Você está na página 1de 8

O judô adaptado como ferramenta para a reabilitação

O judô adaptado como ferramenta para a reabilitação do


equilíbrio de crianças com deficiência visual

Ana Carolina Pereira Nunes Pinto* *Universidade Federal


do Amapá, Macapá,
https://doi.org/10.11606/issn.1981-4690.v35i2p187-194 Josiane de Oliveira Lima** AP, Brasil.
Fernanda Gabriella de Siqueira Barros Nogueira* **Universidade da
Amazônia, Belém, PA,
Said Kalume Kalif** Brasil.

Resumo
Crianças com deficiência visual podem apresentar atrasos no desenvolvimento do equilíbrio. O Judô é um
esporte adaptado aos deficientes visuais, porém, pouco se sabe sobre seus efeitos em crianças com deficiência
visual. O objetivo deste estudo foi verificar se o judô pode melhorar o equilíbrio de crianças com deficiência
visual. Neste estudo, nove crianças com deficiência visual, com idade entre 6 e 12 anos, que nunca haviam
praticado judô, participaram de um protocolo de treinamento deste esporte durante 8 semanas. Para
avaliação do equilíbrio, aplicamos a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), o Teste de Alcance Funcional (TAF)
e a Estabilometria, analisando as oscilações dos pés esquerdo e direito e do corpo. Para rejeição da hipótese
nula foi previamente fixado o nível alfa= 0.05. Registramos diferença estatisticamente significativa para
a EEB (p-valor = 0,0069*) entre as avaliações antes (42,2+8,7) e após (54,1+2,4) o treinamento. Também
encontramos diferença entre os valores anteriores (11,6±6,5cm) e posteriores (25,6±7,6 cm) ao treinamento
para o TAF (p-valor <0,001), para as oscilações do pé esquerdo (0,9±0.6cm – 0,4±0,2cm) (p-valor 0,031),
pé direito (1,5+1,5 – 0,8+0,6). (p-valor 0,038) e do corpo (2,8±1,1cm – 1,6±0,7 cm). (p-valor 0,015). A
prática do judô pode ser uma ferramenta importante na estratégia de reabilitação do equilíbrio de crianças
com deficiência visual.

PALAVRAS-CHAVE: Pessoas com deficiência visual; Equilíbrio postural; Artes marciais; Esportes.

Introdução
Dentre as diversas formas de deficiências existentes, continuam a realizar suas tarefas cotidianas com
as visuais são as mais prevalentes. Dados da padrões de pessoas com visão normal2.
Organização Mundial da Saúde indicam que cerca Em relação ao desenvolvimento da criança, caso
de 285 milhões de pessoas têm deficiência visual no não seja adequadamente estimulada, a escassez de
mundo todo, das quais 39 milhões são cegas1. informações visuais pode ocasionar prejuízos em
A cegueira pode ser congênita ou adquirida. Cego diversos aspectos, tais como atrasos no campo motor,
congênito é o indivíduo que nasceu sem a visão ou cognitivo, emocional e social3.
que a perdeu antes dos cinco anos de idade. Este A criança com visão normal, em geral, tem
indivíduo não possui informações visuais úteis para melhor desempenho em provas de equilíbrio do que
a realização de suas tarefas. A cegueira adquirida, a criança com deficiência visual4,5. A manutenção
por sua vez, acomete pessoas após os cinco anos do equilíbrio depende da integridade anatômica
de idade. Assim, essas possuem referências visuais e funcional dos sistemas que controlam a função
anteriores à deficiência e mesmo que com o passar do motora, sensorial e nervosa 6 . Distúrbios do
tempo percam a recordação dessas imagens mentais, equilíbrio podem levar à predisposição a quedas

Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194 • 187
Pinto ACPN, et al.

e lesões, medo de cair novamente, redução da estímulos de contato, são comumente utilizados
mobilidade e da autonomia social7. na prática do judô. Por outro lado, pouco se
O judô é um desporto que possibilita que os sabe a respeito do efeito do treinamento do
deficientes visuais pratiquem-no sem necessidade judô no desenvolvimento motor de crianças com
de grandes adaptações, sendo, inclusive, um deficiência visual. Desta forma, este estudo teve
esporte paralímpico 8. Sabe-se que estímulos o objetivo de analisar o efeito de um protocolo
considerados importantes ao desenvolvimento de treinamento baseado em movimentos do
motor da criança, tais como estímulos desporto judô sobre o equilíbrio de crianças com
labirínticos, desequilíbrios, balanços, rotações, deficiência visual com idade entre 6 e 12 anos.

