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Elementos de Máquinas Ligações aparafusadas e rebitadas

CAP 6 – LIGAÇÕES APARAFUSADAS E REBITADAS

6.1. INTRODUÇÃO

As principais vantagens dos parafusos são:


• Baixo custo
• Facilidade de montagem e desmontagem.
As principais aplicações dos parafusos são:
• Parafusos de fixação em uniões desmontáveis;
• Parafusos obturadores para tapar orifícios;
• Parafusos de transmissão de forças;
• Parafusos de movimento para transformar movimentos rectilíneos em
rotativos e vice versa.
As principais desvantagens nos parafusos de fixação são:
• Possibilidade de ocorrer desaperto durante o funcionamento do
equipamento. (para evitar este inconveniente devem usar-se
dispositivos contra o desaperto, tais como anilhas retentoras ou porcas
com roscas especiais) [parafusos de fixação].
• Baixo rendimento de transmissão e o elevado desgaste dos flancos das
roscas. [parafusos de movimento]

6.2. TIPOS DE ROSCA E DEFINIÇÃO

A figura 6.1. mostra a parte roscada de um parafuso e a sua simbologia. O


significado da terminologia é a seguinte:
- p – passo “pitch”, é a distância axial entre dois pontos correspondentes de
filetes adjacentes.
- d – diâmetro nominal do parafuso.
- De – diâmetro exterior “major diameter”, é o diâmetro exterior do
parafuso.
- Dr – diâmetro interior “minor diameter”, é o diâmetro da raiz do parafuso.
- Dm – diâmetro médio “mean diameter”, é a média dos diâmetros exterior e
raiz.

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- α – ângulo de flanco “thread angle”, é o ângulo formado pelos flancos da



rosca.
- λ – ângulo de hélice “lead angle”, é o ângulo da recta planificado
correspondente à hélice formada pelos pontos da rosca sobre um cilindro
L
de diâmetro Dm (figura 6.4.). Tem-se que tgλ = .
πD m
- L – avanço, é a distância axial que a porca avança quando roda uma volta
(figura 6.4.).

Fig. 6.1. – Simbologia usada nas roscas. [fig. 8.1 Shigley]

Em construção mecânica utilizam-se roscas de dimensões normalizadas com


perfil triangular, semicircular, trapezoidal, dente de serra e quadrada.
Nos parafusos de fixação usam-se roscas triangulares com crista plana ou lisa.
A rosca métrica é especificada pelo símbolo M seguido do diâmetro nominal x
passo (ex: M16 x 2). A figura 6.2. mostra esquematicamente o perfil das roscas
métricas.

Fig. 6.2. – Representação


esquemática do perfil das roscas
triangulares. [fig. 8.2 Shigley]

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As roscas quadradas, trapezoidais e dente de serra usam-se nos parafusos de


movimento encontrando-se a sua geometria também normalizada. A figura 6.3.
mostra esquematicamente a configuração das roscas trapezoidais e quadradas.

Fig. 6.3. – (a) Rosca quadrada; (b) Rosca trapezoidal. [fig. 8.3 Shigley]
Tabela 6.1. – Diâmetro e passos normalizados das roscas métricas. (dimensões em
mm).[Tabela 8.1. Shigley]

At – área útil, à tracção, de uma rosca (para igual resistência à de um varão não
roscado)
Ar – é a área correspondente ao diâmetro da raiz.

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6.3. FUSOS DE TRANSMISSÃO DE MOVIMENTO “POWER


SCREWS”. MECANISMOS E DIMENSIONAMENTO.

6.3.1. – DIMENSIONAMENTO PARA ROSCAS QUADRADAS.

Os parafusos de movimento são usados frequentemente em aplicações como


fusos de tornos, prensas e macacos. Estes vão transformar o movimento circular em
rectilíneo ou vice versa. As principais aplicações são fusos de tornos, prensas,
macacos, etc.
A figura 6.4. mostra um parafuso de movimento de rosca quadrado, com
diâmetro médio Dm, passo p e ângulo de hélice λ, carregado por uma força axial F.

