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Aluno: Paulo Roberto A. Santos e Silva – Matrícula: 18.2.

6867
Disciplina: FIL-683: Filosofia da Religião
Prof. Sérgio Miranda
II Atividade Avaliativa.

- Sobre o Pluralismo Religioso -

As questões referentes à problemática do pluralismo religioso ocupam hoje


nova importância dentro de um novo contexto. No entanto, o pluralismo religioso
conforme problema teológico não é novo. Pois, mesmo com os Apóstolos, o
cristianismo nascente teve de apresentar o seu recado, primeiramente em relação ao
Judaísmo e depois em relação às outras religiões que encontrou em seu caminho.
A teologia do pluralismo religioso surge então, nesse âmbito, como um novo
nome adotado para a teologia das religiões, cujo incremento começou na década de 60.
Sua reflexão se realiza à luz da fé sobre o pluralismo religioso, ou seja, sobre a
diversidade das religiões, sobre o fato da existência de não apenas uma religião, mais
de muitas.
Essa teologia possui o poder da novidade, da introdução a horizontes
desconhecidos, provocando assim proposições que, às vezes, no cristianismo,
comovem as convicções mais profundas, pois o que seu estudo proporciona não é
apenas uma obtenção de novos conhecimentos, mas uma reconstrução da cultura
religiosa já adquirida, uma reorganização de convicções religiosas básicas,
possibilitando uma nova forma de viver a religião.
Surge, portanto, a necessidade de um novo paradigma, ou seja, uma nova forma
global de articular e combinar os elementos da fé a partir de bases novas, de suposições
gerais inéditas. Com o término da idade média e o nascimento da modernidade a
dinâmica social foi alterada. À frente dessas transformações, o pluralismo religioso se
faz evidente em nossa sociedade manifestado através da heterogeneidade religiosa.
Esse evento surgiu graças ao advento da modernidade e vem transformando a conduta
dos homens na sociedade. Com a chegada do iluminismo do século XVIII, a sociedade
ocidental recebeu novas compreensões e esclarecimentos para sanar os problemas
sociais sem a influxo da igreja. Esse intervalo ficou conhecido como a idade da razão,
pois nada era aceito sem sobreviver ao exame do conhecimento lógico. A partir dessa
fase os métodos científicos cada vez mais força. A modernidade desponta com um
novo olhar para dar explicações aos fenômenos que antes passava pela esfera da igreja.
O pluralismo religioso não é um tema simplesmente teórico nascido das
especulações de intelectuais que o estejam querendo transmitir à sociedade. Provém da
própria realidade do mundo de hoje. É um fato que se aproxima cada vez mais em
todos os âmbitos: na sociedade, na cidade, no trabalho, na comunicação e até mesmo
na família, ninguém pode subtrair-se ao reconhecimento desta nova paisagem humana.
Esta interpretação das sociedades, com suas culturas e religiões, fazendo-se
presentes umas nas outras, é um fenômeno novo, o que acentua o fato de que as
religiões e as culturas se vejam obrigadas a conviver, pois muitas sociedades são
pluriculturais, ou seja, compostas por grupos procedentes de vários países.
No entanto, como vimos, mesmo que o processo de globalização gere uma
cultura global e a homogeneização da cultura sob determinados aspectos, ela também
cria um cenário favorável para o conhecimento e a manifestação das diferenças. A
esses fatores acrescenta-se a mudança de consciência e de mentalidade na cultura
ocidental, decorrente da conhecida crise da modernidade. Esta nova situação nos
coloca face a face com o fato da pluralidade religiosa, pois se faz urgente uma posição
em relação às outras religiões, não só no que diz respeito ao caráter teológico, mas
também por questões de caráter sociocultural e político.
No que diz respeito ao caráter teológico, faz-se necessário partir de sua
contextualização, ou seja, da teologia e do modelo a que esse princípio dá origem,
chamado de teologia hermenêutica. Essa teologia se utiliza de um método indutivo que
significa partir da realidade histórica e vivida, deixando-se questionar por ela e
procurando lançar sobre ela a luz da Palavra revelada.
A teologia se vê, portanto, confrontada de uma maneira inédita em sua história
com a tarefa da tradução das religiões e do próprio fato do pluralismo religioso à luz da
manifestação cristã; e com uma reinterpretação da fé cristã dentro do horizonte
hermenêutico fornecido pela realidade inter-religiosa atual. Procuraremos, portanto,
situar os principais desafios do pluralismo religioso hoje à teologia, à fé e a prática
cristã.
Com os avanços do movimento humanista o pluralismo firma-se como
pluralidade de conhecimento, pois sua centralidade estava na busca pelo conhecimento
que por sua vez englobaria vários temas filosóficos e políticos. Por isso no iluminismo
os indivíduos passaram a ter autonomia de se posicionar à frente de eventos e fatos
sociais sem precisar ligar seu argumento aos princípios e dogmas da igreja. A
informação científica e filosófica ganhou força em relação ao mítico. Passou a assumir
posturas distintas do clero que antes eram tidas como heréticas. Simultaneamente os
avanços da modernidade a pluralidade tornou o antagonista de uma só concepção de
pensamento, mas uma visão que engloba vários conceitos, seja do ponto de vista
científico ou não. Na modernidade o aumento do pluralismo religioso origina-se em
consequência do secularismo e a laicização do estado. Se o estado é laico o pluralismo
religioso será aceito na sociedade sem limitação, nessa sociedade haverá brecha para
escolha sem interferências externas, pois o secularismo visa um estado democrático e
livre. Neste aspecto não existe mais um monopólio religioso, mas uma abertura a um
novo modelo que valoriza a pluralidade religiosa e a autonomia do indivíduo. Embora
a secularização faça divisão com o mundo sagrado, isso não significa a ausência da
religião.
A religião se manifesta no mundo secular como resultado de uma natureza
intrínseca do homem. O pluralismo religioso é a revelação da religiosidade do ser
humano, que está em busca da orientação para existir. Na atualidade observa-se que o
pluralismo religioso tornou um novo modelo social que corrobora com os preceitos da
autonomia humana e a necessidade espiritual do homem moderno. Uma das vertentes
mais significativas desse pluralismo é o denominado trânsito religioso, que trata da
passagem na busca do sagrado e na satisfação pessoal. Por não haver uma firmeza na
constituição religiosa da pessoa, ela migra para outra doutrina, logo mudando seus
rituais e a maneira de compreender o sagrado.
Nesta conjuntura globalizada, vemos ofertas religiosas veiculadas na mídia de
várias formas, fomentando o anseio do indivíduo de agregar-se a um novo grupo
religioso que se apresenta com propostas atrativas e irresistíveis, com roupagem
satisfatória para respostas a problemas e crises existenciais. Pessoas a demanda de uma
religiosidade que o satisfaça é cada vez maior, e esse número ainda é ampliado por
aquelas pessoas que deixam a devoção de seus antepassados, é migra-se para outra em
busca de autossatisfação pessoal, seja física ou espiritual.
Outro ponto de cuidado é a falta da conversa inter-religioso que faz com que os
indivíduos de uma determinada religião vivam de maneira a pensar que exclusivamente
sua religião deve ser aceita na sociedade e a do outro deve ser negada. O resultado não é
outro se não uma barreira que obstrui a conexão. Outro ponto de evidência é o diálogo
inter-religioso que busca especialmente criar uma sociedade mais justa que valoriza a
multiplicidade religiosa e a autenticidade das religiões. No diálogo inter-religioso não é
preciso encobrir a identidade religiosa para se aproximar do outro. Não é necessário
negar a tradição religiosa para se dialogar, pois esse diálogo tem como razão a
discordância. Em uma sociedade onde pluralismo religioso se faz presente é preciso
construir uma situação nova que abre caminho e proporciona ambientes propícios à
tolerância e o respeito recíproco. O pluralismo religioso por se tratar de várias tradições
religiosas heterogêneas onde cada uma tem uma visão de mundo discordante.

