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Congresso de Jovens Shalom- 2019

Radicalidade

Radicalidade: a marca da juventude Shalom

Moysés Azevedo
Mantido o tom coloquial

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado!
Estão gostando do congresso? Está valendo a pena? E vai valer ainda mais a pena se nós nos
deixarmos, nesta tarde, alcançar ainda mais profundamente pela ação da graça de Deus em nós. Com
certeza Nosso Senhor tem uma obra para fazer em cada um de nós nesta tarde de hoje, onde vamos
abordar o tema da radicalidade, a marca da juventude Shalom.
Ouvimos, assim, a palavra radicalidade e corremos o risco de interpretá-la mal. Podemos
interpretar como um radicalismo. Vocês sabem que todo –ismo é perigoso, não é bom. Não, nós não
vivemos e nem é marca da juventude Shalom um radicalismo. É marca da juventude Shalom a radicalidade!
Mas qual é a diferença? Toda a diferença do mundo! A palavra radicalidade vem de raízes, e quando
chamamos radicalidade evangélica nós estamos dizendo que nos sentimos chamados e queremos ser
reconhecidos, queremos encarnar na nossa vida as raízes do Evangelho. Não um pedaço do Evangelho, não
a parte do Evangelho que mais me agrada ou que me convém, mas o Evangelho por inteiro, o Evangelho
nas suas raízes. Aderir ao Evangelho por inteiro, inteiramente, completamente, totalmente,
incondicionalmente. Mais do que aderir: render-se, rendição.
Se vamos falar de raízes do Evangelho e se vamos falar de raízes da Comunidade Católica Shalom,
podemos ir um pouco para as nossas origens.

Temos algumas fotos das nossas origens: a nossa origem diante do Papa São João Paulo II; Dom
Aloísio visitando a primeira lanchonete, tomando o famoso suco de laranja; os nossos grupos de jovens; a
Emmir fazendo a sua primeira consagração; aquele bigodudo ali é o Carmadélio; fazendo a faxina da casa.
Nós nos remetemos às nossas origens.
Na nossa origem, o quê que tinha? Como foi que Nosso Senhor nos alcançou? Na verdade, jovens,
eu sempre digo isso, repito e repetirei mil vezes se for necessário, eu e nós quando começamos nunca
pensamos em fundar alguma coisa. Não estava na minha cabeça: “Vou fundar uma comunidade, e essa
comunidade vai ser assim, assim e assado”, não. Porque seria muito humano e muita presunção, porque eu
sei que não sou capaz de nada.
Mas o quê que existia no mais profundo do nosso coração naquele período? O que queríamos era
viver o Evangelho. Tínhamos feito uma experiência tão forte com o amor de Deus, uma experiência tão
tangível, ou seja, tocamos a pessoa viva de Jesus Cristo. Tínhamos feito uma experiência tão forte com o
Seu Espírito que aquilo tinha transformado a minha e a nossa juventude, e não queríamos mais viver
conforme a modalidade que vivíamos até aquele período, achando que a alegria e a felicidade estavam
aonde o mundo poderia nos oferecer. Fazendo aquela experiência pessoal com Jesus Cristo, com o amor do
Pai, com a força do Espírito Santo, tínhamos descoberto que a felicidade era uma pessoa e nós queríamos
segui-lo incondicionalmente. E seguir incondicionalmente a Jesus era viver o Evangelho. O que nos

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animava, que enchia o nosso coração de ânimo, de fervor, o que dava brilho nos nossos olhos, o que dava
sorriso nos nossos lábios era viver o Evangelho.
Uma das primeiras coisas que me encantou na vida de São Francisco é porque ele dizia que ele e os
seus irmãos queriam viver o Evangelho sem glosa. Glosa? O que é isso? Sabem aquelas notinhas de rodapé
aonde você vai interpretando e amenizando um pouco aquilo que está dito no Evangelho? São Francisco
dizia isso: nós não queremos viver um Evangelho aguado, atenuado. Nós queremos, pela graça de Deus,
não por presunção, não por confiança na nossa força, porque todos nós somos pecadores, mas se Jesus nos
chamou a segui-lo, se Ele nos deu a experiência do Seu amor, nós queremos viver o Evangelho por inteiro,
porque nós acreditamos que o Evangelho é um caminho de e para a felicidade. Sim, o Evangelho! O
Evangelho com toda a sua força, o Evangelho sem meias palavras, o Evangelho com toda a sua radicalidade.
Eu me lembro de que naquele período tinha uma passagem do Evangelho que me encantava, que
nos encantava, que nós nos encontrávamos muito nessa passagem do Evangelho. É a passagem de Lucas 9,
24-25, quando Jesus diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e
siga-me. Porque quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem por amor a mim sacrificar a sua vida
irá salvá-la. O que perder sua vida por causa de mim a salvará. Com efeito, que aproveita ao homem ganhar
o mundo inteiro, se vem perder-se a si mesmo e causa a sua própria ruína?”.
Para nós essa passagem do Evangelho não era uma exigência simplesmente, mas era uma
sabedoria! Ouvir essa passagem do Evangelho não nos colocava no canto da parede, mas fazia e abria um
caminho, um caminho de e para a felicidade. Ou eu acredito em Jesus ou não acredito. Quem acredita em
Jesus? Pois é Jesus que diz. Você quer ser feliz? Jesus diz: “Você quer ser feliz? Você quer encontrar a vida?
Pois então renuncie a si mesmo, perca a sua vida por amor a mim, e aí você vai encontrá-la, porque eu vou
me dar a ti. Eu não vou te dar qualquer vidinha. Eu não vou te dar um upgrade na tua vida. Eu vou me dar.
Eu, Jesus, eu que sou a vida eterna, eu vou me dar a você! Se você deixa tudo por mim, eu deixo tudo por
ti. Eu me entrego a ti. Eu me dou a ti. E tu, então, terás a plenitude da vida, porque aquele que quiser
ganhar a sua vida, viver a sua vida voltado para si mesmo, esse perdeu a vida. É um infeliz. Mas aquele que
por amor a mim entregar, ofertar, doara sua vida, não escolher viver mais para si mesmo, mas viver para
mim e viver para os outros, este encontrará a plenitude da vida, encontrará aquilo que comporta a palavra
felicidade”.
Nós, na nossa juventude, tínhamos 20-22 anos, alguns 18, outros 9, nós acreditamos em Jesus,
acreditamos naquele Evangelho, e quisemos dar um passo de não viver mais para nós mesmos, mas dar um
passo na direção de Deus para viver para Ele, para deixar aquilo que o mundo chama felicidade e encontrar
no Evangelho a sabedoria da vida, a plenitude da vida, a fonte da felicidade.
Passaram 37 anos deste momento, e eu quero dizer para vocês que não existe algum segundo da
minha vida em que eu diga: “Não valeu a pena”, porque cada segundo da minha vida, na minha pobreza, na
minha fraqueza, nos meus desafios, eu vejo que a palavra de Jesus é verdade, é a verdade mais pura,
porque a cada dia, quando nós deixamos tudo por amor a Ele e Nele por amor aos outros Ele a cada dia se
entrega a nós. Por isso viver o Evangelho com radicalidade, por isso terá a marca da radicalidade, os jovens
Shalom com a marca da radicalidade, consiste exatamente em nenhuma outra coisa a não ser esta, o
segredo da vida, a marca da cruz:

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A cruz do ressuscitado que passou pela cruz. Sim, este é o segredo da vida. Este é o segredo da
felicidade. Entregar, doar, consumir a vida, não viver para si mesmo, não viver para si mesmo! Essa é a
radicalidade, essa é a revolução do Evangelho, porque não é isso o que o mundo diz e não é isso o que você
ouve por aí, não é isso que a sabedoria do mundo diz.

