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Guia de Estudos 2019 - 2 (Baixado 18-11-19
Guia de Estudos 2019 - 2 (Baixado 18-11-19
Teologia
Fundamentos
Bíblico-Pastorais
Organizadora
Suely Xavier dos Santos
www.metodista.br
Bibliografia
ISBN 978-85-7814-264-3
CDD 230
Fundamentos
Bíblico-Pastorais
Organizadora
www.metodista.br
Suely Xavier dos Santos
umesp
Módulo
Aspectos lexicográficos e
de construto do
hebraico bíblico
Tema: Hebraico Bíblico - parte 1
Objetivos
Utilização de dicionários de
hebraico bíblico e introdução
ao sistema de absoluto e
construto do substantivo
hebraico.
Palavras-chave:
Gramática e vocabulário.
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1. Utilização de dicionários de hebraico bíblico
Os dicionários de hebraico bíblico registram todas as
palavras e expressões encontradas no texto da Bíblia Hebraica Um detalhe
em ordem alfabética (seguindo a ordem das letras do alfabeto importante é que
hebraico). Um detalhe importante é que as palavras são as palavras são
dispostas levando-se em consideração somente as letras dispostas levando-
consoantes e não os sinais vocálicos. O sistema de procura é se em consideração
muito similar ao sistema de procura de palavras em dicionários somente as letras
de língua portuguesa. Por exemplo, se uma palavra inicia-se com consoantes e
a letra ’alef, então, estará nas primeiras páginas do dicionário. não os sinais
Se a palavra é iniciada com a letra kaf, esta será encontrada nas vocálicos.
páginas centrais do dicionário. A palavra que é iniciada com a
letra tav será encontrada nas últimas páginas do dicionário, e
assim por diante. É importante que o aluno iniciante de hebraico bíblico utilize uma boa tabela com
as letras do alfabeto hebraico para encontrar a palavra hebraica que deseja encontrar e consultar.
Os dicionários trazem alguns importantes detalhes gramaticais e de classificação das palavras
hebraicas, como gênero (masculino e feminino), plural, construto (relação de posse [ver, a seguir, tópico
2]), adjetivo, sufixos pronominais etc. Normalmente, os dicionários fornecerem alguma localização
da palavra no texto bíblico hebraico. É importante usar o dicionário como se fosse um complemento
ou uma extensão da gramática de hebraico bíblico.
A seguir, há dois exemplos de vocábulos hebraicos encontrados em dicionários. Neste texto,
será usada a seguinte obra: Nelson Kirst et alii (eds.), Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-
Português (São Leopoldo-Petrópolis: Sinodal-Vozes, 1987).
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Concluindo esse assunto, há duas obras lexicográficas em língua portuguesa que trazem uma
transliteração dos vocábulos hebraicos e que podem ser úteis para um estudante iniciante de hebraico
bíblico: R Laird Harris et alii (orgs.), Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento (São
Paulo: Vida Nova, 1998) e Larry A. Mitchel, Carlos O. C. Pinto e Bruce M. Metzger, Pequeno dicionário
de línguas bíblicas: Hebraico e Grego (São Paulo: Vida Nova, 2002).
2. Introdução ao sistema de absoluto e construto do substantivo hebraico.
Os dicionários de hebraico bíblico sempre registram o vocábulo no estado absoluto. O estado
absoluto é aquele em que a palavra está no singular e sem sufixos ou com algum detalhe morfológico.
No tópico 1, as palavras e estão neste estado.
O estado construto indica relação de posse (genitivo) entre palavras no texto bíblico hebraico.
Quando tal situação gramatical acontece, a palavra sofre algumas pequenas modificações morfológicas
ou fonéticas. Abaixo há alguns exemplos.
Os dicionários de hebraico
bíblico sempre registram
o vocábulo no estado
absoluto. O estado absoluto
é aquele em que a palavra
está no singular e sem
sufixos ou com algum
detalhe morfológico.
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Determinadas palavras hebraicas possuem modificações morfológicas ou fonológicas em sua
estrutura quando estão em estado construto no plural. Abaixo, há alguns exemplos.
Várias expressões importantes que aparecem com frequência na Bíblia Hebraica estão em estado
construto. Abaixo, há uma pequena lista com alguns exemplos.
Referências
ALONSO SCHÖKEL, Luis. Dicionário bíblico hebraico-português. São Paulo: Paulus, 1997.
ELLIGER, Karl; Rudolph, Wilhelm (eds.). Bíblia hebraica stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 1997.
FRANCISCO, Edson de F. (trad.). Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português. vol. 1:
Pentateuco. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
GUSSO, Antônio R. Gramática instrumental do hebraico. São Paulo: Vida Nova, 2005.
HARRIS, R. Laird et alii (orgs.). Dicionário internacional de teologia do antigo testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1998.
KELLEY, Page H. Hebraico bíblico: uma Gramática Introdutória. São Leopoldo: Sinodal, 1998.
KIRST, Nelson et al. Dicionário hebraico-português & aramaico-português. São Leopoldo-
Petrópolis: Sinodal-Vozes, 1987.
MENDES, Paulo. Noções de Hebraico Bíblico. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
MITCHEL, Larry A.; Pinto, Carlos O.C.; Metzger, Bruce M. Pequeno dicionário de línguas
bíblicas: Hebraico e Grego. São Paulo: Vida Nova, 2002.
ROSS, Allen P. Gramática do hebraico bíblico para iniciantes. São Paulo: Vida, 2005.
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Exegese e teologia do Antigo Testamento:
profetas e sapienciais
Módulo
Vocábulos e expressões
hebraicas vertidas
para o grego
Objetivos:
Vocábulos e expressões hebraicas
vertidas para o grego.
Palavras-chave:
Bíblia hebraica; Septuaginta;
hebraico; grego; tradução bíblica.
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Introdução
Nesta aula, estudaremos uma questão importante que possui relação com o texto das modernas
edições da Bíblia em língua portuguesa: como determinados vocábulos e expressões hebraicas
foram vertidas para o grego e quais são as influências de tais traduções para as modernas edições
bíblicas em português, e se há alguma influência no texto grego do Novo Testamento. Esta aula será
dedicada inteiramente a este assunto.
Abaixo, há algumas situações de vocábulos e expressões hebraicos vertidos para o grego, mas
com alguma alteração de significado.
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As modernas edições da Bíblia apresentam algum significado próprio da Septuaginta. Este fato
indica que muitas palavras e expressões contidas nas modernas edições reproduzem, de alguma
maneira, a concepção que os tradutores da antiga versão grega da Bíblia tinham das palavras hebraicas.
Este fato é percebido tanto nas antigas versões bíblicas, como a Vulgata, como nas atuais versões,
inclusive, aquelas produzidas em língua portuguesa.
Referências
ELLIGER, Karl; Rudolph, Wilhelm (Eds.). Biblia hebraica stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.
MENDES, Paulo. Noções de Hebraico Bíblico. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
RAHLFS, Alfred (ed.). Septuaginta: Id est Vetus Testamentum graece iuxta LXX interpretes. vv.
1 e 2. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.
WEBER, Robert (Ed.). Biblia Sacra iuxta Vulgatam Versionem. 4. ed. Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 1994.
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Exegese e teologia do Antigo Testamento:
profetas e sapienciais
Módulo
Exegese do Antigo
Testamento - profetas
Parte 1
Objetivos:
Neste tema, abordaremos
a exegese bíblica como uma
ciência que ajuda a interpretar
a Bíblia. A meta é exercitar
a interpretação de textos
bíblicos, de forma didática, a
fim de que o estudante possa
praticá-la com segurança.
Palavras-chave:
Pentateuco; Torá, Moisés;
Sinai; exegese.
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I. Introdução
Neste módulo, exercitaremos a exegese de textos bíblicos. Na exegese bíblica há vários detalhes
importantes a serem analisados: (a) o texto a ser estudado é uma perícope, ou um parágrafo, porque
contém uma ideia completa; (b) o contexto literário e histórico do texto a ser analisado; (c) a análise
exegética deve partir tão-somente da perícope escolhida. Com estes objetivos, entraremos no
fascinante mundo da exegese bíblica do Antigo Testamento.
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C. Terceiro passo: a estrutura literária
_________________________________________
_________________________________________
É difícil situar um texto _________________________________________
do Pentateuco no tempo
_________________________________________
de sua composição. Boa
parte dos textos ligados ao _________________________________________
Pentateuco teve uma longa _________________________________________
história de transmissão.
_________________________________________
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Reportagem (v. 5-6a). Quando o texto diz que e Javé desceu nas nuvens, dois detalhes importantes
devem ser observados. (1) o uso da conjunção “e” é significativo. Ela mostra que o fato de Javé descer
para falar com Moisés está relacionado com o interesse divino de concluir a aliança (v. 1-4). (2) O
texto mostra que Javé é diferente dos deuses dos povos vizinhos. Ele ouviu o chamado e, após, Ele
desceu para falar com Moisés. As ações de Javé – ouvir e descer – estão também presentes no relato
do chamado de Moisés (Êx 3,7-10).
Moisés está estupefato diante da disponibilidade de Javé. Diante desse excesso de amor, Moisés tem
uma primeira reação. Ele define Javé como um Deus de compaixão e graça, abundante em bondade
e fidelidade. Não se trata de uma reação emocional, porque Moisés testemunha por meio da prática:
Javé é lento em irar-se; Ele guarda sua bondade a milhares; tolera a transgressão, a rebelião e o pecado;
não deixa ninguém impune e disciplina o que transgride (v. 7). Em nenhum momento o texto promove
a ira e a vingança de Deus. A transgressão, a rebelião e o crime são tratados sob o rigor da disciplina. O
texto vê a solução dos crimes na sociedade com o corretivo da educação, e nunca a pena de morte.
Diante desta proposta tão revolucionária, Moisés não teve outra alternativa: inclinou-se diante da
grandiosidade de Deus e o cultuou.
A segunda palavra de Moisés é um pedido. Tendo como argumento a bondade, a compaixão, a
fidelidade e a graciosidade de Javé, Moisés pede que Ele caminhe com o povo pelo deserto (v. 9).
Ciente de que Javé se coloca ao lado do povo oprimido, Moisés suplica pela companhia e orientação
divina na caminhada em busca da terra de Canaã. Seu pedido se deve a algumas dificuldades que ele
teve como líder do povo. A declaração de que Javé perdoa é mais uma grande novidade no mundo
religioso daquela época. Na prática de fé bíblica, afirma-se a necessidade de o povo confiar e ser fiel
ao seu Deus. A base para tornar possível o perdão é a bondade divina (v. 6-7). Todavia, a efetivação
desse perdão não elimina a punição ou disciplina. Na teologia israelita, o perdão dos pecados tem
o sentido de preservação do relacionamento entre Deus e o seu povo. No verso 9, Moisés não só
pede a Javé que mantenha intacta sua relação com o povo, mas também que faça Israel Sua posse
e herança.
Referências
DOBBERAHN, Friedrich Erich. Êxodo 34,4b-10. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal,
v. XV, p. 273-281. 1989.
GERSTENBERGER, Erhard S. Êxodo 34,4b-10. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal,
v. III, p. 153-158. 1981.
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Exegese e teologia do Antigo Testamento:
profetas e sapienciais
Módulo
Exegese do Antigo
Testamento – profetas
Parte 2
Prof. Tércio Machado Siqueira
Objetivos:
Boa parte da Torá, ou Pentateuco,
consiste de estipulações, relatos e
explicações legais. O material literário que o
AT dispõe é amplo e variado, possibilitando
o/a estudante conhecer o contexto político,
social, econômico e religioso que Israel
viveu ao longo de sua história. Vamos
abordar, dentro deste tema, a exegese de
perícopes referentes à instrução divina.
Palavras-chave:
Gênero legal; instrução legal; prescrição
legal e pronunciamento legal.
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O material literário, no AT, referente às leis é encontrado em quatro coleções: Código da Aliança (Êx
20,22-23,33); Código Deuteronômico (Dt 12-26); Código da Santidade (Lv 17-26) e o Código Sacerdotal
(Êx 25-31; 34,29-Lv 16 e partes do livro de Números). Todavia, a coleção mais conhecida é os “Dez
Mandamentos” que aparece duas vezes, com pequenas diferenças (Êx 20,2-17 e Dt 5,6-21).
A comissão para celebrar a Páscoa vem de Javé (12,1). Moisés a recebeu e, agora, a comunica,
em detalhes, anciãos de Israel (v. 21a). Nessa sucessão de responsabilidade, os anciãos passam as
instruções ao povo e aos filhos de Israel, que as cumprem com fidelidade (v. 27c-28).
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Quarto passo: a data do texto
Os sinais de antiguidade desta prescrição da Páscoa são: (1) o ritual da Páscoa era realizado em
família ou clã (v. 21, 22, 23 e 26); (2) não há indicações do uso de altares, santuários e sacerdotes; (3)
era celebrado por pastores seminômades (há ausência de agricultores); (4) o animal a ser sacrificado
era o cordeiro (há ausência de boi); (5) o ritual resumia-se em imolar o cordeiro (não fala de assar e
comer a carne); (6) a intenção da imolação do animal era apenas retirar o sangue; (7) o sangue do
animal deveria ser aspergido sobre a porta da casa. Estas sete observações sugerem que este ritual
pertence a um período muito próximo a chegada a Canaã, por volta de 1200 a.C.