- CONSIDERAÇÕES FINAIS -

Podemos firmar que o pluralismo religioso é um evento natural da


modernidade, podendo desestruturar bases religiosas fechadas que não estejam
abertas às transformações sociais ocorridas através da laicidade que a modernidade
desencadeou. O pluralismo religioso resultou em quebra de paradigmas
monopolizados e valorizou a diversidade de visões. Esse fenômeno alterou a forma de
viver, tornando o ser humano livre para demonstrar a maneira de interpretar a vida,
seja do ponto de vista religioso ou filosófico. Em meio a tantas identidades religiosa o
diálogo inter-religioso é um instrumento preponderante de aproximação de outras
tradições religiosas, facilitando o entendimento e quebrando preconceitos, fazendo
manifestar afeição, respeito recíproco e tolerância religiosa.
É de se reforçar que diante desta reflexão que não estamos imunes às mudanças
que ocorrem no mundo através da modernidade. Tais mudanças nos ensina que
devemos rever nosso julgamento religioso para que possamos elaborar uma
compreensão do mundo sem, todavia, perder as referências que nos identifica.

Referências:

Alvin Plantinga - Conhecimento e Crença Cristã


William L. Rowe – Introdução à Filosofia da Religião.
Wagner Lopes Sanches – Pluralismo Religioso: As religiões no Mundo Atual

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