Figura 6.4. – Parafuso de movimento.


[fig. 8.5 Shigley]

Para calcular o binário necessário para elevar ou baixar a carga, considere-se o


desenrolamento de um filete de rosca. Este desenrolamento forma a hipotenusa de um
triângulo cuja altura é o avanço L e a base é o perímetro πDm correspondente ao
diâmetro médio da rosca (figura 6.5.). Em que N é a força normal, µ o coeficiente de
atrito e P a força tangencial provocada pelo aperto e desaperto do parafuso.

Fig. 6.5. – (a) Diagrama de forças no levantamento da carga ou aperto. (b) na descida
da carga ou desaperto. [fig. 8.6 Shigley]

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Fazendo o equilíbrio de forças, vem que:


- para o diagrama de forças no aperto
∑ FH = P − Nsenλ − µN cos λ = 0
 (6.1)
∑ Fv = F + µNsenλ − N cos λ = 0
- para o diagrama de forças no desaperto.
∑ FH = − P − Nsenλ + µN cos λ = 0
 (6.2)
∑ Fv = F − µNsenλ − N cos λ = 0
Como não estamos interessados na reacção N, eliminamo-la, obtendo-se então a força
tangencial para o aperto e para o desaperto, respectivamente:
F(senλ + µ cos λ )
P= (6.3)
cos λ − µsenλ
F(µ cos λ − senλ)
P= (6.4)
cos λ + µsenλ
L
Dividindo as equações por cosλ, considerando tgλ = e sabendo que o momento
πD m
torsor a aplicar é o produto da força P pela metade do raio Dm/2, obtém-se o
Momento torsor para levantar (aperto) e para baixar (desaperto) a carga,
respectivamente.

F ⋅ D m  L + πµ ⋅ D m 
T=   (6.5)
2  π ⋅ D m − µL 

F ⋅ D m  πµ ⋅ D m − L 
T=   (6.6)
2  π ⋅ D m + µL 

Se T = 0 ou T < 0 ⇒ Não é necessário aplicar qualquer carga para que o


parafuso baixe sob a acção do peso próprio (o fuso
desaperta-se sozinho).
Se T > 0 ⇒ Não há desaperto (ex: parafusos de fixação) quando este
caso acontece, designa-se por Auto-Retenção “Self-
Locking”. A condição para Auto-retenção é que πµDm ≥ L.

Se se dividir ambos os membros por πDm, obtém-se µ ≥ tgλ.


Isto mostra que quando o parafuso está em auto-retenção deverá ter-se o ângulo de
atrito maior ou igual que o ângulo da hélice.

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6.3.2. - RENDIMENTO

Por vezes, nos parafusos de movimento é importante conhecer o rendimento:

F ⋅ D m  L + πµ ⋅ D m 
Se se tiver µ = 0 em T =   , vem:
2  π ⋅ D m − µL 
FL
T0 = (6.7)

Sendo T0 o momento torsor para levantar a carga sem atrito.
O rendimento vem então dado por:
T0 FL
e= = (6.8)
T 2πT

6.3.3. – DIMENSIONAMENTO PARA ROSCAS TRAPEZOIDAIS.

As equações anteriores foram desenvolvidas para roscas quadradas. Se as


roscas forem inclinadas (triangulares ou trapezoidais) a carga é inclinada em relação
ao eixo do parafuso. Nestes casos o efeito do ângulo de flanco α é aumentar o atrito.
Assim os termos do atrito têm de ser divididos por cosα.

