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N.B: Saudações caros ilustres esperamos poder ajudar nas questões colocadas no
Universo do Direito Moçambicano
Obra Intitulada Noções De Direito
Conteúdo
NOÇÃO .........................................................................................................................................1
Direito.......................................................................................................................................1
A ordem jurídica é uma realidade histórica cujo conteúdo são as normas jurídicas. Importa
saber como e onde nascem essas normas e como se formam e se revelam aos particulares. ...9
Art. 486 do CC. Omissões As simples omissões dão lugar á obrigação de reparar os
danos, quando, independentemente dos outros requisitos legais, havia por força da lei
ou de negócio jurídico, o dever de praticar o acto omitido. ..............................................28
alcidioleao@gmail.com
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Art. 487 do culpa CC. 1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão,
salvo presunção legal. 2 A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela
diligência de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso. ..............28
Objecto ...........................................................................................................................................91
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Obra Intitulada Noções De Direito
18.3. O estado unitário. O Estado unitário centralizado e o Estado unitário regional............98
c. Noção de base...............................................................................................................103
e. Elemento da Interpretação............................................................................................105
f. Elementos complementares..........................................................................................107
i. Analogia .......................................................................................................................111
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23.4. Politica Económica Internacional................................................................................121
Relação jurídica....................................................................................................................167
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Elementos da administração publica .......................................................................................243
Regime jurídico.........................................................................................................................244
Pessoal......................................................................................................................................246
Fórum administrativo...............................................................................................................246
28.1. Correntes que confluem em uma outra mentalidade – Secs. XIX E XX.....................141
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32.7. Consciência nacionalista no exterior ....................................................................150
32.9. Nos Estatutos e programa que então se aprova, cuja cópia se junta em anexo, fixa-
se o seguinte: ........................................................................................................................154
28.9. Há dois aspectos fundamentais a reter nos Acordos de Lusaca que tem relevância para
o nosso tema .........................................................................................................................166
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Fontes das relações jurídicas familiares ...............................................................................199
Casos Particular....................................................................................................................202
41.12. Jurisdição..............................................................................................................212
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46.7. Princípio do dispositivo........................................................................................230
47.7. Conceito................................................................................................................247
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47.10. Consequências da falta de personalidade judiciária .............................................250
48.9. Legitimidade.........................................................................................................254
49. Critérios estabelecidos na lei para se aferir a legitimidade singular das partes:.......255
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52.4. Características do Direito Bancário.............................................................................289
Noção ...................................................................................................................................292
55.9. Princípios..............................................................................................................293
60.9. Os direitos e deveres dos advogados se acham elencados no Estatuto da OAB ..313
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60.11. Substituição processual e substituição de parte....................................................314
60.13. Do advogado.........................................................................................................315
59.16. Garantias....................................................................................................................320
59.20. Do Juiz.......................................................................................................................322
60.1. Garantias......................................................................................................................323
60.4. Conceito.......................................................................................................................324
60.5. Classificação................................................................................................................324
61.10. Princípios..............................................................................................................326
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61.11. Prazo próprio e impróprio ....................................................................................328
61.5. A partir da data de conhecimento da prática de infracção, até quando pode instaurar um
processo disciplinar? ............................................................................................................331
A instrução do processo disciplinar deve ser finalizada no prazo de 15 dias – artigo 105
nº 1 do EGFAE;....................................................................................................................333
62.1. Princípios.....................................................................................................................344
63. Bibliografia.....................................................................................................................354
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Obra Intitulada Noções De Direito
Introdução ao Estudo do Direito
NOÇÃO
Direito, no sentido central desta palavra, como o sistema de normas de conduta social,
assistido de protecção coactiva.
A existência do direito decorre de duas ordens de factos, que podemos exprimir pelas
frases seguintes:
O homem é um animal social;
1
Modos de formação e de revelação das normas jurídicas. São tradicionalmente
reduzidos a quatro: lei, costume, jurisprudência e doutrina. A lei e o costume são
primariamente modos de formação (fontes júris essendi), a jurisprudência e a doutrina de
revelação (fontes júris cognoscendi) das normas jurídicas.
Já na Antiguidade se dizia que onde existe o Homem existe Sociedade (ubi homo, ibi
societas). Mas também se dizia que onde houver Sociedade haverá Direito (ubi societas,
ibi ius).2
Com efeito, sendo a sociedade indispensável à vida do Homem, a convivência humana
em sociedade exige que se defina e prevaleça uma ordem, a que a todos se submetam,
isto é, um conjunto de regras gerais e padrões que orientem de forma imperativa o
comportamento do Homem e estabeleçam as regras de organização dessa sociedade bem
como as instituições que dela fazem parte. Dessa ordem social, destaca-se a ordem
jurídica, ou seja o Direito.
A ordem jurídica é, pois, a ordem social regulada ou constituída pelo Direito, ou seja, por
um conjunto de normas gerais, abstractas e imperativas, cuja observância pode ser
assegurada de forma coerciva pelo Estado.
A sociedade é, ao mesmo tempo, a forma de vida por excelência do Homem e uma
realidade ordenada pelo Direito. De facto, o meio social ordenado em que vive o homem
(a sociedade) é instituído pelo Direito, através da definição de regras de conduta e
padrões de comportamento individual e colectivo e de um sistema organizativo em que se
estrutura e funciona a sociedade.
A ordem social, é uma ordem de liberdade, dado que, apesar de as suas normas
exprimirem um dever ser e se imporem ao Homem, este pode viola-las, pode rebelar-se
contra elas ou pode mesmo altera-las, sendo que a violação destas normas só as atinge na
sua eficácia e não na sua validade.
2
Exemplo: A regra não matar – todos concordam que deve ser acatada, mas isso não
significa que ninguém mate. No entanto, mesmo que os homicídios sejam numerosos, a
norma não é abolida, pois a sua validade não é afectada.
A ordem Natural é uma ordem de necessidade:
As suas leis não são substituíveis, aplicam-se de forma invariável e constante,
independemente da vontade do Homem ou mesmo contra sua vontade. Tais leis não são
fruto da vontade do homem, mas sim inerentes a própria natureza das coisas.
Exemplo:
Torna-se evidente que entre a infinidade de astros há uma maravilhosa ordem, que o
homem só lentamente vai descobrindo. Se cada um não ocupasse uma posição
determinada no conjunto, teríamos o caos.
A ordem social é uma ordem complexa, entrando na sua composição várias ordens
normativas que pautam aspectos diferentes da vida do Homem em sociedade, das quais se
destacam, pela sua importância, as ordens:
Moral;
Religiosa;
De trato social;
Jurídica.
a) A ordem moral – aponta normas ou regras que tratam de influenciar a consciência
e moldar o comportamento do indivíduo em função daquilo que se considera o
Bem e o Mal; As normas morais visam o indivíduo e não directamente a
organização social em que se integram; a ordem moral tem como sanção a
reprovação da formação moral da pessoa ou a má reputação;
De forma sucinta, podemos fazer a distinção entre a ordem jurídica
(Direito) e a ordem moral de acordo com os seguintes critérios:
a) Critério do “mínimo tico”: O Direito só acolhe e imp e as regras morais
cuja observância é imprescindível para a subsistência da paz, da liberdade e da
justiça em sociedade. O Direito constitui aquele mínimo ético ou moral que
resulta da coincidência das suas normas com as regras morais. Isto equivale a
dizer que o Direito não se propõe, como seu fim essencial, garantir certa
3
concepção ética da sociedade mas tampouco ignora as normas morais; na
verdade, o Direito não prescreve condutas imorais;
b) Critério da coercibilidade: As normas morais só têm relevância para a
consciência de cada um, enquanto as normas jurídicas se impõem ao indivíduo
na medida em que são coercivas, ou seja, podem ser impostas pela força;
c) Critério da exterioridade: Ao Direito, que se preocupa essencialmente com
a conduta externa ou visível do homem, basta que o indivíduo cumpra as
normas em vigor, enquanto a Moral exige, além disso, uma adesão íntima
(interior) aos valores éticos que prescreve.
b) A ordem religiosa – tem por função regular as condutas humanas em relação a
Deus, com base na Fé;
c) A ordem de trato social – aponta normas que se destinam a permitir uma
convivência agradável entre as pessoas mas que não são propriamente indispensáveis à
subsistência da vida em sociedade. Inclui normas sobre a maneira de estar e se comportar
em acontecimentos sociais (normas de etiqueta e boas maneiras, de cortesia e
urbanidade); normas sobre a forma de vestir (moda), normas típicas de uma profissão
(deontologia), normas de uma determinada região (usos e costumes), etc.;
d) A ordem jurídica - é constituída pelas normas mais relevantes da vida em
sociedade e, ao contrário, das outras ordens normativas, serve-se da coacção como meio
de garantir a observância das suas normas, caso estas não forem acatadas
voluntariamente. É, pois, um conjunto de normas que regulam as relações sociais,
impondo-se aos homens deforma obrigatória e com recurso à coercibilidade.
Ou seja em contraposição a ordem enumerada, esta ocupa-se dos aspectos mais
importantes da convivência social.
É uma ordem normativa intersubjectiva e assistida de coercibilidade material, que visa
regular a vida do Homem em sociedade, conciliando os interesses conflito.
Os valores que visa atingir são a Justiça e a Segurança, utilizando como meio as normas
jurídicas.
Mas, note-se bem: todas as ordens sociais enunciadas têm em comum o facto de as suas
normas (normas morais, religiosas, de trato social e jurídicas) serem gerais,
abstractas e obrigatórias. A generalidade, a abstracção e a imperatividade ou
obrigatoriedade são, pois, características comuns às mesmas. No entanto, e como marca
diferenciadora, só a ordem jurídica (ou de Direito) se caracteriza pela coercibilidade,
assegurada pelo Estado em caso de não cumprimento voluntário das suas normas (normas
jurídicas).
4
3. Característica das normas jurídicas
Imperatividade
5
competências e os deveres do presidente da Republica e que se destinam a uma categoria
de pessoas e não a uma pessoa em concreto.
Generalidade: Todos os cidadãos são iguais perante a lei, razão por que a norma jurídica
se aplica a todas as pessoas em geral. As normas jurídicas são válidas para todos e a todos
obrigam de igual forma;
A generalidade é assim, a abstracção especial dos destinatários.
Quando a segunda característica – a abstracção – significa que a norma respeita a um
número indeterminado de casos ou a uma categoria mais ou menos ampla de situações e
não situações concretas ou individualizadas.
Abstracção: As normas jurídicas aplicam-se a um número abstracto de situações, a
situações hipotéticas em que poderão enquadrar-se as condutas sociais e não a um
indivíduo ou facto concreto da vida social;
Coercibilidade
Consiste na susceptibidade de aplicação coactiva de sanções, se a norma for violada.
A coercibilidade não é característica essencial da norma jurídica, mas da Ordem Jurídica
estatal globalmente considerada, embora seja elemento desta norma na sua perfeita ou
completa.
Tal característica pressupõe a imperatividade da observação da norma, mas vais mais
alem, por quando há outras normas imperativas, como as morais, que não são coactivas.
Pelo menos hoje em dia (mas nunca pode ter sido essencialmente diverso), o poder tem
necessariamente a função de garantir a Ordem Jurídica da sociedade, defendendo-a de
elementos anti-sociais. Organiza-se, pois todo um sistema de coacção, sendo o monopólio
desta praticamente assegurado pelo Estado.
Portanto, a Ordem Jurídica estatal é, hoje em dia, uma ordem coerciva, porque,
globalmente tomada, é assistido pela coacção3.
Exemplo:
Quem afirmar um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom nome de qualquer pessoa,
singular ou colectiva, responde pelos danos causados.
Esta regra é:
3
Oliveira Ascensao, O Direito – Introducao e Teoria Geral.
6
Imperativa, porque obriga a adoptar uma conduta – não afirmar ou difundir um
facto;
Genérica, porque visa uma pluralidade indefinida de pessoas – quem;
Abstracta, porque contempla um certo tipo de situação – afirmar ou difundir um
facto;
Susceptível de imposição coactiva de sanções, porque o lesado pode recorrer aos
tribunais para obter a reparação do dono causado.
Coercibilidade: As normas jurídicas podem impor-se mediante o emprego de meios
coercivos (ou da força) pelos órgãos estaduais competentes, em caso de não
cumprimento voluntário.
Estrutura da norma jurídica
A norma jurídica tem uma estrutura interna constituída, amiúde, por três elementos, a
saber:
a) Previsão: a norma jurídica regula situações ou casos hipotéticos da vida que se
espera venham a acontecer (previsíveis), isto é, contém, em si mesma, a representação
da situação futura;
b) Estatuição: a norma jurídica impõe uma conduta a adoptar quando se verifique, no
caso concreto, a previsão da norma:
c) Sanção: a norma jurídica dispõe os meios de coacção que fazem parte do sistema
jurídico para impor o cumprimento dos seus comandos.
No exemplo apresentado, temos:
- Previsão: “Aquele que, achando exposto em qualquer lugar um recém-nascido ou
que, encontrando em lugar ermo um menor de sete anos, abandonado....”
- Estatuição: ...” o não apresentar à autoridade administrativa mais próxima”...
- Sanção: ...” será condenado a prisão de um mês a dois anos”.
De entre os tipos de sanção social, em sentido restrito ou negativo, destacam-se:
a) Sanções morais são aquelas que se traduzem na reprovação da formação moral do
transgressor e na condenação do mesmo sob o anátema da má reputação. Aplicam-se
em virtude da violação das normas morais que, como já vimos, regulam o
comportamento do indivíduo em função daquilo que se considera o Bem e o Mal;
b) Sanções religiosas são aquelas que se aplicam em virtude da violação das normas
religiosas que, como as sabe, têm por função regular as condutas humanas com base
7
na Fé em Deus. A violação das normas religiosas traduz-se em infracções cuja
gravidade é objecto de diversa graduação (que se expressam, nomeadamente, em
“pecados veniais”, pecados graves ou “mortais”) e implicam a aplicação das mais
diversas sanções religiosas, umas de aplicação terrena (v.g. proibição de benefício de
sacramentos, excomunhão, etc.) e outras após a morte (condenação ao purgatório e ao
inferno);
c) As sanções jurídicas são aquelas que visam sancionar a violação das normas
jurídicas que, como sabemos, são as regras de conduta gerais, abstractas e
obrigatórias que regulam os aspectos mais relevantes da vida em sociedade,
distinguindo-se das demais normas da ordem social
Manual de Introdução ao Direito (2011) Bartolomeu L. Varela 36
pelo facto de poderem ser aplicadas coercivamente pelo Estado quando não são
acatadas de forma voluntária.
Partes integrantes das sanções sociais, as sanções jurídicas apresentam diversas
modalidades, destacando-se as seguintes:
- Sanções civis – têm por fim impor o cumprimento das obrigações e ou o
ressarcimento de danos morais e materiais causados por quem age em violação das
normas a que está obrigado. Traduzem-se, designadamente, na reconstituição do
interesse lesado, isto é, na reposição das coisas no estado em que se encontravam
antes da prática da ilicitude, mediante o cumprimento forçoso das obrigações em
causa (exs: pagamento de uma dívida num contrato de compra e venda, devolução do
bem emprestado, etc.)30 e ou na fixação de uma indemnização, destinada a cobrir os
prejuízos ou danos causados31;
- Sanções criminais (ou penais)4 – visam responsabilizar o criminoso perante a
sociedade em virtude de actos ou omissões que violem normas imperativas de
convivência social, podendo as penas revestir-se as mais diversas formas: pena de
multa, privação da liberdade (pena de prisão)33, imposição de medidas de segurança,
indemnizações (nalguns casos), etc.;
- Sanções disciplinares – traduzem-se na aplicação de sanções a indivíduos pela
violação de normas que disciplinam a conduta no seio de organizações a que
pertençam esses mesmos indivíduos. As penas disciplinares podem ser de mera
censura, pecuniárias (multas), suspensivas (suspensões e inactividade) e expulsivas
(aposentação compulsiva e demissão), além da pena acessória de cessação da
4
Manual de Introdução ao Direito (2011) Bartolomeu L. Varela 32.
8
comissão de serviço, que pode aplicar-se a funcionários investidos em cargo dirigente
ou equiparado.
Nas sanções jurídicas revela-se a coercibilidade que se traduz na associação entre o
Direito (Justiça) e a Força. Entretanto, não é imprescindível a utilização da Força em
todos os casos para se assegurar o cumprimento das normas jurídicas. Com efeito, na
maioria das vezes, o acatamento destas acontece de forma voluntária ou natural, sem
a intervenção da Força.
3.5. Sanções Políticas
Uma categoria especial de sanções sociais é constituída pela Sanções Políticas.
Efectivamente, com a emergência, a partir das sociedades primárias, da chamada
sociedade civil ou política e, com ela, do Poder Político, cujo exercício obedece a
regras que, como quaisquer outras, requerem cumprimento obrigatório, mas são, por
natureza, igualmente violáveis, torna-se necessária a existência das Sanções Políticas,
para “premiar” ou “penalizar” o desempenho dos indivíduos investidos nos mais
diversos cargos políticos.
A ordem jurídica é uma realidade histórica cujo conteúdo são as normas jurídicas.
Importa saber como e onde nascem essas normas e como se formam e se revelam aos
particulares.
Este é o problema das fontes do Direito.
A expressão Fontes do Direito tem sido utilizada pelos diversos autores, em varias sentidos, de
entre os quais, salientamos:
Sentido sociológico-material;
Sentido histórico-instrumental;
Sentido-organico;
Sentido técnico-juridico.
Em sentido sociológico-material são fontes do Direito todos os circunstancialismo saciais que
estiverem na origem de determinada norma jurídica.
Em sentido histórico-instrumental, são fontes do Direito os diplomas ou monumentos legislativos
que contem normas jurídicas.
Em sentido técnico-juridico, são fontes do Direito os modos de formação e revelação das n
normas jurídicas. Evidencia a maneira como é criada e se manifesta socialmente a norma jurídica
e é este o sentido que, fundamentalmente, interesse ao nosso estudo.
9
5. São fontes de direito neste sentido as seguintes quatro:
- Lei;
- Costume;
- Jurisprudência;
- Doutrina.
Chama-se lei á norma jurídica decidida e imposta por uma autoridade com poder para o
fazer, na sociedade politica. A lei é assim uma norma jurídica de criação deliberada – é
criada para servir como tal.
Valor como fonte de direito A lei caracteriza-se por ser decidida por um órgão (singular
ou colegial, uma ou mais pessoas) dotado de poder legislativo. No estado português,
vários são os órgãos com poder legislativo (em sentido lato) e diversos os processos por
que as leis são elaboradas.
E agora convém fazer referência a um ponto muito importante entre as várias formas de
lei estabelece-se um escalonamento ou hierarquia – hierarquia das leis.
Saliente-se, no entanto, que alguns autores dizem só a jurisprudência de conteúdo
normativo cria Direito e outros consideram que nem a jurisprudência nem a doutrina são
criadores do Direito.
A posição destes últimos baseia-se numa distinção tradicional entre:
Fontes imediatas do Direito, as que tem força vinculativa própria, sendo, contudo,
importantes pelo modo de produção do Direito.
Fontes mediatas do Direito, não tem força vinculativa própria, são, contudo,
importantes pelo modo como influenciam o processo de formação e revelação da
norma jurídica.
Do ponto de vista da lei, o costume pode ser confirmativo ou interpretativo das normas
daquela, e então diz-se costume secundum legem (segundo a lei)6; integrativo, regulando
hipóteses e aspectos de que a lei não trata, e então fala-se de costume praeter legem (para
além da lei); contrario à lei, contra legem. Ora, sempre do ponto de vista da lei, o
costume contra legem não valer.
É o que substancialmente estatui o artigo 3°. Do código civil – os usos só são atendíveis
quando a lei determine7 e portanto nunca contra a mesma lei8.
Somente, o jurista, para julgar das relações entre costume e lei, deve colocar-se num
ponto de vista duma das fontes relacionadas. Nesse ponto de vista imparcial, deve
reconhecer que, de facto, o costume pode revogar ou suspender a lei. Se uma norma for
considerada por todos – ate os tribunais – como abolida, ela perde realmente a sua
vigência9.
5
Ao que se costuma fazer, independentemente da sua obrigatoriedade, chama-se por vezes, uso, usos ou
costume, num sentido impróprio desta palavra.
6
Esta necessariamente neste plano a figura dos “bons costumes” Codigo Civil, art° 271, 280°, 334°, n°2,
465°, alínea a), 967°, 1422° n°2, alínea b), 2186°, 2230° e 2245°.
7
Cfr também art.° 737 e 1400° do Código Civil.
8
Cfr também art.° 1401 e 1718° do código civil.
9
Luiz de Almeida Braga, “Reformas de processo”, in “Revista dos Tribunais”, ano 58 (1940), p.51
11
Chama-se jurisprudência, num sentido desta palavra, ao conjunto de orientações, que
em matéria de determinação e aplicação do direito da lei, decorrem da actividade prática
de aplicação do direito dos órgãos da sociedade de tal encarregados. Alguns autores
restringem esta noção apenas aos tribunais, a jurisprudência judicial, contudo essas
restrições não é de fazer-se. Existe também uma jurisprudência dos notários,
conservadores e até dos órgãos administrativos. Em todos estes casos – e outros ainda – a
necessidade de aplicar (correctamente) o direito leva á pesquisa e descoberta de normas
jurídicas, que de outro modo permaneceriam ocultas e indiferenciadas no sistema.
Valor como fonte de direito a jurisprudência como o conjunto de orientações que, como
forma de revelação de normas jurídicas, resultam da sua aplicação ao caso concreto pelos
órgãos encarregados de tal. Em nossa opinião, esses órgãos não são só os tribunais,
embora a jurisprudência judicial seja de longe a mais importante (basta disser que os
tribunais são órgãos encarregados justamente de aplicar o direito em casos concretos de
litigiosos), a tal ponto que muitos autores e a linguagem dominante entendem por
jurisprudência só a judicial.
I. Em direito português, a hierarquia das leis – que, repita-se tem como principal
consequência que a lei de grau inferior não pode dispor contra a norma constante de uma
lei de grau superior – estabelece – se do seguinte modo:
- Constituição;
- Direito Internacional geral e convencional (tratados normativos);
- Leis e decretos – leis;
- Decretos legislativos regionais;
- Decretas regulamentares;
- Decretos regulamentares regionais;
- Portarias;
- Despachos;
- Posturas.
Quando os textos normativos empregam a palavra lei, é por interpretação que temos de
fixar a extensão do sentido.
I. Há varias categorias de leis, pelo que surgem difíceis problemas quando se trata
de aferir o seu valor relativo. É pois necessário estabelecer entre elas uma
determinada ordenação ou hierarquia.
Da hierarquia das leis resulta que as leis de hierarquia inferior não podem contrariar as
leis de hierarquia superior, antes tem de se conformar com elas; as leis de hierarquia igual
ou superior podem contrariar leis de hierarquia igual ou inferior, e então diz-se que a lei
mais recente revoga a lei mais antiga.
13
A hierarquia das leis depende da hierarquia das fontes em estão contidas e tem de ser
analisada em paralelo com a hierarquia dos correspondentes aspectos do poder
legislativo.
Para estabelecer esta hierarquia há que distinguir:
decretos regulamentares;
portarias;
instruções;
circulares.
Os decretos regulamentares são diplomas emanadas pelo Governo e promulgados pelo
Presidente da Republica (art 134, b) da CRP). Devem ser referendados pelo Governo ou
Ministérios interessados (art 197 a) da CRP).
15
O facto de tanto as resoluções como as portarias não terem de ser promulgadas pelo
Presidente da Republica confere-lhes um valor inferior aos decretos regulamentares na
hierarquia das leis.
Os despachos são diplomas que tem apenas como destinatário os subordinados do
ministro ou ministros signatários e valem unicamente dentro do Ministerio respectivo.
As instruções são meros regulamentos internos, contendo ordens dadas pelos ministros
aos respectivos funcionários, ou estabelecendo directrizes para melhor aplicação dos
diplomas normativos.
Circulares é a designação dada as instruções quando estas são dirigidas a diversas
serviços.
Para alem dos decretos regulamentares do Governo, acabados de referir, a forma decreto
é ainda utlizada para outros actos que podemos designar por decretos especiais.
Estes decretos podem provir:
Do presidente da republica, que embora não seja um órgão com função legislativa,
intervem no processo legislativo, e assim, é por decreto que o presidente da
republica nomeia o primeiro-ministro e os membros do Governo (art 133 f) e h)
da CRP).
II. A constituição, regra geral, refere-se ao escalão superior das leis ordinárias. Por
exemplo, a palavra “lei”, no artigo 77 nº2, só abrange (alem de leis
constitucionais), as leis da Assembleia da Republica e os decretos do Governo
16
– um simples decreto regulamentar não pode regular as formas de participação
as associações de professores, de alunos, de pais, das comunidades e das
instituições de caracter cientifico na definição da política de ensino. Já nos
artigos 280ºe 294º do Código Civil o termo se deve entender abranger os
decretos regulamentares.
17
Saleintamos a actividade legislatvas da Assembleia da Republica e do Governo.
Processo de formação das leis na Assembleia da Republica
Este processo inicia-se com a apresentação do texto, sobre o qual se pretende que A.R se
pronuncie. Nos termos do art. ° 167 da CRP., esta apresentação pode ser efectuada:
Pelos Deputados (art. ° 167 da CRP), tomando a designação de Projecto de Lei;
Pelos Grupos Parlamentares (art. ° 180 n°1,g), tomando a designação de Projecto
de Lei;
Pelo Governo (art° 197 n° 1, d) da CRP), tomando a designação de Projecto de
Lei;
Por grupos de cidadãos eleitores, de acordo com o estipulado no citado art.° 167.
10
Castro Mendes, Introducao ao Estudo do Direito, pág. 154.
18
O Governo, na sua tarefa legislativa, pode optar por uma de duas situações:
Assinatura sucessivas;
Aprovação em Conselho de Ministros.
Assinaturas sucessivas – neste processo, o texto do diploma é submetido separadamente a
assinatura do Primeiro-Ministro e de cada um dos Ministros competentes.
Uma vez obtidas as assinaturas, é o diploma presente ao Presidente da Republica para
promulgação (art. 136 n° 4 da CRP).
Aprovação em Conselho de Ministros – o texto do respectivo decreto-lei é apresentado e
aprovado em Conselho de Ministros, sendo enviado, para promulgação, para o Presidente
da Republica.
19
Aprovação. Por maioria na Assembleia da Republica ou em Conselho de Ministros, o
acto legislativo é aprovado
Tradicionalmente, chama-se decreto da Assembleia da Republica do texto aprovado por
esta, antes da promulgação.
Promulgação. As leis, decretos-leis e decretos regulamentares carecem de promulgação
do Presidente da Republica (artigo 137, alínea b), da constituição). ”A falta de
promulgação determina a inexistência jurídica do acto” (artigo 140 da constituição).
A promulgação é o acto pela qual o Presidente da Republica atesta solenemente a
existência da norma e intima a sua observância.
Publicação. Para poderem ser aplicadas, as normas tem de poder ser conhecidas; para
poder ser conhecidas tem de ser públicas.
O artigo 122º da constituição enumera os princípios actos sujeitos a publicação no
“Diário da República” e estatui que a falta de publicação desses actos e a de qualquer
acto de conteúdo genérico de órgão de soberania, das regiões autónomas e do poder local
implica a sua ineficácia jurídica (nº2).
Sobre o ponto também estatui o artigo 5º., nº 1, do Código Civil:
“ A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial”.
E a Lei nº 6/83, de 29 de Julho (alterada pelo Decreto-Lei nº 1/91, de 2 de Janeiro), sobre
a publicação, identificação e formulário dos diplomas, dispõe, no artigo 1º:
“ A eficácia Jurídica de qualquer diploma depende da sua publicação”.
As normas de valor geral são, em regra, publicadas no “Diário da Republicas”
(Constituição, artigo 122º, nº1; Lei nº6/83, artigo 3º); quando as de valor local, diz a
constituição que “ a lei determina as formas de publicidade dos demais actos e as
consequências da sua falta (artigo 122º nº3) ”.
Diário da república
Completamente, convém dizer algo acerca do jornal oficial, hoje chamado Diário da
Republica.
Esse periódico oficial começou a publicar-se em 1 de Janeiro de 1835, com o título de
Diário do Governo; passou a chama-se Diário de Lisboa, por força-se de decreto de 31
de Outubro de 1859; e voltou a ter Diário do Governo a partir de 1 de Janeiro de 1869
(por determinação do decreto de 11 de Dezembro de 1869).
21
Pelo artigo 1° n°3, da Lei n°6/83, de 29 de Julho, “o Diário da Republica deve ser
distribuído no dia correspondente ao da sua data”. Esta disposição (vinda da Lei n° 3/76,
de 10 de Setembro, e imposta pela natureza das coisas) não tem sido observada.
Também nas regiões autónomas há jornais oficiais.
Termo da vigência
Passado o período da vacatio legis, se este existir, a lei ficará, em principio,
ilimitadamente em vigor. O decurso do tempo, por maior que seja, não é razão suficiente
para que a lei cesse a sua vigência.
Como formas de cessação de vigência da lei, o art 7° do Código Civil prevê unicamente a
caducidade e a revogação.
a. Caducidade.
22
Qual, sob a epígrafe “cessação da vigência da lei” estatui em quatro números sucessivos:
Quando se não destina a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se for revogada
por outra lei.
Refere-se aqui o caso mais importante (embora não o único) de caducidade e em seguida
a figura da revogação. E negam-se implicitamente outras causas possíveis de cessação da
vigência da lei, como seja o desuso, a cessação da razão de ser, etc.
A revogação pode resultar de declaração expressa, da incompatibilidade entre as novas
disposições e as regras precedentes ou da circunstância de o nova lei regular toda a
matéria da lei anterior.
11
E são especiais em relação as regras gerais dos contratos
23
redigida em termos que não admitem excepções alguma, ou só admitem de aceitar a regra
absoluta legi special per generalem nom derogatur.
A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogado.
O preceito é claro, mas cede perante a vontade do legislador em contrário. Chama-se lei
repristinatória à que repõe em vigor a nova lei revogado.
Ou que esse facto seja previsto na própria lei ou noutra de valor hierárquico igual ou
superior.
O facto superveniente pode ser uma data, ou o termo de um prazo (leis temporários).
Iii. A cessação da razão De ser da lei não opera só por si a extinção da vigência desta.
Não é valida a máxima, cessante ratione legis, cessant eius dispositivo.
Sacrifica-se aqui a justiça à segurança:
As pessoas devem poder ter a certeza de certa lei estar ou não em vigor. Ora, se há razão
ou não para manter a lei em vigor, é um ponto susceptível de várias apreciações
subjectivas.
Iv. B) A revogação é o afastamento da lei por outra lei, de valor hierárquico igual
ou superior.
Há três espécies de revogação:
Revogação expressa;
Revogação tácita;
Revogação de sistema.
A revogação expressa verifica-se quando um preceito da nova lei designa uma lei anterior
e a declara revogada.
Esta designação pode ser uma individualização, feita de forma concreta – v. Artigo 11°
da Lei n°6/83, de 29 de Julho, por exemplo; ou referir-se a um conjunto mais ou menos
geral – v. Artigo 3° da lei preambular do código civil.
A revogação tácita verifica-se quando, sem haver revogação expressa, as normas da lei
posterior são incompatíveis com as da anterior.
Não podem subsistir as duas, sem o direito perder o seu carácter de sistema, livre de
contradições internas. Então cede a mais antiga.
24
Um caso particular de incompatibilidade é a repetição:
Se uma norma é idêntica a outra, vigorava só a mais recente.
A revogação de sistema verifica-se quando, embora não haja revogação expressa nem
tácita, no entanto a intenção do legislador é que certo diploma passe a ser único e
completo texto de regulamento de certa matéria.
Apurada que é essa intenção do legislador, mesmo pormenores das leis antigas, não
revogadas expressamente nem incompatíveis em rigor com a lei nova, se devem
considerar feridos de uma revogação de sistema.
V. A revogação distingue-se ainda em abrogação e derrogação. Abrogação é a revogação
total, derrogação é a revogação parcial. Diz Modestino, no “Digesto” D.50.16.102:
“ A lei derroga-se ou abroga-se; derroga-se quando se suprime uma parte; abroga-se,
quando de todo se suprime”.
6. Pessoas singulares
São pessoas – pessoas singulares – os seres humanos vivos, hoje sem qualquer excepcao,
desde que nascem (código civil, artigo 66º nº1,) ate que morrerem (código civil, artigo
68º nº1).
25
Os interditos e inabilitados, ou seja, as pessoas a quem uma sentença judicial,
provocada pelas condições dos artigos 138º e 152º do código civil, limita a capacidade de
exercício.
A menoridade atribui uma situada de incapacidade de exercício rígida – determinada na
lei – embora com certo escalonamento, suprida em regra pela representação; a interdição
atribui uma incapacidade de exercício de rígida também, e suprida em regra pela
representação; a inabilitação atribui uma incapacidade de exercício maleável,
determinada pela sentença, e onde desempenha forte papel a assistência.
As pessoas a quem se confia a representação e a assistência destes incapazes atribuem-se
muitas vezes outros podores, como o de guarda e custódia pessoal do incapaz.
Desenham-se assim situações de que se devem destacar três:
- Poder paternal ou pátrio poder, referente a menores, atribuído por igual ao pai e á
mãe (Constituição, artigo 36 nº3; código civil, artigos 124º 1877º e seguintes);
- Tutela, referente a menores não sujeitos a pátrio poder e a interditos;
- Curatela, referente a inabilitados.
26
O interesse da associação é o interesse (egoísta ou altruísta) dos associados. Os interesses
da fundação tem de ser tembem interesses humanos colectivos – artigo 188º nº1, do
código civil
III. Entre as associações destacam-se aqueles cujo fim é a obtenção dum lucro e sua
distribuição pelos associados (fim lucrativo, intuito lucrativo). São as sociedades (código
Civil, artigos 980 e seguintes).
As restantes associações dizem-se associações em sentido restrito ou pessoas morais.
27
Esta segunda corrente parece mais adequada a uma visão jurídica do problema, sendo
certo que a lei em parte alguma equipara as pessoas colectivas a incapazes.
Art. 486 do CC. Omissões As simples omissões dão lugar á obrigação de reparar
os danos, quando, independentemente dos outros requisitos legais, havia por força
da lei ou de negócio jurídico, o dever de praticar o acto omitido.
Art. 487 do culpa CC. 1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão,
salvo presunção legal. 2 A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela
diligência de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso.
Art. 483º nº 1 do CC- Principio geral: Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação.
Art. 484ᵒ do CC. Ofensa do crédito ou bom nome: Quem afirmar um facto capaz
de prejudicar o crédito ou o bom nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva,
responde pelos danos causados.
28
Art. 488° do CC. Imputabilidade: 1.Não responde pelas consequências do facto
danoso quem, no momento em que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa,
incapacitado de entender ou querer, salvo se o agente se colocou culposamente
nesse estado, sendo este transitório. 2. Presume-se falta de imputabilidade nos
menores de sete anos e nos interditos por anomalia psíquica.
Art. 489° do CC. Indemnização por pessoa não imputável. 1 Se o acto causador
dos danos tiver sido praticado por pessoa não imputável, pode esta, por motivo de
equidade, ser condenada, ser condenada a repara-los, total ou parcialmente, desde
que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a sua
vigilância. 2. A indemnização será, todavia, calculada por forma a não privar a
pessoa não imputável dos alimentos necessários, conforme o seu estado e
condições, nem dos meios indispensáveis para cumprir os seus deveres legais
de alimentos.
29
Art. 493 do CC Danos causados por coisas, animais ou actividades. 1 Quem tiver
em seu poder coisas imóvel , com o dever de vigiar, é bem assim quem tiver
assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais, responde pelos danos que a
coisa ou os animais causarem, salvo se provar que nenhum culpa houve da sua parte
ou que os danos se teriam igualmente produzido ainda não houvesse culpa sua. 2
quem causar danos a outrem no exercício de uma actividade, perigosa por sua
própria natureza ou pela natureza dos meios utlizados, é obrigado a repara-los,
excepto se mostrar que empregou todas as providencias exigidas pelas
circunstâncias com o fim de se prevenir.
30
responsáveis existe na medida das respectivas culpas e das consequências que delas
advieram, presumindo-se iguais as culpas das pessoas responsáveis.
Disposições aplicáveis
Art. 499 do CC.: São extensivas aos casos de responsabilidade pelo risco, na parte
aplicável e na falta preceitos legais em contrário, as disposições que regulam a
responsabilidade por factos ilícitos.
31
Art. 502 do CC. Danos causados por animais: quem no seu próprio interesse
utilizar quaisquer animais responde pelos danos que eles causarem, desde que os
danos resultem do perigo especial que envolve a sua utilização.
Art. 503 do CC. Acidentes causados por veículos: 1 Aquele que tiver a direcção
interesse, ainda que por intermediário de comissário, responde pelos danos
provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em
circulação. 2 As pessoas não imputáveis respondem nos termos do artigo 489 do
CC. 3 Aquele que conduzir o veiculo por conta de outrem responde pelos danos que
causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte; se porem, o conduzir fora
do exercício das suas funções de comissário, responde nos termos de n°1.
Art. 506 do CC. Colisão de veículos: 1 Se da colisão entre dois veículos resultarem
danos em relação aos dois ou em relação a um deles, e nenhum dos condutores tiver
culpa no acidente, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de
cada um dos veículos houver contribuído para os danos; se os danos forem causados
somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, so a pessoa por
eles responsável é obrigado a indemnizar. 2 Em caso de duvida, considera-se igual a
medida da contribuição de cada um dos veículos para os danos, bem como a
contribuição da culpa de cada um dos condutores.
32
respondem, sendo aplicável quando ao direito de regresso, entre eles, ou em relação
a eles, o disposto no n°2 do artigo 497 do CC.
Art. 509 do CC. Danos causados por instalações de energia eléctrica ou gás. 1
Aquele que tiver a direcção efectiva de instalação destinada á condução ou entrega
da energia eléctrica ou gás, e utilizar essa instalação no seu interesse, responde
tanto pelo prejuízo que derive da condução ou entrega da electricidade ou do gas,
como pelos danos resultantes da própria instalação, excepto se ao tempo do
acidente esta estiver de acordo com as regras técnicas em vigor e em perfeito estado
de conservação. 2 Não obrigam a reparação os danos devidos a causa de força
maior; considera-se de força maior toda a causa exterior independente do
funcionamento e utilização da coisa. 3 Os danos causados por utensílios de uso de
energia não são reparáveis nos termos desta disposição.
Principio geral art. 473. 1,Aquele que, sem causa justificativa, enriquecer á
custa de outrem é obrigado a restituir aquilo com que injustamente se
locupletou. 2. A obrigação de restituir, por enriquecimento sem causa, tem de
modo especial por objecto o que for indevidamente recebido, ou o que for
recebido por virtude de uma causa que deixou de existir ou em vista de um
efeito que não se verificou.
33
Art. 476 Repetição do indevido 1. Sem prejuízo do disposto acerca das
obrigações naturais, o que for prestado com a intenção de cumprir uma
obrigação pode ser repetido, se esta não existia no momento da prestação.
2. A prestação feita a terceiro pode ser repetida pelo devedor enquanto não
se tornar liberatória nos termos do artigo 770. 3. A prestação feita por erro
desculpável antes do vencimento da obrigação só dá lugar a repetição
daquilo com que o credor se enriquecer por efeito do cumprimento
antecipado.
Só partir daqui – a partir do momento, pois em que uma entidade oficial decide da
submissão a julgamento de uma infracção, em principio independentemente da
vontade de um particular – O tribunal toma nas mãos o processo penal na sua
totalidade e condu-lo oficiosamente até a decisão (CPP, arts. 357 CPP.
35
O ministério publico acusados os crimes admite a acção popular nos casos referidos
nos artigos 52 CPP, bem como os ofendidos (excepcionalmente outras pessoas
determinadas) a acusarem conjuntamente com o MP, como verdadeiras partes
acusadores art 56 n°1. Do CPP. Mandatário judicial artigo 55 n°3 do CPP. Com o
que deixaria de poder falar-se de autêntica acção popular e de autonomia acusação
privada no sentido e com o conteúdo tradicionais, reforçados e alargando-se nesta
medida o princípio da oficialidade.
A Favor do princípio da acusação. Em geral não pode o juiz e decidir sobre uma
infracção, se lhe não for previamente acusada por uma entidade diferenciada – em
principio o MP ou outras entidades publicas (art 55 e 56), excepcionalmente o
assistente particular ou acasos de acusação autonomia por crime publico).
Quando á fase “julgamento”, o texto onde ele surge de forma mais correcta e
acabada é o do art. _____ do CPP:
Livre apreciação das provas muitas legislações do passado, receosas de que o juiz
facilmente incorresse em erro na valorização dos meios de prova a utilizar,
reputavam indispensável prescrever regras de apreciação, assentes em regras da
vida e da experiencia que tradicionalmente eram tidas por segura, e através das
quais se fixava ou se hierarquizava o valor dos diversos meios de prova. Art 385.
37
lei da a entender, por diversos modos, não ter a prova por declarações a mesma
dignidade probatória que é atribuída á prova testemunhal. O critério de apreciação
da prova: o juiz é livre – no sentido indicado – de informar a sua convicção na base
do depoimento de um declarante em desfavor de testemunha (s) contrária (s).
c) também em relação á prova pericial vem sendo sustentada entre nós a ideia da
absoluta liberdade da sua apreciação pelo juiz. Ideia que parece confirmação pelo
facto de hoje já ninguém sustentar – ao contrario do que sucedeu no
deslumbramento consequente ao advento da “prova científica”. Art. 396 CPP.
Quando, por outro lado, aos autos de noticia referidos no art. 109, ele farão fé em
juízo até prova em contrario – e beneficiário, portanto, da presunção relativa
corresponde – nos termos do art. 204.
O documento é falso, quando nele se atesta como tendo sido objecto da percepção
da autoridade ou oficial publico qualquer facto que na realidade se não verificou, ou
como tendo sido praticado pela entidade responsável qualquer acto que na
realidade o não foi. Previsto no artigo 372 CC.
38
Documentos particulares devem ser assinados pelo seu autor, ou por outrem a seu
rogo, se o rogante não souber ou não puder assinar.
39
despacho de pronúncia, pelo que será neste momento que a falta de arguido
determinara a inexequibilidade do processo penal.
41
10. Sanções Materiais
Cumprimento coactivo
Reintegração
Reparação
Sempre que é possível, a lei faz cumprir coactivamente a norma. E isso é possível sempre
que a norma estatui uma prestação fungível. A deve 50 a B; o tribunal vai buscar 50 ao
património de A e entrega a B e com isso cumpriu-se a norma, embora coactiva e não
voluntariamente. Para B é indiferente que os 50 lhe sejam entregues por A, por um criado
de A, ou por um funcionário da Caixa Geral de Depósitos mediante um precatório cheque
do tribunal.
Quando não é possível o cumprimento coactivo, recorre-se à reintegração. Esta
corresponde à seguinte ideia:
Procura-se estabelecer o estado de coisas que se verificaria se não tivesse havido a
violação da norma (cfr., artigo 562° do código civil).
Quando possível, estabelece-se o estado de coisas material e efectivo – é o que se chama
reconstituição natural ou in natura (quebrou-se um vidro, poe-se outro); quando tal não é
possível, estabelece-se um estado de coisas que se considera juridicamente equivalente
através de bens patrimoniais do mesmo valor ou do seu preço em dinheiro (quebrou-se
um jarro insubstituível, paga-se o seu valor) – é o que se chama reintegração por
sucedâneo ou equivalente pecuniário.
Quando não é possível a reintegração, ou ela não repara totalmente a violação cometida,
lança a ordem jurídica mão da ideia de reparação – ou seja, impõe algo que represente
para o violador um sacrifício em contrapartida da violação (nullum passionais propter
malum actions, definiam os antigos a pena), e representa para o lesado com a violação
(seja a sociedade toda, seja certa pessoa) uma satisfação em contrapartida da lesão
sofrida.
42
b. A reparação apresenta duas formas principais:
12
Os dois exemplos respondem a duas categorias de danos ou prejuízo: danos emergentes (o carro esta
destruído), lucros cessantes (B não ganhou e teria ganho): cfr. Artigo 564° n°1 do código civil.
43
Iii. A ideia de pena sai totalmente deste campo. É muito discutida a natureza e fins das
penas, mas a ideia é a de um sacrifício imposto ao violador de uma norma, em atenção
à sua culpa.
Ainda quando a pena tem objecto patrimonial (multa), distingue-se da indemnização
porque esta se mede fundamentalmente pelo dano (patrimonial ou não patrimonial) ao
passo que a pena se mede fundamentalmente pela culpa13
A latere desta classificação aparece-nos o conceito de pena disciplinar, que se caracteriza
pela sua origem: resulta da violação dos deveres próprios dum trabalhador no domínio do
seu trabalho.
Criminal.
3. Responsabilidade
13
Ou, noutra terminologia, é chamado equivalente ao elemento do acto ilícito em função fundamentalmente
do qual varia a sancao, equivalente da pena é a culpa, equivalente da indemnização é o dano. O termo
fundamentalmente chega para o sistema se manter, apesar de normas como a do artigo 494° do código
civil.
14
Não existem no nosso direito penais corporais propriamente ditas, e o artigo 24° n° 2 da constituição
dispõe hoje no nosso direito que “em caso algum haverá pena de morte. A multa é pena criminal quando
convertível em prisão se não for paga, não criminal em caso contrário.
44
Responsabilidade civil – a que tem por objecto a reintegração, a compensação por danos
morais e a pena civil.
Responsabilidade criminal – a que tem por objecto a pena criminal15
No âmbito criminal
4.º Exemplo: Existe a norma não matar, a necessidade dessa regra é óbvia. Como se
protege coactivamente esta regra?
Antes de mais, preventivamente: procura-se arranjar modo de impedir os assassinatos,
agindo pela forca se preciso for, designa1damente através de forcas policiais.
Mas a lei procura alem disso reparar o mal cometido pela violação da norma (alguém
matar outrem). Já não e pensável uma reparação especifica, Nem em primeiro plano por
sucedâneo pecuniário (de um ser humano?). Não se pode, claro, dar vida de novo ao
assassinado.
Note-se que, em certa medida, pode-se impor um sucedâneo pecuniário: se o assassinado
tinha filhos menores que sustentava, por exemplo, pode-se atribuir aos filhos um direito a
alimentos, ou um capital donde esse sustento saia. Mas é evidente que, no fundamental,
um ser humano não tem sucedâneo pecuniário possível.
Então a lei socorre-se de duas medidas:
Primariamente, uma pena criminal: procura reparar o mal cometido, na medida do
possível, fazendo-o expiar pelo agente;
Alem disso, uma compensação por dano moral, ou seja, uma quantia que se presume
poder proporcionar aqueles que sofreram pessoalmente (e não patrimonialmente) com o
acto ilícito (pai e mãe da vitima, por exemplo) satisfações que atenuem a perda que
sofreu.
4. Sujeitos
15
Distingue-se também aqui uma responsabilidade disciplinar.
45
quem tem personalidade jurídica. De acordo com o Código Civil, a personalidade
adquire-se no momento do nascimento completo e com vida e cessa com a morte. Assim,
todos os seres humanos têm personalidade jurídica e, desde logo, os direitos de
personalidade como: o direito à vida e à integridade física, direito ao nome, ao bom-nome
e à reputação, direito à honra, direito à imagem, direito à reserva sobre a intimidade
privada, etc.
Se a personalidade jurídica significa a susceptibilidade de a pessoa ser titular de direitos e
obrigações, e sendo certo que todas as pessoas podem gozar direitos (a capacidade de
gozo de direitos é dada a todos os que tem personalidade jurídica), a verdade é que nem
toda a pessoa é efectivamente capaz de exercer total ou mesmo parcialmente os seus
direitos e responder pelas suas obrigações (a capacidade de exercício de direitos pode ser
maior ou menor). A medida em que uma pessoa pode ser sujeito de relações jurídicas, ou
seja, titular de direitos e obrigações é dada pela sua capacidade jurídica.
“Dizia o artigo 1º do Código Civil português de 1867: Só o homem é susceptível de
direitos e obrigações. Nisto consiste a sua capacidade jurídica ou a sua personalidade”.
Detenhamo-nos um pouco mais sobre a capacidade de exercício.
Existe capacidade de exercício quando a pessoa pode agir, no domínio do direito, por si,
pessoal e livremente. Porque há pessoas que actuam no mundo direito, mas:
Ou não por si, pessoalmente antes através de representantes. Um recém-nascido pode ser
dono de uma grande fortuna. É claro que não é ele que a gere e administra, mas alguém
por ele – uma pessoa, esta capaz, que actua juridicamente em nome dele. Juridicamente, é
como se fosse o incapaz a agir. É a figura da representação artigo 258º. Do código civil.
Ou não livremente, antes autorizado por outra pessoa. A esta figura – suprimento da
incapacidade por autorização – chama-se assistência.
Quanto as pessoas são incapazes de exercer os seus direitos e cumprir as suas obrigações,
o direito arranja formas de suprir essa incapacidade, ou seja, de permitir que os direitos se
exerçam e as obrigações se cumpram através de outra pessoa ou sob o devido controlo
dela. Esses meios de suprimento da incapacidade são a representação (outra pessoa age
em nome do incapaz) e a assistência (outra pessoa autoriza o incapaz).
A personalidade jurídica é precisamente a optidao para ser titular de relações jurídicas, ou
seja, de direitos e obrigações.
