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QUEM QUER

SER UM
MEDALHISTA?
Como se tornar um super atleta
dos números

Por Diego Marques

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Sumário

Sumário 2

1 Como Estudar de Forma Otimizada 8


1.1 O poder da Matemática . . . . . . . . 8
1.2 Tenha o tempo ao seu favor . . . . . . 11
1.3 Repetir, repetir e... repetir . . . . . . . 14
1.4 É errando que se aprende . . . . . . . 15
1.5 O quarto escuro . . . . . . . . . . . . 16
1.6 Você é um atleta! . . . . . . . . . . . 18

2 Treinamento e Alta Performance 19


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2.1 Motivação: o início de tudo . . . . . . 19


2.2 Se desafie . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Música, Matemática e o nosso cérebro 23
2.4 A sacola de ideias . . . . . . . . . . . 29
2.5 O poderoso uso da memória . . . . . 31
2.6 Como aprender lógica . . . . . . . . . 36

3 Métodos para Resolver Questões 42


3.1 Como fazer uma prova . . . . . . . . 43
3.2 Como assimilar o tempo . . . . . . . 44
3.3 Na mente de um elaborador de questões 46
3.4 Aprenda a interpretar os problemas . 49
3.5 O poder da simetria . . . . . . . . . . 53
3.6 Dividir para conquistar . . . . . . . . 57
3.7 Força bruta . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.8 Generalizar é o remédio . . . . . . . . 63
3.9 O mais difícil pode ser mais fácil . . . 65
3.10 Como dissertar/explicar as soluções . 68

4 Tudo Sobre Como se Preparar 76


4.1 Quais assuntos estudar? . . . . . . . . 77
4.2 Onde devo procurar ajuda? . . . . . . 82
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4.3 Quando começo? . . . . . . . . . . . 86


4.4 No dia/hora da prova . . . . . . . . . 89

5 De Medalhista da OBMEP a Doutor em


Matemática 91

6 Uma Pequena Auto-Biografia 95

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Introdução

Caro leitor, é uma grande honra ter sua ilustre aten-


ção nesse momento. Deixa eu me apresentar. Meu
nome é Diego Marques, sou professor do Departa-
mento de Matemática da Universidade de Brasília,
pesquisador do CNPq, coordenador regional da Olim-
píada Brasileira de Matemática (OBM), coordenador
de projeto do Portal da Matemática (OBMEP), coor-
denador e um dos fundadores da OMDF (Olimpíada
de Matemática do Distrito Federal). Sou doutor e
pesquisador na área de Teoria dos Números e fiquei
bastante conhecido (contra minha vontade) por ser

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o recordista (RankBrasil) de término de doutorado


em Matemática em menor tempo do Brasil (3 meses
e 9 dias). Acompanho e trabalho com olimpíadas há
muito tempo. Já fui corretor da Olímpiada Brasileira
de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) por
várias vezes e já dei treinamento para vários alunos
super-vencedores em olimpíadas científicas.
Tenho ainda um canal no Youtube (Canal Diego
Marques) com mais de 35 mil inscritos e esses “alunos”
foram sem dúvida a grande motivação para eu escre-
ver esse material. Nesses 3 anos de canal, foram mais
de 60 mil comentários (acredite eu tento responder a
todos!) e quase 2 milhões de visualizações. Mais de
200 alunos já me reportaram a conquista da sonhada
medalha depois de assistir aos meus vídeos. Isso é
muito gratificante e me incentivou a tentar ajudar
ainda mais.
Nesse livro vou ser o seu tutor/técnico (coach)!
Vou usar toda minha experiência para treiná-lo para
o sucesso na Matemática (em olimpíadas científicas
e também nos estudos em geral), não apenas resol-
vendo questões (já existem muitos materiais assim),
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mas sim mostrando o caminho certo! Da forma natu-


ral (e bela) que vem na minha cabeça. Vou dar ênfase
em assuntos que não foram tão abordados no canal
e ensinar a você, as técnicas que desenvolvi para
meu próprio estudo. Por exemplo, como melhorar o
foco, memorização, administração do tempo, lógica,
motivação etc. Espero que esse seja um material de
consulta contínua (até mesmo de auto-ajuda) para
todos que almejam alcançar a excelência na rainha
das ciências. Além do mais, os tópicos serão apre-
sentados de forma sucinta e com o intuito de serem
motivadores e elegantes. Sem “muitas” fórmulas e a
“burocracia” da maioria dos livros (que muitas vezes
afastam os alunos menos pacientes).
Assim, convido você a viajar nesse mundo tão
lindo! O mais importante: “escute a música da Mate-
mática!” e divirta-se!
Por fim, dedico esse livro à minha filha, à minha
mãe, ao meu pai (in memoriam) e à minha namorada.

Diego Marques
Brasília, 2019.
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Capítulo 1

Como Estudar de
Forma Otimizada

1.1 O poder da Matemática


Auditório cheio, meia luz e em dezembro de 2018 um
“jovem” matemático chega para proferir uma palestra
plenária no maior evento de Álgebra (sua área) do
Brasil. Bem, há 15 anos atrás, esse mesmo jovem não
tinha muitos anseios pela vida e/ou carreira acadê-
mica. Vinha de família humilde e nascido em Forta-
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leza, estudou, se dedicou e focou nos objetivos. Hoje


aos 35 anos, ele conseguiu chegar ao “topo” (ainda
tem mais por vir!). Como dizia o grande rei Roberto
Carlos: “Esse cara sou eu”. Brincadeiras a parte, quero
que você saiba que não importa o que digam, acre-
dite no que faz você brilhar! Acredite no amor (pela
carreira) e não pense (de imediato) em dinheiro! Mui-
tos me disseram que Matemática não dava dinheiro,
que eu só conseguiria comprar um carro popular, etc
etc etc (falácias). Essa é uma preocupação bem geral
e esse tipo de questionamento já me foi feito deze-
nas de vezes no meu canal: “professor, Matemática
dá dinheiro?”, “vou poder me sustentar com a Ma-
temática?” ou até mesmo “será que consigo colocar
gasolina no meu carro sendo professor?” (verdade, já
me perguntaram isso!). Bem, eu respondo que se você
for bom, se você for disciplinado/capaz e produtivo,
você pode ter o que quiser! Você pode ser reconhe-
cido e financeiramente recompensado. Pode viajar o
mundo com a Matemática, aprender vários idiomas,
ser requisitado, escrever livros, orientar pessoas e ter
aquele carro de luxo que você sempre sonhou, e/ou
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até aquela linda mansão que você almeja. Tudo é


possível para quem crê (bíblico isso!). Em 15 anos, a
Matemática me tirou do zero (quase) e me colocou no
alto de tudo que eu sequer sonhava. Hoje devo tudo
a ela e quero compartilhar o que aprendi nesses anos
de dedicação, amor e paixão com você! Minhas últi-
mas palavras nesse momento são: “não deixe que te
limitem. A régua deles não pode medir a capacidade
do seu sucesso!”.

“É possível mostrar o poder que a Matemática dá às


pessoas.”
– Jaime Carvalho e Silva

Saliento ainda que quase todos os ex-olímpicos


que conheço têm ótimos empregos, são muito bem
sucedidos e reconhecidos em suas áreas. Então, deixe
eu te treinar e você vai ver que coisas grandiosas
podem acontecer em sua vida quando a Matemática
se torna uma amiga (e não uma vilã).
Nesse primeiro capítulo vou dar dicas (teóricas e
práticas) para um melhor aproveitamento do estudo.
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Que elas sirvam para tirar o melhor de cada um.


Vamos então começar...

1.2 Tenha o tempo ao seu favor


Muitas pessoas pensam que estudar 10 horas por dia
é a solução. Uma vez escutei de um colega que ele
estudava 12 horas por dia. Ele falava aquilo com orgu-
lho, mas na verdade suas notas eram ruins (péssimas).
Como pode isso? A resposta é simples! Quantidade
não é qualidade! Essa frase tão clichê nunca se en-
caixa tanto como nesse quesito. Você tem que estudar
de forma intensa, sem preocupações e em alta per-
formance (falarei disso mais vezes). Quando sentar
para estudar, coloque o celular no modo avião, desa-
tive as notificações e mergulhe fundo no abstrato. É
no “oceano” mais profundo que as ideias, conexões,
padrões vão surgir. Um estudo de uma hora em alta
performance dará mais resultados (bons) que mais
de 10 horas de estudo da forma padrão. Pense nisso!
Tire um tempo hoje para você, para seus sonhos.

“Uma jornada de mil milhas começa com um único


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passo.”
– Lao Tsé

O sonho de hoje é a realização de amanhã. As ho-


ras de estudo hoje se transformarão na vida plena no
futuro. O dia tem 24 horas (mais ou menos), por que
você não pode tirar uma parte desse dia e se dedicar
a sua vida futura? Uma vez eu li que somos frutos
dos nossos hábitos. Então eu pergunto: “quais são
os seus hábitos?”, “quais são bons e quais são destru-
tivos?”. Quando você moldar seu tempo para coisas
produtivas, você vai entrar em uma “bola de neve” de
aprendizagem e verá as coisas se encaixando e o fu-
turo próspero cada vez mais perto. Por isso, dedique
um momento do dia para estudar. Escolha o período
do seu dia antes e não apenas “tente” estudar nas
“migalhas” de tempo que sobram. Menos de 5% das
pessoas fazem isso (basta ver quantas pessoas deixam
para estudar para as olimpíadas alguns dias antes da
prova) e se você largar na frente, terá vantagem sobre
elas.

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“Temos tempo suficiente, se o usarmos direito.”


– Johann Wolfgang Von Goethe

Minha proposta então é a seguinte: vamos fazer


um estudo gradual. Começamos a primeira semana
com 30 minutos por dia (você consegue?). Podemos
ir aumentando 15 minutos a cada semana seguinte.
Acreditem, é melhor fazer isso do que tentar começar
com 3 horas por dia. Por que? É simples, se você não
conseguir ficar as 3 horas, isso pode gerar uma frus-
tração que pode te desmotivar por achar que não é
capaz. Aí, você pode desistir por se sentir “derrotado”.
No entanto, quando colocamos uma meta baixa, por
exemplo, 30 minutos por dia, vamos observar que é
fácil cumpri-la e assim, se quisermos estudar mais
estaremos superando aquele limite estabelecido, o
que pode gerar um efeito super positivo na sua auto-
estima! E isso é ótimo! Sigam esses passos e terão
mais controle sobre o tempo. Por fim, nosso cérebro
é muito bom em se moldar ao que fazemos. Os 30 mi-
nutos que podem ser “doloridos” hoje, serão simples
de ser superados “amanhã”.
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Também não esqueça da importância de

1.3 Repetir, repetir e... repetir


Estudar Matemática não é uma atividade passiva, ou
seja, você tem que ter, em geral, papel e caneta do
seu lado. Escrever, pensar, rabiscar e... repetir.

