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Liquidação do Dano Moral

Existiram épocas nas quais o dano moral nã o era indenizá vel ao argumento de que
seria imoral tentar estabelecer um valor para a honra, a intimidade, a imagem, dentre
outros direitos que conseguem a proteçã o da dignidade da pessoa humana.

Com o tempo percebeu-se que muito embora seja impossível estabelecer justos
valores para tais direitos a vítima, ou seus herdeiros, nã o poderiam ficar privados de
alguma compensaçã o pelo dano experimentado.

A partir do momento em que os julgadores passaram a arbitrar indenizaçã o por dano


moral, era necessá rio que a vítima, ou os herdeiros desta, comprovassem a situaçã o de
vexame, humilhaçã o, ou forte abalo psicoló gico. O mero aborrecimento nã o configurava
dano moral, orientaçã o que até hoje é sugerida pela doutrina e pela jurisprudência.

Com o passar do tempo os julgadores perceberam que em certos casos nã o era


possível comprovar determinado sentimento de humilhaçã o, ou vexame, como por
exemplo, no caso dos incapazes que nem sempre possuem capacidade de sentir o fato
vexató rio.

Hoje, portanto, o conceito de dano moral evoluiu e significa violaçã o dos direitos
de personalidade, que como sabemos, resguardam a dignidade humana.

O Novo Có digo Civil Brasileiro, ratificando posiçã o já sedimentada em nossa


doutrina e jurisprudência, previu em seu artigo 186: “Aquele que, por açã o ou omissã o
voluntá ria, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Desta maneira percebe-se que nã o há dú vida em relaçã o à obrigaçã o de indenizar o


dano moral, aquele ocorrido na esfera da subjetividade, alcançando os aspectos mais
íntimos da personalidade humana, ou da pró pria valoraçã o da pessoa no meio em que
vive, mesmo que seja o dano moral puro, independente de conseqü ências patrimoniais,
exigível ex facto. Reconhece-se, assim, que o mal feito à integridade corporal ou psíquica
de alguém seja em suas derivaçõ es de danos patrimoniais ou extrapatrimonias, é
plenamente ressarcido.

Houve ainda evoluçã o para começar a adotar em determinados casos uma nova
modalidade de dano moral que é o dano moral “in re ipsa”, ou seja, o dano que decorre do
pró prio evento danoso, aquele que está presente no pró prio fato, nã o havendo
necessidade de comprovar dor ou abalo psicoló gico, visto que, o julgador da aná lise do
caso percebe a violaçã o a algum dos direitos da personalidade.

Porém, apesar dessa evoluçã o conceitual jurídica, ainda restam alguns aspectos
controvertidos desafiando a aplicaçã o deste direito, a saber, a quantificaçã o do dano moral
em valor econô mico para reparar o ofendido.

É fácil perceber que quando se trata de dano material, o valor da indenizaçã o


consiste no exato desfalque sofrido pela vítima em seu patrimô nio. O dano patrimonial
deflui de uma simples operaçã o aritmética que tem como base a relaçã o de causa e efeito
entre o prejuízo e o evento culposo. Mas quando se trata de dano moral, a apuraçã o
do quantum indenizató rio se complica porque o bem lesado nã o possui dimensã o
econô mica ou patrimonial.

Por ser imaterial, o bem moral atingido nã o pode ser exprimível em pecú nia, assim,
deve-se atentar para critérios subjetivos a fim de criar uma equivalência entre o dano
sofrido e a culpa do ofensor.

Deve se lembrar da tamanha é a importâ ncia dos direitos da personalidade que


sã o, além de inerentes à personalidade humana, sã o inatos, extrapatrimoniais,
irrenunciá veis, imprescritíveis e, em geral, intransmissíveis, nã o podendo sofrer limitaçã o
voluntá ria seja qual for a vontade de seu titular, com exceçã o dos casos expressamente
previstos em lei (art. 11 do CC de 2002). Assim, seria iló gico apenas ressarcir o dano
moral. A lesã o moral deve ser, também, indenizada. Nã o deve simplesmente servir a
reparaçã o de alento ao ofendido, deve ser severa o suficiente para sancionar o lesionante e
reprimir novos atentados ao Direito.

Desta forma, a indenizaçã o por danos morais deve abranger três causas: a
compensaçã o de perda ou dano derivado de uma conduta; a imputabilidade desse prejuízo
a quem, por direito, o causou; e a prevençã o contra futuras perdas e danos. Possui a
indenizaçã o cará ter punitivo-educativo-repressor, nã o apenas reparando o dano, repondo
o patrimô nio abalado, mas também atua de forma intimidativa para impedir perdas e
danos futuros.

Para evitar que as açõ es de reparaçã o de dano moral se transformem em


expedientes de extorsã o ou de espertezas maliciosas e injustificá veis, impõ e-se a
observâ ncia de padrõ es de prudência e equidade, sendo que, obrigatoriamente, estarã o
presentes na aná lise do magistrado as duas posiçõ es, sociais e econô micas, da vítima e do
ofensor, nã o devendo se limitar em fundamentar a condenaçã o isoladamente na fortuna
eventual de um ou na pobreza do outro. Se a indenizaçã o nã o tem o propó sito de
enriquecer o lesionado, tem-se que lhe atribuir aquilo que na sua situaçã o seja necessá rio
para proporcionar apenas a obtençã o de satisfaçã o equivalente ao que perdeu.

Da mesma maneira deve-se lembrar que um valor incomensurá vel para um talvez
nã o passe de preço vil para outro, fazendo com que a justiça reste frustrada, nã o servindo
a indenizaçã o a seu propó sito punitivo-educativo-repressor, acabando por estimular o
ilícito.

A reparaçã o do dano moral cumpre, portanto, uma funçã o de justiça corretiva por
conjugar, de uma só vez, a natureza satisfató ria da indenizaçã o do dano moral para o
lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posiçã o social, a repercussã o do
agravo em sua vida privada e social e a natureza penal da reparaçã o para o causador do
dano, atendendo à sua situaçã o econô mica, a sua intençã o de lesar (dolo ou culpa), a sua
imputabilidade, etc.

Aluna: Carolina de Oliveira C. Teixeira

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