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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

SAYONARA SANTOS SILVA ARAÚJO

ENSINO DE ARTES NA PANDEMIA DE COVID – 19: EXPERIÊNCIAS E RELATOS


DOS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES NO ENSINO REMOTO

CAETITÉ
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

SAYONARA SANTOS SILVA ARAÚJO

O ENSINO DE ARTES NA PANDEMIA DE COVID – 19: EXPERIÊNCIAS E RELATOS


DOS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES NO ENSINO REMOTO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título de licenciatura em Artes.

CAETITÉ
2021
O ENSINO DE ARTES NA PANDEMIA DE COVID – 19: EXPERIÊNCIAS E RELATOS
DOS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES NO ENSINO REMOTO

Sayonara Santos Silva Araújo1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- O presente artigo intitulado: O ensino de artes na pandemia de Covid – 19: experiências e
relatos dos desafios enfrentados pelos docentes no ensino remoto tem o seguinte objetivo: analisar e
compreender os principais desafios enfrentados, as estratégias adotadas e a maneira como, os
professores descrevem nessas produções cientificas, não apenas a atuação dos mesmos em sala de
aula, mas também como eles perceberam as reações dos alunos durantes as aulas online de Artes. A
Metodologia é com base na revisão bibliográfica, onde analisamos as recentes produções que discutem
os desafios enfrentados tanto por docentes, como por discentes durante o ensino remoto. O contexto
escolar das aulas online revelou uma realidade marcada pela precarização do trabalho docente e da
educação recebidas pelos estudantes.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Artes, Pandemia de Covid-19, Ensino Remoto.

1 E-mail: sayonaracte@hotmail.com.
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1 O ENSINO DE ARTES NA PANDEMIA DE COVID – 19: EXPERIÊNCIAS E


RELATOS DOS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS DOCENTES NO ENSINO
REMOTO

INTRODUÇÃO

O presente artigo nasceu da inquietação que nos deparamos diante dos


inúmeros desafios colocados pela pandemia de SARS-CoV-2, (Covid – 19) enfrentados
tanto por docentes, como também pelos discentes nas aulas remotas da disciplina de
Artes na Educação Básica. Para Peçanha e Peçanha (2020) além de matar milhares de
pessoas, a pandemia de Covid-19 também trouxe muitos prejuízos físicos, emocionais
e financeiros devidos seus efeitos.
Percebemos que já existe, embora seja, um evento recente, uma significativa
produção bibliográfica, sobretudo artigos científicos, disponíveis, online sobre o tema.
Nesse sentido, decidimos realizar uma investigação, a partir dessas bibliografias
publicadas sobre o assunto, com o objetivo de analisar e compreender os principais
desafios enfrentados, as estratégias adotadas e a maneira como, os professores
descrevem nessas produções cientificas, não apenas a atuação dos mesmos em sala
de aula, mas também como eles perceberam as reações dos alunos durantes as aulas
online de Artes.
Ao nos deparamos com uma significativa produção bibliográfica, sobre o
assunto, além dos diversos relatos que são identificados em websites, diante do
constado, embora a pandemia de Coronavírus ainda não tenha terminado, é possível
fazer uma espécie diagnostico, com essas informações obtidas nesses artigos, que nos
permitam fazer o seguinte questionamento: porque o ensino emergencial online foi tão
desafiador, tanto para docentes, como para os discentes? Como hipótese,
conjecturamos que a ausência de infraestrutura tanto do sistema educacional, como
também das condições de trabalho dos docentes só agravou ainda mais diante das
exigências colocadas pela pandemia de Covid-19. Assim, como a demasiada exigência
para com os docentes no sentido de cumprirem sua função sem as condições mínima,
tanto materiais, como psicológicas de trabalho.
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Como já sinalizamos anteriormente, a metodologia, será com base na revisão