Fig. 6.6. – (a) efeito do ângulo de


flanco α. (b) diâmetro médio de
contacto no apoio (collar).
[fig. 8.7. Shigley]

Obtém-se então o momento torsor para o aperto para rosca trapezoidal:

F ⋅ D m  L + πµ ⋅ D m sec α 
T=  
2  π ⋅ D m − µL sec α 
(6.9)

Para além do atrito nas roscas ocorre ainda o atrito na cabeça do parafuso (parafusos
de fixação) ou no anel de suporte da carga (parafusos de movimento) que vai originar
um momento torsor que é preciso vencer para apertar ou desapertar os parafusos.
Fµ c d c
Tc = (6.10)
2

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sendo:
µc – coeficiente de atrito entre o anel de suporte ou a cabeça do parafuso e a peça.
dc – diâmetro médio de contacto no apoio (figura 6.6. (b)).
Daqui obtêm-se o momento torsor total para levantar (apertar) e baixar (desapertar) a
carga para roscas trapezoidais, respectivamente.

F ⋅ D m  L + πµ ⋅ D m sec α  Fµ c d c
T=  +
2  π ⋅ D m − µL sec α 
(6.11)
2

F ⋅ D m  πµ ⋅ D m − L sec α  Fµ c d c
T=  +
2  π ⋅ D m + µL sec α 
(6.12)
2

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6.4. PARAFUSOS À TRACÇÃO.

6.4.1. PARAFUSOS COM PRÉ-TENSÃO

Os parafusos são em regra instalados com uma pré-tensão tal que, por atrito,
nunca deixem as peças ligadas escorregarem uma sobre a outra, pelo que, nestas
condições, os parafusos trabalham à tracção (e não ao corte).
No caso geral, o parafuso deverá não só suportar a força normal aplicada, P,
como ainda deverá comprimir as peças ligadas com uma força inicial de aperto Fi.

Fi

Fi

Fig. 6.7. – União por parafuso com


pré-tensão. [fig. 8.12. Shigley]

A pré-tensão tem por objectivo:

• Evitar deslocamento relativo das peças ligadas (e consequente corte dos


parafusos), através de criação de uma força de atrito suficiente.
• Evitar que a união se separe por aplicação da força normal exterior, P.

6.4.2. RIGIDEZ DO PARAFUSO

Os parafusos podem ser todos roscados ou só uma das zonas ser roscada. No
cálculo da rigidez do parafuso tem de se ter em conta esse aspecto.
Quando o parafuso tem uma zona roscada e uma zona não roscada, podemos
considerar o parafuso como duas molas em série;

1 1 1 1 K ⋅K
= + + ... + ou K b = d t (6.13)
K b K1 K 2 Ki Kd + Kt

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A constante elástica do parafuso ou constante de rigidez para a zona lisa é dada por:
Ad ⋅ E
Kd = (6.14)
Ld
Para a zona roscada vem dada por:
At ⋅ E
KT = (6.15) Ld
Lt
sendo:
Ad – Área de maior diâmetro do parafuso (zona lisa).
At – Área resistente do parafuso.[tabela 6.1]
E – Módulo de elasticidade do parafuso
Ld – Comprimento da zona lisa do parafuso
Lt – Comprimento da zona roscada do parafuso
KT – constante de rigidez da zona roscada “threaded”.
Kd – constante de rigidez da zona não roscada.
Kb – constante de rigidez do parafuso para a zona de ligação

Donde vem que para qualquer parafuso a rigidez deste é dada por:
Ad At ⋅ E
Kb = (6.16)
Ad L t + A t Ld

6.4.3. RIGIDEZ DAS PEÇAS LIGADAS

À semelhança do procedimento para os parafusos, é necessário determinar a


constante de rigidez das peças ligadas na zona de ligação.
Numa união de peças com várias constantes de rigidez diferentes actuam
como molas em série:
1 1 1 1
= + + ... + (6.17)
K m K1 K 2 Ki
Sendo Km a constante de rigidez das peças ligadas.
Se uma das peças tiver uma constante muito menor que as outras, vem que:
1 1
K1<< Ki ⇒ = (6.18)
K m K1

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A rigidez das peças a unir é muito árdua de calcular, pois não se consegue
determinar com exactidão a área da secção resistente (área comprimida das peças).
Como solução aproximada podemos considerar que as peças a unir se
comportam como uma peça composta por dois troncos de cone, com ângulo de
45º[Hamrock] ou de 30º[Shigley], juntos pela base maior, ocos, em que a base menor é o
diâmetro da cabeça do parafuso D e o diâmetro interno é o diâmetro d do parafuso.

