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34 - A Origem, Natureza, Propriedade e Uso Da Lei
34 - A Origem, Natureza, Propriedade e Uso Da Lei
John Wesley
1. Talvez, existam poucos assuntos, nos quais toda a extensão da religião seja
tão pouco entendida como este. Usualmente, se diz ao leitor desta Epístola, que,
através da lei, Paulo quer dizer, a Lei Judaica; e, assim, entendendo que ele mesmo
não tem interesse nela, seguindo em frente, sem maiores preocupações a seu respeito.
De fato, alguns não estão satisfeitos com este relato; mas observando a Epistola, que é
dirigida aos romanos, inferimos que o Apóstolo, no início desse capítulo, alude à Lei
romana antiga. Mas como eles não têm mais preocupação com esta, do que com a lei
cerimonial de Moisés, então, eles não gastam muito tempo, no que eles supõem seja
ocasionalmente mencionado, meramente para ilustrar uma outra coisa.
E isto nós podemos fazer agora; não obstante, antes não pudéssemos, 'uma vez
que estávamos na carne' – debaixo do poder da carne; ou seja, da natureza
corruptível, o que foi necessariamente o caso; até que soubéssemos do poder da
ressurreição de Cristo, 'os movimentos dos pecados, que eram, através da lei', -- que
foi mostrada e afirmada pela Lei Mosaica, não subjugada, 'operavam em nossos
membros', -- expandindo-se em caminhos diversos, 'para produzirem os frutos da
morte'. 'Mas nós agora estamos livres da lei';de toda aquela organização moral, assim
como cerimonial; 'para que estando mortos, no que, estivemos presos';-- aquela
instituição inteira, estando agora, assim como foi, morta, e tendo não mais autoridade
sobre nós, do que o marido, morto, tem sobre sua esposa: 'Possamos servir a Ele', --
que morreu por nós, e ressuscitou, 'em novidade de espírito'; -- em um novo desígnio
espiritual; 'e não na velhice da letra'; com um serviço exterior simples, de acordo com
a letra da Instituição Mosaica.
(Romanos 7:1-6) 'Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei),
que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher
que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o
marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada
adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não
será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos
para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou
dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Porque, quando estávamos na
carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para
darem fruto para a morte. Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido
para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e
não na velhice da letra'.
3. O Apóstolo, tendo ido, assim, tão longe, para provar que o Cristão tem de
colocar de lado a dispensação Judaica, e aquela da própria lei moral, embora ela
nunca venha a passar, mas ainda permaneça, em um alicerce diferente do que fora
antes, -- agora faz uma pausa, para propor uma resposta a uma objeção: 'O que
devemos dizer, então? É a lei um pecado?'. Isto, alguns podem inferir da
incompreensão daquelas palavras, 'os movimentos dos pecados que eram pela lei'.
'Deus proíbe!', diz o Apóstolo, que possamos pensar dessa forma. Mais ainda: a lei é
um inimigo irreconciliável para o pecado; através da lei: 'porque eu não saberia que a
luxúria', o desejo pecaminoso seria pecado, 'exceto, se a lei dissesse: Não cobiçarás'.
(Romanos 7:7).
(Depois de declarar isto, mais além, nos quatro versos que se seguem, ele
anexa essa conclusão geral, com respeito, mais especificamente, à lei moral, modelo
do qual o exemplo precedente foi tomado: 'E assim a lei é santa, e o mandamento
santo, justo e bom'. Romanos 7:12)
I
1. Eu devo, primeiro, me esforçar para mostrar a origem da lei moral,
freqüentemente chamada de 'a lei', pelo caminho da eminência. Agora, não é, como
muitos podem ter possivelmente imaginado, de uma instituição tão recente, como a do
tempo de Moisés. Noé a declarou aos homens, muito antes daquele tempo, e Enoque,
antes dele. Mas nós podemos traçar sua origem mais anterior ainda, até mesmo, mais
além da criação do mundo: para aquele período, desconhecido, realmente, para os
homens, mas, sem dúvida, registrado nos anais da eternidade, quando 'as estrelas da
manhã', primeiro, 'cantaram juntas', sendo, recentemente, chamadas à existência.
Agradou ao grande Criador fazer desses seus primogênitos, criaturas inteligentes, para
que eles pudessem conhecer a Ele que os criou. Para essa finalidade, Ele os dotou com
entendimento, para discernirem a verdade da falsidade; o bom do mau; e, como um
resultado necessário disto, com liberdade -- a capacidade de escolherem uma e
recusarem a outra. Através disto, eles foram, igualmente, habilitados a oferecerem a
Ele um serviço livre e de boa-vontade; um serviço digno de galardão em si mesmo,
assim como, mais aceitável para seu gracioso Mestre.
