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Exploration at Petrobras: 50 years of success

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Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso

Exploration at Petrobras: 50 years of success

Paulo Manuel Mendes de Mendonça | Adali Ricardo Spadini | Edison José Milani

resumo ratória fundamentada numa equipe de técnicos


norte-americanos. A visão de Link centrou-se nas
Ao completar cinco décadas de atuação, a explo- grandes bacias paleozóicas brasileiras, onde estariam
ração de petróleo desenvolvida pela Petrobras nas ba- as acumulações que dariam ao País sua independên-
cias sedimentares brasileiras apresenta uma história cia em petróleo. Com poucos resultados a comemo-
de inegável sucesso. Coube à Petrobras, criada pela rar, o “Relatório Link”, apresentado em 1960, consi-
Lei 2004 de 3 de outubro de 1953, a tarefa de forne- derava que as bacias brasileiras não tinham o poten-
cer ao Brasil o combustível necessário que alimentaria cial inicialmente imaginado. Com Pedro de Moura,
um nascente parque industrial no pós-guerra, conso- em 1961, coube aos técnicos brasileiros definir os no-
lidando assim a importância do petróleo como base vos caminhos da exploração de petróleo no Brasil.
para o desenvolvimento nacional. O Conselho Nacio- A Petrobras redireciona seus investimentos para a
nal do Petróleo - CNP legou à Petrobras, além de um Bacia de Sergipe-Alagoas e tem seu esforço coroado
acervo de importantes descobertas no Recôncavo pela descoberta de Carmópolis já em 1963, um dos
Baiano, uma base conceitual de gestão para a implan- maiores campos de petróleo do País, com mais de
tação de uma estrutura de exploração que permitiu, 1 bilhão de barris de petróleo in place. Em 1968 a
de forma organizada, avaliar o potencial petrolífero Petrobras inicia sua caminhada em direção à platafor-
das bacias sedimentares brasileiras. Entre os funda- ma continental com a perfuração do 1-ESS-1. Ainda
mentos deixados pelo CNP estava uma preocupação nesse ano, no segundo poço, é descoberto o Campo
permanente com o treinamento de seus técnicos, de Guaricema, na Plataforma Continental de Sergipe.
doutrina que permeou de forma plena a estrutura da Mas foi em 1974 que se deu a primeira grande des-
Exploração na Petrobras durante toda sua história de coberta de petróleo na plataforma continental bra-
atuação. Em busca de resultados de curto prazo que sileira, que foi o Campo de Garoupa, em carbonatos
atendessem ao anseio inerente à sua criação, a Petro- albianos da Bacia de Campos. Uma série de descober-
bras teve seus caminhos conduzidos inicialmente por tas no final da década de 70 e início da década de 80,
Walter Link, que compôs aqui uma estrutura explo- principalmente na Bacia de Campos, incluindo agora

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também os reservatórios turbidíticos, abriram uma support the infant industrial park of the post-war
ampla perspectiva para a produção de petróleo no Bra- years, thus emphasising the importance of petroleum
sil, que no final de 1984 chegaria aos 500 000 bbl/dia. as a base for national development. In addition to a
Nesse mesmo período, coroando os esforços de record of important discoveries in the Recôncavo Bai-
muitas gerações, é finalmente feita a primeira desco- ano, the Conselho Nacional de Petróleo - CNP, pro-
berta significativa na Amazônia, o Campo de Juruá, vided Petrobras with the conceptual base for the
uma acumulação de gás que iria inserir as bacias pa- implantation of an exploration structure that permit-
leozóicas, sempre tão questionadas, no rol das bacias ted the evaluation of the petroleum potential of the
portadoras de reservas de petróleo no País. Em mea- Brazilian sedimentary basins. Amongst the fundamen-
dos dos anos 80 ocorrem as primeiras descobertas de tal principles left by the CNP was the continuous pre-
petróleo em águas profundas da Bacia de Campos, occupation with the training of its technicians, a pol-
entre elas o campo gigante de Marlim, com reservas icy that permeated, in full form, the exploration struc-
de 2,7 bilhões de barris. Estava iniciada uma etapa ture of Petrobras throughout its history of activity. In
que, pelos desafios enfrentados e conquistas obtidas, view of the necessity for short-term results, which
colocaria a Petrobras numa posição de destaque met the aspirations inherent in its founding, Petro-
junto às grandes empresas de petróleo do mundo. bras was initially guided along its way by Walter Link,
Em 1997, com a Nova Lei do Petróleo, a Petrobras who drew up a exploration structure based on a team
deixa de atuar com exclusividade no segmento de ex- of North American technicians. The vision of Link was
ploração, uma condição até então garantida pelo centred on the large Brazilian Paleozoic basins that
monopólio da União, e passa a operar em regime de might have contained the oil resources that would
concessões. Nesse período mais recente são feitas as have given the Country its independence from import-
primeiras grandes descobertas na porção norte da ed oil. With little in the way of results to commemo-
Bacia de Campos, no Estado do Espírito Santo, onde rate, the Link Report, presented in 1960, considered
são incorporadas reservas de mais de 2 bilhões de that the Brazilian basins did not have the potential for
barris. É descoberta também a primeira importante petroleum that had been initially imagined. Under the
acumulação de óleo na porção marítima da Bacia do direction of Pedro de Moura in 1961, it became the
Espírito Santo, 35 anos após a primeira perfuração role of Brazilian technicians to define a new explo-
marítima no Brasil. A recente descoberta de grandes ration policy for petroleum in Brazil. Petrobras redi-
reservas de gás na Bacia de Santos coroa essa história rectioned its investments to the Sergipe-Alagoas
de atividades, recompensando o denodo e empenho basin, and was rewarded by the discovery of
de várias gerações que lutaram, inicialmente para a Carmópolis already in 1963, one of the largest oil
criação da Companhia, e que hoje se empenham no fields in the Country, with more than a billion barrels
dia-a-dia para mantê-la sempre como o ícone repre- of oil in place. In 1968, Petrobras began the study of
sentativo do sucesso e capacidade de trabalho do the potential on the continental platform with the
povo brasileiro. As reservas nacionais, que no ano de drilling of well 1-ESS-1. Also, in this year, the second
criação da Empresa eram de 15 milhões de barris well was drilled that led to the discovery of the
atingiam, ao final de 2003, a expressiva marca de 12,6 Guaricema Field in the continental platform of Sergi-
bilhões de barris de óleo-equivalente. pe. However, it was in 1974, that there came about the
first large oil discovery on the Brazilian continental
(originais recebidos em 12.04.2004)
platform in Albian carbonate rocks of the Garoupa
Palavras-chave: história da exploração | bacias brasileiras | Field of the Campos Basin. A number of discoveries at
descobertas petrolíferas | tecnologia the end of the nineteen seventies and the first years
of the nineteen eighties, principally in the Campos
Basin, including by now the resources in turbidite

abstract beds, opened an ample perspective for the produc-


tion of petroleum in Brazil, which by the end of 1984
On completing five decades of activity, petroleum would reach 500 000 barrels/day. At this same time,
exploration developed by Petrobras in the Brazilian and thanks to the efforts of many generations, the
sedimentary basins has demonstrated an unquestion- first significant discovery in the Amazon region was
able history of success. Created by Law 2004 of finally made. This was the Juruá Field, an accumula-
December 3, 1953, Petrobras assumed the undertak- tion of gas in a Paleozoic basin just like those the
ing of supplying Brazil with the fuel oil required to potential of which for significant oil resources in the

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Country had been so often questioned. In the middle trobras jamais esmoreceu. A dificuldade, isto sim,
of the nineteen eighties there occurred the first oil foi utilizada como elemento motivador na perse-
discoveries in the deep waters of the Campos Basin cução de patamares cada vez mais elevados de
amongst which included the giant Marlim Field with conhecimento, na proposição de modelos geoló-
reserves of 2.7 billion barrels. Thanks to the chal- gicos inovadores, na busca de petróleo em águas
lenges met and successfully overcome, there was
cada vez mais profundas.
about to begin a phase that would place Petrobras in
Mas também, certamente, essa história de su-
an outstanding position together with the other great
petroleum companies of the world. In accordance
cesso se deve a posturas adequadas de gestão;
with the new petroleum law of 1997, Petrobras lost decisões tomadas em momentos críticos do pro-
its exclusivity to oil exploration that up to now had cesso exploratório definiram trajetórias, assumi-
been a federal monopoly, and began to function as a ram riscos, buscaram alternativas, e o resultado
concessionaire. In this more recent period the great global está aí: as bacias brasileiras suportam hoje
discoveries in the northern part of the Campos basin um conjunto de projetos que conduzem o País
were made. Likewise, were made the important oil no rumo seguro da tão almejada auto-suficiên-
discoveries in the State of Espirito Santo where cia na produção desse fundamental insumo.
reserves exceed 2 billion barrels. This discovery is the Arrojo e persistência, com esforço racional e
first important oil accumulation found in the off- objetivamente dirigido à abertura de novas fron-
shore waters of the Espirito Santo Basin, some 35
teiras exploratórias - tanto geológicas quanto
years after the first well was drilled into the Brazilian
geográficas - foram quase sempre muito bem
continental platform. The recent discovery of large
gas reserves in the Santos basin crown this history of recompensados.
success, rewarding the efforts of several generations Nesses 50 anos de atividade exploratória, a Pe-
that battled for the founding of the Company in the trobras buscou o petróleo que era suposto exis-
first place, and which today strive to maintain it as an tir no subsolo nacional. Em 1972, com a criação
icon of success and as an example of the work capac- da subsidiária Braspetro - cuja atuação não será
ity of the Brazilian people. The national reserves, discutida neste trabalho - a Companhia passa a
which in the year that the Company was founded explorar bacias no exterior, onde se registram
were 15 million barrels, reached the expressive figure igualmente diversos resultados muito significa-
of 12.6 billion barrels of oil- equivalent by the end of tivos. A história da exploração desenvolvida pela
2003.
Petrobras no Brasil inclui diversos períodos, que
(expanded abstract available at the end of the paper) refletiram conjunturas particulares ditadas pelos
contextos político, econômico e tecnológico, num
Keywords: histor y of exploration | sedimentar y basins | petroleum mundo onde o petróleo exerceu - e ainda exerce
discoveries | technology - um papel primordial, notadamente a partir da
Primeira Guerra Mundial.
A própria criação da Petrobras nos anos 50
do século passado está inserida num cenário de
ampla discussão havida no seio da sociedade
introdução brasileira, em que pesavam, por um lado, incer-
tezas sobre nosso potencial petrolífero, limita-
Com a celebração dos 50 anos do início da ções tecnológicas à prospecção e interesses de
atividade exploratória conduzida pela Petrobras grandes grupos econômicos internacionais bus-
em nosso País, é oportuno realizar-se um retros- cando posições favoráveis no refino e distribui-
pecto dos resultados obtidos nesse período. Fo- ção no Brasil; de outro, posicionavam-se as vi-
ram grandes conquistas, que podem ser credita- sões nacionalistas, o anseio popular por uma ga-
das principalmente à criatividade do técnico bra- rantia de abastecimento de derivados (“O pe-
sileiro; mesmo defrontando-se com os imensos tróleo é nosso!”) e o peso político e credibilidade
desafios advindos da complexa geologia de nos- técnica angariados pelo CNP com as primeiras
sas bacias sedimentares, o corpo técnico da Pe- descobertas na Bacia do Recôncavo. O resultado

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dessa emblemática luta foi a criação, em outu- rais da bacia e tiveram fundamental papel na lo-
bro de 1953, da Petróleo Brasileiro S. A., empre- cação dos poços que realizaram as primeiras des-
sa que exerceria o monopólio estatal do setor cobertas na área.
como preconizado na Lei 2004, de 3 de outubro Em termos organizacionais, a estrutura da re-
de 1953, assinada pelo Presidente da República cém-criada companhia recebeu do CNP uma cla-
Getúlio Dornelles Vargas. Em 1997, o monopólio ra visão de que Geologia e Geofísica, como dis-
até então delegado à Petrobras deixou de existir ciplinas independentes mas inter-relacionadas,
e o atual cenário de regulamentação, aberto a eram os pilares do processo exploratório. A bus-
outras operadoras, foi implementado. ca do conhecimento via treinamento em centros
Este trabalho não pretende - e nem conse- avançados no exterior também era uma das re-
guiria - esgotar a rica saga dos 50 anos de ativi- comendações já ao tempo do CNP, plenamente
dade exploratória desenvolvidos pela Petrobras acolhida e exercitada na gestão da Exploração
em nosso País. Certamente inúmeros fatos e acon- na Petrobras ao longo de toda sua história.
tecimentos não terão sido mencionados, o que Conseqüências mensuráveis do acerto das es-
absolutamente não lhes tira nem o valor e nem tratégias de atuação do CNP foram as descober-
a importância histórica. tas, além de Candeias, de outros importantes
Interessantes aspectos dessa história de lutas, campos no Recôncavo, como o de Dom João
aprendizados e sucessos foram discutidos por di- (1947) e Água Grande (1951); considerando-se
versos autores, dentre eles Moura e Carneiro (1976), as condições de trabalho daquela época, pode-
Bacoccoli (1986), Campos (2001), Dias e Quagli- se entender estas descobertas como o resultado
no (1993) e Souza (1997). O trabalho inclui algu- do excepcional esforço de um grupo de geólo-
mas ilustrações inéditas, que tiveram por fonte gos utilizando-se da melhor técnica então dispo-
relatórios internos da Empresa; outras saíram da nível. Em 1953, quando da criação da Petrobras,
pesquisa em Pastas de Poço, um rico acervo pre- foi incorporada pela Empresa uma reserva de
servado pela Companhia. Algumas dessas figu- 15 milhões de barris, oriunda dos trabalhos ex-
ras, quais sejam linhas sísmicas interpretadas ou ploratórios do CNP. A produção diária de pe-
seções geológicas e mapas, não deixaram perce- tróleo era de 2 700 barris. O crescente consumo
ber claramente a autoria, mas em função de seu nacional no pós-guerra já chegara, em 1953, a
valor no processo histórico aqui relatado não po- 137 000 bbl/dia.
deriam deixar de ser incluídas, mesmo sem con- Um legado também muito significativo do CNP
dições de se proceder a uma citação adequada foi deixar o que seria a base para a implantação da
que ressalte o mérito de seus autores. estrutura organizacional do segmento de explo-
ração da Petrobras, concebido a partir da visão do
geólogo Arville I. Levorsen, consultor que havia vin-
do ao Brasil em 1953. Tendo por base um diagnós-
o início das atividades da tico bastante realista das condições de trabalho,
das demandas tecnológicas e do processo de ges-
exploração na Petrobras tão vigente no CNP, Levorsen estabeleceu uma sé-
rie de premissas que, no ano seguinte, já com a
Quando da sua implementação operacional Petrobras assumindo as atividades de Exploração e
em 10 de maio de 1954, a Petrobras recebeu do Produção no Brasil, formariam a base da estrutura
CNP um acervo que incluía algumas importantes organizacional inicial desse segmento.
acumulações petrolíferas no Recôncavo Baiano, O Departamento de Exploração era constituí-
como o Campo de Candeias, descoberto em 1941, do por unidades distritais (fig. 1) sob o comando
e tendo um volume de óleo in place de mais de técnico de geólogos estrangeiros. Foram estabe-
350 milhões de barris. Mapeamento de campo, lecidos os distritos de Belém, Maceió, Salvador e
gravimetria e sísmica permitiram, já na década de Ponta Grossa. Tais unidades operacionais condu-
40, a delineação dos grandes elementos estrutu- ziam as atividades nas bacias sob sua gestão,

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Figura 1 – Organograma do Departamento de Exploração durante Figure 1 – Organization of the Exploration Department during the
a “era Link”. Link period.

mas sob a coordenação direta da Sede da Com- geologia, foram contratados técnicos estrangei-
panhia. Conforme Moura e Carneiro (1976) os ros para cobrir a carência de pessoal especializa-
“chefes de Distrito analisavam e discutiam com do. Conforme Dias e Quaglino (1993), a nomea-
seus assessores, também geólogos contratados, ção de Link e a contratação de dezenas de geó-
os relatórios apresentados pelos chefes de turma logos e geofísicos norte-americanos justificava-
de geologia; remetiam esses relatórios ao DEPEX se por uma dupla perspectiva: a de que o know-
no Rio de Janeiro, onde eram re-estudados e re- how norte-americano era o melhor que poderia
analisados pelos Chefes de Setor, que por fim, os ser adquirido no mercado e transferido ao corpo
passavam ao Geólogo-Chefe, Luís G. Morales técnico da Empresa, ainda em formação; e a de
(Superintendente-Adjunto), para exame e deci- que os resultados, em termos de descoberta e
são da Superintendência”. produção no curtíssimo prazo, só poderiam ser
Por recomendação de Levorsen, na chefia do obtidos com ampla ajuda desses profissionais.
Departamento de Exploração da recém-criada No início dos anos 50, ainda sob a coordenação
Petrobras assumiu o geólogo norte-americano doCNP, foi criado o Centro de Aperfeiçoamento e
Walter K. Link, antigo Geólogo-Chefe da Stand- Pesquisas de Petróleo - CENAP, que logo começou
ard Oil. Como no Brasil não havia escolas de a oferecer cursos especializados em Geologia do

