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MORAL DA
HUMANIDADE
2
HODGE, A. A. Esboços de Teologia. São Paulo: PES, 2001. 445
p.
3
HODGE, C. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
652 p.
as pessoas levam consigo desde o momento de sua
concepção e nascimento, proveniente de seus pais
pecaminosos”.4
4
BAVINCK, H. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura
Cristã, v. III, 2012. 104 p.
eles buscaram muitas astúcias” (Ec 7:29). Tendo
sido criado justo, Adão tinha a liberdade volitiva
para escolher o bem ou mal. A escolha que ele
fizesse como cabeça federal afetaria todos os seus
descendentes. Adão foi colocado nessa posição de
representante da humanidade pelo próprio Deus.
Como nosso representante Adão caiu do seu estado
de justiça original e nós caímos juntamente com ele.
Ou seja, nós herdamos a corrupção moral de Adão,
não fisicamente, mas por imputação. Deus, o
soberano Juiz, imputa o pecado de nosso
representante a nós. Imputar é creditar algo na conta
de uma pessoa: “Concluindo, da mesma forma como
o pecado ingressou no mundo por meio de um
homem, e pelo pecado a morte, assim também a
morte foi legada a todos os seres humanos,
porquanto todos pecaram” (Rm 5:12). O paralelismo
nessa passagem indica que: 1) por um homem
(Adão) o pecado entrou no mundo; 2) a
consequência do pecado (a morte) foi imputada a
todos os homens. É importante ressaltar que quando
Paulo fala da morte “passando” a todos os homens
ele introduz a frase com a expressão: “assim
também” (no grego, καὶ οὕτως). Essa expressão
indica que a operação da “morte” é análoga a de
algo já mencionado pelo apóstolo. E o que ele
menciona anteriormente é o pecado que entrou no
mundo. Para deixar mais evidente o ensino paulino
aqui podemos destacar que: a) por meio de Adão o
pecado foi legado a todos os homens; b) assim
também a morte foi legada a todos os homens, isto é,
pela representatividade de Adão.
5
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I, 2006.
93 p. Edição Especial.
depravação queremos significar a corrupção moral e
pelo termo “total” expressamos a abrangência dessa
corrupção no ser humano. O pecado corrompeu não
somente a razão, deixando a vontade intacta, como
se o homem ainda tivesse livre-arbítrio, isto é, a
capacidade de se inclinar em sua volição tanto para o
bem como para o mal. Também a corrupção não
afetou apenas o livre-arbítrio, deixando incólume a
razão, como se o homem pudesse discernir sozinho o
conselho e o plano de Deus, independente da
revelação divina, sendo apenas incapaz de escolher
seguir por esse caminho. Antes, a corrupção afetou
todas as faculdades do ser humano, deixando em
mau funcionamento tanto sua razão como sua
volição. Steven J. Lawson declarou:
6
LAWSON, S. J. Fundamentos da Graça: longa linha de vultos
piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2012. 48 p.
comessem do fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal. A sanção para a desobediência a esse
mandamento era a morte. Ainda assim, quando
tentados pela Serpente, Adão e Eva comeram do
fruto que lhes fora proibido comer. A morte física
não foi uma consequência imediata dessa
desobediência, porém a morte espiritual ocorreu no
dia em que eles comeram. Por morte espiritual
queremos dizer a separação do Criador, bem como a
corrupção das faculdades discutidas acima. Isso não
significa que Adão e Eva e seus descendentes
perderam a alma, assim como suas faculdades. Eles
ainda eram constituídos de corpo e alma, sendo as
faculdades da alma o intelecto e a volição. No
entanto, o relacionamento correto que eles tinham
com o Criador foi rompido e as faculdades da alma
foram manchadas.
