Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lynnie McBride tem apenas um motivo para ir ao baile do Dia dos Namorados,
na capital, e esse motivo não é romance: ela pretende fazer um protesto para chamar a
atenção do governador e dos deputados presentes a esse baile. Acompanhada do
charmoso malandro Ace Durango, um homem que considera extremamente irritante,
Lynnie desfila diante das autoridades ostentando uma faixa com os dizeres "Direito ao
Voto para as Mulheres". O tumulto provocado causa sua prisão e a de Ace, além de ela
perder o emprego de professora em sua cidade.
Passar algum tempo com o irresponsável Ace é para Lynnie um castigo, embora
seja difícil ignorar a beleza e o charme desse homem. Mas viver perigosamente ao lado
dele começa a se tornar algo muito divertido... até ela descobrir quem exatamente é
Ace Durango!
A revista Romantic Times considerou Georgina Gentry "como uma das melhores
escritoras americanas da década de 1990". Seu primeiro romance foi merecedor de
vários prêmios. Famosa por criar cenas com muitos detalhes, ela constantemente
apresenta convenções e workshops sobre a "arte de escrever romances".
Prólogo
Capítulo I
Texas
Final de janeiro, 1885
— É natural. Que jovem não quer tornar-se a senhora da maior e mais rica
propriedade do Texas? — questionou Trace.
— Mesmo que fosse pobre, Ace teria muitas mulheres ansiosas por merecer sua
atenção..
— Sim, claro. Ele é um mulherengo indomável.
— Mas é encantador. Tudo o que temos a fazer é encontrar uma garota capaz
de domar nosso texano.
— Não creio que seja possível. Bem, o malandro em breve estará de volta e
deve isso a você. Por mim, ele ficaria pelo menos mais um pouco na cadeia.
— Está certo. Ace deve sua liberdade a mim e ele pagará sua dívida — disse
Cimarron, pensando no plano que tinha em mente.
O marido desabotoou a blusa dela e sugeriu:
— Vamos namorar um pouco. Não há ninguém por perto e este sofá é bem
grande. O que acha da idéia?
— Não podia ser melhor — aprovou Cimarron, olhando dentro dos olhos
apaixonados do marido.
Surpreso, Trace olhou para a esposa, em seguida para o filho. Naquele instante
Cookie entrou na copa, mancando, e aproximou-se de Ace.
— Aqui está seu desjejum — declarou, colocando um prato sobre a mesa. — E
não me venha com reclamações.
O rapaz olhou com uma careta para os ovos queimados e o bife quase cru.
Espetou o garfo na carne e comentou:
— Tive a impressão de que ouvi o berro do novilho.
— Ora, pare com isso, seu desaforado — Cookie zangou-se. — Você não
merece respeito. Não é um cavalheiro como seu pai. Não passa de um garoto mimado
e sem modos.
"Em parte é verdade. Nunca serei como meu pai, por isso, nem vou tentar", Ace
pensou. Em voz alta reclamou:
— E o meu café?
— Vou buscar — respondeu o velho senhor e afastou-se, deixando no ar um
aroma de álcool e baunilha.
— Coitados dos nossos vaqueiros! Os pobres-diabos são obrigados a comer,
todo santo dia, a bóia preparada por esse velho incompetente.
— Filho, ouça o que eu tenho a lhe dizer — interveio a mãe, para evitar mais
discussões entre Ace e Cookie. — Fiquei sabendo que o governador vai oferecer um
grande baile no dia de São Valentim, em Austin.
— Que boa notícia! — alegrou-se o rapaz. Acabara de mastigar um pedaço de
ovo e sentia na boca um gosto de borracha queimada. — As mais belas garotas do
Texas estarão presentes!
— É claro que sim — confirmou a mãe. — Recebi uma cartinha de sua tia
Cayenne.
— Ah! E como estão tio Maverick e toda a família do oeste do Texas?
— Segundo Cayenne, todos estão muito bem.
— Será que estão muito bem mesmo? — Trace afastou o prato e acendeu uma
cigarrilha. — A família de Maverick é tão numerosa. Nunca vi tantas crianças. Até
parece que aquele casal nunca sai da cama.
— Trace! — O rosto de Cimarron ficou vermelho. — Que jeito de falar de seu
irmão adotado e da esposa.
Novamente Cookie apareceu na copa e colocou rudemente sobre a mesa, na
frente de Ace, o bule de café, a xícara e o pires.
— Ei! Precisa fazer esse barulho? Estou com dor de cabeça!
— Tequila barata e mulheres ordinárias provocam dor de cabeça. Você não
sabia disso? — desferiu o velho senhor.
Ace serviu-se do café. Estava grosso, parecia lama negra.
— E você não sabe que nas grandes casas os empregados respeitam o patrão?
— Você não é o patrão. Dom Durango, sim, é o patrão que merece todo o
respeito. Trabalho neste rancho antes mesmo de você nascer. — Cookie olhou para
Trace. — Não é mesmo, patrão?
— É verdade, Cookie — Trace confirmou. — Eu não poderia administrar a
propriedade sem você.
Satisfeito, o velho senhor voltou para a cozinha no seu andar claudicante.
Cookie era, de fato, péssimo cozinheiro e muito ranzinza, mas leal e de inteira
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 9
confiança. Quando jovem trabalhava como vaqueiro, mas depois de sofrer uma queda,
na qual o cavalo caíra por cima dele, ficara manco e passara a cozinhar para os peões.
Um dos rapazes o ajudava. Além de cozinhar mal, o velho andava bebendo muito,
principalmente uma bebida forte, preparada com destilado de alto teor alcoólico e favas
de baunilha.
O chiuaua ganiu debaixo da mesa e Ace jogou para ele um pedaço do ovo.
Trace inclinou-se e sussurrou para o filho:
— Cuidado. Tequila é delicado, já é velho e a comida de Cookie...
— É. Tem razão. O animalzinho pode morrer — concluiu Ace.
— Essa não! Agora são dois a confabular. — Cimarron protestou. — Será que
não podemos voltar ao assunto sobre o qual estávamos falando, meu filho?
— Certo, mamãe. Eu gostaria muito de ir a esse baile de São Valentim. — Ace
passou manteiga em um pãozinho e comeu-o.
— Ótimo.
— Mas... é só isso que a senhora quer que eu faça? Ir a um baile é sempre um
prazer.
— Acho que aí tem coisa — opinou Cookie, da cozinha. — Cuidado, rapaz.
— Não se intrometa, Cookie. O assunto não lhe diz respeito — zangou-se
Cimarron.
— Mulheres! — resmungou o velho senhor do outro lado da porta.
Ace sorriu. A dor de cabeça tinha diminuído e seu bom-humor estava de volta.
Devia isso à mãe. Ela o compreendia e o confortava. Só havia duas mulheres em quem
ele confiava: Cimarron e tia Cayenne.
— Como eu estava dizendo, mamãe, quero ir ao baile.
— Claro, um baile com muitas garotas... Será como mandar um coiote para um
redil de ovelhas — comentou o pai gravemente.
— Dispenso a sua opinião e a de Cookie — tornou Cimarron em tom cortante.
Ace presenteou a mãe com um belo sorriso.
— Conte-me mais alguma coisa sobre esse baile — pediu Ace, já pensando em
conquistar uma ou duas garotas. Graças a seu charme, não seria difícil levá-las para o
terraço ou para o interior confortável de uma carruagem.
— Creio que você não entendeu. Quero que você acompanhe alguém a esse
baile.
Imediatamente Ace pressentiu que podia cair em uma armadilha, mas era
esperto como um coiote quando se tratava da própria sobrevivência.
— Quem?
— Uma jovem brilhante, com muita personalidade.
Cauteloso e cheio de desconfiança, Ace olhou para o pai.
Este encolheu os ombros e fez com a cabeça um movimento negativo.
Evidentemente Durango III ignorava o que a esposa estava tramando.
— Quem, mamãe? — Ace insistiu.
— Em primeiro lugar, me ouça, filho.
— Oh, não! — Ace sacudiu a cabeça. — Quando a mãe de alguém começa a
falar sobre uma jovem de personalidade e mente brilhante, é porque a pobrezinha é
feia de doer.
— A beleza é superficial e efêmera.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 10
— Sua mãe tem razão, Ace — Trace concordou com a esposa. — Lynnie pode
não ser uma beldade, mas é muito inteligente.
— É mais inteligente do que eu, reconheço. Mas é insuportável. Fala o tempo
todo que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos. — Ace deixou o
guardanapo sobre a mesa, levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. —
Não consigo entender como uma mulher com o talento de Lynnie possa estar
interessada em bailes. A meu ver, ela achava que dançar era coisa fútil, perda de
tempo.
— Admito que também fiquei surpresa quando Cayenne me escreveu pedindo
para você acompanhar a irmã ao baile de São Valentim. Talvez Lynnie esteja
pensando em arranjar um namorado ou marido.
— Que homem se casaria com uma mulher feia e sem graça como Lynnie
McBride?
— Toda mulher é linda para o homem que a ama — argumentou a mãe.
— Bem, eu nem sequer gosto dela.
— Filho, você está sendo rude! — Cimarron repreendeu o filho — Será tão
terrível fazer a gentileza de levar uma jovem ao baile?
— Minha reputação ficará arruinada.
— E quanto à reputação dela? Ser vista na companhia do maior conquistador do
Texas poderá comprometê-la.
— Se o problema é esse, ela que dispense minha companhia. Muito me alegraria
ficar livre de aparecer num salão com uma mulher que só pensa em ler e em defender
o voto das mulheres. Aposto que ela não sabe nem dançar. Está aí! Será que ela
dança, mamãe?
— Não. Lynnie não sabe dançar.
— Eu sabia! — Ace correu os dedos pelos cabelos escuros.
— Vou levar a um baile uma mulher feia, que nem ao menos sabe dançar.
— É justamente por isso que temos de chegar a Austin com alguma
antecedência. Nos hospedaremos no hotel e você terá a tarde toda para ensinar a
Lynnie alguns passos de dança, antes do baile. Também confio em você para
convencer todos os rapazes a preencherem o cartão de danças dela.
— Mamãe, isso é pedir demais. — Ace voltou-se para o pai. — O senhor acha
justo o que ela está fazendo?
— Pense um pouco, filho, se Lynnie estiver comprometida com outros
cavalheiros, você estará livre para dançar com as moças do seu interesse.
— Ei! É verdade! — Os olhos de Ace brilharam. — Quem sabe Emma-Lou Purdy
irá ao baile...
— Você sabe o que penso da família Purdy, filho. — Trace franziu a testa. —
Eles não têm nada, só pose. O irmão tenta arranjar um bom casamento para Emma-
Lou. Além disso, ele é um fanfarrão, um gabola e, como se não bastasse, é capacho
dos Forrester.
Os Forrester eram velhos inimigos dos Durango. Ainda assim Ace desejava levar
Emma-Lou para o banco traseiro de uma carruagem para uma agradável sessão de
beijos e troca de carinhos.
— Olhe lá, rapaz, trate de não abandonar Lynnie durante o baile — a mãe falou
em tom de ameaça.
— Pelo que eu sei, ela é capaz de se cuidar. Por que a senhora não me pede
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 13
para acompanhar uma das irmãs de Lynnie? Stevie e Grace são muito bonitas.
— Você sabe muito bem que as duas estudam no colégio interno, com sua irmã.
— Mamãe, se eu tivesse idéia do que a senhora estava planejando, teria ficado
naquela cadeia, no México. Lá, pelo menos, a filha do carcereiro, além de bonita, me
tratava bem; me trazia tortilhas e churrasco de cabrito.
— Você deu sua palavra, Ace — o pai lembrou.
Ace parou na frente da janela e ficou por um momento olhando para as colinas
ondulantes, ao longe. Depois suspirou.
— Tenho a sensação de que entrei neste jogo com cartas muito boas e acabei
perdendo a partida.
— Espero que você tenha aprendido que não se deve apostar com uma mulher.
Elas são sorrateiras e mais espertas do que nós — aconselhou o pai com um sorriso.
Cookie pôs a cabeça para fora da porta da cozinha.
— Seu pai está certo, ô rapaz insignificante. As mulheres não merecem
confiança. Até eu sei disso.
— Cookie! Trate de lavar a louça em vez de se intrometer — ordenou Cimarron.
Em seguida dirigiu-se ao filho. — Já chega, Ace. Você levará Lynnie ao baile de São
Valentim. Depois disso pode voltar para suas ardentes senhoritas.
Capítulo II
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 14
Observando melhor o rapaz à sua frente, Lynnie ficou tão maravilhada que mal
pôde falar. Estivera estudando fora e há algum tempo não via Ace Durango. Até se
esquecera de que ele era tão atraente e másculo. Entretanto, lembrava-se bem de sua
fama de conquistador, de ser um demônio com as mulheres. Em resumo, Ace era o
tipo de homem que ela mais odiava, refletiu, mas precisava muito dele naquela noite.
— Vocês chegaram cedo — Lynnie observou quando Ace e os pais entraram no
hall da suíte.
— Achei melhor vir vê-la para acabar logo com isso — replicou Ace, amassando
o Stetson que segurava, o rosto porejado de suor.
— Como? Não entendi.
— Eu... quis dizer que estava ansioso para ver você de novo.
— Hum! — Lynnie murmurou com pouco-caso. Não acreditava naquelas
palavras que soaram tão falsas. — Vamos até a sala onde está a família.
Os três ainda estavam olhando para ela, pasmados. Só então Lynnie lembrou-se
de sua aparência tão bizarra. Que droga! Pretendia estar apresentável quando Ace e
seus pais chegassem.
— Tia Cimarron e tio Trace, é uma grande alegria ver vocês. Não, não me
abracem! — Ela fez um gesto para afastar o casal. — Suas roupas podem ficar
manchadas de banha.
— Banha?! — Ace repetiu. Sua expressão dizia claramente que ele gostaria de
desaparecer.
Lynnie ficou imaginando o que Cimarron devia ter feito para conseguir convencer
o filho irresponsável a acompanhá-los a Austin. Ao passar por um espelho, viu a
própria imagem e assustou-se.
— Oh, desculpem-me por não estar apresentável. Ouvi dizer que esta máscara
com banha amacia e embeleza a pele.
Ace deu uma risadinha.
— Nunca vi um porco bonito — murmurou por entre os dentes.
"Ora, que miserável!", Lynnie pensou, furiosa. Ace continuava arrogante e
insuportável. Se não precisasse dele naquela noite, seria capaz de lhe dar um murro...
— Cimarron! Trace! Há quanto tempo não nos vemos! — exclamou Maverick
indo ao encontro dos visitantes. Com ele estavam a esposa e o bando de filhos.
Cayenne estava grávida novamente.
Cimarron sorriu.
— Receio termos chegado um pouco cedo. Ace estava ansioso para ensinar
Lynnie a dançar.
— É mesmo? — questionou Lynnie, observando Ace. O covarde parecia
ansioso, sim, mas para fugir dali o mais depressa possível. — Nesse caso, Ace,
podemos ensaiar na sala.
— Na sala? Com todos nos observando? — ele indagou, horrorizado.
— Por que não? Vai ser divertido — Lynnie argumentou.
— Ace, você vai casar com tia Lynnie? — quis saber Jefferson Davis, um dos
filhos gêmeos de Maverick e Cayenne.
— É claro que não! — Lynnie apressou-se em responder. — Ele só irá me levar
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 15
ao baile do governador.
— Cimarron, não sei o que deu em Lynnie para querer ir a esse baile —
Comentou Cayenne. — Mas estou contente por Ace ter-se oferecido para acompanhá-
la.
— Eu não me ofereci coisa nenhuma — Ace resmungou, mas Lynnie o ouviu e
dirigiu-lhe um olhar glacial.
— Não pense que a sua companhia me dá algum prazer. Mas não posso ir ao
baile sozinha — ela replicou baixinho.
Chegou até ela a voz de Cimarron, que conversava com Cayenne, ambas
sentadas no sofá, do outro lado da sala.
— Ace ficou realmente muito entusiasmado com a idéia de levar Lynnie ao baile.
"Que mentira", Lynnie pensou e voltou-se para Ace.
— Quando podemos começar?
— Você não sabe dançar mesmo? — ele perguntou com ar de dúvida.
— Não sei nenhum passo de dança. Sempre tive coisas mais importantes para
fazer. Não podia perder tempo com futilidades. Eu me preocupo mais em aprimorar a
mente, compreende?
Naquele instante reinou na sala silêncio total e Ace notou, angustiado, que todos
olhavam para ele, esperando pelo começo das aulas de dança. Além dos pais e tios de
Ace, ali estavam as crianças Annie Laurie, os gêmeos Sam Houston e Jefferson Davis,
e os três menores: Bowie, Crockett e Travis, cujos nomes eram uma homenagem aos
heróis do Forte Álamo.
— Parece que todo o condado está presente para assistir ao espetáculo —
murmurou Ace. — Só faltam mesmo suas irmãs mais novas.
— Stevie e Gracie estão no colégio com Rachel, sua irmã. Angel ficou em casa
com meu pai. E então, vamos começar?
Ace suspirou.
— Em primeiro lugar, trate de tirar do rosto essa coisa pegajosa. Não quero sujar
meu casaco.
— Ace, não seja rude — observou Trace.
— Ele tem razão — Lynnie admitiu e foi para o quarto.
Vendo-se diante do espelho, deu de ombros. Estava realmente horrível, mas e
daí? O homem capaz de fazer seu coração pulsar com mais força haveria de se
interessar por sua mente brilhante, não por sua aparência. Voltou para a sala onde Ace
a esperava, o suor brilhando no belo rosto. Ele dirigiu-se ao grupo.
— Vocês devem entender que não vai ser fácil nos apresentarmos tendo a
metade do Texas nos observando.
Maverick, homem forte, moreno, meio-comanche, riu.
— Tenho a impressão de que isto vai ser mais divertido do que uma corrida de
cavalos. O que acha, mano?
— Concordo com você. Que tal uma dose de tequila para acompanhar a
brincadeira?
— Era exatamente o que eu ia propor — disse Maverick levantando-se. — Vou
pegar a bandeja. Há refresco para as senhoras e as crianças.
Ace observou os expectadores. Tinham os olhos arregalados, pareciam um
bando de corujas. Sentiu-se inibido, desconfortável. Voltou-se para Lynnie.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 16
jeito era conformar-se com a companhia de Ace Durango, que tinha em todo o estado a
reputação de libertino e mulherengo de primeira ordem. Um texano indomável que
desafiava o esforço de toda moça que tentava prendê-lo.
Bem, muitas mulheres diziam que Ace era encantador e Lynnie não entendia
como era possível alguém ter essa opinião a respeito de um homem farrista e
irresponsável. Ela o conhecia de longa data e sempre que se encontravam, nas
reuniões de família, Ace Durango dava provas de que não passava de um bruto.
O pequeno Houston terminou de dar corda no fonógrafo, colocou o cilindro de
cera, e o som da valsa Danúbio Azul encheu o ar.
— Atenção, Lynnie, lembre-se do que eu disse e apenas me acompanhe — Ace
pediu. — E, por favor, não me pergunte por que é o homem quem guia a dama.
Quando vocês, mulheres ganharem o direito de voto, poderão mudar as regras da
dança, certo?
— Pode acreditar que haverá muitas mudanças na sociedade E para melhor! —
Lynnie retrucou.
— Por enquanto, concentre-se na dança. Em outra ocasião poderemos debater
sobre os direitos das mulheres.
— Está certo, bobalhão — Lynnie cedeu e deixou-se levar pela sala ao
compasso da valsa.
Teve de admitir que Ace era exímio dançarino e estar nos braços dele era muito
agradável. Além disso, o cheiro masculino, uma mistura de loção de barba, tabaco e
uma bebida, talvez bourbon, deixou-a ligeiramente trêmula e perturbada. Não estava
acostumada a ficar tão próxima de um homem. Ou melhor, nunca permitira que um
homem a tocasse daquele jeito.
Os dois estavam tão absortos, concentrados na dança, que se surpreenderam
quando Cimarron e Cayenne os aplaudiram. Mas as crianças estavam rindo e
assobiando.
— Muito bem, irmã. Pelo jeito você fará sucesso no baile.
Ace sussurrou ao ouvido de Lynnie:
— Para fazer sucesso você não pode querer conduzir o cavalheiro.
— Cale a boca! — Lynnie ordenou.
— Uma moça educada não diz para alguém calar a boca — Ace argumentou
baixinho.
— Se você fosse um cavalheiro seria tratado com educação. Mas é um texano
rude.
— A maioria das mulheres gosta de mim do jeitinho que eu sou — tornou Ace
com um sorriso encantador.
— Posso imaginar que tipo de mulheres são essas. Certamente você se diverte
com prostitutas de saloons e estas não sabem fazer a distinção entre um cavalheiro e
um aventureiro qualquer.
— Garotas bem-nascidas nada sabem sobre a vida em saloons, nem dizem o
que você acaba de me dizer — ele assinalou, chocado. — É bom que meu pai não nos
ouça. Para dom Durango III, você é a criatura mais doce que existe.
Lynnie olhou para Ace com ar de pura inocência e então, deliberadamente, pisou
no pé dele com força.
— Ei! Pare com isso! Desse jeito você arranha minhas botas novas!
— É o que você merece.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 18
Maverick, Trace e Ace ficaram no bar por longo tempo. Conversaram sobre
assuntos importantes para os texanos, tais como touros, vacas, cavalos e armas,
enquanto eram servidos por uma garota loira, muito bonita e com seios fartos. Como
não podia deixar de ser, ela se interessou por Ace e ambos ficaram flertando.
— Esqueça a moça, rapaz. Você está comprometido esta noite — Trace lembrou
o filho ao notar os sorrisos e olhares que ele e a garçonete trocavam.
— Sei disso, meu pai. — Ace olhou para o grande relógio da parede e sentiu um
mal-estar. Como o tempo voava. — Só vou tomar outro Bourbon.
— Filho, você já tomou três. Acho melhor irmos embora. Se nos atrasarmos sua
mãe ficará aborrecida.
Ace tentou focalizar bem o pai.
— Por Deus, papai, o senhor lutou com índios e pistoleiros; enfrentou touros
bravos e cavalos selvagens. Não me diga que está com medo de mamãe!
Trace Durango hesitou.
— Digamos que um texano esperto sabe escolher com quem pode lutar. Ou o
que deve enfrentar.
— O mesmo serve pra você, rapaz. — Tio Maverick riu. — Se for um texano
esperto, trate de descobrir o que Lynnie pretende indo ao tal baile. Minha cunhada não
é do tipo que gosta de festas.
— Será que em todo oeste do Texas não havia um cavalheiro disposto a
acompanhar Lynnie ao baile? Por que eu?
— Lamento, Ace. Minha cunhada é um pouquinho obstinada. Cabeça dura,
entende?
— Um pouquinho? — Ace virou seu Bourbon. — Já vi mulas menos teimosas.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 20
Cimarron estava à porta da suíte esperando pelo marido e o filho, sua expressão
tão tempestuosa quanto o vento Norte.
— Ora, que dupla! Onde vocês estavam? E o que faziam até agora?
— Estávamos no bar com Maverick, jogando conversa fora — respondeu o
marido e afastou-se, indo sentar-se confortavelmente numa poltrona.
Cimarron aproximou-se do filho.
— Hum, que cheiro de uísque! Você bebeu além da conta — Cimarron queixou-
se e puxou o filho pelo braço até o lavatório do quarto.
Apesar dos protestos dele, obrigou-o a curvar-se e jogou a jarra de água fria
sobre sua cabeça.
— Lynnie será bem capaz de mudar de idéia se vir você desse jeito.
— Será? — ele indagou, esperançoso, diante dessa possibilidade.
Infelizmente, estava quase sóbrio quando terminou de se arrumar. A imagem no
espelho refletia um cavalheiro vestido e penteado com o esmero de um garanhão
premiado numa feira de gado.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 21
pequeno buquê de rosas vermelhas ficou com ele. Os botões de rosa lembravam os
lábios pintados da garçonete. Voltando ao saguão decidiu ir até o balcão do bar. Uma
bebida forte iria reanimá-lo. Tomou dois drinques, depois subiu sem pressa para a suíte
dos tios, no terceiro andar.
Quando chegou, ajeitou a gravata, inspirou fundo para criar coragem, e deu uma
batida na porta, que se abriu imediatamente.
— Está atrasado, Ace Durango — Lynnie reclamou. — Eu já estava começando
a pensar que você não viria mais.
Ace ficou parado, emudecido, apenas olhando para ela. Estava diferente.
Parecia outra pessoa. Usava um vestido cor-de-rosa de fina seda, os cabelos ruivos
estavam puxados para trás e caíam numa cascata de cachos. E claro que sendo uma
moça respeitável não usava pintura, mas a pele tinha brilho e maciez. Ela não usava
óculos e os olhos verdes, orlados de cílios escuros e espessos, eram extraordinários.
Apesar de magra, o vestido de baile, franzido, caía-lhe muito bem, dava-lhe graça, e o
decote baixo realçava os seios bem proporcionais à altura dela e ao peso.
— Pare de olhar para meu busto — Lynnie reclamou. — Vocês, homens, têm
fixação nos seios de uma mulher.
— Eu só a estava admirando. Você está muito bem — Ace falou um tanto
encabulado. — Eu lhe trouxe este buquê.
— Você também está muito elegante — ela o elogiou, hesitante. Não estava
acostumada a receber visita masculina, muito menos a sair com um rapaz. Ace devia
estar sendo gentil porque tinha pena dela. Vinte anos e solteira! — Obrigada pelas
flores.
Ao entregar o pequeno buquê, Ace notou que vermelho e cor-de-rosa não
combinavam de jeito nenhum. Como fora estúpido! Devia ter perguntado com
antecedência qual a cor do vestido que ela iria usar. Ele jamais se descuidara desses
detalhes. Como pudera cometer aquele erro?
— Vejo que as rosas não combinam com seu traje. Desculpe. Você não precisa
usá-las — ele murmurou.
— É claro que vou usá-las. Por que não? Vamos, não fique aí parado. Entre.
Ace entrou no hall e ao passar bem perto de Lynnie constatou que ela estava
realmente bonita.
"Bonita? Ace, meu rapaz, receio que você tenha exagerado nos seus drinques",
disse ele a si mesmo.
Lynnie, por sua vez, inspirou fundo e observou:
— Você cheira a destilaria.
— Tomei dois drinques minutos atrás. Sinto muito. Quer que eu prenda as rosas
no seu vestido?
— Pra você tocar no meu busto? Nunquinha! Eu mesma prendo o buquê.
Obrigada.
Ele sentiu o sangue subir-lhe no rosto queimado de sol. Certo, ele já havia
tocado em partes impróprias do corpo de muitas mulheres, provocando o riso delas.
Mas jamais lhe passara pela cabeça tocar no busto de Lynnie McBride. Se fizesse isso
com certeza levaria um murro. Ele olhou sobre o ombro dela que toda a família os
observava.
— Acho melhor irmos andando.
— You pegar a bolsa e meu xale.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 23
Capítulo III
abraçar a moça e, com sua arte e um pouco de sorte, até roubaria um ou dois beijos.
Observou Lynnie com o canto do olho. Ela estava sentada na extremidade do banco,
ereta como um poste, a boca firme, determinada, parecia com o pensamento distante
dali. Com certeza nunca fora beijada na vida. Bem, beijo de pai, de irmãs, tios e
sobrinhos não contavam. Sendo assim, ele não queria se aventurar a ser o primeiro a
tocar naquela boca virgem.
Eles mantiveram-se calados por longo tempo. Só o barulho dos cascos dos
cavalos e do ranger das rodas da carruagem rompia o silêncio. Ace começou a sentir
sono. Por fim, Lynnie perguntou, numa tentativa evidente de iniciar uma conversa:
— Como estão as coisas no Rancho Triplo D?
— Tudo bem, na rotina de sempre. Cuidar dos rebanhos, comprar e vender
gado... — Ace sufocou um bocejo.
Ele percebeu que ela mordeu o lábio. Não parecia nem um pouco entusiasmada,
o que não deixava de ser estranho, uma vez que partira dela o desejo de ir àquele
baile. Qualquer outra, no lugar dela, estaria exultante, conversando animadamente e
rindo à toa. Lynnie, ao contrário, estava compenetrada, séria como um juiz que vai dar
a sentença condenando o réu à forca.
— Por que é que todos chamam seu pai de Trace, se o nome dele é Diego?
Até mesmo essa fraca tentativa de puxar conversa era melhor do que um
incômodo silêncio.
— Pensei que você soubesse.
— Creio que me explicaram anos atrás, mas devo ter esquecido.
— Meu pai é descendente de espanhóis. Seu nome é Diego de Durango
Terceiro. Ou seja, o Durango número três. O avô dele, dom Durango I, espanhol,
chamava o neto de Três. E assim, em inglês, ficou Trace, cuja pronúncia é a mais
próxima de três em espanhol.
— Nesse caso, pela lógica, seu apelido devia ser Quatro, já que seu nome é
Diego de Durango IV.
— Meu apelido não vem da infância. É mais recente. Gosto de jogo de cartas e
como sou muito bom nisso, sou Ace, ou seja, um ás no baralho.
— E parece que você tem orgulho disso. Também ouvi dizer que você passa a
maior parte do seu tempo em saloons, bebendo e em salas de jogo fazendo altas
apostas — Lynnie falou em tom desaprovador.
Ace dirigiu a ela um silêncio maroto.
— Como eu disse, gosto de jogar e sou um ás.
Ela ficou em silêncio por mais alguém tempo. Depois mudou de tom, chegando a
ser até afável.
— Eu lhe sou muito grata por se oferecer para levar-me a esse baile. Saiba que
isso é muito importante para mim. Nunca fui a um baile antes.
Ace controlou seu impulso de dizer que a mãe lhe impusera aquela tarefa. Afinal,
ele era um cavalheiro e devia ser gentil.
— O que a fez decidir ir a esse baile? Por que ele é tão importante?
Lynnie hesitou.
— Porque nesse baile estarão presentes o governador, políticos importantes e
os homens mais influentes da cidade.
— Meu pai acha que o governador é um idiota.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 25
— Por que tem de ser assim? Por que é sempre o homem que tem de fazer o
pedido?
— Lá vem você com suas idéias. Eu não sei por quê. Há coisas que são
convencionais. Apenas isso.
— Sendo assim, muitas coisas precisam ser mudadas.