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Petróleo. Sob a administração da Petrobras, o a exploração na Bahia: primeiro ciclo
CENAP passou a ministrar verdadeiros cursos de
pós-graduação, contratando professores norte- de descobertas da Petrobras
americanos e mantendo intercâmbio com univer-
sidades americanas e com centros de pesquisa da Por conta do pioneirismo, mas certamente ali-
Europa. Muitos dos geólogos que desempenharam mentado também pelos resultados obtidos, du-
brilhante carreira, seja técnica ou gerencial na Com- rante muito tempo o processo exploratório no
panhia, foram egressos dos cursos do CENAP, tendo Brasil teve um importante referencial na Bacia do
lá sido admitidos com diplomas de graduação em Recôncavo. A bacia, desde as etapas pioneiras de
faculdades outras tais como Agronomia, Engenha- trabalho da Petrobras, foi grande escola para a Geo-
ria, Odontologia e Matemática. Seguindo a linha logia do Petróleo nacional, “exportando” concei-
proposta por Levorsen, a Petrobras enviou de pron- tos que foram muito úteis à exploração em ou-
to um grupo de técnicos para pós-graduação em tras áreas. Sistemas deposicionais, zoneamento
Geologia em renomadas escolas americanas (Colo- bioestratigráfico, tectônica de blocos falhados, den-
rado School of Mines, Stanford e Oklahoma). Todos tre muitas outras, são áreas do conhecimento que
eles exerceriam papel relevante na exploração de encontraram na Bahia um prolífico laboratório
petróleo no Brasil. natural para estudo e aprendizado de inúmeras
A filosofia exploratória da Petrobras centrou-se gerações de exploracionistas.
então em dois pontos: 1) considerando os resul- Com a criação e o início de atuação da Petro-
tados positivos obtidos pelo CNP, foi recomenda- bras em Exploração, houve uma diversificação dos
do o prosseguimento da exploração na Bacia do métodos exploratórios no Distrito da Bahia, incluin-
Recôncavo; 2) dadas às enormes dimensões das do uma ênfase nos mapeamentos regionais e uma
bacias paleozóicas brasileiras, permeava na Ex- busca de novos alvos exploratórios na Bacia do
ploração a crença de que haveria grandes des- Recôncavo. A vizinha Bacia do Tucano começa tam-
cobertas, os denominados Bonanza fields, sinali- bém a ser objeto de estudos, dada sua continui-
zados como sendo a redenção do processo explo- dade com a área já então produtora.
ratório. Entre essas, a prioridade estava nas bacias A partir da cultura desenvolvida ainda no
do Amazonas e do Paraná; a segunda era respal- âmbito do CNP, e com as novas pesquisas, con-
dada também pela posição geográfica, muito favo- solidava-se o entendimento da Geologia do Pe-
rável sob a perspectiva do mercado consumidor. tróleo da Bacia do Recôncavo por meio de traba-

Figura 2 – Seção geológica regional da Bacia do Recôncavo (Moura e Figure 2 – Regional geological section of the Recôncavo Basin (after Moura
Fernandes, 1952), ilustrando o entendimento, à época da criação da and Fernandes, 1952), displaying the understanding of basin’s architecture
Petrobras, da configuração da bacia e de sua potencialidade petrolífera. and petroleum potential at that time.

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lhos de síntese, em que eram expostas as condi- mação Santo Amaro” e os do “Membro Sergi da
ções gerais de tectônica e sedimentação da ba- Formação Brotas”.
cia e do habitat do petróleo. Dentre os resultados dessa fase inicial de
O Recôncavo já era então percebido como atuação da Petrobras no Recôncavo destaca-se
uma bacia do tipo tectonic trough (fig. 2) abri- a descoberta do Campo de Buracica em 1959
gando uma espessura máxima de sedimentos da (fig. 3), a maior realizada durante a “era Link”.
ordem dos 4 000 m. O ambiente de sedimen- Constitui uma clássica trapa estrutural em bloco
tação seria do tipo “baía fechada, com remotas falhado rotacionado com mais de 600 milhões
possibilidades de uma conexão com o oceano”. de barris de óleo in-place, armazenados em are-
A origem do petróleo encontrado na bacia, em nitos da Formação Sergi. Em 1958 havia sido des-
vários níveis estratigráficos, era atribuída ao con- coberto o Campo de Taquipe, outro resultado im-
teúdo orgânico do “Santo Amaro shale”, sendo portante desta fase inicial de atividades explora-
reservatórios preferenciais os arenitos da “For- tórias da Petrobras.

Figura 3 – Mapa estrutural do prospecto exploratório na área de Buracica, Figure 3 – Structural map of the Buracica area in the Recôncavo Basin.
Bacia do Recôncavo.

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Moura e Oddone (1961) destacaram a impor- Correlações de eventos com as demais bacias pa-
tância do conhecimento adquirido sobre a Bacia leozóicas brasileiras foram também estabelecidas.
do Recôncavo, face às dificuldades encontradas A grande transgressão devoniana era reconhecida
até então na pesquisa em áreas paleozóicas e como o fenômeno responsável pela acumulação
nas bacias marginais. Para eles, “...Bacias do tipo de folhelhos com potencial gerador, ao mesmo
da Bahia ainda temos as de Sergipe e Alagoas, tempo em que se identificavam os beach sands
onde os inúmeros blocos de falhas serão os con- do pacote pensilvaniano - Arenito Monte Alegre -
troles estruturais para armazenamento de petró- assentados sobre uma discordância regional que
leo...Não poderíamos condenar a busca de pe- os justapunha à seção geradora, como sendo os
quenos campos: encontrando-os, será com estes reservatórios a serem perseguidos na bacia. Mais
– como nos mostrou a Bahia – que poderemos acima, como resultado de aportes marinhos pro-
ganhar os preciosos ensinamentos...”. venientes de noroeste, acumulou-se o pacote se-
lante representado pelos carbonatos e evaporitos
Itaituba-Nova Olinda. O final do Paleozóico era
o Paleozóico brasileiro: da esperança marcado por epirogênese e saída dos mares, devi-
do a esforços do diastrofismo Apalachiano, tam-
à decepção bém responsável por falhas e fraturas que teriam
A descoberta de óleo em Nova Olinda no iní- servido como dutos à primeira fase de migração
cio de 1955, no Médio Amazonas, parecia sina- de hidrocarbonetos na bacia e como caminhos à
lizar que a decisão de Link de investir prioritaria- entrada do diabásio (fig. 4), no Triássico-Jurássico.
mente na exploração das bacias paleozóicas es- O entendimento, ainda que fragmentário, da atua-
tava correta. O poço 1-NO-1-AM, proposto ain- ção de um sistema petrolífero na bacia, conjugan-
da no tempo do CNP, constatou óleo de excelen- do os vários elementos necessários à existência de
te qualidade num corpo arenoso da Formação jazidas petrolíferas, já estava presente.
Curuá. Os poços de extensão não confirmaram a Com a perfuração dos primeiros vinte poços
continuidade dessas areias, de modo que Nova na bacia, manifestavam-se com clareza as dificul-
Olinda não se tornou uma acumulação comer- dades exploratórias daquela área. No dizer de Mo-
cial. Nesse contexto de expectativa favorável, Link rales (1957), “... From the results obtained to
propôs, em dezembro de 1956, uma programa- date by the drilling in the Amazonas basin - it is
ção para a Exploração executar no ano seguinte, evident that a great portion of the stratigraphi-
pois considerava que a grande e ainda inexplora- cal section offers few or no oil prospects..”.
da região Amazônica mantinha-se como a gran- A efetividade do trapeamento das estruturas
de esperança exploratória para o Brasil. mapeadas por sísmica de reflexão, sobre as quais
A presença de geólogos e geofísicos estran- foram perfurados alguns dos poços, era questiona-
geiros nos primórdios da exploração organizada da. Na visão de Morales (1957), alternativas à
no Brasil trouxe um importante elemento que foi pesquisa no Arenito Monte Alegre poderiam ser
a experiência acumulada por atividades em ou- buscadas em prospectos conceituais onde grandes
tros continentes, em especial as premissas de falhas normais colocassem aquele reservatório con-
Análise de Bacias, de tal modo que, nos anos 50, tra o gerador Curuá, ou por variações laterais de
os técnicos envolvidos já tinham uma razoável fácies e fechamento por pelitos. Era levantada tam-
percepção sobre a questão evolutiva e da proble- bém a perspectiva da presença de recifes na
mática na busca de petróleo nas bacias amazô- Formação Itaituba em algumas áreas da bacia, e de
nicas; muito da cultura daquela época está lentes arenosas intra-Devoniano junto ao gerador, o
relatada em Morales (1957). que minimizaria o problema da migração. Foi forte-
Já era percebido um relacionamento cronoes- mente recomendado perseguir uma melhoria tec-
tratigráfico das rochas da Bacia do Amazonas nológica da sísmica, e realizar aeromagnetometria e
com aquelas presentes em áreas de países vizi- refração para mapear o embasamento e detectar
nhos, de bacias situadas no contexto subandino. grandes falhas regionais, os tão procurados trends.

16 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 4
Seção geológica de
correlação entre poços
da área de Nova Olinda,
Bacia do Médio
Amazonas (Morales,
1957), com destaque
para a interpretação da
geometria dos corpos
ígneos.

Figure 4
Geological correlation
section of wells in the
Nova Olinda área,
Middle Amazon Basin
(after Morales, 1957)
with emphasis on the
interpretation of
intrusive magmatic
bodies.

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A perspectiva de que a exploração poderia causado remigrações e perda de petróleo por
obter resultados expressivos na Amazônia man- fuga das trapas. Restavam, na visão de Sanford
tinha-se no início de 1959, quando a Adminis- e Lange (1957), possibilidades para prospecção
tração Link ainda considerava que a Bacia do ao longo de linhas de charneira, associadas a blo-
Amazonas, em função de seu tamanho e espes- cos falhados, e remigração para o arenito eólico
sura da seção sedimentar, parecia ser a solução Botucatu, com selo fornecido pelo pacote de la-
para reduzir a dependência externa de petróleo. vas. Já era mencionado o potencial petrolífero
Embora, já se sabia, a um custo muito elevado, do play gerador Devoniano - reservatório Pensil-
como evidenciado no documento DEPEX DDO vaniano, por analogia com as bacias subandinas,
527/59, onde Link dizia: “In terms of time already e aventada a possibilidade de que os pelitos do
spent on the Amazon, five years cannot be con- Carbonífero também pudessem atuar como ro-
sidered a long time, when one considers the size cha-fonte; curiosamente, o folhelho betuminoso
of the basin, physical difficulties involved in mov- Irati não era mencionado como potencial rocha
ing around a tropical rain forest. I am not trying geradora na bacia. Ao final, o trabalho elegia uma
to discourage exploration in the Amazon, and I área de 184 000 km2, na porção centro-sul da
am merely pointing out that somewhere close to bacia, como sendo a mais favorável, concluindo
50 million dollars has been spent in four years que “...There are definitely oil possibilities in the
time, on 1/2 percent of this great region. Paraná Basin although many geological aspects
Continued exploration on the same scale with of the basin render it not as satisfactory as some
rising costs will be even more expensive”. other basin of Brazil and the rest of the world...”.
A persistência exploratória, uma das caracte- Outra vasta bacia paleozóica brasileira é a do
rísticas da atuação da Petrobras, levaria à desco- Parnaíba, em cuja região centro-sul o CNP havia
berta, no final dos anos 70, de importantes jazi- perfurado dois poços para conhecimento da estra-
das de gás na Bacia do Solimões. tigrafia em subsuperfície. As operações da Petro-
Segundo Moura e Carneiro (1976), a Bacia do bras na bacia iniciaram com o mapeamento geo-
Paraná, depois das amazônicas, era a área predile- lógico e a identificação de estruturas no campo,
ta de Link. Durante a sua gestão, e também nas sendo este o critério utilizado na locação de diver-
décadas subseqüentes, num período que se pro- sos dos poços pioneiros lá perfurados. Após a per-
longou até 1974, tal sinéclise foi palco de uma sig- furação de 27 poços entre estratigráficos, pionei-
nificativa atividade exploratória, com extensivos ros e especiais, sem resultados encorajadores, as
mapeamentos de superfície e a perfuração de 71 atividades na bacia foram interrompidas em 1966,
poços. Para coordenar as ações técnicas iniciais na e os resultados até então obtidos foram relatados
Bacia do Paraná, Link designou o geólogo ameri- por Aguiar (1969), que concluiu: “...Embora acre-
cano Robert M. Sanford. Em 1957 foi publicado o ditemos na possibilidade de descobrir óleo co-
resultado do primeiro projeto de análise de bacia mercial na bacia, temos que admitir que os riscos
lá realizado, integrando informações de superfície são grandes...”.
aos dados de poços até então existentes, e reve- Ao final desse primeiro ciclo, a despeito do es-
lando as linhas gerais de correlação da geologia da forço exploratório realizado, não se obteve nenhu-
Bacia do Paraná com a de bacias em países vizi- ma descoberta comercial nas bacias paleozóicas, o
nhos no domínio subandino, buscando elementos que trouxe grandes frustrações às enormes expec-
de apoio e justificativa à exploração no Paraná em tativas que sobre elas haviam sido depositadas.
áreas produtoras da Bolívia e Argentina.
O relatório destacava alguns pontos considera-
dos, à luz das informações existentes, como des- a exploração pioneira nas bacias da
favoráveis ao processo exploratório na área, tais
como a suposta ausência de anticlinais ou de
margem continental
falhas reversas, o mergulho muito suave dos flan- Com a priorização dada pela Petrobras às ati-
cos e a recorrente atividade epirogênica, que teria vidades exploratórias no Recôncavo e Paleozói-

18 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


co, pouca atenção foi dedicada às bacias costei- (Macau). Com o insucesso destas perfurações em
ras nesta fase inicial, embora alguns trabalhos termos de descobertas de petróleo, os trabalhos na
pioneiros houvessem sido realizados. Moura e bacia foram temporariamente abandonados.
Oddone (1961) lembram que “...Alagoas detém Em 1957 foram feitos os primeiros trabalhos
na história do petróleo no Brasil, a primazia de ser a sísmicos terrestres e marítimos na Bacia do Espí-
primeira bacia que foi objetivo de perfurações para rito Santo. No final de 1959 foi perfurado o poço
petróleo, no poço nº 1 do Serviço Geológico, há 2-CBst-1-ES, Conceição da Barra, programado
pouco mais de 40 anos...”. para obter informações estratigráficas sobre essa
Nessa bacia, a atividade exploratória iniciada bacia costeira (fig. 6). O poço alcançou o embasa-
ao tempo do CNP, com a perfuração de seis po- mento a 1 717 m, e revelou a presença de óleo
ços entre 1939 e 1943, foi retomada pela Petro- residual tanto na seção pré-sal como na seção
bras em 1956 por meio de um levantamento sobreposta aos evaporitos. Os resultados do poço
gravimétrico de reconhecimento. Em 1957, foi incentivaram o Departamento de Exploração a
descoberto o Campo de Tabuleiro dos Martins, realizar trabalhos sísmicos para “locar estruturas”.
portador de óleo em arenitos da Formação Co- Na Bacia de Campos, também em 1959, foi
queiro Seco, estruturados em alto relativo limita- perfurado o poço Cabo de São Tomé, locado pa- Figura 5
do por falhas normais. ra testar as possibilidades de óleo e adquirir in-
Resultado de
O primeiro levantamento de reflexão sísmica formações geológicas “...in a small coastal basin interpretação de
na plataforma continental foi realizado durante os similar to Espírito Santo Basin where marine sed- dados de sísmica
anos de 1957 e 1958, na plataforma de Alagoas. iments of Tertiary and Cretaceous age were analógica que
apoiou a locação
Nesse mesmo período, linhas sísmicas de reflexão found in the well Caravelas...” (fig. 7).
do poço 1-G-1-RN,
foram adquiridas em áreas da plataforma do Àquela oportunidade, não se especulara sobre Bacia Potiguar.
Espírito Santo e da Bahia. Na margem equatorial, a extensão da bacia em direção ao mar. O poço
foram feitos levantamentos na Baía de São perfurou 1 940 m de rochas sedimentares ceno- Figure 5
Marcos e áreas da plataforma adjacente. Estavam zóicas de natureza continental, sem indícios de pe- Interpreted results of
aí sendo dados os primeiros passos para o mar. tróleo, sobrepostas a um pacote de basaltos com analog seismic data that
Em Sergipe, foram delineadas as principais 625 m de espessura, antes de atingir o embasa- supported the proposal
of 1-G-1-RN well,
feições estruturais regionais da bacia, incluindo mento cristalino.
Potiguar Basin.
o grande alto regional conhecido como Platafor-
ma de Sergipe e o grande baixo regional de Ja-
paratuba. Foram perfurados alguns poços, entre
os quais o de São José, em 1960, localizado no
flanco da estrutura onde, alguns anos mais tar-
de, seria descoberto o Campo de Carmópolis.
Em 1959, o poço 2-HCst-1-MA (Humberto de
Campos) amostrou, pela primeira vez, a seção
presente na Bacia de Barreirinhas; a locação foi
proposta para testar a presença de um suposto
depocentro cretáceo indicado por gravimetria na
porção terrestre e sísmica na porção marítima
adjacente. O poço penetrou um pacote sedi-
mentar com 3 250 m de espessura sem alcançar
o embasamento. À profundidade final do poço
surgiram dúvidas sobre a idade da seção sedi-
mentar, se cretácea ou paleozóica.
Na Bacia Potiguar, foi realizada em 1956 a primei-
ra perfuração para petróleo com o poço 2-G-1-RN
(Gangorra, fig. 5), logo seguido pelo 2-M-1-RN