O código Civil, no art 66°, diz-nos quando se dá seu inicio:
Corresponde assim, a personalidade jurídica, a uma exigência da natureza e da própria
dignidade do Homem que deve ser reconhecida pelo direito objectivo, sendo a condição
46
indispensável para que cada Homem, nas suas relações com os outros realize os seus fins
e interesses, pois como já se referiu, o” direito existe por causa e para serviço dos
homens”.
5. Capacidade
Capacidade de gozo;
Capacidade de exercício.
Capacidade de gozo é a medida de direitos e vinculações de que a pessoa é susceptível de
ser titular;
Capacidade de exercício é a medida de direitos e vinculações que a pessoa pode exercer
ou cumprir por si, pessoal e livremente.
Fenómeno inverso é a incapacidade de gozo – medida de direitos e vinculações de que a
pessoa é insusceptível de ser titular, e
A incapacidade de exercício – medida de direitos e vinculações que a pessoa não pode
exercer ou cumprir por si, pessoal e livremente
Capacidade Jurídica é, pois, é a capacidade ou faculdade que o ordenamento jurídico
confere a uma pessoa para ser sujeito de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição
legal em contrário48. Qualquer sujeito de relações jurídicas é titular de direitos e poderá
dispor deles desde que não sofra de qualquer incapacidade prevista na lei, como a
menoridade ou a anomalia psíquica. Se tal acontecer, o incapaz deve ter um representante
legal que actuará em seu nome e defenderá os seus direitos. A capacidade jurídica
envolve, assim, a capacidade jurídica de gozo de direitos, que em regra todos possuem, e
capacidade jurídica de exercício de direitos, que é maior ou menor consoante os casos e
conforme a lei.
6. Direito Constitucional
NOÇÃO
O Direito constitucional em sentido material ou substancial – o conjunto de normas
jurídicas fundamentais que regem a estrutura, os fins e as funções do Estado, a
organização, a titularidade, o exercício e o controlo poder politico do Estado, bem como
as respeitantes á fiscalização do acatamento das normas enumeradas, em particular do
acatamento pelo próprio poder politico do Estado.
O Direito constitucional em sentido formal – o conjunto de normas jurídicas escritas,
elaboradas por órgão dotado de poderes especiais, através de um processo específico,
diverso do que gera as leis ordinárias.
48
O Direito constitucional em sentido instrumental – texto único em que se compendiam
as normas formalmente constitucionais.
49
15.2. Princípios estruturantes da constituição da república de moçambique
Principio republicano
Princípio democrático
Principio pluralista
50
I. P r i n c i p i o republicano
Com este princípio que se encontra plasmado na Constituição entende-se que o Estado é
um bem público que não pertence aos titulares dos órgãos, nomeadamente os constantes
no artigo 133, 135, n.˚3, 138, 140, 141, 142, 237, n.˚2, 240, 255, n.˚1, 257, 268, n.˚ 2,
275, mas sim um bem público, artigo 249 e 272, n.˚ 2.
A expressão republica, “Res Publica”, que vem consagrado no artigo 1, da CRM,
provém do latim e significa coisa pública, coisa comum, diferente de res privata que é
coisa particular), coisa que é de todos os seus habitantes. Por conseguinte, ninguém
pode-se arrogar proprietário da coisa de todos. Todos beneficiam-se dos frutos
resultantes do uso da fruição da coisa pública, em pé de igualdade, artigo 35, 36, 39.
O Estado é uma colectividade de cidadãos titulares de direitos civis e de participação
política que estão vinculados a deveres decorrentes do respeito que se deve ter em
relação a coisa de todos, artigo 38; Este principio tem a sua expressão na Constituição,
nos seguintes artigos constitucionais:
Capítulo I do Título I tem por epígrafe “República” e, segundo o art. 1, “A República
de Moçambique é um Estado...”
Designação do Chefe de Estado por “Presidente da República” (art. 146, n.º 1). Por
conseguinte, há limitação dos mandatos sucessivos do PR (art. 147, n.ºs 4 e 5) e da AR,
artigos 171.
O mandato que se fixa para os titulares do poder é a expressão da sua concretização
material, pois quem ascende ao poder desde a tomada de posse fica informado de que é
titular por algum período e não vitaliciamente.
O cargo que ocupa é coisa pública, dai que o seu titular não pode permanecer no cargo
vitaliciamente.
A permanência no cargo durante muito tempo ofende o princípio republicano.
A Constituição moçambicana de 2004 fixa como tempo máximo de permanência de 5
anos podendo ser renovado nos ternos estritamente previstos na lei.
51
II. Princípio do Estado de direito
52
São os seguintes os requisitos do Estado de Direito:
O Estado de Direito para a governação do País possuem como característica a
Pluralidade, a independência e a interdependentes quanto a sua subsistência, e c a d a
uma delas exerce uma f u n ç ã o que é d i s t i n t a da outra, tal como se pode
constata dos seguintes dispositivos:
“2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais de seus
agentes, no exercício das suas funções, sem prejuízo do direito de regresso
nos termos da lei.”
Democracia
Consiste no exercício do poder pela maioria do povo. O que significa que o poder
é efectivamente exercido pelo povo, tem como fundamento o povo, dirige-se ao
povo e é do Povo, segundo a máxima “Democracia “ governo do povo, pelo povo e
para o povo”.
O povo exerce o poder segundo as formas estabelecidas na Constituição, conforme o
disposto no artigo 2, n.˚ 1 e 2, 73, 135, n.˚ 1, 142, n.˚1, 147, n.˚
1, 170, n.˚ 1 e 275, n.ºs 2 e 3 que consagra o princípio da Soberania Popular do nosso
Estado.
A democracia é exercida sob duas modalidades.
1. Via directa - que consiste em o povo exercer por si próprio o direito de escolher
livremente os seus representantes para o exercício das funções políticas ou
adm i ni s t rat i vas do Estado, conforme os artigos 73, 135, n.˚1, 142, n.˚1, 147, n.˚ 1,
170, n.˚ 1 e 275, n.ºs 2 e 3.
2. Por via indirecta - quando os representantes do povo escolhidos, através da 1.ª via
praticam os actos públicos em nome do povo. Ex: os deputados que na A.R apreciam e
aprovam as leis. O P.R é que forma o governo, nomeia e confere posse as altas
individualidades do Estado, artigo 143,
159, 160, 161, 162, 163, 166, 169, 179, 183, 195, 197, 198, 203, 204,
205, 206, 212, 213, 222, 225, 230, 236, 244, 254, 256, 259, 264, 269,
271, 291, 295, 296…. DEMOCRACIA DIRECTA
O povo directamente escolhe. Há uma escolha directa pelo povo.
Na democracia directa o acto só é válido quando um povo apresenta-se na sua
universalidade. Isto é, quando seja a maioria das pessoas, artigo 148, 135 n.º 2,
5
4
136 N.º 6
LEGITIMIDADE POPULAR.
Foi eleito por maioria de voto. LEGITIMIDADE LEGAL
O acto foi praticado nos termos da lei. Sendo necessário combinar a legitimidade com a
legalidade, para se respeitar a democracia, artigo 2, n.º 2 e 3.
A democracia não se compadece com a anarquia ou ilegalidades. A legitimidade e
legalidade são dois seguimentos que integram a democracia, onde a falta de um põe
em causa a unidade. O que significa que estes dois seguimentos são cumulativos, sendo
o Estado baseado na organização política democrática, artigo 3.
5
5
No domínio económico ao Estado cabe-lhe desempenhar a função prevista nos artigos
101, n.º 1 e 97, al. g).
V. Princípio do Estado social
O princípio de Estado Social, pressupõe a socialização e estadualização da sociedade
em que o Estado deve intervir na sociedade, o que significa que não deve haver rigidez
na separação entre o Estado e a sociedade, pese embora o regime económico seja de
mercado livre em que o papel do Estado na economia seja de regulador e promotor
do crescimento e desenvolvimento económico e social, vide artigo 97, al. g), pois
entende-se que o Estado está inserido na comunidade e ao serviço do cidadão, conforme
os artigos 96, 101 e204, n.º 1, al. a).
Assim, o Estado social é aquele em que os Estado intervêm na sociedade e na
economia visando criar a igualdade de oportunidades, redistribui r a riqueza de forma
equilibrada, enfim, realizar a justiça social preconizado no artigo 1, nos artigos 11,
relativo aos objectivos fundamentais do Estado tais como: “edificação de uma sociedade
de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos
cidadãos” e no artigo 82 e seguintes da Constituição da República.
Planificar o que deve ser feito para a concretização do interesse geral a médio e
longo prazo.
Planificar os objectos e meios para executar as tarefas que visa atingir os fins
do Estado.
5
6
Para este efeito, o Estado define uma política fiscal baseada na progressividade dos
impostos, cuja metodologia consiste em quanto mais rendimento um agente tiver,
maior será o valor do imposto a pagar ao Estado, artigo 127 e 100.
A fórmula, permite que os agentes que têm rendimentos baixos, paguem menores
valores de impostos, o que beneficia as camadas mais desprotegidas.
Finalmente, o Estado encarrega-se de fazer a redistribuição dos lucros pelos cidadãos,
favorecendo as camadas com menos recursos para subsistência.
Com fundamento neste princípio, o Estado atribui a propriedade, um valor social,
embora para o proprietário, represente limitações dos seus direitos. Contudo o
Estado Social, c o m esta acção, não pretende de nenhuma f o r m a , proceder a
expropriação do bem, o proprietário deve usar o seu bem para os fins sociais a que se
destina e só em situação contrária, o Estado reserva-se o direito de impor coactivamente
sanções que obrigue o proprietário a conferir ao bem, uma função social.
Estado Assistencial
Estado Previdência
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7
O objectivo final desta intervenção visa garantir que os cidadãos possuam condições
materiais para gozo efectivo dos seus direitos. Pois reconhece-se que não os cidadãos
não podem estar sob ameaça de fome, doença, nudez, em resumo, pela pobreza absoluta,
para o efectivo gozo dos direitos fundamentais plasmados na Constituição. O cidadão só
pode ser útil para a sua sociedade, quando tiver instrução e formação, habitação,
emprego, transporte, etc. Sem estas c o n d i ç õ e s mínimas, ao seu dispor não é
p o s s í v e l garantir-se a concretização dos seus Direitos Fundamentais.
5
8
VII. Princípio da autonomia das autarquias locais
Vejamos em primeiro plano o que é Poder Local, para em seguinte a partir das funções e
sua distinção com o Estado compreender a sua autonomia em face do Estado.
Poder local compreende a existência de autarquias locais que são as pessoas públicas de
personalidade jurídica própria, de população e território que organizam e promovem a
participação dos cidadãos na solução dos problemas da sua comunidade que habita a
área de jurisdição.
5
9
Os Órgãos Locais do Estado são aqueles que têm a função de representação do Estado
ao nível local para administração do desenvolvimento do respectivo território e
contribuem para a unidade e integração nacionais.
Estes órgãos do Estado ao nível do território garantem a realização de tarefas e
programas económicos, sociais e culturais de interesse local e nacional, observando a
Constituição, as deliberações da Assembleia da República e as decisões do Conselho de
Ministros e dos órgãos do Estado de escalão superior.
Por conseguinte, realizam as tarefas do Estado no território em que se situam por
delegação dos órgãos Centrais do Estado2.
A delegação de competências centrais do Estado decorre do n.º 1 do artigo 140 e do n.º
2 do artigo 141, ambos da CRM e enquadra-se no sistema da desconcentração, que diz
respeito à organização administrativa de uma pessoa colectiva pública, sobretudo o
Estado.
A desconcentração é o versus da concentração das competências conferidas e trata-se da
organização vertical dos serviços públicos, em que se reparte entre os órgãos centrais
do Estado com os órgãos locais do Estado o poder de decisão que cabe ao Estado no
exercício das competências conferidas.
O Poder Local não se deve confundir também com a autoridade tradicional ou
comunitária, prevista no artigo 118 da CRM de 2004 que resulta da valorização das
tradições e costumes do povo moçambicano, conforme o artigo 115 e 11, alínea i) da
Constituição de 2004.
A autoridade tradicional compreende os chefes tradicionais, de cujo poder é da
emanação natural e assumem a chefia de acordo com as regras tradicionais da respectiva
comunidade, os secretários de bairro ou de aldeia que assumem a chefia por escolha feita
pela população do bairro ou aldeia a que pertençam e outros lideres legitimados como
tais pelas respectivas comunidades locais,
2 Que são os órgãos de soberania, o conjunto dos órgãos governamentais e as
instituições c e n t r a i s a quem cabe garantir a prevalência do interesse nacional e a
realização da política unitária do Estado, artigo 110 da CRM. Devido ao
reconhecimento geral que decorre do seu papel na vida social, económica, religioso
ou cultural, cujo regime jurídico consta do Decreto n.º15/2000, de 20 de Junho,
regulamentado pelo Diploma Ministerial n.º 107- A/2000, de 25 de Agosto e pela
Directiva de 23 de Janeiro de 2002.
O Poder Local distingue-se dos demais poderes locais pelo seu modo de constituição.
As autarquias resultam da eleição por sufrágio universal, directo, igual, secreto e
pessoal dos cidadãos eleitores residentes na circunscrição territorial da autarquia,
segundo o sistema de representação proporcional, tratando-se de Assembleia Municipal
ou por maior de votos sendo o Presidente do Conselho
6
0
Municipal, artigo 275, n.ºs 2 e 3 da CRM, materializado pelas Leis que se indicam
em nota de rodapé 3.
Por remissão do comando constitucional, artigo 281, nos termos do artigo 98, da Lei
n.º 2/97, o mandato dos órgãos autárquicos e dos seus titulares é de cinco anos.
Os Órgãos Locais do Estado, s ã o por nomeação, exoneração ou demissão do Presidente
da República, tratando-se de Governador Provincial, artigo 121, alínea d), da CRM.
O Secretário Permanente Provincial é nomeado pelo Primeiro- m i n i s t r o , sob
proposta do Ministro que superintende na função pública e administração local do
Estado, ouvido ou por proposta do Governador Provincial, n.º 3, do artigo
22, da Lei n.º 8/2003, de 19 de Maio. O Director Provincial é nomeado centralmente
pelo Ministro da área com parecer favorável dos respectivos Governadores, n.º 1 e 2
do artigo 30, da Lei n.º 8/2003.
O Administrador distrital é nomeado pelo Ministro que superintende na administração
l o c a l do Estado, ouvido ou por proposta do Governador
Provincial, n.º 2 do artigo 34, da Lei n.º 8/2003.
3 Lei n.˚ 5/97, de 28 de Maio, BR n.º 22, I Série, 2º Suplemento, de 28 de Maio -
institucionaliza o recenseamento eleitoral sistemático para a realização de eleições e
referendos;
Lei n.˚ 9/99, de 14 de Abril, BR n.º 15, I Série, de 14 de Abril - Dá nova redacção a
alguns dos artigos da Lei n.º5/97, de 28 de Maio, BR n.º 22, I Série, 2.º Suplemento, de
28 de Maio - elimina outros e introduz depois novos;
Lei n.˚ 6/97, de 28 de Maio, BR n.º 22, I Série, 2º Suplemento, de 28 de Maio - relativa
a eleição dos órgãos das autarquias locais; Lei n.˚ 2/97, de 18 de Fevereiro, BR n.º 7, I
Série, 2º Suplemento, de 18 de Fevereiro - aprova o quadro jurídico para a implantação
das autarquias locais;
Lei n.˚ 19/2002, de 10 de Outubro, introduz alterações à Lei n.˚ 6/97, de 28 de Maio,
relativa a eleição dos órgãos das autarquias locais.
As a u t o r i d a d e s c o m u n i t á r i a s s ã o c o n s t i t u í d a s o b e d e c e n d o
a s r e g r a s d a respectiva comunidade sendo na maioria dos casos, por via de
sucessão, tratando-se de chefes tradicionais ou por escolha ao nível do bairro ou
aldeia, por residentes presentes na data da prática do acto segundo critérios da respectiva
comunidade local ou grupo social, artigos 8 e 9 do Diploma Ministerial n.º 107-
A/2000, de 25 de Agosto.
Resumindo entre o poder local e outros poderes locais há distinção quanto a
legitimidade popular, porquanto, o poder local goza de maior legitimidade
democrática que os demais.
6
1
A legitimidade dos órgãos locais do Estado emana da lei e dos órgãos competentes
centrais do Estado.
O quadro das atribuições para os órgãos locais é limitado. Nos termos constitucionais,
artigo 271, o poder local tem como objectivo:
a) Organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da
comunidade;
b) Promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da
democracia, no quadro da unidade do Estado moçambicano.
O poder Local apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em
estreita colaboração com as organizações de participação dos cidadãos.
No quadro do exercício das atribuições4 próprias cabe ao poder local, de acordo com os
recursos financeiros ao seu alcance e no respeito aos interesses próprios, comuns e
específicos das populações respectivas, promover o seguinte:
a) Desenvolvimento económico e social local;
c) Abastecimento público6;
d) Saúde;
e) Educação;
f) C u l t u r a , tempos livres e desporto;
g) Polícia da autarquia;
h) Urbanização, construção e habitação.
Na realização dos interesses locais das populações respectivas, as autarquias não
prejudicam nem afastam os interesses nacionais ou a participação do Estado
prosseguido pelos órgãos locais do Estado, nomeadamente:
4 Artigo 6, da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro.
5 Incluindo limpeza.
6 Em água e energia.
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2
c) A realização de tarefas e programas económicos, culturais e sociais de interesse
local e nacional, como sejam:
Daqui se compreende que na área da autarquia há assuntos da competência mista,
nomeadamente a educação, saúde, vias públicas, segurança pública, transporte,
comunicação, energia.
Todas estas áreas de intervenção e incidência local ou autárquica são também de
âmbito nacional.
A epidemia não tem fronteiras geográficas, as estradas atravessam o bairro, localidade,
vila, cidade, distrito e província.
O crime não se limita numa determinada área geográfica.
A língua, a cultura e os usos são também do país e não de uma certa autarquia. Já é
diferente em relação ao mercado, saneamento, drenagem ou limpeza que são tarefas
específicas de uma certa zona habitacional.
Por se reconhecer este facto, as áreas comuns são da competência exclusiva dos
órgãos centrais do Estado, nomeadamente: a normação das matérias do âmbito da lei, a
definição das políticas nacionais, a representação do Estado, a definição e organização
do território, a defesa nacional e ordem pública, a fiscalização das fronteiras, a
emissão da moeda e as relações diplomáticas, artigo 139, da CRM.
Os órgãos centrais do Estado têm a sua sede na cidade de Maputo, capital da
República de Moçambique.
A sede dos órgãos locais do Estado é na cidade capital da província, distrito ou na vila
do Posto Administrativo, conforme os casos.
Os Municípios correspondem à circunscrição territorial das cidades e vilas.
As povoações correspondem à circunscrição territorial da sede do posto administrativo.
A área da autarquia local está integrada no território da província cujo representante da
autoridade central da administração do Estado é o Governador da Província ou do
Administrador distrital, conforme os casos.
6
3
O Presidente do Conselho Municipal escolhe livremente e nomeia os seus colaboradores,
os denominados vereadores, artigo 49, com a limitação imposta pelo artigo 51, ambos da
Lei n.º 2/97.
Competem ao Presidente do Conselho Municipal definir as tarefas, os limites e
competências dos vereadores, artigo 50 n.º 3 e 63, da Lei n.º 2/97
2. O Conselho Municipal
3. A Assembleia Municipal
6
4
VIII. Princípio da laicidade do Estado
As leis constitucionais não são para durar dias, semanas, meses ou anos, mas sim para
durar décadas e gerações.
Mas será verdade e praticável esta percepção?
O que é certo é que nenhuma Constituição que vigora por um período mais ou menos
longo deixa de sofrer modificações – para se adaptar às circunstâncias políticas,
económicas, sociais e culturais decorrentes da dinâmica da vida da sociedade a novos
tempos ou para acorrer a exigências de solução de problemas que podem nascer até da
sua própria aplicação.
O Prof. Jorge Miranda, no seu Manual de Direito Constitucional, Tomo II,
1996, pág. 129, afirma “ a modificação das Constituições é um fenómeno inelutável da
vida jurídica, imposta pela tensão com a realidade constitucional e pela necessidade de
efectividade que as tem de marcar”. Querendo dizer, no nosso entender, que é um
fenómeno com que se não pode lutar, porque é invencível e inevitável.
Na verdade, as Constituições mais do que modificáveis, são modificadas, pois
nenhuma Constituição se esgota no momento em que é emanada; enquanto dura
modifica-se no momento da sua aplicação, no qual intervém todas as forças políticas,
sociais e económicas da vida constitucional.
Se aceitamos que a modificação da Constituição é um fenómeno inevitável, então, como
se processa a modificação de uma Constituição?
A Constituição Moçambicana de 2004, no seu artigo 291 e seguintes, dispõe sobre o
processo de revisão da Constituição.
Se estivéssemos perante a Constituição da República da Africa de Sul, teríamos também
uma disposição sobre a matéria. O mesmo sucederia em relação as demais Constituições
de Estados modernos.
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7
O que é comum e variável em todas as Constituições é o modo como se processa, a
frequência de revisão que tanto pode ser de cinco em cinco anos ou de dez em dez anos
ou de vinte em vinte anos ou pura e simplesmente que se mostrar necessário ajustar à
realidade da vida social, politica, económica e cultural. Vide artigo 293, 294, 282 e
seguintes da CRM.
O que varia é ainda a extensão da revisão, isto é, as matérias que podem ser objectos de
revisão constitucional, vide artigo 292.
É de notar que quando a Constituição não for flexível1, isto é, ser rígida2, pode, esse
factor constituir uma condição para uma maior perdurabilidade e de sujeição a
modificações menos extensas e menos graves.
A rigidez da Constituição impede que seja alterada em qualquer circunstância, ao belo
prazer da vontade política dos titulares do poder, sob pressão de certos acontecimentos,
ou que possa ser afectada por qualquer oscilação ou inversão da situação política ou pura
e simplesmente por dificuldade da sua implementação.
Cultura político-constitucional;
6
8
ordinária e para a lei de revisão constitucional, vide artigo 187, n.º 1 e 2 e artigo 183,
todos da CRM.
2 É aquela que exige forma diferente para a aprovação das normas de revisão
constitucional. Vide artigo 295 e 296
6
9
Assim, podemos organizar tais vicissitudes em cinco grandes critérios, nomeadamente:
Quanto ao modo;
Quanto ao objecto;
Quanto ao alcance;
Quanto ao modo
Diz respeito a forma como se produzem, tendo em conta a forma como através
delas se exerce o poder ou se representa a vontade constitucional.
As vicissitudes ou modificações constitucionais podem ser expressas ou tácitas.
São expressas, quando o evento constitucional produz-se como resultado de acto a ele
especificamente dirigido;
Nesta modificação fica alterado o texto constitucional. Vide artigo 296, da CRM
São tácitas, quando o evento é um resultado indirecto, uma consequência que se
extrai a posteriori de um facto normativo historicamente localizado. Neste caso, o texto
constitucional mantém-se inalterado, mas o conteúdo da norma modifica-se.
Vide a redacção do artigo 210 da CRM de 1990, introduzida pela Lei n.º11/92, de
8 de Outubro, BR n.º 41, Suplemento.
1. Até à realização das eleições gerais, o Presidente da República de
Moçambique é o Presidente do Partido Frelimo.
2. O d i s p o s t o n o a r t i g o 1 1 8 q u a n t o à e l e i ç ã o e a o m a n d a t o d o Presidente
da República entra em vigor aquando da realização das próximas eleições
presidenciais.
3. O disposto no artigo 198, n.º 2, só será aplicado após a realização das próximas
eleições presidenciais e legislativas.
As primeiras eleições gerais multipartidárias na República de Moçambique, tiveram
lugar nos dias 3 e 4 de Dezembro de 1994. Em 1999, cinco anos depois tiveram lugar
as 2.ª eleições gerais e em 1 e 2 de Dezembro de 2004, realizaram-se as terceiras
eleições gerais. No entanto o artigo 210, manteve-se inalterado. O Presidente da
República era o eleito pelo povo por sufrágio universal e não o Presidente do Partido
7
0
Frelimo. Por mera coincidência, o vencedor das eleições presidenciais de 1994 e 1999,
foi o candidato do Partido Frelimo que ocupava o cargo de Presidente daquele Partido.
Para todos os cidadãos estava claro que o disposto no artigo 210, tinham um conteúdo
diverso da regra constitucional prescrito no seu texto original, pelo que o conteúdo
daquela norma não correspondia à letra da lei. Assim, estávamos perante uma nominal
sendo assim, uma modificação tácita da Constituição.
A experiencia que conhecemos dá-nos conta de que as vicissitudes constitucionais
expressas constituem a grande maioria das vicissitudes. Este tipo de vicissitudes,
assentam numa vontade expressa. Trata-se de actos jurídicos que tanto podem ser totais
ou parciais.
Nas vicissitudes constitucionais expressas encontramos entre elas:
7
1
Jurista Alcídio Leão
A transição constitucional. – É a passagem de uma Constituição material a
outra com a observância das formas processuais constitucionais, sem ruptura.
Vide artigo 305 e 291 e seg. Exemplo: Da Constituição de 1975 a de 1990 e de
1990 a de 2004;
Quanto ao objecto
Refere-se às normas constitucionais que são afectadas.
As modificações incidem sobre uma norma constitucional em concreto. Assim, temos
vicissitudes totais e parciais.
São totais, quando as modificações atingem a Constituição como um todo, trate-se
de todas as suas normas ou trate-se, tão-somente, dos seus princípios fundamentais.
São parciais, quando as modificações atingem apenas parte da Constituição e nunca os
princípios definidores da ideia do Direito que a caracteriza.
Vide a Lei n.º 11/92, de 8 de Outubro; Lei n.º 12/92, de 9 de Outubro, Lei n.º 9/96, de
22 de Novembro e a Lei n.º 9/98, de 14 de Dezembro, que introduziram emenda à
Constituição da República de Moçambique de
72
Jurista Alcídio Leão
1990. (Recomendamos a consulta ou aquisição da Constituição da República de
Moçambique de 1990, edição actualizada e organizada por Ussumane Aly Dauto,
publicada em 2000).
Nas vicissitudes totais a modificação abrange todas as normas constitucionais ou, tão-
somente dos seus princípios fundamentais, conforme já nos referimos.
A título de exemplo temos da Constituição da República de Moçambique, aprovado em
16 de Novembro de 2004, que abrange todas as normas constitucionais da Constituição
de 1990.
As vicissitudes parciais nunca atingem os princípios definidores da ideia de Direito que
a caracterizam, conforme já nos referimos.
Quanto ao alcance
As vicissitudes quanto ao alcance, ocorrem quando se verificam sobre às situações da
vida e aos destinatários das normas constitucionais postos em causa.
Por isso, há que distinguir:
73
Jurista Alcídio Leão
Este tipo de vicissitudes pode ser totais ou parciais e feitas nos termos da Constituição
ou sem a sua observância. Estamos perante uma suspensão total da Constituição,
quando houver uma revolução. Vide situação de Moçambique em 1974, quando foi
celebrado o Acordo de Lusaka em 7 de Setembro, decorrente da luta de libertação
de Moçambique, por virtude do qual, a Constituição de 11 de Abril de 1933, então em
vigor, ficou derrogada definitivamente, na parte em que fazia a integração do território
de Moçambique ao Estado Português, por força da Lei.º 7/74, de 27 de Julho,
aprovado pelo Conselho de Estado e assinado pelo Presidente da República Portuguesa,
General António de Spínola, pela qual, pela primeira vez, Portugal reconheceu o
direito à autodeterminação, com todas as suas consequências, incluindo o
reconhecimento da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte
correspondente do artigo 1.º da Constituição Política de 1933.
A suspensão parcial quando ocorre sem observância das regras constitucionais há uma
ruptura definitiva.
Vicissitudes de efeitos definitivos.
São todas aquelas que ocorrem na ordem jurídica, menos a suspensão
(parcial) da Constituição, ou seja, são as suspensões constitucionais.
Direito constitucional II
Garantia da Constitucionalidade
A Constituição, como depositário de normas jurídicas que é, a sua execução, necessita
de ser garantida. A fiscalização é a área que se ocupa da garantia da constitucionalidade
das normas jurídicas.
A fiscalização é um elemento externo da norma jurídica.
As normas jurídicas que não são assistidas da garantia são susceptivelmente violadas e
os seus agentes não são sancionados pelos actos cometidos.
A garantia da constitucionalidade, surgiu num momento posterior à sua criação. Resulta
de várias experiências registadas ao longo dos tempos que permitiram ao legislador
ganhar consciência da necessidade de criação de mecanismos próprios que garantam a
conformidade dos actos com a Constituição.
No início não havia nenhuma consciência no sentido, da necessidade da garantia da
Constituição através de mecanismo jurídicos institucionalizados. Havia nos liberais um
espírito optimista em como estando consagrado na Constituição, direitos fundamentais
do cidadão, que corresponde a efectivação geral, a razão da sua concretização seria
automática, uma vez exprimindo a vontade geral.
Esta ideia foi rejeitada pela realidade: Em vários Estados, surge de uma forma
desigual e em tempos diferentes, a ideia da garantia da constitucionalidade.
74
Jurista Alcídio Leão
Olhando para o Direito comparado é possível ver que os mecanismos de fiscalização,
surgiram em momentos diferentes e correspondem às situações próprias de cada
Estado.
A experiência constitucional moçambicana indica que a CRPM não dispunha de
nenhum mecanismo jurídico, com valor e dignidade constitucional, que oferece-se
garantias aos cidadãos, por forma a assegurar o sancionamento dos agentes do Estado
em caso de violação das normas constitucionais.
A situação Moçambicana não é caso único no Direito público.
75
Jurista Alcídio Leão
Vide artigo 75, n.º 1, 77 e 52 n.º 3, todos da Constituição da República, embora o seu
sentido literal não seja expressivo neste sentido, mas está implícito razão pela qual,
estamos certos tratar-se de um mecanismo.
Apenas o Estado tem o monopólio do uso da força. Vide artigo 254, 265, 266.
Estado de sítio, de emergência ou de guerra A Constituição Moçambicana, através do
artigo 282, 283 e segs, 72, 161, al. a), c), 268, 269, 179, n.º 2, al. g), 164, 166, al. b),
fixa os pressupostos necessários para a declaração.
Perda do mandato e dissolução de órgãos de soberania, são mecanismos de
carácter repressivo que têm por finalidade garantir e salvaguardar a vontade do povo
manifestamente expresso no acto eleitoral. Estes podem ser meios de garantia da
constitucionalidade.
Vide artigos 159, alínea e), 188, art. 2, n.º 1 e 2 e 73 todos da CRM. A
institucionalização de mecanismos de garantia da Constituição é um meio que se
entrega a uma certa entidade Estatal para se ocupar da verificação dos comportamentos
se estão ou não em conformidade com a Constituição.
Para a identificação dos vários modelos existentes há que ter em conta, certos critérios a
relacioná-los com as várias expressões do poder, em cada Estado onde se pretende
identificar o tipo de mecanismos.
O órgão com competência para fiscalizar a constitucionalidade, pode ser um órgão
comum ou órgão especial. Isto quer dizer, que a fiscalização pode caber a um órgão
político que não só tem esta vocação, como também outras actividades inerentes às suas
funções e, pode acontecer que a fiscalização, seja entregue a um órgão especializado,
isto é, criado para o efeito.
Para o efeito, comecemos pelo critério do:
No nosso ordenamento jurídico temos o Tribunal Supremo que se ocupa das funções
jurisdicionais, Vide artigo 212, 213, 214, 215, 217, 218, 225 da CRM de 2004 e, no
entanto, na vigência da Constituição de 1990, foi lhe atribuído as funções de
fiscalização da constitucionalidade, nos termos do artigo 208.
“Artigo 208
Até à entrada em funcionamento do Conselho Constitucional, as suas competências
são exercidas pelo Tribunal Supremo.”
Ainda neste 1.º caso, em alguns Estados, a fiscalização é entregue ao Parlamento, que
pelo facto de ser um órgão legislativo, a sua acção nesta função revela-se ineficiente,
vide artigos 168, 169, 179 e 196 da CRM, do que quando estiver por exemplo num
órgão judicial que pela sua natureza, é imparcial, Vide artigo 212, 213, 214, 215, 217,
76
Jurista Alcídio Leão
218, 225 da CRM.
Vide artigos 214, 241, 244 e 245, todos da CRM, que se referem ao controlo da
constitucionalidade, por via de excepção, incidindo sobretudo nos casos concretos.
É importante salientar que a Constituição moçambicana confiou também no próprio
cidadão a função de controlo da fiscalização tal como se pode notar com os artigos 69,
70, 7 9 , 8 0 , 8 1 e 2 5 3 , n . º 2 e 3 . No c a s o v e r t e n t e , o c i d a d ã o v e l a
p e l a constitucionalidade do comportamento dos órgãos do Estado, em relação aos
direitos, liberdades e garantias reconhecidas pela ordem jurídica à sua pessoa.
Portanto, quando verifica que os seus direitos, liberdades e garantias estão a ser
violados pode impugnar junto do tribunal competente, artigo 70 e 223 n.º 2 e 3.
E, quando a fiscalização da constitucionalidade estiver sido encarregue a um só órgão
neste caso, especializado, chama-se Sistema de Fiscalização Concentrada, artigo
241, 244 e 245 CRM.
Como se pode notar, os dois sistemas, abarcam os três tipos de critérios:
77
Jurista Alcídio Leão
A cargo de vários órgãos.
Objecto de fiscalização
Quanto ao objecto de fiscalização, desde logo devemos estar claros, em que é que
incide a fiscalização a fazer. Definir se deve incidir no comportamento positivo ou no
comportamento negativo. Para cada tipo de comportamento existem modelos próprios.
Outro objecto, cuja definição é importante é no que diz respeito se a fiscalização deve
incidir sobre a forma, pressuposto, conteúdo ou apenas na finalidade do comportamento
fixado na Constituição.
Outro aspecto ainda a ter em conta é se a fiscalização deve incidir sobre todos os actos
do poder público ou apenas num determinado número de actos, por exemplo nas normas
infra-constitucionais ou nos comportamentos das entidades.
A Constituição Moçambicana, não faz referência ao objecto da fiscalização.
O artigo 244 não esclarece devidamente o objecto de fiscalização, enquanto o tipo de
sistema, embora não esteja expressamente definido, conclui-se ao articular os artigos
214 (Sistema de fiscalização difuso) com o artigo 241 (sistema de fiscalização
concentrado), trata-se de um sistema de controlo Misto.
78
Jurista Alcídio Leão
A falta ou omissão deste dever, leva a situações como as que ocorreram com a
aprovação da Lei n.º 3/94, de 13 de Setembro, que estabelece o quadro Institucional
dos Distritos Municipais 1, quando a Constituição da República não previa o Poder
Local. A emenda constitucional que veio estabelecer o poder local ocorre em 1996,
através da Lei n.º 9/96, de 22 de Novembro2, que introduz princípios e disposições
sobre o Poder Local.
79
Jurista Alcídio Leão
2 Publicado no Boletim da República, I Série, n.º 47, Suplemento, de 22 de Novembro
de 1996
3 Publicado no Boletim da República, I Série, n.º 3, 2.º Suplemento, de 21 de Janeiro de
2003.
4 Publicado no Boletim da República, I Série, n.º 18, Suplemento, de 8 de Maio de 1995.
80
“Artigo 245 (Solicitação de apreciação de inconstitucionalidade)
1. O Conselho Constitucional aprecia e declara, com força obrigatória geral, a
inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos demais actos normativos dos órgãos do
Estado, emqualquer momento da sua vigência.”
Desta disposição e do teor do artigo 214, pode-se inferir que a fiscalização quanto ao
tempo é sucessiva, uma vez que os tribunais só não podem aplicar leis ou princípios que
ofendam a Constituição quando estes, estiverem em poder dos tribunais para aplicação e
o Conselho Constitucional em qualquer momento pode apreciar e declarar
inconstitucional uma norma que enferma de um vicio.
Quanto ao modo como se processa
Neste caso distinguimos dois tipos de fiscalização
- Concreta
- Abstracta
Na fiscalização concreta realiza-se a fiscalização constitucional quando se pretende
verificar se uma norma é ou não é constitucional. O acto é feito no momento em que se
pretende aplicar para a solução de um caso concreto. Normalmente é o órgão
judicial que pretende aplicar uma certa norma, que faz a verificação se é ou não é
constitucional.
Os órgãos que se ocupam desta função são os tribunais, que quando estão perante
casos concretos que para os quais devem dar soluções de Direito, além de verificar a
legitimidade das partes, a instrução do processo, a matéria da causa, verificam também
a constitucionalidade das normas a aplicar no caso sub-judíce, á luz do artigo 214 da
Constituição.
Estamos perante um processo incidental de inconstitucionalidade que tem por objecto a
apreciação de uma questão julgada inconstitucional, que é levantada por uma das partes
durante o julgamento. É concreta por que ocorre incidentalmente numa audiência de
julgamento.
Na Fiscalização Abstracta, o caso é diferente. Neste tipo de fiscalização, o acto não se
realiza no momento da aplicação da norma para um caso concreto. A fiscalização é feita
numa situação abstracta. O órgão competente na concretização das suas atribuições,
coloca a Constituição e a norma infra-constitucional e verifica se esta, está ou não em
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
818
181
conformidade com a Constituição, o que é diferente com o que se faz em relação ao
artigo 214 cuja acção é feita no momento da aplicação da norma, isto é, nos feitos
submetidos a julgamento perante qualquer tribunal6.
Do artigo 244 parece nos cobrir este tipo de fiscalização.
No controlo abstracto por via de acção o processo tem por objecto uma pretensão
dirigida à declaração, com força jurídica geral, da inconstitucionalidade de normas
jurídicas, artigo 244, n.º 1, al. a) e 248.
6Direito Constitucional e Teoria da Constituição, J.J. Gomes Canotilho, 3.ª edic.,
Reimpressão, Coimbra, 1999, pag. 919.
Com esta acção o órgão competente, o Conselho Constitucional, artigo 241 e
seguintes, pretende de forma abstracta, verificar a conformidade formal, procedimento ou
material, de normas jurídicas com a Constituição.
Fiscalização Subjectiva
Visa satisfazer interesses particulares de uma certa entidade no domínio privado.
Qualquer titular tem interesses em:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
828
282
É do interesse do Estado, em relação aos titulares de órgãos do Estado assegurar o seu
regime de alimentação, a sua segurança pessoal e da sua família, o veículo em que se
deslocam e o meio onde vive e passa o tempo de laser. Por isso, a fiscalização pode ser
subjectiva.
Fiscalização objectiva é a fiscalização através da qual protege-se, interesses públicos
por exemplo:
838
383
neste caso, requer-se fiscalização subjectiva, vide artigo 245, n.º 2, al. g) que permite que
um total de dois mil cidadãos possa solicitar ao Conselho Constitucional a apreciação e
declaração da inconstitucionalidade da lei em vigor no momento da petição.
Em síntese, neste critério de interesse objectivo, os beneficiários não são
determináveis, enquanto no critério de interesse subjectivo, os beneficiários são
determinados. As fronteiras interiores entre estes dois critérios não são de fácil
visualização.
A distinção que se faz na definição é apenas indicativa e visa determinar que se trata
apenas de duas realidades diferentes que só a prática permite estabelecer a sua diferença.
O interesse mais evidente é o objectivo que abrange toda a comunidade, por exemplo, a
segurança e a resistência da comunidade em relação as agressões externas.
848
484
Fiscalização principal
Neste tipo de fiscalização desde logo, o órgão competente, ocupa-se da fiscalização,
Independentemente da solicitação ou da existência de um caso concreto. É uma
fiscalização ordinária que resulta das atribuições ou vocação do órgão, artigo 241, n.º 1,
al. a). Da CRM.
A Constituição Moçambicana, conforme já nos referimos, não indica a razão da
fiscalização incidental ou principal. Os artigos 214 e 244, limitam-se a enunciar as
competências do Conselho Constitucional e o artigo 214 a proibir a aplicação pelos
tribunais judiciais de leis ou princípios que ofendem a Constituição
Excepcional
Acção
858
585
Quando um órgão ou entidade privada, solicita a verificação da
constitucionalidade de uma norma incriminatória em processo de aplicação num
caso concreto em julgamento.
Na fiscalização por via de acção, há uma acção directa dedicada à fiscalização,
enquanto na fiscalização por via excepcional, já não sucede o mesmo.
Nesta última via, a fiscalização é um acto excepcional que foi praticada para resolver
um caso concreto, na fiscalização por via de acção o órgão competente aprecia a norma
em cumprimento da sua vocação, cabendo aos órgãos indicados no artigo 245, n.º 2 da
CRM, propor a apreciação e declaração da inconstitucionalidade.
É todavia, um critério cujo estudo, não deve ocupar o estudante acentuadamente. Consta
no programa, para informação.
Finalmente, concluímos o estudo dos critérios que nos permitem fazer uma avaliação do
tipo e modelo de fiscalização de uma certa Constituição.
868
686
difusa, concreta, incidental e, em princípio, por via de excepção, sempre que as situações
assim requererem.
Em termos comparativos podemos ver os artigos 214, 241 e 244 da Constituição da
República.
3.º) Modelo de Tribunal constitucional, conhecido por modelo Austríaco. Foi criado
pela 1.ª vez na Austrália pela Constituição de 1920 e funciona desde 1929 na
Austrália e depois noutras Constituições. É um órgão especificamente vocacionado a
fazer a fiscalização da constitucionalidade por via de sistema de fiscalização
concentrada.
Este modelo é o que faz a fiscalização preventiva e sucessiva quanto ao tempo e
proteger interesses objectivos ou subjectivos. Exerce a fiscalização abstracta, principal e
por via de acção.
Concluindo: os três modelos, que surgiram em épocas diferentes, na base de realidades
distintas, não gozam da mesma simpatia nos diversos Estados modernos.
Os dois últimos modelos, são os que mais apresentam maior eficácia, sendo por isso, os
mais preferidos.
O 1.º foi abandonado pela ineficácia de que é apontada. Porém, para os dois últimos, é
costume apontar-lhes as seguintes vantagens e desvantagens.
Modelo misto
É destes factos que surgem modelos mistos, que procuram conjugar as vantagens dos
dois últimos modelos e eliminar ou minimizar as desvantagens dos modelos puros e
ao mesmo tempo, procuram manter as vantagens de cada e melhorá-las de uma única
forma.
Em Moçambique, a Constituição não é conclusiva em relação ao tipo de modelo a
aplicar. Mas, pela conjugação dos artigos 214 e 244, se deduz tratar-se de um modelo
misto.
O órgão com c o m p e t ê n c i a de fiscalizar a Constituição é o conselho constitucional,
segundo o artigo 244 da Constituição.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
878
787
Este facto, não impede que se adopte o modelo de fiscalização política da
Constituição, por exemplo, o mesmo acontece em relação ao tribunal constitucional que
apesar de se chamar tribunal, não quer dizer que desenvolve acções como as
desenvolvidas nos tribunais comuns, embora possa ter um funcionamento semelhante,
em tanto que órgão judicial. Mas têm funções diferentes e possuem características
próprias.
Ocupa-se do controlo da decisão política fundamental.
11.Modalidades de fiscalização
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
888
888
b) - A fiscalização concreta (artigos 281º e 282º), que tem lugar através de recursos
formulados ao Tribunal Constitucional pelo Ministério Público ou por pessoas
legitimadas para o fazer nos termos das leis de processo, recursos esses motivados:
b)1. Por decisões dos Tribunais que recusem a aplicação, com fundamento em
inconstitucionalidade, de qualquer norma ou resolução de conteúdo material normativo
ou individual e concreto;
b)2. Por decisões dos Tribunais que apliquem normas ou resoluções de conteúdo
material normativo ou individual e concreto cuja inconstitucionalidade haja sido
suscitada no processo;
b)3. Por decisões dos Tribunais que apliquem normas ou resoluções de conteúdo
material normativo ou individual e concreto que tenham sido julgadas anteriormente
inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional;
b)4. Por decisões que apliquem ou recusem a aplicação de resoluções de conteúdo
material normativo ou individual e concreto que tenham sido julgadas ilegais pelo
Tribunal Constitucional ou cuja ilegalidade haja sido suscitada no processo.
11.5. Efeitos da fiscalização
Quando uma norma é considerada inconstitucional ou ilegal, o efeito geral é o de a
mesma norma deixar de ter efeitos.
Entretanto, as implicações variam segundo a natureza das situações: Quando se trate de
uma norma de um Tratado, a decisão de inconstitucionalidade (que assume a forma de
Parecer) deve levar o Presidente da República a não ratificar o Tratado salvo se a
Assembleia, ouvido o Governo, confirmar a aprovação por maioria de 2/3 dos deputados
em efectividade de funções (neste caso, o Presidente da República pode ratificar o
Tratado).
Quando se tratar de norma constante de acto legislativo, a decisão de
inconstitucionalidade (que assume a forma de Acórdão) implica que o Presidente da
República vete o diploma e o devolva ao órgão que o aprovou (Assembleia ou Governo)
para o expurgar da inconstitucionalidade, sem prejuízo da possibilidade de a Assembleia
confirmar o diploma por maioria de 2/3 dos deputados em efectividade de funções, caso
em que o Presidente da República já poderá promulgá-lo.68
68 A superação do veto presidencial pela Assembleia Nacional (ainda que com votos
favoráveis de 2/3 dos deputados em efectividade de funções), numa situação em que o
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
898
989
veto é precedido de acórdão ou parecer do Tribunal Constitucional que considera uma
norma inconstitucional, é uma solução de duvidosa bondade, logo, polémica, que coloca
problemas de fundo. Parecem estar em causa, de certo modo, princípios do Estado de
Direito Democrático, como o da constitucionalidade (ou da primazia constitucional),
além, claro está, das garantias efectivamente oferecidas pelo sistema de controlo
jurisdicional da constitucionalidade, ao beliscar-se desta forma a autoridade da Justiça
Constitucional. Manual de Introdução ao Direito (2011) Bartolomeu L. Varela 90
Os Acórdãos do Tribunal Constitucional que tenham por objecto a fiscalização da
constitucionalidade ou ilegalidade têm força obrigatória geral, o que quer dizer que
produzem o mesmo efeito que uma norma jurídica, impondo-se à observância de todos.
Essa força obrigatória geral implica que a declaração (Acórdão) produza efeitos
retroactivos à data de entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal,
com a consequente repristinação (reposição) das normas que aquela (norma
inconstitucional) tiver revogado.
18.1. NOÇÃO
Disciplina que estuda o facto politico
Dois conceitos de ciência politica. O conceito de ciência politica não esta definido fixado
em termos que hajam logrado aceitação universal. Pode dizer-se que os autores adoptam
diversas posições situadas entre dois conceitos extremos:
O conceito restrito, segundo o qual a Ciência Politica será apenas a disciplina que estuda
as manifestações, as formas e regularidades dos factos políticos, em si mesmos ou através
do comportamento dos indivíduos, mediante métodos de observação:
E o conceito amplo que engloba na Ciência Politica todos os conhecimentos, seja qual for
o método empregado na sua obtenção, relativos a compreensão, explicação e fundamento
racional dos factos políticos, ordenados e sistematizados em função do seu objecto.
Enquanto os sequazes da primeira concepção procuram fazer da Ciência Politica quando
possível uma ciência positiva, utilizando na sua construção o chamado método cientifico
propriamente dito, que procede por abstracção a partir dos factos e em demanda das suas
leis, os partidários de segunda alargam o campo de pesquisa e não se fecham ao emprego
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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090
de quaisquer métodos das ciências do espírito ou culturais e incluindo as próprias
investigações filosofias nos domínios da ontologia e da axiologia.
Objecto
O âmbito do objecto de estudo da ciência Politica tem na sua base a definição de Marcelo
Rebelo de Sousa, nos termos da qual esta é todo o facto social relacionado com o
acesso, a titularidade, o exercício e o controlo do poder politico.
16
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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191
A legitimidade dos governantes implica, segundo Jorge Miranda 17, que “não basta o
governantes invocar qualquer intenção do seu poder ou ter, pura e simplesmente, a força
material para se fazer obedecer; ou apresentar-se ao serviço deste ou daquele projecto ou
ideologia.
As perspectivas básicas da investigação e analise dos factos políticos
O cientista politico tem por objectivo conhecer de uma forma sistemática os factos
políticos de modo a poder formular explicações que permitam compreender os
fenómenos políticos passados e prever os futuros.
Com esse objectivo a orientar a sua actividade:
Formula hipóteses, com base nos factos políticos apurados, que se traduzem em
generalizações sobre a regularidade possível dos fenómenos políticos;
17
18
SOUSA, Rebelo de, Ciencia…, pp. 66-67; MIRANDA, Jorge Manual…, pp. 13-66 e CAETANO,
Marcelo, Manual…, pp. 36-42.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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292
normas enumeradas, em particular do acatamento pelo próprio poder politico
do Estado”.
19
20
21
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
939
393
Prevalência do factor pessoal (o Estado é a comunidade dos cidadãos, embora não
sejam estes os seus os seus únicos habitantes também há os metecos e os
escravos);
O Estado romano
São características dominantes do Estado romano, segundo Jorge Miranda22:
22
23
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
949
494
Ordem desigualitária, hierárquica e hierática da sociedade;
Reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos (o que, todavia, não significa que
eles ou que todos eles sejam degradados a meros objectos sem quaisquer direitos);
24
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
959
595
A expansão da cidadania num largo espaço territorial (culminando com Caracala,
m 212), em contraste com a caracter meramente territorial das monarquias
orientais e o caracter pessoal restrito das Cidades-Estados gregas.