Banco de imagens
Quinto passo: o comentário
O comentário exegético obedecerá a divisão estrutural
da perícope.
1. A perícope inicia-se com uma fórmula literária de
reportagem do discurso de Moisés muito usada no AT: E
Moisés proclamou a todos os anciãos de Israel. E disse-lhes:
(v. 21a). A intenção do uso dessa fórmula é dar legitimidade
à palavra de Moisés.
2. Os versos 21b-27a+b contêm o ritual da Páscoa
comunicado aos anciãos por Moisés. Para efeito de
estudo, não é correto analisar o ritual verso por verso, mas
por inteiro. Assim, tomemos, inicialmente, as instruções
básicas. Elas mostram os detalhes básicos para a correta
celebração. Os verbos usados no imperativo apontam
a importância de cada detalhe na celebração. Há um Segundo os sinais de antiguidade desta
andamento sequenciado no ritual que é inevitável. Os prescrição da Páscoa não há indicações do
verbos tirai e tomai devem ser entendidos como o ato uso de altares, santuários e sacerdotes.
de escolher a ovelha. Entretanto, o detalhe importante
era a quantidade de uma ovelha por família. Afinal, os
pastores seminômades eram pobres e o pequeno rebanho
de ovelhas era a única fonte de sustento da família. _________________________________
O verso 22 mostra a abertura do ritual. A expressão _________________________________
imolai a Páscoa refere-se ao ato de sacrificar o cordeiro. O
ritual prescreve que o celebrante deve retirar somente o _________________________________
sangue para marcar a travessa e as ombreiras da porta. O
texto não diz o que fazer com a carne do animal sacrificado. _________________________________
O ato de marcar com sangue a porta da residência familiar
_________________________________
tem a finalidade de proteger a família da ação do destruidor
(v. 23) e superar o medo da morte, por meio do milagre _________________________________
providenciado por Javé. A manutenção da vida das famílias
dos hebreus dependia da confiança e obediência a Javé, _________________________________
ao celebrar o ritual da Páscoa.
_________________________________
__________________________________
Os pastores _________________________________
seminômades eram
pobres, e o pequeno _________________________________
rebanho de ovelhas era
a única fonte de sustento _________________________________
da família.
_________________________________
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O verso 23 explica o motivo da celebração e a razão do nome páscoa. O nome, páscoa, não é um
rótulo que os hebreus deram a um de seus rituais. Esta celebração está diretamente ligada à história
do êxodo dos hebreus que estavam no Egito. Banco de imagens
Referências
NASCIMENTO, Selma. Êxodo 12,1-14. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal. v. XXI,
p. 108-110. 1995.
SCHWANTES, Milton. A Páscoa – uma festa para a libertação – ´Este dia vos será por memorial`.
In: . Curso de verão. São Paulo: Paulinas, p. 102-112. 1988.
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Exegese e teologia do Antigo Testamento:
profetas e sapienciais
Módulo
Exegese do antigo
testamento – sapienciais
Parte 1
Objetivos:
Levar o/a estudante a
conhecer os temas centrais
da segunda parte da Bíblia
Hebraica, Profetas, e exercitar
a exegese bíblica, por meio de
uma perícope de Isaías 7,1-9.
Palavras-chave:
Profetas anteriores; profetas
posteriores;Isaías; Emanuel.
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A. Profetas anteriores ou profetas pré-literários
A Bíblia Hebraica apresenta uma diferente sequência dos livros proféticos comparada à Septuaginta
e à Vulgata. A relação de livros que abre o cânon dos profetas é a seguinte: Josué, Juízes, 1Samuel,
2Samuel, 1Reis e 2Reis. Este conjunto de livros é denominado “Profetas anteriores ou profetas pré-
literários”. A justificativa para esta denominação tem seu sentido. (1) Estes seis livros possuem um estilo
literário muito parecido. (2) Eles ressaltam quatro etapas na história de Israel, com base no discurso de
Moisés (Dt 32-33) e estendendo-se para o tema da conquista da terra (livro de Josué), a organização
do povo de Israel em tribos (o livro de Juízes) e, por fim, a instalação da monarquia em Israel (livros
de Samuel e Reis). (3) Estes livros abordam três ênfases dos profetas escritores: (a) Conversão (Dt
10,16; Js 24,23; conforme Is 1,17; Os 5,4-9; Am 4,6-11; 5,14-15); (b) Combate à idolatria (Dt 4,15,-20;
Jz 2,1-5; 1Rs 11,1-13; 2Rs 17,7-23); e (c) A defesa da justiça e dos pobres (2Sm 12,1-4; 1Rs 21,1-3); e,
finalmente, estes seis livros reportam sobre a atuação de pessoas com as características proféticas:
Gade e Natã, que atuaram no período de Davi (1Sm 22,5; 2Sm 7 e 12; 1Rs 1); Aias de Silo, que se
opôs a Salomão e à idolatria no governo de Jeroboão (1Rs 11,28-39); Jeú, um profeta que criticou
o rei Baasa (1Rs 16,1); Micaías opôs-se aos falsos profetas nos dias de Acab (1Rs 22,8-28). Elias (1Rs
17-2Rs 2) e Eliseu (2Rs 2-13) tiveram atuações mais marcantes, especialmente o primeiro, no reinado
de Acab (874-853 a.C). É também interessante observar que a maioria desses profetas pertencia às
tribos do Norte de Israel onde o profetismo, com a característica israelita, se desenvolveu. O Norte
de Israel foi o berço comum dos juízes libertadores e dos profetas. Este detalhe sugere uma provável
relação entre os juízes libertadores e os profetas.
C. Profecia e apocalipse
A profecia e o apocalipse representam duas linguagens com tipologias diferentes.
1
O apocalipsismo tem muita relação com o internacionalizado
helenismo (imperialismo grego), que passou a dominar o mundo a
partir do século IV a.C. O tema preferido dos apocalípticos é a terra e o
mundo. A palavra de Joel reproduz a preocupação dos apocalípticos:
Ouvi isso, anciãos, escutai vós, todos os habitantes da terra... (1,2).
2
A profecia relaciona-se às monarquias nacionais de Israel e Judá. O
ponto de partida da atuação dos profetas é a crítica aos reis de Israel
e Judá. O texto de Amós substancia esta afirmação: Por três crimes de
Judá... (2,4); Por três crimes de Israel... (2,6).
Terceiro passo
Terceiro passo: estrutura literária de Isaías 7,1-9.
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Quinto passo
Quinto passo: data do texto.
Esta perícope ou parágrafo é uma reportagem sobre as circunstâncias do diálogo entre o profeta
Isaías e o rei Acaz (736-716 aC). A datação deste texto é precisa, pois os versos 1-2 detalham os
acontecimentos da guerra siro-efraimita (734-732 aC), quando o rei de Aram e o rei de Israel (Norte)
queriam obrigar o rei Acaz a participar da coligação contra a Assíria. Os primeiros nove capítulos do
livro de Isaías são desse período (conforme 2Reis 16,1-20).
Sexto passo
Sexto passo: comentário de Isaías 7,1-9.
A. O contexto histórico (v. 1-2) é descrito por intermédio de três pontos: (a) Trata-se de uma
reportagem em torno da circunstância do diálogo entre Isaías e Acaz (v. 1-2). Esta perícope é parte
de um complexo literário maior, chamado “O livro do Imanuel” (Is 6,1-9,6). Este suposto livro começa
com o chamado do profeta Isaías para congregar o povo em torno do tema da confiança em Javé. (b)
A reportagem focaliza uma ameaça de intervenção no governo de Acaz, em Jerusalém, encabeçada
por dois reis vizinhos ao Reino de Judá (v. 2a). (c) A reportagem destaca que o rei Acaz está com
medo (v. 2 e 4). O medo do rei vem da informação de que o exército arameu uniu-se ao de Efraim
(Reino do Norte) e estava preparado para invadir Jerusalém.
B. Javé instrui o profeta Isaías a advertir Acaz (v. 3-9). O verso 3 se inicia com a fórmula do
mensageiro: E disse Javé a Isaías. Esta frase fornece a legitimidade divina às advertências pronunciadas
por Isaías (v. 3b-9). A ordem de Javé é para Isaías ir ao encontro de Acaz (v. 3a). O relato do encontro
com Acaz é preciso nos detalhes, mas o que chama atenção é a companhia do filho de Isaías, xe‘ar-
yaxub, um resto voltará (v. 3). Desde que o contexto desse encontro é exortativo, o nome, um resto
voltará, é uma advertência no sentido que a salvação virá, apesar da ameaça de catástrofe. A palavra
hebraica xe‘ar, resto, remanescente, possui o significado de grupo santo e fiel. Para Javé, tudo estava
errado no reinado de Acaz, e o anúncio da volta de um grupo fiel se fazia necessário. Ao ironizar os
reis Rezin e Peca, Javé mostra a autoridade de seu governo sobre o mundo, bem como sua crítica à
infidelidade do rei. A expressão “tocos de achas fumegantes” (v. 4b) reduz a ira dos dois reis à cinza,
isto é, Javé quer dizer que eles representam um perigo que já passou. É preciso confiar em Javé para
superar os problemas.
O verso 4 contém todo o conteúdo A palavra hebraica xe‘ar,
da comissão divina. O problema gira resto, remanescente, possui o
em torno do medo de Acaz. Então, significado de grupo santo e fiel.
Isaías deveria ir direto ao assunto. A
comissão divina inicia-se com quatro advertências que ajudam a compreender o que se passava no
coração de Acaz: Sê atento! tenha tranquilidade! não temas! não desanime teu coração! (v. 4a). Medo
é palavra proibida para quem crê em Javé (conforme Sl 46,1-3). Assim, Acaz não tem o direito de
ter medo, diante da ameaça de Rezin e Peca (v. 5-6), pois Javé declara que está presente ao lado do
povo de Judá (v. 7).
Os versos 7-9 concluem a palavra de Javé, por meio do profeta. Elas são importantes para o
entendimento de toda a perícope, pois elas concluem as exortações sobre o medo do rei. No verso 7b,
Javé quer passar confiança ao rei Acaz, mas nos versos 8-9a, ele demonstra desconsiderar a autoridade
dos reis de Israel e Damasco por duas razões: (a) ele não os chama de reis, mas de “cabeças” (v. 8a e
9a). Na Bíblia, rei é uma autoridade reconhecida por sua hereditariedade e, consequentemente, pela
legitimidade divina, por intermédio da unção.
Javé desconhece o rei do Reino do Norte (Israel) e chama-o de “filho de Remalias” (v. 1, 5 e 9).
A justificativa para essa dupla desconsideração é que Rezin e Peca não pertencem a uma dinastia
de reis. Também eles não possuem uma tradição religiosa, isto é, não foram ungidos como reis, e,
finalmente, não mostram ter uma prática de fé.
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Universidade Metodista de São Paulo
Referências
CROATTO, J. Severino. Isaías. Petrópolis: Vozes, v. 1, 1989.
SCHWANTES, Milton. Isaías (Textos selecionados). São Leopoldo: FT da IECLB, v. 2, 1979.
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Exegese e teologia do Antigo Testamento
Profetas sapienciais
Módulo
Exegese do antigo
testamento - sapienciais
Parte 2
Objetivos:
Estudar o livro de Salmos,
conhecer a formação do livro e
analisar seu conteúdo. Tomar o
Salmo 52 e exercitar
a exegese bíblica.
Palavras-chave:
Bíblia Hebraica; Septuaginta;
Escritos; Salmos.
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A terceira parte da Bíblia Hebraica, ou Antigo Testamento, é formada pelos seguintes livros: Salmos,
Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos (Cantares), Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras,
Neemias, 1 Crônicas e 2 Crônicas. Como se observa, a ordem dos livros do AT, segundo a tradução de
J. F. de Almeida, é diferente, pois segue a sequência estabelecida pela tradução latina, a Vulgata, do
século II da era cristã. A bem da verdade, J. F. de Almeida manteve a ordem da Vulgata, mas retirou
os livros chamados deuterocanônicos (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 Macabeus
e 2 Macabeus). A razão pela qual a Reforma protestante não adotou os cânons da Septuaginta e da
Vulgata está em Martinho Lutero, que propôs uma volta às raízes hebraicas.
C. Encontramos, pelos menos, quatro correspondências (duplicatas) dos Salmos: Salmos 18 = 2 Samuel
22; Salmos 14 = Salmos 53; Salmos 70 = Salmos 40,12-16; Salmos 108 = Salmos 57,7-11 e 60,5-12.
D. O livro de Salmos mostra, por meio da fórmula litúrgica Bendito seja Iahweh, o Eloim de Israel
– localizada no fim dos Salmos 41, 72, 89 e 106, sinais de uma divisão em cinco partes.
E. O livro de Salmos contém várias coleções, de modo que quatro delas formam conjuntos
identificados pelos cabeçalhos. (a) Para Davi (Sl 3-32; 34-41; 51-65; 68-70; 86; 101; 103; 108-110;
122; 124; 131; 133; 138-145). É importante observar que a Septuaginta adiciona o título para Davi
nos Salmos 33, 67, 91, 93-99, 104 e na composição extra, Salmos 151, mas omite esse título nas
composições 122, 124 e 131. (b) Para Asaf (Sl 50; 73-83); (c) Para os filhos de Coré (Sl 42-49; 84-85;
87-88) e (d) Canção das subidas (Sl 120-134).
