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MATERIAL DID ÁTICO

FACULDADE
PROMINAS
S xGRUPO
^^
É Prominas
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
BRASILEIRA
ESTA APOSTILA PERTENCE A :
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS
^j GRUPO
% Prominas
EDUCAçAO E TECNOLOGIA

Núcleo de Educação a Distância


R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05
Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111
www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.


Material Didático: Ayeska Machado
Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes
Diagramação: Ayrton Nicolas Bardales Neves

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes,
Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
NOSSO

Valdir Henrique Valerio


V

Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia


ap
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

BEM-VINDO(A)!
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professor: Willians Alexandre Buesso da Silva


a
O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

FIQUE ATENTO!

^ FIQUE LIGADO!

^ PARA VOCÊ!
RESUMO
DA UNIDADE
Esta unidade analisará os princípios da Antropologia no Brasil.
Especificamente, foram enfocados: a) os primeiros tempos da Antro-
pologia no Brasil; b) a cultura popular como algo próprio do país; c)
a consolidação da Antropologia; d) a questão indígena, racial e as di-
cotomias entre o rural e urbano. Trata-se de uma analise que procura
compreender em qual momento a Antropologia chega ao Brasil e os
aspectos relativos à formação social e suas explicações. Tal abordagem
justifica-se pela sua persistente relevância, dado que o contexto social,
econômico e político que a sociedade brasileira, desde o momento da
sua consolidação em 1930, influenciou diretamente outras sociedades.
A grande importância da Antropologia Brasileira concretiza-se com as
pesquisas em torno dos intérpretes, influenciados por teses advindas
de outros países, como os Estados Unidos e países europeus, que bus-
cavam traçar significados nas discussões sobre as questões que envol-
vem, principalmente, a população indígena no Brasil e as heranças da
escravidão; a estrutura social entendida a partir do legado da escravi-
dão; a herança colonial que ofereceu argumentos para a compreensão
da dicotomia campo/cidade e as questões do subdesenvolvimento da
dependência econômica.

PALAVRAS-CHAVE
Formação social brasileira; Cultura popular;
Questão indígena e racial; Antropologia Brasileira. P
A
SUMÁRIO i
Apresentação do módulo ______________________________________ 10

CAPÍTULO 01
EXPLICAR O BRASIL- OS PRIMEIROS PASSOS DA ANTROPOLOGIA
BRASILEIRA

Recapitulando _________________________________________________ 24

CAPÍTULO 02
O CONTEXTO HISTÓRICO PARA A CONSOLIDAÇÃO DA
ANTROPOLOGIA NO BRASIL

Recapitulando _________________________________________________ 44

CAPÍTULO 03
OS CLÁSSICOS DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA

Roberto DaMatta (1936-) _______________________________________ 50


Gilberto Velho (1954- 2012) ______________________________________ 53
Manuela Carneiro e Eduardo Viveiro de Castro __________________ 56
Recapitulando _________________________________________________ 62
Fechando Unidade ____________________________________________ 67

Referências ____________________________________________________ 71
&

APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
k
O encontro entre as sociedades europeias e as sociedades
das Américas, da Ásia e da África, a partir do século XVI, possibilitou
variadas explicações sobre as estruturas sociais, mas somente a partir
do século XIX, com o surgimento das Ciências Sociais, foi possível a
reflexão sobre tais encontros sob a perspectiva cultural.
As diversas populações nativas tornaram-se interessantes aos
olhos analíticos dos europeus, com intuito de compreender e ampliar
suas formas de dominação, sobre aqueles que eram conhecidos como
“primitivos” ou “selvagens”. O encontro com essas populações não eu-
ropeias resultou em teorias sobre a história da humanidade, com a justi-
ficativa de progresso que favorecia as sociedades ocidentais, medindo,
numa escala evolutiva, os que eram considerados os mais civilizados e
os menos civilizados.
Assim, essas formas de pensar possibilitaram julgamentos de
outras culturas pela perspectiva de quem a analisava, com os seus pró-
prios parâmetros culturais, não levando em conta a grande diversidade
cultural existente na cultura analisada. Esse olhar tornou-se prática e
ficou conhecido como Etnocentrismo, quando se julga determinada cul-
tura com seus valores, não levando em conta as diferenças, e pratican-
do, assim, todas as formas de preconceitos existentes nas sociedades.
Buscamos, aqui, analisar algumas das transformações que
ocorreram no cenário brasileiro, a partir de 1930, nas experiências
democráticas que ofereceram novidades, proporcionando mudanças
econômicas, sociais e políticas. Nesse contexto, as ideias de desen-
volvimento e de transformações democráticas, no país, serviram-nos
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

como pano de fundo, auxiliando na compreensão da conjuntura em que


a industrialização, no Brasil, começa a desencadear o processo de ur-
banização, sendo, um desses fatores, a tentativa de compreender a for-
mação social brasileira e os elementos que a influenciaram diretamente.
Tais novidades permitiram, também, que diversas pesquisas
fossem realizadas. Desses estudos resultou a consolidação da historia
da Antropologia Brasileira, dividida em três momentos: do fim do século
XIX aos de 1930, da década de 1930 aos anos de 1960 e da antropo-
logia contemporânea, que teve início a partir da década de 1980, sobre
a influência de teses e teorias desenvolvidas por outras sociedades,
principalmente, estudos norte- americanos e europeus. No entanto, no
Brasil, a antropologia ganha sua marca quando começa a construir um
acervo de conhecimento sobre nosso próprio país, dando enfoque às
interpretações sobre a população camponesa, indígenas e os negros.

10
EXPLICAR O BRASIL -
OS PRIMEIROS PASSOS DA
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
A partir do século XVI, com a intensificação das grandes nave-
gações, a cultura começou a fazer parte das discussões na Europa. Esse
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momento histórico permitiu que visões de mundo fossem questionadas


e concretizadas, suscitando debates sobre os hábitos, os costumes e
a produção desses grupos, até então desconhecidos pelos europeus. A
forma como outras partes do mundo foram colonizadas estabeleceu um
processo de intercâmbio (em muitos casos forçadamente) cultural e de
dominação, que até os dias atuais, marcam as diferenças nas relações
culturais pelo mundo.
A surpresa do encontro com povos diversificados tornou-se
mais complexa, perdeu o ar de espanto e ganhou uma abordagem cien-
tífica, com o propósito de compreender as variadas formas de organiza-
ção social dos indivíduos. É a partir do século XVI, que os colonizadores
europeus começam a buscar interpretações, separando quais seriam
os “bons” e os “maus” selvagens, dos povos que viviam no Novo Mun-
do. O fascínio e a romantização pelo o ‘outro’ na sua forma mais pura, a
“boa consciência”, que o torna um “bom selvagem”. Aos que precisavam

11
de intermédio para poder se relacionar, sua rusticidade e a repulsa pelo
diferente, levariam a ser considerados os “maus selvagens”.

IMPORTANTE!

Michel Montaigne (1533-1592) foi um pensador Humanista, do


século XVI, que refletiu sobre o relativismo cultural daquele período.
Defendia que cada pessoa considera bárbaro aquilo que não se pratica
em sua terra. Na sua principal obra “Dos canibais”, é apresentado o
questionamento do fato dos europeus classificarem como bárbaros os
povos do Novo Mundo, que acabava por conduzir as sociedades a uma
percepção negativa sobre as práticas e ações desses povos.

Desde meados do século XIX e XX, a Antropologia mundial


passa a ganhar força, principalmente, com os estudiosos europeus, que
buscavam elementos para construir um conhecimento sobre popula-
ções. Eram teorias evolucionistas da humanidade, baseadas nos estu-
dos do evolucionismo biológico de Charles Darwin (1802-1882).
As definições de cultura deram-se de diferentes maneiras e
foram objetos de estudos da Antropologia, com intuito de explicar as
manifestações culturais de diferentes povos ao redor do mundo. Para
as Ciências Sociais, a forma de compreender as diversificações da cul-
tura, necessita descartar qualquer discriminação ou hierarquização de
pessoas ou grupos sociais. Assim, a cultura é pensada como práticas e
valores de um grupo social, na sua dimensão material e imaterial, como
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patrimônio a ser preservado ou transmitido. Tais definições foram abor-


dadas pelas escolas antropológicas como, por exemplo:

Escola Evolucionista: desenvolvida na Inglaterra, no século XIX, tendo


como ponto de partida os estudos de Edward Tylor (1832-1917), tornou-se
importante para a Antropologia por ter elaborado a primeira teoria social da
cultura. No entanto, também ofereceu contribuições para as justificativas de-
fendidas para o processo da colonização da África e Ásia, no século XIX, que
ofereceu, e ainda oferece, modelos e padrões de comportamento típicos do
Ocidente.

Culturalismo: uma das críticas ao evolucionismo, os estudos do culturalismo


surgem na década de 1930, nos Estados Unidos, estabelecendo o método
comparativo e a formação de padrões culturais, a partir dos quais é possível
apreender as leis no desenvolvimento das culturas. O principal representante
foi Franz Boas (1858-1942)

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Funcionalismo: O Funcionalismo surge no início do século XX e estabelece
um modelo de etnografia, com seus estudos de trabalho de campo (observa-
ção participante). O principal representante foi Bronislaw Malinowski (1884-
1942)

Estruturalismo: surge nos anos de 1940, ao buscar as regras estruturan-


tes das culturas presentes na mente humana. Inspira-se, originalmente, na
Linguística. Para os estruturalistas a cultura é um conjunto de sistemas sim-
bólicos (arte, religião e educação) que atua de modo integrado e constitui
a totalidade social. Teve como grande representante, Claude Lévi-Strauss
(1908-2009).

Antropologia Interpretativa: segundo essa perspectiva, a cultura é um sis-


tema simbólico, uma teia de significados. Seu principal representante é o
antropólogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006)

o FIQUE LIGADO!
Cultura material é formada pelos bens tangíveis produzidos pelas
sociedades, como construções, alimentos, móveis e aparelhos eletrônicos.

Cultura imaterial é composta pelas práticas, expressões, valores, conheci-


mentos e saberes produzidos pelos membros de uma cultura.

Os evolucionistas sociais seguiam as hipóteses apresentadas


por Darwin e também eram inspirados pelo filósofo inglês Herbert Spencer
(1820-1903), que, juntos, defendiam um conjunto de teorias sobre as dife-

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renças entre grupos humanos e subdivisões em raças distintas. O avanço
colonialista europeu sobre as Américas, a partir do século XVI, – e em ou-
tros continentes como África, Ásia e Oceania – serviram como base para
justificativas de explorações e colonizações europeias nesses territórios, e
assim, sistematizaram estudos de povos até então chamados de “primiti-
vos” ou “selvagens”, ou mesmo, de uma organização de populações “mais
simples” para as “mais complexas”.
As sociedades não ocidentais eram vistas como as mais simples,
essa perspectiva implicava em uma série de preconceitos e estereótipos.
A ideia de progresso das populações não europeias só seria possível com
o contato e dominação pelos europeus, com base em normas e valores da
sociedade ou da cultura daqueles que dominavam. Á medida em que os
“outros” não se encaixavam nesses valores, eles seriam classificados, em
uma escala evolutiva, dos “mais” aos “menos” evoluídos o que, consequen-
temente, designou o que conhecemos como: etnocentrismo.

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A distinção entre os civilizados e os primitivos legitimou a mis-
são civilizatória estabelecida ao longo do século XIX e início do XX,
conhecida como neocolonialismo, na qual, potências capitalistas legiti-
mavam as teorias evolucionistas. O mundo contemporâneo, a partir do
século XX, trouxe novos olhares e a construção de uma crítica ao que
era considerado cultura. A própria antropologia dedicou-se a questionar
suas bases teóricas, que se sustentavam nos modelos evolucionistas.
Tais modelos começaram a ser considerados etnocêntricos, pois ado-
tavam valores e critérios de outras sociedades, em detrimento das que
estavam sendo pesquisadas. O foco dos antropólogos, ao longo do sé-
culo XX, foi documentar a vida indígena em vários lugares do mundo,
com uma preocupação universal: a diminuição desses povos.
k

A I
FIQUEATENTO!
Evolucionismo x darwinismo social

O evolucionismo social está atrelado ao evolucionismo bio-


lógico. Ambos, discutidos por Charles Darwin (1802-1882) e Herbert
Spencer (1820-1903). Tais estudiosos defendiam a ideia de progresso
e o conjunto de teorias elaboradas ficou conhecido como Darwinismo
social, que defendia a existência de diferenças fundamentais entre os
grupos humanos e as divisões de raças.
A noção de “raça” foi introduzida no século XIX, e é um termo
de múltiplos conteúdos, que vão da ciência à ideologia, sempre que
está em jogo a diversidade da espécie Homo sapiens. Produzidas por
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cientistas, como o naturalista francês Georges Cuvier (1769-1832), que


dividiu a humanidade em três espécies: caucasiana, etiópica e mongó-
lica.

FONTE: SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder


discricionário dos estereótipos. Anuário Antropológico/ Tempo Brasi-
leiro; pg. 175-203. Rio de Janeiro, 1995.

Trabalhos, como os de Cuvier, abriram caminhos para as teo-


rias deterministas, que buscavam nas “leis da natureza”, a explicação
para as diferenças físicas e culturais. A cor da pele foi a característi-
ca classificatória que impôs, tanto as taxonomias científicas como as
concepções mais populares sobre raças humanas. São ideias distintas,
embora o racismo tenha sido propagado no século XIX, no âmbito de
uma “ciência das raças”, produzida por antropólogos, psicólogos, soció-
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logos, ensaístas e filósofos, afim de colocar a superioridade absoluta da
raça branca sobre todas as outras.
Nomes importantes como o de Franz Boas (1858-1942), que
na sua obra, contrapôs-se aos evolucionistas e, através de seus estu-
dos disseminou que a ideia baseada numa escala evolutiva das socie-
dades - os “selvagens” ou “naturais”, chegando às “sociedades civiliza-
das” europeias - vai sendo gradualmente abandonada pelos estudos
antropológicos. Já Bronislaw Malinowski (1884- 1942), também ficou
conhecido como um grande crítico dos evolucionistas e trouxe para a
antropologia o método etnográfico e a observação participante, assim,
para esse autor, o antropólogo precisa mergulhar na cultura local.
Segundo Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, na obra “Racismo
e Antirracismo no Brasil”, de 1999, o conceito de “raça” não faz sentido
senão no âmbito de uma ideologia ou teoria taxonômica, que para o
autor é nominada como racialismo. Tal conceito auxilia na compreen-
são de certas ações sociais, contudo, esse é um conceito sociológico e
precisa ser analisado sem estar relacionado com questões biológicas.
(1999; pg. 31)
A noção de racismo e o processo de naturalização não podem
ser reduzidos da ideia de natureza a uma noção biológica, sendo que
existem várias maneiras de “naturalizar” as hierarquias sociais. O termo
“natural”, no seu sentido amplo, está relacionado a uma ordem a-históri-
ca ou trans-histórica, representando apenas atributos gerais da espécie
humana ou das divindades. De acordo com Guimarães (1999), quando
essa ordem natural delimita as distâncias sociais, assiste-se a sistemas
de hierarquização rígidos e inescapáveis.
Ainda, para o autor, as hierarquias sociais podem ser justifi-

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cadas e racionalizadas de diferentes modos, fazendo, todas, apelo à
ordem natural, como aconteceu com os negros, que eram escravizados
ou mantidos em situação de “ralé”, porque sua “raça” seria intelectual-
mente e moralmente incapacitada para a civilização. Tais hierarquias
eram justificadas por teorias científicas da natureza: a eugenia, a biolo-
gia e a genética. (GUIMARÃES, 1999, pg. 32).
Para Guimarães (1999), o campo de pesquisa científica conhe-
cido como “relações raciais” é de inspiração norte-americana. A ideia
de “raça”, no Brasil, foi inspirada nos vários determinismos raciais euro-
peus e norte-americanos, pelo conceito de superioridade da civilização
ocidental moderna. Foi seguido o modelo padrão utilizado nos Estados
Unidos para comparar, contrastar e entender a construção social das
“raças”, acabando assim, por negar e esconder e existência delas.
A escravidão funcionou como uma barreira ao desenvolvimento
econômico e à civilização, pois os negros e os mestiços representavam
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as raças inferiores que dificultavam a construção de uma nação moder-
na, pois eram indivíduos incapazes de competir livremente no mercado
de trabalho. A vocação prática do racismo planejou uma nação: o Brasil
moderno, branqueado através do amplo incentivo à imigração europeia.
O racismo chegou ao Brasil na condição de ciência nas últimas
décadas do século XIX, e o pressuposto determinista contido na ideia
de raça foi aceito pelos homens das ciências e incorporado ao discurso
político. A aceitação da tese do branqueamento implicou no apoio a
uma política imigratória, visando introduzir no Brasil, apenas imigran-
tes brancos. Portanto, essa ideologia incentivou a vinda de imigrantes
brancos devido à crença dos efeitos negativos de raças inferiores para
a civilização. Essa politica afirmava a inferioridade de grande parte da
população nacional (negros, índios e mestiços) e também condenava
as imigrações asiáticas e negras, pois representavam atraso ou com-
prometimento do processo de branqueamento.
A Antropologia Biológica e a Genética, atualmente, preferem
trabalhar com o conceito de população, afastando-se das velhas clas-
sificações fenotípicas, que também serviram ao discurso racista; con-
tudo, utilizando ou não o termo raça, a diversidade da espécie humana
é reconhecida como fato biológico. Porém, a substituição da palavra
raça por população não produz alteração nas ideologias comprometidas
com a ideia de desigualdade. Mudam os critérios e o discurso, mas a
ideologia da desigualdade mantém-se imutável. (SEYFERTH, 1995; pg.
179- 183).