Território
O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o espaço em que o Estado
pode exercer o seu poder soberano e, em conformidade, qual é o âmbito espacial de
aplicação das normas jurídicos que são emitidas pelo poder politico.
25
26
27
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
969
696
Território terrestre, aéreo e marítimo
Um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e que não está
dependente de qualquer outro poder,
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
979
797
18.3. O estado unitário. O Estado unitário centralizado e o Estado unitário
regional
No Estado unitário deve ser feita a distinção entre Estado Unitário centralizado e
Estado unitário regional.
No primeiro, existe apenas um poder político estadual, enquanto no segundo existe um
fenómeno de descentralização politica.
A descentralização política é “… sempre a nível territorial: são províncias ou regiões
que se tornam politicamente autónomas por os seus órgãos desempenharem funções
políticos, participarem ao lado dos órgãos estaduais, no exercício de alguns poderes ou
competências de caracter legislativo ou governativo”28.
28
MIRANDA, Jorge, Manual…, vol. III, pp. 253-259.
29
MIRANDA, Jorge, Manual…, vol. III, p 179.
30
MIRANDA, Jorge, Manual…, vol. III, p 260.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
989
898
heterogéneo – aquele em que a organização das regiões “… pode ser diferenciada
ou haver regiões de estatuto comum e regiões de estatuto especial”;
Estado federal
Para Jorge Miranda31, Estado federal ou federação é baseado numa dualidade:
31
Manual…, vol. III, pp. 268 e 269
32
Manual…, vol. III, p. 270
33
Manual…, vol. III, pp. 270 e 271
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
999
999
Dualidade de soberanias – a de cada um dos Estados federados e a do Estado
federal, tendo cada um deles a sua Constituição (e Constituição emanada de um
poder constituinte originário, exercido em nome próprio), bem como o
correspondente sistema de funções e órgãos (legislativos, governativos,
administrativos e jurisdicionais);
34
SOUSA, Rebelo de, Ciência… p. 81.
35
SOUSA, Rebelo de, e GALVÃO, Sofia, introdução…, pp. 26 e 27.
36
SOUSA, Rebelo de, e GALVÃO, Sofia, introdução…, p. 27.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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100
100
13. Introdução ao Estudo do Direito II
a. Classificação do direito
Ramos do direito
37
Prof. Marques Guedes, A concessão, Coimbra, 1954, I, p. 129.
38
Manual de Direito Administrativo, I, 10.ª edição, pp. 49 e segs.
39
Cit, in Federico de Castro, “Derecho Civil de Espana”, I, P.88.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
101
101
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direito público aquelas em que intervém entidades munidas (e enquanto munidas) de
autoridade públicas, de jus impere. Designadamente o Estado; e são normas jurídicas de
direito público as que disciplinam estas relações.
São relações jurídicas de direito privado as que se estabelecem entre particulares, ou em
que intervenham – mas despidos do seu imperium -, o Estado ou outra entidade que o
possua; paralelamente, o direito privado é formado pelas normas que disciplinam tais
relações.
iii. O critério da posição dos sujeitos na relação jurídica informativa o artigo 8° do código
civil de 1867:
Se os direitos e obrigações se limitam as relações reciprocas dos cidadãos entre si, como
meros particulares, ou entre os cidadãos e o Estado, em questões de propriedade ou de
direitos puramente individuais, esses direitos e obrigações constituem a capacidade civil
dos cidadãos, denominam-se direitos e obrigações civis, e são regidos pelo direito
privado contido no código civil, excepto na parte que é regulada por lei especial.
Esta disposição não pode já considerar-se em vigor; mas o facto não afecta a
possibilidade de se continuar a considerar mas curial a distinção entre direito público e
privado pelo critério da posição dos sujeitos na relação jurídica.
A lei é criada para ser aplicada. Para isso, tem primeiro de ser compreendida ou
entendida. Verificam-se assim dois momentos lógicos na utilização da lei:
Interpretação – é a determinação ou fixação do sentido e alcance da lei (cfr. 9° n°1, do
Código Civil), ou seu entendimento ou compreensão, a determinação do exacto e plano
conteúdo de pensamento nele contido;
Aplicação – é o uso da lei para resolver casos concretos, ou seja, para determinar, face as
múltiplas situações que a vida oferece, a conduta a seguir.
Na expressão interpretação e aplicação das leis, empregamos o termo lei no sentido em
que se opõe a costume (sentido lato).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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102
O título I do Livro I do código civil – tem por epígrafe “das leis, sua interpretação e
aplicação”. Aos preceitos ai contidos (artigo 1° e seguintes, especialmente 9° e
seguintes).
c. Noção de base
40
“teoria da Interpretacao das Leis” (1883); Prof. Manual de Andrade, “Ensaio sobre a Teoria da
Interpretação” 2ª. Ed. (1963).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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103
103
Interpretação oficial é a que é feita em lei (em sentido lato) de valor inferior ao da
norma interpretada.
Esta interpretação pode vincular em termos da obediência hierárquico (a interpretação
que o ministro der por despacho a certa norma pode ser vinculativa para o seu Ministério,
por obediência hierárquica); não vincula para além disso, e designadamente não vincula
os tribunais.
Levanta-se aqui um problema especial, a que nos vamos repórter de seguida.
Muitos diplomas legais (em especial decretos-leis e decretos regulamentares) contem um
artigo dizendo que as duvidas suscitadas pelo diploma será resolvido por despacho. Terão
neste caso os despachos valor de interpretação autêntica, com base no preceito
mencionado? Ou conservarão o valor da mera interpretação oficial?
O artigo 115° n° 5, da constituição, dispõe que nenhuma lei pode conferir a actos da
natureza o poder de, com eficácia externa, interpretar ou integrar qualquer dos seus
preceitos. Trata-se por conseguinte, nesse caso, de mera interpretação oficial.
Interpretação judicial. A interpretação feita pelos tribunais num processo (salvo o caso
particular dos assentos) só tem valor vinculativo no processo em si, fora disso, pode
persuadir pala forca e exactidão dos argumentos, não mais.
Interpretação doutrinal ou particular: é a interpretação feita fora das condições que
caracterizam as outras hipóteses. Não tem, claro qualquer força vinculativa, mas apenas o
valor persuasivo que resulta do prestígio do intérprete ou da coerência lógica da
argumentação.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Interpretação histórica e interpretação objectivista
A interpretação subjectivista propõe-se como finalidade reconstituir o pensamento
concreto do legislador, entendido como a pessoa ou pessoas que fizeram a lei. A
interpretação objectivista procura determinar o sentido da lei em si, desligada da pessoa
que a fizeram. Fala-se no primeiro caso em determinada da mens legislatoris, no segundo
da mens legis.
Contra a interpretação subjectivista, a argumenta-se que é raro provir a lei de uma pessoa
só. Por exemplo, quando a uma lei de uma assembleia legislativa, reconstituir-se-ia o
pensamento de que deputado ou grupo de deputados? Sem contar que a existência e
validade da lei assentam também na promulgação.
Interpretação histórica e interpretação actualista
Outra distinção a fazer contrapõe a interpretação histórica à interpretação actualista. A
primeira tem por finalidade reconstituir o sentido que a lei tinha no momento da sua
elaboração e entrada em vigor; a segunda, determinar o sentido que a lei tem no momento
da sua aplicação. Por alteração das circunstâncias e até dos sentidos das palavras, podem
ser diferentes os dois sentidos.
Ora, a interpretação subjectivista é naturalmente histórica; a objectivista naturalmente
actualista.
O artigo 9° n°1, do código civil estabelece como finalidade da interpretação do
pensamento legislativo, o que é dúbio no que diz respeito à controvérsia objectivismo-
subjectivismo, mas perfilha a interpretação actualista, na medida em que manda atender
“as condições específicas do tempo em que (a lei) é aplicada”. Ora, a interpretação
actualista é naturalmente objectivista também.
e. Elemento da Interpretação
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Elemento histórico;
Elemento complementares.
Elemento literal
O primeiro factor a considerar é o elemento literal (por vezes chamado também
gramatical ou filológico), a letra da lei – o sentido das diversas palavras que a compõem,
na sua conjugação sintáctica indicada pela colaboração e pelos termos de ligação.
Este é o elemento de base. Evidentemente, a principal tarefa do intérprete é ler e ver o
que ai si diz.
A interpretação baseada fundamentalmente no elenco literal diz-se interpretação literal ou
gramatical, ou exegese. A exegese a lei é portanto a primeira tarefa do intérprete: lê-la,
atendendo ao sentido dos termos e à sua correlação.
O elemento literal é necessário, mas não suficiente. Diz o artigo 9° n° 2, do código
civil.
Não pode ser considerado pelo interprete o pensamento legislativo que não tenha na letra
da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expressão41.
Elemento lógico
Para além da letra da lei deve recorrer-se a todas as potencialidade de transmissão de
pensamento que a frase legal encerra, potencialidade que são postas em destaque pela
análise jurídica.
Elemento sistemático
A ordem jurídica forma um sistema de elemento coordenados e homogéneos entre si, não
podendo comportar contradições. Daqui resulta que as leis se interpretam umas pelas
outras – cada norma e conjunto de normas funciona em relação as outras como elemento
sistemático de interpretação.
Elemento Histórico
41
Cfr. Também artigo 238° n°1, do código civil.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Outro factor de determinação do sentido da lei é a evolução que lhe deu origem, na qual a
lei é um momento especial – ou seja, a sua história. Que se pode distinguir em – ou seja,
a sua história. História que se pode distinguir em história próxima e história remota, por
um lado, e história legal (evolução da regulamentação legal da matéria) e história social
por outro.
Pontos particulares do elemento histórico são:
Os trabalhos preparatórios. Muitas vezes estão publicados os estudos, projectos e
anteprojectos que serviram de base a lei: tratando-se de um diploma da Assembleia da
Republica, há a contar com os debates publicados no “ Diário da Assembleia da
Republica”. Todos estes elementos (histórias social próxima42) podem ser úteis para
clarificar o sentido das normas;
O preâmbulo ou relatório dos decretos-leis e decretos é um elemento histórico e não
normativo (não vincula por si) todavia como elemento histórico é útil para entender a lei;
f. Elementos complementares
42
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Onde a lei não distingue, não cabe ao intérprete distinguir (ubi lex non distinguit, nec nos
distinguere debemus). Quando a lei aplica uma estatuição a uma previsão, delimitada de
certo modo, presume-se que a aplica a toda a previsão, não sendo lícito ao intérprete
distinguir casos em que se aplica, casos em que se não aplica. Mas trata-se de uma mera
presunção:
O intérprete pode concluir que o legislador usou uma expressão geral de mais, não sendo
sua vontade submeter-lhe certos casos particulares.
Pode é suceder que alguma ou algumas palavras da lei tenham mais que um sentido, de
extensão desigual. Se a interpretação toma como exacto o sentido mais lato, chama-se
interpretação declarativa lata; se mais restrito, interpretação declarativa restrita.
Assim, por exemplo, deve fazer-se dos artigos 362°, 1320° n°1, 1326 n°1, 1351 n°1,
1563° n°1, alínea a), e 1570° n°1, do código civil uma interpretação declarativa lata, dado
que ai a palavra “homem” vale com o sentido mais lato – normal – dos dois que tem (ser
humano, ser humano do sexo masculino).
Interpretação extensiva. Fala-se de interpretação extensiva quando se chega a conclusão
de que a letra da lei é mais restrita que o seu espírito:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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O legislador minus dixit quam voluit. Fala da interpretação extensiva o artigo 11° do
código civil.
Note-se que a interpretação extensiva se deve distinguir do alargamento do campo de
aplicação de uma norma efectuada por outras (designadamente por remissão). O artigo
939° do código civil alarga a outr1os contratos o regime de compra e venda, mas não
impõe uma interpretação extensiva dos artigos 874° e seguintes. O legislador disse o que
queria no artigo 875° (por exemplo) e depois no artigo 939°.
Considere-se o artigo 877° n°1, do código civil:
“os pais e avos não podem vender a filhos ou netos, se os outros filhos ou netos não
consentirem na venda”.
Não haverá proibição quanto aos bisavôs? Entendemos que sim, e que o caso é de
interpretação extensiva. Não há qualquer razão plausível para a limitação aos dois
primeiros graus da linha recta; o legislador minus dixit quam voluit e deve alargar-se o
preceito a todos os ascendentes.
Interpretação restritiva. Na interpretação restritiva, o intérprete limita a norma aparente,
por entender que o texto vai além do sentido – legislador maius dixit quam voluit.
Assim, quando a lei se refere a menores, o elemento sistema força a entender que se
refere só a menores não emancipados. “Menor não emancipado” não é um sentido
possível do terno ”menor” – a interpretação que fazemos é restritiva.
Também entendemos que hipnose se encontra regulada no artigo 246° do código civil
(coacção física), interpretado extensivamente.
Interpretação enunciativa. Estamos perante a interpretação enunciativa quando o
intérprete deduz da norma interpretada outras normas, afins ou periféricas, usando
designadamente dos processos referidos atrás, quando tratamos do elemento lógico da
interpretação.
Interpretação ab-rogante. A interpretação ab-rogante é a que conduz à conclusão segundo
a qual a norma não tem conteúdo valido43.
43
Não se trata da validade formal da norma, constitucionalidade, por exemplo: essa não é objecto da
interpretação. A interpretação abrogante verifica-se quando é pergunta “qual o sentido desta norma?” há a
responder nenhuma.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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Em princípio, é ilícita a interpretação ab-rogante. Mas pode verificar-se em alguns casos:
uns académicos, como incompreensibilidade total da norma, outras mais viaves. Entre
estes últimos saliente-se a hipótese verificável de dois artigos contraditórios da mesma
lei, ou mais, do mesmo valor e a mesma data de entrada em vigor. O intérprete deve
esforçar-se por resolver a contradição44. Mas isso pode ser impossível. Então deve
sacrificar a norma que lhe parece menos adequada trata-se de interpretação ab-rogante
(imposta pelo elemento sistemático).
h. Integração da lei
44
O que tem procurado no caso, por exemplo, dos artigos 23° n°2 e 348° n°3, do código Civil.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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i. Analogia
De há muito se estabelece que, não se encontrando na lei solução jurídica para um caso,
se busca uma norma que regule um caso análogo.
Quando se verifica a analogia? O n°2 do artigo 10° do código civil responde: “Há
analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da regulamentação
do caso previsto na lei”.
A própria lei remete em casos particulares para analogia: ver exemplo código civil,
artigos 157°, 274° n°2, 289° n°3 e 29545.
j. Aplicação da lei
Selecção da norma;
Controlo da sua validade e vigência.
Dos milhares de normas do sistema jurídica, é necessário encontrar aquela cuja previsão
compreende os factos, devidamente qualificados.
45
Cfr. Também artigos 13° n°1, 30°, 422°, etc.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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Esta tarefa é, em regra, distinta da interpretação. Esta (no que diz respeito a previsão)
procura determinação a que factos se aplica a norma; procura (a respeito a normas
sucessivamente ensaiadas) determinar se a norma se aplica a certos factos. Embora sejam
tarefas próximas e interpenetrantes, é patente a diferença.
E agora um ponto de muita importância: é acerca do domínio da selecção da norma
aplicável que nos surgem dois aspectos diferenciados que teremos de analisar
particularmente:
A aplicação das leis no tempo;
A aplicação das leis no espaço.
As normas cuja aplicabilidade se ensaia têm de ser controladas na sua vigência e
validade: tem de estar em vigor (a não ser que se apliquem como normas passadas, por
força das regras de aplicação das leis no espaço) e serem validas, não ilegalmente ou
inconstitucionalmente formadas sem contrárias a normas hierarquicamente superiores.
Poderia pensar-se que desde a revogação de uma lei x (chamemos-lhe lei antiga) por uma
lei y (lei nova), a primeira nunca se aplicaria mais, só a segunda. E que nunca se
aplicariam normas jurídicas ao passado, só ao presente.
Nenhuma das duas visões é correcta. Começando pela segunda, pelo contrário a lei
aplica-se sobretudo ao passado:
Determinação a posteriori (por vezes bastante depois) as consequências de actos ou factos
realizados em momentos anteriores, julgando-os e valorando-os, atribuindo-lhes as suas
consequências.
Ora, a valoração natural dum acto é a que é que feita pela norma em vigor quando o acto
foi praticado:
Se nessa altura foi lícito, a parte tinha o direito (reconhecimento pela ordem jurídica) de o
praticar, injusto é que mais tarde venha ser julgado como ilícito e acarrete uma s1ancao.
E se de um facto resultarem efeitos jurídicos (tutelados pela lei) a favor de certa pessoa,
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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será sempre injusto e frustrante que esses benefícios, atribuídos pela lei, venham a ser
retirados por uma lei posterior.
Diz-se retroactiva a norma que valoriza de novo um facto passado, antes valorizado
diferentemente pela lei vigente no momento em que se verificou, e lhe atribui portanto
consequências diversas, sobretudo quando mais desfavoráveis ao destinatário da mesma
norma. A retroactividade é, pois, a qualidade da norma que altera a valorização e
consequências de factos, tal como foram fixados no momento da sua realização.
Definição
No sentido etimológico, o método é uma sequência ordenada de meios com vista a atingir
um objectivo, “uma maneira ordenada de fazer as coisas” ou como o define Edgar
MORIN, numa perspectiva cognitiva: “ o que aprende a prender, é isto o método46.
Assim, o método é um meio e não um fim. É um simples instrumento que deve permitir a
reflexão de se desenvolver.
Para René DESCARTES (1596-1650)47, O método parecia universal, todavia, hoje em
dia os métodos são vários e diversificados, não só segundo as disciplinas científicas mas
também no âmbito da mesma disciplina.
Assim, numa primeira aproximação, a metodologia jurídica é, logicamente, o estudo dos
métodos técnico-científicos e procedimentos utilizados no âmbito do Direito.
Se observar-se o fenómeno jurídico, sem preconceitos, pode-se concluir que abrange um
conjunto de mecanismo de organização das sociedades humanas e de regulação das
relações sociais (estruturas organizativas, normas de condutas, sanções). Mas
especificadamente, o Direito surge através de fontes – “ Fontes do Direito” – que,
manifestam-se através de vários substratos: constituições, leis, tratados internacionais,
regulamentos administrativos, costume, jurisprudência.
46
MORIN E., La méthode, Tome 1. La nature de la Nature, Paris, Ed. Du Seuil, 1977, p. 21-
47
Discurso do Método, Lisboa Guimarães Editores, Lda, 1997.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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Nesta actividade, a Ciência do Direito, que tem objecto o fenómeno jurídico48, usa de
uma técnica de uma série de procedimentos para atingir a sistematização. Sem este
esforço conceptual, o Direito não seria praticável.
Os valares consagrados pela ordem jurídica e as regras que esta comporta não pode ser
implementada senão com o apoio de princípios, instrumentos e modos de raciocínios
específicos. François GÉNY ensinava que “Qualquer elaboração jurídica é dominada
por operações intelectuais e por metodologia, baseadas sobre princípios da lógica
comum, com uma certa flexibilidade que impõe-se pela natureza própria do objecto a
investigar: as regras jurídicas49.
Assim, a metodologia jurídica é, stricto sensu, “ o estudo dos procedimentos e dos
métodos que os juristas são conduzidos a praticar nas suas actividades de pesquisa de
criação e de aplicação do Direito e, mais geralmente, para solucionar problemas
jurídicos”.
48
VIRALLY M. “Le phénomène juridique”, RDP 1966, pp. 5-64.
49
GÉNY F. Science et techinique en privén positif. Nouvelle contribution à la critique de la méthode
juririqui, t. IV, n,ᵒ 302.
50
Vide, por exemplo, MORIN E., La méthode, Tome 1., op. Cit., p. 14.
51
MORIN E., Ibidem.
52
MORIN E., Ibidem
53
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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pode aspirar-se a total rigor, semelhante aquela a que devem chegar os, matemáticos e os
físicos.
Mas o importante é o identificação da existência de uma metodologia científica do
Direito que permite, para parafrasear Edgar MORIN, “considerar e controlar os objectos
da ciência “ do Direito.
Assim, da mesma maneira que o Direito é uma ciência, a metodologia jurídica é
também uma ciência. Com efeito, a metodologia jurídica tem o estatuto de uma
ciência porque constitui um sistema organizado de conhecimento e tem, de uma
certa forma, um caracter permanente e universal54.~
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O filósofo do Direito perguntar-se-á se a segurança social é uma instituição justa ou de
progresso social. O jurista, diferentemente, estudará quais são os mecanismos de
pagamento das contribuições, quais são as prestações oferecidas, quais são as ligações
entre o Instituto de Segurança social e o Direito do trabalho ou Direito da família, os
critérios de acesso das prestações, etc… Para atingir esses objectivos, o jurista
recorrerá a metodologia jurídica e ou seja, aos métodos de qualificação, de
interpretação de coordenação das diversas regras de Direito.
Em segundo lugar, a metodologia jurídica integra-se e destaca-se ao mesmo tempo da
teoria geral do Direito. Com efeito, a teoria geral do Direito tem por objecto o estudo da
ordem jurídica na sua globalidade e define os eixos fundamentais da construção do
Direito e da sua aplicação58. Neste sentido, a teoria geral do Direito aproveita-se da
metodologia do Direito. Todavia, a metodologia do Direito é apenas uma parte da teoria
geral do Direito. A definição do Direito, a sua essência e as suas funções não entram no
campo de investigação da metodologia do Direito59.
Finalmente, deve-se distinguir a metodologia jurídica da epistemologia jurista, que tem
por objecto o estudo dos modos de conhecimento do direito60. A distanciação entre as
duas disciplinas incide sobre a natureza da aproximação do Direito: enquanto a
epistemologia jurídica tem fundamentalmente como objecto o pensamento jurídico
abstracto, a metodologia jurídica tem sempre uma abordagem concreta das
necessidades e dos interesses em causa.
58
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, Martins Fontes, São Paulo, 2001, nᵒ 3; «Théorie Générale du
Droit», in Dictionnaire encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, p. 610.
59
BERGEL J.L., “Ébauche d´une definition de la méthodologie juridique”, op. cit., p. 712-713.
60
ATIAS C., Épistémologie juridique, Paris, PUF, 1985; “Épistémologie juridique”, in Dictionnaire
encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, p. 610.
61
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. Cit., p. 23 e seguintes.
62
BERGEL J.L., idem
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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Não há dúvida sobre o facto de que os sistemas jurídicos são inspirados de ideologias e
objectivos diversos que têm uma influência sobre o seu próprio conteúdo. Mas qualquer
que seja a substancia das normas jurídicas dos diferentes sistemas jurídicos, o seu
desenvolvimento, o seu funcionamento e a sua aplicação são dominadas por mecanismos,
instrumentos, modos de pensamento, conceitos, instituições que parecem comuns a todos.
O objecto essencial da metodologia jurídica é “estabelecer e aplicar soluções de
Direito a situações de facto”63. Com efeito, olhando para a actividade dos juristas,
qualquer que seja a diversidade dessa actividade e sua riqueza, esta é caracterizada por
um vaivém constante entre o facto e o Direito e consiste sempre em aplicar o Direito aos
factos, ou seja, submeter situações concretas á ordem jurídica. Para poderem fazer isso,
os juristas usa varias técnicas e métodos jurídicos para aproximar o Direito ao facto; por
exemplo a qualificação dos factos ou o raciocínio silogístico ou, pelo contrário, para
dissociar o facto do Direito, por exemplo com o recurso as ficções.
63
BERGEL J.L., op. Cit., p. 37.
64
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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de fundamentação, contradições, etc…) e os advogados têm fraquezas em termos de
argumentação, de técnicas de negociação e redacção de contratos65, por exemplos.
Assim, impõe-se a todos os práticos do Direito, no sentido material da palavra, o estudo
atento das regras que dominam os procedimentos intelectuais dos juristas.
Assim, ser bom jurista66, não consiste em conhecer todas as regras duma determinada
ordem jurídica (dificilmente concebível na pratica). O conhecimento do Direito não se
reduz a uma boa memória. Sobre este aspecto, o homem não pode rivalizar-se com o
computador.
Ser bom jurista pressupõe dominar métodos e procedimentos fundamentados sobre uma
lógica e raciocínios específicos, instrumentos técnicos, classificações e uma terminologia
rica e precisa; é ainda, compreender a totalidade das dimensões do Direito e gozar da
possibilidade de construir e perpetuar o que se estuda e inscrever o seu pensamento numa
finalidade normativa67.
Finalmente, dominar a coerência e a racionalidade do Direito e estudar a sua lógica e as
suas técnicas permite identificar melhor as regras de direito e interpretá-las e aplica-las
com melhor segurança.
65
66
JEAN CARBONNIER defende que a função do jurista é constituída pela reunião de quatro ciências:
“ciência das sistematizações” ou ciência da classificação; “ciência da interpretação” ou hermenêutica,
“ciência da criação normativa” ou “ciência da legislação” e “ciência sociológico ou estudo dos fenómenos,
citado por, LOUIS ASSIER-ANDRIEU, Le droit dans les sociétés humaines, op. Cit., p.10.
67
ASSIER-ANDRIEU L., op. Cit., p. 10
68
COHENDET M.A., Méthodes de travail. Droit Public, Ed. Montchrestien, E.J.A., 1994. P. 17 e seguintes
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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COHENDET, ” O Direito é, ao mesmo tempo, a escola da reflexão e da imaginação”69.
Por outras palavras, a acumulação de conhecimentos não é suficiente para o jurista que
precisa de mais uma formação do seu pensamento do que memorizar regras efémeras e
especializadas. No início da sua formação, como no topo da sua vida profissional,
qualquer jurista tem a necessidade de conhecer e de implementar instrumentos, técnicos e
modos de raciocínio.
O segundo objectivo tem directamente a ver com o lugar do jurista num Estado do
Direito. Neste tipo de sociedade, o jurista não deve ser percebido como um travão mas,
pelo contrário, como um ser favorecendo a acção e a inovação. Para atingir este
objectivo, é preciso pôr em evidência o espírito, a coerência e a racionalidade do direito,
estudando a sua lógica e sua técnica. Essas aproximações contribuem todas em mesmo
tempo, na melhoria as normas jurídicas existentes e no funcionamento das instituições,
bem como, as relações jurídicas, que terão vocação a ser praticadas numa determinada
ordem jurídica.
Finalmente, a ambição deste curso é de melhorar os resultados dos estudantes mudando a
sua maneira de trabalhar. De qualquer forma, um processo de aprendizagem como este,
apenas pode ser gradual.
Assim, a metodologia jurídica aparece ao mesmo tempo como uma disciplina
transversal, porque tem uma vocação de intervir em qualquer ramo do direito, e
permanente porque os juristas deverão utilizar as suas técnicas durante toda a sua
vida profissional.
69
COHENDET M.A., op. Cit., p. 17.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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acesso á educação e saúde, a existência de infra-estrutura económicas e sociais e
a estabilidade macroeconómica.
Tem também como objectivo atingir certos objectivos de política económica e
social, como a redução da pobreza, a redistribuição do rendimento e o
desenvolvimento económico.
A fim de alcançar tais objectivo, o Estado ve-se obrigado a despender recursos, a
efectuar despesas. Para financiar as suas despesas, o Estado necessita de
arrecadar receitas. Temos, pois, os impostos, as taxas, as receitas patrimonias, os
donativos e os empréstimos públicos. De salientar que estas receitas cumprem
outras funções para além do financiamento da despesas publica:
Os impostos podem ser utilizados como instrumento de política comercial
(protecção de determinados sectores económicos), ambiental (penalização de
certas actividades poluidoras), social (redistribuição do rendimento) ou
macroeconómica (estabilização macroeconómica).
A emissão e o reembolso de títulos de pública (empréstimos públicos) podem ter
como objectivo o aumento ou a redução da quantidade de moeda em circulação,
assim como o desenvolvimento do mercado de capitais.
A alienação de empresas estatais (uma receita patrimonial) tem por detrás
objectivos que não se cingem á mera arrecadação de receitas, tais como o
aumento da eficiência económica, a transformação do papel do Estado na
economia, a expansão do investimento e a melhoria dos serviços públicos.
Podemos, definir a actividade financeira do Estado como sendo aquela que visa
satisfazer necessidades colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos
económicos, políticos e sociais e que se concretiza na arrecadação de receitas e
na realização de despesas.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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23.2. Política Fiscal
Corresponde ao uso de imposto e despesa pública. Esta determina a dimensão relativa dos
sectores publico e privado, isto é, qual a parcela do PNB que é consumida colectivamente
e não de modo privado. Em geral a despesa pública afecta o nível global da despesa da
economia e dessa forma o nível do PNB.
Os impostos reduzem o rendimento dos indivíduos e consequentemente o montante gasto
pelas pessoas na aquisição de bens e serviços, e reduz a procura desse bens e serviços e
finalmente faz baixar o PNB.
Além disso os impostos afectam os preços de mercado e desse modo influenciam os
incentivos e comportamentos. Ninguém gosta de pagar impostos, por isso onde a carga
fiscal é maior o investimento é menos, e ainda há a fuga ao fisco, é dai que o Tesouro
queira alargar a base tributária e moralizar a sociedade.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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Quando a inflação ameaça ficar fora do controlo, os governos estabilizar os preços
através de medidas fiscais ou monetárias que reduzem o produto e aumentam o
desemprego, mas isso é bastante oneroso com a perca de grande parte do PNB.
A política macroeconómica exige uma escolha entre os objectivos concorrenciais, não se
pode ter um crescimento rápido e consumo elevado.
A redução da inflação exige ou um grande período de desemprego e de fraco produto ou
a interferência nos mercados livres através da política de rendimentos. A redução do
défice comercial exige a redução de consumo interno e do investimento.
De todos estes objectivos mais difícil de alcançar é o plano emprego de mão-de-obra e
dos recursos. Mas o povo e eleitores exigem ambas as coisas.
O alto nível do produto e emprego fazem aumentar os preços (capacidade de compra) e
salários e a inflação tende aumentar em períodos de rápido crescimento económico.
O antagonismo entre o desemprego e a inflação é a mais dura dor de cabeça dos
governantes.
Quando os preços e salários são estabelecidos em mercados livres, uma política para
redução de inflação leva a um grande desemprego e grandes hiatos do PNB.
Inversamente, se um país deseja crescer rapidamente e beneficiar de um reduzido
desemprego a inflação ira subir.
A oferta agregada (AS) refere-se a quantidade total de bens e serviços que as empresas de
uns países estão dispostas a produzir e vender num dado período e depende do nível de
preços, capacidade produtivo da economia e do nível de custos.
Em geral as empresas gostariam de produzir na sua capacidade máxima e vender toda a
sua produção mas factores como preços e os níveis de despesas podem reduzir e as
empresas deparam-se com um excesso de capacidade. Inversamente nos períodos de
guerra as fábricas operam na sua máxima capacidade mas o produto não chega para as
encomendas.
Produto potencial é determinado pela disponibilidade de factores produtivos (T,K,W) e
da eficiência com que estes factores são combinados, isto é, tecnologia existente.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
122
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A procura agregada (AD) é a quantidade total que os diferentes sectores da economia
estão dispostos a gastar num dado período, isto é, é soma das despesas dos consumidores
individuais, empresas e outros e outros agentes, é igual á despesa total da economia.
A procura agregada, depende do nível de preços, da política monetária, política fiscal e
outros factores.
O produto nacional e o nível de preços dependem essencialmente da oferta e procura
agregada.
O direito civil, portanto, é o subsistema de normas jurídicas que regula as relações entre
particulares.
O direito civil regula a relação jurídica na sua forma mais simples. A relação pública
exige características especiais do sujeito, a relação comercial e laboral são também
relações jurídicas com notas especiais. A relação jurídica entre duas pessoas, sem mais
nota relevante, é relação jurídica.
O direito civil, que disciplina em regra toda a actividade dos particulares, é tão vasto e
complexo quanto esta mesma actividade. Dai resulta a necessidade, sobretudo para
efeitos de estudo, da sua divisão em sub-ramos.
A classificação tradicional neste domínio é a chamada classificação germânica do direito
civil, a qual o distingue em quatro partes:
Direito das obrigações
Direito das coisas (no plano subjectivo, direitos reais);
Direito da família
Direito das sucessões.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Dto. Administrativo
Dto. Constitucional
Direito público Dto. Penal
Dto. Fiscal
Direito em Dto. Processual
Sentido Dto. Internacional Público
Subjectivo
Dto. Obrigações
Dto. Coisas
Dto. Civil Dto. Família
Dto. Sucessões
Direito privado
Dto. Comercial
Dto. Trabalho
Código Civil
1. Livro I - Parte Geral
2. Livro II - Obrigações
3. Livro III - Direito das coisas
4. Livro IV - Direito da família
5. Livro V - Direito das sucessões
Foi seu autor mais remoto o alemão GUSTAV HUGO, o qual, numa obra em 1789,
dividia o direito civil em cinco partes: direitos reais, obrigações, direito de família, direito
hereditário, processa. Esta classificação foi aceite por HEISE e, em seguida, com
supressão do processo, defendida pelo grande jurista alemão FRIEDRICH CARL VON
SAVIGNY. A autoridade europeia de SAVIGNY faz que esta obra alcance aceitação
geral. Sobretudo por haver sido também perfilhada por outro grande jurisconsulto alemão
do século XIX, BERNARD WINDSCHEID.
Esta classificação forma a base da sistematização do nosso actual Código Civil, de 1966,
o qual se divide em cinco livros:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
124
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Livro I, Parte Geral;
Livro II, Direito das obrigações;
Livro III, Direitos das coisas;
Livro IV, Direitos da família;
Livro V, Direito das sucessões.
Também, os estudos de direito civil nas Faculdades de Direito portugueses se estruturam
com base nesta classificação.
Dos livros que constituem o CC, iremos apenas estudar o Livro I, denominado de Parte
Geral. Este livro contém as regras gerais aplicáveis ao Direito Civil.
O Direito Civil é um ramo do direito privado e, inserido neste encontramos o Direito das
coisas, da família, das obrigações e das sucessões.
O direito civil contém disposições que são aplicáveis aos restantes ramos de direito
privado; a todas as relações jurídico privadas e, não apenas aos direitos que no próprio
direito civil se inserem.
Dentro do direito privado encontramos o direito privado comum e o direito privado
especial, ex. Direito do trabalho
O Direito civil não se aplica quando exista uma norma específica que regule esse assunto.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O Direito civil geral ou comum, encontra-se no Livro I do CC e o direito civil especial
encontra-se nos restantes Livros.
Teoria geral do
Direito Civil Teoria geral da relação jurídica civil
Nota: O Código Civil vigente data de 1966. O primeiro código civil português data de
1877, denominado de Seabra. O nosso actual código deriva do modelo germânico (Plano
Savigny)
Existem nove princípios base para as normas do Direito Civil (sete no manual):
1º. Personificação jurídica do Homem;
2º. Reconhecimento do Direitos de personalidade;
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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3º. Igualdade dos Homens perante a lei;
4º. Reconhecimento da família como instrumento fundamental;
5º. Personalidade colectiva;
6º. Autonomia privada;
7º. Responsabilidade civil;
8º. Propriedade privada;
9º. Reconhecimento do fenómeno sucessório
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Princípio da igualdade dos homens perante a lei
O Princípio da Igualdade dos Homens Perante a Lei encontra-se na Constituição no seu
art. 13º. Não se deixa de referir na Constituição o princípio de tratar desigual aquilo que é
desigual.
A Lei Constitucional proíbe todas as formas de discriminação.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Princípio da personalidade colectiva
As Pessoas Colectivas jurídicas criadas pelo efeito do Direito demarcam-se das pessoas
jurídicas singulares, embora funcionem também com centros autónomos de imputação de
direitos e deveres, art. 12º/2 CRP, as Pessoas Colectivas gozam de direitos e estão
sujeitas aos deveres compatíveis com a sua natureza. Este artigo reconhece uma
individualidade própria às Pessoas Colectivas quando afirma que elas gozam de direitos
que são compatíveis à sua natureza.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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· Sector Público: bens e unidades de produção pertencentes ao Estado ou a outras
entidades públicas, art. 82º/2 CRP;
· Sector Privado: pertencem os meios de produção da propriedade e gestão privada
que não se enquadre no sector público nem no cooperativo, art. 82º/3 CRP;
· Sector Cooperativo: o sector cooperativo refere-se aos meios de produção
possuídos e geridos pelas cooperativas, em obediência aos princípios cooperativos; aos
meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais; aos meios
de produção objecto de exploração colectiva por trabalhadores, art. 82º/4 CRP.
O princípio sucessório
A ordem jurídica portuguesa reconhece o fenómeno da sucessão mortis causa. No nosso
sistema jurídico, este princípio decorre do corolário lógico do reconhecimento da
propriedade privada, art. 62º/1 CRP.
Princípio da transmissibilidade da generalidade dos bens patrimoniais, ex. vi legis: arts.
2024º, 2025º, 2156º (quota indisponível).
Quota indisponível, o titular dos bens tem uma ampla liberdade para testar. Por este efeito
pode afastar da sucessão um conjunto de familiares que não estejam incluídos no
conceito de pequena família. A sucessão legitimária, funciona sempre a favor dos
herdeiros legitimários: cônjuge, descendentes ascendentes.
Livro I
Artigos 1º a 14º - Parte geral de introdução ao direito
Capítulo III – artigos 15º a 65º - Direitos dos estrangeiros
Título II – artigos 66º a 396º - das Relações Jurídicas
O artigo 66º, nº 2 do C.C. estabelece que os direitos reconhecidos por lei aos nascituros
dependem do seu nascimento, ou seja, apesar de não terem ainda personalidade jurídica e,
portanto não serem sujeitos de direito (artigo 66, nº 1 C.C.) a nossa lei reconhece aos
nascituros “direitos”embora dependentes do seu nascimento completo e com vida (art.
66, nº 2).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Principio do reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade – arts. 66º a
81º.
Personalidade – Conceito mais importante do Direito, pois diz respeito às pessoas, ao
ser humano, é a matéria mais nobre do direito, artigo 66º.
Personalidade Jurídica – Aptidão para ser titular/sujeito de relações jurídicas direitos e
obrigações. È uma qualidade dos seres humanos, adquirida no momento do nascimento
completo e com vida (pessoa singular). As empresas também têm personalidade jurídica,
trata-se de pessoas colectivas.
A Personalidade Jurídica traduz-se precisamente na susceptibilidade de ser titular de
direitos e se estar adstrito a vinculações, art. 66º/1 CC.
À Personalidade Jurídica é inerente a Capacidade Jurídica ou a Capacidade de Gozo de
direitos (art. 67º CC).
A personalidade jurídica acaba com a morte, isto é, os direitos e obrigações cessam para
o falecido. Art 68° CC.
“decujus” – Morto / Falecido
Relativamente a determinados direitos e obrigações cessam para si que morre, mas são
transmitidos para os herdeiros.
Os que passam para os herdeiros são os materiais e os que não passam são os pessoais.
Os direitos patrimoniais, avaliados em dinheiro transmitem-se; os direitos pessoais como
o é o direito à vida, à honra, não se transmitem, são os chamados direitos de
personalidade.
O direito para a pessoa que morre desaparece, no entanto, os seus familiares têm o direito
de exigir que sejam respeitados os direitos de personalidade (art.71º CC). Existe o direito
de salvaguardar a imagem, a reputação, por parte dos familiares daquele que já partiu.
Direito Personalidade
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Direito à Vida
Direito Nome
Imagem
Honra
Estes podem no entanto ser evocados segundo o artigo 71º CC “Ofensas a pessoas já
falecidas”
Capacidade jurídica
À Personalidade Jurídica é inerente a Capacidade Jurídica ou Capacidade de Gozo de
direitos. O art. 67º CC, traduzindo esta inerência, estabelece que “as pessoas podem ser
sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição em contrário: nisto consiste a
sua Capacidade Jurídica”.
A Capacidade de Exercício, é a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos
ou cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por acto próprio e
exclusivo ou mediante um representante voluntário ou procurador, isto é, um
representante escolhido pelo próprio representado. A pessoa, dotada da Capacidade de
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Exercício de direitos, age pessoalmente, isto é, não carece de ser substituída, na prática
dos actos que movimentam a sua esfera jurídica, por um representante legal, e age
autonomamente, isto é, não carece de consentimento, anterior ou posterior ao acto, de
outra.
Quando esta capacidade de actuar pessoalmente e autonomamente falta, estamos perante
a Incapacidade de Exercício de direitos. Esta pode ser específica ou genérica.
A Incapacidade de Exercício genérica, é quando uma pessoa não pode praticar todos os
actos.
A Incapacidade de Exercício específica, é quando uma pessoa não pode praticar alguns
actos.
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2033º/1 CC) e apenas testamentária e contratualmente, quando aos não concebidos (art.
2033º/2 CC).
A lei admite ainda o reconhecimento dos filhos concebidos fora do matrimónio (arts.
1847º, 1854º, 1855 CC).
No entanto, o art. 66º/2, estabelece que os direitos reconhecidos por lei aos nascituros
dependem do seu nascimento.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Os nascituros não têm personalidade jurídica, só a obtêm depois do nascimento completo
e com vida
Capacidade jurídica
É a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é susceptível, art. 67º CC,
traduzindo esta inerência, estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste na sua Capacidade
Jurídica”.
A Capacidade divide-se em Capacidade de Gozo, é a medida de direitos e vinculações de
que uma pessoa pode ser titular e a que pode estar adstrita. Capacidade de Exercício,
consiste na medida de direitos e de vinculações que uma pessoa pode exercer por si só
pessoal e livremente.
Enquanto na Capacidade de Gozo esta coloca-se no plano abstracto da titularidade de
situações jurídicas, na Capacidade de Exercício estamos já no plano concreto de
averiguar em que medida certa pessoa pode exercer os direitos ou cumprir as obrigações
que na verdade lhe podem caber enquanto sujeito. Pode haver Capacidade de Gozo e não
haver Capacidade de Exercício.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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A Capacidade Genérica é quando a generalidade dos direitos e das vinculações
reconhecidas pela ordem jurídica. (art. 67º CC). A Capacidade Específica, é a capacidade
das pessoas num âmbito mais restrito de apenas abranger certas categorias e vinculações
de direito, ex. Pessoas Colectivas, art. 160º/1 CC.
Por oposto existe a Incapacidade Jurídica, que é a medida de direitos e vinculações de
que uma pessoa não é susceptível. Há pessoas que são titulares da Capacidade de Gozo,
mas não de exercício. Pode-se ter Capacidade de Gozo genérica e não ter uma
Capacidade de Exercício genérica, ex. menores.
A Incapacidade de Gozo não admite suprimento, enquanto que a Capacidade de
Exercício é suprível.
A Incapacidade de Gozo reporta-se à titularidade de direitos e vinculações de que uma
pessoa pode gozar. Neste campo não é viável suprir uma incapacidade.
Na Incapacidade de Exercício está em causa a impossibilidade de certa pessoa que é
titular de um determinado direito, exercê-lo pessoalmente. No entanto, já é viável a outra
pessoa que venha a exercer esse mesmo direito em conjunto com o incapaz, ou em
substituição deste. A ideia de suprimento é sempre inerente à ideia de Capacidade de
Exercício.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Capacidade para o exercício de direitos (também para o cumprimento de obrigações), é a
idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres por acto
próprio e exclusivo ou mediante um representante voluntário ou procurador.
Este conceito também é designado por capacidade de agir Todo o ser humano tem
personalidade jurídica, capacidade jurídica ou de gozo e capacidade para o exercício de
direito.
Incapacidade de gozo de direito – É a falta de aptidão para se ser titular de um número
mais ou menos amplo de ralações judiciais
Art.1601º
Consequência – 1631º
Quem pode anular – 1639º
Prazo – 1643º
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Incapacidade de exercício de direitos:
- Menoridade – art.122º e seguintes
- Interdição – art.138 e seguintes
- Inabilitação – art.152º e seguintes
Menoridade
Representação legal
Interdição
O representante actua em nome do representado. A lei admite que outra pessoa possa
exercer direitos e cumprir deveres por aquelas pessoas.
Assistência Inabilitado
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Formas de suprimento da incapacidade
São os meios de actuação estabelecidos pelo Direito, tendo em vista o efectivo exercício
dos direitos e o cumprimento das obrigações do incapaz. Implicam sempre a intervenção
de terceiros.
Existem duas formas de suprimento: a representação e a assistência.
A representação, quando o incapaz não é admitido a exercer os seus direitos
pessoalmente. Para suprir a sua incapacidade tem de aparecer outra pessoa que actue em
lugar do incapaz. (art. 258º CC, efeitos de representação). Os actos praticados por esta
outra pessoa é um acto juridicamente, tido pelo Direito como se fosse um acto praticado
pelo incapaz.
A assistência, situações em que certas pessoas são admitidas a exercer livremente os seus
direitos. Nestes casos, o incapaz, pode exigir mas não sozinho. Ou seja, o suprimento da
incapacidade impõe única e simplesmente que outra pessoa actue juntamente com o
incapaz. Para que os actos sejam válidos, é necessário que haja um concurso de vontade
do incapaz e do assistente. Há sempre um fenómeno de conjugação de vontades, isto
porque o incapaz pode agir pessoalmente mas não livremente.
Menoridade
Menoridade – Todo aquele que não tiver completado 18 anos é menor, é incapaz para o
exercício de direitos (ou aquele que não é emancipado)
Suprimento:
Regulamentação legal - art.124º
- Pelo poder paternal – art.1877º e seguintes e subsidiariamente pela tutela – 1927º e
seguintes.
Art.125º → Norma especial da anulabilidade dos actos dos menores que afasta o regime
geral do art.287º
Quem pode requerer: a); b) e c) do 125º, substituindo o art.287º nº1.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O art.287º nº2 aplica-se aos menores.
Nota:
Resumindo: é de conhecimento oficioso, pode ser requerido por qualquer interessado a todo
o tempo.
Anulabilidade (art.287º): Não é de conhecimento oficioso, apenas pode ser requerido pelas
pessoas cujo interesse a lei reconhece e no prazo de um ano.
Menoridade
A incapacidade dos menores começa com o seu nascimento e cessa aos dezoito anos
(sistema genérico).
O sistema genérico divide-se em: sistema genérico rígido, em que a idade funciona como
uma fronteira inelutável entre a capacidade e a incapacidade.
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É rígido porque se atribuiu uma idade (18 anos), no entanto há três momentos
fundamentais que envolvem uma grande modificação jurídica do menor.
1º. Momento, aos sete anos: há a partir daqui um termo de presunção de
imputabilidade do menor (art. 488º/2 CC);
2º. Momento, aos quatorze anos: a partir desta idade tende a se intender à
vontade do menor na resolução dos assuntos do seu interesse (art. 1901º/2 CC).
3º. Momento, aos dezasseis anos: verifica-se o alargamento da Capacidade de
Gozo e de exercício do menor (arts. 1850º. 1856º, 127º/1-a CC).
O alargamento da Capacidade de Exercício verifica-se, pois a partir do momento em que
o menor pode casar.
O alargamento da Incapacidade de Exercício verifica-se no art. 1878º/2 CC, os pais têm
de ter em consideração os interesses dos menores. Devem ainda ter em conta a
maturidade do filho.
A maioridade atinge-se aos dezoito anos (art. 122º, 130º CC).
A incapacidade do menor também pode cessar através da emancipação, esta faz cessar a
incapacidade mas não a condição de menor (arts. 133º, 1649º CC). Em Portugal a
emancipação só é feita através do casamento (arts. 132º, 1601º CC).
Tutela
É o meio subsidiário ou sucedâneo de suprir a incapacidade do menor nos casos em que o
poder paternal não pode em absoluto ser exercido. Portanto, é o meio normal de
suprimento do poder paternal. Deve ser instaurado sempre que se verifique algumas das
situações previstas no art. 1921º CC. Estão nela integradas o tutor, protutor, o conselho
de família e como órgão de controlo e vigilância, o Tribunal de menores.
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b) Se estiverem inibidos do poder paternal quanto à regência da pessoa do filho;
c) Se estiverem à mais de seis meses impedidos de facto de exercer o poder paternal;
d) Se forem incógnitos.
A instituição de uma tutela, depende sempre da decisão judicial e o Tribunal pode agir
oficiosamente ou não, art. 1923º/1 CC.
Mas a lei estabelece restrições aos poderes do tutor (este, é o órgão executivo da tutela,
tem poderes de representação abrangendo, em princípio, tal como os do pai, a
generalidade da esfera jurídica do menor, mas o poder do tutor, é todavia, mais reduzido
que o poder paternal - arts. 1937º e 1938º CC -, e estabelece medidas destinadas a
assegurar uma boa gestão dos interesses e protecção do menor).
O âmbito da tutela e dos seus órgãos é a do art. 1935º/1 CC.
Os órgãos da tutela
Os órgãos vêm referidos no art. 1924º/1 CC.
Estes são o tutor e o conselho de família, este é um órgão consultivo e fiscalizador da
tutela, constituído por dois vogais e presidido pelo Ministério Público, art. 1951º CC; este
reúne esporadicamente, mas é necessário um órgão carácter permanente – o protutor, art.
1955º, 1956-a) b) CC.
Por fim o órgão com competência para a fixação do tutor é o Tribunal de família.
A escolha do tutor
Esta pode ser feita pelos pais ou pelo Tribunal.
Quando o tutor é indicado pelos pais, é feito por testamento – chamada escolha
testamentária.
Quando é feita pelo Tribunal, chama-se escolha dativa.