F. As composições compreendidas entre os Salmos 1 e 72, basicamente, estão voltadas para
os problemas da sociedade. Todavia, a partir do Salmo 105, o livro apresenta muitas composições
que iniciam com o termo aleluia. Isso leva a crer que a ordem dos Salmos não é acidental. O editor
desse livro quis destacar que a prática de fé não se resume exclusivamente na preocupação com
os problemas sociais, ou unicamente com o culto de louvor. A intenção é afirmar que a prática das
obras e o exercício da piedade devem andar juntos na vida de todo crente javista.
G. A maior concentração do campo semântico de justiça encontra-se no livro de Salmos. Isto revela
que o culto, em Israel, estava muito preocupado com a justiça em toda comunidade.
Segundo passo
Segundo passo: fazer a estrutura literária do salmo.
32
Universidade Metodista de São Paulo
I. Cabeçalho v. 1-2
II. Peça de acusação contra os malvados v. 3-6
III. Anúncio da sentença v. 7-9
A. Maldição v. 7
B. Alegria para os justos v. 8a.
C. Sentença final v. 8b-9
IV. Expressão de fé v. 10-11
A. Afirmação de fé, confiança v. 10
B. Voto v. 11
Terceiro passo
Terceiro passo: explicação da estrutura literária do texto.
Este salmo mostra o julgamento de uma pessoa malvada. O ambiente é o culto, apesar da linguagem
do tribunal, em que, inicialmente é ouvida a peça de acusação (v. 3-7). A seguir, é pronunciada a
sentença constituída de dois itens para o réu e um para as pessoas justas da comunidade (v. 7-9).
Por fim, o salmista expressa sua fé no Deus justo que age em defesa do bem-estar da comunidade
(v. 10-11).
Quarto passo
Quarto passo: a data deste salmo.
É difícil chegar à conclusão sobre a data de um texto
bíblico, especialmente como o Salmo 52. O cabeçalho
(v. 1-2) deve ser tomado como uma informação à
parte da composição do salmo (v. 3-11). A linguagem
empregada sugere que o autor frequentava o Templo __________________________________
de Jerusalém (v. 10). Esta afirmação entra em choque
com o período do rei Davi. Assim, a composição (v. 3-11) __________________________________
não oferece claros indícios sobre uma data. Entretanto,
é possível perceber que Israel estava organizado em __________________________________
sociedade e estabelecido em Canaã. __________________________________
Quinto passo __________________________________
Quinto passo: comentário.
__________________________________
O comentário é a parte mais importante de uma
exegese. Como o salmo é uma perícope, isto é, tem um __________________________________
assunto e o comunica por meio de uma sequência de
idéias conectadas, é recomendável que o comentário ___________________________________
exegético seja feito a partir da estrutura literária. __________________________________
___________________________________
__________________________________
O comentário é a parte
____________________________
mais importante de
uma exegese. _____________________________
_____________________________
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1. O cabeçalho apresenta várias informações (v. 1-2). O verso 1 registra três indicações: (a)
A expressão, Para o dirigente (ocorre 55 vezes nos cabeçalhos de Salmos); deseja orientar os
celebrantes a respeito da execução da música deste salmo. (b) A palavra hebraica maskil é um dos
termos indecifráveis do AT. Por sua raiz verbal, provavelmente, maskil significa “canção artística ou
didática”. (c) A expressão hebraica ledawid deveria ser traduzida para Davi. Esta anotação, para Davi,
provavelmente não tenha o sentido de indicar autoria do salmo, mas mostrar que a composição
pertence à coleção dedicada a Davi. (d) A grande maioria desses cabeçalhos diz respeito às orientações
musicais. O verso 2, “Quando entrou Doeg, o edomita, e comunicou a Saul e lhe disse: entrou Davi na
casa de Aquimelek”, refere-se a 1 Samuel 21,8 e 22,9-19. O malvado, referido no verso 3, pode ser
comparado com o traidor da história. A intenção da anotação (v. 2) seria comparar Salmos 52 com
Davi. A referência do verso 8, à “casa de Deus”, isto é,
o Templo, dificulta pensar que tenha sido Davi o autor
deste salmo.
A palavra hebraica
2. Os versos 3-6 apresentam uma peça de acusação maskil é um dos
contra os malvados valentes. termos indecifráveis do
Estes versos são esclarecedores para a compreensão AT. Por sua raiz verbal,
de Salmos 52. Há um conflito na comunidade: o provavelmente, maskil
salmista vive entre justos e malvados. Como um significa “canção
profeta, ele denuncia as agressões contra a comunidade artística ou didática”.
empreendidas pelo malvado valente (v. 3a). Ele também
desafia e instrui as pessoas fiéis à prática da fé.
Primeiramente, o salmista faz a denúncia contra o valente: (a) ele planeja a destruição (v. 4a); (b)
ele gosta daquilo que é de má qualidade (v. 5a); e (c) ele ama as palavras de confusão (v. 6a). Assim,
a queixa-crime contra o valente (v. 3a) tem base nesses três verbos. O salmista denuncia-o como uma
“pessoa do mal” que se gloria na maldade contra o bem-estar da comunidade. A frase a bondade de
El (é) todo dia (v. 3b) deve ser lida paralela à afirmação de que a mentira está ocupando o lugar da
justiça (v. 5b). Da mesma forma, a frase tua língua (é) como navalha afiada... (v. 4b) deve ser analisada
paralelamente à expressão ó língua falsa! (v. 6b).
A gravidade da ação do valente está nos complementos verbais: maldade, ruínas, mal e palavras
de confusão. Assim, a denúncia contra o valente e seus companheiros é grave, se se considerar os
adjetivos maldade (v. 3a), destruição, ruínas (v. 4a), má qualidade, “baixo nível” (v. 5a), mentira (v. 5b)
e confusão (v. 6a). Trata-se de um elemento que traz o mal para dentro da comunidade. Para manter
seu poder ativo na comunidade, o valente não tem problema de consciência em fraudar e burlar os
regulamentos estabelecidos pela sociedade (v. 4c).
3. O anúncio da sentença contra o valente (v. 7-9) compreende a maldição (v. 7) e a sentença final
(v. 8b-9). Os justos estão isentos (v. 8a). O valente é sutil em sua ação criminosa, e não deixa provas
para incriminá-lo. Nesses casos, o pronunciamento de maldição (v. 7) é a medida jurídica correta,
conforme Dt 27.11-26. Para o salmista, a eliminação do valente era uma decisão necessária para
o bem-estar da comunidade. A reação dos justos é de alegria, porque Deus favorece os pobres e
oprimidos (v. 8-9).
4. Por fim, o salmista expressa sua fé (v. 10-11). Após denunciar a inutilidade do poder político e
da força da riqueza para construir o bem-estar de uma comunidade, o salmista propõe o caminho
inverso ao maldoso valentão: Eu confio na bondade de Eloim, para sempre e sempre (v. 10). É a sua
declaração de fé que passa como um testemunho para as gerações. Mas o salmista vai mais além.
Ele promete continuar expressar em ações a sua fé: Eu te louvarei para sempre... (v. 11).
34
Universidade Metodista de São Paulo
Referências
BORTOLINI, José. Salmo 52 (51). In: . Conhecer e rezar os Salmos. São Paulo: Paulus, 2000.
p. 218-221,
WEISER, Artur. O fim do homem violento. In: . Os Salmos. São Paulo: Paulus, 1994.
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Formação cidadã
Módulo
Aspectos da moral
existencialista
Objetivos:
Apresentar alguns aspectos da
moral desde o existencialismo,
à procura de outros elementos
que colaborem com a
construção de outras morais.
Palavras-chaves:
Moral existencialista; quietismo;
valor-ação.
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1. Ponto de partida
Na obra O existencialismo é um humanismo, Sartre responde àqueles que viam no existencialismo
um quietismo, uma certa impossibilidade de ação ou uma ação gratuita, regida pelo apetite
(Sartre, 1973, p. 9).
Em sua resposta, Sartre fala da subjetividade e de sua indissociável ligação com o meio, com
o mundo; da liberdade de ser, do projeto, da escolha, da responsabilidade por si e por toda a
humanidade, da angústia, do desamparo, da situação histórica e da inventividade.1
Esta resposta do filósofo aponta a dimensão valorativa do existir e o caráter inventivo das ações
humanas. Assim, por trás das afirmações de Sartre há uma concepção moral que pretendo ressaltar.
Banco de imagens
O ser humano é livre, posto que não há uma
essência que o determine a ser de certa maneira.
O ser humano escolhe um modo de ser; projeta-se
numa direção sem jamais escapar do mundo no
qual está. Esse modo de ser o torna responsável por
si e por toda a humanidade, pois é a expressão de
um querer de que todos vivam desta maneira.
1
Ver os textos “Responsabilidade, escolha e angústia: sobre a crítica” e “Liberdade, inventividade e situação histórica:
sobre a criatividade” neste mesmo caderno de estudos.
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Universidade Metodista de São Paulo
“O homem faz-se; não está realizado logo de início, faz-se escolhendo a sua moral, e a pressão
das circunstâncias é tal que não pode deixar de escolher uma. Não definimos o homem senão em
relação a um compromisso” (p. 24).
Enquanto o ser humano se inventa, cria, também, os seus valores. E nisto consiste a moral existencialista:
criação humana de leis, de valores resultantes do processo permanente de escolher ser.2
Banco de imagens
Embora Sartre afirme que “[...] os princípios
demasiados abstratos falham [...]” (p. 26) na
definição da ação e que o conteúdo moral é
variável porque fruto da liberdade humana, da
contingência do seu existir, defende que, [...]
uma certa forma desta moral é universal.” (p.
26) A escolha, a invenção humana dos valores
certamente é esta dimensão universal
da moral, não seu conteúdo. Diz Sartre
que “o conteúdo é sempre concreto e por
conseguinte imprevisível; há sempre invenção.
A única coisa que conta é saber se a invenção
que se faz, se faz em nome da liberdade” (p.
26).
Eis aqui o critério de julgamento da Enquanto o ser humano se
moral: a liberdade. Ela será resultado da inventa, cria, também,
livre criação humana ou da livre adesão, os seus valores.
da livre escolha a certo comportamento, a
um conjunto de valores referentes a certo
projeto de ser humano.
Por fim, dirá o filósofo:
“[...] dizer que inventamos os valores não significa senão
isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de viverdes,
a vida não é nada; mas de vós depende dar-lhe um
_________________________________
sentido, e o valor não é outra coisa senão esse sentido
que escolherdes” (p. 27). _________________________________
Não há qualquer sentido na moral que seja dado fora das
relações vivenciais. Toda moral que perde esta dimensão, _________________________________
que se distancia das relações existenciais, torna-se abstração
incapaz de compreender as ações e escolhas humanas. _________________________________
_________________________________
3. Olhando pra nós... __________________________________
Se aceitarmos, ainda que um por um instante, as teses
do existencialismo no que tange à moral, ao valor, nos __________________________________
acertaremos com a nossa má-fé, posto que, frequentemente
estamos “culpando” a economia de mercado pelas mudanças __________________________________
em nossos valores e comportamentos ou dizendo que o
_________________________________
sagrado nos constrange a viver de certa forma. Precisaremos
sair da safadeza, como diz Sartre, e assumir que criamos e/ _____________________________ ______
ou escolhemos a nossa moral, os nossos valores.
___________________________________
2
Que não se veja aqui a ideia de progresso. Para Sartre, em cada situação o ser
___________________________________
humano escolhe ser. Não se trata de um desenvolvimento como se o humano
caminhasse para um fim absoluto, como se houvesse um lugar aonde chegar. ___________________________________
“[...] o homem é sempre o mesmo em face duma situação que varia e a escolha
é sempre uma escolha numa situação” (Sartre, 1973, p. 25), ___________________________________
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Em outra direção, precisamos assumir a dimensão inventiva da existência humana e construir novos
modos de ser, novas morais, novos valores que resultem de um projeto de ser no qual os homens
e mulheres vivam em dignidade. Projeto que não é um presente, nem mesmo expressão da minha
subjetividade responsável que se sabe comprometida com todos os humanos, mas projeto criação
dos corpos para os corpos.
Alguns corpos têm inventado e reinventado projetos de ser que garantem sua existência confortável
em cima da miséria de muitos homens e mulheres. Estratégias hipócritas a todo instante tentam
convencer de que podemos sair desta condição de indignidade. Distração: enquanto gastamos nossa
existência aceitando o projeto do capital, crendo que um dia estaremos lá nos lugares confortáveis
da vida, os poucos corpos enriquecidos gozam daquilo que só está, de fato, disponível a eles.
Para além de denunciar tal situação, cabe-nos assumir que é de nossa responsabilidade a construção
de novas morais, que sempre serão construídas nas contingências do nosso existir. Morais que
poderão morrer, perder a força, mas que não podem deixar de ser a manifestação do ser humano
de livremente escolher, na companhia dos outros corpos – e não apenas na presença simbólica que
me faz responsável por todos os homens – e criar novos valores.
