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O Peregrino- Aula 2

No portão de madeira
Porém, quando Cristão estava próximo ao portão de madeira, viu que estava fechada. E
quando se aproximou, ouviu uma flecha passar por sua orelha. Olhando a sua volta, ele viu
num monte oposto um castelo com figuras das trevas nas torres. No pequeno portão de
madeira estava escrito:

BATA E ABRIRÃO PARA VOCÊ.

Cristão não esperou; ele bateu com toda a sua força.

Uma segunda flecha por pouco não o atingiu.

-Quem está aí?- Perguntou uma voz.

-Um pobre peregrino com um fardo. Eu sou da Cidade da Destruição e estou indo para a
Cidade Celestial.

Para o seu alívio o portão abriu-se rapidamente e uma mão puxou-o para dentro.

-Quem está atirando essas flechas? –Cristão perguntou ao porteiro, que era chamado de Boa
Vontade.

-Aquele castelo pertence a Belzebu, o príncipe dos demônios- respondeu o porteiro.- Os


soldados dele atiram em qualquer um que tenta entrar. Eles tentam matá-lo antes que você
alcance segurança.

-Então eu tenho sorte de estar vivo. - Afirmou Cristão.

Cristão conversa com Boa Vontade


-Por que você está sozinho? – Perguntou Boa Vontade.

-Porque nenhum dos meus amigos viu o perigo.

-Inconstante veio uma parte do caminho até nós cairmos no Pântano do Desespero- Cristão
respondeu.- Depois disso, ele desistiu.

-Pobre homem!-Disse Boa Vontade.- Não vale a pena corre alguns riscos quando a Cidade
Celestial é seu objetivo?

-Eu não sou melhor- disse Cristão.- Por pouco não fiz o mesmo, depois de ouvir o Senhor Sabe
Tudo do Mundo. Eu não sei o que teria acontecido comigo se o Evangelista não tivesse me
encontrado de novo. E ainda estou terrivelmente desconfortável com este peso nas minhas
costas. Entretanto, por mais que eu tente, não consigo me livrar disso.

-Nenhum ser humano consegue -respondeu Boa Vontade.- Todavia, se você se mantiver no
caminho reto, ele o levará ao Lugar da Liberdade.

Então Cristão preparou-se para continuar sua jornada.

-Quão longe eu estou? -ele se perguntou, enquanto caminhava lentamente.

Na casa do explicador
Depois de andar algum tempo, Cristão chegou à Casa do Explicador, que era grande e
misteriosa. Boa Vontade havia dito a Cristão que o Explicador passaria algumas dicas para a
sua jornada.

Cristão bateu a porta.


-O que posso fazer por você?- Perguntou o Explicador.

-Senhor, -respondeu Cristão- eu estou indo à Cidade Celestial, e foi-me dito que o senhor
poderia me mostrar algumas coisas que poderiam me ajudar.

-Então, entre- disse o Explicador.

Ele levou Cristão a uma sala escura e triste, onde um homem estava sentado numa gaiola de
ferro. Ele parecia muito triste.

- Quem é este homem?-Cristão perguntou.

-Pergunte a ele- respondeu o Explicador.

-Quem é você?- questionou Cristão.

-Eu fui um peregrino- respondeu o homem.- Pensei que estava no caminho para a Cidade
Celestial.

-Mas porque você terminou na gaiola?

-Eu não me mantive vigilante- afirmou o homem.- Então estou preso nessa gaiola de ferro. Eu
não consigo sair.

-Lembre-se do que você já viu- o Explicador sussurrou a Cristão.

Em seguida, o Explicador levou Cristão à uma passagem onde um homem estava assentado
com um livro, preparado para escrever o nome de qualquer um que quisesse entrar. Porém, o
portão estava guardado por soldados violentos, prontos para atacar qualquer visitante. Uma
multidão estava esperando, mas ninguém se atrevia a passar.

Finalmente um homem corajoso veio.

-Escreva meu nome, senhor- disse ele ao homem com o livro.

Então ele puxou sua espada e investiu contra os soldados, que lutaram com ele violentamente.
Todavia, depois de uma briga horrível, o homem abriu o caminho rumo à segurança.

-Acho que aprendi a lição deste homem- concluiu Cristão.- Minha segurança não depende de
ser esperto, mas de ser corajoso.

Então ele prosseguiu seu caminho.

Cristão perde seu fardo


Não sabemos como o fardo de Cristão foi parar nas suas costas. Porém, ele jamais quis tanto
se livrar disso. Então, Cristão começou a correr- ou fez o melhor que pôde com um fardo nas
costas.

Aos pés de um monte, ele passou por uma tumba aberta. Acima dela, ele encontrou uma cruz.
Quando a sombra da cruz ficou em cima de Cristão, o fardo caiu de seus ombros rapidamente,
desprendeu-se de suas costas. O fardo rolou monte abaixo até à tumba- e nunca mais Cristão
o viu de novo. NUNCA!

Cristão não podia acreditar naquilo!

Ele ficou surpreso olhando para a cruz que o havia libertado.

Enquanto estava parado lá, três Seres Brilhantes apareceram. O primeiro disse: “Você foi
completamente limpo”. O segundo pegou suas roupas sujas, e deu-lhe roupas limpas e
brilhantes. O terceiro lhe deu um rolo de papel. “ Guarde isso cuidadosamente”, ele disse. “Só
os abandone quando alcançar o Portão Celestial.”
Cristão sentiu-se tão leve quanto o ar. Ele deu três pulos de alegria, e prosseguiu, cantando:

Aquele que for valente

Contra todo o desastre

Deixe-o constantemente

Seguir o Mestre.