A moça era mesmo teimosa e autoritária. Não era à toa que tinha aqueles
cabelos cor-de-fogo, Ace pensou. Curvando-se diante dela, perguntou-lhe:
— Srta. McBride, poderia dar-me o prazer desta dança?
— Sim, cavalheiro.
Eles deixaram as taças de ponche sobre uma mesa e foram para o centro do
salão.
— Convém manter-se a uma distância respeitável. Não sou como as outras
garotas.
— Não tenha medo, srta. McBride. E lembre-se de que sou eu quem deve guiá-
la.
A orquestra tocava uma valsa e eles se saíram bem, exceto por um ou dois
pisões.
— Todas as moças estão olhando para você — Lynnie observou. — Elas não
conseguem esconder que gostariam muito que você as tirasse para dançar.
— Como posso querer dançar com elas se tenho alguém como você nos meus
braços?
Esse tipo de lisonja Lynnie não esperava. Ela sorriu e falou em tom descuidado:
— Eu sei que está mentindo, Ace Durango, mas é sempre agradável ouvir
palavras gentis. Mas agora dê uma olhada na irmã de Forrester. Até ela está sorrindo
para você.
De fato, a moça de olhos azuis dirigia a Ace um sorriso tranco e convidativo. Ele
também sorriu para ela.
— Ora, Ace, não há necessidade de encará-la desse jeito.
— Só estou sendo gentil. O Livro Sagrado não diz que devemos amar nossos
inimigos?
— A Bíblia fala de amor cristão, amor puro e desinteressado — Lynnie rebateu.
— Lynnie, vamos conversar menos; temos de nos concentrar na dança. Por
favor, não tente me guiar.
— Está bem — ela murmurou. — Ace?
— O que é?
— Você pediu a seus amigos para marcarem o nome deles no meu cartão de
danças?
— Não. Eles apenas me perguntaram se poderiam dançar com você.
— Por que eles precisariam da sua permissão para dançar comigo?
— Porque sou seu acompanhante.
— É meu acompanhante, mas não manda em mim. Sou capaz de tomar minhas
decisões — Lynnie zangou-se. — Não preciso da sua autorização pra nada.
— Senhor! Você está indo longe demais com essa história de direitos das
mulheres. Se continuar assim, nunca arranjará um marido.
— Marido? — Lynnie parou de dançar. — Você acha que todas as moças só
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 29
Ele tinha sido usado. Sentia-se como uma prostituta barata no dia seguinte. O
interesse de Lynnie McBride não tinha sido pelo baile em si, nem desejara dançar com
ele. A dissimulada queria apenas aproveitar aquele evento social que contava com a
presença de políticos para erguer a bandeira daquela maldita luta pelos direitos das
mulheres.
— Está ciente, srta. McBride, de que vai provocar à maior confusão?
— E daí? Está com medo? Se estiver, tomarei parte na marcha sozinha.
Lynnie estava até bonita com aquele brilho desafiador nos olhos verdes:
— Que modo agressivo. Estamos juntos nessa, não estamos? Se você quer
mesmo levar sua campanha adiante, não podemos recuar.
Lynnie inspirou fundo e ergueu a cabeça altivamente antes de segurar no braço
que Ace lhe estava oferecendo. Ele notou que, apesar daquela atitude de desafio, ela
estava trêmula. Eles iam causar um sério tumulto naquele salão. Era melhor nem
pensar nas conseqüências.
A música começou; Ace e Lynnie iniciaram a marcha. Tinham dado mais de dez
passos diante das autoridades quando as esposas dos políticos fixaram o olhar na
faixa presa no vestido de Lynnie; as expressões sorridentes tornaram-se carrancudas.
As senhoras começaram a se abanar com seus lindos leques e a cochichar umas com
as outras. Os jornalistas pararam de escrever como se não acreditassem no que
estavam vendo. A orquestra continuou a tocar, mas o murmúrio tomou conta do salão.
A primeira-dama sussurrou algo para o marido, que franziu o rosto como um velho
buldogue e acenou para um dos criados.
— Lá vem encrenca — Ace murmurou.
— Que venha — Lynnie replicou sem interromper a marcha.
— Jovem lady... — começou o criado, aproximando-se. — O governador pede
que...
— Não! — Lynnie o interrompeu e continuou andando.
O criado seguiu do lado de Ace, muito constrangido. Olhando para Ace,
perguntou, incrédulo:
— Ela está desafiando o governador?
— É o que parece. — Ace encolheu os ombros e seguiu em frente.
— Mas ela não pode fazer isso. — O pobre homem estava horrorizado.
— Você não conhece Lynnie McBride.
Ace pouco se importava com a luta pelos direitos das mulheres, mas a parte boa
de tudo aquilo era que eles seriam convidados a deixar o baile. Então ele levaria Lynnie
para o hotel e seu compromisso com ela estaria terminado. Ele pensou na garçonete
de seios grandes, lábios bem vermelhos, e sorriu. Quem sabe ela já estaria de folga
quando ele chegasse ao hotel.
O criado voltou para junto do governador, que parecia uma morsa grande e
gorda com bigode cinzento. A morsa ficou indignada e acenou para diversos guardas
que se postaram na frente de Ace e Lynnie, bloqueando-lhes a passagem. A orquestra
continuou a tocar mas como a fila não andava, os casais começaram a reclamar. Um
guarda grandalhão segurou no braço de Lynnie.
— Ouça bem, senhorita, o governador insiste...
— Tire sua mão do braço dela — Ace ordenou.
Ele não estava nem um pouco feliz por ter sido usado por Lynnie para participar
daquele protesto. No entanto, era um cavalheiro e não iria permitir que ninguém
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 32
tédio, mas me enganei. Eu devia saber que estando você presente a festa fica sempre
animada!
Ace não respondeu. Acabara de nocautear um gorducho metido a lutador e
estava entretido olhando para a irmã de Willis Forrester, que tinha o vestido de baile
encharcado de ponche e lutava com Lynnie. Mas a coitada apanhava de dar pena.
Lynnie a agarrara pelos longos cabelos loiros e a sacudia com violência. Duas jovens
elegantes juntaram-se à loirinha, mas também sobrou para elas. Levaram tapas e
socos. Para uma moça tão magra, Lynnie McBride era, sem dúvida, boa de briga e
tinha muita coragem, Ace pensou com admiração. Valera a pena ter vindo ao baile com
ela.
Que noite! Que grande briga!
Foram necessários quatro policiais para arrastar Ace para fora do salão. Logo à
frente dele dois outros soldados levavam Lynnie pelo braço. O bonito vestido cor-de-
rosa ficara rasgado, os cabelos ruivos estavam despenteados e caídos ao redor dos
ombros.
— Liberdade para as mulheres! — ela gritou. — Mulheres, levantem-se! Lutem!
Exijam seus direitos!
Dois repórteres correram para ela.
— Seu nome, senhorita...
— Não diga! — Ace gritou.
— McBride. M-c-B-r-i-d-e — soletrou. — Podem publicar. Estou fazendo este
sacrifício por uma causa nobre. Pelos direitos das mulheres do Texas.
Ela continuou gritando até ser levada, juntamente com Ace, para o veículo da
polícia.
— Como pode ver, você conseguiu! — observou Ace assim que um dos policiais
fechou a porta da carruagem e os cavalos colocarem-se em marcha. Sua cabeça
latejava embora ele estivesse sóbrio. — Lynnie, seu olho está roxo. Quem lhe deu um
murro tão certeiro?
— Este olho roxo é uma espécie de troféu pela minha luta. Eu o conquistei — ela
falou cheia de orgulho, os olhos faiscando.
— Oh, Senhor! — Ace suspirou. — O que meu pai vai dizer?
Capítulo IV
— Nada.
Trace dirigiu-se a Lynnie.
— Jovem lady, lamento que meu filho incorrigível não se tenha dado ao trabalho
de protegê-la. Sei que você passou por maus momentos ao sair, por engano, pela
porta da frente e ver-se assediada pelos homens da imprensa.
Novamente Lynnie sorriu de modo inocente. Diante de tamanha desfaçatez, Ace
ficou por uns minutos pensando em como seria divertido agarrar aquela feminista
dissimulada e dar-lhe tantos safanões até seus dentes baterem e os grampos e
graciosas presilhas saltarem dos cabelos cor-de-fogo. Ela era ardilosa e mais esperta
do que todas as mulheres que ele conhecia. Chegava a ser injusto uma moça poder
manobrar um hombre como Ace Durango e causar-lhe tantos problemas.
Maverick suspirou.
— Vamos tentar conseguir os jornais antes que Cimarron e Cayenne os vejam.
— Quem sabe toda a história será abafada — opinou Ace, esperançoso.
— Hum! Vá esperando. — Trace torceu o nariz com pouco caso. — E você,
Diego de Durango Quarto, pode esquecer por bom tempo as festas, jogo de cartas e
qualquer outra coisa que não seja limpar as cocheiras.
Pior do que o castigo imposto pelo pai era ter de agüentar o sorriso irônico de
Lynnie. Ace teve de fazer um grande esforço para não abrir a porta da carruagem e
atirá-la na frente da carroça de uma cervejaria que no momento passava pela rua, no
sentido contrário ao deles. Infelizmente, se fizesse alguma coisa, iria arranjar mais
confusão ainda. Não podia derrotar Lynnie. O jeito era conformar-se. Desde criança ela
se mostrava superior a ele em inteligência, talento e esperteza. Acabava sempre se
saindo bem por ser mulher. E agora, quando ele pensava que fazia um grande favor
acompanhando ao baile uma pobre solteirona, fora usado. Servira apenas para ela
levar avante seu plano que era chamar a atenção dos políticos para a luta pelos
direitos das mulheres. Não era de admirar que aquela feminista não arranjasse
namorado, muito menos marido. Que homem poderia tolerar uma mulher que fazia
questão de se mostrar superior a ele?
Bem, o incidente dessa noite lhe servira de lição. Seria mais fácil o inferno
congelar do que ele, Ace de Durango, envolver-se em outra encrenca com Lynnie
McBride.
— Ele não tem a menor experiência. Não sabe o que é lutar com índios ou
enfrentar feras.
— Ace atira muito bem e é exímio cavaleiro. É impetuoso, reconheço, e talvez
seja um pouco irresponsável...
-— Um pouco? Na idade dele eu assumia tarefas de grande responsabilidade.
Antes dos vinte anos eu já conduzia com Maverick grandes rebanhos pela perigosa
trilha Chisholm.
— As coisas mudaram desde então. — Cimarron foi até a porta de vidro e ficou
olhando para a grande fonte do jardim — O mundo está ficando civilizado. Temos as
ferrovias para transportar o gado e currais para abrigá-lo estão sendo construídos aqui
no Texas. Portanto, conduzir rebanhos por terra é uma atividade que está
desaparecendo.
— Infelizmente. Mas essa tarefa era uma espécie de prova que transformava um
rapaz em homem. Conduzir o gado por alguns milhares de quilômetros até o Kansas,
tendo de atravessar o Território índio, era uma façanha e tanto. Noites e mais noites
Maverick e eu dormimos no chão ou tivemos de permanecer na sela durante horas sem
fim, vigiando o rebanho assustado para evitar o estouro da boiada.
Quantas e quantas vezes Cimarron ouvira essas histórias!
— E tinha mais: os criadores do estado do Kansas se queixavam, diziam que o
gado procedente do Texas era portador de febre aftosa e contaminava seus rebanhos.
As pastagens passaram a ser cercadas com arame farpado — Cimarron lembrou. —
Creio que esses dias terminaram para sempre.
Trace foi até uma mesinha e serviu-se de uma dose de tequila.
— Quando a trilha Chisholm foi aberta, logo depois da guerra civil, imaginei que
iria durar para sempre. Mas você está certa. Em breve não haverá razão de se usar a
trilha.
— Talvez seja interessante você reunir alguns vaqueiros para conduzir um
rebanho pela última vez — Cimarron sugeriu. — O que acha da idéia?
— Hum... Não sei. — Trace juntou-se à esposa. — Creio que não tenho mais
idade para esse tipo de aventura. Ficar sobre uma sela durante dias e mais dias, dormir
ao relento...
Cimarron riu.
— Você está certo. Uma aventura dessas é para os jovens, não para homens de
meia-idade como você. Ace perdeu uma das maiores e melhores experiências do
Velho Oeste.
— Conduzir um rebanho até Dodge City certamente fará bem a ele. Irá torná-lo
um homem. — Trace tomou um gole de sua bebida e sorriu, lembrando-se dos anos da
juventude.
— O irmão do velho Sanchez é um bom chefe de comitiva.
Acredito que Pedro irá gostar de fazer uma viagem de despedida pela trilha
Chisholm até Dodge City.
— Você não pode estar falando sério. São mais ou menos dois mil quilômetros
daqui a Dodge City.
— Não sei. Segundo as leis do estado do Kansas, os rebanhos não podem mais
passar por Abilene e Wichita. Se organizarmos uma comitiva, teremos de fazer um
desvio e seguirmos pela trilha Oeste, até Dodge.
— É melhor você não ficar muito entusiasmado nem fazer planos. Receio que
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 39
— Pra mim não vai ser nem um pouco divertido. — Ace passou a mão pelos
cabelos negros. — Não vejo graça nenhuma em dormir no chão e comer poeira dia
após dia. Nada de mulheres, nem de cartas ou saloons. E quem cuidará do rango?
— Mandarei Cookie com o carroção cheio de mantimentos.
— Cookie? Isto quer dizer que o que já era ruim ficará ainda pior. O velho não
sabe fritar um ovo!
— Ouvi o que você disse! — gritou Cookie pondo a cabeça grisalha para fora da
cozinha. — Fique sabendo que antes de você nascer eu já cozinhava para caubóis em
comitivas.
— E deixou dezenas de caubóis envenenados pelo caminho — Ace provocou o
velho senhor.
— Há alguém que eu gostaria, realmente, de envenenar — replicou Cookie
voltando para suas panelas.
— Veja o que você fez. Deixou o pobre homem aborrecido — Cimarron interveio.
— Isso tornará a comida dele melhor ou pior?
— Você ficará surpreso ao constatar que depois de um longo dia cavalgando, o
rango de Cookie é muito gostoso — Trace observou.
— Pode dizer o que quiser, papai; o senhor não me convence.
— Seja como for, se eu conseguir organizar a comitiva, você irá nela — o pai
falou em tom severo.
— Mamãe...
Cimarron não se comoveu com o olhar suplicante do filho.
— Seu pai está certo. Um vaqueiro de verdade deve tomar parte em, pelo
menos, uma comitiva. Você vai ver como é fácil a vida que você leva.
Fácil? Ele estava com bolhas nas mãos de tanto tirar o esterco com a pá e
perdera suas melhores botas por causa da sujeira e da umidade.
— Falei sério sobre essa viagem a Dodge City conduzindo o gado, filho. Será
bom para você assumir um pouco de responsabilidade e fazer alguma coisa além de
jogar e ir atrás de mulheres.
— E se alguma coisa der errado? Eu e os outros vaqueiros somos jovens e
inexperientes. Nada sabemos sobre conduzir uma boiada.
— Maverick, Pedro e eu os acompanharemos.
— Ainda não entendi, papai, por que o senhor teve essa idéia. É por causa
daquela briga na mansão do governador, não é? Ah, Lynnie, aquela...
— Lynnie é uma moça decente e recatada. Você, provavelmente, arruinou sua
reputação e ela nunca arranjará um pretendente — o pai repreendeu Ace.
— A culpa é minha? Por Deus, papai, Lynnie não arranjaria marido nem se
tivesse uma mina de ouro e a maior fazenda do Texas. Nunca vi uma pessoa tão
teimosa, autoritária...
— Pois eu acho que ela não é mais teimosa do que você — opinou a mãe.
— Se Lynnie fosse inocente como vocês insistem em dizer, ela não causaria
problemas para o cavalheiro que estava acompanhando.
O pai sacudiu a cabeça.
— Eu não sabia que você precisava de ajuda para se meter em encrenca.
— Papai, eu não consigo convencê-lo de que aquela professorazinha é uma fera
e luta como ninguém quando se trata de defender suas idéias, não é mesmo?
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 41
Capítulo V
Três dias depois, pela manhã, Cimarron entrou na copa com uma carta na mão.
— O correio acaba de chegar — disse ao marido.
Trace, que saboreava ovos mexidos e enchiladas, interrompeu o desjejum.
Estava sorridente porque Juanita tinha voltado e assumira o comando da cozinha.
— De quem é a carta?
Cimarron sentou-se à mesa e fez sinal para uma das criadas mexicanas servir-
lhe café.
— Cayenne me escreveu. Ela diz na carta que Lynnie foi chamada à presença
do diretor da escola. Talvez perca o emprego.
— Pobrezinha. Mas não é de surpreender que isso aconteça depois de toda a
confusão em que se envolveu naquele baile, por causa de nosso filho delinquente.
— Conheço Lynnie bem melhor do que você. Estou convencida de que ela teve
boa parte de culpa.
— Como pode dizer uma coisa dessas? — Trace questionou, indignado. — Ora,
ela é uma professora inocente...
— Conheço Lynnie — Cimarron insistiu. — Ela e Ace formam uma boa dupla
quando se trata de arranjar encrenca. Cayenne nos pede para comparecer à reunião
da escola como sinal de solidariedade.
— Sim, iremos. Mas não sei o que poderemos fazer para ajudar. Lynnie foi presa
como desordeira e esta é uma acusação muito grave para uma professora.
A criada mexicana serviu a Cimarron ovos mexidos com bacon e pãezinhos, e
colocou diante da patroa a torta de frutas e geléia de ameixa.
— Não sei o que será de Lynnie se ela perder o emprego. Ela precisa mesmo é
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 42
de um marido.
Trace inclinou a cabeça para trás e riu.
— Deus! Quem se casará com Lynnie McBride? Ela é meiga, educada e
inteligente, mas não é nenhuma beldade.
— Você também não pode dizer que ela seja feia. Além disso, quem o feio ama,
bonito lhe parece. O problema é que a maioria dos homens acha que Lynnie é
autoritária e teimosa.
— Eu sou um desses homens, mamãe — anunciou Ace entrando na copa. —
Depois do que Lynnie McBride me fez passar, espero nunca mais vê-la.
— Não culpe a moça. Você é mestre em arranjar confusão sozinho — apontou
Trace.
— Aí está mais uma razão para eu querer Lynnie bem longe de mim.
— Lynnie vai encontrar um bom rapaz que a ame e queira casar com ela —
afirmou Cimarron.
—Não aposte nessa possibilidade — aconselhou Ace olhando com satisfação
para o prato com o bife suculento e ovos que a criada colocara à sua frente.
— Não sei por que você diz isso. Lynnie é inteligente e tem algum atrativo. Ela
dará a um homem belos filhos.
— Penso em ter filhos algum dia, mamãe, mas a idéia de dormir com Lynnie me
dá arrepios.
— Não seja grosseiro — Cimarron zangou-se. — Se querem saber, acaba de me
ocorrer uma idéia. Vamos oferecer um grande churrasco para Lynnie e convidar o
pessoal de dois condados. Ela há de encontrar um bom rapaz que se interesse por ela.
— O que é isso, mamãe? Não é justo preparar esse tipo de cilada para hombres
de boa-fé.
— Filho, as mulheres agem assim o tempo todo. Elas passam a vida tentando
enrolar e prender os homens.
— O que você disse, Trace?
— Refiro-me às mulheres em geral. Você é exceção, querida — o marido
emendou depressa. — Tive muita sorte de encontrar alguém como você.
— Então está combinado. — Cimarron dobrou a carta, deixou-a de lado e sorriu
com satisfação. — Falarei com Cayenne sobre o assunto.
— O que está combinado? — Pai e filho olharam para ela, atônitos.
— Como?! Ficou resolvido que faremos um grande churrasco e convidaremos
pessoas dos dois condados vizinhos. Assim Lynnie encontrará seu futuro marido.
Ace não gostou do modo como a mãe o encarou.
— Mamãe, nós concordamos com essa grande festa?
Mais uma vez Trace riu.
— Meu filho, sua mãe decidiu oferecer o churrasco e ele será realizado com ou
sem o nosso consentimento.
— Um churrasco para Lynnie McBride? Acho que não estarei presente. Pretendo
viajar — Ace resmungou.
— Não, não, filho. Você estará aqui, sim. E não se arrependerá. Convidarei
muitas garotas para esse churrasco.
Notando o repentino sorriso do filho, e o brilho em seus olhos, Trace avisou:
— Não são do tipo ao qual você está acostumado. Sua mãe refere-se a ladies.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 43
— Oh...
— Temos de ir à reunião na escola onde Lynnie leciona — Cimarron lembrou.
Vamos tentar convencer o diretor a maneia no emprego.
— Eu não quero fazer nada para ajudar Lynnie McBride — disse Ace,
carrancudo.
— Pois você irá à escola conosco, sim — ordenou o pai. — Você soube envolver
a pobre moça num escândalo. Agora é seu dever ajudá-la a, pelo menos, não ser
despedida.
— Eu? — Ace ia protestar, mas viu que de nada adiantaria.
Tinha sido posto contra a parede e qualquer desobediência às ordens do pai
representaria mais baias para limpar. Decididamente, Lynnie McBride era uma pedra
no seu sapato.
— O churrasco será em março — Cimarron declarou, levantando-se da mesa.
A caminho do quarto, a fim de fazer as malas para a viagem ao oeste do Texas,
Cimarron tinha o pensamento voltado para a grande festa que pretendia oferecer. Na
primavera as colinas do Texas estariam coloridas pelas centáureas azuis e as
castillejas de colorido vivo. A cunhada, Cayenne, ficaria muito feliz. Naquele churrasco
os homens teriam a chance de se reunir e conversar sobre a organização de uma
comitiva para levar o gado a Dodge City. Melhor ainda do que isso seria a possibilidade
de Lynnie conhecer o eleito do seu coração.
Elmer Ogle ficou de pé, sorriu, e olhou para as pessoas sentadas à mesa para
certificar-se de que todos os membros do conselho estavam presentes. Era evidente
que ele se julgava um homem bonito e elegante, mas para Lynnie ele não passava de
um careca presunçoso. Ogle havia tentado fazer a corte a Lynnie, mas ela o
desprezara e toda a cidade sabia disso.
Ele pigarreou e falou com ares de importância:
— Estamos aqui para tratar de um assunto muito sério. Mas antes, quero
convidá-los para a inauguração da estátua de meu pai, na praça central, no próximo
sábado. É para mim uma honra saber que os cidadãos de McBride quiseram prestar
uma homenagem a ele por seu ato de heroísmo no grande assalto ao banco e à
diligência.
Angel, a irmã caçula de Lynnie, não se conteve e falou em alto e bom som:
— Ele não foi herói coisa nenhuma. Todos sabem que Maverick e meu pai
salvaram a cidade naquele dia. Quanto ao sr. Ogle, foi morto acidentalmente porque
estava passando pela rua quando começou o tiroteio.
— Angel, fique quieta! — Maverick ordenou. Todos riram disfarçadamente,
reconhecendo a veracidade das palavras da menina. Elmer ficou vermelho de raiva.
— Há pais que não sabem controlar seus filhos — o banqueiro desferiu —, é por
isso que estamos aqui esta noite...
— Peço licença para discordar. — Lynnie ficou de pé, apesar de toda a família
abanar a cabeça desaprovando a atitude dela. — A desordem na mansão do
governador não teve nada a ver com minha família.
Ela viu Trace dar um cutucão em Ace, que se levantou com má vontade.
— Eu... eu fui o responsável pelo tumulto. A srta. McBride é inocente.
— O quê? Desculpe, mas isso não é verdade — Lynnie rebateu. Não precisava
de defensor nenhum. — Eu planejei tudo sozinha.
Um murmúrio excitado circulou pela sala lotada e Lynnie lançou a Ace um olhar
de triunfo. Ace ia falar, mas decidiu sentar-se. A sra. Winifred Leane, membro do
conselho da escola, levantou-se.
— Lynnie McBride, você voltou para esta cidade com um olho roxo. É verdade
que a acertaram no meio da briga?
— Para mim aquele olho roxo foi como um troféu conquistado na luta. Pena que
dele só restem umas sombras pálidas e esverdeadas.
Os presentes riram e cochicharam uns com os outros. Maverick abanou a
cabeça e olhou para a cunhada com expressão desaprovadora, mas Lynnie pouco se
importou. Ia perder o emprego mesmo, pois o banqueiro Ogle tinha poder suficiente
para obrigar os membros do conselho a despedi-la. Mas não deixaria seu cargo sem
antes dizer o que pensava.
O sr. Schwatz encarou-a com olhos dardejantes.
— Você admitiu que foi ao baile com um plano em mente. E esse plano era criar,
com a ajuda desse Durango desordeiro, um tumulto na mansão do governador?
— Não. Não é verdade. Fui ao baile com a intenção de, simplesmente, usar,
durante o desfile, a faixa proclamando que as mulheres têm o direito de votar.
— Isso é um pecado! — protestou a gorda sra. Huffington, também membro do
conselho escolar. — A Bíblia diz que as mulheres não devem votar e eu respeito à
palavra divina.
— Sra. Huffington, há uma Bíblia sobre a mesa. Por favor, mostre-nos o capítulo
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 45
e o versículo em que está escrito o que acaba de afirmar — Lynnie pediu calmamente.
A sra. Huffington hesitou.
— Bem... não sei exatamente. Mas tenho certeza de que está na Bíblia.
— Basta! — Maverick falou em tom estentóreo e ficou de pé. — Esta discussão é
inútil. A srta. McBride é uma professora extraordinária. Vejo que todos os alunos dela
estão nessa sala. Sugiro que eles digam o que pensam dela.
— Está certo! — aprovou Susan Leane.
— Ela é ótima professora — asseverou Billy Huffington. — O que mamãe disse
não importa!
Reinou na sala grande barulho e confusão. Ogle bateu o martelo pedindo ordem
e silêncio. Maverick continuou de pé.
— Devo lembrar ao conselho que meu sogro, Joe McBride e eu somos donos do
maior rancho deste condado, o Lazy M. A grande maioria dos alunos desta escola
procedem de nossas famílias e das famílias que moram e trabalham em nossas terras.
— Sim, sr. Maverick, só a sua prole quase daria para manter a escola — a sra.
Huffington falou em tom gélido, provocando risos.
Elmer Ogle bateu o martelo novamente.
— Voltemos ao assunto que motivou esta reunião: a dispensa da professora
Lynnie McBride de seu cargo, por motivo de comportamento duvidoso e falta de
decoro.
— Falta de decoro? — questionou a sra. Leane.
— A professora McBride foi presa — esclareceu o editor do jornal.
— Queremos a srta. McBride! — gritaram vários alunos. — Ela é ótima
professora. Nós a amamos!
Penélope Dinwiddy ficou de pé.
— A professora Lynnie é muito corajosa. O que ela fez naquele baile foi louvável.
Ela está lutando pelos direitos da mulher. É a porta-voz das mulheres do Texas. Não é
justo negarem às mulheres o direito de votar.
O sr. Dinwiddy, fazendeiro sisudo e careca, levantou-se.
— Ignorem minha filha. Ela idolatra sua professora. Toda a família também gosta
da srta. McBride, mas ela acabou sendo presa... Bem, isso é muito sério.
Nelbert Purdy, gordo, atarracado e careca, também era membro do conselho e
atacou:
— A garota McBride não é, realmente, uma pessoa idônea. Não tem o
comportamento exemplar de minha irmã, Emma-Lou.
Emma-Lou, que estava de pé, de um lado da sala, deu um largo sorriso, cheia de
orgulho por ter sido apontada como modelo de virtude.
Elmer Ogle bateu seu martelo mais uma vez.
— Espero que o conselho já tenha ouvido o suficiente.
— O suficiente? — Lynnie protestou. — Como, se eu nem comecei?!
A queixuda sra. Huffington sorriu, complacente.
— Todos sabem que tenho um sobrinho na Filadélfia. Clarence Kleinhoffer é um
rapaz de caráter, um defensor da moral e dos bons costumes. Pois bem, ele concluiu o
curso superior recentemente. Acredito que não será difícil convencê-lo a aceitar a vaga
de professor.
Houve entre os presentes acenos com a cabeça e sorrisos de aprovação. Trace
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 46
— Muitas garotas gostariam de ficar a sós com ele para descobrir que coisa é
essa.
— Penny! — Lynnie zangou-se. — Já vi que você não leva a sério nossa causa.
Não é uma feminista convicta.
— Sou, sim, srta. McBride. — Penélope segurou no braço de Lynnie. — Mas Ace
Durango é tão encantador! Toda garota do Texas é louca por ele.
— Bem, eu não tenho o menor interesse nele. E, se tivesse, o bruto me
desprezaria, pois só tem olhos para beldades, de preferência as cheias de curvas.
Sinceramente, Penélope, procuro um homem que admire minha inteligência, minha
sensibilidade.
— Você está certa! — Penélope olhou para a multidão que saía da escola,
inclusive Ace Durango com os pais. Os três reuniram-se a Maverick que estava de pé,
junto da carruagem.
— Veja, srta. McBride, seu cunhado e a família parecem furiosos. Acho melhor
você esquecer o comício em Dodge City.
— Tem razão. — Lynnie mordeu o lábio. — Reconheço que desta vez fui longe
demais.
— E Dodge City fica a alguns milhares de quilômetros daqui, srta. McBride. Se,
pelo menos, fosse possível ir de trem...
— Mas é possível ir de diligência. Não vou desistir.
— Amo você, professora, por ser determinada e persistente.
— Reconheço que fazer uma viagem tão longa de diligência é um desafio e
tanto.
— Lynnie, venha! Entre na carruagem! — Maverick chamou-a enérgico.
Lynnie despediu-se da aluna e amiga e reuniu-se aos Durango.
Os quatro conversavam perto da carruagem de Maverick. Mesmo à luz do luar
Lynnie notou que todos estavam sérios, inclusive Ace. Na verdade o demônio mal
conseguia disfarçar um sorriso.
— Ora, cale-se! — ela ordenou, mordaz.
— Eu não disse nada! — Ace defendeu-se.
— Mas estava pensando. — Lynnie voltou-se para Trace e Cimarron. —
Obrigada, tio Trace e tia Cimarron, por terem vindo de tão longe para me dar apoio.
Sinto muito se os fiz perder a viagem. Eu não queria causar tanto tumulto.
— Lynnie, onde quer que você vá há sempre confusão — Maverick desabafou.
