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Pentecostes
Dons do Espírito
Premissa: O primeiro Dom de Deus é o próprio Espírito Santo: Altissimi donum Dei.
Está em nós por missão ou envio. Dele procedem todos os demais dons, naturais e
sobrenaturais, são efeitos totalmente gratuitos do seu amor (cfr. Is 11, 1-3): sabedoria,
inteligência, conselho, fortaleza, entendimento e temor conformidade com Cristo
(Rm 8, 29). Sendo Cristo Cabeça, o comunica aos seus membros, como que alma da
Igreja.
São hábitos sobrenaturais infundidos por Deus nas potências da alma para receber e
secundar com facilidade as moções do Espírito Santo, sobrenaturalmente.
São necessários, pois cada um recebe segundo a sua capacidade; também por isso, são
necessários para a salvação, devido a nossa inclinação ao pecado.
São hábitos; as bem-aventuranças são atos. Começam com o temor e terminam com a
sabedoria, o mais excelente.
I. Temor de Deus
a) O objeto do temor é um mal futuro que pode nos sobrevir. Mas de Deus, que é a
suma bondade, não pode nos sobrevir mal algum. Logo, não pode e nem deve ser
temido.
Apesar destas dificuldades, é coisa clara e evidente que Deus pode e deve ser temido
retamente. Não é possível temer a Deus enquanto bem supremo e futura bem-
aventurança do homem; neste sentido é objeto unicamente de amor e desejo.
Porém Deus é também infinitamente justo, que odeia e castiga o pecado do
homem; e, neste sentido, pode e deve ser temido, pois pode infringir-nos um mal
como castigo [consequência] de nossas culpas: “Deus não fez a morte (...) mas os
ímpios a chamam com suas obras e palavras”. ( Sb 1, 13-16)
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JUSTIÇA-CASTIGO - TEMOR
MISERICÓRDIA - ESPERANÇA
2. TIPOS DE TEMOR
1) Temor Mundano. “Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a
perder, por minha causa, reencontrá-la-á” (Mt, 10, 39). Santa Teresa de Jesus dizia
que preferia ser antes “ingratíssima contra o mundo todo” do que ofender em um só
ponto a Deus.
2) Temor servil.
a) Se o medo do castigo constitui a única razão para evitar o pecado, então este medo
em si constitui um verdadeiro pecado: (p.ex., aquele que dissesse: “Cometeria o
pecado se não houvesse inferno”).
b) Temor por ser ofensa de Deus e, ademais, porque nos pode castigar se o
cometemos. É a chamada dor de atrição. Se chama também temor simplesmente servil.
3) Temor filial imperfeito. – É aquele temor que evita o pecado porque nos separaria
de Deus, a quem amamos; não é perfeita, posto que ainda leva em conta o castigo
próprio que lhe sobreviria: a separação do Pai e, por tanto, do céu. É o chamado
temor inicial, que ocupa um lugar intermediário entre o servil e o propriamente filial,
como vamos ver.
4) Temor filial perfeito. – É próprio do filho amoroso, pendente das ordens do pai,
a quem não desobedecerá unicamente para não lhe desagradar, mesmo sem ameaça
alguma de pena de castigo. É o temor perfeitíssimo daquele que sabe dizer com toda
verdade: “Ainda que não houvesse céu, eu te amaria, ainda que não houvesse
inferno, te temeria” (Santa Teresa de Jesus).
Segundo São Tomás, só o amor filial perfeito entra no dom de temor, porque se
funda diretamente na caridade e reverência a Deus como Pai.
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4. Seu modo deiforme
5. Virtudes relacionadas
Quanto mais débil e miserável se sente o fiel, quanto mais inclinado a cair, mais se
refugia em Deus, como uma criança carregada no colo de seu pai.
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experimentam os próprios anjos ante a majestade de Deus: tremunt potestates: “Santo,
Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos”.( Is 6, 3.)
Fusiona-a com o dom de piedade, que põe em nossa alma um sentimento de amor e de
filial ternura, fruto de nossa adoção divina, que nos permite chamar a Deus de Pai
nosso.
É então quando a humildade chega ao seu cume. Sentem desejos imensos de “padecer
e ser desprezado por Deus” (São João da Cruz). Não se lhes ocorre ter o mais ligeiro
pensamento de vaidade ou presunção. Veem tão claramente sua miséria, que, quando
lhes elogiam, parece-lhes que zombam deles (Cura d’Ars).
