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Aborto

Aborto é a interrupção da gravidez antes do período perinatal, ou seja, quando não há


viabilidade do feto, sendo este com menos de 22 semanas ou pesando menos de 500g, que
ocorre em vários casos antes da 8ª semana de gestação. O aborto pode ocorrer de maneira
intencional ou de maneira espontânea.

Aborto espontâneo consiste na interrupção de uma gravidez devido a uma ocorrência


acidental ou natural. O aborto espontâneo pode ser precoce (se ocorrer até às 12 semanas de
gestação) ou tardio (após 12 semanas de gestação).

Aborto induzido é um procedimento usado para interromper uma gravidez, também


denominado Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). Quando realizado precocemente, em
serviços de saúde legais e autorizados, é um procedimento médico seguro e com reduzidos
riscos para as mulheres.

→ Fatores de risco para o aborto espontâneo

O aborto espontâneo acontece com maior frequência em algumas situações, sendo


considerados fatores de risco:

 Idade materna acima de 45 anos;

 Mulheres obesas;

 Mulheres com baixo peso;

 Casos anteriores de abortamento;

 Consumo de drogas;

 Riscos de consumo de substâncias abusivas

 Uso de alguns medicamentos.

Classificação do aborto:

Ameaça de abortamento:

Ocorre quando há sangramento discreto com dor ligeira ou ausência de dor, não apresenta
alteração no exame de ultrassonografia, mas apresenta colo do útero fechado. É preferível o
repouso, abstinência sexual, realização de ultrassonografias regulares para acompanhar a
evolução da gestação e, se necessário, medicação indicada pelo médico.

Abortamento inevitável:

o aborto é considerado como inevitável quando o produto da conceção perde a vitalidade, o


que pode ser evidenciado em exames de ultrassonografia. Nesse caso, diferentemente da
ameaça de abortamento, há um sangramento e dor mais intensos, e o orifício do colo uterino
encontra-se entreaberto.

Abortamento completo: ocorre a eliminação total do produto da conceção. Apresenta


sangramento discreto ou ausente, ausência de dor, colo do útero fechado e o exame de
ultrassonografia revela o útero vazio, podendo ser visualizado apenas alguns coágulos.

Abortamento incompleto: ocorre a eliminação parcial do produto da conceção. Apresenta


como sintomas dores e sangramentos mais intensos, o colo do útero encontra-se entreaberto
e o exame de ultrassonografia mostra restos ovulares.

Abortamento infetado: o aborto infetado ocorre pela presença de restos do produto da


conceção no útero e a ocorrência de infeção. É normal a presença de sangramento irregular,
dor, febre, a presença de secreção purulenta, útero amolecido. Se não tratada com rapidez, a
infeção pode se espalhar e evoluir para septicemia. Esse tipo de aborto é comum em quem faz
aborto de forma ilegal, devido, principalmente, às condições adversas das clínicas clandestinas.
Esse tipo de aborto apresenta uma alta taxa de mortalidade materna.

Abortamento retido: este acontece quando há a morte do produto da conceção, porém o


material fica retido por mais de trinta dias no organismo da mãe. Não apresenta dor nem
sangramento, mas os sintomas da gravidez diminuem e a ultrassonografia revela ausência de
batimento cardíaco fetal (BCF) ou ausência do embrião no saco gestacional, que estando
íntegro (ovo anembrionado ou ovo cego), em dois exames intercalados num intervalo de 15
dias.

Abortamento habitual: é considerado como abortamento habitual, os casos em que a gestante


apresenta três abortos espontâneos consecutivos.
Nos países em que o aborto foi legalizado, a taxa de mortes resultadas dos abortos inseguros
diminuiu como também o número de abortos provocados. Isso porque, a legalização foi
aprovada juntamente com políticas de prevenção à gravidez indesejada.

No Uruguai, onde foi legalizado em 2012, o primeiro ano após a legalização também trouxe
importantes resultados: nenhuma morte nos quase 7 mil abortos legais realizados e
aproximadamente 50 casos de complicações leves decorrentes da prática do aborto.

Nos Estados Unidos a legalização no país aconteceu em 1973, no ano da implementação, a


taxa de abortos para cada mulher entre 15 e 44 anos era de 16,3% por ano. No início dos anos
1980, atingiu 29,3%. Em 2011, último ano da estatística, estava em 16.9% em um movimento
de redução contínua em quase três décadas depois do aumento inicial pós-legalização.

