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DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA

ADOLESCENTE

Psicologia MODERNA DICIONÁRIO


DE PSICOLOGIA
ADOLESCENTE
AOS LEITORES

Para se informar sobre determinado assunto, utilize esta obra como se fosse um dicionário tradicional.

Todos os assuntos, quer se trate de pequenas definições (por ex. PERSONALIDADE, pág. 363), quer de
estudos desenvolvidos (por ex. O RACIOCINIO, pág. 396), são classificados alfabeticamente. Para encontrar o
assunto pretendido basta, como em qual- quer outro dicionário, folhear o livro, reparando nas três letras
impressas no canto superior direito de cada página ímpar, que correspondem às três primeiras letras de termos
definidos nessa página.

Mas, ao ler nesta obra certos termos, ser-lhe-á necessário consultar outras páginas do livro em que
esses termos são citados: definidos, desenvolvidos ou comentados. A estrutura da obra permite-lhe encontrar
directamente as informações pretendidas, sem ter de consultar um índice final.
1. Os termos antecedidos de seta são desenvolvidos no dicionário.
2. A cada título de assuntos do dicionário segue-se um índice complementar. Fecha esta obra com dois
vocabulários: francês-inglês-português e inglês-francês-português.

As notas à margem explicam noções e palavras e dão referências bibliográficas.


A cada título de assuntos do dicionário segue-se um Indice complementar
Colaboraram nesta obra:

Aimée Fillioud Diplomada pelo Instituto de Psicologia da


Universidade de Paris, para «Os tempos livres» e «A escolha da profissão». Maurice Gaudet Director da
École communautaire,
membro da Comissão Nacional de Ensino da U.N.A.F., para «A socialização». çoise Gauquelin Diplomada
pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Paris, para «O raciocínio».

acqueline Hubert

Honoré Ouillon

Lydie Péchadre e Yvette Roudy

Licenciada em Psicologia, para «A afectividade». Médico conselheiro técnico da Academia de Lyon, secretá
rio-geral da União Internacional de Higiene e de Medicina Escolares e Universitárias, para «A fisiologia da
adolescência» e «O desenvolvimento da sexualidade».

Psicóloga do Trabalho, Redactora-chefe de Femme du XXe siècle, para a «Mesa-redonda».

O dicionário foi redigido por André Giordanengo.


SUMARIO DOS ARTIGOS

1 Da criança ao adulto:

A fisiologia da adolescência 204-259 pelo doutor Honoré Ouillon


2 As transformações profundas:

O desenvolvimento da sexualidade 438-491 pelo doutor Honoré Ouillon


3 A aprendizagem da vida social:

A socialização 492-528 por Maurice Gaudet


4 A vida sensível:

A afectividade 18-58 por Jacqueline Hubert


5 A afirmação da inteligência:

O raciocínio 396-416 por Françoise Gauquelin


6 A determinação do futuro:

A escolha da profissão 374-382 por Aimée Fillioud


7 Para as horas de liberdade:

Os tempos livres 540-557 por Aimée Fillicud


8 Conversas com os adolescentes:

Mesa-redonda 320-336 por Lydie Péchadre e Yvette Roudy

e 300 termos classificados por ordem alfabética constituem este dicionário de psicologia prática consagrado à
adolescência.
obra foi publicada em França por
3ibliothèque du Centre d'Étude l@ Promotion de Ia Lecture o título original L'Adolescence. concebida por
François Richaudeau úizada sob a direcção @,an Feller tidos por Yvette Pesez

.10 portuguesa de niano Cascais Franco

-tz-C.E.P.L., Paris, R.BO - Lisboa/São Paulo, 19 81 -d. - 1344

“@,4C se imprimir

Guerra[Viseu
1,111981
ABORRECIMENTO (Ennui/Boredom)

O aborrecimento é um sentimento que muitos adolescentes conhecem. Não são poucos os que só tiveram
consciência da sua passagem à/adolescência por causa do aborrecimento. Isto deve-se ao facto de os/jogos da
infância já não proporcionarem prazer algum e serem pouco a pouco abandonados, sem que quaisquer outros
os venham no entanto substituir. A reactivação pubertária dos elementos da/ personalidade infantil não se faz
senão sob a forma de uma lenta instalação, amiúde hesitante, por vezes incoerente.
O adolescente atormentado por/desejos contraditórios sente uma certa repugnância por si mesmo, da qual não é
ainda capaz de definir os limites. É assim que nasce o aborrecimento, espécie de lassidão moral provocada pela
dualidade: desejos novos - receio ou impossibilidade de os satisfazer. O aborrecimento provoca a inacção, ela
mesma geradora de aborrecimento. Os pais devem esforçar-se por não intervir, pelo menos procurando continuar
a impor os /prazeres da infância. Convém, por exemplo, evitar tornar obrigatória a/salda dominical.
É verdade que os/pais sentem muitas vezes o abandono desta prática ritual da infância como uma espécie de
rejeição que os atinge pessoalmente. Por outro lado, é-lhes difícil deixar o adolescente sozinho uma tarde inteira.
Mas não intervir directamente não significa de modo algum desafeição. Os/pais podem mostrar que estão
disponíveis sugerindo formas de/ tempos livres adaptadas à nova/ personalidade do adolescente. Isto sem ignorar
que uma tal espécie de aborrecimento fundamental apenas cessará na/maturidade. Seria excelente que se
instaurasse um diálogo sobre este tema.

ABSOLUTO (Abudu/Absolute) Página 468.

Do latim absolutus: que é acabado, perfeito. Por falta de experiência de uma situação real onde se tenha visto
na obrigação de assumir responsabilidades, o adolescente é facilmente inflexível nos seus/juízos. Ele seria
incapaz de conceber algo que não fosse
10

perfeito e tende muitas vezes a desprezar os adultos, aos quais a vida do dia-a-dia ensinou o sentido do relativo.
Esta atitude está aliás frequentemente na origem dos mal-entendidos entre gerações diferentes: só com
dificuldade os mais velhos se recordam desse período da sua vida em que tudo parecia possível às almas de
boa vontade. Nesse sentido, os/pais mais aptos a desempenhar a sua delicada missão não serão forçosamente os
mais jovens mas os que possuem melhor memória, os que conservam intacta a recordação da sua própria/
adolescência e das intransigências que lhe são habituais. Estes saberão não troçar do adolescente romântico,
anarquista ou revolucionário. Só esta/atitude - compreensiva mas não cúmplice- poderá, sem o desencorajar,
conduzir o adolescente a uma concepção mais flexível da vida e, por conseguinte, a uma melhor/ adaptação ao
real.

ACIDENTES (Accidents/Accidents)

A/psicologia usa um processo forçosamente esquemático e artificial quando define a,,< adolescência como a
aquisição progressiva dos caracteres do adulto. Um tal esquema-tipo, ainda que seja necessário para melhor
penetrar a mentalidade deste ou daquele adolescente em particular, não pode obviamente mencionar todos os
acidentes de percurso, que são numerosos e inevitáveis. Num caso, é uma admoestação severa que provoca um
sentimento de/culpabilidade ou de/revolta. Noutro, é uma experiência/ sexual infeliz que deixa uma rapariga
marcada durante muito tempo, que proíbe ao jovem relações absolutamente normais. Pode tratar-se também da
separação do casal parental, que afecta muito em especial o adolescente, visto que ele está na idade em que é
sensibilizado para os problemas do/amor e do casal, e em que tenta naturalmente identificar-se com um dos pais
como membro de um casal. Mas «acidente» na sua acepção original significa: que acontece inesperadamente.
Pode então ser também um acontecimento feliz. A descoberta do amor, a primeira emoção artística, são outros
tantos acidentes possíveis, que intervêm de maneira súbita no/ desen-
**
do adolescente, apressando ou contrariando a marcha adultizaÇão. «A exploração de tais acontecimentos está
eri-

dificuldades, escreve Maurice Debesseo. Quanto Mais o O M. Debesse:

l'Adoles ent (C.P.M., é


inabitual, mais custoso se toma para o psicólogo LibrairiecA. Colin, Coisa ainda mais grave: um
mesmo facto pode marear Paris, 1967).

cito e deixar um outro indiferente. O essencial a-sua existência e sabermos utifizá-los para inter- ,,,@jl~cnto
dos jovens.»
ACN

ACNE (Acnõ/Acno) Página 78.

A acne é o terror de algumas adolescentes e, para os próprios adolescentes, constitui um embaraço muito visível.
Na idade em que a /beleza física é particularmente apreciada como meio de afirmação de uma/ personalidade
ainda informe, os «horríveis pontos negros» têm um efeito muitas vezes desastroso sobre o moral. Assim, na
maior parte dos casos, o acneico remedeia o que é mais urgente: extirpa os pontos negros sem de forma alguma
se preocupar com as regras de higiene elementares nem com a causa real do mal. Todos os médicos (mas só
muito raramente eles são consultados nestes casos) podem esclarecer que tal causa está ligada a certos períodos
de/actividade das glândulas genitais. A acne caracteriza-se, as mais das vezes, pelo ponto negro, que cobre a
abertura de um poro dilatado. Este ponto negro não é de facto senão a ponta oxidada pelo ar - do rolhão
gorduroso que contribui justamente para a dilatação do poro. Pode-se observá-lo facilmente extraindo, por
pressão em tomo do ponto negro, o conjunto gorduroso. O aparecimento dos pontos negros não deixa,
geralmente, de trazer complicações. Antes de mais, a ame papulosa, caracterizada pela formação de borbulhas
vermelhas e duras surgidas à volta dos pontos negros. Mais grave é a acne pustulosa assinalada por uma
inflamação mais viva. e Pode mesmo ai

pus pelo rosto, for A


localização e a intensidade da acne estão sujeitas a importantes uma crosta tenaz e variações. A
maior parte das vezes, manifesta-se apenas por pontos susceptível de deixar

vestígios indeléveis negros sobre o rosto. Mas a acne pode também alastrar às costas a pele.

e ao peito.

O tratamento da acne A acne, que aparece cerca dos 13 anos, desaparece por volta dos 25.
O seu tratamento é delicado. Alguns princípios gerais permitem pelo menos evitar um agravamento do mal: a
vida ao ar livre por exemplo, é sempre salutar para o acneico. Mas convém desc'@**áar das numerosas
medicações, de que as pessoas mais chegadas nunca se mostram avaras. Pois a ame jamais se deve esquecê-lo
-

necessita de cuidados especiais que só um médico pode dispensar. Mas este não é consultado senão quando a
acne atinge proporções inquietantes. Tais proporções são muitas vezes causadas pela falta de tratamento.
O facto de extrair os pontos negros com unhas de asseio duvidoso tem o efeito de transformar a simples ame
em acne papulosa e, depois, pustulosa. Seria bom que todos soubessem que não há praticamente nenhum
benefício nestas extracções. É preferível aceitar o mal com paciência respeitando estritamente certas
prescrições de higiene geral tal como as define, por exemplo, o Dr. **AuzepyO: o pr. Auzepy, in

1 I'Êcole das parents «O


tratamento geral comporta mais recomendações de higiene do (março de 1969). que regras
imperativas: /alimentação racional, sem excesso de
12

farináceos nem de especiarias; boa mastigação, bom estado digestivo, evitar a prisão de ventre: andar a pé,/
desporto, /férias à beira-mar ou em grande altitude. Se existirem importantes variações endocrínicas, afirmadas
por resultados biológicos seguros, é necessário um tratamento endócrino, mas seria mais perigoso do que ú til
empreendê-lo na base de conjecturas ou de alegações mal fundamentadas.»

aCTIVIDADE (Activité/Activity)

O termo «actividade» designa em psicologia o conjunto das manifestações psicomotoras. É simultaneamente


sinónimo de «poder de agir» e de «acção».
O poder de agir é função de um equilíbrio psíquico. Neste sentido, a actividade sofre importantes variações na/
adolescência. Sob o efeito das transformações /pubertárias, a actividade pode quer acelerar-se bruscamente,
quer, pelo contrário, registar um afrouxamento muito nítido. Da maneira de aceitar ou de recusar estas
transformações depende efectivamente a actividade. Assim, a/anorexia mental - caso de uma rapariga que recusa
toda a alimentação -

é a maior parte das vezes devida a uma recusa. A anorexia é um caso limite: há outros menos nítidos. O
adolescente indolente, ou mesmo/ apático, está, de um modo geral, sujeito a perturbações de saúde. No entanto,
uma consulta médica pode revelar-se impotente para o curar. O motivo é, então, uma/ inadaptação parcial.
Acontece por vezes o adolescente recusar o seu/sexo: o rapaz com medo das/>‟ responsabilidades, a rapariga por
causa dos constrangimentos que ela imagina. Esta recusa parcial repercute-se sobre as outras formas de
actividade. Em tais casos, importa desvendar a causa psíquica: uma tomada de consciência ocasiona um
recomeço da actividade normal.

Um dinamismo em potência A aceleração da actividade 6 de facto normal no adolescente. Com efeito, a


energia e o dinamismo são o resultado de um poderosíssimo impulso vital, de uma necessidade de conhecer e
de experimentar nas novas condições que a adolescência cria. Certas experiências sexuais precoces não têm
outra origem. De igual modo, a participação em determinados movimentos de juventude pode evidenciar - mais
do que o interesse pelo movimento em causa -

uma necessidade de actividade. Convém então tomar cuidado com o esgotamento que pode comprometer um
ano de estudos. A actividade do adolescente deve assim ser dirigida, para se evitar que ela se disperse ou se
torne fonte de perturbações.

A actividade física
O adolescente abandona as brincadeiras da infância. «Lehmann
ADA

e Witty assinalaram que a puberdade coincide nos rapazes com o desinteresse pelos jogos pueris, como a
corrida, a subida às árvores, os polícias e ladrões, os índios e cow-boys, etc..»* A actividade- o origlia e
**Ouilion:

Adolescent dade
física inflecte-se de forma característica: o adolescente recusa /(E.S.F., Paris. 1908). os jogos gratuitos
unicamente recreativos a fim de escolher actividades reveladoras da sua /personalidade. Por exemplo,
especializa-se num desporto, ao passo que antes praticava indiferentemente todos os exercícios físicos. A
adolescente abandona a maior parte das vezes o/esforço físico, que lhe parece pouco compatível com
a/feminilidade. Os desportos que ela escolhe são os susceptíveis de pôr em evidência a graça dos movimentos,
como é o caso do basquetebol, que se assemelha muitas vezes à/dança. Um interesse exclusivo pelo. desporto
traduz uma certa forma de/desequilíbrio: trata-se de uma compensação para fracassos reais ou imaginários no
domínio /afectivo ou/intelectual. Isto é tão válido para o rapaz como para a rapariga, podendo esta última
manifestar assim a sua recusa da feminilidade.

A actividade intelectuais As novas possibilidades que o adolescente adquire no domínio intelectual - como por
exemplo a abstracção - dão a este género de actividade um novo interesse. O adolescente arquitecta sem custo
grandes teorias para resolver os problemas da humanidade. Ele discute-as longamente sem se preocupar muito
com as contradições, unicamente entregue ao /prazer recente da dialéctica. Lê com avidez e sem discernimento
aquilo que estiver ao seu alcance e sobretudo o que pretendem esconder-lhe. Este renovo de actividade
intelectual é em si uma excelente coisa: constitui uma abertura ao mundo e uma preparação para a inserção
na/sociedade. Convém no entanto evitar que o adolescente caia no/intelectualismo e se feche num mundo de
imagens e de ideias. O adolescente, que passa horas a ler no seu/quarto, deve exercer uma actividade física
compensadora. Se isso não for possível por diversas razões, é indispensável encontrar uma actividade de /
grupo, a qual permite uma / aprendizagem da vida em sociedade.

ADAPTAÇÃO (Adaptation/Adaptation) páginas lo, 16. 360. 409. 439, 454, 462.

A adaptação é a tentativa de um indivíduo para se conformar a um/meio, conciliando as tendências pessoais e


as regras impostas pelo meio. Trata-se pois de uma procura de equilíbrio entre o que é possível e o que o não
é, a qual vem a traduzir-se por um modo de vida, uma/profissão, etc.

Os modos de adaptação Piaget descreveu dois modos de adaptação:


- A assimilação: o indivíduo busca conhecer o mundo que o rodeia.
14

Os resultados desta procura são integrados na consciência para «constituírem o plano das acções susceptíveis
de ser repetidas»*. O Piaget: /a Psychologie

de l'intelligence Podemos
dizer esquematicamente que se trata daquilo a que se (A Colin, Paris, 1962). chama
comummente a experiência, a qual orienta o indivíduo para um certo modo de vida. -A acomodação: na
maioria dos casos, a experiência mostra que o homem deve ajeitar-se ao mundo exterior que se não deixa
facilmente «assimilar». Há discordância entre o/desejo e a realidade. Para se adaptar, o indivíduo deve
renunciar ao seu desejo, ou transformá-lo ajustando a sua/conduta a novos dados.

A adaptação à adolescência A/adolescência é precisamente a idade em que os novos dados são numerosos.
Fisicamente, o adolescente transforma-se na altura da/puberdade: o equilíbrio da infância é ameaçado por
alterações orgânicas. A estatura, a voz, a genitalidade são outros tantos dados novos que necessitam de uma
adaptação. Afectivamente, a criança dependia estreitamente do meio. Para ela, o mundo eram «os outros». Para o
adolescente, são «os outros mais eu». A/personalidade afirma-se: ela tem as suas exigências próprias. Também
neste caso é indispensável uma adaptação para «despojar a antiga criança». Intelectualmente, enfim, o
adolescente alcança o estádio da abstracção e do conceito.

Os obstáculos e os perigos Ao mesmo tempo que impõe uma adaptação nos domínios físico, /*afectivo,
/intelectual, a adolescência contribui, devido ao/desequilíbrio passageiro que instaura, para refrear a
adaptatividade. Esta exige, para ser ideal, um equilíbrio que só a/maturidade e a experiência conferem. Ora,
precisamente, a/personalidade do adolescente, em plena formação, é ainda incoerente. Desde logo, é assaz difícil
ao púbere confrontar validamente com o mundo exterior um «eu» que ele ainda não sabe muito bem o que é. A
adaptação que se faz pelo jogo da/projecção ou da /identificação dá origem aos /@1 ídolos, cujas flutuações
seguem os contornos fluidos da alma adolescente. Na acomodação, intervém um compromisso entre a realidade
e o/desejo. A necessidade deste compromisso, ensinada pela experiência, nem sempre aparece ao adolescente,
que coloca, por vezes, o problema em termos de / conflito: submeter-se equivale a demitir-se. Ante um tal
dilema, o adolescente pode paradoxalmente regressar ao estádio infantil, que ele quer rejeitar, « não se
submetendo».

seu desejo de escapar à realidade, refugia-se em atitudes nega-


108 (/ Oposição,,,, revolta) ou utópicas (/idealismo excessivo,
ADO
/intelectualismo,/ascetismo), ou então **denúte-se adaptando-se com uma excessiva docilidade: cai assim
no/conformismo. Todas estas atitudes constituem outros tantos sintomas de/inadaptação, que podem entravar
gravemente o desabrochamento da personalidade. Mas são igualmente outros tantos sinais, que podem guiar
os/pais na sua tarefa educativa. Na ocorrência, esta consiste essencialmente - mais do que em descobrir os
sinais de uma inadaptação que se pode considerar inerente à adolescência - em favorecer as actividades no
domínio em que a adaptação se faz melhor. Isto poderá ser o/desporto, a actividade intelectual ou a actividade
artística, por exemplo. Há interferência entre os diferentes níveis de adaptação: um/êxito parcial tem as mais
felizes consequências para a personalidade do adolescente.

ADOLESCÊNCIA (Adolescence/Adolescence)

Período de transição entre a infância e a idade adulta. Os seus limites situam-se entre os 12 e os 18 anos para
as raparigas e entre os 14 e os 20 anos para os rapazes. A duração da adolescência é função de factores tais
como o/meio (influência climática), a raça e o contexto/ social, os quais activam ou travam as diferentes
transformações características desta idade.

Transformações físicas A/,,puberdade principia por um crescimento físico rápido, acompanhado de


transformações orgânicas que não cessarão senão com a maturidade *. O desenvolvimento dos órgãos genitais e
# Ver o artigo

A fisiologia o
aparecimento dos caracteres secundários (pilosidade púbica e «do adolescência». axilar,
desenvolvimento dos seios, etc.) são os sinais mais manifestos da puberdade. As leis inerentes a estas
transformações estão actualmente estabelecidas, e o seu conhecimento preciso permite evitar muitas
preocupações aos pais e aos filhos *. O Ver o artigo
«A sexualidade

Transformações psicológicas da adolescente».

O púbere já não é uma criança mas ainda não é um adulto. Desta ambiguidade resulta uma tomada de consciência
de si mesmo e dos outros que se caracteriza pela rejeição aparente dos modelos da infância (pais) e pela procura
de novos modelos (/heróis,/ «ídolos») ou parceiros (/grupo, /bando, Iflirt)*. # Ver
estas palavra

Esta procura é a primeira manifestação da/ inteligência abstracta* O Ver o artigo

cujo aparecimento se dá num contexto de perturbações afectivas «O raciocínio».

ligadas à rapidez das transformações internas e externas *. Da O Ver o artigo

«A afectividade relação entre a inteligência pura e a / afectividade depende o / êxito no adolescente».


escolar. # Ver o artigo

«A escolha da profi Escolha da profissão A adolescência acaba normalmente com a escolha de uma/pro-
lo

fissão que confere uma maturidade social tão importante como a maturidade física ou afectiva. Esta escolha,
efectuada nas difíceis condições do crescimento, compromete todo o futuro. Por esta razão a orientação
profissional deve efectuar-se bastante cedo e com o maior cuidado. 9 Ver
«Orientação

f] escolar e o artigo
O estudo da adolescência limita-se no entanto com demasiada re- «A escolha da profissão». quência a estes dados de
base. Para perfazer um tal estudo, um psicólogo moderno deve conhecer igualmente o/gosto dos adolescentes
em matéria de/tempos livres: por um lado, estes últimos adquirem na nossa civilização uma importância que
cresce de ano para ano; por outro, enquanto/ actividades livremente escolhidas, são plenamente reveladores da
personalidade* dos adolescentes. e Ver o artigo
«os tempos livres».

ADOPÇÃO (Adoption/Adoption)

Num passado recente, a situação da criança adoptada podia causar graves perturbações. Esperava~se de facto
que a criança alcançasse uma certa /maturidade para lhe revelar a sua verdadeira situação. Actualmente, a
psicologia pôs em realce os riscos desta concepção: o adoptado considera ter sido enganado durante toda a sua
infân- cia. Ao abalo natural causado por uma tal revelação vem juntar-se um sentimento de desconfiança, ou
mesmo de rancor, que compromete posteriormente as relações com os/pais adoptivos. É por este motivo que
eles são hoje aconselhados a pôr a criança ao corrente assim que ela está em idade de compreender: a partir de
então, os laços criados entre pais e filho não assentam numa falsa situação mas numa outra, particular, de
adoptante a adoptado. Os pais adoptivos são pais voluntários no pleno sentido do termo. Estão conscientes, num
grau muito elevado, das suas/responsabilidades. Mas, por vezes, o/ comportamento do adolescente
escapa-
lhes. Eles devem saber que isto resulta, antes de mais, de o adolescente adoptado ter tendência a fantasiar os
seus pais. Na idade em que começa a perceber os defeitos dos seus pais adoptivos, ele é levado a imaginar os
seus verdadeiros pais perfeitos, dotados de todas as qualidades que não pode deixar de recusar às pessoas da
sua convivência. A/oposição natural aos pais acha-se assim reforçada de uma maneira artificial. Na verdade,
em vez de preparar
* futura autonomia do adulto, ela submete-o durante muito tempo a
* uma imagem idealizada, que compromete a sua/adaptação à
-

f d, u @J vida rM**.

1 @AFEC .TIVIDADE (Affectivité/Affoctivity) ver o artigo nas Páginas seguintes e as páginas 68. los,
188, 409. 415, 490.

Fundamento da vida psíquica, a afectividade possui, como Jano, um duplo rosto: por um lado, mergulha as suas
raizes no instinto

4 e no /inconsciente, e, por outro lado, representa uma abertura a


AFE
outrem. A afectividade manifesta-se pelas,,<emoções ou pelos sentimentos, mas também pelo humor e pela
paixão, outros tantos estados afectivos que se sabe estarem particularmente sujeitos a variação no adolescente e
que comprometem as suas relações com o adulto, habituado a ver nele a criança equilibrada do período o Ver o
artigo de latência (entre os 6 e os 10 anos)*. cA sexualidade».
18

A afectividade por Jacqueline Hubert

A noção de «afecto» é a mais geral para exprimir os elementos da afectividade. Representa, segundo Piérone, um
«estado afectivo elementar que evolui entre dois pólos de/prazer-desprazer (alemão: Lust-UnIust) ou agradável-
desagradável». Pode-se definir a afectividade como o conjunto dos afectos. Mas esta noção muito geral não é
adequada a introduzir a descrição precisa que o presente estudo implicará; todavia, reteremos a ideia, muito
importante, dos dois pólos prazer-desprazer, entre os quais é possível situar todos os estados afectivos. Uma
outra definição também comummente admitida designa por afectividade «o conjunto dos estados afectivos, dos
sentimentos, das/emoções e das paixões de um indivíduo»*. Por muito sugestiva que seja, esta definição seria
incapaz de conduzir a mais do que uma descrição dos /comportamentos afectivos; ora, haverá lugar, para além
disto, de analisar as suas causas e efeitos, ou seja, as suas raízes na /personalidade do indivíduo, que evolui ele
próprio num ambiente/social e/cultural definido.
Jacqueline Hubert Nascida em 1944, licenciada em Psicologia. Fez estudos de Medicina na Faculdade de Estrasburgo; prepara um mestrado em Ciências
Humanas Clínicas.

9 H. Piéron: Vocabulaire de Ia psychologie (P.U.F., 1969).

* N. Siliamy: Di,tionnaire de M psychologie (Larousse, Paris, 1965).

A CRISE AFECTIVA NA ADOLESCÊNCIA

Um dos caracteres específicos da afectividade do adolescente, um dos mais facilmente observáveis, o que não
deixa de inquietar os /pais, é a sua/violência. A intensidade das manifestações afectivas impede doravante as
gradações na intensidade da violência. É assim frequente observar, tanto no jovem como na jovem, reacções de
alegria, de entusiasmo, de/cólera, de hostilidade, dotadas de um carácter de absoluto, pouco vulgar no adulto.
Parece até que o adolescente não consegue reagir de outro modo. Mostra-se amiúde irritável, responde aos/,,pais
grosseiramente como se apenas sentisse ódio a seu respeito; «amua», clama bem alto
AFE
que é incompreendido, cora, empalidece ou treme: outras tantas manifestações vegetativas que demonstram um
desarranjo/emotivo. Este/ desequilíbrio pode traduzir-se não só por uma hiperemotividade, mas também, por
vezes, por uma hipoemotividade: há casos em que o adolescente se fecha num/mutismo onde ninguém pode ir ao
encontro dele. Sem dúvida, mais do que as crises de hiperemotividade, esta recusa de/comunicar tem todas as
condições para inquietar os pais. Às suas instantes perguntas, muitas vezes nimbadas de/ansiedade: «Estás
doente? Que mal te fizeram? Porque não dizes nada?», etc., ele não responde senão de forma evasiva. Algumas
vezes chega a parecer admirado com a súbita solicitude dos pais, como se lhe repugnasse dar pormenores acerca
de um drama que deseja- guardar só para si drama frequentemente construído de fio a pavio quanto ao seu
conteúdo -

e que se destina a tentar afirmar a sua individualidade. Outras vezes, é o silêncio absoluto, dando o sujeito a
impressão de se comprazer em manter os pais numa situação que ele torna ainda mais /angustiante. Decerto que
ela o é, na medida em que um tal mutismo não deixa de lembrar certos/ comportamentos patológicos. Mas,
normalmente, isto é apenas passageiro, não havendo assim motivo para uma inquietação por aí além, tanto mais
que uma tal reacção dos pais está longe de prestar serviço ao adolescente. Por um lado, não pode senão encorajá-
lo nessa via, justamente porque lhe faz sentir a sua excessiva dependência dos pais. Por outro lado, uma tal
resposta dos pais priva-o da ajuda que ele reclama de facto.

Entre a solicitude e a indiferente um interesse constante mas discreta Uma/atitude adaptada e eficaz consistiria,
por um lado, em não tentar penetrar o seu mundo íntimo, e, por outro, não só em não lhe manifestar qualquer
inimizade, mas, mais ainda, em levá-lo a sentir, embora sem insistência, que ele pode contar com um apoio. No
entanto, é frequente a/agressividade dos pais em tais circunstâncias: será porventura a manifestação de uma
recusa inconsciente de enfrentarem a sua própria incerteza?

A MUDANÇA DE SITUAÇT0 Este desequilíbrio afectivo do adolescente, que oscila entre a hiperemotividade e
a hipoemotividade, traduz, obviamente, uma falta de coordenação entre os sistemas reguladores da/emotividade e
os estímulos provenientes das novas situações da/ adolescência, ou seja, uma falta da/adaptação a estas. A
adolescência é a idade em que se troca o lar/familiar pelo centro de/ aprendizagem,
pelo liceu, pelo internato ou ainda pela fábrica.
20 A afectividade

O adolescente: reacções de criança perante situações de adulto Ás antigas situações quase exclusivamente
familiares vai suceder-se uma quantidade de situações em que o sujeito terá de estabelecer relações de tipo
novo com indivíduos desconhecidos e de encontrar interesses/,,< afectivos novos. É assim que as /relações
/pai-filho e fraternas são substituídas pelas de professor/aluno, patrão/operário, veterano-caloiro, e
de/camaradagem. O adolescente tem de fazer frente tanto a um alargamento como a uma diversificação das suas
relações com outrem, às quais deveriam corresponder um alargamento e uma diversificação das suas/condutas
afectivas. Mas tal não acontece: as condutas afectivas da infância, de que o adolescente está ainda todo
impregnado, não bastarão para controlar e assumir a nova situação, o adolescente tem ainda um pé na infância, e
o passo que dá na direcção da idade adulta é motivo para vários tropeções. Ã primeira vista, a causa deste/
desequilíbrio parece ser uma falta de/adaptação, ou seja, uma/socialização ainda incompleta da afectividade.
Uma tal socialização consistiria numa regulamentação das manifestações afectivas do adolescente pelos/valores
e/ideais do/grupo, e na sua submissão aos arquétipos de/,”‟ comportamentos afectivos admitidos por este
grupo/cultural. Vemos assim que o adolescente não tem a mesma «/linguagem afectiva» que os adultos, o que
tende a separá-lo do seu mundo. Com efeito, ele é frequentemente rejeitado, incompreendido, por aqueles que
não se reconhecem nele. Isto pode ter consequências temíveis: ele fica isolado e sofre, não recebendo a
aprovação necessária para se exprimir. Se esta situação /frustrante para o jovem se prolongar, a aquisição dos
mecanismos de regulação afectiva - sem os quais um indivíduo não poderia existir enquanto ser/social- arrisca-se
bastante a ser perturbada. Esta aprendizagem depende estreitamente, sublinhemo-lo, da resposta que o
adolescente receber das pessoas mais íntimas sendo estas toda a sua referência - às suas tentativas afectivas
inábeis e, muitas vezes, falhadas. É necessário que os pais tomem consciência da delicada situação em que se
encontra o seu filho, deste estado de desequilíbrio latente que pode descambar para o patológico. Nunca é
demais recomendar-lhes que sejam prudentes e evitem toda a rudeza, toda a troça, toda a/atitude depreciativa,
traumatizante.

POSSIBILIDADES PSÍQUICAS NOVAS Não há dúvida de que a crise de/ adolescência, tal como a temos
descrito até agora, é imputável a uma mudança de situação/afectiva, a exigências/ sociais novas. Mas,
paralelamente a estes factores exógenos, ela não deixa de se ligar a toda uma transformação das o Ver o artigo

«O raciocínio no estruturas /intelectuais. adolescente».


AFE

O adolescente pode raciocinar por dedução e por indução


O pensamento do adolescente torna-se/projectivo: capaz de explorar não só o real, mas também as suas
virtualidades, de construir o futuro a partir dos dados do actual, mas também de hipóteses. O adolescente terá o
poder de encontrar prolongamentos a um /‟<desejo que não pode ser satisfeito com base nas condições actuais:
ele projecta este desejo numa situação vindoura prevista graças ao auxilio de hipóteses que reunam todas as
condições para o satisfazerem. Ele vai prever por dedução o caminho que deverá seguir para o alcançar, tendo
em conta os obstáculos eventuais. O jovem Pedro C.... de 15 anos, sonha vir a ser médico: encontrou neste
desejo uma saída para as suas dificuldades afectivas. Ora, os seus /,<pais, sem recursos, proíbem-lhe uma
tal/orientação e encaminham-no para um/;<ensino técnico sancionado pelo diploma industrial que irá permitir-
lhe trabalhar logo a seguir. Após um breve despeito que se traduz por diversas manifestações/,< agressivas, o

jovem Pedro vai prever todas as etapas que o levarão à realização do seu desejo: concluirá o curso industrial a
fim de evitar o obstáculo/familiar; em seguida preparará o exame final do curso dos liceus, ganhando entretanto a
sua vida, obterá uma bolsa de ensino superior e poderá assim estudar medicina sem demasiadas
preocupações financeiras e com a aprovação dos pais. Actualmente, este rapaz, que se tomou adulto, exerce a
medicina; o seu caso constitui um exemplo-tipo comprovativo da natureza das transformações intelectuais na/
adolescência, e da sua intervenção na resolução de um/conflito afectivo. Vemos o sujeito remeter a satisfação
do seu desejo para uma data ulterior, evitando assim um conflito familiar aberto que o teria privado da
aprovação dos pais, e

conseguir sem o mínimo choque com as exigências do presente (financeiras, etc.) criar as condições da
realização do seu projecto.
O que quer dizer que ele resolve a situação de conflito afectivo inicial unicamente através de um /raciocínio
dedutivo. Neste caso, a aquisição do novo material dedutivo permite a resolução da crise e constitui um
processo de regulação da afectividade, à semelhança da/sublimação ou da/identificação a um nível de
consciência menor. Mas este caso tem apenas um valor de exemplo em virtude da simplicidade da sucessão dos
fenómenos que ele põe em evidência, e devido à própria circunstância de ter sido realizado. São raros os
adolescentes que dão provas de uma tal justeza na apreciação dos obstáculos e na forma de os contornar.
Muitas vezes os /juízos são apressados, as/ condutas de rodeio pouco elaboradas e sobretudo pouco adaptadas à
realidade: não passam de ilusões que conduzirão a /decepções. As estruturas intelectuais muda

as reacções efectivas diversificam. Mas estas novas possibilidades/ intelectuais do adolescente não afec-
22 A afectividade

tam somente a regulação/afectiva: elas transformam a própria essência da afectividade. O adolescente já não
reage às situações quotidianas apenas por/emoções ou sentimentos muito rudimentares, como é o caso da
criança. O pensamento formal implica a faculdade de representação intelectual, a longo prazo, do objecto da
emoção. Esta pode assim produzir-se sem a presença do estimulo. Por conseguinte, a um novo material
intelectual corresponde a expansão de um novo material afectivo: o sentimento. O adolescente torna-se
efectivamente capaz de experimentar uma gama muito extensa de sentimentos assaz complexos. Esta
diversificação dos sentimentos, que permite ao adolescente perceber as situações de forma mais rica e mais
gradativa, deve ser relacionada com o alargamento do seu mundo, e pode aliás oferecer-lhe uma possibilidade de
o dominar. De facto, os novos recursos intelectuais do adolescente intervêm de modo positivo durante a crise, no
sentido em que facultam os instrumentos necessários a uma tomada de consciência e possibilidades de resolução.
Mas eles não escapam a um aspecto negativo. Acontece o adolescente utilizar o seu novo material dedutivo de
maneira frenética, sendo este o aspecto nefasto de uma especulação intelectual absolutamente nova para ele.
Assim, por desejo de unificar o que o rodeia, de aí se situar, constrói teorias do universo que nem sempre se
verificam na vida quotidiana: isto é fonte de muitos debates íntimos e de/conflitos interiores sem fim. Projecta-se
então na sua inteireza, apaixonadamente, sobre um problema, um drama humano, um acontecimento da
actualidade, analisa-o, critica-o de forma radical, denuncia a injustiça e leva às últimas consequências o
seu/raciocínio: o que pode impeli-lo a rupturas, actos de violência, etc. Um/desejo absoluto, uma intransigência,
uma radicalidade de /juízo, uma propensão para a/fantasia, a meditação, a/imaginação, as ilusões e a especulação
intelectual pura, outras tantas qualidades tradutoras de uma certa efervescência intelectual que contribui para
modificar o equilíbrio afectivo do adolescente.

A INTERVENÇÃO DA IMAGINAÇJ0 Podemos dizer que é no adolescente que os processos imaginativos


são mais exacerbados. Quantas vezes, a partir de um facto anódino para o adulto, não «constrói ele um
romance»! Deve-se procurar a origem das construções da/imaginação na elaboração dos fantasmas da mais
tenra infância. Estes fantasmas têm já, no bebé, uma função libertadora de energia: ele imagina, na ausência
da/mãe, a satisfação que resulta da sucção do seio
AFE

materno. Deste modo, liberta a/ tensão provocada pelo seu,.”, desejo do seio.

A imaginação permite ajustar a realidade ao só É para um objectivo inconsciente análogo que o adolescente se
deixa arrastar pela sua imaginação. Esta constitui nele um dos mecanismos de defesa, de desvio, pelos quais ele
tenta satisfazer os desejos e pulsões cuja satisfação é proibida no meio em que vive. Ela é um meio de
transformar a realidade que, como vimos, se manifesta a seu respeito de forma coercitiva. É a mediação entre
as pulsões @ a realidade. E frequente os adolescentes transformarem as relações, próximas ou longínquas, que
têm na vida corrente com pessoas do/sexo oposto (professores, vedetas de/cinema, etc.) em ligações romanescas
de uma rara riqueza afectiva que a sociedade e as instituições proíbem. Eles inventam paixões que só existem na
sua imaginação, /amizades extraordinárias que se fundam, apenas e afinal, em relações superficiais. Imaginam
perspectivas de/futuro (viagens fabulosas, vida de aventuras, factos heróicos) que lhes permitem investir uma
afectividade intensa. Vemos pois como é lamentável que certos /pais acolham com troça e reprovação estes/
comportamentos, proibindo assim aos adolescentes uma satisfação dos seus desejos e/frustrando-os do mesmo
passo: esta actividade fantasmática é-lhes, com efeito, necessária: ela permite-lhes que se libertem das suas
pulsões, sem perigo para
* ordem estabelecida. Decerto que há adolescentes que consagram
* estas/emoções uma proporção excessiva do seu tempo, a ponto de os resultados escolares, em particular, se
ressentirem disso. Mas não é evidentemente com censuras, muito pelo contrário, que se
4@onsegue dar remédio a tais acidentes. E preferível, no caso de numerosos adolescentes, propor
uma/actividade extra-familiar - sendo a/ família a própria imagem do /conflito que os preocupa, a qual ajuda
a/socialização da sua/afectividade. O/desporto, por exemplo, a/música, os /grupos de jovens permitirão
canalizar convenientemente uma energia desordenada.

O FACTOR Biológico

Desde o início da/adolescência aparecem os primeiros sinais da «crise de crescimento»: ela traduz-se, num
aspecto, por um súbito crescimento da estatura e dos membros, por um/ desenvolvimento muscular - sobretudo
no rapaz, que sente transformar-se em homem- e, noutro aspecto, pelo aparecimento dos caracteres sexuais
secundários: os seios e o apuramento das formas na rapariga, o sistema piloso no rapaz *. Estas mudanças
somáticas têm por origem uma revolução /hormonal. Pensava-se outrora que adolescência».
24 A afectividado

tais modificações fisiológicas, que conduzirão ao aparecimento da pulsão/sexual, eram a única origem da/;<
instabilidade afectiva da adolescência, Este ponto de vista é ilustrado pela doutrina de Stanley Hall, que e
ontogénese: história

era de opinião que a ontogéneseo reproduzia a filogéneseo e con- desde o ovo acoestado siderava o
da formação d indivlduo
adolescente como sendo «neo-atávicoo, propenso às adulto. tempestades e à tensão» por causa de «forças
ancestrais que dispu- o filogénese: história
da formação da espécie tavaril
entre si a preponderâncía»*. desde o homem primitivo Sem dúvida que este
impulso vital, esta efervescência de forças, ao homem de hoje.

muitas vezes contida com grande esforço no interior do indivíduo, e neo-atavismo

da adolescência. ocasiona uma certa impetuosidade afectiva, em virtude da impa- segundo S. Hali:

na adolescência, ciência
que ele experimenta de se realizar. Mas veremos que as apareceriam certos dificuldades
encontradas na altura do aparecimento deste impulso caracteres ancestrais . (respeitantes, em particular, são muito mais
imputáveis ao facto de o círculo de convivência às etapas da filogénese). se opor à sua expressão total do que à sua
própria existência. A crise Este facto não seria

afectiva cujas causas imediatas analisámos não é senão a mani- observável na criança.

O S. Hail: Adolescence festaçâo


de um/conflito muito mais profundo, que vai buscar (1908), citado por as suas raízes aos
fundamentos da/ personalidade e à dinâmica O. Klineberg in Psychologie

sociale (P.U.F. Paris, do indivíduo. 1967), p. 415.

As experiências da infância repercutem-se na personalidade adolescente Podenios definir desde já dois níveis
que interactuam na/afectividade do adolescente: um nível individual que abarca a personalidade, os caracteres
biológicos, aos quais se acrescentam os que nascem das experiências da infância; um nível sociocultural relativo
à situação de conflito em que se encontra o indivíduo, entre as exigências do seu eu e as do mundo que o rodeia:
a este nível situa-se a/ aprendizagem/ social do adolescente. As perturbações da/adolescê ncia incidem nestes
dois domínios: não se deve no entanto considerá-los em separado, visto que eles estão constantemente em
interacção. É por isso que as/>,reacções afectivas do adolescente dependerão intimamente do desenvolvimento
da sua afectividade durante a infância, das fixações num estádio desta evolução que se produziram por ocasião
de um abalo afectivo e estão na origem de regressões durante a adolescência. Elas dependerão igualmente da
quantidade de/frustrações impostas pelas pessoas que o rodeiam, da forma como
estas tiverem respondido à/necessidade- de/amor da criança, ou seja, tiverem aprovado o seu/ comportamento e
satisfeito assim a sua necessidade de aprovação por outrem. Se estas experiências da infância se produziram de
forma traumatizante para o sujeito, se, por exemplo, ele não recebeu da parte dos adultos afeição e aprovação em
grau suficiente, pela/frustração xe excessiva corre-se o risco da deformar a sua afectividade: será possível
observar/ comportamentos/ agressivos diversos. Estas experiências infantis interiorizadas intervêm de modo
irrever-
AFE
sível quando o adolescente é confrontado com a sua nova situação. Das experiências da/adolescência deriva
dialecticamente uma forma nova da vida afectiva.

AS CAUSAS PROFUNDAS DO CONFLITO DA ADOLESCÊNCIA

Nunca será demasiado salientar a importância da afirmação da pulsão/sexual nas perturbações afectivas da
adolescência. Na /puberdade, cerca dos 13 anos nas raparigas e dos 15 anos nos rapazes, as mudanças
/hormonais preparam para a função genital. Os psicanalistas determinaram bem o papel primordial
da/sexualidade durante a primeira infância. Mas ao passo que esta apenas se exprime confusamente e não de
maneira clara e consciente, a do adolescente, p@lo contrário, exprime-se cada vez mais clara e conscientemente.
A pulsão sexual da criança acrescentam-se o poder de reprodução, a/ capacidade biológica que vem completá-la,
assim como a genitalidade essencialmente nova. Sabe-se que certos autores consideravam esta mudança
responsável pela/ instabilidade afectiva da adolescência que eles julgavam por conseguinte inevit@ável,
sobretudo na rapariga. E certo que a nova energia biológica de que passa a dispor de repente o adolescente, o
novo/desejo que o invade, que ele sente ainda como estranho a si mesmo, são responsáveis *por uma
modificação dos comportamentos afectivos no sentido de uma maior intensidade. Mas tal ponto de vista foi posto
em causa, assim como certas explicações /psicológicas consideradas como verdades, a partir do momento em
que este domínio da ciência pôde recorrer às fontes da etnologia. De facto, a observação de/sociedades
primitivas mostrou que as variáveis tidas por universais não eram afinal senão culturais e apareciam como já não
sendo as únicas a intervir nos mecanismos considerados. Assim, a explicação da crise de /adolescência apenas
pelo factor biológico revelou-se falsa visto que ela não existia sob a mesma forma em/sociedades primitivas
cujos indivíduos sofriam evidentemente a mesma evolução
fisiológica na puberdade. Com efeito, Margaret Mead, ao observar os Samoa, sociedade primitiva da Polinésia,
em que certos interditos e/tabus/sexuais próprios da nossa/cultura ocidental e cristã não existem, apercebeu-se de
que não se descobria neles qualquer crise afectiva na sequência da puberdade.
Não sendo, pois, a crise de adolescência um fenômeno universal não se deve continuar a procurar-lhe as causas
apenas na biologia mas antes na relação cultura-indivíduo. pp- 411-412.
26
A nossa cultura impõe ao indivíduo severas restrições sexuais: proibição/moral do incesto, do acto sexual fora
do/casamento. Estas restrições são inculcadas desde a infância por intermédio de regras morais e sociais.
Segundo Freud, tais interditos têm por origem a necessidade de valorizar o/trabalho a que obriga a sobrevivência
económica da nossa sociedade. Logo, os quadros institucionais proíbem ao indivíduo qualquer desperdício de
energia no acto sexual, que afectaria o seu rendimento. Estes interditos adquirem um relevo particular no
adolescente recentemente apto à função sexual. «Todos os fenómenos conflituais e/neuróticos da puberdade têm
uma mesma origem: o conflito entre a/maturidade sexual do adolescente, por volta dos 15 anos, suscitando a
/necessidade/ fisiológica de relações sexuais e a/aptidão para gerar, e a impossibilidade material e/psicológica de
realizar a situação legal exigida pela sociedade para a/actividade sexual, a saber, o/casamento.»* Vemos agora
quanto o conflito afectivo O W.Reich:IaRévolution . sexuelle, (Plon. Paris, da adolescência
ultrapassa largamente a crise juvenil que não é mais 1968), p. 121. do que uma sua expressão passageira.

Da insatisfação das pulsões sexuais

resulta um conflito psico169ico ... A energia tornada disponível pela pulsão sexual não pode ser despendida no
acto sexual: é recalcada e cria uma/tensão muito importante no organismo. Esta tensão, desagradável para o
sujeito, deverá ser reduzida em virtude «do princípio de constância» que, segundo Freud, leva o indivíduo a
manter a sua energia ao mais baixo nível possível. O equilíbrio energético rompido por este afluxo de energia
deverá ser restabelecido. «Sabemos que, sob o ponto de vista orgânico, se manifestam verdadeiras tensões que
devem ser reduzidas de uma ou de outra forma e que da impossibilidade de o conseguir pode resultar um conflito
psicológico. Mesmo quando se descobre alguma forma de satisfação sexual, 9 O. Mineberg:
a/oposição entre o/comportamento do indivíduo e os preceitos Psychologie sociale (P.U.F., Paris, 1967). morais
da/sociedade não deixará de levantar problemas.»* p. 415. ... da sua satisfação um conflito moral Vemos
assim que o problema deriva de não ser possível qualquer satisfação/ sexual legal em consonância com a/moral
sexual, Pois O/Casamento é economicamente impossível neste período .,,da vida, e também de toda a
satisfação ilegal causar um sentimento @de vergonha e de/ culpabilidade que alimenta o/conflito na

em que o indivíduo tem necessidade de ser aprovado pelo . Há então impossibilidade de resolver o conflito
pela

da Pulsão primária. Por consequência vão intervir **mecad~o da energia para fins aceites pelo grupo: a pulsão
**ubida quanto ao fim. E assim que se pode ver, no

vivo dos adolescentes pela/arte, a/música, a imaginação e na riqueza afectiva da adolescência,


AFE

uma/sublimação da pulsão sexual recalcada. Mas a acção destes circuitos reguladores, ainda mal organizados,
falha muitas vezes diante da amplidão da energia disponível. Isto explicaria as efusões afectivas de todas as
espécies, correntes nesta idade. Mais ainda, a/adolescência aparece como sendo essencialmente um estado
de/desequilíbrio energético que o sujeito tenta reduzir: dos processos de redução depende a forma da sua
afectividade.
O estado de desequilíbrio energético que se traduz por um desequilíbrio afectivo é inevitavelmente agravado
pela situação/;, social pouco invejável do adolescente.

O ASPECTO SOCIOCULTURÁL DO CONFLITO AFECTIVO

Os especialistas da antropologia cultural mostraram como o indivíduo e a/cultura da sua sociedade se enfrentam
incessantemente nos mínimos actos da sua vida quotidiana. A cultura é, segundo Lintone, «a configuração dos
seus comportamentos aprendidos e dos resultados, cujos elementos componentes são partilhados e transmitidos
pelos membros de uma dada sociedade», ou seja, o conjunto organizado de normas e de/valores, de padrões
de/comportamento, de modelos culturais que traduzem o modo de vida do/grupo. Relativamente aos indivíduos,
a cultura organiza-se em instituições transcendentes que visam garantir a conservação da sociedade (/família,
/trabalho,/ religião são instituições) e se traduzem por sistemas segundo os quais os indivíduos são classificados
e organizados. Normalmente, um indivíduo ocupa um lugar determinado em vários destes sistemas; o seu
«estatuto» é «o lugar que ele ocupa em dado momento num dado sistema»*, o seu «papel» define-se como
«as/atitudes, os valores e os /comportamentos que a /sociedade destina a uma pessoa e a todas as pessoas que
ocupam este estatuto»*. Um indivíduo tem portanto vários estatutos e vários papéis que variam consoante o/sexo
e a idade; por exemplo, um sujeito pode ser ao mesmo tempo / pai de / família, director de fábrica e membro de
um clube.

Estes conceitos de antropologia/ cultural vão permitir-nos apreender melhor as consequências afectivas da
posição sociocultural do adolescente. O estatuto de criança submetida aos/pais já lhe não convém, pois que se
tornou um homem /fisiológica e/intelectualmente falando; o estatuto de adulto não convém ainda, pois o
adolescente não pode assumir todas as /responsabilidades que lhe estão ligadas. Não tem por conseguinte
qualquer estatuto particular. Mas não é menos verdade que a sua esfera social o obriga a assumir um papel: ele
deve ter certas/relações com os seus semelhantes, certos
28
comportamentos com as instituições enquanto espera o estatuto de adulto que receberá mais tarde. Sem dúvida
que a sociedade prevê certos estatutos para o adolescente -tais como o de aluno de liceu-, mas estes não existem
senão na previsão dos estatutos futuros e não podem constituir uma referência bem definida de papé is. Se se
quiser definir o estatuto do adolescente como o da/aprendizagem dos estatutos vindouros, o papel
afigurar-se-lhe-á um constrangimento absurdo porquanto não é justificado por qualquer estatuto actual. Pede- se
ao adolescente, ora que se comporte como um adulto, ora que se submeta como uma criança: por exemplo, ele
deve ganhar a vida durante as/férias, ter/opiniões fundadas, evidenciar um trato de adulto; em contrapartida,
proibem-lhe que tome a palavra para exprimir o seu parecer, regulamentam-lhe as /saídas nocturnas e
impedem-no de usar determinado /vestuário. Vemos os/conflitos afectivos que isto ocasiona. A/frustração
quotidiana procedente do facto de o papel lhe ser imposto com tudo o que comporta de constrangedor (pois está
dissociado das possibilidades de recompensa que um estatuto oferece sob forma de glória, de consideração, de
auto-satisfação, de/dinheiro) e a incerteza em que ele se acha de agir quer como uma criança, quer como um
adulto, para beneficiar da aprovação de outrem, vem acentuar o desequilíbrio. Por consequência, são aqui
frustradas duas /necessidades essen „ciais:
- a necessidade de aprovação por parte de outrem, porque é impossível ao adolescente adoptar quase
simuitaneamente comportamentos tão contraditórios;
- a dependência na qual se encontra o adolescente frente aos/ pais, sentida como um perigo na medida em que
ela pressupõe a possibilidade de privação. Mais uma razão para não se sentir em/segurança, pelo que a
necessidade de segurança se acha indirectamente /frustrada.

A crise de adolescência está ligada a um certo tipo de sociedade Esta situação movediça, estas frustrações que
criam tensões suplementares acentuam o/ desequilíbrio energético já criado pela impossibilidade de uma
satisfação /sexual e estão na origem da crise afectiva da adolescência nas nossas/ sociedades, pois, como acentua
Linton, «nas sociedades que reconhecem os adolescentes como uma categoria distinta e lhes destinam/
actividades adaptadas à sua condição, esta idade passa-se sem tensão ou quase, e a transição do papel da criança
para o do adulto efectua-se sem abalo grave para a personalidade»*. Trata-se agora de saber que caminhos
seguirá a afectividade do adolescente em resposta a este/conflito inevitável nas nossas sociedades.
AFE

O ASPECTO SUBJECTIVO DO CONFLITO AFECTIVO


A angústia que surge na adolescência, é um estado desagradável cujo objecto permanece indeterminado para o
sujeito, o qual a experimenta como uma impressão de mal-estar. A angústia faz-se muitas vezes acompanhar de
contracções difasas, duráveis e penosas das regiões viscerais ou da garganta, e de fenômenos de desequilíbrio
vegetativo: taquicardiae, perturbações intestinais, anciloses O taqLlicardis.-

aceleração do dtmc passageiras,


etc. A angústia é a manifestação da energia latente, cardíaco. da/tensão causada
pelas frustrações. A angústia é devida a uma falta de segurança que pode ter causas diversas.

A angústia está ligada ao medo da sanção, ao receio do ridí Está ligada ao,@<medo inconsciente da/sanção
relativa à transgressão dos interditos; este medo acompanha o desenvolvimento da pulsão sexual no adolescente.
Pois se não existe satisfação pulsional alguma, há medo antecipado da sanção que se seguiria a uma eventual
satisfação. Trata-se de um mecanismo interiorizado durante a infância e que consistia então no medo de perder a
afeição dos pais. Por outro lado, a constituição de uma consciência/ moral por interiorização do debate indivíduo
autoridade é acompanhada por um sentimento de/ culpabilidade. Certas satisfações como o onanismo resultante
da miséria sexual do adolescente, e até muito simplesmente a acuidade do/ desejo sexual que se exprime nesta
idade de múltiplas formas, são seguidas de um sentimento de/culpabilidade e da/angústia que sempre o
acompanha, vestígio desse /medo infantil de ser castigado. Além disso, o sentimento/ social de vergonha que
afecta a coisa genital pode explicar-se, no adolescente, como sendo um composto de angústia e de culpabilidade
que acompanha a tomada de consciência da sua própria potencialidade genital percebida
como temível. Enfim, a ambiguidade da situação social em que se encontra o sujeito, a iminência da/frustração
-no horizonte de qualquer ensaio /comportamental-, percebida como uma/sanção, originam um sentimento de
angústia e de ansiedade que reflectem o medo de agir do indivíduo, ou seja, de se arriscar a uma sanção. A esta
angústia ligada à ausência de estatuto acrescenta-se um sentimento de ridículo: a criança sente-se adulta em
determinada altura e acha ridículo ver-se constrangida a obedecer como uma criança. Este sentimento associa-
se a um certo medo de ser ridículo, que é uma das manifestações da angústia. Vemos assim como a angústia se
exprime de maneira indirecta em comportamentos afectivos que a não contêm a priori.
30
É lícito ver em certas apreensões escolares (medo do/exame, dores de barriga), na/timidez, no receio de
desagradar, na reacção /enleada dos adolescentes quando se lhes exprime por vezes sinais de afeição
habitualmente reservados às crianças (a/mãe que o senta nos seus joelhos, por exemplo), uma das manifestações
secundárias da angústia, do medo do ridículo e da vergonha. Em suma, a angústia, que constitui, como vimos,
uma/reacção afectiva elaborada durante a infância, é uma forma de o adolescente responder pela recusa de agir
ao/conflito pulsional. Ela representa portanto uma reacção. «As pulsões sexuais reactivam
temporariamente posições sexuais infantis (tendência para a voracidade, a crueldade, a sujidade, a exibição,
ressurgências passageiras de tendências edipianas), suscitam desejos novos, vão de encontro a interditos
estabelecidos, ameaçam o equilíbrio adquirido, desencadeiam assim uma certa angústia e chegam por vezes a
provocar sintomas pré-neuróticos de tipo fóbico, obsessional ou histeróide.»* e A frustração e a
agressividade. A angústia é uma reacção à frustração. Mas associa-se esta mais
geralmente à/agressividade: o que constitui até o objecto de uma lei da/psicologia, a lei Dollars-Miller-Sears,
segundo a qual toda a frustração é necessariamente seguida de uma conduta de/agressividade. No entender de
Jean-Claude Fillouxo, a frustração resulta «do choque entre as motivações e um obstáculo exterior percebido
como indestrutível; as/reacções agressivas traduzem simplesmente a impotência do indivíduo para realizar
a sua/ adaptação ao real».

A agressividade é uma conduta de fracasso Convém compreender bem que a agressivídade é um mecanismo de
regulação tão importante como a/sublimação, visto que ela é consumidora de energia. Contudo, a sublimação,
além de permitir uma redução do/conflito, proporciona ao indivíduo uma segunda satisfação em virtude de ser
aprovada pelo/grupo, ao passo que a agressividade traduz uma impossibilidade do indivíduo em organizar a
sua energia de modo útil, isto é, um fracasso dos mecanismos reguladores que permitem canalizar a energia para
fins e dentro de circuitos aprovados pela /sociedade. No adolescente, que conhece frequentemente este fracasso,
as condutas agressivas são correntes (cólera, irritabilidade, /gosto pela/violência, por vezes, inclusive,
/prazer em fazer mal, tendências/sádicas, etc.). Ainda que estas manifestações agressivas ofereçam ao
adolescente um prazer imediato, ou seja, uma baixa de/ tensão, elas privam-no a maior parte das vezes da
aprovação de outrem.
Mas existem meios desviados de se exprimir a agressividade que, por causa das suas qualidades secundárias,
são susceptíveis de obter esta aprovação: assim, uma excessiva delicadeza, uma submissão exagerada,
um/cinismo cheio de finura, uma amabilidade obsequiosa são meios mais apurados e mais satisfatórios de
alívio. No entanto, na maioria dos casos, os/ comportamentos agressivos são muito mais primários e nunca
constituem condutas organizadas que imbuem a/personalidade como acontece com o adulto obsequioso ou
cínico. Trata-se, isso sim, de/risos e de alusões trocistas, de uma brutalidade que se torna verbal, utilizando o
adolescente as suas novas aquisições intelectuais: gosta de provocar os seus íntimos em justas oratórias,
sem/pudor relativamente a certos/tabus, sem receio de melindrar com o seu/raciocínio incisivo, subjugando
qualquer/ oposição encontrada sem a mínima /objectividade, terminando tudo isto amiúde em grandes gritos.
*/*
Os grupos de adolescentes têm muitas vezes o seu bode expiat6i A agressividade aberta e franca da criança que
chora, bate com os pés, «tem birras» de curta duração e logo esquecidas é substituída pela implicação por vezes
maldosa do adolescente. Nos grupos de adolescentes, esta exerce-se frequentemente sobre um mesmo indivíduo
que passa a ser o bode expiatório do grupo. E isso pode ter, para um tal infeliz, objecto de uma implicação que
se torna encarniçada e cruel, consequências lamentáveis: em certa turma masculina do oitavo ano de
escolaridade, o pequeno Jaime C... é alvo dos gracejos maliciosos dos/camaradas a propósito das suas formas
um tanto ou quanto roliças; ele não consegue impor o respeito dos outros pela força e acaba por se entregar a
uma espécie de melancolia que o impede de se interessar seja por que/actividade escolar for: aluno assaz
medíocre, não faz progresso algum, e os seus maus resultados levá-lo-ão a perder o ano. Estas diversas
/reacções que ilustram tão bem a crise são outras tantas tentativas do adolescente para afirmar a sua identidade
no seio de sistemas donde se sente rejeitado, para resolver o/conflito. Mas tais tentativas nã o conformes às
normas /culturais não beneficiam da aprovação dos outros. Uma nova/frustração vem acrescentar-se às
precedentes, a tensão aumenta e funda novas manifestações/ agressivas que não tardarão a produzir-se. Vemos
aqui o círculo vicioso que pode conduzir a/tensão até ao paroxismo e ocasionar regressões, ou seja, o recurso a
mecanismos de defesa /infântis que se arriscará a redundar em/neuroses.

O conflito que acabamos de expor longamente põe assim frente a frente as exigências pulsionais do indivíduo e
as do meio sociocultural, opostas às primeiras. «A pré-adolescência e a/adolescência denominam o período de
crise no qual se manifesta como pano de fundo uma expansão nova das pulsões sexuais que põe
causa certas construções anteriores da/ personalidade, instaura luta interior com as eventualidades daí
decorrentes e abre o

o a novas/ identificações e a novas orientações.»* O Laffont: Vocabuleire

1, p,ychopédsgogle et de contrando-se a personalidade, o eu do adolescente, assim dispersa PsYchiatrie de 1'enfant

e estas exigências contraditórias, impõe-se ao adolescente uma (P.U.F., Paris, 1963).

para sair do estado incómodo em que se encontra. @Como o conseguirá ele? Segundo demonstrou Jeari- Claude
Fillouxo, o eu desenvolve-se o J.-C. Filloux: através de uma série de processos em que a relação com
outrem, Ia Personnalité (P.U.F.,

col. «Que sais-je?», ou


seja, a afectividade, é essencial: «Só ela pode, de facto, fornecer Paris, 1965), p. 86. referências. Ora
estas referências apenas contribuem para constituir uma percepção originária na medida em que elas já não são
exteriores ao indivíduo, antes entram na estrutura do para-si. Deste modo, o „ego-desenvolvimento‟ deve revelar-
se solidário de „ego-involvimentos‟, isto é, de identificações.»

O eu transforma-se por uma sério de identificações com os outros Assim, é por identificação, ou seja, segundo
Laplanche e Pontaliso, e- i. Laplanche e
J. B. Pontalis: Vocabuleire por
«um processo/ psicológico pelo qual um sujeito assimila um de Ia psychanalise aspecto, uma
propriedade, um atributo do outro e se transforma, (P U.F., Paris, 1967). totalmente ou parcialmente, a partir do
modelo deste», que a/personalidade se transforma, se constitui. A criança, na altura da situação edipiana - que
põe em confronto, por um lado, o seu /desejo/ sexual inconsciente pelo progenitor de sexo oposto e o seu ódio
pelo progenitor de mesmo sexo (cuja própria morte é ambicionada), e, por outro, a/culpabilidade que daí deriva -
, vai encontrar uma solução na/ identificação com este progenitor de mesmo sexo. O rapazinho imita o seu/pai:
«Quero ser grande como o papá», torna-se o seu companheiro de/tempos livres, lugar que não cederia a ninguém;
a menina comporta-se como a sua/mãe, embeleza-se, interessa-se pelas tarefas domésticas. Mas, não obstante
esta mudança de pólo de interesses, o rapaz permanece muito apegado a sua mãe, que acarinha, e a menina a seu
pai. Este interesse, este apego pelo progenitor de sexo oposto vai durar até à pré-puberdade. Neste período, o
sujeito leva a cabo /esforços para se desligar do progenitor do sexo oposto: a rapariga critica a mãe, torna-se/;<
agressiva a seu respeito, o rapaz tem a mesma/atitude relativamente ao pai. Este afastamento das identificaçôes
do Édipo está relacionado com os /comportamentos /emotivos e agressivos pelos quais os jovens adolescentes
rejeitam a célula/ familiar.

Mucchielli* distingue três maneiras de o adolescente exprimir esta e R. Mucchielli:


Ia Pe onnalité de J'enfant rejeição
afectiva; uma primeira maneira consiste em manifestar a (Editio-ns sociales, Paris, sua
reprovação dos/hábitos familiares no próprio seio da/acti- 1968), p. 148. vidade da família: as/saídas ao
domingo convertem-se em aborrecidos deveres e terminam muitas vezes em ruidosas discussões;
AFE
uma segunda maneira consiste em/imaginar e em contar que não é filho dos seus pais, mas de, um ilustre
desconhecido com rosto de /herói. É por esta razão que há quem qualifique este período de idade do «romance
familiar». Enfim, última maneira, o adolescente gaba o que se passa noutros sítios: na/escola, em casa dos
colegas, no desígnio de denegrir o que se passa em sua casa.

Este distanciamento das identificações anteriores, que se explica pela/ inadaptação à nova situação da/
adolescência, desintegra o eu do adolescente. É através de novas identificações que ele alcançará uma
reestruturaçã o da sua personalidade. É, pois, à afectividade do adolescente que compete reunir este eu
disperso. É pelo /,,jogo do/amor, da/amizade, do ódio, dos grandes sentimentos, os quais sofrem flutuações
evolutivas ao longo de toda a adolescência, que o sujeito vai procurar o equilíbrio perdido.

A PROCURA DO EQUILIBRIO AFECTIVO Não é tarefa ligeira estudar os sentimentos adolescentes,


porquanto se eles se encontram ao longo de toda a/adolescência, é sempre sob uma forma diferente que varia em
função da evolução do eu, e esta, por seu turno, não é idêntica em todos os indivíduos que estão submetidos a
influências diversas. É verdade, como o formulou Maurice Debesse, que a adolescência, mais do que qualquer
outro período da vida, não se deixa de modo algum compartimentar, e esta é outra prova da sua riqueza
sentimental.

O narcisismo

«A constituição do eu como unidade psíquica é precipitada por uma certa imagem que o sujeito adquire de si
mesmo, a partir do modelo de outrem, e que é precisamente o eu.»* O movimento o J. Laplanche e

J.-B. Pontalis: de/socialização


que se observa por volta dos 6 anos na criança e Vocabulaire de Ia que consiste num
progressivo alargamento da esfera das/cama- psycharralise (P.U.F.. radagens sofre, cerca dos 9 anos, um
abrandamento. A criança tem Paris, 1967), p. 262.

menos pequenos colegas, mas mantém com eles relações mais estreitas. Isto leva, a maior parte das vezes na
pré-puberdade, ao par da mesma idade e do mesmo/sexo. Na/puberdade, este movimento de diminuição da
socialização atinge o seu limite extremo no/narcisismo. Todavia, esta evolução vai no sentido de um
aprofundamento das/relações afectivas com outrem, como se o adolescente estivesse à procura de si mesmo
nos outros e, enriquecido pelo que aí encontrou e que ele interioriza por um jogo de/ identificações e
de/projecçõ es, tomasse consciência de si mesmo, da sua pessoa, detendo-se um instante para contemplar,
como Narciso, a sua própria imagem.
34 A afectividado

O narcisismo provoca a tomada de consciência de si Este/amor por si mesmo, que sobrevém exactamente com o
aparecimento da pulsão/sexual, surge também como uma tentativa de resolver a /”angústia que ela traz consigo.

De facto, o sujeito dirige a sua «líbido» (a energia de origem sexual, segundo Freud) para si mesmo no «amor
de si» e tenta assim uma uníficação das novas pulsões, guiando-as no sentido do eu tornado objecto,
mecanismo elaborado durante a infância por ocasião do período de narcisismo primário, em que o lactente
«começa por se tomar a si mesmo -o seu próprio corpo - como objecto de amor»*. Mas ao mesmo tempo que
uma tentativa de unificação das * Freud, citado por

J. Laplanche e pulsões sexuais, o narcisismo surge, na adolescência, como tentativa J.-B. Pontalis:

Vocabulaire de Já de
uma unificação geral do eu pela tomada de consciência de uma psychanalise (P.U.F.,
individualidade e, segundo Mucchiellio, «ele desempenha um papel Paris, 1967). p. 261. indispensável na
medida em que rompe brutalmente o jogo das ID R. Mucchielli:

Ia Personnalité de 1'enfant /identificações


e provoca, simuitaneamente com a tomada definitiva (Editions sociales, Paris. de
consciência de si, um salto da/confiança em si mesmo». 1968), p. 159.

Mercê desta confiança em si mesmo, a qual não será isenta de uma certa suficiência, o sujeito já não é solidário
de outrem e pode assim pôr à prova a sua/ personalidade recentemente descoberta.

Reconhece-se o narcisiaco pelo tempo

que ele passa diante do espelho Esta preocupação consigo, que constitui o/narcisismo, conduz o adolescente a
conceder uma extrema importância ao seu aspecto físico: vemo-lo passar horas diante de um espelho, lamentar-
se por causa de uma borbulha no nariz, ganhar um interesse muito vivo pelo seu guarda-roupa.
Noutros casos, tenta forçar os elogios dos/colegas acerca do seu físico, simulando tristeza ao contemplar traços
que ele diz serem pouco estéticos; as palavras tranquilizadoras dos/amigos lisonjeiam o/amor-próprio do jovem
narciso, mas o contentamento desmedido que se segue é bastante frágil; logo surgem novas inquietações, que
reavivam esse/coquetismo em que os adolescentes (sobretudo as raparigas) se comprazem. Na adolescente, a
preocupação de ser bela vai até à afectação e invade algumas vezes o domínio escolar: são o estojo de unhas na
pasta e os perfumes, o bâton para os lábios, que passam a ser objecto de admoestações dos/pais e dos
/educadores.

Estas cenas diante do espelho podem parecer anódinas, mas demonstram uma abertura do adolescente sobre si
mesmo: uma complacência em analisar-se a si mesmo, em criticar-se, em explorar o seu mundo íntimo. Na
verdade, cerca dos 14 anos, o adolescente toma consciência da sua riqueza interior, das suas novas faculdades,
dO seu poder, que o enchem de/prazer; é assim que ele pode pas-
AFE
sar longos momentos, sozinho no seu quarto, a sonhar; sente alegria em viver, gosta de se considerar um
elemento vivo no seio da natureza, tira daí um certo orgulho. Deixa-se viver, longe dos outros a quem dedica
um altivo desprezo, bastando-se a si mesmo.

O adolescente sente-se só, único o incompreeno Isto leva-o a experimentar um sentimento de isolamento,
que ele procura e é geralmente acompanhado por melancolia, por/tristeza, estados em que se compraz, embora
acuse os que convivem com ele de serem responsáveis por tal e de o não compreenderem. Nestas/ depressões,
distinguimos uma espécie de prazer mórbido em alimentar a sua mágoa, unicamente pela satisfaçã o de se sentir
existir. Hélène Deutsch observou este/ comportamento nas adolescentes, as quais diz projectarem a sua própria
incompreensão do mundo no sentimento de serem incompreendidas e terem gosto em chorar. De qualquer modo,
como fez notar Mucchielli*, seja qual for o o R. Mucchieifi:

Ia Personnalitá de 1 comportamento
que eles adoptem, megalomania ou/depressão, (Editions sociales, F os
jovens adolescentes querem sobretudo afirmar que são doravante 1968). p. 159.

seres originais possuidores de uma intimidade na qual já ninguém tem o direito de penetrar.

Os/pais e os educadores não deixam de se inquietar por causa destes comportamentos esquisitos, desta auré ola
de extravagância que parece envolver o adolescente, considerando os primeiros que o seu filho «já não tem os
pés assentes no chão» e que o estreitamento da sua sociabilidade é perigoso para o seguimento
da/adaptação/social. Mas convém que eles saibam bem que este estádio da evolução da/ personalidade é
necessário à/maturação afectiva do filho que precisa, para se afirmar, de acreditar nas suas possibifidades, de
ter/confiança em si mesmo; logo, não há motivo para se inquietarem com uma certa suficiência mesclada
de/vaidade e de desprezo, nem para a censurarem. Se esta/ necessidade de se afirmar for frustrada pela oposição
do /ineio, o sujeito experimenta um vivo sentimento de inferioridade e corre o risco de se fixar neste estádio de
evolução, permanecendo privado da confiança em si, indispensável para enfrentar as fases futuras. Este
sentimento de inferioridade, que o sujeito pode arrastar consigo toda a vida, manifesta-se, por compensação,
através da vaidade, da dignidade rígida.

No decurso dos estádios ulteriores da adolescência, o/narcisismo marcará ainda fortemente o comportamento
afectivo: os sentimentos de egoísmo, de vaidade, de estima por si, característicos do adolescente, são a prova
disso.
36 A afectividade

A masturbação

Há um fenómeno frequente na/adolescência e que surge como a expressão sexualizada do/amor por si:
a/masturbação, ou onanismo, ocasionada, na opinião de alguns autores, pela necessidade de solidão, pela
propensão do adolescente para analisar as suas sensações, decerto, mas também pela impossibilidade de
satisfazer de outra maneira as suas pulsões/ sexuais. A masturbação acarreta um sentimento de/ culpabilidade,
de/ansiedade e de vergonha. Estes sentimentos são devidos à introjecção dos interditos parentais na consciência/
moral do indivíduo, no decurso do período que o conduziu das/ identificações pós-edipianas à/puberdade. Nos
sujeitos que sofreram a influência de um/meio extremamente /-<autoritário e moralizador durante este período, e
que têm, por conseguinte, uma consciência/ moral muito rígida, os sentimentos de/ culpabilidade e de vergonha
ligados à/masturbação provocam quase sempre uma intensificação desmedida do debate interior e das/atitudes de
autodepreciação que podem levar à/neurose. Vemos a/ambivalência dos sentimentos no período do/narcisismo
adolescente: os sentimentos de estima por si, de/amor-próprio, de/orgulho, opõem-se à autodepreciação ligada à
culpabifidade e à vergonha experimentadas em todos os casos na altura da masturbação. Esta ambívalêncía dos
sentimentos é um dos caracteres específicos da afectividade
do adolescente: o sujeito acha-se agradável à vista, digno de/amor, mas, simuitaneamente, inquieta-se com a
sua «monstruosidade» /moral que lhe causa repugnância -sente-se ao mesmo tempo encantado com as suas
novas formas físicas e aterrado pelos seus «maus pensamentos». Mucchielli denuncia «a influência de uma/
educação/ religiosa mal orientada ( ... ) que (... ) suscita em certos sujeitos, simuitaneamente muito
sensibilizados para a falta e sexualmente muito ardentes, um agravamento paroxístico da/angústia capaz de ir
até à neurose»*. 9 R. Mucchielli:
Ia Personnalité de 1'enfent Editions sociales. Paris,
O narcisismo do adolescente vai evoluir no sentido de um altruísmo 1,968), p. 166. que se assinala pelo impulso
para outrem, «impulso do coração», como diz Maurice Debesse, que irá conduzir o adolescente à conquista da
sua/ personalidade. Mas é sempre ele mesmo que o adolescente procurará no outro.

Aslamizades

O sentimento de solidão no qual o adolescente se havia comprazido durante a fase do narcisismo torna-se, a
pouco e pouco, penoso. Por volta dos 15 anos na rapariga e dos 16 anos no rapaz, faz-se sentir a/,'necessidade
de amar e de ser amado, como se a/projecção da/capacidade de amor unicamente sobre si mesmo já não
AFE
bastasse, como se a/imaginação se tivesse esgotado a transformar uma realidade bem pobre e que é agora
preciso alimentar por meio de/esforços exteriores. Esta/confiança em si, que o adolescente conquistou, tem
necessidade de se reforçar na aprovação benevolente de um/,arnigo. Um tal impulso toma o aspecto de uma
autêntica paixão: o adolescente anseia por conhecer, e o seu entusiasmo, como diz L. Dintzer, «cria
espontaneamente um laço». Uma circunstância fortuita, uma/,, confidência escapada a um colega que faz
entrever uma alma gêmea, ou um serviço prestado num momento difícil, estão na origem da escolha impulsiva e
irracíonal do/,@amigo ou da amiga, e acontece a paixão súbita. O adolescente não tem necessidade de conhecer
este novo amigo, aceita-o logo à primeira vista como se ele realizasse de uma forma absoluta a
imagem do amigo ideal. Nenhuma crítica, nenhum realismo condicionam a adesão total a este novo objecto que
vai ser, por sua vez, moldado pela/ imaginação. Mucchielli vê em tal/;<projecçâ0 a expressão de uma espécie de
«amor flutuante», como se o/amor, com a sua força e a sua qualidade particulares, preexistisse a todo o
investimento num ser, num objecto ou num ideal, como se ele flutuasse em busca ou à espera daquilo sobre
que irá cair. Esta espontaneidade na projecção reencontra-se no nascimento do amor, por altura da escolha do
objecto deste, e reflecte a/atitude geral do adolescente frente aos objectos da sua afectividade.

Os pares de amigos insep« são caracteristicos da adole» Estas/amizades adolescentes que seguem a evolução
da sociabilidade do indivíduo foram reduzidas à sua expressão mais simples durante o período de/narcisismo.
A necessidade de amizade satísfaz-se amiúde, na/ adolescência, no «par/homossexual»: par da mesma idade e do
mesmo/ sexo em que a relação sexual não é habitual, mas constitui uma possibilidade. Sob formas variadas, este
par reencontra-se em todos os estádios da adolescência. Paralelamente aos seus,,"flirts e à s suas diversas
convivências, o adolescente mantém sempre um amigo a quem se pode confiar. Vemos aqui um prolongamento
de uma fase da evolução da afectividade: a que, na pré-puberdade, consistia numa verdadeira solidão a dois no
par de amigos da mesma idade e do mesmo sexo, fechado a qualquer intromissão de outrem. É o bem conhecido
par de inseparáveis que se encontram todas as manhãs à entrada da/escola: os dois amigos «contam tudo» um ao
outro, têm a impressão de viver em simbiose, nunca se separam durante os recreios e desprezam
sistematicamente o intruso que se atreve a participar nos seus conciliábulos; em casa, cada um gaba as qualidades
do outro - que, aliás, as tem todas. Eles imitam-se mutuamente em todos os seus,, comportamentos, até se
assemelharem, De facto, cada um deles é o espelho em que o outro contempla a sua própria
38 A afectivídade

imagem com enlevo. Este fenômeno prepara o período de/narcisismo que a/puberdade trará consigo.

Tais amizades a dois são necessárias ao bom andamento da futura evolução afectiva e/social, pois, no «outro eu
mesmo», o sujeito acha, por/ identificação, os elementos do seu eu futuro. É por isso que Mucchielli insiste na
necessidade de nos inquietarmos com a ausência de qualquer laço de amizade que, segundo ele, traduz a
solídão/moral e é o sinal de uma/,, socialização mal feita, Não é portanto adequado tentar refrear estas,,>,
amizades, o que traumatizaria a criança crescida. A perda de tal/amigo, quando ela é sentida como um abalo - no
caso, por exemplo, de o amigo preferir um outro/ confidente, privando o adolescente de um objecto para o qual
podia dirigir o seu excesso de/ amor -, pode dar azo a regressões graves na evolução do eu. Nestes casos, é
corrente o adolescente procurar um outro si mesmo no progenitor de mesmo/sexo que ele volta a valorizar.

Um desgosto sentimental provoca muitas vezes um atraso

ou uma regressão na evolução para a maturidade Este mecanismo de defesa é corrente no adolescente por
ocasião de uma/decepçâo nas suas amizades ou nos seus amores; é uma das fontes do/jnfantilismo de certos
sujeitos que permanecem demasiado tempo dependentes da autoridade parenta], o que marcará a sua
/personalidade de adulto. As amizades do período de/adolescência propriamente dita conservam o mesmo perfil
que esta amizade/ homossexual pré-pubertária, embora se diferenciem em função das variáveis de idade e de
sexo. Por conseguinte, distinguiremos as amizades entre indivíduos da mesma idade e do mesmo sexo, depois
as que ligam dois indivíduos de idades diferentes, finalmente as amizades entre um adolescente e um adulto.

A amizade entre dois adolescentes da mesma idade e do mesmo sexo reproduz o par homossexual pr&pubertário.
São os mesmos inseparáveis um pouco amadurecidos, mas com mais abertura aos outros. Ê-se feliz por amar e
ser amado, procura-se prová-lo través de sacrifícios que se fazem com alegria pelo amigo - sob forma de serviços
que requerem um/esforço, de dádiva de um objecto do qual nunca se havia pensado separar- se. Os dois amigos
nutrem admiração um pelo outro, têm a impressão de comungar nas/emoções, sentimentos,
/juízos, /gostos e interesses, e isto exalta-os e impele-os a cantar a sua amizade eterna com um romantismo
enternecedor. O amigo é o ideal, jurou-se-lhe uma fidelidade e uma dedicação sem limites. Neles, como
acentua Maurice Debesse, a,,*iMitação é levada ao cúmulo, cada qual tenta tornar-se igual ao outro, adoptando
as mesmas mímicas divertidas, convencendo-se
AFE

das mesmas ideias, do mesmo ideal de si. Esta amizade tem algo de uma fraternidade de armas: tanto nos
rapazes como nas raparigas, a complacência em falar das suas experiências com o sexo oposto, mostrando um
certo desprendimento, denota o/medo inconsciente do outro sexo. «As pulsões para o outro sexo, diz Mélanie
Kleino, quer nos rapazes quer nas raparigas desta idade, e Méianie Klein:

l'Amour et Ia haine são


muitas vezes experimentadas como cheias de tantos perigos (Pavot. Paris. 1968), que a
atracção pelas pessoas do mesmo/ sexo tende a intensificar-se.» p. 125.

O amigo mais velho exerce com frequên

um ascendente sobre o mais ni Por vezes, um dos dois amigos impõe-se ao outro que o toma por modelo, e isto
amplifica-se quando eles não têm a mesma idade. É claro que o mais velho pode tornar-se uma espécie de irmão
crescido para o mais jovem, o que significa que a sua/amizade é acompanhada por um/desejo de proteger, tanto
no rapaz como na rapariga, que responde à/necessidade de ser protegido e de admirar da parte do mais novo.
Porém, neste caso, a/identificaçâo dá-se apenas num sentido: o mais jovem identifica-se com o mais velho, a não
ser que, bem entendido, este satisfaça efectivamente o seu próprio desejo de ser protegido/;< projectando-se
sobre o seu pequeno amigo. Se a diferença de idade é importante, o mais velho terá problemas
de/responsabilidade/ moral quanto aos conselhos que prodigaliza e que serão certamente seguidos. Neste caso,
os riscos de/perversão sexual são maiores do que entre dois amigos da mesma idade.

Tais comportamentos foram estudados por Freud, o qual escreveu a este respeito que os,,” homossexuais « se
tomam a si próprios como objecto sexual; e, partindo do/narcisismo, procuram rapazes que se lhes assemelhem,
que eles possam amar como a sua mãe os amou a si mesmos»*. O Freud citado p, Notemos um
outro exemplo da/ambivalência dos sentimentos JJ"- Laplanche e . B. Pontalis: Voca do adolescente: a perversão em
que ele pensa, que talvez deseje de Ia psychanalise (P.U.F., Paris. 1967@ por vezes de um modo
confuso, opõe-se à ideia de nobreza e de p. 261. pureza que ele tem da amizade.

É igualmente muito frequente o adolescente projectar a sua necessidade de amar sobre um adulto da sua
convivência. Trata-se de um professor, de uma pessoa «que tem experiência», ou de um parente. A amizade
que o adolescente lhe dedica é sobretudo feita de uma admiração incondicional, sendo as palavras do amigo
erigidas em verdades sagradas. O adolescente quer absolutamente «vir a ser como ele», atribui-lhe todas as
qualidades - «ele, ao menos, compreende» - e é o único; faz dele um ideal de vida e, o M. Debesse:

l'Adolescence (P.U como afirma Maurice Debesseo, estes adultos «são considerados Paris, 1969), p. 5
40 A afectividade

pelos seus admiradores como uma espécie de messias que lhes revelam o valor da vida». Pode estabelecer-se
uma/ correspondência ou frequentes conversas nas quais o adolescente se confia com o coração nas mãos e
espera os conselhos que serão a chave de todos os seus problemas. Quando o adulto é do sexo oposto, a amizade
pode transformar-se em/amor, e os/diários íntimos encerram cartas apaixonadas em que tanto o rapaz como a
rapariga exprimem o seu/amor através de imagens de que estão longe de suspeitar as pessoas em causa.

As amizades adolescentes são ardentes,

desinteressadas o exclusivas Em matéria de/amizade, os /comportamentos afectuosos do adolescente diferem


sobretudo quanto à idade e ao/,"sexo do parceiro, mas o decurso/ projectivo é quase idêntico em todos os casos.
Antes de mais, ela toma o carácter de uma verdadeira paixão, comportando, segundo Maurice Debesse, todos os
seus transes, incluindo as tempestades do/ciúme. O adolescente exige que o parceiro lhe reserve a totalidade das
suas/ confidências, o segredo mais absoluto, a escuta mais atenta. As trocas não podem fazer-se senão na
intimidade. Nisto, a amizade adolescente assemelha-se muito

ao amor.

Ao ardor das amizades adolescentes vem juntar-se a sua nobreza. Elas são desinteressadas e não admitem os
calculismos da idade adulta; acham-se muitas vezes impregnadas de um ideal de pureza e de,,;<absoluto em que
a/imaginação do adolescente se inspira com delícia, fazendo-o viver as mais belas aventuras. Daí a sua
veemente indignação quando se lhe censura, por exemplo, o facto de pagar demasiadas vezes o / cinema ao /
amigo, ou mesmo quando se lhe pede esclarecimentos sobre a organização material das suas /I saídas. Tudo se
passa como se, a seus olhos, estes pormenores prosaicos não tivessem o mínimo lugar no desenrolar das suas
/relações. Do mesmo modo, ele tem horror a qualquer reparo -vindos as mais das vezes dos colegas- sobre a
eventualidade

e uma consumação/ sexual da sua amizade. Ora não podemos eixar de dizer que, investindo o adolescente toda a
sua necessidade e ser amado nesta relação, ela se acha forçosamçnte nimbada e/«sexualidade, tal como
o/@Inarcisismo é inseparável de uma d

rta forma de/lauto-crotismo. Os gestos amigáveis -abraços e ícias no caso da rapariga e até no do rapaz-, que
adquirem or vezes um ar equívoco, são prova disso. Por consequência, os ntimentos de nobreza e de pureza que
acompanham estes géneros e amizades aparecem como a/sublimação das /necessidades xuaiS importantes nesta
idade; uma tal evasão na/idealização Mute ao adolescente evitar a realidade sexual desta relação, cuja
AFE
tomada de consciência produziria uma recrudescência da sua/culpabilidade e da sua angústia. Razão pela qual
ele recusa até pensar nela.

Todavia, em certos casos, estas tendências homossexuais satisfazem-se em realizações físicas: são as
/«amizades particulares». Muito mais do que um relaxamento moral, é de temer a fixação do /amor sobre um
objecto inadequado. Além disso, a/angústia e a/culpabilidade que acompanham esta/perversâo arriscam-se a
comprometer o seguimento da evolução afectiva e/,,social, ao mesmo tempo que são igualmente germes de,--
4ncuroses. Estes desvios são com justa razão inquietantes e devem tornar-se alvo de preocupações particulares
da parte dos/,<pais, conquanto seja absolutamente imprescindível agir com discerniniento. Não se deve ferir o
adolescente proibindo-lhe um convívio julgado demasiado assíduo nem aumentar a sua culpabilidade com
ameaças e sermões moralizadores. Não se trata de aprovar sistematicamente as/actividades do nosso filho, mas,
seja em que caso for, de lhe oferecermos a nossa ajuda - de o não amarmos só por nós de facilitarmos o seu
desabrochar.

A amizade juvenil: a primeira expressão do verdadeiro altruíam Enfim, a/imitação é uma lei geral nas amizades
juvenis. Vimos até que ponto ela era praticada em cada um dos comportamentos amigáveis. Parece que o
adolescente procura a todo o custo ver no seu amigo um outro ele mesmo, e é por isso que se transforma à
imagem deste. Além disso, já o apontámos, ele vê o outro tal como deseja que ele seja, e tal como ele próprio
desejaria ser. Assim, /identificando-se pela imitação com este amigo, tem a impressão de atingir um certo ideal
de si. Donde a exigência de que dão mostras os adolescentes nas suas/amizades: na verdade, é indispensável que
o/” amigo não rebaixe na vida quotidiana este eu idealizado que se projectou sobre ele mesmo; enquanto o
adolescente se estima por intermédio do outro, afirma o seu eu. Por conseguinte, podemos falar aqui da utilidade
das amizades adolescentes para a formação do eu e a reestruturação da /,‟personalidade. Nelas, vemos o
adolescente identificar-se com um ser que é o produto da sua /imaginação benevolente e afirmar, desta maneira, a
sua individualidade própria por via intermédia. Evidentemente que não se deixará de estabelecer a ligação entre
estas amizades e o/lnarcisismo, mas, em certa medida, um tal,,@'egocentrismo faz-se acompanhar de um
primeiro passo para outrem, de uma certa abertura, ou seja, de um atributo da sociabilidade ou, pelo menos, da
manífestação socializada do narcisismo; é, no entender de alguns autores, a primeira expressão do verdadeiro
altruísmo. Por outro lado, não se pode negar a participação do amigo na
42 A afectividade

constituição deste eu ideal comum, visto que é a sua própria pessoa que alimenta a imaginação do sujeito. A
amizade adolescente deve então ser encorajada porquanto permite ao indivíduo realizar-se, completar-se pelo
outro, ao mesmo tempo que satisfaz a sua/necessidade de aprovação.

O AMOR NA ADOLESCÊNCIA

O nascimento do amor

O/amor, na adolescência, faz-se sentir como uma/necessidade ardente e satisfaz-se, como se viu, nas/ amizades
/homossexuais cujas formas não são muito diferentes das do amor. Nos amores adolescentes, a/imaginaçã o e o
sonho desempenham ainda um grande papel. Como observou Maurice Debesse, o adolescente imagina, sonha o
amor antes de o experimentar; ele espera-o como a satisfação de duas necessidades essenciais: por um lado, a
necessidade/sexual, por outro, a necessidade de ternura. Ainda segundo o mesmo autor, estas duas motivações
constituiriam as duas raizes do amor humano: a afeição e o/desejo sexual, quando se completam
harmoniosamente num mesmo objecto e sem que um deles adquira dimensões hipertrofiadas à custa do outro,
formam o amor -plenitude, unidade, perfeição superior. No adolescente, a necessidade de ternura seria a
princípio mais imperiosa do que a pulsão sexual e encontraria satisfação na amizade. Mais tarde, do
desenvolvimento do desejo sexual e da sua fixação sobre o outro /sexo nasceria o amor, podendo no entanto
ambos estes sentimentos produzir-se simuitaneamente. Ora, o que é a necessidade de ternura, senão uma
forma/sublimada da pulsão sexual? Do /recalcamento desta pulsão extremamente intensa no adolescente resulta a
necessidade de um substituto. Pela via da amizade homossexual, o sujeito contorna o interdito /social - visto que
a amizade é permitida e até desejada pelo/ grupo - e evita a atracção pelo outro sexo que lhe surge cheia de
perigos: há aqui uma ressurgência do Édipo e dos fantasmas da infância. Nós estabelecemos o primado do sexual
nestas amizades da/;< adolescência, analisando a sua aparente pureza.

O abandono de uma extrema amizade coincide geralmente com o nascimento do amor Mas quando o desejo de
uma/relação sexual com o amigo ou a rente P

re

a quan, @ f amiga se faz sentir com demasiada insistência, na altura em que a Pulsão sexual, durante algum
tempo sufocada, se torna muito imperiosa, o adolescente experimenta a necessidade de dirigir a amizade Para o
outro sexo. De facto, o desejo de relação sexual com o

ra n1 /amigo provoca nele uma recrudescência sustentada pela própria i1@deia desta relação.
AFE
Tal estado, muito penoso, leva-o a sentir, de forma inconsciente, a não-conveniência do objecto do seu amor; é
neste momento que ele é atraído pelo sexo oposto: nasce assim o amor, esse estado de/ansiedade e de alegria
misturadas; muitas vezes o amor e a amizade são simultâneos e completam-se.

Olamor no adolescente e na adolescente

No rapaz, o interesse fixa-se pouco a pouco de forma clara e consciente em tudo o que se refere ao/sexual: os
seus órgãos genitais, em particular, são objecto de uma curiosidade atenta. Ele está exposto a erecções e a
indisposições súbitas e frequentes, sobretudo na presença de mulheres ou no/cinema. Estas manifestações, o
embaraço ou até a vergonha que elas suscitam tomam o jovem / desajeitado, acanhado nas suas / relações com o
outro sexo, que ele evita cuidadosamente. A mínima alusão aos seus amores fá-lo corar. A sua/atitude muda por
volta dos 16 anos; pode ter uma pequena /amiga que ele espera à tarde, à saída do colégio, junto da qual se
esforça por se fazer notar pelo seu porte e pelo seu ar altivo. Gosta de se pavonear diante das suas amigas, de
afirmar a sua/ virilidade.

Nos seus sonhos romanescoi o adolescente é ao mesmo tempo justiceiro e sedutc Mas, a maior parte das vezes, o
seu amor fixa-se em segredo sobre uma mulher mais velha do que ele, professora, vizinha, etc., que a
sua/imaginação orna de todas as qualidades físicas e morais. Escreve-lhe cartas apaixonadas, que evidentemente
nunca deita no correio. A sua paixão reveste a forma de uma admiração sem limites e de um/desejo de salvar que
se funde muitas vezes com sonhos humanitários. Constrói romances de que é o principal actor, onde vence todos
os obstáculos que o separam do seu amor, e vive intensamente estas aventuras românticas. Os sonhos de honra,
de poderio e de glória aos quais associa a sua paixão têm um carácter /erótico: ele é umxherói admirado por
todos, ela entrega-se-lhe na sua tenda de guerreiro. Tal/actividade onírica está frequentemente ligada
à/masturbação. Esta vida secreta, esta tempestade insuspeitável do espírito é mais uma ocasião de afirmar a sua
interioridade.

Na rapariga, em contrapartida, o carácter erótico é mais difuso: o interesse que ela encontra em ser amada é
menos explicitamente sexual. A atracção pela coisa sexual é antes de tudo desviada no sentido de um pendor
para a/coquetismo, o desejo de agradar. É evidente que esta negação do sexual se traduz por uma efervescência
sentimental e imaginativa que ultrapassa a do rapaz. Bastará O H. Deutsch. citada p

R. Mucchielli: um olhar, algumas palavras mal compreepdidas para mergulhar as /a Personnalité de 1'enf@5

Editions sociales, Paris. adolescentes nos transes do amor. Hélène Deutscha escreve: «As @ 968), p. 171.
44 A afectividade

raparigas desta idade têm uma espécie de/aptidão especial para experimentar o amor, elas estão pouco
conscientes do carácter sexual do seu sentimento.» Além disso, «a propensão que têm para se admirarem, para
se afirmarem enquanto mulheres, para se pretenderem sedutoras, convida-as a representar o papel de
„mulheres fatais‟. Têm a impressão de suscitar nos outros o „amor à primeira vista‟, julgam deixar atrás de si
„coraçõ es a sangrar‟, os destroços dos que as amam, daqueles cujos olhares e mãos se dirigem para elas
quando passam, ao mesmo tempo deslumbradas e desdenhosas».

Tal como no rapaz, o/desejo amoroso da rapariga fixa-se sobre adultos (actores de cinema), mas a rapariga,
mais frequentemente do que o rapaz, investe o seu amor em seres imaginados de uma ponta à outra:/ heróis,
príncipes encantados, personagens de lenda, aos quais fala à noite, que ela ama e por quem é amada.

«Sonho de amor o sonho de glõria distinguem os dois sexos» Vemos que, na adolescente, o/amor se concentra de
forma puramente sentimental no ser de sexo oposto: o que ela ama, é o «homem», homem idealizado sob os
traços do príncipe encantado. Ao invés, no adolescente, a paixão amorosa é contemporânea do impulso para o
exterior, de desejo de domínio. É por este motivo que o desejo de ser amado está amiúde subordinado ao de ser
admirado, de ser um herói, de se afirmar. Como tão bem disse Mucchiellia: «Sonho # R. Mucchielli: de amor e
sonho de glória distinguem os dois sexos.» Todavia, QP, cit., p. 172.

tanto num como no outro, a paixão amorosa é extremamente intensa e o seu objecto, efémero; por isso mesmo ela
toma o aspecto de um impulso para@ o exterior no decurso do qual o/ narcisismo deve desaparecer. E claro que
o adolescente projecta no exterior os seus estados de alma. O mundo não existe senão em função da sua/
imaginação, da sua paixão. O eu torna-se universo. A realidade inteira é apenas percebida através de uma
subjectividade que a deforma. Trata-se de uma fase do/,-, desenvolvimento da/ personalidade, na qual toma posse
do mundo num ímpeto apaixonado, tornando-se durante um instante o seu centro para o restituir à realidade
/objectiva nos outros estádios da evolução.

Esta fase romântica é portanto um passo a mais na afirmação do eu e no sentido da/ socialização: convém não a
contrariar. Sem d dúvida que ela não deixa de apresentar certos perigos: o,/trabalho

úvid a q escolar corre o risco de se ressentir deste açambarcamento repentino de toda a existência pela paixã o,
tanto amorosa como amigável. S jgu_ São igualmente de temer certas experiencias sexuais prematuras para
esta idade, que originam quase sempre uma viva repugnância / i ou/cinismo. Além disso, o escárnio e a troça
de muitos/pais a

o jt@ propósito da ingenuidade apaixonada deseu filho são perigosas, j já que o traumatizam ao fazê-lo «cair
das nuvens». Importa tam-
bém. evitar qualquer proibição draconiana de conviver com o/ sexo oposto, a qual pode ocasionar a instalaçã o
de um sentimento de vergonha e de /culpabilidade e dificultar as escolhas futuras do adolescente.

Em todos estes casos, o impulso para o exterior é quebrado; produz-se então uma regressão para os estádios
/narcisíacos ou para as/ amizades /pueris, uma concentração em si mesmo, uma tendência para a solidão que o
indivíduo pode arrastar consigo toda a vida.

A / camaradagem

Esta abertura para o exterior pela amizade e o/ amor amplifica-se cerca dos 17-18 anos. Em tal idade, os
adolescentes gostam de fazer parte de um/grupo, de organizar/,” festas,/ saídas em/bando: a sociabilidade parece
atingir o seu a ogeu. Aos muitos profundos , p sentimentos de amor e de amizade dos períodos precedentes
opõem-se então as relações bastante mais superficiais de/camaradas ou delflirt. Parece que, tendo tomado
consciência da distância que separava o seu mundo/ imaginário da realidade, ele se entrega agora a uma espécie
de/jogo social que o prepara para a vida adulta. O adolescente recebe convites, sente-se muito rapidamente à
vontade com jovens que acaba de conhecer, como se se estabelecesse logo à primeira vista uma atmosfera de
compreensão. Mas, paralelamente aos múltiplos «companheirões» que encontra por ocasiã o de reuniões de
carácter lúdico (baile, cinema ... ), o adolescente conserva o antigo/ confidente que é o único a ter direito às
confissões íntimas.

O flirt

Durante este período de amizades múltiplas, o amor reveste um carácter volúvel no flirt. A relação platónica do
período precedente já não basta para assumir um/desejo sexual, que se torna, normalmente, cada vez mais
forte. Também aqui, ele precisa de realidades: o flirt vai fornecer-lhas. Contudo, este raramente chega ao acto
sexual propriamente dito, é apenas uma espécie de jogo/erótico ao qual se entregam os jovens. Permite evitar a
culpabilidade que acompanharia uma eventual realização sexual. Nele, nada há de sério: troca-se amiúde de
parceiro, sem no entanto romper com o precedente, que continua a ser uma «esperança». É quase sempre
excluída toda a «sentimentalidade», porque se tem medo de chegar a ela e de ficar em presença de uma realidade
sexual inquietante. Decerto para marcar esta realidade que ele deseja e teme ao mesmo tempo, o adolescente
gloria-se do sem conto - amiúde fictício -
46 A afectividade

das suas «experiências»: o número destas estabelece o grau de /prestígio que ele obtém junto dos colegas.
Volúvel, efémero, apresentando todos os caracteres opostos aos do/amor adulto, * 1flirt não está, no entanto,
isento de dramas. O desfasamento entre * rapariga que acabou a sua /adolescência e o rapaz que a termina cria
estes episódios trágicos, em que a jovem toma a sério uma ligação que o jovem não considera senão como um
passatempo agradável.

Para o estabelecimento da co-educação no meio escolar Também aqui, importa não contrariar, por uma/atitude
demasiado rígida, demasiado moralizante, este impulso para o exterior. Conviria, pelo contrário, favorecer
contactos precoces entre os rapazes e as raparigas: o desconhecimento mútuo alimentado pela segregaçã o desde
a infância, em particular no/meio escolar, é outro obstáculo à sua superação da adolescência. Esta segregação é
em grande parte responsável pela/imaginação que tende a compensar uma real convivência. Outra consequência
infeliz de uma tal regulamentação consiste numa procura nociva da promiscuidade nos dancings. Assim, a/co-
educação na/escola é desejável: ela permite uma melhor/ aprendizagem da vida. Apresenta, ademais, a vantagem
de reunir os interesses afectivos e escolares dos adolescentes, reduzindo desta sorte o perigo da invasão do
domínio escolar por preocupações de ordem afectiva. Há quem pense que a/liberdade oferecida aos @jovens em
tal forma de/ensino pode levar a temer relações/>< sexuais prematuras. Este risco é mínimo quando a co-
educação é bem feita, e os perigos - muito mais graves - de perversão entre jovens do mesmo sexo ou de
experiências sexuais traumatizantes com/prostitutas ficam praticamente excluídos, ao passo que eles são
frequentes na segregação. É conhecida a reputação dos internatos ingleses.

O ódio

Se o / amor e a / amizade são apaixonados no adolescente, o mesmo sucede com os sentimentos de hostilidade.
Acontece frequentemente ele detestar cordialmente certas pessoas -/amigos dos seus/ pais,/ camaradas de classe,
professores. Odeia sem reticências, e as razões que ele dá do seu ódio só surgem a posteriori. Pode-se supor a
existência, na adolescência, de um ódio latente que o sujeito projecta, tal como o seu amor, de forma apressada e
espontânea. Parece que o adolescente se esforça por separar a sua tendência para amar e a sua/ agressividade,
/projectando-as sobre objectos bem distintos. Ele gosta exclusivamente, detesta exclusivamente. Deste modo,
evita uma/ambivalência muito intranquilizante dos sentimentos (amor-Mo) relativos aos seus/pais. Na/adoles-
AFE

cência, segundo Mélanie Kleino, «os primeiros sentimentos de e M. Klein: l'Amoui

Ia heino (Payot. Pari,, /anior


ou de ódio pelo/pai ou pela/mãe, consoante os casos, 1968). P. 122. são revividos e
experimentados em toda a sua força, se bem que a sua razão sexual permaneça inconsciente». A revivescência de
tais sentimentos ambivalentes exprime a repetição edipiana deste período em que as/ identificações anteriores
são postas em causa. O adolescente esforça-se então por afastar o seu ódio por aqueles que tem necessidade de
amar para escapar à/ culpabilidade. O ódio por certas personagens fictícias (certos tipos de maus nos filmes ou
na literatura, que representam objectos de ódio socialmente aconselhados), ou por pessoas com as quais o
adolescente não tem qualquer laço, permite-lhe preservar, proteger as pessoas amadas. Assim, o adolescente
reencontra a/@<segurança, pois, diz M. Kleino, e M. Klein: op. Cit. «a/capacidade de amar gera
uma segurança que está estreitamente p. 124. ligada, no inconsciente, ao sentimento de proteger e de não fazer
mal às pessoas amadas». Por conseguinte, o ódio aparece como necessário à expressão do amor, como um
contrapeso que permite a instauração de um certo equilíbrio afectivo.

Finalmente, amores, amizades e ódios adolescentes constituem a última fase de resolução do complexo de
Édipo. Por um lado, o sujeito projecta o/desejo culpável pelo progenitor de/sexo oposto e o ódio pelo progenitor
de mesmo sexo em objectos exteriores. Por outro lado, reconcilia-se com este último nas
amizades/homossexuais. Logo, afastando os seus interesses do pólo/familiar, o adolescente preserva a
existência de uma relação afectuosa com os pais. Destas projecções e identificações dependem a formação da/
personalidade e a,,” socialização do adolescente. Além disso, visto que o adolescente se acha reconciliado em
certa medida com a fonte primitiva da/autoridade, ou seja, o pai, o/conflito indivíduo-autoridade pode ser
superado.

ORIGINALIDADE E DESVIOS

Pudemos seguir, através das diferentes etapas da evolução da afectividade adolescente, a gênese do eu. O
sujeito procura fazer reconhecer e afirmar este eu. A/oposição à autoridade é a expressão social de tal vontade
de afirmação. Esta é observada ao longo de toda a/adolescência, sob formas diferentes de originalidade, em
função do estádio de evolução do eu.

A crise de oposição é uma promessa de maturidade afeci A originalidade juvenil consiste, em primeiro lugar,
na pré-puberdade, numa crise de/oposição aos/pais, em breve seguida de uma fase durante a qual a
originalidade não está ausente dos/comportamentos, mas não atinge o seu paroxismo: a oposição traduz-se
48 A afectividade

no traio, na contestação da/moral familiar, na/atitude, nas declarações voluntariamente aberrantes, etc.,
continuando apesar de tudo a ser possível a vida familiar. Por volta dos 18-19 anos, a originalidade juvenil
conhece frequentemente uma crise; esta nem sempre se verifica, porquanto representa a fase última da evolução
que muitos sujeitos não atingem, ficando bloqueados em estádios anteriores. Mucchiellio chama a atenção para a
importância desta /revolta contra a família, na qual «ela deve ser negada, para que o adolescente e a adolescente
possam alcançar uma maturidade afectiva real, isto é, possam ter acesso à idade adulta». Mas aqui, à oposição à
família acrescenta-se a oposição à/sociedade dos adultos que os adolescentes, apoiados nas suas concepções do
mundo recentemente elaboradas, querem transformar: o abalo é grande quando a descoberta do real contraria os
seus ideais, e nasce a desilusão.

Nestas duas crises, a afectividade está em/desequilíbrio. O grau deste, a violência das crises e a sua duração
dependem da/reacção do/nieio, quer dizer, das dificuldades maiores ou menores que o adolescente encontra na
sua afirmação e que condicionam o fracasso ou o/ êxito das suas/ identificações. Os riscos de acidentes
afectivos, de desvios* diversos, mais ou menos graves, são de temer.

DESVIOS E ACIDENTES CORRENTES NA ADOLESCÊNCIA

Na pré-adolescência, o distanciamento em relação às identificaçoes anteriores mergulha o sujeito numa


incerteza/ angustiante e torna-o muito vulnerável, o que pode conduzi-lo a comportamentos/ anormais. Na altura
da crise final de originalidade juvenil, esta vulnerabilidade é acrescida se as etapas anteriores da afirmação do eu
foram mal resolvidas. Além disso, a recusa de aceitarem uma realidade demasiado decepcionante, de se
inserirem no mundo adulto num momento em que eles já rejeitaram a família, torna os adolescentes «flutuantes»,
«sem raizes»,/depressivos, logo predispostos ao desvio. Portanto, quando esta situação de fragilidade quase
«natural» é complicada por intervenções traumatizantes do meio, compreende-se que ela se torne assaz perigosa
para a/personalidade adolescente. Estas intervenções podem ter diferentes formas. Há, por exemplo, uma
hiperautoridade paterna que se traduz por uma espécie de esmagamento sistemático de toda a veleidade de
afirmação do adolescente. Este é humilhado através de contínuas admoestações, por vezes públicas: tomam-se
os outros por testemunhas dos seus defeitos para q@e ele sinta bem até que ponto é culpado. A censura
Permanente: «Es um mentiroso, um imbecil ... », longe de facilitar

o R. Mucchielli: /a Persom7alité de 1'enfant (Editions sociales, Paris,


1968), p. 184.

o É relativamente à noção de norma social que se defino o desviado. As normas de uma sociedade são modelos de acção‟ de comportamentos, ideias e valores
comuns aos membros do grupo.
O desviado recusa conformar-se âs normas, conquanto se situe no irIterior de uma margem, não ultrapassando certos limites, de tal modo que é. em geral,
tolerado pela sociedade.
AFE

* desaparecimento do defeito, só serve, a maior parte das vezes, para


* acentuar, já que aumenta a/oposição do sujeito.

A humilhação reiterada destrói tanto a personalida

como a superprotecção constan A/sanção humilhante, por vezes injusta, que nunca respeita a individualidade do
sujeito, provoca um ensimesmamento e/reacções de defesa muitas vezes mal elaboradas. Se certas /@< atitudes
paternas são castradoras para o adolescente, também se conhecem muitos exemplos de/mâes não menos
invasivas, que utilizam, para retardar a emancipação dos filhos, uma espécie de chantagem à piedade, quando
não o método/autoritário. De qualquer modo, tal como a troça que visa meter o adolescente a ridículo,
a hiperautoridade ou a superprotecção parentais quebram a afirmação do eu no adolescente. Este é/frustrado na
sua/necessidade de aprovação e de afirmação e, em vez de se sentir seguro de si, experimenta um sentimento
de inferioridade muito acentuado. Tal sentimento pode provir igualmente de uma deficiência fí sica: os/gagos,
os/enurésicos, etc., têm muito mais dificuldade em afirmar-se. Diz-se, com frequência, ao falar destes
indivíduos que eles são «/complexados»*, querendo assim indicar que o seu/com- o O termo « complaxai

tal como é entendido portamento


exprime um/desequilíbrio afectivo o qual traduz uma aqui, num sentido vul rejeiçã o
da sua própria/ personalidade. não corresponde à su,

acepç5o em psicologiz

Uma das consequências desta inferiorização, sobretudo se, desde a infância, todas as tentativas de afirmação do
eu foram contrariadas, é a fraqueza deste eu: «A desvalorização, o adestramento autoritário da criança, depois do
adolescente, a uma submissâo/passiva obtida por constrangimento, por chantagem ou por troça, têm o efeito de
vergar o eu, de o impedir de se constituir.»* o R. Mucchielli:

Ia Personnalité de l'en (Editions sociales, Pari A compensação 1968), p. 183.

Em todos os casos em que a aflimação do eu é posta em xeque, o adolescente recorre a/condutas de substituição
que visam compensar a inferiorização. Elas consistem, as mais das vezes, em criar para si uma superioridade
que torna satisfatória a ideia que o sujeito tem de si próprio, ou que tem em vista transformar a/opinião de
outrem. Este mecanismo de defesa do eu exprime-se de diferentes maneiras, variando conforme a importância
da inferiorização.

A mentira, o roubo o a fuga são condutas de compensaç Os /comportamentos/ emotivos de/cólera e de/violência
fazem parte destes fenômenos de compensação. A cólera pode atingir no adolescente um paroxismo pouco
comum, chegando a actos cuja gravidade ele não mede (vandalismo, depredações, /suicídio). Na mentira de
compensação, o adolescente defende-se contra o
60 A afectividado

/juizo de inferiorização de outrem, dissimulando-lhe a verdade. No/roubo e na/,"fuga de compensação, frequentes


na pré-adolescência e no fim da adolescência, trata-se sempre de proteger o eu contra a inferiorizaçã o, quer
afastando-a do/ meio ,<frustrante quer tentando substituir a posse de si pela propriedade de objectos adquiridos
por vias não admitidas pelo meio. Nestes objectos roubados, sobretudo no caso do/dínheiro, o adolescente
encontra um certo poderio: /prestígio junto dos/camaradas, poder de compra.

O adolescente provoca, com atitudes anti-sociais,

o reconhecimento da sua individualidade Na altura da «crise de originalidade juvenil», última tentativa de


afirmação do eu, a compensação toma. muitas vezes um carácter mais elaborado, que permite ao sujeito
afirmar-se ao mesmo tempo que evita a/sanção, a que não escapa nos actos anti-sociais que são a fuga e o
roubo. Trata-se de uma série de comportamentos extravagantes que, além de colocarem o adolescente à
margem dos outros - logo, ao abrigo -, suscitam o espanto destes e, em certa medida, o reconhecimento da sua
individualidade, pois o espanto deixa-os desarmados. O adolescente age ao arrepio de toda a lógica, faz-se notar
por actos gratuitos: quer tornar-se estivador, abandonar os estudos, parte à boleia recusando qualquer dinheiro.
Entrincheira-se numa «torre de marfim» donde não sente senão indiferença pelos outros; nutre-se de ideias
estranhas, paixões esotéricas, metafisicas ou/religiosas. Os acontecimentos do día-a-día perdem todo o
significado a seus olhos e ele não tarda a sentir a /vaidade da vida, tão fortemente que qualquer acção lhe
parece inútil. Esta/atitude, aliada à tendência para a especulação, pode ser extremamente destruidora do sujeito,
tanto mais que ela é algumas vezes acompanhada por perturbações da /sensibilidade: ele comove-se por causa de
futilidades e fica gélído perante dramas.

Este/autismo de compensação, à semelhança das atitudes anti-sociais, cessa se o adolescente encontrar mais
compreensão da parte dos que o rodeiam. Mas se estas pessoas persistirem na sua atitude depreciativa
ou,,,@punitiva, tais/,” comportamentos poderão tornar-se sistemáticos e até organizar-se em/ condutas/
obsessionais, culminando por vezes na/delinquência crónica ou na /neurose.

Na realidade, esta «superiorização» só é aborrecida devido às suas consequêncías anti-sociais ou patológicas,


visto que tenta preservar e afirmar um eu atrofiado, negado pela esfera de convivência, e restabelecer o
equilíbrio afectivo. Ela manifesta-se de forma inadequada. importa criar as condições da sua expressão
conveniente. A terapia consiste em favorecer as/actividades que dão ao sujeito
AFE
a possibifidade de afirmar a sua superioridade, de sentir uma certa /confiança em si, ao mesmo tempo que
asseguram a sua inserção /social. A criação/ artística:/ música, pintura, escultura,/arte dramática, o/desporto ou
a/aprendizagem acelerada de uma /profissão remuneradora que lhe permite fazer a experiência do /dinheiro,
proporcionar-lhe-ão satisfações pessoais, assim como a tão procurada aprovação de outrem.

COMPORTAMENTOS PATOLõGICOS

Quando os abalos afectivos e os traumatismos são percebidos com uma/violência particular pelo sujeito, em
certos casos em que as /identificações formadoras do eu foram irremediavelmente comprometidas pela ausência
ou pela fraqueza do/pai ou por uma má imagem deste (bêbedo, cadastrado ... ) durante a infância, quando os
substitutos que a criança procurou para esta carência paterna (tio, vizinho, ete.) se revelaram ineficazes, o
adolescente não encontra mais do que soluções inadequadas para a afirmação do seu eu, pois que ele está
absolutamente entregue a si mesmo, abandonado aos seus/conflitos interiores. É então de temer uma
evolução patológica da/ personalidade. A origem destes desvios enraíza-se profundamente em conflitos infantis
mal resolvidos, e o abalo afectivo ou o bloqueio da evolução do eu na adolescência, que parece explicá-los, não
é, de facto, senão a centelha que inflama a pólvora. «A perturbação neurótica, /psicológica, somática ou social
não pode declarar-se sob a simples influência de um abalo afectivo final. Para que este tenha um tal efeito de
fenda na personalidade, é preciso que a criança, depois o adolescente, tenha vívido durante anos sob / tensão no
/ meio 1x familiar, sofrendo sem se exprimir, enraivecendo-se sem o dizer, suportando uma situação carregada e
obsidiante sem poder libertar-se dela.»* S. Mucchielii: /à Personnalité de i (Editions sociales. 1 É
difícil estabelecer uma nosografiao válida das perturbações do 1968). p. 184.

/adolescente, já que não se podem distinguir as perturbações e nosogrer5s:

assificagão das d passageiras, que são a manifestação desta crise, das que chegarão ecstabelecida a parti

certos critérios hei a uma estruturação verdadeiramente patológica da personalidade. definidos. Ela apre@

impre o inconveni E no entanto possível classificar as perturbações observadas em três „d'e constituir um ct categorias:
estreito que dificiln

permite levar em ec
- perturbações/ caracteriais, novos contributos
- perturbações/ neuróticas, cientfficos.
- perturbações/ psicóticas.
52 A afectividade

PERTURBAÇõES CARACTERIAIS Qualificam-se habitualmente de «caracteriais» os indivíduos cujo /comportamento


estranho, algumas vezes até/inadaptado a qualquer forma de vida em/sociedade, põe em evidência um /@1desequilíbrio da/
personalidade, sem que no entanto se possa falar de uma doença mental propriamente dita. Incluem -se nesta categoria de
perturbações, por um lado, aquelas que podemos considerar transitórias, porque são o efeito dos «acessos de/agressividade»
característicos da/adolescência e que desaparecem habitualmente no fim deste período; já nosreferimos aelas. Por outrolado,as
«psicopatias constitucionais» que são expressões, na adolescência, de perturbações do/carácter fixadas pela hereditariedade.

Podemos distinguir vários tipos de caracteriais:


- Os hiperemotivos são caracterizados por uma «impressionabilidade afectiva exagerada» pela incerteza, pela insegurança e
pela indecisão c; O H. Faure: «Eléments de

sérnóiologie en p ychologie Os cielotímicos passam


por fases de/depressão intensa que alter- pathologique», is nam, após
intervalos mais ou menos breves, com períodos de eufo- Bulletin de psychologia,

n'mero especial anual, ria durante os quais se mostram


hiperactivos. Esta hiperactividade, 1967, p. 85. que se faz acompanhar
muitas vezes de uma grande exuberância e de hipersociabilidade, esconde uma personalidade profunda que comporta
«componentes/ ansiosas, tendências para o/humor depressivo, sentimentos de vazio e de insegurança física, inquietudes
latentes e mal definidas»;
- OsI,1 instáveis, muito numerosos, são incapazes de se aplicar numa tarefa e nunca terminam o que empreenderam; -Os
paranóicos são indivíduos/ anormalmente agressivos e reivindicadores; eles estão imbuídos do seu valor pessoal, vêem um
inimigo em qualquer pessoa, têm uma tendência para as falsas interpretações; enfim, a sua inadaptação social é caracterizada
pela susceptibilidade, o/egocentrismo e a rigidez afectiva nas relações humanas; -OsIperversos recusam as leis/sociais, mas
não hesitam em utilizá-las em seu proveito; atribuiram-se-lhes quatro características: a amoralidade, a inafectividade, a/
impulsividade e a inadaptabilídade. Eles são capazes de cometer actos anti-sociais, friamente, sem o mínimo remorso: os seus
desmandos sexuais são frequentes. Mais do que todos os outros caracteriais, têm predisposição para as/fugas, os/,<roubos e,
em geral, a/delinquência;
- Os1-@mitómanos têm uma «tendência patológica, mais ou menos voluntária e consciente, para a/mentira e a criação de
ficções»; a mitomania infantil é bastante frequente;
- Os esquizóidés refugiam-se em si mesmos, centrados na sua interioridade, recusando o contacto social;
AFE

- Os epileptóides, enfim, «são capazes de furores, de/violência, de desvairamento e também, ao invés, de


meticulosidade, de paciência, de adesividade».

Esta descrição tem o mérito de exprimir com clareza as diferentes perturbações que se podem observar
efectivamente na/adolescência, mas remete para a teoria das constituições hereditárias, o que é lamentável. De
facto, em tais condições, torna-se inútil tentar seja que profilaxiao for das psicopatias. A psicanálise estabeleceu,
e proffiama. no entanto, que estas perturbações são muito mais imputáveis a tratamento
preventiv uma evolução afectiva deteriorada por condições /famíliares deploráveis do que a uma qualquer
hereditariedade. A sua origem deve então ser procurada na história pessoal do indivíduo, e a sua brusca
acentuação na adolescência explica-se pela desestruturação da/ personalidade, inevitável neste períc>do, pelo
menos num grande número de/sociedades. Pode-se, sem dúvida, observar uma continuidade patológica em
certas/famífias, mas nesse caso é a presença de/pais doentes que gera uma doença na criança, muito mais do que
a hereditariedade: compreende-se quanto o filho de uma esquizóide, privado da ternura materna indispensável,
se arrisca a tornar-se ele próprio esquizóide, e até, possivelmente, esquizofrénicoo.
e Para a psicologi

constituições, a esqu é um elemento ,ar,cterológico, um As


perturbações caracteriais são dificilmente curáveis porque pro-
psicológico mais ou vêm de uma evolução num meio patogénico desde a primeira infân- «normal». Em certas

condições, a constit cia, e não de um traumatismo preciso e localizável na história do esquizóide pode ev( indivíduo.
para uma estrutura

caracterial patológic para a i=e: a esqu a. ASINEUROSES

A neurose, na adolescência, aparece como uma/reacção de fuga psíquica a uma situação /conflitual
particularmente traumatizante.

As neuroses de origem actual A neurose actual é uma afecção psíquica cuja origem deve ser procurada,
segundo Freud, não nas experiências infantis, mas no presente, isto é, nos/conflitos da adolescência. Os
sintomas desta neurose «resultam directamente da ausência ou da inadequação da satisfaçâo/sexual»*.
Compreende-se que na adolescência, em o J. Laplanche e

J.-B. Pontalis: que a satisfação sexual é objecto de severos interditos, os riscos de Vocabuleire de Ia

psychanalise (P.U.F tal


afecção sejam grandes. Mais frequentemente, ela toma neste Paris, 1967). p. 271. período a
forma da neurose delangústia: o sujeito é vitima de crises de/ansiedade, paralisado pelo medo sem razão
aparente -uma situação tão anódina como a espera de um /xan-úgo pode estar na origem de um mal-estar deste
gênero, o qual é por vezes
54 A afectividade

acompanhado de uma impressão de morte iminente e de perturbações somáticas (dispneiao, taquicardia,


sudação, etc.). Q dispneia: dificuldade

em respirar. A
psicastenia consiste numa fatigabilidade excessiva, estado de /depressão, dores vagas
injustificadas,/astenia permanente tanto física como psíquica. A/-<atenção do sujeito está constantemente
dispersa, a sua/adaptação ao real é difícil. Mau grado a origem actual destas/ neuroses, os psicanalistas
encontram nos sintomas «a expressão simbólica de/conflitos mais antigos*», que se acham reactivados pela
situação presente. o J. Laplanche e

J.-B. Pontalis: Vocabulaire de Ia psychanalíse As neuroses de transferência (P.U.F.. Paris, 1967).

p. 272. Nas
neuroses de transferência, as desordens afectivas são menos evidentes, no sentido em que se
exprimem por vias mais organizadas: angústia «somatizada» nas histerias de conversão, «fixada sobre um
objecto substitutivo nas/obsessões e nas/fobias»*. 9 H. Faure: «Eléments de

séméiologie en psychologie pathologique», Na


histeria, chama-se/ conversão ao mecanismo de fuga diante in Builetin de
psychologíe. da/ansiedade em sintomas que podem ser «aparências de enfer- n'mero especial anual,

midades físicas ou doenças somáticas»*: observam-se casos de 1967. p. 91. paralisia ou de perda da vista
que desaparecem logo que a razão H. Faure: op. cit., p. 8.

do conflito cessa (exame, presença de um indivíduo que perturba a afectividade do sujeito, encontro de uma
pessoa inconscientemente odiada).

As doenças psicossomáticase são igualmente frequentes na/ adoles- psicossomáticas:

M doenças do corpo cuja cência;


os sintomas consistem, como a denominação o indica, e causa principal é de ordem
perturbações orgânicas, mas estas afecções devem ser distinguidas psicológica. da histeria, pois as determinantes
não são exclusivamente /psicológicas; são no entanto estimuladas por alterações psíquicas. A úlcera gástrica, por
exemplo, é condicionada por uma lesão primária do estÔmago, mas muitas vezes só se desencadeia no
seguimento de um abalo afectivo. Podemos também citar a asma e certas uremias. Parece que o indivíduo, não
podendo descarregar a sua/tensâo interior através de/agressividade enviada para o exterior, dirige esta contra si
mesmo. Tal mecanismo é comparável à autopunição, atribuída a um/ desenvolvimento/ anormal do superego
(consciência moral) que corresponde à/culpabilidade do sujeito na neurose de fracasso, em que este não suporta
a possibilidade de satisfazer um/desejo inconsciente. Ele recusa a si mesmo qualquer satisfação. O exemplo
corrente e frequentemente observável desta afecção é a repetição, em certos adolescentes, de fracassos nos
/exames.

-4 neurose,,* obsessional: a perturbação principal é «uma ideia precisa que persegue sem descanso o sujeito,
contra a sua vontade,
AFE

e que se impõe irresistivelmente ao seu espírito, por muito,;< esforço que ele faça para a afastar»*. Esta ideia
pode ser a de um objecto O H. Faure7 op. cit. (uma faca, por exemplo), de um desejo (pela mãe), cujo
simbolismo deve ser procurado nos conflitos infantis. A/atitude do sujeito a respeito desta ideia ou deste
objecto é/ambivalente: ele compraz-se em pensar nisso, ao mesmo tempo que sente/ medo. Pode ser
igualmente uma compulsão* para efectuar actos indese- e compulsão., tend jáveis (ir verificar várias
vezes se a porta está bem fechada ... ), lutas „órbida para a repo

contra estes pensamentos e estas tendências, ritos esconjuratórios, etc. Isto leva a/inibições do pensamento e da
acção.

A neurose fóbica: o sujeito deslocou o seu medo inconsciente de realizar um desejo, recalcado desde a infância,
para um objecto que adquire então valor de símbolo. A/fobia é «um receio que incide sobre um objecto
determinado, objecto pelo qual o doente experimenta uma repulsão instintiva e cujo contacto difigencia evitar».
Esta/neurose é muitas vezes acompanhada de angústia.
O aparecimento de tais neuroses deve motivar a consulta de um especialista.

No caso das neuroses actuais, basta algumas vezes uma mudança de/meio para fazer desaparecer as
perturbações; mas, quando se está na presença de uma neurose de transferência, impõe-se muitas

vezes uma terapia analítica: «Só as modificações obtidas pela tomada de consciência das posições antigas
podem mudar o sujeito e dar-lhe segurançao.» Dr. Male:

Psychothérapie

AS PSICOSES

Contrariamente às perturbações neuróticas, as/psicoses, afecções globais da/ personalidade, muito mais graves,
são raras na/adolescencia. Quando elas surgem, é frequentemente no final da adolescência e sob a forma de
psicoses agudas, ou seja, transitórias. Por exemplo, podem aparecer «acessos delirantes» nos sujeitos
hiperemotivos: há desorientação, perda de todo o sentido do real, e por vezes alucinações. O seu
desaparecimento produz-se quer espontaneamente quer sob o efeito de uma terapêutica que acelera esta cura.
Porém, nalguns casos, estas crises conduzem a uma estruturação duradoura da esquizofrenia, por exemplo. O
segundo tipo de psicose que se observa na adolescência é a psicose intermitente, cujo exemplo-paradigma é a
maníaco-depressiva. Esta surge como uma exageração da ciclotinija: as fases de/depressão vão por vezes até ao/
suicídio; durante os períodos maníacos, a euforia é «lábil, versátil», acompanhando-a perturbações graves
da/conduta: desencadeamento das pulsões, violências. Os doentes atingidos por esquizofrenia, ou demência
precoce, soçobram num estado de fraqueza
de 1 adolescence (Paldera, 1964).
56 A afectividade

psíquica, sem que nada no seu/ comportamento anterior tenha podido deixar supor uma deficiência mental. Há,
na esquizofrenia, duas grandes categorias de perturbações: -a «dissociação», ou seja, a alteração da harmonia
das funções mentais, que são perturbadas independentemente umas das outras; há discordância das ideias e do
comportamento, em particular da mímica; o sujeito ri sem que se possa compreender a razão; -as perturbações
da afectividade são profundas: fechar-se sobre si mesmo (/autismo), indiferença total pelo meio, por vezes
crises de/oposição violenta aos/pais, que vão até à ideia do homicídio.

Esta psicose é de prognóstico temível quando se não empreende um tratamento desde as suas primeiras
manifestações. Para estas perturbações em particular, mas também para todas as perturbações psíquicas da
adolescência, convém ter presente «a importância, num certo número de casos, de uma terapia precoce,
conduzida por um psicanalista, mas sem no entanto ser forçosamente analítica no sentido estrito, pois basta
muitas vezes, no início, uma psicoterapia «compreensiva» que permitirá ao adolescente encontrar e situar a sua
imagem, e senti-Ia aceite algures»*. e H. Faure, in Laffont.

A EDUCAÇÃO

Na/ adolescência, como em cada um dos períodos da evolução da criança, a tarefa dos/pais é muito delicada.
Mas a última fase apresenta dificuldades particulares que derivam antes de mais do facto de as relações
recíprocas dos filhos e dos pais se modificarem:
- por um lado, o adolescente recusa doravante aos seus pais, como vimos, o privilégio de satisfazerem as/
necessidades dele, pelo menos nos casos normais; -por outro lado, a própria/ atitude dos pais muda, considerando
estes o seu filho, durante a adolescência, de um modo mais ou menos evidente, não como uma pessoa dotada de
certos caracteres que não devem ser julgados, mas como um ser em devir sobre o qual se tem o direito e até
o,.;,dever de agir. Decerto que esta atitude dos pais é observável durante os períodos precedentes da vida do seu
filho - constitui a primeira condição de toda a educação -, mas torna-se muito mais marcada na adolescência,
último período importante da evolução da/ personalidade e no qual, efectivamente, as transformações do
indivíduo terão consequências indubitáveis sobre a vida futura. Deste ponto de vista, tal atitude é necessária na
medida em que leva os pais a facultarem uma ajuda. Mas é uma
AFE
atitude que tem frequentemente outra origem: é motivada pela circunstância de o adolescente ser considerado
pelos seus pais como

um ser que não está à altura de enfrentar a vida. Trata-se do sentimento de que se vai perder o filho, do receio
do momento em

que ele se separará do lar parental. Resulta dai um/desejo de posse, em particular na/mãe, que, longe de
favorecer então a

evolução do adolescente para o domínio da sua/ personalidade, a entrava pelo contrário: ele acha-se
desapossado de si mesmo e privado de/segurança, porque aquela que sua mãe lhe oferece já não pode
satisfazê-lo.

Mais rara é a atitude que consiste, para os pais, em considerar desde o inicio da adolescência que o seu filho se
tornou «crescido» e em deixar-lhe a máxima/ liberdade, já não mantendo com ele senão relações
de/camaradagem. Isto apresenta igualmente o risco, para a criança, de não superar a sua situaçâo/conflitual,
porquanto não encontrará o apoio necessário num momento em que poderá p cisar dele-em caso de/decepção
sentimental, por exemplo. E pois indispensável que os pais favoreçam, por um lado, a emancipação do seu filho,
deixando desenvolver-se/ amizades e laços /heterossexuais, e, por outro lado, o estabelecimento dos novos laços
consigo mesmos, de compreensão e de amparo, que facifitarão a ultrapassagem desta fase difícil.

É também durante a infância que convém pensar em facilitar esta crise da/ adolescência, em particular
aceitando responder às perguntas da criança relativas à/,, sexualidade, de tal sorte que, no momento
da/puberdade, ela não se encontre desarmada diante desse mundo desconhecido e que esta nova percepção de
si não seja acompanhada por um sentimento de estranheza que estaria na origem de um fechar-se em si
demasiado prolongado.

Desarmados pelas perguntas das crianças: por É errado julgar que, «chamando a/atenção das crianças para
problemas em que elas ainda não pensam, nos arriscamos a excitar artificialmente a sua curiosidade e a impeli-
Ias para experiências perigosas e nocivas pelo facto de serem prematuras*»: pelo con- o Makarenko: trá rio,
quanto mais cedo tiver começado a/educação sexual da Notas de cursos.

criança, mais este domínio lhe parecerá natural, e mais probabi~ lidades ela terá de o seguir com sir@pIicidade,
à medida que se desenvolverem as suas/ necessidades. E aliás lamentável que este problema da educação sexual
dos filhos ainda ofereça aos/pais tão grandes dificuldades, mas a razão disso é simples: eles próprios
interiorizaram, desde a infância, interditos sexuais; a prova está no penoso sentimento que experimentain ao
abordar tais conversas com os seus filhos. Se os pais conseguissem, também neste plano,
58 A afectividade

perder os seus/hábitos, a adolescência talvez fosse menos difícil tanto para os seus filhos como para eles.

Por outro lado, importa estar atento às perturbações afectivas,

o pródromo: ainda que ligeiras, da infância, as quais podem ser já os pródro- si,el precursor. mos* de uma futura,/
neurose. Nestes casos, «convém encarar 9 Dr Malé: um ensaio de profilaxia das perturbações da
adolescência mediante Psycho'thérapie de

l'adolescence psicoterapias infantis precoces»*. (Paldera. 1964).

«A segurança afectiva e a força do eu... devem constituir a herança recebida dos pais» Contudo, mesmo que o/
desenvolvimento da criança se haja efectuado com facilidade e que os pais tenham todas as razões para crer que
este desabrochamento sem sobressaltos vai continuar durante a adolescência, eles não devem esquecer que as
condições /sociais em que a criança se acha depois da puberdade tornam a crise inevitável, e que os seus
sintomas, como a/agressividade, não passam amiúde de fenómenos normais, necessários ao,,"desenvolvimento
do adolescente. Importa assim criar no/ meio/” familiar um terreno o menos coercivo possível, a fim de evitar as
amplificações destes fenómenos que se tomariam prejudiciais, pois «é somente quando a/revolta é possível,
sublinha Mucchielli, quando ela se abre, quando ela se desdobra, que todas estas estruturas do passado são
varridas, ao passo que permanecem a/segurança afectiva e a força do eu, os dois verdadeiros tesouros que devem
constituir a herança recebida dos/pais».

Jacqueline Hubert
AGRESSIVIDADE (Agressivité/Agressiveness) páginas 111. 117» 119. 142,262.352. A agressividade resulta de um/ conflito
- consigo mesmo ou com outrem -julgado intolerável. É muito frequente no adolescente que busca, ao sair da infância, situar-
se, por um lado, relativamente ao eu da infância, por outro, relativamente às pessoas da sua convivência, as quais tendem a
fixar o novo eu do adolescente. Esta agressividade é particulannente virulenta quando os/país se resignam mal a ver crescer o
filho e continuam a tratá-lo como um bebé. Não se deve procurar noutro lado a origem de certas explosões desconcertantes
da parte de determinado rapaz considerado «sensato e sério» e que sente de súbito a necessidade de se afirmar. Certas
experiências puseram em realce o papel desempenhado no desencadeamento das condutas agressivas pelos erros educativos.
O problema da/autoridade é primordial neste domínio: demasiado fraca, acarreta um sentimento de insegurança; demasiado
forte, suscita uma/reacção de defesa. Todo o excesso dá origem a uma reacção de agressividade. Os meios de atenuar a
agressividade do adolescente são no entanto bastante numerosos e começam a ser conhecidos: convém que os pais e
os/educadores tentem provocar no jovem revoltado uma tomada de consciência das causas reais da sua agressividade. Pode- se
em seguida diligenciar por dirigir esta, através de uma transferência, para fins positivos: /desporto, expressão artística, etc.
Todavia, seria errado considerar qualquer conduta agressiva como um sintoma /neurótico. Certos métodos de/,,pedagogia, ditos
«à americana», desaconselham ao educador toda a intervenção susceptível de desencadear uma reacção agressiva. Deste modo,
a criança, superprotegida, torna-se criança-soberana. Não estando habituada a ser frustrada, considera intolerável qualquer
frustração e sabe-se, a partir dos estudos de psicólogos como R. Mucchielli, que a intolerância à frustração é uma das causas
possíveis da/ delinquência juvenil. Uma tal/atitude pedagógica afigura-se pouco propicia a facilitar a entrada do adolescente no
mundo. De facto, seja qual for o domínio em que ele escolher realizar-se, deverá, mais cedo ou mais tarde, dar mostras de
agressividade; terá de se impor, de saber forçar uma resistência. Para tal, é bom que o adolescente tenha encontrado algumas
ocasiões de se afirmar. A experiência ensina que quem não deparou com estas ocasiões é mais facilmente perturbável.

Agressividade e insegurança Ao mínimo confronto, ele manifesta unia agressividade excessiva porque nunca aprendeu a
dominá-la, a fazer dela um elemento enriquecedor da/personalídade. A própria atitude dos pais dema-
so

siado indulgentes revela-se traumatizante, pois «a criança nunca se sente em segurança junto de pais que
nunca dão provas de agressividade. Como é que uma criança pode sentir-se segura do poder de protecção de
um progenitor num mundo potencialmente perigoso, se este progenitor nunca lhe prova que é capaz de se
impor ou de combater? É evidente que um progenitor demasiado dominador pode tornar-se assustador e
ninguém pretende preconizar um regresso ao poder autoritário „do pater familias da época vitoriana. Mas
muitos pais moderno@ são tão condescendentes e mostram-se de tal modo/ansiosos por não manifestar a
mínima agressividade que já não conseguem convencer os filhos da sua própria/aptidão para se defenderem e
para os defendero». 9 Extraído de

l'agressivité nócessaire» Assim,


entre a agressividade perturbante e a,,,@ passividade, é pre- de Anthony Storr ciso
encontrar um meio-ternio. O ideal seria o adolescente poder (Robert Lafont), citado . em Documents Service
exteriorizar, num contexto normal e tranquilizante, uma agressi- edolescence, vidade necessária ao seu
desabrochamento. A/competição, a emu- Março de 1969.

lação escolar ou desportiva parecem adequadas para canalizar uma agressividade que, recalcada, se arrisca a
enveredar por caminhos infinitamente mais perigosos.

&LCOOL (Alcool/Alcohol)

Num momento em que se fala muito de/ drogas, não é mau relembrar certos malefícíos do alcoolismo. R.
Bascou cita núnieros reveladores: «Do estudo de 649 casos de crianças provenientes de todas as regiões e
tomadas ao acaso entre as de um centro de observação (para/ delinquentes ou pré-delinquentes), extraímos os
seguintes elementos: o alcoolismo é encontrado 39 vezes em ambos os progenitores, 37 vezes só na mãe e 230
vezes no pai. Ou seja: 306 famílias em 649.»* # R. Bascou: Vocabulaire

de psychopédsgogl1e Estes
números são suficientemente eloquentes para advertir os adO- (P.U.F., Paris, 1963).
lescentes tentados a brincar aos bebedores resistentes, pois é muitas vezes destas estúpidas competições que
nasce o perigo. Cada qual tenta «aguentar mais tempo», por espírito de competição, para provar aos outros e
provar a si mesmo que é um homem. Ora, o sistema nervoso do adolescente, em pleno desenvolvimento, tolera
mal o álcool e arrisca-se, por muito pouco regular que seja a absorção de álcool, a adquirir uma fragilidade
doentia. Isto não significa, como é evidente, que se deva proibir categoricamente o álcool a um adolescente. De
qualquer modo, a proibição seria violada por ser considerada, com justa razão, um abuso. Mediante certas
precauções, é fácil autorizar o vinho à mesa, pois ele marca uma etapa da maturação. O que convém recear, em
contrapartida, são os excessos que podem surgir durante uma/festa... Aconselhamos os/pais a exercer uma
vigilância -justificada pela
ALI
participação nas despesas - permitindo, por exemplo, apenas a sangria ou outras bebidas pouco alcoolizadaso. e
Ver «Festa».

ALIMENTAÇÃO (Alimentatíon/Alinientatiori) páginas li, 238,

A/adolescência é, do ponto de vista físico, o período de construção do corpo, que adquire então a sua altura e a
sua conformação definitivas. É um fenómeno que não se deve esquecer quando se trata da alimentação dos
adolescentes. Pois se o adulto se contenta com uma alimentação de manutenção, unicamente destinada a
compensar o que é queimado pelo organismo, o mesmo não sucede no caso do adolescente. Em virtude do seu
crescimento brutal, ele não pode satisfazer-se com uma alimentação de manutenção; todos os seus novos
centímetros têm forçosamente de ser «colhidos» algures. Daí uma voracidade que suscita a admiração ou o
espanto dos adultos («Mas onde é que ele mete aquilo tudo?»). Sabe-se que a/necessidade de um adolescente em
calorias ultrapassa a de um adulto de estatura média: enquanto este se contenta com
2 200 calorias o por dia, são precisas entre 2 400 e 3 000 durante e A caloria represar
em física a quantidad o crescimento. calor necessária para

elevar de um grau um
2rama de água. Afigura-se indispensável propor com prioridade ao adolescente por conseguinte un

quantidade de energia alimentos


que favoreçam a construção: trata-se dos alimentos ditos que pode aplicar-se à plásticos,
os que contêm em grande quantidade sais minerais ealimentação. proteínas*.
o Ver a quadro no
do artigo.

Sais minerais: são essencialmente o cálcio, o magnésio, o cloro, o sódio e o potássio. Os elementos minerais são
particularmente importantes em período de crescimento, porquanto os encontramos fixados no esqueleto e nos
outros tecidos. E é aí que o organismo vai buscá-los quando a alimentação os não fornece em quantidade
suficiente. O crescimento acha-se então comprometido, e sobrevem a anemia, a perda de apetite ou a escoliose, a
cárie dentária, etc. Os alimentos capazes de abastecer o organismo em sais minerais são os frutos, os
legumes, o leite e todos os seus derivados (queijos, iogurtes, etc.). Ora, verifica-se que, com grande frequência, o
leite encontra da parte dos adolescentes uma aversão de ordem psicológica (será por lembrar os cafés com leite
da infância?). Pode-se então recorrer aos produtos derivados do leite, se bem que eles sejam menos ricos em sais
minerais.

Proteínas: o seu valor reside no teor de ácidos aminados, os que mais se aproximam das albuminas humanas.
Existem duas fontes essenciais: as albuminasde origem animal e as de origem mineral. As primeiras - que se
acham na carne e nos ovos, por exemplo -

devem ser preferidas em período de crescimento. No que se refere


82

à carne, é falso julgar que a carne vermelha é mais nutritiva do que a carne branca: o teor de proteínas é
sensivelmente o mesmo. Além destes alimentos, cuja função é contribuir para a construção do corpo, há
alimentos que fornecem energia que pode ser armazenada. Estas reservas de energia são naturalmente
indispensáveis ao adolescente, que dispende muito esforço.

Glicidos: a ração mínima é de 1 grama por quilograma e por dia. Os alimentos mais ricos em glicidos são as
massas e o arroz, depois vêm o pão e os legumes secos.

Lípidos: os lípidos, ou gorduras, são indispensáveis ao organismo, o qual não pode elaborar a sua síntese. Os
alimentos mais ricos em lípidos são o leite e os seus derivados, e os ovos.

Vitaminas. São de certo modo elementos-fermentos que ajudam a assimilação e são indispensáveis nesta
qualidade. As vitaminas que se consegue reproduzir sinteticamente têm um papel específico bem determinado:
Vitamina A: desempenha um papel de primeiro plano no crescimento em geral. É sobretudo conhecida pela sua
acção sobre os tecidos de revestimento da córnea, cujo funcionamento assegura; Vitamina B: favorece a digestão
e a assimilação, intervém no crescimento, regulariza o sistema nervoso; Vitamina C: favorece o
desenvolvimento dos ossos e dos dentes, estimula a resistência do organismo; Vitamina D: muito importante
na adolescência porque permite a absorção e a repartição do cálcio.

As carências em vitaminas (avitaminose) têm sempre repercussões muito aborrecidas sobre o organismo.
Importa saber que o excesso é igualmente prejudicial (hipervitaminose). É por isso que nos devemos acautelar
com as preparações farmacêuticas ricas em vitaminas, que se tem tendência a usar com demasiada facilidade
nos nossos dias. É indispensável seguir rigorosamente as indicações do médico.

Alimentos plásticos Alimentos energéticos

Ricos em sais Ricos em Ricos em Ricos em minerais proteínas glicidos


lípidos Leite de vaca Peixes Arroz óleo Marteiga-Ovos Queijos
Massas
Manteiga (massa de pastéis) Carne Legumes secos Margarina Queijos de vaca Pão
AMB

As vitaminas nos alimentos

Vitamina A:

Vitamina B:

Vitamina

C*:

Vitamina D:

Nata

Levedura de

Pimentão

óleos de fígado

Manteiga

cerveja

Salsa

de peixes

Legumes

Arroz

Couve-flor

Gema de ovo

(cenouras,

Laranja

Limão-Laranja

Manteiga

hortaliças)

Rim (porco)

Morango

Sardinhas de

Gema de ovo

Alface
conserva
Tomate
Espargos
Cacau
Leite
Fígado de
animais
# A vitamina C é a

resiste pior ao calor. As os legumes e frutos coz perdem o seu teor de vitamina C.

AMBIÇÃO (Ambition/Ambition) página 414.


A adolescência, que é o período em que o indivíduo se prepara para entrar na/sociedade adulta, constitui muito naturalmente a
idade da ambiçã o. O adolescente começa de facto a dispor de um certo número de elementos que até então lhe faltavam, e que
lhe permitem situar-se na,;<sociedade: estatura, peso, voz, nível de estudos. Em suma, graças a um determinado
número de/aptidões que descobriu ou adquiriu, ele tem uma imagem mais nítida do seu futuro papel. Esta/projecção no futuro
não está decerto isenta de alguma utopia: o que deriva em primeiro lugar de o adolescente não poder saber realmente em que
consiste a vida profissional, por exemplo, antes de ter exercido a sua/profissão de forma autêntica. E, como pôs em evidência o
estudo de Suzanne Cordeliero, O S. Cordelier:

Ias Adolescents face è são muitos os factores que contribuem para falsear a escolha pro-
leur avenir (E.S.F., Pai fissional:
/puerilidade, ilusões (por vezes alimentadas por filmes 1957). ou romances baratos).Segundo Ouillon, a ambição dos
adolescentes não corresponde «nem. a uma escolha racional nem a uma consciência objectiva das aptidões, mas a um estado de
alma particular na/ adolescência: inquietação, insegurança, sentimento de sujeição ou necessidade de evasão no sonho»*.
e Origlia e Ouillon:

I,Adolescent A dificuldade,
para os/pais, está em canalizar a ambição profis- (E.S.F., Paris. 1968). sional. Convém que o
adolescente tenha o mais cedo possível uma justa noção das diferentes profissões a que pode/aspirar. Mas, por outro lado,
uma/orientação demasiado restritiva poderia levá-lo a uma perigosa/ passividade. É o que acontece com frequência no caso de
estudantes que pensam em abandonar a sua escolaridade: tendo-se mostrado inacessível a profissão sonhada, adoptam uma
atitude de/demissão. Enfim, os pais devem evitar idealizar eles próprios. São muitos os que querem a todos o custo que o filho
tenha uma situação superior à sua, sem suspeitarem de que se limitam assim a reviver inconscientemente, através do seu
64

rebento, a sua própria adolescência. É indubitável que uma tal atitude pode originar sentimentos de fracasso e
perturbações de /adaptação. Para obstar a estes erros, os pais dispõem actualmente dos modernos métodos de
investigação que lhes oferece a ciência/ psicológica. Graças aos/,<testes, em particular, um especialista é capaz
de situar de modo rigoroso as possibilidades do adolescente, e isto no âmbito dos centros de orientação
profissional e escolar. Eles podem encontrar, em tais centros*, conselheiros que lhes facultarão uma preciosa #
Ver mais elementos

em «Orientação escolam ajuda


no difícil caso em que as aptidões não estão à altura das am- e no artigo «A escolha da bições
da/família ou da criança: «É ao conselheiro de orientação profissão». profissional que cabe atenuar o rigor
do/"conflito assim criado. A sua perspicácia, o seu tacto, a espécie de „sentido clínico‟ que ele deve possuir
tornam-no o diplomata e o advogado que concilia os espíritos e os converte às soluções mais favoráveis ao
desabrochar dos jovens seres.»* e S. Cordelier,
Ias Adolescents face à

leur avenir (E.S.F., Paris, 1957).

AMBIENTE (Ambiance/Surrounding)

O ambiente é um dos termos-chave do/vocabulário da/adolescência. Os termos usados para este efeito são muito
numerosos, revelando uma certa preocupação por um «bom ambiente»: «está a aquecer», é «giro», ou ainda «foi
de tarar». Se esta terniánologia se presta um pouco ao sorriso, nem por isso devemos esquecer que ela é
reveladora de uma das tendências fundamentais da adolescência: a,,, identificação com o/grupo. O adolescente,
em busca da sua,;< personalidade e desejoso de se abstrair dos quadros da infância, experimenta uma propensão
normal para se dar com os seus contemporâneos, junto dos quais encontra uma imagem tranquilizadora de si
mesmo. Assim, para que tudo seja perfeito numa reunião de adolescentes, é indispensável que esta suscite a
aprovaçao unânime; por outras palavras, que o ambiente seja bom. É por este indício que o adolescente sabe que
pode libertar-se moralmente e fisicamente da/tensão interior que é a sua. Em/psicologia clássica, ambiente é
sinónimo de/meio (do latim ambire, «ir à volta»). No momento em que se forma a personalidade própria do
indivíduo, é sabido que o ambiente rep@esenta um factor de impregnação que influi sobre o psiquismo. E por
esta razão que o ambiente familiar desempenha em tal domínio um papel de primeiro plano. Ela pode contrariar
ou favorecer de forma determinante o desabrochamento da personalidade adolescente, travando ou activando a
identificação com os/pais, por exemplo. Uma/família demasiado severa ou, pelo contrário, inexistente priva o
adolescente dos modelos indispensáveis à maturação do indivíduo.
O ambiente escolar pode só por si agir sobre o /desenvolvimento
AMEI

/intelectual: assim, um/internato mal aceite pode ser causa de/inadaptaçâo escolar.

AMBIVALÊNCIA (Ambiva1ence/AmbivaIence) páginas 36.67.

Foi Bleuler* o primeiro a utilizar, em 1911, o termo ambivalênciao 6. Bleuler (1857-19M

psiquiatra sulÇo, conhec para


designar uma disposição mental em que se encontram englo- pelos seus trabalhos bados
urna tendência e o seu contrário. Por exemplo, o reconheci- sobre a esquizofrenia.

mento pode ser ambivalente quando inclui ao mesmo tempo a gra- O Do latim arribo,

dois», e valere, tidão


e o ódio nascido da humilhação de dever alguma coisa a alguém. ««e0qsuivaler a». A/adolescência
é hoje definida como desfasamento entre a/MatU_ «significar». ridade biológica e a maturidade social. Este
desfasamento é fonte de uma ambivalência fundamental que encontramos em numerosos exemplos: -
Dependência-/ independência: o adolescente, para deixar de depender dos modelos da infância, cria para si
mesmo uma dependência de tipo novo (/ ídolos, / identificação com um / grupo, etc.); -/Amor captativo- oblativo:
o,,,Iflirt é ao mesmo tempo descoberta do outro e tentativa de apropriação para si;
- Ternura-/ desejo: enquanto dura o conflito/edipiano, o adolescente trata as suas «namoradas» simuitaneamente
como/ amigas crescidas e miúdas. Muitas vezes, os/pais admiram-se de ouvir formular sobre os seus filhos
certos/juízos que diferem entre si ou não correspondem de forma alguma ao seu. Não devem contudo pensar
que estas flutuações resultam de um erro dos/educadores ou de uma/ instabilidade mental do adolescente. Isto
traduz antes de tudo um fenômeno comparável à procura de um comprimento de onda, revelador de um
poderoso impulso vital que é próprio deste período da vida.

AMIGOS (Arinis/Friends) páginas 37, 38. 69.

Tal como Montaigne, o adolescente coloca a/ amizade muito acima «daquilo a que chamamos vulgarmente
amigos ou amizades, que não passam de hábitos e familiaridades contraídos casualmente ou por interesse». O
adulto, para quem a amizade é a maior parte das vezes vaga e mal definida, tem tendência a esquecê-lo. Assim, é
corrente ouvir alguém, a quem se pergunta a identidade de uma pessoa, responder: «Oh! não sei, é um amigo!»

Que representa o amigo? Um filósofo da Antiguidade comprazia-se em dizer: «Tive um amigo: é uma
quantidade considerável.» O que equivale a definir assaz precisamente o ponto de vista do adolescente. Este,
inimigo de qualquer compromisso e de qualquer meia-medida, acha-se antes de tudo em busca de um reflexo
de si mesmo que possa ajudá-lo
PA-5
66

a definir a sua própria /personalidade. Escusado será dizer que, nesta procura, o amigo não é apenas um meio
mas também um fim, como se, momentaneamente, a busca do outro e a de si mesmo se vissem confundidas.
Sem dúvida que devemos assinalar aqui um resto de/egocentrismo pueril, embora não seja menos verdade que
nunca convém encarar descuidadamente as amizades do adolescente. Para nos convencermos disto, basta
tomarmos conhecimento de algumas definições de amigo dadas por adolescentes*: o In
Promessas,
- Um amigo, é alguém diante de quem se tira a máscara; Março de 1966.

-É uma pessoa que não precisamos de elucidar: pois ela sabe de antemão o que vamos dizer-lhe; -É um
camarada que não temos vontade de ludibriar nem de assombrar.

Algumas destas amizades podem - se o clima ajudar, nomeadamente o clima religioso e a ternura mística -
tornar-se particulares*. e ver «Amizade

Depara-se então um grave problema aos adultos, que conhecem o particulam. valor mas também os limites
da amizade adolescente: procura do alter ego num outro adolescente que se tornará forçosamente adulto. Desta
tentativa de/ identificação condenada ao malogro, não perdura muitas vezes de ambas as partes senã o um
imenso desencanto. Dever-se-á intervir para preparar a ruptura quando esta se torna inevitável? Parece que não
há receita. Cada um deve ajuizar da /atitude a observar, fundando-se no/carácter do adolescente. Mas uma boa
fórmula de intervenção indirecta consiste em fazer passar o amigo ou a amiga pela prova da vida de/grupo
durante as/férias; aí, os verdadeiros/ valores não deixam de aparecer. Uma amizade demasiado exclusiva pode
transformar-se então naturalmente em abertura aos outros e já não em refúgio esclerosante no par. É portanto
dever dos/pais velar pelas/amizades do seu filho. Mas têm de dar mostras de um grande tacto, sem o qual a sua
solicitude não tardaria a ser considerada como uma intolerável intrusão. Na prática, os filhos ficam reconhecidos
aos pais por eles respeitarem os seus amigos. Gostam designadamente que estes sejam recebidos com cortesia.
Mas há erros que se não devem cometer: certa /mãe muito atenciosa para com o amigo de seu filho pode, quando
se despede, recomendar-lhe que «tape a garganta» ou que «tenha cuidado na rua». Por vezes, inclusive, o amigo,
naturalmente considerado como «crescido», vê ser-lhe confiada a guarda do «filhinho». Haverá então motivo
para admiração se este se abstém de trazer seja quem for a casa
dos pais? Em tal caso, estes últimos não demoram a suspeitar de alguma amizade prejudicial que se pretenderia
ocultar-lhes... No fundo, um mínimo de compreensão teria bastado para evitar uma tal situação.
Se o(a) amigo(a) é do sexo oposto, certos pais não se coibem de manifestar uma virtuosa reprovação, podendo
chegar à proibição pura e simples. «És muito novo, isso não te fica bem!» Porém, nesta óptica, não será
preferível uma amizade oficial a uma paixoneta clandestina?

AMIZADE (Amitió/Friendship) páginas 37, 39, 103. 332.

A procura da amizade surge como uma das constantes da/personalidade adolescente. Ela fornece o tema de
numerosos romances. É verdade que por detrás deste tema se esconde muitas vezes o desejo de captar o/erotismo
juvenil, a que é sensível um certo público. Não é menos verdade que, também com frequência, a amizade juvenil
pode apresentar aspectos patológicos: é sobretudo o caso de uma amizade fundada na busca do alter ego. Tudo se
passa como se o adolescente, privado das relações tranquilizantes da infância, procurasse então no amigo um
reflexo de si mesmo. E esquecer a alteridade - ou personalidade essencialmente diferente - do ;@:migo, que é
apenas visto em função deste/desejo de/segurança. E negar a tal amigo qualquer história pessoal, qualquer
autenticidade. Esta forma de amizade só pode conduzir a um fracasso, visto que não existe outro si mesmo.

Amizade particular Uma amizade, à partida muito pura, pode, no contexto das pulsões/11sexuais da
puberdade, ganhar uma cor erótica latente ou efectiva. O amigo não é então mais do que a compensação
substitutiva de uma necessidade que não pode saciar-se de outra forma. A amizade particular é um caso-tipo
de/ambivalê ncia em que se misturam a mais pura amizade e o desejo.

Amizade de substituição Característica dos/ínternos dos estabelecimentos religiosos onde se cria uma atmosfera
de ternura mística. A coabitação num tal clima leva a que o amor a Deus tenha tendência a encarnar- se na
pessoa do(a) amigo(a), cuja alteridade também aqui não é reconhecida. Estas diversas formas de amizade de
tendência patológica tornam o fracasso inevitável na maior parte dos casos. Mas um tal fracasso, que pode
ser causa de uma concentração em si mesmo e culminar na insociabilidade, é também por vezes, ao contrário, o
ensejo de uma ultrapassagem. Pois, através dele, o adolescente não só descobre a solidão estéril da concentração
em si, como ainda rompe com o/egocentrismo da infância. A experiência ensinar-lhe-á que a solidão apenas pode
ser rompida pelo reconhecimento incessantemente renovado do outro enquanto ser diferente e/livre: é a
fidelidade. Assim, a ami-
68

zade juvenil é ao mesmo tempo tomada de consciência da individualidade humana e/aprendizagem da


fidelidade, logo do/amor. A amizade pode ser também um poderoso factor de/adaptação, o que é importante
para a formação da personalidade. A amizade
- facilmente absoluta na adolescência - é com muita frequência um encorajamento a fazer melhor, a superar-se no
âmbito de uma saudável emulação. Numerosas carreiras prestigiosas são assim edificadas, como se comprazem
em reconhecer certos homens ilustres. É por isso que os pais devem estimular a tendência para a amizade que é a
de todo o adolescente normal. A sua ausência deriva na maioria dos casos das perturbações da personalidade ou
do /carácter. Um adolescente que não tem amigos prepara-se para uma entrada mais difícil na sociedade.

kMIZADE PARTICULAR (Amitlé particulière/ Particular friendship)

páginas 41, 104.

A amizade particular é um momento do/ desenvolvimento afectivo e sexual da adolescência. Componente


afectiva: no decurso do seu desenvolvimento afectivo, o adolescente passa pelo estádio da admiração. Ele sente
de facto necessidade de admirar aqueles que ama, de admirar os seus iguais. Em compensação, a amizade deles
ser-lhe-á uma garantia, pois ele tem tendência a desvalorizar-se, apresentando-se-lhe o mundo como um bloco
difícil de penetrar e a sua própria/ personalidade bem frágil e/ínstável. Trata-se de um dos temas normais da
amizade. Componente sexual: no decurso do desenvolvimento da sua/osexualidade, o adolescente passa por um
período de aversão pelo sexo oposto. Aversão natural visto que o adolescente não está nesse momento apto a
procriar*. A conjunção destas duas componentes Ver o artigo (admiração pelos iguais e aversão pelo/
sexo oposto) leva à amizade xualidade». particular ou amizade amorosa por uma pessoa do mesmo sexo. Esta
amizade particular nunca está isenta de uma verdadeira/ angústia ligada à componente sexual. É por esta razão
que o adolescente precisa mais do que nunca da compreensão de um adulto que possa explicar-lhe o mecanismo
da sua/afectividade. Ora, é justamente este o momento escolhido pelos/pais ou/educadores para manifestarem
uma gama de sentimentos que vão da inquietação ao pânico, passando pela /culpabilidade, ou até pela hostilidade
declarada. Isto constitui uma/reacçâo natural para quem não está a par do mecanismo,,,` psicológico posto em
jogo na ocorrência. Mas é também uma reacção que convém ultrapassar. O próprio
termo de mecanismo é aqui significativo, já que se opõe ao de estrutura: por outras palavras, o adolescente que
tem uma amizade particular obedece a um concurso de circunstâncias. Não é a sua natureza profunda que está
posta em causa.
O mecanismo das amizades particulares Deve ser integrado no esquema que caracteriza a evolução da
/sexualidade do adolescente. Este passa por um estádio/auto-erótico que lhe permite experimentar as novas
possibilidades da /puberdade. Depois vem urna fase dita de « /homossexualidade de/;Igrupo», em que ele sente
pelo sexo oposto uma certa forma de aversão mesclada de receio.
O adolescente, cuja /personalidade se vai afirmando, depressa se dissocia do/grupo para onde o impelia aquele
receio, porquanto ele é cada vez menos capaz de se identificar com uma média. Ora, a necessidade de
/identificação subsiste mais forte do que nunca, posto que a protecção oferecida pelo grupo já não existe.
Assim, muito naturalmente, o adolescente é conduzido a procurar o alter ego, aquele que lhe oferecer um
espelho apto a tranquilizá-lo: este espelho, é o/amigo ou a amiga. Uma tal procura faz-se no contexto
da/puberdade, ou seja, da /sexualidade nascente. O que dá esquematicamente o seguinte:

identificação = amizade puberdade = sexualidade

total = amizade amorosa

Esta/ projecção de si mesmo, característica de tal fase, pode fazer-se em dois planos, consoante a escolha se
fixa sobre um contemporâneo ou sobre um adulto.

Amizades particulares entre adolescentes. Nascem frequentemente de uma procura de um outro si mesmo, de
um/ desejo apaixonado de ser compreendido. Esta necessidade de amizade, que leva dois adolescentes do
mesmo sexo a ligarem-se, é natural, e se unia tal amizade se traduzir por carícias ou por uma/masturbação
recíproca, é bom ter então presente que esta/ homossexualidade é uma «homossexualidade de
desenvolvimento» que não tem senão a aparência da verdadeira homossexualidade.

Amizades particulares adolescente-adulto. O caso de apego quase fanático a um professor ou a um educador


não é raro. Convém igualmente não ver aqui mais do que uma necessidade de identificação com um modelo
julgado perfeito. A maior parte das vezes, são os professores das disciplinas ditas de «despertar» (/música,
desenho, etc.) que se tornam objecto dela, pois o seu/ensino, mais do que qualquer outro, apela para a/
sensibilidade.

As possibilidades de intervenção dos pais A dificuldade da intervenção é aqui evidente, dado que ela será
quase sempre considerada como uma intrusão intolerável
70

num domínio privado: tudo o que se passa entre «amigos» ou «amígas» é sagrado. Além disso, esta intervenção
arrisca-se bastante a dar importância ao que no fundo não é mais do que um devaneio passageiro. No entanto,
quando é claro que esta amizade é nitidamente mais amorosa do que amigável, importa, antes de tudo,
desculpabilizar. impõe-se uma explicação franca: explicação difícil, sem dúvida, pois os/pais têm então tendência
a julgar que o seu filho é/anormal. Eles devem a todo o custo persuadir-se de que a priori isto não é verdade.
Devem aproveitar a ocasião que uma tal descoberta lhes oferece para reporem o adolescente na perspectiva
do/desenvolvimento normal, sem esquecerem o que a situação pode ter de traumatizante. Na verdade, a
passagem ao acto homossexual, quando ele é efectivo, não deriva, nos casos normais, de uma intenção
deliberada, sendo antes o resultado de um concurso de circunstâncias: o isolamento faz manifestar-se uma ternura
irrepri*niível. A primeira impressão é o espanto, logo seguido de um forte sentimento de/ culpabilidade.
Geralmente, uma troca de impressões muito precisa, reveladora da compreensão dos pais, é suficiente para que o
adolescente supere este estádio. Ela parece preferível a uma situação brutal que suprima os sintomas sem atingir
as raízes. Se a tendência persistir, impõe-se o recurso a um/psicólogo.

AMOR (Amour/Love) Páginas 10.42,43,44,474.

O tema dos amores adolescentes lembra o tema clássico do Blé en herbeo. É verdade que, na/ adolescência, a
noção de amor é e Rmance de Colette. essencíalmente captativa: o que o adolescente procura, ao amar, é um
reflexo tranquilizador de si mesmo. Ele concebe o amor como uma caçada: o objecto ou o ser amado é a caça
cuja posse confere o poder. Convém notar que, contrariamente a uma opinião muito propagada, isto é verdade
tanto para as raparigas como para os rapazes, com a simples diferença de que estas pretendem assim pôr à
prova o seu poder de sedução.
O que é verdade no caso do amor entre adolescentes é-o ainda mais quando se trata do amor por um adulto;
este último deve estar preparado para não atribuir um tal fervor unicamente aos seus méritos: mais do que a si
mesmo, é ao representante do mundo adulto que se dirige este culto. Seria no entanto falso concluir que o
adolescente é incapaz de um amor desinteressado. Se as aparências estão contra ele, é porque ainda não se acha
apto a discernir com precisão o que provém da arregimentação pelos adultos - integração escolar,/ educativa ou
familiar - e o que depende do amor autenticamente desinteressado. Logo, não é de admirar que qualquer
testemunho de amor se lhe afigure uma tentativa de sujeição.
Na dúvida, o adolescente prefere abster-se para não se expor a uma alienação da sua/-< personalidade. Mas
a/capacidade de dar continua a ser a mesma da infância.
O adolescente não é de modo algum egoísta por definição. É até muito frequente que, encerrado no dilema
amor-arregimentação, ele escolha uma forma derivada do amor: a dedicação, no âmbito, por exemplo, de uma
obra de assistência aos velhos necessitados ou aos enfermos. Uma tal dedicação não exclui uma/atitude de
defesa, por vezes/ agressiva, em,,,Ifamília.

O amor dos pais Neste contexto, a tarefa dos/pais mostra-se particularmente árdua. Assim, diante da rejeição
aparente de todos os testemunhos de amor da sua parte, muitos deles preferem refugiar-se ao abrigo de
uma/pedagogia «liberal» cujas virtudes são incessantemente enaltecidas nos países «de ponta»: Estados Unidos
ou Suécia, por exemplo. Isto equivale a esquecer uma realidade adolescente cheia de/ambivalência: determinado
adolescente proclama abertamente que já não quer que lhe dêem os parabéns no dia do aniversário. É bom para
os «miúdos». Se, ao chegar o dia, cumprirem os seus desejos, ele aproveita para declarar «que não gostam dele e
que, aliás, nunca gostaram», mas que, «vendo bem, ele se está completamente nas tintas». Depois irá
discretamente desafogar uma mágoa tão profunda quanto paradoxal. Este paradoxo resolve-se facilmente quando
nos lembramos de que o adolescente já não é uma criança mas ainda não é um adulto.
O que ele teme nas provas de amor familiares é que continuem a tomá-lo pela criança que era. E talvez não se
engane muito. Seja como for, ele priva-se de amor. Pelo menos de tal espécie de amor, pois nele, como em
qualquer ser humano, a necessidade de ser amado e de amar é vital. Motivo pelo qual se >entrega a amores de
substituição, enquanto espera restabelecer com a sua família relações adultas. É só nesse momento que o amor
dos pais e o amor pelos pais encontrará - além da vivacidade do amor infantil - a profundidade dos laços de
adulto a adulto. Até lá, a única/atitude que se deve desaconselhar decididamente aos pais é o/ciúme. Pois, afinal,
percebe-se que aquilo que separa os adolescentes dos seus/pais é mais um desejo natural de emancipação do que
uma vontade deliberada ou uma qualquer forma de ingratidão. O ciúme, amiúde manifesto em certos pais, leva
frequentemente a impedir o acesso dos filhos à vida adulta, ao mesmo tempo que compromete o recomeço de
relações normais e desanuviadas que são as que existem entre pais e filhos adultos.
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AMOR-PRõPRIO (Aniour-propre/Seif-1ove)

O amor-próprio é a tradução demasiado literal do/amor por si. Nada há de surpreendente no facto de o adolescente ser
facilmente vitima dele. O amor-próprio é muitas vezes ignorado por se fazer acompanhar, na maioria dos casos, de
susceptibilidade e de irritabilidade. Certo rapaz não aceitará qualquer observação ou conselho.
O mínimo fracasso será sentido como uma ofensa deliberada. Em contrapartida, nas circunstâncias favoráveis, o amor-
próprio terá ocasião de se evidenciar plenamente. Todo o ensejo será bom para se manifestar o seu contentamento. Um
determinado adolescente exaspera as pessoas da sua convivência: ele mostra-se demasiado seguro de si, costuma-se dizer
neste caso. Ora, precisamente, o amor-próprio é um fenónieno de compensação. O receio que se sente de não ser apreciado no
seu justo valor leva a que se tenha tendência a exagerar a afirmação de tal valor. Uma atitude/ educativa positiva consistirá
então, não em procurar tornar o adolescente menos seguro de si, mas, pelo contrário, mais seguro de si. Os pais deverão
preocupar-se, mais do que em «esbater-lhe as fumaças», em dar-lhe ocasiões concretas de/êxito. Se, por exemplo, um
adolescente manifestar um amor-próprio excessivamente vivo que o conduz a recusar qualquer conselho, nada impede os país
de o colocarem em tal situação (/trabalho temporário, /responsabilidades novas) que ele se sinta feliz por encontrar
na experiência deles um precioso apoio. O que importa, antes de tudo, é não responder a uma manifestação de amor-próprio
com uma manifestação de/humor.

AMUO (Bouderie/Pouting)

O amuo manifesta-se simuitaneamente por uma/atitude hostil e passiva e por um retraimento de afeição. A criança que amua
entende exercer uma vingança sobre o adulto que a castigou e repreendeu. Atitude especificamente infantil, ela é ainda
frequente na/adolescência. Quando se produzir, tomará então a forma de um/ mutismo reprovador, pois o pós-púbere, que
adquiriu um certo domínio emocional, descarrega com menos frequência a sua/tensão interna através de gestos de/cólera. O
seu único recurso, em caso de ,,<conflito com uma pessoa chegada, é portanto a/insolência ou
O amuo, que constituem ambos uma confissão de impotência.

Uma atitude negativa


O amuo do adolescente marca unia regressão ao estádio /infantil. De facto, a adolescência é o momento em que nos
tornamos homem ou mulher, com as /responsabilidades que isso implica. Certos

“I
adolescentes, incapazes de se aceitarem a si mesmos, de se reconhecerem após estas transformações, podem
recusar o seu novo estatuto ou as novas atitudes das pessoas a seu respeito. É esta recusa que um arnuo/anormal
repetido traduz. Neste sentido, o amuo é revelador de um sentimento de inferioridade, seja qual for a sua causa
inicial. Eis por que compete ao adulto, que representa a força e o equilíbrio, encetar o diálogo.
A troça não pode senão acentuar a/ansiedade natural do amuado. Pelo contrário, sinais de/confiança estimulam-
no e encorajam-no a resolver os seus problemas de outro modo que não seja confinando-se numa atitude pueril e
negativa.

ANGúSTIA (Angoisse/Anquish) páginas 29,261.

A angústia é o sentimento de inquietação resultante do temor irraciocinado «de algo que poderia acontecer» .
Ela distingue-se da /ansiedade por certas reacções neurovegetativas (palidez, dificuldade respiratória) que
desencadeia e que permitem detectá-la.

As causas da angústia Na/adolesc8ncia, a angústia é devida em grande parte ao/conflito entre os novos/desejos
da/puberdade e os interditos instaurados durante a infância. Por exemplo, a/masturbação, -que não tem uma
repercussão /fisiológica grave- é, na maioria dos casos, experimentada como angustiante e pode desta maneira
criar um verdadeiro desarranjo funcional. A necessidade de o adolescente se inserir no contexto/social e as
responsabilidades dai decorrentes são também uma causa frequente de angústia: é o que se passa na altura de
um,,*exame, ou no momento de declarar sentimentos amorosos. Para o adolescente, o primeiro baile, a primeira/
entrevista podem ser fonte de angústia. Algumas formas de angústia são mais difusas, mas igualmente temíveis:
passar em frente de uma esplanada de café e submeter-se assim ao exame dos clientes sentados às mesas
constitui para certos jovens @ima provação inexcedivel. E indispensável tentar dar o mais depressa possível
remédio a todas estas formas porque, como a maior parte das pessoas angustiadas, o adolescente pode recorrer
aos tranquilizantes ou ao,,,"álcool. Nos Estados Unidos, os negociantes de/droga encontram os seus melhores
clientes entre os adolescentes. O papel dos/pais é aqui primordial, na medida em que estão melhor colocados
para descobrir os sintomas de angústia. Para a remediar, basta em muitos casos suscitar uma/actividade que
ponha o sujeito em contacto directo com a realidade. Nunca é demais louvar as virtudes do /trabalho temporário
que, mais do que qualquer outra coisa, tem
74

o mérito de confrontar o adolescente com a realidade, com a/ sociedade que o atemoriza. Se a angústia provém
de uma falta de/confiança em si, é essencial que os pais criem ocasiões de/êxito concreto e mensurável. Enfim,
existe uma forma de angústia propriamente física: o adolescente que teme passar em frente de uma esplanada de
café é o mesmo (ou a mesma) a quem a sua silhueta desespera. Ele sente-se demasiado magro, demasiado alto,
demasiado gordo. Ela tem a certeza de nunca vir a agradar a alguém, as suas amigas são todas mais bonitas ... É
bom em tais casos que o adolescente seja posto ao corrente dos diferentes tipos de evoluçã o física
na/adolescência e saiba assim que atraso ou precocidade quase nunca são atributo de/anormais.

ANOREXIA MENTAL (Anorexie mentale/Anorexia nervosa)

páginas 12, 76, 101, 238.

O termo anorexia mental significa uma falta de apetite ligada a uma causa de ordem mental. A anorexia mental é
um fenômeno especificamente feminino. Os sintomas são habitualmente os seguintes: a jovem começa por
vomitar. Depois restringe pouco a pouco a sua/afimentação, que reduz a alguns alimentos, muitas vezes
extravagantes e cuja quantidade se limita a assegurar a sobrevivência. Não se trata de uma comédia destinada a
chamar a atenção, visto que a anoréxica toca tão pouco nos alimentos quando a observam como quando sabe não
estar a ser vista. A jovem pratica o jejum como se estivesse a respeitar algum juramento. Na realidade, a
inapetência manifesta-se rapidamente, mas o estado geral permanece aparentemente bom, assim como
a/actividade, que regista até por vezes uma certa recrudescência. Em seguida, a doente enfraquece. As/regras
param e o risco de uma tuberculose torna-se então muito grande. Doença puramente física ou mental, ou ambas
as coisas? O erro vem a princípio do facto de em todos os casos a anorexia ser precedida de perturbações
digestivas. Todavia, foi possível concluir que as mesmas perturbações verificadas noutros gastropatas não
produziam os mesmos efeitos. O Rouart: «O seu aparecimento nesta
época da vida, ensina Rouarto, indica Psychopatholoffie

de l'adolescence efectivamente
uma paragem de sequência no decurso da evolução (P.U.F., Paris, 1952). sexual
para a genitalidade, como prova, sob a influência da hipo- e Foi assim que Rouart nutrição, o desaparecimento
dos sinais secundários sexuais de notou o desaparecimento

Imaturidade sexual (amenorreia, desaparecimento de quase todos das regras durante vários

meses. num grande número de menores os


sinais sexuais secundários: seios, etc.).» recém-chegadas ao Centro Ora,
esta paragem coincide sempre com circunstâncias de ordem de Recuperação de

Versalhes, na sequência /afectíva.Tudo se passa como se o desarranjo endocrínico fosse de uma detenção ou de um pedido
de correcção função directa de uma perturbação afectivao. pelos pais,
ANO
Anorexia e fobia Parece actualmente estabelecido com bastante nitidez que, na origem de numerosos casos de
anorexia, se encontram/ fobias. Quer fobia da puberdade, devida a uma/culpabilização frequentemente
consecutiva à menstruação, quer fobia de tudo o que é/sexual. Neste último caso, apercebemo-nos de que uma
excessiva/ liberdade sexual ou, ao invés, uma falta de informação podem ter os mesmos efeitos traumatizantes.
Contudo, esta fobia, observada na maior parte dos casos, nunca é suficiente para explicar a anorexia. Ela precisa
do contexto de um /carácter inteiro, ou seja, pouco inclinado aos compromissos e, deste modo, sujeito
às/neuroses e às satisfações substitutivas que elas pressupõem (conversão histérica, por exemplo). Um caso:
uma rapariga sofre do/conflito entre a distinção materna

e a vulgaridade do/-'4pai. Ora, é a este último que ela se assemelha fisicamente, e o mínimo aumento de peso
acentuaria esta semelhança. Donde um receio inconsciente de se parecer com o pai, receio que o carácter
religioso da jovem reprova fortemente. A anorexía cessa quando esta rapariga se/casa, para ressurgir na altura
da viuvez. De um tal caso típico de anorexia, podemos concluir que se afigura haver perturbações de/
identificação, não podendo o sujeito aceitar-se num corpo de adulto.

ANORMAL (Anormal/Abnormal) páginas 102.239,243.446.464.

O anormal é aquele que se afasta da norma. Mas é bem difícil definir com precisão o que é a norma: de facto, o
que se admite num lado não é admitido noutro, e inversamente. Assim, tal indivíduo pode parecer normal
numa/sociedade de um dado tipo e anormal numa outra cujos usos não conhece. Convém portanto apelar para
duas noções do anormal: a noção «indívidual» - é anormal aquele cujas/reacções não podem ser comparadas com
as de qualquer outro ser humano - e a noção «social»: o meio molda, pelo menos exteriormente, o indivíduo; logo
é anormal aquele que não se adaptou ao seu/meio. Foi desta maneira que o termo de inadaptado acabou por
substituir o de anormal. Um/11delinquente, um/caracterial, um atrasado escolar são inadaptadoso.
O Ver «Inadaptação
Juvenib o «Dificuidade escolares».

ANSIEDADE ~xiété/AnAety) páginas 133.190. 497. 522.

A/adolescência, que se assinala pelas mudanças espectaculares da/puberdade e pelas variações mais profundas
da/personalidade em gestação, é um período de ansiedade. Estas mudanças surgem de facto muitas vezes como
perturbações. A criança que, durante o período de latência, pudera aceitar, no âmbito das/ iden-
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tificações estabelecidas, unia imagem estável de si mesma, vê esboroar-se este conjunto aparentemente sólido.
Sente em si os primeíros acessos sexuais, verifica as primeiras ejaculações. Por vezes, cede à/masturbação. A
adolescente vê-se sujeita, desde as primeiras/regras, a um ciclo que é muitas vezes considerado injusto. Em
última análise, a recusa da condição feminina pode ir até à /anorexia. Em casos mais frequentes do que se julga,
as próprias formas da/feniinilidade só a custo são aceites: esta tendência é aliás utilizada por certos costureiros
cujas criações visam uniformizar os sexos. Existem grandes armazéns de vestuário onde certas secções atendem
tanto os rapazes como as raparigas. O seu êxito mostra bem com que dificuldade o adolescente aceita o seu/sexo
no momento em que as manifestações secundárias sexuais aparecem. Mas a obrigação em que se está de
assumir nesta altura um sexo e um comportamento sexuado não é a única fonte de ansiedade na adolescência.
Como sempre, interferem diversas causas. A inserção na/sociedade adulta como
membro/ responsável é uma causa frequente de ansiedade difusa. Ninguém conseguiria persuadir o adolescente
de que ele é capaz, a priori, de realizar tal inserção, sobretudo se pensarmos que, neste preciso instante, não é
raro ver o rendimento escolar decair perigosamente. Os/pais inquietam-se e a sua inquietação só contribuirá para
aumentar a ansiedade natural do adolescente que vê nela mais uma razão para duvidar do seu/futuro.

Como detectar a ansiedade no adolescente? Convém antes de mais não perder de vista que ela é relativa a um
certo estado anterior: o da infância. Na maior parte dos casos, o adolescente ansioso, isto é, que recusa
inconscientemente a sua adolescência, refugia-se nas/,<atitudes da infância; é a esta recusa que se dá o nome de
regressão, ou voltar atrás, a um estádio infantil onde não faltavam nem a protecção dos pais nem
a/11segurança.
O adolescente age como se, ao reencontrar certas atitudes da infância, recuperasse magicamente o estatuto
tranquilizador desta; podemos assim dizer que é ansioso o adolescente que chucha no dedo, molha a cama,
manifesta uma voracidade desmedida*, uma cruel- O Ver bulimia. dade irraciocinada, ou mesmo uma falta de
asseio ostensiva. Por vezes, inclusive, assiste-se a uma reactivação do/complexo edipiano: o rapaz manifesta uma
ternura infantil em relação à/mâe, a rapariga brinca a ser a «mulherzinha» do/paí. Todas estas manifestações são
outros tantos pontos de referência para os pais, que, não raro, se sentem desnorteados com a atitude dos seus
filhos adolescentes. Devem saber em primeiro lugar que seria nefasto deixar transparecer a sua inquietação: na
verdade, o adolescente só espera ser desenganado. Por muito pouco que os pais entrem no
jogo, a sua ansiedade difusa tomará corpo, por assim dizer:
ela encontrará em todo o caso um alimento que dispensaria perfeitamente. Mais do que nunca, é necessária
compreensão para ajudar o adolescente a superar uni período difícil da sua formação. Os pais devem também
saber que esta ansiedade não desemboca forçosamente numa espécie de/neurose de/angústia. Ela pode, nos
casos normais, revelar-se, ao contrário, um factor de/êxito. A melhor maneira de combater a ansiedade é
apresentá-la como um estádio normal que importa ultrapassar. É neste sentido que se pronuncia o psicanalista
americano J. A. Davis, para quem «a ansiedade provoca a acção».

APATIA (Apathie/Apathy) páginas 12, 83, 107, 143. 144, 250.