7
TURRETINI, F. Compêndio de Teologia Apologética. São
Paulo: Cultura Cristã, v. I, 2011. 752 p.
pecaminosos físicos são precedidos por atos
pecaminosos no pensamento. Esse ensino está de
acordo com as palavras de Jesus: “Porque do
coração procedem os maus pensamentos, mortes,
adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias” (Mt 15:19). O coração (gr. Καρδία) nas
Escrituras é o centro interior da vida do ser humano:
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu
coração, porque dele procedem as fontes da vida”
(Pv 4:23). Ele é a sede da vida espiritual e a fonte
dos pensamentos, das afeições, dos propósitos, etc.
Ainda na terminologia bíblica o coração pode ser
chamado de alma, mente, espírito. Esse coração é,
segundo as Escrituras, tremendamente corrupto:
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas,
e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”
(Jr 17:9). Estando o ser humano contaminado em sua
raiz ele não pode dar bons frutos.
A REFORMA PROTESTANTE E A
DEPRAVAÇÃO TOTAL
8
ERASMO. Livre-Arbítrio e Salvação. São Paulo: Reflexão,
2014. 64 p.
esse assunto como se fosse algo trivial.9 Após breve
introdução, na qual discute a presença do Espírito
Santo e a autoridade dos concílios e dos pais da
igreja, Erasmo fornece sua definição de “livre-
arbítrio”: “Entendemos aqui por livre escolha um
força da vontade humana que capacita o ser humano
a dedicar-se às coisas que levam à salvação eterna
ou voltar as costas a ela”.10 Embora a definição de
Erasmo não deixe antever sua visão sobre a graça, o
humanista católico romano acreditava que a graça e
a voluntas trabalhavam juntas para produzir a
salvação (sinergismo).
9
Ibid, p. 77.
10
ERASMO. Livre-Arbítrio e Salvação. São Paulo: Reflexão,
2014. 79 p.
universal, o homem não pode voltar por si mesmo a
Deus e tampouco cooperar com a graça. O poder do
evangelho sozinho vence a ignorância do pecador e
lhe convence da verdade (monergismo). Lutero
afirmou:
11
LUTERO, M. Nascido Escravo. 2ª. ed. São José dos Campos:
Fiel, 2007. 20 p.
bem. Esta escravidão universal ao
pecado inclui até mesmo aqueles que
parecem ser os melhores e mais retos.
Não importa o grau de bondade que
um homem possa alcançar; isso não é
a mesma coisa que possuir
conhecimento de Deus. O que há de
mais admirável é sua razão e sua
vontade, contudo, é forçoso
reconhecer que esta mais nobre
porção dos homens está corrompida.12
13
BERTHOUD, J.-M. O Combate Central da Reforma. Brasília:
Monergismo, 2017. 40 p.
14
KOLB, R.; TRUEMAN, C. R. Entre Wittenberg e Genebra.
Brasília: Monergismo, 2017. 121 p.
Na mesma linha de Lutero, João Calvino, o
reformador de Genebra, afirma a depravação de
nossa natureza. Ele define assim o pecado original:
“Diremos, então, que o pecado original é uma
corrupção e perversidade na nossa natureza, que nos
faz culpados, primeiramente, da ira de Deus, tendo a
seguir produzido em nós as obras que a Escritura
chama ‘obras da carne’”.15 Vê-se aqui que para o
reformador genebrino os pecados que cometemos
são em virtude da corrupção da nossa natureza. Em
outras palavras, pecamos porque somos pecadores
ao invés de sermos pecadores porque pecamos.
15
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 87 p. Edição Especial.
que a definição nem sempre era clara, encerrando
ambiguidades, e nem sempre correspondia à
verdade.
16
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 97 p. Edição Especial.
comum de Deus. Por graça comum podemos
entender as dádivas imerecidas que são dispensadas
por Deus tanto a crentes como a incrédulos. A graça
comum não é salvífica. A graça especial, por outro
lado, é dispensada apenas aos eleitos, mediante a
regeneração, e é, consequentemente, salvífica.
17
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 117 p. Edição Especial.