IMPORTANTE!
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Intelectuais brasileiros como Sílvio Romero (1851-1914), Eu-


clides da Cunha (1866-1909), Nina Rodrigues (1866-1906) e Oliveira
Vianna (1883- 1951) procuraram interpretar a população brasileira do
ponto de vista da hierarquia racial. Esse olhar resultou em divisões,
elencadas por Oliveira Vianna que, segundo ele, os mamelucos, cafu-
sos, cabras, mulatos, curibocas, caboclos formavam as ralés da raça e
o caos étnico do Brasil colonial.
Tal divisão serviu para justificar o domínio político da elite bran-
ca no século XX, a raça transformada em instrumento explicativo da
história e da estratificação social, imaginada como resultado de diferen-
ças raciais num momento que esse assunto era (e continua sendo) de
grande relevância para o Brasil.

16
FONTE: SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder
discricionário dos estereótipos. Anuário Antropológico/ Tempo Brasi-
leiro; pg. 175-203. Rio de Janeiro, 1995.

No Brasil, entre os anos de 1920 e 1930, predominavam, nas


perspectivas evolucionistas, questões que atrelavam a superioridade de
raças e criticas à mestiçagem. O pensamento sociológico e antropológi-
co obedeceu também às condições de desenvolvimento do capitalismo
e à dinâmica própria de inserção do país na ordem capitalista mundial,
o processo de formação, organização e sistematização do reflexo da
herança colonial, da cultura jesuítica e o lento processo de formação do
Estado nacional, contribuíram para a elaboração do acervo de conheci-
mento sobre as populações que aqui se encontram.
A influência direta e ditada pelas normas europeias cogitava in-
tuitos dos intelectuais da época, além de ganhar o diploma, precisavam
concorrer com a importância do título de propriedade da terra. A ativi-
dade intelectual crítica, de inspiração liberal, em uma sociedade ainda
colonial e escravocrata, causava um distanciamento da classe culta em
relação às condições da grande maioria da população. Essa dicotomia,
entre a realidade vivida e o conhecimento produzido, caracterizava uma
nova forma de afastamento, reflexo do desenvolvimento tardio da ciên-
cia no Brasil.
Inúmeros professores foram convidados a vir do exterior para
formar profissionais das Ciências Sociais. Para a Escola Livre de So-
ciologia e Política de São Paulo vieram Donald Pierson (1900-1995)
e Radcliffe-Brown (1881-1955). Para a USP, veio a chamada “Missão
Francesa”, composta por Lévi-Strauss (1908-2009), Georges Gurvitch

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(1894-1965), Roger Bastide (1898-1975) e Fernand Braudel (1902-
1985). No Rio de Janeiro, o pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987)
assumiu seu posto como Antropólogo pela Universidade do Distrito Fe-
deral. Em 1939 o alagoano Arthur Ramos (1903-1949) assumi seu pos-
to de Antropólogo na Universidade do Rio de Janeiro.
Com a profissionalização das Ciências Sociais, a partir dos
anos 1930, no Brasil, e com a grande leva de professores que vieram
dos Estados Unidos, a influência estadunidense tornou-se predominan-
te. A noção de aculturação, pela perspectiva cultural, elucidou a intera-
ção das populações de imigrantes à vida nacional.
A influência direta de Franz Boas, para os intelectuais da épo-
ca, refletida em trabalhos, principalmente, do aluno Gilberto Freyre,
trouxe a inovação do olhar antropológico, voltado para a inversão das
hierarquias raciais e o pessimismo em relação ao povo brasileiro.

17
m FIQUE ATENTO!
Etnocentrismo está relacionado à tendência de pensar e agir
como se as diferenças culturais de outros povos necessitasse passar
pelo julgamento e valores dos parâmetros culturais da nossa cultura. É
o mecanismo principal das classificações evolucionistas. Na medida em
que os “outros” não se encaixam nesses valores, tendemos a rejeitá-los
como inferiores, primitivos, selvagens. A Antropologia traz a noção de
que as culturas são diferentes uma das outras. O etnocentrismo não é
um problema, trata-se de uma consequência inerente ao fato de pes-
soas viverem sob a influência de qualquer cultura e da realidade social-
mente construída que a acompanha.

Aculturação é o contato com duas ou mais culturas, que pode


influenciar de varias maneiras, porém, um grupo dominante pode impor
com tanta eficácia sua cultura que os grupos subordinados podem, con-
sequentemente, tornar-se indistinguíveis da cultura dominante.

Fonte: JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia


prático da linguagem sociológica. Ed. Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 1997.

A chegada da Antropologia no Brasil carrega, em sua história,


diversos caminhos tomados para a sua concretude. Assim, para Giralda
Seyferth, a antropologia caminha lado a lado com as interpretações so-
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bre a invenção da raça. Já Roque de Barros Laraia, permite a reflexão


sobre o papel dos médicos nesse contexto, não deixando de lado a
questão discutida por Seyfertth. Nesse processo, no artigo “Os primór-
dios da Antropologia Brasileira (1900-1979)” o autor pontua que:

Pode ser que alguém acredite que nossa Antropologia começou nos austeros
corredores do Museu Nacional, por onde entre vitrines repletas de ossos e de
estranhos instrumentos, transitavam os primeiros antropólogos físicos. Ou-
tros podem transferir esse começo para a Semana Modernista de 22, onde
pontificava a figura genial de Mário de Andrade, dublê de turista amador e
pesquisador de campo. Mas eu, como minha colega, Mariza Corrêa, acre-
dito que o nosso primeiro antropólogo foi o médico maranhense, radicado
na Bahia, Raymundo Nina Rodrigues. Nesse sentido, é muito oportuno re-
lembrar o papel dos médicos na história de nossa disciplina. Foram eles os
fundadores ou incentivadores da Antropologia em diversas regiões do país.
(LARAIA, 2014; pg.10)

18
Para Laraia, o papel dos médicos na história da Antropologia, é
o de atuar como incentivadores ou até mesmo fundadores da Antropo-
logia em diversas regiões do país. Nomes conhecidos, como o de Nina
Rodrigues, trouxeram para a disciplina o olhar cientificista da antropo-
logia criminal, hoje também, denominada biologia criminal, que tenta
entender a influência da raça em cometimentos de crimes. Rodrigues
foi influenciado pelas ideias do médico italiano Lambroso, pioneiro nos
estudos sobre a cultura negra no país. Segundo o médico, há um tipo
humano especial, devidamente caracterizado por uma série de traços
somato-psíquicos, que configura o “criminoso nato”. A postura etnocên-
trica de Lambroso ofereceu elementos para o discurso de que os negros
tinham uma aptidão maior para o crime, devido a sua genética. Laraia
apresenta a entrevista concedida a Hélgio Trindade, do professor Luiz
de Castro Faria, que respondeu à questão da influência da medicina na
antropologia:

Com a criação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras todas elas


eram obrigadas a ter professores de antropologia, (...) no primeiro ano era
antropologia biológica, então era um médico escolhido sempre, porque tinha
a formação que se prestava a essa ampliação, em termos de raça, crânio...
(LARAIA, 2014; pg. 13)

Entre as décadas de 1930 e 1960 começam, no Brasil, os estu-


dos de caráter funcionalista, que buscavam analisar as totalidades inte-
gradas, principalmente em relação às populações indígenas, seguindo
os métodos utilizados por Malinowiski (1884-1942) e Radcliffe-Brown

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(1881-1955). Os objetivos dos estudos antropológicos ampliaram-se e
voltaram-se para temas pontuais, como as questões indígenas, os efei-
tos da urbanização e da industrialização e os reflexos dessa moderniza-
ção para os povos do campo.

IMPORTANTE!
Bronislaw Malinowski (1884-1942) ficou conhecido por utilizar
a fotografia como instrumento para a elaboração da sua pesquisa de
campo. Esse método etnográfico tornou-se um dos principais métodos
utilizados no século XX. A perspectiva de “mergulhar na cultura local”,
participando da vida dos sujeitos, evitou generalizações históricas, as-
sim, oferecendo críticas aos evolucionistas que ainda se apegavam às
teorias da evolução.

19
Radcliffe-Brown (1881-1955) também compartilhava da ideia
e, juntos romperam com a herança evolucionista. Tanto para Radcliffe-
-Brown quanto para Malinowski, o olhar para o presente oferecia ele-
mentos para se chegar numa explicação das estruturas sociais das so-
ciedades, portanto, a observação participante permite o entendimento
de como as sociedades se organizam, mantendo suas estruturas em
funcionamento para seu devido equilíbrio, desse modo, combatendo as
generalizações históricas.

Darcy Ribeiro (1922-1997) romancista, etnólogo e político, su-


perou sua formação acadêmica funcionalista e passou a denunciar as
relações interétnicas brasileiras, que tinham como resultado, o aniqui-
lamento dessa cultura e dessa etnia. Sua atuação foi sempre a de um
antropólogo militante que, seguindo a linha marxista, buscou as raízes
históricas da situação das populações indígenas. Foi coordenador da
Sessão de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios e criou o Museu
do Índio. Para Darcy Ribeiro, a construção de estudos sobre a formação
social do povo brasileiro está relacionada:

A sociedade e a cultura brasileiras são conformadas como variantes da ver-


são lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas por
coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos. O Brasil
emerge, assim, como um renovo mutante, remarcado de características pró-
prias, mas atado genericamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades
insuspeitadas de ser e de crescer só aqui se realizariam plenamente. A con-
fluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderiam ter resultado
numa sociedade multiétnica, dilaceradora pela oposição de componentes di-
ferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, ape-
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

sar de sobreviverem na fisionomia somática e no espirito dos brasileiros os


signos da sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas
minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades éticas pró-
prias e disputantes de autonomia frente a nação. (RIBEIRO, 2006; pg. 17-18)

Sob tais pontuações sobre a formação social brasileira, suas


raízes e suas diferenças, Darcy Ribeiro vai mais além que Gilberto
Freyre e oferece elementos analíticos para compreensão das especifi-
cidades brasileiras, com traços de uma única etnia, porém, semelhantes
e diferentes entre si. Segundo ele, o Brasil é mais que uma simples
etnia, o país carrega traços de um povo-nação assentado num território
próprio, diferente de sociedades multiétnicas que são regidas por Esta-
dos unitários, dilacerados culturalmente como, citado por ele, a Guate-
mala e a Espanha. Porém, essa tal unidade multiétnica brasileira não
pode ser tomada como única e exclusiva:

20
A unidade nacional, viabilizada pela integração econômica sucessiva dos di-
versos implantes coloniais, foi consolidada, de fato, depois da independên-
cia, como um objetivo expresso, alcançado através de lutas cruentas e da
sabedoria política de muitas gerações. Esse é, sem duvida, o único mérito in-
discutível das velhas classes dirigentes brasileiras. (RIBEIRO, 2006; pg. 20)

Os caminhos da Antropologia, no Brasil, vão tomando corpo


e fixando teorias e lugares. Laraia expõe uma lista de acontecimen-
tos para a consolidação da Antropologia que, segundo ele, inicia-se em
1955, durante a 2ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada em
Salvador, na qual foi criada a Associação Brasileira de Antropologia.
Nos anos 50, continua o predomínio da influência americana no país. É
o período dos chamados “estudos de comunidades”. Houve críticas em
relação aos estudos de comunidades, como, por exemplo, as de Otávio
Ianni, e da antropóloga Maria Laís Mousinho Guidi. (LARAIA, 2014; pg
16)
Até o final de 1960, o primeiro trabalho do antropólogo era a
sua primeira pesquisa de campo. Foi a partir desse ano, que se consti-
tuiu um marco importante do crescimento do papel das Universidades
na formação de novos antropólogos, e de uma iniciativa realizada no
Museu Nacional, com a cooperação do Instituto de Ciências Sociais,
da Universidade do Brasil, que inaugura o “Curso de Teoria e Pesquisa
em Antropologia Social”. Em 1962, a Divisão de Antropologia do Museu
Nacional firmou um convênio com a Universidade de Harvard para a
execução do “Harvard Central Brazil Reseach Project”, coordenado por
David Maybury-Lewis e Roberto Cardoso de Oliveira, que contou com

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


a participação de vários jovens antropólogos americanos como Terence
Turner, além de Julio Cezar Melatti e Roberto DaMatta. O golpe militar
de 1964 atingiu diretamente as Ciências Sociais brasileiras, seu impac-
to foi, no entanto, no contexto das Universidades.
A Antropologia foi menos atingida que a Sociologia, a Ciência
Política e a História. Apesar disso, foi no segundo lustro dos anos 60,
em plena ditadura, que a Antropologia iniciou o seu grande crescimento,
em julho de 1968 – seis meses antes do AI-5 – o Museu Nacional deu
início ao primeiro Programa de Mestrado em Antropologia Social, em
conformidade com as normas estabelecidas pela Portaria Sucupira.
Em 1972, foram criados os programas de pós-graduação em
Antropologia Social, da Universidade de Brasília e o da Universidade
Estadual de Campinas. Nos anos seguintes da mesma década, novos
programas de pós-graduação surgem na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Universidade Federal de Pernambuco, e na Universida-

21
de Federal do Rio Grande do Norte. E, finalmente, o desenvolvimento
ocorria também nos Programas de Pós-Graduação em Ciências So-
ciais, nos quais a Antropologia aparecia como uma área de concentra-
ção. (LARAIA, 2014; pg 17-18)
Para Celina Ribeiro Hutzler, no artigo: “Antropologia Urbana”
(1976), existem estudos que consideram que, atualmente, mais da me-
tade da população brasileira vive em cidades. O fenômeno da urbaniza-
ção é mundial e o crescimento diluvial das metrópoles, trouxe consigo,
problemas vários e situações novas. Uma ciência que pretende ser o
estudo global do homem e de suas obras não pode desprezar a análise
das cidades. Segundo Hutzler:

A visão transcultural da antropologia, sua preocupação com as regularidades


e generalizações da cultura, o enfoque histórico certamente lhe darão exce-
lentes condições de servir de instrumento para entender os problemas urba-
nos não como únicos e particulares de uma só cidade, mas, como problemas
de outras terras e outras gentes, em um mesmo estágio de desenvolvimen-
to. Darão a compreensão de problemas que são comuns a outros povos
e outras culturas em diferentes estágios tecnológicos por serem problemas
pan-humanos. E ainda, tornarão mais clara a visão de que a civilização ur-
bano-industrial é somente uma etapa da evolução da humanidade, não a
última nem a única solução possível. O homem que construiu os iglus nos
polos, que usou as cheias do Nilo para irrigar cultivos agrícolas, que criou
regras de convivência capazes de permitir que diferentes gerações vivessem
harmoniosamente em uma única unidade residencial, que aproveitou o cura-
re para caçar, certamente sobreviverá aos edifícios de apartamentos, aos
aparelhos de ar condicionado, aos engarrafamentos de trânsito, às grandes
organizações, aos supermercados, aos dolos e confortos das cidades mo-
dernas. (HUTZLER, 1976; p. 163)
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

A partir da década de 1970, já em outros estudos, é levantada a


questão: “até que ponto pode-se dizer que o país está em uma crescente
urbanização?”, da qual, são destacados dados sobre todas as pessoas
que residem em sedes municipais ou distritais, que são oficialmente
calculadas como urbanas, contabilizando um total de 81,2% do grau de
urbanização no Brasil. Porém, segundo Veiga, nos dados analisados no
ano de 2000 havia 1176 municípios ou distritos brasileiros que contabili-
zaram com menos de dois mil habitantes em suas sedes, como aponta
José Eli Veiga na obra: “A dimensão rural no Brasil” (2004; pg. 76).
Isso demonstra, que as heranças carregadas desde o comple-
xo cafeeiro na urbanização do país, causaram dificuldades de se chegar
às vias de fato, sobre a dicotomia campo/cidade, e que, no campo, vem
ocorrendo um esvaziamento; num país que considera sua população
80% urbana e 30% rural, sendo que muitas áreas urbanas não possuem
22
elementos suficientes para dizer que aquela localidade é, de fato, uma
cidade, como, por exemplo, o tratamento de água e esgoto, questão
essa frisada por José Eli Veiga (2004; pg. 78).

IMPORTANTE!
As diferenças entre rural e urbano acentuaram-se, e a moder-
nização “das mentalidades” caminhou junto com tais mudanças, tanto
para as “boas” condições, oferecida pelas cidades, quanto ao “nível”
de cultura que se poderia chegar. Segundo Milton Santos e María Lau-
ra Silveira, na obra: “Brasil: Território e sociedade no início do século
XXI” (2010), a preocupação em modernizar o campo nos anos finais do
século XX, estava em responder as exigências do mundo globalizado,
acompanhar a demanda de “racionalidade” a ser empregada no plan-
tio, nos cuidados, na colheita, na armazenagem, estocagem, empaco-
tamento, transporte e comercialização justificando, assim, o surgimento
de instituições de ensino e de pesquisa aplicada na área da agricultura
(2010, p.281).
Aparece, também, na década de 1970, o conceito de identida-
de, que passou a ser uma referência para compreender as questões
das classes sociais referentes às relações urbanas e etnias, assim, con-
figurando novos significados para o conceito de identidade e etnicidade.
A partir dos anos de 1980, o numero de graduados em Antropologia
aumenta, os temas relacionados ao urbano crescem e o elevado índice
de desenvolvimento, nessa área, causa discussões sobre um possível
distanciamento de pesquisas relacionadas à Antropologia indígena.