— Não sei o que seu pai e Cayenne irão dizer.
— Pois eu sei perfeitamente que tipo de sermão terei de ouvir.
Trace cutucou o filho.
— Eu... lamento, Lynnie, por você ter perdido o emprego.
Ele lamentava coisa nenhuma, Lynnie pensou, mas procurou ser amável.
— Obrigada pela solidariedade. Encontrarei o que fazer, não se preocupe.
Maverick contou as crianças e verificou se estavam bem acomodadas na
carruagem, em seguida disse à cunhada em tom severo:
— Não sei o que vai ser de você, Lynnie. Já fez vinte anos, está solteira, não tem
perspectiva de arranjar um marido, perdeu o emprego e agora está com a reputação
arruinada.
— Já decidi meu futuro, Maverick. Até hoje usei apenas parte do meu tempo na
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 49
cruzada pelos direitos das mulheres. Mas agora posso dedicar-me a essa nobre causa
em tempo integral.
— Oh... — todos murmuraram, desalentados.
Lynnie ignorou-os. Cimarron abraçou-a.
— Lynnie, não pudemos ajudá-la. Foi uma pena.
— Pelo menos vocês tentaram. Obrigada.
— No mês que vem, vou oferecer um grande churrasco em sua homenagem —
Cimarron avisou-a.
— É muito gentil de sua parte, tia Cimarron — Lynnie falou distraidamente.
Em sua cabeça já fervilhavam idéias para dar impulso à sua grande cruzada.
Poderia ter seu próprio jornal. Ou, quem sabe organizaria uma liga feminina e faria
piquete na frente do jornal da cidade.
— Maverick, pense no convite que lhe fiz e decida quanto antes se quer nos
acompanhar.
— Pode contar comigo. Será como nos velhos tempos — falou o irmão tomando
seu assento no banco alto da carruagem.
Lynnie arregaçou as saias para subir no veículo. Ace hesitou por um instante,
mas decidiu estender a mão para ajudá-la.
— Não preciso de ajuda! — Ela empurrou a mão dele.
— Eu só tentava agir como um cavalheiro.
— Um cavalheiro? — Lynnie repetiu com ar de desdém. — Todos sabem que
você só pensa em tirar a calcinha de uma mulher.
— Desde que essa mulher não seja você! — Ace retrucou, irritado.
Todos acenaram as mãos, despedindo-se e Maverick pegou as rédeas para
tocar os cavalos. Lynnie olhou para trás e viu os tios se acomodando na carruagem
deles. Teve a impressão de que Ace sorria como se estivesse contente porque ela
recebera o castigo merecido. Esquecendo as boas maneiras, mostrou-lhe a língua e
fez uma careta.
— Tomara que a sua cara fique paralisada desse jeito! — ele gritou.
— O que é isso? — Maverick perguntou.
Lynnie olhou para o cunhado, toda inocência.
— Não tenho a menor idéia. Você sabe que Ace Durango é um mal-educado.
Tenho pena da garota que cair na lábia dele!
Toda família gostava de Cookie, embora reconhecesse que ele era intratável e o
pior cozinheiro de toda aquela região de colinas. Quando Juanita se ausentava, Cookie
insistia em substituí-la e não queria ajudante, para desalento de todos da família e dos
empregados da casa.
Ace comeu com gosto os ovos queimados e o bife meio cru. Estava faminto e
muito feliz, pensando na grande quantia ganha na noite anterior. Iria gastar parte dela
na companhia da linda señorita que conhecera no saloon.
— Cookie, você falou há pouco sobre a organização de uma comitiva — disse
Trace. — Pois saiba que estou pensando em fazer uma viagem de despedida até o
Kansas levando uma grande boiada.
Ace quase engasgou.
— Papai, o senhor deve estar brincando. Eu não estou disposto a perder tempo
com um trabalho desses.
— Isso, pelo menos, o manteria fora da prisão e longe dos bares por algum
tempo — o pai falou, mordaz.
— Qual, patrão! Os jovens precisam cometer algumas diabruras — Cookie falou
em defesa de Ace. — O senhor também fez das suas antes de conhecer esta lady que
o domou.
Cimarron baixou a cabeça e disfarçou um sorriso que ao filho não passou
despercebido. Um dia, ele pensou, haveria de encontrar uma mulher com as
qualidades de sua mãe. Mas isso não precisava acontecer muito depressa. Por
enquanto, havia muitas garotas e mulheres ardentes com quem ele poderia beber,
dançar e se divertir. Ainda não estava preparado para ser laçado e marcado a ferro.
As palavras de Cimarron interromperam as divagações do filho.
— Já estou planejando o grande churrasco. Será uma festa à moda antiga aqui
do Texas.
— Nada melhor do que uma grande festa com muita carne, cerveja e garotas
bonitas — Ace aprovou a idéia.
— Você está mesmo disposta a oferecer esse churrasco? — indagou o marido.
— Claro. Cayenne já entrou em contato comigo. Ela pretende vir para cá com
toda a família.
— Tio Maverick, tia Cayenne e as crianças poderão vir nos visitar quando
quiserem. Eles não precisam esperar que haja uma festa.
— Sua tia e eu queremos fazer alguma coisa em homenagem a Lynnie.
— Nem mencione o nome dela perto de mim, mamãe — Ace pediu.
— Depois de se ver envolvida em tanta confusão por sua causa, filho, é Lynnie
quem não deve querer ouvir o seu nome — observou o pai.
— Então a culpa é minha? Foi ela quem me usou.
— Já ouvi muitas garotas dizerem o mesmo a seu respeito — acentuou a mãe.
— Vocês não acreditam em mim, não é mesmo? Pois saibam que Lynnie é
esperta, dissimulada e sorrateira como um coiote.
— Não fale assim. A pobrezinha perdeu o emprego — Cimarron falou,
penalizada.
— Tinha de perder mesmo, depois de provocar tamanho tumulto no baile do
governador.
— Está certo, Lynnie é boa de briga — Trace reconheceu. — Mas nós, os
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 52
Durango, gostamos de mulheres decididas, valentes. Por isso me casei com sua mãe.
—- Pois eu quero distância de Lynnie McBride. Felizmente, ela não é do tipo que
está atrás de casamento. Também, já passou da idade...
— Ela tem apenas vinte anos. Se ainda não se casou é por ser exigente; ela não
se contenta com qualquer um. Quer escolher o melhor — Cimarron apontou.
— Exigentes são os homens. Quem escolheria para esposa uma mulher
obstinada, autoritária e magricela?
— Por que você não admite que não pode com ela? — o pai questionou.
— Parem com isso, vocês dois — Cimarron ordenou. — E saiba, meu filho, que
Lynnie também quer distância de você. Cayenne me disse que a irmã não se casaria
com você, nem que fosse o último homem do Texas.
O queixo de Ace caiu.
— Pois diga pra aquela antipática e insignificante que há dezenas de garotas
loucas por mim e pelo meu charme.
— Lynnie não pensa assim. O assunto está encerrado. Vou oferecer o churrasco
e convidar jovens de dois ou três condados. Cayenne e eu esperamos que Lynnie
arranje um namorado nessa festa.
— Se a finalidade do churrasco é essa, pode esquecer, mamãe. Todos os
rapazes já sabem quem é Lynnie McBride e estão a par do que ela aprontou no baile
em Austin.
— Deve haver no Texas um rapaz sensato que saiba dar valor às qualidades
dela.
— Qualidades...?
— Não discuta com sua mãe — Trace cortou. — De mais a mais, quando
Cimarron põe na cabeça que vai fazer uma coisa, ninguém a faz mudar de idéia.
Portanto, poupe seu tempo e seu fôlego.
— Isso é verdade — Cookie gritou da cozinha.
— Cookie, não é educado se intrometer em assunto de família.
— A família que eu conheço é esta, a Durango.
— É verdade, Cookie. E vou precisar de você e de Juanita para organizar o
grande churrasco.
— Quando será a festa?
— No fim de março, quando estará mais quente e as centáureas azuis estarão
florescendo. É uma época muito romântica.
— Hum! — Ace murmurou. — Será preciso muito mais do que centáureas para
inspirar algum incauto a ponto de fazê-lo se interessar por aquela solteirona teimosa.
— Ace, por favor! Eu só espero que você apresente seus amigos a Lynnie e
peça a eles que a convidem para dançar.
— Essa, não! Ainda estou em débito com meus amigos por causa do baile do
governador.
— Se você não pode contar com seus amigos, encarregue-se de fazer
companhia a Lynnie e de dançar com ela.
A idéia de passar horas e horas discutindo com a cansativa srta. McBride era
intolerável.
— Está certo, mamãe, você venceu. Ainda bem que a senhora não joga pôquer,
mamãe, pois seria uma adversária terrível.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 53
Capítulo VI
perfume era delicioso e ele, não resistindo, inclinou-se para aspirar a agradável
fragrância.
— Quer parar de bufar em cima de mim? Está parecendo um cão farejador —
Lynnie zangou-se.
Se ele não fosse um cavalheiro teria o maior prazer de erguê-la e atirá-la na
fonte que havia no pátio. Também não queria saber de criar problemas com os pais e
os tios. Foi então que reparou no traje dela.
— O que deu em você, Lynnie, para usar esse vestido tão curto? Sua roupa
íntima está aparecendo!
— Você não entende de moda feminina. Sr. Durango, estou usando um conjunto
formado de um vestido curto sobre calça comprida, bem solta, amarrada nos
tornozelos. Este traje tem o nome de bloomers e foi criado há alguns anos pela
feminista e sufragista Amélia Bloomer, como protesto contra as roupas que tolhiam os
movimentos das mulheres.
— Então a srta. Amélia protestava mostrando a calcinha?
— Praga! Não sei por que perco meu tempo lhe dando explicações.
Ela olhou ao redor. O churrasco ia ser um grande acontecimento e já havia
centenas de pessoas ao redor da fonte e do barril de cerveja colocado junto do muro
de pedras. Parecia que todos tinham feito uma pausa e decidido encará-la. Sem
dúvida, a notícia do escândalo que ela havia causado se espalhara pelos condados
vizinhos. Bem, ela não ligava a mínima para o que pensavam ou diziam a seu respeito.
Sua luta pelos direitos das mulheres era o que importava.
— Lynnie! Você pode trazer as tortas? — Cayenne gritou para a irmã antes de
entrar na casa.
— Claro. Já vou.
A grande cesta estava na parte de trás da carruagem e Lynnie decidiu carregá-la
sozinha. Não confiava naquele bêbado.
— Deixe-me ajudá-la. — Ace ficou na frente dela, impedindo-lhe a passagem.
Oh, ela até se esquecera de que o bruto tinha aquela altura e ombros tão largos.
Mas lembrava-se muito bem de sua arrogância e convencimento; como se ele fosse
um presente de Deus para as mulheres.
— Não, obrigada. Você está bêbado e pode derrubar a cesta.
— Bêbado? — Ace piscou para Lynnie. — Bêbado eu vou ficar à noite, no final
da festa.
Ela olhou para aquele debochado, tentada a jogar o bolo de coco na cara dele.
Considerou que seria uma pena desperdiçar um bolo delicioso no qual havia
trabalhado durante horas.
— Hum, torta ruibarbo! A minha favorita! — Ace exclamou, olhando o que havia
na cesta.
— Ah, é mesmo? Se eu soubesse disso teria feito torta de maçã.
— Também adoro torta de maçã — ele deu um sorriso provocativo.
— Me deixe em paz! — Ela virou-se e caminhou na direção da cozinha.
Com suas largas passadas, Ace logo a alcançou.
— Meu pai recomendou-me que a ajudasse. Espero que você não arranje
encrenca pro meu lado.
— Você arranja encrenca sozinho.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 55
— Por favor, me dê a cesta. — Ace tirou a cesta da mão dela. — Nunca imaginei
que você soubesse cozinhar. Essa torta de ruibarbo deve estar uma delícia.
— Você não sabe muita coisa a meu respeito, Ace Durango.
— Por Deus, Lynnie, você é a criatura mais intratável que eu conheço. Veja,
todas as outras garotas estão sorrindo e sendo gentis.
— As idiotas querem chamar sua atenção. Tudo o que elas querem da vida é
arranjar um marido.
— E você não quer?
— Tenho grandes planos para o futuro. Não quero passar a vida cuidando da
casa, cozinhando, lavando e passando para algum porco como você.
— Lynnie, você sabe ferir um homem!
Ela ignorou-o e entrou na cozinha. Cimarron desviou a atenção da enorme
travessa de ovos apimentados que preparava e sorriu para Lynnie.
— Alô, querida. Vejo que Ace a está ajudando. Não se esqueça de lhe reservar
uma dança esta noite.
— Duvido que algum rapaz queira dançar comigo, tia Cimarron.
— Não diga isso. Tenho certeza de que todos os amigos de Ace irão pedir-lhe
que lhes reserve pelo menos uma dança, não é mesmo, filho?
— S-sim... mamãe. — Ace deixou a cesta na cozinha e saiu dali o mais depressa
possível.
"Senhor, se eu não arranjar alguns dos hombres para dançar com Lynnie, ficarei
preso a ela a noite toda", ele pensou.
E havia na festa dezenas de lindas moças para ele escolher. Bastava ele se
lembrar dos amigos e conhecidos que lhe deviam algum favor e o assunto "Lynnie"
estaria resolvido.
Na cozinha, Lynnie não ficou parada. Ajudou a fazer sanduíches, a arrumar os
pratos e travessas com picles, molhos apimentados, salada de batata, feijão assado e
condimentado.
— Já chega, Lynnie — Cimarron protestou. — Deixe esta tarefa para as
senhoras casadas e vá reunir-se aos jovens. Ah, eu convidei o pessoal da sua escola.
Espero que você não se importe. Já se passaram tantos dias; eles devem estar mais
calmos e talvez reconsiderem.
— Duvido, tia Cimarron.
— Hum, só agora eu reparei no seu conjunto — Cimarron observou, franzindo a
testa.
— Estou usando bloomers. Este tipo de traje foi criado há bastante tempo, mas
aqui no Texas ainda é novidade — Lynnie explicou. — Bem, vou ver se encontro minha
amiga, Penélope.
Ela não queria deixar a segurança da cozinha. Sabia que lá fora os comentários
sobre ela corriam soltos. Apesar de sua aparente indiferença, ficava magoada. No
fundo, era tímida e usava sua agressividade como forma de defesa. Chegando ao
pátio, olhou ao redor. Havia grupos de pessoas por toda parte. Umas estavam
sentadas sobre mantas estendidas no gramado, outras conversavam, quase todas
bebiam cerveja ou refresco, crianças brincavam. Lynnie contornou a casa e deu de
encontro com Ace. Ele cheirava a cerveja e a abraçou, beijou-a no pescoço sem ao
menos olhar de quem se tratava.
— Olá, doçura, que perfume agradável!
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 56
— Hum! — Penélope fez uma careta. — Olhe para Emma-Lou Purdy! Veja como
ela se aproxima de Ace. Parece até que não vê a hora de ser beijada.
— Emma-Lou Purdy é uma idiota. Não tem cérebro nem juízo. E Ace Durango é
mais idiota ainda porque se derrete com os olhares dela e suas risadinhas tolas.
Por alguma razão que ela não entendeu, o fato de Emma-Lou estar tão perto de
Ace deixou-a irritada. Vieram-lhe à lembrança os momentos que havia passado nos
braços dele. O homem era, sem dúvida, um libertino, mas não podia negar que ele lhe
transmitia segurança.
Penélope interrompeu-lhe o devaneio.
— Não estou muito certa de que os homens têm alguma atração pelo cérebro de
uma mulher. Tudo indica que o interesse deles é por outra coisa.
— Isso demonstra que eles não são inteligentes. Enquanto perdem tempo
namorando e beijando tolinhas como Emma-Lou, nós avançamos na nossa luta pelos
direitos das mulheres.
— Sim... mas parece que ser beijada é bom demais.
— Penélope, o que está dizendo? Você não pode abandonar a nossa causa —
Lynnie advertiu a garota. — Temos de lutar com todas as nossas forças. Se
vacilarmos, sucumbiremos aos desejos de algum bruto e acabaremos à beira de um
forno quente preparando dúzias de tortas de ruibarbo.
— Tortas de ruibarbo?
— São as favoritas daquele ali. — Lynnie fez um movimento com a cabeça
indicando Ace. — Outra coisa que você deve saber é que, quando der por si, estará
com a casa cheia de bebês.
— Bebês? Só por assar tortas de ruibarbo?
Ou a garota estava se fazendo de tola ou era mesmo inocente.
— Eu quis dizer que os beijos acabam levando aos bebês.
— Ah, os bebês são maravilhosos. Eu gostaria de ter alguns, e você?
Por um segundo Lynnie imaginou-se com um bebê nos braços. Ele teria um
sorriso cativante e cabelos bem escuros. Oh, devia estar ficando maluca.
— Não... não penso em nenhum homem com quem eu gostaria de... ficar... Bem,
você sabe... para ter um bebê.
— Eu não tenho nem idéia do que é preciso fazer para ganhar um bebê.
Lynnie pensou em Ace, aquele grandalhão imprestável, e tentou imaginá-lo sem
roupas. A partir daí a mente criou asas; os lábios dele tocavam-lhe o rosto, a
garganta... Ela sentiu o rosto queimar de rubor.
— Srta. Lynnie, você tomou muito sol? Está vermelha como um pimentão.
— Não, Penélope. — Ela olhou para Emma-Lou Purdy, que estava segurando no
braço de Ace. — Veja aqueles dois. Riem como um casal de hienas loucas.
— Se ele chegar mais perto de Emma-Lou terá de enfrentar o irmão dela.
— Nelbert Purdy? — Lynnie falou com desdém. — Ora, Ace Durango é capaz de
acabar com ele e com todos que estão aqui fora.
— É emocionante ver um homem lutar para defender sua honra, não é mesmo?
— Penélope suspirou.
— Oh, Penny, você jamais será uma mulher moderna se continuar com essas
idéias. — De repente Lynnie sentiu um nó no estômago; o belo caubói estava adulando
as tolas risonhas. — Bem que eles poderiam servir a comida. Estou cansada de ficar
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 58
— Claro, seu imbecil. Não vê que elas querem apenas se exibir e agradá-lo? O
sonho de cada uma é tornar-se a sra. Ace Durango. — Lynnie cortou um bom pedaço
de torta. Só não o encheu de molho de pimenta porque Ace estava olhando.
— Sabe, Lynnie, você é mais incômoda do que uma sela com calombo, mas pelo
menos é honesta comigo. — Ele provou a torta. — Hum, você sabe cozinhar. Mas o
pedaço que você me mandou anteriormente estava ainda melhor.
Ela ia contar sobre o molho apimentado, mas achou melhor guardar segredo.
— Você está tão bêbado, como pode saber a diferença entre o outro pedaço e
este?
— Será que você tem de estar sempre brigando?
— Isto não é uma briga. Estamos apenas conversando.
— Ah...
— Eu o vi com Emma-Lou, perto da fonte. Ela quase se debruçava sobre você.
— Que garota! Ela não sabe cozinhar, mas tem outras coisas capazes de deixar
um homem louco.
Lynnie ficou vermelha.
— Ace Durango, você não é um cavalheiro.
— Nem faço questão de ser, srta. Não-me-toques. Sou um homem, com pelos
no peito e bárbaro; o tipo que a maioria das mulheres adora.
-— Um bruto! Tipo que tem prazer de humilhar as mulheres e vê-las submissas.
— Olhe quem fala! — Ace inclinou a cabeça para trás e riu. —- Lynnie McBride,
você é a mulher mais obstinada, mais autoritária...
— Ora, pare com isso! Se a sua mãe souber...
— Ah, você pretende correr até ela para me enredar? Quer me envolver em
encrenca de novo?
— Eu já disse e repito: você sabe arranjar encrenca sozinho. E agora, é melhor
se apressar; seu harém está esperando.
Ele piscou para ela, sorriu e voltou para junto das garotas que o aguardavam,
impacientes, à sombra da alta sebe de espirradeiras floridas.
"Vá para o inferno, Ace Durango! Que se dane!", Lynnie pensou.
No mesmo instante lhe ocorreu que as espirradeiras eram venenosas. Pena não
se lembrar disso antes. Se tivesse lembrado, seria bem capaz de pôr na comida dele,
em vez de molho de pimenta, leite da planta, bem como pedacinhos das folhas e flores.
Depois de todos terem sido servidos, Lynnie fez seu prato e foi para a cozinha
onde poderia apreciar sossegada a comida deliciosa. O churrasco estava macio e
suculento, o pão quentinho, com farta camada de manteiga fresca, estava crocante.
Quando quis comer um pedaço de torta de ruibarbo, a cozinheira informou que Ace
tinha pegado a última fatia. Ela desejou que ele engasgasse.
A noite desceu sobre a região das colinas ondulantes do Texas. Lynnie saiu para
o pátio. No tablado, a banda mexicana preparava-se para o baile. A caminho da fonte,
Lynnie acenou com a cabeça para algumas pessoas, sorriu para outras, mas várias ou
fingiram não vê-la, ou se calaram quando ela se aproximou e continuaram a conversa
depois que ela havia passado. Não foi difícil entender que falavam dela. Pela milésima
vez desejou ter ficado em casa. Bem, pelo menos poderia ter usado outro traje.
Assim que a viu, Penélope foi ao encontro dela.
— Será que Hank virá para o baile?
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 60
— Você sabe o que eu penso, Penny. Podemos nos divertir muito mais sem os
homens.
— Mas eu queria tanto dançar com Hank.
— Por falar em homens, onde eles estão? Há poucos deste lado.
— A maioria está em volta do barril de cerveja. Também sei que um grupo
reuniu-se na biblioteca com dom Diego para fumar charutos, falar de negócios e de
política. Há pouco vi Ace indo para lá.
— Política? — Lynnie repetiu com entusiasmo. — Isso me parece bem mais
interessante do que ficar aqui esperando que nos tirem para dançar.
— Oh, Hank Dale acaba de chegar a cavalo! — Mal terminou a sentença,
Penélope saiu correndo ao encontro do jovem rancheiro.
Ao ver a namorada o rosto dele iluminou-se. Lynnie sentiu-se completamente só.
Sabia que ninguém iria convidá-la para dançar. Mas isso não a aborrecia. Tinha
consciência de suas limitações naquele departamento. De mais a mais, não queria ficar
discutindo com algum idiota, tampouco conversando sobre futilidades.
Política. Ela entrou na casa e foi para a biblioteca. A porta estava aberta, o ar
impregnado de fumaça de charuto, o que a deixou sufocada, mas levou a mão à boca
para não tossir. Ela ouviu dom Diego dizer:
— É claro que o preço da carne vai depender do tempo. Precisamos de chuva
para ter boas pastagens.
— Trace, você está mesmo decidido a organizar uma comitiva, como nos velhos
tempos? — Maverick perguntou.
— Sim, mano, e conto com você.
— Por Deus, papai, desista disso — Ace pediu. — Será uma viagem miserável.
— Engana-se, rapaz — discordou um fazendeiro. — Fazer parte de uma
comitiva é embarcar numa aventura excitante.
— Ouvi dizer que Willis Forrester ficou sabendo dos seus planos, Trace, e
também resolveu formar um grupo para conduzir uma grande boiada — comentou
outro fazendeiro.
— Forrester é assim mesmo. Não tem idéias próprias — Trace apontou com
pouco caso. — Eu soube que ele anda muito ligado ao governador.
Cada vez mais interessada no assunto, Lynnie, que estava perto da porta, foi
discretamente para o fundo da biblioteca. Ao passar pelo criado mexicano que servia
bebida, tirou da bandeja um copo de uísque. Nunca havia tomado bebida forte, mas
estava se sentindo corajosa e agitada.
— Ele está certo. O governador é um homem inteligente, com idéias brilhantes
— opinou o jovem proprietário,de um rancho.
Lynnie não se conteve e falou bem alto:
— O governador é um idiota!
Todos os homens olharam para ela. Até o momento não tinham notado sua
presença. Reinaram na biblioteca alguns segundos de silêncio. Em seguida dom Diego
dirigiu-se a Lynnie:
— Senhorita, jovens educadas não costumam...
— Não costumam reunir-se com os homens para participar de uma conversa
interessante? Não é o que o senhor ia dizer, tio Trace? Por favor, quero outro uísque.
O criado mexicano serviu-a. Trace fez sinal para o filho que se levantou e foi até
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 61
Lynnie.
—Esta bebida é forte demais para uma lady — ele advertiu-a.
— É a que todos estão bebendo — ela replicou. — Mas eu gostaria de continuar
a conversa sobre o governador. Quero saber qual a posição dele no que diz respeito à
causa pelos direitos das mulheres.
Ninguém disse uma palavra. Certamente não tinham argumentos, o que era uma
pena, pois ela entendia de política e da história do Texas muito mais do que a maioria
dos homens. No entanto, os que estavam ali reunidos esperavam que ela saísse e se
juntasse às senhoras para conversar sobre crianças e toalhinhas de crochê.
— Eu... quero tomar outro uísque — ela pediu, apesar de já sentir o estômago
revirando.
Como, em nome de Deus, os homens tomavam aquela coisa horrível? Esperou
que o jovem criado não a servisse. Ledo engano. O rapaz mexicano olhou para Ace,
que fez um aceno com a cabeça.
— Se a srta. McBride quer se comportar como homem, sirva-lhe outro uísque. —
Ace sorriu para ela. — E charuto? Gostaria de fumar um, senhorita?
— Charuto? — Todos os homens estavam olhando para ela, inclusive o
cunhado, que demonstrava seu descontentamento. — Eu... sim, claro. Costumo fumar
charutos.
— É mesmo? — Ace tirou um charuto do bolso e entregou-o a Lynnie.
Ela não soube o que fazer em seguida. E todos continuavam com os olhos fixos
nela. Bem, não tinha saída. Dom Diego parecia querer protestar, mas não se
manifestou.
— Eu... vou guardar o charuto para mais tarde. Lembrei-me de que não tenho
fósforos — alegou procurando mostrar-se altiva.
— Permita-me, srta. McBride. — Ace curvou-se com exagero diante dela e tirou
do bolso do paletó uma caixa de fósforos prateada.
Lembrando-se do que os homens faziam antes de fumar um charuto, ela aspirou
o aroma do tabaco, e, com alguma dificuldade, arrancou a ponta do charuto com uma
mordida. O tempo todo Ace a observou em silêncio, segurando a danada caixa de
fósforos, esperando que ela levasse o charuto à boca para ele acendê-lo.
Evidentemente, estava achando aquilo muito divertido.
Lynnie deu a primeira baforada tentando corajosamente não tossir.
— Aceita outro uísque, srta. McBride?
— Não, obrigada — ela conseguiu dizer, quase sufocada com a fumaça ao seu
redor.
Por que os homens gostavam de coisas tão repulsivas? A droga do charuto tinha
gosto de feno queimado. Não, muito pior. De esterco queimado. Agora os olhares fixos
nela eram de desaprovação. O problema era que não sabia como sair daquela situação
com dignidade. Portanto, deu outra baforada e tentou falar em tom casual:
— Cavalheiros, podem continuar a conversa. Creio que ouvi alguém me
chamando.
Ela sentia náuseas. Saiu da biblioteca e seguiu pelo corredor quase
cambaleando, ansiosa para respirar o ar fresco da noite. Assim que se viu lá fora,
atirou longe o charuto, contornou a casa para fugir das centenas de pessoas reunidas
ao redor do tablado onde estava havendo o baile, e encostou-se na parede.
Ace não tardou a aparecer diante dela. Parecia mais sóbrio à luz da lua.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 62
— Lynnie, você está bem? Seu rosto está mais verde e mais estranho do que
esta sua roupa.
— Droga! Por que eu não estaria bem? Posso fazer qualquer coisa que um
homem faz.
— Então, tudo bem.
Ele ia afastar-se, mas naquele instante Lynnie sentiu uma forte ânsia e lançou o
que tinha no estômago sobre as botas de Ace.
— Mas que inferno! Minhas melhores botas! Garotas não deviam experimentar
bebida forte nem charutos. — Aproximando-se de Lynnie, abraçou-a para não deixá-la
cair.
— Vá embora! — ela falou em tom lamentoso. — Deixe que eu morra sozinha.
Não acha que já me humilhou demais?
Ace desapareceu. Voltou em poucos minutos com um balde de água fria e
começou a passar um lenço molhado no rosto dela.
— Logo estará bem, sua pequena orgulhosa e afetada.
— Não preciso de sua ajuda.
— Precisa, sim. Vamos, tome um pouco d'água e faça um bochecho. — A voz
dele soou quase gentil ao entregar uma caneca a Lynnie. — Enquanto isso, cuido das
minhas botas.
A água fria acalmou um pouco o estômago de Lynnie.
— Sinto muito, eu não devia tê-la exposto daquele jeito — Ace desculpou-se
assim que ficou de pé. — Agora, deixe-me levá-la para dentro.
Antes de ouvir um protesto, ele ergueu-a nos braços.
— Eu o odeio! — Lynnie murmurou. Sentia vontade de chorar. — Você é um
bruto, um machista desprezível...
— Por que você não tenta se comportar como uma lady? — Ace interrompeu-a.
— Se tivesse modos, não se envolveria em tanta confusão.
— Vá embora! Me deixe!
— Oh, quietinha, Lynnie! Só estou tentando ajudar.
— Não preciso da sua ajuda — ela gemeu.
— Eu sei que precisa.
Ace carregou-a para dentro da casa sob os olhares curiosos de todos que
encontraram pelo caminho.
— Você está me deixando constrangida.
— Garota, você está constrangida, e eu? Pode apostar que terei problemas com
meu pai por ter-lhe dado aquele charuto.
— Eu só queria conversar sobre política — ela murmurou com voz débil.
Continuava sentindo náuseas.
— Eu sei disso, mas os homens ainda não estão acostumados com mulheres
teimosas, autoritárias e afetadas.
Ace subiu a escada e levou Lynnie para um dos quartos.
— O quê? Você acha que eu sou tudo isso?
— Acho. Você é a garota mais obstinada, mais mandona, mais pedante que eu
conheço. E também é exibida e encrenqueira!