“Somos aquilo que fazemos repetidamente”


– Aristóteles

Quando eu peço para repetir não significa fazer


várias vezes a mesma questão, mas questões simila-
res, onde você acredita que a mesma ideia ou método
pode ser empregado. A repetição vai te levar a perfei-
ção. Por exemplo, imagina que você assiste um filme
e no outro dia você o assiste novamente. Tenho cer-
teza que muitos detalhes que passaram despercebidos
da primeira vez agora ficaram claros na sua mente.
Assistindo novamente, você aprende até as falas dos
personagens e vê detalhes que até mesmo o diretor
do filme, talvez, não tenha pensando (acredite, isso

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acontece mesmo!). Já ouviram a máxima: “a repeti-


ção leva à perfeição”? Isso é muito verdade, repetir
vai fazer com que aquela ideia faça parte de você, da
sua alma, estará no seu “sangue”! E nesse momento
você toma posse dela e a usa quando bem entender
e sempre estará a vontade para invocá-la! (Moldá-la
para seu problema atual). Mas saiba também que

1.4 É errando que se aprende


Muitos alunos ficam frustrados com o erro, acham
que isso é um fracasso e que não conseguirão obter
êxito. Bem, digo a você que isso está longe de ser
verídico. Na verdade, o erro nos ensina mais do que
o acerto. Para perceber isso, imagino que todos te-
mos alguma lembrança dolorosa da nossa infância.
Mas por que isso? Porque a dor nos marca. Muitos
momentos bons vem e vão, mas momentos ruins são
lembrados por um bom tempo (talvez para sempre).
Assim, na Matemática, aquele problema que você ten-
tou resolver e errou por várias vezes, vai se tornar
seu maior amigo quando você conseguir resolvê-lo.

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Aquela ideia vai seguir você para sempre, pois ela


te marcou. Foi com ela que você se livrou daquela
questão “perturbadora”. Nesse momento, ela será sua
aliada e fiel companheira. Por isso, dê valor ao erro e
não se diminua por conta dele. Claro que você preci-
sar consertar o erro para aprender com ele, mas ao
fazer isso se dará conta das maravilhas que conseguiu
por aquela solução.

“O pensamento só começa com a dúvida.”


– Roger Martin Du Gard

Algo importante é evitar

1.5 O quarto escuro


Existe uma pergunta que recebo sempre: “como sa-
ber se estou fazendo as contas certas?”. Essa é uma
questão muito importante e todos devemos saber a
hora certa de parar.

“Um matemático é um homem cego, numa sala às


escuras, à procura de um gato preto, que não se
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encontra lá.”
– Charles Darwin

A frase do Darwin representa muito a ideia do


que é um matemático. Precisamos saber a hora certa
de sair do “quarto escuro” (aquela ideia que não vai
dar certo). Já vi alunos perderem uma prova inteira
tentando resolver uma questão, fazendo páginas e
mais páginas de cálculos! Isso pode ser destrutivo!
Você deve imaginar que o elaborador da prova não
fez a questão para ter uma solução tão rudimentar
(centenas de cálculos) e que talvez sua ideia é que
não é boa para aquele problema. Então respire, tente
esquecer aquela ideia e bola para frente. Comece do
zero novamente e tente encaixar uma nova saída para
o problema. Nossa mente é ilimitada e a qualquer mo-
mento podemos ter “a ideia”. Por isso, aprenda a sair
do quarto escuro (ideia), pois o gato preto (solução)
pode não estar lá.
Não esqueça que

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1.6 Você é um atleta!


Bem, o termo olimpíada nos remete à competições,
grandes atletas, nadadores, maratonistas e gênios do
esporte. No caso das olimpíadas de Matemática isso
também ocorre. Você tem que treinar, se dedicar, ter
disciplina (organização) e se superar a cada dia. É
uma busca contínua pela medalha e nesse caminho
você tem que lutar bastante. A dica que eu dou aqui
são alguns exercícios que você pode/deve fazer. Vou
explicar cada um deles em detalhes no próximo capí-
tulo.

“Você não pode colocar um limite em nada. Quanto


mais você sonha, mais longe você chega.”
– Michael Phelps

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Capítulo 2

Treinamento e Alta
Performance

2.1 Motivação: o início de tudo


Todos nascemos com um talento, mas acredito que
a disciplina, organização e o foco podem nos trazer
grandes resultados. Muitos inscritos do meu canal
me perguntam se a Matemática é apenas para “gê-
nios”. A resposta é bem simples e direta: não! A
Matemática pode ser estudada por todos, com suas
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dificuldades, facilidades etc. Assim, como todo atleta


você tem que ter uma motivação. Sempre bato nessa
tecla com meus alunos. Seria ganhar uma medalha?
Se sim, para quê? Então digo a você, pense agora o
que lhe motiva e o porquê disso. Se motive por algo
sempre! Sua motivação pode ser estranha (para os
outros), mas deve existir. Seja para impressionar uma
garota, seja para comprar a casa dos sonhos ou até
mesmo para colecionar mais uma medalha. Não tem
problema! Você precisa saber onde quer chegar com
isso! O porquê de se dedicar. Esse tipo de reflexão
vai fazer o caminho mais “palpável” e assim, aparen-
temente, mais próximo. Você deve se divertir com a
Matemática (essa é a premissa), mas também saber
onde isso vai te levar no futuro. Sabemos que no caso
da OBMEP, uma medalha te garante bolsas de estudo
(em alguns casos) durante uma graduação, mestrado
e doutorado. Isso por si só já é uma grande coisa.
Receber “salário” (bolsa) para estudar! Quantos não
queriam essa chance? Quantos, hoje em dia, pagam
absurdos para se especializarem e melhorarem seus
currículos? Agarre essa chance! Te digo com toda
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certeza que não irá se arrepender.

“Determinação, coragem e auto-confiança são fato-


res decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos
por uma inabalável determinação, conseguiremos
superá-los.”
– Dalai Lama

2.2 Se desafie
Algo que sempre me motivou foram os desafios. O
fato de você escrever no papel o problema que você
está trabalhando e colocar no topo da página a pala-
vra “desafio” (eu escrevia em vermelho para chamar
mais atenção!), já traz um efeito psicológico muito
importante, pois geralmente rendemos mais quando
somos desafiados e por vezes até desacreditados. Que-
remos mostrar que as pessoas estão erradas sobre nós
e assim nossa motivação/confiança alcança as alturas.

“Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é


menor.”
– Walt Disney
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Então essa é a tarefa para você: todo dia pegue


uma folha branca e escreva no topo a palavra “de-
safio” em vermelho (se possível, como se fosse um
alerta!). Logo abaixo coloque aquela tarefa ou pro-
blema que você pretende resolver naquele dia. Sente
(isso é importante) e pense, se debruce no problema,
deixe sua mente viajar na abstração e ao resolver,
você vai experimentar o famoso “triunfo da desco-
berta”. Digo ainda que a cada desafio resolvido, você
vai se sentir mais apto a ir adiante e se desafiar mais.
Criando um hábito poderoso de trabalhar e pensar
em alta performance. Claro que os seus desafios de-
vem ser “fazíveis”, pois de nada adianta você colocar
um problema impossível (pelo menos para o seu ní-
vel atual) e que a sua não solução pode trazer um
efeito ruim para o seu cérebro, como já comentamos
anteriormente.

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2.3 Música, Matemática e o nosso


cérebro
Para quem gosta de música, parece que as vezes
mesmo escutando uma canção pela primeira vez, al-
gumas das rimas já fazem sentido antes mesmo do
cantor terminá-las. Você já experimentou isso? Saber
o final da rima (qual palavra será usada) antes mesmo
de ouvi-la? Bem, isso acontece com muitos apaixo-
nados (ou nem tanto) por música. E qual a relação
da música e da Matemática? Para mim, a conexão
entre elas é imensa. Alguns estudiosos acreditam
que a música e a Matemática são exemplos de talen-
tos que já podem nascer com um indivíduo. Como
assim professor? Calma, não quero dizer que um
bebê nasce sabendo uma sinfonia de Chopin ou o teo-
rema de Pitágoras, mas sim que a facilidade e a forma
como a música/Matemática faz sentido na cabeça dele
(quando o mesmo vai se desenvolvendo) é enorme.
Como se os padrões já estivessem lá, adormecidos,
esperando uma faísca/gatilho para aparecerem.
Você sabia que o músico alemão Johann Sebastian
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Bach usava padrões matemáticos em suas composi-


ções? Isso mesmo, como se fosse uma música Ma-
temática. Você sabia ainda que a NASA (Agência
Espacial Norte-Americana) lançou (em 1977) as son-
das espaciais voyager e nelas colocou um disco de
ouro com um conteúdo terráqueo que pudesse ser
encontrado e decifrado por possíveis civilizações ex-
traterrestres? Pois bem, isso não é ficção científica,
mas sim um fato verídico (em maio de 2005, a Voyager
1 estava a 14 bilhões de quilômetros de distância do
Sol, viajando a uma velocidade de cerca de 61 000
km/h). Na verdade, o famoso “disco de ouro” con-
tém 28 músicas escolhidas para representar o nosso
processo criativo e a primeira delas, advinha, é o con-
certo para Brademburgo No 2 de Bach. A Matemática
vista como uma lei universal.
Agora, como podemos tirar proveito da música
na nossa busca pelo melhor desempenho? Vamos
pensar assim. Por que um jogador de futebol treina,
por vezes, com pesos anexados às pernas? Ou sendo
puxado por um elástico em volta da cintura? Sabe-
mos que numa partida de futebol esses utensílios não
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serão usados. A resposta é que fazendo isso você con-


diciona seu corpo a uma espécie de “extremo”. Isso
fará você se sentir mais “leve” durante um jogo de 90
minutos (sem pesos ou elásticos). O mesmo pode ser
feito em relação a música e aos estudos. Por exemplo,
já ouvi falar de vários alunos que ficam perturba-
dos durante uma prova por qualquer tipo de barulho,
como tosses de outro aluno, o bater de uma caneta
na carteira ou o som de uma goma de mascar. Todos
esses exemplos (e muitos outros que já ouvi) tem uma
coisa em comum: eles não dependem de você! Isso,
por vezes, é desesperador! Estudar tanto para uma
prova, mas o seu cérebro prefere se concentrar em
barulhos externos? Como podemos “treinar” isso?
Então aqui vão alguns passos:

• Passo 1. Na primeira semana, comece a resol-


ver questões escutando alguma música (prefe-
rivelmente usando fones de ouvido). Escolha
uma música instrumental, como, os já mencio-
nados, Bach, Chopin, etc.

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• Passo 2. Na semana seguinte, vamos começar


a escutar músicas com “letras”, isto é, com al-
guém cantando. Escolha músicas que lhe agra-
dam (independente do ritmo musical).

• Passo 3. Na terceira semana, vamos começar


colocando um gênero musical que você não
gosta. Escolha aquela música chata (ou chi-
clete) que não agrada seus ouvidos.

• Passo 4. Na última semana, vamos abrir duas


janelas do seu navegador e em cada uma de-
las colocaremos, no Youtube, uma música de
um gênero diferente (pode ser pagode e funk,
sertanejo e forró, clássica e rock, o que prefe-
rir!). Isso mesmo que você leu: duas músicas
ao mesmo tempo!

A ideia é ir gradativamente tentando pertubar seu


cérebro (claro que para fazer isso, você já precisa es-
tar em um nível bom de estudos). Esses passos vão,
dentro de um mês, treinar a sua concentração. Na
primeira semana, o “barulho” vai lhe desconcentrar
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um pouco (para quem não tem costume). Na segunda


semana, você vai ter o desafio de pensar no seu pro-
blema, mesmo com seu cérebro querendo focar nas
palavras ditas pelo cantor. Na terceira semana, além
da dificuldade anterior, você ainda será exposto a
algo que desagrada seu “paladar” musical e que lhe
gera um pouco de desconforto. Na quarta e última
semana, você terá seu cérebro (ideias) embaralhados
com ritmos, batidas e proporções musicais distintas.
Esse é o grande desafio e eu uso isso até hoje com
meus alunos e na minha pesquisa, trazendo resul-
tados surpreendentes. Acredite, depois de dominar
isso, aquele barulho (antes indesejável) na hora da
prova vai ser “música” para seus ouvidos! Confie no
seu poder de se moldar às adversidades e lembre-se
sempre que a grande mudança acontece fora da nossa
zona de conforto.

