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FESC- FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE CAJAZEIRAS

FAFIC- FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE CAJAZEIRAS


DISCIPLINA: FILOSOFIA SOCIAL E POLITICA
TURMA: FILOSOFIA II
DOCENTE: PROF° DR. DAMIÃO FERNANDES
DISCENTE: JOAQUIM FRANCISCO FILHO

Fichamento
(Hannah Arendt)

A dignidade da política

Compreensão e Politica

“Muitos dizem que não se pode lutar contra o totalitarismo sem compreendê-lo.
Felizmente isso não é verdade; se fosse, nossa causa estaria perdida. Distinguindo-se da
informação correta e do conhecimento cientifico, a compreensão é um processo
complexo, que jamais produz resultados inequívocos” (Pág. 39).
“O fato de que a reconciliação é inerente à compreensão deu origem à ideia distorcida e
popular de que tout comprendre c’est tout pardonner. Perdoar, no entanto, tem tão
pouco a ver com compreender, que não é a sua condição nem sua consequência” (Pág.
39).
“Muitos têm, com boa intenção, a vontade de abreviar esse processo, com a finalidade
de educar os outros e elevar a opinião pública. Acreditam que livros possam funcionar
como armas e que se pode lutar com palavras. As armas e a luta, entretanto, pertencem à
atividade da violência, e a violência, distinguindo-se do poder, é muda; a violência tem
início onde termina a fala” (Pág. 40).
“O resultado de todas as tentativas desse tipo é a doutrinação. Como tentativa de
compreender transcende o domínio comparativamente sólido dos fatos e números, de
cuja infinitude procura escapar; como atalho no próprio processo de transcender – que é
arbitrariamente interrompido pelo pronunciamento de afirmações apodíticas, como se
estas fossem tão confiáveis quantos os fato e os números – ela destrói por completo a
atividade de compreensão” (Pág. 40).
“A doutrinação só faz promover a luta totalitária contra a compreensão e, em todo caso,
introduz o elemento da violência em todo o domínio da política” (Pág. 40).
“A Compreensão de questões políticas e históricas, tão profunda e fundamentalmente
humanas, tem algo em comum com a compreensão de pessoas: só sabemos quem uma
pessoa essencialmente é depois que ela morre” (Pág. 40).
“Tudo que se sabemos sobre o totalitarismo indica uma terrível originalidade, que
nenhum paralelo histórico é capaz de atenuar” (Pág. 41).
“Tudo o que sabemos sobre o totalitarismo indica uma terrível originalidade, que
nenhum paralelo histórico é capaz de atenuar. Só podemos escapar de seu impacto se
optamos por desviar nossa atenção da sua própria natureza, deixando-a para as
intermináveis” (Pág. 41).
“Se não pode esperar da compreensão que forneça resultados especificamente úteis ou
inspiradores na luta contra o totalitarismo, ela deve, por outro lado, acompanhar essa
luta para que seja algo além de uma simples luta pela convivência” (Pág. 41).
“Conhecimento e compreensão não são a mesma coisa, mas interligam-se. A
compreensão baseia-se no conhecimento e o conhecimento não pode se dar sem que
haja uma compreensão inarticulada, preliminar” (Pág. 42).
“A compreensão precede e sucede o conhecimento. A compreensão preliminar, que está
na base de todo conhecimento, e a verdadeira compreensão, que o transcende, têm isso
em comum: conferem: significado ao conhecimento” (Pág. 42).
“O termo imperialismo permaneceu como rótulo popular durante muito tempo depois
do surgimento do bolchevismo, do fascismo e do nazismo; obviamente as pessoas ainda
não haviam acertado o passo com os acontecimentos, ou talvez não acreditassem que
aqueles novos movimentos viessem no final a dominar todo um período histórico” (Pág.
43).
“No entanto, enquanto a linguagem popular reconhece um novo evento pela aceitação
de uma nova palavra, ela invariavelmente utiliza tais conceitos como sinônimos para
outros males familiares – agressividade e ânsia de conquistar, caso do imperialismo,
terror e sede de poder, no do totalitarismo” (Pág. 43).
“A linguagem popular, ao expressar uma compreensão preliminar, inicia assim o
processo da verdadeira compreensão. Sua descoberta deve sempre permanecer como o
conteúdo da verdadeira compreensão, para não se perder em meio às nuvens
especulação – um perigo sempre presente” (Pág. 43).
“Talvez devamos nos resignar à compreensão preliminar, que logo situa o novo em
meio ao antigo, e ao enfoque cientifico, que se segue a essa compreensão, deduzindo
metodicamente o que não tem precedentes de precedentes, mesmo quando tal descrição
de novo fenômeno esteja verificalvelmente em descordo com a realidade” (Pág. 44).
“Essas questões têm sua pertinência reforçada pelo fato de não se restringirem à nossa
perplexidade na compreensão do totalitarismo” (Pág. 44).
“Os fenômenos totalitários que não podem mais ser entendidos em termos de senso
comum e que desafiam todas as regras do juízo “normal”, isto é, basicamente utilitário,
são somente as instâncias mais espetaculares do colapso da sabedoria comum que não
foi legada” (Pág. 45).
“Ele não pode, sem dúvida, ser incluído entre os profetas do mal inevitável, mas sua
coragem sóbria e fria dificilmente encontrou equivalente entre os famosos pessimistas