Ser mundano, a palavra mundanismo, vem exatamente daí, de não acreditar no Evangelho e
acreditar mais no que o mundo diz. O Papa Francisco nos ensina exatamente isso. O que é ser mundano? É
viver centralizado em si mesmo, é ter uma vida voltada para si mesmo, é viver buscando a si mesmo,
buscar a felicidade a qualquer custo, e sabe o que acontece quando buscamos a felicidade a qualquer
custo? A felicidade foge de nós, e nós nos tornamos aqueles pobres egoístas e infelizes. Nós nem nos
vemos assim, nem achamos que somos assim, mas nos tornamos assim. Mas quando, pela graça do amor
divino, nós acreditamos em Jesus, a cruz não é um caminho de dor infecundo. A cruz é um caminho de
amor, de renúncia de si mesmo, de despojar-se a si mesmo por um amor maior, porque fomos apaixonados
por Jesus.
Vocês cantavam: “Estou perdidamente apaixonado por Ti, Jesus. Nada neste mundo poderá mudar
o rumo do meu coração. Estou perdidamente apaixonado por Ti, Jesus. Nada neste mundo poderá mudar o
rumo do meu coração”. Nós estávamos numa vigília jovem na Diaconia e tinha esse gelo seco. O gelo seco
acabou e a Débora estava cantando essa música. Só que o gelo seco se prendeu no cabelo dela e começou
a sair do cabelo dela. O gelo seco foi embora, mas ficou no cabelo. Quando ela perguntou o que foi, eu
disse: “Tu é cabelinho de fogo!”. Então, canta, cabelinho de fogo! “Estou perdidamente apaixonado por Ti,
Jesus. Nada neste mundo poderá mudar o rumo do meu coração. Estou perdidamente apaixonado por Ti,
Jesus. Nada neste mundo poderá mudar o rumo do meu coração”. Eu sempre quis fazer um dueto com ela!
Mas é isso! Nós fomos inflamados por um amor, e a cruz não é um caminho de dor. A cruz é um
caminho de amor. É um caminho de quem se apaixonou. Quando nos apaixonamos fazemos loucuras, não
é verdade? Quando se está verdadeiramente apaixonado. Quando você vê uma pessoa com uma cara bem
“abestada”, está apaixonada, começa a fazer bobagens. Mas quando nós estamos apaixonados pelo amor
divino somos capazes de fazer loucuras divinas para Deus, e aí a cruz não é mais algo que eu resisto, mas é
algo que me atrai, porque a cruz é a prova do amor incondicional, total, inteiro, pleno! Deus amou tanto o
mundo, tanto o mundo, que deu o Seu filho, Jesus, não para condenar o mundo, mas para que o mundo
fosse salvo por ele1. E um amor assim não pode ser correspondido de qualquer forma. Um amor assim tem
de ser correspondido também de forma inteira, de forma plena, de forma incondicional.
Por isso eu entendo quando às vezes as pessoas de fora dizem assim: “Você é do Shalom? Você é
muito radical!”, bendito seja Deus! Não o radicalismo, mas radical, porque está tão apaixonado que se
decide inteiramente a seguir incondicionalmente a Jesus Cristo, e esta deve ser a marca da sua vida e do
seu coração. Você está assim? Como é que você está vivendo, abraçando o Evangelho?
Por isso a Comunidade nasce de uma oferta de vida, porque fomos tão amados, tão amados, que
nós queremos corresponder a esse amor ofertando a nossa vida, como Ele ofertou a vida Dele por nós. Por
isso essa é a marca da nossa radicalidade evangélica: o amor incondicional, apaixonado, esponsal por
aquele que nos amou primeiro e, portanto, uma resposta a esse amor, que na é outra a não ser render a
vida, ofertar a vida, entregar a vida por inteiro, sem reservas, incondicionalmente a Ele. Essas duas
dimensões são a marca da nossa radicalidade.

1
João 3, 16.
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E aí nós começamos aquele nosso caminho. Esse caminho faz 37 anos da Comunidade, faz 30 anos
do Projeto Juventude para Jesus. E aí nós vamos entendendo que a radicalidade. Eu recordo um conselho
que o Cardeal Dom Aloísio Lorscheider, nos primeiros anos da Comunidade, nos dava. Partilhando com ele
o nosso caminho, as nossas decisões, aquelas rupturas fortes que tivemos de fazer, em determinado
momento Dom Aloísio olhou para mim, e disse: “Moysés, ouça com muita atenção isso que vou lhe dizer.
Eu digo para você e para vocês que estão começando essa experiência: nunca percam o fervor! Nunca
percam o fervor!”. Mas o que é fervor? Se imaginamos fervor só como emoções, como sentimentos, parece
efêmero, mas fervor não é isso.
Um famoso teólogo que foi professor de São João Paulo II era um dominicano francês, chamado
Garrigou-Lagrange. Esse professor de São João Paulo II dizia que uma obra de Deus é composta por 4 tipos
de pessoas:

- Santos (alguns)
- Fervorosos (a maior parte)
- Tíbios (poucos)
- Maus cristãos (pouquíssimos)

O primeiro tipo são alguns santos, não muitos, mas alguns santos, pessoas que se decidiram,
pessoas que começam a dar frutos de santidade na sua vida. Alguns! A maior parte desta obra de Deus é de
fervorosos. Quem são os fervorosos? São aqueles que tendem para a santidade, que ainda não são santos,
mas apesar da sua fragilidade, apesar dos seus limites, dos seus desafios, eles escolhem ser santos. Eles
começam a trilhar, pela força da graça de Deus e não pela força de seus braços, mas porque foram visitados
por Deus, escolhem trilhar um caminho na santidade. Estes fervorosos são aqueles que buscam dia a dia
fazer novos progressos na oração, no recolhimento, na mortificação, na pureza de consciência, na
humildade e no serviço aos outros.
Uma obra vigorosa. Primeiro tipo: alguns santos. Segundo tipo: fervorosos, a maior parte, que
tendem escolheram e caminham para a santidade. Terceiro tipo: os tíbios. Ele diz: “Poucos tíbios”. O que
são os tíbios? Tíbio é morno, e ele define assim: “Os tíbios foram aqueles que tiveram uma experiência de
Deus, serviram a Deus no seu passado com fervor e fidelidade, mas pouco a pouco, abusando a graça
divina, vão tendendo para a indiferença. São aqueles que não têm o desejo sincero da santidade. Ainda que
evitem o pecado mortal, vão tornar-se tíbios, mornos, e como são tíbios e mornos vão corromper muitos
outros”.
Numa obra vigorosa: alguns santos, a maior parte fervorosa, poucos tíbios e pouquíssimos maus
cristãos (quarto tipo). O que são esses maus cristãos? São aqueles que têm uma vida dupla, que
aparentemente são cristãos, mas escolheram, não é por causa da sua fraqueza somente, mas escolheram
viver uma duplicidade de vida.
Atenção, Projeto Juventude para Jesus! Atenção, jovens da Comunidade Católica Shalom! Vejam o
que dizia este sábio, este teólogo: “Uma obra de Deus deixa de ser vigorosa e entra em decadência quando
o número de tíbios começa a igualar o dos fervorosos”. Quando o número de tíbios, daqueles que são
mornos, daqueles que não fazem progressos, daqueles que tiveram um fervor, mas pouco a pouco vão
caindo na indiferença começa a igualar ao número de fervorosos. Estamos celebrando 30 anos do PJJ. Qual
é o sue lugar neste grupo? Onde você se identifica? Você faz parte do grupo dos santos? Se você acha que
faz, você está fora dele, porque um verdadeiro santo não se reconhece assim. Você faz parte do segundo
grupo, dos fervorosos? Aí está! Este é o caminho! Tender, pela graça de Deus, pelo auxílio da graça de
Deus, tender para a santidade. Ou você está naquele lugar péssimo que não é nem carne e nem peixe, que
não é nem frio e nem quente, como diz o Apocalipse, é a mornidão, a tibieza.
Não falo nem dos maus cristãos, mas hoje, neste congresso onde o chamado do Senhor é à
radicalidade, hoje é o tempo, hoje é o momento da graça. Se você se vê tíbio, não pelas suas forças, não
pela sua capacidade, mas dar o passo, apoiado na graça de Deus. No início da Comunidade nós falávamos
muito isso, em dar o passo. Sim, com a força da graça de Deus. Deus te chama a dar o passo, a sair da
mornidão, a sair da tibieza, a ser convencido pelo amor de Deus, a ser convencido pela graça divina a ver a
beleza da cruz, a não querer mais viver desse jeito. Sim, você pode dizer: “Mas eu não tenho forças”, “eu