Quando fala de nossa natureza como
marcada pela “carne” Calvino não fala do corpo,
mas da própria alma no estado de perdição: “... a
alma, submersa como está no abismo da iniquidade,
não somente é defeituosa e má, mas também é vazia
de todo bem”.18 Embora já tenhamos alertado, faz-se
mister ressaltar que a doutrina aqui exposta afirma
que o pecado afeta todas as faculdades da alma e
esse é o sentido de total em “depravação total”.
Todavia, isso não significa que a natureza humana
seja “totalmente” má, incapaz até mesmo de
bondades naturais. O próprio Jesus nos impede de
concluir isso: “Se vós, pois, que sois maus, sabeis
dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso
Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem”
(Mt 7:11). O que Jesus diz é que, a despeito da
natureza do ser humano, ele ainda é capaz de dar
boas dádivas aos seus filhos. Se quisermos ir
adiante, lembremos que o apóstolo Tiago identificou
18
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 119 p. Edição Especial.
a origem de toda boa dádiva no Pai das luzes (Tg
1:17). Ou seja, mesmo os pais que têm uma natureza
má só dão boas dádivas aos seus filhos por causa da
graça comum de Deus.
19
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 119 p. Edição Especial.
Sendo assim, é preciso ter em mente que
Calvino distingue entre dois modos de operação da
graça de Deus. Na graça comum, a qual Calvino às
vezes chama de especial ou de natural, Deus atua
sobre o ser humano corrupto, seja ele um eleito ou
um réprobo, dando dádivas naturais ou restringindo
sua corrupção. Já na graça espiritual, que Calvino
também chama de especial, podendo confundir o
leitor desatento, Deus atua apenas sobre os eleitos
dando-lhes vida, mediante a regeneração ou novo
nascimento, e expurgando-lhes a maldade e não
apenas restringindo-a.
20
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 104 p. Edição Especial.
compreensão das coisas terrenas, “é dada
naturalmente a todos como um benefício gratuito da
sua [de Deus] generosidade para com cada um dos
seres humanos”.21
21
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 105 p. Edição Especial.
22
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 107 p. Edição Especial.
sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela
loucura da pregação” (1 Co 1:21).
23
CALVINO, J. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, v. I,
2006. 116 p. Edição Especial.
24
CALVINO, J. Efésios. São José dos Campos: Fiel, 40 p.
(1623-1687) expôs essa doutrina da depravação
total. Ao investigar se o pecado original, herdado de
Adão, constitui mera privação ou uma certa
qualidade positiva, Turretini evitou os papistas que
tratam dos efeitos do pecado como mera privação.
Para o romanismo, a justiça original era um dom
sobrenatural acrescentado à natureza humana
(donum superadditum). Quando o homem pecou,
esse dom da justiça original foi perdido, mas suas
faculdades naturais, como o intelecto e a vontade,
permaneceram intactas. Nesse sentido, o pecado
original era visto como privação da justiça original,
não afetando, contudo, as demais faculdades do
homem. Turretini, por outro lado, apela para as
Escrituras no intuito de demonstrar que o pecado
não se constitui apenas de privação, mas de
qualidade má presente de modo inerente ao homem.
Ao definir o pecado como qualidade, Turretini quer
mostrar que ele é distinto da substância a qual se
liga, isto é, distinto da essência do ser humano. Ele
corrompe a essência, mas não é em si a essência do
ser humano. E como qualidade que corrompe a
natureza humana, o pecado não apenas priva o ser
humano da retidão original, mas condiciona o
homem em sua inclinação para a injustiça:
25
TURRETINI, F. Compêndio de Teologia Apologética. São
Paulo: Cultura Cristã, v. I, 2011. 791 p.
do bem externamente moral. Todavia, o homem
pecador, espiritualmente morto, foi afetado por uma
inabilidade moral para o bem “espiritual e
sobrenatural, agradável e aceitável a Deus”. A
vontade do pecado não-regenerado não se inclina
para esse segundo bem, pois está escravizada ao
pecado.