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Filosofia

ARGUMENTAÇÃO/FALÁCIAS & DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA


ATIVIDADE COGNOSCITIVA

ARGUMENTAÇÃO/FALÁCIAS
Lógica informal
Ocupa-se, sobretudo, daquele tipo de argumentos cuja construção e avaliação dependem de
aspetos que vão para lá da forma lógica de tais argumentos.
Como avaliar argumentos?
A força de um argumento não dedutivo reside na relação de justificação entre a(s) premissa(s) e a
conclusão.
A cogência de um argumento não dedutivo consiste em aliar a força do argumento e a veracidade
das premissas.

Avaliar argumentos não dedutivos

É provável que a vacina da gripe seja eficaz na Inês, já que na maioria das pessoas saudáveis essa
vacina é eficaz, e a Inês é uma pessoa saudável.
1º Identificar as proposições presentes no argumento
(1) É provável que a vacina seja eficaz na Inês.

(2) A vacina é eficaz na maioria das pessoas saudáveis.

(3) A Inês é uma pessoa saudável.


2º Identificar as premissas e a conclusão
É provável que a vacina da gripe seja eficaz na Inês, já que na maioria das pessoas saudáveis essa
vacina é eficaz, e a Inês é uma pessoa saudável.
(1) É provável que a vacina seja eficaz na Inês. (C)

(2) A vacina é eficaz na maioria das pessoas saudáveis.

(3) A Inês é uma pessoa saudável.

3º Reescrever na forma-padrão

(1) A vacina é eficaz na maioria das pessoas saudáveis.


(2) A Inês é uma pessoa saudável.
(3) Logo, é provável que a vacina seja eficaz na Inês.

Argumentos indutivos

 Um argumento indutivo por generalização parte do conhecimento que


possuímos sobre uma amostra de um universo para concluir algo sobre todo esse universo.
 Partimos do conhecimento que temos dos desfiles de Carnaval de Veneza dos
últimos anos para concluir algo sobre todos os desfiles de Carnaval de Veneza.
 Alguns X são Y.
Logo, todos os X são Y.
 Generalizações fortes
 Com base em observações científicas, constatou-se que os mamíferos que foram
objeto de estudo respiravam pelos pulmões.
Logo, todos os mamíferos respiram pelos pulmões.
 Um argumento indutivo por previsão parte do conhecimento que possuímos
sobre uma amostra de um universo para concluir algo ainda não conhecido.
 Partimos do conhecimento que temos dos desfiles de Carnaval de Veneza dos
últimos anos para concluir algo sobre o próximo desfile de Carnaval de Veneza.
 Todos os X observados até agora são Y.
Logo, o próximo X que observarmos será Y.
 Todos os cães observados até agora ladravam.
Logo, o próximo cão que observarmos ladrará.
 Um bom argumento indutivo deve:
 Conter nas premissas uma amostra
extensa – quanto maior ela for, mais força
terá a relação de justificação com a
conclusão.
 Conter nas premissas uma amostra
representativa – a amostra deve
representar a diversidade do universo em
causa.

Argumentos por analogia

Um argumento por analogia parte da premissa de que duas coisas são semelhantes em alguns
aspetos para a conclusão de que também devem ser semelhantes noutro aspeto.

 Tanto os gatos como os seres humanos são mortais.


Os seres humanos têm medo de cobras.
Logo, os gatos também têm medo de cobras.
 Um bom argumento por analogia deve incluir nas premissas:
 Semelhanças numerosas – quanto mais semelhanças, mais força terá a relação de
justificação com a conclusão. Essas semelhanças ou analogias têm de ser em
número suficiente;
 Semelhanças representativas – as semelhanças devem representar adequadamente
as coisas comparadas;
 Semelhanças relevantes – as semelhanças devem ser pertinentes para inferir a
conclusão. As semelhanças ou analogias estabelecidas entre as realidades devem
ser relevantes com respeito à conclusão;
 Não podem existir, entre as realidades comparadas, diferenças significativas e
relevantes com respeito à conclusão e que a possam pôr em causa.

Argumentos de autoridade
Um argumento de autoridade inclui nas premissas uma referência a uma entidade ou pessoa
(autoridade) e justifica a conclusão com base nessa referência.