Método
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de corpo através da estabilometria.
Ética e Pesquisa local, com o número de aprovação Para a realização das tarefas da Escala de Equilíbrio
325249/2010, em acordo com a Resolução 196/96 de Berg, foi realizado previamente o reconhecimento
do Conselho Nacional de Saúde. O tamanho tátil do local e do material utilizado nas tarefas, bem
amostral foi calculado para a escala de equilíbrio como a descrição verbal minuciosa a respeito das tarefas
de Berg, uma variável com padrões já estabelecidos a serem realizadas, até que a criança compreendesse. A
na literatura. Para tanto, consideramos as seguintes seguir, as crianças realizaram as tarefas propostas, sendo
estimativas obtidas com base bibliográficas: Desvio supervisionadas pelo examinador. A escolha sobre qual
Padrão = 3; Diferença a ser detectada: 3,0; Nível membro inferior ficaria em pé durante o teste ficaram
de significância: 5%; Poder do teste: 80%; Teste a critério da criança.
de hipótese: uni-caudal; Tamanho da amostra Para a realização do Teste de Alcance Funcional,
calculado: 22. Realizamos o cálculo do tamanho a criança era posicionada perpendicularmente à
da amostra por meio de análise on-line disponível parede, a 10 cm de distância da mesma, em posição
no site http://lee.dante.br/pesquisa/amostragem/ ortostática, com os pés paralelos e levemente
calculo_amostra.html. separados. O membro superior mais próximo da
Realizamos uma triagem entre os alunos do parede foi posicionado com o ombro flexionado a
Instituto José Álvares de Azevedo, o maior centro 90º, cotovelo estendido, punho em posição neutra
de atenção especializada aos deficientes visuais de e dedos flexionados. A seguir, a criança era instruída
Belém-PA, com o intuito de recrutar crianças que a inclinar-se anteriormente, o máximo possível, e
se enquadrassem nos critérios de inclusão. Segundo manter a posição por três segundos, sem retirar os
a coordenadoria do instituto, o total de 26 crianças calcanhares do chão, encostar ou apoiar-se na parede
com deficiência visual na faixa etária de 6 a 12 anos ou dar um passo. Uma fita métrica foi fixada à parede,
frequentavam a instituição. Dentre estas, incluímos paralela ao chão, na altura do acrômio de cada criança
na pesquisa, apenas as que possuíam atestado e o comprimento do braço da criança foi descontado.
médico de aptidão clínica para a prática de judô e O alcance máximo foi medido através da localização
cujos pais ou responsáveis legais consentiram com final da ponta do terceiro metacarpo em centímetros.
a participação no estudo. Excluímos do estudo crianças Cada criança realizou três tentativas. A média dos três
que haviam tido experiência prévia com a prática do registros foi levada em consideração.
judô e que possuíam outras deficiências e/ou doenças Para a avaliação por meio da estabilometria, utilizamos
que pudessem interferir no controle do equilíbrio. um Baropodômetro eletrônico, composto por uma
Após triagem dos alunos, obtivemos um total de plataforma acoplada a um sistema computadorizado
10 crianças e, então, iniciou-se a coleta de dados. e a sensores eletrônicos capazes de reconhecer as
Uma criança foi excluída após o início da coleta informações de apoio plantar. Realizamos a análise
por não haver realizado os testes finais. Realizamos da oscilação do centro de pressão através da avaliação
avaliações do equilíbrio antes e após a realização do estabilométrica bipodálica estática. O examinador
protocolo de treinamento, utilizando a Escala de pediu que a criança se posicionasse em apoio bipodálico
Equilíbrio de Berg, o Teste de Alcance Funcional sobre a plataforma, com braços no prolongamento do
Anterior; e a avaliação das oscilações dos pés e do corpo e cabeça posicionada de forma a deixar os olhos