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


A partir dos anos 2000, é que se consolidam as pesquisas da
Antropologia urbana, levando em consideração todas as transforma-
ções entre países subdesenvolvidos. Para Gilberto Velho (1954- 2012),
a construção da Antropologia urbana envolve um vasto e diversificado
espaço de diálogo com as diferentes disciplinas e tradições, que lidam
com a cultura e a sociedade.

23
RECAPITULANDO
i
QUESTÃO 1
Ano:2015 Banca: IF-RS Órgão: IF-RS Prova: IF-RS - 2015 - IF-RS -
Professor - Ciências Sociais/Sociologia
Sobre a produção que consolida a antropologia no quadro das
ciências, entre meados do século XIX e início do século XX, é IN-
CORRETO afirmar que:
a) Desde a consolidação da antropologia como ciência, verificou-se a
tendência de os antropólogos desenvolverem conceitos que permitis-
sem consolidar uma crítica ao colonialismo moderno.
b) África, Índia, Austrália e Nova Zelândia estão entre os territórios
em que foram desenvolvidos muitos dos mais importantes estudos do
período.
c) Entre as grandes obras do período temos “Ancient Law”, de Henry
Maine, “A Cultura Primitiva”, de Edward Tylor e “O Ramo de Ouro”, de
James Frazer; nestas, os povos “primitivos” são tomados como uma es-
pécie de ancestrais vivos dos civilizados, que, nestes estudos, estavam
como que em busca de suas origens.
d) Entre as temáticas que mais atraíram o interesse desses primeiros
antropólogos estão os saberes, os mitos, a magia e a religião dos povos
primitivos.
e) A partilha da África entre as potências europeias, realizada no fim
do século XIX, oferece aos antropólogos um vasto campo a explorar a
partir dos interesses da disciplina em formação.

QUESTÃO 2
Ano: 2016 Banca: IF-TO Órgão: IF-TO Prova: IF-TO - 2016 - IF-TO -
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

Professor Sociologia
“É a diversidade que deve ser salva. É necessário, pois, encorajar
as potencialidades secretas, despertar todas as vocações para a
vida em comum que a história tem de reserva; é necessário tam-
bém estar pronto para encarar, sem surpresa, sem repugnância e
sem revolta, o que estas novas formas sociais de expressão po-
derão oferecer de desusado. A tolerância não é uma posição con-
templativa dispensando indulgências ao que foi e ao que é. É uma
atitude dinâmica, que consiste em prever, em compreender e em
promover o que se quer ser.”
(LÉVI-STRAUSS, C. “Raça e História”. In: Antropologia Estrutural
Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.)
Lévi-Strauss escreveu “Raça e História”, a pedido da UNESCO no
contexto pós-Segunda Guerra Mundial, defendendo a diversidade
cultural como um grande patrimônio e para pôr fim à ideia de supe-
24
rioridade por parte de alguns povos. Nesse sentido, o estudo das
culturas e povos diferentes que a antropologia fez ao longo de sua
história é de fundamental importância. E o entendimento desses
povos e/ou culturas diferentes só é possível graças ao desenvol-
vimento de um método muito típico da antropologia. Este método
é o:
a) Trabalho de Campo
b) Relativismo Cultural
c) Etnocentrismo
d) Método da observação participante
e) Perspectivismo

QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: IBFC (Instituto Brasileiro de Formação e Capa-
citação) SEDUC-MT –Professor – Sociologia- Nível: Superior Com-
pleto
A formação da realidade brasileira é marcada pela complexidade
de fatos sociais, históricos, econômicos e culturais. Com o intuito
de melhor compreender estes processos e de elaborar uma visão
sobre os mesmos que partisse, sobretudo, de dentro desta mes-
ma realidade e não a mera importação de explicações estrangei-
ras, autores como Darcy Ribeiro, Celso Furtado e Caio Prado Jr.
lançaram suas obras, “O Povo Brasileiro: Formação e sentido do
Brasil”, “Formação Econômica do Brasil” e “Formação do Brasil
Contemporâneo”. A respeito do que é apresentado em “O Povo
Brasileiro” de Darcy Ribeiro assinale a alternativa correta.
a) Segundo o autor a ideia de pureza étnico cultural é cabível apenas

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


para a “matriz portuguesa”
b) Darcy Ribeiro demonstra que em sua gênese a população brasileira
deriva de matrizes multiculturais desde o princípio
c) O sentido da empreitada colonizadora foi o de promover o avanço
intelectual aos povos nativos do novo mundo
d) O autor vai defender a tese que a constituição do “povo brasileiro” se
deu através da miscigenação racionalmente induzida entre os diferen-
tes grupos que compuseram a população brasileira
e) A obra de Darcy Ribeiro acaba por criticar a ideia de “Povo-Nação”

QUESTÃO 4
Ano: 2015 Banca: IF-RS Órgão: IF-RS Prova: IF-RS - 2015 - IF-RS -
Professor - Ciências Sociais/Sociologia
Para Roque Laraia, em seu clássico livro “Cultura, um conceito an-
tropológico”, uma das premissas da antropologia, ao estabelecer
25
uma centralidade do conceito de cultura, é assumir o relativismo
como princípio e romper com quaisquer determinismos. Com base
nas discussões do autor, assim, é INCORRETO afirmar que:
a) Romper com o determinismo biológico significa compreender que di-
ferenças genéticas não determinam diferenças culturais, que não há
raças na espécie humana, e, portanto, não há superiores e inferiores.
Do mesmo modo, as diferenças entre os sexos não explicam aptidões
diferenciais entre homens e mulheres.
b) Romper com o determinismo geográfico implica ter claro que o clima
não modela as civilizações, pois verifica-se grande diversidade cultural
em um mesmo ambiente ou em ambientes parecidos, e há muitas res-
postas possíveis para problemas semelhantes enfrentados pela huma-
nidade.
c) Clifford Geertz, refutando a “Teoria do Ponto Crítico”, aponta que as
dimensões culturais e biológicas, no ser humano, influenciam-se mutua-
mente. Compreendendo a cultura como conjunto de sistemas de símbo-
los, aponta que a capacidade de pensamento simbólico surge completa,
como um importante salto evolutivo no processo de hominização.
d) Baseado na teoria de Alfred Kroeber, Laraia aponta que a cultura leva
o ser humano muito além de suas limitações orgânicas, de modo que
sobrevivemos a condições extremas, mesmo com um aparato biológico
pobre, e o desenvolvimento cumulativo das civilizações indica que cria-
mos o nosso próprio processo evolutivo.
e) O Evolucionismo do séc. XIX, a primeira grande escola antropológi-
ca, baseava-se no axioma da igualdade da humanidade. As críticas a
esta perspectiva, inicialmente, concentraram-se na imprecisão metodo-
lógica de seus pensadores, tida como insuficiente para a sustentação
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

de seus argumentos, bem como em seu etnocentrismo.

QUESTÃO 5
ANO: 2014 Banca: UFU nível: Médio
No livro Cultura: um conceito antropológico, Laraia (2009) afirma:
“A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente
pelo dimorfismo sexual, mas é falso que as diferenças de compor-
tamento existentes entre as pessoas de sexo diferentes sejam de-
terminadas biologicamente. A Antropologia tem demonstrado que
muitas atividades atribuídas às mulheres em uma cultura podem
ser atribuídas aos homens em outras”
LARAIA, Roque de B. Cultura – um conceito antropológico. Rio de
Janeiro: Zahar, 24ª ed, 2009, p. 19.
O trecho acima expressa
a) uma aceitação do determinismo biológico, por entender que homens
26
e mulheres são anatômica e fisiologicamente diferentes.
b) uma crítica ao determinismo biológico, em proveito da ideia de que
a educação e a cultura são importantes no comportamento dos sexos.
c) uma crítica ao determinismo cultural, já que o dimorfismo sexual é
responsável por diferenças essenciais entre os sexos.
d) uma crítica ao determinismo cultural, porque diferenças genéticas
são determinantes das diferenças culturais.

QUESTÃO 6
ANO 2015- BANCA:IF-RS CARGO- Sociologia
Para Roque Laraia, em seu clássico livro “Cultura, um conceito an-
tropológico”, uma das premissas da antropologia, ao estabelecer
uma centralidade do conceito de cultura, é assumir o relativismo
como princípio e romper com quaisquer determinismos. Com base
nas discussões do autor, assim, é INCORRETO afirmar que:
a) Romper com o determinismo biológico significa compreender que di-
ferenças genéticas não determinam diferenças culturais, que não há
raças na espécie humana, e, portanto, não há superiores e inferiores.
Do mesmo modo, as diferenças entre os sexos não explicam aptidões
diferenciais entre homens e mulheres.
b) Romper com o determinismo geográfico implica ter claro que o clima
não modela as civilizações, pois verifica-se grande diversidade cultural
em um mesmo ambiente ou em ambientes parecidos, e há muitas res-
postas possíveis para problemas semelhantes enfrentados pela huma-
nidade.
c) Clifford Geertz, refutando a “Teoria do Ponto Crítico”, aponta que as
dimensões culturais e biológicas, no ser humano, influenciam- simul-

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


taneamente. Compreendendo a cultura como conjunto de sistemas de
símbolos, aponta que a capacidade de pensamento simbólico surge
completa, como um importante salto evolutivo no processo de homini-
zação.
d) Baseado na teoria de Alfred Kroeber, Laraia aponta que a cultura leva
o ser humano muito além de suas limitações orgânicas, de modo que
sobrevivemos a condições extremas, mesmo com um aparato biológico
pobre, e o desenvolvimento cumulativo das civilizações indica que cria-
mos o nosso próprio processo evolutivo.
e) O Evolucionismo do séc. XIX, a primeira grande escola antropológi-
ca, baseava-se no axioma da igualdade da humanidade. As críticas a
esta perspectiva, inicialmente, concentraram-se na imprecisão metodo-
lógica de seus pensadores, tida como insuficiente para a sustentação
de seus argumentos, bem como em seu etnocentrismo.

27
QUESTÃO DISSERTATIVA- DISSERTANDO A UNIDADE
Considerando o desenvolvimento da antropologia, com relação à noção
de determinismo biológico, o posicionamento adotado pela antropologia
contemporânea, com relação à associação entre as diferenças genéti-
cas e as diferenças culturais no último século, discorra sobre a noção
de determinismo biológico.

TREINO INEDITO
Para Laraia, o papel dos médicos na história da Antropologia era de:
a) apoiar os antropólogos.
b) difundir as pesquisas antropológicas.
c) incentivadores ou até mesmo fundadores da Antropologia.
d) incentivadores de pesquisas sobre a questão indígena
e) apoiadores dos etnógrafos

NA MÍDIA
Jornalista usa determinismo do século 19 para criticar Beauvoir
A prova do Enem trouxe, neste ano, duas questões que muito foram
discutidas: a pergunta sobre o livro “O Segundo Sexo”, de Simone de
Beauvoir, e o tema da redação sobre a “persistência da violência contra
a mulher na sociedade brasileira”. Ambas tocam em um ponto nevrálgi-
co de nossa sociedade – mas não só da nossa sociedade – e, por isso
mesmo, vimos as reações ultrapassarem a barreira da crítica teórica
para se estabelecerem no terreno de ofensas pessoais. Beauvoir foi
acusada de pedófila e nazista em textos e vídeos na internet, e os me-
nos radicais não se furtaram em acusá-la de “atrasada”. Afinal, por que
um texto escrito em 1949 ainda é capaz de provocar tamanha reação
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

no Brasil de 2015?
Talvez por justamente colocar em jogo questões que a cada dia pulsam
mais em nossas ruas e que a cada dia regridem mais em nosso Con-
gresso, tais como: o papel da mulher na sociedade brasileira, o poder
da mulher sobre seu próprio corpo, as relações desiguais de poder en-
tre homens e mulheres, a desigualdade de salários para os mesmos
cargos, o feminicídio –que se tornou legalmente crime, mas que não
deixou de ser uma prática que persiste na sociedade brasileira.
FONTE: Folha de São Paulo
DATA: 04/11/2015
Leia a notícia na íntegra:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/11/1701819-jornalista-
-usa-determinismo-do-seculo-19-para-criticar-beauvoir.shtml

28
NA PRÁTICA
Ao longo do século XIX, o Grão-Pará foi um dos vários cenários onde
se observou os embates entre agentes de cura, que se desvelaram em
meio a epidemias, como o da cólera e da lepra. De acordo com Ferreira
(2003), ao analisar a ciência dos médicos e a medicina popular, no início
do século XIX, no Brasil, durante os oitocentos, a disputa entre a medi-
cina acadêmica e as práticas de cura popular se tornou cada vez mais
evidente, sobretudo em determinados contextos, como o do combate
às epidemias, quando a gravidade da situação expunha a incapacidade
da ciência médica de deter a propagação das doenças. Atualmente,
apesar da biomedicina ainda se justificar como saber hegemônico, foi
com o fortalecimento da antropologia da saúde e da doença, nas últi-
mas duas décadas, no Brasil, que se passou a defender um relativismo
relacionado ao processo saúde/doença e às práticas de saúde, onde os
saberes e práticas de qualquer sistema médico são percebidos como
construções socioculturais (LANGDON, 2009).

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

29
O CONTEXTO HISTÓRICO
PARA A CONSOLIDAÇÃO DA
ANTROPOLOGIA NO BRASIL
Houve um forte debate sobre a questão da formação social
brasileira, fruto da herança dos ibéricos, a sobranceria hispânica, o
desleixo e a plasticidade lusitana, bem como o espírito aventureiro e o
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

apreço à lealdade de uns e outros e, ainda, seu gosto maior pelo ócio
que pelo negócio, desde o período da colonização, como lembra Darcy
Ribeiro. Os intérpretes das nossas características nacionais, como Sér-
gio Buarque de Holanda, viam mais falhas do que qualidades nessas
influencias, na nossa formação. A preguiça brasileira nos foi atribuída
desde a colonização, primeiro ao índio, negro até mesmo às classes do-
minantes viciosas – o índio indolente, o negro fujão e o caipira atrasado.
k
CS f IMPORTANTE!
Para Darcy Ribeiro, os interesses do povo nunca foram leva-
dos em conta, pelo fato de que tudo o que era pensado e produzido
em terras brasileiras era exportado e servia de prosperidade de outras

30
nações, e uma fonte de lucros para a metrópole. Não houve uma preo-
cupação em criar um conceito de povo, nem mesmo o direito elementar
de trabalhar e nutrir-se da própria terra. Um aglomerado de gente oriun-
do de varias partes da África, da Europa e os próprios nativos brasilei-
ros, numa sociedade de gentes multiétnicas. Assim, “O Brasil foi regido,
primeiramente, como uma feitoria escravagista, exoticamente tropical,
habitada por índios nativos e negros importados. Depois, como um con-
sulado, em que um povo sublusitano, mestiçado de sangues afros e
índios...” (RIBEIRO, 2006; pg. 404).
Os efeitos da urbanização, da industrialização e as populações
à margem dos grandes centros, foi umas das grandes preocupações a
partir dos anos de 1960. Com a consolidação da Antropologia, os obje-
tivos dos estudos abrangeram temas múltiplos sobre a cidade, o campo
e os indígenas.
A urbanização caótica, como destaca Darcy Ribeiro (2006),
de cidades e vilas passou, primeiramente, pelos contextos históricos
exteriores. O autor destaca os primeiros momentos de povoação do
território brasileiro. A Bahia foi a primeira povoada, e ao longo dos sé-
culos, outras cidades tomaram a posição de interiorizar a vida urbana,
desde São Luís, passando por Cabo Frio, Belém, Olinda, São Paulo
até Mariana (Minas Gerais). Assim, em quinhentos anos de história, a
rede urbana expande-se cobrindo todo o território brasileiro. (RIBEIRO,
2006, p. 177).

IMPORTANTE!

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


Para o escritor, crítico literário, sociólogo e professor Antonio
Candido (1918-2017), na obra “Os Parceiros do Rio Bonito”, essa con-
cepção de morador do campo, o caipira, não necessariamente o mo-
rador do Estado de São Paulo, mas também aqueles moradores da
grande parte de Goiás, Mato Grosso, Paraná e, de certa maneira, de
regiões do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, compõem o termo Pau-
listânia, utilizado pelo historiador Alfredo Ellis Junior (1960), para re-
ferir-se à extensão que abrange o ciclo do café, no sudeste brasileiro,
às características que se desdobraram numa variedade subcultural do
tronco português, abarcando desde São Luís, passando por Cabo Frio,
Belém, Olinda, São Paulo até Mariana (Minas Gerais), chamado por ele
de “cultural caipira”.

31
FONTE: CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito: es-
tudo do caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida.
Ed. Ouro sobre Azul. Rio de Janeiro, 2010.

