certa coerência.

Moisés Espírito Santo, um estudioso da religião popular portuguesa, pergunta-se o que é que os festejos de Santo
António de Lisboa têm a ver com o Santo franciscano, seja ele de Pádua seja ele de Lisboa. Todo o cerimonial gira à
volta da festa do solstício de verão, cujos festejos se iniciavam exactamente a 12 de Junho. Os festejos conseguem
encontrar-se no deus Tamouze dos fenícios que os gregos transformaram em Adónis. São destas festividades, as
marchas, as fogueiras, os manjericos, os altarzinhos nas ruas, etc.

Nas ruas, há danças espontâneas e algumas tendências orgiásticas, já que as festas a Adónis tinham uma forte
componente ligada à fertilidade. A lenda biográfica de Adónis coloca-o a morrer ainda jovem, vítima de uma zanga
com Afrodite, a deusa do Amor. Mas, e ainda no plano lendário, foi ela que, arrependida, desceu aos infernos para o
ressuscitar, o que conseguiu. A partir daí, anualmente, Tamouze-Adónis morria em Junho, na época das ceifas,
ressuscitando posteriormente.

Esta morte e ressurreição eram celebradas anualmente e eram conhecidas como Adónias ou Prantos de Adónis. Os
homens rapavam o cabelo e as mulheres, desgrenhadas e de saias rasgadas choravam a morte do Deus ao som de
flautas e de pandeiros.

Uma das componentes dessa festa era a Planta do Pranto, uma planta que as mulheres semeavam em vasos e
regavam com água quente para a germinação ser mais rápida. Mas a vida da planta também era muito curta. Esta
planta pode facilmente comparar-se com o manjerico, uma planta anual de curta duração.

O Santo António aparece com um menino ao colo, no mito cristão de que lhe terá aparecido o Menino Jesus. As
plantas agradáveis (pensemos no manjerico), em fenício, foneticamente soavam como Antoui Noumenim que
poderão ter originado a presença do Menino ligada ao santo. Segundo Moisés Espírito Santo, o Menino é Adónis
menino. Mas as festas actuais ao santo vão buscar-lhe também características do deus Hermes no que se refere a
santo mulherengo, erótico e casamenteiro e que encontra objectos perdidos. E quando não satisfaz o pedido dos
devotos, é colocado de castigo, ou de cabeça para baixo ou pendurado num poço, por exemplo.

A sua fama de casamenteiro, é honrada, em Lisboa, e desde 1958, com os casamentos em grupo no dia da sua festa.

O Norte escolheu o S. João, mais ou menos com as mesmas origens do S. António de Lisboa. Mais em cima da data
do solstício de Verão, não é de estranhar que uma das características dos seus festejos sejam as fogueiras
sanjoaninas, à volta das quais se dança e sobre as quais se salta. Na tradição popular, uma moça solteira que saltasse
as chamas sem lhes tocar, casaria nesse mesmo ano.

Os rituais assemelham-se aos de S. António. Têm igualmente um carácter de licenciosidade e de orgia, especialmente
no Porto e em Braga, provocadas pelo som da música que se faz ouvir na noite da festa. A música numa função de
êxtase e de delírio.

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