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sou fraco”, mas eu poderei dizer, contigo: “Tudo podemos naquele que nos fortalece2. Ele pode fazer de ti
muito mais do que tu podes imaginar!”. E pode aplaudir sim, porque neste congresso você pode dar aquele
passo decisivo de sair da mornidão, da tibieza, para o fervor que só o Espírito Santo pode nos dar, e este é
um caminho de e para a felicidade, um caminho de santidade. Onde é que você se encontra? Como é que
você está?
Nós vemos a radicalidade, são raízes. Radicalidade é buscar ser fervorosos. Dom Aloísio nos disse:
“Nunca percam o fervor!”. E radicalidade, o que é? É desejar a santidade. Presta atenção! Não está nas suas
forças ser santo. Não está, e nós sabemos disso. Não está na nossa capacidade. Não está na nossa natureza.
A nossa natureza é ferida, é frágil. Nós não temos como ser santos com as nossas próprias forças. Não, nós
não podemos ser santos com as nossas próprias forças, mas nós podemos desejar, desejar! Desejar com
todo o desejo do nosso coração. Santo Agostinho, um famoso teólogo, dizia: “Desejar é já possuir”. Quando
você deseja a santidade torna-se possível o impossível, porque Deus vem em seu auxílio.
Eu gosto muito de citar Charles Péguy, um poeta francês. É o poeta da esperança. Ele colocava na
boca de Deus, como uma poesia, como se Deus estivesse falando: “Que os homens tenham fé, não me
admira. Basta eles olharem para a criação e reconhecerem: tem um criador. A perfeição da criação grita aos
olhos deles que eu existo. Que os homens desejam a caridade também não me admira, porque estes
homens foram feitos por amor e para o amor, e o sue coração é tão carente de amor que eles desejam
amar e querem ser amados”. E diz o poeta, colocando na boca de Deus: “Mas que estes homens, pobres
criaturas, fracas e frágeis, todos os dias acordem, olhem para o alto, e digam: “Esperando em ti, eu confio
que hoje eu poderei ser melhor”, quando estes pobres homens têm a esperança da sua conversão, o meu
coração não resiste, se enternece e Eu envio a minha graça sobre eles para realizar aquilo que eles não
podem realizar por si mesmos”3.
Sim, se você desejar a santidade com todas as fibras do seu coração Deus fará aquilo que você não
consegue fazer. Você será um jovem, uma jovem santa, transformada pela graça de Deus, e os outros
olharão e verão em você a imagem da santidade de Deus. Não porque você é o melhor, não porque você é
o maior, não porque você é o tal, mas porque você reconheceu a sua fragilidade e soube levantar os seus
olhos e esperar, e desejar, e suplicar o dom da santidade para Deus.
Quem quer ser santo aqui, diga eu? Erga sua mão direita, e diga: “Senhor, eu sou fraco, eu sou
pecador, sou muito limitado, mas eu sou amado por ti! E o teu amor é tão forte, é tão imenso que eu quero
responder na mesma medida com que Tu me amas. Eu quero dar a minha vida por amor a Ti. Senhor, eu
não tenho forças, mas eu desejo, eu desejo amar como Tu me amas, eu desejo amar com o Teu amor, eu
desejo a santidade! Eu desejo a santidade!”.
O desejo de Deus, o desejo imenso, profundo e feliz. Desejar isso mais do que tudo na vida, mais do
que tudo na vida! Mais do que passar no Enem, mais do que encontrar o príncipe ou a princesa encantada,
mais do que ter dinheiro no bolso, mais do que ter sucesso e fama, mais do que ter reconhecimento dos
outros. Desejar Deus e a santidade. Esta é uma marca dos jovens Shalom. Desejar Deus e a santidade!
Onde está esta marca no Evangelho? Vemos um exemplo muito interessante no primeiro santo
canonizado da Igreja. Quem é esse da imagem abaixo? O bom ladrão. Foi o primeiro santo canonizado da
Igreja, porque Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”4. Foi o próprio Jesus que o canonizou.
Não foi São Pedro não, não foi o primeiro Papa não, mas foi Jesus. “Hoje mesmo estarás comigo no
paraíso”. “Mas como pode ser? Ele era ladrão!”, ladrão não, é porque o evangelista quis colocar uma coisa

2
Filipenses 4, 13.
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“Que os homens creiam? Isso não me espanta, porque afinal de contas, ao abrir os olhos e ver toda a beleza da
criação, ao olhar para o céu, ao olhar para o mar, esses homens constatam: existe um Criador. Que os homens
desejem ser amados e amem, que os homens desejem viver a caridade? Isso também não me espanta tanto. Afinal de
contas, eles foram criados à minha imagem e semelhança. Eles foram criados pelo amor e dentro do coração deles
tem a necessidade do amor. Mas o que chama a atenção dos meus olhos é estas pobres e amadas criaturas todas as
manhãs despertarem, olharem para o alto e dizerem: “Com a tua graça eu hoje espero ter uma vida melhor, ter uma
vida transformada, melhorar, mudar de vida. Eu tenho esperança que eu posso mudar de vida”. E Deus quando olha a
esperança nascendo no coração do homem, isso enternece o coração de Deus e Ele logo diz: “Eu venho logo em
auxílio deles para corresponder às suas expectativas””.
4
Lucas 23, 43.
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mais nobre para ele, porque ele não era ladrão não, mas era pior. Quem era condenado à cruz era no
mínimo um assassino. Ele não era “flor que se cheirasse”. Não era!