O Tribunal antes de designar o tutor tem de ouvir previamente o conselho de família e
ouvirá o menor caso este já tenha completado 14 anos, art. 1931º/2 CC.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O juiz tem amplos poderes e deve escolher o tutor de entre os parentes ou afins do menor,
art. 1931º/1 CC.
Este cargo é obrigatório, não podendo ninguém recusar-se ao cargo, exceptuando o
previsto na lei (art. 1926º CC), o art. 1933º define quem não pode ser tutor, e o art. 1934º
define as condições de escusa de tutela. O tutor também pode ser removido arts. 1948º e
1949º CC. O tutor também pode ser exonerado, por sua iniciativa, por fundamento em
escusa.
O art. 1945º CC regula a responsabilidade do tutor pelos danos que da sua actuação,
resultem para o menor.
Os actos vedados ao tutor são nulos (art. 1939º CC), a nulidade não pode ser invocada
pelo tutor, actos por este cometidos sem autorização judicial, quando esta era necessária.
Os actos invocados no art. 1938 e 1940º CC, são anuláveis.
Administração de bens
A instituição da Administração de bens, como meio de suprimento da incapacidade do
menor terá lugar, coexistindo com a tutela ou com o poder paternal, nos termos do art.
1922º CC: (a) quando os pais, mantendo a regência da pessoa do filho, foram excluídos,
inibidos ou suspensos da Administração de todos os bens do menor ou de alguns deles;
(b) quando a entidade competente para designar o tutor confie a outrem, no todo ou em
parte, a Administração dos bens do menor.
Interdição
A incapacidade resultante de interdição é aplicável apenas a maiores, pois os menores,
embora dementes, surdos-mudos ou cegos, estão protegidos pela incapacidade por
menoridade. A lei permite, todavia, o requerimento e o decretamento da interdição dentro
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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de um ano anterior à maioridade. A interdição resulta sempre de uma decisão judicial, art.
138º/2 CC.
São fundamento da interdição as situações de anomalia psíquica, surdez-mudez ou
cegueira, quando pela sua gravidade tornem o interditando incapaz de reger a sua pessoa
e bens (art. 138º CC). Quando a anomalia psíquica não vai ao ponto de tornar o demente
inapto para a prática de todos os negócios jurídicos, ou quando os reflexos de surdez-
mudez ou na cegueira sobre o discernimento do surdo-mudo ou do cego não excluem
totalmente a sua aptidão para gerir os seus interesses, o incapaz será inabilitado.
Para que o Tribunal decrete a interdição por via destas causas, são necessários os
seguintes requisitos:
· Devem ser incapacitantes;
· Actuais;
· Permanentes.
É necessário que em cada uma das causas se verifiquem estes três requisitos. O processo
judicial de interdição que conduz a esta decisão, vem regulado do Código de Processo
Civil (CPC), art. 944º e seg.
1º. Princípio: a acção de interdição só pode ser intentada a maiores, excepto, se uma
acção de interdição for intentada contra menores no ano anterior à maioridade, podendo a
sentença ser proferida durante a menoridade, mas os seus efeitos só se produzem após ele
ter a maioridade.
2º. Princípio: o art. 141º CC, enumera as pessoas que podem intentar a acção de
interdição: (1) o cônjuge; (2) qualquer parente sucessível; (3) ministério público.
3º. Princípio: a lei regula basicamente o processo de interdição para o caso de anomalia
psíquica e manda que as demais causas de interdição seja aplicado o mesmo regime, arts.
944º e 958º CPC.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Efeitos da interdição na capacidade de gozo
As limitações que decorrem desta interdição podem repartir-se em dois grupos, consoante
as causas que estão na origem da interdição:
1º. Caso – Interdições que resultem de anomalias psíquicas, aqui os interditos não
podem: (1) casar, art. 1601º-b CC; (2) perfilhar, art. 1850º/1 CC; (3) testar, art. 2189º-b
CC; (4) exercer o pleno exercício do poder paternal, art. 1913º/1-b.
2º. Caso – Quando resultam de quaisquer outras causas: (1) no que toca ao poder
paternal a interdição é apenas parcial, art. 1913º/2 CC; (2) no entanto nenhum interdito,
qualquer que seja a causa da sua incapacidade, pode ser tutor, art. 1933º/1-a CC; (3) não
podem ser vogais do conselho de família, art. 1953º CC (1933º, 1934º CC); (4) não
podem ser administradores, art. 1970º CC.
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vem a ser decretada, haverá lugar à anulabilidade, desde que “ se mostre que o negócio
jurídico causou prejuízo ao interdito”, art. 149º CC. Os negócios jurídicos praticados
pelo interdicendo, na dependência do processo de interdição, só serão anuláveis, se forem
considerados prejudiciais numa apreciação reportada ao momento da pratica do acto, não
se tomando em conta eventualidades ulteriores, que tornariam agora vantajoso não ser
realizado.
c) Actos praticados pelo interdito posteriormente ao registo da sentença, art. 148º CC,
são anuláveis.
Cabe ao tutor invocar a anulabilidade do acto, quanto ao prazo resulta da remissão para o
art. 287º CC, segundo este artigo, o prazo é diferente consoante o acto esteja ou não
cumprido. Se a anulação depende do prazo, esse prazo é de um ano a partir do
conhecimento do tutor e nunca começa a correr antes da data do registo da sentença, art.
149º/2 CC.
O tutor só começa a desempenhar as suas funções depois do registo da sentença.
Cessação da interdição
Quando é decretada por duração indeterminada, mas não ilimitada, o interdito pode
recuperar da deficiência que o afecta e seria injusto manter a incapacidade. A cessação da
interdição pode ser requerida pelo interdito ou pelas pessoas referidas no art. 141º CC.
Para lhe pôr termo, exige-se uma decisão judicial mediante nova sentença, que substitua
o regime da interdição pelo regime da inabilitação, que é um regime de incapacidade
menos grave.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Inabilitação
Resultam tal como as interdições de uma decisão judicial. Mas é menos grave que a
interdição.
A inabilitação resulta de deficiências de ordem psíquica ou física e de certos hábitos de
vida (arts. 152º a 156º CC).
O regime subsidiário é também o regime da menoridade e isso resulta do combinado dos
arts. 156º e 139º CC.
As pessoas sujeitas a inabilitação estão indicadas no art. 152º CC, indivíduos cuja
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de carácter permanente, não seja
tão grave que justifique a interdição; indivíduos que se revelem incapazes de reger o seu
património por habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas ou
estupefacientes.
A primeira categoria, anomalias psíquicas, surdez-mudez ou cegueira que provoquem
uma mera fraqueza de espírito e não uma total inaptidão do incapaz.
A segunda categoria – habitual prodigalidade – abrange os indivíduos que praticam
habitualmente actos de delapidação patrimonial (por ex. viciados no jogo).
A terceira categoria – abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes – representa uma
inovação do Código Civil, pois anteriormente tais pessoas não podiam ser declaradas
incapazes, salvo quando as repercussões psíquicas daqueles vícios atingissem os
extremos fundamentais da interdição por demência.
Pode-se dizer que a fronteira entre a interdição e a inabilitação consiste na gravidade
maior ou menor dessas condutas. O art. 954º CPC, permite ao juiz fixar a interdição ou a
inabilitação.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Verificação e determinação judicial da inabilitação
A incapacidade dos inabilitados não existe pelo simples facto da existência das
circunstâncias referidas no art. 152º. Torna-se necessária uma sentença de inabilitação, no
termo de um processo judicial, tal como acontece com as interdições. A sentença pode
determinar uma extensão maior ou menor da incapacidade.
A inabilitação abrangerá os actos de disposição de bens entre vivos e os que forem
específicos na sentença, dadas as circunstâncias do caso (art. 153º CC). Pode todavia, a
própria Administração do património do inabilitado ser-lhe retirada e entregue ao curador
(art. 154º CC).
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Actos de disposição de bens entre vivos. Os inabilitados só os podem praticar com
autorização do curador, art. 153º/1 CC. Pode-se subordinar ao curador todos os actos que
em atenção às circunstâncias de cada caso forem especificadas na sentença.
Neste caso, os actos ficam subordinados ao regime da assistência. O juiz, pode no
entanto, subordinar a prática dos actos pelo inabilitado não ao regime da assistência mas
da representação (art. 154º CC).
Cessação da inabilitação
A incapacidade só deixa de existir quando for levantada a inabilitação.
O art. 153º CC, contém, acerca do levantamento da inabilitação, um regime particular.
Estabelece-se que, quando a inabilitação tiver por causa a prodigalidade ou o abuso de
bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, o seu levantamento exige as condições
seguintes:
a) Prova de cessação daquelas causas de inabilitação;
b) Decurso de um prazo de cinco anos sobre o trânsito em julgado da sentença
inabilitação ou da sentença que desatendeu um pedido anterior de levantamento.
O Código de Processo Civil, no seu art. 968º, regula as causa inabilitação por inabilitação
psíquica, surdez-mudez, cegueira.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O art. 963º CPC, regula o cerimonial das situações não previstas acima. No entanto, se as
causas de inabilitação se agravarem, transformam-se em interdição. Caso contrário, se as
causas de inabilitação forem cessando, passa-se do regime da inabilitação para o da
assistência.
Incapacidades acidentais
O actual código não inclui regulamentação da incapacidade acidental (art. 257º CC) na
secção relativa às incapacidades, regula-a conjuntamente com as várias hipóteses de falta
ou vícios de vontade na declaração negocial.
Qual é a hipótese do art. 257º CC?
Abrange todos os casos em que a declaração negocial é feita por quem, devido a qualquer
causa (embriaguez, estado hipnótico, intoxicação, delírio, ira, etc.), estiver
transitoriamente incapacitado de se representar o sentido dela ou não tenha livre exercício
de vontade.
Os actos referidos são anuláveis desde que o facto seja notório ou conhecido do
declaratório. A anulação está sujeita ao regime geral das anulabilidades (arts 287º seg.),
pois não se prescreve qualquer regime especial.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O representante legal do menor (pais ou tutor), pode actuar em nome do mesmo:
Poder paternal – art.1877º
Tutela – art.1927º - 124º
Art.126º - Dolo do menor – menor que engana o outro contraente fazendo-se passar por
maior. O menor tem de usar de artimanhas para agir com dolo.
Sanção: se o menor agir com dolo e estiver arrependido, não pode recorrer da anulação
daquele negócio.
Nota: anulação = acabar com os efeitos do negócio
Art.126º - constitui uma excepção ao art.125º (aqui, o Direito pretende proteger o outro
contraente)
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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A doutrina diz que o art.126º deve ter uma interpretação extensiva, o legislador não quer
apenas proibir o menor mas também proibir a possibilidade de recorrer a anulabilidade
aos pais ou representantes legais.
Art.127º - Constitui uma excepção à capacidade do menor – nestes casos, o menor tem
capacidade para celebrar negócios jurídicos válidos e sem necessidade da representação
legal, não se aplicando o art.125º.
Nota: Os casos práticos que dizem respeito às invalidades de menores, deverão começar
por ser resolvidos a partir deste artigo.
INTERDIÇÃO (art.138º)
São todos aqueles que como tal sejam declarados pelo juiz;
Só se aplica a maiores depois de uma acção jurídica
Art.141º - quem pode interpor a acção
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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São então todos aqueles que o juiz declara como não tendo capacidade de exercício de
direitos suprimento – representação legal, por regra é a tutela, Tutor.
A ideia é proteger o interdito ao declara-lo incapaz, pois se não tem capacidade para
celebrar negócios jurídicos, terá que ser o seu representante legal capaz, para em nome
daquele, celebrar os negócios jurídicos que lhe sejam convenientes.
Consequência para os actos praticados pelos interditos: anulabilidade
Art.125º - quem e que prazos?
Quando cessa a interdição? Art.151º cessando a causa de interdição
INABILITAÇÃO (art.152º)
Art.152º- resultam 6 “pessoas” que possam ser considerados inabilitados:
Anomalia psíquica; cegueira; surdez/mudez; abuso de bebidas alcoólicas: abuso de
estupefacientes e prodigalidade.
Esta medida pode ser intentada pelas pessoas que podem intentar a interdição.
Suprimento: nomeação de um curador – art.153º
Os inabilitados podem celebrar negócios jurídicos desde que autorizados pelo curador
para a celebração daquele negócio
O inabilitado - actua com autorização de outro, com o consentimento de outro;
O menor e interditado – não pode celebrar negócio jurídico, é o representante legal que
actua em nome do incapaz.
Art.155º - levantamento da inabilitação. Tem de ser através de uma acção judicial tal
como com a interdição. Diferença – a sentença só produz efeitos passados 5 anos. Mas
apenas em casos de dependência de álcool, droga ou habitual prodigalidade.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Ilegitimidades conjugais – art.1682º a 1687º
DOMICILIO – ligação entre a pessoa e um determinado lugar; a conexão que se faz está
disciplinada nos arts.82º e seguintes.
Em termos jurídicos, o domicílio é muito importante, é através dele que se fixa, por
exemplo a competência dos tribunais, o lugar de prestação
Art.82º- Domicílio voluntário geral – depende da vontade da pessoa e, é esse que se
aplica na generalidade dos casos.
Art.83º - a pessoa pode escolher um domicílio profissional, para efeitos da sua profissão
Art.84º - domicílio electivo – vale para certos negócios
Domicílio legal:
Art.85º - menores e interditos
Art.87º - empregados públicos
Art.88º - agentes diplomáticos portugueses
O conceito de Domicílio voluntário geral, é nos fornecido pelo art. 82º CC, e coincide
com o lugar da residência habitual.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Não se trata do local onde a pessoa se encontra em cada momento, isto é, não coincide
com o paradeiro, cuja noção se pode descortinar no art. 82º/2 CC.
Mas, uma pessoa pode ter mais que uma residência habitual?
O prof. Castro Mendes, discorda. Diz que se houver mais do que um domicílio habitual e
voluntário, ambos contam como um.
No entanto, no art. 82º/1 CC, diz que a pessoa que residir alternadamente em diversos
lugares, tem-se por domiciliada em qualquer deles. Assim uma pessoa pode ter mais de
um domicílio, se tem duas ou mais residências habituais.
A residência pode ser ocasional se a pessoa vive com alguma permanência, mas
temporária, ou ocasionalmente, num certo local. A residência ocasional, não faz surgir
um domicílio, embora na falta de domicílio de uma pessoa, funcione como seu
equivalente (art. 82º/2 CC).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Os critérios de distinção entre domicílio voluntário e o legal ou necessário, são: (1) a
vontade do indivíduo; (2) quando ele escolhe é voluntário, quando não escolhe é legal ou
necessário.
Importância do domicílio
- Funciona como critério geral de competência para a prática de actos jurídicos;
- Funciona como ponto legal de contacto não pessoal:
Ex. conservatória competente para a prática de certos actos jurídicos;
Ex. cumprimento de obrigações, arts 772º e 774º CC.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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- Fixação do Tribunal competente para a propositura da acção local para a abertura
da sucessão, art. 2031º CC.
Instituto da ausência
Utiliza-se o termo ausência para significar o facto de certa pessoa se não encontrar na
sua residência habitual. O sentido técnico, rigoroso, de “ausência”, traduzido num
desaparecimento sem notícias, ou nos termos da lei, do desaparecimento de alguém “sem
que dele de saiba parte” (art. 89º/1 CC), que o termo ausência é tomado, para o efeito de
providenciar pelos bens da pessoa ausente, carecidos de Administração, em virtude de
não ter deixado representante legal ou voluntário (procurador).
Para o Direito este facto só é preocupante quando ele determina a impossibilidade ou a
dificuldade de actuação jurídica do ausente no seu relacionamento com matérias que
exigem a intervenção dessa pessoa. Nomeadamente quando essa ausência determina a
impossibilidade do ausente gerir o seu próprio património, fala-se em ausência simples
ou ausência qualificada.
Consequências da ausência
· A ausência de um cônjuge, por um período não inferior a três anos, dá direito ao
outro cônjuge pedir o divórcio litigioso (art. 1781º CC, alterado pelo DL 47/98).
· A ausência de um cônjuge, admite ao outro o poder administrar os bens próprios
do ausente.
· A ausência de um dos progenitores, é causa de concentração do exercício paternal
no outro cônjuge.
· A ausência de ambos os cônjuges, pode determinar a aplicação do regime da
tutela, se essa ausência for superior a seis meses.
· A ausência de uma pessoa, pode dar lugar a aplicação de medidas cautelares ou
conservatoriais dos seus bens.
· A ausência dos membros, do órgão de gestão de uma sociedade, pode constituir
fundamento para ser requerida falência de uma empresa.
Para que se verifique a ausência é necessária uma decisão judicial.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Elementos que integram o conceito de ausência qualificada
1. Não presença da pessoa;
2. Em determinado lugar, lugar este de residência habitual;
3. Ignorância geral do seu paradeiro por parte das pessoas com quem o ausente
mantém contactos sociais mais próximos.
Esta ignorância tem como consequência a impossibilidade de contactar essa pessoa, para
obter certas providências no sentido da gestão dos seus bens.
A ideia chave do regime da ausência, é a de estabelecer meios destinados a assegurar a
Administração do ausente, dado que não é possível contactar com ele para providenciar
tal respeito.
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d) Pela entrega dos bens aos curadores definitivos ou ao cabeça-de-casal, nos termos
do art. 103º CC.
e) Pela certeza do ausente.
Para a ausência presumida a lei prevê como forma de suprimento a curadoria provisória.
Morte presumida
Assenta no prolongamento anormal do regime da ausência. Há uma inversão da
probabilidade de o ausente estar vivo.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Decorridos dez anos sobre a data das últimas notícias, ou passados cinco anos, se
entretanto o ausente completar oitenta anos de idade, os interessados para o efeito do
requerimento da curadoria definitiva, têm legitimidade para pedirem a declaração de
morte presumida do ausente (art. 114º/1 CC). Contudo, se a pessoa ausente for menor, é
necessário que decorram cinco anos sobre a data declarada a morte presumida (art. 114º/2
CC).
Com fundamento numa alta probabilidade prática da morte física do ausente, o art. 115º
CC, prescreve que a declaração da morte presumida produz os mesmos efeitos que a
morte.
Mas, por exemplo o casamento não cessa ipso facto (art. 115º CC), embora o art. 116º
CC dê ao cônjuge do ausente a possibilidade de contrair novo casamento sem
necessidade de recorrer ao divórcio.
Na esfera patrimonial, em caso de regresso, verifica-se um fenómeno de sub-rogação
geral, isto é, tem o ausente direito:
a) Aos bens directamente adquiridos por troca com os bens próprios do seu património
(sub-rogação directa);
b) Aos bens adquiridos com o preço dos alienados, se no documento de aquisição se
fez menção da providência do dinheiro (sub-rogação indirecta);
c) Ao preço dos bens alienados (sub-rogação directas).
E, obviamente, ser-lhe-á devolvido o património que era seu, no estado em que se
encontrar. Havendo, porém, má-fé dos sucessores, o ausente tem direito também à
indemnização do prejuízo sofrido (art. 119º CC).
AUSENCIA – art.89º e seguintes - Instituto que quer dizer falta de noticias acompanhada
de não presença/desaparecimento.
Em caso de ausência, os bens ficam sem administrador. A lei apresenta 3 medidas legais
para resolver essa ausência e são instauradas por processo judicial.
Medidas legais:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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Curadoria provisória – art.89º e seguintes
Nos termos do art.15º do CC, os efeitos da morte presumida são os mesmos que os
efeitos da morte efectiva com a excepção do casamento que se mantém (se a pessoa
aparecer mais tarde, ela continua casada. Se o cônjuge que sobreviveu entretanto tiver
casado com outra pessoa, considera-se dissolvido o primeiro casamento.
PESSOAS COLECTIVAS
Organizações de pessoas e bens que visam prosseguir interesses/fins comuns colectivos.
3 Classificações legais – art.157º e seguintes:
Pessoas colectivas
São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de
bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica
atribui a Personalidade Jurídica.
É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade
de direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por
bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas.
Há, duas espécies fundamentais de Pessoas Colectivas: as Corporações e as Fundações.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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As Corporações, têm um substracto integrado por um agrupamento de pessoas singulares
que visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados
organizam a corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.
As Fundações, têm um substracto integrado por um conjunto de bens adstrito pelo
fundador a um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a
atribuição patrimonial a favor da nova Fundação, as directivas ou normas de
regulamentação do ente fundacional da sua existência, funcionamento e destino.
A função economico-social do instituto da personalidade colectiva liga-se à realização de
interesses comuns ou colectivos, de carácter duradouro.
Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma
comunidade regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os
referidos interesses colectivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros,
excedendo a vida dos homens ou, em todo o caso, justificando a criação de uma
organização estável.
Sociedades Comerciais:
Sociedades em nome individual; Sociedades anónimas; Sociedades por cotas e
sociedades em comandita.
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Elemento organizatório – Órgãos e regras que disciplinam a pessoa colectivamente. Tudo
aquilo que é necessário para o nascimento de uma pessoa colectiva.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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O Código Civil define no art. 204º e seguintes os tipos de coisas. Dá também o conceito
de frutos (art. 212º). Define igualmente as benfeitorias (art. 216º).
2 Modalidades de reconhecimento:
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Ex. Direito à vida; direito à integridade física, etc. isto porque são direitos inseparáveis da
personalidade singular.
As PC têm limitações quanto à capacidade de gozo decorrentes da sua natureza não
humana.
Art.160º CC – Limitações:
- Direitos inseparáveis da personalidade singular (nº2, in fine)
- Direitos vedados por lei – direitos que a lei entende que não devem ser atribuídos às
pessoas colectivas (nº2, inicio) Ex. Testar (apenas porque a lei o define); perfilhar
.
Nº1 – Principio da especialidade do fim (escopo da PC). A finalidade de uma PC é
específica, aquela que está no pacto social. Se a sociedade é constituída para por exemplo
vender carros, não pode vender uma qualquer coisa, o fim para que foi criada tem que ser
especial.
Estas limitações limitam a capacidade de gozo das PC já que apenas têm na sua esfera
jurídica direitos e deveres específicos (objecto específico). Os actos praticados por uma
sociedade são validos se couberem no seu objecto, se forem contrários ao seu fim, são
nulos.
O objecto social é fundamental para percebermos se uma sociedade está ou não a actuar
de acordo com a lei.
As PC não têm responsabilidade criminal (que comete o crime é o gerente ou alguém que
pertence à sociedade e que criminalmente vai responder por ele ainda que civilmente seja
a sociedade a responder por ele)
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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_____________________________________________________________
Potestativo----------------------Sujeição
Objecto do direito:
-Prestação de facto - ex. Uma obra; um recital de piano
- Prestação de entrega de coisa certa e determinada – ex. 500€; um relógio
Neste caso, o objecto é desdobrado em objecto imediato (comportamento do devedor –o
acto de entregar) e objecto mediato (a entrega da coisa)
Coisas:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Corpóreas ou materiais – São talvez o principal objecto das relações jurídicas. Podem
ser móveis ou imóveis.
Incorpóreas ou imateriais – ex. Objecto da propriedade intelectual – direitos de autor,
criação literária, invenções, etc.
Os animais – não são coisas mas são tratadas como coisas “suigeneris”. Os animais não
têm direitos nem obrigações porque não têm personalidade jurídica, são as pessoas que os
detêm que têm obrigações para com eles e direitos sobre eles.
A própria pessoa – somos cada um de nós. Nós somos objectos dos nossos
direitos: os modos de ser físicos e psíquicos da pessoa (direitos de personalidade)
Relação jurídica
O Direito visa regular a vida do Homem em sociedade, porem, essa vida em sociedade
realiza-se através de multiplicidade de relações sociais determinadas pela necessidade da
vida em comum.
Quando o direito intervém para regular, elas transformam-se em relação jurídica.
A ordem jurídica desenvolve-se, assim, numa complexa teia de relações intersubjectivas,
tuteladas pelo Direito.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
167
167
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Relações jurídicas complexas – os sujeitos têm vários direitos e varias obrigações na
mesma relação. A maioria das relações jurídicas são deste tipo. Ex. Contrato de
arrendamento.
1. Abstracta – composta pelo conjunto das normas legais que regulam o conjunto
dos direitos e obrigações das partes
2. Concreta – que se estabelece entre sujeitos individualizados, que surge através de
um certo contrato. È concretizada em pessoas e factos concretos.
Instituto jurídico – é formado por um conjunto de relações jurídicas que têm uma
afinidade entre si, têm uma ligação porque estão ao serviço do mesmo fim ou da mesma
função.
Conjunto de normas, conjunto de relações jurídicas em abstracto. Este conjunto de
normas não é desorganizado.
Ex. Filiação – matéria do direito da família que decorre do casamento e do grau de
parentesco que liga duas pessoas
Assim,
Filiação – Instituto jurídico da filiação
Adopção - Instituto jurídico da adopção
Compropriedade - Instituto jurídico da compropriedade
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
168
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1. Sujeitos – pessoas que intervêm na relação jurídica
2. Objecto – o bem sobre que incidem os poderes do titular activo da relação
jurídica (direito subjectivo)
3. Facto – evento que dá origem à relação jurídica
4. Garantia – formada pelo conjunto das medidas coercivas previstas na lei para
tutelar o direito do titular activo; garantir que o sujeito passivo cumpra o seu
dever jurídico (está relacionado com o acesso aos tribunais)
Conceitos:
Livremente – Característica dos direitos subjectivos, o seu exercício é livre; o seu titular
pode ou não exerce-lo.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Nota: Poderes/deveres ou poderes funcionais. Estes poderes/deveres não são
verdadeiramente livres.
Ex. Poderes que os pais têm em relação aos filhos, não se trata de um verdadeiro direito
subjectivo, é antes um direito que é simultaneamente um dever. O Instituto do poder
paternal regula a relação entre os pais e os filhos até à maioridade.
Constitutivos …
Direitos potestativos Modificativos …
Extintivos …
…de relações que se impõe inelutavelmente na
esfera jurídica da contraparte
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Ónus da prova – art. 342ºCC - todo aquele que invocar um direito, tem que fazer prova
do mesmo, tem o ónus, a necessidade
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Num contrato de sociedade há posições comuns dos autores do negócio e então este
mantém-se como negócio unilateral. O critério jurídico de distinção entre negócios
unilaterais e bilaterais reside na diferente posição que, perante os interesses que são
regulados pelo negócio, os autores do mesmo ocupam. Se os interesses forem
divergentes, para que haja negócio, as vontades dos diversos intervenientes têm de se
encontrar num ponto comum, sendo este o acordo de vontades ou livre consenso.
Negócios A Exemplos:
jurídicos
B 1. Declaração de dívida
Unilaterais
Classificação dos 2. Declaração pública de
Negócios promessa
Jurídicos
3. Testamento
(Dispensa a
4. Revogação de mandato
aceitação)
(já o mandato não é
unilateral)
Negócios A←B
Jurídicos
A – compra
Bilaterais ou
Contratos B – Venda
- Objecto
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
172
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Princípio da Exemplo: o herdeiro aceitar a herança – ou o repúdio
Tipicidade da herança
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Existe 1 testamento (atenção. Não é 1 contrato). Após a morte da pessoa, extingue-se a
personalidade jurídica, herança jacente, isto é, massa de bens que não tem titular, já não
pertence ao de cujus (os mortos não são titulares de nada) e ainda não é dos herdeiros.
Tem que haver habilitação de herdeiros, e aceitação da herança ou têm 8 dias para
repudiar a herança.
Unilaterais ou (tem que ver São aqueles que geram obrigações apenas
com obrigações) não para 1 das partes
Contratos
sinalagmáticos
A distinção entre os contratos unilaterais e bilaterais tem que ver com as obrigações e
direitos que geram.
Depósito – artigo 1185º do Código Civil
Doação (bilateral) – declaração de doação (é obrigado a dar) e daí advém a declaração
de aceitação. Existe a obrigação de entregar a coisa – é 1 contrato não sinalagmático.
Comodato (empréstimo) – artigo 1129º do Código Civil (existe comodato quando
existe a entrega).
Artigo 408º do Código Civil – transferência (da coisa) contrato. A entrega é 1 elemento
do contrato, a obrigação é a devolução.
Compra e venda
Contrato de trabalho – diversas obrigações e direitos que recaem sobre ambas as
partes.
Nós termos o dever de trabalhar e o direito de receber o vencimento, por sua vez, a
empresa tem o direito ao nosso trabalho e o dever de nos pagar o vencimento.
Excepção de não cumprimento. Se a empresa não paga o trabalhador tem o direito de não
trabalhar.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Classificação dos “Inter vivos” Produzem efeito em vida, das partes
negócios jurídicos
“Mortis causa” Produzem efeitos após a morte (testamento)
Os pactos sucessórios, em princípio, não são permitidos no nosso Direito, com excepção
das convenções antenupciais.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Os negócios gratuitos ou a título gratuito, caracterizam-se ao invés, pela intervenção de
uma intenção liberal (“animus domandi, animus beneficiandi”). Uma parte tem a
intenção devidamente manifestada, de efectuar uma atribuição patrimonial a favor de
outra, sem contrapartida ou correspectivo. A outra parte procede com a consequência e
vontade de receber essa vantagem sem um sacrifício correspondente.
Negócios parciários
São uma subespécie dos negócios onerosos. Caracterizam-se pelo facto de uma pessoa
prometer certa prestação em troca, de uma qualquer participação nos proventos que a
contraparte obtenha por força daquela prestação (ex. art. 1121º CC).
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Estrutura do negócio jurídico
São elementos essenciais da estrutura do negócio jurídico:
· A Vontade;
· A Declaração;
· A Causa.
A vontade, é nesta estrutura o elemento interno do negócio jurídico, sendo que é um
elemento (interno) psicológico e por isso subjectivo.
A declaração, é um elemento externo, pelo que configura uma situação objectiva. O facto
de se dar primazia à vontade ou à declaração, no regime do negócio está relacionada com
a relevância que cada um deles tem no negócio. Não se traduz numa opção inocente, uma
vez que é daqui que resulta uma maior ou menor relevância dos interesses nos negócios
jurídicos.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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vontade negocial, caracterizando, depois a vontade negocial como a intenção de realizar
certos efeitos práticos como ânimo de que sejam juridicamente tutelados ou vinculantes.
A declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da vontade psicológica do
declarante.
A essência do negócio, expressa no Código Civil (arts. 257º, 147º, 136º…), não está
numa intenção psicológica, nem num meio de a exteriorizar, mas num comportamento
objectivo, exterior, social, algo que todavia, não se confunde com um formalismo ritual,
como é próprio das fases mais primitivas de evolução jurídica e que normalmente, tem ou
teve subjacente um elemento subjectivo, uma vontade, por parte do seu autor, coincidente
com o significado que assume na vida da relação.
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Declaração negocial expressa e declaração negocial tácita
Os negócios jurídicos, realizam uma ampla autonomia privada, na mediada em que,
quanto ao seu conteúdo, vigora o princípio da liberdade negocial (art. 405º CC). Quanto à
forma (“lato sensu”) é igualmente reconhecido pelo ordenamento jurídico um critério de
liberdade: o princípio da liberdade declarativa (arts. 217º e 219º CC).
O critério da distinção entre declaração tácita e expressa consagrada pela lei (art. 217º
CC) é o proposto pela teoria subjectiva: a declaração expressa, quando feita por
palavras, escrito ou quaisquer outros meios directos, frontais, imediatos de expressão da
vontade e é tácita, quando do seu conteúdo directo se infere um outro, isto é, quando se
destina a um certo fim, mas implica e torna cognoscível, “a latere”, um autoregulamento
sobre outro ponto (“quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a
revelem”).
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Afasta-se igualmente a ideia de que o silêncio vale declaração quando o silenciante podia
e devia falar (“qui tacet con sentire videtur loqui potuit ac debuit”). Não seria isento de
dúvidas quando é que alguém podia e devia falar.
O silêncio não tem qualquer valor como declaração negocial, em princípio – não é
eloquente. Só deixará de ser assim quando a lei, uma convenção negocial ou o uso lho
atribuam. Não basta ter-se estabelecido um dever de responder. É necessário que resulte
da lei, de convenção ou de uso que a ausência de resposta tem um certo sentido.
Intencional:
Não intencionais:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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As partes acordam em emitir declarações não correspondentes à sua vontade real, com
intuito de enganar terceiros (art. 240º/1 CC). Esta operação, é uma operação complexa
que postula três acordos:
1. Um acordo simulatório: visa a montagem da operação e dá corpo à intenção de
enganar terceiros.
2. Um acordo dissimulado: exprime a vontade real de ambas as partes, visando o
negócio verdadeiramente pretendido por elas, ou um puro e simples retirar de efeitos ao
negócio simulado.
3. O acordo simulado, traduz uma aparência de contrato destinado a enganar a
comunidade jurídica.
Na simulação as partes tem uma única vontade, a vontade simulada, que por definição
implica a dissimulada e implica a simulatória. No art. 240º, pede-se três requisitos:
1. Acordo entre declarante e declaratário;
2. No sentido de uma divergência entre a declaração e a vontade das partes;
3. Com o intuito de enganar terceiros.
Todos estes requisitos têm de ser invocados e provocados por quem pretender prevalecer-
se do regime da simulação. Este acordo entre declarante e declaratário, é muito
importante, até para que se fique prevenido contra uma certa confusão que possa haver do
erro e a simulação, ou da reserva mental e da simulação. A divergência entre a vontade e
a declaração também surge nesta figura como um dado essencial da existência da
simulação. O intuito de enganar terceiros (não confundir com intenção de prejudicar
terceiros, porque o que se passa é que haja criação de uma aparência).
Modalidades de simulação
Uma primeira distinção é a que se estabelece entre simulação inocente, se houve o mero
intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar (“animus decipiendi”); e simulação
fraudulenta, se houver o intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de contornar
qualquer norma da lei (“animus nocendi”). Esta distinção é aludida no art. 242º/1, in fine,
revelando a mesma disposição legal a ausência de interesses civilísticos da referida
dicotomia.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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Outra distinção e a que se faz entre simulação absoluta, as partes fingem celebrar um
negócio jurídico e na realidade não querem nenhum negócio jurídico, há apenas o
negócio simulado e, por detrás dele, nada mais (“colorem habet substantian vero
nullam”); e simulação relativa, as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na
realidade querem um outro negócio jurídico de tipo ou conteúdo diverso.
Pelo art. 241º/2 CC, enquanto o negócio simulado é nulo, e na simulação se não põe mais
nenhum problema, na simulação relativa surge o problema do tratamento a dar ao
negócio dissimulado ou real que fica a descoberto com a nulidade do negócio simulado.
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A simulação objectiva ou sobre o conteúdo do negócio pode ser:
a) Simulação sobre a natureza do objecto: se o negócio ostentivo ou simulado resulta
de uma alteração do tipo negocial corresponde ao negócio dissimulado ou oculto.
b) Simulação de valor: incide sobre o “quantum” de prestações estipuladas entre as
partes
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Uma das simulações mais frequentes é a venda por um preço declarado por um valor
mais baixo que o real para fuga ao fisco.
Os terceiros preferentes não podem evocar boa fé para optarem por um preço inferior ao
real, porque isso equivaleria a enriquecimento estranho ao espírito do legislador.
Prova de simulação
A prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por terceiros é livre, podendo
ser feita por qualquer dos meios admitidos por lei: confissão, documentos, testemunhas,
presunções etc., dado que lei não estabelece qualquer restrições.
Quanto à prova da simulação pelos princípios simuladores, a lei estabelece, quando o
negócio simulado conste de documento autêntico ou particular, a importante restrição
constante do art. 394º/2: não é admissível o recurso à prova testemunhal e,
consequentemente, estão também excluídas as presunções judiciais (art. 351º CC).
Reserva Mental
O art. 244º/1 CC, define reserva mental: (1) emissão de uma declaração contrária à
vontade real; (2) intuito de enganar o declaratário. Os efeitos desta figura são
determinados pelo art. 244º/2 CC, onde se estatui a irrelevância da reserva mental,
excepto se for conhecida do declaratário. Por consequência, a declaração negocial
emitida pelo declarante, com a reserva, ocultada ao declaratário, de não querer o que
declara, não é em princípio nula. Deixará, todavia de ser assim, sendo o negócio nulo,
como na simulação, se o declaratário teve conhecimento da reserva, por desaparecerem
então as razões que justificam aquele princípio geral. Se o declaratário conheceu a
reserva, não há confiança que mereça tutela.
Não bastará para a relevância da reserva, a sua cognoscibilidade, sendo necessário o seu
efectivo conhecimento.
A doutrina estabelecida vale mesmo que só por sua culpa o declaratário desconheça a
reserva, por se entender que o dolo do declarante apaga a culpa da outra parte, e vale
tanto para a chamada reserva inocente como para a reserva fraudulenta.
Mandando aplicar o regime da simulação à reserva conhecida do declaratário, a lei
considerar nula a declaração (art. 240º/2 CC), permite que a nulidade seja arguida pelo
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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próprio declarante em face do declaratário (art. 242º/1 CC), mas já não admite a sua
oponibilidade pelo declarante a terceiros de boa fé (art. 243º/1 CC).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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A hipótese está referida no art. 246º: “se o declarante não tiver consciência de fazer uma
declaração negocial”. Estatui-se que o negócio não produz qualquer efeitos, mesmo que
a falta de consciência da declaração não seja conhecida ou cognoscível da declaratário.
Trata-se dum caso de nulidade, salvo no hipótese de falta de vontade de acção em que
parece estar-se, antes, perante um caso de verdadeira inexistência da declaração. Com
efeito, quando falta a vontade de acção não há um comportamento consciente, voluntário,
reflexo ou, na hipótese de coacção física, absolutamente forçado, embora exteriormente
pareça estar-se perante uma declaração.
Erro
O legislador parte do erro da declaração (art. 247º), regime geral. Admite a validade do
negócio no art. 248º, regula o erro de escrita ou de cálculo no art. 249º e o erro de
transmissão na declaração no art. 250º. Depois o erro vício sobre a pessoa ou objecto (art.
251º), passa a erros sobre os motivos determinantes (art. 252º/1) e conclui com erro de
base do negócio (art. 252º/2).
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· Exige o conhecimento dessa essencialidade pelo declaratário ou o dever de o
declaratário a conhecer.
Quando há desvio na vontade de acção (“lapsus linguae” ou “lapsus calami”; erro
mecânico) ou desvio na vontade negocial (erro juiz). Nestas hipóteses o declarante tem a
consciência de emitir uma declaração negocial, mas, por lapso da actividade ou por
“error in judicando”, não se apercebe de que a declaração tem um conteúdo divergente
da sua vontade real. Por esse motivo fala-se, para estes casos de “erro sobre o conteúdo
da declaração”.
O princípio geral regulador destas hipóteses consta do art. 247º, exigindo-se para a
anulação do negócio que “o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro”.
A lei não exige, porém, o conhecimento ou a cognoscibilidade do erro, admitindo a
anulabilidade em termos excessivamente fáceis e gravosos para a confiança do
declaratário e para a segurança do tráfico jurídico. Contenta-se com o conhecimento ou a
cognoscibilidade da essencialidade do elemento sobre que incidiu o erro, embora este
conhecimento possa não ter suscitado ao declaratário qualquer suspeita ou dúvida acerca
da correspondência entre vontade real e a declarada.
Certas hipóteses merecem tratamento especial, assim:
1. Se o declaratário se apercebeu do dissídio entre a vontade real e a declarada e
conheceu a vontade real (art. 236º/2 CC). As razões que estão na base da doutrina da
declaração – tutela da boa fé do declaratário – não colhem nesta hipótese;
2. Se o declaratário conheceu ou devia ter conhecido o erro, o regime aplicável
continua a ser a anulabilidade e não a nulidade verdadeira e própria.
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Esta hipótese está prevista no art. 250º, que a regulamenta nos mesmos termos do erro-
obstáculo. O erro na transmissão da declaração não tem portanto relevância autónoma
desencadeará o efeito anulatório, apenas nos termos do art. 247º CC.
Estabelece-se uma excepção a este regime geral, no art. 250º/2, admitindo-se a anulação,
sempre que o intermediário emita intencionalmente (com dolo) uma declaração diversa
da vontade do “dominus negotti”. Compreende-se que o declarante suporte o risco de
transmissão defeituosa, de uma deturpação ocorrida enquanto a declaração não chega à
esfera de declaratário, uma adulteração dolosa deve, porém, considerar-se como
extravasando o cálculo normal de risco a cargo do declarante.
Para que o erro seja relevante, exija-se sempre que o declaratário assuma a essência do
motivo:
· Ou porque conhecia o motivo (art. 251º, 252º/2 CC);
· Ou porque havia de o conhecer (art. 251º, 252º/2 CC);
· Ou porque o declaratário reconheceu por acordo como declarante a essencialidade
do motivo (art. 252º/1 CC).
Os requisitos, do erro relativo ao destinatário da declaração seja qual for a modalidade,
tem sempre a intenção de acautelar o interesse do declaratário (na subsistência do
negócio). Traduzem-se numa limitação da relevância invalidaste do erro protegendo
essencialmente a confiança que ao declaratário razoavelmente podia merecer a
declaração.
A declaração vale por si mesma sem ser dirigida ou levada por alguém, a razão de ser
destes requisitos não se leva aos negócios jurídicos recepiendos. Só se põe aos negócios
formais.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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elas na celebração do acto, também determinam os termos concretos do conteúdo do
negócio (art. 437º/1 CC).
Estas circunstâncias têm que ser contemporâneas do negócio ou são passadas, mas não
podem ser futuras.
Este requisito do erro na fase do negócio como erro de vício de marca-o da sua posição.
O erro da base do negócio pode ainda referir-se a quaisquer outras circunstâncias do acto
que ainda sejam relevantes.
Da remissão do art. 252º/2 CC, resulta que o erro sobre a base do negócio é relevante
desde que: (1) incida sobre circunstâncias (patentemente fundamentais) em que as partes
fundaram a decisão de contratar; (2) desde que essas circunstâncias sejam comuns a
ambas as partes; (3) desde que a manutenção do negócio tal como foi celebrado seja
contrária à boa fé.
Se se considerar que o erro sobre a base do negócio é relevante no valor do negócio (há
várias dificuldades de interpretação do art. 252º/2 CC); não se pode sustentar a aplicação
imediata e directa dos arts. 437º e 439º CC. No erro sobre a base porque essa aplicação
directa implicava a imediata razoabilidade do negócio, duas razões:
· Hipótese contemplada no art. 252º/2, é uma hipótese de um verdadeiro erro (vicio
contemporâneo da vontade na formação do acto), a resolução é um instituo adequado à
regulação ou regulamentação de problemas de vicissitudes, contrariedades surgidas
durante a vida do acto – vício genérico do negócio, gera a invalidade.
· O erro sobre a base do negócio, é também um vício na formação da vontade, na
falta de razões que sejam justificativas é razoável admitir uma solução que seja mais
ajustada ao tratamento comum, aos vícios da formação da vontade, impõe a anulabilidade
do negócio.
Deixam em aberto, tudo o mais que é remissão para os arts. 437º e 439º CC.
Se o erro for relevante na base do negócio ou é anulável ou é modificável (se as partes
estiverem de acordo e pode ser pedido por qualquer das partes) devendo essa modificação
ser feita sobre juízos de equidade.
Todo o negócio jurídico tem um conteúdo e um objecto. Conteúdo, é o conjunto de
regras que pode ter celebrado um negócio têm aplicação sobre aquilo que as partes
entenderam dispor. Do conteúdo deve-se distinguir o objecto, isto porque este não tem a
ver com a regulação em si, tem a ver com o “quid” sobre que vai recair essa relação
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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negocial propriamente dita (contrato de compra e venda). O conteúdo de qualquer
negócio analisa-se em dois tipos de elementos:
· Elementos normativos: são aqueles que correspondem às regras que são aplicáveis
para efeitos da lei. Dentro destes tem-se os injuntivos, fixados na lei; os supletivos,
fixados na lei caso as partes não se pronunciarem sobre eles, mas que as partes tem
liberdade de alterar.
· Elementos voluntários: tem a ver com as regras combinadas entre as partes. Aqui
ainda se tem, os necessários, são aqueles factores que embora estejam da disponibilidade
das partes têm de estar fixados no contrato; os eventuais, as partes só os incluem se as
partes assim o quiserem.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
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b) Eventuais injustiça, derivadas de uma desvinculação posterior de uma parte do
negócio, com fundamento em nulidade por vício de forma, apesar de essa parte ter
querido efectivamente o acto jurídico negociável.
Ponderando as vantagens e inconvenientes do formalismo negocial, sancionou o Código
Civil (art. 219º) o princípio da liberdade de forma ou da consensualidade. Considerando,
quanto a certos negócios, prevalecerem as vantagens sobre os inconvenientes, admitiu,
porém, numerosas e importantes excepções a esse princípio.
O formalismo exigível para um certo negócio pode ser imposto por lei (forma legal) ou
resultar de uma estipulação ou negócio jurídico das partes (forma convencional).
O reconhecimento das estipulações das partes sobre forma do negócio não significa que
os particulares possam afastar, por acordo, as normas legais que exigem requisitos
formais para certos actos, pois trata-se de normas imperativas. O reconhecimento da
forma convencional significa apenas, poderem as partes exigir determinados requisitos
para um acto, pertencente a um tipo negocial que a lei regula como não formal ou sujeita
a um formalismo menos solene.
O negócio dirigido à fixação de uma forma especial para um ulterior negócio não está
sujeito a formalidades (art. 223º CC). O Código Civil consagrou a regra dos pactos
abolitivos ou extintivos, na medida em que estatui, em princípio, que as estipulações
acessórias anteriores ao negócio ou contemporâneas dele devem revestir a forma exigida
pela lei para o acto, sob pena de nulidade (art. 221º). Admite-se contudo, na mesma
disposição, restrições a este princípio. Reconhece-se a validade de estipulações verbais
anteriores ao documento exigido para a declaração negocial ou contemporâneas dele,
desde que se se verifiquem, cumulativamente, as condições:
a) Que se trate de cláusulas acessórias;
b) Que não sejam abrangidas pela razão de ser da exigência do documento;
c) Que se prove que correspondem à vontade das partes.
A possibilidade de as estipulações acessórias não formalizadas, a que se refere o art. 221º,
produzirem efeitos é bem menos do que “prima facie” pode parecer. Isto dado disposto
no art. 394º que declara inadmissível a prova por testemunhas, se tiver por objecto
convenções contrárias ou adicionais ao conteúdo de documentos autênticos ou
particulares.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
191
191
191
Quanto aos pactos modificativos e aos pactos extintivos ou abolitivos o art. 221º/2,
dispensa-os de forma legal prescrita para a declaração, se as razões da exigência especial
da lei não lhes forem aplicáveis.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
192
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192
Para além daquelas divergências, existem ainda os vícios da vontade.
Estes situam-se no elemento interno da declaração e são 5:
Vícios da vontade
Trata-se de perturbações do processo formativo da vontade, operando de tal modo que
esta, embora concorde com a declaração, é determinada por motivos anómalos e
valorados, pelo Direito, como ilegítimos. A vontade não se formulou de um “modo
julgado normal e são”. São vícios da vontade:
- Erro;
- Dolo;
- Coacção
- Medo;
- Incapacidade acidental.
A consequência destes vícios traduz-se na invalidação do negócio, tendo para isso os
vícios de revestir-se de certos requisitos. Quando esses vícios são relevantes, geram a
anulabilidade do respectivo negócio.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
193
193
193
Erro com o vício da vontade: noção
O erro-vício traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma qualquer
circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efectuar o
negócio.
Tem as seguintes categorias:
a) Erro sobre a pessoa do declaratário: resulta do texto da lei respeitando ao facto de
estar apenas em causa a pessoas do declaratário. Se se referir a outras pessoas declarantes
já se aplica o art. 252º/1 CC. O erro pode referir-se à sua entidade, a qualquer qualidade
jurídica ou que não concorra na pessoa do declaratário, quaisquer outras circunstâncias.
b) Erro sobre o objecto do negócio: deve aceitar-se que ele abrange o objecto material
como jurídico (conteúdo), o erro aqui relevante quando relativo ao erro material reporta-
se à entidade ou às qualidades objectivas (art. 251º -247º);
Dolo: conceito
O dolo tem uma dupla concepção completamente distinta, pode ser:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
194
194
194
- Uma sugestão ou artifício usados com o fim de enganar o autor da declaração (art.
253º/1 CC);
- A modalidade mais grave de culpa é a contraposta à mera culpa ou também
negligência (art. 483º/1 CC).
Em Direito Civil, o que está em causa é a primeira acepção. O dolo dá lugar a uma
espécie agravada de erro, porque o dolo é erro provocado.
A noção de dolo consta do art. 253º/1. Trata-se dum erro determinado por um certo
comportamento da outra parte. Só existirá dolo, quando se verifique o emprego de
qualquer sugestão ou artifício com a intenção ou a consciência de induzir ou manter em
erro o autor da declaração (dolo positivo ou comissivo), ou quando tenha lugar a
dissimulação, pelo declaratário ou por terceiro, do erro do declarante (dolo negativo,
omissivo ou de consciência).
A relevância do dolo depende da sistematização colhida pela doutrina e jurisprudência,
depende de três factores:
1. Que o declarante esteja em erro;
2. Que o erro tenha sido causado ou tenha sido dissimulado pelo declaratário ou
terceiros;
3. Que o declaratário ou terceiro haja recorrido a qualquer artifício, sugestão ou
embuste.
Para Castro Mendes, “a relevância do dolo depende de uma dupla causalidade, é preciso
que, primeiro, o dolo seja determinante do erro, e que esse erro (segundo) seja
determinante do negócio”.
