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Belém, PA
03 a 06 de setembro de 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA
Reitor: Emmanuel Zagury Tourinho
Pró reitor de Extensão: Nelson José de Souza Junior
Pró reitor de Graduação: Edmar Tavares da Costa
Pró reitor de Pesquisa e Pós- Graduação: Rômulo Simões Angélica
Diretor do Instituto de Ciências Biológicas: José Ricardo dos Santos Vieira
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas: Rosildo Santos Paiva
Diretora do Instituto de Educação Matemática e Científica: Isabel Cristina Rodrigues de Lucena
Diretora da Faculdade de Educação Matemática e Científica: France Fraiha Martins
Coordenador do Programa de Pós Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas: Iran Abreu Mendes
COMISSÃO CIENTÍFICA
Antonio Carlos Rodrigues de Amorim (UNICAMP)
Daniela Franco Carvalho (UFU)
Daniela Ripoll (UFSC)
Dércio Pena Duarte (UFOPA)
Eduardo Paiva Pontes Vieira (UFPA)
Eliane Gonçalves dos Santos (UFFS)
Gecilane Ferreira (UFT)
José Roberto Feitosa da Silva (UFC)
Leandro Belinaso Guimarães (UFSC)
Maria Cristina Pansera de Araujo (UNIJUI)
Marlécio Maknamara Cunha (UFAL)
Mônica Oliveira da Costa (UEA)
Natalia Pirani Ghilardi-Lopes (UFABC)
Roque Ismael da Costa Güllich (UFFS)
Rosana Louro Ferreira Silva (USP)
Tânia Maria de Lima (UFT)
COMISSÃO EDITORIAL
Sandra Nazaré Dias Bastos
Sílvia Nogueira Chaves
Lêda Valéria Alves da Silva
PROMOÇÃO
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENSINO DE BIOLOGIA
DIRETORIA EXECUTIVA NACIONAL
Presidente: Marcia Serra Ferreira (UFRJ)
Vice-presidente: Silvia Nogueira Chaves (UFPA)
Secretária: Maria Luiza Gastal (UnB)
Tesoureiro: Antonio Carlos Rodrigues de Amorim (UNICAMP)
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO
Fabrício Ribeiro
PUBLICAÇÃO NA WEB
Ricardo
REALIZAÇÃO
APOIO
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) –
Biblioteca do IEMCI, UFPA
VII Encontro Nacional de Ensino de Biologia / I Encontro Regional de Ensino de Biologia - Norte (2018:
Belém, PA)
Anais [recurso eletrônico] / VII Encontro Nacional de Biologia / I Encontro Regional de Ensino de Biologia -
Norte, 03, 04, 05, 06 set. em Belém, PA – Belém: IEMCI, UFPA, 2018.
5668p.
ISBN: 978-85-8857-812-8
Disponível em: http://sbenbio.org.br
Inclui referências
Resumo: O trabalho, realizado numa escola do Distrito Federal, buscou, por meio de pesquisa-
-ação, identificar e problematizar visões das estudantes da EJA sobre seus corpos, em particular sua
genitália externa. Verificamos um desconhecimento das estudantes sobre sua vulva ou uma imagem
negativa sobre ela. Entendemos fundamental a ampliação dos estudos sobre Educação Sexual nos
cursos de licenciatura e de formação continuada, bem como o fomento a parcerias entre profissio-
nais de diferentes áreas do saber, buscando criar espaços comprometidos com o respeito à diversi-
dade e a promoção integral da saúde.
Palavras-chave: educação em sexualidade, EJA, vulva
Introdução
A
Educação Sexual é tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais1 (PCNs) (Brasil,
2000), o que sugere seu caráter social importante e a necessidade de que seja trabalhada
pelas várias disciplinas em diferentes momentos e contextos pedagógicos. No entanto, no
contexto do ensino formal, as aulas de Ciências têm sido espaços privilegiados para abordar temas
correlatos à educação em sexualidade2 - ainda que eles possam (e devam!) ser abordados transversal-
mente, apresentam grande relação de continuidade com temas das aulas de Ciências e de Biologia3,
sobretudo aqueles relacionados ao corpo humano.
E quando trata do corpo humano em aulas da Educação Sexual, o ensino de Ciências, bem
como os livros didáticos de ciências, tem como principais focos o aparato anatômico-fisiológico e
conhecimentos que tendem a cientificizar o corpo e as sexualidades. A noção de corpo apresentada é
marcada por olhares específicos sobre o que sejam ciência, sexo, sexualidades, desejo, gênero e corpo
(Meyer, 2010; Cunha, Freitas e Silva, 2010; Nascimento, 2000). Essa ênfase percebida nos livros
didáticos de ciências, que se justapõe à abordagem pedagógica realizada em sala de aula, pode ser
denominada “abordagem biológico-higienista”, e é apresentada por Furlani (2011) como
1 Nos PCNs encontraremos a expressão “Orientação Sexual” como sinônima para “Educação Sexual”.
2 Adotaremos “educação em sexualidade”, em lugar de “educação sexual” porque considera a sexualidade em seu significado mais amplo e em suas
diversas expresses.