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 19


formação geofísica, mas não atingiram o suposto
embasamento raso. Isso motivou a investigação por
meio do poço estratigráfico 2-MOst-1-RS, que al-
cançou o embasamento à profundidade de 1 570 m
mas sem indicações de petróleo em toda a seção
penetrada.

o final do primeiro ciclo exploratório


da Petrobras: o Relatório Link
Em 1960, Link enviou à Direção da Petrobras
três cartas numeradas como DEPEX 1032/60,
DEPEX 1058/60 e DEPEX 1345/60 que, no seu
conjunto, ficaram conhecidas como o Relatório
Link. No primeiro desses documentos, ele apre-
sentou uma Avaliação das Possibilidades Petrolí-
feras das Bacias Sedimentares do Brasil. O pró-
prio Link considerou esta uma análise de caráter
predominantemente pessoal, mas incluía idéias e
pontos de vista gerais obtidos com o trabalho de
exploração feito no Brasil por um grupo de técni-
cos do Departamento de Exploração, tanto no
Rio quanto nos Distritos Regionais.
As bacias foram classificadas em A, B, C e D
(fig. 8). As áreas sedimentares foram avaliadas de
acordo com o conhecimento geológico e dados
disponíveis, considerando as condições necessárias
para que uma região se torne uma importante
área produtora de petróleo. Tais condições inclui-
riam: a) grande espessura das rochas matrizes
para a geração de óleo; b) rochas porosas ou
fraturadas capazes de servir de reservatório; c)
Figura 6 estrutura ou outras condições em que o óleo
Fac simile da Proposta O programa exploratório nas bacias costeiras possa se acumular.
de Locação do poço estendeu-se até o Sul do Brasil; na Bacia de Pelo- Segundo Link, a classificação apresentada não
2-CBst-1-ES, Bacia do
tas foi locado o poço 2-MOst-1-RS (Mostardas) no era definitiva. Uma bacia poderia tornar-se mais
Espírito Santo.
ano de 1960. O poço foi concebido para testar as ou menos favorável à medida que novos dados
possibilidades de petróleo e obter informações es- fossem obtidos, e se a Petrobras desejasse conti-
Figure 6
tratigráficas e estruturais da bacia. A Bacia de Pelo- nuar a exploração em todas as áreas trabalhadas
Fac simile of 2-CBst-1-ES
tas era interpretada como sendo uma bacia cos- até então o DEPEX envidaria todos os esforços
well proposal, Espírito
Santo Basin. teira “graben-type” similar às demais áreas da mar- para realizar um programa de exploração inteli-
gem leste brasileira, e suas perspectivas petrolífe- gente e bem orientado, porém ele não recomen-
ras relacionavam-se à seção inferior do pacote ter- dava que isto fosse feito na ampla escala em que
ciário, não amostrado até então. Trabalhos ante- havia sido realizado entre 1957 e 1960.
riores de gravimetria em 1957 sugeriam tratar-se No documento DEPEX 1058/60, em que é apre-
de uma área com delgada cobertura sedimentar; sentado o Programa de Exploração para 1961, é re-
três poços foram perfurados para calibrar esta in- comendada a continuidade da exploração, no

20 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


mesmo ritmo empreendido em 1960, nas bacias
de Sergipe e do Recôncavo e o aumento da ativi-
dade na Bacia do Tucano. Nenhuma exploração
nas bacias classificadas como D foi considerada.
Aí estavam incluídas as bacias do Acre, Alto Ama-
zonas, Baixo Amazonas, além das faixas costeiras
do Espírito Santo e Bahia Sul, embora com relação
a essa última área Link aventasse que “...a área
marítima pode ter uma classificação melhor...”.
Link julgava ainda que a exploração nas ba-
cias classe C (Médio Amazonas, Maranhão, Bar-
reirinhas, Alagoas e Sul do Brasil) não poderia ser
justificada do ponto de vista geológico. O pro-
grama delineado para essas áreas não seria reco-
mendável, tendo sido incluído apenas para o ca-
so de a Diretoria deixar de considerar esses pros-
pectos como marginais e decidir “explorar essas
bacias por razões outras que geológicas”.
Link considerou ainda que, com o acervo de
conhecimentos geológicos obtidos pela explora-
ção nas bacias paleozóicas desde o início das ati-
vidades da Petrobras em 1954, e a gradativa dimi-
nuição do potencial petrolífero na medida em que
esses dados eram obtidos, era impossível re-
comendar a continuidade da exploração naquelas
áreas. Para Link, naquele momento, em 1960, res-
taria muito pouco para justificar a exploração adi-
cional nas bacias paleozóicas. Desse modo, a sua
recomendação na época foi a não-continuidade
da exploração nas bacias paleozóicas brasileiras.
Entretanto, para o mesmo Link, a exploração
em larga escala realizada até 1959 era justifica-
da, uma vez que a insuficiência de dados exis- diversos autores que o seu grande mérito foi ter Figura 7
tentes até então não permitia um diagnóstico deixado implantada uma estrutura organizacio- Fac simile da Proposta
mais conclusivo. nal adequada de exploração, nos moldes das de- de Locação do
Link sugeriu também que se a Petrobras dese- mais grandes companhias de petróleo do mun- poço 2-CSTst-1-RJ,
Bacia de Campos.
java permanecer na exploração petrolífera em larga do. No dizer de Acyr Ávila da Luz (2003), “...o
escala, e em base de competição com a indústria Departamento de Exploração criado por Link
Figure 7
petrolífera internacional, “deveria ir a algum país constitui-se, a meu ver, na melhor herança deixa-
Fac simile of 2-CSTst-1-RJ
onde poderiam ser obtidas concessões e onde as da por ele, para o sucesso contínuo de nossa
well proposal, Campos
possibilidades de encontrar óleo são boas”. Diante empresa estatal...”. Basin.
dos resultados decepcionantes até então, expressos
em seu relatório, um frustrado Link mencionou
“... não fazemos a Geologia do Brasil e estamos os geólogos brasileiros
meramente tentando mapeá-la e explicá-la, usan-
do este conhecimento para encontrar óleo...”. assumem a Exploração
Se os resultados exploratórios durante a era
Link não foram incentivadores, é reconhecido por Em março de 1961, o então Presidente da Pe-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 21


Figura 8
trobras Geonísio Barroso, no intuito de re-exami- dio Amazonas. Entre as razões aventadas por eles
Classificação das bacias
brasileiras pela sua nar as possibilidades petrolíferas do País, encarre- para a continuidade da exploração na bacia estava
atratividade, segundo gou o geólogo Pedro de Moura e o geofísico Dé- o fato de que nenhum dos poços fora locado em
Link (1960). cio Savério Oddone a emitirem um parecer sobre estruturas, “pois a gravimetria não funcionara a
as conclusões apresentadas pelo Departamento contento e a sísmica havia esbarrado em enormes
Figure 8 de Exploração no Relatório Link e sugerir medidas dificuldades”.
Ranking of Brazilian para re-estudo da interpretação dos dados exis- Outro aspecto salientado por Moura e Oddo-
sedimentary basins tentes e/ou programa de coleta de novos elemen- ne foi que o tempo de cinco anos utilizado nes-
regarding its petroleum
potential, after Link
tos técnicos, caso os existentes fossem conside- ses trabalhos exploratórios teria sido relativamen-
(1960). rados insatisfatórios. te curto considerando-se a grande dispersão de
O trabalho de Moura e Oddone é um marco atividades para cobrir muitas áreas, tanto com a
na história da Exploração na Petrobras. Suas con- geofísica como com as perfurações de poços.
siderações balizariam a trajetória futura da Com- Como conclusão específica para a Bacia do Mé-
panhia após a frustração das expectativas de que dio Amazonas, Moura e Oddone discordaram
o Brasil tivesse nos “Bonanza fields” paleozóicos, frontalmente do ponto de vista do Relatório Link,
preconizados por Link, a sua redenção em termos por considerar que a área ofereceria condições
de abastecimento de petróleo. Moura e Oddone de ser portadora de jazidas de petróleo, em fun-
fizeram uma re-análise detalhada de cada bacia, ção dos inúmeros indícios encontrados em todas
questionando as conclusões do Relatório Link e as perfurações, das significativas ocorrências de
sugerindo um novo programa de trabalho para Nova Olinda e da presença sub-comercial em
cada uma delas. Autás-Mirim, além de vestígios de gás em Faro e
Em relação à Amazônia, Moura e Oddone Rosarinho. Como filosofia de trabalho que pode-
consideraram que os 100 poços até então perfu- ria orientar os futuros trabalhos do Médio Ama-
rados não seriam subsídios para se condenar a re- zonas, eles sugeriram “...retirarmo-nos do centro
gião, ainda mais se fosse considerada a ocorrên- da bacia, ...e objetivarmos uma pesquisa em dire-
cia de tantas manifestações de petróleo no Mé- ção aos flancos ...”.

22 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Em relação à Bacia de Barreirinhas, classificada ção interessante é que a seção do Cretáceo na
por Link como C, Moura e Oddone consideraram região da plataforma continental possa se apre-
que a recomendação de abandono de trabalhos sentar mais espessa e marinha... A área desta ba-
era extremamente prematura, dadas às carac- cia poderá comportar exploração na zona da pla-
terísticas marinhas de seu pacote sedimentar; taforma continental”.
além disso, os trabalhos exploratórios na bacia es- Para a Bacia do Paraná, ao invés de abandonar as
tavam apenas em sua fase inicial, já que haviam operações, conforme proposto no Relatório Link,
sido perfurados somente três poços até então. Moura e Oddone recomendaram verificar a hipótese
A Bacia de Alagoas recebeu de Moura e Oddo- da presença de grandes falhas reveladas pelos tra-
ne uma análise bastante aprofundada. Usaram balhos experimentais de geofísica de refração, e
como argumentos a geofísica pioneira em Ponta prosseguir com os trabalhos exploratórios.
Verde e um poço perfurado pelo CNP em 1940, Em suma, a visão exploratória otimista desses
com bons indícios, para dizer que “...as melhores técnicos com respeito às perspectivas de ativida-
estruturas na faixa costeira de Maceió deveriam des no País contrastava com o tom bastante der-
jazer sob as águas do Atlântico...”. rotista do Relatório Link. Ao assumir as renovadas
Com respeito a essa bacia, Moura e Oddone propostas de Moura e Oddone, a Petrobras co-
enfatizam que “mais uma vez somos obrigados a meçou a traçar sua trajetória de sucesso na ex-
discordar da conclusão do relatório, visto que Ala- ploração das bacias sedimentares brasileiras.
goas mostra presença de rochas matrizes...”. Ao assumir a Superintendência do DEPEX em
Para eles, Alagoas era uma bacia geológica com 1961, Pedro de Moura considerou fundamental
todas as características de província petrolífera, o fato de que ele, juntamente com Oddone,
e sugeriram: haviam estabelecido as diretrizes para a explo-
• retomar a exploração na área do Tabuleiro ração, ao mesmo tempo em que consideravam a
dos Martins; equipe de geólogos e geofísicos brasileiros
• re-estudo dos dados existentes com re-interpre- treinada pela Petrobras como pronta para parti-
tação dos trabalhos geofísicos e complementação cipar da exploração com a mesma competência
“com auxílio do laboratório de sedimentologia”; que poderia ter qualquer grupo de especialistas
• realizar linhas de refração para definir as estrangeiros (Moura e Carneiro, 1976). Iniciou-se,
grandes feições estruturais da bacia. então, o processo gradativo de substituição de
No que concerne à Bacia de Sergipe, Moura e técnicos estrangeiros, começando pela troca dos
Oddone consideraram que a área do São Francisco chefes dos distritos por geólogos brasileiros.
apresentava interesse, dados os excelentes indícios Nessa época já existiam Escolas de Geologia em
de petróleo lá constatados. Consideraram ainda vários estados brasileiros, o que viabilizava a
como área atrativa toda a costa Sergipana, desde a estruturação de uma cultura exploratória de ba-
região da Foz do São Francisco até o Gráben do ses nacionais. Passados quase dez anos, a Explo-
Mosqueiro. Os trabalhos de superfície foram incen- ração encaminhava-se conforme a proposta
tivados por constituírem importante controle para original de Levorsen ao CNP.
os trabalhos de exploração, devendo ter prioridade O marco fundamental da administração Pedro
em relação às atividades de geofísica e perfurações de Moura foi a descoberta do Campo de Carmó-
de poços. Foi salientado que a Bacia de Sergipe polis, em 1963, de transcendental importância,
apresentava condições para trapas estratigráficas pois premiava a crença de Moura e Oddone nas
bem como para a presença de recifes calcários. possibilidades petrolíferas do Brasil. A história
Em relação à faixa costeira do Sul da Bahia ao dessa descoberta teve início com a perfuração do
Espírito Santo, os autores consideraram que os poço 2-RCst-1-SE (Rosário do Catete), perfurado
trabalhos até então realizados “demonstraram em meados de 1961 sobre um alto regional, que
valor nulo, sob o ponto de vista do petróleo”. Po- constatou os primeiros indícios de óleo vivo na
rém é interessante observar que na continuação bacia, em filitos e quartzitos fraturados sotopos-
de sua análise eles lembram que “...a única dedu- tos aos sedimentos siliciclásticos da Formação

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 23


Muribeca. O poço fora locado com o objetivo de exploração de petróleo no Brasil. Outras desco-
um reconhecimento da seção estratigráfica. bertas viriam com os campos de Riachuelo e Siri-
No final de 1961, com base em estudos de rizinho, próximos a Carmópolis.
migração e fazendo analogia com campos pro- Na Bacia do Recôncavo, em 1965, duas impor-
dutores na Colômbia, foi interpretada a presença tantes descobertas foram realizadas. O Campo
de óleo entre a área do poço Rosário do Catete e de Araçás descobriu óleo num horizonte raso
a do poço São José, este perfurado em 1960 (fig. correspondente aos Arenitos Santiago da Forma-
9). A área foi priorizada para levantamento sísmi- ção Pojuca e nos arenitos da Formação Sergi,
co, e no início de 1963 foi apresentada uma lo- com um volume total de óleo in-place da ordem
cação que se baseava na interpretação sísmica de de 500 milhões de barris. O Campo de Miranga,
um horizonte raso, indicativo de estar a locação nos Arenitos Catu da Formação Pojuca, incorpo-
em um anticlinal fechado. rou um volume de mais de 600 milhões de barris
Em agosto de 1963 foi realizado teste de for- de óleo in-place. Já eram então perfurados poços
mação no intervalo 748,7-759,0 m do poço de até 4 000 m de profundidade na Bacia do
1-CP-1-SE, correspondente a reservatórios do Mem- Recôncavo.
bro Carmópolis, recuperando-se na coluna de O volume de óleo in-place descoberto no
perfuração 95 m3 de óleo de 21º API. Essa des- Brasil até 1965 era de mais de 5 bilhões de barris
coberta, com volume de óleo in-place estimado e as reservas totais atingiam a expressiva marca
como sendo de 1,15 bilhão de barris (Marques, de 1 bilhão de barris. A produção nacional era de
1965), representou um marco fundamental na cerca de 90 000 bbl/dia. Curioso mencionar que,
exploração de petróleo no Brasil, pois mostrava o em palestra proferida na aula inaugural do
potencial petrolífero das bacias marginais bra- CENAP em janeiro de 1965, o então Superin-
sileiras. Demonstrava, também, a capacidade dos tendente do DEPEX, Pedro de Moura, admitia
técnicos brasileiros para assumir a condução da que num prazo de oito a dez anos o Brasil pode-

Figura 9
Seção geológica entre os
poços Rosário do Catete
e São José, com a
concepção geológica que
levaria à descoberta do
Campo de Carmópolis,
Bacia de Sergipe-Alagoas
(Fernandes, 1961, in
Marques, 1965).