históricos do século XIX” (Pág. 46).
“A vida dos povos, segundo Montesquieu, é governada por leis e costumes; os dois
distinguem-se pelo fato de que “as leis governam as ações do cidadão, e os costumes, as
ações dos homens”. As leis estabelecem o domínio da vida pública e política e os
costumes estabelecem o domínio da sociedade” (Pág. 46).
“Quanto à sua própria época e às suas perspectivas imediatas, Montesquieu tinha o
seguinte a dizer: “A maioria das nações da Europa ainda é regida por costumes” (Pág.
46).
“Os temores de Montesquieu vão entretanto ainda mais longe do que a passagem acima
citada poderia sugerir, chegando portanto ainda mais perto de nossa perplexidade atual.
Seu maior temor, que ele alça ao topo de toda sua obra, envolve mais do que o bem-
estar das nações europeias e a permanência da existência da liberdade política; envolve
a própria natureza humana” (Pág. 37).
“Em nosso contexto, a substituição peculiar e engenhosa do senso comum por uma
lógica rigorosa, característica do pensamento totalitário, é particularmente digna de
nota. A lógica não é idêntica ao raciocínio ideológico, mas indica a transformação
totalitária das respectivas ideologias” (Pág. 48).
“ Para os que se empenham na busca do significado e da compreensão, o que assuta ao
surgimento do totalitarismo não é que seja algo novo, mas sim que tenha trazido à luz a
ruína de nossas categorias de pensamento e de nossos padrões de juízo. O novo é o
domínio do historiador que, ao contrário do cientista natural, preocupado com
acontecimentos sempre recorrentes, lida com eventos que sempre ocorrem somente uma
vez” (Pág. 49).
“Sempre que ocorre um evento grande o suficiente para iluminar seu próprio passado da
história acontece. Só então o labirinto caótico dos acontecimentos passados emerge
como uma estória que pode ser contada, porque tem um começo e um fim” (Pág. 49).
“Todo aquele que, nas ciências históricas acredita honestamente na causalidade nega o
objeto de estudo de sua própria ciência. Tal crença pode ser ocultada na aplicação de
categorias gerais, tais como desafio e resposta, ao todo dos acontecimentos, ou na busca
de tendências gerais, supostamente camadas profundas de que se originam aos eventos
que seriam, em relação a elas, sintomas acessórios” (Pág. 50).
“É tarefa do historiador detectar esse novo inesperado com todas as suas implicações,
em qualquer período, e trazer à luz a força total as suas implicações, em qualquer
período, e trazer à luz a força total de sua significação. Deve saber que, embora sua
estória tenha um começo e um fim, ela ocorre dentro de um quadro maior, a própria
história” (Pág. 50).
“Para o historiador, permanecer ciente desse fato terá a mesma importância de verificar
o que os franceses chamariam de sua déformattion professionelle.” (Pág. 51).
“A grande importância que o conceito de começo e origem tem para todas as questões
estritamente políticas advém do simples fato de que a ação política, como toda ação, é
sempre essencialmente o começo de algo novo: como tal, ela é em termos de ciência
política, a própria essência da liberdade humana” (Pág. 51).
“Se a essência de toda ação, e em particular e da ação política, é fazer um novo começo,
então a compreensão tornar-se o outro lado da ação, a saber, aquela forma de cognição,
diferente das muitas ouras, que permite aos homens de ação, no final das contas,
aprender a lidar com o que irrevogavelmente passou e reconciliar-se com o que
inevitavelmente existe” (Pág. 52).
“Compreensão é, como tal, um empreendimento estranho. No final, pode não ir além de
articular e confirmar o que a compreensão preliminar, consciente ou inconsciente
sempre engajada na ação, intuíra de início” (Pág. 52).
“O coração humano, tão afastado do sentimentalismo quanto da burocracia, é a única
coisa no mundo que irá incumbir-se da responsabilidade imposta a nós pelo dom divino
da ação, o dom de ser um começo e portanto ser capaz de fazer um começo” (Pág. 52).
“Distinguir a imaginação da fantasia e mobilizar seu poder não significa tornar
“irracional” a compreensão dos assuntos humanos. A imaginação, ao contrário, como
disse Woodsworth, “não passa de uma novo nome para... a visão mais clara a amplidão
de espirito/ E para a razão em seu humor mais exaltado” (Pág. 53).
“Esse “distanciamento” de algumas coisas e aproximação de outras pela superação de
abismos faz parte do diálogo da compreensão, para cujas finalidades a experiência
direta estabelece um contato próximo demais e o mero conhecimento ergue barreiras
artificiais” (Pág. 53).
“Sem esse tipo de imaginação, que na verdade é compreensão, jamais seríamos de nos
orientar no mundo. Ela é a única bússola interna que possuímos. Somos
contemporâneos somente até o ponto em que chega nossa compreensão” (Pág. 53).

Referência Bibliográfica:
Arendt, Hannah, 1906-1975
A dignidade da politica: ensaios e conferências/ Hannah Arendt; organizador. Antônio
Abranches; tradução Helena Martins e outros. – Rio de Janeiro: Relume-Dumará,1993
(Pág. 39-53)

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