A apatia caracteriza-se por uma aparente insensibilidade a tudo o que provoca habitualmente no indivíduo um
sentimento ou uma ,,”emoção: receio, afeição,/ desejo, etc. A apatia é por vezes devida a uma insuficiência
mental caracterizada, mas, de modo geral, limita-se a traduzir um sentimento de estranheza. Pode encontrar-se
num aluno/interno brutalmente arrancado ao círculo/ familiar. Um tal apático oferece então todos os sinais
aparentes da/preguiça. Com efeito, não devemos esquecer que, até à última fase da /adolescência, a/afectividade
é um dos principais motores do trabalho: é a idade em que ainda se trabalha mais para agradar a certo professor
admirado ou respeitado do que por qualquer outra razão. A apatia deve ser rapidamente descoberta porquanto
ela conduz bastante, vezes sem conta, a uma verdadeira anestesia mental, moral ou afectiva.

Despertar no apático centros de interesse Com grande frequência, bastará, para dar remédio a isto, suscitar uma
tomada de consciência no apático: primeiro, colocá-lo diante do facto consumado: atraso escolar,
insociabilidade, em suma, tudo o que, numa tal atitude, manifesta a/inadaptação efectiva. Depois de criada esta
perspectiva, é preciso, por um lado, evitar dar repreensões que não serviriam senão para agravar a situação e,
por outro lado, insistir na/ responsabilidade que cabe ao adolescente pelo seu próprio destino. Trata-se de uma
coisa que o apático esquece muitas vezes em virtude da sua atitude mesma, já que uma renúncia gera outra.
Quando isto for admitido, o adulto deve esforçar-se por suscitar centros de interesse que sejam susceptíveis de
tirar o apático do autêntico torpor mental em que ele corre o risco de se atolar.

APRENDIZAGEM (Apprentissage/Traíning) páginas 13,360,410.506.

«A aprendizagem é uma/actividade que modifica de uma maneira


78

duradoura as possibilidades de um ser vivo.»* Através da apren- O Fraísse. in Bulletin dízagem, o ser humano
pode adquirir ou/hábitos ou conheci- (9 de Fevereiro de 1957). mentos. Durante a infância, o mecanismo de base da
aprendizagem é o condicionamento, fundado primordialmente na/ afeição e na admiração que a criança nutre
pelos seus,,Opais: ela aprende a ser asseada «para dar alegria», porta-se bem à mesa «para fazer como os
crescidos»... Cada aprendizagem corresponde a um grau de/maturidade. A/adolescência é a idade da elaboração
da/ personalidade, cujos contornos se desenharão graças à aprendizagem nos domínios fisiológico, afectívo e,,,”
intelectual.

Aprendizagem,,” fisiológica
O adolescente deve habituar-se a um corpo que a/puberdade transformou: «A noção de crise juvenil, escreve
Pierre Furter, esconde sob o seu aspecto dramático um facto real: a inquietação que o adolescente experimenta
diante do seu corpo. Seja pela desproporção do comprimento dos seus membros, ou pelo aparecimento dos sinais
secundários da/sexualidade, por acontecimentos tão ridículos como a/acne ou uma gordura passageira, os
adolescentes interrogam-se sobre a significação do seu corpo.»* Fre- e Pierre Furter:
Ia Via morale de quentemente,
os adultos que reataram desde há muito com o seu corpo as «relações de coexistência
pacífica» de que fala Merleau- (Delachaux et Niestlé,

-Ponty, esquecem esta dimensão do problema juvenil. Eles mini- Paris. 1965). mízam-no, ou então, querendo
desdramatizá-lo sem custo, dizem gracejos que reforçam a/ansiedade do adolescente e falseiam a sua
aprendizagem física.

Aprendizagem afectiva
O adolescente deve aprender a considerar-se e a ser considerado como diferente do que era durante a infância.
Por causa da/puberdade, as suas relações com os/pais, os professores, os/amigos, etc., vão tomar uma nova
feição. O adolescente deve aprender a comportar-se como um ínterlocutor válido, e passar do estádio da
dependência infantil para o da autonomia afectiva que tem, em princípio, de desembocar na criação de um lar/
independente. Também neste caso são numerosas as dificuldades que espreitam o adolescente. Muitas vezes, as
pessoas da sua convivência não sabem ao certo se devem consíderá-lo como uma criança ou como um
adulto. As diferenças de/atitude são por vezes resultantes de mudanças de,,,,humor: um adulto exasperado acha
mais cómodo dar uma bofetada numa criança do que explicações a um adolescente. Inconscientemente, os pais
podem recusar a/maturidade do seu filho em virtude de ela marcar uma etapa de envelhecimento para eles. No
domínio do/amor, enfim, o adolescente deve percorrer os numerosos estádios que o levarão do/auto-crotismo
mais ou menos
APT
matizado à integração/ sexualidade-,, afectividade que assinala a/maturidade amorosa. O obstáculo principal
será, na ocorrência, o risco de se fixar prematuramente num dos estádios transitórios possíveis*. Para ajudar o
adolescente a alcançar a maturidade, o Ver «A sexualidade». não há nada mais importante do que a imagem de
um casal parental harmoniosamente equilibrado.

Aprendizagem intelectual Enquanto a/ actividade/ intelectual se distingue na criança por um extremo realismo, o
adolescente tem acesso ao estádio da abstracção e do conceito; mas, muitas vezes, ele deixa a afectividade
interferir nos seus/juízos: «O elemento subjectivo, notam Origlia e Ouillon, é de tal forma preponderante (nesta
idade) que se mistura com os dados do real e por vezes os recobre até os fazer desaparecer. As imagens visuais e
mesmo auditivas fornecidas pela/memória impõe-se ao espírito do adolescente com um tal vigor que lhe dão a
ilusão da realidade. Estabelecem-se assim relações arbitrárias entre as coisas em função da afectividade do
sujeito, e estas relações transformam os dados percebidos consoante as disposições de espírito daquele que as
recebe.»* # Origlia e Ouilion: „Adolescent Deste modo, o adolescente deve aprender a
substituir uma visão í(E.S.F., Paris. 1968). mágica do mundo por uma concepção racional dos seres e dos objectos.
Ainda aqui, a ajuda dos adultos é preciosa. Não é raro, de facto, que a necessidade de racionalização acarrete
/decepções, em particular no que diz respeito às/ aptidões, tanto do próprio adolescente como da sua esfera
imediata. Uma das consequências desta decepção pode ser o refúgio excessivo em si mesmo.

APTIDÃO (Aptitude/Aptitude) páQinas 416, 434.

Confunde-se muitas vezes aptidão e/capacidade. De facto, a capacidade é a aptidão posta em prática. Assim, à
aptidão para correr durante muito tempo chama-se resistência ou fôlego. A capacidade é a,,Iperformance que
permite efectivar a aptidão. A aptidão é o objecto de uma dupla descoberta na/ adolescência. A primeira é o
princípio que acaba de ser enunciado e que a criança ignora: a aptidão não é a capacidade; por outras palavras, o
homem só é aquilo que pode ser na medida em que sabe querer sê-lo. A segunda descoberta é a das próprias
aptidões, tornada possível, em especial, pela/ escolarização. Os resultados escolares permitem ao adolescente
tomar consciência das suas faculdades e dos seus limites. Assim se delimitam os contornos da/ personalidade.
Nestas condições, é muito importante que a avaliação das aptidões se não preste a erro. Certos /testes
proporcionam informações precisas sobre o nível do sujeito em função da/actividade posta em jogo
80

pelos diferentes testes de aptidão: /memória, abstracção, verbalização, etc. A precisão destas medições é um
elemento importante para o /desenvolvimento harmonioso da personalidade do adolescente: uma das inquietações
mais frequentes neste período da vida provém muitas vezes da impossibilidade provisória, em que então se está,
de pôr à prova as suas aptidões; em tais condições, estas podem ser quer desvalorizadas quer exageradas. Em
ambos os casos fica entravado o acesso à/maturidade.

ARTE (Art/Art)

A noção de/beleza para que tende toda a obra de arte tem conduzido amiúde a erros educativos. Com efeito,
observou-se que embora o aparecimento da/inteligência abstracta na/adolescência permita uma iniciação
estética, esta não parece ser validamente recebida senão por estudantes naturalmente dispostos a tal forma
de/ensino. Tornou-se assim corrente limitar esta iniciativa a voluntários que a solicitam, escolhendo matérias
de opção como a/música ou o desenho.
O que equivale a esquecer que a arte é uma forma de/linguagem e que enquanto tal ela pode dirigir-se a todos
os indivíduos. Nesta óptica, a iniciação artística poderia ser apresentada como uma reflexão sobre o lugar da
arte na/cultura: haveria aqui matéria para o enriquecimento de todos. E, sobretudo, este modo de reflexão teria a
vantagem de colocar o adolescente enquanto indivíduo diante da obra de arte.

Os erros educativos Uma falta de iniciação conduz os adolescentes, que nem por isso deixam de manifestar um
gosto muito vivo por certas formas de arte tais como o/cinema e a literatura, a desnaturarem completamente a
finalidade de uma obra de arte. Não apreendendo o sentido autêntico dos símbolos que lhes são propostos, eles
vêem o mundo através do prisma de uma máquina de filmar ou das imagens literárias. Ou então, tendo-os
compreendido, arriscam-se a fixar-se num estádio de/jogo intelectual: tudo é símbolo, nada existe senão através
do símbolo. Portanto, o ensinamento que toda a obra de arte contém permanece letra morta, visto não oferecer
uma abertura para o real. E, precisamente, o adolescente tem, mais do que ninguém, necessidade de se preservar
de uma tendência para transformar magicamente o mundo à medida dos seus/desejos. Um outro erro educativo
corrente consiste em misturar sistematicamente a arte e a/religião. Deconchy cita o caso de um educador que
procurava «cativar os seus adolescentes»: «Mandando fechar as luzes e correr as cortinas, ele fê- los escutar às
escuras, de olhos
ASC
semi-cerrados, um disco de música religiosa, seguido de uma oração sussurada a meia-voz que ele só achou tão
vibrante e tão „conseguida‟ porque lhe faltava bom senso. Com um pouco de sedução e nas mesmas condições,
teria obtido exactamente o mesmo resultado, obrigando-os a escutar uma canção de Brassens ou mandando
recitar uma fábula de La Fontaine. É assim -conclui o autor -

que se preparam admiráveis terrenos patológicos sobre os quais poderão enxertar-se as/;<neuroses e
as/psicoses místicas mais ou menos delirantes.»* 9 Deconchy: /é Dáveloppement Uma
tal confusão, frequentemente inspirada pelos melhores senti- psychologique de l'enfa

de 1'adolescent mentos,
faz pelo menos correr ao adolescente o risco de uma/con- 8(Éditions ouvrières. versão que
seria fundada na/emoção artística e não numa fé real. Paris, 1966).

ASCETISMO (A9cétisme/Asceticism) páginas 299,452.476.

O ascetismo distingue-se por uma aversão a tudo o que depende do instinto alimentar ou/sexual, por exemplo. É
possível ver determinado adolescente descurar qualquer precaução contra o frio, ou então mal se/alimentar.
Trata-se de um sistema de defesa elaborado sob a pressão dos acessos instintivos representados pelo impulso
vital característico da adolescência. Logo, mecanismo próximo do fenômeno/ neurótico; mas, aqui, o que está em
jogo é mais a quantidade dos instintos do que a sua qualidade. Tudo se passa como se o adolescente, temendo ser
ultrapassado, estendesse a recusa dos instintos até às suas manifestações mais comuns. Certas pseudovocações
monacais não têm outra origem senão esta/atitude, a qual se resume afinal de contas a uma fuga diante da
realidade e das /responsabilidades. Pode suceder que o instinto, durante demasiado tempo contido na mínima das
suas manifestações, se comporte como o vapor no interior de uma caldeira: por falta de válvula de escape, ela
explode. Assiste-se então a uma mudança espectacular: os acessos do instinto, como que sob o efeito de uma
pressão excessivamente forte, fazem rebentar as barreiras minuciosamente erguidas. O ex- asceta queima aquilo
que adorou, e o inverso: desmedidamente, está claro. Tais excessos podem por vezes tomar um carácter anti-
social e o asceta prega a anarquia.

ASPIRAÇÃO (Aspiration/Aspiration) páginas 371.408.411.

A aspiração é o facto de se propor uma finalidade a atingir. Ela é por conseguinte uma atitude activa que põe em
jogo o impulso vital de um indivíduo. Chama-se nível de aspiração ao nível a que o sujeito deseja chegar no
ideal. Este nível tem sempre em consideração aquilo que foi realizado anteriormente: assim, um/êxito
PA-6
82

tende a elevar o nível de aspiração ao passo que um fracasso o abaixa. Convém levar em conta estes dados
quando se está perante adolescentes. Pois estes experimentam correntemente dificuldades em fixar a si mesmos
níveis de aspiração, situando-se os objectivos ou ideais propostos num contexto de inexperiência da vida real que
os torna frequentemente utópicos. É por esta razão que os adolescentes devem ser constantemente
ajudados -por vezes contra a sua vontade - na pesquisa de um nível de aspiração pessoal. Mais do que os
outros, eles sentir-se-ão tentados a valorizar em excesso um êxito; fixam então um objectivo elevado cuja vã
perseguição pode provocar um/complexo de fracasso. Tais atitudes são frequentes na vida corrente:
determinado rapaz pretende ingenuamente seguir um curso de engenharia militar ou civil quando afinal tem
grandes dificuldades nos dois últimos anos do liceu. Mas ele justifica esta pretensão com um recente êxito
parcial. Ou então, uma adolescente pode esperar firmemente triunfar no teatro porque, havendo gravado a sua
fala, acha que tem uma «linda voz». É bastante difícil avaliar sem mais nem menos a parte de utopia das
aspirações de adolescente. Porém, estes diferentes níveis podem ser objecto de medições precisas graças
aos/testes. Podemos assim, comparando as aspirações e as possibilidades reais, conhecer melhor
a/personalidade do sujeito. L

TENIA (Asthénie/Asthenia)

m estado depressivo astenia consiste na falta de força, de energia. Traduz-se por uma fatigabilidade excessiva e
permanente: o asténico sente-se canado desde que acorda. Esta fatigabilidade conduz rapidamente a ma
repugnância pela acção e por qualquer iniciativa, o que não eixa de comprometer o/ desenvolvimento da/
personalidade, ois o sujeito atingido de astenia é julgado -e julga-se preiçoso. Os resultados - sejam eles
escolares ou outros - são forsamente medíocres. A astenia conduz à/passividade, à fuga a do o esforço
construtivo. Frequente na/ adolescência, a astenia a maior parte das vezes temporária. A sua origem deve ser
geralente procurada no/desequilíbrio orgânico a seguir a um avanço T

oo

iológico brutal. Neste caso, um tratamento médico apropriado M todas as probabilidades de ser eficaz.

ma dupla origem: biológica e psicológica as para isso é indispensável que tal tratamento não seja demasiado
.Lrdio. Por causa do círculo vicioso: astenia-passividade-astenia, ma terapêutica unicamente médica raras
vezes é suficiente. Depois
ATE
de restabelecida a saúde, importa restituir „ao adolescente -a,,$ confiança em si que se degradara em virtude da
astenia. Para isso, a compreensão atenta dos/pais é o melhor dos remédios: devem sobretudo evitar castigar ou
repreender sem discemimento, sob pena de fazerem do asténico um/apático e de entravarem assim o seu
crescimento físico e/intelectual.

ATENÇÃO (Attention/Attention) pâgina 183.

Podemos dizer que as faculdades puras de atenção aumentam na /adolescência. O centro da vigilância é
constituído pela formação reticular na base do cérebro, e a atenção põe alerta os centros reguladores que lhe
correspondem. Ora, a adolescência caracteriza-se por importantes variações de certas partes do cérebro e, em
particular, do centro de vigilância. Segundo Maes, a complexidade do cérebro progride imenso a partir dos 16-
17 anos.

Deinasiado solicitado, o adolescente dispersa a sua atenção Contudo, a atenção do adolescente parece, de uma
maneira geral, facilmente inconstante. É que outros factores, ligados ao/desenvolvimento físico e psíquico da
puberdade, constituem obstáculos muito sérios. Assim, Pierre Mendousse nota que: «A diversidade dos/desejos,
a novidade das/emoções, o número considerável dos fins que a vida propõe pela primeira vez, o receio de os não
poder atingir, balançam o adolescente de uma para outra preocupação e tornam-no durante muito tempo incapaz
de substituir o equilibrio da/ personalidade infantil pela organização adulta.»* e P.
Mendousse:

I'Ãma, de 1'edolescent Mas


ainda que o adolescente não seja inteiramente/ responsável (P,U.F., Paris, 1963), pela sua
desatenção, é-lhe sempre facultado adquirir, por meio da vontade, a forma de atenção organizada de que fala
Théodule Ribot. Este distingue de facto, além da atenção espontânea*, que tem O A do cSo pelo seu osso.
como causas estados afectivos, uma atenção voluntária* que é e Atenção cujo objecto um produto do treino e do
adestramento. é aceito. se não desejado.

A atenção voluntária. Th. Ribot delineia a sua génese era três períodos* -A atenção nascida de sentimentos
primários: receio, desejo, /afeição (móbiles naturais: uma criança aprende a tocar piano para «dar alegria» aos
pais); -A atenção obtida por/amor-próprio, emulação, sentimento do dever (/competição escolar, exame); -A
atenção organizada criada pelo hábito, aquela em que os «móbiles habituais tomaram a força dos móbiles
naturais: receio, etc.»*. # Th. Ribot:

Psychologia, de retteMIOft

Visto que as faculdades de atenção dependem essencialmente do interesse dos estímulos experimentados, é
dever dos/pais infor-
(Alcan, Paris).
84

marem-se dos/gostos e das/aspirações do adolescente quando as cadernetas escolares indicam com demasiada
frequência: «Desatento, poderia fazer melhor»... Para determinar estes gostos, existem/,< testes que permitem
evitar erros educativos, outrora correntes quando toda a preguiça surgia simplesmente como uma falta de
vontade. É legítimo dizer que uma falta de atenção é amiúde uma falta de interesse. Mas há casos em que a
desatenção é constitucional, o que significa que o sujeito não experimenta verdadeiro interesse por coisa
alguma. Estas perturbações da atenção estão ligadas a perturbações da /actividade motora. Elas encontram-se
nos sujeitos deprimidos, /fatigados ou esgotados. Muitas vezes isto tem por origem uma insuficiência glandular.
Em tais casos, é necessário consultar um médico.

TITUDE (Attitude/Attitude) páginas 10. 19. 86,119,358,433.

Em/psicologia, a atitude tem duas acepções: -Atitude psicomotora: postura do corpo orientada com vista a unia
determinada acção (por exemplo, a postura da espreita). Esta postura tem valor expressivo e pode influir sobre o
psiquismo;
- Atitude psicossocial: disposição permanente que leva a reagir de uma certa maneira perante certas situações.
A/insolência, o /orgulho, a humildade são atitudes psicossociais. Esta espécie de atitude é determinada pelos
três factores psicológicos chave: / inteligência, / afectividade, / actividade. Ela é essencialmente variável no
adolescente a quem falta, por definição, a experiência vivida. A novidade das situações, na sequência da
puberdade, deixa-o muitas vezes indeciso quanto à atitude a adoptar. Provêm daí certas falsas/ timidezes: a
criança desenvolta e segura de si pode transformar-se completamente na/adolescência. Do mesmo modo, a
ambiguidade do seu estatuto leva o adolescente a compor uma atitude destinada a enganar os outros ou a si
mesmo. Certo rapaz pode compor uma máscara de impassibilidade e de indiferença com a única finalidade de
lutar contra a hiperemotividade que sente em si. Uma adolescente pouca segura da sua/ feminilidade pode fazer-
se passar por desportista ou por «maria-rapaz». Diante desta ambiguidade, os/pais e os/educadores devem
aprender a interpretar as atitudes dos adolescentes para que a sua influência educativa seja realmente eficaz. Se
eles se detiverem nas aparências, arriscam-se bastante a cometer um erro de/juízo que reforçará o adolescente
no papel que finge assumir.

LETISMO (Athlbtisme/Athieties) Entre os/desportos praticados pelos adolescentes, o atletisnio


ATL

encontra-se em boa posição: segundo um inquérito sobre a juventude francesa publicado em Maio de 1968 pelas
Actualités socialese, e Ver «Desporto». havia, em 1965, 65 000 inscritos. Desde então, esta cifra aumentou
4 % por ano. É relativamente pouco em comparação com o futebol que conta, por seu lado, 487 000 inscritos e uma taxa de
crescimento regular de 8 % por ano. Esta diferença resulta essencialmente da falta de estádios acessíveis: isto é posto em
evidência pelo facto de os jovens rurais praticarem cinco vezes menos o atletismo do que os citadinos, os quais dispõem de
instalações apropriadas. Em compensação, pode-se jogar futebol um pouco por toda a parte.

Vantagens e inconvenientes do atletismo As vantagens do atletismo são no entanto numerosas: despertando o interesse dos
jovens graças àsIperformances de notáveis cam- peões de vários países, revelou-se um meio de aperfeiçoamento tanto físico
como moral, O atletismo oferece de facto o duplo aspecto da/competição e da performance. Por um lado, trata-se de lutar
contra adversários sem a mínima possibilidade de/batotice, e, por outro lado, a performance permite um duelo consigo mesmo,
exigindo uma superação continua no esforço. Numa pista, o atleta está sozinho frente a si próprio, e para um adolescente é já
uma maneira de se conhecer. Os inconvenientes decorrem das próprias vantagens: o atleta pode ser tentado a procurar a
performance pela performance, comprometendo assim tanto a saúde física como a moral. Só um treino sério permite evitar
estes inconvenientes. O atletismo é em geral pouco praticado na/0escola, quer por falta de instalações quer por falta de
competência e de tempo dos professores de ginástica, os quais não podem ser polivalentes; o atletismo é uma especialidade que
se não improvisa e que nã o tolera medidas vagas.
O próprio termo de atletismo abarca várias especialidades muito diferentes: saltos, corridas, lançamentos, que requerem, cada
uma delas, monitores qualificados. Para obter informações, o mais simples é evidentemente consultar o professor
de/educação física do estabelecimento escolar frequentado pelo adolescente ou, na falta dele, um serviço distrital da juventude
e desportos. O adolescente poderá assim beneficiar das instalaçõ es de um clube e dos conselhos que lhe são indispensáveis
fazendo a sua inscrição. Esta só pode ser obtida após um exame médico muito completo, susceptível de rastrear as eventuais
causas de impossibilidade, entre as quais figura desígnadamente a insuficiência cardíaca. Estas precauções revelam-se
particularmente indispensáveis no caso da adolescente desportísta, Um treino intensivo pode dar ao corpo feminino caracterí
sticas propriamente masculinas: volume do músculo, alargamento dos ombros, etc. Todos eles riscos que
se

uma prática inteligente consegue eliminar, se tomarmos como referência da nossa apreciação a/ morfologia de
certas campeãs (Colette Besson, por exemplo).

UTISMO (Autismo/Autism) Página 60.

Do grego auto, «si mesmo». Bleuler define-o como um «desprendimento da realidade com predomínio da vida
interior».
O autismo não deve no entanto ser confundido com a interiorização nem com o/narcisismo, que são tendências
normais da adolescência. Ele é antes uma amplificação destes dois estados que, excessiva e discordante, se
reencontra na esquizofrenia.

UTO-EROTISMO (Auto-ãrotísme/Seif-eroticiam) Pâginas69.442,461,463.464,466,

O auto-erotismo é frequente na adolescência, se nos ativermos ao número de casos observados: 90 %. de casos


nos rapazes, segundo certos psicólogos. Tal cifra é consideravelmente menos elevada no que diz respeito às
raparigas: pensa-se de um modo geral que a causa desta menor frequência reside, por um lado, na configuração
dos órgãos genitais femininos, e, por outro lado, na forma de /sexualidade muito mais difusa e táctil nas raparigas
do que nos rapazes. Hoje em dia, admite-se que se os adolescentes e as adolescentes se entregam a tais práticas,
é essencialmente por causa da indeterminação das pulsões sexuais iniciais. A falta de parceiros e os interditos,,w
sociais teriam igualmente uma influência, mas em menor grau. Com efeito, o auto-erotismo pressupõe uma
vontade deliberada, uma escolha consciente de modalidade sexual, a qual parece difícil de atribuir ao
adolescente. É por esta razão que só devemos considerar o auto-erotismo juvenil como manifesto quando a
frequência dos actos de satisfação é/ anormal e sobretudo quando eles são preferidos a relações/ heterossexuais
possíveis. É levando em linha de conta estes dados que os pais podem intervir eficazmente ou pelo menos sem
contribuírem para criar traumatismos. Outrora, tais intervenções tinham vulgarmente um
efeito contrário ao procurado; os pais mostravam tendência quer para assumir as faltas verificadas quer para as
castigar com excessiva dureza: duas/atitudes que, no fundo, criavam um sentimento de /culpabilidade prejudicial
à serenidade exigida por uma autêntica/pedagogia.

TOM6VEL (Voituro/Car) página 466.

O carroé o alvo principal dos jovens/ delinquentes: é por terem roubado automóveis que são presos em quase
todo o mundo cerca
AUT
de dois terços dos jovens /delinquentes, A razão essencial reside numa motivação /psicológica. Aos olhos dos
adolescentes, de facto, o carro é um símbolo de/virilidade. Há vários motivos para isto: em primeiro lugar, acha-
se, decerto, a circunstância de o automóvel permitir «sair com as raparigas». De preferência, a máquina deverá
ser «de desporto», de capota móvel e vistosa. Nos Estados Unidos, passou a ser costume as /entrevistas
terminarem nos bancos de trás propícios aolpetting.
O carro é assim frequentemente o refúgio dos/ amores sem morada. Pouso provisório, ele assegura o mais
completo anonimato, e a penumbra que aí reina varre não poucas/ inibições. Para certos adolescentes, o
automóvel é, antes de tudo, um instrumento de adulto cuja posse parece conferir magicamente o acesso
à/maturidade. A este propósito, talvez não seja inútil lembrar o comportamento desses adultos que, mal chega o
domingo, fazem «brilhar»/religiosamente a carroçaria e por nada deste mundo cederiam o volante à esposa nos
trajectos dominicais. Sendo assim, como havemos de nos admirar do fascínio mórbido exercido pelo automóvel
sobre o adolescente ávido de maturidade?
O carro, em numerosos casos de/roubos, não é simplesmente um objecto cómodo de delito. Ele é
verdadeiramente um fim em si mesmo. Herbert Bloch e Arthur Niederhoffero relatam um episódio a este e
H. Bloch e

A. Niederhoffer: respeito:
dois jovens membros da «Gerrsiten Beach» eram tão les Bandes d'adolesc pequenos que,
para roubar uni automóvel, não hesitavam nesta (Payot, Paris, 1965). estranha colaboração: um carregava
nos pedais, acocorado no chão, enquanto o outro manobrava o volante, de pé no banco da frente.

O símbolo da evasão Como não estar de acordo com os sociólogos americanos quando falam de relação/mística
entre o automóvel e o adolescente? Relação mística, visto ser um início de solução para o perpétuo /conflito em
que o adolescente se encontra mergulhado entro a infância e a maturidade. O carro é não só, pela idade legal
para a carta de condução, reservado aos adultos e, neste sentido, um sonho de evasão do adolescente que dele se
apodera através de um futuro tornado provisoriamente acessível, mas também uma evasão do quadro habitual
em que se desenrola o conflito. Ele é de certo modo a encarnação da,,,@'fuga. Enfim, no plano inter-relacional,
permite ao adolescente ocupar um lugar de eleição. Aquele que conduz é igualmente aquele que decide a hora
do regresso a casa e muitas vezes, no fundo, aquele que determina o trajecto a percorrer. Os passageiros
encontram-se, por assim dizer, à sua mercê. Por conseguinte, a posse, mesmo temporária, de um carro confere
uma auréola de/prestigio ao adolescente, tão facilmente atormentado pela dúvida de si mesmo e do seu futuro
papel na/sociedade.
as

UTORIDADE (Autorít6/Authoríty) páginas 412. 490, 497.

O problema da autoridade é um dos mais discutidos em matéria de pedagogia. Tendo reentrado recentemente na
ordem do dia devido às experiências americanas de liberalização, adquiriu na Europa urna nova acuidade após os
acontecimentos de Maio de 1968. Em certos países, em consequência de uma vulgarização mal compreendida da
psicanálise, instituíra-se o método de «deixar fazer e deixar dizer». Era bom tudo o que não comprometesse o
equilíbrio psicológico da criança; era nocivo tudo o que pudesse, a mais ou menos longo prazo, gerar
um/complexo. OsIpais lechavam-se eles próprios num círculo vicioso: pois não se tardou a perceber que,
contrariamente às aparências, o adolescente ainda sente fortemente a necessidade de ser protegido.

Uma experiência célebre Três psicólogos americanos, Lewin, Lippit e White, demonstraram-no sem margem
para dúvidas. Certos adolescentes foram repartidos em três/grupos. Os do primeiro eram livres de fazer o que
lhes apetecesse sem que estivesse instituída qualquer forma de autoridade. Os do segundo eram sujeitos a uma
disciplina muito rigorosa, ao passo que os do último grupo, a conselho dos monitores, escolhiam a sua própria
disciplina. Em breve rebentaram diversos /conflitos no interior do primeiro grupo. A/agressividade, que é
sinónimo de insegurança, campeou aí sem peias. A ausência de toda a autoridade privava, na verdade, os
adolescentes das barreiras tranquilizadoras, no meio das quais é possível atingir a autonomia que caracteriza a
idade adulta.

No liceu Actualmente, dir-se-ia que os adolescentes põem em causa o prin-

io de autoridade por todo o inundo. A polícia viu-se frequente-

te obrigada a intervir nos liceus para restabelecer a ordem. gnificará isto que o adolescente de 1968 queria
libertar-se de todas

formas de constrangimento? Também neste casa, não se trata ão de aparências. De facto, a seguir a essas
alterações, a/agresidade cedeu o lugar, de ambos os lados, a uma procura em muin das novas modalidades das
relações adultos-adolescentes. que estes últimos recusavam, era mais uma forma de autoridade Ip

i s en ivi o

o que a autoridade em si. O que eles já não aceitavam, era um modo

relações baseado numa tradição ultrapassada e não sobre a personalidade dos detentores da autoridade. sde
então, suprimiu-se a cátedra na sala de aulas: o professor, o mesmo plano que os alunos, admite o diálogo.
Mais ainda, é e a suscitá4o e a sua autoridade não lhe é de modo algum constada.
Na família Ao nível/familiar, deve fazer-se idêntica evolução. Antigamente, as pessoas atinham-se demasiadas
vezes ao arbítrio da autoridade parental. Os pais acreditavam na melhor das boas-fés que era seu

dever impor um tipo de adulto «puro e duro» que cortava a direito. Sem o saberem, eles despersonalizavam-se.
O adolescente era fatalmente levado a encontrar uma fenda em tão bela armadura; desprendia-se então do que
apenas constituía a seus olhos urna forma de duplicidade. Os pais modernos devem, portanto, estar conscientes
dos novos elementos do problema, Para que a sua autoridade não seja autoritarísmo, têm agora de aceitar ser
abertos, em constante disponibilidade de diálogo. É nesta condição que a sua tarefa educativa será bem sucedida.
Mas não se pense que seja aconselhado optar pelo papel de «compincha»: neste ponto, os/psicólogos são
unânimes. Os/delínquentes provêm tanto de famílias fracas como de famílias autoritárias. Uma vez mais, o
adolescente reivindica a sua,,Windependência, mas o que ele quer acima de tudo, é saber « até onde pode ir
demasiado longe», para usar o célebre dito de Cocteau. Trata-se, pois, de encontrar um equilíbrio difícil mas
possível. A autoridade só vale o que valer aquele que a exerce: mais do que uma maneira de agir, ela é uma
maneira de ser.

AVõS (Granda-parents/Grandparenta)

É cada vez menos frequente ver coabitar/pais e avós,sob o tecto familiar. Isto deve-se a razões económicas mas
também a razões /psicológicas. Há já muito tempo que se tornaram claros os reais perigos que uma tal
coabitação fazia correr à vida do casal. Aquele (ou aquela) que continua a viver com os seus pais depois de
casado arrisca-se a permanecer inconsciente e indefinidamente a criança que já não é. Mas nem por isso os
contactos frequentes entre pais e avós deixam de ser recomendados.

Avós e netos Pouco a pouco tecem-se laços,,* educativos de um gênero particular entre as crianças e os avós.
De facto, estes últimos tomarão a peito ajudar os pais na sua tarefa, embora seja incontestável que os seus
pontos de vista não coincidem. Há sem dúvida uma questão de diferença de geração, mas também e sobretudo a
circunstância de os avós se não acharem directamente implicados na situação educativa. Quer eles se mostrem
de uma indulgência excessiva, quer, ao contrário, se erijam em retratos de/família encarregados de velar pela
perenidade das tradições ancestrais, arrisca-se a pro-
90

duzir-se uma espécie de curto-circuito entre netos e avós: «Paira, muitas vezes a ameaça de se concluir uma
aliança por cima da cabeça da geração intermédia, escreve o doutor Bergeo nos Cahiers de e André Bergo:

Ias Milleux familíeux pédagogie


moderne, a não ser que os avós tenham conservado toda (Armand Colin, Paris, a sua
virulência e pretendam exercer uma/autoridade absoluta 1967), p. 228. sobre toda a gente. Família patriarcal
ou matriarcal que não convém de modo algum ao nosso modo de civilização e na qual os jovens distinguem
sobretudo, muito lamentavelmente, a/demissâo dos/ pais, dos quais precisariam, pelo contrário, de ter uma
imagem forte e susceptível de provocar admiração.»

Os avós deniasiado liberais. Para o adolescente, os avós são amiúde uma «pechincha». O «avô baboso» não sabe
resistir a uma solicitação de/dinheiro. Além disso, quando convida o neto ou a neta, estes têm autorizaçã o para
fazer o que quiserem e não se coibem disso. Com a desculpa de comprar/tabaco para o avô, dispõem de toda
uma tarde. Depois, pedirão ao avô ou à avó um álibi que conseguirão arrancar à custa de virtuosas promessas.
Vemos assim o perigo que fariam incorrer avós deste gênero ao seguirem -a pretexto de indulgência ou
pelo/desejo egoísta de serem preferidos aos pais e de o poderem mostrar orgulhosamente aos amigos «netinhos
verdadeiramente encantadores»- a direcção oposta à/atitude educativa dos pais.

Os avós intransigentes. Mas pode acontecer que os papéis se invertam. É aliás cada vez mais frequente o caso
em que os pais compreensivos concedem aos adolescentes /liberdades que lhes são recusadas peremptoriamente
pela «velha guarda»: «No meu tempo, uma menina respeitável, um rapaz decente, não se comportavam assim.»
Seguem-se desagradáveis dissensões que podem perturbar a vida familiar e, por tabela, o equilíbrio do
adolescente. Quando se produzem estas fricções, é preferível que os/pais as conservem ignoradas pelos seus
filhos, pois estes só muito dificilmente compreenderão que alguém tenha o direito de se
rebelar contra a autoridade dos adultos mais velhos. Ou então compreenderão perfeitamente e tomá-lo-ão como
argumento para discutir a autoridade dos seus próprios pais.

Seja como for, no contexto da evolução do adolescente, não é aconselhável que este se veja encorajado de
maneira por assim dizer oficial a entrar na via da/oposição.

Nos casos normais, as relações «adolescentes-avós» não podem deixar de ser um facto excelente. Os avós
menos directamente implicados na relação educativa podem afinal desfrutar de um recuo
AVO
que lhes favorece a perspectiva. O seu papel não consiste então no contrário mas no contrapeso da/educação
parental. É o que acentua o doutor Braescolo: «Feliz a criança educada paralelamente e Dr. Braesco:

51es Grands-parents» em
dois lares: o dos seus verdadeiros pais que se ocupam atenta- in I'École dos parenti
mente dela na medida das suas possibilidades, proporcionando-lhe (Julho-Agosto de li

/êxito, quadro de referência e gênero de vida, além do dos seus p. 28.

avós que, mais disponíveis, lhe garantem presença/ afectiva e tutela maleável e benéfica!»
92

ILE (Bal/Bail) página 550. Baile de aldeia,/festa num luxuoso bairro residencial ou baile dos trasmontanos de
Lisboa, o baile é uma ocasião para/dançar; esta verdade muito simples combina-se com uma outra menos
conhecida. Como mostra a enumeração prece ente, ca a bal e tem a sua fisionomia própria e reúne jovens
pertencentes a uma mesma unidade geográfica ou a uma mesma classe social. Isto pode constituir um argumento
para tranquilizar certos pais, no entender dos quais o baile é automaticamente «mal frequentado», porque não se
sabe, «afinal de contas, que pessoas se pode lá encontram. A prova está em que 17 „/. das pessoas casadas*
encontra- O Ver «Dança». ram o seu cônjuge num baile. Um inquérito de J.-C. Ibert e J. Charles indica: «Na
província, é sobretudo o baile que parece propício ao despontar do/amor.» Não duvidemos de que, se não é
possível tirar a mesma conclusão nas grandes cidades, é apenas porque as/distracções -e por conseguinte as
ocasiões de encontro (/teatro, /cinema) - são aí mais numerosas do que nas outras regiões. Afigura-se, em suma,
que o baile, ao reunir jovens, os aproxima à margem dos constrangimentos impostos por uma/sociedade que,
para proteger a virtude, institui uma segregação sexual. O baile é muitas vezes um motivo de/” conflito /familiar
entre as gerações; não é raro que o/pai tenha tendência a superproteger a sua filha proibindo-lhe ir ao baile, ao
passo que esta reivindica o direito de assumir livremente as suas
/responsabilidades.

NNDOS (Bandes/Ganga) páginas 127, 136. 142, 270. 433, 448.

O bando é um/grupo não institucionafizado que reúne adolescentes fora da tutela dos adultos.
O bando existe desde que o mundo é mundo: o adolescente, em virtude do seu estatuto ambíguo (nem criança
nem adulto e as duas coisas ao mesmo tempo), tem o sentimento de viver à margem da /sociedade organizada
dos adultos. O bando oferece-lhe o reconforto de viver no meio dos seus contemporâneos, de quem se sente
BAN
próximo. Depara, nestas associações mais ou menos duradouras, com a ocasião de fazer a sua/ aprendizagem da
vida colectiva sem que esta seja submetida a regulamentos impostos pelos adultos. Não se sabe ao certo se o
número dos bandos está a diminuir ou, pelo contrário, a aumentar. J. Monodo, em les Barjots, sustenta O
Jean Monod:

tes BariotS que


eles tendem a desaparecer, enquanto G. Avanzini julga, ao (juiiiard, Paris). invés*, que o seu
número continua a crescer. No fundo, os meios 9 G. Avanzini: de difusão modernos põem de maneira excessiva
a tónica nas mani- ia Temps de l*adoiescen<

Ed. universitaires. Paris. festações /agressivas dos «Mods», dos «Rockers» e outros «blu- 965). sões negros».

Porque surgem os bandos?


- Para certos psicólogos, como R. Mucchielli, a adesão a um bando significaria uma recusa da sociedade. O
bando não tem um valor de/empenhamento, mas, isso sim, um valor de desempenhamento: «Nos grupos de
participação - e a sociedade é um protótipo deles-, escreve R. Mucchielli, os/valores sociais constituem-se
contra o Eu, e a consciência sociomoral (que é o Eu querendo participar, o Eu que se sente Nós) torna-se
controle e/inibição do Eu individualista. No bando de/ delinquentes, é aquilo que os individualismos têm em
comum que se transforma na super-realidade do/grupo. O bando revela, reforça, agrava o/egocentrismo dos
seus membros; ele concretiza, materializa a hipertrofia do Eu e num certo sentido consagra-o.»*
e R. Mucchieili:
Comment Iís deviennent
O que presidiria à formação de um bando não seria, pois, a capa- délinquents cidade de/adaptação social, aliás
inexprimível, mas a união de (E.S.F., Paris, 1965). egocentrismos com vista a alcançar uma maior/segurança e uma
maior eficácia. Mucchielli mostra que as relações interiores e exteriores de um bando são o fruto de uma
participação unicamente negativa: por exemplo, a solidariedade, que alguns autores assimilam um pouco
apressadamente ao sentido da honra (a lei do mundo do crime), não passa de uma solidariedade negativa porque
«a segurança de cada um depende do silêncio de todos».
- Segundo G. Avanzini, o adolescente que adere a um bando, delinquente ou não, obedece a uma necessidade de
compensar certas/ frustrações. O bando responderia então a uma tripla/necessidade de/afeição, de segurança e de
valorização. Afeição: a vida em bando proveria às/carências afectivas familiares; «Nâo, decerto, escreve
Avanzini, que as modalidades afectivas do grupo sejam assimiláveis às da/familia normal, mas, àqueles que
sofrem por causa de/pais deficientes ou negligentes, essa afeição tira a impressão de solidão e de abandono.»O
9 G. Avanzini:
Ia Temps de I-adoiescem Segurança:
o adolescente sente-se de certo modo confrontado com (Ed. universitairos. Paris, um
universo no qual deve integrar-se e que ele já não reconhece 1965). desde a/puberdade. Dai um sentimento de
confusão, uma insegurança que os educadores têm normalmente de atenuar.
94

Na medida em que estes últimos não estão à altura da sua tarefa, é o bando que os substitui e propõe uma linha
de conduta aos seus membros. Valorização: o sentimento de frustração provoca obrigatoriamente um sentimento
de inferioridade. Os adolescentes encontram então no bando «a ocasião e a possibilidade de uma revalorização: a
publicidade que lhes é assegurada pela imprensa, o lugar que eles sabem ocupar na opinião, o/medo que
suscitam em muitos adultos, tudo isto lhes restitui uma certa importância no seio dessa/sociedade pela qual eles
se sentem simuitaneamente repelidos e desprezadoS»Q. e Guy Avanzini: op. dt.

* passagem à delínquência * pertença a um bando não significa necessariamente a vontade firme e deliberada de
cometer delitos. Porém, seja qual for a razão que se dê à formação de um bando, percebe-se que, no fundo, se
encontram reunidas todas as condições para que a passagem ao acto delituoso seja pelo menos tentada. Na
verdade, quer o membro de um bando seja um insocial, como pensa Mucchielli, ou um frustrado, como mostra
Avanzini, o freio que a consciência moral constitui para os comportamentos delituosos é inexistente. Com efeito,
no primeiro caso, a consciência/ moral está totalmente ausente; no segundo, a família não soube ou não quis
assegurar a formação /moral. Se acrescentarmos a isto a sobrestímação do Eu pressuposta pela pertença seja a
que/grupo for (os fenômenos de multidões, por exemplo), vemos que tudo impele um bando para a
/delinquência. A soma das/agressividades nascidas das/frustrações de cada membro abre o caminho a/violêncías
de todos os géneros. A maneira como os delinquentes em bando formam um «tesouro» de objectos roubados, que
a maior parte das vezes eles nem sequer procuram tornar a vender, é reveladora desse estado de/carência que
reencontramos na/cleptomanía. Alsociedade em si não é directamente responsável por esta forma de
delinquência dissocial de que o bando é o sinal distintivo. Mas não há dúvida de que ela contribui
poderosamente para isso se não oferecer à juventude outro aspecto que não seja o de uma forte resistência à
integração social que deve marcar o acesso à,,,, maturidade. Ou ainda se ela não souber, graças à instrução cívica
- essa parente pobre do ensino -, pôr em evidência os aspectos positivos da vida social sob todas as suas formas.
Em muitos países, o fenômeno da animação/ cultural tem permitido dar passos essenciais nesta via. As
responsabilidades situam-se mais precisamente à escala individual. Qualquer/ educação que não saiba responder
às necessidades fundamentais dos adolescentes impele-os a procurar compensações fora do quadro das estruturas
sociais. Razão pela qual a entrada Para um bando não é um fenômeno exclusivo de meios desfavorecidos: a
pobreza, por exemplo, é incontestavelmente causa de
perturbações /familiares que proibem uma educação normal. Mas há muitos outros factores (entre os quais o/
desentendimento conjugal) que podem influir noutros meios, produzindo as mesmas frustrações/ afectivas que a
pobreza.

BARBA (Barbe/Board)

A barba surge no púbere por volta dos 18 anos. Mas a penugem que já aparece cerca dos 14 anos acima dos
lábios sugere um bigode mais ou menos basto. Convém lembrar a este respeito que o apareciniento da
pilosidade se verifica em idades que variam em função da maturação pubertária: não nos devemos portanto
inquietar com um atraso de alguns anos. O mito da «barba-sinal-de-virilidade» por causa do qual os adolescentes
glabros são alvo de gracejos de gosto duvidoso da parte dos seus/ camaradas -e por vezes até dos adultos - está
em contradição com a observação clínica. Não há nada mais cómico do que um adolescente que pretende
barbear-se muito antes de despontar a mínima penugem. Umas piadas amigáveis não farão, em regra, grande
mal. Mas é sobretudo uma questão de contexto: se os adultos sentirem que as suas brincadeiras podem ser
contraproducentes, é preferível absterem-se. Para conseguirem um benefício de pouca monta, correm o risco de
ferir assaz inutilmente o adolescente e falsear/ relações que já de si têm demasiada tendência a ser difíceis.
Acontece com muita frequência o adolescente deixar crescer a barba durante as/férias. Ela simboliza então o
abandono momentâneo das coacções sociais. É aliás por tal motivo que ele a rapa assim que chega ao fim das
férias... De um modo geral, afigura-se que o ornato da barba é visto, conscientemente ou não, como uma
compensação para uma /virilidade ainda frágil ou, pelo menos no caso do adolescente como o receio de não
poder assumi-Ia tal como desejaria. Este simbolismo da barba é válido até à idade adulta.

BARULHO (Bruit/Noise) Página 163-

É frequente o barulho ser uma fonte de mal-entendidos entre adultos e adolescentes. De facto, para os
primeiros, o barulho é sinónimo de perturbação psicológica; diz-se: um barulho ensurdecedor, irritante,
enervante. Os moradores das grandes cidades apressam-se a procurar o silêncio do campo logo que chega o
sábado.

Qual o motivo do barulho? Antes de mais, o barulho representa um dispêndio de energia por interposta pessoa.
Do mesmo modo que, no adulto irritado, elevar a voz tende a aliviar a/,tensão interior, no adolescente o
barulho é, por assim dizer, um paliativo para a/dúvida de si.
96

Além disso, o barulho sob forma de fundo sonoro impede o frente a frente consigo mesmo, gerador de
interrogações inquietas. Certos adolescentes não hesitam em confessar: «Quando há barulho, não penso em
nada» ou mesmo: «Acho o barulho repousante.» Não é portanto de admirar que o adolescente faça um tão grande
uso da telefonia*. Ver «Rádio». A vida/ familiar pode ressentir-se deste
frenesi do barulho. Todavia, uma proibição brutal arrisca-se a parecer um castigo arbitrário. Alguns/pais não
hesitaram em adoptar um modus vivendi: a telefonia ou o gira-discos podem funcionar com o som no máximo,
mas apenas a determinadas horas. Este gentlemen agreement oferece a dupla vantagem de preservar a
harmonia e o ouvido familiares, por um lado, sem deixar de mostrar ao adolescente, por outro lado, que ele é
um interlocutor de pleno direito, já que lhe dão o ensejo de fartar o seu/desejo de barulho.

ATOTICE (Tricherie/Cheatinq) página 507.

A consciência/ moral do adolescente é mais a resultante de um sentido do absoluto do que uma verdadeira
tomada de consciência do mundo e dos seus/valores. Daí uma falta de sentido das proporções que impede o
adolescente de ver o intermédio entre o bem e o mal: o que não está bem está mal. O seu sentido da justiça, em
particular, é muito agudo. Ora, em seu redor, ele não vê senão «batoteiros». Ensinaram-lhe que era preciso ser
caridoso, amar o próximo, mostrar-se respeitador e obediente. Após o que, como mostra Karen Horney*,
a K. Horney:
Ia Pefsonnalité névrodque lhe
pedem que se entregue a contínuas confrontações; na aula, tem de notre temps de se esforçar
por ser o primeiro, por ter,,"êxito nos/exames a (I'Arche. Paris, 1953). todo o custo. Profissionalmente, a impiedosa
concorrência já não recorre a disfarce: nos negócios, tenta-se eliminar os outros para chegar ao alto da escala.
Segundo Karen Horney, não se deve procurar noutro ponto as razões pelas quais, chegados a adultos, estes
adolescentes, sequiosos de pureza, carecem de afirmação de si e se refugiam na busca/passiva da aprovação de
outrem. A isto vem juntar-se a/conduta assaz desastrada dos adultos que se gabam de falsificar a sua declaração
de impostos, de ter espoliado um comerciante que se enganou nos trocos. Daí a considerar todos os adultos
batoteiros vai apenas um passo que não tarda a ser dado. Importa então que um adulto em quem o adolescente
tenha/confiança possa intervir para serenar o seu/juízo.

ELEZA (Beauté/Beauty) Página li.

Beleza moral Na criança, a consciência moral é essencialmente submissão a


regras impostas pelos adultos. Na adolescência, a consciência/ moral inflecte-se no sentido da/
responsabilidade. Dentre as regras morais, o adolescente só aceita as que considera ele próprio «boas». Uma
tal inflexão está em íntima correlação com a descoberta dos valores fundamentais que a escola alemã
de/psicologia designa assim: o belo, o bem, o verdadeiro e o religioso. É então facilmente previsível que
venham a produzir-se certas confusões de/valores na passagem ao acto. O adolescente ainda se acha de facto
estreitamente submetido ao prazer novo de se sentir em conformidade com os valores que acaba de descobrir,
aos quais se lhe afigura ter dado origem. Estes valores derivam de uma necessidade, consciente ou não, de auto-
satisfaçã o. Tudo se passa, nesta altura, como se o critério moral essencial fosse não o verdadeiro, mas o belo.
É por isso que um adolescente é capaz de roubar para poder realizar um «belo gesto», por exemplo aliviar uma
miséria; um certo jovem/ delinquente, ladrão de automóveis, deixa-se apanhar voluntariamente
para proteger a fuga dos seus cúmplices. Noutros casos, a procuia do belo é levada a tal ponto que torna o ideal
inacessível. A «B.A.» (boa acção) diária, pregada por Baden-Powell, foi instituída precisamente para lembrar ao
adolescente realidades mais acessíveis, logo mais autênticas. Do mesmo modo, não é impossível que, no caso de
determinadas vocações, se deva falar mais de uma motivação estética que deleita, do que de um real/desejo de
concretizar confusas aspirações. É a busca do «belo moral» que incita alguns adolescentes a uma forma
de/fantasia mística pouco compatível com uma autêntica maturação. Mas, pensando bem, isto parece preferível à
indiferença/ cínica. Importa então, sem desencorajar a tendência para o belo pelo belo, evitar metê- la a ridículo
sob pena de destruir todo o sentido moral no adolescente. /Pedagogicamente, julga-se que a melhor/atitude
consiste em sensibilizá-lo, através do quotidiano, para aquilo que uma moral autêntica tem de vivido, logo de
verdadeiro. Convém impedi-lo resolutamente de se deixar cair numa pecha que já lhe é mais do que familiar: a
da fantasia e da utopia. Importa fazê-lo ver claramente que só é belo o que é efectivamente realizado ou
realizável, que a noção de beleza moral, se bem que conduza algumas vezes para fora do quotidiano, tem o seu
lugar nos gestos de todos os dias.

Beleza física A beleza física é frequentemente um motivo de inquietação, tanto para os adolescentes como para
as adolescentes. São muitos os rapazes e raparigas que desesperam de vir um dia a corresponder aos modelos
oficiais da beleza: eles imaginam-se então condenados a uma vida solitária e ao insucesso. De facto, a irrupção
pubertária faz-se, as mais das vezes, de forma
P A-7
desarmoniosa. O rapaz é desengonçado, já que ainda não tem o

peso correspondente à sua altura. Quanto às raparigas, a mínima imperfeição -peito demasiado pequeno ou
demasiado volumoso, arqueadura temporária em consequência do brusco crescimento do esqueleto - é sentida
como uma séria inferioridade. E isto tanto mais quanto os jovens não são ternos entre si no que respeita ao
aspecto físico: qualquer anomalia é impiedosamente acentuada e as zombarias, abertas ou alusivas, contribuem
para deprimir aquele que é alvo delas. É muito importante que, neste caso, possa intervir um adulto; o
traumatismo assim criado é real e ainda mais temível se o interessado nunca falar dele. Convém então que seja o
mais depressa possível demonstrada a vacuidade de um tal receio. Nesta ordem de ideias, serão úteis os
exemplos de casais felizes C fisicamente imperfeitos. O próprio/cinema, outrora reservado às esculturaís
beldades hollywoodescas, apresenta modelos cada vez menos sofisticados. Se, após uma explicação franca, o
mal-estar persistir, traduzido por uma desafeição evidente pelos cuidados corporais ou de vestuário, não se deve
hesitar em consultar um especialista, por exemplo o/psicólogo escolar. Este problema, julgado secundário pelos
adultos, assume importância para um bom/ desenvolvimento dos adolescentes.

IBLIOTECA (Bibliothèque/Library) página 308.

Em regra, o adolescente gosta de lera ainda que, por vezes, as e Ver «Leitura» aparências deixem pensar o
contrário. Se o adolescente não lê é porque pode sofrer de alguma perturbação da vista ou então não ter
encontrado leitura adaptada. Guiá-lo neste domínio é uma tarefa para a qual devem contribuir os/pais e
educadores.

Os livros preferidos A escolha das/leituras é o primeiro problema. Muitas vezes, os pais confessam-se um pouco
desorientados. Tendo procurado na sua memória, tentaram extrair de lá títulos e nomes de autores. Mas os
centros de interesse do adolescente variaram e não correspondem forçosamente aos que os seus pais tiveram na
mesma idade. A divergência provém certamente da actualidade: um adolescente dos nossos dias interessar- se-á
obviamente mais pela, ficção cientifica do que o faziam os seus pais. Existe todo uni contexto que os sensibiliza
para este gênero de problema. Há, pois, aqui, uma mina à qual se pode recorrer na certeza de agradar aos jovens.
Em contrapartida, é preferível não oferecer livros de história pois corre-se o risco de recordar ao adolescente
obrigações escolares demasiado precisas. Existe um meio que permite instruir sem deixar de distrair: é o
romance de aventuras históricas. Se bem que este
gênero fervilhe em obras sem a mínima qualidade, outras há que são excelentes e decerto conhecidas pelo
professor de história ou por qualquer outra pessoa competente na matéria. Revelar-se-á particularmente
apreciado o romance psicológico. Com efeito, convém não perder de vista que a/adolescência é a idade em que
a/personalídade adquire os seus contornos definitivos; é também o momento em que «o indivíduo se acha em
busca de/identificaçâo». Ele procura exemplos e modelos. É no entanto possível observar que o romance, tal
como a língua de Esopo, pode ser a melhor e a pior das coisas. O adolescente, por falta de experiência,
raramente sabe separar o trigo do joío. E ainda que o fizesse nem sempre poderia estabelecer a destrinça entre a
realidade e a ficção, entre a vida quotidiana e a técnica de ampliação inerente ao romance e a toda a obra de/arte.
Motivo pelo qual é útil que os/pais acompanhem as/leituras dos filhos. Isto obriga a um mínimo de tacto, visto
que o adolescente não quererá que lhe constituam uma biblioteca à força. Ele gosta de ter liberdade de escolha.
Nada impede que sejam os pais a guiá-lo nesta escolha, se necessário for explicando-lhe calmamente as razões
de uma recusa. Na maior parte dos casos, uma recusa é motivada pela inexperiência do
adolescente: não se deve temer dizer-lho. «Esse livro não é para a tua idade. Julgarias compreender, mas iludir-
te-ias completamente quanto ao sentido geral.» Se ele insistir bastante, nada obsta a que se compre o livro com a
condição de a leitura ser seguida de uma/discussão, se os pais se sentirem suficientemente preparados para o
„fazer sem erros. Aliás, certos pais de tipo /intelectual não hesitam em dar a ler ao filho ou à filha livros «muito
acima da idade deles». Consideram que o adolescente, desconcertado, pedirá esclarecimentos aos mesmos que
lhe ofereceram o livro. Por vezes é realmente o único meio de restabelecer, entre pais e filhos, um contacto tão
frequentemente rompido por mal-entendidos ou pelas circunstâncias da vida profissional.

As leituras «sérias» Em matéria de livros, existem alguns/valores seguros que oferecem a vantagem de ter
passado à posteridade, de servir de temas escolares na altura das provas e de guiar o adolescente na busca da
sua personalidade. Entre estes valores mais seguros podemos citar: Camilo, Machado de Assis, Eça de
Queirós, Alexandre Herculano, Júlio Dinis, Saint~Exupéry, Malraux, Julien Green, Graham Greene, Cronin,
etc. Há decerto outros e citá-los a todos seria impossível. Conquanto seja bom que os pais tenham tomado
conhecimento deles, não é obrigatório, evidentemente, lê-los todos sistematicamente. Mas se houver alguns
que não conheçam, podem folheá-los
100

(com um pouco de experiência, chega-se muito depressa a apreciá-los) ou assinar revistas que publicam
regularmente críticas. Enfim, há um facto que não deve ser esquecido: o adolescente gosta de possuir a sua
biblioteca, mesmo que esta inclua apenas alguns livros. A/ adolescência é a idade dos livros de cabeceira,
aqueles que se estimam particularmente e se lêem muito. O adolescente aprecia igualmente pesquisar na
biblioteca dos seus pais. Coloca-se então um problema delicado. Numa época em que são editados livros ou
revistas « para adultos com reservas», a pergunta «deve-se deixar os adolescentes ler tudo a partir de uma certa
idado?» reveste uma acuidade particular.

Os pais hesitam entre duaslatitudes: eles não dissimulam as suas leituras, e o rapaz ou a rapariga podem não
aceitar que os seus pais leiam um certo tipo de obras e ficar abalados; eles escondem os livros e o risco de
perturbação é muito maior em caso de descobeita. De resto, nos nossos dias, nenhum adolescente pode ignorar
certas formas de arte e de literatura. Acabará por se interrogar se «o papá não esconde qualquer coisa algures»:
afigura-se preferível, se assim acontecer, tratar o problema com uma franqueza que as circunstâncias podem
tomar indispensável. E, também neste caso, não será uma excelente ocasião de diálogo? O/pai descerá do
pedestal onde talvez tenha julgado bom empoleirar-se. Mais acessível, abordará sem embaraço os problemas da
informação sexual, e quiçá até da. própria/ educação sexual, nada escondendo de uma/atitude no fundo muito
humana a respeito da/sexualidade. E talvez, enfim, consiga desculpabilizar o seu filho que leu, lê ou lerá o que
ele tinha tanto cuidado em esconder.

LINGUISMO (Bilinquisme/Bilinqualism)
O bilinguismo é a faculdade de nos exprimirmos correntemente em duas línguas diferentes. Esta faculdade pode
ser adquirida na /escola, ou o resultado de uma/educação familiar, no caso em que os/pais não utilizam a mesma
língua.

Bilinguismo escolar Segundo um recente inquérito do Instituto Pedagógico Nacional* O Ver «Ensino». de
França, o interesse pelas línguas estrangeiras está a aumentar.
O que se explica facilmente pelo grande número de empregos remuneradores oferecidos no final destes
estudos. É actualmente difícil, devido à Crescente intemacionalização em todos os domínios, seguir uma
carreira sem o conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira. Na,,,, adolescência, o bilinguismo tem o mérito de
desenvolver o Pensamento abstracto. Pensar numa língua estrangeira pressupõe
BUL
de facto um esforço de abstracção maior do que pensar na língua materna, cujas palavras parecem «colar-se»
aos objectos significados. É, do ponto de vista puramente/ intelectual, um excelente exercício de ginástica.
Além disso, e é o mais importante, o bilinguismo permite viver num país estrangeiro e ter assim acesso a uma
nova/cultura. Só uma tal experiência dá ocasião a que aprofundemos a cultura do nosso país, ou seja, aquela em
que nos integramos. É esta, hoje em dia, a principal vantagem das línguas vivas sobre as línguas mortas, que
não oferecem a possibilidade de desembocar numa realidade actual.

Bilinguismo natural
O bilinguismo pode ser a consequência de uma situação familiar: pai e mãe de nacionalidades diferentes
habituaram o filho a exprimir-se desde muito novo numa e noutra língua. Há também casos em que a situação
profissional dos pais obriga a/família a deslocações mais ou menos prolongadas ao estrangeiro: é o que
acontece designadamente com os jornalistas, certos funcionários, etc. Este bilinguismo, fácil de adquirir visto
que a criança aprende sem ,;<esforço várias línguas, é de certo modo o sonho de qualquer aluno de liceu
quando diante de uma tradução francesa ou de uma retroversão inglesa. Sem dúvida que é algo sedutor, mas
não seria melhor ter começado por assimilar as regras, a sintaxe, numa palavra, o «género» da sua língua
materna?

Os perigos Com grande frequência, uma criança atirada de um para outro pais não possui qualquei@ base só
lida: daí algumas confusões e interversões. É, evidentemente, no português que a desvantagem se fará sentir
mais, mas tal não exclui que o atraso registado nesta disciplina se repercuta lamentavelmente na/aprendizagem
das outras matérias. Pode acontecer igualmente que o adolescente bilingue se valha unicamente dos seus êxitos
linguísticos: como ele é sempre o primeiro em francês ou em inglês, descuida-se na aquisição das subtilezas
gramaticais ou do /,,,vocabulário que os seus/camaradas assimilaram pacientemente durante anos, sob a
orientação de diferentes professores. Imiporta não deixar o adolescente entregue a si mesmo nestes casos. E bom
colher informações sobre as/difi.culdades que experimenta, e procurar com ele o meio de as remediar. Por vezes,
uma série de lições particulares pode obviar a certas falhas.

BULIMIA (Boulimie/ Buli mia) página 236.

Vocabuleire de «Sensação intensa de fome (oposta à/anorexia e à saciedade) e psychopódogogie

Laffont P.1). .. Paris. satisfação desta pelo consumo excessivo de alimentos.»* Por outras 1963).
102

palavras, o volume total de comida absorvida pelo bulímico excede as necessidades de manutenção e de
construção*. Ver «Mimentação».

Bulimia anormal A bulimia pode ser de origem médica: depara-se então com a presença de uma bicha-solitária
ou de outros vermes parasitários do intestino. Nestes casos, o bulímico apresenta-se/ anormalmente magro. É um
sintoma não desprezível porque pode indicar um princípio de diabetes ou de tuberculose. Mas existem
igualmente causas /psicológicas da bulimia: esta faz-se então acompanhar muitas vezes de retenção de matérias
fecais, indo até à incoercibilidade. Uma tal/atitude traduz a instalação de uma/neurose geralmente provocada por
um sentimento de/frustração.

Bulimia normal É claro que há ainda o caso do «bulímico» normalíssimo: é o adolescente-tipo, aquele que tem
fome às 10 h e às 4 h. depois de ter tragado quantidades de comida que parecem inverosímeis ao adulto. Não
devemos esquecer que o adolescente tem enormes/necessidades em calorias, que queima para construir o seu
corpo em pleno desenvolvimento. Mas como o seu estômago não acompanha o ritmo geral, só resta ao
adolescente desdobrar as refeições. É por tal motivo que ele dá frequentemente a impressão de ser insaciável.
Não há aqui nada que possa inquietar.
CAL

CALÃO (Argot/Slang) página 574.


«,,«Linguagem própria dos vagabundos, mendigos e ladrões. Por extensão: fraseologia particular de que se servem entre si as
pessoas que exercem a mesma,,Iarte ou a mesma profissão.»* Dictionneira, Liu

t. 1, p. 287
O calão é portanto,
antes de mais, uma linguagem de iniciados cujo (Editions du Cap, emprego se destina a desorientar o
profano. Os adolescentes utili- Iân,, Cum.

zam de boa vontade as expressões de calão que supõem conferir-lhes um estatuto viril. Este fenômeno linguístico é
designadamente observado nos,;<bandos, cujo calão varia de bairro para bairro. As adolescentes também passam
geralmente por um período atreito à gíria: o calão é aos olhos de toda a gente a prova indubitável de q ue elas «se libertaram».
Mas a evidente incompatibilidade entre a aspereza de certas palavras de calão e a elegância feminina não tarda a fazê-las preferir
a austeridade do academismo. De uma maneira geral, podemos dizer que o calão da/adolescência procede directamente do
calão original, o dos vagabundos e dos mendigos, porque o adolescente se sente sempre mais ou menos de fora, à margem da
sociedade dos adultos. Isto é tão verdade que aqueles que o empregam mais frequentemente são os mesmos a que a sociedade
chama inadaptados. Convém evitar ser demasiado severo quando estas expressões são utilizadas na vida corrente, pois isso
apenas contribuiria para aprofundar o fosso que se abre naturalmente entre as gerações. Uma
/atitude mais compreensiva consiste pelo contrário em o/pai comparar com o seu filho a evolução desta linguagem
particular.

CAMARADAGEM (Camaraderio/Comradeship) páginas 20,33.45,116.163.

A camaradagem diferencia-se da/amizade electiva pelo facto de ser de algum modo imposta: «Escolhemos os/amigos e
sujeitamo-nos aos camaradas ... »

Camaradagem e amizade Na realidade, a camaradagem não é unicamente passiva: em certo sentido, ela é aceitação
do/grupo, e desta maneira prefigura a
104

/identificação com o grupo. Tem sobre a amizade a vantagem de uma maior sociabilidade e por conseguinte de
uma melhor preparação para a inserção do adolescente na sociedade. É talvez por isso que «a juventude actual
prefere, às amizades exclusivas das gerações passadas, a camaradagem. Esta mostra mais discrição /afectiva;
pressupõe uma vida comum fundada na/comunicação durante os/tempos livres, o/>"desporto ou a/ actividade/
cultural, ao passo que a amizade se esgotava amiúde na busca vã da identificação pessoal»*.
e P. Furter: Ia Via morale

de Padotescent Isto
é tanto mais verdade quanto -e todos os/educadores estão (Delachaux et Niestlé, de acordo sobre
este ponto - o autêntico insocial tem a maior parte Paris, 1965), p. 127.

das vezes um amigo mas nunca camaradas. Com efeito, o que é procurado neste tipo de amizade é a união de
duas «insociabilidades» e não, pelo contrário, a aplicação dos princípios da vida em sociedade. Logo, em ú ltima
análise, um adolescente que não tem camaradas deve inquietar mais os seus familiares do que aquele que não
tem amigos. Além disso, a verdadeira camaradagem tem a vantagem de não fazer intervir esse turvo factor
afectivo que pode levar a degenerar uma amizade normal em/amizade particular.

MARADAS (Copains/Pais) Páginas 45. 138, 333. Tem-se falado muito, em França, do fenômeno dos copains. Este
termo, retomado por uma estação radiofónica, conquistou logo à primeira a imensa maioria dos adolescentes, que
bruscamente se sentiram estimulados para uma realização adulta. Noutros países, este fenômeno assumiu a forma
do clube de «fás».

Olídolô. O Camarada com um C grande, é o ídolo ao mesmo tempo próximo pela idade e distante pela riqueza, o
mito quase religioso que o rodeia. Decerto que, aos olhos de alguns adultos, um tal ideal parece carecer de
«profundidade», mas é bom não esquecer que o ídolo nasceu justamente para preencher uma falta de /ideal.
Além disso, o ídolo tem pelo menos a vantagem de apaziguar as/tensões interiores através do ritmo das
canções. @

s canções assinalam o regresso a um realismo quotidiano. «Amorterno» tende a ceder o lugar às histórias de
todos os dias: a escola, os/pais, os/tempos livres. Os pais devem reagir em te o c r a n c aso de excesso, se
possível sem dramatizar. O adolescente trocará

ntão sem sobressalto o tempo dos camaradas pelo das/respon-

h j( bilidades.

ACI1DADE (Capacité/Ability) página 79.

1 capacidade é a aplicação de uma/aptidão; mas não deve ser


confundida com esta, como acontece na palavra inglesa ability. De facto, a capacidade presume um emprego da
vontade, ao passo que a aptidão -inata e por assim dizer imerecida- não implica /esforço algum. É por tal motivo
que dois alunos igualmente dotados não têm necessariamente o mesmo rendimento. Podem registar-se grandes
diferenças devido ao /O temperamento do adolescente. O adolescente mais amadurecido e mais reflectido será
melhor sucedido do que o imaturo.

A I afectividade influi fortemente sobre as capacidades do adolescente: um aluno que receia admoestações fica
quase sempre aquém das suas possibilidades. A/timidez, a/;<inibição, os/desequilíbrios orgânicos passageiros,
habituais na/,< adolescência, bastam muitas vezes para impedir o/ desenvolvimento de aptidões reais. Importa,
pois, que o adolescente sinta/confiança a fim de exteriorizar o melhor possível as suas possibilidades e de propor
assim a si mesmo níveis de/aspiração cada vez mais elevados. Na verdade, não se deve esquecer que é nesta
idade que se desenha a/personalidade adulta: repetidos fracassos têm repercussões longínquas e impedem os
dons de se exprimir. O papel dos educadores consiste essencialmente em ajudar o adolescente a desenvolver as
suas capacidades, fixando-lhe objectivos que não estejam nem aquém nem além das suas aptidões. Neste
domínio, os/ pais, possuidores de uma tendência natural para se/projectarem no seu filho, devem ter o cuidado de
não tomar,,` desejos demasiado ambiciosos por realidades.

CAPRICHO (Caprice/Fancy) página 498.

A palavra «capricho» (do latim capra: a cabra) designa uma crise reaccional «por saltos», sem relação real com a
motivação aparente.
O capricho manifesta-se muitas vezes nos adolescentes e nas adolescentes. Os educadores conhecem bem
a/reacçâo de certo adolescente que -escolhido para ser o/herói de uma peça de/;<teatro representada na/escola-
recusa bruscamente, no último momento, desempenhar o seu papel. Ou ainda de determinada adoles- cente que
decide de um dia para o outro que um certo alimento já não é digno da sua jovem pessoa. Estes/ comportamentos
traduzem uma regressão ao estádio infantil, pois exprimem essencialmente o/desejo de
chamar a,,,Iatenção. Mas têm uma significação intrínseca que não pode ser negligenciada, mesmo - e talvez
devêssemos dizer sobretudo - quando a motivação se afigura pouco fundamentada ao adulto.
O rapaz que desiste do seu papel algumas horas antes de o desempenhar é sem dúvida/pueril, mas as razões que
motivam o seu comportamento talvez sejam importantes. É preciso tentar sondá-Ias. Uma tal recusa revela uma
ruptura interior, uma falha da
108

/personalidade. Isto tanto mais quanto o jovem actor foi provavelmente escolhido por causa da sua sociabilidade
e segurança íntima. Há fortes motivos para pensar que esta sociabilidade e esta segurança não passam de uma
fachada destinada a esconder a sua inquietude. Do mesmo modo, a rapariga que rejeita certo alimento obedece
aparentemente a uma ridícula preocupação de estética. Mas pode ser que uma tal preocupação dependa de uma
outra menos superficial que englobe a personalidade no seu todo. Importa que os pais não tratem com demasiada
ligeireza caprichos que podem ter profundas raízes.

CARÁCTER (Caractóre/Character)

«Carácter significa: marca. É o cunho pessoal de um ser, o seu sinal distintivo, o que permite definir o seu
estilo, a sua maneira de ser. de sentir, de reagir.»* # Dicionário de

Psicologia (Ed. Verbo,


O carácter, que para Renê Le Senne é «o esqueleto mental do ho- Lisboa, 1978). mem», não se manifesta no
entanto tal qual desde a infância. É um conjunto de disposições profundas mas não imutáveis. Os estádios de
maturação psíquica e as circunstâncias influem de modo permanente sobre ele; o carácter constitui de facto
tanto uma maneira de sentir - traduzindo então a acção da situação sobre o sujeito- como uma maneira
de/reagir -indicando então a acção do sujeito sobre a situação.

Carácter e/ comportamento É o desejo de emancipação que vai inflectir de forma muito pronunciada o carácter do
adolescente, o que pode dar origem a inversões espectaculares. Certo rapaz/tí"do e fechado com os seus
transforma-se quando se acha em/sociedade: toma a palavra, discute de tudo com todos. A menina «maria-
rapaz» experimenta bruscamente a necessidade de se sentir/feminina e atraente. Um e outra obedecem
à/necessidade de se afirmar/ independentes: o rapaz pela sua facúndia, a rapariga pelo seu encanto. Podem
produzir-se os casos contrários. A criança turbulenta retrai-se porque não se sente suficientemente segura de si.
A menina/coquete, duvidando da sua feminilidade, ou recusando-a como meio de emancipação, descura de
repente toda a elegância de vestuário, penteia-se às três pancadas, adopta o blue-jean.

Os tipos de carácter Distinguem-se diferentes tipos de carácter em função de três critérios principais:
a/oemotividade, a/actividade e a ressonância.

A emotividade: indica o grau de dependência do sujeito relativamente


CAR
à situação vivida. Aquele que é muito profundamente afectado por um acontecimento perturbador é um
hiperemotivo. É não emotivo aquele a quem nada abala. o primário é a%iele cuja reacção emotiva é imediata,
pouco ou mal controlada. E secundário aquele que interioriza a sua reacção e difere a respectiva expressão.

A actividade: ela indica o grau de influência do sujeito sobre a situação. É activo aquele que em qualquer
situação manifesta de si mesmo uma energia dirigida para um objectivo determinado. O não activo, pelo
contrário, só age contra vontade e sob a pressão dos acontecimentos.

A ressonância: toda a percepção tem um efeito imediato e um efeito prolongado. Por exemplo, a criança que se
queima tem uma reacção imediata (dor, choro) e depois integra a queimadura nos seus esquemas de/conduta:
receio do fogo, etc. Consoante domina num indivíduo um ou o outro efeito, diz-se que ele é primário ou
secundário: «Os efeitos que um acontecimento produz, enquanto ainda se mantém na consciência clara do
indivíduo ou imediatamente após, constituem a função primária da representação deste acontecimento. Os que se
verificam quando o acontecimento já saiu há algum tempo da consciência actual do indivíduo constituem a
função secundária da representação.»* o R. Le Senne:
Ia Destinde personnellê
O primário é aquele em que predomina o efeito imediato: ele vive (Fiammarion, Paris, ao sabor das suas
experiências, que se expulsam umas às outras. 1951), p. 47.
O secundário, ao invés, acumula os dados da experiência, cada um dos quais é julgado em função dos
precedentes. /;, Emotividade,,,,, actividade e ressonância combinam-se nos indivíduos.

Classfficação de Gaston Berger


O Nervoso: Emotivo, não activo, primário.
O Sentimental: Emotivo, não activo, secundário.
* Colérico: Emotivo, activo, primário.
* Apaixonado: Emotivo, activo, secundário.
* Sanguíneo: Não emotivo, activo, primário.
* Fleumático: Não emotivo, activo, secundário.
O Amorfo: Não emotivo, não activo, primário. OlApático: Não emotivo, não activo, secundário.

Carácter e/ pedagogia
O desconhecimento da diversidade dos caracteres é gerador de erros educativos. Como acentua J.-L. Faure: «O
interesse prático de uma descrição caracterológica é o de estabelecer um „dado‟
188

com o qual se vê confrontada toda a acção pedagógica ou curativa, sem ter a pretensão de poder mudá-lo
grandemente, mas com a necessidade de se lhe adaptar para encontrar unia via de eficácia. Sob pena de
malogro, não podemos dirigir-nos da mesma maneira a um emotivo-activo-primário e a um emotivo-não
activo-secundário. Há com certeza, mas apenas neste sentido, uma pedagogia do carácter.»*
* J.-L. Faure:

Vocabulaire de psychopédagogie Carácter


e / personalidade (P.U.F., Paris, 1963), É preciso ter o
cuidado de não confundir aspectos comportamentais P. 95.

adquiridos na sequência da/educação com traços fundamentais do carácter. Estes podem muito bem estar em
contradição com aqueles. É o caso de certas crianças «ajuizadas» que se revelam bruscamente na adolescência
altercadoras e indisciplinadas. Percebe-se então que a aparente sensatez não era senão uma/inibição excessiva
do carácter, inibição devida geralmente a uma educação demasiado severa. Do mesmo modo, um educador
perde o seu tempo a querer transformar a todo o custo aquilo que é, na realidade, um traço imutável do carácter.
Produz-se então o que se observa no caso dos canhotos contrariados, por exemplo, se eles escrevem com a mão
direita à custa de perturbações mais ou menos profundas. Um certo sonhador conseguirá disciplinar-se: porém,
ao fazê-lo, talvez tenha de abandonar toda a espontaneidade, toda a originalidade. Distinguir o temporário do
definitivo, o aparente do real, é sem dúvida uma das tarefas mais difíceis do educador. Os/pais podem ser bem
sucedidos nela desde que se disponham a urna observação atenta e permanente do /comportamento do
adolescente.

„ARACTERIAL (Caractériel/Disturbed character) Páginas 51, 52.

Designa-se correntemente por caracterial aquele que apresenta perturbações de,-<carácter. O carácter, maneira
de ser e de pensar habitual, pode_ achar-se alterado pelas flutuações do equilíbrio ,”fisiológico. E nomeadamente
o que acontece na/puberdade.
O carácter relativamente equilibrado da infância apaga-se então frequentemente diante de uma /instabilidade
mais ou menos duradoura, mais ou menos profunda. É só quando as perturbações atingem uma certa amplitude
que se considera o sujeito como um caracterial; caso contrário, todo o adolescente o seria no sentido restrito do
termo. «Por volta dos 13 ou 14 anos, a crise pubertária determina novas manifestações caracteriais: /condutas de
recusa, fantasias, amuos e/atitudes de feição por vezes discordante.»* O Porot: Manuel
- Recusa. É o que se passa com o adolescente que, quer por medo alphabátique de psychietrie

das/ responsabilidades, quer por causa de um traumatismo/psi- (P.U.F., 1952), p. 64.


CAR

cológico, é levado a recusar um certo número de/ valores e de condutas considerados como normais. A recusa
pode ser consciente -como na/'1oposição- ou inconsciente -como no/negativismo. -IFantasias. A tendência para a
fantasia pode ser considerada como uma conduta de recusa. O sonhador interpõe, entre o mundo e ele, um écran
protector. É assim conduzido pouco a pouco a construir o seu próprio universo e adopta uma atitude geral
de/,<passividade. O adolescente recorre de boa vontade à fantasia, que é uma maneira de prolongar a/imaginação
lúdicas da infância. 9 Iúdico: relativo aojoç
- Reacções de compensação. O adolescente, fundamentalmente pouco seguro de si mesmo, é levado a compensar
certos defeitos reais ou imaginários. «Alguns sujeitos jovens, desfavorecidos pela natureza, procuram uma
compensação para a sua /inferioridade física numa /cultura excessiva e por vezes afectada da sua/ inteligência e
das suas/aptidões estéticas ou numa ,@‟ sublimação moral. Outros, fisicamente dotados mas sentindo-se em
desacordo /afectivo ou intelectual com o seu/meio, lançam-se em,,” actividades de/jogos inúteis ou improdutivos
ou em/ competições /desportivas que os desviam de uma função/social normal.»*
Porot, ibidem, P. E
- Hiperemotividade. A inquietação sexual derivada do ímpeto pubertário acha-se a maior parte das vezes na
origem da hiperemotividade ou/impulsividade. O adolescente torna-se então aparentemente incapaz de se
dominar. As reprimendas e admoestações só agravam as perturbações. O remédio consiste mais numa
atmosfera de calma e de desdramatização. -IInstabilidade. O instável é na aparência um excitado, incapaz de
fixar demoradamente a sua atenção. Manifesta uma tendência pronunciada para a/inadaptação, que, por seu
turno, contribui para acentuar as perturbações caracteriais.

Os casos patológicos
- A paranóia caracteriza-se pela progressiva instalação de um delírio coerente e pela conservação do uso da
maior parte das funÇões psíquicas.
O tipo do paranóico é o perseguido perseguidor. Observa-se então no paranóico uma sobreestimação patológica
do eu, sobreestimação que Mucchielli considera a causa primeira da/delinquência juvenil. Esta sobreestimação
conduz o paranóico quer a uma excessiva/ passividade quer a uma conduta de recusa. Podemos dizer que, no
fundo, o paranóico sofre de um perpétuo sentimento de/frustração, o que o impele a diversas compensações. -A/
mitomania é uma forma afim da paranóia, pois a mentira e a realidade acham-se muito intimamente confundidas.
Também aqui, uma tal atitude resulta do fenômeno de compensação.
- V esquizoidia é caracterizada pelo/autismo, ou recolhimento
110

excessivo em si mesmo. Ela traduz a recusa ou a incapacidade de inserção normal da/sociedade. -A lperversão é
um desvio das tendências naturais. Por exemplo, a tendência normal da/sexualidade é a procriação: toda a
atitude /sexual que para ela não concorra é considerada como perversão. De igual modo, a delinquência é uma
perversão do instinto de conservação. Os factores traumatizantes da/puberdade podem provocar o
desencadeamento de manifestações/ perversas, o mesmo sucedendo quando há convívio com outros perversos.

Os métodos de rastreio Os/pais não devem hesitar em consultar um especialista logo que se manifestem os
sintomas de/inadaptação sob todas as suas formas:/social, escolar ou/afectiva. Muitas vezes os pais pensam que
«isto há-de passar». É justo reconhecer em sua defesa que os primeiros sintomas caracteriais se assemelham
bastante a mudanças de/humor de aparência benigna. Outros, pelo contrário, assustados por aquilo que tomam
por uma/psicose, preferem adoptar a política da avestruz. Mas não se trata afinal senão de uma doença igual a
tantas outras, que, apesar de ser mental, nem por isso deixa de ser curável. Após observação clínica para
procurar uma eventual causa somática,
* médico confiará o caracterial a um/psicólogo. Este utilizará
* método dos/testes que dá indicações úteis sobre as origens e os limites das perturbações caracteriais. Na
maior parte dos casos será aconselhada uma mudança de clima e de situação. O repouso, o ar livre e uma
variaçã o de ocupações bastam muitas vezes para fazer desaparecer as perturbações. Uma conversa entre os
pais e o psicólogo pode ser igualmente muito positiva.

ARÊNCIA AFECTIVA (Carence affoctive/Lock of care) Páginas 93,141. 263. 301, 314.

O apego/afectivodesempenha um papel de primeiro plano nas relações interpessoais, na medida em que se trata
de uma tendência fundamental do ser humano. A carência afectiva - ou privação de um tal apego - tem
consequências nefastas se*a em que período da vida for. Mas elas são particularmente graves no início da vida*,
o Os estudos de

Spitz e Wolf puseram em quando


as bases da /personalidade ainda não estão adquiridas. evjdència as e ências É assim
que a/adolescência, última etapa antes da/maturidade, da carência a= no

lactente: anorexia. inércia, se


acha muito fortemente perturbada por uma tal carência. indiferença, insônia. Esta pode
ter diversas origens, mas é ao nível da/familia que ela se manifesta mais vezes. De facto, é frequente o
/desentendimento passageiro ligado ao /desenvolvimento próprio da adolescência conduzir a uma ruptura
afectiva quer declarada (crise de oposição) quer latente. Esta segunda forma é a mais perniciosa, pois a ferida,
CAS
lá por ser secreta, nem por isso é menos viva. Decerto que o adolescente rejeita aparentemente os/pais, mas estes
não devem no entanto abandonar o seu papel, quando mais não seja porque não são visados pessoalmente*.
Muitos, não obstante, acreditam nisso: e Ver «Pais». «Ele (ou ela) já não quer saber de nós?
tanto pior para ele.» A isto vem juntar-se o/ pudor afectivo natural que provoca um verdadeiro embaraço diante
do jovem pré-adulto. Por seu lado, o adolescente julga-se rejeitado e, para salvar as aparências, mostra-se de
uma/agressividade proporcional à incompreensão de que se imagina vítima. Ainda de consequências mais graves
é o desentendimento do casal parental que acarreta uma dissociação da célula familiar. Na altura de entrar
na/sociedade como indivíduo/ responsável, o adolescente vê-se brutalmente cortado de qualquer base. Reside
aqui a fonte de/ comportamentos insociais ou manifestamente anti-sociais: alguns autores não hesitam em
considerar este facto como a causa principal da/delinquência juvenil. Na melhor das hipóteses, a carência
afectiva limita-se a suscitar dificuldades de relações sociais. O adolescente tem tendência a isolar-se quer por
indiferença/ apática quer em virtude da agressividade que ele transpõe e estende à sociedade inteira. Convém no
entanto notar que esta carência, quando é superada à custa de numerosos sofrimentos, pode produzir um
endurecimento necessário à vida adulta, endurecimento esse que está ausente no caso em que os/,,pais
superprotegem o seu filho, tornando-o assim demasiado vulnerável.

CASA (Logement/Housing)

A questão da casa tem para o adolescente a importância que ela reveste aos olhos dos adultos. No período da
procura da sua/personalidade, ele pensa que a casa o situa ao mesmo tempo/socialmente, / moralmente e /
intelectualmente. Quando se pergunta aos jovens como concebem eles a sua futura casa, aquela a que terão
acesso depois de adquirida a autonomia financeira, as respostas obtidas dependem em grande maioria de
uma/projecção da personalidade. Assim, muitos deles declaram querer uma casinha no campo. Devemos ver
aqui a preocupação de rejeitar um certo número de convenções sociais sentidas como constrangedoras. Raros
são os que afirmam gostar de grandes blocos habitacionais: eles revelam assim o,0desejo de preservar uma
originalidade que lhes parece diluir-se nestes tipos de residência. Até aos 17-18 anos, o adolescente interessa-
se muito pouco pelas questões materiais: lar, etc. Os jovens reconhecem no entanto mais tarde que teriam
gostado de ser informados mais precisamente sobre estes problemas. É a partir de tais factos que se prepara a
/socialização real do adolescente.
112

CASAMENTO (Maríage/Marriage) pâginas26,175,328,329,482,483.


Geralmente é apenas por volta dos 15 anos que os adolescentes começam a entrever o que pode significar na realidade o
casamento. A/máturidade na matéria revela-se sobretudo nas qualidades exigidas ao cônjuge. Ao passo que até aí dominavam
as respostas do gênero: belo, atlético, desportivo, loura, bonita, etc., as qualidades morais passam a ser as mais frequentemente
citadas nessa altura: sentido do /humor, /religião, compreensão, /inteligência, afeição. É a partir dessa idade que os rapazes
começam a desejar que a sua futura mulher seja boa cozinheira.

A idade legal do casamento Este realismo assinala-se igualmente pelo/desejo manifesto de ver baixar a idade legal do
casamento. O direito ao casamento sem o consentimento dos/país é, segundo os resultados de um inquérito efectuado por
Bíanca Zazzo, maciçamente reclamado antes dos
21 anos. Mas, nota B. Zazzo, «os sujeitos reclamam assim mais o direito de disporem livremen te da sua vida sentimental do
que exprimem a sua intenção de se casarem antes da idade requerida. Com efeito, quando se lhes pede, não que definam a
idade em que deveria ser possível casar livremente, mas que digam as suas intenções pessoais, a maior parte dos sujeitos, pelo
menos os rapazes, não declaram de modo algum desejar casar-se antes dos 21 anos*». o B. Za2zo: Psychológie

différentielli@ das
O número dos casamentos precoces vem no entanto aumentando adolescents (P.U.F.. Paris. desde há algum tempo. Um
inquérito efectuado em França no ano 1966), P. 239.

de 1959 pelo Centro Nacional de Pesquisas e de Estatísticas mostra que o número de homens que se casani antes dos 20 anos
passou em 50 anos de 2 % para 4 Dos 30 Y. de mulheres que se casam com menos de 20 anos, 4 desposam
homens da sua idade*. 9 Famiiio,

et logement (Centre national de recherches et de Qual é a idade ideal para casar? statistiques. 1959. Num inquérito
da Federação das Famílias de França, 95%, das pes- -3.*4.- partes>, soas interrogadas declaram-se hostis ao casamento na
altura dos
16-21 anos. 34 % dizem-se prontas a contrariar, se for caso disso, tais casamentos dos seus filhos. 65 %. dos joven s concordam
com as posições dos pais, considerando que a idade ideal para o casamento se situa entre os 22 e os 26 anos para as raparigas, e
entre os 25 e os 35 anos para os rapazes o. Por detrás da posição dos adul- O Action familiele, tos esconde-se uma suspeição
relativamente à erotização dos jovens. número especial,

Dezembro de 1954. De facto, 63 %. destes casamentos precoces são casamentos força- «Os indivíduos de

16-21 anos fazem dos segundo revelamas estatísticas. Para além das reais dificuldades casamentos felizes?» inerentes à
situação dos recém-casados muito jovens, há a falta de dinheiro, nomeadamente nos casais de estudantes, em que um
trabalha Para aguentar o lar, enquanto o outro estuda. Mas um perigo ainda maior consiste na eventual ajuda dos/pais: os
cônjuges
CHE

correm então o risco de nunca se tornarem autênticosadultos. E muitas vezes, de tanto ouvirem dizer que é
loucura casar tão cedo, não poucos jovens acabam por acreditar nisso e desanimar. Não fazem bem: um
inquérito efectuado em França pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos indica que, em 1960, a faixa
dos 20 a 24 anos não representava mais de 1,4 % dos divórcios (contra 2,2 % em 1901), apesar de o número
destes casamentos ter duplicado em cinquenta anos*. O Populations, Setembr No caso dos
casamentos forçados intervém muitas vezes a louvável de 1961.

preocupação de conservar o bebé, de lhe dar um lar, quando afinal a maioria dos jovens adiam, no dia-a-dia, a
tomada de/responsabílidades. Estes casamentos demonstram assim, da parte dos cônjuges, uma precoce/
maturidade, fundada no dinamismo e na coragem de aceitar um filho em condições difíceis. Ou seja, outros
tantos/valores positivos que constituem sem motivo para surpresa a base de laços mais duradouros do que
geralmente se supõe.

CHEFE (Meneur/Leader)

O chefe é aquele que, nuin/grupo livre ou institucionalizado, possui influência suficiente para dirigir a vida desse
grupo, pelo menos em algumas das suas/ actividades. O chefe é por vezes confundido com o cabecilha,
adquirindo assim uma tonalidade pejorativa: aquele que dirige a acção do grupo contra a autoridade.
Na/adolescêncía, o chefe é geralmente o que sabe aliar a uma aparência física já adulta uma /inteligência/ social
desenvolvida. Trata-se muitas vezes de um sujeito dotado ou superdotado que sofre de uma forma de
insatisfaçã o,-” afectiva. Mediante um clássico fenômeno de compensação, ele apenas procura garantir a sua
autoridade sobre o grupo para melhor afirmar a sua/ personalidade. É aliás esta fragilidade interior que faz o
«chefe» ceder nas circunstâncias difíceis.

CINEMA (Cínéma/Cinema) Página 306.

A popularidade das salas escuras é um facto adquirido. Desde bastante cedo, a criança vai ao cinema e, mais
tarde, faz muitas vezes dele um instrumento de/cultura com exclusão de qualquer outro espectáculo. Por volta do
início dalpuberdade, o cinema não passa de um substituto da vida ao ar livre. Assiste-se a um filme quando faz
mau tempo, É a idade em que se começa a perceber que os programas infantis da/televisão são só « para, os
bebés». Por volta dos 13-14 anos, vem misturar-se à atracção pelo cinema a de um eventual encontro com uma
pessoa de/sexo oposto, a

P A-8
114

maior parte das vezes num contexto de algazarra e de zombarias. É a idade em que não se mantém uma boa
compostura no cinema, a que ainda se vai por/hábito semanal. Por volta dos 16-17 anos, o filme começa a ser
considerado como facto cultural: apreendem-se-lhe os contornos, atenta-se no argumento, na interpretação dos
actores. Ao mesmo tempo, a sala de cinema pode tornar-se um lugar de/entrevista para as primeiras conquistas. É
sobretudo este aspecto que corre o risco de desagradar aos/pais e que pode motivar a sua aversã o relativamente
à frequentação das salas escuras. Entre as críticas formuladas, encontramos as mais das vezes:
«tudo isso lhes sugere certas ideias, eles são demasiado novos para compreendem. Os que aprofundam a sua
análise tendem a crer que o cinema exclui a/leitura, que o papel de espectador é entorpecedor, pois que
passivo, e afasta da vida real.

Facto Minico Deve entender-se por facto filmico que o cinema apela para as imagens, que ele é antes de tudo
uma técnica de imagens. Segundo os detractores do cinema, a imagem representaria de certo modo o papel de
uma realidade imposta ao espectador confortavelmente instalado na sua poltrona. Torna-se justo reconhecer que
esta concepção do papel do espectador é válida para alguns. Mas será razoável sustentar que um espectáculo no
qual se toma pouca parte pode realmente influir sobre a /personalidade? Afigura-se, pelo contrário, que seria na
medida em que se participasse mais que se ficaria verdadeiramente submetido a -uma influência. Esta
participação -por mínima que possa ser em certos casos - existe e é construtiva. De facto, é preciso um/ esforço/
intelectual para juntar as sucessivas imagens, conferir-lhes um vínculo lógico e fazer delas um todo coerente:
existe uma/linguagem cinematográfica que se tem de decifrar. O cinema - o dos autênticos realizadores -

é uma/arte genuina e, nesta qualidade, não pode ser desaconselhado, ou então deveriam ser igualmente
desaconselhadas as visitas aos museus.

Facto cultural
O cinema entrou nos hábitos: ele constitui assim um facto cultural, e é certamente neste sentido que justifica as
críticas. Pois o cinema, antes de ser uma arte, é um espectáculo, e é por aí que ele peca mais repetidamente.
Alicerçado numa poderosa indústria, o cinema não demorou a transformar-se numa fábrica de sonhos. A maioria
dos filmes são feitos para venda, logo para agradar. O mesmo é dizer que se trata mais de seduzir do que de
educar. Da sentimentalidade açucarada à/erotização excessiva, o espectador é levado pelo fenômeno da
/projecção e da/ identificação a julgar verdadeiras situações que nunca viveu. Ele julga-as tanto mais verdadeiras
quanto elas correspondem a/aspirações recalcadas dentro de si.'É então indispensável um grande poder critico
para fazer a destrinça entre o sonho e a realidade. Não se pode negar que os adolescentes são espectadores
vulneráveis, naturalmente balançados entre as suas aspirações infantis e a exigência de se/adaptarem ao real.
Não é portanto de admirar que eles se deixem tão facilmente cativar por aquilo a que se dá o nome de star
system. Para que o espectador possa identificar-se melhor com as personagens do filme - logo, ir mais vezes ao
cinema-, criou-se o mito da vedeta. Esta torna-se, por força de uma publicidade cuidadosamente orquestrada, o
deus daquilo a que poderíamos chamar a «religião cinematográfica», cujo ritual é o festival. A vedeta representa
então aquele - ou aquela - a quem tudo sai bem: / dinheiro, vida profissional e sentimental. Mesmo os seus
fracassos (designadamente os divórcios) são mostrados como outras tantas etapas para um maior/êxito. Nem
sempre será fácil ao educador proceder a uma desmitificação. A sou crítica do/ídolo será frequentemente
interpretada como efeito da /ciúme; afirmar: «isso há-de passar-te» é uma observação assaz inútil. A única força
dos/pais e dos/educadores consiste nesta altura em opor à felicidade espalhafatosa do ídolo um equilíbrio da
/personalidade cujo mérito, aos olhos do adolescente, será o de ser imediatamente perceptível.

A iniciação cinematográfica
O papel dos cine-clubes é igualmente muito delicado. O adolescente só raramente ousa exprimir diante dos
adultos o seu pensamento profundo. Elo prefere quase sempre ficar-se por aquilo que parecem esperar dele.
Além disso, falta-lhe,,` cultura cinematográfica e não aceita senão com relutância iniciar-se na história do
cinema.
O aspecto mais válido de uma iniciação ao cinema afigura-se ser o de afirmar o adolescente como indivíduo
dotado de sentido critico
- e não como elemento indistinto de uma multidão mergulhada na penumbra de uma sala dita precisamente «
escura» -e por conseguinte de o ajudar na busca da sua identidade. E depois, tal como no judo se utiliza a força
do adversário para melhor lhe fazer frente, tratar-se-á aqui de utilizar a força de impacte do cinema-espectáculo
para explicar o cinema-/arte e passar da cultura cinematográfica à cultura. A partir de então, deixará de haver
incompatibilidade entre o cinema e as outras formas de cultura. Importa sublinhar de passagem que a frequência
das salas de cinema nunca impediu alguém de ler.
O contrário é que seria verdade, a acreditar nos responsáveis pelas /bibliotecas ambulantes: são-lhes pedidos
muitas vezes certos
li$

romances pela simples razão de terem sido adaptados ao cinema. De igual modo, deixará de haver ruptura entre
o cinema (amiúde sinónimo de ilusão) e a realidade. A imagem tornar-se-á realmente uma linguagem, ou seja,
segundo Sartre, «especificação do reconhecimento de outrem». Porquanto é na tentação de desrealização que
consiste o grande perigo do cinema para os adolescentes e não, como muitas vezes se julga, na influência directa
sobre as/atitudes e as/condutas. Por exemplo, acusou-se o cinema de produzir ,;,delinquentes. Não há dúvida
que os adolescentes delinquentes experimentam uma predilecção pela sétima arte. Mas eles só lá vão para
poderem ver confirmar as suas ilusões: o cinema não é causa mas efeito.

INISMO (Cynismo/Cynicism) página 31,

Na sua acepção corrente, o cinismo designa o desprezo pelas/ convenções e as regras morais. Assim, um,,,;, delinquente é
muitas vezes tachado de cínico, tomando esta palavra um sentido pejorativo. A adolescência, enquanto período de formação do
eu, é muitas vezes o da/oposição: o eu é então o que os outros não são. Donde a frequência do cinismo nos adolescentes que
rejeitam espontaneamente os valores recebidos. Este cinismo é mais aparente do que real, pois corresponde a uma falta
de/maturidade. A/personalidade não é construída: ela é deduzida por oposiçã o ao/?,meio e aos seus costumes. A fase cínica
desaparece quando é atingida a maturidade,,4 psicológica. Uma tal/,latitude não é forçosamente negativa: ela pode traduzir a
vontade de uma escolha lúcida de /valores nas situações em que o adulto contraiu certos /,9< hábitos sem aprofundar a sua
razão de ser. É, sem dúvida, um aspecto positivo do cinismo adolescente que o adulto esquece facilmente. Seja como for, é
provável que os/pais e os/educadores nada tenham a ganhar entrando no jogo para o qual parece convidá-los o adolescente:
responder ao cinismo com o cinismo. O adolescente admitirá sem custo o cinismo de um contemporâneo mas denunciá-lo-á
num adulto, como se, de certo modo, ele sentisse obscuramente que os seus/camaradas, implicados na mesma situação, têm
muito naturalmente propensão para adoptar os mesmos métodos de defesa. Um adulto, a seus olhos, não terá esta desculpa. O
seu cinismo parecerá autêntico e afastará tão infalivelmente como os seus incitamentos intempestivos à virtude.

OME Walousie/Jealousy) páginas 71, 115, 191.

Na /adolescência, o ciúme manifesta-se tanto nas relações fraternas como nos sentimentos amorosos.

1
CLE
Ciúme fraterno As relações fraternas adquirem uma nova feição. Verifica-se nomeadamente que o/complexo
edipiano se acha reactivado. Como por outro lado se criam, entre/pais e adolescentes,/ relações de /-
^"maturidade, aparecem novas preferências que podem provocar um sentimento de ciúme: a/,,mãe é mais aberta
e conciliante com a filha e o/ pai com o filho. Os progenitores preocupados com uma /educação saudável têm o
cuidado de tratar todos os seus filhos em pé de igualdade; mas a maior parte das vezes a sua preferência exprime-
se involuntariamente, mais por/atitudes do que por gestos ou palavras. Seria então inútil negar a realidade; mais
vale propor ao adolescente ou à adolescente esta situação como uma primeira experiência de/socialização.

Ciúme amoroso A adolescência é a idade da descoberta do/amor, mas também a da intransigência e do/ideafismo.
As mais das vezes é o rapaz que terá ocasião de se mostrar ciumento: a adolescente, mais madura
- e portanto mais equilibrada nos seus juizos -, mas também naturalmente/ coquete, excita com facilidade o ciú
me de um parceiro exclusivista e demasiado possessivo. Nestas alturas o adolescente pode aprender a não se
considerar como a medida de todas as coisas. Depois de superar o seu ciúme, ele verá os outros e ver-se-á a si
mesmo com novos olhos. Neste sentido, o ciúme pode ser uma oportunidade de descoberta.

CLEPTOMANIA (Kleptomanie/Kleptomania)

A cleptomania é uma tendência irreprimível para nos apoderarmos de um objecto pertencente a outrem. Ela
surge mais frequentemente nas adolescentes do que nos adolescentes. Origlia e Ouillono dão acerca dela a
seguinte explicação: e Origlia e Ouilion:

FAdolescent (E.S.F.. a
cleptomania caracterizar-se-ia menos por uma falta de respeito Paris, 1968), p. 129pela propriedade
de outrem do que pelo/desejo de privar o proprietário da posse do objecto. Este desejo teria origem num
sentimento de/agressividade para com o proprietário assim/frustrado ou o que ele representa na/sociedade. Ora
esta agressividade seria muitas vezes motivada pelo sentimento de frustração devido à ausência do pênis. Assim,
mediante uma deslocação, o objecto roubado simbolizaria aos olhos da cleptomaníaca os órgãos
genitais masculinos. Contudo a cleptomania não é apanágio exclusivo das adolescentes: ela explica-se no rapaz
por um sentimento de inferioridade /viril ou então por uma vontade de dominio, representando o/roubo um meio
de afirmação de si. Hadfleid: Psych010.o

de 1'enfence et de Segundo Hadfieldo, outros casos de cleptomania seriam devidos 1,ad@1,scence, p. 217.
118

à formação de umIcomplexo. Urna criança que tenha recalcado a sua agressividade pelo simples receio das
consequências (,/*-punições, etc.) pode, quando este receio desaparecer, roubar objectos que nem sequer
deseja. A agressivídade, outrora recalcada, reapareceria sob esta forma. O adolescente ignoraria por que
motivo rouba -é próprio do/complexo ignorar as causas de um/,Icomportamento - e sentiria vivos remorsos.
Por seu turno estes remorsos converter-se-iam em agressividade. Em qualquer destes casos afigura-se útil
recorrer à psicanJise, a qual constitui o único meio de pôr em evidência as causas profundas deste
comportamento anti-social.

EDUCAÇÃO (Mixité/Co-education) página 46,

«Acha que é preferivel que as crianças vão para estabelecimentos mistos ou separados?» Tal era a pergunta
feita por ocasião de um inauérito da S.O.F.R.E.S. As resnostas obtidas foram as se,-uíntese:

Pessoas interrogadas Opiniões

A favor da Contra a Conforme coeducação coeducação a idade

1. Categorias socioprofissionais

Agricultores 24 35 41 A.rtifices, pequenos

comerciantes 32 31 37 Quadros médios, empre-

gados 56 11 33 Operários, sem profissão 45 23 32

2. Categorias de idade

15 a 24 anos 45 26 29
24 a 39 anos 39 29 32
39 a 49 anos 33 34 33
50 a 64 anos 29 42 29
65 anos e mais 53 53 28

3. Categorias de religijo

Católicos praticantes 26 42 32 Católicos pouco praticantes 32 35 33


Católicos não praticantes 35 36 29 Outras religiões 43 35 22 Sem
religião 52 29 19

Conjunto 33 37 30

O Documents Service Adolescence, coedição do Serviço de Adolescência do C.N.E.R. e da Maison de Ia Bonne Pressa (Paris, Janeiro, 1967). p. 14.
COL

Podemos fazer três observações sobre os resultados de conjunto do inquérito:


- As opiniões repartem-se em três grupos aproximadamente iguais:
113 é a favor, 1/3 é contra, 1/3 entende que a coeducaçâo é, segundo a idade do aluno, favorável ou não ao seu
desabrochamento.
- Os «a favor» são geralmente das pessoas de meio abastado, dos jovens ou dos não católicos.
- Os «contra» são dos católicos praticantes, das pessoas idosas, assim como dos operários e dos rurais.

* coeducação escolar * coeducação escolar é hoje em dia um facto adquirido: a reforma do ensino secundário
reagrupa os alunos de ambos os/sexos no interior dos mesmos estabelecimentos, consoante o seu nível escolar.
A maior parte dos estabelecimentos livres/ religiosos seguiram o movimento assim imposto. É certo que, a
princípio, foi necessária uma/adaptação. A chegada de rapazes às escolas tradicionalmente reservadas à s
raparigas criou alguma efervescência. Os próprios professores tiveram de se adaptar a um estilo novo: a
atmosfera de uma aula mista não é a mesma de uma aula não mista. Esta nova situação contribuiu para suscitar
uma rivalidade raparigas-rapazes que estimulou as energias de modo geralmente proveitoso.

A coeducação social Longe de provocar os excessos que alguns previam, o convívio habitual de jovens de
ambos os sexos ensinou-os pelo contrário a conhecerem-se melhor uns aos outros. Desapareceram numerosos
mal-entendidos que se fundavam num desconhecimento reciproco: o número de lares jovens e estáveis
aumentou assim*. Ver cCasarnento».

CõLERA (Colãro/Anger) Página 49.

A cólera é uma/ emoção-choque: há ruptura brutal com o presente. Põe o problema da/agressividade. A cólera
ou pelo menos as suas manifestações seguem uma curva decrescente na/ adolescência. De facto, durante a idade
ingrata, as/reacçôes de cólera são extremamente brutais, aparentando-se às reacções da infância ainda próxima.
É relativamente corrente ouvir um jovem adolescente proferir ameaças de morte «<vai-te matar»,
«hei-de dar cabo de ti», etc.). Por vezes estas ameaças são passíveis de um início de execução através do
arremesso de diferentes objectos. Contudo, o controle emocional tende muito depressa a substituir esta
violência por uma,,O atitude mais fria. O adolescente humilhado prefere abandonar o compartimento onde se
encontra (mesmo
120

quando se trata de uma sala de aulas, com risco de o virem chamar), tentando antes disso ter a última palavra. A
partir dos 16-17 anos, a cólera é essencialmente reprimida: já nem sequer se procura uma boa réplica. Mas, por
ser reprimida, a cólera redunda facilmente em rancor e, como não tem um exutório, atinge por vezes o carácter
explosivo da infância, com a agravante da força muscular viril. É por isso que, nos últimos anos do liceu, se
pode assistir a autênticos pugilatos no decurso dos quais um dos antagonistas é ferido. Aliás, não raro, pelo
menos um deles é considerado por todos um bom/camarada, sério e equilibrado. No fundo, a hostilidade
transformou-se em ódio de adulto.

%IOMPETIÇÃO (Compétition/Competition) páginas 85,109.167.

A competição desportiva Existe um grande desnível entre o número de praticantes de um /desporto como o
esqui, por exemplo (cerca de dois milhões no ano de 1968, em França), e o dos incritos no mesmo desporto
(apenas 350 000, também em França). Parece que o desporto institucionalizado e por conseguinte a competiçã o
desportiva só interessam a uma ínfima minoria desejosa de atingir um certo grau na escala social. Sem esquecer,
bem entendido, que os estudos monopolizam tempo suficiente para que a prática de um desporto em regime
amador baste para libertar o excesso de energia do adolescente.

A competição escolar Outrora, através das notas nos exercícios escritos, instaurava-se automaticamente um
espírito de competição que tendia a falsear * espírito da/ escolaridade: tratava-se acima de tudo de aprender *
aprender, de aprender a ser o primeiro ou a não ser o último. Hoje, esta competição estéril com outrem tende a
ser substituída por uma competição consigo mesmo. O aluno que passa de um nível para outro mais elevado não
experimenta senão o sentimento de se ter vencido a si mesmo.

OMPLEXO (Complexo/Complex) páginas 49.133.116,147,442.495.

Complexo vem do latim complexus, que signífica: englobado pelo pensamento. Segundo Freud, que difunde o
termo, o complexo é um conjunto de sentimentos diversos recalcados no inconsciente e ligados a representações
/afectivas. Sendo o sentimento recalcado inconsciente, o sujeito não pode estabelecer por si mesmo o vínculo de
causa e efeito que une o sentimento original e as representações afectivas que dele decorrem.
com

É esta impossibilidade mesma que faz do complexo uma perturbação da/ personalidade. Contrariamente a
uma/opinião propagada, a/adolescência não é a idade específica da criação dos complexos, mas antes a da
reactivação dos complexos criados no decurso da evolução da afectividade infantil.
O que induz em erro é a novidade das situações oferecidas pela adolescência. Novidade unicamente aparente,
como mostram certos exemplos. Em particular, o ímpeto/sexual, ao qual tantos /‟4psicólogos julgaram poder
limitar a adolescência, não é novo. O que é novo, é a forma que o indivíduo adolescente deve dar às suas
pulsões. Na realidade, esse ímpeto era automaticamente sublimado na criança em virtude de ser ignorado. O
adolescente presente que lhe cabe transformar um tal ímpeto instintivo em «pulsão», ou seja, «socializar» a sua/
sexualidade. De uma tal tomada de consciência decorre uni certo número de associações novas (ou complexos)
que põem em jogo/valores já adquiridos.
O complexo de Êdipoe 9 Ver o artigo A pulsâo sexual orienta normalmente para
o outro/sexo. Esta «A sexualidade».

orientação não pode tornar-se imediatamente concreta por razões biológicas. É então preciso um substituto: será
o progenitor de sexo oposto. É assim muito vulgar o rapazinho gostar de desempenhar o papel de protector junto
de sua/mãe. Compraz-se em dar-lhe o braço na rua, e detesta toda a manifestação de/autoridade da parte dela
que o desaposse do seu estatuto de protector sentido como/viril. Vemos portanto a associação
existente entre o papel social sexuado e a mãe. É ela que, no fundo, dá ao adolescente uma primeira imagem da
mulher. Não é pois de admirar que surja a associação mulher amada-mulher mãe quando o adolescente estiver
apaixonado. Não há aqui nada de traumatizante, a não ser que a mãe se tenha (@omportado de tal maneira que a
associação apareça/ culpável. E o caso, nomeadamente, das mães superprotectoras ou possessivas que,
conscientemente ou inconscientemente, não aceitam o fim desta relação. Ora é graças à aceitação desta
associação que deve ser liquidado o «complexo» que levava o rapaz a ter/ciúmes (inconscientemente) do seu/
pai, ou a rapariga da sua mãe. Mas, precisamente, um grande número de pais são levados a impor
O/jogo que funda o complexo. E isto unicamente por causa de um concurso de circunstâncias: de facto, ao
desabrochar do adolescente corresponde o declínio dos/pais. A mãe revelará, pois, uma tendência natural para
invejar a filha que atinge a plenitude da /feminilidade, quando a sua começa a decair. Paralelamente,
122

o pai, temendo ser dominado pelo filho, experimentará um renovo de afeição pela filha. Isto exactamente no
momento em que os acessos instintuais, activados pelo investimento da/puberdade, fazem surgir com uma nova
força o velho interdito incestuoso: por este motivo, os adolescentes são impelidos a procurar a afeição fora da
sua/família e até a rejeitar qualquer manifestação amigável vinda do círculo familiar.

OMPORTAMENTO (ComportementJBehaviour) páginas los, 106, 111.

Em/psicologia clássica, o termo «comportamento» designa a maneira como reage um sujeito diante de uma
dada situação. Segundo a/escola behaviorista, o comportamento é uma sucessão de/reflexos condicionados,
adquiridos no decurso da vida.
O comportamento obedece a necessárias/ inibições exigidas pela /adaptação à vida/social. Estas inibições não
existem nos seres primitivos ou no recém-nascido. Na/ adolescência, a vida/afectiva, consideravelmente
enriquecida, tende a regularizar o comportamento com o fim de preparar a autonomia da/ personalidade e a
inserção desta no mundo. O comportamento passa,assim nesta altura por importantes variações. Tais variações
são tentativas mais ou menos hábeis, mais ou menos conscientes, de adaptação. Esta exige, para ser bem
sucedida, o estabelecimento de um compromisso entre a intransigência natural do adolescente e as obrigações da
vida quotidiana. O que não é possivel fazer senão à custa de tacteios que inflectem, o comportamento. Convém
ter muita indulgência para interpretar positivamente estas tentativas experimentais. Mas a benevolência dos/pais
impõe-se como um dos penhores mais seguros de/êxito. O adolescente, se estiver demasiado entregue a si
mesmo, arrisca-se a desanimar e a regressar a estádios /infantis. E isto no próprio instante em que ele reclama a
sua/liberdade como algo que lhe é devido, manifestando assim uma
/ambivalência que é preciso levar em linha de conta para ajuizar do seu comportamento.

.~UNICAÇÃO (C<>mmunication/Communication) páginas 104. 333, 415.

Segundo a acepção corrente, «comunicação» designa a transmissão de uma mensagem por meio da escrita, da
palavra ou da imagem, de uma para outra pessoa. No seu sentido mais restrito, comunicação designa uma
maneira de ser, uma abertura reciproca que facilita a compreensão entre duas pessoas; é assim que podemos
falar de uma comunicação tácita. A comunicação torna-se normalmente difícil entre um adulto e um
adolescente por causa da diferença de idade, ou seja, de/cultura, de situação, de modo de pensar e de agir em
geral. Chega-se assim a certos mal-entendidos que criam um mal-estar, nomeadamente entre/,,pais e filhos que
não têm o mesmo sistema de/valores. Cada qual cede então à tentação de acusar o outro de má-fé.

Para uma boa comunicação Ainda que o acordo perfeito não possa ser realizado, compete aos pais permanecer
em estado de constante disponibilidade para melhor conhecerem os filhos e poderem empreender o necessário
diálogo, sempre que tal seja possível. É desta disponibilidade acolhedora que dependerão o número e o valor das
ocasiões de diálogo. As dificuldades que os pais enfrentaram enquanto casal deveriam servir-lhes de
ensinamento. Para haver comunicação verdadeira, é preciso que as circunstâncias se prestem a isso, quer dizer,
que os dois parceiros estejam igualmente dispostos a recebê-la. Só uma observação atenta permite reconhecer
estes momentos privilegiados. Mas embora necessária, uma tal condição não é suficiente, sem embargo de
certas/familias na aparência muito unidas se contentarem frequentemente com ela. A comunicação baseada
unicamente numa troca/afectiva (mesmo muito real e muito forte) não passa do prolongamento de uma/relação de
tipo infantil, como a que une o lactente à sua/mãe.

Quando chega aladolescência, a comunicação deve deslocar-se do estádio afectivo puro para o estádio verbal. A
abstracção/ intelectual é de facto uma das novas faculdades que o/ púbere adquire. Ele tem de encontrar na
sua/fanillia, sob pena de se desligar dela, um meio qualquer de comunicar as suas experiências cujo campo
alcança uma nova extensão. Além disso, a necessidade de autono- mia afectiva leva a que não seja possível, sem
prejuízo, estacionar na comunicação puramente afectiva da infância. Seja como for, esta é tornada cada vez mais
difícil pela própria natureza dos pro- @lemas que preocupam o adolescente, em particular a/sexualidade. E por
esta razão que é corrente instaurar-se uni sistema/conflitual em lugar de uni acordo cordial. O que contribui para
inquietar um bom número de/pais que se persuadem então da falência do seu sistema /educativo. Estes
esquecem ou ignoram que, à semelhança do que sucede na vida de um casal, o conflito faz parte integrante das
relações normais e que da sua aceitação ou da sua recusa depende o/êxito ou o malogro da comunicação. Esta
deve ter em conta os interesses de ambas as partes: o adolescente sente a/necessidade de uma evolução dos
modos e dos assuntos de comunicação. Os país recusam-na frequentemente. É impressionante verificar, quando
se interroga uns e outros sobre os temas de comunicação em família, que a maior parte destes constituem pomos
de
124

di"rdia: / saídas, / dinheiro, companhias. Assim que se aprofunda os motivos de desacordo, percebe-se que
muitas vezes o conflito é vivido de maneira/ angustiante. Isto deve-se à circunstância de nem os pais nem os
adolescentes estarem realmente conscientes da urgência de estabelecer bases novas para uma comunicação de
novo tipo, essencialmente assente numa necessidade natural de autonomia dos adolescentes. Em rigor, podemos
dizer que o conflito é não só inevitável mas talvez mesmo desejável para rapazes e raparigas que esperam
/responsabilidades e papéis novos.

ONDUTA (Conduite/Conduct) Páginas 154.177.411.

Uma conduta é o resultado de uma acção considerada reveladora da/personalidade do indivíduo. Foi Pierre Janet
quem introduziu a noção de conduta em/ psicologia: ela afigurava-se-lhe mais segura do que a investigação,
forçosamente subjectiva, por introspecção. Segundo Daniel Lagache, «a psicologia é a ciência da conduta, sendo
esta entendida como o conjunto das respostas significativas pelas quais o ser vivo em situação integra as/tensões
que ameaçam a unidade e o equilíbrio do organismo»*. D. Lagache:

25 Psychanalyse (P.U.F.,
O estudoda conduta de um adolescente é assim particularmente Paris, 1955). p. 57. importante se pensarmos
que a/puberdade é geradora de/desequilíbrios orgânicos passageiros e de tensões psíquicas.
O termo «conduta» deve ser relacionado com o de/«comportamento», do qual apenas difere pelo ângulo sob
que o encaramos. A conduta seria, de certo modo, um comportamento orientado.

ONFIANÇA (Confiance/Trust) Página 34.

Devido à ambiguidade do seu papel e do seu estatuto - nem criança nem adulto -, os adolescentes reagem como
os desenraizados: rejeitados por uns e por outros, eles não têm confiança em ninguém e principalmente em si
mesmos. É então indispensável captar a confiança de um adolescente. O adulto que o trata como uma criança
ficará para sempre mal visto. Mas se considerarmos apenas o adulto no adolescente, expomo-nos a graves
dissabores.

O papel doslpais eleducadores é delicado. Encerrados no dilema autoritarismo-liberalismo, eles não sabem
que,,,Iatitude devem adoptar. Chega-se assim muitas vezes a um compromisso: «Confio em ti, mas em
compensação peço-te que nada me escondas.» O adolescente não tarda a suspeitar de uma armadilha. Ele não
quer saber de uma confiança deste tipo. É no entanto difícil negar a legitimidade da inquietação sentida pelos
pais, sobretudo quando se sabe que os delitos de menores são favorecidos por uma excessiva confiança
dos/ responsáveis. Em 1968, quando 250 adolescentes se refugiaram durante as/ férias no liceu de Mâcon, em
França, sem o conhecimento da administração, não se registou qualquer pedido de investigação da parte
das/famílias durante um mês. A confiança não se define tanto ao nível dos factos como na maneira de ser. A
vigilância dos pais deve ser discreta sem ser clandestina.
O que o adolescente pretende prioritariamente dos adultos é que estejam disponíveis. A confiança deverá
consistir nesta disponibilidade atenta.

A educação assente numa confiança vigilante é a única capaz de responder à profunda necessidade
de/segurança experimentada por qualquer adolescente; nesta idade, mais do que nas outras, a confiança de
outrem dá confiança em si. É raro um adolescente em quem os pais têm confiança abusar da situação. Muito
pelo contrário, um certo sentido da honra leva-o a respeitar as suas obrigações. Inversamente, quando o
adolescente percebe que lhe não concedem confiança alguma, imagina que não é digno dela: donde um
doloroso sentimento de/ansiedade e de/ culpabilidade, quando não se julga por esse mesmo motivo autorizado a
transgredir as regras estabelecidas. São muitos os actos repreensíveis inspirados por um tal sentimento.

CONFIDÊNCIA (Confidence/Confidence) páginas 37,38,40.45.

Etimologicamente, «confidência» é um equivalente, de formação erudita, de/«conflança». Significa isto que não
se pode fazer uma confidência sem um clima de confiança recíproca. O adolescente só raramente se abre por
causa do seu estatuto e da dificuldade que sente em assumir um papel cheio de ambiguidade e de/ambivalência.
O receptor comum das suas confidências é o/ amigo, no momento em que, ainda no estádio da busca do alter ego,
ele julga poder confiar-se àquele (ou àquela) em quem encontra uma imagem tranquilizadora de si
mesmo.

Confidências e confiança Os adultos, em geral, e os/pais, em particular, queixam-se da aparente desafeiçâo que
lhes demonstra o adolescente. Esta reserva é-lhes penosa devido ao contraste que apresenta com a/atitude
confiante evidenciada pela criança em mais tenra idade. Eles devem no entanto lembrar-se de que o/ pudor dos
sentimentos é um aspecto normal da/ adolescência, cuja função essencial é conduzir à autonomia/afectiva. Esta
regra aplica-se tanto mais aos pais quanto a criança manifestava uma maior confiança nas suas/relaçõ es
128

com eles. Por outras palavras, a ausência de confidências não significa a perda de confiança. Os adultos que
recebem confidências do adolescente têm interesse em mostrar-se circunspectos para não o ferirem no seu
impulso de confiança amiúde excessivo e embaraçoso. O/educador que se acha nesta situação deve antes de
mais abster-se de a levar em conta no âmbito da sua profissão. Isto diz igualmente respeito aos/pais: não é
conveniente que se constituam em detentores da/autoridade em tais ocasiões.

CONFLITO (Conflit/Conflict) Página 26.

O conflitoresulta da contradição entre duas tendências fundamentais ou impulsos de força equivalente e sentido
contrário: assim, Rodrigo debate-se entre o/desejo de vingar o pai e o seu/amor por Ximena.

As situações de conflito sio frequentes na/ adolescência, em virtude da/lambivalência fundamental desta última.
O conflito mais corrente é o que tem origem na dualidade: impulsos,,@< sexuais da /puberdade e interditos
instaurados durante a infância. Certos adolescentes. chegam ao ponto de recusar as próprias aparências sexuais
da puberdade: é o caso dessas raparigas que exprimem o seu desejo de emagrecer mesmo na altura em que as
suas formas manifestam uma resplandecente/ feminilidade. Um outro tipo de conflito resulta da/oposição
à/família. Também aqui se acham em jogo duas tendências contraditórias: o adolescente experimenta uma
fortíssima necessidade de autonomia ao mesmo tempo que lastima a perda da/segurança proporcionada pelos
pais. Este desprendimento, indispensável à/ maturidade/ afectiva, cria um sentimento de solidão sempre doloroso
e por vezes insuportável. Não é raro o adolescente dissimular nesta altura a sua confusão sob unia carapaça
de/cinismo. Os conflitos representam uma prova necessária da adolescência, no sentido em que obrigam a uma
escolha. Da/aprendizagem desta faculdade de escolher depende o equilíbrio ulterior da/personalidade. Algumas
vezes o bloqueio por uma das duas tendências contrárias provoca uma/,neurose. É assim particularmente
importante que as pessoas mais chegadas ao adolescente o ajudem a superar os conflitos demasiado graves. r

ONFORMISMO (Conformismo/Compliance) páginas 339.361.453.

Deve entender-se por conformismo uma submissão passiva e sem

Ilt espírito critico às regras e aos/valores estabelecidos.

1 Ora a adolescência é a idade em que o indivíduo é levado a desco-


CON

brir as regras e os valores de uma,,,, sociedade na qual terá de vir a desempenhar um papel próprio. Nesta ó
ptica, podemos dizer que a adolescência é a época da/adaptação ao/meio. O adolescente, naturalmente
idealista, desprovido do sentido de compromisso e falho de experiência, não se adapta sem dificuldades. E
bastante frequente que a recusa de transigir com a realidade das coisas e dos seres provoque uma crise de
originalidade juvenil, por vezes mesmo um sentimento de/revolta*. Mas se «uma ultrapassagem, e Ver a
terminologia

depreciativa aplicada aos seja


por que preço for, se arrisca a culminar numa oposição sem adultos: batoteiros. saída...,
uma preocupação de adaptação a todo o custo pode criar desmancha-prazeres, etc.

um conformismo ou pelo menos/condutas estandardizadas»#. e M. Debesse:

Adoles ent», in Há
aqui um risco tanto maior quanto o conformista for facilmente (P<'s'ycholocgl'e de 1'enfence
considerado «sensato», «muito maduro para a sua idade». Na ver- (Armand Colin, Paris, dade, um adolescente que
nunca dá azo a qualquer censura, uma 1967). p. 77.

jovem obediente,que está sempre pronta a «aJudar» em casa, não são obrigatoriamente os mais amadurecidos ou
mais adaptados. À semelhança do/ negativismo, um conformismo demasiado estreito sugere uma inadaptaçâo
que, neste caso preciso, é ocultada sob uma/atitude submissa e respeitosa. Por vezes, o adolescente ou a
adolescente podem entregar-se a acções repreensíveis que têm como única finalidade libertar a/tensão interna
gerada por este conformismo.

CONTAGIO MENTAL (Contagion mentale/Mental contagion) página 168.

O contágio mental é o aspecto patológico de uma tendência natural para a/imitação (é neste sentido que se fala
de/riso ou de bocejo contagioso).
O contágio mental no adolescente é devido essencialmente à fraqueza do eu, ainda dependente dos adultos e
por conseguinte do estatuto / infantil. A adesão ao,,4bando é um dos aspectos do contágio mental na
/adolescência, visto que o compartilhar das/condutas e das atitudes constitui ai uma regra. O que os adolescentes
procuram é a afirmação de uma /personalidade colectiva mais forte do que a soma dos eus individuais. Se bem
que o bando, enquanto cadinho de personalidades ainda pouco seguras, seja uma ocasião de contágio mental,
nem por isso ele é o único a dispor de tal atributo. Todos sabemos que a difusão dos meios de / comunicação de
massa (/ rádio, / televisão, / discos) constitui um poderoso factor de contágio mental pela uniforn-iizaçâo dos
modos de pensar juvenis.

CONTESTAÇÃO (Contestation/Contestation) página 407.

A contestação inscreveu-se na ordem do dia desde que os contes-


128

tatários se tornaram ruidosos. Todavia, o fenômeno não é novo. Já em 1966 P. Lengrand escrevia: «O factor de
evolução de@que mais carece a/educação institucionalizada, é a contestação. E raro as ideias progredirem no
mundo pelo simples efeito do seu fundamento ou do seu peso intrínseco. Se elas acabam por se impor, é porque
são suportadas ou propulsadas por uma impaciência que atinge muitas vezes as dimensões de uma/revolta.»*
9 P. Lengrand:

I'Ècole des parents Os


alunos, actualmente, têm direito à palavra e começam a inte- (Nov. 1966), p. 11. ressar-se pelo
funcionamento do estabelecimento escolar onde fazem os seus estudos. Até aqui, as /relações de docente a
discípulo excluíam formalmente não só a contestação mas ainda a tomada de consciência das modalidades
do/ensino. Havia o mestre-sujeíto que moldava a seu bel-prazer o aluno-objecto. A estes, apenas restava o banzé,
que parecia visar unicamente a pessoa do mestre. Mas, através dele, era todo o sistema e os princípios que se
punham em causa. No entanto, para passar do banzé à crítica construtiva, era preciso que se operasse uma
tomada de consciência tanto dos alunos como da/sociedade.

Ao nível dos alunos, ninguém o ignora, esta tomada de consciência permanece ainda vaga:/tímidos ou/insolentes,
os alunos delegados recorrem a frases feitas. A maior parte deles queixam-se aliás da/passividade dos
seus/camaradas que estão sempre prontos para contestar com a condição de serem outros L, fazê-lo em seu lugar.

Osleducadores. Compete-lhes formar verdadeiros contestatários que possuam realmente o sentido das
/responsabiliadades. Só então se edificará a/escola nova, fruto de uma autêntica colaboração entre professores e
alunos. A contestação tornar-se-á concertação.

Certos pais, educados nos princípios de uma disciplina rigorosa e de uma obediência passiva, admitem mal as
novas condições criadas pela contestação oficializada com a criação de delegados de turma. Argumentam, aliás
não sem razão, que o antigo sistema de/educação não criou neles qualquer traumatismo. Eles devem contudo
admitir que a/sociedade evoluiu: para os alunos de liceu dos nossos dias, a contestação não é uma/revolução, mas
uma colaboração, uma partilha das responsabilidades que pode facilitar em elevado grau o acesso à/maturidade.

CONVENCIONAL (Conventionnei/Conventional)

O adolescente em busca da sua/ personalidade julga alienar esta se não fugir a tudo o que é convencional. Pois
que, para ele, «con-
CON

vencional» significa «bota-de-elástico» - coisa de que o adolescente desejoso de originalidade deve fugir como
da peste. Mas esta originalidade limita-se ao/conflito de gerações. Ele não se pretende original senão
relativamente aos adultos, ao passo que ado ta de muito boa vontade os usos e costumes dos seus pares.
1 p E precisamente para não sair da massa deles que consente tão facilmente na alienação que tanto teme, assim
que se aborda o problema de maneira diferente. Compete aos adultos utilizar esta rejeição provisória dos seus
/valores, no que eles talvez tenham efectivamente de demasiado convencional, para fazerem um exame de si
mesmos. Isto não significa de modo algum que devam lançar-se num revisionismo sistemático, na esperança,
condenada à desilusão, de se colocarem ao nível do adolescente. Porquanto, se bem que este critique tão amiúde
e com uma fácil desenvoltura, ele de modo nenhum pede aos adultos que lhe dêem razão. Não tardaria aliás a
desmascarar o embuste numa reviravolta súbita e particularmente adaptada às circunstâncias. Os
adultos devem renunciar a ter receio de serem «convencionais» ou «bota-de-elástico». O que o adolescente lhes
não perdoaria seria o truque, o disfarce para seduzir. Em/pedagogia, como em qualquer outro domínio, a
autenticidade é ainda o valor mais seguro.

CONVERSÃO (Conversion/Conversion) página 81.

A conversão é um fenômeno relativamente corrente na/adolescência. Com efei-to, se as crianças que praticam
regularmente a /religião em que foram educadas passam, na altura da/puberdade, por uma crise de/oposiçã o
tanto em relação às pessoas que garantiam esta prática como aos valores que ela pressupunha*, e «Ver
Religião». não é menos verdade que o inverso também se produz: «Observa-se um moviment@ de religiosidade,
nota M. Debesse, nos sujeitos que até então permaneciam indiferentes a qualquer aspecto da fé e que, na idade
madura, voltarão a mostrar-se indiferentes. O máximo desta impressionabilidade religiosa situar- se-ia, segundo
Stanley Hall, cerca dos 16 anos. A conversão, quando se verifica, pode ser considerada como uma forma
abreviada de/ desenvolvimento da /personalidade. Ela permite ao adolescente, dilacerado entre forças
divergentes, encontrar a sua unidade e a sua razão de ser em Deus, ao mesmo tempo que satisfaz uma enorme
necessidade de explicação e de perfeição.»* O M. Debesse:

l'Adolescence (P.U.F.. Convém


portanto manifestar circunspecção em caso de conversão Paris. 1942), p. 108brusca do
adolescente. Não que esta jamais possa constituir um aprofundamento real da vida interior ou de urna fé
autêntica, mas porque, demasiadas vezes, é a/necessidade de racionalização normal na adolescência que inspira
os impulsos /religiosos aparentemente mais sinceros. Deus não é visto senão em função dos pro-

P A-9
130

blemas do momento. Ele apenas corresponde a uma Viragem interior e permite com toda a comodidade que o
adolescente se «situe» no mundo. Não há dúvida de que o jovem deve ser esclarecido, pois se tal não acontecer
arrisca-se a sofrer cruéis desilusões. É primordial que ele possa discutir confiadamente os problemas da fé com
uma pessoa competente, a qual saberá apreciar a autenticidade da conversão.

COQUETISMO (Coquefterie/Fastidiousness) páginas 34, 43. 274.

O coquetismo, na sua acepção original, é a preocupação de agradar. Como esta preocupação se distingue
exteriormente pelo cuidado tido consigo mesmo (arranjo, /penteado, /vestuário), é frequente designar por
coquetismo o requinte ou a elegância exterior. Na/ adolescência, podemos distinguir duas espécies de
coquetismo, correspondendo cada uma delas a uma fase do/desenvolvimento da/sexuafidade.

* coquetismo / narcisíaco * maturação física da/puberdade tende a dar ao adolescente uma aparência de adulto.
Ainda que a estrutura do corpo e os traços do rosto estejam longe de ter atingido a sua/maturidade, o adolescente
tem tendência a julgar concluído o que não está senão esboçado. O resultado assim considerado só raramente dá
satisfação aos interessados. Então, para compensar uma aparência tida por desgraciosa, recorre- se a artifícios;
afigura-se que um trajo elegante pode atenuar a desarmonia das proporções corporais. Outrora, o rapaz
preocupava-se, acima de tudo, em ter uma largura de ombros/viril: por isso mesmo, os cuidados dedicados ao
vestuário se concentravam, a maior parte das vezes, nos enchumaços. A/moda actual dos ombros
estreitos poupa esta preocupação ao adolescente dos nossos dias. Mas uma rapariga um pouco «cheia» ainda se
asfixia de boa vontade num fato de saia e casaco «airoso» a fim de exibir uma cintura fina.

O coquetismo de conquista Armados desta sorte, as adolescentes e os adolescentes partem à conquista de um


parceiro do outro/sexo, confiantes no seu adorno como outrora os cavaleiros na sua armadura. Mas, no fundo,
embora o coquetismo seja diferentemente orientado, ele traduz um/narcisismo indirecto: a rapariga é coquete
para agradar, o rapaz para «sair com as raparigas». Uma e outro obedecem à/necessidade de se sentirem fortes.
Através do Outro, é ainda a Si que se busca. Mais tarde, quando for procurado um sentimento mais profundo, o
coquetismo parecerá ao adolescente aquilo que na verdade ele é: superficial e egoísta. Mais do que com a
ondulação do cabelo ou
COR
o casaco, as Celimena e os Don Juan preocupar-se-ão com os seus sentimentos reais. Porém, demasiadas vezes,
esta/atitude de desprendimento em relação ao coquetismo conduzirá a uma negligência que se aparenta com o
desarranjo e o/desleixo. «Muitas, vezes, o coquetismo não sobrevive ao/casamento ... podemos
interpretar este facto como uma falta de atenção para com a outra metade do casal.»* Q Ur Vie du couple (C.E.P.L.-
Denoãi. Pari! Não se deve portanto contrariar demasiado nem sobretudo troçar 1969). P. 100. do coquetismo dos
adolescentes, a não ser, evidentemente, quando ele é exagerado. Nos rapazes, isto seria o indício de uma
feminizaçâo algo inquietante. Nas adolescentes, um tal excesso denunciaria uma superficialidade prejudicial, pois
quando se quer agradar a todos não se agrada a ninguém: uma rapariga demasiado coquete acabaria por
apresentar todos os sinais de uma regressão a um estádio/infantil. Uma preocupação excessiva de agradar é
sempre o indício de uma enorme vulnerabilidade aos/juízos de outrem, e uma/ personalidade construída sobre
tais bases fica particularmente exposta a desmoronar-se à mínima dificuldade relacional.

CORRESPONDÊNCIA (Correspondance/Correspondence)

Nove em cada dez vezes, a correspondência é um assunto de litígio entre os/pais e os adolescentes. Isto resulta
de um mal-entendido que tem a sua origem nos/ hábitos instaurados desde a infância. Com efeito, a criança
manifesta geralmente uma certa aversão por escrever cartas. Tem a impressão de que se trata de uma estopada a
que os pais a obrigam sem razão. «Não te esqueças de escrever à avozinha, ao teu tio, etc.» Por vezes, inclusive,
os pais fazem uma reflexão deste gênero: «E ao teu amigo Francisco, não escreves? Zangaram-se?» De má
vontade, e após várias chamadas à ordem, a criança deita mãos ao trabalho e empreende este «exercício de
/férias» muito especiaL Naturalmente que ela recebe tão pouco correio como o que escreve, e é em geral a mãe
que se encarrega de abrir o sobrescrito e lhe anuncia: «Olha, chegou uma carta para ti do ... » Tudo se passa
assim claramente até ao momento em que a criança, tendo crescido, se torna reservada. Ela admite cada vez
menos que lhe abram o correio; e chega o dia em que se insurge sem cerimônia contra aquilo que considera uma
intromissão na sua vida privada. A partir dai, os pais sentem-se hesitantes entre o/desejo de
darem mostras de/autoridade para continuar a sua tarefa /educativa e o receio de perderem a/confiança do filho.
Por seu lado, este último - desconfiando naturalmente de tudo o que possa comprometer a sua/ independência - é
levado a interpretar o direito que os pais se arrogam de deitar uma olhadela ao sobrescrito como uma tentativa de
sujeição. Assim, ele arranja-se geralmente de ma-
132

neira a que o seu correio - por muito anódino que seja - lhe ch& gue directamente, sem que tenha de prestar
contas a alguém. Escusado será dizer que esta atmosfera de clandestinidade cuja /responsabilidade, na melhor
das boas-fés, o adolescente atribui aos/pais, não deixa de deteriorar fortemente as relações já de si tensas entre os
adolescentes e os seus progenitores. E, também neste caso, é forçoso admitir que estes são muitas vezes os
causadores de tal estado de coisas. Pois a correspondência põe o problema da /confiança e a experiência prova
que é aos pais que cabe dar os primeiros passos na matéria. O adolescente em quem se confia será o primeiro a
falar da sua correspondência.

As cartas sentimentais Se os pais descobrirem fortuitamente uma carta de/amor, não devem ceder ao/;,desejo
de pedir explicações. Devem antes pensar de si para consigo que, de qualquer modo, nada existe de grave
enquanto as coisas permanecem no estádio da declaração ardente. Uma intrusão era nome da/moral e
da/autoijdade apenas serviria para envenenar as relações pais-filhos e dar ao acontecimento uma importância
que ele não tem. Mais vale então aproveitar a ocasião, se ela se apresentar, para um diálogo sobre
a/sexualidade. É em geral o progenitor do mesmo/sexo que se encarregará de o fazer. E isto se possível sem
mencionar a carta descoberta, a qual deve continuar a ser/segredo do adolescente.

CRIATIVIDADE (Créativité/Creativeness)

A criatividade é uma faculdade intelectual que permite superar o que se aprendeu a fim de «fazer algo novo».

Nos nossos dias, a nova/pedagogia reserva um lugar importante à críatividade, mercê do exercício da/actividade livre
(método Freinet). O aluno pode produzir obra pessoal a partir do,-,ensino recebido.

Outrora, um aluno verdadeiramente criador expunha-se a desventuras escolares: citemos o caso de Einstein que foi julgado
«atrasado mental» pelos seus professores. Ou o de Proust que coleccionava más notas em Francês porque os seus trabalhos
eram «mal construídos». Nada nos garante que não possam repetir-se erros semelhantes hoje em dia: o criador é inovador e
por definição sai das normas escolares estabelecidas para uma média. É no entanto prudente não ver apressadamente um sinal
de genialidade em qualquer fracasso escolar acentuado e na aparência imotivado: nem todos os
CUL
cábulas sofrem do/ complexo de criatividade. Muitos contentam-se mais modestamente em ser/;<«inadaptados
escolares». Quando os talentos criadores são reconhecidos como manifestos importa desenvolvê-los, pois,
deixados por cultivar, entravam o desabrochar normal. Há vários meios de desenvolver tais talentos. Os
conservatórios e as/escolas de belas-artes são os mais tradicionais, mas nada obsta a que se cultive um/talento
criador em casa. Um inquérito recente sobre as motivações de vocações pouco correntes pôs em realce o papel
desempenhado por uma prenda recebida durante a infância ou a/adolescência. Assim, muitos astrónomos
tomaram consciência da sua vocação a partir do dia era que lhes ofereceram um telescópio. Nalguns países, as
casas da/ cultura e da juventude põem à disposição dos adolescentes estúdios de fotografia, pintura, /teatro, etc.

CULPABILIDADE (CulpabílitélGuiltiness) páginas 10, 29. 36. 68. 86, 250.

A culpabilidade (do latim culpa, «falta») é o sentimento ou estado de um indivíduo que tem consciência de haver
cometido uma falta. A culpabilidade constitui um sentimento/ moral, visto que a noção de falta não poderia existir
sem uma consciência moral que determina o que está bem e o que está mal. O amoral-tipo é um indiví duo ao
qual é estranha qualquer noção deste gênero. Certos/delinquentes são amorais para quem cometer um delito não é
de modo algum sinónimo de falta. Inversamente, existem categorias de indivíduos para os
quais qualquer acto, qualquer sentimento é, em graus diversos, susceptível de ser erigido em atentado mais ou
menos grave à moral pessoal ou /‟ social.

Olescrupuloso é um tipo de/ansioso que não pode impedir-se de examinar com cuidado cada opção possível
sob o ângulo da falta. Ele só se aventura após numerosas hesitações e reflexões, rodeia-se de variados
conselhos e decide-se dificilmente a dar um passo. O escrupuloso em excesso pode ser um doente mental,
quando o sentimento de culpabilidade se toma um verdadeiro /complexo. É o que se passa com o Imitómano,
desejoso de inventar histórias nas quais desempenhe um papel glorioso capaz de compensar o sentimento de
uma falta imaginária ou real. Ou ainda com o histérico, cujo /comportamento atrai uma/atenção que ele não
ousa suscitar.

A culpabilidade na adolescência A culpabilidade é um sentimento frequente na /adolescência. Ela provém em


grande parte da dificuldade de assumir um papel diferente do da infância.
134

As pulsões sexuais, em particular, são susceptíveis de determinar em qualquer adolescente normal um


sentimento de ansiedade que, por seu turno, pode gerar um mecanismo de auto-acusação e de autopunição.
A/,'masturbação, outrora apresentada muito vulgarmente como uni vício infamante, podia conduzir um
adolescente a castigar-se a si mesmo. Ele procurava, ao cometer uma falta confessável, uma punição que o
aliviasse da,,,@tensão interna causada pela masturbação. A/sexualidade não é a única causa possível de um
sentimento de culpabilidade no adolescente. Na realidade, este mostra-se facilmente idealista: sendo assim, a
mínima transgressão pode afigurar-se-lhe um crime. Uma/mentíra ou uma ligeira/ batotice tornam-se um
pecado capital.

,4s consequências do sentimento de culpabilidade podem ser por vezes bastante graves. O Dr. André Berge
descreve assim a situação que daí decorre: «A culpabilidade mais insuportável é a que se liga às tendências ou
aos pensamentos mais secretos; e, para apaziguar o surdo mal-estar que ela acarreta, basta cometer alguma falta
ou alguma desobediência bem manifestas para as quais as sanções libertadoras se não farão esperar muíto.»* É
desta maneira Dr. A. Berge:

Ia Psvchol de l'enfânce. que


se cria um complexo de fracasso. Este não é de modo nenhum, i, c.-P.M. o@Aie Colin,
Paris, comogeralmente se crê, um sentimento nascido de um fracasso 1967). p. 255. único ou repetido, mas a
busca do fracasso pelo fracasso, pela punição que ele provoca. Uma tal punição é, graças a uma transferência,
aplicada à falta inconfessável e amiúde imaginária, da qual é tida como o pr5ço a pagar. Numerosos atrasos
escolares não têm outra origem. E por isso que importa indagar em todos os casos de/preguiça evidente se não
haverá um sentimento de culpabilidade na sua base. Certos casos de delinquentes juvenis derivam deste mesmo
sentimento.

Os factores geradores de culpabilidade são essencialmente factores educatívos. Muitos,,,, pedagogos


consideravam poder corrigir um defeito suscitando no faltoso um sentimento de vergonha. A criança que havia
« rapinado» era estigmatizada publicamente: ela tornava-se o «ladrão», mau por natureza. Ficava assim
comprometida toda uma /personalidade por causa de uma falta ocasional. As faltas sexuais, os «pecados de
impureza», eram apresentadas como outras tantas provas de uma/perversÃo irreversível. O receio suscitado
por um tal quadro era tido na conta de um antídoto eficaz. Não há dúvida de que o adolescente assim
admoestado ficava curado durante bastante tempo. Mas, na maioria dos casos, ele adquiria um sentimento de
culpabilidade mórbida que entravava o seu /desenvolvimento/ intelectual e/afectivo, por vezes de forma
definitiva.
CUL
Como reagir? Os erros que convém evitar são hoje bem conhecidos. É preciso antes de mais ter o cuidado de
não dar à falta observada uma importância que ela não tem. Em particular, importa pôr de lado as censuras
públicas ou as/ punições humilhantes (como eram noutros tempos os castigos corporais). E, sobretudo, não se
deve em caso algum condenar, por causa de uma falta, a pessoa no seu conjunto. Agir assim equivale a fechar
ao adolescente todas as portas de salvação e abrir ao invés a da auto-acusação e da autopunição.

A desctílpabilizaçâo ou a normalização da falta são as únicas/ atitudes/educativas susceptíveis de evitar


aberrações desta ordem. Um educador esclarecido sabe que o /juízo de/valor pode incidir sobre um acto ou um
sentimento, mas não sobre aquele ou aquela que cometeu o acto ou experimentou o sentimento repreensiveis. O
simples respeito pela pessoa do adolescente deveria levar a esta conclusão. Da mesma forma, em vez de criar
uma moral negativa, toda centrada sobre o/pecado e a má intenção, é bom pôr a tónica nos aspectos positivos do
respeito por outrem. Desta sorte, a relatividade de qualquer falta é suficiente para obstar à criaçã o de um
sentimento de culpabilidade desproporcionado em relação ao acto que o provocou.

CULTURA (Culture/Culture) Páginas 25.27.80. 115.

A cultura define-se como «a configuração de/ comportamentos adquiridos e seus resultados, cujos elementos
componentes são partilhados e transmitidos pelos membros de uma dada/ sociedade»*. O Ralph Linton:
Ia Fondement culturo, A
cultura não é por conseguinte unicamente a instrução. É também ia personnaliró -e sobretudo - o
modo de vida de uma sociedade de que cada (Dun,d. 1954). p. 54. um dos aspectos influencia profundamente
a/personalidade dos indivíduos. Por exemplo, os Ingleses têm o hábito de beber chá às 5 h da tarde: o chá é um
elemento da cultura inglesa. Podemos então considerar que as pessoas e os objectos em contacto com os quais
vive necessariamente o membro de uma sociedade constituem modelos culturais. Estes modelos
são/ambivalentes, ao mesmo tempo pergunta e resposta: assim, uma criança come para responder a uma/pulsão
alimentar, mas fá-lo de uma maneira que lhe é ensinada pelos seus progenitores.

Modelos novos A/adolescência é a idade da/revolução cultural. De facto, se a cultura aparece como um
conjunto de comportamentos adquiridos, o adolescente deve, em virtude da sua maturação biológica e social,
aprender/ comportamentos novos. Os modelos culturais
136

da infância são portanto banidos e substituídos por outros que criam e representam simuitaneamente o novo
modo de vida dese*ado. Nas paredes dos/quartos surgem as fotografias de gente célebre, simbolizando
o/êxito/social ou sentimental. Os grandes automóveis e os seus felizes proprietários representam o poderio e a
confiança em si de que tão carecido se acha o adolescente. Os modelos são tanto mais respeitados quanto mais o
adolescente se sente incapaz de os imitar. A esta /tensão interior vem juntar-se a que é criada pelo adulto, o qual
vê no adolescente um possível rival ou ignora o/valor real dos modelos que ele se propõe. É assim que os
adolescentes são gradualmente levados a forjar uma subcultura, isto é, uma cultura cujos critérios lhes são
exclusivos. A criação de um/bando -/grupo não institucionalizado que só obedece a princípios internos- deriva
deste processo. O adolescente tem ocasião de elaborar aí um mundo à sua medida. O instinto do bando
predomina por vezes até à,,;<delinquêncía, e isto tanto mais quanto mais fechada económica ou intelectualmente
se mostra a sociedade dos adultos. Compreende-se o perigo que pode haver em encerrar o adolescente num
estatuto que seja radicalmente diferente na sua essência do do adulto. A economia actual, que descobriu no
mercado para os jovens uma mina de ouro, tende a mantê-los artificialmente nessa subcultura. Críam~se então
os clubes de «fãs» e o adolescente tem a impressão de formar uma raça à parte. Para combater esta tendência a
que o adolescente, desejoso de /identificação, dá o seu acordo cheio de entusiasmo, os/educadores autênticos
esforçam-se por recolocar os rapazes e as raparigas na perspectiva do seu
/desenvolvimento real, por redefinir sem descanso a adolescência como o momento em que se sente a passagem
ao estado adulto. Numa palavra, trata-se de apresentar modelos culturais que estejam aptos a favorecer a ulterior
integração na sociedade adulta. Para tal, podem utilizar-se/ gostos/ intelectuais que existem
e são funçã o directa da necessidade de se tornar adulto. Por exemplo, a revista cientifica é mais lida nos nossos
dias do que o romance, sem que este seja desprezado: mas aquela parece mais útil para a escolha de uma
carreira. Em matéria de/cinema, há uma nítida preferência pelos filmes que tratam dos problemas do casal.
A/música clássica é na melhor das hipóteses um luxo; os/ritmos sincopados, esses, são sentidos -
conscientemente ou não - como reflexos de um mundo de valores ambíguos, tal como nos aparece o da,,<
adolescência.
DANÇA (Daríse/DanCO) página 455. Para os adolescentes, dançar tem dois significados: pode ser um
/descalcamento e uma ocasião de encontro.

Um descalcamento Verdadeira ginástica física, a dança permite ao adolescente despender o excesso de uma
energia não empregada. Mas, sobretudo, ela permite/ atitudes que a vida corrente proíbe. É provável que o Jerk,
por exemplo, tenha um/valor de desafio e de/oposição mais ou menos consciente para quem o dança. Um tal
fenómeno não seria, aliás, novo: pois não é verdade que no seu tempo o tango deu azo às críticas das pessoas
austeras?

Um encontro Actualmente, a dança já não tem o mesmo significado que outrora, quando as ocasiões de encontro
entre adolescentes dos dois sexos eram menos frequentes. A evolução dos costumes leva a que já não seja
possível falar hoje, como em certa canção, de apaixonados mortos por terem querido dançar. Os dancings
deixaram de ser os «lugares de perdição» onde se dava livre curso aos «instintos libidinosos» interditos. Será por
terem perdido esta reputação exagerada ou porque os jovens se voltam para outras preocupações que os dancings
se tomam cada vez menos numerosos? Os,,opais já não podem lançar uma proibição absoluta sobre a dança.
Porém, a este respeito, pode revelar-se prudente encetar o diálogo sobre a/educação sexual, se isto ainda não foi
feito, mostrando aos jovens os perigos de certos arrebatamentos passageiros a que a dança pode dar
azo.

DATING (Dating/Dating)

O dating é uma prática dos adolescentes americanos. Estes adquirem muito cedo, com a aprovação da sua
esfera/social, o/hábito de marcar/ entrevistas (date: «encontro») a um (ou uma) parceiro. Assistem juntos a
parties (o equivalente das nossas festas), ou então
138

vão passear no automóvel dos pais. O dating é, na expressão de Margaret Mead, «um Ijogo / erótico-,,@‟
social» e. O Margaret Mead:

L'un et l'autre sexe (Editions Gonthier, Aspecto


social Paris, 1966), p. 268.
O dating é um ritual bastante codificado que situa os parceiros, permitindo nomeadamente medir a sua
popularidade. Aquele ou aquela que for mais solicitado considera esse facto como uma garantia de/êxito
ulterior. Os desprezados julgam-se inferiores e crêem poder ver nisso um mau prenúncio para o/futuro. Não
saem e muitas vezes só se casam entre si. Quer uns quer outros precisam frequentemente de bastante tempo
para deixar de considerar os sucessos no dating como o único critério de/valor.

Aspecto sexual
O dating implica, evidentemente, um certo número de/jogos sexuais* no decurso dos quais o rapaz e a rapariga
conseguem muito o Dos quais o mais cedo um controle dos seus sentidos que pode ir ao ponto de tornar avançado é
o petting.

impossível uma união/sexual realizada no/casamento. «Durante a adolescência, escreve Margaret Mead, o
macho habitua-se a deixar-se refrear pela rapariga que aprendeu a conservar o controle de si mesma. Porém,
no casamento, ambos enfrentarão esta dupla exigência: _ele, a de dar uma prova pura e simples da
sua/virilidade; ela, em compensação, deve atingir o orgasmo sem outros preliminares.»*
M. Mead: ?u11 et I'Outre Sexe A vantagem do sistema é no entanto a de evitar atirar para a clan- (Editions
Gonthier. destinidade a prática do encontro à/moda europeia em que a Paris. 1966), p. 266. «melhor 1;4 amiga»
(para as raparigas) e o/«camarada» (para o rapaz) constituem álibis hipócritas. O dating, ao desenvolver desde
muito cedo os contactos entre jovens de ambos os sexos, permite aprofundar um conhecimento recíproco
contribuindo para a maturação dos adolescentes.

>EBILIDADE (Dóbllité/Feebienoss) páginas 139.245.249,294.

A noção de debilidade corresponde a uma insuficiência caracterí- Ver «Inferioridade zada no


domínio físico* ou no domínio intelectual*. ?fica».

O Debilidade mental. Os débeis intelectuais ligeiros iludem frequentemente: a sua/me- é medida pela
quociente

Intelectual. Fala-se de mória,


por vezes satisfatória, junta a unia/,conduta aparentemente debilidade quando o
normal, pode dissimular uma insuficiência mental autêntica. MaS@ quociente intelectual de

um indivíduo é inferior a na/ adolescência, a sua inserção profissional pode causar graves 80, sendo a média
igual

O. A debilidade problemas.
Ao contrário, a debilidade pode ser apenas aparente saítuao-se entre a e está-
se então na presença de falsos débeis. Na origem da falsa imbecilidade (O.1.-40

1 a 60) o a normalidade debilidade


encontram-se em geral perturbações sensoriais (visuais, inferior (O.1. -
80). auditivas ou motoras) ou afectivaso. Um exame psicométrico per- # Ver «Afectividade».
DEC
mite detectar estes casos. O falso débil pode então ser eficazmente reeducado em cursos para inadaptados
escolares.

Os verdadeiros débeis podem também ser reeducados, mas de um modo mais limitado porquanto a sua idade
mental nunca ultrapassará os 10 anos. Todavia, o exercício de uma/profissão simples permite que eles se
insiram utilmente na/sociedade, quando não sofrem de perturbações reaccionais, como a/agressividade ou a
/apatia. Os conselhos de um orientador profissional podem ser bastante úteis para determinar a melhor/
orientação a dar a estes adolescentes.

DECEPÇõES (Déceptiona/Deceptions) páginas 38. 79.

A adolescência caracteriza-se por um crescimento físico e mental. Resulta daí uma espécie de impulso vital que
torna o adolescente tanto mais exigente quanto ele não tem, por falta de experiencia vivida, o sentido da
realidade quotidiana. É quase sempre esta/ aprendizagem do real -banal, prosaica e, afinal, muito humana- que
determina as mais vivas decepções.
O adolescente substitui o «há» da infância pelo «poderia haver» do adulto. Mas, ainda demasiado próximo do/
egocentrismo infantil, ele compreende mal a necessidade dos compromissos tomados inevitáveis pela presença
de outrem. O que provoca muitas vezes uma inadaptação provisória. Não raro, estas decepções derivam de reais
insuficiências dos adultos com os quais o adolescente tende a/ identificar-se. O educador experimentado vela
então por que a /aprendizagem dos limites dos outros não descambe em/revolta, mas contribua para defin- útar
as próprias possibilidades do adolescente.

DEFICIÊNCIA (Déficience/Def1ciency)

Do latim deficere, «carecer», «ter falta». A deficiência é a ausência total ou parcial de uma qualidade tanto
/intelectual como física ou/moral.

Deficiência intelectual É o caso da/debilidade mental, medida pelo/quociente intelectual: o débil tem um Q.I.
de 60 a 80. A adaptação social destes enfermos mentais coloca problemas delicados que são resolvidos por
certos estabelecimentos especializadoso. Ainda que esta adapta. o Ver «Debilidade% ção seja limitada, ela não deixa
de ser possível com muita frequência.

Deficiência moral É o caso da/perversão. As recentes teses sobre a/delinquência


140

juvenil põem a tónica numa deficiência inata ou adquirida do sentido moral como causa primeira de
delinquência. O mesmo é dizer que o adolescente delinquente seria um deficiente moral e não, como se
sustentava, unia vítima da/sociedade. A sua reeducação é uma coisa bastante árdua e dependente dos
estabelecimentos especíafizados. Há demasiada tendência a considerar certos doentes, acima de tudo, como
malfeitores. É verdade que as aparências os não favorecem: são muitas vezes reincidentes e rebeldes. OsXêxitos
fundam-se numa reinserção na sociedade, graças a uma formação profissional que fazia falta. Mas o papel
da/famílía é aqui primordíal, pois é ela que deve criar o clima favorável à reeducação.

Deficiência física A/adolescência é um período de intensa/ actividade orgânica. E é a própria intensidade desta
actividade que leva a que possam surgir perturbações específicas devidas a deficiências físicas: perturbações
hormonais, avitaminose, raquitismo. Estas deficiências são em geral passageiras, se bem que necessitem de uma
atenta vigilância em virtude de poderem transformar-se em perturbações do /desenvolvimento e entravar o curso
normal deste último. Por outras palavras, convém evitar que as deficiências físicas se transibrrnem em
deficiências constitucionais. Importa insistir neste ponto, tanto mais que algumas dessas deficiê ncias são
facilmente consideradas normais: um adolescente que se arqueia é uni adolescente que cresce. Mas a curvatura
não tratada pode persistir e tornar-se um incómodo insuportável que um mínimo de cuidados teria sem custo
evitado.

DELINGUÊNCIA (Dõlinquanco/Delinquency)

páginas 60, 94, 109, 110. 115, 136, 139, 263, 291, 347, 428, 495, 502.

* delinquência consiste em cometer delitos*. Em matéria de direito,


* delinquência juvenil é um problema cuja acuidade se revelou delito diferencia-%e do

crime, mas a psicologia, à


escala internacional graças aos meios de/comunicaçâo de massa, que visa a prevenção e n@o a
repressão, estuda-os Assim,
todos pudemos ter conhecimento da existência dos hooligans simuitaneamente. na
Rússia, dos vitelloni em Itália, dos mods e rockers em Inglaterra e dos blousons noirs em França) na época da
guerra da Argélia.

As causas Têm sido sugeridas várias hipóteses para explicar este fenómeno. Começou-se por falar de «vaga
criminal», como se se tratasse de unia epidemia, depois de fenómeno,,O social, antes de se desembocar numa
«concepção mais sociológica que vê nos jovens delinquentes não já doentes, mas/inadaptados, e procura a
causa do seu desajustamento não nos factores orgânicos, mas, simuitaneamente, na complexidade de uma
sociedade onde se toma cada vez mais difícil
DEL
encontrar o seu lugar e no fracasso / educativo cuja origem remonta, provavelmente, aos primeiros anos da
vida»*. O Jean Manod:

M$ BariotsQuiliard, Por outras palavras, as razões invocadas inscrevem-se em dois Paris. 1968), p. 22.
domínios precisos: a sociedade, por um lado, a/ família, pelo outro.

A sociedade. A este respeito, convém pôr fim a um erro bastante espalhado segundo o qual a sociedade actual
seria responsável por um aumento da criminalidade juvenil. Isto pela simples razão de que o número dos
delinquentes juvenis é, de acordo com as estatísticas dos departamentos da Justiça de alguns países,
sensivelmente igual, pelo menos em proporção, ao número dos delinquentes menores de 1880. Esta proporção é
de 20/oo relativamente à juventude normal. Numa tal óptica, acusou-se a bomba atómica (a incerteza do
amanhã, geradora de/angústia existencial), os grandes conjuntos arquitecturais, etc, Ora, em 1880, não havia
bomba atómica nem grandes conjuntos de habitação. Na verdade, estes factores têm uma certa influência sobre a
delinquência juvenil, mas não passam de uma nova forma de catalisadores de urna realidade de sempie: a
dificuldade que o adolescente experimenta em integrar-se na/sociedade adulta. Sem dúvida que, nos nossos dias,
a sociedade «se torna cada vez mais complexa e é cada vez mais difícil encontraimos o nosso lugar nela». Existe
hoje um corte fundamental entre a vida privada e a vida bocial: no domínio da venda, por exemplo, o contacto
humano entre o pequeno comerciante e o cliente desaparece no quadro do supermercado em que ninguém
conhece ninguém. Aquele que compra não é o Sr. X nem a Sr.3 Y, mas -um consumidor indefinido. Ora, o
adolescente é essencialmente unia pessoa que procura integrar-se. Mais do que ninguém, ele terá consciência de
ser um objecto, e verá, nos outros, objectos de que importa tirar o máximo proveito. A passagem ao acto - o
delito - pode então fazer-se quando a consciência/ moral insuficientemente estruturada nã o for capaz de se opor
às veleidades sugeridas por este estado de facto.

Alfamília. A falta de fundamento sociomoral é particularmente virulenta quando a família não cria o necessário
contiapeso. Mas, também aqui, parece indicado desmitificar o papel desempenhado pela família na gênese da
delinquência juvenil. Julgou-se durante muito tempo que o único factor familiar da delinquência era a
dissociação do casal paiental. Ora, um inquérito efectuado por Christie, na Noruega, abarcando 1035 condenados
menores, mostra que a maior parte deles (82,6 %) tinham uma família «normal» segundo a opinião corrente.
Decerto que a/carência afectiva provocada pela dissociação, legal ou não, da família pode provocar
no adolescente uma necessidade de compensação ou de autopunição de que o delito seria a mani-
142

festação. Mas a experiência de Christie prova que não é o único factor a entrar em jogo. É antes de tudo o
aspecto/ cultural do /meio familiar que os/psicólogos têm tendência a incriminar hoje em dia. Com efeito, a
família apresenta-se como o primeiro campo de experimentação da vida social e dos seus/ valores culturais.
Estes devem a priori não ser contraditórios. E, contudo, não é frequente as ordens do/pai contradizerem as
da/mãe? Roger Mucchielli escreve: «A/autoridade estável e justa é um factor de/segurança mais poderoso do que
o/amor materno quando este terminou a sua missão.»* Os/pais podem assim, se não tiverem suficiente cui-
@@,.@.MucchieJli:

tiIk devionnent dado,


ser uma das causas da delinquência do seu filho. délinquantS (E.S.F., Paris, 1966).
Alinadaptação, quer na sua forma familiar quer na sua forma social, é o principal factor da delinquência
juvenil. Para dar remédio a esta, considerada como um problema de cultura, seria preciso propor aos
adolescentes mais do que uma subcultarao, como * Cultura englobada

numa estrutura e tendo fazem


o fenómeno ié-ié ou o dos clubes de «fãs». Ié4é ou fá, o seus valores próprios.
adolescente é um ser à parte, à margem da sociedade na qual sabe ter de vir a integrar-se. Afigura-se necessária
uma verdadeira consagração do estado de adolescência: esta já não deveria ser encarada como uma simples
passagem, mas como um estado de/frustração. É patente que a juventude sofre uma verdadeira tutela em
virtude do desfasaniento existente entre a sua/maturidade intelectual e física e a sua imaturidade económica.
Um/desejo de emancipação espectacular e rápida leva-a por vezes a embrenhar-se em vias ilegais.

A Isexualídade. Há um erro frequente que consiste em associar a noção de delinquência juvenil à


de/recalcamento sexual. O jovem extraviado compensaria através dos seus crimes uma pretensa sexualidade
recalcada. Isto é em grande medida falso. Para melhor o compreender, convém ter presente que o delinquente é
antes de tudo «reificador», o que signífica que ele considera outrem como um objecto. Ora a sexualidade, seja a
que nível for, implica um vínculo de pessoa a pessoa e, precisamente, o delinquente recusa considerar assim as
pessoas que o rodeiam. J. Mortod, em les Barjots, mostra bem em que desprezo são tidas as raparigas não
admitidas nos/bandos em geral, mas procuradas ao sábado à noite porque elas dispõem de dinheiro. Por outro
lado, Hesnard indica: «Das duas potências dinâmicas que regem a/actividade inconsciente do homem, é o apetite
de poderio que prevalece sobre a sexualidade. A/puberdade é pouco marcada pelo/erotismo.»*
9 Hesnard: Psycholog

du crime Emúltima análise, temos de admitir que a/agressividade delituosa (Payot. Paris, 1963). é uma tentativa de
virilização independente da sexualidade.
DEM
os indícios precursores da delinquência Muitos/pais caem das nuvens ao serem informados de que o seu filho
acaba de ser preso por assalto ou que a sua filha, egéria de um bando, se entrega à/prostituição. Todavia,
existem indícios prenunciadores da delinquência, embora, por incompreensão ou indiferença, se não veja neles
muitas vezes senão pecadilhos depressa reprimidos e perdoados. É, pois, importante conhecer esses indícios.

Na escola. O delinquente é um/inadaptado. Ora, a/escola é um dos lugares de confrontação com os/ valores/
culturais impostos pela/autoridade e pela vida/social. Qualquer infracção da regra escolar pode assim revelar,
em graus diversos, uma propensão para a delinquência. Não nos estamos a referir a infracções corno os
/roubos, que são já em si mesmo delitos, mas àqueles que, não sendo especificamente delituosas, têm um valor
prenunciativo. «Muito, mais do que os pequenos delitos que a acompanham, escreve o R. P. Vernet, é a
mentalidade da gazeta às aulas que se deve temer.
O jovem aluno que falta à escola está já a habituar-se a viver „à margem'.»* O acto de gazetear, quando muito
nitidamente enrai- q R. P. Vernet,

ole neuropsych. zado


no/;Ifugão, indica uma desobrigação relativamente aos valo-
Mefavn*rile Set.. Out.. 195! res admitidos, logo unia propensão inegável para a delinquência*.
491.

S. e E. Glueck, na obra Définquants en hei Nafamília. Os indícios precursores são essencialmente:


(Ed. Vitte. 1952), indic

i_ que metade dos A


apatia: o adolescente não reage a qualquer solicitação fam delinquentes por eles
liar. As/punições e incitamentos deixam-no igualmente indiferente. e@aminados tinham apei

c@1t0 anos quando deran A dissimulação: cadernetas de notas adulteradas, assinaturas inais bem nítidos das :uas tendências falsas...
anti-sociais.
- O desprezo: essencialmente manifestado pelo absentismo. Mucchíelli informa que «60 % dos jovens
delinquentes não passam os seus/tempos livres no lar/farniliar, ao contrário dos não-delinquentes dos quais só
10 % procuram distrair-se noutros sítios».

Os meios de prevenção Consistem sobretudo no rastreio da delinquência pela detecção dos indícios
precursores. Os/pais deverão diligenciar por descobrir todos os sintomas de/inadaptação e não hesitar em
apelar para um especialista* quando se manifestarem sinais bastante o Nesta delicada maté

a pessoa mais habilitad nítidos. é muitas vezes uma

assistente social. Também se pode consu o livro de M. Puzin: DEMÊNCIA (Démence/Dementia)


Guide pratique pour h

souvegarde de i& jaun6 A demência ou loucura, tanto em direito privado como em (Ed.
Fleurus. Paris, 19(

direito penal, compreende todas as enfermidades mentais, sendo unia causa de inimputabilidade em direito
criminal. Actualmente, tende a substituir-se o termo de «demência» pelo
144

de «alienação» ou de «deterioração» mental. Alienação, porque o demente vê alteiarem-se todas as suas funções/
intelectuais; deterioração, porque o processo de alienação é irreversível, mesmo quando as causas que o
desencadearam desaparecem. Os casos de demência adolescente -felizmente raros - são sempre dramáticos
porquanto se mostram evolutivos. Podemos rastreá-los graças à escala de Weschler-Bellevue que permite
determinar o índice de deterioração mental:

Pontuação nos testes que resultam

Pontuação nos testes que não resultam

DEMISSÃO (Dórnission/Resignation) páginas 63.90.193.249,361.498.

Do latim demittere, «desistir»: a demissão designa uma reacção de renúncia frente à transposição de um obstáculo. Este
obstáculo pode ser de qualquer natureza. De facto, a/adolescência, pela tomada de /responsabilidade que pressupõe, é
amiúde causa de unia/reacção de demissão:
- no plano/ familiar: recusa de se emancipar do refúgio oferecido pelos / pais;
- no plano / intelectual: preguiça, atraso escolar, / inadaptação... -no plano/sexual: impossibilidade da integração normal das
pulsões sexuais na/afectividade.

A reacção de demissão distingue-se por ocasionar uma reacção em cadeia: um fracasso parcial e tido por insuperável acarreta
uma perda da/confiança em si e afl@cta toda a vida psíquica do adolescente. A forma mais trágica de demissão é a que acaba
num /suicídio. Há outros graus que se caracterizam por uma/preguiça generalizada, próxima da/apatia.

Os meios de lutar contra a demissão consistem essencialmente em restituir ao adolescente a confiança perdida. Para tal, é
preciso levá-lo a tomar consciência dos motivos reais dos seus fracassos. Em seguida, será bom dar-lhe uma oportunidade de
resgate -num domínio onde ele era anteriormente bem sucedido. Os progressos, ainda que mínimos, mas tangíveis, que ele
poderá então realizar conduzi-lo-ão a compensar a diminuição criada pelas primeiras demissões.

DEPRESSÃO (Dépression/Depres9ion) página 35.

A depressão é um enfraquecimento brutal ou progressivo, duradouro ou passageiro, do tono neuropsíquico. Manifesta-se


tanto ao nível /fisiológico como psíquico.
DES
Depressão / fisiológica Observa-se a maior parte das vezes uma grande/ fatigabilidade, evidente desde o levantar. A
insônia prolongada pode igualmente indicar um estado depressivo, assim como as dores de cabeça persistentes ou ainda a
perda de apetite. Na adolescência, um grande número de estados depressivos são devidos a insuficiências glandulares,
nomeadamente endocrínicas.

Depressão psíquica Revela-se por um sentimento de impotência generalizada. Daí uma/reacção de demissão diante do
mínimo obstáculo novo. Muitos casos de falsa /preguiça derivam de um tal estado depressivo.

Depressão constitucionalo # Por constitucional

de e-se entender o que É em particular o caso da/apatia, da/astenia e, de modo geral, sevaplica ao conjunto dE da psicastenia.
qualidades físicas e

Os/pais devem saber que podem ser a causa directa de estados psíquicas de um indivídu(

depressivos duradouros nos seus filhos por influência de uma /pedagogia pessimista. É o que sucede com os que, julgando
estimular o seu filho ou a sua filha, não cessam de lhe censurar a sua preguiça. Ou ainda com os que, erigindo o/êxito escolar
ou profissional do adolescente em ponto de honra/familiar, acabam por esmagar este último sob o peso das/ responsabilidades.
Enfim, há pais que, desconfiando da/sociedade quer por princípio quer porque têm razões para o fazer, se esforçam, num
intuito que julgam/educativo, por inculcar esta desconfiança no adolescente na altura em que ele deve integrar-se na sociedade.

DESAJEITADA (Criança) (Gaucherie/Clurnsiness)

Para muitos adolescentes os gestos quotidianos são outras tantas ocasiões de se mostrarem desajeitados: estar à mesa, deitar- se,
levantar-se na aula. Quando eles caminham na rua, tropeçam nos passeios, chocam com os transeuntes. É visível q ue os seus
músculos carecem de coordenação; numa palavra, eles sentem-se estranhos no seu próprio corpo. Esta falta de jeito constante é
tanto mais penosamente sentida quanto tais adolescentes julgam ser as suas únicas vítimas. Contudo, ela é sina da maioria, pois
deve-se, de facto, à própria forma do /O desenvolvimento estrutural. «O desenvolvimento dos ossos longos é tão rápido, nota
Hadfleld, que os braços e as pernas perdem algo da sua coordenação. O jovem que nos estende uma chávena de café
acomodou os seus músculos de maneira a transpor uma certa distância; mas, por poucos centímetros que o seu braço tenha
crescido, ele alcança-nos demasiado cedo, embate contra nós e entorna a chávena. Suponhamos ainda que ele levanta a perna
para saltar

P A- io
(Payot. Paris. 1966), p. 162.

146

por cima de uma almofada que está caída no chão; acontece porém que a sua perna cresceu dois centímetros:
ele dá uma topada na almofada e ouve chamarem-lhe „desastrado‟ ou „imbecil‟. Na verdade, ele sente-se
estúpido por não conseguir executar correctamente um gesto simples de que até então sempre fora capaz.»* o
Hadfield: ]Enfânce

et l'adolescence

Falta de jeito e timidez Desta falta de jeito pode resultar uma/timidez exagerada que paralisa nos mínimos gestos
da vida quotidiana. Cria-se uma hipersensibilização à/'beleza física e à segurança exterior. O/!dolo é, em muitos
casos, aquele ou aquela a quem não afecta esta falta de jeito paralisante. A publicidade que utiliza modelos
aparentemente perfeitos ainda reforça mais no adolescente desajeitado esta tendência para a desvalorização de si
mesmo.

Os remédios para a falta de jeito É importante ajudar o adolescente a superar as dificuldades assim criadas. Há
para isso duas soluções: a explicação racional e a /aprendizagem fisiológica.

A explicação racional. Parece fácil neste caso. A explicação dada por Hadfield é amplamente suficiente para
desdramatizar o enleio do adolescente. Ao deixar de se considerar um/anormal, o desajeitado adquirirá uma
nova segurança.

A aprendizagem fisiológica. É sem dúvida a melhor solução porquanto facilita ao mesmo tempo o
desabrochaniento físico. Consiste em aprender a mover-se no sentido próprio do termo: o/teatro é na
ocorrência uma excelente/ escola. Verifica-se que os adolescentes/desportistas mostram em/sociedade um
desembaraço superior ao dos outros jovens da sua idade. A/ dança clássica constituí igualmente uma boa escola
de postura para os adolescentes. Graças a estes meios, o adolescente aprenderá a aceitar o seu próprio corpo; é
mais difícil do que parece porque o aparecimento dos caracteres secundários da/sexualidade cria ao
adolescente a obrigação de assumir um papel novo: a menina torna-se mulher, e o rapaz, homem. É nisto que
reside muitas vezes a causa profunda do enleio. Os/educadores precisam de ter muito tacto e habilidade para
ajudar o adolescente a transpor esta etapa decisiva da vida.

DESCALCAMENTO (Dõfoulement/Llberation from complexes) páginas 137,427.

Em psicanálise, a palavra descalcamento* significa: «revelação e o Ver «Neurose». integração, no decurso de uma
cura, do que fora/recalcado e já O J.L. Faure: não podia vir à superfície senão sob um aspecto
irreconhecível»*. Vocabulaire de ,y,1,, dagogia (P.U.F.,
O descalcamento é por conseguinte o mecanismo inverso do Pparis, 1,9`63), P. 155.
DES
/recalcamento. Frequentemente, as pulsões sexuais da/puberdade são recalcadas devido aos interditos
instaurados durante a infância. Na fase da adolescência, a/sexualidade pode desenvolver-se de forma/;,
anormal, sem que o papel desempenhado por estes interditos apareça. O descalcamento põe em evidência um
certo número de tendências que devem ser integradas na vida consciente.

A acepçâo corrente da palavra descalcamento - excessos de todos os géneros, designadamente sexuais, conduta
/agressiva - não tem senão uma longínqua relação com a terminologia psicanalítica. É que, de facto, o público
tende a confundir descalcamento e abandono de toda a/inibição. Ora, sem inibição, o indivíduo, entregue a todos
os seus instintos, não poderia viver em/sociedade. A inibição só revela unia perturbação da/ personalidade
quando se estende de forma abusiva e controla demasiado estreitamente os mínimos actos de um indivíduo. Um
tal indivíduo é então, segundo * acepção corrente, um/«complexado», A não ser acidentalmente,
* descalcamento psicanalítico não produz o efeito de dar livre curso * pulsões incompatíveis com a/moral
social. Ele deve pelo contrário permitir que certas tendências - mantidas à margem da consciência pelo
recalcamento - se revelem e sejam integradas na vida normal.

DESEJO (Désir/Desiro) páginas 22, 164.


É a psicólogos como Dewey, Decroly e Montessori que devemos a noção de desejo* educativo. A experiência mostrou -lhes de
facto o O desejo não é idênti

às necessidades. nascid que um/ensino fundado no desejo da criança ou do adolescente dos impulsos cegos.
era infinitamente melhor assimilado do que uni ensino imposto Difere delas pelo objeci

De facto, enquanto se n pelo adulto. pode dialogar com o

bjecto de uma necessida Uma tal/ pedagogia pressupõe um perfeito conhecimento do aluno, O(alimentar. por
exemplo) que pode ser obtido graças aos,/testes. O desejo não é simples velei- pode-se fazê-lo com o

bjecto de um desejo. dade: ele exige ao invés a coexistência do/esforço, serM


o qual o c'.t. é sempre investido
pela actividade menta) objectivo permanece uma vaga/aspiração.
O desejo requer uma mas não deve ser
reduzi /aprendizagem: deve poder ser doseado com precisão, pois um a ela. como pretendia a desejo
demasiado forte ou demasiado fraco destrói-se a si mesmo: pedagogia tradicional.

«O caçador noviço, escreve John Dewey, tem tanta pressa de matar a,caça, está tão violentamente obcecado pelo seu objectivo
que é incapaz de exercer sobre si mesmo o controle necessário e dispara à sorte. O caçador experimentado, esse, não perdeu
todo o interesse em atirar à caça, mas está em condições de concentrar completamente este interesse sobre cada um dos meios
que lhe permitirão ser bem sucedido.»* O adolescente acha-se precisamente na situa- O
J. D ewey:

I'Écote et renffint ção do caçador


principiante. O desejo demasiado disperso ou, pelo (Delachaux et Niestlé.
contrário, demasiado exclusivo não sabe concretizar-se na reali- Paris, 1967), p. 70.
148

zação. A nova/” pedagogia deve por conseguinte facilitar a/aprendizagem do desejo.

DESENTENDIMENTO (Másentente/Migunderstanding) páginas 95. 110, 493.

A noção de desentendimento é um dos factores importantes da vida psíquica na/ adolescência. No momento em
que toma consciência do papel que tem a desempenhar em relação a si mesmo, o adolescente, sentindo a
imaturidade e o desfasamento existente entre as suas/aspirações e as suas possibilidades do momento, mostra
tendência, a fim de se valorizar, para dar ares de incompreendido, quando afinal necessita profundamente de
ser compreendido e encorajado pelos adultos. O papel dos/pais não é fácil e requer uma /atenção sem quebra
que é a única a permitir reconhecer os momentos em que o adolescente precisa de se abrir. Ora, muitas vezes
este verifica que em tais ocasiões é realmente incompreendido: o/pai ou a/mãe tomam os seus problemas por
incidentes menores do dia-a-dia, ao passo que ele os considera a coisa mais importante da sua existência. Mas
isto só o/amor e a intuição permitem adivinhá-lo. Infinitamente mais grave para o/ desenvolvimento psíquico do
adolescente é o desentendimento conjugal dos pais. Quando este se manifesta-por cenas ruidosas e
espalhafatosas, o adolescente sabe proteger-se adoptando uma/atitude já ao seu alcance: ironia ou indulgência
para com os pais, que são julgados como crianças inadaptadas; mas quando se trata de «uma surda hostilidade
que nunca explode em manifestações violentas, visto os/pais controlarem a sua antipatia recíproca, pensando
dissimulá-la perante o filho, este apercebe-se da incompatibilidade entre o pai e a/mãe. Tal noção de
desentendimento profundo dos seus progenitores provoca duas/reacções negativas no jovem: primeiro, uma
dolorosa sensação de abandono, pois que os pais, completamente embrenhados na polémica, se tornam
incapazes de lhe conceder a mínima /atenção; em seguida, a convicção de que a/família, cujo papel tem sido miI
vezes louvado pela/pedagogia tradicional, se afigura na realidade inconsistente e não corresponde praticamente
a coisa alguma»*. * O"g‟ ja e Ouillon:

I'Ado1,,,@^@ (E.S.F., Paris. Enfim,


convém mencionar uma última forma de desentendimento 1968), p. 182, que,
apesar de clássica, nem por isso deixa de causar graves mal-entendidos entre gerações*. O adolescente que
experimenta as e Ver «Pais». exigências da/maturidade recorre a todos os meios para romper os laços que o
prendem ao contexto da infância. Neste contexto incluem-se os pais, que aceitam mal que o filho se afaste
deles, mesmo só aparentemente, no momento exacto em que eles têm a impressão de ter chegado ao fim a sua
tarefla/,` educativa. Por seu lado, o adolescente interpreta qualquer tentativa de diálogo como
DES

uma vontade de o manter num estado de dependência ao qual não pode nem quer acomodar-se. Os pais acabam
amiúde por reagir como se fossem pessoalmente visados: crêem ser maus educadores, quando afinal as
veleidades de /independência do adolescente são pelo contrário, em certa medida, a prova de que lograram
conduzi-lo a uma maturidade que não existe sem independência.

DESENVOLVIMENTO (Dõveloppement/Development)

páginas 10, 23, 200. 204, 206, 208, 209, 211, 217. 226.

O termo desenvolvimento designa as contínuas mudanças do ser humano com vista a uma maior/ maturidade.
Na/ adolescência, o desenvolvimento sofre uma aceleração rápida e muitas vezes irregular, ao contrário da
infância que segue uma curva harmoniosa e precisa. Esta diferença deve-se essencialmente ao facto de haver,
na adolescência, interferência entre os diferentes planos de desenvolvimento: o crescimento físico influi sobre
a/afectividade e a/inteligência.

O crescimento físico As tabelas de Godin* permitem cotar de 1 a 5 o progressivo apare- a Ver o artigo
cimento dos caracteres/ sexuais secundários. P designa a pilosidade «A fisiologia».

púbica, A a pilosidade axilar e L a do lábio superior. Para as raparigas leva-se em conta o desenvolvimento dos
seios S e do aparecimento das regras R. Uma tal cotação tem apenas um valor indicativo médio: podem intervir
variações, em função do temperamento, que não constituem motivo para alarme. É no entanto preferível ouvir
a opinião do médico quando estas variações se afiguram excessivas.