Modalidades
a) Dolo positivo e dolo negativo (art. 253º/1 CC);
b) “Dolus bonus” e “dolus malus”: só é relevante, como fundamento da
anulabilidade, o “dolus malus”. A lei tolera a simples astucia, reputada legítima pelas
concepções imperantes num certo sector negocial. A lei declara não constituírem dolo
ilícito sendo, portanto, “dolus bonus”, as sugestões ou artifícios usuais, considerandos
legítimos, segundo as concepções dominantes no comércio jurídico (art. 253º/2 CC);
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
195
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c) Dolo inocente, há mero intuito enganatório, dolo fraudulento, há o intuito ou a
consciência de prejudicar.
d) Dolo proveniente do declaratário e dolo proveniente de terceiro: para a relevância
do dolo de terceiro, são exigidas certas condições suplementares que devem acrescer às
do dolo de declaratário e o seu efeito é mais restrito. Existirá, não apenas dolo de terceiro,
mas também dolo do declaratário, se este for cúmplice daquele, conhecer ou dever
conhecer a actuação de terceiros (art. 254º/2 CC).
e) Dolo essencial ou determinante, o enganado (“deceptus”) foi induzido pelo dolo a
concluir o negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído, sem dolo
não se teria concluído qualquer negócio; dolo incidental, “deceptus” apenas foi
influenciado, quanto aos termos do negócio, pois sempre, contrataria, embora noutras
condições.
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Diz-se quando é provocado por dolo relevante (art. 253º/1 CC):
· A conduta dolosa deve provir de declaratário ou de terceiro (art. 253º/1 CC),
embora o regime do dolo não é diferente da pessoa do autor do dolo;
· O autor do dolo é o decpetor, o contraente – enganado – o decepto.
A noção de dolo contida no art. 253º, é muito ampla, mas à a destacar as diversas formas
em que o dolo se apresenta. Compreende:
1. Condutas positivas intencionais, que sobre qualquer forma de artifício ou sugestão
visem um dos seguintes fins:
a) Fazer cair alguém em erro;
b) Manter o erro em alguém que se encontre;
c) O encobrir o erro em que alguém se encontre.
2. Condutas positivas não intencionais, com as características e os fins mencionados
atrás, desde que o decpetor tenha a consciência que através delas está a prosseguir esses
fins.
3. Condutas omissivas que constituam em não esclarecer o declarante do seu erro.
A coacção: conceito
Consta do art. 255º/1, e consiste no “receio de um mal de que o declarante foi
ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração”. É, portanto, a perturbação
da vontade, traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um dano (de um mal),
cominada com o intuito de extorquir a declaração negocial.
Só há vício da vontade, quando a liberdade do coacto não foi totalmente excluída, quando
lhe foram deixadas possibilidade de escolha, embora a submissão á ameaça fosse a única
escolha normal.
Só se cairá no âmbito da coacção física (absoluta ou ablativa), quando a liberdade
exterior do coacto é totalmente excluída e este é utilizado como puro autómato ou
instrumento.
A coacção moral origina a anulabilidade do negócio (art. 256º CC) e dá lugar igualmente
á responsabilidade pré-negocial do coactor (art. 227º CC). Verifica-se a anulabilidade, e
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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não a nulidade, mesmo que o coacto tenha procedido com reserva mental, ao emitir a
declaração.
São necessários três elementos, cumulativamente, para que exista coacção moral:
1. Ameaça de um mal, todo o comando do coactor que consta em desencadear o mal
ou consiste no mal já iniciado. Este mal pode respeitar á pessoa do coagido (há sua
honra) e ao seu património, pode ainda haver ameaça relevante se respeitar à pessoa,
património deste ou de terceiro.
2. Ilicitude da ameaça, a existência deste requisito vem duplamente estabelecida na
lei (art. 255º/1 e 255º/3 CC), se a ameaça se traduz na prática de um acto ilícito, está-se
perante coacção, constitui coacção, o exercício normal do direito (n.º 3).
3. Intencionalidade da ameaça, consiste em o coactor com a ameaça tem em vista
obter do coagido a declaração negocial (art. 255º/1 CC), esta ameaça deve ser
cominatória, este requisito da intencionalidade falta de o coagido emitir outra declaração
que não aquela que a ameaça se dirigia.
Para que exista moral relevante (coacção anulatória do negócio) é necessário dos
elementos referidos:
- Requisitos da casualidade ou essencialidade, dupla casualidade, medo, este
provocado por coacção moral e esta casualidade apresenta-se num duplo plano, é
necessário que o medo resulte da ameaça do mal e por outro lado, o medo causado pela
ameaça há-de ser a causa da declaração.
- Não é requisito de relevância da coacção a existência de prejuízo para o coagido.
- No regime de relevância deste vício há que distinguir se a coacção vem do
declaratário ou de terceiro (art. 256º CC, à contrario).
A coacção constitui um acto ilícito, geral tal como o dolo.
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poder funcional. O temor reverencial é irrelevante porque não haveria nunca ameaça
ilícita, porque a conduta do pertenço coactor, mais não é o exercício normal desse poder.
Deixará de haver simples temor reverencial se exceder no exercício do poder que lhe é
atribuído.
Medo
O que está em causa é a própria liberdade de libertação do declarante que fica afectada.
Consiste na intervenção, no processo de formação da vontade de um factor (que é uma
precisão), faz com que o declarante queira algo que de outro modo não queria.
Não há uma exclusão da vontade, mas há uma vontade formada de modo viciado. Em
sentido jurídico do termo, pode-se dizer que quem age condicionado por medo, quer ter
aquela conduta que adoptou, mas que essa pessoa não queria esse tipo de conduta se não
fosse o receio de que contra o declarante viesse a surgir um mal se ele não agisse daquela
maneira.
“Coactus tamén voluit” (o coagir também quer). Esta construção jurídica do medo é
menos nítida que no erro, porque há situações em que não se pode excluir que com essa
situação de medo não estar também uma certa reserva mental.
No caso do medo. Só faz sentido se ele resultar de coacção moral, o declarante finge
querer o negócio para fazer cessar a violência ou para impedir ou cessar a ameaça de algo
que ele realmente não quer.
No medo, há sempre a previsão de um dano que provém da consequência de um mal que
ameaça o declarante emitindo uma declaração para impedir que o dano se concretize.
Como consequência, a sua vontade está viciada, porque ele não agiu livremente, mas
dominado por aquela previsão de dano. Este medo não é uma emoção psicológica, mas
verifica-se o medo quando o agente pondera o risco da ameaça do mal.
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Incapacidade Acidental
A hipótese está prevista no art. 257º CC, onde se prescreve a anulabilidade, desde que se
verifique o requisito (além da incapacidade acidental) destinado à tutela da confiança do
declaratário a notoriedade ou o conhecimento da perturbação psíquica.
Para se conseguir a anulação de uma declaração negocial, com base neste preceito é
necessário:
a) Que o autor da declaração, no momento em que a fez, se encontrava, ou por
anomalia psíquica, ou por qualquer outra causa em condições psíquicas tais que não lhe
permitiam o entendimento do acto que praticou ou o livre exercício da sua vontade.
b) Que esse estado psíquico era notório ou conhecido do declaratário.
Estado de Necessidade
Situação de receio ou temor gerada por um grave perigo que determinará o necessitado a
celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra.
A hipótese dos negócios em estado de necessitado deve subsumir-se na previsão do art.
282º, onde se estatui a anulabilidade dos chamados negócios usurários. Devem verificar-
se os requisitos objectivos: benefícios excessivos ou injustificativos, tem de haver uma
desproporção manifesta entre as prestações.
Devem igualmente, verificar-se requisitos subjectivos, a saber:
1. Exploração de situações tipificadas, que não é excluída pelo facto de a iniciativa do
negócio provir do lesado;
2. Uma situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental
ou fraqueza de carácter.
A anulabilidade, prescrita no art. 282º, pode porém, a requerimento do necessitado ou na
parte contrária, ser substituída (art. 283º CC) pela notificação do negócio, segundo juízos
de equidade (redutibilidade).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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A. Vícios na Formação da Vontade
a) Ausência de vontade:
- Coacção física (art. 246º CC);
- Falta de consciência da declaração (art. 246º CC);
- Incapacidade acidental (art. 257º CC).
b) Vontade deficiente:
- Por falta de liberdade (coacção moral - arts. 255º e segs. CC);
- Por falta de conhecimento (erro-vício, arts. 251º, 252º, 253º CC);
- Por ambos (incapacidade acidental - art. 257º CC em parte)
a) Divergências intencionais:
- Simulação (art. 240º e segs. CC);
- Reserva mental (art. 244º e segs. CC);
- Declarações não sérias (art. 245º CC).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Figuras Jurídicas
Divergências entre a vontade e a declaração
Divergências Intencionais
Falta e vício da vontade
Artigo 240 CC
O Sr. A não doou a casa que possui. Vendeu a casa ao Sr. B. (existe aqui 1 acordo
simulatório entre o Sr. A e o Sr. C)
O Sr. B comprou a casa ao Sr. A. (Há vontade de enganar o Sr. B)
Declararam uma doação, por escritura pública, e o que houve foi uma compra e
venda verbal. (Existe divergência entre a vontade real – doação – e a vontade declara –
compra e venda)
Concluindo:
Este negócio jurídico está ferido por SIMULAÇÃO RELATIVA e é portanto NULO, de
acordo com o artigo 241º do CC e ainda de acordo com o artigo 220º também do CC não
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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obedeceu à forma legal, ou seja foi feita uma escritura de doação quando devia ter sido
feita compra e venda.
Exemplo 2:
O Sr. A está cheio de dívidas, e os credores não o largam.
O Sr. A possui 1 terreno e receia que os credores o penhorem.
Para tentar retirar o dito terreno da sua esfera jurídica, o Sr. A fala com 1 amigo de longa
data, em quem tem uma confiança ilimitada, e combinam fazer 1 escritura em que o Sr.
A vende o terreno em causa ao amigo que o compra (fazem isto para enganar os
credores, é a chamada venda fantástica). O terreno agora “vendido” ao amigo, de que o
Sr. A não recebe qualquer valor, será, passados alguns anos “vendido” novamente ao Sr.
A pelo amigo, conforme fora combinado.
O Sr. A não vendeu o terreno que possui ao amigo. (existe aqui 1 acordo simulatório
entre o Sr. A e o amigo)
O amigo não comprou o terreno ao Sr. A. (Há vontade de enganar terceiros, os
Credores)
Declararam uma compra e venda, por escritura pública, e não houve compra e
venda verbal. (Existe aqui uma simulação absoluta - 1 só negócio – artigo 240º CC)
Concluindo:
Este negócio jurídico está ferido por SIMULAÇÃO ABSOLUTA e é portanto NULO, de
acordo com o artigo 240º do CC.
Interposição fictícia do
sujeito
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Relativa – Artigo 241º CC Sob a natureza do negócio
Objectiva
Sob o valor
Reserva mental
Exemplo:
A doa 1 quinta a B. C é sobrinho de A e vive com a de que cuida.
A não quer morrer sem doar a quinta a B, por quem o primeiro tem muita estima, mas
receia que o sobrinho, C, possa ficar ofendido.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
204
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Para melindrar o sobrinho, C, o A faz 1 venda fictícia a B (venda dissimulada) a (doação
é real). Temos aqui 1 simulação inocente.
Neste caso a venda é nula porque é simulada, mas a doação é valida – existe 1 vício de
forma, porque não houve escritura de doação mas sim de venda.
No dia seguinte à anulação do negócio simulado, o A faz 1 escritura de doação a favor de
B.
1º. Declaração contrária à vontade
2º. Intuito de enganar o declaratário
Alguém emitir 1 declaração que não corresponde à sua vontade, com intuito de enganar o
declaratário.
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À relação normal de concordância substitui-se uma relação patológica. Está-se perante
um vício da formulação da vontade.
Esse dissídio ou divergência entre vontade real e a declaração, entre “querido” e o
“declarado”, pode ser uma divergência intencional, quando o declarante emite,
consciente e livremente uma declaração com um sentido objectivo diverso da sua vontade
real. Está-se perante uma divergência não intencional, quando o dissídio em apreço é
involuntária (porque o declarante se não apercebe da divergência ou porque é forçado
irresistivelmente a emitir uma declaração divergente do seu real intento).
A divergência intencional pode apresentar-se sob uma de três formas principais:
a) Simulação: o declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade
real, por força de um conluio com o declaratário, com a intenção de enganar terceiros.
b) Reserva mental: o declarante emite uma declaração não coincidente com a sua
vontade real, sem qualquer conluio com o declaratário, visando precisamente enganar
este.
c) Declarações não sérias: o declarante emite uma declaração não coincidente com a
sua vontade real, mas sem intuito de enganar qualquer pessoa (declaratário ou terceiro).
O autor da declaração está convencido que o declaratário se apercebe do carácter não
sério da declaração. Pode tratar-se de declarações jocosas, didácticas, cénicas,
publicitárias, etc.…
A divergência não intencional pode consistir:
· Erro-obstáculo ou na declaração: o declarante emite a declaração divergente da
vontade, sem ter consciência dessa falta de coincidência.
· Na falta de consciência da declaração: o declarante emite uma declaração sem
sequer ter consciência (a vontade) de fazer uma declaração negocial, podendo até faltar
completamente a vontade de agir.
· Coacção física ou violência absoluta: o declarante é transformado num autómato,
sendo forçado a dizer ou escrever o que não quer, não através de uma mera ameaça mas
por força do emprego de uma força física irresistível que o instrumentaliza e leva a
adoptar o comportamento.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
206
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Teorias que visam resolver o problema da divergência entre a vontade e a
declaração
a) Teoria da vontade: propugna a invalidade do negócio (não vale nem a vontade real
nem a declarada), desde que se verifique uma divergência entre a vontade e a declaração
e sem necessidade de mais requisitos.
b) Teoria da culpa “in cotrahendo”: parte da teoria da vontade, mas acrescenta-lhe a
obrigação de indemnizar a cargo do declarante, uma vez anulado o negócio com
fundamento na divergência, se houve dolo ou culpa deste no dissídio entre a vontade e a
declaração e houve boa fé por parte do declaratário; a indemnização visa cobrar o
chamado interesse contratual negativo ou interesse da confiança, isto é, visa repor o
declaratário, lesado com a invalidade, na situação em que estaria se não tivesse chegado a
concluir o negócio.
c) Teoria da responsabilidade: enquanto a teoria da vontade arranca da consideração
de que a essência do negócio está apenas na vontade do declarante (dogma da vontade), a
teoria da declaração, embora de modo diverso, em conformidade com as suas
modalidades, dá relevo fundamental à declaração, ou seja, ao que foi exteriormente
manifestado. Comporta diversas modalidades:
1) Modalidade primitiva e externa, características dos direitos formalistas onde se
consagra uma adesão rígida à expressão literal – se a forma ritual foi observada,
produzem-se certos efeitos, mesmo que não tenham sido queridos.
2) As modalidades modernas e atenuadas, em particular a doutrina da confiança, a
divergência entre a vontade real e o sentido objectivo da declaração, isto é, o que um
declaratário razoável lhe atribuíra, só produz a invalidade do negócio se for conhecida ou
cognoscível do declaratário.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Outra modalidade de erro – erro na declaração
O regime que aqui se aplica é o do 247º - são negócios anuláveis desde que….
1. Erro vício
O erro que pode incidir sobre a pessoa do declaratório ou sobre o objecto de negócio –
251º
Erro residual – erro sobre os motivos – 252º
Erro vício – erro na formação da vontade, a decisão é viciada, normalmente por
ignorância. A pessoa convence-se de algo que não é assim.
2. Dolo – 253º
O declarante é enganado
Pode ser:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Positivo – quando exista sugestão ou artifício com intenção de induzir ou manter uma
pessoa em erro;
Negativo – Dissimulação do erro do declarante. O declarante não é esclarecido, o
declaratário mantém-se em silêncio.
O dolo negativo pode também ser lícito, isto acontece quando o declaratário não tem
obrigação de esclarecer o declarante.
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Este tipo de exploração é muito próxima da coacção moral.
Não decorre da coacção (não foi “obrigado” a….) mas da exploração do estado de
necessidade, aflição de alguém.
Nota: ineficácia relativa – o negócio é valido, mas vale para o representante e não para
o representado. A ratificação sana a não representação à priori.
Objecto negocial – bem, sobre que incide os poderes do titular activo da relação
jurídica. O “quid”
Determinabilidade
Possibilidade física
Possibilidade legal
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Não contrariedade à ordem pública – princípios fundamentais da ordem
jurídica que devem prevalecer em todos os negócios jurídicos e que estão
plasmados na CRP
Nota: Cláusulas acessórias do negócio jurídico e cláusulas de termo – não vão ser
estudadas.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Nota: requisitos essenciais dos negócios jurídicos:
Capacidade das partes de gozo e de exercício; legitimidade das partes (ligação entre sujeito e
acto), ex. Ilegitimidades conjugais e venda de coisa alheia; idoneidade do objecto (art.280º);
declarações negociais sem anomalias, sem vícios e sem divergências.
Outras formas de cessação dos efeitos negociais (de negócios existentes, válidos e
eficazes):
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Nota:
Divergências – simulação; reserva mental; declaração não séria intencional; coacção física;
falta de consciência e erro na declaração.
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Princípio da liberdade de contratar:
2 . Principio da boa fé
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3. Principio da propriedade privada
Direitos Reais:
1. Direito de propriedade – poderes indeterminados com excepção dos poderes
que a lei expressamente proíbe. Incide sobre os nossos bens, adquiridos
porque compramos, por doação ou sucessão. É um poder amplo com
algumas limitações. É um direito perpétuo ainda que os proprietários não
façam uso dele.
2. Direitos reais limitados – de gozo (usufruto, uso e habitação, direito de
superfície, servidão predial, time-sharing – direito real e habitação
periódica); de garantia (consignação de rendimentos, penhora, hipoteca,
privilégios executórios especiais, direito de retenção); de aquisição (contrato
de promessa com eficácia real – art.413º e direito de preferência com eficácia
real – art421º)
Os direitos reais conferem ao seu titular um poder directo ou imediato sobre uma
coisa.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
215
215
215
Direitos Reais (direito real máximo)
Direito de superfície
Direitos Limitados de gozo Usufruto
reais
Direitos reais Uso e habitação
Limitados
Direito de servidão
Limitados de garantia
Limitados de aquisição
216
216
216
Ver no Código Civil – Livro III – Direito das Coisas - da página 341 a 352
Direito de Usufruto
Privilégios creditórios
Direito de Retenção
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
217
217
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Direitos Reais:
Os direitos reais conferem ao seu titular um poder directo ou imediato sobre uma
coisa.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
218
218
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Limitados de garantia Consignação de rendimento
Capítulo VI – Livro II Penhor (bens móveis)
Privilégios creditórios
Direito de Retenção
a. Sanções jurídicas
Quando a violação se destina a projectar os seus efeitos antes de mais na ordem jurídica,
a norma tem um processo simples de reagir: nega estes efeitos, total ou parcialmente.
Assim, A quer celebrar um acordo com B pelo este comete um crime. Pretende que, com
esse acordo, B fique vinculado á prestação em que se comprometeu. A reacção da ordem
jurídica é simples: não considera o referido acordo vinculativo (artigo 280º, nº 1 do
código Civil).
Estas sanções que se projectam fundamentalmente no plano jurídico, chamam-se
sanções jurídicas.
2. As sanções matérias têm o seu aspecto jurídico – se A partir um vidro a B,
culposamente, antes do mais verifica-se que na esfera jurídica de A surge o dever de o
pagar. Mas claro que este dever é instrumental – a reintegração dar – se – á quando o
vidro estiver posto ou for pago a B.
As sanções jurídicas destinam-se (como todo o jurídico) a produzir efeito práticos,
porem aqui o plano relevante é o jurídico. Se A acordar com B cometer um crime contra
50000S00, este acordo nada vale, e com isto provavelmente virá a suceder que
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
219
219
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efectivamen1te os 50000S00 não mudem de mãos. Mas agora a sanção é: o acordo nada
vale.
3. Com as sanções jurídicas, verifica – se um fenómeno que já atras salientamos: é que o
termo sanção se alarga ate um sentido lato (em rigor, improprio), no qual abrange as
desvantagens resultantes de não dar seguimento a normais técnicas. É neste sentido que
passaremos a explorar o conteúdo do conceito de sanção jurídica.
4. A sanção jurídica surge-nos quando com a violação se pretendiam efeitos jurídicos.
Ora bem, estamos no domínio dos actos com os quais se pretendem efeitos jurídicos, e
estes tem na linguagem do direito o nome de negócios jurídicos.
A principal sanção dos negócios jurídicos ilícitos ou ilegais é a invalidade – não
produção de efeitos jurídicos, pelo menos daqueles que as partes queriam que o negócio
produzisse.
A invalidade apresenta duas formas principais, que antigamente se chamavam nulidade
absoluta e nulidade relativa e que hoje, no nosso código civil actual, se denominam
nulidade e anualidade (cfr. No código civil, Seccao III, “Nulidade e anulabilidade do
negocio jurídico” artigo 285ºe seguintes).
A nulidade verifica-se quando o acto não produz efeitos jurídicos, pelo menos aqueles
que as partes quereriam que produzisse.
A anualidade ópera de maneira diferente: os efeitos jurídicos produzem-se mas ficam á
merce de uma das partes, que tem o direito de anular o negócio, seja, de destruir esses
efeitos retroactivamente.
A nulidade resulta fundamentalmente dos seguintes vícios do acto:
- Vícios de forma – código civil, artigo 220.º; ”A declaração negocial que careca da
forma legalmente prescrita é nula, quando outra não seja a sancao especialmente prevista
na lei”.
- Vícios de objecto – código Civil, artigo 280.º nº1. É nulo o negócio jurídico cujo
objecto seja física ou legalmente impossível, contrario á lei ou indeterminável. nº 2 é nulo
o negócio contrário á ordem público, ou ofensivo dos bons costumes;
- Falta de vontade – código civil, artigos 240º. nº 2, 245º e 246º.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
220
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- Contrariedade á lei – código Civil, 294º. “ Os negócios Juridicos celebrados contra
disposição legal de caracter imperativo são nulos, salvo nos casos em que outra solução
resulte da lei”.
A anulabilidade decorre principalmente dos seguintes factores:
- Incapacidade do agente – Código Civil, artigo 125º;
- Vícios da vontade, dos quais se distingue:
Erro (artigos 249º, 251ºe 252º do Código Civil);
Dolo (artigo 253º. Do código Civil);
Coação (artigo 255º do Código);
Incapacidade acidental (artigo 257º do Código Civil).
Assim, se duas pessoas compram e vendem entre si verbalmente um imóvel, este acto não
produz efeitos nenhuns.
Suponhamos agora que A compra x a B, mas este o enganou (dolo – por exemplo,
convenceu-o de que x é ouro quando é latão) ou ameaçou de morte se não comprasse
(coacção moral). Neste caso a lei não estatui a nulidade do acto (que colocaria A e B no
mesmo plano). Estabelece uma nulidade condicionada pela vontade de A. A faz o que
quiser do Acto:
Mantem-no ou destrói-o retroactivamente. B tem de se submeter num caso ou outro.
O primeiro caso é de nulidade (Código Civil, artigo 285º e 286º.), o segundo de
anulabilidade (artigos 287º e 288ºdo mesmo Código).
70
Consideram-se incluídas na orgânica do Estado todas as restantes pessoas colectivas que exercem
prerrogativas de autoridade, como as autarquias locais (Constituição, art. 237 e seguintes) ou os institutos
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
221
221
221
Houve autores para quem a distinção entre direito constitucional e direito administrativo
se faria do seguinte modo: o direito constitucional regula a estática da organização
estadual, o administrativo a dinâmica. A tendência não frutificou.
A distinção entre o direito constitucional e o direito administrativo reside na distinção
entre órgãos superiores do Estado e órgãos de mera execução ou aplicação. O direito
administrativo regula a prossecução de interesses públicos, através do exercício de
prorrogativas de autoridade (visto que se trata de direito publico), por estes órgãos
execução direito administrativo.71
públicos; e ainda as categorias pessoas com relevância constitucional, embora não personificadas, como
as Forcas Armadas (Constituição, art 273 e seguintes)
71
O Prof. Marcello Caetano define direito administrativo como:” o sistema das normas jurídicas que
regulam a organização e o processo próprio de agir da Administração Publica e disciplinam as relações
pelas quais ela prossiga interesses colectivos podendo usar de iniciativas e do privilégio da execução
previa, Manual de Direito Administrativo”, 1,10.ª ed., p. 43.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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222
administrativo, ou seja, a existência de uma jurisdição administrativa especializada e a
submissão da administração a umas regras diferentes daqueles do direito privado72.
72
WELL, Prosper, O Direito Administrativo , op, cit., pp.4 e ss.
73
CISTAC, Gilles, Curso de Direito…, op. Cit., p. 13.
74
MACIE, Albano, licoes de Direito…, op. Cit., p. 49.
75
Alfredo, Principi di diritto commerciale, apud CRETELIA JUNIOR, José, Direito Administrativo…, op. Cit.,
p.8.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
223
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223
importa para a autonomia de um ramo de conhecimento é objecto, institutos, método é
princípios próprios76, para além de uma elaboração legislativa própria.
A autonomia do Direito Administrativo é marcada decisivamente no ano de 1873, pelo
Tribunal de Conflitos de Paris, no famoso caso Agnés «BLANCO», com o voto do
Conselheiro DAVID. O caso deu-se, no dia 8 de Fevereiro de 1873, da seguinte maneira:
a menina Agnés BLANCO foi atropelada por comboio público (trem), pertencente a uma
companhia de manufactura de fumo (tabaco), que tem grande semelhança com uma
indústria privada, mas de natureza pública. A família solicitou a responsabilidade do
Estado pelos danos causados (amputação dos dois membros inferiores).
76
Nestes termos, Idem.
77
MOREIRA, Joao Batista Gomes, Direito Administrativo…, op. Cit., p. 125.
78
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
224
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224
Princípio geral do Direito, persistindo a omissão, aplica-se a fundação de
substituição prevista no artigo 3 do Código Civil, criando, desta feita, o intérprete
a norma dentro do espirito do sistema, se houvesse de legislar e nunca o recurso
ao Direito privado, como tal.
A lei pode ser definida em vários sentidos. Porem, no seu sentido formal, são
todas as disposições geras e abstractas, com características de obrigatoriedade,
impossealidade, precisão, certeza, fixidez, coercibilidade, permanência, unidade e
novidade, provindas da Assembleia da Republica ou do poder legislativo.
No sentido material, tas disposições, viram de todos os órgãos com poder de
editar normas gerais e abstractas. Assim, inclui-se a própria lei em sentido formal,
as normas provindas do poder executivo, das autarquias locais, etc. em conclusão,
inclui a lei constitucional,ordinária, decretos- lei e os regulamentos no seu sentido
amplo.
79
MACIE, Albano, lições de Direito…, op. Cit., p. 51.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Assim, a lei administrativa não é qualquer lei aplicável as relações travadas por
órgãos da Administração, apenas aquela que confere poderes de autoridade para
ao prosseguimento do interesse publico, disciplina o seu exercício ou organiza os
meios necessários para esse efeito.
As convenções internacionais
Comecemos com o artigo 18 da Constituição, que conclusões tirar deste artigo?
Primeiro, são dois os grupos de normas internacionais, nomeadamente, os tratados
que são ratificados pela Assembleia da Republica (alíneas t), do n° 2 artigo 179),
e os acordos internacionais que são ratificados pelo Governo (alíneas g) do n° 1
do artigo 204).
Segundo, os tratados tem, na ordem jurídica, o mesmo valor que as leis ordinárias
e os acordos o mesmo valor que o regulamento ou decretos do conselho de
Ministros,
Assim, desde que devidamente ratificadas e publicadas e conterem preceitos para
cuja aplicação sejam competentes os órgão administrativos, as convenções
internacionais impõe-se á Administracao Publica.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Caracteres do Direito Administrativo
O Direito Administrativo é ao mesmo tempo, um meio de afirmação do poder, conferindo
prerrogativas de autoridades á Administração Publica e um meio de afirmação dos
direitos subjectivos e interesses legítimos dos administrados. Esta afirmação dos direitos
dos cidadãos ocorre quando a Administração Publica é sujeita a um conjunto de
restrições e limitações na sua actuação. É assim que a Administracao Publica, na sua
actuação, deve procurar harmonizar as exigências da acção administrativa com os direitos
subjacentes e interesses legítimos dos particulares 80. Não é por acaso que a Lei n.ᵒ
9/2001, de 7 de 7 de Julho, no seu publico e o direito dos administrados, quando esteja
em jogo a decretação da suspensão de eficácia de actos administrativos, nomeadamente,
que: «(…) a) a execução do acto seja susceptível de causar prejuízo irreparável ou de
difícil reparação para o requerente (…); b) a suspensão não representa grave lesão do
interesse pública concretamente prosseguido (…);
Feita esta caracterização geral, podemos dizer que os traços essenciais do Direito,
Administrativo, pátrio são os seguintes regime jurídico, desequilíbrio, jurisprudencial e
difícil de estudo81.
80
Cfr. FREITAS DO AMORAL, Diogo, Curso…, Vol I, op. Cit., p. 161.
81
Cfr. FREITAS DO AMORAL, Diogo, Curso…, Vol I, op. Cit., p. 161
82
CAETANO, Marcello, Manual de Direito Administrativo, Vol. I, Coimbra, p.15.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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28. O direito administrativo como ramo de direito
A Administração Pública está subordinada à lei. E está também, por outro lado
subordinada à justiça, aos Tribunais. Isso coloca o problema de saber como se relacionam
estes conceitos de Administração Pública e directa.
Para haver Direito Administrativo, é necessário que se verifiquem duas condições: em
primeiro lugar, que a Administração Pública e actividade administrativa sejam reguladas
por normas jurídicas propriamente ditas, isto é, por normas de carácter obrigatório; em
segundo lugar, que essas normas jurídicas sejam distintas daquelas que regulam as
relações privadas dos cidadãos entre si.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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28.3. O Direito Administrativo como Direito Público
O Direito Administrativo é, na ordem jurídica portuguesa, um ramo de Direito Público. E
é um ramo de Direito Público, qualquer que seja o critério adoptado para distinguir o
Direito Público de Direito Privado.
Se se adoptar o critério do interesse, o Direito Administrativo é Direito Público, porque
as normas de Direito Administrativo são estabelecidas tendo em vista a prossecução do
interesse colectivo, e destinam-se justamente a permitir que esse interesse colectivo seja
realizado.
Se se adoptar o critério dos sujeitos, o Direito Administrativo é Direito Público, porque
os sujeitos de Direito que compõem a administração são todos eles, sujeitos de Direito
Público, entidades públicas ou como também se diz, pessoas colectivas públicas.
Se, enfim, se adoptar o critério dos poderes de autoridade, também o Direito
Administrativo é o Direito Público porque a actuação da administração surge investida de
poderes de autoridade.
83
MACIE, Albano, licoes de Direito…, op. Cit., p. 47.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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dedicados ao exercício da função jurisdicional. A separação das funções tem de traduzir-
se numa separação de órgãos.
2) A incompatibilidade das magistraturas: não basta porém, que haja órgãos diferentes: é
necessário estabelecer, além disso, que nenhuma pessoa possa simultaneamente
desempenhar funções em órgãos administrativos e judiciais.
3) A independência recíproca da Administração e da Justiça: a autoridade administrativa
é independente da judiciária: uma delas não pode sobrestar na acção da outra, nem pode
pôr-lhe embaraço ou limite. Este princípio, desdobra-se por sua vez, em dois aspectos: (a)
independência da Justiça perante a Administração, significa ele que a autoridade
administrativa não pode dar ordens à autoridade judiciária, nem pode invadir a sua esfera
de jurisdição: a Administração Pública não pode dar ordens aos Tribunais, nem pode
decidir questões de competência dos Tribunais. Para assegurar este princípio, existem
dois mecanismos jurídicos: o sistema de garantias da independência da magistratura, e a
regra legal de que todos os actos praticados pela Administração Pública em matéria da
competência dos Tribunais Judiciais, são actos nulos e de nenhum efeito, por estarem
viciados por usurpação de poder (art. 133º/2 CPA). (b) independência da Administração
perante a Justiça, que significa que o poder judicial não pode dar ordens ao poder
administrativo, salvo num caso excepcional, que é o do habeas corpus (art. 31º CRP).
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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A Administração Pública é, efectivamente, uma autoridade, um poder público – é o Poder
Administrativo.
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A Administração declara o Direito no caso concreto, e essa declaração tem valor jurídico
e é obrigatória, não só para os serviços públicos e para os funcionários subalternos, mas
também para todos os particulares.
Pode a lei exigir, e muitas vezes exige, que os interessados sejam ouvidos pela
Administração antes desta tomar a sua decisão final.
Pode também a lei facultar, e na realidade faculta, aos particulares a possibilidade de
apresentarem reclamações ou recursos graciosos, designadamente recursos hierárquicos,
contra as decisões da Administração Pública.
Pode a lei, e permite, que os interessados recorram das decisões unilaterais da
Administração Pública para os Tribunais Administrativos, a fim de obterem a anulação
dessas decisões no caso de serem ilegais. A Administração decide, e só depois é que o
particular pode recorrer da decisão. E não é a Administração que tem de ir a Tribunal
para legitimar a decisão que tomou: é o particular que tem de ir a Tribunal para impugnar
a decisão tomada pela Administração.
c) O Privilégio da Execução Prévia (art. 149º/2 CPA):
Consiste este outro poder, na faculdade que a lei dá à Administração Pública de impor
coactivamente aos particulares as decisões unilaterais que tiver tomado.
O recurso contencioso de anulação não tem em regra efeito suspensivo, o que significa
que enquanto vai decorrendo o processo contencioso em que se discute se o acto
administrativo é legal ou ilegal, o particular tem de cumprir o acto, se não o cumprir, a
Administração Pública pode impor coactivamente o seu acatamento.
Isto quer dizer, portanto, que a Administração dispõe de dois privilégios:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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E de novo, nesta matéria, como é próprio do Direito Administrativo, esse regime é
diferente para mais, e para menos. Para mais, porque a Administração Pública fica a
dispor de prerrogativas ou privilégios de que as partes nos contractos civis não dispõem;
e para menos, no sentido de que a Administração Pública também fica sujeita a restrições
e a deveres especiais, que não existem em regra nos contractos civis.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Surgem mais dois princípios: o princípio da legalidade, que manda à Administração
obedecer à lei, e o princípio do respeito pelos direitos e interesses legítimos dos
particulares, que obriga a Administração a não violar as situações juridicamente
protegidas dos administrados
A Administração Pública é muitas vezes investida pela lei de uma liberdade de decisão,
que se denomina tradicionalmente de poder discricionário da Administração.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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5) O interesse público delimita a capacidade jurídica das pessoas colectivas públicas e a
competência dos respectivos órgãos: é o chamado princípio da especialidade, também
aplicável a pessoas colectivas públicas.
6) Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente
determinado de qualquer acto administrativo. Assim, se um órgão da administração
praticar um acto administrativo que não tenha por motivo principalmente determinante, o
interesse público posto por lei a seu cargo, esse acto estará viciado por desvio de poder, e
por isso será um acto ilegal, como tal anulável contenciosamente.
7) A prossecução de interesses privados em vez de interesse público, por parte de
qualquer órgão ou agente administrativo no exercício das suas funções, constitui
corrupção e como tal acarreta todo um conjunto de sanções, quer administrativas, quer
penais, para quem assim proceder.
8) A obrigação de prosseguir o interesse público exige da Administração Pública que
adopte em relação a cada caso concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de vista
administrativo (técnico e financeiro): é o chamado dever de boa administração.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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O Princípio da Legalidade
Este princípio é sem dúvida, um dos mais importantes Princípios Gerais de Direito
aplicáveis à Administração Pública, e que aliás, se encontra consagrado como princípio
geral de Direito Administrativo antes mesmo que a Constituição, o mencionasse
explicitamente (art. 266º/2 CRP e art. 124º/1-d CPA).
Os órgãos e agentes da Administração Pública só podem agir no exercício das suas
funções com fundamento na lei e dentro dos limites por ela impostos.
O princípio da legalidade aparece definido de uma forma positiva. Diz-se que a
Administração Pública deve ou não deve fazer, e não apenas aquilo que ela está proibida
de fazer.
O princípio da legalidade, cobre e abarca todos os aspectos da actividade administrativa,
e não apenas aqueles que possam consistir na lesão de direitos ou interesses dos
particulares.
A lei não é apenas um limite à actuação da Administração é também o fundamento da
acção administrativa.
A regra geral, não é o princípio da liberdade, é o princípio da competência. Segundo o
princípio da liberdade, pode fazer-se tudo aquilo que a lei não proíbe; segundo o
princípio da competência, pode fazer-se apenas aquilo que a lei permite.
O Princípio da Igualdade
Vem consagrado no art. 13º e 266º/2 CRP, obriga a Administração Pública a tratar
igualmente os cidadãos que se encontram em situação objectivamente idêntica e
desigualmente aqueles cuja situação for objectivamente diversa. O art. 124º/1-d do CPA,
tem o objectivo de possibilitar a verificação do respeito por essa obrigação.
O Princípio da Boa-fé
Consagrado no art. 6º-A do CPA, não apresenta especificidade no que respeita à sua
aplicação à Administração Pública. Sobressaem, porém, os dois limites negativos que ele
coloca à actividade administrativa pública:
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
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a) A Administração Pública não deve atraiçoar a confiança que os particulares
interessados puseram num certo comportamento seu;
b) A Administração Pública também não deve iniciar o procedimento legalmente previsto
para alcançar um certo objectivo com o propósito de atingir um objectivo diverso, ainda
que de interesse público.
Evolução Histórica
Na actualidade e no Direito português, são duas as funções do princípio da legalidade.
a) Por um lado, ele tem a função de assegurar o primado do poder legislativo sobre o
poder administrativo;
b) Por outro lado, desempenha também a função de garantir os direitos e interesses
legítimos dos particulares.
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aplicar normas em vigor; qualquer acto da administração que num caso concreto viole a
legalidade vigente é um acto ilegal, e portanto inválido (nulo ou anulável, conforme os
casos). (2) Efeitos positivos, é a presunção de legalidade dos actos da Administração.
Isto é, presume-se em princípio, que todo o acto jurídico praticado por um órgão da
administração é conforme à lei até que se venha porventura a decidir que o acto é ilegal.
Só quando o Tribunal Administrativo declarar o acto ilegal e o anular é que ele considera
efectivamente ilegal.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
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no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos) da
Constituição?
Ele significa fundamentalmente, que a prossecução do interesse público não é o único
critério da acção administrativa, nem tem um valor ou alcance ilimitados. Há que
prosseguir, sem dúvida, o interesse público, mas respeitando simultaneamente os direitos
dos particulares.
O princípio da legalidade nasceu como limite à acção da Administração Pública; a sua
função era a de proteger os direitos e interesses dos particulares.
Embora o princípio da legalidade continue a desempenhar essa função, o certo é que se
conclui entretanto que não basta o escrupuloso cumprimento da lei por parte da
Administração Pública para que simultaneamente se verifique o respeito integral dos
direitos subjectivos e dos direitos legítimos dos particulares.
Essas outras formas de protecção que existem para além do princípio da legalidade, são
muito numerosas. Destacamos as mais relevantes:
239
239
239
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
240
240
240
Natureza e significado da discricionariedade
Quando á natureza, o poder discricionário só existe, por definição, unicamente e tão-
somente parapara para proporcionar em cada caso a escolha da providencia óptima, isto
é, daquela que reaiza superiormente o interesse publico almejado pela lei aplicanda. Não
se trata, portanto, de uma liberdade para a Administracao decider a seu talente, mas para
decider-se do modo que torne possível o alcance perfeito do desiderato normativo.
Para freitas do Amaral na discricionariedade, a lei não da ao órgão administrativo
acompetente liberdade para escolher qualquer solução que repeite o fim da norma, antes o
obriga a procurar a melhor solução para a satisfação do interesse publico de acordo com
princípios jurídicos de actuação. A discricionariedade não é uma liberdade mas um
poder-dever juridico.84
84
FREITAS DO AMARAL, Diogo, Curso…, Vol. II, op. Cit., p. 82.
85
FREITAS DO AMARAL, Diogo, Curso…, Vol. II, op. Cit., p. 93.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
241
241
241
A exposição dos motivos de direito e de facto que levaram o autor a emanar um
determinado acto, desde que a lei não imponha o dever de fundamentar. Exemplo,
imaginemos que o novo Presidente da República, depois da posse, decide
reconduzir todo o pessoal do Gabinete anterior. Aqui não se impõe a fundamen
tacão.
Limites da discricionariedade
A discricionariedade administrativa conhece os seguintes limites:
86
BANDEIRA DE MELO, Celso Antonio, Curso…, op. Cit,. p. 963.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
242
242
242
Como tal, o recurso contencioso terá como fundamento o desvio de poder (alínea e) do
artigo 28 da Lei n° 9/2001, de 7 de Julho). Na verdade, o desvio de poder como motivo
relevante constitui somente regra, na medida em que pode o acto ser atacável alegando-se
os outros motivos referidos no artigo 28, já que o poder discricionário é uma margem de
liberdade de actuação dentro dos limites traçados pela lei. Portanto, para alem do desvio
de poder, o particular pode fundamentar o seu recurso com base na usurpação do poder,
vicio de forma, incompetência ou violação da lei.
Diz-se Pessoas Colectivas de direito publico os entes colectivos por iniciativa públicos para
assegurar, em nome colectivo, a prossecução necessária de interesse públicos, dispondo para
tal, de poderes públicos e submetidas a deveres públicos. Portanto, a pessoa colectiva publica é
um dos sujeitos na relação juridico-administrativa.87
87
FREITAS DO AMARAL., Diogo, Curso de Direito Administrativo, Vol. I, op. Cit. p. 584.
88
REBELO DE SOUSA, Marcelo, Licoes de Direito Administrativo, Vol. I, op. Cit, pp.148.
89
ALBANO MACIE, Licoes de Direito Administrativo, Vol. I, op. Cit., p. 192.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
243
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243
Pessoas colectivas publicas de população e território, nomeadamente, as
autarquias locais, no caso moçambicano, e regiões autónomas, no caso português
(Madeira e Açores, ate então).
Regime jurídico
O regime jurídico das pessoas colectivas publicas varia conforme o tipo de pessoas
colectivas (isto é, é multiforme-não sendo igual para todas as pessoas colectivas),
cabendo a sua formulação ao legislador de cada país ao criar a pessoa.
244
244
244
contratos administrativos, como também, pode assinalar-se um conjunto de deveres, como o
de responsabilidade civil.
É preciso sublinhar que á pessoa colectiva publica é atribuído um leque de poderes para o
exercício cabal das suas atribuições, porem, tal capacidade conhece limites, nomeadamente, o de
exercer tais poderes com vista ao alcance daqueles fins institucionais, sem que deles se desvie,
sob pena de os órgãos procederem ultra vires.
É preciso notar que a criação de uma pessoa colectiva publica está ligada a satisfação das
necessidades colectivas. Portanto, decorre desta regra que a autonomia financeira não é
condição essencial para a criação de pessoas colectivas públicas.
90
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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245
245
Pessoal
O pessoal que precisa a actividade para as pessoas colectivas publicas esta submetido ao regime
da função pública, excepto os trabalhadores das empresas publicas que se regem pela lei geral
(Lei do trabalho), não obstante o facto de esta lei funcionar como lei geral, e, portanto, capaz de
preencher as lacunas do regime da função publica.
Fórum administrativo
Os litígios surgidos no âmbito das suas actividades, as pessoas colectivas respondem perante o
Tribunal Administrativo e os Tribunais administrativos, excepto quanto ás empresas publicas.
Chama-se atenção ao facto de que a excepção, quanto ás empresas públicas, não vale, quando
se tratar de controlo financeiro, pois, nos termos do artigo 3 da Lei n° 26/2009, de 29 Setembro,
atinente ao regime relativo á organização, funcionamento e processo da 3ª Secção do Tribunal
Administrativo, alínea e) “as empresas publicas e as sociedade de capitais, exclusiva ou
maioritariamente, públicos.”
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
246
246
246
Atribuições e missões das pessoas colectivas publicas: fins
As atribuições ou fins da pessoa colectiva publica corresponde a certa necessidade colectiva ou
certa zona da vida social91, e o Estado-Administração há-de criar as pessoas colectivas publicas
especialmente para aqueles fins em razão dos quais a personalidade lhes foi reconhecida: tal é o
princípio da especialidade das pessoas colectivas92.
O princípio da especialidade implica, pois, por um lado, a determinação precisa dos fins
justificativos do reconhecimento da personalidade jurídica, por outro, um ajustamento funcional
do exercício da capacidade aos fins a atingir.
O principio da especialidade não impede, porém, que a pessoa colectiva pratique actos sejam
acessórios da gestão, ou instrumentais dela, ou reputem, por uso ou consenso comum,
compreendidos na esfera jurídica das pessoas colectivas em geral.
247
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247
que tem a finalidade de proteger a pessoa física, em todas as suas dimensões e com todas
as garantias que resultam da força jurídica da lei fundamental, sem prejuízo dos direitos e
liberdades reservadas à pessoa colectiva.
A principal função política dos direitos, liberdades e garantias fundamentais é servir de
travão, de limitação ao poder político investido aos titulares dos órgãos do Estado em
relação a pessoa humana. A sua consagração em texto constitucional visa a protecção
jurídica dos direitos, liberdades e garantias fundamentais do cidadão perante o Estado e
constituem um meio para evitar a ingerência e expansão do poder do Estado sobre a vida
privada do cidadão, em todos os seus domínios.
O Estado é assim uma organização política suprema de que o Homem se serve para a
materialização racional e com justiça o gozo pleno dos Direitos de que seja titular e, para
o efeito, o Direito por meio de vários ramos de Direito garante a defesa dos seus direitos,
tal como se pode constatar dos seguintes sectores jurídicos:
248
248
248
públicos ao cidadão, cabendo-lhe proporcionar o que a este o gozo pleno dos seus
direitos e liberdades.
Os direitos e liberdades fundamentais são definidos pelo próprio povo, entidade suprema
com capacidade e poderes para fixar os direitos e liberdades fundamentais de todo os
cidadãos e do próprio Estado que emerge do povo, do território e do poder política É o
povo que identifica os direitos e as liberdades fundamentais, os arrola e prescreve-os sob
forma de Constituição, cabendo ao Governo do dia proporcionar o gozo pleno dos
direitos e liberdades consagradas, conforme se pode constatar do artigo 204, alínea a) da
CRM.
Os direitos fundamentais são por conseguinte, direitos constitucionais porque constam
da Constituição e das demais leis da República que se subordinam à Constituição
como lei mãe e fundamental da sociedade e são intangíveis e irrenunciáveis.
A visão sobre o constitucional e o inconstitucional, bem com o lícito e o ilícito decorre
da conformidade do direito com a conduta do cidadão, termo de referência a partir do
qual se afere o desvio ou a constitucionalidade.
Os direitos fundamentais são os que justificam a elaboração da Constituição (CARTA)
e por isso, são anteriores à própria Constituição e ao Estado. Neste contexto os direitos
fundamentais não devem ser visto numa dimensão “técnica” de limitação do poder do
Estado, mas sobretudo entendidos como elementos definidores e legitimadores da ordem
jurídica estabelecida e impõem a todos os cidadãos e ao próprio Estado a adopção de
uma cultura jurídica e política de convivência num ambiente de vida em comum onde
prevalece a solidariedade, a fraternidade, o respeito mútuo, a tolerância e o diálogo
constante entre as pessoas que partilham o mesmo espaço e os mesmos recursos
disponíveis e uma interpretação valorativa, tal como se determina no artigo 43, da
CRM que representa um desvio as regras de interpretação das normas jurídicas
prevista no artigo 9 e seguintes do Código Civil de 1966.
A expressão Direita fundamental tem a sua origem na Constituição alemã aprovada
na Igreja de S. Paulo em Frankfurt, em 1848 e constou do artigo IV/§25, dos
seguintes termos ˝ proceder-se-á ao estabelecimento de um catálogo dos ˝direitos
fundamentais˝ do povo alemão.˝
Hoje em dia, os direitos e liberdades dos cidadãos constituem fundamentos das
Constituições modernas e constam das ordens jurídicas dos respectivos Estados em
reconhecimento e respeito da célebre Declaração dos Direitos do Homem e do
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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Cidadão, de 26 de Agosto de 1789 que assim se prescreveu no seu artigo 16.˚: ˝Toda a
sociedade na qual a garantia dos direitos na resulta assegurada (….) não tem
Constituição˝.
São por c o n s e g u i n t e , direitos, liberdades e g a r a n t i a s com c a r á c t e r
individual e constituem-se como direitos de defesa ˝ do cidadão face ao Estado de que é
nacional.”
Nesta perspectiva os direitos fundamentais são “direitos subjectivos” que deixam
deliberadamente na penumbra a sua contra-parte “objectiva” aquela que define os
direitos fundamentais como “princípio de direito objectivo”, de limitação dos direitos
públicos, ou seja, do legislador.
Nós, tal como o Montesquieu no século XVIII, com o qual concordamos nesse sentido,
as ˝Constituições da Liberdade˝ são pensadas como reflexão em termos de direito
natural racionalista, nos termos consagrado no artigo 2.˚ Da Declaração de Direitos do
Homem e do Cidadão de que temos vindo a citar que diz claramente o seguinte: ˝A
finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança
e a resistência `a pressão˝.
