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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ANTE AO IMPACTO TRIBUTÁRIO


BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES - 2013 E DA COPA DO
MUNDO - 2014 - ANÁLISE CONSTITUCIONAL – THE DEMOCRATIC STATE
LAW BEFORE TAX IMPACT THE BRAZILIAN CONFEDERATIONS CUP - 2013
AND THE WORLD CUP - 2014 - CONSTITUTIONAL ANALYSIS
Revista de Direito Brasileira | vol. 3/2012 | p. 127 - 154 | Jul - Dez / 2012
DTR\2012\450702

Antonio Baptista Gonçalves


Doutor e Mestre em Filosofia do Direito - PUC-SP. Especialista em International Criminal
Law: Terrorism's New Wars and ICL's Responses - Istituto Superiore Internazionale di
Scienze Criminali. Especialista em Direito Penal Econômico Europeu pela Universidade de
Coimbra. Pós-graduado em Direito Penal - Teoria dos delitos - Universidade de
Salamanca. Pós-graduado em Direito Penal Econômico e Direito Tributário da Fundação
Getúlio Vargas - FGV. Membro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas. Membro
do Instituto Brasileiro de Direito Tributário. Advogado.

Área do Direito: Constitucional; Tributário


Resumo: O Governo Federal editou um conjunto de normas que instituem o regime
especial no que tange ao conjunto tributário que será aplicado para a Copa das
Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014 ambos organizados pela FIFA. O
presente artigo se propõe a analisar, então, a questão constitucional da isenção fiscal e
mais especificamente do conjunto normativo que cria a isenção fiscal para a Copa das
Confederações de 2013 e para a Copa do Mundo de 2014: A Lei 12.350, de 20.12.2010;
o Dec. 7.758, de 11.10.2011 e a Lei 10.671, de 15.05.2003 e os impactos tributários
delas resultantes no ordenamento jurídico brasileiro em consonância com a Lei 9.615, de
24.03.1998 e o art. 217 da CF/1988. Além de analisar o papel do Estado Democrático de
Direito ante as isenções.

Palavras-chave: Isenção fiscal - Incentivos fiscais - Copa do Mundo.


Abstract: The Federal Government issued a set of rules setting up the special
arrangements with respect to all tax that will apply for the 2013 Confederations Cup and
World Cup 2014 both organized by FIFA. This article aims to analyze, then the
constitutional issue of tax exemption and more specifically the set of rules that creates a
tax exemption for the Confederations Cup 2013 and World Cup 2014: Law 12.350 of
December 20, 2010, Decree 7.758 of October 11, 2011 and Law 10.671 of May 15, 2003
and the impacts tax resulting in the Brazilian legal system in line with Law 9.615 of
March 24, 1998 and Article 217 of the Federal Constitution, 1988. In addition to
examining the role of the democratic state of law before the exemptions.

Keywords: Seal - Incentives tax - World Cup.


Sumário:

- 1. INTRODUÇÃO - 2. O ART. 217 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O FOMENTO AO


DESPORTO - 3. OS INCENTIVOS FISCAIS AO DESPORTO - 4. A ISENÇÃO FISCAL DO
GOVERNO FEDERAL PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES E A COPA DO MUNDO - 5. O
IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES 2013 E DA COPA
DO MUNDO 2014 - 6. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ANTE AO IMPACTO
TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DE 2013 E DA COPA DO
MUNDO DE 2014 - 7. CONCLUSÃO - 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em: 14.07.2012

Aprovado em: 28.08.2012

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1. INTRODUÇÃO

É de conhecimento público que o Brasil foi escolhido como sede de três eventos de
repercussão mundial e com um intervalo de apenas três anos entre eles: a Copa das
Confederações a ser realizada em 2013, a Copa do Mundo a ser realizada em 2014 e as
Olimpíadas a ser realizada em 2016.

Os dois primeiros eventos são relacionados exclusivamente ao futebol e tem como


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organizador a Fifa – Fédération Internationale de Footbal Association. Assim sendo e
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por pressão da mesma entidade, o Governo Federal editou um conjunto de normas
acerca de benefícios e incentivos fiscais visando os eventos de 2013 e 2014.

E sobre estes benefícios que iremos nos ater, em consonância e conformidade, com a
Constituição Federal (LGL\1988\3) vigente. Assim, será necessária uma análise
constitucional sobre o tema, bem como o papel do Estado Democrático de Direito ante a
essas isenções fiscais.

2. O ART. 217 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O FOMENTO AO DESPORTO

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 217:


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“Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um, observados:

I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua


organização e funcionamento;

II – a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto


educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;

III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional;

IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.”

Sobre o dever do Estado relacionado ao esporte explica José Cretella Jr.:

“É direito subjetivo público de cada um, assegurado constitucionalmente, bem como é


dever do Estado, fomentar práticas desportivas, quer formais, submetidas a regras,
incluindo-se as respectivas sanções, quer informais, que não obedecem a ritos ou
preceitos a priori fixados. Nos dois casos, envolvendo a saúde e o bem-estar, físico e
mental, da comunidade, ou ambas as coisas, há interesse público em jogo, pelo que o
Poder Público incentiva as práticas desportivas, quer em clubes esportivos, ou
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associações, quer ao ar livre, em parques e vias públicas para isso reservadas.”

Assim, o direito ao desporto é um dever estabelecido pela Constituição contra o Estado.


A este cabe o dever de incentivar, promover e proteger o desporto.

Além da norma constitucional, a Lei 9.615, de 24.03.1998, também denominada de Lei


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Pelé, determina o mesmo fomento ao esporte através do art. 1.º.

A Lei Pelé, inclusive, tem o zelo de justificar o dever do Estado em fomentar o esporte
por este ser em total consonância com o Estado Democrático de Direito, como prevê o
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art. 2.º.

De tal sorte que ao Estado, leia-se Governo Federal, caberá regulamentar e disciplinar
acerca dos benefícios que envolvem o esporte em conformidade com o art. 56 da Lei
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Pelé.

3. OS INCENTIVOS FISCAIS AO DESPORTO

Como mencionamos, o inc. V do art. 56 da Lei 9.615, de 24.03.1998, possibilita a


mudança tributária vinculada ao esporte:
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“Art. 56. Os recursos necessários ao fomento das práticas desportivas formais e não
formais a que se refere o art. 217 da Constituição Federal (LGL\1988\3) serão
assegurados em programas de trabalho específicos constantes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além dos provenientes de:

(…)

V – incentivos fiscais previstos em lei.”

Ademais, independente dos incentivos a serem criados pelo Poder Público, a Lei 11.438,
de 29.12.2006 estabelece deduções fiscais, dentro de uma data limite, para a as pessoas
físicas ou jurídicas, através do art. 1.º:

Art. 1.º da Lei 11.438/2006. “ A partir do ano-calendário de 2007 e até o ano-calendário


de 2015, inclusive, poderão ser deduzidos do imposto de renda devido, apurado na
Declaração de Ajuste Anual pelas pessoas físicas ou em cada período de apuração,
trimestral ou anual, pela pessoa jurídica tributada com base no lucro real os valores
despendidos a título de patrocínio ou doação, no apoio direto a projetos desportivos e
paradesportivos previamente aprovados pelo Ministério do Esporte”.

Na mesma esteira temos o Dec. 6.180, de 03.08.2007, também denominado de Lei de


incentivo ao esporte, em seu art. 1.º, e a inovação trazida pelas limitações dessas
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deduções através dos parágrafos do mesmo art. 1.º.

Até então cuidamos dos incentivos concedidos pelo Governo Federal no âmbito do
desporto, porém, enquanto desenvolvimento do próprio esporte. Agora iremos tratar do
conjunto de normas que disciplinam e incentivam os benefícios fiscais relacionados à
realização da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014, ambas
organizadas pela FIFA.

4. A ISENÇÃO FISCAL DO GOVERNO FEDERAL PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES E A


COPA DO MUNDO

O Governo Federal editou um conjunto de normas a fim de assegurar benefícios fiscais


para o organizador dos próximos dois eventos de âmbito esportivo internacional: a Copa
das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014.

O objetivo fulcral foi confirmar isenções fiscais para o principal organizador, a FIFA e
seus associados diretos ou indiretos. Então, primeiramente devemos analisar o que vem
a ser uma isenção e como esta se processa no ordenamento.

4.1 Isenção fiscal

Isenção é a exclusão do crédito tributário devido pelo contribuinte. Trata-se de


liberalidade do Estado e a doutrina classifica como um favor legal que isento o
pagamento de um tributo.

Estabelece o art. 175, I, do CTN (LGL\1966\26):

“Art. 175. Excluem o crédito tributário:

I – a isenção.”

Sobre o tema Paulo de Barros Carvalho:

“Clássica é a tese de que a isenção é um favor legal consubstanciado na dispensa do


pagamento do tributo devido. Sensível a reclamos de ordem ética, social, econômica,
política. Financeira etc., a autoridade legislativa desonera o sujeito passivo da obrigação
tributária de cumprir o dever jurídico de recolher o gravame, mediante dispositivo
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expresso em lei.”

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O autor ainda retrata a complexidade do tema, apesar da larga utilização na realidade


tributária brasileira:

“‘Isenções’ sempre foi tema complexo, ainda que intensamente presente na economia
das relações tributárias brasileiras. Seus efeitos liberatórios, suas consequências no
campo negocial, seu perfil de instrumento eficaz para a obtenção de resultados
extrafiscais, entre outros, seriam aspectos relevantes para identificar o instituto como
algo de fácil manejo, sempre à disposição das autoridades que legislam, tendo em vista
calibrar o impacto da percussão dos tributos, atenuando distorções e aperfeiçoando os
microssistemas de incidência. É larga utilização do mecanismo das isenções na tradição
jurídica de nosso país, oferecendo conteúdos amplamente discutidos, quer na esfera dos
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órgãos administrativos, quer nos domínios do Poder Judiciário.”

O interessante acerca da isenção fiscal é que o seu mecanismo é exatamente o mesmo


do poder de tributar do legislador. É necessário o exercício do art. 3.º do CTN
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(LGL\1966\26), isto é, o regramento para a instituição de um tributo deve ser
obedecido, para se for o interesse do Governo isentar a cobrança do mesmo para os
casos elencados na mesma lei.

O processo normativo deve ser cumprido, portanto, necessário será analisar se existe
algum tipo de previsão constitucional acerca da isenção fiscal para, então, se estabelecer
o devido procedimento.

4.2 A isenção fiscal na Constituição Federal

A Constituição Federal (LGL\1988\3) não trata explicitamente do tema, porém, existe


uma série de regramentos constitucionais que permitem construir a possibilidade da
isenção fiscal no ordenamento jurídico nacional.

O primeiro deles é o art. 3.º da CF/1988 (LGL\1988\3) que prevê: a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a
redução das desigualdades sociais e regionais, e, ainda, garantir o desenvolvimento
nacional e promover o bem de todos, sem qualquer discriminação, logo, a instituição de
tributos faz parte desse processo, desde que aplicados com parcimônia e sem
desigualdade entre os contribuintes.

Assim, é necessária a observância do Capítulo VI, Seção II, da Constituição: as


limitações do Poder de tributar, no qual destacamos os arts. 145, § 1.º, 151, 152, e 153.

E se o Estado tem o poder de onerar também o possui para desonerar, isto é, para
conceder isenções através de incentivos fiscais. Por não ser um dispositivo claro na
Constituição, apesar de previsto no Código Tributário, suas regras são subjetivas e
pouco definidas, o que enseja discordância doutrinaria e jurisprudencial sobre o tema.

Não existe nenhuma proibição sobre o tema na Constituição Federal (LGL\1988\3), ao


contrário, sua justificativa está na própria Carta Magna (LGL\1988\3) como forma de se
atingir o corolário do art. 3.º, pois, é necessário se instituir incentivos fiscais para serem
revertidos em benefícios para a própria sociedade.

Aliás, o art. 146, II, da CF/1988 (LGL\1988\3) é expresso:

“Art. 146. Cabe à lei complementar:

(…)

II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar.”

E foi exatamente assim que a isenção fiscal foi instituída, através do art. 175 da Lei
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5.172, de 25.10.1966, que prevê em seu inc. I a isenção tributária. Logo não existe
qualquer irregularidade constitucional acerca da isenção fiscal.

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Resta saber se este fora o caso do conjunto de normas instituídas pelo Poder Público
sobre a Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014.

Normas estas que são exigidas para a validade da própria isenção como afirma Paulo de
Barros Carvalho:

“A isenção tem de ser veiculada por lei. Nem poderíamos imaginá-la, no contexto de sua
fenomenologia, se assim não fosse. Seria aberrante inconstitucionalidade depararmos
com uma regra isencional baixada por decreto do executivo. Di-lo bem o art. 176 do
Código Tributário que a isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre
decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua
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concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.”

É de se presumir que o Governo Federal tenha algum interesse em conceder a isenção


fiscal visto que perderá arrecadação. Então, especificamente sobre o tema isenção fiscal
e a FIFA será necessário verificar quais isenções o Governo concedeu para depois
analisar os impactos tributários de tais medidas.

4.3 A Lei 12.350

Em 20.12.2010 foi editada a Lei 12.350 que teve como objetivo visceral assegurar
isenções fiscais para os eventos relacionados à Copa das Confederações e Copa do
Mundo.

Em verdade, a norma fora editada com a seguinte titulação: Dispõe sobre medidas
tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das Confederações FIFA 2013 e da
Copa do Mundo 2014; promove desoneração tributária de subvenções governamentais
destinadas ao fomento das atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento nas
empresas e da outras providências.

Inicialmente poder-se-ia imaginar que se trata apenas de incentivos ligados à


informática, porém, o legislador abriu uma comporta fiscal para seus anseios reais: “… e
da outras providências”. Ao prever outras possibilidades o legislador abre margem para
isenções não perceptíveis em um primeiro momento e, inclusive, que não possuem
relação alguma com pesquisa tecnológica.

Como já fica explicitado no art. 1.º da Lei 12.350/2010:

“Art. 1.º Esta Lei institui medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa
das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014; promove desoneração
tributária de subvenções governamentais destinadas ao fomento das atividades de
pesquisas tecnológicas e desenvolvimento de inovação tecnológica nas empresas; e dá
outras providências” (grifo nosso).

Assim nos artigos subsequentes o legislador se preocupou em qualificar o organizador –


FIFA, bem como os demais órgãos que serão beneficiários das isenções.

Em um segundo momento começa a destacar as isenções, contudo, de forma mais


restrita a bens ligados à atividade esportiva, alimentos, suprimentos médicos,
combustível, troféus, medalhas, placas, estatuetas, dentre outros elementos todos
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relacionados ao evento esportivo.

E ratifica tal intento de restringir a isenção aos bens atinentes ao evento e ao desporto
em si no art. 4.º, § 1.º, da Lei 12.350/2010:

“Art. 4.º A isenção de que trata o art. 3.º não se aplica à importação de bens e
equipamentos duráveis para os Eventos, os quais poderão ser admitidos no País sob o
Regime Aduaneiro Especial de Admissão Temporária, com suspensão do pagamento dos
tributos incidentes sobre a importação.

§ 1.º O benefício fiscal previsto no caput é aplicável, entre outros, aos seguintes bens
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duráveis:

I – equipamento técnico-esportivo;

II – equipamento técnico de gravação e transmissão de sons e imagens;

III – equipamento médico;

IV – equipamento técnico de escritório; e

V – outros bens duráveis previstos em regulamento.”

Tecnicamente não existe, até o presente momento, qualquer reparo à conduta do


legislador, pois, a preocupação segue sendo o esporte e as isenções a ele ligadas.

No entanto, o cenário se modifica radicalmente a partir do art. 7.º da Lei 12.350/2010,


pois, agora, serão concedidas isenções fiscais não ligadas diretamente ao esporte ou
equipamentos esportivos a pessoas jurídicas:

“Art. 7.º Fica concedida à Fifa isenção, em relação aos fatos geradores decorrentes das
atividades próprias e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos,
dos seguintes tributos federais:

I – impostos:

a) Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF); e

b) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou


Valores Mobiliários (IOF);

II – contribuições sociais:

a) contribuições sociais previstas na alínea a do parágrafo único do art. 11 da Lei 8.212,


de 24 de julho de 1991;

b) contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do


art. 3.º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007, devidas por lei a terceiros, assim
entendidos os fundos públicos e as entidades privadas de serviço social e de formação
profissional;

c) Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e

d) Contribuição para a Cofins-Importação;

III – contribuições de intervenção no domínio econômico:

a) Contribuição para o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o


Apoio à Inovação, instituída pela Lei 10.168, de 29 de dezembro de 2000; e

b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional


(Condecine), instituída pela Medida Provisória 2.228-1, de 6 de setembro de 2001.

§ 1.º A isenção prevista nos incisos I e III do caput aplica-se exclusivamente:

I – aos rendimentos pagos, creditados, entregues, empregados, ou remetidos à Fifa ou


pela Fifa, em espécie ou de outra forma, inclusive mediante o fornecimento de bens ou
prestação de serviços; e

II – às operações de crédito, câmbio e seguro realizadas pela Fifa.”

Ao prever as isenções de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio


econômico o Governo Federal praticamente isentou qualquer tipo de pagamento de
tributo para os organizadores da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo
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de 2014.

Todavia, as “novidades” não param por ai, pois existe uma extensão destes benefícios
para outras entidades que não a própria FIFA, como estabelece o art. 7.º, § 2.º:

Art. 7.º, § 2.º, da Lei 12.350/2010. “O disposto neste artigo aplica-se também às
seguintes pessoas jurídicas não domiciliadas no País:

I – Confederações Fifa;

II – Associações estrangeiras membros da Fifa;

III – Emissora Fonte da Fifa; e

IV – Prestadores de Serviços da Fifa.”

Da mesma forma goza de tais benefícios à subsidiária FIFA no Brasil, conforme o art. 8.º
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da Lei 12.350/2010.

O resultado é que os parceiros da FIFA não contribuirão de forma alguma com o sistema
tributário nacional, pois tudo o que envolve suas transações será considerado isento.

O sistema de isenção somente funciona para as empresas estrangeiras, uma vez que,
em casos de parcerias com empresas nacionais a isenção não se aplica, como resta claro
no art. 7.º, § 6.º, da Lei 12.350/2010:

“Art. 7.º

(…)

§ 6.º O disposto neste artigo não desobriga:

I – a pessoa jurídica domiciliada no País e a pessoa física residente no País que aufiram
renda ou proventos de qualquer natureza, recebidos das pessoas jurídicas de que trata
este artigo, do pagamento do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e do
Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (IRPF), respectivamente, observada a legislação
específica;

II – a pessoa física residente no País que aufira renda ou proventos de qualquer


natureza decorrentes da prestação de serviços à pessoa jurídica de que trata este artigo,
do recolhimento da contribuição previdenciária de que trata o art. 21 da Lei 8.212, de 24
de julho de 1991; e

III – a pessoa jurídica de que trata este artigo de reter e recolher a contribuição
previdenciária dos segurados empregados, prevista no art. 20 da Lei 8.212, de 24 de
julho de 1991.”