Figure 9
Conceptual geological
cross section between
Rosário do Catete and
São José wells that lead
to the discovery of
Carmópolis field,
Sergipe-Alagoas Basin
(after Fernandes, 1961,
in Marques, 1965).

24 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


ria ser auto-suficiente em petróleo, mas salienta- meiros levantamentos de aeromagnetometria na
va que isso iria requerer muitos investimentos margem equatorial, entre Camocim e Salinópolis,
(Moura, 1965). cobrindo a plataforma até a cota batimétrica de
50 m. Nos anos subseqüentes esses levantamen-
tos geofísicos se estenderam por toda a platafor-

a inevitável ida para a ma continental brasileira.


É importante observar que, na medida em que

plataforma continental esses levantamentos iam sendo executados, a pro-


gramação se estendia cada vez para águas mais
Em 1965, os até então independentes depar- profundas, sendo que, na Foz do Amazonas, al-
tamentos de Exploração e Produção são unifica- gumas faixas de vôo estenderam-se até águas de
dos no DEXPRO, ficando a Exploração com o sta- profundidade de 200 m. No Sul e Nordeste os le-
tus de Divisão. Por problemas de saúde, Pedro vantamentos eram conduzidos sistematicamente
de Moura deixa o comando da Exploração, en- até a borda da plataforma continental. Isso foi
tregando-o a seu adjunto, geólogo Franklin de determinado pela necessidade de se entender a
Andrade Gomes. Ainda como Superintendente- evolução da plataforma continental como um to-
Adjunto, Gomes afirmava: “Se nós temos bacias do (Campos, 1970), pari passu ao progresso tec-
cretáceas produzindo, vamos empregar dinheiro nológico de exploração e perfuração em margens
nessas bacias cretáceas, mesmo que elas estejam continentais do mundo.
debaixo d’água... Nós precisamos despertar para Uma primeira tentativa de classificar o poten-
essa plataforma continental já...” (Moura e Car- cial petrolífero da plataforma continental brasi-
neiro,1976). leira foi estabelecida em 1965 no Plano Geral de
Em dezembro de 1966 o Conselho de Admi- Exploração para o período 1966/1970, conside-
nistração da Petrobras autorizava a construção da rando as áreas submarinas até a isóbata de 30 m
plataforma de perfuração Petrobras I, para operar (fig. 10). Com a finalidade de selecionar as áreas
em cotas batimétricas de até 30 m. mais favoráveis para a locação de poços pioneiros,
Até então a exploração de petróleo na plata- foi contratada, em 1968, uma equipe sísmica que
forma continental brasileira tinha se caracterizado realizou levantamentos, principalmente sísmica de
por algumas iniciativas que conduziram a traba- reflexão, ao longo da Costa Leste, desde Alagoas
lhos exploratórios entre 1957 e 1966, incluindo até Macaé, no Rio de Janeiro. Perfis experimentais
aquisição de dados de refração e reflexão sísmica na Foz do Amazonas já indicavam a presença de
e perfuração de uma série de poços estratigráficos um espesso pacote sedimentar, possivelmente
ao longo da costa, de Barreirinhas a Pelotas. atingindo de 5 000 m a 6 000 m de espessura,
Novos levantamentos de sísmica de reflexão fo- associados a feições estruturais interessantes.
ram feitos em 1960 e 1961 ao longo das costas de Em 1968, assumiu a chefia da Divisão de Ex-
Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de ploração o geólogo Carlos Walter Marinho Cam-
Janeiro. Em 1962 foi feito um levantamento sísmi- pos, um dos técnicos brasileiros enviados ao exte-
co de reflexão na plataforma continental do Ma- rior para curso de pós-graduação durante a ges-
ranhão, adjacente à Baía de Tutóia. Extensos levan- tão Link. Em relação à avaliação de bacias sedi-
tamentos gravimétricos até a isóbata de 50 m, mentares “desconhecidas”, Campos (1970) enfa-
iniciados em 1963 e concluídos em 1967, foram tizou que dois critérios deveriam ser considerados:
executados desde a costa de Alagoas até a região o da continuidade e o da analogia. O primeiro ba-
de Cabo Frio. Esses levantamentos foram importan- seava-se no fato de que as bacias costeiras já pro-
tes para delinear as principais feições regionais, além dutoras deveriam prolongar-se para offshore, en-
de fornecer informações sobre estruturas relacio- quanto o critério da analogia contemplava situa-
nadas aos domos da plataforma do Espírito Santo. ções deposicionais semelhantes àquelas observa-
Com a priorização da exploração na platafor- das em bacias produtoras no exterior. Nesse últi-
ma continental, são executados, em 1967, os pri- mo caso, os deltas nas desembocaduras dos gran-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 25


Figura 10
Avaliações da atrativida-
de das bacias da margem
continental brasileira
realizadas em 1965 e
1968 pelo DEPEX
(Campos, 1970).

Figure 10
Ranking of Brazilian
continental margin basins
regarding its petroleum
potential (after Campos,
1970).

26 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


des rios, tais como o Amazonas, São Francisco, continental do Espírito Santo, foi determinada pe-
Rio Doce e Paraíba do Sul seriam áreas de grande la possibilidade da ocorrência “de intrusão salina”,
atratividade, principalmente considerando a mag- que seria responsável por fortes mergulhos em
nitude das acumulações no Delta Terciário do horizontes provavelmente terciários mapeados por
Niger, cujas reservas, à época, já estavam em tor- sísmica de reflexão (fig. 11). A interpretação da
no de 20 bilhões de barris. presença de sal baseava-se em uma anomalia gra-
As maiores restrições feitas à primeira classifi- vimétrica negativa. Os objetivos econômicos eram
cação de potencial petrolífero da plataforma con- os possíveis reservatórios terciários e cretáceos “pos-
tinental, em 1965, eram principalmente na ênfase tos em posição favorável” pela intrusão de sal.
dada ao critério de continuidade geológica já que, O poço tinha também um cunho estratigráfico, já
embora ela existisse, a maioria das acumulações que se pretendia conhecer a espessura e natureza
de petróleo em terra não justificava um programa dos sedimentos terciários e cretáceos na porção
de exploração para as áreas submarinas adjacen- offshore da bacia. Os poços em terra haviam per-
tes (Campos, 1970). A analogia geológica pare- furado uma seção onde predominavam sedimen-
cia, portanto, ser o critério mais adequado para a tos siliciclásticos grossos.
seleção de áreas prospectivas na plataforma con- O poço ESS-1 penetrou a camada de sal antes
tinental brasileira, aí se levando em conta a pos- do que fora previsto, o que levou Campos (2001)
sível ocorrência de importantes seções deltaicas, a declarar que “não estávamos preparados para a
sendo esse critério o principal fator considerado na exploração em áreas com tectônica halocinética”.
classificação de 1968. A expectativa era encontrar Em função disso, a plataforma de perfuração foi
sedimentos deltaicos com características adequa- levada para a foz do Rio Vasa Barris na Bacia de
das à geração e acumulação de hidrocarbonetos. Sergipe, onde se acreditava que havia sido acu-
Um importante salto tecnológico para a mulado espesso pacote deltaico, propício à acu-
exploração foi a criação do primeiro Centro de mulação de petróleo.
Processamento de Dados Sísmicos Digitais da Pe- Em agosto de 1968 foi aprovada a locação
trobras, em 1968. Isso levou ao crescimento no 1-SES-1 (fig. 12), cujo objetivo era testar um alto
conhecimento especializado em sísmica, o que relativo mapeado por sísmica de reflexão dentro
permitiu, já na década de 70, que a Petrobras da projeção, em direção à Plataforma Continen-
processasse seus próprios dados sísmicos e fosse tal, do denominado Baixo de Mosqueiro. Na por-
capaz de desenvolver seus próprios softwares. ção terrestre desse baixo já haviam sido perfura-
Essa estratégia foi elaborada com diretrizes mui- dos quatro poços, alguns deles com indícios de
to claras que incluíam a aquisição de tecnologia petróleo. Na visão da época, as possibilidades de
da Western Geophysical Co., com os códigos- acumulações comerciais estariam condicionadas a
fonte abertos, induzindo e facilitando a absor- um aumento na razão arenito/folhelho para a
ção e o desenvolvimento dessa cultura no âmbi- seção Calumbi.
to da Companhia. O poço revelou-se produtor de petróleo em
As análises dos dados sísmicos processados mos- corpos arenosos eocênicos de pequena espessura
traram uma série de feições propícias à acumula- na seção Calumbi, embora não tenha ocorrido a
ção de hidrocarbonetos: na Foz do Amazonas são variação faciológica esperada. Estava assim desco-
visualizadas falhas de crescimento e anticlinais de berta a primeira acumulação de petróleo na pla-
compensação, típicas de complexos deltaicos; do- taforma continental brasileira, o Campo de Gua-
mos de sal são observados no Espírito Santo; na ricema. Os testes de produção mostraram vazões
Bacia de Santos são observados anticlinais com entre 1 500 e 2 000 bbl/dia de óleo de 43º API,
mais de 150 km2 de área. mostrando o alto potencial de produção dessas
A locação daquele que seria o primeiro poço a areias. Os novos levantamentos sísmicos realiza-
ser perfurado na porção marítima das bacias da dos na área, à época, revelaram que a estrutura
margem continental brasileira, o poço 1-ESS-1 mapeada correspondia a uma feição dômica atri-
(Espírito Santo Submarino nº 1), na plataforma buída à movimentação do sal aptiano.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 27


Figura 11
Modelo geológico,
baseado em dados
sísmicos, da locação
1-ESS-1 na Bacia do
Espírito Santo;
este foi o primeiro
poço perfurado na
plataforma continental
brasileira.

Figure 11
Geological model based
on seismic data for the
1-ESS-1 well, Espírito
Santo Basin. This was the
first well drilled in the
offshore area of Brazil.

Em 1969 foi descoberto o Campo de São Ma- Dom João e Água Grande, amostrados com su-
teus, iniciando o ciclo de descobertas na porção cesso na Bacia do Recôncavo.
terrestre do Espírito Santo. Os objetivos princi- As atividades exploratórias na plataforma conti-
pais da locação eram os arenitos situados ime- nental da Bacia da Foz do Amazonas iniciaram em
diatamente abaixo de uma camada de anidrita, 1970. O primeiro poço foi o 1-PAS-1, defronte à
de idade aptiana, que apresentaram indícios de Ilha de Marajó, em cota batimétrica de 14 m. O ob-
óleo nos poços de Nativo e Conceição da Barra. jetivo era testar uma feição anticlinal de aspecto dô-
Os calcários albianos eram objetivo secundário. mico delineada por reflexão sísmica, que correspon-
O modelo geológico constatado com a perfura- deria possivelmente à base do Terciário. No contexto
ção desse poço assemelhava-se aos clássicos regional, a locação situava-se numa área de conver-
prospectos associados a blocos falhados do tipo gência ou inflexão de altos do embasamento mag-

Figura 12 – Seção sísmica da locação 1-SES-1, Bacia de Sergipe-Alagoas, Figure 12 – Seismic section of 1-SES-1 well, Sergipe-Alagoas Basin.
descobridora do Campo de Guaricema, primeira acumulação encontrada This well discovered the Guaricema field, the first one found in the
na plataforma continental brasileira. Brazilian offshore basins.

28 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


nético, na parte central do Gráben de Mexiana, de- Na Margem Leste, na Bacia de Campos, foi
finida pela bifurcação de dois grandes alinhamen- perfurado em 1971 o poço 1-RJS-1, que obje-
tos estruturais positivos (fig. 13). A coluna sedimen- tivava testar uma estrutura anticlinal situada so-
tar prognosticada previa “toda a gama de clásticos bre o então denominado Alto Estrutural Leste
terrígenos característicos de uma seqüência deltaica”. (figs. 15 e 16). Apesar de os dados estratigráfi-
A expectativa da ocorrência de uma seqüência cos disponíveis até então se restringirem aos do
deltaica valorizava a presença de qualquer estru- poço 2-CSTst-1-RJ, que atravessou uma seção
tura, já que por analogia com outras áreas de mes- cenozóica arenosa de natureza continental, su-
ma natureza haveria potencial para a geração de punha-se que no poço a ser perfurado na plata-
hidrocarbonetos. A seção perfurada foi predomi- forma continental haveria uma adequada razão
nantemente arenosa, com intercalações de folhe- arenito/folhelho, favorável assim à existência de
lhos e carbonatos, não tendo sido constatados de- petróleo. O poço registrou indícios de petróleo
pósitos deltaicos típicos nem ocorrendo indícios sig- no intervalo 3 286 m – 3 300 m, correspondente
nificativos de petróleo. a um arenito fino, argiloso.
Um novo poço, o 1-APS-1, foi perfurado na O processo exploratório na Bacia de Santos ini-
área em meados daquele mesmo ano de 1970, ciou-se também em 1971, com a perfuração do pio-
em cota batimétrica de 21 m. Tinha por finalida- neiro 1-PRS-1, em cota batimétrica de 62 m. A pro-
de testar uma feição dômica delineada pela sís- posta da locação contemplava a amostragem de
mica na base do Terciário, além de propiciar um uma seção sedimentar estruturada em “anticlinal
reconhecimento da estratigrafia da área. Os obje- de compensação” que incluía um pacote siliciclás-
tivos eram reservatórios terciários e cretáceos, pos- tico terciário-cretáceo superior, um intervalo carbo-
sivelmente relacionados a uma sedimentação del- nático cretáceo superior e, embora abaixo da pro-
taica. Esse poço apresentou, abaixo de 1 600 m, fundidade final originalmente prevista, já conce-
uma seção essencialmente carbonática, interpre- bia a presença dos evaporitos do Cretáceo Inferior
tada como depositada em plataforma rasa e/ou (fig. 17), previstos a ocorrerem a profundidades
lagunar, tendo sido então aventada a possibilida- maiores do que 5 000 m. A perfuração do poço
de de ocorrência de corpos recifais. Testemunhos revelou a insuspeita presença de uma imensa cunha
amostraram rochas carbonáticas com porosida- clástica cretácea-terciária, dominantemente are-
des entre 21% e 27% e permeabilidades de até nosa e atualmente conhecida como Formação
350 mD, indicando o potencial dessa seção como Juréia, uma feição peculiar da Bacia de Santos. Fo-
reservatório. Não foram constatados folhelhos ram, em boa parte, frustradas as expectativas no
com características favoráveis à geração, embora tocante às previsões estratigráficas para aquela por-
um teste realizado em calcários tenha recupera- ção da bacia; na essência, tais previsões traziam
do lama cortada por gás e óleo viscoso. em seu bojo a cultura desenvolvida durante os
Ainda na Foz do Amazonas, em 1971, foram anos 60 nas bacias do Nordeste, particularmente
mapeados por sísmica três alinhamentos regionais em Sergipe-Alagoas.
limitados por grandes falhas de crescimento de di- Até o início de 1971 já haviam sido perfurados
reção NW-SE a que se associavam grandes anticli- 53 poços na plataforma continental brasileira. Con-
nais de compensação do tipo rollover (fig. 14). Isso forme Campos (1971), a perfuração desses poços
levou à proposição de várias locações que tinham confirmou muitas das inferências que balizaram o
por finalidade testar essas estruturas, objetivando planejamento elaborado pelo Departamento de Ex-
arenitos intercalados com folhelhos, cuja ocorrên- ploração da Petrobras para a plataforma continen-
cia foi prognosticada pelas análises de velocidade tal brasileira e permitiu delinear as principais carac-
intervalares. A deposição teria ocorrido contempo- terísticas geológicas das bacias sedimentares na
raneamente à estruturação. Os poços perfurados con- plataforma continental brasileira.
firmaram o modelo geológico quanto à ocorrência Sob o ponto de vista estratigráfico foram ca-
de sedimentos siliciclásticos, porém não apresen- racterizados:
taram nenhuma evidência significativa de petróleo. • espessa sedimentação terciária marinha;

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 29


Figura 13
Arcabouço tectônico
da área da Foz do
Amazonas, já delineando
os principais elementos
regionais.

