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Universidade Federal da Bahia

Data: 09/06/2021
Turma: Manhã
Discente: Amós Santos Medeiros
Docente: Iara Maria de Almeida Souza
Curso: Ciências Sociais

Prova de sóciologia IV

O filme Snowden Herói ou traidor narra a biografia de Edward Snowdean e como ele
resolveu expor ao mundo o sistema de controle e vigilância que os Estados unidos da
américa realizavam, não somente em seu território, mas também ao redor do mundo
para se manter atento a seus aliados e possíveis desafetos políticos. Para além de uma
simples exposição das relações internacionais inerentes ao ambiente geopolítico, a
história de Snowden traz o olhar de um indivíduo que percebe a existência de fatos no
seu dia a dia que fugiam muito de sua percepção original, traz um olhar humano e não
somente analítico sobre o tema acerca de vigilância de dados e liberdade. Dito isto, o
intuito desse texto é analisar o filme à luz das elaborações conceituais de Foucault,
Giddens e Latour, através, tanto de uma visão geral, tanto de partes isoladas da
produção que revelam alguma relação com os autores.

O corpo moderno é sem dúvida, segundo Foucault, um corpo docilizado, docilizado


por um processo contínuo onde dispositivos diversos moldam o agir no mundo, há
processos diversos nessas relações de poder. Dentro de uma instituição militar há uma
série de procedimentos que moldam o soldado, disciplinarizam sua conduta, mas para a
infelicidade de Snowdean ele não poderia dar sequência a esse processo, pois descobre
fraturas nas pernas que o impossibilitariam de exercer o cargo de soldado das forças
unidas. Logo após essa descoberta resolve ir trabalhar para a inteligência da CIA onde
demostra sua competência profissional e sobe rapidamente em cargo e confiança. Ao
longo da trama acaba tendo acesso a ferramenta Key score, que tem o objetivo de captar
lista de ameaças ao presidente e o perfil de cada um que fez (busca realizada através de
seletores de palavra-chave), esta ferramenta captura o que as pessoas escrevem no
privado ou público, com este programa o governo consegue saber de qual a família a
pessoa pertence e também permite acesso as câmeras dos celulares e aparelhos de
comunicação ligados à internet.

Para Foucault a sociedade moderna disciplinar se vale da prerrogativa de que os que


vigiam produzem um saber sobre os que são vigiados, para adestrar seu comportamento,
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para docilizar os corpos, esse saber toma a forma de registros dos mais diversos, laudos
médicos, fichas criminais, currículos entre outros. Contudo, na contemporaneidade os
registros digitais assumem mais uma forma de vigilância, pelos rastros digitais deixados
pelos internautas ao pesquisar algum produto ou acessar alguma rede social que montam
um perfil de consumidor, ou seja para coletar informações que interessam diretamente
determinadas organizações, no caso apresentado no filme, o perfil é montado através de
mensagens. Embora a produção do saber sobre quem é vigiado case com a ideia de
Foucault há algumas diferenças que precisam ser ressaltadas como o fato de que não há
a intenção de displinarizar quem está navegando na internet e a pessoa não age como se
houvesse um vigia onipresente a observando. A questão da autovigilância poderia se
relacionar em algum nível com a cultura do cancelamento levando-se em consideração a
exigência por parte do público que determinados autores ajam de determinada forma,
mas isso não se relaciona com a produção do saber da forma como se pretende discutir
neste texto. Essa técnica é usada pelo governo norte americano para vigiar possíveis
ameaças de outros países e vigiar seus aliados, produzir um saber sobre o outro, vigia-
los para poder agir melhor, tomar vantagem.

Snowden ao descobrir a verdade passa a tapar as câmeras dos seus aparelhos de


comunicação pois sentia que estava sendo vigiado, passa a mudar completamente seu
comportamento em relação a esses aparelhos e está entre outras atitudes só o afastam
mais de sua namorada. Ele era um dos vigias, mas agora temia ser vigiado.