2) Um grande horror ao pecado e uma vivíssima contrição por tê-lo cometido. –Em
realidade, é então quando a esperança chega a um grau incrível de heroísmo, pois a
alma chega a esperar “contra toda esperança”, como Abraão, (Rm 4, 18) e a lançar o
grito sublime de Jó: “Se ele me mata, nada mais tenho a esperar, e assim mesmo
defenderei minha causa diante dele”. (Jó 13, 15.)
Santa Teresa de Jesus escreve que “não podia haver morte mais dura para mim, do
que pensar se tinha ofendido a Deus”.
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4) Desprendimento perfeito de tudo o que é criado. – O dom de ciência – como
veremos – produz este mesmo efeito, embora desde outro ponto de vista. É que os
dons, como dissemos, estão mutuamente conectados entre si e com a caridade, se
entrelaçando e se influenciando mutuamente.
Por isso se vê claramente que o dom de temor refreia todas as paixões, tanto as do
apetite irascível como as do concupiscível. Porque, pelo medo reverencial à majestade
divina ofendida pelo pecado, refreia o ímpeto das irascíveis (esperança, desesperação,
audácia, temor e ira), e rege e modera todas concupiscíveis (amor, ódio, desejo,
aversão, gozo e tristeza). É, pois, um dom de valor inestimável, embora ocupe
hierarquicamente o último lugar entre todos.
Dos chamados frutos do Espírito Santo, (Gl 5, 22-23.) pertencem ao dom de temor a
modéstia, que é uma consequência da reverência do homem ante a divina majestade, e
a continência e castidade, que se seguem da moderação e canalização das paixões
concupiscíveis, efeito próprio do dom de temor.
8. Vícios opostos
Podemos e devemos pedir ao Espírito Santo que seus dons atuem em nós, fazendo ao
mesmo tempo de nossa parte tudo quanto pudermos para nos dispor a receber a divina
moção, que colocará em movimento os dons.
Aparte dos meios gerais para atrair para si o olhar misericordioso do Espírito Santo –
recolhimento profundo, pureza de coração, fidelidade à graça, invocação frequente do
divino Espírito etc. –, eis aqui alguns meios relacionados com maior proximidade ao
dom de temor:
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b) Acostumar-se a tratar a Deus com confiança filial, porém cheia de reverência e
respeito.
c) Meditar com frequência na infinita malicia do pecado e conceber um grande
horror para com ele. “É horrendo – disse São Paulo – cair nas mãos do Deus
vivo” (Hb 10,31):
Não me move, Senhor para Te amar Que ainda que não houvesse Céu eu Te
O Céu que me prometestes amaria,
Nem me move o inferno tão temido E ainda que não houvesse inferno Te
Para deixar por isso de Te ofender. temeria.
Na escala ascendente dos dons do Espírito Santo ocupa o segundo lugar o dom de
fortaleza, encarregado primeiramente de aperfeiçoar a virtude infusa com o mesmo
nome.
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1. Natureza
“E, por isso, o dom de fortaleza se estende a todas as dificuldades que podem surgir
nas coisas humanas... O ato principal do dom de fortaleza é suportar todas as
dificuldades, seja nas paixões, seja nas operações” (In III Sant. D.34 q.3 a.1 q.2
sol.).) Por isso, o dom de fortaleza, que tem de abarcar tantos e tão diversos atos de
virtude, necessita, por sua vez, ser governado pelo dom de conselho.
A virtude da fortaleza tem seus limites na potência humana, mas “Com meu Deus
atravesso a muralha”,( Sl 18, 30.) ou seja, transpassarei todos os obstáculos que
possam surgir para alcançar o último fim, pois concede a confiança de afrontá-los e
superá-los todos, como faz o dom análogo do Espírito Santo.
A fortaleza, como virtude, está sempre unida ao freio e ao juízo da prudência cristã;
o dom, por sua vez, empurra a resoluções que, sem ele, pareceriam ser presunções,
temeridades, exageros.
c) O dom de fortaleza, por sua vez, lhe faz suportar os maiores males e expor-se aos
mais inauditos perigos com grande confiança e segurança, enquanto movida pelo
Espírito Santo não mediante o ditame da simples prudência, senão pela altíssima
direção do dom de conselho, ou seja, por razões inteiramente sobrenaturais e divinas
( Cf. João de São Tomás, In II-II d.18 a.6.).