Referências
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Victor Civita, 1973.
REALI, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 1991. v. III.
40
Universidade Metodista de São Paulo
Formação cidadã
Módulo
Ética e moral:
sobre a contestação
e o serviço
Objetivos:
Distinguir os termos ética
e moral, retirando-os da
circularidade conceitual que
oculta sua dimensão criativa,
contestatória e “litúrgica”.
Palavras-chave:
Distinção ética; moral ética;
contestação; criatividade;
serviço.
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1. Sobre a distinção
Não é incomum encontrar nos discursos um uso complementar dos termos ética e moral. É como se
eles se rematassem. A moral é anunciada como o comportamento humano ou o conjunto de normas
e valores que regem o comportamento humano e a ética, como a reflexão sobre este agir. Há, neste
modo de dizer, uma anterioridade da moral. É sobre o modo como homens e mulheres agem que
se debruçaria a tarefa da ética: refletir sobre a moral1. E a finalidade dela consistiria em descobrir os
fundamentos da moral sem pretender interferir no comportamento humano2. Banco de imagens
1
“A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de
comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A ética depara com uma experiência
histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar
a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a
função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes
sistemas morais” (Vásquez, 1989 p. 12).
2
Procurando estabelecer o objeto da ética, Vásquez defende que a ética não pode ser uma disciplina normativa ou pragmática
(Vásquez, 1989 p. 11). Leio, no que segue, que a tarefa da ética é a construção de uma reflexão universal e que sua tarefa consiste
em identificar os fundamentos da ação moral sem nela interferir. Diz Vásquez que “a ética é teoria, investigação ou explicação de
um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado porém na sua totalidade,
diversidade e variedade. O que nela se afirme sobre natureza ou fundamento das normas morais deve valer para a moral da
sociedade grega, ou para a moral que vigora de fato numa comunidade humana moderna. [...] O valor da ética como teoria está
naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas” (Ibid., p. 11). O autor até
admite que a ética pode interferir na moral, mas esta não é sua tarefa: “[...] sua missão é explicar a moral efetiva [...]” (Ibid., p. 14).
42
Universidade Metodista de São Paulo
Assim posto, temos que falar de ética e moral sempre no plural e sempre de modo provisório. São
muitas as formas de morar (éticas) e muitas as regras, costumes (morais). Entre essa multiplicidade,
certo “êthos” e “éthos” prevalecem sobre os outros, valendo-se de estratégias educacionais, da tradição,
da violência etc. para tanto (Ibid., p. 18). Além disto, na medida em que encontramos outras formas
de “ajeitar a casa”, abre-se a possibilidade de construção de outros costumes, de outras normas.
Está posta a distinção dos termos. E apresentados assim, ressalta-se uma relação de conflito entre
ética e moral na medida em que esta não expresse ou garanta o jeito como arrumamos a casa ou,
ao menos, desejamos que ela seja organizada.
Desse modo, a ética (êthos) é um lugar de, permanentemente, lembrar à moral de sua tarefa de estar
a serviço dos corpos, mas, também, um lugar de construir novas éticas, outros modos de organizar a vida,
onde a dignidade se alastre, a justiça seja parceira no cotidiano da vida de todos os homens e mulheres.
2. Sobre a contestação
Nos termos da distinção que apresentei, pode-se dizer
que a ética é o lugar da contestação; o espaço em que
valores e práticas são questionados, não pelo simples
A ética é o lugar
capricho de identificar sua estrutura e origem, mas para
da contestação;
evidenciar seu distanciamento da forma como homens
o espaço em que
e mulheres, neste momento histórico, organizam ou
valores e práticas são
pretendem organizar a casa. É contestação que aponta
questionados.
a relação da moral com os projetos éticos de alguns, que
se preocupam apenas com a reprodução das condições
que favorecem a manutenção de seu status. Contestação
que reconhece a precariedade da forma de habitar de
ontem para responder às demandas de hoje e que
aceita o desafio de construir outros modos de ser,
mesmo se aventurando por trilhas desconhecidas. _________________________________________
_________________________________________
3. Sobre o serviço
A esta altura somos desafiados a optar ou
_________________________________________
assumir que a tarefa da ética é refletir sobre a _________________________________________
conduta humana para descobrir-lhe o fundamento,
ou entendê-la como um espaço permanente de _________________________________________
construção da nossa forma de viver.
Banco de imagens _________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
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_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Um dos desafios da ética é alterar algumas formas de habitar _________________________________________
e morais que geram pobreza, discriminação, distanciamento,
esquecimento do compromisso que temos com o mundo
_________________________________________
e com o outro.
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Aceitar o desafio de seguir pela segunda possibilidade de compreensão da ética implicará que
nossa reflexão, que nosso conhecimento, que nossa inteligência não estarão apenas a serviço de
nosso próprio “êthos”. Ela terá, como desafio, que manter sempre aberto o diálogo com outras
formas de habitar e buscar ferramentas que permitam alterar algumas formas de habitar e morais
que geram pobreza, discriminação, distanciamento, esquecimento do compromisso que temos com
o mundo e com o outro.
É ética, portanto, como serviço; como compreensão de que a nossa forma de habitar não será um
fim em si mesma e nem terá como alvo maior a reprodução do dinheiro, a obtenção de status dentro
da sociedade capitalista e do conhecimento, mas, sobretudo, um exercício de existir com e para os
corpos à procura de um jeito de habitar no qual prevaleça a dignidade para o homem e para a mulher.
4. Ética, moral e cristianismo Banco de imagens
3
Alguns trechos do texto “Oração aos moços” de Rui Barbosa ilustrarão a necessidade ética da contestação. Diz: “O
Padre Manuel Bernardes pregava, numa das suas Silvas: Bem pode haver ira, sem haver pecado: [...] E às vezes poderá
haver pecado, se não houver ira: porquanto a paciência e o silêncio fomentam a negligência dos maus, e tentam a
perseverança dos bons. [...] Nem o irar-se nestes termos é contra a mansidão: porque esta virtude compreende dois
atos: um é reprimir a ira, quando é desordenada: outro excitá-la, quando convém. A ira se compara ao cão, que ao
ladrão ladra, ao senhor festeja, ao hóspede nem festeja nem ladra: e sempre faz o seu ofício. E assim quem se agasta
nas ocasiões, e contra as pessoas, que convém agastar-se, bem pode, com tudo isso, ser verdadeiramente manso”
(Barbosa, disponível em < http://cultvox.uol.com.br/gratis_filosofia_politica.asp >, último acesso: março de 2007).
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Formação cidadã
Módulo
Cidadania:
considerações
introdutórias
Objetivos:
Desenvolver um estudo
introdutório sobre o conceito
de cidadania e a reflexão sobre
a práxis cotidiana.
Palavras-chave:
Cidadania; capitalismo;
direitos civis, políticos e sociais.
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Introdução
Cidadania é um conceito complexo e repleto de significados. Em torno dessa discussão há muitas
contradições e ambiguidades. Em termos gerais, cidadania é o direito que todo indivíduo possui de
viver com dignidade e liberdade. Este viver digno e livre não significa o mesmo em todos os lugares
e para todos, disto resultam os sentidos e as intenções diferentes, quando se trata do tema cidadania,
que nem sempre traduz os interesses e as aspirações, por exemplo, da classe trabalhadora.
A noção de cidadania, de indivíduo livre e
Banco de imagens
detentor de direitos civis, políticos e sociais, é
decorrente do processo de desenvolvimento
do capitalismo, cujo fundamento das relações
sociais se dá por meio do livre mercado e da
concorrência. Dois filmes contribuem para
a compreensão dessa questão, ao mesmo
tempo em que permitem uma reflexão sobre
estas relações sociais: A nós a liberdade
(1931), de René Clair, e Tempos Modernos
(1936), de Charles Chaplin.
Em termos gerais, cidadania é o direito que todo indivíduo
possui de viver com dignidade e liberdade.
Visão marshalliana de cidadania
Uma das principais referências teóricas sobre o tema encontra-se em um ensaio de 1949 de T.H.
Marshall: Cidadania, classe social e status, no qual a cidadania é compreendida como evolução dos
direitos civis, políticos e sociais.
Marshall proporá uma classificação do modo como a cidadania se concretizou historicamente, com a
participação dos indivíduos na comunidade política, em três níveis de direitos, correspondendo às fases
do capitalismo (COVRE, 1995, p. 76, ):
Direitos civis
a. Direitos civis (mercantilismo – séc. XVIII): aqueles que se realizam com a liberdade
individual (direito de locomoção, de pensar, de propriedade, de justiça);
Direitos políticos
b. Direitos políticos (liberalismo – séc. XIX): garantem ao cidadão o direito à participação
na atividade política (votar e ser votado);
Direitos sociais
c. Direitos sociais (fase monopolista – séc. XX): garantia mínima de bem-estar e à vida
(alimentação, habitação e saúde). A concepção mais atual de cidadania tem se alicerçado
justamente sobre estes direitos, administrados pelos detentores do capital, mantendo a classe
trabalhadora como receptora alienada destes direitos então administrados pelo Estado (COVRE,
1995, p. 14).
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Universidade Metodista de São Paulo
Para que estes direitos sejam sustentados, é necessário que exista um aparato institucional para
garantir sua efetivação:
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O conceito de cidadania privada, em que a pessoa Banco de imagens
constrói sua cidadania a partir de ações individuais e
com toda a precariedade, ou seja, “aquele que com
seu próprio esforço e perseverança venceu”. Com o
crescimento urbano e as relações de produção que não
privilegiam as ações coletivas, e não proporcionam meios
eficientes para o acesso dos indivíduos aos bens públicos,
dá-se a vida na cidade, impondo uma vivência precária
da cidadania. A lógica liberal individualiza a cidadania
para subtrair a força das ações coletivas, em especial
as que tenham um caráter de transformações radicais.
Cria-se, assim, o “cidadão privado”: uma contradição,
pois os termos dizem respeitos a formas incompatíveis
entre si, já que cidadania pressupõe algo construído
coletivamente na história, enquanto o privado indica
algo restrito, quando não individualizado (KOWARICK,
1995, p. 110-112).
Esta individualização da ideia de cidadania confunde
a noção de pertença a uma classe social como força
política capaz de engendrar mudanças no interior das
sociedades, fortalecendo a ideia de que é possível “vencer A lógica liberal individualiza a cidadania para
subtrair a força das ações coletivas, em especial
sozinho”. as que tenham um caráter de transformações
radicais. Cria-se, assim, o “cidadão privado”
O processo de ampliação da consciência cidadã (práxis cidadã) decorre das atividades e reflexões
dos sujeitos em sociedade, sendo consequência do exercício cotidiano das práticas democráticas.
Considerando-se que a conquista da cidadania acontece dentro de um processo de lutas, de
avanços e refluxos históricos, é possível constatar a ocorrência de diferentes níveis de cidadania nos
diferentes grupos de países e sociedades, desta maneira, “a situação concreta de cada sociedade
define os patamares e os limites do exercício da cidadania” (MORAES, 1989, p. 28).
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Universidade Metodista de São Paulo
O exercício da cidadania necessita de sujeitos conscientes, capazes de enfrentar as tensões políticas
e sociais encontrando mecanismos democraticamente estabelecidos, que possibilitem o avanço e
a consolidação das conquistas, a partir das lutas sociais. Neste processo, a construção da cidadania
torna-se possível por meio da práxis, capaz de gerar espaços humanizados, em que haja justiça,
liberdade e igualdade, tendo em vista que a transformação social é seu elemento fundamental.
Referências
COVRE, Maria de Lourdes M. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1995. (Coleção Primeiros
Passos).
DAGNINO, Evelina. Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção de cidadania.
In: DAGNINO, E. (Org.). Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
________. Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando? In: Daniel Mato
(Coord.). Política de cidadania y sociedad civil em tiempos de globalización. Caracas: FACES,
Universidade Central de Venezuela, 2004.
KOWARICK, Lúcio. Cidade e cidadania: cidadão e subcidadão público. In: SEADE. Brasil em
Artigos. Coleção SEADE bolso. São Paulo: Fundação Seade, 1995.
MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
MORAES, João Quartim. A democracia: história e destino de uma idéia. São Paulo: Revista da
OAB/Brasiliense, 1989.
SAES, Décio Azevedo. Cidadania e capitalismo: uma abordagem teórica. São Paulo: Instituto
de estudos avançados da USP, 1997. (Coleção documentos).
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Formação cidadã
Módulo
A filosofia da práxis
em Antonio Gramsci
e Casiano Floristán
Objetivos
Desenvolver um estudo
introdutório sobre a filosofia
da práxis, observando a
contribuição deste tema para a
compreensão sobre a questão
da cidadania.
Palavras-chave:
Filosofia da práxis; cidadania e
participação.
www.metodista.br/ead
Introdução
O ideal de cidadania requer sujeitos atentos às transformações sociais, cientes dos processos
históricos, com todo o seu dinamismo, e em condições de avaliar criticamente as diversas alternativas
apresentadas pelas forças que compõem a sociedade, dispostos a participar plenamente da vida
em sociedade. Observa-se que as ações fundamentadas na filosofia da práxis contribuem para este
processo social de formação de cidadãos.