Assim dizendo, ele jogou-a na cama sem cerimônia e saiu do quarto, deixando-a
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 63
Capítulo VII
Lynnie olhou para o grande caubói que se afastava meio cambaleante e saía do
quarto. Em seguida ouviu-o descer pesadamente a escada. Poderia sofrer humilhação
pior do que aquela? Levantou-se da cama, foi até o lavatório, despejou água na bacia
de porcelana e lavou o rosto. Chegou até ela o som de risadas e da alegre música
tocada pela banda.
Ocorreu-lhe que muitas pessoas tinham visto Ace carregando-a para cima. Será
que todos estavam pensando que eles dois...? Que ela e aquele depravado... Não!
Não! Impossível! Mas por que se aborrecer com isso? Pouco se importava com o que
os outros pensavam a seu respeito. Cayenne, sim, preocupava-se com os comentários
que as pessoas podiam fazer. Bem, Lynnie refletiu, era melhor não envergonhar a irmã.
Também devia dar bom exemplo para Penélope e as garotas que tinham sido suas
alunas.
Voltou para a cama e ficou deitada até sentir a cabeça parar de rodar. Então se
arrumou como foi possível, desceu a escada e foi para o pátio.
A festa estava muito animada. Os pares dançavam, havia muitas pessoas ao
redor do tablado ouvindo a banda ou passeando pelo gramado. À luz das lanternas
chinesas Lynnie viu Emma-Lou Purdy abraçada ao pescoço de Ace, rindo como uma
hiena.
Naquele mesmo instante Nelbert Purdy apontou no outro lado do pátio. Lynnie ia
dar um grito para avisar Ace, mas ficou calada. Queria ver o grandalhão imbecil ter o
que merecia. Nelbert atravessou o gramado como uma locomotiva a pleno vapor, e
agarrou o braço de Ace, fazendo-o virar-se e encará-lo.
— Como você ousa abusar de minha irmãzinha inocente?
— Inocente? Ela estava me beijando — Ace defendeu-se. — Eu...
— Nelbert, ele estava mesmo se aproveitando de mim — Emma-Lou declarou,
amuada. — Mas eu sei, mano, que as intenções dele são as melhores.
— São?! — Ace abanou a cabeça e piscou algumas vezes. Evidentemente, tinha
voltado ao barril de cerveja antes do encontro com Emma-Lou.
— Espero que esteja pensando em se casar com a doce Emma-Lou — Nelbert
Purdy falou, indignado. — Casamento, ou terei de exigir uma satisfação.
Nelbert devia estar muito bêbado para fazer um desafio daqueles, Lynnie
pensou. Ele era mais velho e bem mais baixo do que Ace, conhecido como briguento e
invencível numa luta.
— Casamento?! — Ace empalideceu. — Não estou pensando em casamento,
coisa nenhuma.
Emma-Lou começou a chorar, mas o choro soou falso. Várias pessoas se
aproximaram dos três e algum bêbado gritou:
— Luta! Luta!
Não foi preciso mais do que isso para atrair a multidão que formou um círculo ao
redor de Ace e Nelbert. Para os caubóis texanos, além de bebida, mulheres levianas e
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 64
água. O pequenino Tequila correu latindo para Nelbert e enterrou os dentinhos afiados
na perna dele.
— Maldição! — ele praguejou. — Até o vira-lata Durango é perigoso! Eu só quis
proteger a honra de minha irmã.
— É isso mesmo. Pensei que as intenções de Ace fossem sérias — Emma-Lou
queixou-se.
— Quem conhece Ace sabe que ele não leva nada a sério — Lynnie retrucou. —
E Ace não pode ter feito nada com você porque estava lá em cima, no quarto, comigo.
Houve um murmúrio e todos os olhares passaram da figura magricela para a da
garota curvilínea. O que Lynnie acabara de dizer não devia ser verdade.
A expressão de Ace era de incredulidade. Compreendendo o sacrifício dela,
sorriu e ofereceu-lhe a mão.
— Posso ajudá-la a sair da fonte, Lynnie?
Tarde demais ela teve consciência do erro que cometera. Oh, Deus, aquela
gente poderia pensar que ela, de fato... E com um bruto como Ace Durango. Os
comentários iriam correr soltos e sua reputação estaria arruinada.
— Não, obrigada — ela agradeceu.
No mesmo instante arrependeu-se de ter recusado a ajuda, pois Emma-Lou
começou a se lamuriar.
— Emma-Lou, ele não vai casar com você. Portanto, pare de miar como um gato
que prendeu o rabo debaixo de uma cadeira de balanço.
— Vocês, Durango, se julgam superiores e poderosos! — Nelbert falou por entre
os dentes, dirigindo-se a Ace. — Acham que são bons demais para se unir a pessoas
comuns...
— Vamos, Nelbert, está tudo bem — Trace interveio. — Sirva-se de churrasco e
tome mais um drinque.
— Seu filho é um depravado, no entanto, você acha que ele é bom demais para
se casar com minha pobre irmã, tão inocente — Nelbert continuou.
Lynnie teve vontade de dizer que Emma-Lou nada tinha de inocente. Todos no
condado sabiam que ela namorava desde os doze ou treze anos. Mas ficou calada
para não atirar mais lenha na fogueira.
Trace quis acalmar o vizinho, mas não teve chance. O homem estava vermelho
de raiva.
— De agora em diante, Trace Durango, esqueça a nossa amizade. Vou fazer
parte da comitiva de Forrester. Chegaremos a Dodge City antes de vocês.
Os Purdy afastaram-se com toda a dignidade que conseguiram reunir, o que não
foi muito, considerando-se que seus sapatos chiavam a cada passo e eles deixavam
atrás de si um rastro de água.
Trace voltou para a fonte murmurando uma praga em espanhol.
— Veja, filho, o que você aprontou.
Ace sorriu.
— Obrigado, Lynnie, pelo que fez por mim. E agora, posso ajudá-la?
Antes que ela pudesse protestar, ele segurou no braço dela e saíram ambos da
fonte. O pessoal já se afastara e o acerto de contas ia ser com Trace.
— Tio Trace, deixe-me explicar — Lynnie começou, cautelosa. Conhecia o
humor de Trace Durango quando irritado.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 66
— Não se preocupe, srta. Lynnie. Tenho certeza de que você não tem culpa de
nada. Vocês dois tratem de entrar na casa para trocar de roupa. Amanhã seremos o
assunto de todo o condado.
— Mas a briga até que foi divertida, hem, Lynnie? Eu não sabia que você lutava
tão bem — disse Ace, sorridente.
— Lynnie, este foi o último acontecimento ao qual você compareceu — Cayenne
avisou, segurando no braço da irmã. — Não sairá de casa durante algum tempo.
— Isso quer dizer que não poderei ir a Dodge City para o encontro pelos direitos
das mulheres?
Cayenne dirigiu-lhe um olhar fulminante.
— E precisa perguntar? Você não irá a lugar nenhum, jovem lady. E agora, ande.
Vá para dentro.
— Acho que estamos quites, srta. McBride — disse Ace quando caminhava para
a casa com Lynnie. — A ajuda de hoje paga o tumulto de Austin.
Fiel à sua palavra, Cayenne manteve a irmã sob severa vigilância. Durante duas
semanas Lynnie não saiu de casa. Entretanto, quando a máquina nova de costura
chegou à fazenda dos Dinwiddy, Penélope procurou a amiga para pedir-lhe que a
ajudasse a fazer roupas para os pobres assistidos pela Associação Cristã de Caridade.
Cayenne compreendeu que a causa era nobre e consentiu que Lynnie fosse a cavalo
até a fazenda para fazer o trabalho.
— O de casa! — Lynnie chamou, desmontando.
Vários cachorros saíram da varanda latindo e correram para a visitante.
Penélope apareceu à porta.
— Alô, Lynnie! O que esteve fazendo nas duas últimas semanas?
— Pouca coisa — Lynnie respondeu sem entusiasmo enquanto amarrava o
cavalo ao varão, do lado da casa. — Continuo tentando encontrar um meio de ir a
Kansas para a manifestação do Dia da Independência.
— Você não desiste nunca, hem? Sua irmã não a deixará ir.
— Se as mulheres desistirem, nós jamais teremos o direito de votar. — Penélope
e Lynnie entraram na casa. — Tenho permissão de ficar na fazenda só até sábado.
Cayenne fez essa concessão porque é uma longa viagem até aqui e também porque
na fazenda de Maverick e de Trace é grande a agitação. Todos estão atarefados com
os preparativos para aquela caravana absurda, para levar o gado ao Kansas.
— Quando eles pretendem partir?
— Na próxima semana. Mas estou ansiosa para ver a tal máquina de costura.
Penélope levou a amiga até a sala de estar onde a máquina nova ocupava lugar
de destaque.
— Veja, ela tem pedal. É muito mais cômodo movimentar a máquina com os pés
— Penélope explicou. — Papai a mandou vir de St. Louis.
— Isto é tecnologia! — exclamou Lynnie ajeitando os óculos para examinar a
maravilha. — Poderei fazer um vestido novo, talvez dois. O conjunto verde ficou
praticamente perdido por causa daquele mergulho na fonte.
— Como vai Ace Durango? — Penélope quis saber, os olhos brilhando de
curiosidade. — Todos estão falando sobre vocês.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 67
é mulher.
— E daí? Até isso acontecer estaremos bem longe e Ace não vai permitir que eu
volte para casa sozinha; também não há de querer dispensar um dos homens para me
acompanhar. Portanto, será obrigado a me deixar seguir com eles.
— E você pensa que será fácil cavalgar durante semanas, sem o menor
conforto, no meio de caubóis sujos, barbudos e rudes? E não se esqueça de que Ace
Durango estará entre eles.
Dessa vez o argumento da amiga fez Lynnie parar para refletir mais um pouco.
Semanas e semanas com aquele selvagem. Quem sabe seria mais sensato desistir da
viagem. Não. Chegar a Dodge City para o encontro era muito importante. Para isso
estava disposta até a cavalgar com aquele desagradável Ace Durango.
— Penny, tenho de fazer essa viagem. Não vou desistir. O maior problema é
arranjar um cavalo.
Os olhos de Penélope brilharam; em seguida ela abanou a cabeça.
— Não. Pode não ser uma boa idéia.
— O que é? Diga! — Lynnie agarrou o braço da amiga.
— Não adianta, Lynnie. É loucura.
— Vamos, diga logo!
— Bem... lembrei-me de que papai comprou recentemente uma égua cinzenta.
Parece que é veloz.
— E a marca?
— É desconhecida por aqui. Talvez seja a marca de um rancho do Novo México.
Ainda não recebeu a marca da nossa fazenda.
— Quero vê-la. Onde está?
— Num pasto no lado leste. Papai lhe deu o nome de Bonny e está tentando
engordá-la, mas continua bem magra.
— Posso trocar meu cavalo, que também é cinzento, pela égua. Você acha que
seu pai irá ao pasto e verá que a égua foi trocada?
— Ninguém está montando Bonny. Como eu disse, ela precisa engordar. Mas é
claro que a troca logo será descoberta.
— Estou desesperada e disposta a tentar tudo. Vamos ao tal pasto.
As duas foram de trole ao pasto. Ao ver a certa distância um animal cinzento
pastando, Lynnie arregalou os olhos.
— Não me diga que aquela é Bonny. A pobre é só pele e osso.
— Pode não parecer, mas ela é veloz. Papai quer inscrevê-la na corrida de
outono e espera ganhar um bom dinheiro.
Lynnie observou bem o animal.
— Penny, essa égua não é capaz de competir nem com sua avó.
— Eu a vi correndo. Acredite em mim, Bonny é melhor do que aparenta.
Ao ouvir seu nome, a égua desajeitada aproximou-se da cerca e relinchou.
Lynnie abanou a cabeça.
— Esta é a égua mais feia que eu já vi. Tem cascos enormes e os ossos
salientes.
— Fale baixo. Bonny é muito sensível. Vamos até lá. É melhor você vê-la de
perto.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 72
Capítulo VIII
Lynnie enterrou bem seu chapéu na cabeça, desceu a aba sobre os olhos.
Estava apreensiva, insegura, com maus pressentimentos. Aquela viagem era
uma temeridade.
— Oh, Penélope, estou com medo de não ser forte o suficiente para suportar
esta aventura.
— Sua aparência não é das melhores. Está se sentindo mal? — indagou a
garota, preocupada.
— Um pouco. — Lynnie tossiu. — Talvez seja um começo de gripe ou resfriado.
Minha garganta está dolorida.
— E você está rouca. Sua voz parece de homem. Bem, isso pode até ser uma
coisa boa.
— E verdade. Acho que será mais fácil eu me fazer passar por rapaz.
— Por que tirou os óculos? Pode ver sem eles?
— Não enxergo muito bem, mas se eu usá-los logo serei reconhecida. Guardei-
os no bolso da camisa.
— Lynnie, você não está bem; além disso, certamente será descoberta muito
antes de chegar a Dodge City. Não seria melhor reconsiderar?
— Tenho de me arriscar. É pela causa. — Lynnie endireitou os ombros magros.
— Deseje-me boa sorte.
— Ah, eu ia me esquecendo. — Penélope tirou várias fitas coloridas do bolso. —
Se você chegar a Dodge City, poderia comprar cortes de tecidos que combinem com
estas cores?
— Francamente, Penélope! Você acha que terei tempo de fazer compras?
— Não se irrite. Se não for possível, paciência — Penélope apressou-se em
dizer. — É que no armazém da cidade não há muito que escolher, e se eu continuar
namorando Hank...
— Está bem — Lynnie cedeu, tendo notado a expressão desapontada da amiga.
— Guarde as fitas numa das bolsas da sela. Caso eu chegue a Dodge City, verei o que
posso fazer.
— Boa sorte — desejou Penélope, sorridente.
— Obrigada. Não deixe que descubram a verdade sobre minha partida. Quanto
mais tarde ficarem sabendo para onde fui, melhor. — Lynnie acenou com a mão. —
Pela causa!
Tocou Bonny e logo alcançou a estrada. Pensou com certo humor que devia
estar uma figura e tanto usando aquelas roupas velhas, de homem, calçando botas e
luvas de couro, com o chapéu caído sobre os olhos, e montando aquela égua que
parecia prestes a cair morta. Os outros caubóis iriam caçoar de sua montaria. Talvez
isso não fosse de todo mau, pois eles prestariam mais atenção em Bonny do que no
cavaleiro.
Era muito cedo, e sobre a grama que ladeava a estrada as gotinhas de orvalho
brilhavam. A manhã, tão bonita e fria, convidava a um galope. Lynnie, porém, conduziu
Bonny a trote com receio de exigir muito do pobre animal. Nada a convencia de que
aquele saco de ossos fosse veloz. Mas se a égua pudesse mesmo correr, seria mais
prudente deixar para forçá-la quando fosse necessário.
Depois de cavalgar alguns quilômetros, Lynnie avistou o arvoredo que ficava
perto da grande fonte natural, ao norte da cidade, onde deviam estar reunidos os
cavaleiros e a boiada. De fato, quando se aproximou viu uma multidão no local. Além
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 74
dos caubóis que cuidavam do rebanho, havia ali pessoas que tinham vindo para se
despedir dos viajantes ou, simplesmente, para ver o movimento e a partida da comitiva.
O tempo estava muito seco e a movimentação dos animais provocava tanto pó
que os caubóis cobriram a metade inferior do rosto com suas bandanas vermelhas.
Pareciam bandidos, Lynnie pensou, mas teve de fazer o mesmo. Ficou contente
porque, graças ao lenço e ao chapéu, quase nada do seu rosto era visível.
Reunidos ao redor do fogo, onde estavam os ferretes em brasa, alguns caubóis
se ocupavam em pôr no quarto superior esquerdo das últimas reses a marca da
estrada. Isso porque, no caso de os animais se dispersarem durante o percurso, seriam
facilmente identificados e recapturados.
Apesar de não enxergar bem sem os óculos, Lynnie reconheceu Ace debaixo de
uma árvore, conversando com a mãe. Deu também para ver que ele estava quase
verde e tinha um olho arroxeado. Pelos gestos e pela expressão de Cimarron não foi
difícil entender que ela passava uma descompostura no filho. Lynnie aproximou-se
mais dos dois.
— Você é mesmo incorrigível! — Cimarron estava dizendo, zangada. — Tinha de
ficar bêbado e se meter numa briga, sabendo que ao amanhecer devia estar com a
comitiva, pronto para seguir viagem?
— Sinto muito, mamãe.
Lynnie supôs que a señorita em cuja companhia Ace estivera, devia ser muito
bonita e especial para merecer que um homem lutasse por ela. Ace parecia prestes a
cair e morrer ali mesmo. E esfregava as têmporas como se estivesse com uma ressaca
fantástica. Desordeiro depravado!
— Ace, seu pai ficará muito desapontado se você não se comportar como um
Durango — Cimarron continuou.
— Eu avisei que não queria fazer esta viagem estúpida.
— Seu pai adoraria acompanhá-lo, não fosse ter caído daquele cavalo selvagem
e quebrado algumas costelas.
— Sorte dele.
— Ora, não diga isso e pare de se lamentar! Trate de ir ajudar Comanche e
Pedro.
Ace virou sobre a cabeça o cantil com água fria e caminhou sem o menor
entusiasmo e tropeçando, na direção do grupo que estava marcando o gado. Cimarron
subiu na carruagem e partiu.
— Ei, Ace! — Comanche gritou. — Parece que você foi atropelado e depois o
jogaram numa poça d'água.
— É assim que me sinto — Ace gemeu.
Pedro, um mexicano forte e experiente, que impunha respeito, era o chefe da
comitiva. Estava marcando o gado com outros homens e chamou Ace para ajudá-los.
Ace arregaçou as mangas sem discutir. Pouco depois, apesar da manhã fria, estava
suado e com a camisa grudada ao corpo musculoso. Era, positivamente, másculo e
primitivo.
Lynnie reconheceu alguns rapazes vindos de vários ranchos, mas estavam todos
tão atarefados que nem sequer notaram sua presença. Ela calculou que haveria cerca
de quatro mil cabeças no vale, além de uma grande tropa de cavalos extras. De um
lado, a uma distância segura do ajuntamento, estava o velho carroção com os víveres,
puxado por duas mulas e conduzido pelo intratável Cookie.
Os cães latiam, chicotes estalavam no ar, o gado berrava e mugia quando era
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 75
vieram à mente chocaram-na. Uma lady certamente não devia ter tais pensamentos.
Entretanto, era difícil olhar aquele bruto tão musculoso e com aqueles arranhões nas
costas, sem dar largas à imaginação. Lynnie franziu o nariz, irritada consigo mesma.
Se um dia, finalmente, estivesse decidida a se casar, só aceitaria para marido um
cavalheiro bem educado e gentil, incapaz de fazer alguma coisa que levasse uma
mulher a se comportar de modo tão leviano.
Para sua tranqüilidade, o homem musculoso, objeto de suas tentações, lavou-se
na fonte e vestiu uma camisa limpa. Em seguida tocou o cavalo e reuniu-se a Pedro,
que já se achava na frente do rebanho tentando iniciar a longa jornada. Mas o barulho
dos latidos dos cães, do estalar dos chicotes, e todos os gritos, mugidos, berros e
relinchos aumentavam a confusão.
Por fim, entre acenos, com lenços e chapéus, acompanhados de votos de boa
sorte e boa viagem, a comitiva foi aos poucos se organizando. Lynnie notou que era
para Ace que a maioria das mulheres acenava. E o conquistador parecia estar
adorando toda aquela demonstração de simpatias, pois, em retribuição, curvava-se em
sua montaria e desmanchava-se em sorrisos.
"Ora, o bruto", Lynnie murmurou por entre os dentes e esporeou a égua
sonolenta impelindo-a para frente.
Estava feliz porque, com toda aquela agitação e euforia, ninguém prestou
atenção nela. Seguiu do lado do rebanho, entre os outros caubóis, procurando imitá-
los.
Saindo do lado de Pedro, Ace tocou seu cavalo.
— Eia, rapazes, vamos! — ele gritou, incentivando os vaqueiros. — O velho
Twister está pronto para liderar o rebanho nesta última viagem a Dodge City.
Twister era um touro já velho, com longos chifres retorcidos, famoso em todo o
condado por ter liderado inúmeras boiadas dos Durango, do Texas até o Kansas.
Os caubóis tiraram os chapéus, deram vivas, hurras, e cuidaram de tocar a
manada adiante. Com receio de tirar seu Stetson e deixar à mostra os cabelos ruivos,
Lynnie limitou-se a gritar, fazendo coro com os demais:
— Hip, hip, hurra! Para Dodge City!
Mais vivas ecoaram da multidão. Todos, adultos ou crianças, pareciam sentir que
presenciavam um grande momento.
Um momento histórico. Houve até lágrimas de velhos caubóis que, não podendo
mais fazer uma viagem tão longa e cansativa, contentavam-se em assistir à partida da
comitiva que conduzia uma enorme boiada e iria se tornar uma lenda naquela parte do
Texas.
Com milhares de reses levantando poeira e a tropa de cavalos empinando e
batendo os cascos, demorou algum tempo para todo o rebanho se pôr em marcha. O
gado seguia devagar, o que Lynnie apreciou, pois não precisava forçar a égua. Atrás
dela ia Cookie conduzindo a grande carroça e reclamando dos solavancos causados
pelos sulcos fundos existentes na estrada. Montado num dos belos quarto-de-milha,
pelos quais a fazenda Durango era famosa, ia Ace do lado de Pedro, ambos à frente do
rebanho.
O pó era tão denso que chegava a sufocar.
De repente, Ace virou o cavalo e galopou até o fim da manada, supervisionando
tanto o pessoal quanto os animais, chamando a atenção de um caubói distraído e
ordenando-lhe que impedisse uma rês assustada de fugir. Não parecia mais tão verde.
Lynnie ficou alarmada ao vê-lo se aproximando dela. Será que a descobrira? Se fosse
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 77
isso, seus planos iriam por água abaixo. Havia confiado tanto na sorte, achando que
sua farsa só iria ser descoberta quando já estivesse a várias dezenas de quilômetros
do condado.
— Ei, rapazinho! — Ace gritou —, você me parece familiar. De onde veio?
— Eu... — Lynnie inspirou fundo. Então lhe veio à memória a marca de Bonny.
— Rancho Double X.
— Double X? — Ace coçou a cabeça. — Nunca ouvi falar nele.
— De Panhandle — Lynnie informou, mantendo a voz rouca.
— Você veio de tão longe nesta égua velha e imprestável? — Ace indagou,
incrédulo.
— Eu queria muito fazer parte desta comitiva.
— Pois eu não queria, pode ter certeza disso. — Ace levou a mão à testa e
esfregou-a como se sentisse dor. Em seguida murmurou uma praga. — A idéia foi de
meu pai. O pior é que a comitiva de Forrester está um dia à nossa frente. Isso quer
dizer que iremos comer poeira deles durante toda a viagem.
— Infelizmente.
Ace continuou seu galope. Não se contendo, Lynnie virou-se na sela e seguiu-o
com o olhar. Ele podia ser mulherengo, irresponsável, mas era excelente cavaleiro.
Além disso, tinha um belo porte e autoridade. Talvez fosse por isso que tantas moças
suspiravam por esse grandalhão primitivo, com maneiras de homem das cavernas.
No meio da tarde Pedro deu permissão para os cavaleiros descansarem para
comer; enquanto isso o gado podia pastar. Cookie serviu pão e carne para todos.
Lynnie deixou o chapéu caído sobre o rosto e comeu em silêncio. A maioria dos
homens mascava fumo ou enrolava seu cigarro. Ace aproximou-se dela, parecendo
ainda intrigado.
— Você não fuma nem masca?
— Eu... eu não trouxe material nenhum.
— Tome. — Ace ofereceu a ela um saquinho com tabaco.
— Muito obrigado. — Ela pegou o saquinho e também a folha de papel. Suas
mãos tremiam ao tentar enrolar um cigarro.
— O que é isso, garoto? Está desperdiçando fumo — Ace reclamou.
Ele tirou o material da mão dela, enrolou um cigarro com a maior rapidez e
entregou-o a ela. Sem ter alternativa, ela levou-o à boca. Pediu a Deus que Ace não
tivesse fósforos. Mas, quando viu, o cigarro estava aceso.
— Posso jurar que o conheço de algum lugar, rapazinho — Ace falou, o olhar
fixo em Lynnie.
— Receio que não. — Ela sentiu vontade de tossir ao inalar a fumaça acre. O
cigarro tinha gosto de feno queimado.
— Qual é seu nome?
— Ly... Lee. Lee Smith. — Ela não se atreveu a erguer a cabeça.
— Certo, Lee, vamos "tirar água do joelho" e depois continuaremos a viagem.
Quero ver até onde chegaremos antes do anoitecer.
— O quê? — Lynnie olhou ao redor e viu, horrorizada, que vários caubóis tinham
desabotoado a braguilha para urinar.
Vermelha, desviou depressa o olhar.
— Eu já fiz... xixi — alegou.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 78
Sem a menor cerimônia, Ace Durango desabotoou a calça e pôs para fora seu...
Céus, como era grande! O homem parecia um garanhão. Bem, não podia ficar ali
parada. Meio zonza, foi até Bonny. Naquele instante Pedro deu ordens para todos
montarem. E a viagem continuou, rumo ao Norte.
Lynnie esmagou o cigarro na sela e quando teve certeza de que estava
completamente apagado, deixou-o cair no chão. Por nada no mundo iria provocar um
incêndio na pradaria. Um incêndio era sempre muito difícil de controlar e causava
grande destruição. O pó vermelho sufocava-a e ela estava tendo dificuldade para
enxergar, mas não se arriscava a pôr os óculos, certa de que Ace a reconheceria.
Passou a língua pelos lábios e sentiu-os ásperos; seus dentes rilhavam, parecia haver
areia neles. Ela pensou em um banho com água morna e limpa, em toalhas macias e
roupas que não cheirassem a suor de cavalo. Oh, esta iria ser uma viagem muito,
muito longa e eles mal haviam começado. O pior seria ter de lidar com Ace Durango,
homem pretensioso que se considerava um presente para as mulheres.
Capítulo IX
quanto mais experimentar. Amarrou Bonny num arbusto, onde havia boa faixa de relva,
e saiu à procura de esterco seco para alimentar o fogo. Devia haver bastante nas
redondezas daquela estrada boiadeira. Nos velhos tempos os pioneiros usavam
esterco seco de búfalos. "Carvão da pradaria" era o nome que davam ao esterco
encontrado nas extensas planícies desprovidas de árvores. Mas os búfalos tinham sido
caçados e mortos, e presentemente eram raros. Lynnie encontrou um monte de esterco
bem velho e olhou para aquilo com repugnância.
Ace passou por ela, a cavalo.
— Ei, garoto, ande depressa ou não provará nem um pouco da deliciosa fritada.
Ela agradeceria se isso acontecesse. Ia pedir para ele ser gentil e ajudá-la
naquela tarefa desagradável. Porém lembrou-se de que, para todos efeitos, era um
caubói como os outros.
— Já vou — respondeu.
Sua vontade, no entanto, era atirar em Ace um pedaço do esterco duro e
arrancar-lhe o elegante chapéu. Como não tinha escolha, recolheu as placas que,
apesar de secas, fediam demais. Amontoou nos braços quanto pôde carregar e voltou
tropeçando ao lugar onde o carroção estava estacionado e Cookie acendia uma
fogueira.
Ace, que deixara o cavalo pastando e a observava, advertiu-a:
— Cuidado, rapazinho! Olhe bem por onde anda. Pode ser que encontre alguma
cascavel no meio do mato.
"Cobras!", ela pensou, horrorizada, derrubando alguns pedaços do esterco que
carregava.
Só faltava essa! Mas não podia menosprezar a advertência. De fato, naquela
região havia muitas cobras. Cascavéis, principalmente. Passou a andar devagar e com
o maior cuidado entre a relva alta.
Chegando perto da grande carroça, deixou as placas de esterco no chão. Cookie
havia acendido a fogueira, fizera café, abrira várias latas de feijão e começara a fazer a
fritada, uma iguaria para os caubóis. No Norte ninguém acreditaria que testículos de boi
pudessem ser tão apreciados.
Um caubói bem jovem aproximou-se de Lynnie e estendeu-lhe a mão.
— Olá, já nos falamos, mas não me apresentei. Sou Comanche Jones.
— Olá, Comanche. — Ela apertou meio desajeitadamente a mão do rapaz. —
Lee. Lee Smith, de Panhandle.
Comanche dirigiu um olhar crítico para a égua que pastava a pouca distância
dali.
— Aquilo é o que há de melhor por aquelas bandas?
— A égua é bem melhor do que aparenta — Lynnie respondeu, com uma
vontade louca de chutar a canela do caubói mestiço de índio.
— É mesmo? — Ace entrou na conversa. — Pois me parece que não pode haver
montaria pior.
Ele e Comanche riram como idiotas.
— Mas eu vim até aqui para dizer que Pedro quer que você, Comanche, e Lee
fiquem cuidando da boiada — disse Ace encarando Lynnie de maneira curiosa. —
Garoto, você tem certeza de que não nos vimos antes?
— Não que eu me lembre. Mas quem sabe já nos encontramos em algum bordel
por aí.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 80
Comanche ficou vermelho até a raiz dos cabelos negros. Ace deu uma
gargalhada.
— Você não parece ter idade para cobrir uma potranca, Lee, muito menos para
entrar numa dessas casas de tolerância.
Era melhor encerrar o assunto com aquele garanhão. Que homem insuportável!
Agora começava a duvidar se aguentaria viajar tantas milhas com o arrogante Ace
Durango. E o cretino não queria largar de seu pé.
Cookie começou a bater numa panela, chamando o pessoal.
— A bóia tá pronta! Venham comer antes que eu jogue tudo prós coiotes.
— O que é isso? Por que envenenar um bando de coiotes indefesos? — Ace
provocou o velho senhor.
— Estou ouvindo, seu malcriado! — Cookie gritou.
— É pra ouvir mesmo. — Ace encolheu os ombros e dirigiu-se a Lynnie. —
Acredite, Lee, esta viagem vai acabar sendo um desastre. Estamos com um bando de
jovens inexperientes. Cookie pode ser péssimo cozinheiro, mas só ele e Pedro sabem
o que é uma comitiva como esta.
Lynnie murmurou uma resposta e afastou-se. Pegou um prato de folha-de-
flandres, uma caneca e aproximou-se de Cookie. Quis recusar a fritada, mas o velho
senhor não a ouviu. Os caubóis, em compensação, comiam com grande prazer e
lambiam os beiços. Entre os jovens Lynnie viu Hank Dale, mas ele não a reconheceu.