Figure 13
Tectonic framework
of the Foz do Amazonas
region, with the
delineation of main
regional elements.

30 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 14 – Seção sísmica do prospecto 1-APS-4 na Bacia da Foz do Figure 14 – Seismic section of the 1-APS-4 well proposal, Foz do Amazonas
Amazonas, evidenciando a estrutura em rollover. Basin, showing the rollover structure.

• presença de espessos pacotes de rochas Esses elementos geológicos serviram de base


carbonáticas; ao planejamento dos futuros programas explo-
• constatação de sedimentação deltaica em ratórios, permitindo uma priorização de áreas até
algumas áreas da plataforma continental; a cota batimétrica de 200 m. A ida para o mar re-
• presença de bacias salinas em grande parte quereu uma retomada do processo de desenvolvi-
da plataforma leste e, particularmente, na Bacia mento tecnológico, uma vez que o exploracionista
de Santos. brasileiro passou a lidar com novos cenários geoló-
A constatação era de que na maioria das áreas gicos em que os riscos e os custos eram muito ele-
pesquisadas os objetivos, sob o ponto de vista es- vados. Tais ações incluíram:
tratigráfico, ainda não estavam definidos, procuran- • ida de técnicos ao exterior para a busca de
do-se, ainda, as áreas onde a relação entre as ro- cultura específica em deltas, domos de sal e recifes
chas-reservatório e capeadoras-geradoras seriam carbonáticos;
favoráveis. • vinda de consultores renomados;
Quanto à geologia estrutural, importantes in- • envio de geólogos e geofísicos para cursos
ferências foram estabelecidas: de pós-graduação no exterior, em centros de exce-
• o tectonismo distensivo foi bastante intenso lência, a exemplo do que já ocorrera nos primór-
no Eocretáceo (fase rifte); dios de atuação da Petrobras.
• a halocinese, que ocorreu com variada in- No ano de 1972, a única descoberta significa-
tensidade, originou estruturas; tiva no País foi o Campo de Fazenda Cedro, na
• feições altas proeminentes eram associadas porção terrestre da Bacia do Espírito Santo. Nesse
a vulcanismo ativo, principalmente na Bahia Sul e mesmo ano foi tomada a decisão de criar a Petro-
Espírito Santo; bras Internacional, ao mesmo tempo em que, no
• estruturas adiastróficas ocorrem principal- País, a empresa direcionava seus investimentos
mente no Terciário, em função das elevadas taxas prioritariamente para as atividades de downstream.
de sedimentação. Curiosamente, induzida por um conjunto de circuns-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 31


Figura 15 – Modelo geológico regional da Bacia de Campos que apoiou Figure 15 – Campos Basin regional geological model that supported
a proposta do poço 1-RJS-1. the 1-RJS-1 well proposal.

Figura 16 – Linha sísmica da locação do poço 1-RJS-1, Bacia de Campos. Figure 16 – Seismic section of the well 1-RJS-1, Campos Basin.

32 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 17
Linha sísmica da locação
do poço 1-PRS-1, Bacia
de Santos.

Figure 17
Seismic section of the
well 1-PRS-1, Santos
Basin.

tâncias, a Petrobras estaria, naquele momento, im- ço dos objetivos da Companhia: centralizando as
plementando uma das recomendações expressas atividades e trabalhando com as equipes focadas
12 anos antes por Walter Link, a de buscar petró- no problema, foi possível desenvolver com rapidez
leo no exterior. as necessárias estratégias de atuação.
Num contexto de resultados exploratórios pou- Nesta mesma época é implantado o Laborató-
co significativos, a Exploração centralizaria suas ati- rio Central da Exploração, dotado de um experien-
vidades na Sede da Companhia, no início dos anos te corpo técnico remanejado dos distritos e inteira-
70. Como conseqüência, as atividades nas bacias mente dedicado a estudos de rocha, cujas investi-
terrestres foram bastante reduzidas, ocorrendo um gações sedimentológicas e paleontológicas teriam
esvaziamento técnico dos Distritos Regionais. aí consolidado seu papel fundamental na formu-
Por outro lado, a centralização foi indutora de lação dos modelos geológicos utilizados pela Com-
intensa sinergia entre as diferentes especialidades panhia. Ao mesmo tempo, o Centro de Pesquisas
envolvidas no processo exploratório, e tal esforço - Cenpes recebia seu primeiro equipamento para
concentrado redundou numa fase de intensa ge- determinação do conteúdo de carbono orgânico
ração de idéias e modelos geológicos de suporte à das rochas potencialmente geradoras, como as
exploração. Era a estrutura organizacional a servi- primeiras ações para implantação da Geoquímica

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 33


na Petrobras. A partir de então, esta seria mais poço continuasse a perfurar apesar das caracte-
uma disciplina de marcante presença no âmbito da rísticas desfavoráveis daquela seção.
interpretação exploratória. No início dos anos 80, A 3 401 m ocorreu expressiva quebra no tem-
todas as atribuições até então inerentes ao LACEX po de penetração da broca, e as amostras circula-
seriam incorporadas pelo Cenpes. das mostraram indícios significativos de óleo e gás.
Na Bacia Potiguar, em 1973, foi descoberto o Os testemunhos coletados a partir daquela pro-
Campo de Ubarana, a 13 km da costa e em lâmi- fundidade mostraram uma seção calcária forma-
na d’água de 15 m, uma acumulação em arenitos da por calcirruditos e calcarenitos oncolíticos com
flúvio-deltaicos de idade aptiana da Formação matriz micrítica e algum cimento espático, com
Alagamar, e em arenitos da Formação Açu, com porosidades de até 17%. As saturações de água
reserva de 82 milhões de barris. calculadas por perfis mostraram valores oscilando
Em 1973 ocorre o Primeiro Choque do Petró- entre 50% e 70%. Apesar dos valores serem mais
leo, com o preço do barril passando de US$2,00 altos do que os normalmente encontrados em zo-
para US$15,00, com forte impacto sobre a balan- nas produtoras de óleo, o poço foi considerado
ça comercial brasileira. Os novos fatos levam a Pe- de interesse para avaliação por teste de formação.
trobras a modificar a sua filosofia exploratória, já Os testes mostraram vazões muito baixas, de mo-
que com o preço do barril de petróleo nesse pata- do que o poço foi classificado como sub-comer-
mar se fez imperioso reconsiderar muitas das de- cial. Apesar de não ser uma acumulação econo-
cisões no tocante aos investimentos em explora- micamente viável, essa descoberta pode ser con-
ção no Brasil, tanto em sísmica como em perfura- siderada o marco fundamental e o impulsionador
ção de poços. Novamente, exploração nas bacias na caminhada de sucesso da Petrobras na pla-
brasileiras tornou-se interessante e necessária. taforma continental brasileira.
Tal descoberta conduziu à aprovação, no final
de 1973, da locação 1-RJS-9, que teve como alvo
a seção calcária equivalente àquela encontrada no

Campo de Garoupa: poço 1-RJS-7, em uma feição em rollover associa-


da a falhas lístricas mapeada por sísmica de refle-

a primeira grande xão (fig. 19). Os arenitos Carapebus cretáceos e


terciários constituíam objetivos secundários. O po-

descoberta na plataforma ço foi perfurado pelo Navio-Sonda Petrobras II,


em cota batimétrica de 120 m, que para a época

continental já representava o desafio de águas profundas. Ini-


ciado em novembro de 1973, ao atingir a profun-
No início de 1973 foi aprovada, na Bacia de didade de 3 102 m o poço foi abandonado por
Campos, a locação 1-RJS-7. Os objetivos eram re- problemas mecânicos. O navio foi deslocado para
servatórios siliciclásticos terciários e, secundaria- um ponto situado 150 m do original e o poço foi
mente, os do Cretáceo, todos estruturados em repetido, agora sob o prefixo 1-RJS-9A.
rollover (fig. 18), estando a profundidade final Confirmando as previsões, o poço perfurou
do poço prevista para 3 500 m, dentro da uma seção de calcários porosos, com uma coluna
Formação Macaé. A partir de 3 200 m, o poço de óleo de mais de 100 m de espessura, porosida-
penetrou uma espessa seção de calcilutitos sem de média de 17% e saturação média de água de
apresentar indícios de petróleo. A história regis- 16%, com reservas estimadas em mais de 100 mi-
tra que o então Superintendente do DEPEX, Car- lhões de barris. Os testes de produção na parte su-
los Walter Marinho Campos, voltando de uma perior do intervalo de interesse mostraram vazões
viagem ao Oriente Médio, onde fora conhecer de óleo de cerca de 3 000 bbl/dia, com 32º API.
campos produtores de petróleo em carbonatos - Começavam a aparecer os resultados concretos da
que naquela região produziam em profundida- decisão de se investir na plataforma continental.
des maiores do que 4 000 m - determinou que o Esse campo reveste-se de especial importância para

34 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


a Geologia do Petróleo no País por marcar a pri- Com a descoberta de Garoupa, os calcários
meira descoberta de porte na plataforma conti- albianos de águas rasas tornaram-se o alvo priori-
nental brasileira. tário da exploração, porém descobertas ocorridas
Importantes trabalhos estratigráfico-sedimen- em 1975 tanto em arenitos do Cretáceo Superior,
tológicos referentes aos calcários da Formação no Campo de Pargo, quanto em calcários lacus-
Macaé foram feitos visando entender o modelo tres da Formação Lagoa Feia, no Campo de Bade-
deposicional e os controles da porosidade. Foi lo- jo, confirmavam o potencial das areias da Forma-
go reconhecido que os calcários portadores de ção Campos e abriam um novo play exploratório
óleo no 1-RJS-7 eram formados por oolitos e on- na seqüência rifte, tendo por alvo as coquinas.
colitos, associados a uma matriz constituída de Um aspecto relevante no processo de desco-
micrita, micropéletes e péletes, com raros bioclas- berta e delimitação de Garoupa foi a constatação
tos, depositados em ambiente raso e de modera- de que as anomalias de amplitude estariam asso-
da energia. Isso imprimia as condições de baixa ciadas à litologia. Em 1975, essa cultura foi empre-
permeabilidade verificadas nos testemunhos e tes- gada na proposição do poço pioneiro 1-RJS-19 e
tes de formação. Já no poço 1-RJS-9A, descobri- nos poços de delimitação do campo (fig. 20). Lo-
Figura 18
dor de Garoupa, os reservatórios, formados por calizado no limite oriental da Faixa de Garoupa, na
oolitos e oncolitos, foram depositados em águas margem da atual plataforma continental, em cota Seção sísmica da locação
do poço 1-RJS-7, Bacia de
rasas, de energia moderada, com ocasionais ex- batimétrica de 172 m, a locação visava uma ano- Campos.
posições, com presença de porosidade intergra- malia de amplitude, de forma lenticular, que era
nular. Os estudos levaram a concluir pela não- interpretada como associada a uma variação favo- Figure 18
existência de recifes, considerando a baixa diversi- rável de condições permoporosas dos calcários
Seismic section of the
dade faunística num mar restrito, característica Macaé. Ao invés de carbonatos, o poço penetrou well 1-RJS-7, Campos
particular do Atlântico Sul no Albiano. uma seção portadora de petróleo em arenitos al- Basin.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 35


Figura 19
Seção sísmica da área do
Campo de Garoupa, o
primeiro descoberto na
Bacia de Campos.

Figure 19
Seismic section in the
area of Garoupa field,
the first one discovered
in Campos Basin.

bianos, o denominado Campo de Namorado, o pri- Ao final de 1975, já estava plenamente con-
meiro gigante da plataforma continental brasileira, solidada a concepção de que os arenitos do Mem-
com reservas superiores a 250 milhões de barris. bro Carapebus da Bacia de Campos haviam sido
Ao final de 1973 já havia sido proposta a loca- depositados em águas profundas, em ambiente
ção do poço 1-APS-10 (fig. 21), na área do Cone batial, através de mecanismos gravitacionais suba-
do Amazonas, com o objetivo de testar uma fei- quosos, incluindo escorregamentos, fluxo de de-
ção tipo bright spot que corresponderia a um are- tritos, fluxo granular e correntes de turbidez.
nito saturado de gás. Essa feição estava associada No âmbito da Petrobras, o primeiro reserva-
a uma estrutura dômica alongada, mapeada pela tório a ser caracterizado como sendo um depósi-
sísmica em horizonte próximo ao topo do Mio- to turbidítico foi o de Guaricema, definido dentro
ceno. O poço, perfurado no início de 1976, apre- do contexto de um estudo sismo-estratigráfico da
sentou vários intervalos de reservatórios saturados Bacia de Sergipe-Alagoas realizado em 1970. A
de gás, com altas permeabilidades, caracterizan- partir daí, os conceitos relativos aos depósitos sedi-
do assim a descoberta do Campo de Pirapema. mentares localizados abaixo do talude permearam
Com essa descoberta, mais a de Garoupa e a de rapidamente os grupos de interpretação explora-
Namorado, a Petrobras começava a usar as am- tória, que se valiam da sísmica para buscar os are-
plitudes sísmicas tanto para a “identificação dire- nitos situados além das zonas de by-pass, em di-
ta de hidrocarbonetos” como em Pirapema, quan- versas posições e idades no pacote sedimentar
to para o mapeamento de reservatórios, como das bacias costeiras. Paleo-taludes e paleocanyons,
nos outros exemplos mencionados. com os depósitos sedimentares a eles associados,

36 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


já eram interpretados nas seções sísmicas. Isso tu- No início de 1976, com a perfuração do poço
do foi de grande valia para os passos que a Em- 1-RJS-22, cujo objetivo principal eram os calcá-
presa daria em direção às águas profundas, o que rios Macaé, foi descoberto o Campo de Encho-
se reflete plenamente nos resultados obtidos nes- va, em arenitos eocênicos do Membro Cara-
se tipo de reservatório que, atualmente, abrigam pebus, que mostraram excelentes características
mais de 80% das reservas nacionais. permoporosas, apesar de sua pequena espessu-
O estudo desse tipo de reservatório tomou ra. Os calcários Macaé apresentaram uma signi-
grande impulso na Petrobras por meio do inter- ficativa coluna de óleo, porém em fácies de bai-
câmbio com renomados especialistas em sedimen- xa energia, com reduzida permeabilidade. O po-
tação de águas profundas e o envio de geólogos ço de extensão 3-EN-1-RJS foi perfurado no final
e geofísicos para cursos de pós-graduação e pro- de 1976 e confirmou a expectativa de encontrar
jetos de curta duração no exterior focalizados uma maior espessura dos arenitos Carapebus
nesse tipo de reservatório. A percepção de que em função de sua posição estrutural com relação
uma feição geológica poderia ser “visível” numa a uma falha de crescimento. Foi encontrado um
seção sísmica conduziu à concepção de modelos expressivo pacote de arenitos eocênicos com po-
integrados (fig. 22), de fundamental papel no rosidades de até 31%, com saturações de água
processo exploratório. entre 5% e 22%.

Figura 20
Seção sísmica da área
do Campo de Namorado,
Bacia de Campos.

Figure 20
Seismic section in the
area of Namorado field,
Campos Basin.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 37


A partir dos modelos resultantes do crescente da Margem Equatorial. Na Bacia Potiguar foi
conhecimento geológico-geofísico da bacia, se- descoberto o Campo de Agulha em 1975, produ-
guiu-se uma série de descobertas na Bacia de tor em turbiditos terciários capeados por rochas
Campos, dentre as quais estão Pampo, Bonito, ígneas. Na Bacia do Ceará sucederam-se, entre
Linguado, Bicudo e Corvina, produtores em car- 1977 e 1979, as descobertas de Xaréu, Curimã,
bonatos da Formação Macaé e nos arenitos do Espada e Atum, todas de volumes modestos em
Membro Carapebus. Um marco na produção reservatórios do Cretáceo.
brasileira de petróleo foi a instalação, em 1977, No início de 1977 foi proposta a locação
do primeiro Sistema Antecipado de Produção no 1-RJS-32 (fig. 23), que tinha por objetivo testar
Campo de Enchova, pelo qual o poço 3-EN-1-RJS uma anomalia de amplitude no topo da Forma-
apresentou uma vazão média de 11 000 bbl/dia ção Macaé, equivalente aos reservatórios areno-
de óleo de 27º API em dezembro de 1977. Na- sos do Campo de Namorado. Essa anomalia de
quele ano, as reservas de petróleo no País já su- amplitude se estendia para águas mais profun-
peravam os 2 bilhões de barris de óleo-equiva- das, porém o poço foi locado em cota batimétri-
lente, enquanto a produção média do ano per- ca de 307 m e foi perfurado na profundidade de
manecia nos 160 mil bbl/dia. 298 m por limitações operacionais da sonda de
Nessa mesma época, a atividade exploratória perfuração. Os arenitos Carapebus constituíam
também se desenvolvia na plataforma continental objetivos secundários. Já naquele tempo havia a

Figura 21 – Seção sísmica da locação do poço 1-APS-10, Bacia da Foz do Figure 21 – Seismic section of the well 1-APS-10, Foz do Amazonas Basin.
Amazonas. Notar a amplitude anômala (bright spot). Notice the bright spot.