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
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250
Resumindo, para o Prof. Jorge Miranda, os direitos fundamentais são valores que
exprimem a dignidade do Homem e para a sua validade não carece da consagração em
nenhum instrumento jurídico.
1998, pág. Os direitos fundamentais existem independentemente da vontade e
consciência do seu titular. São direitos que resultam da natureza humana do
Homem; são valores que se situam acima da vontade de qualquer ente jurídico. São
valores que decorrem dos direitos naturais do Homem.
Sobre o conceito dos direitos Fundamentais, a doutrina portuguesa que temos vindo
a seguir nas nossas aulas, divide-se tal como já podemos notar: o Prof. Gomes
Canotilho7 não comunga da mesma opinião. Para ele e sustentando a sua tese cita o
Prof. Cruz Villalon: “onde não existir constituição não haverá direitos
fundamentais. Existirão
Outras coisas, seguramente mais importantes, direitos humanos, dignidade da pessoa;
existirão coisas p a r e c i d a s , i g u a l m e n t e importantes, como a s l i b e r d a d e s
públicas francesas, os direitos subjectivos públicos dos alemães; haverá, enfim, coisas
distintas como foros ou privilégios. Daí a conclusão do autor em referência: os direitos
fundamentais são-no, enquanto tais, na medida em que encontram reconhecimento nas
constituições e deste reconhecimento se derivem consequências jurídicas.”
Para o Prof. Gomes Canotilho, os direitos fundamentais são direitos cujos titulares são
pessoas jurídicas que para o gozo pleno requerem a tutela do direito. O que significa
que o direito tem de ser positivado. Tem de constar da lei fundamental, a Constituição.
A positivação de direitos fundamentais significa para este autor a incorporação na
ordem jurídica positiva dos direitos considerados “naturais” e “inalienáveis” do
indivíduo. E acrescenta o seguinte: ˝não basta uma qualquer positivação. ‘E
necessário assinalar- lhes a dimensão de fundamental Rights colocados no lugar cimeiro
das fontes de direito – as normas constitucionais.˝
O direito fundamental para que judicialmente sejam exigidos é necessário que sejam
direitos positivos, consagrados na lei fundamental;
Os cidadãos quando se dirigem aos tribunais interpõem as suas acções invocando
um direito positivo violado, artigo 69, 70 e 79, da CRM.
Os tribunais julgam os casos em obediência à Constituição e a Lei, artigo 214 e
217, ambos da CRM;
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
251
251
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O juiz para dirimir os conflitos tem de aplicar a lei que esteja em conformidade com os
princípios constitucionais. Vide os artigos 214, 2, n.o 4, art. 4, 212, n.o 2, 253, n.o 2 e
3,
256 E 257;
Status libertatis
Status libertatis significa que a pessoa, perante o Estado começa por procurar uma
defesa em face do abuso do poder.
Sobre esta classificação Jellinek no estudo que efectuou procurou demonstrar com
algum êxito que os direitos fundamentais, porém, sendo gradualmente reconhecidos
pelo Estado, em que foram atribuídos ao cidadão, direitos da personalidade
individual foi limitando cada vez mais, o seu poder “a soberania do Estado” que é um
poder objectivamente limitado, sendo exercido no interesse geral do cidadão. E é uma
autoridade exercida sobre pessoas, que não estão em tudo e por tudo subordinado é uma
autoridade exercida sobre Homens livres.
Ao membro do Estado, o cidadão pertence, por isso, um status, em que é Senhor
absoluto, uma esfera livre do Estado, uma esfera que exclui o “ ius imperium” e
que coloca o Estado numa posição passiva e o cidadão na posição jurídica activa. Tal
vem a
4 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 37.ª edição, Coimbra, 1999, pagina 382 e
seguintes
5 Idem, JJ.Gomes Canotilho, pagina 369.
6 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos fundamentais, 2.ª edic.,
Coimbra,
252
252
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Ser a esfera da liberdade individual, do “status” negativo, do “status liberatatis”, dentro
da qual são prosseguidos os fins estritamente individuais mediante a livre actividade
do indivíduo perante o Estado.
Status civitatis
253
253
253
governados entre s i , a s r e l a ç õ e s institucionais entre o s ó r g ã o s d o E s t a d o ,
a s a t r i b u i ç õ e s e competências dos órgãos do Estado e onde encontramos ainda o
estatuto jurídico político do Estado, as liberdades, direitos, deveres e garantias
fundamentais dos cidadãos.
A Constituição é assim, o código constitucional que estabelece as condutas para o
Estado, Sociedade e para o Homem.
A Constituição consagra um conjunto de liberdades, direitos e garantias fundamentais
no seu texto normativo, formalmente aprovado pelo poder constituinte formal. Os
direitos, liberdades e garantias que se acham fora do texto constitucional nem por isso
deixam de fazer parte do elenco dos direitos formalmente prescritos na Constituição,
desde que sejam direitos fundamentais naturais por possuírem valor, natureza e
dignidade humana, tal como tivemos ocasião de abordar nesta perspectiva
A sede constitucional dos direitos, liberdades e garantias não está limitado a
positivação do Direito e muito menos a sua aprovação ou reconhecimento pelo poder do
Estado. Os Direitos fundamentais são constitucionais, desde que sejam direitos que têm
a ver com a pessoa humana.
A não consagração dos direitos ou de um dos direitos no texto constitucional não se
deve entender como sendo inexistência do direito, liberdade ou garantia, mas sim défice
do regime político, pois tais direitos encontram-se na esfera dos direitos fundamentais do
Homem, sob forma de direito natural e assim, em sentido material.
Nestes casos, os direitos, liberdades e garantias devem ser identificados em sede do
direito civil, através das leis avulsas, da jurisprudência, do costume e dos instrumentos
internacionais e regionais.
O direito de que temos vindo a falar é o Direito interno infra-constitucional, que por ser
nacional, importa rever a matéria sobre os antecedentes jurídico-constitucionais do
Estado Moçambicano.
Já nos referimos atrás que o território de Moçambique foi província ultramarina e parte
integrante da Nação Portuguesa, situado na África Oriental, do território do Reino
Unido de Portugal consagrado na Constituição Portuguesa de 23 de Setembro de
1822, conforme o disposto no artigo 20.º, §III e continuou sendo território sob domínio
colonial português ao abrigo da Constituição Portuguesa de 11 de Abril de 1933 e do
respectivo Acto Colonial, aprovado nos termos do artigo 132.º da Constituição.O
território de Moçambique, província ultramarina, ora dominado por Portugal
Colonial, a partir de 1972 foi considerado uma região autónoma da República
Portuguesa, dotada de personalidade jurídica de direito público interno e usando a
designação honorífica de Estado, por força do Decreto1 n . º 545/72, de 22 de
Dezembro, que definia o Estatuto
254
254
254
Político-Administrativo da Província de Moçambique.
No dia 25 de Junho de 1975, no fim de uma guerra sangrenta de libertação nacional,
desencadeada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), organização
política constituída por moçambicanos, sem distinção de sexo, de origem étnica, de
crença religiosa ou de lugar de domicílio.
Os objectivos definidos pela Frelimo na sua luta visavam a conquista do poder político,
a restauração da soberania nacional, a independência total e completa do território de
Moçambique, a liberdade dos moçambicanos e o reconhecimento da dignidade e
valor
Humano.
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255
A República de Moçambique de 1975 até a presente data, em sua história, conheceu
três
Constituições, sucessivas, designadamente:
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256
A Constituição de 16 de Novembro de 2004, que entrou em vigor no dia 20 de
Janeiro de 2005 – Manteve os princípios políticos, jurídicos e filosóficos
consagrados na Constituição de 1990 e desenvolveu alguns conteúdos
normativos, reorganizou o texto constitucional numa outra sistemática e elevou
para dignidade e valor constitucional os direitos das pessoas que se encontravam
nas leis ordinárias, ampliou o rol dos direitos fundamentais, criou ainda a
figura de provedor de justiça e outras que ao longo da exposição teremos a
oportunidade de apreciar.
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257
257
Fundamentais dando-nos o actual figurino destes direitos, liberdades e garantias
constitucionais.
Ao longo do debate faremos a comparação destes direitos, liberdades e garantias entre as
duas últimas Constituições, além de indicar sumariamente o que de novo se introduziu
no seu texto constitucional.
O Programa Quinquenal do Governo para 2005 – 2009, elaborado à luz da CRM de
2004 que entrou em vigor no mesmo ano da entrada em vigor da CRM, para
materializar as promessas eleitorais em acto governativo, foi apresentado na II sessão
ordinária da Assembleia da República, ocorrida no início do ano e depois de acesos
debates foi aprovado e consta da Resolução n.º 16/2005, de 11 de Maio, e, de imediato
começou a produzir os devidos efeitos, no plano interno e internacional, uma vez
aprovado pelo órgão competente.
Para o quinquénio 2010 a 2014, novamente, a Assembleia da República aprovou a
Resolução n.˚4/2010, de 13 de Abril que aprova o programa quinquenal do Governo
para o período em referência.
Portanto, com estas lições sumárias não pretendemos tecer comentários, críticas ou
qualquer tido de reparo à Constituição da República de 2004 que ainda se encontra
numa fase de aplicação e consolidação tendo em conta que apenas tem rigorosamente
sete anos de vigência, nem tão pouco nos pronunciar sobre a sua sistemática ou
constitucionalidade das suas normas e muito menos discutirmos o enquadramento
constitucional dos factos ocorridos neste lapso de tempo da sua vigência ou a
regulamentação das normas-jurídico constitucional, em forma de lei ordinária.
Porquanto, tal como nos ensina o Professor Jorge Miranda4 a Constituição adoptou um
princípio de “não tipicidade” dos direitos fundamentais, ou uma “cláusula aberta” de
Direitos Fundamentais, ou seja, a Constituição “...aponta para um sentido material de
direitos fundamentais: estes não são apenas os que as normas formalmente
constitucionais enunciam; são ou podem ser também direitos provenientes de outras
fontes, na perspectiva mais ampla da Constituição material.
4 Manual de Direito Constitucional Tomo IV, 3.º edic. Coimbra, 2000, pag. 162 E ss.,
Vital Moreira e
Gomes Canotilho, “Constituição da República Portuguesa Anotada” cit., pag. 159.
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O artigo 3 da CRM, dispõe o seguinte: “A República de Moçambique é um Estado de
Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política democrática, no
respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.”
Neste preceito constitucional é importante sublinhar o seguinte: “A República de
Moçambique é um Estado de Direito, baseado …………. no respeito e garantia dos
direitos e liberdades fundamentais do Homem.”
O artigo 4 da CRM dispõe o seguinte: “O Estado reconhece os vários sistemas
normativos e de resolução de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na
medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição.
Quanto aos valores prosseguidos pelo Estado Moçambicano, a CRM determina o
seguinte nos seus objectivos fundamentais plasmados no artigo 11:
Prosseguindo, ainda com as lições do Prof. Jorge Miranda, “Não se depara, pois, no
texto constitucional um elenco taxativo de direitos fundamentais. Pelo contrário, a
enumeração (embora sem ser, em rigor, exemplificativa) é uma enumeração aberta,
sempre pronta a ser preenchida ou completada através de novas faculdades para lá
daquelas que se encontrem definidas ou especificadas em cada momento.”
A conjugação do artigo 42 com o artigo 43, sobre a interpretação, constitui um
significativo avanço nas técnicas de interpretação e da integração dos preceitos sobre
direitos fundamentais de harmonia com a Declaração Universal, conforme a
prescrição do legislador constituinte, quando dispõe que “os preceitos constitucionais
relativos aos direitos fundamentais são interpretados e integrados de harmonia com a
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Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos”.
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República, o Procurador-Geral da República e a Autoridade Central ou Local com a
recomendação das medidas pertinentes.
Mais ainda, o Provedor de Justiça pode solicitar ao Constitucional a declaração de
inconstitucionalidade das leis ou de ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do
Estado, artigo 245, n.º 1, al. f), da CRM de 2004.
Na Constituição da República de 1990 constava para efeitos de fiscalização e controlo da
legalidade, a Procuradoria da República, artigo 176.
Porém, entre as duas figuras há diferença quanto à natureza, criação e funções que
desempenha na ordem jurídica.
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A experiência do funcionamento desta figura em outros países do mundo moderno,
indica-nos que não é do interesse dos titulares do poder político que o Provedor dirija-
se ao Parlamento ou aos órgãos de comunicação social para apresentar uma questão
em relação a qual a Administração Pública foi notificada pela Provedoria para
reparar e manteve a decisão não obstante ser injusto e ilegal nos termos da Lei.
2. Assembleias Provinciais, artigo 142, são órgãos de representação democrática,
eleitas por sufrágio universal, com competências de fiscalização e observância de
princípios e normas constitucionais e legais, bem como das decisões do Conselho de
Ministros, referentes à respectiva província; aprovação, fiscalização e controlo
Do programa do Governo Provincial.
19 São as garantias que se efectivam através da actuação dos próprios órgãos da
Administração activa
A CRM fixa o prazo de 3 anos, a contar da data de entrada em vigor da Constituição,
para a realização de eleições, artigo 304, certamente para evitar a situação da
Constituição da República de Moçambique de 1990, em que no artigo 115 estava
previsto o seguinte: “1. Podem ser criados, a nível provincial, órgãos de representação
democrática.
2. A lei regula a organização, a composição, as competências e o funcionamento dos
órgãos referidos no número anterior.”
Até ao fim da vigência da CRM de 1990, a Lei que define a organização, a
composição, as competências e o funcionamento dos órgãos referidos no artigo 115,
não foi aprovada e promulgada, tornando o facto de inconstitucionalidade por omissão.
O mesmo se pode dizer em relação ao Conselho Constitucional, artigo 180 e seguintes,
até a aprovação da Lei n . º 9 /2003, d e 2 2 d e O u t u b r o , q u e aprovou a L e i
o r g â n i c a d o Conselho Constitucional.
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138
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4. Comissão N a c i o n a l d e E l e i ç õ e s , a r t i g o 1 3 5 , n . º 3 , ó r g ã o
i n d e p e n d e n t e e imparcial ao qual cabe a supervisão do recenseamento, referenda
e dos actos eleitorais, no quadro da aplicação do princípio de sufrágio universal,
directo, igual, secreto, pessoal e periódico, regra geral de designação dos titulares
dos órgãos electivos de soberania, das províncias e do poder local.
139
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Alcídio Leão
Tribunal Supremo, artigo 225, este órgão jurisdicional perdeu a sua supremacia
na ordem jurídica, tendo lhe sido reservado a função de órgão superior da hierarquia
dos tribunais judiciais, nomeadamente a matéria cível e criminal e a uniformização
da Lei nesta esfera de jurisdição.
Tribunais Militares, quando haja sido decretado estado de guerra, o artigo 224
permite a constituição de tribunais militares para julgar os crimes de natureza
estritamente militar.
140
Alcídio Leão
O que é a psicologia?
É o estudo do homem, dos seus estados de espírito…
O que é que acha que é a Psicologia?
- Visa, creio, um estudo concreto do que nos somos, do que é a nossa alma…
- Bem, no fundo, trata do Homem.
- Eu acho que, portanto… não sei explicar.
93
142
Alcídio Leão
Por isso se prefere a designação “ Direito Criminal” que é mais exacta e abrangente,
para alem de que sendo o Crime o elemento central desta disciplina. Há dai
conveniência em assim ser designada.
Segundo a professora Tereza beleza, o direito criminal e o conjunto de normas
jurídicas que faz corresponder o facto humano a uma determinada sanção, pena.
O Direito Criminal tipifica factos humanos e voluntários como crimes e diz que a
consequência destes comportamentos é a aplicação de pena.
O Direito Criminal estabelece, por forma geral e abstracta, quais os factos que devem
ser considerados crimes e quais as penas que lhes correspondem.
O Direito Processual Penal é o conjunto de regras que fixam os termos e o processo de
averiguar se num dado caso, se verificou a facto previsto na lei criminal e qual a pena
que lhe compete.
O Direito Processual Penal implica assim, em geral, o estudo das condições e dos
termos do movimento processual destinados a averiguar se um certo agente praticou um
certo facto e qual a reacção que lhe deve corresponder.
143
Alcídio Leão
Direito Criminal Especial é o código dos tipos legais de crimes acompanhado das
respectivas sanções através das quais se protegem as liberdades dos cidadãos pela
limitação dessas liberdades, ou seja é o conjunto de normas jurídicas que fixam os
pressupostos de aplicação de determinadas reacções legais, as reacções criminais, que
englobam as penas (artigos 61, 62, 63, 89 do CP) e ainda medidas de outro tipo (de
segurança; alternativos de segurança – artigos 76 e 88 do CP).
Nenhum facto, consista em acção ou omissão, pode julgar-se criminoso, sem que uma
lei anterior o qualifique como tal nᵒ 1 do artigo 7 da CP.
Este principio arrasto consigo todo um conjunto de princípios corolários como:
Nullum crimen, nulla poena sine lege prévia, quer disser a norma penal
incriminadora é irretroactiva. Esta garantia significa que nenhum facto pode ser
considerado criminoso, nenhuma pena pode ser aplicada sem que nenhuma lei
anterior qualifique o comportamento como crime e fixar a natureza e o quantum.
Daqui deriva a proibição da analogia na qualificação do comportamento criminal
artigo 9 do CP;
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145
Alcídio Leão
Tarefa melindrosa é traçar com precisão as condutas censuradas pelo Direito Penal sem
sacrificar o princípio de justiça (Justiça e Certeza do Direito) que o mesmo direito
pretende tutelar. Para tanto o intérprete tende lançar mão da obra-prima de modo a
descrever tais condutas censuradas de maneira precisa e inequívoca, isto é, o tipo penal
que é paradigma do facto incriminado, deve estar minuciosamente descrito em todos os
seus elementos constitutivos pela norma penal. A esta actividade hermenêutica ou
interpretativa se chama de qualificação jurídica.
Para isso o interprete ou o julgador faz vincar o postulado “nullem crime sine lege”
conquista da Revolução Francesa de 1789 artigo 7 da CP neste contexto, o termo
qualificação jurídica pose assumir varias significações:
a) Pode significar a adequação de um determinado comportamento a um ou varias
tipos legais de crime.
b) Mas pode também significar a aplicação de pena correspondente ao caso
concreto;
c) A qualificação jurídica poderia significar o regime de procedimento. Deste modo
em face da pluralidade de infracções cometidas no mesmo território nacional ou
não, com conexões objectivas ou subjectivas, ela poderá indicar o modo de
aplicação da lei e o tribunal territorial competente artigos 45 e SS do CPP;
d) Também poderá indicar a natureza ou espécie do tribunal competente em razão
da matéria, artigo 167 da CRM;
e) O termo qualificação determina a competência não só em razão da matéria mas
também da hierarquia ou escalão do tribunal a julgar conforme o disposto na lei
numero o termo qualificação determina a competência não só em razão da
matéria mas também da hierarquia ou escalão do tribunal a julgar conforme o
disposto na Lei nᵒ. 23/2004, de LOTJ. Significa deste modo que a qualificação
visa uma pluralidade de fins dentro quais a determinação da pena aplicável e a
forma processual respectiva.
Todavia, nunca se perca de vista que qualificar é antes de mais um procedimento
aleatório ou ocasional mas com determinação exacta dos elementos constituídos
do crime cerne do direito criminal, isto significa que, independentemente do
conceito que possa ser adoptado (interpretação jurídica subsunção) ela implica
necessariamente o conhecimento profundo de cada tipo legal de crime.
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Alcídio Leão
147
Alcídio Leão
politico que apela pela luta patriótica dos povos das colónias portuguesas de forma
cientifica e organizada, baseada na unidade politica, nacional e internacional e na força
fundamental dos trabalhadores.
A partir de 1957, surgem no plano interno e externo um movimento de criação de
organizações políticas visando a libertação do continente africano do domínio colonial.
Em Moçambique, as actividades políticas partidárias com fins políticos são
consideradas ilegais e por isso, reprimidas pelo sistema colonial português, levando os
moçambicanos a terem que se agruparem em forma de associações partidárias e
forçados a desenvolverem as suas actividades políticas de modo clandestino, e restringir
a sua acção as zonas de origem e com alguns contactos no exterior.
No exterior a luta nacionalista foi cada vez mais intensa na Africa de Sul, Rodésia
de Sul (Zimbabwe), Niassalândia (Malawi) e Tanganyka (Tanzânia), facto que em parte
deu coragem aos moçambicanos nesses países.
A PIDE/DGS estabeleceu uma relação de colaboração com a polícia secreta da Africa
de Sul, o que dificultou todo o movimento de luta por Moçambique, devido a forte
vigilância desenvolvida pela polícia sul-africana naquele país e na Suazilândia.
Em 16 de Junho de 1960, em Cabo Delgado no planalto de Mueda, ocorre o massacre
de Mueda por ordem do Governador colonial da Província, onde muitos dos cidadãos
moçambicanos são barbaramente assassinados, com recurso a tiros e baioneta,
culminando a reunião convocada pelo Administrador local.
A actuação brutal das autoridades coloniais criou na população de Cabo Delgado e em
todas as partes onde a notícia chegou um repúdio e consciência de que não havia outra
alternativa que desencadear uma luta contra o sistema colonial, pois o diálogo que se
pretendeu desenvolver teve como resposta a prisão da porta- vozes e o massacre as
populações indefesas.
151
Alcídio Leão
Todos estes acontecimentos criam nos moçambicanos a consciência cada vez mais de se
envolverem na luta contra o regime colonial e fascista português.
A NESAM uma organização construída por jovens estudantes da colónia de
Moçambique tendo como membros entre outros, Joaquim Chissano, Armando Guebuza,
Luís Bernardo Honwana, Augusto Hunguana, Filipe Samuel Magaia, Mariano
Matsinhe, Josina Muthemba, Pascoal Mocumbi, Jorge Tembe e outros é o lugar
privilegiado para o desenvolvimento das actividades políticas anti- colonial e o acto
ganha mais força quando em 1961, Eduardo Mondlane, então alto funcionário das
Nações Unidas passa por Moçambique e é recebido por estes jovens instruídos, além de
estabelecer contactos de foro político com nacionalistas moçambicanos.
152
Alcídio Leão
A legalização da nova situação politica criada com a fusão dos três movimentos;
32.9. Nos Estatutos e programa que então se aprova, cuja cópia se junta em
anexo, fixa-se o seguinte:
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Alcídio Leão
Foi um poder original e próprio do movimento, na medida em que se propõe que antes
dele não existe nem de facto, nem de direito, qualquer outro direito, com igual
capacidade, daí que se afirma que é um poder inicial.
10 Marcello Caetano, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I,
Reimp., Coimbra, 1996, pág. 5.
11Ciência Política, Coimbra, 1995, página 72.
O poder constituinte material do movimento exprime a soberania do povo moçambicano
na ordem interna e externa, acto confirmado pela comunidade internacional quando em
1965, a Frelimo merece o reconhecimento internacional das Nações Unidas.
Do que constatamos dos estatutos e programa da Frelimo em 1962, não são mais do que
as linhas fundamentais de organização do povo moçambicano, em torno do seu
movimento, matéria que é consagrada numa Constituição.
O Congresso ao traçar os objectivos, definir os órgãos de decisão, as suas atribuições e
articulação, os direitos, os deveres dos membros do movimento e o estatuto da
FRELIMO no plano interno e externo está a traçar o modo de vida dos moçambicanos
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Alcídio Leão
A FRELIMO, nas zonas sob sua administração cria tribunais populares, constrói e põe
em funcionamento as escolas e hospitais, fomenta a criação e funcionamento de centros
e unidades de produção colectiva, serviços administrativos, de registos e identificação
civil, transportes e comercialização dos produtos excedentários, Portanto, nas zonas
libertadas a FRELIMO tem os Estatutos e Programa como uma Lei fundamental, neste
sentido, como Constituição, o território sob sua administração como sua área de
jurisdição onde cria implanta um poder politico que se exerce através dos seus órgãos
políticos, administrativos e judiciários, como se de Estado soberano se trata-se,
nomeadamente, o Comité central da FRELIMO que age como se de órgão legislativo
fosse, pois compete a este órgão, no intervalo das sessões do Congresso, deliberar sobre
as questões básicas da politica interna e externa do movimento. Os cidadãos residentes
nas zonas ocupadas pela FRELIMO e seus membros e militantes são o substrato
humano que representa o povo que justifica a existência de qualquer Estado.
A FRELIMO, tem na sua área de dominação política, os seus símbolos e a entidade
suprema que representa a Organização no plano interno e internacional, o Presidente da
Frente de Libertação de Moçambique, que gozava de reconhecimento no plano interno e
internacional como legítimo representante de um povo em luta pela conquista da sua
dignidade e auto determinação.
Nesta perspectiva os Estatutos e Programa da FRELIMO é sem dúvida a Constituição
dos territórios ocupados pelo movimento de Libertação, porquanto naquelas zonas não
havia outra autoridade politica administrativa que não fosse a estabelecida pela
FRELIMO e neste sentido são o ordenamento político do movimento de libertação.
Estes cidadãos observam no seu modo de vida as regras de conduta estabelecidas nos
Estatutos e Programa do movimento.
161
Alcídio Leão
Constituição politica;
162
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A ONU em relação aos artigos 1.º, n.º 2 e 55.º da Carta das Nações Unidas
relativamente aos Direitos Humanos, o colonialismo e a autodeterminação dos povos e
sobretudo a consciência internacional cada vez mais de que a luta de libertação nacional
é um conflito armado de âmbito internacional, a Assembleia Geral das Nações Unidas
em conformidade com o artigo 73.º da Carta, aprovou a Resolução n.º 1514 (XV), de 14
de Dezembro de 1960 – Declaração sobre a concessão da independência aos países e
povos coloniais.
A Declaração sobre a concessão da independência constitui a verdadeira Carta ou
declaração universal da descolonização dos povos colonizados para as Nações Unidas e
insere-se no cumprimento dos Direitos Fundamentais do Homem, ao abrigo da
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948.
A Declaração sobre a concessão da independência visou o “fim do colonialismo
… Sob todas as suas formas e em todas as suas manifestações”;
O espírito da Declaração sobre a concessão da independência entende que “a sujeição
dos povos à subjugação, ao domínio e à exploração estrangeiras constitui uma negação
dos direitos fundamentais do Homem, é contrária à Carta das Nações Unidas e
compromete a causa da paz e cooperação mundiais” e a própria segurança
internacionais;
A Declaração sobre a concessão da independência pretende a “liberdade” para “todos os
povos dependentes”. A liberdade aludida na Declaração presta-se a obtenção da
independência “absoluta) total e completa do território sob domínio estrangeiro;
Mais adiante a Declaração que temos vindo a citar afirma que “todos os povos têm o
direito de autodeterminação” e devem escolher “livremente a sua Constituição politica”;
Foi esta Declaração que doravante orientou a actuação das Nações Unidas em relação a
descolonização resultando da sua aplicação a independência de vários países africanos
na década de 60 e mais tarde de Moçambique em 1975.
Para dar corpo a declaração sobre a concessão da independência aos países e povos
coloniais, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou pela Resolução 1542 (XV),
de 15 de Dezembro de 1960, a lista de povos que nos termos do artigo 73 da Carta das
Nações Unidas, são territórios não autónomos no sentido do capítulo XI da Carta, sob
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Compete a cada um dos povos de forma livre escolher um sistema de governo que
pressupõe a:
Independência do Estado ou
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Alcídio Leão
escolhendo livremente o regime político e social que considerar adequado aos interesses
do seu povo."
Nesta cláusula 18, fica claro que Moçambique obteve do Estado Português, através do
Acordo de Lusaka a soberania plena e completa. É preciso notar que há Estados que são
soberanos como é o caso de Moçambique e há outros que o não é, apesar de terem a
categoria de Estado14.
O Acordo de Lusaka, traduzem uma solução jurídica de um conflito internacional em
que estiveram envolvidos interesses de um Estado e de outros Estados estrangeiros,
nomeadamente, os membros da NATO para além de outros.
Temos duas partes, nomeadamente, o Estado Português e um movimento de libertação
nacional, a Frelimo. Este documento que na prática é constituído por dois documentos,
está na base do exercício de poder constituinte em Moçambique pela FRELIMO.
13Publicado no Boletim Oficial n.º 117, de 10 de Outubro de 1974, I Série.
14 O território de Moçambique foi qualificado de Estado em 1972, pelo Governo
Português, tentando confundir a Comunidade Internacional.
28.9. Há dois aspectos fundamentais a reter nos Acordos de Lusaca que tem
relevância para o nosso tema:
1). Consagração jurídica do princípio da independência e da transferência do poder do
Governo Português para a Frelimo.
2). A natureza do regime transitório estabelecido para a constituição de um Governo
independente e soberano.
Quanto ao primeiro aspecto, importa referir que:
Uma vez que a Frelimo, Frente de Libertação de Moçambique, afirmou-se como único e
legítimo representante do povo moçambicano e sendo reconhecido pela comunidade
internacional, nos princípios da década de 60 a 70, a Frelimo, surgiu aos olhos da
comunidade moçambicana, como representante da nação.
166
Alcídio Leão
Não podem ser Portugueses, por força da Lei n.º 7/74, de 27 de Julho, que a partir da
sua entrada em vigou derrogou a integração do território moçambicano no Estado
Português. Não podem ser Moçambicanos porque a nacionalidade é o vínculo jurídico
que estabelece a ligação entre o cidadão e o Estado. Moçambique entre 27 de Julho a 25
de Junho de 1975 não é um Estado soberano, no conceito da definição do artigo 1.º da
Convenção16 de Montevideu sobre os Direitos e Deveres dos Estados de 26 de
Dezembro de 1933, que define como elementos essenciais para um ente público
qualificar-se de Estado, quando reúne os seguintes elementos:
I. Território definido ou determinado; II. População permanente;
III. Poder político;
IV. Governo constituído;
A Convenção refere-se ainda a capacidade de o Estado poder estabelecer relações com
outros Estados. Moçambique, nos termos desta Convenção não pode ser ainda
qualificado de Estado soberano.
Em nosso entender, a situação dos cidadãos com laços ius solis ou consanguíneos com o
território de Moçambique neste período de transição, tem de ser vista no plano do
costume internacional em relação a matéria de sucessão de Estados.
Assim e nesta conformidade, a regra geral é de que havendo uma mudança de soberania
sobre o território há perda automática da antiga nacionalidade por parte dos cidadãos
que habitam o território e a consequente aquisição da nacionalidade do Estado sucessor.
Cabe ao Estado que sucede, estabelecer por Lei de ordem interna, os procedimentos
para aquisição da nacionalidade originária e adquirida, a partir da data da proclamação
da independência nacional ou outra que for fixada pelo órgão legislativo competente.
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32.16. ESTATUTOS
Constitucionalismo Moçambicano
Anexo
DENOMINAÇÃO - SEDE - DEFINIÇÃO - OBJECTIVOS
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Alcídio Leão
l) - ajuda mútua
FINANÇAS
XIX - Os fundos da FRELIMO provêm das cotizações dos membros, de subscrições, de
donativos e de rendimentos próprios.
OMISSÕES
XX - Os casos de omissões nos presentes Estatutos serão resolvidos por ordem de
competência:
a) - Pelo Regulamento Geral Interno da FRELIMO
b) - Pelo Conselho Nacional c) - Pelo Comité Central
XXI - O Regulamento Geral Interno fixa em detalhe as normas de funcionamento da
FRELIMO. O Regulamento Geral Interno é elaborado pelo Comité Central, aprovado
pelo Conselho Nacional e submetido a ratificação do Congresso.
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Alcídio Leão
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
XXIV - Provisoriamente, a sede da Frelimo está em Dar es Salaam, Tanganyika.
PROGRAMA
1 União e mobilização de todos os moçambicanos de todas as camadas sociais,
residentes em Moçambique e no estrangeiro, sem discriminação de origem
étnica, de condição de fortuna, de confissão religiosa ou de sexo.
2 Liquidação geral do colonialismo português em todas as suas formas e
manifestações.
3 Lutar por todos os meios para a liquidação, em Moçambique, da dominação
colonial portuguesa e de todos os vestígios do colonialismo e imperialismo.
4 Luta em comum com todas as forças patrióticas moçambicanas.
5 Colaboração com todos os Povos Africanos que lutam pela sua Independência
completa, em particular com os Povos e as organizações das colónias
portuguesas.
6 Colaboração com todas as forças progressistas e amantes da paz do mundo
inteiro, e conquista da simpatia e apoio de todos os Povos à Causa da
Libertação do Povo de Moçambicano.
7 Conquista da Independência Nacional imediata e completa da pátria
Moçambicana.
8 Instauração de um Regime Democrático na base da Independência total, e no
qual todos os moçambicanos estarão no mesmo plano de igualdade perante a
lei, com os mesmos direitos e deveres.
9 Formação de um Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo, em que a soberania
da Nação seja fundamentada na vontade popular.
10 Manter a unidade e integridade territorial de Moçambique.
176
Alcídio Leão
28.13. O CONGRESSO
A matéria relevante a Acordos de Lusaka encontra-se inserido na disciplina de direito
constitucional I com os seguintes temas constituição de 1975.
Noção
Obrigações em sentido amplo e improprio
Em sentido amplo, desprovido de rigor técnico-jurídico, obrigações designa o lado
passivo de qualquer relação jurídica, ou seja, de qualquer relação da vida social
regulada e tutelada pelo Direito.
Abrange o dever jurídico, por forca do qual uma pessoa se encontra vinculada a
observar certas conduta no interesse de outra ou de outras, e o estado de sujeito, que se
178
Alcídio Leão
traduz na submissão aos efeitos jurídicos produzidos por iniciativa alheia (no exercício
de um direito potestativo).
Direito potestativo a faculdade que o sujeito tem de produzir efeitos jurídicos mediante
declaração de vontade sua, em certos casos integrada por decisão judicial.
Terminologia
Verdadeiramente, obrigações é a face passiva de uma relação jurídica de certas
conteúdo (como o são, do modo semelhante, a sujeição e o ónus). Mas o termo
obrigações usa-se também, correntemente, para designar a correspondente relação
jurídica no seu todo. Nessa acepcao a empregaremos frequentemente, seguindo a lição
dos autores e a lei (veja-se v.g a definição do citado art. 397).
As obrigações, neste sentido, também se chamam relações jurídicas de crédito. Mas não
tem necessariamente por objecto, ao contrário do que na linguagem comum
muitas vezes se pressupõe, o pagamento de dinheiro. Podem vincular a entrega de
outras coisas ou á realização de factos positivos (accoes) ou negativas (omissões).
O sujeito activo diz-se credor e o sujeito passivo devedor.
179
Alcídio Leão
Dever de lealdade
A alínea h) do art. 58 LT, consagra que o trabalhador, que o trabalhador tem em
especial o dever de «ser leal ao empregador, designadamente não negociado por conta
própria ou alheia, em concorrência com ele, bem como colaborando para a melhoria do
sistema de segurança, higiene e saúde no trabalho».
Este dever constitui manifestação do princípio de boa-fé, o qual impera em todos
contratos, esperando-se de que as partes contratantes actuem segundo este princípio.
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Alcídio Leão
94
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Direito constitucional;
Direito administrativo;
Direito financeiro;
Direito fiscal;
Direito processual.
Outros ramos se têm pretendido autonomizar, como a disciplina jurídica das relações
nos quadros do Estado – direito dos cultos. Os indicadores são, porem, os
fundamentais.
Com ROCCO, existem três requisitos para que um ramo de direito possa considerar-se
autónomo mormente: i) extensão bastante para merecer estudo adequando e participar;
ii) doutrinas homogéneas, dominadas por conceitos gerais comuns e distintos dos
informadores de outras disciplinas e iii) método próprio, ou seja, utilização de processos
especiais para o conhecimento da verdade que constitui o objecto da pesquisa. O que
importa para a autonomia de um ramo de conhecimento é objecto, institutos, método é
princípios próprios, para além de uma elaboração legislativa própria.
184
Alcídio Leão
Direito das coisas É o direito das obrigações regula relações jurídicas em que o bem
garantido ao credor é uma prestação ou serviço de outrem. O direito das coisas
disciplina relações jurídicas em que o bem garantido é uma coisa.
Chama-se direito real a um poder directo e imediato sobre uma coisa. O direito real
permite à pessoa extrair da coisa utilidade que esta apresenta: e, como direito absoluto,
implica o poder geral de respeito por parte de todas as outras pessoas.
Pelo contrario, aquele a quem emprestam certa coisa, um livro por exemplo –
comodatário – disfruta do livro porque outrem o deixa. O seu poder sobre o livro não é
directo e imediato, deriva da autorização do proprietário.
Sendo o direito real um poder directo e imediato sobre uma coisa, a relação jurídica
real é aquela de que o direito real é lado activo. Esta relação é absoluta, isto é, trava-se
entre o titular do direito real e todas as outras pessoas; objecto imediato da relação é o
binómio direito real-dever jurídico; objecto mediato da relação é uma coisa. Este o
principal traço diferenciador da relação real (o objecto mediato da relação obrigacional
é uma prestação).
A nossa ordem jurídica só admite sobre as coisas incedam direitos (reais) pertencentes a
tipos rígidos que enumera. Não é lícito à vontade das partes fixar livremente o conteúdo
das obrigações, cfr. Artigo 398° do Código Civil). Os direitos reais estão tipificados na
lei – tipicidade dos direitos reais constituem numerus clausus.
Referindo-se as figuras mais importantes, os direitos reais surgem-nos no Codigo Civil
de duas maneiras: com valor autónomo, destinados a dar base jurídica ao gozo (uso e
fruição) das coisas – direitos reais de gozo; ou destinados a dar especial garantia a uma
obrigação, mediante a constituição de um vínculo especial entre o credor e certo bem do
devedor – direitos reais de garantia (garantias reais).
Direito reais regula a atribuição das coisas dos sujeitos, a sua instituição central é o
proprietário.
Assento
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Alcídio Leão
Natureza absoluta direito real projecta-se na inercia que por sua vez desenvolve na
sequela e na prevalência.
Direito Real excluem direitos incompatíveis constituídos sobre a mesma coisa,
Prevalência.
Característica
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Objecto real tem de ser uma coisa determinada e como tal existente que não feri os
bons costumes artigo 28 nᵒ1 do código Civil.
Absolutividade;
Sequela;
Prevalência;
Angulatoriedade.
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Nunca se transmite um direito a uma outra coisa, se houver uma outra coisa.
Cria-se um novo direito a um da coisa. Existingue um cria outro.
Absolutividade: a bordagens da absolutividade como características dos direitos reais
parte da diferença entre os direitos obrigacionais e os direitos reais.
Os direitos obrigacionais e direitos de crédito tem as seguintes características
fundamentais:
Produz efeito entre partes, isto é cada parte só pode extinguir a realização da
prestação a pessoa com quem celebrar o negocio jurídico.
São direitos através dos quais se afecta uma coisa corpórea a um determinado
sujeito não se afecta a realização de uma prestação como acontece nos direitos
de crédito.
São direitos que produzem efeitos a todos e não apenas inter partes partes ou
seja são direitos oponíveis “erga omnes”.
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Bem imóvel
C Boa-fé comprou a coisa e registou artigo 892 Código civil e 291.
Sequela: é o direito de perseguir a coisa e exercer o direito real mesmo quando a coisa
se encontra na posse ou detenção de outrem.
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Resolução
Sujeito: Cesar – Vendedor
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Joao – Comprador
Bernado – Terceiro de Boa-fe
os princípios dos Direitos Reais correspondem as ideias gerais que subjazem as normas
deste ramo de Direito e que, embora não permitam a subsunção directa para a resolução
de casos concretos, como sucede com as normas, podem, enquanto critérios lógicos,
sistemáticos e teleológicos servir como auxiliar de interpretação dessas mesmas normas.
c) O princípio da elasticidade
d) O princípio da transmissibilidade
e) O princípio da publicidade
f) O princípio da boa fe.
O princípio da especialidade
Um outro princípio dos direitos reais é o princípio da especialidade, o qual exige que se
possa individualizar concretamente a coisa que constitui objecto do direito real.
Efectivamente. Efectivamente, vimos já que os direitos reais têm necessariamente por
objecto coisas corpóreas. O princípio da especialidade refere-nos que, para se poder
constituir um direito real, as coisas corpóreas sobre que o mesmo incide tem que se
encontrar determinadas, ter existência presente, e ser autónomas de outras coisas. Se
tomarmos em consideração separadamente estas três exigências podemos dividir este
principio em três sub-principios: o sub-principio da determinação, o sub-principio da
actualidade, e o sub-principio da autonomização ou da totalidade.
O sub-principio da determinação exige que, para que possa ocorrer a constituição do
direito real, a coisa sobre que o mesmo incide se encontre determinada. Efectivamente,
se o titular tiver apenas direito de credito (cfr. Art. 539ᵒ), so se constituindo o direito
real a partir do momemto em que as coisas sejam determinadas (art. 408ᵒ, nᵒ2). Pelo
mesmo motivo, não existem direitos reais autónomos sobre universalidades, incidindo o
direito individualmente sobre cada uma das coisas que compõem a universalidade.
O sub-principio da actualidade exige que a coisa tenha existência presente para poder
ser objecto de direitos reais. Ao contrario da prestação que pode ser relativa a coisa
futuras (art. 399ᵒ) e constitui ela própria uma conduta futura do devedor, as coisas tem
que ter existência presente para poder ser objecto dos direitos reais. Assim, um direito a
coisas futuras não constitui um direito real, mas antes um direito de credito, apenas se
podendo transmitir o direito quando a coisa é adquirida pelo alienante (art. 408ᵒ, nᵒ2).
Da mesma forma, não existe um direito real sobre coisas passadas, implicado a perda da
coisa da extinção do direito que pode sobre ela incidiu.
193
Alcídio Leão
O princípio da tipicidade
um dos princípios característicos dos direitos reais é o principio da tipicidade, ou do
numerus clausus dos direitos reais. Este encontra-se previsto no art. 1306ᵒ do código
civil, que proíbe a constituição de restrições ao direito de propriedade ou de figuras
parcelares desse direito fora dos casos previstos na lei. Com uma formulação
manifestamente infeliz, esta norma visa simplesmente estabelecer a proibição da
existência de direitos reais que não se encontre previsto na lei. Efectivamente, o código
pretendeu limitar o elenco dos direitos reais aqueles que a lei reconhece e abolir todos
aqueles que não correspondem aos tipos legais, designadamente os constantes de
costumes. Se, as partes ao abrigo da sua autonomia privada quiserem criar novos
direitos reais, a lei nega-lhes a pretendida eficácia real, atribuindo-lhes apenas natureza
a obrigacionais.
A tipicidade implica assim limitação do numero de realidades que podem ser
qualificadas como direito reais, não podendo os mesmos resultar do costume ou da
autonomia privada, tendo que ser a lei a criar os direitos inseridos nessa categoria 95. A
tipicidade restrinde-se, no entanto, á criação de direitos reais, não abrangendo os
95
OLIVEIRA ASCENSAO, Reais, pp 161 e ss. E Carvalho Fernandes, Direitos Reais, p82.
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Alcídio Leão
O princípio da elasticidade
Um outro princípio relativo aos direitos reais consiste na elasticidade, o qual exprime a
admissibilidade da sua compressão, em virtude da constituição de um novo direito real
que onere a coisa, bem como da sua expansão, em caso de extinção posterior desse. O
conteúdo do direito real não é assim imutável, variando á medida que se vao
constituindo e extinguindo os direitos reais que incidem sobre a coisa.
A propósito desta solução, alguma doutrina tem feito referência a um principio de
compatibilidade (ou da exclusão), referindo que só pode existir um direito real sobre
determinada coisa que seja compatível com outro direito que a tenha por objecto96.
O princípio da transmissibilidade
O principio da transmissibilidade não é especifico dos direitos reais, na medida em que
a regra dos direitos patrimoniais é a de que eles são em principio transmissíveis, tanto
em vida como morte. É, no entanto, direitos reais que a transmissibilidade atinge maior
importância, sendo incluída mesma na garantia constitucional da propriedade privada
(art. Const.).
A transmissibilidade implica, em primeiro lugar, que os direitos reais possam ser
objecto de sucessão por morte (art. 2024). Há, no entanto, alguns direitos reais, em
relação aos quais se exclui a heritabilidade, como o usufruto e o uso e habitação, que
não podem exceder a vida do titular (cfr. Art. 1443ᵒ).
96
Cfr. A este propósito, ORLANDO DE CARVALHO, Direito das Coisas, pp. 231 e ss., e SANTOS
JUSTO. Direitos Reais, p. 31.
195
Alcídio Leão
Em, segundo lugar, a transmissibilidade implica que o direito real possa ser transmitido
por acto inter vivo. Essa solução é, no entanto, exceptuada pela existência de direitos
reais inalienáveis, como o uso e habitação (art. 1488ᵒ cc). O regime da
transmissibilidade negocial dos direitos reais regulada no art. 408, sendo a transmissão
negocial dos direitos reais regulada entre nos pelos princípios da consensualidade e da
causalidade97.
O principio da consensualidade significa que para a constituição ou transmissão do
direito real basta normalmente o acordo das partes, pelo que a celebração do contrato
acarreta logo a transferência do direito real (arts. 408, nᵒ 1 e 1317ᵒ al.a)98. A
transferência ou constituição do direito real é consequentemente imediata e instantânea.
Logo no memento da celebração do contrato. Assim, ao contrario do que sucede com os
efeitos obrigacionais, que exigem o posterior cumprimento das respectivas obrigações,
o efeito real verifica-se automaticamente no momento da formação do contrato, sendo,
por isso, a propriedade transmitida apenas com base no simples consenso das partes,
verificado nesse momento.
Ligado ao principio da consensualidade está o principio da causalidade, nos termos
do qual a existência de uma justa causa de aquisição é sempre necessária para que o
direito real se constitua ou transmita. Como existência de titulo é necessária para a
constituição ou transmissão do direito real, a validade ou regularidade da causa de
aquisição é imprescindível para que essa constituição ou transmissão se opere, pelo que
qualquer vicio no negocio causal afectara igualmente a transmissão da propriedade.
O principio da publicidade
O principio da publicidade significa que os factos jurídicos relativos aos direitos reais
devem ser dados a conhecer ao publico em geral99. A publicidade pode realizar-se por
varias formas.
97
Cfr, MENEZES LEITAO, Obrigacoes, III, pp. 22 e ss.
98
Sobre o principio da consensualidade, cfr. Detalhamente MARTA CLARA SOTTOMAYORA, Invalidade e
registo. A protecção do Terceiro Adquirente de Boa Fé, Coimbra, Almedina, 2010, pp. 165 e ss.
99
Cfr. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, pp. 43 e ss.
196
Alcídio Leão
A forma mais comum de assegurar a publicidade dos direitos reais é a posse. A posse
desempenha uma função importante para assegurar a publicidade dos direitos reais,
principalmente no caso das coisas moveis naos sujeitas a registo. A lei atribui mesmo ao
possuidor a presunção da titularidade do direito (art. 1268ᵒ, nᵒ1), na medida em que
pressupõe, ate prova em contrario, que a realidade possessória coincide com a realidade
substantiva. Em certos casos, a transferência da posse é mesmo necessária para que o
direito real se constitua, como sucede no penhor (art. 669ᵒ, nᵒ1).
A forma mais perfeita de assegurar a publicidade dos direitos reais é, no entanto, através
do registo, a que estão sujeitos genericamente os bens imoveis (registo predial), assim
como certos moveis (automóveis, navios e aeronaves).
O princípio da boa-fé
A boa-fé constitui um principio geral do Direito Civil tendo, por isso igualmente
aplicação em Direitos Reais. No entanto, nesta disciplina a boa fe tem um campo de
aplicação bastante mais restrito do que o que sucede em Direitos das Obrigações. Tal
resulta de o nosso legislador não ter consagrado o princípio posse vale titulo, que
protege o possuidor de boa-fé contra a reivindicação de móveis.
Pode encontrar-se, no entanto, alguma aplicação da protecção do adquirente de boa fe
no caso de coisa comprada a comerciante (art.1301), bem como no regime da aquisição
tabular (arts. 5… e art. 291° do código civil).
A boa fe tem ainda relevo para efeito da posse (arts. 1260°, 1269° e ss), da usucapião
(arts. 1295° e 1298°) e da acessão industrial (arts. 1333° e ss. E 1340° e ss).
Em todos estes institutos, o legislador adopta uma concepção subjectiva da posse,
contrastando com a concepção objectiva primordialmente vigente em Direito das
Obrigações. Há, no entanto, certos institutos gerais relativos á boa fe objectiva que tem
igualmente aplicação no âmbito dos Direitos Reais, como sucede com o abuso de direito
(art. 334°), por outro lado,por vezes a lei estabelece deveres específicos de protecção,
informação e lealdade no âmbito das relações entre titulares de direitos reais, como
sucede com o usufruto (art. 1475°).
197
Alcídio Leão
198
Alcídio Leão
Uma das bases da sociedade é a família. A família constitui-se pelo casamento – união
estável de homem e mulher cfr. Artigo 1577°. Do Código Civil), pela procriação ou
geração de filhos e pela adopção.
Destes três factos – casamento, procriação ou geração, adopção – derivam os vínculos
familiares básicos – matrimónio, parentesco, afinidade.
Matrimónio é o complexo de relações (relações matrimoniais) que se estabelecem entre
os cônjuges (marido e mulher) pelo casamento.
Parentesco é o vinculo que une duas pessoas, em consequência de uma delas descender
de outra ou de ambas procederem de um progenitor comum (Codigo Civil, artigos
1578°).