Tal previsão legal estabelece que o Poder Público não se incomoda em deixar de
arrecadar com as empresas que organizam direta ou indiretamente a Copa das
Confederações de 2013 ou da Copa do Mundo de 2014, contudo, bem diferente se trata
quando o assunto se volta para a arrecadação dos nacionais, mesmo se ligada aos
eventos em questão, pois aí, o regime tributário é o normal e o Estado uma vez mais
perpetua seu sistema arrecadatório.

A medida denota uma aplicação desbalanceada de medidas no que tange às isenções,


porém, sobre o tema abordaremos de forma mais aprofundada quando do estudo das
implicações das isenções.

4.4 Decreto 7.578

Pouco menos de um ano, em 11.10.2011, o Governo Federal editou o Dec. 7.578.

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O decreto em questão teve como condão apenas ampliar as medidas tributárias iniciadas
com a Lei. 12.350/2010.

Neste decreto se definem quais serão os eventos a serem organizados pela FIFA e seus
parceiros e mais do que isso, quem são os parceiros, conforme o art. 2.º:

“Art. 2.º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:

I – Fédération Internationale de Football Association – Fifa – associação suíça de direito


privado, entidade mundial que regula o esporte de futebol de associação, e suas
subsidiárias, não domiciliadas no Brasil;

II – Subsidiária Fifa no Brasil – pessoa jurídica de direito privado, domiciliada no Brasil,


cujo capital social total pertence à Fifa;

III – Copa do Mundo Fifa 2014 – Comitê Organizador Brasileiro Ltda. – LOC – pessoa
jurídica brasileira de direito privado, reconhecida pela Fifa, constituída com o objetivo de
promover no Brasil a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014,
bem como os Eventos relacionados;

IV – Confederação Brasileira de Futebol – CBF – associação brasileira de direito privado,


sendo a associação nacional de futebol no Brasil;

V – Competições – a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014;

VI – Eventos – as Competições e as seguintes atividades relacionadas às Competições,


oficialmente organizadas, chanceladas, patrocinadas ou apoiadas pela Fifa, pela
Subsidiária Fifa no Brasil, pelo LOC ou pela CBF:

a) os congressos da Fifa, banquetes, cerimônias de abertura, encerramento, premiação e


outras cerimônias, sorteio preliminar, final e quaisquer outros sorteios, lançamentos de
mascote e outras atividades de lançamento;

b) seminários, reuniões, conferências, workshops e coletivas de imprensa;

c) atividades culturais: concertos, exibições, apresentações, espetáculos ou outras


expressões culturais, bem como os projetos Futebol pela Esperança (Football for Hope)
ou projetos beneficentes similares;

d) partidas de futebol e sessões de treino; e

e) outras atividades consideradas relevantes para a realização, organização, preparação,


marketing, divulgação, promoção ou encerramento das Competições.”

Assim se esclarece quem pode se beneficiar das isenções da Lei 12.350/2010 e também
quais serão as atividades a serem exercidas pelos parceiros.

Note que a amplitude segue como marca do legislador, pois, seminários, reuniões,
eventos, banquetes, concertos, apenas para citar alguns, não são eventos precisos e dão
margem ao uso indevido do beneficio fiscal.

De mais a mais é obrigatório à FIFA a apresentação de uma lista com os eventos que
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pretende promover. No entanto, nada impediu o legislador de aplicar uma solução
paliativa para “eventos de emergência”, como o § 2.º do mesmo art. 6.º:

Art. 6.º, § 2.º, do Dec. 7.578/2011. “A inclusão ou exclusão de Eventos, pessoas físicas
ou jurídicas na lista de que trata o caput, poderá ser feita a qualquer tempo, devendo a
lista ser consolidada obrigatoriamente de três em três meses.”

E, para não restar dúvida algum, de quem ou o que o Poder Público isenta do regime
tributário nacional temos o art. 15:
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“Art. 15. A isenção concedida à Fifa, às Confederações Fifa, às Associações estrangeiras


membros da Fifa, à Emissora Fonte da Fifa e aos Prestadores de Serviços da Fifa, não
domiciliados no País, em relação aos fatos geradores decorrentes das atividades próprias
e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos, abrange os seguintes
tributos federais:

I – impostos:

a) Imposto sobre a Renda Retido na Fonte; e

b) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou


Valores Mobiliários – IOF;

II – contribuições sociais:

a) contribuições sociais previstas na alínea “a” do parágrafo único do art. 11 da Lei


8.212, de 24 de julho de 1991;

b) contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do


art. 3.º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007, devidas por lei a terceiros, assim
entendidos os fundos públicos e as entidades privadas de serviço social e de formação
profissional;

c) Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e

d) Cofins-Importação; e

III – contribuições de intervenção no domínio econômico:

a) Contribuição para o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o


Apoio à Inovação, instituída pela Lei 10.168, de 29 de dezembro de 2000; e

b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional –


Condecine, instituída pela Medida Provisória 2.228-1, de 6 de setembro de 2001.

§ 1.º As isenções previstas nos incisos I e III do caput aplicam-se exclusivamente:

I – aos rendimentos pagos, creditados, entregues, empregados, ou remetidos às pessoas


jurídicas citadas no caput ou pelas pessoas jurídicas citadas no caput, em espécie ou de
outra forma, inclusive mediante o fornecimento de bens ou prestação de serviços; e

II – às operações de crédito, de câmbio e de seguro realizadas pelas pessoas jurídicas


citadas no caput.

§ 2.º As isenções previstas nas alíneas c e d do inciso II do caput referem-se apenas à


importação de serviços.”

E como fora feito anteriormente as empresas nacionais não se beneficiam da isenção,


como prevê o art. 15 em seus § § 4.º e 5.º:

“Art. 15.

(…)

§ 4.º A isenção de que trata o caput não alcança:

I – os rendimentos e ganhos de capital auferidos nas operações realizadas no mercado


financeiro e de capitais ou na alienação de bens e direitos; e

II – as operações de câmbio realizadas para ingresso de recursos no País para aplicação


nos mercados financeiros e de capitais e as operações relativas a títulos ou valores
mobiliários que deverão observar o disposto no Decreto 6.306, de 14 de dezembro de
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2007.

§ 5.º O disposto neste artigo não desobriga:

I – a pessoa jurídica domiciliada no País e a pessoa física residente no País que aufiram
renda ou proventos de qualquer natureza, recebidos das pessoas jurídicas de que trata
este artigo, do pagamento do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ e do
Imposto sobre a Renda da Pessoa Física – IRPF, respectivamente, observada a legislação
específica;

II – a pessoa física residente no País que aufira renda ou proventos de qualquer


natureza decorrentes da prestação de serviços às pessoas jurídicas de que trata o caput,
do recolhimento da contribuição previdenciária de que trata o art. 21 da Lei 8.212, de
1991; e

III – as pessoas jurídicas de que trata este artigo de reter e recolher a contribuição
previdenciária dos segurados empregados, prevista no art. 20 da Lei 8.212, de 1991.”

4.5 Lei 12.663

Para completar o sistema normativo acerca da Copa das Confederações de 2013 e da


Copa do Mundo de 2014 o Governo Federal, em 5 de junho de 2012, editou a Lei
12.663.

Inicialmente, a impressão que se tem é de que a Lei em questão nada tem a ver com as
isenções fiscais outrora mencionadas, porém, de posse do conhecimento do sistema
tributário anterior é possível notar a ratificação dos parceiros da FIFA.

O assunto é tratado no art. 2.º, no qual o legislador aproveitou para redefinir o


17
organizador e os membros brasileiros da organização. Ademais ratificou, como já havia
18
feito no Dec. 7.578/2011 quais são os eventos a serem organizados pela FIFA e quem
19
são os parceiros da FIFA ao longo do processo.

Em suma, no âmbito tributário, a Lei 12.663 ratifica todos os atos anteriores já criados.
Então, a vontade do legislador se perpetrou demonstrando o interesse em conceder a
isenção ampla à FIFA e a seus parceiros estrangeiros.

A inovação, esta não na seara tributária, da Lei 12.663 fica por conta de nova isenção,
agora de qualquer pagamento de emolumentos, custas processuais, caução ou
honorários, como reza o art. 53:

“Art. 53. A Fifa, as Subsidiárias Fifa no Brasil, seus representantes legais, consultores e
empregados são isentos do adiantamento de custas, emolumentos, caução, honorários
periciais e quaisquer outras despesas devidas aos órgãos da Justiça Federal, da Justiça
do Trabalho, da Justiça Militar da União, da Justiça Eleitoral e da Justiça do Distrito
Federal e Territórios, em qualquer instância, e aos tribunais superiores, assim como não
serão condenados em custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.”

Assim temos o conjunto completo que regula e concede benefícios e isenções tributárias
específicas para os eventos da Copa das Confederações FIFA 2013 e Copa do Mundo
FIFA de 2014.

Agora, de posse de todas as medidas tributárias e do sistema tributário especialmente


criado para os dois eventos poderemos tratar do impacto que tais isenções trarão para o
cenário tributário nacional.

5. O IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES 2013 E DA


COPA DO MUNDO 2014

Fica claro que existe uma grande isenção fiscal concedida diretamente à FIFA e à FIFA
Brasil.
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O que em nada fica claro é a motivação do Governo Federal para conceder tal benesse,
uma vez que não se trata de uma entidade sem recursos, muito pelo contrário, graças a
contratos impositivos como estes que a entidade FIFA se tornou uma das mais
20
poderosas e ricas do meio esportivo.

Os benefícios não são exclusivos à FIFA ou à FIFA Brasil, mas também às confederações
FIFA, às associações estrangeiras membros da FIFA, à emissora fonte da FIFA e aos
prestadores de serviços da FIFA.

O Poder Público se omite do dever de informar à população que tais isenções foram uma
exigência da FIFA para a realização dos eventos no País e que sem as devidas garantias
o País sede seria sumariamente modificado.

No entanto, o Governo Federal tributa de forma normal e integral as empresas nacionais


que efetuarem relações comerciais com os parceiros da FIFA ou com a própria, logo a
isenção vale para os estrangeiros, aos nacionais o peso da tributação.

Os incentivos foram concedidos por exigência da FIFA, porém não foram estendidos às
empresas nacionais, o que somente denota que o Brasil foi obrigado a ceder às
exigências da FIFA.

Nada mais se trata do que uma venda casada, isto é, a FIFA sorteia faz a promoção do
evento propala aos quatro cantos do Planeta que um dos maiores eventos esportivos do
cenário mundial será celebrado no País tal e depois apresenta a conta de tal escolha.

Se a conta não for aceita, não há problema, a isenção poderá ser obtida em outro lugar
– com a troca da sede – e assim será a regra do jogo.

É inegável que as melhorias sociais e estruturais decorrentes de ambos os eventos


trarão benefícios para a população como um todo, porém, qual será o valor desta conta?
E mais: quem pagará por ela?

O Brasil deixará de arrecadar um erário bem considerável em decorrência de impostos,


contribuições etc. E para piorar: o conto de fadas da Copa do Mundo FIFA 2014 trará um
impacto econômico deveras negativo para o Poder Público, uma vez que os estádios,
reformados e/ou construídos – que foram tão propalados por não conter um único
centavo do Governo –, no final, ao Governo ficará uma parcela bem elevada por conta,
já que a iniciativa privada, até o momento, não se animou com as isenções fiscais
oferecidas pelo Governo.

O Governo Federal desenvolveu pacotes especiais de isenção fiscal para minorar seu
possível prejuízo, como foi o caso da Lei 11.488, de 15.07.2007, que prevê o Regime
21
Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura – Reidi para as
22
pessoas jurídicas que tenham projetos aprovados para a implementação de obras de
infraestrutura nos setores de transporte, portos, saneamento básico e irrigação. Para as
23
empresas aderentes haverá suspensão de PIS/Cofins nas aquisições de máquinas,
aparelhos, instrumentos e equipamentos novos, e de materiais de construção para a
24
utilização ou incorporação em obras de infraestrutura destinadas ao ativo imobilizado.

De início, a iniciativa privada ainda não se animou nem com as isenções acima e nem
25
com as isenções fiscais previstas nos arts. 17 e 18 da Lei 12.350/2010, e mais
26
especificamente no art. 19 ao elencar quais tributos terão o regime especial.

Não será, portanto, surpresa alguma se a injeção de dinheiro público se tornar


obrigatória para a conclusão das reformas e/ou construção dos estádios para a Copa das
Confederações Fifa 2013 e Copa do Mundo Fifa 2014, bem como para a implementação e
modernização da infraestrutura necessária para garantir eventos desse porte.

A bem da verdade o Governo Federal da época deve ter considerado que a realização
desses dois eventos e depois, na sequencia das Olimpíadas, iriam erradicar boa parte
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dos problemas sociais de nosso País.

E o resultado não será nem de longe verdadeiro, pois, tais eventos não trarão
incrementos na saúde ou na educação do Brasil, ou em setores carentes da sociedade.

Momentaneamente teremos ocasiões ou falsas impressões de segurança que logo se


dissiparão com o término dos eventos em questão. Já no âmbito cultural, ai sim
inegável, haverá uma contribuição para o incremento da cultura do País, porém, de nada
adiantará ante a defasagem educacional enfrentada por nossas crianças na rede pública
de ensino.

Assim, uma vez mais o Estado brasileiro falha com a sua premissa basilar: ser um
Estado Democrático de Direito. O primado fundamental dos arts. 1.º e 3.º da CF/1988
27 28
(LGL\1988\3) - fica relegado ao esquecimento.

É dever do Estado investir em educação, saúde, segurança, cidadania, cultura e não será
um evento esportivo que irá dirimir as mazelas do mau tratamento do Sistema Único de
Saúde – SUS, a insegurança pela violência e criminalidade em nosso País, tampouco,
reduzirá a desigualdade de ensino entre a rede pública e as entidades privadas.

O fato é que os eventos irão ocorrer, o Brasil terá um ganho indireto, pois, se beneficiará
dos turistas que aqui estarão para acompanhar os eventos, porém, o erário total
arrecadado dificilmente recuperará a monta total investida em infraestrutura e demais
exigências da FIFA para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do
Mundo em 2014.

6. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ANTE AO IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO


DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DE 2013 E DA COPA DO MUNDO DE 2014

Não é objeto deste artigo definir o que vem a ser Estado Democrático de Direito,
contudo, algumas premissas fundamentais não podem deixar de serem explicitadas.

A primeira delas é o objetivo do Estado Democrático Brasileiro como determina a


Constituição Federal (LGL\1988\3) em seu art. 3.º: a construção de uma sociedade livre,
justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das
desigualdades sociais e regionais, e, ainda, garantir o desenvolvimento nacional e
promover o bem de todos, sem qualquer discriminação.

Ademais indispensável se faz a complementação do Preâmbulo da Carta Magna


(LGL\1988\3): (…) um Estado Democrático de Direito, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social.

Assim, podemos destacar que é função do Estado desenvolver os mecanismos


necessários para assegurar a harmonia social e as mesmas condições de existência para
todos os membros da sociedade. E quando não houver condições econômicas para se
pagar por educação, saúde e segurança será dever do Estado fornecê-las a seus
cidadãos.

Rogério Vidal Gandra da Silva Martins:

“O Estado presta serviços atendendo à necessidade coletiva direta, quando esta


necessidade é imprescindível para a coletividade, ou seja, o serviço prestado atinge
diretamente a sociedade. Isto ocorre quando o Estado atua na ordem econômica e
social. São necessidades permanentes da coletividade e não apenas quando houver
distúrbios, como no caso das necessidades coletivas indiretas. Exemplos: transportes,
29
correio, petróleo, educação, previdência sócia etc.”

Claro que nada existe sem custos e o Estado tampouco pode prover as necessidades da
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população sem receitas, portanto, a arrecadação de tributos se faz necessária para


instituir os direitos elencados acima. O Estado Social é viabilizado pelo Estado Fiscal.

Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco:

“A construção do Estado Democrático de Direito, anunciado pelo art. 1.º, passa por
custos e estratégias que vão além da declaração de direitos. Não há Estado Social sem
que haja também Estado Fiscal, são como duas faces da mesma moeda. Se todos os
direitos fundamentais têm, em alguma medida, uma dimensão positiva, todos implicam
30
custos.”

De tal sorte que o Estado não pode investir em todas e quaisquer necessidades da
população, porém, os preceitos básicos são obrigatórios em termos de investimentos
pelo Estado Democrático de Direito sob pena de vilipendio da dignidade da pessoa
humana, primado constitucional previsto e protegido através do art. 1.º, III, da CF/1988
(LGL\1988\3).

Ingo Wolfgang Sarlet:

“Os direitos fundamentais integram, portanto, ao lado da definição da forma de Estado,


do sistema de governo e da organização do Poder, a essência do Estado Constitucional,
constituindo, neste sentido, não apenas parte da Constituição formal, mas também
elemento nuclear da Constituição material. Para além disso, estava definitivamente
consagrada a íntima vinculação entre as ideias de Constituição, Estado de Direito e
31
direitos fundamentais.”

Então, se o Estado não possui recursos para investir em todas as carências sócias é de
se esperar que, ao menos, em educação, saúde e segurança o foco seja absoluto.
Porém, não é assim que a realidade brasileira se configura.

O Estado Democrático de Direito brasileiro é falho e coloca a população em condições


degradantes em termos de saúde com filas para atendimentos, ausência de leitos etc.
Da mesma forma temos um ensino público precário com deficiências crônicas
comprometendo o futuro das gerações vindouras de nosso País.

No entanto, o Governo Federal possui recursos para investir não nos primados
fundamentais, mas em outros – digam-se de passagem também importantes – porém,
sem a mesma equivalência da erradicação da pobreza, do analfabetismo, de condições
adequadas de saúde etc.

Então, o impacto ao Estado Democrático de Direito com a isenção fiscal à FIFA e seus
associados impactará diretamente no cenário social nacional, pois, se investir em
infraestrutura é necessário, ampliar a rede hoteleira, ampliar os aeroportos, melhorar o
fornecimento de energia, também, igualmente o é a ampliação de hospitais, construção
de novas unidades, reforma no ensino e tudo o mais que for necessário para garantir e
efetivar a dignidade da pessoa humana.

Os direitos fundamentais são a acepção mais clara do Estado Democrático de Direito


como elemento mediador e regulador das vontades e liberdades individuais na defesa do
convívio coletivo.