O Evangelho diz que tinha o bom ladrão e mau ladrão. O mau ladrão dizia assim: “Se tu és o
Messias, se tu és o Salvador, desse dessa cruz, te salva e nos salva!”. Ele desafiava Jesus. Olha qual foi a
diferença do bom ladrão! Ele olha para o mau ladrão, e diz: “Nós estamos aqui porque merecemos. Nós
fizemos o mal. Mas este é inocente”. O bom ladrão declarou a inocência de Deus, olhou para Jesus, e disse:
“Senhor, eu pecador, que eu mereço esta cruz, eu que sou um miserável, fraco, eu olho para Ti, reconheço
a Tua bondade e a Tua misericórdia, e te peço: lembra-te de mim quando entrares no Teu reino”. Este é o
caminho, o caminho da santidade.
Quanto mais nos abaixarmos, mais Deus nos elevará. Quanto mais nós nos arrependermos
sinceramente dos nossos pecados, mais nós mergulhamos na misericórdia que pode transformar a nossa
vida. Não é reconhecer o pecado aqui na cabeça: “Eu sou pecador”, e têm pessoas que reconhecem até
com certo orgulho. Não. É se reconhecer pecador com o coração penitente: “Eu sou, mas Jesus, olha para
mim. Tende misericórdia. Eu não quero viver mais assim Jesus. Jesus, com todas as fibras do meu coração,
eu estou cansado. Eu lanço o meu olhar em Ti”, e aqui está a fonte da nossa santidade.
Dom José dizia hoje: “Ninguém se torna santo. A santidade é um dom por si mesmo”, e olhar,
lançar o nosso olhar para a misericórdia, para Jesus, para o Seu coração traspassado, reconhecendo quem
somos, fracos, débeis, mas Ele é forte! Nele, Ele pode transformar a minha vida. Ele pode fazer o impossível
em mim! Ele pode me fazer santo! Desejar essa santidade é o caminho e vida, é o caminho da felicidade.
Por isso nós precisamos tomar uma decisão reta e sincera. O verdadeiro arrependimento comporta
uma decisão, e essa decisão é por amor a Deus em nada ofender ao Senhor, em nada! Não é mais ou
menos, aqui eu posso e ali não, mas em nada! Pedir ao Espírito Santo que gere essa graça dentro de mim.
Pedir ao Espírito Santo que gere essa graça dentro do seu coração. Em nada ofender a Deus! Em nada
ofender a Deus! Em nada ofender a Deus!
E isto é uma graça, é uma graça que nós podemos suplicar, e podemos suplicar cantando, pedindo
a Nosso Senhor essa graça. Vamos pedir ao Espírito Santo que nos dê essa graça, esse desejo no nosso
coração, da hora em que eu me levanto, quando desperto, o dia começa, e aí eu reconheço a bagaceira que
eu sou, mas eu reconheço também a grandeza de Deus, e aí eu lanço o meu olhar para Ele e digo: “Pela Tua
misericórdia, Senhor, dá-me o Teu Espírito para que em nada neste dia, em nada eu possa Te ofender”.
Pedir esse desejo, esse desejo da alma, esse desejo do coração. Que ele não seja algo simplesmente da
boca para fora, mas que nasça nas entranhas do nosso ser. Vamos pedir essa graça juntos, cantando:

Em nada ofender a Deus.


Em nada ofender a Deus.
Em nada, em nada ofender a Deus.

Erga os seus braços e peça essa graça ao Senhor. Senhor, nós, fracos e pecadores, queremos todos
os dias lançar o nosso olhar para Ti, e com a virtude da esperança pedir o dom do Teu Espírito de em nada
te ofender, a cada dia da nossa vida. Por isso nós, juntos, cantamos, pedindo essa graça:

Em nada ofender a Deus.


Em nada ofender a Deus.
6
Em nada, em nada ofender a Deus.

Parece um lema piegas, mas não é não. Isso é um segredo de vida, é uma resposta de amor.
Quando você ama muito alguém, você não quer em nada entristecê-lo. Também é assim na nossa vida. Em
nada ofender a Deus. Na nossa vida pessoal, nas nossas relações, na nossa relação com as coisas, com as
situações, com as pessoas, em nada ofender a Deus.
E para isso, então, apoiados na misericórdia, perdoados por Ele, vamos buscando a radicalidade
também na virtude, na virtude! Buscar uma vida virtuosa. “O que é isso, Moysés? É um moralismo querer
ter virtude?”, presta atenção! Olha o que o Catecismo da Igreja chama de uma vida virtuosa: “O fim duma
vida virtuosa consiste em tornar-se semelhante a Deus”5. O que é uma vida virtuosa? É eu me deixar
transformar pela graça de tal forma que a minha vida vai se transformando Nele. Quem é Deus? Deus é
amor, é bondade, é compaixão, misericórdia, e eu vou deixando que esta graça, esta misericórdia vá
entrando dentro de mim e vá me tornando semelhante a Ele no meu pensar, no meu sentir, no meu agir,
semelhante a Ele! Eu vou convivendo tanto com Ele, vou tendo tanta intimidade com Ele, vou crescendo
tanto na comunhão com Ele que as virtudes Dele vão passando para mim. Não é assim?
Tem um ditado popular que diz: “Diz-me com quem tu andas que eu direi quem tu és”. Se você
começar a andar com Deus, se você começar a caminhar com Ele, e caminhar no pleno sentido da palavra!
Caminhar para uma intimidade com Ele. Se você estiver se enamorando por Ele, se você vai tendo
intimidade com Ele, se você vai crescendo na oração, na palavra de Deus, nos Sacramentos, se você vai
crescendo no exercício do amor para com os outros, você vai se tornando semelhante a Ele. Você vai
convivendo tanto, tanto com Ele que quando as pessoas olharem para ti já não verão a ti, mas verão as
virtudes de Cristo em ti, e isso é um caminho de virtude, de santidade. Não é outra coisa. É isso! É isso!
Diz o Papa Francisco: “No serviço a Deus as coisas que parecem pequenas são grandes por sua
relação ao fim último, a Deus, que deveria ser amado acima de todas as coisas”. Quando amamos,
queremos agradar nos mínimos detalhes.
Virgínia, vem cá, por favor. Virginia é a mãe do Vitinho. Virginia é casada há 33 anos com o
Humberto, e pode bater palmas, porque isso merece! Infelizmente, não é o que vemos por aí.

- Virgínia, quando você casou com o Humberto, como era a primeira semana? Você queria fazer o quê?
você queria agradá-lo?
- Eu queria agradar, fui cozinhar e não deu certo.
- Mas tentou, não foi?
- Tento até hoje!
- Pois é. A vida de santidade é assim. Ele gosta de comer é?
- Gosta, mas é difícil cozinhar para ele.
- Ele é exigente.

Mas o que aconteceu? Como a Virgínia amava o Humberto, qual a primeira coisa que ela foi fazer?
O que ela não sabia: cozinhar. Ela queria agradar o marido, agradar aquele a quem estava enamorada,
apaixonada. Quando nós nos enamoramos com Deus nós queremos nos menores detalhes agradá-lo,
mesmo que sejamos um fracasso.

- Pior é que como não conseguia agradá-lo, acabei abandonando a cozinha.