Lynnie comeu os feijões, mas não tocou na fritada. Mais uma vez Ace
intrometeu-se.
— Ei, Lee, coma tudo! Testículos de boi o tornarão um homem!
Com tantos olhares voltados para ela, Lynnie não teve saída. Fechou os olhos e.
deu uma mordida, mas sentiu a garganta se fechar. Pegou um pedaço de pão, que
estava duro, molhou-o no caldo do feijão e comeu-o. Aproveitando que os caubóis
tinham deixado de prestar atenção nela, jogou para os cães o resto do prato.
Todos terminaram de comer e Pedro ficou de pé.
— Señores, eu sei que a maioria de vocês nunca teve uma experiência como
esta, por isso vou ensiná-los. Depois de alguns dias, a viagem será mais fácil, si!
Todos assentiram com um movimento de cabeça, no entanto, tinham suas
dúvidas.
— Como podemos ter certeza de que estamos seguindo na direção certa? —
Ace questionou.
— Eu sei me orientar — Cookie respondeu com afetação. — Deixo a carroça
sempre voltada para a estrela polar.
— O que vamos fazer durante a noite? — quis saber um rapaz.
— Temos de vigiar o rebanho o tempo todo. Isso será feito em turnos. A cada
duas horas dois caubóis cavalgarão ao redor da boiada para verificar se está tudo em
ordem e para manter os animais calmos — Pedro explicou.
Comanche deu um passo à frente.
— Eu fico com o primeiro turno.
— Ótimo. Eu fico com o segundo. — Ace bocejou. — Vou dormir um pouco para
me recuperar da noite anterior. Lee, você vai ajudar Comanche.
— Está bem — ela murmurou.
Foi feita a escala para os turnos seguintes e o grupo se dispersou. Ace pegou o
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 81
colchonete, usou a sela como travesseiro, e deitou-se perto do fogo. Em pouco tempo
estava roncando. Lynnie e Comanche foram até suas montarias.
— Ei, Lee, se não estou enganado, amanhã à noite chegaremos a um ribeirão
onde poderemos nadar e tomar um bom banho — disse Comanche quando cavalgava
com Lynnie na direção do rebanho.
— Ótimo — ela falou procurando demonstrar entusiasmo.
Na verdade, se perguntava como poderia nadar com um bando de caubóis nus.
Bem, não devia perder tempo com esse problema. Teria de resolvê-lo quando ele se
apresentasse. Subitamente lhe ocorreu que teria a chance de ver Ace Durango pelado.
A imagem que se formou em sua mente chocou-a.
Separou-se de Comanche, indo cada um numa direção, cavalgando devagar, ao
redor da boiada. De tempos em tempos eles se cruzavam, faziam um aceno.
Comanche estava sempre cantarolando uma velha canção.
O turno parecia não ter fim. Lynnie sentia sono, o corpo doía, mas não podia
protestar, muito menos desobedecer às ordens do chefe. Pela primeira vez desejou ser
uma dessas moças arrojadas que sabiam atirar, usar o laço e cavalgar como um
homem. Bem, esse tipo de mulher certamente só existia nos romances baratos. Ela,
pelo menos, não conhecia nenhuma moça que se comportasse desse modo.
Era noite fechada, o gado deixara de pastar, se acomodara e ruminava satisfeito.
Só o velho touro Twister, que devia ser muito guloso, estava perto da carroça
empanturrando-se com os pãezinhos duros que Cookie lhe dava. Começava a soprar
um vento frio que enchia o ar com o cheiro das castillejas e das centáureas. Um coiote
solitário uivou ao longe. Ao redor de Lynnie grilos cricrilavam. Tudo isso a ajudou a
manter-se desperta. Também não podia negar que sentia alguma satisfação por
terminar aquele longo dia com sucesso. Afinal, tinha trabalhado arduamente e sua
verdadeira identidade não fora descoberta. Começava a acreditar que conseguiria
chegar a Dodge City.
Foi com alívio que viu Ace vir a cavalo na sua direção, bocejando e esfregando
os olhos.
— Meu turno, Lee. Pedro me acordou, interrompendo meu sono. Eu sonhava
com as garotas da casa da srta. Fancy, em San Antone. Já esteve lá?
— Nunca.
Será que o idiota devasso não pensava em outra coisa que não fosse mulheres?
— Pois você não sabe o que perdeu. — Ace suspirou. — Eu gostaria de estar lá.
Eles servem a melhor cerveja e o jogo de cartas dura a noite toda.
Lynnie não fez nenhum comentário. Aprendera a jogar pôquer com os rapazes
que trabalhavam no Lazy M e jogava bem, mas certamente não poderia comparar-se
àquele libertino. Despediu-se de Ace com um aceno e foi para perto da fogueira.
Deixou Bonny com os outros cavalos, pegou seu colchonete, as cobertas, e olhou ao
redor. Comanche já estava se enrolando num cobertor. E ela? Onde poderia dormir?
Certamente não iria estender o colchonete entre os homens. Afastou-se, mas ao ouvir
o uivo de um lobo, mais do que depressa voltou para perto do fogo. Andou com
cuidado entre os homens sujos que roncavam, improvisou sua cama e deitou-se.
Apesar do cansaço, não conseguiu dormir. Pensou nos romances sobre o Velho Oeste
e desejou poder esganar os almofadinhas imbecis que viviam na cidade, nada sabiam
sobre a dureza da vida no campo e escreviam sobre o charme e a sensualidade dos
caubóis, o romantismo, a poesia e a emoção que havia nas viagens conduzindo o
gado. Que diferença da realidade!
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 82
Bem, ela começara aquela aventura e iria até o fim. Lynnie McBride nunca
desistia de seus projetos. Estava cochilando e despertou com a movimentação dos
homens que estavam perto dela e se levantaram para fazer a vigia. Ace e Hank
chegaram em seguida e deitaram-se justamente no espaço que ficara vago.
Instintivamente Lynnie puxou o colchonete para o outro lado, querendo manter-se
distante do bruto.
— O que foi, Lee? Viu alguma tarântula?
A imagem de uma aranha gigante, negra e peluda que se formou na mente dela
causou-lhe um estremecimento. Murmurou algo ininteligível, mas Ace já estava
dormindo. Ali deitado, parecia uma montanha.
O lobo uivou novamente. Certa de que a fera estava bem perto, Lynnie foi para
junto de Ace em busca de proteção, sem pensar no que estava fazendo. Além do
perigo do lobo, a fogueira estava quase apagada e fazia frio. Nada melhor do que o
calor daquele grande corpo para aquecê-la. Fechou os olhos e adormeceu ouvindo a
respiração de Ace. De certa forma, era confortador saber que poderia contar com o
grande bruto se fosse preciso.
Ainda não amanhecera quando Lynnie acordou. No Leste o céu ganhava os
primeiros tons róseos. Era uma cena linda, teve de admitir. Concluiu que a vida dos
caubóis não deixava de ter alguma poesia. Virou o rosto e viu cerca de meia dúzia de
homens no meio da relva com a calça desabotoada. Também precisava fazer xixi, mas
onde? Olhou ao redor, desesperada, e, vendo uma moita de arbustos, correu para lá.
Quando voltou, Ace perguntou-lhe:
— Sentiu frio durante a noite, garoto?
— Não sei. Por que a pergunta?
— Quando acordei você estava encolhido, encostado em mim, como um gatinho
perto de um tijolo quente.
— Talvez tenha sido você quem encostou em mim.
Horrorizado, Ace ficou de pé e pegou suas botas.
Cookie bateu a panela várias vezes.
— O café está pronto. Venham logo ou jogo tudo fora.
— O que será uma bênção —- resmungou um rapaz magricela.
Cookie não o ouviu. Com a fome que estava, Lynnie comeu com prazer sua
porção de bacon frito, os pãezinhos duros assados no forno de ferro. Pelo menos
estavam quentes. Achou o café muito forte, mas era assim que os texanos apreciavam
a bebida.
Ace, que tomava seu café ali perto, perguntou a Pedro:
— E agora, compadre? Que tal esquecer esta aventura maluca? Não seria
melhor voltarmos para casa?
O mexicano alisou o bigode escuro e franziu a testa.
— Prometi a seu pai transformar você em um verdadeiro caubói. E fique
sabendo que hoje viajaremos cerca de vinte quilômetros.
A expressão de Ace era de desalento.
— É triste pensar que fui obrigado a deixar as cartas e todas aquelas lindas
mulheres de Laredo e Austin para tomar conta destas estúpidas vacas.
Pedro encolheu os ombros e riu.
— Como diria o señor Durango, "sele seu cavalo e siga adiante, hombre!”
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 83
Ace colocou no ombro a sela que havia usado como travesseiro e afastou-se.
resignado. Lynnie também foi selar Bonny. Sentia tanta dor no corpo que receou não
resistir à longa cavalgada daquele dia. Cerca de vinte quilômetros, dissera Pedro. E
mais quilômetros ainda, para o Norte, no meio daqueles caubóis rudes. Talvez fosse
melhor soltar os cabelos e revelar quem era. A farsa terminaria e ela seria levada de
volta para casa. Ace, pelo menos, ficaria muito feliz. O incidente lhe daria um bom
motivo para pôr fim àquela malfadada viagem; ele retornaria à sua vida de dissipações,
divertindo-se com prostitutas e jogo de cartas. Caindo em si, ela soube que não podia
desistir da viagem. Sua luta era pelo bem das mulheres do Texas que viviam sob o
tacão de todos os homens rudes que lhes negavam o direito de votar. Devia
prosseguir, por mais que lhe custasse.
— Ei, Lee! — Ace chamou-a. — Por que você não deixa para trás essa mula
velha para morrer e não monta um de nossos cavalos?
— De jeito nenhum — ela respondeu.
Ergueu a pesada sela com dificuldade, colocou-a no lombo de Bonny, prendeu
bem a cilha e montou o animal. Sentia os cabelos sujos e embaraçados, mas não se
atreveu a penteá-los. Limitou-se a enterrar o chapéu na cabeça e abaixar a aba sobre
os olhos. A grande carroça já estava na estrada e os homens tocavam a boiada para
frente. Lynnie olhou para o sol. O dia mal começava e prometia ser muito longo. Ace
cavalgou na direção dela.
— Vamos, garoto. Toque esse animal. Isto não é um piquenique.
Para não dar uma resposta ferina, mordeu o lábio. Odiava aquele homem,
pensou, olhando para as costas largas que foram desaparecendo à medida que ele
cavalgava, indo para frente do rebanho. Desejou maldosamente que o cavalo pisasse
em algum buraco e o jogasse fora da sela. Quem sabe num monte de esterco fresco
ou, melhor ainda, num ninho de escorpiões. Se isso acontecesse, teria prazer de
passar com Bonny sobre o corpo daquele homem primitivo e arrogante.
Capítulo X
numa ciranda infernal. Mais de uma vez Lynnie desejou ser descoberta; assim voltaria
para casa onde teria uma cama limpa e confortável, comida excelente e fartura de
água.
O fato de a comitiva dos Durango estar seguindo atrás da de Forrester piorava a
situação. A outra boiada deixava a relva destruída, esterco por toda parte e a água dos
riachos barrenta. Lynnie não estava mais resfriada nem com dor de garganta, por isso
tinha de engrossar a voz ao falar e procurava manter-se calada. Isso não causava
estranheza; os caubóis eram conhecidos como homens de poucas palavras.
Certa tarde, Hank galopou do lado da boiada, no sentido contrário ao que eles
estavam seguindo, anunciando que iriam acampar à beira de um lago. Os caubóis não
contiveram sua alegria.
— Que boa notícia! — muitos gritaram.
— Esta noite podemos nadar em pelo! — outros exclamaram alegres.
E agora? O que fazer? Lynnie pensou, mas não deixou de dar vivas. Um bom
banho era mais do que bem-vindo. O jeito era descobrir um modo de evitar o bando de
homens nus. Pior ainda, como explicar que não queria entrar na água?
Entretanto, quando chegaram ao esperado lago, o desapontamento foi geral. Na
verdade não havia lago nenhum, e, sim, uma lagoa rasa com água suja.
— Malditos Forrester! — Ace praguejou. — Parece que eles, deliberadamente,
obrigaram a boiada a passar muitas vezes pela água só para deixá-la barrenta e cheia
de esterco de gado, de modo que não pudéssemos usá-la. Como é possível alguém
nadar nessa imundície?
— Então... nada de banho? — Comanche indagou.
— Olhe para a água. Está grossa. Se você entrar nela, sairá mais sujo do que
entrou. E mais fedorento — Ace respondeu.
Cookie tomou um gole de seu destilado com baunilha e reclamou.
— Temos de encontrar água limpa bem depressa. Os barris estão quase vazios.
Se não encontrarmos, terei de fazer café com água suja como esta.
Ace olhou para Pedro.
— O que me diz, amigo?
O mexicano coçou o bigode.
— Vamos acampar. Partiremos amanhã, ainda mais cedo do que de costume.
— Temos de apressar a marcha para passar na frente da boiada de Forrester.
— Não, hombre, se fizermos isso, certamente causaremos um estouro da
boiada. Só conseguiremos ultrapassá-los se eles concordarem em conter o rebanho
deles para que o nosso siga adiante.
— Eles nunca farão isso! — Ace exclamou e não perdeu a chance de desfilar
toda uma lista de pragas e impropérios que a raiva pela família de Willis Forrester lhe
ditava.
Lynnie ficou escandalizada, mas não o demonstrou. Sabia que Ace estava de
péssimo humor e quis sair de perto dele. Não adiantou. Foi justamente a ela que ele se
dirigiu.
— Ei, garoto, trate de arranjar esterco seco para o fogo.
— Não é justo, Ace. É sempre Lee quem faz esse trabalho. Deve haver um
revezamento — um rapaz sugeriu.
— Pois que faça de novo. Afinal, ele já está acostumado — Ace retrucou em tom
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 85
cortante.
Vários rapazes trocaram olhares, mas nenhum deles ousou discutir com o
colérico Ace Durango.
Que não era justo, não era mesmo, Lynnie pensou, irritada, desmontando.
Ultimamente Ace parecia querer descontar nela suas frustrações e sua raiva.
Resignada, levou Bonny para a beira do lago e começou a recolher esterco seco. Não
demorou muito estava de volta com uma pilha de placas, que entregou a Cookie.
— Obrigado, garoto. Esta noite você terá uma porção extra — o velho senhor
prometeu, amável.
Seu hálito era puro álcool com aroma de baunilha. Lynnie imaginou que se ele
bafejasse muito perto do fogo, poderia incendiar-se.
— Hum, obrigado, Cookie — ela agradeceu e saiu de novo à procura das placas
de esterco.
Os caubóis ainda cuidavam de acomodar o rebanho para passar a noite. Pedro
explicava a Ace quais eram as tarefas para o dia seguinte. Observando Pedro, o único
homem realmente experiente naquela comitiva, Lynnie teve de reconhecer o grande
valor do mexicano. Se alguma coisa lhe acontecesse, todos estariam em maus lençóis.
A maioria dos caubóis era jovem, Cookie vivia meio bêbado e Ace, além de
inexperiente, era um boa-vida mimado e irresponsável.
Ao cair da noite todos sentaram na relva para comer. Desta vez Cookie havia se
superado. A comida não podia estar pior. Só mesmo o velho Twister e Bonny
apreciavam os biscoitos e pães duros que recebiam. Bonny chegava a empurrar o
touro na disputa por mais uma daquelas delícias, provocando o riso dos caubóis.
Lynnie cozinhava bem e teve vontade de se oferecer para preparar as refeições para
aqueles pobres homens. O trabalho deles era árduo e eles mereciam um tratamento
melhor. Porém, se fizesse isso não apenas provocaria a ira do cozinheiro, como
levantaria suspeitas de todos.
Depois do jantar um dos rapazes tocou violão para animar a turma. Quando ele
terminou, Pedro foi ver um dos cavalos que estava mancando e Ace fez a escala dos
caubóis que iam vigiar o rebanho durante a noite.
— Joe, você e Lee serão os primeiros — declarou.
Lynnie suspirou. Estava morta de cansaço. Um dos rapazes não concordou com
a decisão e protestou:
— Ace, parece que você quer castigar o garoto. Ele não fez nada para merecer
isso.
— Não quero castigar ninguém. Quando Lee se dispôs a tomar parte nesta
viagem, sabia que ia ser dureza.
— Mas ele está fazendo tarefas além de sua obrigação — alegou Comanche.
— Lee andou se queixando para algum de vocês?
— Não me importo de fazer o turno — Lynnie interveio e foi depressa selar um
cavalo descansado.
Como gostaria de dormir pelo menos uma hora. Mas não estava disposta a
protestar. O que menos queria era dar àquele brigão motivo para mandá-la embora.
Quando montou o cavalo e olhou para trás, viu Ace com os olhos fixos nela, como se a
estivesse acusando de ter feito alguma coisa errada.
Tinha andado algumas centenas de metros quando o cavalo tropeçou e ela,
sonolenta, caiu da sela. Com medo de estar com algum osso quebrado, movimentou-
se com cuidado antes de tentar levantar-se. Poucos segundos depois Ace estava do
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 86
lado dela.
— Olá, garoto, você se machucou?
— Não sei... talvez meu tornozelo...
— Que diabo, Lee! Você está mesmo disposto a me fazer parecer cruel diante
do pessoal! — Ace ergueu-a do chão e antes de carregá-la para o acampamento, falou
em tom mais cortês: — Pode deixar, faço o turno por você.
— Você é maravilhoso! — Sem pensar no que estava fazendo, Lynnie deu-lhe
um beijo no rosto.
Ace parou de andar e arregalou os olhos, horrorizado.
— O que é isso? Se você pensa que sou um desses maricás, está enganado.
Acabando de falar, ele jogou-a no chão e foi pegar o cavalo dela.
"Vá para o inferno! Qual é o problema com ele?", Lynnie pensou.
Sentia o traseiro doendo por ter sido jogada no chão sem a menor cerimônia.
Bem, o que tinha havido entre eles não fora sério, e os homens que estavam reunidos
perto da fogueira não podiam ter visto nada daquela distância. E quanto a Ace? Teria
ele descoberto quem era ela por causa daquele beijo estúpido, embora espontâneo?
Não, não era possível.
Levantando-se, viu que Ace, já montado, tocava o cavalo na direção do rebanho,
para fazer seu turno de vigia. Ela voltou mancando para perto da fogueira, estendeu o
colchonete no chão e adormeceu embalada pelo cricrilar dos grilos e os pios de aves
noturnas.
Ace cavalgou ao redor do rebanho cantarolando. Tinha a mente tumultuada por
causa do tal Lee Smith. Podia parecer absurdo, mas o jovem caubói estava começando
a mexer com seus sentimentos. O pior é que ele tinha gostado daquele beijo que o
garoto lhe dera no rosto. Lee devia ser um desses jovens afeminados que gostavam de
homens. Bem, Ace Durango, certamente, não era maricas.
Por isso, desde que se sentira atraído pelo garoto, tratara de castigá-lo
atribuindo-lhe tarefas extras, esperando que ele se cansasse e abandonasse a
comitiva. Realmente, não estava gostando nem um pouco dos pensamentos ternos que
começava a ter sobre o rapazinho.
Quando seu turno terminou, Ace voltou para perto do fogo e acordou Comanche
para substituí-lo. Ficou horrorizado ao ver que Lee estava dormindo bem junto do lugar
onde ele tinha deixado o colchonete. Teria o garoto percebido que despertara nele
mais do que simples simpatia?
A resposta só podia ser positiva, senão o rapazinho não teria se deitado
justamente ali. Ace olhou para aquela pequena forma enrolada nas cobertas e sufocou
um forte desejo de se deitar aconchegado a ela.
Maldição, o que estava acontecendo com ele? Ergueu do chão o rolo com o
colchonete e as cobertas e foi deitar-se o mais distante possível de Lee Smith.
Adormecido, sonhou que estava em um saloon em Dodge City, cercado de mulheres
sensuais, ansiosas para lhe dar prazer. Beijou uma delas e, de repente, a mulher
tornou-se o rapaz chamado Lee. Ace deu um pulo e ficou sentado no colchonete,
ofegante e molhado de suor. E essa agora! Ninguém poderia jamais saber de sua
atração secreta pelo garoto. Mas isso tinha de passar. Ace Durango precisava de uma
mulher, nada mais. Assim que estivesse na cama com uma prostituta ficaria curado
daquela loucura. No entanto, naquela noite quase não dormiu. Quando se levantou seu
humor estava tenebroso. Novamente na estrada, manteve-se bem longe de Lee Smith.
Senhor, aquele dia, ao que tudo indicava, iria ser longo, penoso, decepcionante e
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 87
confuso.
ela. Ace Durango era um autêntico texano e não iria tolerar ser superado por uma
mulher.
Enquanto cavalgava ao redor do rebanho, cumprindo seu turno, Lynnie pensava
no ribeirão, tentando encontrar um meio de dar um mergulho. Estava suada, sentia
coceira e o rosto parecia ter uma dezena de camadas de pó. Quem sabe, quando
terminasse seu turno e todos estivessem dormindo, poderia entrar na água.
Sim, faria isso. Não suportava mais aquela sujeira.
Olhou para as estrelas e admirou-se ao ver tanta beleza. Uma brisa suave
enchia o ar com o perfume das flores silvestres. Por um momento chegou até a achar
que aquela viagem não estava sendo tão ruim. Então se lembrou de que gostar ou não
de estar vivendo como um caubói era irrelevante. O trabalho que tinha para realizar,
esse, sim, era importante. Era a razão de todo aquele sacrifício.
Participaria da manifestação das sufragistas, assim estaria ajudando o Texas a
ocupar um lugar na história do país como um estado progressista e de vanguarda. Sim,
faria isso, mesmo que tivesse de lidar com brutos indomados como Ace Durango, com
seus coices e gritos de protesto. As mulheres eram inteligentes; já era mais do que
tempo de elas conseguirem direitos iguais aos dos homens.
Um jovem de Bandera, chamado Joe, veio substituir Lynnie e ela voltou para o
acampamento onde todos dormiam. Esse era o momento de tomar banho sem ser
vista. Pegou um pedaço de sabão, roupas limpas, e foi para o ribeiro.
Ace abriu os olhos e viu que Lee tirava alguma coisa da sela de Bonny. O que o
garoto estaria aprontando àquela hora? Curioso, acompanhou com o olhar o rapaz que
se afastava na ponta dos pés. Ace continuou deitado por alguns minutos, os ouvidos
apurados. O garoto não voltou. Teria resolvido abandonar o grupo por achar que
estava sendo tratado com muita severidade? Não, aquela égua cinzenta, horrorosa,
continuava onde o dono a deixara, pastando na campina. Lee só poderia ter ido até o
ribeirão. E se ele não soubesse nadar? Será que tinha caído na água e se afogara?
Ace começou a ficar preocupado com a segurança do rapazinho e isso o
aborreceu. Nunca tivera cuidados com ninguém exceto ele próprio.
Sentou-se no colchonete, calçou as botas e desceu para o ribeirão. Viu Lee
Smith de costas, na água, se ensaboando. Mesmo sabendo que não devia estar ali
espionando, continuou no mesmo lugar. Como estava escuro, não era possível ver a
cena muito bem. Mas dava para perceber que a pele de Lee era alva.
Em certo momento a lua saiu detrás de uma nuvem e as formas do rapazinho
ficaram bem delineadas contra a escuridão da noite. Aquela visão excitou Ace e ele
murmurou uma praga. Era demais o tormento que havia passado naqueles dias por
causa de Lee Smith.
Agora o garoto estava lavando os cabelos. Como? Cabelos longos? Longos e
ruivos? Por que um homem haveria de usar cabelos longos? Ele observou, incrédulo,
toda a operação de lavar e enxaguar aquela farta cabeleira. Por fim, quando o rapaz
virou-se e saiu da água, Ace ficou boquiaberto. Seus olhos deviam estar lhe pregando
uma peça.
Sem pensar no que estava fazendo, desceu para a margem do ribeirão com
raiva e alívio ao mesmo tempo. O som de passos assustou a figura, que tentou pegar
suas roupas. Tarde demais. Ace tropeçou, caiu sobre ela e ambos rolaram no chão.
— Uma garota! Você é uma garota! — ele exclamou, tendo sentido o contato
com a pele macia e as curvas daquele corpo.
— Tire suas patas de cima de mim — Lynnie gritou e começou a se debater.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 90
Capítulo XI
— Como se atreve a me chamar de vadia! Seu pai vai ficar sabendo disso! —
Lynnie exclamou, indignada, querendo livrar-se de Ace, que a encarava com ódio.
Os homens que chegaram ao ribeirão ficaram de olhos arregalados.
Desesperada, sem saber o que fazer, ela enterrou os dentes na mão dele.
— Você é pior do que um coiote! — Ace soltou-a e sacudiu a mão para aliviar a
dor.
Ainda estonteado por causa da situação inusitada, só pôde manter os olhos fixos
em Lynnie, que pegara suas roupas e começava a se vestir. Mal podia acreditar que a
moça a quem costumava se referir como uma solteirona, assim, despida, com aquela
cascata de cabelos ruivos molhados tocando-lhe os ombros, era uma verdadeira
tentação. Bem, ele reconhecia que aquele corpo não era dotado de curvas voluptuosas
como as das mulheres de sua preferência. Mas quando a agarrara e rolaram ambos no
chão, a suavidade dela despertara nele algo selvagem, apaixonado, um desejo
incontido de fazer amor com ela ali mesmo, na margem do ribeirão. Fazer amor com
Lynnie McBride? Será que ficara maluco? Não, tudo acontecera só Porque estava sem
mulher havia muito tempo.
Recuperando-se do espanto, ficou irado.
— Eu devia dar umas chicotadas no seu traseiro!
— Você não ousaria, seu texano bruto!
Assim zangada a mulher parecia mais tentadora. Ela estava acabando de vestir
as calças quando Ace viu os caubóis parados a pouca distância dali. É claro que não
iria deixar aqueles olhares curiosos pousados em Lynnie. Foi ao encontro deles.
— Voltem para o acampamento, hombres. Não há muito que ver; é apenas
Lynnie McBride.
Os homens ficaram calados, mas não foram embora.
Lynnie tateou procurando a camisa limpa que tinha deixado na relva. Os seios
dela podiam não ser enormes, mas não eram tão pequenos. E eram perfeitos, Ace
constatou, novamente irritado porque sentiu o endurecimento do membro viril. Ele
entregou-lhe a camisa.
O velho Cookie chegou perto deles e espantou-se com a cena.
— O que está acontecendo?
Mais do que depressa Ace ficou na frente de Lynnie e começou a abotoar a
camisa que ela acabara de vestir.
— Tire essas patas daí, Ace Durango — ela protestou e bateu nas mãos dele.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 91
— Mas que droga, só quero ajudar. Estou tentando proteger sua dignidade.
Realmente, zangada ela ficava quase bonita, ele pensou.
— Você também estava tentando proteger minha dignidade quando rolou comigo
no chão, estando eu nua?
Os homens cercaram os dois, ardendo de curiosidade.
— Nua?! — Joe arregalou os olhos. — Ela é uma garota?
— É apenas Lynnie McBride — Ace respondeu. Continuou olhando para aquele
rostinho zangado. Parecia que ela ia chorar. Ele não poderia dizer se estava sentindo
alívio porque, afinal, não era afeminado, ou com raiva por ter sido enganado durante
tanto tempo por aquela mulher ardilosa.
A expressão de Comanche era de divertimento e incredulidade.
— Então Lee Smith é uma garota?
Alguns homens riram.
— Temos uma garota viajando conosco?
— Ei! Mais respeito! Ela não é do tipo que vocês estão pensando — Ace
apressou-se em dizer.
Não queria que nenhum daqueles rapazes alimentasse idéias sobre entrar
debaixo das cobertas de Lynnie. É claro que todo esse cuidado era porque seu pai e tio
Maverick ficariam possessos se algum dos homens tocasse nela. Ele mesmo estava se
controlando para não sacudi-la com violência. Os olhos verdes estavam inundados de
lágrimas, mas Lynnie endireitou os ombros e afastou-as com as costas das mãos.
Pedro chegou até eles, carrancudo.
— Ace, foi você quem trouxe a señorita?
Ace sentiu-se ofendido.
— Se eu tivesse de trazer uma mulher às escondidas, certamente não seria ela.
Comanche espreguiçou-se.
— Pois pra mim, ela é muito boa e bonita.
— Comanche, acho que você está na estrada há muito tempo para dizer isso —
Ace replicou.
Diante do insulto, Lynnie chutou a canela de Ace. Ele ficou pulando num pé só e
Lynnie encarou os caubóis.
— Pessoal, entrei nesta comitiva fazendo-me passar por vaqueiro porque preciso
muito chegar a Dodge City para um grande encontro de mulheres. Estamos lutando
pelos nossos direitos. Como ninguém quis me ajudar, disfarcei-me de rapaz, vocês têm
de admitir que fui mais esperta do que todos, pois os enganei por mais de duas
semanas.
— Señorita, seu cunhado sabe disso? — Pedro indagou.
— É claro que não. Você acha que Maverick e Cayenne me deixariam vir? Sou
independente, planejei tudo sozinha.
— Eu devia esquentar seu traseiro com umas boas palmadas — disse Ace.
Lynnie ergueu bem a cabeça.
— Não se deve falar assim com uma lady. De qualquer forma, tente, seu
brutamontes.
Pedro suspirou.
— Eu dispensaria de bom grado este tipo de problema. Mas a questão, señorita,
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 92
problemas é você.
— Será que vocês dois não vão parar de discutir? — Cookie interveio.
Lynnie dirigiu-se a Pedro.
— Pedro, você é um homem sensato e certamente entende que a viagem tem de
continuar. Não é por causa de um frouxo como Ace que iremos desapontar todos que
estão contando conosco para que este gado chegue a Dodge City.
— Si, está certa, señorita — Pedro concordou com Lynnie.
Vendo que os caubóis também a apoiavam, Ace não se conteve e gritou:
— Não caiam na conversa dela! Esta mulher matreira está querendo tapear
todos vocês. Temos de voltar para casa.
— Matreira? Eu? Sou uma lady frágil e inexperiente. Vocês, sim, entendem de
gado, são espertos, responsáveis, fortes, e saberão ó que fazer. A decisão fica por sua
conta.