Nesse sentido José Joaquim Gomes Canotilho:

“A força dirigente dos direitos fundamentais a prestações (económicos, sociais e


culturais) inverte, desde logo, o objecto clássico da pretensão jurídica fundada num
direito subjectivo: de uma pretensão de omissão dos Poderes Públicos (direito a exigir
que o Estado se abstenha de interferir nos direitos, liberdades e garantias) transita-se
para uma proibição de omissão (direito a exigir que o Estado intervenha activamente no
32
sentido de assegurar prestações aos cidadãos).”

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A dificuldade é o Estado compreender e aceitar o seu papel de garante e efetivador desta


norma fundamental, pois cabe a ele inserir e assegurar a norma jurídica na realidade
social.

Não é função fundamental e precípua do Estado Democrático de Direito organizar Copa


do Mundo, Copa das Confederações, Olimpíadas, ou seja, lá que outro tipo de
entretenimento for enquanto a base necessária não estiver garantida ao cidadão!

As consequências práticas dos eventos não irão suprir as deficiências e carências nos
setores essenciais da realidade brasileira. É necessário um sopesamento de interesses, o
que é mais importante para a sociedade. E neste esteio o esporte e seus derivados não
estão no topo das necessidades.

7. CONCLUSÃO

A Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014 ambas organizadas pela
FIFA ocorrerão em solo brasileiro e com elas uma série de modificações será feita no
sistema tributário brasileiro. Tudo para garantir a arrecadação da FIFA e de seus
parceiros internacionais com a organização dos eventos.

De tal sorte que caberá ao Brasil arcar com a ausência da arrecadação tributária em
decorrência das isenções concedidas a FIFA e seus parceiros através das Leis
12.350/2010 e 12.663/2012 e do Dec. 7.578/2011.

Além disso, serão construídos estádios para os eventos que dificilmente serão utilizados
após a realização dos mesmos, como o caso de Natal, Manaus, dentre outros.

E o impacto das isenções não para por ai, uma vez que além de não arrecadar um único
centavo em decorrência da organização dos dois eventos o Governo Federal e, em última
instância, leia-se a toda população brasileira caberá ao pagamento dos investimentos em
infraestrutura, segurança, construção e/ou reforma dos estádios e tudo o mais que for
necessário para a realização dos eventos da FIFA.

Ademais, investimentos em infraestrutura serão necessários em vários ramos como:


construção civil, energia, turismo, publicidade, alimentação, rede hoteleira, aeroportos,
hospitais etc. E haverá um ganho, porém este se estenderá para toda a população
brasileira após estes eventos ou serão soluções emergenciais?

Em verdade o Governo Federal prepara um novo pacote de isenções fiscais, nos mesmos
moldes usados para a construção civil, para repartir os prejuízos com a iniciativa privada
nos setores carentes e, portanto, para assegurar a minoração das perdas públicas e, por
conseguinte, a concretização dos eventos da FIFA.

Assim, temos duas possibilidades: os incentivos fiscais à iniciativa privada surtirem


efeito e o Governo não gastar tanto com infraestrutura ou a segunda possibilidade que é
o investimento público em todos os setores necessários.

De tal sorte que o espólio da Copa das Confederações e da Copa do Mundo poderá ser
muito positivo por um lado, pois ampliará a estrutura nacional em termos aéreos,
energéticos, turísticos, hoteleiros. Porém, o legado para a população brasileira além de
duvidoso (no caso da utilização dos estádios) não acrescentará muita coisa nos já
conhecidos problemas estruturais nacionais e na ausência de investimento em educação,
saúde, minoração das desigualdades, erradicação da pobreza, apenas para citar alguns
dos deveres do Estado Democrático de Direito.

As Copas das Confederações e do Mundo propiciarão a integração dos povos, o incentivo


à cultura e uma união social.

É excelente sediar uma Copa do Mundo, mas a que preço? O dinheiro gasto para o
evento se investido nos setores carentes do Brasil teriam um retorno a longo prazo
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muito mais impactante do que a alegria esportiva momentânea de um País.

Enfim, a FIFA sairá mais rica, o Governo mais pobre e a população seguirá com as suas
carências e mazelas. Sinceramente e de forma racional o Brasil fez bonito apenas para
inglês ver, como já dizia o ditado.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei 9.615, de 24.03.1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras
providências. Brasília: Diário Oficial da União, 25.03.1998.

______. Lei 10.671, de 15.05.2003. Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor e dá


outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 16.05.2003.

______. Lei 11.438, de 29.12.2006. Dispõe sobre incentivos e benefícios para fomentar
as atividades de caráter desportivo e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da
União, 29.12.2006.

______. Lei 11.488, de 15.06.2007. Cria o Regime Especial de Incentivos para o


Desenvolvimento da Infraestrutura – Reidi; reduz para 24 (vinte e quatro) meses o
prazo mínimo para utilização dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins decorrentes da
aquisição de edificações; amplia o prazo para pagamento de impostos e contribuições e
dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 16.06.2007.

______. Dec. 6.180, de 03.08.2007. Regulamenta a Lei 11.438, de 29.12.2006, que


trata dos incentivos e benefícios para fomentar as atividades de caráter desportivo.
Brasília: Diário Oficial da União, 06.08.2007.

______. Lei 12.350, de 20.12.2010. Dispõe sobre medidas tributárias referentes à


realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa
2014; promove desoneração tributária de subvenções governamentais destinadas ao
fomento das atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação
tecnológica nas empresas e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União,
21.12.2010.

______. Dec. 7.578, de 11.10.2011. Regulamenta as medidas tributárias referentes à


realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa
2014 de que trata a Lei 12.350, de 20.12.2010. Brasília: Diário Oficial da União,
13.10.2011.

______. Lei 12.663, de 05.06.2012. Dispõe sobre as medidas relativas à Copa das
Confederações Fifa 2013, à Copa do Mundo Fifa 2014 e à Jornada Mundial da Juventude
– 2013, que serão realizadas no Brasil; altera as Leis 6.815, de 19.08.1980, e 10.671,
de 15.05.2003; e estabelece concessão de prêmio e de auxílio especial mensal aos
jogadores das seleções campeãs do mundo em 1958, 1962 e 1970. Brasília: Diário
Oficial da União, 06.06.2012.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador.


Coimbra: Coimbra Ed., 1994.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.

______. Direito tributário, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008.

CRETELLA JR., José. Comentários à Constituição de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1993.

MARTINS, Rogério Vidal Gandra da Silva. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; Passos,
Fernando (orgs.). Manual de iniciação ao direito. São Paulo: Pioneira, 1999.
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MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional
. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998.

1 O legislador reiteradamente adota nos textos legais a denominação Fifa, porém, o


nosso entendimento é que a abreviação de Fédération Internationale de Football
Association não pode ser grafada desta forma. Então, adotaremos a forma que
entendemos como correta: FIFA.

2 Em verdade a FIFA condicionou o Brasil como sede da Copa das Confederações e da


Copa do Mundo à assinatura do contrato que garantiria as isenções fiscais não apenas à
FIFA, mas também, a seus parceiros comerciais estrangeiros.

3 Desporto é vocábulo antigo e clássico, na língua vernácula, tendo o sentido de


“divertimento”, “recreação”, “deporte” (Antônio de Moraes e Silva). Goes, nas crônicas
Manuelinas, citado por Moraes e Silva, abona o termo com a proposição “Reservando
algumas coitadas para desporto del Rei”. O vocábulo esporte é oriundo do inglês Sport. É
anglicismo, mas anglicismo “de cabelos brancos”, que entrou há muito para a língua
nacional. Ressuscitar desporto é agora verdadeiro anacronismo, inexpressivo para a
geração atual. Os franceses usam sem constrangimento o vocábulo Sport, que admitem
ser inglês, e abandonam a forma antiga e clássica desport, incorporando à língua o
expressivo anglicismo, correntemente utilizado. Pruridos linguísticos do legislador
constituinte trazem para o texto o deselegante desporto, que ninguém emprega, ao lado
desportivo, derivado do nome obsoleto. CRETELLA JR., José. Comentários à Constituição
de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993, p. 4480.

4 CRETELLA JR., José. Op. cit., p. 4481.

5 Art. 1.º da Lei 9.615/1998. “ O desporto brasileiro abrange práticas formais e não
formais e obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos
constitucionais do Estado Democrático de Direito.
§ 1.º A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e
pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas
entidades nacionais de administração do desporto.

§ 2.º A prática desportiva não formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus
praticantes”.

6 Art. 2.º da Lei 9.615/1998. “O desporto, como direito individual, tem como base os
princípios:
I – da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática
desportiva;

II – da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas


organizarem-se para a prática desportiva;

III – da democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas


sem quaisquer distinções ou formas de discriminação;

IV – da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e


interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor;

V – do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas


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desportivas formais e não formais;

VI – da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto


profissional e não profissional;

VII – da identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações


desportivas de criação nacional; VIII – da educação, voltado para o desenvolvimento
integral do homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da
prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

IX – da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e


dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral;

X – da descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos


de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual,
distrital e municipal;

XI – da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto


a sua integridade física, mental ou sensorial;

XII – da eficiência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e


administrativa.”

7 Art. 56 da Lei 9.615/1998. “Os recursos necessários ao fomento das práticas


desportivas formais e não formais a que se refere o art. 217 da Constituição Federal
(LGL\1988\3) serão assegurados em programas de trabalho específicos constantes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além dos
provenientes de:
I – fundos desportivos;

II – receitas oriundas de concursos de prognósticos;

III – doações, patrocínios e legados;

IV – prêmios de concursos de prognósticos da Loteria Esportiva Federal não reclamados


nos prazos regulamentares;

V – incentivos fiscais previstos em lei;

VI – dois por cento da arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias


federais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se
este valor do montante destinado aos prêmios;

VII – outras fontes;

VIII – 1/6 (um sexto) dos recursos destinados ao Ministério dos Esportes a que se refere
o inciso II do art. 6.º desta Lei, calculado após deduzida a fração prevista no § 2.º do
referido artigo.”

8 Art. 1.º do Dec. 6.180/2007. “(…) § 1.º As deduções de que trata o caput ficam
limitadas:
I – relativamente à pessoa jurídica, a 1% (um por cento) do imposto devido, observado
o disposto no § 4.º do art. 3.º da Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995, em cada
período de apuração;

II – relativamente à pessoa física, a 6% (seis por cento) do imposto devido na


declaração de ajuste anual, conjuntamente com as deduções de que trata o art. 22 da
Lei 9.532, de 10 de dezembro de 1997.

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§ 2.º As pessoas jurídicas não poderão deduzir os valores de que trata o caput para fins
de determinação do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido – CSLL.

§ 3.º Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros benefícios
fiscais e deduções em vigor.

§ 4.º Não são dedutíveis os valores destinados a patrocínio ou doação em favor de


projetos que beneficiem, direta ou indiretamente, pessoa física ou jurídica vinculada ao
doador ou patrocinador.

§ 5.º Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador:

I – a pessoa jurídica da qual o patrocinador ou o doador seja titular, administrador,


gerente, acionista ou sócio, na data da operação ou nos 12 (doze) meses anteriores;

II – o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do


patrocinador, do doador ou dos titulares, administradores, acionistas ou sócios de
pessoa jurídica vinculada ao patrocinador ou ao doador, nos termos do inciso I deste
parágrafo; e

III – a pessoa jurídica coligada, controladora ou controlada, ou que tenha como titulares,
administradores acionistas ou sócios alguma das pessoas a que se refere o inciso II
deste parágrafo.”

9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 517.

10 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. São Paulo:


Noeses, 2008. p. 518.

11 Art. 3.º do CTN (LGL\1966\26). “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em


moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.”

12 A lei que instituiu o Código Tributário Nacional (LGL\1966\26).

13 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito… cit., p. 530-531.

14 Art. 3.º da Lei 12.350/2010. “Fica concedida, nos termos, limites e condições
estabelecidos em ato do Poder Executivo, isenção de tributos federais incidentes nas
importações de bens ou mercadorias para uso ou consumo exclusivo na organização e
realização dos Eventos, tais como:
I – alimentos, suprimentos médicos, inclusive produtos farmacêuticos, combustível e
materiais de escritório;

II – troféus, medalhas, placas, estatuetas, distintivos, flâmulas, bandeiras e outros


objetos comemorativos;

III – material promocional, impressos, folhetos e outros bens com finalidade semelhante,
a serem distribuídos gratuitamente ou utilizados nos Eventos;

IV – bens dos tipos e em quantidades normalmente consumidos em atividades


esportivas da mesma magnitude; e

V – outros bens não duráveis, assim considerados aqueles cuja vida útil seja de até 1
(um) ano.

§ 1.º A isenção de que trata este artigo abrange os seguintes impostos, contribuições e
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taxas:

I – Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente no desembaraço aduaneiro;

II – Imposto de Importação;

III – Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio


do Servidor Público incidente sobre a importação (PIS/Pasep-Importação);

IV – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social incidente sobre a


importação de bens e serviços (Cofins-Importação);

V – Taxa de utilização do Siscomex;

VI – Taxa de utilização do Mercante;

VII – Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM); e

VIII – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação


de combustíveis.

§ 2.º O disposto neste artigo aplica-se somente às importações promovidas pela Fifa,
Subsidiária Fifa no Brasil, Confederações Fifa, Associações estrangeiras membros da Fifa,
Parceiros Comerciais da Fifa domiciliados no exterior, Emissora Fonte da Fifa e
Prestadores de Serviço da Fifa domiciliados no exterior, que serão discriminados em ato
do Poder Executivo, ou por intermédio de pessoa física ou jurídica por eles contratada
para representá-los, observados os requisitos estabelecidos pela Secretaria da Receita
Federal do Brasil.

§ 3.º As importações efetuadas na forma deste artigo não darão, em nenhuma hipótese,
direito a crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

§ 4.º A isenção concedida neste artigo será aplicável, também, a bens duráveis de que
trata o art. 4.º cujo valor unitário, apurado segundo as normas do artigo VII do Acordo
Geral Sobre Tarifas e Comércio – Gatt 1994, seja igual ou inferior a R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), nos termos, limites e condições estabelecidos em regulamento.”

15 Art. 8.º da Lei 12.350/2010. “Fica concedida à Subsidiária Fifa no Brasil, em relação
aos fatos geradores decorrentes das atividades próprias e diretamente vinculadas à
organização ou realização dos Eventos, isenção dos seguintes tributos federais:
I – impostos:

a) IRPJ;

b) IRRF;

c) IOF; e

d) IPI, na saída de produtos importados do estabelecimento importador da Fifa no Brasil;

II – contribuições sociais:

a) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);

b) Contribuição para o PIS/Pasep e PIS/Pasep-Importação;

c) Cofins e Cofins-Importação;

d) contribuições sociais previstas na alínea a do parágrafo único do art. 11 da Lei 8.212,


de 24 de julho de 1991; e
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Resultados da Pesquisa

e) contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do


art. 3.º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007, devidas por lei a terceiros, assim
entendidos os fundos públicos e as entidades privadas de serviço social e de formação
profissional;

III – contribuições de intervenção no domínio econômico:

a) Contribuição para o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o


Apoio à Inovação, instituída pela Lei n. 10.168, de 29 de dezembro de 2000; e

b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional


(Condecine), instituída pela Medida Provisória n. 2.228-1, de 6 de setembro de 2001.

§ 1.º A isenção prevista nas alíneas a, b e c do inciso I, na alínea a do inciso II e no


inciso III do caput aplica-se exclusivamente:

I – às receitas, lucros e rendimentos auferidos por Subsidiária Fifa no Brasil,


excluindo-se os rendimentos e ganhos de capital auferidos em operações financeiras ou
alienação de bens e direitos;

II – aos rendimentos pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos pela


Subsidiária Fifa no Brasil ou para Subsidiária Fifa no Brasil, em espécie ou de outra
forma, inclusive mediante o fornecimento de bens ou prestação de serviços; e

III – às operações de crédito, câmbio e seguro realizadas por Subsidiária Fifa no Brasil.”

16 Art. 6.º do Dec. 7.578/2011: “A Fifa ou Subsidiária Fifa no Brasil deverá apresentar,
na forma disciplinada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, lista dos Eventos e
das pessoas físicas e jurídicas passíveis de serem beneficiadas pelo disposto neste
Decreto”.

17 Art. 2.º da Lei 12.663/2012. “Para os fins desta Lei, serão observadas as seguintes
definições:
I – Fédération Internationale de Football Association – Fifa – associação suíça de direito
privado, entidade mundial que regula o esporte de futebol de associação, e suas
subsidiárias não domiciliadas no Brasil;

II – Subsidiária Fifa no Brasil – pessoa jurídica de direito privado, domiciliada no Brasil,


cujo capital social total pertence à Fifa;

III – Copa do Mundo Fifa 2014 – Comitê Organizador Brasileiro Ltda. – LOC: pessoa
jurídica de direito privado, reconhecida pela Fifa, constituída sob as leis brasileiras com o
objetivo de promover a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014,
bem como os eventos relacionados;

IV – Confederação Brasileira de Futebol (CBF): associação brasileira de direito privado,


sendo a associação nacional de futebol no Brasil.”

18 Art. 2.º do Dec. 7.578/2011: “V – Competições – a Copa das Confederações Fifa


2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014;
VI – Eventos – as Competições e as seguintes atividades relacionadas às Competições,
oficialmente organizadas, chanceladas, patrocinadas ou apoiadas pela Fifa, pela
Subsidiárias Fifa no Brasil, pelo LOC ou pela CBF:

a) os congressos da Fifa, banquetes, cerimônias de abertura, encerramento, premiação e


outras cerimônias, sorteio preliminar, final e quaisquer outros sorteios, lançamentos de
mascote e outras atividades de lançamento;

b) seminários, reuniões, conferências, workshops e coletivas de imprensa;


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Resultados da Pesquisa

c) atividades culturais, concertos, exibições, apresentações, espetáculos ou outras


expressões culturais, bem como os projetos Futebol pela Esperança (Football for Hope)
ou projetos beneficentes similares;

d) partidas de futebol e sessões de treino; e

e) outras atividades consideradas relevantes para a realização, organização, preparação,


marketing, divulgação, promoção ou encerramento das Competições.”