3 Utilizaremos “aula de ciências” e “ensino de ciências” de forma a englobar as disciplinas de Ciências Naturais (ensino fundamental) e Biologia
(ensino médio).
A VULVA E SEUS SEGREDOS:
3696 DIÁLOGOS SOBRE A GENITÁLIA FEMININA EM AULAS
Estratégia metodológica
Trazemos aqui um recorte de uma pesquisa-ação realizada com estudantes da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) em uma escola de São Sebastião, Distrito Federal, a cerca de 20 quilômetros
do centro de Brasília. A pesquisa foi junto a estudantes de uma turma de 7a série. Embora a turma
fosse mista, para esta discussão interessaram-nos os discursos proferidos pelas mulheres, motivo
pelo qual utilizaremos artigo feminino ao longo do texto. A investigação empírica teve como base
uma sequência de intervenções didáticas executadas durante seis aulas duplas de Ciências, com três
encontros de 90 minutos cada um, em cada um dos quais foi proposta uma atividade em grupos. O
número de participantes em cada encontro variou, com uma média de 30 estudantes por encontro.
O desenrolar da pesquisa foi importante para alterar ações em sala de aula. O cerne do pro-
blema situa-se na mudança, motivo pelo qual nos servimos da pesquisa-ação (Barbier, 2007, p. 45).
A prática pedagógica é objeto de pesquisa, e a pesquisa altera a proposta pedagógica, alterando-se
as práticas, em um movimento cíclico que permite mudanças de caminho e perspectivas, em busca
de melhorias da prática, da resolução de situações e de problemas apontados pelos(as) alunos(as).
“A pesquisa-ação torna-se ciência da práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investi-
mento”, afirma Barbier (2007, p.59).
Os principais dados são discursivos e foram analisados pela Análise de Conteúdo (Bardin
(1977). Para organização e sistematização dos dados produzidos, elaboramos categorias analíticas
construídas ao longo da leitura e análise do material investigativo. O tipo de Unidade de Registro
escolhido foi prioritariamente o Tema e a unidade temática trabalhada e apresentada nesse trabalho
é a categoria corpo. Os estudantes assinaram termo de concordância com a participação na pesquisa,
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tendo como garantia o anonimato, razão pela qual os nomes dos estudantes foram substituídos por
outros nomes, fictícios.
No primeiro encontro (atividade #1), solicitamos que os estudantes modelassem em argila
um corpo do sexo masculino e um do sexo feminino segundo suas anatomias externas, buscando
representar o maior número de detalhes anatômicos possíveis. No segundo encontro (atividade #2),
receberam uma imagem com a genitália feminina externa e foram orientados para que, em grupos,
nomeassem as estruturas indicadas de acordo com seus conhecimentos prévios. No terceiro encon-
tro (atividade #3), os estudantes deveriam identificar estruturas internas do sistema sexual femi-
nino, representadas em imagem esquemática de livro didático4, nomeando as estruturas indicadas,
de acordo com seus conhecimentos prévios.
“Ai, num acredito que eu tenho esse tanto de coisa feia dentro de mim não!”, exclamou Josélia,
ao se deparar com a imagem esquemática apresentada. Josélia, assim como Silene, já poderia se
familiarizar com a imagem, pois também está na faixa de seus 40 anos de idade e possui três filhos.
Mas parecia desconhecer a estrutura da vulva, achando-a feia. Aliás, feia não foi adjetivo usado ape-
nas por Josélia. Ao final da atividade, quando exibimos às estudantes um modelo tridimensional de
vulva em silicone, Zilda gritou: “Ô bicha feia! Ninguém merece um trem feio desse!”. E o modelo em
silicone passou de mão em mão, provocando muitas qualificações negativas emitidas pelas alunas
que dele se aproximavam.
Diante das reações exibidas ao longo da atividade, sentimos necessidade de questionar: será
o aparelho sexual5 da mulher um todo desconhecido para essas alunas? Ou seria a vulva o suposto
desconhecido, onde subjazem tantos mistérios? Em busca de possíveis respostas a essas questões,
propusemos a atividade #3, semelhante à anterior, utilizando agora um desenho esquemático do
aparelho genital feminino exibindo os órgãos internos. Nosso objetivo, era comparar essa nova situ-
ação com a anterior, relacionada à vulva.