“É bom domesticar a mente que, de difícil domínio,


e veloz, corre para onde lhe agrada; a mente domes-
ticada traz felicidade.”
– textos budistas
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Vou colocar aqui um trecho de uma entrevista que


dei (para o site da UnBCiência) e que fala sobre isso
também.
“É ao som do clássico Ludwig van Beethoven e dos pa-
godeiros do Exaltasamba que Diego Marques costuma
mergulhar na pesquisa dos números. Não se pense que
o jovem professor escolhe o gênero musical inspirador
de acordo com o humor do dia. “Coloco os dois CDs
de uma vez”, ressalta. Segundo o pesquisador de 27
anos, o estranho hábito funciona como um exercício
para o cérebro. “Gosto de tentar me desconcentrar para
trabalhar o foco durante os exercícios”, explica ele.
O professor compara o método ao treino de jogadores
de futebol, que correm com pesos nos pés para aumen-
tar a resistência física. “Em um dado momento, eu
desligo uma das músicas”, conta. “É como se o jogador
tirasse o pesos dos pés e seguisse correndo, agora numa
velocidade maior”, completa. A malhação intelectual
surte efeito. Pelo menos no caso de Diego. Aos 27 anos,
além de membro da Academia Brasileira de Ciências
ele conquistou o título de doutorado em menos tempo
na história da UnB: três meses.
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O método de Diego é apenas uma das peculiaridades


do universo que envolve as pesquisas em Matemática.
Ao contrário das outras ciências, onde pesquisadores se
enclausuram em laboratórios ou em viagens de campo,
o desafio de solucionar uma equação ou criar um teo-
rema envolve papel, caneta e intuição. A tão misteriosa
“intuição” – que segundo Aurélio Buarque de Holanda
significa o ato ou a capacidade de pressentir – é peça
fundamental na lida com cálculos complexos.”

2.4 A sacola de ideias


“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há
esperança para ela.”
– Albert Einstein

Eu sempre digo aos meus alunos que na Matemá-


tica sempre carregamos uma sacola nas costas (pense
na figura do Papai Noel). Nesse saco, colocamos todas
as ideias que já vimos na vida e aprendemos (pode ser
nossa ideia ou não). Quanto maior e mais volumosa
essa sacola, maior a chance de encontramos um pro-
blema que utiliza algo que já vimos parecido. Uma
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vez perguntaram a um aluno chinês participante da


IMO (International Mathematical Olympiad) o porquê
de ele ter ido tão bem na prova. Ele respondeu que ao
ver uma questão, imediatamente umas cinco ideias
de como atacá-la aparecem em sua mente. Assim, ele
começa a testar uma por uma (começando com a mais
promissora) até encontrar a solução. Vale salientar
que a frase “minhas chances de sucesso aumentam
a cada tentativa” (proferida por John Nash no filme
uma mente brilhante) faz todo sentido, pois os erros
cometidos anteriormente nos ensinam a trilhar um
caminho mais vencedor da próxima vez.

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais vol-


tará ao seu tamanho original.”
– Albert Einstein

Então, todo mundo deve ter sua sacola de ideias. E


como conseguir isso? Como eu disse, você pode ter
suas próprias ideias ou pode ver soluções de questões
feitas por outras pessoas e focar na ideia principal da
resolução. Guarde a ideia, pois ela pode ser bastante
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útil num futuro próximo. Tente fazer aquilo natural


na sua cabeça e entender a essência da ideia. Por esse
motivo, quanto mais você lê, assiste e pensa, mais
sua sacola aumenta e maior a probabilidade de você
ter uma ideia (ou junção de várias) para resolver seu
próximo desafio.

2.5 O poderoso uso da memória


Todos os dias recebo mensagens de alunos se quei-
xando da sua capacidade de memorização: “professor,
eu estudo, mas na hora da prova eu esqueço tudo. O
que eu faço?”. Calma meu rapaz, a primeira coisa
é saber que a memória também pode ser treinada e
deixar de ser um problema para se tornar uma arma
afiada ao seu favor. Lembro no curso de mestrado
quando fui fazer uma prova de Geometria Diferencial.
Existiam umas fórmulas (acho que umas dez) e eu as
memorizei todas para a prova. Quando o professor
me entregou a folha, eu imediatamente já as coloquei
no verso da página. Eu sabia extrair aquelas fórmulas
de um resultado mais geral, mas achei que memorizá-

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las seria um desafio interessante e me faria não perder


tempo (veremos depois como é bom regular o tempo
e usá-lo ao seu favor na hora da prova).

“A verdadeira arte da memória é a arte da atenção.”


– Samuel Johnson

Sempre ouço relatos de alunos que têm aqueles


“apagões” (brancos) na hora de um teste/prova. Na
verdade, isso acontece, muitas vezes, pela ansiedade,
medo e nervosismo. A ideia é ficar calmo (alguns até
precisam de ajuda profissional nesse quesito), saber
que aquela prova é importante, mas você deve con-
fiar na sua mente! Coisas excepcionais podem sair
dela. Abaixo vou dizer o método que eu uso para
memorizar. Tente segui-los:

• Dica 1. Leia o assunto (teorema, fato, etc) e


vá escrevendo no papel (enquanto lê). Depois
disso, respire fundo, coloque o papel escrito
para longe e pegue um novo em branco. Agora,
tente reescrever tudo que você lembra sobre o
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que acabou de fazer. Depois compare as folhas


e veja o que esqueceu. Se não tiver esquecido
nada, ótimo! Caso contrário, leia novamente
e tente escrever tudo em uma nova folha em
branco. Repita esse processo até conseguir re-
digir exatamente tudo que fez da primeira vez
(enquanto lia). No processo, você terá visto os
detalhes que esqueceu (geralmente os alunos
esquecem exatamente os detalhes e que são
muito importantes!). Agora, você memorizou
aquela parte e com o treinamento vai fazer isso
(se atentar aos detalhes) naturalmente.

• Dica 2. Antes de dormir, depois de fazer tudo,


se deite e leia o assunto que você quer apren-
der/memorizar. Nessa hora não precisa de pa-
pel, leia como se estivesse lendo um romance.
Não precisa reler se não entender algo, apenas
leia continuamente e depois vá dormir, sem
falar com ninguém (e claramente sem usar ce-
lular, nem escutar música, etc). Assim que acor-
dar e ainda antes de falar com qualquer pessoa,
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leia novamente o texto e pronto! Você vai ob-


servar que aquilo ficará na sua memória e você
pode se assustar com os resultados! Agora,
quando você pegar o papel e trabalhar nesse
assunto, verá que tudo será bem mais natural.
Como se já fizesse parte de você. Use essa dica
poderosa!

Antes de terminar essa seção, vale a pena falar


sobre uma técnica de memorização conhecida como
palácio da memória. A ideia principal é associar algo
que você quer memorizar à uma coisa bem bizarra.
Deixa eu dar um exemplo. Quando eu estava no meu
pós-doutorado no Canadá, eu passava em um lugar
que tinha um cartaz sobre um passeio (para as mon-
tanhas rochosas) que eu estava interessado em fazer.
No entanto, eu nunca lembrava do nome do site para
procurar mais informações quando chegasse em casa.
Por mais que eu achasse que dessa vez eu tinha me-
morizado (esse é o engano), eu percebia que algumas
horas depois as palavras sumiam da minha mente.
Aí tive que usar (em partes) o palácio da memória,
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e o que eu pensei: ET (da dupla ET e Rodolfo - pro-


cure no Google) cantando com o rapper Kanye West.
Como? Isso mesmo, essa cena bizarra (para quem já
viu o ET) está relacionada à palavra trackwest (leia
“trequi-ueste”) que tinha a ver com o passeio que eu
queria fazer. Lembrei do Kanye West para memori-
zar o west e o ET representava o track (pois o seu
companheiro Rodolfo o chamava, carinhosamente,
de “trequinho”). Essa cena tão maluca me fez nunca
esquecer da palavra trackwest, mesmo há mais de 5
anos do acontecido.
Então você também pode usar essa técnica. Tente
fazê-la, é muito útil. Você verá como nosso cérebro
se atenta à coisas estranhas. Tenho vários exemplos
de quando usei essa ferramenta. Uma vez, usei para
decorar umas palavras quanto eu estava fazendo um
curso de francês. Por exemplo, eu pensava em metade
de um morcego voando para lembrar que a palavra
francesa morceaux (leia morçô) significa “pedaço” ou
pensava em um pastel de melancia que representa a
palavra pastèque (leia pastéki) que significa melan-
cia. Resumindo, você pode usar essa ferramenta sem
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moderação (na quantidade e nas bizarrices).

2.6 Como aprender lógica


“A lógica é a anatomia do pensamento”
– Henry Goodwin

Como veremos adiante, a lógica é o assunto que


mais aparece nos três níveis da prova da OBMEP.
Na minha enquete no Instagram (@CanalDiegoMar-
ques), recebi muitos pedidos de ajuda nesse quesito.
Realmente é um assunto espinhoso, pois não “existe”
bem uma matéria para ser estudada, mas sim preci-
samos resolver e resolver problemas para atingir a
maturidade necessária.
A lógica é formada por um conjunto de regras
(ideias) e princípios que estão relacionados a criação
de uma argumentação, raciocínio ou resolução de um
problema (matemático ou não). Assim, os problemas
que são de lógica têm por objetivo testar a capacidade
do aluno argumentar, usar ideias abstratas e obter
uma resposta, depois de determinados passos. No en-
tanto, existem algumas coisas básicas que precisamos
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aprender aqui. Por exemplo, quando temos uma afir-


mação (vamos chamar de P ), precisamos saber como
negar essa afirmação (vamos denotar ∼ P : negação
de P ). Vamos dar um exemplo:

P : Todo cearense é brasileiro.

Sua negação seria

∼ P : Existe algum cearense que não é brasileiro.

Observe que a negação de “todo” não é “nenhum”,


mas sim “existe pelo menos um”. Outro fato impor-
tante é que quando temos duas afirmações ligadas
por um conectivo (“e” ou “ou”), temos que negar cada
uma delas e negar o conectivo (se for “e” se trans-
forma em “ou” e vice versa). Por exemplo,

P ∨ Q : A culpa é do João ou da Maria.

Note que o símbolo “∨” significa “ou” (união quando


falamos de conjuntos). Então P ∨ Q significa que ou
acontece P ou acontece Q. Negar isso seria ∼ P ∧ ∼
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Q, isto é, negar P e (símbolo ∧ que é relacionado a


interseção quando falamos de conjuntos) negar Q.
Vejamos:

∼ P ∧ ∼ Q : A culpa não é de João e nem de Maria.

O contrário também é verdade. Por exemplo, negar


P ∧ Q é igual a ∼ P ∨ ∼ Q. Vejamos um exemplo.

P ∧ Q : A culpa não é do João e nem da Maria.

Então

∼ P ∨ ∼ Q : A culpa é do João ou da Maria.

Vamos ver um problema de lógica típico da OB-


MEP, onde podemos usar essas ideias:

Problema 1 (OBMEP 2018) Vovó Vera quis saber


qual de suas cinco netinhas tinha feito um desenho
na parede de sua sala. As netinhas fizeram as seguin-
tes declarações:

• Emília: Não fui eu.


