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Resumo
* “Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú - MG
Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010”
Doutora e Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (responsável pelo desenvolvimento da
pesquisa Megacidades e Mudanças Climáticas).
Professor Doutor do Núcleo de Estudos de População (coordenador da Rede-Clima Cidades do INCT-
MCT).
Introdução
1
O quarto relatório (AR4) do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) fornece uma síntese das questões que
envolvem principalmente os processos de tomada de decisão, ou seja, a confirmação de que as mudanças climáticas estão
ocorrendo, ilustrando os impactos do aquecimento global atual e o que se espera em termos futuros.
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IBGE (Instituto Brasileiro de geografia e estatística) - dados do censo de 2000
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Os 39 municípios componentes da RMSP são: Arujá, Barueri, Biritiba Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema,
Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Itapecerica da Serra,
Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão
Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do
Sul, São Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.
proximidades agindo como polarizadores num processo espacial economicamente
vinculado a atividades secundárias e terciárias;
c) urbanização extensa: ligada a um processo de expansão urbana e
diferenciação social com a proliferação de “condomínios” (núcleos residenciais
fechados de alto padrão) distantes do centro. Outra dimensão desse crescimento é a
concentração populacional de baixa renda em assentamentos desconformes. Na maioria
dos casos ocupam áreas impróprias clandestinamente, permanecendo em condições
precárias e afastadas do núcleo central.
A configuração espacial da RMSP teve como um dos principais fatores
determinantes o sistema viário e de transportes. Este sistema sempre esteve muito
atrelado à instalação e implantação da atividade industrial. As plantas industriais da
década de 1950, notadamente as automobilísticas, se instalaram às margens das
rodovias. Antigas fábricas, situadas nos eixos ferroviários ou nas regiões centrais da
cidade de São Paulo foram paulatinamente transferidas para novas áreas industriais
acompanhadas de infraestrutura viária (RODRIGUES, 2004).
A implantação de grandes indústrias no ABC e o elevado crescimento
populacional de seus municípios alteraram a dinâmica urbana da região, de modo que o
acesso e a comunicação com a capital se tornaram essenciais para o desenvolvimento
das atividades econômicas (FRANCISCONI, 2004).
Em 1950, o município de São Paulo atingiu uma taxa de urbanização de 88%. A
partir daí seu crescimento extravasou para os municípios vizinhos, que passaram a
crescer em ritmo acelerado, dando início ao processo de periferização da população em
direção a localidades cada vez mais distantes da capital (SEABRA, 2004).
Entre 1950 e 1970, Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra, municípios
situados no eixo da Rodovia BR-116 em direção ao sul do país tiveram crescimento
populacional acentuado; o mesmo ocorreu com Diadema e São Bernardo, no eixo da
Rodovia Anchieta; Guarulhos e Arujá, na Rodovia Presidente Dutra, na direção do Rio
de Janeiro.
No decorrer dos anos 1980, o ritmo de crescimento populacional na RMSP
reduziu-se à metade do verificado na década anterior. O desaquecimento da economia
no período, a redução na taxa de fecundidade, as políticas estaduais de descentralização
do desenvolvimento industrial e a busca por redução de custos por parte das empresas
explicam essa diminuição. A população do território metropolitano dispersou-se. O
ritmo de crescimento populacional da capital diminuiu, alcançando 1,68% ao ano no
período de 1991 a 2000, e 1,33%, entre 2000 e 2007.
Em grande parte dos municípios metropolitanos periféricos (ou do entorno)
ocorreu o inverso, com taxas anuais particularmente expressivas no período 2000/2007:
Santana de Parnaíba (5,63%), Vargem Grande Paulista (5,87%), Itaquaquecetuba,
(4,39%) e Barueri (4,01%).
Os municípios situados ao norte da RMSP também apresentaram elevadas taxas
anuais de crescimento populacional no período 2000/2007, bem superiores à média da
RMSP: 4,82% em Caieiras; 3,76% em Mairiporã; 3,66% em Cajamar; 3,80% em
Francisco Morato; e 2,28% em Franco da Rocha.
Da mesma forma, a leste da RMSP a região polarizada por Guarulhos teve alto
crescimento populacional. A instalação do Aeroporto Internacional de Cumbica em
Guarulhos (na década de 1980) provocou transformações significativas em seu quadro
urbano e arredores, com a chegada de grandes investimentos nos setores de transportes
aéreos, hoteleiros e imobiliários. Em 2008, este município era o segundo mais populoso
do Estado, com 1.298.394 habitantes.