54
Universidade Metodista de São Paulo
de formação e emancipação, respeitando o saber popular, sem abandonar a crítica que supere o
senso comum, as crenças e os preconceitos presentes no grupo. A contribuição da filosofia da práxis
na construção da cidadania se expressa em três tarefas principais:
1
aproximação permanente com as classes populares, formando
os intelectuais num processo pedagógico permanente e
contextualizado;
__________________________________
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www.metodista.br/ead
A práxis em Casiano Floristán
Casiano Floristán compreende que nem toda atividade ou ação humana é práxis (p. 180, 2002),
assim, os traços característicos da práxis são para ele:
Criadora
• ação criadora: a práxis criadora é inovadora diante
de novas realidades. Para isso é necessário certo grau
de consciência critica;
Fé e práxis
A eucaristia expressa, em certa medida, uma práxis
A relação entre teoria
cristã, por sinalizar e exercer a partilha e a igualdade,
e práxis se estabelece
traços que caracterizam a práxis. Em termos históricos,
mediante uma relação
pode haver algumas características próprias na
entre um modo de
práxis dos cristãos: fraternidade, amor aos inimigos e
pensar e uma ação.
igualdade. Essas ações apontam para a necessidade
de transformações e ampliação da participação cidadã (2002, p. 194).
Floristán analisa as relações entre fé e práxis, compreendendo que o cristianismo é uma comunidade de
narração, detentora de uma práxis profética, sendo a memória cristã repleta de recordações perigosas. Essa
memória da justiça e do direito é criadora de novos sinais na sociedade: o homem novo (2002, p. 174).
Teoria e práxis
A relação entre teoria e práxis se estabelece mediante uma relação entre um modo de pensar e
uma ação. Entre teoria e prática há uma relação dialética e permanentemente dinâmica, por vezes
conflitante que deve buscar a superação pela síntese. Sem dúvida há uma supremacia da práxis sobre
a teoria (Floristán, 2002, p. 176-177).
O homem comum, em geral, se move com esquemas mentais coletivos, que correspondem à
cultura em vigor, que, em geral, é a hegemônica. Assim, este homem vive ideologizado e manipulado.
A consciência geral, em certos estágios e culturas, é fatalista e mágica. O homem prático resiste a
qualquer teoria, sem perceber que se move com algumas teorias alheias a si mesmo e, em geral,
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Universidade Metodista de São Paulo
ultrapassadas, não admitindo que “o melhor remédio para uma prática ruim é uma boa teoria”
(FLORISTÁN, 2002, p. 179-180).
Floristán compreende a práxis como transformação social e compromisso militante, o que Gramsci
denomina orgânico, com as transformações estruturais e uma atitude crítica. É a renovação do sistema
social e a participação cidadã.
Ao ter a práxis como uma referência na construção da cidadania, o sujeito social tende a superar
as práticas repetitivas e agir de modo a ampliar e fortalecer as lutas pela cidadania.
Referências
FLORISTÁN, Casiano. Teologia de la Praxis: teoria y praxis de la acción pastoral. In: Teología
practica. Salamanca: Sígueme, 2002.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, v. 1, 1999.
KONDER, Leandro. O futuro da filosofia da práxis: o pensamento de Marx no século XXI. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
SEMERARO, Giovanni. Gramsci e os novos embates da filosofia da práxis. São Paulo: Idéias
& Letras, 2006.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
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Formação cidadã
Módulo
Responsabilidade, escolha
e angústia: sobre a crítica
Objetivos:
Refletir sobre certa compreensão
de filosofia, a existencialista, sem
desfocar o contexto de formação
cidadã; tratar a filosofia com um
espaço de crítica, em particular, ao
conhecimento.
Palavras-chave:
Existencialismo;
responsabilidade; escolha;
angústia e crítica.
www.metodista.br/ead
Introdução
Existem muitos modos de compreender a filosofia e sua tarefa. Seguirei o modo existencialista,
tendo como ponto de partida a obra O existencialismo é um humanismo de Jean-Paul Sartre. Por
entre as idéias deste filósofo caminharei. Todavia, farei o roteiro de nosso passeio. O filósofo não será
nosso guia na caminhada, apenas companhia.
O texto que aponto é uma resposta de Sartre às críticas dirigidas às suas ideias. Responde aos
marxistas e aos cristãos, a fim de esclarecer suas afirmações sobre o existencialismo.
imagem 1
1. Críticas
A primeira diz que o existencialismo é um
quietismo de desespero que desembocaria numa
filosofia contemplativa, dada a impossibilidade da
ação. Outra crítica afirma que o existencialismo de
Sartre não considera a solidariedade humana
quando defende que o homem vive só, a partir
da subjetividade.
A negação dos mandamentos divinos, dos
valores eternos, é outra crítica ao existencialismo,
que aponta que a gratuidade da ação humana
levaria a certo desregramento, “podendo assim
cada qual fazer o que lhe apetecer [...]” (Sartre,
1973, p. 9).
1
No seguimento da reflexão, voltarei a esta questão. Apenas para antecipar algumas informações, a subjetividade
não é uma defesa da racionalidade contra a sensibilidade, do conceito contra a realidade. A tarefa da filosofia
é, justamente, restabelecer a relação da consciência com o mundo, dizer que ela é abertura para o mundo, que
está encarnada na realidade (Reali; Antiseri, 1991, p. 606).
2
Diz Sartre que o ateísmo filosófico do século XVIII suprimiu Deus, mas não a ideia de uma essência prévia à existência,
ou seja, haveria um conceito humano do qual todos os homens e mulheres partilhariam (Sartre, 1973, p. 11).
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Universidade Metodista de São Paulo
Sartre defende que “o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só
depois se define” (p. 12). Não há uma essência, um conceito, uma definição do que seja o “humano”
que o constituiria, previamente, como humano. Ele se faz. “O homem é [...] como ele quer que seja
[...]; o homem não é mais que o que ele faz” (p. 12).
E é justamente a isto que o existencialismo ateu
de Sartre chama de subjetividade: este homem
consciente de que se lança para o futuro, de O ser humano, que se
que é o autor do seu projeto de ser, que decide projeta numa certa
conscientemente se fazer de certo modo. direção de existir, que se
Isto indica que a existência é de inteira compromete com o seu
responsabilidade do ser humano. O homem, assim, projeto e, portanto, com a
é posto no domínio daquilo que ele escolheu ser. humanidade toda, não pode
Responsabilidade que não se restringe à sua existência escapar da angustiante
particular, mas que se estende para todos os homens responsabilidade das suas
e mulheres (p. 12). “[...] ao escolher-se a si próprio, ele escolhas diante do outro.
escolhe todos os homens” (p. 12). A escolha por si, As conseqüências de seu
por ser de certo modo, diz Sartre, cria uma imagem projeto para si e para os
de como entendemos que o ser humano deve ser (p. outros seres humanos é
13). E de escolher ser, é algo do que o ser humano não sua responsabilidade e isto
pode escapar. A isto se dá o nome de subjetividade: angustia.
a escolha consciente do ser humano por certo modo
de ser no meio, no mundo.
Por isto diz “que o homem é angústia” (p. 13). O ser
humano, que se projeta em certa direção de existir, que
se compromete com o seu projeto e, portanto, com a
humanidade toda, não pode escapar da angustiante
responsabilidade de suas escolhas diante do outro. As
______________________________________
consequências de seu projeto para si e para os outros
seres humanos é sua responsabilidade e isto angustia. ______________________________________
Não há um ser divino ou uma contingência que seja
responsável pela escolha do ser humano. Àqueles ______________________________________
que justificam suas ações como consequência de
______________________________________
elementos que escapam ao seu querer, à sua escolha,
Sartre acusa de “má-fé”. É mentiroso o que diz que ______________________________________
não escolheu.
A angústia, portanto, não conduziria ao quietismo,
_____________________________________
como acusavam os marxistas, posto que ela só surge ______________________________________
_____________________________________
A afirmação da
_____________________________________
subjetividade não é a
negação do outro e nem _____________________________________
mesmo do mundo. Ela
se constitui como uma ____________________________________
escolha no mundo por
certo projeto que é meu ____________________________________
e que estendo a todos ____________________________________
os outros homens e
mulheres. ___________________________________
___________________________________
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diante da necessidade de decidir, de uma ação. E no exato momento da responsabilidade da decisão,
por mim e por todos os homens e mulheres, que o ser humano se angustia.
A afirmação da subjetividade não é a negação do outro e nem mesmo do mundo. Ela se
constitui como uma escolha no mundo por certo projeto que é meu e que estendo a todos os
outros homens e mulheres. Ao decidir por mim, responsabilizo-me pela humanidade inteira. Assim,
a escolha é solidária.
A ausência de um Deus não implica gratuidade desregrada. Na medida em que sou responsável
pelo outro, minhas escolhas exigirão de mim responsabilidade e compromisso com o projeto de
ser. É este projeto que conduz a minha ação, se não agir com má-fé.
Referências
DOURADO, Wesley Adriano Martins. Fenomenologia e educação: o corpo em poesia. 2003, p.
127. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação e Letras da Universidade
Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Victor Civita, 1973.
REALI, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, v. III, 1991.
imagem 1
3
Afinal, diz Sartre, a perspectiva existencialista “[...] é estritamente destinada aos técnicos e aos filósofos”
(Sartre, p. 11, 1973).
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Universidade Metodista de São Paulo
Formação cidadã
Módulo
Liberdade, inventividade e
situação histórica:
sobre a criatividade
Objetivos:
Apresentar a filosofia como lugar
da criatividade de pensar o nosso
lugar, as nossas demandas e os
nossos desejos, desde os corpos e
em diálogo com estes, em especial,
com os que estão à margem das
delícias da reflexão, da teoria, da
contemplação.
Palavras-chave:
Existencialismo; liberdade;
inventividade; situação histórica e
criatividade.
www.metodista.br/ead
1. Sobre a liberdade
Para ponderar sobre a criatividade como uma tarefa do procedimento filosófico, acompanharei
as ideias de Sartre na obra O existencialismo é um humanismo.
As afirmações sartrianas, o ser humano é aquilo que faz imagem 2
de si, são um projeto do qual o ser humano é responsável
e que o torna responsável por todos os humanos, que o
põe diante da inevitável escolha, e aponta na direção da
liberdade.
A defesa de que a existência precede a essência
impede a compreensão da natureza humana como dada
e imutável: “[...] não há determinismos, o homem é livre,
o homem é liberdade” (Sartre, 1973, p. 15). À liberdade
o ser humano está condenado. Nem mesmo as paixões,
dirá Sartre, retiram do ser humano a responsabilidade
de que ele decidiu viver a avassaladora experiência das
paixões (p. 15).
O desamparo1, o abandono, a experiência da ausência
de um Deus que conduza a vida humana põem o ser
humano diante de sua liberdade de ser. “O desamparo
implica sermos nós a escolher o nosso ser” (p. 18). A
angústia e o desamparo conduzem ao desespero: tenho
de escolher, assumir as responsabilidades disto e não há
a quem atribuir esta tarefa.
Desespero significa, em Sartre, que “[...] nós nos O desamparo, o abandono,
limitamos a contar com o que depende da nossa vontade, a experiência da ausência de
ou com o conjunto das probabilidades que tornam a um Deus que conduza a vida
nossa ação possível” (p. 18). As possibilidades de ação não humana põem o ser humano
implicam negação da liberdade, posto que caberá ao ser diante de sua liberdade de ser.
humano escolher entre elas ou, até mesmo, não escolher
nenhuma delas.
Isto reafirma a ideia de que o ser humano é o que
1
A angústia está ligada à necessidade de escolher e de assumir a responsabilidade da escolha para si e
para os outros.
64
Universidade Metodista de São Paulo
“[...] a necessidade para ele de estar no mundo, de Banco de imagens
lutar, de viver com os outros e de ser mortal” (p. 22).
Dito de outra maneira, situações históricas, limites e
possibilidades que elas apresentam não modificam
a condição humana de construir-se na companhia
dos outros.
“Os limites não são nem subjetivos nem
objetivos; têm, antes, uma face objetiva e uma
face subjetiva. Objetivos porque tais limites se
encontram em todo lado e em todo lado são
reconhecíveis; subjetivos porque são vividos e
nada são se o homem os não viver, quer dizer, se
o homem não se determinar livremente na sua
existência em relação a eles” (p. 22).
Embora as situações históricas sejam dadas
dentro de limites objetivos, elas têm uma dimensão
humana universal, pois são o palco da construção
dos projetos humanos. A condição humana de
escolher sua existência é universal, embora as
situações históricas e os próprios projetos sejam
diversos. Todo projeto pode ser reconhecido
como de humanos livres (p. 22). E nisto reside sua
universalidade. O homem é livre, o homem é liberdade
(Sartre, 1973, p. 15)
3. Sobre a inventividade
As afirmações de Sartre ao redor da liberdade ______________________________________
não se restringem à dimensão da escolha; não se
trata apenas de optar entre possibilidades dadas na ______________________________________
situação histórica. A liberdade ressalta a dimensão
inventiva do ser humano. Do mesmo modo que
______________________________________
ele não pode escapar de ser livre, “está condenado ______________________________________
a cada instante a inventar o homem” (p. 16).