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• Luísa: Quem desenhou foi a Marília ou a Rafa-


ela.

• Marília: Não foi a Rafaela nem a Vitória.

• Rafaela: Não foi a Luísa.

• Vitória: Luísa não está dizendo a verdade.


Se apenas uma das netinhas mentiu, quem fez o
desenho?

Esse é um típico problema de lógica que pode ser


resolvido pelo estudo de casos. Vale lembrar que essa
questão apareceu nos três níveis da primeira fase de
2018. Vamos então fazer duas soluções:
Solução 1. Vamos supondo que cada uma mentiu
(uma por vez) e ver se isso contraria o fato de so-
mente uma ter mentido. Se Emília mentiu, então foi
ela quem desenhou na parede. Mas isso implicaria
que a Luísa também teria mentido, pois ela disse que
quem desenhou foi a Marília ou a Rafaela. Passamos
então para a Luísa. Se ela tiver mentindo, então nem
foi a Marília e nem foi a Rafaela, portanto só pode
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ter sido a Emília, a própria Luísa ou a Vitória. Mas a


Emília disse que não foi ela, a Marília disse que não
foi a Vitória e a Rafaela disse que não foi a Luísa. Con-
cluímos que a Luísa está falando a verdade. Agora,
se a Marília estiver mentindo, então ou foi a Rafaela
ou a Vitória. Como a Vitória está falando a verdade,
então a Luísa está mentindo, o que não pode aconte-
cer (pois a Marília já está mentindo). Próximo passo,
se a Rafaela está mentindo, então foi a Luísa, mas aí
a Luísa também estaria mentindo, o que não pode
ocorrer. Assim, a mentirosa da turma é a Vitória. Por-
tanto, a Luísa está dizendo a verdade, ou seja, ou foi
a Marília ou a Rafaela. Mas a Marília disse que não
foi a Rafaela e logo ela se incriminou. Portanto, con-
cluímos que a Marília desenhou na parede da Vovó
Vera.
Abaixo a solução oficial da OBMEP.
Solução 2. Se quem desenhou na parede foi Emí-
lia, ela mentiu e também Vitória mentiu. Então isso
não ocorreu, pois somente uma menina mentiu. Se
quem desenhou na parede foi Luísa, ela mentiu e
também Rafaela mentiu. Esse caso também não pode
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ter ocorrido. Se quem desenhou na parede foi Ma-


rília, somente Vitória mentiu. Isso está compatível
com as exigências do enunciado. Se quem desenhou
na parede foi Rafaela, Marília e Vitória mentiram.
Esse caso também não pode ter ocorrido. Se quem
desenhou foi Vitória, Luísa e Marília mentiram; isso
também não deve ter acontecido. Logo, quem dese-
nhou na parede da sala da Vovó Vera foi Marília.
Agora, vamos aprender uns

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Capítulo 3

Métodos para Resolver


Questões

Agora é hora de começar os trabalhos “braçais”. Co-


locar as “mãos na massa”. Vou mostrar para você que
a Matemática não é complicada, mas sim a forma que
ela nos é passada, que as vezes pode ser desmotiva-
dora e artificial. Vamos ver algumas técnicas que vão
ser úteis e como você pode regular tudo, para obter
o que deseja. Primeiro vamos aprender

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3.1 Como fazer uma prova


Muitas, mas muitas pessoas (hoje mesmo aconteceu
isso) me reportam o fato de ter o domínio do assunto,
mas falhar na hora da prova. Por que isso acontece?
Bem, você precisa aprender a fazer uma prova (teste,
etc). Você tem que ser um profissional nesse quesito
(lembre-se que você é um atleta!). Então vamos co-
meçar com o seguinte: suponha que a prova tem 5
questões. Qual você deve fazer primeiro? Minha ideia
é que você deve ler a prova em geral e começar resol-
vendo a questão mais simples para você. Observe que
essa questão pode não ser a mais simples da prova.
Por exemplo, a questão mais fácil da prova pode ser
sobre combinatória, mas se você não é muito bom
nesse assunto, logo ela se torna difícil para você. Ao
resolver as questões que você sabe, você ganha moti-
vação, fica mais confiante e certamente vai exponen-
cializar as chances de chegar nas questões “difíceis”
e conseguir resolvê-las.

“Adversidades são grandes oportunidades.”


– provérbio árabe
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Por esse motivo, você deve saber seus pontos fortes


e fracos (coloque isso em um papel). Tentar otimizar
os fortes e fortalecer os mais fracos. Seja organi-
zado, tente usar sua melhor letra (numa segunda fase
da olimpíada, isso é muito importante, pois um “ser
humano” vai ler o que você escreveu). Faça o seu me-
lhor! Lembre-se sempre disso. Outra coisa, não tenha
vergonha de fazer uma solução que você considera
“feia”. Como dizia um amigo: “o importante é bola
na rede”. Isso é verdade, você quer ganhar os pontos
da questão e por isso não deve se preocupar se sua
solução é extensa/feia ou não. No entanto, tome um
pouco de cuidado em perder muito tempo (e energia)
para resolver algo que pode ser simples. Para isso,
você deve aprender

3.2 Como assimilar o tempo


Essa pode ser a grande chave do sucesso: o tempo.
O senhor de todas as coisas, algo que nunca volta
(será?). Então, devemos tomar muito cuidado com
ele. O tempo pode ser nosso melhor amigo ou, por

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vezes, nosso pior inimigo. Por isso, vamos aprender


como treinar isso. Minha primeira dica é você criar
simulados para você mesmo, ou seja, escolha ques-
tões aleatórias, por exemplo, de provas anteriores
da OBMEP ou do Banco de Questões. Monte uma
prova (escreva as questões em uma folha) e coloque o
cronômetro antes de começar a pensar nas soluções.
Tenha a disciplina de fazer isso como se estivesse em
um teste importante (avise aos seus familiares antes,
para não haver distrações). Acredite, com o passar do
tempo, você verá onde perdeu tempo, onde ganhou,
pode fazer estatísticas sobre isso e tentar melhorar
nos pontos de baixa performance e manter os pontos
de alta. A repetição (como já vimos) vai trazer para
você, naturalmente, o poder de controlar o tempo e
usá-lo para alavancar seu sucesso.

“Com organização e tempo, acha-se o segredo de


fazer tudo e bem feito.”
– Pitágoras

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Outra coisa, no início da prova, não perca tempo


com questões muito difíceis. Deixa-as para o fim,
quando estiver com tempo sobrando e mais motivado
(por ter feito as anteriores). Assim, você já garantiu
uma boa pontuação e isso pode deixá-lo em uma
posição confortável para liberar sua mente para voos
maiores.

3.3 Na mente de um elaborador de


questões
Nessa minha carreira em Matemática, eu já elabo-
rei muitas questões para diversas provas (concursos,
olimpíadas, testes etc) e sei muito bem o que passa
quando queremos fazer uma questão divertida (pelo
menos para nós). Deixa eu explicar com um exemplo:

Problema 2 Sejam a, b e c números reais tais que

(a − 2)2 + (b + c − 3)2 = 0.

Qual o valor de a + b + c?

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Já mostrei essa questão para muitos alunos e pro-


fessores e 90% deles não foram capazes de responder.
Na verdade, todo mundo sabe como começar. Para
isso, usam o Teorema Binomial (Binômio de Newton),
isto é,
(a − 2)2 = a2 − 4a + 4
e depois desenvolvem (b + c − 3)2 , somam, igualam
a zero e tentam extrair algo para encontrar a + b + c.
Se você fez isso tem alguém “feliz” agora: o elabora-
dor do problema. Ele levou você exatamente para o
caminho que “queria”. Fez você perder tempo, pois
essa ideia parece que não vai ser muito boa. Na ver-
dade a solução desse problema é mais simples do
que se imagina. Como a, b e c são números reais,
então usamos que qualquer número real elevando ao
quadrado deve ser zero ou positivo. De forma Ma-
temática, seria dizer que se x é real, então x2 ≥ 0.
Logo, (a − 2)2 ≥ 0 e (b + c − 3)2 ≥ 0. Por outro
lado, a soma desses números não negativos resulta
em zero! Como isso é possível? Pensando um pouco,
observamos que isso só acontece quando ambos os
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números são nulos (tente se convencer disso). Assim


a − 2 = 0 e b + c − 3 = 0, o que implica em a = 2 e
b + c = 3. Daí a + b + c = 5.
Agora, observe o problema seguinte:

Problema 3 Sejam a, b e c números reais tais que

(a − 2)1000 + (b + c − 3)1000 = 0.

Qual o valor de a + b + c?

Ora, usando o mesmo argumento obtemos a


mesma solução! a + b + c = 5, pois a única coisa
que usamos foi que x2 ≥ 0, mas isso é verdade para
qualquer potência par do número real x. Logo vale
para o 1000 que aparece no expoente dos termos na
soma do segundo problema. Agora eu pergunto a
você: por que o elaborador da questão não colocou
o segundo problema na prova ao invés do primeiro?
Bem, a resposta é: se ele o tivesse feito, ninguém usa-
ria o Teorema Binomial para desenvolver (a − 2)1000 !
De fato, o aluno certamente pensaria: “isso é uma
pegadinha”. Nesse caso, o elaborador não poderia se
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“deleitar” com a tomada pelo caminho mais simples


(e completamente errado) feito no caso de potência
dois. Então, tente pensar antes de agir! Tente sentir o
problema. Faça com que ele seja natural para você e
tente encaixar as peças de forma lógica e organizada.
Não se leve pelo caminho simples (em geral), mas
também não pense que tudo é pegadinha!

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo,


não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se
você se conhece mas não conhece o inimigo, para
cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se
você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
perderá todas as batalhas...”
– Sun Tzu

3.4 Aprenda a interpretar os problemas


Eu também fiz uma enquete no meu Instagram per-
guntando o seguinte:

“Qual a sua maior dificuldade na Matemática?”

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Acredite, a esmagadora maioria das respostas


apontaram para “interpretação das questões”. De
fato, isso é muito complicado. Em círculos de ami-
gos/professores, sempre ouvi que os alunos estão
cada vez com mais dificuldades de saber o que está
sendo pedido no problema (interpretação de texto).
Nesse caso, como ele vai fazer uma resolução sem,
ao menos, saber o que precisa ser feito? A grande
resposta em como melhorar isso é simples/clichê e
pode ser resolvida facilmente: ler, ler e ler. A leitura
vai aumentar sua capacidade de aprendizado, de crí-
tica e atenção aos detalhes. Não precisa ler somente
Matemática, pode começar com um livro que você
gosta (de um super-herói, por exemplo). Muitos pro-
fissionais acreditam que a leitura de pelo menos três
livros por ano vai trazer uma grande bagagem para o
seu futuro. Eu acho o mesmo! Você sempre expande
suas ideias, aprende novas palavras, novas senten-
ças, novas maneiras de falar algo etc. Vamos dar uns
exemplos matemáticos para explicar o que acontece
em alguns casos.

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Problema 4 (OBMEP 2018 - Questão 1) Joãozinho


comprou um álbum em que figurinhas numeradas de-
vem ser coladas em ordem crescente, começando na
página 2 e terminando na página 61. Nas páginas pa-
res devem ser coladas 5 figurinhas e, nas ímpares, 6
figurinhas.

• (a) No total, quantas figurinhas devem ser cola-


das no álbum?