19 Art. 2.º do Dec. 7.578/2011: “VII – Confederações Fifa – as seguintes confederações:


a) Confederação Asiática de Futebol (Asian Football Confederation – AFC);

b) Confederação Africana de Futebol (Confédération Africaine de Football – CAF);

c) Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Confederation of


North, Central American and Caribbean Association Football – Concacaf);

d) Confederação Sul-Americana de Futebol (Confederación Sudamericana de Fútbol –


Conmebol);

e) Confederação de Futebol da Oceania (Oceania Football Confederation – OFC); e

f) União das Associações Europeias de Futebol (Union des Associations Européennes de


Football – Uefa);

VIII – Associações estrangeiras membros da Fifa – as associações nacionais de futebol


de origem estrangeira, oficialmente afiliadas à Fifa, participantes ou não das
Competições;

IX – Emissora Fonte da Fifa – pessoa jurídica licenciada ou autorizada, com base em


relação contratual, para produzir o sinal e o conteúdo audiovisual básicos ou
complementares dos Eventos com o objetivo de distribuição no Brasil e no exterior para
os detentores de direitos de mídia;

X – Prestadores de Serviços da Fifa – pessoas jurídicas licenciadas ou autorizadas, com


base em relação contratual, para prestar serviços relacionados à organização e à
produção dos Eventos:

a) como coordenadores da Fifa na gestão de acomodações, de serviços de transporte, de


programação de operadores de turismo e dos estoques de ingressos;

b) como fornecedores da Fifa de serviços de hospitalidade e de soluções de tecnologia da


informação; e

c) outros prestadores de serviço ou fornecedores de bens, nos termos do Anexo a este


Decreto;

XI – Parceiros Comerciais da Fifa – pessoa jurídica licenciada ou nomeada com base em


qualquer relação contratual, em relação aos Eventos, bem como os seus subcontratados,
para atividades relacionadas aos Eventos, excetuando-se as entidades referidas nos
incisos III, IV e VII a X.”

20 E ainda sim a entidade se vê as voltas com escândalos de corrupção de seus


membros que não chegam a ser esclarecidos a contento para a população.

21 Art. 1.º da Lei 11.488/2007. “Fica instituído o Regime Especial de Incentivos para o
Desenvolvimento da Infraestrutura – Reidi, nos termos desta lei.”

22 Art. 2.º da Lei 11.488/2007. “É beneficiária do Reidi a pessoa jurídica que tenha
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Resultados da Pesquisa

projeto aprovado para implantação de obras de infraestrutura nos setores de


transportes, portos, energia, saneamento básico e irrigação.”

23 Art. 3.º da Lei 11.488/2007. “No caso de venda ou de importação de máquinas,


aparelhos, instrumentos e equipamentos, novos, e de materiais de construção para
utilização ou incorporação em obras de infraestrutura destinadas ao ativo imobilizado,
fica suspensa a exigência:
I – da Contribuição para o Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio
do Servidor Público PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social – Cofins incidentes sobre a venda no mercado interno quando os referidos bens ou
materiais de construção forem adquiridos por pessoa jurídica beneficiária do Reidi;

II – da Contribuição para o PIS/Pasep importação e da Cofins-Importação quando os


referidos bens ou materiais de construção forem importados diretamente por pessoa
jurídica beneficiária do Reidi.”

24 Art. 3.º, § 2.º, da Lei 11.488/2007. “As suspensões de que trata este artigo
convertem-se em alíquota 0 (zero) após a utilização ou incorporação do bem ou material
de construção na obra de infraestrutura.”

25 Art. 17 da Lei 12.350/2010. “Fica instituído o Regime Especial de Tributação para


Construção, Ampliação, Reforma ou Modernização de Estádios de Futebol (Recopa).”
§ 1.º O Recopa destina-se à construção, ampliação, reforma ou modernização de
estádios de futebol com utilização prevista nas partidas oficiais da Copa das
Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014, nos termos estabelecidos por
esta Lei.

Art. 18 da Lei 12.350/2010. “É beneficiária do Recopa a pessoa jurídica que tenha


projeto aprovado para construção, ampliação, reforma ou modernização dos estádios de
futebol com utilização prevista nas partidas oficiais da Copa das Confederações Fifa 2013
e da Copa do Mundo Fifa 2014, nos termos do Convênio ICMS 108, de 26 de setembro
de 2008.”

26 Art. 19 da Lei 12.350/2010. “No caso de venda no mercado interno ou de importação


de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos novos e de materiais de
construção para utilização ou incorporação no estádio de futebol de que trata o caput do
art. 18, ficam suspensos:
I – a exigência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre a receita da pessoa jurídica vendedora,
quando a aquisição for efetuada por pessoa jurídica beneficiária do Recopa;

II – a exigência da Contribuição para o PIS/Pasep importação e da Contribuição para a


Seguridade Social devida pelo Importador de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior
(Cofins-Importação), quando a importação for efetuada por pessoa jurídica beneficiária
do Recopa;

III – o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na saída do


estabelecimento industrial ou equiparado, quando a aquisição no mercado interno for
efetuada por pessoa jurídica beneficiária do Recopa;

IV – o IPI incidente na importação, quando a importação for efetuada por pessoa jurídica
beneficiária do Recopa; e

V – o Imposto de Importação (II), quando os referidos bens ou materiais de construção


forem importados por pessoa jurídica beneficiária do Recopa.”

27 Art. 1.º da CF/1988 (LGL\1988\3). “A República Federativa do Brasil, formada pela


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Resultados da Pesquisa

união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado


Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.”

28 Art. 3.º da CF/1988 (LGL\1988\3). “Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e


regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.”

29 MARTINS, Rogério Vidal Gandra da Silva. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva;
PASSOS, Fernando (orgs.). Manual de iniciação ao direito. São Paulo: Pioneira, 1999. p.
346.

30 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito


constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1451.

31 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1998. p. 61-62.

32 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador.


Coimbra: Coimbra Ed., 1994. p. 365.

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Resultados da Pesquisa

O IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES


-–2013 E DA COPA DO MUNDO – 2014
Revista Tributária e de Finanças Públicas | vol. 105/2012 | p. 13 - 32 | Jul - Ago / 2012
DTR\2012\450479

Antonio Baptista Gonçalves


Doutor e Mestre em Filosofia do Direito pela PUC-SP. Especialista em International
Criminal Law: Terrorism's New Wars and ICL's Responses pelo Istituto Superiore
Internazionale di Scienze Criminali e em Direito Penal Econômico Europeu pela
Universidade de Coimbra. Pós-graduado em Direito Penal - Teoria dos Delitos pela
Universidade de Salamanca e em Direito Penal Econômico e Direito Tributário pela FGV.
Membro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas e do Instituto Brasileiro de
Direito Tributário. Advogado.

Área do Direito: Tributário


Resumo: O Governo Federal editou um conjunto de normas que instituem o regime
especial no que tange ao conjunto tributário que será aplicado para a Copa das
Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014 ambos organizados pela Fifa. O
presente artigo se propõe a analisar, então, A Lei 12.350, de 20.12.2010; o Dec. 7.578,
de 11.10.2011 e a Lei 10.671, de 15.05.2033 e os impactos tributários delas resultantes
no ordenamento jurídico brasileiro em consonância com a Lei 9.615, de 24.03.1998 e o
art. 217 da CF/1988.

Palavras-chave: Isenção fiscal - Incentivos fiscais - Copa do Mundo


Abstract: The Federal Government issued a set of rules setting up the special
arrangements with respect to all tax that will apply for the 2013 Confederations Cup and
World Cup 2014 both organized by Fifa. This article aims to analyze, then, Law 12.350 of
December 20, 2010, Decree 7.578 of October 11, 2011 and Law 10.671 of May 15, 2003
and the impacts tax resulting in the Brazilian legal system in line with Law 9.615 of
March 24, 1998 and art. 217 of the Federal Constitution, 1988.

Keywords: Seal - Incentives tax - World Cup


Sumário:

1. INTRODUÇÃO - 2. O ART. 217 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O FOMENTO AO


DESPORTO - 3. OS INCENTIVOS FISCAIS AO DESPORTO - 4. A ISENÇÃO FISCAL DO
GOVERNO FEDERAL PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES E A COPA DO MUNDO - 5. O
IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DE 2013 E DA
COPA DO MUNDO DE 2014 - 6. CONCLUSÃO - 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. INTRODUÇÃO

É de conhecimento público que o Brasil foi escolhido como sede de três eventos de
repercussão mundial e com um intervalo de apenas três anos entre eles: A Copa das
Confederações a ser realizada em 2013, a Copa do Mundo a ser realizada em 2014 e as
Olimpíadas a ser realizada em 2016.

Os dois primeiros eventos são relacionados exclusivamente ao futebol e tem como


1
organizador a Fifa - Fédération Internationale de Footbal Association. Assim sendo e por
2
pressão da mesma entidade, o Governo Federal editou um conjunto de normas acerca
de benefícios e incentivos fiscais visando os eventos de 2013 e 2014.

E sobre estes benefícios que iremos nos ater, em consonância e conformidade, com a
Constituição Federal (LGL\1988\3) vigente.

2. O ART. 217 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O FOMENTO AO DESPORTO

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Resultados da Pesquisa

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 217:


3
“Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um, observados:

I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua


organização e funcionamento;

II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto


educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;

III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional;

IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.

(…).”

Sobre o dever do Estado relacionado ao esporte explica José Cretella Júnior:

“É direito subjetivo público de cada um, assegurado constitucionalmente, bem como é


dever do Estado, fomentar práticas desportivas, quer formais, submetidas a regras,
incluindo-se as respectivas sanções, quer informais, que não obedecem a ritos ou
preceitos a priori fixados. Nos dois casos, envolvendo a saúde e o bem-estar, físico e
mental, da comunidade, ou ambas as coisas, há interesse público em jogo, pelo que o
Poder Público incentiva as práticas desportivas, quer em clubes esportivos, ou
4
associações, quer ao ar livre, em parques e vias públicas para isso reservadas.”

Assim, o direito ao desporto é um dever estabelecido pela Constituição contra o Estado.


A este cabe o dever de incentivar, promover e proteger o desporto.

Além da norma constitucional, a Lei 9.615/1998, de 24 de março, também denominada


5
de Lei Pelé, determina o mesmo fomento ao esporte através do art. 1.º.

A Lei Pelé, inclusive, tem o zelo de justificar o dever do Estado em fomentar o esporte
por este ser em total consonância com o Estado Democrático de Direito, como prevê o
6
art. 2.º.

De tal sorte que ao Estado, leia-se Governo Federal, caberá regulamentar e disciplinar
acerca dos benefícios que envolvem o esporte em conformidade com o art. 56 da Lei
7
Pelé.

3. OS INCENTIVOS FISCAIS AO DESPORTO

Como mencionamos, o inc. V do art. 56 da Lei 9.615, de 24.03.1998, possibilita a


mudança tributária vinculada ao esporte:

“Art. 56. Os recursos necessários ao fomento das práticas desportivas formais e não
formais a que se refere o art. 217 da Constituição Federal (LGL\1988\3) serão
assegurados em programas de trabalho específicos constantes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além dos provenientes de:

(…)

V - incentivos fiscais previstos em lei.”

Ademais, independente dos incentivos a serem criados pelo Poder Público, a Lei
11.438/2006, de 29 de dezembro estabelece deduções fiscais, dentro de uma data
limite, para a as pessoas físicas ou jurídicas, através do art. 1.º:

“Art. 1.º A partir do ano-calendário de 2007 e até o ano-calendário de 2015, inclusive,


poderão ser deduzidos do imposto de renda devido, apurado na Declaração de Ajuste
Anual pelas pessoas físicas ou em cada período de apuração, trimestral ou anual, pela
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Resultados da Pesquisa

pessoa jurídica tributada com base no lucro real os valores despendidos a título de
patrocínio ou doação, no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos
previamente aprovados pelo Ministério do Esporte.”

Na mesma esteira temos o Dec. 6.180/2007, de 3 de agosto, também denominado de


Lei de incentivo ao esporte, em seu art. 1.º, e a inovação trazida pelas limitações dessas
8
deduções através dos parágrafos do mesmo art. 1.º.

Até então cuidamos dos incentivos concedidos pelo Governo Federal no âmbito do
desporto, porém, enquanto desenvolvimento do próprio esporte. Agora iremos tratar do
conjunto de normas que disciplinam e incentivam os benefícios fiscais relacionados à
realização da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014, ambas
organizadas pela Fifa.

4. A ISENÇÃO FISCAL DO GOVERNO FEDERAL PARA A COPA DAS CONFEDERAÇÕES E A


COPA DO MUNDO

O Governo Federal editou um conjunto de normas a fim de assegurar benefícios fiscais


para o organizador dos próximos dois eventos de âmbito esportivo internacional: a Copa
das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014.

O objetivo fulcral foi confirmar isenções fiscais para o principal organizador, a Fifa e seus
associados diretos ou indiretos, senão vejamos.

4.1 A Lei 12.350/2010

Em 20.12.2010 foi editada a Lei 12.350 que teve como objetivo visceral assegurar
isenções fiscais para os eventos relacionados à Copa das Confederações e Copa do
Mundo.

Em verdade, a norma fora editada com a seguinte titulação: Dispõe sobre medidas
tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa 2013 e da
Copa do Mundo 2014; promove desoneração tributária de subvenções governamentais
destinadas ao fomento das atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento nas
empresas e da outras providências.

Inicialmente poder-se-ia imaginar que se trata apenas de incentivos ligados à


informática, porém, o legislador abriu uma comporta fiscal para seus anseios reais: “(…)
e da outras providências”. Ao prever outras possibilidades o legislador abre margem
para isenções não perceptíveis em um primeiro momento e, inclusive, que não possuem
relação alguma com pesquisa tecnológica.

Como já fica explicitado no art. 1.º da norma:

“Art. 1.º Esta Lei institui medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa
das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014; promove desoneração
tributária de subvenções governamentais destinadas ao fomento das atividades de
pesquisas tecnológicas e desenvolvimento de inovação tecnológica nas empresas; e dá
outras providências” (grifo nosso).

Assim nos artigos subsequentes o legislador se preocupou em qualificar o organizador -


Fifa, bem como os demais órgãos que serão beneficiários das isenções.

Em um segundo momento começa a destacar as isenções, contudo, de forma mais


restrita a bens ligados à atividade esportiva, alimentos, suprimentos médicos,
combustível, troféus, medalhas, placas, estatuetas, dentre outros elementos todos
9
relacionados ao evento esportivo.

E ratifica tal intento de restringir a isenção aos bens atinentes ao evento e ao desporto
em si no art. 4.º, § 1.º:

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Resultados da Pesquisa

“Art. 4.º A isenção de que trata o art. 3.º não se aplica à importação de bens e
equipamentos duráveis para os Eventos, os quais poderão ser admitidos no País sob o
Regime Aduaneiro Especial de Admissão Temporária, com suspensão do pagamento dos
tributos incidentes sobre a importação.

§ 1.º O benefício fiscal previsto no caput é aplicável, entre outros, aos seguintes bens
duráveis: I - equipamento técnico-esportivo; II - equipamento técnico de gravação e
transmissão de sons e imagens; III - equipamento médico; IV - equipamento técnico de
escritório; e V - outros bens duráveis previstos em regulamento.”

Tecnicamente não existe, até o presente momento, qualquer reparo à conduta do


legislador, pois, a preocupação segue sendo o esporte e as isenções a ele ligadas.

No entanto, o cenário se modifica radicalmente a partir do art. 7.º, pois, agora, serão
concedidas isenções fiscais não ligadas diretamente ao esporte ou equipamentos
esportivos a pessoas jurídicas:

“Art. 7.º Fica concedida à Fifa isenção, em relação aos fatos geradores decorrentes das
atividades próprias e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos,
dos seguintes tributos federais: I - impostos: a) Imposto sobre a Renda Retido na Fonte
(IRRF); e b) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a
Títulos ou Valores Mobiliários (IOF); II - contribuições sociais: a) contribuições sociais
previstas na alínea a do parágrafo único do art. 11 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991;
b) contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do
art. 3.º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007, devidas por lei a terceiros, assim
entendidos os fundos públicos e as entidades privadas de serviço social e de formação
profissional; c) Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e d) Contribuição para a
Cofins-Importação; III - contribuições de intervenção no domínio econômico: a)
Contribuição para o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o
Apoio à Inovação, instituída pela Lei 10.168, de 29 de dezembro de 2000; e b)
Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional
(Condecine), instituída pela Medida Provisória no 2.228-1, de 6 de setembro de 2001.

§ 1.º A isenção prevista nos incisos I e III do caput aplica-se exclusivamente: I - aos
rendimentos pagos, creditados, entregues, empregados, ou remetidos à Fifa ou pela Fifa,
em espécie ou de outra forma, inclusive mediante o fornecimento de bens ou prestação
de serviços; e II - às operações de crédito, câmbio e seguro realizadas pela Fifa.”

Ao prever as isenções de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio


econômico o Governo Federal praticamente isentou qualquer tipo de pagamento de
tributo para os organizadores da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo
de 2014.

Todavia, as “novidades” não param por ai, pois existe uma extensão destes benefícios
para outras entidades que não a própria Fifa, como estabelece o art. 7.º, § 2.º:

“Art. 7.º (…). § 2.º O disposto neste artigo aplica-se também às seguintes pessoas
jurídicas não domiciliadas no País: I - Confederações Fifa; II - Associações estrangeiras
membros da Fifa; III - Emissora Fonte da Fifa; e IV - Prestadores de Serviços da Fifa.”

Da mesma forma goza de tais benefícios à subsidiária Fifa no Brasil, conforme o art. 8.º
10
da Lei 12.350/2010.

O resultado é que os parceiros da Fifa não contribuirão de forma alguma com o sistema
tributário nacional, pois tudo o que envolve suas transações será considerado isento.

O sistema de isenção somente funciona para as empresas estrangeiras, uma vez que,
em casos de parcerias com empresas nacionais a isenção não se aplica, como resta claro
no art. 7.º, § 6.º:

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Resultados da Pesquisa

“Art. 7.º (…). § 6.º O disposto neste artigo não desobriga: I - a pessoa física residente
no País que aufira renda ou proventos de qualquer natureza decorrentes da prestação de
serviços à pessoa jurídica de que trata este artigo, do recolhimento da contribuição
previdenciária de que trata o art. 21 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991; e II - a
pessoa jurídica de que trata este artigo de reter e recolher a contribuição previdenciária
dos segurados empregados, prevista no art. 20 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991.”

Tal previsão legal estabelece que o Poder Público não se incomoda em deixar de
arrecadar com as empresas que organizam direta ou indiretamente a Copa das
Confederações de 2013 ou da Copa do Mundo de 2014, contudo, bem diferente se trata
quando o assunto se volta para a arrecadação dos nacionais, mesmo se ligada aos
eventos em questão, pois aí, o regime tributário é o normal e o Estado uma vez mais
perpetua seu sistema arrecadatório.

A medida denota uma aplicação desbalanceada de medidas no que tange às isenções,


porém, sobre o tema abordaremos de forma mais aprofundada quando do estudo das
implicações das isenções.

4.2 Dec. 7.578/2011

Pouco menos de um ano, em 11.10.2011, o Governo Federal editou o Dec. 7.578.

O Decreto em questão teve como condão apenas ampliar as medidas tributárias iniciadas
com a Lei 12.350.