 Acredito que a velocidade da luz é constante, pois desde Einstein que todos os físicos
concordam com esta ideia.
 Um bom argumento de autoridade deve:
 Apelar a um verdadeiro especialista no assunto tratado
pelo argumento.
 Usar-se apenas se existir consenso entre os especialistas
sobre a proposição que é defendida.
FALÁCIAS INFORMAIS

As falácias informais são argumentos que podem parecer


fortes ou aceitáveis, mas que não o são. As premissas de um
argumento falacioso não justificam adequadamente a sua
conclusão.

Generalização precipitada e amostra não representativa


Existem dois erros comuns que destroem a força das generalizações e das previsões: não incluir
nas premissas uma amostra numerosa e/ou não garantir que essa amostra seja representativa.

 Os vinte gatos que observámos eram brancos.


Logo, todos os gatos são brancos.
 Mesmo que a amostra seja grande, ela ainda assim pode não ser representativa do
universo a que se refere o argumento.
 Uma amostra pouco extensa, provavelmente, não é representativa do universo a que se
refere o argumento.
 Foram inquiridos trezentos budistas e todos disseram acreditar na reencarnação.
Logo, todas as pessoas religiosas acreditam na reencarnação.

Falsa analogia
Um argumento por analogia torna-se falacioso se:
1. Não existirem semelhanças representativas entre as coisas comparadas;
2. Se as semelhanças não forem numerosas;
3. Ou se as semelhanças não forem relevantes para estabelecer a verosimilhança da
conclusão.
 O livro x tem a mesma forma do livro y, o mesmo número de páginas e uma capa
idêntica.
O livro x tem um conteúdo excelente.
Logo, o livro y também tem um conteúdo excelente

Apelo ilegítimo à autoridade


Um argumento de autoridade torna-se falacioso se não apelarmos a especialistas no assunto em
questão; e se não existir consenso entre especialistas, como é o caso deste exemplo e de quase
todos os assuntos filosóficos.

 Acredito que a distinção entre boas e más ações se encontra na consequências


dessas ações, pois era essa a posição de Stuart Mill.

Petição de princípio
Neste tipo de falácia, as premissas já assumem, direta ou indiretamente, que a conclusão é
verdadeira. Assim, as premissas não oferecem nenhuma razão para aceitarmos a conclusão.

 Um soldado que perdesse a coragem deixaria de o ser, pois a verdade é que, sem
coragem, ele não seria realmente um soldado.
Falso dilema
Sempre que um argumento apresenta um número reduzido de alternativas, esquecendo a
existência de outras possibilidades, não consegue justificar adequadamente a sua conclusão.

 Se afirmas que te preocupas com o ambiente, ou te inscreves numa associação


ambientalista ou concluo que estás a mentir. Não estás inscrito em nenhuma
associação ambientalista, logo não te preocupas com o ambiente.

Falsa relação causal


A sucessão ou simultaneidade de eventos não implica necessariamente uma relação causal entre
eles. Supor essa relação sem outros motivos é cometer esta falácia.

 Os meus problemas económicos agravaram-se desde que Portugal aderiu à União


Europeia (UE), logo a causa desse agravamento foi a UE.

Ad hominem
O carácter, o contexto ou o comportamento de uma pessoa não têm, geralmente, influência sobre
a verdade ou falsidade de uma proposição, ou sobre a qualidade do argumento apresentado.

 Kant é um filósofo chato, frio e insensível, e é por isso que não reconhece que as
boas ações podem derivar de bons sentimentos.

Ad populum
O pensamento ou os sentimentos da maioria das pessoas não são razão suficiente para justificar a
veracidade de uma conclusão.

 A maioria dos portugueses é adepta de futebol e vive intensamente os jogos da


seleção nacional. Por esse facto, devia decretar-se feriado nacional nos dias em que
a seleção nacional joga.

Boneco de palha
Esta falácia consiste em distorcer o argumento de alguém com o objetivo de o refutar mais
facilmente. Ataca-se o argumento distorcido (o boneco de palha) e conclui-se que a posição do
oponente foi refutada.
– Voto contra a lei da segurança porque ela limita a liberdade dos cidadãos.
– Quem é contra esta lei certamente prefere viver num país violento, com elevadas
taxas de criminalidade. Ninguém quer viver assim, logo devemos votar a favor.

