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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000362700

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1019040-44.2020.8.26.0003 e código 1547D90C.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1019040-44.2020.8.26.0003, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes
LUFTHANSA - DEUTSCHE LUFTHANSA AG, GOL LINHAS AÉREAS
INTELIGENTES S/A e GOL LINHAS AÉREAS S/A, é apelada DEISE MAZZOCHI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Por maioria de votos, em
julgamento estendido, negaram provimento aos recursos, vencido o 2º juiz, que declara., de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EDISON VICENTINI BARROSO, liberado nos autos em 13/05/2021 às 11:07 .
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ACHILE ALESINA


(Presidente), MENDES PEREIRA, RAMON MATEO JÚNIOR E ELÓI ESTEVÃO
TROLY.

São Paulo, 13 de maio de 2021.

VICENTINI BARROSO
Relator
Assinatura Eletrônica
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APELAÇÃO nº 1019040-44.2020 – SÃO PAULO (Jabaquara).
Apelantes: Gol Linhas Aéreas Inteligentes S/A e outras.
Apelada: Deise Mazzochi.
Juíza: Alessandra Laperuta Nascimento Alves de Moura.
Voto 26.523

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TRANSPORTE AÉREO RESPONSABILIDADE
CIVIL INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS Autora impedida de
embarcar sob a justificativa de que haveria
restrições de entrada de brasileiros nos países da
União Europeia em razão da pandemia de
COVID-19 Restrições que não se aplicavam a
voos de conexão Reponsabilidade objetiva das
rés, nos termos do artigo 14 do Código do
Consumidor, ínsita ao contrato de transporte
aéreo Danos materiais comprovados Dano
moral Indenização devida, com valor mantido
Recursos desprovidos.

1. A sentença de fls. 313/319, de relatório adotado, julgou


procedente ação de indenização por danos morais (R$ 10.000,00) e materiais
(R$ 3.528,26), relacionada a transporte aéreo, movida pela apelada às
apelantes honorários advocatícios de 10% do valor da condenação
atualizado.
A corré Deutsche Lufthansa diz que deve ser aplicada a
Convenção de Montreal ao caso. Sustenta que não houve falha ou defeito na
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prestação dos serviços. Defende que está ausente o nexo de causalidade,

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indicando culpa exclusiva de terceiro, já que foi impedida de realizar o
embarque pela empresa Gol. Informa que a Alemanha, local de conexão do
voo da autora, estava inclusa na lista de países que não permitiam a entrada
de brasileiros. Aduz que a medida restritiva já estava vigente no momento da
aquisição da passagem. Alude-se à Resolução nº 400, da ANAC. Pugna pela
inexistência de danos materiais. Subsidiariamente, requer que o reembolso

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ocorra no prazo de 12 meses, na forma do art. 3º, da Lei 14.034/2020.
Entende que os danos morais não podem ser presumidos e estão ausentes no
caso. Diz que o valor da condenação por danos morais é excessivo e deve ser
reduzido. Colaciona jurisprudência (fls. 321/340).

A corré Gol Linhas Aéreas diz que o impedimento de embarque


da autora se deu por ausência de documentação necessária e porque as
fronteiras estavam com restrição em razão da pandemia. Sustenta que a autora
não apresentou passaporte italiano no momento do embarque. Defende que
houve culpa exclusiva da autora. Entende que a apelada não demonstrou ter
suportado qualquer prejuízo material, razão pela qual a indenização deve ser
afastada. Aduz ser incabível a indenização por dano moral que, se mantida,
deve ter o valor reduzido (fls. 345/359).
Vieram respostas (fls. 364/386 e 387/419).

É o relatório.

2. Recursos infundados. Trata-se de ação de indenização por


danos materiais e morais, em que a autora alega ter contratado as rés para
efetuar o transporte aéreo de Porto Alegre/RS a Londres/Inglaterra, com

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conexões em São Paulo/SP e Frankfurt/Alemanha, com saída no dia

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17/08/2020 e chegada em 18/08/2020, contudo, foi impedida de embarcar em
Porto Alegre/RS com destino a São Paulo sob a justificativa de que as
fronteiras da Alemanha estavam com restrições para a entrada de brasileiros.
Em seguida, encontrou um voo direto de Guarulhos/SP para
Londres/Inglaterra, mesmo assim foi impedida de embarcar de Porto
Alegre/RS a Guarulhos/SP, razão pela qual, após ficar o dia inteiro no

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aeroporto, foi obrigada a adquirir novas passagens aéreas, sofrendo prejuízo
de R$ 3.528,26, além de chegar ao destino com quatro dias de atraso. Aduz
ter verificado que não havia restrição para conexões de brasileiros na
Alemanha, entendendo que houve falha na prestação dos serviços pelas rés,
requerendo indenização por danos materiais e morais (fls. 01/22).

Em contestação, a corré Deutsche Lufthansa sustentou que houve


culpa exclusiva da autora, já que a Alemanha estava incluída na lista de
países europeus que não permitiam a entrada de brasileiros (fls. 87/105),
enquanto a corré Gol Linhas Aéreas aduziu que a autora foi impedida de
embarcar porque não apresentou passaporte italiano e que havia restrições de
entrada de brasileiros nos países da União Europeia em razão da pandemia de
COVID -19 (fls. 133/145).