Rapazes PAL Raparigas PASR

14 anos 1 - - 11 anos - -1 -

15 anos 3 1 - 12 anos 1 - 2 -

16 anos 4 2 1 13 anos 2 1 3 +
17 anos 5 4 2 14 anos 4 2 4 +
18 anos 5 5 3 15 anos 5 3 5 +

16 anos 5 5 5 +

Podem ser estabelecidos outros índices do desenvolvimento somático na/puberdade: por exemplo, o aumento
da altura, cujas variações médias por ano, em centímetros, são indicadas pelas tabelas de Nobêcourt:
150

Idade

Rapazes

Idade

Raparigas

11-12 anos

11-12 anos

12-13 anos

12-13 anos

13-14 anos

13-14 anos

14-15 anos

14-15 anos

15-16 anos

15-16 anos

16-17 anos

16-17 anos

1
ESECLUILíBRIO (D696quilibre/Unbalance) páginas 19.20,27,105,238,243.

A/adolescência é a idade do desequilibrio por excelência. Como nota o doutor Ouillon: «O equilíbrio da
criança já não existe, o do adulto ainda não foi atingido.»O e Orig]

l'Adoles Paris. 19 Um
desequilíbrio em todos os domínios Desequilíbrio glandular. O desequilíbrio mais aparente é o
da /puberdade: as glândulas, subitamente despertas, parecem imprimir à/actividade orgânica uma certa
desordem, Esta desordem é real durante o período da irrupção pubertária propriamente dita. É por vezeg
indispensável um controle médico para evitar que este desequilíbrío se torne mórbido, provocando perturbações
hormonaise que podem entravar o desabrochar do adolescente. e Ver

«hormon

Desequilibrio corporal. O surto de crescimento próprio da puberdade faz-se pelas extremidades. Além disso, o
crescimento em altura não é acompanhado por um aumento do peso: razão pela qual a ,,”morfologia do
adolescente é tão amiúde filiforme. O adolescente que cresce demasiado depressa pode exibir uma arqueadura
passageira. Isto não constitui todavia um real motivo de inquietação, como mostram as tabelas de crescimento*.
O Ver

«A fisiol

Desequilibrio psicológico. Os desequilíbrios /psicológicos tão frequentemente verificados ao longo da


adolescência contribuíram fortemente para limitar esta à sua simples faceta de crise. Vendo bem, a noção de
desequilíbrio não é somente negativa, como se crê demasiadas vezes: nesta idade, desequilíbrio é muitas vezes
sinónimo de vitalidade, de procura de si mesmo, passando por dúvidas enriquecedoras e incertezas construtivas,
o que é lógico se pensarmos que uma das características essenciais da adolescência é a simuitaneidade das
transformações psíquicas e físicas. Ora, a/emoção não é mais do que a tradução no plano orgânico de
uma/reacção / afectiva.

Estas desordens dalemotividade provêm incontestavelmente de


ia e Ouillon: cent (E.S.F.,
68), p. 29.

a palavra as».

o artigo ogia».
uma falta de domínio emocional e, sobretudo, da necessidade de libertação de uma /tensão interior que se
tornou incontrolável.
O exemplo-tipo destas perturbações é o rubor, tão frequente no adolescente que «cora que nem um pimentã o»
por uma insignificância. Quem seria capaz de distinguir entre o que há de/cólera, de/orgulho, de impotência ou
de vontade de perfeição numa tal reacção? Esta incerteza dá uma ideia bastante precisa do desequilíbrio do
adolescente. Para tentar lançar uma certa luz sobre o assunto, é preferível, aqui como noutros casos, evitar a
referência ao adulto, pois o desequilíbrio adolescente não é o do adulto, quer dizer, alteração de um sistema
de/valores aceites e reconhecidos como tais. Na adolescência, o desequilíbrio é apenas aparente e essencialmente
transitório. Ele não traduz de facto senão as tentativas inerentes à instauração de um equilíbrio difícil de
conseguir. É o que os/pais nunca devem perder de vista. Os seus filhos, não tendo ainda feito a síntese dos
respectivos modos de vida, vivem todos eles plenamente, sem pensar em estabelecer coordenadas internas. É por
isso que a mínima resposta torta pode mergulhá-los num abatimento desmedido, do mesmo modo que
um êxito, ainda que diminuto, dá origem a um entusiasmo trasbordante. Fracasso ou sucesso são vividos
isoladamente e por conseguinte plenamente. Este desequilíbrio do adolescente só é visto como tal pelo adulto
que aprendeu a/julgar-se, a julgar os outros, e adquiriu assim o sentido da relatividade de qualquer situação.
Enfim, o adulto é muitas vezes tentado a considerar como desequilíbrio uma certa busca da perfeição que faz
do adolescente um /idealista. Os adultos diriam: um utopista. Mas não haverá seja em que busca for um
desequilíbrio inicial entre a hipótese original e os meios utilizados para chegar à conclusão?

DESLEIXO (Laisser-a11er/S1oven1iness) págína 131.


O desleixo é uma/atitude frequente na/ adolescência. Ele assinala geralmente o/desejo de cortar com a infância, idade em que
se deve estar limpo, lavar os joelhos, as orelhas e as mãos antes das refeições. Para manifestar a sua vontade de manter
as distâncias, o adolescente rompe com estes/hábítos de correcção exterior. Mas para o observador/ atento toma-se claro que a
mínima /entrevista é pretexto para extremos cuidados que fariam a alegria de mais de uma/mãe. Estas abluções fazem -se de
preferência clandestínamente. Em caso de descoberta, mais vale evitar os reparos do gênero: «Estás a ver, quando tu queres...»
Na adolescente, o desleixo é mais disfarçado. Ele não faz parte da panóplia adolescente e toma a forma de
«/coquetismo descuidado».
152

Em geral, o despertar dos primeiros sentimentos amorosos, tanto na rapariga como no rapaz, põe termo a esta
negligência.

SPORTO (Sport/Sport) Páginas 12, 120, 157, 553, 564.

O desporto é uma forma particular de/jogo*. e Ver o artigo Pela energia física que liberta,
o desporto permite a expressão de <‟Os tempos livres».

unia/ agressividade natural em qualquer idade, e mais particularmente na/ adolescência, rica em forças novas e
ainda inutilizadas. É neste sentido que o desporto é aconselhado pelos psicólogos às crianças agressivas
ou/,ansiosas. Pela sua fâceta/-@educativa e formadora, o desporto é mais do que um jogo. «Enquanto o jogo
infantil impõe a si mesmo um objectivo voluntário e individual, o desporto juvenil dobra-se a normas
/sociais.»* # P. Furter: Ia Via moraje
O desporto é essencialmente/ competição, e só a presença do adver- de l'adolescen4 p. 24.

sário lhe pode conferir um sentido*. # Ver «Competição».

Desportos de equipa «O terreno de desporto é o lugar de encontro adequado à juventude onde ela descobre a
complexidade das relações com outrem.»* O Idem. Há efectivamente aí, por um lado, os parceiros de
que se é solidário. Para vencer, é preciso aprender a participar com o que isto implica ao mesmo tempo de
renúncia a si mesmo e de desabrochamento da /personalidade, devendo cada qual adaptar o melhor possível o
seu/talento particular ao estilo de toda a equipa. Do outro lado do terreno, encontram-se os adversários, não
inimigos a esmagar, mas membros de uma equipa cujo papel é o de se oporem e sem os quais o desporto de
competição não existiria. Pois, numa partida, trata-se essencialmente do frente a frente das vontades. «Esta
vontade deve manifestar-se antes de mais na preparação desportiva, /aprendizagem laboriosa e sem interesse
imediato, graças à

ual, através do seu corpo, o adolescente aprende a equilibrar-se o seio do mundo.»*


O G. Magnane:

«les Effets du sport sur le realmente esta aprendizagem que lhe permitirá obter sem esgo- componement
social à mento os melhores resultados possíveis. Tendo alcançado este in Revue iniornationate de omínio
individual que é ao mesmo tempo uma maneira de conhe- MWagogie (Bruxelas). imento de si mesmo, o
adolescente poderá ir à descoberta dos utros utilizando as suas lperformarces no decurso das/comtições
propriamente ditas. Aí, diante de um rival à sua medida, le é constantemente estimulado a superar-se a si
mesmo. Atinge sim um novo estádio de conhecimento de si. sem dúvida o que explica o fervor muito claro dos
adolescentes lo desporto, fervor que é posto em evidência pelo resultado de Ver Actualitós sociales

recente inquérito sobre a juventude francesa*. ?5 de Maio de 1968).


DES
Há em França 40 % de menos de 20 anos, ou seja, 20 milhões de jovens, dos quais cerca de 2 milhões têm
entre 16 e 20 anos.
O número dos inscritos nos desportos mais praticados é o seguinte:
- atletismo, 65 000 inscritos (contra 500 000 na Alemanha Federal); a taxa de crescimento é de 4 %. ao ano; -
natação, 45 000 inscritos; -basquetebol, 108 000 inscritos; -futebol, 487 000 inscritos; a taxa de crescimento é
ligeiramente inferior a 8 % ao ano. Por outro lado, um inquérito efectuado pelo I.F.O.P. em 1966 indica que
entre os 15-20 anos 64 % sabem nadar, 22 %. jogam ténis,
20 % praticam a equitação, 47 % jogam futebol e 20 % jogam râguebi. Esta sondagem revela que a prática
desportiva diminui entre os jovens à medida que eles tendem para a/maturidade.

Alguns conselhos Não é aconselhada a entrega exclusiva à prática de um único desporto durante
a/adolescência, período em que o corpo está em pleno/ desenvolvimento. Se o adolescente pratica
uma/actividade desportiva num clube, é-lhe assegurado teoricamente um desporto de complemento. É
absolutamente necessário em todos os casos um exame médico regular. Os riscos de perturbações cardíacas,
em particular, são sempre de temer, pois o adolescente, apaixonado pelo desporto, não sabe frequentemente
dosear os seus/esforç os.

DESPORTOS DE COMBATE (Sport de combatlFighting",'sport)

Convém reservar um lugar especial ao desporto de combate dentro dos desportos em geral; há países onde o
boxe já foi admitido oficialmente na vida escolar.

Os riscos Levar um adolescente a praticar um desporto de combate põe em primeiro lugar um problema
de/confiança. Os riscos de traumatismo craniano ou de fractura de um membro são decerto reais
- ainda que estejam amplamente eliminados por uma vigilância e uma regulamentação rigorosas. De qualquer
maneira, não será mais perigoso ziguezaguear de moto entre duas filas de/carros?

Aprendizagem do domínio de si
O desporto de combate ensina o domínio de si. «A vontade, nota Georges Durando, é muito eficazmente Soliei- e
G. Durand,

in J'Ecole des parents tada


nas diversas fases da prática dos desportos de combate. (Novembro de 1968). P. 42
«Primeiramente no período de iniciação, pela necessária repetição
154

de elementos técnicos não só/agressivos (socos, projecções, etc.), como ainda defensivos (contraquedas,
paradas, esquivas, etc.), repetição que está em grande parte na origem da nielhoria neuromuscular (reflexo,
malcabilidade e força), mas que desenvolve não menos eficazmente qualidades de/atenção, de decisão e de
perseverança. Quando chega o período de pelejas reais, desferem-se golpes e recebem-se infalivelmente
outros, o que não tem nada de especialmente agradável, mas constitui uma excelente situação de treino da
vontade ou, se se preferir, de domínio de si. Este consiste em não ceder a uma impressão desagradável ou
dolorosa e em controlar calmamente a situação, explorando ao máximo os erros e defeitos do adversário.»

DEVER (Devoir/Duty)

Mandamento categórico a que a/ moral obriga que nos submetamos. Outrora, toda a/educação se baseava no
sentido do dever. Na esteira da teoria de Kant, os educadores erigiam em tarefa essencial a exaltação do dever à
custa do/desejo. A seus olhos, de facto, o único objecto do desejo era o,,"prazer, ou seja, uma manifestação
egoísta do-eu. Tornava-se então absolutamente indispensável excluir o desejo de toda a formação/moral. Hoje,
os/xpedagogos modernos, na sequência das numerosas críticas formuladas em especial pelo filó sofo Hegel,
ultrapassaram esta noção símplísta do dever. Como sublinha John Dewey: «Não é necessário insistir na ineficácia
de uma teoria que exclui qualquer fim concreto como motivo de vida moral e que chega ao resultado prático de
uma deificação das boas intenções enquanto tais. Ao educador não pode bastar uma concepção desta ordem, pois
a sua obra não é tornar as crianças atentas a uma moral abstracta e levá-Ias a assumir como motivo de acção a lei
formal do dever. A sua tarefa consiste antes em fazer-lhes compreender o que as exigências abstractas da
moralidade requerem delas nas circunstâncias especiais e concretas da vida e em incutir-lhes, por estes ideais
particulares, um interesse que será a mola real da sua/ conduta moral.»* o J. Dewey:

ITcole sur mesure Uma


tal concepção da nova pedagogia é muito particularmente (Delachaux et Niestlé. válida para
os adolescentes. Estes chegam de facto à idade da afir- Paris, 1967), p. 76.

mação do eu, necessidade essa que se não pode satisfazer nos estreitos limites de uma moral de certo modo
imposta. A/educaçâo moral de que o adolescente carece é a que se traduz por um despertar do interesse naquilo
que este possui de mais nobre, isto é, de decoro moral. Só então o despertar da/ personalidade se fará dentro dos
limites das regras morais admitidas e não suportadas.

L--
DIA

DIÀRIO INTIMO (Journal intimalintimate diary) página 40. Manter um diário íntimo é uma/actividade típica
da/adolescência: a/tensão criada pelas transformações/ pubertárias ou /,” morais encontra aí um escape. O diário Intimo pode
existir mesmo que o adolescente tenha um/@1amigo intimo, um/confidente com quem falar: muitas vezes, de facto, ele não
diz tudo a este último. As suas confidências não ultrapassam um certo limiar para além do qual ele se julga exibicionista.
Outras vezes, também, o confidente é tido na conta de não poder compreender uma/personalidade que se quer resolutamente
original. Só ao diário íntimo é possível confiar-se tudo sobre as suas flutuações interiores.

O diário íntimo põe o problema dalintrospecção. Não será perigoso para um adolescente o facto de parecer concentrar-se em si
no instante mesmo em que deveria abrir-se aos outros, descobrir a ,;,sociedade à qual deverá unir-se? É bem certo que o diário
íntimo revela uma tendência para o,,@< narcisismo/ intelectual por vezes suspeita: o adolescente (ou a adolescente) compraz-se
tanto na contemplação da sua própria imagem «interior» que experimenta a/necessidade de a fixar pela análise quotidiana dos
seus estados de alma. Contudo, ressaltam alguns aspectos positivos: «Para escapar aos perigos que o ameaçam, escreve M.
Leleu, o adolescente deverá, como o Prometeu mal agrilhoado de Gide, matar o seu abutre e devorá- lo, ou seja, recusar-se a
toda a ,11introspecção? Isto equivaleria a repudiar inteiramente esse desígnio cognitivo que é nã o obstante o objectivo
primordial de tantos autores de diários Intimos. A salvação surgirá quando o autor subordinar o seu eu em.pírico a um/valor
qualquer. Este pode ser aquilo a que chamaremos o melhor eu, e, para permitir o seu crescimento, o autor exercerá no diário
uma rigorosa vigilância de si mesmo.»* 9 M. Leley: les Jourr

intimes (P.U.F., Paris. Com


demasiada frequência as rápidas transformações internas OU 1952), p. 278. externas deixam o
adolescente desorientado. Ele já não sabe literalmente nessas alturas «de que terra é». A escrita de um diário Intimo, ao
permitir-lhe «fazer o ponto», um exame de consciência de si mesmo, é o lugar de partida para uma reflexão enriquecedora e
não esterilizante. Ao relê-lo, o adolescente pode reencontrar as etapas da sua maturação e construir assim a sua/personafidade
sobre fundamentos sólidos.
O segredo do diário Intimo nunca deve ser violado seja por que motivo for. O adolescente jamais perdoaria um tal gesto que
corresponde sem dúvida alguma a uma violação da intimidade. Mesmo quando se tem conhecimento de um tal diário, é
preferível parecer ignorá-lo e pôr de parte as zombarias e os reparos humilhantes.
158

IFICULDADES ESCOLARES (Difficultás scolaires/Educational problems) pãgInas 165, 380. Outrora, as


dificuldades escolares eram atribuídas à/preguiça ou à má vontade, também chamada «mau espírito». Esta
concepção demasiado esquemática caiu em desuso, graças aos progressos da/psicologia. Hoje,ré ao nível dos
factores inerentes a cada/ personalidade que se:b@'scam as causas das dificuldades escolares:
- factores intrínsecos: / carácter, / aptidões; -factores extrínsecos: contexto social, /educação.

Como apreciar as dificuldades escolares? Para atenuar as dificuldades escolares, é primordial apreciá-las de
forma precisa: o que se consegue mediante os«/testes de estudos secundários».
- Testes de inteligência. O psicólogo escolar começa por submeter o adolescente que tem dificuldades aos
testes de inteligência. Determina-se assim em primeiro lugar a relação entre as faculdades intelectuais do
sujeito testado e as dos alunos da sua idade. Esta relação, expressa pelo/quociente intelectual, permite fixar de
modo preciso o atraso escolar. Em seguida, procura-sé saber se a/inteligência do- aluno atrasado é ou não
normal*. O Testes de Binet e

Simon. -Testes
de aptidão. Podem apresentar-se dois casos: a inteligencia ser ou não deficiente. No primeiro caso,
o adolescente é dirigido para um centro de reeducação destinado a/,"inadaptados escolares, onde receberá
um/ensino à sua medida. No segundo caso, o mais frequente, a inteligência é normal, e está-se então na presença
do seguinte paradoxo: a uma inteligência normal corresponde um rendimento/ anormal. Conclui-se assim que a
causa do atraso registado reside numa inaptidão para o ensino recebido. O adolescente é por conseguinte
submetido a testes de aptidão* que permitem determinar a forma de inteligência do O Testes
de nivel de

sujeito (inteligência concreta ou conceptual, etc.). Se o teste reve- aptidão e de performence.

lar uma inaptidão precisa, o sujeito é dirigido para um centro de orientação escolar.

As causas exteriores do atraso escolar Mas pode acontecer que os resultados não mostrem qualquer
incompatibilidade entre o aluno e a forma de ensino recebida. O adolescente testado possui neste caso uma
inteligê ncia normal e normalmente adaptada às disciplinas escolares. A causa do atraso pode então ser
procurada nos factores exteriores à personalidade.

- CondiÇões da vida escolar: é frequente o adolescente achar-se esgotado em virtude da sobrecarga dos
programas escolares ou
das próprias condições da vida escolar: trajectos repetidos e demasiado longos, continuadas mudanças
de/escola, residência em /meio ruidoso, abuso do/"desporto (excelente em si mesmo, o desporto deve ser
doseado durante a adolescência e colocado sob controle médico). Tudo isto contribui para a dispersão
do/esforço escolar e priva o adolescente da relaxação indispensável a um bom equilíbrio nervoso. O/internato
tem a vantagem de suprimir a maior parte destes inconvenientes, mas pode ocasionar perturbaçõ es/ afectivas
prejudiciais à/escolaridade, pois que o adolescente se sente então separado da sua/família, do mundo exterior,
e privado de uma ,,,,liberdade de movimentos que ele confunde com a liberdade pura e simples.

-Factores educativos: a/personalidade do professor está cada vez mais integrada na função/ educativa. Qualquer/
desequilíbrio desta personalidade pode repercutir-se sobre o aluno. Demasiado severo ou demasiado fraco,
demasiado brilhante ou demasiado «escolar», demasiado interessado ou indiferente, o professor conduz
invariavelmente o aluno às mesmas/atitudes regressivas: /inibição, bloqueio, ou então algazarra e desordem
permanente, sentimento de inferioridade ou de/frustração, outras tantas atitudes incompatíveis com o
/desenvolvimento harmonioso da personalidade «escolar».

- Factores familiares: a atitude dos pais pode determinar um certo número de perturbações afectivas, geradoras
de um atraso escolar. É verdade que a escolha entre diversas atitudes/pedagógicas não se apresenta fácil. Que/
comportamento adoptar: a antiga severidade do pater familias ou o liberalismo do dad americano? Sucede que
certos/pais se sintam desorientados com a /escola do seu filho. Tudo mudou: programas, /horários e relações
pedagógicas. Mas os pais que seguem atentamente a evolução do filho saberão encontrar um meio-termo entre
uma severidade traumatizante procedente do autoritarismo e um/desleixo que, contrariando as aparências, o
adolescente lhes não perdoa. Esta escolha é favorecida hoje em dia nalguns países pela Escola dos Pais, a que os
encarregados de educação em dificuldade podem recorrer.

Os efeitos secundários do atraso escolar


O adolescente - devido ao seu próprio atraso - experimenta uma /tensão que provoca nele um desequilibiio
funcional característico da adolescência. Esta nova tensão é um efeito secundário. Donde um certo número de
atitudes regressivas perante o fracasso. A/agressividade («Estou-me nas tintas para os piofessores e as
158

suas trapalhadas», «eles, não compreendem patavina», «tomara já ganhar algum /dinheiro», etc.) é um dos
modos de compensação mais frequentes, juntamente com a autopunição que conduz o sujeito a procurar
a/punição pelo alívio das tensões internas que ela proporciona. Mas, para conseguir um castigo, é preciso
falhar; daí o clássico círculo vicioso: atraso-/desejo de punição-fracasso voluntário-atraso. Em tais casos, a
intervenção do/psicólogo escolar revela-se quase sempre benéfica.

Os factores ligados ao sujeito


- Os factores caracteriais. A intervenção de um psicólogo é uma necessidade imperiosa quando o atraso resulta
de perturbações /caracteriais: a situação é infinitamente mais grave, porquanto «podemos dizer, esquematizando,
que, se os/conflitos tomam /neurótica a criança normal, é a criança caracteropata que cria os conflitos»*. Certos
atrasados oferecem realmente todos os sinais Robin: Ias Difficultós

scolaires de 1'enfant aparentes


de unia/oposição voluntária ao trabalho escolar: (P.U.F., Paris, 1962), p. 46.
- Oposição resolutamente patológica /passiva: fantasia do esquizóide, desatenção permanente;

desafeição aos estudos por abulia,/astenia ou/apatia; activa: revolta do paranóico.


- Oposição de tendência patológica

passiva: apetite do ganho imediato e imerecido; activa:/reacção clássica do adolescente que se opõe para se
afirmar. Se, por um lado, o primeiro caso é inteiramente da competência do especialista*, por outro, as oposiçõ
es de tendência patológica O Psicólogo escolar, podem ser curadas graças à simples influência da/educação*.
psiquiatra ou psicanalista.

O A origem de certas A oposição activa selá facilmente superada pela canalização de uma oposições «passivas» pode

w ,plicada pelo exemplo energia afinal mais positiva (afirmação de uma/ personalidade em de cantores sem voz

lançados no mercado como vias


de/ desenvolvimento) do que negativa. um produto alimentar.
- As perturbaçjes da elaboração intelectual. A/ inteligência pura não passa de uma palavra: para existir, a
inteligência deve mediatizar-se, isto é, exercer-se sobre diversos materiais por intermédio dos órgãos dos
sentidos. Acontece produzirem-se perturbações ao nível destes intermediários: é o caso da/dislexia,
da/disortografia, da discalculia, da /instabilidade motora, da astenia ou da apatia. O sujeito atingido por estas
perturbações é hoje eficazmente reeducado com a ajuda de especialistas*. Ele reencontra assim, ao mesmo
tempo que o o Ver «Dislexia»,

«Disort grafia», domínio dos instrumentos da inteligência, a própria inteligência «Instaboilidade», «Astenia». e O/êxito
escolar.
DIG

DIGNIDADE (Dignitó/Dignity)

A noção de dignidade é um factor importante da/psicologia dos adolescentes. Estes, diante da obrigação de se
colocarem em situação no mundo (quer dizer, de assumirem a/ responsabilidade do que são ou do que parecem
ser), experimentam uma profunda inquietação quanto ao resultado dos seus esforços. Por seu lado, os adultos,
sobretudo os/ pais, a braços com as preocupações quotidianas, nem sempre percebem a profundidade e a
intensidade deste/desejo de maturação. Encaram descuidadamente o que na realidade é a/necessidade
fundamental de se construir a si mesmo. Por exemplo, é vulgar o adolescente manifestar um sentido agudo da
justiça, com frequência pouco de acordo, aliás, com a sua maneira de ser. O adulto, a quem a vida de todos os
dias acostumou aos compromissos, sorri com indulgência sem suspeitar de que, agindo assim, amachuca, ou até
mesmo ofende profundamente, a dignidade do adolescente.

DINHEIRO (Arçlont/Money) Páginas 90. 163. 327, 363.414.422.

De uma maneira geral, percebe-se que os adolescentes tratam com sobranceria o problema do dinheiro. Para
nos convencermos disto basta escutar algumas das suas reflexões a propósito de homens célebres: «Só o
dinheiro lhes interessa e isso não é bom. Deixam-se todos inebriar pelo dinheiro e pelo sucesso, coisas que
nada valem.»* o Georgeas Teindas e

Yann Th re U: Ia Jem Ora,


não é menos frequente que estes mesmos adolescentes se gabem da,s 1. et /à soc de o/pai
ter «uni/automóvel formidável»; ou então, ao rece- modernes berem alguém em sua casa, se desculpem de
«não haver passadeira (E.S.F. Paris, 1961).

na escada» ou «elevador», ou ainda: «Não vivemos no Restelo, claro, mas, nestes últimos tempos, os meus/pais
tiveram isto ou aquilo.» Seria então fácil concluir pela hipocrisia da parte do adolescente. Na realidade, interfere
aqui um problema anexo que dá ao seu /juizo sobre o dinheiro uma inflexão característica: é a falta de
/confiança em si. Ora, ao olhar à sua volta, o adolescente verifica que o adulto mais invejado, o mais seguro de
si, é o que tem dinheiro. Daí a concluir que o dinheiro equivale a poderio vai apenas um passo que se dá contra
vontade. Assim se explica a ambiguidade do adolescente nos seus juizos sobre o dinheiro. Nos meios de fracos
recursos financeiros, esta/atitude não conduz a uma contradição fundamental: não há dinheiro, pode-se desprezá-
lo tanto quanto se quiser. Isto não impede no entanto que, na altura da crise de oposiçã o, os/pais sejam vistos
como «pobres-diabos» ou ainda como «totalmente desprovidos de ambição». Há já aqui um indicio característico
que é corroborado pela atitude
160

dos adolescentes originários de meios ditos «burgueses», ou até verdadeiramente abastados. Manifesta-se ai mais
facilmente unia franca desafeição com/oposiÇão c/conflito ao nível familiar: «Os burgueses vivem na podridão»
ou «Eles só pensam no dinheiro; é a única coisa que conta para eles na vida.» A fim de compreenderem os seus
filhos, convém, pois, que os pais não percam de vista os dados reais do problema. Eles poderão assim traduzir
certas/reacções juvenis que tenham permanecido incompreensíveis até aí. Poderão também dar ao dinheiro o
único valor significativo que ele merece: um valor de troca e de dádiva.

O pai e o dinheiro
O dinheiro do/ pai não é nem um maná nem uma esmola: ele é a manifestação de uma troca mais profunda entre
os membros da comunidade familiar; cada qual desenipenha aí um papel, sendo o do pai o de trazer dinheiro.
Seria, contudo, simplista ficar por este aspecto da imagem paterna, ainda que muitas vezes ela se resuma a tal.
Assiste-se então a uma espécie de absentismo tanto mais pernicioso quanto se esconde atrás de reparos do
géncro: «Com tudo o que faço por vós, considero ter o direito de descansar nesta casa.» Tais reflexõ es escapam
vulgarmente após um longo dia de/ trabalho. Devem ser, logo a seguir, objecto de uma correcçã o;
sem isso, poderiam provocar urna ruptura do diálogo/ educativo. O adolescente estaria então habilitado a julgar
que o seu pai apenas alicerça a sua/autoridade no dinheiro que ganha. Ficaria assim em boas condições para abrir
os debates, com a,,,Iagressividade habitual na sua idade, sobre a sua situação de mendigo oficial.

Alguns principios educativos


O dinheiro coloca, por conseguinte, um problema educativo, na medida em que é frequentemente considerado
como/tabu. Isto deve-se sem dúvida à circunstância de poucos pais terem perante ele uma/atitude
verdadeiramente adulta. O dinheiro não é senhor nem escravo: ele exige sempre uma contrapartida e esta
contrapartida é geralmente mal aceite. Motivo pelo qual ele nunca deixa ninguém indiferente, pondo em jogo os
dispositivos mais íntimos da /personalidade. Por todas estas razões, é assaz difícil instaurar um diálogo
realmente educativo a propósito do dinheiro. Mas, apesar de ser dificil, este diálogo não é impossível. Todavia,
achamos primordial respeitar certos princípios: Adequar sempre a nossa atitude aos nossosljuízos..1 Valor
ambíguo, o dinheiro presta-se facilmente a um certo tipo de distorção: o «faz o que eu digo, mas não o que faço»
seria particularmente nocivo para o adolescente, já que este se encontra - no momento em que vai inserir- se na
/sociedade - sensibilizado de modo muito espe-
cial para o problema do dinheiro e das / condutas que ele suscita. Considerar sempre o dinheiro‟ deforma
positiva: como indicam Porot e Seux: «O dinheiro ( ... ) pode ser um autêntico meio de aperfeiçoamento
individual. Saber dar, saber sacrificar-se, são coisas que se aprendem em família. Saber economizar
sensatamente, sem cupidez, sem avareza, é necessário à vida adulta. Saber pagar, ajudar os outros sem os
humilhar, é uma arte que exige muita delicadeza. Saber não exigir um salário por qualquer trabalho, por
qualquer serviço prestado, é já uma/ aprendizagem da dádiva.»* Enfim, importa desconfiar das tomadas de
posição extremas a que o adolescente poderia ser levado. Pois a avareza corresponde à profunda incerteza do
avarento e à sua perpétua insatisfação pessoal. A procura do ganho a todo o custo traduz infalivelmente um
desejo de compensação de uma inferioridade real ou imaginária, ou então, noutros casos, uma agressividade
patológica na sequência de um sentimento de /culpabilidade ou de inferioridade. Mas uma desenvoltura
ostentada a respeito do dinheiro não traduz um equilíbrio melhor: ela pode ter por origem as mesmas

causas que a avareza. Os/pais devem levar em conta todos estes dados para resolverem o delicado problema do
dinheiro. Basta contemplar os painéis de publicidade para compreender que a juventude actual representa um
poder de compra apreciável. «Num ano, os adolescentes deixaram no mercado francês
10 857 420 000 francos. Isto significa que eles dispõem em média de 122,50 francos por mês, ou seja, pouco
menos de um quinto do rendimento médio dos Franceses.» Estes números englobam os rendimentos dos jovens
trabalhadores, as bolsas de estudo e as prendas. A semanada ou mesada apenas representa metade do dinheiro
gasto. Os menores de 17 anos têm entre cinco e oito francos por semana e os mais velhos entre 10 e 15 francos.
Segundo um inquérito de B. Zazzo, a atribuição deste dinheiro é repartida da seguinte forma*:

Rapazes

Sem dinheiro A pedido Semanada fixa Mesada fixa

Alunos de liceu Normalistas Aprendizes

-17 +17 -17 +17 -17 +17

45,2

44,1

40,5

24,5

38,6

13

35,5

36,8

32,4
24,5

28,6

28,1

12,9

16,2

18,9

20,4

32,7

30,4
PA-ii
182

Raparigas Alunas de liceu Normalistas Aprendizas

-17 +17 -17 +17 -17 +17

Sem dinheiro

A pedido

33,3

38

50

52

52,5

50

Semanada fixa

35

28

25

18

40

34,4

Mesada fixa

31,7

34

10

16
7,5

15,6

B. Zazzo, aprofundando o seu inquérito, procurou em seguida saber a percentagem de adolescentes satisfeitos
com o seu dinheiro de bolso. E o caso da maioria (70 %). Quando se pergunta aos descontentes o motivo da sua
insatisfação, verifica-se que são muito poucas as reivindicações que incidem sobre a quantia concedida.
O aumento, nos casos em que é reclamado, não passa de alguns francos. O que a maioria dos descontentes
solicita, é uma maior /liberdade de escolha nos gastos. Isto é particularmente verdade para os adolescentes
escolares que preferem dispor de um sistema fixo, ainda que a atribuição a pedido pareça «revelar-se mais
rendosa».

* utilização do dinheiro * revista Temps libre de 15 de Fevereiro de 1968* publicou um * Temps libre,
(Editions Fleurus. estudo sobre o dinheiro posto à disposição dos adolescentes e a Fevereiro de 1968). utilização feita
por estes últimos de tal dinheiro. Depois de ter notado a influência das crianças de oito a 11 anos sobre as
compras efectuadas pelos pais, o autor aponta: «Na adolescência, estes factores acentuam-se. A autonomia do
jovem cresce: assim, 46 % dos jovens de 16 a 20 anos têm a escolha da marca dos produtos que compram para a
sua/família; 42 Y. introduziram em casa produtos alimentares que a família ainda não havia provado. «A sua
influência e o seu poder de compra pessoal crescem igualmente, em geral com a aprovação dos/paí s. Por todas
estas razões, observa-se um desenvolvimento das compras de bens de consumo ligados aos/tempos livres
propriamente ditos.» Seguem-se os números de uni inquérito do I.F.O.P.:
- 58 Y. dos jovens de 15 a 20 anos possuem só para si ou juntamente com os seus irmãos ou irmãs uni
aparelho fotográfico;
- 41 possuem um gira-discos;
- 39 possuem uma bicicleta motorizada ou uma moto;
-5 possuem uni gravador;
-3 possuem um automóvel;
-2 têm uma máquina de filmar.

Que se deve dar? Os/pais indecisos podem reter este princípio: a autonomia conferida pela semanada ou
mesada ultrapassa em importância a soma
atribuída. Sendo assim, parece que a melhor política consiste em não exercer -salvo algumas excepções
motivadas- uma fiscalização demasiado rigorosa sobre as despesas efectuadas. O adágio «vale mais o como se dá
do que aquilo que se dá» nada perdeu da sua actualidade. Certos pais tentam dar aos filhos o máximo de dinheiro
a fim de que ele não sofra devido à comparação com os/camaradas mais ricos. Este cálculo -fundado num
excelente sentimentonão tarda a revelar-se falso. Pois, de qualquer modo, o adolescente será levado, mais cedo
ou mais tarde, a perceber a desigualdade da repartição das riquezas. É preferível que ele faça esta descoberta
num clima de serenidadexafectiva familiar. Resta aos pais a quem se depara este gênero de dificuldade a
possibilidade de favorecerem o/trabalho temporário durante as/férias: uma tal solução tem amiúde a feliz
consequência de desenvolver o espírito de iniciativa do adolescente, ao mesmo tempo que o leva a tomar
consciência da/sociedade na qual ele deverá inserir-se mais tarde.

DISCOS (Disques/Records) página 427.

Os discos são objecto de uma crescente procura da parte dos adolescentes, que lhes dedicam com frequência u ma parcela
importante do seu,;'dinheiro. É vulgar adolescentes, sozinhos ou em/grupo, passarem horas inteiras a ouvir os últimos discos
da/moda. O que não deixa de espantar certos/país. «Isso é só/barulho, ouvímo-los repetir. Quanto às palavras, é melhor ficar
calado.» Parece efectivamente que o disco representa um meio fácil de barulho, um meio de se atordoar, para o adolescente
actual. Será motivo para lhe recusar direito de cidade? O problema não é simples. Se o disco atordoa, obstando a uma tomada
de consciência e de /responsabilidade, não é menos verdade que ele representa um duplo/valor positivo. Primeiro, graças ao
disco, o adolescente tem consciência de pertencer a uma categoria/ social. Ora, justamente, a/dúvida mais constante e mais
insidiosamente traumatizante liga-se hoje em dia à dificuldade que o adolescente experimenta em situar-se socialmente devido à
ausência, na nossa sociedade, de/ritos pubertários que consagrem o acesso ao estatuto de adulto. Em seguida, é inegável que o
ritmo constitui um exutório salutar para a/,tensão criada tanto pela vida moderna como pela própria situação da/ adolescência,
período de eleição da dúvida de si e, por isso mesmo, das perturbações da/ personalidade.
164
(Ed. ouvrières, Paris,
1966), p. 193.

)ISCUSSÃO (Discussion/Discussion) páginas 277,304.410,412. «Ao discutir com um/grupo de adolescentes, tem-se a
impressão de que lhes importa menos resolver problemas do que apresentá-los: mais do que as respostas - ou pelo menos a
abertura para o real - o que lhes interessa é a discussão e a veia dialéctica.» O Esta e Deconchy:

Ia Développoment /atitude irrita naturalmente o adulto a quem a experiência vergou psychologique de l'enfent desde há muito às
exigências quotidianas do «rendimento», seja et de fadolescent

qual for o domínio. Uma vez mais, convém não esquecer que o fundamento de uma tal/ atitude/ intelectual se encontra na
ambiguidade do estatuto do adolescente, o qual já não é uma criança sem ser ainda um adulto. Sem dúvida que ele tem acesso
à abstracção, mas a sua/ capacidade nesta matéria não atinge verdadeiramente o real ou, se o atinge, é imbuída do receio difuso
- próprio da/ adolescência - de uma realidade adulta que é preciso conquistar. Este receio é, aliás, largamente justificado pelas
veleidades de resistência de uma/sociedade sistematizada ao máximo. É então lógico que a discussão seja motivada no
adolescente mais por um/,,desejo de fuga ao real do que por uma preocupação de apreensão concreta do mundo. Tudo se passa
como se o adolescente tentasse, através da via da discussão, domesticar, contornando-a, uma realidade que nã o se mostra à
sua medida. Muitas vezes, o gosto imoderado pela discussão redunda em/"<intelectualização. Devemos todavia acrescentar
que esta - mesmo quando excessiva - não deixa de alargar o campo intelectual do adolescente.

Como discutir com um adolescente? Podemos concluir do que dissemos anteriormente que o adolescente ou a adolescente
discute mais para se convencer a si mesmo do que para persuadir o interlocutor. Mas são poucos os adultos que sabem
resignar-se ao papel de ouvinte. É no entanto uma fase necessária a qualquer/ educação construtiva: pois não é pela sua
capacidade de ouvir que um adolescente julga um adulto «interlocutor válido»? Os educadores sabem bem que o êxito da sua
acção passa forçosamente por este estádio. Na verdade, o adolescente pressente confusamente a vacuidade da sua directriz
intelectual: é por tal motivo que a abertura da discussão - ainda que esta não avance - é já uma tentativa de abertura, no sentido
estrito da palavra. Assim, só o adulto considerado receptivo parecerá digno de ser escutado, na medida em que se sabe que o
adolescente hesita, constantemente, entre a dádiva e o acolhimento.

DISLEXIA (Dyslexie/Dyslexia) páginas 158, 290, 306.

Do grego dus, «dificuldade», e lexis, «palavra». A dislexia designa o


DIS
conjunto das/ dificuldades inerentes à/aprendizagem da língua escrita. Estas dificuldades (confusões de sílabas
tais como ra e ar, ou de sons semelhantes: v e f ausência da oposição surda e muda, inversão de letras simétricas
como d e b, por exemplo) não são reveladoras de um nível/ intelectual inferior à média. Na maior parte dos
casos o disléxico é, em geral, dotado, mas a sua/escolaridade ressente-se fortemente da desvantagem da
enfermidade. A dislexia é uma enfermidade, no sentido em que ela tem a sua raiz num defeito da organização
perceptiva motora (má laterafização*). Na prática, um disléxico não pode seguir correctamente com a vista um
texto lido: é obrigado a frequentes recuos que refreiam a compreensão; daí o aparecimento de fracassos
escolares que poderiam ser evitados graças a uma reeducação, actualmente clássica, por meio de técnicas
ideovisuais. Existem nos nossos dias três grandes escolas de reeducação de disléxicos que se distinguem entre si
pela maneira de abordar o problema. Todos os ortofonístas fazem o mesmo trabalho de base, mas este é
acompanhado por cuidados especiais:
- A escola de Borel-Maisonny apoia-se em técnicas mecanistas codificadas com grande precisão. Esta escola
considera a dislexia, antes de mais, como uma perturbação instrumental. -A escola de Claude Chassagny põe a
tónica nos factores/ psicológicos da dislexia e dedica-se a tratar tanto a dislexia propriamente dita como as
perturbações secundárias psíquicas.
- A escola da profa Aubry inspira-se nas técnicas psicanalíticas. A reeducação reveste a forma de psicoterapias.

DISORTOGRAFIA (Dysorthographie/Dyspelling) páginas 158.290.

A disortografia é o conjunto das/,< dificuldades encontradas na /;‟aprendizagem da ortografia*.


9 A discalculia é o

conjunto das dificuld& (confusões. inversões) A disortografia de evolução. Na maior parte dos casos, a disorto-
encontradas na

grafia está ligada à/dislexia: o aluno escreve como lê, com aprendizagem do cálcu

todas as confusões e inversões próprias desta perturbação*, da e Ver «Dislexia». qual a primeira é, aliás, um elemento de diagnóstico. Por
conseguinte, é tratando a dislexia que se pode curar esta forma de disortografia dita de «evolução».

A disortografia de involução. Esta segunda forma é mais rara e própria da adolescência. Ela é causada pela regressão dos centros nervosos postos em jogo pela/
actividade gráfica. O adolescente - até ai normal - começa a cometer erros não habituais cujo número vai aumentando. Não se deve
hesitar neste caso em consultar o /psicólogo escolar.
los

ISPUTAS (Disputes/ Disputes)

A disputa representa o termo intermédio entre a/discussão e a altercação. Não é raro uma discussão entre/pais e filhos
descambar em disputa. Sabe-se que o adolescente, desejoso de afirmar a sua nova autonomia de pensamento, quando não
de acção, sustenta sistematicamente o contrário do que dizem os familiares, e isto seja qual for o assunto em causa: /política,
/desporto, modo de vida, etc.

Com demasiada frequência, os pais, cansados, mostram-se incompreensivos diante do arrebatamento do adolescente, quase
sempre arrastado pelo simples/prazer dialéctico da discussão. Acusado de má-fé ou de/infântilismo, ele torna-se, sem custo,
arrogante. A adolescente pode deixar em pranto o compartimento onde se encontra. Um e outra pegam -se com os adultos em
geral e os pais em particular. Estes erguem então os olhos para o céu perguntando como foi possível terem filhos assim. A fim
de evitar chegar a este ponto, pode bastar pôr em prática alguns princípios. A censura mais vezes dirigída aos pais pelos
adolescentes é a de romperem o diálogo. Eles devem esforçar-se, na medida do possível, por não encerrar sistematicamente a
discussão com um áspero: «Parece impossível, dás-nos cabo da paciência! Quando tiveres a nossa experiê ncia, poderás meter-
te na conversa!» Este gênero de observação provoca invariavelmente alguma/ insolência destinada a vingar uma/dignidade
ferida.

DISTRACÇÃO (Distractíon/Absent-mindedness)

Do latim distractus, «tirado para fora de». A distracção não deve ser confundida com a desatenção. Ela é apenas um desvio
da/atenção, como o indica a etimologia latina, ao passo que a desatenção é a incapacidade de fixar o espírito seja no que for.

A dispersão Se o distraído parece desatento, em especial na aula, é porque o seu espírito está ocupado algures: longe do
exercício escrito ou da lição, a sua/imaginação infatigável devaneia de centro de interesse em centro de interesse. Uma tal
forma de distracção é chamada «distracçã o por dispersão dos interesses»: ela é típica dos/instáveis e pode ser hereditária ou
adquirida*. O Ela pode também

derivar de uma hipertireoidia A obsessão (ver «Hormonas»). Inversamente, existe uma forma de
distracção devida à polarização exclusiva do interesse: um único assunto monopoliza a/actividade mental de forma/
obsessional. Em tais casos, é indispensável que
DOP
as pessoas chegadas se esforcem por suscitar actividades capazes de deslocar o centro de interesse exclusivo,
pois há então um grande risco de ver despontar uma/ personalidade carecida de abertura para o mundo real.
Assim, o «marrão», por exemplo, compensará a sua actividade,,,< intelectual intensa por meio de uma
actividade física...

DOPAGEM (Dopage/Doping) página 168.

Cada vez que um caso de dopagem é trazido à luz do dia, os jornais não deixam de apregoar: «A dopagem,
flagelo dos tempos modernos.» Contudo, a dopagem é tão velha como o mundo*. Mas não o já os
atletas grego se pode negar que ela está na berra. As provas acumulam-se n para melhor aguentarem

um provas de resistência triste


balanço. O caso que mais impressionou a opinião pública foi a (designadamente a
Maratona), faziam a morte
do célebre ciclista britânico Tom Símpson. Mas estes trágicos ablaÇão do baço. exemplos
estão longe de desencorajar os jovens arrivistas. É verdade que nos nossos dias a/competição se não limita ao
dornínio/desportivo; também no plano/social ela reveste o aspecto de uma batalha impiedosa. A sociedade já
não dispensa os seus favores senão aos que, desde muito jovens, adquiriram um sentido agudo da competição.
Então, para pôr o máximo de trunfos do seu lado, o estudante solicita ao seu organismo/ esforços desmedidos.
Para suportar estes esforços, toma cápsulas «miraculosas», geralmente à base de anfetamina*.
o enfetamina.- excitar

do sistema nervoso.

Os perigos da dopagem Da mesma forma, os adolescentes com problemas de/virifidade segredam uns aos outros
os nomes de produtos «sensacionais». Até os mais prudentes ou mais reticentes se deixam tentar «para ver». Mas
depois de verem o mal está feito. Assim que se lhes deparar uma prova, um obstáculo a transpor, eles hão-de
recordar-se do produto que operou maravilhas. Evidentemente que há fenómenos de/depressão secundária, mas
este é o preço a pagar, um preço que eles consideram, afinal de contas, razoável. Ora, o verdadeiro preço a
liquidar é a habituação: para superar o próximo obstáculo, já não bastará ao adolescente um comprimido, mas
dois ou, talvez, três. É possível que ele não seja um autêntico drogado, mas há factos indesmentiveis: as cápsulas
tornaram-se-lhe indispensáveis em todas as circunstâncias difíceis. Sem elas, ele sente-se diminuído. Mesmo que
não se habitue, no sentido físico do termo, como um/drogado, não deixa de ser verdade que as repercussões são
nefastas a longo prazo.

No plano/moral, o adolescente que se droga abdica de toda a sua vontade no próprio momento em que deveria
forjá-la, fazer
168

dela o instrumento do seu/êxito futuro. «A dopagem, escreve Jacques Etienne, falseia manifestamente a
competição. Ela transforma os desportistas em batoteiros, quando, afinal, o desporto é, no mais alto grau, um
maravilhoso meio de/educação, desde que se respeite o seu espírito. Mas a dopagem não é apenas um mal para o
corpo. É-o também para a alma porquanto destrói a von- tade, único estimulante que permite ser-se mais homem
e mais forte.» oo J. Etienne: «le Doping:
un cancer», in Promesses (Fevereiro de 1966). P. 60.

ROGA (Droque/Drug) pâgina 167.

Por que motivo fez a droga tantos adeptos entre os jovens em tão pouco tempo? Dir-se-ia que a publicidade espalhafatosa dada a este fenômeno, novo para alguns
países da Europa, levou mais de um adolescente a drogar-se. Convém de facto não esquecer que o/contágio mental é um mecanismo psíquico bastante frequente
nesta idade. E isto tanto mais quanto a droga encontra um terreno propício no adolescente. Com efeito, este acha-se, por definição, sujeito aos embates e às/>,
competições da juventude: a droga é assim um/ dopante com a reputação de ajudar a transpor os transes difíceis e a superar o desânimo. Nestas competições, o
adolescente põe em jogo os próprios fund?Lmentos da sua frágil /personalidade: o mínimo fracasso pode tomar o aspecto de uma derrocada. A droga é então
sinónimo de esquecimento: graças a ela, escapa-se a uma realidade acabrunhante.

A prevenção Prevenir o risco de intoxicação é uma tarefa, sem dúvida difícil, que os/pais devem levar a cabo: está em jogo a saúde física e /moral do adolescente.
Seria bom, para encetar o diálogo, apresentar todos os motivos susceptíveis de levar alguém a drogar-se. Estas explicações bastam muitas vezes para afastar os
riscos de um contágio mental corrente: realmente, chegou-se à conclusão de que numerosos adolescentes, apesar de não sentirem qualquer/necessidade de o fazer,
se drogaram unicamente «para fazer como todos os amigos». Sendo assim, uma advertência/ inteligente pode retê-los de dar esse passo perigoso. Uma tal
advertência não deve consistir em ameaças, mas em avisos. Esta destrinça, embora subtil, nem por isso é menos importante: o adolescente em crise de/oposiÇão
arriscar-se-ia a encontrar nestas ameaças novos motivos para se drogar. Por aviso, devemos entender uma exposição clara dos Perigos incorridos e das medidas que
as pessoas mais íntimas estão habilitadas a tomar para salvar o drogado. A droga é um veneno, o drogado um doente que importa tratar, que os pais têm o/
dever de tratar - contra a sua vontade sé necessário for.
DUV

O rastreio Para rastrear o eventual uso da droga, o melhor meio é diligenciar por pôr a nu todos os sintomas
de/ inadaptação: pois afinal é disso que sofre o jovem drogado. Assim, uma queda brutal do rendimento
escolar, do tono mental ou/afectivo e, de uma maneira geral, uma deterioração da saúde devem ser
cuidadosamente examinadas: podem revelar o emprego da droga.

DúVIDA (Douto/Doubt)

Parece que a dúvida é uma constante da,,< personalidade adolescente. De facto, tudo impele o adolescente a
carecer de/confiança.

Fisicamente, as transformações pubertárias são muitas vezes traumatizantes: o adolescente duvida de poder
ser/viril quando examina a sua silhueta desengonçada. A adolescente acha-se demasiado magra ou demasiado
forte e desespera de vir um dia a ser bonita.

Sentimentalmente, o estatuto/social do adolescente refreia o desabrochar normal da/afectividade. Na verdade,


as condições edipianas perturbam as /relações/ familiares. A suspeição dos adultos remete para a
clandestinidade qualquer manifestação sentimental relativamente ao /sexo oposto e, mais ainda, pelo mesmo
Sexo.

No que respeita à profissão, segundo o inquérito de Bianca Zazzoop 9 ver «Futuro». a dúvida parece ainda mais
acentuada: 41,4 %. dos alunos de liceu de mais de 17 anos e 37,5 %. dos jovens assalariados interrogados
declaram não ter /confiança alguma no seu/futuro. Estas dúvidas, que dão a impressão de impregnar a vida
mental do adolescente, resultam, no entender de certos autores, da falta de /`ritos pubertários consagradores da
entrada na/ sociedade adulta. É o que pare= demonstrar no inquérito de B. Zazzo as respostas dos /,alunos da
Êcole normale, muito confiantes no futuro e para os quais o concurso de entrada se afigura um substituto de tal
rito. De uma maneira geral, a dúvida é devida em grande parte à necessidade em que se acha o adolescente de
assumir um papel novo para ele e que comporta um certo número de /responsabilidades actuais ou futuras.
170

DUCAÇÃO (Éducation/Education) páginas 108. 125, 179, 190, 361, 506.

A palavra educação deriva do latim ducere, que significa «conduzir». A educação consiste portanto em conduzir a criança e o
adolescente a uina,,< maturidade física, intelectual e moral de tal ordem que a integração no,;<mejo seja satísfatóiia.

Maturidade física
O,,;, desenvolvimento físico na/,,puberdade deve ser objecto de atentos cuidados. O velho adágio «um espírito são num corpo
são» nada perdeu da sua actualidade. De facto, há muitas deficiências físicas que podem ser causas de uma inadaptação mais ou
menos pronunciada na/ adolescência. Certa adolescente arqueada julga-se corcunda, uma outra, esguia, julga-se magra. As
verdadeiras deficiências são sentidas - aliás justamente - como uma desvantagem bastante peada, e isto tanto mais quando as
críticas acerbas, ou mesmo maldosas, são moeda corrente em tal idade. Mas a simples vigilância médica não é suficiente para
assegurar a acção educativa. O adolescente deve adquirir na puberdade alguns princí pios de higiene de,,--” vestuário, corporal
e/alimentai. A higiene /sexual é objecto de um capitulo especial.

Maturidade intelectual Em matéria de desenvolvimento/;” intelectual, a adolescência é um período privilegiado. Certas


faculdades -como a/menióriaatingem por volta dos 17 anos o seu ponto culminante. O adolescente que ainda não é obrigado a
«produzir» deve deparar nesta idade com ocasiões de desenvolver os seus dons intelectuais O exercício escolar tem de ser
considerado sob este ângulo, e não como uma imposição. O ensino escolar não é uin,,«jogo gratuito mas uma ginástica
intelectual que confere a quem a pratica uma maleabilidade capaz de facilitar qualquer,/ adaptação ulterior.

Maturidade moral A educaÇão/moral deve antes de mais levar o adolescente a um estádio de autonomia. O papel essencial
cabe à/família, mas esta
EDU
deve saber adaptar-se às exigências da/ adolescência. Na verdade, se a criança está inteiramente dependente
do/ensino moral ministrado pelos adultos e sobretudo pela família, o adolescente, esse, deve adquirir um sentido
moral e uma escala de/valores que já não sejam unicamente função da apreciação de outrem.
À/passividade/pueril deve suceder a autonomia adulta. Esta fase de equilíbrio é muitas vezes precedida de uma
crise/ oposicional normal. O educador tem de saber levar em conta esta procura de equilíbrio e conduzir o
adolescente a urna tomada de posição pessoal que não seja nem o reflexo fiel nem o inverso sistemático de um
ensinamento. A educação moral do adolescente deve ser feita a partir de casos concretos e não de grandes teorias
que o afastem facilmente da realidade. É a experiência quotidiana que deve fornecer o tema das reflexões morais.
Assim, a necessidade do/trabalho pode ser ensinada a partir do problema da mesada ou semanada, o respeito
pelos outros a partir dos problemas da/sexualidade.

A educação é permanente: todos os adultos em contacto com rapazes ou raparigas são parcialmente responsá veis
pela sua educação. Convém, pois, que os/pais, professores e educadores, todos/responsáveis, qualquer que seja o
nível, trabalhem em comum. Cada um traz a sua pedra ao edifício: a fim de que este seja sólido, importa que os
educadores se inspirem nos mesmos princípios. A/educação não é somente permanente: ela deve
adaptar-se a cada caso particular; é indispensável levar em consideração a/personalidade do adolescente. Seria
tão ineficaz como injusto tratar da mesma maneira dois/caracteres ou dois/ temperamentos opostos, do mesmo
modo que seria vão pretender vestir com o mesmo fato dois indivíduos de estatura desigual. Por exemplo, a
educação terá de ser imbuída de/autoridade ou de liberalismo, consoante os casos. Alguns adolescentes reagem
melhor a uma do que ao outro. Não existe receita nesta matéria. Cada caso é um caso especial: a educação
requer um esforço de lucidez permanente da parte do educador.

Á personalidade dos educadores é um dos elementos principais da educação. «É raro, escreve Georges Mauco,
os pais que atingiram uma vigorosa/ maturidade/ afectiva e a plenitude da sua vida /sexual genital terem crianças
perturbadas. Formando um casal harmoniosamente complementar, unidos /psicologica e fisicamente, oferecem
ao filho um/ meio relacional tranquilizador. A realidade e as suas exigências são assim desdramatizadas e melhor
aceites pela criança.»# O Georges Mauc<

Psychenalyse et édi Ao
invés, os adultos imaturos tentam reviver através dos seus filhos (Aubier-Montaigno. uma
segunda juventude. A projecção que eles fazem desta sorte 1987), p. 223.
174

A informação fisiológica deve basear-se nas manifestações da genitalidade inerentes à/puberdade. Os sinais
secundários da/sexualidade devem ser objecto de uma explicação precisa: pilosidade, seios, muda da voz.
Depois devem ser explicados os fenômenos sexuais propriamente ditos:/ menstruações nas-raparigas,
eJaculações espontâneas, diurnas ou nocturnas, nos rapazes. É importante que o/vocabulário seja claro e
preciso.

Citamos dois exemplos. AsIregras. «Todos os meses - 15 dias antes das regras - um dos ovários põe um óvulo
na bolsa destinada a receber o bebé: o útero. Esta bolsa incha e o sangue aflui para ela pronto a alimentar o
bebé que poderia formar-se se o ovo complementar viesse juntar-se ao que foi posto pelo ovário. Quando ele
não vem, o ovo inutilizado e o sangue são rejeitados.» Ejaculações. «As eJaculações são normais. O líquido
espermático é feito de milhões de pequenas células vivas, das quais basta uma, quando ela encontra a célula
formada no corpo da mulher, para criar um bebé.»* Uma tal informação, ao mesmo tempo precisa 9
EncycIopédie dos e desdrarnatizada, ajuda a superar os problemas que surgem, inevi- tarents modernes, p. 325.
tavelmente, por ocasião das transformações/ pubertárias. À medida que o adolescente vai crescendo, informaçõ
es mais detalhadas podem explicitar o processo normal do desenvolvimento.

O desenvolvimento da sexualidade Os adolescentes passam por diferentes estádios de desenvolvimento


afectivo na altura da puberdade. É conveniente que os/pais os conheçam para não dramatizarem certas
situações que de/anormalidade apenas têm a aparência.

O erotismo autónomo. É o estádio que procede directamente das primeiras pulsões sexuais da puberdade. Estas
pulsões são ainda indeterminadas e a ausência de parceiro não permite satisfazê-las. A consequência principal é
a/masturbação. Esta fase é uma das mais angustiantes, pois quem diz/erotismo autónomo diz solidão.
A/educação no decurso desta fase deve tender a romper uma tal solidão. De facto, aquele (ou aquela) que se
masturba experimenta a impressão de ser o único no seu caso, logo anormal. Independentemente de qualquer
conceito moral, ele/culpabiliza-se por não saber que a maior parte dos adolescentes estão na mesma situação.
Culpabilizado, oferece uma resistência menor a esta forma de erotismo. Quando, afinal, bastaria uma conversa
franca para romper este isolamento, vemos adolescentes atirados para a/depressão nervosa por se julgarem sós,
por acreditarem que a masturbação conduz à loucura, que ela arruina a saúde, que uma espécie de lepra
O A masturbação

clitoridiana pode impedir os desfigurará. Em virtude de as não terem prevenido, certas adoles- ulteriormente um gozo

baseado na penetraç5o do centes podem ficar enfermas sexuais para o resto da vida*. pênis na vagina.
/ Homossexualismo de grupo. No decurso desta fase, verificamos que os rapazes rejeitam globalmente as
raparigas, e o inverso. E uma segregação que obedece a uma lei da espécie de acordo com a qual, embora os
rapazes e as raparigas estejam/ fisiologicamente aptos des o início da a olescênc a a ter relações sexuais,
acontece que, por/medo do desconhecido, não conseguem ultrapassar este estádio. Nascem assim tendências
homossexuais que se arriscam a criar um/ desequilíbrio duradouro. Por serem geralmente inconscientes, estas
tendências podem insinuar-se sem desencadear um Mecanismo de defesa que permita ter acesso ao estádio
ulterior do/ desenvolvimento sexual. Compete aos/pais desencadear este mecanismo opondo, a um excessivo
entusiasmo pelo / grupo /,, «homossexuado», outros modelos /culturais mais adaptados.

Homossexualidade individual. Em princípio, o adolescente não tarda a desligar-se do grupo por experimentar
cada vez mais dificuldade em identificar-se com uma média. Ele é então levado a procurar o alter ego. Esta
busca feita no contexto da/puberdade tende a erotizar a/amizade por um indivíduo do mesmo sexo. Também
aqui, o papel do educador consiste em evitar/ culpabilizar o adolescente transformando em drama a descoberta
de tendências homossexuais.
O risco de fixação neste estádio é grande. Se a tendência persistir, o melhor é recorrer a um especialista em
psicoterapia.

IHeterossexualidade de grupo. Por volta dos 16-17 anos, o rapaz apercebe-se de que as raparigas que ele
desprezava ou ignorava são «interessantes». A rapariga faz reciprocamente a mesma observação no que se
refere aos rapazes. Mas a atracção não se manifesta de pessoa a pessoa. É antes o conhecimento do/;<sexo
oposto que se procura. E o período dolflirt pelo qual o rapaz e a rapariga tentam conquistar todos os coraçõ es,
sem se prenderem realmente a algum. Este estádio da descoberta é uma etapa normal para a /”<inaturidade, para
o casal, desde que não haja fixação nele.

Heterossexualidade individual. No termo de um/ desenvolvimento harmonioso, o adolescente deve conseguir


fazer coincidir/ valores /afectivos (/camaradagem, ternura) com o/ desejo/ sexual. A conclusão normal é a
escolha de um parceiro duradouro, sancionada pelo / casamento.

Quem deve falar? Em 1968, o Instituto Francês de Opinião Pública lançou um inquérito sobre este tema. A
pergunta feita era a seguinte: «Acha que a educação sexual deve ser ministrada pelos pais, por professores
especializados na/escola, por médicos ou por intermédio de / amigos?»
176

As respostas obtidas foram as seguintes:


- pelos pais so %
- por professores especializados 34 %.
- pelos médicos 6%
- por amigos 5 % -não se pronunciam 5 % Os pais são, por certo, os educadores
sexuais mais válidos porque a natureza lhes confiou implicitamente esta responsabilidade. Na verdade, qualquer
que seja a sua/atitude a respeito da/sexualidade, mesmo que evitem falar dela abertamente, a simples imagem de
casal sexuado influi sobre o/comportamento dos filhos. A maneira de se comportar com o outro cô njuge, de lhe
falar, de ser terno ou distante, atencioso ou/autoritário, é em si mesma um ensinamento, Os pais devem procurar
não transferir os seus próprios problemas para os filhos. É um perigo frequente: certa/mãe traumatizada pela
brutalidade do marido pode, sem sequer disso se aperceber, inculcar na filha o seu temor do homem. Certo pai
/ansioso quanto à sua/virilidade pode comunicar ao filho as suas inquietações. Há excelentes publicações sobre a
educação sexual que podem ajudar os pais na sua tarefa. Eles podem igualmente recorrer a organismos
especializados,

WCENTRISMO (Égocentrismo/Egocentriam) páginas 41,07,139,408.428,450.466.

O egocentrismo é um dos traços dominantes da mentalidade infantil. Consiste essencialmente numa confusão
entre o eu e a realidade, sendo ambos fundidos numa mesma percepçâo.
O egocentrismo não deve ser confundido com o egoísmo, que é a tendência deliberada para não procurar senão a
satisfação dos seus próprios interesses, /atitude que pressupõe uma consciência de si que a criança nã o possui. É
precisamente na/adolescência que tal consciência deve ser adquirida, pois ela é a condição indispensável do
acesso à autonomia adulta nos domínios/;, afectivo, /intelectual ou/social. Assim, dentro desta óptica, podemos
definir a adolescência como superação do egocentrismo infantil pela diferenciação
progressiva do eu e do/meio em que o eu está destinado a integrar-se. Uma tal diferenciação começou aos três
anos de idade, quando a criança se pôs a dizer: «Eu». Importa agora que o adolescente a inclua nos seus
esquemas de/conduta, isto é, a traduza nos factos. ,Razão pela qual todas as atitudes que possam travar esta
diferen-

za @ação „devem ser banidas pelos/pais. Em particular, é preciso vitar superproteger o adolescente, para quem
tudo o que existe
6 é percebido em função de si mesmo.

1 elo contrário, uma acção/educativa sã deve favorecer a vida em


ELO

comunidade com o que isto sugere de conhecimento de si e dos outros.

ELOGIOS (Éloges/Eulogies)

Toda a/educação fundada unicamente num ponto de vista/pessimista é traumatizante. A criança ou o


adolescente assim educado não vive senão no temor de uma/ punição. Depressa se torna,,?< escrupuloso em
excesso e a mínima quebra de uma regra estabelecida parece-lhe uma falta imperdoável. Adquire assim um
sentido mórbido da/;‟ culpabilidade. Para que uma/educação seja válida, é preciso que ela compreenda tanto
elogios como críticas. Eles fornecem um ponto de referência tranquilizador que é particularmente precioso para
o adolescente, ao qual faltam a experiência vivida e um certo sentido crítico. Todavia, o elogio exagerado
produz, paradoxalmente, o mesmo efeito que a crítica demasiado severa. É relativamente corrente os/pais
dirigirem a seus filhos elogios desproporcionados com o acto que os motiva: «És realmente formidável», ou
então, «ninguém faz isto como tu» ou ainda diante dos/amigos: «Ele (ela) não tem quem se lhe compare nisto.»
Os cumprimentos reveladores da auto-satisfação dos pais aborrecem sem dúvida mais do que lisonjeiam o
adolescente a quem se dirigem. A sua satisfação real é amplamente contrabalançada pelo sentimento que ele tem
da desmedida do elogio. É até possível que ele acredite na sinceridade dos pais. Nega-lhes então qualquer
sentido crítico. Poderá mesmo chegar a retirar-lhes a sua/confiança. Em plena crise de,,,Ioposição, ele esforçar-
se-á inclusive por lhes dar um desmentido imediato. Efectivamente, um elogio excessivo pode ser considerado
como uma tentativa inábil de sedução e de comprometimento. A fim de manifestar a sua plena/ liberdade, o
adolescente é tentado a fazer o contrário do que se diz esperar dele. Enfim, é inegável que o elogio «pode
provocar uma tensão e uma má/conduta», mesmo quando se julga que ele fortalece a confiança de uma criança e
lhe dá uma impressão de/segurança*. * Dr. Haim G. Ginott:

F.D.Reevee escreve a este respeito: «As honrarias de que Frost


les Relations entre paren@ et enfants (Casterman.
se viu rodeado tornaram-no nervoso, pois elas são susceptíveis Paris, 1968). p 36. de embaraçar: podem
significar que nos convidam a fazer melhor e F. D. Reeve:

«R bert Frost rencontre na próxima vez, e nós receamos não ser capazes disso.» Khoroutchev», AtlântIc

ne
O elogio é uma arma de dois gumes que os/educadores devem mo 1h1y, setembro

empregar mas com precaução, doseando-o cuidadosamente. A regra d 1963, p. 38.

de ouro consiste em nunca fazer um elogio com a única finalidade de lisonjear. É sempre indispensável que ele
seja a/sanção legítima de uma acção válida.
P A-i2
178

OÇÃO (Éniotion/Emotion) pâginas 22.150,182,483.


A emoção é uma manifestação da/afectividade. Consoante a intensidade da /reacção/ afectiva, distinguimos a emoção
sentimento (/amor, /tristeza) e a emoção choque (,-,cólera, pânico). As emoções juvenis obedecem às leis da afectividade
juvenil, emprestando-lhe, nomeadamente, o carácter espectacular e inesperado que deu origem à expressão «crise
de/adolescência». Descrita por M.A.Bloch como uma «ruptura da organização da / personalidade», a emoção afigurou -se
durante muito tempo nefasta à/pedagogia tradicional. Esta esforçou-se por suscitar através de todos os meios a formação
de,,;Ihábitos considerados como o antídoto da emoção, em que a tradicional rigidez dos quadros de vida escolar -/horários
fixos, locais de reunião - tende a criar automatísmos que, de certo modo, protegem o adolescente da emoção perturbadora. Por
outro lado, esta pedagogia tendia a eliminar da educação tudo o que não dependesse estreitamente da abstracção e
do/íntelectualismo. Jean-Paul Sartre parece dar razão a tais concepções. Segundo ele, a emoção pressupõe uma/conduta, ou
seja, um/ comportamento pelo qual o sujeito é responsável. A conduta assim implicada pela emoção seria uma conduta de
fracasso no sentido em que a emoção é «uma. transformação mágica do mundo». Através da emoção, o adolescente
manifestaria a sua impotência diante de uma situação que o ultrapassa. Motivo que leva Sartre a preconizar uma educação da
vontade: esta, pela lucidez que requer, é a única a poder triunfar sobre o obstáculo que a emoção levanta a uma autêntica
assunção de responsabilidade. Sem dúvida que alguns/ comportamentos parecem dar-lhe razão: assim, a timidez, tão frequente
na/adolescência, é urna/conduta emotiva resultante da incapacidade de nos impormos num mundo hostil; do mesmo modo, o
murro na mesa não tem, segundo Freud, outro significado que não seja a confissão da impotência para formular uma
argumentação lógica. Contudo, unia análise mais ampla demonstra que a emoção não é apenas negativa. P. Furtero escreve:
«A emoção sensibiliza o O P. Furtar: /a Via, Morela,

de l'adolescent (Delachaux adolescente para o mundo exterior,


facilitando o seu contacto ime- et Niestlé, Paris, 1965), diato com a
natureza e com o seu próximo. Ela não é somente uma p. 31. operação mágica, logo ilusória ou de má-fé, mas o meio de a
consciência afrouxar a/tensão psíquica, a fim de se abrir ao reconhecimento da alteridade. A emoção pode ser o ensejo de uma
acção /social em que o adolescente abandona a sua,/ atitude/ egocêntrica para procurar utilizar melhor as suas possibilidades. A
emoÇão não é uma intrusão estranha mas uma conduta intencional, ambígua, que exige reflexão.» É precisamente neste
aspecto positivo da emoção que se pode pôr a tónica. O adolescente deve aprender a dominar-se melhor, domi-
EMO

nando e utilizando em proveito próprio as suas emoções. Estas, convém não o esquecer, são necessárias a uma
inserção normal na colectívídade humana*. O Ver «Agressividade».
EMOTIVIDADE (Émotivité/Emotivity) páginas 106,150.194.

É relativamente corrente julgar que a estabilidade emotiva cresce regularmente desde a infância até à/adolescência. Assim, diante de certas manifestações de
mau/humor ou de/agressividade, os /pais inquietam-se: «Agora já não podemos tolerar isto.»
O erro vem de que, aparentemente, o adolescente exterioriza, de facto, menos as suas/emoções do que a criança. Esta, ao ser invadida pela/cólera, toma-se
vermelha ou exageradamente pálida e pode muito bem lançar sobre o seu adversário um objecto perigoso. Numa palavra, ela perde todo o controle de si.
Controle esse que o adolescente adquire pouco a pouco. No entanto ele não é parco em perturbações emotivas. A adolescência é mesmo o período em que a
emotividade reprimida pode mostrar-se mais desastrosa. Em primeiro lugar, a afirmação do eu oferece várias ocasiões de /oposição ao/meio -logo de cólera e por
vezes até de ódio. A construção da/ personalidade adolescente faz-se, por outro lado, num clima de incerteza que se nos afigura hoje ser a característica principal
deste período da vida; de tal dúvida relativa ao eu nascem a/timidez, o/ciúme e um sentimento de inferioridade. Enfim, e sobretudo, os fortes impulsos sexuais
prestam-se a numerosos />,conflitos emotivos. Estes serão tanto menos fáceis de resolver quanto o capítulo da,,@ sexualidade não for suficientemente abordado
de modo saudável numa/educação sexual tranquilizadora.

Alatitude dos pais pode ser um factor decisivo. A emotividade destes últimos desempenha o papel de um espelho reflector. O adolescente emotivo sê-lo-á
ainda mais se encontrar um eco nos pais. «Reconhecem-se facilmente as crianças cujos pais são demasiado eniotivos, escreve o doutor Haira G. Ginott,
bastando para tal ouvi-Ias e vê-Ias. Ainda muito pequeninas sabem logo que devem gritar para serem escutadas, e falar depressa se não querem ser
interrompidas. Elas são o verdadeiro espelho da agitação dos/pais.»* o Dr. Haim G. Ginott

ies Relations entre per De modo inverso, a calma dos pais transmite-se aos adolescentes et enfents (Casterman. e dá-lhes a/confiança necessária
para refrear uma/emotividade Pari,, 1968), pp. 227trasbordante e controlar as suas manifestações.

EMPENHAMENTO (Engagement/EngageMent) página 383.


O empenhamento é encarado de maneira diferente pelos jovens e pelos adultos. Para estes últimos, empenhar-se significa assumir /”<responsabilidades
particulares que eles pensam serem as suas.
180

Mas o adolescente tem uma outra concepção do empenhamento: por exemplo, ele não se crê obrigado a adequar
rigorosamente a sua vida de todos os dias às profissões de fé que pode sei levado a fazer. Os adultos tendem
então a suspeitar que esta/atitude encerra alguma superficialidade, ou até má-fé. Certo «niaoísta» gosta do
conforto «burguês». Certo «contestatário» deixa-se sustentar largamente pela/família. Estas distorções explicam-
se sem custo se nos lembrarmos de que, para ele, o empenhamento tem um valor particular: antes de ser
conformidade com um ideal, o empenhamento é considerado como busca de si mesmo. Pode-se chegar à
conclusão de que os/valores sobre os quais se fundava o empenhamento eram caducos. O adolescente tem no
entanto a impressão de haver progredido na sua busca. E provavelmente fê-lo. O empenhamento é vivido, não
tanto em função de unia escala de valores, como no que ele representa, enquanto experiência enriquecedora. É
por este motivo que, em vez de meter a ridículo as contradições aparentes do «maoísta» ou do «contestatário», é
preferível canalizar o dinamismo posto em jogo pela vontade manifestada de se empenhar. O empenhamento,
seja ele qual for, é sempre sinal de/maturidade e de vitalidade. No decurso da/ escolaridade, observa-se que os
chefes de turina ou os responsáveis são a maior parte das vezes os rapazes e as raparigas mais maduros tanto no
plano /intelectual como no plano / social.

NFASTIADO (Biasé/Duli)

É enfastiado aquele que fica indiferente diante do que deveria comovê-lo.


O adolescente parece muitas vezes enfastiado. Desejoso de/absoluto, esperando a todo o instante algum
acontecimento que transformará radicalmente a sua vida, sente-se desiludido. A vida, as pessoas, surgem-lhe
cinzentas e baças, sobretudo as que ele conhece melhor, ou seja, as da sua família. Haverá algum adolescente que
nunca tenha desprezado os adultos da sua convivência por eles não serem os/heróis a quem «acontece algo»? Os
educadores que têm de encontrar uma ocupação para aqueles que estão sob a sua/ responsabilidade sublinham-no
igualmente. Por exemplo: é sempre arriscado propor uma/actividade nova: «Que „história‟ vem a ser essa? Antes
é que estava bem!» Ao entusiasmo do educador, consciente de inovar alguma coisa, opõe-se uma resistência
passiva generalizada. Não obstante, é raro que esta resistência se mostre duradoura. I-P. Lesueur, responsável
por campos de/férias de adolescentes, indica aos seus monitores «que nunca se deve ter medo de incitar (os
jovens) a uma actividade porque não há memória de eles se
ENF
terem arrependido»*. Em/,4família , o fenómeno é ainda mais P. Lesueur: ?.,.i.-des parents acentuado. O
adolescente comporta-se sempre ai como se já tivesse (Julho-Agosto de 196 visto e ouvido tudo. Se porventura se
trata de um acontecimento que provoca uma discussão geral, o adolescente observa que «não vale a pena fazer
tanto/ barulho por uma coisa de nada». Quando o instam a explicar-se, é quase sempre incapaz de o fazer. De
modo que o julgam indiferente a tudo, e isto tanto mais quando as actividades que eram susceptíveis de o
interessar no âmbito familiar diminuem de dia para dia. Cada vez mais frequentemente, ele fecha-se numa torre
de marfim ou mostra aos que o rodeiam um rosto sombrio e desenganado. Os/pais que tentam furar este muro de
indiferença têm geralmente a impressão de estarem a perder o seu tempo. Então, muitas vezes, servem-se de
todos os meios que lhes parecem adequados para «sacudir» o filho ou a filha cuja/atitude acaba por se afigurar
ofensiva. É neste momento que convém saber dar provas de paciência e de/psicologia.

O comportamento
O adolescente mostra-se decerto enfastiado, mas a maior parte das vezes trata-se de uma atitude superficial. No
fundo, ele receia manifestar o seu interesse. Ao sair da infância, no limiar de um mundo diferente do que ele
imaginara, o adolescente opta por uma prudente reserva. Julga obscuramente que o adulto autêntico, o homem ou
a mulher realizado, não pode interessar-se de modo válido pela vida do dia-a-dia- Esta tendência para a/fantasia e
a utopia é alimentada por uma espécie de autodefesa que se instaura nas/relações de adolescente a adolescente:
tudo se passa aí como se cada qual receasse, ao desvendar os seus verdadeiros centros de interesse, tomar-se
vulnerável ou parecer/ anormal. Isto é ainda mais visível nas/relações com os adultos, relativamente aos quais se
lhe afigura de bom-tom manter as suas distâncias para exprimir a sua nova/ independência. Por muito abertos que
sejam, os/pais acham-se desfasados em relação aos filhos. Mas é-lhes bastante difícil reconhecê-lo: a tentação de
se projectarem através do adolescente ou da adolescente para viverem uma segunda juventude é - e sempre foi -
muito grande. Contudo, nos nossos dias, este desfasamento parece acentuar-se em virtude da rápida evolução das
técnicas e dos modos de vida. Mas nunca deixa de haver um meio de reatar o diálogo.

Os erros
O que se deve evitar acima de tudo, é tentar impor um ponto de vista pessoal, ainda que a experiência tenha
revelado a sua justeza. Isto pela simples razão de que falta precisamente ao adolescente a experiência que
permitiu determinar uni centro de interesse julgado
182

válido. O jovem tem de fazer sozinho as suas próprias experiências, e detesta, com todo o direito, tudo o que lhe
parece uma arregimentação. A/educação deve guiar, mas não impor. Os pais devem, na medida do possível,
evitar discutir quando sentem o adolescente inabalável. Só contribuiriam para o firmar na sua atitude de
indiferença. Todavia, se bem que a intervenção seja desaconselhada, ela é sempre preferível à,,,<demissão.
« Nada te interessa, não há nada que te satisfaça? Então arranja-te sozinho!»
O adolescente não se coibirá de manifestar o seu alívio: acabaram-se as/saldas com a família ao domingo,
chegou a liberdade. Mas, mais tarde, o fosso afectivo assim cavado entre pais e filhos arrisca-se a já não poder
ser transposto.

NSINO (Enseignement/Teaching) páginas 366, 376. 507.

O ensino consiste em inculcar nos alunos os preceitos de uma ciência ou de uma/arte. A matéria ensinada é
chamada «disciplina». Actualmente, em vários países, o adolescente pode receber um ensino que incide sobre
uma grande diversidade de disciplinas:
- disciplinas literárias: Língua Pátria, línguas vivas, línguas mortas, História e Geografia, Literatura, nacional e
estrangeira;
- disciplinas científicas: Física, Química, Ciências Naturais, Astrononúa, Matemática, etc.;
- disciplinas de «despertar»: / Educação Física, / Música, Pintura, Desenho. Um grande número de obras tratam
do interesse respectivo destas matérias de ensino. Foi todavia preciso esperar que a/psicologia pusesse em foco
a originalidade do estatuto adolescente para que surgisse a preocupação de saber qual era o interesse
verdadeiramente manifestado pelos alunos relativamente a cada uma das disciplinas. Foi possível fazer uma
classificação por interesse decrescente a partir de um inquérito intitulado «Tempos livres e Educação»,
realizado pelo departamento da investigação /pedagógica do Instituto Pedagógico Nacional de França*.
O Jean Hassenforder

publicou-o nos Cahiers de Ressalta


deste inquérito que, à cabeça das matérias consideradas /a Recherche1pédà@ogique.
interessantes, vêm as ciências em geral: Física, Química, Biologia, de Maio de 967 Geologia, etc. Imediatamente
a seguir está a Educação Física, cujo interesse se explica pela paixão que os jovens nutrem pelo desporto. Vêm
depois a História e a Geografia, sem dúvida em virtude da abundância dos livros de divulgação inteligente e
talvez também das emissões de/jogos pela/televisão. Quanto à Matemática, é-se completamente a favor ou
completamente contra. Os «contra» acham-se entre os amadores de literatura clássica ou contemporâ nea,
estimada em elevado grau e no mesmo plano que as línguas vivas, cujo interesse está em ascensão. Na cauda do
pelotão situam-se a Educação Cívica, a Música e o Latim.
O que o adolescente de hoje espera do ensino, é uma preparação para a vida, quer dizer, para a inserção na/
sociedade. Esta preocupação explica a primazia dada às ciências, actualmente em condições de oferecer
empregos numerosos e remuneradores. Daí também a desafeição pelo Latim, considerado pouco rentável. A má
classificação da Educação Cívica parece menos justificada: de facto, uma tal disciplina deveria normalmente
responder ao/desejo que o adolescente tem de aprender a integrar-se. Aqueles que a ensinam encontrarão
certamente aqui matéria para reflexão. Enfim, os adolescentes interrogados eram convidados a indicar que
inovações gostariam de encontrar no ensino tradicional: 46 % deles manifestaram o desejo de aprender a
informar-se ou, de certo modo, de aprender a aprender. Isto equivale a testemunhar uma vontade de
desabrochamento pessoal que não se espera geralmente em tal idade. Entre os meios preconizados: aprender a
ler*: 66 %; filmes na escola: 72 %;/televisão: 64 %; discussões de livros lidos: 63 %; cine-clubes e tele-clubes:
75 %. É a partir de tais dados que se pode criar um ensino válido, porquanto ele suscitará a/atenção espontânea
dos alunos, de quem, demasiadas vezes, apenas se solicitava, no passado, a atenção voluntária. Por fira, à
pergunta: «Desejaria poder escolher todos os anos um certo número de matérias de ensino?», as respostas obtidas
foram as seguintes: 77,8 % ambicionavam ardentemente efectuar este gênero de opções; apenas 7,1 % eram
contra; 11,7 % indecisos.

A pergunta: «Que opções escolheria?», as respostas repartiram-se assim:

Opções classificadas por interesse decrescente

Percentagem relativa ao conjunto das respostas

Educação Física 43,1 Higiene, Primeiros Socorros 30,3 Línguas vivas


28,4 Trabalhos Manuais 24,8 Geografia 23,5
Matemática 22,7 Educação Cívica 20,4 História
18,7 Música 18,2 Desenho artístico 17,8 História da
Antiguidade 17,3 Literatura Moderna 16,2 Estudo do mundo actual
(Economia) 16,2 Artes domésticas 15,2
84

esia, teatro, recitação 12,4 *teratura Clássica 11,1 sica e Química


10,8 o

otânica 10,8 tronomia 8,8 ecnologia 8,7


cnica de secretariado 8,3 ucação religiosa, Filosofia 7,3 eologia
5,7 atim, Grego 1,8

REVISTA (Rendez-vous/Appointment) páginas 113.137. 151. 454.

a adolescência, a entrevista é, tanto quanto um/jogo amoroso, ma forma de vida/social de regras assaz
precisamente estabele- *das*. Mas a confusão entre os dois domínios não deixa no fundo O Ver «Dating». e
comprometer tanto um como o outro dos objectivos visados.

entrevista, forma de vida social )esde que os costumes evoluíram no sentido de uma inaíor/liberade aparente, é
de boa norma os rapazes e as raparigas saírem intos, marcando um ponto de encontro. ,m certos casos, acha-se
certamente na origem uma atracção puraiente/sexual. Mas -ao contrário do que os adultos crêem-

ra a maioria dos adolescentes trata-se mais de uma tentativa de dução que de um real engodo físico. Na
verdade, o adolescente

sobretudo movido pela necessidade /social de ser conforme um certo tipo. Todos os seus amigos fazem o
mesmo, e ele não rdaria a tornar-se suspeito de qualquer anomalia pelos outros além de se pôr em causa a si
mesmo - se não se dobrasse à regra Inum.

entrevista, encontro sexual scusado será dizer que, depois de estarem juntos, os rapazes e as @parigas têm de
se comportar de uma maneira sexuada, visto que essa a finalidade social da entrevista. contudo, muitas vezes
não acontece nada ou quase nada. O que @ r d e u r(

Jn

entende facilmente: aquele ou aquela que suspira por uma entreta não espera dela tanto uma realização de
desejos sexuais como visto(a) em companhia do outro , sendo este outro considerado, suma, como a garantia da
sua própria/ normalidade. aqui um aspecto frequentemente esquecido por causa do grau @/erotiSMo que a
encenação da entrevista envolve na aparência. rapariga arranja-se e pinta-se por vezes/ agressivamente para
ENT

estar mais certa de repararem nela, e agradar assim ao seu companheiro. Também o rapaz tem o cuidado de
acentuar tudo o que possa pôr em realce a sua/virilidade.
O cenário está pronto: só resta agora a cada um deles interpretar o seu papel. E as dificuldades começam
exactamente aqui. Pois, como sublinha Margaret Mead, «nós (os adultos) renunciámos ao pau-de-cabeleira
enquanto instituição social. Deixamos aos jovens uma grande/ liberdade sexual, e encorajamo-los mesmo a
procurar situações que favorecem esta liberdade. Mas, simuitaneamente, não deixámos de modo algum de
manifestar a nossa desaprovação à rapariga que fica grávida, nem simplificámos os problemas daquela que tem
um filho a seu cargo. Somos contra o aborto e é quase impossível obter informações precisas sobre o controle
dos nascimentos. A bem dizer, colocamos os nossos jovens numa situação praticamente insustentável,
fornecendo-lhes o quadro ideal de um /‟<comportamento pelo qual os punimos quando ele se verifica»*. O
M. Mead:

Wn et l'Autre Sexe É
assim que se produz uma espécie de/jogo do,,lamor e do acaso (Gonthier, Paris, 1966), cujas
peripécias Marivaux, nunca teria ousado imaginar. O rapaz p. 262. vê-se constrangido a pedir à rapariga o
máximo, ainda que não lamente se ela recusar. Quanto à adolescente, espera do seu companheiro uma/atitude ao
mesmo tempo viril -porque a regra é esta e ela só gosta dos rapazes viris - e submissa - porque ela se recusa de
antemão a ceder-lhe.

Contra as entrevistas Tomados adultos, estes jovens terão no/casamento um comportamento que decorre
directamente de tais práticas.
O homem deve conseguir um coito normal desde o início do casamento, sob pena de se considerar/ anormal ou
impotente, quando afinal todas as suas experiências precedentes o levaram a refrear-se de maneira anormal. A
mulher tem a obrigação de chegar desde logo a uma/maturidade sexual sob pena de ser tachada de frigidez,
apesar de todas as suas experiências anteriores lhe terem ensinado a recusar o/prazer. É muitas vezes desta
maneira, nota Margaret Mead, que «se cria o mito do amante irresistivel, sendo o marido catalogado, pela força
das coisas, no rol... dos maridos, ou seja, daqueles de quem se não pode esperar a grande revelação amorosa. Por
seu lado, o marido deixar-se-á embalar pelo sonho da mulher fatal, já que afinal de contas a/fantasia é mais
acessível do que a/aprendizagem. de uma técnica amorosa cuja ideia lhe parece deixar pairar

M. Mead: uma dúvida sobre a sua/virilidade»*. cit--- p. 277.

Como não é possível, na nossa/ sociedade, proibir pura e simplesmente as entrevistas, porquanto elas fazem
parte dos nossos cos-
186

tumes, os/pais terão interesse em falar com franqueza destes assuntos aos filhos, consistindo muito
provavelmente a melhor/atitude no receber em suas casas, sem observações nem subentendidos, os/amigos e
amigas do momento a fim de os conhecerem e evitarem aos filhos erros de/juízo demasiado grandes.

ENURESE (Énurésic/Enuresis) página 389.

A enurese, ou emissão involuntária de urina, é relativamente frequente na criança que ainda não possui o
controle esfincteral necessário à retenção. Mas existem casos de enurese na/ adolescência, casos mais
numerosos do que geralmente se supõe. Embora se verifique na enurese a presença de factores fisiológicos
(distonia neurovegetativae, debilidade motora), não é difícil per- e dlstonla

ores neurovegatativa: ceber


que eles estão, na maior parte dos casos, ligados a fact perturbação da afectivos. É por
isso que a enurese se mostra tão frequente nos excitabilidade dos nervos

vago e simpático, traduzida internatos. por perturbações da tensão. Por vezes os factores
/afectivos são suficientes para causar a enurese. Trata-se então de uma/reacção de defesa quase sempre
relacionada com um abalo afectivo. Observa-se nos casos de enurese na adolescência que ela coincide com
a/masturbação. Escusado será dizer que a única/atitude a eliminar formalmente é a de «envergonhar» o
enurético. Ele já sofre bastante com esta enfermidade que pode causar uma verdadeira/ inadaptação. As
intervenções desastradas podem tornar esta inadaptação definitiva. Convém pelo contrário tentar desvendar a
causa real da enurese e para tal consultar um/psicólogo. Resta em seguida restituir ao adolescente/ confiança
em si mesmo.
EROTISMO (Êrotisme/Eroticism) páginas 114.142.172.174,442.449.454,455,456.461.472,

478,483.

A crotização da nossa sociedade é facto incontestável. Isto deve-se essencialmente a dois factores: por um lado,
ao desejo de nos libertarmos de certos/ tabus/ sexuais que entravaram o/desenvolvimento /psicológico das
gerações anteriores; por outro lado, ao advento de uma era publicitária. A sociedade de consumo desenvolve-se
pelo mecanismo da oferta e da procura. A publicidade, de criação recente, é um enorme trunfo no jogo das
empresas actuais. Ela destina-se a atrair a/atenção do consumidor seja por que preço for. É o que se chama o
«bombardeamento». Poderosamente apoiada pela indústria da imagem, a publicidade encontrou um excelente
meio de captar a atenção: a utilização intensiva do erotismo. Os exemplos não faltam!
O adolescente vê-se assim solicitado de todos os lados no momento de integrar a,-sexualidade na sua/
personalidade. Filmes, roman-
ESC
ces, imagens de todos os géneros tendem a ensinar-lhe uma falsa ,;<filosofia do/amor que,aparece inteiramente
condicionada pela sexualidade. É assim que se criam traumatismos,,,, decepções ou fracassos. De facto, ainda
que o adolescente triunfe nas suas tentativas de sedução, fica-lhe o gosto amargo do amor sem amanhã; se é mal
sucedido, considera-se um falhado, gera dentro de si uma inquieta aversão pelo sexo oposto. A personalidade
dos/pais é o único factor educativo capaz de combater este/ desequilibrio. O casal parental, em particular, deve
estar à altura de oferecer ao adolescente a imagem de um ,;<êxito amoroso, não só/afectivo como sexual.

ESCOLA (École/School) Páginas 505 a 517.

A escola desempenha um papel cada vez mais importante na vida dos adolescentes. Estes, instruídos pela
experiência da,,,<sociedade que os rodeia, sabem que, para triunfar na vida, é preciso ter diplo- @nas. E a via
dos diplomas passa pelas escolas e pelos ,<exames. E significativo verificar que, na altura dos «acontecimentos
de Maio de 1968», em Paris, se fez sobretudo alusão às condições de exame e às possibilidades de emprego.
Assim, pela força das circunstâncias, o adolescente é escolar. Ele estuda «para, passam e, agindo assim, contraria
a nova,,< pedagogia que tende a «libertar-se das preocupações puramente internas, de uma metodologia que
assentava na medição de uma eficácia imediata e puramente escolar»*.
9 J. Dewey:

1 Êcola, et l*enfent (Delachaux et Niestio Á


Escola Nova, pregada em especial por John Dewey, preocupa-se 1963), p.
102. em traçar as grandes linhas de uma reforma que vá no sentido da personalização do aluno. «A fraqueza da
antiga pedagogia consistia em fazer irritantes comparações entre a imaturidade da criança e a/maturidade do
adulto, e em encarar a primeira como um defeito que era preciso eliminar tão depressa e completamente quanto
possível.»* Idem, ibidem. P. Ficara-se mais ou menos na escolástica desde os tempos de S.
Tomás de Aquino: o/ensino dispensado era pré-fabricado. O saber formava um todo imutável que o aluno
podia adquirir pela simples força da sua vontade.

Álcançou-se um grande progresso graças ao método activo. Doravante o aluno já não é somente aquele que
escuta, mas também aquele que trabalha. O aluno já não é apenas a criança que deve vergar-se à omnipotência
dos adultos: ele é convidado a participar na aula enquanto interlocutor. A mola do ensino já não é o temor do
castigo nem sequer o,,Odesejo de agradar. A audodisciplina tende a substituir a disciplina.
188

Subsistem ainda alguns inconvenientes, devidos à excessiva novidade desta liberalização. Como nota J. Dewey:
«O perigo da nova pedagogia seria o de tratar os interesses e as/capacidades da criança como coisas
significativas em si mesmas. Cada vez que, tanto na criança como no adulto, se considera uma capacidade como
algo de estático, de inerte, falseia-se a sua/educação. A verdadeira significação de uma capacidade é a sua
função propulsiva.»* e Idem. ibidem, P. 102. Assim, certos mestres, muito contentes por
terem dado ao adolescente o seu verdadeiro estatuto, não se preocupam em fazê-lo sair de lá: isto equivale a cair
nos erros que eles denunciaram, pois a função propulsiva da/adolescência deve permitir-lhe integrar-se
na/sociedade. Demais, escudado na sua nova posição de ínterlocutor, o adolescente tem agora tendência a
suspeitar de tudo o que possa «alíenar a sua,,-< personalidade». São então criticados os/exames que colocam o
aluno em posição de inferioridade, diante da omnipotência do examinador. Confrontados com um tal/raciocínio,
os/pais podem lembrar que a vida profissional é constantemente balizada por controles deste gênero.
Actualmente, qualquer/ responsabilidade, seja qual for o nível a que se situar, envolve uma apreciação daquele
que a detém. O exame escolar limita-se a prefigurar a vida social. Logo, em vez de alienar a personalidade, o
exame oferece uma ocasião de superar, eliminando-a, a/,@ansiedade tão frequente na adolescência.

Escola e afectividade A influência da/afectividade está longe de ser desprezível, como mostra a experiência de
Moore, relatada por Origlia e Ouillono. 4 Origlia e Ouillon: „Adolescent (E.S.R. Enquanto 44 alunos do ciclo
secundário efectuavam um exercício `Paris, 1968), p. 197. de cálculo mental, diligenciou-se por suscitar neles três
sentimentos distintos: o/medo, por meio de descargas eléctricas ou aparições de serpentes, a/cólera, através de
diversas ameaças, a repugnância, pela visão de objectos asquerosos. As diferenças de rendimento
relativamente a um grupo-padrão que efectuou os mesmos exercícios sem perturbações mostraram ser devidas,
primeiro ao medo, depois à cólera, não tendo a repugnância senão unia influência mínima.

Existe, no entanto, um meio de vencer a ansiedade, causa de tantos fracassos inexplicáveis sem ela. Convém
partir do princípio de que os «nervos» nascem da/wangustiante incerteza de ser bem sucedido ou de falhar em
que se acha o estudante. Se esta sensação se tornar paralisante, é evidente que ela só pode conduzir ao malogro:
uma tal certeza suprime ipso facto os «nervos». É aliás este princípio que aplicam, sem disso terem plena
consciência, os estudantes que, no dia do exame, se entregam a toda a espé-
ESC
cie de farsas, se armam em palhaços. Esta/atitude não é obrigatoriamente uma/conduta de fracasso, como há
quem pense: ela pode indicar uma vontade de superação de si mesmo, mediante uma mobilizaçâo judiciosa e
oportuna de todos os recursos do indivíduo.

As notas Do mesmo modo, o estudante deverá aprender a transpor o problema da avaliação do rendimento
escolar ou, se se preferir, das notas. São muitos os que, por intuição ou por experiência, compreenderam,
bastante antes das actuais reformas, a fragilidade do sistema. Fragilidade que é posta em evidência pela
docimologia, ou ciência dos concursos e dos exames. Em França, «com seis professores a corrigir 100 provas
de diversas disciplinas do exame final dos liceus, as divergências registadas atingiram 9 pontos em Matemática,
Física e Inglês, 12 a 13 pontos em Versão Latina, Filosofia e Composição Francesa. Em 100 candidatos havia
81 que, consoante o examinador, teriam sido reprovados ou admitidos em Filosofia, 70 em Composição
Francesa, 50 em Versão Latina, 36 em Matemática»*. A estas divergências vinha juntar-se a curiosa e
Dicionário de

Psicologia (Ed. Verbo operação


que consistia em fazer a média das notas. Um inspector- Lisboa, 1978). -geral do
ensino francês disse a este respeito: «A média é uma ffliS_ tura insensata de notas obtidas em disciplinas que
não têm relação alguma entre si. É uma operação aritmética sem qualquer significado.»*
e Citado em /é F4

lírtóraíre de Outubro Nalguns


países deu-se um passo em frente com recentes decisões de 1969. de suprimir os
exercícios e classificações individuais. «O que é nocivo nas classificações, são os últimos lugares, não os
primeiros. Um lugar mau qualifica e pesa o medíocre, deixando-o marcado», escrevia já Alain em 19330. Em
substituição deste desacreditado O Alain: Propos sui

1'dducation (P.U.F., sistema


estabeleceu-se um controle dito de nível. Os alunos são 1967). p. 175. repartidos
em/grupos A, B, C, D, E, segundo o sistema americano*. Este sistema, menos deprimente do que o precedente,
já e A: muito bom;

B: bom: C: médio; levanta


no entanto certas dificuldades. Os alunos, e por vezes OS D: insuficiente; /pais, traduzem a
letra em nota. Assim, na sua ideia, para mudar E: muito insuficiente.

de grupo, é preciso que a nota passa de 12 para 16 nos casos limites; os progressos intermédios não são
reconhecidos oficialmente (de facto, segundo eles, o aluno que passa de 15 para 16, por exemplo, muda de
grupo, ao passo que aquele cuja nota sobe de 12 para 15, ou seja, três pontos, não muda).

O professor Uma das tentativas de solução reside no discernimento/psicológico do professor. Este deveria
evitar formular um/juízo com referência a uma média. Poderia assim julgar o aluno a partir de dentro, e
qualquer diferença não seria diferença em relação aos
190

outros, mas em relação a si. O aluno pouco dotado teria a possibilidade de progredir, ainda que de certo modo
permanecesse mediocre, e isto não seria mau de todo. Em contrapartida, o bom aluno não se arriscaria a
adormecer sobre os seus louros, pois não progredir equivaleria então a recuar. Mas para que um tal sistema
fosse válido, seria indispensável que as turmas tivessem um menor efectivo médio. Conseguido isto, conviria
poder levar em conta as eventuais incompatibilidades de pessoa a pessoa susceptíveis de existir entre o
professor e o aluno: uma tal incompatibilidade é banida, por assim dizer, da nova /pedagogia. «A
nova/educação sublinha a reciprocidade das relações pedagógicas. Já não há um sujeito (o mestre) que se
impõe a objectos (os alunos), mas uma interferência das acções de diversos sujeitos exercendo diferentes
funções... Esta,,;< atitude pedagógica requer iniciativas que apelem para a /responsabilidade individual. Em
suma, ela obriga tanto os professores como os alunos a um/empenhamento pessoal.»*
Pierre Furter:

Ia Vie morate de Pode acontecer um professor não descobrir -e portanto julgar 1%9dolescent (Delachaux validamente-
a/,< personalidade autêntica de um aluno senão ao et Niestlé, 1965). cabo de longos meses, muitas vezes
demasiado tarde. Além disso, nas relações personalizadas, o professor desempenha um papel duplamente difícil:
com efeito, ele deve representar para os adolescentes não só o mestre mas também o adulto, com respeito ao qual
o aluno toma naturalmente as suas distâncias para se afirmar. As concepções da pedagogia moderna exigem-lhe
assim um rigor pessoal não só exterior, mas também interior. «A relação aluno-mestre vai depender em grande
parte do que for inconscientemente o mestre, escreve Georges Mauco. Do seu grau de/maturidade afectiva, das
suas/reacções ao/ comportamento inconsciente da criança vai resultar a natureza do diálogo. É assaz evidente que
se o mestre for imaturo, ele vai reagir inconscientemente à imaturação natural da criança... A sensibilidade da
criança solicita o adulto naquilo que ele tem de mais arcaico, ou seja, naquilo que ele conserva inconscientemente
de/desejos insatisfeitos e de insegurança.»* É pois frequente o/carácter do professor (demasiado O G. Mauco:
ou insuficientemente/ autoritário, por exemplo) constituir uma
Psychanal~ et éducation (Aubier-Montaigne, 1967), fonte de bloqueio e de/inibições para o adolescente. No fundo, pp. 163-
164. o professor demasiado brilhante pode encerrar o aluno numa /identi@:cação/passíva, não contribuindo de
forma alguma para a sua maturação.

Os pais e a escola De qualquer maneira, o adolescente acaba sempre por encontrar, mais cedo ou mais tarde,
adultos /ansiosos, /frustrados ou/agres-
ESC
sivos. Este encontro pode fazer-se no próprio interior da sua/ família. Por exemplo, muitos/pais, têm -
conscientemente ou nãouma reacção de/ciúme possessivo relativamente à escola. Eles afligem-se por se verem
relegados para segundo lugar em proveito de um/camarada ou de um professsor, sem sequer suspeitarem de que
este desapego aparente é necessário ao/ desenvolvimento harmonioso do adolescente. Outros mostram-se
excessivamente severos: a mínima má nota origina uma torrente de admoestações. Esta/atitude traumatizante
para o adolescente é muitas vezes motivada pelo/desejo de afirmar, mercê de uma espécie de crescendo de
severidade, a preeminência da família. Mais grave ainda é a clássica/ demissão: «Não nos compete julgar. É uma
tarefa que cabe aos professores.» O boletim de notas, descuidadamente verificado, é assinado sem o mínimo
comentário. Estas duas atitudes extremas produzem a mesma desafeição pelos estudos, considerados demasiado
árduos ou sem verdadeiro interesse, porquanto ninguém ignora que o papel dos pais - seja ele qual for- exerce
uma profunda influência sobre o/comportamento escolar dos adolescentes. É o que se verifica com a diferença
de/ cultura/ intelectual que, se não for compensada por uma troca/afectiva muito rica, pode ser a fonte de um
atraso escolar aparentemente inexplicável.

A influência dolmeio é igualmente determinante: os alunos originários de famílias instruídas são mais favorecidos
do que os outros porque encontram em casa uma cultura intelectual viva, directamente assimilável; em
contrapartida, eles arriscam-se, devido à superprotecção dos pais, a regressar a um estádio infantil logo que
surjam as primeiras dificuldades autênticas; o capital intelectual passa então a ser um elemento estranho à
sua/personalidade.

A Escola dos Pais A Escola dos Pais francesa trata particularmente dos seguintes problemas*:
9 UÉcole das Parent (número especial.
- a nova/ autoridade na família; Novembro de 1966). P
- o diálogo entre gerações, tornado hoje mais precário - em todo o mundo - por causa das diferenças de
conhecimentos, de/linguagem, de interesses e de/valores; -a/adaptação dos pais às novas formas adquiridas
pela escola: /orientação dos jovens,/ educação permanente; -a adaptação familiar às novas pressões económicas e
sociais que suscitam por vezes uma rejeição dos antigos valores;
192

-a atitude da família diante das novas fontes educativas provenientes dos meios de/comunicação de massa:
imprensa, /rádio, /televisão, /cinema; -a busca de uma definição nova e dinâmica dos papéis paterno e materno;
-a informação, a/ educação sexual e sexuada, desde a infância à idade adulta.

ESCOLAIRIZAÇÃO (Scolarisation/5chool attendance)

ver páginas 120, 193 e o artigo «A esc&ha da profissão».

ESCRúPULOS (Scrupules/Scruples)

O excesso de escrúpulos é quase sempre resultado de uma educação mal orientada. Na verdade, em vez de ajudarem o
adolescente a libertar-se dos laços de dependência próprios da infância, certos /pais ou educadores tendem a prolongar este
estádio/ infantil. Basta-lhes, para tal, apontar em tudo o que o adolescente faz uma imperfeição. Os adolescentes submetidos a
uma pressão/moral desta ordem sentem-se perigosamente/ culpabilizados. Inscreve-sé nesta/ atitude/ pedagógica,
independentemente dos /valores morais postos em jogo, uma forma de/pessimismo que é sempre nocivo em qualquer forma
de/educação.

A necessidade de um clima tranquilizador Os livros de Julien Green tratam bastante bem do problema do adolescente
atormentado pelo mal, literalmente dilacerado pela dúvida e pelos escrúpulos. O adolescente já tem demasiada propensão a
acusar-se a si mesmo numa/ introspecção de tendência patológica em que cada gesto, cada impulso se vêem minuciosamente
dissecados e, por isso mesmo, desvitalizados. Importa antes de mais «tranquilizar» o adolescente, normalizar as faltas veniais
que, caso contrário, poderão adquirir inutilmente as proporções de um verdadeiro drama moral se o terreno a tal se prestar.

ESFORÇO (Effort/Effort) Página 500.

A palavra esforço designa a mobilização intensa da energia com vista a transpor um obstáculo. A energia mobilizada pode
ser psíquica ou física, mas na maior parte dos casos é difícil dissociar os dois fenômenos que se apresentam sempre
estreitamente ligados: assim, o esforço/ desportivo pressupõe o esforço de vontade, e o esforço de vontade o esforço
muscular. É por isso que certos educadores consideram que a /aprendizagem de qualquer esforço passa pela
aprendizagem do esforço muscular. Uma tal concepção está no entanto ultrapassada nos nossos dias.
/Pedagogos como J. Dewey puderam avaliar com bastante precisão o papel desempenhado pelo interesse no
esforço. Este mostra-se sempre mais continuado, logo mais eficaz, quando a motivação é mais forte.
Designadamente em matéria de/ escolaridade, tende-se a solicitar mais o interesse do aluno do que um esforço
de/atençâo do mesmo cujo sentido não seja compreendido. Resta acrescentar que o esforço pressupõe uma
disiplina interior que qualquer /educação deve diligenciar por instaurar mediante o exercício de/sanções. Isto é
particularmente válido para o adolescente que chega à idade da/responsabilidade individual: importa ajudá-lo a
compreender que uma falta de esforço provoca uma reacção em cadeia capaz de ir até à /demissão caracterizada.

EXAME (Examen/Examination) páginas 187, 188.

A/escolaridade de quase todos os países tem a particularidade de se caracterizar essencialmente pelo exame.
Este, efectuado em alguns dias, deve, em teoria, avaliar os conhecimentos adquiridos ao longo de vários anos. É
por conseguinte uma prova temível que compromete o/futuro do candidato e contribui para aumentar a
inquietação latente própria do estado de/ adolescência, pois podemos partir do princípio de que esta é realmente
a idade dos exames. De facto, a escolaridade secundária parece não existir senão em função do exame elevado à
categoria de mito. Isto é tão verdade que a reputação de um estabelecimento escolar assenta unicamente na
percentagem de/êxitos nas provas finais de diferentes níveis. É no entanto bastante polémico sustentar que o
resultado de um exame seja a/sançâo lógica de uma soma de trabalho. Há demasiados factores que podem falsear
o seu desenrolar: /timidez, hiperemotividade, /ansiedade provocam muitas vezes o fracasso de Candidatos a
quem se reconhecia um certo brilhantismo. De igual modo, é legítimo incriminar a excessiva importância
concedida à/memória: donde o célebre «empinanço». Numa palavra, o estudante é tentado a sacrificar a
qualidade à quantidade, a/cultura intelectual ao saber não raro efémero. Todavia, o exame não é forçosamente
mau em si mesmo. Ele deve contribuir para estabelecer pontos de referência cuja ausencia é prejudicial ao
adolescente. Este pode, mais do que testar os seus conhecimentos, testar-se a si próprio e, conhecendo-se
melhor, aprender a dominar-se melhor. Com efeito, o exame exige muitas vezes uma superação de si: o emotivo
deve vencer a sua/emotividade, o tímido a sua / timidez.

PA-i3
194

* clima familiar em período de exame * que importa, mais do que suprimir o exame - embora esta tendência
exista, graças, nomeadamente, ao sistema do controle contínuo instaurado nas faculdades -, é reduzi-lo às suas
justas proporções: «As/famífias, escreve J. Vialo, devem „desmitificar‟ o o i. Vial: «la Famille,

se@ anqarins et ses exame, reduzi-lo à sua não desprezível importância de controle seribmes», in I'École des e de ligaçã
o. É uma prova e não um sacramento. As famílias devem Parents (Junho de 1968). ajudar a criança sem transformar
esse período num drama da vida p. 26.

familiar.» Põe-se assim a tónica num dos aspectos fundamentais do exame. São muitos os pais que
se/projectam mais ou menos através do/êxito ou do fracasso escolar dos seus filhos e favore-

cem uma superescolarização. Não fazem desta forma senão criar um clima de insegurança e de/angústia que
retira à criança a serenidade indispensável a uma prova tornada necessária por uma situação de facto. Convém,
ao invés, sem no entanto negar as dificuldades, pôr em realce o aspecto positivo do exame. Mesmo que a matéria
de exame tenha pouca relação com a vida real, nem por isso ela deixa de criar uma situação-tipo que cada um de
nós é chamado a viver: a análise e a superação de si. Neste sentido, o exame é sem dúvida um pedaço de vida e
um enriquecimento.

XCITAÇÃO (Excitation/Excitement) páginas 417. 447, 449, 455. 461.

A excitação significa uma elevação química do tono neuropsíquico e mental. Esta elevação do tono traduz-se
por um aumento da/emotividade e por vezes até pela perda de todo o controle emocional. É o caso, por
exemplo, da/,"cólera ou de uma alegria muito grande. Ela faz-se geralmente acompanhar de uma/actividade
motora mais ou menos controlada, como em certas intoxicações (/alcoolismo ou mesmo abuso de/tabaco na
/adolescência) ou certos estados /psicóticosq. O Ver «Psicose». A/aprendizagem do controle
de si nas situações de excitação pode ser o tema de uma acção/educativa que vise a futura integração do
indivíduo na/sociedade. Com efeito, é indispensável que o adolescente se sinta responsável pelo que faz para
chegar à/maturidade. Ele não deve, à semelhança da criança, ceder aos impulsos subitamente criados por uma
qualquer excitação.
XITO (Réussite/Succoss) páginas 77, 290-

À pergunta formulada por B. Zazzo: «Quando diz: gostaria que o B. Zazzo: Psychologie a minha vida fosse um êxito, que significa isso
para si?», as respostas différentieS de

l'adoles ence (P.U.F., dadas pelos adolescentes decompõem-se assim*: Paris, 1c966), p. 202.
Rapazes Raparigas

Êxito

êxito material

50

25

social

(dinheiro, desafogo)

50

25

êxito profissional

10

11

ou

triunfar na profissão

28

exercer uma profissão que agrade

35

28

exercer uma profissão útil

Êxito

fundar uma família feliz

29

29

sentimental

ser amado, ter amigos

16
32

Realização

progredir

11

17

de si mesmo

desempenhar um papel importante

vida interessante

3,5

is

realizar o seu ideal

10,6

20

Percebe-se que o adolescente actual dá mostras de um certo realismo: o/desejo de êxito/social prevalece
largamente sobre os outros. Importa notar que os adolescentes não se interessam menos do que as adolescentes
pelo seu êxito/famíliar;

A valorização do êxito/social passa pela via dos estudos escolares. Mas é aconselhado evitar uma insistência
demasiada na necessidade dos diplomas ou valorizar excessivamente certos objectivos. Pois muitas vezes
nasce um sentimento de/angústia proporcional ao/desejo de êxito que compromete a respectiva realização.
igo

ABULAÇÃO (Fabulation/Confabulation) página 339.

A fabulação consiste em apresentar, como reais, puras ficções do espírito. Por exemplo, certo adolescente gaba-se de
conquistas amorosas imaginárias, certa adolescente afirma-se cortejada por um actor célebre. Convém no entanto não
confundir, como à primeira vista seríamos tentados a fazer, fabulação e/mentira. Esta última reveste um carácter de lucidez,
uma vontade de enganar que são consideravelmente atenuados na fabulação. Em tais invenções, o próprio fabulador é a maior
parte das vezes a primeira vítima.

A fabulação é relativamente corrente na/ adolescência, fase em que a personalidade da criança é levada a enfrentar a realidade
do mundo exterior à /família. Muitas vezes este face a face desencadeia um mecanismo de compensação. O adolescente,
mercê da fabulação, distancia-se dessa realidade. Tudo se passa como se ele entendesse afastá-la pela omnipotência das
palavras. Não estamos longe de encontrar neste mecanismo de defesa um pouco da/atitude do homem primitivo, para o qual a
palavra possuía virtudes mágicas. Será aconselhado castigar quando se descobrem provas flagrantes de fabulação? Isto
equivaleria, na maior parte dos casos, a suprimir o efeito e não a causa, ou quiçá a reforçar esta causa com a humilhação
da/punição. O que importa, é demonstrar ao adolescente tanto a inautenticidade corno a/vaidade da sua
atitude, e depois tentar determinar a que princípios obedecem estas construções imaginárias que se opõem à realidade. É por
sentir uma /carência, muitas vezes fácil de suprir, que o adolescente se refugia na fabulação. Não é raro, por exemplo, ele sofrer
de um isolamento /afectivo no seio da família: pode-se então dar remédio a tal facto mediante certas atenções suplementares. É
igualmente possível favorecer a sua inserção na/sociedade, convidando alguns dos seus/camaradas, ou ainda inscrevendo-o
num clube de recreio para jovens, o que terá o efeito de romper o isolamento no qual o fabulador se refugia.
FAD

FADIGA (Fatigue/Tiredness) página 414.

Fadiga de ordem psíquica A criança trabalha, brinca, come, trepa às árvores, sem nunca se ver trabalhar,
brincar ou trepar às árvores. A adolescência é o período da tomada de consciência, o início dos porquês e dos
cornos formulados a propósito de si mesmo e dos outros. Assim, não é de admirar que a fadiga do adolescente
possa estar ligada à motivação dos actos e aos/desejos: um adolescente fatigado não faz nada, não tem desejo de
nada. «Podia fazer melhor» surge como um leitmotiv nas cadernetas de notas. A absorção de pílulas
vitaminadas não pode mudar o que quer que seja nesta situação. É preferível indagar se a organização escolar é
boa, se a integração sexual é assumida. É neste sentido que Chambart de Lauwe define a fadiga do adolescente
como «uma inadequação dos meios e das /,necessidades pessoais».

Fadiga escolar Poder-se-ia qualificar a fadiga escolar de normal: o adolescente tem uni/ritmo de/trabalho a que
poucos adultos resistiriam. Trata-se, afinal, de uma faceta pouco conhecida da vida escolar moderna, a qual
exige um grande número de horas de trabalho e uma agilidade intelectual que permite passar sem transição de
uma disciplina para outra. Pode-se combater esta fadiga de duas formas diferentes:
- acautelando o tempo de sono. É preciso proteger dele próprio o adolescente que tem tendência a viver de
noite, impelido por uma espécie de/,<excitação típica deste período de descoberta em que não raro se julga
nunca ter tempo suficiente para fazer tudo;
- reservando algum tempo para a relaxação: actividades de recreio judiciosamente escolhidas desempenham um
eficaz papel de repouso. Muitas vezes o «esgotado» não trabalha realmente mais do que qualquer outro, mas não
sabe ou não pode descontrair-se devidamente. Parece esboçar-se nos nossos dias uma tendência/pedagogica a
favor da fórmula dos três tempos, segundo a qual as/actividades variadas são tão numerosas como na
organização tradicional mas cumprem a função de contrapeso umas em relação às outras. A actividade livre
sucederia à actividade dirigida que seria por sua vez seguida de actividades físicas. Pensa-se poder assim
instaurar um equilíbrio cuja ausência é geradora de fadiga.

FAMILIA (Famillo/Family) páginas 48. 89, 96, 110, 123, 126, 140, 141, 180, 358, 363. 391. 41

492. 504. 507.

Hoje em dia, uma certa maneira de abordar dramaticamente o problema da/adolescência tende a não ver nas
relações entre o adolescente e a sua família senão uma série de/conflitos. Do resul-
198

tado destes conflitos dependeria o acesso à/maturidade ou, pelo contrário, o prolongamento do/puerilismo. Há
certos romances e revistas cujo único fim é, de algum modo, glorificar estes confrontos.

A fase de oposição É ponto assente que no desenvolvimento próprio da adolescência há uma fase de/oposição à
família. Esta, em virtude do seu papel de garante dos/ valores da infância, é rejeitada a determinada altura. Além
disso, a/escola propõe uma sequência de figuras adultas mais facilmente integráveis no universo adolescente do
que as dos /país, a quem permanecem demasiado ligados alguns símbolos infantis que importa saber
efectivamente pôr de lado. Certos/ educadores não deixam de tirar proveito de uma situação que se lhes afigura
neste momento privilegiada. É uma facilidade que convém evitar porquanto, ao terem em mira
substituir o/pai ou a/mãe, criariam uma situação insolúvel para o adolescente. Na verdade, a rejeição da família é
apenas simbólica, ou melhor, fruto de circunstâncias. Se ela é especialmente visada na crise de oposição, isso
deve-se, como vimos, ao facto de representar o laço mais evidente com a infância, mas também, pela sua
posiçã o, o primeiro alvo para os golpes do adolescente desejoso de se testar socialmente. Seria tão falacioso
ver nisto um antagonismo real como julgar que o cachorro que está na dentição «quer mal» ao

seu OSSO.

Uma esfera tranquilizadora A família é e continua a ser um refúgio insubstituível para o adolescente. É
conhecido o papel perturbador que exerce na mentalidade do jovem/ delinquente a dissociação familiar, ou então
a descoberta de uma situação/;, adoptiva no momento da adolescência. Em ambos os casos tudo se passa como
se o adolescente sentisse a falta do pêndulo indispensável para achar o equilíbrio entre a infância e a maturidade
- equilíbrio constantemente posto em causa pelas experiências de todos os géneros que o despertar para a
autonomia presume. Não é possível ignorar que o adolescente experimenta uma necessidade natural de se apoiar
na família entre duas /amizades, entre dois/conflitos. E sem dúvida alguma que a família proporciona ao
adolescente a imensa vantagem de lhe garantir uma intimidade que a vida social ou escolar nem sempre
respeitam. Quer ele o queira quer não, quer ele tenha consciência disso quer não, o adolescente percebe que a
sua família não é apenas uma reunião de indivíduos, mas também e sobretudo um enraizamento no passado,
indispensável para preparar o futuro. É por intermédio da família, enfim, que na maioria dos casos se faz a
inserção na/sociedade, inserção que confere o acesso a essa
FAN
tão desejada autonomia. É revelador observar a este propósito quanto o adolescente em geral se apega ao seu
nome de família, no mesmo instante em que faz profissão de desprezar tudo o que se refere à comunidade
familiar.

No fundo, o adolescente pode aprender muitas coisas no seio da sua família. Em particular, pode aí
familiarizar-se com as diversas personagens sociais a que o destina a sua maturação: a fratria, por exemplo,
pode desempenhar o importante papel de teste social em que se exercita o sentido da combatividade e em que
a,,<agressividade encontra um exutório. De igual modo, o adolescente descobre na sua/mãe ou na sua irmã um
tipo de mulher que não é «A Mulhem com a qual ele tem demasiada tendência a sonhar. Paralelamente, a
adolescente vê no seu irmão uma imagem masculina que lhe será preciosa por ocasião dos seus encontros
ulteriores com o/sexo oposto. O casal parental, por último, é para ele o modelo fundamental da célula familiar.

FANTASIA (R8verio/Day-dream) páginas 109, 383.

Ao alcançar a abstracção intelectual e o pensamento formal, o adolescente alcança igualmente a vida interior.
Mas esta vida interior é vivida à dupla maneira da infância e da idade adulta. Assim, com grande frequência, ela
reduz-se à fantasia e à/introspecção. É tentador introduzir um écran entre si mesmo e o mundo real em que urge
integrar-se. Tal como a/emoção, a fantasia é uma espécie de «transformação mágica do mundo». Tudo é pretexto
para fantasias: vida,,*social, futuro, escolha da profissão, /amizade, Deus,/amor. Como não podem implantar-se
logo no real e ai tomar forma, os/valores morais da/adolescência são outros tantos brinquedos que
se dobram aos/caprichos do sonho: o adolescente não sabe ainda servir-se deles para ter acesso ao diálogo com
outrem e à acção.

FEMINILIDADE (Fõminité/Feminity) páginas 13. 362, 459. 460. 468, 474.

Os caracteres profundos da feminilidade (tal como os da/virílidade) não despontam, ao contrário do que
vulgarmente se julga, por ocasião da/puberdade. Esta age apenas como revelador de um esquema/ psicológico
cujas grandes linhas são progressivamente traçadas no decurso da infância.

Logo na primeira idade, de facto, a menina é feminina no sentido psíquico do termo: ao invés do rapazinho, já
virado para o exterior, a menina é interiorizada, tentando atrair os olhares sobre si: «Olha
200

para o meu vestido, para os meus sapatos, para o meu/-1penteado.» Deste ponto de vista ela é já mulher.

Na adolescência, os primeiros galanteios masculinos abrem à rapariga novos horizontes. O seu papel
aparentemente/ passivo torna-se activo no sentido em que, doravante, a adolescente tem à sua escolha atrair ou
repelir estes tenteios masculinos. Na opinião de certos/-< psicólogos, olflirt desenfreado seria para ela uma
espécie de desforra sobre o rapaz a quem a natureza não impôs o fardo das / regras.

Atingida a maturidade, a adolescente passará a ser mulher assumindo a eventualidade da maternidade. Só então
será abandonada a imagem estereotipada que os jovens têm da feminilidade (ou da/;<virilidade). Com efeito,
percebe-se que, tanto de um lado como do outro, esta representação da feminilidade deriva de uma simbolização
excessiva e sem matizes. Para o rapaz, a mulher é mais um tipo humano do que uma pessoa. Por seu turno, a
própria adolescente deixa-se algumas vezes encerrar num estatuto feito por medida.

O mito da fêminilidade A educação- clássica tolera, quando não estimula, no rapaz, uma /agressividade que
recusa à rapariguinha ou à adolescente. Esta não tem outro recurso que não sejam as lágrimas em caso de
conflito, lágrimas que exasperarão ou pelo menos confundirão o marido. Do mesmo modo, a/educaçâo
desportiva foi durante muito tempo considerada pouco compatível com a feminilidade. Na adolescência, a
«maria-rapaz» transforma-se por conseguinte em ,,-"beleza lânguida para a qual todos os pretextos serão bons
para faltar às aulas de ginástica. Por causa deste preconceito, o corpo feminino carecerá mais tarde dos/reflexos e
da agiUdade que os rapazes adquirem num campo de desportos. Se as mulheres têm a reputação, muitas vezes
justificada, de guiar mal um automóvel, não se deve procurar mais longe a razão disso.

A educação moderna esforça-se por dispensar à adolescente tudo o que a harmonia do seu.,,@‟ desenvolvimento
requer. A/coeducação, ao criar uma igualdade dos meios educativos, permitiu pôr de parte um certo número de
preconceitos que «entortavam», desde a adolescência, a própria noção de feminilidade. Se porventura se
verificam actualmente certos exageros, é legítimo atribuí-los à novidade da situação.
FÉRIAS (VaCanCOB/Holidaya) páginas 12, 554.

As férias em/família Elas têm o inconveniente de manter o adolescente num ambiente familiar que a sua
crescente necessidade de autonomia impele a ultrapassar. É então preferível evitar fazer prevalecer esta
fórmula quando ela suscita uma / oposição demasiado viva. Mas as férias em família têm grandes vantagens:
oferecem nomeadamente a cada membro da família a ocasião de uma redescoberta dos outros. A novidade da
atmosfera e a relaxação/ psicológica permitem a cada qual comportar-se de forma diferente. Muitos /conflitos
do dia-a-dia podem resolver-se pela simples virtude desta mudança: o/pai, menos/fatigado, pode entabular
novas relações mais descontraídas com os seus filhos; a/mãe, menos prisioneira das tarefas domésticas, pode
mostrar-se, também ela, mais disponível.

Os acampamentos de adolescentes Esta fórmula tem muitos adeptos, pois é um compromisso entre as férias em
família e as férias solitárias. Deste modo, ela permite resolver conflitos que podem nascer entre pais e filhos
quanto às modalidades das férias. Actualmente, podemos calcular que o número de adolescentes que frequentam
estes acampamentos num país como a França é de 500000. São possíveis várias formas: alguns acampamentos
deslocam-se diariamente segundo um itinerário fixo; outros, sedentários, especializam-se em/actividades do
gênero da fotografia, cestaria, etc. Todas as organizações de campos de adolescentes oferecem sérias garantias
visto que a lei as submete obrigatoriamente à tutela das Secretarias da Juventude e Desportos.

As férias no estrangeiro Numerosas associações tomam a seu cargo os adolescentes desejosos de fazer uma
estada no estrangeiro. Também neste caso há em quase todos os países uma garantia constituída pela aprovaçã o
dos Ministérios da Educação. Esta fórmula de férias é em si muito boa porque permite que o adolescente se
inicie na vida de um país estrangeiro. Mesmo quando a mudança não é total, há sempre um número suficiente de
diferenças na vida diária e na mentalidade dos autóctones para que o adolescente adquira o sentido dos
cambiantes e da relatividade das/culturas nacionais.

As férias independentes São as mais ambicionadas pelos adolescentes que têm agora certas facilidades de
ganhar o/dinheiro da viagem e da permanência
202

(/trabalho a meio tempo em livrarias ou em estações de serviço, por exemplo). Elas têm a vantagem de ensinar
ao adolescente o sentido das/ responsabilidades e o /gosto pela iniciativa. Quando esta fórmula é adoptada,
os/pais podem exercer um controle, pedindo que lhes precisem de antemão o itinerário e exigindo uma
/correspondência regular. É bom, além disso, que eles travem conhecimento com os companheiros de viagem
escolhidos, convidando-os a ir a sua casa antes da partida.

O significado das férias As férias, para além do seu aspecto de descanso físico e/,, intelectual, podem contribuir
para a maturação dos adolescentes. Subtraindo-os aos/hábitos do dia-a-dia, permitem ver os seres e as coisas a
uma outra luz. Não é raro um adolescente regressar bastante amadurecido das férias quando elas lhe deram o
ensejo de fazer novas experiências nas quais se apura o seu/juizo amiúde falseado por/preconceitos ou pelo gosto
da dialéctica.

FESTAS (Surprise-parties/Parties)

«Receando parecer retrógrados, por lassidão diante da repetição dos mesmos argumentos: „Todos os meus
amigos vão, porque é que eu não hei-de ir?‟, os pais mais recalcitrantes acabam por ceder. A partir daí, a festa
faz parte das distrac;ões do adolescente. Reunião de jovens, a festa dispensaria sem custo os pais. Mas existe,
em caso de demasiada liberdade, um risco de ver despontar dramas não obstantes previsíveis: casamentos
forçados por falta de retenção sexual, acidentes de viação no regresso de uma saída demasiado alegre, etc.»*
O Ver 1'EncycIopódio des

parents modernas (Cultura, arts et loisirs, ConseMos aos pais Paris, 1965), p. 383.

Os casamentos forçados são muitas vezes o resultado de festas que «degeneraram». Isto acontece mais
facilmente quando os pais estão ausentes («não está ninguém em casa, aproveitem»). É uma grande
responsabilidade para os pais o facto de se ausentarem sem terem proibido formalmente a festa. É possível
verificar se a proibição foi respeitada, interrogando o porteiro do prédio ou outros casais. Os pais devem
receber em pessoa os convidados dos seus filhos. Isto cria um ambiente sério que dá o tom para o resto da
reunião. Os pais eclipsar-se-ão depois de terem confirmado que todos os convidados são conhecidos. Pois
sucede por vezes certos jovens desencaminhados introduzirem-se nas festas com o único objectivo de as fazer
degenerar. É aos pais que cabe distribuir o álcool que, ajudado pela meia-luz, corre o risco de conduzir
rapidamente a um estado de embriaguez. Os pais devem mostrar-se intransigentes: nada de carro para ir
FIL
à festa. A falta de hábito de condução, junta à embriaguez, é responsável por um grande número de acidentes.
Todas estas medidas serão impopulares, mas a sua indispensabilidade é evidente. E se tais proibições
parecerem a certos pais acima das suas forças, que eles meditem nesta frase que Michel de Saint-Pierre faz
pronunciar a um adolescente a propósito de sua mãe: «Como quer que eu ame esta mulher; ela consente-me
tudo!»

FILOSOFIA (Philosophie/12hilosophy)

Para o adolescente em busca de si mesmo, sempre preocupado em situar-se relativamente aos outros e
relativamente àquilo que ele era, o/ensino da filosofia toma muitas vezes o aspecto de uma panaceia.

* ensino da filosofia * adolescente não tarda a desiludir-se: a filosofia é um ensino como qualquer outro, têm de
se respeitar normas escolares. Evidentemente que os motivos do seu entusiasmo inicial só podiam conduzi-lo a
esta/decepção. Mas convém notar que muitas vezes talvez os professores de filosofia não tomem verdadeiramente
consciência das/aspirações que se cristalizam em torno do seu ensino e da sua pessoa. Ora, observa Pierre Furter:
«Não há disciplina - gostariamos de dizer lugar - mais propício a um encontro do que o ensino da filosofia.
Decerto que o ensino da língua pátria e da sua expressão literária mantém a sua importância; todavia, não basta
apenas dialogar, aprender a exprimir-se, é ainda necessário situar-se, P. Furtar: je Vía, m, reflectindo sobre a
sua/actividade. O ensino da filosofia dá ensejo de l'adolescent (DelacI

et Niestlé, Paris, 196; a este aprofundamento que ajuda o adolescente a orientar-se.»* p. 224.

FISIOLOGIA (Physiologio/Physiology) ver o artigo das páginas seguintes e páginas 78.145.3


204

A fisíologia da adolescèá pelo doutor Ouillon

A/adolescência é certamente um dos períodos mais importantes do desenvolvimento humano, tanto do ponto de
vista puramente fisiológico e somáticos como do ponto de vista psíquico. Produz-se em todos os domínios uma
maturação que conduz o ser da infância à idade adulta. Esta maturação faz-se acompanhar de um O
desenvolvimento do corpo e de todas os órgãos. E na adolescência que se regista a evolução no termo da qual se
instala a função de reprodução, ao passo que o sujeito toma a aparência do seu,;<sexo.

A transformação da criança num ser funcionalmente sexuado e capaz de se reproduzir começa na/puberdade e
reveste uma tal importância que a maioria dos autores estão de acordo em apontar como início da adolescência
justamente o aparecimento dos primeiros sinais da puberdade. Mas estes primeiros sinais não sobrevêm numa
idade bem estabelecida: existem enormes variações individuais. Na rapariga, a puberdade pode, sem deixar de
ser normal, começar cerca dos 9 ou 10 anos ou apenas por volta dos 15. No rapaz, as variaçõ es vão de 11 anos
até cerca de 17 anos. Resulta dai tornar-se impossível comparar uns sujeitos com os outros entre estes limites de
idade, pois cada um deles irá acusar um estádio diferente de desenvolvimento. Qualquer estudo transversal que
faça figurar em conjunto seres da mesma idade acha-se portanto falseado logo à partida, visto
que tais seres apenas têm em comum o simples dado cronológico: uns encontram-se no início, outros no fim ou
no meio do período pubertário. Convém acrescentar que a duração deste período também nã o é a mesma na
rapariga e no rapaz. Oscila entre cinco e seis anos num caso e apenas três e quatro no outro.
Onorá Ouillon Médico higienista. nascido em 1907. ocupa-se desde há vários anos das condições de vida e de saúde das crianças e dos adolescentes. Publicou
numerosos estudos sobre este assunto: é autor, em particular. de uma obra sobro o adolescente (l'Adolescent, E.S.F., Paris). Actualmente, médico -conselheiro
técnico da Academia de Lião, Honoré Ouillon é secretário -geral da União Internacional de Higiene e Medicina Escolares e Universitárias.

9 somático: que se relaciona com o corpo.

O FENõMENO DO CRESCIMENTO

O/ desenvolvimento humano continua durante a/adolescência, se bem que sofra uma nova inflexão. Este
fenômeno de crescimento,
característico não só do homem mas ainda de todas as espécies animais e vegetais, despertou o interesse dos
filósofos e dos sábios assim que o homem tentou pensar e estudar o seu/ meio e os seus semelhantes.
Numerosos observadores, desde as origens até aos nossos dias e em todas as partes do mundo civilizado, têm
procurado a explicação deste fenômeno. Um livro muito volumoso não seria suficiente se quiséssemos
diligenciar por expor e discutir todas as interpretações que foram sugeridas da Antiguidade aos nossos dias;
limitemo-nos a recordar, a fim de precisar bem a importância do problema, que já Aristóteles considerava que
«o estudo do crescimento se confunde com o próprio estudo da vida».

A SUA DEFINIÇ1O É no entanto relativamente fácil descrever o crescimento e observá-lo. Trata-se, no fundo,
como dizia Verworn, de um «aumento da substância viva». Definido desta forma, o fenômeno pode parecer
muito simples, embora convenha esclarecer que não consiste de modo algum na adjunção pura e simples de um
material a um material idêntico já existente, como se poderia aumentar um montão de pedras juntando-lhe outras
pedras. Se há acrescentamento, há também diferenciação, e o conjunto leva à constituição de um sujeito adulto,
o que significa haver igualmente maturação. Se certas pedras vierem combinar-se com outras pedras, há ao
mesmo tempo transformação em pedras de esquina, pedras de abóbada, etc., e o resultado final já não é um
simples montão, mas uma casa com portas, janelas e um determinado valor funcional.

O crescimento do adolescente

Importa reconhecer que, apesar dos conhecimentos adquiridos sobre a maneira como se efectua o
desenvolvimento do organismo, nenhuma teoria é capaz de nos desvendar a verdadeira causa da multiplicação
celular, fenómeno biológico fundamental que constitui a principal característica que distingue os organismos
vivos de tudo o que é desprovido de vida. Conseguiu-se encontrar produtos químicos que abrandam a divisão
celular, chegou-se mesmo a descobrir na pele certos inibídores da mesma divisão e tornou-se possível explicar,
geralmente de uma maneira satisfatória, como se opera a diferenciação celular e a formação dos diferentes
tecidos e órgãos no embrião, mas, quando se trata de dizer por que motivo uma célula mãe se divide em duas
células filhas e assim sucessivamente até à formação do indivíduo adulto, as hipóteses apresentadas vendam ou
desvendam apenas a nossa ignorância. O ser vivo na sua essência escapa à compreensão da ciência. É verdade
que uma busca exclusiva das causas primeiras conduz demasiado
208 Fisiologia da adolescência

amiúde a interpretações abstractas e especulativas que se revelam falsas à observação científica. Importa assim
efectuar medições para apreciar os resultados das diferentes acções e reacções celulares que se tentou estudar até
agora.

A medição a intervalos regulares da altura e do peso permite apreciar o/ desenvolvimento, por assim dizer,
quantitativo. Mas o crescimento é também uni fenómeno dinâmico: convém então apreciar igualmente a
velocidade de variação das diferentes medidas consoante a idade.
O crescimento das diversas partes do corpo deve também fazer-se de uma maneira harmoniosa que se porá em
evidência, comparando entre si os dados fornecidos pela medição dos diferentes segmentos corporais. Enfim,
convém avaliar a progressiva maturação do sujeito, a qual permite precisar o estádio biológico do
desenvolvimento a que ele chegou.

O CRESCIMENTO ESTATURAL

Podemo-nos entregar a dois tipos de inquérito. Um, vertical, consiste em efectuar medições biométricase muito e
medidas blométricas:

das as mensurações que frequentes, de seis em seis meses, por exemplo, num grupo forçosa-
s`e referem ao corpo mente limitado de sujeitos. Para serem comparáveis, as medições (altura, peso, perímetro
devem ser feitas da mesma forma e tanto quanto possível pela mesma torácico, craniano, etc.).

equipa de observadores.
O outro, horizontal*, consiste em medir nas diversas idades um e Consiste em estudar .m grande número de
número importante de crianças e em estabelecer depois a média. indivíduos ou defenómenos

no mesmo momento da Sobrevém no inicio da,,,>< puberdade uni surto de crescimento esta- sua evolução. O
método tutal que começa com o período pré-púbere. Este fenómeno é bem vertical. ao invés. estuda

o mesmo indivíduo ou o conhecido: a criança «dá um pulo», como dizem as mães. Não mesmo fonómeno
durante é raro, de facto, a sua altura aumentar num ano de 8 a 10 em e toda a sua evç>lução.

mesmo mais. Mas esta variação da velocidade de crescimento não aparece nas curvas médias: sendo a idade da puberdade muito variável, a
mé dia aten-tia as diferenças.
O crescimento estatural faz-se, sobretudo, na/puberdade, à custa dos membros: são os membros inferiores que crescem mais depressa no
rapaz, ao passo que na rapariga os membros superiores se desenvolvem primeiro. Este alongamento dos membros niodifica as relações dos
diferentes segmentos do corpo. Assim a cabeça, que, à nascença, representa um quarto do comprimento do corpo, passa a ser apenas um
oitavo no adulto de estatura elevada e um sétimo se a estatura for baixa. Em valor absoluto, durante todo o e No
rapaz, a capacidade

torácica amplifica-se de crescimento, a cabeça aumenta cerca de duas vezes, o tronco três*, cerca de 40 %. e é
sobretudo o diàmetro os membros inferiores quatro, os membros superiores cinco. transversal que se
alongo.
FIS

O Convarteram-se em curvas os números obtid em França para os rapei e as raparigas dos 7 ac


14 anos pelo Serviço da Saúde Escolar em
1954. e para os de
14 aos 20 anos por Engelbach. Wilkins e Leiong. Obtêm-se de ambos os lados da mó( oi @an@ís delimitados em primeiro lugar pela lin média e as linhas extrerr
de um desvio para mais ou para menos, em seguida por estas mesm in as e as que marcam o limite de dois desvios para mais ou para mem etc. A maioria dos sujeil
saudáveis têm uma alti cujos valores permanec( compreendidos de ano para ano entre os de urr destes canais.

84 90 96 102 108 114 120 126 132 138 144 150 156 162 168 meses
7 anos 8 9 10 11 12@ 13 14 anos

84 90 96 102 108 114 120 126 132 136 144 150 156 162 168 meses

7 anos 8 9 10 11 12 13 14 anos
208 Fisiologia da adolescência

* crescimento dos ossos

* crescimento dos ossos em comprimento faz-se pelo/desenvolvimento das cartilagens


ditas de conjugação que se encontram na junção da parte central do osso (a diáfise) e das
partes terminais (as epffises). Células cartilaginosas dispostas em pilhas como moedas
multiplicam-se de um lado, enquanto do outro elas se ossificam progressivamente e se
transformam em tecido ósseo calcificado e resistente. Em dado momento, o processo de
ossificação acelera-se, a cartilagem, inteiramente ossificada, desaparece, o crescimento
está então terminado.

As hormonas desempenham um papel determinante no crescimento


0 acrescentamento dos ossos em espessura faz-se pela formação, na periferia, de camadas
ósseas concêntricas fabricadas pelo periósteo, membrana que envolve o osso. Este osso
perióstico passa em seguida por um novo arranjo para dar finalmente tecido ósseo. Os
ossos curtos não têm cartilagens de conjugação e o seu crescimento faz-se unicamente
pelo periósteo. A formação do osso e o desenvolvimento da cartilagem são regulados
pelas diferentes/hormonas, somatotropa, tireóidea, e pelos androgénios e estrogénios.
0 excesso de uma destas hormonas pode provocar:
- o gígantísmo, ao mesmo tempo pelo alongamento demasiado acentuado das cartilagens
de conjugação e pelo atraso da sua ossificação;
- o nanismo, por soldagem demasiado precoce das mesmas cartílagens. A carência
hormonal pode, também ela, conduzir ao nanismo. Porém, ainda que as hormonas
representem na puberdade um factor primordial de crescimento, elas estão longe de ser as
únicas em jogo. Como todos os processos vitais, o desenvolvimento e de
transformação do esqueleto e dos diferentes órgãos depende igualmente, não só química. na
puberdade mas em todas as outras épocas da evolução humana, o os ganes,
do grego da actividade metabólica* do organismo, que é governada pelos que
significa «descender».

Moléculas de núcleogenes e pelas enzimaso. Esta actividade, tal como a actividade -


proteína que se acham

nos crornossomas e hormonal, íntensífica-se consideravelmente na/puberdade; toda


comandam o

desenvolvimento dos via, se bem que certas perturbações possam ser originadas por unia
caracteres hereditários do anomalia do anabolismoe que nada tem a ver com as secreções
indivíduo-

hormonais, não há dúvida de que as modificações somatopsíquicas*


As enzimas são substâncias

orgânicas específicas,
necessárias a certas que assinalam a puberdade são causadas pelas/ hormonas.
reacções de assimilação.

9 anebolismo:
0 crescimento dos músculos «transformação dos

materiais nutritivos em
<
ido vivo» Há naturalmente uma relação entre o/desenvolvimento do mús-
culo e o do osso. 0 músculo está solidamente fixado no osso que
„(eQcuillet-Fiammarion),
ou seja. processo de ele tem por função mover, e a um osso delgado corresponde um
construção. # do grego sóme, músculo fraco em volume e em força.
«o corpo».
FIS

0 período pré-pubertário é caracterizado por um desenvolvimento acelerado do esqueleto,


de tal modo que na altura do período pu- 9 Chama-se cintura bertário
propriamente dito o alongamento dos ossos tende a abran- escapular o conjunto

do dar para deixar .a prevalência ao seu espessamento. É também


oestseors omoplata, clavícu

neste período que os músculos aumentam rapidamente a sua massa, entre


no que. soldados
si. formam uma do mesmo passo que se tornam mais robustos. Esta
evolução começa espécie de cintura.

e A cintura pélvica ao nível dos músculos da cintura escapularo e da cintura pélvicae.


é o conjunto dos três
0deltóideo e o bicípite desenham-se sob a pele do rapaz, tal como ossos
ísquion, flion e púb

que constituem ao nível o quadricípite e os peitorais. 0 peito alarga-se, as costas tornam-se


amplas, o pescoço largo e forte, e o rapaz não tarda a perder o
da bacia uma segunda

aspecto cintura. infantil que conservara em parte durante a pré-puberdade.


Nas 0 deltóide.- músculo
do ombro, de forma raparigas, o desenvolvimento muscular é mais lento, menos intenso,
triangular que lembra a

da letra grega deita; e acha-se além disso encoberto pela repartição e acréscimo do tecido
adiposo subcutâneo.
elevador do braço.

Os músculos aumentam de peso, de volume e de forç Seja corno for, o peso do conjunto
dos músculos, avaliados em
24 %. do peso do corpo à nascença, representa 40 %, deste mesmo peso no final da
adolescência e é nesta altura 40 vezes mais elevado do que à nascença. Isto explíca-se pela
abundante formação de miofibrilaso que vêm aumentar o peso e o volume dos músculos, e
e miofibrilas: células
também a sua força. É entre os 14 e os 16 anos que esta última
cujo conjunto constitui
músculo. atinge os valores máximos no dinamómetro. Por exemplo, durante a pré-
puberdade, os músculos flexores da mã o são três vezes mais fortes do que aos 7 anos, e na
puberdade passam a sê-lo cinco a seis vezes mais. Esta concordância entre a puberdade e o
desenvolvimento muscular traduz-se bastante bem se examinarmos o peso das raparigas e
dos rapazes. Até cerca dos 10 anos, ele é aproximadamente o mesmo; porém, sobrevindo a
puberdade nas raparigas por volta desta idade, elas não tardam a ultrapassar os rapazes. E
somente nas imediações dos 14 anos que estes apanham as raparigas e as ultrapassam em
seguida por seu turno. A/horniona somatotropa hipofisáriao, segregada
em grand 0 A hormona .C sornatotropa hipofisárh quantidade durante a
adolescência, não parece no entanto possuir (S.T.H.) age sobre o

os metabolismo em geral. um papel essencial no/ desenvolvimento muscular. De facto,


sujeitos atacados de gigantismo devido à hipersecreção desta hor-
sobre o crescimento d
músculos e dos ossos.

mona não têm de modo algum um sistema muscular exuberante, apesar de a sua altura ser
muito elevada. Ele parece pelo contrário abaixo do normal. A carência da tireoxina
determina lesões mus- 9 androgénios: conjk culares degenerativas. Esta
hormona tem um papel importante das hormonas sexuais

no crescimento muscular. Fixa-se principalmente nos músculos e,


masculinas segregadas
pelo testículo e pelas graças à estimulação das oxidações celulares que provoca,
favorece glândulas supra-renais

acelera o seu desenvolvimento. A testosterona e os androgénioso


A testos terona é e

responsável pela maic

supra-renais nos rapazes e os estrogénioso nas raparigas, ao atin- parte dos


caracteres

sexuais masculinos. girem uma grande quantidade no momento da/puberdade, re- o

estrogénios: horm@ freiam o crescimento, activam a ossificação das cartilagens de con-


sexuais femininas

gregadas ao nível jugação e parecem provocar a formação abundante de novas mio-


aleo c iário.

P A-14
210 Fisiologia da adolescência

fibrilas. Tudo se passa assim como se eles fossem a verdadeira causa desta acrescência
muscular tão nítida durante a puberdade.

0 crescimento das vísceras

Se exceptuarmos, como é óbvio, as glândulas e os órgãos genitais, a puberdade não


parece influenciar o crescimento das vísceras* o viscera.- qualquer
de uma maneira acentuada. Ao contrário do que se verifica quanto
órgão contido nas cavidades

craniana, ao esqueleto e à musculatura, o desenvolvimento das diferentes torácica, abdominal.


vísceras dá a impressão de se fazer de uma maneira assaz regular desde o nascimento até à
idade adulta, sem que se possa pôr em evidência qualquer aceleração ou abrandamento.
Os ossos e os músculos aumentam cada vez mais do nascimento à adolescência e à idade
adulta, de tal modo que o peso do esqueleto à nascença se acha multiplicado por 27 na
idade adulta, que a proporção entre o seu peso e o peso total do corpo passa de cerca de
12 % para
20 %, que o peso dos músculos é multiplicado por 40 e que ele passa de 24 % do peso
total para qualquer coisa como 40 %. Não se observa um fenômeno semelhante no que se
refere às vísceras. Estas últimas crescem cada vez menos relativamente ao peso total, e a
percentagem entre o peso das diferentes vísceras e o peso total diminui ao longo dos anos.
No recém-nascido, o cérebro pesa 11,6 %. do peso total, no adulto, 1,7 %; o coração
representa primeiro 0,7 Y. do peso total, 0,4 %. no adulto, e o fígado passa de 4,7 %.
para 2,1 Y..

0 cérebro. Em valor absoluto, o órgão cujo peso menos aumenta, por muito extraordinário
que isso pareça, é o cérebro. Ele pesava à nascença entre 400 e 450 gramas. Por volta dos
3 anos de idade já triplicou este peso: pesa então de 1100 a 1200 gramas. A partir desta
altura, o seu crescimento torna-se lento, visto que atinge somente 1450 a 1500 gramas no
adulto, o que quer dizer que ele pesa três vezes e meia mais do que à nascença.

0 coração. Pesa de seis a oito vezes mais no adolescente do que no recém-nascido. 0 seu
volume aumenta mais e mais cedo no rapaz do que na rapariga. Os orifícios valvulares
ampliam-se, sobretudo o orifício aurículo-ventricular direito. 0 mesmo sucede quanto às
dimensões dos vasos. A/tensão sistólicao atinge 130 milímetros de mercúrio
aproximadamente. Ela terá tendência a baixar em seguida. Esta muito relativa hipertensão
da/puberdade poderia ser devida à grande actividade das supra-renais nesta idade e
também a modificações do sistema neurovegetativoe, em particular ao predomínio do
sn«npático. A frequência do pulso diminui, o traÇadO electrocardiográfico passa a ser o
do adulto.

o tensão sistólica: a sistole é o momento em que o coração se contrai para projectar o sangue nas artérias. Ela é seguida por um tempo igual de repouso chamado
«diástole». A tensão sistõlica (a da sístole) é a tensão máxima; a diástole é a tensão minima.

9 Relativo à parte do sistema nervoso que inerva as vísceras.


0/ desenvolvimento do coração e dos vasos deve aconselhar muita prudência no que diz,
respeito aos/desportos de/competição durante a adolescência.

Ofigado. Entre os 10 e os 17 anos, o fígado adquire de 500 a 600 gramas; ele atingirá no
adulto um peso médio de 1800 a 1900 gramas, ou seja, cerca de dez vezes o peso à
nascença.

0 estômago. Já tomou a sua forma definitiva por volta dos 7 anos# mas a sua capacidade
aumenta durante a adolescência e atingiria, segundo Pfaudler, 900 centímetros cúbidos
cerca dos 15 anos. Ao mesmo tempo, o nú mero das glândulas que segregam o suco
gástrico eleva-se consideravelmente e passaria, na opinião de Told, de dois para vinte e
cinco milhões entre o nascimento e a idade adulta. 0 seu número seria já de dezassete
milhões por volta dos
10 anos, e isto talvez explique a facilidade com que o adolescente digere as giandes
quantidades de comida que absorve sem geralmente apresentar perturbações gástricas.

0 baço e os rins. No adulto, o baço multiplica por seis o peso de nascença, e os rins por
doze.

Os pulmões. 0 desenvolvimento dos pulmões mostra uma aceleração durante a


adolescência, aceleração que corresponde ao aumento de amplitude do tórax que se nota
nesta idade. 0 aumento de dimensão dos alvéolos pulmonares dilata a capacidade de
expansão do órgão: a frequência dos movimentos respiratórios diminui em conformidade e
passa aproximadamente de vinte para dezasseis por minuto.
0 tipo respiratório toma-se predominantemente abdominal no rapaz, o que se reduz a uma
acentuação do tipo infantil, e costal superior na rapariga.

A laringe, No rapaz, ela cresce em todas as direcções, as cordas vocais alongam-se,


alargam-se e engrossam, a abertura da glote acentua-se. A voz muda.
0 crescimento da laringe é muito menos marcado na rapariga, de tal modo que por fim o
volume da laringe feminina no estado adulto mal chega a um terço do da laringe
masculina.

As glândulas endócrinas. Sofrera uma evolução variável. A hipófise, que pesava em média
7,5 miligramas à nascença, atingiria
60 miligramas na puberdade. Esta glândula, ao invés do que se passa com todos os out ros
órgãos independentemente de casos patológicos, continua a crescer, mesmo quando o
sujeito se tomou adulto,
212 Fisiologia da adolescência

até cerca dos 50 anos de idade. Ela é mais pesada na mulher do que no homem. A tircóide
aumenta rapidamente na/puberdade. As supra-renais são as glândulas que se desenvolvem
menos: pesam cerca de 5 gramas à nascença e, nos primeiros meses de vida, perdem quase
um terço do seu peso. Na altura da puberdade, elas voltam ao seu peso de nascença, vindo
a duplícá-lo no adulto. As paratireóides seguem a evolução da tíreóide e, enfim, o timo,
destinado a atrofiar-se, apresenta no período pré-púbere um aumento passageiro e um
renovo de/actividade ligado sem dúvida ao intenso metabolismo protídico do crescimento.

0 CRESCIMENTO PONDERAL

0 peso de um dado sujeito é um elemento desde há muito levado em linha de conta na


apreciação do estado de saúde. Ele é evidentemente função da altura, mas é igualmente
influenciado pela composição do organismo, em particular pelo seu teor de água e de
tecido adiposo.

Tal como se fez para a altura, estabeleceram-se médias segundo as idades cronológicas
para o peso. Mas as variações individuais relativas a uma idade e a uma altura constantes
são assinaláveis e, ao invés do que se passa com a estatura, a distribuição do peso
consoante a idade nem sempre é normal, o que significa que ela nã o segue a curva regular
de Gausso. Resulta daí que, no plano 0 curva de Gauss. estatístico, as médias não são
rigorosamente exactas, sendo-o ainda curva em sino invertido.
menos os desvios-padrão ou afastamentos-tipo. De um modo muito geral, podemos
verificar que aos 10 anos o rapaz e a rapariga pesam cerca de 29 kg um e outra; aos 14
anos, o rapaz 45 e a rapariga
47 kg e, aos 20 anos, 61 e 53 kg. Estes números ilustram entre outras coisas o/
desenvolvimento muscular durante a,-,puberdade, que abordámos já. De facto, as
raparigas, cuja puberdade começa mais cedo, pesam mais do que os rapazes a partir dos
10 anos, sendo apanhadas e ultrapassadas por eles apenas por volta dos 16 anos e meio.
Tal como acontece com a altura, a velocidade de crescimento ponderal é mais interessante
de observar do que o valor absoluto. É sempre possível, da mesma maneira que para a
altura, apreciar esta velocidade através do exame da curva, a qual deve normalmente
permanecer num mesmo canal delimitado pela curva média e pela dos afastamentos-tipo.
Todavia, a frequência das variações incita muitos autores a referir o peso à altura do
sujeito, mais do que à sua idade cronológica*. Q Chama-se idade
Obtém-se assim o índice estaturo-ponderal.
cronológica à idade do registo civi(. SãO
muitos Os autores que têm proposto modos diferentes de repre-
sentação matemática, alguns bastante complicados e, por isso mesmo, de emprego pouco
prático. Actualmente, calcula-se o défice ponderal quer, na esteira de lLelong e dos seus
colaboradores, em percentagem, tomando como referência a média do peso relativamente
à altura -as diferenças situadas entre - 15 0/0 e +20 0/0 sã o normais _, quer em número
de afastamentos-tipo. Neste caso, a diferença para mais ou para menos entre o peso real e
o peso médio é dividida pelo número que representa o afastamento-tipo, quer para a idade
estatural quer para a idade cronológica: um quociente superior a 3 é patológico.

A representação gráfica. A fim de se poder de um só relance apreciar se a evolução de um


sujeito é normal ou não, numerosos autores propuseram métodos mais ou menos felizes de
representação gráfica. Wetzel marca num mesmo gráfico o peso, a altura e a idade
cronológica, transforma as curvas em rectas usando logaritmos e obtém assim canais
rectilíneos que o sujeito deve seguir. Trémolières estabeleceu um esquema semelhante
adaptado às crian-
Peso em kg dos rapazes, segundo o S.S.S.U., Paris, 1955.

84 90 96 102 108 114 120 126 132 138 144 150 156 162 168 meses‟
- 7 anos 8 9 10 11 12 13 14 anos
214 Fisiologia da adolescência
kg 70

Peso em kg- das raparigas. segundo o S.S.S.U., Paris. 1955.

84 90 96 102 108 114- 120 -126 132 138 144 150 156 . 162 168, mcses
7 anos 8 9 IQ 11 12 13 14 anos

ças francesas. De Toni, após ter calculado os valores médios do peso e da altura de seis
em seis meses desde os 2 anos até aos 18 anos, refere a estes valores as medições
efectuadas num dado sujeito. Se existir um afastamento entre os diferentes números, ele
formula-o em meses de idade: nestas condições, um afastamento de um ano a mais ou a
menos assinala os limites da normal. Chega aSSI*M a um quadro auxométrico onde são
inscritos não os Pesos e as alturas, mas a idade a que eles correspondem. Em ordenadas
encontram-se os afastamentos em anos a mais ou a menos a partir de 0, em abeissas, a
idade do sujeito; nestas condições, o traç ado mais normal é que se aproxima mais da
horizontal*.

Os ki&Ces de maturaçjo AO mcsmO tempo que crescem as dimensões corporais,


sobrevém toda =a série de modificações de estrutura, de composição e de forma cujo
Conjunto, por fim, conduzirá ao ser adulto. Na criança, a empção dos dentes, se bem que
um tanto variável no tempo segwdO Os indivíduos, dá uma boa indicação. Os dentes de
primeira

0 Leiong, Borniche, Ca nlorbe o Scholler elaboraram um engenhoso ábaco logarítmico que permite medir os afastamentos em percentagem de todas as
mensu,ações biornétricas e r ,.g.ír. além disso, a evoluç.o no tempo destes afastamentos.
FIS
Peso o estatura (expressos em amos de excedente +, ou de deficiência

Gráfico do. De Toni

s 6 7+5

9 10 11 12 13 14 15 16 17 is

1- 4

+ 1*

-3

~4

-5

Indlvfduo normal seguido regularmente dos 5 aos 17 anos

dentição começam a cair cerca dos 6-7 anos de idade e a sua queda é completa por volta
dos 11-13 anos. É também nesta idade que rompem os penúltimos dentes permanentes, os
segundos molares ditos dentes dos 12 anos. Virão posteriormente os terceiros molares, os
dentes chamados do siso, que aparecem entre os 17 e os 25 anos ou mais.

No adolescente, o exame dentário não pode por conseguinte proporcionar informações


muito úteis. Em contrapartída, o exame dos pontos de ossificação fornece algumas
preciosas. Estes pontos aparecem normalmente em todos os sujeitos em idades mais ou
menos fixas, e os ossos sofrem a mesma evolução para irem dar ao mesmo estado
definitivo, sem deixarem de conservar entre si uma boa concordância no seu
desenvolvimento reciproco.

A ossificação: um bom indicio de matur É evidente que na adolescência os principais


indícios de maturaçâo nos são dados pelo/ desenvolvimento dos órgãos genitais, pela
presença ou ausência dos caracteres/ sexuais secundários, pela sua evolução no tempo e
pela sua harmonia ou discordância, Mas é importante confrontar os elementos assim
obtidos com os outros
216 Fisiologia da adolescência

indícios e logo, em particular, com o estado da ossificação, pois também existe


normalmente uma boa correlaçã o entre a maturação óssea e o desenvolvimento
pubertário. Todos os autores consideram a ossificação como um indício de maturação
válido e seguro: o problema é encontrar um método exacto e prático para a avaliar.

Hoje em dia, o método mais correntemente utilizado e que se afigura mais exacto e cómodo
é o que foi proposto por Told e melhorado pelos seus alunos Greulich e Py1e. Numa
radiografia ântero-posterior da mão e do punho esquerdos, assinalam-se os pontos de
ossificação, consultando-se em seguida um quadro simples que dá a data normal do seu
aparecimento. Como as raparigas têm s@empre um avanço sobre os rapazes, há dois
quadros diferentes. E por pura convenção que a pesquisa se faz na mão e no punho
esquerdos; o resultado seria exactamente o mesmo com a mão e o punho direitos. Devem
ser assim encontrados 29 núcleos de ossificação no rapaz de 11 anos, 31 na rapariga. Mas,
além desta simples contagem, o exame da extensão, das proporções, dos contornos e das
relações recíprocas dos diferentes núcleos do corpo, do metacarpo e das falanges, bem
como o da forma do osso, permitem obter uma avaliação ainda mais precisa. Os exames
fazem-se graças ao atlas de Greulich e Pyle, que comporta para cada idade radiografias
médias de referência e ainda os limites das variações /fisiológicas. Este atlas foi compilado a
partir das radiografias de 1000 crianças seguidas desde o seu nascimento na Brush
Foundation de Cleveland. Procura-se neste atlas a imagem que se aproxima mais da
radiografia estudada e tenta-se então sobrepor as duas imagens comparando todos os ossos
um por um. Na falta de uma exacta concordância, procuram-se as duas imagens sucessivas
mais semelhantes. Cada reprodução do livro comporta naturalmente, ao lado, uma idade a
que se chama idade óssea. Normalmente, a idade óssea e a idade cronológica devem
coincidir; pode haver grandes afastamentos nos casos patológicos. No que se refere à
maturação/ sexual, esta idade óssea fornece elementos mais precisos do que a idade
cronológica. Para Greulich, por exemplo, a radiografia n.o 22 do atlas indica a idade óssea
de 13 anos e 6 meses numa rapariga e situa-se alguns meses depois do aparecimento das
primeiras regras. Observa-se nesta imagem um início de soldagem das epífisese 0
epifise.- extremidade das Primeiras falanges dos 2.0, 3.0 e 5.0 dedos da mão esquerda, e de um osso
longo.

sobretudo uma soldagem completa das epífises das terceiras falanges. As primeiras regras
sobrevêm geralmente entre o princípio e o fim da soldagem das epífises das falanges. No
rapaz, a mesma imagem pode ser vista no n.O 27, aos 15 anos e 6 meses de idade, e
coincide geralmente com o período médio da puberdade.
FIS

As características do/ desenvolvimento

0 aumento do peso e da altura não se faz de uma maneira simétrica ou paralela.


Considerando as médias que anulam as variações individuais, poder-se-ia julgar que as
duas curvas caminham a passo igual como dois bois atrelados ao mesmo carro. Na
realidade, as medidas longitudinais mostram a discordância entre os surtos ponderais e
depois estaturaís sucessivos. Segundo Stratz, dos 2 aos
4 anos encontra-se uma desproporção entre o peso e a altura, no seguimento de uma
tendência mais para o engrossamento do que para o alongamento, por causa de um
abundante depósito adiposo*. 0 equilíbrio restabelece-se entre os 4 e 5 anos, mas, entre
Oedíposo: gordurose os 5 e 7 anos, nota-se um fenômeno contrário, ou seja, um aumento

prevalecente da altura em detrimento do peso: o corpo torna-se delgado e esguio. Tal


crescimento abranda em seguida e, entre os
8 e 11 anos, o acréscimo de peso volta a dominar. Este período estende-se ao longo de
uma parte da pré-puberdade e tudo se passa como se o organismo se aprestasse a fazer
frente às transformações que vão sobrevir mediante uma acumulação de reserva de
gordura. Entre os 12 e os 14 anos na rapariga e os 13 e 16 no rapaz, assiste-se à eclosão
estatural pré-púbere. 0 aumento da altura é rápido e o do peso não lhe corresponde. Este
crescimento não é harmonioso, os membros parecem demasiado longos relativamente ao
tronco, o sujeito adquire por vezes uma aparência ridícula, desengonçado, como uma
espécie de caricatura ou ainda como uma imagem devolvida por um espelho deformante.

0 aumento da altura precede o aumento do p Foi Godin quem, em 1910, analisou com
rigor as modificações corporais que se manifestam na adolescência. Isto permítiu-lhe
formular algumas leis fundamentais. Pôde assim demonstrar que o crescimento estatural é
particularmente forte nos dois semestres que precedem a/puberdade, ao passo que o
crescimento ponderal é particularmente forte nos dois semestres que se lhe seguem. Este
aumento do peso é devido sobretudo ao/ desenvolvimento muscular: antes da puberdade,
o desenvolvimento do esqueleto domina, enquanto depois prevalece o desenvolvimento
muscular. Godin descobriu também que, ao contrário do que se pensava, os ossos
compridos não se alongam e engrossam ao mesmo tempo. Há um desfasamento no tempo:
durante um semestre, o osso cresce em comprimento e, durante o semestre seguinte, cresce
em espessura. Existe ainda um segundo desfasamento no tempo para os diferentes
segmentos dos membros. Por exemplo, durante o semestre de alongamento dos ossos do
antebraço, os ossos compridos do braço engrossam; durante o semestre seguinte, dá-se o
inverso. Desta maneira, o crescimento do membro inteiro é mais harmonioso. É a lei dita
«da alternância».
218 Fisiologia da adolescência

É tão interessante considerar a harmonia do desenvolvimento no seu conjunto como os


eventuais desvios de cada um dos elementos que podem ameaçá-la ou assegurá-la. 0
ábaco de Lelong, o quadro auxométrico de De Toni ou o gráfico de Wetzel já a põem em
evidência. Têm sido propostos outros métodos. No de Wilkins, a idade cronolégica vem
em abcissas, a idade do desenvolvimento em ordenadas, o sujeito ideal desloca-se segundo
a bissectriz, e a notação das idades estaturais, ponderais, ósseas e dentárias reflecte a
imagem do desenvolvimento global. Também é possível recorrer aos afastamentos-
tipo. Se dispusermos por cima ou por baixo de uma linha horizontal, que
corresponde à média segundo a idade cronológica, os algarismos correspondentes ao
número dos afãstamentos-tipo para as diversas medições, temos igualmente um bom
esquema de evolução do sujeito. Os morfogramas confrontam num mesmo gráfico várias
medições simultâneas. Em França, por exemplo, os mais utilizados pata os adultos são os
de Decourt e Doumic e de Olivier e Pineau. Servem sobretudo para definir os diferentes
tipos humanos. Ao invés, o morfograma de Lelong visa pôr em evidência as diversas
anomalias do desenvolvimento, graças à inscrição dos desvios em percentagem da normal
de um grande número de medições. 0 de Weill e Bernfeld aplica-se ao rastreio das
perturbações pubertárias. Enfim, o americano Sheldon descreveu, em 1940, um método
que utiliza uma série de fotografias estandardizadas -de frente, de costas e de perfil- que
são tiradas a intervalos regulares durante todo o período evolutivo do mesmo sujeito, a
partir dos 3 anos: é a somatotipia. Tais imagens, ao permitirem avaliar em qualquer idade
toda uma série de caracteres morfológicos, dão a possibilidade de perceber como se
constituem as características do tipo adulto e também de seguir os eventuais desvios
patológicos.

Uma grande parte das variações que se observam não só durante a adolescência como ao
longo de todo o crescimento têm um carácter transitório e acabarão por desaparecer
depois de atingida a idade adulta. Contudo, os adultos da mesma raça e da mesma idade
apresentam a maior parte das vezes grandes diferenças, não só de altura e de peso, mas
também de aspecto geral, ainda que se achem todos igualmente saudáveis.

* PUBERDADE NORMAL

* palavra/ «puberdade» vem do latim pubes que designa «os pêlos Púbicos». 0
aparecimento destes pêlos constitui, como veremos, UM fCnóraeno bastante acessório em
si mas que denuncia modi-
FIS

ficações profundas do organismo. Todavia, é sem dúvida por um abuso de linguagem que
se utiliza a palavra «puberdade», cuja significação se mostra etimologicamente muito
limitada, para designar um longo período da evolução humana, período que se confunde
no plano psíquico com a/ adolescência e que conduz à maturação/ fisiológica do sujeito,
dando-lhe a capacidade de se reproduzir que ele até então não possuía. 0/
desenvolvimento do ser durante a infância varia segundo os indivíduos, mas conserva urna
certa constância, urna harmonia própria; há pouca diferença entre os rapazes e as raparigas,
se bem que todos os órgãos do adulto estejam já presentes, e em particular as gónadas ou
glândulas genitais: testículos e ovários. Na puberdade, o crescimento
continua, decerto, como acabamos de ver, mas dá a impressão de passar de repente para
segundo plano a fim de ceder o lugar a modificações de natureza, todas elas orientadas
para a esfera genital: os dois /sexos diferenciam-se, estabelece-se uma nova função -a
função de reprodução- de maneira anárquica e desordenada na aparência, o que perturba
profundamente o equilíbrio infantil, tanto no plano somático como no plano psíquico. A
maioria dos autores estão de acordo em dividir a/puberdade em dois períodos:
- a pré-puberdade ou fase pré-puberal, que começa com o aparecimento dos primeiros
pêlos púbicos na base do pênis, no rapaz, na borda dos grandes lábios, na rapariga; -a
puberdade propriamente dita ou fase puberal que começa no rapaz com a mudança da voz
e a primeira ejaculação, e na rapariga com a primeira/ menstruação ou menarca. A duração
da primeira fase é de cerca de um ano e meio a dois anos, a da segunda de dois a três
anos, sendo esta última geralmente mais 9 Alguns autores, co curta na rapariga do que no rapaz*.
É importante precisar que as pe Toni, dividem a fa

puberal em dois perfod primeiras ejaculações não contêm ainda espermatozóides comple- fase
puberal propriamer

tamente formados, do mesmo modo que as primeiras /regras


dita de um ou dois semestres e fase

têm lugar antes de haver ovulação, ou seja, de um óvulo ser liber- pós-puberal, também E
tado pelo rebentamento do folículo. As condições necessárias à
de um ou dois semest que terminaria pela

reprodução não estão ainda preenchidas neste momento, ao con-


,quisição da mortologi adulta.

trário do que se poderia julgar.

A pró-puberdade começa mais cedo nas raparig A idade do início da pré-puberdade é


muito variável consoante os sujeitos, mesmo quando a raça, o clima e as condições
socioeconómicas são as mesmas. Para Godin, a pré-puberdade começaria as mais das
vezes por volta dos 11 anos para as raparigas, por volta dos 12 anos para os rapazes;
segundo Kohn, o início seria cerca dos 11 anos para as raparigas e dos 13 anos para os
rapazes. Wilkins escreve: «Nas crianças normais, o início da puberdade pode situar-se
entre os 9 e os 17 anos.» Parece que esta/opinião não é absolutamente exacta e que uma
puberdade que sobrevém antes dos 10 anos, se por um lado pode ser normal para a
rapariga, por
220 Fisiologia da adolescência

outro apresenta enormes riscos de o não ser, se se tratar de um rapaz. No entender de


Tanner, confirmado em França por Nathalie Masse e Michel Sempe, a puberdade pode
começar por volta dos
9-10 anos na rapariga ou ser retardada até cerca dos 15 anos; no rapaz, a variação pode ir
dos 11 anos até aos 17-18 anos. Verificou-se, todavia, nos países normalmente
desenvolvidos, um aumento progressivo da altura de aproximadamente dois centímetros de
dez em dez anos no nível etário dos 7 anos, que é também acompanhado por um
progressivo avanço da idade da puberdade. Segue-se que, como sublinham Nathalie Masse
e Michel Sempe, «para estudar a evolução da puberdade e apreciar o seu carácter normal
ou patológico, a idade cronológica tem uma importância quase nula (nos limites acima
referidos); o que conta, é a existência ou a ausência de sinais pubertários, a sua velocidade
de evolução no tempo, o seu carácter harmonioso ou discordante e a sua
correspondência com os outros indicios de maturação, como por exemplo a ossificação ou
o valor das dosagens hormonais».

* DESENCADEAMENTO DA PUBERDADE

* papel principal no mecanismo de aparecimento da/puberdade é desempenhado pelo


hipotálamoo. A dada altura, este segrega e hipotálemo: zona dos
hémisférios cerebrais,por neurocriniao primeiro o Fofficulostimuline Releasing Factor
situada no seu centro. (F.R.F.) que, conduzido para a hipófise anterior, provoca a s

Os núcleos do hipotálamo
ecre- são os centros superiores ção por esta glândula da Fofficule Stimulating Hormone (F.S.H.)
da reguiação simpática.

os centros de comando ou foliculostimulinag. 0 Luteonotropic Releasing Factor determina,


da mesma forma, a secreção da Lutenizing Hormoneio (L.H.)
da glândula hipófise e os

responsáveis pelos

denominada no homem, por causa da sua acção sobre o desenvol-


automatismos instintivos

e efectivos. vimento das células intersticiais do testículo: Interstitial Cells Sti- o

Os neurónios dos mulating Hormone. Dois centros hipoWâlliicos actualmente conhe-


c@ntrqs hipotalàmicos

sintetizam e libertamcidos e que são sensíveis à taxa da/hormona masculina regulam


produtos de secreção, os

quais passam para o sangue no homem, em função desta taxa, a secreção do releasing factor.
e são assim transportados Na mulher, a secreção da foliculostimulina depende de um centro

até à hipófise anterior. hipotalâmico especial. Para a lutenizing hormone existem, em

con- 0 Apliculostimulina
determina o crescimento trapartida, dois centros: um que assegura uma secreção contínua
dos folículos ováricos. como no homem, o outro que provoca uma secreção em ligação

0 A lutenizing hormone com o ciclo menstrual na mulher. Estes centros são sensíveis
à taxa desencadeia, na mulher,

a ,ulação e a formaçãode hormonas femininas em circulação, cujo aumento de quantidade


do corpo amarelo. provoca a/inibição das estimulinas. A F.S.H., também chamada
foliculostimulina ou gonadotrofina I ou A, e a L.H., ou gonadotrofina 11 OU B, provocam
o/,, desenvolvimento das glândulas/ sexuais ou góriadas. Graças a elas, as células
germinais ou gânietas masculinos e femininos chegam pouco a pouco à maturação e
começa a secreção das hormonas sexuais, testosterona e estrogénio. A se-
FI$

gunda hormona sexual feminina, a progesteronao, não aparece, por seu turno, senão na
ovulação.

0 início da puberdade: o sinal é dado pelo hipotálam o início da puberdade acha-se, pois,
em última instância, coman- 0 Hormona segregada
dado pela secreção, por parte dos centros hipotalâmicos, dos releasing
pelo corpo amarelo. a

progesterona, como o 8 _ nRme indica, tem como factors: estes determinam, de facto, a produção
das gonadotro primeira função a de finas* que vão conduzir o organismo à maturação

funcional do preparar o organismo sexo que lhe é próprio.


materno para a gestaçl

e gonadotrofina. hormona hipofisária de Embora todos os órgãos do adulto, incluindo as gónadas,


estejam acção estimulante sobre

já presentes na criança, vemos no entanto a evolução do ser mudar as glândulas sexuais.

de orientação na puberdade. Certas modificações de grandeza, mas também de natureza,


sobrevêm e transformam tão profundamente o sujeito que se assiste a uma verdadeira
metamorfose.

A dosagem das hormonas

Se se quiser tentar estudar e seguir a metamorfose pubertária, é evidente que há interesse


em medir a quantidade das/hormonas actuantes que circulam no sangue. Infelizmente, a
dosagem nem sempre é realizável; hoje em dia, o mais que se consegue fazer é doscar na
urina os produtos de desintegração ou metabolitos, pois as hormonas em si não passam
para a urina, Aprecia-se então a quantidade de hormonas segregadas em 24 horas medindo
a taxa dos resíduos que se encontram na totalidade das urinas emitidas no mesmo tempo,
como se apreciaria, por exemplo, a quantidade de combustível queimado por um fogão
medindo o volume das cinzas.
- Para dosear a F.S.H., injecta-se, segundo o método de Henry e Thévenet, urina diluída
numa cobaia (uma rata) impúbere. Esta hormona provoca a abertura da vagina no animal e
um aumento do peso do útero. Fixou-se assim arbitrariamente uma unidade dita U.R. ou
unidade rato. Antes da puberdade, a taxa urínária quotidiana situa-se aproximadamente em
3 U.R.; passa-se no momento da puberdade para 25 U.R. e por vezes mais.
- Aprendeu-se recentemente a dosear a L.H. directamente no sangue. Os androgénios
provêm das supra-renais; após a/puberdade, cerca de um terço deles são, no rapaz, de
origem testicular; doseiam-se na urina os 17 cetosteróides que são os seus metabolitos.
Antes da puberdade, a taxa normal, em ambos os sexos, é inferior * 4 miligramas por 24
horas; no rapaz púbere, ela eleva-se a 5,5 * pode chegar a 9,5 miligramas; na rapariga,
oscila entre 6 e 8 miligramas. No rapaz, refreia-se a supra-renal pela administração de
dexametasona: o testículo passa então a ser o único responsável pela secreção dos
androgénios e pode-se assim ajuizar da capacidade funcional das células intersticiais de
Leydig.
222 Fisiologia da adolescência

- É igualmente possível doscar os metabolitos dos estrogénios na urina. Após a


puberdade, encontram-se na rapariga de dez a quarenta milionésimos de grama por vinte e
quatro horas na urina. A progesterona, essa, passa para a urina sob a forma de um corpo
biologicamente inactivo, o pregnandiol. Podemos doseá-lo por diferentes métodos
químicos: a sua taxa normal é de dois a nove miligramas por vinte e quatro horas,
consoante a fase do ciclo / menstrual. Todas estas medições permitiram não só
compreender melhor o mecanismo da maturação/ sexual, mas ainda recolher importantes
informações sobre o funcionamento do sistema hipotálamo-hipofisogonádico. Nos casos
patológicos, pode-se recorrer a certos artifícios que permitem localizar a sede das
perturbações. Torna-se assim possível saber se uma anomalia verificada tem como causa
uma carência das estimulinas hipofisárias ou, pelo contrário, uma ausência de reacção das
génadas. Tanto num caso como no outro, o quadro clínico pode ser o mesmo. No entanto,
as dosagens/hormonais são de delicada execuçã o e devem ser confiadas a laboratórios
especializados, sendo ainda necessário renová-las amiúde.

Os factores susceptíveis de intervir Para explicar o desencadeamento mais ou menos


precoce da/ puberdade, invocou-se toda uma série de factores cuja influência quase nunca
pode ser bem demonstrada. É costume dividir estes factores em factores exógenos,
provenientes do exterior, e em factores endógenos, inerentes ao próprio sujeito.

Os factores exógenos. Inclui-se, entre estes factores, o clima mais ou menos quente, mais
ou menos soalheiro. A luz que desperta a actividade sexual das aves e faz as galinhas pôr
ovos despertaria também o rebento humano, e as raparigas do Sul de pele morena e olhos
negros à Carmen, que se mostram já frutos maduros numa idade tenra, parecem
testemunhar a favor desta hipótese. É verdade que as raparigas se formam em geral mais
cedo na Mesopotâmia ou em África, onde a primeira/ menstruação sobrevém habitualmente
entre os 9 e os 10 anos, conquanto se não encontre idêntica precocidade nos rapazes dos
mesmos sítios. Ainda por cima há regiões da África onde a puberdade, inclusive para as
raparigas, não se manifesta antes dos 15-16 anos, e as jovens hindus têm as primeiras
regras, em média, mais tarde do que as francesas ou as escandinavas. Pensou- se
igualmente que as condições de vida pudessem exercer influência, Se as crianças forem
insuficientemente alimentadas ou mal nutridas, a puberdade pode ser atrasada, à
semelhança do que se Passa com a velocidade de crescimento, sobretudo se à sub-
FIS

- / alimentação e à má nutrição se acrescentar a incidência das doenças mais frequentes


entre as populações miseráveis.

A acção de todas estas causas, clima, condições e higiene de vida, permanece no entanto
bastante mal demonstrada no sentido negativo. Em compensação, as estatísticas provam
que, nos países ocidentais de raça branca, a idade cronológica de aparecimento da
puberdade está desde há cem anos em constante diminuição. Designadamente, a idade das
primeiras regras diminui quatro meses de dez em dez anos. Na população branca dos
Estados Unidos, passou em média de 14 anos e um mês em 1900 para 12 anos e sete
meses em 1963. Na Noruega, de 17 anos e dois meses em 1840 para 13 anos e cinco
meses em 1950. Nos rapazes, nota-se que o surto estatural que marca a pré-puberdade
surge mais cedo do que outrora, além de a altura, entre os 12 e os 14 anos, ter aumentado
mais em comparação com a do passado do que a dos adultos. A paragem do crescimento é
também hoje mais precoce: a maior parte dos sujeitos atingiram aos 19 anos a sua altura
definitiva, enquanto no fim do século passado o crescimento prosseguia até cerca dos 26
anos. A percentagem dos rapazes que apresentam sinais evidentes de maturação/ sexual
entre os 12 e os 14 anos é hoje mais elevada do que há trinta ou quarenta anos.

A aceleração do desenvolvimento hum~

fruto das sociedades de consun Este fenômeno de aceleração, observado unicamente nos
países normalmente desenvolvidos, não parece poder ser explicado de outro modo que
não seja por condições de vida e de higiene geral superiores. A melhor prova disso é que,
em certas regiões como no México, por exemplo, as rapariguinhas das classes sociais
abastadas têm em média as primeiras/ regras dez meses mais cedo do que as das classes
pobres. Esta aceleração do/ desenvolvimento humano deve assim, segundo se afigura, ser
lançada em crédito das/sociedades ditas «de consumo» se for um bem, ou em débito se for
um mal. Uma/alimentação suficiente e bem equilibrada, o largo uso das vitaminas, o
desaparecimento de certas doenças infecciosas favorecidas pelo superpovoamento e a
promiscuidade, os alojamentos mais saudáveis e soalheiros, todos estes novos factores
trazidos simultaneamente pela evolução do nível de vida e pelas aquisições da medicina
moderna desempenham decerto um papel considerável: uma melhor saúde conduz a um
desenvolvimento mais rápido. Todavia, não devemos esquecer que a vida se acha hoje
infinitamente mais carregada do que ontem de incitamentos de todas as espécies.
0/barulho, os excessos publicitários, as luzes da cidade, a/rádio, a/televisão, multiplicam as
estimulações visuais, auditivas e também/ afectivas. 0 hipotálamo, maestro que dirige a
orquestra pubertária, está em relação com o
224 Fisiologia da adolescência

córtex cerebral que integra as diversas solicitações do meio circundante. Não seria pois de
admirar que o aumento do número e da intensidade destas solicitações pudesse ter uma
influência sobre ele,

Osfactores endógenos. A sua acção sobre o aparecimento da puberdade é mais nitidamente


visível e constante do que a dos factores precedentes. Ela é conhecida desde há muito e
parece ligada sobretudo à constituiçã o genética. É por este motivo que a hereditariedade
desempenha um papel importante que se manifesta pela relação quase sempre existente
entre as diversas geraçoes de uma mesma ascendência. As/mães que têm as primeiras/
regras cedo têm geralmente filhas com esta mesma característica,
verificando-se idêntico paralelismo entre as mães que têm as primeiras regras tarde e as
suas filhas. A constituição individual também intervém, sobretudo nos rapazes: os
brevilineos são geralmente mais precoces do que os longilineos. Existe também certamente
um factor racial. Hesita-se em utilizar esta palavra desde que passou a ser usada de modo
abusivo; no entanto, a/puberdade é amiúde relativamente tardia nos Chineses e Japoneses,
enquanto as rapariguinhas israelitas têm geralmente uma puberdade mais precoce do que
as suas companheiras não israelitas que vivem na mesma cidade.