bibliográfica, esse será um estudo de caráter qualitativo e exploratório. Utilizamos
artigos em português, hospedados no Scielo e Google Acadêmico, são produções dos
anos de 2020 e 2021, buscamos comtemplar pesquisas de diversas regiões do Brasil.
Tivemos o critério também de optar por aqueles que foram escritos pelos docentes que
atuaram nas salas de aulas de Artes, sobretudo em escolas públicas. Embora,
tenhamos identificado artigos que relatam experiências de professores de Artes nos
colégios particulares. Contudo, notamos que nessas instituições os desafios são
diferentes e até mesmo demostram que os prejuízos parecem menores para os
estudantes, devido a disponibilidade de recursos ofertados, tanto pelas escolas, como
pela condição financeira desses alunos. Outra fonte de subsídios utilizadas em nossa
análise, foram alguns websites, onde os professores, relataram suas experiências,
desafios e estratégias, as quais se depararam durante as aulas remotas de Artes.
A nossa intenção é realizar uma reflexão que contemplem diversos aspectos que
levam em conta a realidade, da escola, dos professores e dos alunos no contexto das
aulas online durante a pandemia de covid-19.

DESENVOLVIMENTO

A maioria das leituras, as quais nos deparamos, sobre o ensino remoto durante a
pandemia, sempre começam, com algo típico: “fomos pegos, todos de surpresa”! Taiele
Pinheiro da Silva de Miranda Peçanha e Lucio Marques Peçanha (2020, p. 118)
ressaltam nesse sentido que: “Todos tiveram que se reinventar e de forma
emergencial”. Professores e alunos, como que num ato de desabafo, repetem quase
que a mesma descrição. O que demonstra que o contexto foi para ambos, desafiador,
mas a incumbência de reinventar o método de ensino naquela conjuntura recaiu
praticamente sobre os docentes.
Contudo, antes de adentramos no contexto das aulas online durante a pandemia,
vamos ver o que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já dizia, antes da chegada
Covid-19, sobre a utilização das tecnologias digitais em sala de aula,
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a Base Nacional Comum Curricular contempla o desenvolvimento de


competências e habilidades relacionadas ao uso crítico e responsável
das tecnologias digitais tanto de forma transversal – presentes em todas
as áreas do conhecimento e destacadas em diversas competências e
habilidades com objetos de aprendizagem variados – quanto de forma
direcionada – tendo como fim o desenvolvimento de competências
relacionadas ao próprio uso das tecnologias, recursos e linguagens
digitais –, ou seja, para o desenvolvimento de competências de
compreensão, uso e criação de tdics em diversas práticas sociais
(BNCC, 2018).

Outro fragmento do documento ressalta também o seguinte2:

Nesse contexto, é preciso lembrar que incorporar as tecnologias digitais


na educação não se trata de utilizá-las somente como meio ou suporte
para promover aprendizagens ou despertar o interesse dos alunos, mas
sim de utilizá-las com os alunos para que construam conhecimentos
com e sobre o uso dessas tdics.

Essas são algumas das recomendações realizadas pela BNCC, contudo temos
que lembrar que as exigências impostas pelas aulas remotas obrigou os professores e
os alunos a demonstrarem habilidades, as quais eles não estavam preparados. Ou
seja, de maneira ideal, as recomendações do documento nem sempre foram colocadas
em prática. E mesmo, caso já estivessem sendo desenvolvidas nas escolas antes da
pandemia, elas não os prepararam para esses novos desafios. O qual exigiu
habilidades e recursos muito específicos.
Uma questão que chama atenção e que é mencionada, por Maristani Polidori
Zamperetti (2021) é que nem mesmo o uso dos smartphones, em sala de aula foi algo
que a escola conseguiu inserir e utilizar como ferramenta de ensino, antes da
pandemia. Na maioria das escolas, os mesmos eram proibidos, devido seu uso
inadequado nesse ambiente. Os estudantes aprenderam que essa tecnologia e os
conteúdos escolares não eram compatíveis, muito pelo contrário, aquela interferia de
forma negativa no processo de aprendizado. Contudo, tudo mudou de uma hora pra
outra, de vilão o celular tornou o recurso mais adequado, como afirma a autora sobre o