São Caetano do Sul apresentou uma taxa negativa de -0,34%, entre 2000 e 2007.
Este movimento indica que espaços regionais consolidados e mais antigos, como o
município de São Paulo e alguns do ABC paulista, estão em processo de desaceleração
do ritmo de crescimento populacional.
A Tabela 1 mostra a taxa de crescimento populacional em declínio na metrópole
de São Paulo. Estes dados refletem a redução do incremento demográfico na Região
Metropolitana de São Paulo, bem como das taxas que trazem dados do Estado como um
todo. Observa-se que na década de 70 houve um crescimento populacional na RMSP de
4,38%, passando para 1,68%, nos anos 90 e 1,33% em 2007.
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No final da década de 1980 a região metropolitana começou a assistir os reflexos de um processo de
desconcentração das atividades industriais e, consequentemente, da população – à reestruturação das atividades
econômicas, a necessidade de inserção do país no contexto da globalização e o crescimento das atividades terciárias.
São Paulo passou a ser conhecida como a “metrópole dos serviços”, em virtude do papel desempenhado por essas
atividades.
o que faz com que 52% de todo o pessoal ocupado na atividade comercial do Estado
esteja na RMSP.
Mas é nos serviços prestados às empresas que se pode verificar a importância da
integração entre os diversos setores da economia metropolitana. Esse segmento reúne as
empresas que prestam serviços auxiliares (como limpeza, vigilância, telemarketing) e
serviços técnicos profissionais (como assessoria jurídica, engenharia e arquitetura,
propaganda e publicidade). Estas empresas estão, em geral, vinculadas à atividade
industrial. Esses serviços representam 18,5% de todos os vínculos empregatícios da
RMSP, mas respondem por 74% dos vínculos desse segmento no total do Estado,
mostrando a complexidade dessa atividade na metrópole (OLIVEIRA, 2004).
Ainda no setor de serviços, a RMSP concentra as atividades de gestão de
importantes complexos industriais, comerciais e financeiros, mercado financeiro e de
capitais, informática, telemática, entre outras, o que atrai grandes grupos empresariais,
que optam pela maior contiguidade espacial das atividades de comando, produção, P&D
e outros serviços altamente especializados.
O município de São Paulo, em especial, oferece todos os serviços modernos
requeridos para o funcionamento das empresas e típicos de uma metrópole
contemporânea: serviços de turismo de negócios; eventos culturais e de lazer;
sofisticada rede de apoio na área financeira; comércio variado e sofisticado; ampla e
diversificada rede de suporte à concepção, comercialização, promoção e distribuição de
produtos; agências de propaganda; empresas internacionais de tecnologia de
informação; consultorias econômico-financeiras em gestão de negócios, direito,
contabilidade, além das mais variadas atividades profissionais especializadas.
Embora o setor de serviços e uma parte significativa decorrente da integração
com a indústria abarquem a maior parcela do valor adicionado e dos postos de trabalho,
a RMSP mantém elevada participação na produção industrial do Estado (é também a
maior produção industrial do país) e concentra os setores de produção de bens com alto
valor agregado e conteúdo tecnológico. A disponibilidade de recursos para pesquisa,
mão de obra especializada, uma rede universitária avançada, a dimensão de seu mercado
e a extensa rede de comunicações entre as empresas, acabam atraindo para a região de
São Paulo outros segmentos da indústria de alta tecnologia, especialmente ligados à
microeletrônica e à informática (CARLOS, 2004).
Os municípios que compõem o ABC paulista são economicamente dinâmicos e
de grande porte, com exceção de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, cuja totalidade
do território é área de proteção aos mananciais, dificultando a ocupação e o
aproveitamento econômico. A estrutura da indústria da região do ABC tem expressiva
presença do setor de bens de capital. Sua principal divisão industrial é a produção
automobilística e de autopeças. O setor de serviços é bastante variado, incluindo
instituições financeiras, escolas e faculdades, hospitais e clínicas, empresas de
transporte, de construção civil e imobiliárias, além de todos os serviços de apoio às
indústrias, com alta especialização de recursos humanos nas áreas técnicas e
tecnológicas (ROLNIK,2002).
A porção leste da RMSP encontra-se localizada ao longo das Rodovias Dutra,
Fernão Dias e Ayrton Senna. Essa região constitui o maior entroncamento ferroviário da
RMSP, o que possibilita a integração com o Porto de Santos e a região do ABC paulista.