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2. Importância e necessidade
O próprio Espírito Santo rende pela boca de São Paulo seu próprio testemunho: “Pela
fé subjugaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram as promessas, obstruíram a
boca dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada,
convalesceram da enfermidade, se fizeram fortes na guerra, desbarataram os
exércitos estrangeiros” ( Hb 11, 33-34).
b) Para a perfeição das demais virtudes infusas.
Espírito Santo pela boca de Jó: “A vida do homem sobre a terra é uma luta”.( Jó 7,
1.)
“Sentimos em nossos membros outra lei que repugna a lei de Deus e nos empurra
ao pecado”,( Rm 7, 23) ao que é preciso resistir se não se quer chegar à desoladora
conclusão daquele poeta pagão que dizia: “Vejo o melhor e o aprovo, porém, faço o
pior”.
São admiráveis os efeitos que a fortaleza produz na alma. Eis aqui os principais:
3) Faz da alma intrépida e valente ante toda classe de perigos ou inimigos, como
os Apóstolos e Mártires, porque “é preciso obedecer a Deus antes que aos
homens” (At 5, 29). Depois deles são inumeráveis os exemplos nas vidas dos
santos. Podemos apenas conceber as dificuldades e perigos que tiveram de vencer
um São Luís, rei da França, para se colocar à frente da cruzada; uma Santa
Catarina de Siena para fazer o papa voltar a Roma; uma Santa Joana d’Arc para
lutar com as armas contra os inimigos de Deus e de sua pátria, etc.
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4) Faz suportar as maiores dores com gozo e alegria: “Cheguei a não poder
sofrer – dizia Santa Teresinha do Menino Jesus –, porque me é doce todo o
padecimento”.
5) Proporciona à alma o “heroísmo do pequeno”, ademais do heroísmo do
grande.
5. Vícios opostos
Ademais dos meios gerais para o fomento dos dons (recolhimento, oração, fidelidade
à graça, invocar ao Espírito Santo, etc...), afetam muito de perto ao dom de fortaleza
os seguintes, entre muitos:
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Tem por missão fundamental aperfeiçoar a virtude infusa do mesmo nome – derivada
da virtude cardeal da justiça -, imprimindo em nossas relações com Deus e com o
próximo o sentido filial e fraterno que deve regular o trato dos filhos de uma mesma
família para com seu pai e seus irmãos. O dom de piedade nos comunica o espírito de
família de Deus.
1. Natureza
a) O dom de piedade, como dom afetivo que é, reside na vontade como potência da
alma.
b) Se distingue da virtude infusa de mesmo nome na qual tende para Deus como Pai –
assim como o dom –, porém com uma modalidade humana, ou seja, regulada pela
razão iluminada pela fé; enquanto que o dom o faz por instinto do Espírito Santo, ou
seja, com uma modalidade divina incomparavelmente mais perfeita.
c) O dom de piedade se estende a todos os homens enquanto filhos do mesmo Pai, que
está nos céus. E também a tudo quanto pertence ao culto de Deus – aperfeiçoando a
virtude da religião até o máximo -, e ainda a toda a matéria da justiça e virtudes
anexas, cumprindo todas suas exigências e obrigações por um motivo mais nobre e
uma formalidade mais alta, ou seja: considerando-as como deveres para com seus
irmãos, os homens, que são filhos e familiares de Deus.
2. Importância e necessidade
As coisas do serviço de Deus – culto, oração, sacrifício, etc. – se cumprem quase sem
esforço algum, com refinada perfeição e delicadeza: trata-se do serviço do Pai e já não
mais do Deus de tremenda majestade.
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3. Efeitos que produz na alma
A oração predileta destas almas é o Pai Nosso. Santa Teresa de Jesus: “Espanta-me
ver que em tão poucas palavras estejam encerradas toda a contemplação e a perfeição,
parecendo que não temos a necessidade de estudarmos nenhum livro: basta-nos o Pai-
nosso”.
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b) Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque o dom de piedade
aperfeiçoa as obras da virtude da justiça e todas suas derivadas.