2 “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica,


significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,
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uso amplo e as diversas formas que essa ferramenta tecnológica passou a ser usada:
“materiais digitais, orientações em redes sociais enviadas pelo professor para o acesso
dos estudantes de forma assíncrona, vídeo aulas gravadas pelos docentes, dentre
outras possibilidades” Zamperetti (2021, p. 40). A maioria dessas atividades eram
repassadas justamente pelo celular.
O então WhatsApp, que é um aplicativo disponibilizado para na maioria dos
smartphones, antes proibidos nas escolas, segundo a Janete Santos da Silva Monteiro
de Camargo (2020), o mesmo foi aos poucos tornando-se o protagonista na
comunicação que precisava ser estabelecida entre alunos e professores. A autora
lembra que antes da pandemia, nem mesmo a tentativa de manter alguns grupos de
WhatsApp com os alunos tinham funcionado. Ou seja, esse é apenas um exemplo de
como uma tecnologia nesse caso, aquela a qual os estudantes tinham mais acesso não
era utilizada nas atividades na maioria das escolas.
Fato é que em meados de março de 2020 as aulas foram suspensas nas redes
pública e privada brasileira, devido a Covid-19. O que se segue agora é um esforço de
demonstrarmos os primeiros passos na adaptação e adequação das aulas remotas. De
início algumas alternativas foram apresentadas, que constam na maioria das
secretarias de educação citada pelos artigos consultados, entre eles, aplicativos
especifico criado pelo próprio estado, TV aberta, WhatsApp, Google Classroom e
outros. O primeiro passo foi o desafio da implantação do sistema. Camargo (2020)
enfatiza que no caso do Estado do Paraná, por exemplo, os professores tiveram como
estratégia inicialmente usar o WhatsApp apenas para orientar os estudantes de como
baixar e acessar as outras plataformas disponíveis, como Google Classroom e o
aplicativo, Aula Paraná.
Surgiram então os primeiros problemas também compartilhados na maioria dos
artigos averiguados: embora grande parte dos alunos, no caso, das turmas analisadas,
de Ensino Fundamental e Médio e Educação de Jovens a Adultos (EJA) possuíssem
celulares, nem todos os aparelhos comportavam baixar esse tipo de App, depois,

acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo


e autoria na vida pessoal e coletiva” (BNCC, 2018).
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muitos estudantes não possuíam acesso a internet3. E ainda surgiu o grupo daqueles
que não aceitaram o uso da tecnologia, e disseram que iriam aguardar o retorno das
aulas presenciais. Logo depois também apareceu a possibilidade de acesso as
atividades impressas que foram distribuídas pelas escolas. Claro, essa alternativa só foi
comunicada depois que as secretarias de educação dos estados perceberam a não
adesão ou impossibilidade, de uma grande parte dos alunos pela via digital. Como
também consta a ocorrência do abandono das atividades e da escola no decorrer do
ano.
Em relação a atuação dos professores, quase que unanimidade, em todos os
estudos examinados, a carga horária era praticamente de 24 horas no início das aulas
remotas. Esses profissionais, dispuseram entre as atribuições domesticas, dedicaram
tempo integral a realizar as orientações individuais e tirar dúvidas dos alunos, sobretudo
pelo WhatsApp. É interessante lembrar que até mesmo o ato de criar um grupo com os
alunos nesse aplicativo foi desafiador, pois nem mesmos os números dos telefones de
todos os estudantes as escolas possuíam. Existem relatos dos estudantes, inclusive
que saiam dos grupos quando os mesmos eram criados, e o trabalho novamente
começava para tentar reinseri-los. A autora a seguir descreve esse contexto da
seguinte maneira:

Foi um período de muita exaustão porque ao mesmo tempo que a


docente ia aprendendo a usar as novas tecnologias que serviriam de
suporte para o ensino e aprendizagem, tinha que transmitir esses
conhecimentos aos estudantes, embora alguns fossem jovens,
apresentavam muita dificuldade com tanta inovação (CAMARGO, 2020,
p. 3).

Para Oliveira, Silva e Perini (2021, p. 101) mesmo antes do surto de Coronavírus
os professores já vinham sofrendo um intenso processo não só de desqualificação, mas
também de fragmentação e precarização, diante da naturalização de ideologias
“neoliberais-obscurantistas”. Ao adotar a aprendizagem digital, é enfatizado também