Este o parentesco consanguíneo ou parentesco parentesco stricto sensu;
O termo parentesco, em sentido amplo, abrange porem igualmente o parentesco
adoptivo (Cfr. Artigo 1586° do Codigo Civil).
Afinidade é o vingulo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro (Codigo
Civil, artigo 1584°).
O artigo 1576° do código Civil arruma de outra modo, o que, em nossa opinião, é
bastante criticável. Com efeito, estatui:
São fontes das relações jurídicas familiares o casamento, o parentesco, afinidade e a
adopção.
Fontes das relações jurídicas familiares – em correlação com fontes das obrigações
(cfr. Capitulo correspondente aos artigos 405° e seguintes) – deviam ser os factos de
que tais relações decorrem. Ora, entre as quatro realidades previstas no 1576°
encontramos:
Um facto: o casamento (contrato), artigo 1577°;
Dois vínculos (ligações familiares básicos): parentesco (artigos 1578°) e afinidade
(artigo 1584°);
Uma realidade que todos entendem como facto, mas que o artigo 1586°. Define como
vinculo: a adopção.
199
Alcídio Leão
Parece-nos que o quadro conceptual dos artigos 1576° e seguintes do Codigo Civil mais
perturba que esclarece.
Fontes das relações jurídicas familiares (factos constitutivos delas) são: casamento,
procriação ou geração e adopção.
Do casamento resulta o vínculo matrimónio;
Da procriação (ou de jogo de procriações) o vinculo parentesco (consanguíneo);
Do casamento, ligação à procriação e a adopção, o vinculo afinidade.
O parentesco determina por linha e graus (Código Civil, artigos 1579 e seguintes).
As linhas são duas: recta e colateral (por vezes, chamadas também directa e
transversal);
Linha directa: a linha diz-se recta quando um dos parentes descende do outro (código
civil, artigo 1580° n°1): avo ou avo, pai ou mãe, filho ou filha, neto ou neta são parentes
em linha recta.
A linha recta é descendente ou ascendente, descendente quando se considera como
partindo do ascendente para o que dele procede; ascendente, quando se considera como
partindo deste para o progenitor (artigo 1580° n°2).
Na linha recta há tantos graus quantas as pessoas que formam a linha de parentesco,
excluído o progenitor (artigo 1581° n°1). Assim, avo e neto são parentes em linha recta
em 2°, grau (avo – pai – neto; três pessoas, excluindo uma, são duas - 2° grau).
Linha colateral: A linha diz-se colateral, quando nenhum dos parentes descende do
outro, mas ambos procedem de um progenitor comum (artigo 1580° n°1). Irmaos, tios,
sobrinhos, primos são parentes na linha colateral.
Na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma, subindo por um dos ramos e
descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum (1581° n°2). Assim os
chamados primos direitos são parentes em 4° grau:
200
Alcídio Leão
A
BC
DE
D e E (primos direitos) são parentes em 4° grau (D – B – A – C – E, 5 menos A – 4).
Irmãos são parentes em 2° grau (B – A – C, 3 pessoas, menos A – 2). Não pode haver
colaterais do 1° grau.
Duas observações finais:
Salvo disposições da lei em contrário, os efeitos do parentesco produzem-se em
qualquer grau na linha recta e até ao sexto grau na colateral (artigo 1582°).
A afinidade determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não
cessa pela dissolução do casamento (artigo 1585).
Uma distinção importante do direito antigo dividia os parentes e fins em legítimos e
ilegítimos (artigos 1583°, 1584° n°2 da versão originaria do Código Civil). Parentesco
legitimo era aquele que se verificava provindo todas as gerações de casamento;
parentesco ilegítimo o que se verificava quando alguma das gerações não provinha de
casamento.
A esta distinção nega hoje relevância jurídica o artigo 36° n°4 da Constituição:
Os filhos nascidos fora do casamento não podem, por esse motivo, ser objecto de
qualquer discriminação e a lei ou as repartições oficiais não podem usar designações
discriminatórias relativas à filiação.
Os principais do parentesco são (com a limitação da linha colateral; não as há na
linha recta);
A atribuição, morrendo um dos parentes, dos bens aos outros - sucessão legitima
(artigo 2133°). E legitimaria (artigo 2157°): ate 4° grau;
A prestação reciproca de alimentos: até o 4° grau (artigo 2009°);
A existência de impedimentos ao casamento: 2° grau, impedimento dirimente absoluto,
3° grau, impedimento impediente (removível) (artigos 1602° alínea b) e 1604° alínea c);
201
Alcídio Leão
Casos Particular
Há situações que deve ser reguladas pelo direito, mas oferecem a seguinte dificuldade:
é que estão em conexão, através dos seus elementos, com ordens jurídicas diversas, pelo
que se poe antes de mais o problema da identificação da ordem jurídica aplicável.
Assim, suponhamos que A, português, empresta em Madrid uma quantia a B francês,
para ser paga em Londres. Ou que se verifica um acidente de na Italia envolvendo um
suico e um alemão. Em todas estas situações, verificou-se um conflito de leis: a
possibilidade em principio da aplicação de mais de uma ordem jurídica.
O ultimo livro do Código Civil, o Livro V, artigos 2024° - 2334° (ultimo artigo),
contem o Direito das Sucessões.
Vejamos agora os direitos privados especiais, que em minha opinião, são apenas dois;
203
Alcídio Leão
Diz-se por exemplo que, sendo o comercio uma das três categorias fundamentais da
actividade económica – agricultura, comercio, industria – as restantes categoria deviam
dar lugar também a ramos de direito privado: direito agrário e direito industrial. Ou
então, conglomeram-se direito agrário, direito comercial e direito industrial num ramo
de direito económico.
Em orientação de certo modo contraposta, por vezes critica-se a autonomia de certos
ramos do direito privado, designadamente o comercial.
Cremos que os dois ramos do direito privado que merecem, no actual direito português,
autonomia são os dois que deixamos referidos: Laboral e Comercial.
204
Alcídio Leão
Neste complexo, encontramos normas sobre as mais variadas relações, algumas das
quais pertencem, pelo seu objecto, a ramos já estudados. Exemplo claro desta situação é
constituído pelo artigo 36° da Constituição (sob a epigrafe “Família, casamento e
filiação”). As normas ai previstas – estabelecimento do direito a constituir família,
igualdade dos cônjuges, proibido de discriminação dos filhos nascidos fora do
casamento – são normas constitucionais, no sentido de pertencerem ao grau mais levado
da hierarquia das leis (um decreto-lei do Governo ou uma lei da Assembleia da
República não podem estabelecer desigualdades os cônjuges, ou entre filhos nascidos
no ou fora do casamento); mas não deixam de ser normas de direito privado, direito
da família, e por isso estão fora do direito constitucional, direito público.
O direito constitucional esta em correlação com a constituição em sentido material.
Esta abrange apenas a estruturação da organização superior do Estado, e o
estabelecimento dos direitos e deveres fundamentais das pessoas perante o Estado e
outras pessoas revestidas de autoridade política.
Direito constitucional é, pois, aquele que regula a estruturação e funcionamento dos
órgãos superiores do Estado e os direitos e deveres fundamentais das pessoas.
Há inclusivamente direito constitucional fora da constituição (em sentido formal) – leis
eleitoral, regimento da Assembleia da República, leis de organização do Governo, lei do
tribunal Constitucional, etc.
O nosso diploma fundamental do direito constitucional é a constituição da república
portuguesa, de 1976, revista em 1982 e 1989.
Insolvência e Recuperação de Empresas
Direito Processual do Trabalho
205
Alcídio Leão
Nas sociedades com certo grau de evolução, os conflitos de interesse (que o direito
regula) suscitados concretamente entre duas ou mais pessoas – litígios – são decididos
por um órgão imparcial, super parte, chamado tribunal.
O direito que regula a forma de resolução de litígios pelo tribunal chama-se direito
processual. A sequência de actos através dos quais resolve um litígio, diz-se processo.
Quando o litígio se trava entre particulares e é resolvido portanto, pelo direito privado, o
direito processual correspondente chama-se direito processual civil.
Quando se trava entre entidade patronal e trabalhador, nos domínios de um contrato
Individual de trabalho, ou matérias afins, diz-se direito processual do trabalho ou
laboral.
Quando se trata entre um particular e o Estado – Administração Publica, sendo
resolvido, portanto, pelo direito administrativo, diz-se direito processual
administrativo.
Quando se trava entre um particular e o Estado, acerca do exercício por este dum
possível direito de aplicar aquele penas criminais, diz-se direito processual criminal
ou penal.
há mas tipos possíveis, ou existentes no direito português, de processos ou direitos
processuais: processo tributário, processo de justiça militar, etc., mas os indicados são
os mais importantes.
As questões ou litígios civis ou civis (abrangendo as comerciais e as de trabalho) e as
criminais cabem aos tribunais comuns – tribunais de camarca, Relações e Supremo
Tribunal de Justiça ( estes dois últimos fundamentalmente tribunais de recurso).
As questões ou litígios administrativos acabem aos Tribunais administrativos –
tribunais administrativos de circulo e Supremo Tribunal Administrativo (1ª
Secção – a 2ª é de contencioso tributário).
Também merece referencia o Tribunal Constitucional, ao qual compete a fiscalização,
abstracta e concreta, da constitucionalidade das normas (artigos 277° e seguintes da
constituição).
Há outros tipos de tribunais, mas estes são os mais importantes.
206
Alcídio Leão
O direito processual civil regula a função jurisdicional do Estado, ao mesmo tempo que
serve o interesse público, ou seja, a justiça, impedindo que os particulares recorram à
justiça privada.8
Nos termos do art. 118º, nº 1, da Constituição, os tribunais são órgãos de soberania com
competência para administrar a justiça em nome do povo. A função jurisdicional, ou
administração da justiça, constitui o exercício de uma autoridade soberana que
através do princípio da separação dos poderes foi investida nos tribunais – o poder
judicial – de que os juízes são titulares exclusivos.9 Conforme Castro Mendes, “A
natureza pública do direito processual civil, e assim também do processo civil, advém
da sua estreita ligação com a função jurisdicional”.10
Ou seja, o direito processual civil é direito público porque existe uma relação de
subordinação das partes ao juiz, que explica a força vinculativa das partes às decisões
judiciais.
“O direito público abrange as normas reguladoras das relações em que um dos sujeitos
exerce uma função de Segundo Antunes Varela, “Se na acção estão primariamente em
jogo os interesses (particulares) das partes, também é certo que no direito processual
civil, ao substituir-se a prática da justiça privada pelo sistema básico da justiça pública,
se destaca o interesse colectivo da paz social”.12
207
Alcídio Leão
O direito processual civil é um direito instrumental ou adjetivo, uma vez que as suas
1normas apenas indicam o caminho a ser seguido para solucionar o conflito entre as
partes processuais.15
O tribunal, ao proferir a sua decisão, realiza o direito substantivo.16 Por exemplo, se o
autor pede a condenação do réu no pagamento de dinheiro que alega ter emprestado ao
réu e o réu nega que tenha havido empréstimo, será o direito substantivo que vai definir
se o autor tem ou não esse direito. O direito processual limita-se a ordenar a forma
como o tribunal vai decidir a questão de direito substantivo.17
soberania e em que, por conseguinte, se estabelece entre os respectivos sujeitos uma
relação de subordinação”
15 Para Castro Mendes esta qualificação não é rigorosa, dado que, por vezes, o juiz fixa
ou determina ele próprio elementos da decisão, sem os receber do direito substantivo,
como, por exemplo, quando fixa a quantia relativa a danos não patrimoniais (Mendes,
Direito Processual Civil, vol. I, 1997, pág. 127). Importa referir, contudo, que mesmo
nestes casos existem normas ou princípio de direito substantivo que o juiz deve seguir.
208
Alcídio Leão
O direito processual civil contém normas de aplicação imediata. Nos termos do art. 2º
do CPC20, salvo disposição em contrário, a lei processual civil é de aplicação imediata,
sem prejuízo da validade dos atos praticados na vigência da lei anterior.21
Este princípio teve igual consagração no art. 2º, nº 1, do Decreto-Lei nº 1/2006, de 21 de
Fevereiro, que aprovou o CPC.22 Contudo, no nº 2 do mesmo preceito veio-se permitir
ao juiz uma aplicação mais lata do novo Código, mesmo retroativamente, desde que tal
aplicação não quebrasse a harmonia processual e não colidissem com a celeridade
processual.23
209
Alcídio Leão
210
Alcídio Leão
Civil Indonésio que se designará por CCI. O Código Civil Indonésio recebido como
legislação nacional timorense
nos termos das disposições conjugadas dos arts. 165º da Constituição da RDTL, 3º, nº 1,
do Regulamento da Untaet nº 1/1999, e 1º da Lei nº 2/2002, este com a interpretação
expressa pelo art. 1º da Lei nº 10/2003, de 10 de Dezembro, iniciou a sua vigência no
território nacional como consequência natural da integração naquele país, iniciando-se a
sua vigência de facto com a invasão, ou, pelo menos a constituição do primeiro do
governo provisório de Timor-Leste em 17 de Dezembro de 1975, tendo sido
formalizada a integração do território de Timor-Leste na Indonésia através da
declaração do Presidente da República da Indonésia de 17 de Julho de 1976.
Nos termos do seu art. 1º o CPC é a fonte do processo civil. Importa aqui referir que não
existe neste momento qualquer outra legislação relativa ao processo judicial ou
contencioso, salvo normas dispersas de contencioso administrativo, pelo que o CPC se
aplica a todas as situações de resolução de conflitos ou de contencioso.
Assim, verificando-se casos omissos recorre-se sucessivamente: a) À regulamentação
dos casos análogos previstos neste Código; b) Aos princípios gerais do direito
processual civil; c) À norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar
dentro do espírito do sistema (nº 2 do mesmo art. 1º do CPC.
211
Alcídio Leão
Importará sempre verificar se a lei oferece solução para o caso, ou seja, se a situação
pode ser regulada segundo o formalismo previsto no CPC, só depois se deve recorrer à
analogia ou aos princípios gerais do direito processual civil.28 A analogia não se
determina pala igualdade formal das situações, mas pela identidade substancial dos
fundamentos da norma jurídica aplicável.29
Verifica-se a existência de várias lacunas no CPC, nomeadamente respeitantes à
regulação do processo de jurisdição voluntária30 e aos processos executivos para
entrega de coisa certa ou para prestação de facto.
Relativamente ao contencioso administrativo tem-se colocado a mesma questão. Assim,
tem sido aplicado o CPC devidamente adaptado. Importa, contudo, ter em consideração
a Lei Indonésia nº 5/1986, que cria os tribunais administrativos da Indonésia e regula o
respectivo processo.
Proibição da autodefesa
Nos termos do disposto no art. 4º do CPC a ninguém é lícito o recurso à força com o fim
de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites
declarados na lei.32
A autodefesa como forma de solução de conflitos corresponde à utilização de força pelo
particular para proteger direito próprio (corresponde também à ação direta). Nos casos
em que a lei o exige, como por exemplo no embargo extrajudicial de obra nova,
previstos no art. 334º, nº2, do CPC, a auto-defesa carece de ser homologada ou
ratificada por posterior decisão judicial.33
Antes da tutela das soluções para os conflitos e interesses jurídicos passarem para o
Estado, a autodefesa era uma forma de solução de conflitos. Atualmente, apenas se pode
exercer a autodefesa nos casos e dentro dos limites estabelecidos em lei.
41.12. Jurisdição
212
Alcídio Leão
213
Alcídio Leão
Face a esta reserva de jurisdição, o art. 26º da Constituição garante a todos os cidadãos
o acesso aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos.
Daí que, nos termos do art. 6º do CPC nenhum juiz possa recusar-se a realizar
audiência, julgar ou decidir um caso apresentado aos tribunais.37 Trata-se de
manifestação da obrigação de julgar previsto no art. 7º, nº 1, do Código Civil (O
tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei ou
alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio).
Por outro lado, a todos é garantido o acesso à justiça, conforme previsto no art. 26º, nº
2, da Constituição (a justiça não pode ser denegada por insuficiência de meios
económicos).
O direito de acesso aos tribunais inclui o direito ao patrocínio judiciário, o Estado
devendo promover a igualdade dos cidadãos no acesso ao direito e aos tribunais em caso
de carência de meios económicos. Em cumprimento desta exigência constitucional, a lei
vem instituir a Defensoria Pública e reconhecer o direito ao patrocínio judiciário
gratuito (arts. 3º e 4º do DL nº 38/2008 (Estatuto da Defensoria Pública) e, por outro
lado, prevê a isenção de custas para quem for patrocinado pela Defensoria (art. 5º).
Decreto-Lei nº 19/2009, de 8 de Abril.
O direito de acesso ao Direito e aos tribunais decorre imediatamente da ideia de Estado
de Direito e, independentemente da sua recondução a direito, liberdade ou garantia, este
direito fundamental carece de conformação legal e pressupõe, sem dúvida alguma, uma
dimensão prestacional a cargo do Estado.38
214
Alcídio Leão
100
Vasconcelos, Constituição Anotada da República Democrática de Timor-Leste, 2011, págs. 106-107.
Sobre o processo equitativo na vertente do princípio do contraditório pronunciou-se o Tribunal de
Recurso, entre outros, nos acórdãos de 13-7-2010, processo nº 07/Cível/2005/TR, 21-10-2010, processo
nº 12/Agravo/Cível/2010/TR, 31-3-2011, processo nº 02/Cível/Agravo/2011/TR, e 29-3-2012, Processo
nº 03/Cível/2012/TR
216
Alcídio Leão
Na jurisdição voluntária, como se viu já, o Estado regula a administração pública dos
interesses privados, em razão da relevância desses interesses.46 Não há necessidade de
conflito.47
Nos processos de jurisdição voluntária pretende-se regular a administração
pública dos interesses privados, em razão da relevância desses interesses, e não da
existência de um qualquer conflito.48
Voltando à definição de Antunes Varela, “Nos processos de jurisdição voluntária a
função exercida pelo juiz não é tanto de intérprete e aplicante da lei, como de verdadeiro
gestor de negócios – negócios que a lei coloca sob a fiscalização do Estado através do
poder judicial”.
47 O que não significa que não exista, mas simplesmente que ele não é pressuposto do
processo, como acontece nos casos de jurisdição contenciosa. “A distinção entre
jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa resulta, assim, não propriamente da
existência ou não de controvérsia, mas da existência ou não de um litígio em sentido
técnico (Almeida, Direito Processual Civil, vol. I, 2010, págs. 20-23).
processos de adoção ou de regulação do poder paternal são processos de jurisdição
voluntária,50 e também o serão os processos especiais de interdição e inabilitação
(arts. 793º a 907º) e o processo especial de reforma de autos, documentos e livros (arts.
808º a 816º).51
217
Alcídio Leão
Nos termos do art. 3º, nº 3, do CPC, dizem-se ações executivas aquelas em que o autor
requer as providências adequadas à reparação efetiva do direito violado. Ou seja, as
ações executivas têm por finalidade a reintegração do direito violado, mediante a
realização coerciva de uma prestação, que pode ter por objeto uma coisa ou um facto.63
Pretende-se com a ação executiva forçar o obrigado a cumprir uma determinada
prestação já previamente determinada judicial ou extrajudicialmente, através dos meios
coercivos do Estado colocados à disposição do tribunal.64
Na definição de Antunes Varela, “As acções executivas são aquelas em que, invocando
a falta de cumprimento de uma obrigação constante de documento revestido de especial
força probatória (título executivo), o autor (exequente) requer a efetiva reintegração do
seu direito ou a aplicação das sanções correspondentes à sua violação.65
A ação executiva pressupõe, pois, a existência de um título executivo que certifique o
direito do exequente (art. 668º, nº 1, do CPC). Título que tanto pode ser judicial
(uma sentença transitada em julgado em que, mediante a ação declarativa se
reconheceu o direito do exequente), como extrajudicial (declaração de reconhecimento
de dívida feita mediante documento autêntico ou autenticado), nos termos do art. 669º,
nº 1, do CPC.66
Por exemplo, se António não paga a Bernardo uma determinada dívida cuja existência
não está em dúvida, por ter sido reconhecida pelo tribunal através de uma ação
declarativa, ou porque
220
Alcídio Leão
Segundo Lebre de Freitas, “Às acções que visam a declaração de direitos, pré-existentes
ou a constitui, ou de factos jurídicos, opõem-se aquelas que, não cuidando já de os
declarar, têm por fim a reparação material dos direitos violados”.69
221
Alcídio Leão
nenhuma prestação se pode exigir ao réu uma vez que o tribunal se limita a considerar a
existência ou inexistência do direito.74
A ação de simples apreciação torna-se necessária perante uma situação que impeça uma
pessoa de beneficiar do pleno efeito útil normalmente proporcionado pela relação
material ou que lhe cause um dano patrimonial ou não patrimonial apreciável.75
O facto cuja existência ou inexistência se pretende ver declarada tem, porém, que ser
um facto jurídico e com relevância jurídica, não um facto neutral ou ajurídico (como a
declaração de ter ou não chovido em determinado dia do ano).76
que o tribunal declare que tal servidão não existe, uma vez que a afirmação do vizinho
lhe causa evidente prejuízo.78
Nos termos do art. 511º, nº 1, do CPC, nas ações de simples apreciação negativa
compete ao réu a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga. Assim, se o
vizinho da pessoa que pretende vender o prédio diz na vizinhança que tem um direito de
servidão de passagem sobre tal prédio, o dono do prédio apenas que tem que alegar que
tal direito não existe, e que a afirmação do vizinho lhe causa prejuízo. Já a existência do
direito de servidão de passagem terá que ser provada pelo vizinho que invoca a sua
existência.
Como já se referiu, a relevância da incerteza jurídica, nomeadamente o prejuízo que
dela resulta para o autor é elemento constitutivo do direito de ação, sendo inepta a ação
em que não se alegue tal prejuízo, ou a relevância da incerteza jurídica.79
b) Ações de condenação:
Segundo Antunes Varela, “Nas acções de condenação, o autor ou requerente,
arrogando-se a titularidade de um direito que afirma estar sendo violado pelo réu,
pretende que se declare a existência e a violação do direito e se determine ao réu a
realização da prestação (em regra, uma acção, mas podendo muito bem ser uma
abstenção ou omissão) destinada a reintegrar o direito violado ou a reparar de outro
modo a falta cometida”.80
As ações de condenação correspondem às chamadas ações de cumprimento previstas
nos arts. 751º e seguintes do Código Civil.81
Tal como acontece com as ações de simples apreciação, também aqui existe a
declaração de um direito do autor, mas a esse reconhecimento segue-se a condenação do
réu a reparar o direito violado ou a efetuar a prestação em dívida. Efetivamente, a ação
de condenação pressupõe que já foi praticado um facto ilícito (um incumprimento
contratual ou um ilícito extracontratual), pressupõe que o direito já foi violado,
constituindo uma reação contra essa violação, destinando- se a exigir a prestação que
deixou de ser prestada, ou a restauração da situação em função da violação do direito.82
223
Alcídio Leão
Ou seja, seguindo ainda Alberto dos Reis, “A acção de condenação é também uma
acção de apreciação; antes de condenar na prestação o juiz tem que apurar se o direito
do autor existe. Mas a apreciação aparece aqui como meio para se chegar a um fim
último: a condenação; ao passo que na acção de simples apreciação o fim único da
actividade jurisdicional é a apreciação”.83
A ação de condenação tem como finalidade obter do tribunal uma ordem, um comando
destinado ao réu para que este cumpra.84
A ação não pressupõe, porém, que já se tenha verificado a violação do direito, podendo
inclusivamente ser intentada apenas no pressuposto de posterior violação do direito.85
Ou seja, como explica Lebre de Freitas, “pressuposto lógico da condenação é a violação
dum direito, mas não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso a
juízo ou mesmo à data da sentença”.86
O melhor exemplo do que foi referido é constituído pela ação de reivindicação. Se uma
pessoa pretende obter a entrega de um imóvel que diz pertencer-lhe e que se encontra
ocupado por outra pessoa terá, antes de mais, que demonstrar que é o titular do direito
de propriedade sobre tal imóvel. Só depois de tal apreciação. Ou seja, só depois de o
tribunal constatar que o autor tem o direito de propriedade sobre o imóvel, poderá então
condenar o réu a entregar o aludido imóvel ao autor, que era o que efetivamente o autor
pretendia ao intentar a ação. Uma vez apreciado e confirmado o direito invocado pelo
autor e condenado o réu a proceder à entrega do imóvel ao autor, se aquele não cumprir
a ordem constante da sentença, pode o autor pedir a sua execução forçada, através do
processo executivo.
Segundo Remédio Marques, “As acções de condenação constituem, desta maneira, a
forma
c) Ações constitutivas:
Regressando à definição de Antunes Varela, “Nas acções constitutivas, o autor pretende
obter, com a coadjuvação da autoridade judicial, um efeito jurídico novo, que altera a
esfera jurídica do demandado, independentemente da vontade deste”.88
224
Alcídio Leão
225
Alcídio Leão
Nos termos do art. 347º, nº 1, do CPC, o processo de declaração pode assumir a forma
comum ou especial. Mais se acrescenta no nº 2 do mesmo artigo que o processo comum
é utilizado em todos os casos a que a lei não faça corresponder expressamente a forma
de processo especial. Ou seja, o processo comum aplica-se a todos os casos não
especificados na lei como correspondentes aos processos especiais. O processo comum
226
Alcídio Leão
constitui, pois, a regra, aplicando-se a todos os casos para os quais não está previsto
nenhum processo especial.99
Assim, para se determinar em certo caso se deve usar processo especial ou o processo
comum, deve utilizar-se, portanto, o seguinte método: vê-se, sobretudo no CPC, mas
também em leis avulsas, se algum tipo de processo se encontra especialmente previsto
para regular a situação em causa, caso não exista aplica-se o processo comum.100
Ou seja, o processo comum constitui a regra, enquanto o processo especial constitui a
exceção.101 Assim, os processos especiais são aplicáveis apenas aos casos
expressamente previstos em lei, são excecionais e taxativos (especificados na lei).102
São os seguintes os processos especiais previstos no CPC (art. 790º):
a) Interdição e inabilitação
b) Reforma de autos, documentos e livros;
c) Prestação de caução;
d) Divórcio e Separação de pessoas e bens;
e) Prestação de alimentos;
f) Revisão de sentença estrangeira;
g) Inventário;
h) Ação de indemnização contra magistrados.
A lei pode ainda criar expressamente outros processos especiais, para além dos
previstos no CPC.
Os processos especiais regulam-se por normas próprias e, subsidiariamente, pelas
normas do processo comum de declaração (art. 348º do CPC). Sendo omissas essas
normas, aplica-se o que dispõe o art. 1º, nº 2, do CPC).
227
Alcídio Leão
228
Alcídio Leão
Conceito e relevância
Nos termos do art. 1º, nº 2, al. b), do CPC, uma das formas de integração das lacunas da
lei processual civil é o recurso aos princípios gerais da lei processual civil.
Os princípios de processo civil são resultantes das opções, ou as valorações
político-legislativas que em certo momento prevalecem no ordenamento jurídico.107
Como é óbvio, não existe uniformidade de opiniões na doutrina sobre quais são os
princípios mais relevantes do direito processual civil. Procurar-se-á, portanto fazer uma
síntese das várias posições doutrinais sobre a matéria.
Segundo Bento Herculano Neto, “os princípios jurídicos fundamentam todos os
compartimentos do direito, de modo a se tornarem alicerce das mais diversas
construções legislativas. Os princípios, também na ciência jurídica, funcionam como a
moldura que enquadra a obra, limitando-a e complementando-a, simultaneamente e com
229
Alcídio Leão
uma importância muitas vezes não enxergada”. Torna-se, por isso, imperioso estudar os
princípios que alicerçam o direito processual civil, “pois são eles que delineiam as
opções tomadas pelo legislador, tanto no plano constitucional como no
infraconstitucional.108
A primeira regra do direito processual civil está contida no art. 7º do CPC (princípio do
pedido), nos termos do qual o tribunal não pode conhecer de qualquer litígio entre as
partes, sem que tal lhe tenha sido pedido por uma delas. Este pedido faz-se, como é
óbvio, através da petição inicial ou requerimento inicial.
Segundo Ferreira de Almeida, “O processo só se inicia sob o impulso ou iniciativa da
parte (autor, requerente, exequente), através do respetivo pedido (disponibilidade
do início do processo) e não sob o impulso do juiz.109
Trata-se de manifestação do princípio da livre disponibilidade dos direitos subjetivos.
Se o titular de um direito real, por exemplo, pode dele dispor livremente, pode
igualmente não se opor a que outra pessoa usufrua do seu bem, ainda que sem o seu
consentimento.110
230
Alcídio Leão
o efeito.118 Será o caso de o réu deixar decorrer o prazo perentório para a presentar a
contestação, que o impede de o fazer posteriormente.
Outra manifestação deste princípio encontra-se no art. 222º do CPC, nos termo do qual
cumpre ao juiz remover os obstáculos que se oponham ao andamento regular da causa,
quer recusando o que for impertinente ou meramente dilatório, quer ordenando o que se
mostrar necessário para o seguimento do processo.
Consagra-se aqui a direção formal do processo pelo juiz que o conduz da forma que
tecnicamente e de acordo com a sua estrutura interna se afigure mais correto.123
232
Alcídio Leão
O princípio do inquisitório tem, porém, como se vê, menor relevância, não sendo
frequente a intervenção oficiosa do juiz na marcha do processo, uma vez que são a
próprias parte quem tem 119 Relembre-se que o juiz só pode conhecer dos factos
alegados pelas partes, não podendo oficiosamente usar outros factos para fundamentar a
sua decisão (412º do CPC).1
desfavorecidos economicamente, pois a igualdade não deve ser apenas jurídica mas
também prática”.136
Contudo, o princípio da igualdade das partes não contende (nem pode contender) com o
dever de imparcialidade do tribunal.137
Tal como se sublinhou no Acórdão do Tribunal Constitucional de Portugal nº 358/98, “o
processo de um Estado de direito (processo civil incluído) tem, assim, de ser um
processo equitativo e leal. E, por isso, nele, cada uma das partes tem de poder fazer
valer as suas razões (de facto e de direito) perante o tribunal, em regra, antes que este
tome a sua decisão. É o direito
de defesa, que as partes hão-de poder exercer em condições de igualdade”.138 E, por
isso, cada 134 A assistência das partes em processo civil pela Defensoria Pública
encontra-se regulamentada no Estatuto da Defensoria Pública Decreto-Lei nº 38/2008,
de 29 de Outubro.
135 Marques, Acção Declarativa à Luz do Código Revisto, 2009, pág. 199. Veja-se
ainda Freitas, Introdução ao
uma das partes há-de, pois, poder expor as suas razões perante o tribunal (princípio do
contraditório). E deve poder fazê-lo em condições que a não desfavoreçam em
confronto com a parte contrária (princípio da igualdade de armas).139
A vinculação da jurisdição ao princípio da igualdade, mais do que significar igualdade
de acesso à via judiciária, significa igualdade perante os tribunais, de onde decorre que
235
Alcídio Leão
as partes têm de dispor de idênticos meios processuais para litigar de idênticos direitos
processuais. O processo civil tem estrutura dialética ou polémica, pois que assume a
natureza de um debate ou discussão entre as partes. E estas (repete-se) devem ser
tratadas com igualdade. Para além do princípio do dispositivo ou da livre iniciativa e do
ditame da livre apreciação das provas pelo julgador constituem, assim, traves mestras do
processo o princípio do contraditório e o da igualdade das partes (igualdade de armas).
O princípio do contraditório (audiatur et altera pars), enquanto princípio reitor do
processo civil, exige que se dê a cada uma das partes a possibilidade de deduzir as suas
razões (de facto e de direito), de oferecer as suas provas, de controlar as provas do
adversário» e de «discretear sobre o valor e resultados de umas e outras.140
Os princípios da igualdade das partes e do contraditório assumem dignidade
constitucional por derivarem do princípio do Estado de direito.141
236
Alcídio Leão
Relacionado com o princípio da celeridade processual, impõe o art. 102º do CPC que
não é lícito realizar no processo atos inúteis, incorrendo em responsabilidade
disciplinar os funcionários que os pratiquem, acrescentando-se no art. 103º, nº 1, que os
atos processuais terão a forma que, nos termos mais simples, melhor corresponda ao fim
que visam atingir. Por outro lado, as partes tem, porém, o dever de, conscientemente,
não requerer diligências meramente dilatórias (art. 220º, nº 2, do CPC), devendo o juiz
remover os obstáculos que se oponham ao andamento regular da causa, quer recusando
o que for impertinente ou meramente dilatório, quer ordenando o que se mostrar
necessário para o seguimento do processo (art. 222º do CPC).
O princípio da economia processual exige que cada processo resolva o maior
número possível de litígios (economia de processos), daí a possibilidade de coligação
para a apreciação de diversos litígios (diversas relações jurídicas) conexos (art. 34º do
CPC), ou a possibilidade de dedução de reconvenção (uma pretensão do réu deduzida
contra o autor na mesma ação intentada por este contra aquele), prevista no art. 229º do
CPC, para além das diversas situações de suprimentos de irregularidades processuais
previstas na lei processual. Por outro lado, o princípio da economia processual impõe
237
Alcídio Leão
Daqui não resulta que não possa haver a substituição do juiz titular do processo desde
que tal substituição resulte do normal funcionamento dos tribunais, como em resultado
de movimento de juízes no âmbito do movimento judicial, ou no caso de exoneração,
doença prolongada ou falecimento do juiz. O que não se pode é afastar o juiz para que
determinado processo seja entregue a outro juiz.
238
Alcídio Leão
Segundo Bento Herculado Duarte Neto, “Este princípio também é inerente à jurisdição,
configurando uma garantia em prol do cidadão, de forma a que seja protegido em face
de eventual parcialidade judicial”.154
Nos termos do art. 123º, nº 2, da Constituição, são proibidos os tribunais de exceção e
os tribunais especiais para certo tipo de julgamentos.155 Manifestação deste princípio
encontra-se na forma de distribuição dos processos, por meio de sorteio, conforme
imposto pelos arts. 178º, nº1, e 179º, nº 1, do CPC.
239
Alcídio Leão
O princípio da cooperação, com expressão nos arts. 221º e 506º, nº 1, do CPC, impõe a
cooperação de todos os intervenientes no processo, incluindo aqueles que não são parte
(como testemunhas, peritos, etc.), de boa fé, para a descoberta da verdade material, sob
pena de serem condenados em multa (art. 506º, nº 2, do CPC).158 No dizer de Ferreira
de Almeida, “Trata-se, no fundo, de uma directriz ou, se se quiser, de uma ‘regra
programática’, orientadora da conduta processual, não apenas dos magistrados, como
também dos mandatários judiciais e das próprias partes”.159
Apontando os fins pretendidos com este princípio refere Lebre de Freitas: “O apelo à
realização da função processual aponta para a cooperação dos intervenientes no
processo no sentido de nele se apurar a verdade sobre a matéria de facto e, com base
nela, se obter a adequada decisão de direito. O apelo ao prazo razoável aponta para a sua
cooperação no sentido de, sem dilações inúteis, proporcionarem as condições para que
essa decisão seja proferida no menor período de tempo compatível com as exigências do
processo, ou, na acção executiva, para que
156 A alçada dos tribunais de primeira instância encontra-se fixada, neste momento, em
mil dólares americanos (art.917º, nº 1, do CPC).
tenham lugar com brevidade as providências executivas. No primeiro sentido, poder-se-
á falar
duma cooperação em sentido material; no segundo, duma cooperação em sentido
formal”.160
Contudo, como lembra Ferreira de Almeida, “O dever de cooperação tem, porém, como
limites fundamentadores de recusa legítima: por um lado, o limite absoluto do respeito
pelos direitos fundamentais, tais como o direito à integridade pessoal, o direito à reserva
da vida privada e familiar e o direito à inviolabilidade do domicílio, da correspondência
e das telecomunicações” (art. 30º, nº 1, 36º e 37º, nº 1, da Constituição); “por outro, o
respeito pelo direito ou dever der sigilo (sigilo profissional e religioso, sigilo dos
funcionários públicos e segredo de Estado), salva a possibilidade de escusa em caso de
colisão de deveres”.161
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Ainda relacionado com a produção da prova, determina o art. 400º, nº 3, do CPC, que as
provas devem ser produzidas em sessão de atos orais (essencialmente durante a
audiência de julgamento).
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46.19. fiscalização.
Como exceção ao princípio da publicidade temos as situações em que a publicidade
possa ofender a dignidade das pessoas, a intimidade da vida privada ou familiar,
como poderá acontecer nas ações relativas ao estado das pessoas, nomeadamente em
ações de divórcio, de investigação de maternidade ou de paternidade, de regulação do
poder paternal, etc.; ou as situações em que a publicidade possa por em causa a eficácia
da decisão, como pode ocorrer em algumas providências cautelares, nomeadamente o
arresto.185
Porém, a restrição à publicidade refere-se apenas à discussão e instrução da causa, mas
não à audiência em que se decide a matéria de facto, revestindo aqui o princípio caráter
absoluto.186
O princípio da publicidade manifesta-se ainda na no direito de acesso ao
processo, consagrado no art. 132º do CPC, bem como à possibilidade de divulgação
pública, através dos meios de comunicação social do teor dos atos processuais e do que
ocorreu no decurso da audiência.187
47.7. Conceito
Pressupostos processuais são os requisitos de cuja verificação depende o dever de o juiz
proferir decisão de fundo, sobre o pedido, concedendo ou negando a providência
requerida.
Parte é a pessoa pela qual e contra a qual é requerida a providência judiciária, através da
ação. Embora a parte seja determinada com relação ao direito substantivo, não se
confunde com a titularidade do direito (a ação pode precisamente visar a determinação
da titularidade de um direito).
Parte é a pessoa, singular ou coletiva, que, na petição inicial ou no requerimento inicial,
aparece indicada como demandante ou demandada.
247
Alcídio Leão
Por razões de ordem prática, há, todavia, exceções ao referido princípio da coincidência,
todas elas orientadas no sentido estender a personalidade judiciária a quem não goza de
personalidade jurídica. É aquilo a que se chama extensão da personalidade judiciária.
São os casos previstos nos arts. 11º, 12º e 13º do CPC. Assim:
A herança jacente (herança aberta mas cujos titulares ainda não estão determinados ou
porque não se sabe se há sucessíveis ou porque os sucessíveis, embora conhecidos, anda
não a aceitaram) embora carecida de personalidade judiciária, pode propor ações em
juízo (de reivindicação, confessórias de servidão, de cobrança de dívidas, etc.)
sendo a herança a verdadeira parte na ação e não o sucessível (herdeiro), o curador ad
248
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48.9. Legitimidade
cumprimento, por ser ele o portador do interesse que a lei substantiva protege através do
direito de crédito. O devedor terá legitimidade para intervir como réu, por ser o portador
do interesse oposto, dentro da mesma relação.
Pelo mesmo raciocínio, o proprietário (não possuidor) da coisa será parte legítima como
autor na ação de reivindicação, sendo parte legítima como réu o possuidor ou detentor
da coisa, que se recusa a abrir mão dela.
A mulher não terá legitimidade para reivindicar de terceiro os bens próprios do marido,
tal como o pai não tem legitimidade para cobrar judicialmente os créditos do filho
maior, porque nem um nem outro são os portadores do interesse protegido pelo direito
invocado.
A legitimidade não satisfaz a existência de qualquer interesse, ainda que jurídico, na
procedência ou na improcedência da ação. Exige-se que as partes tenham um interesse
direto, seja em demandar, seja em contradizer; não basta ter um interesse indireto,
reflexo ou derivado.
Assim, por exemplo, o promitente comprador não tem legitimidade para requerer
a declaração judicial de validade do contrato pelo qual o promitente vendedor adquiriu a
coisa (de terceiro), embora tenha um interesse indireto na manutenção do contrato. O
sublocatário, pela mesma razão, carece de legitimidade para intervir como réu na ação
de despejo, apesar de ser indiretamente prejudicado com a resolução do contrato de
arrendamento.
B. Critério formal constante do nº 3 do art. 29º: a relação material controvertida
configurada unilateralmente pelo autor Sempre que a lei não disponha de outro modo,
considerar-se-ão como titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade, os
sujeitos da relação material controvertida.
Mas, qual é a relação controvertida que serve de base a tal determinação: a relação com
a configuração subjetiva que o autor (unilateralmente) lhe dá ou a relação tal como se
apresenta ao tribunal, depois de ouvidas ambas as partes e de examinadas as razões de
uma e outra?
O art. 29º, nº 3, do CPC estabelece que, na falta de indicação da lei em contrário, são
considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da
relação controvertida tal como é configurada pelo autor.
256
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Na maioria dos casos são apenas duas as partes que se defrontam em tribunal. Ou seja, a
regra é a da dualidade das partes.
Ex: O proprietário como autor numa ação de reivindicação demanda o detentor como
réu. O mutuante demanda o mutuário.
Por vezes, porém, verificam-se casos de pluralidade de partes: pluralidade ativa se a
ação é proposta por dois ou mais autores contra o mesmo réu; pluralidade passiva
quando a ação é proposta por um autor contra vários réus; pluralidade mista quando a
ação é intentada por mais de um autor contra vários réus.
Litisconsórcio verifica-se quando a relação material subjacente respeitar a várias
pessoas, quando se trata de uma obrigação plural, seja ela solidária ou conjunta. No
litisconsórcio há pluralidade de partes mas unicidade da relação material controvertida
(art. 33º do CPC).
Ex: contrato de mútuo com empréstimo pela mesma pessoa a várias outras (com
possibilidade de poder pedir a totalidade a qualquer um ou mesmo apenas a quota parte
de cada um).
Litisconsórcio voluntário quando a cumulação depende exclusivamente da vontade
das partes. Há uma acumulação de ações e cada um dos consortes atua com
independência em relação aos outros (art. 30º do CPC).
Há litisconsórcio voluntário no caso das obrigações conjuntas (nº 1 do art. 30º) e no
caso das obrigações solidárias (nº 2 do art. 30º).196
Litisconsórcio necessário quando a cumulação resulta de determinação de lei, de prévia
estipulação dos interessados ou da natureza da relação jurídica (art. 31º do CPC). Há
uma só ação com pluralidade de sujeitos (art. 33º do CPC).
O art. 32º do CPC prevê casos especiais de litisconsórcio necessário. Apenas o
litisconsórcio necessário gera ilegitimidade da parte (art. 31º, nº 1, do CPC). 196 No
mesmo sentido pode ver-se o art. 451º do Código Civil.
258
Alcídio Leão
Não se verificando algum destes requisitos, tais como a legitimidade das partes, a
capacidade judiciária de uma delas o de ambas, o juiz terá, em princípio, que abster-se
de apreciar a procedência ou improcedência do pedido, por falta de um pressuposto
essencial para o efeito.
A falta do pressuposto processual não impedirá o juiz apenas de proferir sentença sobre
o mérito da ação, mas também de entrar na apreciação e discussão da matéria que
interessa à decisão de fundo.
A decisão de absolvição da instância, para que aponta o art. 240º, nº 1, do CPC como
consequência geral da falta de qualquer pressuposto processual, constitui um verdadeiro
ato processual, integrador da relação jurídica criada entre as partes e o tribunal.
A absolvição da instância não obsta a que se proponha outra ação sobre o mesmo objeto
(art. 241º, nº 1, do CPC).
259
Alcídio Leão
judicial, a procuração deve conter a menção de poderes especiais para o efeito (art. 40º
do CPC).
Porém, a procuração com poderes gerais vincula a parte relativamente às afirmações do
mandatário e à confissão expressa de factos (art. 41º do CPC). Revogação e renúncia do
mandato (art. 42º do CPC).
No caso de renúncia, se a parte não constituir novo mandatário, suspende-se a instância
se a falta for do autor, e a ação segue se a falta for do réu, aproveitando-se os atos
praticados.
Não se conseguindo notificar o réu, ou reconvindo, se a constituição de
advogado for obrigatória, será nomeado defensor público. Nomeação de defensor
público (art. 44º do CPC).
No caso de pedido de nomeação pelo réu, o prazo para contestação interrompe-se.
261
Alcídio Leão
Mais uma vez, antes de cominar qualquer sanção o juiz deve notificar neste
caso o mandatário em questão para suprir a falta dentro de certo prazo (art. 43º, nº 2, do
CPC).
Findo o prazo, sem que tenha sido suprida a falta, insuficiência e irregularidade do
mandato, fica sem efeito tudo o que tiver sido praticado pelo advogado, sendo
condenado nas custas.
Se tiver agido com culpa, pode ser condenado a indemnizar os prejuízos a que tenha
dado causa.
Direito Comercial
O direito Comercial é sem duvidas um ramo do direito Privado. É no entanto um direito
privado especial na medida em que trata uma área especifica do direito privado ” a
actividade comercial” respondendo deste modo as condições especificas e particulares
do comercio.
Assim define-se o direito comercial como um ramo do direito privado composto por um
sistema de normas jurídicas com a função de disciplinar os actos do comercio e os
empresários comercias.
O campo de aplicação do direito comercial é, pois, fixado objectivamente (não é o
direito dos comerciantes). Objecto da lei comercial são os actos de comercio –
definidos no artigo 2º. – em si mesmo e nos seus efeitos, designadamente relações
jurídicas que por ela se constituem, modificam ou extinguem (relações jurídicas
mercantis). E são os actos de comercio, não em todos os seus aspectos, mas apenas em
certos aspectos específicos que a lei comercial regula. Fora deste domínio ou objecto, as
realidades de natureza privada são reguladas pela código civil.
Acto de comercio
O artigo 2 do código Comercial define:
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Para que este regime de insolvência possa ser utilizado, é necessário a verificação de
dois pressupostos:
um pressuposto subjetivo e um pressuposto objetivo.
O artigo 2º, nº 1 do CIRE estabelece que podem ser sujeitos a processo de insolvência:
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Nas palavras de Leitão (2012b: 47), as entidades referidas no parágrafo anterior não são
sujeitos passivos da declaração de insolvência por forma a evitar crises no sistema
financeiro.
Quanto ao pressuposto objetivo da declaração de insolvência, este consiste na
insolvência do devedor (Epifânio, 2012: 19).
De acordo com o nº 1 do artigo 3º do CIRE, está “em situação de insolvência o devedor
que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas”. Nas palavas
de Leitão (2012b: 48), esta definição de insolvência “não parece correta”. Inspirado na
lei alemã de Insolvência, o conceito de insolvência apresentado parece “vago e
indeterminado”, ou seja, pouco claro e de difícil concretização. Leitão (2012b: 48) é,
então, da opinião de que se devia ter mantido a definição anterior de insolvência, que
declara insolvente a empresa que “por carência de meios próprios e por falta de
crédito, se encontre impossibilitada de cumprir pontualmente as suas obrigações36”.
Epifânio (2012: 20) refere que “a impossibilidade de cumprimento relevante para
efeitos de insolvência não tem que dizer respeito a todas as obrigações do
devedor”. Ou seja, basta existir apenas uma dívida que, pelo seu montante e relevância
no conjunto de todas as dívidas, traduza a impossibilidade referida. Acrescenta ainda
que é irrelevante para este conceito de insolvência, o não cumprimento de uma
determinada dívida resultante da vontade do devedor.
Já o nº 2 do artigo 3º concretiza a situação de insolvência para “as pessoas
coletivas e os patrimónios autónomos por cujas dívidas nenhuma pessoa singular
responda pessoal e ilimitadamente”. Enquadram-se nesta disposição a herança jacente, o
EIRL, as sociedades por quotas e as sociedades anónimas. Neste caso, as referidas
encontram-se insolventes “quando o seu passivo seja manifestamente superior ao ativo,
avaliados segundo as normas contabilísticas35 cf. artigo 2º, nº 2, b). 36 Artigo 3º do
CPEREF, aprovado pelo DL 132/93, de 23 de Abril (1ª versão).
aplicáveis”. No entanto, este critério deixa de produzir efeitos quando o ativo é superior
ao passivo, de acordo com as regras enunciadas no nº 3 do artigo 3º, aplicando-se o
critério do nº1 do artigo referido para a avaliação da insolvência (Leitão, 2012b: 48).
Na opinião de Epifânio (2012: 21), o passivo até pode ser superior ao ativo mas não
existir situação de insolvência, por haver facilidade de recurso a crédito para solver as
268
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obrigações. Por outro lado, pode suceder-se o inverso, em que o ativo seja superior ao
passivo, mas o devedor estar em situação de insolvência, por falta de liquidez do seu
ativo37.
Por último, o nº 4 do artigo 3º refere que a situação de insolvência iminente
equipara-se à situação de insolvência atual, quando o devedor se apresenta à
insolvência. Possibilita-se assim que a apresentação a insolvência aconteça antes de
verificado o pressuposto do nº 1 do mesmo artigo, quando se possa supor que no futuro
haverá a impossibilidade de cumprimento das obrigações (Leitão, 2012a: 82). De
acordo com Epifânio (2012: 24), esta suposição deverá basear-se numa previsão de
entradas e saídas de meios líquidos.
269
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Costeira (2010: 58) refere que o artigo 19º tem motivado desacordo nos casos em que a
administração de uma entidade é composta por mais do que uma pessoa, pois há quem
defenda que nestes casos qualquer elemento da administração pode tomar a iniciativa da
apresentação à insolvência. No entanto, a autora é da opinião que a decisão de
apresentar a empresa à insolvência deve ser deliberada por maioria dos membros do
órgão de administração, em conformidade com os artigos 261º e 410º do Código das
Sociedades Comerciais.