Não há desânimo

Que o faça desistir

De seu primeiro passo reconhecido

De ser um peregrino.

Cristão encontra intrusos


Havia uma parede de cada lado da extensão da estrada. Como Cristão voltou a caminhar- livre
de seu fardo- dois estrangeiros de repente pularam do muro. Um chamava Senhor Superficial,
e o outro Senhor Fingidor.

-Com licença!-Cristão exclamou.- De onde vocês vieram?

-Nascemos na Terra da Vaidade, e estamos em nosso caminho rumo à Cidade Celestial- eles
responderam.

-Então por que pularam do muro, em vez de virem pelo pequeno portão de madeira? Vocês
não sabem que qualquer um que entra por um caminho diferente é ladrão?

- É um longo caminho até o portão de madeira- respondeu o Senhor Superficial.- Nosso povo
sempre toma o caminho mais curto. Eles têm feito isso por centenas de anos, então, isso não
pode ser errado.

- Mas isso é contra as regras.

- Não importa como chegamos- afirmam os homens.- Se chegamos, chegamos.

- Eu ando baseado nas regras do Mestre; vocês vão pelo próprio caminho- disse Cristão.

Os dois homens não responderam; só olhavam um para o outro e riram; Os três prosseguiram
juntos, até que alcançaram uma encruzilhada. Uma estrada larga seguia para a esquerda;
outra ampla estrada, à direita; mas a estrada estreita seguia à frente- acima, o grande escuro,
Monte da Dificuldade. Que estrada eles escolheriam?

O Senhor Superficial escolheu a da esquerda, que o levava a uma floresta. Essa estrada era
chamada de Perigo, e ele perdeu-se no caminho para sempre.

Senhor Fingidor escolheu seguir à direita, que o levava para um terreno acidentado, cheio de
elevações e buracos. Essa estrada era chamada de Ruína. Ele tropeçou, caiu e nunca mais se
levantou de novo.

O monte da dificuldade
Cristão olhou para as duas estradas, e começou a andar animadamente pelo caminho à sua
frente, subindo o monte. Todavia, logo ele estava curioso para saber se tinha feito uma boa
escolha. Ele parou de correr e começou a andar; depois começou a subir com dificuldade. E
logo estava tão íngreme que ele estava com suas mãos e joelhos escorregando.

Na metade do caminho para o topo, justamente enquanto ele pensava em desistir, viu um
abrigo para peregrinos cansados, construído pelo Senhor do Monte. Aqui Cristão sentou-se
agradecido para descansar. Ele puxou o papel enrolado que o Homem Brilhante tinha lhe dado
e leu-o para alegrar-se. Logo, ele adormeceu rapidamente no entardecer do sol.

Quando acordou, já era noite, então ele se apressou. De repente, ouviu som de passos vindo
em sua direção. Fora da luz fraca, aparecem dois homens- Assustado e Desconfiado.

- Qual é o problema?- Perguntou Cristão.- Vocês estão indo pelo caminho errado.

-Nós vamos para a Cidade Celestial, e tínhamos subido o Monte da Dificuldade- respondeu
Assustado.- Porém, quanto mais andávamos, mais perigos encontrávamos; por isso,
desistimos e voltamos atrás.

-Encontramos dois leões na estrada- continuou a falar Desconfiado.- Se estivéssemos ao


alcance de suas patas, eles teriam nos dilacerado em pedaços.

Assim, Assustado e Desconfiado desceram monte a baixo correndo, deixando Cristão em


apuros. Ele falou consigo mesmo: “ Se eu continuar, vou morrer, e se voltar a meus pais,
morrerei também. O que devo fazer?

Então ele se lembrou de seu papel enrolado e procurou-o em seu casaco. Todavia, embora
procurasse em todo o canto, não conseguia encontrá-lo. Ele deve ter caído. Sem aquele papel,
Cristão jamais entraria na Cidade Celestial. Não havia nada a fazer a não ser voltar atrás.

-Como eu fui bobo- disse consigo mesmo, enquanto relembrava seus passos, procurando em
qualquer lugar. Estava ficando mais escuro que nunca, e a noite estava cheia de sons
arrepiantes.

Entretanto, embora estivesse escuro quando ele chegou ao abrigo, encontrou o rolo de papel
caído lá .- deve ter escorregado quando ele adormeceu.

O rugido dos leões


Cristão pegou seu rolo alegremente. Então ele suspirou profundamente.- Eu já andei nesta
mesma estrada três vezes! Talvez eu já tenha andado milhares de quilômetros neste meio
tempo!”

Cristão continuou subindo. E, olhando, ele só conseguia ver as torres do Palácio da Beleza.

“Talvez eles possam me acomodar lá por uma noite”, ele pensou. Então, ele se apressou.
Porém, quando chegou mais perto, pôde ouvir em meio à escuridão o rugido dos leões. Cristão
por pouco não voltou, como Assustado e Desconfiado.

Porém, o Senhor Vigilante, o porteiro do Palácio, viu Cristão parar, e declarou: “Não se assuste
com os leões! Eles estão em correntes longas. Se você se mantiver exatamente no meio do
caminho, eles não conseguirão feri-lo”.

Um minuto depois, Cristão havia ultrapassado e alcançado o portão sem qualquer ferimento.

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