As ideias de desenvolvimento e de transformações democráti-


cas no país, a partir de 1950, auxiliaram na compreensão da conjuntura
em que a industrialização começa a desencadear o processo de urbani-
zação, sendo um desses fatores, a utilização da mão de obra do campo
em setores urbanos.
Tais fatores contribuíram para acelerar as migrações em dire-
ção aos grandes centros urbanos, no entanto, o salário dos trabalhado-
res não acompanhou todo esse crescimento e a taxa de exploração de
força de trabalho aumentou. Essa expansão econômica contribuiu para
uma divisão do trabalho que favoreceu a urbanização:

[...] o produto real se acelera precisamente no período de Kubitschek, quando


passa de um crescimento médio de 11,2%, 8,1% no quinquênio 1953/1957
para um crescimento médio de 11,2%, isto é, elevando-se cerca de 38% em
relação ao período imediatamente anterior. Já se constatou que o coeficien-
te de inversão no período também se elevou extraordinariamente, cerca de
22% em relação ao quinquênio imediatamente anterior. O crescimento do
produto real da indústria foi, assim, mais que proporcional ao crescimento da
inversão, sendo explicado o diferencial entre as duas variáveis exatamente
pela maior produtividade das novas inversões e pelo aumento da taxa de
exploração de trabalho. [...] Sem embargo, a relação começa a desequili-
brar-se no sentido de um salário real que não chegava a cobrir o custo de
reprodução, da força de trabalho, simplesmente pelo fato que, não somente
à medida que o tempo passa, mas à medida que a urbanização avança, à
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

medida que as novas leis de mercado se impõem, o custo de reprodução da


força de trabalho urbana passa a ter componentes cada vez mais urbanos:
isto é, o custo de reprodução da força de trabalho também se mercantiliza e
industrializa. (OLIVEIRA, 2003, p. 83 e 84)

A expansão de grandes empresas privadas e as exigências por


qualificações, fez com que as famílias procurassem utilizar esses incen-
tivos para melhorar a renda familiar, visando uma possível ascensão
social. Mas era preciso, portanto, ter uma boa formação escolar para
ser um “indivíduo de sucesso”, na vida profissional. Assim,

A exigência de qualificação fundada na educação superior – a começar pelo


concurso publico exigido pelos governos – impõe-se de modo crescente.
Naturalmente, quando o chefe de família é empresário prospero, advoga-
do, médico, engenheiro, juiz, promotor, delegado, professor universitário as
possibilidades de ingresso do filho na universidade são facilitadas. O acesso

32
dos filhos de pequenos proprietários mais modestos (dono da farmácia, da
lojinha, da casa comercial do bairro, do armazém ou quitanda etc.) encontra-
va maiores obstáculos. Era mais difícil ainda para os filhos da classe média
baixa chefiada por bancários, vendedores de lojas, comerciais, professores
do ensino de primeiro e segundo grau, profissionais liberais de pouco êxito,
trabalhadores qualificados por conta própria, funcionários públicos de nível
médio, trabalhadores de escritórios de empresas etc. Mas, mesmo assim,
era possível. A remuneração que auferiam permitia uma vida apertada, às
vezes muito apertada, mas digna. Educar os filhos representava um grande
sacrifício. (MELLO; NOVAIS, 1998, p.595 e 596)

A cidade é algo além de um amontoado de homens individuais


e de convivências sociais, mais do que somente instituições, a cidade
é um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições, não sendo
somente um mecanismo físico e uma construção artificial, mas um pro-
duto da natureza humana, como lembra Robert Ezra Park (2018).
Celina Ribeiro Hutzler (1976), pontua que as culturas que de-
senvolveram suas próprias respostas tecnológicas utilizaram, funda-
mentalmente, os recursos disponíveis no crescimento de suas cidades,
e de seus polos industriais, o que se deu, paralelamente, ao desenvol-
vimento regional, dialogando, assim, com o meio ambiente. A autora
pontua que:

Também no desenvolvimento planejado das cidades poderia ser relevante


a contribuição dos antropólogos. A cidade não é gerada pela cidade, mas
esta é a representação física de um conjunto de instituições sociais grupadas
em um mesmo espaço geográfico. A inter-relação entre as diversas insti-
tuições sociais, o meio-ambiente geográfico e as estruturas físicas é que
determinarão a forma e o funcionamento da cidade e, conseqüentemente,

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


seus problemas. A participação dos antropólogos nos programas de desen-
volvimento das cidades esteve fortemente prejudicada pelo já referido receio
desses profissionais em trabalharem com sociedades urbanas e complexas.
O campo foi deixado aos sociólogos, aos demógrafos, aos geógrafos e aos
urbanistas. (HUTZLER, 1976; p. 166)

Hutzler faz referência à situação, na qual o modelo de desen-


volvimento industrial de Pernambuco, com o uso abundante de capital,
agrava a concentração da renda nas mãos de poucos (os proprietários),
marginalizando substancial parcela da população do processo produ-
tivo, tanto pela liberação de mão-de-obra como pelo enfraquecimento
das pequenas indústrias e das atividades artesanais (1976; p.169).
Segundo Darcy Ribeiro (2006), a urbanização e a industrializa-
ção são processos complementares, na medida em que as indústrias
oferecem empregos nos centros urbanos e o movimento de êxodo rural

33
em busca de novas oportunidades nas cidades. Um dos fatores causa-
dores desse processo é o monopólio da terra, a monocultura expulsa a
população rural e o problema se agrava, pois, nenhuma cidade brasi-
leira está preparada para receber um contingente grande de pessoas,
assim a questão da miséria da população urbana e a pressão na com-
petição por empregos se agrava. (RIBEIRO, 2006; p. 181-182).
A camada de trabalhadores especializados, as exigências de
leitura, boa escrita e o entendimento sobre o trabalho realizado am-
pliou-se, e aqueles que precisavam inserir-se no mercado de trabalho
deveriam adequar-se às novidades de cada setor profissional. A neces-
sidade de qualificação levou muitos trabalhadores a procurar os gran-
des centros urbanos. Apenas 17% desses trabalhadores ficaram com o
trabalho na agricultura, enquanto a maioria morava em grandes centros
urbanos. A região da Grande São Paulo foi um dos centros mais signifi-
cativos do período. (MELLO; NOVAIS, 1998, p.597)
Desse modo, a pretensão pelas “vantagens” na vida urbana
levou migrantes das áreas rurais a procurarem a sua inserção no mer-
cado de trabalho, porém, aqueles que não apresentavam formação
profissional trabalhavam com serviços que não exigiam tantas qualifi-
cações, como por exemplo, na construção civil e serviços domésticos.
A remuneração era baixa e ter a carteira assinada já seria um avanço:

A entrada do migrante rural no mercado de trabalho se dá em geral, para


homens, na construção civil, e, para mulheres, nos serviços domésticos. São
os únicos canais abertos para os que têm de “aceitar qualquer serviço”, pois
“não tem desembaraço”, “são acanhados”, “afobam-se”, “nunca tem a es-
perteza de quem já esta na capital”, “não entendem a linguagem da cidade”,
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

“não sabem mexer com máquinas”. Na construção civil, as tarefas são as


mais pesadas e as de mais baixa remuneração, por exemplo, a de servente
de pedreiro. O emprego doméstico feminino era, naquela época, muito pior
do que se pode imaginar hoje: começava com o amanhecer do dia e só
acabava quando a louça do jantar estava lavada; folga, só aos domingos,
depois do almoço; o quartinho apertado; o assédio sexual do filho do patrão,
as vezes do próprio patrão. Mas são acessíveis, também, outros postos de
trabalho nos serviços, em geral sem carteira assinada. Por exemplo, o de
serviço de limpeza, o de carregador de sacos de cereais, o de vigia noturno,
o de ajudante de caminhoneiro, ou de cozinheiro, ou de vendedor ambulante,
ou de feirante, o de lavador do automóvel. Tendem a confluir, assim, nesse
nível “inferior” da escala social, o migrante rural e os citadinos pobre – os
descendentes dos escravos -, que também se localizavam na base do mer-
cado de trabalho. (MELLO; NOVAIS, 1998, P.598 e 599)

O monopólio da terra e as ampliações de oportunidades de


crédito levaram a industrialização para a agricultura. A partir de 1970,

34
o latifúndio acentua seu caráter capitalista e surgem novas profissões
ligadas à agricultura. Cursos de nível superior foram incentivados e ga-
nharam destaque nesse período.
Essas transformações na agricultura, a partir de 1970, acelera-
ram as migrações do campo para as cidades. Esses migrantes procu-
ravam nas grandes indústrias um emprego que fornecesse segurança
e direitos assegurados pela legislação do trabalho. A grande massa de
trabalhadores não tinha qualificação, contudo, uma grande parte da po-
pulação se urbanizou com a esperança de uma vida melhor.
Muitos tentam a inserção nas novas formas de trabalho, no
campo. Os anos que vão de 1950 a 1980, marcou o período das mu-
danças na área rural, como a construção de estadas de rodagem e
incentivos para a infraestrutura econômica e social. A “marcha para o
interior do Brasil”, como lembra Mello e Novais (1998), possibilitou e
atraiu migrantes para o interior do país, como, por exemplo, o que ocor-
reu no norte do Paraná nos anos de 1950.
Com a “abertura” de novas terras, as cidadezinhas que fica-
vam próximas às grandes propriedades rurais, começaram a receber
novos moradores, que iam apenas para fazer o que chamamos de “bá-
sico”: comprar alimento, ir à missa, vender o resto da produção, e aca-
bavam instalado, construindo e fixando-se nessas pequenas cidades.
Em dados estatísticos,

Foi assim que migraram para as cidades, nos anos 50, 8 milhões de pessoas
(cerca de 24% da população rural do Brasil em 1950); quase 14 milhões, nos
anos 60 (cerca de 36% da população rural em 1960); 17 milhões, nos anos
70 (cerca de 40% da população rural de 1970). Em três décadas, a espanto-

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


sa cifra de 39 milhões de pessoas! (MELLO; NOVAIS 1998, p. 581)

Essas mudanças tomaram uma proporção maior, e as dife-


renças entre o rural e o urbano acentuaram-se. A modernização “das
mentalidades” caminhou juntamente com tais mudanças, tanto para as
“boas” condições, oferecidas pela cidade, quanto ao “nível” de cultura
que se poderia chegar. Entretanto, tais modificações em vigor, trouxe-
ram “resistência à mudança”, num cenário em que a modernização e as
técnicas estavam fluindo e entrando no cotidiano da população. Toda
forma de oposição a elas ocasionaria um retrocesso, daí o surgimento
de estereótipos negativos aos que iam contra a modernização.
As transformações ocorridas no campo demonstraram que não
era mais possível ter como referência o modelo “atrasado” da cultura
tradicional camponesa e o modo de vida do homem do campo. Essas
referências não eram mais compatíveis com as novas formas de orga-

35
nização rural, a reorientação do modo de vida, as lutas contra o desem-
prego urbano e as novas formas de padrão agrícola foram uma forma
insistir na permanência no campo.
Em momentos de transformações dos centros urbanos pelo
país, o campo também apresentou mudanças e o Estado de São Paulo
não ficou de fora de tais transformações, tanto na entrada de maquiná-
rios agrícolas quanto no deslocamento do centro geográfico das plan-
tações. Isso já vinha ocorrendo desde começo do século XIX, mas to-
mou grande proporção quando a importância e o rápido crescimento da
produção do café foram incentivados e o trabalho assalariado começou
a crescer nas regiões rurais. (SILVA, 1976, p. 49 e 50)
Segundo Mirian Claudia Lourenção Simonetti (1999), devi-
do ao encontro dos diversos grupos sociais na região, os índios que
estavam à frente dessas terras, antes mesmo do homem branco, foram
os principais a sentirem os impactos e as consequências da expansão
demográfica e econômica paulista, que apresentava o início do proces-
so de territorialização do capital.
Durante a ocupação inicial da região, os índios Caingangues
já viviam em terras paulistas e estavam espalhados ao longo dos vales
do rio do Peixe, Batalha, Feio, Aguapeí e do baixo Tietê. Mirian C. L.
Simonetti (1999) aponta que o difícil contato e a oposição entre os ín-
dios Caingangues e a frente pioneira levaram ao declínio definitivo dos
índios. Muitos morrem em combate com os brancos, tanto de matança
quanto de doenças. Com isso,

Se o conflito entre índios e a frente de expansão significou perdas para os


índios, com o avanço da frente pioneira eles foram destruídos, expulsos ou
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

incorporados à sociedade “civilizada”, pois, nessas áreas, a perspectiva de


altos ganhos com a alta fertilidade aumentou a demanda de novas terras.
Nesse processo entraram não só grandes fazendeiros que procuravam ex-
pandir seus cafezais e negócios, como também médios e pequenos proprie-
tários em busca de oportunidades de ampliar suas propriedades e expandir
suas plantações de café. Surgiu também, de forma expressiva, a figura do
especulador e das companhias colonizadoras que lotearam as terras reven-
dê-las a pequenos proprietários. (SIMONETTI, 1999, p.21)

Diante da violência que se estabeleceu entre índios e brancos,


os Caingangues ofereceram forte resistência à invasão de suas terras
pelos desbravadores. Segundo Maria Stela Lemos Borges (1989), em
sua tese “Terra, ponto de partida, ponto de chegada: um estudo de iden-
tidade do trabalhador rural na luta pela terra”, os indígenas apresenta-
ram verdadeiros entraves para o “avanço” da civilização. A dizimação
dos Caingangues pelos brancos representou, para a história da forma-

36
ção do território paulista, um momento de acumulação primitiva para
a região, na qual os “desbravadores” tomam a terra para integrá-la ao
capital. O intuito de “limpar”, como lembra Maria S. L. Borges (1989, p.
23), as áreas ocupadas pelos índios e pequenos posseiros era de trazer
espaço para a ocupação da terra, que além de produzir, serviria como
mercadoria de valor de troca e venda, contando com a força de trabalho
dos imigrantes, que chegavam à região com intuito de trabalhar nas
lavouras de café.
As plantações de café em São Paulo ganharam grandes pro-
porções e destaque nos anos finais do século XIX. O deslocamento
geográfico para o interior do Estado iniciou-se devido à construção de
uma rede de estradas de ferro, e já no início do século XX, as migrações
de brasileiros vindos de outras regiões do país, tornaram-se frequentes,
devido ao desenvolvimento em torno da economia cafeeira.
Esses migrantes chegavam a São Paulo à procura de emprego
e melhores condições vida e de remuneração. Todo o interior paulista
estava, portanto, apto a ser conquistado pelos “pioneiros” do café.

IMPORTANTE!

O enfraquecimento dos costumes, nos moldes europeus, no


Estado de São Paulo, veio com hábitos sedentários da agricultura, esta-
belecida como ocupação central no século XVIII. A população pobre dos
campos, todavia, permaneceu arisca e mal polida. Os desocupados,
com o fim da expansão bandeirante e a decadência que mediou até a

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


implantação da lavoura canavieira, nos meados do século XVIII, contri-
buíram para difundir uma atmosfera de desconfiança, costumes violen-
tos e segregação. O fator principal se encontra, todavia, no próprio tipo
de economia e povoamento, que ilhava as choupanas e os bairros pela
agricultura itinerante de subsistência.
Antonio Cândido, na obra “Os Parceiros do Rio Bonito” (2010),
aponta elementos sobre a construção do termo caipiras, segundo ele,
a unidade básica da cultura caipira não está vinculado à vila, casa ou
à família. O sentimento de localidade existente entre moradores de um
bairro rural, team a sua formação dependente, não apenas da posição
geográfica, mas também do intercâmbio entre as famílias e as pessoas.
A convivência entre eles decorre da proximidade física e da necessidade
de cooperação. (CANDIDO 2010; pg. 79)

37
FONTE:CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito: es-
tudo do caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida.
Ed. Ouro sobre Azul. Rio de Janeiro, 2010.

