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Introdução
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Estudante dos cursos de História/Licenciatura e Direito da Universidade Federal de Pelotas. Email:
debora_kreuz@yahoo.com.br
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Poucas são as obras que versam a esse respeito. A título de exemplo podemos indicar COLLING, Ana Maria. A
resistência da mulher à ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997; FERREIRA, Elizabeth F.
Xavier. Mulheres, militância e memória. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996; CARVALHO, Luiz
Maklouf. Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Globo, 1998. Tais obras foram muito importantes para o
desenvolvimento da pesquisa.
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Usar-se-á, nesse sentido, a palavra resistência, a qual será compreendida como aqueles grupos clandestinos que, de
forma armada ou não, opuseram-se ao regime autoritário.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
Contudo, a crítica às fontes não foi deixada de lado. Mesmo com todo o encanto
proporcionado pelo uso da História Oral, esta deve ser tomada com as devidas reservas,
tendo em vista a constante reelaboração pela qual esta passa. Pollack faz menção à
ressignificação que a memória sofre, mediante as experiências dos indivíduos:
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Entende-se por problemas específicos aqueles relacionados à questões da sexualidade, liberdade em relação às figuras
masculinas (pais, companheiros), violência doméstica, dentre outros.
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Protesto ocorrido nos Estados Unidos da América, contra a escolha da Miss América, no ano de 1968.
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As obras serão mencionadas quando utilizadas.
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De acordo com o relatório Brasil Nunca Mais (1985), 12% das pessoas processadas
em inquéritos policiais militares eram do sexo feminino. Percebe-se, dessa forma, a
pequena participação da mulher brasileira no âmbito político, ou seja, público 11. Contudo,
cabe destacar que a mulher que resolvia entrar para a militância no final da década de 1960
já rompia com duplo paradigma – a saída de casa e a posterior entrada na política.
Em contraponto a tal afirmação, Ridenti (1990) aponta como fator positivo tal
número, que realmente era maior na luta armada:
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POLLACK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.5, nº10, 1992, p.200-212
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O PCdo B – Partido Comunista do Brasil - foi criado em 1962, a partir de uma dissidência do PCB – Partido Comunista
Brasileiro. Aderiu a luta armada como forma de combate à Ditadura.
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Aliança Libertadora Nacional – dissidência armada do PCB. Criada em 1967, e o principal dirigente foi Carlos
Marighella.
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Ação Popular – criada em 1962, a partir da Juventude Católica. Não aderiu a luta armada e trabalhava para a
conscientização das massas.
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Fato a ser destacado, nesse ponto, é que um dos lemas do movimento feminista a nível mundial, nesse período, era de
que o “privado é político”, ou seja, as questões decorrentes da vida privada deveriam ser tratadas no âmbito público,
como tentativa de mudanças que garantissem o acesso às mulheres aos espaços antes destinados somente aos homens.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
É dessa forma que se pode explicar a presença das mulheres nestas ‘trincheiras‘,
pois ao contrário de outras gerações de estudantes universitários, naquela
geração do final dos anos 1960, a proporção de mulheres universitárias era muito
maior do que nas décadas anteriores.
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Para mim foi... eu em plena clandestinidade descobrir que eu tenho direito a ter
desejo, a ser um ser desejante, a ser... eu tenho direito a exercer com liberdade a
minha sexualidade. Eu aprendi tudo isso em 68. Porque isso eu não aprendi
antes... falava ali e tal... mas ali em 68... E isto é político. Porque ficava muito no
campo individual... problema é seu. [...] foi uma revolução dentro da revolução
né. Mas quando as mulheres entraram foi uma... revolução. 12
12
Entrevista concedida a autora. Passo Fundo, 2012. Acervo pessoal.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
Ressalte-se que, dentro daquele contexto de lutas, era difícil a apreensão das
demandas femininas, representada no ‘rebuliço’ mencionado, tendo em vista o histórico
papel de subordinação da mulher à esfera privada. Por isso, foi dupla a mudança de
paradigma feita pelas militantes, como já mencionado no comentário de Ridenti (1990),
pois elas saíram de casa para ocupar o espaço público e também para a luta contra o
autoritarismo daquele momento. Contudo, a preocupação predominante, especialmente nos
depoimentos investigados, era a luta pelo combate à Ditadura implantada.
Quando indagada acerca da preocupação com os temas feministas, ou seja, o que
ela almejava enquanto mulher, dentro da organização, Amelinha14 afirma que
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Depoimento concedido à autora. Porto Alegre, 2012. Acervo pessoal.
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Depoimento concedido à autora. Passo Fundo, 2012. Acervo pessoal.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
A gente não viveu... eu por exemplo, na época não tive acesso a informação de
luta feminina, de luta das feministas, eu não tive acesso a nada disso. Era uma
coisa muito intuitiva ali da, para a participação da gente. Eu não lia nada, eu lá
lia Simone de Beavouir?. Eu não tinha noção de absolutamente nada. [...] Nós
éramos três e elas duas eram super amigas e intelectualizadas. Elas me deram
alguns livros para ler. E elas estavam muito acima do meu nível intelectual de
conhecimento. [...] Mas eu comecei a ler algumas coisas que elas me deram.15
Eu não participei de discussão especificamente disso. Uma das pessoas que dava
orientação ali para a base de secundaristas do Julinho era a Beth Lobo [...] Eram
discussões muito fechadas, não era uma coisa corriqueira. E ela que abriu um
pouco. Pelo menos para mim. A lembrança que eu tenho é isso. O que ela
falava... se ela nos dava literatura, se ela falava de coisas sobre o feminismo... eu
não sei.16.
