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O QUE É A 

BELEZA?

Diálogo Socrático sobre A Beleza.


De todas as sessões de prática filosófica (Filosofia Prática) que costumo moderar
(Cafés Filosóficos, Debates Filosóficos, etc.) o Diálogo Socrático é a mais exigente
quer para mim enquanto facilitador quer para os participantes.
O Diálogo Socrático é uma forma muito particular de conversar e investigar sobre um
tema filosófico qualquer e tem uma origem precisa localizável no tempo e no espaço:
um pedreiro que viveu em Atenas há 2500 anos de nome Sócrates. Através desta
forma de diálogo procuramos aprofundar a nossa compreensão de uma ideia
(Verdade, Justiça, Liberdade, etc.) a partir das experiências pessoais que cada
participante nos revela sobre ela.
Parti para o Centro Cultural Vila Flor (CCVF) em Guimarães, onde se iria realizar este
Diálogo Socrático, com as expectativas bastante elevadas. Fora convidado pelo CCVF
para aprofundar filosoficamente a ideia de Beleza com um grupo de 16 pessoas que
de várias formas já estavam envolvidas na pesquisa desta mesma ideia no âmbito
do Projeto B da coreografa e bailarina Teresa Prima. Era portanto um grupo bastante
heterogéneo e motivado para quem o conceito de Beleza era já uma preocupação
importante nas suas vidas tendo já todos eles iniciado a sua busca da Beleza através
da dança, da escrita e em conversas que iam mantendo entre eles sobre este tema.
A minha proposta, imediatamente aceite pelo CCVF e pela Teresa Prima, foi promover
uma reflexão filosófica que começasse, exatamente, pelas experiências de Beleza de
cada participante e procurasse responder à questão:
O que é a Beleza?
Depois de ouvirmos os 16 relatos de pequenos episódios particulares onde a Beleza
estivesse presente o grupo escolheu o episódio do João para começar a nossa
investigação.
Episódio onde o João encontrou a Beleza:
Tratava-se de um passeio que o João havia dado há uns meses pelos campos em
redor da sua aldeia natal. Envolto em pensamentos sobre a morte o João deparou-se
com a raiz solta de uma árvore que se destacava entre duas pedras no caminho. Esse
encontro súbito abalou-o e fê-lo entrar num estado que nos descreveu como um
“Estado de Graça”. Nesse encontro o João encontrou a Beleza.
Tendo como “ocorrência concreta da Beleza” este encontro súbito do João com a raiz
no seu caminho o grupo procurou definir esse conceito fugidio num movimento
indutivo conhecido como “abstração regressiva”, um movimento cognitivo que nos leva
da experiência concreta ao conceito abstrato.
[Dois grandes filósofos aconselharam-nos a nunca perder de vista o concreto da nossa
relação com o mundo quando pensamos nos grandes conceitos filosóficos: Sócrates
remetia-nos sempre nas suas discussões com os atenienses para os ofícios e para os
objetos quando discutíamos ideias abstratas como a coragem, a justiça ou a virtude.
Para Kant os nosso conceitos isolados de uma correspondência com as nossas
experiências seriam vazios e as nossas experiências, não sendo pensadas pelos
conceitos, seriam cegas.]
Ou seja, partindo do episódio relatado pelo João procurámos responder à questão que
nos juntou naquela sala.
Deixo aqui a definição de Beleza a que chegamos ao fim de mais de 4 horas (!!) de
discussão, mas sublinho que ao fazê-lo estou a deixar de fora aquilo que é o sumo da
sessão, todo o processo de diálogo lento e difícil que nos permitiu chegar até essa
definição. É sobretudo esse processo e não tanto o seu resultado que constitui a parte
filosófica de um Diálogo Socrático. A definição de Beleza a que chegamos não tem
pretensões de ser a “verdadeira definição de Beleza”. É uma definição provisória se o
grupo decidir continuar esta investigação noutros Diálogos Socráticos. É também a
definição possível dado o tempo limitado que tínhamos nesta tarde de domingo, assim
como as nossas óbvias limitações intelectuais (enquanto seres humanos inteligentes,
mas, ainda assim, apenas seres humanos) para lidar com questões desta dimensão.
– O que é a Beleza?
– A Beleza é a percepção súbita de um encontro com o que nos religa e transforma.

Estética é a área da filosofia que estuda racionalmente o belo – aquilo que desperta a
emoção estética por meio da contemplação – e o sentimento que ele suscita nos
homens.

A palavra estética vem do grego aesthesis, que significa conhecimento sensorial ou


sensibilidade, e foi adotada pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762)
para nomear o estudo das obras de arte como criação da sensibilidade, tendo por
finalidade o belo.

Embora a expressão “estética” tenha uso recente para designar essa área filosófica,
ela já era abordada sob outros nomes desde a Antiguidade. Entre os gregos usava-se
frequentemente o termo poética (poeisis) – criação, fabricação -, que era aplicado à
poesia e a outras artes.

Aos poucos, a estética passou a abranger toda a reflexão filosófica que tem por objeto
as artes em geral ou uma arte específica. Engloba tanto o estudo dos objetos artísticos
quanto os efeitos que estes provocam no observador, abrangendo os valores artísticos
e a questão do gosto.

Contemporaneamente, sob uma perspectiva fenomenológica, não existe mais a ideia


de um único valor estético (o belo) a partir do qual julgamos todas as obras de arte.
Cada objeto artístico estabelece seu próprio tipo de beleza, ou seja, o tipo de valor
pelo qual será julgado.

Os objetos artísticos são belos porque são autênticos segundo seu modo de ser
singular, sensível, carregando significados que só podem ser percebidos por meio da
experiência estética.

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