Fig. 6.8. – Zona comprimida das flanges considerada como um cone oco com ângulo
de cone 45º. [fig. 8.11 Shigley]

A constante de rigidez das peças comprimidas é então dada por:


πEd ⋅ tan α
Km= (6.20)
 ((2t ⋅ tan α + D − d )(D + d )) 
ln  
 ((2t ⋅ tan α + D + d )(D − d )) 

πEd
Km= para α = 45º (6.21)
 ((2t + D − d )(D + d ))
ln  
 ((2t + D + d )(D − d ))

0.577πEd
Km= para α = 30º (6.22)
 ((1.15t + D − d )(D + d )) 
ln  
 ((1.15t + D + d )(D − d )) 

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L
No caso mais corrente (figura 6.9) em que temos dois cones iguais com t = ,
2
o diâmetro de cabeça do parafuso é D = 1,5 d e se as peças a unir forem do mesmo
material, obtém-se então a rigidez das peças comprimidas:
πEd
Km= para α = 45º (6.23)
 (L + 0,5d )
2 ln 5 
 (L + 2,5d )
0.577πEd
Km= para α = 30º (6.24)
 (0.577 L + 0,5d ) 
2 ln 5 
 (0.577L + 2,5d ) 

Fig. 6.9. – Ligação aparafusada com flanges do t


mesmo material e mesma espessura.
[fig. 15.13 Hamrock]

6.4.4. PARAFUSOS SEM PORCA

No caso de se terem parafusos em que estes enroscam directamente na chapa


sem aparafusar na porca, as equações para os diâmetros vêm dadas por:
h + t 2 2 t 2 < d
L= (6.25)
 h + d 2 t2 ≥ d
D1 = d w + l ⋅ tgα (6.26)

D 2 = d w = 1,5 ⋅ d (6.27)

Fig. 6.10 – Parafuso sem porca.


[fig. 8.18 Shigley]

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6.4.5. JUNTAS (GASKET)

Normalmente em ligações aparafusadas em cilindros sob pressão, aparecem


muitas vezes com juntas. Estas juntas, têm como função a vedação desses mesmos
cilindros.

Fig. 6.11. – Exemplo de uma junta. [fig. 15.17 Hamrock]

A pressão de vedação na junta é dada por:

p=
N
[Fi − nP(1 − C)] (6.28)
Ag

Para que haja a condição de a pressão ser uniforme na vedação, tem de se


verificar a seguinte relação:
π Db
3≤ ≤6 (6.29)
Nd

em que:
N – n.º de parafusos
Db – diâmetro da circunferência dos parafusos
d – diâmetro nominal dos parafusos
Ag – área de encosto da junta
n – coeficiente de segurança
Fi – força inicial de aperto dos parafusos

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6.4.6. PARAFUSOS COM PRÉ-TENSÃO

Ao aplicar uma força exterior P ao parafuso com pré-tensão, esta distribui-se


pelo parafuso e pelas peças ligadas:

• O parafuso alonga de ( P + Fi )
• As peças comprimem de ( P – Fi )

A força resultante no parafuso é de:


Kb ⋅ P
Fb = + Fi = CP + Fi (6.30)
Kb + Km
A força resultante nas peças ligadas é de:
Km ⋅ P
Fm = − Fi = (1 − C)P − Fi (6.31)
Kb + Km
Em que a constante da junta é dada por:
Kb
C= (6.32)
Kb + Km

6.4.7. BINÁRIO DE APERTO

Como já vimos anteriormente;


Fi ⋅ D m  tgλ + µ sec α  Fi µ c d c
T=  + (6.33)
2  1 − µtgλ sec α  2
Para uma anilha de um parafuso de cabeça hexagonal, temos que dc = 1.25d
substituindo na equação (6.33), tem-se o binário de aperto:
 D  tgλ + µ sec α  
T =  m   + 0,625µ c  Fi d ó T = K Fi d (6.34)
 2d  1 − µtgλ sec α  

Tabela 6.2. – Factor do binário (K).