O ser humano constrói seu projeto de ser, inventa ______________________________________
sua existência para a qual espera contar com a _____________________________________
adesão concreta dos outros humanos.
______________________________________
Referências
DOURADO, Wesley Adriano Martins. Fenomenologia e educação: o corpo em poesia.
2003, p. 127. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação e Letras da
Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.
REALI, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, vol. III, 1991.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Victor Civita, 1973.
imagem 2
Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/47/Starved_girl.jpg>.
Acesso em: 16 jul. 2007.
66
Universidade Metodista de São Paulo
Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
Os fundamentos
bíblico-teológico-
pastorais da liturgia
Objetivos
Introduzir os conceitos
de culto e liturgia no escopo
da Teologia e apresentar os
fundamentos bíblico-teológico-
pastorais da liturgia.
Palavras-chave:
Culto; liturgia; ordem de culto;
culto no AT; culto no NT; culto nos
primeiros séculos.
www.metodista.br/ead
Liturgia e culto
Antes de apresentarmos uma definição mais técnica de liturgia (sobre isso veremos na próxima
aula), é importante fazer uma pequena distinção entre liturgia e culto: culto é o encontro celebrativo
entre Deus e seu povo, e a liturgia é o que acontece nesse encontro.
Liturgia e Teologia
Convencionalmente, a Teologia se estrutura em
três grandes áreas, a saber: (1) Bíblia, que se ocupa
da investigação das fontes da fé cristã; (2) Teologia
Sistemática e História, que estuda a maneira como
a fé foi interpretada e reinterpretada em diferentes Convencionalmente, a Teologia
épocas e lugares; (3) e Pastoral, que se ocupa da se estrutura em três grandes
práxis da fé, isto é, da reflexão e da prática aplicada áreas:
à realidade das pessoas e das comunidades de fé no (1) Bíblia,
contexto da missão da Igreja a toda a humanidade.
(2) Teologia Sistemática e
Didaticamente, a liturgia inscreve-se no escopo da História
Teologia Pastoral, que, por sua vez, se subdivide em
diferentes áreas, sendo as principais estabelecidas (3) e Pastoral
a partir da narrativa bíblica do livro dos Atos
dos Apóstolos (especialmente, 2.42-47): doutrina
(Didaskalia) – comunhão (Koinonia) – partilha do
pão (Diakonia) – oração/louvor (Liturgia). A liturgia é,
portanto, um capítulo da Teologia Pastoral. Entretanto,
essas divisões têm caráter meramente didáticos, pois,
na prática, todas as áreas da Teologia estão imbricadas, interligadas e se interdependem.
Assim sendo, não se pode fazer liturgia, sem se recorrer à fonte da nossa fé, a Teologia Bíblica;
nem à interpretação e atualização dessa fé, a Teologia Sistemática e História; e, muito menos, sem
recorrer-se à aplicação dessa fé à vida com vistas à transformação da realidade à luz dos princípios
do Reino de Deus, que é a tarefa específica da Teologia Pastoral.
Por essa razão, trataremos dos temas da liturgia sempre relacionando-os à Bíblia, à sistematização
histórica e à práxis pastoral.
Comecemos, portanto, pela busca de alguns modelos bíblicos de ordem para o culto.
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www.metodista.br/ead
Glória a ti pelos séculos! Síntese: Adoração (orações
Pai) – eucaristia (proclamação do
Tu, Senhor todo-poderoso, criaste o universo
evangelho e memorial de Jesus,
para louvor de teu nome e deste aos homens a
o Filho) – Diakonia (Espírito Santo
comida e a bebida para regozijo,
motiva o serviço/coleta em favor dos
a fim de que eles te deem graças; necessitados).
mas a nós, tu nos deste um alimento e uma
bebida espirituais
e a vida eterna por teu filho.
Antes de tudo nós te damos graças porque és
poderoso;
glória a ti pelos séculos!
Lembra-te, Senhor, de livrar tua igreja
de todo mal e de completá-a em teu amor.
Reúne, dos quatro ventos, a igreja que
santificaste,
no reino que preparaste para ela.
Porque a ti pertencem o poder e a glória pelos
séculos!
Venha a tua graça e passe este mundo!
Hosana ao Deus de Davi!
Quem é santo venha; quem não é faça
penitência.
Maranatha! Amém.
67. Depois disso, continuamos a recordação dessas coisas. Aqueles que têm posses prestam ajuda
a todos os que têm necessidade, e nós nos damos assistência mútua. Em todas as nossas oferendas
bendizemos o Criador do universo por seu filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. No dia chamado do
sol, todos, habitem nas cidades ou nos campos, se reúnem num mesmo lugar. São lidas as memórias
dos apóstolos e os escritos dos profetas enquanto o tempo o permite. Terminada a leitura, aquele
que preside toma a palavra para advertir e exortar à imitação desses belos ensinamentos. Em seguida,
todos nós nos levantamos e oramos em voz alta. Depois, como já dissemos, terminada a oração, são
trazidos pão, vinho e água. Aquele que preside, à medida que suas forças o permitem, faz subir ao
céu orações e ações de graça, e todo o povo responde com a aclamação amém.
Segue-se a distribuição dos alimentos consagrados a cada um, e a parte dos ausentes lhes é
enviada pelo ministério dos diáconos. Aqueles que têm bens em abundância e querem fazer doações
doam livremente o que querem. O que é recolhido é entregue ao presidente, que dá assistência aos
órfãos, às viúvas, aos doentes, aos indigentes, aos presos, aos hóspedes estrangeiros, numa palavra,
a todos os que estão passando necessidade.
70
Universidade Metodista de São Paulo
Nós nos reunimos no dia de Sol porque é o primeiro dia, aquele em que Deus, tirando a matéria
das trevas, criou o mundo, porque nesse mesmo dia o nosso salvador Jesus Cristo ressuscitou dos
mortos. Na vigília do dia de Saturno ele foi crucificado e, no dia seguinte a este, isto é, no dia do Sol,
ele apareceu aos seus apóstolos e aos seus discípulos e lhes ensinou essa doutrina que nós acabamos
de submeter ao vosso exame.
A liturgia começava com leituras das Escrituras e relatos dos testemunhos dos apóstolos (seguidores
de Jesus) – exortações para a imitação dos atos de Jesus, conforme testemunhados – orações pelo
mundo e pela igreja, particularmente pelos enfermos, ou à morte, e pelos que haviam sido presos
por professarem a Cristo, denunciados por não cristãos – beijo da paz – ofertório dos elementos
eucarísticos – oração eucarística – distribuição dos elementos eucarísticos aos presentes e envio aos
ausentes – coleta em favor dos necessitados (alimentos, roupas ou dinheiro) – despedida com oração
para que todos permaneçam fiéis e a salvo até reunirem-se novamente no próximo domingo.
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www.metodista.br/ead
Referências
ADAM, Adolf. O ano litúrgico: sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica.
Trad. do alemão e adaptações por Mateus Ramalho Rocha; revisão de H. D. São Paulo:
Paulinas, 1982.
ALLMEN, J. J. Von. O culto cristão. Trad. Dirson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo:
ASTE, 1968.
FLORISTÁN, C. Teologia practica: teoria y praxis de la accion pastoral. Salamanca:
Sígueme, 1993.
IGREJA METODISTA. O culto da igreja em missão: carta pastoral do Colégio Episcopal.
São Paulo: Igreja Cedro, 2006.
RAMOS, Luiz Carlos Ramos (Org.). Anuário litúrgico 2007. Charles Wesley 300 Anos.
São Bernardo do Campo: Editeo, 2007.
SARTORE, D.TRIACCA, Achille M. Dicionário de liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992.
WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. Trad. Walter Schlupp. São Leopoldo:
Sinodal, 1997.
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Universidade Metodista de São Paulo
Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
A espiritualidade
do culto
Parte 1
Objetivos:
Oferecer uma compreensão
sintética da liturgia procurando
responder às questões: o que
é, por que se faz, onde se faz,
quando se faz (2ª parte: quem
faz, como se faz?).
Palavras-chave:
Culto; liturgia; lugar
sagrado; calendário litúrgico e
criatividade litúrgica.
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Introdução
Na academia, o uso científico do termo liturgia aplica-se à disciplina teológica que trata da
ritualidade cerimonial e rubrical que regulam o exercício externo do culto. Vimos anteriormente
que, como disciplina teológica, a liturgia faz parte do escopo da Teologia Pastoral (arte e técnica) e
da Teologia da Práxis (ciência), ao lado das demais disciplinas que tratam da ação pastoral da Igreja,
tais como: missão e catequese (Kerigma e Didaskalia), comunhão (Koinonia), serviço (Diakonia) e
oração e louvor (Liturgia).
Considera-se a liturgia como theologia prima
e a reflexão dogmática como theologia secunda.
É igualmente considerada culmen et fons da actio A liturgia é “lugar primário
ecclesiae. Neste sentido, a liturgia é “lugar primário no qual se realiza a autêntica
no qual se realiza a autêntica fé, ao mesmo tempo fé, ao mesmo tempo em que
em que é fonte e norma primeira da doutrina” é fonte e norma primeira da
(FLORISTÁN, 1993). A liturgia é uma das três doutrina” (FLORISTÁN, 1993).
grandes ações da Igreja, sendo precedida pela
evangelização e seguida pela atividade caritativa,
testemunhal ou apostólica (cf. MALDONADO).
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Universidade Metodista de São Paulo
Mt 4.10; At. 7.7; Ap 7.15, 22.3); e sebomai, traduzido por “temor”, “piedade” (Mt 15.9; At 13.43,50, 16.14,
17.4,17, 18.7,13, 19.27). Todos esses termos têm a conotação de humildade e serviço.
Portanto, liturgia é o serviço comunitário celebrado pelo povo de Deus por meio da adoração à
Trindade e da solidariedade aos da família da fé, bem como a toda a comunidade humana. Dizendo
de outra forma, a liturgia é um diálogo interativo entre Deus e os seres humanos e destes entre si,
no contexto celebrativo da fé, na forma de um serviço comunal — comunitário e comunicacional —
porque é prestado por todos e para todos.
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Onde se faz culto? (A liturgia do espaço)
Quanto ao espaço litúrgico, desde muito cedo, na experiência do povo de Deus, conforme
registrada nas Escrituras, houve a preocupação de delimitações e estabelecimento de lugares sagrados
(Gn 8.20 – Noé; Gn 13.18 – Abraão [Carvalhais de Manre]; Êx 3.5 – Moisés [Monte Horebe]; Js 8.30
– Josué [Monte Ebal]; 1Cr 21.26 – Davi [Eira de Ornã]; Ed 3.2 – Esdras; Mc 9.2ss – Jesus [Monte da
Tansfiguração]; At 16.13 – Paulo [margens de um rio]. O povo chegou a construir ou utilizar-se de
locais conforme as circunstâncias do seu cotidiano: quando nômades, construíram o tabernáculo (Êx
25 [especialmente v. 8] a 27); quando sedentários, o templo (do lat. Templare: 1Rs 5.5; 6 – Salomão,
Neemias e Herodes); quando na diáspora, sinagogas (do gr. syn+ago: Lc 4.16-37); quando em paz,
reuniam-se em casas (em gr. oikos: Lc 4.38; 6.29; 10.38ss); quando perseguidos, em catacumbas (At
6.8ss – Estevão; Ap 7.9-17 [esp. v. 14] “ mártires); quando oficializados, basílicas. Aos poucos, firmou-
se a concepção de que “espaço sagrado” por excelência não depende da forma arquitetônica nem
da topografia, mas da atitude dos fiéis: “Em espírito e em verdade” (Jo 4.20-23).
Essa última compreensão – de adoradores que adoram em espírito e em verdade –, juntamente
ao dito de Jesus de que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles”, fundamentou a eclesiologia cristã: a “igreja” não é um edifício, mas o povo reunido em nome
de Jesus, o Cristo.
Banco de imagens
Isso não implica descuido para com o lugar ou espaço
onde esse povo se reúne. Por isso, são considerados
imprescindíveis, nos templos cristãos, como estrutura
mínima fundamental, o santuário, a nave e o átrio. O
santuário é o espaço central (não fisicamente, mas no
sentido de mais importante) do edifício. Tudo deve estar
orientado para o espaço reservado para o Memorial Pascal,
lugar da renovação da aliança: o altar, que representa
a mesa do sacrifício (AT), a mesa eucarística (NT) e as
lápides dos fiéis que deram sua vida por amor a Cristo, os
mártires; para o ambão ou púlpito, que é o lugar de onde
o Evangelho é pregado e a Palavra de Deus é proclamada;
e para a sédia ou cátedra, que é o lugar onde se senta
o presidente da celebração. A nave (do latim navis, que
significa “navio”, pela lembrança do formato das vigas que
suportam o teto de alguns templos se parecerem com
o costado de um navio) é o espaço da assembleia, que
são os membros do corpo místico de Cristo. É o lugar da
atenção, do alerta, da vigilância. É o lugar dos batizados
e, por essa razão, o batistério (ou pia batismal) pode estar
colocado à entrada da nave, indicando que participam
da celebração cristã aquelas pessoas que receberam o Os modelos para os templos cristãos não devem
sacramento do batismo e se vestiram das “vestes brancas” ser os suntuosos “templos” do paganismo
para apresentar-se diante do Trono do Cordeiro. E o átrio moderno, tais como bancos, shopping centers,
edifícios públicos e casas de espetáculo.