Ainda em relação à apresentação à insolvência por parte do devedor, prevista no artigo
18º, esta constitui mesmo uma obrigação, que deve ser cumprida dentro dos trinta
dias seguintes à data do conhecimento da situação de insolvência, ou à data em que
devesse conhecê-la. As pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa à
data da situação de insolvência não estão sujeitas ao preceito enunciado
anteriormente40. A falha de cumprimento deste prazo não extingue o direito de o
devedor se apresentar posteriormente à insolvência, “apenas o sujeita às
consequências legais” (Leitão, 2012b: 67).
O legislador estabelece que se conhece a situação de insolvência quando decorrem pelo
menos três meses sobre o incumprimento generalizado de obrigações, no caso de o
devedor ser titular de uma empresa41. Nas palavras de Serra (2010: 31), esta norma
serve para diminuir as possibilidades de fuga à obrigação referida no parágrafo
anterior, alegando o desconhecimento da insolvência.
40 cf. artigo 18º, nºs 1 e 2.
41 cf. artigo 18º, nº 3.
Caso o pedido de declaração de insolvência seja feito pelos responsáveis legais das
dívidas do devedor, pelos credores ou pelo Ministério Público, estes terão que
apresentar provas em relação à verificação de algum dos fatos-índice enunciados no
artigo 20º (Leitão, 2012a: 139).
O artigo 6º, nº 2 define responsáveis legais como as pessoas que, nos termos da lei,
respondem pessoal e ilimitadamente pela generalidade das dívidas do insolvente. São,
essencialmente, os sócios de responsabilidade ilimitada (Leitão, 2012b: 50). A autora
Costeira (2010: 59) constata que esta possibilidade é, na prática, bastante remota, na
medida em que o tecido empresarial português é maioritariamente constituído por
270
Alcídio Leão
Sociedades por Quotas e Sociedades Anónimas, e que nestas sociedades os sócios não
têm responsabilidade pessoal e ilimitada.
No âmbito do artigo 23º, a apresentação à insolvência ou o pedido de declaração de
insolvência fazem-se através de petição escrita, expondo-se os fatos que integram os
pressupostos da declaração requerida e formulando o respetivo pedido. Como
requisitos de conteúdo, o legislador elenca que o requerente deve identificar os
administradores do devedor e os seus cinco maiores credores, excluindo-se a si
próprio, identificar o cônjuge e o regime de bens de casamento, se aplicável, e juntar
certidão do registo civil, do registo comercial ou de outro registo público a que o
devedor esteja eventualmente sujeito. Caso seja o próprio devedor a submeter a petição,
este deve ainda indicar a situação da sua insolvência (atual ou iminente) e anexar
os documentos referidos no artigo 24º.
Quando o pedido é efetuado por algum credor ou por algum responsável legal, este
deverá referir na petição a origem, natureza e montante do seu crédito 42 Será
desenvolvido mais à frente.
ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre a insolvência, respetivamente, e
apresentar os elementos do ativo e do passivo do devedor que possua43.
Após a entrega da petição, o juiz aprecia preliminarmente a mesma. A apreciação
resultará num despacho, que poderá assumir uma das seguintes formas: despacho de
indeferimento liminar, despacho de correção, declaração imediata de insolvência ou
despacho de citação (Epifânio, 2012: 38).
De acordo com o artigo 27º, nº1, a), o despacho de indeferimento surge quando o
pedido de declaração de insolvência é manifestamente improcedente, isto é, que não se
justifica, ou “ocorram exceções dilatórias insupríveis”. Estando a petição em
incumprimento com os requisitos legais, ou na falta injustificada dos documentos que
devam acompanhá-la, o juiz autoriza o requerente a corrigir estes erros no prazo de
cinco dias. Não se verificando a correção das falhas, o pedido é indeferido44.
O juiz declara imediatamente a insolvência do devedor quando a apresentação à
insolvência surge por parte do próprio devedor45. Tal só não sucederá quando se
verificam as condições do artigo 27º, nº1, a) ou quando, concedido prazo para correção
dos erros previstos no artigo 27, nº1, b), a mesma não seja realizada (Leitão, 2012b: 77).
271
Alcídio Leão
Finalmente, caso o pedido de declaração de insolvência não tenha sido apresentado pelo
próprio devedor, e não havendo razões para indeferimento liminar, o juiz manda citar46
o devedor47. Da citação deve constar o disposto no artigo 30º, nº 5 que estabelece que a
falta de oposição do devedor implica a confissão dos fatos alegados na petição inicial e
a imediata declaração de insolvência, e o aviso ao devedor de que deve entregar ao
administrador da insolvência os documentos referidos no artigo 24º, na
eventualidade de a 46 “Chamar solenemente para comparecer em juízo ou perante a
autoridade em determinada ocasião” in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
47 cf. artigo 29º, nº1.
insolvência ser declarada48. O ato de citação pode, no entanto, ser dispensado nos
termos do artigo 12º (Leitão, 2012b: 77). Caso o juiz sentencie o indeferimento do
pedido de declaração de insolvência, apenas o requerente e o devedor são notificados51.
Com a ausência de publicidade da sentença referida pretende-se proteger a reputação
daquele a quem foi erradamente proposto a declaração de insolvência (Epifânio, 2012:
54). O disposto anterior não se aplica caso tenha sido nomeado um administrador
judicial provisório, como medida cautelar, e, por isso, a sentença é objeto de publicação
e registo52.
51 cf. artigo 44º, nº 1.
52 cf. artigo 44º, nº 2.
O artigo 45º estabelece que apenas o requerente pode interpor recurso contra a sentença
de indeferimento do pedido de declaração de insolvência. Isto é, caso o requerente não
se conforme com sentença decretada pelo juiz, poderá pedir a reavaliação da decisão.
Na sentença que decreta a insolvência do devedor53, o juiz deve obedecer ao conteúdo
referido no artigo 36º. Devem então constar, a título de exemplo,
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O artigo 171º estabelece que o juiz pode dispensar, total ou parcialmente, a liquidação
dos bens do devedor, a pedido do administrador da insolvência. Os pressupostos que se
devem então verificar são: o devedor é uma pessoa singular, a massa insolvente não
integre uma empresa e o devedor entregue ao administrador da insolvência uma quantia
em dinheiro não inferior à que resultaria da liquidação.
A suspensão da liquidação e partilha da massa pode ser determinada pela assembleia de
apreciação do relatório, caso delegue ao administrador a tarefa de elaborar um plano de
insolvência85; a pedido do proponente de plano de insolvência, se tal for indispensável
para não pôr em causa a execução desse mesmo plano86; e, por último, no caso de a
administração da massa insolvente ser atribuída ao devedor87.
O artigo 232º, nº 4 ilustra a situação em que a liquidação da massa insolvente é
interrompida. Este estabelece que, se a massa for insuficiente para a satisfação das
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O artigo 195º determina o conteúdo que o plano de insolvência deve ter. Este deve
indicar o seu propósito, as medidas necessárias à sua execução, a descrição da situação
patrimonial e financeira do devedor, as demonstrações 100 Quem não tiver sido titular
da exploração de qualquer empresa nos três anos anteriores ao início do processo de
insolvência (artigo 249º, nº 1, a)).
101 Empresa que à data do início do processo não tiver dívidas laborais, mais do que 20
credores e o seu passivo global não exceder 300.000 € (artigo 249º, nº 1, b)).
102 cf. artigo 193º, nº 1.
financeiras previsionais no caso de se prever a manutenção em atividade da empresa,
entre outros elementos relevantes para efeitos da sua aprovação.
O plano de insolvência pode também conter medidas em relação ao passivo do devedor,
com exceção dos créditos tributários (Leitão, 2012a: 288). Por exemplo, o valor dos
créditos pode ser perdoado ou reduzido, o reembolso de todos os créditos, ou de parte
deles, pode ficar condicionado às disponibilidades do devedor e os prazos de
vencimento ou das taxas de juro dos créditos podem ser modificados103.
A autora Epifânio (2012: 277) refere que “o plano de insolvência é objeto de dois
controlos jurisdicionais fundamentais: o despacho liminar de admissibilidade (artigo
207º) e a sentença de homologação do plano já aprovado em assembleia de credores
(artigos 214º a 216º)”.
Nos termos do artigo 207º, o juiz pode não aceitar a proposta de plano de insolvência,
nos seguintes casos:
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Sendo a proposta de plano de insolvência aprovada liminarmente pelo juiz, este convoca
de seguida a assembleia de credores para discutir e votar a
103 cf. artigo 196º, nº 1.
proposta104. Posteriormente à aprovação da proposta pela assembleia de credores,
o juiz deve decidir sobre a homologação do plano de insolvência105.
A lei prevê que, o plano que implique o encerramento do processo de insolvência (nos
termos do artigo 230º, nº 1, alínea b)), pode ser sujeito a fiscalização por parte do
administrador da insolvência e que a prática de determinados atos pelo devedor careçam
de autorização do administrador106.
Neste caso, a fiscalização não se pode prolongar por mais de três anos e termina
aquando a satisfação dos créditos sobre a insolvência, nas percentagens previstas no
plano, ou quando seja declarada a situação de insolvência do devedor, em novo
processo107.
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101
WATY, Teodoro Andrade e, apresentação ao Codigo do IVA, W&W Editora, Limitada, 2000.
102
Nunes, Fernando Conceicao, ob. Cit. P.46.
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291
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Direito internacional por vezes chama-se direito internacional público, para se distinguir
do internacional privado. A semelhança é só de palavras: não há na realidade
verdadeiramente uma categoria (cientificamente determinada) que abranja, num só
género, direito internacional público e direito internacional privado.
Noção
Direito do Petróleo é o ramo do Direito geral que trata dos aspectos jurídicos da
regulação, da produção e da circulação de bens, produtos e serviços oriundos da
indústria do petróleo e gás natural. Sua estrutura complexa abarca, ao mesmo tempo,
elementos do direito publica e de direito privado, bem como temas de direito
internacional e de direito do comércio internacional.
Direito de Energia é o ramo do direito público que tem por objecto o estudo das
questões relacionadas com a energia. Este ramo de Direito analisa as relações entre as
actividades do sector electrico e outras de direito com vista a fornecer instrumentos de
control de conflitos entre o desenvolvimento socio-economico intenção ambiental e
sustentabilidade com reflexo em outros acitividades produtoras.
292
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55.9. Princípios
Princípio da integração
Princípio da prevenção
Direito de Energia
Principio
Princípio da Conservação de Energia – este principio estabelece que a energia não
pode ser criada nem destruída apenas transformada.
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294
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A imposição de regras por parte dos mais fortes, de maneira unilateral e irreprimível
pelo Estado, obrigava os consumidores a aderir e aceitar determinadas situações que,
muitas vezes, eram responsáveis pela motivação de danos irreparáveis e, como sabeis,
portanto, a legislação material, que antes regulava as relações de consumo como um
todo, apresenta um panorama de responsabilização civil baseado na ideia da culpa.
Foi com base nisso que no mundo, como resposta normativa do Direito á sociedade de
Consumo, considerada aqui na realidade moçambicana, em 2009 o Estado passou a
disciplinar, de forma e através da lei material própria, os factos afectos ao universo
consumerista, buscando, à partir dum princípio constitucional, a concretização da regra
da justiça material, fundada na constatação da cada vez mais vulnerabilidade do
consumidor.
Portanto, toda a Lei da defesa do consumidor apresenta-se como lei principio-lógica
mas, com aplicabilidade em toda a relação jurídica que se constitua na relação de
consumo.
295
Alcídio Leão
Vulnerabilidade
Parte do pressuposto de que o consumidor é um sujeito vulnerável ao adquirir produtos
e serviços ou simplesmente se expor a práticas do mercado. A vulnerabilidade é o ponto
fundamental na lei do consumidor, e na pratica, traduz-se na insuficiência, na
fragilidade de o consumidor se manter imune a praticas lesivas sem a intervenção
auxiliadora de órgãos ou instrumentos para sua protecção. Por se tratar de conceito tao
relevante, a vulnerabilidade permeia, directa ou indirectamente, todos os aspectos da
protecção do consumidor.
Quem é Consumidor
O consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo. A lei da defesa do
consumidor define consumidor como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final” (art2.. assim fazendo, a Lei de
consumo não deixa duvidas de que o cidadão individualmente considerado (pessoa
física ou natural) é consumidor nos termos da Lei.
Crianças e adolescentes também são consumidores, bastando que o atendimento de suas
demandas e pleitos ocorra com o acompanhamento de um responsável.
Porem, cumpre observar que, no tocante ás empresas (e pessoas físicas que exercem
actividade profissionais) existe alguma duvida, tanto da doutrina da jurisprudência,
quando o assunto é definir qual o sentido e alcance da expressão destinatário final.
296
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Quem é fornecedor
Já o conceito de fornecedor não guarda dificuldades. A defesa do consumidor
estabelece no artigo 3ᵒ. De modo bastante genérico e propositadamante amplo, que
fornecedor é “toda pessoa física ou jurídica, publica ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como entes despersonalizados, que desempenham actividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, distribuição, ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Se um comerciante exercer uma
actividade que não encontra conectivo directo com qualquer das hipóteses do artigo 3ᵒ,
acima destacado, mas se resume em disponibilizar produto ou serviço aos
consumidores, duvida não há de que é ele fornecedor.
Produtos e serviços
a lei de defesa do consumidor trata os bens da vida como produtos (qualquer bem,
móvel ou imóvel, material ou imaterial) ou serviços (qualquer actividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração) – de acordo com o atigo 1 e 2 defesa do
consumidor. A partir destes conceitos é possível compreender o quao ampla sera a
abrangência desta lei que pode alcançar desde a contratação de planos de saúde ate a
compra de um simples calçado. Em ambos os casos o consumidor está em situação
desfavorável.
Os produtos são bens que se transferem do património do fornecedor para o do
consumidor, sejam eles materiais (ex: aparelho telefónico) ou ate imateriais (ex: um
programa de computador). Sujeitos á entrega (ex: um veiculo, uma televisão, alimento),
enquanto são imoveis os bens incorporados natural ou artificialmente ao solo (ex: lote
de terra urbana ou rural, residencial ou comercial; um apartamento).
Já os serviços são actividades humanas executadas pelos fornecedores, de interesses dos
consumidores que delas necessitam (ex: o serviço de transporte de passageiros).
297
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verbas indemnizatórias atrasadas ou não pagas por seu patrão, falta atribuição legal para
este órgão tomar qualquer providência.
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299
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Você pode adiantar o pagamento da dívida toda ou de parte dela, com direito a redução
proporcional dos juros e outros acréscimos.
COBRANÇA DE DÍVIDAS
Art. 42, CDC
7
O Código não permite que o fornecedor, na cobrança de dívida, ameace ou faça o
consumidor passar vergonha em público. Não permite, também, que o fornecedor, sem
motivo justo, cobre o consumidor no seu local de trabalho.
É crime ameaçar, expor ao ridículo ou, injustificadatemente, interferir no trabalho ou
lazer do consumidor para cobrar uma dívida (art. 71, CDC).
Se o fornecedor cobrar quantia indevida (o que já foi pago, mais do que o devido, etc.),
o consumidor terá direito de receber o que pagou, em dobro, com juros e correção
monetária.
HABITAÇÃO
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS
VISTORIA
Antes de alugar um imóvel, faça uma vistoria completa para comprovar em que
condições estava antes da locação.
Descreva, detalhadamente, como se encontram o piso, as paredes, teto, maçanetas,
lustres, interruptores, tomadas, janelas, encanamentos, parte elétrica, pintura, etc.
A vistoria tem que ser assinada pelo inquilino e pelo proprietário e anexada ao contrato,
com uma cópia para você.
TAXAS
Não podem ser cobradas taxas do inquilino para ser realizado um contrato de aluguel.
O inquilino só deve pagar o aluguel e os encargos permitidos por lei.
Não podem ser cobradas taxas de reservas de imóvel, nem é permitida a cobrança
adiantada do aluguel, a não ser em contratos que não apresentam garantia ou aluguéis de
temporada.
300
Alcídio Leão
GARANTIA
O proprietário ou imobiliária tem o direito de exigir uma garantia de pagamento.
Existem três casos previstos na lei:
Caução
É um depósito que deve ser colocado em dinheiro, em conta conjunta proprietário/
inquilino.
Ao devolver as chaves, o inquilino terá o direito de receber o valor total do resgate da
caução.
Se o proprietário se recusar a devolver, o inquilino tem o direito de processá-lo para
receber de volta a caução.
Fiança
Quando você faz um contrato de aluguel, é preciso que uma terceira pessoa se
responsabilize por você. Esta pessoa é o fiador.
Fiança é a garantia dada pelo fiador no caso de você não cumprir suas obrigações.
Existem fiadores que cobram por seu serviço. São fiadores profissionais. Evite negociar
com eles.
Seguro de fiança locatícia
É um seguro feito por companhias seguradoras. Este seguro cobre as dívidas do aluguel
e de contas que não forem pagas, como por exemplo, co5ntas de luz, condomínio,
estragos no imóvel, etc.
PAGAMENTO DE ALUGUEL
O proprietário ou a imobiliária têm obrigação de dar recibo de tudo que foi pago
(aluguel, taxas, etc.) e se o inquilino atrasar o pagamento do aluguel, o proprietário pode
entrar com ação de despejo, a partir do primeiro dia de atraso.
Pode também exigir multas permitidas por lei. O reajuste é anual e deve ser feito com
base no valor escrito no contrato.
Esse reajuste é tanto para aluguéis novos como para aluguéis de contratos renovados.
301
Alcídio Leão
DESPESAS
• Do inquilino. São de responsabilidade do inquilino: o pagamento pontual do aluguel,
das contas de luz, água e saneamento.
Se for condomínio, são também de responsabilidade do inquilino as despesas ordinárias:
material de limpeza, salários de funcionários, conservação e manutenção do elevador e
das partes elétrica e hidráulica, além do seguro contra incêndio.
• Do proprietário. As chamadas despesas extraordinárias, ou seja, pintura interna ou
externa, lavagem externa do prédio, instalação de grades ou porteiro eletrônico, grandes
reparos em geral e tudo mais que signifique benfeitoria ou material permanente.
O IPTU, em princípio, é de responsabilidade do proprietário, mas a lei permite que seja
repassado ao inquilino, desde que esteja no contrato. Se não estiver no contrato, você
não deve pagar.
VENCIMENTO DO CONTRATO
Não existe a necessidade de um novo contrato quando vence o prazo do aluguel.
O primeiro contrato renova-se automaticamente pelo mesmo prazo.
Se o proprietário e o inquilino quiserem alterar uma ou mais cláusulas do contrato,
deverão fazer um adendo contratual.
Um adendo contratual é um documento que modifica o contrato e torna-se parte do
mesmo.
As despesas com o adendo contratual serão pagas pelo proprietário.
RESCISÃO DO CONTRATO
O contrato poderá ser rescindido pelo inquilino a qualquer momento, desde que pague a
multa estipulada.
Se o contrato for renovado por tempo indeterminado, poderá ser cancelado com uma
simples notificação por escrito ao proprietário ou à imobiliária, de preferência através
do Cartório de Títulos e Documentos.
O prazo para cancelamento é de um mês antes da data em que for entregue chaves.
302
Alcídio Leão
Caso o proprietário queira retomar o imóvel por motivos legais, deve entrar com uma
ação de despejo, depois de cumprir o prazo determinado em lei.
Os motivos para retomar o imóvel são:
infração da lei ou do contrato pelo locatário;
necessidade do imóvel para uso próprio do locador ou familiares, etc.
A melhor forma é um acordo amigável entre as partes.
Objecto
Esta cadeira trata das criações da mente humana que pode resultar dos direitos dos autor
e da propriedade industrial que são:
Autor – obra literária, Romance, Musica, Corografia, Fotografia, Filmes, Pintura, Obra
artísticas e Direitos Conexos: traduções, Adaptações e arranjos.
Propriedade Industrial – Marcas, Logotipos, Insígnias de Estabelecimentos, Nome
comercial, Nome do Estabelecimento, Indicação Geográfica, Denominação de Origem,
Recompensa e Criações de Aplicação Industrial: Patentes, Desenho Industrial, Modelo
de Utilidade.
Princípios
304
Alcídio Leão
Direito Fiscal
No domínio das cobranças das receitas, avultam aquelas que consistem em pagamentos
feitos pelas pessoas ao Estado (dito também neste caso Fisco), destinados, não a pagar
bens ou serviços específicos deste recebidos, mas a contribuir para as respectivas
despesas. Tais pagamentos – ditos impostos – são objecto mediato da relação jurídica
fiscal ou tributaria, e o direito que regula as relações desta categoria é o direito fiscal.
Direito Tributário, segundo a doutrina italiana e as legislações brasileira, outras sul-
americanas e espanhola, incluem-se todas as normas respeitantes a disciplina da recolha
dos meios económicos necessários aos Estados e outras entes públicos. É assim que o
Direito Tributário fariam parte os impostos, as taxas, a contribuição especial, as multas,
as licenças, as requisições administrativas e a expropriação, para alem de outras
prestações patrimoniais de Direito Publico em que se inclui taxa militar (a pagar pelo
serviço militar quando remível).
A mesma doutrina italiana vem a admitir como único fenómeno tributário o imposto,
excluído então do Direito Tributário as outras categorias jurídicas atras postas a desfilar.
O Direito fiscal, ficou claramente defendido, é um ramo do Direito Financeiro que é
deste, alias, logicamente supletório, no sentido de que ele cuida de preencher a
insuficiência do património (dominial, artificial e financial) para suportar as crescentes
despesas exigidas pela satisfação das necessidades da comunidade politica.
Não é, porem, tao pacifica esta delimitação do Direito Fiscal. Na verdade, também se
entende que o Direito fiscal pode abranger mais do que impostos e tributos103.
103
305
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O direito Fiscal é uma ciência jurídica de normatividade que encerra o fenómeno fiscal
como realidade deontológica e não social fáctica.
As regras do Direito Fiscal tem as características gerais das normas jurídicas, de
generalidade, de abstracção, de hipoteticidade, de heteronomia e de imperatividade.
Direito fiscal e Direito Aduaneiro
306
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307
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308
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Este ultimo nome deve se explicar pela razão de que este principio decorre da
lei e foi acrescentado pela Lei n. 6\2003, 18 de Abril, de forma a reforçar o
principio da anterioridade do exercício financeiro105.
Ocorre que apenas o principio da anterioridade do exercício financeiro não deve
ser considerado o bastante para assegurar a não-surpresa do contribuinte na
publicação de leis que viessem a instituir ou aumentar os tributos sem que fosse
desobedecido o principio da anterioridade comum, pois o Estado podia estar a
cobrar o tributo horas depois, contudo, em outro exercício financeiro.
Deve defender-se que se coíba que um tributo seja criado ou alterado no dia 31
de Dezembro e seja cobrado horas depois, no dia 1ᵒ de Janeiro.
O princípio da quinzentena tem de ser entendido como para reforçar o principio
da anterioridade do exercício financeiro, exigindo a observância do prazo de 15
(quinze dias) da data em que haja sido publicada a lei que instituiu ou aumentou
o tributo.
Principio da imunidade de trafego pu da trafego ou da não-limitacao ao trafego
de pessoas ou bens. Pelo Princípio da imunidade de trefego ou da não-limitação
ao trafego de pessoas ou bens ou, ainda, principio da liberdade de trafego de
pessoas ou bens, não pode a lei tributaria limitar o tráfego interno nacional ou
intermunicipal de pessoas ou bens, salvo o pelágio de via conservada.
Principio da vedação de isenção heterónimas. Não se pode instituir isenções de
tributos autárquicos da competência do Estado por a isenção estar insitamente
ligada ao poder de tributar, de tal forma que aquele que detém a competência
tributaria para instituir determinado tributo, também o tem para isentar.
O principio da eficiência funcional do sistema fiscal. Este principio não é
entendido na perspectiva clássica de eficiência qualitativa e neutral da
tributação.
A eficiência fiscal residira na repartição da riqueza (através do imposto) baseado
em critérios de justiça social (artigo 100 da constituição da Republica de
Moçambique) em que tal não comporte um sistema sancionatório ou
confiscatório.
105
310
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312
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60.13. Do advogado
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Nos feitos cíveis, o Parquet ora atua como parte (CPC. Art. 81) agindo em
nome próprio, mas na defesa de interesse que não lhe pertença (substituto
processual), cabendo-lhe os mesmos direitos e ônus que às partes.
Ora atua como órgão interveniente (CPC. Art. 82), dês que existentes e presentes
as situações preconizadas pela lei. Com efeito, o Código de Processo Civil, em
seu artigo 82, bem como a legislação extravagante, estabelecem as hipóteses em
que cabe ao órgão ministerial atuar no feito, na qualidade de órgão interveniente
obrigatório. 50 Da leitura de tal dispositivo, denota-se, a prima facie, que o Ministério
Público tem o dever de intervir quando houver interesse público evidenciado pela
natureza da lide ou pela qualidade da parte.
No que tange à atuação do Parquet tendo em vista a natureza da lide, eis que caberá, a
esse órgão, analisar e apreciar o caso concreto posto, com total e absoluta
independência, não se vinculando aos interesses de qualquer das partes,
submetendo-se, exclusivamente, aos imperativos legais e a sua própria consciência.
Tal ocorre, porquanto sendo sua intervenção fundada, tão-só, pela natureza da lide, o
Ministério Público terá a atribuição de velar pela correta aplicação da lei ao
caso concreto, vale dizer, funcionando puramente como custos legis. Por fim, a
ausência de intervenção do MP em feito no qual sua presença é obrigatória gera
a nulidade absoluta do processo, abrindo azo até mesmo para a ação rescisória
(CPC, art. 487, III, a).
318
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319
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59.16. Garantias
Como garantias da Instituição como um todo destacam-se:
a) a sua estruturação em carreira;
b) a sua autonomia administrativa e orçamentária;
c) limitação à liberdade do chefe do Executivo para a nomeação e destituição do
Procurador-Geral;
d) a exclusividade da ação penal pública e veto à nomeação de promotores ad hoc.
320
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59.18. Impedimentos
321
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59.20. Do Juiz
Há, no sistema judiciário, órgãos judicantes singulares e coletivos. Mas, em
todos eles, as pessoas que, em nome do Estado, exercem o poder jurisdicional
são, genericamente, denominados juízes.
Nos termos do art. 125 do CPC, o juiz dirigirá o processo conforme as
disposições daquele estatuto legal, competindo-lhe:
I- Assegurar às partes igualdade de tratamento;
II- Velar pela rápida solução do litígio;
III- Prevenir ou reprimir qualquer ato atentatório à dignidade da Justiça;
IV- Tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.
61. Requisitos
Para que atividade jurisdicional que toca todos os juízes, para ser válida e
eficaz reclama a concorrência dos seguintes requisitos:
a) Jurisdicionalidade, isto é, devem estar os juízes investidos no poder de
jurisdição;
b) Competência, ou seja, devem estar dentro da faixa de atribuições que, por lei, se
lhes assegura;
c) Imparcialidade, ou seja, devem ficar na posição de terceiro em relação às
partes interessadas;
d) Independência, isto é, sem subordinação jurídica aos tribunais superiores,
ao Legislativo ou ao Executivo, vinculando-se exclusivamente ao ordenamento jurídico;
e) Processualidade, isto é devem obedecer à ordem processual instituída por lei, a
fim de evitar a arbitrariedade, o tumulto, a inconseqüência e a contradição desordenada.
55
322
Alcídio Leão
60.1. Garantias
Para assegurar a independência dos juízes a Constituição Fedral outorga-lhes três
garantias especiais:
a) Vitaliciedade: não perdem o cargo senão por sentença transitada em julgado;
b) Inamovibilidade: não podem ser removidos compulsoriamente, senão quando
ocorrer motivo de interesse público, reconhecido pelo voto de dois terços do
tribunal competente;
c) Irredutibilidade de vencimentos.
60.2. Restrições
323
Alcídio Leão
60.4. Conceito
60.5. Classificação
Pelo CPC os atos processuais podem ser divididos em:
-atos das partes (arts. 158-161);
324
Alcídio Leão
b) atos dispositivos: são aqueles pelos quais se abre mão, em prejuízo próprio, de
determinada posição jurídica processual ativa, ou ainda, da própria tutela jurisdicional.
c) atos instrutórios: são aqueles destinados a convencer o juiz.
d) atos reais: são as condutas materiais das partes no processo, ou seja,
comparecimentos as audiências, pagamento de custas e outras. 58
325
Alcídio Leão
61.10. Princípios
realizado de outro modo, tenha alcançado sua finalidade. Percebe-se, portanto, que as
formas não são solenes, considerando-se mais, o fim a que se destinam. 60
327
Alcídio Leão
328
Alcídio Leão
61.13. Preclusão
É o fenômeno da perda pela parte da faculdade processual de praticar um ato.
Classificam-se as preclusões em:
a) Temporal: é a perda da faculdade de praticar um ato processual em
virtude da não observância de um prazo estabelecido em lei ou pelo juiz.
b) Lógica: é a perda da faculdade pela prática de um ato anterior incompatível com
o ato posterior que se pretende realizar.
c) Consumativa: é a perda da faculdade de praticar o ato de maneira
diversa, se já praticado anteriormente por uma das formas facultadas em lei.
329
Alcídio Leão
106
330
Alcídio Leão
Quem pode ser Instrutor do Processo Disciplinar? artigo 100 nº3 do EGFAE
Funcionário de igual ou maior graduação do que a do arguido, o qual passa a ser
instrutor do processo, podendo nomear escrivão. Ex: Se o acusado é Docente de N2, o
instrutor tem que ser também Docente de N2 ou Docente de N1, nunca Docente de N3.
331
Alcídio Leão
333
Alcídio Leão
V.2. Se o participante tiver indicado testemunhas, o escrivão vai notificar um por um,
para serem ouvidos em declarações – alínea a) do nº 2 do artigo 109 do EGFAE.
Exemplo de notificação de testemunhas:
“Nesta data, notifiquei o funcionário fulano de tal, Técnico da Direcção Nacional da
Administração e Finanças do Ministério da Educação, para comparecer no gabinete do
instrutor, no dia-----de Junho de 2013, pelas 9 horas, a fim de prestar declarações em
conexão com o processo disciplinar nº 5/ 2013. De como ficou ciente, vai assinar”.
Maputo, aos----de Junho de 2013
O Instrutor, O escrivão, o notificado,
----------------- _____________ __________
334
Alcídio Leão
335
Alcídio Leão
“Nesta data, notifiquei o sr. ….., para comparecer no gabinete do instrutor , no dia…..,
pelas…., a fim de prestar declarações em conexão com o processo disciplinar nº…,
cuja instrução iniciou no dia…, e em que é presumível infractor.
De como ficou ciente, vai assinar.
Maputo, aos ------de Junho de 2013
O presumível Infractor
O Instrutor __________________ O Escrivão
_______________ ______________
O instrutor deve saber que se não der possibilidade para o arguido se defender, esse
processo disciplinar é nulo, isto é, não tem nenhum efeito, é como se não tivesse sido
instruído (feito), como se nunca tivesse existido nº 1 do artigo 108 do EGFAE.
338
Alcídio Leão
O arguido produz a sua defesa e no caso de indicar testemunhas, o instrutor tem o dever
de os ouvir. A forma de notificar e o auto é igual aquele que referimos no ponto V. 2.
VII.3. Junção do Registo Biográfico
O Escrivão do processo disciplinar, deve requisitar o registo biográfico, nos Recursos
Humanos da Instituição.
Exemplo: Aos ____do mês de Junho do ano de 2013, requisitei nesta Direcção Nacional
de Recursos Humanos, o registo biográfico do arguido_______.
Maputo, aos --------de Junho de 2013.
O Escrivão,
_______________
339
Alcídio Leão
340
Alcídio Leão
O INSTRUTOR
_________________________________________________
XI- Quem tem competência para decidir num processo disciplinar? E quando é que o
Processo disciplinar é enviado para Anotação do Tribunal Administrativo Advertência;
Todos os dirigentes aos funcionários que lhes estão subordinados
b) Repreensão pública;
Todos os dirigentes aos funcionários que lhes estão subordinados
c) Multa; Chefes de Departamento Central, Secretários Permanentes
Provinciais, Directores Provinciais, Administradores Distritais, Presidentes de Conselho
Municipal, Secretários Permanentes Distritais e Chefes de Posto Administrativo
d) Despromoção, Directores Nacionais, Governadores Provinciais e Administradores
Distritais.
e) Demissão e Expulsão
Só os dirigentes com competência para nomear São competentes para decidir num
processo disciplinar:- artigo 113 do EGFAE
O dirigente que mandou instaurar o processo decide no prazo de 15 dias, ou em caso de
falta de competência, o remete via hierárquica ao dirigente competente; Se a decisão
341
Alcídio Leão
Direito de Punir
A vida em sociedade é regida por normas de conduta sem as quais ela seria
praticamente impossível. Este conjunto de normas é o que chamamos de
Direito Penal Objetivo
Mas quem pode fazer valer o 107Direito Penal Objetivo?
Somente o Estado, em sua função de promover o bem-comum, tem o direito de
estabelecer e aplicar essas sanções.
O Estado é único titular do DIREITO DE PUNIR (Jus Puniendi), que é exatamente o
que chamamos de Direito Penal Subjetivo. Esse direito, porém, é limitado pelo próprio
estado, pelo princípio da legalidade.
Como bem ensina José Frederico Marques (2003, p. 5) O “jus puniendi é a
manifestação do poder de império do Estado, pois este punindo exerce sua soberania.” E
ainda ensina o mesmo autor (MARQUES apud MIRABETE 1995,p. 24) o 108jus
puniendi pode ser definido como o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada
no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou a
omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica”.
O Estado não tem apenas o Direito de punir, mas, sim, tem o DEVER de punir, pois seu
dever, dentre outros, é resguardar a sociedade. O jus puniendi é uma manifestação da
soberania estatal.
107
Direito penal Objetivo é o conjunto de normas que regulam a acção estatal, definindo crimes e
cominandoas respectivas sanções.
108
Chamamos de Jus Puniendi o Direito de Punir do Estado!
342
Alcídio Leão
Pretensão Punitiva
Com a prática de um Ilícito penal, surge um conflito de interesses entre o Direito
Subjetivo de Punir do Estado e o direito à liberdade do autor da prática ilícita.
Mirabete (2003, p.25), já ensina que “da exigência de subordinação do interesse do
autor da Infração ao interesse do Estado, resulta a pretensão punitiva” que é, na
realidade a possibilidade, a pretensão que tem o Estado de punir, fazendo vigorar o seu
interesse, em prejuízo do interesse do autor do ilícito.
Lide penal
Lide, como já vimos em Teoria Geral do Processo, é a oposição de uma pretensão à
outra, ou seja, há lide quando, no conflito de interesses, uma parte se opõe ao que é
pretendido pela outra. Na esfera penal, quando se opõe o titular do direito à liberdade a
pretensão punitiva do Estado, têm-se a lide penal.
O Estado não pode simplesmente aplicar uma sanção, uma vez que é também seu dever
proteger o direito à liberdade do autor do ilícito. Sendo assim, somente poderá o Estado
aplicar a pena prevista ao crime cometido se utilizar como instrumento o Direito de
ação.
Mas o que é DIREITO DE AÇÃO?
Direito de ação, segundo Magalhães Noronha (1999, p. 4) “trata-se de um direito
subjetivo, que confere ao Estado o poder de promover a perseguição ao autor do delito”,
e ainda, segundo Mirabete (1995, p. 26) “consiste em obter o Estado do juiz a sentença
sobre a lide deduzida no processo a fim de que seja aplicada a sanção penal sem a
violação do direito à liberdade do autor da infração penal”. Ou seja, é o direito que tem
o Estado de recorrer ao juiz para que ele, com base nos dados colhidos no processo,
tendo em vista a lide penal, decida sobre a mesma, prolatando sentença e determinando
a aplicação da sanção.
Pois assim, mesmo restringindo o Estado a liberdade do autor do ilícito, não ferirá seu
direito à liberdade.
Processo Penal
343
Alcídio Leão
A forma que o Estado impõe para compor os litígios, por meio dos órgãos próprios da
administração da Justiça, tem o nome de PROCESSO. Já nos ensima Mirabete (2003, p.
26): “Como na Infração penal há sempre uma lesão ao Estado, este como Estado-
Administração, toma a iniciativa de garantir a observância da lei, recorrendo ao Estado-
juiz para, no processo penal, fazer valer sua pretensão punitiva”.
Processo Penal é, então, o conjunto de atos cronologicamente encadeados, submetido a
princípios e regras jurídicas e destinados a compor as lides de caráter penal.
Sua finalidade é a aplicação do DIREITO PENAL OBJETIVO, mas para atingir tal
objetivo são indispensáveis atividades investigatórias (atos administrativos da polícia
judiciária – Inquérito Policial).
Então, tem-se o Direito Processual Penal como: “o conjunto de princípios e normas que
regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias
da Polícia Judiciária, e a estruturação dos
órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (MARQUES, apud
MIRABETE, 2004, p. 29) . Tem, o Direito Processual Penal, caráter instrumental, pois
serve como instrumento para a aplicação do direito penal objetivo.
Mirabete (2004, p. 30) ainda acrescenta que “é uma disciplina normativa, pois parte da
Norma Jurídica, investiga os princípios, organiza os institutos e constrói, então, o
sistema”.
O Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público e possui método técnico-
jurídico, permitindo ao jurista extrair do direito objetivo os preceitos aplicáveis a uma
situação concreta, descobrindo seu significado e lhe desenvolvendo as conseqüências.
62.1. Princípios
Estado de Inocência
O princípio do Estado de Inocência, ou da Presunção da Inocência, ou mesmo Princípio
da Inocência está contemplado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, inciso
LVII. Surge pela primeira vez em 1789, na Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão, foi novamente utilizado no art 26 da Declaração Americana de
344
Alcídio Leão
109
Sentença Definitiva é aquela contra a qual não cabem mais recursos.
110
Art. 5 ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Sentença Definitiva é aquela contra a qual não cabem mais recursos. Sentença recorrível é aquela que
ainda não se tornou definitiva, da qual cabe recurso. Sentença de Pronúncia é a primeira sentença de
um processo nom Tribunal do Júri, pela qual o Juiz diz que aquele caso deve ser apreciado pelo Tribunal
referido.
345
Alcídio Leão
Como bem ensina Mirabete (2003, p. 42). “Diante deste princípio fica clara a revogação
(derrogação) do art 393 II e 408 § 1º do CPP, que diziam sobre a inscrição do nome do
réu no rol dos culpados com a sentença condenatória recorrível ou sentença de
pronúncia”
Princípio do Contraditório
Este princípio é um dos mais importantes princípios não só do Direito Processual Penal
, mas de todo o direito em si. Está inscrito na CF/88 art 5º inc LV, e garante a ampla
defesa do acusado.
Segundo este princípio, tem o acusado direito de defesa, sem restrições, ou melhor, tem
o acusado, na sua defesa, os mesmos direitos que o acusador. As partes são vistas da
mesma forma no processo, tendo as mesmas oportunidades e limitações. Tal princípio é
importantíssimo para garantir a imparcialidade do julgamento do magistrado.
Ensina Rui Portanova (2001, p.160-164) que pelo princípio do contraditório, todos os
atos processuais “devem primar pela ciência bilateral das partes, e pela possibilidade de
tais atos serem contrariados com alegaçõese provas” . É em decorrência deste princípio
que existe a obrigatoriedade de comunicação ao réu de cada ato do processo e, ainda, de
cada documento juntado e, também, a oportunização de que o mesmo se manifeste
sobre os documentos.
Uma exceção a essa decorrência do princípio do contraditório é a revelia penal, pois
afasta esse instituto a necessidade de comunicação ao réu dos demais atos do processo,
podendo ele comparecer voluntariamente. A garantia do contraditório abrange toda a
instrução criminal, incluindo se aqui todos os atos do processo que possam interferir na
decisão do magistrado, incluindo coleta de provas, arrazoados e alegações das partes,
mas não inclui o Inquérito Policial.
O princípio do contraditório impede ainda que, mesmo sendo o réu revel, seja este
julgado sem defesa. Diferente do que acontece em juízo cível, em que um dos efeitos da
revelia é a confissão tácita,, na esfera penal, a revelia só tem como efeito a cessação das
intimações do réu quanto aos atos do processo, sendo nomeado defensor para o mesmo,
garantindo assim o cumprimento do contraditório.
346
Alcídio Leão
Por este princípio, que se encontra na Constituição Federal de 1988 em seu art 5°, inciso
LV, pode o réu utilizar em sua defesa todos os meios que não forem proibidos por lei. E
ainda, atrelado ao Princípio do contraditório, é por ele que o réu tem o direito de
manifestar-se sobre qualquer prova, sobre qualquer documento acostado ao processo. O
contraditório dá o direito ao réu de conhecer o que contra si foi apurado, e a ampla
defesa permite a ele defender-se de cada acusação formulada contra sua pessoa.
Segundo bem ensina Tourinho Filho (2004, p. 44): Em todo processo de tipo acusatório,
como o nosso, vigora esse princípio, segundo o qual o acusado, isto é, a pessoa em
relação a quem se propõe a acção penal, goza do direito ‘primário e absoluto’ da defesa.
A ampla defesa, assim como o contraditório, não é aplicada durante a fase do Inquérito
Policial, mas sim durante toda a instrução penal.
347
Alcídio Leão
Por este princípio deve o juiz procurar, mesmo não havendo interesse das partes,
levantar a verdade dos fatos, dar impulso ao processo, buscar as provas necessárias à
formação de seu convencimento e, ainda, pode, mesmo após o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória, com novas provas, absolver o réu anteriormente
condenado. Não pode o Juiz penal se contentar com a verdade formal dos fatos, mas sim
com a verdade real dos mesmos.
Princípio da Oralidade
Pelo princípio da oralidade segundo Mirabete (2003, p. 44), deve-se observar que as
“declarações feitas perante os juízes e tribunais só possuem eficácia quando formuladas
através da palavra oral, ao contrário do procedimento e escrito”.
Conseqüências desse princípio:
1) A necessidade de concentração: que consiste em realizar todo o julgamento em uma
ou em poucas audiências que tenham intervalos pequenos entre si. Ex: Júri
(MIRABETE, 1999, p. 45)
2) Imediatidade: o juiz deve ficar em contato direto com as partes e as provas,
recebendo, assim, diretamente os elementos que basearão a formação de sua convicção
para o julgamento. (MARQUES, apud MIRABETE, 2003, p.44)
3) Identidade Fisica do Juiz: fica o magistrado ligado, vinculado aos processos cuja
instrução iniciou; mas, na realidade, sendo a magistratura um órgão uno, pode haver, em
caso de extrema necessidade, a alteração da pessoa do julgador, mas havendo a
preservação da identidade de órgão.
(TOURINHO FILHO, 2004, p. 56 – 57) É importante salientar que, em nosso sistema
penal, ainda vigem regras do procedimento escrito (defesa prévia, alegações finais,
sentença, etc), sendo que na realidade há um misto de procedimento escrito e oral.
Um grande avanço em direção à aplicação do procedimento oral foi o procedimento dos
Juizados Especiais Criminais, em que há um primor pela oralidade e imediatilidade.
Princípio da Publicidade
348
Alcídio Leão
Princípio da Obrigatoriedade
O princípio da Obrigatoriedade está contido nos arts 5º, 6º e 24 do CPP e diz que:
“sendo necessário para a manutenção da ordem social que os delitos sejam punidos,
deve, obrigatoriamente, o estado promover o jus puniendi”.
O princípio da obrigatoriedade faz com que a autoridade policial instaure o Inquérito
Policial, e que o Ministério Público promova a ação penal pública (só a pública porque
a privada é de iniciativa do ofendido).
111
349
Alcídio Leão
Segundo Mirabete (2003, p. 46): (...) no momento em que ocorre a infração penal é
necessário que o Estado promova o Jus Puniendi, sem que se conceda aos órgãos
encarregados da persecução penal poderes discricionários para apreciar a conveniência
ou oportunidade de apresentar sua pretensão ao estado-Juiz.
É exceção do Princípio da Obrigatoriedade, o princípio da oportunidade ou bagatela
(não deve o Estado promover a ação penal quando dela resultar mais inconvenientes
que vantagens à sociedade). No Brasil, este princípio
acaba ficando restrito aos crimes de ação privada e nos delitos que dependem
de representação do Ministro da Justiça.
A Lei 9.099/95 em seu art. 72 acaba diminuindo a aplicação deste princípio, já que tem
o instituto da transação penal, que tranca o processo antes do oferecimento da denúncia,
por meio de um acordo celebrado entre o réu e o Ministério Público.
Princípio da Oficialidade
Este princípio está previsto nos artigos 5º LIX, 144, 129 I; 128 I e II da Constituição
Federal, e ainda nos artigos 4º e seguintes e artigo 29 Código de
Processo Penal.
Diz este princípio que já que a repressão do crime é função exclusiva do Estado, e dele
devem derivar os atos de persecução penal, ou seja, a repressão ao crime deve ser
originada e sucedida pelos órgãos oficiais do Estado.
Como ensina Mirabete (2003, p.47): Como a repressão ao criminoso é função essencial
do Estado, deve ele instituir órgãos que assumam a persecução pena. É o princípio da
oficialidade, de que os órgãos encarregados de deduzir a pretensão punitiva sejam
órgãos oficiais.
O Ministério Público e a Polícia, órgãos oficiais responsáveis pela repressão penal, têm
autoridade, podendo requisitar documentos, determinar diligências e quaisquer atos
necessários à instrução criminal seja durante a fase inquisitiva (Inquérito Policial), seja
durante a Ação Penal, cada um, é claro, em cumprimento a suas atribuições
(MIRABETE, 1999, p. 48). Devemos perceber que esse princípio não é absoluto,
350
Alcídio Leão
porque na acção penal privada a iniciativa da ação é tida pelo ofendido, e não pelos
órgãos oficiais, o mesmo ocorrendo na ação penal privada subsidiária da pública.
Princípio da Indisponibilidade do Processo
Está previsto nos artigos 10, 17, 25, 28, 42, 576, 385 do Código de Processo Penal e
vale desde a fase do Inquérito Policial, mesmo não sendo o inquérito considerado como
processo penal propriamente dito. Segundo Mirabete (1999, p. 48), o da
indisponibilidade decorre do princípio da obrigatoriedade, sendo que este vigora
inclusive na fase do Inquérito Policial. Por este princípio, após ser instaurado o
Inquérito Policial, não pode o mesmo ser paralisado indefinidamente, ou arquivado.
O arquivamento do Inquérito Policial, em decorrência do princípio da indisponibilidade
somente pode se dar, mesmo com requerimento do Ministério Público, após ser
submetido ao Juiz. Este, caso concorde, decide pelo arquivamento112, mas se achar que
é equivocado o pedido do arquivamento, submeterá os autos ao Procurador Geral do
Ministério Público.
Caso o Procurador Geral do Ministério Público concorde com o juiz,c poderá designar
novo representante do Ministério Público para atuar no processo, ou oferecer a denúncia
ele mesmo (Procurador), na hipótese do art. 28 do CPP.
Discordando do posicionamento do Magistrado e, acatando o posicionamento do
Promotor de Justiça, considerando acertada a decisão pelo arquivamento do Inquérito
Policial, o Procurador Geral do Ministério Público remeterá tal decisão ao juiz que
estará então obrigado a atender.
Além disso, é esse princípio que proíbe o Ministério Público de desistir da ação penal
que já esteja em andamento e de eventual recurso interposto, de acordo com o disposto
nos arts 42 e 576 CPP respectivamente , e, ainda, permite que o juiz condene o réu
mesmo com pedido de absolvição por parte do Ministério Público.
Na ação penal privada, não cabe este princípio, já que o ofendido dispõe do processo,
podendo extingui-lo por meio de desistência, perdão, renúncia etc., e ainda, nas ações
penais públicas dependentes de representação, pode o ofendido, antes do oferecimento
112
Desistência ocorre quando a parte ofendida deixa, expressamente de ter interesse no
prosseguimento da ação. Renúncia é quando o ofendido deixa de iniciar a ação penal.
351
Alcídio Leão
Art. 5° LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.
O Dominus Litis, ou seja, o dono da ação, nas Ações Penais Públicas, é o Ministério Público, e nas Ações
Penais Privadas é o ofendido ou seus representantes.
352
Alcídio Leão
Está previsto nos artigos 251, 156, 168, 176, 196 do Código de Processo Penal. Ensina
Mirabete (2003, p. 49) que “(...) embora a iniciativa na produção das provas pertença às
partes, incumbe ao juiz, segundo o CPP, prover a regularidade do processo e manter a
ordem no curso dos respectivos atos”.
Neste sentido, dispõe ainda o autor que cabe ao magistrado, em busca da verdade real
manter a regularidade do processo, mesmo que as partes não o façam. Serve este
princípio para evitar que o processo fique paralizado por falta de iniciativa das partes.
Principio do Duplo Grau de Jurisdição
Este princípio não está expresso na CF, mas decorre do próprio sistema Constitucional e
diz que os Tribunais poderão rever as decisões em grau de recurso, ou seja, um tribunal,
que é superior ao juiz singular, tem opoder de rever a decisão do juiz de primeiro grau.
Conclusão
O Direito Processual Penal evoluiu com as socieddaes e existe para que seja possível a
aplicação do Direito Penal Objetivo, que segue princípios que buscam assegurar os
direitos dos cidadãos na sua defesa, bem como a imparcialidade do julgamento.
353
Alcídio Leão
63. Bibliografia
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