[Tabela 8.10. Shigley]

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6.4.8. PROJECTO ESTÁTICO DO PARAFUSO

Sabendo que a força no parafuso é Fb = CP + Fi , a tensão no parafuso vem dada por:

Fb C n P Fi
σb = = + ≤ Sp (6.35)
At At ⋅ N At
e o coeficiente de segurança é dado por:

n=
(Sp ⋅ A t − Fi )N (6.36)
CP
sendo:
N – número de parafusos
Sp – tensão de prova
At - Área resistente do parafuso.[tabela 6.1]
n – coeficiente de segurança
P – carga aplicada ao parafuso

Se o parafuso a dimensionar destinar-se


a ser amovível convém que o projecto, em vez
de “à cedência”, seja efectuado “à tensão de
prova” (máxima tensão que se pode aplicar ao
parafuso sem que este adquira deformação
permanente).

Fig. 6.9. – Diagrama típico Tensão-


Deformação. [Fig. 8.15. Shigley]

Caso se queira dar a maior pré-tensão possível consideram-se os seguintes limites:

Fi = 0,75Fp Para ligações amovíveis (6.37)

Fi = 0,9Fp Para ligações inamovíveis (6.38)

Sendo Fp a Força de Prova dada por Fp = At Sp.


Os valores de Sp encontram-se tabelados na tabela 6.3., para materiais que não se
encontrem tabelados usa-se Sp = 0.85 Sy

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Tabela 6.3. – Propriedades mecânicas dos aços para parafusos. [Tabela 8.6. Shigley]

Sp Sut Sy

O projecto específico de um parafuso de boa qualidade segue, portanto, o


seguinte método:

1. Definir o tipo de ligação quanto a mobilidade ou não do parafuso.


2. Especificar uma classe de resistência para o parafuso (i.e. obter os valores
de Sp e Sy).
3. Dimensionar o parafuso ao esforço total (Fb).
4. Alternativamente, determinar o número de parafusos (N), de uma dada
dimensão (At).
5. Num caso e noutro pode ainda interessar calcular o valor máximo a dar a
Fi, tal que não cause o sobredimensionamento desnecessário de At ou de
N.

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6.4.9. PARAFUSOS SOLICITADOS À FADIGA

Em muitas situações a solicitação da ligação aparafusada é variável no tempo,


o que vai provocar fadiga nos parafusos. O exemplo mais utilizado é o de uma tampa
de um reservatório.

Fig. 6.10. – Tampa de um reservatório sob


pressão variável.

Para o cálculo à fadiga de parafusos solicitados à tracção tem de se utilizar o


coeficiente de redução da resistência à fadiga Kf, mostrado na tabela abaixo.
Para determinar o acabamento superficial, caso não exista nada estabelecido
em contrário pode considerar-se acabamento maquinado.

Tabela 6.4. – Factores de redução da resistência à fadiga Kf para peças roscadas.

Classe SAE Classe métrica Roscas laminadas Roscas maquinadas Filete

0a2 3,6 a 5,8 2,2 2,8 2,1


3a8 6,6 a 10,9 3,0 3,8 2,3

A maioria das cargas de fadiga em parafusos é do tipo pulsante em que a carga


varia entre zero a um valor máximo P.
Se a ligação mantiver pré-tensão a carga no parafuso vai variar entre Fi e Fb.

F Fmax = Fb - Força máxima

Fmin = Fi - Força mínima

Fig. 6.11. – Variação da carga de fadiga em parafusos.

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Esta carga produz uma tensão ondulada, que varia entre uma tensão mínima e
uma tensão máxima.

