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COLÉGIO ANGLICANO SANTA MARGARIDA – ABEDEM

O Curta Gaúcho do Fantasma do 3º Andar

A chegada ao Colégio:

Impossível iniciar esta narrativa, sem trazer um anúncio de parte de minha jornada até ele. De
como cheguei aqui, quais minhas relações para com o Educandário, o que ele me ensinou e o
que eu ensinei a ele. Cito da última frase, em uma reflexão do Prof. José Antônio Colvara de
Oliveira quando dizia em sala de aula que “uma escola não se faz somente com tijolos e
paredes, uma escola se faz com alunos” , portanto, uma escola são os alunos.

Embora as datas em minha memória sejam nebulosas, embora recém complete meus 36 anos,
do que me recordo de minha chegada a Escola, foi o fato de ter sido reprovado no então
Colégio La Salle Gonzaga nas disciplinas de Matemática e Ciências, dos quais foram buscadas
por meus pais no Colégio Anglicano Santa Margarida, a fins da chamada Dependência que a
Escola oferecia, por vias de não se perder o ano.

Com isto, egresso em uma turma de 8ª série, cursado durante as manhãs as duas disciplinas
da 7ª série para poder então, seguir em frente.

Para mim, que já havia na outra escola, estado em duas turmas diferentes, o desejo de
retornar era grande, mas que não durou muito tempo. A Escola, os Professores, Funcionários,
os Alunos me cativaram de um abraço tão gigante que por lá, permaneci, escolhendo mais
tarde optar pelo Curso Técnico em Informática, cuja troca de turma , fora inevitável, levando
comigo somente dois colegas da 8ª série, os demais seguiram o chamado Ensino Médio,
enquanto nós, seguíamos o Ensino Técnico ou Técnico de Nível Médio.

A permanência:

A intenção aqui, não é contra sobre minhas vivências, pois delas dariam margem a outros
contos, mas minha chegada é crucial para entender meu desejo e minha afecção com o lugar.

Fora exatamente no 2ª Ano do Ensino Técnico, que eu e uma colega, começamos a nos
interessar mais pela estrutura do Colégio, isso porque, comumente cabulávamos aula, em
pedidos de ir ao banheiro, ou do retorno atrasado do recreio. Passeávamos pelos corredores,
que por mais estreitos que fosses, cujas salas principais de Diretoria, Professores e
Administrativo eram impossíveis de não atravessar, conseguíamos bons minutos , tão logo
éramos pegos pela responsável, que de maneira engraçada nos surpreendia com a seguinte
frase “aí está! A corda e a Caçamba”.

Dois pontos principais da Estrutura foram o que nos impulsionaram a esta jornada, do primeiro
a Escada de Caracol, do segundo a Biblioteca, do terceiro o buraco na parede, que se estendia
de forma vertical entre todos os andares.

Comecei a freqüentar então a escola durante a noite, a fins de aula de recuperação e notei
pela primeira vez, que no intervalo do futebol, alunos da pré-escola não subiam as escadas.
Hora, que oportunidade única de se brincar nos corredores, ainda mais naquela idade. O que
se passa afinal?

Conversando com um deles, o mesmo me disse que no máximo se corria até o segundo andar,
concebendo a idéia de que a área térrea seria o primeiro.

O questionando do motivo, foi a primeira vez que escutei de um aluno sobre um Fantasma na
escola, o Fantasma do 3º Andar.

Iniciamos eu e minha colega, na manhã seguinte, uma pseudo entrevista com alguns
professores da Escola, donde nada descobrimos, pois os mesmos alegavam não saber de
nenhuma História de Fantasmas. Eu, por minha vez, passava bom tempo no Serviço de
Orientação ao Aluno, donde lá também questionei sobre tal lenda, boato ou quaisquer
menções da pré-escola ou de algum professor e nada obtive.

Foi quando resolvemos consultar a que tudo ali indicava, única pessoa que poderia saber da
situação, primeiro por ser ela a cuidadora das crianças, de segundo momento, ser uma
senhora idosa. A Tia Odete!

Resolvemos eu e minha colega, ir até a escola no período da tarde, falar então com a Tia
Odete. Ao perguntarmos sobre um suposto Fantasma no 3º andar, a resposta foi automática:
Não quero falar disso. Bingo! Estávamos na pista certa.