3. De igual maneira, quando Deus, em seu tempo determinado, criou uma nova
ordem de criaturas inteligentes; quando Ele criou o homem do pó da terra, e soprou
nele o fôlego da vida, e fez com que ele se tornasse uma alma vivente, dotada com
poder de escolher o bem ou o mal; Ele deu para essa criatura livre, inteligente, a
mesma lei, que para Seus primogênitos, -- não escrita, de fato, sobre tábuas de pedras,
ou alguma substância corruptível, mas estampada no coração, através do dedo de
Deus; escrita no mais íntimo do espírito, ambos de homens e de anjos; com o
propósito de que ela nunca estivesse a grande distância; nunca fosse difícil de ser
entendida, mas estivesse sempre à mão, e sempre brilhando com uma luz clara, assim
como o sol no meio do céu.
4. Tal foi a origem da lei de Deus. Com respeito ao homem, ela era
contemporânea à sua natureza; mas com respeito aos filhos mais velhos de Deus, ela
brilhou em todo seu esplendor 'ou nunca as montanhas teriam surgido, ou a terra e o
mundo teriam sido criados'. Mas não foi muito tempo antes que o homem se rebelasse
contra Deus, e, por não cumprir sua lei gloriosa, por pouco, a apagou de seu coração;
os olhos de seu entendimento, estando enegrecidos, na mesma medida que sua alma
estava 'alienada da vida de Deus'. Ainda assim, Deus não desprezou a obra de suas
próprias mãos. Mas, estando reconciliado com o homem, através do Filho do seu
amor, Ele, em alguma medida, reimprimiu a lei no coração da sua criatura perversa e
pecaminosa. "Ele" novamente 'mostrou a ti, Ó homem, o que é bom', embora que não
como no início, 'para igualmente fazeres justiça, e amares a misericórdia, e
caminhares humildemente com teu Deus'.
5. E isto Ele mostrou, não apenas para nossos primeiros pais, mas igualmente,
para toda a posteridade deles, através 'daquela luz verdadeira que iluminou cada
homem que veio para o mundo'. Mas, não obstante esta luz, toda carne, no decurso do
tempo, tinha 'corrompido seu caminho diante de Deus', até que Ele escolheu, da
humanidade, uma pessoa peculiar, para quem deu um conhecimento mais perfeito da
sua lei; e os comandos desta, e, porque eles eram vagarosos quanto ao entendimento,
Ele escreveu sobre tábuas de pedras, que Ele ordenou aos pais para ensinarem a seus
filhos, através de todas as gerações que se seguiram.
6. E assim, a lei de Deus passa a ser conhecida por aqueles que não conhecem
a Deus. Eles ouvem, com os ouvidos da carne, as coisas que foram escritas
anteriormente para nossa instrução. Mas isto não é suficiente: eles não podem, de
modo algum, compreender a altura, profundidade, comprimento e largura disto. Deus
apenas pode revelar isto, através de Seu Espírito. E assim Ele faz, para todo aquele
que verdadeiramente crê, em conseqüência daquela promessa graciosa, feita a toda
Israel de Deus: 'Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a
casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles
invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas
esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor:
Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus
e eles serão o meu povo ' (Jeremias 31:31-33).
II
1. A natureza daquela lei que foi originalmente dada para os anjos no céu e o
homem no paraíso, e que Deus tem tão misericordiosamente prometido escrever, mais
uma vez, nos corações de todo crente verdadeiro, foi a segunda coisa que eu propus
mostrar. Com este objetivo, eu primeiro, observaria que, embora a 'lei' e o
'mandamento' sejam, algumas vezes, diferentemente tomados (o mandamento
significando, a não ser, uma parte da lei), ainda assim, no texto, eles são usados como
termos equivalentes, deduzindo uma e a mesma coisa. Mas nós não podemos entender
aqui, tanto por um quanto pelo outro, a lei cerimonial. Não é a lei cerimonial, a
respeito do que o Apóstolo diz, nas palavras acima citadas: 'Eu não teria conhecido o
pecado, se não fosse pela lei': Isto está muito claro para necessitar de uma prova.
Nem é a lei cerimonial que diz, nas palavras imediatamente anexas: 'Tu não deves
cobiçar'. Portanto, a lei cerimonial não tem lugar na presente questão.