5. Vícios opostos
Os vícios que se opõem ao dom de piedade podem ser agrupados sob o nome genérico
de impiedade. Por outra parte, “a piedade, enquanto dom, consiste em certa
benevolência sobre-humana para com todos”, considerando-os como filhos de Deus e
nossos irmãos em Cristo. E, neste sentido, São Gregório Magno opõe ao dom de
piedade a dureza de coração, que nasce do amor desordenado a nós mesmos. Ao
contrário, quanto mais caridade e amor de Deus tem uma alma, mais sensível é a
todos os interesses de Deus e do próximo.
Porém os verdadeiros sábios são os mais piedosos, como Santo Agostinho, São
Tomás, São Boaventura, São Bernardo, e na Companhia, Lainez, Suarez, Belarmino,
Leslio.
Aparte dos meios gerais para fomentar os dons do Espírito Santo (recolhimento,
oração, fidelidade à igreja, etc. ), se relacionam com maior proximidade ao dom de
piedade os seguintes:
O dom de conselho é um hábito sobrenatural pelo qual a alma em graça, sob a ação
do Espírito Santo, intui retamente, nos casos particulares, o que convém fazer para
alcançar o fim último sobrenatural.
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Sobre essa definição, deve-se notar principalmente o seguinte:
a) Os dons do Espírito Santo não são moções transeuntes ou simples graças atuais,
mas hábitos sobrenaturais infundidos por Deus na alma juntamente com a graça
santificante.
c) Por isso o modo da ação é discursivo na virtude da prudência, enquanto que o dom
é intuitivo, divino ou sobre-humano.
2. Importância e necessidade
É difícil ser manso como a pomba e sagaz como a serpente: (Mt 10, 16.).
São Admiráveis os efeitos que produz nas almas afortunadas onde atua. Aqui estão
alguns dos mais importantes:
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4) Aumenta extraordinariamente nossa docilidade e submissão aos legítimos
superiores, porque o Espírito Santo lhes impulsiona a isso. Deus determinou que o
homem Lhes inspira a humildade, submissão e obediência a seus legítimos
representantes na terra (caso de Santa Teresa de Jesus com os seus confessores).
V. O dom de Ciência
1. Natureza
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* Pelo qual a inteligência do homem. – O dom de ciência é primariamente
especulativo, e secundariamente prático.
* Julga retamente. – Entendimento: sem emitir, porém, juízo sobre elas (“simplex
intuitus veritatis”). O dom de ciência julga retamente das coisas criadas em função do
fim último sobrenatural.
2. Importância e necessidade
O dom de ciência é absolutamente necessário para que a fé possa chegar a sua plena
expansão e desenvolvimento ao dom de entendimento. Não basta apreender a verdade
revelada, é preciso que se nos dê também um instinto sobrenatural para descobrir e
julgar retamente as relações dessas verdades divinas com o mundo natural e sensível
que nos rodeia.
O dom de ciência presta, pois, inestimáveis serviços à fé, sobretudo na prática: “dedit
illi scientiam sanctorum”. ( Sb 10, 10.)
3. Efeitos
1) Nos ensina a julgar retamente as coisas criadas em função de Deus. O nada das
coisas criadas, contemplado através do dom de ciência, fazia com que São Paulo as
estimasse todas como esterco, a fim de ganhar Cristo; (Fl 3, 8.) e a beleza de Deus,
refletida na beleza e fragrância das flores, obrigava São Paulo da Cruz a lhes dizer
entre transportes de amor: “calai-vos florzinhas, calai-vos...” E este mesmo sentimento
é o que dava ao Poverello de Assis aquele sublime sentido de fraternidade universal
com todas as coisas saídas das mãos de Deus: o irmão sol, o irmão lobo, a irmã flor...
3) Nos faz ver com prontidão e certeza o estado de nossa alma: Com razão dizia
Santa Teresa que “em aposento onde entra muito sol, não há teia de aranha escondida”.
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4) Nos inspira o modo mais acertado de nos conduzir com o próximo em função
da vida eterna. – Neste sentido, o dom de ciência, em seu aspecto prático, deixa sentir
sua influência sobre a própria virtude da prudência, de cujo aperfeiçoamento direto se
encarrega – como já vimos – o dom de conselho.
Ignorância. Esta ignorância pode ser culpável e construir um verdadeiro vício contra
este dom, seja pela vã presunção, confiando demasiadamente em nossa ciência e
nossas próprias luzes, pondo com isso obstáculos aos juízos que deveríamos formar
com a luz do Espírito Santo.