A determinação do sexo

A descoberta das células que compõem o nosso organismo, efectuada por Schleiden e
Schwann em 1830, permitiu chegar progressivamente ao conhecimento do mecanismo de
determinação do sexo e pôr assim termo às múltiplas explicações fantasistas que
fervilhavam desde a Antiguidade. As células compreendem um núcleo composto de uma
substância que se colora intensamente graças aos corantes utilizados em histologiao e a que
se dá o nome, o 4istologia: por causa desta propriedade, de cromatinao. Quando a célula
estudo dos tecídos.

está prestes a dividir-se, a cromatina dispõe-se em filamentos muito 0 11s11be,ta delgados


acasalados dois a dois: os cromossomas. 0 número dos por Mischer.

pares de cromossomas é específico da espécie: todas as células que constituem o corpo de


um sujeito de uma dada espécie têm portanto o mesmo número n de pares de cromossomas
e o mesmo número 2n de cromossomas. Antes da divisão celular, cada um dos
cromossomas divide-se longitudinalmente para dar dois cromossomas idênticos. No
momento da divisão da célula mãe, uma metade dos cromossomas vai para uma das células
filhas, a outra metade para a outra, resultando finalmente deste processo duas células filhas
idênticas à célula mãe.
FIS

0 número dos cromossomas no horne,

só é conhecido desde 19,9 Sabe-se, apenas desde 1956, que o homem possui vinte e três
pares, ou seja, quarenta e seis cromossomas. Porém, tanto no homem como na maioria das
espécies animais superiores, um par acha-se formado de cromossomas particulares variáveis
segundo o/sexo: razão pela qual eles são denominados cromossomas sexuais ou
gonossomas. Os diferentes pares foram bem postos em evidência no homem, cujos
cromossomas se podem fotografar nas preparações de células em curso de divisão. 0 par de
gonossomas é constituído, na mulher, por dois cromossomas compridos em forma de
X, no homem, por um único cromossoma X assocido a um cromossoma cerca de quatro
vezes mais pequeno e em forma de Y. A fórmula cromossómica ou cariótipo é po is:
- no homem normal: 2 X 22 + X + Y;
- na mulher normal: 2 x 22 + X + X. As transformações celulares que conduzem à
elaboração dos gâmetas masculinos e femininos, espermatozóides e óvulos, comportam
várias divisões celulares com mistura dos cromossomas e, a dada altura, há uma única
divisão dos cromossomas para duas divisões celulares, de sorte que, finalmente, os
espermatozóides e o óvulo encerram apenas 22 cromossomas, mais um gonossoma. Na
mulher, que não tem gonossoma Y, a fórmula do óvulo será sempre 22 + X; no homem,
ao invés, metade dos espermatozóides será de tipo
22 + X, a outra metade de 22 + Y, pois há as mesmas hipóteses de passar um X ou um Y
para o espermatozóide. Nestas condições, a determinação do/sexo parece evidente:
- a união de um óvulo e de um espermatozóide 22 + Y dará um feto 44 + X + Y, ou seja,
de sexo masculino;
- o espermatozóide 22 + X dará um feto feminino: 44 + X + X.

DESENVOLVIMENTO DOS óRGIOS GENITAIS NO EMBRIÃO

Resulta do que ficou dito que o ovo fecundado é já geneticamente sexuado. Contudo, no
embrião, existe primeiro uma gónada primitiva indiferenciada ao nível de um esboço do
rim: o corpo de Wolf. Partem do corpo de Wolf dois canais distintos, o canal de Wolf e o
canal de Muller. Esta gónada primitiva do embrião possui uma dupla potencialidade,
constituindo a sua parte superficial ou cortical o esboço de um ovário e a sua parte central
ou medular o de um testículo. No entanto, sob a provável influência do sexo genético, a
gónada primitiva orienta-se para um determinado sexo a partir da sétima semana após a
fecundação. Se se constituir um ovário à custa da cortical, a medular atrofia-se; se, pelo
contrário, se formar um
PA-i5
226 Fisiologia da adolescência

testículo na medular, é a cortical que desaparece. Assiste-se então à evolução dos canais
sob a influência muito provável de factores /hormonais já segregados pela gónada
embrionária. Se se formar um ovário, o canal de Wolf atrofia-se e o canal de Muller
desenvolve-se para dar o útero, as trompas e a parte superior da vagina. Se, pelo
contrário, se formar um testículo, é o canal de Muller que se atrofia e o canal de Wolf dará
o epididimo*, os canais deferentes, próstata e vesículas seminais. Normalmente, o
desenvolvimento de um dos canais implica o desaparecimento do outro; não ficam de
facto no adulto senão alguns vestígios insignificantes.
0 tubérculo genital do embrião dará, consoante os casos, o pênis e a parte terminal da
uretra, assim como o escroto, no homem, a clitóride, os grandes e pequenos lábios na
mulher, com separação das vias genitais e urinárias. A orientação sexual do embrião é
portanto guiada simultaneamente pelo/sexo genético e pelas hormonas gonádicas.
Todavia, se, por acaso, a gónada masculina for deficiente, a diferenciação dos canais ou
diferenciação gonofórica far-se-á no sentido feminino, mesmo sem ovários. A
potencialidade feminina é por conseguinte dominante. Do que se tem dito, conclui-se ser
possível distinguir num sujeito vários tipos de sexos elementares cuja correspondência
harmoniosa conduz ao sexo definitivo normal: -o sexo genético, que deriva do cariótipo;
- o sexo gonádico: ovário na mulher, testículo no homem;
- o sexo gonofórico, caracterizado em primeiro lugar pela evoluçâo dos canais de Wolf e
de Muller, em seguida pela anatomia dos órgãos genitais internos e externos;
- o sexo somático, aspecto geral do corpo, caracteres sexuais secundários;
- enfim, o sexo psico-afectivo, comportamento masculino ou feminino em que a educação
tem a sua parte. Estes diferentes tipos de sexos aparecem, não ao mesmo tempo, mas
sucessivamente. 0 sexo genético é dado à partida; durante * vida embrionária, aparecem
os sexos gonádico e gonofórico; * sexo psicafectivo começa a constituir-se desde os
primeiros tempos da infância; por fim, o sexo somático precisa-se e acaba-se durante
a/puberdade. E evidente que, num sujeito normal e normalmente constituído, todos estes
sexos apresentam o mesmo sinal, concorrCnd0 cada um por seu lado para a sexualidade
definitiva.

0 DESENVOLVIMENTO DOS óRGJOS GENITAIS A ~ do início do período puberal,


as gonadostimulinase hipoâ~ VãO provocar o/ desenvolvimento progressivo dos órgãos
senitais.
FIS-

Os rapazes

Antes do período pré-púbere, os órgãos genitais são, com ligeira diferença, os mesmos que
no fim da segunda infância. 0 pênis vai duplicar aproximadamente de comprimento e de
circunferência, e o volume dos testículos vai ser multiplicado por quinze ou desasseis entre
os 10 e os 18 anos. A parte essencial do testículo é constituída por finos canais, os tubos
seminíferos, que vão dar à vesicula seminal encarregada, como o seu nome indica, de
recolher o sémen; esta vesícula comunica com a uretra pelo canal eJaculador. Ao longo da
parede dos tubos seminíferos acham-se uma ou várias camadas de células, as
espermatogónias, células germinativas masculinas que, após várias transformações, se
tornarão nos espermatozóides. Estas células vão originar antes de mais, por divisão, os
espermatócitoso de primeira ordem que se aproximam da abertura e
espermatócito, de saída dos tubos e que formarão os espermatócitos de segunda
espermatIdio. células da

estirpe germinativa do ordem, os quais, graças a uma última divisão, produzirão os esper-
homem.

A espermatogénese ou m matidios, São estas últimas células que sofrerão por sua vez uma
simplesmente a fabricaç evolução que levará aos espermatozóides que se desprendem da
dos espermatozóides

faz-se nos tubosparede e, assim liberados pela abertura dos tubos, vão, graças ao
seminíferos do testículo

seu flagelo, pôr-se a nadar numa secreção mucosa: o esperma.


Contra a parede do tub(

acham-se células chamac No adulto, os espermatozóides são em número considerável: uma


espermato~tas que ac

dividirem-se dão os simples gota de esperma contém vários milhões deles, todos ani-
espermatócitos.

E5es aumentam e mados de um vivo e incessante movimento.


dividem-se a si mesmc
0estudo do testículo ao microscópio mostra, a partir da puberdade,
sofrendo uma redução
o começo da diferenciação celular, ao mesmo tempo que o apare-
r mática que diminui

caora metade o número c

cromossomas. As célub cimento das células intersticiais de Leydig que vão segregar os
que resultam desta divi@ androgénios. Os tubos seminíferos acentuam a sua tortuosidade
são os espermotIdios q

por uma última e ampliam-se. Eles contêm já não apenas espermatogónias, mas
metamorfose, dão os

espermatozóides que se igualmente espermatócitos de primeira ordem. Logo no inicio do


separam da parede e ca período púbere propriamente dito, os tubos seminíferos alcançam
na abertura de salda d(

tubos, A espermatogén, mais ou menos o‟ seu comprimento normal; todas as células da


é contínua se bem qu,

nem todas as estirpe germinativa estão presentes desde as espermatogónias aos


espermatogó nias se espermatídeos, e encontram-se já, na abertura dos tubos, alguns
dividam no mesmo

espermatozóides chegados à/maturidade. Os testículos aumenta-


ento, mas pelo

cmocn>mtrário o façam por

ond@ ram então consideravelmente de volume.


e
Eis, segundo Tanner, os diferentes estádios
interisor5duc snsievsamsonotubc de evolução
dos órgãos seminífero.

genitais masculinos: -Estádio 1: Pré-adolescência. Os testículos, o escroto e o pênis têm


quase o mesmo tamanho e as mesmas proporções que na infância.
- Estádio 2: Aumento do escroto e dos testículos. A pele do escroto avermelha-se e muda
de textura. Pouco ou nenhum aumento de volume do pênis.
- Estádio 3: Aumento do pênis, incidindo primeiro sobre o com- o
escroto: invólucro primento. Os testículos e o escrotoe continuam a aumentar.
cutâneo dos testículos.
228 Fisiologia da adolescência

-Estádio 4: Alargamento do pênis, desenvolvimento da glande. Os testículos e o escroto


continuam a crescer. A coloração da pele do escroto torna-se mais escura. -Estádio 5:
órgãos genitais adultos na forma e no tamanho. Não se verificará qualquer outro
crescimento; parece, pelo contrário, que o pênis diminui um pouco, imediatamente após o
desabrochamento da adolescência. Decorrem em média dois anos entre os estádios 2 e 4,
dois outros anos entre os estádios 4 e 5. A evolução total dura cerca de cinco anos. Pode
haver uma diferença de um ano para cada estádio.
0 aumento de volume do testículo é o primeiro sinal anuncíador da/puberdade. No rapaz,
este aumento começa cerca de um ano antes do início da aceleração do crescimento em
altura.

As raparigas

À nascença, os ovários pesam aproximadamente 20 miligramas; eles desenvolvem-se


lentamente durante a infância. Por volta dos
10 anos de idade, quando principia geralmente a fase de maturação, ocupam o seu lugar na
cavidade abdominal. Pesam cerca de 7 gramas na mulher adulta. Os óvulos primordiais ou
células germinativas femininas formam-se desde a vida embrionária e fetal. Uma camada
de células epiteliaise envolve estes óvulos primor- 0 spít41lo: tecido
diais que se acham assim presos em minúsculas massas redondas:
formado por células

justapostas que revestem os folículos primordiais. Os folículos são muito numerosos nos
@s superficies exteriores o
ovários de uma menina impúbere; no momento da puberdade, interiores do corpo. um
pequeníssimo número deles vai evoluir para a/maturidade. As células que envolvem o óvulo
multiplicam-se e formam assim vá rios círculos concêntricos. Aparece uma cavidade que se
amplia pouco a pouco e se enche de um líquido serosos. A pressão deste e
seroso: que tema líquido repele o óvulo contra a parede onde ele faz saliência no p,r,,ci, do soro.

interior da bolsa serosa. 0 folículo em vias de niaturação atinge pouco a pouco a superfície do ovário onde acaba por aparecer sob a forma de
uma pequena vesícula esticada, do tamanho de uma ervilha. 0 óvulo desenvolve-se ao mesmo tempo que o foliculo que o contém e dá
finalmente o ovo humano maduro. Trata-se de uma grande célula de duzentos ou trezentos milésimos de milímetros, logo visível a olho nu
sob a forma de um minúsculo ponto branco. A Sua forma é exactamente redonda e o seu volume excepcional provém de uma abundante
reserva de substâncias, na sua maior parte matérias gordas altamente energéticas.

A primeira ovulação tem geralmente lugar

entro os 10 a os 13 anos Esta VCSIcula sob pressão à superfície do ovário, quer dizer, o folíCUIO Inaduro, acaba por rebentar, sendo o
óvulo projectado para
FIS

a cavidade peritonial o onde as trompas o recolhem a fim de o conduzirem ao útero. Esta


expulsão do óvulo tem o nome de ovulação; a primeira ovulação dá-se geralmente entre os
10 e os 13 anos, e é seguida, catorze dias depois, pela primeira/ menstruação. No entanto
não é raro o primeiro corrimento sanguíneo ter lugar sem ovulação, dizendo -se então que
ele é anovular; a ovulação sobrevém mais tarde nestes casos. No fim da puberdade, o
exame ao microscópio do ovário mostra uma grande quantidade de foliculos em diferentes
graus de maturação, encontrando-se os mais evoluídos mais perto da superfície do ovário.
Quanto aos numerosíssimos folículos primordiais que não evoluirão, diminuem de volume e
desaparecem. Falta dizer que, ao invés do homem adulto, que fabrica espermatozóides ao
longo de toda a sua vida, a mulher adulta não fabrica novos folículos: todos os que forem
utilizados durante a sua vida genital estão, desde
a/puberdade, presentes nos seus ovários ainda que em diversos estádios de evolução. Uma
vez consumido este capital, sobrevém a menopausa. No ponto de rebentarnento do folículo,
forma-se uma cicatriz de cor amarelada na parede do ovário: o corpo amarelo. Ele é
constituído pelas células do folículo que, depois de terem sofrido uma transformação, se
põem a segregar uma/hormona especial, a luteína ou progesteronae.
São as células que rodeiam o foliculo em vias de amadurecimento que produzem a outra
hormona feminina: a foliculina ou hormona estrogénia. A secreção destas hormonas é
desencadeada e regulada, tal como no rapaz, pelo sistema hipotálamo-hipofisário. Os
órgãos genitais desenvolvem-se na mulher ao mesmo tempo que crescem os folículos. 0
útero aumenta de volume e pende para a frente, as trompas alongam-se e tornam-se
contrácteis. A flora vaginal modifica-se, as secreções vaginais passam a ser ácidas. Os
pequenos e grandes lábios desenvolvem-se e vêm fechar a vulva, aberta na rapariguinha. A
vulva, orientada para diante à nascença, inclina-se progressivamente até ficar virada para
baixo no fim da puberdade. A clitóride também se amplia e torna-se créctil, erectilidade que
apenas sobrevém algumas vez&rno fim da/ adolescência.

OS CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS

Se excluirmos os órgãos genitais, todas as outras diferenças/morfológicas entre o homem e


a mulher constituem os caracteres sexuais secundários. Decerto que as diferenças físicas
existentes desde a infância entre os dois/sexos podem ser consideradas como caracteres
sexuais secundários, mas elas são muito pouco acentuadas. Ao longo de toda a duração
da,,,” adolescência, pelo contrário, as características de cada/sexo vão precisar-se cada vez
mais. Os caracteres sexuais secundários surgem e desenvolvem-se sob a

e peritoneal.- relativo ac peritoneu, membrana que reveste as paredes interiores da cavidade abdominal, bem como as superficies exteriores dos órgãos que aí estão contidos.
Ver página 221.
230 Fisiologia da adolescência

influência da actividade hormonal das gónadas, ovários e testículos. Manifestam assim


exteriormente a presença indubitável, no organismo considerado, das/hormonas sexuais
específicas e, de um modo mais geral, são uni importante indício do funcionamento do
sistema hipotálamo-hipofisário, bem como da resposta satisfatória das górtadas.

Os primeiros pêlos púbicos marcam no entanto o início da prépuberdade e sobrevêm antes


de ter começado o verdadeiro/ desenvolvimento das gónadas. 0 seu aparecimento parece
devido aos androgénios segregados pela córtíco-supra-renal sob a influência da hipófise;
ele assinala assim o início da nova/actividade hormonal da adolescência ao mesmo tempo
que indica um funcionamento normal da hipófise, pois, se existir um défice desta glândula,
o corpo permanece glabro. Todas estas considerações explicam a

importância que se atribui com razão primeiro à pilosídade e em seguida à evolução dos
caracteres secundários.

Os primeiros pêlos púbicos nascem na rapariga sobre a borda livre dos grandes lábios e no
rapaz em torno da base do pênis. Estendem-se em seguida progressivamente para a púbis,
em ambos os sexos, ao mesmo tempo que cobrem, na rapariguinha, toda a face externa dos
grandes lábios e que, no rapaz, avançam para o escroto. Em geral, cerca de dois anos após
o aprecimento dos pêlos púbicos, os pêlos axilares começam a despontar na rapariga.
0 seu aparecimento coincide habitualmente com a chegada das primeiras /regras. Para
facilitar a apreciação do estado da pilosidade e estabelecer assim melhor o estádio atingido
pelo sujeito que se examina, é costume designar pela letra P a pilosidade púbica,
assinalando os algarismos de 0 a 5 o grau de desenvolvimento. Designa-se de igual modo
por A a pilosidade axilar e pelos algarismos de 0 a 3 o seu estádio de evolução.
Caracterizam-se os diferentes estádios de evolução da seguinte maneira: P = 0: Pré-
adolescência: nenhuma diferença entre os pêlos púbicos e os da parede abdominal. P = 1:
Aparecimento de alguns pêlos compridos, direitos, ligeiramente pígmentadoso.
o 0 estádio P I P = 2: Pêlos mais espessos, mais escuros, enrolados em
espiral, sobrevém: nas raparigas

- entre os 8 e os 14 anos, esparsos. nos rapazes entre os 10 P = 3:

Pêlos de tipo adulto, mas muito menos densos. Inexis- e os 15 anos.

tentes na superfície interna das coxas. P = 4: Pêlos de tipo adulto distribuídos


horizontalmente e tam- 9 0 estádio P - 4
bém sobre a superfície interna das coxas*.
sobrevém: nas raparigas entre os 11 e os 14 anos,

P = 5: Difusã o dos pêlos em losango no homem, em triângulo nos rapazes entro os 12

invertido na mulher. e os 16 anos.


FIS

Por volta dos 16-17 anos, o bigode começa a aparecer no rapaz, em breve seguido pela
barba ao mesmo tempo que nascem pêlos no tórax, nos braços e nas pernas. Todavia, esta
última pilosidade é muito variável consoante os indivíduos e as raças. Certas raças humanas
são de facto completamente desprovidas de/barba. Em simultâneo com os pêlos, as
glândulas sudoríficas desenvolvem-se na região genital e nos sovacos.

Os seios começam a desenvolver-se na rapariguinha desde o início da pré-puberdade. Na


criança, existe somente uma ligeira pigmentação da aréola sem qualquer elevação. Forma-
se cerca dos 10 anos sob a aréola uma pequena tumefacção* de um a dois centímetros
o tuínefacção: inchaç de diâmetro, a qual aumenta pouco a pouco sem que se observe qualquer
saliência do mamilo que continua ao nível da aréola. Muitas vezes, esta tumefacção
sobrevém no seio esquerdo e permanece durante algum tempo unilateral. Não há motivo
para inquietação nem para temer um/ desenvolvimento dissimétrico do peito. Tudo entra
naordem com o tempo, basta ter paciência. As multiplicações celulares de que ela é sede
aumentam progressivamente o volume da glândula mamária. 0 mamilo ergue-se, a aréola
pigmenta-se e o seio tende pouco a pouco para a sua forma normal, aliás muito variável
conforme os sujeitos, não só na forma mas também no volume. Dístínguem-se assim
diversos estádios nesta evolução. Segundo Tanner:
- Estádio 1: Pré-adolescência: há apenas uma saliência da papila.
- Estádio 2: Botão mamário. 0 seio e a papila clevam-se ligeiramente. 0 diâmetro da aréola
aumenta.
- Estádio 3: 0 alargamento e a saliência do seio e da aréola acentuam-se, mas os seus
contornos não são distintos. -Estádio 4: Projecção para diante da aréola e da papila, que
formam uma saliência à frente da do seio.
- Estádio 5: Maturidade: só a papila faz saliência, a aréola confunde-se com o contorno
geral do seio. Importa notar que o estádio 4 nem sempre se encontra. 0 estádio 2 constitui
o primeiro sinal de uma/ puberdade principiante. Observa-se amiúde no rapaz, por ocasião
da puberdade, uma ligeira inchação da região subareolar que não apresenta gravidade e
não dura em geral mais de alguns meses.

Ás dTerenças morfológicas No entanto, outros caracteres, que são, também eles,


determinados Pela acção das/ hormonas /sexuais, diferenciam o aspecto/morfológico do
homem e da mulher. No homem, os ossos são mais compactos, as suas partes salientes
232 Fisiologia da adolescência

mais pronunciadas, o desenvolvimento escapularo é mais impor- 0 -copular., que pertence tante
que o da bacia, sendo portanto os ombros mais largos e ultra- ao ombro. passando o diâmetro
bi-acromialo o diâmetro bi-trocanterianoc. o biacromial.- o acrómio

é uma eminência óssea que Na mulher, ao invés, a silhueta é nitidamente caracterizada pela se encontra na
omoplata. largura da bacia. A curvatura lombar, pouco marcada no ho Para estabelecer o diâmetro
mem, biacromial mede-se a é muito aparente na mulher. 0 tecido adiposo subcutâneo é Muito distância que
separa os

mais abundante nesta última e disposto de maneira a suavizar os


bordos externos dos dois acrómios.

ângulos e a dar formas mais arredondadas; as saliências ósseas e bitrocenteriano.já menos


acentuadas acham-se apagadas, os músculos menos desen- o trocânter designa cada
volvidos não aparecem tensos sob a pele, cujo grão muito mais
uma das duas eminências ósseas do

fémur. fino a toma mais lisa, menos rude do que no homem: «corpo feminino que tão suave e

temo é», dizia Villon.

É difícil fixar a idade em que a voz

se estabiliza no rapaz Os pés, as mãos e os joelhos são mais miúdos do que no sexo
masculino, a altura média é também menos elevada. 0 pescoço parece mais comprido e
mais arredondado do que no homem, no qual músculos mais desenvolvidos o tornam mais
largo e mais curto. Neste último, a laringe é muito mais importante, a maçã de Adão faz
saliência sob a pele, as cordas vocais, mais compridas, dão uma voz mais grave. A
passagem, no homem, da voz aguda da criança para a voz mais grave do adulto, a mudança
de voz, tem lugar no período púbere propriamente dito. 0 engrossamento da laringe parece
seguir o desenvolvimento do pênis. É preciso pelo menos um ano e algumas vezes mais
para que a voz masculina adquira o seu timbre normal. Durante todo este tempo de
transição, a voz está mal colocada, rouca, desagradável e por vezes emite sucessivamente
tons graves e agudos. As mulheres, salvo excepção, conservam o timbre infantil. As escolas
de canto que estudaram particularmente a transformação da voz não chegaram a acordo na
determinação da idade precisa em que ela se estabiliza nos rapazes e nas raparigas, o que
deixa entender que também neste don-únio existem grandes variações individuais. Estas
diferenças /fisiológicas entre a morfologia dos dois sexos existem hoje
tal como existiam ontem, Se Cxanunarmos sujeitos nus. As vicissitudes da/moda e os
cânones transformadores da/beleza masculina e feminina não podem ~o sublinhá-las ou
esbatê-las.

à PUBERDADE PATOLõGICA

Em certos casos, o /desenvolvimento do sujeito e a progressiva =turaÇão dos órgãos


genitais não se fazem de uma maneira nor- . A função de reprodução leva tempo a
estabelecer-se ou estabe~ demasiado cedo ou ainda por vezes não se estabelece de
modo algum. Fala-se então de/puberdade patológica, mesmo que a puberdade não
sobrevenha. As anomalias podem apresentar diferentes graus de gravidade: incuráveis ou,
pelo contrário, influenciáveis e até curáveis por um tratamento conveniente instituído
bastante cedo. Afinal de contas, todas as perturbações da evoluçã o sexual entram no
âmbito das puberdades patológicas, e é possível associar-lhes todas as anomalias de
crescimento. Podemos classificar estas perturbações em dois grupos muito gerais: as
perturbações por excesso e as perturbações por defeito.

ANOMALIAS DE CRESCIMENTO POR EXCESSO: * GIGANTISMO

* gigantismo é muito raro. Importa refrear toda a pressa de fazer o seu diagnóstico e
pensar sempre, ao invés, que o crescimento não é um fenómeno regular, podendo os
avanços estaturais observados ser posteriormente compensados e o indivíduo não se
tornar de modo algum um gigante. Uma altura superior 7 a 15 %. à média da idade
constitui um avanço estatural; para falar de gigantismo, é preciso que o sujeito ultrapasse
este limite de 15 %. Seja como for, o prognóstico permanece ligado à maturação óssea e à
data da puberdade. É assim que se podem encontrar avanços estaturais importantes que são
devidos a uma puberdade precoce. 0 desabrochamento estatural pré-pubertário sobtevém
neste caso antes do seu tempo normal e o sujeito é um gigante para a sua idade. Mas tal
gigantismo não durará, a soldagem das cartilagens de conjugação far-se-á igualmente mais
cedo do que é noimal e, por fim, o adulto, longe de ser um gigante, será de pequena
estatura, tanto mais pequena quanto a puberdade tiver sido mais precoce.

0 gigantismo de origem endocrínica Alguns destes avanços estaturais são devidos a causas
endocrínicas.

Os tumores da ante-hipófise dão um gigantismo verdadeiro de um tipo particular,


conhecido pelo nome de acromegalia. 0 excesso não aparece geralmente na infância, mas
somente na puberdade, a qual sobrevém quase sempre numa data normal. São sobretudo
os membros e as extremidades -mãos e pés - que manifestam um excesso de
desenvolvimento, e assiste-se a um prolongamento tardio deste desenvolvimento. Uma tal
hipertrofia das extremidades faz-se gradualmente e não é senão no fim da puberdade que
surgem as deformações características da doença. Os lábios e a língua aumentam de
volume, o queixo toma-se maciço e proeminente. A testa e o crânio permanecem mais ou
menos normais, mas as arcadas supraciliares, o nariz e as maçã s do rosto desenham-se de
cova hipofisária.

234 Fisiologia da adolescência

uma forma muito exagerada. As mãos, muito volumosas, mostram-se alargadas e


espessas, os dedos torneados, surgindo intumescimentos cutâneos ao nível das
articulações. Também os pés se alongam e engrossam desmedidamente, não tardando o
sujeito a ser obrigado a usar calçado de número anormal. A radiografia do crâ nio revela
uma sela túrcicao -alargada, corroída pelo tumor que o sela túrcica:
pode continuar a crescer até comprimir as vias ópticas e conduzir o doente à cegueira.
Esta complicação pode ser evitada pela intervenção cirúrgica, a qual permanece no
entanto incapaz de restituir à glândula um funcionamento satisfatório. A morte sobrevém
geralmente entre os 20 e os 40 anos.

0 hipertireoidismo* origina também, de um modo geral, um avanço e hipertiroidismo:


estatural no momento da/puberdade. São os membros que se excesso de funcionamento

alongam exageradamente. Mas este avanço estatural é acompa- da tiróide.

nhado por um avanço da maturação óssea, de sorte que o sujeito ao chegar a adulto
apresenta as mais das vezes uma altura normal. As puberdades precoces suscitam todas,
na altura da irrupção pré-pubertária, uma aceleração de crescimento, anormal para a

idade, que não persiste. Enfim, certas doenças, como a síndrome de Klinefelter, são
acompanhadas por um atraso da maturação óssea com soldagem tardia das cartilagens de
conjugação. 0 crescimento prossegue assim para além da idade normal e o sujeito é de
grande alturala. Outras doenças raras,

que nada têm a ver com Existem, ao lado destes casos devidos a uma causa patológica, as
glândulas endócrinas, avanços estaturais a que se dá o nome de essenciais porque são podem
conduzir ao

constitucionais. Trata-se sem dúvida dos mais frequentes. Não se


gigantismo. A doença de

Marfan associa a uma

1grande altura uma encontra qualquer sinal mórbico, a exploração das glândulas endo- desarmonia

característica. crmas mostra um funcionamento normal. Não se nota qualquer desarmonia nas

proporções dos diferentes segmentos do corpo. Geralmente, nestes casos, o avanço


estatural é já acentuado na infância, apenas se exagerando na pré-puberdade. Estes sujeitos
de grande altura fazem parte de uma família cujos membros são todos alt os. No caso dos
rapazes, ninguém se inquieta, porquanto uma elevada estatura convém perfeitamente ao
tipo masculino. Para as raparigas, pode-se por vezes ser levado a instituir, sob vigilância
médica, um tratamento hormonal destinado a provocar a soldagem das cartilagens de
conjugação.

ANOMALIAS DE CRESCIMENTO POR DEFEITO:


0 NANISMO

Há toda uma série de doenças não endocrínicas que podem causar atrasos de crescimento
na criança. Se a estatura for inferior em mais de 15 % à normal, fala-se de nanismo.
Convém notar antes de tudo que o nanismo, se bem que pouco frequente, é no entanto
menos
FIS

raro do que o gigantismo. Todas as afecções primitivas constitucionais do esqueleto


conduzem a um nanismo desarmonioso que o exame das radiografias ósseas refere à sua
causa. A acondroplasia, doença das cartilagens de conjugação que cessam de se
desenvolver, dá um tipo de anão com tronco normal donde partem membros curtos. Um
certo número de doenças metabólicas repercutem-se sobre o crescimento, tal como sucede
com a insuficiência renal crónica.

0 nanismo de origem endocrínica A insuficiência tireoldiana congénita está a maior parte


das vezes implicada: ela dá o mixedemae. 0 sujeito fica pequeno, a sua pele e mixedeme: afecçãc
Sto devida à deficiência d fria e seca é infiltrada por um edema mole, particularmente no ro função
tiroidiana que que toma uma forma balofa característica, a respiração é ruidosa, provoca uma
infiltraçA,

dos tegumentos (eden a língua espessa; nota-se um atraso importante da idade óssea e e uma
paragem do

desenvolvimento um
atraso intelectual que vai até à idiotia completa. Existem for- intelectual.
somática mas frustres nas quais alguns destes sinais não estão presentes. e pubertário.

A administração de/hormonas tireóideas permite quase sempre aumentar o crescimento,


mas muito raramente recuperar o atraso / intelectual.
0 nanismo de origem hipofisária é pelo contrário um nanismo harmonioso, ficando o sujeito
pequeno, mas bem feito. 0 desenvolvimento intelectual permanece quase normal. A
radiografia mostra um atraso da ossificaçã o epifisária e a idade óssea acha-se muitas
vezes situada entre a idade estatural e a idade cronológica.

Os nanismos constitucionais

Existem também nanismos essenciais que não se fazem acompanhar de qualquer sinal de
disfuncionamento endocrínico. São os mais frequentes. Apresentam-se normalmente
harmoniosos: a criança, de altura normal à nascença, adquire durante os três ou quatro
primeiros anos da vida um atraso de proporções variáveis que ela não conseguirá vencer
posteriormente. Seja como for, todos estes nanismos aparecem na infância, mas, na
adolescência, a/puberdade pode ser mais ou menos perturbada segundo os casos, como
veremos.

ANOMALIAS DE PESO POR EXCESSO: AS OBESIDADES

Os alimentos absorvidos fornecem a energia necessária ao funcionamento dos diferentes


órgãos -é o metabolismo basal-, a energia requerida também para o trabalho, o movimento
e o crescimento no adolescente. Se a absorção calórica ultrapassar as neces-
sintomâtico.

236 Fisiologia da adolescência

sidades supracitadas, o excedente acumula-se no organismo sob a forma de gordura.


Embora nem todas as /obesidades sejam devidas à superalimentação, é evidente que a
superalimentação conduz as mais das vezes à obesidade. Esta última pode ser definida
como um excesso ponderal superior a 20 %. do peso médio normal correspondente à
altura do sujeito.

As crianças obesas encontram-se amiúde

nas famílias de grandes comedores A maior parte das obesidades que se detectam no
adolescente não dependem de causas patológicas: são obesidades ditas comuns,
idiopáticaso. Estes sujeitos pertencem quase sempre a/@<fàmíljas 0 Por oposição a em que a
superalimentação é um hábito contraído desde há muito. Ela é aliás muito raramente
confessada e só o interrogatório a porá em evidência, assim como a simples observação
dos/pais, geralmente também obesos. 0 excesso começou de um modo geral por volta dos
7-8 anos, mas pode manifestar-se apenas no início do período pré-púbere, cerca dos 10-11
anos. Encontra-se por vezes uma circunstância desencadeante, um abalo/afectivo, uma
doença ou uma operação cirúrgica, que provocou os hábitos de superalimentação.

A hereditariedade desempenha um papel indubitãvel na obesidade Segundo Touraine,


a/obesidade não só teria um carácter/familiar, como ainda o estudo genealógico permitiria
demonstrar que ela é hereditária numa percentagem que vai, conforme os autores, de 40 a
70 e mesmo a §0 % dos casos. Rony, em Chicago, descobriu que, em cada cem sujeitos
que têm um único progenitor obeso, vinte e quatro o são por seu turno, e que por outro
lado sessenta e nove em cada cem são obesos se ambos os progenitores o forem. Esta
obesidade afecta o tronco, o abdome, as ancas, o raiz das coxas, mas respeita as
extremidades. A altura é geralmente normal, a maturação óssea segue a idade estatural, a
tensão arterial é normal, a quantidade de glucose no sangue também o é. A/"puberdade
sobrevém normalmente, resultando o aparente subdesenvolvimento dos órgãos genitais
externos no rapaz do seu enterramento sob a gordura púbica e mostrando-os de volume
normal um exame cuidadoso. Nenhum factor causal de origem endocrínico pode ser posto
em evidência.

Guando a comida aparece como uma compensação Um/conflito familiar ou escolar pode
ser a causa da,'@4buljmia*, o buiirnia., absorção e-

da p

Um_

od

o st

oo
con

1 e por conseguinte da obsidade. Em alguns destes adolescentes obe- exagerada de alimentos. sos,
a nota/ psicológica aparece claramente: eles são,,,Iapáticos e: indiferentes, de/"carácter
difícil, procurando manifestamente no abuso de comida uma compensação para
qualquer dilaceramento futimO que convém desvendar. Q o me

tmtaMento é sempre árduo, pois o adolescente e a sua família espw ~= o remédio


milagroso, a pílula ou o comprimido cuja sim-
FIS

ples tomada diária voltará sem esforço a pôr as coisas no seu lugar. Ora a única
terapêutica é a, dieta hípocalórica associada à ginástica e às massagens, não sendo fácil
fazê-la aceitar. A psicoterapia deverá intervir quando as componentes psicológicas
parecem importantes. Ao lado destas obesidades comuns, de longe as mais frequentes,
existe um certo número de doenças das quais a obesidade constitui um dos sintornas*.
Nestes casos, raríssimos em comparação com a Citemos a obesidac
da doença de Cushing os precedentes, os sinais associados permitem o diagnóstico. Pode-
(o doente apresenta un mos concluir que a grande maioria das obesidades da/adolescência
ad,posidade particular.

m descalcificação do são devidas a um excessivo fornecimento/ alimentar; elas são


ossaos, perturbações

cutâneas o uma excepcionalmente de origem endocrínica. hiperglicemia), a


sindrc

adiposogenital de Frõhlich, a de Willi-Pra e a de Laurence-Mooi ANOMALIAS DE PESO POR DEFEITO:


-Bardet-Biedi. AS MAGREZAS

Tal como a obesidade, a magreza é a maior parte das vezes hereditária e familiar. É uma
magreza constitucional e não uma doença. Além disso, a brusca eclosão da pré-puberdade
faz parecer falsamente magros muitos adolescentes e ainda exagera a magreza daqueles
que têm verdadeiramente uma insuficiência ponderal. Para falar de magreza verdadeira, é
preciso que o peso seja inferior em
20 %. à média ponderal correspondente à altura. Do mesmo modo que existem sujeitos
que engordam comendo pouco, outros há que continuam magros comendo muito. Apesar
de tudo, um apetite excessivo caracteriza geralmente os obesos, e a inapetência os magros.
Se bem que a magreza seja a maior parte das vezes uma variante constitucional, foi
possível assinalar nos magros uma ten- 0 -tabolismo: «fase
metabolismo na qual ( dência particular do sistema endócrino-vegetativo, que seria mar-
materiais assimilados a

cada quer por um certo exagero do catabolismoo devido a uma


transformam em energ
(Quillet-Fiammarion). hiperactividade fisiológica da tireóide e da hipófise, quer

por um # anabolisrno: défice anabólicoo relacionado com um


hipofuncionamento vagalo «Íransformação dos e uma
capacidade digestiva e assimiladora diminuída por causa
materiais nutritivos em
de uma carência pancreática e supra-renal.
tecido vivo)@

De facto, estes dois tipos de organização do sistema neurovegeta-


(Quillet-Flammarion).
#vegal.- que se refere tivo correspondem também a dois tipos de sujeitos

magros. nervo pneumagástrico.

Um sujeito pode ser magro a estar de excelente saúde Uns têm uma constante necessidade
de/actividade física, o seu rosto é expressivo e/inteligente, são vivos, rápidos, extravertidos,
o seu apetite é excelente, comem muito e de modo nenhum engor-
e merabolismo de í
dam, o seu metabolismo de base* atinge o limite superior do nor-
de calorias
am`iti`d'a's por hora e @ mal; a sua/puberdade começa geralmente muito cedo e

prossegue metro quadrado de

sem incidente; de igual modo, o seu crescimento pára cedo e eles


superfície corporal, ist
em jejum e em repot apresentam quase sempre uma altura média ou
pequena. As pes- * simpaticotonia. soas chegadas consideram-
nos hipernervosos; na realidade, trata-se anomalia constítucion@

caracterizada por uma de hipertireoidianos simpaticotónicoso. De qualquer maneira, os


:ensibilidade espe@íal

istema nervoso simp adolescentes deste tipo, pondo de parte a sua magreza, mostram-se
(ou periférico).
238 Fisiologia da adolescência

cheios de vida e de excelente saúde: não reclamam qualquer precaução especial. ... mas a
magreza pode ser reveladora de um mau estado geral Os outros são adolescentes pálidos,
de ar enfermiço, que estão sempre sonolentos, detestam qualquer actividade física/violenta
ou continuada; pouco resistentes, sem vontade, são/ caprichosos, digerem frequentemente
mal e não têm apetite. São frágeis, suportam mal as doenças, e encontramos amiúde neles
desvios da coluna vertebral. A puberdade aparece geralmente tarde, a fase pré-púbere tem
tendência a prolongar-se; eles reagem mal às tumultuosas transformações desta idade e
apresentam muitas vezes diversas perturbações /neuróticas,/ menstruais ou tireoidianas.
Levam muito tempo a amadurecer e, ao contrário dos precedentes, dão a impressão de
temer a vida e acolhê-la com lassidão, se bem que sejam em geral de elevada estatura. Estes
magros,,,, asténicos devem ser rodeados de cuidados durante a/adolescência. A vida ao ar
livre, as estadas em estabelecimento sanitário de cura climática, as/escolas no campo, os
desportos de Inverno moderados e uma/alimentação substancial mas facilmente digerível
ser-lhes-ão salutares.

Os casos patológicos

Ao lado destas formas que não são doenças propriamente ditas, existem magrezas devidas
a uma afecção patológica da hipófise e do hipotálamo. São felizmente muito raraslel.
Citemos a doença de

limmonds. na qual o doente chega a um estado A anorexia. Durante a adolescência, encontra-se com bastante
da assustadora magreza

a que se chama caquexia. frequência, e quase sempre nas raparigas, uma magreza causada Aparece
um certo . .

pela/anorexia. Estas raparigas são magras muito simplesmente


úmer de outros sinais e a moorte
sobrevém em porque recusam o alimento e comem cada vez menos invocando poucos anos.
Encontramos

outros tipos de magreza para se justificarem perturbações hepáticas ou digestivas afinal de origem
hipotálamo-

inexistentes. Esta falta de apetite não sobrevém bruscamente: ins-


hipofisária que não têm -este
prognóstico fatal. tala-se progressivamente, cresce com o tempo e, nos casos mais graves
não tratados, a magreza torna-se extrema. A amenorreiae, * a-enorreia. a hipotensão,
a queda do metabolismo de base e até a secura da ausência de regras.
pele podem ser vistas, tal como nas magrezas de origem endocrínica. Estas adolescentes
são de/0 inteligência normal, muitas vezes acima da média, e sadias de espírito, mas
apresentam um/desequilíbrio psíquico, perturbações do/carácter, do/ comportamento ou
da/afectividade.

Na origem da anorexia, um fracasso familiar,

escolar ou sentimental A doença instala-se amiúde na sequência de um abalo emotivo:

0 de uma ligação sentimental, receio de uma doença, escolar,/medo de engordar suscitado


por um reparo
FIS

ou por um gracejo desastrado de uma companheira ou de um parente, /conflito /familiar


menor, etc., tudo dificuldades que seriam facilmente superadas por uma rapariga bem
equilibrada. A recusa da comida toma então nestas doentes o sentido de uma recusa da
vida, de uma recusa de todas as relações com o mundo exterior. De facto, as primeiras
relações da criança com o seu /meio fazem-se pela boca:/prazer de comer, de chuchar,
exploração dos objectos levados à boca, fazendo-se igualmente a relação com os outros,
graças aos sons emitidos pela boca, etc. É a/*mãe que dá o alimento à criança, de maneira
que a/oposição à mãe pode manifestar-se pela/anorexia, assim como pode revestir a forma
de uma autopunição pelas faltas que se pensa ter cometido. É óbvio que, nestas condições,
o tratamento será essencialmente psíquico, psicanalítico, e estas doentes deverão por
vezes fazer uma estada numa casa de saúde. A cura pode assim ser obtida mais ou menos
rapidamente. A magreza pode também constituir um dos sintomas de unia doença geral*.
9 Como a doença de
Marfan. certas distrofik É claro que todas as doenças que afectam gravemente o estado ósseas, ou
ainda a

geral podem ser acompanhadas de emagrecimento, desde a tuber-


acrodfnia. Estas doenÇj são
extremamente raras culose aos tumores malignos, mas a magreza é então urna
consequência do mal e já não um dos seus sintomas.

ANOMALIAS DA PUBERDADE POR EXCESSO: AS PUBERDADES PRECOCES


As variações individuais muito grandes da data de aparecimento da/puberdade devem
tomar assaz prudente o/juízo relativo tanto ao seu avanço como ao seu atraso. Antes de
incriminar uma causa patológica, interrogar-se-á os,,qpais para saber em que idade
começou neles a puberdade. A noção de um avanço ou de um atraso nestes últimos
abonará -se sobrevier o mesmo fenômeno no filho - a favor de uma influência genética
perfeitamente fisiológica. Estudar-se-á também no próprio sujeito a correspondência dos
primeiros sinais pubertários com os outros sinais de maturação, como a ossificação e a
taxa das/hormonas que circulam no sangue. Estas diferentes investigações permitem
distinguir as puberdades ditas antecipadas -cujo desenrolar permanece inteiramente
normal, embora adiantado no tempo- das,,,( puberdades ditas precoces, francamente
patológicas. No entanto, se for indispensável indicar uma referência precisa para melhor
assentar as ideias, podemos aventar que toda a puberdade que comece antes dos 9 anos
corre muitos riscos de ser/anormal, sobretudo no rapaz.
240 Fisiologia da adolescência

Aparecimento prematuro de certos caracteres sexuais secundários

Wilkins assinalou alguns raros casos de crianças de 5 a 8 anos nas quaís viu
desenvolverem-se caracteres sexuais secundários sem que se manifestasse qualquer sinal
de maturação/ sexual. Estes sujeitos apresentavam uma pilosidade púbica e axilar tão
importante como no fim do período púbere, sem que existisse hipertricose* 0
hipertricose. proliferação exagerada generalizada e na ausência de qualquer outro sinal- Nos rapazes,

dos pêlos
sobre
não obstante uma púbis coberta de densos pêlos, o pênis, os tes- do corpo normalmente tículos
partes

e a próstata permaneciam infantis; nas raparigas, não se glabras. via qualquer


desenvolvimento mamário correspondente à pilosidade. Todos mostravam uma aceleração
do crescimento, mas a taxa dos
17 cetosteróideso oscilava entre dois e cinco miligramas por dia, Ver página 221. ou seja,
a taxa da infância e não a da puberdade. Parece que é responsável por este fenômeno uma
secreção excessiva de andro-gênios, expressão de uma variação temporária do
equilíbrio/hormonal, a menos que certos sectores cutâneos sejam, nestes sujeitos,
particularmente sensíveis aos androgénios, os quais continuariam «i uma taxa normal.
Acontece os seios desenvolverem-se prematuramente em certas apariguinhas, sem que
haja qualquer outra modificação da esfera --enital. Para Wilkins, a causa deste aumento
intempestivo do volug ne mamário é difícil de esclarecer; ele não pode ser referido à -
dperplasiao dos seios do período que se segue ao nascimento, # hiperplasia.*

-@ois esta é devida aos estrogénios placentários de proveniência


desenvolvimento exagerado de um

jaaterna, cuja acção já se não pode evidentemente invocar entre


tecido Ou de um órgão. -,s 5 e
os 8 anos. 0 aumento de volume dos seios pode ser uni ou ,ilateral, além de poder ser
transitório ou persistir durante meses ,U até anos, tornando-se por vezes permanente.
@onvém no entanto distinguir este aparecimento prematuro de M carácter/sexual isolado
-que não apresenta gravidade e Ao requer qualquer tratamento, visto a verdadeira
puberdade se au posteriormente em tempo e de modo normal - das puber-des precoces em
que a evolução se faz nos diferentes sectores.

-4erdades precoces IMMnI neste caso se não trata do aparecimento largamente ante-
@,@@O de um único carácter ligado habitualmente à maturação

-,"4 mas propriamente de uma maturação real e precoce das

Ias, a qual poderá conduzir à aquisição prematura da fun-

reprodução, isto é, da precocidade sexual. Classificam-se ~ estas anomalias consoante as


suas causas e distinguem-se
3idades sexuais ou pseudopuberdades precoces de origem gOnadal ou supra-renal, das
puberdades precoces autênticas.
FIS

Separam-se estes tipos de precocidade/ sexual das/puberdades precoces porque é raro,


nestes casos, ser atingida a capacidade reprodutiva, finalidade do/ desenvolvimento
pubertário.

Precocidade sexual provocada por lesões cerebrais. Francamente patológico, grave e


felizmente raro, este tipo de precocidade encontra-se com mais frequência nos rapazes do
que nas raparigas. Trata-se de crianças cuja altura e peso estão muito acima do normal e
que apresentam todos os sinais da puberdade: caracteres sexuais secundários,
desenvolvimento e maturação dos órgãos genitais com espermatogénesec no rapaz,
folículos maduros e espermarogénese:

ovulação na rapariga. A taxa das/hormonas sexuais é a da ado-


lormaÇão das células qu<

engendram os lescência e da idade adulta, e o instinto sexual aparece, mas estes


Ospermatozóides. sujeitos apresentam ao mesmo tempo os sinais de afecção cerebral,

causa da precocidade: hipertensão intracraniana com cefaleias, compressão do quiasma


óptico com perturbações da visão, vertigens, paresiag, diabetes insípidaio. Trata-se as
mais das vezes 9 paresla: paralisia de um tumor cerebral de localização
variável, mas algumas menin- ligeira que consiste
essencialmente numa gites podem dar os mesmos sinais.
diminuição da

contracti [idade.

Precocidades sexuais provocadas por lesões das gónadas. Tais pre- e


6"bllls „n$'PId”.‟
diabetes devida a um cocidades são devidas a tumores benignos ou malignos dos testí-
tumor do diencéfalo e quE

se caracteriza por umaculos ou do ovário. No rapaz, trata-se quase sempre de adenoma*


exageração da quantidad@ das células intersticiais. 0/comportamento da criança
denuncia das urinas até cinco ou

por vezes um,,,<desequilíbrio hormonal muito antes de aparecerem


sete litros por dia e por
uma sede intensa sem
outras modificaçõesos sinais sexuaisiei. é uma perturbação

doA criança aumenta de peso e de altura, a musculatura desenvolve-se,


metabolismo da água. assim corno os órgãos genitais, os caracteres sexuais secundários

o adenoma.- tumor
surgem e a voz muda. Alguns deste homens antes de tempo con-
benigno que se

desenvolve à custa de umE servara uni comportamento infantil, permanecem dóceis e não se
glândula. interessam muito elo outro sexo. Mas outros, pelo
contrário, * Werner e Cri citam c

p caso de um rapazinho tornam-se,,,,, agressivos,


/instáveis, indisciplinados; tê m frequentes que fumava cigarros aos erecções, um

instinto sexual imperativo e perseguem as rapariguinhas. 2 anos de idade. ao passc


Geralmente, o tumor causal é bastante volumoso e, depois de atin_
que a precocidade sexua
apenas deveria sobrevir gido o testículo, não tarda a atrair a atenção. Este tumor acha-se

aos 5 anos e meio.

bem circunscrito e portanto a sua ablação é assaz fácil. A única terapêutica é


evidentemente cirúrgica: dá bons resultados na maioria dos casos, pois que o tumor é
geralmente benigno. Na rapariga, pelo contrário, os tumores do ovário são não apenas
mais frequentes, mas quase sempre malignos. Assiste-se, também aqui, ao
desenvolvimento somático por aceleração do crescimento, idade óssea adiantada em
relação à idade cronológica, aumento dos seios e do útero com hemorragias uterinas
periódicas. Todavia, a maturação das gónadas, característica da puberdade, não se produz:
o ovário inderane conserva de facto o volume e os caracteres histológicos da infância, e a
maioria dos sintomas retrocedem após
P A-16
242 Fisiologia da adolescência

a ablação do tumor. Os estrogénios são sempre muito fortemente acrescidos*.


0 Palmer assinala um A terapêutica consiste unicamente na ablação do tumor. Apesar caso em que esta

e!iminação atingiu, em de tudo, o prognóstico permanece muito reservado, pois as gene- vinte e quatro horas, a

cifra enorme de ralizações são frequentes e amiúde rápidas. dezassete mil unidades

rato.

Precocidade sexual provocada por uma lesão das supra-renais, a macrogenitossomia precoce Esta síndrome, também denominada
«síndrome androgenital», foi descrita pela primeira vez por Wilkins, Fleischmann e Howard. Atinge unicamente o rapaz e é devida a uma
hiperplasiao das supra- o Ver Página 240. -renais. Estas glândulas, muito aumentadas de volume, são compostas quase unicamente de
células comparáveis às da zona reti. culare. Alguns destes doentes morrem em tenra idade por insu- o reticular.- uma das três

zonas de células que ficiência supra-renal, impedindo a invasão da glândula pelas células constituem o cõrtex da reticulares o seu
funcionamento fisiológico. Nos que sobrevivem @lândula supra-renal.

parte mais profunda assiste-se ao aparecimento precoce de todos os caracteres/ sexuais doacórtex em contacto

com a parte central da secundários, além de apresentarem um desenvolvimento/ anormal giándula chamada do pênis e manifestações
de priapismo e, que justificam a designação medular. de macrogenitossomia. A altura e o peso aumentam ainda mais o priapismo:
de Príapo,

filho de Dioniso e de rapidamente do que nos outros casos de precocidade sexual e a Afrodite, símbolo da criança parece muito mais
velha do que na realidade é: surge como virilidade na mitologia

grega: erecções violentas, um pequeno atleta de musculatura bem desenvolvida. Mas trata-Se prolongadas, multas vezes

dolorosas, sobrevindo apenas de aparências, pois no fundo este hércules cansa-se muito sem excitação nem facilmente.
apetite sexual. Contudo, uma tal precocidade é só exterior, pois os testículos continuam
pequenos e não se desenvolvem, mesmo nos casos em que o sujeito chega à idade adulta. Na verdade, estes machos aparentemente tão bem
dotados são estéreis. Tais doentes morrem muitas vezes de insuficiência supra-renal aguda, e a terapêutica visa sobretudo prevenir esta
insuficiência, mediante a administração de extractos corticais e de cortisona, sob atenta vigilância médica.

Puberdade precoce verdadeira Denominada/ puberdade constitucional por Novak, ou


ainda, por outros autores, essencial, representa, segundo Wilkins, 80 a
90 %. do total das precocidades sexuais. É devida a uma actividade prematura do sistema
hipotálamo-hipofisário, de causa desconhecida. Ela mostra-se muito mais frequente nas
raparigas do que nos rapazes: as listas de casos citados na literatura médica compreendem
aproximadamente dez raparigas para um rapaz. A única anoinalia verificada é o
aparecimento muito antecipado da puberdade: à excepção do desfasamento no tempo, esta
última desenrola-se normalmente sob todos os pontos de vista. Os sujeitos apresentam
FIS

uma altura e um peso superiores aos dos outros indivíduos da sua idade, os rapazes são
dotados de uma forç a muscular anormal e as raparigas adquirem, se bem que ligeiramente
atenuados, os caracteres somáticos da mulher. A ossificação rápida das cartilagens de
conjugação conduz estas crianças, a princípio muito adiantadas, a não passarem em geral
de adultos de pequena estatura, mas harmoniosamente constituídos. A maturação
completa das gónadas termina numa idade ainda infantil, a espermatogénese efectiva-se no
rapaz, bem como a/menstruação e igualmente a ovulação na rapariga. A função de
reprodução acha-se assim perfeitamente estabelecida: não se trata nem de uma aparência
nem de um artifício 0 Wilkins recolheu,
seu Tratado de como provam os numerosos casos de gravidez* registados pelas Endocrinologia.
310

observações médicas. A/puberdade consumou-se realmente C


de puberdade precoc

raparigas; entre elas, atingiu o seu objectivo fisiológico. A taxa dos 17 cetosteróides é a 18
ficaram grávidas o

5 para os10anose70 do adulto. dos 14 anos.

Não se deve confundir a puberdade precoce verdad@

com um simples avanço de maturai Antes de declarar que se trata de uma puberdade
precoce verdadeira constitucional, é indispensável proceder a repetidos exames, a dosagens/
hormonais, a radiografias, que mostrarão não haver qualquer afecção, em particular
qualquer tumor no início, responsável pela precocidade/ anormal. Só no caso de tudo estar
certo se declarará tratar-se simplesmente de um avanço de maturação. E no entanto curioso
verificar que esta maturação não abrange senão a esfera genital; não se observa qualquer
avanço paralelo no aparecimento dos dentes ou no/ desenvolvimento da/ inteligência. Estes
sujeitos têm por conseguinte uma vida pouco diferente da dos seus/colegas da mesma idade
e, ao tornarem-se cronologicamente adultos, apresentam um/ comportamento/ social
e/sexual absolutamente normal. Não deixa de ser verdade que um aparecimento tão
prematuro do instinto genésico coloca durante a ínfância problemas cuja solução é muitas
vezes difícil. As raparigas procuram atrair os homens; os rapazes,
/agressivos, interessam-se visivelmente pelo outro sexo. Apresentam umas e outros um
/,‟desequilíbrio psíquico manifesto, visto que permanecem crianças no espírito ao passo
que a sua maturação genital e psicossexual é completa. Durante toda a infância, eles
mostrar-se-ão, pois, /inadaptados; a sua vida em/família, com os irmãos e irmãs, e a sua
vida escolar requerem a assistência de um./psicólogo se, do ponto de vista puramente
médico, não tiver de ser encarado tratamento algum.

ANOMALIAS DA PUBERDADE POR DEFEITO: AS PUBERDADES ATRASADAS

0 atraso pubertário avalia-se pela ausência de aparecimento dos


244 Fisiologia da adolescência

caracteres sexuais secundários. Em que idade esta ausência passa

a ser suspeita? A partir dos 17, 18 anos no rapaz, dos 15, 16 anos na rapariga. Nestes
casos, importa evitar pensar logo numa causa patológica: existem, efectivamente,
puberdades ditas «diferentes», que representam a forma mais frequente de atrasos
pubertários. Após alguns meses, a puberdade sobrevém, o défice global das eliminações
hormonais* é superado. A elevação progressiva das o F.S.H.,
17 cetosteróides, taxas de eliminação assinala o arranque do processo pubertário. folículos.

Fala-se de puberdade atrasada quando afinal não há puberdade Mas, nalguns casos raros,
esta evolução não se faz ou faz-se parcialmente, incompletamente, logo apenas na
aparência, não na realidade. Fala-se então, por um manifesto abuso de/linguagem, de
puberdades atrasadas, pois, no fundo, não há puberdade alguma. Seria mais exacto dizer
impuberismo. Na ausência de puberdade, as glândulas sexuais não se desenvolvem e o
sujeito permanece naturalmente estéril. Esta paragem na evolução normal pode provir de
uma doença, de uma deformação congénita ou de uma insuficiência das próprias glândulas
que se tornam incapazes de reagir às gonadotrofinas hipofisáriaso: fala-se, neste caso, de
hipogona- o ou gonadostimulinas. dismo primário. Se, pelo contrário, as glândulas se acham
perfeitamente normais, mas as gonadotrofinas faltam na sequência de uma deficiência
hipofisária ou hipotalâmica, há sempre hipogonadismo; mas as gónadas não são culpadas,
havendo portanto um hipogonadismo secundário. Se os caracteres/ sexuais secundários não
aparecem, mas o crescimento em altura prossegue normalmente, o sujeito toma o aspecto
de um eunuco e falar-se-á de eunucoidismo. Se o crescimento parar, o sujeito fica de
pequena estatura e de aspecto infantil: tratar-se-á de nanismo ou de/infantilismo. Parece que
o termo infantilismo implica uma altura reduzida; se são apenas as gónadas que continuam
infantis é necessário precisar, para ser exacto, infantilismo sexual (Cominolli).

Hipogonadismos primários Estes hipogonadismos são devidos à alteração das glândulas


sexuais que se tornam indiferentes à estimulação hipofisária. Diante desta ausência
de/reacção, tudo se passa como se a hipófise multiplicasse os seus /esforços: a taxa
sanguínea de gonadostimulinas aumenta, e a eliminação urinária cresce em conformidade.

Deficiê~ testiculares Consoante a gravidade da afecção testicular, a sintomatologia vai


toMar formas diferentes. Se os tubos seminíferos e as células intersticiais forem lesados ao
mesmo tempo, o infantilismo sexual SCrá COMPICtO C 0 sujeito adquirirá o tipo eunucóide.
Se, ao invés,
FIS

os tubos seminiferos forem os únicos atingidos e as células intersticiais conservarem a sua


actividade, os androgénios que elas segregam provocarão o aparecimento quase normal
dos caracteres sexuais secundários. Então, só a ausência de espermatozóides, a pequenez
dos testículos e a eventual falta do instinto sexual permitirão suspeitar da deficiência
testicular. A biopsia testicular e o exame hístológico precisarão a natureza e o grau da
perturbação patológica. É fácil, no entanto, compreender que entre as lesões graves e
generalizadas e as lesões parciais e ligeiras, tenham sido descritas numerosas síndromes. A
síndrome de Minefélter, descrita em 1942, é caracterizada por uma grave alteração dos
tubos sen-@nIfèros que degeneram e são incapazes de produzir espermatozóides. Como as
células intersticiais permanecem na sua maioria inderimes, os androgénios agem quase
normalmente. Só no momento da/puberdade a atenção é atraída para esta doença. Os
sujeitos afectados por uma tal perturbação têm quase sempre um aspecto normal, uma
altura normal, uma pilosidade e um pênis normais, mas os testículos continuam pequenos e
de consistência fibrosa à palpação, além de existir muitas vezes um desenvolvimento dos
seios, uma ginecomastiao 9 ginecomastia: mono ou bilateral, assim como uma
/debilidade mental mais ou desenvolvimento do! menos acusada.
no homem.

É uma doença de causa genética: é devida a uma aberração cromossomica, pois os sujeitos
atingidos são portadores de um cromossoma feminino suplementar e o seu cariótipo, é, de
facto,
22 x 2 +X +X +Y. Numa outra forma de hipogonadismo que Del Castillo assinalou, o
sujeito, pelo contrário, conserva o aspecto/viril e uma libido normal, mas os testículos são
relativamente pequenos e a ejaculação é desprovida de espermatozóides. Existem ainda
outros tipos de deficiências ou de alterações testi- (@ulares que conduzem às mesmas
perturbações. E assim que o exame histológico pode pôr em evidência uma paragem na
maturação das células germinais, não se fazendo a espermatogénese completamente;
vemos espermató citos de primeira ordem que permanecem neste estádio e nunca se
transformam em espermatozóides; podemos também, noutros casos, encontrar uma
anarquia total no interior dos tubos seminíferos - onde, nos casos normais, as células da
estirpe germinal se ordenam perfeitamente. É o slougIting dos Anglo-Saxões, derivado do
verbo to slough que quer dizer «desprender-se». A prepubertal testicular failure, de Nelson
e Heller, é uma afecção global do testículo, que vai por vezes até ao desaparecimento total
do tecido glandular e se aproxima então muito da ausência congénita. A/puberdade não se
faz, não se observa qualquer pilosidade, as górtadas estão hipotrofiadas, a altura pode ser
pequena
246 Fisiologia da adolescência

ou, pelo contrário, normal: o sujeito toma então o tipo eunucóide. A ausência congénita
dos testículos, encontrada por Bishop e Wilkins, é manifestada por um/infântilismo genital
e somático: não há puberdade, não há caracteres/ sexuais secundários, as gónadas estão
reduzidas a dois delgados cordões fibrosos.

A castração: é extremamente rara Enfim, a castração constitui evidentemente o tipo mais


acusado de hipogonadismo primário; ela tem no entanto pouca importância médica por
causa da sua raridade. A ablação cirúrgica dos testículos na infância transforma o sujeito
num autêntico cunucoo. e Palavra que

Ele atinge a altura adulta, frequentemente até uma grande altura


literalmente quer dizer: guardião da

por causa do atraso de ossificação das cartilagens de conjugação devido à carência


cama.

total de androgénios testiculares, mas conserva a desproporção entre o tronco e os


membros que é a característica normal da idade pré-púbere, um rosto redondo,
bochechudo, e uma nítida tendência para a gordura.

Além da castração voluntária ou acidental, qual pode ser a causa das outras formas de
hipogonadismos primários? Em numerosos casos, parece tratar-se de distrofiase de origem
genética ligadas 0 d;strofia.- perturbação
a uma aberração cromossómica. Motivo pelo qual é sempre indi-
da nutrição de um órgão ou de

uma parte anatómica. cado fazer um cariótipoo nestes casos. Certas causas inflamatórias . e caríótipo: fórmula

ou determinadas doenças virais, quer antes quer depois do nasci- cromossómica.


mento, podem também, segundo parece, ser responsáveis pela alteração das células nobres
da glândula e conduzir à aplasiao do teS- 0 aplasia: paragem do
tículo. Seja qual for a causa, nunca será possível combater a este- tec do ou
desenvolvi m8nto de um

rilidade constante destes doentes: a terapêutica/ hormonal pode


de um órgão sobrevinda após a

quando muito fazer aparecer os caracteres sexuais secundários. nascença.

Criptorquidia e ectopia testicular. 0 testículo ectópicoo é por vezes o ectópico: que não está
aplástico e, se a ectopia for bilateral, pode sobrevir um quadro no seu lugar habitual. de

hipogonadísmo primário*. 0 testículo nasce na região lombar 0 Podemos assim


1 ilicar esta afecção do embrião; empreende uma migração no feto que o conduz nor- cen't`re os

hipogonadismos, * 1 .ai da que Malmente, no sexto mês da vida íntra-uterina, ao canal inguma . “

ao oitavo mês, penetra nas bolsas e, à nascença, atinge o fundo do


hipogonadismo saía, de facto, raro.
escroto. Esta viagem é um fenómeno muito complexo em que a glândula desempenha o
papel essencial pela sua autopropulsão, PC14 SOCreÇão das suas células intersticiais que já
existem, e pela SIMO/rea040 às gonadotrofinas placentárias de origem materna em que o
sangue do feto é rico. Compreende-se assim que uma mi- ~o incompleta denuncie
frequentemente um testículo defeituoso. Todavia, OCrtOS obstáculos mecânicos podem
barrar-lhe o caminho: librow, ad~cias, brevidade do cordão, sobretudo hérnia inguinal. Em
tr& de cada quatro casos, a ectopia é unilateral; pode ser definitiva sc não houver
tratamento, mas por vezes trata-se somente de um atraso e o t«dculo acaba então
espontaneamente a sua des-
FIS

cida no momento da/puberdade. Segundo as estatísticas de Weyeneth, 10 % dos recém-


nascidos têm uma ectopia testicular, mas, na ausência de qualquer tratamento, a
proporção desce para cerca de 2% aos 21 anos. 0 ponto de paragem da migração é
variável. A glândula pode permanecer na região lombar ou deter-se nas regiões ilíacae,
inguinale, cruro-escrotalo. De qualquer forma, 0 illeca: região vi . do osso ilíaco o testículo
não está no escroto: há ectopia, palavra cuja etimologia (osso da anca). significa «fora do lugar». Utiliza-
se também a palavra «criptor- e inguinal: região quidia», que quer dizer «testículo escondido», mas é costume reser- virilha. var este
termo para os casos em que a glândula estacionada no 9 cruro-escrotel., abdome não é detectada e se encontra verdadeiramente
escondida. superior do escrou Nas ectopias baixas inguinais ou cruro-escrotais, o testículo está fora do seu lugar, mas já não se acha
escondido visto que se pode descobri-lo.

Convém acima de tudo não nos deixarmos enganar pelos testículos ditos «oscilantes», muito frequentes na criança. A apalpação do escroto
faz o testículo subir por reflexo para o canal inguinal: trata-se então de uma falsa ectopia. Se houver ectopia verdadeira e a glândula,
facilmente encontrada, não puder ser abaixada, convirá apreciar o seu volume, a sua contextura e a sua sensibilidade para fazer uma ideia do
seu estado. Se a glândula for impossível de encontrar, explorar-se-á a fossa ilíaca e o hipogástrio* onde ela pode denun- 0
hipogástrio: ciar a sua presença por uma sensibilidade particular. parte inferior do a

Se a glândula parecer normal, trata-se a maior parte das vezes de um atraso de migração que a puberdade pode muito provavelmente
apagar. Se, ao invés, ela for pequena, mole, insensível, é sinal de que se acha manifestamente defeituosa, a migração não se produzirá sem
tratamento e a fertilidade está ameaçada, mesmo com um tratamento precoce. Apesar de tudo, a/virilidade será muito raramente posta em
causa e, para ver realizar-se nestes casos o quadro de hipo 1gonadismo primário, é preciso primeiro que a ectopia seja dupla e em seguida
que a aplasia testicular seja muito acentuada, o que é raro. Na imensa maioria dos casos, a secreção endocrinica é sempre suficiente para
assegurar um funcionamento/ sexual normal. Mas, em contrapartida, a ectopia compromete muito cedo a espermatogénese: é portanto, na
prática, unicamente a fertilidade do sujeito que pode estar ameaçada,

0 tratamento médico da ectopia é dei

a intervenção cirúrgica ale Tem-se discutido muito sobre- o tratamento da ectopía. É certo que a primeira coisa a encarar é o tratamento
médico, ou seja, a administração de gonadotrofinas. Mas este tratamento, começado antes dos 9 ou 10 anos, arrisca-se a fazer aparecer
uma/puberdade precoce e, por outro lado, aos 9 anos a espermatogénese pode estar já largamente alterada. 0 risco de esterilidade pareceria,
por-
248 Fisiologia da adolescência

tanto, justificar a intervenção cirúrgica por volta dos 7 anos. Mas, na prática, esta
intervenção é aleatória. Com efeito, segundo Barcat, a tracção exercida sobre a artéria
espermática provoca, em 16 %. dos casos, a hipotrofia de um testículo são e, em 50 %.
dos casos, a atrofia de um testículo deficiente. Afigura-se pois, a priori, pouco sensato
correr um tal risco quando afinal, muitas vezes, a

glândula ocupa espontaneamente o seu lugar durante a puberdade. Naturalmente, a


intervenção cirúrgica é tanto mais delicada quanto mais nova for a criança e mais alta a
ectopia. A cirurgia é, pelo contrário, indicada se se pensar que o caminho está impedido por
um obstáculo mecânico: ela suprimirá este obstáculo; é igualmente indicada se a ectopia for
complicada por uma torção aguda ou subaguda. Porém, afora estes casos particulares, fica-
se a maior parte das vezes pelo tratamento médico começado cerca dos 9 ou 10 anos: só
em 1 % dos casos o seu efeito se não fará sentir.

Deficiência ovárica primária. A situação das góriadas femininas não permite a observação
directa. Somente as perturbações da /menstruação e do ,,,,desenvolvimento do aparelho
genital vão trair a paragem da evolução/ sexual. No entanto, as raparigas castradas antes
da puberdade, do mesmo modo que as que se acham funcionalmente castradas, não
tomam de forma nenhuma o tipo eunucóide, conservando algumas uma estatura normal e
proporções somáticas harmoniosas e podendo inclusive a pilosidade púbica e axilar
aparecer sob a simples influência dos androgénios supra-renais. Contudo, a paragem da
evolução supra-renal é denunciada pela ausência de menstruação e pelo/ infantilismo do
aparelho genítal. A síndromea descrita por Turner em 1938 é uma agenesiao 9 síndrome.,
conjunto

ovárica: os ovários estão reduzidos a dois cordões esbranquiçados


de sintomas que podem observar-se em

várias unicamente constituídos por células conjuntivas sem qualquer doenças. traço de

células epiteliais e germinais. Verifica-se um infantilÍSMO # agenesia: ausência de ao mesmo tempo


genital e somático. Estas doentes são de pequena constituição e de

estatura, os seios não se desenvolvem, a pilosidade mal se esboça.


desenvolvimento de um órgão. Na

sequência da falta de desenvolvimento das maxilas, o rosto adquire um aspecto


arredondado assaz singular e característico que explica a estranha semelhança de todos os
sujeitos atingidos. Acham-W associadas outras malformações: palmura do pescoço, defor-
~0 dos cotovelos, ausência do pavilhão do ouvido, soldagem @& dois Ou várIos dedos,
por vezes deformações congénitas da aorta. A causa da,sindrome é uma aberração
cromossómica: as doentes tem de facto um único gonossoma X em vez de dois, e o seu
carióOPO é, portanto, de 2 x 22 + X A terapêutica/ hormonal pode, ]aos caSOS mais
favoráveis, ter um certo efeito sobre o crescimento
0 SObrc Os caractffcs/ sexuais secundários. Não é possível esperar waís.
FIS

Hipogonadismos secundários

As góriadas são normais, no entanto elas não se desenvolvem, simplesmente porque falta a
estimulação hipotalâmica, os releasing factor não são produzidos pelo hipotálamo, ou ainda
porque a hipófise não responde à excitação cerebral e não segrega
gonadostimulinas. 0 hipogonadismo provém, assim, de uma perturbação estranha às
génadas, motivo pelo qual é denominado secundário. Pode tratar-se quer de uma lesão
cerebral quer de uma lesão hipofisária.

Hipogonadismo secundário associado a uma lesão cerebral. Na síndrome adiposo-genital,


descrita por Babinski e Frõhlich e que é conhecida pelos nomes destes autores, acha-se a
maior parte das vezes em causa um tumor cerebral que afecta o hipotálamo. 0 sujeito é
obeso, o tecido adiposo em, excesso é repartido por todo o corpo, o avanço ponderal é de
três ou quatro anos relativamente à idade cronológica. Observa-se além disso um grave
subdesenvolvimento ou «hipoplasia» dos órgãos genitais, bem como um atraso da
ossificação e uma paragem mais ou menos acentuada do crescimento. Esta doença é
extremamente rara e não se deve pensar que estejam atingidos por ela os numerosos
adolescentes constitucionalmente gordos cujos órgãos genitais parecem um pouco
subdesenvolvidos. Ela manifesta-se por violentas dores de cabeça, quer contínuas quer em
crises, acompanhadas ou não por vómitos, perturbações da vista devido a compressão do
quiasma óptico, diabetes insípida* e Vernotadapágin com sede inextinguível e eliminação
urinária abundante. A radiografia do crânio e o exame do fundo do olho esclarecem o
diagnóstico. É no entanto raro que esta doenç a se apresente com todos os sinais
referidos. 0 tumor pode evoluir lentamente e a/puberdade sobrevir de modo
aparentemente normal. Em tal caso, estando então os órgãos genitais normalmente
evoluídos e a funçã o sexual estabelecida, assiste-se a uma involução progressiva dos
órgãos e a um apagamento da função, assinalado pela paragem das/regras na rapariga. 0
único tratamento consiste na ablação cirúrgica do tumor causal. A Síndrome de Laurence-
Moon-Biedl é uma afecção hereditária cujos sinais se aproximam da precedente. Há
também aqui obesidade e hipogonadismo, a que se associam uma retinite pigmentare, 0 retinite pigmento ;esso
degenerativ malformações dos dedos - dedo supranumerário, dedos soldados rpe'toin'a,
bilateral, fami entre Si - e um certo grau de/ debilidade mental. Refily e Lisset h,r,ditário.

recolheram setenta e sete casos em 1932, e têm sido detectados muitos outros desde então.
0 diagnóstico é quase sempre feito na infância,'mas por vezes os sinais não aparecem senão
no momento em que deveria fazer-se a puberdade, ou até apenas na idade adulta. É
também uma doença felizmente rara.
250 Fisiologia da adolescência

Hipogonadismo secundário associado a lesões endocrínicas. A insuficiência total e grave


da hipófise conduz ao nanismo hipofisário que é o mais típico dos/,Iinfantilismos
verdadeiros. Não há nem maturação sexual nem caracteres secundários, a/inteligência é
muito fraca, o psiquismo permanece pueril. 0 diagnóstico é feito desde a infância. Não há
tratamento eficaz. Se a insuficiência for apenas parcial, o sujeito, sem ser anão, fica
contudo de pequena altura. A/puberdade não se consuma ou quando muito é marcada pelo
aparecimento de alguns pêlos na púbis. As dosagens urinárias mostram uma fraquíssima
eliminação de gonadostimulinas e dos 17 cetosteróides. Toda a/actividade das glândulas
endócrinas governadas pela hipófise se acha deficiente. A falta de tireostimulinao ocasiona
uma baixa do meta- o tireostimulina.*
hormona hipofisária de bolismo basal, uma elevação da taxa de colesterol no sangue, uma acção
estimulante sobre o sensação de frio, etc. corpo tireóideo.

Evitar-se-á confundir estes doentes com os sujeitos constitucionalmente de pequena estatura


cuja puberdade pode ser simplesmente diferida. Levar-se-á o mais possível em linha de
conta os antecedentes/ familiares: pequena estatura do,;Ipai ou da/mãe, puberdade tardia
tanto num como na outra; /desenvolvimento de inteligência sempre fraco quando a hipófise
está em causa; enfim, presença ou ausência dos sinais de insuficiência endocrínica.
0 tratamento consiste na administração de gonadotrofinas. Embora pareça dar óptimos
resultados no início, a formação secundária de anti-hormonas no organismo do doente
toma muito precário o êxito final da terapêutica. A insuficiência tireoidiana, causa do
mixedema congénito*, é muito característica e revela-se desde a 0 Mixedema congénito:
afecção devida à ausência infância. Este mixedema é raro na sua forma pura, mas encontra-

congénita do corpo mos bastante frequentemente formas frustres que se podem reia- tireóideo.

cionar com ele, graças a alguns sintomas discretos: infiltração dos tegumentos,
metabolismo basal reduzido, etc. É assim que o/infantilismo distireoidiano de Brissaud
traduz um aspecto muito mais perto do anormal do que o infantilismo mixedematoso.

Outras anomalias, as malformações sexuais, os estados intersexuados

As anomalias por excesso ou por defeito que acabam de ser consideradas, não suscitam,
no entanto, qualquer dúvida sobre o sexo real do doente. As que vão ser descritas são,
pelo contrário, de naturem a Provocar erro. Um rapaz apresenta o aspecto e a
conformação C~Or de uma rapariga, e vice-versa. Tais eventualidades são raras, Mas
todavia menos raras do que se poderia julgar. VirUízação e Jeminização. Não há, nestes
casos, qualquer dúvida possível sobre o sexo real, mas nota-se o desenvolvimento/ anor-
FIS

mal, num sexo, de atributos que pertencem a outro. É o caso do hirsutismo na mulher.
Aparecem pêlos abundantes nas faces, no lábio superior, no peito e nas pernas, ou seja, em
partes do corpo que normalmente permanecem glabras. Esta pilosidade anormal principia,
segundo Lichtwitz e Parlier, na/ adolescência, por ocasião das primeiras/ regras ou das
primeiras relações sexuais. As raparigas atingidas são quase sempre gordas, poucas vezes
magras; observam-se com frequência nelas outros pequenos sinais de virilização: voz grave,
ligeiro aumento da clitóride, /regras irregulares e pouco abundantes, excepcionalmente
desvio da libido. A exploração/hormonal põe em realce uma redução frequente
da/actividade do ovário, a taxa dos estrogénios eliminados é baixa. Estas doentes, devido ao
seu aspecto, são/angustiadas e atreitas a/neuroses; é necessário reconfortá-las e recorrer à
microelectrocoagulação que faz desaparecer definitivamente os pêlos por destruição da sua
raiz. A virilização, ou virilismo, pode associar-se ao hirsutismo ou manifestar-se sozinha. Se
ao hirsutismo se acrescenta a amenorreia e a esterilidade,
está-se na presença de uma síndrome descrita por Stein-Leventhal, na qual se depara
constantemente com ovários aumentados de volume, cheios de numerosos quistos
foliculares, com uma hiperplasia e uma resistência exagerada do invólucro que impede a
ovulação. 0 crescimento é acelerado; o /desenvolvimento mamário não se faz geralmente.
Estas perturbações seriam devidas a uma excessiva actividade das supra-renais e a uma
demasiada produção hipofisária de hormona luteinizanteo. Segundo Wilkins, 0 Ver
página 22( os casos de virilismo que surgem são, as mais das vezes, causados, antes dos 10

anos de idade, por um tumor das supra-renais; depois dos 10 anos, por unia hiperplasia
das mesmas glândulas. No momento da/puberdade, a fêminização do rapaz traduz-se,
sobretudo, por um desenvolvimento/ anormal dos seios: a ginecomastias. A atrofia
testicular, a perda do instinto sexual, a queda e A ginecomastia
dos pêlos do corpo, a disposição feminina do tecido adiposo são
ser o sinal particula de uma afecção

mal! sinais muito característicos no adulto. Eles faltam, a maior parte das vezes, na/

adolescência. A ginecomastia pode sobrevir em todas as idades, mas, segundo Rutanoff,


três quartos dos casos encontram-se nos sujeitos de menos de 25 anos. Ela é mais
frequentemente bilateral do que unilateral. 0 seio desenvolve-se até adquirir as dimensões
de um seio de rapariga ou de mulher. Tal como as raparigas afectadas de virilização, os
rapazes de peito desenvolvido nunca são indiferentes ao seu estado. Não tardam a ficar
angustiados e invadidos por um sentimento de vergonha. Os companheiros fazem troça e
eles são constrangidos a afastar-se da colectividade, a renunciar aos/jogos, aos exercícios
físicos e aos/desportos. Temem todas as circunstâncias em que a sua anomalia possa
transparecer e sentem apreensão pelos próprios exa-
252 Fisiologia da adolescência

mes médicos. É preciso ajudá-los a superar as suas inquietações e proceder o mais cedo
possível à ablação cirú rgica das glândulas aberrantes.

Herniafroditismo verdadeiro. Os sujeitos atingidos por esta anomalia muito rara possuem
realmente os atributos dos dois sexos, os dois tipos de gónadas. Na sequência de um
impulso aberrante, os dois esboços gonádicos da góriada primitiva vão desenvolver-se
simultaneamente, a cortical vai dar um ovário, mas a medular, em vez de se atrofiar e de
desaparecer, dará, ao mesmo tempo, um testículo: chega-se assim à formação no mesmo
órgão dos parênquimas* 0 parênqui-a-« elemento característicos das górtadas dos dois/sexos
que aparecem separa- nobre de um órgão.

dos ou imbricados um no outro. Deu-se o nome de «ovotestis» a esta glândula


propriamente hermafrodita. Por vezes, forma-se no mesmo sujeito um ovário à direita, um
testículo à esquerda, ou vice-versa, outras vezes também surge um ovotestis de um lado,
um ovário ou um testículo do lado oposto. 0 sexo gonádico é, portanto, duplo. Os canais
de Wolf e Muller evoluem igualmente, paralelos um ao outro: o sexo gonofórico* também
é duplo. Se houver 9 Ver página 226. testículo e ovário, o canal de Wolfo desenvolve-se do lado da
górtada o Ver página 225. masculina, o de Muller do lado da górtada feminina. 0 aparelho genital é
quase sempre duplo. Brachetto e Brian descreveram um caso em que o corpo era feminino
à direita, masculino à esquerda. A maior parte das vezes, no entanto, os caracteres/,<
sexuais secundários são uma mistura dos dois sexos. Todavia, podem encontrar-se as mais
estranhas variações e observamos todos os estados intermédios entre os órgãos francamente
masculinizados ou feminizados: presença ou ausência de vagina e de útero, algumas vezes
malformados e atróficos. A glande pode estar normalmente desenvolvida, atravessada ou
não pela uretra, ou então hipoplásica e revestir o aspecto de uma clitóride hipertrófica.
Muitas vezes o aspecto do hermafrodita é o de um homem normal ou de uma mulhèr
normal, e só o acaso de uma intervenção cirúrgica banal faz descobrir a anomalia.

Os hormafroditas são geralmente ignorados A aparência geral não ajuda muito o


diagnóstico nem atrai amiúde a atenção, tanto mais que o tipo somático feminino domina
com d~01vimento mamário e,0menstruação, e muitos destes sujeitos pel nanecem.
ignorados durante toda a sua vida. As duas góriadas Pod= ~estar-se ao mesmo tempo:
Urechia e Teposn citam um caso em que o esperma do sujeito continha espermatozóides
vivos, um doente de RaYnaud tinha menstruações regulares e aprewntaVa frequentes
erecções e ejaculações. É contudo raríssimo que os hermafroditas tenham descendência;
não obstante, Sainton e Cri C0nh«XM PCIO menos dois casos de gravidez neles. 0
cariótipo de~ sujeitos é variável, podendo ser normal com os gonossomas
FIS

XX ou XY, ou, pelo contrário, apresentar combinações aberrantes com XXX/XY ou


XX/XY, ou ainda outros conjuntos de gonossomas.

Pseudo-hei-mafrodilismos. Ao invés, os pseudo-hermafroditas são portadores de um -


único tipo de gónada: ovário ou testículo. Oseu sexo gonádico é assim bem determinado,
mas os sexos gonofórico e somático são ambíguos como sucede no caso dos
hermafroditas verdadeiros. Se o sujeito estiver fornecido de gónadas femininas e parecer
um homem, há pseudo-herinafroditismo feminino; e masculino na situação inversa. É o
sexo gonádico que qualifica o pseudo-hermafroditismo e não o sexo somático aparente.

,Pseudo-hermafroditismo masculino. Trata-se pois, neste caso, de sujeitos portadores de


testículos, que o aspecto somático e a configuração dos órgãos genitais externos levam a
tomar por mulheres e que são declarados como tais no Registo Civil. Estas anomalias,
amiúde/ familiares, ligadas, segundo parece, aos gonossomas X e mais frequentes do que se
poderia julgar, passam muitas vezes desapercebidas. A confusão verifica-se antes de mais à
nascença, por causa das anomalias dos órgãos genitais externos. De facto, o pênis é
pequeno, o meato urinário está deslocado, o escroto bffidoe imita os grandes bffido. dividido

o lábios, uma vagina de fundo simulado está quase sempre presente, tas partos.

os testículos permanecem, as mais das vezes, intra-abdominais e são atróficos.


Posteriormente, estes sujeitos, educados como raparigas, assumem um comportamento
feminino. 0/sexo psico-afectivo opõe-se ao sexo gonádico. Chegados à/puberdade,
adquirem tanto mais facilmente os caracteres sexuais secundários feminino quanto os seus
testículos são atróficos e não segregam testosterona. Os seios desenvolvem-se, a pilosidade
é feminina, a voz mantém-se aguda mas, como é óbvio, faltam as/regras. Razão pela qual o
médico é então consultado. No que se refere à teraPêutica, é indispensável ser muito
prudente. Se a feminização for bastante acentuada, se houver sinais indubitáveis de atrofia
testicular, não é de modo algum oportuno tentar recriar órgãos que faltem ou sejam
defeituosos. Convém, ao invés, intervir no sentido contrário e procurar reforçar os
caracteres femininos amputando a glande se ela for hipertrófica e aumentando, caso seja
necessário, as dimensões da vagina mediante algumas correcções de cirurgia Plástica. Um
dos tipos mais marcados de pseudo-hermafroditismo masculino é representado pela
síndrome dita do «testículo feminizante», de Goldberg e Maxwel. Neste caso, os órgãos
genitais externos são francamente femininos: pequena clitóride, vulva com vagina e uretra
separadas, testículos atróficos mais ou menos ectópicos. Os
254 Fisiologia da adolescência

sujeitos atingidos dão a impressão de verdadeiras raparigas, por vezes mesmo muito bem
feitas. A ausência de regras e a pilosidade nula ou muito reduzida são os únicos factores a
chamar a atenção.
0 exame ginecológico denuncia a ausência de colo uterino e a exploração cirúrgica, além
da falta de útero, de trompas e de ovários, mostra a existência de gónadas que se
assemelham a testículos cujo exame histológico confirma, ao mesmo tempo, a natureza
masculina e a defi ciência funcional. Podem encontrar-se todos os casos intermédios entre
o tipo extremo de feminização e, pelo contrário, uma feminização quase nada esboçada.

Cluando a semelhança com o sexo oposto é ligeira,

a terapêutica pode ter graves consequências Paradoxalmente, os casos em que a


semelhança com o sexo oposto é menos forte colocam os problemas terapêuticos mais
difíceis de resolver. Efectivamente, se a ferainização for quase perfeita, o sujeito deve
continuar a viver como mulher; não há interesse algum, antes pelo contrário, em revelar-
lhe a sua anomalia: a melhor prova disso é que tais falsas raparigas se/ casam
perfeitamente e têm uma vida conjugal normal ainda que sem fruto.

Pseudô-hermafroditismofeminino. As gónadas são femininas, os órgãos genitais externos


parecem masculinos. É, de longe, a forma mais frequentemente encontrada de
hermafroditismo; ela é, quase sempre, devida a uma hiperplasias congénita ou a um tumor
das supra- 0 Ver notada página 240. -renais. A glândula segrega então quantidades acrescidas de
androgênios e este excesso provoca malformações. Na hiperplasia congénita, a taxa
exagerada de androgénios durante a vida fletal perturba a formação normal dos órgãos
genitais. No entanto, o útero, as troi@ipas e a parte superior da vagina não apresentam
disformidade. E a parte baixa do aparelho genital que está lesada. Logo à nascença, o
virilismo é já muito acentuado, a clitóride, bastante hipertrofiada assemelha-se a um pênis,
os grandes lábios, muito ampliados, soldados entre si, simulam o escroto, os pequenos
lábios são quase inexistentes, 0 erro de determinação do sexo é quase inevitável. Outros
casos de pseudo-hermafroditismo feminino são de causa medicamentosa. Com efeito, a
administração intempestiva de fortes doses de/hormonas masculinas durante a gravidez
da/mãe -num intuito por vezes terapêutico mas, de modo geral, na falaciosa esperança de
obter um herdeiro varão - pode provocar estas perturbações de formação dos órgãos,
sobretudo se tal tratamento ~ai tiver lugar durante os dois primeiros meses da gravidez. Se
a anomalia passar desapercebida e não for tratada, estas crianÇas apresentam,
habitualmente, uma/puberdade precoce heterossexual. Os pêlos púbicos e axilares começam
a despontar muito
FIS

cedo, os seios não se desenvolvem, a voz muda no seguimento da ampliação da laringe, o


tecido adiposo dispõe-se segundo o tipo masculino e os músculos tornam-se grandes e
fortes como no homem. A altura, primeiro adiantada, pára cedo de crescer, e estes sujeitos,
de pequena estatura, evidenciam, contrariamente ao que se passa no pseudo-
hermafroditismo masculino, um aspecto geral assaz semelhante. Se as perturbações supra-
renais, em vez de principiarem durante a vida fetal, se manifestarem apenas após o
nascimento, o que pode acontecer sobretudo se se tratar de um tumor, os órgãos genitais
puderam cumprir a sua evolução normal; eles são, e permanecem, os do,,,Isexo feminino,
mas assiste-se ao progressivo aparecimento dos sinais de virifização: hirsutismo, hiperplasia
da clitóride, desenvolvimento da laringe, ausência de- seios. 0 tratamento deste pseudo-
hermafroditismo consiste em extrair cirurgicamente o tumor, se houver algum, e em tentar
travar a excessiva produção de androgênios por meio da cortisona. Este medicamento deve
ser manejado com prudência e sob vigilância médica, de maneira a precisar a dose
necessária e suficiente. Na opinião de Bartter, Albright, Wilkins, e outros autores, ele dá
muitas vezes bons resultados. A cirurgia plástica, nestes casos, deve certamente visar
restituir às vias genitais o carácter funcional feminino, ainda que se encontre com bastante
frequência nos sujeitos atingidos uma inversão da líbido: esta inversão costuma ser uma
simples/reacção de defesa ligada ao hirsutismo e aos caracteres secundários masculinos, e
não uma orientação psíquica/ homossexual verdadeira.

Pode acontecer que, embora sem anomalia fli um sujeito imito o comportamento do sexo
opi Vimos nos hermafroditismos verdadeiros e nos pseudo-hermafroditismos diversas
anomalias e discordâncias dos sexos elementares genético, gonádico e somático. Convém
agora dizer uma palavra sobre certos sujeitos que mostram apenas anomalias do sexo
psico-afectivo. Significa isto que existe neles unia dissociação entre o conjunto dos/sexos
elementares, que são todos concordantes, e o sexo psicafectivo. Em suma, tudo é normal
desde as formas corporais e os órgãos até às eliminações/ hormonais; contudo, o indivíduo
masculino tem um/ comportamento feminino, ou vice-versa. A causa reside muitas vezes
num erro de/;<educação pelo qual são responsáveis a família ou um dos/pais. Rapazes
perfeítamente viris e amplamente providos de testosterona podem, se forem educados como
raparigas, perder a sua/agressividade e comprazer-se em/ atitudes/ passivas,
em/coquetismo, afectações e sentimentos femininos. Tais factos mostram a importância dos
factores educativos e psíquicos na determinação sexual do indivíduo. Falta acrescentar que
todos estes estados intersexuados provocam, como se compreende, dificuldades individuais,
familiares,/ sociais
256 Fisiologia da adolescência

e médico-legais, sendo tais dificuldades tanto maiores quanto mais tarde se descobre a
anomalia. Importa, por conseguinte, examinar atentamente todos os recém-nascidos e,
logo que haja a mais pequena dúvida, proceder a todas as pesquisas complementares
necessárias. Não há leis gerais no que se refere à terapêutica a adoptar: ela é sempre
função dos casos particulares. Mas a questão que se acaba por formular invariavelmente é
, na prática, a que se segue: deve-se restituir ao sujeito o seu sexo verdadeiro ou deve-se
facilitar o seu sexo aparente e castrá-lo? Se se intervier antes dos dois anos, ou seja, antes
da formação do sexo psico-afectivo e social, é possível decidir livremente consoante o
simples estado dos órgãos. Se, pelo contrário, o sexo psico-afectivo e social esliver já
determinado, a experiência prova que ele é tão predominante que a opção de o transformar
a fim de o submeter ao verdadeiro sexo gonádico ocasiona sempre um profundo
traumatismo/afectivo e uma perturbação desastrosa da/ personalidade.

A MENSTRUAÇÃO E A SUA PATOLOGIA

A idade das doenças infantis ficou para trás, o organismo robusto ainda não está afectado
pela maioria das causas mórbidas que ameaçam o adulto, de sorte que a/adolescência é
uma idade em que as doenças são relativamente raias. É certo que não se pode passar em
revista todas as perturbações que apesar disso podem surgir, mas as perturbações/
menstruais da adolescente são tão frequentes e inquietam tão amiudadamente as/famílias
que parece bom falar delas ainda que brevemente.

0 CICLO MENSTRUAL DA MULHER

Ciclo regular: Na rapariga púbere normal, a secreção dos estrogénios aumenta diariamente
a partir do primeiro dia do ciclo e provoca o espessamento da mucosa uterina. A partir do
décimo quarto dia, isto é, da ovulaçã o, os estrogénios são segregados pelo corpo amarelo
que segrega também a progesterona. Esta última /hOrmODa, que tem a missão de
preparar a nidação no útero do ovo fecundado, provoca, para tal fim, um/
desenvolvimento considerável da mucosa uterina. Se esta última tiver sido previamente
s~etida à acção dos estrogénios, as suas glândulas proliferam, o wu espessamento aumenta
largamente, os seus capilares sanguíneos d~volvem-se. Se não tiver havido fecundação, a
queda brutal da taxa das hormonas sexuais, que se segue à morte do corpo
FIS

amarelo, desencadeia a descarnação da mucosa uterina bem como uma pequena


hemorragia. Recomeça entã o o ciclo. Se tirarmos todas as manhãs, antes do levantar e
com o mesmo termómetro, a temperatura de uma mulher normalmente menstruada,
apercebemo-nos de que, desde o primeiro ao décimo quarto dia, ela permanece abaixo de
370; durante a segunda metade do ciclo, mantém-se constante acima dos 370. A primeira
fase hipotérmica corresponde ao período folicular do ciclo; a segunda, em constante
hipertérmica, ao período folículo-luteínico, numa palavra, à secreção de progesterona por
um corpo amarelo activo. A libertação do ó vulo traduz-se pela elevação térmica no
décimo quarto dia, ao passo que a descida ao vigésimo sétimo dia indica sem dúvida a
baixa do nível de progesterona e das hormonas circulantes.

Dismenorreia

0 termo dismenorreia designa as/regras dolorosas. Um grande número de raparigas sentem


dores no dia que precede as regras ou no primeiro dia destas últimas. A congestão dos
órgãos genitais e as contracções uterinas provocam uma dor reflexa que é geralmente
sentida ao nível dos gânglios pré-sagradose; ela é certamente e Gânglios que se
desagradável, mas não deve alarmar. 0 sofrimento é particular-
en Ontram em frenti docescroto.

mente vivo nas raparigas hipersensíveis e/emotivas, as quais precisam, antes de mais, de ser
tranquilizadas: trata-se, a maior parte das vezes, de perturbações puramente funcionais sem
qualquer lesão orgânica. Que a intensidade maior ou menor da dor seja devida a
contracções mais ou menos/violentas ou, pelo contrário, a uma/ sensibilidade particular, é
difícil de dizer. Em contrapartida, neste gênero de incómodo, é indubitável que o psiquismo
e o sistema neurovegetativo têm uma larga quota-parte. Algumas vezes os sofrimentos
podem ser agravados por uma anteversão ou uma retroversão da matriz. Se a/puberdade
tiver sido normal, se a adolescente nunca tiver tido afecçôes ginecológicas, a única coisa a
fazer é absorver antiálgicos.

Amenorreia, oligomenorreia, anisomenorreia A amenorreia é a ausência de/regras, a


oligomenorreia designa as regras demasiado breves e a anisomenorreia as regras
irregulaimente espaçadas. Para além das situaçõ es patológicas já descritas, das lesões do
útero ou dos anexos, das doenças graves como a tuberCUlo6e e as cardiopatias, que
podem explicar a ausência de regras, existe toda uma série de perturbações no
estabelecimento do ciclo /menstrual que não apresentam gravidade e desaparecem quer
espontaneamente com o tempo, quer mediante um tratamento Simples. É muito raro, de
facto, os ciclos ovulares sucederem-se
258 Fisiologia da adolescência

regularmente na adolescente por ocasião da/puberdade. No início tal como no fim da vida
genital feminina, os períodos menstruais são, pelo contrário, geralmente irregulares. 0
ciclo, primeiro normal durante um certo tempo, alonga-se por vezes sem qualquer razão
aparente. Os ciclos anovulares são igualmente frequentes no princípio da puberdade,
produzindo-se então o corrimento sanguíneo pela simples acção dos estrogénios sobre a
mucosa uterina, sem intervenção da progesterona ausente visto que, sem ovulação, não
pode haver corpo amarelo. Trata-se assim de pseudo-regras que já não estão ligadas à
evolução do folículo.

Caso de uma taxa demasiado baixa de foliculina: pode ser a causa da ausência das regras.
Encontramo-nos geralmente na presença de adolescentes magras, de fraca pilosidade, mal
desenvolvidas, de caracteres secundários pouco aparentes e cuja puberdade tardia se
instalou dificilmente com regras pobres.

Caso de uma taxa demasiado elevada de foliculina: pode igualmente provocar a ausência
das regras. As adolescentes mostram-se então florescentes, de ar muito feminino, de
caracteres/ sexuais secundários exuberantes, de puberdade algo precoce; as primeiras
regras, rapidamente sobrevindas, desaparecem em seguida durante um período mais ou
menos longo, para reaparecerem sob a forma de uma hemorragia demasiado abundante
seguida 4e um outro período de amenorreia. Estas adolescentes são amiúde nervosas,
irritáveis e de/carácter um tanto difícil.

A ausência de regras tem uma origem mais frequentemente psíquica do que física No
entanto, a causa sem dú vida mais corrente das amenorreias da/adolescência é de origem
psíquica e neurovegetativa. Um abalo /emocional, um traumatismo/afectivo podem levar à
paragem da menstruação, sobretudo se a agressão se produzir durante um período
catamenialo, ainda que se trate de traumatismos menores, o catamenial- que se
mas amiúde repetidos. As mudanças de clima, de altitude, de con-
lact*ona com as regras. P'èrlodo

catamenial.dições de/trabalho ou de vida, mais ou menos associadas a uma momento das regras.
Herpes catamenial, mudança de alimentação, acarretam muitas vezes uma amenor- que sobrevém

no momento reia transitória facilmente curável. Os/desportos, os exercícios das regras, etc.

físicos violentos e prolongados podem igualmente modificar o ciclo menstrual. Certas


raparigas normalmente menstruadas no meio/familiar deixam de o ser em/férias, no mar ou
na montanha. As amenorreias de origem psíquica que sobrevêm em diferentes Psicoses, tal
como as amenorreias que são quase sempre um dos primeiros sinais das/anorexias
mentais, constituem um dos sinais de Uma Síndrome mais vasta, a qual não tarda a atrair a
/atenÇão. Conhecem-se também ausências de regras de origem constitucional,
Provocadas, a maior parte das vezes, pela subalimen-
FIS

tação imposta pelas circunstâncias, ou, até, deliberadamente querida. É assim que uma dieta de
emagrecimento seguida com demasiado rigor ou uma tomada excessiva de extractos tireoidianos -
também para emagrecer - conduzem, com bastante frequência, à amenorreia. Pode produzir-se o
mesmo fenómeno nas mulheres/ obesas: a foliculina seria então desviada do seu receptor principal em
proveito do tecido celular subcutâneo. Neste último caso, uma dietética conveniente possibilita a cura.

As hemorragias uterinas

São de diferentes tipos: as polimenorreias, caracterizadas por/ regras demasiado aproximadas entre si
- o ciclo é inferior a 20 dias; as hipermenorreias ou menorragias, regras prolongadas mais de oito
dias ou demasiado abundantes; enfim, as metrorragias, que são hemorragias aparecidas fora do
período normal das regras.
0 aspecto da hemorragia uterina pode variar, com ou sem coágulo; * importante é precisar se ela é
abundante e descontínua, ou mínima * contínua e. Uma infecção gi

como a salpingovaril Na
adolescente, trata-se, na grande maioria dos casos, de hemorra- gonocócica ou a
gias funcionais sem lesão orgânica que são essencialmente devidas tuberculose anexial

po@vezes ser causa a uni/ desequilíbrio/ hormonal do ovário ou do eixo hipófiso- assim como doença

gerais do gênero d& -ovárico. cardiopatias, das Decerto que estas diversas perturbações da
menstruação são MUi- perturbações da

coagulação. das tas


vezes uma causa de preocupações para os/ pais, que temem uma hemopatias ou diver
anomalia ou uma doença grave. Na adolescente, não se trata, na intoxicações. grande maioria
dos casos, de manifestações patológicas graves, mas de uma maturação ainda imperfeita ou de
perturbações puramente funcionais, quase sempre curáveis. Se for absolutamente necessário fazer
examinar estas raparigas por um médico especialista para eliminar o pior, convém, no entanto,
mostrar optimismo.

Honoré Ouillon.
260

FURT (Flirt/Flirt) páginas 45, 46, 175, 464.

«0 flirt é a primeira tradução do/desejo/ sexual. Ele constitui simultaneamente a procura de


uma perturbação agradável e uma /aprendizagem sob forma de/jogo da relação sexual. Os
seus atributos são olhares insistentes, sorrisos convidativos, conversa jocosa, passeio,
beijo.»* 0 flirt surge num momento bem deter- # La Via du couple (C.E.P.L., Paris, 1969), minado do

desenvolvimento da/sexualidade no adolescente: p. 182. aquele em que este se sente

atraído por todo o/sexo oposto sem discriminação, após o período em que o rejeit ava no
conjunto. Assiste-se então frequentemente a um devaneio em que o coraçao e os sentidos
participam por igual.

As raparigas. A adolescente não pára de louvar os méritos do jovem que escolheu como
parceiro. Esta admiração ingénua faz por vezes sorrir, mas corresponde na realidade a
uma profunda/ necessidade de/ identificação. A adolescente gosta de encontrar em outrem
as qualidades que lhe faltam. Por vezes trata-se de uma identificação de substituição: «Na
rapariga, a necessidade de protecção é evidente. Ela procura no parceiro alguém que a
domine e por quem possa nutrir uma admiração profunda. Busca junto dele a protecção e
a,,x segurança que recusa quando são os seus/ pais que lha propõem. Sentir-se-á lisonjeada
se quem repara nela é uma pessoa mais velha: em certos casos a diferença de idade é muito
grande e há motivo para perguntar se, ao escolher o parceiro, a jovem não
6mudou‟ pura e simplesmente de/pai.»* Esta relação de substi- e I-P. Deconchy:
Dáveloppement tuição pode visar o sentimento maternal: a adolescente mostra-se Ipesychologique de
1'enfentmaternal - sem no entanto contestar a superioridade do parceiro - et de l'adoíescent (Ed.

ouvrières, Paris, porque ainda nã o tem a possibilidade de ser/mãe. 1966), p. 206.

Os rapazes. A/atitude da adolescente serve perfeitamente ao rapaz. De facto, este obedece a


uma necessidade/ ambivalente de domínio e de segurança. Precisa de se sentir superior para
corresponder à imagem ingénua que tem da/virilidade. A parceira submissa e admirativa
confirma-o nesta apreciação do seu próprio papel. Mas, paralelamente, falta-lhe essa
ternura de que ele entende recusar qualquer manifestação, salvo no flirt. Também aqui,
podemos pensar que a ternura quase maternal da sua parceira serve de substituto à afeição
materna considerada como «desvirilizante». Outrora, contudo, a rapariga via nisto mais do
que um jogo, mesmo quando dizia aceitar-lhe as regras. Na verdade, era-lhe difícil não
Pmw no / Casamento, ao passo que o rapaz -sem situação -

não tinha esse intuito. Assiste-se agora a uma evolução, pois que há mais raparigas a
planear - e a exercer efectivamente - uma /profíssão.
0 flirt é encarado por alguns como uma preparação para o casa-
mento. Convém então que ele não ultrapasse certos limites. 0 perigo é hoje constituído
pela/ erotização abusiva dos mass mediá. 0 flirt deve permanecer uma maneira de travar
conhecimento com o sexo oposto, independentemente de numerosos /preconceitos que a
ausência de qualquer contacto sexuado se arrisca a deixar subsistir.

FOBIA (13hoble/Phobia) Páginas 54. 55. 75.


Do grego phobos, «objecto de receio». Ã partida, a fobia resulta de um mecanismo
destinado a evitar a /angústia. Tudo se passa como se esta fosse localizada a fim de ser
melhor neutralizada. Por exemplo, aquele que tem medo de estar fechado (diz-se que sofre
de claustrofobia) criou, de certo modo, uma angústia de derivação mais facilmente
evitável do que a angústia em geral que é «apreensão sem nome». A claustrofobia parece
obedecer ao seguinte raciocínio: «A minha angústia fundamental é inevitável sob esta
forma. Vou então cristalizá-la no medo de ficar fechado. Bastar-me-á evitar estar fechado
para não experimentar angústia.» É óbvio que o processo da fobia não dá lugar
a/raciocínios por ser inconsciente. Mas é assim que se pode esquematizar a sua génese.

Um processo ilusório Esta deslocação de angústia para um objecto preciso (phobos)


revela-se ilusória, na medida em que a fobia é sobretudo «angústia da angústia». Em tomo
do núcleo constituído vai criar-se um conjunto de situações capazes de fazerem nascer a
angústia que o sujeito queria evitar. Todo o seu/ comportamento será finalmente
influenciado pela preocupação de evitar o objecto da sua fobia.

Principais fobias Os dois grandes tipos de fobia são: -a agorafobia, ou receio dos espaços
vastos; -a claustrofobia, ou receio dos espaços fechados.

A agorafobia traduz o receio de uma situação em que se ficaria sem defesa. Este/medo
experimenta-o com muita frequência o adolescente em virtude do seu/desejo de autonomia,
que o impele a cortar os vínculos que o ligam à /família. A claustrofobia traduz o receio de
uma situação inextricável, no interior da qual se ficaria, por assim dizer, preso na armadilha.
Segundo a Psicanálise, este receio pode ligar-se directamente ao de quebrar Os interditos.
Ora, frequentemente, o adolescente sente angústia ao reconhecer em si certos acessos
instintivos (principalmente as Pulsões/ sexuais) que lhe parecem fundamentalmente
incompatívcis com os/valores da infância.
262

Há outras fobias igualmente frequentes: citemos a zoofobia ou medo dos animais -que,
afinal, é a maior parte das vezes niedo dos pequenos animais: ratos, aranhas, etc. - e a
ereutofobia (também chamada eritrofobia) que é o receio angustiante de corar. Notemos
que esta última é efectivamente acompanhada pelo temido rubor. A creutofobia instala-se,
geralmente, por volta da pré-adolescência, mas nem por isso é especifica da/ adolescência:
são numerosos os adultos que padecem igualmente dela. Estas fobias dependem em grande
parte das experiências passadas do adolescente e do/meio no qual viveu.

FRUSTRAÇÃO (Frustration/Frustration) páginas 20. 24. 29. 30. 93, 102. 319. 358, 462.

A noção de frustração está ligada à impossibilidade de satisfazer uma/necessidade


fundamental ou de libertar uma pulsão. Ora, se a/adolescência é por excelência a época da
reactivação dos acessos instintivos, ela não é menos a da indeterminação das
/necessidades. Não é portanto de admirar que o sentimento de frustração seja uma das
dominantes da mentalidade adolescente, já que a satisfação de uma necessidade significa a
insatisfação de uma necessidade contrária. 0 adolescente, não sabendo escolher, deseja
igualmente uma e outra satisfação. Por exemplo, a necessidade de autonomia,
frequentemente experimentada e exprimida, acarreta a não satisfação da necessidade
de/segurança. A frustração desencadeia uma reacção de/agressividade contra o seu autor,
geralmente um adulto. No caso supracitado (dilema /independência-segurança), os
adolescentes só raramente pensam em considerar-se como fautores da sua própria
frustração: são então os/pais que se vêem acusados de crime de lesa-liberdade. Por vezes,
a agressividade também se volta contra o eu profundo, increpado de incapacidade. A auto-
acusação assim desencadeada traz frequentemente consigo um/complexo de fracasso em
que este é procurado enquanto/ punição que se inflige a si mesmo.

0 meio de lutar contra as/reacções desencadeadas pelo sentimento de frustração consiste,


sobretudo, em levar o adolescente a tomar

n [do „f e consciência das causas reais deste sentimento. Pode-se mostrar, por exemplo,
que a frustração de independência não é sinónimo & falta de/liberdade. Ela é simplesmente
o preço a pagar para que a liberdade seja ulteriormente o mais completa possível. Assim,
aquele que diligencia por trabalhar pode esperar ser recompensado através de um,,0 êxito/
social e profissional. Aquele que, ao con- ~0, se entrega à solução de facilidade não goza
senão de uma
FUG

liberdade provisória e prepara-se para duros constrangimentos no / futuro.

FUGA (Fugue/Fllght) páginas SO, 425.


Na/ adolescência, a fuga caracteriza-se sobretudo por um escapar à/família ou a
qualquer/grupo institucionalizado, por exemplo a,,<escola. Trata-se de unia/atitude de
fracasso e traduz dramaticamente a impossibilidade de um diálogo.

Fuga para fora da familia Quando o adolescente não pode resolver o problema da
coabitação com os/pais, quer por se sentir incompreendido, quer por experimentar um
intenso sentimento de/ culpabilidade (sequente a uma má nota, por exemplo), quer ainda
por não poder suportar - sem atentar gravemente contra o seu equilíbrio interior-
as/tensões familiares internas, escolhe a solução da fuga. «Longe dos olhos, longe do
coração», diz o provérbio. 0 adolescente crê resolver problemas insolúveis graças ao
afastamento. «A maior parte das vezes, observa Bensoussan na sua tese sobre a
vagabundagem juvenil, a fuga parece surgir como uma/reacção ainda infantil da
adolescência perante uma situação nova, e o,,,Idesequilíbrio/pubertário parece exprimir o
carácter excessivo destas reacções.»O 9 Bensoussan:
Fuga para fora da escola
Contribution à 1'dt de /à fugue et ou vagabondage juvdj
Quem foge é neste caso um/interno que sofre de um sentimento (tese. Paris. 1960]

de claustrofobiao ou de/carência afectiva. e Receio patofóç As fugas


produzem-se mais particularmente no início do ano ou locais fechados e

na Primavera, isto é, logo que chegam os dias bonitos porque muitas vezes o fugitivo pensa
dormir ao relento. A fuga é sobretudo levada a cabo por alunos recém-chegados que não
conseguem integrar-se nos blocos já constituídos pelos outros alunos desde o inicio do ano
escolar. Sejam quais forem as razões, a fuga traduz um fracasso considerado insuperável. É
de certo modo o aspecto normal da fuga, e os fugitivos deste tipo só muito raramente são
reincidentes e apenas se as condições que a determinaram uma primeira vez se repetem
com toda a precisão.

A fuga patológica Existem casos de fugas patológicas que dão a impressão de revelar
uma/atitude de desobrigação relativamente aos/valores sociais, cuja aprendizagem se faz
normalmente na escola. Podemos afirmar que, pelo menos em dois casos, a fuga é a
antecâmara da/delinquência. «A escolarização e a frequência escolar são geralmente
insuficientes no futuro delinquente. Em todas as estatísticas a gazeta
264

às aulas se acha em estreita relação com a delinquência e a reincidênciao.» Para Hélène


Deutsch, a fuga é o sinal de um desejo de/maturidade imediata pelo qual se está pronto a
pagar alto preço. Depois de ter sublinhado que a fuga na adolescente é muitas vezes causa
ou consequência de relações sexuais, escreve: «Este desejo de ser
* primeira a ter experiências implica graves perigos: pode impeli-Ia
* acções que não exprimem um /desejo/ sexual autêntico mas
* vontade de provar aos adultos que também ela é uma pessoa crescida. A/tensão interior
que incita estas crianças a aventuras fatais procede muitas vezes mais de um desejo de ser
já adulto do que de um desejo sexual.»* Este desejo de maturidade é necessário mas
insuficiente, pois a fuga constitui um meio bastante aleatório de o realizar, Mas não há
dúvida de que do desfasamento entre a/maturidade fisiológica e a maturidade social nasce
uma tensão. Daniel Lagache define a fuga como «uma fuga de si mesmo que tende a uma
redução temporária de um/conflito íntinio». Enfim, segundo M. Debesse, a vida
de/internato ou a antecipação do serviço militar seriam o substituto de um desejo de fuga
brutal: «Certos /hábitos/ sociais são, por assim dizer, substitutos da fuga e permitem a sua
realização sem que haja ruptura completa com

a / família.» o

FUTURO (Avenir/Future) páginas 169, 327, 373.


Num inquérito publicado em Psychologie différentielle des adolescentse, B. Zazzo fazia as
seguintes perguntas: «Tem confiança no seu futuro sentimental?» e «Tem confiança no seu
futuro profissional?», As respostas obtidas repartiam-se assim:

9R . M Ucchielli: Cort7ment ils deviennent dél,inquants (E.S.F., Paris, 1965), p. 68-

e H. Deutsch: Psychologie féminine. Enfance et adolescence (P.U.F., Paris, 1949).

0 M. Debesse: Ia Crise d'originalítéiuvénile (P.U.F., Paris, 1949), p. 72.

9 B. Zazzo: PsVchológie dIfférentielle das adolescents (P.U.F., Paris, 1966).

Rapazes

Alunos de liceu

Universitários

Aprendizes

Assalariado

Confiança no êxito :>rofissional e sentimental Dúvidas quanto a ambos :)úvidas quanto a


um deles

14,5
16,3
69,2
29,9

3,4
66,7

49,1

7,5
43,4

26,9

4,5
68,6

q~gíu

Alunas de liceu Universitárias Aprendizas Assalariadás

Zonilança no êxito

irofíssional e sentimental

18,1

25,4

16,7

9,8

:)úvidas quanto a ambos

19

14,1

23,6

29,5

_»vidas quanto a um deles


1

62,9

60,5
59,7

60,7
Analisando os resultados, percebe-se que poucos adolescentes, quaisquer que sejam o
seu/,,meio e a sua formação, escapam à dúvida. Uma única excepção, os aprendizes:
devemos interpretar este facto como a esperança criada pela saída da escola e a perspectiva
de uma rápida autonomia. Mas convém notar que uma tal esperança parece não demorar a
ser desiludida se considerarmos o/pessimismo dos jovens assalariados. Não obstante, a
entrada na vida profissional conferiu a estes o estatuto adulto, mas a/actividade exercida é
muitas vezes instável e aleatória. Tanto no que respeita ao futuro sentimental como ao
profissional, os menos confiantes continuam a ser, incontestavelmente, os alunos e as alunas
de liceu. Tudo se passa como se os que estã o menos determinados profissionalmente
fossem também os menos determinados sentimentalmente.
0 que tenderia a dar crédito à tese segundo a qual o estatuto adolescente assenta no
desfasamento entre a/maturidade biológica e a maturidade social. Levando ainda mais
longe a análise dos resultados, torna-se claro que a juventude actual manifesta uma
crescente exigência acerca da vida. Para que ela se considere adulta, precisa não só da
consagração oficial, mas ainda do/êxito social, influenciando ambos o êxito sentimental. 0
inquérito de B. Zazzo mostra bem que se falta uni destes três elementos, os outros ficam
afectados. É interessante notar a diferença de/atitudes entre raparigas e rapazes no que se
refere à maneira de encarar o futuro.

0 futuro sentimental
0 êxito sentimental presta-se muito mais à dúvida nas raparigas (diferença máxima entre
rapazes e raparigas de uma mesma categoria: aproximadamente 23 „/.). Isto deriva sem
dúvida da circunstância de tal êxito ser mais valorizado pelas raparigas do que pelos
rapazes: decerto que seria possível encontrar aqui motivo para rever algumas atitudes/
educativas. Efectivamente, muitos/pais julgam que basta - ou até que é bom - valorizar
determinado objectivo que desejam ver atingido pelos seus filhos. Ora, isto não é suficiente
nem proveitoso visto que, longe de constituir um adjuvante, uma tal valorização tem o
efeito de aumentar a falta de /confiança do adolescente proporcionalmente à importância
concedida a esse objectivo. É desejável que os adolescentes descubram por si mesmos os
seus/valores. Neste caso preciso, as adolescentes Parecem Paralisadas por uma condição
feminina pré-definida a que a sociedade declara ser seu/dever submeterem-se.
286

GADGET (Gadgot/Gadget)

Palavra intraduzivel que designa uma espécie de brinquedo para as pessoas crescidas.
Existe hoje uma civilização do gadget: uns, úteis, facilitam os gestos quotidianos; outros,
aparentemente desprovidos de qualquer espécie de utilidade, não servem senão para
recrear. 0 adolescente é um fervoroso utilizador de gadgets, já que eles permitem brincar
como durante a infância, mas sem que este/,'jogo possa ser interpretado como uma
regressão ao estádio ,,,,infantil. Demais, para o adolescente que alcança o estádio do
pensamento formal, é divertido ter na mão um desses gadgets inúteis que simbolizam a
seus olhos a vacuidade de uma certa forma da civilização de consumo.

GAGUEZ (B6gaiornent/Stutteríng) página 290.

Existem duas espécies de gaguez:


- A gaguez tónica, em que o sujeito «tropeça» em certas palavras que «não passam».
- A gaguez crónica, em que o sujeito repete convulsivamente sílabas que «ficam. presas».
Estas duas formas de gaguez desaparecem em certos casos precisos: canto, recitação «de
cor» ou/leituras em comum e em voz alta.

Os números Travis calcula que a proporção média dos gagos é de 1 % da população.


Missildine e Glasner recenseavam, em 1947, um milhão de gagos nos Estados Unidos.
Coisa curiosa, Margaret Meado não 0 Margaret Mead:
CnCOntra nenhum entre os indígenas dos mares do Sul. Enfim,
of Age in Samoe =n Books,

importa notar que esta perturbação é mais frequente nos rapazes Londres. 1928). do que nas

raparigas.

A gaguez tem as mais aborrecidas repercussões na vida social do adolescente, já


submetido às/tensões interiores próprias da sua idade. 0 gago é vulgarmente objecto de
troça: tomam-no por um enfermo e, logo, por um pobre de espírito. Ele mesmo não está
por
Gos

vezes longe de dar razão a estas calúnias. Calúnias, sim, pois todos os psicólogos
escolares estão de acordo num ponto: o gago tem um/quociente intelectual mais amiúde
superior do que inferior à média. Infelizmente, sabe-se, por outro lado, que o atraso
escolar médio dos gagos varia entre um ano e um ano e meio. Assim, embora a gaguez
não seja um defeito mental, nem por isso ela deixa de constituir uma pesada desvantagem
para a/adaptação escolar.

Os estudos Numerosos investigadores têm-se esforçado por desvendar a origem desta


perturbação. Desta sorte, Bryngelson nos Estados Unidos, Scripture, Glogau, Dobra e
Travis em França, puderam estabelecer que a maioria dos gagos eram - salvo casos de
defeitos puramente orgânicos - canhotos contrariados. As estatísticas elaboradas pelo
psicólogo americano Burt em 1938 demonstram-no de maneira forrual*; o seu estudo, que
incidia sobre 500 estudantes 0 Citado em H. 81 Ia Niveau intellecto de todos os meios, levou-o a
distinguir entre destros, canhotos e enfents d'âge scola, canhotos contrariados.
(P.U.F., Paris, 1954 Entre os destros, não havia senão 1,7 % de gagos actuais e 3,2 %. de

antigos gagos. A proporção aumentava para os canhotos: 6,5 % de gagos actuais e 11 %.


de gagos reeducados. Enfim, entre os canhotos contrariados, ele recenseava 17 Y. de
gagos actuais e 26 % de ex-gagos. Em matéria de estatísticas, considera-se que esta
diferença é demasiado importante para não ser significativa. A relação sinistrismo-gaguez
é, por conseguinte, evidente. Infelizmente, há um ponto que continua por esclarecer: esta
relação é uma relação de causalidade ou de correlação?* No dia em que uma tal pergunta
e A incerteza vem
tiver resposta, dar-se-á um grande passo em frente. 0 sistema de
de as duas fp`e`r`turbações terem
reeducação dos gagos oferece desde já um certo número de garan- no sistema nervoso
tias de/êxito. Estima-se em 80 % o número de gagos reeducáveis. De facto, muitas vezes
basta - se o sinistrismo foi contrariado -

permitir o seu/ desenvolvimento normal graças a uma reeducação da mão esquerda.


Conjuntamente, o médico receitará vitaminas BI e PP, enquanto o ortofónista* se
encarregará da reeducação vocal. a Ver «Inadaptaçã

GOSTOS (Gôuta/Tastas) Páginas 374. 375.


Como os adolescentes só dificilmente se abrem, o conhecimento dos seus gostos é muitas
vezes o único meio de/comunicação possível para os adultos. Convém fazer uma distinção
entre os gostos expressos em/actividades livremente escolhidas e os que incidem sobre
modalidades impostas.

Os gostos em matéria de tempos livres Um recente inquérito do I.F.O.P. indica que os


gostos dos adoles-
288

centes franceses em matéria de/tempos livres privilegiam, por ordem decrescente, primeiro
o / cinema, depois a / leitura, as / actividades de/grupo, as reuniões entre colegas da mesma
idade, a/dança, a/rádio, a/televisão. Vêm em seguida as actividades /desportivas e
finalmente, muito atrás, os tempos livres em /família. A análise destes resultados é
reveladora das/ necessidades profundas do adolescente actual. A necessidade de autonomia
manifesta-se através do gosto acentuado pelas reuniões de jovens e a dança, e também da
desafeição pelas distracções/ familiares (apenas 3 % de respostas favoráveis).

Os gostos intelectuais Os adolescentes obedecem às/necessidades profundas originadas pela


sua situação particular na/sociedade moderna, ou seja, essencialmente a necessidade de se
considerarem rapidamente como membros de pleno direito da sociedade dos adultos. Os
adolescentes dão provas de uma grande/ maturidade de espírito: já não ignoram hoje a
exigência de uma especialização profissional e de um conhecimento aprofundado
da/profissão escolhida. Tanto as raparigas como os rapazes gostam de se documentar sobre
as carreiras possíveis. Nada do que se refere a este domínio os deixa indiferentes.
Frequentemente, incitam os adultos a falar das suas profissões. Fazem algumas vezes
perguntas vagas: «0 que o levou a escolher a sua profissão?», outras, precisas: «Quanto
ganha? Quais são as habilitações requeridas?» Na,,'escola manifesta-se um certo desamor
por aquilo que é demasiado abstracto. Os professores de língua pátria ou latim ouvem
muitas vezes perguntar: «Mas para que serve isso?» Devemos interpretar esta reacção
como uma procura do concreto que acalma a inquietação que os jovens experimentam
quanto ao seu/futuro. Esta preocupação reencontra-se no gosto muito vivo por tudo o
que, na escola, diz respeito à vida «real»: as conferências feitas por alguém de «fora», a
vida quotidiana no estrangeiro, os inquéritos sobre diversos assuntos.

OS gostos e a/ moda A Publicidade tem revelado recentemente tendência para impor


gostos sofisticados. Assim, em matéria de vestuário, assiste-se a uma espécie de
uniformização: existe uma linha jovem que é um autêntico toque a reunir. De igual modo,
todos os adolescentes trauteiam as mesmas Canções, ouvem os mesmos/discos, lêem os
mesmos ,,*livros. Muitas vezes os adultos espantam-se com esta uniformidade dos gostos,
Pouco adequada ao/desejo de originalidade apregoado pelo adolescente. No fundo, este
tem necessidade de se smtir membro de uma comunidade: é por isso que não hesita em
GRA

adoptar, não sem algum/ conformismo, todos os sinais exteriores que comprovem essa
filiação.

GRAFOLOGIA (Graphologie/Graphology)

Do grego grafein, «escrever», e logos, «estudo», a grafologia consiste em reconstituir os


elementos do/carácter interpretando a grafia ou a maneira de escrever. Há duas operações
a efectuar pelo grafôlogo:
- a notação dos sinais particulares no que eles têm de característico;
- a interpretação global da escrita. Os pais podem pedir uma consulta a um grafólogo
diplomado logo que a escrita do filho esteja «formada», isto é, na/adolescêncía6.
* Ver igualmente

Te tes» e Poderão assim conhecer melhor os problemas dos seus filhos e


««Or@ evitar um certo número de mal-entendidos que por vezes dete-
Jentaç5o escolar»

rioram a atmosfera/ familiar. Mas é importante reter o seguinte princípio: o diagnóstico do


grafólogo nunca é um absoluto, no sentido em que a,,, personalidade, sobretudo a do
adolescente, pode sofrer consideráveis variações. Dito isto, é incontestável que a grafologia
traz achegas ao conhecimento de si: equilíbrio, estabilidade, / matui idade, perturbações da
saúde e ate nível mental*. * Hélène Gobinea G4nétique
de 1WrIm er étude de Ia (Delach aux et Paris‟ 1954) . elabori GROSSERIA (Coprolafia)

(Grossièretõ/Rudonass) testo grafológico qu


permite calcular a ic

Em psicanálise, o termo erudito é coprolalia, do grego copros, «excre-


mental da criança.

mento», e Ialein, «falar». Coprolalia significa, portanto, «o emprego de termos obscenos».


Traduz geralmente a persistência das preocupações que são próprias da criança no estádio
analo. #. Por estádio anel

A coprolalia é assim uma das numerosas formas possíveis de regres-


ps canálise freudiam

enlt'ende o período são ao estádio infantil na/ adolescência*.


vida compgreendido . - os 2 e os anos@ du Mas, a maior parte das vezes, ela
é uma manifestação de/ oposição. o qual se faz a das(

Indica uma recusa dos/ reflexos/ educativos até então recebidos.


do prazer ligado à
actividade dos órgã É por este motivo que as,,,<punições não podem, afinal de

contas, derexcreção. ter outro resultado que não seja o de

exagerarem a tendência para Ve «Sexualidade».

a coprolafia, fornecendo-lhe novas motivações. Como, por outro


9 Salvo no caso
ela é de certo modo i lado, se afigura impossível tolerar uma grosseria que se

manifeste pelo meio social.

de modo habitual, resta aos/pais diligenciar por determinar o ou os motivos profundos que
impelem o adolescente a ser grosseiro. Se se trata de um caso de regressão grave, o
assunto é da competência do psicanalista, o único que está qualificado para aconselhar um
tratamento. Tais casos são, felizmente, bastante raros. Geralmente está-se apenas na
presença de uma crise de oposição clássica, que uma/atitude compreensiva é, muitas vezes,
o bastante para a dissipar.
270

GRUPO (Groupe/Group) páginas 189. 410, 439. 448, 462, 463, 511. 512.

0grupo diferencia-se do/bando pelo facto de ser institucionalizado, ou seja, de obedecer a


regras e a princí pios determinados: citemos o escutismo, a Juventude Musical
Portuguesa, certas associações de recreio e de/cultura. A participação num grupo é
recomendada na/ adolescência. Ela oferece a vantagem de preservar da ociosidade, por um
lado, e da adesão a um bando entregue a si mesmo, por outro lado. Além disso, confere à
necessidade de conhecimento do mundo, que é inerente à formação da/ personalidade,
uma dimensão que a esfera familiar ou escolar não possuem. Neste sentido, o grupo
oferece uma possibilidade nova de conhecimento de si mesmo e de conhecimento dos
outros. A criança mimada descobre aí que ela não é o centro do mundo; o aluno «marrão»
vê estabelecer-se uma escala de/valores de que estão excluídos os «zero» e os «vinte». Esta
mesma verificação pode dar ao cábula uma razão de esperança. Enfim, a filiação no grupo
ensina ao adolescente a aceitação de uma disciplina livremente consentida, o que é
importante numa idade em que, por falta de experiência, se confunde facilmente /liberdade
e anarquia.

GUEVARISMO (GulSvarísme/Guevarism)

«Che»* Guevara, morto há alguns anos em condições que não «Che» significa

puderam ser verdadeiramente esclarecidas, era um dos primeiros


litera!mente «bom-dia». num
certo calão familiar. companheiros de Fidel Castro. Revolucionário no sentido pleno
Não quer dizer «chefe».

como por vezes se pensa. do termo, ele não se contentou em instaurar um novo sistema Os seus
homens

/político em Cuba. De facto, quando desempenhava o cargo de


gnominavam-no assim cem sinal de

afectuoso ministro da Economia no Governo de Fidel Castro, decidiu que o espeito. seu
verdadeiro lugar era no cerne da acção, onde quer que a/ revolução não tivesse ainda
triunfado. Foi assim que organizou na ]Bolívia uma guerrilha semelhante à que derrubara
o presidente cubano, encontrando nela a morte em 1968. Para o adolescente actual, «Che»
Guevara encarnou o a essência do cavaleiro das epopeias medievais. Pouco importa a causa
que ele entendeu defender, o essencial é o homem de guerra tão intrépido e bravo como/
ideafista. Daí a verdadeira fascinação que ele pôde exercer sobre numer0805 adolescentes
inclinados a considerar a/sociedade moderna como demasiado rigidamente estruturada, e os
adultos em geral COMO Fnte preocupada, antes de tudo, com um conservantismo
~Ortívc1. As misteriosas condições da sua morte ainda mais contrib~ para aumentar a
auréola que nimba a sua figura. Mo é por isso de admirar que ele tenha representado o
próprio tiPo do/herói em que se encarnam todas as confusas /aspirações da
~ adolc~te, as suas veleidades idealistas, sem esquecer a/n~dade de poder e de afirmação
de si.
HABITO (Habitude/Habit)

o hábito é uma maneira de agir ou de pensar que o indivíduo adquire pela experiência.
Modo de evolução e de/adaptação, o hábito constitui um dado que permite enfrentar um
certo número de situações presentes ou futuras. É igualmente um dado automático, em
virtude da adaptação permanente de qualquer indivíduo. Razão pela qual é erróneo julgar
que o hábito é uma forma de esclerose da/ personalidade. Todo o gesto ou reflexão tende a
criar um hábito. 0 que importa, é distinguir entre bons e maus hábitos. * critério de/valor é
função da personalidade do indivíduo. * aquisição dos bons hábitos parece essencial em
todos os domínios novos para o adolescente. Eles tornam-se então um esquema
/psicológico no interior do qual o adolescente se transformará em adulto consciente. É por
isso que convém que estas aquisições se operem num quadro estável, seguro, em que o
adolescente possa tomar como modelo adultos que se dotaram a si mesmos de hábitos
positivos.

N~I (Héros/Hero) pâginas 43, 285. 518.


0adolescente, ao mesmo tempo que se abre para o mundo exterior à família, descobre que
este se acha longe de ser sempre satisfatório. A criança, ingenuamente, imaginara até aí que
o adulto era perfeito. Uma certa forma de/ moral «dita primária» incitava-a a uma tal
representação. Ela imaginava assim tomar-se perfeita ao crescer. Será necessário muito
tempo ao adolescente para aceitar a imperfeição em si mesmo e nos outros: mesmo depois
de dado este passo, fica-lhe uma/nostalgia que se manifesta na escolha de um herói. 0 herói
é uma personagem real de quem se exalta desmedidamente este ou aquele traço
de/carácter. As suas qualidades são, se não imaginárias, pelo menos consideravelmente
aumentadas e rodeadas de uma espécie de aura/mística. Trata-se de uma disposição que
podemos encontrar inclusive em certos adultos: assim, os monges da Idade Média,
valendo-se da sua qualidade de cOPistas, inventaram, com profusão de detalhes, a vida de
alguns
272

santos que a Igreja só negou em 1969, ou seja, 10 séculos depois. Não nos devemos
admirar por o herói ser objecto de um culto tenaz na/ adolescência: o adolescente
encontra nele o meio de se tranquilizar, de acreditar ainda na possibilidade de atingir a
perfeição.

Os heróis dos adolescentes Um exemplo extraído do inquérito efectuado por G. Teindas e


Y. Thireau mostra que os heróis escolhidos pelos adolescentes se

repartem como segue*: 9 Georges Teindas e

Yann Thireau: Ia Jeunesse

dens Ia famille et Ia socióté modernes (E.S.F., Paris,


1 .@1 -0

Categorias socioprofissionais Aprendizes Alunos de pp. e das personagens


liceu escolhidas como heróis % %

Sábio

19,2

14,4

Personagem histórica

16,5

is

Homem de letras

6,4

Desportista

22,2

5,6

Artista

15

8,2
Personagem política

2,5

3,2

Aviador

4,2

6,1

Personagem da actualidade

5,2

2,2

Nenhuma

11,2

30,2

Além disso, os adolescentes interrogados deviam, ao indicar o herói escolhido, dar as


razões da sua preferência. Eis algumas (a propósito de um sábio como Pasteur): «Porque
era um benfeitor da humanidade.» «Porque era/inteligente.» «Porque fez descobertas.»
Estas respostas revelam unicamente uma «/ atitude/ passiva», para retomar a expressão dos
autores. Só uma ínfima minoria declara ter escolhido um sábio por/amor pessoal pela
investigação ou pela ciência. Tudo se passa como se apenas se apreciasse no herói uma
certa forma de/êxito, mais do que as consequências desse êxito. Podemos assim dizer que
se trata de uma pseudo-identificação, já que a verdadeira/ identificação pressupõe a
vontade comprovada de uma /imitação ulterior. Estudando atentamente as respostas,
percebe-se que a escolha do herói, longe de ser a consequência de uma tal vontade, é o
resultado da influência do/meio. Motivo pelo qual os alunos de liceu se referem quase
exclusivamente a personagens cuja existência lhes foi revelada pelo/ensino. Ora, este
abunda em figuras «históricas» estereotipadas, sábios revistos e corrigidos até se tornarem
chavões. Podemos também observar a surpreendente desafeição pelo homem /político ou o
homem de «actualidade». Isto não faz senão acentuar o escasso interesse pelo real em
proveito do imaginário.
NET

Há/pais que se regozijam secretamente por o seu filho renunciar aos «posters» de certo
cantor em voga para os substituir por retratos de uni escritor. Eles estimulam-no neste
procedimento quando afinal a atitude do adolescente talvez não passe de uma
contemplação passiva que o dispensa de agir por sua própria conta. Não podemos deixar
de acrescentar que, pelo menos desta vez, a indiferença é o mal menor. Mais amiúde do
que geralmente se pensa, alguns adultos são, na melhor das boas-fés, autênticos criadores
de/ídolos. Muitos romances contemporâneos trataram este tema com êxito. Num deles, um
adolescente, sem esperança de chegar algum dia a igualar um pai falecido e piedosamente
idealizado por uma/mãe demasiado sensível, percebe confusamente que o principal
obstáculo entre ele e o pai é a moldura fotográfica na qual este último está fechado como
num relicário. Um dia, ele pega na moldura e parte-a. A mãe considerará sacrílego um tal
gesto que, no fundo, constitui um sinal de libertação e de maturação. Na realidade, é
sempre indispensável, antes de ratificar unia deteiminada escolha do adolescente, indagar
os veidadeiros motivos, pois a atitude interior conta mais do que a escolha em si. É um
autêntico dever educativo desmitificar a representação, demasiadas vezes simplista, que se
tem das personagens célebres.

HETEROSSEXUALIDADE (Hótórosexualité/Heterosexuality)
pâginas 175. 314, 448, 451, 454, 457. 469, 464. 465, 468. 469.

Deve-se entender por heterossexualidade o conjunto das modalidades de comportamento


de um/sexo em relação ao outro. Se nos referirmos às diferentes fases do
/desenvolvimento sexual do adolescente*, distinguiremos nitidamente três etapas: a fase
de e Ver a palavra e o aversão, a atracção pelo outro sexo, a atracção de pessoa a
pessoa. artigo «Sexualidade».

A fase de aversão Durante a/puberdade, a aversão dos rapazes pelas raparigas -e


reciprocamente- manifesta-se por um conjunto de/atitudes muito características.

Os rapazes. A sua tendência para viverem em/grupo reforça esta aversão: primeiro, o grupo
dá aos seus membros uma segurança que cada um deles está longe de sentir quando se acha
sozinho; por outro lado, no interior do grupo, é o mais forte fisicamente que tem mais
probabilidades de ser considerado/ chefe. Ele exibe de boa vontade os seus músculos e
estabelece-se automaticamente uma comparação entre a fragilidade feminina e a potência
dos músculos novinhos em folha. A grande injúria é então ser-se apodado de «miúda». No
cinema, as cenas de/amor são grosseiramente comentadas e o galã torna-se paradoxalmente
suspeito de
PA-i8
274

ser efeminado. Esta atitude não deixa de traduzir uma inábil tentativa de/ identificação.
«No seu/ comportamento com as raparigas, escreve o doutor Ouillon, os rapazes tendem a
imitar as maneiras habituais dos homens adultos. Eles fingem uma condescendente
superioridade, desdenham todos os rodeios e os excessos de civilidade. Mostram-se rudes
e/agressivos, pensando assim afirmar a sua/virilidade, ou então exageradamente corteses ou
ironicamente gentis.»* Origlia e Ouillon:

As raparigas. A aversão para com o sexo oposto é igualmente real,


9IAdolescent (E.S.F. Paris, 1968), p. 107.

mas mais matizada. Certo adolescente que se aventurou por descuido num grupo de
raparigas da sua idade pode ficar com uma cruel recordação do episódio. É certo que ele
não será alvo dos dichotes directamente alusivos a que se teria exposto uma rapariga no
seu caso: mas pouco a pouco ver-se-á enredado nas malhas de subtis zombarias, de gestos
ou atitudes incompreensíveis (nomeadamente o riso) mais do que de palavras.

A atracção pelo outro sexo Os rapazes. Hadfield evoca assim João, personagem de
Terechenko: «Ele experimenta um sentimento particular ao ver raparigas de uniforme, e
ao falar a uma estranha pessoa que lhe indica o caminho e de quem lhe custa separar-se.
Atravessa a rua para passar mais perto de duas estudantes. Censura-se por ter achado
a/dança ridícula, decide aprendê-la, mas receia que trocem dele. É atraído por um grande
número de raparigas, por todas ao mesmo tempo.»* e Hadfield: I'Enfânce
Assiste-se então à eclosão do Don Juan de/festas, que dança com
fadolescence (Payot. „1'966), pp. 192-

todas as raparigas, beija o maior número possível delas, e a quem cedem todas as que
193.

têm reputação de «fáceis». De qualquer modo, no dizer de um rapaz chegado a este


estádio, elas são todas «fáceis» (excepto as que são « idiotas») e só a galanteria o impede
de citar nomes ...

As raparigas. São geralmente mais discretas e manifestam - quando se solicita as suas /


confidências - uma moderação cheia de / pudor que contrasta curiosamente com
um/coquetismo de/vestuário e de atitude, que mais de um adulto - menos prevenido - se
ari isca a considerar imprópria. As relações/ sexuais, quando se estabelecem nesta idade,
limitam-se, a maior parte das vezes, a «titilações periféricas e petting anglo-saxão, que
respondem ao desejo de explo-

do outro sexo» e. e Origlia e Ouilion:

ibidem @ 111

A Mracoo de pessoa a pessoa Numerosos pais inquietam-se quando o seu filho ou a sua filha, até aí
sem pref~cia marcada por este ou aquele representante do outro sexo, como demonstrava um
borboleteamento que eles jul-
NET

gavam excessivo, parece desinteressar-se bruscamente de qualquer


1flirt. o que eles receiam inconscientemente tem muitas probabilidades de se haver
realizado, sem que se possa no entanto dizer que seja sob as foimas que eles temem.
«Interrogado por mim, o director de um colé gio misto declarou-me que por vezes
descobria pares sentados em cantos escuros, de mãos dadas, mas que, ao perguntar-lhes se
tinham relações sexuais, eles se mostravam sempre sinceramente melindrados por essa
sugestão.»* Este testemunho 6 Hadfield:/'Enfer põe em relevo um/ comportamento

anunciador da estabilização et l'adolescence, p.

definitiva, a da atracção por uma determinada pessoa do outro sexo sobre a qual se fixarão
todas as componentes do/amor.

Tal descoberta do amor faz-se subitamente, e não são poucos os Don Juan ou as
sedutoras que caem então das nuvens ao assistir ao desmoronamento dos seus recentes
princípios de/«liberdade». A jovem que dizia não estar interessada senão nos «homens de
40 anos» experimenta de repente um terno sentimento por um rapaz da sua idade.

Os pais. Se bem que já não considerem erradas as/ relações sociais entre os dois sexos,
muitos deles reagem ainda contra os primeiios sonhos amorosos: ou ridicularizam, para
evitar qualquer «recalda», sentimentos que os seus filhos aprovam com uma frescura
entusiasta, ou fazem vibrar a corda da razão: «Ainda não és senhor de ti mesmo;
ganha/dinheiro e depois terás o direito de sentir certas inclinações.» Além das
consequências que ela pode provocar no plano das relações pais-filhos (considerando estes
que os primeiros são incapazes de os compreender), uma tal atitude arrisca-se a ter uma
influência nociva no comportamento amoroso do adolescente. «A atitude dos adultos, as
suas contradições na forma de tratarem os sonhos da,-” adolescência, amplificam ainda mais
o divórcio interno desta entre a/reivindicação e a aceitação. A adolescência é
universalmente reconhecida e gloiificada como a idade dos amores e das paixões, mas o seu
desabrochamento e a sua realização são postos em causa tanto pelos obstáculos/ sociais
como por imperativos /«morais». 0 drama de Romeu e Julieta, embora seja contestado no
seu valor de modelo, não peideu nos nossos dias o seu valor de simbolo.»*
o B. Zano: P$yCi
ditférentieiíe de l*adoiescence (P. U.1 Tais contradições suscitam no adolescente certa dificuldade em
Par'8‟ 1966), P. 32
assumir um papel social sexuado, pois este é imitado dos adultos. Elas explicam também
a/agressividade primordial dos rapazes quando se trata de assuirnir um papel activo para o
qual eles se não sentem prontos. Em contrapartida, as raparigas parecem mais ma-
276

duras: será porque na realidade o seu papel se limita a uma espera, tanto mais facilmente
aceite quanto, nelas, o desejo sexual não tem, geralmente, esse carácter de agressividade
toda biológica de que se reveste no rapaz? Esta distância entre a/agressividade do/desejo e
a falta de meios próprios para assumir um comportamento social sexuado adequado
conduz, por vezes, a uma autarcia/narcisiaca. É mesmo a razão pela qual certos
/psicólogos julgam dever acautelar, independentemente de qualquer conceito moral,
contra a precocidade das relações sexuais. No contexto da sujeição social da adolescência,
tais aproximações podem gerar uma verdadeira hostilidade para com o/sexo opost o,
culpado de se ter prestado a/prazeres, não só proibidos, mas ainda falseados pelo estatuto
da adolescência. Esra hostilidade pode posteriormente forticar-se nas querelas do casal.

IPPIES (HippieslHippies) Páginas 296. 385.

No dia 14 de Janeiro de 1967, em São Francisco, dezenas de milhares de jovens americanos


invadem o maior espaço verde da cidade, * Golden Gate Park. Improvisa-se então um
gigantesco arraial * que eles dão o nome de be ino. Erguem-se de todos os lados can-
o «Estar a Pap, «ser tos folclóricos e também cantos contestatários exigindo a paz no
atirado para a frente».

Vietname. Atiram-se flores no meio de um estridor de/música hindu entremeada de


rock'n'roll. À embriaguez do incenso junta-se a da marijuana. É a primeira reunião hippie.
Desde esse dia o movimento fez numerosos adeptos entre os adolescentes de todos os
países*. Para explicar esta propagação rápida o Segundo Claire do movimento hippy,
Robert Kennedy declarou certo dia: «0 drama Muet-Lagalle. que fez uma

descrição dele no n'mero da nossa juventude, é que ela tem tudo excepto o essencial.»
de Outubro de 1969 Ele queria dizer com isto que os adolescentes actuais se interroga-
de Spectacles du monde.

vam antes de mais sobre a significação do mundo e as suas possibilidades de devir. Esta
pesquisa traduz-se pela curiosa mistura de doutrinas cujos ensinamentos o movimento
hippy tentou conciliar. Entre os seus mestres podemos citar: Rousseau, Cristo, São
Francisco de Assis e Buda. Trata-se antes de tudo de encontrar Deus. Para tal, o credo é:
«Faz o que te agradar, sê pacífico e tolerante. Faz/amor, mas a guerra não.» Os hippies
diferem fundamentalmente dos beatnicks, com os quais foram por vezes apressadamente
comparados: de facto, estes não se opunham formalmente à/vio- ~ Além disso, os
verdadeiros hippies fugiam dos antros sór-
4idos das gmndes cidades onde os beatnicks haviam instalado o seu ~ti-gencm.

Na Europa, o movimento hippy não criou verdadeiramente raízes. Faltam-lhe


essencialmente as motivações que lhe deram origem nos Estados Unidos, ou seja, a
guerra. Há no entanto simpatizantes.
HOM

Existe nos arredores de Paris uma comunidade hippie ou, mais precisamente, uma «casa»,
para usar a terminologia dos iniciados. Os homens e as mulheres beijam-se aí «à russa».
Para se ter acesso a ela, é preciso ser apadrinhado por um,;,«amigo». Tudo aquilo que
pode assegurar a subsistência da comunidade é partilhado. A ocupação preferida é
a/discussão, se bem que nunca se fale de /-@política. Tudo gira em torno de um tema que
faz sonhar: a viagem. Os jovens hippies pensam que só a viagem lhes pode permitir
libertarem-se daquilo que encerra o homem civilizado numa forma de pensamento
demasiado estreita, impedindo assim o encontro com Deus. Este simples facto explica a
atracção crescente que os adolescentes sentem pelo movimento: o/desejo de evasão e de
autonomia, que todos os/;<psicólogos puderam apontar nas/aspirações formuladas ou
inconscientes dos jovens, é aí erigido em instituição, ou até mesmo em,?<religião.

HOMOSSEXUALIDADE (Homosexualité/Homosexuality)
páginas 37. 38. 42, 69. 173, 175, 255, 301, 448, 459, 469, 470-

«Apetência electiva ou simplesmente preferencial pelos sujeitos do mesmo/sexo.» (Fay)


«As,autênticas relações homossexuais* são muito raras na/,<ado- e Origlia e Ouillo
lescência por causa da repugnância que provocam certos aspectos
I*Adolescent (E.S.F.. 1967), p. 125.

triviais das relações sodómicas ou lésbicas, assim como por causa da inexperiência, mais ou
menos completa, dos sujeitos. As relações homossexuais limitam-se, por conseguinte, a
maior parte das vezes, a explorações e carícias recíprocas, bem como a estimulações /
eróticas.» Esta apetência pode ser constitucional: mas é raro. Apenas num caso entre mil se
observa um desarranjo hormonal, produzindo as secreções glandulares um excesso
de/;<hormonas femininas no adolescente e de hormonas masculinas na adolescente. Num
caso destes, um médico especialista das glândulas prescreverá um tratamento apropriado,
em geral demorado e delicado, com uma vigilância meticulosa do regime /,1 alimentar.
Estas carícias recíprocas são mais frequentemente praticadas pelas raparigas do que pelos
rapazes. Isto deriva em parte do/temperamento próprio das primeiras, mais sensíveis às
satisfações tácteis do que os rapazes. Estes, menos sentimentais, reprovam, em geral, um
tal pendor, naquilo que ele tem de desvirilizante.

As condições de desenvolvimento da homossexualidade Há sempre na origem da


homossexualidade «de/,,desenvolvimento» -e isto tanto nos rapazes como nas raparigas-
uma/;<amizade muito forte ligada ao,/medo de permanecer incompreendido, ou resultante
de um bloqueio /,@< afectivo ao nível/familiar. Esta ami-
278

zade pode coincidir com o período de aversão pelo outro sexo*, o Ver «Sexualidade». por
um lado, ou com o investimento libidinal próprio da,,<puberdade, por outro lado. Destas
componentes resulta que a estreita margem entre a admiração pelo amigo revestido de
todas as qualidades (entre as quais as qualidades físicas -sendo o adolescente muito
vivamente solicitado pela/beleza) e a tendência plenamente física, é transposta com
bastante facilidade.

A partir daí desencadeia-se um mecanismo traumatizante de/culpabifização. A experiência


mostrou que, embora os adolescentes admitam sem custo a «grande amizade», a
componente sexual os inquieta. Por um lado, de facto, trata-se anútidadamente da primeira
experiência sexual propriamente dita, e, por outro, eles têm consciência de macular a
amizade pura. A passagem ao acto fez-wse como que sob o efeito de uma irresistivel
pressão. Além disso, muitos daqueles que cederam às solicitações julgam-se
constitucionalmente homossexuais. Alguns chegam mesmo a adoptar/atitudes que mostram
claramente a todos o seu desvio, traduzindo assim o/desejo de verificar, nas/reacções de
outrem, o seu próprio,,91juízo.
0 facto é ainda mais patente quando as relações homossexuais se estabelecem com um
adulto: em I'Enfance d'un chef, de Sartre, Lucien, depois de ter sido sodomizado por
Berger, já não duvida de ser e de sempre ter sido homossexual. Pois, pensa ele, é bem
sabido que indivíduos destes descobrem infalivelmente os seus semelhantes. Perigosa
ilusão, como vemos, a qual é dissipada por Georges Mauco: «A criança permanece um
símbolo carregado de ressonâncias afectivas no inconsciente dos adultos. Ela atrai as
tendências sexuais perversas devido ao seu não acabamento sexual. Ela satisfaz as
/necessidades de ternura dos adultos imaturos.»# G. Mauco:

É sem dúvida esta forma de homossexualidade, toda


FsychanalyS9 et éducation imbuída de
/a&ctividade, a mais temível. Pois, ainda que seja inconsciente,
(Aubier-Montaigne, 1967), P. 165.

nem por isso age menos sobre as/ relações/ educativas: o diálogo instaura-se do
inconsciente do mestre ao inconsciente do aluno. «Habitado pelos seus próprios/ desejos
imaturos, o mestre responderá aos fantasmas da criança e às suas exigências captativas
OU/agressivas. Assim se alimentam e se desenvolvem fixações CM CsUdios arcaicos da
sensibilidade.»# e G. Mauco: ob. cit.,
p. 200.

108 (Noraimslrlme-tabio) página 564.


A questão dos horários é, de um modo geral, assaz vivamente ~ft~da pelos adolescentes.
Estes não vêem neles a maior P” (Ia vem ~o Uma espécie de constrangimento destinado a
pr~os de/liberdade e de/imaginação.
HOR

Certos/ pedagogos, conquistados por uma tal visão do problema, tentaram, em/escolas da
Alemanha do Norte, aligeirar ao máximo o aspecto coercitivo dos horários. A experiência
não se revelou concludente, mas é justo acrescentar que as próprias condições de uma
liberdade demasiado súbita talvez tenham falseado os dados*. e Exemplo citado p P. Furtar em ta Via m
de1‟adolescent (Delachaux et Niestlé Uina disciplina necessária

Paris, 1965). p. 128. É indubitável que a campainha que regula a vida de um estabelecimento
escolar não deixa de lembrar a vida vegetativa das casernas. 0 adolescente que se sente
rigorosamente fechado toma-se mais passivo -entorpecido pelas limitações horárias
rigorosas. Mas esta coacção é apenas aparente, porquanto permite na realidade
a/aprendizagem da disciplina indispensável a toda a vida colectiva. Também neste caso o
que conta é a maneira de impor um horário, mais do que o horário em si mesmo.

Muitos pais interrogam-se: devem mostrar-se firmes nas horas do regresso a casa? Quantas
horas de sono sã o precisas ao adolescente? Não se correrá o risco, ao impor-lhe horários
fixos, de o tratar como uma criança? Uma/mãe de/família numerosa resolveu, com acerto,
o problema ao conciliar/ autoridade e/confiança: ela inscreveu num quadro o nome de cada
um dos Ohos, colocou ao lado de cada nome um mostrador horário com ponteiros e
instalou por cima do quadro uma pequena lâmpada eléctrica. Cada um dos jovens
autorizados a voltar tarde indica ao lado do seu nome a hora de entrada; o último a chegar
apaga a lâmpada*. e Exemplo citado
CÉcole des parent&
0adolescente, à semelhança da criança, sente a necessidade de um „s,tembro de 1968. programa
bem estruturado, mas espera dos adultos uma/atitude maleável que lhe permita não se
considerar constrangido.

HORMONAS (Hormonos/Normones) páginas 23, 208. 209. 220, 221, 277.


Categorias de substâncias químicas provenientes de certos órgãos de secreção interna e que, por via sanguínea, vão
influenciar o funcionamento de outros órgãos*. # Encyclopédie

internationale FOCUS Estes órgãos de secreção interna donde saem as hormonas têm o (Bordas, 1967. Parb nome de glândulas
endócrinas (do grego endo, «interior», e krinein, p. 1715. «segregar»), ao contrário das glândulas sudoríparas ou salivares que
segregam para o exterior e são por isso chamadas «exócrinas». Na/puberdade, as glândulas endócrinas conhecem um renovo
de/actividade: elas segregam hormonas que agem de forma electiva nos domínios-chave da evolução da/ adolescência:
crescimento e genitalidade.
280

0 crescimento A/puberdade caracteriza-se por um aumento brutal da altura: este


crescimento depende estreitamente das hormonas derivadas da glândula tireóide, situada
ao nível da glote. Dai o atento cuidado que os pediatras dedicam ao exame do
funcionamento desta glândula, pois a hipotireoidia (insuficiência tireoidiana) determina
perturbações de crescimento tanto físico (nanismo) como mental (cretinismo). Uma
glândula ao pé da tireóide, o timo, exerce a mesma acção sobre o crescimento. Esta
glândula desaparece depois de atingida a/maturidade, ao passo que a tireóide continua a
regularizar o metabolismo de base* do adulto. metabolismo de base:

número de calorias É importante para o funcionamento destas glândulas, e por con_ emitidas por hora
a por

seguinte das hormonas de crescimento, que a alimentação do ado-


metro quadrado de

superfície corporal por um lescente seja rica em iodo*, já que a ausência desta substância
indivíduo em jejum e em ocasiona o mixedema, forma de cretinismo. repouso.

0 Ver «Alimentação».
A maturação dos órgãos genitais Há duas hormonas essenciais que contribuem para o
estabelecimento dos caracteres sexuais secundários: voz, pilosidade, crescimento dos
seios. Nos rapazes, é a hormona androgénia (do grego aner, andros: «o homem») que
provoca em particular_o aparecimento dos espermatozóides e do líquido espermático. E
por causa dela que podem produzir-se ejaculações espontâneas nocturnas, fonte de
frequentes perturbações no adolescente não prevenido.

Nas raparigas, a hormona estrogénia determina, sob a dependência da hipófise, a


maturação dos óvulos e, portanto, o aparecimento das primeiras /regras. Estas sobrevêm
entre os 12 e os 16 anos, consoante o/meio (influência climática) e a/personalidade do
adolescente.

Perturbações psicológicas de origem hormonal Afigura-se difícil falar das perturbações/


psicológicas de origem hormonal, pois que, na verdade, somaticamente,
qualquer/comPO~entO Põe em jogo a influência das hormonas. É assim que a
hípertireoidia (ou excesso tireoidiano), frequente na/adolescência, Provoca uma
nervosidade «à flor da pele», acompanhada de uma excessiva sudação. De i~ modo, todos
os co@aportamentos/afectivos têm uma incidência ao nível hormonal. E o caso da/cólera,
fenômeno psicolóffico que desencadeia a/actividade de certas glândulas. Estas wgm~
hormonas que contribuem para a vasodilatação e ocasionam um brusco afluxo de sangue
ao nível do músculo. É este
NUM

afluxo que confere então uma força insuspeitada e permite levar a melhor sobre um
adversário mais poderoso. Deriva daí a expressão «ver tudo encarnado».

HUMOR (Humeur/Mood) páginas 78, 110.

Uma das razões que alimentam mais frequentemente os mal-entendidos entre adultos e
adolescentes é a,,,, instabilidade de humor destes últimos. Não há dúvida de que é difícil
viver em permanente contacto com um adolescente, na medida em que constitui árdua
tarefa prever qual será o seu próximo humor; jovial ou sombrio, entusiasta ou deprimido:
tudo é possível. No fundo, parece que o problema do humor não pode ser colocado
exactamente nestes termos. Para se compreender bem a aparente instabilidade de humor
do adolescente, convém não perder de vista a ambiguidade do seu estatuto. Adulto pelo
corpo e ainda criança pelo espírito -já adulto por um/,<desejo de/,@responsabilidades,
mas ainda criança por certas /reacções diante do resultado das suas,@<condutas e
/comportamentos -o adolescente é constantemente solicitado em direcções opostas. Por
exemplo, pode sentir uma paixão amorosa de aspecto tipicamente adulto quanto à
profundidade dos seus sentimentos a respeito de uma rapariga, e esta dar provas, ajudada
pelas circunstâncias, de uma compreensão do mais alto nível. Mas ambos reagirão como
crianças à mínima desilusão. «0 tono mental do adolescente, escreve Guy Avanzinio, é
frágil. Uma causa mínima perturba-O e G. Avan7ini: le
vivamente, um ligeiro dissabor suscita unia série de amargas refle-
de l*adolescence (E,

universitaires, Paris, xões, bastando para ensombrar o horizonte do dia e ofuscar todas
Pas suas representações. Um leve benefício é suficiente para restaurar uma alegria
ruidosamente expressa e intensamente sentida. Também aqui ele tem a sensação de
depender de uma força invisível que se apodera de si contra a sua vontade, e acha-se por
isso dolorosamente impressiortado.»* # Ver o artigo As oscilações
de humor do adolescente estão portanto menos liga- «Afectividade». das a factos ou a
sentimentos reais do que às respectivas representações que se lhe formam no espírito. A
ambiguidade do seu estatuto impede-o de avaliar as coisas na sua devida proporção.

HUMORISMO (Humour/Humour)

Se, como os Ingleses se comprazem em reconhecer, o humorismo é uma espécie de


código social, então os adolescentes têm certa-
282

mente o sentido do humor, pois o seu humorismo é sempre especifico e leva amiúde os
adultos a rangerem os dentes. Na realidade, a maior parte das vezes este humorismo é um
humor de/reacção: gracejos em voz alta, nos lugares públicos, visando defeitos físicos, etc.
Os adolescentes procuram destarte provocar, mais do que divertir. Usam entre si um
humorismo mais positivo e sempre revelador de ,,;<tensões interiores das quais ele é um
exutório. Existe assim todo um folclore de histórias «giras» referentes à/sexualidade. A
utilização de tais anedotas circunscreve-se ao/grupo até cerca dos
15 anos. Em seguida o humorismo individualiza-se e apura-se, redundando naturalmente
na ironia, que é ainda um modo de defesa.
IDE

IDEALISMO (ldõalisme/idealism) página 525.


Tendência para nos conformarmos mais a ideias do que a realidades concretizadas pela experiência vivida. Na/ adolescência, o
acesso ao estádio do pensamento abstracto confere uma propensão amiúde excessiva para a idealização, que se manifesta em
particular ao nível das/relações com outrem. As pessoas que o rodeiam têm por vezes para o adolescente uma existência
unicamente ideal: este é o Professor, aquele é o/Amigo, um terceiro, enfim, é o Pai. Tal modo de apreensão implica que eles
não existem senão em função de um papel e de um estatuto intelectualmente determinados. Há no idealismo uma faceta
negativa que tende para a perda do sentido das realidades por falta de/ objectividade no exame destas realidades: o idealismo
confina-se então à utopia e conduz a muitas desilusões que tornam o adolescente amargo. Mas o idealismo enquanto tendência
para um ideal pode estimular a agir mais em função de um/valor/moral do que dos interesses pessoais: o idealismo é, assim,
sinónimo de altruísmo e de generosidade.

IDEIA FIXA (ldóe fixo/Fixed idoa)

Entende-se vulgarmente por ideia fixa uma «ideia parasita aceite pela consciência como sendo conforme à/personalidade e
cujo carácter patológico não é por este motivo reconhecidoo». 9 C. Bardanat:

Manuel elphabétiqué Pelo seu aspecto parasitário, a ideia fixa liga-se ao automatismo de psychiatrio (P.U.1 mental. 0
sujeito torna-se incapaz de/inibição relativamente à Paris, 1952), p. 201 ideia fixa. Ele não pode eliminá-la dos seus
pensamentos. Uma tal/atitude não é, aliás, forçosamente negativa. Alguns grandes criadores foram mais ou menos
subjugados por uma ideia fixa. Foi assim que nasceu a imagem popular do sábio distraído para quem só a ciência existe.
Mas, frequentemente, a ideia fixa desperta ressonâncias desagradáveis. Ela perturba então a/ adaptaçã o e o rendimento
intelectual. Na/ adolescência, uma ideia fixa pode dar origem a uma degradação das faculdades de/atenção e provocar um
atraso escolar
284

mais ou menos importante. A ideia fixa nasce quase sempre de um ,,,<desejo de


compensação confessado ou não. Assim, certos adolescentes, para compensarem uma
inadaptação/afectiva ou/intelectual, tornam-se «carolas» do/.,,desporto. Conhecendo de
cor a vida dos campeões, eles só existem através do desporto. Outros, ao invés, adoptam
o estilo «barra nos estudos» por desejo de valorização excessiva das suas faculdades
intelectuais. Uma das melhores terapias consiste numa mudança de ambiente ou
de/actividade. 0 desenraizamento assim criado contribui para restaurar as faculdades
provisoriamente adormecidas.

IDEIAS NEGRAS (Cafard/Gloom)

«Estranho sentimento de mal-estar, de ruptura de equilíbrio, de recusa da vida habitual, e


que não resulta nem de preocupaçães nem de inquietações precisas, este estado, que se
manifesta por um desprendimento triste, uma espécie de paragem do tempo, da duração
pessoal, não seria afinal senão uma forma esboçada da lucidez.»*
e J.FellerJaPsychologle
0 adolescente é muitas vezes atormentado por ideias negras quando -Qderne de A à Z (C.E.P.1..

DenoM, Paris, percebe confusamente que as suas/aspirações são utópicas, que 1967), p. 140. os adultos

são demasiado fortes ou demasiado fracos e que, de qualquer modo, ser demasiado forte
ou demasiado fraco poderia não passar de um mesmo/ desequilíbrio: em suma, que a
perfeição não é deste mundo. Forma elementar de reflexão, as ideias negras
são também uma «forma elementar de desprendimento» -necessário a toda a vida ,,”social,
ou seja, à aceitação dos compromissos exigidos pela /adaptação ao mundo real- aceitação
não/passiva mas activa de um certo sentido da vida.

IDENTIDADE (Identité/Identity)

«Pode-se falar da identidade de um indivíduo ainda que ele mude nos diferentes momentos
da sua existência. Pois, através destas mudanças, ele conserva certos caracteres que
aparecem sempre, quando o consideramos sob vários pontos de vista, e que não parecem
sofrer mudanças apreciáveis.»* e Navratil: Vocabuleire A/adolescência
distingue-se por uma busca febril da identid de psychopédagogie

ade. (P.U.F., Paris, 1963), É o período de transição por excelência. 0 sujeito tem portanto p.
307. necessidade de se analisar a si mesmo e de reconhecer nele os elementos fundamentais

de uma/ personalidade que passa por importantes variações. Ninguém pode substituir o
adolescente nesta delicada tarefa: é pelo contrário indispensável respeitar a autonomia da
sua pesquisa. Mas podemos ajudá-lo criando à sua volta
IDE

uma atmosfera de/ segurança, nomeadamente não regateando benevolência


nem/autoridade.

IDENTIFICAÇÃO (identification/identification) páginas 32,75,99,190,260,362,443,


1

«Processo psicológico pelo qual o sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um


atributo de um outro e se transforma totalmente ou parcialmente segundo o modelo deste.
A/personalidade constitui-se por uma série de identificações.»*
9 Laplanche e Port
Vocabulaire de Na criança, a identificação limita-se a uma /,1 imitação fiel dos / pais.
psychanalyse (P.U.F.,
0adolescente, sob o efeito do alargamento do campo de cons-
Paris, 1967), p. 187. ciência na altura da/ puberdade, é levado, antes de mais, a procurar modelos

diferentes dos pais. Ele identifica-se com um/herói ou um/«ídolo», nimbados de uma
auréola mágica: podem também cristalizar-se certas aspirações em tomo de um professor,
de um /amigo adulto ou de um chefe escutista.
0 estádio da identificação com outros modelos que não os pais é uma etapa necessária da
formação da personalidade, a qual, desprendendo-se na sequência dos modelos escolhidos,
adquire a sua individualidade própria. Assim, em vez de se troçar da adoração de um
adolescente por certo cantor, é preferível ter o cuidado de lhe dar a conhecer modelos
mais formadores.

0 facto de o adolescente ser levado a desprender-se das imagens parentais não obriga a
concluir que elas deixem de ter influência: «A criança não tem somente/ necessidade
de/amor para se desenvolver harmoniosamente, nota Berthe Reyrnond. Riviero, ela pre-
e B.-R. Rivier:
cisa também de modelos estáveis e coerentes com os quais se possa
le Développement soc
1'enfent et de 1'edolo, identificar e que só um casal normal e equilibrado está em

condições (Charles Dessart. de lhe fornecer. Nove em cada dez vezes, o

adolescente delinquente Bruxelas, 1965), p. 2@

careceu de modelos destes ... 0 adolescente normal pode perfeitamente rejeitar os modelos
e os ideais parentais, visto que eles imprimiram a toda a sua pessoa uma estrutura que lhe
permitirá, quando tiver passado o auge da crise, reencontrar a boa direcção e chegar a
bom porto.»
[DOLOS (Idolos/Idois) ver páginas 104, 273, 285. 287. 371, 421, 551.

IMAGINAÇÃO (Imaçlination/imagination) páginas 22, 23, 42, 109, 166. 471. 475.

Podemos observar no adolescente uma recrudescência da imaginação: com efeito, o adolescente, embora saia do/egocentrismo infantil, mostra ainda uma
tendência muito viva para a projecção de si mesmo em qualquer situação.
286

Com quem sonha a gente jovem? As adolescentes. As raparigas deleitam-se na elaboração


de quimeras româ nticas. Ainda que a época já se não preste ao estilo do «príncipe
encantado», a adolescente continua a sonhar mais ou menos com uma aventura idílica junto
de um companheiro idealizado. É de notar que este assume facilmente os traços de um
«homem de 40 anos» seguro de si e já realizado na vida. Esta/ idealização assinala ao
mesmo tempo a busca de protecção, típica do estatuto feminino, e a rejeição inconsciente
de uma aventura/ sexual real.

Os adolescentes. Os rapazes têm uma acentuada tendência para imaginar a sua futura
vida/social. É o momento em que florescem as vocações para as,,@< profissões/
prestigiosas. Só têm paralelo na ignorância da realidade. Para dar um exemplo extremo,
mas certamente elucidativo, são muitos os que sonham com uma vida exaltante de
«pesquisadores». Pesquisando o quê? Pouco importa, na verdade: o essencial é que a
personagem do pesquisador simbolize um modo de vida fora do comum e não sujeito às
contingências quotidianas de qualquer bicho-careta. A este respeito, o exemplo dos
cosmonautas, dos quais o mais jovem tem 35 anos e os outros cerca de 40 anos, actuou
como um freio salutar em certas imaginações juvenis: o cosmonauta não é um anjo como
eram o piloto de ensaio ou o pesquisador. A imprensa de grande tiragem teve o mérito de
o mostrar na sua vida quotidiana: com a sua mulher e os seus filhos. Ela difundiu
amplamente os métodos de treino: o cosmonauta tem realmente os pés assentes no chão. E
ainda bem que assim é: pois não há dúvida de que uma imaginação demasiado fértil e
demasiado apaixonadamente cultivada pode provocar uma separação do real. De facto, só
dificilmente o adolwcente consente em descer das suas alturas para enfrentar a realidade
quotidiana.

Em última análise, esta/atitude pode conduzir a um refúgio em si mesmo visivelmente


patológico a que a psicologia chama «autismo»: o indivíduo corta com os outros e desliza
para a esquizofrenia. A fim de evitarem um tal escolho, os pais devem esforçar-se por ~tar
o gosto pela/actividade no jovem excessivamente imaginativo. 0 sentido das/
responsabilidades pode constituir uma salutar chamada à ordem, do mesmo modo que a
vida em colecti- vidade, a qual traz sempre o correctivo necessário ao angelismo.

IMITAÇÃO (lmi"onllmitation) páginas 38. 41, 127, 285, 375.


A crianÇa aprende muito depressa a imitar os que a rodeiam. Pela
reprodução dos gestos e palavras dos seus/pais ou dos outros adultos, ela tende a uma.
maior/ segurança interior. Mais tarde, no comportamento lúdico, a criança brinca «a sem.
Quem não conhece, aliás, a frase-tipo do /jogo infantil: «Eu era.... tu eras...»? A criança dá
assim um primeiro passo na direcção da/ socialização. Mas o pretérito imperfeito «era»
indica que esta /atitude é desprovida de qualquer espécie de/Oempenhamento. Quando a
criança brinca, ela sabe que lhe basta dizer «ferrado» para que o universo real retome as
suas dimensões e os seus / direitos. Na/ adolescência, a imitação tem um significado muito
diferente. Decerto que ela constitui ainda, e cada vez mais, tendência para a socialização.
Mas reveste aos olhos do adolescente um carácter dramático no sentido próprio da palavra.
Um pouco à semelhança do actor que está ao mesmo tempo dentro e fora da sua
personagem, o adolescente é e não é aquele que ele imita.
0 adolescente tende assim a imitar um/ ídolo - símbolo do adulto perfeito cuja perfeição
mesma lhe permite nã o abdicar das suas pretensões a um ideal - do mesmo passo que tem
o cuidado de escolher outros modelos na vida quotidiana, pois sente mais ou menos
claramente que essa perfeição é apenas um logro por vezes útil, mas perecível. Um ideal
temperado pela realidade É então necessário que, ao mesmo tempo que propõem um
ideal, os adultos diligenciem por se mostrar ao adolescente simultaneamente perfeitos e
imperfeitos: perfeitos, no sentido em que devem dar provas de um equilíbrio interior a partir
de todos os elementos da personalidade; imperfeitos, porque todos os elementos da
personalidade a partir dos quais se estabelece o equilíbrio comportam, necessariamente,
defeitos. Convém não ter vergonha destes defeitos diante do adolescente. Basta mostrar-
lhe que se faz o possível por combatê-los. Ele encontrará assim modelos autênticos cuja
imitação lhe permitirá tornar-se um adulto/ responsável e lúcido. 0 papel destinado aos
adultos e especialmente aos/pais, que servem de primeiro teste ao adolescente, é na
ocorrência infinitamente delicado. Mas importa partir do princípio de que mais vale propor
certos defeitos corrigíveis do que qualidades forjadas de fio a pavio, cuja ausência será um
dia desvendada pelo adolescente, proporcionando-lhe amargas desilusões.

IMPRUDÊNCIA (Imprudence/Imprudence)

É quase inevitável que o adolescente ceda por vezes à tentação de ser imprudente. A bem
dizer, ele não pode agir de outro modo: a prudência assenta essencialmente na experiencia,
e o adolescente acha-se ainda desprovido dela.
288

Estas imprudências vão manifestar-se nomeadamente no gosto pela/ independência.


Aspirando à autonomia, o adolescente é impelido a cortar as amarras com tudo o que
constitui o quadro da sua infância. Assim se explica a ruptura por vezes brutal com os
pais, cujos conselhos de prudência são apenas vistos como uma tentativa de conservação
no estádio/ infantil. Há um mal-entendido clássico que incide sobre as companhias do
adolescente. «Quem. são essas pessoas, perguntam os/pais, conhece-Ias bem? Nós
gostaríamos muito de lhes ser apresentados, para te ajudarmos a nortear.» Imediatamente
«essas pessoas» surgem paramentadas de um/prestígio de que ninguém suspeitaria:
deixaram de ser como os outros. Tudo o que elas disserem será pura verdade. É aliás
significativo que, logo que se der o encontro com os/pais, «essas pessoas» voltarão a
integrar-se na massa, no circulo da gente conhecida de quem já se não espera grande
coisa. A imprudência do adolescente toca muitas vezes as raias da inconsciência. São
numerosos os jovens de quem se poderia dizer que se tornaram/ delinquentes por
inadvertência. É por vezes difícil evitar que estas imprudências sejam cometidas sem
abafar o que a sua tentação representa de força viva. A imprudência é uma foi-ma de
impulso vital na adolescência, e pode-se afirmar que o adolescente demasiado prudente
deve ser vítima de alguma perturbação psíquica: / apatia, / timidez mórbida ou /
conformismo Compete então aos pais canalizar a energia que convida à imprudência e
transformá-la em espírito de iniciativa. Um gosto pelo risco calculado parece cada vez
mais indispensável ao êxito social e humano. Um adolescente imprudente com demasiada
facilidade pode ser em devido tempo formado pela prática do/ desporto que confere o
sentido da audácia raciocinada.

IMPULSIVIDADE (Impulsivité/Impulsivity)

Disposição para agir sem levar tempo a reflectir. Esta disposição, normal na criança,
deveria ser contida na/ adolescência pela/ inteligência abstracta que se desenvolve. É
preciso, se se der o caso, diligenciar por distinguir em certa resposta arrebatada o que
deriva da/ insolência e o que é devido a uma impulsividade mal controlada. A excessiva
impulsividade manifesta-se muitas vezes ao nível verbal; um determinado adolescente
repreendido pode, sob o efeito conj~o da/cólera e da humilhação, tartamudear uma
torrente inOm~te de ameaÇas. Tudo se passa como se o sistema de regu- ~o entre
a/tensão emocional e a/reacção propriamente dita estivesse abolido. Estas manifestações
deveriam ser raras. Se elas se rqxú= com demasiada frequência, sã o indício de
perturbações
INA

nervosas ou afectivas ou até de/neuroses. Afora estes casos, que são da competência do
médico ou do psicólogo, o melhor método ,-<educativo consiste em deixar expandir-se o
adolescente impulsivo sem entrarmos no seu jogo, enfurecendo-nos nós próprios.
0 adolescente não tarda então a tomar consciência de se ter deixado arrastar para uma/
atitude/ pueril; procurará provavelmente superá-la aprendendo a conservar a calma.

INADAPTAÇÃO JUVENIL (Inadaptation juvénile/Youth maladjustment)


páginas 15, 109. 110, 140, 142, 169.

«Quem. quiser viver deve adaptar-se às novas condições da vida.» (Romain Rolland) Cada
indivíduo, para sobreviver, não tem outra alternativa que não seja adaptar-se, quer dizer,
ajustar o seu eu ao resto do mundo. Se, agindo assim, ele se conforma a uma média, se o
seu/comportamento é o de todo o indivíduo submetido às mesmas condições de vida, ele
está «adaptado». Mas se a presença de quaisquer factores impede que a sua adaptação seja
conforme à média, diz-se que ele é «inadaptado». A/adaptação é coisa difícil na/ adolescê
ncia: de certo modo expulso da infância, o adolescente deve a@aptar-se de modo
incessantemente renovado a um mundo novo. E por este motivo que os inadaptados juvenis
são numerosos. Robert Lafono apresentou o R. Lafon:
Vocabuleire de uma classificação das formas possíveis de inadaptação: ychopédegogie

rp.U.F., Paris, 1963) pp. 312 e segs.

Inadaptações biológicas
Inadaptações psicológicas
Inadaptações sociais

Enfermidades e deficiências Perturbações sensoriais Perturbações motoras Pert urbações


da linguagem Enfermidades somato-funcionais

Perturbações simples do humor, do carácter, da inteligência Insuficiências mentais


Perturbações do comportamento

Carências familiares Inadaptação escolar Pré-delinquência Delinquência

As perturbações de ordem biológica -As perturbações sensoriais. São as perturbações que


afectam os órgãos dos sentidos: os olhos e os ouvidos em particular. 0 seu estudo é
importante na medida em que, devido à sua ambiguidade, elas dão origem a numerosos
mal-entendidos: certo aluno míope colocado na última fila da aula nunca conseguirá ler
correctamente o que está escrito no quadro; um outro, se ouvir mal, não compreen-
P A-ig
290

derá senão parte do que o professor diz. Ora a experiência mosti a que muitas vezes o
adolescente prefere ser acusado de/preguiça a revelar a sua enfermidade e ser assim
obrigado a usar óculos ou um aparelho auditivo. Não é raro ser esta a causa de
uma/dislexia aparente ou de urna /disortografia.

- As perturba@õès motoras. São as que afectam o sistema nervoso e, por consequência, os


músculos. A insuficiência do controle esfineteral pode provocar a/enureseo, que é, por seu
turno, causa de inadaptação social. Entre as perturbações da lateralização convém apontar
o sinistrismo. Este é hoje unia causa reconhecida de inadaptação escolar e social. Certas
perturbações da / linguagem, como a / gaguez, têm por vezes uma origem somática. Mas o
facto de gaguejar constitui um enorme obstáculo, por vezes julgado insuperável no
momento em que o adolescente deve afirmar a sua /personalidade. Importa saber que uma
reeducação ortofónica, baseada na/aprendizagem da fonética, é quase sempre eficaz.

As perturbações de ordem psicológica Entre as principais, podemos citar a apatia e a


astenia que são duas perturbações afins*. Há igualmente a hiperemotivídade, a angústia, a
ansiedade, a fuga, o puerilismo, o roubo, bem como certas formas de dislexia e de
disortografia. Todas estas perturbações têm em comum o facto de traduzirem uma
inadaptação cuja causa fundamental é um elemento da personalidade.

As perturbações de ordem social Podemos arrumar a inadaptação /social a meio caminho


entre os dois tipos precedentes de inadaptação: na verdade, conquanto ela derive da
perturbação/ caracterial e da perturbação do/comportamento, acontece amiúde a sua
origem ser somática. Entre as causas de inadaptação social, convém citar em primeiro
lugar a/familia. Esta é, efectivamente, o primeiro campo de experiêncía social. Da sua
ausência ou da sua presença abusíva decorre uin certo número de/ comportamentos
insociais, ou até anti-sociais. Os órMos e as crianças abandonadas às instituições de
assistência têm logo à partida urna desvantagem difí cil de superar*. A sua /adaptaÇão
será função da maneira como eles souberem assumir a sua situaÇão/anormal. Em caso
de/êxito aquela será completa, poiS o adulto aprendeu a lutar desde a infância. A
crianÇa/mimada e o filho/único depararão com evidentes dificuldades de adaptação
normal, por falta de/aprendizagem das regras normais da vida em/ sociedade. Estas
dificuldades manifestam-sc, ao nível do Comportamento do adolescente, pela/enu-
Ver esta palavra.

Ver estas palavras.

Ver «Fam(lia».
INA

rese, a onicofagiae, a sucção do polegar, os terrores nocturnos, 0 onicofagia: háb a insônia,


a/masturbação, a/mentira, o/roubo, o/ciúme, a roer as unhas. /preguiça, o despotismo,

a/ocólera, a/ instabilidade, as/fugas, a vagabundagem ou mesmo o/suicidio. No âmbito


destas dificuldades relacionais devemos finalmente citar a inadaptação escolar*. 0 estudo
desta inadaptação é de certo o ver «Dificuldac modo recente. A análise de certos factores
(erro de/orientação, escolares».

superlotação das aulas que suscita um sentimento de despersonalização, falsas preguiças)


é hoje da competência de especialistas: os,,-< psicólogos escolares. Enfim, a inadaptação
social propriamente dita (isto é: não limitada a uma célula da sociedade) entrou de modo
espectacular no domínio da opinião pública graças aos meios de informação ditos «de
massa»: jornais,/ rádio,,” televisão. Este fenômeno de/delinquência juvenil sempre existiu,
mas tem sido recentemente considerado como uma forma de inadaptação; isto é tão
verdade que o termo «infância inadaptada» abarca agora tanto os psicopatas
(/caracteriais,/psicóticos e/neuróticos) como os inadaptados escolares, familiares, os
delinquentes (ladrões, /;<prostitutas) ou pré-delinquentes.

* luta contra a inadaptação juvenil


* estas numerosas e diversas formas de inadaptação juvenil opuseram-se meios de luta
variados, dos quais os três plincipais são: a protecção à infância e juventude, a correcção
paterna e... a/família no próprio seio da qual se criam tantos insociais.

A protecção à infância e juventude. 0 seu papel é tomar a seu cargo todos os menores cuja
família não pode ou não quer assegurar a respectiva/ educação. Agindo por vezes através
de uma ajuda financeira à família, a protecção à infância e juventude preconiza e assegura
em numerosos casos a colocação fora da família deficiente.
0 menor pode ser instalado numa família psicologicamente preparada para este gênero de
acolhimento. Nos casos mais favoráveis, o adolescente encontra a estrutura familiar
tranquilizadora da qual esteve privado. Mas esta adesão total é, na prática, muito difícil de
realizar, quanto mais não seja porque ele deve integrar-se num /meio idêntico. Nos casos
de perturbações reais mas não graves, recorre-se a uma colocação familiar especializada
que põe à disposição do menor os meios médicos, /psicológicos, /educativos e/afectivos
que o seu meio habitual não pode dar-lhe. Um especialista e uma assistente social Vigiam
então o adolescente no decurso de visitas periódicas. A Colocação em/internato pode
fazer-se de diferentes maneiras: institutos médico-pedagógicos para os deficientes físicos,
centros de reeducação, centros de observação ou institutos públicos de
292

educação vigiada para os outros inadaptados. Esta colocação efectua-se nos casos de
perturbações/ caracteriais graves ou de pré- -delinquência e/ delinquência/ afectiva. A
concepção do internato-prisão acha-se agora ultrapassada: o menor é entregue a
educadores especializados que se esforçam, enquanto dura o internato, por preparar a
reinserção social do inadaptado. Mas o regime do internato não pode, por razões/
psicológicas, aplicar-se a todos, e uma decisão deste gênero tem de ser tomada em comum
pelos diferentes serviços sociais interessados.

0 pedido de correcção paterna. Outrora, em Roma, o pater familias tinha, até falecer,
direito de vida e de morte sobre o seu filho, fosse qual fosse a idade deste último.
0 costume suavizou tal uso, mas só com o código napoleónico é que um pai de família
deixou de poder internar um dos seus filhos sem julgamento. 0 nosso século viu limitar
ainda mais as prerrogativas paternas: o encarceramento por via de correcção paterna não é
doravante admitido, e só o juiz de menores tem toda a latitude para estudar os motivos de
um requerimento desta ordem. Apenas nos casos em que a criança se mostre incorrigível ou
perigosa para a/sociedade se preconiza a colocação em/família ou em internato. Em vários
países foi instituída a vigilância educativa no próprio seio da família. Desde logo, esta
medida é a mais frequentemente aplicada quando os/pais dirigem ao Tribunal de Menores
um pedido de correcção paterna.