III
4. Por esta razão é que o Apóstolo rejeita, com tal abominação, a suposição
blasfema de que a lei de Deus, é, em si mesma, tanto pecado quanto causa dele. Deus
proíbe que possamos supor que ela é a causa do pecado, porque ela é a descobridora
dele; porque ela detecta as coisas escondidas da escuridão, e as traz para o dia claro. É
verdade que, por esses meios, (como o Apóstolo observa) 'o pecado parece ser
pecado'. (Romanos 7:13) 'Logo o bom tornou-se morte? De modo nenhum; mas o
pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem; a fim de
que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno'. Toda sua máscara
é retirada, e aparece em sua deformidade inata É verdade que, aquele 'pecado, pelo
mandamento', igualmente, 'se torna excessivamente pecaminoso': Estando agora
confinado contra a luz e o conhecimento; estando desprovido, até mesmo do pobre
pretexto da ignorância, ele perde sua justificativa, assim como, dissimulação, e se
torna, muito mais odioso, ambos para Deus e homem. Sim, é verdade que 'o pecado
opera morte, através daquela que é boa'; que, em si mesma, é pura e santa. Quando
ele é protraído para a luz, ele não mais se enfurece: quando é reprimido, irrompe com
a maior violência. Assim, o Apóstolo (fala na pessoa de alguém que foi convencido
do pecado, mas não ainda liberto dele): (Romanos 7:8) 'Mas o pecado, tomando
ocasião pelo mandamento', detectando e esforçando-se para impedi-lo, tanto mais,
'operou em mim toda a concupiscência; toda maneira de desejo insensato e
prejudicial, que aquele mandamento buscava restringir. Assim, 'quando o
mandamento vem, o pecado revive', (Romanos 7:9) 'E eu, nalgum tempo, vivia sem
lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri'. Ele não mais se
preocupa ou se enfurece. Mas isto não é uma mácula sobre o mandamento. Embora
ele seja ofendido, ele não poderá ser pervertido. Isto apenas prova que 'o coração do
homem é desesperadamente mau'. Mas 'a lei' de Deus ainda 'é santa'.
5. Ela prescreve, exatamente, o que é certo; precisamente, o que deve ser feito,
dito ou pensado, ambos com respeito ao Autor de nossa existência; com respeito a nós
mesmos; e com respeito a toda criatura que Ele tenha criado. É adaptada, em todos os
aspectos, à natureza das coisas, a todo o universo, e cada individualidade. É adequada
a todas as circunstâncias de cada um, e a todas as suas relações mútuas, quer aquelas
que sempre existiram, desde o início, ou as que principiaram, em algum período
seguinte. É exatamente de acordo com a conveniência de todas as coisas, se essenciais
ou acidentais. Ela vem de encontro com nenhuma dessas, em qualquer grau; nem é
desarmônica com elas. Se a palavra for tomada naquele sentido, não existe coisa
alguma arbitrária na lei de Deus. Apesar de que o todo, e a parte dela ainda sejam
totalmente dependentes sobre sua vontade; de maneira que, 'Que seja feita a Tua', é a
lei suprema e universal, na terra assim como no céu.
9. E ainda assim, pode ser assegurado (o que é provavelmente tudo o que uma
pessoa atenciosa poderia discutir a respeito), que, no mesmo caso particular, Deus
deseja isto ou aquilo (suponha que os homens possam honrar seus pais), porque é
certo, de acordo com a aptidão das coisas, para a relação em que elas se situam.
10. A lei é, então, certa e justa, concernente a todas as coisas. E é boa, assim
como justa. Isto, nós podemos facilmente inferir da fonte de onde ela flui. Porque, o
que foi isto, a não ser a excelência de Deus? O que, se não, que apenas a excelência o
inclinou a conceder aquela cópia divina de si mesmo para os anjos santos? Ao que
mais podemos atribuir o fato de Ele entregar o mesmo transcrito de sua própria
natureza, para o homem? O que, a não ser o amor terno o constrangeu, mais uma vez,
a manifestar sua vontade para o homem caído – tanto para Adão, quanto qualquer um
de sua semente, que, como ele, foi 'insuficiente para a glória de Deus?'. Não foi o
mero amor que o moveu a publicar sua lei, segundo os entendimentos dos homens que
eram ignorantes? E enviar seus profetas para declarar aquela lei para os filhos, cegos e
imprudentes, dos homens? Sem dúvida, foi sua benevolência que ergueu Enoque e
Noé, para serem pregadores da retidão; que fez de Abraão, seu amigo; e Isaac, e Jacó,
testemunhas da sua verdade. Foi a benevolência apenas, que, quando 'a escuridão
cobriu a terra, e a densa ignorância, as pessoas', deu uma lei escrita para Moisés, e,
através dela, para a nação que escolhera. Foi o amor que explicou esses oráculos
vivos, através de Davi e todos os profetas que se seguiram; até quando o cumprimento
do tempo chegou, e Ele enviou seu Unigênito, 'não para destruir a lei, mas para
cumprir'; para confirmar cada jota e til dela; até que a tendo escrito nos corações de
todos os seus filhos, e colocado todos seus inimigos sob seus pés, 'Ele entregasse' seu
'reino' mediador 'para o Pai, para que Deus pudesse ser tudo em todos'. (I Corintios
15:28) 'E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo
Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em
todos'.