(do latim atriu[m]) é o espaço de transição. É o espaço para
a festa do encontro, onde as pessoas se reúnem antes e
depois da celebração. Ao chegar para o culto, a pessoa se prepara para entrar no santuário, fica em
silêncio e passa pela porta que é Cristo (não se pode chegar no lugar santo a não ser por intermédio
de Cristo – Jo 10.7,9).
Os modelos para os templos cristãos não devem ser os suntuosos “templos” do paganismo
moderno, tais como bancos, shopping centers, edifícios públicos e casas de espetáculo. Antes, sua
forma deve ser determinada pela teologia do culto, isto é, a liturgia. Suas linhas devem ser sóbrias,
austeras e singelas — o que não implica comprometer a estética. Linhas que privilegiem o sentimento
de comunhão da assembleia com Deus e de solidariedade para com o próximo; onde Deus possa ser
76
Universidade Metodista de São Paulo
adorado em espírito e em verdade (Jo 4.24), com decência e com ordem (1Co 14.40), com o espírito e
com o entendimento (1Co 14.15), onde possamos apresentar os nossos próprios corpos em sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus em um culto racional, alegre, sensível e sincero (cf. Rm 12.1).
Na sequência, abordaremos as questões relativas a quem faz e como se faz culto.
Referências
ADAM, Adolf. O ano litúrgico: sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica.
Trad. do alemão e adaptações por Mateus Ramalho Rocha; revisão de H.D. São Paulo: Paulinas,
1982.
ALLMEN, J.J. Von. O culto cristão. Trad. Dirson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: Aste,
1968.
FLORISTÁN, C. Teologia practica: teoria y praxis de la accion pastoral. Salamanca: Sígueme,
1993.
IGREJA METODISTA. O culto da igreja em missão: carta pastoral do Colégio Episcopal. São
Paulo: Cedro, 2006.
RAMOS, Luiz Carlos Ramos (Org.). Anuário litúrgico 2007. Charles Wesley 300 anos. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2007.
SARTORE, D.; TRIACCA, Achille M. Dicionário de liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992.
WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. Trad. Walter Schlupp. São Leopoldo: Sinodal,
1997.
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Universidade Metodista de São Paulo
Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
Práticas pedagógicas I:
princípios e métodos de
ensino-aprendizagem
Objetivos
Introduzir e identificar
princípios e métodos que facilitem
a aprendizagem e apresentar os
fundamentos (bíblico – teológico
– histórico – pastoral) das práticas
pedagógicas na comunidade de fé.
Palavras-chave:
Ensinar; aprender; pedagogia e
didática.
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Práticas pedagógicas
Nosso tema oferece um aprofundamento dos estudos do período anterior quando falamos sobre:
“A Igreja como comunidade aprendente”. Antes de apresentarmos os fundamentos (bíblico – teológico
– histórico – pastorais) das práticas pedagógicas na comunidade de fé, é essencial assegurarmos a
condição de “COMUNIDADE APRENDENTE”. Muitas vezes, essa falta de sensibilidade pedagógica
produz nas comunidades de fé rupturas desnecessárias. Uma herança importante da reforma
protestante, neste contexto, é a compreensão que temos do sacerdócio universal de todos os crentes.
Nota-se de forma evidente essa dinâmica na experiência de Pedro [Atos capítulos 10 a 15], quando
da discussão sobre a inclusão dos gentios na comunidade de fé cristã do primeiro século.
Ruben Alves construiu uma analogia muito Banco de imagens
Ensino-aprendizagem
O ambiente de ensino-aprendizagem na Igreja se dá de diversas formas. É um equívoco pensar
que esse momento acontece somente nos estudos bíblicos ou na escola dominical. Certamente, o
culto é um espaço muito privilegiado de ensino-aprendizagem, e, ele assegura didáticas pedagógicas
interessantes, isto é, menos convencionais, do tipo em que só uma pessoa fala, mas assegura uma
experiência comunitária. Nestes módulos vocês trabalharão conceitos e dinâmicas litúrgicas que
asseguram esse compromisso pedagógico que estabelece a aprendizagem como via de mão dupla.
Como o nosso curso não é um curso de pedagogia, mas tem por foco instrumentalizar o pastor e
a pastora nas práticas pedagógicas e identificar princípios e métodos que facilitem a aprendizagem,
vejamos algumas diferenças e afinidades de termos na área de metodologia e didática do ensino.
O que é metodologia do ensino? Como não é nosso objetivo discutir conceitos de ensino-
aprendizagem e, sim, aprofundar a temática da prática educativa na comunidade de fé, podemos
dizer que metodologia do ensino é tudo aquilo que envolve os procedimentos na arte de ensinar.
O que é didática? Segundo Vera Maria Ferrão, didática
é a “reflexão sistemática e busca de alternativas para
os problemas da prática pedagógica” (CANDAU, 2003). Segundo Vera Maria
Em outras palavras, a didática trata das estratégias e Ferrão, didática é a
metodologias entre a teoria e a prática no processo de “reflexão sistemática e
aprendizagem. busca de alternativas para
Claudino Piletti, em seu livro Didática Geral, afirma: “A
os problemas da prática
diferença encontra-se no foco que cada uma apresenta. A
pedagógica”.
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Universidade Metodista de São Paulo
metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os, mas sem emitir juízo
de valor [bom, ruim, eficiente etc.]. A didática expressa juízo de valor, faz uma crítica dos métodos
de ensino, possibilitando ao educador/a fazer escolhas mais adequadas aos objetivos pretendidos”
(PILETTI, 1997, p. 43).
Fundamentos bíblico–teológico–histórico–pastorais das práticas pedagógicas
na comunidade de fé
Quando estudamos os métodos de ensino na Bíblia, observamos de maneira bem evidente duas
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www.metodista.br/ead
O que é dinâmica de grupo?
“A expressão dinâmica de grupo surgiu pela primeira vez num artigo publicado por Kurt Lewin, em
1944, no qual tratava da relação entre teoria e prática em Psicologia Social. Dynamis é uma palavra
grega que significa força, energia e ação. Quando Kurt Lewin utilizou essa expressão e começou a
pesquisar os grupos, seu objetivo era o de ensinar às pessoas comportamentos novos por meio de
dinâmica de grupo, ou seja, pela discussão e decisão em grupo, em substituição ao método tradicional
de transmissão sistemática de conhecimentos.”1
No espaço eclesiástico, as dinâmicas de grupo contribuem para um ensino-aprendizagem que
possibilite vivências. Estas ao serem refletidas e partilhadas, gestam um aprendizado individual e
comunitário. Esse é um exercício de escuta e acolhida do outro, e proporciona a percepção do todo
e das partes, tanto da vida como da realidade que nos cerca.
É muito importante conhecer os passos da dinâmica de grupo para aplicá-la com coerência
metodológica. Perguntas como: aonde se quer chegar?; qual o objetivo e a função da dinâmica dentro
do processo a ser desenvolvido?; devem ser respondidas com clareza neste método.
Qualquer que seja o resultado alcançado com uma dinâmica, ele é o objeto da reflexão e da
aprendizagem, pois dinâmica não tem resultado errado.
No próximo encontro, trataremos de estratégias e técnicas de ensino-aprendizagem.
Referências
ALVES, Rubens. Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas: Papirus, 2000,
p. 19.
CANDAU, Vera Maria Ferrão. A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 2003.
PILETTI, Claudino. Didática geral. São Paulo: Ática, 1997, p. 43.
1
Fonte: < http://www.cvdee.org.br/download/dinamicagrupo.doc > Acesso em: 12 abr. 2007.
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Universidade Metodista de São Paulo
Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
Objetivos
Aprofundar o conhecimento sobre
estratégias e técnicas de ensino-
aprendizagem, dialogar sobre espaços
privilegiados para a educação cristã na
comunidade de fé e discutir o papel
da escola dominical e sua contribuição
para a formação cristã.
Palavras-chave:
Estratégia de ensino; educação
cristã; escola dominical e recursos de
ensino.
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Estratégias e técnicas de ensino
Afinal, o que é isso? Retomando a aula anterior, é importante relembrar que método é a
sistematização da atividade visando ao ensino-aprendizagem. Isso significa que método é o caminho
a seguir para alcançar o alvo.
Portanto, técnica é a operacionalização do método; em outras palavras, é como fazer. São as
opções estratégicas que possibilitam você trilhar o caminho escolhido com eficiência e eficácia. Veja
a seguir alguns exemplos de técnicas de ensino utilizadas nas igrejas.
Dinâmica de grupo
Dinâmica de grupo: como estudamos na lição anterior, o conceito de dinâmica
de grupo como o conhecemos hoje surgiu num artigo publicado por Kurt Lewin,
em 1944. Em Psicologia Social, o grupo é a instância que estabelece a ligação
entre o individual e o coletivo. Neste âmbito, emerge como um conceito que vai
além dos indivíduos que o compõem. Como elementos centrais da definição de
um grupo, pode-se destacar a interdependência funcional entre seus membros,
a partilha de um objetivo comum e a existência de papéis e normas.
Jogo
Jogo: jogos e brincadeiras mostram-se eficazes na promoção da aprendizagem
de conceitos ou habilidades específicas. Essa técnica favorece aspectos do ensino-
aprendizagem, como liberdade de ação do jogador, flexibilidade, relevância do
processo de brincar. O jogo didático fortalece as expressões lúdicas. “O lúdico
é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de
nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta
e toda criação” (Santo Agostinho).
Dramatização
Dramatização: como o nome diz, trata-se da encenação de um problema ou
situação (drama). Pode ser desenvolvida por duas ou mais pessoas, numa situação
hipotética em que os papéis são vividos tal como na realidade. A síntese desses
papéis é um dos aspectos mais importantes do método. Os que encenarão devem
compreender o tipo de pessoa que deve interpretar durante a dramatização. O
resumo do papel deve conter apenas a condição emocional e as atitudes a serem
adotadas, sem detalhes sobre aquilo que deverá ocorrer durante a apresentação.
Esta estratégia torna oportuno que as pessoas “representem” seus problemas
pessoais e, na dramatização, reconheçam a falta de habilidade para lidar com
os outros, podendo aprender a enfrentar seu problema ao vê-lo retratado no
grupo.
Recursos no ensino-aprendizagem
No processo de ensino-aprendizagem, é necessário assegurar os recursos disponíveis para que
esse processo funcione com eficácia. A sensibilidade da pessoa para a aprendizagem se concentra,
principalmente, nos seguintes sentidos: ver, ouvir, falar e fazer. Afirmam que uma pessoa aprende
pouco quando só ouve; aprende um pouco mais quando vê; aprende mais ainda quando ouve e
vê, e o melhor aproveitamento do aprendizado funciona quando a pessoa ouve, vê, fala e faz. Isso
significa que quanto maior o número de sentidos envolvidos no processo de ensino, melhor será a
aprendizagem.
84
Universidade Metodista de São Paulo
Portanto, a seguir listaremos alguns recursos que podem tornar o ensino-aprendizagem, nas
práticas educativas da Igreja, mais eficaz:
a) recursos visuais (quadro): (hoje a maioria é branco ou com giz). Este recurso ainda é muito
utilizado em sala de aula. Por sinal, o que caracteriza uma sala de aula tradicional é a presença de um
quadro. A melhor forma de utilizar um quadro é: Quando se fala não se escreve; Decida a ordem, ou
primeiro fala e depois escreve ou vice-versa. Utilize frases curtas e escreva de forma legível. Cuide
da estética do quadro, permita que as informações fiquem organizadas. Evite ficar de costas para
as pessoas da sala;
b) cartaz: geralmente é preparado antes
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do início da aula. Pode conter frases curtas,
imagens desenhadas ou coladas, gráficos etc.
Pela facilidade de sua confecção (cartolina)
e transporte, é um excelente recurso para
a ação educativa nas pequenas igrejas
que não possuem salas com quadros. Para
melhor aproveitar este recurso, utilize visuais
simples, frases impactantes, e mantenha uma
organização estética entre frases, imagens e O quadro branco e o giz ainda são muitos utilizados em
gráficos; sala de aula.
c) flip-chart (bloco de papel): é possível recorrer a este recurso num ambiente em que não
existe um quadro. Sua confecção é simples. Constrói-se com uma moldura de madeira (eucatex)
que, apoiado num cavalete, assegura uma base firme para as folhas geralmente no formato de 0,70
x 1,00 cm;
d) álbum seriado: quando não é possível uma
apresentação com slides, projetor de data show, esse
recurso resolve bem o problema. Trata-se de uma
coleção de cartazes organizados, que são fixados numa
base de eucatex ou papelão firme e, quando aberto, __________________________________
fica no formato de um telhado. Geralmente, para sua
utilização, coloca-se sobre uma mesa; __________________________________
e) retroprojetor: na maioria das igrejas, esse __________________________________
recurso é muito utilizado, em especial, para projetar
os novos cânticos, nos momentos de louvor do culto. __________________________________
O retroprojetor, em muitos casos, é subutilizado nas
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igrejas, pois se resume à projeção de cânticos. Mas pode
ser mais bem utilizado nas aulas da escola dominical, __________________________________
nos estudos bíblicos e até mesmo nas pregações. Para
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Na maioria das igrejas, o retroprojetor é muito utilizado, em
especial para projetar os novos cânticos nos momento de louvor ____________________________________
do culto.