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Catecismo da Igreja Católica, parágrafo n° 1803. São Gregório de Nissa, De Beatitudinibus, oratio 1: Gregorii Nysseni
opera. ed. W. Jaeger, v. 7/2 (Leiden 1992) p. 82 (PG 44, 1200).
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Mas nós tentamos! Tentamos! Tentamos agradar com todas as nossas forças. Assim é o caminho. A
cozinha, podemos abandonar. O caminho da virtude, jamais! Jamais! É isso! No caminho da virtude nós
vamos tentando, apoiados na graça de Deus, agradar a Deus, exercitar as virtudes. São os pequenos atos de
virtude cotidianos, unidos aos méritos de Cristo, que vão construindo a santidade.
Às vezes queremos ser santos de uma vez, queremos ser santos assim: “Hoje eu acordei e vou fazer
uma grande coisa para Deus”. Faça o seguinte: faça uma pequena coisa para Ele. Acorde hoje e seja fiel na
sua oração pessoal, seja fiel no seu estudo bíblico. Esta semana não deixe de ir ao grupo de oração. Nesta
semana, quando chegarem para você e lhe agredirem, perdoa e devolve com um bem. Faça nas pequenas
coisas e você vai ver que pouco a pouco, como uma gota d’água na pedra, como a chuva na terra seca,
todos os dias, os atos, as pequenas coisas por amor a Deus, e é esse o caminho de Santa Teresinha! Santa
Teresinha foi santificada por Deus assim! Assim! Buscando a fidelidade das pequenas coisas. Esse é o
caminho da virtude.
Eu estou no computador, abro em tal coisa, e ali posso escolher ver ou não, e apoiado na graça de
Deus digo não e fecho aquela página. Recebo aquela ligação: “Vamos para tal lugar”, é a hora, ali é a hora
da graça! E ali você pode provar o seu amor a Deus, e dizer: “Não, vamos para tal outro”. É ali! Na hora de
perdoar o seu pai, a sua mãe, seus amigos, a sua escola, seu professor, e você dá provas de amor. É ali que
você vai construindo o dom da santidade.
Veja o que dizia um importante homem espiritual: “A negligência das pequenas coisas no serviço de
Deus esteriliza a vida cristã”. Se você não é fiel nas pequenas coisas, como é que Deus vai lhe confiar as
grandes? Se você vai ao grupo de oração uma semana sim e quatro não, como é que você quer crescer
numa vida doada e ofertada? Se você não se decide em caminhar junto com os irmãos, como é que você
vai se tornar um homem e uma mulher de Deus?
Jovens, a palavra de Deus diz em 1 João 2, 14: “Vós sois fortes, porque vocês venceram o maligno”.
Há uma moda agora, onde dizem que os jovens desse tempo são muito frágeis, não tem resiliência
nenhuma. Sabem o que é resiliência? A resistência. Qualquer coisa que acontece, quebra. Nós não
podemos deixar que essa imagem se forme a nosso respeito, ao seu respeito. Nós podemos estar sendo
educados assim, é verdade, mas apoiados na graça de Deus, nós podemos nos apoiar nesta palavra, que
diz: “Jovens, vós sois fortes!”. Sim, você não é um fracote. Em si mesmo você é, claro. Eu sou, tu és, ele é,
nós somos, vós sois e eles são. Todos nós somos fracos, mas na graça de Deus nós podemos ser
fortalecidos, podemos criar resiliência, podemos vencer os nossos medos, porque tudo posso naquele que
me conforta. Eu posso perseverar na vida de oração: “Estou tão cansado hoje. Não quero rezar, não vou ao
grupo de oração não”, que não?! Jovens, vocês são fortes, porque vocês venceram o maligno! É a palavra
de Deus. Aposse-se dessa palavra e dê uma reviravolta na sua vida! Sim, dê uma reviravolta na sua vida!
Vamos testemunhar para este mundo que esse mundo pode ser transformado, que pode existir
uma juventude, um jovem diferente, um jovem com um brilho nos olhos! Não é com sangue nos olhos não,
mas é com um brilho nos olhos! Com um brilho nos olhos, que se dispõe, apoiado na graça de Deus,
fortalecido por Deus, dar respostas diferentes. O mundo está querendo construir uma geração geleia. O
mundo está querendo construir uma nova geração pudim. Mas este Menino aqui, Jesus Cristo, Ele quer
construir uma geração de jovens apaixonados, enamorados por Deus. Jovens fortes, fortalecidos por Ele,
não por sua própria força, e que podem dar frutos de fazer um mundo novo, uma história nova, e pela
graça de Deus, Deus te convida hoje a fazer parte dessa geração de enamorados por Jesus Cristo. Quem
quer ser parte dessa geração? Ele pode te fazer isso, e Ele te fará isso!
Tinha a harmonia original da criação. Quando Deus criou o homem, Ele criou o homem em
harmonia. Isso pregamos em Seminário de vida no Espírito Santo. O homem foi criado para conhecer a
Deus, e antes do pecado original o homem vivia nesta comunhão com Des. O homem queria amá-lo e servi-
lo. O primeiro homem era um contemplativo. A alma deste homem queria e ele tinha o conhecimento de
Deus. Existia uma harmonia entre a alma e o corpo do homem. Os sentidos do homem estavam submetidos
à sua alma. O corpo do homem estava submetido à sua alma. As suas paixões, o seu corpo, os seus sentidos
não estavam desarraigados da sua vontade. Como o homem estava submetido a Deus, o corpo do homem
estava submetido ao próprio Deus, a sua alma e a Deus. Não estava tudo desgovernado. E mais ainda! O
corpo do homem se relacionava com os bens exteriores, com a criação, com os outros, em harmonia. Havia
uma harmonia plena entre a alma do homem e Deus, entre a alma do homem e o seu próprio corpo, e
entre o próprio homem e a criação, os outros e os bens externos.

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Quando o pecado veio, feriu o homem e desarrumou essa harmonia, e pôs três chagas dentro do
homem. O quê que aconteceu? O homem disse não a Deus, se afastou de Deus, perdeu o conhecimento de
Deus. O homem perdeu o conhecimento de Deus, o corpo do homem se rebelou contra a alma, os sentidos
não queriam mais servir à alma. Então, as paixões começaram a ficar desorganizadas e o homem ficou feito
um cavalo desembestado. A alma começou a servir ao corpo, ao invés do corpo servir à alma, e os sentidos
do homem ficaram totalmente dispersos. O homem, em relação aos bens externos, invés de estar em
harmonia com a criação, o homem se transformou em inimigo da criação, rompeu essa harmonia, e
começou a ser escravizado por ela. Começou a ser escravizado pelo dinheiro, pelo sucesso, pela fama, e aí
entraram as três feridas fundamentais no homem. Quais são essas feridas?

1. A soberba da vida.

A primeira está em 1 João: a soberba da vida. O que é a soberba da vida? O homem se revoltou
conta Deus e Sua vontade. Ferido pelo orgulho deixou de se alimentar uma verdade divina para criar as
suas falsas e pequenas verdades, a conduzir-se por si mesmo.

2. A concupiscência da carne.

A concupiscência da carne: recusando-se ao domínio de Deus, a alma perdeu o domínio sobre o seu
corpo e tornou-se escravo das paixões desordenadas.

3. A concupiscência dos olhos.

O corpo, invés de servir-se dos bens exteriores, tornou-se escravo deles. Tudo o que brilha – a
fama, o dinheiro, as riquezas- se tornou sensível ao homem.

O homem, assim, transformou-se num homem profundamente infeliz, sem o conhecimento de


Deus, com seus sentidos e paixões desordenadas, e se tornando escravo dos bens criados. Jesus vem e na
cruz nos traz três remédios. Nele mesmo, na pessoa Dele, Ele nos mostra os três remédios para o homem
Nele, em Jesus, encontrar de novo a harmonia, que é o Shalom, a harmonia de Deus, a paz profunda. Os
três remédios, são:

1. A graça e a virtude da castidade para curar a concupiscência da carne.

Diz o Catecismo da Igreja Católica, no n° 2339: “A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas
paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz”, referindo-se a Eclesiástico 1, 28: “A
violência de sua paixão causará sua ruína”. Infeliz do homem que se deixa arrastar pelas suas paixões
desordenadas. Quem vive de paixões desordenadas é um infeliz. E aí Jesus vem trazer dom da castidade
Nele. Não é uma castidade virtude moral, simplesmente um moralismo. É a Dele! É a Dele! A Dele que
consiste em nós termos um relacionamento tão transparente com Ele que nos tornamos e nos
relacionamos com as coisas sem nos deixar possuir por elas, nos relacionamos com as pessoas sem nos
deixar possuir por elas, e temos a virtude do domínio de si. Não sou eu me dominando não, é a graça de
Deus que vou recebendo na oração que vai me dando um domínio tal dos meus sentidos e das minhas
paixões e vai me fazendo inteiro, tão inteiro que eu posso me doar as outros, eu posso me entregar ao
serviço dos outros. Eu não vivo buscando a minha própria satisfação. Eu não vivo buscando me satisfazer.
Vocês sabem que a carência é como se fosse um saco sem fundo. Imagina aí! Todo mundo têm
carência. Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Todo mundo. Mas quando eu vivo alimentando as minhas carências eu
vivo colocando coisas dentro de um saco sem fundo, até o ponto que vou me afogar nessas coisas. A
castidade vem exatamente me libertar para que eu possa, com liberdade e transparência, me relacionar
com as pessoas não me apegando, não me desordenando, não me deixando instrumentalizar, usar os
outros, ou me deixar instrumentalizar por eles, mas pela castidade de Cristo eu vou sendo curado.
Atenção, jovens! Nós muitas vezes lidamos com as questões da sensibilidade, com as questões da
sexualidade, às vezes lidamos com duas formas, e as duas formas são muito erradas. Ou ficamos botando

9
tudo para trás, abafando, como se não existisse, como se você fosse um anjo, e você não é um anjo. O anjo
não tem corpo, e você tem corpo. Pensava que era, mas não é. Veja se a pessoa que está ao seu lado tem
duas asas. Tem? Não. Então, não é um anjo. Diga para ela: “Você não tem duas asas. Você não é um anjo”.
Se você não é um anjo, você tem a sua corporeidade. A sua corporeidade é um dom, é um dom! Ela pode
estar ferida, mas ela é um dom. E o quê que acontece? Você começa um caminho na vida cristã e começa a
colocar essas questões como se fosse para trás, vai abafando, abafando, abafando, e lá na frente estoura.
Não! Não é assim.
Nem é também como muitas vezes lidamos com essa questão como se fosse um monstro: “Ai meu
Deus! As minhas paixões, os meus sentidos. Isso é maior do que eu! Não me seguro não! Eu não consigo
não e me entrego logo”. Também não! Nem abafar e nem me sentir como que um cavalo desembestado.
Não! Nós temos a graça de Deus, e com serenidade. Sim, você pode ter feridas na área da sensibilidade,
você pode ter feridas nos seus sentidos, você pode ter sido ferido na sua história, você pode ter feridas no
campo da sua sexualidade, mas procure, com serenidade, buscar em Deus a luz, a graça, a orientação, a
confissão. Procure alguém que lhe acompanhe, que coloque a mão na sua cabeça, que reze com você, que
converse sobre esse assunto. Procure ler literaturas que lhe ajude a abrir os seus solhos, a ver a beleza do
ser homem, a beleza do ser mulher, a beleza da complementariedade, da castidade, do celibato, do
sacerdócio, do matrimônio. Procure ajuda! Não tampe e nem se entregue desordenadamente. Procure
ajuda, com serenidade, com confiança, apoiado na graça de Deus, e a castidade de Cristo será um saudável
remédio para a sua vida.
O Padre Cristiano dizia: “As chagas dolorosas vão se transformar em chagas gloriosas”. A castidade
vem curar a concupiscência da carne.

2. A pobreza, o espirito de pobreza.

“Ele, que era igual a Deus, não se apegou a sua igualdade divina, mas se fez homem, se fez pobre”6.
Nós não podemos permitir que o dinheiro, que as facilidades, que simplesmente o externo nos governe. O
quê que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se ele perde a sua alma? O que adianta você procurar
títulos e mais títulos? Você ser conhecido, famoso, o quê que adianta, se você tem um vazio interior do
tamanho de Deus e só Deus pode preencher? O quê que adianta? Atrás dessa máscara, o quê se encontra?
O quê que adianta? Dizemos: “É, é, é”, mas a nossa concupiscência da carne queria estar ali, mas temos de
dizer para nós mesmos: “O quê que adianta um homem ganhar tudo, se termina perdendo a si mesmo?”.

Acima temos São Francisco de Assis7. Francisco tinha tudo, e despojou-se de tudo em vista dos bens
eternos.
O Papa Francisco, falando sobre isso, diz uma coisa muito interessante sobre o risco do
consumismo: “Jesus disse: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”8. O nosso coração
aponta sempre para uma direção: é como uma bússola que sempre procura a orientação. Podemos
também compará-lo a um imã: precisa de se apegar a qualquer coisa. Mas, quando se apega só às coisas
terrenas, mais cedo ou mais tarde torna-se escravo delas: as coisas de que nos servimos passam a coisas às

6
2 Coríntios 8.
7
Pintura feita por Giotto di Bondone (1267 – 1337), que se encontra na Basílica de São Francisco, na cidade de Assis
(Itália).
8
Mateus 6, 21.
10
quais servimos. O aspecto exterior, o dinheiro, a carreira, os passatempos: se vivermos para eles, tornar-se-
ão ídolos que nos usam, sereias que nos encantam e, em seguida, nos deixam à deriva. Ao contrário, se o
coração se apega ao que não passa, encontramo-nos a nós mesmos e tornamo-nos livres”9.
Se o seu coração é apegado ao dinheiro, quando o dinheiro acabar, acabou-se o seu coração
também. Se o seu coração é apegado àquela pessoa que você não pode viver sem ela, quando essa pessoa
lhe faltar, acabou-se você também. Se o seu coração é apegado à fama, quando a fama for embora,
acabou-se também. Mas se você deixa o imã do seu coração apegar-se a Deus e à eternidade, Deus não
passará jamais, e o seu coração com Ele também não passará. Por isso o risco do consumismo.
O consumismo está aí o tempo todo nos convidando. É o celular novo, é a roupa nova, o boné
novo, o sapato novo, a marca nova, e você vai entrando num ritmo que meu Deus do céu! Têm pessoas que
ao andar é uma marca para um lado, e outra marca para o outro. Meu Deus do céu! Quão pobre nós nos
tornamos. Parecemos ter muita coisa, mas vê-se que não temos nada. Mas quando nós apegamos o nosso
coração ao Eterno, nós nunca passaremos.

3. A obediência para curar a soberba da vida.

A nossa vontade é ferida, então o que queremos fazer? Queremos fazer a nossa vontade, porque
ela é ferida, ela tende ao egoísmo, ela tende a resistir à vontade de Deus. Mas Jesus veio para curar essa
soberba da vida, essa resistência à vontade de Deus.
Onde foi que Jesus nos curou? No Getsêmani.

Olhe Jesus aí, na oração. Na oração Jesus foi como que puxando toda a vontade ferida do homem, e
diz: “Pai, não a minha vontade, mas a Tua!”, e Jesus foi configurando a vontade humana à vontade de Deus,
à vontade do Pai, até se doar inteiramente na cruz, e por isso Ele ressuscitou e o Pai lhe deu uma glória que
está acima de toda glória. Sim, a nossa vontade é frágil, mas se vamos nos unindo a Jesus, nós vamos
saindo desse círculo de egoísmo. Quando nós só queremos fazer o que queremos, da forma que queremos,
do jeito que queremos, na hora que queremos, não! Nós temos que declarar guerra contra a tirania da
nossa vontade ferida e nos decidir pela vontade de Deus.
Ah, a vontade de Deus! A obediência à vontade de Deus! Nos decidir, e pedir a graça, porque só o
Espírito Santo pode fazer isso. Ninguém consegue dobrar a nossa vontade. A nossa vontade é ferida e ela é
forte, mas com o Espírito Santo, com a graça de Deus, com a súplica humilde, cotidiana, a busca cotidiana,
confiante na oração, como Jesus! Jesus dobrou os joelhos no Getsêmani. Também nós devemos dobrar os
joelhos na nossa vida. Pela vida de oração, pela vida com a palavra de Deus, com a Eucaristia, com os
exercícios da virtude nós vamos ordenando a nossa vontade para a vontade de Deus. E nós precisamos criar
uma geração firmada na vontade de Deus, porque quando nós estamos dentro da vontade de Deus não
quebramos, não quebramos!
Barnabé, vem ao palco! O Barnabé é húngaro. (Moysés segura uma vareta de madeira). Isso daqui é
a nossa vontade. Nós, sozinhos, desligados de Deus e uns dos outros, o que acontece conosco? Por favor,
Barnabé, quebra essa vareta para mim. Quebra fácil! “Oh! Ele é forte!”.