σ Fb
σ max = - Tensão máxima
At
F
σ min = b - Tensão mínima
At
t

Fig. 6.12. – Variação da tensão provocada pela carga de fadiga em parafusos.

A Tensão alternada para parafuso com pré-tensão é dada por:

σ max − σ min Fb − Fi Kb P F F + CP − Fi CP
σa = = = ⋅ − i = i ó σa = (6.39)
2 2A t K b + K m 2A t 2 A t 2A t 2A t
A Tensão média para parafuso com pré-tensão é dada por:

σ max + σ min Fb + Fi F CP Fi
σm = = = σa + i ó σm = + (6.40)
2 2A t At 2A t A t

A tensão σa deve ser comparada com a amplitude da tensão Sa dada pelo


critério de Goodman.

Fig. 6.13. – Diagrama de Goodman e


representação da linha de
Kimmelmann usada na análise de
rotura de parafusos à fadiga. B é o
ponto de segurança. C é o Ponto de
rotura.
[Fig. 8.17. Shigley]

O coeficiente de segurança é dado por


AC/AB, ou seja:

n = Sa / σa (6.41)

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Dado que a distância AD é igual a Sa, tem-se:

Sa = Sm – Fi /At (6.42)

A equação de goodman é:

Sm = Sut ( 1 - Sa / Se ) (6.43)

Substituindo uma equação noutra, obtém-se:

Sut − Fi A t
Sa = (6.44)
1 + S ut Se

6.4.10. CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES

As duas zonas de um parafuso onde há que considerar obviamente o fenómeno


da concentração de tensões são a Arreigada (transição cabeça/espiga) e a transição
Liso/Rosca.
Considerando, no entanto o conjunto Parafuso/Porca há que ter em conta o
efeito da concentração de carga no primeiro fio da rosca sob a porca. O
comportamento deste efeito é o de uma verdadeira concentração de tensões, aliás, a
mais grave de todas as mencionadas anteriormente.
Pode-se considerar, em geral, uma distribuição de tensão típica, ao longo de
um parafuso.

Fig. 6.14. – Concentração de tensões no


parafuso.
A experiência reflecte esta situação. A distribuição de falhas ocorridas em
parafusos é de:
Arreigada → 15 %
Liso/rosca → 20 %
Rosca/Face da Porca → 65 %

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6.5. REBITES E PARAFUSOS AO CORTE

6.5.1. INTRODUÇÃO

Os parafusos podem, em certas aplicações, trabalhar ao corte, p.ex. em


mecanismos articulados, designando-se mais propriamente por pinos ou cavilhões.
Em ligações aparafusadas estruturais evita-se a aplicação de parafusos ao corte
devido à necessidade de ajustamento perfeito entre parafusos e furos, bem como o
alinhamento perfeito dos furos, para que a carga possa ser igualmente distribuída por
todos os parafusos da ligação.
Nas ligações rebitadas, em que os rebites trabalham, obviamente, ao corte, já
não há necessidade de ajustamentos perfeitos, uma vez que os rebites preenchem
completamente os furos, por deformação plástica durante a cravação.
As ligações rebitadas usam-se em casos em que seja contra-indicada a ligação
soldada (ex. na construção de estruturas metálicas).

As principais vantagens das ligações rebitadas são:

Ø Mais barato
Ø Maior facilidade de reparação
Ø Aplicação a materiais de má soldabilidade (estruturas de alumínio)

Quer se trate de rebites, quer de parafusos ao corte, a análise e tratamento de


projecto são o mesmo.

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6.5.2. MODOS DE FALHA E RESPECTIVO PROJECTO DE LIGAÇÃO


AO CORTE.

Corte do rebite Flexão das peças Rotura das peças


Ligadas e do rebite Ligadas

Esmagamento das peças


Corte da bainha Rasgão da bainha
Ligadas ou do rebite

Fig. 6.12. – Modos de falha das uniões aparafusadas ou rebitadas ao corte.