11. E esta lei, que a benevolência de Deus deu, a princípio, e que Ele
preservou, através de todos os tempos, é, como a fonte de onde ela flui, cheia de
bondade e benignidade; é compassiva e delicada; e, como o salmista a expressa, mais
doce que o mel, e o favo de mel". É cativante e cordial. Ela inclui 'todas as coisas que
são amáveis e de boa reputação. Se existe alguma virtude, se existe algum louvor',
diante de Deus e seus anjos santos, eles estão todos inseridos nisto; onde estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria, conhecimento e amor, divinos.
12. E é boa, em seus efeitos, assim como, em sua natureza. Como a árvore é,
assim, são seus frutos. Os frutos da lei de Deus, escrita no coração, são 'retidão, paz, e
segurança, para sempre'. Ou, antes, a lei, em si mesma, é retidão, preenchendo a alma
com a paz que ultrapassa todo entendimento; fazendo com que nos regozijemos,
sempre mais, no testemunho de uma boa consciência em direção a Deus. É para uma
garantia tão propriamente; como 'um penhor de nossa herança', sendo uma parte da
posse adquirida. É Deus feito manifesto, em nossa carne, e nos trazendo com Ele a
vida eterna; nos assegurando, através daquele amor puro e perfeito, que fomos
'selados para o dia da redenção'; que Ele irá 'nos poupar, como um homem pouca seu
próprio filho que o serve', 'naquele dia, quando Ele compensará suas jóias'; e para
que lá reste para nós 'uma cora de glória que não desaparece'.
IV
1. Resta apenas mostrar, em Quarto e último lugar, o uso da lei. E, o Primeiro
uso dela, sem dúvida, é convencer o mundo do pecado. Esta é, realmente, a obra
peculiar do Espírito Santo, que pode operar isto, sem quaisquer meios, afinal, ou
através dos meios que agradar a ele, mesmo que insuficientes, em si mesmos, ou até
impróprios para produzirem tal efeito. E, conseqüentemente, existem alguns cujos
corações têm sido quebrados em pedaços, imediatamente, tanto na doença, quanto na
saúde, sem qualquer causa visível, ou quaisquer meios exteriores que sejam; e outros
(um em alguma época) têm sido despertados para uma consciência da 'ira de Deus
habitando sobre ele', por ouvir que 'Deus está em Cristo, reconciliando o mundo para
si mesmo'.
2. Matar o pecador é, então, o Primeiro uso da lei; destruir a vida e força, nas
quais ele confia, e convencê-lo de que ele está morto, enquanto ele vive; não apenas
debaixo da sentença de morte, mas verdadeiramente morto para Deus; vazio de toda
vida espiritual; 'morto nas transgressões e pecados'. O Segundo uso dela, é trazê-lo de
volta à vida; para junto de Cristo, para que ele possa viver. É verdade que, na
execução de ambas essas missões, ela executa o papel de uma professora escolar
severa. Antes de nos dirigir pelo amor, ela nos dirige pela força. Mas, ainda assim, o
amor é a fonte de tudo. É o espírito do amor que, através desses meios dolorosos,
arranca fora nossa confiança na carne, que não nos deixa em que confiar, e então,
constrange o pecador, despido de tudo, a clamar na amargura de sua alma, ou a gemer
na profundidade de seu coração: 'Eu deixo de lado toda justificativa, -- Senhor, eu
estou condenado; mas Tu morreste',
3. O Terceiro uso da lei é nos manter vivos. É o grande meio, pelo qual o
Espírito abençoado prepara o crente para uma comunicação maior da vida de Deus.
Eu temo que essa grande e importante verdade é pouco entendida, não apenas
pelo mundo, mas, até mesmo, pelos muitos a quem Deus tem tirado do mundo;
aqueles que são filhos verdadeiros de Deus pela fé. Muitos desses repousam, em uma
verdade não questionada, a de que, quando vamos para Cristo, nós desistimos da lei, e
que, neste sentido, 'Cristo é o fim da lei para todo aquele que crê'. 'O fim da lei':
então, Ele é o fim, 'para a retidão', para a justificação, 'para todo aquele que crê'.
