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All content following this page was uploaded by Edison Jose Milani on 20 November 2018.
Paulo Manuel Mendes de Mendonça | Adali Ricardo Spadini | Edison José Milani
mas sob a coordenação direta da Sede da Com- geologia, foram contratados técnicos estrangei-
panhia. Conforme Moura e Carneiro (1976) os ros para cobrir a carência de pessoal especializa-
“chefes de Distrito analisavam e discutiam com do. Conforme Dias e Quaglino (1993), a nomea-
seus assessores, também geólogos contratados, ção de Link e a contratação de dezenas de geó-
os relatórios apresentados pelos chefes de turma logos e geofísicos norte-americanos justificava-
de geologia; remetiam esses relatórios ao DEPEX se por uma dupla perspectiva: a de que o know-
no Rio de Janeiro, onde eram re-estudados e re- how norte-americano era o melhor que poderia
analisados pelos Chefes de Setor, que por fim, os ser adquirido no mercado e transferido ao corpo
passavam ao Geólogo-Chefe, Luís G. Morales técnico da Empresa, ainda em formação; e a de
(Superintendente-Adjunto), para exame e deci- que os resultados, em termos de descoberta e
são da Superintendência”. produção no curtíssimo prazo, só poderiam ser
Por recomendação de Levorsen, na chefia do obtidos com ampla ajuda desses profissionais.
Departamento de Exploração da recém-criada No início dos anos 50, ainda sob a coordenação
Petrobras assumiu o geólogo norte-americano doCNP, foi criado o Centro de Aperfeiçoamento e
Walter K. Link, antigo Geólogo-Chefe da Stand- Pesquisas de Petróleo - CENAP, que logo começou
ard Oil. Como no Brasil não havia escolas de a oferecer cursos especializados em Geologia do
Figura 2 – Seção geológica regional da Bacia do Recôncavo (Moura e Figure 2 – Regional geological section of the Recôncavo Basin (after Moura
Fernandes, 1952), ilustrando o entendimento, à época da criação da and Fernandes, 1952), displaying the understanding of basin’s architecture
Petrobras, da configuração da bacia e de sua potencialidade petrolífera. and petroleum potential at that time.
Figura 3 – Mapa estrutural do prospecto exploratório na área de Buracica, Figure 3 – Structural map of the Buracica area in the Recôncavo Basin.
Bacia do Recôncavo.
Figure 4
Geological correlation
section of wells in the
Nova Olinda área,
Middle Amazon Basin
(after Morales, 1957)
with emphasis on the
interpretation of
intrusive magmatic
bodies.
Figura 9
Seção geológica entre os
poços Rosário do Catete
e São José, com a
concepção geológica que
levaria à descoberta do
Campo de Carmópolis,
Bacia de Sergipe-Alagoas
(Fernandes, 1961, in
Marques, 1965).
Figure 9
Conceptual geological
cross section between
Rosário do Catete and
São José wells that lead
to the discovery of
Carmópolis field,
Sergipe-Alagoas Basin
(after Fernandes, 1961,
in Marques, 1965).
Figure 10
Ranking of Brazilian
continental margin basins
regarding its petroleum
potential (after Campos,
1970).
Figure 11
Geological model based
on seismic data for the
1-ESS-1 well, Espírito
Santo Basin. This was the
first well drilled in the
offshore area of Brazil.
Em 1969 foi descoberto o Campo de São Ma- Dom João e Água Grande, amostrados com su-
teus, iniciando o ciclo de descobertas na porção cesso na Bacia do Recôncavo.
terrestre do Espírito Santo. Os objetivos princi- As atividades exploratórias na plataforma conti-
pais da locação eram os arenitos situados ime- nental da Bacia da Foz do Amazonas iniciaram em
diatamente abaixo de uma camada de anidrita, 1970. O primeiro poço foi o 1-PAS-1, defronte à
de idade aptiana, que apresentaram indícios de Ilha de Marajó, em cota batimétrica de 14 m. O ob-
óleo nos poços de Nativo e Conceição da Barra. jetivo era testar uma feição anticlinal de aspecto dô-
Os calcários albianos eram objetivo secundário. mico delineada por reflexão sísmica, que correspon-
O modelo geológico constatado com a perfura- deria possivelmente à base do Terciário. No contexto
ção desse poço assemelhava-se aos clássicos regional, a locação situava-se numa área de conver-
prospectos associados a blocos falhados do tipo gência ou inflexão de altos do embasamento mag-
Figura 12 – Seção sísmica da locação 1-SES-1, Bacia de Sergipe-Alagoas, Figure 12 – Seismic section of 1-SES-1 well, Sergipe-Alagoas Basin.
descobridora do Campo de Guaricema, primeira acumulação encontrada This well discovered the Guaricema field, the first one found in the
na plataforma continental brasileira. Brazilian offshore basins.