Neste Decreto se definem quais serão os eventos a serem organizados pela Fifa e seus
parceiros e mais do que isso, quem são os parceiros, conforme o art. 2.º:

“Art. 2.º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:

I - Fédération Internationale de Football Association - Fifa - associação suíça de direito


privado, entidade mundial que regula o esporte de futebol de associação, e suas
subsidiárias, não domiciliadas no Brasil; II - Subsidiária Fifa no Brasil - pessoa jurídica
de direito privado, domiciliada no Brasil, cujo capital social total pertence à Fifa; III -
Copa do Mundo Fifa 2014 - Comitê Organizador Brasileiro Ltda. - LOC - pessoa jurídica
brasileira de direito privado, reconhecida pela Fifa, constituída com o objetivo de
promover no Brasil a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014,
bem como os Eventos relacionados; IV - Confederação Brasileira de Futebol - CBF -
associação brasileira de direito privado, sendo a associação nacional de futebol no Brasil;
V - Competições - a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014; VI
- Eventos - as Competições e as seguintes atividades relacionadas às Competições,
oficialmente organizadas, chanceladas, patrocinadas ou apoiadas pela Fifa, pela
Subsidiária Fifa no Brasil, pelo LOC ou pela CBF: a) os congressos da Fifa, banquetes,
cerimônias de abertura, encerramento, premiação e outras cerimônias, sorteio
preliminar, final e quaisquer outros sorteios, lançamentos de mascote e outras
atividades de lançamento; b) seminários, reuniões, conferências, workshops e coletivas
de imprensa; c) atividades culturais: concertos, exibições, apresentações, espetáculos
ou outras expressões culturais, bem como os projetos Futebol pela Esperança (Football
for Hope) ou projetos beneficentes similares; d) partidas de futebol e sessões de treino;
e e) outras atividades consideradas relevantes para a realização, organização,
preparação, marketing, divulgação, promoção ou encerramento das Competições.”

Assim se esclarece quem pode se beneficiar das isenções da Lei 12.350/2010 e também
quais serão as atividades a serem exercidas pelos parceiros.

Note que a amplitude segue como marca do Legislador, pois, seminários, reuniões,
eventos, banquetes, concertos, apenas para citar alguns, não são eventos precisos e dão
margem ao uso indevido do beneficio fiscal.

De mais a mais é obrigatório à Fifa a apresentação de uma lista com os eventos que
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11
pretende promover. No entanto, nada impediu o legislador de aplicar uma solução
paliativa para “eventos de emergência”, como o § 2.º do mesmo art. 6.º:

“Art. 6.º (…). § 2.º A inclusão ou exclusão de Eventos, pessoas físicas ou jurídicas na
lista de que trata o caput, poderá ser feita a qualquer tempo, devendo a lista ser
consolidada obrigatoriamente de três em três meses.”

E, para não restar dúvida algum, de quem ou o que o Poder Público isenta do regime
tributário nacional temos o art. 15:

“Art. 15. A isenção concedida à Fifa, às Confederações Fifa, às Associações estrangeiras


membros da Fifa, à Emissora Fonte da Fifa e aos Prestadores de Serviços da Fifa, não
domiciliados no País, em relação aos fatos geradores decorrentes das atividades próprias
e diretamente vinculadas à organização ou realização dos Eventos, abrange os seguintes
tributos federais:

I - impostos: a) Imposto sobre a Renda Retido na Fonte; e b) Imposto sobre Operações


de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários - IOF; II -
contribuições sociais: a) contribuições sociais previstas na alínea a do parágrafo único do
art. 11 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991; b) contribuições administradas pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do art. 3.º da Lei 11.457, de 16 de
março de 2007, devidas por lei a terceiros, assim entendidos os fundos públicos e as
entidades privadas de serviço social e de formação profissional; c) Contribuição para o
PIS/Pasep--Importação; e d) Cofins-Importação; e III - contribuições de intervenção no
domínio econômico: a) Contribuição para o Programa de Estímulo à Interação
Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação, instituída pela Lei 10.168, de 29 de
dezembro de 2000; e b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica Nacional - Condecine, instituída pela Medida Provisória no 2.228-1, de 6
de setembro de 2001.

§ 1.º As isenções previstas nos inciso I e III do caput aplicam-se exclusivamente:

I - aos rendimentos pagos, creditados, entregues, empregados, ou remetidos às pessoas


jurídicas citadas no caput ou pelas pessoas jurídicas citadas no caput, em espécie ou de
outra forma, inclusive mediante o fornecimento de bens ou prestação de serviços; e II -
às operações de crédito, de câmbio e de seguro realizadas pelas pessoas jurídicas
citadas no caput.

§ 2.º As isenções previstas nas alíneas c e d do inciso II do caput referem-se apenas à


importação de serviços.”

E como fora feito anteriormente as empresas nacionais não se beneficiam da isenção,


como prevê o art. 15 em seus § 4.º e § 5.º:

“Art. 15. (…). § 4.º A isenção de que trata o caput não alcança: I - os rendimentos e
ganhos de capital auferidos nas operações realizadas no mercado financeiro e de capitais
ou na alienação de bens e direitos; e II - as operações de câmbio realizadas para
ingresso de recursos no País para aplicação nos mercados financeiros e de capitais e as
operações relativas a títulos ou valores mobiliários que deverão observar o disposto no
Decreto 6.306, de 14 de dezembro de 2007.

§ 5.º O disposto neste artigo não desobriga: I - a pessoa jurídica domiciliada no País e a
pessoa física residente no País que aufiram renda ou proventos de qualquer natureza,
recebidos das pessoas jurídicas de que trata este artigo, do pagamento do Imposto
sobre a Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ e do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física -
IRPF, respectivamente, observada a legislação específica; II - a pessoa física residente
no País que aufira renda ou proventos de qualquer natureza decorrentes da prestação de
serviços às pessoas jurídicas de que trata o caput, do recolhimento da contribuição
previdenciária de que trata o art. 21 da Lei 8.212, de 1991; e III - as pessoas jurídicas
de que trata este artigo de reter e recolher a contribuição previdenciária dos segurados
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empregados, prevista no art. 20 da Lei 8.212, de 1991.”

4.3 Lei 12.663/2012

Para completar o sistema normativo acerca da Copa das Confederações de 2013 e da


Copa do Mundo de 2014 o Governo Federal, em 05.06.2012, editou a Lei 12.663.

Inicialmente, a impressão que se tem é de que a Lei em questão nada tem a ver com as
isenções fiscais outrora mencionadas, porém, de posse do conhecimento do sistema
tributário anterior é possível notar a ratificação dos parceiros da Fifa.

O assunto é tratado no art. 2.º, no qual o legislador aproveitou para redefinir o


12
organizador e os membros brasileiros da organização. Ademais ratificou, como já havia
13
feito no Dec. 7.578/2011 quais são os eventos a serem organizados pela Fifa e quem
14
são os parceiros da Fifa ao longo do processo.

Em suma, no âmbito tributário, a Lei 12.663/2012 ratifica todos os atos anteriores já


criados. Então, a vontade do legislador se perpetrou demonstrando o interesse em
conceder a isenção ampla à Fifa e a seus parceiros estrangeiros.

A inovação, esta não na seara tributária, da Lei 12.663/2012 fica por conta de nova
isenção, agora de qualquer pagamento de emolumentos, custas processuais, caução ou
honorários, como reza o art. 53:

“Art. 53. A Fifa, as Subsidiárias Fifa no Brasil, seus representantes legais, consultores e
empregados são isentos do adiantamento de custas, emolumentos, caução, honorários
periciais e quaisquer outras despesas devidas aos órgãos da Justiça Federal, da Justiça
do Trabalho, da Justiça Militar da União, da Justiça Eleitoral e da Justiça do Distrito
Federal e Territórios, em qualquer instância, e aos tribunais superiores, assim como não
serão condenados em custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.”

Assim temos o conjunto completo que regula e concede benefícios e isenções tributárias
específicas para os eventos da Copa das Confederações Fifa 2013 e Copa do Mundo Fifa
de 2014.

Agora, de posse de todas as medidas tributárias e do sistema tributário especialmente


criado para os dois eventos, poderemos tratar do impacto que tais isenções trarão para
o cenário tributário nacional.

5. O IMPACTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DE 2013 E DA


COPA DO MUNDO DE 2014

Fica claro que existe uma grande isenção fiscal concedida diretamente à Fifa e a Fifa
Brasil.

O que em nada fica claro é a motivação do Governo Federal para conceder tal benesse,
uma vez que não se trata de uma entidade sem recursos, muito pelo contrário, graças a
contratos impositivos como estes que a entidade Fifa se tornou uma das mais poderosas
15
e ricas do meio esportivo.

Os benefícios não são exclusivos à Fifa ou a Fifa Brasil, mas também às Confederações
Fifa, às associações estrangeiras membros da Fifa, a emissora fonte da Fifa e aos
prestadores de serviços da Fifa.

O Poder Público se omite do dever de informar à população que tais isenções foram uma
exigência da Fifa para a realização dos eventos no País e que sem as devidas garantias o
País sede seria sumariamente modificado.

No entanto, o Governo Federal tributa de forma normal e integral as empresas nacionais


que efetuarem relações comerciais com os parceiros da Fifa ou com a própria, logo a
isenção vale para os estrangeiros, aos nacionais o peso da tributação.
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Os incentivos foram concedidos por exigência da Fifa, porém não foram estendidos às
empresas nacionais, o que somente denota que o Brasil foi obrigado a ceder às
exigências da Fifa.

Nada mais se trata do que uma venda casada, isto é, a Fifa sorteia faz a promoção do
evento propala aos quatro cantos do Planeta que um dos maiores eventos esportivos do
cenário mundial será celebrado no País tal e depois apresenta a conta de tal escolha.

Se a conta não for aceita, não há problema, a isenção poderá ser obtida em outro lugar -
com a troca da sede - e assim será a regra do jogo.

É inegável que os benefícios sociais e estruturais decorrentes de ambos os eventos


trarão benefícios para a população como um todo, porém, qual será o valor desta conta?
E mais: quem pagará por ela?

O Brasil deixará de arrecadar um erário bem considerável em decorrência de impostos,


contribuições etc. E para piorar: o conto de fadas da Copa do Mundo Fifa 2014 trará um
impacto econômico deveras negativo para o Poder Público, uma vez que os estádios,
reformados e/ou construídos - que foram tão propalados por não conter um único
centavo do governo -, no final, ao Governo ficará uma parcela bem elevada por conta, já
que a iniciativa privada, até o momento, não se animou com as isenções fiscais
oferecidas pelo Governo.

O Governo Federal desenvolveu pacotes especiais de isenção fiscal para minorar seu
possível prejuízo, como foi o caso da Lei 11.488, de 15.06.2007, que prevê o Regime
16
Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura - Reidi para as
17
pessoas jurídicas que tenham projetos aprovados para a implementação de obras de
infraestrutura nos setores de transporte, portos, saneamento básico e irrigação. Para as
18
empresas aderentes haverá suspensão de PIS/Cofins nas aquisições de máquinas,
aparelhos, instrumentos e equipamentos novos, e de materiais de construção para a
19
utilização ou incorporação em obras de infraestrutura destinadas ao ativo imobilizado.

De inicio, a iniciativa privada ainda não se animou nem com as isenções acima e nem
20
com as isenções fiscais previstas nos arts. 17 e 18 da Lei 12.350/2010, e mais
21
especificamente no art. 19 ao elencar quais tributos terão o regime especial.

Não será, portanto, surpresa alguma se a injeção de dinheiro público se tornar


obrigatória para a conclusão das reformas e/ou construção dos estádios para a Copa das
Confederações Fifa 2013 e Copa do Mundo Fifa 2014, bem como para a implementação e
modernização da infraestrutura necessária para garantir eventos desse porte.

A bem da verdade o Governo Federal da época deve ter considerado que a realização
desses dois eventos e depois, na sequencia das Olimpíadas, iriam erradicar boa parte
dos problemas sociais de nosso País.

E o resultado não será nem de longe verdadeiro, pois, tais eventos não trarão
incrementos na saúde ou na educação do Brasil, ou em setores carentes da sociedade.

Momentaneamente teremos ocasiões ou falsas impressões de segurança que logo se


dissiparão com o término dos eventos em questão. Já no âmbito cultural, ai sim
inegável, haverá uma contribuição para o incremento da cultura do País, porém, de nada
adiantará ante a defasagem educacional enfrentada por nossas crianças na rede pública
de ensino.

Assim, uma vez mais o Estado Brasileiro falha com a sua premissa basilar: ser um
22 23
Estado Democrático de Direito. O primado fundamental dos arts. 1.º e 3.º da
CF/1988 (LGL\1988\3) uma vez mais fica relegado ao esquecimento.

É dever do Estado investir em educação, saúde, segurança, cidadania, cultura e não será
um evento esportivo que irá dirimir as mazelas do mau tratamento do Sistema Único de
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Saúde - SUS, a insegurança pela violência e criminalidade em nosso País, tampouco,


reduzirá a desigualdade de ensino entre a rede pública e as entidades privadas.

O fato é que os eventos irão ocorrer, o Brasil terá um ganho indireto, pois, se beneficiará
dos turistas que aqui estarão para acompanhar os eventos, porém, o erário total
arrecadado dificilmente recuperará a monta total investida em infraestrutura e demais
exigências da Fifa para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do
Mundo em 2014.

6. CONCLUSÃO

A Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014 ambas organizadas pela
Fifa ocorrerão em solo brasileiro e com elas uma série de modificações será feita no
sistema tributário brasileiro. Tudo para garantir a arrecadação da Fifa e de seus
parceiros internacionais com a organização dos eventos.

De tal sorte que caberá ao Brasil arcar com a ausência da arrecadação tributária em
decorrência das isenções concedidas a Fifa e seus parceiros através das Leis
12.350/2010 e 12.663/2012 e do Dec. 7.578/2011.

Além disso, serão construídos estádios para os eventos que dificilmente serão utilizados
após a realização dos mesmos, como o caso de Natal, Manaus, dentre outros.

E o impacto das isenções não para por ai, uma vez que além de não arrecadar um único
centavo em decorrência da organização dos dois eventos o Governo Federal e, em última
instância, leia-se a toda população brasileira caberá ao pagamento dos investimentos em
infraestrutura, segurança, construção e/ou reforma dos estádios e tudo o mais que for
necessário para a realização dos eventos da Fifa.

Ademais, investimentos em infraestrutura serão necessários em vários ramos como:


construção civil, energia, turismo, publicidade, alimentação, rede hoteleira, aeroportos,
hospitais etc. E haverá um ganho, porém este se estenderá para toda a população
brasileira após estes eventos ou serão soluções emergenciais?

Em verdade o Governo Federal prepara um novo pacote de isenções fiscais, nos mesmos
moldes usados para a construção civil, para repartir os prejuízos com a iniciativa privada
nos setores carentes e, portanto, para assegurar a minoração das perdas públicas e, por
conseguinte, a concretização dos eventos Fifa.

Assim, temos duas possibilidades: os incentivos fiscais à iniciativa privada surtirem


efeito e o Governo não gastar tanto com infraestrutura ou a segunda possibilidade que é
o investimento público em todos os setores necessários.

De tal sorte que o espólio da Copa das Confederações e da Copa do Mundo poderá ser
muito positivo por um lado, pois ampliará a estrutura nacional em termos aéreos,
energéticos, turísticos, hoteleiros. Porém, o legado para a população brasileira além de
duvidoso (no caso da utilização dos estádios) não acrescentará muita coisa nos já
conhecidos problemas estruturais nacionais e na ausência de investimento em educação,
saúde, minoração das desigualdades, erradicação da pobreza, apenas para citar alguns
dos deveres do Estado Democrático de Direito.

As Copas das Confederações e do Mundo propiciarão a integração dos povos, o incentivo


à cultura e uma união social.

É excelente sediar uma Copa do Mundo, mas a que preço? O dinheiro gasto para o
evento se investido nos setores carentes do Brasil teriam um retorno a longo prazo
muito mais impactante do que a alegria esportiva momentânea de um País.

Enfim, a Fifa sairá mais rica, o Governo mais pobre e a população seguirá com as suas
carências e mazelas. Sinceramente e de forma racional o Brasil fez bonito apenas para
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inglês ver, como já dizia o ditado.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei 9.615, de 24 de março de 1998.

______. Lei 10.671, de 15 de maio de 2003.

______. Lei 11.438, de 29 de dezembro de 2006.

______. Lei 11.488, de 15 de junho de 2007.

______. Dec. 6.180, de 3 de agosto de 2011.

______. Lei 12.350, de 20 de dezembro de 2010.

______. Dec. 7.578, de 11 de outubro de 2011.

______. Lei 12.663, de 5 de junho de 2012.

Cretella Júnior, José. Comentários à Constituição de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1993.

1 O legislador reiteradamente adota nos textos legais a denominação Fifa, porém, o


nosso entendimento é que a abreviação de Fédération Internationale de Football
Association não pode ser grafada desta forma. Então, adotaremos a forma que
entendemos como correta: Fifa.

2 Em verdade a Fifa condicionou o Brasil como sede da Copa das Confederações e da


Copa do Mundo à assinatura do contrato que garantiria as isenções fiscais não apenas à
Fifa, mas também, a seus parceiros comerciais estrangeiros.

3 Desporto é vocábulo antigo e clássico, na língua vernácula, tendo o sentido de


“divertimento”, “recreação”, “deporte” (Antônio de Moraes e Silva). Goes, nas Crônicas
Manuelinas, citado por Moraes e Silva, abona o termo com a proposição “Reservando
algumas coitadas para desporto del Rei”. O vocábulo esporte é oriundo do inglês sport. É
anglicismo, mas anglicismo “de cabelos brancos”, que entrou há muito para a língua
nacional. Ressuscitar desporto é agora verdadeiro anacronismo, inexpressivo para a
geração atual. Os franceses usam sem constrangimento o vocábulo sport, que admitem
ser inglês, e abandonam a forma antiga e clássica desport, incorporando à língua o
expressivo anglicismo, correntemente utilizado. Pruridos linguísticos do legislador
constituinte trazem para o texto o deselegante desporto, que ninguém emprega, ao lado
desportivo, derivado do nome obsoleto. Cretella Júnior, José. Comentários à Constituição
de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. p. 4480.

4 Cretella Júnior, José. Op. cit., p. 4481.

5 “Art. 1.º O desporto brasileiro abrange práticas formais e não formais e obedece às
normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado
Democrático de Direito.
§ 1.º A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e
pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas
entidades nacionais de administração do desporto.

§ 2.º A prática desportiva não formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus
praticantes.”

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6 “Art. 2.º O desporto, como direito individual, tem como base os princípios: I - da
soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva;
II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas
organizarem-se para a prática desportiva; III - da democratização, garantido em
condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de
discriminação; IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com
a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor; V - do
direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas
formais e não formais; VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico
dado ao desporto profissional e não profissional; VII - da identidade nacional, refletido
na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; VIII - da
educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e
participante, e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto
educacional; IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos,
educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral; X - da
descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de
sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital
e municipal; XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade
desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial; XII - da eficiência,
obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa.”