A-reed.ucação dafamília. Esta aparente diminuição do poder paterno não visa minar
a/autoridade do/pai. Na realidade, os juízes de menores aperceberam-se muito depressa de
que numerosos requerimentos eram reveladores de uma/carência mais imputável à família
do que à própria/ personalidade da criança. Por vezes, inclusive, o pedido de correcção
paterna era apenas motivado pela profunda imoralidade dos pais, desejosos de se
desembaraçarem da criança. Ainda mais frequentemente, verificou-se que a indisciplina do
menor tem origem quer na autoridade abusiva dos/pais, quer pelo contrário na ausência
total de uma autoridade firmemente/ educativa. Diante de tais situações os juizes preferem
aproveitar a ocasião que se lhes depara de agir sobre as duas gerações. Ao,filho,
esforçam-se por mostrar as vantagens de uma submissão livremente consentida; aos pais, a
necessidade de compreenderem
0 seu filho antes de o/punirem, e a necessidade que, no fundo, o adol~nte experimenta de
se sentir protegido de si mesmo.
INC

INCONSCIENTE (Mecanismo de defesa) [(Inconscient (mécanisme d,

défense)/Unconscious (defense mechaniam)]

Mais do que uma crise, a/adolescência é uma fase de evolução importante da/afectividade, e
esta evolução nã o deixa de causar algumas perturbações no psiquismo do adolescente. 0
adolescente responde a estas perturbações por mecanismos de defesa inconscientes,
destinados a eliminar o sentimento de insegurança gerado pelas perturbações.

Negação da realidade. Quantas vezes o adolescente não irrita o adulto com uma /,`
mentira tão grosseira que parece uma provocação pura e simples! Afinal, a maior parte das
vezes, esta mentira corresponde a uma espécie de/rito mágico que apaga a realidade no
que ela tem de doloroso. Um exemplo: o adolescente surpreendido em flagrante delito
de / batotice num/ exame apressa-se a negar tudo rasgando a «cábula» que tem nas mãos.
Ele crê literalmente lavar-se da sua falta «extinguindo» o delito pela magia da negação.

Projecção. Mecanismo psíquico que consiste em atribuir aos outros sentimentos intoleráveis
em si próprio. Assim, o adolescente, consciente da sua própria fraqueza diante de outrem,
prefere considerar todos os adultos como «batoteiros» com os quais é impossível dialogar.

Recalcamento. 0/;<recalcamento tem a finalidade de suprimir pensamentos desagradáveis,


fazendo-os desaparecer da consciência. Mas os pensamentos subsistem no inconsciente,
ameaçando a todo o momento transpor a frágil barreira do recalcamento. 0 recalcamento
incide frequentemente sobre os problemas da/sexualidade, cujos novos impulsos se
entrechocam com os interditos instaurados desde a infância.

Rituall;< obsessional. 0 ritual obsessional é destinado a esconjurar a compulsãoe. Trata-se


de/condutas impostas pelo inconsciente e compuisão. ter para tornarem
irreconheciveis tendências julgadas incompatíveis de um sujeito ata@

neurose obsessioni com a/personalídade. repetir certos actc

Um exemplo: a rapariga que lava as mãos a todo o momento obe-


rituais, desprovido., utilidade e

de just dece a um rito obsessional que visa apagar a eventual mácula das suas tendências
libidinosas.

Reacção deldemissão. 0 adolescente que experimenta um intenso sentimento de


impotência para assumir a/ responsabilidade de si mesmo pode escolher abdicar: tudo lhe
parecerá aceitável com a condição de não ter de decidir ele próprio o seu futuro. Esta
escolha
294

é inconsciente e por isso mesmo traumatizante, tanto mais que até as pessoas mais íntimas
se deixam muitas vezes iludir pela aparente docilidade do adolescente «demissionário», a
qual é de facto uma forma de/passividade que pode transformar-se numa/apatia
caracterizada se não se tomarem providências.

Sentimento de culpabilidade. É a/reacção inversa da precedente. Tudo o que diz respeito


ao adolescente e à sua esfera imediata lhe parece depender da sua própria responsabilidade.
Osopais são ainda julgados modelos perfeitos e como tal incapazes de ser causa da mais
pequena perturbação. Logo, qualquer dissensão familiar só pode ser devida ao adolescente.
Este condena-se assim à autopunição. 0 sentimento de/ culpabilidade é - como vimos -
diferente do sentido da falta, já que este último implica a consciência de uma falta
realmente cometida. 0 sentimento de culpabilidade não passa de uma maneira aleatória e
um pouco desesperada de resolver uma situação/ conflítual com o círculo de convivência.
Mas esta tendência para a autopunição, que conduz à procura de uma/puniçâo cujo efeito
liberte do peso da falta imaginária, pode por seu turno provocar um conflito inextricável
cuja única saída parece ser a fuga ou por vezes o/suicídio.

Compensação e supercompensação. 0 adolescente, consciente de certas fraquezas, pode


tentar atenuá-las por meio de um processo de compensação inconsciente: por exemplo, se
as suas faculdades /intelectuais lhe parecem limitadas, ele terá tendência a valorizar ao
máximo as suas possibilidades físicas. Trata-se portanto de um mecanismo tendente a
estabelecer um princípio de equilíbrio análogo ao dos vasos comunicantes. Não se pode
dizer exactamente o mesmo do mecanismo da supercompensação. Este visa sempre
compensar uma inferioridade real ou imaginária, mas valorizando exageradamente as
próprias realidades que essa fraqueza proíbe. Os jornais não se coíbem de exaltar os
méritos de certo campeão olímpico cuja infância foi afectada pela poliomielite e que
supercompensou a paralisia inicial batendo records. Tais exemplos parecera incentivos à
supercompensação. Na verdade, afigura-se mais prudente abstermo~nos deles, pois os
fracassos sã o infinitamente mais frequentes do que os êxitos e arriscam-se a conduzir a
um agravamento da situação inicial.

10posição. Trata-se de uma/atitude de recusa diante de certas exigências famíliares. Ela é


muitas vezes o reflexo de um/conflíto interior mal resolvído: por exemplo, o adolescente
vítima da dissociação pode remeter-se a uma atitude de oposição que exprime a o Porot e
Seux: sua desordem interior. Segundo Porot e Seuxo, esta atitude «é par- les Adolescents

parmi

nous (Fiammarion, Paris, ticularmente frequente no adolescente. Exacerbada, a reacção de 1967). p. 98.
IND

oposição conduz às/fugas, aos/roubos, à/preguiça sistemática, /comportamentos que dão


evidentemente origem a medidas disciplinares da parte dos,/ pais e dos professores e que,
infelizmente, intensificam a atitude da criança e conduzem muitas vezes a situações
insolúveis: a oposição é era geral mal conhecida pelos/educadores, os quais só vêem nela
má vontade; menosprezada por ser mal conhecida, ela pode ocasionar erros/ pedagógicos
consideráveis».

Regressão. A/atitude de regressão consiste num/desejo inconsciente de voltar ao estádio,-


”< infantil. A/adolescencia é o momento em que a criança deve de certo modo tomar
conta de si, assumir a ,$responsabilidade por si mesma. Não é sem pena que ela se
distancia da quietude familiar e das doces violências da obediência. Para algumas, isto
constitui mesmo uma prova insuperável e todo o comportamento se mostra impregnado
de uma vontade inconsciente de voltar atrás.

A manifestação mais conhecida deste sentimento é o reaparecimento da sucção do polegar


na adolescência. Mas há muitas outras que, por serem ignoradas, conduzem a erros/
educativos. Erros lamentáveis visto que são facilmente evitáveis, pelo menos na medida em
que os pais se recusarem a entrar num/jogo que os lisonjeia: de facto, o adolescente que
revela uma tendência para a regressão comporta-se relativamente aos pais como se nada
tivesse mudado desde a infância;/ atento e submisso, dá a impressão de que a tarefa
educativa foi perfeitamente realizada. «Ele não é dos que erguem barricadas», pensam,
enternecidos, os autores dos seus dias. Encorajado pela aprovação dos pais, um tal
adolescente alarga todos os dias um pouco mais o fosso que o separa dos que escolheram
o caminho normal e mais difícil da adultização. Arrisca-se assim a permanecer uma eterna
criança, incapaz de conduzir sozinho a sua barca no meio dos obstáculos da vida. No
contexto particular da adolescência, o inconsciente desempenha, po s, um papel importante
que se acha hoje assaz claramente definido, permitindo assim eliminar uma das causas mais
frequentes de/angústia no adolescente: a incompreensão dos adultos.

INDEPENDÊNCIA ([ndápondancelíndependence) páginas 288,410.414.


0problema da/ reivindicação de independência coloca-se constantemente em termos
de/conflito, devido à ambiguidade do estatuto adolescente. «0 adolescente desliga-se da
pressão que o,/meio representa porque quer ser livre e tem razão para o querer ser. Deseja
separar-se dele porque não apreendeu ainda o sentido dos seus apelos. Dilacerado entre
uma independência que tem e não tem, entre
296

uma dependência que tem e já não tem, ele é um errante: um Cristóvão Colombo (adulto)
sem América (criança) como tão bem disse Papini»*. É sabido que as reivindicações de
independência se # Deconchy:
Ia Dóveloppement fazem acompanhar de/violências. Mas resta acrescentar que OS psychologique

de 1'enfant exutórios da adolescência são à medida das/aspirações do adulto. et de 1'adolescent (Ed.

ouvrières, Paris, 1966), Houve uma época em que este exutório era nacionalista e conduzia p.
190ao alistamento e à exaltação da Pátria. Mais tarde, em muitos países europeus,/ bandos
de adolescentes procediam a devastações nas cidades. Hoje a juventude entusiasma-se a
ouvir cantores de língua inglesa: osIffippies imbuíram-na de um pacifismo todo em melodia.
Entretanto, houve a contestação estudantil. Da defesa à/agressividade não vai senão um
passo que se dá rapidamente. Mas o adolescente é como um animal amedrontado: quando
ataca, julgam-no mau. Ora, ele só ataca porque tem/medo, porque se sente fraco ante o
adulto seguro de si. E não é capaz de se persuadir de que ser forte não significa
automaticamente esmagar.

0 que importa para resolver os conflitos assim criados, é tentar


- depois de reprin-úr os excessos - compreender. Então a vontade de independência dos
adolescentes surge como a vontade de construir um eu forte sobre fundamentos sólidos.
Compete aos/pais e aos/educadores canalizar esta vontade e as energias que ela põe em
jogo para ideais susceptíveis de ajudarem o adolescente a manifestar o seu/gosto pela
independência, sem prejudicar a coesão /social e/famifiar.

INFANTILISMO (Infantilisme/infantilism) páginas 244.248.312.496.


Para o especialista, o infantilismo corresponde a uma noção/morfológica. 0 infantilismo
caracteriza-se por uma paragem de/desenvolvimeinto físico. No plano sexual, em
particular, observa-se um atraso na formação dos órgãos genitais, que se mostram então
semelhantes aos de uma criança, e a ausência dos caracteres/ sexuais secundários:
pilosidade, seios, voz, etc.

Quando é de origem glandular, o infantilismo não deixa de ter repercussão na vida


psíquica:
- o infantilismo tireoidiano é acompanhado de torpor cerebral; -o infantilismo hipofisário é
gerador de/ debilidade mental ... Mas há casos em que o infantilismo permanece puramente
morfológico.
0 sujeito conserva todas as suas faculdades mentais e as suas proporções continuam
harmoniosas. Z

lin!@agem corrente, o infantilismo é sobretudo psíquico, cond/ind em aquilo a que o


especialista dá o nome de/puerifismoe. o ver esta palavra.
INF

INFERIORIDADE FISICA (Inférioritá physique/Physical handicap) Página ic

A inferioridade física é penosamente sentida pelo adolescente. Ela leva-o muitas vezes a
desvalorizar-se a si mesmo noutros domi. nios. Este facto foi provado por numerosas
experiências* que inci- 0 Ver «Maturidade» diam sobre sujeitos fisicamente imaturos.

Nos rapazes que conservam uni físico de menino observa-se designadamente a ausência de
combatividade, tanto no domínio social como no escolar. No plano/ intelectual, registam- se
importantes atrasos. Tudo se passa, nos casos de inferioridade física, como se o adolescente
renunciasse à/ maturidade, julgada inaceitável. 0 que é ainda mais grave, a pseudo-
/homossexualidade de certos adolescentes não tem outra origem além desta. A efeminação
física no contexto da irrupção sexual/ pubertária faz deles presas fáceis. 0 rapaz pode então
crer-se/ perverso unicamente porque foi pervertido.

Nas raparigas cujas/regras são tardias, verifica-se sobretudo a ausência de qualquer/


coquetismo e a falta de influência sobre as /.”colegas num grupo ou na aula. Desesperando
de agradar, estas adolescentes chegam por vezes a abdicar de qualquer pretensão, mesmo
no plano intelectual. 0 traumatismo assim criado pode ter consequências mesmo depois de a
inferioridade ter desaparecido. A rapariga, tardiamente desabrochada, apercebe-se de súbito
de que tem possibilidades idênticas às das companheiras que invejava. A partir daí o
sucesso inebria-a a ponto de a levar a perder todo o controle. Seguem-se desilusões
sentimentais, ou até gravidezes prematuras.

A atitude dos pais É por conseguinte importante que os/pais vigiem atentamente a
evolução física dos seus filhos, e se preservem, ao descobrir qualquer dificuldade, de
tornar dramática uma situação que os adolescentes já têm demasiada tendência a julgar
sem saída. Mais do que nunca o diálogo é indispensável para restabelecer um equilíbrio
comprometido e sobretudo para romper a solidão em que tende a fechar-se o adolescente
no caso de uma inferioridade física.

INIBIÇÃO (Inhibition/Inhibition) páginas 105, 122, 473, 489.


Do latim inhibere, «parar», «reter», a inibição é um fenômeno Psícofisiológico que permite
de certo modo à/personalidade ajustar-se à/sociedade em função dos imperativos morais.
Importa distinguir entre a inibição excessiva, por exemplo o medo paralisante que bloqueia
as faculdades intelectuais, e a inibição normal que é um freio necessário que permite
a/adaptação ao
298

/meio fazendo unia selecção entre os acessos instintivos. Certos /;<perversos


ou/delinquentes sofrem de um desarranjo ou de uma ausência das/capacidades normais de
inibição.

INSOLÊNCIA (Insolence/Insolence) páginas 288,425.


A insolência é uma/ atitude frequente na adolescência. Ela dirige-se a maior parte das vezes
aos/pais e/educadores. Estes, de facto, representam a/autoridade contra a qual o
adolescente experimenta a/necessidade de se insurgir para se afirmar. Por muito
repreensível que seja, a insolência deve sempre ser considerada como uma prova de
fraqueza e de insegurança. Assim, não é aconselhável que a,,;,Ipunição se faça alguma vez
acompanhar de ressentimentos. Em vez de restabelecerem a/autoridade, eles limitar-se-iam
a comprometê-la colocando em pé de igualdade o insolente e o ofendido. Ora não é isto o
que o adolescente procura. A insolência, longe de contestar a autoridade, é o
reconhecimento desta, na medida em que entende ser sinal de desrespeito para com um
superior.

INSTABILIDADE (Instabilitó/lnstability) páginas 52, 108,166.


Robin descreve assim o instável: «É o movimento perpétuo, o mexelhão, a criança que
tem bicho-carpinteiro. Na/família e na /escola, o instável manifesta a sua instabilidade
através de balanceamentos anárquicos, agitaçã o, bater de pés, mexida em todos os
objectos ao alcance da mão, caretas, mastigação, chalreada, tagarelice incoercível.»*
e Robin: les Difficultés
Na escola, o instável é incapaz de fixar demoradamente a sua
scolaires de l'enfant (P.U.F., Paris, 1962).
PP- 90-91- /atenção num mesmo exercício ou numa lição. Apesar disso, ele tem rasgos
de compreensão: mas revela-se impotente para dominar os seus conhecimentos a fim de
elaborar um texto coerente -salvo todavia se o tema proposto deixa uma grande /liberdade
de composição: o instável demonstra então reais qualidades/ intelectuais. No instante a
seguir, a sua incapacidade para responder, junta a uma mímica involuntária, fá-lo tomar por
um insolente /Preguiçoso. Como ele perturba constantemente a aula, está sempre a arriscar-
se a ser posto na rua. As discordâncias assinaladas no domínio intelectual reencontram-se
na /conduta/ afectiva. A impossibilidade de assentar os seus próprios sentimentos torna
qualquer/ comunicação difícil. É por este motivo que certos autores pretenderam ver na
instabilidade a Marca de UM/CaráCter. Na realidade, como
mostraram em particular os trabalhos de Baruk e de Wallon, a instabilidade é de origem
psicoInOtora, 0 que signífica existir interacção entre o carácter e a per-
INT

turbação somática, devida a uma irregularidade do sistema nervoso frequente na


/adolescência.

Por vezes a instabilidade do adolescente é apenas aparente, ou seja, ela não corresponde a
um desarranjo funcional autêntico, mas antes a uma falta de organização interior.
A/personalidade ainda frágil pode parecer instável porque faltam os critérios de uma
escolha difícil entre/ necessidades contrárias. Ela verifica-se amiúde em adolescentes muito/
inteligentes que se obrigam a um enorme controle de si mesmos.

A medicaçjo usual contentava-se outrora com barbitúricos e tranquilizantes, o que equivalia


a suprimir os efeitos (movimentos incontrolados, agitação incessante, tagarelice), mas não a
causa. Hoje os médicos prescrevem vitaminas BI e B 12 que alimentam o sistema nervoso
deficiente.

Do ponto de vista lpedagógico, é aconselhado não tratar com aspereza o aluno instável e
dar-lhe ocasião de se exprimir em trabalhos livres que não exijam demasiada coordenação,
em vez de insistir nas insuficiências de que ele tem mais consciência do que ninguém.

INTELECTUALISMO (intellectualisme/intellectualism) páginas 14,167.340.452.


Podemos observar em certos adolescentes uma acentuada recrudescência da/,<actividade
intelectual. Por volta dos 12 anos o gosto pelo concreto pode ser progressivamente
substituído por um interesse exagerado pela abstracção e por problemas que ponham em
jogo um amplo leque de actividades humanas. «Somos impressionados pela abertura
e/independência do seu espírito, pela sua simpatia humana, pela sua compreensão e
ponderação.»* Rouart:

Mas o/comportamento de tais adolescentes está por vezes longe puberté et de l*adoles
Ia Psychopethologie

de concordar com as atitudes intelectuais que eles pro (P.U.F., Paris. 1954:

clamam: P. 68. mostram-se facilmente grosseiros para com os seus íntimos quando afinal
professam uma simpatia compreensiva em relação a todos os outros seres humanos. Do
mesmo modo, contrastando com a sua confessada concepção de u@n/amor idealmente
puro e sincero, eles demonstram uma/cínica infidelidade para com aquelas que se deixarem
prender pelas suas belas palavras. Tais casos não derivam de uma hipocrisia caracterizada,
mas de uma tentativa para dominar pulsões instintivas que inquietam. Ao contrário do que
se passa no/ascetismo, o adolescente não foge diante da maré dos novos/desejos: enfrenta-
os, mas de tal maneira que o embate tem lugar em terreno escolhido. «Na medida em que
situa as suas pulsões no plano intelectual, o adolescente tenta dominá-las e levá-las para uni
nível diferente.»* 9 Rouart: ob. cit.,
302

tiva não pode senão contribuir para amplificar as perturbações ligadas à vida em internato.
Seria contudo simplista reduzir apenas a estes aspectos desfavoráveis um modo de vida
que teríamos então de assimilar a um universo concentracionário. Importa sublinhar os
possíveis escolhos para compreender melhor a mentalidade de um adolescente interno. Mas
a vida em internato oferece a vantagem de uma vida comunitária adequada à/aprendizagem
da vida em/sociedade. É por esta razão que André Ferréo pôde escrever:
0 A. Ferré: Psychológio «Os que se adaptam melhor são os que tiram partido da se -
de 1'enfant. «Les rnilieux

paraçao da/família, aceitam o colégio interno como um cenário satisfa-


scolaires» (C.P.M.I..
Armand Colin. Paris, tório da sua vida e encontram aí a ocasião de se afirmar, de triunflar, 1967), p. 239.

de dominar: nestes, o espírito de corpo, o espírito de escola, prevalece sobre o sentido


familiar. Seja qual for o seu modo de/reacção, as crianças em internato parecem menos/
confiantes, menos crédulas do que as outras da mesma idade, mais acauteladas com os seus
arrebatamentos, menos prontas a modelar a realidadade à imagem do seu/desejo,
mais expeditas, mais senhoras das suas /-'emoções; em suma, precocemente/ virilizadas.»
Conselhos práticos Logo, se o internato é uma prova real, esta prova é muito
enriquecedora no caso de ser superada. Para tal, convém dar ao adolescente o máximo de
trunfos. Alguns conselhos práticos facilitarão esta delicada tarefa aos/,,pais hesitantes e
desejosos de assegurarem o melhor possível o/futuro dos seus filhosq: Q

EncycIopédia des

parentes modernes-A escolha do estabelecimento. Longos trajectos demasiado fre- (C-A.1.-

Denoêi. Paris, quentes são uma causa de/fadiga. Será indispensável escolher um 1963), p. 308.

estabelecimento que não esteja muito afastado do domicílio.


- Os fins-de-semana. Quantos aos fins-de-semana, velar por que o aluno interno conserve o
seu/ quarto, a fim de sentir que, mesmo ausente, o seu lugar na família não mudou. É até
aconselhado tornar esse quarto mais acolhedor: deve ser pintado, as colchas e as cortinas
substituídas. A cor e os tecidos serão escolhidos com o interessado a fim de que ele se
ache num ambiente a seu gosto. -0/ vestuário. 0 interno usa algumas vezes um uniforme. É
bom que ao voltar a casa ele possa tirar o seu traje de colégio e vestir-se como os seus
irmãos e irmãs. Isto ajudá-lo-á a compreender que não é tratado de maneira diferente deles.

INTROSPECÇÃO Ontrospection/lntrospection) páginas 155, 364, 407.


A introspecção (do latim intro, «no interior de», e spectare, «olhar») é o exame da nossa
própria vida interior.
0/adolescente, pela aquisição da abstracção intelectual, passa a ter acesso à vida interior.
A introspecção é tanto mais frequente
quanto ela vai ao encontro de uma das tendências naturais e fundamentais desta idade:
o/narcisismo. A introspecção surge ao adolescente como um brinquedo novo que ele
utiliza de boa vontade, e também como um meio de se conhecer. A tendência para a
introspecção liga-se muitas vezes a uma/necessidade de se tranquilizar a si mesmo, sobre
aquilo que se é e sobre aquilo que os outros julgam que somos. É por isso que,
na/discussão, o adolescente procura mais escutar-se a si mesmo, falar, do que
verdadeiramente dialogar com os seus interlocutores.
304

JOGO (Jeu/Game) páginas 9, 13, 411.

Um inquérito de Lehman e Witty* põe em realce «a redução pro- e Origlia e Ouillon:


gressiva da actividade lúdica com a idade». 0 número médio dos l'Adolescent (E.S.F., jogos a

que os adolescentes se entregam está em regressão muito Paris, 1968). p. 151.

nítida em relação à infância: 44 jogos aos 7 anos e meio, 28 aos


14 anos e 25 aos 19 anos e meio. Porém, se bem que o número de jogos diminua,
seríamos tentados a dizer que o número de horas consagradas ao jogo aumenta. De facto,
se o jogo imita frequentemente a realidade, ele pode igualmente ser um meio de a rodear,
ou seja, graças ao seu valor mágico, de a fazer aparecer diferente daquilo que é.
0 adolescente terá tendência a representar a sua/ adolescência. Por exemplo, como as suas
faculdades dialécticas aumentam consideravelmente, tomará de boa vontade parte em/
discussões onde, por simples/prazer de exercer as suas novas possibilidades, defenderá de
maneira retórica esta ou aquela posição. Uma tal tendência encontra-se favorecida
pelo/jogo escolar que é a dissertação: a tomada de posição que se pede assim ao
adolescente não tem carácter autêntico nem pessoal, devendo, isso sim, resultar da síntese
mais ou menos conseguida das ideias recebidas. Do mesmo modo, o adolescente
representa o papel de adulto; é por isso que ele se apaixona naturalmente pela condução
automóvel. Conhece os grandes campeões, as marcas de/automóveis e as taxas de
consumo, mas não adquire no entanto o gosto pela mecânica. Representa o papel de
apaixonado, brinca aos Don Juan. A adolescente imita as stars, esforça-se por copiar as
suas/-<atitudes e os seus sentimentos.
0 adolescente, ainda mais frequentemente, pode desempenhar o seu próprio papel. Tudo
se passa como se ele se representasse a si mesmo em cena. Para tal basta-lhe referir-se à
imagem do adolescente-tipo que lhe propõem os diversos meios de informação a que tem
acesso: /rádio,/ televisão, livros, etc. A atracção pela /leitura é um indício mani to deste
estado lúdico. Razão pela qual os livros que tratam da «condição humana» exercem em
geral
JUI

uma atracção tanto maior quanto o adolescente sabe que eles ainda lhe não dizem
directamente respeito. É importante notar que as manifestações lúdicas da/adolescência
têm muitas vezes origem numa organização estruturada pelos adultos: se lhe propõem um
campo de jogos, ele apressar-se-á a agarrar a ocasião que lhe é oferecida. Mas, por sua
própria iniciativa, o adolescente joga pouco ou mal. Certos educadores observaram assim
que os recreios ditos «livres» se transformavam facilmente em algazarra. Segundo o doutor
Schneersono, a algazarra é reveladora # Dr. Schneerson:

das/tensões anormais sequentes à/actividade lúdica, mais do renfant (P.U.F.. Paris que
Jeu et nervosité che;

uma/reacção de/agressividade. A tal ponto que, como fez 1954), P. 101. notar

Volpicelli, na U.R.S.S. o governo tentou várias vezes instaurar um regime escolar donde
estivessem excluídas todas as ocasiões de jogo. Um tal regime nunca entrou em vigor
porque o jogo - se bem que desvie da realidade ou favoreça a agressividade -

é a expressão de uma/necessidade profunda, inerente à natureza humana, no mesmo plano


que o sonho, do qual ele é por assim dizer o equivalente acordado. 0 jogo, à semelhança do
sonho, é libertador: ele assegura ao adolescente uma margem de/liberdade relativamente ao
adulto -que não é incluído no jogo e que não deve procurar entrar nele- e relativamente a si
mesmo e às suas tensões interiores.

JUíZO (Jugement/Judgment) páginas 9.353.

0 juízo do adolescente é frequentemente demasiado inteiro e por

isso indispõe o adulto que teve tempo de adquirir o sentido do relativo. Para compreender
o processo intelectual donde brotam estes juízos sem matizes, é bom ter presente a situação
particular do adolescente. Este, a fim de adquirir a autonomia adulta, deve escapar às
ideias feitas que lhe inculcaram. Mas para tal faltam-lhe experiência e conhecimentos. A
sua/ personalidade parece-lhe bastante fraca ante os adultos que ele deve então enfrentar
para afirmar essa mesma personalidade. Além disso, o adolescente adquire na/puberdade o
gozo de uma nova faculdade: a abstracção intelectual, para cujo uso e abuso ele mostra
tendência. Enfim, o adolescente, no momento em que se descobre diferente do seu meio
enquanto individualidade, quer-se original. Esta necessidade tão profunda como
inconsciente impele-o por vezes a contradizer-se. Das três componentes apontadas:
fraqueza diante do adulto que gera em compensação uma segurança factícia,
/prazer propriamente dialéctico e necessidade de originalidade, resultam tomadas de
posição sem apelo seja qual for o assunto abordado.
0 adulto deve saber esquecer a compreensível irritação criada por esta aparente fatuidade,
pois trata-se no fundo dê um sinal de vita-
PA-2o
306

lidade. 0 adolescente que não critica nada nem ninguém carece provavelmente de
dinamismo ou de,,,< inteligência. Acrescentemos no entanto que a crítica excessiva pode
igualmente esconder uma falta de personalidade autêntica. A melhor/,, atitude a adoptar
consiste em não conceder demasiada importância a estes juizos categóricos e sobretudo
em não os meter a ridículo. Convém manter um/ comportamento malcável evitando
acolher tais declarações com uma/atenção exagerada ou uma desenvolta indiferença.

LEITURA (Lectura/Reading) Páginas 113.548. 550.


A leitura é a interpretação visual de sinais convencionais escritos e reunidos em palavras.
É actualmente o instrumento de/ cultura e de informação ao mesmo tempo mais cómodo
(os livros e jornais estorvam pouco) e mais eficaz (um aluno nunca poderá ouvir mais de
9000 palavras durante uma hora de aula, ao passo que é capaz de ler no mesmo lapso de
tempo pelo menos 27 000, ou seja, três vezes mais).

Aprende-se a ler em qualquer idade Os diversos inquéritos efectuados sobre este assunto*
mostram o Um inquérito do
que o interesse dos adolescentes pela leitura é em geral muito grande. 22%‟ dos
I.F.0 P. revela que para
adolescentes a Mas se há alguns que lêem vários livros por semana, outros pelo l@itura é (a seguir
ao

contrário não lêem um único. Entre estes últimos, são numerosos


cinema, 25 %) a distracção preferida.

aqueles que carecem não de interesse, mas daquilo a que poderíamos dar o nome de
«saber ler». De facto, como qualquer decifração, a leitura pressupõe a aquisição de
automatismos ao nível motor (os olhos fixam um grupo de letras ou de palavras, depois
deslocam-se para fixar um outro grupo e assim sucessivamente) e ao nível/ intelectual
(compreensão do grupo considerado). Se por uma ou por outra razão -/dislexia,
desadaptação do método de/ensino- esta aquisição não for perfeita, a velocidade de leitura
diminui e ler torna-se um exercício fastidioso e penoso. Mas a cura de tais formas de
dislexia passou desde há pouco a ser coisa corrente; demais, os cursos de leitura rápida*
permitem a um leitor hesitante tornar-se eficaz e por con- F. Richaudeau. M. e seguinte

assíduo. ? Gauquelin: Máthode de

adolementu e a leitura
lecture repide (C.E.P.L., Paris); ver Os «os te mpos
livres». Num in~to recente sobre os/tempos livres dos adolescentes*, 0 Ver o artigo a
leitura, é cita& em segunda posição. Isto não deixará de surpreen- «”‟ tampos livres». der
~<M que pensam que a imagem ocupa um lugar cada vez mais aÇamba~or, que
a/televisão e o/cinema matam a/cultura intel~.- Na verdade, dois factores influíram na
inversão da tendência para a imagem que se encetara há alguns anos. -A televisão pi~ o
prestígio Mágico que a novidade lhe con-
feria. Actualmente, os adolescentes têm, desde a infância, a possibilidade de um convívio
semanal e por vezes quotidiano com o pequeno écran, e já nada é capaz de os espantar.
Além disso, a televisão passou a ser - apesar de tudo o que se possa julgar -

um fenómeno essencialmente familiar. Ora o adolescente sofre uma metamorfose que o


impele a procurar fora dos quadros da infância alimento para o seu espírito.
- 0 livro de bolso, bastante criticado na altura do seu aparecimento pelos estetas, evoluiu
no sentido de uma constante melhoria, tanto na sua apresentação como no conteúdo dos
textos. Graças a isso, acha-se ao alcance de uma bolsa de adolescente toda uma gama de
livros que, sem razoáveis meios financeiros, seriam inabordáveis numa outra colecção.

As leituras prçferidas variam em função do sexo. As raparigas preferem em geral os livros


sentimentais, sobretudo durante o período situado entre a/puberdade propriamente dita e
a/maturidade.
0 perigo de idealizarem através desta ou daquela personagem o «príncipe encantado» que
as pedirá em,,,-, casamento arrisca-se a falsear posteriormente a concepção da vida
conjugal. Foram assim revelados certos temas/ idealistas deturpados no estudo efectuado
pelo doutor Paul Le Moal sobre as/prostitutas menores*. Os rapazes, esses, preferem os
livros onde são tratados os problemas da vida profissional. Também aqui é constante o
perigo de uma desrealização: os estudos feitos sobre a escolha de uma «vocação»
mostram que esta é muitas vezes a consequência de uma leitura mal compreendida onde se
não deu o desconto ao romanesco.

Um inquérito de G. Teindas e Y. Thireau pôs em dos adolescentes em matéria de


romances. Eis

1. Os gostos dos aprendizes

realce os gostos os resultados*:


0 G. Teindas e Y. Thireau: /à J dans /à famille et 14 Moderne (E.S.F.. F
1961). pp. 47 e 1

Géneros de livros Livros policiais Livros de aventuras Livros técnicos Livros sentimentais

14 anos
46
88
36
23

15 anos
45
57
40
38

16 anos
52
82
22
46

17 anos
74
78
30
53

Média
54
76
32
40

2. Os gostos dos

alunos de liceu

Géneros de livros Livros policiais Livros de aventuras Livros técnicos Romances

14 anos
39,1
85,2
37,4
42,2

15 anos
49,1
81
35,2
57

16 anos
52,2
74
39,6
63,6

17 anos
60,2
58,4
41,7
79,9

Média
40,5
71,5
40,2
50,7
308

Certos/hábitos novos no adolescente revelam uma tentativa de maturação. É assim que o


adolescente abandona sem custo os livros da sua infância. Não que ele já não goste deles,
mas parece-lhe /,<pueril conservá-los. Entra na idade em que se aprecia possuir só para si
certos livros preferidos: os pais têm então a certeza de agradar oferecendo livros de
qualidade.

Alguns conselhos
0 adolescente pode ter acesso à/biblioteca dos seus/pais? Vale mais, segundo parece, não
lhe proibir tal acesso sistematicamente. Este gesto seria considerado como um abuso e
conferiria aos livros interditos a atracçã o do fruto proibido. Importa ter confiança na
nova/maturidade do adolescente e explicar-lhe que certas leituras clandestinas não podem
ser realmente entendidas sem um determinado grau de maturidade e de experiência. «A
partir dos 16 anos de idade, deixa de ser indicado escolher as leituras do adolescente. Ele
sabe aquilo que quer. Segundo um referendo organizado pelas „juventudes literárias
francesas‟, os seus autores preferidos são actualmente: Saint-Exupéry, Cronin, Camus,
Claudel, Gide, Malraux, Mauriac, Maurois, Bernanos, Hemingway, Duhamel, Frison-
Roche, Sartre, Anouilh. «É inútil lançar a proibição sobre certas obras destes autores. Se o
adolescente decidiu lê-Ias, ele há-de lê-Ias. Convém ter muito tacto. Esforcemo-nos por
criar um clima de/confiança. Mantenhamo-nos ao corrente, lendo os livros de que ele gosta,
e em seguida discutamos francamente com ele.»*
L'Encyclopddle das

parents modernas (Culture@ Arts et Loisirs,

LIBERDADE (Libertá/Liberty) páginas 340.498.

Os adolescentes têm em geral uma visão idealista da liberdade, que aparece como uma
supressão de todos os constrangimentos.

Os caminhos da liberdade Para uns, a liberdade é o termo da/ escolaridade: há os que não
hesitam em interromper os seus estudos para ganharem algum /dinheiro e serem assim
«livres». Verificam-se muitos fracassos escolares voluntários que não têm outro objectivo
além do de forçarem os/pais a homologar uma decisão que se embeleza de motivos
idealistas: obedecer a uma «vocação», ser «útil». Em tais casos, importa que um adulto
bastante chegado se encarregue de desmascarar os motivos reais que arrastam o
adolescente por uma via utópica. Para outros, ser livre é libertar-se dos quadros da
infância: tudo o que lembra um passado volvido e encarado como uma alienação é
rejeitado: /família, sentimentos julgados «pueris» tais como a
Paris, 1965), p. 382.
LIN

ternura, etc. 0 rapaz quer-se resolutamente/,, viril e empenha-se para que nada tenha poder
sobre si. As raparigas chegadas a este estádio desejam que as considerem libertas. Elas
adoptam um/,'vestuário vistoso e ousado, uma/Xmaquilhagem,-, agressiva. Abstêm-se de
qualquer manifestação afectiva em família. Pouco lhes importa - tanto a uns como às outras
- serem julgados egoístas e duros. No fundo é mesmo o que eles procuram, pois
isso afigura-se-lhes ser a condição da liberdade.

No entanto há uma outra forma de liberdade que parece mais perigosa: a dos sentidos. 0
adolescente que atingiu uma certa/maturidade sexual tem dificuldade em compreender os
interditos sociais e morais que refreiam a sua libertação. As imagens publicitárias, uma
certa literatura, muitos filmes que não passam de uma pobre caricatura da/sexualidade
empurram-no por esse caminho. 0 adolescente procura então a experiência pela experiência
e arrisca-se a adquirir assim uma concepção falsa da sexualidade e do/amor. Melhor do que
conselhos, a imagem dos casais adultos, da sua convivência, e sobretudo dos/pais, pode
guiar o adolescente no sentido das responsabilidades livremente escolhidas.

De uma maneira geral, buscas de liberdade tão ilusórias são a consequência de uma/-
@'educação demasiado rigorosa ou demasiado branda. Com efeito, em ambos os casos, o
adolescente sente menos a necessidade da liberdade do que o/desejo de se assumir como
indivíduo diferente dos adultos que lhe impõem uma educação /inadaptada criando um
clima de insegurança: ele procura então subtrair-se a estas influências traumatizantes e dá
a tal retirada o nome de «liberdade».

LINFATISMO (Lymphatisme/Lymphatism)

Do latim l~ha, «água clara». Na sua acepção clássica, «linfatismo» designa uma categoria
tipológica* de indivíduos de tendência obesa, unicamente preocupados 9 lasi

da. lipologlai, C em satisfazer necessidades vegetativas. cpIlcpll . cate

Na sua acepção corrente, o termo aplica-se a uma certa moleza


de aracteres sob ángulo simultanear
simultaneamente mental e física. 0 linfático é antes de tudo aquele fisiológico o psicol
em que não existe qualquer dinamismo interior ou muscular. Em matéria/,< educativa, é
bom ter presente que um adolescente linfático necessitará sempre de que lhe insuflem o
dinamismo de que carece. E igualmente preciso diligenciar por determinar as causas dessa
moleza. Muitas vezes ela é apenas passageira: resulta de uma dificuldade momentânea em
assumir novos dados físicos tais como um importante ganho em altura ou peso.
310
LINGUAGEM (Langage/Languago) página 8o.

A linguagem enriquece-se notavelmente na/ adolescência. As novas faculdades de abstracção, o gosto natural pela/
intelectualidade e o prazer recente da dialéctica impelem o adolescente a utilizar palavras novas que lhe permite exprimir
sentimentos e sensações jamais experimentados.
0 adolescente e por vezes a adolescente falam em calão, espécie de código que possibilita a afirmação de uma/ personalidade
em plena renovaçã o. A necessidade de/oposição, por último, contribui não raro para a aquisição de palavras grosseiras cujo
emprego se supõe conferir um estatuto 1-4 viril.
0 desejo de originalidade é igualmente um factor de enriquecimento. Além disso, existe um/vocabulário jovem, graças ao
qual os adolescentes se reconhecem entre si: estas palavras-código seguem de perto certas/modas e caducam rapidamente.

LIVROS DE GRAVURAS (lilustrés/Pictures books) Página 55o.

A leitura dos livros de gravuras interessa sobretudo às crianças com menos de 14 anos. Eles apresentam, de facto,
personagens cuja/psicologia é delineada a traços largos. A intriga oferece a mesma facilidade e o leitor pode, em caso de
fadiga, dispensar-se de decifrar as legendas graças às quais as personagens estilizadas se exprimem numa/linguagem pouco
subtil. Por todas estas razões, o adolescente, em geral, troca rapidamente o livro de gravuras por/leituras mais aptas a abrirem-
lhe o mundo dos adultos. Os jovens que não conseguem ultrapassar a leitura dos comics revelam assim uma incapacidade
para abandonar o estádio /infantil. Convém que os/pais se inquietem com esta regressão.
MAE

MÃE (Mère/Mother) páginas 32, 57. 66, 117, 198, 273, 356. 361, 369.

A/família constitui para o adolescente um verdadeiro problema: por um lado, ela surge-lhe como um/meio que tende a mantê-
lo no estádio da infância que é necessário ultrapassar; por outro lado, constitui um terreno natural onde ele se acha enraizado.
Se, por conseguinte, ele parece rejeitá-la, é quase contra a sua vontade. Esta aparente contradição só pode resolver-se na
medida em que cada membro da família desempenha o papel que lhe compete. Entre estes papéis, o mais importante, mas
também o mais ambíguo, é o da mãe. A mãe de um adolescente deve manter um equilíbrio difícil: tem de dar tudo mas de
maneira a que isso nunca tome a feição de um investimento do qual se espera alguma rentabilidade imediata. Nem todas as
mães estão prontas a assumir este difícil papel que consiste em levar os adolescentes a separarem -se delas. Há as que tentam
compromissos e outras que se entregam conscientemente ou não a um trabalho de sapa sobre a/personalidade em gestação.
Todos estes/ comportamentos têm um único fim: salvaguardar uma parte da dependência
/infantil. Porot e Seux descreveram esta/atitude que está para o amor normal como a caricatura para o retrato: «Quem são estes
seres singulares capazes de fazer um tão mau uso de um sentimento tão natural? São em grande parte milhares de boa e
sobretudo de demasiado boa vontade: da jovem mãe que se orgulha do asseio prematuro do seu rebento à que desviriliza o seu
filho vai toda uma gama de tipos. A mãe que gosta excessivamente do seu filho é muitas vezes uma mulher mais possessiva do
que verdadeiramente tirânica. Exagerando o seu amor materno, ela desprende-se do marido e descura os seus deveres de
esposa. Pode ser também uma viúva que transfere para a sua descendência toda a afeição de que se acha privada por outro
lado.»* o Porot e seux:

les Adolescents Pari Um


exemplo típico de mãe superprotectora é dado por André Gide, (Fiammarion. Paris. que traça assim o
retrato de sua mãe: «Ela sentia-se cada vez mais p. 128. arrebatada pelo bem, buscando sempre algo melhor, e nunca
descansando na satisfação de si mesma. Não lhe bastava ser modesta:
312

trabalhava sem cessar para diminuir as suas imperfeições ou aquelas que surpreendia em
outrem. Enquanto meu pai foi vivo, tudo isto se fundia num grande/amor. 0 seu amor por
mim era sem dúvida quase tão grande, mas toda a submissão que ela professara por
meu/pai era agora a mim que a exigia.»* 0 receio de não fazer e A. Gide: Si le grain _ne meurt
(Gallimard. o suficiente provoca quase fatalmente o excesso inverso, e as con Pars, 1954), p. 169.

sequências são sempre de natureza a entravar o acesso da criança à autonomia afectiva.


Tudo se passa como se, neste caso, o amor materno estivesse ao serviço da mãe em vez
de estar ao serviço do filho. Certas formas muito subtis de desvio do instinto materno
podem então revelar-se tanto mais perniciosas quanto elas não são sentidas como tal nem
pela mãe nem pelo adolescente. É em particular o caso das mães que desejam a todo o
custo insuflar a vocação/religiosa no filho. Este/desejo comprovado pode esconder um
segundo desejo, mais profundo, de não ver o rapaz «pertencer a outra». A/adolescência
reactiva estes desvios do amor materno. As suas consequências são quase sempre
desastrosas: a/ homossexualidade de André Gide não tem provavelmente outra origem
além da /atitude de sua mãe a seu respeito.
0 rapaz, ainda que não esteja desvirilizado pelo amor abusivo, dificilmente considerará que
uma mulher é uma mulher, no sentido em que verá sempre nela em contraponto a imagem
de sua mãe. Entre a homossexualidade e a misoginia há toda uma escala de /reacções
anormais susceptíveis de se manifestarem. A rapariga nã o é muito mais favorecida: ela
arrisca-se a considerar-se, nas suas ulteriores/-‟ relações com o marido, como um objecto
de amor e não um sujeito, um interlocutor de pleno direito no diálogo amoroso. No
plano/sexual e no plano/afectivo, a criança mal amada está sujeita a um/infantilismo que a
impedirá de se tornar um adolescente, e a fortiori um adulto realizado. As mães devem
convencer-se de que só um amor sem esperança de correspondência é capaz de lhes
devolver, após a adolescência, um adulto que as venera.

MACkUILHAGEM (Maquiliage/Make-up) pâgina 309.

Nos últimos anos, as alunas mais crescidas dos estabelecimentos de/ensino secundário têm
sido autorizadas a pintar o rosto com cosméticos. Antes, a aluna maquilhada arriscava-se a
uma,,” sanção; considerava-se que dava «mau ambiente». De facto, a maior parte das vezes.
tratava-se quase de uma caracterização, frequentemente desastrada por ser apressada e
clandestina. É aliás manifesto que desde a suspensão do interdito os excessos anteriormente
verificados se atenuaram grandemente.
MAS

0 problema da maquilhagem Se uma dada reincidente persistia, há alguns anos, em


incorrer na reprovação geral, isso devia-se a alguma/ necessidade mais profunda que a de
atrair precocemente a,,11atenção dos homens. Na verdade, julga-se que - tal como o /@‟
tabaco para os rapazes a maquilhagem significa um/desejo de/maturidade nas raparigas.
Experiências levadas a cabo nos Estados Unidos junto de raparigas muito tardiamente
menstruadas vieram prová-lo: enquanto davam sinais muito nítidos de atraso, elas não
usavam qualquer maquilhagem. É pois desaconselhado proibir sistematicamente a
maquilhagem a uma adolescente que manifesta desejá-la; isto tanto mais quanto se tornou
hoje fácil guiá-la na sua escolha. Os fabricantes propõem, cada vez mais, produtos jovens
que têm a vantagem de preservar a frescura da epiderme ao mesmo tempo que valorizam a
estética do rosto.

MASOCLUISMO (Masochismo/Masochism) página 459.

Se o/ sadismo é a tendência para satisfazer o instinto sexual atra. vés do sofrimento de


outrem, o masoquismo é o encaminhamento dessa tendência contra o eu. Contudo,
afigura-se, segundo Freud, que importa ultrapassar esta noção. «A observação clínica
impusera-nos outrora uma maneira de ver de acordo com a qual o masoquismo seria
sadismo dirigido contra o eu. Mas a deslocação da tendência do objecto para o eu não
difere em princípio da sua orientação do eu para o objecto, orientação que nos surge
como um facto novo ... 0 masoquismo poder ser primário, facto que eu julgara dever
contestar no passado.»* e S. Freud: «Ai
Ou principe de pla
0 masoquismo seria então, no entender de Freud, uma fase ante- , n Essais de psyc) ríor ao
sadismo. Na/ adolescência, o masoquismo manifesta-se p. 6 3. amiúde sob a forma da

autopunição ou/desejo de atrair a si a hostilidade dos adultos para que a/punição incorrida
liberte uma /tensão interior sequente a um sentimento de/ culpabilidade. Uma outra forma
corrente de masoquismo é a vontade - no seguimento da crise de pseudo-originalidade - de
ser e permanecer incompreendido.

MASTURBAÇÃO (Masturbation/Masturbation)
páginas 36, 73, 134, 174. 186. 316. 367. 461. 462. 467. 469. 480.

Este termo vem do latim manus, «a mão», e turbare, «excitar». Designa uma excitação
manual dos órgãos genitais. Uma onda de reprovação cobre a masturbação, reputada
imoral ou/anormal. Ora, segundo certos psicólogos, cerca de 90%. dos adolescentes
masturbam-se; dever-se-ia então admitir que a imensa
314

maioria dos indivíduos da nossa/ sociedade têm - ou tiveram -

uni,,` comportamento/ sexual anormal. Na realidade, é preciso distingui- entre a


masturbação «de desenvolvimento» própria da primeira fase do/ desenvolvimento sexual
do adolescente* e aquela o Ver «Sexualidade». que, por ser excessiva, denuncia a presença de
perturbações de ordem psicológica, por exemplo o atolamento no mundo das imagens. A
psicanálise mostra que a estimulação motora se faz sempre acompanhar de uma
representação/ erótica (união sexual, órgãos genitais, etc.); pode acontecer que esta
representação - a princípio suporte da masturbação - se torne o elemento motor. A
excitação manual passa a ser apenas o meio da representação erótica.

Os métodos de cura A masturbação de desenvolvimento desaparece em geral por si


mesma quando o adolescente atinge o estádio da / heterossexualidade. Nos casos em que
a masturbação se -apresenta fundada em perturbações de ordem psicológica, importa
encontrar meios de cura. P. Mendousseo, cujo estudo da/adolescência se baseia na,,Ipsi-
1 P Mendousse:
cologia, preconiza uma terapêutica unicamente física: não deixar
19Á.e« de l'adolescent (P.U.F., Paris,
o adolescente nuni/quarto isolado, levá-lo a praticar desportos
1953), p. 25 e segs. que o

fatiguem saudavelmente, obrigá -lo a tomar duches frios. Esta terapêutica higiénica nem
sempre parece suficiente: convém, nos casos persistentes, suprimir a tendência e não apenas
recalcá-la, pois os riscos de/neurose são então grandes. Nos casos de/culpabilização, uma
explicação franca e detalhada -que custa quase tanto aos/pais como aos filhos- permite
muitas vezes uma rápida cura. É importante procurar situar a origem -
/;,religiosa, /-@ afectiva, etc.- da culpabilização. Quando a masturbação excessiva tem
como causa a nersistência de um fantasma, é evidente que se trata de descobrir o fantasma
motor. Mas isto é coisa que só o psicanalista pode fazer pelo processo da dissociação livre.
Ele pode também situar de forma precisa a causa da fixação patológica. Em muitos casos,
enfim, a masturbação tem como origem uma /carência afectiva: o breve bem-estar sentido
desta maneira aparece como uma compensação. De igual modo, um ,dolescente pode
vingar-se de um adulto transgredindo a interdição relativa às práticas solitárias. E isto tanto
mais facilmente quanto a masturbação é com frequência vida pelo adolescente como a
única/ actividade autónoma possível. Ele pode a~ assim uma necessidade de/independência
que nAo é satisfeita seja em que domínio for. Esta concepção insidioea conduz a um
refúgio em si mesmo que pode ir até à esquiZ0~. É nesta pff~va que se deve lutar contra a
masturbação do adolescente. Mais do que nunca, ele necessita de se sentir amparado
MAT

e compreendido: é para ele o único meio de impor a si próprio uma ascese por vezes
custosa. .

MATURIDADE (Maturité/Maturity) páginas 1 S. 16, 26, 78, 80, 126, 170. 187. 190, 285.

A maturidade é o momento em que um indivíduo atinge uma forma de/ desenvolvimento


completo, tanto do ponto de vista físico como psíquico. A noção de maturidade
subentende o acesso à autonomia pessoal, a qual não é sinónimo de retirada para dentro de
si, mas pelo contrário de descoberta e aceitação dos outros. Confunde-se com a integração
social, não só no domínio sexual (integração/afectividade-/ sexualidade: reconhecimento da
sexualidade enquanto relação interpessoal), mas também no domínio profissional (acesso a
um emprego que dê certas satisfações pecuniárias e/morais). Encontramos muitas vezes
uma concepção errónea da maturidade nos adolescentes: para muitos deles, maturidade é
sinónimo de /segurança. Eles suportam a sua adolescência pensando que, no dia em que
ela acabar, os problemas da vida se dissiparão magicamente. Com bastante frequência, este
erro não é objecto de qualquer desmentido: certos adultos preferem deixar acreditar que a
maturidade confere um estatuto de completo acabamento. Consciente ou
inconscientemente, pensam que a sua/autoridade junto dos adolescentes fica assim
aumentada. 0 que eles fazem, na realidade, é apenas preparar o terreno para ulteriores
perturbações ou, pelo menos, para uma imensa desilusão.

MEDO (Peur/Fear) Páginas 188,335.


Sentimento de temor provocado pela presença ou apreensão de um perigo. Desde a sua
mais tenra idade, a criança apresenta sinais de medo: este acha-se essencialmente ligado à/
socialização, o que significa tratar-se, antes de mais, de medo dos outros. Na/adolescência,
junta-se-lhe uma outra forma de medo: o de si próprio. Colocado em situação de/
responsabilidade, o adolescente desconfia de si: por reacção, adopta a máscara
da/agressividade ou da / insolência.

0 papel da/ educação A faculdade de medo do adolescente é, na maior parte dos casos, o
produto de uma educação demasiado rígida. 0 adolescente constrangido a temer desde
sempre os seus/pais, os seus vigilantes, os seus professores, as/sanções, é condenado a um
eterno/infantilismo. A sua maturação fica pelo menos fortemente comprometida.
316

Certos adolescentes declaram gostar dos filmes de terror, dos ,,,,fdesportos perigosos, em
suma, de tudo o que «mete medo». É que eles encontram assim vias para se libertarem,
graças à,,<projecção, do medo ligado ao estatuto do adolescente.

MEIO (MINeu/Environment) páginas 35.48,75.171.191.360.


*meio está para o indivíduo como a terra para as sementeiras.
* mesmo é dizer que, se com o mesmo grão se podem obter colheitas diferentes, o meio
pode moldar a/personalidade do indivíduo em função dos sistemas de,,Ivalores, dos ideais e
das regras de ,,xconduta, a que ele se submete. 0 meio é chamado a desempenhar um papel
determinante na adolescência, já que os/psicólogos modernos definem esta como um
período de inserção na vida ,1 social.

0 meio e a inteligência Didier Anzieu estudou a influência do meio sobre


o/desenvolvimento da /inteligência: «Examinadas pelo teste de Terman, as crianças
cujos/pais exercem uma profissão liberal têm um,,Iquociente intelectual médio de 116; os
filhos de jornaleiros e de operários não especializados, um Q.I.6 médio de 97; os filhos
dos cita- o W.: quociente
dinos obtêm um Q.l. médio de 105,7 e os filhos de camponeses,
intelectual. Segundo a curva de

Gauss, oQ.I. um Q.l. médio de 99,5. Dever-se-á concluir pela superioridade „ádio é de 100.

inata dos primeiros sobre os segundos? Seria ignorar a dispersão dos resultados. Os
melhores da classe pouco cultivada são capazes de fazer tanto como os melhores da classe
cultivada. Está portanto menos em causa a hereditariedade biológica do que a
hereditariedade social.»* e D. Anzieu:
1 Influence das rnilieux u A faculdade de abstracção intelectual é a mais determinada pelo «‟

c ltureis», in CaNers de meio: o adolescente que alcança este estádio intelectual é consi- Pádagogie
moderna . (Armand Colin, Paris, deravelmente ajudado pela sua/família, designadamente na aqui-

1967), p. 244. sição de um/vocabulário rico e na fluência verbal. Aquele que evolui em meio

menos/ intelectual terá, em contrapartida, muito mais dificuldade em elaborar conceitos.

Meio e sexual~
0 célebre relatório Kinsey pôs em evidência as mesmas diferenças no dominio
da/sexualidade. Se considerarmos os três níveis de instruÇão: primário, secundário e
superior, apercebemo-nos de que o número de jovens que tiveram relações sexuais pré-
conjugais é respectivamente de 85 %, 75 %, e 42 5/.. No que diz respeito à /nl~baÇão,
nota-se o seguinte: «Para as classes inferiores (ela) é um perversão, uma maneira
vergonhosa de substituir a cópula, um sinal de inadaptação social, um perigo de,,‟
desequi-
MEM

líbrio psíquico ... As ideias inversas caracterizam as classes ditas superiores.»#


e Idem. Vemos assim que as ideias/morais relativas à sexualidade do

adolescente podem estar ligadas a uma classe social.

* influência do meio e a psicologia do adolescente * influência do meio pôde ser estudada


em função da própria noção de adolescência, Cora efeito, cada civilização não concede a
mesma importância à psicologia da infância. Esta varia em função do estruturação interna
do meio. Foi Margaret Mead a primeira a descobrir que a adolescência não era em si um
fenômeno inevitavelmente atinente ao,,,@‟ desenvolvimento humano*. Os indígenas e
M. Mead: Rech6

das ilhas Samoa cujo/comportamento ela estudou ignoram esta


sur les enfents pfimi, t. 11;
crise a que se acostumou a mentalidade ocidental. É que tal SoCie- de ~chologie de h dade
Carichael: Ma

primitiva não «deixa nem escolha nem hesitação sobre o esta- (P U.F., Paris, 1963)

tudo do homem ou da mulher». Do mesmo modo ela concede plena/liberdade sexual ao


adolescente. Acha-se assim suprimido aquilo que causa mais dificuldades ao adolescente
europeu ou americano: o desfasamento entre a/maturidade biológica e a maturidade social,
gerador de uma incerteza fundamental quanto ao papel e ao estatuto que devem ser
assumidos ulteriormente. Percebe-se, por um lado, que o mais importante é a,,,<
aprendizagem de um papel, e, por outro lado, que a/família está muito especialmente
indicada para dirigir esta aprendizagem. Através do mecanismo natural das/relações
familiares, o adolescente aprende a cumprir o seu papel relativamente aos outros membros
da família, irmãos ou irmãs, pai ou/mãe, etc. Mas sobretudo o que conta é a capacidade de
dinamismo que ele colhe no meio familiar do qual recebe ao mesmo tempo o estímulo
necessário à busca da sua autonomia. As famílias captativas, intranquilizantes, refreiam
ou/inibem o impulso vital do adolescente, ainda que por outro lado sejam capazes de lhe
traçar uma via. Outros/pais consideram que a sua tarefa/ educativa está de qualquer
maneira subordinada às influências do meio. Façam o que fizerem, pensam eles, a criança
seguirá a via que lhe está traçada Pela/sociedade. Por este motivo deixam ao adolescente
toda a latitude para que ele desabroche sem entrave. É esquecer que a finalidade essencial
da educação é canalizar a energia/ adaptadora do adolescente e insuflar assim o dinamismo
indispensável a qualquer integração/ social.

M~RIA (Mámoiro/Memory) Páginas 170.193.


A memória, enquanto função psíquica que permite reviver o passado de uma certa
maneira, é apanágio do homem. Com efeito,
318

não se trata apenas de reviver certos estados de consciência, mas também de os reviver
como anteriores ao momento da memorização. A infância é a idade da memória
espontânea. A criança regista e retém sem/inibição e somos levados a concluir que ela
possui uma boa memória, por contraste com as pessoas idosas que a perdem. Na/
adolescência, em contrapartida, estas faculdades acham-se momentaneamente perturbadas
pela intrusão dos problemas específicos desta idade. Mas, ao contrário do que vulgarmente
se pensa, a memória propriamente dita permanece intacta: só o modo de gestão varia. «Por
volta dos 13 ou 14 anos, escreve R. Huberto, 6 R. Hubert: a maior parte dos
jovens mostram-se principalmente preocupados fa Croissance mentaté

em adquirir e incorporar dentro de si o maior número possível


IP.U.F.. Paris, 1949). i. li, p. 454. de

informações sobre esse mundo exterior abstracto que se abre a eles e em acostumar o seu
espírito ao manejo das relações que lhe asseguram a consistência. Daí uma necessidade
de aprender, uma alegria de conhecer, que, como diz Maurice Debesse, tem algo de
dionisíaco. Ao mesmo tempo a memória progride, no sentido em que o seu conteúdo é
mais rico e melhor ordenado. 0 adolescente selecciona e organiza as suas recordações para
as pôr de acordo com a sua nova/ personalidade> A memória enquanto função de
aquisição/ intelectual coloca um problema aos adolescentes em idade escolar. É por isso
que a «falta de memória» é amiúde adiantada para desculpar ou explicar um fracasso
escolar. Mas trata-se apenas de uma desculpa e de uma explicação de vistas curtas, pois a
função puramente mnemónica é raramente a única a estar em causa. Há de facto uma
conexão demasiado estreita entre/ capacidade nmemónica e vida psíquica para que se possa
pensar em isolar uma da outra. Logo, se se verificarem casos autênticos de memória
enfraquecida, convém antes de mais diligenciar por encontrar as causas/ psicológicas que
estão na sua origem. Na /adolescência, as causas mais frequentes estão ligadas à excessiva
concentração em si: o real é então demasiado pouco «vivido» para poder ser integrado. Ora
a concentração em si mesmo é na maior parte dos casos a consequência de uma insatisfaçã
o / afectiva.

MENSTRUAÇÃO (Menstruation/Menstruation) ver páginas 174.229.458.459.460.


MENTIRA (Mona~Me) Páginas 196. 339.
A =~ InaM UM vontade deliberada de enganar. Apresenta-se W~ W= w~ a única
soluÇÊío para uma situaçã o/ conflitual. MIM -*~ da 6'muitO frcqucnte na/ adolescência.

r«= dN red~. 0 que caracteriza a adolescência é o frente


MES

a frente da/ personalidade do indivíduo com urna realidade exterior ao mundo fechado da,/família. Este
embate não deixa de suscitar um dilaceramento interior quase sempre ligado a um sentimento de
insegurança e de inferioridade. 0 adolescente é então tentado a transpor a realidade, a retocá-la de
modo tranquilizador. É a época em que a família parece particularmente desvalorizada: na presença
dos seus pares, o adolescente não hesita em inventar

pais a seu gosto. Inversamente, as suas primeiras experiências /sociais são descritas à família como
outros tantos /êxitos - ainda que isso esteja longe de ser o caso.
- Á compensação. 0 desfasamento que existe entre a/ maturidade biológica do adolescente e a sua
imaturidade social é uma fonte natural de/frustrações. Destas frustrações nasce umxdesejo de
compensação que toma muitas vezes uma forma verbal: por exemplo, o adolescente gaba-se de
conquistas amorosas imaginárias. -A regressão. A/puberdade e o aparecimento dos sinais
secundários da/sexualidade criam ao adolescente a obrigação de assumir um novo papel. Este
constrangimento é por vezes mal aceite e o adolescente pode desejar recair na infância, ou seja, voltar
ao estado de dependência infantil, com o que isso pressupõe de/segurança/afectiva. As mentiras são,
neste caso, destinadas a recriar artificialmente o paraíso perdido: o adolescente queixa-se de males
imaginários para ser acarinhado pela sua /mãe. -A culpabilidade. A,-,,puberdade é correntemente a
altura de um verdadeiro choque entre certos acessos instintivos e os interditos instaurados durante a
infância. É o que se verifica designadamente no domínio sexual: o adolescente pode sentir como
culpáveis certos /desejos normais. Ele cala então cuidadosamente as respectivas manifestações e não
hesita em mentir se a ocasião se apresentar.

A/ atitude/ educativa mais válida perante a mentira do adolescente consiste em desvendar as razões
profundas que o levam a mentir. Isto exige muita lucidez e sangue-frio. Com demasiada frequência, a
mentira suscita uma atitude apaixonada por ser considerada como uma ruptura de diálogo. 0 adulto que
descobre a mentira deveria evitar reagir como ofendido. @nfim, é preciso ter-se o cuidado de evitar
mentir por sua vez: invocam-se Vezes sem conta pretextos segundo os quais nem toda a verdade deve
ser dita: «esta criança é ainda muito novinha». Trata-se de uma arma de dois gumes que se vira
frequentemente contra os que a empregam. Convém pôr igualmente de parte as atitudes educativas
demasiado severas e rígidas que, ao suprimirem a/confiança recíproca, impelem o adolescente a
defender-se seja por que meio for.

MESA-REDONDA (Tabie ronde/Round tabie) ver o artigo das páginas seguintes.


320

Mesa-redonda
conversas recolhidas por Lydie Péchadre e Yvette Roudy

Com que sonham os adolescentes? Os adultos talvez não sejam os mais qualificados para
o dizer. Motivo pelo qual fomos ao encon- tro de alguns rapazes, de algumas raparigas, e
os ouvimos falar. Os/pais, os estudos, o/futuro, a/sexualidade, o/casamento, a/política,
Deus, a vida, a morte ... Os depoimentos aqui transcritos são apenas sondagens. Não
podem ser considerados como representativos do conjunto da/adolescência actual. Não
tínhamos em mente senão recolher alguns testemunhos, mas, afinal de contas, tirámos
deles uma imagem de adolescente conforme à imagem-tipo. Maduro, lúcido, apaixonado
pela política, realista, crítico, e bastante mais evolucionista do que/ revolucionário. Para
reunir estes documentos, organizámos três/discussões de /grupo. Cada grupo compreendia
de sete a nove participantes*. 0 Cf. pp. 321 e 322. o
Dois dos grupos pertenciam a Casas de Jovens e da Cultura (uma,
detalhe da composição de cada

grupo. num bairro residencial de Paris, a outra nos subúrbios afastados), o terceiro, qualificado
de «grupo dos isolados», foi composto da seguinte maneira: pedimos a dois ou três
adolescentes das nossas /relações, que não se conheciam uns aos outros, para trazerem
cada qual alguns jovens, tomados ao acaso que não fossem obrigatoriamente seus/amigos.
Pareceu-nos de facto interessante constituir um grupo cujos participantes eram, na sua
maioria, estranhos entre si,
0 debate começou com a seguinte questão, posta por -um dos dois animadores: «Quais os
problemas que se deparam actualmente aos adolescentes? Têm a impressão de que são em
maior número que os dos adultos, diferentes?», etc. 0 grupo discutia então este assunto,
os participantes confrontavam os seus pontos de vista, defrontavam-se amiúde, reviam por
vezes as suas opiniões. Quando um tema parecia esgotado, os animadores reacendiam
a/discussão sobre um outro ponto: os estudos, a/profissão, etc., permanecendo no entanto
não directivos. Cada debate durava entre 3 h e 3 h 1/2.
Por fim, para variar o modo de abordagem, travámos duas conversas individuais, sob
forma de entrevistas semi-directivas. A matéria destas conversas foi muito menos rica que
a das discussões de /grupo, nas quais o diálogo entre os diferentes participantes suscitara
declarações muito mais numerosas e espontâneas. Convém notar, além disso, que os
jovens das Casas da Cultura estão treinados nos debates, o que permitiu, nos seus grupos,
uma melhor participação de todos os membros. No «grupo dos isolados», a discussão foi
bastante mais anárquica e até difícil de seguir, mas os participantes mostraram-se
frequentemente mais espontâneos e menos reticentes que os outros (em especial no que
respeita aos problemas / familiares).

A COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS


0 grupo dos isolados
5 rapazes e 4 raparigas dos quais apenas 4 conheciam um dentre eles. Os membros deste
grupo, originários de meios burgueses, de bom nivel/cultural, andavam todos a estudar,
excepto Annie. Martine, 19 anos: estudos médicos, pai farmacêutico, falecido, /mãe
empregada numa editora. Jacques, 19 anos: estudos médicos. Gé rard, 20 anos: medicina
dentária, conhecia Martine. Annie, 19 anos: curso dos liceus e estudos de secretariado,
trabalha como estenodactilógrafa, não conhecia ninguém. Christine, 17 anos: 6.o ano do
liceu. Nadia, 16 anos: 6.0 ano do liceu. Plerre, 16 anos: 5.0 ano do liceu, tendência para
tomar a direcção do grupo, mãe médica,/pai falecido. François, 16 anos, 5.0 ano do liceu.
Laurent, 14 anos: aluno do liceu.

Grupo da Casa dos Jovens e da Cultura de um bairro residencial de Paris


4 rapazes e 3 raparigas. Todos se conheciam mais ou menos. Os três últimos participantes
juntaram-se mais tardiamente à discussão. A maioria dos participantes era originária de
meios burgueses. Mônique, 17 anos: 6.0 ano do liceu, padrasto médico. Jean, 21 anos:
estudos de jornalismo numa faculdade de província. Marcel, 19 anos: fotógrafo.
Dominique (rapaz), 18 anos: 7.0 ano do liceu. Cécile, 16 anos: 6.0 ano do liceu. Catherine,
17 anos: 5.0 ano do liceu. Paul, 21 anos: diz-se encarregado (construção civil).
P A-21
322 Mesa-redonda

Grupo da Casa dos Jovens e da Cultura nos subúrbios afastados

5 rapazes e 3 raparigas. Todos se conheciam mais ou menos. Eram originários de/meios


socioeconómicos muito diversos. A maioria deles trabalhava há já pelo menos um ano.

Daniel, 18 anos: desenhador. Marc, 19 anos: ferrageiro de arte. Danièle, 18 anos:


mecanógrafa. Marie-Christine, 19 anos: estudante universitária. Jean-Paul, 17 anos:
empregado de escritório. Catherine, 18 anos: 7.0 ano do liceu (alínea de Filosofia). Claude
(rapaz), 18 anos: retocador fotográfico. Daniel, 18 anos: estudante de letras.

As duas conversas individuais efectuaram-se com duas raparigas moradoras num mesmo
prédio dos subúrbios afastados:

Cathy, 16 anos: 3.0 ano do liceu. Annie, 14 anos: 4.0 ano do liceu.

SER OU NÃO SER ADOLESCENTE

A questão de base é evidentemente a de saber se os adolescentes sentem, e com que


intensidade, a «dificuldade de ser» que se lhes atribui. Que pensam eles dos seus próprios
problemas? E pensarão, sobretudo, que têm problemas próprios? Houve respostas claras e
inteligentes e trocas de pontos de vista interessantes. Os problemas colocam-se sob uma
forma diferente no conjunto. Jean (21 anos): «Tudo é novo para nós. Recusamos a
experiência dos outros porque temos de criar uma/ personalidade própria. Enfrentamos
dificuldades para sermos nós mesmos: é coisa que se não pode fazer sozinho. E bom, pois
ainda que haja fracasso, o fracasso é proveitoso.» Annie (19 anos): «Até aos 18 anos, tudo
é fácil, não sentimos problemas. Mas entre os 18 e os 20, há todo um universo.» Laurent
(14 anos): «Penso que hoje, no liceu, há uma agitação que antes não havia. Há problemas
que se põem aos alunos. Problemas que vêm da administração. Participamos todos. Toda
a gente se mexe. Mesmo os do 1.o ano. É assim desde Maio de 1968. Há alunos que se
interessam mais pelos assuntos do C.A.L.* do 9 C.A.L.: Comité de que pelos seus estudos.»
Acção Liceal.

Annie: «Quando eu tinha a tua idade, havia a questão da Argélia no liceu. Mas não
sentíamos verdadeiramente os problemas. Ficávamos bastante à margem. Havia carros da
polícia que vinham
MES

buscar alunos do último ano. Os mais jovens permaneciam insensíveis a tudo o que se
passava.»

«Também temos princípios, mas não são os mear Marie-Christine (19 anos):
«Penso que há problemas sérios. Há problemas humanos e problemas banalmente
quotidianos: o/trabalho, os estudos, o/futuro. Daniè1e é mecanógrafa: ela gostava de fazer
outra coisa. Acho que isto é um problema. Eu tenho sorte, sou estudante. Pagam-me para
ser estudante e irei fazer o trabalho que me agrada. Mas talvez não possa vir a fazê-lo nas
condições que preferia. Talvez me apareça uma lei de/orientação que me diga „Faça isto na
sua aula‟. 0 que também é um problema.»

Perguntámos a todos se eles se consideravam diferentes dos seus /pais na sua idade.
As/opiniões estão divididas -é evidente que elas dependem em cada caso do contexto
/familiar. Um deles responde: «A vida é diferente; houve uma certa evolução que criou
outras/ necessidades, logo outros problemas. Somos mais abertos do que os pais, que
tinham princípios: somos talvez menos constrangidos pelos princípios.» Ao passo que um
outro pensa: «Se bem que não se goste dessa palavra, é preciso reconhecer que também
temos princípios, mas não são os mesmos.»

0 CONFLITO DAS GERAÇõES

0 assunto que mais lhes interessa -por definição, um adolescente é uma criança que cresce
e que ainda não é um adulto - são as relações com os pais. Os nossos adolescentes foram
decerto mais loquazes, por vezes até prolixos, em tudo o que incidia sobre as ideias gerais
e as concepções da vida do que naquilo que abrangia os seus problemas familiares. Mas,
sobre este assunto, disseram coisas mais profundas, mais verdadeiras, mais intensas. Há os
que estão mais ou menos em/conffito com os pais, os que se entendem bem com eles, e
ainda os que se esquivam tanto ao conflito como ao entendimento.

0 armistício

«Tudo depende, diz um deles, da compreensão. Pode haver/discussão. Mas, em geral, ela
é bastante temida; sem discussão, ficamos em linhas paralelas. Sendo assim ... » «Passo o
mínimo de tempo em casa, diz um outro, só lá vou comer e doriffir.» Um terceiro chegou
mesmo ao ponto de preferir continuar os seus estudos numa universidade de província
«para evitar as grandes cenas». Um outro declarou: «As minhas discussões com os
meus/pais limitam-se a coisas triviais.»
324 Mesa-redonda

A guerra Monique (17 anos): «Em minha casa, há/conflito: a'minha/mãe tem o mesmo mau/carácter que eu e é/autoritária.
Além disso, está sempre enervada com toda a gente: o meu/pai, a minha irmã, eu ... As/relações com os pais existem, sim, mas
só à superfície; podíamos falar com eles sobre os problemas/,” políticos e/sociais, mas há várias coisas que no-lo impedem ... e
afinal ... não fazemos /esforços. No fundo, estamos longe dos pais.» Daniel (18 anos): «Eu consigo entender- me com os meus
pais. Mas parece que tenho um carácter medonho. Todas as vezes que levo um camarada lá a casa, há toda uma série de fitas,
sobretudo se ele tem os cabelos compridos.»

A paz

Formou-se apesar de tudo uma certa maioria para a qual as relações com os pais eram boas, sobretudo com a mãe. Marcel,
filho único que vive com a mãe e não chegou a conhecer o pai, diz que está «contente com a mãe», que ela é uma «boa
mãe», compreende os problemas actuais, o deixa relativamente livre nas suas/saídas: o que levanta o problema de saber o que
é uma «boa mãe». Monique diz ser a que «dá provas de não directividade e se não intromete demasiado nos assuntos dos
filhos».

«A minha melhor amiga é a minha mão» Marie-Christine (19 anos): «A mãe é uma amiga. Quer se trate do quotidiano ou
das coisas importantes, debatemos tudo entre nós.» Marc (19 anos): «Eu. confiaria melhor na minha mãe do que no meu pai.
Consigo sempre convencer um pouco a minha mãe. 0 meu pai quer ter sempre razão. Não aceita o que os outros dizem. Não
vale a pena discutir com ele.» Martine (19 anos): « A minha melhor/amiga é a minha/mãe. Confio-lhe tudo e peço-lhe muitas
vezes conselhos.» Annie (19 anos): «A minha mãe tem 41 anos e parece tão jovem como eu. A minha avó tem 71 anos: é ela a
minha amiga.» Jacques (19 anos): «Gostaria de ter uns/pais que fossem um tanto amigos, mas não completamente.»

«0 pai é importante. Ele dá os grandes princípios» A imagem do/pai é em geral nitidamente menos positiva. Houve a este
propósito uma rápida mas apaixonante troca de pontos de vista no grupo dos isolados, suscitada pela declaração de Pierre
que, mau grado os seus 16 anos, tendia a dominar. Importa dizer que Pierre foi educado pela mãe que é médica e vive
sempre com ela. Pierre: «Sou a favor da inseminação artificial.» Um rapaz: «Suprimes o pai! 0 pai é importante. Ele dá os
grandes
MES

princípios. A mãe, os pequenos princípios.» Pierre: «Que princípios?» um rapaz: «Ele


dirige-te.» Uma rapariga: «Uma. mãe não pode educar o filho sozinha.» Pierre: «Pode
perfeitamente, a minha mãe tem-no feito.»

A,,;, educação

A este respeito, os filhos nunca estão satisfeitos com os pais, quer eles sejam demasiado
severos ou não o bastante. Estabeleceu-se uma controvérsia no «grupo dos isolados».

«Chega-se a uma idade em que se tem vontade de ir emb Annie: «A minha mãe é severa e,
ainda por cima, é maníaca que se farta. Questionamos por coisas parvas, um cinzeiro no
lugar de um outro, por exemplo.» Pierre: «Quanto ao meu/ trabalho, ela não é
suficientemente severa. Gostaria de uma disciplina muito mais rigorosa.» Annie: «Cá por
mim, há dois anos que estou numa escola particular a estudar secretariado de direcção. A
minha mãe diz-me: „Pagam-te essa escola: tens obrigação de aproveitar.‟ Vai fazer dois
anos que praticamente não saio. Porque os meus estudos devem estar acima de tudo; em
dois anos, talvez tenha ido quatro vezes ao/cinema. Cometi alguns erros. Chumbei no
exame final do liceu. Há dois anos que estou a perder tempo. Eles têm-me demasiado presa.
Mas hão-de estranhar porque vou agora partir para Inglaterra. Quando voltar, não aceitarei
absolutamente nada. De um dia para o outro, vão dar por mim totalmente mudada. Será um
abalo para eles, Tenho vontade de partir, sufoco.» Jacques: «Para ti, a maioridade, é a,,,1
liberdade, a fuga.» Um rapaz: «Com severidade ou sem ela, chega-se a uma idade em que
se tem vontade de ir embora.» Uma rapariga: «Nâo, na medida em que se faz aquilo que se
quer em casa.» Uma rapariga: «Para'mim, o problema não se põe. Nunca dispus
de/liberdade, os meus/pais nunca tiveram /confiança em mim.» Pierre: «A mim, a
minha/mãe dá-me demasiada confiança. Aproveitei e abusei, agora sofro as consequêncías.
Não liguei nada aos estudos.» Martine: «Eu fui educada em parte pelo meu avô que era de
uma grande firmeza - não porque os meus pais não quisessem ocupar-se de mim, mas
porque eles trabalhavam ambos na farmácia. Chegava da/escola: pois então, ele obrigava-
me a trabalhar. Agora apanhei esse/hábito. Quando estou sozinha, nunca me aborreço.
Assim que tenho um instante livre, trabalho. Neste aspecto, devo muito a-os meus avós.»
326 Mesa-redonda

AsIsaídas

o problema das saídas parece ser uma fonte de/ conffitos frequentes e agudos. Jean fala de
«uma data de princípios que devem ter o seu/valor, mas que eu não reconheço: não sair
mais de umas tantas vezes por semana, não ir para a cama depois de uma certa hora mais
de umas tantas vezes por semana ... tudo isto são coisas a que não consigo adaptar-me.»
Monique: «Lá em casa, tenho de estar às 7 horas para jantar às
8 horas. Porquê uma hora antes? Não se pode sair durante a semana por causa do
trabalho. Mas eu só sou capaz de trabalhar quando tenho vontade.»

«Tenho de cortar completamente o cordão umbilical» Os membros da C.J.C. dos


subúrbios afastados são particularmente sensíveis ao problema das saídas, pois são jovens
que trabalham, e a questão é complicada. Claude (18 anos, retocador fotográfico,
«rapazola parisiense»): «A casa, é como um hotel. Durmo lá, não durmo. Não previno. No
dia seguinte, nada acontece. Bom dia, boa-tarde. Ao todo, vejo os meus pais 1 hora a 1
hora e meia por dia. De manhã, vejo o meu/pai um quarto de hora. Volto à noite para
comer. Depois, vou a Paris com colegas. Praticamente é assim ao longo de toda a semana!»
Jean-Paul: «Comigo passa-se o mesmo.» Claude: «Tem-se outra liberdade quando se
trabalha. Enquanto estamos na escola, os pais interessam-se mais por nós. Vigiam-nos mais
de perto.» Danièle: «Eu não tenho o direito de sair à noite. Apesar de chegar à tardinha por
volta das 7 horas. Fui habituada assim, mas agora começa a fazer- me diferença. Se por
acaso chego atrasada meia hora ou uma hora, eles depois não me dão licença para sair.»
Daniel: (estudante) «Eu tenho/pais que já são um pouco velhos. Tenho camaradas. Saímos
ao sábado à noite. Vamos a boites, está claro. São logo 30 francos de consumo mínimo.
Então, quando peço/dinheiro, é o fim: „No meu tempo, não se dava tanto dinheiro como
agora‟, dizem-me. À tarde tenho de regressar às 7 horas; se não
volto, tenho de ouvir das boas. À sexta-feira, ao sábado, passa-se a noite fora. Durante a
semana não tenho esse direito. No dia Seguinte, não consigo acordar.» Daniel
(ferrageiro): «Eu cá não tenho esses problemas. Vejo os meus Pais de manhã e à tarde
quando volto do/ trabalho; mas, quanto aos/horários, não tenho explicações a dar. Sou
muito livre nesse aspecto.» Marie-Christine: «Também eu tenho muita/ liberdade. Não
preciso de dar contas. Se tenho vontade de dizer onde vou, digo. Mas
para o ano, penso que deixarei de viver com os meus pais, se bem que seja extremamente
livre e independente em casa deles. Tenho um pouco a impressão de que me falta cortar
completamente o cordão umbilical. Tenho a minha liberdade, mas obrigo-me a mim mesma
a certas regras porque penso que é natural. Porém, quero igualmente sair da região porque
vivi aqui a minha infância e a minha adolescência. Tenho vontade de ser eu
própria, mas noutro sítio. Parece-me que não podemos ser totalmente nós mesmos num
ambiente onde passamos a infância e a/adolescência. É uma coisa que pesa como um
fardo. Ainda que os meus pais compreendam e me considerem como um adulto, sinto-me
pouco à-vontade. Mais cedo ou mais tarde, tenho de partir ... »

o / dinheiro

Ante esta bela profissão de fé, outros confessaram a sua firme intenção de ficar o mais
tempo possível em casa dos pais, de se «aproveitarem». Lembraram a este propósito o
problema do dinheiro: pedido aos pais por aqueles que não trabalham, dado aos pais por
aqueles que trabalham. As soluções são muito variadas e muito personalizadas -não sendo
os nossos/grupos representativos, apenas obtivemos indicações vagas. Marc, que ganha
850 francos por mês: «Dou tudo aos meus pais. Eles guardam 500 francos e distribuem-
me o resto ao longo do mês: se fosse eu a guardá-lo, já nada tinha a meio do mês ... isto
assusta-me, porque quanto mais a vida aumenta, menos é o que nos pagam. Então se a
vida continuar a aumentar, nunca mais nos governamos; mesmo assim já tenho dificuldade
em arranjar-me ...»

0,,*futuro

Decerto que há quem deseje ser jornalista, médico, piloto ... Mas, para a maioria
deles, o futuro já não é apenas um nome de/ profissão que os fez sonhar em crianças.

François: «0 diploma é uma boa coisa, mas não se deve parar de trabalhar, pois não se
pode recomeçar. A minha/mãe retomou uma profissão. Não é fácil.» Annie: «A mulher
deve trabalhar.» Gérard: «Não direi que ponho a minha situação acima de tudo, mas ela é
mais capital do que para uma rapariga. Estudo para dentista porque o curso é menos
comprido que o de medicina. Gosto bastante desta profissão.» Pierre: «Se eu viver
plenamente viajando, mesmo que seja barman, a profissão pouco me importa. Viver é
viajar, ver, compreender, é ler, fazer o máximo de coisas possível.»
328 Mesa-redonda

Jacques: «É muito bonito o que dizes, mas para exercer uma profissão é preciso escolher
uma de que se goste. Ser/ livre: nem todos se podem dar a tal luxo ... Isso pressupõe que se
é/independente, que se tem/dinheiro. De outro modo, é indispensável uma profissão.
Quando se começa um curso, não se sabe absolutamente nada. Nos Estados Unidos, há a
possibilidade de reciclagem. Aqui, estamos determinados de antemão.» Nadia: «Eu quero
ser psiquiatra; a questão material não intervéni!» Jacques: «Eu sou bastante burguês. A /
segurança é algo que conta ... » Gérard: «Sim, mas precisas de uma profissão que te
agrade. Eu tinha a escolha entre estudar ou ficar junto dos meus/pais, com a certeza de
ganhar dinheiro logo de entrada. Preferi os estudos porque, se por uma razão/política ou
económica tivesse de deixar os meus pais, ficaria sem um modo de vida. Também coloco a
segurança à frente.» Pierre: «Tens medo do futuro.» Gérard: «Não, mas preparo a minha
reforma.» Laurent: «Procurarei fazer o que me interessa. 0 interesse é mais importante do
que o dinheiro.» François: «0 dinheiro conta.» Nadia: «Ganhar dinheiro, sim, é interessante,
mas escolher medicina, para urna mulher, é um meio de realização> Pierre:
«Não há só a medicina para nos realizarmos, para nos consagrarinos aos outros. Pode-se
ser assistente social. Está-se mais perto das pessoas, mas neste caso não se ganha
dinheiro.» Uma rapariga: «Seja como for, o futuro assusta-me um bocadinho.» É
índubitável que as raparigas pareceram ter consciência dos problemas específicos que se
arriscam a enfrentar. Monique, aluna do liceu: «Quando se arranja uma boa situação,
esquece-se um pouco os antigos problemas: trata-se então de defender os seus interesses
pessoais. Não penso mudar fundamentalmente quanto à maneira de organizar a minha
vida. Há vários planos: /familiar, Intimo, profissional. Tenho medo dos problemas que as
crianças colocam quando ainda não terminámos os estudos. Quero acabar os meus estudos
antes de ter filhos. 0/casamento é/independente dos estudos, mas os filhos não. A vida
familiar ao Mesmo tempo que o/trabalho equivale, para uma mulher, a ter todos OS
aborrecimentos possíveis. Mas não trabalhar é o aborrecimento perpétuo. Fico doente só
de pensar nas raparigas que não que= trabalhar.» RaParigaS c rapazes compararam
evidentemente este/futuro que se aproxima rapidamente deles com a vida que levam
os/pais. Em geral, eles recusam mais ou menos violentamente a «arte de viver» dos
adultos. Annie, falando dos Seus pais: «Eles só vivem para o lar. Ficam sempre em em. Ao
domingo, tratam do jardim ou então vêem
/televisão. Não têm contacto com o exterior. Quanto a mim, tenho muito medo do futuro. É.
preciso meter nele o casamento, o que se torna difícil de imaginar. Tudo dependerá de eu
ser solteira ou casada. Logo, o futuro não depende apenas de mim. Preferiria ficar solteira.
Isso dá a possibilidade de viajar muito. Tem-se uma vida mais enriquecedora no plano/;”
intelectual. Muitas mulheres levam uma vida muito pacata; não têm outra razão de viver
além do marido e dos filhos, e depois acabou-se.» Plerre, um dos raros a ser um pouco/
idealista: «A única coisa que é importante para mim, é viver. Viver plenamente.»

OS RAPAZES E AS RAPARIGAS

0 casamento

Vivemos, diz-se, se não unia « /revolução/ sexual», pelo menos uma crise do/ amor -e, em
todo o caso, do casal. Marie-Christine: «No que me toca, todas as condições estão
reunidas neste momento para me casar dentro de seis meses. Mas, tanto de um lado como
do outro, somos muito/ independentes. As circunstâncias sã o de tal ordem que temos ao
mesmo tempo vontade e medo de nos casarmos: receamos cair no marasmo.
0 rapaz a quem estou ligada é espeleólogo; diz ele com uma mulher em casa, se for fazer
uma exploração, tenho de pensar: dentro de
5 horas volto a subir; ora para isto não vale a pena, é preferível não partir.‟ Bom, quanto a
mim, sou um bocadinho virada para a política. Sei que se tiver uma reunião, irei, mesmo
que seja o único dia em que ele não praticará espeleologia. Então dizemos:/ casamo-nos
para nos vermos 24 horas por semana; temos de decidir se vale ou não a pena. Creio que
há dois pontos: queremos fazer alguma coisa juntos e ao mesmo tempo fazer alguma coisa
separaradamente, e isto é difícil, porque temos a impressão de que os nossos/pais vivem
sobretudo juntos. Mas agora não sei, talvez seja um pouco por causa do mundo em que
vivemos. Aspiramos em parte a viver cada qual por seu lado. Finalmente, não sabemos bem
que resolução tomar. Sinto isto profundamente, e sei que é um problema.» Em geral, os
jovens entrevistados são todos a favor do casamento, e as suas reticências, quando as há,
são mais passionais do que raciocinadas. Eis uma breve/discussão a este propósito:
Martine: «Eu cá, o que desejo, é ter/êxito na minha vida privada. Nada mais.» Pierre:
«Que significa isso?» Annie: «Triunfar na vida privada, não quer dizer triunfar.» Pierre:
«Há tantos casamentos infelizes. Pessoas que se divorciam, se descompõem, se odeiam,
não!»
330 Mesa-redonda

Martine: «Se não der resultado, divorciamo-nos.» Pierre: «0 divórcio é difícil. Há também a
união livre. Mas o casamento oficial, isso nunca!» François: «0 casamento é uma/segurança
para os filhos.» Nadia: «Não se pode pÔr de parte o casamento.» Note-se que é o rapaz de
16 anos o mais inconformísta. Annie (14 anos), interrogada individualmente, foi ainda mais
categórica do que ele: «0 casamento é uma idiotice, pode- se viver com um homem, mas a
papelada é idiota, a cerimônia é idiota, a ausência de/liberdade é idiota!» Eles têm
igualmente ingenuidades ou ignorâncias desconcertantes. Annie: «Aos 20 anos, é a atracção
física que conta. Depois, sabe-se que tudo acaba, mas resta a temura.» Quanto a um novo
equilíbrio entre os papéis masculino e feminino, parece que o assunto não preocupa nem os
rapazes nem as raparigas. Uma destas declarou que ainda não se tinha chegado à
emancipação feminina. Os problemas /sexuais, embora abordados com ,,xpudor,
interessam-nos muito mais.

A fidelidade

Apercebemo-nos uma vez mais de que, neste domínio, as novas gerações têm um pendor
tradicionalista. Dominique (18 anos): «Sinto-me responsável se a minha mulher me
enganar. A culpa é minha. Sou responsável pelo que ela pensa.»

«Hã infidelidades mais graves do que as infidelidades sexuais» Os jovens da C.J.C.


debateram longamente a fidelidade conjugal. Marc: «Penso que há um tempo para nos
divertirmos, um tempo para sermos sérios. 0 tempo para nos divertirmos é dos 16 anos até
aos 22 ou 23 anos. Depois, é o tempo de sermos sérios. 0/casamento é uma coisa
extremamente séria. Se nos casamos com alguém que amamos verdadeiramente, devemos
permanecer fiéis.» Uma rapariga: «Mas pode haver acidentes de percurso.» Marie-
Christine: «Antígamente, tentava-se preservar a fidelidade conjugal sobretudo quando
o/amor já não existia. A fachada conjugal tinha uma extrema importância porque o marido e
a mulher andavam sempre juntos. A partir do momento em que se leva UM8 vida
Simultaneamente comum e individual, vêem-se as coisas de modo um poucochinho
diferente. Quando se repara no que acontece - a outros, temos, ao mesmo tempo, mais
facilidade em ser fiéis. Mas isto também ajuda a compreensão em caso de acidentes de
percurso. Por mim, sei que, se um dia o meu marido tiver aquilo a que se chama uma
aventura, não lhe darei forçosamente o nome de infidelidade. Talvez ele continue a ser-me
tão fiel como antes. São coisas que sucedem. Pode-se passar por um mau moInclit0.
Ficamos fartos de nos vermos e temos vontade de experi-
ME$

nientar outras coisas. Bom ... Não quero com isto dizer que sou a favor, não, de modo
nenhum, mas concebo que tal possa acontecer.» _Daniel: «Estou perfeitamente de acordo
com a Marie-Christine, mas, enfim, antes do casamento, é aconselhável pensar bem. Ter a
certeza.» Danièle: «Eu acho que a infidelidade pode ser muito grave.» Marie-Christine:
«Digo que há infidelidades mais graves do que as infidelidades/ sexuais. As infidelidades
sexuais, são muito, mas não são tudo. Para mim, seria mais grave se o meu marido tivesse
uma vida interior completamente cortada da minha e que ele encontrasse um maior,,@I
prazer,-< intelectual junto de qualquer outra pessoa.» A última palavra, neste assunto, é
sem dúvida a de um rapaz que confessa candidamente: «Não me importava de enganar a
minha mulher, mas não gostaria que a minha mulher me enganasse.»

Os costumes actuais

Não foi possível saber o quer que fosse sobre a vida privada destes jovens nem desvanecer
a/dúvida sobre os costumes actuais da juventude, que alguns dizem desenfreados, e
outros, puritanos.

«É antes uma educação dos pais que convém promov, Monique: «Há coisas que se não
debatem diante de toda a gente. São problemas tão agudos e íntimos que as pessoas
preferem calar-se. Quando muito diante de um médico ou de um/psicólogo, mas num
debate... Em primeiro lugar é muito pretensioso, depois é demasiado íntimo para que se
queira falar em,/grupo.» Jean: «As pessoas não querem falar disso porque têm montes de /
tabus.» Monique: «Só poderia falar quem já tivesse superado os seus problemas. A
rapariga tem vergonha do seu corpo e tende a ser mais /inibida. É mais difícil a uma
rapariga por causa da possibilidade de ter um filho.» Dominique: «Na minha concepção, é
grave ir para a cama com alguém, e sinto-me tão responsável como uma rapariga.
Pessoalmente, conheço o suficiente para saber que não será antes do/ casamento. No meu
caso, não o concebo antes do casamento.» Uni rapaz: «Se a rapariga tiver vontade de
dormir contigo e não quiser casar, o que fazes?» Dominique: «Sou prisioneiro do meu
contexto/ social: sou assim porque os meus/pais são assim. Nunca me aconteceu o caso
que apresentas.» Jean: «Penso que foram a/moral e a/sociedade que tornaram este
problema agudo e Intimo nos últimos anos. 0 interesse do de- bate público é tentar eliminar
estes tabus: se quisermos eliminá-los,
332 Mesa-redonda

é preciso começar por enunciá-los, expô-los. Primeiro, a/educação sexual no liceu. Dominique:
«Acho, pessoalmente, que é antes uma/educação dos pais que convém promover: os tabus existem sobretudo entre os pais e os
filhos. São os pais que deveriam ser educados, de tal modo que os tabus cessassem de existir. A educação sexual no liceu, tal
como é feita hoje, não tem suficientemente em conta a/personalidade da criança. Ela pode abalá-la.»

A / virgindade Todos os inquéritos entre os jovens provam que uma maioria, tanto de rapazes como de raparigas, considera
indispensável que a rapariga chegue virgem ao casamento. Nos nossos/grupos, as opiniões estavam divididas. Num deles, os
rapazes declararam-se indiferentes -um rapaz chegou a desejar que todas as raparigas tivessem experiência. No outro, em que
os rapazes tinham tomado a mesma posição, as raparigas tentaram demonstrar-lhes que eles mentiam. Marie-Christine:
«Eu concebo que uma rapariga chegue/virgem ao casamento, mas penso que isso não deve fazer parte das prescrições a
respeitar relativamente ao/casamento. Há/psicologias diferentes, naturezas diferentes, modos de vida diferentes. Deve-se
igualmente conceber que uma rapariga não esteja virgem.

A / amizade

Tomou-se claro que os problemas da amizade lhes interessavam mais do que os problemas da/sexualidade. 0 que confirmaria
que a/adolescência continua a ser o tempo privilegiado, talvez único, da amizade. Annie: «Os/amigos têm uma grande
importância: uni amigo é alguém com quem eu possa contar e que possa contar comigo.» François (falando de Pierre que está
presente): «Um amigo é alguém a casa de quem se pode ir, com quem nos sentimos L-vontade. A um verdadeiro amigo, não se
tem medo de dizer o que se pensa. Está-se bem ao pé dele.»

«A amizade entro rapazes a raparigas é algo demasiado próximo do amor» Pusemos a questão da amizade entre uma
rapariga e um rapaz: Uma rapariga: «Acho que esta certo.» Um rapar: «Não, não é possível.» Uma ra~ga: «Para ter um
verdadeiro amigo do outro sexo, é preciso ter saldo com ele.» Um rapaz: «Ah, isso não!» Um rapaz: «Isso siml»
MES

Uma rapariga: «Depois já não há equívoco. A amizade não é possível; ela está demasiado
próximo do/amor.» Um rapaz: «Eu tive uma amiga. Enfim, era o que julgava, e depois as
circunstâncias levaram a que saísse com ela.» Uma voz: «E então?» Uma rapariga: «Ela
amava-te, certamente.» Um rapaz: «Julgo que sim.» Uma voz: «Ah! estás a ver ... » Uma
rapariga: «Eu tive um amigo. Não havia qualquer outro sentimento.» Um rapaz: «Isso não
sabes tu.» A rapariga: «Ele tinha a sua vida íntima. Era mais um irmão que outra coisa.»
0 rapaz: «Tu vê-lo assim; mas para ele, talvez fosse tudo diferente.»

Parece que falar da amizade os conduz a reflectir no grande problema da/comunicação


entre os seres, muito mais do que no amor. Há os que são partidários da comunicação
completa («Vou ver um/camarada, diz um rapaz, e deito tudo cá para fora») e outros que
já sabem que tal não é possível. Mas há assuntos que se não podem abordar com o melhor
amigo. Pierre: «No plano /religioso, ele tem umas ideias, eu tenho outras. Admiro -o muito.
Ele é cristão. Eu tenho um pendor/ moralista, mas esqueço-me disso na prática. No plano
da nossa/atitude para com as raparigas, somos bastante diferentes um do outro. São
assuntos que não abordo com ele porque talvez sentisse estar a afastá-lo de mim.»

A POLITICA

Ao contrário do que pode sugerir a/leitura destas páginas, os jovens estão muito/
politizados. Evitámos, deliberadamente, tanto quanto possível, levar a/discussão para o
campo político apesar de o debate deslizar com frequência nesse sentido. Pois, em tal
domínio, os adolescentes são inesgotáveis. Demais, tivemos muitas vezes a impressão de
que falar de política era para eles uma escapatória que lhes permitia esquecer os seus
verdadeiros problemas.

«Maio de 1968 talvez venha a ter uma influência a longo prm Para Monique, é «tudo».
Para Jean, «podiamos passar sem ela». Paul acha que, enquanto a/sociedade não tiver
mudado, ninguém poderá ser feliz. Falámos naturalmente de Maio de 68. Perguntámos-
lhes sobretudo se eles pensavam que estes acontecimentos haviam mudado alguma coisa.
Jean: «Foi útil, sim, mas opôs um pouco os/ pais aos filhos, azedou Um tanto as relações,
acentuou as/tensões.»
334 Mesa-redonda

Dominique: «As/opiniões subjacentes revelaram-se, mas elas já existiam.» Paul: «Houve os


contactos com os operários, uma necessidade de nos exprimirmos. Maio é uma experiência
capital e positiva.» Jean: «Maio talvez venha a ter uma influência a longo prazo. É preciso
que as ideias se decantem.» Da política, deslizamos naturalmente para a guerra.
Perguntámos a estes jovens, quiçá ameaçados por uma terceira guerra mundial, se eles
tinham /medo dela. Mare: «De modo nenhum. De qualquer modo, são coisas que têm de
acontecer. Não podem deixar de acontecer. Chega sempre um dado momento em que nos
vemos metidos nelas. Mais ou menos de vinte em vinte anos.» Uma voz: «Sim, justamente,
se é de vinte em vinte anos passámos por cima de uma.» Um rapaz: «Não passámos nada.
Continua a haver guerra.» Marie-Christine: «A guerra já nã o é a mobilização e a
movimentação das tropas como em 14 ou em 39. A guerra mudou.» Marc: «Agora, na
guerra, já não é o número de homens que conta. Toda a gente se esconde. Tudo o que há a
fazer é carregar num botão. A guerra será isto. Alistem-se para
ficar escondidos. Alistar-nos-emos na tropa para ficar metidos num blockhaus, e depois no
fim os civis fazem brindes. Já não estamos no tempo de Átila em que era o número de
homens que contava.»

É de notar que não houve qualquer proclamação pacifista e antimilitarista.

OS PROBLEMAS ETERNOS

Deus

Os jovens que encaram friamente a possibilidade de uma guerra mundial e não querem
falar muito de/sexo, terão inquietações metafísicas? É justo dizer que, marcados pelo,-,,
conflito com os /pais, eles abordaram em geral o problema de Deus sob o ângulo da /;,
educação / religiosa.

«Quando me assaltam ideias negras, creio» Daniel: «A minha família era católica desde há
gerações. Catecismo, etc. Eu sou inteiramente contra isso. Conheço pessoas que esperaram
que a sua filha ou o seu filho tivesse 14 ou 15 anos e depois disseram-lhe: „0 que há é isto
ou aquilo.‟ Então eles escolhera. Crê-se assim em qualquer coisa, mas por si mesmo. Pois
que não se diga a um miúdo, como a mim aos 8 anos: „Sornos católicos, hás- de ser
católico. Se quiseres casar com uma protestante, a/familia fica dividida em duas‟, ou coisas
neste género.»
MES

Um rapaz: «Sim, não é tanto o facto de crer, é toda a educação. Pedem-nos que tenhamos/
confiança nos pais. Eu não creio em Deus, mas tive uma educação católica e acho que era
supérfluo. Agora começo a interessar-me por não poucas coisas, entre as quais as religiões,
e penso que teria sido preferível não haver recebido instrução religiosa católica.»
Catherine: «Estou de acordo, é mais tarde que devemos decidir o que queremos ser.» Um
rapaz: «A religião, a fé, não faço a mínima ideia do que isso seja, portanto nada vos posso
dizer.» Uma rapariga: «Para mim, é uma bóia de salvação. Pode parecer uma parvoíce,
mas perante a adversidade, quando ine assaltam /ideias negras, quando penso que há
demasiadas injustiças, creio; mas não sou praticante.» Um rapaz: «Vendo bem, até poderia
ser um feitiço ou qualquer outra coisa.» A rapariga: «Ali não! não!» Christine:
«Para, mim, Deus é a vida.» Fraizçois (16 anos). «Deus é o que se quiser. Para um, a sua
consciencia, para outro, um símbolo, para ti, um arquitecto, para aquele, vectores
direccionais. Podemos discutir horas sem sabermos de que estamos a falar.»

A vida e a morte

à pergunta: «A vida mete-vos/;Imedo?», seguiu-se um brado de indignação geral. Nenhum


traço de spleen, de/angústia, de sen- timento do absurdo. É certo que há poucas gerações
tão positivas, sólidas e tranquilas como esta, tão pouco românticas, apetecia-nos dizer.

«Ver tudo antes de mori Pierre: «A vida é apaixonante. Se tivermos medo de viver, não
podemos viver.» François: «Eu gostava de poder divertir-me um pouco. Acho
enfadonho/trabalhar.» Christine: «Oh! eu não, não tenho medo da vida.» Annie: «Eu tenho
um bocadinho. Porque não sei para onde vou. Quando tiver encontrado o meu caminho,
talvez as coisas se componham um pouco.» Martine: «Eu tenho um objectivo na vida desde
há muito tempo, por isso não tenho medo.» Um rapaz: «Eu gostava de poder ver tudo
antes de morrer.» Jacques: «Nunca estive/casado, gostaria de saber o que é.» Um rapaz:
«A morte deve ser uma coisa gira. Se pudéssemos passar por ela várias vezes, seria muito
divertido.» Se vos dissessem que não vos restava senão uma tarde para viver,
336 Mesa-redonda

um serão, uma noite, que amanhã às 8 horas tudo estaria acabado, que faríeis? Muitos
adultos, lendo as respostas, hâo-de lembrar-se dos seus próprios pensamentos de outrora
acerca disto. É tipicamente um tema adolescente. Jacques: «Eu nada mais faria.» Pierre:
«Eu faria tudo o que pudesse fazer. Expandia-me. Subia dez vezes à Notre-Dame. Via o
maior número possível de pessoas. Gostaria de deixar qualquer coisa sobre a terra.» Uma
rapariga: «Eu tentaria deixar tudo claro.» François: «Eu acho que se devia tentar pensar
em tudo o que se podia ter feito.» Uma rapariga: «Era melhor pensar no que ficou para
trás. Tentar morrer bem. Preparar o além.» Uma rapariga: «Eu julgo que me/suicidaria
logo.» Uma rapariga: «0 que me mete,,” medo, é o sofrimento. Mas morrer não.» Uma
rapariga: «Esperaria. Hemingway teve uma bela morte.» Cathy (16 anos), que foi
entrevistada isoladamente, disse: «Nâo passaria o resto do tempo com os meus/pais, mas
com um rapaz. Gostava de morrer a fazer/amor ... Não creio em Deus.» Os mais jovens
parecem os mais audaciosos ...

CONCLUS,@O

No final destas /discussões, perguntámos-lhes o que pensavam delas. Jean e Monique


reconhecem que os participantes «se implicaram pessoalmente, visto que, quando passámos
a ser demasiado numerosos, mastigámos os lugares-comuns.» Jacques: «Eu vim porque
infelizmente não tenho ocasião de entrar em discussões assim. Não é na Faculdade que
podemos fazê-lo. Na/escola, podemos, em pequenas reuniões, mas não é a mesma coisa.»
François: «0 que se disse não foi bastante reflectido, foi demasiado espontâneo, demasiado
superficial.»

Finalmente, os nossos jovens confessam-se apesar de tudo saturados de tanto ouvirem


falar nos «seus» problemas; e deixamos-lhes a palavra em conclusão., Martine: «Acredito
que os jovens tenham problemas enormes, nm não têm mais do que os outros.» Pierre:
«Acho que as pessoas crescidas matutam demasiado nos problemas dos jovens. Elas
devem sentir-se realmente bastante tristes por já não serem jovens.»

Lydíe Péchadre e Yvette Roudy.


mim

MIMADA (Criança) [Gâtó (enfant)/Spoileci child] página 290.


A palavra francesa gaté vem do latim vastare que significa «devastar». Podemos assim dizer que, literalmente, gaté
(mimado) significa «estragado», Criança mimada, criança estragada, diz a sabedoria popular. Na maior parte dos casos a
superprotecção parental exerce-se sobre um filho único. Isto é quase natural; para filho único/ amor exclusivo. Mas as
observações de Burstino mostram que não há muito 0 citado em

mais crianças mimadas entre os filhos únicos do que nas/ famílias parents (março de 19

numerosas. Neste último caso, o filho mimado é muitas vezes o mais novinho (a criança «recordação») ou então aquele cuja
saúde é deficiente. A criança mimada é aquela a quem «se fazem todas as vontades». Uma tal situação não pode senão
reforçar-se na,,, adolescência quando os/pais se afeiçoam receosamente aos métodos/educativos ditos «americanos»: «Nada de
traumatismos, eles são tão frágeis nesta idade.» 0 adolescente mimado sabe, em geral, aproveitar-se bastante bem da situação,
habituando-se a uma vida fácil. Tudo lhe é devido. Acaso reprova num/exame? Não faz mal, arranjam-lhe um explicador e
dâo-lhe a possibilidade de repetir o ano num estabelecimento particular.

Em sociedade, o adolescente mimado serve de modelo. Manifesta infinitamente mais à-vontade do que os seus/camaradas, os
quais parecem por outro lado reconhecer-lhe uma certa superioridade, quanto mais não seja a de saber «levar» os pais, sempre
invejada. Mas esta/atitude esconde uma profunda insegurança. A criança mimada, assim que se acha fora do círculo/ familiar,
do seu domínio, tem o sentimento de penetrar num mundo hostil: aliás, tudo o que é indiferente parece hostil à criança
acarinhada que quer sempre vencer ou seduzir. Entre os casos de/ suicídios de adolescentes contam -se mais crianças mimadas
do que desamparadas, as quais, pelo menos, aprenderam a lutar. 0 filho mimado não tolera qualquer/ frustração, por falta de
uma organização interior que estruture firmemente a 1;w personalidade nascente. 0 acesso à idade adulta, enquanto
autonomia moral e/afectiva, encontra-se, na melhor das hipóteses, assaz gravemente comprometido.

Em casa, o adolescente mimado tem uma dupla face. Ora é amável e afectuoso, procurando inconscientemente prolongar o
bem-estar interior, o conforto moral de que carece lá fora. Os/,"pais, vendo-o tão diferente dos outros, congratulam-se com o
êxito dos seus métodos educativos. Ora, pelo Contrário, a fim de compensar a sua profunda insegurança interior, se mostra de
uma intransigência tirânica e os pais não

P A - az-
338

sabem o que hão-de inventar para apaziguar a ira da criança soberana. Um tal método
educativo apresenta dois perigos na adolescência. «Antes de mais, como acentua S.
Leclaireo, há um mal-entendido # S. Leclaire: sobre o sentido das/ necessidades da criança,

seja qual for a idade “”`/ et son désir

desta. 0 seu pedido é essencialmente pedido de/ amor, ou melhor,


«I'Ev. psychiatrique» (fase.
111, 1959). invocação do outro enquanto sujeito capaz de falar, de dizer mais do que sim
ou não, capaz sobretudo de acrescentar a isto um testemunho de reconhecimento em
referência a uma regra, uma lei ou um uso, em suma, de responder ao solicitante como a
um sujeito e não como a um odre ou a um aspirador.» Além disso, na/ adolescência, a
procura da identidade, a busca do eu, é uma preocupação essencial. 0 adolescente mimado
acha-se assim duplamente/ frustrado. Por um lado, ele não se sente aceite enquanto sujeito,
mas como objecto passivo de amor. Por outro lado, a busca do eu deve fazer-se em
referência a modelos estáveis e fortes. 0 adolescente mimado considera os seus pais de uma
extrema fraqueza, com a qual ele joga e sofre ao mesmo tempo.

É infelizmente frequente ver um/pai fatigado que quer «sossego quando entra em casa»,
ou uma/mãe captativa que ignora estes princípios de educação e com a melhor das
intenções compromete, por vezes irremediavelmente, o/ futuro do ser que lhe é mais
querido.

MISTICISMO (Mysticisme/Mysticism)

0 dicionário de filosofia de Lalande define o misticismo como «uma crença numa


possibilidade de união íntima e directa do espírito humano com o princípio fundamental do
ser, união que constitui ao mesmo tempo um modo de existência e um modo de
conhecimento estranhos e superiores ao conhecimento normal».
0 misticismo é uma/atitude essencialmente/ afectiva, que dá a prioridade às crenças
intuitivas e não às racionais. A/adolescência é muitas vezes a idade em que se desenvolve
uma forma de misticismo mórbido. No decurso da crise/ religiosa, o adolescente,
bruscamente cortado do que considerava como o próprio fundamento do mundo, prefere
por vezes abdicar de toda a pretensão racional e lançar-se num misticismo desenfreado que
não passa de um fenômeno de compensação. Assim, a adolescente enlanguescida será
naturalmente mística, tal como o adolescente inquieto por não poder assumir a sua
situação/viril. Espantaríamos muitos jovens se lhes demonstrássemos que se trata apenas
de um mecanismo de/pÉojecção. É para compensar uma imagem de si julgada frágil
e/instável que o adolescente procura refúgio na imagem de um deus ao mesmo tempo
todo-poderoso e comodamente acessível. Entra no misticismo uma forma - confessada ou
não - de ternura.
MIT

Por isso, o misticismo manifesta-se muitas vezes em adolescentes que transpõem para o
plano religioso os seus problemas sentimentais.

MITOMANIA (Mythomanie/Mythomania) páginas 52,109.


Do grego mythos, «narrativa.» A mitomania é a tendência para fazer narrativas
imaginárias. 0 herói destas narrativas é, geralmente, o próprio autor, com uma disposição
para a/agressividade e a valorização da/ personalidade. As expressões clínicas da
mitomania são a/mentira, a/fabulação e a simulação. Estas três formas correspondem a
uma regressão da personalidade, mais frequente na criança do que no adolescente. Mas
este não está isento dela, e o seu domínio mais corrente é então a/sexualidade. A forma
mais vulgar é a narrativa de conquistas amorosas imaginárias destinadas a atenuar um
sentimento de inferioridade. Para haver verdadeira mitomania, é preciso que a tendência
seja compulsiva: o narrador apanhado em flagrante delito de mentira recomeça
perpetuamente como se fosse contra a sua vontade.

MODA (Mode/Fashion) Página 232.


A moda é um conjunto de/hábitos sociais aos quais se referem os indivíduos de um mesmo
grupo. Na sua acepção mais estreita, a moda é essencialmente versátil. Diz-se: «é uma
moda» para designar algo que não dura.

A moda tem um carácter fundamentalmente/ ambivalente: é mudança relativamente ao


passado e por conseguinte busca de originalidade. Mas é também vontade de
uniformização e de/conformismo visto que todos os adeptos de uma moda agem de forma
similar. Devido a estes dois aspectos, a moda exerce um grande ascendente sobre os
adolescentes: por um lado, assegura-lhes uma progressão, e, por outro, tranquiliza-os, pois
a uniformização que pressupõe garante a pertença a um/grupo. Ora, sabe-se que o
adolescente actual é, antes de tudo, alguém que procura integrar-se na/sociedade. A moda
«jovem» sofreu um considerável incremento graças ao aumento do poder de compra dos
adolescentes*. Estes actualizam-se Ver «Dinheiro». com prazer segundo as -últimas
novidades, no domínio do/ vestuário ou no artístico, comprando produtos pouco caros e
destinados a não durar. Assim se explica a facilidade com que a maior parte deles muda de
moda durante uma estação. Enfim, para a maioria dos adolescentes a moda é uma maneira
de /reivindicação: «(A moda) difeiencia os jovens do mundo enfadonho dos adultos. Ela é
um protesto dos adolescentes contra os
340

constrangimentos da vida a que ainda escapam, exprimindo a /revolução/ sexual que lhes
concede uma maior/liberdade de costumes.»* # La Via
du couple (C.E.P.L., Paris, 1969),

P. 360. MORAL (Morale/Morals) pâginas 26. 97. 109. 147. 154, 170.

Do latim mores, «costume». A moral é o conjunto das regras que fixam a conduta de uma
dada/sociedade. Estas regras são tidas como as melhores possíveis e ninguém se lhes
subtrai, nem ser acusado de imoralidade, no seio da sociedade a que pertence.

Exige-se à criança uma rigorosa observância das leis morais aceites.


0 adolescente, na altura de entrar na sociedade enquanto indivíduo responsável, arroga-se
correntemente o direito de escolher a sua própria moral. Mas esta escolha faz-se num
contexto de imaturidade que apenas deixa com frequência a alternativa submissão-
/;<revolta. Demais, o adolescente que recusa as leis morais existentes fá-lo também para
marcar o seu corte com a infância, a idade da submissão moral incondicional. Alguns
adolescentes escrupulosos perguntam muitas vezes a si mesmos qual é o/valor de uma
moral imposta. Esta não lhes surge como uma tomada de posição autêntica senão na
medida em que é livremente consentida. É o famoso dilema/ liberdade-situação no mundo,
que só pode ser gradualmente resolvido graças à experiência. Esta demonstrará ao
adolescente que a liberdade não é um absoluto mas uma escolha de valores preexistentes.
Como não há liberdade absoluta mas sempre liberdade de alguma coisa, não há moral
absoluta mas uma moral em situação.

Há um erro corrente que consiste em pensar a moral em termos de estética que lisonjeiam
o seu autor mas nã o o incitam a agir. É, em especial, o caso do/intelectualismo.

MORFOLOGIA (Morphologie/Morphology)

No adolescente, a curva do/ desenvolvimento físico nem sempre é harmoniosa. De facto, o


crescimento da estatura precede o crescimento do peso: os ossos compridos, em particular,
alongam-se de súbito rapidamente. 0 aumento de estatura não é compensado por um
aumento equivalente de peso. Isto contribui para dar uma morfologia adolescente muito
típica: «0 adolescente, dotado de grandes braços e de grandes pernas, mostra-se
desengonçado e asw ridículo. 0 equilíbrio da infância já não existe, o do adulto ainda não
foi atingido.»* o Origlia e Ouilion:
l'Adolescent (E.S.F..

Resulta deste,,< desequilíbrio um acentuado desajustamento. 0 adoles-


Paris. 1968). p. 29.
MOT

cente que cresceu demasiado depressa não teve ainda tempo de acomodar os seus
músculos. Os seus gestos quotidianos estão marcados de falta de jeito: o braço ou a perna
vão mais longe do que o prevê o adolescente pouco habituado à sua nova estatura;
verifica-se na adolescente uma arqueadura passageira, consequência do surto de
crescimento. Por vezes o alargamento das ancas fá-la caminhar com os pés para dentro:
quando corre, os joelhos têm tendência a aproximar-se e a chocar. Não raro, isto basta
para que ela abandone toda a/ actividade/ desportiva ou até o simples exercício físico.

MOTO (Moto/Motor-cyc19)

Se o automóvel* é um símbolo de/virilidade aos olhos dos ado- o Ver «Automóvel) lescentes
e até de alguns adultos, a moto é-o ainda em maior grau. Com efeito, a moto é assunto de
iniciados: encontram-se muito mais titulares de carta de condução de automóveis do que
de motos. Os possuidores desta última formam uma casta, orgulhosa de se meter por entre
os/ automóveis e desdenhando-os sistematicamente. Podemos reconhecer, na esteira de
Jean-Francis Held, que, «no automóvel, o condutor é um feto revestido de armadura (que)
se torna senhor, a golpes de pés, do morno envoltório ... o qual lhe dá vida e força sem
cessar de o preteger maternalmente. A selvaJaria adolescente, essa, quer afirmar-se
poderosa e/viril, contra a recordação dos biberões, contra o aconchego materno ... Em vez
de entrar numa máquina e de fechar a porta, o motociclista ... faz corpo com ela.»*
Q. J.-F. Hold: /é 1

Esta comparação corrobora perfeitamente o tema de certos filmes AMM. Outubro de 1

sobre a/adolescência «violenta». Potente e exaltante, a moto cristaliza as/aspirações mais


secretas mas também as mais comuns do adolescente. Encontram-se misturados nela
os/desejos de poderio, de evasão, de originalidade, de/agressividade e de libertação /
sexual.

MOTORIZADA (Võlomotour/Motorbike)

Continuando o carro e a moto inacessíveis à maioria dos adolescentes, a bicicleta


motorizada tomou-se o meio de locomoção mais corrente. Os/pais, assediados por
observações do género: «Todos os meus /amigos têm uma, porque não hei-de ter eu?»,
sentem dificuldade em resistir. Existem bicicletas motorizadas a preços muito acessíveis e
que são, para os rapazes e raparigas, uma das marcas do acesso à/,, adolescência, pois que
a bicicleta se vê hoje rejeitada como propriedade infantil. A psicanálise assimila o/desejo de
engenho motorizado a uma
342

/necessidade de evasão. Esta necessidade é normal na adolescência, sobretudo nos


períodos „em que as /relações do adolescente com a/família ou o seu meio imediato
atravessam urna crise.

WULTIDA0 (Foule/Crowd)

Para o adolescente chamado a inserir-se pessoalmente e de maneira responsável


na/sociedade, a multidão, enquanto imagem dessa sociedade, é ao mesmo tempo atraente
e aterradora. E nomeadamente o caso dos adolescentes/ tímidos que não ousam enfrentar
o olhar de uma multidão numa esplanada de café. Outros, pelo contrário, procuram o
contacto da multidão na medida em que, justamente, ela lhes permite que se fundam na
massa. Esta/atitude deriva de um/conformismo frequente. Nesta idade, já não é a /família
que lhes dita a/conduta, mas o conjunto dos seus semelhantes.

VIOSICA (Musique/Music)

Os gostos dos jovens em 1961 Segundo Georges Teindas e Yann Thireaue, unia enorme
maioria 0 G. Teindas o
Y.Th i rea u: ta Jeunesse dens de adolescentes declaram gostar de música. Ia famille
ar Ia sodétó
modeines (E.S.F., Paris,
1961). pp. 164-165.
14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

Aprendizes 87% 88 %. 91 % 90,5 % Alunos de liceu 90%


88 % 90% 92%

As respostas à pergunta: «Gosta de música clássica?» são as seguintes:

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

Aprendizes 32% 32% 21 % 21 %

Alunos de liceu 40 %. 44 %. 49% 41 %.

Vemos que há mais alunos de liceu a declarar que gostam de música clássica. Mas
insistindo com eles, percebe-se que são poucos os que sabem citar outros nomes além dos
de Bach, Beethoven ou Mozart. Convém notar que as aulas de música do/,",ensino
secundário são seguidas muito distraidamente pela maioria dos alunos. À pergunta:
«Gosta de música moderna (Jazz)?» feita por ocasião do mesmo inquérito, as respostas
afirmativas prevaleceram sem margem para dúvidas, de 63 %, a 83 %, segundo as
categorias de idade, tanto nos aprendizes corno nos alunos de liceu. Mas também neste
caso, quando se trata de citar nomes de intérpretes ou de com-
MUS

positores, não se vai muito além de Louis Armstrong ou Sidney Bechet. Talvez se possa
incriminar a dificuldade de reter nomes de consonância inglesa. E mais provável que o
entusiasmo pela canção impeça o desabrochar musical profundo: na verdade, esta, menos
elaborada, é mais directamente assimilável do que a música clássica ou o jazz, que
requerem uma educação musical.

os gostos em 1970 Música pop: à simples evocação destas duas palavras surge, em
numerosos espíritos, todo um estranho universo onde reina uma música nova, inacessível e
amiúde incompreendida pelos defensores inveterados da «idade de ouro do clássico» ...
Contudo, este grande movimento, que lançou, por volta de 1960, as suas raízes na
América, depois na Inglaterra, é verdadeiramente a tradução de um pensamento: é o meio
de expressão de uma juventude. Pop musie é o termo empregue para designar o conjunto
das suas componentes: folk, blues, rhythm and blues, rock, e sobretudo o underground,
que, ao ouvido dos neófitos, aparece mais como barulho do que como uma música
autêntica, embora também aqui exista em cada/ grupo, através de cada trecho, a expressão
de um sentimento, ou ainda uma mensagem, que os seus adeptos captam bem. Isto explica
o extraordinário fervor de que é alvo - sob todas as suas formas (/discos, concertos e
festivais) - a música pop: um bom grupo comunica um sentimento, uma sensação. Led
Zeppelin, por exemplo, transmite aos seus ouvintes fantásticas sensações físicas e mentais.
Cada um prefere naturalmente o músico ou o gê nero de música a que mais adere: assim,
numerosos jovens gostam do rock, música rápida, forte, ou mesmo brutal, mas sempre
harmoniosa, pois reconhecem nela a exuberância que lhes é própria.

Da canção à música instrumental A/ rádio, os discos, a publicidade musical têm feito


evoluir imenso os/ gostos: há anos, a forma musical mais popular entre os jovens era a
canção (primado, por conseguinte, da voz). Hoje manifesta-se uma preferência sensível
pelo aspecto instrumental que é, aliás, o que permite classificar as formações. 0 primeiro
lugar dos Pink Floyd no referendo de 19709 mostra esta evolução: a música dos Pink
Floyd Ver Rocks Folk, (conhecida pelo público graças ao filme More) é difícil, sem dúvida,
(Abril de 1970).

mas original e intensamente bela. Muito trabalhada, ela não é «comercial»: assim, o seu
êxito é de facto indício de uma/ educação musical, que, pouco a pouco, levou a juventude
dita pop a aprofundar os seus conhecimentos musicais (solfejo, som, pesquisas electrónicas
cada vez mais inventivas, prática corrente de um instrumento como a guitarra ou a bateria),
a integrar cada vez mais estreitamente a música na sua vida de todos os dias e a
reencontrar
344

ou a recriar aquilo cujo desaparecimento Saint-Exupéry deplorava: a poesia, o gosto pelo


belo.
0 jazz deveria suscitar o mesmo entusiasmo que a música pop visto ser produto bem vivo
de artistas tão célebres como John Lennon e Jimmy Hendrix. No entanto, conhecendo-o
mal, os jovens torcem o nariz quando ouvem falar dele. Só uma minoria se apaixona. É
que, de origem americana, o jazz permanece americano e não dispõe actualmente na
Europa da promoção que merece junto dos jovens, alunos do liceu ou da universidade,
mais tocados ou mais seduzidos pela música pop. Esta alcançou em alguns anos uma
importância pouco vulgar. Interessar-se por ela, escutá-la e apreciá-la, é conhecer e
compreender o maior meio de expressão da juventude de hoje. ,

MUTISMO (Mutiame/Mutism) páginas 19.108.


Do latim mutus, «mudo».
0 mutismo verdadeiro é causado por uma perturbação dos centros ou dos órgãos da/linguagem. 0 mutismo /psicológico, em
contrapartida, não passa de uma vontade mais ou menos consciente de se calar. A forma banal de mutismo na,,,, adolescência
é a do mutismo /púdico: interrogado sobre os problemas pessoais ou chamado a tomar posição acerca de questões que toma a
peito, o adolescente recusa falar, por receio de se abrir ao adulto de quem desconfia. Uma outra forma de mutismo frequente é
o mutismo do,,<tímido: como um actor atormentado pelo medo paralisante, o adolescente sente-se bruscamente incapaz de
proferir a mínima palavra, nomeadamente em público. Enfim, o mutismo pode derivar da histeria ou da simulação. Na origem
deste estado encontram-se perturbações /afectívas mais ou menos graves. Não se deve hesitar em consultar um especialista,
Médico OU/psicoterapeuta.
N ,1 ---1 o
NARCISISMO (Narcissismo/Narciasism) páginas 34, 130. 155, 473.
A palavra «narcisismo» vem do mito grego de Narciso que foi transformado em flor (narcissos em grego) por ter preferido
aos apelos da ninfa Eco a contemplação do seu próprio reflexo na água.
* narcisismo é, na definição de Freud, o/amor exclusivo por si.
* lactente é o tipo perfeito do sujeito narcisíaco. A criança, ao diferenciar-se pouco a pouco do seu meio imediato, aprende a
renunciar a este culto exclusivo. Mas, após o período de latência (7 a
10 anos aproximadamente), o narcisismo acha-se reactivado pela elaboração do eu próprio da /,,adolescência. No decurso
deste período, o narcisismo manifesta-se a dois níveis: físico e/,, intelectual.

Narcisismo físico
0 adolescente preocupa-se excessivamente com o seu corpo: a /puberdade operou na sua aparência física algumas
transformações consideráveis, que é normal constituirem motivos de cuidado para o adolescente e sobretudo a adolescente. Na
verdade, a tomada de consciência do eu nã o poderia ignorar os dados físicos. Acontece frequentemente, além disso, esta
eclosão pubertária contribuir para uma desarmonia corporal provisória que cria um sentimento de inferioridade. Os cuidados
tidos com a aparência (elegância de /`vestuário, /penteado) são frequentemente destinados a esconder o que se julga ser
imperfeito.

Narcisismo intelectual No plano interior, o adolescente está essencialmente em busca da sua/identidade. Razão pela qual o
narcisismo lhe é uma tendência natural. Por vezes, no entanto, em caso de dificuldades graves, ele toma a forma de
uma/introspecção paralisante que conduz ao ensimesmamento e à insociabilidade. Para não desenvolver exageradamente as
tendências narcisíacas do adolescente, convém evitar os louvores desmedidos, as mais das vezes motivados por um a projecção
dos,,,,Idesejos insatisfeitos dos adultos na criança.
346

MECESSIDADES (Besoffis/Needs) página 102.

Lachelier define a necessidade como «o estado de um ser relativamente ao que lhe falta
para realizar os seus próprios fins». A diversidade dos fins implica a das necessidades, que
podem ser de ordem biológica (necessidades primárias, tais como a,,,< alimentação, por
exemplo), />,psicológica, /social e até metafisica. no caso de certas vocações (/religiosas,
por exemplo).

Na/ adolescência, os /comportamentos e/atitudes variam em função da maturação física e


psíquica: cada indiví duo reage a estes novos dados consoante o seu/carácter e o seu/,‟
temperamento. Porém, através desta diversidade dos comportamentos, podemos
reencontrar um certo número de necessidades idênticas: Necessidade de se tornar adulto:
parece dever ser colocada à frente de todas as outras. Hoje em dia, os psicólogos estão de
acordo em definir a adolescência como um desfammento entre a/maturidade biológica e a
maturidade social. Esta quase-evidência é demasiadas vezes ignorada pelos adultos, os
quais têm tendência a não ver no adolescente senão aquilo que lhes agrada ver: ora um
adulto, ora uma criança. Na realidade, é uma criança que se torna adulta e que experimenta
a constante necessidade de sentir «estar a tornar-se adulta». Necessidade de autonomia:
para o adolescente, o adulto é, antes de tudo, um ser autónomo. Ora, a autonomia fascina-
o e inquieta-o ao mesmo tempo, pois ela significa assunção de/ responsabilidade e perda do
conforto moral da infância. Apesar de tudo, a necessidade de
autonomia é mais forte, mesmo quando ela parece limitar-se a tomadas de posição teóricas
pouco relacionadas com o comportamento. Necessidade de diálogo: estas tomadas de
posição a respeito da autonomia (designadamente de pensamento) irritam amiúde o
adulto: o tom agressivo e as flagrantes contradições levam-no então a romper o diálogo. É
um grave erro psicológico, já que, mesmo quando tem consciência de irritar o seu
interlocutor, o adolescente escolhe antes de mais para dialogar, o adulto com o qual
experimenta necessidade de se identificar. Na origem dos actuais movimentos nos liceus,
encontramos sempre um profundo desejo de diálogo. Nece~ delsegurança: o adolescente
tem constantemente necessidade de ser tranquilizado e encorajado. Nem sempre é fácil para
um adulto, pois o adolescente mostra-se facilmente/ agressivo no próprio momento em que
pede ajuda. Podemos mesmo dizer que ele é sobretudo agressivo quando e porque pede
ajuda. É no conhecimento das necessidades fundamentais que se funda a /pedagogia
moderna. Outrora, o domínio pedagógico era deli-
NEG

mitado de modo artificial e/intelectual: o adulto decidia, em função de critérios que lhe
eram específicos, o que convinha ao adolescente. Os progressos da/psicologia perniffiram
elaborar uma pedagogia mais adaptada. A própria exposição das necessidades do
adolescente implica um certo número de/ atitudes/ educativas justas.
0 adolescente é uma criança que se tornou adulta: não se devem por conseguinte, ceder à
solução de facilidade que consiste em

tratá-lo quer como uma criança quer como um adulto conforme as necessidades do
momento. Com demasiada frequência, o adolescente «agora já não é uma criança» quando
se precisa de lhe confiar uma qualquer tarefa. Mas, ao mínimo/ conflito, ele ouve
lembrarem-lhe asperamente «que ainda não tem voz na matéria, que na sua idade não se
tem nada para dizer». É obstar à necessidade de maturação, muito forte na adolescência.
Pelo contrário, deve-se ajudar o adolescente a reintegrar-se no contexto da sua evolução,
exercendo verdadeiramente um papel de guia que lhe permita situar-se em relação ao que
ele era recentemente (criança) e ao que será em breve (adulto). Desta maneira, o adulto
mata dois coelhos de uma cajadada respondendo à necessidade de diálogo que conduz o
adolescente a súbitas/ revoltas quando considera que este foi rompido. Tais revoltas são
tanto mais violentas quanto maior for a insegurança assim produzida. A/agressividade
nunca deve ser uma causa de ruptura de diálogo. Os pais que'conhecem as necessidades
reais do adolescente saberão normalizá-la e inseri-Ia no contexto normal da evolução.

NEGATIVISMO (Nõgativisme/Negativism) páginas 109,127,353.


0negativismo é a / atitude que - tal como a / oposição - consiste em tomar a direcção
contrária aos/valores recebidos e às regras/morais. Mas esta forma de resistência é
automática e não integrada ao nível consciente, como é o caso da oposição.
0 negativismo pode ser de forma activa ou passiva. A primeira forma conduz quase
sempre à/delinquência que não seria mais do que uma reacção compulsiva* de negação
dos/valores sociais. e co-puisão: tenc

Donde o recurso por/inadaptação que acentua o aspecto invo-


de um sujeito ataca neurose
obsessional luntário desta forma de/ delinquência. Quanto ao negativismo repetir certos actos

de- forma passiva, manifesta-se por uma indiferença a qualquer


rtu ais, desprovidos uit,lidade e de
justil solicitação externa.

0 negativismo nasce geralmente de um traumatismo,,,1 psicológico que deu origem a


uni/recalcamento. Neste sentido, a dissociação do casal/parental pode levar o adolescente,
na idade em que ele @dCsPerta para o,,lamor, a rejeitar tudo o que lembra tal sentimento.
@,A cura só pode resultar de uma tomada de consciência do trau-- „~tismo original. A
ajuda de um psicólogo profissional é por vezes
348

necessária, mas uma / atitude aberta e compreensiva da parte dos /pais auxiliará muito o
adolescente a superar esta má atitude diante das dificuldades da vida.

NERVOSISMO (Nervosité/Narvou9n9s9)

0 nervosismo caracteriza-se por uma espécie de dispersão mental, ligada a perturbações


físicas e psíquicas. Uma incapacidade de concentração intelectual e uma variabilidade
do/;< humor vêm juntar-se à impossibilidade de descontracção física ou mental. Dai uma
perpétua/fadiga que corre o risco de levar o sistema nervoso a um estado /depressivo
caracterizado. Na origem do nervosismo encontra-se com frequência o esgotamento: o
adolescente que trabalha demasiado ou dispersa os seus/ esforços, o- que se aguenta
graças a um excitante (café, / álcool, / droga), é ameaçado, a breve ou longo prazo, pelo
nervosismo. Certas perturbações afectivas podem igualmente ser causa de nervosismo:
a/carência afectiva familiar, o/ desentendimento dos ,;<pais, a inquietação ligada ao/,êxito
escolar.

A terapêutica Em todos os casos são aconselhados a calma e o/repouso, um regime/


alimentar saudável e um ritmo de vida regular. Muitas vezes, os problemas que estavam na
origem do nervosismo perdem assim grande parte da sua acuidade: o adolescente
repousado está em melhores condições para assumir a/responsabifidade de si mesmo e
superar as dificuldades que pareciam impossíveis de resolver por causa da fadiga. Convém
desconfiar dos medicamentos revigorantes que são uma solução de facilidade: o
adolescente deve aprender as virtudes da luta contra si mesmo. Mas é indispensável que os
adultos lhe dêem o exemplo e criem à volta dele um clima ,,Oafectivo tranquifizador que
lhe assegure probabilidades de vitória.

NEURASTENIA (Nourasthónio/Nourasthenia)

A neurastenia é uma forma de,-neurose. Caracteriza-se por uma falta de dinamismo físico
e psíquico. 0 neurasténico está sempre cansado; logo que acorda, tem a impressão
dominante de que nada pode ser bem sucedido. A este mal-estar mental acrescentam-se
autênticas indisposições físicas: dores de cabeça,/,, fadiga geral. A neurastenia, enquanto
neurose constituída, manifesta-se de preferência no limiar da/maturidade. Está entã o
ligada a uma inadaptaçko quase sempre resultante de interditos instaurados pela/
educação. Por exemplo, o neurasténico sofre com frequência de perturbaçôcs/ sexuais,
nomeadamente de/masturbação. Isto deve-se ao facto de a sua libertação sexual se não
consumar plenamente por
NEU

causa de certos/tabus, de uma/educação demasiado rígida, ou ainda por receio da


impotência ou da frigidez. /Pais dominadores podem estar na origem da neurastenia do
adolescente: esmagado pela/ personalidade de um deles, o rapaz ou a rapariga partem
desfavorecidos para a/,"competição social. Desde esse momento, tudo o que justifique
a,,@demissâo é bom: cansaço físico,/dúvida de si. Esta justificação a posteriori
característica da neurose, contribui muitas vezes para falsear o diagnóstico, o qual tende a
não ver senão o aspecto fí sico da neurastenia.
0 que na realidade importa é descobrir as suas causas profundas; quando tudo falhou, não
se deve hesitar em consultar um psicanalista.

NEUROSE (Névrose/Neurosis) páginas 36. 53, 54. 55, 77. 81. 238, 289, 352.
A neurose é uma perturbação grave do psiquismo que se traduz por urna alteração do/
comportamento. Na origem de uma neurose, há a rejeição de uma pulsão julgada
incompatível coma/ personalidade. Esta rejeição faz-se acompanhar de satisfações
substitutivas cujo papel é reduzir a/tensão devida ao/recalcamento ou à repressão da
pulsão inicial.

Os principais tipos de comportamentos neuróticos susceptíveis de afectar o adolescente


são: a claustrofobia, a agorafobia*, a neurose 0 Ver «Fobia». de fracasso, a onicofagiae, etc.
o onicofegia: hábil
roer as unhas.

NORMALIDADE (Normalitõ/Normality)

A definição da normalidade é uma das preocupações essenciais da /adolescência. Trata-se,


efectivamente, da idade em que tem lugar, não a descoberta da/ personalidade, mas a sua
organização reflectida. Esta organização não pode fazer-se sem referência a normas. Ora, o
próprio contexto da adolescência presta-se mal a esta procura. Os adultos mostram-se
muitas vezes desconcertados com as mudanças espectaculares suscitadas pela/puberdade.
Eles são assim facilmente propensos a qualificar de anormal tudo o que não
compreendem. Por seu lado, o próprio adolescente considera-se incompreendido e
incompreensível. A hiperemotividade, o nervosismo e a/instabilidade inerentes a esta idade
obrigam-no a inesperadas variações que o deixam desamparado. A/ambivalência das/
necessidades, as contradições internas, os conflitos entre as novas/;¥ aspirações e os/
hábitos/ educativos da infância, tudo concorre para levar o adolescente a crer que é
anormal.

0 papel dos adultos não é fácil de assumir: consiste em ajudar o adolescente a desenredar
sozinho a sua própria meada. Em particular, convém despojar a personagem que diante
dele o adulto
350

tem tendência a encarnar: o modelo perfeito que distribuiu soberanamente as/sanções. 0


adolescente já tem demasiada tendência a idealizar e a considerar normais modelos tão
artificiais como os /«ídolos».
0 adolescente tem amiúde uma outra tendência que é a de se julgar, à falta de melhor, um
«caso». Uma excessiva solicitude da parte dos adultos não pode senão reforçá-lo nesta
opinião que o dispensa de procurar as normas indispensáveis ao seu desabrochamento.
0 melhor meio de ajudar o adolescente é informá-lo de todas as maneiras possíveis. A falta
de informações pode de facto ser geradora de inquietações vãs: em especial, tudo o que diz
respeito à/ sexualidade é novo nesta idade. É em tal domínio que o adolescente experimenta
mais frequentemente o doloroso sentimento de ser/anormal, quando, afinal, uma informação
precisa bastaria para o tranquilizar.

NOSTALGIA (Nostalgia/ Nostalgia)

0 sentimento de nostalgia, na /adolescência, é, antes de tudo, nostalgia da infância,


fenômeno bem conhecido da «recusa de crescer».
0 adolescente ou a adolescente faz o possível por continuar a ser considerado como um
rapazinho ou uma rapariguinha: os sintomas mais correntes deste estado são o convívio
exclusivo com os mais novos e os sinais de regressão (sucção do polegar, /enurese,
sobrevivência dos/ritos e jogos infantis). Estes casos extremos são raros e facilmente
descortináveis, logo curáveis. Existem outras formas de nostalgia mais matizadas: certa
adolescente, «séria», interessada pelos trabalhos domésticos e que «nunca sai», certo
adolescente, serviçal, afectuoso para com os seus/pais, podem muito bem sofrer, na
realidade, de um/desejo /anormal de regresso à infância. Eles serão tanto mais difíceis de
curar quanto toda a gente à sua volta não cessar de lhes gabar as suas qualidades. Muitos
crêem num/ êxito/ educativo que é apenas ilusório, pois um rapaz assim, uma rapariga
assim, arriscam-se a nunca se tornarem verdadeiramente adultos. Muito ao invés, todas as
suas/atitudes são função de uma vontade de dependência/ afectiva propriamente infantil.
Neste caso, o medo dos contemporâneos é uni indício. 0 adolescente que se compraz
junto dos mais novos ou dos mais velhos, que tem tendência a afastar-se dos da sua idade,
dá sinais evidentes de recusar a sua adolescência.

BESIDADE (Obésité/Obesity) páginas 235, 236, 259.


A obesidade diagnostica-se clinicamente por um excesso de peso de 15 % na criança ou
no adolescente.
OB.1

outrora, as pessoas contentavam-se com aforismos optimistas: «Gordura é formosura». Mas


as companhias de seguros de vida, que só se interessam pelos números, mediram com
grande precisão o perigo constituído pela obesidade. Além disso, ela é fisicamente
desgraciosa e pode provocar graves/ complexos de inferioridade. É bom aprender a
combatê-la desde os primeiros indícios. A obesidade fisiológica normal é a consequência de
um regime alimentar desajustado, à base de feculentos, de produtos de salsicharia ou de
iguarias açucaradas. Porém, na/ adolescência, há muitas vezes uma causa psicológica da
obesidade: o excesso de peso é uma compensaçao consequente a uma/frustração. Os
estudos de Merullo e Mayer puseram em realce três traços dominantes da mentalidade do
obeso:/;Iansiedade, /passividade e isolamento, traços que são mais frequentemente a causa
do que o efeito da obesidade.

Importa então abordar estas causas/ caracteriais quando se quer combater com êxito a sua
consequência física. A solução mais racional para os/pais consiste em consultar um
endocrinologista com boas noções de/ psicologia. 0 tratamento aos dois níveis - fisiológico
e psicológico -- é o único susceptível de conduzir a um emagrecimento sem perigo. São
bem conhecidas as repercussões a que certas curas de emagrecimento
demasiado rápidas dão ensejo, suscitando uma/depressão e podendo por vezes levar até ao
/suicídio*. Ver esta palavra.

OBJECTIVIDADE (Objectivité/Objectivity)

0 adolescente contradiz-se muitas vezes a si mesmo durante urna conversa. Na sequência


do seu próprio/ raciocínio, chega a defender a tese inversa da que havia adoptado. A
crítica fácil consiste então em denunciar a imaturidade que o impede de ser objectivo.

Ulina difícil objectividade Na/ adolescência, há uma dupla obrigação que influi sobre a
vida Psíquica de qualquer indivíduo: por um lado, integrar-se na -Osociedade, por outro,
reconhecer as possibilidades, os limites e as exigências do eu. Esta dualidade impõe de
certo modo ao adoles- ~te dois pesos e duas medidas: determina-se ora em função da
Prijneíra exigência, ora em função da segunda. Pode, em nome de U=, reivindicar a sua/
independência, e, por causa da outra, rCeusá-la. Pode, ao mesmo tempo, defender a
guerra e a paz, a -,-<,wrcligião e o ateísmo: são apenas para ele diversos aspectos de Í ~
mesma realidade que vai tentando aprender a conhecer.
362

OBSESSÃO (Obsession/Obsession) páginas 54,* 249.


Do latim obsidere, «assediar». A obsessão é unia espécie de obrigação, dolorosamente sentida, quer de pensar (obsessão
propriamente dita), quer de agir (fala-se então de compulsão) de modo repetitivo.
0 contexto da adolescência favorece a obsessão neurótica*. e Ver Meurose». De facto, enquanto as pulsões instintivas
são reactivadas pela / puberdade, as barreiras erigidas durante a infância perdem uma parte da sua eficácia. 0 adolescente
encontra-se assim diante de um eu liberto, cujas exigências parecem desmedidas. Para as esconjurar, o rito mágico da
obsessão é um paliativo tanto mais cómodo quanto o obcecado acha sempre uma justificação a posteriori. Por exemplo,
aquele que rói as unhas acusa um «/ nervosismo constitucional irreprimível». No fundo, é muitas vezes um/recalcamento
/afectivo que está na origem do,,Ihá,bito.

Ns rapazes, a tendência recalcada é, de um modo geral, a,;Iagressividade. Esta agressividade é mais um instinto de vida
conforme ao estatuto masculino do que uma tendência verdadeiramente redibitória. Ela é no entanto assaz difícil de
satisfazer no contexto da /adolescência. Pois, assim que se manifesta, entra em funcionamento todo um sistema de
repressão e o adolescente julga-se anormal. Ele pode então recorrer ao rito obsessional para esconjurar o/desejo de
agressividade, e dar-lhe um exutórío em mil pequenos actos anódinos.

Nas raparigas, a obsessão mais corrente diz respeito à pureza. Os actos obsessionais são então destinados a esconjurar as
pulsôes sexuais da/puberdade consideradas como outras tantas máculas. Uma rapariga neste caso lava o seu corpo, as mãos, os
objectos pessoais, as suas roupas seja a que pretexto for. A justificação invocada posteriormente é encontrada sem dificuldade:
necessidade de higiene,/ coquetismo natural.

Um clima de/segurança é a condição indispensável para o desaparecimento das perturbações obsessionais, que se
extinguem, em geral espontaneamente, quando o adolescente encontra, pouco a pouco, o seu equilíbrio na,,, maturidade.

OPINIÃO (Opinion/Opifflon)

Uma opinião é unia tomada de posição pessoal que compromete a/responsabilidade daquele que a enuncia.
Na/adolescência, emitir uma opinião não deixa de colocar alguns problemas particulares. Efectivamente, o adolescente
sente-se pouco seguro de si e percebe
opo

confusamente que a sua opinião se baseia apenas numa escassa experiência. De qualquer
maneira, ele raramente se acha satisfeito com o seu modo de expressão. Lamenta sentir-se,
por assim dizer, bloqueado diante do adulto, sofre por causa da impotência que
experimenta no próprio momento em que deveria dar provas da sua originalidade. É por
esta razão que, obedecendo à lei da compensação, o adolescente se mostra sem rebuço
apodítico nos seus/juízos e/agressivo na formulação das suas opiniões. É na exacta medida
em que se sente desajeitado que ele tem tendência a exagerar o tom e as palavras que
emprega.

OPOSIÇÃO (Opposition/Opposition) páoinas 90,109.137,158.198.250.347.407.


A oposição é a/atitude que consiste em tomar ao contrário/valores recebidos ou regras
morais. Quando o adolescente faz a sua entrada no mundo, esta nova /responsabilidade de
si mesmo inquieta-o. Prefere remeter-se a uma oposição prudente a que atribui o encargo
de lhe deixar o benefício da liberdade. A oposição, ao contrário, do/;<negatívismo,
pressupõe uma certa lucidez, uma autêntica tomada de posição. Por isso, a verdadeira
oposição - ou substituição dos valores recebidos por valores pessoais - é rara,

ORGULHO (Orqueil/Prido)

0 adolescente tende a manifestar com frequência movimentos de orgulho. É uma evidência


aos olhos dos adultos. Por exemplo, um certo adolescente recusa qualquer conselho,
proclamando abertamente que é capaz de se comportar como muito bem entender e sem a
ajuda seja de quem for. Um outro recusará com altivez todas as propostas de diálogo com
um adulto ou algum adolescente que tente vir em seu socorro num momento difícil.
Talvez fosse precipitado não ver nisto senão orgulho. Trata-se bem mais, na maioria dos
casos, de um violento/desejo de/independência. 0 adolescente, sabendo perfeitamente que
deverá um dia governar-se sozinho na vida e tomar assim a/responsabílidade de si mesmo,
op-e, por receio de ceder, uma recusa brutal aos que querem ajudá-lo. A sua/agressívídade
é o resultado de um dilaceramento interior derivado da/ambívalência fundamental de
qualquer/ conduta/?, adolescente: dilaceramento entre a vontade de uma autonomia que se
pressente necessária e o reconforto de um guia amigo.

NO domínio da susceptibilidade, o adolescente dá provas de intranSigência. Ele é


facilmente melindrado por um reparo, mesmo quando este parece de todo em todo anódino
aos olhos do adulto. Consi-

A-a3
354

deram-no então, com frequência, um orgulhoso. Mas não passa na realidade da


manifestação de um sentido da honra muito vivo, por vezes demasiado vivo, a acreditar
em Pierre Mendousseo: «0 ponto o P. Mendousse:
de honra substitui demasiadas vezes (no adolescente) a autêntica
I'Ãme de l'adolescent

(p.U.F., Paris, 1963), honra, o que é tanto mais aborrecido quanto em muitos jovens este
p. 117. -último sentimento, ao identificar-se quase com a moralidade na
sua totalidade, não pode ser/pervertido sem que fique gravemente comprometido o valor
futuro do adulto. Se a honra, segundo a célebre fórmula de Montesquicu, é o preconceito
de cada pessoa e de cada condição, vemos o papel que ela deve desempenhar no púbere
cuja imaginação não cessa de embelezar a condição de homem a que ele aspira e os meios
de que julga dispor para o atingir.»
0 sentido da honra, por muito exagerado que por vezes se mostre, é uma das chaves da
alma adolescente. Convém não esquecer que o/juízo do adolescente é, por falta de
experiência, inteiro e sem gradações. Em rigor, podemos dizer que se trata de um certo
sentido da estética: o adolescente procura a perfeição pela perfeição, sem crer poder
verdadeiramente atingi-Ia na vida corrente. Mas este orgulho pode ser a mola real de uma
grande obra.

ORIENTAÇÃO ESCOLAR (Orientation scolaire/Educational quidance) Página 394.


A orientação escolar era outrora apanágio dos professores primários. No fim dos estudos
de primeiro grau, a criança era dirigida para o liceu ou para um curso técnico, ou então
posta em/aprendizagem. de uma profissã o. Esta orientação, necessária e benévola, era um
tanto sumária, pois fundava-se nas possibilidades imediatas, e nem sempre nas
possibilidades reais do sujeito. Hoje, a/psicologia permite determinar de forma muito mais
precisa as possibilidades, os limites e os/gostos do aluno. Assim, a orientação escolar
tende a generalizar-se* e sobretudo a exercer-se e Em Franca, foi uma
lei votada em Maio a todos os níveis - nomeadamente ao nível do segundo ciclo do

de 1938, por proposta ensino secundário. Seja como for, ela tornara-se necessária em vir_
da J.O-C., que tornou a

orientação escolar nacional tude da crescente complexidade da escolha escolar.


e obrigató ria. Depois

da guerra. em 1945, esta lei pôde ser aplicada e os Como se faz a orientação
centros de orientação

privados foram registadosExistem várias possibilidades de levar um aluno a efectuar OS


pela Educação Nacional. /testes de orientação. 0 caso clássico é o do adolescente atrasado que o

professor envia ao psicólogo escolar ligado ao estabeleci-

Os pais, se o desejarem, podem marcar uma consulta quer, J:%dotZ@1IO9O escolar, quer
dirigindo-se a um centro público

ca escolar e profissional*. 9 Exitem cerca de

250 centros de orientação escolar e profissional em Os «~es testes. 0 aluno submete-se em primeiro lugar a UM
França. Certas empresas
asseguram a sua própria=me 2"co COMPleto que permite ter a certeza de que a causa
selecçã o. do atraso -quando este existe- é ou não /fisiológica. Depois
efectua testes que informam sobre o nível escolar actual e testes de /aptidão que indicam
as suas possibilidades mais profundas graças, nomeadamente, ao/quociente intelectual.
Enfim, testes de /personalidade permitem determinar os seus gostos. Trata-se de uma
inovação importante. Pois antigamente tudo se limitava com demasiada frequência a
dirigir o adolescente para a profissão que parecia adequada às suas aparentes
possibilidades. Quer isto dizer que só se levava em conta o êxito escolar, excessivamente
dependente dos/exames e do círculo /familiar. Os testes de/ personalidade permitem
descobrir os gostos autênticos. Inversamente, eles denunciam as «falsas vocações».
Muitos adolescentes - por ínexperiência - sonham com uma profissão que se lhes afigura/
prestigiosa, mas não corresponde nem às suas possibilidades nem mesmo, frequentemente,
à imagem que eles têm dela. 0 exemplo clássico do piloto de ensaio - sempre/ viril e
sedutor nas bandas desenhadas - mostra a importância que há em desmitificar certas
profissões ou pelo menos a ideia que delas se faz correntemente.

0 orientador e os pais Para levar a cabo o seu curto inquérito, o orientador apenas dispõe
de algumas horas e ... de um/vocabulário um pouco esotérico. Desde logo, os/pais e os
professores confiam cegamente nele ou desdenham sistematicamente o seu papel, quando
não o veneram na qualidade de detentor de uma ciência à qual atiibuem tão mais
veementemente virtudes mágicas quanto ela os dispensa de uma reflexão demasiado longa.
0/psicólogo não é um mágico, mas está em melhor posição que ninguém para reconhecer a
verdadeira /personalidade saída do molde escolar e/familiar. Enfim, os pais continuam a ser,
sem a menor dúvida, os únicos/ responsáveis pelo/futuro do seu filho: a orientação
não é selecção. Hoje, nos estabelecimentos escolares, os pais, depois de terem sido
avisados da eventual orientação, são convocados por escrito para uma conversa com os
professores e o psicólogo escolar. Quando se deve pedir a orientação Desde que um aluno
siga razoavelmente os seus estudos, os pais mostram tendência a não se preocuparem com
uma orientação que lhes parece fazer-se por si mesma. Todavia, não deixa de ser muito útil
pedir uma consulta no ano que precede qualquer mudança de ciclo. Qualquer aluno médio
pode muito bem revelar-se brilhante num outro ramo. De igual modo, certa
vocação pode não passar de uma miragem: os pais, embora respeitando os/gostos dos
filhos, devem ajudá-los a encontrar a melhor orientação graças à sua experiência. Esta,
conjugada com o partcer do orientador, permite garantir o futuro do adolescente nas
melhores condições.
356

PAI (Père/Father) páginas 51, 75, 160. 362. 442, 443, 470, 488, 495, 496.

Só recentemente nalguns países a lei que regula o regime matrimonial deixou de conceder
uma posição de favor ao esposo: a emancipação da mulher diminuiu realmente a/autoridade
absoluta do pai. Esta evolução nã o se fez sem uma certa cumplicidade dos próprios
interessados que, no fundo, não viam com maus olhos o facto de ficarem desembaraçados
de uma preocupação/ educativa que vinha juntar-se ao exercício da profissão. De qualquei
modo, quantos pais fatigados se não contentavam em reprimir certas faltas à bofetada ou
mediante aborrecidas admoestações, considerando isto como uni acréscimo de/trabalho?
Demasiado pesadas ou demasiado ligeiras, tais/sanções não contribuíam de modo algum
para resolver as situações/ conflituosas. Agora que a mulher participa em igualdade de
circunstâncias na gestão do lar, ela pode desempenhar também a função de autoridade que
era apenas destinada ao pai. Este deixa de ser, a partir de então, o pai tirano a quem se
recorria quando a solução era insolúvel.

As dfficuldades actuaís A emancipação da mulher pode, por vezes, ser mal compreendida:
desde logo, o pai volta a encamar o justiceiro para quem só se apela em caso de crise.
Durante o resto do tempo cria-se entre a /@< mãe e os filhos uma cumplicidade quotidiana
da qual ele se acha excluído. Ora, as condições actuais do trabalho são, em geral,
desfavoráveis à vida de/família: tempo de trabalho e -afastamento do local de trabalho
levam a que o pai esteja mais frequentemente ausente hoje em dia do que há cinquenta
anos. Este fenô meno é mais acentuado nas cidades do que no campo. Um inquérito
efectuado por Fernand C-OrtCZ em InCiO urbano mostra que, de entre sujeitos de 9 a 16
anos de idade, apenas 27 % conhecera a/ profissão do pai, 48 %. con~-na imperfeitamente
e 25 % ignoram-na totalmente*, 9 Números citados pelo
Nestas condiÇUS, o papel do pai toma-se cada vez mais d
ifíCi d.ut., Gém.d em I'Homme 1
Mistifié. & culuPrir: «Ofclwm-sc-lhe três tentações, escreveria Porot e
PAI

Seux, o desconhecimento da função paterna, o excesso ou, pelo contrário, a carência de


autoridade.»* 0 Porot e Seux:
lesAdolescentspermín

odesconhecimento da função paterna. 0 pai deve estabelecer sem descanso um difícil


equilíbrio entre/amor e autoridade. Certos homens crêem poder partilhar a tarefa educativa
com a sua mulher: a mãe é amor, o pai autoridade. Na realidade, a autoridade sem amor
em matéria educativa apenas é possível nas/sociedades primitivas onde a função paterna é,
antes de tudo, biológica.

0 excesso delautoridade. É o caso do pai dominador que entende estabelecer relações de


vassalos a suserano entre os seus filhos e ele. Qualquer que tenha sido o valor
desta/atitude no passado, os adolescente de hoje consideram-na como uma ruptura de
diálogo. Ainda que na aparência se lhe submetam, as/reacções em profundidade tendem a
separar definitivamente os filhos de um pai que não tiver sabido fazer-se amar.

A carência de autoridade. Ela assinala-se pelo absentismo virtual ou real: umas vezes o pai
assiste como espectador às manifestações /familiares, outras está perpetuamente ausente
devido às suas ocupações. A carência de autoridade é decerto mais fértil em
consequências do que o excesso, pois o último é, apesar de tudo, uma manifestação e, em
certo sentido, um símbolo de/segurança para o adolescente*. Este, na maior parte dos
casos de carência paterna, 9 No seu Étudo su, manifesta tendências para a/demissão ou a
regressão ao estádio prostitution das mina
P. Le Moal nota que infantil. delas não conheceram

0 verdadeiro papel do pai


0 que o adolescente espera do pai é, antes de mais, uma ajuda na conquista da autonomia.
Porquanto, afinal, o pai é para o adolescente, no interior da família, aquele que representa
a,,,Isociedade na qual ele deve integrar-se. Por conseguinte, ele espera do seu pai uma
atitude que possa servir-lhe de modelo e de apoio. Para tanto, o pai não deve temer
manifestar de vez em quando uma certa /agressividade: esta mostrará ao adolescente que
o seu pai é capaz de o defender. Mas convém ao mesmo tempo que o pai seja um iniciador
na/liberdade. Toda a sua acção/educativa deve tender para a emancipação do filho ou da
filha: «Toda a paternidade é provisória, dizia Paul Claudel, ela deve desfazer-se por si
mesma dos seus atributos demasiado amiúde ligados à infância de cada ura, e aceitar-se
como dádiva sem reciprocidade. Toda a paternidade é emancipadora.»* Em particular, o
pai deve saber aceitar -Sem *Dr. Géraud: Ia Fo@ se lhe submeter passivamente- qualquer
manifestação de agressi- P* 55, vidade do seu filho como um sinal de/niaturação.
358

IS (Parents/Parents) pâginas lo, 23, 57. 60. 69, 70, 71, 108, 121. 125, 148, 161. 186, 190. 191, 202.

É um lugar-comum dizer que na / adolescência as / relações pais-filhos atravessam uma


crise que gera um sentimento e ma -estar /familiar, na qual todos ficam a perder: os pais
sentem-se,;<frustrados e os adolescentes, por seu lado, não podem decidir-se a escolher
entre a frustração de/;,liberdade e a frustração de/amor. os pais melhor intencionados,
aqueles que «fizeram sacrificios», são geralmente os que aceitam pior que a crise se instale
em sua casa. Para eles, a crise é culpa dos outros. Não suspeitam de que, agindo assim,
contribuem -ao negá-lo - para estabelecer esse estado de rebelião que lhes parece
injustificado. Trata-se de um aspecto geralmente mal conhecido da crise pais-filhos: nove
em cada dez vezes, de facto, só a/personalidade do adolescente é posta em causa, só ela é
acusada de contribuir, devido à sua efervescência, para a degradaçã o das relações
familiares. Decerto que a posição do adolescente a respeito da sua família é ambígua, como
são todas as opções fundamentais tomadas durante este período. Devido ao estatuto
criança-adulto -nem criança nem adulto -, é perfeitamente normal que assim aconteça. 0
adolescente-criança experimenta ainda a,,xnecessidade irresistível da /identificação com os
pais, ao passo que o adolescente-adulto é, não menos irresistivelmente, levado a procurar
outros modelos. Sendo assim, os pais julgam-se ao mesmo tempo ultrapassados e
rejeitados. No fundo, eles não são pessoalmente contestados. Mas são eliminados enquanto
«pais susceptíveis de fixar num estádio /infantil». As razões que podem motivar um tal
receio são numerosas. Por exemplo, urna observação do gênero: «Antigamente
eras diferente: ordenado, piedoso, obediente ... » conduz imediatamente a que o
adolescente, por,,Idesejo e necessidade de se sentir diferente, se mostre desordenado,
blasfemo ou desobediente, de tanto recear uma alienação do estatuto adulto que
ele/reívíndíca. Mas, ao mesmo tempo, esta tomada de posição, pelo seu aspecto
voluntarioso, mostra bem que os/valores da infância não são rejeitados por si mesmos, mas
por aquilo que representam de infantil. A sua rejeição implica um dilaceramento íntimo que
o adolescente encobrirá as mais das vezes com um excesso de confiança em si,
fanfarronadas ou até uma provocação deliberada relativamente aos pais, garantes destes
valores.

0 a~ta~ e o liberalismo MO dUas/atitudCs que tentam contrariar esta crise. NÓ ~eiro


caso, oPta-se Por uma demonstração de força. À/ inso-
1~ ~ado a privação de,-saídas, de/dinheiro ou de,@<televi~, ou ainda a deita antecipada,
condimentada com observa- ~ ~ géncrO: «Não Perdes pela demora, meu figurão, na
PAS

tropa é que te hão-de amansar» ou «Mas que mal fizemos nós para merecer uma
desavergonhada destas? Pergunto a mim mesmo quem a há-de querer um dial» No segundo
caso, à/insolência responde a tentativa de desinteresse, quer manifesto («Queres assim?
Está muito bem! Mas se fizeres asneira não atires as culpas para cima de nós. Foste tu que
o quiseste!»), quer dissimulado J«Afinal de contas já é quase um homem (unia mulher).
Temos de esperar que passem as últimas verduras da mocidade.»]

Estas duas/atitudes são negativas: a crise -«crise de,;<desenvolvimento» normal e


provisória- arrisca-se entã o a tornar-se /desentendimento profundo e duradouro.

Adultos, mas imperfeitos Se é verdade que o adolescente se apega doravante a ver, nos
seus /pais, adultos, o que interessa é encontrar neles/;< valores de adulto. A/adolescência é
a idade da tomada de consciência de si e, também, dos outros. Observador lúcido e
implacável, o adolescente não exige aos pais uma perfeição que ele começa a saber
ilusória, mas uma assunção leal de si mesmos que o ajudará por tabela a aceitar-se a si
próprio. Ora, é precisamente na altura em que o adolescente perscruta os pais com maior
vigilância e clarividência que estes,/ansiosos devido ao risco de serem rejeitados, tentam
dar de si mesmos uma imagem tranquilizadora e sedutora. Como sublinha Georges Mauco
o: 0 G. Mauco:
«Esquece-se que às inseguranças do adolescente correspondem as
Psychanalyse at édÚc@ (Aubier-

Montaigne, inseguranças inconscientes dos pais. Ver-se um filho ou uma filha Nuis, 1967), p. 140.

alcançar a função de homem ou de mulher pode proporcionar satisfação e orgulho. Mas, no


plano inconsciente, há insegurança. Há Sentimento de se perder um filho, de ver
irremediavelmente encerrado um passado/ familiar. Há, sobretudo, o sentimento profundo
do seu próprio envelhecimento e de um render de geração... Importa assim que os pais
tomem consciência da sua própria insegurança na relação com o adolescente, pois este sente
inconscientemente essa surda hostilidade do adulto perante a sua promoção à categoria de
homem ou de mulher.» Os pais que não sabem efectuar renúncias inelutáveis
são/responsáveis por futuros malogros. Inversamente, a simples aceitação de se mostrarem
aos filhos exactamente como são, quer dizer, adultos !nas imperfeitos, ajudará, melhor do
que qualquer outra atitude, os jovens a ultrapassar a crise da adolescência.
IPASSIVIDADE (Passivité/passivity) páginas 49,60,82,375.
A passividade é uma predisposição para sofrer sem iniciativa nem /esforço todas as
influências exteriores. 0 adolescente passivo,
360

em vez de escolher, deixa os seus íntimos ditarem-lhe a sua/conduta. Ele continua muito
estreitamente submetido aos que guiaram a sua infância ou aos que pretendem guiar a sua/
adolescência.

* passividade: fuga ou refúgio * passividade tem amiúde origem no receio das


responsabilidades: os pais deveriam ter isto presente antes de se regozijarem diante de um
adolescente demasiado dócil. 0 adolescente passivo é aquele a quem nunca sorrirá o/êxito,
pelo menos o verdadeiro êxito, o que se deve a si mesmo. Convém enfim saber que existe
uma forma de passividade voluntária que traduz um/desejo de recolhimento em si mesmo,
muitas vezes na sequência de um grande sofrimento.

ECADO (Péché/Sin) Página 134.


São muitas as tentações que espiam o adolescente, quer no domínio/sexual, onde as novas
pulsões pubertárias o impelem a satisfações julgadas condenáveis, quer no domínio
/famíliar, onde ele manifesta um natural/desejo de/ independência que subverte as relações
estabelecidas durante a infância. Esta noção de pecado/angustia a maior parte dos adol-
Iscentes. Provoca neles mudanças de/humor que podem parecer/caprichos mas são o
reflexo de um verdadeiro terror. 0 adolescente /religioso pode chegar a rejeitar qualquer
prática religiosa. Algumas/neuroses de fracasso explicam-se por um/desejo de
autopunição. Tem-se visto certos adolescentes irem até ao/suicídio para se castigarem por
pecados muitas vezes perfeitamente perdoáveis e que, por falta de experiência, eles
dramatizam ao máximo.

EDAGOGIA (Pédagiogie/Pedagogy) páginas 107,145.148.346.427.506.508.


A/adolescência caracteriza-se pelo desfasamento existente entre a/maturidade biológica
adquirida na/puberdade e a maturidade social. 0 adolescente deve assim adaptar-se
simultaneamente ao novo eu e a o em. Motivo Pelo qual toda a pedagogia válida se deve
preocupar essencialm~ CM favorecer 0 melhor possível esta função de/ adaptação que
constitui a/aprendizagem inerente à adolescência. A a~ de adaptação não é desprovida de
ambiguidade. Durante a ia~ o indivíduo está estreitamente submetido ao/meio de que de
~de nos domínios essenciais:/ afectividade/,intefi~ Vo~ No momento em que ele deve
assumir todas as suas Mi~ mentais sob a sua própria/ responsabilidade, produz-se no
ado~te um ~C de confusão dos/valores: o que é
infantil deve ser rejeitado e não superado. Para o adolescente, tomada de,,@1
responsabilidade corresponde a/oposição. A pedagogia da adolescência deve portanto velar
particularmente por manter o equilíbrio - difícil de estabelecer - entre a oposição e
o/conformismo. Refrear as possibilidades de uma,,,Ipersonalidade cheia de vitalidade é tão
nefasto como estimular em excesso uma maturação que é, antes de tudo, uma questão de
tempo.

Alguns princípios educativos Favorecer a integração. É preciso conceder um lugar


privilegiado à aprendizagem das responsabilidades: mostrar-se-ão os respectivos limites e
constrangimentos, mas também as alegrias. 0 adolescente compreenderá melhor os
problemas do adulto, cuja acção educativa ficará deste modo nitidamente favorecida.
0 adolescente deverá também fazer a aprendizagem da autonomia. É uma das mais difíceis
de levar a cabo e o erro principal da/ mãe ou do/pai é não saberem apagar-se na devida
altura. É indispensável que os/pais aceitem o que afinal não passa do coroamento da sua
obra educativa: ver o filho «viver a sua vida».

Respeitar a personalidade do adolescente. Muitas vezes o adolescente desconcerta o


adulto, desarranja as suas concepções. Então, em vez de considerar o adolescente, ele
considera a adolescência, ou até a «juventude actual». Esta/atitude não pode senão
indispor o adolescente que vive a mais apaixonante experiência da sua vida: a de se
descobrir precisamente a si mesmo com o seu/carácter e os seus/gostos. 0 objectivo de
toda a educação é pôr em evidência os interesses e as possibilidades do indivíduo a quem
ela é destinada. Importa assim considerar, em todos os casos, o adolescente não como o
representante de uma espécie curiosa, mas enquanto individualidade. Por outro lado, seria
também um erro -assaz frequentemente cometido - manifestar um interesse demasiado
grande por um «belo caso». Além do que esta atitude teria de melindroso para a roda do
adolescente (outros alunos, irmãos ou irmãs), ela não pode senão animar a tendência
natural que este último tem para o/narcisismo, a autocontemplaçâo e, afinal de contas, para
a concentração em si mesmo.

Ser o mais naturalpossivel. Houve um tempo em que era de bom-tom para o adulto - e
especialmente para o adulto investido de /responsabilidades/ educativas - apresentar-se
não como pessoa humana, mas como modelo absoluto. 0 problema de certos/pais,
actualmente, é a consciência que eles têm de não representar este gênero de modelos:
donde o aparecimento de frequentes casos de /demissão e de inquietação que falseiam as
relações educativas.
382

Longe de ser/ culpável, o sentimento de não ser perfeito é, ao mesmo tempo, uni sinal de
honestidade e uma/, atitude educativa autêntica.

ENTEADO (Coiffure/Head-dress)

Os rapazes A/moda dos cabelos compridos para os rapazes cria problemas aos pais.@Eles
temem geralmente que se defina assim uma desvirilização. E sobretudo o caso de
qualquer/pai que se projecte naturalmente no filho quando se trata de,,1 virilidade. Para o
adolescente, ter os cabelos compridos corresponde a uma/necessidade de /identificação com
o/grupo. A noção de grupo alargou-se consideravelmente sob a acção dos mass media; por
isso a moda dos cabelos compridos foi adoptada por milhões de adolescentes. Constitui
assim unia tendência normal que se deve evitar combater abertamente quando se lhe tem
aversão; o resultado infalível de um tal procedimento seria o de a reforçar. Na fase da busca
da identidade, o adolescente não deve sentir-se isolado. Convém pelo contrário que ele
possa considerar-se como membro de pleno direito da/sociedade dos seus iguais. Mesmo
sem dramatizar, é lícito temer que uma proibição neste domínio origine uma forma
de/recalcamento. Na melhor das hipóteses, uma tal proibição será encarada como um
castigo t.anto mais cruel quanto parecerá gratuito. Além disso, seria simplista conceber a
virilidade como inversamente proporcional ao comprimento dos cabelos. A história é fértil
em períodos nos quais os cabelos compridos representavam a norma, quanto mais não seja
na Idade Média, em que os cavaleiros, nada tendo de efeminado, apreciavam este modo de
penteado. Vemos assim que o problema não é simples. Mas existem soluções satisfatórias
para toda a gente. Sem parecer cederem, os oponentes podem muito bem optar por um
compromisso: os cabelos compridos só serão tolerados na condição de se apresentarem
absolutamente limpos e serem regularmente cuidados. Desta forma, os /pais podem transigir
sem perder o respeito do adolescente. Este mostrar-se-á mais inclinado a seguir
os conselhos dos pais quando forem abordados problemas de maior importância.

As raparigas Para as adolescentes o problema é ao mesmo tempo mais simples e mais


complicado. Mais simples porque se lhes reconhece sem dificuldade o direito de se
preocuparem com o arranjo dos cabelos. Mais complicado porque - elemento da sua
apresentação - o penteado simboliza, de certo modo, o desabrochamento da sua
/femiAffidade. Verificam-se então muitas vezes certas dissensões:
PER

«Ainda és muito nova para te penteares assim. Na tua idade, eu ainda usava tranças.» Não
obstante, tal como no caso dos rapazes, é bom que as adolescentes disponham de uma
certa/liberdade na matéria. Obrigar uma rapariga a pentear-se de determinada forma, só
porque «é mais assisado», pode gerar nela um sentimento de/frustração duradouro.
Alguns penteados poderão no entanto parecer inaceitáveis. É então possível aproveitar um
meio que apenas custa o preço de uma consulta a uma esteticista. É muito raro que os
conselhos que esta será levada a dar não se‟iam seguidos à letra. 0 que permite fazer
economia de intermináveis sermões em/família. Por vezes põe-se o problema dos preços: a
adolescente pode manifestar necessidades de elegância verdadeiramente onerosas em
matéria capilar. Em vez de contrariar brutalmente as suas pretensões, é preferível incluir
no seu/ dinheiro a soma julgada suficiente para o arranjo dos seus cabelos. 0 equilíbrio
instaurar-se-á por si mesmo no orçamento da adolescente.

PERFORMANCE (Performance/Performance) páginas 79.401.416. A procura da performance é


geralmente desaconselhada aos adoles-

centes, sobretudo por aqueles que enaltecem o/ desporto de equipa. Estes entendem que a
submissão a uma disciplina colectiva, o respeito pelo adversário e pelas regras são uma/
aprendizagem da vida em comum. Inversamente, a performance, /esforço solitário,
traduzir-se-ia por egoísmo. Trata-se de uma análise sumária que Buy Tendijk supera: «A
performance, escreve ele, é a realização de uma tarefa pela adjunção de um novo sentido
ao que está em causa. A consciência da performance é, ao mesmo tempo, consciência de
um poder oposto a um não poder, a consciência de estar ligado por uma obrigação aceite.»* e
F. J. J. Buy Ter

É graças à performance enquanto superação tanto/moral COMO


Étude fonctionnelle dL

mouvement humain física que o desporto juvenil se distingue do/jogo infantil. (Desciée
de Brouwer.

1957).

PERSONALIDADE (Personnalité/Personality) páginas 108,171,190.358,371.383,409.


A personalidade é uma noção complexa. A etimologia latina (persona: «personagem»,
«actor de um drama» ) indica a sua dualidade fundamental, comparável à do actor. Este,
de facto, tenta fazer coincidir a personagem que encarna e a sua própria personalidade.

* tomada de consciência do eu * que caracteriza o adolescente, é que ele se descobre


bruscamente diferente do seu/meio, ao contrário da criança que tem tendência a sujeitar o
mundo exterior ao eu (/egocentrismo). Esta descoberta de uma diferenciação com respeito
ao meio é acompanhada por
364

uma tomada de consciência do eu, o qual existe e se afirma em /oposição aos outros. Quer
isto dizer que o adolescente descobre ao mesmo tempo que é capaz de originalidade e que
esta originalidade, para existir, deve ser reconhecida pelo meio. Alguns diriam que o
adolescente faz a descoberta da condição humana: o homem está simultaneamente virado
para o interior e o exterior, do mesmo passo indivíduo e membro de uma /sociedade. Por
isso não é de adn:úrar que uma tal descoberta da personalidade se faça a dois níveis
diferentes e complementares: o adolescente determina-se a si mesmo nas suas relações com
outrem e através da / introspecção.

As relações com outrem Na busca de si mesmo, o adolescente começa muito naturalmente


por se voltar para os outros a fim de aí encontrar um modelo. Na altura de se integrar na
sociedade, ele age, por assim dizer, como um «novato». Observa, enquanto espera ter
adquirido um certo/hábito dos seres e dos lugares para se abrir. As/relações com outrem
são marcadas por esta constante preocupação de encontrar referências. Neste momento, o
adolescente passa por uma fase de/sugestibilidade da qual pode depender a sua vida de
adulto. Constitui uma faceta habitual das autobiografias revelar as influências que
na/adolescência inflectiram desta ou daquela maneira uma personalidade em formação.

A introspecção Ao mesmo tempo que procura as influências exteriores, o adolescente tem


tendência a olhar para dentro de si: a descoberta dos outros é acompanhada pela
descoberta de si. Seria portanto falso considerar a personalidade como um todo, dado
adquirido desde o nascimento, ainda que haja uma parte inata, o/ temperamento, e uma
parte ao mesmo tempo inata e adquirida -visto que o seu/;¥ desenvolvimento é
essencialmente função da interacção do eu e da sociedade-, oi"lcarácter.

0 desabrochar da personalidade
0 Papel do/ educador é o de um guia, atento a não deixar o adoles~ CMtC fCChar-se no
dilema/ conrormismo-oposição. É apenas na M~ em que ele próprio tiver adquirido um
certo equilíbrio que Mo será possível criar o contexto mais favorável ao desabrochaMMto
da Persortalidade do adolescente. Efectivamente, um proW~51a0 demasiado rigoroso cria
a/segurança indispensável, MM COntribui para um esmagamento da personalidade do
aluno. A e&o intervenção desenvolve o sentido da iniciativa, mas gera ft~L90~ a/angústia.
«A/educação nada tem a ver nem
PER

com o proteccionismo nem com o abandonismo: ela consiste em favorecer na criança


experiências múltiplas e diversas no momento em que o seu desenvolvirnento,,* psicológico
o permite, e em ajudá-la, mediante uma relaçâo/afectiva tranquilizadora e um diálogo
atento, a extrair daí uma linha de/conduta.»* Documents Servk@

Idólescence (coediçâ, Bonne Presse e C.N.F

PERVERSÃO (Perversion/Perversion) pâginas 39, 52,110,366.


Tal como a/perversidade, a perversão subentende uma anomalia do/ comportamento, mas não significa, como a primeira,
uma recusa deliberada dos/valores estabelecidos. Ela exprime essencialmente uma alteração patológica das tendências
normais - alteração devida, as mais das vezes, a uma situação / conflitual de tipo / neurótico.

* termo «perversão» aplica-se fundamentalmente aos desvios * sexuais. Estes desvios podem abranger tanto os fins como os
meios da sexualidade. Os desvios mais correntes, ligados ao/ desenvolvimento da adolescência, são os que se referem aos fins:
entre eles distingue-se a/ homossexualidade, desvio felizmente passageiro na maior parte dos casos. Uma outra forma menos
frequente é a perversão,,* moral, fundada sobretudo na ignorância dos valores autênticos e na exaltação mórbida do eu.
Podemos classificar nesta categoria certas formas de/ delinquência.

Seria errado acreditar que as perversões se instalam por causa da /puberdade. Não há dúvida de que é muitas vezes neste
momento que elas se revelam, o que se explica por duas razões. Em primeiro lugar, a puberdade, ao trazer a força,
a/inteligência e o poder sexual, dá mais poder de fazer mal. Ora, é à noção de nocividade que se reduzem as diferentes formas
da perversão: amoralidade, desafectividade,/impulsividade, inadaptabilidade, etc. Além disso, se a perversão se revela amiúde na
adolescência, é porque ela reveste nesta idade um carácter/ social: os/pais já não podem esconder as suas manifestações. Porém,
uma coisa é certa: o adolescente perverso surge sempre como um reincidente: falsificação de cadernetas de notas,/roubos
miúdos ou ainda vagabundagem sob forma de gazeta às aulas.

,-4, 0 Pervertido é essencialmente aquele a quem as más influências desviaram do bom caminho. 0 adolescente é acessível à
perversão devido à plasticidade da sua/ personalidade em formação. Razão Í`_

Pela qual, ao observar-se uma qualquer perversão no adolescente, Importa antes de mais afastá-lo das pessoas ou das
situações que Catão na origem da perversão. A reeducação consistirá em seguida em restituir-lhe o sentido e sobretudo
o/gosto por/condutas

Paria, Abril de 1968), p,


366

normais, mostrando os becos sem saída a que não pode deixar de levar a perversão em
causa.

PERVERSIDADE (Perversité/Perversity) página 365.


A perversidade não deve ser confundida com a/perversão, que é o desvio de uma
tendência normal. A perversidade é mais/ intelectualizada: ela pressupõe uma recusa dos/
valores/ morais. A/atitude associal, malignidade daquele que prefere sistematicamente o
mal ao bem; na perversidade, «não há simples abandono ao mal, há desejo dele» (H. Ey)*.
9 Dicionário de
Nal adolescência, a perversidade é quase sempre passageira: ela é,
Psicologie (Ed. Verbo. Lisboa, 1978).

conscientemente ou não, procura de uma originalidade discutível, por uma/ personalidade


que não sabe afirmar-se de outro modo. É o caso do adolescente que gosta de fazer mal
aos seus/camaradas ou a pequenos animais, daquele que se entrega a actos de vandalismo
gratuitos. Tais formas de perversidade desaparecem a maior parte das vezes por si mesmas
com a/maturidade.

PESSIMISMO (Pessimisme/Pessimism) página 265.


A posição do adolescente no mundo actual inclina-o cada vez mais ao pessimismo.
Lembremo-nos de que a/puberdade se produz bastante mais cedo do que há alguns anos
(segundo estatísticas escandinavas a idade da puberdade baixaria dois meses de dez em dez
anos), que a integração/ social se acha cada vez mais atrasada pela necessidade de uma
especialização que não pãra de se intensificar: percebemos então que a posiçã o
desconfortável que caracteriza a/adolescência actual se estende, em certos casos, ao longo
de quinze anos, ou seja, a quarta parte da duração de uma vida média. Trata-se, sem
qualquer dúvida, de razões suficientes para inspirar pessimismo mesmo aos mais dotados,
que receiam nunca vir a dispor da oportunidade de dar provas das suas possibilidades
- possibilidades em que acabam algumas vezes por não acreditar já que elas se não podem
medir na acção.

Pees~o e pedagogia
0 PcUiMiSMO aProxima-se da/ angústia quando os próprios adultos ,,,~estam uma falta
de/confiança ou inclusive um verdadeiro

o a respeito de si mesmos. Contudo, esta é uma/atitude designadamente no/,"ensino.


0~ estabelecimentos escolares onde só os cursos «clássicos» -~izados, um adolescente
orientado para um ramo de menos > pode julgar que o seu/ futuro /intelectual é
restrito. a cOnClUir que o próprio eu fica limitado em todas as suas facul-
dades vai apenas um passo que os/ temperamentos/ ansiosos não tardam a dar.

Decerto que não pretendemos rejeitar o modo de selecção, que é necessário por motivos
evidentes, nem manter um aluno a um nível que não é o seu. Mas há/ orientações para
certas «novas profissões» que se assemelham inutilmente a execuções.

PETTING (Petting/Petting)

Carícias que conduzem ao orgasmo sem que haja verdadeiras relações sexuais entre os
parceiros. Trata-se de um costume essencialmente anglo-saxónico em que a/educação
puritana formalista desempenha um grande papel - visto o petting permitir a uma rapariga
conservar todas as aparências da/virgindade.