O próprio Cristo nos avisa no Evangelho: “Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas
palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas
coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos”. (Mt 11, 25)
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1. Natureza
O dom de entendimento se distingue, por sua vez, dos outros três dons intelectivos
(sabedoria, ciência e conselho) em que sua função própria é a penetração profunda
nas verdades da fé no plano da simples apreensão (ou seja, sem emitir juízo sobre
elas), enquanto que aos outros dons intelectivos corresponde o reto juízo sobre elas.
Este juízo, quando se refere às coisas divinas, pertence ao dom de sabedoria; quando
se refere às coisas criadas, é próprio do dom de ciência, e quando se trata da aplicação
aos casos concretos e singulares, corresponde ao dom de conselho.
Abarca tudo quanto pertence a Deus, ao homem e a todas as criaturas com sua
origem e seu fim.
2. Necessidade
Por muito que se exercite a fé de modo humano ou discursivo (via ascética), jamais se
poderá chegar à sua plena perfeição e desenvolvimento. Para isso é indispensável a
influência dos dons de entendimento e de ciência (via mística).
3. Efeitos
1) Nos faz ver a substância das coisas ocultas sob os acidentes. “Lhe vejo e me vê”,
como disse ao santo Cura d’Ars aquele simples aldeão possuído pelo divino Espírito.
2) Nos desvela o sentido oculto das divinas Escrituras. – é o que realizou o Senhor
com seus discípulos de Emaús quando “lhes abriu a inteligência para que
entendessem as Escrituras” (Lc 24, 45).
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4) Nos desvela sob as aparências sensíveis as realidades espirituais. – A liturgia da
Igreja está cheia de simbolismos sublimes que escapam em sua maior parte às almas
superficiais.
São Tomás, modelo de ponderação e serenidade em tudo quanto diz, quem escreveu
estas assombrosas palavras: “Nesta mesma vida, purificado o olho do espírito pelo
dom de entendimento, pode-se ver a Deus em certo modo”.
Nesta bem-aventurança, como nas demais, se indicam duas coisas: uma, a modo de
disposição ou de mérito (a limpeza do coração), e outra, a modo de prêmio (o ver a
Deus); e nos dois sentidos pertence ao dom de entendimento.
5. Vícios contrários
São Tomás dedica uma questão inteira ao estudo destes vícios. São principalmente
dois: a cegueira espiritual e o embotamento do senso espiritual. E as duas procedem
dos pecados carnais (luxúria e gula).
* a luxúria – que leva consigo uma mais forte aplicação ao carnal – produz a cegueira
espiritual, que exclui quase por completo o conhecimento e apreço dos bens
espirituais;
* a gula produz o embotamento do senso espiritual, que debilita o homem para esse
conhecimento e apreço, de maneira semelhante a um objeto agudo e pontudo – um
prego por exemplo – não pode penetrar com facilidade na parede se tiver a ponta
obtusa.
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a) Avivar a fé, com ajuda da graça ordinária (disposição para receber, com o
esforço que nos cabe).
d) Fidelidade à graça. – A alma deve estar sempre atenta para não negar ao Espírito
Santo qualquer sacrifício que lhe peça: “Se hoje ouvireis sua voz, não endureçais
vossos corações”. (Sl 94, 8.) “Não contristeis o Espírito Santo de Deus” (Ef 4, 30)
até poder dizer com Cristo: “Faço sempre o que é do seu agrado” (Jo 8, 29). Não
importa que os sacrifícios que nos pede muitas vezes pareçam superar as nossas forças.
Com a graça de Deus, tudo se pode – tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4, 13)
– e sempre nos resta o recurso à oração para pedir ao Senhor antecipadamente isto
mesmo que quer que lhe demos: “Dai-me, Senhor, o que mandas e manda-me o que
quiseres” (Santo Agostinho, Confissões 1.10 c.29). Em todo caso, para evitar
inquietações e tormentos nesta fidelidade positiva à graça, contemos sempre com o
controle e os conselhos de um sábio e experimentado diretor espiritual.
e) Invocar ao Espírito Santo, não nos esquecendo da nossa união à Maria, que
atrai o Espírito.
1. Natureza
Pelo qual julgamos retamente. – Nisto, entre outras coisas, se distingue do dom de
entendimento. O próprio deste último – como já vimos – é uma penetrante e profunda
intuição das verdades da fé no plano da simples apreensão, sem emitir juízo sobre elas.