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Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
A espiritualidade
do culto
Parte 2
Objetivo:
Oferecer uma compreensão
sintética da liturgia procurando
responder às questões: 1ª.
Parte: o que é, por que se faz,
onde se faz, quando se faz; 2ª.
Parte: quem faz, como se faz?
Palavras-chave:
Culto; liturgia; lugar
sagrado; calendário litúrgico e
criatividade litúrgica.
www.metodista.br/ead
Introdução
Na primeira parte desta abordagem, tratamos de investigar o que é, por que se faz, onde se faz
e quando se faz culto. Agora daremos continuidade ao estudo, refletindo sobre quem e como se
faz culto.
À luz dessa reflexão, que lugar devem ter as crianças no culto? Qual a melhor alternativa: tirar a criança
do culto e fazer um cultos à parte para elas? Incluí-las parcialmente, separando-as no momento da
prédica? Procurar incluí-las plenamente dando-lhes oportunidade para participar dos cânticos, orações,
leituras e até tomar parte da pregação, desde que esta leve em conta a presença das crianças?
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A história da humanidade
é celebrada na liturgia __________________________________
da comunidade de fé:
datas cívicas, nacionais e __________________________________
internacionais são motivo
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de referência e intercessão
no culto. ____________________________________
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Também a história da humanidade é celebrada na liturgia da comunidade de fé: datas cívicas,
nacionais e internacionais, são motivo de referência e intercessão no culto. E, finalmente, a história
das pessoas (nascimento, puberdade, casamento, procriação, envelhecimento e morte) também se
constituem em ocasião para a prática celebrativa.
Outro elemento determinante do culto cristão são as atitudes (de corpo, alma e espírito) com as
quais, como povo de Deus, nos apresentamos para adorá-lo:
Tudo que fazemos no culto deve ser feito com “júbilo e com arte” (Sl 33.3). Por essa razão, pode-
se dizer que culto é arte e criatividade, e isso se expressa:
Assim, a estrutura básica da liturgia cristã é trinitária e pressupõe um primeiro momento teológico,
no qual Deus é adorado; um segundo momento cristológico, no qual a memória de Cristo é celebrada
e proclamada; e um terceiro, pneumatológico, no qual, pela ação do Espírito, a comunidade se
compromete com o serviço a Deus e ao próximo. Essa liturgia é construída a partir da ação criativa
da comunidade de fé e compõe-se de atos, ritos, sacramentos, palavra (cantada, lida, proclamada),
gestos, processionais e recessionais etc. A criatividade litúrgica possibilita o recurso à expressão
90
Universidade Metodista de São Paulo
artística de modo geral: a coreografia, que é a arte do movimento; a literatura, a arte da palavra; a
arquitetura, a arte do espaço vazio; a escultura, a arte do volume; a pintura, a arte da cor; a música,
a arte do som; e a controvertida “sétima arte”, o Cinema, que combina as várias artes.
Nesse sentido, uma liturgia estruturada em torno da partilha do Pão e da Palavra, constitui-se
numa forma ideal para todas essas experiências que envolvem integralmente o ser humano — corpo,
alma e espírito.
Referências
ADAM, Adolf. O ano litúrgico: sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica.
Trad. do alemão e adaptações por Mateus Ramalho Rocha; revisão de H. D. São Paulo: Paulinas,
1982.
ALLMEN, J. J. Von. O culto cristão. Trad. Dirson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: Aste,
1968.
FLORISTÁN, C. Teologia practica: teoria y praxis de la accion pastoral. Salamanca: Sígueme,
1993
IGREJA METODISTA. O culto da igreja em missão: carta pastoral do Colégio Episcopal. São
Paulo: Igreja Cedro, 2006.
RAMOS, Luiz Carlos Ramos (Org.). Anuário Litúrgico 2007: Charles Wesley 300 anos. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2007.
SARTORE, D.; TRIACCA, Achille M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992.
WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. Trad. Walter Schlupp. São Leopoldo: Sinodal,
1997.
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Universidade Metodista de São Paulo
Liturgia e práticas pedagógicas-pastorais
Módulo
A música no
contexto da missão
Objetivo
Oferecer uma compreensão
sintética da hinologia cristã,
ressaltando a importância e o
lugar da música e do cântico
litúrgico no culto.
Palavras-chave:
Culto; liturgia; hinologia;
música litúrgica e cântico
litúrgico.
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Introdução
A música tem caráter universal. Se pensarmos em melodia, ritmo e harmonia, elementos nucleares
da expressão musical, podemos constatar que o próprio universo é música. Dizem os cientistas que
as estrelas pulsam, que o cosmo se move harmonicamente, que se se prestar bem atenção, pode-se
ouvir o eco do big-bang.
Banco de imagens
E, segundo os poetas, o próprio Deus é música:
“No princípio era a música, e a música estava com
Deus, e a música era Deus...” (Carlos A. R. Alves).
O fato de que, na narrativa bíblica, ao criar o
mundo, Deus o faz mediante a sua palavra (“Disse
Deus...” Gn 1.3), já é um indício de que nós somos
o resultado de um canto primordial, de um hino
primevo, de uma música divina.
Não é de admirar, então, que se diga que o
cântico em caráter existencial, na medida em que
não somente expressa o “tom” da nossa existência,
como tem a capacidade de sugerir, condicionar e
até mesmo criar diversas condições vitais.
A música tem caráter universal. Se pensarmos em
Um dos mais extensos blocos literários da
melodia, ritmo e harmonia, elementos nucleares
Bíblia, e que ocupa a região central de suas edições da expressão musical, podemos constatar que o
habituais, é o livro dos Salmos. Muito embora se próprio universo é música.
diga que a Bíblia é a Palavra de Deus descida dos céus a nós, particularmente nos Salmos, quem
toma essa palavra é o ser humano orante, que eleva aos céus suas súplicas, suas dores, seus louvores,
suas ações de graça. Sabe-se que a maioria dos salmos se prestava ao canto, particularmente ao
canto congregacional. São canções que inspiram e instruem o povo em suas peregrinações, em suas
celebrações em cultos e em seus momentos devocionais.
As Escrituras Sagradas também falam em hinos, os quais a tradição eclesiástica fez questão
de preservar e, principalmente, entoar. Os hinos, um pouco diferente dos cânticos e dos salmos
mencionados há pouco, apresentam caráter teológico profundo e evidente. Expressam as verdades
eternas, reveladas para o sustento da nossa fé e o louvor da glória de Deus.
Em diferentes épocas da história da Igreja, particularmente durante seus períodos de maior
crescimento e vigor, foram os hinos evangelísticos que deram o ritmo do testemunho e marcaram
o passo do avanço missionário. Tais hinos, de caráter
testemunhal, proclamam, em alto e bom som, as
boas-novas de salvação, e funcionam como arautos
do Evangelho de Jesus, chamado Cristo.
94
Universidade Metodista de São Paulo
Assim, quando uma criança nasce, desde o colo da mãe, é embalada ao som das cantigas de
ninar. Na Igreja, essa criança é recebida com afeto por ocasião do seu batismo que, geralmente, é
acompanhado de significativos cânticos que exclamam: “vinde, meninos/as, vinde a Jesus...”. A criança
ainda não entende o que se diz, nem o significado das letras das canções que lhe entoamos, mas já
reage com evidente expressão de contentamento. Ela não compreende o conceito, mas entende o
sentido: ela é bem-vinda, é amada. A música, nesta fase, é marcada por seu caráter celebrativo.
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inspiração, não mais nas “paradas de sucesso”, mas nas “canções eternas”, naquelas cuja qualidade
estética e significados resistem ao tempo, tal como as pessoas maduras pretendem enfrentar as
vicissitudes da vida.
Finalmente, quando chega a velhice, e as lutas contra as enfermidades ganham proeminência, e
a morte iminente é a única certeza, a música se reveste de especial significado. Muito ao contrário
de serem esquecidas ou descartadas, elas passam a ter força como nunca tiveram. É nessa hora que
aquelas canções ouvidas desde a infância, tais como canções de ninar, de roda, músicas da juventude,
mas principalmente os hinos cantados na Igreja, adquirem força e sentido antes “inimaginados”.
Na hora da dor e da morte, não haveremos de querer aprender cânticos novos, nem de ouvir as
novidades das “paradas de sucesso”. Haveremos, antes, de querer retornar aos hinos da nossa infância
e da infância da nossa fé, porque essas canções são aquelas cujo caráter de consolação e alento nos
ajudará a transpor os últimos limites da nossa existência.
Afinação
A afinação: ora, é evidente que uma música afinada é mais bonita que aquela que é
entoada desafinadamente. Daqui depreende-se que todo esforço para se buscar a afinação,
principalmente no canto congregacional, será justificado. Mas associado ao conceito de
afinação, podemos invocar o compromisso do cantante com aquilo que canta. À medida
que um hino nos venha de um passado, próximo ou longínquo, ele carrega consigo uma
tradição, uma história, uma memória. Sem consciência do passado não há consciência do
presente e, muito menos, perspectiva de futuro. Buscarmos a afinação da nossa fé é ainda
mais importante que buscarmos a afinação das nossas vozes, para que o nosso canto soe
como um louvor e glorifique ao nosso Pai que está nos céus.
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Pulso Dinâmica
O pulso: toda música é concebida a partir A dinâmica: as músicas mais bonitas não
de um contexto cultural e histórico concreto. são aquelas que são entoadas de maneira
Assim, andamento, ritmo, cadência de uma plana, sem coadunação da forma com seu
canção denunciam seu contexto vivencial conteúdo. Se a letra de um hino celebra
(ou, como gostam de dizer os eruditos, seu temas alegres, a dinâmica musical deve
sitz im leben). Rejeitar uma cultura significa ser coerente com isso; se a letra expressa
excluí-la de nossos momentos de intercessão pesar e dor, da mesma forma a dinâmica
e celebração. Assumir o pulso cultural da deve corresponder a essa intenção. Por
nossa terra nada mais é que, a exemplo do isso a música alterna seus movimentos do
Filho de Deus, encarnarmo-nos também nós pianíssimo ao fortíssimo, para que a coerência
em nossa terra e entre nossa gente para que, entre forma e conteúdo seja perfeita. Note-
também aí, se manifestem as obras de Deus se aqui que a tônica é a sincronia entre o
(ver Jo 9.1-3). compromisso de fé expresso pela letra e
o sentimento do executante da melodia.
Não se espera que o compromisso destoe
do sentimento de quem canta. Buscar essa
coerência é tarefa de todos os que, na Igreja
e na vida, cantam sua fé.
Consonância Fermata
A fermata: este é um elemento curioso
A consonância: em música, trata-se do previsto pela teoria musical, porque,
intervalo ou acorde agradável, que gera enquanto a escrita e a notação indicadas
distensão e harmonia. Etimologicamente, nas partituras servem para delimitar sua
o termo refere-se ao ato ou efeito de soar execução dentro de padrões previstos por
concomitantemente. Em muitas ocasiões, seus autores ou arranjadores, quando o sinal
pode-se notar como uma melodia singela indicativo da fermata surge, o resultado
e despretensiosa pode se tornar algo ou efeito do que será executado passa
arrebatador e impressionante pelo efeito a depender inteiramente do executante.
da harmonização. Trata-se de uma arte que Este, sentindo o momento, poderá retardar
exige muito estudo, esforço e talento. Na o ritmo, alongar uma nota, sustentar um
Igreja, quando não há concordância, acordo, acorde, enfim, expressar a intenção do
nem conformidade, não haverá hinologia seu coração, da sua intuição de acordo
que seja consonante. Para que um grupo de com o momento exato em que a música
pessoas entoe harmonias “harmônicas”, é está sendo tocada e/ou cantada. Daqui
preciso que (1) cada um conheça bem a sua resulta que toda partitura é diferentemente
voz; (2) que cada um ouça as demais vozes interpretada não só por diferentes musicistas,
enquanto entoa; (3) que ninguém cante mais instrumentistas, cantores e cantoras, mas
forte, ou mais alto, que os demais; e (4) que que um mesmo musicista ou cantor pode
todos observem as instruções do Maestro, interpretar diferentemente uma mesma
cuja função é fazer surgir, da combinação das música em diferentes ocasiões. Ainda que as
partes, aquela música única e arrebatadora, partituras obedeçam a regras bem definidas,
expressiva e impressionante. haverá sempre uma abertura para aspectos
imponderáveis e imprevisíveis da dinâmica
existencial. Toda música, neste sentido, é um
compromisso com a liberdade.
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Referências
FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão: critérios de seleção a
partir a tensão entre tradição e contemporaneidade. São Leopoldo: Sinodal/Iepg, 2001. (Teses
e Dissertações, 16).
_______. A música na Igreja Evangélica Brasileira. Rio de Janeiro: MK, 2007.
HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil. São Paulo: Aste, 1989.
RAMOS, Luiz Carlos Ramos (Org.). Anuário litúrgico 2007. Charles Wesley 300 anos. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2007.
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