Neste contexto, a lei é o fim. Ela não justifica ninguém, apenas os traz para Cristo;
que é também, em outro aspecto, a finalidade ou a extensão da lei, -- o ponto, em que
ela continuamente objetiva. Mas, quando ela nos traz até Ele, ainda assim, a sua tarefa
vai mais além, ou seja, nos manter com ele. Porque continuamente estimula todos os
crentes, quanto mais eles vêem sua altura, profundidade, comprimento e largura, a
exortar um ao outro muito mais, -- Mais e mais intimamente nos permita
aconchegamo-nos, no seu amado abraço, esperando sua plenitude receber, e a graça
responder à graça.
4. Permitindo, então, que todo crente cumpra a lei, já que ela significa a lei
cerimonial judaica, ou a inteira dispensação Mosaica; (para esses que Cristo separou);
sim, permitindo que cumpramos a lei moral, como um meio de procurar nossa
justificação; já que somos 'justificados livremente pela sua graça, através da
redenção que está em Jesus'; ainda assim, em outro sentido, nós não temos cumprido
esta lei: Porque ela é ainda de uso inexprimível; Primeiro, nos convencendo do
pecado que ainda permanece, ambos em nossos corações e vidas, e, por meio disto,
nos mantendo próximos a Cristo, para que seu sangue possa nos limpar todo o
momento; em Segundo Lugar, provendo forças vindas de nosso Dirigente, dos seus
membros vivos, por meio dos quais, Ele nos capacita a fazer o que a lei ordena; e, em
Terceiro Lugar, confirmando nossa esperança de alcançarmos o que quer que ela
ordene, -- de receber graça sobre graça, até que tenhamos a verdadeira possessão da
plenitude de suas promessas.
6. Para explicar isto, através de um único exemplo: a Lei diz, 'Não matarás'; e,
por meio disto, (como nosso Senhor ensina) proíbe, não apenas os atos exteriores, mas
todo tipo de palavra ou pensamento. Agora, quanto mais eu inspeciono a lei perfeita,
mais eu sinto quão longe eu estou de alcançá-la; e quanto mais eu sinto isto, mais eu
sinto a necessidade de Seu sangue, redentor de todos os meus pecados, e de seu
Espírito, para purificar meu coração, e me fazer, 'perfeito e inteiro; faltando nada'.
7. Por esta razão, eu não posso tratar a lei, algum momento, com indulgência;
não mais do que eu posso tratar a Cristo; vendo que eu agora a quero, pelo quanto ela
me mantém em Cristo; já que eu sempre precisei dela, para me trazer para Ele. Do
contrário, esse 'coração mau da descrença' imediatamente 'se afastaria do Deus vivo'.
De fato, uma está continuamente me enviando para o outro, -- a lei para Cristo, e
Cristo para a lei. Por um lado, a altura e profundidade da lei me constrangem a voar
para o amor de Deus em Cristo; por outro, o amor de Deus em Cristo, faz benquista a
lei para mim, 'acima do ouro e pedras preciosas'; vendo que eu sei que cada parte
dela é uma promessa graciosa, que meu Senhor irá cumprir no tempo certo.
8. Quem você é, então, Ó, homem, que 'julga a lei, e fala mal da lei?' -- que a
coloca no mesmo nível do pecado, que satanás, e que a morte, e os envia todos juntos
para o inferno? O Apóstolo Tiago considerou o julgar ou 'falar mal da lei', uma
espécie tão grande de maldade, que ele não soube como exacerbar a culpa de julgar
nossos irmãos, mais do que mostrá-la incluída nisto. 'Então, agora', diz ele, 'você não
é um executor da lei, mas um juiz!'. Um juiz daquilo que Deus tem ordenado, para
julgar a você! De forma que você tem colocado a si mesmo na cadeira de julgamento
de Cristo, e derrubado a regra, por meio da qual, Ele irá julgar o mundo! Ó, tome
conhecimento da vantagem que satanás tem obtido sobre você; e, para o tempo que
virá, nunca pense ou fale levianamente a respeito; muito menos, vista, como um
espantalho, esse instrumento abençoado da graça de Deus. Sim, ame e valorize a lei,
por causa Dele, de quem ela veio; e por Ele, para quem ela conduz.
[Editado por Michael Anderson, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com
correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]