— Sou a favor de deixar a jovem lady ir conosco — propôs Hank.
Vários rapazes apoiaram Hank, o que provocou ainda mais a raiva de Ace.
— Vocês são mesmo burros como uma porta! Não percebem o que está
acontecendo?
Lynnie fingiu estar chorando. Ficou até com os olhos úmidos e sufocou um
soluço.
— Por favor, Ace, não devemos influenciá-los. Vamos deixar que Pedro e os
rapazes decidam o que fazer, sem a nossa interferência.
Ace olhou ao redor e, percebendo que se houvesse uma votação ele perderia de
longe, propôs:
— Vamos decidir isso entre nós dois, Lynnie. Sugiro uma prova... um desafio. Se
você ganhar, continuaremos a viagem você irá conosco; se perder, voltaremos para
casa.
— Que tipo de prova?
— Um jogo de cartas.
Houve um murmúrio geral de protesto.
— Ora, Ace, não é justo. Nenhuma mulher vence um homem num jogo de
cartas. Especialmente você, que é considerado um ás.
Pedro coçou a cabeça.
— Nunca tive um problema desses antes. Não sei o que fazer.
— Então deixe que ela decida. Espero que você não esteja com medo de aceitar
o desafio, Lynnie McBride.
— Que jogo você propõe? — ela quis saber.
— Não aceite, srta. Lynnie! — Comanche advertiu-a. — Ace é o melhor de todo
o Texas.
— Obrigada pelo interesse, Comanche. Eu sei que Ace Durango tem muita
prática, pois não sai dos saloons. Entretanto, não vou me acovardar. Aceito o desafio,
señor Durango.
Os olhos de Ace brilharam como os de uma raposa astuta.
— Posso escolher o jogo?
Cookie abanou a cabeça.
— Isso é loucura, srta. Lynnie. Não deixe que ele escolha.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 94
Todos os caubóis olharam para Ace de modo reprovador por ele aproveitar-se de
uma jovem simpática e tão ingênua.
— Está feito. — Lynnie estendeu a mão. — Você escolhe o Jogo.
Ace sorriu.
— Nada de joguinhos tolos como uíste. Que tal pôquer?
O protesto foi geral.
— Pôquer? Não é justo! — exclamou um.
— Ace é um campeão nas cartas — murmurou outro.
E os demais comentários foram semelhantes.
Pôquer. O pretensioso estava caindo direitinho na armadilha. Lynnie disfarçou
um sorriso e assumiu uma expressão inocente.
— Pôquer? Pode ser, desde que alguns dos rapazes me ensinem as regras do
jogo.
— Feito! — Ace curvou-se e moveu o braço num largo gesto, indicando que
Lynnie devia precedê-lo. — Vamos para perto da fogueira.
Entusiasmado, Cookie liderou a marcha.
— Vou fazer café, já que iremos ficar acordados.
Ace pegou o baralho e todos se reuniram ao redor de uma grande rocha
achatada que um dos homens forrou com um cobertor.
— Corte — pediu Ace entregando a Lynnie as cartas que tinha acabado de
embaralhar.
Ela colocou os óculos e olhou para o baralho parecendo confusa.
— Como? Não sei o que...
Os caubóis dirigiram a ela um olhar de pena, mas Ace sorriu, complacente.
Comanche adiantou-se e pegou o baralho.
— Faça assim, srta. Lynnie. As cartas devem ficar bem misturadas. — Ele fez
uma demonstração e devolveu o maço a ela.
Sempre sorrindo inocentemente, Lynnie correu o polegar pela beirada do maço.
Como suspeitava, o baralho tinha cartas marcadas. Podia sentir em algumas delas os
sinais feitos com a unha.
— Eu gostaria de usar um baralho novo — pediu com um sorriso tímido.
— O quê? O que há de errado com este baralho? — Ace questionou.
— Está sujo, só isso — ela respondeu simplesmente. -— Talvez seja melhor
lavar estas cartas.
Os caubóis riram e Ace suspirou alto.
— Alguém tem um baralho bem limpo, novo e bonito para esta jovem lady usar
sem sujar as mãozinhas?
— Eu tenho — disse Comanche e correu a buscar o baralho.
— Aqui está.
— Ah, este é bem melhor — Lynnie aprovou ao receber o maço de cartas.
Tirou o curinga e começou a embaralhar as cartas. Olhou para Ace e adorou ver
a cara dele ao observar a perícia com que ela lidava com o baralho. A princípio os
olhos escuros demonstraram incredulidade, depois, estupefação. Na verdade ele tinha
a mesma expressão de choque de uma corça diante da lanterna do caçador. No
entanto, ela estava certa de que o machista não acreditava que uma mulher soubesse
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 95
choque.
— Ah, e tem esta com o número dez. Todas são de copas. Isso é importante?
— Royal straight flush! — exclamou Cookie, incrédulo.
Ace praguejou, os caubóis riram e um cutucou o outro.
Lynnie perguntou com ar de inocente, adejando os cílios:
— Isso quer dizer que eu ganhei?
— Maldição! Você sabe que sim! Não acredito que eu fui derrotado por uma
mulher! Nunca vi ninguém com tanta sorte.
— Sorte? Por que não admite que sou inteligente e esperta?
Não houve resposta porque Ace levantou-se tão zangado que deu um chute na
rocha que servira de mesa e ficou pulando num pé só, gemendo e praguejando.
— Isto serviu para provar que as mulheres são iguais aos homens e merecem ter
os mesmos direitos, inclusive o direito de votar.
— Você não embaralhou as cartas direito. Você trapaceou — Ace acusou-a.
— Quem deu as cartas foi você, não se lembra disso, não? Olhe aqui, seu
verme, admita que tentou usar no jogo aquele seu baralho com cartas marcadas. Mas
eu venci porque joguei melhor do que você. Foi um jogo honesto.
— Ouçam, hombres, vocês acham que podemos continuar a viagem com ela?
Esqueçam o jogo de pôquer. O meu voto é para cancelar da viagem e a mandar esta
solteirona de volta pra casa.
— Ora, você é desprezível, Ace Durango. Por que devo ser mandada embora?
Fizemos uma aposta, eu ganhei e você não mantém sua palavra? Não quer admitir que
jogo melhor do que você, não reconhece que desempenhei bem minhas tarefas e não
aceita que uma mulher possa estar em pé de igualdade com um homem.
— Quem usa saia não pode ser igual a um homem. E se eu quisesse trazer uma
mulher nesta viagem, não escolheria você, Lynnie McBride.
— Eu sei que tipo de mulher você escolheria — Lynnie retrucou e voltou-se para
Pedro. — O que você acha, Pedro?
O mexicano suspirou; não podia deixar de ir a favor dela.
— A srta. Lynnie tem razão, Ace. Vocês fizeram uma aposta e ela ganhou
honestamente. Além disso, ninguém pode negar que ela tem feito bem seu trabalho. E
nunca reclamou das tarefas extras que você mesmo lhe atribuiu.
— Pois eu digo não! N-Ã-O! — Ace rugiu. — Uma comitiva sempre foi masculina
e isso não vai mudar. Imaginem como a turma de Forrester vai rir quando chegarmos a
Dodge City com uma mulher entre nossos caubóis.
— Covarde! — Lynnie gritou.
— Lady, no Texas, quando alguém chama um homem de covarde, deve estar
disposto a brigar.
Ela cerrou os punhos.
— Ah, você quer bater numa mulher? Pois venha!
Ace olhou ao redor.
— Ei, rapazes, estão vendo com quem estamos lidando? — Ele virou-se para
Lynnie. — Você sabe que eu jamais lutaria com uma garota.
— Fique quieto e me ouça — ela ordenou. — Você fez aquela aposta porque
imaginou que eu não soubesse jogar, e perdeu por ser mau jogador. Percebi que,
quando suas cartas não eram boas, você mordia o lábio, mesmo que estivesse
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 98
sorrindo. Qualquer bom jogador de pôquer presta atenção nesses tiques. Ace Durango,
você foi derrotado no jogo e superado em esperteza.
— Você é a mulher mais insolente que conheço. É ou não é muito azar ser
obrigado a fazer esta viagem com alguém assim? Você devia levar uma surra para
aprender a ter um pouco de respeito.
— Será que não se cansa de falar em bater, em brigar e coisas desse tipo? E
saiba que eu respeito quem merece ser respeitado.
— A jovem lady tem coragem e espírito — comentou Hank. — Os texanos
gostam disso numa mulher. Todos nós somos testemunhas de que ela o derrotou, Ace.
Pedro, eu acho que devemos permitir que ela continue conosco até o fim da viagem.
Frustrado, Ace deu um tapa na testa.
— Não! Esta mulher tem arruinado a minha vida desde que fui obrigado a levá-la
àquele baile. Ela vai continuar me infernizando até chegarmos a Dodge City.
Os homens trocaram idéias e concordaram com Hank. Cookie deu seu parecer:
— Ela ganhou honestamente. Ace tem de manter sua palavra.
— Si. E foi Ace quem fez a aposta — complementou Pedro.
— Hombres, vocês estão loucos? A questão não é a aposta. Não vêem que não
podemos tratá-la de igual para igual? Ela é mulher.
Lynnie forçou os olhos a se encherem de lágrimas.
— Você é mesquinho. Não leva em consideração o trabalho que eu fiz e não
aceita meus argumentos. E, pior ainda, não quer cumprir o que prometeu. Lembro-me
bem de que suas palavras foram: "Se você ganhar, continuaremos a viagem e você irá
conosco; se perder, voltaremos para casa". Eu ganhei, portanto você deve honrar sua
palavra.
Por um momento Ace ficou em silêncio, embaraçado. Depois, gaguejou:
— Bem... não é tão simples assim... Como eu já disse... o problema é que você é
mulher.
— Hombre, pare de aborrecer a pobre señorita — Pedro interrompeu-o.
— Foi ela quem começou. É sempre assim, ela arranja a confusão e eu levo a
culpa.
— Chega! — Pedro trovejou. — Hombres, a señorita continuará conosco até
Dodge City.
Os caubóis deram vivas. Ace sentenciou:
— Nós vamos nos arrepender. Vocês não conhecem Lynnie McBride tão bem
quanto eu.
Cookie bocejou.
— Vamos dormir. Logo vai amanhecer.
Lynnie enxugou os olhos e sorriu para Ace.
— Fingida — ele acusou-a. — Vocês, mulheres, se fazem de frágeis e usam as
lágrimas para conseguir o que querem Ao mesmo tempo, exigem direitos iguais aos
dos homens.
— Já acabou? Com licença.
Lynnie ia se afastar, mas ele a segurou pelo braço.
— Você é traiçoeira.
— E inteligente? Esperta?
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 99
Capítulo XII
Ele praguejou e voltou para a pedra onde estivera sentado. Lynnie seguiu-o com
o olhar. Será que ele a odiava, realmente? Por que ele agia assim, quando os outros
eram tão gentis e mostravam-se ansiosos para agradá-la? Uma coisa era certa: uma
mulher respeitável acharia difícil colocar um freio naquele cavalo bravio.
Juntos, Cookie e Lynnie prepararam uma refeição de dar água na boca. Os
homens também estavam limpos e bem penteados quando se aproximaram do velho
fogão para serem servidos. Alguns tinham até passado brilhantina ou tônico nos
cabelos. Ace, ao contrário, recusara-se a ir ao arroio para se lavar.
— Você está parecendo um vagabundo de estrada — ela criticou-o ao servir-lhe
o guisado.
— E daí? Você pode até transformar esses tolos em maricas, Lynnie McBride,
mas não eu.
— Não se preocupe, essa não é a minha intenção.
— Melhor assim. — Ele começou a comer. — Hum... este guisado não está mau.
— Mesmo as mulheres modernas que lutam pela emancipação feminina podem
aprender a cozinhar — observou com altivez. — Isso as garotas da srta. Fancy
certamente não fazem.
— Nem precisam. Não é nos dotes culinários delas que os homens que as
procuram estão interessados — Ace rebateu.
— Hombre, deixe a jovem lady em paz — Pedro ordenou.
— Foi ela quem começou.
— Ela só pediu pra você se lavar — disse Cookie. — Temos uma lady entre nós
e devemos ser mais educados e elegantes.
— Vou odiar o resto desta viagem — Ace resmungou.
Ele ia se levantar, mas Lynnie avisou:
— É melhor continuar sentado para experimentar a torta de ameixa.
— Não quero essa droga de torta.
Ele foi para a outra extremidade do acampamento, fumando e soltando
baforadas. Lynnie anunciou que a torta ia ser servida. Os caubóis foram depressa até
ela e não pouparam elogios à sobremesa e à cozinheira.
— O cheiro está muito bom, srta. Lynnie.
— Aposto que você faz a melhor torta de todo o Texas.
— Bem, já ganhei alguns prêmios em feiras do condado — ela admitiu.
Ela serviu os caubóis generosamente e esperou que Ace deixasse o mau humor
e voltasse para junto dos outros. Mas ele continuou distante, sentado na pedra e
fumando. Que arrogante, orgulhoso e obstinado! Ela pensou um pouco e levou a última
fatia da torta para a carroça. Ao vê-la com o prato na mão, Cookie perguntou:
— Vai guardar essa torta pra aquele mal educado?
Ela sentiu o sangue afluir-lhe ao rosto.
— É claro que não. Mas sobrou este pedaço e, se você quiser, pode dar para ele
quando sarar do mau humor.
— Ele é muito orgulhoso, srta. Lynnie.
— E eu não sei disso? Além de orgulhoso, é rude e teimoso. Isso mesmo.
Parece um desses cavalos selvagens que se tornam excelentes quando alguém
consegue domá-los. Eu quero distância de cavalos e homens selvagens.
Ela desceu da carroça e foi para perto da fogueira. Os homens pararam de falar
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 103
Lynnie adorou aquele dia de trabalho. Pela primeira vez ajudou os caubóis a ir
atrás das reses extraviadas para trazê-las de volta ao rebanho. Quando teve a
oportunidade, passou pelo carroção para saber como estavam os bezerros. Cookie
sorriu e lhe acenou.
— Estão ótimos, srta. Lynnie. Estou cuidando deles.
Ela lhe dirigiu o mais caloroso dos sorrisos.
— Eu tinha certeza de poder contar com você, Cookie. — Ela foi até Pedro. —
As coisas estão bem?
O mexicano assentiu com um movimento da cabeça.
— Si. Em dois ou três dias cruzaremos o rio Vermelho e estaremos no Território
índio.
—Mas você parece preocupado. Por quê?—ela questionou, tendo notado as
rugas na testa de Pedro.
— Atravessar o rio Vermelho é sempre motivo de preocupação. Muitos bons
caubóis já morreram afogados naquele rio quando o atravessavam com uma boiada.
Imagens do gado se debatendo, empinando e relinchando, homens lutando
contra a correnteza, formaram-se na mente de Lynnie.
— Temos você, Pedro, e confiamos na sua experiência para nos levar até a
outra margem do rio com sucesso.
— Si, já atravessei o Vermelho várias vezes. Conheço os trechos mais rasos.
— Ainda bem, porque os caubóis não têm experiência.
Ela afastou-se de Pedro e cavalgou até Ace. Ele estava suado, com a camisa
grudada ao corpo, modelando cada pedacinho do largo tórax. Ela foi descendo o olhar
e admirou os contornos das coxas musculosas bem marcados pela calça justa. Ao
focalizar a virilha, arregalou os olhos. Lembrou-se daquele fim de tarde em que o vira
completamente nu e sentiu o rosto queimar.
Ace percebeu aquele rubor e perguntou:
— O que aconteceu? Você está vermelha como um pimentão.
— Nada. Estou corada... por causa do sol — gaguejou. — Eu estava
conversando com Pedro e ele disse que chegaremos ao rio Vermelho em dois ou três
dias.
— Ainda bem que Pedro está conosco. Para atravessar o rio Vermelho um
condutor de boiada tem de saber o que está fazendo. Esse rio já matou muita gente.
Lynnie estava prestando mais atenção no corpo de Ace do que no que ele dizia.
Envergonhada, censurou-se:
"Que pensamentos impróprios são esses? Desse jeito você não parece muito
melhor do que as garotas da srta. Fancy".
Mas sua mente rebelde continuou livre e solta. Tentou imaginar o que Ace
poderia fazer quando estava com aquelas mulheres. De repente, uma fantasia
surpreendeu-a. Ace, forte, moreno, sensual, nu, a agarrava e a deitava sobre lençóis
alvos...
— Lynnie! O que há? Você parece nervosa e tensa.
— Nada. — Ela esporeou a égua e afastou-se.
Capítulo XIII
primeira coisa que ele há de fazer, será matar Margarida e os outros bezerros.
— Pedro, você acha que Ace seria capaz de terminar esta viagem? — indagou
Joe.
Pedro hesitou.
— Não sei. O trabalho de um chefe de comitiva é árduo e exige hombres
especiais. Hombres com garra, que põem a alma e o coração no que estão fazendo.
Está no sangue, sim, mas receio que Ace ainda não esteja pronto. Enfim, a decisão só
pode ser dele.
Reinou na roda um clima de incerteza. Lynnie imaginou que todos estavam
pensando que Ace Durango, moço rico, mimado, irresponsável, cujos interesses eram
o jogo, mulheres e bebida, seria incapaz de substituir Pedro.
Um dos homens arriscou-se a opinar:
— Mesmo que a gente quisesse que Ace assumisse o comando, ele não
aceitaria. Se vocês estão lembrados, ele vem insistindo para voltarmos para casa
desde o início desta viagem.
Isso era verdade, os caubóis reconheceram. Lynnie dirigiu-se a Pedro.
— O que você diz a isso?
— Ele é forte e corajoso. Só acho que lhe falta mais autoconfiança.
— Vou falar com ele. — Lynnie levantou-se e foi atrás de Ace.
Chamou-o, mas ele nem se virou para olhar para ela.
— O que você quer? — Ele parecia triste, deprimido.
— Conversar. Os rapazes estão considerando a possibilidade de continuarmos a
viagem sem Pedro.
Ace ficou em silêncio por vários segundos.
— Os homens devem ter confiança no seu chefe — disse ele, finalmente. —
Você acha que eles confiariam em mim? Todos me conhecem como um jogador,
mulherengo, desordeiro, entre outras coisas. Os vaqueiros sérios me consideram uma
piada, sei disso.
— Acho que você pode provar o seu valor. O momento é este — disse ela pondo
a mão no braço dele.
— Eu nunca senti, realmente, que tinha algum valor. Você pode imaginar o que
seja tentar corresponder às expectativas de um pai como o meu? Trace Durango é
uma lenda viva em todo o Texas. É respeitado, é maior do que sua própria vida. Eu
nunca achei que poderia ser um homem como ele.
— Pois errou no seu julgamento. Você pode ser como Trace.
Ace continuava de costas e virou-se bruscamente.
— Você, melhor do que ninguém, sabe que tipo de homem eu sou; um inútil,
uma piada.
Ele parecia tão arrasado que ela, não resistindo ao impulso, beijou-o. Os olhos
escuros mostraram-se surpresos. Em seguida, Ace enlaçou-a pela cintura e seus lábios
se apossaram dos dela. A princípio ela ficou atônita com a própria reação e a atitude
dele. Sentindo o calor do beijo de Ace e a maciez dos seus lábios, entregou-se no
círculo seguro daqueles braços fortes. Eles ficaram unidos experimentando sensações
inexprimíveis naquele momento que, para Lynnie, estava sendo o mais doce e perfeito
de sua vida.
O momento mágico terminou tão rapidamente quanto havia começado. Ace
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 114
acontecesse.
— Eu sei me cuidar. E, voltando ao jogo de pôquer, eu ganhei; se não estou
enganada,o nosso trato era que eu podia continuar com vocês.
Fez-se silêncio. Lynnie chegou a temer que cometera um erro ao mencionar que
tinha derrotado Ace nas cartas. Ele pigarreou.
— Digamos que, tendo sido você quem provocou o estouro da boiada, estamos
quites.
— Não é justo mudar o que foi tratado — Lynnie protestou. — Uma coisa não
tem nada a ver com a outra, mas você quer arranjar um pretexto pra se livrar de mim.
— Ei, Ace, a srta. Lynnie é uma garota de coragem — disse Cookie. — Eu
odiaria perdê-la.
Lynnie encarou Ace com expressão de desafio.
— Alguém aqui não pensa como você, Cookie. Mas você sabe do que é capaz
um perdedor ferido...
— Pense e diga o que você quiser. Amanhã cedo Pedro será levado para a
estação e você também irá para casa.
— Não é justo! Não é justo mesmo!
Os homens olharam para ela com simpatia.
— Ouça, jovem lady, atravessaremos alguns rios perigosos, entraremos no
Território índio e teremos outras dificuldades — Ace mencionou pacientemente. —
Espero que entenda que são problemas demais, mesmo sem a gente ter de lidar com
calças e outras peças íntimas femininas.
— Eu já disse não quis provocar o estouro da boiada. E já pedi desculpas.
— Não quis, mas provocou. E desculpas não remediam os estragos. Você vive
falando em igualdade de direitos, mas todos os homens irão cercá-la de cuidados e
atenções. Não, srta. McBride, não precisamos de distração feminina.
Lynnie voltou-se para Pedro com um apelo no olhar.
— Sinto muito, señorita, mas, se Ace é o novo chefe, sua palavra, de agora em
diante, é lei.
— Odeio você, Ace Durango! — Lynnie pegou o rolo com o colchonete e as
cobertas e foi deitar-se perto da égua.
— Você ouviu, Bonny? Amanhã cedo eles nos colocarão num trem. Posso
esquecer Dodge City.
A égua relinchou e esfregou o focinho no braço de Lynnie, recebendo dela um
agrado.
O pior, Lynnie pensou, era voltar para casa frustrada por não ter comparecido ao
grande encontro das sufragistas. Que Ace Durango se danasse, mesmo tendo ele a
beijado. Ou teria sido ela quem o beijara? Bem, uma coisa era certa, aquele beijo
jamais teria acontecido se ela soubesse que o miserável pretendia excluí-la da viagem.
Ela dormiu chorando. Sonhou que estava nos braços de Ace Durango e ele a
beijava apaixonadamente. Entre os beijos sussurrava no seu ouvido: "Acredito que
homens e mulheres devem ter os mesmos direitos". Acordou ciente de que só mesmo
em sonhos Ace diria algo semelhante. Machista, presumido e teimoso como uma mula!
Oh, Percival ou Félix, modelo de homem civilizado, onde você está?
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 116
Pela manhã, Pedro foi colocado na esteira, feita pelos rapazes com galhos de
salgueiro e forrada com cobertores, que já estava atrelada a um cavalo. Hank e Joe
foram designados para levar o chefe acidentado e Lynnie até a estação.
— Assim que embarcarem Pedro, a srta. McBride e as montarias, voltem para
esta estrada e nos encontrem, bem mais ao norte — Ace ordenou. — Deixaremos o
gado pastando mais duas horas, depois partiremos.
Lynnie tentou mais uma vez antes de montar Bonny.
— Por favor, Ace, dê-me outra chance.
— Não. — Ele nem olhou para ela. — Você só aumentaria meus problemas e
problemas já tenho demais. Diga a meu pai que telegrafarei quando chegarmos a
Dodge City. Isto é... se chegarmos lá.
Furiosa, ela atacou:
— Egoísta! Para você tudo o que importa é livrar-se de mim e concluir esta
viagem, só para mostrar do que é capaz.
— Você vai montar nessa égua ou prefere que eu a ponha na sela?
— Tente, seu...!
Antes de terminar a frase viu-se no ar e jogada em cima da sela, apesar dos
chutes, mordidas e gritos.
— Odeio você, Ace Durango!
Ace fez com a cabeça um sinal para os dois rapazes.
— Não saiam de perto dela e a coloquem naquele trem com Pedro. — Ele
inclinou-se para o amigo. — Você está bem? Acha que vai agüentar até chegar em
casa?
— Sim, estou muito bem. — Pedro estendeu a mão para apertar a de Ace. — Só
lamento não terminar a viagem com vocês.
— Também lamento. — Ace apertou a mão calejada e morena do mexicano. Por
um instante seus receios e sua insegurança espelharam-se no belo rosto. — Deseje-
nos sorte; vamos precisar muito dela.
A expressão dele sensibilizou Lynnie. Teve certeza de que poderia ajudá-lo caso
tivesse permissão de ficar. Mas o grande presunçoso nunca admitiria que poderia
precisar da ajuda de uma mulher.
Os caubóis acenaram com os chapéus e o pequeno grupo partiu.
— Adeus, Pedro, adeus, srta. Lynnie.
Lynnie olhou para trás.
— Cookie, cuide bem de Margarida.
O velho senhor tomou um gole de sua bebida com baunilha. Estava realmente
pesaroso.
Eles rumaram para o Leste, deixando para trás o acampamento e a enorme
manada pastando, mugindo, berrando.
Da esteira, Pedro ergueu a cabeça para poder olhar para Lynnie.
— A decisão de Ace foi a melhor, señorita. Eles têm pela frente grandes
desafios. A travessia do rio Vermelho é um deles. Depois há o Território índio onde,
muitas vezes, alguns guerreiros saem da reserva e causam problema. Mais para o
norte há o rio Cimarron, traiçoeiro, com areias movediças.
Lynnie sabia que Cimarron queria dizer "bravio": o perigoso rio era lendário. Ela
suspirou e virou-se na sela para olhar para trás.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 117
Capítulo XIV
Duas horas depois de Hank e Joe terem partido para levar Lynnie e Pedro à
estação, Ace e os caubóis puseram, finalmente, o rebanho na estrada. Era quase meio-
dia. O tempo não estava firme; no horizonte, ao norte, nuvens escuras se formavam. A
grande preocupação de Ace era chegar ao rio Vermelho antes que o nível da água
aumentasse. O rio já era perigoso e estando cheio esse perigo tornava-se muito maior.
Diante de problema tão sério, Ace receou estar sendo imprudente. Talvez estivesse
cometendo um erro ao continuar a viagem, pondo em risco a vida de seus homens.
Quem sabe teria sido mais sensato voltar com o rebanho, uma vez que a pior parte da
viagem ainda estava por vir. Entretanto, todos votaram a favor de seguir adiante.
Depositaram nele toda confiança; não podia desapontá-los. Ele lembrou-se das
palavras de Lynnie: "Você pode provar o seu valor. O momento é este". Irritou-se por
ter pensado nela. Que ela se danasse. Aquela teimosa era culpada do atraso da
viagem e de tantos outros problemas. A estrada boiadeira Chisholm não era lugar para
uma mulher. Isso era o que sua cabeça dizia, mas no fundo já sentia falta dela.
Sim, era como sentir falta de uma bota que machucava o pé, ele refletiu tristonho
e cavalgou acompanhando o rebanho, incitando os animais a seguirem mais depressa.
fora, irritado.
— Não a defenda. Se eu pudesse torceria aquele pescoço.
— Um bonito pescoço, por sinal — Comanche comentou.
— Comanche! — Ace rosnou.
— Sinto falta da srta. Lynnie. — Cookie suspirou. — A garota era boa
companhia. Educada, inteligente...
— Ah! Irritante, insuportável, você devia dizer — Ace contrapôs. — Aquela
mulher bem que merecia umas boas palmadas no traseiro.
— Quero ver se você tem coragem de tentar — replicou Cookie.
Os outros riram, mas ficaram quietos ao ver a cara fechada do chefe.
— Cookie, vá cuidar da bóia — Ace ordenou. — E todos vocês, parem de
defender aquela garota teimosa como uma mula empacada.
Todos estavam jantando quando Hank e Joe chegaram ao acampamento.
— Deixamos os dois no trem e passamos o telegrama para Trace Durango.
— Vocês esperaram até o trem partir?
— Não, estávamos com pressa. Assim que deixamos Pedro bem acomodado,
viemos embora.
— Vocês deviam ter esperado o trem partir. — Ace suspirou, exasperado. —
Aquela Lynnie é cheia de manhas, astuta como um coiote.
— O que é isso, chefe? Ela é apenas uma garota. Que tipo de truque ela poderia
inventar? — Joe questionou.
— Vocês não a conhecem como eu. Lynnie não é como as outras moças. — Ace
remexeu nos bolsos tentando encontrar tabaco seco. — A garota é esperta; esperta
como qualquer homem. Nunca se sabe o que ela pode aprontar.
— Você acha que ela é esperta como um homem? — Joe arqueou as
sobrancelhas, admirado.
Ace refletiu um instante antes de responder.
— Sim, infernos, ela é mais esperta do que a maioria dos homens — admitiu,
embora contra a vontade.
Cookie pigarreou.
— A moça tem muita coragem, espírito e determinação.
— Você está certo — Ace concordou.
Ficou pensativo, enrolando seu cigarro. O Texas tinha sido conquistado por
pessoas corajosas e determinadas que se mantiveram firmes contra qualquer
adversidade. Ele olhou ao redor e o acampamento pareceu vazio sem Lynnie.
Comanche suspirou.
— Vou sentir falta dela. A srta. Lynnie era especial.
— Sim, era especial — Ace concordou. Vendo que todos olhavam para ele como
se o estranhassem, acendeu o cigarro, fumou e soltou uma baforada, irritado. — Está
certo, ela era especial, mas o pequeno demônio causou-nos mais problemas do que
um bando de índios bravos.
Ace acabou de comer e sentou-se numa pedra, debaixo de um álamo. Observou
em silêncio a boiada que se acomodava para a noite longa e chuvosa. De fato, Lynnie
era especial, diferente da maioria das mulheres que ele já conhecera. Era inteligente,
esperta, valente e impetuosa. Adorava desafios. Era verdade que tinha provocado o
estouro da boiada. Ainda estava muito zangado com ela, mas sentia saudade dela. Ele
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 121
não era o único. Os rapazes sentiam falta dela e os bezerros também; especialmente a
bezerrinha vesga. Naquele dia Margarida tinha berrado bastante e procurado pela
dona. Ace olhou para o céu.
— Droga, será que nunca vai parar de chover?
— Bem, este é o Texas. Quando se trata de chuva, no Texas é assim: festa ou
fome — Cookie comentou, olhando também para o céu escuro. — Se o rio Vermelho
estiver cheio, vai ser difícil como o diabo atravessá-lo com toda esta boiada. O velho rio
já afogou mais caubóis do que dez outros rios juntos. E, se conseguirmos ir adiante,
teremos de enfrentar o Cimarron com suas areias movediças.