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Papa Francisco. Homilia Quarta-feira de Cinzas, 06 de março de 2019.
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(Moysés agora pega várias varetas de madeira e as amarra juntas. O pano que amarra/envolve
simboliza a vontade de Deus). Isso daqui somos nós. Se nós permitimos que a nossa vontade seja envolvida
pela vontade de Deus, e nos unindo, nos ligando a Deus e uns aos outros, unindo na oração (Moysés aperta
o nó bem forte a cada exemplo), na palavra de Deus, nos sacramentos, no grupo de oração, nos unindo uns
aos outros, envolvidos pela vontade de Deus, não querendo mais buscar a minha vontade, porque a minha
vontade é perigosa! Mas à vontade de Deus! E aí, se o mundo forte quiser nos quebrar (Barnabé tenta
quebrar as varetas envolvidas com o pano), o mundo não conseguirá.

Se nós estamos revestidos, unidos, ligados à vontade de Deus e ligados uns aos outros à vontade de
Deus, não tem mundo no mundo que nos quebre! Não tem! Não tem! (Moysés chama outro jovem para
tentar quebrar, mas não consegue).
Como é que o mundo nos quebra? Quando separa (Moysés retira uma vareta do conjunto), aí o
mundão quebra. Mas quando nós estamos unidos a Deus e uns aos outros não tem quem nos quebre! Não
tem quem nos quebre! Envolvidos na vontade de Deus!
Dê a mão para a pessoa que está ao seu lado. Juntem as mãos. Levantem as mãos unidas e repitam
comigo: “Unidos a Deus na Sua vontade, unidos uns aos outros, tudo podemos naquele que nos fortalece!
Jovens, vós sois fortes, porque vencestes o mal!”, e é assim que vencemos! Se estivermos unidos a Deus e à
Sua vontade não há quem quebre! Não há quem quebre! O problema é quando você se acha forte demais,
tão forte que acha que pode viver separado, que solta as mãos de Deus e as mãos uns dos outros. Nos
quebramos longe de Deus e longe uns dos outros, mas unidos à vontade de Deus, unidos na caridade,
unidos no caminho, no grupo de oração: “Ah Moysés, mas vivi um caminho difícil”, volta! Volta! Recomeça!
Recomeça! Busque o sacramento da confissão, busque o outro, caminha, serve, se doa aos outros, se
perde, se consome: “Ah, vou quebrar!”, vai não! Você está unido à vontade de Deus, unido uns aos outros!
Unidos! Unidos! Unidos! Unidos!
O fortalecimento da vontade não vem do orgulho obstinado ou isolacionismo, mas da graça do
amor de Deus, do Espírito Santo, que vai nos unindo a Deus e nos unindo uns aos outros. Assim só é
vencido quem abandona a luta. Se você estiver unido a Deus e unido uns aos outros, jovens, vocês são
vitoriosos! Vocês são vitoriosos, e o mundo não terá poder sobre vocês. É a palavra de Deus que lhes
garante.
Por isso precisamos ser radicais no amor esponsal. Como é que alimentamos o amor esponsal na
nossa vida? Na palavra, na oração, na Eucaristia, no serviço aos outros. Vamos alimentando o amor
esponsal no amor à vontade de Deus. Eu ouvi um testemunho muito bonito aqui, e acho que foi o Vitinho
que deu, quando um jovem disse para ele que ficava muito tocado porque sabia que o celibato dele tinha
sido para dar vida a ele. Sim, Deus deseja formar uma geração de jovens enamorados por ele, tão
enamorados, tão enamorados, que vão surgir muitas vocações dessa gratuidade, dessa vida ofertada por
Deus, um amor à vontade de Deus.
Não tenha medo do que Deus deseja fazer na tua vida! Porque que você tem tanto medo? Porque
você tem medo da vontade de Deus? Você devia ter medo é da tua vontade. Essas é que é perigosa. Mas a
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vontade de Deus, nós devíamos nos deixar enamorar por ela, porque ela é endereço certo de felicidade. Se
Deus te chama a constituir uma família bela, linda, espera em Deus, confia Nele e Ele o fará! Se Deus te
chama ao sacerdócio, Ele vai te incendiar de um amor tal, e aqui têm jovens chamados ao sacerdócio! Se
Deus te chama, não tenha medo! E eu espero que os que aplaudiram e os que bateram os pés se
perguntem se Deus não os chama! Pergunte se Deus não lhe chama! Sim, Deus chama aqui jovens ao
celibato, homens e mulheres!
Olha aqui! Eu queria me casar. Quem é que não quer? Se não quer tem de se preocupar. O normal
é querer se casar. Se não quer cuidado, pode ter alguma coisa errada. Eu queria, mas Deus queria outra
coisa para mim, e essa outra coisa para mim, que era a minha vocação, era algo tão belo, tão belo, tão belo
que Ele me apaixonou e tirou a minha vontade, pôs a vontade Dele dentro da minha vontade, e eu disse
para Ele: “Eu quero o que Tu queres!”. Pode ser que seja este o caminho que Deus deseja fazer em nós.
Como Jesus, eu não quero a minha vontade, eu quero o que Tu queres, porque o que Tu queres é a
felicidade plena para mim! Não são as minhas fantasias, não são os meus sonhos, é o sonho de Deus para
mim!
E desta geração aqui, destes jovens, nós teremos famílias santas, não famílias de qualquer jeito,
não famílias improvisadas. Deus quer gerar famílias santas. Deus quer gerar sacerdotes, quer gerar
celibatários do meio de nós, que se encontram na vontade de Deus!
Alimentamos o amor esponsal no amor aos irmãos, e especialmente aos que mais sofrem. Temos a
mania de nos afastarmos de quem está sofrendo. Está sofrendo? Parece que é um leproso. Não! Jesus é
engraçado. Jesus gosta do contraditório mesmo. Jesus pega e se esconde nos que sofrem! Ele que é a
felicidade se esconde nos que sofrem, a tal ponto que a teologia nos diz que o Papa é o Vigário de Cristo de
Deus para conosco, mas há um outro tipo de vigários de Cristo, que faz as vezes de Cristo, aonde Ele se
esconde: os pobres, os que sofrem. Aproximando-nos deles nós tocamos Cristo. Os pobres. Os pobres
espirituais, porque na existe pobreza maior do que o desconhecimento de Cristo; os pobres morais, que são
aqueles que estão presos nos vícios. Quantas pessoas presas nos vícios, na dependência química, na
dependência da internet, na falta de sentido da vida.
Dom José Antônio estava falando na homilia de quantas situações de ausência de sentido, mas
Jesus se esconde nesses que sofrem! Na pobreza material, nas pessoas que não têm o mínimo da sua
dignidade humana. Jesus está ali! E quando junta um jovem pobre, nós como Shalom somos vocacionados
para ele. Aonde existe um jovem que sofre, se você na sua escola reconhece um jovem que sofre, você é
vocacionado para ele, para ir ao encontro dele! Se na sua família, se na sua rua tem um jovem que sofre,
tem um jovem que está em situação perigosa, e têm jovens envolvidos em gangs, têm jovens dependentes
de drogas, têm jovens com problemas na sua família, jovens com problemas de toda ordem, como
prostituição, marginalização, violência, escravos de ideologias, indiferentes e desconhecendo a Deus,
desconhecendo a Cristo, você, Shalom, e quem é Shalom aqui? Você deve ser uma resposta para esse
jovem, uma resposta, porque você foi consolado por Deus. Se você foi consolado por Deus, você deve dar
de graça o que de graça você recebeu, e você deve ser instrumento de consolo aos jovens que sofrem. Por
isso, quem é Shalom, você é uma resposta de Deus para o sofrimento do mundo! Você é uma resposta!
Eu me lembro de uma historinha que dizia o seguinte: estava um jovem em missão num lugar bem
pobre, e passou uma criança desnutrida na frente dele. Ele olhou para a criança, e disse: “Meu Deus!
porque Tu não trazes uma solução para esta criança?”, e Deus falou no coração dele: “Eu criei a solução
para esta criança: você! Você!”. Você, nós, Shalom, somos resposta de Deus. Devemos ser resposta de
Deus, e aí se abre o grande leque da missão: onde sofre um jovem, Shalom, você é vocacionado para ali
estar! Você é chamado para ali estar!
Na parábola dos talentos teve aquele que multiplicou por 100, por 50, outro por 10, e teve aquele
que enterrou. Jesus é muito engraçado! O cara enterrou o talento dele e Jesus diz: “Você enterrou o meu
talento? Fora!”, mas Jesus, ele nem gastou! Vejam bem o que Jesus está querendo nos ensinar! O
problema daquele que enterrou o talento foi o pecado mais grave, foi o da omissão. Jesus nos deu o
talento da nossa vida não para a enterrarmos ou a gastarmos para nós mesmos, mas deu o talento da
nossa vida para doarmos, para entregarmos, para multiplicarmos em favor dos outros. O grande pecado do
mundo de hoje é a omissão, que é o contrário da missão. Já prestaram atenção nisso? Missão e omissão.
Esse é o grande desafio. Nós somos chamados à missão e não à omissão.