Vantagens e inconvenientes Uma tal prática tem a vantagem de libertar da opressão criada
pelo /desejo/sexual sem no entanto provocar o sentimento de/culpabilidade que acompanha
geralmente as relações sexuais entre adolescentes. 0 petting evita assim uma perturbação
de/comportamento duradoura, pois o sentimento de culpabilidade pode transformar-se
ulteriormente em ressentimento dirigido não só contra o parceiro (ou a parceira) mas
também contra todo o/sexo oposto.
0 risco inverso é igualmente real: o adolescente ou a adolescente podem fixar-se
patologicamente neste estádio de/masturbação recíproca, o que apresenta um duplo
inconveniente no plano/opsicológico e/ social. Por um lado, o petting priva quem a ele se
entrega do valor procriador subjacente a qualquer/ actividade/ sexual normal. Constitui um
sério obstáculo à integração da/afectividade na sexualidade, pois o parceiro é considerado
como um meio e não como um fim. No plano social, por outro lado, o petting traduz uma
fuga ante as/ responsabilidades, em particular as responsabilidades físicas e morais
pressupostas pela relação sexual normal. É uma forma de fuga diante de outrem, não menos
que a masturbação propriamente dita.

PILULA (pilule/pi11)

A Pílula contraceptiva presta-se hoje a um curioso paradoxo: por um lado, está no centro
de debates apaixonados transpostos para as páginas dos jornais; por outro lado, percebe-
se que se trata de um assunto que nunca é praticamente abordado diante das adoles
ccntes, mesmo quando elas estão para se/casar, ou seja, assumir uma / sexualidade /
responsável. A pílula é oficialmente autorizada em muitos países. Todavia, a
388

sua venda não é livre e as adolescentes devem apresentar uma autorização dos/,,pais além
da receita médica para terem o direito de a comprar. 0 que a torna inacessível à maior
parte delas.

A pílula: solução ou problema? As/ opiniões a este respeito são quase sempre extremas: é-
se apaixonadamente contra ou apaixonadamente a favor. Esta/atitude é compreensível se
pensarmos que o emprego da pílula põe em causa toda uma concepção do/amor e, por
consequência, os próprios fundamentos de uma/sociedade. «Para uns, escrevem Georges
Fouchard e Maurice Davranche, a pílula resolverá tudo: miséria, injustiça, desventura,
numa humanidade enfim liberta e feliz. Para outros, ela é a arma do Diabo, o instrumento
do vício, a escalada para a devassidão e o gozo.»* Q G. Fouchard e

Os jovens, em compensação, parecem furtar-se a emitir uma opinião. M. Davranche:

Existe, segundo parece, um mercado negro da pílula, mas aparente-


Enquête sur Is jeunesse
mente sem grande envergadura. Na verdade, os jovens acham-se perplexos.
(Gallimard, Paris, 1968).

A pílula faculta-lhes uma nova escolha entre várias possibilidades. Aceitarão eles o risco de
uma sexualidade inexperiente e capaz de levar a uma gravidez prematura cujo encargo não
poderão tomar sobre si? Entregar-se-ão sem freio ao gozo e à devassidão de que falam
Fouchard e Davranche? Ou será que a pílula lhes trará a serenidade indispensável a uma
sexualidade completa?

Na realidade, o fundo do problema não é a pílula em si mesma -não é possível afirmar de


modo razoável que ela esteja à altura de resolver o problema do amor. A verdadeira
questão é esta: em que medida pode a pílula ajudar ou prejudicar o desabrochamento total
do homem ou da mulher? Em que medida pode ela favorecer ou, ao invés, impedir a
assunção de responsabilidade nos jovens? A única certeza é a necessidade de instaurar uma
/ educação / sexual autêntica que se não restrinja, como acontece muito frequentemente, a
cursos de Anatomia Comparada.

POLITICA (Politique/Politics) página 384.


A experiência da temporalidade. 0 adolescente já não concebe o tempo como o fez a
criança: para esta, o tempo não é senão uma sequência de momentos que ela nem sequer
se lembra de ligar uns aos outros; para o adolescente, o tempo começa a adquirir um
sentido, já não existindo unicamente em função dos / valores / afectivos, Mas sobretudo
em função dos valores/morais.

* p~ca: um exutório? * adole~te é por vezes tentado a assumir esta/ responsabilidade pela
via da política. Surge assim uma nova/atitude caracterizada
PRA

por uma/ instabilidade que leva os movimentos políticos fundados na acção dos
adolescentes a ficarem geralmente sem amanhã. De facto, o adolescente tem falta de
experiência e de sentido do relativo. Sem se prender às subtilezas indispensáveis a qualquer
acção política, dirige-se logo para os extremos. Pouco importa a significação exacta destes
extremos: para confirmar o facto, basta recordar que antes da 11 Guerra Mundial era
corrente aderir às associações de extrema-direita. Agora, são os movimentos de extrema-
esquerda que recolhem mais adesões. Trata-se menos de uma questão de conteúdo político
do que de propaganda. Lançando-se ardorosamente na acção, não hesitando em bater-se
para fazer triunfar as suas ideias, o adolescente não demora a embater contra certas
realidades que o obrigam a assentar os pés no chão. Nesta altura ele não se encontra longe
da/maturidade e, em tal sentido, a/actividade política, por muito prematura que seja, pode
dar oportunidade a um enriquecimento; mas antes apercebemo- nos de que as opções
políticas dos adolescentes se limitam quase sempre a tomadas de posição dogmáticas, sem
grande relação com o real. Não é raro um adolescente politizado ignorar a própria
constituição que rege o seu país.

PRAZER (Piaisir/Picasure) página 154.


Segundo Freud, o princípio de prazer é um dos que regem prioritariamente a vida mental,
intelectual e afectiva do homem. No adolescente, a procuia do prazer numa vontade de
gozo imediato* é uma causa frequente de/inadaptação. Diz-se então que 0 Ver 4cool»,
«Droç o adolescente carece de horizonte temporal, ou seja, que ele não sabe organizar o

presente em função do futuro. A/reacção mais característica é a que impele um aluno a


querer interromper os seus estudos para ganhar/dinheiro mais cedo.
0 risco de confundir interesse e prazer é bastante grande para o adolescente. Ele precisa
assim de ser constantemente elucidado nas suas opções importantes, nomeadamente nas
que se referem à escolha da/profissão.

PRECONCEITOS (Préjugés/Prejudices)

Os Preconceitos por que se corre o risco de falsear as/relações entre adultos e


adolescentes são numerosos. Percebe-se, em muitos casos, que estes preconceitos são
alimentados pelo inconsciente. Assim, a/mãe que declara que a juventude actual é
agressiva tem todas as probabilidades de transferir para este preconceito a hostilidade que
sente inconscientemente contra o desabrochamento dos jovens - sinónimo, para ela, de
envelhecimento. Por seu lado, os adolescentes experimentam diante dos adultos um

A- 24
370

sentimento de inferioridade que se recusam a confessar: decretam então que as gelações


anteriores são absolutamente incapazes de os compreender. 0 único remédie susceptível de
varrer tais preconceitos é um diálogo sincero entre adultos e adolescentes. É naturalmente
ao nível da célula/familiar que o diálogo pode dar melhores frutos. Torna-se indispensável
para isso possuii algumas noções de/psicologia e ser movido por uma real vontade de /
comunicar.

PREGUIÇA (Paresse/Laziness) páginas 144,290.


A preguiça, designadamente no domínio escolar, sucede muitas vezes, no adolescente, ao
entusiasmo da criança. A constância de um tal fenômeno devia levar os/psicólogos
modernos a reconsiderar um problema que as gerações anteriores tratavam de uma
maneira uniforme: /punições ou virtuosas admoestações. A preguiç a só pode definir-se
por referência a um/juízo de/valor: ela pressupõe, de facto, simultaneamente, a recusa e
a/capacidade de trabalhar, e também a aceitação como normal da tarefa a efectuar. Ora, é
cada vez mais evidente que a/adolescência constitui o terreno de eleição para as causas de
preguiça involuntária. -Causas físicas: entre estas podemos citar, em primeiro lugar, o
processo de/maturação pubertária e as suas sequelas de perturbações funcionais
ocasionadoras de uma grande fatigabilidade; -Causas/ fisiológicas: estão essencialmente
ligadas à maturação dos órgãos genitais; -Causas /psicológicas: crise/moral ou/religiosa,
recusa de crescer, etc. A isto juntam-se causas exteriores. Certos pais fazem projectos
ambiciosos: «Hás-de ser engenheiro ou advogado», que parecem desmedidos ao
adolescente. Mais grave é a dissociação familiar, cruelmente sentida pelo adolescente,
sensibilizado, pela/puberdade, para os problemas do casal. Em tais casos, a preguiça
traduz apenas uma/revolta bem próxima do desespero. Enfim, a preguiça pode ser a
expressão /passiva de um/juízo de/valor: «0 que me propõem não tem interesse, logo não o
faço.» A um certo nível, esta forma de preguiça reflecte o mal-estar de uma/-
@sociedade com dificuldades de renovação.

É =sim que sc explica que a preguiça «voluntária», e por conseguinte ~050n~ Punível,
tenha perdido muito da sua audiência. ~0 t= Casos extremos, a preguiça é o produto de
múltiplos ~CS cujo ~0 requer uma grande/atenção da parte dos

Ik r 1 e É 10~0 dizer que todo o remédio inadaptado, ou

de 1~ em conta estes diferentes factores, não pode à ~Ça. NãO existe solução milagrosa:
cada caso
PRE

é um caso especial cujo problema não pode resolver-se pela absorção maciça de vitaminas.
É toda a/personalidade que entra em linha de conta na preguiça do adolescente, não
traduzindo esta afinal senão uma/inadaptação parcial ou total do indivíduo. Só uma
permanente disponibilidade do educador permitirá descobrir as causas reais da preguiça.

pRESTIGIO (Prestigo/Prestigo) página 373.


Na escala dos/valores recebidos na/ adolescência, o prestígio ocupa tun lugar privilegiado,
em virtude dos sentimentos de inferioridade, tão frequentes nesta idade, ligados ao
sentimento de dúvida de si que acompanha cada empresa, cada nova tentativa. É assim que
nascem os/ídolos. Eles não são mais do que a cristalizaçâo de um/desejo de prestígio
pessoal, projectado sobre um actor ou um cantor, ao mesmo tempo próximo -pela idade, o
/vocabulário, a maneira de se vestir- e muito longe, como que inacessível -pela riqueza
e pela publicidade que o rodeia de uma espécie de aura/religíosa. Contudo, aos olhos de
um bom número de adultos, o prestígio parece ser um/valor em decadência entre os
adolescentes. É frequente ouvir reflexões deste gênero: «Actualniente, os jovens já não
respeitam coisa alguma. Perderam todo o sentido dos valores.» Não passa de uma
aparência. 0 adolescente de hoje está longe de haver rejeitado todos os valores; o que ele
deseja é escolhê-los sozinho, não ter de suportar um prestígio de certo modo imposto.
Segundo o inquérito de Georges Teindas e Yann Thireaue, o ado- 0 G. Teindas e
lescente conserva o culto do/herói celebrado pelas gerações ante-
Y Thireau: IaJeunesse de, ;@
famille ar /8 sociét,§ ríoreso. Quanto ao fenômeno dos ídolos, talvez não seja inútil
modefil- (E.S.F., Paris.

lembrar a adoração de que foram objecto no seu tempo «estrelas» 1961), P. 165.

como Rodolfo Valentino. # Ver «Herói».

A crise do prestígio parece particularmente aguda nas relações alunos-piofiessores.


Embora sem tomar partido por uns ou pelos outros, é difícil não perceber, por detrás dos
movimentos actuais, o profundo desejo que os adolescentes têm de decidir por si mesmos
o que lhes parece respeitável ou não.

PROFISSÃO (Métier/Profession) ver o artigo das páginas seguintes o páginas 13, 15, 63. 288. 369.

0problema fundamental do adolescente é o desfasamento existente entre a sua/ maturidade


biológica e a sua imaturidade social. Ora, verifica-se que o exercício de uma profissão é
uma das condições de integração na/ sociedade adulta -logo de maturidade social. É por
conseguinte primordial que os pais se interessem pela escolha profissional dos seus filhos.
No entanto, existe muitas vezes, pelo nienos na aparência, uma profunda divergência entre
as/aspirações
372

de uns e os / desejos de outros: / pais e filhos não falam a mesma

linguagem neste capítulo.

Para os adultos, uma profissão deve antes de mais corresponder a critérios tais como a
rentabilidade, a aquisição daquilo que permite o bem-estar, e a utilidade social. Para o
adolescente, a escolha de uma profissão significa sobretudo o fim da/ adolescência, dessa
insegurança fundamental nascida da incerteza quanto ao futuro e à identidade. É o que
mostram os inquéritos referentes às razões que levam os adolescentes a escolher uma
profissão. Um deles, efectuado por Georges Teindas e Yann Thireaue, estuda um certo
número de temas do/futuro profissional, sentimental e social dos adolescentes. Estes temas
são classificados pelos autores do inquérito em «normais» e/«ariormais»*.

Temas normais (48,42 %)

Êxito nos exames

2,76%

Êxito na profissão

6,48%

Vida de aventura

10,82 %.

Investigação científica

2,43%

Ajudar os outros

9,53 %.

Ajudar os pais

1,04 %.

Pátria

1,10%

Mulher e casamento

6,76 %.
Lar e filhos

7,50 %.

Temas anormais (82,05 %)

Vida calma e fácil

27,33 %

Passividade

17 %.

Dinheiro, conforto

19,82 %.

Automóvel

1%

Vida de preguiça

1,95%

Retiro

0,53 %.

Ansiedade

6,11 %

Instabilidade na profissão

6,13 %.
# G. Teindas e

Y.Thireau: Ia Jeunesse dens /à famille et Ia société modernas (E.S.F., Paris,


1961). pp. 126 e segs.

9 0 total de normais e anormais ultrapassa 100% porque eram possiveis várias respostas a uma mesma pergunta.

Min~ que os teniu mais frequentes são os de uma vida. brilhante da ~ atão excluídas as
noções de luta e de/ esforços. Importa,

ComprMader melhor a abundância de tais respostas, conhecer m talú~ do i~rito efectuado


por Origlia junto de alunos ÀWw= ~ wmdária de Milão. X pergunta: «Prefere ser célebm
o P~ ou ~ contrário rico e desconhecido?» 70 %. de ado-
11111111110~ MIPOffi~ que «Preferiam a notoriedade ainda que esta
PRO
implicasse a pobreza»#. É apenas aparente a contradição entre o origila e Ouilion:

l'Adolescent (F.S.F.. estes resultados e os do inquérito de Georges Teindas e Yann Thireau. Paris. 1968). p. 90. Pois o q ue
conta, sobretudo para o adolescente, é exprin* o,,O desejo de unia profissão que lhe traga - pelo menos é o que ele espera -

o/ prestígio de que carece cruelmente no momento em que é levado a exprimir a sua escolha. Esta necessidade de prestígio é
um fenémeno de compensação para o mal-estar ligado à tentativa de inserção no mundo dos adultos. A escolha do adolescente
não é racional: ela exprime mais uma tendência/ afectiva do que uma vocação profissional. É o que não devem ignorar os/pais.
Não é aconselhado zombarem nem zangarem-se. Convém igualmente que evitem/ projectar-se através da escolha feita pelo
adolescente. Trata-se, no entanto, de uma tendência muito frequente: certos pais guiam o filho para uma profissão que lhes
agrada, sem sondarem as verdadeiras,, aspirações do interessado. 0 erro inverso, não menos grave, consiste em aprová-lo seja
qual for a escolha, a pretexto de não ser retrógrado e de não entravar uma eventual vocação. 0 adolescente -diga ele o que
disser e custe-lhe o que custar - não é um adulto e tem ,,,necessidade de ser constantemente encorajado e guiado, sobretudo
quando está diante de uma escolha que compromete o seu /,”, futuro. Convém levar o adolescente a tomar consciência dos
motivos que parecem guiar a sua escolha e também das possibilidades que se lhe apresentara em função das suas /capacidades
e do mercado do emprego. Consultar um centro de/orientação escolar e profissional pode revelar-se igualmente útil. Enfim,
resta mostrar que o exercício de uma profissão não é somente um
ganha-pão ou uma obrigação quotidiana. Muitos adolescentes acabam por detestar a própria ideia de trabalho porque este
quase lhes roubou o/pai, sempre ocupado fora de casa.
374

A escolha da profissão
por Aimée Fillioud

Período de transição, a/adolescência é também o período da escolha. Ao sair da infância, o


adolescente deve decidir acerca da sua profissão e definir assim a sua inserção na vida.
Durante este período de profunda mutação, ele deverá escolher a sua orientação -as mais
das vezes definitiva- apesar de os seus/gostos não estarem plenamente assentes e ele nem
sempre ter consciência das suas / aptidões. Antes mesmo de entrar neste período de
transição, a criança vai achar-se introduzida num universo novo, pois é por volta dos
11 anos -algumas vezes 10- que se situa a primeira mudança, a passagem da/escola
primária para um outro tipo de/ensino. A criança deixa os bancos da escola primária, os
seus professores e o mundo familiar da sua infância por troca com uma classe de
«crescídos». Já se está muito longe do jardim de infância, das escolhas utópicas e
maravilhosas onde tudo se baseia na/,, identificação com personagens: «Quero ser
bombeiro... garagista... corredor de automóveis ou trapezista.»

A escolha não é então uma/projecção no/futuro, mas simplesmente uma relação com as
ocupações lúdicas e do momento. A criança9 iúdico.- que se refere quer ser bombeiro para
ter um carro vernielho... garagista para ao jogo.

ter as mãos sujas, roupas manchadas sem incorrer em censuras, ou então chefe índio para
ser o mais forte, e também o mais extraordinárío quanto ao traje. Vem em Seguida uni
outro período, em que os modelos mudam, em que surgem motivações Menos pueris. É o
início da identificação Com PC550a5 chegadas: o/pai, a/mãe desempenham um papel
iMPO~te. OS/Melos/familiar e escolar condicionam a criança: as raparigas «brincam às
maraãs» e os rapazes imitam o/pai. «As crianças libertam-se da/imitação de um modelo e
adquirem um conhecimento mais extenso, Mas as primeiras escolhas são em
PRO

geral as mais ambiciosas. É no princípio da/adolescência que se fala de/desporto,


de/teatro, de/dança, de diplomacia, de investigação científica. As preferências, os sonhos,
exprimem-se independentemente de qualquer restrição imposta pelas circunstâncias. A
escolha é inspirada pela /imaginação. A criança procura sobre- e A. Raffestin: tudo
satisfações /emocionais.»* l'École des parents.

Aos 11 anos, a crianca não escolho: orientam À falta de profissão, é um ramo de/ensino
que se escolherá. É então que se inicia a escolha, embora os/psicólogos e os sociólogos
concordem em sustentar que uma criança de 10 anos é demasiado nova para fazer uma
escolha autêntica, por carecer de ,xinaturidade e por impossibilidade de representar no seu
espírito a sua inserção/,‟ social. Poder-se-ia de facto pensar que é apenas no fim
da/escolaridade obrigatória que a criança, mediante um acto voluntário, decide orientar-se
para um ciclo curto ou longo de ensino geral ou para um ensino profissional. Nos países
em que a/xorientação se situa no fim da escolaridade obrigatória, ou seja, por volta dos 16
anos, o adolescente acha-se então psicologicamente capaz de fazer uma escolha. Ora, não
raro, a clara consciência dos/gostos e,-<aptidões pessoais surge ao mesmo tempo que a
pena por uma orientação demasiado precoce e amiúde definitiva; e se a orientação puder
ser ainda modificada, a criança não é capaz de se decidir a isso na medida em que a
imagem da sua futura profissão, da sua inserção social, que é determinada pela primeira
escolha, se lhe impôs através do ensino que lhe foi dado. Transposta esta etapa inicial, fica
dado um passo decisivo. De facto, a criança verá a partir dai reduzir-se o número das
portas de salda que desembocam na vida profissional, A forma do ensino escolhido ao sair
da/escola primária não só afasta a criança de certas profissões e a prepara para outras,
como ainda modela uma certa imagem da sua,,x actividade futura e do seu lugar na
sociedade. Isto acarreta uma tendência para a/passividade a respeito do ensino recebido e
sobretudo de eventuais possibilidades de escolha.
0 estreitamento do leque das profissões em vista não é o mesmo para todos os ensinos.
Assim se explica a preferência dada em muitos países ao ensino único após a instrução
primária.

INFLUÊNCIA DA SITUAÇÃO--DE FAMILIA

Servindo-se do exemplo de um país como a França, aos 16 anos e meio uma criança em
cada duas está escolarizada. Aos 16 anos e meio 95 % dos jovens cujos pais exercem uma
pro-
376 A escolha da profissão

fissão liberal estão escolarizados, contra 27 % de filhos de operários de todas as


categorias. Na idade do exame final do liceu, a proporção desce abaixo de 9 %.

Filhos de Entrada no Lo ciclo Entrada no 2.0 ciclo

do ensino secundário do ensino secundário

operários 58 % 12 % empregados 68 % 22
% pequenos comerciantes 77 % 36 % quadros médios 80 %
36 % quadros superiores 93 % 65 %

Estes dados demonstram quanto a posição/social da/família é importante na/escolarização


da criança e, por consequência, na escolha da sua profissão. À saída da/escola primária,
um filho de operário não especializado não tem apenas uma probabilidade entre dez de sair
de um liceu depois de ter passado no exame final; um filho de advogado ou de jornalista
tem 85 em 100. Ora, a idade de abandono do/ensino não corresponde a uma escolha
deliberada da família como provam os dois quadros se~ guintes que são, a este propósito,
muito significativos.

Fim dos estudos 15 anos 17 anos 19 anos

Assalariados agrícolas 49,7 27,2 12,2 Agricultores individuais


50,7 28,6 13,0 Operários não especializados 50,7 26,3
8,2 Operários especialízados 60,8 37,4 11,8 Operários
qualificados 68,6 43,6 17,8 Artífices e pequenos comerciantes
74,1 52,5 30,1 Empregados de comércio 79,3
56,1 36,6 Empregados de escritório 79,9 60,6 29,1 Técnicos
e quadros administrativos médios 91,8 77,6 52,9 Membros das
profissôes liberais 96,1 94,5 85.3 Cordunto
68,3 48,0 25,9

001- à P~ta: «Até que idade um adolescente deve prosseguir


05 MO ~OS?», os Pais interrogados responderam do seguinte
PRO

18 anos e 7 meses, segundo os operários;


19 anos e 2 meses, segundo os empregados;
19 anos e 7 meses, segundo os pequenos comerciantes e artífices;
19 anos e 9 meses, segundo os quadros médios;
20 anos e 8 meses, segundo os quadros superiores.

Assim, na realidade, a idade de fim de estudos desejada e considerada normal varia pouco
mais de dois anos consoante a origem socioprofissional dos/pais interrogados. Todavia, há
um filho de operário em cada dois que está escolarizado aos 15 anos, ao passo que aos 21
anos 50 %, dos filhos de quadros estão ainda escolarizados. É claro que o desejo de
escolarização das famílias para os seus filhos não abarca, segundo as categorias
profissionais, a mesma noção:/ensino geral, técnico, /aprendizagem --- (ver mais adiante o
papel dos país na /orientação). Não é difícil concluir destes elementos que as probabilidades
de acesso e de prolongamento dos estudos variam conforme a categoria social dos pais e
isto mau grado/desejos muitas vezes serfielhantes*.

A ORIGEMISOCIAL

As despesas com os estudos são um pesado encargo para as/ famílias economicainente mais
desfavorecidaso. Ainda que em certos países os livros e os cadernos tendam a tornar- se
gratuitos, os apetrechos são muitas vezes caros: pense-se no material de pintura, de costura,
de ginástica. . . Nas despesas efectuadas, há os transportes, por vezes a cantina devido ao
afastamento do estabelecimento escolar, quando se não trata dos custos de um/internato ou
daqueles a que obriga o ensino superior. A desvantagem financeira acentua-se
particularmente aos 15 anos, quando, de um modo geral, se atinge o fim da escolaridade
obrigatória. Pois além da circunstância de muitas vezes os estabeleciinentos ficarem então
mais afastados, o prosseguimento dos estudos surge à família e ao jovem como dinheiro
que se está a perder. De facto, a família priva-se de um salário suplementar ao passo que é
em tal altura que as,;< necessidades financeiras do adolesccnte aumentam. Os/tempos livres
e o/vestuário adquirem iMportância.

AS MOTIVAÇõES pROFISSIONAIS i~Cssante conhecer os critérios de escolha de uma


profissão. „11@ Inquérito realizado a
este respeito junto dos jovens de 16 a anOs, ProPunha-se-lhes a seguinte lista de
motivações:

9 Assim, dois em cac três filhos de agricultor @ agricultores, dois em c@ três filhos de operário tornam-se operários. Isto não resulta de urna escolha deliberada, ante
sendo consequéricia do diferentes factores que determinam a formação profissional.

9 Para dar remédio a estas dificuldades, exisi polsas. Infelizmente insuficientes, elas não podem ser atribuídas a todos os q ue necessit@ Além disso. estas bolsai sempre magras. não
pagam totalmente as despesas feitas. Acrescentemos que a bolsa é todos os anos oosta em questão e qu primeiro fracasso escol acarreta a sua supressé Segund o um estudo di
I.F.O.P. sobre os
15-20 anos realizado í: o Ministério da Juventk em França, no ano de 1966. um terço dos que abandonaram os estudos fizeram -no por necessidade financeira.
378 A escolha da profissão

«Exercer uma profissão bem considerada; ser/ independente no seu trabalho; ter uma
situação bem/` remunerada; ter uma profissão bem adaptada aos seus/gostos pessoais;
fazer um,,,@trabalho útil à colectividade; ter/ responsabilidades; ter um emprego seguro.»
0 adolescente espera de uma profissão a possibilidade de um desabrochamento pessoal.
Entre estes sete factores de escolha, o que aparece nitidamente como mais importante é
«ter uma profissão bem adaptada aos seus gostos» (43 %,). Vem antes da rentabilidade
financeira, que chega em segundo lugar com 24 % das respostas. No fundo, são os
critérios pessoais que revestem maior importância; os critérios sociais, tais como a utilidade
da profissão, a consideração ou as responsabilídades, aparecem muito atrás dos dois
primeiros. Isto sublinha a importância que os jovens atribuem à sua profissão enquanto
realização de si: o critério essencial está em relação directa com o que é mais profundo
neles, com os seus/,"gostos. Quando se estudam os critérios de escolha segundo as
profissões, nota-se que só os operários apontam como primeira razão: «Um trabalho
bem/remunerado.» Aqui, a escolha está ligada ao receio de não ganhar o suficiente para
viver. Para os agricultores, a/adaptação ao ofício é a preocupação essencíal; contudo,
a/independência no,-,<trabalho é uma resposta dada com frequência. Enfim, ter/
responsabilidades é sempre citado em último lugar, salvo no caso dos comerciantes, dos
quadros da indústria e das profissões liberais.

INFLUÊNCI.4 DOS PAIS

Colocados perante uma escolha difícil, os jovens, e sobretudo os de menos de 20 anos,


procuram um conselho, uma informação. É nos/país que se pensa em primeiro lugar.
Melhor do que ninguém, eles conhecem os filhos e devem sentir-se abrangidos pelos seus
problemas. Qual é o seu verdadeiro papel neste domínio? É hoje menos corrente do que
outrora os pais imporem aos filhos a sua decisão. Todavia, a influência dos pais continua a
existir sob diferentes formas. Ela pode ainda ser autoritária. Certos pais decidem que os
seus filhos exercerão uma determinada profissão C !MPOCM-lhes uma formação
profissional suficientemente especia- ~ para que seja difícil ou mesmo impossível uma
marcha a trás do adol~nte tornado adulto. As dificuldades de mudança de orienta4o
devem-se à ausência de vias de passagem entre os difermtes ramos, mas também à
passividade dos jovens que se iden- tificam demasiado facilmente com o perfil que deles se
traça. Sc 0 Patriarcado /autoritário ligado a uma certa ideia da/família tende a desaparecer,
em contrapartida o sentido da tradição e da
PRO

o 0 exemplo dos militares de carreira é igualmente característi Em 19 59, 46 % dos ali da Escola de Oficiais Coõtquidan eram filho de militares, na maiori
oficiais; 31 % dos aiu da Escola Naval, também em França. e filhos de oficiais da marinha.

continuidade permanece. É assim que muitas vezes se é advogado ou médico de pai para
filhoiei.

As tradições perdem-se, os modelos fiei No entanto, estas tradições vão perdendo unia
parte do seu valor: o filho mais velho já não sucede automaticamente ao pai e as raparigas
podem escolher uma/actividade profissional independente em vez de sonharem enquanto
esperam um marido.
0 que não significa que a influência paterna não possa revestir outros aspectos. Pede-se
frequentemente à criança não já que continue a obra do seu pai, mas, pelo contrário, que
faça outra coisa.
0,,-"pai quer realizar através do filho um sonho que não pôde ele próprio concretizar, e
fixa-lhe então, imperativamente, objectivos ambiciosos que traçam a sua carreira.

0 PAPEL DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Em geral mal informados sobre os


acessos a empregos e os diferentes ramos de,,,"ensino, os,,Ipais mostram-se
frequentemente na impossibilidade de dar um conselho eficaz. Demais, a sua falta de
objectividade relativamente aos filhos nem sempre lhes permite ter uma imagem muito
justa das capacidades deles. É portanto muito naturalmente aos conselheiros de/
orientação que cabe dar os conselhos necessários e fornecer a documentação útil.

Os aspectos negativos dos centros de orientação Critica-se geralmente o facto de os


centros estarem, com demasiada frequência, situados nas cidades; as zonas rurais, onde
não obstante a informação é mais difícil em virtude do afastamento, acham-se de todo em
todo desprovidas. Além disso, mesmo nas cidades, eles estão muitas vezes mal instalados:
acham-se raramente situados nos locais onde os jovens se reúnem, perto das/;< escolas,
dos centros culturais ou dos núcleos de,/, tempos livres.

Os centros de orienta@ o seu número e o seu alcance são reduzi Os centros que existem
estão sobrecarregados de/,,trabalho e não podem atender todos os pedidos. Não têm
possibilidade de se consagrar o tempo suficiente a cada caso particular, e a brochura
substitui demasiadas vezes o conselho, o diálogo com um orientador. No dizer dos
adolescentes que consultaram os centros de orientação, a informação que lhes foi dada era
insuficiente. 0 leque das profissões que lhes apresentaram restringiu a sua escolha na
medida em que nem todas as eventualidades são encaradas. Alguns queixam-se de não
terem sido informados senão sobre uma ou duas profissões. Os adolescentes julgam
igualmente que o modo como lhes apre-
380 A escolha da profissão

sentam as profissões os não ajuda o bastante a visualizar concretamente a sua futura


profissão. Mas a crítica mais grave que se dirige a estes centros assenta no facto de eles
não conhecerem bem as possibilidades de emprego oferecidas nas várias regiões. Leva-se
demasiadas vezes em conta as potencialidades de cada região em estabelecimentos
escolares e não as ofertas de emprego.

No futuro, os centros de orientação serão multiplicados e aperfeiçoados A influência


dos serviços de orientação acha-se reduzida em virtude de os centros serem pouco
numerosos, de acesso difícil e não responderem às,;4aspiraçôes dos jovens. No entanto,
devido à sua própria fórmula, os centros serão levados a desempenhar um grande papel
graças à sua multiplicação, à melhoria do seu funcionamento

e a uma publicidade mais eficaz feita à sua volta, De facto, a evolução da forma
do/>'trabalho nas,,,” sociedades modernas torna difícil aos jovens uma representação
correcta das profissões. A época em que o artífice trabalhava metade na sua oficina
envidraçada e metade na rua, em que cada um podia ver e compreender a sua profissão,
ficou para trás. A concentração industrial, ao transformar o trabalho, tornou-o de mais
difícil aproximação. Justifica-se desde já uma informação clara e completa a este nível. Ela
permite que os jovens conheçam profissões em que nem sequer haviam pensado. Esta
informação, em estreita ligação com os serviços de emprego, dá azo a que os adolescentes
se orientem para ramos de/actividade que oferecem colocação nas várias regiões. Eles
adquirem assim uma formação profissional. Terão um ofício. Encontrarão um emprego.

Os aspectos positivos dos centros de orientação

Devemos incluir no activo destes centros de orientação experiências animadoras em que a


consulta permitiu a crianças com/dificuldades escolares tomar gosto pelo/ensino que
recebiam. Um mau aluno pode mudar de/atitude quanto ao ensino recebido porque ele
sabe doravante que o que lhe ensinam não é inútil, antes contribuindo para a sua formação
profissional e, mais tarde, para lhe dar uma profissão. A consulta e, depois, graças a ela, a
escolha de um ofício desempenham o papel de um estimulante.

0 conselheiro de orientação
0 seu papel de informação situa-se a dois níveis: informação sobre o próprio adolescente,
informação sobre as/>'escolas e as profissões.
PRO

A/adolescência é o período em que a/personalidade do indivíduo não está ainda afirmada.


0 adolescente não sabe muito bem quem é e sobretudo quem virá a ser. Ora, a escolha de
uma profissão requer uma tomada de consciência dos seus/gostos, das suas/aptidóes, mas
igualmente dos seus limites. 0 conselheiro de/orientação desempenhará o papel de
catalísador, ajudará o adolescente a descobrir-se, a definir-se. Esta primeira intervetição do
orientador é necessária e primordial. Na segunda fase, o conselheiro de orientação deverá
informar o adolescente acerca dos estabelecimentos escolares que ele poderá
frequentar, sobre as profissões e os respectivos acessos.

Levando em linha de conta as aptidões do adolescente, ele aconselhar-lhe-á os


estabelecimentos escolares ou profissionais que mais lhe parecem convir. No que se refere
ao prosseguimento dos estudos, o conselho será dado em função dos diversos tipos de
profissões encaradas pelo orientador e pelo jovem, e igualmente em função das
possibilidades de emprego. 0 orientador apresentará ao adolescente os estudos e as saídas
consoante as profissões consideradas.

A intervenção do conselho pode ser sistemãtica ou provocad@


0 conselheiro de orientação intervém num estabelecimento: ele interessa-se por todos os
alunos. A acção do orientador situa-se sobretudo no segundo cicio do ensino secundário,
em que os problemas de orientação sã o mais difíceis. Mas ele pode igualmente ser
solicitado pelos professores, pelos /pais ou pelos jovens, embora a consulta seja raramente
suscitada por estes últimos. ... ela é por vezes contíi Não se pode falar da orientação sem
mencionar a orientação contínua. Ela necessita de um número considerável de orientadores,
porquanto se trata de acompanhar o jovem ao longo de toda a sua escolaridade e de lhe
consagrar cuidados particulares se surgirem dificuldades pessoais, ou ainda nos escalões de
orientação, isto é, quando tem de intervir uma escolha.

0 -PROSSEGUIMENTO DOS ESTUDOS Se a entrada na vida activa coloca graves


problemas a um adolescente, também não se devem menosprezar as dificuldades
encontradas por quem continua os estudos. Mantido numa situação de menor, não
assumindo plenamente as suas/ responsabilidades, apanhado na engrenagem escolar
dos/exames, dos concursos, da selecção, num mundo em evolução técnica acelerada, onde
a Profissão preparada hoje já não existirá amanhã, marcado pelo
382 A escolha da profissão

/meio sociocultural em que vive, terá o adolescente a possibilidade de uma escolha


autêntica? Um inquérito do LEO.P., publicado em 1969 na revista C.LD., dava alguns
resultados inquietantes. Neste estudo realizado junto de 1159 jovens de 15 a 24 anos,
conclui-se antes de mais que a profissão é a preocupação essencial para 4 em cada 5
jovens. Não obstante, 53 % afirmam estar mal informados acerca das profissões, e
46 %, dentre os que já trabalham declaram que a profissão que exercem não é a que
escolheram. Dois elementos parecem muito importantes nestes resultados: a falta de
informação em 53 % dos casos e a ausência de escolha em 46 % dos casos. A carência de
informação surge como uma das causas directas da ausência de escolha. Neste mesmo
estudo há um resultado desconcertante: um jovem em cada três escolhe a sua profissão ao
acaso. Que significa o acaso?
0 dicionário dá-nos a seguinte definição: <@Causa fictícia, suposta nos factos de que se
não conhece a causa real.» Na realidade, a definição é certeira, pois o adolescente não
conhece as razões profundas da sua escolha. Para ele, o acaso são os
factores,,,4índependentesda suavontade, taíscomo o seu/ meio-/ familiar,/ escolar, /social -
, a influência muitas vezes inconsciente dos modelos: o acaso é um certo «chumbo»
num/exame, que nada significa, que não é o resultado lógico dos seus/esforços.

Assim, é neste período difícil de entusiasmo e de sonhos, mas também de desânimos


fáceis, confrontado com os obstáculos de todas as espécies que ele nem sempre transpõe,
tendo como arma um profundo/desejo de se realizar, que o adolescente deverá escolher a
sua profissão.

Aimée Fillioud.
PRO

PROJECÇÃO (Projection/Projoction) páginas 37,114.


A psiquiatria designa pelo termo de «projecção» o mecanismo pelo qual um sujeito se liberta de certas situações,,‟ conflituais
projectando noutros sujeitos os seus próprios sentimentos. Este mecanismo de projecção é utilizado nos/-@testes
de/personalidade. Ilia /adolescência, certos sujeitos/ agressivos utilizam a projecção para se libertarem de/desejos insatisfeitos. É
assim que os filmes de guerra e de,@1violência são particularmente apreciados pelos adolescentes. 0 adolescente pode, graças
ao herói do filme, viver uma situação de violência: tudo se passa como se ele libertasse, por interposta pessoa, o seu excesso de
/agressividade. Da mesma maneira, os filmes de/amor são muito apreciados pelas adolescentes. Sendo a satisfação da sua
sensualidade provisoriamente impossível, elas projectam-na sobre a actriz adulada, cortejada ou apaixonada.

PROJECTOS (Projets/Projects)

Alguns adultos admiram-se da aparente contradição entre os projectos do adolescente e o seu/ comportamento habitual. Por
exemplo, certo rapaz, que se mostra de modo geral extremamente timorato, projecta vir a ser explorador, enquanto uma
rapariga, que à vista de unia simples gota de sangue fica perturbada, sonha tornar-se enfermeiia. É que, para o adolescente, o
projecto não constitui um/empenhamento semelhante ao que Sartre descreve: «0 homem será antes de mais o que ele
projectou sei... Ele empenha-se na vida, desenha a sua figura e fora desta figuia nada existe.»* J.-P. Sartre:

existencialisme est u Para um


adulto, fazer projectos significa planificar o seu/futuro. hlúmanisme (Nagel, Pa Mas para haver
plano, é preciso haver dados, e parece que é jus- 1946), pp. 23 e 57. tamente disto que mais carece o adolescente.
0 Projecto do adolescente, longe de empenhar a sua/ personalidade, subordina-se, antes de tudo, à/fantasia. Isto concebe-se
facilmente se nos lembrarmos de que o traço fundamental da/adolescência é a incerteza. Convém igualmente não esquecer
que o/valor pessoal tem necessidade, mais do que de ser experimentado, de ser socialmente reconhecido. É na exacta medida
em que este reconhecimento se não mostra coisa adquirida que os projectos do adolescente participam mais da fantasia do
que da organização do futuro.

PROPAGANDA (Propagando/ Propaganda)

A Palavra «propaganda» significa literalmente: «o que deve ser Propagado». Ela tomou na realidade um significado
pejorativo e
384

designa agora a vontade e os meios utilizados para difundir uma doutrina. 0 adolescente
constitui uma presa de eleição para quem faz propaganda. Idealista e, no fundo, muito
sugestionável, o adolescente tem tendência a acreditar em tudo o que o tranquiliza e
permite a afirmação da sua personalidade. Foi com base nestes dados que o nazismo e -
que levou o sistema às suas últimas con- o 0 nazismo representa sequências e se apresenta assim
como um exemplo-tipo da força um exemplo-tipo. mas

não há dúvida de que da propaganda - pôde fanatizar milhares de jovens alemães: «Nos outros
movimentos

políticos noutros tempos Burgen da Ordem, dizia Hitler a Hermann Rauschning, faremos noutros
lugares poderiam

crescer unia juventude diante da qual o mundo tremerá. Uma juven- mesma análise.
ser submetidos à

tude/violenta, imperiosa, intrépida, cruel ... Eis o primeiro grau da juventude/ heróica. É
daí que sairá o segundo grau, o do homem livre ... do homem-deus; a figura esplêndida do
ser que não recebe ordens senão de si mesmo será como que uma imagem de culto e
preparará a juventude para a etapa futura da/maturidade

viril.» 0 Citado em les S.S. ?e André Brissaud Todos os temas essenciais da adolescência

se encontram evocados (Cultura, Arts et Loisirs. nestas poucas palavras: vontade de domínio,

mito,/refigião. Não Paris, 1968), p. 93. é surpreendente que o adolescente alemão tenha podido
crer que todos os seus problemas seriam magicamente resolvidos pelo nazismo. Podemos
tirar do que adveio ao movimento úteis ensinamentos a propor ao adolescente que
manifeste tendências para o extremismo em matéria de/política.

PROSTITUIÇÃO (Prostitution/Prostitution) páginas 143, 307. 474.


No seu estudo sobre a prostituição das menores, o doutor Paul Le Moalo pôs em
evidência unia constante: a precocidade das 0 Dr. P. Le Moal: relações / sexuais. Nas cem
prostitutas menores que ele exami Étude sur Ia prostitudon de$

nou, mineures (E.S.F., 1965),


25 %. haviam tido relações sexuais antes dos 14 anos, e 64 %. entre p. 43. os 14 e os 16
anos. Já trauniatízante em si, esta precocidade deixa subentender a preexistênciá de
perturbações/ psicológicas.

Tais perturbações seriam essencialmente devidas a uma carência da vida/familiar: em 100


casos observados, 82 são vítimas de perturbaÇões familiares como o divórcio, o incesto
ou o alcoolismo. A ausência do/pai parece desempenhai um papel decisivo visto que ela é
observada em 40 %. dos casos (20 %. de pais desconhecidos,
12 %, de abandono precoce do pai ou de separação precoce dos /Pais, 8 Y. de falecimentos
precoces). Já assim se cria uma desaf~o pelos valores/morais e/sociais. Ora, é preciso
acrescentar a esta/~ncia afectiva uma carência profissional flagrante: entre-
9= a si mesmas a maior parte das vezes, estas adolescentes reve- ~-Se incapazes de levar a
bom teimo uma qualquer/aprend~. Tais condi~ -au~a de/valores morais e/sociais, hori-
PSI

zonte profissional fechado - são propícias a um hedoniSMO6 e hedonismo.


exacerbado pela falta de perspectivas temporais, muito frequente- busca do prazer.

mente verificada. Além disso, destas condições nasce amiúde um complexo de fracasso.
Quando o doutor Le Moal pede às suas doentes que contem a recordação que mais as
impressionou. quase todas evocam as circunstâncias em que puderam «causar desgosto a
seus/pais». o mesmo é dizer que elas sentem, na sua grande maioria, um intenso
sentimento de/ culpabilidade anterior à prostituição. A partir dai, por autopunição, a
prostituição é vista como expiatória.

A readaptação Realiza-se um/esforço particular poi aquelas que, em virtude de leis de


protecção das menores, vão dar aos centros de readaptação. Isto não deixa de apresentar
enormes dificuldades, entre as quais o sentimento de perda de/liberdade violentamente
experimentado pelas jovens delinquentes. Este sentimento impele-as a fazer seja o que for
para «saírem». Elas atamancam a aprendizagem - tendo aliás escolhido a mais curta
possível - no fim da qual serão libertadas. Por este motivo, 50 % das jovens prostitutas que
tentam reconverter-se não tardam a ver-se rejeitadas por falta de competência real ou
ainda por falta de interesse por uma/profissão escolhida em função da rapidez da
aprendizagem. Estas adolescentes, que sofrem acima de tudo por terem sido e serem mal
amadas, só são verdadeiramente salvas quando encontram um homem que lhes propõe
um/amor e um lar normais.

Prostituição masculina Numa cidade como Paris, haveria, segundo os relatórios da polícia,
mais de 2000 prostitutos, Entre as peripécias do «gangsterismo» e os amores tarifados com
:@‟ homossexuais preocupados em salvaguardar a sua reputação, os jovens
/delinquentes ou pré-delinquentes aceitam cada vez mais a solução de menor risco, tanto
mais facilmente quanto eles a tal já foram amiúde obrigados no decurso de uma estada na
prisão.

.PSICADELISMO (Psychédélisme/Psychedelism) «Série de fenômenos associados às /


drogas alucinogéneas, à / música de rock'n'roll, às comunidades/ hippies, à/arte da
dissociaÇKo.- quer seja na música, na pintura ou na literatura, e ao novo intCresse
pelas/religiões esotéricas orientais.»O 9 A. Greeley:
adepto do psicadelismo deseja subtrair-se, por meio do êxtase, «le Mouvement hippy

est-ii religieux?». uma forma de,,*sociedade que ele considera alienante. Através in
Documents Servicé

da droga e da música tenta reencontrar um estado origina


Adolescence (Bonne a Presse e
C.N.R.S.. Pa humanidade, regressar à natureza. 0 que torna a sua busca, se não Novemb,o, 1969), p.
386

irracional, pelo menos anti-racional. 0 psicadelismo faz tábua rasa dos/ preconceitos e das
convenções: para tal, ele recorre a percepções globais indiferenciadas ao nível dos sentidos.
A vertigem reparadora pode ser obtida agindo sobre todos os sentidos ao mesmo tempo: a
conjugação das percepções auditivas, visuais e olfactivas enfeitiça o hippy a ponto de o
levar a esquecer todas as/inibições adquiridas por causa da civilização.
0 retorno a um estado natural exige a/liberdade dos sentidos, e em particular
da/sexualidade, da qual o psicadelismo quer afirmar o carácter «alegre e lúdico». Ele
rejeita igualmente tudo o que é artificial e convencional nas relações dos homens entre si.
Denuncia a/violência e a guerra. Em resumo, o psicadelismo resulta de uma crítica do
mundo moderno, mas de uma crítica essencialmente negativa que tenta reformar
uma/sociedade negando-a e colhendo noutras civilizações outras convenções que não
podem de modo algum enxertar-se nela. É um fenómeno de alienação tipicamente
adolescente.

PSICOLOGIA (Psychologie/Ps~ology) pá gina 10. 26. 159, 172, 460, 467.


A psicologia da/adolescência é unia ciência relativamente nova porquanto data apenas dos
últimos anos do século XIX. Mas já se vai tomando possível tentar elaborar sínteses a partir
dos trabalhos efectuados. A adolescência, pela sua duração, é um fenômeno novo:
a/puberdade, que assinala o seu início, efectua-se mais cedo de acordo com um processo
em que a/alimentação, a higiene e as condições de vida moderna parecem desempenhar um
papel preponderante, do mesmo passo que o fim da adolescência é retardado pela
necessidade de especialização profissional. É actualmente corrente certos jovens
prolongarem os seus estudos até aos 25 anos ou mais, enquanto que a partir dos 14 anos,
ao envergar a toga viril, o jovem romano era considerado adulto. Na Idade Média e sob o
Ancien Régime, 14 anos era a idade em que se armavam cavaleiros os jovens Pajens e em
que os reis atingiam a maioridade. Nos nossos dias, o estado adolescente pode prolongar-
se dez ou quinze anos: não é Por isso de admirar que os adultos se interessem cada vez
mais Pelos Problemas da juventude; inversamente, esta não pode dar-se ao luxo de assístir
como espectadora às realizações dos mais velhos. Não é preciso ir procurar mais longe a
razão pela qual, «motor detonador ou incitador, a juventude acaba de se manifestar ante a
história»*. e G. Fouchard e
A cm~ de uma Inicologia da adolescência
M. Davranche: Enquêtewt Ia jeunesse (Gallimard,

Paris, 1968), p. 336. DC uIna ~im Wal, Podemos dizer que a primeira abordagem fOi

C~CialmCntc/fisiOlógica. Sendo a manifestação mais visível


PSI

da puberdade a maturação dos órgãos genitais e o aparecimento de fenómenos sexuais


secundários, era tentador reduzir a adolescência a esta simples transformação física
geradora de crise. -

Mas a experiência mostrou que a crise podia manifestar-se na ausência de qualquer sinal
exterior. Foi necessário concluir que a adolescência se não reduzia a um mero processo
biológico, antes sendo tambéia erupção psicológica. Por seu turno, outros estudos vieram
completar este edifício. Observou-se que gémeos autênticos, colocados em/meios
diferentes, evoluíam diferentemente, de tal modo que por vezes os únicos traços de
semelhança que subsistiam eram os do rosto. Paralelamente, estabeleceu-se que estes
mesmos gémeos podiam, em meios idênticos, seguir uma evolução diferente na puberdade.
Assim, a adolescência não era susceptível de se reduzir a um fenómeno unicamente físico
nem a um fenômeno exclusivamente psicológico ou social. Enfim, graças aos trabalhos de
psicologia diferencial, foi possível pôr em evidência que «a adolescência enquanto
fenómeno geral assenta no desfasamento, entre a/maturidade biológica e a maturidade
social do indivíduo»*. C EL Zam: Psycho,
différentiefie de Os traços dominantes da/psicologia do adolescente actual pude- I'Odoiescence

ram ser definidos nesta perspectiva através de estudos recentes. (P-U.F.. Paris. 1966). É assim

que, para Origlia e Ouillon, a adolescência constitui uma idade em movimento,


caracterizada pela acção mais ou menos concordante de duas forças distintas: a
transformação física e a evolução psicológica. É neste contexto que o adolescente deve «
tentar fazer-se compreender pelos outros, a fim de melhor compreender quem ele é. Esta
consciência de si progride em dois planos diferentes, via íntima secreta e relações com
outrem, e provoca uma profunda insegurança. Uma tal insegurança leva à criação de
/;<ídolos, símbolos de/ identificação tranquilizadores, e manifesta-se por uma/tensão tanto
mais forte quanto o controle de si mesmo se quer maior»*.
1 Origlia e Ouilion,
IpAdolescent (E.S.F., Paris. 1968).

PSICOSE (Psychose/Pa~osis) página ss.

Originariamente, o termo «psicose» designava um grande número de doenças mentais (do


grego psukhe, a «alma» ou «princIpio vital», e do sufixo pejorativo ose). Psicose
e/neurose -ambas doenças mentais- diferenciam-se essencialmente pelo grau de
consciência do doente. Enquanto o neurótico sofre com o seu estado, o psicótico está
cortado do mundo real: diz-se que a sua personalidade está alienada, de certo modo
estranha a si mesma.
388

@SICOTERAPIA (Psychothárapie/Psychotherapy)

A psicoterapia consiste numa reeducação tanto mental como física, que tem em vista curar
as perturbações/ afectivas, /caracteriais, /neuróticas ou psicossomáticas. o que se pretende
essencialmente obter é uma relaxaçã o mental. Para tal, são necessários exercícios de
ordem psíquica ou física, praticados sob a direcção de uni psicoterapeuta. Usam-se
geralmente certas medicações para descontracçâo como os neurolépticos em tais curas.
Estas acham-se agora bastante divulgadas e são aconselhadas aos adolescentes em vez da
psicanálise, na qual se inspiram.
0 tratamento tem como objectivo ajudar o adolescente a transpor as etapas normais do
/desenvolvimento afectivo. Muitas vezes, de facto, o adolescente tem,,‟ necessidade de se
sentir amparado para compreender o que há de/inadaptado na sua/conduta. Neste método,
a/personalidade do psicoterapeuta desempenha um papel preponderante. Ele não é nem um
dos/pais nem um educador. Deve representar um intermediário entre o adolescente e
a/sociedade, intermediário graças ao qual o adolescente pode, no decurso da cura, viver
situações ou exprimir sentimentos a que se havia recusado até então por receio
das/reacções da sua esfera social. A expressão destes sentimentos faz-se em primeiro lugar
de modo indirecto, através do desenho por exemplo. 0 médico, que sabe díscernir aí
numerosos afectos* escondidos, ajuda o ado- e afecto: elemento ,,n itutiv da afectividade. lescente a
tomar consciência da verdadeira natureza dos seus pro- Rea`cções Oelementares
blemas. Para o conseguir, é indispensável criar uma atmosfera de que podem ser descritas

segurança, de forma a que exista urna autêntica simpatia entre comportamento,


pela observação do

mas não o psicoterapeuta e o adolescente. É por este motivo que se não


podem ser analisadas.

deve hesitar em consultar vários antes de escolher um.

PUBERDADE (Puberté/Puborty)
páginas 122. 124, 130, 1 SO, 170, 173, 174, 204, 218, 219. 220. 232. 279. 280, 345. 365. 366, 385, 409.

PUDOR (Pudeur/Modesty) página450.


Do latim pudere, «ter vergonha». 0 pudor é o receio daquilo que poderia provocar um
sentimento de vergonha. É por esta razão que ele tanto pode ser físico como sentimental.

Pudor físico As transformações pubertárias são frequentemente a causa de um pudor fisico


excessivo. Para desdramatizar este aspecto físico, certos/ educadores/ desportivos e certos
directores de colónias de férias não hesitam em tornar obrigatório o duche colectivo entre
adolescentes do mesmo
PUE

/ sexo. Trata-se no entanto de uma decisão contestável, pois pode ser considerada como
uma violação da/ personalidade.

Pudor sentimental o pudor dos sentimentos é ainda mais frequente do que o pudor físico.
Isto deve-se em grande parte ao facto de o adolescente recear que as suas /confidências o
façam regressar à dependência que caracteriza a infância. Ele ainda tem na/memória o:
«Um menino bonito (uma menina bonita) não deve esconder nada aos seus/pais.» Por
conseguinte, não é surpreendente ver assimilar confidência e domínio sobre a
personalidade adolescente. Não há, contudo, muitos adolescentes que nunca tenham
experimentado uma fortíssima/ necessidade de se abrirem, de serem aconselhados.
0 papel do adulto consiste então em saber suscitar a confidência tendo o cuidado de
considerar o adolescente como um igual. É a única/atitude capaz de evitar o falseamento
do diálogo.

PUERILISMO (Puérilismo/Puerilism) páginas 198.296.

0 puerilismo é uma atitude de regressão ao estádio infantil*. Na o Ver «Infantilismo».


/adolescência, é frequente o acesso às /responsabilidades ser causa de uma profunda
inquietude. 0 adolescente deseja então, consciente ou inconscientemente, «recair na
infância» em que a própria falta de/bberdade era um penhor de/segurança. Da
impossibilidade material da realização de um tal/desejo nasce uma situação /conflitual que
pode conduzir à/neurose.
0 puerilismo manifesta-se na maior parte dos casos pela readopçâo de gestos infantis
como a sucção do polegar, a onicofagia* ou 0 onicofagia: hábito d a/enurese. Certos
psiquiatras pensam que a posição em feto roer as unhas.

na cama é uma marca de puerilismo.


0 melhor método curativo consiste muitas vezes em começar por dar ao adolescente uma
responsabilidade mínima. 0 êxito encorajá-lo-á depois a progredir e a aceitar pouco a
pouco tornar-se adulto,

PUNIÇÃO (Punition/Punishment) página 313.

A punição vem na sequência da não observância das regras estabelecidas. Outrora, era
corrente utilizar uma série de/sanções destinadas a assustar inspiradas no adágio segundo o
qual o receio é o princípio da virtude. As punições tinham o inconveniente de prejudicar a
saúde (um colégio célebre dos arredores de Paris possui, intacto, um calabouço munido de
autênticas grades onde ainda no início do nosso século
390

se fechavam os alunos apanhados em falta) e de destruir a/confiança entre professores e


alunos. Sendo a punição a consequência de uma transgressão da ordem estabelecida, é
conveniente mostrar ao adolescente o que existe de respeitável na ordem estabelecída: caso
contrário, ela será vista como «preestabelecida». A autoridade passa a não ser percebida
senão como /,‟ autoritarismo. A fim de evitar este escolho, é portanto indispensável que
quem toma a/ responsabilidade de castigar indague de forma precisa os inóbiles do delito.
Disporá assim de uma melhor base de apreciação no seu papel de autoridade, o que é
capital, pois que o adolescente apenas outorga a qualidade de adulto ao educador que dê
provas de equilíbrio: aquele que castiga sem critério desqualifica-se deixando livre curso
à/cólera. Enfim, a sanção deverá decorrer de uma estreita relação com o acto que a
motiva: ela adquire assim um/ valor/ educativo autêntico. Um exemplo de punição
adequada é descrito como se segue por um romancista americano. Um rapaz furtara ao
avô o/ dinheiro obtido a engraxar botas. Foi condenado pelo juiz a engraxar, mediante
retribuição, as botas de todos os agentes da esquadra, até conseguir o suficiente para
reembolsar o avô. 0 jovem,'4delinquente conservou durante toda a vida a recordação desta
punição original.
ClUARTO (Chambre/Bedroom) páginas 301, 302.
É por alturas da,,xpuberdade que os rapazes e as raparigas começam a considerar o quarto como um cantinho pessoal: eles
cuidam então da decoração de acordo com os seus gostos. As fotografias de actores e de actrizes de/cinema, de/desportistas ou
de celebridades de toda a sorte Furgem em profusão, simbolizando um /desejo de/êxito. Quando estão «em casa», os
adolescentes passam a maior parte do seu tempo no quarto. Desprezam abertamente as salas comuns, excepto à hora
da/*televisão. Os, pais devem evitar melindrar-se com isto. De qualquer modo, não é indo atrás do adolescente, convidando- o
incessantemente a sair do seu ninho, que eles conseguem pôr fim a esta clausura voluntária. Na verdade, importa não esquecer
que o adolescente necessita de intimidade para proceder ao exame de si mesmo. 0 quarto reveste nesse momento uma
importância excepcional: é ele que lhe permite meter-se dentro da sua concha, suportar a/ambiência/faniÍliar, não raro julgada
sufocante nesta idade. Os/pais devem mostrar-se compreensivos e admitir simplesmente, embora isso lhes pareça vexante, que
o adolescente, quando se retira para o seu quarto, se sinta aí no seu mundo.

A coabitação. 0 problema das camas é importante nos casos em que a falta de quartos obriga a fazer coabitar dois irmãos ou
duas irmãs. Em principio é preferível não impor camas geminadas que comprometem a intimidade de que todos os
adolescentes sentem necessidade. Vale mais adoptar o princípio das camas separadas por u ma divisória corredia e, na medida
do possível, dividir a totalidade do quarto em duas partes distintas em que as diferenças de/gosto Possam ser respeitadas. É este
o preço a pagar para que a coabitação seja aceite.

A decoração deve igualmente receber a aprovação do ocupante. Se o adolescente manifestar gostos que os pais julguem
inadmissíveis, convém que estes se não limitem a uma proibição, mas sugi-
392

ram uma solução de alternativa. Para tal, é preciso saber que os adolescentes, geralmente
românticos, «apreciarâo as decorações preciosas, quase espampanantes: pequenos
candeeiros de opalina adornados de rosas e com quebra-luz de musselina bordada, um
toucadorzinho com guarnição de saia, cortinados apanhados por fitas floridas; móveis de
estilo embainhados em tecidos de ramalhetes, gravuras nas paredes e tapetes macios no
chão... Os jovens têm preferência pelos tons neutros, o branco em matizes acinzentados ou
crus, as telas de juta de cores naturais e o pêlo de vaca cinzento escuro para o chão»*.
# L'encyclopédie das

parents modernas (CA.L., Paris, 1965),


0 canto de trabalho. Enfim, é aconselhado destinar ao adolescente p. 498.

um canto de/trabalho que sirva exclusivamente para ele, quer dizer, um local aonde em
princípio será o único a ter acesso. Mais vale evitar as intrusões, ainda que motivadas pela
necessidade de arrumações. Se surgirem problemas desta ordem, é fácil chamar o
recalcitrante à razão ameaçando deixar-lhe o encargo de arrumar tudo.

UOCIENTE INTELECTUAL (Cluociont intellectuel/intelligence quotient) páginas 139, 156, 267.


316, 355.

0quociente intelectual (Q.I.) é a relação, expressa em algarismos, entre a idade real ou


idade cronológica (I.R. ou I.C.) e a idade mental (I.M.).

0 estabelecimento da idade mental É ao psicólogo Binet que devemos a noção de idade


mental. Esta foi determinada em função de um certo número de provas chamadas «provas
características de um nível de idade». Uma prova é dita «característica» quando 75 % dos
sujeitos normais de uma mesma idade real se lhe submetem com êxito. Por exemplo, a uma
pergunt A feita a sujeitos de idades diferentes obtém-se a seguinte percent41era de
respostas correctas: Sujeitos de 10 anos 4 % Sujeitos de 11 anos 20
% Sujeitos de 12 anos 50 % Sujeitos de 13 anos 75 % Sujeitos de
14 anos 95 % A Pergunta A é então uma prova característica do nível «13 anos».
Se um sujeito responde a todas as perguntas de mesmo nível dir-se-á que a am idade
mental é de 13 anos. Poderíamos basear-nos nesta classificação para concluir que o sujeito
de 11 anos «reais» que responde a todas as perguntas do nível 13 anos está adiantado 2
anos. Mas é perfeitamente evidente que um atraso (ou um avanço) expresso em anos e em
meses não tem a mesma significação em todas as
GUO

idades: dois anos de atraso são muito mais graves aos 5 anos do que aos 14 anos*.
0 S. Morris: Vocabu,
de Psychopédago - a (P U F_ Par1s@ 1 N3).
0estabelecimento do quociente intelectual p. 575.
Deste modo, para estabelecer validamente um atraso ou um avanço no/ desenvolvimento/
intelectual, o/psicólogo alemão Stern introduziu a noção de quociente intelectual, relação
entre a idade mental e a idade real do sujeito no momento da prova. Um exemplo. Um
sujeito com 12 anos de idade responde a todas as provas do nível 12 anos, ou seja, a 8
perguntas, depois responde a 4 perguntas de «13 anos» e finalmente a 2 perguntas de «14
anos».
- A sua idade mental estabelece-se assim:
8 respostas correctas de «12 anos», isto é, uma idade mental de
12 anos, o que dá 12 vezes 12 meses @ 144;
4 respostas de «13 anos»: 4 vezes 20 8; 0 Coeficiente afectac
2 respostas de «14 anos»: 2 vezes 2 4. às
respostas correctas
provas características c
0 resultado é uma idade mental de 156 (I.M. = 156). uma idade superior à Sendo a sua idade real de 12 anos, calculou-se a idade
real em idade real. meses:
12 vezes 12 = 144 (ou seja, I.R. = 144).
- 0 quociente intelectual exprime-se assim: Idade mental x 100 o que dá 156 x 100 =. 108.

Idade real 144

0 nosso sujeito tem portanto um quociente intelectual de 108.

Os Q.I. por categorias Mas 108 nada significa em si: para conhecer a sua significação precisa, podemos, por exemplo, referir-nos à classificação de Terman:
70 a 79 débeis
80 a 89 fracos
90 a 109 médios
110 a 120 superiores
120 e mais muito superiores Para além de 140, atinge-se o gênio* segundo Terman. Um quo- 0 Um clube inglês. i

Mensa, apenas admiu ciente intelectual de 108 coloca o sujeito na categoria «médios». os 0.1. superiores a 14 Podemos concluir que ele
terá todas as probabilidades de ser bem sucedido nos seus estudos secundários, mas que desde logo fica comprometida a via dos estudos superiores. Naturalmente,
convém levar sempre em linha de conta os factores/ afectivos susceptíveis de perturbar o sujeito no decurso das provas.

e Este inquérito é ci‟ Os factores que intervêm por Henri Piéron em

le Niveau intellectuel Certas experiências de Chapman e Wigginse incidindo sobre 1000 enfants d'âge scoleire crianças das escolas de
Meriden (Estados Unidos) puseram em (P.U.F., Paris, 1954).

pp. 33 e segs.
394

evidência a relação entre o quociente intelectual e o número de filhos de uma/ família.


Número de filhos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 e mais

Q.I. 117 118 114 108 106 106 105 103 98 Tanto os rapazes como as
raparigas, seja qual for a sua idade, denotam uma superioridade intelectual inversamente
proporcional ao número de filhos. Os filhos únicos ou os que apenas têm um irmão ou
uma irmã representam uma proporção esmagadora dos quocientes intelectuais superiores
à média. Urna experiência de Kuribagasi mostra que o valor do quociente intelectual está
igualmente dependente da idade da mãe no momento do nascimento*:
e Idem.
Idade da mãe 16-21 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51-55 Q.I. 107
107 106 103 100 101 92 78 Os centros de/orientação escolar ou os psicólogos
escolares estão em condições de submeter os alunos a/testes de quociente intelectual.

ACIOCNIO (Raisonnement/Reasoning) ver o artigo nas pâginas seguintes.


Para o adulto, o papel normal do raciocínio é estabelecer, a partir de certos dados, a
verdade, a falsidade ou a probabilidade de proposições. Por outras palavras, o raciocínio
é, para o adulto, um meio de chegar à verdade. Muito diferente é a/atitude do adolescente:
ele dispõe das suas novas faculdades de abstracção intelectual como de um fim em si
mesmo, um brinquedo de que se pode servir sem no entanto regressar ao estádio infantil.
Antes pelo contrário: o adolescente pensa na melhor das boas-fés avançar assim na via da
maturaçã o. Isto não é inteiramente falso na medida em que tal faculdade do pensamente,
lógico deve ser longamente exercida antes de se alcançar
8w0 maturidade.

Os dOis aspectos do raciocínio adolescente Tudo se passa como se o raciocínio do


adolescente tivesse uma duPla face: uma face adulta ou treino da dedução e da induçâo,
sem as quais a experiência não é senão uma série incoerente de f~S e de gestos
intraduzíveis; uma face infantil que P.-A. Rey-FicrD1C descreve assim: « Antes de utilizar
a sua razão com o pro-
0~ Para o qual ela existe, (o adolescente) começa por saborear ~ de se afirmar como
capaz de raciocinar. E esta alegria

re"vamente/ independente das exigências de verdade que virão

tarde dirigir o emprego da/ inteligência. Raciocinar por raciocínar -como a criança anda de
bicicleta-, sem a preocupação
RAC

da finalidade teórica destes diversos /;@ comportamentos. tal é sem dúvida o modo de agir
normal dos adolescentes. Nada há aqui que possa escandalizar-nos nem surpreender- nos,
e ainda menos levar-nos a emitir um/juízo pejorativo sobre eles.»* P.A. Rey-
Herme:

I'Enfent st son devenij

Eis o que não devem perder de vista os adultos que discutem com um adolescente.
Compete-lhes menos provocar uma,-,discussão de fundo do que conduzir o adolescente a
tomar/gosto pela busca da verdade, e isto através do,,,, prazer proporcionado pelo
raciocínio.
396

0 raciocinio
Por Françoise Gauquelin

«Se a criança explica em parte o adulto, não é menos verdade que cada período do/
desenvolvimento ilumina em parte a compreensão dos seguintes.»* Para entender o que se
passa do ponto de vista /intelectual no momento da/;< adolescência, é preciso conhecer as
grandes linhas da evolução que a precedeu.
0 que separa a criança do adolescente, não é somente a grande revoluçâo/afectiva que
intervém na altura da/puberdade, mas igualmente, e de uma maneira não menos
fundamental, o modo de pensar, de raciocinar. De facto, é por ocasião da adolescência
que se desenvolvem os meios intelectuais que permitem o racio- cínio adulto.

OS ESTÁDIOS INTELECTUAIS

0/Psicólogo suíço Jean Piagete interessou-se pelo desenvolvimento intelectual de um


ponto de vista genético: para compreender o que é a inteligência, ele estudou-a na sua
formação. Através de inúmeras experiências sobre crianças de diferentes idades, Piaget
concebe o desenvolvimento psíquico como uma «marcha para o equilíbrio» e distingue
três grandes estádios na evolução da inteligência. Cada estádio representa um equilíbrio
mais perfeito das funções mentais, uma melhor/ adaptação à realidade. As conclusões que
ele daí extraiu sobre a natureza da inteligência valeram-lhe uma audiência mundial e
continuam a suscitar novas pesquisas. -0 primeiro grande período do desenvolvimento
intelectual é o da inteligência «sensório-niotora», que se estende do nascimento até cerca
dos 7 anos. Esta inteligência é essencialmente prática: visa somente o sucesso da acção e
não o conhecimento como tal „ Além disso, a criança supre a falta da lógica graças à
intuição. Esta intuição depende muito da percepção: a criança não compreende senão
aquilo que ela pode ver, tocar, cheirar ... Por exemplo, se
Françoise Gauquefin Diplomada em Psicologia. Publicou Ia Psychologie au XX. siècle (E.S.F., 1963), Méthode de Lecture rapide em colaboração com François
Richaudeau (C.E.P.L., 1966), Savoir communi .quer (c *E.P.L., 1970). Assegura, com o seu marido@ @lichel Gauquelin, a direcçã o científica da ColecÇã
@ de Obras de Psicologia, de que este volume faz parte, e da revista Psychoiogie.

9 J. Piaget o B. Inhelder: Ia Psychologie de l*enfant‟ (P.U.F., 1967), p. 7.

# Nascido no ano de 1896 em Neuchátei (Suíça), Jean Piaget revo lucionou as noções ante,ic@res sobre a inteligencia mostrando que ela não era nem um dado
inato do cérebro hurnano nem urna aquisiç5o progressiva e contínua. antes se desenvolvendo por etapas bem definidas, aquilo a que deu o nome de estádios
intelectuais. Enquanto um estádio não estiver adquirido, o seguinte não pode ser abo rdado no decurso do desenv olvimento. Isto é verdade em todos os
domínios da inteligència.
RAC

introduzirmos uma bola vermelha, depois uma bola verde e por fim uma bola azul num
tubo, a criança espera reencontrá-las à saída do tubo pela mesma ordem. É efectivamente o
que se produz se inclinarmos o tubo para diante. Mas se o inclinarmos para trás, vemos sair
a última bola introduzida, a azul, depois a verde e finalmente a vermelha. Esta inversão da
ordem das cores não lhe é compreensível pela lógica do retrocesso. Ela espera sempre vê-
Ias sair na ordem pela qual as viu entrar no tubo.

Antes da puberdade: um pensamento ligado aos obje< -0 segundo grande estádio do/
desenvolvimento /intelectual é o do pensamento concreto. Por volta dos 7 anos, a criança
abandona o modo de/raciocínio intuitivo. Ela torna-se capaz de reflectir sobre os objectos
que tem diante de si e que pode manipular à sua vontade. Passa a estar apta a pensar a
acção que realiza, a representá-la no seu espírito e já não apenas a vivê-Ia pelos
movimentos que executa. Pode combinar raciocínios. Apresentamos-lhes, por exemplo,
uma caixa na qual se encontram umas vinte pérolas castanhas e duas ou três brancas,
pérolas essas que são todas de madeira; perguntamos-lhe se há mais pérolas de madeira ou
mais pérolas castanhas. A partir dos 7 anos, a criança compreende que há mais pérolas de
madeira. É só nesta idade que ela consegue comparar o todo - pérolas de madeira - com
uma das suas partes
- pérolas castanhas. Mas os seus raciocínios só se mostram correctos se-incidirem sobre os
objectos tangíveis e não sobre as suas qualidades relativas. Antes dos 11 anos, a criança não
pode resolver a seguinte questão, ainda que formulada por escrito: «A Edite tem os cabelos
mais escuros do que a Lili. Edite tem os cabelos mais claros do que a Susana.
Qual das três tem os cabelos mais escuros?» Ela responde em geral que, «sendo a Edite e
a Lili escuras, e a Edite e a Susana claras, é a Lili a mais escura, Susana a mais clara e
Edite meio clara, meio escura», falhando a resposta certa. Antes dos 11-12 anos, a criança
não sabe comparar-se com os outros. «Se ela não compreende que um companheiro pode
ser ao mesmo tempo mais louro que um outro e mais escuio que um terceiro, não será
porque a criança nunca pensou que um tal indivíduo, que ela sempre considerou louro,
pode ser julgado moreno por colegas muito louros?» A relatividade dos/juízos não lhe é
ainda acessível. Ela não sabe manejar o mundo das ideias.

0 pré-adolescente: do concreto ao abstr,, -Por volta dos 11-12 anos, a/puberdade ocasiona
uma nova transformação importante do raciocínio: a passagem do pensamento concreto
para o pensamento abstracto. Esta passagem, que decuplica os poderes da/ inteligência,
vai inicialmente perturbar a /personalidade do adolescente, mas permitir-lhe-á em seguida
desabrochar dando-lhe os meios de se adaptar a um mundo cuja complexidade ele
apreende melhor.
398 0 raciocinio

A conquista da hipótese Como vimos, as operações da inteligência não são correctas antes
dos 12 anos, salvo no caso de se referirem a objectos presentes. Mas se tentarmos substituir
estes objectos por ideias, a criança sente-se perdida e não pode efectuar o raciocínio.
Depois dos 12 anos, há uma transformação do raciocínio que permite de súbito à criança
dar uma resposta certa ao problema precedentemente exposto: Susana é a mais escura, pois
Edite é mais clara do que ela e mais escura do que Lili... A criança de 12 anos torna-se
capaz de reflectir sobre três personagens fictícias, de/«imaginar» estas três meninas, ou seja,
de supor por hipó tese a sua existência.

A puberdade liberta o pensamento do concreto Mas. para poder construir hipóteses, não
basta imaginar os objectos que estão ausentes, é também preciso libertar-se da crença
imediata: quando se pede a uma criança de menos de 11 anos que critique esta frase
absurda: «Não gosto de cebolas e ainda bem que assim é, pois se gostasse passaria o dia a
comê-las e detesto comer coisas más», ela declara que é absurdo não gostar de cebolas ou
que as cebolas não são más. Raciocina sobre os próprios objectos (as cebolas) ou sobre a
sua crença relativa aos objectos (as cebolas não são más). A criança de 12 anos, essa,
saberá adoptar os dados sem se preocupar com o seu ponto de vista pessoal a tal respeito e
deduzirá simplesmente as respectivas consequências.
0 exemplo é semelhante nesta outra forma absurda que figura no clássico/teste de
inteligência de Binet-Simon: «Dizia certa pessoa: se um dia me matar de desespero, não
hei-de escolher uma sexta-feira, pois a sexta-feira é um dia mau que daria azar.» Antes dos
12 anos, a criança acha que o absurdo está em ser supersticioso, em julgar que a sexta-
feira é uni dia que dá azar. Ela não considera senão o conteúdo das proposições,
esquecendo as relações entre estas, e não pode portanto ver o que têm de contraditório.
Depois da/puberdade, a criança compreende de repente que alguém que decide matar-se
não tem de recear que lhe aconteça um azar. Ela apreende a contradição desta frase
absurda porque domina a hipótese, isto é: essa «/conduta intelectual muito particular que
consiste em não afirmar, logo em não empenhar a crença, mas em admitir simplesmente
urna verdade ou uma falsidade possíveis,

em admitir uma proposição neutra -retendo momentaneaa CMnÇa - da qual se vão tirar as
consequências necessárias» e. 0 1. Piaget: Ias Relations
entre l'affectivité et
.4=~em do real ao possivei
1'intelligence dons Ia ddveloppement mental de Penfent

l)jPót~> 0 adolescente entra no domínio dos possíveis.


(C.D.U., 1954).
0 9M~MUnto já não está acorrentado ao real, àquilo de que OLO I*M 1X1D8 CXPC~a
concreta e imediata. Ele sabe partir do
RAC

possível antes de atingir o real. Assim, num problema de matemática ou de física,


formulam-se as hipóteses possíveis e depois, por verificação, eliminam-se as que são falsas
ou seja contraditórias com a experiência para chegar à solução justa. E é porque elo tem
assim à sua disposição todos os possíveis e não já apenas as realidades que o rodeiam que o
adolescente vai elaborar as suas grandes teorias que devem transformar o mundo. Inebriado
pelo recente poder do seu pensamento não vê os obstáculos práticos que se opõem à
realização das suas ideias. Realização à qual aliás não aspira, absorvido como
está na descoberta de um universo mental sem limites ... Mas se tudo parece possível ao
pensamento do adolescente, é porque ele soube igualmente sair do seu ponto de vista
pessoal. À medida que participa mais na vida colectiva, apercebe-se de que há outros
pontos de vista além do seu, outras maneiras de ver as coisas.
0 problema que se coloca então, por volta dos 11-12 anos de idade, é por conseguinte o de
encontrar o meio de passar de um ponto de vista pessoal momentâneo a uni outro, sem se
contradizer, ou seja, o de aceitar a noção do relativo. Perante três objectos, o pré-
adolescente pode compreender que o objecto do meio está ao mesmo tempo à esquerda e
à direita. Ele pode compreender igualmente que é absurdo dizer: «Somos três irmãos
na/família» e «Tenho três irmãos» porque ele próprio é um irmão para os outros. São
possíveis dois pontos de vista ao mesmo tempo. «Não é senão no dia em que a criança
sabe dizer: „Compreendo-o. Admitamos o seu ponto de vista. Mas então, se ele fosse
verdadeiro ... eis o que sucederia ... porque...‟, que a hipó tese autêntica nasce no seu
espírito.»* 0 J. Piaget: le JU
et /e reisonnement
1'enfent (Delachaux Este pensamento hipotético-dedutivo, que surge na altura da/ puber- Niestlé,
1963), p,

dade, pressupõe assim dois factores: um/social (a possibilidade de se situar em todos os


pontos de vista e de sair do ponto de vista pessoal ou imediato) e o outro relativo
à/psicologia da crença (a praticabilidade de imaginar atrás da realidade concreta um
mundo puramente possível que será objecto do raciocínio). Concebe-se a importância
desta descoberta de um modo de raciocínio sem o qual a criança tem dificuldade em
compreender e portanto em adaptar-se a uma situação nova.

A experiência lógica e a contradição

0 que conta então para a/inteligência do adolescente já não é a realidade desta ou daquela
afirmação, mas as relações que elas têm entre si: ele «apercebe-se de que, se afirmar tal
coisa, se compromete por isso mesmo a afirmar uma outra»*. e Idem, ibidem. 1
0 pensamento já não reflecte sobre as coisas, mas sobre si mesmo,
400 0 raciocInio

sobre o seu próprio funcionamento. E o que importa, pois, é evitar a contradição à qual a
criança de menos de 11 anos é ainda insensível: um rapaz de 7 anos e meio afirma, por
exemplo, que os barcos pequenos flutuam porque são leves, e depois que os barcos
grandes flutuam porque são pesados.

Na/puberdade a criança torna-se sensível não só à contradição lógica, mas também à


maior ou menor riqueza do raciocínio. Ela fará um/esforço para adoptar o tipo de
raciocínio que lhe permite o maior número possível de deduções. A criança muito nova
deixa que lhe imponham critérios de contradição e de fecundidade vindos do exterior; as
explicações dos/xpais e dos professores são aceites tais quais, pelo facto de virem de um
adulto. 0 adolescente, em contrapartida, procura criar os seus próprios critérios. 0 seu
pensamento torna-se /independente. 0 raciocínio lógico é uma espécie de experiência que
ele faz sobre si mesmo para detectar a contradição, necessidade devida à obrigação de
permanecer fiel a si próprio.

0 pró-adolescente descobre uma personalidade dentro de si Com efeito, por volta dos 11-
12 anos, a realidade física, exterior, vai desdobrar-se, para a criança, numa realidade
subjectiva, tal como ela a vive interiormente: o pré-adolescente toma consciência do
carácter pessoal das suas/opiniões, do sentido que ele dá às palavras, etc. Até então,
existia uma espécie de indiferenciação entre si mesmo e o exterior, não havia senão uma
realidade, a que ele percebia. Agora que ele pode adoptar outros pontos de vista que não
o seu, compreende quanto a realidade tem múltiplos aspectos e depende daquele que a
percebe. Nessa altura só pensa em explorar todos estes aspectos, em «fazer experiências
intelectuais».

A experiência lógica pressupõe assim duas condições: a superação de uma realidade única
e a foimação de hipóteses que representem todos os possíveis, por um lado. Por outro
lado, a tomada de consciência das operações do pensamento, por exemplo, das definições
que se dão ou das hipóteses que se fazem.

0 adolescente que não atinge este modo de pensamento terá, quando adulto, unia
/inteligência imperfeita. No entanto, este raciocínio nAo é mais do que uma,-discussão,
connosco mesmos que reproduz interiormente os aspectos de uma discussão real- Para
quem @üv« adquirido o seu domínio, ele parece inerente a todo o pensa- nmto humano
adulto.

VM Pensd~to desembaraçado do real *D@& 11 aos 15 anos, aproximadamente, a criança


aprende, pois, tin priadpio, a desprender-se da realidade imediata e a encarar
RAC

um universo muito mais amplo que o da experiência concreta pessoal. Ela pode então
arquitectar a seu bel-prazer reflexões e teorias, usando e abusando, para começar, dos seus
novos poderes. Os seus interesses vão orientar-se no sentido do inactual e do/futuro.
«0 adolescente, em contraste com a criança, é um indivíduo que reflecte fora do
presente.»* o J. Piaget:
Esta reflexão / independente dos objectos é como que um pensa-
Ia PsyChologie de
rintelligence (Colin, 1967 mento de segundo grau. Ela já não incide sobre as proposições,
P- 158-

mas sobre as relações entre estas proposições. Deixa de lhe bastar afirmar: «Este animal é
um mamífero» e « Este animal é um vertebrado.» Diz agora: «Este animal é um mamífero,
então é um vertebrado.» 0 raciocínio toma-se formal, na acepção em que é pela sua forma
que ele é julgado verdadeiro ou falso e não pelo conteúdo das proposições que afirma. E,
depois de descoberto um modo de raciocínio, ele pode ser aplicado seja a que conteúdo
for.

Acesso ao raciocínio abstracto e inicio dos estudos socundãrio Este acesso a formas
adultas de inteligência corresponde também, para a maioria das crianças, à passagem da
instrução primária à instrução secundária. As dificuldades surgirão se houver
desfasamento entre a entrada no ciclo preparatório e o início do pemamento hipotético -
dedutivo. Felizmente, um atraso de/maturidade do pensamento pode ser recuperado no
decurso do ano escolar, permitindo por vezes, após um mau começo, uma/adaptação
satisfatória do aluno aos novos programas. Aliás, o/desenvolvimento da inteligência não
pára aqui e podem ainda ser feitos grandes progressos ao longo da/ adolescência. Convém
assim evitar julgar um adolescente unicamente pelas suas lperformances numa dada idade,
e levar em conta a sua evolução anterior (lenta, rápida, fácil ou difícil) na definição da
sua/orientação ulterior.

0 ADOLESCENTE: A MANIPULAÇJO DAS HIPóTESES

As combinações e os sistemas

É em geral por volta dos 14~15 anos que o adolescente se revela apto a combinar entre si
ideias ou hipóteses. Ele pode utilizar modos de raciocínio que até então conhecia,
porquanto procura doiavante encontrar um tecido de relações recíprocas entre o seu ponto
de vista e o dos outros. Ele já não é o centro do mundo, o ponto único de referência.
Compreende que cada qual é sujeito da sua experiência. Esta reciprocidade permite-lhe ao
mesmo tempo incorporar na sua experiência - fazer seus - os fenômenos e acontecimentos
novos e respeitar a sua objectividade. Estas novas @possibilidades da/inteligência
concretizam-se na /linguagem. E só na,;¥ adolescência que palavras como
«portanto», «conquanto» são empregues no seu verdadeiro sentido: «Faz sol,
P A-26
402 0 raciocínio

portanto está calor.» 0 adolescente é capaz de generalizar, se bem que não perdendo a
noção da excepção: « Não me molhei, conquanto tenha chovido.» A criança raciocinava
passo a passo. Ela não podia conceber, por exemplo, que dois animais tão diferentes como
a ostra e o camelo fizessem parte de uma mesma classe (animal), por serem ambos
capazes de se mover de modo autónomo. Mas a partir do momento em que o raciocínio já
não está acorrentado ao seu conteúdo, torna-se possível construir quaisquer relações e
quaisquer classes reunindo elementos 1 a 1, ou 2 a 2, ou 3 a 3. Se dermos alguns cubos a
uma criança, pedindo-lhe que os combine 2 a 2 de todas as maneiras possíveis «como se
se tratasse de passeantes que pudessem andar dois a dois variando os seus
companheiros»*, antes dos 11 anos ela P. Fraisse e J. Piaget: não consegue senão algumas

combinações por tacteios, ao acaso Treitá de psychologie * expérimentele Porém, na adolescência,

adquire a capacidade de proceder de forma (P.U.F., 1963). p. 144. sistemática combinando cada um
dos cubos com todos os outros:
1-2, 1-3, 1-4... 2-3, 2-4, 3-4... Da mesma maneira, ela é capaz de combinar /juízos. Há
nisto uma aquisição muito importante do adolescente, o raciocínio sistemático.

Na adolescência, a experimentação científica torna-se possível Há um outro exemplo


igualmente característico deste facto: põe-se o problema de determinar o que faz variar a
frequência de oscilação de uni pêndulo, podendo o sujeito da experiência fazer variar o
peso suspenso, o comprimento do fio, a altura da queda e o impulso inicial dado ao
pêndulo*. Observa-se unia diferença muito nítida 0 Experiência realizada
de/ comportamento entre a criança e o adolescente: a criança
em Genebra por 13. Inhelder; ver Treité

de entra imediatamente em acção e ensaia sem sistema até haver encon- Psychologia expéri-entela

trado uma hipótese; ela tenta então verificá-la fazendo variar tudo
sob a direcção de P. Fraisse e J. Piaget

ao mesmo tempo. 0 adolescente, esse, após algumas tentativas, (P.U.F. 1963).

reflecte e procura estabelecer a lista das possíveis hipóteses. Ele passa então à verificação,
dissociando os factores que podem entrar em jogo e fazendo-os variar um por um.

A atitude experimental Durante o crescimento desenvolvem-se potencialidades que,


conforme a/educação que for dada ao adolescente, se transformarão OU nÃO em poderes
reais. Assim, é possível observar, em qualquer @”0I«=tC de 14-15 anos ou mais, uma
forma de encarar os prob~ ou os obstáculos que ele enfrenta na sua vida quotidiana qw
n10 existia antes. Na verdade, ele já não aceitará como sendo
40 ~ evidentes e reais as ilações aparentes que pode tirar, pref~ tentar ir além das
aparências, fazer verificaçõ es e até invenW 9~. É a idade em que se gosta de fazer
experiências e em IN** V~ 80/dumvOlvimento da/ inteligência, estas experiên-
RAC

cias podem ser rigorosas e bem realizadas. É por conseguinte a idade em que se pode
realmente, nos liceus e colégios, fazer compreender o/ensino das ciências físicas (física,
química, mecânica ... ), sendo este gosto pela experiência necessário a quem se destina às
carreiras científicas. Mas, o que é ainda mais import@nte, esta/atitude só pode nascer num
contexto/social favorável. E «o choque do nosso pensamento com o dos outros que produz
em nós a dúvida e a necessidade de provar. Sem os outros, as/decepções da experiência
levar-nos-iam a uma supercompensação de/imaginação e ao delírio»*. Nasce
0 J. Piaget: le Jugen
e, lè raisonnement che constantemente em nós -sobretudo no momento da/adoles_ l*enfant
(Delachaux ei

cência em que o pensamento ainda permanece absoluto e intole- Niestlé. 1963), P. 164

rante- «um enorme número de ideias falsas, de extravagâncias, de utopias, de explicações


místicas, de suspeitas e de megalomanias que se desfazem ao contacto dos outros. É a
necessidade social de partilhar o pensamento dos outros, de comunicar o nosso e de
convencer, que está na origem da nossa necessidade de verificação. * prova nasce
da/discussão».

* aparecimento da ideia de acaso

* ideia de acaso tem importância porque é uma das noções que surgem mais tardiamente
no adolescente. Muitas vezes ela nem sequer aparece. Nasce da possibilidade de realizar
combinações sistemáticas e, por consequências, de compreender o que é uma
probabilidade. Para tal, é necessário encarar todos os casos possíveis e conceber em que
proporção se acha o acontecimento desejado relativamente a estes casos possíveis. Aliás, o
que escapa a muita gente é a noção de quanto esta proporção é fraca, por exemplo nos
jogos de azar dos casinos. De facto, o acaso põe em xeque a razão, e é por isso que se tem
tendência a atribuir-lhe caracterí sticas misteriosas nas quais se misturam vagas ideias de
fatalidade, de destino ou mesmo de intervenção divina... Mas, segundo Piaget, «mais cedo
ou mais tarde» a razão deve reagir interpretando o acaso, ou seja, procurando
compreendê-lo, determiná-lo a despeito de tudo. Esta razão actua então como se os
mecanismos aleatórios o não fossem: ela prevê todos os casos possíveis, dos quais apenas
alguns se tornam reais por culpa do acaso. ....... ........
Esta/atitude do adolescente aparece, por exemplo, numa das experiências inventadas por
Piaget: 16 pérolas, das quais 8 vermelhas e 8 brancas, são alinhadas ao longo de um dos
lados mais pequenos de uma caixa rectangular*. Quando se imprime a esta caixa um
movimento de báscula, as pérolas dirigem-se para o lado oposto e depois voltam à sua
posição inicial, mas com toda uma série de possíveis mudanças. A mistura das pérolas
pode
404 0 raCIOCIMO

recompor a sua disposição inicial, mas para isso é preciso um grande número de
tentativas, porque «é muito raro», «quase não há probabilidades», dizem os adolescentes
que compreendem que a sorte é neste caso um problema matemático. Também num
sorteio é necessário fazer o inventário de todas as possibilidades para conceber a relação
entre os casos favoráveis (desejados) e os casos possíveis. E se o adolescente conseguir
estabelecer esta relação, ele chegará igualmente à compreensão da lei dos grandes
números. Um adolescente formula-a assim, no caso de um ponteiro que gira sobre um
circulo dividido em 8 cores: «se ele girar muitas vezes, tem muito mais probabilidades de
parar em todo o ladoe» (sobre o J. Píaget: Ia Génése
de Fidée de hasard chez cada uma das casas do círculo). renfânt (Delachaux et

Niestlé).

Compreender e interpretar a experiência Não basta compreender a realidade física ou


saber desmontar este ou aquele dos seus mecanismos. Também não basta desmitificar o
acaso. 0 mais importante e o mais difícil é compreender a realidade muito mais complexa
do mundo que nos rodeia, físico e psíquico. 0 adolescente deveria começar a poder fazê-lo
visto que é capaz de encarar diversos aspectos de uma mesma realidade, de combinar várias
observações ou hipóteses, de construir um sistema coerente. Mas, consoante continua ou
não os seus estudos, consoante está habituado à reflexão ou absorvido nas suas primeiras
confrontações com o mundo do trabalho, ele reflectirá mais ou menos sobre problemas
abstractos. Os jovens que são postos a trabalhar aos 14 ou 16 anos não têm praticamente
qualquer ocasião de desenvolver esta análise da experiência, à qual, pelo contrário, são
estimulados os que prosseguem os seus estudos. É de certo modo em referência a esta
época da vida que se tende a confundir /«inteligente» e/,'«intelectual». Intervêm ainda
outros factores que criam desigualdades no/desenvolvimento da inteligência. Se alguns
sujeitos não atingem este estádio do raciocínio lógico (e é óbvio
que se torna impossível conhecer a respectiva proporção), isso pode ser igualmente devido
ao processo de maturação intelectual do qual apenas se conhece pouca coisa. A lógica,
embora pareça inerente ao adulto, não é dominada por todos os adultos. Não sendo
indispensável para uma boa ,‟109PtaÇão à vida adulta e uma boa inserção/ social,
podemos Â]1néli~ -P«gUntar se ela não será apanágio de uma minoria. Foi <lú*& por tal
motivo que Piaget e Inhelder se dedicaram muito

li ~ver esta etapa do desenvolvimento intelectual, sobre #L “da falta aprender muito.
RAC

A INTELIGÊNCIA CRIADORA: UM IDEAL RARAMENTE ATINGIDO

E contudo o desenvolvimento intelectual nem sempre pára aí. A inteligência pode


continuar a estender os seus poderes. A inteligência abstracta, tal como existe por volta
dos 14-15 anos, basta, na maior parte dos casos, para uma boa adaptação ao real e
enriquece-se pouco posteriormente. Mas, para além da adaptação ao mundo exterior
segundo modelos sociais já elaborados, as possibilidades intelectuais que vimos nascer e
desabrochar durante a/adolescência podem permitir a criação de novos modelos. A
descoberta desta possibilidade conduz frequentemente, na idade ingrata, a esboços de
raciocínios mais ou menos precários. Importa, evidentemente, aprender a superar esta
embriaguez do raciocínio por si mesmo. A última etapa a transpor para atingir um
raciocínio verdadeiramente adulto e equilibrado, e que seja ao mesmo tempo criador,
requer a tomada de consciência de que este raciocínio abstracto pode aplicar-se ao real. É
decerto admirável poder raciocinar no vazio admitindo todos os possíveis. Mas é útil tirar
daí consequências para as relações do indivíduo com o seu meio envolvente. Na luta por
uma vida melhor e mais rica, a/inteligência criadora revela-se o instrumento mais apurado
se, em vez de girar sobre si mesma, em circuito fechado, ela lograr analisar os obstáculos
encontrados a fim de os superar levando em linha de conta não só a realidade imediata,
mas també m todas as realidades imagináveis tanto no passado como no/futuro.

0 adolescente sonha ... o adulto real


0 adolescente/ político deixa-se arrebatar pelas palavras a fim de clamar a sua vontade de
reformar o mundo; mas o adulto político encontra os meios de fazer passar as palavras aos
actos. 0 adolescente literato enche páginas de reflexões sobre si mesmo e as suas relações
com os outros; mas o adulto literato encontra pistas susceptíveis de levar os seus escritos
a sensibilizar não só a si próprio mas ainda os mais variados tipos de leitores. 0
adolescente filósofo convence-se da beleza dos raciocínios abstractos; o adulto filósofo
explica-os de maneira a transformar os conhecimentos e a forma de pensar da sua época. 0
adolescente matemático joga com as inúmeras possibilidades que a manipulação das
fórmulas lhe deixa entrever; o adulto matemático isola-as e aprofunda-as até à
demonstração de novas fórmulas ou de novos campos de aplicação.

0 pensamento criador está assim em germe no novo estádio intelectual que surge no
momento da/ adolescência. Mas as circunstâncias que rodeiam o/ desenvolvimento deste
estádio e o/gosto de cada adolescente pelo raciocínio são tão diferentes de um para
406 o raciocínio

outro indivíduo que se torna assaz difícil predizer quantos adolescentes impulsionarão o seu
pensamento até ao último acabamento. Aliás, nem sempre são as crianças que mais prometiam à partida as que dão os adultos
mais notáveis. No que se refere ao raciocínio, como em qualquer outro domínio, é bastante raro uma criança prodígio vir a ser
um adulto genial. No entanto, o alongamento da,,,, escolaridade e a sua extensão a faixas mais vastas da população não podem
senão contribuir para o desabrochamento do pensamento criador num maior n úmero de indivíduos. A aceleração dos
progressos técnicos, ao garantir a/segurança material de um crescente número de/famílias, abre mais possibilidades materiais a
esse objectivo. Ela oferece ao mesmo tempo mais saldas criadoras em muitas profissões. Se, noutros domínios/ psicológicos, a
nossa forma de civilização parece fazer da adolescência uma etapa particularmente difícil, no domínio intelectual ela afigura-se
favorável a um bom desenvolvimento para um maior número de adolescentes.

* DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL * A FORMAÇ1O DA PERSONALIDADE Esta passagem da infância à idade


adulta, quer dizer, de uma situação de dependência a uma situação de/ responsabilidade, abarca mais de cinco anos da vida e
constitui uma verdadeira metamorfose do indivíduo. Ela não se faz sem abalos nem sem o risco de importantes
perturbações. A aquisição de um novo estádio /intelectual que se produz por volta dos 11 anos é, a par das transformações
/psicológicas e/afectivas, a condição necessária desta metamorfose.

Um mundo que muda de dimensões É uma mudança radical de perspectiva que se efectua na altura da /adolescência. Mudança
progressiva e que depende de numerosos factores individuais e/sociais, mas que nem por isso assume menos importância: ao
passo que a criança evoluía unicamente no pequeno mundo definido pelos seus /pais e a/escola, o adolescente vai partir à
descoberta do mundo exterior. Ao passo que a crianç a vivia e raciocinava no presente e no concreto, o adolescente vai poder
reflectir sobre aquilo que não está imediatamente diante de si, sobre o mundo na Sua totalidade. Ao passo que a criança não
Conhecia ~o o real, o adolescente vai ter à sua disposição todos os Possíveis. A._Winteligê ncia é um dos instrumentos desta
mutação: inteligência q” Cl~ Pouco a Pouco ao termo da sua evolução e que, ao enriqu~-» com novos Procedimentos, permite
ao adolescente uma autêntica reconstrução do mundo. Para Piaget, como vimos, esta fornia de inteligência, por ideias gerais e
construções abstractas,
RAC

constitui o último estádio do/ desenvolvimento mental, o acesso a uma melhor/ adaptação
à realidade.

0 adolescente: um ser em crise

No entanto, o que chama sobretudo a atenção no adolescente, não é a sua maneira de


pensar, de raciocinar, mas essencialmente a sua/atitude perante os adultos e, em particular,
perante os seus pais. Para a/familia, é um período difícil que começa, tanto mais difícil
quanto os pais compreendem muitas vezes mal as transformaçõ es do filho. Este, ao
descobrir os poderes e a amplitude do seu pensamento e ao atribuir-lhe uma potência
infinita, tem tendência a usar e a abusar dele. Não vê os limites impostos pela realidade e
pela vida do dia-a-dia. Como consegue imaginar todos os possíveis, crê que estes sejam
realidade mesmo fora do seu pensamento. Para ele, o pensamento é todo-poderoso e,
portanto, é o mundo que deve adaptar-se aos sistemas que ele constrói e não os sistemas à
realidade. Tudo é possível, tudo parece fácil na medida em que as teorias arquitectadas com
tanto/prazer não têm de passar pela prova da realidade. Mas quem, a não ser o seu autor,
pode admiti-Ias e compreendê-las? De qualquer modo não serão os/pais, sinónimos
de/autoridade, de coerção, de tradições vetustas, segundo ele julga. Visto começar a
considerar-se igual aos adultos, ele vai ter tendência a julgá-los num plano de inteira
reciprocidade. Já não admite a autoridade dos pais e dos professores como evidente e
indiscutível, porquanto deixou de reconhecer a superioridade donde aquela tirava o seu
fundamento. E, embora se queira igual aos mais velhos, o jovem sente-se ao mesmo tempo
diferente deles pela nova vida que se agita em si, e deseja surpreendê-los transformando o
mundo. É o início da/«contestação». Além disso, e a maior parte dos/psicólogos insistiram
neste ponto, a entrada do adolescente na sociedade adulta não poderia produzir-se
sem,,,Iconflitos. Piaget explica-o por um/desequilibrio provocado pela passagem de um
estádio do/ desenvolvimento para um outro. Numa primeira fase, conflito e desequilíbrio
manifestam-se no adolescente por tendências para o recolhimento em si, a/introspecção e
também a/oposição, que são características desta idade, sobretudo por volta dos 15 anos.
Mas aparece igualmente um grande/ desejo de se afirmar, não podendo esta afirmação de
si operar-se então a não ser pela oposição aos outros, ou seja, aos adultos mais chegados:
é a «crise de originalidade juvenil».

0 adolescente sonha conquistar -ou salvar - o wn, Apesar dos novos poderes do seu
pensamento ou, mais exactamente, porque estes novos poderes o inebriam, o jovem
adolescente per-
408 o raciocínio

manece centrado sobre si mesmo. Ele tenta apropriar-se do mundo, adaptá-lo ao seu «eu»
que é valorizado ao máximo. Todo este primeiro período da/adolescência é marcado
pelo/egocentrismo intelectual que coloca o sujeito no centro de um mundo remodelado e
reformado à sua medida. Muitas vezes o adolescente arroga-se assim um papel essencial na
salvação da humanidade. Num inquérito sobre as/fantasias nocturnas de alunos de 15 anos,
«descobriu-se, entre os rapazes mais/tímidos e mais sérios, futuros marechais ou
presidentes da República, grandes homens de todo o gênero, alguns dos quais viam já a
sua estátua nas praças da capital»*. Acontece igualmente «o adolescente fazer como que
o i, Piaget: six Érudes um pacto com Deus, comprometendo-se a servi-Lo sem recompensa,
de ~chologie (Gonthier,

mas contando desempenhar por isso mesmo um papel decisivo Médiations, 1964).

na causa que se decide a defender»*. Entregue às suas preocupações 0 Idem, ibide-.


messiânicas, mais preocupado em salvar o mundo do que em conhecê-lo e compreendê-lo,
o adolescente aparece assim como indiferente ou até hostil aos que o rodeiam, porque eles
não podem partilhar as suas/aspirações ingénuas e quiméricas.

Uma personalidade que se realiza pela acção

À fase de ensimesmamento vai suceder uma fase de expansão.


0 adolescente começa a pensar no/futuro, isto é, no seu/trabalho actual e vindouro, e
acrescenta às suas/ actividades do momento um programa de vida para as suas actividades
ulteriores. Graças a estes/projectos de futuro, ele supera pouco a pouco o
seu/egocentrismo e tende cada vez mais a olhar à sua volta e a interpretar aquilo que vai
experimentando. Já não se contenta em ponderar o mundo em função do seu «eu», pois
diligencia igualmente por ajustar este «eu» às condições exteriores. Aos 10 anos, ele não
estabelece realmente diferença entre os outros e as suas actividades próprias. Apenas existe
para ele um único ponto de vista: o seu. Ignora a arte de entrar no ponto de vista dos
outros. Dois ou três anos mais tarde, em particular através dos contactos e/discussões que
tem com outros adolescentes, aprende a «descentrar-se», a deixar de se tomar como
exclusivo critério de/juizo. Aprende, por exemplo, a relatividade dos pontos de vista
apercebendo-se de que os outros não têm as mesmas teorias que ele. Este descentig-se
produz assim simultaneamente no plano/social pela vida Offi/grUPO (movimentos de
juventude, etc.) e no plano/ intelectual Plida int~taÇã o da experiência.
0 8d0kw~ atinge então o necessário equilíbrio entre o pensaffi~ abstrado e as exigências
da realidade: «0 equilíbrio é alcan-

q~do a reflexão compreende que a sua função específica o i. Piaget: six Études
de psychologie (Gonthier. é oonftadizer, mas ultrapassar e interpretar a experiência.O» Médiations, 1964). p. 81.
RAC

É em geral a entrada na vida profissional que permite ao pensamento, ameaçado de


formalismo e de/idealismo inadaptado, abarcar o real, facultando a reconciliação desse
mesmo pensamento com a experiência. Quando o adolescente já não tem somente que
elaborar planos de reforma da/sociedade, mas que realizar algo por si mesmo, quando ele
se vê obrigado a enfrentar problemas concretos no âmbito da sua profissão, esquece as
suas/fantasias; e cura-se delas. «Não nos devemos por ccnseguinte inquietar com as
extravagâncias e os/desequilíbrios dos melhores dos adolescentes: se os estudos
especializados nem sempre bastam para tal, o trabalho profissional*, depois de superadas
as últimas crises de e Examinaremos /adaptação, restabelece com certeza o equilíbrio e
m,

assinala assim „diante como esta


pertinente observação definitivamente o acesso à idade adulta.»* Vemos, pois, como as ser posta
em prática

transformações intelectuais que se produzem na altura da/adoles-


mesmo 0, a001esce que efectuam estudo:

cência contribuem para inoldar a/ personalidade. prolongados. # J. Piaget, iNdam, * motor do

desenvolvimento intelectual: a afectividade p. 85.

*que impele a agir ou, de igual modo, dá vontade de aprender, de conhecer, são os
sentimentos, o/desejo de satisfazer esta ou aquela tendência pessoal. Assim, o rapaz
pequeno quererá triunfar na escola para agradar à/mãe, ou para se tomar tão «poderoso»
como o/pai. Assim, o adolescente quererá afirmar-se enquanto indivíduo, igualar e
sobretudo fazer melhor do que os que o rodeiam... Estes laços estreitos entre o/
desenvolvimento/ intelectual e o desenvolvimento/ afectivo aparecem sobretudo no caso
de atraso ou de dificuldades afectivas. Por exemplo, no momento da passagem do
primário para o secundário, um grande número das/inadaptações observadas são devidas
ao facto de a criança ja não poder afeiçoar-se a um único professor, antes se perdendo no
enredo de todas as relações possíveis com os diversos professores. Demais, consoante
a/família valoriza ou não as/actividades intelectuais, abstractas, o adolescente irá sentir-se
mais ou menos motivado para efectuar progressos neste domínio.
0 desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afectivo são portanto indissociáveis, e
isolar um ou outro não pode ser senão artificial. É por este motivo que se torna
interessante comparar os pontos de vista de Piaget e de Freud sobre o adolescente.

A adolescência: uma revolução sexual o efectiva segundo Frei

uma revolução intelectual segundo Piei Enquanto a psicanálise insiste no acesso a uma/
sexualidade adulta, que marca os fenômenos afectivos da/puberdade, Piaget considera que
a puberdade é apenas um dos aspectos menores da adolescência e que a verdadeira
revolução que se produz nesta época é intelectual. Os níveis a que se situam Piaget e Freud
são por conseguinte dife-
410 0 raciocínio

rentes. 0 primeiro apega-se a uma maneira de pensar/social, /comunicável, dirigida pela


necessidade de se adaptar aos outros: o pensamento lógico. 0 segundo faz incidir o seu
interesse mais em profundidade, focando o pensamento íntimo e incomunicável como tal,
mas que determina a forma de pensamento lógico e o modo de exprimir este pensamento.
Freud insistiu muito, e com razão, no conceito de energia. São de facto a afectividade e o
instinto / sexual que vão dar ao pensamento a energia, no sentido físico do termo,
necessária ao seu funcionamento. Na altura da adolescência, o instinto sexual - a líbido -
adquire as suas características adultas e atinge o último estádio do seu desenvolvimento, o
estádio genital. Para a afectividade, tal como para a / inteligência, a / adolescência marca
assim o termo de uma evolução, se não o seu acabamento. A transformação interior das
tendências e pulsões profundas, que correspondem às modificações /fisiológicas da,,;<
puberdade, é o fenômeno primordial, o mais primitivo. É esta transformação que permite
à/personalidade afirmar-se e à inteligência ampliar os seus meios e o seu raio de acção.
Mas o verdadeiro equilíbrio só é alcançado se o adolescente lograr superar o seu/complexo
de Édipo, ou seja, desprender-se dos seus/pais. A/ independência/ afectiva perante a/família
será o ponto de partida e a condição necessária para a conquista da independência
intelectual e/social. Os interesses do adolescente alargar-se-ão ao conjunto do mundo e ele
ficará disponível para aquisições lógicas.

0 ADOLESCENTE E A SOCIEDADE

Um fenómeno igualmente muito importante após a puberdade é o início de uma autêntica


tomada de consciência social. 0 adolescente aprende não só a relatividade das coisas em
contacto com os outros, mas também a integrar-se num/grupo, a aceitar não ser mais do
que um elemento entre outros. E sobretudo, ele aprende a aceitar regras, ainda que elas
vão por vezes contra os seus interesses imediatos. Isto porque ele é capaz de aderir a um
ponto de vista colectivo. Até aos 11-12 anos, a criança apenas experimenta sentimentos
relativamente a pessoas. Na adolescência, as pessoas conwvam uma grande importância,
mas, através delas, o indivíduo interessa-se igualmente pelos ideais que elas representam.

«a personalidade implica a cooperação»*. A adoles- e J. Piagat: Six Études


a idade das/discussões apaixonadas e abstractas, mas
de psychologio (Ganthier. Médiations, 1964), p. 81.
„V44 ~Um a da/aprendizagem do/trabalho em comum, da vida ompo.

Ser inteligente, porquê? A tmm& de consciência social do adolescente é de facto caracte-


~ por três aspectos fundamentais: a elaboração de teorias
RAC

gerais e desinteressadas, a criação de um programa de vida e as ideias de reforma da


sociedade actual. É o que o leva a aliar-se aos seus iguais contra os adultos que
representam uma sociedade na qual ele quer deixar o seu cunho, visto sentir que tem
meios intelectuais para tanto. Mas a adolescência é também a idade do/jogo. 0 jogo segue
a evolução geral da personalidade: ele toma-se colectivo e passa a ser jogo de regras.
Tudo concorre assim para aproximar os adolescentes uns dos outros e conferir-lhes
o/desejo de se associarem: eles têm as mesmas/ aspirações irrealistas, as mesmas
/reivindicações frente aos adultos, sejam quais forem, por outro lado, as suas condições de
vida concretas ... Eles nem sempre distinguem bem o/jogo da realidade e, no seu caso,
querer reformar ou destruir a/sociedade, opor-se aos adultos e aos/valores reconhecídos, é
sobretudo pôr à prova e apurar os seus novos instrumentos intelectuais. A este/desejo de
mostrar aquilo de que são capazes acrescentam-se também toda a/agressividade e energia/
afectiva liberta pelas transformações/ pubertárias. Esta situação termina por vezes numa
«explosão»; os adolescentes já se não contentam em falar de reformar a sociedade e
empreendem efectivamente a realização desta reforma com meios que lhes são inerentes,
exteriorizando o seu excedente de energia e vendo tudo com lentes de aumentar ... Estes
grandes entusiasmos colectivos, quer culminem quer não em actos positivos, ou ainda que
descambem na/violência, têm igualmente o seu papel na formação da/ personalidade:
«Percebe-se em geral, ao comparar a obra dos indivíduos com o seu antigo/
comportamento de adolescentes, que os que, entre os 15 e os 17 anos, nunca construíram
sistemas e inseriram o seu programa de vida num vasto sonho de reformas, ou os que, ao
primeiro contacto com a vida material, sacrificaram logo o seu ideal quimérico aos seus
novos interesses de adultos, não foram os mais produtivos. A metafísica própria do
adolescente, bem como as suas paixões e a sua megalomania, são portanto preparações
reais para a criação pessoal, e o exemplo do gênio mostra que há sempre continuidade
entre a formação da personalidade, desde os 0 J. Plaget: SIx
de psychológie Go
11 ou 12 anos, e a obra ulterior do homem.» 0 Médiations. 1964). 1

Não há raciocínio corto sem estimulação se Realiza-se assim na/adolescência uma


transformação global da ,,”conduta que é, através do novo estádio intelectual conquistado,
uma transformação social: «0 facto primordial é a inserção do indivíduo no corpo social
adulto, e este facto comporta dois aspectos inseparáveis, um afectivo, outro /intelectual.»*
o J. Piaget: les Re, Sem inserção social, o/ desenvolvimento intelectual do
adolescente -Ire 1, Oflec"'é “

rinteffigence dens / permaneceria cristalizado numa reflexão sobre si mesmo,/ego-


déveioppement men

cêntrica e estéril. É por viver ao lado de outros que ele tem de dar
renfant (C.D.U.. 19 P. 150.

coerência ao seu pensamento. É perante eles que as deformações


412 0 raciocínio

da realidade se tornam mentiras, ausência de lógica, falta de personalidade. Sem vida social,
o desenvolvimento intelectual não beneficia do dinamismo indispensável à sua plena
consumação. Para ser dinamizante, é bom que o afrontamento se faça com iguais. Entre o
adolescente e o adulto, não poucas vezes a/discussão azeda porque o adulto representa o
principio de/ autoridade. Esta autoridade era indispensável à criança que o adolescente
ainda há pouco deixou de ser e na qual se reconverte facilmente a todo o momento. Mas ela
não permite a livre/ discussão. Por outro lado, não é raro a necessidade de discussão
do adolescente parecer ociosa ao adulto empenhado em tarefas mais positivas, ou que ele
considere como tais. 0 jovem precisa „assim imperiosamente de encontros com outros
jovens. Convém no entanto notar que se as discussões abstractas entre jovens conhecem
uma imensa voga entre os 15 e os 20 anos e favorecem a aquisição do raciocínio lógico,
nem por isso elas atingem o estádio mais avançado do pensamento criador capaz de
aplicar a lógica abstracta aos dados do mundo real.

MATURIDADE INTELECTUAL E PROFISSIO

Escreveu-se muito sobre os meios de favorecer o aparecimento deste pensamento criador.


0 método do brainstorming, concebido pelo americano Osborne, 0 A. Osborn: os
trabalhos do Centro de Estudos e de Pesquisa de Metodologia 1VMagination
construct@vo Aplicada, animados por Abraham Moles, e, muito recentemente,
(Dunad, 1965).

uma tese de A. Drevet sobre a «Metodologia dos empreendimentos criadores nas


ciênciaso», representam ensaios neste sentido, a dife- 0 Te@e de 3.0 cicio, rentes níveis, mas
sempre aplicados ao adulto já envolvido na vida Faculdade de Letras e d
Ciências Humanas, Lillo, profissional. 1968.

0raciocínio gratuito é pouco criado É este justamente o ponto crucial. Enquanto o


adolescente continua nos bancos da/escola, sob a autoridade dos/pais e dos professores,
ele tem todo o vagar para desenvolver as suas faculdades de raciocínio abstracto. Mas a
orientação deste raciocínio para uma tomada de posse do real o ce fazer-se
eficazmente por ocasião

s, p É da entrada na vida profissionT óbvio que há excepções: certos adolescentes


surpreendem o seu círculo de convivência por causa de uma orientação já eficaz da sua
capacidade de raciocinar. É no domínio da/arte (especialmente na/música) e das
matemáticas que podemos citar o maior número destes jovens prodígios, senhores de uma
tomada de consciência ao mesmo tempo profunda e compreensiva. Porém, no caso da
maior parte dos jovens, enquanto eles dependem dos seus pais as faculdades criadoras
parecem limitar-se a/jogos gratuitos do espírito. E é apenas na altura da entrada na vida
profissional, com a,-4 independência financeira e as/resPonsabilida í des/sociais que
ela implica, que se produz o abalo
RAC

que os leva a tomar consciência das possibilidades tangíveis que oferece uma aplicação do
pensamento abstracto aos dados do real. Nalguns, e dentre os mais dotados, acontece
muitas vezes nunca se produzir esta tomada de consciência. A inteligência e o raciocínio
permanecem. sempre um jogo gratuito que eles julgariam rebaixar se porventura o
aplicassem às coisas deste mundo. Uma tal concepção era frequente, por exemplo, no
Ancien Régime, entre os nobres cujo nascimento privava da necessidade de aplicarem as
suas faculdades criadoras aos dados concretos para daí tirarem rendimento: ela encontra-
se em certos adultos dos nossos dias que julgariam profanar /talentos mais ou menos
imaginários se os investissem em obra real. Ora, sem confrontação com o juízo dos outros,
as/aptidões intelectuais não podem progredir. A confrontação oferecida pela vida
profissional é um dos estimulantes mais poderosos da/;,actividade mental. A extensão da/
escolaridade, embora permita uma,,,0 adolescência mais intelectualizada mesmo em
camadas/sociais pouco abastadas, tende a manter na infância até uma idade por vezes
avançada os jovens das camadas com mais posses. 0 aluno que prossegue estudos
universitários não entrará na vida profissional antes dos 25 ou 30 anos, por vezes mesmo
mais tarde. Há nisto uma grave desvantagem para o,,w desenvolvimento do pensamento
criador. Poderíamos citar bastantes espíritos eminentes que não puderam suportar ficar
tanto tempo sob tutela intelectual e interromperam prematuramente estudos normais. Estes
exemplos andam por vezes na boca de adolescentes indisciplinados, que se julgam geniais
porque lhes pesam os constrangimentos /familiares e que pretendem deixar os estudos para
obter mais depressa a/independência e a glória. Decerto que eles não estão
completamente enganados. A aquiescência dócil a uni sistema de/educação tradicional está
longe de ser unia garantia de êxito intelectual e social. E contudo, quantos riscos eles não
correm recusando a ajuda que lhes traria uma escolaridade tradicional! Mesmo cortada da
maior parte das realidades da vida prática, unia /cultura geral sancionada por um diploma
liceal, uma licenciatura, um doutoramento, proporciona uma gama de conhecimentos
inSubstituíveis, fáceis de memorizar na idade normal dos estudos,
0 tão difíceis de adquirir quando esta idade já passou.

Pode-se aliar a continuação dos estud

11 o inicio da actividade profissioi P~ente, este dilema, que se afigura com excessiva
frequência @*ÀsOlúvcl, Presta-se a soluções já correntes noutros países. Embora ~0
altamente escolarizados, os Estados Unidos e os países escan- „.~VOS, por exemplo,
reconhecem mais facilmente a importância

não manter demasiado tempo o adolescente numa espécie de

fora das realidades concretas da vida. Arreigou-se aí a


414 0 raciocinio

ideia de que, a partir da infância, os jovens que manifestam esse /desejo têm direito a uma
pequena/ independência financeira ganhando o seu/dinheiro (mesada) mediante serviços
prestados aos adultos do seu conhecimento. 0/esforço de/adaptação às responsabilidades e
obrigações de um/ trabalho/ remunerado e a ausência de desprezo por um tal trabalho,
mesmo nas/famílias ricas, permite ao adolescente encarar muito mais depressa do que na
maior parte dos países uma libertação progressiva do seu estatuto de dependência
relativamente à família. 0 trabalho a tempo parcial, durante os estudos ou as/férias
escolares, é uma excelente válvula de/segurança. Ele ensina ao adolescente a existência de
constrangimentos diferentes dos constrangimentos familiares, de outros problemas que
não os/projectos quiméricos por ele ruminados no isolamento. Dá-lhe ainda companheiros
muitas vezes mais velhos, mais maduros, que fazem progredir a sua maturação intelectual.
Apresenta-lhe novos obstáculos a transpor, que lhe permitem endurecer uma/sensíbílidade
afectiva demasiado poupada pela vida familiar, e encontrar nos seus recursos intelectuais,
um instrumento de urna grande maleabilidade para os superar. Há todas as probabilidades
de que ele sentirá assim um desejo muito mais pessoal e intenso de afinar este instrumento
intelectual, prosseguindo por sua livre vontade uma/ escolaridade que de outro modo lhe
pesaria demasiado.
0 conhecimento do mundo do trabalho ao lado do mundo dos estudos facilita assim
bastante uma evolução harmoniosa na/adolescência. Se bem que seja desaconselhado para
as crianças que se /fatigam depressa, ele é particularmente recomendado para os
adolescentes dinâmicos e prontos a respingar diante de qualquer manifestação
de/autoridade. Mas é evidentemente preferível que ele se apresente como um recurso
escolhido pelo próprio adolescente e não como uma/punição por insubordinação, caso este
em que seria mais nocivo do que útil. 0 papel dos/país consiste sobretudo em aprovar e
guiar a procura do emprego desejado.

Que empregos se devem procurar? Nenhum emprego deve ser julgado indigno do
adolescente, desde <pw não entrave o prosseguimento normal dos estudos. 0 que conta

de independência financeira que ele proporciona, &olvel/social a que está habitualmente


ligado. Muitos estu- [ d ia es

de

eo

q‟

ga ando a adulto

o responsabl] ausêncla d ri s p r

ca e ly

na major
americanos congratulam-se por terem trabalhado a lavar k~ num restaurante ou a apanhar
cerejas durante as férias. TO~ é ~0 que os empregos de acordo com as/ambições Aatch~
dO adolescente são os mais procurados. Há muitos P~M qUC Os Cstudos de medicina
facultam esta situação aos a~ VM são bCM sucedidos nos concursos de externato e de
416 0 raciocínio

pode, tomar-se de súbito num cábula, talvez por transpor com um ligeiro atraso o novo
estádio do raciocínio que se abre nesta idade, mas talvez não menos por uni abalo afectivo
ter transtornado a sua,,w personalidade em formação. Falecimento, divórcio, novo
casamento dos/pais são particularmente mal aceites em tal idade. Os traumatismos
afectivos da primeira infância reactivam-se facilmente na/puberdade. A genitalidade
nascente coloca por vezes problemas que o adolescente não sabe como assumir. Desde
Freud, os psicanalistas têm repetidas vezes insistido sobre a deterioração do
/comportamento normal que estas dificuldades afectivas e /sexuais podem acarretar. É
perfeitamente evidente que elas se repercutem com não menos força sobre o
/desenvolvimento do raciocínio.

As aptidões intelectuais são frãgeis Os estudos acerca da fisiologia do cérebro mostraram


que a afectividade e a sexualidade se localizavam ao nível de camadas cervicais muito mais
primitivas (logo mais primordiais para a sobrevivência) do que o raciocínio. A sua
perturbação repercute-se automaticamente sobre o neocórtex, logo sobre
asllperformanceslintelectuais. Em que medida? É sobretudo o conhecimento de casos
extremos que o tem até agora demonstrado; caso, por exemplo, de uma rapariguinha
violada por um pai bêbedo e que, mau grado /aptidões intelectuais normais, se conduz
desde então como uma /débil intelectual grave. Nos casos moderados, as ressonâncias das
dificuldades afectivas sobre o desenvolvimento do raciocínio na/adolescência não foram
ainda medidas. Contudo, certos atrasos escolares não têm manifestamente outra causa. É
sempre indispensável procurar com atenção problemas afectivos ou sexuais quando o
prosseguimento normal dos estudos se acha perturbado, para tentar, na medida do possível,
encontrar remédio a tempo. Por vezes, a consulta de um especialista, médico ou/psicólogo,
pode revelar-se necessária, já que o adolescente e a/família estão afectivamente demasiado
ligados para julgarem com objectividade estes problemas e as soluÇões que se lhes podem
dar.

Françoise Gauquelin.
RAD

RADI10 (Radio/Broadcasting) página 538.


No decurso de uma sondagem, o Instituto Francês de Opinião Pública fez, em Novembro
de 1966, a seguinte pergunta a jovens dos 15 aos 20 anos: «Ouve rádio todos os dias ou
quase, duas ou três vezes por semana, menos frequentemente ou nunca?» A análise dos
resultados mostra que:
- 62 %. ouviam todos os dias telefonia;
- 6 % nunca a ouviam*. Números citados em

Este entusiasmo do adolescente pela rádio explica-se facilmente. Adolescence (Bonne


Documents Service

Pr~ Em primeiro lugar, tomando-se porta-vozes de publicitários que je C N.R-S-. Paris.

procuram atingir o mercado dos jovens, os produtores deram aos un@o de 1967).

adolescentes a impressão de lhes serem particularmente dedicadas as suas emissões.


Certos programas têm conseguido ser considerados como o reconhecimento oficial
da/adolescência e dos seus problemas pela/sociedade dos adultos. Além disso, os
adolescentes podem identificar-se através da telefonia com o/grupo dos seus
contemporâneos: a canção de sucesso do momento constitui, de certo modo, o santo -e-
senha.
0 aparelho de rádio é um instrumento muito cómodo que tanto se presta à audição em
comum, entre/amigos, como à audição individual. Muitos adolescentes declaram utilizar o
seu aparelho de preferência à noite depois de se deitarem: aí, o pendor natural para
a/fantasia pode manifestar-se sem peias; a própria falta de imagens permite que
a/imaginação se exerça.

Porém, ainda que não tenham sido efectuadas sondagens precisas, os especialistas pensam
que a situação da rádio está em vias de mudar. Os adolescentes parecem escutá-la cada vez
menos em virtude de serem atraídos por outros centros de interesse, designadamente
a/moda. Não admira assim que o número de emissões consagradas aos adolescentes tenha
tendência a diminuir.

REACÇÃO (Rõaction/Reaction)

Fisiologicamente, a reacção designa a resposta do organismo a uma/excitação. Num


primeiro estádio de reacçã o, encontramos o reflexo, resposta automática e instantânea a
certas estimulações. A um nível superior, existe um tipo de reacção consciente que
mobiliza todos os elementos da/ personalidade.

Na /adolescência, a reacção-tipo é uma reacção de/adaptação às novas situações criadas


pela/puberdade. Estas reacções de adaptação são por vezes perturbadas por abalos
emotivoso. Fala-se então de perturbações reaccionais. Os fracassos * Ver «Emotividade».
P A-27
418

escolares, o sentimento de/ culpabilidade e a/oposição à/,<familia ou à/sociedade são


perturbações reaccionais na maior parte dos casos.

RECALCAMENTO (RefouIement/Repression) pâginas 42,142. 147, 249, 347.


Em psicanálise, o recalcamento pode conceber-se como «a colocação entre parênteses ou
a ocultação de uma experiência»*. 9 S. Leciaire: @ rec"rche des Sendo a/adolescência a idade
das primeiras experiências verda- «p@rinIcipes d'une deiramente assumidas, o recalcamento

será então por conseguinte psychothérapie des

coisa corrente, nomeadamente no periodo/pubertário. 0 recal-


psychoses», in Rame psychietrique.

1948, camente abrange então essencialmente os impulsos /@< sexuais que, fasc. li, p. 406.

de certo modo, irrompem -pelo menos ao nível conscientena vida da criança. Ora o púbere
continua ainda estreitamente submetido aos interditos instaurados por uma/educação
normal. Convém insistir na palavra «normal», pois é legítimo que sejam erguidas certas
barreiras que apenas se tornarão regras na altura da/maturidade, ou seja, da assunção de si
mesmo.

A/afectividade encontra-se amiúde recalcada, pois as suas manifestaçôes exteriores


parecem frequentemente ao adolescente uma regressão ao estádio infantil. No que ele se
não engana de todo, como mostra o exemplo de/pais abusivos que se servem
inconscientemente da afectividade para atrasar o mais possível o acesso à autonomia
sentimental dos filhos. Cabe aos pais e/educadores criar um clima de/confiança recíproca
de tal ordem que o conhecimento profundo da adolescência permita descobrir os
recalcamentos. Na maioria dos casos, o descalcamente operar-se-á, dando azo a evitar o
recurso ao especialista, recurso necessário nos casos de/neuroses.

RECOMPENSA (Récompense/Reward)

A recompensa, tal como a/punição, deve ser apropriada à/personalidade do adolescente.


Ela tem antes de tudo de ser/,@educativa, de indicar um rumo a seguir. Parece assim
preferível não oferecer recompensa pelo / êxito num / exame, sendo este em si mesmo
recompensa de um/esforço. Mais vale escolher, para dar uma recompensa, um esforço
aparentemente improdutivo mas real, quer dizer, um esforço cujo significado o
adolescente não está verdadeiramente à altura de apreender. A recompensa ajuda-o então
* superar-se, do mesmo modo que certos remédios ajudam o corpo
* resistir à doença.

Na prátic: a, importa que a recompensa não seja automática, pois o;,adok~te arrisca-se a
perder o sentido do esforço que não é
REF

/remunerado. Ele adquiriria assim uma precoce avidez pelo ganho e o seu sentido
dos/valores ficaria falseado.

REFEIÇÃO (Repas/Meal)

A refeição deve ser o centro da vida/familiar. 0 próprio facto de haver reunião em torno de
uma mesa simboliza, em todas as civilizações, a união dos convivas. Mas é também a caixa
de ressonância que amplifica necessariamente as dissensões dos membros da família. Ora
esta dissensões profundas ou passageiras são frequentes quando o adolescente é levado a
tomar um certo recuo relativamente aos /valores familiares. Ele fá-lo frequentemente de
uma maneira inábil e/agressiva, ao passo que os pais, julgando-se postos em causa, reagem
por vezes bastante vivamente. Os choques podem produzir-se por causas aparentemente
mínimas: o adolescente come mal, a raparriga curva as costas, põe os cotovelos em cima
da mesa. 0 reparo dos pais pode então suscitar uma/oposição aberta e/insolente. A
pontualidade às refeições é igualmente uma causa de frequentes fricções e de/conflitos
de/autoridade. Estas/atitudes, por muito criticáveis que sejam, afiguram-se nã o obstante
preferíveis às «refeições-/televisão», que incutem tanto nuns como noutros o hábito de
não/comunicar. Os choques ficam suprimidos, mas as ocasiões de encontro não o ficam
menos. É de facto às refeições que se deve criar um diálogo, que se deve manifestar a
disponibilidade dos pais, à falta do que a família será apenas «um lugar e não
um/,<meio»*. # A expressão é do
cardeal Marty, arcebisp( Oe Paris. que respondiE jornalistas no decurso REGRAS (Règles/Periods) ver menstruação.
de uma conteféncia de

imprensa dada em

REIVINDICAÇÃO (Revendicat!on/Demand)

As. reivindicações do adolescente incidem sobre certos pontos bem precisos cujo
fundamento os adultos apreciarão. Os adolescentes são praticamente unânimes: os adultos
não cessam de lhes encher os ouvidos de conselhos: «Faz isto ou faz aquilo, eu no teu
lugar ... » Ora a experiência mostra quanto os jovens se sentem desamparados assim que se
vêem privados da experiência dos adultos: o conselho não é por conseguinte a melhor
maneira de/comunícar esta experiência. 0 que se deve sem dúvida ao facto de muitos
adultos praticarem o «faz o que eu digo mas não o que eu faço». Entra igualmente em
linha de conta uma questão de tom. 0 adolescente, que percebe, ao mesmo tempo que as
suas próprias fraquezas, as do adulto, admite bastante mal que este se permita perorar ex
cathedra.
Fevereiro de 1969.
420

Enfim, é infinitamente provável que aquilo que mais desgosta o adolescente, em matéria
de conselho, seja o sentimento da sua dependência relativamente ao adulto. Assim, ele
solicita as admoestações do mesmo passo que as repele. Quando o interrogam, é este
último sentimento que parece levar a melhor.

* responsabilidade * reivindicação que incide sobre a/ responsabilidade é uma das mais


frequentes no adolescente: este sofre de facto por causa do estado de dependência
económica em que forçosamente se encontra em relação ao adulto. São estas reivindicações
que estão na origem de numerosas manifestações estudantis: «No preciso momento em que
os jovens necessitam de se afirmar, o prolongamento do tempo passado na Universidade
pode originar traumatismos / psicológicos se não for compensado por uma tomada de
responsabilidades. 0 movimento de Maio de 1968 (em Paris) alimentou-se, sem dúvida,
parcialmente nesta fonte.»* e P. Drouin: «Pour un
meilleur usage du temps», in le Monde de 7 de Abril

0 diálogo de 1970.

Um inquérito efectuado pelo LRO.P. e publicado em Março de


19696 mostra que o adolescente não contesta de modo algum a 40 Les Parents, n.* 1,
/autoridade do adulto, pelo menos não a contesta em si. Mas ele Março de 1969.

recusa ser considerado como uma criança e pretende poder dialogar de igual para igual,
sem que interfiram tomadas de posição dogmáticas.

RELIGIÃO (Religion/Religion) páginas 27. 80, 129.


A/atitude do adolescente perante a religião acha-se directamente implicada na
eclosão/pubertária e no crescimento intelectual e moral que caracteriza a/adolescência.
Nesta idade, o acto essencial a que todas as orientações psíquicas estão subordinadas é a
busca do eu próprio do indivíduo, que vai ser - num prazo mais ou menos breve -
precipitado no mundo. Assim, durante algum tempo, o problema puramente interior da fé
achar-se-á anulado pela /,, matu- ~0, definição do eu relativamente aos outros. Muito
natural- =nte, tal rumo levará a colocar o eu à face de Deus. Mas até lá

c~o é difícil.

1
4C 0P0~. e a religião &

W da adolescência segundo a qual, para existir, o eu se

d~es que até então o tinham tomado a seu cargo V~ o guiamm, ou seja, os,,'Pais e
os/educadores. No nosso ,Adun~ mugiOsa é UM costume muito divulgado. Muitos

não tenham qualquer prática religiosa, inscrevem


os seus filhos na catequese. No âmbito da/,Ioposiçâo natural aos pais, o adolescente é
muitas vezes levado a rejeitar as práticas religiosas enquanto obrigação imposta por eles.
Nas/escolas confessionais, onde a prática religiosa está assaz estreitamente ligada à vida
escolar, a oposição não pode manifestar-se abertamente. Porém, o facto de ser interior só
a torna por norma mais/ violenta. Para estes adolescentes, o problema religioso acha-se
não raro definitivamente falseado, e os que recuperarem a fé terão de lutar para imporem
livremente a si mesmos aquilo que eles consideravam um constrangimento.

A mutação do sagrado Sem demora, o que não-passava de oposição às pessoas tornar-se-


á oposição aos/valores. 0 adolescente não deseja apenas manifestar a sua ,1 independência
em relação às pessoas da sua esfera, mas também aos valores inerentes a esta esfera. É
assim que diminui o sentido do sagrado, ou melhor, que ele se transforma. Pois, no fundo,
o sagrado não é negado senão enquanto valor de adulto. Mas a necessidade dele subsiste.
0 culto dos,--, «ídolos» é a sua encarnação. 0 ídolo representa a mutação do sagrado. Ele
é, por assim dizer, símbolo sagrado escolhido e já não imposto.

Deus, recusa do mundo Pode suceder que Deus não seja aceite senão por temor e recusa
do mundo real que aparece terrivelmente exigente. Deus, depois de interiorizado, é o
grande libertador da/angústia sentida por qualquer adolescente no momento em que ele é
levado a assumir responsabilidades. Compreende-se assim que, para alguns, o problema
religioso se ache deformado por uma sentimentalidade/;<mística. Isto diz especialmente
respeito às adolescentes para quem Deus não é muitas vezes mais do que um confidente
cómodo _, confrontado com o ideal masculino. Podendo aceitar o jogo da ternura
conforme ao estatuto feminino, as raparigas são menos propensas a separar-se de Deus ou
pelo menos da prática religiosa. Mas, num tal contexto, Deus já não passa de um écran
protector entre o indivíduo e o mundo.

Os problemas pedagógicos Em regra, convém insistir no facto de estas diferentes atitudes


resultarem quase sempre de uma falta de experiência da autonomia. Será então de
aconselhar que a criança esteja, desde a mais tenra idade, habituada a assumir/
responsabilidades. A melhor das/ atitudes/ pedagógicas parece ser a de mostrar ao
adolescente aquilo em que o problema religioso coincide com o problema mais geral
da/maturação, isto é: uma tomada de Posição pessoal frente aos problemas da vida.
422

REMUNERAÇÃO (Rémunõration/Remuneration)

0 adolescente afecta muitas vezes não ligar ao/dinheiro. Mas trata-se mais de uma /atitude
fingida do que de um real desprendimento. De facto, o/desejo de ganho imediato pode
prevalecer sobre qualquer outra consideração e falsear o futuro de um adolescente.

o caso daquele que decide abandonar os seus estudos para encetar uma aprendizagem, ou,
se for mais velho, para exercer directamente uma/profissão, eliminando assim toda a
esperança de promoção ulterior. Tais casos não são raros. A/psicologia moderna pôs em
evidência o papel desempenhado na/adolescência pelo desfasamento entre a/maturidade
biológica e a maturidade social. As/necessidades do adolescente ou da adolescente são as
de um adulto em muitos planos, e designadamente no plano físico. Esta distorçâo entre as
necessidades e a situação de dependência social representada pela /escolaridade ou pela
falta de dinheiro é muitos vezes a causa de uma irritação, ou mesmo de uma profunda
confusão interior. Bruscaniente, poderá afigurar-se ao adolescente que a entrada na vida
profissional, sejam quais forem as condições, é a panaceia, porquanto profissão significa
remuneração, e a remuneração é a garantia da/ independência. Esta necessidade de
remuneração pode ser exacerbada pelas próprias condições de vida no círculo familiar, por
exemplo pela dissociação do casal dos/pais. Mas bastante amiúde, trata-se de uma fuga
que, longe de resolver os problemas imediatos, se limita a adíá-los e por isso mesmo a
acentuá-los.

REPOUSO (Repos/Rest)

É frequente o adolescente deitar-se o mais tarde possível, depois de ter passado um serão
inteiro com amigos: isto equivale no fundo
* retardar o momento de ficar só. Neste contexto, o sono é igual
* tempo de/socialização perdido, impossibilidade de/identificação, etc. Por outro lado,
o,0desejo de novidade provoca um recrudescimento de/ actividade:/ trabalho escolar,
/,”desporto, encontros com os amigos e/leituras. 0 dia não basta para realizar estas
diferentes tarefas. Donde uma quase necessidade de ir buscar às horas de repouso o tempo
necessário para acabar um livro, concluir um /trabalho de casa. A maior parte dos pais
inquietam-se com um/ritmo tão desenfreado que julgam prejudicial à saúde. Mas como
acontece muitas vezes em tais casos, a energia sustentada por um interesse poderoso não
afecta as reservas. É por isso inútil insistir na ordem de apagar
REP

as luzes às 22 horas: a lanterna de algibeira suprirá frequentemente esta proibição. Além


disso, a recuperação far-se-á de modo global durante as /férias: o adolescente torna-se
então um fervoroso adepto da manhã passada em vale de lençóis. Esta recuperação é
indispensável ao seu equilíbrio nervoso.

REPOUSO SEMANAL (Repos bebdomadalre/Weekly rest)

«Qual é o dia que lhe parece mais favorável ao repouso semanal dos estudantes: a quinta-
feira ou o sábado?» A questão levantada em França pelo ministro da Educação Nacional,
Edgar Fatire, foi posta pelo Instituto Francês de/ Opinião Pública em 1968. As respostas
obtidas foram as seguintes: Favoráveis ao repouso à quinta-feira 58 Favoráveis ao
repouso ao sábado 33 Não se pronunciaram 9% Assim, a quinta-
feira leva uma larga vantagem sobre o sábado. Esta preferência domina, sejam quais forem
a categoria social interrogada e a zona de habitação.

Famílias Operários Quadros superiores Agricultores

Quinta-feira Sábado
54 % 40
55 % 36
70% 17%

Zonas de habitação Aglomerações de mais de 100 000 h, A00meração piuisiense

Quinta-feira Sábado

51 %. 43

49% 41

o o

@»SAB1L1DADE (Responsabilité/Responsability) páginas 12, 77. 97, 249. 515 r~4C a infância, são
muitas vezes as pequenas tarefas do dia-a- <FC têm fama de cultivar o sentido das /
responsabilidades:

-Minas fazem as camas, os rapazes despejam os caixotes do


4fatam do jardim ou lavam o carro.
-J_A&Iescência, pode continuar a ser aplicado o mesmo sistema,

3_ deve ser alargado às dimensões da responsabilidade moral. @justificava aos olhos da


criança uma/punição ou uma

P~, não pode bastar ao adolescente: este necessita de


424

se sentir empenhado no cumprimento de uma tarefa ou na adopção de uma/ conduta.


A/educação da responsabilidade não pressupõe no entanto uma simples aquisição de/
valores/ morais: é pelo menos tão importante que o adolescente tenha ocasião de exercer
verdadeiramente responsabilidades. Aquele que não estiver habituado a tomar iniciativas
arrisca-se a nunca se tornar verdadeiramente adulto: mais tarde, apoiar-se-á constantemente
em alguém que deverá tomar as decisões em seu lugar. Inversamente, aquele que, desde
muito jovem, aprendeu a desembaraçar-se pelos seus próprios meios amadurecerá mais
depressa e será melhor sucedido: não é verdade que os irmãos mais velhos conseguem
muitas vezes um/ êxito,,,< social superior ao dos mais novos? Isto resulta do facto de, pela
sua situação na fratria, eles terem sido levados a tomar iniciativas, ao passo que os mais
novos se deixaram a maior parte das vezes conduzir pelos outros. É óbvio que há sempre
um risco de ver o adolescente cometer erros quando se lhe concede uma certa/ liberdade:
mas, como sublinha o doutor Berge: «Não há maior risco que o de nunca ter estado
e Citado em Documents exposto a risco algum.»*
service Adoiescence (Bonne Presse e C.N.R.S.,
Paris, Abril de 1968).

1EUNIõES FAMILIARES (Róuniona familialos/Family gatherings)

0 adolescente passa necessariamente por uma fase de,--`oposição aos/valores familiares.


Esta oposição traduz o desejo de procura de valores próprios aos quais ele possa aderir de
livre vontade. É o momento em que o adolescente se mostra mais cruel para com defeitos
no entanto bem conhecidos e até então tolerados. Os diminutivos usados na /família -até aí
abundantemente utilizados -

surgem-lhe de súbito como o supra-sumo do ridículo. Muitos/pais, mesmo entre os que se


mostram mais abertos noutros domínios, são intransigentes sobre a necessidade de
frequentar as reuniões familiares. Esta/atitude arrísca-se a dramatizar inutilmente a/tensão
já existente entre os adolescentes e o resto da família. Em contrapartida, tem sido adoptado
um modus vivendi em numerOus famílias: o adolescente assiste ao início da reunião (quase
S=Prc.uma refeição) e em seguida é autorizado a retirar-se quer para sair com amigos quer
para trabalhar no seu quarto. ,,~ é a solução da hipocrisia mas a da prudência. Ela permite
CIUC Os Pais não tenham de aplicar princípios em que por vezes DãO-,a~taM
inteiramente. 0 adolescente, esse, não corta irrew~~OntO Os laços com a
«família». Pois esta conserva, a
0, das aParências, o seu valor de comunidade viva, à qual

jovem o *adulto aderirá depois de atingida a/maturidade o de d.*Mona,10@q as


t=sões passageiras.
REV

REVOLTA (Révolte/Revolt) pâginas 10, 128.


«0 adolescente já não aceita obedecer. A criança desobedecia muitas vezes, mas sabia-se então em desacordo com a ordem
estabelecida. Ela não punha em causa o princípio da obediência. Agora, ao invés, é a própria/,, autoridade, fundamento da
regra, que se vê recusada; os outros já não têm o direito de mandar legitimamente. Só ele pode decidir o que é o bem e o que
é o mal. Só ele tem o direito de restringir essa/liberdade que/reivindica como uma aquisição prini-ordial.»*
0 Porot e Seux:

les A dolescents parr As primeiras manifestações de oposição visam a/família, mas não (Fiammarion. Paris. tardam a
trasbordar deste âmbito. Tudo o que é institucionalizado 1964). p. 55.

-/escola,,,< sociedade, /religião - é posto em causa e amiúde rejeitado. Esta,xatitude faz-se paradoxalmente acompanhar de
uma nostalgia da infância. Está hoje claramente estabelecido que o adolescente se endurece voluntariamente para melhor
repelir o que parece ligá-lo a uma dependência,,, infantil, dependência que ele recusa mas de egia,-,4 segurança e
conforto/moral sente ao mesmo tempo a perda. É muitas vezes na proporção desta nostalgia que a revolta do adolescente se
alia a uma recusa de afeição tão dolorosa para os/pais. Nada há nisto que possa realmente inquietar, pois esta recusa
demonstra afinal a tenacidade dos vínculos que o adolescente deve necessariamente quebrar para chegar à autonomia.

Os aspectos da revolta
0 espírito de crítica. 0 adolescente confunde facilmente espírito arítico e espírito de crítica. Esta confusão é aliás por vezes
voluntária: ela destina-se a irritar um adulto cuja autoridade é discutida.

de modo geral, ela é inconsciente e responde a uma/necesa ar o sentimento de inferioridade experimentado

Estes devem evitar entrar no,,Ijogo irritando-se @@@taI irritação só pode agravar claramente o,proIla do adolescente.

)@kwoIência é em si um comportamento revelador: «A insolência ... Preender a dialéctica das relações entre o adolescente e o
adulto. @_@‟erdade, ela testemunha antes de mais a incapacidade prática ,Uicito: é em si mesma um/;‟ comportamento
gratuito e ineficaz „ALãO só não permite furtar-se à autoridade, como ainda implica imPossibilidade.»* 0 G. Avanzini:
/e Temps de l'adole (Editions universitai -wga, Pela preocupação de escapar a constrangimentos julgados Paris, 1965), pp. 16
,.‟rávds, é uma outra manifestação de revolta. Ela pode ser geira, terminando então com a dissipação das causas que a

Mas também pode ser mais profunda, marcando uma


428 desafeição pelos/,” valores/‟ sociais. Neste sentido, ela é revolta contra a
sociedade, e amiúde um sinal precursor da,,;< delinquência. A forma mais dramática e
mais grave é o,,,,, suicídio, caso extremo de uma revolta desesperada.

EVOLUÇÃO (Révoluflon/Revolution) Muitos psicólogos julgaram poder explicar


a/puberdade através da expressão «segundo nascimento», exactamente como se a criança
sofresse por ocasião da puberdade uma mutação total da sua/personalidade, achando-se
esta então subvertida pela intrusão de novos factores. As concepções actuais são muito
mais moderadas e concorda-se geralmente em reconhecer que a puberdade nã o assinala
uma revolução da personalidade, mas antes uma evolução mais ou menos rápida que leva
progressivamente a criança dependente do seu meio a um estatuto autónomo. Aventou-se,
frequentemente, que o adolescente era por natureza revolucionário, ou seja, que o seu
desejo mais constante seria transformar as estruturas da,,<sociedade em que ele está
destinado a inserir-se. É verdade que numerosas revoluções têm visto em acção gente
muito jovem, alguma da qual ainda mal saída da adolescência: quer seja em Maio de 1968,
em Paris, ou em Praga e em Lisboa, nos anos seguintes, podemos citar numerosos
exemplos desta ordem*. 9 Rudy Dutschke na Mas nem por isso se torna legítimo dizer que o
adolescente é revo- Alemanha, Jan Palach na

Checoslováquia. Daniel lucionário, pois o verdadeiro revolucionário é aquele que propõe Cohn-Bendit
em França.

em vez de um sistema social c/político caduco um outro sistema


Bernadette Deviin na Irlanda.

social e político. As tentativas revolucionárias do adolescente limitam-se à acção. Elas


obedecem, mais do que a uma/necessidade de reformar, a uma necessidade de se- afirmar.
Os adolescentes que constroem barricadas ou os que provocam os soldados russos na
Hungria e na Checoslováquia procuram modificar uma sociedade que os mantém à
margem das grandes decisões. Mas nenhum deles tem um sistema coerente para propor.
Mais ainda, em várias sondagens*, os adolescentes aparecem mais conservadores do que
e Ver Paris-Match muitos adultos: a maioria deles pronuncia-se contra a/pílula, OU de 9 de Março
de 1970pensa que o diálogo é praticamente impossível entre classes sociais diferCntes. 0

escutismo tem uma certa experiência disto: ele pre-

hoje uma fórmula de «tropas» recrutadas em/@meio homoC. Jí não, Como antes,
provenientes de meios diferentes. No „-Catanto, a vida ao ar livre incita a um nítido recuo
em relação aos

c/preconceitos da vida quotidiana.

As virtudes/ educativas do riso já não precisam de ser demons-


RIT

tradas pela,,;¥ pedagogia. Assim, Georges Mauco indica que a tota- ,jidade dos
professores antipáticos aos alunos eram julgados por estes severos e frios. Os professores
simpáticos, ao invés, eram tidos por alegres, de uma,,‟ autoridade sorridente e de uma
constante igualN dade de,,*humor.

Trata-se no fundo de denunciar um erro educativo que consiste F em confundir a


seriedade indispensável à função pedagógica com

a, austeridade. Os adolescentes não tardam então a associar estudo e/ aborrecimento. As


ine,,itáveis fricções entre/pais e adolescentes levam demasiadas vezes o,,Ipai a refugiar-se
no seu jornal, a/mâe, nos seus trabalhos domésticos. 0 adolescente, batendo com a porta,
diz de si para consigo que «não há dúvida de que eles não são divertidos». Em/família,
uma saudável explosão de riso colectivo pode apagar anos de,,,w desentendimento. A/
televisão, por vezes tão depreciada, presta-se frequentemente a esta expansão
indispensável a um bom clima familiar.

RITMO (Rythme/Rhythirrí) A necessidade de ritmo é sentida pela imensa maioria dos


adolescentes. Os/ discos mais vendidos e as canções mais escutadas são os mais ritmados.
A/ música muito ritmada oferece ao adolescente a vantagem de uma real descontracção: no
plano físico, ela dá ensejo a uma expressão corporal que permite um/ descalcamento de
todas as/tensões; no plano/ intelectual, é repousante no sentido em que impede de reflectir.
0 ritmo em si é um excelente entreteníMento de que não convém privar o adolescente.

8 (Ritos/Rites) Páginas 169, 436. J, @0

Prescrita das cerimônias e, por extensão, as próprias ceride um culto. tiam outrora
diferentes ritos consagradores da passagem da

4ência, à idade adulta. «Aos 14 anos, o jovem romano enver-


4 toga viril. Aos 14 anos, o jovem pajem da Idade Média era . > cavaleiro, e nessa mesma
idade os reis dos séculos xvi-xvii -~derados maiores »*

Ia em certas/ sociedades primitivas todo um conjunto de


0 Origlia e Ouillo l'Ad,lescent (E.S.F,,

,de cujo /@‟êxito depende o acesso ao estatuto adulto. Margaret .Im~rou que
Paris, 1968), p. 20.

estas provas, se bem que dolorosas, eram sempre im alegria*.


o M. Mead: Com
Se~ julgados adultos, os adolescentes da nossa sociedade
A e in Samoa (Par Bgooks, Londres, 19:

,,---Aspor vários escalões nenhum dos quais é verdadeiraniente

um sentimento de,,1dúvida e de incerteza que afecta »; „iVelmente a mentalidade do


adolescente, o qual tem sem-
428

pre impressão de estar apoiado em falso. 0 último, rito - o serviço militar - está em vias de
se dessacralizar, se de facto já o não está, sobretudo por causa do crescente número de
adiados que não podem ser considerados adolescentes entre os 24 e os 27 anos, por
exemplo. Uma reforma que previsse a incorporação entre os 18 e os 21 anos poderia
restituir ao serviço militar o seu aspecto ritual de passagem à idade adulta. o próprio direito
de voto não consagra realmente esta passagem visto que em muitos países é preciso
esperar pelos 25 anos para ser elegível.

OMANCE POLICIAL (Roman policior/Detective story) Pâgina 552.


A paixão do adolescente pelo romance policial explica-se facilmente: o/herói do romance
policial apresenta características que peimitei-n ao adolescente/ projectar-se. Com efeito,
trata-se sempre de uma personagem fora de série, e o adolescente sonha ser único. Vive
das situações extravagantes e perigosas: o adolescente experimenta correntemente a
impressão de que nunca se passa nada na sua -vida.
0 herói sai sempre airosamente das situações inextricáveis onde o mergulha o autor, é
infatigável e invulnerável: o adolescente considera-se naturalmente desarmado e a sua
própria fraqueza inquieta-o. Há, pois, no romance policial, com que satisfazer a tendência
inerente ao adolescente para se/identificar e se projectar num herói. Por outro lado, não se
deve esquecer que o romance policial é vendido a um preço moderado que permite larga
difusão e, por consequência, é praticamente o único livro que o adolescente compra à sua
custa. Certos /psicólogos vêem no romance policial uma incitação à /delinquência. Sabe-se
que tem sido lançada a mesma acusação contra o/Ocinema, sob pretexto de que a maioria
dos delinquentes menores frequentam com assiduidade as salas escuras. Convém atenuar
este/juízo: ele tende a tomar as causas pelos efeitos. Importa não esquecer que a
predilecção que os «jovens tunantes» manifestam pelo romance policial ou pelo /-@1
cinema é essencialmente
* resultado da ociosidade, a qual constitui, na maioria dos casos,
* catalisador da/delinquência juvenil. Em..COmPensaÇão, um/gosto demasiado vivo e
exclusivo pelo

Policial denuncia uma tendência para o desprendimento


0, uma exaltação da/ imaginação que podem prejudicar &^~Volvimento normal do
adolescente no momento em que

do/egocentrismo infantil, deve tomar contacto Contudo, por romance policial entendemos
aqui Ibrffi~u~~ em que a intriga constitui o único interesse

Mas há raffian~ Policiais de um autêntico/valor literádO »« ~ a i~ga se apaga em proveito


do estudo de perso-
nagens, de/atitudes elaboradas e comportamentos perfeitamente normais: Simenon é o seu
porta-bandeíra. Enfim, não podemos deixar de assinalar a tentativa de desmitíficação
empreendida pelo doravante famoso San Antonio: este gênero de romance policial
/humorístico representa um excelente antídoto para o adolescente intoxicado pelas
histórias policiais.

ROUBO (Voi/Robbery) Página 5o.

Os exemplos de roubos cometidos na/adolescência são demasiado frequentes para


poderem constituir uma tragédia. Não se trata, com cefteza, de fechar os olhos perante tais
procedimentos, mas de ter sempre presente que é importante não dramatizar. Na
adolescência, o roubo representa antes de mais uma espécie de desafio. Desafio aos
adultos, tão contentes no seu papel de protectores e dispensadores de conselhos/ morais,
desafio à sociedade que tantas barreiras ergue contra o adolescente. É frequente o objecto
do roubo ser um/,automóvel. De modo geral admite-se que este simboliza a força. Não
seria indicado distinguir o/desejo mais preciso e subjacente de ser adulto? Com efeito,
muitos jovens não hesitam em desfalcar seriamente o seu orçamento para «tirar a carta».
Neste sentido, o/exame requerido pela obtenção da carta de condução substituiria os
velhos/ritos de iniciação que consagram a passagem à idade adulta. Por vezes, o
mecanismo/ psicológico que leva ao roubo é mais complexo. Existe então um/complexo de
fracasso e uma tendência para a autopunição. Certa «criança bem-comportada» não passa
efectivamente de uma criança que/recalcou as suas pulsões instintuais sob a pressão dos
interditos sociais. Na/ adolescência, ela pode começar a roubar sem saber muito bem
porquê, sem desonestidade, libertando assim uma energia reactivada pelas pulsões
da/puberdade. A descoberta do «crime» não deixa de surpreender os professores, /pais e
condiscípulos habituados a verem nela a criança modelo. Com demasiada frequência,
diante de tais descobertas, os pais enchem a criança de reprimendas: deviam lembrar-se de
que, na maioria dos casos, eles são/ responsáveis tanto/ moralmente como legalmente. Isto
a despeito das próprias aparências: «Fizemos tudo o que era preciso por ele, nunca lhe
faltou nada!» Será mesmo assim? A maioria dos especialistas julgam que, para além dos
casos de/ perversidade/ caracterial, relativamente raros, há sempre como pano de fundo
da/delinquência juvenil um erro /educativo (superprotecção ou/carência afectiva) ou uma
dissociação / familiar.
430

SADISMO (Sadisme/Sadism) página 30.


0 sadismo é a tendência para encontrar
prazer no sofrimento de outrem. Na /adolescência, o sadismo manifesta-se por vezes
como uma procura de afirmação do eu ou um teste de força. 0 adolescente revela de preferência as suas tendências para o
sadismo quando descobre fraquezas no adulto. 0 banzé, por exemplo, que visa os professores «fracos», é unia manifestação de
sadismo.

SAIDAS (Sorties/Tripa) página 552,

As saídas colocam frequentemente um problema aos/pais cujas crianças atingem a/adolescência. É-1hes de facto difícil aprovar
senipre este/desejo manifesto de saídas /independentes. Não se pode minin-úzar a legitimidade de uma tal inquietude: o
adolescente entregue a si mesmo no decurso destas saldas arrisca-se a fazer certas experiências desagradáveis, e os/pais sentem-
se desolados por não poderem ajudá-lo como faziam quando ele era mais novo. Um inquérito efectuado por Georges Fouchard
e Maurice Devranche indica que, nas ocasiões em que saem uns com os outros, «(os adolescentes) se encontram para passear,
discutir, entregar-se a brincadeiras, boas ou más, ir ao/cinema ou ao/obaile, organizar /festas sem grande originalidade, dar urna
volta de carro ou bicicleta motorizada, em suma, para se entreterem com o que lhes dá na cabeça sempre que lhes apetece. A
distracção reside no simples facto de estarem no meio de/camaradas que são iguais a eles e não passam o tempo a julgar-se
como fazem os adultos»*. 9 G. Fouchard a

M. Devranche: Enquête Este mesmo inquérito revela que o gosto pelas saldas com /cama- suriaje n sse (Gallirnw&

Par s,1e;.
p. 174. iadas aumenta até aos 18 anos, para decrescer em seguida. i 967 „Parem ser sobretudo o desejo de
evasão do ambiente habitual da /escola e da/família que incita os adolescentes a tais saídas. Há também a necessidade muito
fortemente sentida de se acharem entre pessoas da mesma condição, é aliás esta necessidade que ~ os adultos a frequentar
clubes ou associações diversas. Parece igualmente que convém pôr de parte um,,;, preconceito bastante prop4gado entre os
adultos: praticamente, nunca há na ori-
gem de uma saída em bando o desejo de fazer mal que lhe é correntemente atribuído. Os
adolescentes encontram-se uns com os outros, MUItas vezes motivados pela ociosidade.
Quando se cometem delitos, é mais devido à ocasião ou às circunstâncias do que por uma
deliberada vontade. Razão pela qual importa propor um máximo de/actividades de/tempos
livres a/adolescentes cujo principal defeito é aborrecerem-se.

SANÇõES (Sanctions/Sanctions) página 29, 389.


Por sanção, deve entender-se tanto a/,4recompensa como a/-<punição. 0 problema das
sanções é e continuará a ser debatido, pois as punições e as recompensas, para terem um
pleno /valor/x educativo, exigem uma muito exacta apreciação dos móbiles que
justificaram o acto dando azo a uma sanção.

A importância da motivação das sanções Ora, a mentalidade do adolescente é não raro


incompreendida pelo adulto: certo acto que se afigura a este derivar da mais negra
hipocrisia acha-se, de facto, inteiramente justificado aos olhos do primeiro, e
inversamente. Assim, os/ pedagogos e pais devem mostrar-se muito prudentes neste
terreno. De um modo geral, é-lhes aconselhado, em caso de dúvida, optar pela
indulgência. Pois urna sanção não motivada pode ter repercussões ao longo de toda uma
vida: é um tema demasiado corrente nas autobiografias para que insistamos neste ponto.

Um outro aspecto importante é que a sanção não deve em caso algum suscitar uma
ruptura de diálogo. Puniçã o ou recompensa, o adulto deve sempre explicar claramente os
seus motivos. É então frequente uma recompensa imerecida ser recusada pelo adolescente
a quem se dá assim uma ocasião de manifestar um sentido da honra bastante vivo nesta
idade.

,<”,i-'Uma falta de explicação pode ter duas consequências igualmente I ~astas: quer
manter o adolescente num estado de dependência

--@JnfanIil, quer, pelo contrário, incitá-lo a uma/revolta negativa “”-W em nada pode
contribuir para a sua maturação. íL-.

das sanções ;&o e recompensa devem ajudar o adolescente a situar-se rela- ,,,,--=te a si
mesmo e relativamente à/sociedade de que a sanção emanação. E o que põe em evidência
esta observação de MendOusse: «Uma das piores desgraças que pode acontecer raPaz de
14 a 20 anos, é não ter ninguém com quem se com-

N~ caso, devido ao perpétuo trabalho da/;<imaginação


432

sobre si próprio, o mínimo/elogio pode subir-lhe à cabeça, a minima reprimenda pode


abatê-lo, perturbando qualquer de3tes efeitos a formação normal da vontade.»*
P. Mendousse:

IÃme de 1'adolescent (P.U.F., Paris, 1953),


0que equivale a enunciar o último principio a aplicar: a sanção p. 182. deve ter em conta
o/calácter e o/temperamento daquele a quem se dirige. Existe uma forma de justiça
igualitária que se arrisca a ser sentida como uma injustiça por muitos adolescentes na
medida em que a mesma punição não produz o mesmo efeito sobre cada um. Tanto quanto
possível, convém eliminá-la de um bom sistema /educativo. As/relações educativas são
antes de tudo relações de pessoa a pessoa.

SEGREDO (Secret/Secret) página 132.


0adolescente, na altura de atingir a autonomia/ afectiva, mostra-se muito cioso de/
independência. Para a reservar, ele não fará confidência alguma aos adultos, diante dos
quais gostará de guardar os seus segredos, segredos que em contrapartida partilhará com
os /amigos. Ainda que saia sem finalidade precisa, esforçar-se-á por levar a acreditar
nalguma /entrevista misteriosa. Se, ao invés, tem uma entrevista bem real, ei-lo que faz o
possível por tomar um ar desinteressado.

Por outro lado, nesta idade, ele precisa absolutamente de um cantinho de/quarto só para
ele, e pelo menos de uma gaveta cuja chave conservará consigo, mesmo que nada tenha
para esconder lá dentro.

0 direito ao segredo Muitas vezes os/ pais inquietam-se em casos destes: o filho esconde-
lhes qualquer coisa, logo há algo que corre mal. Então, «para, seu bem», eles revistam-no,
interrogam-no minuciosamente sobre as Suas/ actividades e as suas/saídas. Esta/atitude,
além do que tem de melindroso para o adolescente tratado como se fosse um réu, não pode
senão contribuir para alargar o fosso que separa naturalmente as geraçõ es. De facto,
para obter a/confiança do adolescente, é indispensável ,,:e o adulto dê os primeiros passos:
ou seja, que ele reconheça

1 adolescente o direito ao segredo.

958~NIÇA (8~d%/Securíty) páginas 28. 47, 142. 315. 319. 346. 357, 387.

SeVu~ é uma das/ necessidades fundamentais da/adoles- ~ia. Esta necessidade é tanto mais difícil de satisfazer quanto ela
SEL

se faz acompanhar normalmente da tendência inversa, isto é, do /desejo de assumir/


responsabilidades, logo riscos. É desta/ ambivalência que nascem muitos mal-entendidos.
Em especial, um grande número de pais que se sentem rejeitados pelos seus filhos reagem
afectivamente: «Já não quer saber de nós! Então que se arranje sozinho!» Agindo assim,
acentuam a tendência que o adolescente tem para se julgar rejeitado por um mundo hostil à
sua inserção. 0 adolescente adopta então, naturalmente, uma /atitude/ insolentes que não
faz senão firmar os adultos na sua o Ver «Insolência» posição de rejeição aparente.

Da insegurança à delinquência É nesta altura que o adolescente tenta encontrar, por outras
vias, a segurança que lhe é recusada no/meio/familiar. A adesão a um/bando de jovens tem
quase sempre origem numa tal carência. Esta adesão implica diversas tentativas da
afirmação de força susceptíveis de ir até à/delinquência. Jean. Monode o J. Monod: les descreve
bastante bem a exaltação de vontade de poder criada pela (Julliard. Paris).

reunião de adolescentes inseguros. Pois existe em todos os/grupos uma «super-realidade»


em que se amplificam os sentimentos de cada um dos seus membros.

Os adultos como modelos Na difícil via de conseguir a segurança, o equilíbrio interior dos
adultos que rodeiam o adolescente constituirá um poderoso auxílio.
0 seu novo papel será o de modelos e já não o de guias. É essencial que o adolescente
possa sentir que estes adultos integraram no seu eu os impulsos contraditórios que ele
próprio sofre.

SELECÇÃO PROFISSIONAL (Sólection professionnelle/Vocational selecti

Os testes de selecção profissional são um prolongamento dos/testes de/orientação escolar.


Estes permitem determinar um leque de possibilidades. Porém, só o teste de selecção
permite estabelecer a concordância destas possibilidades com as qualidades exigidas pelo
emprego.

Outrora, a selecção profissional era o resultado de uma conversa com o empresário. Este
esforçava-se por determinar as diferentes possibilidades do candidato enquanto falavam. No
fundo, tudo dependia de uma impressão em que a/subjectividade desempenhava
naturalmente um grande papel. 0 candidato astucioso sabia fazer valer ilusórias qualidades.
Ou então, na melhor das boas-fés, ele podia julgar-se competente e persuadir os outros
disso mesmo. De qualquer modo, o risco de erro era considerável.
PA-28
434

HÉ@je, a selecção profissional é operada pelos/ testes. Pode-se lamentar, como muitos
fazem, a ausência de calor deste método mais /objectivo: é evidente que o elemento
afectivo gerado nas relações entre o patrão e os seus colaboradores directos escapa às
investigações por testes. Mas não é menos evidente que o teste/psicológico se adequa
melhor à análise das/aptidões reais do candidato.

0 que é um teste de selecção? Os testes de selecção profissional esforçam-se por definir as


aptidões particulares do sujeito examinado em função das exigências do emprego. Assim,
chegou-se à conclusão de que os testes de /inteligência não bastam para desempatar os
candidatos. «Imaginemos, escreve Alain Sartono, que três sujeitos obtiveram a média #
A. Sartort: Dicioná

nos testes de inteligência (verbal, numérica, perceptiva, manipulação Lisboa.


de Psicologia (Ed. Ver
de objecto): não é erróneo dizer que eles têm a mesma inteligência em quantidade,
1978).

embora não tenham necessariamente as mesmas aptidões. Podem ter obtido uma nota
global idêntica a partir de combinações de diferentes notas parciais (aptidões).»

Com base no esquema que se segue, representando as aptidões dos três sujeitos A, B e C,
Alain. Sarton mostra o interesse da análise factorial da inteligência para a selecção
profissional.
o indivíduo B

,o indivíduo A

o indivíduo C

Teste de ManipUIaç@0

Teste de percepção

Teste verbal

numérico

I@-1I‟

tem altos e baixos”

é <@mêdio» em tudo

tem @fltos e b@ixo@

«Imaginemos que os três sujeitos concorrem a um mesmo emprego -o de tradutor-revisor


- exigindo aptidões verbais e perceptivas. Se nos fundamentarmos unicamente na nota
global, sem análise das provas que a compõem, colocaremos os três ex aequo. Julgar-se-ia
assim estar na presença de três sujeitos médios, quando afinal, do ponto de vist a do
emprego, um é fraco (B), outro é bom (C) e só o terceiro é efectivamente médio (A).»

SENSIBILIDADE (Sensibilité/Sensibility) páginas SO, 414.

Na sua acepção corrente, a sensibilidade designa o conjunto dos fenómenos/"afectivos: ela


representa uma forma de abertura ao mundo exterior.
SEN

dade adolescente dois factores que vão contribuir para exacerbar a sensibi- /adolescência.
Por um lado, de facto, esta caracteriza-se ,,wfisiológico por modificações do sistema
;<hormonal e a neurovegetativo que são a sede orgânica da sensibilidade va. Por outro
lado, a adolescência é um periodo em que se m as tendências para a autonomia. É o
momento em que

percebe sem ambiguidade que lhe compete integrar-se na de adulta. 0 adolescente


diferencia-se da criança - da nserva ainda muitos caracteres - pelo sentido da/respon-

o aos juizos de outrem nto natural que o adolescente seja muito sensível aos,,;"ju@zos
«.,Oe lho dizem respeito. Em cada um destes juizos, ele colhe um

motívo de ânimo ou, pelo contrário, de inquietação. Atraído pelos extremos,


ele valoriza em excesso tudo o
que vem dos adultos.
Motivo pelo qual estes devem pesar as suas palavras, cujas reais
repercussões na alma do adolescente ignoram muitas vezes na vida corrente.

Um comportamento ambivalente Esta ignorância dos adultos é tanto mais frequente e mais
perdoável quanto o adolescente manifesta, ao mesmo tempo que uma /atenção muito viva
aos juizos formulados sobre si, certas veleidades de independência e dexoposição que
deixam supor uma Perfeita indiferença. Esta,,< ambívalêncía pode ser causa de
lamentáveis mal-entendidos. Charles Briedo nota: «No que se refere à 0 C. Sried.- /e$ ÉC,
,”ibilidade ao fracasso e ao êxito escolar... os rapazes e as rapa- ` les Ecolières.

nFS Parecem igualmente afectados se bem que de forma diferente.


C.P.M.I. (Armand Col París,
Verificamos assim que se se sancionar uma falha com uma nota má, as alunas têm
1967). P. 223,

tendência a manifestar exteriormente o seu desâDIMO... ao passo que os alunos, fingindo


indiferença ou procla- ~do-se lesados, são na realidade profundamente atingidos pelo

InalOgro e recuperam mal dele, 0 ínsuccsso é, pois, mais nefasto nPazL,s do que às
raparigas, o talvez convenha rever a/ opinião

espalhada segundo a qual estas devem ser tratadas „com a‟ e aqueles mais severamente.»
os mal-entendidos deste género, são no fundo menos temiveis ue a indiferença, também
ela nascida de um mal-entendido assenta num mau conhecimento do adolescente, o qual,
do mesmo

que clama alto e bom som a sua/necessidade delindepen-

Precisa mais do que nunca de ser encorajado e estimulado.

~cia de díálogo com os pais s adultos pensara que o melhor método a aplicar-se aos
jovens
436

é deixá-los fazer o que eles querem - visto ser o que eles exigem -

com a condição de as consequências não serem demasiado catastróficas. Realmente, um


inquérito efectuado após os acontecimentos de Maio de 1968* em França mostra que uma
esmagadora maioria dos ado- e Ver les Perents n.*‟ lescentes de hoje sofrem de uma falta de
diálogo com os adultos da Março de 1969:

em geral, e os/pais em particular.

SERVIÇO MILITAR (Servico militalra/Military service)

Hoje em dia, a idade de incorporação situa-se legalmente entre os


19 e os 20 anos na maior parte dos países, ou seja, quase no fim da adolescência. 0 mesmo
é dizer que o serviço militar poderia ser considerado como um dos/ritos iniciáticos que
consagram a passagem da/adolescência à idade adulta -ritos celebrados com muita pompa
nas/sociedades primitivas. Ainda não há muitos anos, em várias regiões da Europa, os
«apurados para todo o serviço militar» festejavam alegremente a sua passagem na
inspecção médica. Estas manifestações de regozijo parecem absurdas aos adolescentes de
hoje, que consideram os meses de serviço militar como um atraso do inicio de uma
vida/social activa. Assim, o serviço militar, em vez de consagrar o acesso do adolescente à
autonon-úa, surge, ao invés, como um obstáculo.

0 papel dos quadros militares As razões de uma tal reviravolta são múltiplas. Em primeiro
lugar, a/atitude dos quadros militares parece ter exercido uma influência decisiva: «Os
recrutas, escreve Philippe Roberte, aspiram a 0 Philippe Robert:
uma iniciação transitória que os restitua amadurecidos ao seu
«les Bandes», in Des millions de Munos
/meio de origem, ao passo que os quadros recusam desempenhar (Cujas, Paris, 1967). P. M este

papel e querem „converter‟ durante a tropa, ensinar uma segunda/ profissão. Por outras
palavras, os sujeitos vêem no serviço militar uma prova que lhes permitiria magicamente
ser reconhecidos como membros de pleno direito da sociedade nacional de adultos. Os
militares, pelo contrário, querem formar eventuais combatentes. 0/desejo iniciático aparece
simultaneamente como muito intenso e, decerto, desiludido. 0 serviço militar é por
conseguinte um rito ineficaz. Já nem sequer tem nada de um rito.»

A influência dos adiados Mas a atitude dos quadros não é a única causa disto. A própria
maneira de encarar o serviço militar já não é, hoje em dia, a mesma 0 Em França, 7%
de há vinte anos. Operou-se recentemente uma espécie de desmis-
díados em 1955,gco „2'1 %em 1965.

. ,, tificaÇão à qual não é estranho o aumento do número dos adiados*. es nImeros citados
C. vimot o J. Bau ot. De facto, o adiado que enceta o seu período de tropa só tem uma Ver Population

(Julho-Setembro de 1 o preocupação: terminar o serviço militar para aproveitar o fruto dos p. 499.
estudos e poder considerar-se como um adulto. Para ele, o militar não apenas perdeu o
seu/valor ritual, como ainda Áriu, um outro diametralmente oposto: constitui o prolonga-v
artificial e obrigatório da adolescência.

,,,ddade de um novo espírito

responsáveis quiserem evitar uma degradação total desta .-;;fera, é urgente que eles
saibam encontrar um estilo novo. seria demasiado fácil e injusto dizer que a rejeição do
serviço I.,,,.tar sob a sua forma actual tem como única origem o desejo

1&gir com o rabo à seringa». É inegável que todas as vezes que «mancebos» têm a
impressão de ser úteis (apagando um incêndio,

exemplo), eles dão provas de um claro espírito de abnegação.

800 (Sexe/Sex) Páginas 43,121. 475. 477, 481. 483.


MUALIDADE (Sexualité/Sexuality)

Var o artigo nas páginas seguintes e as páginas 67. 69. 134, 142,147.172,174, 186, 367.
~ALIZAÇÃO (SociaIIsation/SociaIizatIon) . „~ o artigo nas páginas seguintes e as páginas 20. 33. 47, 287, 444.
438

0 desenvolvimento da sexualidade
pelo doutor Ouillon

Os estudos comparativos e as/discussões sobre o instinto e a /inteligência têm ocupado um


grande número de observadores, de/filósofos, de zoólogos, de psicólogos e de
antropólogos. Podemos dizer, simplificando ao máximo, que o instinto comanda um
/comportamento perfeitamente adaptado a uma dada situação, sem que o animal ou o
sujeito tenha a mínima consciência da sua finalidade. Entomologistas como L-H. Fabre
ilustraram amplamente as/reacções instintivas dos insectos, tão espontâneas como
invariáveis diante da maior parte das situações que normalmente se encontram na vida da
espécie, e mostraram como estes mesmos insectos ficam completamente desprovidos
diante de uma situação insólita, criada artificialmente, ainda que esta última seja muito
mais fácil de resolver que as precedentes. A inteligência, ao invés, julga a situação e,
mediante uma sequência de ensaios, de experiências, conduz a um comportamento
raciocinado, consciente dos seus objectivos e sempre susceptível de modificações se for
caso disso.
0 animal que nasce é largamente provido de instintos e de reflexos inatos: possui uma
certa/educação hereditária que lhe permite, em algumas semanas ou em alguns meses,
tornar-se autónomo e viver e defender-se segundo as leis da sua espécie. 0 ser humano, à
na~ça, acha-se, pelo contrário, bastante desarmado; à excepçã o de alguná reflexos
primitivos como o da sucção, nada o prepara para a vida que o espera e não é somente
porque o seu crescimento dum muito tempo que o rebento humano vai permanecer longos
anos na dependência dos seus genitores: é também porque ele tem de aprender tudo. A
masculinidade e a,,@'fèminilidade não s@@-,o, elas próprias, simples dados anatómicos ou
biológ.,cos, são também.
SEX
s. 226. 255.

qualidades que devem ser aprendidas: é conhecida a importância do/sexo psicafectivoo.


e Ver «A fisiologia».
As modalidades de/ comportamento e de/adaptação não são fornecidas pela
Pág

hereditariedade, como no caso do animal, mas determinadas pela experiência e


a/aprendizagem individuais. Não comportando a vida animal esta longa e lenta preparação
para a vida adulta, seria vão procurar nela um período de evolução comparável
à/adolescência.
0 embrião possui as duas potencialidades macho e fêmea: normalmente uma delas
prevalece; o recém-nascido é sexuado e educam-no conforme o seu sexo. É na/puberdade
que as gónadase se desen- o gónadas: glândulas
volvem, ao mesmo tempo que aparecem os caracteres sexuais secun-
itais, ovários ou
„t'és'tículos. dários que, anatomicamente, contribuem para diferenciar os sexos. Além
destas modificações somáticas que o perturbam profundamente, o adolescente torna-se
sede de novas pulsões cada vez mais prementes que alteram o equilíbrio psíquico
estabelecido na infância. 0/grupo/social em que ele vive tende a impor-lhe modelos de
comportamento que derivam de todo o conjunto de regras, de leis, de costumes, de
práticas e de/ritos diversos que qualquer ,-<sociedade decreta em função dos/ valores que
ela reconhece, e sobre os quais se funda. 0 adolescente é então constantemente convidado
a conciliar os seus próprios instintos com as normas sociais; porém, no seu/esforço para
levar o indivíduo a aceitar os comportamentos impostos por uma dada/cultura, a sociedade
pode exercer uma certa/ violência exigindo dele, de diferentes modos e em diferentes
graus, a repressão e o controle das suas pulsões sexuais e/agressivas.

Na sexualidade, o físico e o psíquico estão intimamente ligad A sexualidade do homem


está longe de ser um fenômeno unicamente biológico. A maturação dos órgãos e o
consequente estabelecimento da função de reprodução são acompanhados de uma
refundição do psiquismo: devem ser integradas no eu novas e muito fortes pulsões, e isto
em conformidade com certas directivas impostas mais ou menos nitidamente pelo grupo
social. Há, portanto, não só maturação orgânica, mas também maturação /psicológica e
social. 0 desfasamento no tempo destes dois tipos de maturaçâo (a primeira precede as
outras) é fonte de numerosos/ conflitos que finalmente são resolvidos de formas muito
diversas consoante os indivíduos. A sexualidade, no homem, depende com certeza da sua
constituição, mas também da sua cultura, da sua/educação, das suas experiências pessoais
e das diferentes situações por que ele passou, de tal sorte que se poderia susterítar que
cada um possui unia sexualidade- que lhe é própria. T-@o entanto, para compreender as
grandes lirilias da evolução que, em 90% dos casos, levará a uma sexualidade normal, se
bem que pessoal, importa tentar extrair leis universais do conjunto dos factos particulares.
440 0 desenvolvimento da sexualidade

A sexualidade segundo Freud A/puberdade foi durante muito tempo considerada como o
ponto de partida simultaneamente físico e psíquico do,,, desenvolvimento / sexual. Não
havia dúvida de que, a partir dos dois anos, os métodos de/educação (diferentes consoante
o sexo), o tipo de respostas dadas pelas pessoas mais chegadas às perguntas da criança
provocavam a constituição do sexo psicafectivo, mas tratava-se de um comportamento
induzido, de uma espécie de/jogo imitativo que não correspondia a nenhuma realidade
interna.

A sexualidade não começa com a puberdade, mas desde a infância Nos Três ensaios sobre
a teoria da sexualidade, publicados em 1905, Freud afirma, pelo contrário, que a
sexualidade principia logo na primeira infância, ao mesmo tempo que expõe, nas grandes
linhas, a sua concepção do desenvolvimento psicossexual do homem. Ainda que tendo sido
criticadas, algumas vezes pelos seus próprios alunos, as ideias de Freud são actualmente
admitidas pela maioria dos/psicólogos, se não como verdades absolutas, pelo menos como
hipóteses de/trabalho. Para Freud, a criança é mobilizada pela procura do/prazer e todas as
sensações físicas agradáveis são de natureza sexual. Ele chama
«líbido», da palavra latina que significa/ «volúpia», à força com que se manifesta o instinto
sexual, logo o instinto que leva à conquista do prazer. A satisfação instintual, o prazer, é
obtida pela estimulaçâo ou/excitação de diversas zonas do corpo: as zonas erógenas. São
descritas três fases sucessivas no tempo: a primeira é a fase oral. A sucção do seio
materno ou do biberão proporciona antes de mais no lactente um prazer devido à satisfação
da necessidade de se alimentar. Mas o prazer de sugar não tarda a libertar-se da função de
nutrição e torna-se autónomo. A criança experimenta uma intensa sensação de prazer pelo
simples facto de chuchar ritmicamente o seu polegar. É a mucosa bucal, zona erógena que,
desta forma excitada, proporciona o agrado; assim, esta fase que dura a cerca de 1 ano é
denominada fase oral*. 0 do latim os,
orisA/aprendizagem da limpeza atrai a/atenção da criança para o «boca». agradável alívio que

resulta da defecação, ao mesmo tempo que se manifestam nela os primeiros interditos sob a
forma de um controle imposto à pulsão e relativo ao tempo, ao lugar e à maneira. A
retenção das fezes, mesmo quando está sentada no bacio, tal como a defecação fora dos
momentos permitidos, manifestam na criança uma desobediencia, uma recusa, uma
teimosia, uma/oposição. A disciplina esfinct~ representa para ela a primeira barreira à
/liberdade de gozo. Tudo o que se relaciona com os esfíncteres se torna símbolo do que é
proibido, de tudo o que deve ser afastado da vida. A retenção intestinal pode neste caso
ser uma manifestação de/revolta, mas pode igualmente ser procurada para atingir mais
tarde um/ prazer maior. Instala-se uma alternativa retenção-defecação que produz uma
sensação agradável pela,,,, excitação da mucosa anal, tornada zona erógena. Chegou-se à
segunda fase, a fase anal, que dura até por volta dos 3 anos de idade. Cerca do quarto ano,
assiste-se a um despertar da zona genital. A criança apercebeu-se da diferença dos/sexos.
A zona erógena passa a ser a zona genital: glande e clitóride. «As actividades sexuais desta
zona erógena, que faz parte dos órgãos genitais propriamente ditos, escreve Freud,
constituem o início daquilo que posteriormente se tomará a vida sexual normal.» É a
terceira fase, a fase fálica, que dura cerca de 4 a 6 anos, e no decurso da qual a criança
consegue um certo prazer manipulando os seus órgãos genitais. Esta /masturbação infantil
não tem evidentemente nada em comum com a da/adolescência que se encontrará mais
tarde, pois ela não se faz acompanhar de qualquer fantasma nem conduz ao orgasmo. Até à
fase fálica, a evolução é a mesma nos dois sexos, razão pela qual as duas primeiras fases
são chamadas «pré-genitais», o que não significa de modo algum que a fase fálica deva ser
uma fase propriamente genital.

A partir dos 4 anos, as crianças têm tino suficiente para perceber a diferença entre os
sexos: umas são providas de pênis, as outras não. Como lhes é naturalmente impossível
compreender a verdadeira justificação desta diversidade de anatomia, elas forjam
explicações fantásticas: a rapariga não tem pênis porque a amputaram deste órgão para a
castigar ou porque a sua/mãe não a amou o bastante. Desenvolve-se assim no rapaz o
receio de que lhe seja infligida a mesma/punição, e na rapariga uma sensação de
inferioridade e a inveja pelo pênis que faria desaparecer a primeira; nasce em ambos os
sexos o que Freud designa por/«complexo de castração», uma situação de temor e de/
angústia que é aliás reforçada pelo facto de a manipulação dos órgãos genitais,
característica da fase fálica, se ver quase sempre severamente reprimida pelos/pais. A
criancinha está totalmente dependente da mãe: é ela que lhe proporciona na primeira
infância todas as sensações agradáveis: muda-lhe a roupa, aquece-a, embala-a, alimenta-a.
0 bebé não se distingue da mãe. E apenas por volta do oitavo mês, na altura do desmame,
que ele começará a diferenciar de uma maneira nítida o seu rosto dos outros rostos, a
considerá-la como algo fora dele, um objecto que ele carrega de/afectividade e se torna o
centro do seu universo. Mas a/mãe impõe também determinadas disciplinas, em primeiro
lugar no momento da,.,,Ieducação da limpeza. Ela continua fonte de/prazer, mas passa
também a ser fonte de constrangimento, e a criança nutre a seu respeito sentimentos
mistos de /amor e de ressentimento. Entre os 2 e os 6 anos, é o/ pai que adquire uma
importância cres-
442 0 desenvolvimento da sexualidade

cente. Esta personagem misteriosa que só está presente em certas ocasiões, este
depositário incontestado do poder soberano, aparece simultaneamente como
tranquilizador e inquietante: é o representante mágico de um universo misterioso, mas
encama igualmente a,,,<autoridade superior que reforça os interditos da mãe e emite
ordens que não é possível transgredir.