— Você está mesmo bastante animador, hem, Cookie? — Ace resmungou.
Mais uma vez ele considerou se não seria mais sensato dar-se por vencido e ir
para casa enquanto era tempo. Pensou no pai. Trace Durango não poria o rabo entre
as pernas e fugiria, amedrontado. Ele conduziria a boiada e atravessaria o rio com
sucesso. Mas Ace não era o pai. Não obstante, Lynnie tivera confiança nele, acreditara
que ele seria capaz de conduzir o rebanho até Dodge City. Não, ele não podia
enfrentar aquela pequena irritante e dizer-lhe que tinha fracassado.
— Vamos seguir adiante. Enfrentaremos o rio, de qualquer jeito que ele esteja, e
outros desafios — ele decidiu e jogou o cigarro fora. — Farei o primeiro turno de
guarda. Vocês, rapazes, organizem-se para os outros turnos.
— Chefe, você está cansado — Comanche protestou.
— Vocês também estão. Eu sou o responsável por este rebanho.
Ele arranjou um cavalo descansado, sacudiu a capa de chuva e montou o
animal. Sob aquele aguaceiro, a noite pareceu-lhe infinitamente longa e escura.
Começou a cantar para se distrair e acalmar o gado. Pensou em Lynnie. Ela estava
viajando confortavelmente e quase chegando em casa. Sorte dela. Se tivesse ficado
com eles estaria penando com aquele mau tempo. Realmente, a vida de vaqueiro não
era para mulheres. Bem, Lynnie era diferente. Animada. Inteligente. Corajosa. Falava
sobre todo tipo de assunto e não sobre festas e roupas como as outras moças.
Finalmente, parou de chover e as estrelas surgiram no céu. Ace lembrou-se de
uma lenda indígena que dizia que as estrelas eram janelas do céu por onde os
espíritos das pessoas amadas olhavam para os entes queridos que tinham deixado na
terra. De certa forma, era confortador pensar assim.
pescoço, imobilizando-o.
Guardou a pistola e deu a volta para ficar atrás do intruso. O lugar era alto e dali
se podia ver todo o acampamento. O ladrão bastardo estava esperando para atacar
quando todos estivessem dormindo. E, certamente, não estava sozinho, devia ter
cúmplices escondidos ali perto. Assim pensando, Ace saltou sobre o vulto que tinha
desmontado.
— Peguei!
O intruso lutou para se defender e os dois rolaram na lama. Ace percebeu,
surpreso, que homem era pequeno demais. Deu um grito ao levar uma dentada na
mão.
— Saia de cima de mim, seu gambá fedorento.
Essa voz...? Uma mulher? Horrorizado, Ace olhou para a moça que estava
debaixo dele. Seu chapéu tinha caído e os cabelos vermelhos estavam esparramados
no chão barrento.
— Lynnie! Com mil demônios, o que faz aqui?
Ela lutou, mas não conseguiu libertar-se.
— Estou tentando tirar um hombre imprestável de cima de mim. Saia daí,
maldição!
— Não fica bem uma lady praguejar.
Ace percebeu, confuso, que estava com raiva de Lynnie, mas também muito
contente por revê-la.
— Saia de cima de mim, eu já disse!
Ace nem se mexeu. Estava adorando deixá-la zangada e desconfortável.
— Sua pestinha, você devia estar naquele trem, quase chegando em casa.
— Como você pode ver, não estou no trem, coisa nenhuma. Saia logo!
Relutante, ele ficou de pé e ofereceu a mão para Lynnie. Ela não quis ajuda e
levantou-se sozinha. Ergueu o chapéu do chão, puxou Bonny pela rédea e começou a
andar na direção da fogueira. Ace seguiu-a esbravejando.
— O que você estava fazendo rondando nosso acampamento como um coiote
faminto? Sabe que por pouco não levou um tiro?
— Você não ousaria. Eu contaria tudo a seu pai.
— Se você estivesse morta não contaria coisa nenhuma.
— Está certo. Bem, eu voltei, mesmo sabendo que você iria ficar furioso, porque
preciso chegar a Dodge City.
— E você acha que conseguirá? O pior desta viagem ainda está por vir.
— Conseguirei. A necessidade é a mãe da invenção — ela citou com altivez.
— O que isso quer dizer?
— Não vem ao caso. Ouça, Ace, a questão é: vocês têm de levar esta boiada
para Dodge City e é para lá que eu quero ir. Aí eu disse a mim mesma que era meu
dever ajudá-lo, amigo, pois vocês nunca chegarão lá sem mim. Então me certifiquei de
que Pedro estava bem e desembarquei antes que o trem deixasse a estação.
Ace ouviu tudo boquiaberto.
— O quê? Então você acha que eu não conseguirei chegar com a boiada a
Dodge City sem a sua ajuda? Ouça aqui, jovem lady...
— Ace, por favor, estou exausta, com fome e com sono. Temos de dormir um
pouco, para estar em condições de conduzir este rebanho para a estrada ao nascer do
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 123
sol.
— Ao nascer do sol vou mandá-la de volta para o trem.
— Não haverá trem amanhã. O próximo só passará no vilarejo na semana que
vem. Além disso, você precisará da ajuda de todos, até da minha, para atravessar o rio
Vermelho, principalmente estando cheio.
— Está certo — Ace cedeu, reconhecendo a lógica do argumento. — Você pode
terminar a viagem conosco, mas fica avisada, serei tão severo que você lamentará ter
desembarcado daquele trem.
— Não pense que me assusta, Ace Durango. Aceito a condição.
— Pode parar. Não fica bem você me contar essas coisas — ela interrompeu-o.
A imagem dele deitado com uma mulher aborreceu-a.
— E não fica bem você estar sob minhas cobertas.
— Ora, não seja tão lógico. Cale-se e durma.
— Pare de se encostar em mim. Sua roupa está molhada.
— Só quero me esquentar um pouco.
— Droga. Você vai saber o que é um homem quente se continuar se encostando
em mim desse jeito.
— O que está insinuando?
— Nada, querida. Agora fique quieta. — Ele puxou o chapéu sobre o rosto.
— Não me chame de querida. Não sou querida de ninguém.
— Nunca ouvi palavras mais verdadeiras do que essas. Durma.
Lynnie inspirou fundo, agradecida pelo calor que Ace irradiava.
— Muito obrigada, Ace.
— Por nada. Pare de se mexer — ele murmurou, sonolento.
— Você não é durão nem mesquinho como quer parecer, Ace Durango — Lynnie
falou suavemente.
Certa de que ele estava adormecido, empurrou o chapéu dele e beijou-o no
rosto. Surpreso, ele ergueu-se e apoiou-se num cotovelo.
— O que foi...?
— Desculpe. Eu... não pensei... — ela gaguejou. Sentia-se tão vulnerável e tola.
O corpo musculoso contra o dela estava tenso e Ace parecia zangado.
— Lynnie, você é inocente demais; não sei como lhe explicar certas coisas. Só
lhe digo para não beijar um homem quando está assim, tão perto dele.
— Eu fiz alguma coisa errada? Foi um simples beijo no rosto.
— É melhor você arranjar outro lugar pra dormir.
— Está me mandando embora? Onde irei dormir?
Ela estava irresistível, olhando para ele com aquela expressão entre aflita e
zangada. Impulsivamente ele inclinou-se e beijou-a. Por um momento ela ficou imóvel,
parecendo chocada, depois o abraçou e correspondeu ao beijo.
Dessa vez quem se mostrou chocado foi ele. Com um murmúrio rouco, tomou-a
nos braços e beijou-a possessivamente. Os lábios dela eram macios, cálidos e úmidos,
seu corpo estava solto, lânguido, ele só pensava em beijá-la e continuar beijando...
Ofegante, ela separou-se dele para respirar.
— Você... tem razão... É melhor eu arranjar outro lugar para dormir.
Ace caiu em si. Estava maluco? Sua pulsação tinha disparado e tudo por causa
daquela garota.
— Não. Droga! Eu vou dormir em outro lugar. — Ele empurrou as cobertas e
levantou-se. — Fique com tudo.
— Mas... e você?
— Eu me arranjo.
Ele virou-se e caminhou na direção da carroça, com o corpo doendo e ainda
excitado. Lynnie era muito inocente para saber o que acabara de fazer com ele. Teve
consciência de que nunca tinha desejado uma mulher tão intensamente quanto,
naquele momento, desejava Lynnie McBride. Lynnie McBride? A professora solteirona?
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 125
"Ace, meu rapaz, você está na estrada há um tempo longo demais. Lembre-se
dos problemas que aquela pequenina já causou na sua vida".
Ele estava com raiva, tanto de si mesmo como de Lynnie. Não entendia por que
a abraçara e a beijara tão ardentemente. Mas a verdade é que desejara mantê-la bem
perto dele e ir além, muito além de meros beijos.
Sim, reagira daquela maneira por estar na estrada havia muito tempo. Quando
chegasse a Dodge City e estivesse na cama com prostitutas, não sentiria por Lynnie a
menor atração. Ela continuaria sendo, como sempre fora, um estorvo na sua vida. Foi
para debaixo da carroça e ficou deitado, sentindo-se péssimo, frustrado, ouvindo os
roncos de Cookie e dos bezerros. De onde estava podia ver Lynnie enrolada nas
cobertas e dormindo bem quentinha no colchonete dele. Droga de garota presunçosa.
Ele iria fazer com que ela se arrependesse de ter desembarcado daquele trem.
Ace ia explicar que tivera uma noite horrorosa, mas desistiu. Lynnie era esperta
e inteligente. Talvez mais do que ele. Portanto, quanto antes aquela discussão
acabasse, melhor.
— Vamos conduzir o rebanho para a estrada, pessoal. — Ace voltou-se para
Cookie. — Cookie, quando você acha que chegaremos ao rio Vermelho?
O velho senhor cofiou a barba grisalha.
— Talvez no fim desta tarde. Se a chuva não parar, o rio estará cheio.
— Isso não pode ser evitado. — Ace encolheu os ombros. — Vamos enfrentar o
Vermelho com a cara e a coragem.
Ele tocou o cavalo para alcançar Lynnie.
— Você está bem?
— Sim, obrigada — ela respondeu, a água pingando da aba do Stetson.
Ace olhou para a égua cinzenta.
— Estou enganado, ou essa égua velha ultrapassou meu garanhão durante o
estouro da boiada?
— Ultrapassou.
— As éguas em geral não são mais velozes do que os garanhões.
— Só porque Bonny é uma égua não pode ser mais veloz do que um cavalo? As
fêmeas têm de ser vagarosas e...
— Lynnie, não comece. A propósito, onde você arranjou essa égua?
— Ela pertence ao pai de Penélope. O sr. Dinwiddy pretende ganhar muitas
corridas com Bonny.
— Ele pode não gostar de você ter roubado a égua.
— Eu não a roubei, só tomei Bonny emprestada.
— Aposto que pegou a égua sem o conhecimento do dono. Roubar cavalos é
crime; pode levar à forca.
— Vou devolver Bonny quando eu voltar desta viagem. Sentirei me separar dela.
Já me afeiçoei a esta égua.
— Bem, você tem os bezerros. Por falar nisso, olhe lá a sua Margarida.
A bezerra tinha posto a cabeça para fora da cobertura de lona da carroça e
olhava para eles. Pelo menos parecia estar olhando. Vesga como era, tornava-se difícil
ter certeza.
Ele tocou o cavalo para frente, deixando Lynnie seguindo-o com o olhar,
confusa. Estava mudando de opinião sobre Ace Durango. Ele não era tão severo e
teimoso como sempre havia considerado. E, na noite anterior, deitada do lado dele,
sentira um desejo incontrolável de beijá-lo. Quando ele a abraçara e se apossara dos
lábios dela de maneira tão ardente e dominadora, queria que ele continuasse a beijá-la
até deixá-la sem fôlego. Mas ele se levantara depressa como se tivesse formigas no
corpo. Isso era realmente intrigante.
No fim da tarde eles chegaram ao rio Vermelho. Tinha parado de chover, mas,
como temiam, o rio estava cheio; atravessá-lo poderia ser desastroso. A questão era:
Ace Durango teria capacidade para enfrentar essa situação crítica? A vida de todos
eles poderia depender da decisão que ele viesse a tomar.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 127
Capítulo XV
Lynnie olhou para a correnteza e suspirou. Não era à toa que o rio tinha o nome
de Vermelho. O grande rio que separava o estado do Texas do Território índio tinha cor
de sangue. Na época da enchente o Vermelho ganhava uma tonalidade mais clara por
causa da espuma na crista das pequenas ondas.
— O que você acha? — Lynnie perguntou a Ace.
Ele se aproximou mais da margem do rio praguejando. Ela o seguiu.
— Perderemos metade da boiada se tentarmos atravessar agora; isto sem falar
em nós, os vaqueiros.
Comanche reuniu-se a eles. O rapaz, mestiço de índio, olhou desolado para a
água.
— Dizem que o Vermelho já matou mais caubóis do que qualquer outro rio do
Oeste. Será que é verdade?
— É claro que é verdade, seu ignorante — Cookie gritou da carroça, tendo
acabado de refrear os cavalos.
No rosto de Ace podia-se ver sua preocupação. Era evidente que ele duvidava
de sua capacidade. Um homem que sempre fora irresponsável, sentia, de repente,
sobre os ombros o peso da responsabilidade pelo sucesso daquela viagem conduzindo
um enorme rebanho. Parecia mais velho, mais cansado. Como chefe da comitiva, teria
de prestar contas se a viagem terminasse em desastre.
— A chuva parou. Será mais prudente esperarmos dois ou três dias para a água
baixar — Ace decidiu.
— Pelo jeito que está a relva, o rebanho de Forrester passou por aqui há dois
dias e conseguiu atravessar o rio antes de começar a chover.
Lynnie ficou em silêncio, cabisbaixa. Se ela não tivesse causado o estouro da
boiada, Pedro não teria quebrado a perna, eles teriam chegado ao rio antes da
enchente, sendo possível fazer a travessia com sucesso. Este era o momento de ela
fazer alguma coisa para ajudar Ace e seus homens. Tinha uma dívida para com eles.
— Não podemos esperar muito. Quase não há relva para o gado pastar —
Cookie opinou.
— Você acha que não sei disso? Sou o responsável pelos homens e pela
boiada. Não posso perder metade do gado na correnteza nem pôr a vida dos rapazes
em risco.
Lynnie o ouviu, surpresa. A firmeza de sua voz revelou que ele tinha autoridade
e também havia amadurecido. Deixara de ser um rapaz e tornara-se um homem. Ace
Durango precisava de todo apoio.
— Bem, todos nós ouvimos o chefe — disse ela. — Vamos desmontar e
organizar o acampamento.
— Você! — Ace apontou para ela. — Você, saia do caminho e suma da minha
vista.
Ela reconheceu que merecia isso e não discutiu. Ace tinha razão de estar
zangado. Era melhor andar com cautela perto do grande chefe durante o resto da
viagem.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 128
Na manhã seguinte o rio estava mais baixo, mas não tão calmo como era de se
desejar. O gado berrava e se dispersava à procura de relva. Ao olhar para a água Ace
sentiu o suor brotar em seu rosto e nas costas. A correnteza avermelhada, para um
homem com pavor de águas profundas, assemelhava-se a sangue fluindo.
— Não é possível esperar mais; temos de atravessar o rio hoje — ele declarou
com firmeza.
Cookie abanou a cabeça com ar de dúvida.
— A água ainda está alta.
— Eu já disse que não é possível esperar. Temos de atravessar hoje — ele
rosnou.
Todos se entreolharam.
Ace estava certo, Lynnie pensou. Eles tinham de correr o risco. No entanto, o
que a estava intrigando era o comportamento de Ace. Ele parecia nervoso, temeroso
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 130
demais. Havia alguma coisa errada; algo que não tinha a ver com perder reses na
correnteza.
— Se Ace diz que não podemos esperar, estou com ele. E vocês?
Cookie abanou a cabeça de novo.
— A correnteza é forte.
Os outros também se mostraram inseguros.
— Ora, se a jovem lady não está com medo, por que eu estaria? — Hank
questionou.
— Eu também não quero ser vencido por uma garota. Vou com vocês —
Comanche decidiu.
Por fim, todos concordaram que deviam tentar fazer a travessia. Ace limpou o
suor do rosto com as mãos ligeiramente trêmulas. Isso não passou despercebido a
Lynnie. Ele dirigiu-se a Cookie.
— Você acha que o carroção também atravessará?
O velho senhor assentiu com um movimento da cabeça.
— E os bezerros da srta. Lynnie também.
— Ei, Margarida, não tenha medo — disse Lynnie para a bezerra.
Margarida pôs a cabeça para fora do carroção e berrou.
— Estou preocupado com você — disse Ace a Lynnie. — Você está sob minha
responsabilidade.
— Eu sei nadar. Não se preocupe — ela tranqüilizou-o.
— Se você for apanhada no meio do redemoinho causado pelo gado em pânico,
se movendo em círculos, de nada adiantará saber nadar. A propósito, desde quando
uma garota aprende a nadar? Não conheço nenhuma que nade.
— Pois eu aprendi com meus sobrinhos Crockett, Bowie e Travis.
— Seja como for, você terá dois dos rapazes do seu lado, caso alguma coisa
aconteça e você precise de ajuda.
— Não quero! — Ela protestou. Seu rosto ficou vermelho e Ace mais uma vez
reconheceu que ela ficava muito atraente quando zangada. — Vou ajudar a conduzir a
boiada como os outros rapazes.
— Já tenho muitos problemas; não preciso aumentá-los discutindo com uma
mulher teimosa.
— Ótimo. Então pare de discutir comigo.
Ela montou Bonny e reuniu-se aos outros caubóis que já estavam perto do
rebanho, aguardando instruções.
— Muito bem, rapazes, Cookie irá na frente. As mulas nadam bem e o carroção
flutuará. Em seguida nós começaremos a tocar o gado para dentro do rio. Temos de ir
devagar porque os animais terão medo e tentarão voltar. Aí está o perigo, portanto, não
podemos deixar que isso aconteça. Temos de evitar que o gado, em pânico, cause um
redemoinho e boa parte do rebanho morra afogada.
Os caubóis não escondiam sua apreensão. Até os cavalos, como se
pressentissem o perigo, estavam inquietos, batendo os cascos e relinchando.
— Estão todos prontos? — Ace inspirou fundo e olhou para a água. A correnteza
vermelha pareceu-lhe ter dez quilômetros de largura e centenas de metros de
profundidade. — Está bem, Cookie, pode começar!
O velho senhor tocou as mulas com as rédeas. Elas avançaram, mas hesitaram
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 131
deitariam com ele de graça. Mas será que ele era mesmo tão bom de cama?
"Oh, em que estou pensando?", disse a si mesma, sentindo o rosto arder por
causa das imagens que lhe vieram à mente.
Não via a hora de chegar a Dodge City e separar-se de Ace e dos rapazes que a
achavam bonita e especial. Voltaria a ser ela mesma, moça sem graça, mas inteligente,
sufragista e representante das mulheres texanas na luta pelo direito de votar.
Para o inferno com Ace Durango. Era melhor se deitar. Esse dia fora
terrivelmente cansativo e eles tinham ainda várias semanas de viagem. Cookie já a
havia prevenido que o pior ainda estava por vir. Poderia alguma coisa ser pior ainda do
que eles já tinham passado?
Capítulo XVI
— Você acha que Lynnie McBride concordará em dormir com você numa tenda?
Posso apostar que ela há de preferir lutar com os índios a dormir com você.
— Dispenso o sarcasmo — Ace replicou exausto e de mau humor. — Ela vai
entender a situação e irá comigo para a tenda. Lynnie sabe que nada irá acontecer.
Será menos perigoso dormir com uma cascavel do que tentar tirar as calcinhas de
Lynnie McBride.
Comanche zangou-se.
— Cuidado com o que você diz sobre a srta. Lynnie. Acho que você devia ser
mais gentil.
— Comanche — Ace suspirou —, continuo a achar que você está na estrada há
tempo longo demais.
— E eu não sei? Há uma indiazinha muito bonita olhando pra mim e parece que
tem alguma coisa em mente — Comanche observou.
Cookie riu.
— E você merece aquele bombonzinho?
— No momento, acho que sim.
Ace recomendou mais uma vez:
— Homens, vigiem bem o rebanho.
Ele foi conversar com Lynnie.
— O quê? Não vou para a tenda com você — ela protestou.
— Bem, há algumas noites, quando você quis um lugar para dormir, não hesitou
em pedir um cantinho no meu colchonete.
Ela enrubesceu.
— Isso foi diferente. Nada aconteceu.
— Nada vai acontecer agora. Na verdade, não seria má idéia sair por baixo da
tenda e ir ao encontro daquela bonita moça comanche.
— Você não teria coragem.
— Você se importaria se eu a procurasse? Mas se quer saber, só não vou ao
encontro dela porque eu sei que aquele guerreiro filho do chefe entraria na tenda assim
que eu saísse.
Lynnie sentiu um arrepio de medo.
— Muito bem, o que vamos fazer?
— Agora eu vou carregá-la para aquela tenda. Amanhã, quem sabe, darei alguns
novilhos para o chefe comanche e continuaremos a viagem.
— Não precisa me carregar. Tenho boas pernas.
— Calada e trate de me obedecer.
Ace ergueu Lynnie, colocou-a no ombro e seguiu para a tenda. Ela começou a
espernear e a gritar.
— Me ponha no chão, seu monstro!
— Fique quieta, mulher! — Ele deu uma palmada no traseiro dela e continuou a
carregá-la.
Os comanches riram. Furiosa, Lynnie mordeu o ombro dele e ganhou outra
palmada. Chegando à tenda, ele empurrou o couro que servia de porta e jogou Lynnie
sobre um colchão de palha coberto com couro de búfalo.
— Sabe que você é mais feroz do que um lince? — ele acusou-a e esfregou o
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 141
ombro dolorido.
— Você me bateu. Eu tive de me defender.
— Chega, Lynnie. Você não quer que eu diga aos comanches que menti; que
você não é minha mulher, não é mesmo?
Naquele instante uma velha índia entrou na tenda sorridente e ofereceu a Ace
um fino couro de búfalo. Ele agradeceu e como a velha ficou parada encarando-o, ele
abraçou Lynnie e beijou-a.
A velha pôs a mão na boca e riu, indo embora em seguida.
— Comporte-se, Lynnie, a mulher pode voltar. Temos de demonstrar que somos
um casal amoroso. — Ele continuou a beijá-la insistentemente, sua boca pressionando
a dela, a língua forçando seus lábios a se entreabrirem.
— Eu... eu acho que você tem razão — Lynnie murmurou, entregando-se nos
braços de Ace. O beijo estava bom demais. — Temos de ser bem convincentes.
— É isso mesmo. — Ele aproveitou para fazer uma pausa para respirar.
Suas mãos, no entanto, se ocuparam em abrir a camisa de Lynnie. Ela não
ofereceu a menor resistência e deixou-se acariciar. Ace ergueu o tronco, apoiou-se
num cotovelo e ficou olhando para ela.
— Lynnie, você é, realmente, muito bonita.
— O que deu em você pra me elogiar?
— Durante estas semanas eu a tenho observado. No meio dos caubóis, você
deixou de ser a professora empertigada e autoritária. Você é natural, entusiasmada e
cativante. Isso faz com que sua beleza apareça. E o seu jeito inocente e ao mesmo
tempo atrevido, desafiador, esses cabelos flamejantes, a tornam desejável. Em
resumo, você é bonita e sexy. Acredite em mim. Ah, e olhe-se mais no espelho.
Ele voltou a beijá-la e a acariciá-la sem lhe dar tempo para argumentar. Mas o
que ela menos queria era discutir num momento como aquele. Eles ouviam os
tambores tocando lá fora. Os índios pareciam dispostos a continuar dançando e
festejando. De certa forma, o barulho deixou Lynnie amedrontada e ela aconchegou-se
nos braços de Ace, ficando ambos deitados, bem juntos. Esse contato excitou-o quase
a ponto de ele não se controlar.
— Lynnie, prefiro que você não se encoste tanto em mim.
— Por que não? — Ela aninhou-se mais nos braços dele.
— Garota, você não sabe nada sobre os homens. Uma mulher não se encosta
desse jeito num homem e em seguida fecha os olhos esperando dormir tranqüilamente.
— Não sei do que você está falando.
— Se você não fosse tão inocente... — Ele virou-se sobre ela e deu-lhe um beijo
impetuoso, de tirar o fôlego. Ela entreabriu os lábios e sentiu a língua dele brincar em
sua boca. Numa pausa que fez para respirar, Ace acabou de desabotoar a camisa dela
e passou a acariciá-la. Excitou os pequenos mamilos até deixá-los intumescidos. Ele
emitiu um som gutural, primitivo, e começou a sugar os botões róseos e a mordiscá-los.
Ah, aquela boca morna e úmida provocava em Lynnie sensações indescritíveis, que ela
jamais experimentara antes. A cultura podia não ser o forte de Ace, mas ele sabia dar
prazer a uma mulher, Lynnie pensou.
— Lynnie, nunca imaginei que você pudesse me fazer desejá-la deste jeito — ele
murmurou e desabotoou a calça dela, em seguida introduziu a mão dentro da calcinha
para acariciar-lhe o ventre. Baixando a cabeça, cobriu-o de beijos.
Lynnie prendeu a respiração; uma onda de prazer deixou-a trêmula.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 142
Mesmo que pensasse, não escolheria para esposa uma mulher teimosa e obcecada
por sua luta pelos direitos das mulheres. Nem ela o aceitaria para marido nem que ele
fosse o último homem sobre a face da terra. Lynnie não perdia a ocasião de declarar
para o mundo que jamais se prenderia a um homem que considerasse um bruto
indomado. Bem, quem sabe ela encontraria em Dodge City algum dândi com chapéu-
coco, o tipo do homem que gostava de poesia e que oferecia flores a uma dama.
Ace riu baixinho. Um tipo desses jamais domaria uma texana indócil como
Lynnie McBride. Mesmo ele não podia ter certeza de que daria conta dessa tarefa.
Também, não queria nem sequer tentar. Não; era melhor continuar com as alegres
prostitutas que não esperavam de um homem nada além de uns momentos de risos e
prazer.
Mal o dia começou a clarear, Ace acordou Lynnie. Ela olhou ao redor, meio
confusa.
— Você, seu patife, aproveitou-se de mim...
— Não aconteceu muita coisa, lembra-se?
— Não? Estou com a camisa aberta e as calças quase...
— Você cooperou bastante. Não é possível ter esquecido.
Lynnie ficou vermelha.
— Um cavalheiro não faz tais comentários. — Ela empinou o nariz.
— Você está certa. Mas vamos, levante-se. Temos de partir. Pode ser que o
guerreiro comanche tenha mudado de idéia.
Eles saíram da tenda e viram o velho chefe comanche reunido com vários índios.
Os caubóis estavam tensos e alarmados.
— O que foi? — Ace perguntou a Comanche.
— O chefe está dizendo que seu filho quer Cabelos-de-fogo. E está disposto a
lutar com homem branco para ter a mulher.
Ace sentiu os pelos da nuca arrepiados. Passou o braço pelos ombros de Lynnie
num gesto protetor.
— Diz pro chefe que ofereço ao nobre guerreiro cavalos excelentes e alguns
novilhos — Ace propôs.
O velho senhor abanou a cabeça enquanto o filho olhava para Lynnie como se a
desnudasse. Ace podia senti-la trêmula e assustada. O guerreiro comanche era muito
forte, mas Ace não tinha medo dele e pediu para Comanche transmitir seu recado.
— Avise o filho do chefe que preciso proteger minha mulher, por isso, aceito o
desafio. Lutarei com ele.
A idéia de ver dois homens lutando por ela era revoltante.
Ia protestar, mas Ace ordenou-lhe que ficasse quieta. Ela obedeceu-o sem
discutir.
Comanche transmitiu o recado. Ficou estabelecido que se Ace ganhasse a luta,
receberia como prêmio o melhor cavalo que houvesse na tribo. Se o índio fosse o
vencedor, teria Cabelos-de-fogo.
— Tenho confiança em você, Ace — disse Lynnie, o medo impresso nos olhos
verdes.
— Garota, eu gostaria que você tivesse seguido naquele trem — disse ele,
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 144
determinado a protegê-la.
Apesar do medo, ela revidou:
— E perder a brincadeira?
— Diz pro chefe, Comanche, que estou pronto pra defender minha mulher. Os
assistentes devem formar um círculo.
Em poucos minutos os índios formaram um grande círculo no centro do qual
ficaram Ace, sem camisa, e o guerreiro comanche apenas com uma tanga. O jovem
olhou para Lynnie e sorriu, como se dissesse: "Em breve você me pertencerá". Ela o
encarou, pálida, porém com expressão desafiadora.
A luta começou. Tanto o guerreiro quanto Ace andaram em círculo, cautelosos.
Inesperadamente, Ace abaixou-se, investiu contra o índio e prendeu-lhe as pernas.
Ambos rolaram no chão e lutaram levantando poeira, estimulados pelos assistentes. Os
dois provaram que eram bons de briga e a luta seguia empatada. A fama que Ace
granjeara de desordeiro e bom lutador tinha razão de ser. Saltou sobre o índio como
um lince, derrubando-o. O jovem guerreiro saiu agilmente de debaixo do adversário,
agarrou-o pelo pescoço e apertou-o com força.
Sem conseguir fazer com que o índio o soltasse, Ace não podia respirar e sua
visão escureceu. Sentia os pulmões queimando e foi tentado a desistir de lutar. Talvez
assim, o outro relaxasse, diminuindo a força das mãos. O que o salvou foi lembrar-se
do destino de Lynnie sendo obrigada a ficar com aquele selvagem. Ergueu os punhos e
acenou dois murros violentos nos antebraços do jovem comanche, que o soltou.
Apesar de arquejante, deu uma cabeçada no estômago do índio, fazendo-o cambalear.
Não satisfeito, deu-lhe um murro no queixo e ele caiu para trás.
A essa altura, Lynnie não agüentou mais e antes que alguém pudesse impedi-la,
entrou no meio da luta. Pulou em cima do índio caído e deu-lhe uns murros.
— Como ousou pensar que eu seria capaz de querer você?
Os assistentes riam e ridicularizavam o guerreiro por estar apanhando de uma
mulher.
Ace correu para ela, ergueu-a no colo.
— Garota, você não tinha que se intrometer.
