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HAMMING, Richard W. The Art of Doing Science and Engineering: Learning to Learn. Abingdon,
UK: Taylor & Francis e-Library, 2005. Prefácio.
Abundância: O futuro é melhor do que você imagina e The future is faster than you
think: how converging technologies are transforming business, industries, and our
lives), defendem a ideia de que o tempo que vivemos é o início mal percebido de
uma grande era de mudanças históricas, uma espécie de século XIV e XV para as
grandes navegações e a era dos descobrimentos; somos, hoje, como os espanhóis,
portugueses e ingleses, quando haviam recém descoberto os novos continentes e
novas rotas comerciais, e existem séculos de história do porvir que vão de fato
desenrolar o momento em que vivemos, que é apenas o primeiro passo dentro de
um cenário digital e pós-digital.
A universalização de tecnologias, ambientes digitais, a inteligência
artificial cada vez mais conectada ao dia a dia, esta nova linguagem muito mais
dinâmica do nativo digital — absolutamente mais dinâmica, porque, por exemplo, o
professor tende a se expressar de forma linear através das aulas mediadas por
tecnologias, como se falasse “frente a frente”, e eu garanto pra vocês que os alunos
que estão escutando esta aula, também estão com um vídeo no YouTube aberto em
uma outra aba do navegador, estão respondendo diversas mensagens e grupos no
WhatsApp e postando uma foto no Stories do Instagram — e é essa a linguagem
que precisamos aprender e entender; ela não é mais unidimensional, é
multidimensional e exponencialmente imprevisível, e se não conseguirmos
tangibilizar isso para dentro do ambiente de sala de aula, seja físico ou digital
(online), já saímos atrás neste novo momento da educação.
Isso porque é muito fácil para o aluno encontrar conteúdo qualificado hoje
em dia. Enquanto falamos aqui, através do YouTube, quem está nos assistindo
pode de forma simples executar o comando CTRL+T — que é o comando no
teclado para abrir uma nova aba no navegador da internet — e buscar, por exemplo,
uma aula de um grande professor de Harvard, Stanford, Yale ou Oxford. Hoje a
Unesc não concorre mais somente com os seus pares próximos, na região sul de
Santa Catarina, ela concorre de forma global no mercado de educação. Hoje, cada
vez mais, o diploma no final de cinco anos de estudo tem menos valor em si mesmo.
Resgatando, então, a premissa que deixei no início da minha fala sobre
pensar ações e sobre como resolver problemas diante desta imprevisibilidade e de
tantas incertezas, vamos falar um pouco sobre o que pode ser feito. Eu já tive
startup, e vim para a universidade do mercado, de um ecossistema de
empreendedorismo e inovação, e nestas comunidades que transitei ouvi duas frases
que são muito potentes pra mim, ditos populares que são frequentemente citados
nestes ecossistemas, que são “o mundo é de quem comparece” e “pense global,
mas aja local”. Considero estas frases muito importantes no momento em que
vivemos, e talvez possam ajudar a nos mostrar o caminho certo a seguir.
Nós humanos ainda estamos restritos à nossa interface biológica, ainda
que tenhamos todas estas ferramentas tecnológicas e uma capacidade de
comunicação e interligação digital, a nossa interface, o nosso campo de ação
imediato, ainda está restrito ao que a gente pode tocar. E, por conta de centenas de
milhares de anos de evolução da nossa espécie, ainda que a tecnologia nos
possibilite abranger ações cada vez mais amplas e distantes, ainda vamos querer
agir localmente.
Então, eu penso que a Unesc, enquanto universidade, precisa ser este
vetor de ação, este vetor de responsabilidades; porque ainda que os alunos, os
agentes, os jovens, tenham capacidade de se informar e qualificar num ambiente
que possibilita acesso ao conhecimento globalmente, que é a internet, o campo de
ação dela vai estar restrito aonde ela está. Acredito, portanto, que a força da Unesc
— e de qualquer instituição de ensino — vai estar em conseguir antecipar as
demandas de expressão desse jovem, nativo digital, e possibilitar a ele formas de
agir no mundo. Tudo isso que este jovem está absorvendo nos ambientes digitais,
todo conhecimento que está tendo contato através da internet vai, eventualmente,
precisar ser expresso. E de que forma a Unesc pode servir aos jovens como uma
espécie de veículo, de porta de entrada, para que possam se expressar no mundo?