Foi somente depois de dias de insistência que ela nos indicou alguém, que não só contaria
sobre o que estávamos em buscar como de uma linda história sobre o Santa Margarida. Esta
pessoa o qual fomos visitar chamava-se Iná Ferreira.

O fantasma:

Fizemos contato por telefone, depois de um mês, a família permitiu a entrevista. Acabamos eu
e minha colega, pegar um taxi que nos levou até o endereço, que obtivemos na secretaria da
escola.

Chegando lá, fomos recebidos por aquela adorável senhora, que se pôs a contra sobre o Santa
Margarida, na época do Internato. Naquele momento, nada se falou sobre Histórias de
Fantasmas e deixamos com isso, suas memórias aflorarem.

Dona Iná, nos disse que era responsável por cuidar das alunas, na época do internato. Sua
função era garantir que todas estavam em seus quartos, da alimentação, higiene e saúde.

“As meninas queriam muito namorar, não se podia sair. Quando tinha cinema, eu permitia que
saíssem pela janela da escola, depois voltavam”

O diálogo começou a se desdobrar em uma incrível jornada, passou-se a uma atmosfera de


livros de J.K Rowling

“havia os quartos, das corujas, das violetas e das margaridas.” Segundo ela, tinha preferência
pelas Margaridas.
“as meninas sentavam-se na escada de caracol, durante os intervalos, chamavam de barriga do
colégio”

Em um dado momento, e questionei sobre o “buraco na parede” e ela disse: “Era um elevador,
a cantina ficava embaixo, a comida subia pelo elevador para eu levar aos quartos”

Outra situação narrada por ela era sobre a cúpula do edifício “deitavam lá, para olhar o pátio
pela vidraça”

Dona Iná já estava cansada, eram 14h quando iniciamos a ouvir suas histórias e ao olharmos
no relógio, já eram quase 18h. Ela emocionada, dava longas pausa e pela idade, uma fala lenta
que se arrastava pelos minutos.

Resolvemos então, fazer a pergunta que nos levou até aquele encontro. E fui eu, o eleito a
fazê-lo, quando por parte de minha colega, faltara coragem.

Dona Iná, a senhora conhece alguma História sobre algum Fantasma no 3º Andar?

Depois de uma pause de mais ou menos 15min, visto que ela não dera esta pausa no sentido
de recordar, mas sim, de decidir se falava ou não no assunto, seguiu-se:

“havia uma moça, jovem, recém contratada na secretaria, eu a conheci, passava na época por
uma crise no casamento. Quando o marido a traiu, ela não agüentou a traição, foi até a sala,
que fica antes da chegada da porta da biblioteca, a direita, entrou no armário embutido na
parede e lá se enforcou”

Seguiu então:

“seria um escândalo para época, ainda mais para o internato, tal situação. Não fora noticiado e
as poucas funcionárias da época não falavam sobre o assunto, nem as meninas. No ano
seguinte eu saí de lá”

E para concluir:

“agora, se é um fantasma, isso eu nunca escutei das meninas”

O curta:

O Colégio andava com problemas administrativos, o clima era pesado e estávamos em via de
formatura, entre o semblante daquele que ainda tinham seus salários atrasados e do
compromisso com a escola e com os formandos, seguimos em frente para o que seria a última
formatura da escola.

Meses depois, com o fechamento da escola, notei via redes sociais que alguns de meus colegas
da 8ª série inclinaram-se para a área do jornalismo, por um contato direto com a TV, enviei a
proposta sobre a possível criação do que na época era chamada pela RBS de Curtas Gaúchos
do Rio Grande do Sul, de forma a contra não somente uma História de Fantasmas que carecia
ainda um enredo maior, mas mais do que isso, rememorar o Santa Margarida, agora sepultado
pelas memórias, cujo Educandário havia decretado falência.
O fim:

Acabara que não ouve retorno de meus e-mails, o que restara é a Estrutura da Escola, que
talvez deseje contar um pouco mais do que narrado no Livro Santa Margarida, ademais, nosso
diário de campo, das queridas palavras de Dona Iná. Contudo, o registro único sobre o
Fantasma do 3º Andar.

Eurico Pontes Nunes

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