Deste modo, tem de se verificar cada um dos modos de falha para o cálculo de rebites
ao corte.

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Mc
Flexão das Peças Ligadas σ= ≤ σ all (6.45)
I

F
Corte do Rebite τ= ≤ τ all (6.46)
A
πd 2
com a área dada por: A = S ⋅ n e ⋅ (6.47)
4
onde: S – n.º de secções ao corte
ne – n.º de rebites
A – área da secção transversal de todos os rebites. É comum
usar-se para o cálculo de A o diâmetro nominal do rebite ou parafuso
em vez do diâmetro do furo.

F
Rotura das Peças Ligadas σ= ≤ σ all (6.48)
A1
A1 – área útil da peça ligada (sem furos)

F
Esmagamento do Rebite σ= ≤ σ all (6.49)
A2
ou da Peça Ligada
A2 – área sujeita a esmagamento A 2 = n e ⋅ d ⋅ t (6.50)

Corte da Bainha
Evitam-se se a bainha for ≥ 1.5d
Rasgão da Bainha

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6.5.3. LIGAÇÕES COM CARREGAMENTO CENTRADO.

A resultante das forças aplicadas passa pelo centróide da ligação, i.e., o


momento aplicado à ligação é nulo.
A força em cada elemento é dada por:
F
F' = (6.51)
n
onde:
n – nº de elementos (rebites) ao corte
F – força resultante aplicada
F’ – força em cada elemento (rebite) ao corte

F F

Fig. 6.16. – Ligação rebitada com carregamento centrado.

6.5.4. LIGAÇÕES COM CARREGAMENTO DESCENTRADO.

Neste caso, a resultante das forças aplicadas não passa pelo centróide da
ligação, i.e., o momento aplicado à ligação não é nulo.

L
Fig. 6.17. – Ligação rebitada com carregamento descentrado.

As coordenadas do centróide são dadas pelas seguintes equações:

∑ A ⋅x ∑ A ⋅y
ne ne

x= 1 i i
y= 1 i i
(6.52)
∑ A ∑ A
ne ne
1 i 1 i

Em que Ai são as áreas dos vários elementos i.

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Elementos de Máquinas Ligações aparafusadas e rebitadas

A força F vai provocar um esforço de corte (F’) e uma força devido ao


momento (F’’), tal como se pode ver na figura 6.18.

F’’2

F2
R2 F’’1
F’2 R1 F’1

C.G.
F1
R3
R4
F’’3

F3
x
F’’4
F’3 F’4

F4

Fig. 6.18. – Forças aplicadas nos elementos quando estão sujeitos a um


carregamento descentrado.

As solicitações (F’ e F’’) em cada elemento são dadas por:


F
Fi′ = (6.53)
ne
M t ⋅ ri
Fi′′= (6.54)
∑ ri2

O elemento que determinará o projecto da ligação é o que for carregado com


maior força resultante de F’ e F’’.

Fi′ + Fi′′ + Fi′ + Fi′′


2 2
Fi = (5.55)

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Elementos de Máquinas Ligações aparafusadas e rebitadas

6.5.5. CHAVETAS E PINOS.

Chavetas são elementos usados em veios para fixar componentes rotativos, com
transmissão de potência.
Pinos são elementos usados para a fixação de peças e que permitem movimentos
relativos.

Fig. 6.19. - Pinos


[Fig. 8.27 Shigley]

Fig. 6.20. – Chavetas (a) de cunha; (b) de disco. [Fig. 8.28 Shigley]

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Elementos de Máquinas Ligações aparafusadas e rebitadas

Os modos de falha das chavetas e pinos são o corte e o esmagamento:

F F
Corte τ= = ≤ τ all
A wL

F
Esmagamento σ = ≤ σ all
Lh '

As dimensões das chavetas são normalizadas (Veiga da Cunha)

F
F

Fig. 6.21. – Forças aplicadas nas chavetas e sua nomenclatura. [Fig. 11.10 Hamrock]

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