Para Odilon Nogueira de Matos (1990), o efeito urbanizador


e a grande expansão cafeeira e ferroviária, no interior do Estado de
São Paulo, constituíram no “plantar cidades”, tornando a paisagem pau-
lista bastante “movimentada”, pela transição frequente e constante de
pessoas, devido à chegada da estrada de ferro. Com os trilhos, segue
também todo aparelhamento que a ferrovia exige: funcionários espe-
cializados na construção, pessoas nos armazéns, oficinas, escritórios,
pontos de baldeação de trens, dando forma e característica de cidade
a esses lugares.
A urbanização tratou de escrever e caracterizar seu próprio es-
paço, sendo, portanto, um local de referência que serve como exemplo
de “progresso” ao sujeito que insiste em viver no “atraso” do campo.
Sobre esse ponto, Parrilla discorre:

Nesse sentido, poderíamos inferir que ao definir o rural o citadino promove,


por distinção, uma caracterização do seu próprio espaço. Esta diferenciação
entre os dois ambientes se faz não apenas físico-geograficamente, mas por
vários aspectos como: costumes, valores, vestuário, linguagem. O “caipira
típico”, assim como o espaço que ele habita, é caracterizado pela diferença:
ele representa o “outro”, tanto em relação àquele que produz história, uma
vez que a cidade é o espaço de referência para a elaboração dos enredos
[...] (PARRILLA, 2006, p. 146)
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

É possível dizer que a cultura caipira expressa uma forma de


identidade do morador do campo, suas vivências estão relacionadas
ao tempo cronológico da terra, contado em dias, meses e anos, a partir
do período apropriado para certas culturas (cultura aqui como agricul-
tura, o que é escolhido para se plantar em um determinado período). É
partindo dessa premissa, que o camponês desenvolve sua rotina, dife-
renciando-se do indivíduo urbano, o ritmo é modificado pelo fato de ter
outro tempo cronológico que não é semelhante ao tempo do operário
(oito horas trabalhadas por dia).
Esse efeito urbanizador, no Brasil, teve o poder de determinar
destinos referente à classe e à cor. Na divisão de classes, os ricos e os
pobres mediam-se pelas distancias sociais e culturais tão quanto me-
diam-se, segundo Darcy Ribeiro (2006), os povos distintos. Os costu-
mes patrícios e cosmopolitas dos dominadores correspondiam ao traço
rude, o saber vulgar, à ignorância e aos hábitos arcaicos dos domina-
38
dos. A estratificação social gerada historicamente tem como caracterís-
tica a racionalidade resultante de privilegiar e enobrecer uns e excluir
ou subordinar os que não fazem parte daquele círculo de privilégios.
Assim, a estrutura das classes sociais brasileiras não pode ser repre-
sentada por um triângulo que, no topo encontra-se um número pequeno
de indivíduos e na base a maioria. Mas, pode ser representada como
um losango, com o ápice fino de poucas pessoas, um pescoço que vai
se alongando, um número de pessoas que integram o sistema econô-
mico como os trabalhadores e os consumidores. E, a maior parte da
população, marginalizada da economia e da sociedade, que não conse-
gue empregos regulares e nem ganha um salário, estão na parte maior
desse funil invertido. (RIBEIRO, 2006; p.194-195)
Seguindo essa ideia de distância social, para Darcy Ribeiro, a
maior diferença, somada às desigualdades, está na discriminação, que
pesa sobre negros e indígenas. A luta mais árdua do negro africano e
de seus descendentes brasileiros está na conquista de participar e ter
um papel efetivamente legítimo na sociedade, nas palavras de Ribeiro:

As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e netos de anti-


gos senhores de escravos, guardam, diante do negro, a mesma atitude de
desprezo vil. Para seus pais, o negro escravo, o forro, bem como o mulato,
eram mera força energética, como um saco de carvão, que desgastado era
substituído facilmente por outro que se comprava. Para seus descendentes,
o negro livre, o mulato e o branco pobre são também o que há de mais reles,
pela preguiça, pela ignorância, pela criminalidade inata se inelutáveis. Todos
eles são tidos consensualmente como culpados de suas próprias desgraças,
explicadas como características da raça e não como resultado da escravidão
e da opressão. Essa visão deformada é assimilada também pelos mulatos e

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


até pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais se somam
ao contingente branco para discriminar o negro-massa. (RIBEIRO, 2006; p.
204)

Com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-


cada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),
considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposen-
tadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros, 67%
dos negros no Brasil estão incluídos na parcela dos que recebem até 1,5
salário mínimo (cerca de R$1400). Entre os brancos, o índice fica em
45%. O feminicídio de mulheres negras aumentou, já o das mulheres
brancas caiu. O assassinato de mulheres, por sua condição de gênero,
39
também tem cor no Brasil: atinge principalmente as mulheres negras.
Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cres-
ceu 54%, ao passo que o índice de feminicídios de mulheres brancas
caiu 10%, no mesmo período de tempo. As mulheres negras também
são mais vitimadas pela violência doméstica: 58,68%, de acordo com
informações do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher, de 2015.

Fonte: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/
seis-estatisticas-que mostram-o-abismo-racial-no-brasil/
acessado em 22/05/2019

Portanto, segundo Giralda Seyferth (1995) não é possível


ignorar a ideia de desigualdade das raças humanas na ideologia do
branqueamento, ela tem profundas raízes populares, sendo a base da
metáfora das três raças do nosso nacionalismo. Apesar do discurso de
igualdade racial, existem hierarquias de classificação social, com base
na ideia de raça, associação entre raça e miséria, discriminação com
base em critérios fenotípicos; argumentos esses que contrariam o mito
da democracia racial. Para a autora, nem a miscigenação e nem a as-
censão social conseguiram anular os preconceitos arraigados no Brasil.
O peso da classificação pela “aparência” – a associação entre
raça, ocupações e posição social – cria identidades raciais. Um exemplo
citado por Seyferth, é o caso do nordestino, para quem são atribuídos
traços fenotípicos, associados à atributos de inferioridade, criando uma
identidade negativa, genética e pejorativa, que pretende dar conta da
inferioridade física, intelectual e moral, justificada pelas pessoas que os
consideram servos por excelência. O racismo disfarçado de brincadeira
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

fundamenta desigualdades sociais, apontando os “devidos” do lugar de


cada um. Para reforçar a posição social inferior dos negros, as diferen-
ças fenotípicas funcionam para designar lugares na sociedade.
As analogias entre raça e classe social no Brasil, reforçam as
representações racistas como o negro submisso, pobre, analfabeto, as-
sociado à sujeira, à doença; o que justifica tais colocações, induzindo
a afirmar que a concentração de pessoas que possuem a cor da pele
escura, estão nas classes mais baixas e os considerados brancos, nas
classes mais altas.
Qualquer análise do racismo brasileiro deve considerar a ideia
do “embanquecimento”, elaborada por um orgulho nacional ferido, na
desconfiança e nas dúvidas a respeito da sua capacidade civilizatória,
uma maneira de racionalizar os sentimentos de inferioridade racial e
cultural instilados pelo racismo científico e pelo determinismo geográfi-
co do século XIX, como aponta Guimarães (1999; pg. 53).
40
Para A estudiosa Ana Luisa Valente (1987) o “problema negro”
foi gerado com as formações capitalistas. Durante a escravidão, o negro
era uma mercadoria, era considerado não-humano, não sendo levado a
competir num estado capitalista em desenvolvimento. Somente depois
tornarem-se livres, nos registros oficiais, passaram a exercer o papel
da mão de obra barata, disputando posições com os imigrantes e com
outros brancos. Assim, o preconceito e a discriminação racial passaram
a ser utilizados como armas da competição (1987, p.58).
Denis de Oliveira (2000, p.16), aponta também que as políti-
cas de branqueamento articularam-se, não somente à importação de
mão de obra, mas também ao estabelecimento de políticas voltadas
para o extermínio da população não branca, legitimando e justificando
socialmente a escravidão e servindo para o autoritarismo das elites bra-
sileiras. Entende-se que o individuo negro continua, então, a ser visto
como um problema, algo negativo. Desse modo, a política republicana
reforçou os esquemas de dominação herdados do período colonial, difi-
cultando a organização política dos negros. A falta de preparação para
a sua libertação, a fim de assumi-la com dignidade, apenas resultou em
consequências como marginalização, descrédito e despersonalização,
levando-o a ter vergonha de si próprio. Sobre esse ponto, Denis de Oli-
veira ressalta que:

Percebe-se que esta ideologia do racismo manteve a sua estrutura funda-


mental, só alterando as formas da sua manifestação. No período da escra-
vidão, os negros eram sem alma, eram não humanos, portanto passiveis de
serem tratados de forma desumana; na transição da escravidão para o assa-
lariado (sic), os negros eram incompetentes para trabalhar no novo sistema

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


de contratação, portanto passives de serem excluídos do mercado formal de
trabalho; em seguida, os negros tinham como alternativa de inserção social
a assimilação dos valores brancos inclusive pelo mascaramento de caracte-
rísticas visíveis da sua origem via miscigenação; (OLIVEIRA, 2000, p.83-84).

Desde a inserção do negro africano na América portuguesa,


as práticas racistas tiveram como justificativas as teorias Teológicas e
Cientificas. O preconceito contra negros e seus descendentes é oriundo
de um contexto histórico de usurpação dos seus direitos e de uma cons-
trução paulatina de subjugação a partir da sua cor. Nessa perspectiva,
há a possibilidade da análise do racismo intrínseco entre os brasileiros,
favorecendo transformações nos sistemas econômicos, nas relações
de trabalho e nas formas de opressão, porém, os negros continuam a
ser ideologicamente definidos como inferiores” (VALENTE, 1987, p.58)

41
A situação parece ter sido naturalizada, como se as posi-
ções sociais estivessem estagnadas, de modo genérico, afirmam sem
questionamentos, uma “certa harmonia” racial. Segundo Lilian Moritz
Schwarcs na obra: “Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e
raça na sociabilidade brasileira” (2012) é relatada uma pesquisa feita
em 1988, em São Paulo, em que 97% dos entrevistados afirmam não
ter preconceitos e 98% dos mesmos entrevistados disseram conhecer
outras pessoas preconceituosas, apontando com frequência parentes
próximos, namorados ou amigos íntimos. Em 1995, a Folha de S. Paulo
realizou outro levantamento de dados, que apontou que apenas 10%
dos entrevistados admitiam possuir preconceito, porém, de maneira in-
direta, 87% dos entrevistados revelaram algum preconceito ao concor-
dar com frases e ditos de conteúdo racista, ou mesmo reproduzi-los. Tal
pesquisa, repetida em 2011, apontou resultados quase idênticos aos
obtidos na última pesquisa. (SCHWARCS, 2012; p. 31). Ainda, segundo
a autora, em pequenas cidades, costuma-se apontar a ocorrência de
casos de racismo apenas nos grandes conglomerados, é nas pequenas
vilas que se concentram os indivíduos mais radicais. A maioria dos en-
trevistados negou ter sido vítima de discriminação, porém, confirmaram
casos de racismo envolvendo familiares e conhecidos próximos. Nin-
guém nega que exista racismo no Brasil, sua prática é sempre atribuída
a “outro”, seja de quem sofre, seja de quem pratica, o difícil é admitir a
discriminação e não o ato de discriminar. O problema de afirmar o pre-
conceito é não reconhecê-lo conscientemente. Isso nos leva a perceber
uma forma particular de racismo, um racismo silencioso que, perante o
discurso de igualdade e universalidade das leis, é jogado para o terre-
no privado das leis, porque não se afirma publicamente, sabendo que
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

o problema é social. A sociedade brasileira é marcada historicamente


pela desigualdade, pelo paternalismo das relações e pelo clientelismo.
(2012; p.31).
O Brasil ainda possui uma cultura muito forte de estereótipos,
o impacto negativo da escravidão e da colonização, que resultou em
diversas consequências para a população afro-brasileira. Dentro des-
sa linha de raciocínio percebemos que a derrubada e transformação
nas relações de poder, fundadas em concepções racistas advindas de
elementos constitutivos da pseudomaioria “branca ocidental e cristã”,
enquanto reflexo de dominação – étnico, cultural e religiosa - caminham
para fazer parte, apenas, de nossa vida em sociedade. A história dos
oprimidos é hoje uma realidade nacional por restaurar o passado e “ir de
encontro” ou “para além” das epistemologias dominantes, como lembra
Miguel Ângelo Silva de Melo (2016).
O tema da raça ainda é mais complexo à medida em que são
42
atribuídos ou não atribuídos pela descendência biológica, aceita de for-
ma consensual. Tal assunto tentou ser convertido na Teoria do Bran-
queamento e tornou-se um assunto temerário no Brasil. O insucesso
da tentativa de branquear a população precisou partir para outros cami-
nhos, que foram de acordo com as condições sociais do individuo em
questão, não só a cor poderia embranquecer mais o dinheiro também.
Termos com “preto no Brasil é branco” ou “branco pobre é preto”, de for-
ma camuflada, fez com que o preconceito racial tomasse os caminhos
dos ditos populares. (SCHUWARCZ, 2012; p. 32)

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

43
RECAPITULANDO
i
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: IPHAN Prova: CESPE - 2018 -
IPHAN - Técnico I - Área 1
Considerando o conceito de cultura sob a perspectiva antropológi-
ca, julgue o item subsequente.
As sociedades indígenas brasileiras caracterizavam-se pelo equi-
líbrio social, pela estabilidade histórica e pela tendência ao isola-
mento, o que foi modificado pela sucessão de contatos intercul-
turais e intersocietários derivados dos processos de colonização.
c)Certo
e)Errado

QUESTÃO 2
Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: MPU Prova: CESPE - 2010 - MPU
- Analista - Antropologia
“Os estudos de comunidade realizados no Brasil dialogam forte-
mente com autores da Escola de Chicago. Tais estudos concen-
tram-se em populações de origem étnica diferenciada em grandes
cidades ou em regiões rurais com práticas culturais consideradas
tradicionais.”
Acerca dos estudos de comunidade, julgue o item subsequente.
A antropologia urbana feita no Brasil produziu um extenso corpo
de pesquisas a respeito de migrantes, grupos étnicos e popula-
ções de baixa renda residentes em favelas, mas também se preo-
cupou com valores e estilos de vida de diferentes segmentos das
camadas médias urbanas.
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

c)Certo
e)Errado

QUESTÃO 3
Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: MPU Prova: CESPE - 2010 - MPU
- Analista - Antropologia
Texto associado
A antropologia urbana realizada atualmente no Brasil tem raízes
em autores pertencentes à Escola de Chicago, mas também dialo-
ga com trabalhos realizados no continente africano por autores da
Escola de Manchester. A esse respeito, julgue o item a seguir.
A diversidade cultural encontrada nas cidades norte-americanas
no início do século XX provocou indagações que geraram progra-
mas de pesquisa acerca de migrantes, tipos profissionais e carac-
terísticas morais de bairros específicos.
44
c)Certo
e)Errado

QUESTÃO 4
Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: MPU Prova: CESPE - 2013 - MPU
- Analista - Antropologia
Por meio da teoria da fricção interétnica, pretende-se explicar a
dinâmica das relações entre as sociedades indígenas e a chamada
sociedade nacional ou sociedade envolvente. A respeito dessa teo-
ria, julgue o item que se segue.
O caboclo — figura típica das zonas de contato entre a sociedade
nacional ou a sociedade envolvente e as sociedades indígenas — é
o índio integrado à sociedade dos brancos, mas com a consciência
integralmente ligada à sua ancestralidade indígena.
c)Certo
e)Errado

QUESTÃO 5
Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: MPU Prova: CESPE - 2010 - MPU
- Analista - Antropologia
Na antropologia brasileira, é clássica a comparação entre os con-
textos de discriminação racial existentes no Brasil e nos Estados
Unidos da América (EUA), expressos pelas categorias preconceito
racial de marca e preconceito racial de origem. Acerca dessa dis-
tinção, julgue o item a seguir.
Enquanto nos EUA o preconceito racial é considerado manifesto e
irrefutável, no Brasil, a própria existência desse tipo de preconcei-

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


to é motivo de debate.
c)Certo
e)Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


O surgimento da Antropologia enquanto ciência propiciou a formulação
de novos conceitos e posturas com relação ao entendimento de povos
então considerados exóticos. Os primeiros antropólogos, evolucionis-
tas, recorriam a explicações etnocêntricas sobre as diferenças entre
culturas; esta concepção foi sendo alterada com a afirmação das ideias
dos antropólogos funcionalistas e a prática de trabalho de campo por
eles desenvolvida. Quais foram os elementos para a sua consolidação?

45
TREINO INÉDITO

No Brasil, até 1920 e 1930, quais perspectivas predominavam nos es-


tudos antropológicos:
a) materialismo histórico dialético
b) positivismo
c) evolucionismo
d) antropocentrismo
e) humanismo

NA MÍDIA
Desigualdade entre o campo e a cidade

É preocupante a desigualdade social entre os moradores da zona


rural e da zona urbana. O Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, junto com o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada e Fundação João Pinheiro realizaram uma
pesquisa em que os resultados comprovaram essa grande diferença.
Segundo o estudo «Desenvolvimento Humano para Além das Médias»,
as dificuldades para acessar serviços de saúde e educação e a menor
renda obtida pela população que mora no campo colocam essa
parcela dos brasileiros em desvantagem em relação às pessoas que
moram nas cidades. O aspecto interessante desse trabalho é que o
estudo desagregou dados do Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal por cor, sexo e situação de domicílio e comparou indicadores
socioeconômicos entre os grupos pesquisados. O PNUD concluiu que
a população do campo ganha menos, estuda por menos tempo e tem
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

uma expectativa de vida reduzida em comparação aos moradores das


cidades. Em 2010, enquanto o IDHM rural brasileiro era de 0,586 - o
que é considerado índice médio de desenvolvimento -, o indicador para
os moradores da zona urbana era 0,750, ou seja, alto desenvolvimento.

FONTE: Folha de Londrina


DATA: 12 DE MAIO DE 2017
Leia a notícia na íntegra:
https://www.folhadelondrina.com.br/colunistas/colunistas/opiniao-da-fo-
lha/desigualdade-entre-o-campo-e-a-cidade-977458.html

NA PRÁTICA
Lei que criminaliza o racismo completa 25 anos
Lei determina a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de dis-
criminação ou preconceito racial. Apesar da mudança na lei, os negros
46
ainda enfrentam situação de discriminação no Brasil.
Criada há 25 anos a Lei 7.716 define os crimes de preconceito racial. A
legislação determina a pena de reclusão a quem tenha cometido atos de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Apesar da mudança no papel, os negros no Brasil ainda so-
frem racismo e frequentemente se veem em situação de discriminação.