O primeiro passo é ler e repetir a leitura. Depois,


você pode sublinhar as palavras-chave (palavras mais
importantes). Nesse caso, são “figurinhas numera-
das”, “ordem crescente”, “começa na página 2 e ter-
mina na página 61”. Observe a importância de saber
o que fazer nas páginas pares e ímpares. São 5 figuras
nas pares e 6 nas ímpares.
Vamos ao trabalho: começamos com a página 2 e
terminamos com uma página ímpar (61). Logo, quan-
tas páginas pares tem entre 2 e 60 (última página par)?
A resposta é 30 (para ver isso, você pode escrever
2, 4, 6, . . . , 60 como 2 × 1, 2 × 2, 2 × 3, . . . , 2 × 30) e
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assim contamos o número de elementos no conjunto


{1, 2, 3, . . . , 30} (já que a multiplicação de cada um
deles por 2 não altera a contagem). Assim, como são
30 páginas pares e em cada uma colamos 5 figurinhas,
teremos 5 × 30 = 150 figurinhas coladas.
Agora, voltamos nossa atenção para as páginas ím-
pares. A primeira é a 3 e a última é a 61. Então a per-
gunta é: quantos números ímpares tem no conjunto
{3, 5, 7, . . . , 61}? Para contar isso, faremos algo simi-
lar ao caso anterior. Vamos escrever {3, 5, 7, . . . , 61}
como {2 × 1 + 1, 2 × 2 + 1, 2 × 3 + 1, . . . , 2 × 30 + 1}.
Assim, teremos novamente 30 páginas (claro, que
você poderia contar de outra forma). Pelo enunciado
da questão, precisamos multiplicar 30 por 6, o que
resulta em 6 × 30 = 180 figurinhas coladas.
Finalmente, a resposta para o item (a) é a soma
da contagem no caso par e ímpar, ou seja, teremos
150 + 180 = 330 figurinhas coladas nesse álbum.
Observe que o interpretar nesse caso se resumiu
a entender que bastava contar o número de páginas
pares e ímpares entre 2 e 61 (e depois multiplicar de
forma conveniente). Além disso, o fato de sublinhar
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as palavras-chave vai fazer com que não as esqueça


(geralmente se uma palavra-chave/hipótese não é
utilizada, pode ser que um indício de que algo pode
estar errado).

“A beleza da arte está em suas inúmeras possibilida-


des de interpretação.”
– L. S. Dias

3.5 O poder da simetria


Acredito que muitos já ouviram falar da história do
garoto Carl Friedrich Gauss. Se não, aqui vai: Conta-
se que o pequeno Gauss quando criança estava numa
aula, quando o professor passou um problema para
deixar os seus alunos ocupados por um bom tempo.
O problema era calcular o valor da soma abaixo:

1 + 2 + 3 + · · · + 98 + 99 + 100.

Ou seja, a soma dos 100 primeiros números naturais.


Em poucos minutos o pequeno Gauss veio com a res-
posta: “5050”. Mas como ele fez isso tão rapidamente?
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A resposta é que Gauss era um gênio e ao invés de


pensar de forma linear (como a grande maioria das
pessoas), ele pensou de que forma aquela soma se
tornaria mais simples de ser calculada. Então, ele so-
mou elementos simétricos, isto é, números que estão a
mesma distância de uma linha vertical (como reflexos
de um espelho central) no “meio” da expressão acima.
Em outras palavras, ele somou 1+100, 2+99, 3+98,
etc e é aí que a “mágica” acontece: cada soma vale 101.
Portanto como cada dois números se transformaram
(depois da soma) em 101, sobraram 50 cópias de 101.
Logo a resposta é 101 × 50 = 5050.

“Beleza é simetria.”
– Ton Gadioli

Gauss usou a simetria para resolver esse problema


e acredite, muitos problemas de olimpíadas usam essa
ferramenta poderosa. Abaixo, um problema parecido
que deixarei para você. Qual o valor da soma

12345 + 12354 + · · · + 54312 + 54321?


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Onde os números que aparecem são todas os núme-


ros de cinco dígitos formados por permutações dos
números 1,2,3,4 e 5 (sugestão: tente usar a ideia de
Gauss e o fato de que o número de permutações de 5
elementos é 5! = 120).
Indo adiante, eu vou falar de um problema que
atormenta meus alunos de Teoria dos Números na
Universidade de Brasília há um tempo. Todo semestre
eu passo esse exercício para eles. O problema é:

Problema 5 Mostre que n(n + 1)(n + 2)(n + 3) + 1


sempre é um quadrado perfeito, para todo n ≥ 1.

Relembro que um quadrado perfeito é um número


da forma m2 para algum m natural. Por exemplo,
1, 4, 9, 16, 25 são exemplos de quadrados perfeitos.
Assim, a questão pede para “demonstrar” que sem-
pre que trocamos a variável n por 1, 2, 3 etc, na ex-
pressão n(n + 1)(n + 2)(n + 3) + 1, o resultado
será da forma m2 . Vejamos: se n = 1, então temos
1 × 2 × 3 × 4 + 1 = 25 = 52 , para n = 2, obtemos
2 × 3 × 4 × 5 + 1 = 121 = 112 . Ok, mas como
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provar que isso vale para todo valor de n? Existem


uma infinidade de tais valores! Pois bem, na Mate-
mática existe uma ferramenta chamada Princípio de
Indução Matemática que é um ingrediente poderoso
para provar propriedades dessa natureza. No entanto,
para esse problema específico, essa ferramenta não
é tão útil assim (pelo menos para mim). Aí vem a
ideia de simetria. Ao invés de multiplicar n por n + 1
e o resultado por n + 2 e assim por diante, vamos
pensar de forma não linear. Multiplicaremos n por
n + 3 e n + 1 por n + 2 (esses valores estão em
posições simétricas, você consegue ver isso?). Chega-
mos então que n(n + 1)(n + 2)(n + 3) + 1 é igual a
[n(n + 3)][(n + 1)(n + 2)] + 1 e que pode ser escrito
como
(n2 + 3n)(n2 + 3n + 2) + 1.
Chamando (para facilitar) n2 + 3n = a, então a ex-
pressão acima se transforma em
a(a + 2) + 1 = a2 + 2a + 1.
Ora, isso lembra algo conhecido, não é? Um trinômio
de um quadrado perfeito. Assim, a2 + 2a + 1 =
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(a + 1)2 e portanto concluímos que


n(n + 1)(n + 2)(n + 3) + 1 = (n2 + 3n + 1)2 ,
como desejávamos.
Existem dezenas de problemas que podem ser re-
solvidos usando essas ideias. Problemas com jogos,
tabuleiros, funções aritméticas etc. Coloque essa ideia
na sua sacola! Agora vamos aprender a

3.6 Dividir para conquistar


Próximo problema da prova: Combinatória! “Ca-
ramba professor, isso é muito difícil! Contar objetos,
como eu posso fazer?” Bem meu caro, nesse momento
você pode usar o slogan do título da seção: dividir
para conquistar. Essa simples (mais poderosíssima)
frase quer nos dizer que muitos problemas grandes,
podem ser fragmentados (divididos) em problemas
menores onde para estes eu consigo um ideia de como
fazer. Depois, junto tudo e resolvo o problema ori-
ginal. Nunca esqueço dessa frase quando durante
minha graduação, meu professor de computação à
invocava. Vamos dar um exemplo:
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“Na lógica da vida dividir é aumentar. Dividir as


conquistas multiplica a felicidade. Siga sempre a
lógica da vida.”
– Augusto Cury

Problema 6 Quantos números pares de três algaris-


mos distintos podem ser formados?

Então queremos contar a quantidade de núme-


ros da forma abc (a “barra” acima dos números in-
dica que estamos considerando a, b e c como dígitos),
com a, b, c algarismos, isto é, números no conjunto
{0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}, com a 6= 0 (pois o primeiro
algarismo deve ser não nulo) e c ∈ {0, 2, 4, 6, 8} (pois
o número é par). Para resolver esse problema, preci-
samos usar o conhecido Princípio Multiplicativo. Ou
seja, contar a quantidade de possibilidades para cada
dígito e depois multiplicá-las.
No entanto essa questão tem uma peculiaridade:
o zero como último dígito! Isso mesmo, como não
podemos usar o zero para a posição do a, e o zero
pode ser usado para a posição do c, isso causa um
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problema que deve ser contornado (e não pode ser


adiado). E qual seria a saída? Dividir em casos! Então
vamos dividir nossa contagem em duas:

• Caso 1. O número é da forma ab0. Nesse caso,


existem 9 possibilidades para o a (pois a não
pode ser zero e o zero já foi utilizado). Agora,
como b não pode ser zero e nem o a (lembre-se
que os algarismos devem ser distintos), então
existem 8 possibilidades para o b. Logo, para
esse caso, temos 9 × 8 = 72 possibilidades.
• Caso 2. O número é da forma abc, com c 6= 0.
Nesse caso, existem 4 possibilidades para o c (só
não pode ser o zero) e existem 8 possibilidades
para o a (pois a não pode ser zero e nem o c).
Agora, como b não pode ser c e nem o a, então
existem 8 possibilidades para o b. Logo, para
esse caso, temos 4×8×8 = 256 possibilidades.

Portanto como ou acontece o Caso 1 ou o Caso 2, en-


tão somamos as duas contagens (o conectivo “ou” im-
plica que devemos somar as contagens e o conectivo
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“e” significa multiplicação). Assim, nosso resultado


final é 72 + 256 = 328 que é a resposta para o nosso
problema.
Outro método interessante é a

3.7 Força bruta


“O verdadeiro homem mede a sua força, quando se
defronta com o obstáculo.”
– Antoine de Saint-Exupéry

Gosto de chamar esse método de Fórceps (que re-


monta ao conhecido fórceps que é uma ferramenta
que auxilia o bebê a sair da barriga da mãe). Essa
ferramenta consiste em você tentar “adivinhar” o que
acontece em uma pergunta (geralmente relacionada
à uma desigualdade) e por meios de passos equiva-
lentes observar se sua suposição inicial está certa ou
errada, levando assim à resposta do problema pro-
posto. Isso é muito útil para provar desigualdades
mais gerais (onde usamos indução Matemática, por
exemplo). No entanto, no contexto de olimpíadas,
podemos pensar no problema a seguir
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Problema 7 Sejam a e b números reais com a > b >


0. Quem é maior
a a+1
ou ?
b b+1
O problema pergunta o que acontece quando te-
mos uma fração e somamos 1 ao numerador e de-
nominador ao mesmo tempo. Essa nova fração será
menor ou maior que a primeira? Como não tempos
um palpite, vamos supor que uma das desigualdades
é válida. Por exemplo, suponha que ab < a+1
b+1 . Então
vamos usar alguns fatos conhecidos sobre desigual-
dades para obtermos uma sequência equivalente de
afirmações. Temos que
a a+1
< ⇔ a(b + 1) < b(a + 1),
b b+1
onde o símbolo ⇔ significa “se, e somente se” e usa-
mos o que chamamos de “produto dos meios pelos
extremos”. Em outras palavras, “se e somente se” sig-
nifica que ab < a+1
b+1 é verdadeira se a(b+1) < b(a+1)
também é verdade e somente se isso acontece (seria
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como uma “ida e volta”: a afirmação vale nas duas


direções). Continuando, temos

a(b + 1) < b(a + 1) ⇔ ab + a < ba + b,

onde usamos a propriedade de distributividade entre


soma e produto. Bem, então temos que ab < a+1 b+1 é
válido, se, e somente se ab + a < ba + b é verdadeira.
No entanto, como ab = ba (a ordem dos fatores não
altera o produto), logo ab+a < ba+b ⇔ a < b. Mas,
no enunciado do problema, está explícito que a > b.
Portanto, nossa cadeia de equivalências chegou em
um resultado contraditório. O que isso significa?
Significa que nosso palpite inicial está errado! Relem-
brando que nosso palpite era ab < a+1 b+1 . Assim, vale
o contrário, isto é,
a a+1
> .
b b+1
(Note que precisaríamos colocar ≥, mas é fácil ver,
pelos motivos anteriores, que a igualdade só ocorre
se a = b). Portanto, resolvemos nosso problema.
Queria dizer também que em muitas vezes
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3.8 Generalizar é o remédio