Na infraestrutura regional, tem destaque o Aeroporto Internacional de Guarulhos, o
maior da região metropolitana, cuja presença tem marcado profundamente a atividade
econômica da região, devido aos grandes investimentos ligados aos setores de
transporte aéreo, logística, hoteleiro e imobiliário.
A atividade produtiva nessa porção do território distribui-se de forma não
homogênea, havendo grande concentração em alguns municípios e ausência de
atividades econômicas dinâmicas em outros. Guarulhos, por exemplo, constitui um polo
funcional de grande porte que concentra parte expressiva dos investimentos da região
leste (CARLOS, 2004).
A porção oeste da RMSP apresenta importantes disparidades urbanas, com
luxuosos condomínios residenciais e loteamentos empresarias, comerciais e de serviços
dotados de infraestrutura completa em saneamento básico e áreas de lazer, contrapondo-
se às áreas localizadas fora dos condomínios, que possuem múltiplas carências.
Nestas áreas, observam-se alta concentração populacional, praticamente
inexistência de atividades econômicas dinâmicas e precariedades quanto a saneamento
básico, transporte, habitação, educação e saúde. O município de Osasco é o maior desse
território, com mais de 650 mil habitantes, possuindo importantes indústrias e grandes
empresas dos setores de comércio (atacadista e varejista) e de serviços.
As maiores concentrações industriais encontram-se em Barueri e Osasco. O setor
terciário apresenta comércio e atividades de serviços diversos, com destaque para as
empresas de distribuição e logística, especialmente em Barueri (CARLOS, 2004).
O turismo é uma atividade bastante relevante em alguns municípios: Santana de
Parnaíba possui importante patrimônio cultural e histórico; Pirapora do Bom Jesus,
turismo religioso; Cotia e Vargem Grande Paulista, ecoturismo; Cotia, produção de
flores e frutas (turismo sazonal).
A porção norte da RMSP foi inicialmente estruturada ao longo do antigo eixo
Campinas-São Paulo, a estrada Anhanguera. Alguns municípios possuem alta densidade
populacional como Francisco Morato5 e demandam políticas de desenvolvimento
abrangentes, com ampliação dos serviços, tanto na área de infraestrutura como na
social, incluindo programas de geração de emprego e renda (SEABRA, 2004).
No setor terciário, podem ser destacadas as atividades imobiliárias, em
Mairiporã, e atividades turísticas, com potencial de desenvolvimento nas áreas de
reservas florestais, rios, parques e barragens da região. Em 1992, a área da Serra da
Cantareira, onde se localiza o Reservatório Paulo de Paiva Castro, foi reconhecida como
Patrimônio da Humanidade pela Unesco, o que tornou ainda mais relevantes as políticas
ambientais de proteção aos mananciais e a construção de infraestrutura de saneamento
básico. Em Franco da Rocha e Caieiras, encontra-se o Parque Estadual de Juquery, que
ainda conta com áreas remanescentes de cerrado.
As invasões e a ocupação sem controle de terrenos protegidos pela Lei de
Proteção aos Mananciais representam um dos mais graves problemas da região,
paralelamente, à falta de infraestrutura de saneamento básico, principalmente em
Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato (ROSS, 2004).
A porção sudoeste da RMSP localiza-se basicamente ao longo da Rodovia Régis
Bittencourt. É uma região com alto crescimento populacional, mas sua atividade
econômica é fraca. Muitos municípios como Taboão da Serra e Juquitiba apresentam
concentração econômica modesta e ambiente empobrecido, com baixa oferta de
equipamentos urbanos, lazer e cultura (SEABRA, 2004).
A atividade industrial é relativamente reduzida e, em grande parte, concentrada
no início da Rodovia Régis Bittencourt. No setor terciário concentram-se algumas
atividades de serviços e comércio local.
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A população estimada em 2009 era de 157.294 habitantes e a área é de 49,2 km², o que resulta numa densidade demográfica de
3.197,03 hab/km².
Um aspecto extremamente relevante é o fato de que na Região Metropolitana de
São Paulo não se constata a existência de uma Agência Metropolitana ou órgão
específico capaz de fornecer subsídios para cooperação intermunicipal através de ações
e instrumentos de gestão integrada.
Entretanto, é preciso destacar a existência da Agência de Desenvolvimento
Econômico do Grande ABC, que tem por objetivo implementar políticas integradas na
região. Apesar disso, existem grandes dificuldades para a cooperação interinstitucional
tanto em razão das desigualdades sociais existentes quanto pela ausência de políticas e
instrumentos institucionais que incentivem e impulsionem a cooperação entre os
municípios paulistas (ROLNIK, 2002).