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

47
OS CLÁSSICOS DA
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
O ser humano se define pelo contato com o outro, ele só se
faz humano a partir do momento em que se torna membro de uma so-
ciedade, mediante as suas relações sociais. As sociedades Ocidentais
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

tomaram pra si o conceito de cultura, que tornou-se sinônimo de civiliza-


ção. Diante dessa forma de pensar, o Imperialismo do século XIX e XX,
utilizou-se da supremacia de caráter territorial, cultural e financeiro, para
impor uma única forma de pensamento perante outros povos. Esses
discursos, da superioridade europeia, caracterizaram o diferente como
forma do padrão, o inimigo a ser vencido, e que os outros povos pre-
cisavam tornar-se parte da “civilização”. No meio desse debate, a An-
tropologia chega ao Brasil, carregada de ideias europeias, até mesmo
com o uso da medicina, para qualificar formas diferentes de sociedades.
As teorias racistas chegaram ao nosso país como “teorias
sociais”, pois procuravam justificações imediatas sobre a realidade so-
cial e política, subjugar povos indígenas, forçar os negros ao trabalho
doméstico e da lavoura, foi uma solução que encontraram para apre-
sentar suas justificativas para as diferenças sociais no Brasil. Se, para
os europeus, os negros e o indígenas eram considerados “seres infe-

48
riores”, assim foi reforçado pelos teóricos que se lançaram nos estudos
brasileiros. Atualmente, juntamente com as Ciências Sociais, tais “teo-
rias” são recusadas, não possuindo validade cientifica.

República Guarani é um documentário brasileiro de 1981, di-


rigido por Sylvio Back, que conta, através de depoimentos de estudio-
sos e pesquisadores históricos do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai
e extensa iconografia, a história dos índios Guaranis, que sofreram a
catequese dos jesuítas e foram organizados em missões, localizadas
naqueles países, de 1609 a 1768. São exibidos trechos do filme “Xetás
na Serra dos Dourados” de Vladimir Kosák (1956), do acervo do De-
partamento de Psicologia e Antropologia da Universidade Federal do
Paraná. Tal trabalho oferece elementos para compreender como era a
visão europeia diante dos povos desconhecidos.

Segundo Francisco Salzano (2009), a história da Antropologia,


no Brasil, foi dividida em três fases: 1) Os pioneiros, 2) Período forma-
tivo, e 3) Fase contemporânea, que vai desde os principais eventos so-
bre temáticas antropológicas até a criação de uma lista da Associação
Brasileira de Antropologia (ABA).
As duas primeiras fases (pioneiros e o período formativo) estão
interligadas na constituição da Antropologia no Brasil, convenientemen-
te delimitada entre 1835, com a descoberta por Peter W. Lund (1801-
1880) do material ósseo de Lagoa Santa e 1933 (imediatamente antes

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


da fundação da Universidade de São Paulo, em 1934). Nesses traba-
lhos antropológicos, apenas cinco eram brasileiros ou tinham residência
permanente no Brasil: Barbosa Rodrigues e Curt Nimuendaju no norte,
Nina Rodrigues na Bahia, e Von Ihering e Roquete Pinto respectivamen-
te em São Paulo e Rio de Janeiro. Ehrenreich, Ranke e Koch-Grünberg,
de nacionalidade alemã, realizaram expedições de estudos, de caráter
temporário, de nossos indígenas (SALZANO, 2009).
A fase contemporânea refere-se aos presidentes da ABA e às
pesquisas na área da Antropologia. A ordem classificatória desses an-
tropólogos estava nas áreas da: sociais/culturais, antropólogos físicos/
biológicos (Castro Faria, Loureiro Fernandes, Thales de Azevedo) e
uma que é linguista (Yonne Leite).
Já para Mariza Peirano (2000) a legitimação da antropologia,
no Brasil, está relacionada, pelo menos, a dois tipos de manifestação
a considerar: até os anos 60, a antropologia entendia-se de forma do-
49
minante (se não exclusiva). O estudo, hoje, é considerado canônico ou
clássico, de sociedades tribais ou primitivas, - como era comum nos
grandes centros europeus e norte-americanos. E a antropologia (social)
situava-se no contexto mais inclusivo da arqueologia, antropologia físi-
ca, paleontologia e, de forma especial, encontrava-se nos museus.
A antropologia, como disciplina institucionalizada das ciências
sociais, na década de 30, já trazia a distinção entre a etnologia indíge-
na feita no Brasil e as investigações antropológicas sobre o Brasil, a
presença de especialistas nas diversas temáticas – indígena, campone-
sa, urbana, afro-brasileira e outras – vem sendo considerada exigência
para a definição de um departamento de excelência em antropologia
sob as perspectivas diversas de comprometimento com a temática na-
cional. (PEIRANO 2000; p.224).
No Brasil, os estudos da própria prática e produção dos cien-
tistas sociais tornou-se relevante, a validade da pesquisa junto ao gru-
po do pesquisadores, os critérios de familiaridade necessários para a
pesquisa etnográfica e, nos termos da época, a necessidade de tornar
exótico o que era familiar. A questão sobre as populações indígenas
como alteridades isoladas propiciou o contato interétnico e, assim, as
questões urbanas puderam ser vistas como legítimas, em termos etno-
gráficos. Desse modo, os clássicos da Antropologia brasileira, mesmo
influenciados pelos estudos feitos em outros países, não deixaram de
trazer uma visão e uma compreensão sobre nossa identidade, levando
em conta todo nosso processo de formação social.

ROBERTO DAMATTA (1936-)


ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

É um antropólogo brasileiro que atualmente leciona no curso


de pós-graduação em Ciências Sociais na PUC-RJ. Pela via do estrutu-
ralismo, segundo Mariza Peirano (2000), Roberto DaMatta faz a ponte
entre temas da etnologia indígena e o ethos nacional. Tendo iniciado
a experiência por meio da análise de rituais nacionais (carnaval, pa-
radas e procissões), DaMatta desvenda expressões como “você sabe
com quem está falando?”, o mito das três raças no Brasil, músicas de
carnaval, textos de literatura. Na obra: “Carnavais, malandros e heróis”
(1979) observações sobre a estrutura definidora do Brasil a partir das in-
fluencias estruturalistas, na qual, levanta hipóteses de que a sociedade
brasileira possui características hierárquicas (como a indiana) e indivi-
dualistas (como a estadunidense) tais elementos levariam as oscilações
entre esses dois aspectos. A oposição entre espaços reservados para
o convívio da família e espaços reservados para o convívio no meio
público oferecem contribuições para definir as relações no Brasil. Para

50
Damatta alguns fenômenos brasileiros oferecem elementos analíticos
para a compreensão sobre a nossa sociedade:

É como se alguns fatores sempre estivessem presentes em nossa socieda-


de: primeiro, a necessidade de divorciar a regra da prática: segundo, a des-
coberta de que existem duas concepções da realidade nacional: uma delas é
a visão do mundo como foco de integração e cordialidade, a outra é a visão
do mundo como feito de categorias exclusivas, colocadas numa escala de
respeitos e deferências. Finalmente, descobrimos que tudo o que diz respeito
ao inclusivo é por nos manifestamente adotado. O contrario é valido para o
exclusivo, frequentemente escondido ou falado em voz baixa. Assim, o car-
naval é gritado e o “sabe com quem está falando?”, escondido. Um é assunto
de livros e de filmes; o outro, de eventuais artigos antropológicos, não sendo
posto no rol das coisas sérias e agradáveis como o futebol, o jogo do bicho e
a cachaça. (DAMATTA, 1994; p.186)

Nesse aspecto, a herança da economia cafeeira gerou, sobre-


tudo, no início do século XX, uma nova dinâmica que modificou a paisa-
gem das áreas produtoras vinculadas ao avanço dos trilhos de trem e o
deslocamento populacional para os centros urbanos, consequentemen-
te ocorre também o fortalecendo e distinção entre o público e o privado
(DAMATTA,1997). A oposição entre o espaço de convívio das famílias
(casa) seria o espaço das hierarquias onde todas as pessoas estão
colocadas em relações verticalizada, se o espaço de convívio público
(rua) onde consistem as individualidades, tais aspectos definiriam as
relações no Brasil.
Contudo, esses dois pontos apontados por Damatta referem-
-se aos fenômenos culturais brasileiros que marcam a erupção de hie-

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


rarquias, onde deveria haver igualdades, assim, as estruturas de sua
cultura revela-se através de festas populares, como por exemplo: nos
desfiles carnavalescos e paradas militares. Assim, as leis e as regras
(quando respeitadas e quando desobedecidas), o papel do indivíduo e
da pessoa, costumes e esportes, são um complexo que não se submete
a uma fórmula ou esquema único.
Nessa perspectiva, a diversidade não altera as relações hie-
rárquicas enraizadas em nossa sociedade, A igualdade jurídica pode
amparar diferenças entre brancos e negros, mas, suas raízes desiguais,
nos seio social, ainda permanecem. Damatta aponta que:

Desta forma, reagimos de modo radicalmente diverso dos americanos diante


da esmagadora igualdade jurídica que veio com a Abolição da escravidão
em ambos os países. Lá, criou-se imediatamente um contra-sistema legal
para estabelecer as diferenças que haviam sido legalmente abolidas: era o
racismo em ideologia, pratica social aberta e constituição jurídica (cj. As leis

51
Jim Crow). Estabelece-se, pois, um sistema igualitário que Gunnar Myrdal
chamou de “defesa” do próprio “Credo Americano”, centro e raiz do “Dilema
Americano” (cf. Myrdal, 1962;89). No Brasil, porém, a esfera em que as di-
ferenças se manifestam foi a área das relações pessoais, um domínio cer-
tamente ambíguo porque permitia hierarquizar na base do “sabe com quem
está falando?” e deixava os flancos abertos para escolhas pessoais e múl-
tiplas classificações. “Sendo assim, não fazemos qualquer contra-legislação
que definisse um sistema de relações raciais fechado e segregacionista, com
base no princípio do “iguais, mas separados” (como foi o caso americano).
(DAMATTA, 1994, p.200)

Segundo Damatta, o esqueleto hierarquizante não desaparece


automaticamente das nossas relações, mas, reforça-se e reage na nos-
sa “modernidade”, sob os aspectos da ideologia igualitária e individualis-
ta e a nossa moralidade (DAMATTA, 1994; p.201). É nessas formações
sociais que o efeito moralizante na classificação se intensifica, criando,
assim, figuras-chave para a compreensão do mecanismo classificatório:

É nessas formações sociais em que a classificação moralizante é poderosa


que surge a figura do medalhão. Mas quem é o medalhão? Novamente,
descobrimos que ele não é um personagem exclusivo de uma classe,
grupo ou segmento social. O medalhão, como uma cristalização pessoal de
qualidades morais de determinado domínio social, pode surgir onde quer que
haja um grupo. Temos medalhões entre os pobres e os ricos, entre os fracos
e os fortes. Trata-se, parece-me, de um modo de estabelecer diferenças
e hierarquias em todos os grupos, em todas as categorias, em todas as
situações; sobretudo, entre pessoas iguais. Embora exista uma tendência
a equacionar o medalhão com a classe dominante, essa ligação é simples
demais. De fato, existem medalhões em todos os domínios da vida social
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

brasileira: na favela e no Congresso; na arte e na política; na universidade


e no futebol; entre policiais e ladroes. São as pessoas que podem ser
chamadas de “homens”, “cobras”, “figuras”, “personagens” etc. e que correm
em qualquer campo. Já os que transcenderam as regras que constrangem
as pessoas comuns daquela esfera social. É alguém que não precisa mais
ser apresentado e com quem se deve primeiro falar (e/ou “se entender”).
(DAMATTA, 1994; p.205)

VIPs é um termo muito utilizado por nós para designar um sis-


tema igualitário de hierarquia na qual dentro dele todos são iguais, po-
rém, para os de fora, a mesma classificação não se representa. Para
Roberto Damatta esses sistemas hierarquizantes existem em toda par-
te, em todos os domínios e são eles que fazem as conexões básicas

52
entre os diversos círculos hierarquizados que formam uma espécie de
Nirvana social, que muito bem reforça o “sabe com quem está falan-
do?”. (DAMATTA, 1994; p. 205)

Portanto, para finalizar com uma pequena análise de Dematta,


sobre o ponto discutido a respeito dos ditos medalhões, que são
frequentemente figuras nacionais, celebridades, que depositam seus
principais traços na vida social e projetam-se em largas sombras e ne-
las podem abrigar muitas pessoas: “ser filho do presidente, do delega-
do, do diretor conta como cartão de visitas. Ou, para sermos mais histo-
ricos, ser “filho de Pelé” pode permitir a um negro pobre alguns dias de
esplender num hotel de luxo (cf. Jornal do Brasil 12/11/77).” (DAMATTA,
1994; p. 206)

Gilberto Velho (1954- 2012)


A partir do fim dos anos 1960, a Antropologia Urbana brasileira
passou a constituir um novo campo de análises para a Antropologia bra-
sileira, com a crescente urbanização do país. Ao contrário dos clássicos
trabalhos etnográficos, o antropólogo urbano está, quase sempre, mo-
tivado à ação no sentido da aplicação prática de seus conhecimentos.
Isso não quer dizer, que o antropólogo que trabalhe culturas urbanas ou
segmentos de culturas urbanas tenha tão-somente de produzir dados
utilizáveis para ações de intervenção sobre a realidade estudada. Se-
gundo Mariza Peirano (2000), Gilberto Velho, influenciado pela escola
sociológica de Chicago, produziu a primeira pesquisa etnográfica em
território urbano e moderno no contexto da antropologia pós-anos 60,

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


depois ampliada e desenvolvida em várias outras, sobre classe média,
drogas, velhice, gênero, família, política, música. Seus alunos conti-
nuam a ampliar o leque temático, no qual se inclui, hoje, a investigação
sobre grupos sociológicos relevantes da intelectualidade brasileira (fa-
zendo fronteira com o próximo tipo ideal).
Nascido no Rio de Janeiro, Gilberto Velho, graduou-se e fez
pós-graduação no Museu Nacional e depois na Universidade do Texas.
Foi professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Sua
influência e formação tiveram como norte a escola de Sociologia de
Chicago, que nas décadas de 1920 e 1930, já se debruçava sobre et-
nografias urbanas, e as diferenças que cresciam e ganhavam olhares
críticos dos antropólogos. A menção a essa Escola implica uma reto-
mada crítica de seus fundamentos – fato recente assinalável num certo
âmbito do contexto acadêmico francês, tendo como referência teórica
dos clássicos da Sociologia a exemplo de Émilie Durkhiem. Para Heitor

53
Frugoli a diferenciação entre a Sociologia Urbana e Antropologia Urba-
na está relacionada a:

Comenta-se às vezes que as perspectivas antropológica e sociológica sobre


as cidades seriam parecidas, pelo fato de enfocarem objetos ou fenômenos
a princípio idênticos. Pode-se discordar tendo em vista o fato de que muitas
vezes os objetos são distintos, mas, mesmo quando há uma convergência
de enfoques, tal impressão de semelhança se dissipa na medida em que se
atenta à tradição de abordagem de cada uma delas, sobretudo quanto às
sínteses particulares da relação entre teoria e pesquisa ou, mais especifica-
mente, à forma de incorporar os impactos da pesquisa – sobretudo a etno-
gráfica – na própria construção teórica. Sem tentar, portanto, uma separação
“à força” entre as duas disciplinas, pode-se confrontá-las quanto ao olhar e
à reflexão de ambas sobre a cidade no tema mencionado. Isso estaria pre-
sente, inclusive, na gênese da diferenciação entre sociologia e antropologia
na Escola [sociológica] de Chicago, em que há consenso que os enfoques
iniciais sobre a cultura urbana e as práticas etnográficas em contextos urba-
nos, dois temas importantes para a antropologia, foram gerados. Naquele
contexto, diversas pesquisas etnográficas sobre a cidade foram inicialmente
conduzidas por sociólogos, cujos achados empíricos muitas vezes coloca-
vam em xeque várias premissas e hipóteses, sem que o cabedal teórico fos-
se suficientemente revisto, numa tensão que veio a ser melhor equacionada
posteriormente, no interior de uma antropologia urbana propriamente dita.
(FRUGOLI JR. 2005; p. 135-136)

Os debates sobre os caminhos da Antropologia urbana brasi-


leira trilharam pesquisas para direcionar o “tornar exótico”, aquilo que é
tão próximo e que ainda possibilitou a militância politica em assuntos a
favor dos direitos das populações discriminadas.
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

Como percursor dessa disciplina, as pesquisas de Gilberto Ve-


lho (1945-2012) sobre as classes sociais no Rio de Janeiro destacaram
que, sem jamais ser uma área exclusiva da elite carioca, Copacabana
é identificada como modelo de vida sofisticado e moderno, que até os
anos de 1940, era uma área predominantemente rural, com chácaras,
casas com terrenos amplos e forte presença de estrangeiros, sobretudo
europeus. Para esse lugar deslocaram-se figuras públicas e a elite poli-
tica. O panorama de Copacabana começa a se alterar quando é instau-
rado o edifício de apartamentos, esse tipo de construção foi multiplicado
no século XIX, pelas grandes cidades europeias e norte-americanas.
Tal tipo de construção agregou valores e estilos de vida, remetendo ao
individualismo, nessas formas solitárias, as trajetórias mínimas de so-
ciabilidade vão se desenvolvendo (VELHO, 1999; p.13-15).
Nos anos 1960, a população moradora desse bairro pára de
crescer, diminuindo a população, elevando o numero de casas para de-

54
molição; em contrapartida, elevando o numero de prédios comerciais,
hotéis e apartamentos de aluguel, segundo Gilberto Velho;

Copacabana incorporou não só pessoas de origem nacional e regional diver-


sificada, mas, progressivamente, de diferentes origens, estratos e trajetórias
sociais. Além das elites e camadas médias superiores já mencionadas, o
bairro atrairá, a partir do grande boom imobiliário do pós-guerra, setores de
camadas médias ascendentes, provindos de outros bairros, com forte pre-
sença da Zona Norte e mesmo o subúrbio do Rio. A cidade como um todo,
mas Copacabana em particular, em função de sua riqueza e prestigio po-
litico-cultural, atrairá pessoas de camadas médias de outros estados, que
vinham para trabalhar nos setores público e privado. (VELHO, 1999; p.15)

A Antropologia Urbana possibilitou estudos de populações des-


favorecidas, pensando também nas camadas médias e altas da socie-
dade brasileira. Os debates acerca das questões sobre sexualidade,
violência nas periferias, estudos sobre gênero, apresentam um leque
extenso de preocupações dentro das três grandes áreas das Ciências
Sociais e a Antropologia Urbana permite trazer aquilo que é familiar e
“natural”, como formas de estranhamento para compreender os senti-
dos das estruturas sociais no Brasil.