3 A autora a seguir realça que: “Dados divulgados em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram que 45,9 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet em 2018.
Este número corresponde a 25,3% da população com dez anos ou mais de idade” (ZAMPERETTI, 2021,
p. 42).
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como fator a ser pensado de forma crítica, a dificuldade de acesso em todo o mundo
por um grande número de estudantes. Como Peçanha e Peçanha (2020, p. 120)
afirmam: “Não é passível se fazer educação de qualidade com igualdade, se o acesso é
tão desigual. Pensar no bem coletivo e permitir que todos os estudantes tenham acesso
aos meios digitais é o mínimo necessário para que se possa ensinar”4.
Por um lado, era urgente atender as demandas dos estudantes, mas pouco se
falou das necessidades e até as limitações dos docentes que ficaram incumbidos da
intensa e extensa jornada de trabalho. Inclusive, sob ameaça de ter o ponto cortado se
as atividades não ocorressem como estava sendo exigido. Oliveira, Silva e Perini (2021,
p.110) destaca que foi observado no estudo realizado pelos autores a precarização e o
abandono social o qual os professores de Artes Visuais5 foram acometidos, isto é:

uma violenta expropriação dos meios de vida e sua transformação em


capital, no período da pandemia, seja no setor privado ou no público. A
luz, a água, a internet, os materiais, em suma, o espaço privado de cada
trabalhador e trabalhadora é expropriado pelas necessidades do patrão
(seja o patrão o Estado ou aquele com o objetivo da extração de mais-
valor). O espaço privado do professor ou professora é transformado em
espaço público ou é convertido em capital constante.

Peçanha e Peçanha (2020) realça que, contudo, também existem professores que
consideram o ensino online gratificante. Sobretudo na rede particular como é
mencionado pela professora Michele Santinello a seguir, “os recursos tecnológicos até
aumentaram a gama de possibilidades usadas nas aulas e na realização de trabalhos.
Temos conseguido trabalhar muito bem com arte pelo modo virtual e criar muitas coisas
interessantes” (Disponível em: https://encurtador.com.br/ntyFX. Acesso em: 22 nov./

4 Consta segundo a autora que: “Além disso, é importante lembrar que, conforme acentuou a UNESCO
em suas recomendações: ‘Educação remota e virtual só são eficientes para professores, estudantes e
famílias com eletricidade adequada, conexão à internet, computadores e tablets, e espaço físico para
trabalhar’” (ZAMPERETTI, 2021, p. 42).
5 Os autores também lembram que: “Analisando o quadro da oferta de ensino de arte na escola, a partir

da obrigatoriedade da Lei nº 5.692/71, observa-se que a disciplina já nasce precarizada. Primeiro, porque
é criada antes de haver professores, ou mesmo um curso superior, denominado posteriormente de
Educação Artística, hoje Licenciatura em Artes Visuais, Música, Dança ou Teatro. Outro aspecto da
precarização é o lugar que a disciplina ocupa no currículo escolar, minimizada a uma ou duas aulas no
ensino fundamental. No ensino médio, os problemas se agudizam, sendo, de modo geral, excluída da
oferta nos três anos de escolarização, que finalizam a educação básica” (OLIVEIRA; SILVA; PERINI,
2021, p. 103).
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2021). Mas essa, como percebemos, não é a realidade da maioria, como, por exemplo,
enfatiza os autores, que para aqueles que são novos no uso desse método,
enfrentaram muitas dificuldades, até mesmo uma carga horária maior de trabalho. Esse
é um panorama breve do contexto, o qual identificamos nas produções bibliográficas. A
seguir, adentraremos nas estratégias usadas especificamente nas aulas de Artes.
Quando se fala em aula de Arte no ambiente virtual, segundo Peçanha e
Peçanha (2020) o principal desafio dos professores é desenvolver, aquilo que essa
disciplina tem como uma das principias características, que é uma aprendizagem
criativa e humanística, onde ocorre um processo de conexão obrigatório. O que é
corroborado também por outros autores, que enfatizam:

porque a educação na perspectiva humanizadora só se realiza no


contato presencial, como uma relação interpessoal entre professor e
aluno. Acrescenta-se, também, o necessário papel do professor diante
do processo pedagógico no direcionamento da aprendizagem do aluno,
que é inicialmente sincrética (OLIVEIRA; SILVA; PERINI, 2021, p. 115).