Em 1948 o Japão legalizou o aborto com o nome de “Lei de Proteção Eugênica”, a lei tinha
como principal objetivo controlar a natalidade no país. Inicialmente a lei permitia o aborto
quando realizado por motivos médicos, eugênicos, humanitários e sócio médicos, porém sua
interpretação foi ainda mais abrangente, permitindo o aborto ser realizado a pedido da
gestante. Anualmente cerca de 500 mil abortos são realizados no Japão, sendo que mais de
40% realizados em gestantes de até 19 anos. Atualmente o governo do país preocupa-se com a
baixa taxa de natalidade do Japão, e alguns estudos apontam que a população japonesa deve
diminuir 30% até o ano de 2060.

Legalização do aborto:
Um estudo da Organização Mundial da Saúde revelou que os países que proibiram o aborto,
não conseguiram proibir efetivamente o ato, gerando uma taxa muito maior que a dos países
onde há legalização do aborto. Já os países onde a prática é legalizada, e acompanhada com
uma política de prevenção de gravidez indesejada, notou-se uma redução relevante nas taxas
de abortos.

De acordo com os economistas Steven Levitt e Gabriel Hartung a legalização do aborto poderia
posteriormente diminuir a taxa de criminalidade na sociedade, visto que os potenciais
criminosos são indivíduos que cresceram em famílias disfuncionais, muitos órfãos outros sem
pai, muitas das vezes as mães foram solteiras e adolescentes e são estas que maioritariamente
recorreriam ao aborto.

Nos Estados Unidos 14% dos presos são órfãos, enquanto na população em geral esse número
é de 3%. Dos detentos do país, 43% foram criados sem pai ou sem mãe.

Em Portugal

Entre 2001 e 2007, antes da legalização, Portugal registrou 14 mortes maternas relacionadas a
complicações pós-aborto, segundo um relatório da DGS publicado em dezembro de 2009.
Entre 2011 e 2014 (último ano com dados oficiais) o país não registrou nenhuma morte
materna vinculada à interrupção legal ou ilegal da gravidez. Durante 2011 nós tivemos um
grave problema a partir do momento em que o país adotou medidas de austeridade. Não
deixou de haver distribuição, mas o acesso ficou mais restrito, já em 2012, o número de
interrupções voluntárias da gravidez iniciou uma tendência de queda. Segundo a Direção Geral
da Saúde (DGS), em 2016, último ano com dados disponíveis, houve 15.959 procedimentos,
uma queda de 22% em cinco anos.

Legislação:

Relativamente ao aborto, começo por afirmar a existência de um aborto espontâneo, que


acontece com a morte involuntária do feto, onde a mulher grávida não carrega qualquer tipo
de culpa ou dolo na circunstância referida.

Como estipulado no rico artigo 142º do Código Penal português, na qual vou explorá-lo a
seguir, temos várias exceções de quando uma interrupção da gravidez não é punível,
primeiramente o número 1 alínea e) do artigo 142º refere que é lícito todo aborto realizado
pela mulher nas primeiras 10 semanas de gravidez. Afirmando o número 1 que sendo sempre
realizado por um médico, em um estabelecimento oficial de saúde ou reconhecido. Não
obstante a obrigatoriedade de ser realizado por um médico, pode também ser sob orientação
do mesmo. Um dos fatores mais importantes que torna a interrupção da gravidez não punível
é o consentimento da mulher grávida, este artigo 142º nº1 alínea e) tem um complemento
que é o número 4, alínea b) pois refere que deve haver um documento assinado pela mulher
grávida como possível comprovativo do seu consentimento ou do seu rogo que deve ser
entregue ao estabelecimento de saúde, onde darão pelo menos 3 dias a contar a data da
consulta para que a mulher possa refletir antes de tomar uma decisão para que tenha a
certeza de que está a tomá-la de forma livre, consciente e responsável.

Sem embargo do número 1 alínea e) deste artigo, não é a única exceção para a interrupção de
gravidez não punível, este artigo está completo de alíneas que fundamentam e justificam
circunstâncias em que a não punibilidade é necessária. Como por exemplo quando o
nascimento do bebé colocar a vida da mulher grávida em risco, este artigo 142º alínea a) retira
a punibilidade do aborto.

Por vezes passando o período das 10 semanas, como é explícito na alínea b) se o aborto for
praticado para prevenção da morte ou lesão a integridade física ou psíquica da mulher grávida
pode ser feito até as primeiras 12 semanas de gravidez, que não será punível. Outra exceção
ao período de tempo de 10 semanas é quando a gravidez é resultado de um crime, como por
exemplo coação sexual artigo 163 do Código Penal e o crime de violação, disposto no artigo
164 também do Código Penal. A luz do artigo 142º alínea d) quando é um crime contra a
liberdade e autodeterminação sexual da mulher a interrupção pode ser nas primeiras 16
semanas de gravidez que será lícito. É importante também referir que a interrupção da
gravidez não punível tem de ser sempre certificada por um atestado médico escrito e assinado
antes da intervenção por médico diferente daquele que realizará a mesma. (Artigo 142º nº2)

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