IMPORTANTE!
O significado de Estranhamento nos dicionários da língua por-
tuguesa vem do verbo estranhar, admirar, surpreender-se ou espantar-
-se. Na Antropologia está relacionado à experiência cultural que temos

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


ao ter contato com algo que nos é apresentado como diferente, com
o objetivo de compreender mais sobre ele. Um fato que aparenta ser
algo “normal” pode ser, de alguma maneira, estranhado e interpretado
de outra forma cientifica, trazendo, então, a problematização do fato.
Por que isso acontece? É algo novo? Sempre foi assim? São perguntas
para problematizar os fenômenos e analisar de uma forma mais ampla,
sem correr o risco de cair no senso comum.

Para Gilberto Velho a pesquisa sobre Copacabana expressa


uma investigação das características e transformações da vida metropo-
litana, não só do Brasil, mas, como um fenômeno geral de sociabilidade
e integração social. As análises no campo da Antropologia Urbana per-
mitem entender a complexidade e a heterogeneidade através dos mun-
dos sociais, eles estão em constante processo de transformação uns
com os outros. Os indivíduos sociais participam dessas mudanças, ela-
55
boram seus papeis sociais associando-o em identidades complexas e
multifacetadas, embora não seja um processo homogêneo para toda a
população. (VELHO, 1999; p. 22)

MANUELA CARNEIRO DA CUNHA (1943-) E EDUARDO VIVEIROS


DE CASTRO (1951-)
Logo com a chegada dos colonizadores no território brasileiro,
houve aqui um encontro entre as populações europeias a as populações
indígenas. Tal encontro gerou transformações, processos de readapta-
ção dos povos indígenas, descolamentos para outras áreas, dispersões
a até conflitos entre as populações indígenas, com agrupamentos de
grupos étnicos diferentes. Já nos primeiros anos desse encontro, criou-
-se várias caracterizações do que seria o indígena, interpretações dos
colonizadores perante o novo povo com que ali se deparou.
O primeiro grupo, “idealizados no passado”, mostra a ima-
gem de indígenas que foram enaltecidos nas pinturas, nos romances e
nas músicas. É o Guarani romântico, de José de Alencar que foi utiliza-
do na criação de um símbolo nacional. O índio que aparece na história,
sem qualquer atitude de rebeldia ou de confronto, surge apenas como
aliado dos portugueses, aos quais devia lealdade. Cria-se a imagem do
“índio morto”, na tentativa de criar um símbolo de um índio benevolente
e aliado aos interesses dos colonizadores.
Uma segunda interpretação pode ser identificada como os
“bárbaros dos sertões”, grupos Botocudos, Kaingang, que correspon-
diam aos indígenas que se rebelavam, ocupavam e atacavam a terra
dos imigrantes e colonizadores. Contra tais bárbaros foi preciso ter as
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

chamadas “Guerras Justas”, a partir de 1808. Existia, ainda, outro grupo


considerado os “degradados”, que constituíam aqueles que, sempre em
menor número, eram vistos como “misturados”, e já integrados ou em
processo de integração à sociedade nacional, embora sempre vistos
como preguiçosos. A forma de ver os grupos indígenas modificou-se a
partir do desenvolvimento do campo da História e do diálogo com a An-
tropologia. Para a mudança na concepção da História foi fundamental
a ampliação do conceito de cultura. Isso se dá a partir da consolidação
da Nova História Cultural.
Manuela Carneiro da Cunha (1943-) é antropóloga
e professora titular aposentada da USP e professora emérita da
Universidade de Chicago. Tem seus estudos concentrados na ques-
tão indígena, no Brasil. Segundo a autora, o Brasil, conta atualmente
com 519 áreas indígenas esparsas que, juntas, totalizam 10,52% do
território nacional, com 895.577,85 km2. As demais 263 áreas estão

56
em diferentes estágios de reconhecimento, desde as 106 totalmente
sem providências até às 27 demarcadas fisicamente, mas ainda não
homologadas. Acrescente-se o dado, muito relevante, de que cerca de
85% das áreas indígenas sofrem algum tipo de invasão. (CUNHA, 1994;
p. 127). Em 150 anos da chegada dos europeus ao território brasileiro
estima-se que 95% da população nativa foi dizimada, causada tanto
pelas doenças trazidas de fora quanto o pelo confronto direto entre as
populações nativas, europeus e guerras entre etnias.
Dos anos 1980 em diante, o numero de antropólogos forma-
dos aumentou, as influencias do mundo contemporâneo vêm exigindo
novos olhares para as diversidades, cada vez em destaque. Com esse
avanço nos estudos antropológicos influenciados pelo mundo contem-
porâneo foi possível o avanço em pesquisas da Antropologia urbana em
detrimento da Antropologia indígena.
O resgate dos estudos indígenas se dá no campo de críticas
entre os teóricos que discutem as novas perspectivas da etnografia bra-
sileira, os rumos e a ideia do contato do homem branco como a figura
central da analise das questões indígenas. O que aparece de novo nes-
se assunto é a permissão das sociedades indígenas de escreverem, de
fato, sua própria história, sem interferências exteriores, e que possam
analisar e fundamentar suas cosmologias, influências e origem, sem ser
pelo viés dos modelos da “sociedade branca”.
O avanço das pesquisas etnográficas no território brasileiro se
dá pela entrada de mais pesquisadores conectados com as diversas
vertentes e caminhos trilhados na a pesquisa no Brasil, assim, man-

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


tendo e colocando a antropologia brasileira em evidencia internacional-
mente.
Manuela Carneiro da Cunha destaca a importância desse
campo de pesquisa e alerta pela necessidade da construção da analise
pelas sociedades indígenas, sem a interferência da sociedade branca
para compreender e analisar questões que se referem essencialmente
a eles:

Por que é necessário um pacto? Porque, contrariamente à visão ingênua que


muitos têm dos índios, não se pode esperar que naturalmente eles se encar-
reguem desse serviço à coletividade. As sociedades indígenas, vivendo em
suas formas tradicionais e em territórios suficientemente amplos, têm preser-
vado e enriquecido seu meio ambiente, já que dependem dele. Muitos têm
até mantido, em áreas de devastação como no corredor da Grande Carajás,
ilhas de preservação relativa. Mas a pressão externa é grande sobre seus
recursos naturais, sejam eles madeira ou recursos minerais, e essa pressão

57
toma a forma de cooptação ou divisão de lideranças. Toma às vezes formas
ainda mais graves: há dois meses, no dia 14 de agosto, o chefe nambiquara
Pedro Mamaindé, que impedia a venda de madeira da Área Indígena Vale do
Guaporé, foi assassinado por outro índio, Sebastião Pareci, o qual, pelo que
se sabe, tinha ligações com madeireiras da cidade de Comodoro, no estado
do Mato Grosso. (CUNHA, 1994; p.133)

Na mesma década de 1980, houve uma ampliação do discurso


militarista contra os indígenas, que eram vistos como ameaça à segu-
rança nacional por estarem em zonas fronteiriças, a situação politica
das terras indígenas dificultou os recursos e o acesso aos direitos des-
sas populações que vêm sofrendo com o processo de modernização
da sociedade brasileira. A Constituição prevê, garante e reconhece os
indígenas como os primeiros povos do território brasileiro, porém, o
cumprimento da legislação e a garantia dos direitos – tais como a deli-
mitação de terras, educação escolar especifica, preservação ambiental
e ações, as formas de economia indígena, ainda são desafios presentes
atualmente.
Segundo Manuela Carneiro da Cunha, as ideias desenvolvidas
por Viveiros de Castro a partir do perspectivismo ameríndio dialogam
diretamente com boa parte da tradição filosófica ocidental. Ao mesmo
tempo, a síntese que ele propôs do pensamento indígena é uma crítica
a essa tradição, ao colocar em questão as noções de “natureza” e “cul-
tura” da “vulgata metafísica ocidental”. Os conceitos apresentados por
Viveiros de Castro desafiavam e levavam a compreender postulações
novas através de uma perspectiva diversa daquela abordada pela clás-
sica teoria antropológica. Um dos temas abordados por ele é a Relação
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

Social, como se sabe, sempre esteve vinculada à literatura antropo-


lógica, está conectada a uma alteração de perspectiva que impacta a
antropologia contemporânea e, em especial, a etnologia.
Antropólogo brasileiro conhecido no cenário internacional pe-
los estudos desenvolvidos sobre a questão indígena, principalmente
na Amazônia, Eduardo Viveiros de Castro (1951-), ressalta que para
a compreensão e o entendimento das populações indígenas é neces-
sário romper como o divisor: natureza/cultura, de noção multinaturalis-
ta. Segundo Viveiro de Castro, essas categorias não se apresentam
para os indígenas da Amazônia como são apresentados para nós, a
grande problemática levantada é, que o cerne da universalidade esá na
questão cultural indígena, e não na visão universal que pensamos ser
a natureza, tal aspecto, para Viveiro de Castro, se relaciona ao multi-
naturalismo.

58
IMPORTANTE!
Um fator explicativo para a concepção de multinaturalismo,
para Viveiro de Castro, exemplifica-se na forma de “perspectivismo
ameríndio” onde, do ponto de vista indígena, qualquer animal é huma-
no. Da mesma forma que o próprio indígena vê uma presa como uma
caçada o jaguar, também terá essa mesma reação em relação ao indí-
gena, como uma presa.
O porco-do-mato também é considerado humano e verá um
alimento da mesma forma que um humano vê, contudo, os porcos-do-
-mato verão no ser humano uma figura de espirito canibal, pois esses
matam e comem porcos-do-mato.
Para a ciência ocidental, a divisão entre humanos e “não hu-
manos”, confere um tipo de natureza adquirida para os seres humanos,
ou seja, para de fato compreendermos precisamos levar a sério o co-
nhecimento indígena e não tentar interpretar com os novos valores oci-
dentais tal cultura. O nativo “interpretado” pelo antropólogo leva consigo
somente o que ele quer saber sem dar o devido valor sobre o que se viu
e ouviu numa cultura.

Desde 1977, o trabalho de Viveiros de Castro procura antropo-


logicamente retratar conceitos à altura do pensamento indígena e que,
ao mesmo tempo, possam dialogar com nossas concepções. Em suas
pesquisas, principalmente no trabalho de campo que está registrado na

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


obra: “Indivíduo e Sociedade no Alto Xingu: os Yawalapíti” (1977), Vivei-
ro de Castro pontua que entre os Yawalapíti, a humanidade constitui-se
de um grande grupo que evita comer apapalutápa, que são espíritos,
os contatos entre humanos e não humanos aparecem relacionados aos
espíritos.
Essa restrição alimentar geral é, portanto, um impedimento e
marca uma proibição alimentar que define quem é humano. Tal relação,
entre os Yawalapíti, tem consequências no plano terreno. Como exem-
plo, uma doença gera uma festa ao espírito que a lançou e restrições
alimentares ao grupo de substância do doente. Para que o doente se
cure, é necessário que a relação socialmente estabelecida seja respei-
tada. (MASSARO, 2015)
Para Viveiros de Castro, a relação social é um conceito que não
é tratado como causa ou sujeito da imaginação amazônica, nem como
objeto ou efeito da mesma. As relações sociais são tomadas como di-

59
mensão intrínseca ao exercício da imaginação, como espaço implícito
que ela percorre. As relações sociais formam, assim, a contextura do
pensamento indígena. A relação social é, a rigor, algo de utilidade tem-
porária. As relações são, segundo esse autor, qualificadas de social, em
atenção às nossas convenções cosmológicas.
Segundo Viveiros de Castro (2001; p.7) tais relações são
qualificadas de ‘sociais’ somente em atenção preliminar às nossas
convenções cosmológicas, pois o que se tenciona apreender é o con-
ceito geral desse pensamento como imaginação relacional. As concep-
ções indígenas sugerem, uma ideia da relação como consistindo em um
tipo de dinamismo, mais que um tipo de atributo. As relações são, aqui,
virtualidades relacionantes, mas resta sempre, uma virtualidade relacio-
nal irredutível nesse resíduo, algo que ele não pode utilizar.
Segundo Massaro (2015) no trabalho intitulado: “O Nativo Re-
lativo”, Viveiros de Castro ressalta que o próprio conhecimento antro-
pológico é ele mesmo uma relação social. O trabalho do antropólogo
consiste em perguntar ao objeto o que ele constitui como relação social,
o que é uma relação social nos termos de seu objeto, ou melhor, nos
termos formuláveis pela relação social estabelecida entre ‘antropólogo’
e ‘nativo’. O objeto da antropologia seria, então, a variação das relações
sociais entendidas de uma perspectiva que não fosse totalmente domi-
nada pela doutrina ocidental. (MASSARO, 2015; p. 6)
A ideia do conhecimento antropológico envolve a pressuposi-
ção fundamental de que os procedimentos que caracterizam a investiga-
ção possuem o mesmo sentido dos procedimentos investigados. O que
a antropologia, nesse caso, põe em relação, são problemas diferentes,
segundo Viveiros de Castro, está relacionado não a um único problema
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

(natural) e suas diferentes soluções (culturais), o papel da Antropologia


é de determinar os problemas postos por cada cultura, não a de achar
soluções para os problemas postos pela nossa, ou seja, não se trata de
propor uma interpretação do pensamento nativo nos termos do antro-
pólogo, mas de realizar uma experimentação com ele, e portanto, com
o nosso pensamento.
Massaro (2015), pontua ainda, que o conceito de relação so-
cial na obra de Eduardo Viveiros de Castro conecta outros conceitos,
é um conceito que prescreve um trajeto repleto de possíveis conexões
e transformações, é uma noção provisória. Assim, o antropólogo é al-
guém que discorre sobre o discurso de um nativo, o discurso do an-
tropólogo (o observador) estabelece uma relação com o discurso do
nativo (o observado). Essa relação é uma relação de conhecimento, o
conhecimento antropológico é imediatamente uma relação social, pois
é o efeito das relações que constituem reciprocamente o sujeito que
60
conhece e o sujeito que ele conhece, e a causa de uma transformação
na constituição relacional de ambos. “O conhecimento não é uma re-
lação entre uma substância-sujeito e uma substância objeto, mas uma
relação entre duas relações, a relação entre duas relações é ela própria
uma relação”. (Simondon, 1995, in Viveiros de Castro, nota 4)”.
Segundo Viveiros de Castro, nessa perspectiva, em que os an-
tropólogos são sujeitos produtores de conhecimento e os nativos são
objetos do conhecimento, a relação estabelecida é de assimetria. De-
vemos então reconhecer o nativo enquanto “sujeito outro” para transfor-
marmos a “igualdade de fato” em “igualdade de direito” para aceitarmos
o discurso nativo como detentor de sentido do seu próprio sentido e não
mero reprodutor desse sentido. Desse modo poderemos caminhar em
direção a uma relação simétrica de produção de conhecimento.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis. Zahar. Rio


de Janeiro, 1979.
RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro. Ed. Companhia das Le-
tras. São Paulo, 2006.
SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder discri-
cionário dos estereótipos. Anuário Antropológico. Tempo brasileiro.
Rio de Janeiro, 1995.

