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LITERATURA CONTEMPORÂNEA:

POESIA

Veja as principais Vanguardas da poesia modernista no Brasil:

❖ Concretismo
❖ Poesia-Práxis
❖ Poema-Processo
❖ Poesia Social
❖ Poesia Marginal

Concretismo

O concretismo foi realizado e idealizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos


e por Décio Pignatari. É um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental,
basicamente visual.
Iniciou-se provavelmente da década de 1950 até os nossos dias; Liderado por Décio
Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
➢ Características: Geometrização e visualização da linguagem; Uso de materiais
gráficos e visuais e transmitir a realidade das grandes cidades, com seus anúncios
propagandísticos, outdoors e néon.
➢ Desdobramentos: Neoconcretismo, no Rio de Janeiro; Poema-processo; Poesia-
práxis.

O poema Beba Coca-Cola é um dos símbolos da poesia concretista:

O poema de Décio Pignatari transforma, a partir do jogo de palavras e significados,


uma das mais conhecidas propagandas do mundo numa antipropaganda.

Poesia-práxis
A poesia-práxis surgiu em conseqüência de alguns desentendimentos entre os
concretistas. Alguns poetas abandonaram o grupo e voltaram-se para a força energética da
palavra. Segundo eles, a palavra era capaz de gerar outras palavras e significados. Nessa
concepção a palavra é tida como energia, como um corpo vivo. O termo práxis vem do grego
e significa ação.
Em 1962, Mário Charmie lidera em grupo dissidente, contra o radicalismo dos “mais
concretos” e instaura a poesia – práxis. Poesia dinâmica, transformada pela interferência ou
manipulação do leitor, ou seja, por sua prática (práxis) periodicidade e repetição das palavras,
cujo sentido e dicção mudam, conforme sua posição no texto Em sua obra Lavra-lavra faz
uma espécie de manifesto: “as palavras não são corpos inertes, imobilizados a partir de quem
as profere e as usa...”

➢ Características: Produção de múltiplas interpretações;


Rejeição ao formalismo e academicismo concretista;
Maior valorização do conteúdo em detrimento da forma;
Poesia Visual e Social.

AGIOTAGEM
Um
Dois
Três
o juro: o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio
p o r c e n t á g i o.
dez
cem
mil
o lucro: o dízimo
o ágio / a mora / a monta em péssimo
e m p r é s t i m o.
muito
nada
tudo
a quebra: a sobra
a monta / o pé / o cento / a quota
hajanota
agiota. (Mário Chamie)

Siderurgia S.O.S
Se der o outro sidéreo opus horáriO
Sem sol o sal do erário saláriO
Ser der orgia se mistério o empresáriO
Siderurgia do opus o só do eráriO
Se der a via do pus opus erradO
Se der o certo no errado o empregadO
Se der errado no certo o emprecáriO (Mário Chamie)

Poema-processo

Uma outra variante do concretismo foi uma radicalização ainda maior- o poema-
processo-, criação de Wlademir Dias Pino e Álvares de Sá, utilizando sobretudo signos
visuais e dispensando o uso da palavra.

Características: Linguagem não verbal;


Espírito revolucionário e inovador;
Poema experimental e visual;
Uso de símbolos visuais.
Acima Poema Processo recentemente publicado por Moacy Cirne.

A Poesia social

Os poetas que se dedicaram à poesia social, contrários aos exageros formais do


concretismo, buscaram um retorno ao verso mais tradicional, à linguagem simples e às
questões sociais da época.
Seu principal mentor é o maranhense Ferreira Gullar, que, em 1964, rompe com a
poesia Concreta e retoma o verso discursivo e temas de interesse social (guerra fria, corrida
atômica, neocapitalismo, terceiro mundismo), buscando maior comunicação com o leitor e
servir como testemunha de uma época.

Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira. (Ferreira Gullar)

Poesia marginal

Poesia de produção alternativa, divulgada à margem da editoração oficial, porém


ocupando seu espaço na literatura poesia das ruas, do corpo a corpo dos poetas nas filas dos
cinemas, dos teatros e outras; nos bares, nas praças, nos institutos culturais, nas escolas,
nas editoras, e até na sala de aula de alguns professores liberais. Os poetas alternativos
levaram a poesia para as ruas, democratizaram a arte, declamaram bem alto... Cartões,
camisas, o papel, a brochura, o xérox, o espaço, vozes ecoando nas praças, nos palcos, nas
telas dos cinemas, nos pátios, nos bares, nas calçadas.

O assassino era o escriba


Meu professor de análise sintática era do tipo sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular com paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dívidas: sempre achava
um jeito assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com a regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o
tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. (Paulo Leminski)

Noite carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo. (Ana Cristina Cesar)

Olho muito tempo o corpo de um poema


Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas. (Ana Cristina Cesar)

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