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Nós somos chamados a ofertar a nossa vida, a gastar a nossa vida, a evangelizar, a consolar os
jovens de hoje. Nós somos chamados a doar a nossa vida, a ir para as águas profundas. Nós somos
chamados aos jovens de hoje. Nós somos chamados a ir pra o alto mar. “Moysés, o alto mar é perigoso!”, é,
exatamente, mas somos chamados é para ir. Somos chamados e enviados por Deus para águas profundas.
Você não é chamado para viver a sua vidinha calminha, ali, enterradinha, cuidadinha, no cercadinho, tudo
direitinho. Pobre de ti! Tu és chamado para a missão! Tu és chamado para ir para águas profundas! Tu és
chamado para enfrentar altas ondas, para ir em busca dos peixes! Não tenha medo, porque é o Senhor
quem te envia. É Ele quem te dá forças, é Ele quem te dá o poder, a autoridade, e a capacidade de se doar!
E aí nós vamos fazer resgates impossíveis, como esses dias todos nós vimos.
Eu encerro aqui de uma forma muito simples. Como é que nós vamos fazer esses resgates
impossíveis? A maneira certa de fazer resgates impossíveis é assim:

De joelhos. Esta é a maneira certa. Não é virando super homem e nem mulher maravilha. É assim,
de joelhos. É de joelhos como aquela mulher arrependida dos seus pecados, aquela mulher que muito
amou. De joelhos, e deixando Deus transformar a nossa vida de dentro para fora. É de joelhos na oração,
na Adoração. É de joelhos na intercessão, rezando pelos outros, é que nós vamos sendo transformados. É
de joelhos, no humilde e cotidiano exercício das virtudes, caindo e levantando, mas levantando quantas
vezes for necessário. É de joelhos na oferta da nossa vida, doando a nossa vida.
Se tu, jovem Shalom, estiver de joelhos, o próprio Senhor te erguerá e te enviará a tu ires às águas
profundas, doando a tua vida, ofertando a tua vida, para por Cristo, com Cristo e em Cristo, salvar a vida de
muitos.
Quem quer ser essas iscas do mundo de hoje? Quem quer viver assim, de joelhos? Mas não diga da
boca para fora não. Que esse congresso seja um compromisso. Finalizando esse congresso, que façamos o
compromisso de vivermos assim, de joelhos, arrependidos e confiantes na misericórdia de Deus; de joelhos
na oração, na intercessão, na Adoração, se deixando transformar por Ele; de joelhos, ofertando a nossa
vida, consumindo a nossa vida; no exercício cotidiano das virtudes, de joelhos. De joelhos nós vamos
deixando que a própria graça de Deus nos eleve e nos envie a irmos até os confins da terra.
Jovens, vocês são a alegria de Deus. Vocês são a alegria de Deus! Nós vivemos num mundo
marcado pela tristeza. Vocês fizeram a experiência com Jesus no auge da juventude de vocês. Vocês são a
alegria de Deus para este mundo. Vocês são a alegria de Deus para a Comunidade Shalom. Vocês são a
alegria de Deus para a Igreja. Não desperdicem essa alegria de qualquer forma, de qualquer jeito, nem
guardem esta alegria embaixo do tapete, mas se consumam, se doem, se entreguem, porque cada vez mais
essa alegria vai se multiplicar e nós seremos jovens que contagiarão o mundo, porque o mundo não vai ser
transformado se não for pelo contágio, e o amor e a alegria de Deus é algo que contagia. Sejam alegria de
Deus e consolo de Deus para os jovens do tempo que se chama hoje! Quem quer ser diga eu?!
Vamos ficar todos de pé e vamos receber a fonte da alegria. Vocês sabem que o Papa São João
Paulo II deixou uma herança para os jovens: a cruz de Cristo. É ela que nós vamos receber no meio de nós
agora, para renovarmos por Cristo, com Cristo e em Cristo a oferta da nossa vida, para sermos alegria e
consolo de Deus para o mundo. Recebamos a cruz, mistério de amor que gera vida, fecundidade, traz
alegria e perfume ao mundo, mas recebamos dentro do nosso coração. Cantemos, juntos:

Holocausto de Amor

Oh, meu Deus, desejo ser santo, mas sei bem que não sou capaz, que sejas tu mesmo minha santidade

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Os tesouros do meu esposo, também são tão meus, oh, meu Deus, olhai-me somente através dos seus
olhos

Quanto mais me queres dar, mais me fazes desejar. Sinto em meu coração, desejos imensos e eternos

Que o teu divino olhar, purifique a ingratidão do meu coração, como fogo que queima, transforma tudo em
si

Ofereço tudo o que tenho e sou, como vítima, holocausto de amor à tua misericórdia infinita

Ofereço tudo o que tenho e sou, como vítima, holocausto de amor, consome meu coração e minha vida

A cada batida do meu coração, a cada segundo em cada decisão, quero me lançar sem temor, como um
mártir do amor, nas sendas da tua paixão

Ofereço tudo o que tenho e sou, como vítima, holocausto de amor, consome meu coração e minha vida
, consome meu coração e minha vida inteira, oh Senhor!

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