188 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194
O judô adaptado como ferramenta para a reabilitação

voltados para frente e a instruiu a permanecer imóvel ensinamento da forma de cair (amortecimento de
por 20 segundos para análise do equilíbrio estático. Os quedas) em todas as direções (anterior, posterior,
valores das oscilações do pé direito, pé esquerdo e do laterais e rolando sobre o ombro) e partindo de
corpo foram analisados. 4 níveis de dificuldade, dentro de uma evolução
O examinador dos três testes diferiu dos monitores pedagógica (deitado, sentado, de cócoras e em pé).
e professores que supervisionaram os treinamentos e, Na parte principal do treinamento, foi realizado
nenhum destes, possuía relação direta com os autores o treino da maneira correta de pegar no adversário e
do estudo. Após as avaliações, foi colocado em prática de deslocar-se; treino de sombra (sem o oponente);
o protocolo de treinamento do desporto judô. repetição estática e dinâmica das técnicas básicas (sem
resistência do oponente); e treino de desequilíbrio.
Protocolo de treinamento do desporto Também nesta parte do protocolo, realizou-se treino
Judô alternado efetuando a projeção do oponente ao solo,
sem resistência do mesmo e o treinamento alternado
Não há na literatura nenhum protocolo de de ataques tentando projetar o oponente, quando
treinamento de judô específico para praticantes este só poderia defender-se, totalizando entre 30 e
iniciantes com deficiência visual. Neste contexto, 35 minutos.
elaboramos um protocolo, buscando adequar-se às As técnicas enfatizadas neste protocolo foram
necessidades desses indivíduos. O protocolo baseou- somente as 3 das mais básicas indicadas por Mendes9
se em uma aula básica de judô para principiantes e para o treinamento de crianças principiantes
fundamentou-se nos princípios metodológicos do (O-soto-gari, O-uchi-gari, De-ashi-harai), por serem
ensino do judô para crianças, encontrados na literatura. menos complexas e de fácil aprendizado.
Antes do início do protocolo de treinamento, O período de volta à calma durou aproximadamente
houve uma aula de “ambientação”, em que as crianças 12 minutos. Nele, os voluntários realizaram
realizaram o reconhecimento tátil do ambiente, deslocamento, com uso da pegada no adversário,
vestimenta, dentre outros, e foram esclarecidas sem fazer qualquer resistência e alongamento global.
quaisquer dúvidas acerca dos implementos e Todos os treinos tiveram a supervisão e orientação
materiais utilizados. Os treinamentos foram de 2 professores e 5 monitores desta modalidade.
realizados em dias intercalados, totalizando 30 aulas. Cada atividade teve tempo cronometrado para sua
Os treinamentos tiveram duração entre 64 e realização e para os intervalos de descanso entre elas.
83 minutos e foram divididos em 4 momentos:
aquecimento geral, aquecimento específico, parte Método estatístico
principal e volta à calma.
O aquecimento geral teve duração aproximada de Para análise estatística, foi previamente fixado o
5 minutos, sendo constituído de corrida lenta, saltos nível alfa = 0.05 para rejeição da hipótese nula. O
no mesmo lugar e nas direções antero-posterior e processamento dos testes de hipótese foi realizado pelo
médio-lateral e polichinelo. software SPSS 17.0, sendo utilizado o teste de Shapiro-
O aquecimento específico durou entre 20 e Wilk (para verificação da normalidade) e os testes de
30min e foi composto de atividades de puxar e Wilcoxon e t de Student para amostras pareadas para
empurrar, segurando o parceiro pela vestimenta; e comparação entre os grupos.

Resultados
Caracterização da amostra

A amostra do estudo foi formada por 9 sexo feminino, correspondendo a 44.4%. Destas,
crianças com deficiência visual, com idade entre 7 apresentavam cegueira congênita e 2 deficiência
6 e 12 anos. Das 9 crianças, 5 eram do sexo visual. As características gerais da amostra estão
masculino, correspondendo a 55.6% e 4 eram do expressas na TABELA 1.

Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194 • 189
Pinto ACPN, et al.

TABELA 1 - Características gerais da amostra.

Mínimo - Máximo Média Desvio Padrão

Idade (em anos) 6 – 12 8,4 ± 2,1


Peso (em quilogramas) 19,6 – 41,3 29,1 ± 7,8
Altura (em metros) 1,11 – 1,51 1,27 ± 0,13
IMC 15,16 – 21,59 18,01 ± 1,95

A avaliação do equilíbrio das crianças com crianças com deficiência visual por meio da
deficiência visual foi realizada por meio da Estabilometria. Para tanto, analisamos as
Escala de Equilíbrio de Berg, do Teste de Alcance oscilações do pé esquerdo (FIGURA 1C), do pé
Funcional Anterior e da Estabilometria dos pés direito e do corpo. Para comparação estatística
direito e esquerdo e do corpo (FIGURA 1). entre os valores das oscilações do pé esquerdo,
A avaliação por meio da Escala de Berg foi utilizamos o teste t de Student para amostras
realizada pelo teste de Wilcoxon para amostras pareadas e registramos diferença estatisticamente
pareadas (FIGURA 1A). Registramos diferença significante (p-valor= 0,031*) entre as avaliações
estatisticamente significativa (p-valor = 0,0069*) anteriores (0,9±0,6cm) e posteriores (0,4±0,2cm)
entre as avaliações realizadas antes (42,2+8,7) e ao treinamento. Para as oscilações do pé direito,
a realizada depois (54,1+2,4) do protocolo de realizamos o teste de Wilcoxon para amostras
treinamento. pareadas (FIGURA 1D). Também registramos
Para análise do Teste de Alcance Funcional diferença estatisticamente significante (p-valor
Anterior utilizamos o teste t de Student para = 0,038*) entre as avaliações antes (1,5+1,5cm)
amostras pareadas (FIGURA 1B), no qual e depois (0,8+0,6cm). Igualmente, o teste t
também registramos diferença estatisticamente de Student para amostras pareadas (FIGURA
significativa (p-valor <0,0001*) entre as 1E), identificou que as oscilações do corpo
avaliações realizadas antes (11,6±6,5cm) e depois demonstraram redução significativa (p-valor=
(25,6±7,6cm) do treinamento. 0,015*) entre as avaliações antes (2.8±1.1 cm) e
Realizamos a avaliação do equilíbrio das depois (1.6±0.7 cm) do treinamento.

190 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194
O judô adaptado como ferramenta para a reabilitação

FIGURA 1 - Análise da avaliação do equilíbrio das crianças com deficiência visual pela Escala de Equilíbrio de Berg,
pelo Teste de Alcance Funcional Anterior e pela Estabilometria dos pés direito e esquerdo e do corpo.

Discussão
Os resultados de nosso estudo indicam que a prática equilíbrio, propriocepção e coordenação motora. O
do judô é um método eficiente para o desenvolvimento protocolo continha exercícios como: saltos, caminhada
do equilíbrio de crianças com deficiência visual. Este é o em superfície instável, caminhada nas pontas dos pés
primeiro estudo a identificar um potencial terapêutico e calcanhares. Um dos testes específicos utilizados para
de um protocolo de treinamento através da motricidade avaliação do equilíbrio foi a Escala de Berg, no qual as
do judô, objetivando a melhora do equilíbrio de crianças apresentaram inicialmente pontuação média
crianças com deficiência visual. de 36 pontos e, após o tratamento, obtiveram uma
Não encontramos na literatura estudos com média de 44 pontos. Em nosso estudo, as médias foram
intervenções em crianças com deficiência visual que de 42,2 e 54,1 pontos, antes e depois do treinamento,
visassem melhorar o equilíbrio corporal e que tivessem respectivamente. No entanto, em nosso estudo, além de
amostra passível de comparações adequadas com a do a idade das crianças diferirem (6-12 anos), as crianças
presente estudo. foram submetidas a 30 dias de treinamento, os quais
Em nosso estudo, as crianças apresentaram melhora foram realizados durante o período de 2 meses. Lopes,
nos escores da Escala de Berg com o treinamento de Kitadai e Okai10 aplicaram seu protocolo por 20 meses,
judô. Lopes, Kitadai e Okai10, realizaram um estudo com uma sessão de fisioterapia por semana, totalizando
com 12 crianças com deficiência visual, porém com 80 dias de treinamento.
idade entre 1 e 15 anos e as submeteram a um protocolo Assim, o presente estudo apresentou resultados
de tratamento fisioterapêutico, visando treinar marcha, positivos em menor tempo. Isto se deve, talvez, aos

Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194 • 191
Pinto ACPN, et al.

constantes estímulos labirínticos, desequilíbrios, Matos et al.5, analisando as oscilações corporais em


balanços, rotações e estímulos de contato, comumente testes estabilométricos em crianças com deficiência
utilizados na prática do judô. Paralelamente, embora visual com idade entre 8 e 11 anos verificaram que estas
não tenhamos quantificado uma possível redução possuem déficit no controle do equilíbrio. Este resultado
do medo de cair, acreditamos que isto possa ter está em consonância com outros estudos que avaliaram
influenciado os resultados deste estudo. Isto porque, o o equilíbrio de crianças com deficiência visual por meio
objetivo principal no combate de judô é desequilibrar de outros testes de avaliação do equilíbrio, justificando,
o oponente, fazendo-o cair. Desta forma, durante o portanto, a necessidade de intervenção nessa população,
treino de judô, judocas estão constantemente sujeitos com o intuito de reduzir as repercussões que a falta de
aos movimentos imprevisíveis de seu adversário, estímulos visuais desencadeia no controle do equilíbrio.
que tenta desestabilizá-lo. Assim, além de possuir Apesar de nosso estudo não apresentar um grupo
conhecimento de amortecimento de queda, é controle e possuir um número relativamente pequeno
provável que, com o treinamento, o judoca adquira de participantes, devido à grande dificuldade em
uma boa capacidade de equilíbrio11. selecionar um número significativo de participantes que
Sobre este assunto, Jankowicz-Szymanska, se enquadrassem nos critérios de inclusão, a hipótese
Mikolajczyk e Wardzala12, demonstraram que de que o judô pode ser utilizado como estratégia para
judocas de 9 a 13 anos de idade têm melhor equilíbrio melhorar o equilíbrio pôde ser confirmada. Além desses
estático do que seus pares não-judocas. Ainda, Perrin fatores, a grande diferença entre as idade dos voluntários
et al.11, identificaram que judocas apresentam melhor deste estudo e, consequentemente, a discrepância
controle postural do que bailarinas, com menor quanto ao desenvolvimento motor das crianças, devem
oscilação do centro de gravidade, independentemente ser considerados para estudos futuros.
da ausência da informação visual ou da perturbação Os resultados do presente estudo poderão colaborar
da propriocepção. Concluíram, assim, que o Judô tem para embasar recomendações futuras e para o possível
baixa dependência de aferências visuais. A sensibilidade estabelecimento de protocolos de tratamento através da
transmitida pela forma de segurar o judogui (percepção motricidade do judô especificamente a estes indivíduos.
tátil-cinestésica) é suficiente na luta do judô (percepção A melhora do controle do equilíbrio em crianças com
tátil-cinestésica) é suficiente na luta do judô, havendo deficiência visual, proporcionada através do protocolo
maior facilidade em usar informações proprioceptivas utilizado neste estudo, deve favorecer a aquisição
e somestésicas11. Em consonância, embora a IBSA de habilidades motoras e influenciar positivamente
(International Blind Sports Federation) divida os na mobilidade destas crianças. Em consequência, a
deficientes visuais em três classes que vão de atletas que consequente redução do risco de quedas e lesões, pode
têm alguma acuidade visual aos com cegueira total nas contribuir para a independência funcional e auxiliar
competições esportivas, no judô todos disputam juntos, na promoção de autonomia social, melhorando a
sendo separados apenas por categorias de peso8. qualidade de vida.