Figure 13
Tectonic framework
of the Foz do Amazonas
region, with the
delineation of main
regional elements.
Figura 16 – Linha sísmica da locação do poço 1-RJS-1, Bacia de Campos. Figure 16 – Seismic section of the well 1-RJS-1, Campos Basin.
Figure 17
Seismic section of the
well 1-PRS-1, Santos
Basin.
tâncias, a Petrobras estaria, naquele momento, im- ço dos objetivos da Companhia: centralizando as
plementando uma das recomendações expressas atividades e trabalhando com as equipes focadas
12 anos antes por Walter Link, a de buscar petró- no problema, foi possível desenvolver com rapidez
leo no exterior. as necessárias estratégias de atuação.
Num contexto de resultados exploratórios pou- Nesta mesma época é implantado o Laborató-
co significativos, a Exploração centralizaria suas ati- rio Central da Exploração, dotado de um experien-
vidades na Sede da Companhia, no início dos anos te corpo técnico remanejado dos distritos e inteira-
70. Como conseqüência, as atividades nas bacias mente dedicado a estudos de rocha, cujas investi-
terrestres foram bastante reduzidas, ocorrendo um gações sedimentológicas e paleontológicas teriam
esvaziamento técnico dos Distritos Regionais. aí consolidado seu papel fundamental na formu-
Por outro lado, a centralização foi indutora de lação dos modelos geológicos utilizados pela Com-
intensa sinergia entre as diferentes especialidades panhia. Ao mesmo tempo, o Centro de Pesquisas
envolvidas no processo exploratório, e tal esforço - Cenpes recebia seu primeiro equipamento para
concentrado redundou numa fase de intensa ge- determinação do conteúdo de carbono orgânico
ração de idéias e modelos geológicos de suporte à das rochas potencialmente geradoras, como as
exploração. Era a estrutura organizacional a servi- primeiras ações para implantação da Geoquímica
Figure 19
Seismic section in the
area of Garoupa field,
the first one discovered
in Campos Basin.
bianos, o denominado Campo de Namorado, o pri- Ao final de 1975, já estava plenamente con-
meiro gigante da plataforma continental brasileira, solidada a concepção de que os arenitos do Mem-
com reservas superiores a 250 milhões de barris. bro Carapebus da Bacia de Campos haviam sido
Ao final de 1973 já havia sido proposta a loca- depositados em águas profundas, em ambiente
ção do poço 1-APS-10 (fig. 21), na área do Cone batial, através de mecanismos gravitacionais suba-
do Amazonas, com o objetivo de testar uma fei- quosos, incluindo escorregamentos, fluxo de de-
ção tipo bright spot que corresponderia a um are- tritos, fluxo granular e correntes de turbidez.
nito saturado de gás. Essa feição estava associada No âmbito da Petrobras, o primeiro reserva-
a uma estrutura dômica alongada, mapeada pela tório a ser caracterizado como sendo um depósi-
sísmica em horizonte próximo ao topo do Mio- to turbidítico foi o de Guaricema, definido dentro
ceno. O poço, perfurado no início de 1976, apre- do contexto de um estudo sismo-estratigráfico da
sentou vários intervalos de reservatórios saturados Bacia de Sergipe-Alagoas realizado em 1970. A
de gás, com altas permeabilidades, caracterizan- partir daí, os conceitos relativos aos depósitos sedi-
do assim a descoberta do Campo de Pirapema. mentares localizados abaixo do talude permearam
Com essa descoberta, mais a de Garoupa e a de rapidamente os grupos de interpretação explora-
Namorado, a Petrobras começava a usar as am- tória, que se valiam da sísmica para buscar os are-
plitudes sísmicas tanto para a “identificação dire- nitos situados além das zonas de by-pass, em di-
ta de hidrocarbonetos” como em Pirapema, quan- versas posições e idades no pacote sedimentar
to para o mapeamento de reservatórios, como das bacias costeiras. Paleo-taludes e paleocanyons,
nos outros exemplos mencionados. com os depósitos sedimentares a eles associados,
Figura 20
Seção sísmica da área
do Campo de Namorado,
Bacia de Campos.