A Região Metropolitana de São Paulo apresenta sérios problemas relativos à
desigualdade social, política e econômica. A precariedade das condições de moradia da
população metropolitana reúne um conjunto de características estreitamente
relacionadas entre si: falta de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e
pavimentação das ruas, ilegalidade das ocupações, insalubridade de diversas moradias,
entre outras. Essas características encontram-se concentradas nas áreas mais populares,
periferias e favelas.
Fonte: Processado por Young, et.al. (2010) com base nos dados fornecidos pela Emplasa, CEM e IPT.
Ao longo dos anos, a cobertura vegetal foi dando lugar a uma extensa malha
urbana, implantada de forma caótica ocupando áreas de fundos de vale dos principais
cursos d’ água, como o próprio rio Tietê, o Tamanduateí, Pinheiros e, mais
recentemente de diversos tributários menores, como Aricanduva, Cabuçu de Cima e de
Baixo, Pirajuçara e outros (RIBEIRO, 2004).
Para agravar ainda mais as condições ambientais da bacia, muitos desses cursos
d’água passaram a servir como meio de diluição de águas servidas domésticas e
industriais. Este fato, aliado a uma disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos,
tem trazido consequências graves durante os eventos de cheia (ROSS, 2004).
Segundo DAEE7, o trecho do rio Tietê que atravessa a cidade de São Paulo,
sofreu alterações em suas condições de escoamento. Em sua condição natural, o rio e
seus tributários importantes, como o Tamanduateí e o Pinheiros, apresentavam
morfologia caracterizada por meandros, o que indicava as baixíssimas declividades de
seus talvegues e, portanto dificuldade para o escoamento das ondas de cheia, criando
grandes zonas de inundação, chamados leitos maiores.
No mapeamento a seguir (Figura 3) verifica-se a extensão da malha urbana
consolidada (área impermeabilizada da RMSP). Através de técnicas de sensoriamento
remoto foram mapeados e comparados os anos de 2001 e 2008, utilizando-se imagens
de satélite Landsat ETM+ (órbita ponto 219-076). As áreas em azul escuro se referem à
expansão da mancha urbana em 2008.
Fonte: Processado por Young, et.al. (2010) com base em imagens de satélite Landsat ETM+ 2001/2008
A região onde estas alterações se fazem sentir mais intensamente, com notável
índice de ocupação urbana, superior a 80%, corresponde ao trecho da bacia do rio Tietê
entre as barragens da Penha e Edgard de Souza. O processo de urbanização, entretanto
já está desfigurando também o restante da bacia, avançando pelos tributários e
ocupando também suas vertentes e cabeceiras.
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Plano Diretor de Macrodrenagem da bacia do Alto Tietê (DAEE, 2009).
As áreas classificadas como desocupadas se referem à localização de parques,
áreas de proteção, áreas de mananciais, reservatórios, campos antrópicos e áreas
agrícolas/rurais. Tais áreas podem estar sujeitas a processos de ocupação no futuro em
virtude do mercado clandestino de terras8 ou mesmo de alterações nos planos diretores
dos municípios (transformação de áreas rurais em áreas urbanas).
Sucessivas retificações e canalizações foram realizadas para confinamento,
restrição e compartimentação dos cursos dos rios (Figura 4). Isso possibilitou que a
urbanização pudesse se aproximar ainda mais dos canais dos rios. Em outros termos, a
urbanização invadiu, através de construções lindeiras como as vias marginais e
edificações, o denominado leito maior do rio, espaço que deveria ter sido preservado
para as enchentes periódicas (DAEE, 2009).
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A incorporação dos loteamentos clandestinos em áreas legalmente protegidas possibilita uma valorização elevada da terra
favorecendo a atividade dos loteadores clandestinos. Em outras palavras, a terra é desvalorizada para os usos rurais determinados
pela lei sendo, portanto, vendida para o loteador a um preço baixo. Mas, quando o loteador parcela a terra, vendendo-a em lotes de
no máximo 125 m2, sem custos de implantação do loteamento, obtém elevado retorno econômico (Reydon, 2005). Basicamente,
nenhuma atividade produtiva rural pode concorrer, em termos de retorno, com a transformação de uso rural para uso urbano, como
bem evidenciou Faleiros (1983) e Gonçalves (2002). Nas terras rurais, os preços não incorporam a transformação para os usos
urbanos legais, permanecendo estas com preços formados com base nos preços de terras rurais e facilitando a transformação destas
para usos urbanos ilegais.
dos anos, diversos projetos hidráulicos. Apesar disso, os problemas se propagaram nas
bacias do Tamanduateí, Aricanduva, Ribeirão dos Meninos, Pirajussara, entre outros.