192 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194
O judô adaptado como ferramenta para a reabilitação

Abstract
Adapted Judo as a tool for balance rehabilitation of children with visual impairment

Children with visual impairment can present delay in the development of balance. Judo is an adapted
sport to the visually impaired, but little is known about its effects on children with visual impairment.
The aim of this study was to ensure if judo can improve the balance o visually impaired children. In this
study, nine visually impaired children, aged between 6 and 12 years, who had never practiced judo, par-
ticipated in a training protocol of this sport for 8 weeks. To assess balance, we applied the Berg Balance
Scale (BBS), the Functional Reach Test (FRT) and Stabilometry, analyzing the oscillations of the left and
right feet and of the body. To reject null hypothesis was previously set level alpha = 0,05. We registered
statistically significant difference for BBS (p-value = 0,0069*) between assessments before (42,2±8,7)
and after (54,1±2,4) training. We also found differences between the previous values (11,6±6,5cm)
and rear (25,6±7,6cm) to training for the FRT (p-value <0,0001)., for the oscillations of the left foot
(0,9±0,6cm – 0,4±0,2cm) (p-value = 0,031), right foot (1,5±1,5 – 0,8±0,6) (p-value = 0,038) and body
(2,8±1,1cm – 1,6±0,7cm) (p-value = 0,015). Judo can be an important tool in the strategy of balance
rehabilitation of children with visual impairment.

KEYWORDS: Visually impaired persons; Postural balance; Martial arts; Sports.

Referências
1. Pascolini D, Mariotti, SP. Global estimates of visual impairment: 2010. Br J Ophthalmol. 2012;96(5):614-618.
2. Almeida TS, Araújo FV. Diferenças experienciais entre pessoas com cegueira congênita e adquirida: uma breve apreciação.
Rev Interfaces Saúde Hum Tecnol. 2013;1(3).
3. França-Freitas MLP, Gil MSC. O desenvolvimento de crianças cegas e de crianças videntes. Rev Bras Educ Espec.
2012;18(3).
4. Maggi AB, Souza VR, Sinésio T, Machado DS, Vieira MM. A influência da visão no equilíbrio de crianças deficientes
visuais congênitas e com visão normal. EFDeportes Rev Digital. 2011;154.
5. Matos MR, Matos CPG, Oliveira CS. Equilíbrio estático da criança com baixa visão por meio de parâmetros
estabilométricos. Fisioter Mov. 2010;23(3):361-9.
6. Mesquita LS, Carvalho FT, Freire LS, Pinto Neto O, Zângaro RA. Effects of two exercise protocols on postural balance
of elderly women: a randomized controlled trial. BMC Geriatrics. 2015;15(61).
7. Vieira AAU, Aprile MR, Paulino CA. Exercício físico, envelhecimento e quedas em idosos: revisão narrativa. Rev
Equilíbrio Corp Saúde. 2014;6(1),23-31.
8. International Blind Sports Federation. Judô: General Information. Disponível em: http://www.ibsasport.org. Acesso
em: 10 nov 2016.
9. Mendes MM. Lutas e Artes Marciais. Licenciatura em Educação Física a Distância. Belo Horizonte: Universidade
FUMEC, 2009.
10. Lopes MCB, Kitadai SPS, Okai LA. Avaliação e tratamento fisioterapêutico das alterações motoras presentes em crianças
deficientes visuais. Rev Bras Oftalmol. 2004;63(3):155-161.
11. Perrin P, Deviterme D, Hegel F, Perrot C. Judô, better than dance, develops sensoriomotor adaptabilities involved in
balance control. Gait Posture. 2002;15:187-194.
12. Jankowicz-Szymanska A, Mikolajczyk E, Wardzala R. Arch of the foot and postural balance in young judokas and
peers. J Pediatric Orthopaedics B. 2015;24:456-460.

Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194 • 193
Pinto ACPN, et al.

ENDEREÇO

Ana Carolina Pereira Nunes Pinto


Rod. Juscelino Kubitschek, KM 2 Submetido: 18/08/2016
Jardim Marco Zero Revisado: 23/11/2016
68.903-419 - Macapá - AP - Brasil Aceito: 25/11/2018
E-mail: anacarolinapnp@hotmail.com

194 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2021 Abr-Jun;35(2):187-194

Você também pode gostar