Figure 20
Seismic section in the
area of Namorado field,
Campos Basin.
Figura 21 – Seção sísmica da locação do poço 1-APS-10, Bacia da Foz do Figure 21 – Seismic section of the well 1-APS-10, Foz do Amazonas Basin.
Amazonas. Notar a amplitude anômala (bright spot). Notice the bright spot.
Figure 24
Conceptual model of oil
migration in the Campos
Basin, with emphasis on
the role of listric faults
and salt windows
(after Meister, 1984).
de 41º API em arenitos da Formação Coqueiro Seco, calha da bacia, sucedeu-se uma série de descober-
com volumes da ordem de 20 milhões de barris. tas (Nordeste de Juruá, Jaraqui, Jutaí, Sudoeste de
Ao final de 1983, o volume de óleo in-place Juruá e outros) que confirmariam a presença de
descoberto nas bacias brasileiras alcançava os 30 uma importante província gaseífera na Amazônia.
bilhões de barris de óleo-equivalente e as reservas Nos anos 80, viriam as descobertas de óleo da
totais superavam os 4 bilhões de barris. área de Rio Urucu. O pioneiro RUC-1 foi proposto
para perfurar uma estrutura dômica alongada a
SW-NE, fruto de “esforços compressivos mesozói-
Figura 27
mente intransponível à penetração e retorno do
sinal sísmico, além de representar um fator de
e os gigantes estavam
Linha sísmica da locação
do poço 2-CP-1-MA, Bacia
do Parnaíba.
incremento de custos para a perfuração. Pesavam
a favor os abundantes indícios constatados pelos
em águas profundas
poços, sugestivos da atuação de sistemas petrolí- Já em 1981, as análises sismoestratigráficas e
Figure 27
feros na bacia, e seu posicionamento geoeconô- estruturais dos dados sísmicos levantados em ma-
mico no centro do mercado consumidor do País, lhas abertas de reconhecimento que se estendiam
Seismic section of the
well 2-CP-1-MA, Parnaíba
um aspecto que poderia influir decisivamente na até regiões de cotas batimétricas superiores a
Basin. economicidade de uma descoberta. 2 000 m permitiram uma série de interpretações
Figure 29
Structural framework
of the Campos Basin
showing the top of
Cretaceous configuration
and the salt domes
province in the
ultra-deep waters
domain (after Lobo
and Ferradaes, 1983).
Figura 30 – Seção sísmica mostrando a projeção da locação original do poço Figure 30 – Seismic section displaying the projected original position of well
1-RJS-219, Bacia de Campos, descobridor do campo gigante de Marlim. 1-RJS-219, Campos Basin, that discovered the giant Marlim Field.
Figure 32
3D display of seismic
amplitude anomaly
distribution in the
Barracuda Field,
Campos Basin.
nas demais bacias a exploração também avança- Em 1988, re-amostrando uma estrutura haloci-
va. Como fato relevante, ao final de 1985, culmi- nética do tipo “casca de tartaruga” ao nível da
nando uma fase de reavaliação exploratória em- seção albiana pelo poço 1-PRS-4, foi descoberto o
basada no amplo conhecimento técnico acumu- Campo de Tubarão na Bacia de Santos. O aspecto
lado, foi descoberto o maior campo da porção peculiar dessa locação é que ela foi posicionada a
terrestre da Bacia Potiguar, Canto do Amaro, pe- 1 200 m do poço subcomercial 1-SCS-6, perfurado
lo poço pioneiro 1-CAM-1-RN (fig. 33). Esse cam- por uma operadora de contrato de risco em uma
po posiciona-se sobre o Alto de Mossoró, feição posição cerca de 200 m estruturalmente mais bai-
regional que limita o rifte Potiguar em sua porção xa. Tendo por base análises sismo-estratigráficas, o
setentrional, e armazena um volume recuperável 1-PRS-4 buscava melhores condições de reservató-
original de aproximadamente 270 milhões de bar- rio do que as constatadas no poço vizinho, que já
ris de óleo, com densidade variável entre 28º e detectara indícios de petróleo. De fato, o poço ob-
45º API. Os reservatórios são arenitos fluviais da teve pleno sucesso e constatou uma seção de cal-
Formação Açu. O trapeamento é estrutural, com carenitos oolíticos geneticamente relacionados à por-
componentes estratigráficas dadas por variações ção mais elevada da feição estrutural dômica con-
laterais de fácies e por barreiras diagenéticas. temporânea. Esses carbonatos apresentam porosi-
Também na Bacia Potiguar, diversas acumula- dades primárias médias de 16%, o que é excepcio-
ções são encontradas no pacote sin-rifte da For- nal considerando-se a profundidade de mais de
mação Pendência, tais como o Campo de Riacho 4 500 m em que ocorrem. Na seqüência das ativi-
da Forquilha. A partir de julho de 1989, a Bacia dades exploratórias, com base no modelo de acumu-
Potiguar assumiu a condição de maior produto- lação de Tubarão, foram descobertas as jazidas de
ra de petróleo em terra no País, suplantando as Estrela do Mar e Coral em 1990, e Caravela em 1992,
tradicionais províncias do Recôncavo e de Ser- consolidando um pólo de produção de petróleo le-
gipe-Alagoas, já em fase madura de produção. ve na porção meridional da Bacia de Santos.