O rio Tamanduateí nasce no município de Mauá e drena grande parte da região
do ABC, corta a região central da cidade de São Paulo, e deságua no rio Tietê, em frente
ao Parque Anhembi, sendo o principal canal de drenagem de toda esta região
(ANDRADE, 2004).
A região central de São Paulo cortada pelo Tamanduateí abrange cerca de 3,5
milhões de pessoas, principalmente moradores dos seguintes bairros: Bom Retiro, Ponte
Grande, Ponte Pequena, Canindé, Luz, Brás, Glicério, Liberdade, Mooca, Cambuci,
Vila Monumento, Ipiranga, Parque da Mooca, Vila Independência, Quinta da Paineira,
Vila Prudente, Vila Zelina, Vila Alois, Vila Bela, Vila Carioca, B. da Fundação, Vila
Alpina, B. Santo Antonio, Vila California e Vila Prosperidade. Nesta região inclui-se a
Baixada do Glicério, a zona cerealista e a atual sede da Prefeitura de São Paulo.
O Tamanduateí funciona como uma grande galeria de águas pluviais, com
variações bruscas em seu nível d’água, devido às precipitações pluviométricas que
ocorrem com maior incidência no período de outubro a março (ANDRADE, 2004).
O rio Aricanduva, afluente da margem esquerda do rio Tietê, tem sua bacia
localizada no setor leste - sudeste da cidade de São Paulo; com uma área de drenagem
de cerca de 100 km2, tem suas nascentes próximas da cidade de Mauá, adjacentes ao
divisor norte das cabeceiras do rio Tamanduateí.
A área da bacia do rio Aricanduva pertence integralmente ao município de São
Paulo, compreendendo total ou parcialmente os Distritos de Penha, Tatuapé, Carrão,
Vila Matilde, Aricanduva, Vila Formosa, Cidade Líder, Parque do Carmo, José
Bonifácio, Sapopemba, São Mateus, Iguatemi, São Rafael, totalizando uma população
de 1.439.858 habitantes.
A bacia apresenta uma densidade demográfica de 114,4 hab./ha, constituindo
uma das maiores do município de São Paulo. A densidade demográfica elevada, explica
o alto grau de impermeabilização da bacia. Em geral, a atividade econômica observada
na bacia do Aricanduva está vinculada a atividade industrial de transformação com um
perfil populacional de baixa renda. Na bacia pode-se observar a existência de um total
de 661 estabelecimentos que oferecem 204.261 empregos.
As regiões mais populosas da bacia do Aricanduva, como São Mateus e
Itaquera, oferecem proporcionalmente menor número de empregos, caracterizando uma
situação em que as oportunidades de trabalho não são oferecidas onde há maior
demanda por postos de trabalho. O inverso ocorre na Mooca, onde a presença de
indústrias faz com que haja maior oferta de empregos do que população local. Isto
implica em numerosos deslocamentos e, consequentemente, impactos sobre o sistema
viário da bacia.
A bacia conta com infraestrutura viária e de transportes (metrô e linhas de
ônibus), sendo que o Anel Viário Metropolitano constitui um fator de incremento no
processo de ocupação.
Quanto ao destino do lixo domiciliar, segundo DAEE (2009) cerca de 6.000
domicílios lançam o lixo diretamente nos cursos d’água, contribuindo assim para sua
obstrução e assoreamento.
Observa-se que a quase totalidade dos cursos médio e inferior da bacia já estão
ocupados. A ocupação do território se propagar e os solos superficiais são desmatados
de forma descontrolada, expondo extensas áreas com horizontes de solos mais
desagregáveis e, portanto, suscetíveis a processos erosivos. Neste caso, sua ocupação
resultará num inevitável incremento das taxas de assoreamento dos leitos dos rios,
influenciando até o leito do próprio rio Tietê.
Isso em geral ocorre porque os detritos sólidos liberados são carreados pelas
enxurradas e captados pela rede hidrográfica e, por força da elevada energia de
transporte atuante, carreados para os trechos de menores declividades do leito onde são
depositados. Estes locais situam-se, em geral, no rio Tietê, com declividades
acentuadamente mais baixas.
Tendo em vista tais evidências e com o aumento de eventos com precipitações
cada vez mais intensas, os reservatórios de detenção sofrerão sérios danos se não forem
projetados com dispositivos que dificultem a entrada dos sedimentos de fundo e do lixo.