Observamos que muitas das alunas sabiam reconhecer os órgãos internos, dar-lhes nomes
e, inclusive, atribuir-lhes funções. Isto nos levou a crer que o sistema sexual da mulher, para essas
alunas, é mais conhecido “por dentro” do que “por fora”, o que poderia parecer um contrassenso,
já que o que é externo é “mais fácil de ver” - no sentido de um ver que significa apreender com a
visão. Mas não foi o caso.
Ilustre desconhecida para algumas alunas, feia para outras. Representada de forma tão inex-
pressiva. Inexpressiva e feia? Parece incoerente: como algo inexpressivo pode ser declarado como
feio? E cabe, aqui, perguntar o que esse cenário e esses discursos, bem como as imagens trazidas à
tona, podem dizer sobre a relação dessas mulheres com suas vulvas. Que abismo parece se construir
entre o interno e o externo no corpo dessas mulheres?
Michelle Perrot (2003) nos chama a atenção para um silêncio histórico envolvendo as
mulheres, pesando primeiramente sobre seus corpos, assimilado à função anônima e impessoal
da reprodução. Esse silêncio se refletiu na criação de um ideal de “mocinha” no século XIX, que
“devia ser pura como um lírio, muda em seu desejo”. A autora contrasta, entretanto, esse silencia-
mento com a onipresença do corpo feminino nos discursos dos poetas, dos médicos e dos políticos.
(PERROT, 2003, p.22). Às mulheres, historicamente, recomenda-se o pudor como exercício da
feminilidade e, portanto, falar sobre si e sobre seu corpo tem sido forjado como algo inadequado
e impróprio. Discrição e recato como exercícios do ser mulher adequada, consequentemente, con-
tribuíram para que as mulheres construíssem, em muitos casos, uma relação com seu corpo que
também é silenciadora.
Nas intervenções realizadas em sala de aula, isso se traduziu nas vulvas incompletas modela-
das em argila, nos adjetivos negativos evocados para se referir à genitália externa, na surpresa sincera
das mulheres ao confrontarem os desenhos e o modelo em silicone: vulvas esquecidas, silenciadas,
anuladas. Corpos femininos esfacelados.
5 A expressão “aparelho sexual” aparece como substituta para “aparelho reprodutivo”. Da mesma maneira, optamos por “sistema sexual” ao invés
de “sistema reprodutivo”. Sem dúvida, o uso da expressão aparelho (bem como sistema) nos remete, mais uma vez, às nossas heranças cartesianas
no Ensino de Ciências.
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Um corpo frio e passivo, que nada produz. Por muito tempo foram essas as imagens sobre
o corpo da mulher nas mais influentes tradições filosóficas e religiosas6 na cultura ocidental.
Conhecemos o profundo vínculo entre a religião cristã e a Filosofia na constituição do pensamento
Ocidental. Sabemos ainda que as investigações filosóficas por muito tempo dividiram terreno com
aquelas sobre a natureza, que inspiraram nossa tradição científica. Ideias oriundas da filosofia ins-
piraram muitos estudiosos de anatomia, fisiologia e medicina modernas. O ascetismo está presente
tanto na filosofia ocidental clássica quanto nas concepções que fundamentam as práticas científicas
de nossa sociedade.
Com a Modernidade, assinala Foucault (1977), o corpo passa a se tornar, cada vez mais,
questão de Estado e surgem novas ordens para sobre ele, discursar. Entra em cena uma ideologia
higienista que constrói discursos e normas sobre o sexo e as sexualidades como parte de uma rede de
controle e vigilância sobre e em relação ao corpo das pessoas. Essa rede de discursos constrói novos
significantes e significados, passado a fazer parte de um novo processo de construção de corpo e
sexualidade. Há uma mudança na relação do ser humano com o sexo, que deixa de ser apenas repri-
mido e passa a ser colocado cada vez mais em cena.
As ciências médicas e biológicas, a psicanálise, a pedagogia e a demografia, por exemplo,
falam e fazem falar sobre sexo e sexualidade. Essas ciências construíram, aos poucos, ideias sobre
o normal e o desviante, redesenhando e criando patologias e normalidades. Ocuparam-se, e ainda
se ocupam, em inscrever uma suposta “verdade sobre o sexo”, que se constituiu numa lógica de
construção de verdades normatizadoras e normalizadoras sobre o sexo e seus prazeres, construindo
sexualidades e sujeitos.
Concomitante a isso, o corpo da mulher está cada vez mais em evidência, assim como o sexo.
Se a modernidade fala sobre os corpos e elabora saberes para controlá-los, então o corpo da mulher,
o sexo e o prazer, historicamente vinculados, deixaram de ser tabus? As práticas em sala de aula com
EJA evidenciam que não. O corpo da mulher, o corpo-sexo, ainda é, para as alunas em questão, um
tabu. Não que não se possa falar sobre corpo ou sexo em sala de aula com esse público. Ocorre que
o discurso autorizado para a sala de aula sobre o corpo feminino é exclusivamente aquele sobre o
corpo medicalizado e cientificizado. Uma maneira ascética, entendida como apropriada para a sala
de aula, ignora prazeres e desejos do corpo, corroborando o raciocínio de Foucault.