a exploração na Petrobras
no contexto da Nova Lei
do Petróleo
Em 1996 foi realizada a última grande desco-
berta ainda sob a égide do monopólio estatal do
petróleo, o Campo de Roncador, na porção nor-
deste da Bacia de Campos. Esse campo foi des-
coberto pelo poço pioneiro 1-RJS-436A, locação
proposta em 1989, que se posicionava em 1 853 m
de profundidade de água; tal posição batimé-
trica da acumulação de Roncador constituiu um
recorde mundial àquela época. O poço encon-
trou um net pay total de 153 m em turbiditos
maastrichtianos, dos quais somente a parte su-
perior estava associada às anomalias de ampli-
tude sísmica observadas (fig. 34). O volume de
óleo in place do campo é da ordem de 9 bilhões
de barris e as reservas são estimadas em 2,6 bi- Figura 34
lhões de barris de óleo-equivalente. Seção sísmica do Campo
Com a promulgação da Lei 9.478/97, em encontrou gás comercialmente explotável em are- de Roncador, Bacia de
Campos.
06/08/1997, a Petrobras passou a explorar pe- nitos lenticulares, erráticos, da Formação Nova
tróleo somente em concessões autorizadas pelo Olinda, neocarbonífera. A proposta original da lo-
Figure 34
Governo Federal. Em uma primeira etapa, em cação tinha por objetivo os arenitos eocarbonífe-
Seismic section of the
1998, foram assinados 115 Contratos de Con- ros da Formação Monte Alegre; curiosamente,
Roncador Field, Campos
cessão de blocos exploratórios em diversas ba- décadas foram empreendidas na busca de petró- Basin.
cias sedimentares brasileiras, com duração pre- leo nessa unidade, em função de suas caracterís-
vista de três anos. Conforme preconizado em ticas favoráveis como rocha-reservatório, geome-
Lei, os blocos foram concedidos naquelas áreas tria tabular e ampla área de ocorrência na bacia.
onde a Petrobras já havia efetuado investimen- Nesse período, a exploração na Bacia de Cam-
tos e identificado oportunidades exploratórias. pos alcançava as águas ultra-profundas. O novo
Desde então, a Petrobras tem atuado pelo regi- contexto tectono-sedimentar até então desconhe-
me de concessões, com um dinâmico portfólio cido traria imensas dificuldades à exploração, e a
exploratório adquirido em licitações. aplicação dos mesmos modelos geológicos até
Em 1999, a Bacia do Amazonas daria sua pri- então testados e responsáveis por elevados índi-
meira resposta positiva ao persistente esforço ex- ces de sucesso passaram a não responder a con-
ploratório que nela fora empreendido. O poço tento. Num grande esforço de integração de da-
1-RUT-1-AM, situado cerca de 200 km de Manaus, dos e de experiências, repensaram-se os sistemas
Figure 35
Seismic section of the
well 1-ESS-100 that
discovered the Jubarte
Field in northern
Campos Basin.
Figura 36
Seção sísmica da área do
4-SPS-35, Bacia de Santos.
No detalhe, mapa de
amplitude sísmica, onde
se destacam (em verme-
lho e amarelo) os reserva-
tórios saturados de gás.
Figure 36
Seismic section in the
area of the 4-SPS-35 well,
Santos Basin. Inset shows
seismic amplitude
anomaly map.
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