Apelo à ignorância
Esta falácia parte da ignorância para afirmar algum conhecimento. Consiste em afirmar a
veracidade (ou falsidade) de uma proposição apenas porque não há evidência ou prova em
contrário.

 Dado que ninguém afirmou que o exame de Filosofia foi


difícil, concluo que foi fácil.
Derrapagem ou bola de neve
A falácia da derrapagem (ou bola de neve) ocorre quando se baseia a conclusão de um argumento
numa cadeia causal sem que haja razão suficiente para pensar que tal cadeia causal realmente
ocorrerá.

 Não concordo com o novo imposto sobre os refrigerantes. Se aceitarmos este


imposto, depois criam outro sobre as batatas fritas e depois sobre os hambúrgueres,
etc. Rapidamente, todos os alimentos de que eu gosto ficarão mais caros, por isso
não concordo com o novo imposto.

Falácias Formais
1. Afirmação do consequente
Se P, então Q
Q
Então, P
2. Negação do antecedente
Se P, então Q
Não Q
Logo, não Q

DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA ATIVIDADE COGNOSCITIVA

GNOSIOLOGIA Estudo do conhecimento –- estudo das relações entre o sujeito e o objeto.


Origem, natureza, possibilidade, limites do conhecimento.
ALGUMAS QUESTÕES GNOSIOLÓGICAS:

 O que é o conhecimento?
 Que tipos de conhecimento existem?
 Quais as fontes do conhecimento?
 Qual a origem do conhecimento?
 Será que o conhecimento é possível?
 Qual o fundamento do conhecimento?
EXPERIÊNCIA: Apreensão, por parte
ATO DE CONHECIMENTO É inseparável de um contexto: de um sujeito, de uma realidade, um
modo de fazer,
 Existem diferentes tipos de conhecimentos.
Uma maneira de viver, etc.,
 Existe uma pluralidade de experiências.
constituindo, em muitos casos, um
modo de conhecer algo
imediatamente antes de todo o juízo
TIPOS DE CONHECIMENTO que se formula sobre aquilo que se
apreende.
 SABER-FAZER
 Conhecimento prático ou conhecimento de atividades.
 Exemplo: saber cozinhar.
 SABER-QUE
 Conhecimento de proposições ou pensamentos verdadeiros.
 Exemplo: saber que 2 + 2 = 4.
 CONHECIMENTO POR CONTACTO
 Conhecimento direto de alguma realidade.
 Exemplo: conhecer Paris.
A epistemologia é o estudo do conhecimento e a justificação da crença.
Conhecimento (ou cognição) é um processo que engloba um conjunto de atividades através das
quais o sujeito organiza e procura significação para a informação obtida. O processo cognitivo
pressupõe:

 Objetos a conhecer;
 Sensações que apreendam os objetos captados pelos nossos sentidos;
 Perceção, isto é, descodificação, classificação e organização dos dados;
 Razão - cognição, isto é, interpretação lógico-racional da informação.

Definição tradicional de conhecimento


Platão- Conhecimento como crença verdadeira e justificada
A epistemologia começou com Platão – muitas das suas obras debatem a interligação entre as
perguntas sobre a realidade e sobre o conhecimento.
Platão apresentou a sua filosofia sob a forma de «diálogos», como se os dialogantes estivessem a
conversar.
É o caso do diálogo Teeteto, onde Sócrates conduz um debate com o objetivo de definir o conceito
de conhecimento (episteme).
Platão apresentou a teoria das ideias:

 Distinção entre mundo sensível (cópias e aparências) do mundo Inteligível (ideias e


conhecimento)