Acredite, muitas vezes um problema mais geral é mais
simples! Isso porque em alguns casos, os valores nu-
méricos envolvidos podem trazer uma impressão de
“medo” ou de que “deve ser muito difícil”. Durante os
anos como professor, tenho observado que quando
coloco números “grandes” (geralmente o ano em que
está acontecendo a prova), os alunos tendem a achar
que o problema é impossível, ou muitíssimo compli-
cado. Agora, lembre da nossa lição sobre o elaborador
de questões: ele quer, em geral, fazer o aluno pensar
que o problema tem uma saída simples (errada) ou
que é complicado (quando não é). Por isso, nunca su-
bestimem e nem superestimem um problema. Muitos
alunos erram as primeiras questões de uma olimpíada
(as mais fáceis), pelo fator psicológico de achar que é
tão fácil que deve ser feito em 10 segundos! Nunca
cometa esse erro! Errar um problema fácil (que em
geral muita gente acerta) pode ser decisivo no seu
resultado final. Vamos ver agora um problema onde
isso se aplica muito bem.
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Problema 8 Quem é maior

122333444455555 × 122333444455557 ou
1223334444555562 ?

Observe que é um problema de comparação de


números que são o produto de números de 15 dígi-
tos. Claro que você pode fazer as contas (no braço) e
obter a resposta. Mas será que foi isso que o elabo-
rador queria? Será que ele queria tirar seu tempo?
Lhe distrair? Exatamente! Apesar de ser um pro-
blema simples (multiplicação de números), ele pode
fazer você perder um tempo precioso durante uma
prova. Então qual a saída? Vamos pensar no caso
mais geral e em qual relação existe (se existe) entre
os números. É possível ver que os números usados
não estão muito “distantes”, isto é, se chamamos x =
122333444455555, então x+1 = 122333444455556
e x + 2 = 122333444455557. Logo, a pergunta pode
ser reescrita como: quem é maior

x(x + 2) ou (x + 1)2 ?

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Imagino que muitos já sabem a resposta e adivinhem:


ela independe do valor de x. Ou seja, esse problema
geral é mais fácil que o primeiro. Pois, x(x+2) = x2 +
2x e (x + 1)2 = x2 + 2x + 1. Assim, (x + 1)2 sempre
é maior (por uma unidade)! Para o nosso problema,
temos então que 1223334444555562 é o maior. E
por que o elaborador não colocou o problema geral?
Imagino que você já sabe....

“A certeza se origina no generalizar.”


– Lyo

Agora veremos que

3.9 O mais difícil pode ser mais fácil


“Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro. Mas
não descalço.”
– Millôr Fernandes

Já pensou no poder dessa frase? Como algo mais


difícil pode ser mais fácil?! Apesar de não fazer sen-
tido, isso pode ser muito útil para você (já é bastante
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para mim). Por exemplo, temos um problema e um


método (ideia para resolver), mas nosso método não
resolve aquele problema específico, mas se mudar-
mos um pouco o problema (para “pior”), conseguimos
usar nossas ferramentas e resolvê-lo. Como assim?
Vamos ver no problema abaixo:

Problema 9 Quem é maior


3
33 ou 44 ?

Outro problema envolvendo desigualdades, o pri-


3
meiro número é 33 e o segundo 44 (esse problema
é mais simples do que vou fazer aqui, mas ele pode
ser perguntado no caso mais geral que remontaria
às ideias da seção anterior). Sabemos que 33 é maior
que 4 (27 > 4), mas nossos números envolvem mais
uma cópia de cada número na “base”. Vamos fazer
um truque aqui. Chame de A = 33 e B = 4. Logo
queremos saber quem é maior

3A ou 4B .

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Podemos fazer o seguinte, e usar que A > B:


 A
3 3
 
A A
3 = ×4 > × 4B .
4 4
Aqui usamos que A > B, para concluir que 4A > 4B .
No entanto, temos um problema: 34 é menor que 1!
Esse fato impossibilita de concluirmos o que deseja-
mos. E agora? Sair do quarto escuro e jogar a ideia
fora? Mas parecia tão promissora! Sim, vamos tentar
mais um pouquinho e ver como consertar esse 34 . De
fato, se tivéssemos 94 (que é maior que 2) teríamos
provado. Mas como fazer aparecer esse 9? Vamos
pensar: temos 3 e queremos 9, então devemos ele-
var ao quadrado (elevar a 2). No nosso caso, seria
ter o fator 2 como exponente de 3. Note que, ainda
temos A > 2B (27 > 8). Logo, com a mesma ideia,
obtemos:
 B
A 2B B 9
3 >3 =9 = × 4B > 2 × 4B ,
4
pois 94 > 2. Ou seja, acabamos provando algo mais
forte com a mesma ideia, mas com a única observação
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de que A > 2B. Tente incluir isso na sua sacola de


ideias, vai ser bastante útil.
Agora, vamos aprender a

3.10 Como dissertar/explicar as


soluções
Antes de começar, vou dizer que acabei de fazer uma
busca nos comentários do meu canal e mais de mil
deles são de alunos desesperados (antes da segunda
fase da OBMEP ou OBM) para saber como disser-
tar (escrever de forma “entendível” para quem vai
ler) suas soluções de modo que o corretor possa en-
tender e que assim sua pontuação seja maximizada.
Acreditem, essa dúvida é unânime quando se trata de
colocar suas ideias no papel. Fiz uma enquete nos sto-
ries do Instagram e das 146 sugestões, 25 delas eram
que esse tópico deveria estar nesse livro. Pois bem,
aqui estamos. Vamos começar a trabalhar!

“Eu sempre imaginei que quem sabe falar e escrever


também deve saber dissertar.”
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– Valmir Ribeiro

Mas qual a diferença entre escrever e dissertar.


Bem, vamos ver o significado dessa última: Dissertar
é, por meio da organização de palavras, frases e tex-
tos, apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar
contextos, dados e fatos.
Ou seja, para dissertar precisamos nos organizar,
saber o que escrever e usar as palavras certas. Não
pense que precisamos fazer um “textão”. Na verdade,
a ideia é deixar sua escrita o mais simples e direto pos-
sível (quanto mais escrevemos, mais temos a chance
de fazer algo errado). Lembro de um aluno olímpico,
muito bom, e super premiado. Suas soluções eram
muito, mas muito diretas. Ele escrevia o estritamente
necessário e isso tornava a ideia dele simples e direta.
Vou dar um exemplo abaixo, mas antes vamos ver três
coisas: (1) Palavras úteis e exemplos. (2) Como estru-
turar as ideias. (3) Quando eu não preciso justificar.
Começaremos com as

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(1) Palavras úteis e exemplos


Abaixo algumas palavras/sentenças que são bastante
usadas em textos matemáticos e que com o uso re-
petido delas (lembre-se de repetir para aperfeiçoar),
você verá como sua escrita vai melhorar.

• “Como vale ..., então...”: Essa é um tipo de sen-


tença bem simples, mas bastante útil. Vamos
ver um exemplo na OBMEP.

Problema 10 (OBMEP 2017 - Questão 1) Jú-


lia faz o seguinte cálculo com números inteiros
positivos: ela escolhe um número, eleva esse nú-
mero ao cubo e subtrai desse cubo o próprio nú-
mero.

– (a) Qual é o resultado do cálculo de Júlia


com o número 3?

Esse é um problema que apareceu na prova da


segunda fase em 2017. Vamos ver como seria
uma boa dissertação para esse item.
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Solução. Como a operação é n3 − n (pelo


enunciado da questão), então quando n = 3,
temos 33 − 3 = 27 − 3 = 24.
Simples assim!

• “Usando o fato que”: Essa é um tipo de sentença


é uma das mais úteis! Não se esqueça que em
geral a OBMEP, OBM (com itens) trazem no
item (c), problemas mais gerais que estão rela-
cionados aos itens anteriores. Sempre procure
essas conexões!
Vamos ver isso no item (c) do problema da OB-
MEP 2017 que enunciamos acima:

– (c) Explique por que, para qualquer nú-


mero que Júlia escolher, o resultado final
do cálculo será sempre um múltiplo de 6.

Solução. Usando o item (a), temos que a ope-


ração feita por Júlia é n3 − n e esta expressão
pode ser fatorada como n3 − n = n(n2 − 1) =
n(n − 1)(n + 1) = (n − 1)n(n + 1) (isso
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fui usado no item (b) também desse problem).


Para ser divisível por 6, precisamos que seja
divisível por 2 e 3 (pois 6 = 2 × 3). Como
n3 − n = (n − 1)n(n + 1) é o produto de 3
números consecutivos, então ele deve ser par
(cada dois consecutivos tem um número par) e
múltiplo de 3 (pois em cada 3 consecutivos, um
deles é múltiplo de 3). Assim 6 divide n3 − n,
para qualquer n inteiro.
Observe que a solução acima não foi simples,
mas é isso que esperamos de um item (c) da
segunda fase da OBMEP. Precisamos pensar
mais e generalizar alguma ideia. Existem ou-
tras maneiras de escrever (mais técnicas).

• Algumas palavras/sentenças úteis são: assim,


tal que, por esse motivo, vamos mostrar que,
observe que, então, daí. Alguns exemplos:

– (assim): Temos que ..., assim...


– (tal que): Considere um número n natu-
ral, tal que...
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– (por esse motivo): por esse motivo, po-


demos escolher...
– (vamos mostrar que): Agora, vamos
mostrar que usando o item anterior...
– (observe que): Por hipótese, observe que
vale...

(2) Como estruturar as ideias


Quando olhamos para um problema e temos uma
ideia, devemos aprender como organizar e escrevê-
la para que o corretor veja a solução da forma mais
simplificada possível. Mas como fazer isso? Esse é o
nosso objetivo agora. Precisamos pensar na seguinte
estrutura:

• O que pode ser usado? Nesse ponto, pensamos


quais ingredientes podem ser úteis para nossa
solução. Por exemplo, o número é natural, é
um quadrado, é contagem com repetição etc. É
sempre bom escrever essas palavras para que
o corretor perceba que você sabe do que está
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falando (escrevendo, no caso). Algo do tipo:


“como temos um quadrado, então os lados tem
mesmo comprimento e assim...”.

• Como começar? Comece usando suas ferramen-


tas para seguir passos lógicos (acompanhados
de “se”, “como”, “então”, “assim” etc) que vão
caminhando para uma conclusão. Por exem-
plo, no item (c) que resolvemos anteriormente,
poderíamos escrever: Júlia calcula o valor da
expressão n3 − n onde n é um número natural.
Pelo fato de que n3 − n pode ser fatorado em
(n − 1)n(n + 1)), então...