Para que ele possa encontrar seu propósito, e talvez não tanto trabalhar mais, como
num cenário de Revolução Industrial, mas possa executar a si mesmo no mundo, de
acordo com suas paixões, habilidades e instintos.
O ser humano, como espécie, é um ser que precisa se expressar, se
manifestar, realizar. Que inventa coisas mil, e não se contentará mesmo que já
tenha possuído tudo. Mesmo que, em utopia, o ser humano viva só de bolos, tenha
conquistado todo bem material que lhe aprouver, e tenha todas as horas do seu dia
para o ócio, possivelmente, mesmo neste cenário, ele se armaria de um martelo e
quebraria tudo ao seu redor, só pela ação, como forma de se expressar no mundo.
Ou, como disse Dostoiévski em seu livro Memórias do Subsolo 2:
2
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias do Subsolo. Tradução: Boris Schnaiderman São Paulo: Editora
34, 2009. p. 44-45.
Podeis cobri-lo [o ser humano] de todos os bens terrestres, afogá-lo em
felicidade, de tal modo que apenas umas bolhazinhas apareçam na
superfície desta, como se fosse a superfície da água; dar-lhe tal fartura, do
ponto de vista econômico, que ele não tenha mais nada a fazer a não ser
dormir, comer pão de ló e cuidar da continuação da história universal — pois
mesmo neste caso o homem, unicamente por ingratidão e pasquinada, há
de cometer alguma ignomínia. [...] Desejará conservar justamente os seus
sonhos fantásticos, a sua mais vulgar estupidez, só para confirmar a si
mesmo (como se isto fosse absolutamente indispensável) que os homens
são sempre homens e não teclas de piano, que as próprias leis da natureza
tocam e ameaçam tocar de tal modo que atinjam um ponto em que não se
possa desejar nada fora do calendário.
O ser humano não foi feito para o ócio, ainda que o almeje. Precisamos
desbravar, precisamos saber o que existe além da próxima curva, para além do
horizonte. Então, muito possivelmente, ainda que tenhamos possibilidades de
conforto e luxo de forma universal, vamos querer nos executar no mundo, vamos ter
que encontrar nossos propósitos individuais e formas de nos expressarmos.
Vejo, portanto, que as instituições de ensino tem que ser este espaço,
esse vetor de ação e responsabilidade, não somente o espaço que o estudante vai
para apreender conteúdos teóricos e técnicos, mas também comportamentais, que
digam respeito às suas vidas cotidianas, sua saúde mental, nutricional e física, e de
que forma todas estas transformações estão impactando a cada um individualmente.
Aprender não só as Hard Skills, mas também as Soft Skills, uma vez que as Hard
Skills podem ser aprendidas de forma mais simples através da internet, já estão
apresentadas e dispostas de forma acessível a quem tiver o brio de aprendê-las, só
precisam ser resgatadas e expostas. Existem coisas que precisam ser ensinadas,
mas existem coisas que só estando disponíveis, já podemos apreender. Então,
quais são as coisas que de fato estamos ensinando e quais são as que só estamos
entregando? Qual é o valor real estamos criando na vida desses jovens? Quais
oportunidades o jovem pode encontrar no ambiente acadêmico que facilitem a sua
busca por propósito e seus caminhos de se expressar no mundo?
A minha mensagem é esta. Acredito que a Unesc está no caminho certo,
já tem dados passos consistentes no caminho de ser este espaço de ação para seus
acadêmicos, e cada vez mais acolhe a transformação digital e as mudanças como
imperativas para a sua existência. São tempos nebulosos os da mudança, mas
precisamos navegar o caos com um sorriso no rosto, com a certeza que sairemos
dele fortalecidos.