Uma teoria que causou escândalo: o complexo de Édipo Segundo Freud, surge uma
relação triangular de um tipo particular entre o pai, a mãe e o filho quando este atinge uma
idade de cerca de 5 anos: é o/complexo de Édipoe. Sabe-se que Édipo é uma e.
Freud expôs pela

personagem da mitologia grega, que a fatalidade impeliu a matar


ira vez esta concepção
Pe'm"n4@ Ciência dos Sonhos. o pai e a desposar a mãe. 0 rapazinho, por volta dos 5 anos, experimenta,

além dos seus sentimentos de afeição pela mãe, uma atracção/sexual; o pai torna-se então
um rival cujo desaparecimento ele deseja. A rapariguinha, atraída sexualmente pelo pai,
torna-se hostil à mãe. Não é necessário sublinhar o escândalo causado, no fim do século
passado, por uma tal teoria. Na realidade, Freud insistiu sempre na bissexualidade
fundamental da infância. Não se pense no entanto que o rapaz se acha aos 5 anos
apaixonado pela mãe no sentido da sexualidade genital adulta, e a rapariga pelo pai e nas
mesmas condições. É desta confusão, demasiado amiúde estabelecida, entre a sexualidade
infantil não genital, admitida por Freud, e a genitalidade adulta, que nasce o escândalo. Não
é a mãe enquanto mulher que atrai o rapaz. 0 que se passa é o seguinte: em virtude do
cuidado que ela lhe dispensa, a mãe torna-se o objecto dessa sexualidade infantil até então/
auto-erótica. Aliás, no nosso modo de vida em que amiúde o pai colabora na/alimentação e
na/educação da criança, acontece também ele, embora sem dúvida em menor grau,
desempenhar o papel de objecto das pulsões/eróticas da criança.
0 que orienta de modo diverso as pulsões do rapaz e da rapariga, é o interesse que ambos
dedicam à única diferença que conhecem entre os sexos: a presença ou a ausência de um
pênis. Quando o rapaz descobre que a/mãe está privada do órgão masculino, que ela está
castrada, ela perde a seus olhos o/prestígio que tinha, a sua imagem desvaloriza-se. Para o
rapaz, esta misteriosa ausência do órgão masculino exclui a sua mãe da norma e f@z.naw«
nele um certo temor. Volta-se então para o/pai, o que OM Ca~O a UMIR MUdanÇa na
sua/ atitude que o dirige para a ~ de uma man” activa, masculina: assim se acha realizada a
p~o edipiana activa, essencial no /desenvolvimento da niasculini~ do rapaz, o qual, à
medida que as suas instâncias para a mãe aumentam de intensidade, se enche de hostilidade,
de sonh(-,5 destruidores, de/ciúme, de inveja, de ódio e de/amor pelo pai.
SEX

Normalmente, o rapaz identifica-se com o progenitor do mesmo & Na evolução normal, o


rapazinho renuncia a esta estreita relação com a mãe e substitui-a por sentimentos
dessexualizados de ternura e de/afeição. Ao mesmo tempo, /identifica-se com o progenitor
do mesmo/sexo, ou seja, o pai;/aspira a assemelhar-se-lhe no futuro em vez de o querer
substituir no presente. Aos sentimentos ambivalentes de ódio mesclado de amor, de ciúme
mesclado de inveja, de rivalidade mesclada de admiração sucedem -um indefectível apego,
uni grande,,,, desejo de lhe agradar e um constante /esforço para o/imitar. Esta identificação
com o pai marca uma etapa crucial da evolução psico-sexual do rapazinho - é a resolução
normal do/ complexo de Édipo - e uma grande passo para a identificação masculina e a
identidade sexual apropriada e claramente definida. Esta resolução é provocada pelo/medo
de castração pelo pai, pelo amor dedicado ao pai e pela consciência que a criança tem da
sua própria imaturidade física, tuido causas que conduzem a uin/recalcamento maciço dos
desejos edipianos e ao desaparecimento temporário da
pulsão fálica.

A resolução do complexo de Édipo é mais delicada na rapei A rapariguinha pode, durante


um tempo variável, recusar admitir que lhe falta o órgão viril: ela imagina, por exemplo,
que o pênis está escondido no interior do seu corpo e que ainda Rão saiu; pode invejar os
rapazes de uma maneiia mais ou menos acentuada ou duradoura e comportar-se como
eles. Também tende a censurar a mãe por ser como ela, atribui-lhe a responsabilidade do
seu próprio estado e, impelida pelo ressentimento, toma o pai como novo objecto de amor.
0 período edipiano da rapariguinha começa por uma inclinação afectuosa sexual e erótica
relativamente ao pai e por sentimentos/ ambivalentes de rivalidade e de hostilidade para
com a mãe. A resolução do Édipo é muito mais longa e difícil na rapariga do que no rapaz.
Quando renuncia aos seus/desejos voltados para o/;,pai, pode durante um certo tempo
hesitar entre a/identificação com a/mãe e a regressão a um estádio /infantil de dependência
com respeito a esta última. Para que a identificação com a mãe nos seus papéis de esposa e
de mãe e na sua relação pai-esposa seja possível, a rapariguinha deve/inibir rigorosamente
as suas/ necessidades infantis. Muitas vezes, o ressentimento
para com a mãe prolonga-se, e o/complexo não chega a uma resolução decisiva. Persistem
muitas vezes na adolescente sonhos de situação triangular de/amor que traem o facto de ela
se considerar ainda inconscientemente rival da mãe perante o pai. 0 complexo apenas
se resolverá por vezes com o/casamento e o primeiro filho. A ídentificação com a mãe
enquanto mulher e esposa exige à rapariga o “Irecalcamento de toda a sexualidade infantil
ligada à relação primária mãe-filha. Pelo contrário,o rapaz, cuja evoluç,;',0 psico-sexual se
faz cri função da mesma pessoa, a mãe, não tem que
444 0 desenvolvimento da sexualidade

recalcar do mesmo modo a sua «pré-genitalidade». o estabelecimento de uma relação mais


estreita com o pai facilita a sua luta pela/ independência; não estando a sua sexualidade
infantil estreitamente ligada ao pai, as possíveis ressurgências não podem entravar a
identificação com este último, ao passo que, pelo contrário, na rapariga elas poderão
perturbar a identificação com a mãe.

0 período de latência Seja como for, a partir dos 6 anos, tendo superado melhor ou pior o
complexo de Édipo, e por conseguinte estabelecido uma identificação suficientemente
sólida com o progenitor do mesmo /sexo, a criança entra naquilo que os psicanalistas
denominam um período de latência, que vai durar até à pré-puberdade. Este período
caracteriza-se por um equilíbrio estável, que não é devido a uma diminuição da força das
pulsões mas, pelo contrário, a um melhor controle exercido sobre elas pelo ego e pelo
superego reunidos. As estimulações sexuais acham-se assim ao mesmo tempo moderadas e
desviadas da expressão directa. É também aos 6 anos de idade que começa a vida escolar,
primeira etapa da/socialização da criança. A/agressividade encontra então um meio de se
resolver mais facilmente na/ competição /x escolar e/social, que os adultos quase sempre
estimulam. Uma grande parte da energia das pulsões sexuais é provavelmente desviada e
absorvida por este desejo de vencer. Segundo Freud, os elementos primários que intervêm
nos mecanismos intrapsíquicos são antes de mais as forças e as pressões instintivas sexuais
e agressivas a que ele dá o nome de id; em seguida, o ego, que exerce, mediante
a/inteligência, a/linguagem e outras /capacidades exclusivamente humanas, um papel de
mediação e de interpretação a fim de manter o equilíbrio psicológico entre as /aspirações
internas do indivíduo e os imperativos do mundo exterior; finalmente, o superego, formado
pela,,,, educação, que compreende a escala dos/valores, a noção do que está certo, as
regras/morais e os modelos de/ identificação. Compreende-se a grande importância deste
período de latência durante o qual o ego e o superego vão exercer um crescente controle
sobre as pulsões instintuais. Este/ desenvolvimento do ego vai pôr a c~ em condi~ de
enfrentar a intensificação das pulsões

na/puberdade; ele permitirá a estruturação da do ada~te, ao mesmo tempo que se


precisarão m,h mo ú rta~to ligados às técnicas de / adaptação d~00 h” ter sido
estabelecidas. 0 período de latênvã aíOlzi dahmiur a maneira como a criança abordará o
p~ p~ 0~ o toda a travessia da/adolescência será

H M~ por de.
SEX

Algumas críticas ias concepções freudianas Freud não descreve os sintomas como clínico: a
sua doutrina pretende ser uma explicação completa do homem, do seu psiquismo,
organizando-se por isso em sistema/,, filosófico. Foi decerto o que promoveu o seu
extraordinário êxito. Freud considera a personalidade no seu conjunto e na sua expressão
especificamente individual. Abandona o plano médico puio para atingir o das concepções
gerais do homem e o estudo dos factores ocultos que o fazem agir. Cria assim uma
metafísica dos instintos, das tendências e das motivações inconfessadas, que modificou
profundamente a imagem tradicional do homem ao descobrir a acção preponderante de
forças obscuras, inconscientes, consideradas inferiores. A tónica é posta no instinto sexual
e na procura do/prazer; neste sentido, o homem de Freud é um ser libidinoso que busca o
gozo individual e que esbarra contra os imperativos /sociais.

Não exagerarã Freud a importância do instinto sex Ainda que haja na concepção
psicanalítica uma explicação dinâmica da evolução da/afectividade, é claro, no entanto, que
esta última se confunde com o instinto/sexual e que o freudismo nos não dá o meio de
a definir se empreendermos separá-la dele. Mesmo reconhecendo a importância do instinto
sexual, não será abusivo fazer assentar sobre ele todo o desenvolvimento da vida humana?
Foi o que pensaram numerosos autores*, que se ergueram Contra e AdIer, em partic
o pansexualismo exclusivo e o hedonismoo, sistemático da doutrina # hedonismo. bus
freudiana. No plano geral, a doutrina de Freud surge como essen- praze,. cialmente/
pessimista, reduzindo, afinal de contas, a/personalidade ao instinto e todas as/actividades
superiores do homem a sublimações da libido. As suas/aspirações e os seus/desejos
reprimidos pela/sociedade são rigidamente/ recalcados no inconsciente, onde continuam
uma vida própria, disfarçando-se para se exprimirem de tempos a tempos de uma maneira
indirecta, que se opõe à vontade consciente. 0 indivíduo parece desdobrar-se
- o seu inconsciente entra em contradição com a sua consciência -

e, embora revista exteriormente uma/atitude de/conformismo /social e/moral, este/


comportamento será mais ou menos traído sem seu conhecimento pelo inconsciente
rebelde.

0 homem mostra-se assim fraco e hipócrita, joguete de forças de cuja existência nem
sequer suspeita. A/conduta moral não passa de um artifício de pouco peso e, no fundo, o
ser humano, despojado dos seus ouropéis de empréstimo, não é mais que um miserável
autómato movido pelos seus desejos e pelos seus instintos.

A PRÉ-ADOLESCÊNCIA

Após um longo período de relativa estabilidade, os órgãos sexuais


446 o desenvolvimento da sexualidade

começam a desenvolver-se desde a pré-adolescência. Este/desenvolvimento é


particularmente evidente no rapaz, cujos órgãos são externos; não é no entanto idêntico em
todos os sujeitos: varia segundo as constituições individuais e também segundo o momento
da evolução puberal. 0 rapaz fica geralmente muito inquieto ante estas riodificações
corporais, tendo frente a elas uma atitude/ambívalente, ou seja, dupla e contraditória. Por
um lado, ele reage de uma maneira negativa, opõe-se a estas mudanças que vêm perturbar a
sua quietude; por outro lado, dedica-lhes um acentuado interesse, deseja que elas se
operem muito depressa, pensa que a sua /virilidade é função do desenvolvimento genital,
tenta saber se os rapazes da sua idade estão mais ou menos favorecidos que ele. A mínima
lentidão na evolução, uma carência momentânea do sistema piloso, dão-lhe o sentimento de
ser/anormal, sexualmente subdesenvolvido e diferente dos seus camaradas. Chega então a
manifestar uma excessiva prudência: dissimula por todos
os meios a sua nudez aos olhares exteriores ao mesmo tempo que se recusa a ver a dos
outros, com receio de que uma comparação desvantajosa a seu respeito lhe venha
aumentar a,,,Iansiedade. Embora as raparigas estejam menos atentas ao desenvolvimento
sexual primário, que no seu caso é inaparente, elas mostram-se tão inquietas como os
rapazes no seu desejo de se aproximarem o mais possível do tipo estético que marca o
cânone aceite da /beleza feminina. Os jornais, as revistas, o/” cinema e a/ televisão
difundem diariamente a imagem da mulher sedutora, da pin-up com quem elas/aspiram
assemelhar-se. Se considerarmos que o /xdesenvolvimento somático na rapariga pré-
púbere é sem dúvida mais desarmonioso do que no rapaz, dar-nos-emos conta da
inquietação que uma excessiva magreza, uma altura excessiva ou demasiado pequena,
seios muito pouco desenvolvidos podem fazer nascer no mais fundo do coração de certas
adolescentes.

Os pré-adolescentes procuram a aprovação do sexo oposto Estes sentimentos de/angústia


são exacerbados tanto num como no outro/-sexo, no seguimento da avaliação recíproca
da maturação sexual e do aspecto exterior a que se entregam entre si os sujeitos da mesma
idade. 0 rapaz escarnece e ridiculariza a rapariga, cujo corpo parece pouco harmonioso, e a
rapariga não se coíbe de rir dos defeitos do rapaz. Isto é tão verdadeiro que um
inquérito de Habbea mostrou que a maior parte das alcunhas que eles dão 0 Habbe in American uns
aos outros se referem a conformações corporais inestéticas devi- JO-al of Orthopsychietry das à
puberdade. Se bem que as relações entre os sexos ainda não (1937, 7, 371).

sejam de modo algum aquilo em que se tornarão mais tarde, é certo que, de ambos os
lados, se tem em muito apreço a aprovação do sexo oposto e que as graçolas e as críticas
mais ou menos irónicas são cruelmente sentidas e profundamente humilhantes. Embora um
elogio possa Provocar uma /reacção de aparente/ oposição,
SEX

esta/ atitude esconde, na realidade, uma grande satisfação de /amor-próprio e um


sentimento de extremo agrado.

Quando a sede de conhecer é acompanhada pelo medo de sab Observa-se ao mesmo


tempo, durante a pré-adolescência, um aumento da força pulsional que conduz à procura
das satisfações libidinais e agressivas dos primeiros anos da infância, ou seja, a um retorno
mais ou menos acentuado da pré-genitalidade. Não é preciso uma/ excitação /erótica para
suscitar uma resposta genital. Assim, no rapaz,'a erecção é quase sempre provocada por
uma qualquer estimulação: a/cólera, por exemplo um estado de super-excitação geral,
o/desporto, os exercícios físicos. 0 órgão genital torna-se assim um órgão de descarga
das,,"tensões de toda a natureza. 0 aumento da força das pulsões sexuais destrói o
equilíbrio do período de latência: em suma, a aquisição dos anos precedentes parece
desvanecer-se de repente. Os pré-adolescentes entram então rapidamente numa situação
de/conflito no que se refere ao sexo. Recebem com avidez e apreensão as informações que
podem ser-lhes dadas; muitas vezes, aliás, a sua/imaginação deturpa o significado daquelas.
Outras vezes, parecem esquecer totalmente o que se lhes disse, garantindo mesmo, contra
toda a evidência, que nada lhes foi dito. Manifestam assim uma recusa inconsciente de
todas as noções susceptíveis de gerar/ ansiedade. No seu/desejo de luta contra esta/
angústia, não é raro o rapaz investir toda a sua energia em/actividades compensadoras que
lhe permitirão desenvolver /talentos capazes de causar a admiração dos seus/camaradas e
de lhe dar/ prestígio. É a idade do coleccionador que já não pensa senão nos seus selos, nos
seus coleópteros, no seu herbário ou nas suas pedras, que se dedica de corpo e alma a
completar os seus tesouros e que passa longas horas a esmerar a respectiva apresentação.

Apesar de tudo, a força das pulsões acaba por abrir uma fenda nos processos de defesa:
procura-se saber não o que são as/relações amorosas, mas a maneira como funcionam os
órgãos genitais. Sabe-se donde vêm as crianças, mas não se concebe a relação que isso
possa ter com o seu próprio corpo; confunde-se, a maior parte das vezes a eliminação e a
reprodução. Por vezes, os rapazes têm/prazer nos/jogos de palavras ou nos trocadilhos
mais escatológicos do que verdadeiramente obscenos. Gesell assinala que, aos 10 anos,
também as raparigas têm um/gosto pronunciado pelas histórias indecentes em que aliás,
diz ele, se trata mais de nádegas do que /sexo! Ainda que silenciosa, a evolução para
a/puberdade não deixa de avançar muito rapidamente. Os sujeitos dos dois sexos
entregam-se a múltiplas investigações sobre os fenómenos sexuais. Eles procuram com
avidez esclarecer-se, sozinhos, através dos livros de medicina, dos romances, das revistas
«sentimentais» ou mesmo
448 o desenvolvimento da sexualidade

pornográficas, interrogando-se e informando-se reciprocamente, em grupo, sobre


descobertas feitas, observando o seu próprio corpo e, sobretudo, o de um irmão ou de um
colega mais adulto. A/ masturbação praticada em/grupo é bastante frequente nos rapazes
que se interessam pelas dimensões do pênis e pelas sensações ligadas a este órgão. Nas
raparigas, à semelhança dos rapazes, procura-se saber o que serão as experiências
da/adolescência e da idade adulta. Seja como for, o simples facto de falar sobre este
assunto provoca um extremo prazer misturado com alguns risinhos de receio.
Paralelamente, o coleccionador de selos torna-se um criador de ratos ou de peixes
tropicais, levado pelo seu desejo de conhecer o que se refere à reprodução e aos cuidados
a dar à progenitura. As raparigas da mesma idade gostam de confiar umas às
outras/segredos de natureza sexual, e o facto de os partilharem cria uma intimidade muito
forte durante toda a pré-adolescência.

Os bandos de pró-adolescentes não são geralmente mistos Os grupos de pré-adolescentes


são, salvo raras excepções, compostos de indivíduos do mesmo sexo. Os rapazes,
oscilando neste momento entre o/medo e o desejo da mulher, fazem gala de tratar as
raparigas com desprezo. Procuram os companheiros do seu

/sexo com os quais formam um/grupo, o que lhes permite além disso transferir para
o/bando, e em particular para o chefe deste, os seus próprios sentimentos de/ culpabilidade:
a vigilância do superego acha-se assim apaziaguada e a colectivização da falta torna as
defesas pessoais supérfluas. É o que explica a importância muito grande que o grupo
adquire nesta idade aos olhos dos rapazes. Não devemos no entanto confundir os bandos
de pré-adolescentes com aqueles que organizarão mais tarde os adolescentes crescidos.
Estas/relações procuradas entre colegas do mesmo sexo atrasam a passagem do rapaz
à/heterossexualidade; os psicanalístas pensam que se trata, neste caso, de uma/reacçâo de
defesa /homossexual contra. a/ angústia de castraçã o: uma tal angústia, que foi um dos
factores da resolução do Édipo, reapareceria assim com o assalto pubertário. A rapariga,
ao invés, liberta-se energicamente na pré-adolescência da atracção pela sua/mãe, e, por este
motivo, orienta-se decididamente para a heterossexualidade. Neste estádio, a rapariga vira-
se de modo resoluto para a realidade e‟desenvolve um processo intensivo de/adaptação a
esta realidade, e de conquista do mundo exterior. «A rapariguinha desencadeia uma
ofmsiva contra o Mundo circundante, diz Hélène Deutsch, C a SUa arma principal consiste
no/esforço que ela faz para se adaptar a esse mundo»; sente-se muito segura de si, entra
em/conffito com a mãe, toma/atitudes arrapazadas, parece recusar a sua /feminilidade; dá
ares de desportista, de «rapaz falhado». É quiçá
SEX

a antiga inveja para com o macho que reaparece nestas atitudes em que ela procura
rivalizar com o rapaz.

Os pré-adolescentes declaram guerra contra a autoridade meti Em ambos os sexos, a pré-


adolescência é assinalada por um trasbordar de/actividade física que constitui a expressão
do crescimento, mas também da angú stia que provocam a aproximação da /puberdade e o
despertar dos conflitos característicos das primeiras fases da evolução. É assim criado um
estado de/tensão que se resolve pela actividade física. 0 apetite aumenta por vezes até à
voracidade, pois a glutonaria é também uma maneira de combater a angústia e a tensão. A
maior parte das vezes tudo isto é acompanhado por um/0desejo acrescido de/
independência e até de rebelião contra a/autoridade da mãe: recusa de se lavar, gosto pela
desordem e o/desleixo, obstinação e desobediência sistemáticas podem assinalar a pré-
adolescência.

Na nossa/cultura, a atitude dos adultos para com a sexualidade é muitas vezes confusa.
Por um lado, condena-se violentamente o/ prazer/;< sexual, por outro, expõe-se em larga
medida os adolescentes à/excitação dos jornais, das revistas, dos livros, do /cinema e
da/televisâo cujas mensagens estão geralmente carregadas de um/erotismo manifesto ou
latente. Também os/pais são frequentemente / ambivalentes no seu / comportamento. A
maioria dos pré-adolescentes recebe indicações sobre a/fisiologia do /sexo oposto e sobre
a concepção -pode-se instruir a rapariga sobre a/menstruaçâo, falar ao rapaz
da/masturbação-, mas não sobre o/prazer e as relações sexuais. Certos pais recusam
sistematicamente abordar estes assuntos, outros comunicam as suas próprias inquietações
e insatisfações.

As questões sexu o pré-adolescente tem necessidade de as discutir com os adu As


tentativas feitas na/escola nem sempre são apoiadas pela colaboraçâo dos pais, e muitas
vezes o/ esforço/ educativo dos professores e dos pais malogra-se porqu-- eles não levam
suficientemente em conta a necessidade do pré-adolescente de/discutir e de corrigir as
noções falsas ou as ideias imaginárias que recebeu de certos colegas ou que inventou
sozinho. «0 que pode impelir os rapazes e as raparigas a isolarem-se nesta idade em cantos
retirados, diz-nos Hélène Deutsch, é mais a curiosidade do que a atracção sexual. Mesmo
quando se manifestam/ actividades sexuais concretas entre raparigas e rapazes, é a
curiosidade que desempenha o papel principal.»

A ADOLESCÊNCI.4

No início da/adolescência propriamente dita, o comportamento


P A-z9
450 0 desenvolvimento da sexualidade

permanece no conjunto quase o mesmo que durante a pré-adolescência. Não há solução


de continuidade, mas o aumento das pulsões instintivas amplifica a/angústia e, por este
motivo, a incoerência das/atitudes exagera-se, do mesmo modo que o nível de actividade
física e de/agressividade. 0 indivíduo experimenta fortes impulsos /eróticos que têm uma
imperiosa necessidade de se exprimir.
0 rapaz, que até então ficara indiferente, interessa-se, por exemplo, pelas roupas íntimas da
sua irmã, espalhadas no quarto. Ele experimenta ao olhá-las e ao palpá-las sentimentos
mistos de prazer, de culpa e de confusão: elas servem-lhe de ponto de partida para sonhos
sensuais com os quais goza e de que tem vergonha ao mesmo tempo. Começa a espiar a
irmã às escondidas quando ela está no quarto ou na casa de banho, desafia-a para ter o
prazer de lutar com ela, logo de lhe tocar, de a apalpar. Mas há uma contínua alternaçâo
entre a manifestação das pulsões sexuais e o esforço feito pelo sujeito para as reprimir. Se,
por acaso, o rapaz surpreende a mãe a tomar banho, ou se a filha vê o/ pai a despir-se, a
tentação /erótica invade-os irresistivelmente; eles reprimem-na a princípio com dificuldade e
este/esforço custoso incita-os geralmente a um renovo de/pudor. Acham que os/pais têm
falta de decoro, que os seus gracejos de cariz/sexual são ordinários e desagradáveis, tal
como o seu/gosto e a sua maneira de se comportarem, e que, bem vistas as coisas, eles se
mostram no conjunto pouco interessantes e pouco simpáticos: o rapaz ou a rapariga
proibem-lhes o acesso ao/quarto enquanto se despem. Sem a mínima razão válida, o
adolescente irrita-se, explode e toma a vida difícil a todos.
0 ego do adolescente, assediado pelo/desejo sexual, procura lutar contra esta tentação. 0
sujeito recorre a diferentes modos de compromisso: ou os instintos são repudiados,
o/idealismo e a moderação triunfam, e os adultos manifestam a sua aprovação, ou, pelo
contrário, as pulsões dominam e rebenta, na maioria dos casos, o/conflito com as pessoas
de convivência mais directa. Na realidade, a maior parte das vezes o adolescente oscila
entre estas duas posições extremas e passa de uma para a outra sem razão aparente. Este/
comportamento tem no entanto uma explicação: o abalo dos instintos sexuais e/agressivos
é sentido pelo ego simultaneamente como um bem e como um perigo. Se a,,,Iactivídade
das pulsões faz nascer uma indubitável /angústia e uma dolorosa confusão Intima, não é
menos verdade que a energia pulsional proporciona a força necessária à construção e à
consolidação do ego. 0 resultado exterior é a incoerência do comportamento e
a/instabilídade Característica do adolescente.

0 adOIOSCente desprende-se dos país o liga-se a um amigo


0 abandono dos pais como objecto de/amor, que sobrevém neste mesmo período, conduz
o adolescente a concentrar-se em si mesmo, a sobrestirDar-SC, a „admirar-se: numa
palavra, ao/egocentrismo
SEX

e à jactância. Este fenômeno é, no fundo, uma exageração do/ narcisismo, o qual assegura,
aliás, uma evidente protecção contra as rejeições e as/decepções do/jogo passional. A
procura do/an-iigo, ou da paixoneta, e as/relações mais ou menos erotizadas que o
indivíduo estabelece com ele não são de modo algum, como diz Anna Freud, relações com
um objecto de amor novo, «mas somente /identificações da espécie mais primitiva». 0
amigo, sobrestimado, idealizado, paramentado de todos os atributos que se deseja para si
mesmo, tem simplesmente a finalidade de permitir a satisfação das/ necessidades
narcisíacas.

As reacções de defesa É durante a/adolescência propriamente dita que os conflitos internos


atingem uma intensidade dramática. Os processos mentais tornam-se cada vez mais
complexos e é impossível dar deles uma vista de conjunto; podemos simplesmente procurar
isolar os principais aspectos da evolução que, nos casos normais, vai conduzir à identidade
sexual e à/heterossexualidade. Esta evolução varia, contudo, de um para outro indivíduo,
consoante as tendências pessoais, a / cultura e o / meio. A vida / emocional adquire uma
intensidade que nunca tivera, toma-se mais profunda, desvenda subitamente novos
horizontes, faz nascer esperanças, mas ao mesmo tempo traz sentimentos de/angústia e de
receio por causa da imprecisão do que ela parece prometer. 0 ego do adolescente, lançado
de improviso nesta aventura inesperada e inquietante, tem a sensação de ser imerso e vai
tentar resistir para manter a sua integridade. Esta luta é dirigida contra as pulsões sexuais
perturbadoras, que procura aniquilar no intuito de reencontrar o equilíbrio e o
apaziguamento. Segundo a psicanálise, desenrola-se neste momento um
drama com três personagens: o id, que representa as pulsões, o ego, que resiste para evitar
ser subjugado, enfim o superego, constituído pela interiorização das regras /parentais
e/sociais. Mas, na sequência da depreciação dos pais devida ao seu abandono como objecto
de/amor, o superego acha-se quase sempre enfraquecido neste período: o ego é portanto
gradualmente privado deste aliado num momento em que ele seria bastante útil. De
qualquer modo, o/esforço para extinguir as pulsões/sexuais está, afinal, votado ao malogro,
as pulsões subsistirão, mas o ego conseguirá integrá-las, ou seja, tornar-se
senhor delas em vez de seu escravo.

Uma constante no comportamento dos adolescentes: a instabílk São diversos os processos


de defesa para os quais se apela: o ego pode recorrer indiferentemente a uma das técnicas
de,/adaptação adquiridas durante os precedentes estádios do desenvolvimento. Os
processos escolhidos têm um carácter subjectivo e variam conforme os indivíduos em
virtude da influência dos factores consti-
452 0 desenvolvimento da sexualidade

tucionais,/caracteriais, de/educação e de meio, e da maior ou menor intensidade das


pulsões. Podemos ver aparecer, na esperança de resolver os/conflitos da/puberdade, uma
inclinação para o calmo bem-estar da infância, mas, por norma, esta/atitude, contrária à
evolução psicossexual, é rapidamente combatida por um/desejo de /independência cada vez
mais forte. Podemos ver também o sujeito adoptar sucessivamente diferentes modos de
defesa, agarrar-se com energia a um deles durante um certo tempo, # Anna Freud:

filha de depois passar a um outro, ou até utilizar sucessivamente vários modos Sigmund Freud. vive

em distintos numa rápida sequência, o que constitui uma razão suple- Londres onde se dedica

à neuropsiquiatria mentar de/ instabilidade do/ comportamento. infantil. Célebre pelas


suas

bras: le Moi et les Anna Freudo, que estudou especialmente os mecanismos de defesa
oécanismes de défense do adolescente, chamou a atenção para dois deles que se encontram
(Paris, P.U.F., 1949).

Adolescence in muito amiúde: o/ascetismo e o/intelectualismo. São sobretudo Psychoanalytic


Study of

apanágio das camadas/ sociais em que a instrução se acha desen-


the Child (international

University Press, Nova volvida e em que a/adolescência se prolonga mais. lorque, vol. 13.
1958).

0ascetismo: forma de oposição rigorosa às pulsões


0 ascetismo constrange a pulsão, tenta proibir que ela se exerça graças a um controle
rigoroso dos sentidos e da sensualidade em geral. Ele está muitas vezes ligado a uma
disciplina/ religiosa. 0 indivíduo assiste a todos os ofícios religiosos, submete-se a todos os
/ritos, é assíduo na oração, pode mesmo entregar-se a mortificações corporais. Vigia os
seus sentidos, caminha de olhos baixos, evita contemplar as pessoas do/sexo oposto, não
ouve canções que o dispersem, come de preferência os pratos que menos lhe agradam. A
sua/conduta, numa palavra, parece perfeita em todos os aspectos. Na realidade, não se
trata de modo algum de uma verdadeira sublimação, mas de um simples refúgio contra
a/angústia; em certos momentos, a pulsão, ao tornar-se irresistível, resolve-se através
da/masturbação, seguida, por contrição, de práticas expiatórias de ordem muito variada.

0 intelectualismo: meio de conciliação com as pulsões


0 intelectualismo procura ligar as pulsões ao que Freud designou por «esfera sem/conflito
do ego», ou seja, a/inteligência, a /linguagem, a razão, tornando-as assim acessíveis à
consciência e controlando-as. Vemos, neste caso, o rapazinho ou a menina apaixonarem- se
de súbito por uma/actividade mais ou menos intelecftW, a ponto de não se interessarem por
qualquer outra coisa. Esta ~dade tanto pode ser o estudo porfiado da matemática, da
astroa~ ou da história, como a solução de palavras cruzadas ou a

MMOw~ @ de modelos de automóveis ou de aviões. Antes, o jovem kal~or não


mostrava a mínima propensão especial para esta aova ft~o à qual parece agora consagrar
todas as suas forças ~a a= vida. As suas relações limitam-se aos/ camaradas que

0 , os ~.# gostos, os/ pais já quase o não vêem, ele dedica todo 0 t~ livm de que dispõe a
satisfazer a sua extraordinária
SEX

paixão. É assim que a descarga das pulsões se faz sob uma forma deslocada.

Peter Bloso observa justamente que o ascetismo e o intelectualismo 0 Ver Adolescem,

Psychoanetyticsão particularrriente típicos da juventude da Europa onde a bur-


Interpretation guesia cultivada sempre concedeu unia enorme importância aos (Nova

lorque. 1962 exercícios intelectuais do domínio especulativo. Ele vê nisto um exemplo do modo
como axcultura influi sobre a fôrmação das defesas, que se encontram de certa maneira
determinadas pelas experiências/educativas da criança e pelos estímulos do/meio. Ele não
encontra no adolescente americano uma tal predominância destes dois processos, na sua
forma clássica.

0 adolescente americano abriga-se no conformi4 Peter Blos dá o nome de «uniformismo»


a um sistema de defesa que seria o mais comum na América e no qual a pulsão/sexual é
afirmada, mas ao mesmo tempo codificada por acções que derivam de unia/conduta
estandardizada por um/grupo. 0 grupo estabeleceu uni conjunto de regras aceites por
todos os seus membros, os quais vivem numa dependência recíproca, não sendo cada um
deles reconhecido senão na condição de ser semelhante aos outros. Este/ comportamento
imperativo é uma indubitável fonte de / segurança, como confirma Redi que, após ter
estudado a influência do grupo sobre as situações/ conflituais vividas pelo indivíduo,
menciona «o efeito tranquilizador do grupo sobre os sentimentos de/medo e
de/culpabilidade»; mas Peter Blos faz notar quanto «as diferenças individuais e a
disponibilidade/ afectiva se arriscam a ser em grande parte escamoteadas na precipitação
de alinhamento pelos outros que dá uma falsa impressão de/maturidade precoce».
0/conformismo instala-se assim como guardião da segurança em detrimento da
diferenciação e da individualização, em detriinento também do/idealismo da juventude, da
sua/necessidade de aprender e do seu espírito /revolucionário que a impelem a reformar o
mundo a fim de o tornar melhor.

Joyce, em Dédalo, retrato do artista por ele próprio, apresenta assim o seu herói
atormentado pela luta contra os seus instintos: «Quão insensato era o fim que ele
perseguira! Tentara construir um dique de ordem e de elegância contra o fluxo sórdido da
vida exterior e deter, mediante regras de conduta, o poderoso ímpeto das vagas dentro de
si mesmo. Em vão. Tanto de fora como do interior, a água trasbordava por cima das
represas: as vagas retomavam a sua investida selvagem sobre o muro aluído.» Parece ser
assim denunciada a falência dos processos de defesa. Mas a verdade é muito diferente: este
combate contínuo, em que as pulsõ es sexuais são sucessivamente vencidas e depois
vitoriosas, permite ao ego adolescente adquirir, graças à experiência assim vivida, uma
força suficiente
454 o desenvolvimento da sexualidade

para as integrar e as adaptar, controlando-as, à vida/ social. 0 comportamento tende pouco


a pouco a tornar-se mais coerente, a /instabilidade diminui, a/tensão resolve-se e o sujeito
está a caminho de um novo equilíbrio que será o do adulto. 0 superego passa a ser capaz de
proporcionar a/adaptação à realidade externa sem/inibição excessiva dos instintos, o
ego de comandar as pulsões sem deixar de continuar a dispor da sua energia e do seu
potencial criativo.

0 flirt

à medida que o ego se consolida, ele toma-se, cada vez mais, apto a assimilar as mudanças
provocadas pela/puberdade: o adolescente vira-se com crescente frequência para o
outro/sexo. Os fantasmas e os sonhos serviram de experiência para preparar a realidade: as
conversas com colegas do mesmo sexo, bem como as/actividades partilhadas com eles,
tranquilizaram quanto à atracção e ao/desejo físicos; a descoberta de interesses similares no
sexo oposto encoraja a aproximação. Começam as primeiras/ entrevistas. Geralmente, os
encontros/ heterossexuais passam a ser habituais no fim da primeira/ adolescência: é a
idade dolflirt.

Primeiras entrevistas, primeiros flirts: chegou a adolescência Este primeiro tipo de encontro
é um gênero de /jogo,”, erótico que não atinge as relações verdadeiras. 0 rapaz e a rapariga
vão ao/cinema juntos, vão/dançar juntos, escrevem uni ao outro, encontram-se, a ponto de
parecerem ligados de uma maneira sólida. Na realidade, o flirt caracteriza-se, não obstante,
pela sua falta de estabilidade: ele é essencialmente volúvel. Trata-se de uma relação que
carece absolutamente de autenticidade e que se liga à propensão geral dos adolescentes
para estabelecerem com os outros relações de falsa aparência. Os primeiros contactos
carregados de /angústia com o sexo oposto manifestam de facto quanto os sujeitos de
ambos os sexos são inexperientes e ridículos nas técnicas de aproximação. 0 atractivo físico
disfarça-se sob a forma de jogos ou de/violências simuladas que provocam contactos
corporais. As conversas provocadoras tomam-se rápida e violentamente defenSivaS
quando a intimidade ameaça passar a ser demasiado forte.
0 ^ constitui um progresso na evolução das relações heteroe~s, no Sentido em que simula a
experiência sexual verdaA~'diante da qual o rapaz e a rapariga se sentem ainda cheios de
bq*~. É também uma maneira de lutarem contra esta inquieU^ o~tando uma/atitude que
parece ser uma atitude de a~ da qual se vangloriam a ponto de aqueles que não proce-

w= ~ fak= figura de criancinhas subdesenvolvidas. ~ r0VMt0 0 SCU «Parceiro» de


qualidades ilusórias para as dirigo as MIU Próprias necessidades libidinosas. Há aqui uma
SEX

espécie de troca entre dois interesses estritamente pessoais, e a facilidade com que se
rompem os flirts, sem deixar mágoa nem desilusão, mostra bem a sua ligeireza. São no
entanto experiências úteis ao adolescente, pois elas ajudam a formação da sua identidade
sexual ao mesmo tempo que servem de antecâmara às relações sexuais verdadeiras. Esta
necessidade de compromisso, que é indubitavelmente o sinal visível das relações rapazes-
raparigas na primeira/ adolescência, revela-se ainda pelo uso abusivo de/telefone. 0 tempo
passado em conversas telefónicas pelos sujeitos dos dois sexos desta idade é realmente
extraordinário. 0 assunto versado varia consideravelmente; é por vezes uma sucessão de
gracejos de duplo sentido, uma série de provocações e de réplicas em que o espírito
procura brilhar: trocam-se notícias verdadeiras ou falsas sobre os colegas, informações
maliciosas, escandalosas ou apresentadas como tais, marcam-se e adiam-se/ entrevistas,
pedem-se e dão-se conselhos, ou então procede-se à descrição interminável das/
actividades efectuadas durante o dia, relatando inclusive os pequenos detalhes das
experiências pessoais. 0 telefone é de facto um instrumento ideal, porque permite unia
aproximação /erótica mantendo ao mesmo tempo a distância física: é uma voz terna que
murmura ao ouvido, é um ouvido próximo dos lábios que falam, a salvo de qualquer
perigo de complicações se porventura o controle dos sentimentos vier a enfraquecer. E
enquanto trocam impressões mais ou menos íntimas, mais ou menos marcadas de/
sexualidade, o rapaz e a rapariga podem dar uma infinidade de posições variadas ao seu
próprio corpo: estendidos sobre uma cama, sobre um divã ou no chão, de cabeça para
baixo, pés para cima, sentados numa cadeira ou de pé, e atentos. Todas estas posições
podem conter uma significação erótica.

* telefone constitui além disso um meio maravilhoso de fugir aos * pais sem deixar a casa:
um simples número telefónico permite mudar de mundo, escapar ao círculo /familiar
independentemente de qualquer vigilância.

A dança provoca e descarrega as tensões sei


0 gosto desenfreado pela/dança representa, durante o mesmo período, um meio tanto
de/excitação como de defesa. Inscreve-se assim no mesmo compromisso que o aparelho
telefónico. A agitação rítmica do corpo por ocasião da dança proporciona o/prazer do
movimento físico em si mesmo e, ademais, descarrega as/tensõ es sexuais e/agressivas sob
unia forma simbólica, provocando assim uma sensação de libertação. É evidente que a
dança pode ser igualmente um preliminar ao/jogo do/amor, a excitação que constitui o
primeiro passo para a união sexual e, num certo sentido, para todas essas formas que
acasalam os dois sexos na procura de uma satisfação sexual que eles atingirão ou não.
Mas, não obstante,
456 0 desenvolvimento da sexualidade

a dança apenas oferece ao adolescente uma resolução incompleta da tensão sexual, e


talvez seja uma das razões pelas quais os tipos de dança mudam tão frequentemente. Os
indivíduos desta idade ainda não estão prontos para a união sexual, e é por isso que, do
mesmo passo que procuram um certo apaziguamento, eles se defendem contra solicitações
demasiado intensas. A maior parte das /danças modernas impõe movimentos que têm um
carácter /sexual absolutamente evidente: balanceamento ritmado da bacia e dos fiancos de
frente para trás, flexões e retesamentos das pernas são, por exemplo, tipicamente
/eróticos. Todavia, nestes exercícios, os dançarinos raramente se tocam e nunca se
estreitam. É assim que se exprimem as pulsões sexuais, que se mimam as pulsões íntimas,
enquanto ficam eliminados os perigos de um contacto físico.

Símbolo de virilidade e promessa de liberdade: o automõvel Também o/automóvel se


torna muitas vezes para o adolescente o meio ideal de satisfazer numerosas/ necessidades
e o símbolo de numerosas tendências: é certamente uma das razões que o levam a ser tão
estimado nesta idade. Ele pode representar o corpo humano tanto na sua forma exterior
como nos seus mecanismos internos.
0 rapaz gosta de falar das diferentes marcas, de que conhece cada uma das particularidades,
de exan-únar as carroçarias, de lhes tocar, de as admirar, de as comparar, gosta de
desmontar e de voltar a montar as diferentes peças - exprimindo muitas vezes os
aperfeiçoamentos que ele pensa introduzir o/desejo que tem de se aperfeiçoar a si mesmo.
Ainda com mais frequência, o automóvel toma-se inconscientemente símbolo de/virilidade,
donde o/orgulho que a sua posse suscita. 0 adolescente exibi-lo-á com ostentação, ou usá-
lo-á agressivamente contra os outros, como uma arma. As reacções do motor à mínima
pressão dar-lhe-ão a ideia de uma /sensibilidade feminina pronta a responder com ardor às
suas mais leves carícias, a embriaguez da velocidade proporcionar-lhe-á um/ prazer
próximo do orgasmo. 0 automóvel confere uma intensa sensação de/liberdade total, permite
fugir e desafiar os adultos e os/pais, escapar à sua vigilância. Ele parece guardar a energia
ilimitada que o indivíduo quereria sentir em si mesmo e manifestar aos olhos de todos;
numa palavra, a máquina toma-se o símbolo dele próprio.

Para a mPariga, o automóvel pode ter o mesmo papel, se ela não tiver aceite a sua
identidade/ feminina e se atrasar a brincar aos «rapazes falhados». No caso da rapariga
feminina, o automóvel do/amigo torna-se um objecto de admiração que reforça os seus
Sentimentos por ele: é uma forma de extensão e de representação da/ Personalidade
masculina. Enfim, quer ao rapaz quer à rapariga, o carro ~te uma intimidade tanto mais
procurada quanto mais
SEX

eles se aproximam da/maturidade, ao mesmo tempo que os conduz juntos para longe dos
olhos dos adultos.

0 amor terno

As diferentes manifestações sexuais que acabam de ser sumariamente descritas têm, as mais
das vezes, um carácter egoísta: o sujeito procura unicamente a sua própria satisfação.
0 parceiro representa uma fonte de/prazer ou de curiosidade. 0 rapaz, sobretudo,
dominado pelo espírito de/competição na conquista das raparigas, maltrata sem custo
estas últimas ao tentar fruir a intimidade física que ele deseja. Uma tal/conduta é mais ou
menos acusada consoante o/meio e o/grupo a que se pertence, mas chega sempre uma
altura em que a/agressividade do macho parece passar por um renovo de vivacidade e de
força, tornando-se a perseguição mais ardente, as tentativas mais audaciosas e
espalhafatosas.

Novo, absoluto, exaltante: é o amor ter Todavia, mais cedo ou mais tarde, este/
comportamento primitivo desaparece para ceder o lugar a um sentimento novo que vai
transformar o jovem. Ele apercebe-se de que algo de insólito acaba de entrar na sua vida;
sente-se de repente cheio de ternura por uma rapariga que o acaso o levou a encontrar.
Está preocupado em conservar o objecto do seu/amor, deseja ardentemente que ela e ele
se pertençam um ao outro de uma maneira exclusiva. Atribui à jovem que ama todas as
qualidades: /idealizada por ele, esta encarna um ser excepcional, ao mesmo tempo
precioso e sagrado, que o enche de um respeito temeroso. Uma tal idealização do objecto
de amor conduz a um requinte e a um enriquecimento da vida sentimental do rapaz.
Arrebata-o um impulso extraordinariamente poderoso -já não se mostra egoísta, mas
pronto a submeter-se ele próprio à vontade do seu/ ídolo - e experimenta um estranho
sentimento de plenitude. É ao mesmo tempo exaltado e/ inibido por este novo amor:
apodera-se do seu coração um singular enlevo que lhe domina as pulsões. 0 seu/desejo
pela bem-amada é mais espiritual do que carnal e ele pode ficar horas junto dela sem se
aventurar à minima tentativa de contacto sexual. Este sentimento de amor terno assinala
uma reviravolta no rapaz: a elaboração da masculinidade começou realmente. Ele deverá
ainda, para acabar o seu ,1 desenvolvimento, passar deste amor demasiado idealizado a
um verdadeiro amor feito, ao mesmo tempo, de ternura e de sexualidade. É assim que o
amor temo precede frequentemente a experimentação /heterossexual. Em todo o caso, é
fácil observar na/adolescência quanto o facto de estar apaixonado ou de ser amado por
outrem põe em evidência os traços masculinos ou femininos. Para os psicanalistas
partidários da potencialidade bissexual, esta evolução indica que as tendências femininas
458 0 desenvolvimento da sexualidade

do rapaz foram atribuídas à rapariga, objecto do seu/amor, e reciprocamente; estas


tendências podem agora ser partilhadas em virtude de os parceiros se pertencerem
mutuamente.

0 adolescente: um mãgico que idealiza aquilo que ama A idealizaçâo do ser amado
corresponde a uma/necessidade muito acentuada nesta idade, à recusa do meio-termo, à
constante procura do/absoluto. 0/idealismo da juventude é bem conhecido e constitui uma
das características mais notáveis da segunda/;<adolescência: ele é acompanhado por uma
convicção ardente, por um entusiasmo e um espírito de sacrifício, tanto na defesa de uma
ideia ou de um sistema como nos sentimentos experimentados pelo ser amado. Se a
realidade interromper brutalmente estes arrebatamentos, podem aparecer,,xatítudes
simultaneamente /cínicas e /pessimistas que não duram: o idealismo não tarda a cobri-Ias.
Certos jovens/ delinquentes mostram-se capazes de violar em grupo, sem piedade,
determinadas raparigas a quem eles dão um r,oine desdenhoso, ao mesmo tempo que
conservam um terno amor por uma rapariga eleita à qual seriam incapazes de faltar ao
respeito. As relações/ sexuais verdadeiras, por exemplo, como acontece por vezes, o
encontro com uma/prostítuta, em nada mudam esta efervescência de sentimentos turvos
donde parte como uma flecha um formidável impulso para o ideal. A afirmação da
sexualidade masculina no acto sexual não traz geralmente solução ao /conflito/;<
emocional que, pelo contrário, se acha quase sempre agravado pelo sentido de culpa.

A menstruação

Para a rapariga, o acontecimento capital da/puberdade é a/menstruação. Trata-se de um


fenômeno novo que determina reacções psicológicas numerosas e variadas. As mulheres,
em geral, não gostam muito de falar das suas/regras, e são frequentes os exemplos de
mães que falam de boa vontade às filhas sobre a concepçã o, a gravidez e o parto, mas as
deixam na ignorância no que se refere à menstruação. Apesar de tudo, constitui um caso
rarissimo a criança ficar absolutamente surpreendida com este corrimento sanguíneo: por
um lado, ela foi informada por/amígas, por,,,,<colegas mais velhas ou já menstruadas, e,
por outro lado, apercebeu-se muito cedo das indisposições mensais de sua/mãe,
da/atenção com que

Procura ocultar o seu estado e do silêncio que observa a tal

Tudo isto fez germinar no espírito da rapariguinha, inca- ~-de entender a -natureza real
das coisas, toda uma série de interVre~ ima~as e fantasistas. No início da puberdade,
quando
1v400~ sabe muito bem que vai «tornar-se crescída», todas
0~ intUPM~es infantis despertam para suscitar uma certa an-
8~ qw & idOia de Sangue, de ferimento, de laceração interna só
SEX

contribuem para ampliar. Tem-se falado muito do abalo/psicológico que causariam as


primeiras regras. Parece no entanto que o traumatismo foi exagerado e que ele é muito
menos frequente do que se disse; todavia, a maneira como este sinal evidente de
/feminilidade é aceite pode variar consideravelmente segundo os indivíduos.

Da revolta à aceitaç passando pelo embaraço o pelo aborrecime Algumas raparigas tomam
uma/@¥atitude de negação total, insurgem-se contra esta nova servidão que lhes parece
injustificada e recusam-se a reconhecê-la. Declaram, em jeito de desafio, que não querem
deixar-se aborrecer por essa «história», negam a sua indisposição, não muda nada na sua
maneira de viver e, ao invés, entregam-se com frenesi a / desportos / violentos durante as
suas / regras. Uma tal/reacção é característica da rapariga arrapazada que recusa a sua
feminilidade. A persistência de uma atitude mental deste género pode conduzir à/
homossexualidade. Noutras adolescentes, o corrimento sanguíneo, as manchas nos lençóis e
na roupa interior evocam algo de sujo e repelente que se estende aos órgãos sexuais
femininos. Obsidia-as o odor adocicado dos mênstruos, o processo /fisiológico afigura-se-
lhes obsceno, exageram os cuidados corporais de higiene, especialmente no que toca aos
órgãos genitais. Limpam minuciosamente qualquer mancha. A implacável periodicidade do
ciclo menstrual pode também desconcertar certas raparigas que se dão conta de que,
doravante e durante longos anos, serão vítimas deste retorno incómodo. 0 facto de se
considerarem como vítimas, sustentado por um certo/masoquismo inerente à mulher, pode
provocar, por reacção, um sentimento de antagonismo relativamente ao macho que não é
afligido por um tal infortúnio e que também não sofre de nada que sqJa equivalente, ao
mesmo tempo que um./desejo, bastante frequentemente encontrado, de mudar de/ sexo.
Este antagonismo para com o sexo masculino conduz por vezes a jovem a um sentimento
de repulsa era relação aos rapazes da sua idade, que ela recusa contactar e, mais tarde, à
frigidez; isto tanto mais quanto a hemorragia das regras lembra a de uma ferida e quanto
pode assim despertar angustiantes fantasias infantis nas quais a relação sexual é imaginada
como um acto de violência: o que exagera ainda mais o medo da/ heterossexualidade.

Por vezes, e sobretudo quando as primeiras regras sobrevêm cedo, a menina ainda muito
nova encontra um expediente cómodo para explicar este fenômeno /fisiológico que a
mergulha no embaraço. Considera-o como uma simples doença pela qual não é de modo
algum responsável, de que será ternamente tratada e de que se curará sem sombra de
dúvida. A/menstruação, graças a este artifício
460 0 desenvolvimento da sexualidade

mais ou -menos consciente, perde ao mesmo tempo o seu carácter sexual e tudo o que ela
pode apresentar de inquietante para o futuro.

Em alguns raros casos, a menstruação pode provocar, nas adolescentes predispostas e


muito mal preparadas pelas circunstâncias, acidentes/ neuróticos e perturbações
/depressivas que conduzem a tentativas de autodestruição. Havelock Elliso descreveu o
caso 0 Havelock Ellis:
de uma rapariguinha que queria,,0 suicidar-se porque tinha uma
psicólogo inglês. célebre pelos seus

trabalhos sobre «doença desconhecida». Certos autores, como Daly e Chadwick a psicologia sexual

e sobre os sonhos. pensam que um dos obstáculos à aceitação normal, tanto na mulher como na

adolescente, da menstruação provém do facto de ela ter estado e continuar a estar em


muitos povos associada a ideias de perigo, de vergonha e de/pecado, que permanecem
enraizadas no inconsciente colectivo. A mulher ou a rapariga indispostas eram de facto
consideradas como um perigo público, um sinal nefasto; atribv,íam-se-lhes poderes
maléficos de bruxas: «Elas arruinavam as colheitas, diz-nos Plínio, faziam murchar os
jardins, estragavam as sementeiras, faziam cair os frutos das árvores, matavam as abelhas,
faziam abortar as éguas. Se tocavam no vinho, ele transformava-se em vinagre, o leite
azedava ... »

As adolescentes que, na infânci a, viveram sem/conflito a sua própria/ feminilidade


aceitam habitualmente as primeiras /regras de uma maneira favorável que facilita uma
/identificação saudável e positiva com a mulher adulta. Ao mesmo tempo, a menstruação
anuncia a possibilidade da gravidez. «Quando estudávamos, diz Hélène Deutscho, os
fenômenos /psicológicos associados à pri- 0 Hélène Deutsch:

meira menstruação, apercebemo-nos de que todas as meninas, de


édica psicanalista. autora dne

Psychology of Women (Nova lorque, 1944, uma ou de outra maneira, se vêem confrontadas nesta época com tra~ido

em francês o problema da reprodução. Pela primeira vez no/ desenvolvimento pelas


Pressas universitaires da rapariguinha encontramos a dupla função da mulher enquanto de Franca).

criatura sexual e servidora da espécie. Qualquer que tenha sido a preparação psicológica da
rapariguinha para este papel de servidora da espécie, está fora de dúvida que no momento
das primeiras regras a sua vida imaginativa se volta vivamente para a função de
reprodução.»

Com a menstruação inicia-se uma mudança de comportamento É assim que a menstruação


pode tornar-se a força organizadora das fUnÇOCS mentais e/emotivas da adolescente, ao
mesmo tempo que ]”na nova CstiMulação do processo de evolução e de maturação. ~ das
primeiras/ regras, a rapariga acha-se amiúde desorganizada> à beira quer da/revolta quer
das lamentações, mas quase
9~ incapaz de explicar a sua própria inquietação a si mesma ou aos outros. Depois de
menstruada, ela tende a tornar-se mais lógica nos seus processos mentais melhor
organizados. 0 seu/ com-
SEX

portamento é mais ponderado, passou a ser mais capaz de exprimir a sua natureza. Mas o
efeito principal da/menstruação é normalmente o de incitar a rapariga à completa
consciência da sua própria /feminilidade. A,,,, agressividade nas relações com os rapazes,
característica da pré-adolescência, cede o lugar a/atitudes mais doces e mais reservadas.

* / masturbação

* masturbação, também chamada onanismo*, é tão frequente na adolescência que podemos


considerá-la como a/actividade /sexual típica deste período da evolução humana. A
masturbação por volta dos 16 anos é praticada, segundo Kinsey, por 92 %. dos rapazes e
72 %. das raparigas, segundo Kirsch, por 38 % dos adolescentes e, segundo Dickinson e
Pierron, por aproximadamente 42 %. Esta satisfação genital/auto-erótica, principia logo
na pré-adolescência. Ela provoca sensações variadas que vão desde a simples acção
apaziguadora ao orgasmo propriamente dito, com subida gradual do nível da / excitação e
da / tensão. Mais frequente no rapaz do que na rapariga, este costume foi precedido tanto
num como na outra por todas as experiências auto-eróticas da infância de que falámos
atrás* e que se incluem no conjunto designado por «pré-genitalidade». 0 acto
masturbatório associa progressivamente as pulsões pré-genitais à genitalidade, ligando-se
cada vez mais a satisfação à finalidade genital -aspecto este que é incontestavelmente
positivo.

A sexualidade do rapaz acha-se imediatamente e evidentemente associada ao órgão


masculino. A excitação sexual conduz à erecção e à ejaculação: é por isso manifesto o laço
existente entre a estimulação e a reacção genital. A rapariga, ao invés, não observa
qualquer mudança no seu próprio corpo, mas a disposição anatómica dos seus órgãos
permite-lhe obter sensações/ eróticas por simples compressões musculares, por posturas,
diversas, pelo simples facto, por exemplo, de se sentar sobre o braço de uma poltrona ou
de montar a cavalo. Assim, a masturbação pode tomar na rapariguinha formas muito mais
indirectas ou camufladas do que no rapaz. Nada existe nela que possa ser comparado à
descarga do órgão viril, a/tensão é muito menos estritamente localizada, a /excitação e a
acalmia podem mesmo ter lugar independentemente do controle da consciência. Isto
explica sem dúvida o facto de em geral, segundo Kinsey, 90 %. do „s rapazes conhecerem
já o orgasmo aos 15 anos de idade, contra apenas 25 „/. das raparigas. Seja qual for a
exactidão destes números, que não têm certamente senão um valor relativo, a iniciação e a
satisfação/ eróticas, fenómenos Característicos da/ adolescência, desempenham um papel
complexo

e Do nome de Onan personagem bíblico condenado a morrer p ter deixado cair no sol o seu sêmen a tim de deixar descendência,
0 sentido usual atribu ao onanismo não tem portanto, na realidade qualquer relação com «crime de Onan».

Ver página 441.


462 0 desenvolvimento da sexualidade

na evolução da sexualidade. A/masturbação é o meio mais acessível ao adolescente de


resolver tensões tornadas demasiado pesadas, mas ela faz-se acompanhar de sonhos e de
fantasmas de conteúdo variado que se encontram constantemente ao longo de toda a
duração deste período da vida. Age não só no plano físico, mas também, e sem dúvida
mais ainda, no plano psíquico.

A masturbação: uma reacção de defesa contra a ansiedade É decerto uma instância


positiva que mobiliza inicialmente o indivíduo, é a necessidade de tomar consciência do
seu/ sexo, a de lutar contra uma tensão física insuportável, o/desejo de se afirmar e de
procurar uma satisfação após muitas desilusões c/frustrações. A masturbação constitui
incontestavelmente uma/reacção de defesa contra a inquietação e a/ansiedade, essas duas
companheiras demasiado fiéis da vida psíquica do adolescente. As dificuldades
de/adaptação ao/meio/social, que são com excessiva frequência multiplicadas pelo
/comportamento dos adultos, fazem por vezes nascer impressões de solidão,
de/aborrecimento e estados/ depressivos que o adolescente procura compensar pela
satisfação momentânea que pode livremente dar a si mesmo. Todas as formas de
frustrações, todas as espécies de desilusões e de desenganos podem encontrar remédio no
gozo solitário que compensa a pena suportada, ao mesmo tempo que proporciona uma
deleitável vingança sobre os adultos -muitas vezes responsáveis por esta pena-, porque um
tal gozo é proibido por eles. As frustrações sofridas na/escola ou no/grupo impelem à
mesma/conduta: busca do/-«<prazer, afirmação da sua própria autonomia, desforra sobre
os adultos, evasão do/conflito. Pôde-se assim estabelecer que a frequência das
masturbações aumenta na altura da afixação dos resultados escolares; as más notas -
sobretudo se forem julgadas injustas - aumentam-na também, do mesmo modo que a
perda de um / amigo ou uma disputa com um / colega. A falta de informações exactas
sobre a sexualidade e a função de reprodução, as noções fragmentárias e muitas vezes
fantasistas que têm sido recolhidas ao acaso, a/atitude embaraçada dos pais e dos adultos
diante de certas perguntas, o mistério que demasiadas vezes rodeia os fenômenos sexuais,
tudo isto pode perturbar o adolesCente submetido a pulsões instintivas, aguçar a sua
curiosidade C prOVOCar Uma inquietação que se resolve no onanismo. As cen-
9~ o os interditos não têm outros resultados além do que fixa-

a/atcUÇãO sobre o/sexo, o qual adquire deste modo urna

a os jovens a entregarem-se a explono caso dos rapazes, a pôr à prova em comum com
companheiros do ou do outro sexo.

„0,0~0 de copiar 0/Comportamento dos adultos, de os imitar


SEX

pelo menos exteriormente, intervém fortemente em tudo o que se refere à sexualidade, sem
dúvida porque é justamente o assunto sobre o qual pesam mais severamente as limitações
e as convenções/sociais. Quando o controlo assim exercido sobre si mesmos se torna
insuportável e humilhante, alguns libertam-se secretamente dele através da/masturbação,
que reveste então o aspecto de uma manifestação de autonomia e de afirmação de si.
0/«complexo de castração», que pode renascer dos antigos temores
infantis, impele por vezes a procurar a confirmação do intacto valor dos órgãos genitais. A
vida que é imposta ao adolescente na sua/família, na/escola ou no/,,grupo não leva
suficientemente em conta, num grande número de casos, as suas/ necessidades e os seus
interesses; ela não fornece exutórios adequados à sua/agressividade. Num tal contexto, o
sujeito permanece insatisfeito, porque trasborda de energias física e psíquica que se mantêm
inutilizadas. A busca do/prazer torna-se então de certo modo imperativa não
tanto pelo gozo em si mesmo, inas porque ele constitui a única satisfação tangível que
ninguém pode comprometer ou suprimir. A componente/ imaginativa, que o acto
masturbatório nunca deixa de comportar, fornece neste caso uma evasão suplementar no
sonho. A imitação dos/colegas que se masturbam é muito amiúde determinante, sendo o
proselitismo em tal matéria excessivamente frequente, não por causa de uma precoce
/perversidade, mas em virtude da procura de uma participação colectiva. Nos /internatos,
este tipo de masturbação colectiva está muito propagado, e não é ra-o uma tal prática
revestir unia forma/ritual, efectuando-se regularmente a hora fixa e segundo um cerimonial
particular.

É ceito que não nos podemos limitar a condenar o onanismo considerando-o unicamente
do ponto de vista/moral. Foi por examinarem o problema a esta luz que, durante muito
tempo, alguns /pais e/educadores mal informados julgaram dever empreender a luta contra
o/auto-erotismo ameaçando os culpados de impotência, de deficiências/ intelectuais ou até
de loucura. As ameaças desta ordem culminavam normalmente num resultado
completamente oposto ao procurado, pois o/medo, o receio e a/angústia assim
provocados não podiam apaziguar-se senão pela repetição dos actos incriminados e
inclusive pela sua recrudescência. De facto, no plano físico, é hoje admitido por toda a
gente que a/masturbação não acarreta qualquer dano.

A masturbação é sempre de natureza conflit Mas, no plano psíquico, a masturbação entra


em/conflito com o superego e provoca assim intensos sentimentos de/ culpabilidade.
Muitas vezes, recorre-se a toda uma série de/ritos expiatórios e de mortificações diversas
para tentar vencer ou recalcar este senti-
464 0 desenvolvimento da sexualidade

mento de estar em falta. Alguns sujeitos convencem-se de que lhes acontecerá algo de
desagradável -um acidente de viação, por exemplo, ou uma queda dolorosa- todas as vezes
que se masturbarem. Muitos reagem a esta insuportável consciência de culpa buscando
a/punição que pensam merecer e voltam a mergulhar no seu vício para melhor a
garantirem. É amiúde em raparigas ou em rapazes/ inteligentes e bem dotados que se
manifesta com mais acuidade uma tal espécie de/ansiedade ligada ao onanismo, porquanto
uma inteligência mais aberta aumenta o poder de/imaginação ao mesmo tempo que a,-<
sensibilidade/ moral. Pode estabelecer-se assim uma alternância entre a falta e a expiação
que leva a um mecanismo repefitivo capaz de durar anos. Todavia, perto do final da/,@
adolescência, quando a raaturação se tornou suficiente e o sujeito está nitidamente
orientado para a /,,heterossexualidade, a masturbação afigura-se-lhe cada vez mais um
artifício/ anormal, uni detestável sucedâneo da/actividade genital autêntica e, em suma, um
desperdício de energia/erótica desviada do seu objectivo verdadeiro. Ele crê insultar a
dignidade do seu pióprio sexo entregando-se ao auto-erotismo, julga que estas práticas
degradantes lhe proibem ser verdadeiramente um adulto, sente uma penosa desvalorização
da estima por si mesmo. Mas a humilhação assim experimentada e a sensação de
inferioridade que daí decorrem impelem-no inconscientemente a consolar-se e a resolver
este conflito procurando de novo o/prazer que ele reprova. Seja qual for o ângulo segundo
o qual a encaremos, a masturbação desemboca, portanto, quase sempre, numa alternativa
de acções e de/reacções que conduz à repetição. Nã o é apenas uma imagem dizer, nestas
condições, que o homem se torna prisioneiro do seu vício. Ele é-o realmente. Mas não é
só por causa da noção de falta que ela produz que a masturbação age sobre o psiquismo
de adolescente. Com efeito, o acto físico faz-se sempre acompanhar de fantasmas
susceptíveis de exercer uma influência ainda mais nociva sobre a forniação da
/personalidade. 0 masturbador imagina-se simultaneamente objecto e sujeito, activo e
passivo, homem e mulher; a representação de si, tal como a do mundo exterior, tem
portanto tendência a tornar-se flutuante, e arrisca-se a fixar-se um estado bissexual que
pode entmvw gravemente a/,” identificação/ sexual autêntica. Praticado ,2~ condi~ de
uma maneira habitual e duradoura, o onanismo ~-OntÃO levar à perda de todo o interesse
pelo mundo exterior, k , ....-Nio narcislaco em si mesmo, embelezado por ricas e sedu-

t 11 “-Um~ tantaslnáticas. 0/auto-erotismo confere assim uma WA~110 ~Plcta, o sujeito


já não procura noutro lado uma q~ Cons~o, o/infantilismo perpetua-se, a evolução o~ da
sexualídade acha-se bloqueada.
SEX

Este encadeamento de estados contraditórios que levam à repetição compulsiva do acto


masturbatório não se encontra, aliás, de modo algum destruído nos próprios indivíduos que
nunca ninguém ameaçou de/punição ou tentou desviar de tais práticas. Educados em /
famílias ditas «modernas», aprenderam, pelo contrário, da boca dos seus/pais que
a/masturbaçâo não pode prejudicá-los, que ela é normal e que toda a gente se entregou a
ela. Deu-se-lhes assim a liberdade de agir a seu bel-prazer, e, aparentemente, o onanismo
não provoca nestes adolescentes/ conflitos conscientes nem sentimentos de/ culpabilidade.
Mas não passa de um aspecto exterior das coisas, já que a análise dos seus sonhos e dos
seus actos mostra que esta/segurança não é real. A/educação que eles receberam apenas
separou o acto físico do fantasma que o acompanha, e os dois elementos evoluíram
posteriormente de uma maneira distinta. Os sentimentos de culpabilidade são então
causados por fantasmas de típo/anoimal. Fica assim demonstrado que a masturbação, ainda
que não entre em conflito com o superego, se mantém sempre de natureza
conflitual. Apesar de tudo, na imensa maioria dos casos, durante a/adolescencia
propriamente dita, o sexo oposto é gradualmente assumido como objecto no fantasma:
assim, a evolução para a/heterossexualidade já se não acha comprometida, irias
favorecida. A masturbação, graças a uma pseudo-actividade/ imaginária, torna-se
susceptível de encetar e de facilitar uma evolução normal da sexualidade ad(-lescente; ela
pode deste modo ser considerada como um estádio normal da maturação psicossexual do
indivíduo, uma fase de transição que vai desembocar na experiência heterossexual e, por
conseguinte, contribuir para a consolidação definitiva da/personalidade. «A/masturbação
infantil, diz Marie Bonaparteo, # Discipula a tradu‟ é uma etapa necessária

no/desenvolvimento libidinal de qualquer de Freud.

ser humano. Ela está para a sexualidade adulta acabada como o jogo para a/ actividade/
social adulta: representa uma preparação e um treino.» Cessa por si mesma quando a
fixação /heterossexual se estabelece; o estado amoroso, o/amor terno por uma pessoa
/idealizada do/sexo oposto fazem-na desaparecer.

0 facto de se encarar o onanismo, do simples ponto de vista de uma /moral puritana, como
um vício que importa a todo o custo abolir, ou ainda como uma vergonhosa depravação,
seria um erro perigoso e grosseiro. Certos sujeitos atingidos pela/neurose masturbam-se
freneticamente, mas um tal/comportaniento é a consequência da neurose e não a neurose
do comportamento. Há, decerto, adolescentes viciosos que se masturbam, mas eles não se
masturbam por serem viciosos. Convéni, pelo contrário, insistir na natureza defensiva da
masturbação, e é por esta razão que ela é tão frequente na adolescência, período de
intensos/ conflitos. Não é portanto
PA-3o
466 0 desenvolvimento da sexualidade

oportuno nem legítimo ameaçar ou/punir: uma tal/atitude não pode senão agravar uma
situação responsável pelo mal. Os/pais, os/educadores e o/psicólogo devem de preferência
esforçar-se por acalmar a inquietação, a/angústia e a insegurança do adolescente,
procurando do mesmo passo canalizar a/tensão psíquica para centros de interesse reais e
apropriados, de maneira a que ela possa resolver-se sem passar pelo/ auto-erotismo.
Poder-se-á apelar para a estima por si e para o sentido da dignidade pessoal que existe em
qualquer sujeito normal, com muitas probabilidades de obter a redução de tais práticas.

Evolução das relações entre os sexos

Para além de todas as preocupações estritamente sexuais, é interessante observar os


diferentes tipos de/relaçõ es que se estabelecem entre os rapazes e. as raparigas nas
diferentes épocas da vida. Durante os dois primeiros anos, não existe, por assim dizer,
relação alguma, o recém-nascido, macho ou fêmea, /egocêntrico, permanece demasia-do
concentrado sobre si mesmo para que o mundo exterior, de que ele ainda não tem uma
noção bem definida, possa interessá-lo de outro modo que não seja na medida em que
satisfaz as suas próprias/ necessidades. Ao longo da segunda infância, dos 2 aos 6 anos, os
sujeitos de ambos os sexos aprendem pouco a pouco os/jogos colectivos e começam a
brincar juntos, geralmente sem distinção de sexo. As diferenças anatómicas de que eles se
aperceberam não têm consequência alguma no plano social; os rapazes e as raparigas
interpretam indiferentemente papéis masculinos ou femininos de uma maneira/ ambivalente,
ou seja, sem terem em conta o seu próprio /sexo. Num terceiro período que corresponde à
idade da/escola primária, as raparigas e os rapazes principiam a brincar separadamente,
mesmo quando as aulas são mistas. 0 carácter dos/jogos toma-se então diferente conforme
o sexo, sem dúvida porque passam a ser diferentes, simultaneamente, os interesses,
as/capacidades e as/aptidões físicas. Estas capacidades e estes interesses devem aliás ser
largamente função da / educação recebida na / fainília, isto é, no fundo, do sexo psico-
afectivo, bem como da/ identificação com o progenitor de mesmo sexo que influi no mesmo
smtido. Podemos então perguntar o que advirá se se generalizar a a~ tendência para um/
comportamento idêntico dos dois sexos, pam uma maneira semelhante de vestir e de
trabalhar. Decerto que :M Verá então os jogos permanecerem comuns e ambivalentes. ---M
altum da fase pré-púbere, o interesse pelos jogos torna-se menos
~Vàvo, as/amizades com sujeitos do mesmo sexo começam a
1,0~ um enorme importância, o rapaz e a rapariga sentem-se ~0 difa=tes um do outro e há
tendência para surgirem uma
SEX

verdadeira hostilidade e um desprezo recíprocos. Os rapazes manifestam a


stia/agressividade através de -partidas maldosas que pregam às rapariguinhas da sua idade,
e estas, quando estão em /grupo, metem de boa vontade os seus companheiros a ridículo e
troçam deles. Durante a/puberdade, as pulsões sexuais dão uma nova tonalidade às
relações entre os dois sexos. Contudo a incapacidade de resolver estas pulsões com as
raparigas que deseja, mas que ao mesmo tempo teme, exagera geralmente no rapaz a
hostilidade relativa ao outro sexo, para o qual pode inclusive transferir os sentimentos de/
culpabilidade provocados pela /masturbação. A rapariga, que/ idealiza muito mais as suas
próprias pulsões, fica muitas vezes melindrada com o comportamento agressivo do macho
e, do mesmo passo, cresce, também nela, a hostilidwie. Na fase terminal da,,<
adolescência e na pós-adolescência, o interesse pelo sexo oposto toma-se predominante a
ponto de extinguir a hostilidade preexistente. É o momento do/amor terno que apaga toda
a oposição em proveito de um abandono e de uma idealização recíprocas.

Os factores socíoculturais podem ser mais importan

do que os factores bio169L Se quisermos apreciar bem o curso irregular destas relações
entre os sexos segundo o grau de maturação dos sujeitos, torna-se evidente que não
intervêm simplesmente,os factores biológicos, mas também outros factores -/psicológicos,
/familiares e/sociaisque interferem amplamente chegando a desempenhar muitas vezes o
papel preponderante. Mais tarde, quando a atracção/sexual e sentimental se concretizou na
união do homem e da mulher, estes últimos factores estão muitas vezes longe de se
acharem completamente apagados, antes pelo contrário: os seus traços permanecem
indeléveis. De facto, basta por vezes uma divergência mínima de /opinião ou um litígio
sem importância para que os dois esposos ou amantes se defrontem violentamente,
reencontrando logo as censuras e as acusações sobre as quais, durante a infância e a
/adolescência, se fundava a hostilidade entre os sexos.

Sem querer negar nem as qualidades nem as prerrogativas tanto psicológicas como
biológicas que são inerentes a cada um dos sexos, parece evidente que a nossa/cultura
continua a dar provas de uma tendência muito acentuada para os separar radicalmente.
Existe sem dúvida alguma na infância um estádio normal de intersexualidade que
corresponde a um quadro psíquico/ ambivalente que talvez fosse possível aproveitar para
desenvolver uma harmoniosa compreensão entre os sexos. As mais das vezes, pelo
contrário, a/ educação/ familiar é rigorosamente especializada, as raparigas e os rapazes
são educados segundo as características do seu sexo.
468 0 desenvolvimento da sexualidade

Não é raro ir-se ainda mais longe: assim, a/mãe desiludida nas suas/aspirações conjugais
pode, consciente ou inconscientemente, fazer nascer na sua filha a hostilidade para com os
homens, causas primordiais da desgraça das mulheres; o /pai pode conduzir-se da mesma
maneira com o filho no que diz respeito às mulheres. Tais/atitudes são tanto menos raras
quanto existe, em especial nos países latinos, um pendor tradicional e recíproco para
denegrir o sexo oposto. Pode explicar-se deste modo a incompreensão mútua.
0 homem desprezará a excessiva /emotividade das mulheres, a sua/vaidade, o
seu/coquetismo, a sua/afectividade demasiado expansiva, a sua fraqueza física; a mulher
replicará invocando a /agressividade do macho, o seu egoísmo, o seu/desejo de se afirmar
a todo o custo, a sua falta de/ sensibilidade e de finura, os seus interesses/ sociais
ou/culturais exteriores à vida do casal. Assim se opõem, num antagonismo estéril,
tendências feitas para se completarem.

A homossexualidade

Qualquer indivíduo possui os dois sexos em potência, mas normalmente só se desenvolvem


os órgãos de um deles, atrofiando-se, pelo contrário, os órgãos do outro. As pulsões
sexuais que se manifestam na/ adolescê ncia, a princípio imprecisas na sua finalidade,
orientam-se, após um tempo de oscilação, para a/heterossexualidade e são finalmente
integradas no ego: fixa-se assim a noção de identidade sexual, a masculinidade ou
a/feminilidade. Aliás, o termo de uma adolescência normal equivale à formação de um
homem ou de uma mulher.

0/homossexual. verdadeiro não pode satisfazer as suas pulsões sexuais senão com um
parceiro do mesmo/sexo. Admitida em certas/sociedades, condenada noutras mau grado o
snobismo que por vezes intenta fazê-la passar por um requinte, a homossexualidade
dificilmente pode ser considerada outra coisa que não uma doença ou uma depravação,
visto que se trata, afinal de contas, de um acto/fisiológico desviado da sua finalidade:
doença no caso do homossexual verdadeiro que procura exclusivamente o mesmo sexo,
dCPravaÇão no caso de César, «o marido de todas as mulheres e a mulher de todos os
maridos».

Vimos que existe na adolescência um período de indecisão, de /ambiva"cia, durante o qual


os sujeitos se orientam para o mesmo SMO- As/a~cs tão frequentes e tão procuradas num
dado @lunt<> ~ o/amigo do mesmo sexo, o confidente íntimo que
90 ídc~ 0 sc admira, revestem muitas vezes um apego passional MaiS OU MMOS
CrOtizado. É a fase dita «da, homossexualidade» que
SEX

coincide com o período durante o qual o antagonismo entre os dois sexos é mais forte,
não. sentindo tanto os rapazes como as raparigas senão aversão e repugnancia profundas
pelos seus/camaradas do sexo oposto, precisamente por causa das características
dessoutro sexo. Quando estes laços sentimentais entre dois adolescentes ou duas
adolescentes se realizam numa comunidade, por exemplo o/internato de um colégio, é fácil
eles conduzirem a prá-. ticas de homossexualidade. Segundo Kinsey, 7 %. dos adolescentes
americanos teriam relações deste tipo. Convém no entanto esclarecer que se afigura
extremamente raro que tais relações ultrapassem o estádio da/masturbação a dois,
provavelmente por causa da relativa inexperiência dos indivíduos ou ainda por causa do
nojo provocado pela trivialidade dos contactos sodómicos ou lésbicos. Seja como for, as
estatísticas demonstram que estes exercícios homossexuais são mais frequentes nas
raparigas do que nos rapazes. É bastante difícil encontrar explicação para isto. Certos
autores aventaram que a homossexualidade é uma tendência mais natural na mulher do
que no homem, e não há dúvida de que, em caso de delito, os tribunais são menos severos
para as mulheres. Pierre Louys* chegou mesmo a sustentar que, sendo a mulher feita para
o/amor, o casal composto de duas mulheres constitui o casal 0 Pierre Lougs. escri,
ideal. Há com certeza certos factores inerentes à/personalidade romances
da Belle Époque, autor

carregados d feminina que intervêm: por exemplo, o seu/narcisismo funda- erotismo


edulcorado. mental, as zonas erógenas, mais difusas nela, a sua complacência em admirar,

considerar e apalpar as suas próprias formas e as das suas companheiras, a sua maior
aversão pelo/sexo forte, ligada a um mecanismo ancestral inconsciente de defesa contra a
agressão do macho.

A maior parte das vezes esta fase de/ homossexualidade que o adolescente atravessa, se
bem que possa ser acompanhada ou não de homo-erotismo, difere no entanto da
homossexualidade verdadeira do adulto invertido. É quase sempre uma etapa passageira
de/ambivalência que precede as pulsões para a/heterossexualidade e a fixação da
identidade sexual verdadeira. Todavia, a intervenção de um adulto pervertido pode ser
nesta altura particularmente perigosa. Diferentes tipos de/conflitos podem acarretar uni
bloqueio nas posições homossexuais. Mas, geralmente, um tal bloqueio reduz-se com o
tempo. Trata-se muito mais amiúde de um atraso na/ identificação sexual do que de uma
fixação homossexual autêntica.

A homossexualidade verdadeira não existe durante a adolescênc É, pois, afinal, muito raro
o adolescente ou a adolescente serem unicamente homossexuais e manterem-se assim
quando adultos, embora uma tal evoluçã o se encontre em certos casos. As causas disto
470 0 desenvolvimento da sexualidade

são numerosas e variadas. A vontade de ser uni rapaz, supercompensada pelo desprezo
para com o macho, impele a rapariga a agir como um rapaz relativamente às outras
raparigas; de igual modo, o apego demasiado exclusivo à/mãe pode induzir um
comportamento de dependência e de submissão pueris que a presença da bem-amada
cumula de satisfação, A identificação do rapaz com a mãe, o medo das mulhetes
castradoras e devoradoras, a sumária assimilação de todas as mulheres à mãe,
permanecendo as relações sexuais privilégio do/pai, todos estes factores e muitos outros
são susceptíveis de agir negativamente. 0 despertar das vicissitudes particulares que outrora
o/complexo de Edipo conheceu, bem como a/atitude dos/pais, favorecem também episódios
homossexuais, tanto nas raparigas como nos rapazes. Não é possível prever qual será a sua
ressonância sobre a formação irreversível da identidade sexual que a/puberdade deve
efectivar. É apenas entre os 18 e os 20 anos, ou seja, duiante a/adolescência tardia, que a
identidade sexual se toma definitiva, e só nesta altura é lícito avaliar os estragos.
«Entre os dezoito e os vinte anos, diz Spiegel, pode-se supor que a escolha patente está
feita: em todo o caso, pude observar que um grande número de rapazes homossexuais
c@omeçam nesta época a ver-se como homossexuais permanentes.» E possível dizer, em
conclusão, que a/ homossexualidade verdadeira se prepara, mas não existe, durante
a/adolescência.

As relações heterossexuais

0 amplexo do homem e da mulher constitui o acto sexual normal. Esta união do macho e da
fêmea que garante a perenidade da espécie encontra-se em todo o reino animal, mas, no
bicho, o instinto /sexual é simplesmente a consumação/ fisiológica de uma função. Na
evolução do bicho, não existe período de integração, controle das pulsões, numa palavra,
nada existe de comparável à adolescência.
0 instinto inato e imperativo realiza-se segundo/ritos diversos, mas sempre idênticos, no
interior de uma espécie; parece até que a copulação não é acompanhada em todos os
casos de uma sensação de/prazer.

0 acto sexual toma, em todas as sociedades, um carácter social No caso do homem, o


psíquico intervém de modo preponderante na sexualidade, e o acto sexual toma um
carácter ;<social. A melhor PirOva disso é que, em todas as sociedades, incluindo as mais
primfflv^ sc encontra um certo número de regras ou de leis, de cost~ Ou de Práticas que
fixam a maneira como se efectuam as rela- ~`1~ -C 0/Caffimento. Estes modelos
imperativos de/,< comPortwnento vi~ impor o respeito por-/valores comummente
ãdMitídOS iffiliMa dada/sociedade: cada membro desse/grupo
5~ acha-se constrangido a respeitar as normas específicas da
SEX

/cultura de que faz parte, deve aceitar toda uma série de/atitudes, interditos e /tabus,
dobrar-se aos diversos ritos e cerimónias, se quiser ser integrado na tribo e encontrar o
seu lugar legítimo na vida comum.

Se biologicamente existem as mesmas pulsões e idênticas/ necessidades em quase todos os


homens, já a maneira de as satisfazer varia consideravelmente. Seja qual for o tipo de
sociedade ou de cultura em questão, o adolescente vai assim ver-se obrigado a con-

ciliar as suas próprias pulsões com as regras admitidas pelo seu

,,,grupo, ainda que deva suportar uma certa violência e as considere incómodas.
Paralelamente, qualquer sociedade procura adaptar seres jovens ao velho e tradicional
sistema cultural e diligencia, mediante uma/educação adequada, por conseguir que eles
controlem as suas pulsões sexuais e/agressivas de uma maneira conforme à única ética
reconhecida como válida pelo maior número dos seus membros. A esta influência/ social
sobre a satisfação das pulsões, acrescenta-se a da natureza de cada indivíduo, do seu
/temperamento, dos seus fantasmas, das suas faculdades imaginativas e sentimentais -e do

seu / sexo.

A sexualidade do homem e da mulher

Em toda a sexualidade humana há uma parte propriamente orgânica, mais ou menos


correspondente ao instinto animal, que leva à reprodução a fim de assegurar a continuidade
da espécie. Todavia, no animal, a/excitação sexual está simplesmente ligada aos órgãos dos
sentidos, ao passo que no homem, por causa do/ desenvolvimento da vida/ imaginativa, a
sexualidade se acha largamente dependente de elementos psíquicos tais como as diversas
funções espirituais e a vida/emocional em particular.

0 instinto sexual é espiritualizado pela ímaginaçi A/,"actividade imaginária que


principia logo na mais tenra infância liga o instinto sexual ao conteúdo inconsciente do
psiquismo. A/;< puberdade reactiva e intensifica este processo. Entre a pré-adolescôncia,
na qual começam a manifestar-se as primeiras pulsões, e o momento em que estas pulsões
poderão ser satisfeitas de uma maneira directa, o intenso trabalho da imaginação e dos
fantasmas integra o conteúdo/,” psicológico no instinto sexual. Produz-se assim uma
espiritualização deste instinto, pela qual poderíamos considerar responsáveis certas
influências sociais. Contudo, se bem que se encontrem na história da humanidade
numerosas sociedades que procuraram auxiliar esta espiritualização de diversas maneiras -
por exemplo erguendo a sexualiadade à categoria de função divina ou, pelo contrário,
apresentando-a como um/ pecado grave-,
472 0 desenvolvimento da sexualidade

parece não haver dúvida, na realidade, de que a influência social vem assim reforçar uma
tendência natural do homem, mas não criá-la.

Vimos que a/idealização do instinto sexual se manifesta num dado momento tanto nos
adolescentes como nas adolescentes. A natureza e a significação do objecto de/ amor
afastarão do jovem todo o aspecto sensual prosaico. No rapaz, este amor terno não dura
em geral muito tempo, antes se reduzindo a um episódio transitório. Com efeito, os
sonhos/eróticos do rapaz são acompanhados por fenômenos genitais evidentes e
localizados, o vínculo entre o/desejo de amor ideal e a/tensão genital torna-se manifesto e o
erotismo permanece durante muito menos tempo separado da sexualidade consciente do
que na rapariga, precisamente por causa das diferenças anatómicas. Assim, quando termina
o/conflito entre as pulsões e os mecanismos de defesa, o instinto sexual masculino parece
largamente independente das suas sublimações, e não é raro a sexualidade masculina
caracterizar-se pelo simples desejo de libertação da/ tensão/ sexual.

Características gerais da sexualidade feminina A sexualidade feminina é muito mais


espiritualizada que a do homem e acha-se submetida a um intenso processo de sublimação.
A vida /emotiva domina o instinto da rapariga, ao mesmo tempo que nela se manifesta
fortemente a tendência propriamente feminina para desprezar as/ reivindicações sexuais
somáticas e para as transfigurar num/desejo de/amor ideal e num/erotismo etéreo. A vida
interior -e sobretudo a vida imaginativa- é muito mais intensa do que no rapaz, e este
ardente investimento, na vida interior, de qualidades emocionais especificamente femininas
serve de exutório às pulsões sublimadas. «Normalmente, as mulheres subordinam
estritamente a sensualidade ao amor ou ao desejo do amor. A/imaginação sensual e o desejo
da sua consumação podem durante muito tempo mostrar-se mais satisfatórios do que
qualquer realização, mais aptos a proporcionar a felicidade, e é assim que se prolonga a
diferença essencial que a adolescente enxerga entre o erotismo e a sexualidade», diz
Hélène: Deutsch. Esta constante e constitucional sublimação enriquece toda a
vida/afectiva erótica da, Mulher, que toma aspectos muito mais variados do que no
homem, “,a sexualidade feminina torna-se assim muito mais complicada C.
10ARitaMOntC mais exigente e difícil de satisfazer. «Esta necessi-
44 de um erotismo sublimado, diz ainda Hélène Deutsch, é tão i"te à alma feminina que as
raparigas que pretendem abster-se & ázaor platónico ideal e se empenham prematuramente
numa rí&~ fíSica rCagem habitualmente por uma impressão de vazio
SEX

e de desapontamento.» Elas são em seguida frequentemente conduzidas a fazer uma


dolorosa distinção entre a sexualidade e a espera de um amor ideal. Muitas mulheres
aguardam assim, durante toda a vida, a paixã o amorosa ideal, mesmo que sejam esposas
felizes, sexualmente satisfeitas.

Um narcisismo que se liga a todo o c< Nas raparigas, o erotismo permanece durante
muito tempo separado da sexualidade consciente. Elas não se apercebem facilmente, como
os rapazes, de que os órgãos genitais são os agentes indutores do seu desejo de amor: fica
assim retardada a união dos seus@sentimentos /psicoló gicos e das suas tensões
somáticas. Estas tensões são muito mais difusas do que no rapaz, abrangendo todo o
corpo que se torna, no seu conjunto, objecto de um narcisismo intenso. «Nos rapazes, diz
Harnik, os atributos genitais continuam a ser o centro do seu/narcisismo, enquanto nas
mulheres existe um narcisismo secundário que se liga ao corpo inteiro.» Esta complacência
/narcisíaca da rapariga manifesta-se pela sua/vaidade corporal, pelo seu/coquetismo, pela
exibição de certas partes do corpo, pelo seu/desejo de ser contemplada, ao passo que o
homem, esse, gosta de contemplar. «A ostentação do encanto físico, da/beleza em geral,
constitui uma forma de satisfação narcisíaca exibicionista que ajuda a rapariga a ter a
paciência suficiente para não se abandonar ao/amor/sexual, até ao momento em que
poderá encarar uma/relação permanente, tão essencial para quem terá de educar filhos»,
escreve Peter Bloss. É igualmente este
narcisismo feminino que explica o facto de certas mulheres se sentirem mais felizes quando
só concedem os seus favores depois de terem sido cortejadas durante muito tempo. Elas
desejam ser conquistadas à viva força e aguardam a sua derrota com uma alegre/ excitação,
pois a luta exacerba o desejo do homem que tão apreciado é pela mulher.

«A sexualidade da mulher mantém-se mais inibida que a do bom A mulher, por outro lado,
tem uma dupla função: além de criatura sexuada é também servidora da espécie através da
maternidade. Pode haver, em certos casos, antagonismos entre estas duas funções, mas, de
modo geral, «a mulher tende muito mais fortemente do que o homem para a direcção não
individualista, o que significa que ela pende a favor da espécie, a favor da função
reprodutiva», diz Hélène Deutsch. A mesma autora escreve que «a sexualidade da mulher
mantém-se mais,,,<inibida que a do homem». Não obstante a inibição, na rapariga, poder
sem sombra de dúvida ser reforçada pela/educação, este ponto, embora importante,
permanece secundário. Pode existir na mulher uma inibição constitucional que não tem
paralelo no homem e com a qual se relaciona a frigidez feminina. A mulher é naturalmente
monógama ou polígama? Hélène Deutsch
474 0 desenvolvimento da sexualidade

pensa que, «na imensa maioria dos casos, a mulher feminina é fundamentalmente
monógama». Esta monogamia não implica forçosamente a exclusividade do/casamento, do
mesmo modo que não limita a sexualidade a um único objecto ao longo de toda a vida.
Mas, «no decurso de cada uma das/relações, a mulher é monógama e experimenta a
necessidade de prolongar esta relação o mais possível». A pulsão sexual, na mulher, está
mais intimamente ligada aos interesses do ego e aos atributos da/ personalidade. Ela acha-
se car regada de um alto potencal que transforma e,,<idealiza a aproximação física, e a
rapariga recalca a realização instintiva directa muito mais tempo do que o jovem e com
muito mais êxito. Quando as relações sexuais, normais começam, parece que ela precisa
de um certo tempo para se adaptar a este amplexo e nele encontrar felicidade. Os
psicanalistas simbolizaram uma tal 0 aprendizagem da/volúpia dizendo que a uma fase
clitoridiana activa deve suceder uma fase vaginal. 0/0 prazer,,` sexual da mulher não é
portanto imediato como o do homem, e quando sobrevém, entra nele uma componente
psíquica infinitamente mais forte. As,/prostitutas que experimentam o orgasmo com o
amante escolhido pelo seu coração e suportam sem gozo verdadeiro as relações venais
seriam, se porventura ainda fosse necessário, a prova evidente deste facto.

0 amor

Estas diferenças entre as sexualidades masculina e feminina existem, decerto, mas num grau
muito variável consoante os sujeitos. Seria ridículo e falso concluir daí que as qualidades/
emocionais da mulher fazem sempre dela um ser pleno de poesia que vive desprendido do
real, num mundo,,,, imaginativo, colorido de sonhos maravilhosos. Seria não menos falso
apresentar o homem como vulgar e prosaico, de olhar na terra, sempre absorvido pelos seus
interesses, movido por uma sexualidade/x independente cuja história é‟unicamente a das
gónadas e que procura, sem/inibição nem ressonância, o simples prazer físico de satisfazer
o mais depressa possível as suas pulsões. Se bem que tais homens existam sem dúvida
alguma, eles não são representativos do sexo masculino. A naturem é maís matizada e os
factores emocionais e/,<afectivos interV6P1 também no/ desenvolvimento do homem, além
de encontr~ com frequência nele uma parte de/feminilidade à qual sé:~ Por vem o melhor
dos seus dons. Encontramos igualmente CM
1~ mulheres componentes masculinas de que, com razão
05-WM Cla, SC SCIltem geralmente orgulhosas.

0 a~ 1~ defina-se como o encontro harmonioso da imaginação,

da sensualidade e da afectividado Se a s~dade conduz ao/amor, a extrema diversidade das


suas
manifestações dá a este último vocábulo significações imensamente variadas. Entre o
amor,unicamente carnal traduzido pela expressão corrente «fazer amor» e o amor cortês do
poeta que canta a sua bela inacessível, não há a mínima medida comum. Mais sagazes do
que nós, os Gregos antigos, evitando toda a ambiguidade, dispunham de duas palavras para
designar o amor: o «eros» carnal, satisfação egoísta do desejo, e o «ágape» generoso, dom
de si inteiramente dedicado ao ser amado. Se quisermos tentar definir qual é, no/absoluto, o
amor humano ideal, torna-se óbvio que ele não pode ser apenas platónico, cimen- tado
unicamente de imaginação, de idealização e de afectividade, estranho a toda a sensualidade
como é o amor terno do adolescente.
0 amor ideal não pode também estar limitado à sensualiÚdade e às relações/, sexuais.
Alguns são incapazes de ter/,<relações com a mulher que eles amam verdadeiramente, mas
trata-se de doentes, outros julgam amar realmente a eleita do seu coração quando afinal
amam somente o/prazer que ela lhes dispensa, logo nada mais do que eles próprios. 0/ amor
ideal deveria, pois, em cada um dos parceiros, confundir a/imaginação, a sensualidade e
a/afectividade num êxtase harmonioso.

As literaturas de todos os países e de todos os tempos cantam bem alto um tal amor, o
que mostra claramente que, embora nem sempre seja fácil de realizar, ele constitui
uma/aspiraçâo tão velha como o homem e bem enraizada no seu coração. Se a adolescente
está aberta, à partida, para este gênero de relações, as pulsões sexuais mais patentes
atormentam muito mais a alma do adolescente. Ele ouve ao mesmo tempo «os suspiros da
santa e os gritos da fada», a luta entre o eros e o ágape começa nele e prosseguirá no adulto
se os dois beligerantes não conseguirem fixar-se na mesma pessoa. Assim, muitos homens,
como o herói de Flaubert na Educação sentimental ou o de Thomas de Quincey nas
Confissões de um opiómano inglês, conservam no fundo de si mesmos a imagem de uma
mulher entrevista certo dia, à qual eles votara uma paixão ardente e desencarnada, e
tornam-se incapazes de sentir com a sua esposa ou a sua amante outra coisa que não seja a
satisfação sexual à flor da pele.

0 COMPORTAMENTO SEXUAL DOS ADOLESCENTES

0 estudo científico da sexualidade pôs a tónica em problemas outrora ,,‟tabus sobre os


quais ninguém se atrevia a falar. 0,/"Isexo tornou-se assim uma vedeta que se impôs ao
mundo de hoje, ao mesmo tempo que este mundo, graças aos progressos tecnológicos,
passava a estar cada vez mais apto a satisfazer as diferentes/ necessidades do homem. Foi
assim que se propagou uma certa moral do prazer,
1476 0 desenvolvimento da sexualidade

em detrimento do controle de si e da limitação razoável das suas próprias tendências.


Sendo as relações sexuais consideradas como uma / actividade / fisiológica normal, não se
percebe por que motivo, nestas condições, os antigos interditos deveriam opor-se à sua
realização. A/liberdade sexual é preconizada e reclamada em alta grita, os antigos tabus são
estigmatizados por toda a parte: as mulheres e as raparigas, definitivamente emancipadas,
são iguais aos homens e devem entregar-se às mesmas experiências. Os meios
anticoncepcionais modernos, práticos e eficazes, subtraem-nas a qualquer perigo. As
doenças venéreas que serviram de resguardo a tantas gerações, ainda não desapareceram,
mas curam-se muito mais rapidamente. Assistimos, pois, à apoteose de Eros: a literatura,
o,/teatro, os filmes, as revistas pornográficas e a/televisão apregoam em todo o lado a sua
glória. Vivemos, como dizia Gemellil>, Gemelli: padre jesuíta,

numa sociedade afrodislaca. A tudo isto vêm juntar-se a multipli-


psicólogo italiano, fundador de um centro

de cação das ocasiões de deslocaçôes profissionais ou turísticas, a cada est14dos psicológicos


vez maior promiscuidade em que vivem os rapazes e as
da infância. raparigas, os trajes de
praia que não param de se reduzir, os biquinis e as míni-saias, bem como o aumento
considerável do poder de compra dos adolescentes. A civilização moderna oferece de
facto, a estes últimos, benefícios económicos que outrora exigiam anos de duro /trabalho.
Os jovens de uma certa classe/social desfrutam assim de direitos sem assumir nenhuma/
responsabilidade: são como que príncipes num mundo de/prazer que parece criado para
eles. Por todas estas razões, tem-se a impressão - de que as relações /sexuais dos
adolescentes são muito mais frequentes e sobrevêm também muito mais cedo do que
outrora. Convém no entanto ser prudente antes de afirmar seja o que for num tal domínio.
Como observou John H. Gagnone, fala-se muito mais de sexualidade e Numa comunicação à
32.- reunião anual da do que antigamente, sobretudo entre os jovens; não obstante, se- Grove Conference
on

gundo sabemos, estes discutem muito mais frequentemente as ques-


Marriage and the Family, em
1966. tões sexuais do que praticam as relações sexuais propriamente ditas. Um inquérito
recente em seis universidades americanas demonstrou que 415 dos estudantes não tinham
mantido relações sexuais.

Isadore Rubin, nos Estados Unidos, resumiu em 1965 seis filosofias rivais que de certo
modo se confrontam; são elas: I---OlaSCetisMO tradicional, que elimina absolutamente
toda a .ooolwdvidade sexual fora do/casamento e só a aceita com repugnan- „entre os
esposos, insistindo na sua função de procriação. É o . . vitoriano integral.

0 a=fl~ esclarecido tolera o beijo e as carícias entre noivos OR apaixonados, Mas


Proscreve a actividade sexual, a fim de lutar contra Im= certa «Inolcza» corrente numa
época que oferece tantas ocasiões de satisfazer todos os apetites de cada um. A juventude
é a época da vida em que o indivíduo deve aprender a don-iinar-se
e sujeitar-se a uma disciplina, nomeadamente no domínio sexual que se presta
eminentemente a uma demonstração do controle de si.
- 0 liberalismo humanista opõe-se a todo o absoluto a fim de se preocupar unicamente
com as/relações entre indivíduos. Qualquer grau de intimidade é admissível desde que se
situe num contexto afectivo.
- A anarquia sexual, que ataca a castidade, a/ virgindade e a monogamia, reivindica a
supressão de todos os/tabus sexuais, assim como as noções de imoralidade e de vergonha
sexual. Uma única restrição: ninguém deve ferir o próximo ou exercer/ violência sobre ele.
- 0 radicalismo humanista, segundo o qual a/,,< sociedade deveria conceder aos jovens
uma /liberdade sexual quase completa.
- A moral do prazer, enfim, estabelece como princípio que o/ sexo é fonte de prazer, e que
deve procurar-se multiplicar esse prazer. Mais importante do que esta categorização
esquemática das diversas convicções é o inquérito de Ira L. Reiss, que foi efectuado, em
1967, a partir destes seis tipos de/morais sexuais, em quatro /escolas secundárias e
universidades da Virgínia, numa pequena universidade branca de Nova lorque e na
Universidade de Iowa. Ao mesmo tempo, uma sondagem nacional praticada em centros
urbanos forneceu as/opiniões dos adultos:

Homens

brancos

Mulheres

brancas

Adultos

Estudantes

Adultos

Estudantes

Ascetismo tradicional

22

54

26

Ascetismo esclarecido

47
31

40

47

Liberalismo humanista

18

14

Anarquia sexual

19

Radicalismo humanista

7,5

12,5

1,5

Moral do prazer

7,5

12,5

1,5

0 exame destes números mostra, antes de mais, que a grande maioria dos adultos reprova
a prática das relaçõ es sexuais nos jovens: de facto, 69 % dos homens e 94 % das
mulheres declaram-se partidários das duas primeiras/ atitudes de espírito que as
condenam. Podemos pensar que se trata simplesmente de uma manifestaçâ o
de/conformismo e de aceitação da moral protestante tradicional e que, de qualquer modo,
os adultos se não acham pessoalmente comprometidos neste assunto. Mas 38 %. dos
estudantes e 73 % das estudantes partilham a mesma opinião. É duvidoso que seja por
vontade de agradar à família, numa época em que as
478 0 desenvolvimento da sexualidade

gerações se opõem. Se acrescentarmos, por outro lado, aos números precedentes as


percentagens obtidas pelo liberalismo humanista, que apenas admite as relações quando
o/-"afectivo se acha empenhado, descobrimos que 56 %. dos estudantes e 87 %. das
estudantes são contra o desencadeamento puramento físico do eros. Notar-se-á que as
raparigas lhe são mais hostis do que os rapazes, o que corresponde certamente ao carácter
geral da sua sexualidade. Notar-se-á também que só 2 % das raparigas se declaram a favor
da anarquia sexual, que é contra a monogamia. Para perceber a evolução das ideias e a dos/
comportamentos, seria preciso que pudéssemos dispor de um inquérito do mesmo gênero
feito há 30 ou 40 anos. Infelizmente tal não acontece. Todavia, Smith, em 1924, interrogou
várias centenas de raparigas e de rapazes americanos para tentar pôr em evidência as
motivações/ psicológicas que os haviam impelido quer a praticar quer a aceitar relaçõ es/
sexuais.

As respostas das raparigas: -a simples curiosidade de saber como se comporta o outro


sexo e quais são as suas manifestações/ eróticas; -a/imitação de companheiras que
aceitavam o amplexo masculino; -a falta de força suficiente para se oporem à agressão do
macho; -o/@medo de serem consideradas como raparigas «bota-de-elástico», de
concepções antiquadas; -o sentimento de compaixão pelo rapaz doente de/ desejo;
- a necessidade de compensarem pelo dom de si as atenções e por vezes as prendas do
apaixonado;
- a vontade de se comportarem como mulheres adultas, como as actrizes de/,,cinema,
como as heroínas dos romances de/amor ou das canções da/-@moda.

As respostas dos rapazes:


- o desejo de serem modernos, do seu tempo, emancipados;
- o desejo de imitarem os adultos;
- a curiosidade quanto à sexualidade feminina;
- o desejo de afirmarem/ agressivamente a sua própria/ virilidade;
- a necessidade de procurarem as satisfações sexuais quando o ,/CaSaMento é impossível
nos tempos mais próximos; -a/necessidade de confirmarem a seus olhos a sua virilidade
colcedonando, as conquistas amorosas; -a/re~o à aversão Contra o sexo oposto. N]Lo
vemos de modo algum aparecer nestas explicações a incidência de UMa imperiosa
necessidade de satisfação das pulsões sexuais; mesmo nos rapazes, são as estimulaÇõ es
de natureza/social que
SEX

dominam largamente e não as estimulações puramente biológicas. Pode aliás acontecer que
os indivíduos que sofrem as mais fortes pulsões sejam igualmente os que se entregam
menos vezes às relações. Isto só na aparência é paradoxal, pois uma pulsâo forte suscita
reacções de defesa não menos fortes. Seja como for, a influência dos factores sociais é tão
evidente e tão amiúde determinante no/comportamento sexual dos adolescentes e das
adolescentes que se torna indispensável ver rapidamente as diversas/ reacções sociais a este
respeito, antes de examinar qual pode ser mais tarde a incidência do dito comportamento
sobre a

sexualidade do adulto.

* «revolução sexual» na Suécia

* Suécia e os países escandinavos em geral estão na vanguarda do liberalismo sexual. Uma


comissão governamental sueca já afirmava em 1936 que as relações sexuais não podiam ser
exclusivamente consideradas no contexto do/casamento e da procriação e que elas eram
susceptíveis de contribuir para a saúde/ psicológica e para uma existência harmoniosa. A
sexualidade é, em suma, na vida dos seres humanos, uma realidade que tem de ser encarada
de um ponto de vista científico. Assim, a sexualidade adolescente é aceite de forma aberta,
as/;<mães e os/pais solteiros não são condenados pela/sociedade, não existem filhos
ilegítimos: a própria palavra é ilegal. 0 progresso científico que pôs à disposição do público
meios contraceptivos práticos e eficazes deve, aliás, impedir os nascimentos não desejados.
«Uma vida sexual satisfatória, diz Birgitta Linner, apenas se concebe sem o receio
subjacente das consequências não desejadas do acto sexual.» Considera-se que o emprego
dos contraceptivos pelos jovens é um sinal da sua/maturidade e do seu sentido das/
responsabilidades; não é o acto sexual em si mesmo que constitui uma falta, mas antes a sua
consumação descuidada sem contracepção. Motivo pelo qual
os dispensários maternais fornecem a todos as mulheres informações e material. Os
preservativos são vendidos livremente em distribuidores automáticos colocados nos
lugares públicos. A associaçâo sueca para a/educação sexual difunde uma brochura cujo
título é suficientemente explícito: «Juntos em/segurança».

Na Suécia, a mulher é igual ao homem no plano Uma outra ideia fundamental é a de que a
mulher tem os mesmos direitos que o homem não só/política e legalmente, mas também do
ponto de vista sexual; o papel respectivo dos/sexos acha-se modificado: «A mulher
moderna, escreve Alva Myrdal, que pode atingir uma idade avançada e que só tem poucos
filhos, já não pode restringir-se ao longo de toda a sua existência ao papel de esposa e de
boa dona de casa...» Os papéis de esposos
480 0 desenvolvimento da sexualidade

e de/pais são bem distintos, na medida em que o período durante o qual um casal cria os
seus filhos está em vias de se tornar bastante breve na sua existência. «Sabemos doravante,
afirma ainda Birgitta Linner, que a mulher não tem uma natureza fundamentalmente
diferente da do homem e que não pode, por conseguinte, haver uma diferença
fundamental no seu/ comportamento/ sexual e nas suas /atitudes a respeito da sexualidade
... A utilidade e o carácter natural da/masturbação em ambos os sexos e a natureza das
relações sexuais estão desde já integrados no/ensino sueco.» Esta igualdade perfeita entre
os sexos é admitida em tal grau na Suécia que, em certas/escolas, se ensina aos rapazes
puericultura, costura ou malha e economia doméstica, enquanto as raparigas fazem
trabalhos manuais. Encontrar-se-ia assim eliminada radicalmente a hipocrisia que ainda
não há muito se manifestava frequentemente no afastamento entre os factos e os
princípios, entre a/ conduta dos indivíduos e a moral que eles professavam. A geração
jovem, dizem os adultos, faz abertamente o que a nossa geração fazia às escondidas ou
com um sentimento de/ culpabilidade. A sua conduta é muito mais saudável. A/sociedade
sueca e escandinava admite assim uma completa /liberdade em nome da evoluçã o
científica e social que atirou para o rol das velharias o princípio tradicional «procriação e
discipbna», que no entanto ainda é defendido pela Igreja luterana. Há já alguns anos, a/
homossexualidade entre adultos que nela consentem deixou de ser um delito, as obras
pornográficas são livremente vendidas, expostas nas montras à vista de toda a gente, em
lojas especializadas abertas nas ruas de mais trânsito, e, diz Birgitta Linner, «as diferentes
formas de desvio sexual encontram cada vez mais compreensão e tolerância».

Um inquérito efectuado na Suécia por médicos suecos permite ver qual é o comportamento
dos adolescentes num clima não só de absoluta liberdade, mas quase de incitação às
relações sexuais. Entre 497 alunos de ambos os sexos de duas escolas da cidade de Orebro,
de uma idade média de 17 anos e 6 meses numa das escolas e de 18 anos na outra, Hans
Linderoth e Bengt Rundberg concluíram, em 1964, que 57 % dos rapazes haviam já tido
relações sexuais, sendo a idade média do primeiro acto de 16 anos; o mesmo sucedia
@Coiw4& Y<, das raparigas, sendo a idade média das primeiras rela- ~,
@ao caso delas, de 17 anos. Em 44 % dos rapazes e 77 Y. das Mparigas, o primeiro
„parceiro era o/camarada preferido, com o ~ se sala amiúde; 29 % dos rapazes e apenas 4
% das raparigas tinharn, ao invk, ~lhido mm parceiro de acaso; 26 % dos rapa-

declararam Um, tomado eles próprios a iniciativa, 4 % acusaram as rapariga de os ter


arrastado e 70 % estimaram haver agido de comum acordo;. 95 % dos rapazes e 80 % das
raparigas disse-
ram ter feito esta primeira experiência simplesmente porque tinham vontade disso.

Se compararmos as percentagens do estudo de Linderoth com os dados colhidos por Reiss


nos Estados Unidos, verificamos, bastante curiosamente, que, no caso dos rapazes, eles
concordam mais ou menos apesar das diferenças/ sociais. Efectivamente, na Suécia,
43 %. dos rapazes não tiveram relações e 38 %, na América, declaram ser contra os
contactos/ sexuais. No entanto, apenas 54 % das Suecas contra 75 % das Americanas
partilham esta/opinião.

A sociologia contra a tradição Um certo número de sociólogos, estudando a evolução


da/família humana segundo os tipos de/sociedades, tiram daí argumentos para dar uma
visão profética do futuro. Retomando em particular as ideias de W. P. Ogburn, o sociólogo
canadiano McLuhan sustenta que a distinção entre os sexos é nem mais nem menos do que
uma invenção da sociedade industrial. Nas sociedades primitivas que vivem da caça ou da
pesca, os homens e as mulheres têm uma vida praticamente idêntica, totalmente integrada
no/grupo e sem especialização bem definida. É no momento em que a espécie se desvia da
caça para se entregar à cultura e para criar em seguida as urbes e os impérios que os dois
sexos se diferenciam nitidamente, muito mais do que a biologia o impõe. A palavra latina
sexus viria do verbo secare que sigii`fica cortar, separar, e foi a
civilização que separou o homem da mulher. Assim se criaram artificialmente os tipos bem
definidos de masculinidade e de feminilidade que carregaram o sexo de um perfume/
erótico, de uma fragrância exagerada, ao mesmo tempo que a sexualidade se dissimulava
num domínio misterioso simultaneamente inquietante e encantador, absolutamente cortado
da existência vulgar. É uma mania de especialista a de distinguir as diversas partes do
corpo, o que provoca a indecência, a pornografia e a obscenidade, e chegamos assim ao
divórcio absoluto entre o sexo e a vida decorosa, que se manifestou na época vitoriana.
Após um pequeno entreacto obrigatório sobre o traumatismo da noite de núpcias em que
a donzela ingénua é entregue de chofre à cega bestialidade do macho, o nosso autor
reconhece que Freud fez sair a sexualidade da sombra, mas que no entanto errou ao
considerá-la como «uma ameaça eventual para tudo o que constitui a unidade da
civilizaçâo». Uma parte importante da nova geração parece ter encontrado o remédio para
semelhantes aberrações ao rejeitar as características dessa masculinidade e dessa/
feminilidade tipos, culpadas da divisão extrema dos/sexos. Os dois sexos tenderiam
doravante fraternalmente para uma humanidade comum apagando cada vez
PA-3i
482 0 desenvolvimento da sexualidade

mais as distinções artificiais impostas pela/sociedade. As raparigas e os rapazes, vestidos


de modo semelhante, partilhando os mesmos sentimentos, tendo acesso aos mesmos
empregos, já não estão divididos pela antiga barreira: eles aproximam-se e compreendem-
se. Assim, para McLuhan, os jovens/ hippies de cabelos longos dirigem uma mensagem
àqueles que estão dispostos a escutá-los. Eles recusam ser homens no sentido habitual, isto
é,/agressivos, já não têm medo de dar mostras de uma certa feminilidade, querem fazer
saber que têm sentimentos, fraquezas, ternura, que são humanos. Um produto específico
da tecnologia moderna, a pí lula contraceptiva, torna possível à mulher uma/actividade
sexual idêntica à do homem; ela estilhaça assim as antigas funções, separando
completamente a relação sexual da procriação. 0 sexo, ao tornar-se acessível, perderá a
desmedida importância que lhe é atribuída e passará a ser um meio de/comunicação e de
expressão sensorial entre outros. As antigas barreiras entre os sexos desmoronam-se e a
tradição sucumbe. Bem distinto do/casamento e da procriação, o acto sexual, fácil e
correntemente realizável, permitirá uma união legal dos casais muito mais tardia e, por
conseguinte, assumida por sujeitos mais sérios. Por outras palavras, haverá casamento não
para fazer /amor, mas para ter filhos, o que na realidade é absolutamente sério. As
experiências sexuais praticadas antes do casamento não minarão de modo algum a solidez
deste último, antes a garantirã o, e McLuhan profetiza dizendo que o casamento firme e
voluntariamente consentido, orientado para a procriação, se candidata a tornar-se a
instituição mais estável do/futuro. E eis-nos de regresso à doutrina dos doutores da Igreja.

-4 sexualidade nas sociedades marxistas

Nos países marxistas, considera-se que a sexualidade, o/amor e a/família são tão atinentes
à sociedade como ao indivíduo. É por-4~ indispensável evitar toda a anarquia sexual e
submeter o ins-

Sexual à razão, discipliná-lo a fim de o orientar para a criação

e estáveis que são necessárias à sociedade. A proh~ um processo natural, por um lado, e
um pro-

lado. A função de reprodução liga assim, U~,tsociedade. Ora o casamento é o funda-

qual ele foi cuidadosamente regulaç,,.£Ao fôsse, «o legislador, diz Marx,

VM ele do que, por exemplo, pela

Intimas fazem parte das %@Ê UW , 1 `~Cia, ser controladas e codideve então manifestar-
se unica-

gem pré-nupcial é degradante


SEX

e reprovada. «Sob a influência dos factores sociais, o instinto sexual transforma-se, no


homem, nesse/amor humano que já não tem senão uma longínqua ligação com o ciclo
animal no qual o acto sexual sucede imediatamente ao/desejo», escreve Edouard
Kostyachkine. A sociedade soviética funda-se numa ordem livremente consentida que
proporciona o desabrochamento de todos. A desordem sexual é uma forma de desordem
social que deve ser combatida. «A essência do homem, diz Marx, não é uma abstracção
inerente ao indivíduo isolado. Na sua realidade, ela é o conjunto das relações sociais. As
mais altas formas de/ desenvolvimento combinaram-se, no homem, com o instinto sexual
primitivo e domesticaram este instinto.» «Não é nas secreçõ es glandulares, escreve P.
Neubert, que se deve procurar a explicação do amor humano, mas sim na organização do
sistema nervoso superior que é o único factor capaz de permitir compreender o júbilo
proporcionado pelo amor.»

A sociedade soviética desenvolve os sentimentos de puc Os adolescentes russos acham-se


no entanto submetidos às mesmas pulsões /fisiológicas que os seus camaradas dos outros
países, pelo que a/ educação que lhes é dada tende a reforçar neles, por todos os meios, os
processos naturais de defesa. A literatura pornográfica está completamente ausente da
U.R.S.S., o naturalismo, como tudo o que tende a fixar a atenção sobre o/sexo, é mal
acolhido. Diligencia-se por lutar contra o eros, o amor é considerado como algo de puro e
de sério, desenvolve-se sistematicamente a noção do respeito que é devido à rapariga, ainda
que ela seja, no plano social, igual ao rapaz. Insiste-se no facto de que, se as/emoções se
desencadearem fora do controle da razão e da vontade, o amor conservará as características
de um acto animal. «A emoção amorosa só pode cultivar-se se tiverem sido postos alguns
freios ao instinto desde a infância, escreve o/pedagogo A. S. Makarenko. A/educação
sexual consiste, nomeadamente, em cultivar no indivíduo esse sentimento à base de respeito
a que se dá o nome de /‟pudor‟. Não se pode educar o instinto sexual no sentido social
desejado, se ele for tratado como um elemento sem relação com o desenvolvimento geral
da /personalidade. Nunca é, portanto, das profundezas do instinto sexual „zoológico‟ que se
verá brotar o amor. 0 amor verdadeiro não pode tirar as suas forças senão da experiência
da/afeiçâo e da/ amizade /independentes de toda a atracção/ sexual.» Este amor está assim
muito longe da líbido de Freud e das teorias freudianas segundo as quais todo o afectivo
seria derivado das pulsões sexuais.
0/erotismo transformado num fim em si mesmo e o amor concebido pela juventude
ocidental como um/prazer unicamente físico aparecem, pois, na União Soviética como um
dos sinais principais da degradação da/sociedade capitalista. Ao invés, a juventude
soviética aspira por si mesma à consolidação da/família, bem como à glorificação do/casa-
484> 0 desenvolvimento da sexualidade

mento e do amor puro. É assim que «se pode chegar ao ponto de dizer, escreve ainda
Makarenko, que o instinto sexual, enobrecido pela sua integração na vida social, se torna
num dos fundamentos da mais bela estética e da mais alta felicidade humana». Afigura-se,
tanto quanto se pode saber, que reina na China a mesma concepção -da sexualidade. Um
jornalista italiano, Luigi Barcata, ao regressar ao Ocidente em 1969 após uma longa estada
no Oriente, conta que um homem, naquele pais, só pode casar aos 30 anos e uma mulher
aos 27, e acrescenta que tendo perguntado a um interlocutor chinês o que se passa antes,
este, indignado, respondeu: «Antes? Mas nada, naturalmente.»

A INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO SEXUAL SOBRE 0


DESENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE

Depois de termos passado rapidamente em revista as/atitudes sociais radicalmente opostas


que se encontram em diferentes países e também no interior de um mesmo pais, é legítimo
perguntarmos, deixando de lado todas as questões sociais e de ética dominante assim como
qualquer preocupação /moral, qual pode ser a influência das relações sexuais precoces
sobre o equilíbrio/ psicológico e a maturação dos adolescentes e, mais tarde, sobre a sua
vida de adultos. Dever-se-á, numa palavra, permitir que os jovens fisicamente
desenvolvidos tenham relações sexuais antes do casamento e até encorajá-los nesta prática
como acontece na Suécia ou, pelo contrário, convirá tentar afastá-los delas? A resposta será
evidentemente afirmativa se entendermos que tais experiências são susceptiveis de
favorecer um/ desenvolvimento psicológico saudável e de conduzir a uma vida feliz de
adulto, negativa no caso contrário.

Argumentos a favor do liberalismo sexual

Certos autores afirmam que os adolescentes, muito antes de terem a possibilidade do


casamento, se acham não só biologicamente, mas /psicologicamente e/socialmente prontos
para o acto/sexual e que o/desejo de o praticar se torna cada vez mais imperativo à Meffida
que eles avançam em idade, a ponto de chegar a ser o centro de todos os pensamentos
tanto dos rapazes como das raparigas.
08 ado~tes e as adolescentes tirariam além disso uni proveito ó~ & 11,11151 CXp«i”
sexual pré-matrimonial. efectuada com Váfios P~08, Primeiro Porque uma tal experiência
seria necessária para consolidar a sua identidade sexual, a sua consciência de si mesmos, e
a sua@#capaçidade de relações com os outros; em seguida, porque em união do homem e
da mulher sancionada Pela lei, Para ser verdadeiramente feliz, deve fundar-se num/amor
mútuo ao mesmo tempo terno e sensual que é mui, j,;il atingir sem uma determinada/
aprendizagem prévia.

A escolha do parceiro, e depois os/ comportamentos respectivos de esposo e de esposa,


tornam-se provavelmente mais fáceis para os que podem avaliar saudavelmente o factor
sexual, porquanto tiveram uma experiência pessoal directa em vez de terem apenas ouvido
falar disso num clima de mistérios, de interditos e de ameaças. Em suma, volta-se ao que
dizia Alfred. Capus num tom cómico: «0 casamento é uma coisa difícil; para se ser bem
sucedido nele, é preciso tentar várias vezes.» Se, por conseguinte, as relações variadas
facilitam a/identificação sexual ao mesmo tempo que facultam um casamento feliz no/
futuro, é indispensável encorajar os jovens, no final da/ adolescência, a entregarem-se a elas
não apenas sem vergonha, mas com um intuito /xeducativo, reconhecendo e aprovando
inclusive o aspecto «procura do/prazer». É realmente o que fazem os partidários deste
ponto de vista, que não se esquecem, obviamente, de enriquecer as suas convicçõ es à luz
dos argumentos extraídos do progresso tecnológico e da evolução social descritos mais
atrás. Uma herança puritana esmaga-nos sob toda uma série de proibições e de/tabus que,
outrora, talvez tivessem a sua razão de ser, mas que, hoje, graças ao progresso médico-
científico, são perfeitamente anacrónicos e desajustados. A melhor prova do que fica dito é
dada pelos próprios adultos que fazem profissão de defender as antigas tradições e que,
afinal, se preocupam pouco com elas nos seus actos. A/instabilidade dos/ valores/ morais
que observamos hoje em dia também mostra claramente que muitas regras consideradas
como baluartes essenciais da sociedade perderam todo o significado e toda a importância, e
é decerto por tal motivo que existe muitas vezes um desacordo entre os valores
reconhecidos oficialmente por certas sociedades e o comportamento efectivo dos seus
membros adultos. Ora há,
evidentemente, uma grande diferença entre um /,@grupo humano que tem fé numa dada
ética e diligencia por respeitá-la o melhor possível na sua maneira de viver e um outro
grupo que conserva apenas as palavras tradicionais sem se preocupar um pouco que seja
em aplicá-las na prática. Nestas condições, como se há-de impor a adolescentes uma
continência contrária à natureza invocando princípios que já se não respeitam?

Argumentos a favor de uma disciplina sexual Não está de modo algum demonstrado que
as relações /sexuais tenham uma acção favorável sobre o /desenvolvimento do
adolescente. Se, durante a/adolescência, os sujeitos se orientam pouco
486 0 desenvolvimento da sexualidade

a pouco para o/ amor/ heterossexual, são as mudanças interiores que se mostram essenciais nesta nova
orientação e constituem mesmo a sua condição prévia, permanecendo os fenômenos de compormento
acessórios e não representando um indício significativo das mudanças ou dos progressos/ psicológicos.
É assim que o psicanalista Peter Blos pode escrever: «Os adolescentes que, desde esta fase, se lançam
na/actividade heterossexual não adquirem pela simples virtude da experiência as condições prévias ao
amor heterossexual e, quando examinamos de perto casais de jovens esposos adolescentes, vemos com
que lentidão se desenvolve a capacidade de alimentar um amor heterossexual imbuído de/maturidade.
De facto, a realização do amor físico nada traz ao rapaz além de um apaziguamento da/tensão, sendo
incapaz de fornecer uma solução ao/ conflito/ afectivo que se trava no seu ser: pelo contrário, este
combate interior fica assim intensificado. Logo, ainda que a actividade sexual seja incontestavelmente
unia afirmação do macho, ela não parece de modo algum facilitar a ruptura dos laços infantis nem as
novas fixações da/afectividade: ela não favorece
portanto a maturação do jovem.» Quanto ao melhor e mais profundo conhecimento dos sexos entre si
que seria conferido pela aproximação sexual, não se percebe bem como uma tal relação com um
representante -único do sexo oposto poderia conduzir a um conhecimento real e mais verídico do
conjunto do dito sexo, sobretudo se o motivo do encontro for simplesmente a busca egoísta do/prazer.
A acção das relações precoces sobre a felicidade conjugal foi considerada positiva a partir de algumas
estatísticas de autores anglo-saxões que concluíram assim ser necessário um longo período pré-
matrimonial de amor para se realizar uma harmonia sexual adequada entre os cônjuges. Mas muitos
outros autores anglo-saxões, como Terman, Burgesse, CottreI, demonstraram que a proporção
dos/casamentos felizes é mais forte entre os casais que não conheceram os prazeres/ sexuais desde a/
adolescência. É curioso verificar até que ponto os partidários do liberalismo sexual ou da/moral
do/prazer negligenciam as diferenças entre as sexualidades masculina e feminina. Eles querem ignorar
complepletamente as,características particulares da sexualidade feminina e o seu alto grau de
sublimação na adolescente. Na verdade, conSidetam esta última como animada de pulsões sexuais
imperativas o h= precisas que ela se esforça por resolver do mesmo modo que o rapaz. NÃo há dúvida
de que se pode, na esteira de McLuhan, s~tar q= a$ diver~as entre os sexos não são constitucionaik ma
bduzidas pela evolução/ social, e que uma evolução invam já encetada vaí tender a fhzê-las
desaparecer. Mas não é menos verdade que só o/futuro nos dará a resposta e que, entretanto, as
divergências continuam a existir no presente,
sendo absolutamente intempestivo - mesmo que amanhã elas venham a desaparecer -
comportarmo-nos desde já como se elas tivessem desaparecido. Importa, com efeito, não
perder de vista que, nesta questão, o problema importante é o da rapariga. Com ou sem/
liberdade sexual, uma percentagem importante de rapazes, qualquer que seja o rigor dos
costumes, tem sempre encontrado o meio de satisfazer os seus sentidos, em geral nos
braços de uma iniciadora mais velha, «uma condessa madura que abre os olhos ao delfim»,
como diz Saint-Simon. 0 mesmo não sucede à rapariga. A pulsão sexual da jovem, menos
forte e menos localizada que a do rapaz, sofre, como vimos, um processo intensivo
de/idealização; * sexualidade está, nela, inconscientemente ligada à procriação, * que a leva
a procurar constitucionalmente a união duradoura e necessária a quem tem de educar
crianças, e a pílula anticoncepcional em nada altera este fenômeno. Enfim, na maior parte
dos casos, a função/erótica requer, na mulher, um certo tempo para se estabelecer. É por
este motivo que, tal como se viu anteriormente, a rapariga adia mais fácil e demoradamente
que o rapaz a realização directa das suas pulsões. Nestas condições, em
nome de que princípio se há-de tentar precipitar as coisas suscitando no sexo feminino um/
comportamento que se não adequa à sua natureza? Não se pretenda rivalizar com a muito
especial escola feminina de Tibério em Capri, nem mesmo com o Kamasutra: a única
motivação passa neste caso a ser um desejo de igualação completa do homem e da mulher
no plano sexual e, de facto, uma tal motivação deixa-se entrever de uma maneira
particularmente nítida na dialéctica sueca. Será realmente judicioso falar de igualdade
entre os/sexos, estabelecer entre eles um juizo de/valor? Não seria mais exacto falar de
complementaridade evitando definir uma hierarquia falaciosa? A mulher, sujeita durante
demasiado tempo a uma autêntica servidão, mantida na ignorância, dedicada aos trabalhos
domésticos

e ao simples papel de procriadora, derrubou a tutela/ social e emancipou-se. Este legitimo


movimento dá por vezes a impressão de ir além dos seus objectivos. Hoje, a maioria das
raparigas insurge-se contra a diferenciação natural entre os sexos, mais ou menos como se
se tratasse de um racismo de um novo gênero. As normas sociais tornaram-se assim as
mesmas para ambos os sexos, tendendo-se cada vez mais a dar a todas as crianças e
adolescentes uma/educação semelhante, seja qual for o sexo. Não se nos afigura que, ao
proceder desta maneira, a sociedade moderna tenha proporcionado à rapariga a/liberdade a
que ela/aspirava, mas, isso sim, que uma tal uniformização é em larga medida responsável
pelas numerosas complicações observadas hoje em dia no/desenvolvimento da,,;<
feminilidade. «Um tal desenvolvimento social, diz Peter Blos, não leva em conta o facto de
a pulsão sexual fêmi-
488 0 desenvolvimento da sexualidade

nina estar muito inais intimamente ligada aos interesses do ego, e aos atributos da/
personalidade do que o está a pulsão masculina.» A rapariga reage a esta uniformização
exagerando o«/complexo de inasculinidade», ou seja, o seu/desejo de ser um rapaz. Ela
esforça-se por integrar caracteres propriamente masculinos ligados à/fisiologia e à anatomia
do homem. Para tentar ser bem sucedida nesta empresa, diligencia por minorar a sua
afectividade e assistimos assim a uma «primitivização da sua feminilidade». T. Benedek,
uma mulher, estudou tal fenômeno em 1956 e mostrou claramente a incidência desta
integração das aspirações e dos sistemas de valores masculinos sobre a organização da
personalidade da mulher moderna. Isto pode conduzir até à recusa da maternidade
considerada como uma regressão biológica, e, na medida em que a jovem não é capaz,
apesar de tudo, de vencer completamente a aposta que a impele a negar em globo tudo o
que se refere à sua própria essência, ela chega por vezes a transformar o seu desafio numa
hostilidade duradoura para com todos os homens.

As barreiras entre os sexos, logo entre as funções, desmoronam-se Esta uniformização dos
modos educativos, qualquer que seja o sexo, não deixa de ser perigosa e acha-se agravada
pelo facto de os papéis respectivos do/pai e da/mãe tenderem a confundir-se na sociedade e
na/família modernas. A família patriarcal triangular com o pai no vértice e uma nítida
demarcação entre a sua /actividade específica e a da mãe tende a desaparecer. Geralmente,
o pai e a mãe trabalham ambos fora de casa, sendo frequente a mãe gerir o orçamento
/familiar e o/pai participar cada vez mais nos serviços domésticos, outrora apanágio da
mulher, indo ao ponto de se ocupar, tanto como a/mãe, das crianças: cuidar delas, dar-lhes
de comer, vesti-Ias, despi-Ias. Em breve, o homem e a mulher vestir-se-ão da mesma
maneira, terão o mesmo tipo de penteado. Quanto às/profissões, já são com frequência
semelhantes. Resulta de tudo isto que as funções/sexuais cada vez se tomam mais ambíguas
na nossa/ sociedade, e, nestas condições, a criança que deve identificar-se com o progenitor
do mesmo sexo não dispõe de qualquer elemento além das diferenças anatómicas - também
elas cada vez menos aparentes - para distinguir os sexos.
A/identffl~o do rapazinho com o pai e da menina com a mãe passem a Bar dükeis, o o
adolescente, por seu turno, vê-se na situação de tw de tomar oonsc~ da sua própria
identidade sexual na au~ de fu~ 9~ claramente ~da para lhe servir de Modelo; ~tra~ assim
numerosos adolescentes que se debatem na armadilha que para eles constitui a
escolha, tão rica o v~ como variável, de um número quase ilimitado de possiveis
identificações.
SEX

Tudo parece por conseguinte combinar-se, no nosso mundo, para apagar as qualidades
particulares que a natureza dispensou a cada sexo; um nivelamento sem cambiantes é
considerado uma igualdade de direitos, e todos os meios de informação, hoje poderosos,
apregoam um/ comportamento sexual idêntico.

Com que sonham as raparil É certo que a/conduta dos adolescentes não consiste apenas
no reflexo de uma dada/cultura, embora uma tal conduta possa ser em parte condicionada
por essa mesma cultura. É o que acontece muitas vezes, e alguns jovens são precisamente
levados às relações sexuais bastante mais por razões sociais do que pela imperiosa
/necessidade de satisfazerem uma pulsão biológica. É o que mostrava o inquérito de Smith
referido mais atrás. Assim, algumas concepções «da última moda» sobre sexualidade
podem arrastar as raparigas a declarar-se libertas e a aceitar ligações passageiras, ainda que
o rapaz anuncie desde o início - honestamente, pensa ele- as suas intenções temporárias.
Mas a maior parte das vezes a jovem ouve e não acredita: no fundo de si mesma e de toda
a sua/afectividade, ela crê ser capaz de prender esse amante volúvel e obrigá-lo à ligação
duradoura que todo o seu ser reclama consciente ou inconscientemente. A catástrofe
sobrevém quando se vê abandonada. Se, nessa altura, ela escapar à/neurose, arrisca-se a
cair na supercompensação, no acting-out que a conduzirá a coleccionar as/relações
masculinas para melhor espezinhar o envilecer dentro de si a fonte do seu sonho desiludido.
«A „mulher primitiva‟ que cede com alegria e sem conflito aos seus/desejos sexuais, não

do meu conhecimento, diz Hélène De-utsch, assim como o não e o „homem primitivo‟. A
experiência ensina-nos que onde existe uma harmoniosa /feminilidade se torna impossível
descobrir uma /liberdade sexual demasiada. Uma tal liberdade prova a existência de uma
intensa confusão interior tanto e, por vezes, ainda muito mais do que uma excessiva
continência ou uma/inibição sexual.» Todavia, mau grado todas as concepções diferentes
que se entrechocam e que são discutidas, aprovadas ou desaprovadas com maior ou
menor paixão, uma grande parte dos adultos continua a considerar que a antiga/moral
proibitiva é a melhor e, entre os que parecem mais evoluídos e se declaram partidários da
liberdade completa, muitos são-no apenas nas palavras. A/virgindade e a abstinência
sexual até ao/casamento no caso das raprigas dão a impressão de ser ainda preconizadas
pela grande maioria dos adultos. Se os conceitos de/pecado da carne, de pureza, e a
reprovação ligada ao/sexo são geralmente abandonados em quase todas as /famílias, o
limite entre o que é permitido e o que o não é fica rigorosamente fixado pelo acto sexual.

As relações sexuais fora do casamento, sobretudo quando se trata


490 o desenvolvimento da sexualidade

de adolescentes, não são as mais das vezes admitidas pela/sociedade. Os adolescentes


interiorizaram estas regras e, mesmo entre os mais emancipados e os mais rebeldes
aos/tabus, as relações sexuais provocam um sentimento de/ culpabilidade consciente ou
inconsciente. Através de um fenômeno tão frequente como caracteristico do mecanismo de
compensação da adolescência, cada um dos amantes tende então a projectar a falta sobre o
seu cúmplice. Esta projecção é tão forte que, mesmo quando um rapaz viola uma rapariga,
ele é impelido a torná-la responsável dizendo que foi a sua/atitude provocante que
determinou o acto. Nas relações livremente consentidas por ambas as partes, a convicção
mútua da ,,,,,responsabilidade do parceiro ou da parceira conduz quase fatalmente à
degradação da ligação /afectiva no caso de ela existir à partida. A rapariga torna-se, para o
rapaz, uma daquelas que se entregam facilmente e que são desprezadas, e
o rapaz um agressor brutal que não procura mais do que o seu/prazer pessoal na satisfação
de um instinto grosseiro. 0 elemento puramente físico da /relação acentua-se
progressivamente e é assim que acabam a maioria das ligações de adolescentes, a não ser
que surja um autêntico ódio recíproco entre os dois amantes, seguido de uma ruptura
brusca. A aversão que a rapariga sente em certos casos generaliza-se a todos os
representantes do sexo masculino e uma inibição duradoura não deixará de pesar sobre
toda a sua futura vida genital. As relaçõ es/ sexuais não devem ser consideradas somente
como uma das múltiplas formas de/prazer a que o ser humano pode livremente abandonar-
se. Elas têm uma profunda ressonância na maturação da /personalidade no seu conjunto e
sobre o/comportamento vindouro do adulto. 0 adolescente de hoje está exposto a dois
perigos inversos: a precipitação na/heterossexualidade em detrimento da formação da
personalidade e a repressão maciça e demasiado severa das pulsões em detrimento
do/carácter e do desenvol-vimento/afectivo. Os estudos cientificos e'médicos feitos sobre
a sexualidade abrangem única e exclusivamente o eros. 0 método científico reduz a
sexualidade a uma função puramente física quase impessoal, despoja o/amor de todo o
sentimento retirando-lhe o seu elemento mágico. 0 verdadeiro amor humano não pode ser
limitado à,mecânica dos corpos. 0 amplexo repetido com diferentes parceiros desemboca
finalmente na pura e simples procura do prazer físico e, longe de ser uma garantia de
crescimento e de ,MatU~ Para o adolescente, atrasa a sua evolução no sentido de um f~
sexuai normal.. Os sentimentos de ternura e de afei-
00 autênticos CdWnam-w cada Vez mais, a afectividade separa-se entA0 da se~dade,
começando quer uma quer outra a evoluir por sua própria conta e, eni vez de se alcançar
assim o desabrochaMento de uma semialidade normal, separa-se definitivamente o cros do
ágape e fazse despontar uma sexualidade dissociada. Real-
SEX

mente, como é possível esperar que um rapaz, a quem se tiver aconselhado desde a
adolescência a procurar o prazer pelo prazer, se torne na altura do/casamento propenso a
aceitar prematuramente aquilo que seria para ele uma espécie de retiro sexual, limitando-
se sensatamente à sua própria esposa?

Que a afectividade não seja estranha à sensualidad Quer se queira quer não, as
experiências sexuais com diversos parceiros conduzirão quase sempre o adolescente à
busca do prazer pelo prazer; infelizmente, ao repetir-se, a sensação perde alguma da sua
força: é por este motivo que uma tal busca se arrisca a culminar muito mais em variadas
depravações do que numa maior /aptidão para o autêntico amor humano. Na rapariga, a
experiência sexual precoce é ainda mais nociva porque vai contra a afectividade, a
personalidade e a sexualidade femininas. Logo, se o facto de atrasar as relações sexuais é
uma causa de/tensâo, nem por isso se deve concluir que convenha resolver directamente
esta tensão; pelo contrário, a disciplina que a controla parece efectivamente necessária se
se quiser obter um/ desenvolvimento normal não só da sexualidade e da afectividade, mas
também do conjunto da personalidade dos futuros adultos.

Honoré Ouillon.
492

A socialização por Maurice Gaudet


0 erro mais grave consistiria em considerar que a socialização é um fenômeno brutal,
situado à saída ou no fim dos estudos secundários ou técnicos. Trata-se apenas de uma
etapa entre outras. 0 adolescente tem ou não tem, nesta idade, as estruturas que o
predispõem ao confronto social e depois à inserção social. Não há ruptura alguma no
homem. Não há ruptura entre a criança e o homem. É assim que certas crianças não
tardam a merecer o título de «homenzinho», ao passo que tantos adultos permanecem
«crianças grandes». A inserçã o,-,< social realiza esse equilíbrio difícil, e sempre passível
de correcção, entre a/fiberdade pessoal, ou seja, a autonomia, a riqueza explosiva ou
latente de uma/ personalidade e a descoberta da necessidade de comunidade.

* PAPEL DA FAMILIA

* desenvolvimento excepcional das ciências do /comportamento animal e a tendência para


aí procurar analogias com o comportamento humano não ocultam, ao,,"educador, certas
diferenças esse~. No, animal, ~o que se poderia denominar instinto de educação confl~nos
pela sua/dignidade, pela sua lógica, pela sua nitidez, pela sua «pureza funcional». A
soberana arte com que a ave lança a sua cria para fora do ninho e toma todas as
providências para a apanhar em caso de desaire faz-nos pensar com modéstia no papel
tantas vezes desastrado das /mães infelizes que conduzem o filho à primeira/ escola. Quanto
Meurice Gaudet Nascido no dia 11 de Outubro de 1920. Oriundo de meio operário descobre os problemas essenciais do ensino nos centros de aprendizagem
(Comíssariado para o Trabalho dos Jovens), nos quais ensina durante os seus estudos na faculdade (licenciatura em Letras). Na óp@Íca de uma reforma do
ensino funda no Norte da França, com Albert Cernois e Paul Noddings, um colégio experimental: a Escola Comunitária. Assume a direcção pedagógica deste
estabelecimento,

desde 1946, e orienta as pesquisas da sua equipa para todos os problemas da inadaptação escolar. Dirige, desde essa data, UM serviço permanente de consulta de
pais, Membro da Comissão Nacional do Ensino da U.N.A.F.
SOC

à_«sabedoria» dos elefantes que adaptam o seu andar ao passo dos mais novitos, faz-nos
sonhar com uma/sociedade humana onde a juventude gozasse deste respeito/ educativo
privilegiado. É que de facto, no homem, as perturbações da/afectividade vão intervir em tão
elevado grau que todas as funções educativas se acharão cercadas, /inibidas e alteradas por
elas. A riqueza da afectividade vira-se contra o homem quando lhe cabe atingir o equilíbrio
da sua função de formação dos outros. Razão pela qual toda a socialização do adolescente,
amadurecida demoradamente desde a primeira infância, trará em si as
riquezas e as falhas da afectividade humana e das suas perturbações.

OS OBSTÃCULOS À SOCIALIZÁÇJO

A insegurança afectiva

Todos os especialistas da infância estão de acordo em reconhecer, na base de todos


os/conflitos de/inadaptação social, a insegurança afectiva da primeira idade. Tomemos o
exemplo do/ desentendimento de um casal cujas repercussões serão tais sobre a/psicologia
de cada um dos dois membros que se tornará impossível ao adulto escutar a infância,
abrir-se a ela e responder à sua expectativa pela riqueza fecundante do sol, do/amor de
que fala Maria Montessorio. e M. Montessori:
A impossibilidade de o adulto criar este primeiro vínculo afectivo Editara. Lisboa).
A Criança, (PortugáN,

autêntico e despojado relativamente a outrem será percebida pelo recém-nascido desde o


início da sua existência.
0 centrar do adulto sobre si mesmo, por causa de um sofrimento importante ou de
um/desequilíbrio psicológico, não permite a livre explosão dos primeiros poderes da vida
na criança, através dos laços afectivos que seriam o seu canal privilegiado.

Um estudo sobre o aleitamento revelou, graças à fotografia, a diferença de/atitude neste


gesto tão elementar e no entanto tão grave entre uma mulher acarinhada e amada e a
mulher desprezada. Seja qual for o alcance desta observação, não há dúvida alguma de
que o aleitamento é tanto uma nutrição psíquica como uma nutrição fisiológica. Trata-se
aqui de uma das primeíras/linguagens. Tudo deixa supor que, desde os primeiros olhares,
a criança pode apreender a ausência de serenidade e perceber a/angústia e o/medo. Mal
saiba falar, ela dirá à sua/mãe: «Não, mamâ, não olhes para mim dessa maneira.»

A superprotecção

0 efeito não será muito mais favorável onde a ínsegurança/afec-


494 A socialização

tiva da ,4 mãe ou do/, pai se converter em superprotecção da criança. Certos especialistas


vêem aí uma origem frequente das/neuroses, porquanto a superprotecção (de que o animal
aparece justamente liberto) nada tem em comum com a protecção e conduz a um
resultado negativo, sobretudo no que diz respeito ao equilíbrio da inserção/socialo -
# Ver Dr. A. Worsley:

Peur ar dépression
0pai ou a mãe, em vez de promoverem um arremesso para fora do (Dangles, Paris. 1955). ninho

à semelhança da ave, parecem ter necessidade da criança para se protegerem a si mesmos.


Estas perturbações da afeição são antípodas do/amor, mas quantos/pais terão consciência
disso?

A superprotecção: para os pais, uma consolação ...


0 amor de si, projectado em captação da criança, surge sob as vestes muito
tranquilizadoras do amor paterno ou materno excepcional e dá ao adulto a satisfação de
uma função bem cumprida. «Talvez eu não seja feliz, mas gosto dos meus filhos.» A
dolorosa realidade reside justamente no facto de ser difícil amar o filho quando não se é
feliz, o que transformaria a felicidade no primeiro/dever, se nos é lícito formular sem
escândalo este enunciado. Levaria muito tempo a enumerar as múltiplas formas da
superprotecçâo. Numa época alimentada de uma falsa/ psicologia dos/«complexos» e
muito inocentemente convencida do valor do/dinheiro para substituir o dom de si, a lista
dos exemplos de superprotecçâo constituiria por si só um capítulo, ou até um livro. ... para
as crianças, uma catãstrofe Incluiríamos nela crianças agasalhadas como que para uma
expedição polar à mínima intempérie, estômagos empanturrados a todas as horas do dia de
gulodices sem conta, pátios de recreio cobertos de papéis de rebuçados e mães indignadas
quando um autocarro provido de ar condicionado não depõe os querubins mesmo à porta
da / escola. Ora estes são apenas alguns exemplos quotidianos de superprotecção exterior.
Que dizer da superprotecção psíquica e dos seus estragos? «Nâo subas às árvores, não
andes com fulano ou sicrano, porta-te bem, está sossegado, não apanhes frio, e sobretudo
fica sentadinho diante da/televisão.»

0 medo de viver

Sob todas as suas formas, é já o medo de viver que se instala. É um lqngo sulco de calúnias
que deixa atrás de si este longo percurso do / medo de viver desde a primeira infância até à
/ adolescência. Todos os professores de/escola primária podem comprovar a indignação
dos/pais perante as primeiras/ sanções (salvo, bem entendido, as sanções estúpidas, frutos
maduros de professores /neuróticos). A acção/educativa esbarra desde os primeiros anos
no: «Vou
80C

dizer ao meu/pai» ou no muito evoluído: «Não tem o direito de fazer isso.»


0 medo do sofrimento atinge tais proporções que algumas escolas se abstêm alegremente
da educação física diante da quantidade de pedidos de dispensa em certos meios. Mas o
medo de viver vai muito mais longe e abarca muitas vezes as próprias raizes da vida. Nada
de aventuras, nada de rasgos, nada de riscos, bons estudos, um bom lugar, um/trabalho
sossegado, e -porque não? - uma reforma.

* necessidade de segurança dos adultos * inverosímil /necessidade de/segurança dos


adultos numa época de constantes mutações transforma-se através da osmose educativa
em/inadaptação para se empenhar na vida.

Uni novo seguro contra o risco: o diplo


0 diploma deixa então de ser um trampolim que autoriza a que se prestem provas: passa a
ser um salvo-conduto governamental contra os acasos de uma/sociedade incerta. É assim
que o estudante superprotegido, imunizado contra todas as aventuras e todo o impulso
vital, julgará de'muito boamente que o seu diploma lhe confere direitos. De direitos em
direitos, a infância e a adolescência nunca mais acabam de digerir o seu/infântilismo. Ora,
nada há que seja menos /livre do que o infantil. A uma sociedade do tipo «beneficiário
social» corresponde inelutavelmente uma juventude do mesmo tipo, privada de autêntica
liberdade.

As carências paternas É na construção desta liberdade, no nascimento progressivo desta


autonomia, a qual será a primeira virtude da/adaptação social, que nós encontramos um
dos obstáculos principais do nosso tempo: a carência paterna. A literatura sobre este tema
é tão abundante que a,.,Ireacção dos pais de/família, face a esta acusação permanente e
global, está em vias de se tornar um novo/complexo! As pesquisas sobre as causas da/
delinquência atribuem-lhe cerca de 90 „/,, dos casos, quer se trate de rapazes quer se trate
de raparigas. Mas como esta carência se faz muitas vezes acompanhar de diversos/
conflitos/ familiares e de/ desentendimento conjugal, é difícil desenredar a meada das
interacções nestas causas. A carência paterna mais frequente denuncia uma feição não
tanto patológica como sociológica; a desculpa correntemente empregue para a justificar é o
excesso de/trabalho, o excesso de/fadiga e de/tensão que o acompanha, o excesso de
preocupações profissionais.
496 A socialização

A mulher não descobre aliás este aspecto das coisas senão quando ela própria trabalha. A
vida profissional é hipertensa e não permite que se dedique muito interesse aos outros,
mesmo aos próprios filhos: «Quando entro em casa estou saturado, já não tenho paciência
para os ouvir ou orientar!» Este motivo é real, mas as consequências de um tal gênero de
carência paterna são mais superficiais do que profundas -a presença de um pai não se
avalia ao quilo ou à hora; ela é uma força que não se mede, e a criança mais próxima do
seu/ pai que eu conheci estava separada dele por vários milhares de quilómetros.

A criança espera um pai adulto, responsãvel, autónomo A verdadeira carência paterna é de


outra ordem, infinitamente mais profunda. 0 homem que a apresenta raramente atingiu o
estádio da autonomia e da/ responsabilidade: ele é casado civilmente, mas não /
moralmente, ignora a superação, e longe de alcançar a / maturidade adulta, acha-se ainda na
infância ou na/puberdade. Há /adolescências que não acabam e o mundo está cheio de
crianças grandes. Este/>< infantilismo é tanto mais frequente nos meios de vida folgada
quanto a ausência de luta real não permitiu o amadurecimento adulto. 0 que leva a que,
em muitas carências paternas, a criança seja/mimada e a família tenha todas as aparências
do bom entendimento. Este clima de facilidade vai precisamente degenerar, com o correr
do tempo, em ausência total de/autoridade; mas a criança, para amadurecer, tem muito
mais/ necessidade de se opor ao «não» do pai do que de engolir os seus «sim»
sempiternos. Certa mulher dizia do marido: «Ainda estou para saber quando é que ele me
dirá não!» Se o subconsciente das crianças pudesse falar, era o grito que ele lançaria. Mas
este é o gênero de frases que as crianças se coíbem de pronunciar. Todos sabemos no
entanto que os professores mais estimados não são os que permitem a barafunda; todavia,
os pais aprendem muitas vezes demasiado tarde que a'arte de ser respeitado não é a arte de
comprar. «Respeitarei o meu pai quando ele for respeitável.» A construÇão/educativa
e/social de um adolescente é sempre incOnciliável. com 0/infantilismo- paterno, ao passo
que muitos outros defeitos aparentemente mais graves a não perturbam. De farto, as
carências paternas incluem-se no inumerável lote dos /-d«C~ri05/afectivos profundos, eles
próprios quase sempre li~ às PcrtUrbaÇões da primeira infância. Esta cadeia maldita Par~
um fun, o falar de causas /psicológicas precisas toma-se um-contra-UMO, diante da
inacreditável soma de interacções no tempo.
S0C

0 matriarcado contemporâneo Há uma outra causa, não obstante bem conhecida, destas
carências, um novo dado sociológico dos tempos modernos: a invasão súbita e
relativamente recente do matriarcadoe.

0 lar moderno, ou a mulher à conquista da autoridade... paterj Ci/pai já não é reconhecido


como chefe, e a mulher, emancipada 0 Cf. G. Teindas e
de um longo passado de subalterna, disputa as mesmas funções de
Y.Thireau:lajeunesse ta
famiiie et Ia sociét£
autoridade, mesmo no interior dos lares mais equilibrad s Poucos `dernes (Editions soc

o. françaises. Paris, 196: homens resistem às manhas e artifícios deste novo assalto contra «A
família actual orien

de a ocada vez ma o seu papel e confessam no final da sua vida: «Aceitei tudo para para cotregime de

viver em paz.» matriarcado.»

Ai de nós! Nesse «tudo» cabe também o fracasso da autoridade paterna e a ausência nas
crianças da «coluna vertebral» que ela deveria ter construído. Quanto à mulher, ela nunca
confessa o matriarcado e apenas vê as carências do marido. Ora, a ausência de confronto
cria no adolescente uma/personalidade fluida, de estilo efeminado, e predispõe a todas
as/inadaptações/sociais, visto que a inserção numa sociedade pressupõe sempre um
mínimo de submissão a regras. Resultará daqui a apologia da/liberdade, eminente virtude
de autonomia que se confundirá com/capricho, cedência ou instinto. Este último recurso
de tipo/ intelectual rematará com tal justificação o círculo fechado do mais belo exemplo
da/moral enclausurada e do espaço murado em que os adolescentes se encerram a si
próprios.

Os conflitos de oposição: autoridade e liberdade

Perante estes dados, tudo se acha pronto para o aparecimento dos /conflitos de/oposição.
Seria supérfluo enumerar aqui as formas graves de conflitos que nascem fatalmente diante
de certos obstáculos que acabamos de entrever. Em contrapartida, é essencial situar bem
aqui o/conflito permanente, chave de toda a inserção/social e que se resume habitualmente
em dois termos que parecem opor-se: /autoridade e/liberdade. No fundo, o inimigo é a/
mentira. Que significa autoridade e liberdade se aquele que exerce a autoridade não for um
homem livre, ou seja, liberto, liberto dos seus sonhos de/pai, das suas/ambições desiludidas,
das suas vinganças secretas, da sua/timidez, da sua/demissão que se diz causada pelo
esgotamento, liberto para amar o seu filho*?
Ver Arnaud Desia

Ias Chemins de /6 se, No caso de um/educador, os mesmos entraves que o impedem (La Paiatine,
Paris, 1

PA-3z
498 A socialização

de ser livre retiram-lhe a autoridade. Um homem centrado sobre si mesmo, sobre a sua
auto-satisfação, sobre a sua vontade de domínio, pode viver e morrer julgando que teve
autoridade quando afinal nunca a teve.

Nos caminhos da liberdade: a autoridade A autoridade é um apelo de um outro para nos


libertarmos a nós próprios. Ela não é incompatível com a nossa liberdade, não existe senão
para a nossa liberdade. Os termos nã o se opõem, eleg são os dois rostos do/;<amor, o meio
e o fim. Ora a autoridade verdadeira exerce-se sempre de forma a que o discípulo creia em
si e na vida.
0 que mata a autoridade de não poucas/familias talvez seja a neurastenia que aí reina, o/
aborrecimento, o/medo de viver, o medo dos homens, o medo dos amanhãs. Os seres que
passam actualmente através de todas as crises de autoridade são os que amam a vida,
explodem de amor pela vida. Dá-se a adesão aos que têm vontade de viver, não aos
cerceadores de voos, aos coveiros, aos moralistas ocos, ou às «/mães admiráveis» que
lastimam a sorte dos seus méritos. Quando o educador, pai, mãe ou professor, é
profundamente despojado de si mesmo por amor, os seus defeitos já não têm grande
importância. Disse-se no entanto que a nossa geração era mais exigente do que geração
alguma jamais o foi. Os jovens mostram-se, de facto, exigentes quanto ao essencial, muito
indulgentes no que toca ao acessório. Um pai ou um professor que reconhece os seus
defeitos, que sabe dizer: «Não sei», é instintivamente simpático. São as fachadas que
exasperam a juventude moderna.
0 despojamento de si e a fé na vida são o maravilhoso terreno em que todas as exigências
se tornam possíveis. Não é de/camaradas que os nossos filhos têm necessidade, é de pais.
Os nossos filhos têm direito à liberdade, o mesmo é dizer que eles têm direito às forças de
libertação. Cada vez que cedemos diante do seu/capricho, arrancamos-lhes a sua/liberdade.
Cada vez que balimos como carneiros diante das crianças-soberanas que impõem a lei,
retiramos-lhes as forças de liberdade. Temos medo de deixar de ser amados. É uma
tentação: a tentação da falsa bondade!

0 entusiasmo dos pais reconcilia os adolescentes com a vida Pobres/pais demissionários


que todos nós somos e que sonhamos ser amados1 Em primeiro lugar, não estamos aqui
para ser amados, Ma$ Para que os nossos alunos ou os nossos filhos amem a vida. De tal
modo que dar testemunho do/amor pela vida talvez seja o ~ trunfo que nos resta para
reequilibrar o drama contem- .,por~ da juventude. A ten~o de/demissão será permanente
e, contudo, as plantas
S0C

de estufa morrem aos primeiros frios. Quantos homens-crianças morrem de madrugada! Chusmas
de/mães, em chusmas de/automóveis, despejam todas as manhãs chusmas de crianças à
portas das/escolas. Bem lavadas, assépticas, preparam-se para amadurecer ao aconchego
dos radiadores. Todos os caminhos fáceis vão dar aos subprodutos. Toda a/pedagogia
fácil vai dar ao subdesenvolvimento. A arte maravilhosa da/autoridade, que é o gesto
de/amor por excelência, consiste sempre em unir dois aspectos.
- incitar o discípulo a descobrir o seu possível;
- deixar-lhe autonomia suficiente num clima bastante rigoroso para que ele exerça a sua
faculdade de escolha. Então a síntese passa a ser a de Goethe: «Foi obedecendo que
melhor senti que a minha alma era livre.»
0/conflito de/oposição nem por isso deixará de estar sempre pronto a renascer.
A/adolescência é tanto a idade da generosidade como a do/egocentrismo. E é difícil, na
idade em que se está centrado sobre si, compreender o amor despojado do adulto. Oxalá o
educador acredite na «força energética» do amor! Weyergans dizia: «Filhos da minha
paciêncial»

* medo do diálogo

* conflito permanente entre autoridade e liberdade, nó górdio de toda a formação/social


de base, leva por vezes os adultos a um autêntico medo de dialogar. A/ timidez parental é
um mal corrente. Ela é ao mesmo tempo/pudor e embaraço: a critica severa diria
demissão. Na realidade, não se sabe qual deles, o adulto ou o adolescente, se esquiva, e o
diálogo mantém-se uma arte difícil.

Uma reivindicação moderna: o diãl


0 adolescente exprimirá muitas vezes a um estranho o/desejo que ele tem de dialogar com
o pai, mas não o confessará certamente ao próprio pai, Este último não tardará assim a
convencer-se de que as suas palavras seriam mal recebidas e tais razões facilitarão a fuga
quotidiana e recíproca. É só na idade adulta que voltará a hora das confidências.

A ausência de dificuldades vitais

Neste primeiro estudo sobre os obstáculos familiares à abertura /social dos adolescentes,
temos levantado várias vezes o tema da facilidade e das suas consequências. Já não se
trata agora da superprotecção devida a um / desequilíbrio / afectivo do pai ou da / mãe,
mas de todo um conjunto soicológico que, sem nós sabermos, mergulha a juventude na
ausência de dificuldades vitais, pelo menos
500 A socialização

nas civilizações ditas de abundância, não sendo este dado válido no mesmo grau para
todos os meios.

Um valor exaltado ontem o desconhecido hoje: o esforço Seja-nos permitido concluir


citando as graves advertências de Alexis Carrelo: «Seria possível restituir a energia e a
audácia à maior 9 Alexis Carrel@
0 Homem,parte dos que as perderam, colocando-os em condições de existência Esse Desconhecído,
mais rudes. No lugar da uniformidade e da suavidade da vida das /escolas e das
1935.

universidades, seria preciso instituir hábitos mais viris. A acomodação a uma disciplina
fisiológica, intelectual e moral determina, no sistema nervoso, nas glândulas endócrinas e
na consciência, mudanças definitivas. Ela dá ao organismo uma melhor integração, um
maior vigor e mais/aptidão para transpor os obstáculos e os perigos da vida ... Quanto
mais um músculo funciona, mais ele se desenvolve. Em vez de o gastar, o/trabalho
fortifica-o. É um dado imediato da observação que as/actividades fisiológicas e mentais
melhoram com o uso. E também que o/esforço é indispensável ao desenvolvimento
óptimo do indivíduo.» Se a ausência de «não» na primeira infância pode ser actualmente
reconhecida pela/psicologia como causa de certas/ neuroses, se a ausência de luta é
reconhecida como risco imediato de degenerescência, tanto no plano fisiológico como no
intelectual e no/moral, logo/social, podemos admitir que o «não» do/pai é muitas vezes o
primeiro «sim» à vida, embora com a condição de ele ser da ordem do / amor.

CONSEQUÊNCIAS: AS PERTURBAÇõES DA ADAPTAÇÃO

Ao longo deste estudo sobre o papel da/família, temos insistido demoradamente nos
obstáculos /psicológicos, bem como no estilo de/autoridade que pode ou não favorecer a
preparação social do adolescente. No decurso de mais de dez mil consultas de pais,
adquirimos a certeza da extrema gravidade do factor familiar na/adaptação social dos
jovens. Afigurou-se-nos progressivamente, aliás com a mesma força de evidência que
púnhamos na nossa recusa inicial, que este factor /familiar prevalecia, e de longe, sobre
todos os factores escolares, por um lado, e sobre as influências propriamente/ sociais, por
outro lado. Decerto que importa ter em consideração a enorme i~cia, dos imperativos
sociais, das ideologias ambientes sobre a b~ria família, mas a observação indica que tudo se
passa como se a f~. servisse de crivo, de órgão digestivo - sendo os alimentos G~15 c
os seus micróbios constantemente submetidos a esse poderoso 0~ intermódio de assimilação
ou de rejeição. NKO há dúvida de que tal função sempre foi conhecida e admitida, mas a
invasão das ciências sociológicas mais acessíveis às estatís-
80C

ticas arrisca-se actualmente a fazer-nos minimizar este papel familiar verdadeiramente


gigantesco de organismo de assimilação, intermediário entre a sociedade e a criança. Tudo
se passa como se os alimentos terrestres, antes de serem recebidos pela infância, fossem
previamente mastigados, assimilados, mas sobretudo personalizados por um meio
fecundante constituído pelo /x amor de um homem e de uma mulher e a que se dá o nome
de lar, a ponto de o imenso perigo da «massificação» dos espíritos e dos ideais, tão
denunciado por todos os sociólogos e psicólogos, não atingir em profundidade senão
aqueles cujo lar não tem poder de assimilação e, por este motivo, poder de rejeição, logo
poder de defesa, exactamente à semelhança de um organismo no acto qe assimilação. E por
isso que examinar a inadaptação social dos jovens sob o ângulo familiar constitui na
realidade a única forma objectiva e psicológica de tratar esta questão em profundidade.

A inferioridade É corrente apresentar a inferioridade como o tipo mesmo do drama social.


Manifestar-se-iam aí as primeiras consequências do confronto da/ personalidade da criança
com as exigências da/sociedade, em particular dessa sociedade de jovens que é a/escola.

As nossas observações sobre cerca de 1500 casos de alunos-problema


- tendo cada caso sido seguido durante vários anos - revelaram-nos, também aqui, não
haver, as mais das vezes, inferioridade escolar sem inferioridade familiar. A criança e o
adolescente têm necessidade de triunfar relativamente a um ser amado que os espera.
Nota-se, em quase todos os casos psicológicos de fracasso escolar, entre os rapazes que
tivemos ocasião de reeducar, uma espera desvairada da/atenção do/pai. A fé dos/pais no
filho, fundada em motivos sólidos e profundos, na expectativa do/amor que revela os
poderes de qualquer ser, é uma arma de dissuasão quase absoluta contra os riscos de
malogros que, de facto, ameaçam todos os adolescentes.

0 inferiorizado é portanto um ser que não foi «educado a seus próprios olhos», segundo a
expressão de Simone Weil, por aqueles mesmos cujo amor e/confiança ele esperava, mas no
clima de exigência de que falávamos no parágrafo « / autoridade e / liberdade» e. 0 Cf. A.
carnois:

le Drame de 1'infdd< chez l'onfent (E. Vil


0infantilismo Lião).
0/infantil é o tipo do mal amado, ou melhor, do amado mal. Muitas vezes demasiado
amado, demasiado apaparicado, demasiado
502 A socialização

protegido, ele descobre a luta pela vida demasiado tarde, com músculos atrofiados. Produto
directo do matriarcado ou das carências paternas, revela-se, mau grado a sedução das suas
maneiras, claramente incapaz de sínteses de pensamentos e de acções.

Um adolescente com prorrogação: o estudante É a altura de lembrar a existência de uma


forma dissimulada de /infantifismo que espreita a juventude, a saber, a ausência de
/responsabilidades sociais precisas, devido ao prolongamento tardio dos estudos,
justamente na idade do espírito critico, da/ contestação social e, para muitos, do/idealismo
generoso. A dependência financeira de todos estes jovens em relação aos pais, mais
sustentadores do que nunca, mantém-nos num penoso estado de subordinação ao mesmo
tempo que de irresponsabilidade. Donde o perigo de um ataque às instituições e aos
grupos sociais, independentemente de qualquer critério sério, numa / reacção de / crianças
mimadas que experimentam um pouco tarde a legítima necessidade de pôr finalmente à
prova as suas asas. Uma desproporção entre a gravidade dos objectivos visados e
a,,'maturidade psíquica daqueles que contestam arrisca-se a prejudicar as evoluções ou
/revoluções indispensáveis e a virar-se contra os adolescentes mais conscientes e mais
amadurecidos, cujo pensamento dinâmico deveria ser esperado como um elemento motor
pelas/ sociedades adultas.

Ao mesmo tempo que o aumento geral da/cultura exige diálogo e participação dos
adolescentes nas pesquisas e decisões que lhes dizem respeito, o infantilismo social de
todos os que estão condenados a estudar sem viver agrava-se de ano para ano.

A pré-delinquência Nunca haverá suficiente/ amor na ponta de uma caneta para escrever
algo sobre os adolescentes pré-delinquentes ...

0 pró-delinquente: um adolescente desarmado diante de um sofrimento adulto


0 Pré-delinquente é um ser que sofre demasiado cedo o que um adulto já teria bastante
dificuldade em suportar. Este fenômeno Cra=te e galopante da/delinquência e pré-
delinquência juvenil é a chaga e o exame de consciência vivo das/sociedades ditas
«dO~VOMdas». Trata-se menos de um fenômeno de inadaptação ~ do ÇFC de um
testemunho de irresponsabilidade familiar. «C<>r£rontemos então as nossas próprias
observações com esta do~o de um oficial da polícia, da brigada dos menores de Marulha.
Tendo sido alvo de uma acção judicial na sequência de diversos delitos (/roubos,
/violências, etc.), alguns jovens
S0C

foram inscritos no ficheiro e, dentre os/ pais -avisados por carta registada da medida que
havia sido aplicada aos seus filhos, rapazes e raparigas -, somente 1 % dos responsáveis
familiares se apresentou a pedir esclarecimentos.»* 0 G. Teindas e
Y.Thireau:Iajeunesse Os pré-deliquentes foram alimentados, mas não foram educados. Ia
famille et Ia s0cj&@ Eles são gerados, mas não são amados. Constituem testemunhos
moderne& t. 2 (Editio

vivos da falta de amor no mundo e carregam o peso disso sobre


iales françaises, sPoacris, 1963). os
seus ombros.

A insatisfação

A dor de viver, a própria repugnância em viver, atingem os mais variados meios de


adolescentes ou de jovens. Os casos extremos de/suicídio dão testemunho de uni abcesso
que alguns desejariam afogar na/droga ou no/álcool. Inquéritos recentes revelam a
influência crescente dos/tranquilizantes soporíficos nos sítios onde o amor de viver e a
conquista da vida perderam todo o seu atractivo. Decerto que o sistema escolar, única
porta de entrada na vida, suscita tais excessos e tais/reacções em virtude da sua profunda
incapacidade para se ajustar às forças do impulso vital, em virtude mesmo do
seu/negativismo. Uma sociedade de tipo conservador pode causar náuseas, uma
civilização de consumo fala certamente mais de gozo do que de dom de si, e todos
sabemos até que ponto estes temas têm sido vistos, revistos e corrigidos nos últimos anos.
Mas também neste caso, voltamos a dizer com força que a insatisfação, no sentido doentio
do termo, quando não deriva da saúde do corpo, deriva da saúde psíquica da/família,
muito para além de todas as outras causas sociais.

0 eterno insatisfeito: um produto dos lares desencanta A observação diária, por ocasião
das nossas consultas /pedagógicas, revela que o desencanto, a falta de gosto pela vida,
têm as suas raizes num desencanto familiar permanente. Percebemos igualmente que esta
insatisfação está prestes a tornar-se o clima médio de uma família média. 0
descontentamento diante das pequenas e das grandes coisas, diante de tudo o que corre
mal, e antes de mais, diante de nós próprios, está a caminho de se converter no pano de
fundo do lar médio. A osmose de uma tal/ambiência acomoda~se tão bem a todas as
ideologias neurasténicas do momento que já se lhe não presta atenção e o mal vai-se
instalando. Acrescentemos por fim que a insatisfação está directamente ligada ao tono
físico do adolescente, e que este tono nunca esteve tão comprometido quer pela duração
dos trabalhos escolares à noite, quer pela invasão da/televisão que diminui as horas de
sono, quer ainda, de modo geral, por toda uma civilização de correria, de/barulho, de
enervamento, onde a paz, a calma e a serenidade
504 A socialização

parecem reservadas a alguns monges em clausura ou aos pastores da montanha escapados


ao combate.

A revolta

Marc Oraisono formula em termos de uma grande clareza o mal # M. Oraison:

de toda a/adolescência: «0 que caracteriza o adolescente é opor-se temps (Fayard,


Une morale pour notre

para se pôr a si'», isto é bem conhecido. Quer dizer que ele reage 1964). diante do
Paris,

«outro, manifestando a sua/autoridade», numa segunda etapa do seu/medo: é a tendência


normal para a autonomia que está ameaçada, porquanto a sua/;<segurança interior -
precisamente a autonomia - não se acha ainda solidamente estabelecida. Então ele diz não;
«respinga». A/--<linguagem corrente exprime aliás isto com muita justeza: «Só faz o que
lhe dá na cabeça.» Este /comportamento normal e transitório no adolescente elucida
bastante bem a/atitude « antimoralista» na sua própria contradição. A autonomia moral
está, de facto, nesta idade, à procura de si mesma; o sujeito tem de conseguir orientar a
sua vida sozinho, o que é o estado adulto normal. Mas encontra-se tolhido entre o medo
do aniquilamento pela «lei do outro» -donde a sua/ oposiçâo - e o medo ainda mais
profundo das suas próprias pulsões obscuras e «desse desconhecido de si» que ele ainda
não logra integrar numa síntese dinâmica. A ausência de estrutura, de coluna vertebral,
degenera no momento do confronto social em agressão contra todas as manifestações da
/autoridade, com tanto mais/violência, parece, quanto este /descalcamento da/
agressividade se não operou na idade normal e nas condições habituais de/segurança
sempre esperadas da autoridade mesmo quando se lhe faz oposição por principio.

Todas estas manifestações, da rebelião normal da adolescência à/revolta declarada, nascem,


esbatem-se ou envenenam-se nas raizes e na trama do dia-a-dia familiar. Que uma autêntica
autoridade centrada num profundo despojamento do adulto diante da / adolescência
conduza a um estilo democrático de/;<responsabilidades e de autonomia progressivas, e
todos os desassossegos da/Puberdade se transformarão em reservas
inesperadas de virtudes/sociais.

CONCLUSIO

0 t~o/familiar aparece assim como a matriz de toda a evolu-


40 4~, ulterior da criança e do adolescente. Nenhum orfanato, »A~/inte=to, por muito
acolhedores que sejam, podem resolver UM, Problema de uma tal amplitude, ou, se o
resolverem, isso só pode ficar a dever-se a laços humanos excepcionais.
S0C

Mas há toda uma série de matizes de variedades e de riquezas de -um para outro lar. Ainda
que o adolescente receba o dom de um /amor equilibrado, o carácter fechado ou aberto do
seu lar pode mudar radicalmente o respectivo potencial. É a altura de recordar a análise de
Bergson sobre a/moral fechada. Como não haveria um tal clima de produzir seres de fôlego
curto, de intuição limitada, de coração «sovina»6? «Quando a família
0 Ver Alain: Pr
vive virada para si como uma planta, sem o ar puro dos/amigoS, Paris, 1969). dos
l'éducation (P U.F..

interessados e dos indiferentes, nasce nela um fanatismo que não tem igual.» Dos 1500
casos de adolescentes de todos os/meios que observámos pessoalmente e acompanhámos
de perto, pudemos concluir que os meios socialmente abertos tinham, em regra quase
absoluta, filhos abertos e dedicados; as excepções que encontrámos a esta regra
provinham de graves falhas no exercício da autoridade, ou de uma falsa abertura ao
mundo, fundada mais na necessidade de parecer do que na de servir. Por toda a parte onde
detectámos nos pais o sentido desinteressado e profundo do serviço e do dom à
comunidade - sem que houvesse no entanto abandono de autoridade ou desinteresse
relativamente aos filhos -, descobrimos sempre, não sem alguma admiração, filhos dotados
de qualidades sociais excepcionais. A cegueira e o /egocentrismo dos outros meios que
estes adolescentes frequentavam em nada alteravam a solidez e a perenidade das suas
riquezas próprias. Mais ainda, eles constituíam, para outros adolescentes, um pólo de
atracção, comprovando sob os nossos olhos a célebre frase de Bergson: «A sua existência é
um apelo.» E curioso verificar, e muito humilhante confessar, ao fim de cerca de 15 000
horas passadas em consultas de/pais, que a lei essencial de promoção da infância e
da/adolescência que consideramos agora como pedra angular de todo sistema, nos não
surgiu ao espirito senã o após uns 20 anos de múltiplas pesquisas e observações.
Apresentá-la-emos como conclusão desta primeira parte: «E o testemunho do,,* amor do
casal que constitui a riqueza fecundante por excelência, a força primordial de promoção e
de propulsão para o amor ao mundo.»

0 PAPEL DA ESCOLA NA SOCIALIZAÇÃO

Ao contemplar o rosto dasxmães e o olhar desvairado dos filhos, dir-se-á que a/ escola é de
facto a primeira grande ruptura. Ruptura aliás não raro ambicionada pela criança, que sente
fortalecerem-se as suas asas e experimenta simultaneamente a/necessidade de crescer e o
intenso desejo de viver com outras.
506 A socialização

Este apelo é evidente quando, ao fim-de-semana, a mamã aceita a visita dos amigos: pode-
se falar de espera ardente e, alguns dias antes,. «o coração já exulta».

Este apelo ardente explode por volta dos 7 anos, após uma lenta progressão nesta/
aprendizagem,,,, social desde as primeiras descobertas do jardim de infância. Adivinha-se
facilmente toda a riqueza /cultural que pode decorrer deste tipo de classe e a gravidade
das aprendizagens sociais que aí se operam. Há duas situaçõ es possíveis: ou as relações já
degeneram entre um mestre omnipotente e o aluno submisso, ou se cria um verdadeiro
vínculo todo em serenidade e em libertação entre a/ educadora e a criança - dois mundos
diferentes que começam a preparar-se na idade das mais sólidas impregnações /,I
psicológicas.

A PEDAGOGIA MONTESSORIANA DA PRIMEIRA IDADE ESCOLAR

Sem uma longa progressão, não há autonomia possível aos 12, 15 ou 20 anos. 0 erro dos
reformistas da/ educação é esperar gestos de autonomia em grupos de adolescentes a
quem este procedimento nunca foi ensinado. 0 mérito de Maria Montessori é
essencialmente o de ter interiorizado a/ educação desde a primeira idade, de lhe ter
conferido unia 0 v” 11. Montessori:

extraordinária dimensão de/aprendizagem da/liberdade*.


A Criança (Portugália Editora, Lisboa).

Quando a educação se dota de uma nova dimensão: a liberdade «As nossas crianças
aprenderam então a mover-se através dos obstáculos sem os derrubar, a correr
ligeiramente sem barulho, tornando-se desembaraçadas e ágeis. Elas fruíam a sua
perfeição.
0 que as interessava, era descobrir sozinhas as suas possibilidades e praticá-las neste mundo
misterioso que é a vida a desenrolar-se.» «0 que mais nos surpreendera tinha sido a
frequente recusa de recompensas. Havia um despertar da consciência, um sentido
da /dignidade que antes não existia.» «Elas recusavam, espontaneamente, prêmios
exteriores inúteis, do mesmo passo que se elevavam até à vida espiritual.» «Donde
vinha esta disciplina perfeita, vibrante, mesmo quando se manifestava no mais profundo
silêncio, esta obediência que se adiantava ao mandado? A calma que reinava na aula
quando as C~ estavam a trabalhar era penetrante, comovente. Ninguém a havia
provocado. Ninguém, aliás, teria conseguido impô-la do e~or.» «EM ~ente este 0 Maior
motivo de surpresa que encontrávamos ms nos= crianças, o que se prestava mais à
reflexão, que parecia conter algo de misterioroso: a ordem e a disciplina tão estreitamente
unidas que geravam. a liberdade.»
É justamente esta aprendizagem do governo de si mesmo, este apelo à dignidade, logo à
alegria interior, que impressionam mais na altura de uma visita aos pequeninos de um
jardim montessoriano bem compreendido. É legítimo perguntar se haverá alguni dia uma
autêntica autonomia viável à escala das classes de alunos mais adiantados, enquanto não
for transposto o fosso entre esta dignidade extraordinária dos pequeninos, devidamente
realizável, e a disciplina puramente exterior e não consentida do/ensino tradicional.

SOCIALIZAÇ,TO E ENSINO TRADICIONAL Surge aqui uma noção nova, a de


aprendizagem/ social. Sem dúvida que a escola foi sempre o lugar desta aprendizagem,
porém, confessemo-lo, mais frequentemente pelos acessórios -recreios, algazarra, entradas
e saldas- do que pela estrutura interna da sua /pedagogia. Trinta crianças dão por si
amigas ou inimigas à saída da aula, mas permanecem centradas no seu perfeito
individualismo no interior dessa aula. A ajuda é chamada / «batotice». E o último poderá
estiolar ao longo de anos de fracassos sem que o primeiro tenha sido uma só vez
convidado a estender-lhe a mão. A lição é individual, o /trabalho de casa é individual,
o/exame é individual e o diploma é individual. Quando nos lembramos de que na/familia e
na vida profissional tudo se fará em equipa, aflige-nos ver o fosso que separa a formação
do objectivo. Quando pensamos que toda a vida/social e/política exigirá a descoberta
constante do espírito de comunidade, perguntamos a nós próprios como poderá este ser
bem adestrado no/egocentrismo, tornar-se membro activo de um grupo. Se acrescentarmos
o drama da selecção das classificações e dos concursos, perguntaremos ainda como é que
o aluno adestrado neste sistema desenfreado do «primeiro eu, depois os outros» pode vir a
ser eficaz numa/sociedade onde, mal se transpõe o limiar da /escola, já nada é possível sem
a ajuda de outrem. Quanto à estranha ingenuidade do diplomado que, finalmente munido
do seu diploma, espera que a sociedade venha servi-lo e inclinar-se diante dos seus
direitos, ela decorre muito naturalmente desta longa ignorância devidamente alimentada do
«bem comum». Que tantos homens tenham resistido a este aspecto empobrecedor da
ausência de formação comunitária prova de modo estrondoso
os recursos da natureza humana. Nestas condições, como nos haveríamos de admirar com
a explosão do fenómeno dos/grupos e dos^andos na fase da/adolescência. Trata-se no
fundo de uma/reacção espontânea a unia /educação esterilmente individualista.
508 A socialização

0 ensino tradicional convida o aluno ao «esplêndido ísolarnento» É bem certo que os


grandes conjuntos escolares se multiplicam e não podem desenvolver os contactos de
todas as ordens, mas, justamente, o que impressiona mais nestes conjuntos é o deserto
humano que aí se respira. Passado o limiar do primário, o professor terá normalmente
várias centenas de alunos a quem dará aulas cada semana, e o director, por sua vez, terá
um ou dezenas de professores. Quem será ainda conhecido, quem será ainda amado numa
tal multidão? Continuará a ser possível pôr um nome num rosto, e, em caso afirmativo,
conhecer o coração que cada rosto esconde?

Michel Lobroto, agregado da universidade, declara: «Tem-se feito 0 M. Lobrot: @a


Pédagogie notar muitas vezes, desde que a/pedagogia nova valorizou a institutionnelle (Gauthier,

4equipa‟, o/'grupo‟, o „espírito de pesquisa‟, até que ponto o Paris, 1966).P- 91 aluno se

mantém, na escola, um ser isolado, cortado dos seus /camaradas, cortado da acção. „Não
comuniquem‟ quer dizer, n& escola, „não copiem uns pelos outros‟. Cada qual faz o seu
trabalho para si, em/ competição com os outros. 0 mestre -ou o professor - é uni ser
longínquo, ausente, anónimo, encarnação da Regra, com o qual não há conversa possível,
diálogo autêntico.» A respeito do anonimato psicológico, já Maria Montessori escrevia*: o
M. Montessori:

«Examinemos o que se passa com o adolescente nas/ escolas secun


De 1'enfant à l'adolescent (Desciée de

Brouwer. dárias: todas as horas ele muda de professor e de/ensino; muda Paris), p. 113. sem

qualquer espírito de sequência. Ora, não é possível alguém adaptar-se numa, hora a um
pensamento novo; quando conseguiu adaptar-se, sobrevém logo um outro professor que
ensina uma outra matéria. É numa tal agitação espiritual que decorre este período difícil da
vida humana.» Dois educadores contemporâneos, num estudo notável, analisaram este
fenômeno e as suas consequênciaso: e Ver G. Teindas e
«Os liceus tentaculares acentuam ainda
e Y. Thireau: Ia Jeunesse mais esta plasticizaÇãO, dens le famille et
Ia sociM pois surge aí o fenômeno de „massificação‟ que teve tão profundas `dernes. t. 2 (Editions

ressonâncias nas pessoas crescidas. Um tal fenómeno não poderá


sociales françaises, Paris, 1963), p. 413.

senão acentuar-se nos seus anos adultos, na medida em que os jovens se sentem já perdidos
no liceu. Quando se dá aos alunos recéni-chegados o seguinte tema: „Diga as suas
impressões sobre o seu primeiro dia no liceu‟, aparece invariavelmente o mesmo leitmotiv:
„Sentia-me perdido‟, „Quando tive de deixar a minha /mãe, senti as ~S a tremer‟, „Havia
uma multidão de alunos‟, T~va perdido no meio dos alunos‟, „Nunca tinha pensado que
0 IiOcu fosse tão grande‟, „Não conhecia ninguém'... @Mais tarde fica-se surpreendido ao
descobrir que os alunos se C«dW~ MUito Mal de turma para turma, quando não apenas de
vista; ignoram, bem entendido, os nomes de uma boa metade dos professores do
estabelecimento; o liceu é para eles uma vasta fábrica
anónima onde se vem marcar o ponto a horas fixas; a forte concentração humana realizada
na escola conduz aos mesmos dissabores que num complexo industrial. As relações
humanas esboroam-se: o aluno passa a ser uma série de fichas, de algarismos e de notas na
sua caderneta, na agenda do professor, nos ficheiros da vigilância geral do director de
disciplina, do ecónomo e do reitor. 0 aluno trava conhecimento com o anonimato. «A
sondagem mostrara a/passividade de uma enorme maioria dos indivíduos. Poderia ser um
dos papéis do ensino reagir contra ela. Ora, pela força das coisas, o mundo escolar reforça
actualmente esta passividade afogando os alunos em massa amorfa, dentro da qual eles se
acham enviscados. Será razoável lutar contra a „massificação‟ e a estandardização das
crianças pelo/meio ambiente diário mergulhando-as num novo meio que recai nos mesmos
erros? E, frente a ele, a criança poderia reagir de outro modo que não pela indiferença e
pela passividade?... «0 estudo das condições do trabalho industrial mostrara uma profunda
dissociação entre a/actividade profissional e a satisfação da necessidade criadora. 0 mesmo
sucede aqui: os liceus tentaculares que „quantificaram‟ os alunos perdidos numa multidão
anónima chegam a contar cem ou duzentos professores. Porque não haveria o pessoal de
ser por sua vez „quantificado‟? Professores e monitores vêm marcar o ponto a horas fixas,
vendem a sua mercadoria tal como outros fazem nas mercearias, avistam-se uns aos
outros num relance, cruzam-se nos corredores, em suma, afogam-se também eles no
anonimato ... » Desde sempre, os verdadeiros educadores, quaisquer que fossem o estilo
dos seus métodos ou o âmbito do seu/ensino, souberam criar laços humanos e promover
uma autêntica comunidade entre os seus alunos, mas o perigo do anonimato e do
individualismo não tem parado de crescer e compreende-se o apelo/ angustiado dos
reformadores.