Outro desafio identificado segundo os autores foi que mesmo quando os alunos tinham
acesso a tecnologia, e até mesmo alguns suprimentos como lápis, faltavam outros
matérias para participar de algumas atividades. Para ter uma noção mais ampliada
desse contexto, recorremos a própria BNCC (2018) segundo a mesma, o ensino de
Artes é centrado nas seguintes linguagens: as Artes visuais, a Dança, a Música e o
Teatro. Consta nesse sentido que:

Essas linguagens articulam saberes referentes a produtos e fenômenos


artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir,
exteriorizar e refletir sobre formas artísticas. A sensibilidade, a intuição,
o pensamento, as emoções e as subjetividades se manifestam como
formas de expressão no processo de aprendizagem em Arte (BNCC,
2018, p.193).

No website Educalab, Luana Severo (2020) relata algumas experiências de


professores do Estado do Ceara na adaptação das aulas Artes para o ensino remoto. O
que percebemos é que existem pontos de vista diversificado de como esse momento foi
enfrentado pelos docentes. Contudo, algumas dificuldades se repetem. Para a
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professora Evelise, o desafio já surgiu na hora do planejamento das aulas, pois era
necessário levar em consideração a elaboração de atividades que fossem ao mesmo
tempo atrativas, mas que também considerassem a ausência de recursos dos alunos.
Nesse sentido ela enfatiza:

É muito difícil ensinar arte de forma remota porque, geralmente, requer


prática, contato. A relação interpessoal é muito importante, porque a arte
vem do desenvolvimento do ser humano em relação ao mundo, aos
acontecimentos e aos próprios sentimentos e emoções (Disponível em:
https://shortest.link/26s1. Acesso em: 29 nov./2021)

A docente também relata que incialmente ela focou em aulas teóricas, e na


medida que foi se adaptando ao novo modelo pedagógico, passou a se sentir mais
segura para inovar suas aulas. Como, por exemplo, a realização de lives de aula no
Instagram, para a mesma as aulas ao vivo ajudaram a criar um processo de interação,
no intuito de romper um pouco do isolamento social. Já que a quarentena exigia o
isolamento físico. Algo que está em acordo com a opinião de Zamperetti e Rossi, (2015,
p. 193), ou seja: “Mudar as práticas pedagógicas com o intuito de aumentar a qualidade
do ensino e diminuir a distância do que se pratica em relação às novas tecnologias
dentro e fora da sala de aula, é a busca de muitos professores”. Além de exposição de
fotografias e a realização de releituras de obras mundialmente conhecidas que eram
expostas de maneira virtual. Na opinião da professora no ambiente digital, a disciplina
de Artes é uma das que mais encontra possibilidade de adaptação. Justamente pela
possibilidade de realizar exposições, visitas a museus que tem roteiros online e a
transmissão de aulas virtuais. Contudo, a ensino de Artes não pode ser reduzido
apenas ao uso desses recursos.
A professora Natalice também encontrou o mesmo problema de carência de
materiais. E um dos recursos adotados foram os vídeos disponíveis de maneira gratuita
e exposições virtuais. Como é mencionado: “Tô passando história da arte, desde a pré-
história ao renascimento. E tem umas exposições, por exemplo, que mostram pirâmides
por dentro, em 3D. São ferramentas que não seria possível usar em sala de aula
(Disponível em: https://shortest.link/26s1. Acesso em: 29 nov./2021). A mesma utiliza
ainda de projetos focados no desenvolvimento de linguagem artísticas, onde são
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usados tirinhas, desenhos e poesias. O uso dessa linguagem tem sido pensado
inclusive em relação a convivência com a pandemia.
Em Minas Gerais o professor Domingos Máximo Pereira relatou sobre sua
experiência com os alunos através das exposições virtuais dos trabalhos realizados
durantes as aulas remotas. O docente enfatiza que utilizou uma determinada
plataforma, onde os trabalhos puderam ser expostos e visto por qualquer pessoa.
Inclusive, a mesma teve uma grande repercussão e empolgou os alunos. Em relação a
ausência de material o mesmo diz ter driblado da seguinte maneira: “Nas atividades, o
professor dá a liberdade para que os alunos possam utilizar os materiais que têm em
casa. Podem usar a cola e a tinta que tiverem. Pode até usar terra e folhas do quintal.
O material é o que tiver em casa” (Disponível em: https://www2.educacao.mg.gov.br.
Acesso em: 03 dez./ 2021).
Como podemos perceber as alternativas e adaptações foram diversificadas, mas
também notamos que a opção pelas exposições virtuais foi recorrente nas práticas de
todos os professores que constam nas produções bibliográficas analisadas. Contudo,
tudo isso deve ser compreendido sob uma perspectiva crítica. A internet é um espaço
público, no caso dessas exposições realizadas praticamente todas foram expostas em
redes sociais digitais, como o Facebook, onde qualquer pessoa teve acesso. Daí
nasceu outro problema também relatado por alguns docentes, a excessiva exposição e
vigilância a qual eles e os seus trabalhos foram submetidos. Como é exemplificado a
seguir:

Em relação à exposição das atividades dos professores no Facebook, a


Professora 2 relata que: “me senti bem vulnerável, pois todos tem
acesso, pais, SME, todo o pessoal da escola e você fica suscetível à
inúmeras críticas, por incompreensão ou excesso de controle sobre o
trabalho do professor”. Além do acesso da comunidade escolar ao grupo
do Facebook, é também possibilitado à Secretaria Municipal de
Educação a visualização das atividades postados pela coordenação
escolar (ZAMPERETTI, 2021, p. 47).

Segundo a professora isso gerou, inclusive um hipercontrole do trabalho em sala


de aula, depois de ver as exposições, a coordenação da própria Secretaria de
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Educação solicitava a reelaboração das atividades, aumentando ainda mais a pressão


e tensão sobre os profissionais.
As autoras Gonçalves e Morais (2020, p. 358) realçam que a produção dos
alunos foi exposta em redes sociais digitais, como Facebook, “os trabalhos suscitaram
diversas reações advindas da polarização política no atual contexto do Brasil,
denotando valores de identificação e aceitação com determinadas linhas de ação
adotadas pelos governantes, frente à pandemia”. O que gerou conflitos entre os
próprios alunos, mas também de maneira geral, com o público maior. O que nos leva a
analisar algumas questões relacionadas a essa conjuntura. Como por exemplo as
consequências dessas reações adversas e as críticas que podem ser realizadas a
essas exposições, uma vez que se tornam públicas os professores não têm mais
controle. Inclusive, se os alunos, que na maioria são menores de idade, estão
preparados psicologicamente para lidar com essa situação de exposição pessoal na
mídia digital. Suely Ferreira Deslandes e Tiago Coutinho (2020, p. 2482) alertam para
seguinte questão, quando se trata da excessiva exposição de crianças e adolescentes
na internet, “pode gerar ansiedade, pânico bem como pode levar à depressão”. No
exemplo citado anteriormente percebemos que da parte dos professores também já
existe um desconforto nesse sentido. Todas essas questões requerem cautela e
planejamento e orientação antes de serem executadas e mesmo depois. Contudo,
essas estratégias usadas por professores e alunos merecem reconhecimento,
sobretudo diante do esforço que cada um despendeu nessas tarefas, num cenário
marcado pela incerteza, precarização e ausência de recursos.
Em suma, constatamos nesse artigo que, inesperadamente surgiu a pandemia,
assim como as exigências que cada pessoa se deparou, o isolamento físico foi apenas
um dos problemas enfrentados. Os professores, por exemplos, praticamente se
tornaram alunos também, quando da noite para o dia precisaram aprender a lidar com
tecnologias digitais. A infraestrutura da maioria das escolas brasileiras vinha passando
longe do que seria exigido pela pandemia. Os professores já acostumados a lidar com
estruturas precárias de trabalho, novamente precisaram “dá conta do recado”. Contudo,
do outro lado os alunos também limitados pela ausência de recursos tecnológicos e
econômico. Não há dúvidas de que dentro das condições de cada um, as respostas e
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alternativas foram surgindo, mesmo que tenha uma grande parte recaído sobre os
“ombros” dos docentes. O que percebemos é que a pandemia desnudou ainda mais a
face mais cruel da nossa educação brasileira, que é justamente a ausência de
investimentos na formação dos profissionais, e nas condições de trabalho e
aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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Versão Final, 19/03/2018. Disponível em:
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Organizadora Solange Aparecida de Souza Monteiro. – Ponta Grossa - PR: Atena,
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