38 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


clara percepção de que as areias, tanto do Albia-
no-Cenomaniano quanto as mais novas, que
também apresentavam amplitudes anômalas na
sísmica, poderiam se estender para águas pro-
fundas. Perfurado o poço, verificou-se que a ano-
malia mapeada correspondia na realidade a uma
seção de calcários de granulação fina, micropo-
rosos, portadores de petróleo, que na época não
possuíam condições de produção comercial em
função das baixas permeabilidades. Mais tarde,
com a tecnologia disponível na década de 90, a
Petrobras voltaria a prospectar esses calcários com
a perfuração de um poço horizontal, que mostrou
produções da ordem de 1 500 bbl/dia de óleo.
No extremo sul da porção terrestre da Bacia do
Espírito Santo, em 1978, era descoberto o Campo
de Lagoa Parda, que produz petróleo em turbidi-
tos eocênicos encaixados no Canyon de Regência,
importante feição geológica que se amplia no sen-
tido da porção marítima da bacia. A produção ini-
cial dos poços em Lagoa Parda, em função de
um reservatório excepcional e um aqüífero muito
atuante, alcançou vazões da ordem de 2 500
bbl/dia, fato relevante em se tratando de produ-
ção em terra.
Em 1978, foi adquirido o primeiro levantamen-
to sísmico tridimensional na Bacia de Campos,
para auxiliar na delimitação do Campo de Cher-
ne. Isso sinalizaria no sentido da extensiva utiliza-
ção exploratória dessa ferramenta, que ocorreria
a partir dos anos 80.
Em 1979, pela primeira vez na história da Com-
panhia, a Exploração assume status de Diretoria.
A re-estruturação incluiu a tripartição do Departa-
mento de Exploração e Produção - DEXPRO, dela nesse período estava na faixa dos 170 mil bbl/dia. Figura 22
ressurgindo o Departamento de Exploração - DE- Em 1980, o Governo estabelece a meta de produ- Concepção geológica,
baseada em dados
PEX e os Distritos de Exploração. Na estrutura des- ção dos 500 000 bbl/dia, a ser atingida em 1985.
sísmicos, da distribuição
ses distritos apareciam Divisões de Interpretação, Para viabilizar esse desafio, o Departamento de de reservatórios
com a atribuição de explorar as porções terrestres Exploração elabora um Plano Qüinqüenal contem- turbidíticos na Bacia
das bacias da margem continental e algumas das plando um significativo incremento nos investi- de Campos
(Barros, 1982).
bacias interiores. mentos em exploração.
No final do ano de 1979 acontece o Segundo No início dos anos 80, já se acumulara um
Figure 22
Choque do Petróleo, com o preço do barril de enorme acervo de dados geológicos e geofísicos
petróleo aproximando-se dos US$30,00. As re- da Bacia de Campos, levando à consolidação de Geological concept
based on seismic data
servas nacionais, ao final do ano de 1979, soma- um modelo geológico integrado que deu notável
ilustrating turbidite
vam 2,27 bilhões de barris de óleo-equivalente, suporte ao bem-sucedido processo exploratório lá reservoir distribution
principalmente em função das descobertas da empreendido. Tal modelo incluía geração pelos in the Campos Basin

folhelhos lacustres da Formação Lagoa Feia e mi- (after Barros, 1982).


Bacia de Campos. Porém, a produção média diária

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 39


gração via falhas e janelas abertas no pacote de 9-MO-13-RN. A perfuração do mesmo foi moti-
evaporitos (fig. 24). Entre as principais descober- vada pela presença de indícios de óleo num poço
tas desse período estão os campos de Carapeba, para abastecimento de água do Hotel Termas de
com reserva de 180 milhões de barris de óleo em Mossoró. Na Bacia do Recôncavo aconteceu, nes-
turbiditos do Cretáceo Superior e o Campo de Ver- sa época, uma série de descobertas no denomi-
melho, em turbiditos eocênicos, com reserva de nado Compartimento Nordeste; junto à Falha de
120 milhões de barris de óleo. Ao final de 1983, as Salvador, limite da bacia a SE, arenitos lacustres
descobertas até então realizadas em águas rasas da da Formação Candeias ocultavam-se sob os fan-
Bacia de Campos já definiam o mais conspícuo glomerados de borda, tal como em Riacho da Bar-
trend petrolífero do País (fig. 25). ra, definindo um novo prospecto então persegui-
Figura 23
Importantes descobertas ocorriam também do com sucesso.
Linha sísmica da locação em terra, especialmente na Bacia Potiguar, onde Em Sergipe-Alagoas, esta foi a época da desco-
1- RJS-32 mostrando a
em 1981 foram descobertos os campos de Fazen- berta do Campo de Pilar, a maior acumulação de
anomalia de amplitude
que foi o objetivo da Belém, Alto do Rodrigues e Estreito. Em 1982, gás já encontrada na bacia. Descoberto em 1981
principal do poço. já em uma fase de exploração mais sistemática pelo poço 1-PIR-1-AL, o Campo de Pilar é uma es-
na bacia ocorreram as descobertas do trend de trutura em rollover associada à grande falha normal
Figure 23 Estreito-Guamaré, em reservatórios da Formação da borda da bacia. Os reservatórios de gás estão na
Seismic section that Açu, e o Campo de Serraria, em reservatórios do Formação Penedo, e contêm reservas da ordem de
supported the 1-RJS-32 rifte. A primeira acumulação comercial em terra 7 bilhões de m3, a maior parte delas em arenitos si-
well proposal, displaying
nessa bacia fora encontrada em 1979, pela des- tuados abaixo dos 3 000 m de profundidade. Adicio-
the seismic amplitude
anomaly that was the
coberta do Campo de Mossoró, através do poço nalmente, o campo apresenta uma reserva de óleo
main target of the well.

40 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 24
Modelo conceitual da
migração na Bacia de
Campos, ressaltando o
papel das falhas lístricas
e das “janelas” no sal
(Meister, 1984).

Figure 24
Conceptual model of oil
migration in the Campos
Basin, with emphasis on
the role of listric faults
and salt windows
(after Meister, 1984).

de 41º API em arenitos da Formação Coqueiro Seco, calha da bacia, sucedeu-se uma série de descober-
com volumes da ordem de 20 milhões de barris. tas (Nordeste de Juruá, Jaraqui, Jutaí, Sudoeste de
Ao final de 1983, o volume de óleo in-place Juruá e outros) que confirmariam a presença de
descoberto nas bacias brasileiras alcançava os 30 uma importante província gaseífera na Amazônia.
bilhões de barris de óleo-equivalente e as reservas Nos anos 80, viriam as descobertas de óleo da
totais superavam os 4 bilhões de barris. área de Rio Urucu. O pioneiro RUC-1 foi proposto
para perfurar uma estrutura dômica alongada a
SW-NE, fruto de “esforços compressivos mesozói-

finalmente, o petróleo cos” e situada cerca de 100 km a SE da área dos


campos de gás do trend do Juruá. Muito embora

do Paleozóico os indicadores geoquímicos de maturidade do ge-


rador devoniano sinalizassem condições predomi-
Em 1978, ao ser perfurada uma inversão estru- nantemente favoráveis à existência de uma jazida
tural mostrada em linha sísmica regional (fig. 26), de gás, o grupo de interpretação já percebera que
que fora posicionada para desvendar o arcabou- havia uma maior presença de condensado no sen-
ço tectônico da Bacia do Solimões, foi descober- tido da extremidade NE do trend do Juruá, de tal
to o Campo de Juruá, portador de gás em areni- modo que o prospecto do poço dizia: “...permite
tos do Carbonífero. O poço descobridor, o “últi- esperar-se neste pioneiro, situado mais a leste, uma
mo que seria perfurado na bacia” caso resultas- maior produção de hidrocarbonetos líquidos.”
se seco, só foi testado após intensos debates en- A descoberta de óleo no Rio Urucu represen-
tre o geólogo de poço e o staff da Sede, pois era tou uma grande conquista exploratória, pois re-
grande o ceticismo sobre as possibilidades petro- velava que as complexas bacias paleozóicas bra-
líferas do Paleozóico. sileiras, sempre alvos de uma grande polêmica
Uma vez encontrado o trend, que se configura sobre sua potencialidade, poderiam contribuir
como um destacado alto transpressivo ao longo da de fato na produção nacional. Atualmente, o Pó-

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 41


lo de Urucu produz cerca de 58 000 bbl/dia de remanescente. O inusitado mecanismo de gera-
óleo de excelente qualidade. ção não-convencional de petróleo pela ação dire-
Diferentemente do ocorrido nas bacias amazô- ta do calor das rochas intrusivas só seria adequa-
nicas, que tiveram uma atividade mais continuada damente equacionado alguns anos mais tarde.
através do tempo, a presença da Exploração no Dois resultados interessantes de poços perfura-
Paleozóico do Paraná e do Parnaíba se deu em dos nessa etapa de trabalhos são os de Testa
ciclos. Um deles começaria em 1975, com o retor- Branca 2 - MA, um pioneiro apoiado por geologia
no à Bacia do Parnaíba. Algumas linhas regionais de superfície e sísmica analógica que testemu-
foram adquiridas, com detalhamento local. Nessa nhou um intervalo da Formação Cabeças impreg-
Figura 25 etapa de estudos, iniciariam as controvérsias a res- nado de óleo biodegradado, e o de Floriano - MA,
Mapa das acumulações peito do potencial dessa bacia no tocante à gera- poço locado por geologia de superfície e onde foi
petrolíferas da Bacia de ção de hidrocarbonetos, uma vez que a Formação testado um intervalo de arenitos da Formação Ipu,
Campos ao final de 1983.
Pimenteiras, dado seu soterramento insuficiente, com queima de gás.
está completamente imatura em toda a bacia, ex- Os levantamentos sísmicos já realizados na
Figure 25
ceto onde ocorre intrudida por rochas ígneas me- Bacia do Parnaíba, totalizando cerca de 7 900 km
Map of the Campos
sozóicas. O entendimento de então era que, sob de linhas, revelaram uma área, no geral, com boa
Basin’s petroleum
accumulations up to
tais condições, os folhelhos devonianos estariam resposta. Os dados se prestam a uma visualização
the end of 1983. termicamente degradados, sem potencial gerador dos padrões estruturais presentes em subsuperfí-

42 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


cie. Dos poços mais recentes, o de Capinzal - MA qualidade em geral muito pobre desses dados;
(fig. 27), perfurado em 1988, talvez represente o causa e efeito, não se adquiria sísmica por causa
resultado mais significativo já obtido na bacia. A da má qualidade, mas a qualidade não melhorava
locação foi posicionada em feição antiforme no pela falta de investimentos. O resultado é que um
depocentro da bacia, apoiada por dados sísmicos grande número dentre os poços ditos “pioneiros”
de boa qualidade, embora o poço tivesse a finali- perfurados na bacia até o início dos anos 80 têm,
dade primeira de amostrar os pelitos devonianos na verdade, um caráter eminentemente estratigrá-
e verificar suas condições de potencial gerador e fico, pela ausência de informações conclusivas a
maturidade. Em teste de formação, um intervalo respeito de seu posicionamento no tocante à in- Figura 26
de diabásio fraturado intrudido na rocha gerado- tangível estruturação em subsuperfície. Linha sísmica da locação
ra e outro em arenitos da Formação Itaim exibi- Rosa et al. (1981) sintetizaram a problemática descobridora do Campo
de Juruá, Bacia do
ram surgência de gás; nos perfis, revelou-se um da sísmica na bacia nos seguintes aspectos: 1) to-
Solimões.
terceiro intervalo possivelmente portador de gás, pografia (correções estáticas e espalhamento de
este na Formação Cabeças, porém o mesmo não ruídos); 2) basalto próximo da superfície ou aflo- Figure 26
foi testado. rante (geração de ruídos, refrações, reverbera-
Seismic section of the
Muitas das dificuldades da exploração na Bacia ções), e 3) basalto ou diabásio intercalado com wildcat well that
do Paraná estiveram historicamente relacionadas camadas de baixa velocidade (reverberação inten- discovered Juruá Field,
à esparsa cobertura por sísmica de reflexão e à sa, variação lateral de velocidade). Solimões Basin.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 43


É inegável que a descoberta de óleo em Rio Nesse contexto de prós e contras, em julho de
Urucu, em meados dos anos 80, trouxe uma nova 1988 foi implantado o Núcleo de Exploração da
motivação à exploração no Paleozóico brasileiro. Bacia do Paraná - NEXPAR, em Curitiba. Os esfor-
Para o caso da Bacia do Paraná, esse alento soma- ços de aquisição de dados sísmicos foram con-
va-se aos resultados positivos em termos de quali- centrados sobre duas áreas tidas pelos trabalhos
dade sísmica, fruto da introdução de novas tec- de integração regional como sendo as de maior
nologias na aquisição e processamento de dados. potencial: o Planalto Catarinense e o Paraná Cen-
Estudos de integração regional forneceram a ar- tral. No Projeto Paraná Central, a busca era por
gumentação para sustentar uma retomada explo- gás gerado pela Formação Ponta Grossa e acumu-
ratória na bacia, que se deu a partir de 1986. Per- lado em arenitos do Grupo Itararé. A área mos-
maneciam importantes questões sobre a Geologia trou-se favorável à qualidade sísmica, de tal modo
do Petróleo da Bacia do Paraná: a discutível eficá- que os poços passaram a perfurar estruturas mais
cia do pacote devoniano como gerador de hidro- confiáveis (fig. 28); esta etapa de trabalhos culmi-
carbonetos; o complexo papel das ígneas sobre a naria com a descoberta de Barra Bonita, uma
maturidade dos horizontes potencialmente gera- pequena acumulação de gás.
dores; a má qualidade dos reservatórios do Grupo
Itararé; as lavas Serra Geral, um óbice aparente-

Figura 27
mente intransponível à penetração e retorno do
sinal sísmico, além de representar um fator de
e os gigantes estavam
Linha sísmica da locação
do poço 2-CP-1-MA, Bacia
do Parnaíba.
incremento de custos para a perfuração. Pesavam
a favor os abundantes indícios constatados pelos
em águas profundas
poços, sugestivos da atuação de sistemas petrolí- Já em 1981, as análises sismoestratigráficas e
Figure 27
feros na bacia, e seu posicionamento geoeconô- estruturais dos dados sísmicos levantados em ma-
mico no centro do mercado consumidor do País, lhas abertas de reconhecimento que se estendiam
Seismic section of the
well 2-CP-1-MA, Parnaíba
um aspecto que poderia influir decisivamente na até regiões de cotas batimétricas superiores a
Basin. economicidade de uma descoberta. 2 000 m permitiram uma série de interpretações

44 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


que balizariam a exploração em águas profun- riores aos 1 000 m. Como resultado daqueles es-
das pela Petrobras. tudos foi aprovada, em 1982, a locação 1-RJS-219,
Foi delineado o arcabouço tectônico da Forma- em cota batimétrica de 660 m, com a finalidade
ção Lagoa Feia e mapeada a distribuição da pro- de testar uma estrutura dômica falhada, de ori-
víncia de diápiros salinos, uma feição de forma gem halocinética, mapeada ao nível da discor-
alongada orientada a N-S. Essa província, localiza- dância da base do Terciário (fig. 30). O objetivo
da na região de águas profundas entre as cotas principal era a anomalia de amplitude sísmica do
batimétricas de 2 500 m e 3 200 m, foi definida Oligoceno Superior, que deveria corresponder a
pelo agrupamento de centenas de diápiros e ma- um extenso corpo turbidítico. Os turbiditos do
ciços salinos com até 4 000 m de altura, consti- Eoceno e do Cretáceo Superior constituíam obje-
tuindo uma faixa de 100 km de largura (fig. 29). tivos secundários. Em função da aquisição de no-
Dois horizontes sísmicos foram fundamentais vos dados sísmicos, foi proposta a revisão da lo-
na interpretação sismo-estratigráfica realizada: um cação antes de sua perfuração, que só viria a
refletor muito forte, de caráter regional, corres- ocorrer em 1985.
Figura 28
pondente à base do Terciário, e outro refletor de Em março de 1984, o poço 1-RJS-284 foi per-
Linha sísmica ilustrando
caráter regional, correspondente ao Oligoceno furado numa área com profundidade de água de
o trend estrutural de
Superior, que foi interpretado como geneticamen- 383 m e descobriu o Campo de Marimbá, uma Jacutinga, Bacia do
te relacionado a um grande rebaixamento do ní- acumulação que se estende até a cota batimétri- Paraná, onde foi
vel do mar. Relacionados a esse refletor sísmico já ca de 600 m. Para a classificação batimétrica vi- encontrada a acumulação
de gás de Barra Bonita.
haviam sido encontrados turbiditos portadores de gente, esta pode ser considerada a primeira des-
hidrocarbonetos. Canyons oligocênicos haviam si- coberta em águas profundas na Bacia de Cam-
Figure 28
do identificados na parte sul da Bacia de Campos. pos. As reservas originais do campo foram estima-
Foi mapeada uma série de estruturas na base das em 170 milhões de barris de óleo, acumu- Seismic section displaying
the Jacutinga trend in
do Terciário, posicionadas desde a quebra da ladas em turbiditos do Cretáceo Superior que che-
the Paraná Basin, where
plataforma continental até a província de domos, gam a 250 m de espessura, mas que variam late- was discovered the Barra
a maioria delas em profundidades de água supe- ralmente de forma muito marcante. O poço des- Bonita gas accumulation.