— Vá pro inferno! Como não? É o meu destino que está em jogo — ela
respondeu se debatendo e esperneando.
Os índios gargalharam. O velho chefe chamou Comanche e lhe disse alguma
coisa. Ele voltou para Ace com o recado.
— O chefe mandou dizer que essa mulher é demais para qualquer homem. Ele
não quer que o filho nem sequer tente domá-la.
— Eu mesmo poderia ter dito isso a ele. -— Ace riu e manteve Lynnie a certa
distância. — Vou até os dois pra me despedir.
Ele deixou três novilhos gordos em agradecimento pela permissão de atravessar
o território. E se separaram como amigos. Quando colocou Lynnie na sela de Bonny,
murmurou:
— Vamos sair daqui antes que eles mudem de idéia.
Capítulo XVII
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 145
Os dias que se seguiram foram monótonos. O calor aumentava cada vez mais e,
por vezes, a água ficava escassa. Por fim, eles chegaram ao rio South Canadian, que
atravessava a parte central do Território índio. Esse rio era bem largo, mas raso. A
travessia foi feita sem problemas, o gado matou a sede e todos puderam tomar banho.
Eles continuaram para o Norte, por uma terra seca, até alcançarem o rio North
Canadian. Essa era a última oportunidade que eles tinham de encontrar água com
fartura, por isso trataram de aproveitar.
A travessia da grande planície foi difícil. O gado relutava em continuar, e a relva,
que já era escassa, estava pior porque tinha sido rapada pelo rebanho de Forrester.
Todos estavam muito nervosos e impacientes.
— Meu Deus, como está quente — Lynnie reclamou, enxugando o suor do rosto.
— Você está vermelha como uma lagosta na fervura — disse Ace.
— Por acaso você já viu uma lagosta?
— Não, mas deve ser vermelha, pois é comum alguém fazer essa comparação.
Se não encontrarmos água, teremos um problema sério. Precisamos de um pouco de
sorte.
O que eles tiveram foi má sorte. Um eixo do carroção quebrou e eles perderam
um dia para consertá-lo. Estando tudo tão seco, a fome castigava os animais
selvagens. Os coiotes rondavam o rebanho assustando as reses e não davam
descanso para os caubóis. De vez em quando eles viam sinais de índios e temiam um
ataque. Outro eixo do carroção quebrou e houve mais um dia de atraso. Naquela noite
todos estavam exaustos e desanimados.
De cócoras, perto da fogueira, Ace observou Lynnie. Seus lábios estavam secos
e o rosto queimado.
— Ei, garota, tome um pouco d'água. Meu cantil está cheio — ele ofereceu.
— Obrigada, já tomei.
— Lynnie, não minta pra mim. Eu sei que você dividiu a água do seu cantil com
os bezerros.
— O que você tem com isso? A água era minha.
Joe agachou-se perto deles.
— É melhor matarmos aqueles bezerros, assim teremos todo o leite das vacas
— ele sugeriu.
Lynnie atacou-o com os punhos.
— Não! Meus bezerros, não!
Ace segurou-a.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 146
O sol abrasador de junho tornou insuportável aqueles poucos dias de viagem até
o Cimarron. Quando ventava, densas nuvens de pó escureciam a estrada. Os homens
e o rebanho estavam prestes a cair de sede e cansaço quando o velho touro Twister
ergueu a cabeça, cheirou o ar quente e berrou. As outras reses fizeram o mesmo, a
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 147
Capítulo XVIII
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 150
— Ace, por favor, não morra. Preciso de você. Todos nós precisamos — Lynnie
falou, chorando. Não conseguiu conter as lágrimas, que pingaram no rosto pálido e
imóvel de Ace.
Ele abriu os olhos.
— Está... chovendo?
— Graças a Deus! Ace, aguente firme, os rapazes estão vindo nos ajudar.
— Será que eu ouvi direito? Você disse que precisava de mim.
— Ora, seu miserável! Você estava fingindo? Eu devia deixá-lo morrer. Cale-se e
segure na corda.
Bonny foi andando para trás, retesando a corda. Conseguiu tirar Ace da areia
movediça e puxá-lo para o trecho seguro do rio. Os caubóis os alcançaram e levaram
os dois para a margem.
— Vocês estão bem?
— Estou vivo graças a Lynnie — disse Ace. — Meu cavalo ficou para trás.
Alguém poderia buscá-lo?
— Deixe por nossa conta — disse Hank. — Agora é melhor vocês irem para a
carroça. Acamparemos logo adiante.
Naquela noite os caubóis foram dormir logo depois do jantar. Sentados num
tronco caído, Ace e Lynnie conversavam, cada um enrolado numa coberta. Suas
roupas secavam perto da fogueira.
— Devo-lhe a vida, Lynnie. Quase não consegui sair daquela areia. Subestimei
você — ele admitiu. — Você é tão boa quanto qualquer um dos caubóis desta comitiva.
— Então você perdoou tudo o que eu fiz de errado?
— Claro. A viagem teria sido monótona sem você. — Ace pôs a mão sob o
queixo dela e beijou-a suavemente.
— Ace, não precisa me beijar. Eu sei que não faço seu tipo nem sou bonita.
— Você é bonita. — Ele beijou-a novamente e manteve o braço ao redor dos
ombros dela.
Com os movimentos que ele fez, a coberta escorregou das suas costas.
Lynnie ficou em silêncio, como se tivesse medo de destruir a beleza e a paz da
noite. Para colaborar, o fogo crepitava criando uma atmosfera aconchegante no
acampamento. As estrelas, no céu, pareciam diamantes sobre veludo azul. Ela sentia
por Ace Durango algo diferente. Eles tinham passado juntos muitos perigos, sede,
desconforto e desalento. Com isso, começara a haver entre ambos certa cumplicidade.
— Sabe, Ace? Você é como seu pai. É forte e corajoso como ele, talvez até mais
— ela falou, por fim.
— Vindo de você, esse é um grande elogio.
Ela encostou a cabeça no peito dele.
— Quando você acha que chegaremos a Dodge City?
— Em pouco mais de uma semana. Duas, no máximo. Depois de tantos perigos
e contratempos acho difícil acreditar que conseguimos trazer o rebanho até aqui.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 151
dele contra sua pélvis, ao mesmo tempo em que a sua excitação atingia o limite. Foi
como se uma onda a arrebatasse a uma grande altura e a trouxesse de volta numa
torrente de gozo.
— Ace... Ace... — ela murmurou, mantendo-o preso no círculo de suas pernas.
Sentiu que ele sustinha a respiração e arquejava para então despejar suas
sementes dentro dela numa onda de prazer. Por um longo momento eles ficaram
entrelaçados, ofegantes, a carne ainda palpitante, aos poucos relaxando.
— Você é maravilhosa. Não me canso de amar você — Ace declarou, excitado
novamente, o membro em riste.
Quem era ela para protestar? Queria sentir os beijos ardentes de Ace
queimando-lhe a pele; queria-o de novo dentro dela. Ele penetrou-a e se amaram mais
intensa e loucamente do que antes. Depois de alcançarem o clímax, Ace beijou-a no
rosto e a manteve aninhada nos seus braços, experimentando a deliciosa sensação de
saciedade e de paz.
Ace acordou do lado de Lynnie antes de o dia clarear. Estavam ambos nus,
debaixo da manta que ele tinha jogado sobre o corpo de ambos. Lembrando-se do que
havia acontecido, ficou horrorizado.
"Meu Deus, tio Maverick vai me matar. Não, meu pai me matará primeiro",
pensou.
Lynnie se mexeu preguiçosamente e sorriu para ele.
— Já sei o que você vai dizer, Lynnie. — Ele pulou num pé só, tentando vestir a
calça. — O que aconteceu foi um grande erro. Sinto muito, eu a desonrei...
— Você me desonrou? — Lynnie sentou-se e puxou a manta para cobrir-lhe a
nudez. — Não acho que fazer amor seja desonra.
Ace levou o indicador aos lábios pedindo silêncio.
— Shh! Os homens podem ouvi-la.
— Por que temos de esconder que fizemos amor?
— Lynnie, vamos esquecer o que aconteceu, está bem?
— O quê? Eu pensei que a nossa noite de amor tivesse sido especial. — Ela
pegou uma de suas botas e atirou-a em Ace, atingindo-o entre as pernas.
Ele gemeu e praguejou alto.
— Droga! Não precisa ficar brava. Eu disse que sinto muito e reconheço que
serei obrigado...
— Você não é obrigado a nada! Eu não o aceitaria nem que me fosse
apresentado numa bandeja de prata! Portanto, mantenha-se distante de mim durante o
resto da viagem e fingiremos que nada aconteceu entre nós.
Lynnie controlou-se para não chorar. Sentia realmente afeição por aquele bruto e
ele, como todos os homens, a considerava apenas mais uma conquista.
— Quer dizer que se eu a pedir em casamento você dirá "não"?
— Eu estou dizendo "não". Ace Durango, você se considera um presente de
Deus para as mulheres, mas saiba que não foi tão ardente.
Ele a encarou, pasmado.
— Não seja fingida. Bem que você gostou. E se você nunca esteve com um
homem antes, não pode saber se eu fui ou não tão ardente.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 153
Tinha sido bom. E como! Muito melhor do que havia imaginado que poderia ser,
melhor do que nos romances que tinha lido. Porém, não iria admitir isso para aquele
presunçoso.
— Eu disse que você não foi tão ardente porque não me fez sentir nada.
— Nada?
— Isso mesmo Não será difícil esquecer o que aconteceu ontem à noite,
simplesmente porque, para mim, não significou nada.
— Mulheres!
Naquela noite, olhando para o céu estrelado, Cookie confirmou que estavam na
trilha Oeste. Eles acamparam e depois do jantar, quando tomavam café e ouviam
Lynnie contar uma de suas histórias, ouviram alguém chamando.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 155
Capítulo XIX
— Ora, vamos manter a calma — ele falou esforçando-se para não trair seu
nervosismo. — Um homem que fez tudo o que você disse só pode ser um verme
nojento.
— Um verme nojento. Eis aí uma boa descrição.
— Juro por minha honra que não fiz nada do que você me acusa. — Forrester
ergueu a mão. — Talvez as estacas tenham sido arrancadas pelo vento.
— Por que você está tão aflito, Forrester? Eu diria que está mais nervoso do que
uma prostituta na igreja, num domingo.
— Isso é coisa que se diga na frente de uma moça?
Ace franziu a testa.
— Peço desculpas à srta. Lynnie. Ela está conosco há tanto tempo que penso
nela como um dos caubóis. Bem, Forrester, você também jura pela sua honra de
texano que não inverteu aquela placa com as setas?
— Juro — Forrester respondeu mal humorado.
— Se ele jurou por sua honra, merece o benefício da dúvida — Lynnie opinou.
Os rapazes não concordaram com Lynnie nem acreditaram em Forrester.
Olharam para o chefe aguardando sua decisão. Willis Forrester notou que Ace era
respeitado pelos caubóis. Admirou-se de ver que o beberrão, mulherengo, jogador e
irresponsável tornara-se um líder, um verdadeiro chefe de comitiva. E a garota ingênua,
pelo modo como olhava para Ace Durango, evidentemente gostava dele.
— O que está acontecendo por aqui? — Forrester indagou, mais relaxado. — Os
caubóis parecem maricas, uma lady que conta histórias e lê poesias viaja com vocês, e
um bando de vacas e bezerros se enfeitam com fitinhas. Isso para não mencionar
aquele cavalo medonho, perto do carroção.
— Cuidado com as palavras! — Ace advertiu-o, zangado.
— Eu não quis ofender. — Forrester desmontou. — Hum, que cheiro gostoso de
café.
— Ninguém o convidou pra ficar. — Ace olhou com raiva para o intruso. — Você
não é bem-vindo, uma vez que há rivalidade entre nossas famílias.
— Já é tempo de acabarmos com essa inimizade.
— Isso irá acontecer quando eu me convencer de que os Forrester não são tão
desonestos como sempre achei que eram.
Willis Forrester cerrou os maxilares, engoliu a raiva e forçou um sorriso. Era
melhor não provocar a ira de um Durango. Voltou a atenção para a garota ruiva e
queimada de sol.
— Ora, se não é a filha de Joe McBride. O que faz aqui, doçura?
— Meu nome não é doçura — Lynnie respondeu em tom agressivo. — Mas, se
quer mesmo saber, estou ajudando a conduzir este rebanho.
— Isso mesmo — Cookie aparteou. — E estamos muito felizes por poder contar
com a ajuda desta lady.
— Lady?! — Purdy bufou. — Minha irmã, sim, é uma verdadeira lady e pura
como a neve.
— Hum... neve um pouco pisoteada — Lynnie murmurou.
— O que você disse? — O gordo Nelbert indagou, olhando para ela de modo
perscrutador. — Você é uma escandalosa. Se fosse uma lady, não perderia o emprego
nem iria para o quarto com Ace Durango.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 157
Ace estava para avançar em Nelbert, mas Lynnie segurou-o pelo braço.
— Não quero saber de briga por minha causa.
— A garota McBride é sensata. Pena que tenha perdido o resto de sua
reputação viajando com um bando de homens...
— Forrester — Ace rugiu —, você e esse Purdy balofo voltem pro seu
acampamento bem depressa. Se não fizerem isso, meus caubóis e eu vamos arrancá-
los da sela e cobri-los com esterco de vaca.
Os caubóis ficaram de pé, olhando furiosos para os dois intrusos. Tinham,
obviamente, admiração pela garota ruiva e estavam mais do que dispostos a lutar por
ela. Willis cometera um grave erro.
— Só queríamos saber se os amigos texanos estavam bem — Forrester falou
com ironia. — Achamos que você, Durango, com esse bando de caubóis inexperientes
e uma garota, não terminariam a viagem.
— Pois saiba que chegaremos a Dodge City — Lynnie gritou.
Forrester inclinou-se sobre a sela e sorriu.
— Quer fazer uma pequena aposta, doçura?
Ace empurrou o chapéu para trás.
— Isso me interessa. Que tal um jogo de cartas?
— Não! Já perdi muito dinheiro jogando com você. Quem sabe uma corrida de
cavalos.
— Feito. Apostamos uma corrida — Ace concordou.
— Não. Eu escolho com quem vou disputar a corrida.
— Então escolha quem você quiser — Ace propôs, sabendo que seus homens
eram excelentes cavaleiros e os cavalos do Triplo D eram os melhores do Texas.
— Posso escolher mesmo? — Forrester mal conseguia disfarçar seu
contentamento; finalmente iria fazer com que o herdeiro Durango caísse numa cilada.
— Pode. Seja como for, você será derrotado, Forrester.
— Escolho a garota.
— A garota? — Ace parecia ter engasgado. — Isso não é justo.
Os caubóis também protestaram. Lynnie encarou Forrester.
— Aceito o desafio, Forrester. Vai ser muito engraçado ouvir todos zombarem de
você por ter sido derrotado por uma moça.
Os caubóis riram e Forrester ficou vermelho de raiva. Sempre odiara os Durango
e os McBride e agora teria sua vingança.
— Se eu fosse você, não teria tanta certeza da vitória.
— Lynnie, não aceite a aposta — Ace aconselhou-a.
— Já aceitei.
— Então eu lhe empresto meu cavalo...
— Não! — Forrester gritou. — Ela tem de montar seu próprio cavalo.
— Certo, Forrester — Lynnie concordou. — O que você aposta?
— As damas em primeiro lugar. Escolha o prêmio, doçura. Mas saiba que irá
perdê-lo.
Ela sorriu, altiva. Willis que a observava, disse a si mesmo que a garota ruiva era
tão obstinada quanto Ace Durango. Faziam um belo par.
— Está bem. Se eu vencer a corrida, você terá de deixar o nosso rebanho
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 158
passar na frente do seu para chegarmos a Dodge City antes de vocês. Aceita?
— Aceito. E agora, posso escolher o que eu levo, se vencer a corrida?
Lynnie jamais confiara na rica e poderosa família Forrester. Eles tinham chegado
a Austin com os pioneiros e eram conhecidos por seu orgulho e ambição. Não
hesitavam em lançar mão de meios escusos para conseguir o que queriam.
— Está bem, Forrester, pode escolher.
Forrester riu.
— Não escolho você, se é o que está pensando.
— Nem eu o aceitaria.
— Se eu vencer, fico com aqueles seus bezerros de estimação, enfeitados com
lacinhos. Farei um churrasco com eles. Especialmente aquele vesgo...
— O quê? — Lynnie empalideceu. — Comer Margarida? De jeito nenhum.
Escolha os melhores novilhos para seu churrasco.
— Então vai faltar com sua palavra? Você falou que eu podia escolher...
Ace interveio.
— Forrester, aceite meu cavalo em lugar dos bezerros.
— Eu o aceito como prêmio secundário — disse Purdy. Os caubóis estavam
horrorizados. Sabiam o que Margarida e o garanhão negro significavam para seus
donos. Lynnie olhou para a bezerra com o laço amarelo e sentiu os olhos úmidos de
lágrimas.
— Não posso. Pense em outro prêmio.
— Então? A garota de nariz empinado não tem palavra? — Forrester zombou.
— Forrester, seu gambá fedorento, isso não é jeito de tratar uma lady — Ace
esbravejou.
Mesmo sabendo que era perigoso enfurecer Ace Durango, Forrester não resistiu
e provocou-o:
— Não se pode ter certeza de que uma mulher como essa McBride seja uma
lady.
Rápido como o bote de uma serpente, Ace puxou a camisa de Forrester,
derrubando-o da sela. Os dois rolaram no chão, lutando.
— Parem com isso! — Lynnie gritou.
Os dois não lhe deram ouvidos. Ela pegou a pistola de Ace e atirou no ar.
— Parem, eu já disse!
Os dois ficaram de pé, sujos e rasgados. Um fio de sangue escorria do lábio de
Forrester.
— Não vejo a hora de fazer o meu churrasco e de levar comigo um belo
garanhão negro — Forrester falou. Pegou o chapéu e montou seu cavalo.
— Muito bem, aceito a aposta — Lynnie decidiu. — A corrida será amanhã, ao
entardecer.
Forrester e Purdy partiram e Ace voltou-se para Lynnie.
— O que você fez foi uma loucura, garota.
— Vou ganhar a aposta. É muito importante chegarmos a Dodge City antes de
Forrester e Purdy. — Ela foi até a carroça e agradou Margarida. — Você não vai virar
churrasco, meu bebê.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 159
— Engula suas palavras se não quiser apanhar. Foi você quem chicoteou a égua
e está acusando esta lady de trapaceira?
— Perdi a cabeça. Não entendi como essa égua imprestável pôde me vencer.
— Nem precisa entender — disse Lynnie. — Sr. Forrester, o que tem a fazer é
pagar a aposta.
Sem ter saída, Willis Forrester deu ordens a seus homens para segurarem o
rebanho enquanto o gado de Durango ia passar na frente deles. Ace não perdeu
tempo. Ainda havia claridade e os caubóis tocaram a boiada adiante. Quando
acamparam estava escuro e Ace cumprimentou Lynnie.
— Parabéns. Graças a você chegaremos a Dodge City antes de Forrester e
conseguiremos o melhor preço pelo gado.
Poucos dias depois eles viram fumaça saindo de uma chaminé a distância.
— Um assentamento — Ace comentou. — Não vai demorar muito toda a região
estará ocupada, com pequenas fazendas e plantações. Será o fim dos grandes
criadores de gado.
— Será melhor assim. Nós temos terras demais — Lynnie observou. —
Podemos visitar aquela propriedade enquanto o gado mata a sede no riacho.
— Não estou interessado.
— Nesse caso, eu vou sozinha.
— De forma nenhuma. Não vou deixá-la cavalgar por aí sozinha.
— Por que não? Está preocupado comigo?
— É claro que não. Você é independente. Só não quero ter que enfrentar meu
pai e tio Maverick se alguma coisa lhe acontecer.
— Você não pensou no seu pai nem em Maverick quando me seduziu.
— Eu a seduzi? Lynnie McBride, você não saía de perto de mim, como eu
poderia mandá-la embora?
— Não me lembro de você ter tentado. Bem, vou até aquela fazendinha.
— Também vou.
— O que o fez mudar de idéia?
— O fazendeiro pode ter uma filha bonita.
— Mesmo que tenha, duvido que haja tempo de você tirar a calcinha dela.
— Sei agir com rapidez se for preciso.
Lynnie estava morrendo de raiva. Perdera a virgindade para um sujeito
imprestável como aquele. Fustigou Bonny e seguiu para a fazenda deixando Ace para
trás.
— Ô de casa! — chamou ao chegar à cerca da propriedade.
Um rapaz bonito apareceu e acenou-lhe.
— Entre.
Ela abriu o portão e entrou no quintal onde galinhas ciscavam. Um cão grande e
amarelo latiu para ela.
O jovem fazendeiro era loiro, queimado do sol e usava um macacão velho.
— Sou Sam Reynolds — ele apresentou-se ao chegar perto de Lynnie e ajudou-
a a desmontar.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 161
Capítulo XX
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 163
Uma hora depois Ace deixou o escritório assobiando. Trace Durango iria
orgulhar-se do filho. Tinha sido muito habilidoso ao negociar e vendera o gado por
preço excelente, superior ao que o pai havia calculado.
No bar do Liga de Renda os caubóis já o esperavam.
— Fez bom negócio, patrão?
— Melhor do que vocês podem imaginar. Forrester não chegará perto do que eu
consegui. Bebida para todos!
Quando tomou seu uísque, Ace sentiu-se maravilhosamente bem. Aquela
sensação de tarefa cumprida com sucesso era muito agradável. Finalmente podia olhar
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 164
o pai dentro dos olhos e não se sentir inferior. Não tinha mais dúvida de que era capaz
de administrar o Triplo D quando o herdasse. Mas não fizera isso sozinho. Devia muito
a seus homens leais e àquela ruiva teimosa. Lynnie McBride às vezes comportava-se
como homem, mas era também uma lady.
Mancando, o velho Cookie chegou até ele.
— Ace Durango, você deixou o Texas como rapaz inexperiente e tolo, mas
tornou-se um homem, um verdadeiro chefe condutor de gado. Terei orgulho de
acompanhá-lo de novo.
Os outros caubóis concordaram com Cookie e deram vivas a Ace Durango, o
melhor e mais valoroso condutor-chefe de boiada do Texas. Os copos retiniram com os
brindes. Um dos presentes sentou-se ao piano e começou a tocar uma velha canção.
Ace olhou ao redor. Um dos caubóis não estava ali.
— Onde está Lynnie?
— Está maluco? Ladies não entram num bar — lembrou-o Hank.
— Lynnie foi para o hotel. Ela disse alguma coisa sobre o encontro de mulheres
— Cookie avisou.
Ace ficou frustrado. Queria divertir-se sem pensar em Lynnie McBride, mas a
reunião não estava completa sem ela. Lynnie podia não ter todos os predicados que
ele sempre havia procurado numa mulher, mas era especial. E a danada torcera o nariz
para ele; zombara dele.
Joe acabou com a cerveja que estava no caneco e limpou a boca.
— Agora eu quero outro tipo de diversão — disse, indo para a escada.
— Perde seu tempo, caubói. Todas as garotas saíram — o barman avisou.
— Saíram? — a pergunta foi geral. — Pra onde foram?
— Apareceu aqui uma moça ruiva, usando uma roupa verde estranha,
mostrando as calças, e convidou as nossas garotas para um encontro de mulheres.
— Lynnie... — Ace e os caubóis murmuraram.
Naquele instante um homem magro passou pela porta giratória do saloon.
— Venham ver! Está havendo um tumulto na frente da prefeitura.
Ace continuou tomando seu drinque com mau pressentimento. Lynnie estava
aprontando mais uma...
— É um protesto. As mulheres carregam cartazes e um grande rebanho vem
subindo a rua — o homem continuou.
— O rebanho de Forrester — Ace murmurou e chamou o homem. — Diga-me,
senhor, nesse protesto há uma garota ruiva?
— Sim, está usando um traje verde e mostrando as calças.
— Bloomers. É esse o nome do traje. É usado pelas sufragistas — Ace explicou.
O homem coçou a cabeça. Evidentemente não sabia o significado de sufragista.
— A moça ruiva parece teimosa. Eu não me arriscaria a tentar domá-la.
— Cavalheiro, o único homem capaz de domar aquela pequena de cabelo na
venta é Ace Durango — Cookie declarou.
Todos olharam para Ace. Ele deu de ombros e tomou um gole de cerveja.
— Ela não é mais minha responsabilidade, uma vez que chegamos a esta
cidade. Que Deus ajude os cidadãos de Dodge City.
Comanche passou pela porta giratória todo agitado.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 165
— Patrão, Forrester está furioso porque não alcançou bom preço pelo rebanho.
— Problema dele.
— Mas ele e seus homens estão vaiando as mulheres do grupo da srta. Lynnie e
estão atirando bombinhas e esterco de cavalo nelas.
Ace bateu o caneco no balcão.
— O quê? Estão fazendo isso? Vamos, rapazes!
Ace saiu do saloon como louco, seguido de seus homens e mais alguns
voluntários. Lá estava Lynnie, na frente da prefeitura, liderando um grande grupo
formado de garotas muito pintadas, dos saloons, e de senhoras distintas. Todas
carregavam cartazes de protesto. Margarida acompanhava Lynnie, berrando, tendo nas
costas um cartaz que dizia:
Não tratem as mulheres como vacas. Dêem-lhes o direito de votar.
Amarrada num poste estava Bonny enfeitada com tiras de papel crepom azul,
vermelho e branco, também com um cartaz semelhante ao de Margarida.
Willis Forrester e seus homens insultavam as mulheres, jogavam esterco sobre
elas e bombinhas nos seus pés. Elas os ignoravam e gritavam suas frases de protesto.
Um caubói bêbado quis agarrar uma delas e Lynnie agrediu-o com o cartaz. Nelbert
Purdy jogou uma fileira de traques debaixo do casco de Margarida, deixando a bezerra
aterrorizada.
— Vá para a cozinha! É lá o seu lugar! — Forrester gritou para Lynnie.
Ace achou que já era demais. Avançou em Forrester.
— Ace! Eu sabia que você viria! — Lynnie exclamou.
Ele olhou para ela e achou-a linda. Era a garota mais encantadora que ele já
conhecera; e precisava dele.
— Rapazes, vamos acabar com esses arruaceiros!
Forrester já estava nas mãos de Ace, que começou a rodá-lo.
— Isso não é jeito de tratar uma lady.
— Uma lady não anda com as calças à mostra. Eu...
Forrester não completou a frase porque recebeu um murro na boca e foi parar no
bebedouro de animais. A rua virou um campo de batalha. Cerca de cem pessoas
estavam envolvidas; uma parelha de cavalos disparou pela rua. Os caubóis de Ace
lutavam pra valer. Estimulada, por Lynnie, as mulheres agrediam os homens com os
cartazes e os sapatos, os arranhavam e chutavam. Elas jogaram Purdy em cima de
Forrester, que tentava se levantar do bebedouro.
— Muito bem, garotas! — Ace as elogiou. — Vamos completar o trabalho.
Ele ergueu Purdy pelo colarinho e colocou-o de pé. Lynnie deu nele com o cartaz
e jogou-o num monte de esterco de cavalo.
No meio da confusão, Forrester puxou Lynnie pelo braço e ela caiu no
bebedouro.
— Você me paga. Por sua causa perdi um bom dinheiro na venda...
Lynnie levantou-se com as roupas pingando e deu um chute em Forrester,
acertando-o entre as pernas e fazendo-o cair debaixo dos cascos de Bonny. A égua
deu-lhe um coice e jogou-o em cima do monte que Margarida tinha acabado de fazer.
Subitamente Ace gritou:
— Lá estão alguns deputados. Tarde demais; não podemos fugir.
— Ótimo, vamos ter publicidade para a causa! — Lynnie alegrou-se. — E antes
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 166
Epílogo
O telefone tocou várias vezes. Cimarron, agora com os cabelos bem grisalhos,
foi depressa para a biblioteca.
— Trace, por que não atendeu? — indagou ela.
— O telefone estava tocando? — ele inquiriu irônico.
CHE 210 – Em Má Companhia (To Tame a Texan) Georgina Gentry 169
FIM
********************************************************************************************
Nas bancas!
Na próxima edição
A FILHA DO ALMIRANTE
Sandra Madden
não costumasse prestar atenção a mexericos e jamais tivesse conhecido uma mulher
da qual não gostasse, sentia-se mais do que apenas um pouco apreensivo em ser
apresentado àquela jovem em particular.
— Olá, marujo!
Marujo. Aquele posto inferior jamais deixava de aborrecê-lo. Como um homem
que certa vez comandara seu próprio navio baleeiro, Benjamin esperava ser promovido
rápido ao status de oficial.
Poderia fingir não ter escutado, não tê-la visto? Na eventualidade de que tal
tática pudesse funcionar, preparou-se para zarpar depressa em sua pequena chalupa.
Assim que terminou de amarrar o nó da âncora, Benjamin lançou um olhar de esguelha
para a doca, na esperança de que a srta. Harrington tivesse mudado de rumo e
continuado avante.
Que nada. Ao que tudo indicava, a indiferença não detinha a filha do almirante.
Ela marchava pelo píer com um farfalhar de saias e estava quase sobre ele.
— Marinheiro Swain!
Era pior do que ele julgara. Ela sabia não apenas seu cargo, mas também seu
nome. O que poderia querer? Benjamin estava sem uniforme e de folga. E Sophie
Harrington, a filha de seu oficial comandante, sem dúvida se achava fora de lugar.
Embora a garota tivesse conquistado uma reputação de certa forma nefasta, sua
beleza era quase tão lendária como seus ousados malfeitos, e a salvava de censura
cabal. E, não obstante Benjamin ter visto Sophie de longe inúmeras vezes desde que
fora designado para a Academia Naval, três meses atrás, nunca chegara perto dela o
bastante para tirar suas próprias conclusões.
Sophie parou na doca de madeira maltratada pelo tempo acima dele. Benjamin
não poderia mais fingir estar ocupado. Mais uma vez protegendo os olhos, ergueu a
vista e deparou com um sorriso mais caloroso e deslumbrante que um sol tropical. Um
ser humano poderia derreter sob o impacto do incrível sorriso de Sophie.
— Bom dia! — ela falou, numa entonação suave e melodiosa.
Benjamin sentiu um estranho formigar na garganta.
— Bom dia, senhorita.