• Como concluir? continuando do “então”, expli-


caremos o porquê de ter dado os passos ante-
riores. Nesse caso, então 6 divide n3 − n pois
esta última expressão é o produto de 3 núme-
ros inteiros consecutivos (assim, divisível por
2 e 3 ao mesmo tempo). Outra dica, abuse do
uso dos parênteses para fazer explicações de
fatos importantes, mas que nesse momento es-
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tão em segundo plano (como eu venho fazendo


no decorrer desse livro).
(3) Quando eu não preciso justificar
Recebo muitas perguntas nas minhas redes sociais
perguntando sobre quando saberemos se precisamos
justificar ou não e que tipo de justificativa é suficiente.
Algumas vezes quando a solução é muito direta, não
há necessidade de fazer um “textão” para explicar
sua solução. Por exemplo, se a questão pede para
encontrar o sexto termo da sequência
1, 3, 7, 15, . . . ,
onde cada número da sequência é o dobro do anterior
somado com um (ou seja, 3 = 2×1+1, 7 = 2×3+1 e
15 = 2 × 7 + 1). Nesse caso, não precisamos justificar
muito, apenas escrever: o quinto termo é 2×15+1 =
31 e o sexto (desejado) termo é 2 × 31 + 1 = 63 que
é a resposta que procuramos. Pronto! Nada mais
que isso! Geralmente, esse tipo de problema aparece
na primeira fase da OBMEP ou como item (a) das
questões da segunda fase.
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Capítulo 4

Tudo Sobre Como se


Preparar

Como já foi falado, ter disciplina e um planejamento


são essenciais para se obter o sucesso em tudo que
se faz. Então, não seria diferente nas olimpíadas. O
que tenho observado durante o meu tempo de canal
é que muitos alunos estão perdidos no que estudar,
onde estudar e quando estudar. Nesse capítulo eu
vou abordar isso e veremos alguns tipos de planeja-

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mentos que podem ser bastante úteis. Lembrando


que o trabalho duro sempre leva a bons resultados.

4.1 Quais assuntos estudar?


Certo, para começar a nos preparar para algo, preci-
samos saber o que estudar. Existem quatro grandes
áreas olímpicas: Álgebra, Teoria dos Números, Com-
binatória e Geometria. No Nível 1 temos muitos pro-
blemas de lógica que se encaixam em alguns desses
grandes assuntos. Por exemplo, temos, em termos
maiores,

• Álgebra: Expressões algébricas, frações, razão


e proporção, equações, funções etc

• Teoria dos Números: Operações básicas,


sequências, potenciação etc

• Combinatória: Análise combinatória, estatís-


tica, probabilidade etc

• Geometria: Áreas e superfícies, visão espa-


cial e cubo, perímetro e unidades de medida,
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ângulos, triângulos, trigonometria, Pitágoras e


Tales etc

Abaixo vou colocar os assuntos que mais caíram


na OBMEP desde sua primeira edição em 2005 até
2018 (retirado em parte do site dos OBMEPeiros). Os
números são aproximados.
Nível 1 (6◦ e 7◦ anos do Ensino Fundamental)
• Lógica - 124 questões

• Operações básicas - 30 questões

• Áreas e superfícies - 26 questões

• Visão espacial e cubo - 20 questões

• Frações - 19 questões

• Perímetro e unidades de medida - 15 questões

• Análise combinatória - 14 questões

• Gráficos e tabelas - 11 questões

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• Expressões algébricas - 8 questões

• Razão e proporção - 6 questões

• Porcentagem - 5 questões

• Equações - 3 questões

• Funções - 3 questões

Nível 2 (8◦ e 9◦ anos do Ensino Fundamental)


• Lógica – 89 questões

• Áreas e superfícies – 29 questões

• Frações – 20 questões

• Visão espacial e cubo – 18 questões

• Operações básicas – 18 questões

• Sequências – 17 questões

• Análise combinatória – 17 questões

• Perímetro e unidades de medida – 12 questões


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• Ângulos – 9 questões

• Álgebra – 8 questões

• Razão e proporção – 8 questões

• Potenciação – 6 questões

• Equações – 4 questões

• Estatística – 4 questões

Nível 3 (1◦ , 2◦ e 3◦ anos do Ensino Médio)


• Lógica – 54 questões

• Áreas e superfícies – 29 questões

• Circunferência e círculo – 24 questões

• Álgebra – 20 questões

• Sequências – 15 questões

• Análise combinatória – 15 questões

• Frações – 13 questões
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• Probabilidade – 12 questões

• Perímetro e unidades de medida – 12 questões

• Gráficos e tabelas – 12 questões

• Triângulos, trigonometria, Pitágoras e Tales –


11 questões

• Visão espacial e cubo – 11 questões

• Funções – 10 questões

Podemos ver nesses números alguns dados interes-


santes. Por exemplo, dessa nossa lista mais de 43%
das questões do Nível 1 são de lógica, ou seja, não
precisam de um conhecimento de matéria escolar,
por exemplo. Isso mostra que devemos focar bas-
tante nesse ponto, fazendo vários exercícios sobre o
assunto (lembre que já falamos de lógica antes).
Outra coisa importante, é que, apesar de lógica ser
o assunto que mais aparece nos três níveis, ela vai

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“perdendo” força quando o nível aumenta. Mais espe-


cificamente, temos aproximadamente 43% no Nível 1,
34% no Nível 2 e “somente” 21% no Nível 3.
Ano passado (2018), foi criado mais um nível (Nível
A) para alunos dos 4◦ e 5◦ anos do ensino fundamen-
tal. Ainda não temos muitas informações estatísticas
para incluir nesse material.
A ideia agora é você usar esses dados para montar
seu programa de estudo baseado no que mais aparece
na prova e o que mais você precisa aprender. Iden-
tificar seus pontos fracos é de extrema importância,
pois é neles que você deve melhorar (não esquecendo
é claro de aperfeiçoar ainda mais os fortes).

“O homem para ser completo tem que estudar, tra-


balhar e lutar.”
– Sócrates

4.2 Onde devo procurar ajuda?


Outra pergunta feita com frequência para mim. Feliz-
mente, hoje em dia, temos muitos recursos e fontes
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para estudar, treinar e nos especializar. O maior de-


les é a nossa velha conhecida internet. Lá podemos
aprender coisas boas e ruins e por esse motivo deve-
mos saber usar essa ferramenta para aumentar nosso
crescimento intelectual. Abaixo algumas ferramentas
muito úteis:

• Youtube: É muito interessante para ver so-


luções comentadas/explicadas e obter ideias
gerais (melhor deixar para a parte final do es-
tudo).

• Portal da Matemática: Aqui seria um lugar


bom para começar os estudos para quem pre-
cisa de mais base. No portal você vai encon-
trar os assuntos bem explicados (vídeo-aulas)
e exercícios resolvidos (tablet).

• POTI: Já é um programa um pouco mais avan-


çado, mas tem um material muito bem escrito
e mais direto. Ideal para quem já está em um
nível acima. Procure também informações so-

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bre o POTI na sua cidade (aulas presenciais).


Vale muito a pena.

• PIC: É o Programa de Iniciação Científica da


OBMEP. Tem muita coisa boa no site, além de
fóruns (para medalhistas) e outras coisas.

• OBMEP: O site oficial da olimpíada não po-


deria ser esquecido. Lá você encontra todas
as provas antigas resolvidas (em vídeo e em
pdf). Pode imprimir (ou não) as provas e tentar
resolvê-las como simulados (já falamos sobre
isso). Além do mais, tem uns Bancos de Ques-
tões que são muito bons e em um nível um
pouco acima. Deixo essa dica para você.

• Google: O pai de todos! O que você precisar


não esqueça dessa excepcional ferramenta. Se
tiver com dúvida em algo muito específico, tal-
vez o Google possa te dar uma resposta mais
imediata.

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“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste


em procurar novas paisagens, e sim em ter novos
olhos.”
– Marcel Proust

Você deve saber como mesclar cada um desses “lo-


cais” para que obtenha o máximo de aproveitamento
possível. Pode dividir seu horário de estudo para
alcançar uma alta performance baseado em visitas
diárias à essas fontes. Vamos dar um exemplo aqui:
suponha que temos duas horas para estudar hoje.
São 120 minutos. Ok, vamos estudar análise combi-
natória então. Primeiro identificamos em que nível
estamos para esse assunto. Se somos “fracos” nele,
o melhor seria procurar no Portal da Matemática al-
gumas aulas fundamentais e ver alguns exercícios
(tablet) resolvidos (já que precisamos da base inicial).
Depois podemos partir para o POTI ou site da OB-
MEP. E finalizar com questões resolvidas no Youtube.
Aqui você escolhe sua distribuição de tempo para
cada passo. Uma sugestão seria 60 minutos para o
portal, 40 minutos para o POTI e 20 minutos para o
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Youtube (de 2 a 3 vídeos).

4.3 Quando começo?


“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo
começo, qualquer um pode começar agora e fazer
um novo fim.”
– Francisco do Espírito Santo

Essa pergunta não tem uma resposta simples, pois


depende muito dos seus objetivos. Você já ouviu
falar que quando acaba o desfile das escolas de samba
no carnaval de um ano, uma semana depois eles já
estão começando os preparativos para o carnaval
do próximo ano? Pois é, nas olimpíadas deveria ser
assim também. Vamos dar umas ideias de estudo em
duas ocasiões:
Preparação a longo prazo
Vamos supor que você tem 6 meses para estudar para
a próxima OBMEP. Então podemos fazer o seguinte:

• Do 1◦ ao 2◦ mês.: Você pode estudar de 30 mi-


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nutos a uma hora por dia, se aprofundando


em assuntos que mais aparecem (veja na seção
anterior). Nesse período você pode tentar re-
solver problemas que você encontrou nos sites
que eu indiquei.

• Do 3◦ ao 4◦ mês.: Nesse período, você pode


estudar os conteúdos (de uma hora a uma hora
e meia por dia) que você teve mais dificulda-
des nos primeiros dois meses. Mas sempre dê
ênfase na resolução de problemas.

• Do 5◦ ao 6◦ mês.: Hora de se engajar e estudar


mais forte (de uma hora a duas horas, ou mais).
Essa é a preparação final, então resolva proble-
mas dos assuntos mais frequentes nas provas,
veja as soluções (mesmo que consiga resolver),
assista vídeos com dicas e use e abuse desse
livro (preciso ser seu técnico nesse momento).

Marque os horários de estudo e tenha disciplina.