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Figura 29
Mapa do arcabouço
estrutural da Bacia
de Campos, mostrando
as estruturas mapeadas
ao nível do topo do
Cretáceo e a província
de domos salinos em
águas ultra-profundas
(Lobo e Ferradaes, 1983).

Figure 29
Structural framework
of the Campos Basin
showing the top of
Cretaceous configuration
and the salt domes
province in the
ultra-deep waters
domain (after Lobo
and Ferradaes, 1983).

46 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


cobridor iniciou sua produção já no ano seguinte de espessura e saturados de óleo. Além disso,
ao da descoberta, tendo este fato representado, ocorreu uma delgada seção de arenitos oligocêni-
àquela época, um recorde mundial em termos de cos com indícios de óleo. Diante dos resultados do
completação submarina e um marco fundamental 1-RJS-297, no final de 1984 foi aprovada a loca-
no desenvolvimento dos campos de águas pro- ção 1-RJS-305, em cota batimétrica de 440 m.
fundas no Brasil. Tinha como objetivos, além dos arenitos Namora-
A existência de um grande alinhamento de do, os arenitos do Membro Carapebus tanto eocê-
direção NE-SW de calcários de alta energia, pas- nicos quanto oligocênicos, para os quais eram es-
sando pela área do 1-RJS-7 e se estendendo para peradas espessuras bastante expressivas, que po-
norte, suportou a proposição do poço 1-RJS-297. deriam alcançar os 100 m. Os reservatórios oligocê-
O poço situava-se em profundidade de água de nicos ocorreram com cerca de 60 m de espessura
293 m e pretendia testar uma estrutura dômica e se mostraram saturados de óleo de 28º API,
mapeada ao nível dos calcários Macaé, objetivan- tendo produzido em teste de formação quase
do carbonatos de alta energia caracterizados por 3 000 bbl/dia. Com esses resultados, Albacora
amplitudes anômalas na sísmica. Os arenitos Na- revelou-se um campo gigante de múltiplos hori-
morado, albo-cenomanianos, constituíam objeti- zontes produtores, com um volume de óleo in
vos secundários. A anomalia de amplitude preco- place da ordem de 4,5 bilhões de barris.
nizada correspondeu, na realidade, aos arenitos Ao final de 1984 as reservas totais brasileiras
Namorado, que no poço se mostraram com 100 m alcançavam 4,29 bilhões de barris e a produção

Figura 30 – Seção sísmica mostrando a projeção da locação original do poço Figure 30 – Seismic section displaying the projected original position of well
1-RJS-219, Bacia de Campos, descobridor do campo gigante de Marlim. 1-RJS-219, Campos Basin, that discovered the giant Marlim Field.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 47


sobre uma discordância regional do próprio
Oligoceno. O poço, que começou a ser perfurado
no final daquele ano, terminou em fevereiro de
1985, tendo encontrado uma espessura total de
68 m de turbiditos oligocênicos, saturados de óleo
(fig. 31). Estava descoberto o Campo de Marlim,
um gigante com mais de 6 bilhões de barris de
óleo in-place, com reservas explotáveis superiores
a 2,5 bilhões de barris, que se estende entre cotas
batimétricas de 660 m e 1 100 m.
No final dos anos 80 uma nova fase foi carac-
terizada pelo uso extensivo de sísmica 3D para di-
recionar a atividade exploratória, notadamente na
Bacia de Campos. Isso abriu novas fronteiras e con-
tribuiu substancialmente na redução dos custos de
descoberta e delimitação de acumulações. O pro-
cessamento desse tipo de dado passa a ser realiza-
do na própria Petrobras já em 1984.
A descoberta do Campo de Barracuda é um
exemplo do uso de sísmica 3D na exploração, a
partir da identificação de que expressivas anoma-
lias de amplitude estão associadas a reservatórios
turbidíticos do Eoceno e Oligoceno portadores de
petróleo (fig. 32). Esse campo, localizado em lâmi-
na d’água que varia de 600 m a 1 200 m, foi des-
coberto pelo poço 1-RJS-380, perfurado em 1990,
em área de cota batimétrica de 889 m. O óleo
está acumulado em turbiditos terciários totalizan-
do cerca de 2,7 bilhões de barris in-place, com
reservas estimadas em 1,2 bilhão de barris.
A partir de meados da década de 90, a explo-
Figura 31 atingia a marca de 488 000 bbl/dia, portanto ração passa a utilizar, de forma rotineira, a técni-
Perfil-tipo do Campo praticamente atingindo a meta de produção de ca Amplitude Variation with Offset - AVO. Aten-
de Marlim, acumulação 500 000 bbl/dia com um ano de antecipação. ção também tem sido dada aos Direct Hydrocar-
gigante na Bacia de
Campos.
Em 1984, com a chegada dos primeiros navios bon Indicators - DHI, de tal modo que os atribu-
de perfuração com posicionamento dinâmico ap- tos sísmicos e sua calibração aos parâmetros pe-
Figure 31
tos a operar além dos 500 m de profundidade de trofísicos passam a assumir desde então impor-
Tipe well log of the água, é reapresentada a locação 1-RJS-219, des- tante papel no processo de avaliação de risco dos
Marlim field, a giant
accumulation in the
locada para um ponto cuja cota batimétrica era prospectos exploratórios.
Campos Basin. de 853 m. O objetivo era o mesmo da locação ori-
ginal, ou seja, testar anomalia sísmica ao nível de
refletores do Oligoceno, correlacionável às areias
turbidíticas portadoras de petróleo nos poços
atividades e resultados
1-RJS-151 e no 1-RJS-252. A resposta sísmica ca-
racterística de baixa velocidade indicava a presen-
em outras bacias
ça de reservatórios porosos, possivelmente com Embora as descobertas houvessem induzido a
hidrocarbonetos, depositados na base de seqüên- Petrobras a uma natural concentração de recur-
cias progradantes, com pequeno relevo de fundo, sos em águas profundas na Bacia de Campos,

48 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 32
Visualização em 3D da
distribuição de anomalias
de amplitude no Campo
de Barracuda, Bacia de
Campos.

Figure 32
3D display of seismic
amplitude anomaly
distribution in the
Barracuda Field,
Campos Basin.

nas demais bacias a exploração também avança- Em 1988, re-amostrando uma estrutura haloci-
va. Como fato relevante, ao final de 1985, culmi- nética do tipo “casca de tartaruga” ao nível da
nando uma fase de reavaliação exploratória em- seção albiana pelo poço 1-PRS-4, foi descoberto o
basada no amplo conhecimento técnico acumu- Campo de Tubarão na Bacia de Santos. O aspecto
lado, foi descoberto o maior campo da porção peculiar dessa locação é que ela foi posicionada a
terrestre da Bacia Potiguar, Canto do Amaro, pe- 1 200 m do poço subcomercial 1-SCS-6, perfurado
lo poço pioneiro 1-CAM-1-RN (fig. 33). Esse cam- por uma operadora de contrato de risco em uma
po posiciona-se sobre o Alto de Mossoró, feição posição cerca de 200 m estruturalmente mais bai-
regional que limita o rifte Potiguar em sua porção xa. Tendo por base análises sismo-estratigráficas, o
setentrional, e armazena um volume recuperável 1-PRS-4 buscava melhores condições de reservató-
original de aproximadamente 270 milhões de bar- rio do que as constatadas no poço vizinho, que já
ris de óleo, com densidade variável entre 28º e detectara indícios de petróleo. De fato, o poço ob-
45º API. Os reservatórios são arenitos fluviais da teve pleno sucesso e constatou uma seção de cal-
Formação Açu. O trapeamento é estrutural, com carenitos oolíticos geneticamente relacionados à por-
componentes estratigráficas dadas por variações ção mais elevada da feição estrutural dômica con-
laterais de fácies e por barreiras diagenéticas. temporânea. Esses carbonatos apresentam porosi-
Também na Bacia Potiguar, diversas acumula- dades primárias médias de 16%, o que é excepcio-
ções são encontradas no pacote sin-rifte da For- nal considerando-se a profundidade de mais de
mação Pendência, tais como o Campo de Riacho 4 500 m em que ocorrem. Na seqüência das ativi-
da Forquilha. A partir de julho de 1989, a Bacia dades exploratórias, com base no modelo de acumu-
Potiguar assumiu a condição de maior produto- lação de Tubarão, foram descobertas as jazidas de
ra de petróleo em terra no País, suplantando as Estrela do Mar e Coral em 1990, e Caravela em 1992,
tradicionais províncias do Recôncavo e de Ser- consolidando um pólo de produção de petróleo le-
gipe-Alagoas, já em fase madura de produção. ve na porção meridional da Bacia de Santos.

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A continuidade da exploração na Bacia de San- baixo”, estruturados em flanco de almofada de
tos, nos anos seguintes aos das descobertas de sal. É interessante notar que, por ocasião da
óleo nos carbonatos, constatou dois aspectos que proposição do poço, a possibilidade de ser esta
seriam importantes entraves ao alcance de resul- uma acumulação de óleo biodegradado, portanto
tados ainda mais significativos em termos de in- de óleo “pesado”, já fora aventada. Os intervalos
corporação de reservas na bacia: o óleo biodegra- portadores de óleo ocorrem em torno de 2 550 m
dado e a clorita em reservatórios arenosos do Cre- de profundidade; a pequena cobertura sedimen-
táceo. Com alguma freqüência, estes fatores mos- tar de cerca de 1 000 m, e a conseqüente baixa
traram-se recorrentes ao longo da história explo- temperatura em que se encontra o reservatório, é
Figura 33 ratória na bacia. causa primordial da atuação bacteriana sobre os
Seção sísmica da locação Na porção norte da Bacia de Santos, foi per- hidrocarbonetos e de sua degradação.
pioneira 1-CAM-1-RN, furado, em 1993, o poço 1-BSS-69, em lâmina A presença de clorita obliterando gargantas de
descobridora do Campo
d’água de 1 517 m, que encontrou importantes poros em arenitos da Bacia de Santos foi um
de Canto do Amaro,
Bacia Potiguar. volumes de óleo pesado em reservatórios do aspecto crítico, impeditivo à produção de óleo
Eoceno, porém não aproveitáveis economica- quando da perfuração do 1-BSS-75, em 1994.
Figure 33 mente em função de seu baixo grau API e eleva- Grande expectativa girava em torno dessa
Seismic section that sup-
da viscosidade. A locação foi baseada na presença locação, que ficou conhecida como “Marlon” por
ported the 1-CAM-1-RN de anomalia de amplitude sísmica, interpretada sua similaridade sísmica ao contexto geológico do
well proposal, Potiguar como correspondendo a “lobos arenosos de mar Campo de Marlim. A 4 200 m de profundidade,
Basin.

50 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


o poço constatou reservatórios turbidíticos cam-
panianos saturados de óleo de 29,9º API, em tra-
pa estratigráfica; apesar da boa qualidade do flui-
do presente, os testes efetuados no poço revela-
ram baixíssima produtividade em função das bai-
xas permeabilidades do reservatório.

a exploração na Petrobras
no contexto da Nova Lei
do Petróleo
Em 1996 foi realizada a última grande desco-
berta ainda sob a égide do monopólio estatal do
petróleo, o Campo de Roncador, na porção nor-
deste da Bacia de Campos. Esse campo foi des-
coberto pelo poço pioneiro 1-RJS-436A, locação
proposta em 1989, que se posicionava em 1 853 m
de profundidade de água; tal posição batimé-
trica da acumulação de Roncador constituiu um
recorde mundial àquela época. O poço encon-
trou um net pay total de 153 m em turbiditos
maastrichtianos, dos quais somente a parte su-
perior estava associada às anomalias de ampli-
tude sísmica observadas (fig. 34). O volume de
óleo in place do campo é da ordem de 9 bilhões
de barris e as reservas são estimadas em 2,6 bi- Figura 34
lhões de barris de óleo-equivalente. Seção sísmica do Campo
Com a promulgação da Lei 9.478/97, em encontrou gás comercialmente explotável em are- de Roncador, Bacia de
Campos.
06/08/1997, a Petrobras passou a explorar pe- nitos lenticulares, erráticos, da Formação Nova
tróleo somente em concessões autorizadas pelo Olinda, neocarbonífera. A proposta original da lo-
Figure 34
Governo Federal. Em uma primeira etapa, em cação tinha por objetivo os arenitos eocarbonífe-
Seismic section of the
1998, foram assinados 115 Contratos de Con- ros da Formação Monte Alegre; curiosamente,
Roncador Field, Campos
cessão de blocos exploratórios em diversas ba- décadas foram empreendidas na busca de petró- Basin.
cias sedimentares brasileiras, com duração pre- leo nessa unidade, em função de suas caracterís-
vista de três anos. Conforme preconizado em ticas favoráveis como rocha-reservatório, geome-
Lei, os blocos foram concedidos naquelas áreas tria tabular e ampla área de ocorrência na bacia.
onde a Petrobras já havia efetuado investimen- Nesse período, a exploração na Bacia de Cam-
tos e identificado oportunidades exploratórias. pos alcançava as águas ultra-profundas. O novo
Desde então, a Petrobras tem atuado pelo regi- contexto tectono-sedimentar até então desconhe-
me de concessões, com um dinâmico portfólio cido traria imensas dificuldades à exploração, e a
exploratório adquirido em licitações. aplicação dos mesmos modelos geológicos até
Em 1999, a Bacia do Amazonas daria sua pri- então testados e responsáveis por elevados índi-
meira resposta positiva ao persistente esforço ex- ces de sucesso passaram a não responder a con-
ploratório que nela fora empreendido. O poço tento. Num grande esforço de integração de da-
1-RUT-1-AM, situado cerca de 200 km de Manaus, dos e de experiências, repensaram-se os sistemas