7 “Art. 56. Os recursos necessários ao fomento das práticas desportivas formais e não
formais a que se refere o art. 217 da Constituição Federal (LGL\1988\3) serão
assegurados em programas de trabalho específicos constantes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além dos provenientes de: I - fundos
desportivos; II - receitas oriundas de concursos de prognósticos; III - doações,
patrocínios e legados; IV - prêmios de concursos de prognósticos da Loteria Esportiva
Federal não reclamados nos prazos regulamentares; V - incentivos fiscais previstos em
lei; VI - dois por cento da arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias
federais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se
este valor do montante destinado aos prêmios; VII - outras fontes; VIII - 1/6 (um sexto)
dos recursos destinados ao Ministério dos Esportes a que se refere o inciso II do art. 6.º
desta Lei, calculado após deduzida a fração prevista no § 2.º do referido artigo.”

8 “(…) § 1.º As deduções de que trata o caput ficam limitadas: I - relativamente à


pessoa jurídica, a um por cento do imposto devido, observado o disposto no § 4.º do art.
3.º da Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995, em cada período de apuração; II -
relativamente à pessoa física, a seis por cento do imposto devido na declaração de
ajuste anual, conjuntamente com as deduções de que trata o art. 22 da Lei 9.532, de 10
de dezembro de 1997.
§ 2.º As pessoas jurídicas não poderão deduzir os valores de que trata o caput para fins
de determinação do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido - CSLL.

§ 3.º Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros benefícios
fiscais e deduções em vigor.

§ 4.º Não são dedutíveis os valores destinados a patrocínio ou doação em favor de


projetos que beneficiem, direta ou indiretamente, pessoa física ou jurídica vinculada ao
doador ou patrocinador.

§ 5.º Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador: I - a pessoa jurídica da


qual o patrocinador ou o doador seja titular, administrador, gerente, acionista ou sócio,
na data da operação ou nos doze meses anteriores; II - o cônjuge, os parentes até o
terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do patrocinador, do doador ou dos
titulares, administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vinculada ao
patrocinador ou ao doador, nos termos do inciso I deste parágrafo; e III - a pessoa
jurídica coligada, controladora ou controlada, ou que tenha como titulares,
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administradores acionistas ou sócios alguma das pessoas a que se refere o inciso II


deste parágrafo.”

9 “Art. 3.º Fica concedida, nos termos, limites e condições estabelecidos em ato do
Poder Executivo, isenção de tributos federais incidentes nas importações de bens ou
mercadorias para uso ou consumo exclusivo na organização e realização dos Eventos,
tais como: I - alimentos, suprimentos médicos, inclusive produtos farmacêuticos,
combustível e materiais de escritório; II - troféus, medalhas, placas, estatuetas,
distintivos, flâmulas, bandeiras e outros objetos comemorativos; III - material
promocional, impressos, folhetos e outros bens com finalidade semelhante, a serem
distribuídos gratuitamente ou utilizados nos Eventos; IV - bens dos tipos e em
quantidades normalmente consumidos em atividades esportivas da mesma magnitude; e
V - outros bens não duráveis, assim considerados aqueles cuja vida útil seja de até 1
(um) ano.
§ 1.º A isenção de que trata este artigo abrange os seguintes impostos, contribuições e
taxas: I - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente no desembaraço
aduaneiro; II - Imposto de Importação; III - Contribuição para os Programas de
Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público incidente sobre a
importação (PIS/Pasep-Importação); IV - Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social incidente sobre a importação de bens e serviços (Cofins-Importação);
V - Taxa de utilização do Siscomex; VI - Taxa de utilização do Mercante; VII - Adicional
ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM); e VIII - Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação de combustíveis.

§ 2.º O disposto neste artigo aplica-se somente às importações promovidas pela Fifa,
Subsidiária Fifa no Brasil, Confederações Fifa, Associações estrangeiras membros da Fifa,
Parceiros Comerciais da Fifa domiciliados no exterior, Emissora Fonte da Fifa e
Prestadores de Serviço da Fifa domiciliados no exterior, que serão discriminados em ato
do Poder Executivo, ou por intermédio de pessoa física ou jurídica por eles contratada
para representá-los, observados os requisitos estabelecidos pela Secretaria da Receita
Federal do Brasil.

§ 3.º As importações efetuadas na forma deste artigo não darão, em nenhuma hipótese,
direito a crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

§ 4.º A isenção concedida neste artigo será aplicável, também, a bens duráveis de que
trata o art. 4.º cujo valor unitário, apurado segundo as normas do Artigo VII do Acordo
Geral Sobre Tarifas e Comércio - GATT 1994, seja igual ou inferior a R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), nos termos, limites e condições estabelecidos em regulamento.”

10 “Art. 8.º Fica concedida à Subsidiária Fifa no Brasil, em relação aos fatos geradores
decorrentes das atividades próprias e diretamente vinculadas à organização ou
realização dos Eventos, isenção dos seguintes tributos federal: I - impostos: a) IRPJ; b)
IRRF; c) IOF; e d) IPI, na saída de produtos importados do estabelecimento importador
da Fifa no Brasil; II - contribuições sociais: a) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL); b) Contribuição para o PIS/Pasep e PIS/Pasep-Importação; c) Cofins e
Cofins-Importação; d) contribuições sociais previstas na alínea a do parágrafo único do
art. 11 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991; e e) contribuições administradas pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil na forma do art. 3.º da Lei 11.457, de
16.03.2007, devidas por lei a terceiros, assim entendidos os fundos públicos e as
entidades privadas de serviço social e de formação profissional; III - contribuições de
intervenção no domínio econômico: a) Contribuição para o Programa de Estímulo à
Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação, instituída pela Lei 10.168, de
29 de dezembro de 2000; e b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica Nacional (Condecine), instituída pela Medida Provisória 2.228-1, de 6 de
setembro de 2001.
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§ 1.º A isenção prevista nas alíneas a, b e c do inciso I, na alínea a do inciso II e no


inciso III do caput aplica-se exclusivamente: I - às receitas, lucros e rendimentos
auferidos por Subsidiária Fifa no Brasil, excluindo-se os rendimentos e ganhos de capital
auferidos em operações financeiras ou alienação de bens e direitos; II - aos rendimentos
pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos pela Subsidiária Fifa no Brasil
ou para Subsidiária Fifa no Brasil, em espécie ou de outra forma, inclusive mediante o
fornecimento de bens ou prestação de serviços; e III - às operações de crédito, câmbio e
seguro realizadas por Subsidiária Fifa no Brasil.”

11 “Art. 6.º A Fifa ou Subsidiária Fifa no Brasil deverá apresentar, na forma disciplinada
pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, lista dos Eventos e das pessoas físicas e
jurídicas passíveis de serem beneficiadas pelo disposto neste Decreto.”

12 “Art. 2.º Para os fins desta Lei, serão observadas as seguintes definições: I -
Fédération Internationale de Football Association (Fifa): associação suíça de direito
privado, entidade mundial que regula o esporte de futebol de associação, e suas
subsidiárias não domiciliadas no Brasil; II - Subsidiária Fifa no Brasil: pessoa jurídica de
direito privado, domiciliada no Brasil, cujo capital social total pertence à FIFA; III - Copa
do Mundo Fifa 2014 - Comitê Organizador Brasileiro Ltda. (COL): pessoa jurídica de
direito privado, reconhecida pela FIFA, constituída sob as leis brasileiras com o objetivo
de promover a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do Mundo Fifa 2014, bem
como os eventos relacionados; IV - Confederação Brasileira de Futebol (CBF): associação
brasileira de direito privado, sendo a associação nacional de futebol no Brasil.”

13 “Art. 2.º (…). V - Competições: a Copa das Confederações Fifa 2013 e a Copa do
Mundo Fifa 2014; VI - Eventos: as Competições e as seguintes atividades relacionadas
às Competições, oficialmente organizadas, chanceladas, patrocinadas ou apoiadas pela
Fifa, Subsidiárias Fifa no Brasil, COL ou CBF: a) os congressos da Fifa, cerimônias de
abertura, encerramento, premiação e outras cerimônias, sorteio preliminar, final e
quaisquer outros sorteios, lançamentos de mascote e outras atividades de lançamento;
b) seminários, reuniões, conferências, workshops e coletivas de imprensa; c) atividades
culturais, concertos, exibições, apresentações, espetáculos ou outras expressões
culturais, bem como os projetos Futebol pela Esperança (Football for Hope) ou projetos
beneficentes similares; d) partidas de futebol e sessões de treino; e e) outras atividades
consideradas relevantes para a realização, organização, preparação, marketing,
divulgação, promoção ou encerramento das Competições.”

14 “Art. 2.º (…). VII - Confederações Fifa: as seguintes confederações: a) Confederação


Asiática de Futebol (Asian Football Confederation - AFC); b) Confederação Africana de
Futebol (Confédération Africaine de Football - CAF); c) Confederação de Futebol da
América do Norte, Central e Caribe (Confederation of North, Central American and
Caribbean Association Football - Concacaf); d) Confederação Sul-Americana de Futebol
(Confederación Sudamericana de Fútbol - Conmebol); e) Confederação de Futebol da
Oceania (Oceania Football Confederation - OFC); e f) União das Associações Europeias
de Futebol (Union des Associations Européennes de Football - Uefa); VIII - Associações
Estrangeiras Membros da Fifa: as associações nacionais de futebol de origem
estrangeira, oficialmente afiliadas à Fifa, participantes ou não das Competições; IX -
Emissora Fonte da Fifa: pessoa jurídica licenciada ou autorizada, com base em relação
contratual, para produzir o sinal e o conteúdo audiovisual básicos ou complementares
dos Eventos com o objetivo de distribuição no Brasil e no exterior para os detentores de
direitos de mídia; X - Prestadores de Serviços da Fifa: pessoas jurídicas licenciadas ou
autorizadas, com base em relação contratual, para prestar serviços relacionados à
organização e à produção dos Eventos, tais como: a) coordenadores da Fifa na gestão de
acomodações, de serviços de transporte, de programação de operadores de turismo e
dos estoques de Ingressos; b) fornecedores da Fifa de serviços de hospitalidade e de
soluções de tecnologia da informação; e c) outros prestadores licenciados ou autorizados
pela Fifa para a prestação de serviços ou fornecimento de bens; XI - Parceiros
Página 36
Resultados da Pesquisa

Comerciais da Fifa: pessoas jurídicas licenciadas ou autorizadas com base em qualquer


relação contratual, em relação aos Eventos, bem como os seus subcontratados, com
atividades relacionadas aos Eventos, excluindo as entidades referidas nos incisos III, IV
e VII a X.”

15 E ainda sim a entidade se vê as voltas com escândalos de corrupção de seus


membros que não chegam a ser esclarecidos a contento para a população.

16 “Art. 1.º Fica instituído o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da


Infraestrutura - Reidi, nos termos desta Lei.”

17 “Art. 2.º É beneficiária do Reidi a pessoa jurídica que tenha projeto aprovado para
implantação de obras de infraestrutura nos setores de transportes, portos, energia,
saneamento básico e irrigação.”

18 “Art. 3.º No caso de venda ou de importação de máquinas, aparelhos, instrumentos e


equipamentos, novos, e de materiais de construção para utilização ou incorporação em
obras de infraestrutura destinadas ao ativo imobilizado, fica suspensa a exigência: I - da
Contribuição para o Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do
Servidor Público PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
- Cofins incidentes sobre a venda no mercado interno quando os referidos bens ou
materiais de construção forem adquiridos por pessoa jurídica beneficiária do Reidi; II -
da Contribuição para o PIS/Pasep importação e da Cofins--Importação quando os
referidos bens ou materiais de construção forem importados diretamente por pessoa
jurídica beneficiária do Reidi.”

19 “Art. 3.º (…). § 2.º As suspensões de que trata este artigo convertem-se em alíquota
0 (zero) após a utilização ou incorporação do bem ou material de construção na obra de
infraestrutura.”

20 “Art. 17. Fica instituído o Regime Especial de Tributação para Construção, Ampliação,
Reforma ou Modernização de Estádios de Futebol (Recopa).
§ 1.º O Recopa destina-se à construção, ampliação, reforma ou modernização de
estádios de futebol com utilização prevista nas partidas oficiais da Copa das
Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014, nos termos estabelecidos por
esta Lei.” “Art. 18. É beneficiária do Recopa a pessoa jurídica que tenha projeto
aprovado para construção, ampliação, reforma ou modernização dos estádios de futebol
com utilização prevista nas partidas oficiais da Copa das Confederações Fifa 2013 e da
Copa do Mundo Fifa 2014, nos termos do Convênio ICMS 108, de 26 de setembro de
2008.”

21 “Art. 19. No caso de venda no mercado interno ou de importação de máquinas,


aparelhos, instrumentos e equipamentos novos e de materiais de construção para
utilização ou incorporação no estádio de futebol de que trata o caput do art. 18, ficam
suspensos:
I - a exigência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre a receita da pessoa jurídica vendedora,
quando a aquisição for efetuada por pessoa jurídica beneficiária do Recopa;

II - a exigência da Contribuição para o PIS/Pasep importação e da Contribuição para a


Seguridade Social devida pelo Importador de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior
(Cofins-Importação), quando a importação for efetuada por pessoa jurídica beneficiária
do Recopa; III - o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na saída do
estabelecimento industrial ou equiparado, quando a aquisição no mercado interno for
efetuada por pessoa jurídica beneficiária do Recopa; IV - o IPI incidente na importação,
quando a importação for efetuada por pessoa jurídica beneficiária do Recopa; e V - o
Imposto de Importação (II), quando os referidos bens ou materiais de construção forem
Página 37
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importados por pessoa jurídica beneficiária do Recopa.”

22 “Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa
humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo
político.”

23 “Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -


construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

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Resultados da Pesquisa

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ART. 285-B DO CPC, ACRESCIDO PELA LEI


12.810/2013. AFINAL, O CONGRESSO NACIONAL É UM PARLAMENTO OU
UMA FÁBRICA DE SALSICHAS?
Revista de Processo | vol. 224/2013 | p. 155 - 171 | Out / 2013
DTR\2013\9314

J. E. Carreira Alvim
Doutor em Direito pela UFMG. Professor de Direito Processual Civil da Faculdade Nacional
de Direito da UFRJ. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual.
Ex-Desembargador Federal do TRF da 2.ª Região.

Área do Direito: Processual


Resumo: O autor critica inovação recente do direito brasileiro, consistente em exigir do
autor que, ao afirmar que não deve quantia que lhe está sendo cobrada por instituição
bancária, aponte a parte incontroversa do débito e para poder discutir o restante.

Palavras-chave: Pagamento - Parte incontroversa - Tutela liminar - Petição inicial -


Indeferimento - Emenda.
Abstract: The author criticizes recent innovation in Brazilian law, consistent in
demanding from the author, stating that the amount which it is being charged by the
Financial Institution is not what he really owes, must point out the uncontroversial part
of the debt and to discuss the rest.

Keywords: Payment - Part uncontroversial - Trusteeship injunction - Application


initiating proceedings - Rejection - Amendment.
Sumário:

- 1. INTRODUÇÃO - 2. PRECEITO ANTIRREPUBLICANO - 3. PROCESSO LEGISLATIVO - 4.


MEDPROV 589/2012 E SUA CONVERSÃO NA LEI 12.810/2013 - 5. VÍCIOS, FORMAL E
MATERIAL, DA LEI 12.810/2013 - 6. LEGISLANDO ORDINARIAMENTE CONTRA A
PREVISÃO CONSTITUCIONAL - 7. ART. 285-B DO CPC - 8. VIGÊNCIA E EFICÁCIA DO
ART. 285-B DO CPC - 9. EXEGESE DO ART. 285-B DO CPC - 10. EMENDA DA PETIÇÃO
INICIAL - 11. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - 12. DEPÓSITO
DO VALOR INCONTROVERSO DO CONTRATO - 13. TUTELA LIMINAR DE MÃO DUPLA -
14. CONCLUSÃO

Recebido em: 08.07.2013 Aprovado em: 21.08.2013

1. INTRODUÇÃO
1
Corre a boca miúda no meio jurídico que o chanceler alemão Otto von Bismark, certa
feita teria dito que “Leis são como salsichas; é melhor não saber como são feitas”, ou,
“Se as pessoas soubesse como são feitas as salsichas e as leis, não comeriam umas nem
2
cumpriram as outras”.

No Brasil, esta previsão há muito é atual, porque, aqui, as fábricas de salsichas não são
devidamente fiscalizadas pelos órgãos encarregados da defesa sanitária, como também
não é fiscalizado o Congresso Nacional, na sua atuação legiferante, porque nem os
operadores do direito e nem as instituições que os representam (OAB, Associação
Nacional de Magistrados, Associações de Professores de Direito etc.) se interessam por
saber se, na elaboração da lei, foi ou não observado o processo legislativo, que lhe
garantiria a validez formal e material.

O brasileiro não tem o hábito de acompanhar o processo legislativo, porque, se tivesse,


saberia que o que é aprovado, diuturnamente, pelo Congresso Nacional (leis, decretos
legislativos etc.), o que editado pelo Presidente da República (medidas provisórias e
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Resultados da Pesquisa

decretos etc.) e o que é baixado por órgãos da Administração Pública (resoluções,


portarias etc.), no exercício do poder normativo, provavelmente a maior parte de tudo o
que compõe o ordenamento jurídico nacional não passaria pelo crivo da Constituição e
da LC 95/1998.

2. PRECEITO ANTIRREPUBLICANO

O art. 285-B, acrescido ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5) pela Lei 12.810/2013,
é de inspiração antirrepublicana, porque, entrou pela porta dos fundos, transgredindo o
processo legislativo, e afrontando, ao mesmo tempo, a Constituição Federal
(LGL\1988\3), em mais de uma oportunidade, a LC 95/1998, além de fazer tábula rasa
da ética legislativa, que deveria merecer um mínimo de respeito de quem age como
representante do povo.

3. PROCESSO LEGISLATIVO
3
As leis processuais são veiculas através de lei ordinária (art. 59, III, CF (LGL\1988\3)),
nos moldes estabelecidos em Lei Complementar (art. 59, parágrafo único, CF
(LGL\1988\3)), sendo essa competência privativa da União (art. 22, I, CF (LGL\1988\3))
4
, cabendo ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor
5
sobre todas as matérias de competência da União (art. 48, caput, CF (LGL\1988\3)), e
a qualquer membro da Câmara dos Deputados e do Senado a iniciativa das leis
ordinárias, na forma e nos casos previstos na Constituição (art. 61, caput, CF
6
(LGL\1988\3)).