Metodologia usada
Sócrates pratica a ironia e a maiêutica
Sócrates (porta-voz de Platão) apresenta-se como alguém que ajuda os outros a descobrir
(maiêutica) o conhecimento; propõe, com carácter provisório, uma definição, examina-a e tenta
refutá-la.
1. O conhecimento é sensação
Refutação de Protágoras/sofistas a Sócrates
Premissas:
 se cada ser humano só acede às suas próprias perceções
 se a realidade que percecionamos (e da qual fazemos parte) está sempre em movimento e
nenhuma perceção se repete
Então, a realidade (e nós próprios) é reduzida à perceção que temos dela e não a podemos
conhecer nem afirmar a sua existência A realidade é relativa.
Refutação de Protágoras
Se a realidade é reduzida à perceção que temos dela, então:
 cada indivíduo tem a sua versão da realidade (subjectivismo)
 o próprio sujeito que conhece é apenas o conjunto das sucessivas perceções sempre
diferentes que vai tendo de si próprio, não havendo uma entidade humana que permaneça
continuamente.
Por estas razões:
 o argumento de Protágoras nega-se a si mesmo por conduzir a um subjectivismo extremo
 a sensação não pode ser tomada como conhecimento.
Argumentação de Sócrates
Se a sensação (ou perceção) não podem ser consideradas conhecimento, então o saber deve ser
buscado, «naquilo em que a alma (...) se ocupa das coisas que são» e «a isso se chama opinar».

 A opinião é falsa «sempre que alguém opina o que não é».


 A opinião é verdadeira sempre que alguém diz «o que é».
 Mas opinião verdadeira ainda não é conhecimento, pois podemos dizer «o que é» sem
saber justificar.
 Por exemplo, no domínio forense, se alguém persuadir um juiz acerca de uma ocorrência, o
juiz fica com uma opinião verdadeira. Mas, só a testemunha presencial tem justificação para
a sua opinião (verdadeira), portanto, só ela tem conhecimento.

Conclusão: opinião verdadeira não é exatamente o mesmo que conhecimento.


Sócrates recusou o conhecimento preceptivo e a opinião (crença) verdadeira não justificada,
defendendo que o conhecimento é discurso verdadeiro, pois diz o que «as coisas são», e
justificado, porque «é capaz de dar e receber uma explicação».

Conclusão: só é conhecimento a opinião verdadeira acompanhada de razão (logos), isto é,


a opinião justificada.

 Crença, verdade e justificação: condições necessárias e suficientes para que haja


conhecimento.

Fontes de conhecimento

Para justificar o conhecimento há dois tipos de fontes:

 Pensamento ou razão— juízos a priori (5+5=10) — Juízos cuja verdade pode ser conhecida
independentemente de qualquer experiência, tendo, portanto, origem no pensamento ou
razão.  São universais (são verdadeiros sempre e em toda a parte) e necessários (negá-los
implicaria entrar em contradição).
 Sentidos (experiência sensível)— juízos a posteriori (ex. “O sol brilha)— Juízos cuja verdade
só pode ser conhecida através da experiência sensível  Não são estritamente universais
(não são verdadeiros sempre e em toda a parte) e são contingentes – são verdadeiros, mas
poderiam ser falsos, e negá-los não implica entrar em contradição.

Modos de conhecimento
 Conhecimento a priori Baseia-se em juízos a priori, tendo a sua fonte ou origem apenas
no pensamento ou na razão. É justificado pela razão e não pela experiência.
 Conhecimento a posteriori Baseia-se em juízos a posteriori, tendo a sua origem na
experiência. É o conhecimento empírico, justificado pela experiência.
 Todo o conhecimento começa com a experiência, mas nem toda deriva da experiência,
segundo Kant.
Em Síntese

A fenomenologia defende que o conhecimento divide-se em três etapas:


1) O sujeito sai de si
2) Apreende as características do objeto
3) Regressa a si com a imagem do objeto
Existem três “Porblemas do Conhecimento”
1) A origem do conhecimento vem ou:
a) Dos sentidos?— defendido pelos empiristas (D. Hume) - o mais importante é o objeto
b) Das ideias?— defendido pelas racionalistas (Descartes) - o mais importante é o sujeito
2) Existe a possibilidade de:

 Não ser possível conhecer nada- relacionada com o ceticismo


 Ser possível conhecer tudo- relacionada com o dogmatismo
3) A Natureza do conhecimento provém do:

 Sujeito?
 Objeto?
No processo de conhecimento quem se transforma é o sujeito.
Para o sujeito passa apenas uma representação do objeto.
Mas, é possível conhecer? Sim. Segundo Descartes através das ideias (racionalismo), segundo D.
Hume através dos sentidos (apenas o que vemos/o que é real) (empirismo).

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