Restou incontroverso nos autos que a autora foi impedida de


embarcar nos voos contratados junto às rés sob a justificativa de que a
Alemanha estava incluída na lista de países europeus que não permitiam a
entrada de brasileiros.

Contudo, o trecho inicial, de Porto Alegre/RS a Guarulhos/SP,

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por se tratar de transporte nacional, deveria ter sido normalmente operado,

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não se justificando a recusa da prestação de serviços pelas rés à autora.

Demais, como bem anotado na sentença (fl. 317), as instruções


colacionadas a fls. 39/40 são claras no sentido de que (fl. 40, § 2º)“o governo
Alemão mantém uma lista de países considerados de alto risco e qualquer
passageiro, independentemente de sua nacionalidade, que tenha estado em

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um destes países nos últimos 14 dias antes de seu ingresso (não aplicável às
conexões desde que o passageiro permaneça na sala de embarque), deverá
apresentar teste RT-PRCR-COVID-19 negativo (...)”
Ou seja, a restrição não se aplicava à autora, que faria apenas
conexão no aeroporto de Frankfurt/Alemanha. Demais, a apresentação de
passaporte italiano não modificaria a situação da autora, pois as regras
restritivas se aplicavam a qualquer passageiro proveniente do Brasil,
independentemente de sua nacionalidade, como acima anotado.

Nesse contexto, não há como afastar a responsabilidade das rés


por todos os infortúnios causados à autora, vez que foi impedida de embarcar
em razão de norma que não se aplicava a ela e chegou a seu destino com
quatro dias de atraso.

E nesse aspecto, sabe-se que sobre o tema da reparação de


danos em voos internacionais o Supremo Tribunal Federal decidiu pela
Convenção de Varsóvia/Montreal em sobreposição ao CDC no
julgamento do RE 336.631/RJ, relator Ministro Gilmar Mendes, DJe de
10.11.2017. Porém, o que ali decidido diz respeito apenas à esfera dos
danos materiais, não alcançando reparação de dano moral. Veja-se
trecho do acórdão: “Dois aspectos devem ficar claros neste debate. O
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primeiro é que as disposições previstas nos acordos internacionais aqui

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referidos aplicam-se exclusivamente ao transporte aéreo internacional de
pessoas, bagagens ou carga.” (...) 22. O segundo aspecto a destacar é
que a limitação imposta pelos acordos internacionais alcança tão
somente a indenização por dano material, e não a reparação por dano
moral. A exclusão justifica-se, porque a disposição do art. 22 não faz
qualquer referência à reparação por dano moral, e também porque a

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imposição de limites quantitativos preestabelecidos não parece
condizente com a própria natureza do bem jurídico tutelado, nos casos de
reparação por dano moral”.

De fato, caracterizada está a responsabilidade das apelantes,


que é objetiva, nos termos do artigo 14 do Código do Consumidor ínsita
ao contrato de transporte aéreo, segundo o disposto nos 734 e 737 do
Código Civil.

Quanto aos danos materiais, não há insurgência específica em


face do que demonstrou os documentos de fls. 47/52, relativo às despesas
com aquisição de novas passagens, mantido o quanto especificado a
respeito na sentença quanto a sua devolução de R$ 3.528,26 (fl. 318).

Relativamente ao dano moral, indiscutível o aborrecimento e


incômodo daí decorrentes como ordinariamente ocorre (art. 375, CPC);
com o que, inegável a ocorrência de tal prejuízo, não se tratando, pois, de
mero dissabor.

O STJ decidiu que, mutatis mutandis:


“O contrato de transporte constitui obrigação de resultado.
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Não basta que o transportador leve o transportado ao destino


contratado. É necessário que o faça nos termos avençados

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(dia, horário, local de embarque e desembarque,
acomodações, aeronave, etc.)” (REsp 151.401-SP, 3ª Turma,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 17.6.2004).

Quanto ao valor da indenização por danos morais, oportuno


transcrever a seguinte decisão do STJ: “(...) 1. O quantum indenizatório

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fora estipulado em razão das peculiaridades do caso concreto, levando
em consideração o grau da lesividade da conduta ofensiva e a
capacidade econômica da parte pagadora, a fim de cumprir dupla
finalidade: (a) amenização da dor sofrida pela vítima e (b) punição do
causador do dano, evitando-se novas ocorrências. 2. Assim, a revisão do
valor a ser indenizado somente é possível quando exorbitante ou irrisória
a importância arbitrada, em violação dos princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade... ” (AgRg no AREsp 405.017/PE, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
26/11/2013, DJe 06/12/2013) (g.n.).

Portanto, a indenização deve ser arbitrada em quantia que, num


só tempo evitado locupletamento dissuada o agente de reincidir na
atitude.

Nesse sentido, à vista do grau de culpa das rés e da intensidade


do sofrimento causado à autora, o valor a título de dano moral é mantido em
R$ 10.000,00 (dez mil reais), quantia que se mostra em consonância com os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

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Em face do que se decide, mantidos encargos da

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sucumbência, majoram-se honorários recursais para quinze por cento
(15%) do valor da condenação observado do art. 85, § 11, do CPC.

3. Pelo exposto, desproveem-se os recursos.

Vicentini Barroso

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