A explosão discursiva a respeito do sexo e das sexualidades não se refere a discursos infrato-
res e despudorados – não no contexto da sala de aula, muito menos nas aulas de ciências. Há um
controle de como, onde e o que se fala.
Deve-se falar do sexo, e falar publicamente de uma maneira que não seja ordenada em
função da demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a
distinção (é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares); cumpre
falar do sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar,
mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar
segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Sobreleva-se ao
poder público; exige procedimentos de gestão; deve ser assumido por discursos analíti-
cos. (FOUCAULT, 1977, pág. 27)
Os debates realizados em aula foram levados para seus lares, pelas estudantes. Após o ativi-
dade #2, Zenilda levou um livro didático de ciências adotado na escola de sua sobrinha, de 13 anos,
para mostrar que nele, ao contrário daquele do encontro anterior, estava representada a vulva, com
todas as suas partes. Josélia levou uma cartilha sobre sexualidade, destinada a adolescentes, demons-
trando satisfação ao apresentar o material. Utilizando o material que ela trouxe, fizemos uma revisão
de parte da estrutura das genitálias feminina e masculina. A discussão trouxe à tona, novamente, a
ideia de regiões associadas aos prazeres durante as relações sexuais. E, rapidamente, o clitóris tomou
conta da aula.
Andréia mencionou o horror que sente quando assiste reportagens sobre a mutilação do cli-
tóris realizada em determinadas culturas. Esse momento foi bastante polêmico, e aproveitamos para
conversar sobre como cultura e religião influenciam as imagens das pessoas sobre a ideia de prazer.
Os estudantes e as estudantes manifestaram revolta durante a discussão, assumindo como pecado e
terror a mutilação clitoridiana.
Em momentos como esses, surgem oportunidades para que professores/as de ciências con-
versem sobre diferentes aspectos relacionados ao corpo feminino. Abre-se espaço também para
diálogos sobre outros tipos de mutilações femininas, para além de órgãos e estruturas corporais:
violações e interdições psicológicas, morais, sociais. Em nossa pesquisa-ação, isso partiu das alunas
quando discutimos a temática relacionada à geografia do prazer e à psicologia do desejo. Dona
Marlene foi uma das alunas que se engajou no diálogo: “Sabia, professora, que tem muito homem e
muito marido que não se importa nem um pouco com o prazer da mulher, né? Não quer nem saber se ela
gosta, num gosta. Ou se ela tá doente, tá triste, cansada. Eles só querem meter lá como se a mulher fosse
um buraco pra eles se divertirem, sabe?”. E fala, desabafa, em plena sala de aula, tristemente “O meu
marido mesmo eu fico querendo é largar ele, porque tem vezes que ele não entende. Sabe, também tem
vezes que a mulher não tá legal”.
Estes relatos mostram que a preparação para que a sala de aula seja um ambiente propício
para esse tipo de desabafo, com consequente debate e reflexão, depende muito mais do que conhe-
cer a anatomia e a fisiologia do corpo feminino. Tais reflexões reforçam nossa argumentação em
defesa de um Ensino de Ciências mais comprometido conteúdos menos biologizantes e norma-
tizantes, que considerem as muitas formas como são construídos os discursos sobre sexualidade e
prazer entre as estudantes.
Algumas conclusões
Identificamos que as alunas da EJA, embora tenham vida sexual ativa e em maioria sejam
mães, desconhecem os aspectos anatômicos relacionados à sua vulva, além de apresentarem ima-
gens negativas de sua genitália. Tais imagens e resistências mostram como estão enraizadas algumas
representações opressoras sobre o feminino. É fundamental viabilizar trabalhos que problematizem
interdições sociais que contribuem para a construção dessas imagens, buscando desconstruí-las.
A educação em sexualidade se constrói sobre diversos temas e conteúdos, que não apenas
fisiologia, reprodução e doenças sexualmente transmissíveis e, embora seja considerada tema trans-
versal, não cabe aos professores e às professoras de Ciências/Biologia delegar a outras disciplinasa
compreensão de interdições e discursos sociais sobre o tema. O Ensino de Ciências deve aprofundar
sua abordagem, sob o risco de reproduzir e perpetuar valores misóginos que fundamentam práticas
A VULVA E SEUS SEGREDOS:
DIÁLOGOS SOBRE A GENITÁLIA FEMININA EM AULAS 3703
03 a 06 de setembro de 2018 Anais do VII ENEBIO – I EREBIO NORTE ISBN 978-85-8857-812-8
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A VULVA E SEUS SEGREDOS:
3704 DIÁLOGOS SOBRE A GENITÁLIA FEMININA EM AULAS
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