Para Amelinha: “Era assim... estudava o marxismo e eu pegava os livros que tratava
dos assuntos que interessavam, Ines Arman, a Clara Zetkin, a Alexandra Kolontai, que
eram livros que eram marxistas mas que tratavam da questão das mulheres.” 17
Tais divergências no tocante à percepção podem ser derivadas também das
preocupações individuais de cada militante, pois enquanto Amelinha 18 menciona a
“revolução pessoal”, para outros a revolução política era prioridade, sendo que depois os
outros problemas seriam automaticamente resolvidos. Os estudos coexistiam com as ações,
mas não priorizavam lutas específicas. Segundo o pensamento de Colling (1997), a luta
pelas demandas específicas poderia dividir a esquerda.
Contudo, a ausência de discriminação, ou pelo menos, a sua não percepção, como
mencionada por Suzana,
15
Depoimento concedido à autora. Porto Alegre, 2012. Acervo pessoal.
16
Idem.
17
Depoimento concedido a autora. Passo Fundo, 2012. Acervo pessoal.
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Deve-se ressaltar que a militância atual de Amelinha pode refletir muito na construção da memória sobre o passado.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
Olha, a única vez que eu me senti discriminada assim como mulher, foi numa
época, ainda, acho que, não sei se 68 ainda que eles iam... o Ico pretendia ir pro
campo. [...] Mas ele ia embora. E só os homens que iam... a gente não ia. Foi a
única vez que eu me lembro que eu me senti mal. “Como assim, só vão os
homens?” Mas eles iam para a luta no campo. [...] Ali na ALN, não senti
diferença, não senti nenhum tipo de pressão, nem de... de preconceito. Tinha
muitas mulheres, eu acho que tinha muitas mulheres, eu convivi com muitas
mulheres ali. E não tinha, não senti discriminação, nenhuma assim.19
pode decorrer da postura adotada por cada organização. Enquanto que no documento
fundante da ALN “O papel da ação revolucionária na organização” está mencionada a
participação de militantes de ambos os sexos: “[...] um movimento integrado por jovens
dos dois sexos. Entre os componentes, além da mulher brasileira, que até então não
participava na ação revolucionária, mas que agora se incorporou nela [...]”, na maioria dos
documentos das outras organizações20 em nenhum momento há a referência à mulher, ou
às militantes, muito menos das suas demandas específicas.
Deve-se tomar cuidado, porém, com o que estava previsto nos documentos com a
efetiva prática das organizações, evitando-se generalizações. Amelinha menciona: “quando
eu fazia a discussão todo mundo concordava comigo, você entendeu, mas na hora da
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prática voltava todo aquele comportamento.” . Ou seja, mesmo que pertencentes à
organizações diferentes, pode-se mencionar que, em muitas das vezes, o comportamento
não estava de acordo com o que previam os manifestos, pelo menos no tocante a tais
temáticas.
Andújar (2010), de forma sintética, exemplifica aquele momento, bem como as
mulheres que dele fizeram parte:
19
Depoimento concedido a autora. Porto Alegre, 2012. Acervo pessoal.
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Ressalte-se que não foram todos os documentos analisados, apenas os mais relevantes e que estão contidos na obra de
Aarão: Imagens da Revolução. Contudo, existem pequenos comentários sobre demandas femininas no documento
Projeto de Programa do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, de 1969. Pelo fato de não terem sido obtidos
depoimentos de militantes de tal organização não se pode fazer comentários mais amplos.
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Depoimento concedido a autora. Passo Fundo, 2012. Acervo pessoal.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
Conclusão
Após essa breve exposição, fica claro que, no contexto brasileiro, a abertura para as
discussões em voga com o movimento feminista não encontrou um lugar propício. Como
apresenta Colling (1997):
Contudo, percebeu-se que nos locais e também entre aqueles indivíduos que
desejavam, especialmente algumas mulheres, o debate existiu, embora de forma muito
restrita e condicionado à situação na qual estavam inseridas as militantes. Deve-se ressaltar
que tal preocupação advinha muito mais da experiência da militante do que das condições
postas. Woolf (2010) expressa de forma clara o que representou aquele momento para
muitas das mulheres brasileiras:
objetivo de todos aqueles que militam em prol de um mundo mais justo, especialmente no
tocante às questões das mulheres:
Referências
ALBERTI, Verena. Ouvir Contar: Textos em História Oral. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2004.
COSTA, Ana Alice Alcântara. O feminismo brasileiro em tempos de Ditadura Militar. In:
Pedro, Joana Maria; WOLFF, Cristina Scheibe. Gênero, Feminismos e Ditaduras no
Cone Sul. Florianópolis: Mulheres, 2010, pg 174-90.
FILHO, Daniel Aarão Reis; SÁ, Jair Ferreira de (orgs). Imagens da Revolução:
Documentos Políticos das Organizações Clandestinas de Esquerda dos anos 1961-
1971. São Paulo: Expressão Popular, 2006, 2ª ed.
GORENDER, Jacob. O Combate nas Trevas. São Paulo: Ática, 2003. 6ª ed.
SARTI, Cynthia Andersen. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma
trajetória. In: Estudos feministas, Florianópolis, 12(2): 35-50, maio-agosto/2004.
Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC
TELES, Maria Amélia de Almeida. Lembranças de um tempo sem sol. In: Pedro, Joana
Maria; WOLFF, Cristina Scheibe. Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul.
Florianópolis: Mulheres, 2010, pg 283-92.