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 51


petrolíferos e novos resultados positivos surgi- e fortalecimento da cultura exploratória da Com-
riam algum tempo depois. panhia foi promotora de um significativo avanço
O poço 1-ESS-100 (fig. 35), perfurado em qualitativo no processo de análise das bacias brasi-
2001 na porção norte da Bacia de Campos, des- leiras. Os resultados mensuráveis, incluindo inova-
cobriu o Campo de Jubarte, com 600 milhões de ções conceituais suportando locações explorató-
barris de óleo armazenados em reservatórios tur- rias, apareceram em seguida na forma de diversas
bidíticos do Cretáceo Superior. A locação foi pro- descobertas de óleo e gás.
posta tendo por objetivo uma anomalia do tipo Em 2003, com a perfuração do poço pioneiro
flat spot no Cretáceo. Em outubro de 2002, por 1-ESS-123, foi encontrada uma expressiva acumu-
meio do poço 3-ESS-110HPA, com trecho hori- lação de óleo leve no domínio de águas profun-
zontal de 1 076 m, foi implementado no Campo das da Bacia do Espírito Santo. Esse poço, perfu-
de Jubarte um sistema de produção antecipada rado na cota batimétrica de 1 374 m, encontrou
com produção média de 20 000 bbl/dia de óleo óleo de 43º API acumulado em turbiditos do
de 17º API. A descoberta de outras acumulações Cretáceo Superior.
na área, como o Campo de Cachalote, portador A Bacia de Santos, nos tempos recentes da ati-
de petróleo em reservatórios eocênicos, caracteri- vidade exploratória desenvolvida pela Petrobras no
zou uma nova província petrolífera na porção nor- Brasil, é outra das áreas com resposta muito posi-
te da Bacia de Campos, com reservas estimadas em tiva. Particularmente, nos últimos três anos os tra-
mais de 2 bilhões de barris. Nessa mesma área a Pe- balhos desenvolvidos na porção centro-norte da
trobras realizou também uma descoberta de óleo bacia resultaram na descoberta de significativos
leve em reservatórios cretáceos, abrindo novas pers- volumes de óleo pesado e na incorporação daque-
pectivas exploratórias para essa porção da bacia. las que são as maiores jazidas de gás já encontra-
Em 2000-2001, estudos sedimentológicos in- das no País, feito alcançado com a perfuração dos
tegrados, aliados a expressivos avanços na qualida- pioneiros 1-RJS-587 e 4-SPS-35 (fig. 36). Os areni-
de sísmica da Bacia de Sergipe-Alagoas, com uma tos neocretáceos portadores de gás na Bacia de
extensiva análise de atributos do sinal sísmico, le- Santos situam-se em áreas da bacia com batimetria
varam à identificação de sismofácies consideradas entre 400 m e 1 500 m, e podem conter reservas
favoráveis à presença de reservatórios com pe- equivalentes a todo o volume anteriormente conhe-
tróleo. É importante mencionar que havia sido na cido no Brasil. Por sua excepcional localização, de-
porção sul da Bacia de Sergipe, em 1987, que a fronte ao forte mercado consumidor dos estados
Petrobras encontrara a primeira acumulação em do Sudeste, as novas jazidas de Santos abrem uma
águas profundas fora da Bacia de Campos. O po- importante fronteira exploratória, com potencial
ço 1-SES-92, situado no Baixo de Mosqueiro, em impacto sobre a própria matriz energética nacional.
cota batimétrica de 1 111 m, constatou petróleo
acumulado em turbiditos maastrichtianos.
A perfuração dos poços 1-SES-129, 1-SES-130 e
1-SES-142, em 2000-2001, levou à descoberta de considerações finais
acumulações em reservatórios arenosos do Cretá- Após 50 anos de atividades, os resultados ob-
ceo naquela mesma área. Os referidos poços en- tidos pela Exploração conduzida pela Petrobras
contraram arenitos da Formação Calumbi satura- mostram indicadores muito relevantes. Até o fi-
dos de óleo de 43º API, trazendo um novo alento nal de 2003, haviam sido extraídos 8,5 bilhões de
à exploração na bacia. barris de petróleo das bacias sedimentares brasi-
No ano de 2002 foi criada a Unidade de Negó- leiras e as reservas provadas atingiam 12,6 bi-
cio de Exploração, com a centralização das ativida- lhões de barris de óleo-equivalente.
des exploratórias na Sede da Companhia; os ex- Esses números são ainda mais significativos se
ploracionistas mais experientes da Empresa foram for considerado que, pela percepção vigente há
trazidos ao Rio de Janeiro. A exemplo do que fora quatro décadas passadas com relação às nossas ba-
observado nos anos 70, essa estratégia de resgate cias sedimentares, as possibilidades petrolíferas do

52 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


Figura 35
Seção sísmica da locação
do poço 1-ESS-100,
porção norte da Bacia
de Campos, descobridor
do Campo de Jubarte.

Figure 35
Seismic section of the
well 1-ESS-100 that
discovered the Jubarte
Field in northern
Campos Basin.

Figura 36
Seção sísmica da área do
4-SPS-35, Bacia de Santos.
No detalhe, mapa de
amplitude sísmica, onde
se destacam (em verme-
lho e amarelo) os reserva-
tórios saturados de gás.

Figure 36
Seismic section in the
area of the 4-SPS-35 well,
Santos Basin. Inset shows
seismic amplitude
anomaly map.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 53


Brasil eram praticamente descartadas. Tais resulta-
dos vieram premiar a persistente atuação de várias
agradecimentos
gerações de exploracionistas, que traziam em si a A André Luiz Romanelli Rosa, por sua funda-
crença de que era possível encontrar e produzir mental contribuição ao entendimento, por parte dos
Figura 37 petróleo na escala das necessidades do País, embora relatores, das nuances e entrelinhas do processo ex-
sempre cientes de que sua tarefa não seria fácil. ploratório no Brasil, do qual ele é protagonista há
Distribuição de ring
fences e áreas de Planos
Tal desafio foi enfrentado por um corpo técni- mais de três décadas; a Sidney Roos, Olívio Barbosa
de Avaliação nas bacias co altamente qualificado e motivado; políticas ade- da Silva, Rosilene Lamounier França e Paulo Roberto
de Santos, Campos e do quadas de gestão patrocinaram o permanente apri- da Cruz Cunha, pelas informações históricas da ex-
Espírito Santo em março
moramento dos recursos humanos e a persistente ploração nas bacias Potiguar, do Recôncavo, do
de 2004.
busca da tecnologia. Isso deve ser mantido como Espírito Santo e Solimões-Amazonas, respectivamen-
Figure 37
estratégia fundamental ao alcance de qualquer te; a Gerson José Faria Fernandes, Mario Carminatti,
meta estipulada para a Exploração da Petrobras. Almério Barros França e João Pinto Bravo Correia
Distribution of ring
fences and appraisal
Permanecem os desafios de incorporar signi- Guerreiro, pela atenta leitura e sugestões; a José
areas in the Santos, ficativas reservas em domínios geológicos situa- Augusto Sartori Loyola Brandão, pelos oportunos co-
Campos and Espírito dos em águas ultra-profundas de nossas provín- mentários e dados; a Leila Santiago Tavares, pelo efi-
Santo basins, March
cias já produtoras (fig. 37) e de encontrar novas ciente apoio com os relatórios e pastas de poço, e aos
of 2004.
áreas com acumulações, expandindo com isso a desenhistas Haroldo Moraes Ramos, Paulo Roberto
atual geografia do petróleo brasileiro. Cabral Taveira e Márcia de Figueiredo Uchôa.

54 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 55


expanded abstract was the Buracica Field, discovered in 1959 that was
the largest discovery made during the Link era.
Fifty years from the start of exploration activity The discovery of oil at Nova Olinda in the begin-
carried out by Petrobras in Brazil has called for a bal- ning of 1955, in the Middle Amazonas Basin, seemed
ance of what has been done, and the results obtained to show that the decision to invest in the Paleozoic
during this period. Many conquests were made, the basins, as priority, was correct. Well 1-NO-1-AM pro-
fruits of dedicated work by several generations of duced oil of excellent quality, but drilling in the apprais-
explorationists. The large challenges presented by the al wells failed to confirm the continuity of oil-bering
complex geology of our sedimentary basins were sands. In any event, the excellent indications encoun-
used as elements for the motivation to attain objec- tered in the first well drilled in the centre of the basin
tives that always involved progressively higher levels were very promising, and the Amazonas region con-
of knowledge and the usage of innovative geological tinued as the great hope for oil exploration in Brazil.
models in the search for petroleum in waters, pro- After the Amazonas Basin, the Paraná Basin was
gressively deeper. the object of major investments during the time of the
At the time the Company became operational on Link administration. However, at the conclusion of
May 10, 1954, Petrobras received from the Conselho exploration drilling, with no significant results to com-
Nacional de Petróleo - CNP a legacy that included some memorate, the difficulties of prospecting for oil in this
important oil accumulations in the Recôncavo Baiano type of basin became appreciated. The same occurred
such as the Candeias Field, discovered in 1941 having in in the Parnaiba Basin. Thus, in spite of all efforts, no
place oil reserves of 350 million barrels. In addition to commercial discoveries were made in the Paleozoic
this legacy, and very significant, the CNP left what was basins during this pioneer phase of prospecting,
to serve as the base for the organizational structure of which brought much frustration to the expectations
the Company’s exploration department conceived from and hopes that that been invested in these.
the foresight of the geologist A. I. Levorsen, a consult- Due to the Company’s priorities for exploration in
ant who had come to Brazil in 1953. the Recôncavo and in the Paleozoic basins, little
The head of the Exploration Department of the attention was given during this initial phase to the
recently-founded Petrobras was the North American coastal basins with the exception of some pioneer
geologist, Walter K. Link, the former chief geologist work, including geophysical surveying and the drilling
of Standard Oil. Since schools of geology did not of some stratigraphic holes.
exist in Brazil at that time, foreign technicians were In 1957, the first on-shore and offshore seismic
contracted to fill the gap caused by the absence of surveys were carried out in the Espirito Santo Basin.
specialized personnel. The employment of dozens of At the end of 1959 Well 2-CBst-1-E was completed
North American geologists and geophysicists was jus- and revealed the presence of residual oil. These results
tified in terms of the double perspective. The first encouraged the Department of Exploration to run
was that North-American know-how was the best. It seismic surveys to locate structures. In the Campos
was available on the market and could be transferred Basin, also in 1959 Well, Cabo São Tomé was drilled
to the Company’s technical body being formed at to test for the possibilities of oil as well as to acquire
that time. Secondly, that of results, in as much that geological information.
the oil discoveries required in a very reduced time In 1960, with the departure of Walter Link, who
frame could only be obtained with the help of these sent to the Directors of Petrobras the famous docu-
professionals. ment known as the Link Report, there closed an
The exploration philosophy of the recently-found- important phase of oil exploration in Brazil. The gen-
ed Petrobras was centred on two items: 1) in view of eral view held by Link was that the Country did not
the positive results that had been obtained up to that possess oil resources in commercial quantities, and it
time it was natural to continue with the exploration was recommended that the Company should go
of the Recôncavo Basin; 2) given the enormous size abroad in the search for areas with greater potential
of the Brazilian Paleozoic basins there prevailed a for oil.
view in the high levels of the Company’s administra- In March 1961, Petrobras placed the geologist
tion that Bonanza fields were there to be discovered. Pedro Moura and the geophysicist Décio Savério
Amongst the results of this initial phase of the Oddone at the head of exploration activities. They
Company’s exploration effort in the Recôncavo Basin started by issuing an evaluation of the conclusions

56 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.


made in the Link Report, and suggested measures to gate a section of Albian carbonate rocks, and was
restudy the interpretation given to the exploration of drilled by the drill-ship Petrobras II in water 120 m
the Brazilian sedimentary basins. These experienced deep, which at that time represented the challenge of
Brazilian professionals, coming from the CNP, ques- deep waters. Started in November 1973, the drill
tioned the pessimistic conclusions of Link, the general intersected a section of porous limestone beds con-
tone of the counter arguments being that very little taining an oil column more than 100 m thick with
detailed work had been done up to that time to justi- reserves estimated at exceeding 100 million barrels.
fy such fervent a condemnation. Moura and Oddone This was the Garoupa Field, and so there began to
reclassified in a more optimistic manner practically all appear concrete result arising from the decision to
the basins that had been evaluated by Link. invest in the continental platform.
The most significant result of Moura and Oddone On returning to the Paleozoic basins at the end of
was the discovery of Carmópolis in 1963, an achieve- the nineteen seventies there occurred important gas
ment of great importance, since it supported the pos- discoveries, and in the nineteen eighties there came
itive views regarding the petroleum potential of about the oil discoveries in the Rio Urucu area. The dis-
Brazil. This discovery having an in place volume esti- covery of oil in the Rio Urucu represented a great explo-
mated at 1.15 billion barrels in 1965, was a major ration conquest, as it revealed that the complex
milestone for petroleum exploration in Brazil. Brazilian Paleozoic basins, always the subject of ques-
Up until this time petroleum exploration on the tion as regards to their potential for hydrocarbons could
Brazilian continental platform had been characterized by now be shown to contribute the national production.
some initiatives that carried out exploration work between Already in 1981, the seismostratigraphic and
1957 and 1966, including the acquisition of refraction structural analyses of the seismic survey data
and reflection seismic data as well as the drilling of a num- obtained in an open exploration grid that extended
ber of stratigraphic holes along the coast. up to the 2000 m isobath, permitted interpretation of
The first reflection seismograph survey on the data contained within the deep water exploration
continental platform was carried out during the years limit set by Petrobras. In 1984, Well 1-RJS-284 was
1957 and 1958 on the Alagoas platform. At the same drilled in an area having a water depth of 383 m,
time reflection seismic lines were run in areas of the which led to the discovery of the Marimbá Field, an
Espirito Santo and Bahia platforms. In the equatorial oil accumulation that extends to the 600 m isobath.
margin, surveying was carried out in the Baia de São This discovery may be considered to be the first in
Marcos, and in areas of the adjacent platform. These deep waters of the Campos Basin. This discovery well
surveys represented the first steps taken by Petrobras began to produce already in the following year, set-
towards exploration of the offshore basins. ting a world record at that time in terms of underwa-
The location of what would be the first well to be ter well completion and is a corner stone in the devel-
drilled in the offshore part of a Brazilian coastal basin, opment of fields in the deep waters in Brazil. There
Well Espirito Santo Submarino Nº 1, was made in followed a number of discoveries on the Campos
function of the possibility of a saline intrusion, sug- deep-water trend, thus defining one of the world’s
gested by the high-angle dips in sediments of proba- largest petroleum provinces.
ble Tertiary age, defined by reflection seismic survey- Although the discoveries of the Campos Basin had
ing. The well was dry, causing the Exploration Department led Petrobras to a natural concentration of resources
to look for oil at the mouth of the Vasa Barris River in deep waters, exploration of the onshore basins had
in Sergipe. also advanced. At the end of 1985, and culminating
In 1968, Well Sergipe Submarino Nº 1 was drilled in a phase of exploration re-evaluation based on the
to test a structural high defined by reflection seismic ample quantity of technical information that had
surveying. The well revealed oil in Eocene sandy been collected, the largest field on the continental
bodies assigned to the Calumbi Formation, represent- part of the Potiguar Basin, the Canto do Amaro Field,
ing the first oil accumulation to be discovered in the was discovered.
Brazilian continental platform, known as the Guari- In recent times the Santos Basin has been one of
cema Field. the most promising areas for petroleum exploration
In the Campos Basin, already in 1974, there in Brazil, and especially over the past three years.
occurred the first significant discovery in the conti- Exploration has been intense in the north-central part
nental platform. Well 1-RJS-9 was drilled to investi- of the basin, resulting in the discovery of significant

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 9-58, nov. 2003/maio 2004 57


quantities of heavy oil and gas resources, the latter
being the largest found to date in the Country. The
gas-bearing sandstone units of the Santos Basin are
now known to contain a volume equivalent to those
found in the entire Country up to now. Thanks to its
privileged situation adjacent to the consumer states
of the Brazilian southeastern region, the recently dis-
covered gas resources of the Santos Basin open-up an
important exploration frontier with a potential impact
over the national energy matrix.
In summary, the Brazilian basins today support a
set of projects that are leading the Country in the
direction of the self-sufficiency, so long sought after,
of this basic commodity. Boldness and persistence in
Brazilian petroleum exploration coupled with good
technical reasoning objectively directed at the open-
ing of new exploration frontiers, be these geological
or geographical, were in almost all cases very well
rewarded.

autor author

Paulo Manuel Mendes de Mendonça


Unidade de Negócio de Exploração
Gerência Geral
e-mail: pmendes@petrobras.com.br

Paulo Manuel Mendes de Mendonça nasceu em Lisboa, Portugal, em 17 de


março de 1950. Graduou-se em Geologia pela Universidade de São
Paulo em 1972. Na Petrobras desde 1973, cursou Especialização em
Geologia do Petróleo no Setor de Ensino da Bahia, em 1977, além de
diversos outros cursos, tanto técnicos quanto gerenciais.
Na Petrobras, foi geólogo de subsuperfície até 1975 e geólogo de
avaliação de formações até 1978. A partir de 1979, começou a atuar
junto à Superintendência dos Contratos de Exploração. Em 1981, assu-
miu a chefia do Setor de Geologia da SUPEX. A partir de 1988, já na
Área Internacional da Petrobras, gerenciou as áreas de exploração da
América do Sul e América Central; de Novas Áreas da América e Orien-
te Médio; a Exploração da sucursal da Braspetro na Colômbia. Em
fevereiro de 1994 assumiu a Gerência Geral dessa mesma sucursal.
Em 1999, foi empossado Gerente Geral da Unidade de Negócio de
Exploração e Produção de Sergipe-Alagoas, e em fevereiro de 2002
assumiu a Gerência Geral da Unidade de Negócio de Exploração da
Petrobras, que ocupa até a presente data.

58 Exploração na Petrobras: 50 anos de sucesso – Mendonça et al.

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