Em caso de relevância e urgência, a Constituição permite ao Presidente da República


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
7
Congresso Nacional (art. 62, caput, CF (LGL\1988\3)), mas veda a edição de medidas
8
provisórias sobre direito processual (art. 62, § 1.º, I, b, CF (LGL\1988\3)).

Em cumprimento ao texto constitucional (art. 59, parágrafo único), foi promulgada a LC


95/1998, dispondo: a) o art. 1.º que a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis obedecerão ao disposto nesta Lei Complementar; e b) o art. 7.º
que o primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito da
aplicação, observados os seguintes princípios: I – excetuadas as codificações, cada lei
tratará de um único objeto; e II – a lei não conterá matéria estranha ao seu objeto ou a
este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão.

Essa técnica teve o objetivo de eliminar o “jeitinho brasileiro”, muito em voga na


vigência das Constituições anteriores, de se aproveitar o legislador da expressão “e dá
outras providências”, para nela incluir matéria completamente estranha ao seu objeto, e
sem nenhuma afinidade, pertinência ou conexão com ele.

A expressão “e dá outras providências” tem o objetivo específico de abrigar preceitos


indispensáveis em qualquer texto legal, como a data de vigência da lei – “Esta Lei entra
em vigor na data de sua publicação” – e a revogação das disposições incompatíveis com
o novo texto – “Revogam-se as disposições em contrário” -, embora agasalhe também,
inconstitucionalmente, preceitos normativos que nada têm a ver com ele.

O Congresso Nacional usa de um subterfúgio para legislar, através da chamada emenda


9
de redação (art. 118, § 8.º, do Regimento Interno da Câmara), que deveria ter o
propósito regimental de sanar o vício de linguagem, incorreção de técnica legislativa ou
lapso manifesto, acaba por modificar o próprio texto original e até mesmo fazer
acréscimos, que não encontram apoio do preceito regimental. Como ninguém neste País,
nem as instituições, fiscalizam nada, o processo legislativo acaba por aprovar,
patologicamente, leis como a Lei 12.810/2013.

4. MEDPROV 589/2012 E SUA CONVERSÃO NA LEI 12.810/2013

A MedProv 589/2012, no texto original submetido pelo Presidente da República ao


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Congresso Nacional “Dispõe sobre o parcelamento de débitos junto à Fazenda Nacional


relativos às contribuições previdenciárias de responsabilidade dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios”, num total de apenas doze artigos, cumprindo textualmente a
LC 95/1998, vindo a Lei 12.810/2013 (Lei de Conversão) a abrigar mais que o triplo, ou
seja, trinta e oito artigos.

Por ocasião da conversão da MedProv 589/2012, a Lei 12.810/2013, ganhou inúmeros


apêndices, regulando não apenas o parcelamento de débitos com a Fazenda Nacional,
relativos às contribuições previdenciárias de responsabilidade dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, mas com diversos outros textos legais, a saber: Lei
8.212/1991 (que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui o Plano de
Custeio), a Lei 9.715/1998 (que dispõe sobre as contribuições para o PIS e Pasep), a Lei
11.828/2008 (que dispõe sobre medidas tributárias nas doações em espécie recebidas
por instituições financeiras públicas, destinadas a ações de prevenção, monitoramento e
combate ao desmatamento e promoção da conservação e do uso sustentável das
florestas), a Lei 10.522/2002 (que dispõe sobre o Cadastro Informativo dos créditos não
quitados de órgãos e entidades federais), a Lei 10.222/2001 (que padroniza o volume de
áudio das transmissões de rádio e televisão nos espaços dedicados à propaganda), a Lei
12.249/2010 (que institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de
Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste –
10
Reenec (…), a Lei 11.110/2005 (que institui o Programa Nacional de Microcrédito
11
Produtivo Orientado – PNMPO (…) , a Lei 5.869/1973 (que institui o Código de Processo
Civil (LGL\1973\5)), a Lei 6.404/1976 (que dispõe sobre as Sociedades por Ações), a Lei
6.385/1976 (que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de
Valores Mobiliários), a Lei 6.015/1973 (que dispões sobre os registros públicos), a Lei
9.514/1997 (que dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliários e institui a
alienação fiduciária de coisa móvel) e Lei 12.703/2012 (que altera diversos artigos de
12
diversas leis, objeto de conversão da MedProv 567/1912).

Faço a enunciação do conteúdo das leis alteradas, para dar ao operador do direito uma
noção do tamanho do estrago que a MedProv 589/2012 fez no universo jurídico
brasileiro; e que, provavelmente, fizeram muitas outras do mesmo quilate.

5. VÍCIOS, FORMAL E MATERIAL, DA LEI 12.810/2013

A Lei 5.869/1973, à qual se reporta o art. 21 da Lei 12.810/2013, é aquela que institui o
Código de Processo Civil (LGL\1973\5), acrescentando-lhe o art. 285-B, que, além de
constituir matéria estranha ao objeto da MedProv 589/2012, não está vinculada a este
por afinidade, pertinência ou conexão (art. 7.º, II, da EC 95/1998).

Estando a medida provisória sujeita aos requisitos de relevância e urgência (art. 62,
caput, CF (LGL\1988\3)), o que não acontece com as outras matérias (rectius,
disposições) que pegaram carona na operação de conversão da medida provisória em lei,
vê-se que tudo o que foi aprovado pelo Congresso Nacional, nessa oportunidade, carece
de suporte constitucional, mesmo porque, se houvesse relevância e urgência, teria sido
incluída pela Presidente da República na MedProv 589/2012.

Tanto a lei de conversão quanto a medida provisória, genericamente, estão sujeitas ao


formalismo da LC 95/1998, por determinação expressa do parágrafo único do seu art.
1.º: “As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às medidas provisórias e
demais atos normativos referidos no art. 59 da CF (LGL\1988\3), bem como, no que
couber, aos decretos e aos demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do
Poder Executivo.” Destarte, a medida provisória deve também observância aos princípios
referidos pelo art. 7.º da LC 95/1998: I – (…) cada lei tratará de um único objeto; e II –
a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por afinidade,
pertinência ou conexão.

A Lei 12.810/2013, em que se converteu a MedProv 589/2012, padece de vícios


insanáveis, sob os mais diversos aspectos, tanto formal quanto material, porquanto o
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processo legislativo de conversão veda a incorporação de normas estranhas ao seu


objeto e não permite que uma norma processual – que não pode ser veiculada por
medida provisória (art. 62, § 1.º, I, b, CF (LGL\1988\3)) pegue carona numa lei de
conversão, para, sub-repticiamente, transformar-se no art. 285-B do Código de Processo
Civil (LGL\1973\5).

A LC 95/1998 prevê no seu art. 18 que a “Eventual inexatidão formal de norma


elaborada mediante processo legislativo regular não constitui escusa válida para o seu
descumprimento”.

Embora não haja um conceito jurídico hermético de “inexatidão formal”, traduz esta
expressão a forma errada ou inadequada como uma norma legal é elaborada, mas
ressalva o art. 18, quando isso ocorre, provir a inexatidão formal de um “processo
legislativo regular”, e, como tal, não pode ser considerado aquele que, na conversão da
medida provisória em lei, enxerta nesta preceitos estranhos ao seu objeto, sem
afinidade, pertinência ou conexão com ele. Nesse caso, não se trata de mera inexatidão
formal, mas de afronta e desrespeito ao processo legislativo, e, portanto, de ilegalidade,
por contrariar a Emenda Constitucional 95/98 e de inconstitucionalidade, por malferir a
Constituição.

6. LEGISLANDO ORDINARIAMENTE CONTRA A PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Por ocasião da conversão da MedProv 589/2012 na Lei 12.810/2013, o Congresso


Nacional legislou no vácuo – o que lhe é expressamente vedado – porque ao agir da
forma como agiu, acabou “convertendo em lei” preceitos que não figuravam na Medida
Provisória, ou seja, converteu miragens em regras concretas, que acabaram adquirindo
concretude na ordem jurídica.

Para garantir a legalidade e a constitucionalidade da Lei 12.810/2013, a MedProv


589/2012 só poderia ter sido convertida em lei com a observância do seu texto original,
admitindo-se, quando muito, adaptações pontuais, por emendas permitidas pelo
13
Regimento Interno da Câmara dos Deputados (art. 118), desde que pertinentes ao seu
objeto – que era o parcelamento de débito previdenciário para com a Fazenda Nacional
-, mas, jamais, alterar o Código de Processo Civil (LGL\1973\5), para inserir nele a regra
do art. 285-B, que nada tem a ver com o objeto da medida provisória convertida, nem
mantêm com ela qualquer vinculação por afinidade, pertinência ou conexão. Ademais, a
norma processual é uma regra geral, não podendo ser veiculada no texto de uma lei
especial, fiscal e previdenciária, o que inviabiliza ainda mais o exagerado e
inconstitucional enxerto que a MedProv 589/2012 sofreu no Congresso Nacional.

Na prática, o Congresso Nacional, que deveria zelar pela virgindade (rectius,


originalidade) da MedProv 589/2012, acabou por cometer contra ela um indiscutível e
vergonhoso estupro.

7. ART. 285-B DO CPC

Feitas as considerações retro, passo ao exame do art. 285-B, incorporado, ilegal e


inconstitucionalmente, ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5), sem a esperança de
que venha a ser assim declarada pelo STF, porque, por fás ou por nefas, constitui um
indiscutível desestimulante ao ajuizamento de ações de revisão de contratos, que é o
que mais quer a Justiça, incapaz de atender ao grande volume dessas demandas; sem
desconhecer que se trata de um campo fértil para a procrastinação de pagamentos
devidos por contrato.

Estabelece o art. 285-B, caput que, “nos litígios que tenham por objeto obrigações
decorrentes de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá
discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso”.

Este preceito inspirou-se na Lei 10.931/2004, que dispõe sobre o patrimônio de afetação
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Resultados da Pesquisa

de incorporações imobiliárias e outros temas, que estabelece:

“Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de
empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar na
petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter,
quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia.

§ 1.º O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados.
(…).”

A Lei 10.931/2004, mais do que a Lei 12.810/2013, é outro hino de afronta ao processo
legislativo, pois, a pretexto de dispor sobre o patrimônio de afetação de incorporações
imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário e Cédula de
Crédito Bancário, acabou por alterar inúmeros outros textos legais, a saber: o
Decreto-Lei 911/64 (que dispõe sobre alienação fiduciária em garantia), a Lei
4.591/1964 (que dispõe sobre condomínios e incorporações), a Lei 4.728/1965 (que
dispõe sobre o mercado de capitais), a Lei 10.406/2002 (que institui o Código Civil
(LGL\2002\400)), e até Leis que não são expressamente referidas no preâmbulo, como a
Lei 6.015/1973 (que dispõe sobre os registros públicos), a Lei 8.036/1990 (que dispõe
sobre o FGTS), a Lei 8.245/1991 (que dispõe sobre as locações de imóveis urbanos) e
até a Lei de Protestos de Títulos e Documentos de Dívida (referida, assim, literalmente),
sem mencionar o ao seu número (Lei 9.492/1997).

Portanto, quem estranha o processo legislativo de que resultou a inclusão do art. 285-B,
no Código de Processo Civil (LGL\1973\5), pela Lei 12.810/2013, por certo não conhece
aquele que resultou na Lei 10.931/2004, que alterou os arts. 1.331, 1.336, 1.351 e
14
1.485 da Lei 10.406/2002 (que institui o Código Civil (LGL\2002\400)), além de
15
acrescentar-lhe o art. 1.368-A, sem uma discussão ética e decente de regras que
atingem toda a sociedade.

8. VIGÊNCIA E EFICÁCIA DO ART. 285-B DO CPC

Na doutrina, se discute se o art. 285-B do CPC (LGL\1973\5) teria ou não revogado o


art. 50 da Lei 10.931/2004.

No que tange à vigência das leis, estabelece o § 1.º do art. 2.º da LINDB (Dec.-lei
16
4.657/1942) que “a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que
tratava a lei anterior”; estabelecendo o § 2.º desse mesmo artigo que “a lei nova, que
estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior”.

Essas disposições preservam a harmonia do sistema, pois, enquanto o art. 50 da Lei


10.931/2004 regula “ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de
empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários“, o art. 285-B do CPC (LGL\1973\5)
trata de “litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de empréstimo,
financiamento ou arrendamento mercantil “. Portanto, não houve na espécie, nenhuma
revogação (rectius, derrogação), porque os temas não são idênticos, mas análogos (
rectius, semelhantes).

Afaste-se o argumento de que o art. 285-B do CPC (LGL\1973\5) seria uma regra geral,
relativamente ao art. 50 da Lei 10.931/2004, que seria uma regra especial, porque
ambos os preceitos são regras específicas, tratando de temas semelhantes, com a única
diferença que um disciplina o arrendamento mercantil, conhecido também como leasing,
enquanto o outro regula a alienação imobiliária.

O arrendamento mercantil ou leasing é disciplinado pela Lei 6.099/1974, que dispõe


sobre o tratamento tributário dessas operações, não sendo o fato de estar referido no
Código de Processo Civil (LGL\1973\5), que a transforma numa regra geral de processo,
porque ela continua sendo uma regra processual especial, somente aplicável em
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Resultados da Pesquisa

hipóteses específicas.

Esta não é a primeira vez que o Código de Processo Civil (LGL\1973\5) incorpora norma
que nada tem de “norma processual geral”, pois fez isso com o § 2.º do art. 215, que só
é aplicável nas ações locatícias, pelo que deveria integrar a Lei 8.425/1991, que trata da
locação de imóveis urbanos, só estando no estatuto processual por versar sobre a
eventual citação do locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário de que
deixou na localidade, onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para
receber citação, caso em que será citado na pessoa do administrador do imóvel
encarregado do recebimento dos aluguéis. Da mesma forma, uma regra processual que
trata de litígios, envolvendo empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil não
adquire o caráter de norma processual geral, a merecer residência no Código de
Processo Civil (LGL\1973\5). Trata-se de uma norma heterotópica, que não deveria estar
onde está.

O art. 285-B trata de matéria específica, objeto de lei especial (Lei 6.099/1974),
compreendendo operações mercantis – empréstimo mercantil, financiamento mercantil e
arrendamento mercantil -, e não qualquer outra modalidade de empréstimo,
financiamento ou arrendamento, como parece sugerir o adjetivo “mercantil”, que
qualifica apenas o “arrendamento”.

9. EXEGESE DO ART. 285-B DO CPC

Como a regra do art. 285-B provavelmente não será declarada inconstitucional pelo STF
-, apesar do mal que provoca na repressão de demandas -, por envolver as ações de
cobrança de empréstimo, financiamento e arrendamento mercantil (leasing), porque
também esse Tribunal se beneficia com das limitações impostas por esse preceito -, pela
incapacidade que tem de cumprir a sua missão constitucional -, a solução mais razoável
é buscar uma exegese que faça menos mal ao direito do devedor, porque às instituições
bancárias que lidam com esses negócios mercantis a regra faz um bem indiscutível.

O empréstimo mercantil é o negócio jurídico em que uma pessoa (física ou jurídica)


obtém de uma pessoa jurídica, geralmente uma instituição financeira, certa importância
em dinheiro, para alguma finalidade, com a incidência de juros, taxas e outros encargos
expressamente pactuados, para ser paga nos moldes acordados pelas partes.

O financiamento mercantil é o negócio jurídico em que uma pessoa (física ou jurídica)


obtém de uma pessoa jurídica, geralmente uma instituição financeira, certa importância
em dinheiro para a aquisição de bem durável, com a incidência de juros, taxas e outros
encargos estipulados, para pagamento nas condições previstas pelas partes.
17
O arrendamento mercantil é, ex vi legis, o negócio jurídico realizado entre uma pessoa
jurídica, na qualidade de arrendadora, e a pessoa física ou jurídica, na qualidade de
arrendatária, tendo por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
18
segundo as especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

Num conceito mais analítico, o arrendamento mercantil ou leasing “é uma operação de


financiamento a médio ou a longo prazo, calçada em um contrato de locação de bens
móveis ou imóveis, integrada por um intermediário financeiro, que intervém entre o
produtor do bem objeto do contrato e a empresa que dele necessita, adquirindo do
primeiro esse bem e cedendo-o em locação à segunda, a qual se obriga,
irretratavelmente, a pagar ao intermediário financeiro um determinado número de
prestações periódicas, por conta de uma importância global superior ao custo dos bens,
cuja propriedade, ao término do contrato, pode ser transferido a título oneroso, do
19
intermediário financeiro à empresa locatária, por iniciativa desta última”.

Conceitualmente, o arrendamento mercantil “é um contrato mercantil típico, bilateral,


oneroso, sinalagmático (obrigações recíprocas), comutativo (obrigações equilibradas),
em princípio intuitu personae (transferência só com o consentimento da outra parte) e
20
misto ou híbrido”.
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Essa modalidade de negócio jurídico não vem disciplinada pelo Código Civil
(LGL\2002\400), estando regulado pela Lei 6.099/1974, com a redação dada pela Lei
7.132/1983 e por diversas Resoluções do Conselho Monetário Nacional.

Ao impor ao autor o ônus de -, nos litígios que tenham por objeto obrigações
decorrentes de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil -, discriminar na
petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter,
quantificando o valor incontroverso, acrescenta o art. 285-B do CPC (LGL\1973\5) mais
um requisito entre aqueles que, segundo o art. 282, I a VII, devem ser indicados na
petição inicial.

Na verdade, o que faz o art. 285-B é tornar obrigatória a apresentação de documento


(planilha de cálculo), que, até então, era considerados por alguns e não por outros
tribunais, substancial na demanda revisional de contrato, incluindo as respectivas
planilhas de valores (controvertidos e incontroversos), como indispensável à propositura
da ação, e que, por isso, deverá instruir a petição inicial (art. 283, CPC (LGL\1973\5));
exigência que resulta também o art. 396 do CPC (LGL\1973\5), dispondo competir à
parte instruir a petição inicial com os documentos destinados a provar-lhe as alegações.

Esta regra vem na linha das reformas processuais, dispondo o § 5.º do art. 739-A, com
a redação dada pela Lei 11.382/2006, que: “Quando o excesso de execução for
fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que
entende correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos
embargos ou de não conhecimento desse fundamento”.

O art. 285-B parte do suposto, não de todo verdadeiro, de que o mutuário do


empréstimo, ou o financiado no financiamento, ou o arrendatário no arrendamento
mercantil pretenda controverter em juízo apenas alguma(s) das obrigações pactuadas -,
por exemplo, as taxas, ou juros, ou encargos -, caso em que deverá apresentar uma
planilha de cálculo desses valores, e outra com a quantificação do valor incontroverso do
contrato.

Na hipótese de o mutuário ajuizar a ação de revisão do contrato, alegando ser indevida a


capitalização de juros, nada alegando contra a taxa de juros remuneratórios, deve
continuar a pagar à credora a parcela periódica acrescida dos juros remuneratórios
(parcela incontroversa), não capitalizados (parcela controversa).