Lembre que seus hábitos são as coisas que você faz
hoje! Se você deixa algo para amanhã, essa simples
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mudança pode causar um efeito ruim e fazer de você


um procrastinador (aquele que procrastina, atrasa,
adia algo) e, acredite, você não vai querer ser alguém
assim. Viva e faça o hoje!
Uma semana antes da prova
Se você começou a estudar uma semana antes da
prova (acho que mais de 60% dos alunos fazem isso)
não tem problema. Vamos aproveitá-la e para o pró-
ximo ano fazer um melhor treino, com mais tempo e
disciplina.
Nesse caso, você tem que resolver problemas! Fica
difícil estudar os conteúdos com tão pouco tempo, en-
tão foque no site da OBMEP e em vídeos do Youtube.
No site da OBMEP, procure por provas antigas e tente
resolvê-las. Mesmo que consiga resolver uma ques-
tão, olhe para a solução oficial (isso ajuda muito e
você pode ganhar mais uma ideia para sua sacola). No
Youtube, procure por vídeos mais curtos (os longos
também podem ser bons). No meu canal tenho mais
de 100 vídeos sobre a OBMEP/OBM, com questões,
dicas etc.
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4.4 No dia/hora da prova


Aqui vai uma sugestão bem importante: chegue cedo
no dia da prova! Evite problemas de trânsito e coisas
que podem interferir na sua concentração! Escute
uma música que gosta (já falamos disso), um som que
motiva (já percebeu que grandes atletas sempre estão
com fones de ouvido?). Ao chegar na sala onde será
realizada a prova, escolha onde quer sentar, se a ca-
deira está boa etc. Isso é bem interessante, pois você
vai se sentir mais à vontade (em casa) para começar a
sua maratona de ideias. Não esqueça de levar comida
e bebida (água, chocolate etc) e de fazer pequenas
pausas para respirar (oxigenar o cérebro). Sempre
me perguntam se é bom estudar no dia da prova e a
resposta é: depende. Para muitos isso funciona (eu
estudo até segundos antes de entrar na sala), para
outros pode ser um fator de estresse e de aumento da
ansiedade. Veja como você funciona melhor.
Por fim, reforço o que eu disse sobre a importân-
cia da Matemática e das olimpíadas científicas. Hoje,
ganhar uma medalha (ou até mesmo uma menção
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honrosa) é motivo de destaque! Seu currículo vai ter


um “algo a mais” que muitas empresas/universidades
tanto gostam. Por isso, não deixe passar essa opor-
tunidade, agarre-a e você será recompensado. Vou
colocar agora o depoimento de como a OBMEP pode
mudar a vida de um aluno. O texto a seguir foi escrito
pelo medalhista da OBMEP, Jean Carlos Lelis (hoje
doutor em Matemática e meu ex-orientando).

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Capítulo 5

De Medalhista da
OBMEP a Doutor em
Matemática

– por Jean Lelis

Quando fui convidado pelo Professor Diego Mar-


ques para falar um pouco sobre minha história com
a OBMEP, vi a oportunidade de colocar em pala-
vras muitos dos pensamentos e sentimentos que
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ocorreram-me nos últimos dias. Hoje, dia 17 de ja-


neiro de 2019, faz um mês que defendi meu doutorado
em Matemática, pouco menos de treze anos e meio
depois da primeira OBMEP. Falar em poucas palavras
o que mudou na minha vida, nesses treze anos após
ganhar uma medalha de prata na primeira OBMEP,
só seria fácil se eu dissesse “tudo!”. Porém, como
é normal em Matemática, explicar o que essa única
palavra significa se mostrou bem mais difícil.
Fiz a prova da primeira OBMEP sem muitas pre-
tensões, mas é claro que para alguém que gostava
muito de Matemática, uma prova de olimpíada é como
um campeonato de futebol para quem gosta do jogo,
então fiz o melhor que estava ao meu alcance. Feliz-
mente, tive a grande surpresa de ganhar a medalha de
prata. Com a primeira medalha veio o PIC-OBMEP,
um programa de iniciação científica que me permitiu
entender melhor a Matemática como uma ciência,
conviver com professores universitários que também
eram pesquisadores, descobri que existiam (e eram
muitos) problemas na Matemática que não tinham so-
lução conhecida. Até aquele momento, eu não sabia
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se seria possível para mim, que era de baixa renda, fa-


zer um curso superior, o PIC-OBMEP, os professores
do programa, não só me mostraram que era possível
fazer graduação, mas que era possível mais do que
isso, eu descobrir com eles que queria ser doutor, e
resolver problemas que ninguém nunca resolveu!
Criado um novo horizonte, eu segui ele sem nunca
mais duvidar que era possível, me dediquei às olim-
píadas e mais medalhas vieram, na OBMEP foram um
ouro, duas pratas e um bronze, e outras de olimpíadas
regionais e de física. Quando entrei na universidade,
graças a todo o tempo dedicado a estudar Matemática
antes mesmo de iniciar o curso, foi possível terminar
a graduação e o mestrado juntos em quatro anos, e
então ingressei no doutorado, sob a orientação do
professor Diego Marques. Quando nosso primeiro
artigo foi aceito, vi todo esforço ser recompensado,
eu finamente estava resolvendo problemas jamais re-
solvidos, eu estava fazendo Matemática! Dito isso, eu
quero terminar esse depoimento com uma frase que
ouvi há treze anos atrás em uma sala do PIC-OBMEP,
assistindo o documentário sobre o Último Teorema
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de Fermat: “Eu sei que é um raro privilégio, mas se


você puder perseguir na sua vida adulta, algo que é
realmente importante para você, então isso é mais gra-
tificante do que qualquer coisa que eu posso imaginar”
– Andrew Wiles.

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Capítulo 6

Uma Pequena
Auto-Biografia

Bem, aqui estou para escrever sobre mim. De inicio,


minha história começou no dia 24 de dezembro de
1983, em Fortaleza no Ceará (que foi quando eu nasci).
Sou filho de um vendedor e de uma dona de casa e
venho de uma família humilde. Minha mãe conta que
aos 3 anos eu já sabia somar números com mais de
um dígito e aos 5 anos eu já sabia ler bem, o que me

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fez “pular” a conhecida (na época) alfabetização (por


esse motivo não tenho uma famosa foto de doutor do
ABC). Desde então, passei a ser sempre o aluno mais
jovem das minhas turmas. Umas das lembranças mais
fortes da minha infância é a do meu pai me ajudando
com uma tarefa de escrever todos os múltiplos de 10
menores que 500. Durante meu ensino médio, sempre
fui um bom aluno, mas com muitos problemas em ma-
térias mais “humanas” (tipo literatura, filosofia etc).
Cheguei a ficar de recuperação em literatura, por não
querer apresentar um trabalho na frente da turma
toda (minha timidez era muito grande). No ensino
médio, tive a sorte de ter um bom professor de Mate-
mática. Esse professor gostava de fazer competições
entre suas turmas (qual turma tirava mais notas dez)
e isso me estimulava bastante, pois sempre fui muito
competitivo. Infelizmente minha escola não era tão
boa assim e não tive a oportunidade de participar
de nenhuma olimpíada científica (naquela época não
existia ainda a OBMEP). Terminei meu ensino médio
muito jovem e fiquei um ano e meio estudando em
casa, apenas Matemática, onde desenvolvi até umas
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fórmulas simples (que descobri já existirem posteri-


ormente). No ano de 2002, eu ganhei uma bolsa de
estudos para fazer um cursinho pré-vestibular em
uma escola de bastante prestígio em Fortaleza e tive
a sorte de assistir várias aulas de olimpíadas de Ma-
temática com o (hoje meu grande amigo) Emanuel
Carneiro (primeiro ouro especial da OBM). Aprendi
muitas coisas que foram extremamente importantes
na minha formação.
Em 2003, ingressei na Universidade Federal do Ce-
ará (UFC) como aluno de Bacharelado em Matemática.
Naquele momento, eu estava como uma fera que ti-
nha acabado de ser solta da jaula! Queria aprender
tudo o mais rápido possível e comecei, de imediato,
a adiantar disciplinas de semestres mais avançados.
Ao terminar o segundo semestre do curso, eu fiz um
curso de verão na UFC e fui classificado para ingres-
sar no mestrado naquela instituição. No entanto, eu
não poderia ser formalmente aluno, pois ainda estava
na graduação! Portanto, cursei todas as disciplinas
de mestrado e fiz todos os exames de qualificação du-
rante minha graduação. Durante esse período, algo
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crucial aconteceu na minha vida. Em um curso de


Álgebra Abstrata, o professor (Gervásio Gurgel) falou
sobre Números Transcendentes e aquilo me fascinou
pela simplicidade e dificuldade do tema (fiquei pen-
sando muito sobre o assunto).
Terminei meu bacharelado em 2006 e passei um
ano fazendo minha dissertação de mestrado, que foi
sobre Teoria dos Números Transcendentes (TNT),
em conjunto com várias disciplinas de doutorado (es-
queci de dizer que em 2005, ao terminar o quarto
semestre da graduação, eu fui selecionado em pri-
meiro lugar para ingressar no doutorado na UFC).
Em 2008, eu parti para minha primeira viagem de
avião (acho que a segunda ou terceira de alguém da
minha família). Fui para Recife tirar meu passaporte,
pois em março daquele ano eu iria para os Estados
Unidos para um congresso no Arizona totalmente
dedicado à TNT. Lá conheci vários grandes nomes
nessa área e tive a oportunidade de ser apresentado
ao problema que se tornaria o tema principal da mi-
nha tese de doutorado. Ao resolver esse problema
(e alguns outros), eu já tinha material para terminar
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meu doutorado. Mas, eu tinha apenas um ano e meio


como aluno formal do doutorado da UFC. Foi aí que
Brasília apareceu na minha vida. Um dos professores
líderes da UFC, me informou que na UnB existia uma
modalidade chamada de defesa direta de tese, onde
um candidato com excepcional capacidade poderia
terminar o doutorado em menor tempo. Assim, em
março de 2009, eu ingressei como aluno regular do
doutorado em Matemática da UnB e, ao ter meu pe-
dido de defesa direta aceito (o segundo da história
da UnB), defendi minha tese em junho daquele ano e
em novembro, eu já era professor do departamento
de Matemática da Universidade de Brasília. Em 2010,
me mudei para Brasília, onde estou até hoje.
Minha pesquisa em Matemática começou forte e
ao terminar o doutorado eu já tinha bastante artigos
publicados, o que me fez ser indicado e aceito como
membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências
em 2011 (o mais jovem da história, com 26 anos).
Ainda em 2011, eu ganhei o prêmio Jovem Pesquisador
do Distrito Federal na área de Ciências Exatas e da
Terra. Foi um momento muito emocionante para
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mim.
Desde o inicio na UnB já comecei a orientar alu-
nos de mestrado e doutorado. Em 2013, aos 29 anos,
formei minha primeira doutora em Matemática (hoje
já são seis). Ainda nesse ano, escrevi um livro na
minha área (Teoria dos Números Transcendentes, pu-
blicado pela Sociedade Brasileira de Matemática) e fiz
meu pós-doutorado em Vancouver no Canadá. Em
2014, fui agraciado com a bolsa de produtividade
em pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico). Durante esse
período também fui professor do PIC da OBMEP e fui
convidado para ser coordenador regional da OBM.
Hoje já sou professor da UnB há quase 10 anos,
tenho mais de 50 artigos publicados, vários alunos de
mestrado e doutorado (pós doutorado também) fina-
lizados, alguns livros escritos, coordeno vários pro-
jetos ligados à olimpíadas (OBMEP, OBM e OMDF),
aprendi a falar alguns idiomas, dei palestras em 8 paí-
ses, tenho um canal no Youtube, onde ajudo alunos
bem mais jovens etc. Conquistei coisas que nunca
pensei que alcançaria (materiais e reconhecimento in-
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telectual) e sei que tenho muito ainda para conquistar.


Posso dizer, com toda propriedade, que a Matemática
mudou minha vida e é o que mais amo fazer. Ela me
deu tudo que tenho e serei eternamente grato a Deus
por eu ter conseguido aliar a paixão pelos números
com meu trabalho. Pretendo continuar assim até o
fim dos meus dias....

“Um homem conta suas histórias tantas vezes que


se torna as próprias histórias, elas sobrevivem a ele
e desta forma ele se torna imortal.”
– Do filme Peixe Grande e suas Histórias Maravilho-
sas (2003) de Tim Burton.

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