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

61
RECAPITULANDO
i
QUESTÃO 1
Ano: 2015 Banca: IF-PA Órgão: IF-PA Prova: IF-PA - 2015 - IF-PA -
Professor - Sociologia
Em “O que faz do brasil, Brasil?”, o antropólogo Roberto Damatta
estabelece uma distinção radical entre um “brasil” - com b minús-
culo - que sob influência dos teóricos do século XIX era visto como
um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao
sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam
fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social, e
um Brasil - com b maiúsculo - que designa um povo, uma nação,
um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. A partir dessa
interpretação podemos afirmar que:
a) o que torna o Brasil compreensível é uma lógica comum que perpas-
sa a sociedade, a lógica relacional, que se manifesta como negociação
e subordinação às normas legais.
b) a especificidade da cultura brasileira não está na separação entre
as diversas esperas da vida, mas sim em sua subordinação à ideologia
individualista.
c) o brasileiro desenvolve um tipo de preconceito muito mais contextua-
lizado e sofisticado que o norte-americano, pois enquanto lá o mesmo
se manifesta de forma velada e indireta com base na origem, aqui ele
se caracteriza por tratar a cor como expediente para a discriminação.
d) o brasileiro exige, a um só tempo, que se lhe dispense o tratamento
de indivíduo e o de pessoa. O de indivíduo, dentro da melhor tradição
democrática, que confere a todos os homens direitos que são funda-
mentais, e o de pessoa, na melhor tradição aristocrática, que confere
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

aos homens direitos desiguais conforme seu nascimento ou relações


sociais.
e) a sociedade brasileira se pensa pelas noções de divisão e conflito.
Assim, para compreender a cultura de nossa sociedade, é preciso com-
preender que a estrutura competitiva entre as classes é indispensável
em sua organização.

QUESTÃO 2
ANO: 2016 Banca: CESPE (Centro de Seleção e de Promoção de
Eventos Universidade de Brasília) Nível: Superior Completo
A respeito da sociologia jurídica contemporânea, julgue os itens a
seguir.
Roberto DaMatta destaca a existência, no Brasil, de um universo
relacional baseado na família, na vizinhança e no apadrinhamento,
que reforça identidades, hierarquias e assimetrias sociais e eco-
62
nômicas e que pode ser resumido na seguinte máxima: “aos inimi-
gos, a lei; aos amigos, tudo”.
c) certo
e) errado

QUESTÃO 3
ANO: 2009- Banca: Fundação Universa (FUNIVERSA)Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) Cargo: Antropó-
logo Nível: Superior
Quanto aos principais antropólogos brasileiros, assinale a alterna-
tiva incorreta.
a) Manuela Carneiro da Cunha não identifica na obra de Gilberto Freyre
qualquer conhecimento aprofundado sobre o que eram as sociedade
indígenas brasileiras.
b) A principal crítica de Eduardo Viveiros de Castro à obra lévi-straus-
siana deve-se a sua análise de que títulos como “Tristes Trópicos” e “O
Pensamento Selvagem” devem ser analisados sobretudo como ficção,
como uma literatura sensível e de alto nível, mais do que como etnolo-
gia.
c) Com uma afinidade muito grande com a obra de Roberto DaMatta,
Lívia Barbosa desenvolve conceitos que vêm desde as oposições duais
de “A Casa e a Rua”, aprofundando-se em temas como o conceito de
“meritocracia” nas organizações e nas sociedades, em um estudo com-
parativo do entendimento desse conceito em algumas sociedades, a
brasileira, inclusive.
d) Em “O Processo Civilizatório”, Darcy Ribeiro defende que o conceito
básico subjacente às teorias de evolução sociocultural é o de que as

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


sociedades humanas, no curso de longos períodos, experimentam dois
processos simultâneos e mutuamente complementares de autotransfor-
mação: um deles responsável pela diversificação; e o outro, pela homo-
geneização das culturas.
e) A Utopia Urbana, de Gilberto Velho, é fruto de sua tese de mestrado.
Fortemente influenciado pela etnografia, por trabalhos como Os Argo-
nautas do Pacífico e Os Nuer, o autor, a partir do interesse em como se
comportavam as camadas médias urbanas, empreendeu um trabalho
pioneiro no Brasil, de aplicação do método antropológico ao estudo do
meio urbano.

QUESTÃO 4
Ano: 2013 –Banca: Ministério Público da União (MPU) Centro de
Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE) (2ª edição) - Car-
go: Analista do MPU - Área Perícia / Nível: Superior
63
Acerca de cultura e identidade, julgue os itens subsequentes.
As teorias pós-coloniais dão ênfase ao hibridismo e à mestiçagem,
entendendo a cultura nos espaços coloniais e pós-coloniais como
uma complexa relação de poder em que ambas, dominadora e do-
minada, são modificadas.
c) Certo
e) Errado

QUESTÃO 5
Ano 2016: Banca: Fundação Nacional do Índio (FUNAI) Escola de
Administração Fazendária (ESAF) Cargo: Indigenista Especializa-
do/ Nível: Superior
Assinale a opção que define corretamente o que é etnocentrismo.
a) Aquela visão de mundo característica de quem considera o seu grupo
étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais insignificante do que
os demais.
b) Um conceito cunhado pela antropologia para aludir à tendência pre-
sente em todas as culturas humanas, que faz com que se entenda a
realidade e as outras culturas a partir dos próprios padrões culturais.
c) Um fenômeno natural que se prende ao fato de acharmos que a nos-
sa própria etnia e as nossas respectivas práticas culturais são equiva-
lentes aos comportamentos de outros grupos.
d) Uma noção correlata ao conceito de relativismo cultural, que se refe-
re à tendência que temos de considerar as culturas dos demais povos
como inferiores à nossa.
e) Uma noção correlata ao conceito de relativismo cultural, que se refe-
re à tendência que temos de considerar as culturas dos demais povos a
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

partir dos seus próprios valores, categorias e padrões culturais.


QUESTÃO 6
Ano:2016 -Banca: Fundação Nacional do Índio (FUNAI Escola de
Administração - Fazendária ESAF) Cargo: Indigenista Especializa-
do / Nível: Superior
Assinale, entre as opções abaixo, aquela que apresenta algumas
das principais noções desenvolvidas em Etnologia Indígena no
Brasil.
a) Evolucionismo cultural, transfiguração étnica, fricção interétnica.
b) Aculturação, fricção interétnica, situação histórica.
c) Transfiguração étnica, fricção interétnica, situação histórica.
d) Fricção interétnica, drama social, situação histórica.
e) Participação observante, transfiguração étnica, fricção interétnica.

64
QUESTÃO7
ANO: 2016 -Banca: Escola de Administração Fazendária (ESAF
Fundação Nacional do Índio (FUNAI) Cargo: Indigenista Especiali-
zado /) Nível: Superior
Os principais troncos e famílias linguísticos encontrados no terri-
tório brasileiro são:
a) Caribe, Quéchua, Tupi-Guarani, Macro-Jê.
b) Tupi-Guarani, Aruaque, Caribe, Macro-Jê.
c) Aruaque, Iroquês, Macro-Jê, Caribe.
d) Caribe, Azteca, Micro-Jê, Tupi-Guarani.
e) Tupi-Guarani, Chibchana, Pano, Aruaque.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Como precursoras da Antropologia Urbana, as pesquisas de Gilberto


Velho (1945-2012), sobre as classes sociais no Rio de Janeiro destaca-
ram uma área exclusiva da elite carioca. Qual é o principal questiona-
mento sobre Copacabana?
TREINO INÉDITO
A importância das pesquisas realizadas por Gilberto Velho trouxe para
o debate temas sensíveis como os estilos de vida das camadas médias,
o consumo de drogas e a violência. O contexto brasileiro em que a An-
tropologia Urbana ganhou força foi:
a) Igualdade social, índices altos de emprego e qualidade de vida
b) desigualdade social, baixos índices de emprego, qualidade de vida
c) as das relações de trabalho nas fábricas, dos movimentos sindicais,
das famílias operárias, da migração rural-urbano.

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


d) migração rural-urbano, qualidade do trabalho nas fabricas e movi-
mentos feministas
e) movimentos sindicais, famílias operarias e questões de parentesco

NA MÍDIA
Os desabamentos de dois edifícios, na manhã desta sexta-feira (12/4),
deixaram pelo menos dois mortos e três feridos. O Corpo de Bombeiros
atua no local em busca de outras possíveis vítimas no local.
De acordo com a prefeitura, a zona em que se encontram os prédios
que desabaram e as construções vizinhas (que incluem vários edifícios)
é uma área de proteção ambiental (APA) que só permite a construção
de edificações unifamiliares, ou seja, casas.
“Na Muzema, as construções não obedecem aos parâmetros de edifi-
cações estabelecidos, como afastamento frontal, gabarito, ocupação,
número de unidades e de vagas”, diz a nota.
65
A prefeitura diz na nota que, por se tratar de uma área dominada por
uma milícia (grupo criminoso que controla territórios de forma armada
no Rio), precisa de apoio da Polícia Militar para atuar na área.
FONTE: Correio brasiliense
DATA:12/04/2019
Leia a notícia na íntegra:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/04/12/
interna-brasil,749111/predios-que-desabaram-no-rio-eram-
irregulares-e-estavam-interditados.shtml

NA PRÁTICA
Aldeia Tenondé-Porã – cultura indígena em prática
Localizada em Parelheiros, zona Sul de São Paulo, a Aldeia Tenondé-
-Porã surgiu em 1987 e abriga 800 indígenas. Na aldeia, a comunicação
entre os índios é sempre feita em guarani, sua primeira língua, e poste-
riormente, os índios aprendem o português para que possam se comu-
nicar com os visitantes. Um dos grandes desafios para muitos desses
povos é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de preservar a pró-
pria cultura e a de adaptarem-se às mudanças do mundo. Um exemplo
é o uso ou não da tecnologia dentro das aldeias. Em muitas delas, hoje,
já é possível encontrar televisões, celulares e notebooks.
De acordo com a Lei nº 11.645, de 20 de dezembro de 1996, é obriga-
tório o estudo da história da cultura afro-brasileira e indígena no ensi-
no fundamental e no ensino médio, nas escolas públicas e privadas,
para ressaltar a importância dessas culturas na formação da sociedade
brasileira, mas, na prática, a lei não é aplicada como deveria. Além da
dificuldade de manter as culturas indígenas vivas, esses povos também
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

enfrentam o desafio de preservar suas terras. A PEC 215 ilustra bem


isso. A Proposta de Emenda Constitucional propõe delegar ao Congres-
so Nacional a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas,
quilombolas e unidades de conservação no Brasil. A PEC também ga-
rante indenização em dinheiro aos proprietários das áreas demarcadas,
além de incluir o marco temporal em que os povos indígenas e quilom-
bolas só teriam direito à terra se estivessem nela em 5 de outubro de
1988. Na prática, isso gera rivalidade entre os produtores rurais e os
indígenas.

66
FECHANDO A UNIDADE
i
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05 06
A B B C B C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O determinismo biológico, também conhecido como determinismo ge-


nético, é a crença de que o comportamento humano é controlado pelos
genes de um indivíduo ou por algum componente de sua fisiologia, ge-
ralmente associado a influência do meio ambiente, seja no desenvolvi-
mento embrionário ou no aprendizado. Para Laraia, o papel dos médi-
cos na história da Antropologia, foi o de incentivadores ou, até mesmo, o
de fundadores da Antropologia. Em diversas regiões do país, nas quais
tentavam entender a influência da raça para cometimento de crimes,
médicos foram influenciados pelas ideias de Lambroso, pioneiro nos
estudos sobre a cultura negra no país. Segundo o médico, há um tipo
humano especial, devidamente caracterizado por uma série de traços
somato-psíquicos, e que é o “criminoso nato”. A postura etnocêntrica de
Lambroso oferecia elementos para o discurso de que os negros tinham

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


uma aptidão maior para o crime, devido sua genética.
Ainda, segundo Roque Laraia, há questionamentos persistentes sobre
teorias que atribuem capacidades específicas inatas a “raças” ou a ou-
tros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são
mais inteligentes que os negros; que os alemães têm mais habilidade
para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os
americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses
são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são tra-
balhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por ins-
tinto e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros,
a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses (LARAIA, 1995,
p. 17).A ideia de “raça” no Brasil foi inspirada nos vários determinismos
raciais europeus e norte-americanos pelo conceito de superioridade da
civilização ocidental moderna. A escravidão como uma barreira ao de-
senvolvimento econômico e a civilização, os negros e mestiços repre-

67
sentam as raças inferiores que dificultam a construção de uma nação
moderna- indivíduos incapazes de competir livremente no mercado de
trabalho. Vocação prática do racismo para planejar uma nação: Brasil
moderno, branqueado através do amplo incentivo à imigração europeia.
O racismo chegou ao Brasil na condição de ciência nas ultimas décadas
do século XIX, e o pressuposto determinista contido na ideia de raça
foi aceito pelos homens de ciência e incorporado ao discurso político. A
aceitação da tese do branqueamento implicou no apoio a uma política
imigratória visando introduzir no Brasil apenas imigrantes brancos, por-
tanto, essa ideologia incentivou a vinda de imigrantes brancos devido
à crença dos efeitos negativos de raças inferiores para a civilização.
Essa politica afirmava a inferioridade de grande parte da população na-
cional (negros, índios e mestiços) e também condenava as imigrações
asiáticas e negras que representavam atraso ou comprometimento do
processo de branqueamento.

TREINO INÉDITO
GABARITO: C

GABARITOS

CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

01 02 03 04 05
E C C C E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A Antropologia que, em seu surgimento, no final do século XIX, era o


estudo do homem na busca das leis que regiam a natureza humana,
passou a ser, no século XX, o estudo das diferenças culturais. A Antro-
pologia nasceu quando a Europa se industrializava e o progresso era a
ideia que embasava ideologias e ciência. Os europeus acreditavam que
o progresso conquistado com a industrialização era algo desejado por
toda a humanidade. Pensam muitos europeus e norte-americanos que
o progresso é o que sempre toda a humanidade quis, mas nem sempre

68
conseguiu, cabendo aos desenvolvidos o mérito por essa conquista.
Só que os povos colonizados, desde os séculos quinze e dezesseis, já
participavam desse processo com suas matérias-primas, seu trabalho
escravo, sendo destituídos de seus próprios territórios.
Até 1920 e 1930 predominava no Brasil as perspectivas evolucionistas
em questões que atrelavam a superioridade de raças e criticas à mes-
tiçagem. O pensamento sociológico e antropológico obedeceu também
às condições de desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria
de inserção do país na ordem capitalista mundial, o processo de for-
mação, organização e sistematização do reflexo da herança colonial,
da cultura jesuítica e o lento processo de formação do Estado nacional
contribuíram para a elaboração do acervo de conhecimento sobre as
populações que aqui se encontram. A influência direta e ditada pelas
normas europeias cogitava intuitos dos intelectuais da época, além de
ganhar o diploma precisavam concorrer com a importância do título de
propriedade da terra. A atividade intelectual crítica, de inspiração liberal
em uma sociedade ainda colonial e escravocrata causava um distancia-
mento da classe culta em relação às condições da grande maioria da
população.
TREINO INÉDITO
Gabarito: c

GABARITOS

CAPÍTULO 03

ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS


QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
D C B C B
06 07
C B

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Copacabana é identificada modo modelo de vida sofisticada e moderna,


que, até os anos de 1940, era, predominantemente, uma área rural,
com chácaras, casas com terrenos amplos e a forte presença de estran-

69
geiros, sobretudo europeus. Para esse lugar, deslocavam-se figuras pú-
blicas e a elite politica. O panorama de Copacabana começa a se alterar
quando instaura-se o edifício de apartamentos, esse tipo de construção
foi multiplicado no século XIX, pelas grandes cidades europeias e norte
americanas.
Tal tipo de construção agregou valores e estilos de vida remetendo ao
individualismo, nessas formas solitárias, as trajetórias mínimas de so-
ciabilidade vão se desenvolvendo. Segundo Gilberto Velho, Copaca-
bana incorporou não apenas pessoas de origem nacional e regional
diversificada, mas, progressivamente, de diferentes origens, estratos e
trajetórias sociais. Além das elites e das camadas médias superiores, o
bairro atrairá, a partir do grande boom imobiliário do pós-guerra, setores
de camadas médias ascendentes, provindos de outros bairros, com for-
te presença da Zona Norte e mesmo do subúrbio do Rio. A cidade como
um todo, mas Copacabana, em particular, em função de sua riqueza e
prestigio politico-cultural, atrairá pessoas de camadas médias de outros
estados, que vinham para trabalhar nos setores público e privado. (VE-
LHO, 1999; p.15)
As analises no campo da Antropologia Urbana permitem entender a
complexidade e a heterogeneidade através dos mundos sociais, eles
estão em constante processo de transformação uns com os outros. Os
indivíduos sociais participam dessas mudanças, elaboram seus papeis
sociais associando-o em identidades complexas e multifacetadas em-
bora não seja um processo homogêneo para toda a população.
TREINO INÉDITO
GABARITO: C
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA - GRUPO PROMINAS

70
REFERENCIAS
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CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito: estudo do caipira
paulista e a transformação dos seus meios de vida. Ed. Ouro sobre
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GUIMARÃES. Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e Antiracismo no


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73
REQUISITOS OBRIGATÓRIOS
PARA CONCLUSÃO DO CURSO

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Todos os cursos dever ã o ter dura çã o
mínima exigida, contada a partir do
pagamento da primeira mensalidade
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Huy
Ser aprovado em todas as disciplinas
com nota mínima de 7 pontos .
e considerada a data de cola çã o de
grau do curso superior .

d>
Ter quitado todas as parcelas do curso. Entregar todas as documena çõ es exigidas
para emissã o do certificado.

Ser aprovado no TCC ( Artigo ou monografia)


com nota mínima de 7 pontos .

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É Prominas
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0800 283 8380

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