REMÉDIOS PROPOSTOS PELA ESCOLA NOVA

Um excelente resumo publicado pela revista Êcole nouvellefrançaise (Outubro de 1951)


define assim vários princípios: «- Ter uma visão justa da criança.
- Mobilizar a actividade da criança.
- Ser um „treinador‟ e não um „ensinador‟.
- Partir dos interesses profundos da criança. -Empenhar a/ escola no seio da vida.
- Fazer da aula uma verdadeira comunidade infantil.
- Unir a actividade manual ao trabalho do espírito.
- Desenvolver na criança as faculdades criadoras.
- Dar a cada um segundo a sua medida.
510 A socialização

- Substituir a disciplina exterior por unia disciplina interior livremente consentida.» Quer
se trate de Maria Montessori, de Freinet, de Ferrière ou de Dewey, em todos encontramos
estes objectivos essenciais:
- Aprendizagem da autonomia. -Descoberta da equipa e do/ trabalho em comum.
- Iniciação à democracia.
- Iniciação à decisão.
- Descoberta do mundo contemporâneo. -Autenticidade das /responsabilidades. A escola
arroga-se o direito e o dever de ajudar a criação e a pro- moção do homem social. Todos
estes educadores parecem visar um mesmo objectivo relativamente novo: elevar o homem
à sua nova/dignidade de agente activo de uma democracia e por esta via construir a paz a
partir da infância. «É possível educar o homem, desde o seu nascimento, para a/liberdade,
e construir a paz através destas pren-iissas.» São palavras de Maria Montessori. «Importa
então considerar a criança; importa libertá-la dos inúmeros obstáculos que ela encontra no
seu/ desenvolvimento; importa ajudá-la a viver. Uma vez compreendido este princípio,
a/atitude do adulto a respeito da criança deverá modificar-se profundamente. «Maria
Montessori lançou assim as bases de uma ciência universal da/educação, de uma ciência do
espírito humano, e, a partir destas bases, é possível edificar com segurança uma
«ciência» da paz. «Maria Montessori defendeu, como se sabe, no princípio da liberdade, a
condição manifesta da/actividade responsável do ser 9 M. Pignatari: humano. A sua obra
educatíva tem por conseguinte como finalidade Montessori citoyonne
ou monde (Comité Italiano a educação para a liberdade.»* do C.M.E.P.).

«É preciso que a escola se torna a casa das crianças

e não a sua prisão» A. Ferrière declara o: «Se não se quiser deixar esta educação/ social q>
Ad. Ferrière:

fazer-se à margem da/escola e sem seu conhecimento, se o regime (Delachaux et


IAutonomie des écoliers,

Niestlé), da luta entre o professor e os alunos conduz ao estabelecimento p. 24. de uma


dupla moral, uma de fachada, para uso do mestre, a outra nos bastidores, entre
condiscípulos (e é a única eficaz e duradoura nos Seus efeitos), não resta senão uma
solução para o problema: é ~so que a escola abra com bastante largueza as suas portas à =
vinda de fora para que a vida, tal como o sol, aí penetre

preciso que as crianças se sintam nela perfeitamente ,à vmtade. É preciso que a escola se
torne a casa das crianças e Z” a ma Prisão; é Preciso que elas encontrem ai alegria e não
/Aborre~to. Não há educação sem alegria. „Mas só se dá
9~ q= *C teW, objectar-se-á. „Quem não tiver alegria no coraÇão não queim ser
educador‟, responderei eu.»
80C

A aprendizagem capital da autonomia É a Foerster que devem os as mais belas páginas


de síntese sobre este problema*. Afigura-se-nos capital recordá-las: «A vontade 9F
í É@jI@ W. Foerster:

individual, com todos os/caprichos e todas as paixões que a sobre-


et le ceram (Delachaux et Niest

carregam, deve ser absolutamente submetida e quebrada, se se quiser Pads. 1929). que a
pessoa espiritual desperte para a vida. 0 erro consiste em não querer dobrar essa vontade
senão de fora. Esta espécie de tomada de posse desencoraja, aniquila mesmo,
a/personalidade humana por ela ignorada ou desdenhada. Não, é, a própria criança que
deve quebrar a sua vontade interior... «Podemos dizer, em certo sentido: a/personalidade é
a concentração, a individualidade é a divisão e a dispersão... «Não, não se atingirá
a/liberdade e a/independência verdadeiras senão pela via da disciplina e da vitória sobre si...
«É absolutamente estranho verificar, na nossa época de evolução, de progresso e
de/educação, a quantidade de/pedagogos que não têm ideia alguma daquilo que é o
princípio e a razão de ser de toda a educação: a criança que se pretende educar não deve
permanecer o que ela é, deve ser elevada a algo de melhor, de maior e de mais forte...
«Ninguém é menos independente do que o homem que nunca aprendeu a obedecer. Falta-
lhe a mais forte escola de resistência pessoal, aquela em que se aprende a resistir a si
mesmo... «No seu primeiro estádio, a educação não pode abster-se do constrangimento,
mas o seu término, é obediência livre... «Lá bem no fundo de si mesmo, o homem está
pronto a responder a tudo o que lhe requeira um/ esforço ou uma renúncia heróica ... »
Consideramos essenciais estas anotações, pois sem liberdade autêntica do homem nunca
haverá dimensão/social para a sua personalidade. Não, a via não está na permissividade,
tal como não está no autoritarismo de ontem. Ela reside numa fé que revelará a cada aluno
o mundo maravilhoso da sua própria libertação.

Os grupos, as equipas de pesquisa

A/escola activa, o estudo do/meio, o circulo de estudo, as conferências de alunos vêm


desde há muito sensibilizando a opinião pública para esta nova dimensão /pedagógica.
Sobre este ponto, há dois pioneiros a destacar: Cousinet e Freinet. Um coloca a equipa
de/trabalho na base da organização da vida escolar, ou seja, do método de aquisição dos
conhecimentos; o outro, mediante as técnicas de imprensa na escola e da cooperativa de
permutas entre escolas dá à pesquisa e ao trabalho em/grupo uma vitalidade e um
dinamismo solidamente corporizados.
512 A socializaÇão

0 trabalho em grupo: enriquecedor nos planos humano e escolar Depois de termos


observado durante anos a prática destes métodos no nosso próprio estabelecimento,
chegamos a duas conclusões: o futuro da/pedagogia não pode conceber-se sem a
aplicação de tais processos a uma parte do/ensino; o grupo de pesquisa é tão rico para a
aquisição dos conhecimentos e a organização da reflexão como para os reflexos de
comunidade que ele desenvolve. Mas estes métodos apresentam muitas armadilhas. Segui-
los apenas para in:útar os/gostos do dia e sem uma sólida preparação seria levar os alunos a
pagar um pesado tributo pela experimentação. Descobrimos aqui um novo aspecto do
nosso estudo: a preparação /social dos alunos pressupõe a organização da vida social dos
professores e a sua própria iniciação nos trabalhos de/grupo. «A constituição de grupos
de/trabalho, de equipas que repartem entre os seus membros uma dada tarefa, tudo o que
possa despertar nos alunos o sentido da comunidade, oferecem a este propósito meios
eficazes, para além da eficiência /pedagógica que tais processos encerram.»*
Ver Dr. A. Worsley

e outros: Ia Bouton ou mendarin: 1'école face à notre avenir, A iniciação à democracia


Centre Tétudes

Ferrière e Dewey abriram-nos novos horizontes neste domínio.


pédagog iques (Casterman.
Precisemos bem que, no seu entender, não se trata de ensinar o civismo, mas de o
Paris, 1968).

viver, por meio de formas progressivas de/responsabilidade, cuja prática era outrora
corrente no/ensino primário. Manter um pequeno cargo durante muito tempo não é lá muito
simples! Mas é necessário ir mais longe. A eleição de mandatários parece uma fórmula
perfeitamente generalizável e a sua missão dependerá tanto da sua idade como do estilo do
colégio. 0 conselho de classe poderá advir daí, e as múltiplas iniciativas que
assim nascerão hâo-de criar um saudável clima de diálogo com o/educador. Dever~se-á
inclusive ultrapassar este estádio? Decerto que sim, mas progressivamente. Não se brinca
à democracia. São coisas sérias que se aprendem e a não directividade constitui muitas
vezes um logro no contexto do ensino. Em l'Autonomie des écoliers, Ferrière cita
múltiplos exemplos de governo dos alunos por si mesmos, através do mundo: «Na reunião
da Unesco, no dia 1 de Abril de 1949, Elizabeth Rotten, uma das fundadoras da Liga
Internacional para a Educação Nova, lembrou que a regra da unanimidade (decisões dos
alunos tomadas por unanimida e não por maioria das vozes) havia sido adoptada, antCB do
regime de Ifitler, numa/escola nova da Alemanha; ora nem um dos alunos se converteu ao
nazismo.» Em conclusão do seu estudo, Ferrière cita Jean Piaget: «0 self-govern~ ao
habituar primeiro a criança a colaborar com o
80C

adulto, em vez de lhe obedecer sem mais, outorgando depois ao adolescente poderes cada
vez mais amplos, contribui para reduzir este antagonismo em vez de o exasperar. Enquanto
o constrangimento e a submissão forçada se arriscam a conduzir à /revolta, a colaboração
com o adulto e a/educação da juventude por si mesma preparam uma inserção gradual das
gerações ascendentes nos quadros elaborados pelos mais velhos, e, sobretudo, uma
transmissão normal -de uma para outra geração- dos múltiplos /-<valores constituintes da
herança social.»

0 princípio das escolhas livres

Receamos ir agora escandalizar muitos docentes num tempo em que «o tronco comum»
dos estudos aparece justamente como um progresso autêntico na democratização
do/ensino. Mas pensamos que o princípio do tronco comum exige um paralelo: o princípio
das escolhas livres. Se se começasse pelo menos a respeitar, na formação do aluno, a arte
muito judiciosa das opções, não só o espírito do ensino ficaria assim renovado, como ainda
o respeito pelas pessoas que ele implica levaria por si mesmo a uma adesão mais reflectida,
mais í ntima e certamente mais entusiasta à inserção comunitária.

A livro escolha nos estudos, prelúdio à inserção soli «A/escola só pode ter duas
finalidades. Uma é a de dar à criança conhecimentos gerais de que ela terá sem dúvida que
se servir, o que é instrução. A outra é preparar, na criança, o homem futuro, o que é
educação. Se nos limitarmos, no primeiro ponto, às coisas verdadeiramente úteis, que
devem ser perfeitamente sabidas mas que são bastante pouco numerosas, ficará muito
tempo disponível para fazer, a fundo e devagar, um ou dois estudos que facultarão aos
alunos uma autêntica/ cultura. 0 que se deve rejeitar sem hesitação é a absurda sobrecarga
actual em que se pretende fazer tudo a fundo e em que as matérias são ensinadas como se
se dirigissem a futuros professores da especialidade. Importa relativamente pouco que
alguém se cultive através da botânica, do latim ou da história. 0 essencial é conseguir que o
ensino de uma ou duas matérias livremente escolhidas e realmente apreciadas sirva
o/desenvolvimento das qualidades pessoais e do sentido do humano.»* o Ver Gaston Bergi
Acrescentemos que Gaston Berger era director-geral do ensino
in Ias Annales (Março de 1959).

superior francês quando escreveu estas linhas, e como exprimir melhor do que ele uma
tese ainda tão pouco admitida?

Parece-nos, no entanto, útil aproximar destas reflexões a recente doutrina da comissão


nacional de ensino da Unaf, que faz suas 9 Estet~ofoipubli as propostas de um reitor de liceu
experimental, M. Jacquenodo. pela reviste

Combat familial Trata-se aqui do segundo ciclo do segundo grau, organização e (Setembro do 1969).

A-33
514 A socialização

programas: «A prossecução destes fins (desabrochamento e inserção social) requer a


supressão do actual sistema rígido das „vias‟, que associam arbitrariamente as disciplinas, e
a instituição de uma organização simples e flexível do segundo ciclo em que o aluno
escolherá, entre todas as disciplinas intelectuais possíveis, quatro ou cinco matérias (com
exclusão das outras) que lhe darão o curso dos liceus. Todas as disciplinas intelectuais,
bem ensinadas, concorrem igualmente para o desenvolvimento da/memória, do espírito de
observaçã o, do rigor, do /juizo, isto é, de todas as qualidades necessárias ao/êxito ulterior
seja em que vocação for.» Será preciso juntar a/opiniâo de um investigador? «A descoberta
é muitas vezes devida a uma simples qualidade de espírito ... Não se deve exigir, numa
equipa de investigadores, rapazes que tenham tudo. A complementaridade é essencial ao
grupo ... Ninguém deve ficar desesperado por isso.»*
J. Rostand,

in Famille éducatrice

(Novembro de 1967).

A descoberta do mundo contemporâneo A expressão «a Escola e a Vida», correntemente


empregue nos escritos dos narradores, vem ao encontro do pensamento daqueles que, no
âmbito da prospectiva, se esforçam por detectar as novas necessidades do homem. Louis
Armand e Michel Drancourt, em Plaidoyer pour Pavenir, escrevem: «Dever-se-ia, criar
uma/escola para investigar o tipo de montagem das/sociedades do/futuro. Abrir-se-ia assim
um dos mais interessantes e mais úteis capítulos da sociologia.» Mais adiante, eles citam
Gaston Berger: «De um modo geral, os programas são estabelecidos por professores que
sabem bastante mal o que os alunos farão na vida. Não é lógico. A finalidade do /ensino
deve ser fixada do exterior e seria do mais alto interesse oferecer estágios de informação
aos dirigentes da/educação, para que eles vissem a ciência que se faz e o que a partir dela é
feito.» Seja-nos permitido ilustrar estas testes com a experiência que tiveMOS
Pessoalmente ao instituir no nosso estabelecimento o acampamento-escola, espécie de
viagem de estudo na qual todo um Colégio, professores e alunos, vai descobrir e
aprofundar os problc~ da vida de unia região do seu país ou de um pais vizinho. „0 Ob

icctivO é realmente mergulhar os alunos e os professores em

vida, mas também ver e compreender, fazendo perguntas IO~Ve~ros especialistas de uma
região, ou seja, aos que lá

o os seus alojamentos, as suas refeições e, se


05 8~ trabalhos. Volto a ver, por ocasião de uma destas

AIOnanha, Os nossos alunos sentados numa escola, nos

que os seus jovens colegas estrangeiros; nesse ~o disse: «É a nossa mais bela aula do
ano.» falar a fingua, não podíamos dizer coisa alguma
S0C

e no entanto, no dia seguinte, o jornal local publicava: «Compreendemos a vossa


mensagem.» Adivinha-se o peso humano destas descobertas. Conviria acrescentar-lhes
igualmente a criação dos laços entre os próprios professores e o autêntico espírito de
equipa que daí decorre, força e riqueza profundas para todas as pesquisas /pedagógicas
ulteriores*. 0 Ver essoutro livro

perturbador dePercebe-se esta vontade de contacto com o concreto da vida nos Ad. Ferrière:
TroisPion métodos Freinet e nos métodos Decroly. de l'éducation nouveli (Delachaux et
NiestW

A autenticidade das responsabilidades Ao grande perigo neste domínio das


Paris, 1932).

estruturas escolares daremos o nome de « /responsabilidade de aparência enganosa».


Tornar os alunos responsáveis pela distribuição de coca-cola talvez seja em certos/meios
uma iniciativa ousada, mas ela faz sorrir todos os reformadores do/ensino. É no próprio
cerne da vida escolar que a iniciativa ousada deve florir, desde o texto livre, por exemplo,
no âmbito da imprensa (método Freinet), até à participação na pesquisa pedagógica e em
toda a organização da vida de comunidade. Talvez seja adequado recordar aqui, a título
de perspectiva se não de requisitório, a história celebrizada pelos jornais dessa criança de
12 anos cujos estudos eram pagos por uma aldeia da América do Sul e que, em troca,
dava aulas aos seus colegas. Os alunos monitores que partilham o seu saber não serão
muitas vezes verdadeiros

psicólogos e autênticos pedagogos?

As crianças dão aulas: pedagogicamente, é um êxi Seria bom que todos lessem esse livro
tão popular em Itália e redigido pelas crianças de Barbiana, Carta a uma professora
primária*, o sarbiana: Lenre à
para compreenderem a dimensão pedagógica de uma verdadeira
ítresse crécole (Merc de‟ France,
comunidade de/trabalho entre alunos: «No ano seguinte, passei a professor. Quer
Paris, 19681

dizer que o era três meios dias por semana. Ensinava geografia, matemática e francês ao
primeiro ano do curso secundário. Para percorrer um atlas ou para explicar as fracções
não é preciso ser licenciado. Aliás, se me enganava, ninguém fazia um drama. Os rapazes
até se sentiam mais à vontade. Colaborávamos todos uns com os outros. As horas
passavam sem histórias, sem/medo, sem acanhamento. Neste aspecto, você não sabe dar
aulas como eu sei.» Quando se pensa na repercussão que este livro teve em Itália e fora
dela, pressente-se todo o manancial de faculdades inexploradas, num mundo que recusa
aos adolescentes a sua justa parte de/responsabilidade.

A ESCOL,4 EM BUSCA DE UM NOVO ESPIRITO É de facto sob o ângulo da inserção


social que nós abordamos em
516 A socializaÇão

conclusão o exame das condições susceptíveis de impulsionar os jovens na vida. Os nossos


alunos têm necessidade de amar a vida; é o primeiro ensinamento que temos de lhes dar, e
para o dar, é indispensável que nó s mesmos amemos a vida e a amemos apaixonadamente
para que emane de nós essa paixão pelo homem para além de todas as barreiras. 0 professor
que resplandece todos os dias desta força, através dos pormenores do seu ofício de
docente, revela, sem o saber, o mais maravilhoso dos segredos: a vontade de viver.
Ora, devido a um estranho paradoxo das coisas, ele ensina justamente ao mesmo tempo a
conquista e o combate. Apela mesmo para tanto a toda essa/ agressividade que
os/psicólogos dizem estar no cerne da vida. Simultaneamente, ele apela para as profundezas
do coração de qualquer adolescente, que nunca deixa de revelar à análise uma intensa
necessidade de conquista e de superação. Ora, esta conquista, este/prazer do combate e
esta revelação de vitória podem ser muito simplesmente a vida quotidiana de uma turma.

A/escola da vida será a que restituir à juventude o/gosto pelo risco e a paixão de
empreender e de inventar. 0 professor clarividente acerca das mais graves necessidades
do/futuro dos homens saberá ultrapassar a noção dos diplomas para reencontrar a de
serviço. Descobre-se uma urgência para o educador contemporâneo: ensiiiar os seus
discípulos a amar os homens. E, actualmente, mais importante promover em todas as
escolas do mundo a vida de comunidade do que quaisquer possíveis e imagináveis reformas
de programas. Estamos nos primeiros tentames das democracias, de tal modo as
responsabilidades comunitárias representam uma ascensão infinitamente lenta dos homens,
mas o estilo das escolas pode modificar este ritmo de evolução. Chegou a hora de ensinar a
convergência e de a viver. Todas as manobras dos docentes contrárias a este princípio
condenariam a sua mensagem a uma puerilidade retrógrada. Qualquer educador que tenha
trabalhado neste sentido pôde experimentar o profundo realismo de Um tal estilo e a
resposta que os adolescentes lhe dão.
0 melhor educador que eu conheci repetia-nos constantemente: «Te-n110 confiança em
vós. Ides viver a mais bela época da história.» Era professor dos últimos anos do liceu.
Pude testemunhar que os alunos desejavam durante anos vir a tê-lo como professor.
Formou, Sozinho, centenas de autênticos responsáveis sociais, ~0 todos eles orientado as
suas vidas ao serviço do homem. II*Via C2COntradO, sem sequer o suspeitar, o tipo
de/pedagogia que a juventude espera. Acabamos de definir a única regra grave capaz de
reformar o nosso
S0C

/ensino: a arte soberana, para uni educador, de acreditar em cada um dos seus discípulos:
«Tenho fé em ti, e o mundo espera-te.» Seria um esplendoroso espectáculo, o desta
juventude reencontrada.

0 ADOLESCENTE E A SOCIEDADE

Dois grandes fenômenos sociológicos contemporâneos podem resumir as poderosas


correntes de atracção que se exercerão sobre a adolescência. São eles:
- a democratização da/ cultura; -a massificação dos espíritos pela informação, o/cinema, a
/televisão e a publicidade. Estas duas correntes parecem contrárias, se bem que emanem
por vezes da mesma fonte, contribuindo uma -se cumprir o seu papel- paia personalizar, a
outra para despersonalizar. Diante delas: o conservantismo do mundo adulto. Qual levará
a melhor?

A EVOLUÇÃO DO FENóMENO CULTURAL Assistimos a uma verdadeira explosão no


domínio cultural. « Os contactos escritos, orais e visuais multiplicam-se. Os meios de
aprender são mais numerosos do que nunca. Publicam-se todos os dias centenas de livros.
Bergson, que reclamava tão ansiosamente um suplemento de alma para a nossa/
sociedade, foi contemplado, graças ao livro de bolso, com um suplemento póstumo anual
de
200000 leitores nos Estados Unidos. Organizam-se centenas de colóquios. A divulgação
cientílica permite que milhões de homens vivam ao ritmo do seu tempo.» «Muitos dos
nossos contemporâneos recusam-se a reconhecer o progresso da televisão e a admitir o
seu/futuro. Eles ainda não se aperceberam da amplitude da/revolução que ela representa
em geral, e também no plano /cultural.» «Eis alguns números fornecidos pelo ministro
francês da Educação Nacional, Lucien Paye: a expansão da população escolar caracteriza-
se pelos seguintes números: em 1880, 5 milhões e meio de alunos em todas as ordens de/
ensino; em 1970, este número era duplicado. Em 1880, apenas 1,7 %. das crianças iam à
escola até aos 16 anos; em 1960, a percentagem era de 35 % e, em 1970 atingiria 100 %.
Ao mesmo tempo, os efectivos do ensino do segundo grau serão multiplicados por 16,
passando de 200 000 alunos em 1880 para
3,2 milhões em 1970, e os do ensino superior por 20, passando de L. Armand e
30 000 para 600 000. Ora, a natalidade em 1970 é sensivelmente t. Drancourt: PIBidOY igual

ao que era em 1900, ou seja, 800 000 nascimentos por ano, ur l'evenir mas a
população escolar terá quase duplicado*.» @C0a1mann-Lévy. Paris,

1961), p. 150.
518 A socialização

Deste fenómeno gigantesco decorrerá inelutavelmente, na/adolescência, um tipo novo


de/maturidade, em particular/ social, a que se poderia chamar uma maturidade precoce,
unia maturidade imatura. As consequências disto não devem entretanto ser ignoradas, e
nós estudámos demoradamente a sua aplicação no plano escolar. Evoluímos para um
estilo de participação em que as distâncias entre adultos e adolescentes estão destinadas a
esbater-se, mesmo na elaboração das decisões. Este nascimento de um novo mundo não se
fará sem explosões nem tacteios múltiplos; já os adultos formados de modo muito
diferente se referem com nostalgia aos «bons métodos do passado». A perturbação é
grande nos espíritos. E os excessos reformistas de alguns aumentam o mal-estar. Mas a
vida é movimento, e um fenômeno sociológico tão solidamente enraizado numa evolução
/cultural não tem decerto a mínima possibilidade de voltar atrás.

A «massificação» Num inquérito muito amplo efectuado sobre rapazes de 14 e 15 anos,


Georges Teindas, professor de letras, e Yann Thireau, director de um centro psicotécnico,
dão-nos um retrato -minucioso da «juventude na/fwnília e na/sociedade modernas» (la
Jeunesse dans lafamille et Ia société moderneso). Não ignoramos que tudo 4> É o título de
dois é flutuante neste mundo de evolução ultra-rápida dos problemas „omos
consagrados a este
estudo@ nas E@itions da juventude, mas o estudo a que nos referimos é suficientemente sociales
françaises.

amplo e recente para que lhe dediquemos a mais viva atenção.


Consideramos o seu contributo como
magistral, Embora não o possamos resumir, citaremos algumas das suas con- !ando o exame
detalhado

incidido sobre vários clusões essenciais*. milhares de aprendizes e

de alunos de liceu«No fundo, a estereotipia dos interesses e das/reacções parece


nascidosentrel936e1943. ser a marca de um verdadeiro estado de condicionamento.» Este trabalho

foi editado «Parece-nos importante insistir nesta laminagem da /personalidade em 1961.

0 Torno 2, págs.213,243, humana que, esmagada e estandardizada pela técnica, se acha nive- 248,
249, 302, 495, 537. lada e reduzida a algumas constantes de base das quais o/dinheiro se revela uma

das mais importantes. É nesta medida que se pode falar de „condicionamento‟ dos sujeitos.»
«Os antigos/heróis estão cansados, ou gastos, ou deformados, e recolhem pouco a pouco
ao armazém poeirento do Panteão dos mortos. Em seu lugar, erguem-se os fenômenos
hipertrofiados da /identificação idólatra; a/inteligêncía com os sábios, a força pura com o
campeão ou o «duro», o/erotismo com a star.»

«A n~ficação» dos espiritos dissolve a personalidade «0 desabar da civilização


tradicional sob os golpes da técnica fez perielitar os antigos heróis, e, paralelamente,
suscitou uma geração de novos tipos, sendo os mais universais o campeão e a star, ambos
fundados nos temas do músculo, da/violência ou do erotismo, orientados para o dinheiro
fácil, e visando impor ao sujeito uma
SOC

identificação passiva na qual ele perde toda a/ personalidade e toda a/liberdade de escolha,
deixando de pensar por si mesmo, para assimilar a titulo de puro reflexo o que se lhe
sugere ou impõe. Tal é a sorte da enorme maioria que vê moldar-se no interior de si mesma
uma maneira de viver, de preciar e de pensar que se torna, independentemente da sua
vontade, uma segunda natureza, pois ela é incapaz de a considerar à distância a fim de a
julgar, além deste estilo de vida novo se apresentar revestido de todos os prestígios
do,,< êxito, da glória e do dinheiro.» «Se os factores de interesse forem demasiado
numerosos e se sucederem demasiado rapidamente no espaço e no tempo, tanto a
multiplicidade como a acumulação transformam a atmosfera do/ meio, incutem uma viva
impressão de,/ instabilidade e. tomam difícil ao indivíduo a salvaguarda do seu próprio
equilíbrio ... Emana deste tumulto uma espécie de/ritmo ofegante e sincopado que
ultrapassa as possibilidades humanas de resistência.» «Continuamente solicitados por
interesses diversos, o aprendiz e o aluno de liceu experimentam enormes dificuldades em
integrar-se num meio escolar onde se lhes pede que «fixem a sua/atenção»... «Acaso
assistimos a uma brutal transformação da mentalidade na sequência da qual o homem se
contentará em fazer „acto de presença‟ nesta terra, entregue como um títere a alguns que,
puxando pelos cordelinhos, disporão da sua pessoa? Dominado pelo meio e seu escravo,
qual será o homem de amanhã se nada vier preveni-lo do perigo que corre, se ele não
encontrar em si mesmo a força para lutar contra o atolamento?» A encabeçar a sua
conclusão, os autores citam Eminanuel. Mounier: «Quando a pertença ao meio predomina
sobre o domínio do,,, meio, a impersonalidade instala-se nas aptidões psíquicas.» Quer se
trate da «massificação» pelo/dinheiro, pelo/sexo ou pelo músculo, o adolescente é
perseguido, importunado, acossado pela inverosimil mediocridade dos eternos e mesmos
temas renovados por todas as formas de informação. Se ele quiser fazer o papel de rebelde,
é ainda imitando que se singularizará.

É difícil ser livro numa sociedade de condicionan Sendo já o adolescente propenso por
natureza aos instintos gregárioso, o perigo ainda se torna mais violento numa/sociedade
o gregãrlo: do 1 de condicionamento. « Queremos a/imaginação no poder», dizia a
grex, gregi& «rebí juventude revoltada. Ai de nós! Que adolescente submetido a um tal

esmagamento da /personalidade poderá guardar uma migalha de originalidade e


de/liberdade autêntica? No entanto, o que vemos é a liberdade ser pregada como/valor
supremo. Na verdade, nunca houve geração mais livre*: « ... A vossa o Cf. P.M. Sli
--- . geração acha-se, de momento, a fazer uma perigosa experiencia
Pour un garçon c (seuil.
Paris. 19 da liberdade sem freios numa economia da abundância e da mobi- P. 90.
lidade. Não se trata de um pequeno risco.»
520 A socialização

Mas que liberdade é esta? E a libertação dos instintos e das pulsões leva ao reino do
espírito ou ao reino animal? À massificação deve opor-se uma terapêutica
«antimassificante».
0 que personaliza é rico em todos os planos. Aparecem-nos três pólos no contra-ataque
que se impõe: -personalizar a energia/ intelectual; -personalizar a energia/moral; -
personalizar a energia criadora.
0/ensino, reconvertido em/educação, terá força para tanto?
0 mundo dos docentes surge, efectivamente, como a única força possível de massa para
um tal contra-ataque. A pergunta que se lhes faz é então a seguinte: «Saberá restituir à
juventude a sua liberdade?»

0 CONSERVADORISMO

Uma tal/revolução educativa depara diante de si com a inércia do conservadorismo dos


espíritos: «A maior/ responsabilidade do poder neste período de mutações é a de se apoiar
demasiado naqueles que fisiologicamene estão velhos e não admitir e utilizar as
transcendências morais da geração nova.» «Importa conceber uma/filosofia da acção que
corresponda às dimensões actuais. Não se pode multiplicar o número dos aviões e
simultaneamente conservar a mentalidade dos cocheiros.»* 9 L Armand e « ... 0 que,
afinal, tende a separar em dois campos os homens de M. DrancourL em Pleidoyor

hoje, não é a classe, mas um espírito - o espírito de movimento.


pour l'avenir (Cairnann-Lévy, Paris,
De um lado os que vêem o Mundo a construir como uma morada 1961) pp. 220 e 221.
confortável; do outro, os que não podem imaginá-lo senão como uma máquina de
progresso ou, melhor, como um organismo em progresso. De um lado, o „espírito
burguês‟ na sua essência; do outro, os verdadeiros „operários da Terra‟, aqueles acerca
dos quais podemos facilmente predizer que - sem violência nem ódio, mas por simples
efeito de dominância biológica - serão amanhã o gênero humano.»*
e P. Teilhard de Chardin Quer se trate do/ensino, da indústria ou das administrações
públi- em l'Avenir de 1'homme

cas, por toda a parte grassa o conservadorísmo. Gaston Berger (Seuil, Paris. 1959)» p. 174.
com cambiante e delicadeza: «Na maioria dos casos, é actualmente uma tradição... A
formação /pedagógica

uma tradição. Ela consiste em colocar o futuro pro- ~Uncia-O Mino iv~te

ao Udo de um professor confirmado, que o faz progressi-

pa~ na direcOo da aula. Os velhos professores têm *~-V~: aprenderam que nenhum
conhecimento ~.i*b~ c@ através das crianças que eles amam, rest~ em que elas se
tornarão... Mas não deixa de ser que esta retomada indefinida de antigas/ atitudes sublinha

Les Annales, ca~ tradicional -ia dizer o lado conservador - do ensino.»* *Morç. de 1959.
522 A socializaÇão

Todas as questões de preparação do homem social passam por este dilema: ou criticar o
adolescente numa/sociedade tecnocrática e económica a pretexto de lhe fornecer
uma.profissão, ou exortá-lo a uma missão de tipo ideológico ou humanitário. A massa dos
adolescentes pequenos-burgueses que não querem senão comprar o mais cedo possível o
seu primeiro/ automóvel depressa se contentaria com a primeira fórmula, pensarão os/
enfastiados. 0 pior é que esta massa, adrilitindo que ela exista, nunca é a minoria actuante
no presente e com vista ao/futuro. Não é entre ela que se recrutam os futuros pioneiros e
os futuros condutores de homens. Basta lembrar a idade dos empenhamentos /políticos
precoces, dos movimentos de todas as ordens, para descobrir que a maior parte dos que
marcam o seu tempo pertenceram, no fim da sua/ adolescência, a esses diversos grupos
de/;<idealistas ou de reformadores. De tal modo que é lícito perguntar se o idealismo
reformador não será justamente uma das características próprias da adolescência digna
deste nome. Sabê-lo e compreendê-lo seria i@ma grande força e uma grande luz. E neste
sentido que se deve procurar uma lei do romantismo adolescente, na acepção mais larga do
termo. Muitos psicólogos atribuem à juventude moderna um certo realismo, uma nova/
maturidade: sentido do/dinheiro, e nomeadamente a muito prática /ansiedade quanto à
futura profissão. Os inquéritos revelam efectivamente* que esta ansiedade profis- o Cf.
rExpress. sional prevalece sobre todas as outras. Uma tal ansiedade decorre de Fevereiro de 1969.

sem surpresa da época de mutação que atravessamos e da aceleração da história*.


Podemos assim julgar sinceramente responder à e Cf. Gaston Berger,
expectativa da juventude apresentando-lhe estatísticas económicas
les Annales, de Março de 1959. e

projectos de/escolas ou de institutos profissionais. Seria responder ao apelo do realismo,


mas este não passa de um dos rostos dessa juventude de mil rostos e deixaríamos portanto
sem resposta o apelo do romantismo.

CARÊNCIA ]DEOLóGICA DO MUNDO INTEIRO

0 grande inimigo, «o inimigo n.o 1 do mundo moderno, é o/ aborrecimento ... Repito:


apesar das aparências, a humanidade aborrece-se»*. A este aborrecimento, a juventude
responde com a necessidade o P. Teilhard de Chardin:
de/liberdade e de movimento. A totalidade dos adolescentes de 15.
ob. cit. (seuii. Paris, 1961), P. 184. a

17 anos que interrogo desde há 20 anos sobre a sua orientação responde antes de mais:
«Não quero ficar sentado a uma secretária»
0 aborrecimento da papelada poeirenta e da falta de movimento aparece sem dúvida como
o pior inimigo. Mas nunca saberemos ao certo até que ponto o aborrecimento da posição
sentada terá determinado também os fracassos escolares!
50C

0 novo mal do século: o aborrecim A juventude não sabe aliás que o êxodo rolante e
barulhento dos fins-de-semana manifesta a fuga ao mesmo tédio por parte dos adultos. E
importa perguntar se o espectáculo desta fuga desvairada diante do tédio não é uma das
causas profundas do mal-estar da inserção social dos jovens: «transporte-trabalho,
trabalho-transporte» é um ciclo de que se queixam os habitantes das grandes urbes.
A/televisão desempenha papel idêntico nos dias de semana, e os bons profetas do/futuro
anunciam-nos: «Em breve o/trabalho será apenas um mau momento a suportar, é a
civilização dos,.-@I tempos livres que se aproxima.» Este tipo de raciocínio é muito mais
propício a destruir na juventude a fé em si mesma e no futuro do que a dar-lhe vontade de
viver. Mas será possível transformar a nossa civilização sentada em sociedade de
movimento? Se nos referirmos ao movimento físico, é certo que além dos -@I desportos,
dos tempos livres e de algumas /profissões que se vão tornando raras, o movimento é cada
vez mais difícil. Ele poderia decerto ocupar mais lugar; o equilíbrio físico da juventude,
graças ao desporto devidamente praticado e tornado praticável, seria sem dúvida um dos
elementos mais dinâmicos da inserção social dos jovens. Só por si a oxigenaçâo possui tais
virtudes* 0 Cf. Alexis Cern
Homem,que muitos anarquismos pareceriam anacrónicos e antiquados aos Esse Desconhecido,

próprios jovens se eles praticassem assiduamente/ desporto. Quase podemos dizer que as
histerias colectivas (/música,/dança ou /revolução) são inelutáveis no sistema
de/desequilíbrio fisiológico nervoso de que se honram as nossas grandes cidades. Na
mesma ordem de ideias, a prática de um fim-de-semana ao ar livre pode ser o elemento
regulador da vida de escritório, de estudos, de grandes urbes ou de fábrica. E não ver aí
senão uma fuga ridícula ao/ aborrecimento seria omitir o seu aspecto positivo. Enfim, a
perspectiva das/profissões de movimento continua a ser um pólo evidente de atracção para
o adolescente. Talvez seja a razão da simpatia por profissões tão difíceis como a
representação comercial ou a agricultura.

Uma moda recente: o entusiasmo pela vida ao ar 1 A massa dos adolescentes que
interroguei e que pedem a orientação para um ofício da terra, apesar de os meus alunos
virem todos de /meio urbano, incita-me a apresentar uma grave questão: «Caminhamos,
dizem os sociólogos, para uma época de deserção da terra em proveito das urbes.»
Pergunto a mim mesmo se, por um fenómeno de refluxo, não estaremos já a assistir a um
ê xodo das cidades para a terra: instalação de fábricas em pleno campo, criação de cidades
e aldeias arejadas, êxodo dos quadros para as regiões onde os desportos ao ar livre são
correntemente praticáveis.
524 A socializaÇão

Em todo o caso, este engodo pelos ofícios de movimento «físico» é evidente. 0 facto de
muitos os abandonarem nada prova. Tanto se lhes pregou que a terra já não tem/futuro que
só os/heróis resistem a esta profecia. Restam as profissões de/>,tempos livres. Elas
conhecem actualmente uma grande voga. Surgem a muitos jovens como as únicas
profissôes que podem permitir-lhes escapar ao tédio e ao «sentado» das grandes urbes.
Nem todos têm a possibilidade de chegar a engenheiros agrônomos. E ainda que tivessem,
em vão procurariam os institutos. Há no homem uma necessidade inata de enfrentar as
intempéries, o sol, o vento, e de assim medir as suas forças, que nenhuma urbanização
jamais sufocará. 0 inacreditável desenvolvimento da navegação à vela é um exemplo disso
e estamos já longe da época do ajuizado voleibol na praia. A necessidade de lutar e de
conquistar aindá dormita em todos nós e as proezas dos navegadores solitários são indícios
reveladores desta verdade. Mas é tempo de aprofundar a nossa análise da necessidade de
movimento e de lhe conferir o sentido muito mais largo, que encontramos em Teilhard, de
dinamismo /criatividade-progresso: é a definição do movimento interior. A verdadeira
questão passa então a ser a inserção dos jovens numa /sociedade de movimento, ou seja, de
progresso; não há progresso sem objectivos, sem ideais. Vimos a juventude responder a
esta civilização do/ aborrecimento com a necessidade de se mexer. Uma tal/reacção
subentende um

certo dinamismo, mas, para o adolescente «sentado», centrado sobre si mesmo, é


o/erotismo oferecido por todas as espécies de condicionamentos que se arrisca a ter mais
impacto. Percebe-se, no entanto, mesmo através de certas rebeliões, a necessidade
fundamental de algo muito diferente. Teilhard de Chardin sentiu antecipadamente este surto
explosivo: «É inegável: primeiramente que, em certos momentos, de século em século, a
nossa consciência (por muito fixada que a suponhamos em quadros essenciais) se eleva à
percepção de dimensões e de/valores novos; e, em segundo lugar, que nos achamos,
precisamente, num destes momentos de despertar e de transformação.»* Participando em
encon- Teilhard de Chardin: tros de jovens com responsabilidades impoi

tantes de todas as ordens ,,cit., (seuil. Paris,

em diversos movimentos, pudemos verificar um apelo muito nítido 1)» P. 236.

para uma nova forma de/cultura. Acerca deste ponto, as gerações arriscam-se a já não
atribuir o mesmo sentido à mesma palavra. Gaston Berger, no fim de uma vida que foi ela
própria um autêntico testemunho de síntese entre o pensamento e a acção, escrevia: «A
cultura é o sentido do humano.» Por seu lado, Simone Weil. escreve em I'Enracinement:
«A nossa época tem como missão própria, como vocação, a constituição de
50C

uma civilização fundada na espiritualidade do trabalho. Os pensamentos que se referem


aos pressentimentos desta vocação e que achamos esparsos em Rousseau, George Sand,
ToIstoi, Proudhon, Marx, nas encíclicas dos papas e noutros lados, são os únicos
pensamentos originais do nosso tempo, os únicos que não colhemos nos Gregos. Foi por
não termos estado à altura deste grande facto que vinha sendo gerado dentro de nós que
nos lançámos no abismo dos sistemas totalitários ... Talvez tenhamos ainda uma
oportunidade. Não podemos pensar nisto sem/angústia; se a temos, medíocres como
somos, que havemos de fazer para não a perder? « ... A forma contemporânea da grandeza
autêntica é uma civilização constituída pela espiritualidade do/trabalho.» Através destas
duas vidas e dos seus testemunhos, descobrimos o que a juventude paiece justamente
procurar: um/idealismo encarnado. Se insistimos neste tema do idealismo encarnado, é
porque ele leva ao mesmo tempo em conta as/aspirações realistas do adolescente moderno
e as aspirações idealistas do adolescente eterno.

Os adolescentes procuram mais do que um professor: um m«

Ora, uma observação aguda dos/meios escolares revelou-nos, nestes últimos anos, o
prestígio /intelectual e/moral dalguns dos docentes que souberam estabelecer um vínculo
entre o seu / ensino e a vida. Não se trata apenas neste caso da/leitura dos jornais de
actuali-
4ades, técnica que não é de rejeitar, mas, muito para além da espera bastante nítida dos
alunos por um certo tipo de professor - o que não receia enfrentar as realidades sociais -,
de estágios em fábricas, de contactos com responsáveis pela vida económica, de viagens
de estudo. Numa outra ordem, o professor/ desportista goza amiúde de uma /autoridade
espiritual privilegiada. 0 adolescente moderno sente a intensa/ necessidade de ser iniciado
na vida social por homens que estão inseridos e não por intelectuais desencarnados.
As/escolas de/pedagogia não deveriam ignorar este dado/psicológico essencial. Uma tal
necessidade de uma civilização mais humana aparece com nitidez no apelo à fraternidade
entre os homens, à paz, à não violência, e a repugnância diante do racismo sob todas as
suas formas dá testemunho dela. Alguns inquiridores chegaram mesmo a concluir que
estes temas prevaleciam frequentemente, e de longe, sobre as questões de/ educação /
sexual. Muito marcada pela necessidade essencial de / amizade em / grupos, muito
disponível, nestes grupos, para a partilha dos bens, a/ adolescência parece especialmente
apta a detectar os/valores de comunidade, de tal modo que podemos perguntar se, face a
questões
526 A socializaÇão

tão graves, a juventude não é «juiz e profeta», segundo a subtil expressão de um


educador, G. Vandewynckele. A juventude dá realmente a impressão de adivinhar os
verdadeiros problemas do/futuro. Ela aproxima-se neste aspecto das grandes intuições dos
sábios ou dos/misticos, eles próprios profetas à sua maneira. « Juíz e profeta», a juventude
anuncia os grandes movimentos de vida e condena as forças da estagnação. Aqui se situa
o cerne da sua rebelião. «A nossa esperança não será operante se não se exprimir com
mais coesão e mais solidariedade humana.» Percepção do movimento, percepção da
convergência, são as duas grandes intuições da juventude quando ela chega ao fim da
adolescência.

CONCLUSÃO

A/ adolescência, filão de força inexplorado A nossa civilização ainda não descobriu a


amplitude do fenórreno «/educação fora da/familia». Se bem que esta última conserve o
papel principal em cronologia e em intensidade, a/escola e a /sociedade podem
desempenhar um papel secundário cujas conse@quências Gaston Berger de modo nenhum
exagera quando escreve: «E preciso que o homem aprenda a viver e a ser feliz num mundo
cuja regra é a mudança. Logo, é preciso dar-lhe uma formação neste sentido - chamemos-
lhe/ moral, se estiverdes de acordo. «Não é em geral o que realizamos na educação.
Controlamos conhecimentos muito mais do que qualidades de/ carácter. Ora os nossos
conhecimentos, demasiado exactamente adaptados a certas tarefas definidas, vão
encontrar-se rapidamente desactualizados. Eis por conseguinte uma conclusão prática
imediata: importa que a educação acerte o passo pela instrução e que ela seja permanente.
Tenho, aliás, a certeza de que o primeiro país a pôr em prática este programa estará a levar
a cabo uma/ revolução de tal ordem que avançará consideravelmente em relação aos
outros.»* 0 Conversa com Michei

Face a esta prospecção, o capital juventude, esse ignorado filão


Drancourt, citado por Bernard Ginisty em

de força, pernimece inexplorado. 0 nosso estudo acaba de lhe Conversion spirituelle


et

explorar as pistas de acesso: os meios de apelo e as ressonâncias


engagement prospectif p. 243.

Intimas, ao coração de qualquer adolescente. Falta elaborar um tipo de educação


democrática; a/cultura escolar tradicional não pode bastar para isso, tal como não o pode
uma socialização ao acaso, sem bússola e sem outro ideal que nã o seja o «consuni(» e o/-
"tempo livre. «A instrução nada é sem a educação e, se a instrução pode ser esta-
80C

tizada, a educação está longe de poder vir a sê-lo totalmente, porquanto assenta no
exemplo que apenas se concebe individualizado. A baixa do/valor moral, que somos
obrigados a distinguir num mundo de abundância, só tem possibilidade de ser compensada
pela acção beneficente de homens e mulheres de escol, voluntários para a demonstração do
bem, voluntários para juntar aos benefícios da instrução os da educação. Entre o que deve
ser animado e o que já não tem necessidade senão de ser administrado, existe uma
diferença fundamental. Enquanto esta for reconhecida, o mundo progredirá nas sendas
espirituais. Caso contrário, cairá numa estagnação material.» o
e Cf. Louis Armai
De facto, a socialização dos adolescentes exige uni certo tipo de
S* :VésPropos(M.1 Palis. 1968), p. 23.

animação. Os docentes deveriam desempenhar um papel de primeiro plano nesta


animação, conhecido o peso da instituiçã o escola, ao lado de todos os educadores sociais
das casas e dos movimentos de jovens. Mas porque não considerar os responsáveis
pela/política, pela administração e pela economia como outros tantos educadores da
javentude? Conhecemos uma/escola de quadros em que o governador civil e os grandes
administradores se sentavam no mesmo banco que jovens mal saídos da/ adolescência,
durante as sessões sobre os problemas humanos. Já não havia então pontificado, mas
apenas alunos que partilhavam as mesmas pesquisas e as mesmas refeições. Libertava-se
daí uma alma, uma «animação» de uma densidade excepcional. É com realizações deste
tipo que se poderá dar um passo proveitoso no sentido da união das gerações para
objectivos elevados.
0 momento é favorável a isso e a respectiva/ necessidade sentida por muitos. A
adolescência, mais precocemente cultivada, abre-se e aspira a novas/ responsabilidades.
Não é atirando-a para a mediocridade das pulsões instintivas ou prolongando o
seu/infantilismo mediante uma massificação dos espíritos e dos corações que poderemos
responder à sua profunda expectativa, aquela que através deste estudo não cessámos de
procurar para além de todos os fenómenos superficiais.

«Tudo pode nascer, na Terra, de uma infinita esperanç Fomos testemunha, em todos os
meios de adolescentes e em todos os tipos de escolas, no decurso desta peregrinação de
25 anos, de tanta generosidade, desde que haja apelo, que a amplidão deste fenômeno no
plano /psicológico se nos impõe, e de longe, aos sinais de decadência. Mas sabemos bem
que a adolescência será à medida da nossa fé. Um/idealismo encarnado e uma/educação
repensada podem conseguir este milagre. Aí reside o único filão de força ainda não
explorado, jamais explorado até hoje por qualquer povo da terra,
528 A BOCIalizaÇão

o inacreditável filão das possibilidades de cada um. Temos uma ideia dele, mas (ai de nós!)
nas ditaduras, quando as vemos entu- siasmar a juventude por um objectivo pré-fabricado e
psicologicamente orquestrado. Podemos testemunhar os milagres de energia que daí
decorrem. Mas obter este mesmo milagre dentro do respeito pelo homem, pela vocação e
por conseguinte pela força de cada um, parece não ter sido ainda ensaiado por democracia
alguma, além de que procurar uma tal grandeza não afectaria qualquer outro povo e
serviria sem dúvida de catalisador à expectativa de todos. Pacificamente, positivamente,
progressivamente, tudo pode ter já começado na educação, pela congregação construtiva
de todos os que apenas têm no coração a paixão desinteressada pelo homem.

Maurice Gaudet.
80C

SOCIEDADE (Socióté/Society)
Para o adolescente, a sociedade é o contexto humano no qual ele sabe dever inserir-se. Quando se aproxima a altura de isso
acontecer, o adolescente acha-se muitas vezes inquieto e desamparado. Muitas ,,11inadaptações ulteriores são essencialmente
devidas a uma falta de informaçã o ou de/ educação/ social. Frequentemente a/escola é demasiado intelectualizada, sem
preocupaçâo pelo uso que poderá ser feito das faculdades adquiridas durante a/escolaridade. J. Dewey conta a este propósito
uma anedota reveladora de uma certa/ atitude/-< pedagógica ultrapassada: «Existe, segundo julgamos, em Chicago uma escola
de natação onde se ensina a nadar sem entrar dentro de água. Os instrutores limitam-se a mandar executar os diversos
movimentos necessários para nadar. Perguntava-se certo dia a um dos jovens que frequentavam esta instituiçã o: „Quando se
atira à água, o que faz?
- Vou ao fundo‟, respondeu ele. A história merece ser verdadeira. Inconsciente ou não, ela ilustra muito claramente o modo de
conceber a educação escolar considerada nas suas relações com as necessidades sociaís.»*
9 J. Dewey:

l'École et l'enfent É
bastante corrente a escola ser encarada como um mundo em ponto (Delachaux et Niestlé, pequeno, uma
microssociedade, cuj4s regras é preciso conhecer Paris. 1967), p. 140. para poder depois triunfar na vida. E esquecer que a
escola não é a sociedade em escala reduzida, mas uma forma de sociedade muito particular. Ater-se ao / ensino tradicional
equivale a formar adolescentes que, embora sabendo perfeitamente executar os movimentos necessários à natação, irão a
pique logo que se metam na água. Não é inútil sublinhar que as actuais/ reivindicações dos alunos de liceu, por muito
desajeitadas e excessivas que se mostrem, assentam em tais bases.

A inserção na sociedade Aceita-se geralmente que são dois os factores que assinalam o acesso à sociedade dos adultos: o
exercicio de uma profissão e o/casamento, com o seu corolário: o estabelecimento de um lar/independente. Mas já se esboçam
algumas objecções. Casais de estudantes que têm um bebé e um lar independente, mas que ainda não exercem unia profissão,
pelo menos uma profissão definitiva, sentir-se-ão inseridos na sociedade? Certos técnicos tendem a considerar que a
maturidade é antes de tudo coincidência com o/êxito social. Mas o que é o êxito social senão a submissão a critérios já
definidos e em cuja elaboração o adolescente não toma parte alguma? A inserção, segundo modos determinados, não se
traduzirá por um prolongamento da infância? Mas, por outro lado, é vulgar qualificar de adolescentes serôdios

PA-34
532

lhe dirigem a palavra - porque ainda não se aceitou física ou moralmente e se julga ridículo
-, é uma presa designada para as fortes /personalidades. Basta empregar o tom adequado
para obter uma adesão superficial mas imediata.

A hiperemotivídade. Devido à sua constituição, o adolescente manifesta uma tendência para


a hiperemotividade. É relativamente fácil a alguém servir-se desta hiperemotividade para
fazer pressão -sem seu conhecimento- sobre ele. Certos educadores não deixam de utilizar -
a maior parte das vezes inconscientemente- as capacidades emotivas do adolescente para
uma finalidade considerada educativa. É no domínio religioso que se verifica mais
frequentemente este caso; não é raro ver um adolescente transfigurado por um ofício
religioso. Ele crê ter fé, mas o que está em causa é apenas a emoção provocada pelos
cânticos ou o odor do incenso. De um modo geral, podemos dizer que o adolescente é
sugestionável pela sua falta de objectividade e de recuo relativamente às suas próprias
experiências. Ele manifesta também uma sede de viver e uma curiosidade que o tornam
receptivo a todas as espécies de influências.

SUICIDIO (Suicide/Suicide) Página 360.

«0 número dos suicídios de adolescentes ronda anualmente em França os 250 por ano.
Dois terços de raparigas, para um terço de rapazes. 0 das tentativas aproxima-se dos
5000, dos quais muitos se mantêm segredo do médico de família, quando a sua
intervenção é suficiente.»* 9 Ver I'Express, n.- 9 (24 de Fevereiro-2 de

Mar o de 19691 66

As causas Muito à frente das causas possíveis de suicídio de adolescentes vem a


inadaptação. Certos adolescentes tentam suicidar-se sem serem capazes de dar uma razão
precisa ao seu gesto: trata-se então de um grande cansaço feito de repetidos malogros, de
dúvida obsidiante de si mesmos e sobretudo da certeza de nã o poderem encontrar no
amor dos que estão mais perto deles o amparo necessário. A imensa maioria dos
adolescentes que se suicidam são mal amados ou persuadem- „se disso. É o que explica a
percentagem mais importante de rapan*gas, de. maior sensibilidade aos problemas af"vos.
Um terço dos suicídios de adolescentes têm como motivo um conIlito permanente ou
latente com os pais: uma simples reprimenda dada a propósito de uma nota má, por
exemplo, serve de pretexto ao gesto fatal. Certos jovens desequilibrados suicidam-se por
vingança, a fim de

P. -
que a responsabilidade do seu gesto recaia sobre os pais ou sobre outros adultos julgados
indignos. Os suicídios de raparigas são muitas vezes motivados por um aborto bem
sucedido ou não; na maioria dos casos, uma educação sexual autêntica teria podido evitar
o drama. Enfim, é de notar que os adolescentes que se suicidam são muitas vezes jovens
aparentemente equilibrados, ou antes, aqueles cujo desejo de equilíbrio é bastante forte.
Quando intervém uma ruptura, ela afigura-se-lhes brutal e irremediável, ao passo que os
adolescentes menos sérios têm mais ocasiões de libertar o excesso da sua tensão interior.
Isto torna-os mais superficiais e menos vulneráveis.
SU

TABACO (TabacITobacco)

Os/pais e os educadores estão de acordo num ponto: é em vão que proíbem os


adolescentes de fumar. Na maior parte dos casos, a proibição será infringida. Os que têm
a/ responsabilidade de um/internato, cansados de estar atentos aos cigarros clandestinos,
preferem muitas vezes conceder uma autorização oficial, no seguimento da qual o número
de fumadores diminui geralmente. Importa reconhecer antes de mais que é bastante difícil a
um educador justificar a interdição de fumar. Invocar os malefícios do tabaco equivale a
perguntarem-lhe em réplica por que motivo o senhor Fulano, professor ou vigilante, não
pára de fumar. Invocar o argumento da juventude: «Ainda és muito novo» equivale a um
«Eu tenho o direito, tu não», algo arbitrário.

Um acto de compensação Origlia e Ouillon assinalam a diminuição sensível da/necessidade


de fumar durante cursos de/educação sexual, cursos que atenuam consideravelmente
a/tensão interior dos ouvintes. Fumar seria por conseguinte um acto de compensação. 0
adolescente libertar-se-ia da sua/ansiedade fumando. E aliás não é bem conhecido que a
maioria dos grandes fumadores são também grandes ansiosos? Observemos a mudança de/
atitude do adolescente a quem se acaba de oferecer um cigarro: ele atira a cabeça para trás
e incha o peito. Toda a sua atitude revela uma nova segurança. É muito provável que, antes
de tudo, fumar, seja, aos olhos do adolescente, «fazer como os adultos», alcançar
um estádio que lhe é provisoriamente recusado.

o Os adolescentes selam uma/amizad ou o acordo de um/grupo com a troca de cigarros;


estes são então o testemunho tangível da /comunicaçAo que se estabelece entre os
membros do grupo.

Entre a antorízaç%o e a interdição A proibição formal de fumar parece arbitrária e é


infringida, susci-
TA]

tando mesmo tentações. A autorização pura e simples não pode dispensar uma advertência contra os
malefícios do tabaco. Como escreve J. OrmezzanoO, resta uma via bem estreita aos adultos- o ver
i. Ormeziano.

in I'Écolo das parenis. nem proibir nem autorizar, mas ajudar a tomar uma decisão pessoal. (março de 1967).

TABUS (Tabous/Taboos) Páginas 160.173,186, 331. 477.


Em certas / sociedades priniitivas, diz-se «tabu» de uma pessoa ou de uma coisa cujo contacto ou uso é
moralmente interdito. Na nossa sociedade, «tabu» significa: de que não se fala. Um certo número
de temas são julgados tabus pelos adultos, quer entre

eles quer com os adolescentes. Isto deve-se em quase todos os casos a um bloqueio/ psicológico do
adulto que, deliberada ou

inconscientemente, decide nunca abordar certos assuntos que o perturbam. Estes assuntos tabus são as
mais das vezes de ordem,,Isexual. Felizmente, hoje em dia, há toda uma corrente/ pedagógica que
incita os pais a desembaraçarem-se de uni/pudor anacrónico e muito prejudicial ao
/desenvolvimento/,‟ afectivo e/;<moral do adolescente. Acrescentemos, no entanto, que esta corrente
se mostra por agora sobretudo teórica: de facto, muitos pais estão de acordo quanto ao principio de
uma/;<educaçâo sexual para todas as crianças menos para as suas. Entre estes pais, abundam os que
não carecem de boa vontade mas não resolveram totalmente os seus

próprios problemas sexuais.


0 resultado mais constante é o adolescente evoluir num clima de mistério, no qual tudo reveste o
atractivo do fruto proibido. Ele tem assim tendência a minimizar ou a exagerar a importância e o

alcance das suas próprias experiências.

TALENTO (Talent/Talent)

0 talento é um trunfo muito precioso no,,,” desenvolvimento harmonioso de um adolescente. No


colégio de/ensino técnico de Thorigny, no Seine-et-Marne, é permitido aos alunos de marcenaria fazer
móveis de tamanho normal, enquanto nos,outros sítios é de tradição não construir senão maquetas.
Obtiveram-se resultados assombrosos - tanto ao nível técnico como / moral. Este facto deve ser
relacionado com as experiências efectuadas pelo/psicólogo americano Cate11. Alunos de mesmo
nívelxintelectual eram repartidos em três/grupos para realizar uma série de provas. A um, assinalava-
se o seu êxito à medida do desenrolar das provas; ao segundo, apenas se dirigiam críticas; o terceiro
não recebia informação alguma. Ora, o primeiro grupo, encorajado, che-
536

gava nitidamente à frente; o segundo, criticado, era de longe o último. É por conseguinte
muito importante/ pedagogicamente saber apreender todas as ocasiões de encorajar o
adolescente, dando-lhe a possibilidade de cultivar um qualquer talento. Sem com isso lhe
insuflar uma/confiança excessiva -o que aliás é bastante mais difícil do que parece à
primeira vista-, convém sublinhar os seus êxitos, e sobretudo criar os ensejos de êxito.
Para tal, saber descobrir um talento particular e revelar, de algum modo, o adolescente a si
mesmo é a primeira tarefa de todos os educadores. Isto demonstra, caso seja ainda
necessário, a indispensabilidade de uma certa forma de optimismo pedagógico, um
optimismo enriquecedor na exacta medida em que for lúcido.

TEATRO (Thõâtre/Theatre)

As estatísticas mostram que muito poucos adolescentes (10 %. no total) frequentam o


teatro - e mesmo assim é preciso incluir neste número as operetas e o music-ha11.

Sabe-se que, através do mecanismo da/projecção, uma pessoa chega a experimentar


verdadeiramente os sentimentos manifestados por uma outra pessoa e pode assim libertar-
se de/tensões interiores latentes. 0 adolescente que vai ao espectáculo gosta, antes de tudo,
de se projectar deste modo nos/heróis postos em cena. Demais, o adolescente gosta de se
dedicar ao teatro como amador, na escola ou noutro lado: trata-se de uma tendência que é
preciso encorajar, pois ela pode introduzir uma correcção na falta de jeito natural da/
adolescência. A encarnação de uma personagem, tal como a projecção, permite amiúde
reduzir as tensões interiores que apoquentam a maior parte dos adolescentes.

TELEFONE (T616phone/Telephone) página 455.


Para o adolescente, o telefone não é apenas um instrumento utilitário, hoje indispensável a
uma certa forma de vida/social. 0 telefone é sobretudo um instrumento de adulto. Se bem
que as crianças tenham cada vez mais o hábito de se servirem de um telefone, a sua
intervenção não vai além de algumas frases breves, quase balbuciadas. A criança não se
sente realmente implicada, porque não foi ela a toma a iniciativa de chamar o seu
interlocutor.

Um meio de afi~ção Na/ adolescência, em contrapartida, o rapaz ou a rapariga descobrem


o/prazer de escolher um interlocutor. 0 simples facto de levantarem o auscultador é uma
maneira de se afirmarem como
membros de pleno direito da / sociedade adulta de que o / telefone é apanágio. Para nos
convencermos disto, basta observar um adolescente no acto de telefonar: ele rectifica a
posição, estuda os gestos e fala com afectação. 0 telefone é para ele o acessório de um
novo papel.

As confidências ao telefone Há também a circunstância de o telefone ser um cómodo


instrumento de/confidência. Na idade em que certas palavras metem medo, em que um
natural/pudor de sentimentos tende a separar o adolescente do resto da sociedade, o
telefone é um maravilhoso meio de sair de si mesmo. É assim que muitos/pais se espantam
com os acentos afectuosos que percebem na voz do seu filho crescido ou da sua filha
crescida ao telefone, afeição que contrasta singularmente com a desenvoltura evidenciada
na altura das conversas

cara a cara.
0 pudor ou a/timidez encontram um antídoto no telefone, o qual permite a expressão à
distância; o adolescente deixa então de temer que tentem aproveitar as suas efusões para o
fazerem regressar a um estádio/ infantil.

TELEVISÃO (Télévision/Television) páginas 306,548.


Uma sondagem recente efectuada pelo Instituto Francês de Opinião Pública a pedido do
Ministério da Juventude e dos Desportos, indica o grau de assiduidade dos adolescentes
dos 15 aos 20 anos diante da televisão. À pergunta: «Vê televisão todos os dias ou quase,
duas ou três vezes por semana, menos frequentemente ou nunca?», as respostas foram as
seguintes:

Rapazes Todos os 2 ou 3 vezes Menos Nunca

dias por semana frequentemente


15-16 anos 49 23 7 8
17-18 anos 42 30 8 7
19-20 anos 31 30 8 11 Média 41 28
8 8

Raparigas

15-16 anos41 27 9 9
17-18 anos 47 24 7 8
19-20 anos 41 23 10 11 Média 42 25 9
9

Média 42 26
536

gava nitidamente à frente; o segundo, criticado, era de longe o último. É por conseguinte
muito importante/ pedagogicamente saber apreender todas as ocasiões de encorajar o
adolescente, dando-lhe a possibilidade de cultivar um qualquer talento. Sem com isso lhe
insuflar uma/confiança excessiva -o que aliás é bastante mais difícil do que parece à
primeira vista -, convém sublinhar os seus êxitos, e sobretudo criar os ensejos de êxito. Para
tal, saber descobrir um talento particular e revelar, de algum modo, o adolescente a si
mesmo é a primeira tarefa de todos os educadores. Isto demonstra, caso seja ainda
necessário, a indispensabilidade de uma certa forma de optimismo pedagógico, um
optimismo enriquecedor na exacta medida em que for lúcido.

TEATRO (Thãâtre/Theatre)

As estatísticas mostram que muito poucos adolescentes (10 % no total) frequentam o


teatro - e mesmo assim é preciso incluir neste número as operetas e o musíe-halt.

Sabe-se que, através do mecanismo da/projecção, uma pessoa chega a experimentar


verdadeiramente os sentimentos manifestados por uma outra pessoa e pode assim libertar-
se de/tensões interiores latentes. 0 adolescente que vai ao espectáculo gosta, antes de tudo,
de se projectar deste modo nos/heróis postos em cena. Demais, o adolescente gosta de se
dedicar ao teatro como amador, na escola ou noutro lado: trata-se de uma tendência que é
preciso encorajar, pois ela pode introduzir uma correcção na falta de jeito natural da/
adolescência. A encarnação de uma personagem, tal como a projecção, permite amiúde
reduzir as tensões interiores que apoquentam a maior parte dos adolescentes.

TELEFONE (Téléphone/Telephone) página 455.


Para o adolescente, o telefone não é apenas um instrumento utilitário, hoje indispensável a
uma certa forma de vida/social. 0 telefone é sobretudo um instrumento de adulto. Se bem
que as crianças tenham cada vez mais o hábito de se servirem de um telefone, a sua
intervenção não vai além de algumas frases breves, quase balbuciadas. A criança não se
sente realmente implicada, porque não foi ela a tomar a iniciativa de chamar o seu
interlocutor.

Um meio de afirmação Na/ adolescência, em contrapartida, o rapaz ou a rapariga


descobrem o,,`prazer de escolher um interlocutor. 0 simples facto de levantarem o
auscultador é uma maneira de se afirmarem como
membros de pleno direito da / sociedade adulta de que o / telefone é apanágio. Para nos
convencermos disto, basta observar um adolescente no acto de telefonar: ele rectifica a
posição, estuda os gestos e fala com afectação. 0 telefone é para ele o acessório de um
novo papel.

As confidências ao telefone Há também a circunstância de o telefone ser um cómodo


instrumento de/confidência. Na idade em que certas palavras metem medo, em que um
natural/,,pudor de sentimentos tende a separar o adolescente do resto da sociedade, o
telefone é um maravilhoso meio de sair de si mesmo. É assim que muitos/pais se espantam
com os acentos afectuosos que percebem na voz do seu filho crescido ou da sua filha
crescida ao telefone, afeição que contrasta singularmente com a desenvoltura evidenciada
na altura das conversas

cara a cara.
0 pudor ou a/timidez encontram um antídoto no telefone, o qual permite a expressão à
distância; o adolescente deixa então de temer que tentem aproveitar as suas efusões para o
fazerem regressar a um estádio/ infantil.

TELEVISÃO (Télévlsion/Television) páginas 306,548.


Uma sondagem recente efectuada pelo Instituto Francês de Opinião Pública a pedido do
Ministério da Juventude e dos Desportos, indica o grau de assiduidade dos adolescentes
dos 15 aos 20 anos diante da televisão. À pergunta: «Vê televisão todos os dias ou quase,
duas ou três vezes por semana, menos ftequentemente ou nunca?», as respostas foram as
seguintes:

Rapazes Todos os 2 ou 3 vezes Menos Nunca

dias por semana frequentemente

15-16 anos 49 23 7
17-18 anos 42 30 8
19-20 anos 31 30 8 Média 41 28 8

8
7
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Raparigas

15-16 anos 41 27
17-18 anos 47 24 in

-20 anos 41 23 Média 42 25

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10
9

9
8
11
9

Média

42 26
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A análise dos resultados mostra que, embora sejam fiéis ao seu aparelho de televisão, os
adolescentes franceses não deixam de preferir o aparelho de/rádio que lhes consente uma
margem mais ampla de/liberdade de audição. Porém, no conjunto, somos forçados a
concluir que eles se mostram muito assíduos diante do pequeno écran, cujas emissões
diárias gostam de comentar. Este fervor dá azo a controvérsias ao nível /pedagógico: a
televisão é ou não nociva à educação dos jovens? Esta questão suscita comentários amiúde
apaixonados, sendo a televisão, ao lado do automóvel, a invenção técnica que mais marcou
a vida na nossa época. «A dona de casa que se aborrece, as crianças que voltam da/ escola
ou o marido que regressa do trabalho abrem a televisão. E eis espectáculos do mundo
inteiro que penetram na intimidade do lar.»* Ver Ia Via du couple

IC.E.P.L.-Denoêf. Paris.
Os argumentos «contra» Não há dúvida de que a televisão informa, mas num
1969). p. 527.

estilo que se arrisca a provocar uma passividade empobrecedora das faculdades de


reflexão do jovem telespectador. «A televisão pode oferecer, em/família, ao telespectador
consciente, espectáculos deslumbrantes, e de facto não nos priva deles. Sim, decerto:
diga-se então „telespectáculo‟. Ela pode proporcionar informações, discutir os
acontecimentos do dia, apresentar os homens, resolver uma equação no quadro: diga-se
então «tele-ensino». Mas há duas palavras antinómicas que nunca se devem pôr na
presença uma da outra: «televisão» e «educação»... Só se educa o homem através do
homem. Quando pudermos discutir com a televisão voltaremos a abordar o assunto.»*
9 R. Gáraud:
A esta/opinião severa do doutor Gérard vem juntar-se o facto
fflomme mystifíé (La Paialine,

de as «refeições-televisão», refeições tomadas num silêncio que


Genebra, 1967), p. 62.

apenas a voz do locutor pode perturbar, oferecerem uma triste imagem da vida familiar.

Os argumentos «a favor» É verdade que a televisão não dialoga com o telespectador, mas
o mesmo se pode dizer do livro, que não deixa, no entanto, de ser considerado como um
excelente meio de/ cultura/ intelectual. Tal como no cinema, é preciso um mínimo
de/atenção para dar uma coerência e uma lógica a um desfile de imagens e de sequências,
cada uma das quais é distinta das outras. No caso das realizações muito grandes,
este/esforço torna-se sustido e constante e representa um excelente exercício do espírito.
Mesmo que a família não esteja fortemente unida diante do aparelho de televisão,
podemos pelo menos afirmar que ela está reunida. Este/pai que impõe brutalmente silêncio
à hora da rubrica desportiva teria provavelmente, há 10 anos, consagrado a maior parte do
seu tempo disponível a jogar às cartas fora do lar.
Enfim, parece inegável que a televisão pode suscitar o interesse de todos os membros da
família. Ora, na idade da adolescência só dificilmente se pode esperar encontrar uma soma
de interesses comuns aos filhos e aos pais. A televisão pode desempenhar um papel
conciliador e, dando ensejo a pessoas de gerações diferentes de terem reacções se não
idênticas pelo menos simultâneas, diminuir o fosso que tende a abrir-se quando os filhos
atingem a/adolescência.

TEMPERAMENTO (Tempérament/Temperament)

Predisposição/ psicológica geral de um indivíduo, determinada sobretudo pela sua


hereditariedade mas também pelos acontecimentos da sua vida.

Em matérial educativa, parece necessário ter em conta o temperamento de cada


adolescente. Uma/pedagogia digna deste nome é de facto obrigada a apreender as/,
necessidades e os interesses reais daquele a quem se dirige, evitando o sistema simplista
que consiste em aplicar as mesmas regras a todos. Um verdadeiro/ educador deve
procurar dosear exactamente as/sanções em função de cada temperamento. É evidente que
a mesma/punição não terá o mesmo efeito sobre um bilioso do que sobre uni linfático, sobre
um extravertido do que sobre um introvertido.

TEMPOS LIVRES (Loisira/Spare time)


ver o artigo nas páginas seguintes e as páginas 13. 162, 268. 524.
540

Os tempos livres por Aimée Fillioud


Tempos livres, tempos de que dispomos, com que sonhamos, apertados pelo/trabalho,
pelas horas de aulas, pelas /actividades profissionais. Passeatas, /discussões com/amígos,
momentos de lazer em que os jovens podem escapar às suas obrigações, retomar durante
algumas horas os/jogos, os/-"desportos da sua infância, mas também, consoante a sua
escolha, procurar/ responsabilidades no seio de um/grupo. Preocupações /culturais,
/artísticas, /políticas que poderão exprimir-se durante os tempos livres. Pacientes
pesquisas para colecçõ es, trabalhos minuciosos de construção de modelos reduzidos,
actividades paralelas às ocupações habituais: ruptura do/ritmo diário,/prazer de fazer
aquilo de que se gosta com aqueles que se escolhe.

PARA UMA DEFINIÇÃO DOS TEMPOS LIVRES Os tempos livres opõem-se à


actividade do dia-a-dia profissional. E isto por duas razões: por um lado, os tempos livres
são preenchidos por actividades de recreio que variam segundo a importância do período
deixado disponível pela actividade principal; por outro lado, esta actividade diária será
sempre toniada corno referência na escolha dos tempos livres. Tanto os adultos como os
adolescentes, os escolarizados como os que já entraram na vida activa, vêem os seus
tempos livres iegulados pela sua actividade principal. 0 período de folga deixado a cada
um pode variar consideraveh-nente. 0 jovem operário terá muito menos tempo disponível
do que o aluno de liceu que tem apenas umas 30 horas de aulas por semana.
0 jovem estudante, se tiver trabalhos de casa, poderá organizar o seu tempo trabalhando à
noite, à tarde ou mesmo à hora do almoço
Aimée Fiffioud Psicóloga, especialista dos problemas socioeconómicos ligados à civilização de consumo. Dirigiu diversos trabalhos e participou em numerosas
investigações sobre os tempos livres e a sua significação psicológica. Colabora em estudos sociológicos sobre a orientação escolar e a escolha da profissão pelos
adolescentes.
TEM

e reservar assim como muito bem entender um certo número de horas para os seus tempos
livres. Isto permite compreender a relação profunda entre o/trabalho e os tempos livres,
relação negativa ou positiva. E, por conseguinte, o tipo de trabalho exercido que pauta os
tempos livres.

A escolha dos tempos 1 é tão reveladora como a escolha de uma prof Aqueles,
perfeitamente integrados na regularidade tanto da vida dos jovens como da dos adultos,
dependem de uma escolha que é a emanação da /personalidade de cada indivíduo.
Conforme a ideia que se tem da melhor utilização das suas folgas, os tempos livres serão
/repouso, relaxação ou/,1 actividade liberta do mundo das máquinas ou das aulas, ou ainda
busca de uma melhor formação ou de uma possibilidade de expressão ou de criação.
Durante as horas de lazer, quer-se ser si mesmo, e/livre. Através das actividades escolhidas,
revelam-se os/gostos, as /necessidades, as /aptidões de cada um. Vê-se aparecer a/atitude
fundamental do indivíduo: aceitação ou recusa da vida profissional, satisfação ou
insatisfação, resignação ou/revolta. Mas os tempos livres não constituem um mundo à
parte, desligado da vida, da realidade, a expressão total e espontânea do
indivíduo desembaraçado de todas as contingências quotidianas. Pelo contrário, os tempos
livres são a representação das/aspirações e das necessidades de cada indivíduo prisioneiro
dos seus/hábitos e condicionado pelas suas actividades de todos os dias.

M4TUREZA E DIMENSÃO DOS TEMPOS LIVRES

0 sociólogo Joffre Dumazedier, no seu livro Vers une civilisation du loisir, elabora uma
teoria interessante a que dá o nome dos «3 D». Ele considera os tempos livres sinónimo de
descanso.

Divertimento e desenvolvimento

«Os tempos livres são um conjunto de ocupações a que o indivíduo se pode entregar de
plena vontade, quer para descansar, quer para se divertir, quer para desenvolver a sua
informação ou a sua formação desinteressada, a sua participação social voluntária ou a sua
livre/ capacidade criadora depois de se ter desembaraçado das suas obrigações
profissionais.»
0 que se passa exactamente? Não há dúvida de que os tempos livres são tempos de
repouso. Este intervalo na vida activa desempenha o papel de um reconstituinte físico
ou/intelectual. Ã primeira vista, esta função «descanso» pode parecer contraditória na
medida em que os tempos livres implicam unia mobilização física ou intelectual. Eles
tomam, por exemplo, a forma de um/desporto fisi-
542 Os tempos livros

camente duro. Todavia, para além da/fadiga suplementar que podem acarretar, e por
serem uma/actividade livremente consentida, eles opõem-se ao/trabalho, são mudança
de/ritmo e, nisso, constituem -um descanso. São divertimento porque permitem «fazer
outra coisa». 0 indivíduo pode abandonar o âmbito restrito da sua actividade diária e dar
livre curso aos seus/gostos. Através dos tempos livres, ele escapa à/ambiência demasiado
absorvente, à rotina escolar ou profissional. A obrigação cede o lugar à escolha e
à/liberdade. Ruptura com o quotidiano, escolha de uma actividade diferente, os tempos
livres são descanso e divertimento. Mediante os tempos livres, o adolescente procurará
exprimir-se, criar, assumir/ responsabilidades, algumas vezes superar-se. São os tempos
livres-desenvolvimento. 0 adolescente encontrará nos tempos livres a satisfação que nem
sempre terá achado na sua vida escolar ou profissional.

Os tempos livres, complemento indispensãvel de uma vida activa Não podenios deixar de
observar que esta teoria não leva em conta um elemento afinal determinante na sua
definição: os tempos livres entram na racionalização do trabalho. Sabe-se, por exemplo,
que a produtividade de um trabalhador baixa ao fim do dia, ao fim da semana, ao fim do
ano, antes das/ férias anuais, e, portanto, que o coeficiente de qualidade reclamado pela
organização industrial do trabalho pressupõe/ repousos regulares.
0 mesmo sucede com os escolarizados, cuja taxa de/atenção diminui consoante o grau
de/fadiga. A reforma dos/horários das /escolas primárias levada a cabo em diversos países
é a aplicação desta regra. Doravante, as tardes são reservadas às actividades de despert ar
da,,,1 personalidade e à/educação física e/desportiva. A língua pátria e a aritmética,
/ensino fundamental, são aprendidas de manhã. Por outro lado, no contexto desta reforma,
ao sábado não se vai à escola. Os tempos livres são agora considerados como um
elemento subsidiário da vida activa. 0 seu novo papel vai originar unia organizaÇão de
todo em todo diferente que ainda não está perfeitamente elaborada. A conciliação da
forma dos tempos livres de massa, da organização dos tempos livres educativos e/culturais
e da função de derivativo efectivo não foi ainda realizada.

Que são actualmente os tempos livres dosjovens? Importa compreender que eles lhes são
específicos na medida em que respondem às/necessidades particulares dos jovens e ao seu
papel/sociaL Passem pela mesma evolução que o adolescente que amadurece e envelhece,
Seguem o seu caminho/ intelectual, /cultural e social.
TEM

Acontece com um mesmo tipo de tempos livres o congregarem-se à sua volta jovens com
preocupações e/X actividades principais extreinamente diversas e de níveis de/,,
desenvolvimento escolar,/cultural, profissional ou individual muito diferentes. 0 mesmo é
dizer que, em virtude das variadíssimas moti,,ações que conduzem os adolescentes a
escolher este ou aquele tipo de tempos livres, não é possível concluir que a certo modo de
actividade corresponde obrigatoriamente certo nível/social.

OS MOVIMENTOS DE JOVENS

0 escutisnio

Nascido em 1907 por instigação do general inglês Baden-Powell, o escutismo é fortemente


marcado pelas suas origens militares. Distinguimo-las nos princípios fundamentais que
governam o movimento: valor do/esforço, papel da vida ao ar livre na formação
dos/caracteres, virtude da prova de resistência, sentido do/dever, necessidade de
«estar sempre pronto», importância da vida colectiva. Este movimento conhece
rapidamente um inegável sucesso. No final de 1909 agrupa 60 000 jovens em Inglaterra.
Depois estende-se a muitos outros países, acrescentando por vezes à sua herança militar
uma base/religiosa.

0 objectivo do escutismo: formar homens de boa vo Mas apesar da diversidade


dos/grupos, laicos ou de tonalidade religiosa, o escutismo vai apresentar uma fisionomia
homogénea. Reencontramos em cada organização os mesmos elementos: o uniforme, a
disciplina, a hierarquia, a submissão ao chefe, a dedicação à pátria. Se a ideologia varia um
pouco, conforme o grupo é confessional ou não, a finalidade é a mesma. Trata-se de formar
homens disciplinados, sólidos, serviçais, generosos, dotados do sentido da honra, pouco
individualistas, voltados para o grupo. Deparamos aliás com as mesmas actividades
- campismo, marcha, amplos/jogos que desenvolvem o sentido da observação, topografia,
marinhagem, trabalhos manuais - a que vêm juntar-se por vezes actividades /musicais
ou/teatrais.
0 escutismo evoluiu muito pouco desde a sua origem e verifica-se uma desafeição por este
movimento. Os dois factos estarão ligados? Sim, parece que o seu problema vai de par com
o das pousadas da juventude. Por isso estudaremos este último fenómeno a fim de
tentarmos responder, do mesmo passo, ao desinteresse dos jovens pelo escutismo e pelas
pousadas da juventude.

As pousadas da juventude Trata-se de um movimento suscitado por um professor primário


5« Os tempos livres

alemão. Ao contrário do escutismo, as pousadas da juventude são civis e devem a sua


origem a um factor/,,< social: a/necessidade de as crianças das regiões industriais do Rur
repousarem, viajarem, «reconstituirem-se» fisicamente, com pouca despesa. Experiências
semelhantes desenvolvem-se na Europa central e nos países escandinavos, depois em
Inglaterra, nos Estados Unidos, França, etc. As suas/ actividades estendem-se, as pousadas
funcionam para além do tempo das/férias. Pode-se pertencer às pousadas dos 15 aos 30
anos. Este movimento que, a princípio, fora criado para as crianças modificou-se assim
completamente. Os jovens de 15 anos que frequentam as pousadas são sobretudo jovens
trabalhadores. No nível etário seguinte, os estudantes juntam-se aos trabalhadores.

As pousadas são geridas pelos seus aderentes


0 funcionamento das pousadas baseia-se na autogestão. Os jovens são encarregados da
organização dos seus tempos livres -serões, artesanato, grupos/teatrais -bem como do
arranjo das suas instalações. Os dois responsáveis, «pai e mãe hospedeiros» escrituram a
contabilidade, recebem os jovens, regulam as actividades quotidianas (preparação
das/refeições, limpeza, lavagem da louça: cada qual tem uma tarefa). Os «pais
hospedeiros» permanecem vários meses na mesma casa. Têm a mesma idade que aqueles
que acolhem. São igualmente membros do grupo das pousadas da juventude, mas
adquiriram uma especialização graças a um estágio organizado pelo movimento. Os
grandes princípios são o autogoverno, a não separação dos sexos, o/trabalho em/grupo.
Convém precisar, a propósito do terceiro principio, que muitas vezes as pousadas têm
uma especializaçâo. Sabe-se que, conforme a pousada, se poderá mais particularmente
praticar tecelagem, olaria, cestaria ou alvenaria, no âmbito da reconstrução de uma aldeia
em ruína, por exemplo. Ainda que nenhuma/ actividade particular esteja prevista, há
sempre uma demão de tinta a dar, uma instalação eléctrica a reparar, uma prateleira a
colocar, um canteiro de jardim a sachar. E cada membro, na altura da sua passagem pela
pousada, tem obrigação de contribuir com a sua ajuda. Apesar de possuir princípios
diferentes dos do escutismo, porquanto se reserva um lugar importante aos aderentes na
gestão das pousadas, chegando a sua participação às tarefas domésticas quotidianas das
casas, este movimento conhece a mesma sorte: uma regressão muito nitida dos seus
efectivos. Tais fenômenos, o escutismo e as pousadas, perderam quase toda a sua influê
ncia. 0 seu impacto entre os jovens diminuiu de dois terços em 25 anos.

Os movimentos não acompanharam os jovens na sua evolução Representativos no


momento do seu apogeu, ou seja, logo após
TEM

a última guerra, eles abarcavam dois sétimos da população total num país como a França;
hoje já não abarcam senão um décimo. E os que a eles aderem actualmente, ao atingirem
uma certa idade, não tardam a repelir o sistema, desconsiderado e julgado antiquado. Esta
quebra de influência deriva de diferentes razões. Principalmente do facto de a/política de
tais movimentos não ter evoluído muito desde a sua idade de ouro, e de as organizações
não haverem levado em linha de conta os diferentes factores de evolução nos jovens. Ora,
enquanto estes movimentos evoluíram pouco, ou ao arrepio, os jovens, esses,
amadureceram e transformaram-se. Esta transformação foi favorecida e determinada pela
chegada dos jovens ao mercado do consumo. Uma chegada tão maciça permitiu que os
jovens tomassem consciência da sua existência enquanto força / social de grande
envergadura, unida pela idade e por preocupações comuns. As manifestações mais
evidentes deste fenômeno são certos jornais dirigidos aos adolescentes, a voga dos/ídolos,
as permanentes referências na publicidade às características «jovens» de um produto, etc.
Ora todo este aspecto fundamental da redefinição social do jovem na sociedade foi
esquecido pelos movimentos de jovens, tentando mesmo alguns deles denunciar as suas
consequências, ou seja, qualificar os/!dolos e a/música ié-ié «de podridão que mina a
juventude». Mas para além destas defesas infantis em nome da preservação caída em
desuso do romantismo dos jovens, os movimentos da juventude têm, sobretudo devido às
suas estruturas e aos seus temas ideológicos imobilistas, sido incapazes de responder a esta
crise dos jovens e até de a reconhecerem assumindo-a, dando-lhe a sua plena dimensão,
abrindo-lhe novas vias. Por exemplo, um dos elementos concretos que se libertam desta
grande mutação da juventude, é um impulso para a procura das/
responsabilidades que, no fundo, coincide com a /necessidade de,,, liberdade. Ora, a forma
das/ actividades que estes movimentos propunham -uma rigidez estrutural no seu
funcionamento e um certo rigor/moral- foi uma das causas da desafeição dos jovens.

Um movimento encerrado em limites, horãrios estri

e em actividades obrigatõrias não é vid De facto, os jovens têm hoje necessidade de um


quadro/horário flexível. Eles querem poder, seja em que momento for, em função de horas
livres irregulares (isto é sobretudo verdade no caso dos jovens escolarizados), ter a
possibilidade de se encontrarem, de /discutirem, ou de se entregarem a uma/actividade
livremente escolhida. Coisa que o escutismo não oferece, propondo, em contrapartida,
a/saída dominical como actividade obrigatória que ia não corresponde, na sua
regularidade, ao/ ritmo da vida actual. Se ninguém renega a vida ao ar livre, os/jogos de
pista, os calções curtos, a marcha, nem por isso os princípios do escutismo deixam
PA-35
S46 Os tempos livres

de estar um tanto desacreditados. Na verdade, para além desta caricatura, são o seu
funcionamento e as suas estruturas que se vêem rejeitadas.

Animação cultural Implantadas nas cidades, têm surgido nos últimos anos casas da cultura
e da juventude que acolhem os jovens trabalhadores e os estudantes nas horas de lazer. São
por vezes dirigidas por um director que é sobretudo um/educador preparado para esta
tarefa. A sua acção é difícil: ele deve saber apagar-se na medida em que cabe aos
aderentes organizar e assumir as suas /responsabilidades. As diferentes/ actividades
propostas são aliás da responsabilidade dos aderentes, que se encarregam da sua
organização e funcionamento, ajudados, segundo os casos e em certos domínios (/arte
dramática, /música, judo, etc.), por profissionais contratados. Algumas destas actividades
são por vezes uma nova fonte de rendimentos e permitem um financiamento suplementar:
podem ser espectáculos de dança, projecções de filmes, etc. Os dois tipos predominantes
de actividade são a expressão artística e a prática desportiva. A expressão artística é
favorecida pelos estúdios de escultura, cerâmica, desenho, pintura, clubes de fotografia e
salas de dança, grupos musicais, companhias/ teatrais. Outras actividades são mais
educativas, como as conferências, as sessões do cineclube.

0 animador deve ser jovem, dinâmico, responsãv91


0 animador. A animação é antes de mais a busca de um equilíbrio entre a/independência
que os jovens desejam salvaguardar e a ajuda de que eles necessitam. Com efeito, os
jovens apenas aceitam sugestões, repelindo a tutela. Mas desejam uma ajuda quando dela
precisam: «Um/educador deve sugerir, quando muito propor, ele deve amparar, ajudar-
nos a vencer as dificuldades administrativas.»* e
E.E.D.F., Orleães,

«Estar em primeiro lugar ao serviço dos outros, atento para propor


Caravanas sans „f'rontières».

/actividades, as actividades que os jovens desejam, sem impor as suas ideias.»*


0 Grupo «Loisirs et
«É essencial ter educadores competentes... Eles devem ser jovens
Culture», Communay (lsère).
(25-30 anos)... Devem estar ao corrente dos problemas que os jovens podem encontrar e
até, em certos casos, poder auxiliá-los a resolvê-los. Em suma, -pretendemos considerar
os animadores como/amigos.»* # Grupo de jovens do

«0 animador é antes de tudo para nós alguém do mesmo/grupo,


írculo do ensino público „de

do mesmo/ meio, conhecendo a vida de cada um e de quem cada um conhece


Cherburgo (Mancha).

a vida. Ele não deve aparecer sem mais nem menos no nosso seio.»*
e Grupo «Loisirs et Na realidade, unido ao grupo dos aderentes, o animador deve
ser Cultura» de 1sère.
TEM

dinâmico, «capaz de dar o impulso indispensável aos jovens para eles realizarem aquilo de
que têm vontade». Estas ideias, amiúde repetidas, de que o animador deve ser
responsável, estar igualmente pronto a apagar-se, não ser um «estranho», um «burocrata»,
um «chefe», e de que tem de se achar integrado no grupo, exprimem o receio dos jovens de
não serem compreendidos e de se sentirem perdidos num universo de tempos livres
regulamentados e impostos. São testemunhos que mostram à evidência que se não pode
tratar o problema da animação sem cuidar também da formação e da preparação dos jovens
para as/ responsabilidades. Um outro problema que se coloca a propósito dos animadores é
o problema financeiro. Aliás, este elemento financeiro deve ser encarado de forma mais
larga e não se refere apenas aos animadores. Os investimentos destinados à construção de
locais e à compra dos equipamentos só podem, em virtude da sua importância e não
rentabilidade, ser do domínio público, logo financiados pelo Estado.

Os jovens filiados num grupo são mais frequentes na e

No entanto, o escutismo, os clubes desportivos, os organismos culturais, tudo reunido,


não têm muitos adeptos. Uma sondagem efectuada pelo I.F.O.P. em França, no ano de
1966, junto dos jovens de 15 a 20 anos, dava 62 % de jovens não «organizados», 52 % de
rapazes e 72 % de raparigas. Existe também uma diferença importante entre os jovens
trabalhadores não «organizados», 69 %, e os escolarizados não «organizados» , 54 %.
Enfim, poucas variações derivadas do lugar de habitação: nas cidades, 58 a 59 %; entre os
jovens de origem rural, 69 % não pertencem a qualquer organização. Os jovens não
filiados num/grupo preferem organizar sozinhos * seu tempo de/liberdade; razões materiais
impõem esta escolha * 25 %, dos jovens que carecem de tempo ou que se encontram
demasiado afastados de um clube, de um lugar de reunião... Para os jovens
«organizados», o lugar de destaque cabe aos/desportos: 52 %, e isto tanto na cidade como
no campo. Só as raparigas preferem as/ actividades/ culturais aos desportos. Se
exceptuarmos este caso, os grupos culturais ocupam a segunda posição, precedendo
a/religião e a/política, que surgem nitidamente em último lugar. Podemos observar que a
percentagem dos desportistas vai diminuindo com a idade e que, ao invés, as actividades
culturais vão crescendo dos 15 aos 20 anos, tanto para os rapazes como para as raparigas.
As associações de tendência confessional têm mais adeptos aos 15 anos do que aos 20
anos: a percentagem passa de 11 para
7 %. no caso dos rapazes, de 23 para 19 % no das raparigas.
548 Os tempos livres

As actividades preferidas do domingo à tarde são:


- ver/ amigos; -passear com a/famífia;
- /dançar; -ir ao/ cinema; -praticar um/desporto. Aparecem muito atrás: a/televisão, os
trabalhos manuais, a / leitura. Em contrapartida, para ocupar um serão, a preferência vai
nitidamente para a leitura, e a televisão chega em quarto lugar.

0 desporto surge claramente como uma actividade semanal, dominical, o que elimina
quase completamente a cultura física em giná- sio e o treino desportivo.

As ocupações de tempos livres variam: -Segundo a idade. Entre os 15 e os 16 anos, passa-


se com mais facilidade um serão a ler, a ouvir/rádio, do que entre os 19 e os
20 anos, idade em que se prefere passar o serão com amigos. Ir dançar tem igualmente
mais atractivos aos 20 anos do que aos 15 anos, e os números passam de 9 „/. para 22 %.
A televisão segue um movimento inverso, 20 Y. entre os 15 e os
16 anos contra 10 %. entre os 19 e os 20 anos. 0 cinema tem uma situação mais ou menos
estável: 14 „/. a 13 %.
- Segundo o/ sexo. Nota-se o mesmo movimento de progressão ou de decréscimo
consoante a idade, mas os centros de interesse variam segundo o sexo. Assim, 40 % das
raparigas -contra 32 % dos rapazes - passam os seus serões a ler, a ouvir/ rádio ou
ocupadas em/ actividades/,< culturais ou/artísticas. Em compensação, a taxa das que vão
visitar/;< amigos é apenas de 13 % contra 27 %. para os rapazes. As raparigas mostram-
se mais sedentárias, mais «caseiras». Elas saem igualmente menos para ir/,,dançar.

Os pais: frequentemente menos liberais com as filhas E necessário recordar que osxpais
são mais severos com as filhas do que com os filhos, e que aquelas obtêm menos
facilmente autorização para/sair. É també m costume, quando uma jovem tem um
irmão mais velho, conflá-la à guarda deste. Quanto à assistência aos programas
de/televisâo não se verifica qualquer diferença, mas elas vão menos ao/cinema: 9 %
em vez de 11 % no caso dos rapazes. Em contrapartida, passam mais tempo a fazer malha,
a costurar do que os rapazes se entretêm em trabalhos manuais: 10 %. contra 7 Os
passeios,,« familiares ocupam pouco lugar nas suas tardes, 4 das respostas, e
o/desporto é inexistente.
- Segundo as suas actividades. Encontramo-nos na presença de
TEM

quatro categorias de jovens: os inactivos sem profissão e que não seguem estudos; os
estudantes, sem profissão; aquilo a que podemos chamar os «trabalhadores», jovens que
suspenderam os estudos para entrar na vida activa; os que continuam a estudar enquanto
tra- balham. Esta última categoria representa geralmente o estudante já/casado, para o qual
visitar amigos é a principal distracção. Vem em seguida «passear ou estar com a família -ir
dançar - ir ao cinema», sendo o desporto menos frequentemente praticado do que nas
outras categorias (9 %. contra 17, 13 e 10 %.). A televisão exerce também sobre eles uma
atracção muito fraca: 2 %. Para a categoria dos inactivos, sem dúvida os mais jovens (e
com uma maioria de raparigas), os tempos livres passados em família ocupam o primeiro
lugar com 24 %, estando o «ir dançar» em segunda posição com 21 % e representando o
«visitar amigos -ir ao cinema» respectivamente 20 % e 18 %. A categoria dos jovens
trabalhadores que não estudam concede a maior importância à dança, 23 %, representando
os amigos somente 19 %, os passeios em família 18 %, tal como o cinema. A prática dos
desportos é, nesta categoria, a mais forte: 17 Y.; e a/leitura, as actividades culturais, têm
uma percentagem mais fraca do que para os outros adolescentes: 4 Y.. A categoria
«estudantes sem profissão» liga nitidamente mais importância às horas passadas com
amigos, 27 %, em detrimento da família, 17 %, do/baile, 12 %. Mas 9 %. escolheram a
televisão (é a percentagem mais elevada). No que diz respeito ao modo de ocupar um
serão livre, «a/leitura, a/rádio, as/ actividades/ culturais e/artísticas» vêm à frente, quaisquer
que sejam as ocupações, salvo para os estudantes que exercem uma profissão e
para os quais «ter/amigos» permanece a forma privilegiada de passar um serão. Para todos
eles a/;<televisão ocupa um lugar importante, sobretudo para os que não têm profissão nem
estudo. «lr/dançar» surge em segunda posição para os jovens trabalhadores, tanto os que
continuam a estudar como os que o não fazem. 0/cinema situa-se após a televisão, sem
dúvida destronado por ela. «Fazer malha ou trabalhos manuais» obtêm 8 e 10 %. das
escolhas nos jovens trabalhadores e nos inactivos.

os tempos 11 meio de preencher lacunas no domínio cul ou possibilidade de viver ao ar


livro ou de se dil A escolha das actividades culturais varia no sentido inverso ao nível de
estudos. Os tempos livres parecem absolutamente coniplementares da/ escolaridade.
Assim, os alunos de liceu apreciam particularmente as actividades que exigem um certo
tecnicismo, tais como a fotografia (revelação, ampliação), a olaria, a cestaria, que
representam sem dúvida unia distracção relativamente aos seus
550 Os tempos livros

estudos. Os clubes de fotografia podem ter um grande sucesso nos liceus. Podemos, por
outro lado, citar o exemplo de uma jovem costureira «com, estudos primários» e que se
sente muito especialmente atraída pelo/teatro. As suas preferências vão igualmente para as
visitas a museus onde, na companhia de colegas estudantes, se inicia na/” arte. Em
contrapartida, os estudantes universitários gostam de praticar /desportos ao ar livre, ou
simplesmente compensam com passeatas as longas horas de imobilidade nos anfiteatros. Os
tempos livres aparecem deste modo não só como a possibilidade de completar as lacunas
da instrução recebida, mas também como uma coirpensação para o que a vida profissional
ou escolar não proporciona.
- Segundo o habitat. Consagra-se mais tempo aos trabalhos manuais, à televisão e ao
cinema na província do que na capital. Também se sai um pouco menos para visitar os
amigos: 19 % contra
21 %; frequenta-se menos os/ bailes, 16 % contra 19 %, e, na categoria «leitura, rádio,
actividades culturais e artisticas», as percentagens são de 36 %. na capital e 30 %. nos
concelhos rurais. É evidente que as solicitaçõ es no domínio cultural são mais insistentes
na capital, mas as diferenças de percentagem não se revelam muito impoitantes.

A LEITURA

A/leitura ocupa um lugar importante nos tempos livres de cada dia e semanais, sobretudo
entre as raparigas. De facto, um adolescente em cada cinco cita-a como ocupação
favorita.

0 que Mem eles? Num inquérito levado a cabo junto de aprendizes e alunos de liceu,
Georges Teindas e Yann Thireau, observam uma indubitável atracção pelas publicações
periódicas que apresentam a actualidade sob forma condensada. Os digests exercem um
grande atractivo. Contudo, as revistas científicas e técnicas têm um largo público.

Os jovens lêem também muitos/livros de gravuras. Mas a partir dos 15 ou 16 anos,


a/leitura dos jornais diários está muito propagada -mais nos rapazes do que nas raparigas:
cerca de 50 % aos 15 anos. Esta taxa cresce evidentemente com a idade. Convém notar
que ela é mais fraca na capital do que na província: 37 %. na capital contra 53 %. nas
cidades com uma população razoável e 42 %. nos concelhos rurais.

Os jovens interessam-se, por ordem de preferência, pelos casos do


TEM

dia-a-dia, /desportos, actualidade/ política,/ moda, horóscopo, bolsa, /cinema, /teatro, rubricas
/culturais. Mas, no fundo, esta enumeração dá uma imagem bastante falsa dos centros de interesse. Com efeito, os rapazes
interessam-se principalmente pelo desporto,
32 %, ao passo que as raparigas lhe concedem apenas 14 %. dos seus sufrágios. Em contrapartida, 24 %. delas lêem os
casos do dia-a-dia, ao passo que, dos rapazes, só 13 A actualidade política vem em terceira posição com 18 % e 14
respectivamente para os rapazes e as raparigas.

Os adolescentes escolarim lêem de preferêncIa@osprtl9os de poi Aparecem. igualmente grandes diferenças entre os que
estudam e os que entraram na vida activa. Para estes últimos, a rubrica «moda, bolsa, horóscopo» surge à cabeça com 23 %,
depois os casos do dia-a-dia, os desportos e a actualidade política apenas com 10 Y.. Os escolarizados, por sua vez, interessam-
se em primeiro lugar pela política: 22 %0; seguem-se os desportos e os casos do dia-a-dia.

Não é possível falar de revistas para os jovens sem abordar uma literatura que lhes é especialmente destinada. Trata-se de
revistas e jornais unicamente centrados nos/ «Idolos». Aparecida há alguns anos ao mesmo tempo que a «vaga dos teen -
agers», esta literatura consagra-se quase exclusivamente às vedetas, e em particular às vedetas da canção; os seus/gostos, os
seus/hábitos quotidianos, as suas manias, os seus pratos preferidos são cuidadosamente descritos, ao mesmo tempo que se
publicam grandes fotografias susceptíveis de serem destacadas - sem prejudicar o texto - e pregadas nas paredes do/quarto.
Assim, é na presença dos seus /ídolos que os adolescentes vão viver, trabalhar, escutar/discos. Esta incursão na sua vida
privada daqueles que são já modelos favorecerá um duplo processo de/projecção e de/ identificação. Modelos para muitos - ao
mesmo tempo próximos e longínquos pelo seu/ êxito-, os cantores representam um modo de ser, de viver, de vestir. Aprecia-se
que eles sejam virtuosos, fortes, que levem vidas simples, que tenham triunfado giaças ao seu mérito, sendo este triunfo o de
toda uma juventude, o dos seus admiradores. Conscientes deste fenómeno, os jornais para adolescentes modificaram as suas
rubricas e ajustaram a sua fórmula. Alguns apresentam a/Oníoda de/vestuário e os/penteados através das jovens vedetas da
canção e tomam a sua /beleza e os seus/ gostos como referência.

No que se refere aos livros

Nota-se uma diferença de escolha entre os alunos do ensino secun-


552 Os tempos livres

dário e os aprendizes. Todos revelam um certo gosto pelas romances de aventuras e


pelos/romances policiais, mas a proporção varia:
- Romances de aventuras: alunos do secundário 75

aprendizes 57
- Romances policiais: alunos do secundário 75

aprendizes 47%
0 «livro de bolso» tende a modificar esta situação. A sua difusão é cada vez maior, pois
numerosos jovens atribuem mais importância ao conteúdo do que à encadernação.
Segundo um relatório do Circulo dos Livreiros de França, o «livro de bolso» passou de
10 milhões de exemplares vendidos em 1960 para 31 milhões em
1963, dos quais 34 % comprados por alunos do liceu ou da universidade.

ASISAIDAS COM OSICAMARADAS

«lr/dançar», «ir ao/cinema» ou «praticar um/desporto» não são/actividades individuais.


Trata-se antes de mais de uma ocasião para os jovens se encontrarem e fazerem alguma
coisa juntos.

As raparigas conformam-se mais em ficar em casa

do que os rapazes Este/ comportamento é mais particularmente masculino. Encontramos


mais amiúde raparigas que ficam em casa ou partilham os seus tempos livres com
uma/amiga ou com os/pais. São mais estranhas aos/bandos e preferem muitas vezes a
solidão.

Num estudo realizado pelo I.F.O.P., 21 %. dos jovens citam como ocupações preferidas
as/saldas ou as reuniões de/grupos, o que não devemos evidentemente confundir com a
filiação num clube desportivo, numa associação ou num movimento. São pequenos grupos
informais que se organizam assaz frequentemente no intuito de passar em conjunto as horas
de lazer. Este fenômeno é típico da/ adolescência. Os jovens sentem-se isolados e
incompreendidos no seio dos adultos. São muitas vezes mantidos numa situação de
menores e raramente tomados a sério no seu/ meio/ familiar, escolar ou profissional; o
grupo dá-lhes um sentimento de poderio, de/segurança, rompendo a sua solidão.

Não falaremos aqui dos bandos de jovens/ delinquentes ou pré-delinquentes, mas dos
grupos de adolescentes que se formam em todos os meios, jovens operários, alunos de
liceu ou de faculdade. Os jovens encontram-se para praticar desportos, ir a espectáculos,
ouvir/discos, organizar/ festas ou simplesmente para intermináveis /discussões. Estes
bandos, próprios dos jovens, marcam uma etapa na vida de cada um.
TEM

OSIDESPORTOS

0 desporto é uma actividade física que constitui simultaneamente um/jogo e um/esforço.


Para a criança, o desporto corresponde a uma/necessidade de movimento, de/actividade;
mas é também um desafio a si mesmo para procurar superar-se incessantemente, um
desafio aos outros para provar que se é o mais rápido, o mais destro, o mais forte.

Relaxação, /competição, higiene, estetismo, atractivo da luta, /gosto pelo risco, necessidade
de equilíbrio, /desejo de actividade ao ar livre, são estas as motivações correntes da prática
de um desporto. Mas para os adolescentes, visto que o desporto é antes de tudo um jogo,
ele entra muito naturalmente nos tempos livres e ocupa aí um lugar privilegiado.

Como é que os jovens praticam o desporto? Primeiramente no âmbito escolar. 0 desporto


inscreve-se no programa dos liceus e dos colégios. Em seguida, durante as suas horas de
lazer. Teoricamente, os adolescentes deveriam assim praticar com regularidade um ou
vários desportos. Mas tal não corresponde à realidade: 51 % dos jovens franceses, por
exemplo, confessam não praticar/ desporto, e esta percentagem é ainda mais alta nas
raparigas. Embora nalguns países (Alemanha, Inglaterra, Suécia) se observe um número
muito importante de desportistas, noutros as federações queixam-se de pequeno número
de aderentes entre os juniores e os iniciados.

Os jovens sacrificam a educação 1

às outras actividades asco Todavia, diferentes inquéritos efectuados junto dos jovens
mostraram que eles têm gosto pelo,,@<esfórço físico e que 87 %. deles gostariam de
praticar um desporto por razões de equilíbrio e de saúde. Porém, há um desfasamento
entre o que eles desejam e os meios postos à sua disposição. Muitas vezes a falta de
tempo, os programas demasiado sobrecarregados impedem-nos de realizar os seus
/piojectos. Assim, nos liceus, os alunos das classes adiantadas consideram as horas de
cultura física como tempo perdido e preferem «gazetear» ao ar livre para fazerem os
seus/trabalhos de casa. Poi outro lado, fatigados por duas horas de desporto eles reiniciam
o/trabalho mais dificilmente. Importa também reparar na insuficiência das instalações e dos
equipamentos que os obriga a longos percursos para se dirigirem a estádios demasiado
afastados. Vem então juntar-se à/fadiga uma perda de tempo.
554 Os tempos livres

Meio-tetnpo pedagógico e desportivo

Experiência interessante, o meio-tempo pedagógico e desportivo proporciona um


equilíbrio entre os tempos livres e o período consagrado ao trabalho propriamente dito.
Pois os lempos livres têm também uma finalidade educativa: por um lado, através da
prática de desportos e de exercícios físicos e, por outro, mediante uma participação em /
actividades / culturais.

Uma experiência positiva: o desporto integrado no programa Observou-se que as crianças


que beneficiam deste novo modo de /educação adquirem um/ comportamento diferente das
que são submetidas a uma educação tradicional. São menos,--, agressivas, menos
irreflectidas, menos nervosas do que as outras. Têm muitas vezes um sentido do trabalho
em equipa mais desenvolvido, ao mesmo tempo que uma maior disponibilidade para o
trabalho intelectual. Melhor equilibradas, podem fornecer um esforço mais regular nas
aulas. Além disso, o seu/ desenvolvimento físico é mais satisfatório. Não raro mais altas,
melhor desenvolvidas, evitam as crises de crescimento e as fases de estagnação.
Encontram-se menos vezes/atitudes escolióticas, tão frequentes nos estudantes. Na
verdade, este método, que permite um desenvolvimento mais harmonioso tanto no plano
físico como no plano psíquico e/intelectual, advoga inteiramente a favor de um/desporto
integrado no programa escolar.

Convém voltar agora ao desporto praticado fora do âmbito escolar, durante os fins-de-
semana e as/ férias, pequenas ou grandes. Aqueles que pertencem a movimentos de
juventude praticam regularmente desportos ao ar livre: é a/actividade principal destas
organizações. Existem igualmente nos liceus e colégios organizaçõ es desportivas cujas
actividades permitem ocupar os sábados.

As férias escolares, grandes ou pequenas, constituem um problema para muitos/pais. É útil


saber que existem em todas as cidades organizações desportivas, clubes, que permitem aos
adolescentes escolher o desporto que lhes convém. É ainda possível contactar com as
federações, as quais estão à altura de fornecer, além das moradas em cada cidade,
informações sobre a prática desses desportos, as qualidades físicas requeridas e as contra-
indicações que podem existir para a prática de certas modalidades.

1ÁCTIVIDADES1CULTUR.4IS

Os adolescentes têm muitas vezes um/gosto profundo pelas diversas expressões da/ arte:/
cinema,/ teatro,/ música. Raramente eles são espectadores passivos. Ao saírem de um
espectáculo, terão
intermináveis/ discussões entre/ amigos. /Identificação com as personagens, /desejo de
compreender os mecanismos de pensamento do autor ou do encenador: tudo se tomará
assunto de discussão e quiçá germe de,,” projectos. Participantes, eles são-no tão
profundamente que é a época em que se sonha ser actor, encenador, cineasta, músico.
Todos os movimentos de juventude têm sempre organizado a sua companhia de arte
dramática, os seus jovens cineastas realizadores de curtas metragens, as suas orquestras de
amadores. 0 que eles querem é exprimir-se, ser participantes e não espectadores.

AS VIAGENS E ESTADAS NO ESTRANGEIRO

Nunca devem ser apresentadas como uma sanção. As estadas no estrangeiro, organizadas
quer pelos serviços oficiais quer por associações de estudantes, apresentam um leque de
preços numerosos e interessantes. Pode-se tirar partido das/férias de Natal, da Páscoa e de
uma parte das férias grandes. As trocas continuam a existir, mais organizadas do que
outrora: o rapaz vai, por exemplo, um mês para casa de uma/família estrangeira onde
encontra pelo menos um ou dois rapazes da sua idade, e depois traz o seu hóspede
estrangeiro para Portugal durante um mês.

Estas permanências podem ser extremamente frutuosas em todos os aspectos, mas para
serem bem sucedidas, parece necessário:
- que o adolescente seja o único português na família estrangeira:
- que esta família seja escolhida com o maior cuidado, em particular no que se refere às
afinidades existentes entre as crianças «trocadas» e ao contexto familiar que a criança
encontrará. A Inglaterra e a França estão longe de ser os únicos países que oferecem
possibilidades de estada (países escandinavos - em particular a Dinamarca -, Alemanha,
Espanha, Grécia, Turquia). Os preços das viagens não têm comparação com as tarifas das
companhias aéreas.

CONCLUSIO

0 nosso objectivo não era estabelecer o inventário de todas as /actividades individuais ou


colectivas que têm cabimento durante as horas ou os dias de lazer, mas delinear, tanto
quanto possível, os movimentos, as tendê ncias que presidem actualmente à organização
dos tempos livres dos jovens. Talvez seja também uma outra maneira, através dos seus
tempos livres, de os conhecer melhor. Pois é igualmente nestes momentos de/liberdade
que melhor se desenha a fisionomia daquele que escolhe certa/ actividade /,,desportiva,
ideológica, /artística, certo modo de distracção,
556 Os tempos livros

Para definir a ética dos tempos livres entre os jovens, podemos em primeiro lugar afirmar
que há uma recusa da sua parte em integrarem-se nas estruturas rígidas, nos movimentos
organizados. E, como corolário, há uma incapacidade dos grandes movimentos
ideológicos para penetrarem nos diferentes sectores da juventude. Se os jovens se furtam
às organizações rígidas, aos quadros pré-formados que os esperam, é por necessidade de/
independência. Noutro aspecto, o que eles buscam mais ou menos conscientemente, é uma
compensação para a sua vida quotidiana. Se os liceus ou a oficina lhes parecem
sufocantes, não é num grupo de escuteiros que eles se inscreverão, preferindo procurar
pequenos/grupos de/camaradas cujas actividades variarão consoante a sua fantasia:
desporto, viagens, espectáculos. Sempre sinónimos de liberdade, os tempos livres são
também sonho, /imaginação, fantasia, descontracção, ruptura com o quotidiano, mas
igualmente um modo de expressão e um meio de se afirmar.

Qual será o papel doslpais?

Não lhes compete organizar os tempos livres dos seus filhos, mas antes sugerir e ajudá-los
a realizar os seus/projectos. Há um ponto que nos parece importante: o papel dos pais no
«arranque» de uma actividade de tempos livres da criança. Dizemos expressamente
«criança». Com efeito, muitas crianças, a partir dos 7 ou 8 anos, «já não sabem muito bem
como se hão-de entreter» fora das horas das aulas e das actividades dirigidas. É insuficiente
dizer: «Colecciona selos» ou «devias fazer uma colecção de selos». É preciso começar a
colecção com a criança, levá-la ao mercado de selos de vez em quando, torná- la,
eventualmente, assinante de uma revista filatélica e partilhar com ela o interesse inicial, isto
a fim de a ajudar a apreciar os selos. Mais tarde, ela continuará sozinha, e poderá
fazer evoluir a sua colecção. 0 mesmo processo é válido para a fotografia, a revelação, a
ampliação, ou as colecções de todos os géneros.

Convém informar os jovens sobro as possibilidades de actividades de tempos livres Nem


sempre se será bem sucedido e ter-se-á sem dúvida de tentar interessar sucessivamente a
criança por várias actividades antes de encontrar uma a que ela se prenderá. Estas
actividades evoluirão com a idade e, na/ adolescência, poderã o desabrochar e tomar
novas formas. Acontece com as/actividades de tempos livres o mesmo que com
a/profissão: os jovens não sabem a que hão-de escolher porque não conhecem as
profissões. É então indispensável levá-los a conhecê-las, ou mais exactamente a apreciá-
las, e isto sem esperar pela adolescência.
Era tal domínio da/educaçâo, como em muitos outros, nem sempre se pode optar pelas
actividades de/grupo, pois muitos adolescentes são bastante ariscos e preferem ficar com
dois ou três companheiros. 0 mesmo é dizer que cabe a cada adolescente encontrar o seu
modo de expressão. Mas isto não significa que ele deva escolhê-lo sozinho.

Aimée Fillioud.
658

TENSÃO (Tension/Tonsion) Página 26.

A tensão é um estado latente do adolescente. Dilacerado entre a infância e a/maturidade,


ele não conhece repouso algum no sentido /psicológico do termo. Esta tensão permanente
manifesta-se sobretudo nos domínios em que o adolescente tem mais consciência de dever
afirmar-se: a/escola, a/família, as relações com outrem e as experiências amorosas.

A / escola
0 adolescente é amiúde perturbado, durante a sua/ escolaridade, pela súbita irrupção de
um sentimento de/ responsabilidade: o que ele não fazia até aí senão para satisfazer os
seus/pais e os seus professores é doravante considerado como um meio de maturação. Já
não se trata de agradar aos adultos, mas de adquirir uma soma de conhecimentos que
facilitarão mais tarde a sua inserção na sociedade. Desta tomada de consciência decorre
muitas vezes uma tensão interna proporcional ao interesse experimentado: acontece
frequentemente o adolescente ser menos bem sucedido em disciplinas que mais toma a
peito. Convém portanto evitar orientar um aluno unicamente a partir dos resultados do
momento. A/orientação é da competência de especialistas que se baseiam nas
manifestações profundas da personalidade e não nas aparências*. Ver
«Orientação».

A,,,, familia A comunidade familiar transforma-se muitas vezes em campo fechado. Esta
situação é devida ao mesmo tempo à/atitude dos pais e à dos adolescentes. Os pais
mostram-se sempre um pouco ultrapassados por uma transformação para a qual estão no
entanto preparados e que admitem, aliás bastante bem, nos outros. Decerto que não é fácil
ver aquele ou aquela que se educou durante tantos anos manifestar bruscamente uma
vontade de/ independência que parece aproximar-se da ingratidão. Por seu lado, os
adolescentes, conscientes da tensão assim criada, evoluem num clima de/ culpabilidade e
de/ansiedade. 0 sentimento de culpabilidade acarreta por vezes um/desejo de autopunição.
É destes factores que nasce um grande número de mal-entendidos entre pais e filhos, raal-
entendidos que uma/discussão serena bastaria amiúde para apagar.

As reb~ com outrem


0 que falseia as/relações do adolescente com outrem, é a sua inexperiência. Ele carece de
pontos de referência pelos quais se possa orientar e, na maior parte dos casos, conta
demasiado consigo mesmo.
Este egocentrismo, em grande parte involuntário, está na origem de numerosos erros
de/juízo, geradores de tensão. Muitas vezes, num grupo de adolescentes, o/chefe é o mais
frágil, o que se sente obrigado a supercompensara a tensão interior inerente a qualquer
adolescente. Esta supercompensação pode alterar toda uma/escolaridade, na medida em
que ela exaspera os professores a quem o «cabecilha» julga dever fazer frente
constantemente. Encerrado no seu papel, expõe-se aos piores dissabores e compromete
por vezes o seu/futuro.
0 adolescente está cheio de/preconceitos a respeito do/sexo oposto, que tem tendência a
idealizar. Em vez de ser natural, o adolescente tenta corresponder à imagem que se tem
dele. Intransigente para consigo mesmo, o adolescente não o é menos para o parceiro ou a
parceira, e a mais ligeira falta pode provocar uma ruptura-por vezes dramática e cruelmente
sentida. A situação toma-se verdadeiramente crítica quando se contrai um
/casamento neste contexto de/fantasia e de simulação inconsciente. São precisos, nos
casos mais favoráveis, anos de coabitação para se conseguir um acerto leal e para os
esposos se desembaraçarem da imagem demasiado artificial em que se haviam fechado.

TESTE (Test/Test) Páginas 64, 79, 84. 156. 354, 394, 398, 433.
Em inglês, «test» significa «prova». Esta palavra, introduzida na /psicologia por Catell em
1890, designa «uma situação estandardizada que serve de estímulo a um/ comportamento.
Este comportamento é avaliado por comparação estatística com o de outros indivíduos
colocados na mesma situação, permitindo assim classificar o sujeito exan-únado quer
quantitativamente, quer tipologicamente»*.

As diferentes famílias de testes Os testes de conhecimentos. Servem para determinar os


conhecimentos adquiridos pelo sujeito examinado. 0 psicólogo tem efectivamente
necessidade de situar o sujeito de modo preciso. Ora estes testes de conhecimentos
depararam com a hostilidade dos que pretendiam deter a exclusividade do saber. Usando
de um/prestígio que lhes havia conferido a escolástica da Idade Média, os docentes
guardavam para si o direito exclusivo de julgar os conhecimentos de um aluno. 0 seu
argumento assentava no facto de um teste nunca permitir medir o engenho de um aluno:
um teste é frio e impessoal, ao passo que o professor pode ter um conhecimento
aprofundado do aluno. A isto os psicólogos replicam que é justamente a razão pela qual o
teste permite eliminar os erros de apreciação devidos à/personalidade do examinador. A
docimologia, ou ciência dos exames,
560

mostrou que certos professsores se situavam exclusivamente em faixas de notação: por


exemplo, há uns que dão notas de 6 a 12, outros de 0 a 10, outros ainda de 8 a 18. Por
meio de um sistema de correcções múltiplas verificou-se que o mesmo exercício podia ser
classificado com variações consideráveis*. 9 Ver «Exame». Diga-se todavia que a
notação humana é de facto insusbstituível no que se refere à apreciação do engenho. Parece
estar-se actualmente a caminhar para um sistema em que se fundem estreitamente a dupla
apreciação «soma de conhecimentos adquiridos e aptidão para utilizar estes
conhecintentos».

Os testes de inteligência. Diligencia-se por definir as/capacidades reais do indivíduo nos


diferentes domínios da /inteligência. A inteligência é, antes de mais, a capacidade para
aprender. Propõe-se ao sujeito a/aprendizagem de um código em que tal signo
corresponde a tal letra; pede-se-lhe, ao fim de um certo tempo, que traduza em signos uma
dada sequência de letras. Mede-se -o tempo gasto pelo indivíduo a responder
correctamente. Este tempo, cotejado com diversos factores, tais como a idade,
a/personalidade do sujeito, o seu grau de instrução, dá uma indicação exacta sobre
a/capacidade para aprender. A/inteligência é também a capacidade para perceber o
conceito explicativo de um conjunto de dados. Eis, a título de exemplo, uma pergunta
tirada do teste Binet modificado por Terman-Merril: «Em caso de acidente de caminho de
ferro, a última carruagem do comboio é sempre a mais danificada. Logo, decidiu-se
suprimi-la.»
0 sujeito deve encontrar a falha do raciocínio proposto. Se a descobrir, poder-se-á
determinar um certo nível de inteligência dita «conceptuaI». Os resultados obtidos são em
seguida fundidos, depois de terem sido afectados de um coeficiente, para darem uma
apreciação média da inteligência, denominada/ quociente intelectual*. Ver
esta palavra.

Os testes delaptidUo estão em estreita ligação com os testes de inteligência. Eles não
passam no fundo da análise mais detalhada das faculdades intelectuais. É o que significa a
expressão «análise factorial» utilizada para os designar. Saber-se-á desta forima em que
medida a inteligência pode concretizar-se e também em que domínios precisos ela se aplica
mais eficazmente. É assim que procedem os psicólogos que operam Sele~ Pr-OfLssi~. 0
sujeito é escolhido em função da correspon~a entre as possibilidades reveladas pelos testes
de aptidão e as faculdades exigidas pelo emprego proposto.

Os testes de persona~ Destinam-se a pôr em evidência um elemento det~ante do/


comportamento do sujeito: a perso-
TIM

nalidade. «A inteligência, as aptidões do sujeito, não bastam para garantir o êxito nem para
o explicar. Depois de os testes de inteligência e de aptidão nos dizerem aquilo de que um
indivíduo é capaz, ainda não sabemos prever com certeza o que ele realiza. 0 que nos
ensinará como uma pessoa se serve dos seus dons, será o estudo da sua personalidade e
em particular os testes de persortalidade.»# o A. Sa,ton: Dicíoi,
«Os testes de personalidade são chamados „projectivos‟ porque per- Lisboa, 1978).
de Psícologw (Ed. V

mitem que o sujeito neles projecte a sua personalidade como uma imagem ou uni filme num
écran.»
0 mecanismo da/projecção efectua-se a partir de imagens voluntariamente fluidas, ou seja,
não tendo significação por si mesmas. É somente a significação que lhes emprestará o
sujeito que será tomada em consideração e permitirá determinar um perfil de personalidade
a partir dos elementos da vida psíquica: vontade,/ aféctividade, inteligência. Um dos testes
projectivos mais conhecidos é o desenho*. Dá-se o o teste do borr5 ao
sujeito um tema tão vago quanto possível como por exemplo tinta é igualmente clá!

desenhar unia casa, unia árvore, um homem, etc. Da maneira como o sujeito imprime
certos traços, da própria forma do desenho, do seu tom geral, o psicólogo deduzirá
preciosos ensinamentos.

Os testes na adolescência Os testes são um instrumento insubstituível para conhecer a


mentalidade de um adolescente. Sabe-se que este se esforça mais por parecer do que por
ser e que ele pode facilmente imaginar-se muito diferente do que é. Além disso, o/juízo do
adulto a seu respeito é quase constantemente falseado por interferências afectivas mais ou
menos conscientes: defeito de compreensão,/ oposição de gerações, /projecção do adulto
sobre o adolescente e inversamente. 0 adolescente irrita devido às suas bruscas mudanças
de /humor, e a sua/ambivalência fundamental é desconcertante.

Há, pois, todo um jogo de interacções passionais que importa decantar. Isto só o teste/
psicológico o permite. Para apreender na sua plena realidade a/personalidade do
adolescente, os testes, instrumentos de investigação, permitem ir além das aparências.

Ti M 1 D EZ (Timidité/Timiffity) páginas 146. 193. 344. 531.

A timidez é uma das perturbações/ emotivas mais frequentes da /adolescência. Isto deve- se
ao facto de ela estar ligada a um dos factores/ psicológicos fundamentais deste período: a
incerteza nascida da brutal transformação /pubertária.
P A- 36
562

Sob o efeito das transformações orgânicas, o adolescente e a adolescente vêem a sua


aparência física metamorfosear-se. 0 rapaz perde o seu aspecto efeminado de efebo; atrás
da rapariga desponta a mulher. Mas o tipo de homem ou de mulher fica apenas esboçado.
A seus próprios olhos, o adolescente é uma espécie de monstro demasiado grande ou
demasiado pequeno, demasiado gordo ou demasiado magro. De súbito, o seu corpo, de
que ele ignorara até então a existência, parece-lhe tomar-se o centro do Univeiso e dos
olhares. Quando se lhe depara uma montra, o reflexo é minuciosamente examinado. Passar
diante de uma esplanada de café constitui uma autêntica provação. Muitas vezes, a
presença de um desconhecido é suficiente para desencadear o sentimento de/inferioridade
física, manifestado por uni rubor ou um embaraço inabituais. Isto é ainda mais evidente no
domínio/ intelectual. Confusamente, o adolescente pressente no adulto uma certa
superioridade; esta, alheia a qualquer escala de/valores, reside essenciabnente na
experiência. 0 adulto viveu; o adolescente tem tudo a descobrir. Frequentemente, na
esperança de esconder a sua timidez, o adolescente adopta uma/atitude desenvolta, ou até
grosseira, que lhe parece capaz de salvaguardar a sua dignidade. Esta/reacção de defesa é
proporcional à intensidade do sentimento de inferioridade ou de impotência provisória.

rRABALHO (Travail/Work) páginas 26.414.


Os adolescentes fazem urna distinção muito nítida entre o trabalho profissional e o
trabalho escolar. Um é o « trabalho» sem mais, o outro, a «aula», os «exercícios», a
«matemática», etc. Para eles, o trabalho é essencialmente uma/ actividade/ remunerada que
permite ocupar uma posição na/sociedade, enquanto o trabalho escolar, qualquer que seja
a terminologia empregue, é sobretudo representado como meio de dependência/ infantil,
quanto mais não seja pelo sistema de controle das notas pelos/pais.

0 trabalho temporário É relativamente frequente ver um adolescente trabalhar durante


1,Tnn parte das/férias a fim de amealhar para os seus/tempos livres. É já uma/ aprendizagem

do trabalho sob a sua forma «adulta». É por conseguinte muito desejável que os pais
favoreçam tais tentativas. 0 adolescente ganha assim bastante em/maturidade. Isto
permitir-lhe@ã igualmente desmitificar o trabalho profissional que ele tende demasiado a
idealizar, como provam as numerosas pseudovocações fundadas em motivações infantis.
Talvez compreenda também melhor a/atitude do/pai que volta fatigado a casa e não tem
assim ocasião de se consagrar ao ado-
TRA

lescente. 0 que ele interpretava como indiferença será então considerado como um dos
corolários normais da vida profissional. Convém instaurar a este propósito um diálogo
sobre o trabalho.

Os números Um inquérito efectuado por Georges Fouchard e Maurice Davrancheo


mostrou que o trabalho temporário era desejado por G. Fouchard e

t. Davranche:
85 %. dos adolescentes. Enquête sur /à leum A pergunta feita era a
seguinte: «Prefere trabalhar durante urna (Gallimard. Paris. 19 parte das férias para os tempos

livres ou pedir/dinheiro à sua p. 201. / família?» As respostas obtidas repartem-se assim:

Idade Trabalho Dinheiro Sem

temporário pelafamília resposta

14 anos

75,8

17,5

6,7

15 anos

80,0

11,3

8,7

16 anos

84,6

11,6

3,8

17 anos

81,3

12,2

6,5
18 anos

80,2

9,1

10,7

19 anos

88,5

4,8

6,7

20 anos

83,6

6,8

9,6

0 adolescente sente-se frustrado pela impossibilidade em que se acha de exprimir


socialmente as suas potencialidades. Por este motivo não é de admirar que ele manifeste
um tal entusiasmo pelo trabalho temporário, que lhe permite conciliar a necessidade de
estudos prolongados tendente a uma especialização e o legítimo /desejo de se integrar o
mais cedo possível na/sociedade.

TRABALHOS DE CASA (Devoira acolaires/Homework)

Quando se analisa de perto o dia de um aluno de liceu, cedo se percebe que este fornece
um número de horas de trabalho superior ao de uni adulto. Um homem, ao regressar a
casa, à tarde, acabou praticamente os seus trabalhos, salvo casos excepcionais. 0
estudante, ao voltar, tem diante de si a perspectiva das tarefas escolares. Por isso, é
normal que os/pais facilitem ao máximo o/trabalho em casa. Acima de tudo, é importante
que o aluno possa dispor de um local tranquilo. Mas é igualmente preciso que ele se sinta
moralmente amparado. Sem isso, o esforço suplementar toma-se rapidamente uma
obrigação insuportável, atamancada ou realizada à custa de um autêntico esgotamento. A
experiência de todos os
564

/ educadores é categórica: o esgotamento depende mais das condições de trabalho que do


trabalho em si. 0 que significa que dois alunos igualmente dotados e tendo de fornecer o
mesmo trabalho podem mostrar/ reacções diferentes: um está esgotado e o outro não. Estas
reacções derivam em grande parte da/atitude da,"Ifamília. Corn efeito, o estudo em casa
caracteriza-se pela circunstância de levar a uma tomada de posição familiar e a uma
ingerência directa da atmosfera doméstica no mundo escolar. É neste momento que a
projecção das/,,ambições parentais sobre os filhos se faz mais sentir: certo/pai julga-se
obrigado a referir sem descanso aos seus êxitos passados; certa/mãe vigia com excessiva/
ansiedade a realização dos trabalhos. Tais atitudes têm como consequência criar uma
superescolarização: o êxito escolar, ao converter-se no objectivo supremo, fecha o
adolescente no mundo artificial do / intelectualismo. É conveniente que os pais vigiem os
trabalhos de casa, mas na condição de que os filhos não interpretem isso como um
constrangimento. Por exemplo, não é aconselhável impor/horários de/trabalho demasiado
rigorosos. Se se verificar que o adolescente trabalha melhor e com mais gosto depois da
refeição, pode-se antecipar ligeiramente a hora do jantar para facilitar o trabalho escolar.
Estas concessões são preciosas para ajudar o adolescente a vencer a falta de/ gosto que ele
tem em geral pelas tarefas escolares feitas em casa.

rRISTEZA (Tristesse/Sadness)

A tristeza corresponde a um estado/afectivo determinado pela dor. Indica geralmente um


estado /depressivo passageiro. Quando se prolonga, pode ser o sintoma de uma
perturbação psíquica grave ou susceptível de o vir a ser: ela é reveladora, em especial, de
perturbações de tipo esquizofrénico. Escusado será dizer que, na maior parte dos casos, a
tristeza é um sentimento como os outros. Ela é por vezes cultivada com desvelo pelo
adolescente desorientado que gosta de se julgar romântico. A tristeza é então um meio de
exaltar/ decepções que, sem ela, seriam tidas por banais.
ONICO (Filho) [Unique (enfant)/Only child] Página 290.

«Ele sonha a sua vida e representa o seu sonho.»* É assim que Combaluzier define o filho único. «Filho único: criança/
mimada; criança mimada: criança estragada.» Contudo, segundo as observações de J. Burstin, o número de crianças
mimadas não é mais elevado nos filhos únicos do que nos outros.

Porquê um único filho? «A/mãe solteira exposta à incompreensão dos seus, o casal estéril já idoso que só tarde vê o seu/desejo
enfim satisfeito, ou aqueles para quem o nascimento é um lamentável acidente, a mãe que após numerosos abortos e no termo
de unia gravidez incerta vê as suas esperanças realizadas, o/pai que, por preocupação dinástica e financeira, quer apenas um
só filho e a mãe que não quer seja por que preço for enfrentar uma nova gravidez ... outras tantas circunstâncias que, pelo
desejo que pressupõem nos genitores, implicam uma forma particular de acolher a crianca e, desde antes da sua nascença,
condicionam o clima educativo no qual ela vai desenvolver-se.»* Segundo Anne Warda,
estas causas repartir-se-iam assim:
- 35 %: deficiência da mãe;
- 14 %.: curta duração do/casamento;
- 11 %: idade da mãe;
- 2 %: contracepção.

Uma situação particular Uma vez admitido isto, deixa de ser possível negar que a situação do filho único é particular.
Qualquer que seja o clima/educativo no qual ele evoluir, faltar-lhe-á sempre a experiência da fratria, essa n---
íicrossociedade. De irmão crescido a irmãozinho, de irmã mais velha a benjamina, estabelece-se nas/famílias numerosas toda
uma gama de relações prefiguradoras das/ relações/ sociais do adulto. 0 filho único, esse, não tem possibilidade de se
confrontar senão com os/pais,
566

tendendo incessantemente a/* identificar-se com eles. A passagem à autonomia será


certamente mais difícil.

Uma maturidade precoce Em contrapartida, parece mais ou menos estabelecido que a


situação do filho único, perpetuamente «escovado» no mundo dos adultos, lhe assegura
uma/,, maturidade/ intelectual precoce. Não é raro verificar que o adolescente filho único
manifesta claramente uma maior/aptidão para a resolução, pelo menos intelectual, dos
problemas próprios da/ adolescência, isto é, tomada de consciência e descoberta do euiel.
Os estudos de

M. e J. Piéron sobre o
0filho único pode assim compensar facilmente, graças à sua matu- quociente intelectual das ridade/
intelectual, a desvantagem que constitui para a futura crianças em idade

inserção/social o isolamento dos primeiros anos. Seja como for, escolar tendem a prová-lo.

existem numerosos meios para os/pais do filho único atenuarem esta desvantagem: por
exemplo, comprar qualquer animal doméstico cuja/ responsabilidade seja deixada à criança
ou então favorecer o sentido da/camaradagem. A este respeito, não é raro os filhos únicos
descobrirem muito antes dos outros o sentido profundo da/ amizade. Podemos assim
concluir que «a unicidade é um factor como os outros. Ela pode quando muito contribuir
para acentuar ou inflectir certas potencialidades caracteriais, mas não para as criar»*.
e G P. Guasch:
«I*Enfant unique», in I'École des parents VAIDADE (Vanité/Conceit) Página 35.
(Abril de 1968), p. 35.

Do latim vanus, «irreal». A vaidade é uma tendência para se parecer não o que se é
realmente, mas o que se gostaria de ser. Há assim, na origem da vaidade, uma forma
de/orgulho que pode por vezes conduzir ao/êxito. Há também muito frequentemente uma
insuficiência de/juízo e de sentido crítico: tal é nomeadamente o caso dos,,,,Idébeis mentais
ligeiros, quase todos vaidosos. Há enfim uma falta de sentido /moral, porquanto o vaidoso
não se preocupa muito com a coragem moral elementar que consiste em julgar-se a si
mesmo sem rodeios. Nal adolescência, a vaidade é muitas vezes uma vaidade de
compensação destinada a atenuar os efeitos perturbadores das transformações/ pubertárias:
«É tão curioso o que me sucede, não só o que é visível no exterior do meu corpo, mas
também o que nele se passa interiormente», nota Anne Frank no seu Diário.
Profundamente desorientado por aquilo a que alguns/ psicólogos deram o nome de
«segundo nascimento», o adolescente não sabe situar-se exactamente. A incerteza que daí
resulta pode por vezes bloquear a evolução /intelectual ou/afectiva: o adolescente inventa
então para si mesmo uma personalidade de compensação dotada de tudo
VAL

o que lhe parece indispensável e lhe faz falta. É obviamente nos domínios julgados
essenciais à maturação que a vaidiade será mais utilizada. 0 rapaz gaba-se de boa vontade
de conquistas/imaginárias, a rapariga pretende ter celebridades nas suas/relações. Muitas
vezes, para ganhar importância, o adolescente cria/pais por medida cujo imaginário poder
se destina a atenuar as suas carências pessoais. Enfim, os adolescentes e as adolescentes
têm em comum um cuidado no trajar que, quando é excessivo, denota uma vaidade
relacionada com o/desejo de afirmação de si. Quando um vaidoso é apanhado em flagrante
delito, mais vale evitar as zombarias e os sarcasmos que apenas serviriam para o humilhar
inutilmente. Convém, depois de se ter dado a entender que esse defeito não passou
despercebido, tentar conhecer a causa real da vaidade e sugerir meios mais capazes de
conferirem a desejada segurança. É frequente o simples facto de dialogar de igual para
igual levar à consecução deste efeito.

VALORES (Vaiou rs/ValUeS) páginas 129, 358, 360, 368.


A/adolescência é a idade de uma nova e apaixonante experiência:
* experiência de si. 0 adolescente, ao mesmo tempo que descobre
* sua própria maneira de ser, descobre que faz parte de um conjunto: os outros. Deste
horizonte que se lhe abre decorre um certo número de valores que lhe permitem, por
assim dizer, superar-se a si mesmo e chegar deste modo a uma forma de verdade à qual ele
se conformará livremente.

0 verdadeiro Ao mesmo tempo que se descobre responsável por si mesmo, o adolescente é


levado a fazer uma selecção no seu passado. Em criança, ele recebeu um certo número de
dados pré-elaborados com os quais já se não pode contentar, pelo menos sob a forma de
comida mastigada.
0 acesso ao pensamento formal vai permitir ao adolescente operar essa escolha. Mas o
primeiro obstáculo, e o mais frequentemente assinalado pelos especialistas, é a tendência
para utilizar por si mesma e não como instrumento de pesquisa a nova possibilidade
do/raciocínio. Pierre Mendousse escreve a este propósito: «Um adolescente talvez seja
menos razoável do que uma criança de 12 anos, mas ele é de certeza mais raciocinador.»*
e P. Mendousse:
rÁmo de l'adolesc£ Isto é particularmente exacto no caso do * vem adolescente que se (P.U.F.. Paris.
194!

J9 p. 141. deixa inebriar pela volúpia do raciocínio. E movido por uma


preocupação de verdade pessoalmente elaborada que o adolescente refuta
sistematicamente tudo o que lhe propõe a sua esfera de convivência. Fá-lo com tanto
mais/ agressividade quanto se sente menos seguro
568

de si; é também a razão pela qual ele considera como palavra sagrada tudo o que está
impresso: «Li, vem no jornal» é uma resposta assaz correntemente destinada a pôr fim a
um debate travado num terreno em que o adolescente se sente pouco seguro de si. As
suas frequentes mudanças de/humor correspondem aos êxitos ou aos fracassos da busca
do verdadeiro. Os pais, em vez de se irritarem com os exageros do adolescente e de
tentarem mostrar-lhe como ele se engana, devem levá~lo a tomar consciência da
necessidade de aprofundar sem descanso o seu juízo para alcançar uma verdade
essencialmente móvel e relativa.

0 bem
0 adolescente entusiasma-se facilmente com as causas nobres. Ocorrem-lhe constantemente
as palavras sonoras: justiça, guerra, paz, honra, probidade/ moral. São outros tantos
cavalos de batalha que ele monta com intrepidez para deitar abaixo tudo o que é imperfeito.
Ele desejaria que todos sentissem esta vontade de perfeição: «Exige aos que se batem por
uma causa que estejam prontos a dar a vida por ela, quaisquer que possam ser as suas
outras obrigações. No fundo de si mesmo, não admite a possibilidade de/conflito de
/deveres nem que a verdade e o bem impõem por vezes concessões aparentes. Espera
do/religioso que opta pela pobreza uma indigência total. Gostaria que o que escolheu o
serviço dos outros esquecesse o serviço dos seus. 0 cálculo, a prudência, parecem-lhe
indignos de quem aceitou o risco físico, no/desporto ou na peleja das armas. A realidade,
demasiado complexa para ele, não pode ser abarcada em todas as suas dimensões. 0 seu
olhar só pode ser dirigido para um único objectivo e o seu exclusivismo fá-lo negligenciar
tudo o que ele não conduza.» (Porot e Seux). A par disto, verifica-se que o adolescente
não é tão exigente para consigo como para com os outros. Se lhe sucede entusiasmar-se
por uma dada realização (obras da juventude, por exemplo), entrega-se-lhe com uma
coragem e uma fé tão reais quanto efémeras. É que não há dúvida
de que a passagem ao acto, com o confronto das realidades quotidianas que ela pressupõe,
não pode satisfazer um tal/ideafismo. Percebe-se amiúde, nos acampamentos de juventude,
que a calorosa solidariedade do início degenera rapidamente: o que foi começado num
clima de entusiasmo termina por vezes dificibnmte..As simples necessidades da vida em
comunidade lograram inquinar uma,-fé que à partida parecia ser capaz de erguer
montanhas. Seria algo simplista acusar o adolescente de inconstância. Aparentemente,
pelo menos no seu espffito, o seu ideal permanece imutável: ele acha simplesmente não
poder atingi-lo nessas condições.
VAL

Espera por conseguinte uma ocasião mais favorável que agarrará com tanto entusiasmo
como dantes. Não se trata de um cálculo destinado a enganar, mas de um ajustamento
progressivo à realidade. Virá um dia em que ele há-de compreender que aquilo que
considerava como o bem ideal não passava de uma/projecção de si mesmo, cuja finalidade
era tranquilizá-lo sobre as suas possibilidades e encorajá-lo na via de um constante
aperfeiçoamento. É bom que intervenha neste momento um adulto capaz de lhe evitar um
desânimo que poderia conduzi-lo à indiferença e ao/cinismo. Normalmente, a partir das
suas experiências, o adolescente deve conseguir dar a si mesmo um ideal à escala humana.

0 belo
0 belo e o bem estão muitas vezes confundidos no espírito do adolescente*. Na altura de
assumir a/ responsabilidade de si próprio, o adolescente é traído por aquilo que brilha: a
partir de então, a vida moral será um pouco como uma luta desportiva.
0 que importa é dominar-se como se domina o adversário: pela beleza do gesto. Há
também aqui uma parte de idealismo de que é fácil prever as consequências se nenhuma
experiencia concreta servir de contrapeso.
0 acesso ao pensamento abstracto e à/intefigência conceptual permite ao adolescente a
descoberta da/arte: é a idade em que se começa a visitar os museus e a pregar nas paredes
reproduções de quadros célebres. É bom que esta tendência seja estimulada, pois de
contrário a/sensibilidade artística pode embotar-se e certos /talentos arriscam-se a ficar
incultos.

* religioso * aspecto/ religioso* do /desenvolvimento do adolescente participa de todos os


valores anteriormente citados. É assim que Deus, quando é aceite, encarna a verdade,
a/beleza e o bem, percebidos como valores idealizados. Ele representa então o guia e o
protector que impede de naufragar nos redemoinhos da/puberdade.

Para além dos valores A descoberta dos outros, por muito necessária que seja, leva muitas
vezes o adolescente a fechar-se em si mesmo. De tanto se introspeccionar, ele sabe mais ou
menos aquilo de que é capaz, a forma como reage diante desta ou daquela situação. Mas
falta-lhe transpor o último degrau antes da/maturidade: pôr os valores descobertos e aceites
à prova dos outros. É deste contacto que brotará a/,< personalidade definitiva. É por isso
que a/ adolescência é a idade da descoberta de outrem, ao contrário da infância que não
sabe sair de si mesma. Apoiado numa certa experiência de si mesmo, o adolescente pode
adquirir validamente a de outrem.
Ver «Beleza (me

Ver «Religião».

PA-37
570

Antes de mais pela/amizade, depois peloxamor, ele aprenderá a vencer a solidão a que se
julgava condenado.

VELEIDADE (Veliéité/Velleity)

Do latim velle, «querer». A veleidade é uma disposição de espírito tendente a conceber a


realização de um/projecto sem empregar verdadeiramente os meios indispensáveis a essa
realização.
0 adolescente, na altura de se integrar na/sociedade, é facilmente dado à veleidade. Assim,
os grandes projectos arquitectados com ardor e os grandes sentimentos abortam logo que
são concebidos. Não há aqui motivo algum para surpresa ou escândalo. 0 próprio estatuto
da/adolescência presta-se a uni tal estado de espírito.
0 adolescente está na situação de alguém que deseja atingir um objectivo mal definido. Ele
mostra então uma tendência natural quer para sonhar com esse objectivo, quer para
procurar realmente os meios de o atingir. Os seus/esforços de veleidade não são no entanto
nefastos: através dos sucessivos ajustamentos, o adolescente busca a sua via. Se é verdade
que o êxito é fruto de numerosos fracassos, a realização efectiva será fruto de numerosas
veleidades que são outros tantos marcos no caminho para a/maturidade.

VESTUARIO (Vêtements/Dress) Página 302.


0vestuário simboliza para o adolescente uma .etapa na conquista da autonomia, tanto no
que se refere à compra como à escolha de todos os dias.

A compra A criança vestia-se segundo a vontade da/mãe. 0 adolescente começa a reagir


quer por/desejo de/oposição aos adultos, quer por causa de uma autêntica divergência
dos/gostos. A primeira imanifestação de/ independência chega a um compromisso: a mãe
sabe o quefica bem, mas o adolescente sabe o que os outros usam. Afigura-se que o
compromisso se toma cada vez mais difícil à medida que o rapaz crosce, ao passo que,
pelo contrário, parece estabelecer-se entre a/mãe e a filha uma maior cumplicidade.
A/atitude inteligente consiste em os adultos pensarem de si para consigo que, afinal de
contas, não são eles que vestem ujrna camisa amarela e unias calças verm~.

A escolha de cada dia Só é feita pelos adolescentes a partir dos 14 ou 15 anos, que
correspondem à idade do/narcisismo. Alguns hesitam por vezes longa-
V10

mente diante do espelho antes de arranjarem um conjunto harmonioso. É a idade em que


se compara e critica tudo o que diz respeito ao vestuário, a maior parte das vezes em
virtude da inseyurança causada pela desarmonia do corpo.

A conservação dos fatos está longe de suscitar o mesmo interesse: depois de usados, o
casaco e as calças são habitualmente abandonados ao acaso numa cadeira ou num armário,
quando não ficam espalhados pelo/quarto. Em contrapartida, as raparigas, naturalmente
preocupadas com as suas futuras funções, tratam muitas vezes elas próprias das suas
roupas. Há um único elemento de vestuário que é geralmente alvo do cuidado dos
rapazes: o vinco das calças, todos os dias verificado com desvelo. Certos autores vêem
nisto uma forma de afirmação de/ virilidade de que as calças seriam o símbolo.

VIOLÊNCIA (Vioience/Violence)
A violência cria um problema/ educativo permanente, pois ela é de certo modo a norma de uma/ sociedade que dispõe de
meios de difusão consideráveis. Os jornais, a/rádio e a/televisão não cessam de mencionar actos de violência cometidos no
mundo e dão, por este motivo, a impressão de uma perpétua recrudescência da violência, quando afinal isso não se verifica. A
forma como são apresentados os gangsters no/cinema pode ser nociva: «Vemo-los sob uma aparência gloriosa, simpática,
observa o presidente Chazal, são pessoas cheias de à-vontade.»* 0 Citado em A partir daí, o adolescente, em busca de um
modelo, de um/ herói I'École dos parents.

com quem se/identificar, pode, se não entregar-se pessoalmente à violência, pelo menos considerá-la como um/
comportamento /normal revelador da segurança cuja falta tanto o faz sofrer. A passagem ao acto não deve em geral ser
temida, salvo no caso das /personalidades não estruturadas que, de qualquer modo, teriam provavelmente incorporado por
outra via a mesma influência da violência. Falar ao adolescente da inutilidade, do perigo da violência, é uma boa coisa, mas
não convém dramatizar. Mais vale desmitificar não a violência, mas os que a exercem: mostrar, por exemplo, que o gangster
gentleman, cheio de autoconflança, é uma utopia comercial; de facto, o bandido é um/ desequilibrado que se vê empurrado
para a violência por não ter sabido/ adaptar-se normalmente. Pode-se também canalizar a violência através do/desporto: aqui,
ela transforma-se numa/ agressividade controlada, que pode ser útil à afirmação racional da personalidade.
572

VIRGINDADE (Virginitõ/Virginity) páginas 332,367,489.


Houve uma época em que a virgindade tinha um valor/social. Ainda hoje, nas sondagens de/opinião, os jovens respondem
regularmente, e com uma larga maioria, que apenas desposarão uma rapariga virgem. No seguimento de uma inversão de
situação, devida provavelmente mais ao efeito de uma publicidade comercial do que a uma verdadeira mudança de
mentalidade, já não encontramos muitas adolescentes que, a partir de uma certa idade e num certo/meio, reconheçam
facilmente ser virgens. Não há no entanto dúvida alguma de que a proporção continua a ser a mesma que no passado, pois a
virgindade é uma necessidade instintiva que contribui para o desabrochamento de uma civilização monógama.

Também aqui, percebe-se que aquilo de que mais carecem os adolescentes, é de uma informação objectiva; a maior parte das
vezes, as relações amorosas vão ficar distorcidas por um certo número de/preconceitos que lhes foram insuflados ou que eles
próprios inventaram. 0 rapaz julga que as raparigas só podem amar «homens», os que já deram provas. Ele teme que a sua
inexperiência o tome ridículo aos olhos daquela que amar. E por isso que exibe sem custo uma/liberdade de costumes que
supõe valorizá-lo. Por seu lado, a adolescente juraria a pés juntos que a menina ingénua não tem qualquer hipótese de sucesso.
Parece-lhe que é urgente dar ares de emancipada. Ver-se-á obrigada a conservar um difícil equilíbrio: há uma estreita margem
entre o que ela deve suscitar de/desejo no rapaz e o que deve recusar-lhe. Precisa assim de manifestar uma lucidez suficiente, e
o rapaz uma honestidade suficiente, para que não seja dado o último passo, pelo menos neste contexto de logro recíproco. Em
tal/jogo, ninguém sai vencedor, e seria bom que os adolescentes não o aprendessem apenas pela experiência.

VIRILIDADE (Virilité/Virility) páginas 362,456.

Nal adolescência, a afirmação da virilidade faz-se sempre acompanhar de desatinos: /insolência,/ oposição gratuita aos
adultos, /agressividade, desafios de toda a ordem à/sociedade (a/droga é em grande parte um destes meios de desafio, bem
como a moda de vestuário e o comprimento dos cabelos). Por detrás destes exageros esconde-se de facto a falta de
segurança em si inerente seja a que aprendiz for, em qualquer dominio que seja. Segundo o dito de Jean Cocteau, o
adolescente indaga «até onde pode ir demasiado longe». Necessita portanto de uma/autoridade que lhe sirva de protecção.
Muito frequentemente, o rapaz,
voc

na inábil interpretação do seu papel viril, sofre de uma falta de ternura: desde que «se
tornou um homem», recusa todas as manifestações/aféctivas dos/pais. As/relações com
estes últimos deterioram-se muitas vezes porque o adolescente, assaz irracionalmente, lhes
leva a mal o já não poder comportar-se relativamente a eles como durante a infância.

As relações amorosas sofrem desta ambiguidade fundamental. Por ,,-,pudor viril, o


adolescente rejeita as manifestações de ternura que julga «boas para as meninas»; ou se as
aceita da sua parceira, compõe para si mesmo uma personagem fria e inacessível, inspirada
nos «duros» do/cinema. Este papel esmagador é por vezes demasiado pesado e o
adolescente faz-se então poeta e romântico.

A idealização do papel viril termina correntemente quando é possível a integração


da/sexualidade na afectividade, que assinala a verdadeira/;, maturidade.

VOCABULÁRIO (Vocabulaire/Vocabuiary) página 310.


A/adolescência caracteriza-se por uma eclosão, um impulso vital e uma sede de conhecer
que não encontramos em qualquer outro momento da vida. Mas, paralelamente, opera-se
uni indispensável ajustamento ao real que procede por tacteios. Surge assim um
desfasamento entre as/ambições do adolescente e a sua concretização. Ora, na confluência
deste/desejo de experimentar e de conhecer e da realização efectiva acha-se a palavra.
Escrita ou falada, a palavra directamente acessível ao adolescente permite simultaneamente
descobrir e viver pelo pensamento o que ela recobre. Para o adolescente, tal como para o
poeta, a palavra é um todo carregado de uma força quase ilimitada, capaz de se transmitir
aos objectos e às pessoas. Pierre Mendousse escreve a este respeito: «Se uma fórmula vier
impressionar o adolescente pela sua força, pela sua estranheza, pela sua elegância ou por
qualquer outro atributo saliente, ela incrustar-se-á no seu espírito muito mais do que no da
criança... Mas ser-lhe-á assaz difícil separar o pensamento da sua expressão e apresentá-lo
sob uma outra forma. Isto só virá mais tarde. Entretanto, ele adapta a todos os assuntos os
boleios de frase que lhe agradam, quer ao descrever espectáculos de que nada viu, quer ao
dissertar longamente sobre doutrinas de cuja significação só leve- PM

ndous o mente suspeita.»* lAme de 1'edolescent (P.U.F., Paris, 1963), É importante saber que determinadas

tomadas de posição que irri-


p. 115tam o adulto são apenas a consequência da preponderância das *
Hawkins:«Experiéncig formas verbais. sobre os tipos de
memória», in Psichology Todavia, a/memória das palavras não está em aumento. Segundo
Review, citado em

l'Annde psycholopiQUO, as experiências de Hawkinso, ela atinge o seu máximo aos 14 anos t. VIII
(P.U.F., Paris), p. 3‟
574

com 56 % das respostas exactas contra 52 %. aos 12 anos; 55 aos 13 anos, 51 %. aos 15
anos. Logo, é sem dúvida a força da palavra considerada em si mesma que está na origem
do entusiasmo do adolescente. Entusiasmo tanto mais forte quanto o adolescente tende
facilmente a definir-se, quer a seus próprios olhos quer em relação a outrem, pelo
vocabulário. Este será requintado ou em calão, segundo os imperativos do momento.
Deve ver-se nisto uma consequência directa do/narcisismo próprio desta idade. Ao mesmo
tempo, o vocabulário será tanto mais rebuscado quanto menos seguro de si mesmo estiver
o pensamento.

* exploração do vocabuMúo * adolescente compraz-se nos aforismos, nas metáforas e nos


paradoxos. Mas, do mesmo passo, o vocabulário enriquece-se de fórmulas pessoais. Por
vezes originais e bastante apropósito, outras vezes desajeitadas e infantis, estas fórmulas
manifestam sempre um deseJo de aprofundamento e de/,, maturidade. Infelizmente, pouco
seguro de si, o adolescente não ousa fazer este gênero de pesquisa no domínio do
«vocabulário de adulto». Refugia-se então no/calão, onde o seu gênio inventivo se pode
recrear sem peias. Isto tanto mais facilmente quanto o calão assume nesta altura o valor de
um desafio à/sociedade. Na maturidade, tais formas de expressão inadequadas terão
tendência a apagar-se em proveito de uma personalização do estilo, paralelo à realização da
/personalidade.

VOLOPIA (VoluptélVoluptuousness)

A volúpia é uma dessas palavras para adulto que importa, antes de tudo, dessacralizar.
Convém realmente lembrar que, na/adolescência, esta palavra é portadora de seduções
ambíguas evocadoras de mistérios que parecem dever ser desvendados a todo o custo. É
muito provavelmente em nome da volúpia que muitos adolescentes de ambos os sexos se
entregam aolflirt ou aolpetting, comprometendo assim as suas hipóteses de integrar
ulteriormente a/sexualidade na/afectividade. Pois tal é o pro- blema. Para o adolescente,
volúpia opõe-se a ternura. Se as primeiras experiências amorosas tiverem lugar sob este
falacioso signo da volúpia, há muitas probabilidades de se seguirem profundas /doo~,
acompanhadas de um sentimento de desconfiança relativamente ao/sexo oposto e a si
mesmo. Só uma verdadeira /educaÇão sexual permito evitar estes escolhos.
Dicionário Francês - Inglês - Português
A Absolu: Absolute: Absoluto Accidents: Accidents: Acidentes Aené: Acrie: Acne Activité: Activity: Actividade Adaptation: Adaptation:
Adaptação Adolescence: Adolescence:

Adolescência Adoption: Adoption: Adopção Affectivité: Afféctivity:

Afectividade Agressivité: Aggressiveness:

Agressividade Alcool: Alcohol: Álcool Alimentation: Alimentation.

Alimentação Ambiance: Surrounding:

Ambiência Ambition: Ambition: Ambição Ambivalence: Ambivalence.

Ambivalência Amis: Friends: Amigos Amitlé: Friendship: Amizade Amitlé particulière:

Particular friendship: Amizade particular Amour: Love: Amor Amour-propre: Seif-1ove:

Amor-próprio Angoisse: Anguish: Angústia Anorexie mentale:

Anorexia nervosa: Anorexia mental Anormal: Abriormal: Anormal Anxiété: Anxiety: Ansiedade APathie: Apathy: Apatia APPrentissage:
Training:

Aprendizagem APtitude: Aptitude: Aptidão Argent: Money: Dinheiro Argot: Slang: Calão

Art: Art: Arte Ascétisme: Asceticism: Ascetismo Aspíration: Aspiration: Aspiração Asthénie: Asthenia: Astenia Athlétisme: Athleties: Atletismo
Attention: Attention: Atenção Attitude: Attitude: Atitude Autisme: Autism: Autismo Auto-érotisme: SeIf-eroticism:

Auto-erotismo Autorité: Authority: Autoridade Avenir: Future: Futuro

Bal: Bali: Baile Bandes: Gangs: Bandos Barbe: Beard: Barba Beauté: Beauty: Beleza Bégaiement: Stuttering: Gaguez Besoins: Needs:
Necessidades Bibliothèque: Library: Biblioteca Bilinguisme: Bilingualism:

Bilinguismo Blasé: Dull: Enfastiado Bouderie: Pouting: Amuo Boulimie: Bulimia: Bulimia Bruit: Noise: Barulho

c Cafard: Gloom: Ideias negras Camaraderie: Cornradeship:

Camaradagem Capacité: Ability: Capacidade Caprice: Fancy: Capricho Caractère: Character: Carácter Caractériel:

Disturbed character: Caracterial Carence affective: Lack of care:

Carência afectiva

Chambre: Bedroom: Quarto Cinénia: Cinema: Cinema Coiffure: Head-dress: Pentea6 Colère: Anger: Cólera
Communication: Cominunicatio

Comunicação Compétidon: Competition:

Competição Complexe: Complex: Comple, Comportement: Behaviour:

Comportamento Conduite: Conduct, Conduta Conflance: Trust: Confiança Confidence: Confidence:

Confidência Conflit: Conflict: Conflito Conformisme: Compliance:

Conformismo Contagion Mentale:

Mental contagion: Contágio mental Contestadon: Contestation:

Contestação Convendonnel: Conventional:

Convencional Conversion: Conversion:

Conversão Copains: Pals: Camaradas Coquetterie: Fastidiousness:

Coquetismo Correspondance: Corresponden


Correspondência Créadvité: Creativeness:

Criatividade Culpabilité: Guiltness:

Culpabilidade Culture: Culture: Cultura Cy~e: Cynicisin: Cinismo

D Da=: Dance: Dança


Dating: Dating: Dating Débilité: Feebleness: Debilidade Déceptions: Deceptions:

Decepções Déficience: Deficiency:

Deficiência Défoulement:

Liberation from complexes: Descalcamento Délinquance: Delinquency:

Delinquência Démence: Dementia: Demência Démission: Resignation:

Demissão Dépression: Depression:

Depressão Déséquilibre: Unbalance:

Desequilíbrio Désir: Desire: Desejo Développement: Developrnent:

Desenvolvimento Devoir: Duty: Dever Devoirs scolaires: Hornework:

Trabalhos de casa Difficultés scolaires:

Educational problem: Dificuldades escolares Dignité: Dignity: Dignidade Discussion: Discussion: Discussão Disputes: Disputes: Disputas
Disques: Records: Discos Distraction: Absent-mindedness:

Distracção Dopage: Doping: Dopagem Doute: Doubl: Dúvida Drogue: Drug: Droga Dyslexie: Dyslexia: Dislexia

ysorthographie: Dyspelling: Disortografia

le: School: Escola : Education: Educação

ti= gexudk: Sexual education: Educação sexual

Effort- Esforço : Egocentrisra: Se

x u rt

tr

ff tion

Egoceutrismo,

Bulogies: Elogios

Emotion: Em~ tivité: Emotivity: Emotividade

t: Engagement: Empenhamento

Boredon: Aborrecimento

Enseignement: Teaching: Ensino Enurésie: Enuresis: Enurese Erotisme: Eroticism: Erotismo Examen: Examination: Exame Excitation:
Excitement: Excitação

Fabulation: Confabulation:

Fabulação Famille: Family: Família Fatigue: Tiredness: Fadiga Féminité: Feminity: Feminilidade Flirt: Flirt: Flirt Foule: Crowd: Multidão
Frustration: Frustration:

Frustração Fugue: Flight: Fuga

G Gadget: Gadget: Gadget GAté (enfant): Spoiled (child):


Mimada (criança) Gauche (enfant): Clumsy (child):

Desajeitada (criança) Gouts: Tastes: Gostos Grand-parents: Grandparents:

Avós Graphologie: Graphology:

Grafologia Grossièreté: Rudeness: Grosseria Groupe: Group: Grupo Guévarisme: Guevarism:

Guevarismo

H Habitude: Habit: Hábito Héros: Hero: Herói Hétérosexualité:


Heterosexuality: Heterossexualidade Híppies: Hippies: Hippies Homosexualité: Homosexuality:

Homossexualidade Horaires: Time-table: Horários Hormones: Hormones: Hornionas Humeur: Mood: Humor Humour: Humour:
Humorismo

Identité: Identity: Identidade Idoles: Idols: Idolos Blustrés: Pictures books:

Livros de gravuras Imaginatiou: Imagination:

Imaginação Imitation: Imitation: Imitação Imprudence: Imprudence:

Imprudência Impulsivité: Impulsivity:

Impulsividade Inadaptation juvénile:

Youth maladjustment: Inadaptação juvenil Inconscient (mécanisme de défense):

Unconscious (defense mechanism): Inconsciente (mecanismo de defesa) Indépendance: Independence:

Independência Infantilisme: Infântilistu:

Infântilismo Infériorlté physique:

Physical handicap: Inferioridade física Inhibition: Inhibition: Inibição Insolence: Insolence: Insolência Instabilité: Instability:

Instabilidade Intellectualisme: Intellectualims:

Intelectualismo Intelligence: Intelligence:

Inteligência Internat: Boarding school:

Internato Introspection: Introspection:

Introspecção

JK Jalousie: Jealousy: Ciúme Jeu: Game: Jogo Journal intime: Intimate diary:
Diário íntimo Jugement: Judgement: Juízo Kleptomanie: Kleptomania:

Cleptomania

Idéalbme: Idealism: Idealismo Idée fixe: Fixed idea: Ideia fixa Identification: Identification:

Identificação

Laisser-aller: SIovenliness:

Desleixo Langage: Language: Linguagem Lecture: Reading: Leitura Liberté: Liberty: Liberdade
Logement: Housing: Casa Loisirs: Spare time: Tempos livres Lvmphatisme: Lympliatisin:

Linfatismo

Maquillage: Make-up:

Maquilhagem Mariage: Marriage: Casamento Masochisme: Masochism:

Masoquismo Masturbation: Masturbation:

Masturbação Maturité: Maturity: Maturidade Mémoire: Memory: Memória Meneur: Leader: Chefe Mensonge: Lie: Mentira Menstruation:
Menstruation:

Menstruação Mère: Mother: Mãe Mésentente: Misunderstanding:

Desentendimento Métier: Profession: Profissão Milieu: Enviroriment: Meio Mixité: Co-education:

Coeducação Mode: Fashion: Moda Morale: Morals: Moral Morphologie: Morphology:

Morfologia Moto: Motor-cycle: Moto Musique: Music: Música Mutisme: Mutism: Mutismo Mysticisme: Mysticism-

Misticismo Mythomanie: Mythomania:

Mitomania

N Narcissisme: Narcissism:
Narcisismo Négativisme: Negativism-

Negativismo Nervosité: Nervousness:

Nervosismo Neurasthénie: Neurasthenia:

Neurastenia Névrose: Neurosis: Neurose Normalité: Normality:

Normalidade Nostalgie: Nostalgia: Nostalgia

o Obésité: Obesity. Obesidade Objectivité: Objectivity:

Objectividade Obsession: Obsession: Obsessão Opinion: Opinion: Opinião Opposition: Opposition: Oposição Orgueil: Pride: Orgulho
Orientation scolaire:

Educational guidance: Orientação escolar

Parents: Parents: Pais Paresse: Laziness: Preguiça Passivité: Passivity: Passividade Péché: Siri: Pecado. Pédagogie: Pedagogy: Pedagogia
Fère: Father: Pai Performance: Performance:

Performance Personnalité: Personality:

Personalidade Perversion: Perversion: Perversão Perversité: Perversity:

Perversidade Pessimisme: Pessimism:

Pessimismo Petting: Petting: Petting Peur: Fear: Medo Philosophie: Philosophy: Filosofia Phobie: Phobia: Fobia Physiologie: Physiology:
Fisiologia Pilule: Pill: Pílula Plaisir: Pleasure: Prazer Politique: Politics: Política Préiugés: Prejudices: Preconceitos Prestige: Prestige:
Prestígio Projection: Projection: Projecção Projets: Projects: Projectos Propagande: Propaganda:

Propaganda Prostitution: Prostitution:

Prostituição Psychédélisme: Psychedelisni:

Psicadelismo Psychologie: Psychology:

Psicologia Psychose: Psychosis: Psicose Psychothérapie: Psychotherapy:

Psicoterapia

Puberté: Puberty: Puberdad Pudeur: Modesty: Pudor Puérilisme: Puerilism: Puerili Punition: Punishmcnt: Punk
aR Quotient Intell"el:

Intelligence quotient: Quociente intelectual Radio: Broadcasting: Rádio Raisonnement:


Reasoning:

Raciocínio Réaetion: Reaction: Reacçã Récompense: Reward:

Recompensa Refoulement: Repression:

Recalcamento Règles: Periods: Regras Religion: Religion: Religião Rémunération:


Remuneratioz

Remuneração Rendez-vous: Appointment:

Entrevista Repas: Meal: Refeição Repos: Rest: Repouso Repos hebdomadaire:

Weekly rest: Repouso sem Responsabilité: Responsabilit

Responsabilidade Réunions familiales:

Family gatherings: Reuniões familiares Réussite: Success: Êxito Revendication: Demand:


Reivindicação Rêverie: Day-dreain: Fantas Révolte: Revolt: Revolta Révolution:
Revolution:

Revolução Rire: Laughter: Riso Rites: Rites: Ritos Ron= policier: Detective St

Romance policial Rythme: Rhythm: Ritmo

Sadisme: Sadism: Sadismo Sanetions: Sanctions: SanÇõe! Scolarisation: School attenda

EscoIarização
578
pules: Scruples: Escrúpulos t: Secret: Segredo ité: Security: Segurança tion Professionnelle: cational selection: lecção profissional bilité:
Sensibility: nsibilidade ice Militaire: Military service: rviço militar : Sex: Sexo alité: Sexuality: Sexualidade alisation:
Socialization: ocialização été: Society: Sociedade e

ies: Trips: Saídas rt: Sport: Desporto rt de combat: Fighting sport: esporto de combate .ectivité: Subjectivity: ubjectividade
limation: Sublimation: ublimação

Suggestibilité: Suggestibility:

Sugestibilidãde Suicide: Suicide: Suicídio Sur~parties: Parties: Festas

Tabac: Tobacco: Tabaco Table ronde: Rourid table:

Mesa-redonda Tabous: Taboos: Tabus Talent: Talent: Talento Téléphone: Telephone: Telefone Télévision: Television: Televisão
Tempérament: Temperament:

Temperamento Tension: Tension: Tensão Test: Test: Teste Tbéâtre: Theatre: Teatro Timidité: Timidity: Timidez Travail: Work: T rabalho

Tricherie: Cheating: Batotice Tristesse: Sadness: Tristeza

UV Unique (enfant): Only child:

Unico (filho) Vacances: Holidays: Férias Valeurs: Values: Valores Vanité: Conceit: Vaidade VelIéité: Velleity: Veleidade Vélomoteur:
Motorbike:

motorizada Vêtements: Dress: Vestuário Violence: Vilence: Violência Virginité: Virginity: Virgindade Virilité: Virility: Virilidade
Vocabulaire: Vocabulary:

Vocabulário Voiture: Car: Automóvel Vol: Robbery: Roubo Volupté: Voluptuousness:

Volúpia
Dicionário Inglês - Franc és -Português
A Ability: Capacité: Capacidade Abnormal: Anormal: Anormal Absent-mindedness: Distraction:
Distracção Absolute: Absolu: Absoluto Accidents: Accidents: Acidentes Aene: Acné: Acrie Activity: Activité: Actividade Adaptation:
Adaptation:

Adaptação Adolescence: Adolescence;

Adolescência Adoption: Adoption: Adopção Alfectivity: Affectivité:

Aféctividade Aggressiveness: Agressivité:

Agressividdde . Alcohol: Alcool: Alcool Alimentadon: Alimentation:

Alimentação Ambition: Ambition: Ambição Ambivalence: Ambivalence:

Ambivalência Anger: Colére: Cólera Anguish: Angoisse: Angústia Anorexia nervosa:

Anorexie mentale: Anorexia mental AnxIety: Anxiété: Ansiedade Apathy: Apalhie: Apatia AppoIntment: Rendez-vous:

Entrevista Aptitude: Aptitude: Aptidão Art: Art.: Arte Asceticism: Ascétisme: Ascetismo Aspiration: Aspiration: Aspiração Asthenia:
Asthénie: Astenia Athleties: Athlétisme: Atletismo Attention: Attention: Atenção Attitude: Attitude: Atitude Authority: Autorité:
Autoridade Autism: Autisme: Autismo

Ball: Bal: Baile Beard: Barbe: Barba Beauty: Beauté: Beleza Bedroom: Chambre: Quarto Behaviour: Comportement:

Comportamento Bilingualism: Bilinguisme:

Bilinguismo Boarding sebool: Internat:

Internato Boredom: Ennui: Aborrecimento Broadeasting: Radio: Rádio Butimia: Boulimie: Bulimia

Car: Voiture: Automóvel Character: Caractère: Carácter Cheating: Tricherie: Batotice Cinema: Cinérna: Cinema Clumsy (chiUd): Gauche
(enfant):

Desajeitada (criança) Co-education: Mixité:

Coeducação Communication: Communication:

Comunicação Competition: Competition:

Competição Complex: Complexe: Complexo Compliance: Conformisme:

Conformismo Comradeship: Camaraderie:

Camaradagem Concett: Vanité: Vaidade Conduct: Conduite: Conduta Confabulation: Fabulation:

Fabulação Confidence: Confidence:

Confidência Confliet: Conflit: Conflito Contestatiou: Contestation:

Contestação

Conventional: Conventionnei

Convencional Conversion: Conversion:

Conversão Correspondence: Conrrespon

ce: Correspondência Creativeness: Créativité:

Criatividade Crowd: Foule: Multidão Culture: Culture: Cultura Cynicism: Cynisme: Cinismc
D Dance: Danse: Dança Dating: Dating: Dating Day-Dream: Rêverie: Fanta., Deceptions: Déceptions:

Decepções Deficieney: Déficience:

Deficiência Delinquency: Délinquance

Delinquência Demand: Revendication:

Reivindicação Dementia: Démence: Demêi Depression: Depression:

Depressão Desire: Désir: Desejo Detective story: Roman. pol

Romance policial Development: Dveloppemen

Desenvolvimento Diguity: Dignité: Dignidad< Diseussion: Discussion: Disci Disputes: Disputes: Disputa Disturbed
character: Caract

Caracterial Doping: Dopage: Dopagem Doubt: Doute: Dúvida Dress: Vêtements: Vestuári< Drug: Drogue: Droga Duil:
Blasé: Enfastiado Duty: Devoir: Dever
lexia: Dyslexie: Dislexia Iling: Dysorthographie: isortografia

cation: Education: Educação cadonal guidance: rientation scolaire: rientação escolar cational problem: ifficultés scolaires: ificuldades
escolares rt: Effort: Esforço

utrism: Egocentrisme: gocentrismo tion: Emotion: Emoção tivity: Emotivité: motividade agement: Engagement: mpenhamento esís:
Enurésie: Emirese ronment: Milieti: Meio deism- Erotisme- Erotismo gles: Éloges: Elogios .nation- Examen: Exame tement: Excitation:
Excitação

ily: Famille: Família ily gatherings: éunions familiales: uniões familiares : Caprice: Capricho ion- Mode: Moda *diousness: Coquetterie:
quetismo er: Père: Pai : Peur: Medo leness: Débilité: Debilidade

ty: Féminité: Feminilidade ting sport: Sport de combat: sporto d.- combate ~1d6e fixe: Ideia fixa t: Fugue: Fuga

Flirt: Flirt

Amis: Amigos

Amitiê: Amizade Frustration: tração : Avenir: Futuro

: Gadget: Gadget e: Jeti: Jogo

Gangs: Bandes: Bandos Gloom: Cafard: Ideias negras Grandparents: Grands-parents:

Avós Graphology: Graphologie:

Grafologia Group: Groupe: Grupo Guevarism: Guévarisme:

Guevarismo Guiltiness: CuIpabilité:

Culpabilidade

H Habit: Habitude: Hábito Head-dress: Coiffure: Penteado Hero: Héros: Herói Heterosexuality: Hétérosexualité:
Heterossexualidade Hippies: Hippies: Hippies Holidays: Vacances: Férias Homework: Devoirs scolaires: Trabalhos

de casa Homosexuality: Homosexualité:

Homossexualidade Hormones: Hormones: Hormonas Housing: Logement: Casa Humour: Humour: Humorismo

Idealism: Idéalisme: Idealismo Identification: Identification:

Identificação Identity: Identité: Identidade Idois: Idoles: Idolos Imagination: Imagination:

Imaginação Imitation: Imitation: Imitação Imprudence: Imprudence:

Imprudência Impulsivity: Impulsivité:

Impulsividade IndePendewe: Indépendance:

Independência ~tilism: Infântilisme: Infantilismo Ie]Ubition: Inhibition: Inibição ~~ Insolence: Insolência In~IIIty: Instabilité:

Instabilidade Intdleete~: Intellectualisme:

Intelectualismo InteJligenge: Intelligence.

Inteligência

Intelligence quotient:

Quotient intellectuel: Quociente intelectual Intimate diary: Journal intime:

Diário Intimo Introspection: Introspection:

Introspecção

JK Jealousy: Jalousie: Ciúme Judgment: Jugement: Juizo Kleptomania: Kleptomanie:

Cleptomania

Lack of care: Carence affective:


Carência afectiva Language: Langage: Linguagem Laughter: Rire: Riso Laziness: Paresse: Preguiça Leader: Meneur: Chefe Liberation
from. complexes:

Défoulement: Descalcamento Liberty: Liberté: Liberdade Library: Bibliothèque: Biblioteca Lie: Mensonge: Mentira Love: Amour: Amor
Lymphatism: Lymphatisme:

Linfatismo

Make-up: MaquiIIage:

Maquilhagem Marriage: Mariage: Casamento Masochism: Masochisme:

Masoquismo Masturbation: Masturbation:

Masturbação Maturity: Maturité: Maturidade Meal: Repas: Refeição Memory: Mémoire: Memória Menstruation: Menstruation:

Menstruação Mental contagion:

Contagion Mentale: Contágio Mental Military service: Service militaire:

Serviço militar Misunderstanding: Mésentente:

Desentendimento Modesty: Pudeur: Pudor Money: Argent: Dinheiro Mood: Humeur: Humor Morals: Morale: Moral
Morphology: Morphologie: Morfologia Mother: Mère: Mãe Motorbike: Vélomoteur:

Motorizada Motorcycle: Moto: Moto Music: Musique: Música Mutism: Mutisme: Mutismo Mysticism: Mysticisme:

Misticismo Mythomania: Mythomanie:

Mitomania

Nareissism: Narcissisme:

Narcisismo Needs: Besoins: Necessidades Negativísm: Négativisme:

Negativismo Nervousness: Nervosité:

Nervosismo Neurasthenia: Neurasthénie:

Neurastenia Neurosis: Névrose: Neurose Noise: Bruit: Barulho Nonnality: Normalité:

Normalidade Nostalgia: Nostalgie: Nostalgia

o Obesity: Obésité: Obesidade Objectivity: Objectivité:

Objectividade Obsession: Obsession: Obsessão Only child: Unique (enfant):

Unico (filho) Opinion: Opinon: Opinião Opposition: Opposition: Oposição p

Pais: Copains: Camaradas Parents: Parents: Pais Particular friendship:

Amitié particulière: Amizade particular Pardes: Surprise-parties: Festas Passivity: Passivité: Passividade Pedagogy: Péciagogie: Pedagogia
Performance: Performance:

Performance Periods: Règles: Regras Personality: Personnalité:

Personalidade Perversion: Perversion: Perversão

Perversity: Perversité:

Perversidade Pessimism: Pessimisme:

Pessimismo Petting: Petting: Petting Philosophy: Philosophie: Filosofia Phobia: Phobie: Fobia PhysIcal handicap:

Infériorité physique: Inferioridade física Physiology: Physiologie:

Fisiologia Pictures books: Iliustrés:

Livros de gravuras Píll: Pilule: Pílula Pleasure: Plaisir: Prazer Politics: Politique: Política Pouting: Boucierie: Amuo Prejudices: Prêjugés:
Preconceitos Prestige: Prestíge: Prestígio Pride: Orgueil: Orgulho Profession: Métier: Profissão Projection: Projection: Projecção Projeets:
Projets: Projectos Propaganda: Propagande:

Propaganda Prostitution: Prostitution:

Prostituição Psychedelism: Psychédélisme:

Psiquedelismo Psychology: Psychologie:

Psicologia Psychosis: Psychose: Psicose Psychotherapy: Psychothérapíe:

Psicoterapia Puberty: Puberté: Puberdade Puerilism: Puérilisme: Puerili@mo Punishment: Punition: Punição

R Reaction: Réaction: Reacção Reading: Lecture: Leitura Reasoning: Raisonnement:


Raciocínio Records: Disques: Discos Religion: Religion: Religião Remuneration: Rémunération:

Remuneração Repression: Refoulement:

Recalcamento Resignation: Démission:

Demissão Responsability: Responsabilité:

Responsabilidade Rest: Repos: Repouso


Reward: Récompense:

Recompensa Revolt: Révolte: Revolta Revolution: Révolution:

Revolução Rhythm: Rythme: Ritmo Rites: Rites: Ritos Robbery: Vol: Roubo Round table: Table rond

Mesa-redonda Rudeness: Grossièreté: G

s Sadism: Sadisme: Sadisi Sadness: Tristesse: Trist Sanctions: Sanetions: Sai School: École: Escola School attendance: Scolai

Escolarização Scruples: Scrupules: Esc Secret: Secret: Segredo Security: Sécurité: Segui Self-eroticism: Auto-éroti

Auto-erotismo Seff-love: Amour-propre

Amor-próprio Sensibility: Sensibilité:

Sensibilidade Sex: Sexe: Sexo Sexual education:

Éducation sexuelle: Educação sexual Sexuality: Sexualité: Sexi Sin: Péché: Pecado Siang: Argot: Calão Slovenliness: Laisser-aller

Desleixo Socialization: Socialisatic

Socialização Society: Société: Socied, Spare time: Loisirs:

Tempos livres Spoiled child: Gâté (enfa

Mimada (criança) Sport: Sport: Desporto Stuttering: Bégaiement: Subjectivity: Subjectivité:

Subjectividade Sublimation: Sublimation

Sublimação Suecess: Réussite: Exito Suggestibility: Suggestibil

Sugestibilidade Suicide: Suicide: Suicídi4 Surrounding: Ambiance:

Ambiência
582
Taboos: Tabous: Tabus Talent: Talent: Talento Tastes: Gouts: Gostos Teaching: Enseignement: Ensino Telephone: Téléphone: Telefone
Television: Télévision: Televisão Temperament: Tempérament:

Temperamento Tension: Tension: Tensão Tes: Test: Teste Theatre: Théâtre: Teatro Time-tabie: Horaires: Horários Timidity: Timidité:
Timidez Tíredness: Fatigue: Fadiga Tobacco: Tabac: Tabaco Training: Apprentissage:

Aprendizagem

Trips: Sorties: Saídas Trust: Conflance: Confiança

U Unhalance: Déséquilibre:

Desequilíbrio Unconscious (defense mechanism)

Inconscient (mécanisme de défense): Inconsciente (mecanismo de defesa)

v Values: Valcurs: Valores Velleity: Velléité: Veleidade


Violence: Violence: Violência Virginity: Virginité: Virgindade Virility: Virilité: Virilidade Vocabulary: Vocabulaire:

Vocabulário Vocational selection:

Sélection professionnelle: Selecção profissional Voluptuousness: Volupté: Volúpia

WY Weekly rest:

Repos hebdomadaire: Repouso semanal Work: Travail: Trabalho Youth maladjusbnent:

Inadaptation juvénile: Inadaptação juvenil

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