O juízo é emitido por outros dons intelectivos na seguinte forma: acerca das coisas
criadas, o dom de ciência; e enquanto à aplicação concreta a nossas ações, o dom de
conselho. Enquanto supõe um juízo, o dom de sabedoria reside no entendimento como
em seu sujeito próprio; mas como o juízo, por conaturalidade com as coisas divinas,
supõe necessariamente a caridade, o dom de sabedoria tem sua raiz causal na caridade,
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que reside na vontade. Em virtude desta suprema direção da sabedoria por razões
divinas, a amargura dos atos humanos se converte em doçura, e o trabalho em
descanso.
Santa Teresa: “Oh! valha-me Deus! Quão diferente coisa é ouvir estas palavras e crer
nelas, ou entender por este modo quão verdadeiras são!”(Moradas séptimas, 1,7)).
Classes de sabedoria:
a) Sem causa, tem dela um conhecimento vulgar ou superficial (p. ex., o aldeão que
contempla um eclipse sem saber a que se deve aquilo).
b) Causas próximas, tem um conhecimento científico (p.ex., o astrônomo ante o
eclipse).
d) Guiado pelas luzes da fé, possui a máxima sabedoria natural que se pode alcançar
nesta vida (a teologia), que está intimamente ligada à sobrenatural (cf. I q.1 a.6c e ad
3).
e) Guiado por instinto divino as coisas divinas e humanas por suas últimas e
altíssimas causas – ou seja, por suas razões divinas –, possui a autêntica sabedoria
sobrenatural, que é, precisamente, a que proporciona à alma o dom de sabedoria em
plena atuação: “Provai e vede o quão suave é o Senhor” (Sl 33,9).
2. Importância e necessidade
3. Efeitos
* “De que me vale isto para a eternidade, para glorificar a Deus?”, costumava se
perguntar São Luis Gonzaga.
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2. Faz viver de um modo inteiramente divino os mistérios de nossa santa fé.
3. Faz viver em sociedade com as três divinas pessoas, mediante uma participação
inefável de sua vida trinitária.
Santa Teresinha do Menino Jesus: “Uma noite, não sabendo como testemunhar a
Jesus que lhe amava e quão vivos eram meus desejos de que fosse servido e
glorificado por toda parte, me sobreveio o triste pensamento de que nunca, jamais,
desde o abismo do inferno, lhe chegaria um só ato de amor. Então lhe disse que com
gosto consentiria em me ver abismada naquele lugar de tormentos e de blasfêmias
para que também ali fosse amado eternamente. Não podia lhe glorificar assim, já que
Ele não deseja senão nossa bem-aventurança: mas quando se ama, alguém se vê
forçado a dizer mil loucuras” (Historia de uma alma c. 5 n.23; 3a ed., Burgos 1950).
São Tomás, seguindo Santo Agostinho, atribui ao dom de sabedoria a sétima bem-
aventurança: Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”
(Mt 5, 9.).
* Enquanto ao mérito (“os pacíficos”), porque a paz não é outra coisas senão “a
tranquilidade da ordem”; e estabelecer a ordem (para com Deus, para com nós mesmos
e para com o próximo) pertence precisamente à sabedoria.
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pertencem ao dom de sabedoria, através da caridade, principalmente estes três: a
caridade, o gozo espiritual e a paz.
5. Vícios opostos
São Paulo: “O homem animal não compreende as coisas do Espírito de Deus” (1Cor 3,
14).
Há três classes de sabedoria reprovadas nas Sagradas Escrituras, (Tg 3, 15) que
são outras tantas loucuras verdadeiras: a terrena, que não gosta mais do que das
riquezas; a animal, que não apetece mais do que os prazeres do corpo e a diabólica,
que põe seu fim em sua própria excelência.
c) Não se afeiçoar em demasia às coisas deste mundo, mesmo que sejam boas e
honestas.
d) Não apegar-se aos consolos espirituais, mas passar a Deus através deles.
Deve-se estar pronto e disposto a servir a Deus na obscuridade, assim como na luz, na
secura assim como nos consolos, na aridez e nos deleites espirituais. Deve-se buscar
diretamente a Deus nos consolos e não os consolos de Deus.
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Fonte: MARÍN, Fr. A. R. – El Gran desconocido (El Espíritu Santo y sus dones), VI
ed., BAC, Madrid, 1987.
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