Ao conversar com Cowel quando ambos saem para caçar aves, o mesmo explica que o
cidadão não quer liberdade, quer segurança. Latour em sua teoria ator-rede discorre
sobre como uma relação complexa de coisas mantém a vida social, relações que não são
vistas ou pensadas pela população. Os cidadãos dos EUA não pensam em todos os
detalhes de como a segurança nacional é mantida, não pensavam em como o governo
mantinha a ordem em relação a outros países e internamente em seu território, mas
quando a verdade é revelada por Snowdean essa rede é revelada (em algum nível),
assim como Latour diz os indivíduos tendem a não teorizar sobre a rede, as pessoas
pensam que estão seguras, de alguma forma acreditam nisso, ninguém pensaria que
simplesmente algum país poderia jogar do nada uma bomba nuclear ou atacar os
Estados Unidos, ou que o próprio governo vigiaria a todos constantemente. Snowden
inclusive, posteriormente revela em seu discurso que se ele quisesse prejudicar o país
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poderia simplesmente desligar o sistema de vigilância em uma tarde. O mundo de


Latour é contingencial, e neste mundo nada é garantido, incluindo a segurança.

Giddens em sua teoria da estruturação ao fazer uma síntese entre a agencia dos autores
e estrutura, traz um conceito interessante a situação acima citada (mas será usado outro
exemplo para explana-lo a seguir), o conceito de segurança ontológica que se relaciona
com a rotina, com as capacidades que o autor tem de levar adiante a vida social. Em um
momento, ao conversar com seu colega de trabalho sobre a guerra, o mesmo diz que o
que comete não é criminoso, ele não elabora muito bem a questão, para ele parecia
muito fácil pensar que não fazia nada eticamente contestável por estar ajudando o seu
país, mesmo que tirasse vidas inocentes, para ele sempre foi assim, ele ataca “suspeitos”
de terrorismo, sem pensar sobre quem realmente estava dentro do fogo cruzado, isso é o
que Giddens chamaria de consciência prática, essa forma de consciência não exige
elaboração explicita, ou seja, o autor não elabora muito sobre o que está fazendo, e
quanto mais a pessoa se apega a rotina mais fica imersa na estrutura. Quando Snowden
descobre a verdade sobre o que o governo fazia, suas atitudes cotidianas mudam passam
de uma consciência pratica para uma discursiva (que exige elaboração explicita da
ação), ele passa a mudar o comportamento em relação aos aparelhos eletrônicos, a tapar
câmeras, se preocupar com a possibilidade de seu e-mail ser hackeado entre outras
coisas, depois de um tempo essa consciência discursiva pode virar prática quando o
indivíduo internaliza a ação, e passa a transforma-la em rotina, evidenciado pelo fato de
que o Snowdean transforma essas medidas parte de sua vida.

Giddens pensa a realidade social como uma dualidade, de um lado a estrutura, do


outro a ação dos autores envolvidos em uma situação social, quanto mais imersos na
estrutura através do apego a rotina, menor seria a motivação para mudar a estrutura.
Todavia, para o autor os atores possuem o poder de mudar a realidade social, pois se nas
práticas do dia a dia as estruturas são mantidas, através das mesmas práticas a estrutura
pode ser alterada, ou seja, é atribuído ao agente o poder para mudar a estrutura, (uma
diferença em relação ao pensamento de Foucault que atribui o poder a dispositivos de
controle, não estando este localizado em ninguém especificamente). Quando Snowdean
faz seu discurso e revela as operações de espionagem do governo norte americano
muitas coisas começam a mudar em relação a transparência do controle, muitas pessoas
(agentes) começam a fazer pressão para mudar a estrutura. O resultado final é uma
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mudança feita pelo congresso na forma como se gerencia registros telefônicos entre
outros exigindo mais transparecia do setor de vigilância.

Snowden como um agente percebe a rede de conexões complexas que mantem o


sistema de segurança nacional através de vigilância e produção do saber, e usando suas
capacidades criativas modificou essa estrutura revelando a população a verdade sobre o
sistema de vigilância dos Estados Unidos da América trazendo uma nova perspectiva
global sobre o uso dos aparelhos eletrônicos de comunicação.
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Referências

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir (Primeira Parte e Terceira Parte). Rio de Janeiro:


Vozes, 1991.

GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade (Capítulos: 1. Elementos da teoria


da estruturação, 2. Consciência, Self e encontros sociais, 6. A teoria da estruturação,
pesquisa empírica e crítica social). São Paulo: Martins Fontes, 1989.

LATOUR, Bruno. Reagregando o Social (parte 1). Salvador, Edufba, 2012.

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