Sabidamente, nem a parte e nem o seu advogado são versados em cálculos aritméticos,
em condições de fazê-los, eles próprios, pelo que dependerão de um especialista nessa
área (contador, contabilista), e das condições financeiras do autor de bancar a priori
esse custo, o que não deixa de constituir um obstáculo de acesso à Justiça, que já conta
com um obstáculo decorrente dela própria, que é o valor das custas processuais, que em
alguns Estados chega a ser escorchante e praticamente intransponível.

Se a demanda versar sobre financiamento habitacional, então, que envolve cálculos


21 22 23
complexos, como a Tabela Price, o sistema Sacre, o sistema SAC e outros sistemas
de amortização de dívida, maiores serão as dificuldades para se cumprir a determinação
imposta pelo art. 285-B.

Caso pretenda o autor discutir judicialmente a validez de todo o contrato (todas as suas
cláusulas), ainda assim estará obrigado a apresentar uma planilha de cálculos das
parcelas pertinentes a cada uma das obrigações contratadas, que serão assim aquelas
que pretende controverter, não havendo necessidade de quantificar o valor
incontroverso, porquanto a controvérsia atinge todo o negócio jurídico.

Dizendo o que disse, da forma como disse, não conseguiu o art. 285-B ser fiel ao que
pretendeu exprimir, porquanto, o que deverá ser discriminado na petição inicial são
“valores”, em que alguns serão referentes a obrigações controvertidas (por exemplo, os
juros cobrados) e outros relativos a obrigações incontroversas (por exemplo, as taxas de
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risco), o que afetará em consequência o valor das parcelas devidas a serem liquidadas.
Portanto, não haverá discriminação de obrigações controvertidas e quantificação de valor
incontroverso, mas, em qualquer caso, a discriminação e quantificação de valores.

10. EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL

Constatando o juízo onde foi ajuizada a ação revisional de contrato que as planilhas com
valores controvertidos e incontroversos não acompanham a petição inicial, deve
determinar a intimação do autor para emendar ou completar a petição inicial, aplicando
o disposto no art. 284 do CPC (LGL\1973\5), que trata da regularização da demanda, e,
somente se o autor não cumprir esse ônus, o juiz indeferirá a petição inicial.

Embora o prazo para a emenda ou completação da petição inicial seja de 10 dias,


portanto um prazo legal, previsto expressamente pelo art. 284, caput, do CPC
(LGL\1973\5), não será este necessariamente o prazo para a apresentação das planilhas
de valores (controvertidos e incontroversos), porque, dependendo da complexidade da
diligência (rectius, ônus), poder ser necessário um prazo maior, em que 10 dias não se
mostrem suficientes para o seu cumprimento.

Nos termos do art. 284, caput o prazo de 10 dias é suficiente, porque se trata apenas de
“indicar”, na petição inicial, os requisitos que ela deve conter, o que não é o caso de ter
de discriminar valores controvertidos e incontroversos, a que alude o art. 285-B, que,
nos contratos vultosos e complexos, exigem prazo maior, sob pena de indiscutível
cerceamento ao exercício da ação. Nessa hipótese, deverá o juiz fixar um prazo judicial,
e, se o fixado ainda assim não for suficiente, requerer o autor sua dilatação, indicando o
que precisa para cumprir a decisão.

11. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO

Caso o autor, na ação baseada no art. 285-B, não cumpra o ônus de emendar a petição
inicial, a consequência será a extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos
do art. 267, I, c/c o art. 295, VI, mandando o primeiro que “se extingue o processo, sem
resolução de mérito, quando o juiz indeferir a petição inicial”, e o segundo que “a petição
inicial será indeferida quando não atendidas as prescrições do art. 284”. Na verdade, a
referência correta é ao parágrafo único do art. 284.

Se a petição inicial for indeferida, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de
48 horas, reformar a sua decisão (art. 296, caput); e, não sendo reformada a decisão,
os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente (art. 296,
parágrafo único).

A hipótese versada no art. 285-B nada tem a ver com a “inépcia” da petição inicial,
porque esta tem seus limites traçados pelos incs. I a IV do parágrafo único do art. 295,
24
enquanto a falta de apresentação de documento que deva instruir a petição inicial
25
vem prevista no inc. VI do art. 295.

Essa exigência obrigará as Defensorias Públicas e serviços de assistência judiciária


(mantidos pelas Universidades) a manter um serviço de cálculos, pois muitas dessas
demandas serão ajuizadas por seu intermédio, em que a petição inicial deverá cumprir o
disposto no art. 285-B.

12. DEPÓSITO DO VALOR INCONTROVERSO DO CONTRATO

Estabelece o parágrafo único do art. 285-B que o valor incontroverso deverá continuar
sendo pago no tempo e modo contratados.

Essa norma tem um caráter a um só tempo ético e profilático, porque muitos mutuários,
financiados ou arrendatários celebravam esses contratos, sabendo das condições
impostas pelas instituições financeiras -, muitas das quais realmente impregnadas de
ilegalidades -, e, após o recebimento do objeto da operação, ingressavam em juízo
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questionando os termos do negócio jurídico, com pedido de antecipação de tutela para


se eximirem de continuar a pagar as prestações, até que fosse resolvido o mérito da
causa.

Como, na Justiça brasileira, todos sabem o dia em que entram, mas, nunca, o dia em
que saem, os devedores pagavam apenas as primeiras prestações, e buscavam as vias
judiciais, mediante ações revisionais, pretendendo a revisão de cláusula ou condição
pactuada.

O grande número de demandas com esse perfil levou inclusive o STJ a editar a Súmula
380 – “A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização
da mora do autor” -, para não comprometer a eficiência do sistema financeiro nacional.

No exercício da atividade judicante, nunca precisei de norma como o art. 285-B, para
tutelar os interesses do devedor e, cautelarmente, os do credor, concedendo medida
liminar, e determinando que o devedor continuasse pagando o que considerava devido,
nos termos do contrato, mediante o depósito judicial dos valores tidos como indevidos.
Em outros termos, mandava o devedor pagar diretamente ao credor os valores
incontroversos, fazendo o deposito em juízo dos valores controvertidos.

Se o credor se recusar a receber as parcelas incontroversas, por determinação judicial, a


melhor solução é determinar o juiz que o pagamento seja feito mediante depósito em
juízo, correndo os riscos por conta do credor, havendo quem entenda existir no caso
infração ao princípio do “dever de mitigar o próprio prejuízo”, mas sem qualquer
penalidade adicional.

13. TUTELA LIMINAR DE MÃO DUPLA

A intenção do art. 285-B foi conceder, liminarmente, uma tutela de mão dupla, e mais
favorável até ao devedor, porque determina que o valor incontroverso continue sendo
pago ao credor, no tempo e modo contratados, restando em discussão apenas as
obrigações que pretenda controverter (rectius, valores controvertidos), não estando o
devedor obrigado a depositar em juízo as parcelas controvertidas.

Apesar da redação do art. 285-B, se o juiz perceber que o juízo de verossimilhança das
alegações não favorece o autor, em face da fragilidade dos seus fundamentos, poderá,
de ofício, determinar sejam depositados em juízo os valores controvertidos, até mesmo
em caráter temporário, até que sobrevenha a defesa do réu, revendo com mais
segurança a sua decisão.

Caso pretenda o devedor controverter todas as obrigações contratuais, ou, mais


precisamente, o contrato na sua integralidade, pretendendo, por exemplo, a sua
anulação (desfazimento), com a restituição dos contratantes ao status quo ante, não se
terá como dar cumprimento ao parágrafo único do art. 285-B de continuar pagando o
valor incontroverso, porque todos os valores estarão em lide, e, portanto, todos
controvertidos.

Nesse caso, ou o juiz concede a tutela liminar ao autor, dispensando-o de fazer os


pagamentos das prestações, por controverter todos os valores contratuais, na medida
em que pretende desfazer o contrato, ou, então, concede uma tutela cautelar parcial
(art. 273, § 7.º), determinando que passe a fazer o depósito das prestações periódicas
em juízo até posterior decisão (interlocutória) ou até que venha a resolver o mérito da
causa, mediante sentença.

Se houver depósito, a regra aplicável será o art. 337 do CC, cessando para o
depositante, tanto que se efetue o depósito, os juros (moratórios) da dívida e os riscos,
salvo se for julgado improcedente. Como os depósitos judicias são atualizados pelos
índices aplicáveis para atualização das cadernetas de poupança, sem juros
remuneratórios, os depósitos judiciais para os fins do art. 285-B deverão compreender,
eventualmente, os juros compensatórios, se tiverem sido pactuados.
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A decisão sobre tais questões, em qualquer sentido, é interlocutória de mérito, sendo


agravável, nos termos do art. 522, e, quando for sentença, será apelável, nos termos do
art. 513.

14. CONCLUSÃO

Estas considerações têm o propósito de lançar luzes sobre a exegese do art. 285-B do
CPC (LGL\1973\5), e, ao mesmo tempo, convocar os operadores do direito em geral e as
instituições envolvidas com a operação do direito em particular (OAB, AMB etc.), para
que não permitam que o Congresso Nacional faça do parlamento uma fábrica de
salsichas, afrontando o processo legislativo, e descumprindo a ética, que deveria ser o
norte de quem recebe um mandato popular para legislar.

Os destinatários das leis precisam ter confiança e a certeza de que, na conversão de


medidas provisórias em lei, estará sendo incorporada ao ordenamento jurídico uma
verdadeira Lei, e não enxertos inconstitucionais, numa lei de conversão, com preceitos
estranhos ao seu objeto, e que não tenham com este qualquer afinidade, pertinência ou
conexão.

1 Otto von Bismarck, cognominado “chanceler de ferro”, foi o estadista mais importante
da Alemanha século XIX, a quem coube lançar as bases do Segundo Império ou Segundo
Reich (1871-1918), levando os países germânicos a conhecer pela primeira vez na sua
história a existência de um Estado nacional único. Para formar a unidade alemã,
Bismarck desprezou os recursos do liberalismo político, preferindo a política da força.

2 Esta afirmação é atribuída, equivocadamente, ao chanceler inglês Winston Churchill,


mas na verdade foi dita pelo chanceler alemão Bismark. A literalidade da frase varia em
função de quem a cita.

3 “Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I – Emendas à


Constituição; II – Leis complementares; III – Leis ordinárias; IV – Leis delegadas; V –
Medidas provisórias; VI – Decretos legislativos; VII – Resoluções. Parágrafo único. Lei
complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.”

4 “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial,
penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (…)”

5 “Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não
exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de
competência da União, especialmente sobre: (…).”

6 “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao
Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição.”

7 “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar


medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional”.

8 “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar


medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional. § 1.º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a:
(…) b) direito penal, processual penal e processual civil.”

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9 “Art. 118. Emenda é a proposição apresentada como acessória de outra, sendo a


principal qualquer uma dentre as referidas nas alíneas a a e do inciso I do art. 138. (…)
§ 8.º Denomina-se emenda de redação a modificativa que visa a sanar vício de
linguagem, incorreção de técnica legislativa ou erro manifesto.”

10 “(…) cria o Programa Um Computador por Aluno – Prouca e institui o Regime Especial
de Aquisição de Computadores para Uso Educacional – Recompe; prorroga benefícios
fiscais; constitui fonte de recursos adicional aos agentes financeiros do Fundo da Marinha
Mercante – FMM para financiamentos de projetos aprovados pelo Conselho Diretor do
Fundo da Marinha Mercante – CDFMM; institui o Regime Especial para a Indústria
Aeronáutica Brasileira – Retaero; dispõe sobre a Letra Financeira e o Certificado de
Operações Estruturadas; ajusta o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV; altera as
Leis 8.248, de 23 de outubro de 1991, 8.387, de 30 de dezembro de 1991, 11.196, de
21 de novembro de 2005, 10.865, de 30 de abril de 2004, 11.484, de 31 de maio de
2007, 11.488, de 15 de junho de 2007, 9.718, de 27 de novembro de 1998, 9.430, de
27 de dezembro de 1996, 11.948, de 16 de junho de 2009, 11.977, de 7 de julho de
2009, 11.326, de 24 de julho de 2006, 11.941, de 27 de maio de 2009, 5.615, de 13 de
outubro de 1970, 9.126, de 10 de novembro de 1995, 11.110, de 25 de abril de 2005,
7.940, de 20 de dezembro de 1989, 9.469, de 10 de julho de 1997, 12.029, de 15 de
setembro de 2009, 12.189, de 12 de janeiro de 2010, 11.442, de 5 de janeiro de 2007,
11.775, de 17 de setembro de 2008, os Decretos-Leis 9.295, de 27 de maio de 1946,
1.040, de 21 de outubro de 1969, e a Medida Provisória n. 2.158-35, de 24 de agosto de
2001; revoga as Leis 7.944, de 20 de dezembro de 1989, 10.829, de 23 de dezembro de
2003, o Decreto-Lei 423, de 21 de janeiro de 1969; revoga dispositivos das Leis 8.003,
de 14 de março de 1990, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 5.025, de 10 de junho de
1966, 6.704, de 26 de outubro de 1979, 9.503, de 23 de setembro de 1997; e dá outras
providências.”

11 “(…) e altera dispositivos da Lei 8.029, de 12 de abril de 1990, que dispõe sobre a
extinção e dissolução de entidades da administração pública federal; da Lei 9.311, de 24
de outubro de 1996, que institui a Contribuição Provisória sobre Movimentação ou
Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – CPMF; da Lei
9.872, de 23 de novembro de 1999, que cria o Fundo de Aval para a Geração de
Emprego e Renda – Funproger; da Lei 10.194, de 14 de fevereiro de 2001, que dispõe
sobre a instituição de Sociedades de Crédito ao Microempreendedor; e da Lei 10.735, de
11 de setembro de 2003, que dispõe sobre o direcionamento de depósitos a vista
captados pelas instituições financeiras para operações de crédito destinadas à população
de baixa renda e a microempreendedores; e dá outras providências.”

12 “Altera o art. 12 da Lei 8.177, de 1.º de março de 1991, que estabelece regras para a
desindexação da economia e dá outras providências, o art. 25 da Lei n. 9.514, de 20 de
novembro de 1997, que dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a
alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências, e o inciso II do art. 167 da
Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros públicos e dá
outras providências.”

13 “Art. 118. Emenda é a proposição apresentada como acessória de outra, sendo a


principal qualquer uma dentre as referidas nas alíneas a a e do inciso I do art. 138. § 1.º
As emendas são supressivas, aglutinativas, substitutivas, modificativas ou aditivas. § 2.º
Emenda supressiva é a que manda erradicar qualquer parte de outra proposição. § 3.º
Emenda aglutinativa é a que resulta da fusão de outras emendas, ou destas com o texto,
por transação tendente à aproximação dos respectivos objetos. § 4.º Emenda
substitutiva é a apresentada como sucedânea a parte de outra proposição,
denominando-se ‘substitutivo’ quando a alterar, substancial ou formalmente, em seu
conjunto; considera-se formal a alteração que vise exclusivamente ao aperfeiçoamento
da técnica legislativa. § 5.º Emenda modificativa é a que altera a proposição sem a
modificar substancialmente. § 6º Emenda aditiva é a que se acrescenta a outra
proposição. § 7.º Denomina-se subemenda a emenda apresentada em Comissão a outra
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emenda e que pode ser, por sua vez, supressiva, substitutiva ou aditiva, desde que não
incida a supressiva, sobre emenda com a mesma finalidade. § 8.º Denomina-se emenda
de redação a modificativa que visa a sanar vício de linguagem, incorreção de técnica
legislativa ou lapso manifesto.”

14 “Art. 58 [Lei 10.931/2004]. A Lei 10.406, de 2002 – Código Civil (LGL\2002\400)


passa a vigorar com as seguintes alterações:
‘Art. 1.331 (…) § 3.º A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma
fração ideal no solo e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal
ou ordinária no instrumento de instituição do condomínio.’

(…)

‘Art. 1.336 (…) I – contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas
frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção;’

(…)

‘Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 (dois terços) dos votos dos condôminos a
alteração da convenção; a mudança da destinação do edifício, ou da unidade imobiliária,
depende da aprovação pela unanimidade dos condôminos.’

(…)

‘Art. 1.485. Mediante simples averbação, requerida por ambas as partes, poderá
prorrogar-se a hipoteca, até 30 (trinta) anos da data do contrato. Desde que perfaça
esse prazo, só poderá subsistir o contrato de hipoteca reconstituindo-se por novo título e
novo registro; e, nesse caso, lhe será mantida a precedência, que então lhe competir.’”

15 “Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade


fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se
aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação
especial.”

16 Antiga Lei de Introdução ao Código Civil (LICC (LGL\1942\3)).

17 Envolvendo uma operação financeira, o nomen iuris “arrendamento mercantil” não é


o mais adequado, pelo que seria preferível denominá-lo de arrendamento “financeiro”.
AQUINO, Álvaro Antônio Sagulo Borges de. Leasing – Responsabilidade civil. Revista
Forense 324/5.

18 Esta definição é dada pelo parágrafo único do art. 1.º da Lei 6.099/1974, com a
redação dada pela Lei 7.132/1983.

19 RUOZI, Roberto. Il leasing. Milão: Giuffrè, 1971. p. 23.

20 HORTA, Paulo Gustavo Rebello; MAXIMILIAN, Paulo. Contrato de leasing de veículos:


verdades e mentiras sobre o Valor Residual Garantido (VRG). Disponível em:
[www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista55/Revista55_215.pdf].

21 A Tabela Price ou sistema francês de amortização é um método usado em


amortização de empréstimo, cuja principal característica é apresentar prestações (ou
parcelas) iguais. Essa Tabela usa o regime de juros compostos, para calcular o valor das
parcelas de um empréstimo e, dessa parcela, qual é a proporção relativa aos
pagamentos dos juros e a amortização do valor emprestado. Os juros compostos são
juros sobre juros, de modo que os juros de um mês são incorporados ao capital inicial,
rendendo novos juros para o mês seguinte.

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22 O sistema SACRE é o Sistema de Amortização Crescente, modelo em que as


prestações mensais mantêm-se próximas da estabilidade e no decorrer do financiamento
seus valores tendem a decrescer.

23 O sistema SAC é um sistema de amortização de dívida em prestações periódicas,


sucessivas e decrescentes, em progressão aritmética, em que o valor da prestação é
composto por uma parcela de juros uniformemente decrescente e outra de amortização
que permanece constante.

24 “Art. 295. A petição inicial será indeferida: I – quando for inepta. (…) Parágrafo
único. Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de
pedir; II – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III – o pedido
for juridicamente impossível; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.”

25 “Art. 295. A petição inicial será indeferida: (…) VI – quando não atendidas as
prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.”

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